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Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 5, fev./abr. 2008.

MEDIAÇÃO FAMILIAR: RESOLVENDO CONFLITO


SEM CONFLITO

GAMALIEL PINA DA SILVA*

Resumo: A mediação familiar incentiva à comunicação aberta e o exercício da


solidariedade, buscando das pessoas à mútua compreensão das realidades distintas,
diminuindo os traumas que podem advir de conflitos gerados pelas diferenças. As
pessoas, através do diálogo cooperativo e solidário instituído pela mediação, aprendem
dentro da família a negociar pacificamente suas diferenças, participando efetivamente
das decisões. Muitas vezes as pessoas estão de tal modo ressentidas que não conseguem
visualizar nada de bom no histórico do relacionamento entre elas. A mediação estimula,
por meio de diálogo, o resgate dos objetivos comuns que possam existir entre os
indivíduos que estão vivendo o problema.

Palavras-Chave: Responsabilidades. Soluções. Família.

Abstract: The family mediation encourages to the open communication and the
exercise of the solidarity, seeking of the persons to the mutual comprehension of the
distinct realities, diminishing the traumas that can happen of conflicts generated by the
differences. The persons, through the supportive and cooperative dialogue instituted by
the mediation, learn how inside the family it negotiate peacefully its differences,
participating actually of the decisions. Many times the persons are of such resentful
way that are going to visualize nothing of good in the transcript of the relationship
between them. The mediation stimulates, by means of dialogue, the rescue of the
common objectives that can exist between the individuals that are living the problem.

Keywords: Responsabilities. Solutions. Family.

1. Introdução

Com o passar do tempo, percebemos uma modificação considerável no que se


refere ao real sentido e conceito da Família, hoje substituído por expressões e razões
que leva as pessoas a se unirem sem perceberem que formar uma família não se limita
apenas a alguns momentos juntos. Percebemos a precariedade dos relacionamentos hoje
em dia que, por qualquer motivo, muito deles fútil leva os cônjuges a se separarem,
esquecendo o juramento que houvera feito há alguns dias ou anos diante do juiz da paz,
onde comprometiam Amar até a morte a companheira(o).
Hoje, se fala de “família moderna”, uma família que tem experimentado uma
evolução defeituosa no âmbito familiar, na maioria das vezes sustentada pela mídia, que

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Aluno da Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará.

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ridiculariza os que buscam preservar a idéia da família tradicional, uma família que não
tolera a evolução moderna, que está tomada pela triste síndrome de casa-separa, separa-
casa.
Diante desse cenário desenhado pela sociedade moderna, vemos necessário
começar a trabalhar para reverte esse quadro, trago como orientação para sanar-mos a
presente situação, a Mediação Familiar.
Mediação é o meio extrajudicial de resolução de conflito, onde um terceiro é
chamado para encaminhar as partes a chegarem a uma solução ou acordo. As partes são
conduzidas a realizar os seus acordos, sem que haja uma interferência real do mediador,
demonstrando que a resolução da controvérsia será sempre das partes.
Segundo entendimento da advogada Daniele Ganancia:

Mediação familiar é um procedimento estruturado de gestão de conflitos


pelo qual a intervenção confidencial e imparcial de um profissional
qualificado, o mediador, visa a restabelecer a comunicação e o diálogo entre
as partes. Seu papel é o de levá-los a elaborar, por eles próprios, acordos
duráveis que levem em conta as necessidades de cada um e em particular das
crianças em um espírito de co-responsabilidade parental1.

A mediação possui vários objetivos, dentre os quais se destacam soluções dos


conflitos (boa administração), a prevenção da má administração dos conflitos, a
inclusão social (conscientização de direitos, acesso à justiça) e a paz social.
O presente trabalho abordará a mediação, que se apresenta como um eficaz meio
de composição de desavenças familiares, uma vez que, através do diálogo, realiza um
verdadeiro tratamento dos conflitos, facilitando a continuação da relação entre os
parentes.
Mediante o estudo descritivo-analítico, serão desenvolvidas as pesquisas
bibliográficas, na qual se utilizará a consulta por doutrinas, pesquisas de campos
realizadas na casa de Mediação de Parangaba (Ceará), artigos publicados e revistas
especializadas pertinentes ao assunto; e documental, através do estudo de peças
normativas e decisões jurisprudenciais que regem o tema, para que haja reprodução fiel
na apresentação do trabalho.
1
GANANCIA ,Daniele França. Revista Associação dos Advogados de São Paulo. n° 62. pp. 7-15. A
mediação na verdade se situa entre a eterocomposição, pois envolve a participação de uma pessoa
estranha ao conflito, e a autocomposição, pois o mediador não participa da decisão, apenas a facilita.

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2. Família

Entendemos que a família é a melhor e, mas antiga associação entre pessoas


diferentes criada pelos seres humanos para viver e sobreviver com qualidade de vida. O
vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e que
procedem, portando, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade
e pela adoção. Segundo Carlos Roberto Gonçalves:

a lei em geral referem-se à família como um núcleo mais restrito, constituído


pelos pais e sua prole, embora esta não seja essencial à sua configuração.
Trata-se de instituição jurídica e social, resultante de casamento ou união
estável, formada por duas pessoas de sexo diferente com a intenção de
estabelecerem uma comunhão de vidas e, via de regras, de terem filhos a
quem possam transmitir o seu nome e seu patrimônio.

Ao longo dos anos, a família vem enfrentando um processo de profundas


transformações. Hoje, não existe apenas o modelo patriarcal de família, consolidada
com o casamento indissolúvel, cuja estrutura é marcada por uma forte hierarquia. Vários
fatores econômicos, sociais e culturais, contribuíram de forma decisiva para as
alterações na estrutura familiar. Apesar da resistência do patriarcalismo, pode-se afirmar
que as famílias de hoje não mais possuem uma forte hierarquia, cujo controle era
exercido pelo homem, em detrimento da mulher e dos filhos.
A família contemporânea é inovadora, democrática e igualitária. Os diversos
modelos de família que hoje existem possuem seus relacionamentos baseados na
igualdade, solidariedade, afetividade e liberdade. Os membros da família precisam
sentir-se seguros e protegidos, bem como precisam sentir-se encorajados a exercerem
sua independência.
Inúmeras são as influências do ambiente social para a formação da personalidade
humana. Inegavelmente, a família é a mais importante de todas. É ela que proporciona
as recompensas e punições, por cujo intermédio são adquiridas as principais respostas
para os primeiros obstáculos da vida. É instituto no qual a pessoa humana encontra
amparo irrestrito, fonte da sua própria felicidade.

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Os membros integrantes da família (pais, irmãos, avós, etc) moldam o ser


humano, contribuindo para a formação do futuro adulto. Não foi por acaso que um dos
maiores nomes da literatura brasileira, Machado de Assis, já afirmara que “o menino é
pai do homem”.
O grupo familiar tem sua função social e é determinado por necessidades sociais.
Ele deve garantir o provimento das crianças, para que elas, na idade adulta, exerçam
atividades produtivas para a própria sociedade, e deve educá-las, para que elas tenham
uma moral e valores compatíveis com a cultura em que vivem (Cf. BOCK, 1996:238).
Tanto assim que a organização familiar muda no decorrer da história do homem, é
alterada em função das mudanças sociais (Cf. BOCK, 1996:238).
Nesse sentido, entende-se que a família não é apenas uma instituição de origem
biológica, mas, sobretudo, um organismo com nítidos caracteres culturais e sociais. Nas
palavras da Professora Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, ela “é uma entidade
histórica, ancestral como a história, interligada com os rumos e desvios da história ela
mesma, mutável na exata medida em que mudam as estruturas e a arquitetura da própria
história através dos tempos (...); a história da família se confunde com a história da
própria humanidade”2.
As famílias felizes são aquelas que souberam superar os obstáculos naturais, os
conflitos psicológicos, existências e enfrentar as questões sociais e econômico-
financeiras. Nas palavras da autora Ana Célia Roland Guedes Pinto: “a família é uma
estrutura social básica em que os indivíduos integram numa convivência constante(...)”3
Diante da afirmativa, entendemos que a família é a base da sociedade em que seu seio
as pessoas se desenvolvem, dando ensejo a diferentes relações, isto é, uma construção
humana que se consolida e se transforma sob influência recíproca com o meio social.
Tais relações estão em constante mutação, uma vez que, no decorrer dos tempos,
a família vem enfrentando um processo ininterrupto de transformações em sua
evolução. Inúmeros fatores determinam estas mudanças, tais como: aspecto econômico,
sócias, culturais, políticos, religioso, dentre outros.

3. Mediação de Conflitos

2
Família e casamento em evolução. in Revista Brasileira de Direito de Família, p. 7.
3
PINTO, Ana Aélia Roland Guedes. O Conflito Familiar na justiça – Mediação e os exercício dos papéis.
Revista dos advogados. São Paulo, n.64, mar. 2001.

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Para falarmos de mediação de conflitos, precisamos a priori saber o que


realmente é conflito. A saber, que Conflito vem do latim Conflictus, que significa
“colisão” “choque”. Nada garante que os choques sejam necessariamente violentos. A
vida cotidiana faz-nos deparar com inúmeros choques aos quais nos acomodamos muito
bem. Mais eles podem se tornar violentos caso venham a se acumular, ou caso venham
a se repetir sem serem aceitos, administrados e regulados. É então que essas mágoas e
tensões tornam-se verdadeiramente conflituosa. Vale ressaltar que conflito é normal e
natural.
Na mediação procura-se evidenciar que o conflito é natural, inerente aos seres
humanos. Sem o conflito seria impossível haver progresso e provavelmente as relações
sociais estariam estagnadas em algum momento da história. Se não houvesse
insatisfação, as situações da vida permaneceriam iguais constante. Segundo a autora
Lília Maia de Moais Sales:

O conflito e a insatisfação tornam-se necessário para o aprimoramento das


relações interpessoais e sociais. O que reflete como algo bom ou ruim para as
pessoas é a administração do conflito. Se for bem administrado, ou seja, se as
pessoas conversarem pacificamente, ou se procurarem a ajuda de uma
terceira pessoa para que as auxilie nesse diálogo – será o conflito bem
administrado. Se as pessoas, por outro lado, se agridem física ou moralmente
ou não conversarem, causando prejuízo para ambas, o conflito terá sido mal
administrado.

A mediação, por suas peculiaridades, torna-se um meio de solução


adequado a conflitos que versem sobre relações continuadas, ou seja, relações que são
mantidas apesar do problema vivenciado. Também ressalta-se que os conflitos que
envolvem sentimentos e situações fruto de um relacionamento – mágoas, frustrações,
traições, amor, ódio, raiva – revelam-se adequados à mediação. Isso porque, nesse
mecanismo de solução de controvérsias, há um cuidado, por parte do mediador, da
facilitar o diálogo entre as partes, de maneira a permitir as comunicações pacíficas e a
discussão efetiva dos conflitos.
A mediação é uma forma de resolução de litígios informal e flexível, de caráter
voluntário e confidencial, conduzido por um terceiro imparcial – o mediador -, que
promove a aproximação entre as partes em litígio e os apóia na tentativa de encontrar
um acordo que permita por termo ao conflito.

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O mediador não impõe às partes a obtenção de um acordo ou o seu conteúdo. A


sua função é aproximar as partes e facilitar a obtenção de um acordo, sem o impor.
A mediação, nomeadamente na modalidade de resolução extrajudicial de
conflitos atrimoniais, surgiu pioneiramente nos E.U.A, na segunda metade dos anos 70,
funcionando a maior parte dos serviços adstritos aos tribunais. Inicialmente orientada
para a reconciliação dos casais, acabou por incidir majoritariamente sobre a obtenção de
acordos em matéria de regulação do exercício do poder paternal e das demais questões
decorrentes da ruptura conjugal.
No entanto, a rápida proliferação da Mediação naquele país, na vertente familiar,
ficou a dever-se a um vertiginoso acréscimo de divórcios e à inerente litigiosidade e
aumento de custos processuais. O fenômeno rapidamente se estendeu ao país vizinho,
Canadá, na década de 80, onde hoje existem serviços de mediação tanto de caráter
público como privado.
Na Europa, o país pioneiro nesta matéria foi o Reino Unido, criando o primeiro
Centro de Mediação Familiar em Bristol em 1976 e alargando, posteriormente, a rede a
todo o país. A causa pode facilmente ser encontrada na alta taxa de divórcio que
caracteriza aquele país.
A Europa continental também não foi insensível a esta vaga que cativou países
como a França, Áustria, Alemanha, Bélgica, Finlândia, Itália, Polônia, Espanha,
Eslovênia, Noruega, Suécia e Andorra para a criação de Serviços de Mediação Familiar,
a partir da década de 80. A atividade desenvolvida pode ser de caráter público ou
privado, mas em alguns destes Estados, como o Reino Unido, França, Áustria e
Alemanha, a mediação está fundamentalmente organizada por organismos
independentes do Estado e particulares; o que é, todavia, complementado por um
sistema de Apoio Judiciário estadual.
A mediação possui vários objetivo, dentre os quais se destacam a solução dos
conflitos (boa administração do conflito), a prevenção da má administração de
conflitos, a inclusão social(conscientização de direitos ecesso à justiça).

Como afirma Maria de Nazareth Será, “o objetivo principal da mediação é o


acordo entre as partes, ou seja, a produção de um plano de ação para as futuras relações

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de pessoas envolvidas num conflito”. Vale lembrar que quando se fala em acordo, faz-
se referencia a um acordo justo, fruto da boa administração do impasse e não apenas a
uma avença que evite a demanda judicial. Como explica Lilia Maia de Morais Sales, “ o
acordo é a conseqüência do diálogo honesto e a mediação instrumento que possibilita
essa comunicação.
Sobre o conflito assinala Milard Zhaf Alves Lehmkuhl:

(...) os conflitos interpessoais devem ser visto de forma positiva, como uma
transição aprimoradora, como um ciclo de reciclagem, pelo qual as pessoas
estão se renovando constantemente, através da adequação pessoal com o
meio coletivo em que vivem, fato este que traria uma maior satisfação social,
posto que, mesmo tendo que passar pelos citados conflitos, através de sua
visão não negativa deste, as pessoas compreenderiam o caráter transitório e
necessário dos mesmo, vindo por fim a aceita-los e compreende-los,
facilitando deste modo a sua resolução.

Corroborando a mesma opinião, Renata Fonkert explica que,

(...) embora se possa ter a visão negativa do conflito, como algo ameaçador
ou destrutivo, é possível, ao contrário, ter uma visão positiva dele. Quando
entendido como possibilidade de crescimento e mudança, torna-se a base a
partir da qual são geradas soluções participativas, criativas e satisfatórias.

A mediação, como um meio para facilitar a solução de controvérsias, deve ser


entendida, em todo o seu procedimento, como prevenção, já que evita a má
administração do problema e procura o tratamento dos conflitos, ou seja, durante o
processo de mediação, o mediador, com sua visão de terceiro imparcial, deve-se
aprofundar no problema exposto, possibilitando o encontro e a solução real do conflito.
Parece-nos concordar com esse entendimento a Mônica Haydee Galano, quando
dispõe que, “uma mediação bem-sucedida leva a semente da resolução de conflitos que
as divergências podem criar no futuro. Ela retoma o canal da comunicação e dá os
elementos as partes para que possam mantê-la.”

4. Mediação Familiar

Diante dessa realidade, marcada pela atual instabilidade familiar, constata-se a


necessidade da utilização de mecanismos pacíficos de solução de conflitos, que primem
pelo diálogo, tais como a mediação. Quando existe a possibilidade de comunicação,

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para os problemas dessa natureza, a própria vontade das partes consiste em uma
verdadeira justiça.
A respeito do assunto, a autora Maria Nazareth Serpa aduz que:

a realidade dos conflitos familiares contém um indistinto emaranhado de


conflitos legais e emocionais, e quando não são resolvidos pelos
protagonistas,transformam-se em disputas intermináveis nas mãos de
terceiros, deixando sérias marcas na sociedade (1999:17).

A autora Danièle Ganância afirma que “Os conflitos familiares, antes de serem
conflitos de direito, são essencialmente afetivos, psicológicos, relacionais, antecedidos
de sofrimento.” Logo, para uma solução eficaz, é importante a observação dos aspectos
emocionais e afetivos.
O Poder Judiciário, cuja função precípua é aplicar o direito ao caso concreto, é
capaz de solucionar os conflitos de natureza familiar de forma adequada, desde que sua
estrutura favoreça o diálogo. Nos dias atuais, entretanto, a burocracia, o excesso de
demandas e a morosidade de seus procedimentos dificultam a solução dos conflitos
familiares de forma satisfatória pelo aludido Poder.
Várias iniciativas comprovam que alguns membros do Poder Judiciário já estão
instituindo medidas para introduzir o diálogo pacífico, objetivando a consecução de
acordos mutuamente satisfatórios. Alguns juízes e tribunais estão inclusive utilizando
técnicas de mediação para resolver os conflitos. Destaca-se a iniciativa do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, que já utiliza a mediação familiar desde 2001, bem como dos
Tribunais dos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, além do Distrito Federal.
Nesse sentido, necessário se faz a utilização de outros métodos de composição
de conflitos que tratem das questões familiares de modo eficaz, a exemplo da mediação.
Note-se que a mediação adequa-se aos conflitos familiares, apresentando-se
como uma eficiente técnica de resolução de controvérsia, proporcionando, em tempo
adequado, um intenso tratamento dos problemas e facilitando a continuação do
relacionamento entre as partes por meio do diálogo e da mútua compreensão.
Consoante o Projeto de Lei que tramita no Congresso Nacional, é permitida a
mediação em toda matéria que admita conciliação, reconciliação, transação ou acordo
de outra ordem. Desse modo, a mediação pode ser utilizada nos mais diferentes tipos de
conflitos, tais como: questões cíveis, familiares, comerciais, escolares, de vizinhança,
ambiental e conflitos provenientes de relações de consumo.

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Para a solução de questões familiares, o projeto de lei estabelece a necessidade


da co-mediação, devendo participar, além do mediador, um psiquiatra, psicólogo ou
assistente social. Com isso, o conflito familiar possui melhores chances de ser abordado
de forma eficaz, contemplando as peculiaridades que o mesmo possui. É nas questões
de família que a mediação encontra sua mais adequada aplicação. Há muito, as tensas
relações familiares careciam de recursos adequados, para situações de conflito, distintos
da negociação direta, da terapia e da resolução judicial. A mediação vem-se destacando
como uma eficiente técnica que valoriza a co-participação e a co-autoria.
Como já analisado, a mediação consiste em um método eficaz de composição de
conflitos, em que um terceiro capacitado e imparcial denominado mediador, auxilia as
partes na consecução de um acordo mutuamente satisfatório, melhorando o diálogo e a
comunicação entre as mesmas.
A pacificação social e a prevenção da má administração de novos conflitos são
objetivos da mediação. Na verdade, por sua grande aplicação nas questões familiares,
esse procedimento constitui um importante instrumento de combate à violência
doméstica. Lilia Godau dos Anjos Pereira Biasoto afirma que:

A mediação Familiar e conjugal vem ao encontro dessa necessidade de obter


instrumentos de intervenção sobre questões relacionadas à violência, em que
as partes estejam envolvidas na busca de soluções para conflitos, que não as
agressões físicas. A mediação como possibilidade de desenvolvimento de um
contexto flexível para o manejo de disputas tem demonstrado sua eficácia e
congrega uma série de vantagens; o mediador é o terceiro elemento que
possibilita a criação de um contexto favorável à negociação das diferenças e
ao estabelecimento de uma comunicação funcional (2003:245).

A mediação introduz a cultura do diálogo, ressaltando a importância da


comunicação. Na mediação não existem adversários; as partes devem buscar a solução
do problema de forma pacífica, construindo conjuntamente uma solução satisfatória. É
justamente nos conflitos familiares que transparecem sentimentos como: hostilidade,
vingança, depressão, ansiedade, arrependimento, ódio, mágoa etc., dificultando a
comunicação entre os mediados.
Quase sempre, durante uma crise, os parentes não conseguem conversar de
forma ordenada e pacífica para resolver suas controvérsias. Assim, a mediação familiar
incentiva a comunicação entre as partes, responsabilizando-as pela formação de uma
nova relação baseada na mútua compreensão.

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A autora Danièle Ganância, a respeito do assunto, acrescenta que: “A mediação


familiar é, antes de tudo, o lugar da palavra em que as partes, num face a face, sem outra
testemunha, poderão verbalizar o conflito e assim tomar consciência de seu mecanismo
e do que está em jogo” (2001:12).
Esse instrumento proporciona às famílias a oportunidade de uma comunicação
destinada a esclarecer mal-entendidos, evitando rupturas desnecessárias. A mediação,
sobretudo a familiar, objetiva pôr fim ao conflito real, e não ao aparente, pois assim
estará sendo solucionado o verdadeiro problema.
Entendemos que a Mediação Familiar, é uma forma simples e eficiente de
resolver conflitos familiares, em que as partes em desacordo, com a ajuda do mediador,
encontram uma solução do agrado de ambas. Na Mediação Familiar os intervenientes
podem ser, numa primeira abordagem, atendidos individualmente e, em seguida, em
reuniões conjuntas.
O acordo construído pelos mediados é redigido pelo mediador e entregue a
ambos.
Além disso, a mediação busca a valorização do ser humano e a igualdade entre
as partes. Portanto, nos conflitos familiares, que muitas vezes são marcados pela
desigualdade entre homens e mulheres, a mediação promove o equilíbrio entre os
gêneros, na medida em que ambos possuem as mesmas oportunidades dentro do
procedimento. Outra vantagem oferecida pela mediação familiar é a resolução do
conflito em tempo adequado. Neste procedimento, dependendo da complexidade, os
problemas podem ser resolvidos em um curto lapso temporal, observando a natureza de
urgência das disputas familiares.
Isto posto, é notável a eficiência da mediação nos conflitos familiares, na medida
em que seu procedimento busca uma escuta diferenciada das partes, dando-lhes
oportunidade de pensar na reorganização de suas relações parentais. Assim, este
processo possibilita inúmeros benefícios para os que dela participam, sendo amplamente
utilizada nas áreas de;

a) Conversão da separação de pessoas e bens em divórcio;

b) Reconciliação de cônjuges separados;

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c) Separação de bens;

d) Atribuição e alteração de alimentos, provisórios ou definitivos;

e) Partilha de bens;

f) Autorização para o uso do apelido do ex-cônjuge.

V - Conclusão:

Ao longo dos anos, a família vem enfrentando um processo ininterrupto de


transformações em sua evolução, dando ensejo a criação das mais variadas formas de
família.
A família patriarcal ainda resiste nos dias atuais, mas começa a perder forças.
Hoje, existem os mais variados modelos de família. Nesses novos modelos, que são
caracterizados pela igualdade, afetividade e pela ausência de uma rígida hierarquia, os
familiares precisam a todo o momento negociar suas diferenças.
A mediação adequa-se à solução desses conflitos carecedores de solução
pacífica, possibilitando aos mediados a oportunidade de resolver seus conflitos com
base na comunicação.
O processo de mediação familiar encontra ampla aplicação nas separações e nos
divórcios, auxiliando as pessoas que decidem pelo rompimento de forma a salvaguardar
as relações parentais e negociar pacificamente as responsabilidades advindas desse
rompimento.
Há tempos, as tensas relações familiares careciam de recursos adequados à
solução de seus conflitos, distintos da via judicial e da terapia. A mediação proporciona
uma verdadeira mudança de paradigma que incentiva a cultura no diálogo cooperativo.
Ainda há muito a ser discutido e analisado a respeito da mediação familiar.
Espera-se que sua utilização seja cada vez mais difundida na sociedade,
contribuindo para a disseminação de uma cultura de paz de diálogo, em detrimento da
cultura do litígio.

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6. Referências

BIASOTO, Lilia Godau dos Anjos Pereira. De que vítimas estamos falando? Situações
de violência em relacionamentos conjugais. In: MUSZKAT, Malvina Ester (org).
Mediação de conflitos: pacificando e prevenindo a violência. São Paulo: Summus,
2003.

BOCK, Ana Maria. Psicologias. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 1996.

GANANCIA, Daniele França. In Revista da Associação dos Advogados de São


Paulo. n º 62.

PINTO, Ana Célia Roland Guedes. O Conflito Familiar na justiça – Mediação e o


exercício dos papéis. In Revista dos Advogados. n. 64. São Paulo mar. 2001.

POUJOL, Jacques. Conflitos: origens, evolução e suspensão. São Paulo: Vida, 2005.

SALES, Lilia Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del
Rey, 2003.

SALES, Maia de Morais. Mediação familiar. Fortaleza: Universidade de Fortaleza,


[s.d].

SALES, Lília Maia de Morais. Mediare: Guia Prático mediadores. 2. ed. Fortaleza:
Universidade de Fortaleza, [s.d].

SERPA, Maria de Nazareth. Mediação de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 1999.

ZEGER, Ivone. Como a Lei Resolve Questões de Família. São Paulo: Mescla, 2007.

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