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Introdução:
Fernando Barcelos de Almeida[2] nos apresenta a definição mais genérica possível de Direitos
humanos, informando que até os fundamentalistas islâmicos e os ciganos a aceitariam, diz ele
que "os Direitos Humanos são as ressalvas e restrições ao poder político ou as imposições a
estes, expressas em declarações,dispositivos legais e mecanismos privados e
públicos,destinados a fazerrespeitar e concretizar as condições de vida que possibilitem a todo
serhumano manter e desenvolver suas qualidades peculiares de inteligência, dignidade,
consciência, e permitir a satisfação de suas necessidades materiais e espirituais".
Os direitos humanos foram consagrados juridicamente nos diversos Estados do planeta através
de seus arcabouços legais e universalmente foram postos, sob a forma de comandos jurídicos,
para a humanidade, através da Declaração dos Direitos do Homem, em 1948. Posteriormente, os
princípios da mesma declaração se incorporaram aos sistemas legais dos Estados pelo viés da
adesão às convenções internacionais.
A respeito de tal assertiva, o professor Fernando Barcelos de Almeida[3] nos ensina que:" Os
Direitos Humanos estão inseridos no contexto de Estado nacional,embora aos poucos venham se
tornando internacionais. Por isso eles tendem a estar expressamente inseridos nas Constituições
nacionais e nos grandes documentos internacionais".
Os direitos humanos podem ser traduzidos pelas garantias dos indivíduos contra atos lesivos a si
cometidos até mesmo pelas entidades públicas. Estão postos na norma máxima do Estado, qual
seja, a Constituição.
2. Análise Histórica:
Historicamente, podemos analisar a concepção de direitos humanos sob o ponto de vista dos
paradigmas constitucionais, e traçarmos um paralelo, no qual observamos que este ramo do
direito se adequou às novas concepções sociais e econômicas vivenciadas pelo Estado ao longo
dos séculos.
A cronologia da existência do homemdenota que este passou por diversos momentos históricos,
sendo estes reflexos inexoráveis do modo de produção econômica, da religiosidade vigente, e
ainda, das formas de governo instituídas, sendo estes elementos intimamente ligados entre si. Tal
tese tem o apoio do jurista brasileiro Rui Barbosa[4], o qual comenta que: "As constituições são
conseqüência da irresistível evolução econômica do mundo".
Portanto, a Lei Máxima do Estado reflete o momento vivenciado pela nação territorialmente
organizada e governada, sendo fruto da concepção de juristas, sociólogos e filósofos, que a
implantam, como ordem jurídica,através do Direito Positivo.
Em seguida, enveredou, o estado, pela Idade Média, via Feudos, Comunas e Cidades. Chegou à
Idade Moderna, ostentando o absolutismo,para aportar no Estado Liberal.
Analisando sob o prisma histórico, a experiência constitucional vivida pela humanidade, três são
os modelos constitucionais mais relevantes,a saber, oEstado de Direito, o do constitucionalismo
social e o do Estado democrático de Direito.
Embasados nos elementos históricos previamente estudados, temos que as concepções dos
Direitos Humanas se amoldaram às normas constitucionais vigentes.
Com o advento deste paradigma constitucional, o homem ganhou a possibilidade de "ser dono de
si mesmo", pois agora poderia vender sua "força de trabalho", ao contrário do sistema anterior,
regime feudal, no qual era vassalo.
José Lourenço[5] testifica que: "a liberdade adquire várias feições e significados dependendo do
ângulo pelo qual analisamos. Na filosofia pura,por exemplo,a liberdade,segundo Kierkegaard,é o
bem principal que a existência ética traz como complemento à base estética da vida.A liberdade é
a primeira e última palavra do esclarecimento da existência,conforme Jaspers. A liberdade é a
possibilidade de escolher fins, segundo Satre. A liberdade é o livre arbítrio e a
autodeterminação,de acordo com Aristóteles. A liberdade é o estado daquele que faz o que quer
e não o que o outro deseja,ou a ausência de constrangimento alheio,conforme Lalande. A
liberdade é a essência da razão da lei moral,de forma a ser conhecimento dela mesmo,segundo
Kant. Finalmente é a qualidade do que não está sujeito a nenhum tipo de constrangimento físico,
psíquico, moral, ético ou intelectual,na opinião de Jaques Robert". Mais adiante conclui o
civilista[6] afirmando que: "em última análise, para nós, que entendemos e aceitamos a dinâmica
social e a tridimensionalidade do direito, a liberdade não é outra coisa senão a faculdade de
escolhas diante de um número limitado de possibilidades".
Neste diapasão o Estado intervém minimamente na vida de seus cidadãos, nisto reside à máxima
de que tudo é permitido desde que a lei não proíba.
Este padrão constitucional exagerou ao alargar os limites da liberdade e igualdade dos seres
humanos, pois radicalizou na implementação dos dois princípios preambularmente informados,
esquecendo-se de fatores econômicos que certamente agiriam no sistema social e se chocariam
com a realidade jurídica positivamente posta.
Uma parte diminuta da população do Estado detinha a totalidade do poder econômico advindo
dos elementos necessários à produção de bens e serviços, enquanto a grande maioria dos que
viviam no território só possuía sua "força de trabalho" como elemento produtivo . Assim, o Estado
resolveu intervir de forma contundente e abrangente em todos os setores da sociedade, para,
com seu arcabouço legal, ofertar a todos habitantes do país, os meios necessários à liberdade e
igualdade e conseqüentemente atingir o seu fim último, à implementação do "bem comum" aos
seus moradores.
Entendiam os teóricos deste padrão constitucional que, para se garantir os Direitos do Homem,
se fazia necessária à intervenção estatal nos meios econômicos e sociais, implantando-se esta
através de normas de caráter socializantes. Portanto, o Estado se mescla e até explora atividades
ligadas à saúde, transportes, educação, organização partidária e sindical. A liberdade em si se
encontra também simbioticamente solidificada no novo princípio de igualdade, no qual há o
comando de que nem todos os seres humanos são iguais, em razão da existência de grupos de
pessoas em posição inferior a outras na balança sócio-econômica. O conceito de propriedade,
anteriormente decantado como dogma necessário ao implemento da liberdade, foi transmutado,
visto que, esta teria que atender a uma função social e não a interesses privados.
João MaurícioAdeodato[8], ao discorrer sobre Hegel em seu livro a Filosofia do Direito, indica
que: "Hegel refere-seao Estado como representante de Deus no mundo,uma encarnação mais do
que metafórica da ética e do direito em sentido próprio",comentando mais adiante o porque " da
simpatia dos governantes pelo filósofo".
O terceiro paradigma constitucional, qual seja, o Estado de Direito democrático, surge com a
falência do segundo padrão constitucional, em razão da realidade social ter demonstrado que a
intervenção estatal em todas as atividades da vida social não resolvia os graves problemas de
desigualdade e a miserabilidade que assolavam parte de sua população.
No padrão constitucional agora estudado, os direitos do homem são encarados com o prisma da
participação do ente humano nos diversos setores da sociedade. O Estado se retira de algumas
atividades econômicas deixando os comandos econômicos, não escritos, atuarem.
O regime democrático passa a imperar e a própria população decide qual o seu caminho, ao
delegar aos seus governantes, uma espécie deprocuração, para que os mesmos implantem uma
carta de metas de governo que garantam a "felicidade social". Este programa, claro, prevê a
saída estatal das atividades da "livre iniciativa", atuando onde a iniciativa privada não pode nem
deve atuar.
Friedrich Muller[9] comenta que: "o mero fato de que pessoas se encontram no território de um
estado é tudo menos irrelevante. Compete-lhes, juridicamente, a qualidade do ser humano, a
dignidade humana, a personalidade jurídica [Rechtsfähigkeit]. Elas são protegidas pelo direito
constitucional e pelo direito infraconstitucional vigente, i. é, gozam de proteção jurídica,têm direito
a oitiva perante os tribunais,são protegidas pelos direitos humanos que inibem a ação ilegal do
estado por prescrições de direito de polícia e por muito mais. Funcionários públicos, que as
violam nas suas posições garantidas,não podem ficar impunes".
Vale ressaltar que, em todos os modelos constitucionais estudados, o Estado, através do tributo,
se financiava.
Todavia, didaticamente, o gênero direitos humanos pode ser dividido em quatro espécies
conforme teoriza o professor José Luiz Quadros de Magalhães [10]: os direitos individuais; os
direitos dos cidadãos; os direitos políticos, direitos sociais e direitos econômicos.
Assim, os direitos humanos englobam um enorme leque de comandos legais que visam não só à
garantia da liberdade e igualdade dos seres humanos e sim a proporcionar-lhes uma existência
digna e feliz, na qual sejam atendidas as suas necessidades basilares, como pré-requisito de
sobrevivência, bem como que sejam ofertadas, aos homens, as demais condições necessárias ao
seu desenvolvimento nos diversos campos de atuação.
Como exemplo das premissas acima temos os diversos artigos da Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948 [11],que contém variados comandos jurídicos
englobados como Direitos Humanos,mas que também versam sobre normas de suas espécies.
Assim, selecionamos pois, como modelo exemplificativo os artigos 1º, 2º, 8º, 22º e 25º que
rezam,respectivamente: Artigo 1º :" Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade
e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir uns com os outros com espírito de
fraternidade". Artigo 2º: "Todas as pessoas possuem os direitos e liberdadesproclamados
nestaDeclaração,sem distinção alguma de raça,cor, sexo, idioma, religião,opinião política ou de
outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica,nascimento ou qualquer outra
condição".Artigo 8º: "Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes
remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos
pela constituição ou pela lei". Artigo 22 "Toda pessoa,como membro da sociedade,tem direito à
segurança social e à obtenção,mediante o esforço nacional e cooperação internacional e de
acordo com aorganização e recursos de cada Estado,da satisfação dos direitos
econômicos,sociais e culturais,indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de sua
personalidade". Artigo 25: "Toda pessoa tem direito a um padrão de vidaadequado,que lhe
assegure a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,
assistência médica e os serviços sociais necessários, e direito à segurança em caso de
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou em outros casos de perda dos meios de
subsistência por circunstâncias alheias à sua vontade."
Como explicitado, o gênero direitos humanos se subdivide em várias espécies, sendo os Direitos
dos Cidadãos uma delas. A ele está afeto o estudo do homem em seu habitat e aspectos de sua
vida em sociedade, abrangendo questões de moradia, saúde, educação, saneamento básico são
aqui observados, inclusive, e em decorrência deste estudo, verifica-se a aplicação dos recursos
estatais.
No campo do Direito Tributário tal questionamento é válido, pois, constantemente, verifica-se que
o Estado invade a órbita dos direitos fundamentais de seus habitantes, ao instituírem tributos sem
a observância das garantias constitucionais, quando não deveria fazê-lo.
O professor Ricardo Lobo Torres [13] discorrendo sobre a liberdade em sua relação com o ente
Estatal, assevera que: "o tributo é o preço da liberdade,eis que o indivíduo se distanciado Estado
na medida em que a prestação fiscal substituiu os deveres pessoais e alivia as proibições
jurídicas".
Assim, a aplicação do instituto da transação, no direito tributário, é limitada, sendo esta uma
forma do Estado não renunciar às receitas necessárias à implementação de seus serviços.
Conclusão:
O arrazoado acima mostrou que os direitos humanos estão consagrados no instituto da transação
tributária.
Referências:
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[1] ob.cit.
[2] ALMEIDA,Fernando Barcelos.Teoria Geral dos Direitos Humanos. Porto Alegre:Editora Sergio
Antonio Fabris.2000,p.24.
[3] Idem.p.19.
[4] BARBOSA,Rui. Comentários a Constituição Federal brasileira. Rio de Janeiro:
Forense.1932,v. 1,p. 38.
[5] Ob.cit.p.22.
[6] Idem.p.24
[10] Ob.cit.p.10.
[11]www.mj.gov.br/sedh/dpdh/gpdh/ddh_bib_inter_universal.htm 14-12-2002.
[12] BOBBIO, Noberto. A Era dos Direitos,tradução de Carlos Nelson Coutinho .Rio de
Janeiro:Editora Campus 1992.p. 25.
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Paulo Henrique Figueiredo