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RESUMO
I.INTRODUÇÃO
Embora louvável pela ostensiva proteção à mulher vítima de violência e maus tratos pelos
maridos, concubinos, namorados, irmãos e pais, a Lei Maria da Penha deixa algumas questões
em aberto que devem ser discutidas. A primeira é a falta de preparo do Estado em receber estas
mulheres, posto que a lei, para que seja bem aplicada, deve repousar sobre uma completa
estrutura social a receber a vítima de violência: não basta a acusação, a medida protetiva e o
processo: são necessárias as casas de acolhimento, e mais fortemente, o apoio social,
psicológico, às mulheres que têm a coragem de se defender de seus algozes.
Mas outra questão se faz premente: a mesma falta de estrutura para a recepção destas mulheres
deixa as delegacias especializadas e mesmo os órgãos judiciários à descoberta frente a uma
nova realidade: o mau uso, o uso distorcido que se faz da lei.
São cada vez mais freqüentes os atendimentos em delegacias de mulheres que na verdade não
necessitam de se utilizar da lei 11.340/06. As situações são as mais variadas: mulheres em
conflito com seus companheiros, que desejam ardentemente dar-lhes algum tipo de "lição", fazer-
lhes despertar algum sentimento diferente; mulheres enciumadas, enraivecidas, presas de
alguma mágoa com o fim de uma relação; mulheres com problemas de relacionamento com ex-
companheiros e em disputa de guarda de filhos, de partilha de bens, de valores de pensão, que
se acorrem de delegacias para prestar queixas eventualmente fictícias, falsas, ou mesmo reais,
mas que são exageradas. A lei Maria da Penha, embora deva atender a casos de violência moral
e física, não se presta a servir de instrumento de vingança, de extravasamento moral, e nem deve
ser entendida como a ultima tábua de salvação para uma relação desgastada. Esta má
interpretação da lei Maria da Penha está gerando verdadeira celeuma doutrinária, pois que
marginaliza o homem e o põe à mercê dos tipos abertos e da incapacidade do Estado de
responder prontamente, ou de triar aquilo que realmente é questão de delegacia e representação
judicial ou questão emocional, devendo ser tratada por psicólogos e assistentes sociais. O
presente se propõe a analisar o outro lado da Lei 11.340/06, sem, no entanto questionar o valor
desta lei no nosso ordenamento. Pretendemos no presente apenas mostrar o que a teoria e a
prática diária nos trazem, e a urgente necessidade de haver uma estrutura mais completa ao
redor da delicadeza de certos problemas tão íntimos quanto a relação de homem e mulher e de
pai com seus filhos.
O tema da violência contra a mulher vem sendo discutido ao longo dos tempos. A Organização
das Nações Unidas ocupou-se de falar sobre este tema em várias de suas convenções. No Brasil,
destacam-se a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação sobre a
Mulher realizada em 1979; Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Violência Contra a Mulher -1994.
Na mesma esfera, em 1993, foi realizada em Viena, a Convenção Mundial sobre Direitos
Humanos e finalmente, em 1995, em Copenhague foi desenvolvida a Apresentação de Cúpula
para o Desenvolvimento Social.
Para a caracterização da violência contra a mulher, a doutrinadora Letícia Franco de Araújo fez a
seguinte distinção das expressões comumente utilizadas em apresentações sobre a violência
contra a mulher e a violência doméstica:
Violência contra a mulher é qualquer ação ou conduta que cause morte, dano ou sofrimento
físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado, motivada apenas
pela sua condição de mulher.
Violência contra a mulher é a violência cometida contra a vítima mulher, de qualquer idade, seja
no âmbito doméstico, seja no privado, e especialmente dentro das atribuições da delegacia da
mulher: crimes contra a vida, a integridade física, a honra, a liberdade e contra a liberdade sexual.
[2]
Segundo Maria Berenice Dias, um detalhe importante é que há pouco tempo, pouco mais de trinta
anos, a mulher começou a deixar de ser totalmente submissa, sendo reconhecida como chefe de
família, alcançando direitos específicos tanto no Brasil quanto no exterior, em diversos paises. A
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em seu art. 5 prevê:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
"I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição"
"Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher."
Ou seja, a legislação iguala homens e mulheres assegurando a estas últimas proteções jurídicas
contra a desigualdade de direitos, a despeito de não ser incomum que muitas ainda ocupam ou
se sentem em posição de inferioridade na sociedade, vez que dependem financeiramente e em
algumas situações emocionalmente de seus maridos, companheiros e namorados, acreditando
que sendo submissas estão tentando manter um lar. [3]
Os direitos sociais de primeira geração são os que são oriundos da Revolução Francesa:
liberdade, igualdade e fraternidade. Mas são os direitos de segunda geração que passam a
temperar estes primeiros: destacam grupos e gêneros, tornando-os alvos de determinados
direitos especialmente amoldados às suas condições. Assim, temos alguns direitos especiais aos
idosos, às crianças, às minorias raciais e religiosas, à quem é hipossuficiente, aos deficientes.
São direitos ditos de aceleração positiva, ou seja, tratam desiguais os desiguais, para que a
igualdade seja estabelecida mais rapidamente. Ou seja, para que se estabeleça a igualdade, é
preciso reforçar condições para que ela seja atingida mais depressa.
Foi exatamente esta diferença – uma desigualdade biológica, que tem fortes reflexos físicos, pois
a ninguém é desconhecido que a mulher mediana é mais fraca fisicamente que o homem, é que
se promulgou a Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha, ou Estatuto da Mulher Vitimizada).
A lei Maria da Penha foi pensada no sentido de dar às mulheres o atendimento e o apoio legal
necessário simplesmente por elas serem as vitimas mais comuns do homem.
Desta forma, homens e mulheres serao iguais[4] perante a lei guardadas as devidas diferenças,
posto que são gêneros difernetes, e quando se trata de violência física, é imensamente mais
comum que as muljheres, e não os homens, sejam as vitmas.
À primeira vista, portanto, é possível que se entenda que a Lei 11.340/06 é inconstitucional: fere
claramente a igualdade de gêneros preconizada na Carta Magna.
A Lei Maria da Penha nasce com a importante missão de resgatar a mulher de uma situação de
desvantagem física, e ao mesmo tempo livrá-las de uma cultura machista arraigada durante
séculos, onde o homem era mais importante, a cabeça do casal, o chefe da família, senhor de
sua casa, o que gerou um preconceito (pré-conceito) de que as mulheres têm menos valor, são
menos importantes, tendo de suportar não raro humilhações e ofensas, agressões físicas e
morais.
Portanto qualquer ação que tenha embutido sofrimento físico ou intelectual tomando por base o
gênero feminino seguirá os tramites designados pela lei 11.340.
2.MARGINALIZAÇÃO DO HOMEM
A grande questão em volta da Lei Maria da Penha é o seu mau uso, ou uso abusivo da lei.
É que a mesma lei que busca proteger as mulheres também acabou por dar a algumas uma arma
que implica na distorção da finalidade da lei. Vem sendo cada vez mais denunciado o uso das
medidas protetivas contra o marido ou companheiro vem sendo usado como método de vingança
ou mesmo para afastar dos filhos em comum um pai indesejado, mas que não praticou contra
eles qualquer malefício.
As medidas protetivas vão desde o afastamento do lar até a proibição de aproximação dos filhos
e dos familiares.
Com isto o homem, que é predominantemente sujeito ativo previsto na lei Maria da Penha, acaba
por marginalizado sem que algumas vezes haja verdadeira motivação.
Muitas mulheres procuram o Juizado não por terem sido vítimas de violência, mas em busca de
benefícios financeiros através das medidas protetivas, especialmente a que afasta o denunciado
do lar. Desejam a separação, mas não querem realizar a separação de bens e acabam frustradas
quando têm seu pedido negado. Algumas também utilizam a medida como uma forma de
chantagear o companheiro, com fins que vão desde reatar o relacionamento a conseguir
benefícios diversos. "[6]
Aponta como base da distorção a ausência de preparo e estrutura para efetivamente por em
prática a lei. Além disto, denuncia a precariedade de atendimento dos casos verdadeiros, o que
dificulta a apuração de fatos.
Maria Berenice Dias aponta exatamente as grandes características da lei, e são estas mesmas
características que, ao mesmo tempo em que protegem a mulher do homem agressor, acabam
por acobertar a grave distorção que vem sendo vista nas delegacias do país. A doutrinadora fala
sobre a proteção dada às mulheres vítimas:
A vítima estará sempre assistida por defensor e será ouvida sem a presença do agressor.
Também será comunicada pessoalmente quando for ele preso ou liberado da prisão. Mais. A lei
proíbe induzir o acordo bem como aplicar como pena multa pecuniária ou a entrega de cesta
básica.[7]
A própria Maria Berenice aponta um dos motivos pelos quais a lei acabou por ser vista de forma
distorcida. Se antes a mulher tinha dificuldade de fazer parar a agressão – não raro não era
levada a sério nas delegacias, ou acabava tendo de transigir e retirar a queixa de agressão – hoje
a Lei Maria da Penha constitui uma arma efetiva contra a violência. As medidas a serem tomadas
a partir da denuncia da agressão são diversas, e não mais dependem de representação da
vítima. Porém, não raro, o que na verdade ocorre é que:
A vítima, ao veicular a queixa, nem sempre quer separar-se do agressor. Também não quer que
ele seja preso; só quer que a agressão cesse. Assim, vai a busca de um aliado, pois as tentativas
que fez não lograram êxito.[8]
A juíza Osnilda, em outro ponto de sua entrevista, argumenta que não só o mau uso, mas a visão
distorcida da lei Maria da Penha acaba por fazer com que muitas mulheres acorram ás delegacias
não em busca de proteção de agressões a ameaças, mas de ajuda – e nem sempre de boa fé:
Em arrebatado texto, o sociólogo Miguel D'Ávila defende o gênero masculino das injustiças e
deformações causadas pela má estruturação do atendimento ao redor da Lei Maria da Penha:
Também não se pode admitir a psicopata – sociopata manipulação social para vitimização da
mulher e estigmatização do homem como agressor. Faz-se isso inclusive com objetivo de
perturbar psiquicamente crianças e adolescentes, bem como produzir condicionamentos
negativos em adultos, e até gerar prejulgamentos ou comoções sociais.[10]
Guarda alguma razão o jornalista e sociólogo. A lei não deve se prestar nem para a vingança,
nem para o mau uso da mulher, nem para solucionar problemas conjugais, mas sim para fazer
cessar uma violência real e efetiva, posto que de outra mentira:
Ter-se-á casos de homens vítimas de processos injustos, ou com antecedentes que foram
forjados com inverdades, e por isso estando em oposição ao Sistema de Polícia e Justiça, serem
trucidados por essa máquina infernal, na oportunização vinda de um conflito doméstico.
Imaginem-se casos de homens, o que a sociedade não toma conhecimento, que já venham
enfrentando o Sistema de Polícia e Justiça por ações abusivas e/ou criminosas de seus agentes
em relação a questões familiares, ou mesmo por conspiração de criminosos com cooptação de
crime organizado dentro do Sistema de Polícia e Justiça.[11]
2.4FALSAS ACUSAÇÕES
A lei não deve se prestar a atender situações onde sentimentos mesquinhos e de vingança, de
raiva momentânea ou perene estejam envolvidos.
Com base nestes dados, e nas declarações da juíza Osnilda Pisa, a advogada Karla Sampaio
comenta em artigo-réplica:
Não se trata de discurso deste ou daquele jaez, mas de uma realidade que bate às nossas
portas, consubstanciada em mulheres acusando levianamente seus companheiros de maus
tratos, imputando falsamente abusos sexuais cometidos contra si e contra em suas filhas,
ignorantes do que isso representa, quer para o acusado, quer para a falsa vítima criança e muito
menos para o Poder Judiciário, já tão massacrado pelas pilhas de processos inertes. É fenômeno
endêmico. Nenhuma etnia, classe social ou religião está imune, tampouco é característico da
pobreza[12]
II.CONCLUSÃO
A despeito da importância da Lei Maria da Penha em nosso ordenamento, uma visão distorcida
da mesma faz acudir em nossas delegacias casos e questões que não deveriam ocorrer:
mulheres que têm entendimento que a lei 11.340/06 servirá para elas como algum tipo de
redenção, ou para salvar-lhes a relação, ou para proporcionarem-lhes algum tipo de vingança, ou
para satisfazer sentimentos mesquinhos, mas que nada tem com o escopo da lei. Embora seja
indiscutível a necessidade de uma lei protetiva às mulheres vítimas de violência familiar, nem
todos os casos efetivamente tratam disto. Uma mudança se impõe na lei, ou na estrutura de
recepção destas mulheres nas delegacias e juizados. É preciso conscientizá-las que a lei
11.340/06 não se deve prestar, e nem o faz, a satisfazer frustrações, desilusões, pequenas
vinganças, disputas de guarda de filhos, pensões e bens. A lei Maria da Penha é de extrema
importância para que não caia na redundância de mesquinharias e pequenas brigas judiciais de
pouca monta, ou de foco inteiramente díspar de sua intenção. É preciso urgentemente melhorar o
atendimento das mulheres e triar os casos, para que os juizados e delegacias especializados não
se vejam sobrelotados de casos que nada têm que ver com o alvo da lei 11.340/06.
III.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Letícia Franco de. Violência Contra a Mulher: A Ineficácia da Justiça Penal
Consensuada/ Letícia franco de Araújo – Campinas, SP: CS; São Paulo: Lex, 2003..
BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004
DIAS, Maria Berenice. Bem vinda, Maria da Penha! Artigo on line disponível em
http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/060809bem_maria_berenice_dias.php.. Acesso em 05/06/09.
[1] ARAÚJO, Letícia Franco de. Violência Contra a Mulher: A Ineficácia da Justiça Penal
Consensuada/ Letícia franco de Araújo – Campinas, SP: CS; São Paulo: Lex, 2003.p.141.
[2] ARAÚJO, Letícia Franco de. Violência Contra a Mulher: A Ineficácia da Justiça Penal
Consensuada/ Letícia franco de Araújo – Campinas, SP: CS; São Paulo: Lex, 2003.p. 141.
[3] ROUDINESCO, Elisabeth. A família em desordem. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed, 2003, pág. 49.
[5] Apud BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004,
p. 77
[7] DIAS, Maria Berenice. Bem vinda, Maria da Penha! Artigo on line disponível em
http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/060809bem_maria_berenice_dias.php
[8] DIAS, Maria Berenice. Bem vinda, Maria da Penha! Artigo on line disponível em
http://www.tex.pro.br/wwwroot/00/060809bem_maria_berenice_dias.php
[9] REVISTA ELETRÔNICA AJURIS. Lei Maria da Penha é 'faz de conta'. Disponível em
http://www.ajuris.org.br/sharerwords/?org=AJURIS&depto=Dep.%20Comunica%C3%A7%C3%A3
o%20Social&setor=Clipping%20Di%C3%A1rio&public=41813
1 A fonte do artigo e informações do autor devem ser mantidas. Reprodução apenas na Internet.
JOEMIA RODRIGUES
Joemia Rodrigues Antunes, funcionária publica, formada em pedagogia e Direito e pós graduada
em segurança publica