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Oriente e Ocidente: Demarcação

Mário B. Sproviero
(Prof. Assoc. DLO-FFLCHUSP)

Introdução
Partindo da bipartição entre Oriente e Ocidente que remonta à Pré-história,
quando da separação dos povos, línguas e religiões - fenômeno unitário - é
necessário demarcá-los para ter clareza quanto a sua abrangência. Não
podemos estudar o Oriente, sem saber o que o distingue do Ocidente e sem
considerar a existência dos vários Orientes.

Será que termos tão genéricos quanto filosofa ocidental e filosofia oriental
tem alguma unidade? Estarão incluídas nessa bipartição todas as culturas da
Terra? Que dizer das culturas africanas, ameríndias, australianas etc? Há uma
unidade cultural no Oriente?

Para responder a esta e tantas outras perguntas congêneres, procedamos por


etapas.

Primeira Etapa: Ocidente e Orientes


Conforme o enigmático autor René Guénon (1886-1951), crítico acérrimo do
Ocidente moderno, pode-se perfeitamente falar de uma mentalidade oriental
oposta em seu conjunto à mentalidade ocidental mas não se pode falar de uma
civilização oriental como se fala de uma civilização ocidenta e já que há
várias civilizações orientais nitidamente distintas (1). Teríamos, assim, uma
civilização ocidental e várias orientais. Por outro lado, a unidade cultural (2)
da civilização ocidental moderna só repousaria num conjunto de tendências
que constituem uma certa conformidade mental, uma simples unidade de fato,
sem princípio, desde que o Ocidente rompeu com a Cristandade, seu princípio
constitutivo até a Idade Média. Enquanto que as civilizações orientais, por
mais diversas que sejam, cada uma repousando sobre um princípio de unidade
diferente, trazem todas certos traços culturais comuns, principalmente quanto
aos modos de pensar, o que permite dizer que existe, de um modo geral, uma
mentalidade especificamente oriental (3).

Segunda Etapa: Critério Geográfico


O ponto de partida para caracterizar o Oriente e o Ocidente é geográfico, no
entanto tais conceitos geográficos revelam profundo conteúdo cultural. Nesse
sentido, e em primeira instância, podemos dizer que o Ocidente é
fundamentalmente a Europa, o Oriente é fundamentalmente a Ásia. Não é
preciso salientar o imenso conteúdo cultural de tais realidades. A oposição
entre Oriente-Ocidente é a oposição Europa-Ásia. Então, estão excluídas da
bipartição Oriente-Ocidente todas as civilizações que não pertencem à
Eurásia, como as da África, da América, da Austrália, da Oceânia etc. É um
ponto assentado por historiadores, não sem contestação, que na Ásia
principiaram as primeiras civilizações humanas. Diz-nos o famoso historiador
italiano do século passado, Cesare Cantù (4)(1804-1895), que a Ásia é o breço
do gênero humano e da civilização, sendo não só a parte mais extensa do
mundo como também a mais favorecida pela natureza. Pelo menos para o
início dos povos civilizados a Ásia avantajava-se em relação à Europa. As
primeiras grandes civilizações nasceram no chamado Crescente Fértil, região
que vai desde o Egito até a Mesopotâmia. Nesse caso o Egito, apesar de ser
África, tem sua história muitos mais entremeada com a dos povos da Ásia do
que com os da África, como a Etiópia, inimigo irredutível da ordem egípcia.

Terceira Etapa: Mitologia


Muitos contestam essa primazia da Ásia. As cidades mais antigas do mundo
estariam na América. Temos aqui uma problemática complexíssima referente
às origens humanas, bem como um intrincado labirinto de mitologias, que
apenas mencionamos porque muitos mitos estão relacionados à bipartição
Oriente-Ocidente. Apesar de muitas tradições, como a tradição suméria, a
persa e a hebraica colocarem o paraíso perdido na Mesopotâmia, inúmeras
outras insistem em colocá-las no extremo Ocidente. O mito da Atlântida, por
exemplo, que cativou profundamente a Platão (427a.C.-327a.C.) em sua
velhice, a ponto de tê-lo levado consigo ao túmulo (5), revela uma
participação primordial do Ocidente na civilização humana: uma ilha entre a
Europa e a América em que seu principal representante, Atlas, o atlante, está
ligado ao Jardim das Hespérides (Hespérides quer dizer Ocidente!), imagem
do Paraíso. Vários outros mitos orientais, como o do famoso Paraíso de
Amida, colocam o Paraíso no Ocidente (6). A América redescoberta é, no
imaginário europeu, a redescoberta do Paraíso. Este mito é a matriz geradora
de todos os posteriores mitos socialistas ocidentais. Não sendo esse tópico
central para o nosso tema, basta mencioná-lo. Consideramos serem
necessárias muitas outras descobertas e aprofundamentos para que se possa,
talvez no futuro, desemaranhar esse misterioso passado.

Quarta Etapa: Etimologias


A palavra oriente vem do latim oriens, ‘o sol nascente’, de orior, orire,
‘surgir, tornar-se visível’, palavra da qual nos vem também ‘origem’. A
palavra ocidente nos vem do latim occidens, ‘o sol poente’, de occ-cidere, de
op, ‘embaixo etc’, e cadere, ‘cair’. Seríamos induzidos a seguinte analogia: da
mesma maneira que o sol nasce no Oriente e morre no Ocidente, assim
também a cultura nasce no Oriente e morre no Ocidente.

Os termos Europa e Ásia são mais incertos quanto a suas raízes primitivas. A
palavra europa, conforme o citado dicionário, é provavelmente de origem
semita, do acádico erebu, ‘entrar, por-se’ (dito do sol), ereb chamshai, ‘por do
sol’. Nessa hipótese, Europa que dizer exatamente Ocidente. A forma E u r v p
h , como no nome E u r -v p h , ‘cara larga’, seria apenas um tendência de
helenizar as palavras estrangeiras. A palavra ásia, também viria do acádico
asu, ‘ir-se, surgir’ (dito do sol), significa, então, exatamente o mesmo que
Oriente. Com isso, Ásia e Europa, Oriente e Ocidente, são sinônimos.

Não são no entanto seguras essas etimologias de Ásia e Europa. Uma coisa
porém é certa, que o nome Europa está ligado ao mito relacionando gregos e
fenícios (7). Zeus, em forma de touro, rapta uma mulher fenícia, a bela
Europa.Assim, o nome Europa é nome que vem do Oriente, não se sabe,
porém, como.

Quinta Etapa: Grandes Culturas


Quando se procura caracterizar o que seja uma grande cultura, não se pensa
em primeiro lugar num critério valorativo. Uma grande cultura não é
necessariamente uma cultura superior. É, porém, certamente uma cultura que
quer expandir-se, que quer totalizar seu espaço geo-político. Por exemplo, a
cultura que surgiu na confluência do Rio Amarelo e do Rio Wei, na China,
acabou por dominar todo o espaço da China. Ainda hoje temos remanescentes
de numerosas culturas na China que permaneceram em seu estado tribal. Esta
tendência à expansão, que podemos perfeitamente chamar de imperialista, ou
seja, de querer imperar universalmente, é um traço característico do que se
denomina uma grande cultura.

Ora, na Europa surgiu um grande sistema cultural que culminou no que


chamamos de cultura ocidental. O que caracteria a cultura ocidental é ser esta
a síntese de três culturas: a grega, a romana e a judaica, esta na componente
cristã. A esta cultura assimilaram-se e a dinamizaram os povos germânicos.
Então, nem a cultura grega, nem a romana e nem a judaica, separadamente,
constituem a cultura ocidental. Nesse processo de integração entre essas três
culturas, destaca-se, para complicar as coisas, um bloco oriental, o greco-
bizantino, em que a componente romana teve um papel secundário, e que
assimilou os povos eslavos. O Império Romano do Oriente e o posterior
Império Bizantino são por assim dizer o Oriente ocidental, o "Oriente
Europeu", mas não o que chamamos propriamente de Oriente. Poderíamos
dizer que suas duas capitais históricas, Roma e Constantinopla, hoje estão
representadas por Washington e Moscou. Tudo isso é, no entanto, Europa, ou
melhor, Ocidente. Deve-se constatar que foi a Rússia que se expandiu para a
Ásia. No entanto, esta tendência poderá inverter-se em favor da China.

Paralelamente, na Ásia, em que encontramos uma incrível pluralidade de


línguas e culturas, surgiram, depois de um longo desenvolvimento histórico,
três grandes sistemas culturais - e não um - que foram denominados por sua
relação de proximidade com a Europa de: 1. Próximo-Oriente, 2. Oriente-
Médio e 3. Extremo-Oriente, e que constituem o que hoje se denomina
especificamente de Oriente.

Sexta Etapa: Os Três Orientes

:
Pode-se ver pelo mapa os três Orientes, clara e geometricamente distintos, e
que não haveria a menor possibilidade de confundir o Próximo-Oriente com o
Oriente-Médio.

Vejamos agora esses três Orientes.

O Próximo-Oriente

O Próximo-Oriente é constituído pela cultura árabe. Nem sempre foi assim.


Tivemos, no passado, inúmeras culturas nesse mesmo espaço: a cultura
suméria, a egípcia, a assiro-babilônica, a persa, a judaica, a grego-romana, a
greco-bizantina etc. Hoje temos a volta dos judeus à Palestina, rompendo a
antigo equilíbrio. Temos que assinalar que hoje (vide o mapa 2) confunde-se o
Próximo-Oriente com o Oriente-Médio, principalmente no Brasil. Havendo
um conflito na Palestina nossa impressa e mídia eletrônica fala de um conflito
no Oriente-Médio, enquanto que a televisão alemã, em relação ao mesmo
conflito se refere ao Próximo-Oriente (Konflikt in Nahosten). É como se o
Próximo-Oriente não existisse mais! (8)

O Próximo-Oriente, segundo Guénon, começa nos confins da Europa e


extende-se tanto pela parte da Ásia, mais próxima da Europa, quanto por toda
a África do Norte. As populações bérberes da África do Norte não se
confundem com os árabes, no entanto, na medida em que possuem uma
unidade, esta é não somente muçulmana mas também árabe em sua essência.
O grupo árabe, no mundo muçulmano, é primordial, pois é com ele que o
Islão nasceu e é a língua árabe, a língua tradicional de todos os povos
muçulmanos, qualquer que seja sua origem e raça. Ao lado grupo árabe, há
dois outros grupos principais, o grupo turco-mongólico e o grupo persa. O
primeiro compreende os turcos e os tártaros, que apesar de racialmente
diferirem dos árabes, destes dependem culturalmente. Todos estes formam um
conjunto que se opõe ao grupo persa, formando a separação mais profunda
que existe no mundo muçulmano, separação que se exprime, ainda que não de
todo extamente, dizendo que os primeiros são sunitas enquanto que os persas
são xiitas. No entanto, grupos muçulmanos encontram-se também na Índia e
na China. A Pérsia, por seu passado, raça, cultura e religião antiga, e mesmo
geograficamente, deveria pertencer propriamente ao Oriente-Médio, mas hoje
é inteiramente muçulmana.

O Oriente-Médio

O Oriente-Médio é constituído pelo universo cultural hindú (9). Propriamente


deveria compreender duas civilizações: a hindú e a dos antigos persas, mas a
segunda como vimos passou para o Próximo-Oriente, e os remanescentes
parsis formam pequenos grupos na Índia e no Cáucaso. Então, essa civilização
indiana, compreende, em sua unidade, povos de raças bem diversas, bem
maiores que as diferenças encontradas em toda a Europa. No entanto, esses
povos são portadores de uma mesma cultura, uma mesma língua culta: o
sânscrito (10). Essa cultura hindú expandiu-se mais para o leste do que para o
oeste, em certas regiões como a Birmânia, o Cambodja, a Tailândia e algumas
ilhas da Oceânia. Sua maior influência deu-se através do budismo, em grande
parte da Ásia central e oriental.

O Extremo-Oriente

O Extremo-Oriente constitui-se pelo universo da cultura chinesa. Extende-se


ao Vietnã, Coréia. O Japão também está incluído, principalmente por ter
adotado o sistema de escrita chinesa. Contudo, possui também uma cultura
própria, com elementos bem característicos e diferenciados. Este mundo do
Extremo-Oriente possui uma unidade racial bem mais acentuada do que os
outros Orientes. O que unifica esta cultura é principalemnte a língua escrita
chinesa comum. Poderíamos salientar que o Tibet, povo de raça chinesa, cuja
língua pertence ao grupo sino-tibetano, voltou-se para a cultura hindú, tendo
empregado inclusive um alfabeto derivado do alfabeto devanagari (11).

Sétima Etapa: Expansão


Esta divisão é fundamental. Temos claramente três Orientes distintos com suas
línguas, religiões, culturas e histórias diferentes (12). Essas quatro grandes
culturas, o Ocidente e os três Orientes, expandiram-se em várias partes do
mundo. É importante ressaltar que as áreas onde se expandiram essas culturas,
são consideradas como pertencentes à mesma, assim, por exemplo, o norte da
África que já foi de cultura Ocidental-Cristã hoje é de cultura Oriental-
Islâmica. A Australia, no extremo leste, é de cultura ocidental.

Conclusão
Há certamente uma origem pré-histórica da bipartição Oriente-Ocidente,
difícil de ser penetrada, marcando, para muitos, uma diferença irredutível
(13). Houve vários encontros entre Ocidente e Oriente, desde a mítica Guerra
de Tróia até as guerras em tempos históricos, como as guerras greco-pérsicas.
O escritor latino Firmianus Lactantius (ca.250d.C.-330d.C.), convertido ao
Cristianismo, diante da iminente derrocada do Império Romano, disse que,
conforme uma antiga tradição imemorial, o Império Romano seria destruído
voltando a ser asiático, e essa catástrofe precederia o fim dos tempos (14).
Parece incrível que tivesse permanecido na consciência histórica dos romanos
uma tradição que remonta à origem da separação Oriente-Ocidente e que a
volta da Europa à unidade indiferenciada seria a volta ao caos.

Devemos considerar, para finalizar, que os três Orientes estão vivos e


presentes no mundo de hoje, e que depois da ocidentalização global, através
da revolução planetária da tecnologia, emergem os mesmos, lutando pela
supremacia no mesmo campo de batalha econômico-tecnológico ocidental
(15).

Para o mundo globalizado de hoje é preemente um conhecimento recíproco


profundo entre Oriente e Ocidente. O ponto de partida deve ser uma
demarcação clara do que sejam os três Orientes e o Ocidente em suas
unidades e oposições.

1- René Guénon - Introduction Génerále a l’étude des Doctrines hindoues.


Paris, Les Editions Véga, 1964. De interesse para este artigo são os capítulos
primeiro e segundo, pp. 53-65.
2- Usamos os termos civilização e cultura numa relação análoga à de corpo e
alma: substancialmente unidos sem confusão de substâncias. Há, no entanto,
grande variedade de acepções e usos quanto a esses dois termos.

3- op.cit. p.53.

4- cf. Cesare Cantù - História Universal. buenos Aires, Editorial Spena, 1950.
Consultar o livro II, capítulos 1-5, sobre Ásia: vol. I, p.103-125.

5- O mito é mencionado no Timeo 24d-25d e depois tratado no Crítias 120e-


121c, diálogo inacabado que termina com uma reunião dos deuses por Zeus
em que ele iria dizer o motivo do castigo dos atlantes.

6- Recomendo a sugestiva obra do autor russo Dimitri Merejkowski (1865-


1941): - Atlântida-Europa: O Mistério do Ocidente. Belgrado, 1930.
Dispomos da tradução italiana: L’Atlantide-Hoepli. Milão, 1937.

7- Gerhard Herm - A Civilização do Fenícios. Otto Pine editores, 1979, pp


229-230.

8- Parece que a Índia depois de Jawaharlal Nehru (1889-1964) retirou-se do


cenário internacional. Assim, se explica que a designação Oriente-Médio
confunde-se com a de Próximo-Oriente.

9- Indicamos a obra de de Pierre Gourou - Le terre et l’homme en Extrême-


Orient. Paris, Flamarion, 1972.

10- Isto não impede que todas as etnias possuam suas próprias línguas
dialetais, os vários prakrti.

11- devanagari quer dizer ‘divina escrita de cidade’, é o nome do alfabeto


sânscrito.

12- Para ulteriores aprofundamentos recomendamos a obra de Pierre Gourou -


L’Asie. Paris, Hachette Université, 1971.

13- Como Rudyard Kipling (1865-1936), escritor e poeta inglês e que de 1882
a 1889 foi jornalista na Índia. Em seu famoso romance Kim (1901),
ambientado na Índia, aprofunda o modo de pensar e agir recíproco dos inglese
e hindús. É dele a supreendente frase: O Oriente é Oriente, o Ocidente é
Ocidente e não se encontrarão nunca.

14- cf. Johannes quasten - Patrologia. Slamanca, B.A.C., 1961, p.665-683.

15- Essa ocidentalização do mundo foi apenas material, não espiritual, um


Ocidente sem sua alma, o cristianismo.

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