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TÉCNICA

Conheça a
vida e obra de
Cizo de Souza,
“o” Light Designer
Uma publicação da Aver Editora - 16 a 30 de Junho de 2009 - Ano I Nº 5 R$ 5,00 Pág. 8

A voz que nos deixa...


e a que devemos cuidar
Quis o destino que uma desagradável surpresa
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abalasse o mundo das artes no mesmo período
em que o Jornal de Teatro produzia sua
matéria sobre a importância da voz. Uma
das vozes mais promissoras da cena musical
brasileira foi vítima do acidente aéreo com o
avião da Air France. Juliana de Aquino, nos
deixa órfãos de seu talento, uma voz marcante,
assim como as demais que ilustram nossa
Reportagem, que apresenta os cuidados que
atores e cantores devem ter - dentro e fora dos
palcos - para manter a saúde vocal.
Juliana de Aquino: saudade Pags. 12 a 14 e 20 O dublador Felipe Grinann, um expert no uso correto da voz

ENTREVISTA
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VIDA E OBRA SINDICAIS

Mara Carvallio, a Tonia Carrero,


sinônimo de
Direito autoral
ainda causa dúvidas
empreendedora amor ao teatro na classe artística
Musa de Ipanema nos anos Pág. 18
Atriz, roteirista e diretora
Daniel Pinton / JT

1940, atriz, cuja história


de teatro, de cinema e
de televisão: estes são se confunde com o teatro
os atributos de Mara brasileiro, é homenageada
Carvallio, que ainda é pelo prêmio APTR.
Borelli, o coreógrafo premiado dona de escola de teatro Pág. 21
no Rio de Janeiro. Em
DANÇA entrevista ao Jornal FORMAÇÃO
As coreografias e a de Teatro, ela mostra
porque é uma “mulher Espaço Cenográfico
arte revolucionária que faz”. de São Paulo forma os
de Sandro Borelli Págs. 10 e 11
arquitetos do palco
Pág. 7 Mara sorri para a vida Pág. 19

SÃO PAULO SALVADOR


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Vila Maria Zélia: Duas décadas


a favorita de riso com a
Situada no bairro do Cia Baiana de
Belenzinho, em São
Paulo, vila traz histórias
Patifaria
e personagens em seus Lelo Filho, ator e atual
prédios, nas ruas e nos diretor do grupo, fala Riso
palcos da vida real sobre o sucesso da garantido
com a
A vila - redescoberta - é favorita entre diretores e atores Pág. 16 companhia. personagem
Pág. 17 Fanta
2 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

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Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
3
Editorial
André Wanderley / Divulgação

Reportagem

Vozes diferentes
Artistas como Alessandra
Verney, fonoaudiólogos
e professores de canto
revelam segredos para
a utilização correta
da voz nos palcos
Desde as primeiras reuniões editoriais sobre o conteúdo do Jornal de Te-
Págs.: 12 a 14 atro, há alguns anos, um dos pontos comuns a todos os envolvidos no pro-
jeto era a vontade de apresentar prossionais de destaque nas artes cênicas
pouco conhecidos às vezes até para a própria classe. Dar nome, cara, loca-
lização e principalmente voz àqueles que sustentam o teatro e a dança bra-
sileira com o trabalho físico, criativo e que enfrentam testes e audições para
levar ao palco a arte e a cultura próprias. Sempre procuramos identicar os
prossionais de cada área em qualquer canto deste País – quiçá do mundo,
mas não tivemos tempo de ouvir a (belíssima) voz de Juliana de Aquino.
A atriz e cantora brasiliense foi umas das vítimas do acidente aéreo da

Índice Air France, em junho deste ano. Pesquisando a biograa da artista para
fazer uma homenagem, cou o sentimento de tristeza em ver um talento
brasileiro ter o trabalho reconhecido em outros países e nem tanto por
EDITAIS.......................................................................6 aqui. É impossível não pensar que há outros tantos artistas que cruzam
Caixa Cultural se prepara para lançar três editais para 2010 um oceano de diculdades para mostrar seu trabalho e por aqui ganham
uma linha nos grandes veículos quando estão relacionados a uma tragé-
Ocupação dos Espaços Culturais, Apoio ao Artesanato Brasileiro e Festivais dia. Como verão na matéria, Juliana trilhou uma linda carreira no mun-
de Teatro e Dança: editais anunciados pela Caixa Econômica para 2010 do dos musicais: uma pérola, brilhante e negra como o sangue brasileiro.
Aproveito o gancho para agradecer e (re)apresentar os nossos colunis-
TÉCNICA..................................................................... 8 tas internacionais, dois brasileiros que foram buscar referências em ou-
E fez-se a luz tros países e mostrar para os gringos o nosso jeitinho de fazer teatro.
Nesta edição, Adriano Fanti nos mostra que a política cultural de Lon-
Cizo de Souza, um dos principais Light Designers do País, fala sobre dres não é assim tão pontual quanto a fama dos seus colegas britânicos.
sua vida e sua obra, que ilumina, literalmente, o teatro brasileiro Luciana Chama, que mora na cidade norte-americana de Los Angeles,
revela que nem só de cinema vivem os prossionais de lá e, entre um
lme e outro, é possível conferir grandes astros das telas nos palcos.
SINDICAIS...............................................................18 Por aqui temos grandes nomes nos palcos e nos bastidores: as coreograas
Quanto vale o som? recheadas de manifestos artísticos de Borelli, a sensibilidade luminosa de
Qual o preço da música no teatro? Direito autoral ainda causa dúvidas Cizo de Souza, a renovação empreendedora de Mara Carvallio, o debate
na classe artística, mesmo na era Ecad sobre a crítica de teatro com Luiz Carlos Vasconcellos (Grupo Piollin) e
Eduardo Moreira (Grupo Galpão), e a experiência de Tonia Carrero com
uma vida dedicada ao teatro. Todos soltando a voz – tema da nossa repor-
HOMENAGEM..........................................................20 tagem especial. Ironicamente, a voz era o instrumento de trabalho e dom
O adeus precoce de uma rainha negra de Juliana à quem dedicamos essa edição.
Acidente do AF 447, da Air France, encerra a carreira de Juliana de
Aquino, uma das mais talentosas cantoras da nova geração

OPINIÃO..................................................................22 Rodrigoh Bueno


Sobre critérios e críticos Editor do Jornal de Teatro
Os atores Luiz Carlos Vasconcelos e Eduardo Moreira debatem estas
nuances que determinam a qualidade (ou não) de um espetáculo

Email Redação: Redação Rio de Janeiro: Rua General


redacao@jornaldeteatro.com.br Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ).
Arte: Ana Canto, Bruno Pacheco, Danilo CEP: 20920-390 - Fone/Fax: (21) 2509-1675
Braga, Gabriela de Freitas e Keila Casarin. Redação Brasília: SCN QD 01 BL F
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www.avereditora.com.br Belbenoit, Renata Hermeto e Sérgio Nery Fone/FAX: (11) 3257.0577
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Porto Alegre - Adriana Machado e Felipe Prestes Impressão: F. Câmara Gráfica e Editora sala 401 - Ed. Metrópolis, Costa Azul, Salvador /
Publicações da Aver Editora:
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Jornal de Turismo - Aviação em Revista - JT Magazine - Jornal Informe do Empresário Salvador - Paloma Jacobina
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4 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores
Beth Goulart

Fotos: Divulgação
encena Clarice
Lispector
Está previsto para o início
de julho a estreia do espetáculo
“Simplesmente Eu. Clarice Lis-
pector”, um monólogo condu-
zido por Beth Goulart. A atriz
revelou que a motivação para o
espetáculo foi “o mistério do
espelho, a identicação que sin-
to por ela. A vontade de trazer
mais luz sobre esta mulher que
revolucionou a literatura brasi-
leira, redimensionou a lingua-
gem falando do indizível com
a delicadeza da música, usando
a escrita como uma revelação,
buscando o som do silêncio ou
fotografar o perfume”.
O processo de criação iniciou
há dois anos, com uma pesqui-
sa para escrever o roteiro lendo A atriz vai estrear “Simplismente eu. Clarisse Lispector” em julho
tudo o que havia sobre a obra e
os livros biográcos. Além dis- algo de si mesma. Acho que Jo- ou livro dos prazeres” vive em
Público confere apresentação no Armazém, que passa a investir em dança so, a atriz fez dois workshops ana de “Perto do coração selva- cena as descobertas do amor e
com Daisy Justus, psicanalista gem” talvez seja a mais parecida A Mulher do conto “Perdoan-
Armazém de Criação, em Recife, especializada em Clarice Lis-
pector, que analisa sua obra sob
com sua essência criativa e in-
domável. Ana do conto “Amor”
do Deus” é uma bem humora-
da autocrítica”, revela. As fotos
começa a investir em dança a ótica da psicanálise. “Clarice é
muito pessoal em seus escritos e
é a dona de casa e mãe dedica-
da que Clarice certamente foi.
de divulgação conrmam as
palavras da atriz: a semelhança
O Armazém de Criação, localizado na área central do Recife, todos os seus personagens tem Lori de “Uma Aprendizagem tornou-se também física.
já é famoso pela formação que oferece para os atores pernambu-
canos e, agora, renova seus horizontes apresentando atividades de
dança. Desde o início de maio, uma equipe realiza audições para Camaçari/BA emplaca quatro crianças em seletiva do Bolshoi
montar um espetáculo de dança que terá temporada de quatro
meses. Quarenta pessoas se candidataram às vagas de bailarinos A crianças Débora Leal
e apenas três para a vaga de coreógrafo. A comissão de seleção Santos de Carvalho, de 11
é formada por Lúcia Helena Gondra, representando o Sated- anos; Geisa Bomfim Mene-
PE; Paulo Henrique Ferreira, da Apacepe ; Arnaldo Siqueira, da zes, 10; Pâmela dos Santos
UFPE; Raimundo Branco, do Armazém, e representante do Mo- Silva, 11; e Yasmin Ribas Fer-
vimento Dança Recife. reira, 11, foram selecionadas
para a seletiva nacional da
Escola do Teatro Bolshoi no
Mostra sobre Le Corbusier abre o Brasil, em Joinville/SC. To-
das as garotas estudam na Ci-
Ano da França no Brasil na Caixa Cultural dade do Saber, na cidade de
Camaçari/BA e vão concor-
A Caixa Cultural Brasília, foi casual. Entre 1945 e 1965, rer, dias 17 e 18 de outubro, a
em parceira com a Embaixa- Le Corbusier produziu o que uma das 40 bolsas de estudos
da da França e com a Funda- convém se chamar hoje de cedidas pela Escola. As meninas estão empolgadas e conantes para conseguirem uma vaga
ção Le Corbusier, inaugura a “obra da maturidade”. Foi a
aguardada exposição “Le Cor-
busier, entre dois mundos”,
partir do m da Segunda Guer-
ra Mundial que sua produção Eventos revelam a obra e o legado
com obras produzidas por um
dos mais importantes arquite-
tos do século XX. A mostra
sofreu signicativo impacto
com as grandes encomendas
públicas e sua consequente
de Augusto Boal em Porto Alegre
ocupa a Galeria Principal entre consagração em nível interna- Iniciando as atividades do homenagem ao legado interna- Jeanne Dosse. O lme narra a
17 de junho e 19 de julho. Com cional. Para Jacques Sbriglio, há evento “Obrigado Boal”, em cional do dramaturgo, ensaísta experiência do grupo de mes-
a produção do Grupo AG de uma nítida diferença entre o Le homenagem ao teatrólogo e diretor Augusto Boal, faleci- mo nome que, a partir das téc-
Brasília e curadoria do arqui- Corbusier pré-guerra e o artis- Augusto Boal, recém-falecido, do em 2 de maio. Além da o- nicas do Teatro do Oprimido,
teto francês Jacques Sbriglio, a ta do pós-guerra: “Se os anos uma ocina de teatro oferece cina, já em andamento, outros atua em dez regiões da Índia,
exposição “Le Corbusier, entre antes da guerra, principalmente a experiência do método Tea- eventos ocorrem dias 1º e 2 de envolvendo cerca de três mi-
dois mundos” apresenta pela as décadas de 1930/40, conr- tro do Oprimido, criado pelo julho no Centro Municipal de lhões de camponeses. Exibido
primeira vez no Brasil cerca de mam um Le Corbusier teórico, mestre e reconhecido inter- Cultura e incluem relatos de ex- na Mostra de Cinema de São
120 obras originais produzidas de notoriedade internacional nacionalmente. As atividades, periências com a obra do autor, Paulo, ganhou o prêmio do
por Charles-Edouard Jeanne- incontestável, os anos do pós- conduzidas por Celso Velusa, ocinas para atores e diretores, Júri no Festival Semaine du
ret (ou Le Corbusier, como se guerra correspondem à reve- começaram dia 9 de junho e vídeos, apresentação teatral e Cinéma Méditerranéen, de Lu-
tornou mais conhecido) em lação de um grande criador. É acontecem até 2 de julho, ter- um debate. Todos gratuitos. nel, França. O evento é uma
seus últimos 20 anos de vida durante o último período de ças e quintas-feiras, das 19h às realização da prefeitura por
(1945-1965). São projetos de sua carreira que Le Corbusier 21h30, na Sala Álvaro Moreyra, DOCUMENTÁRIO meio da Coordenação de Artes
arquitetura, desenhos, pinturas, criará suas obras-primas mais do Centro Municipal de Cultu- Entre os vídeos a serem Cênicas (51-3289-8062 e 3289-
colagens, litograas, esculturas, relevantes: a unidade habita- ra (avenida Érico Veríssimo, exibidos, será apresentado pela 8064) da Secretaria Municipal
tapeçarias, maquetes, livros e cional de Marselha, a capela de 307, em Porto Alegre/RS). primeira vez em Porto Alegre da Cultura, com apoio da Pós-
fotograas, pertencentes à fun- Ronchamp, o convento de Tou- “Obrigado Boal” é uma o documentário Jana Sanskriti, Graduação em Artes Cênicas
dação que leva seu nome. rette, os edifícios do Capitólio série de eventos da Secretaria “Um Teatro em Campanha”, da Universidade Federal do Rio
A escolha do período não em Chandigarh na Índia”. Municipal Cultura (SMC) em dirigido pela franco-brasileira Grande do Sul (UFRGS).
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
5
Bastidores
Fotos: Divulgação

Audição para
o musical
“O Rei e Eu”
A produção do espetáculo
– que deve ter estreia no iní-
cio de 2010 – está realizando
audições para protagonistas Sergio BriĴo, prêmio Shell 2008, se apresenta na Capital Federal
e ensemble. Há vagas para
atores e atrizes com experi-
ência comprovada em canto; Sérgio Britto encena textos
e bailarinos e bailarinas com
experiência em canto, prefe- de Beckett em Brasília
rencialmente com tipos físicos A Caixa Cultural leva Sér- última gravação de Krapp”
orientais e mestiços. gio Britto para Brasília entre e “Ato sem palavras 1”. As
Os atores Álvaro Franco, Lígia Paula Machado e Luiz Araújo no backs- Os interessados devem en- os dias 18 e 21 de junho, em duas peças formam o espe-
tage da noite de estreia do espetáculo “O Primo Basílio – O Musical”, no viar currículo com foto recente duas peças curtas de um dos táculo que rendeu ao ator o
teatro Brigadeiro, São Paulo. de corpo inteiro até 03 de julho maiores dramaturgos do Sé- Prêmio Shell de Melhor Ator
para elenco@oreieeu.com.br. culo XX, Samuel Beckett: “A de 2008.

UFSC promove seu Funarte é palco para mostra de


primeiro evento teatral teatro juvenil da Cia Arthur-Arnaldo
Entre os dias 15 e 18 de de Souza Andrade, tradutor Está em cartaz desde o dia
junho, acontece o 1º Encon- de peças de Samuel Beckett 13 de junho, na Sala Carlos Mi-
tro Internacional de Teatro e resenhista da “Folha de S. randa da Funarte São Paulo, a
da Universidade Federal de Paulo”; Arlete Cavaliere, tra- Mostra de Teatro Juvenil da Cia
Santa Catarina, com oci- dutora do teatro completo de Arthur Arnaldo. O primeiro es-
nas, apresentações e mesas- Gógol e de Maiakóvski. Além petáculo encenado é DNA, que
redondas com o tema “Nova disso, dois reconhecidos pro- apresenta um grupo de adoles-
Dramaturgia”. O evento co- fessores e diretores teatrais da centes que cometem um grave
meça no dia 15 com a ocina cena contemporânea, Cibele erro e acabam se complicando
“Processo de criação do ator Forjaz (ECA-USP/Cia. Livre cada vez que tentam solucionar
– composição sonora da pa- de Teatro), e Renato Ferracini a enrascada.
lavra via dramaturgia do cor- (Unicamp/Lume), falarão de A peça DNA traz pela pri-
po”, apresentada por Janaina suas experiências teatrais. meira vez aos palcos paulistas A peça “DNA” mostra o cotidiano dos adolescentes complicados
Träsel Martins, no campus da Um dos pontos fortes do a dramaturgia de Dennis Kelly,
UFSC. O evento conta com encontro é a mesa-redonda um dos mais festejados jovens ticas favoráveis dos principais de julho) e DNA, que volta à pro-
a presença de grandes tradu- para debater o teatro de Floria- autores britânicos, sob direção jornais de Londres. gramação (de 11 a 26 e julho).
tores de peças teatrais, como nópolis, da qual participarão os de Tuna Serzedello com tradu- As outras montagens da Cia. A Funarte São Paulo ca
Donaldo Schüler, tradutor jovens diretores: Pedro Benna- ção de Soledad Yunge. O tex- Arthur-Arnaldo que estão na na Alameda Nothmann, 1.058,
dos trágicos gregos; Fábio ton, Nazareno Pereira, Jeffer- to foi escrito, em 2007, para o mostra são: Cidadania (27 e 28 de Campos Elíseos/SP - Tel: (11)
son Bittencourt”. National Theatre e recebeu crí- junho e 4 de julho); Bate Papo (5 3662-5177.

Grupo de jovens do Rio de Janeiro Alunos da Ufrgs revisitam


usa o teatro contra a discriminação
Um projeto coordenado pela
Nelson Rodrigues
existem formas de garantir a par- Retorna na quarta-feira, Atuação II do curso de Inter-
organização não governamental ticipação de todas as pessoas em dia 17 de junho, a temporada pretação Teatral do Departa-
Escola de Gente e criado por um espetáculo teatral. Esse é um do espetáculo “Experimen- mento de Arte Dramática do
alunos de Artes Cênicas da Uni- tipo de inuência direta.” to Nelson 2” no Projeto Te- IA/UFRGS. Fragmentos das
versidade Federal do Estado do A ONG garante o acesso atro, Pesquisa e Extensão da peças Vestido de Noiva, O
Rio de Janeiro (Unirio) está levan- para que mesmo as pessoas por- UFRGS. As duas apresenta- Beijo no asfalto e Dorotéia,
do a todo o país reexões sobre tadoras de deciências também ções gratuitas do espetáculo de Nelson Rodrigues, foram
a necessidade de inclusão social assistam ao espetáculo teatral. acontecem às quartas-feiras utilizados pelo grupo de ato-
nos ambientes de trabalho e es- As apresentações contam com 12h30 e às 19h30. A monta- res para abordar o universo
cola. Com esse objetivo, o grupo versões impressa, em braille (lin- Walter Portela e Lilian Blanc gem é resultado de um traba- do dramaturgo pernambu-
teatral Os Inclusos e os Sisos da guagem para decientes visuais)
‘O Convite de lho realizado na disciplina de cano de forma experimental.
Unirio faz em turnê nacional com e em meio digital, além de tradu-
a peça Ninguém mais Vai Ser ção para a Língua Brasileira de Casamento’ em SP
Bonzinho, que tem supervisão do
dramaturgo Bosco Brasil.
Sinais (Libras), legenda eletrôni- Racks Jornal de Teatro
ca e audiodescrição. A entrada é O espetáculo estreia no Teatro Além da distribuição dirigida a teatros, diretores, produto-
O grupo leva reexão para to- franca em todos os espetáculos. Augusta, em São Paulo, no dia 04 de res, dramaturgos, centros culturais, secretarias e escolas de in-
dos os espaços por onde passa e Depois de passar pelo Festi- julho e reúne os atores Walter Porte- terpretação de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Porto Ale-
mobiliza as pessoas, no sentido de val Internacional de Londrina, o la e Lílian Blanc. A direção é de Flávio gre, Florianópolis e Brasília; o Jornal de Teatro mantém racks
transformarem a cultura em um grupo retorna ao Rio de Janeiro, Faustinoni e o texto de Clóvis Torres. em alguns pontos de São Paulo. Conra a lista destes pontos:
meio mais acessível para todos, onde fará apresentações no Tea- A história apresenta um casal
relatou Danielle Basto, a represen- tro Mário Lago, na Vila Kenne- de idosos que se prepara para curtir
tante da Escola de Gente na Rede dy; no Sesc de Niterói, no Ins- mais uma festa de casamento para
Latino-americana de Arte para tituto Benjamin Constant e na a qual não foram convidados. Não
a Transformação Social (Avina). Escola de Samba Acadêmicos da encontram as chaves, enquanto
“Mostramos para o público que Rocinha, a partir do dia 17. a procuram pela casa, brincam de
Marlene Dietrich e Clark Gablo, numa

Fantasma do Arquivo Morto lúdica homenagem ao cinema e ao


casamento e, aos poucos e com a
O que parece título de algu- os demais funcionários têm ou- graça de dois clowns, se revelam po-
ma comédia ou espetáculo de vidos vozes no departamento. eticamente humanos e falíveis com
terror é a realidade do Sated RJ. Dizem que o funcionário era histórias comuns à de qualquer outra
Há boatos de que, desde que o muito apegado àqueles papéis e vida. Para o autor, a peça nasce “de
uma forma poética, divertida, triste e
funcionário responsável pelo ar- hoje, mesmo morto, ainda cuida
alegre: sublime!”, conta.
quivo do órgão carioca faleceu, do “arquivo morto”.
6 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

Editais
Caixa Cultural realiza evento para o lançamento de três editais para 2010
Inscrições serão aceitas até 7 de agosto e 22 projetos currículo das companhias in-

Divulgação
tegrantes (caso já tenham sido
serão contemplados apenas na área de artes cênicas denidas); programação do
festival; expectativa de inte-
Por Renata Hermeto ção do ambiente cou por conta resse do público; material das
de esculturas brancas, para que os edições anteriores do festival
A Caixa Econômica Federal convidados deixassem suas mar- encaminhado pelo proponente
anunciou, no dia 4 de junho, o cas com desenhos e assinaturas. e adequação orçamentária.
conteúdo de três editais para
2010: de Ocupação dos Es- ARTES CÊNICAS MANUAL
paços Culturais, de Apoio ao O Edital de Festivais de DO PRODUTOR
Artesanato Brasileiro e de Fes- Teatro e Dança destinará R$ Foi lançado, na mesma oca-
tivais de Teatro e Dança. No 3,5 milhões para eventos que sião, o novo Manual do Pro-
total serão investidos R$ 27,5 deverão ocorrer entre janeiro O evento contou também com performances de artistas plásticos dutor. Em versão totalmente
milhões em cultura. O evento e dezembro de 2010 em todo digital, o guia eletrônico é uma
foi realizado simultaneamente País. Apenas para artes cênicas cias expostas no regulamento. registro fotográco do evento, inovação em atendimento às
nas cinco unidades da Caixa serão reservados R$ 2 milhões. É preciso, também, demonstrar clipagem e valoração de mídia demandas da classe artística bra-
Cultural: em Brasília, em São A Caixa Cultural contemplará estar em dia com suas obriga- espontânea, material promo- sileira. O informativo estará hos-
Paulo, no Rio de Janeiro, em 22 projetos para esta área, sen- ções scais e trabalhistas. cional e mídia paga adequada pedado no site da Caixa Cultural.
Curitiba e em Salvador. do dez com valor máximo de A inscrição deverá ser feita ao projeto como convite, fol- Os interessados poderão passear
Produtores culturais, artistas R$ 50 mil por proposta; seis por meio do preenchimento der, programação, painel exter- virtualmente pelos espaços, bai-
e personalidades da política local para um valor máximo de R$ completo da cha de inscri- no e interno, anúncios em jor- xar plantas atualizadas e ter uma
estivam presentes ao lançamen- 100 mil, e seis com um valor ção e da planilha orçamentária. nais, chamadas em rádios etc. boa noção das unidades antes de
to. Contando as cinco unidades, máximo de R$ 150 mil cada. Uma vez completa, devera ser Os projetos serão selecio- inscrever seus projetos. Galerias,
compareceram ao evento cerca Serão recebidas inscrições encaminhada juntamente com nados com base nos seguintes teatros, fachadas e halls foram
de 900 pessoas. A companhia de de projetos de 8 de junho a 7 de anexos que julgar necessários, critérios: perspectiva de con- registrados em lmagens e mais
balé acrobático, Nós no Bambu, agosto. As propostas deverão exclusivamente via correio ele- tribuição ao enriquecimento de oito mil fotograas.
alegrou a noite brasiliense. A mis- ser apresentadas exclusivamen- trônico para o endereço festi- sociocultural da comunidade;
tura de dança, teatro, circo, artes te por pessoa jurídica, cuja na- vais@caixa.gov.br. caráter de responsabilidade Confira o Edital completo
plásticas e música resultou em um tureza social possua nalidade A planilha orçamentária de- social; concepção geral do pro- no nosso site:
espetáculo memorável. A decora- cultural e que atenda às exigên- verá conter, obrigatoriamente, jeto; currículo do proponente; www.jornaldeteatro.com.br

Dança
Jovem companhia de Dança tem grupo com 43 bailarinos
Grupo já foi assistido por 20 mil pessoas em menos de um ano. Processo de escolha dos bailarinos que comporiam grupo teve 815 inscritos
Por Ive Andrade agosto de 2008, depois de uma
Divulgação

maratona de audições, que


A São Paulo Companhia de ocorreu em todo Brasil e termi-
Dança é uma entidade estadual nou em São Paulo, seis meses
extremamente jovem. Começou depois. Foram 815 bailarinos
a ser idealizada em 2007, com inscritos de todas as regiões do
um projeto do Secretário de Brasil, que disputaram 40 vagas
Cultura, João Saad, que desejava para participar do grupo. Des-
formar uma companhia de dan- de então, somente em 2009, a
ça que zesse parte do progra- São Paulo Companhia de Dan-
ma de cultura do Estado. Para ça apresentou dois espetáculos
isso, reuniu alguns prossionais e monta mais um, previsto para
especializados para discutir so- o segundo semestre, desta vez
bre a demanda da dança, na com 43 bailarinos no elenco.
capital paulista e em todo País, “Os projetos nunca param.
para mapear as principais neces- Além das nossas apresenta-
sidades. Em agosto do mesmo ções, lançaremos um livro, em
ano, ele encontrou as duas dire- julho, com diversos ensaios de
toras do projeto, Inês Bogéa e prossionais de diferentes áre-
Iracity Cardoso, que colocaram as discutindo e falando sobre a
em foco três principais verten- dança”, explica Bogéa, acres-
tes de atuação: Produção de centando que outra intenção
Espetáculos, Programas Educa- do grupo é aumentar a relação
tivos e Programas de Difusão e da dança com artistas de outras A São Paulo Companhia de Dança estreou em agosto de 2008 com uma turnê por todo o país
Memória. áreas, como músicos, artistas
“A ideia era pensar no pa- plásticos, gurinistas e pros- mental para a companhia, que ano anterior, oito mil pessoas peças depois serão distribuídas
pel de uma companhia de sionais que auxiliam a monta- realiza projetos educativos para participaram de todos os pro- em DVD para bibliotecas e ou-
dança para o governo. Nosso gem dos espetáculos, que po- “dar mais ferramentas a essas gramas de formação. tros centros culturais.
principal foco é a produção dem abrir um diálogo muito pessoas e formar o público A última área explorada Mesmo jovem, o grupo já
de espetáculos, do clássico ao maior com a classe. para que ele possa ver melhor pela São Paulo Companhia de alcançou e segue trilhando os
contemporâneo, e fazer essas Para os leigos, a dança pode a dança”, comenta a diretora. Dança é a de apanhamento his- principais objetivos que pauta-
apresentações circularem pelo até parecer uma forma de arte Programas como o “Corpo a tórico, com a produção de do- ram o projeto inicialmente, so-
estado de São Paulo e, depois, com pouco público, mas Inês Corpo”, que realiza palestras cumentários em parceria com mando às outras companhias
pelo Brasil”, revela a diretora explica que isso não é verda- para professores, ensinando-os a TV Cultura. Em 2009, cinco de dança em São Paulo. “Nós
Inês Bogéa. de: “Em 2008, tivemos 20 mil a interagir melhor com a arte e deles estão previstos e conta- viemos para somar a já rica
A estreia de apresentações pessoas em nossas apresenta- depois passar isso aos alunos, rão a história de personalida- produção de São Paulo na área
da companhia aconteceu em ções”. Esse público é funda- obtiveram muito sucesso. No des brasileiras da dança. Essas da dança”, naliza Bogéa.
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
7
Dança
Fotos: Divulgação

Bailarinos em cena
nos espetáculos
coreografados por Borelli

“O artista não choca ninguém,


o que choca é a vida, a realidade”
Sandro Borelli revela a construção política-revolucionária envolvida em suas coreografias
Por Ive Andrade faça isso”, me deixaram livre
para fazer de tudo.
Sandro Borelli começou sua
carreira prossional, na dança, JT – Muitas pessoas falam
há mais de 20 anos. Hoje, ele se que você gosta de chocar.
considera muito mais coreógra- É um objetivo para você?
fo do que bailarino e seu talen- SB – Eu sou autoral. Então
to já foi reconhecido por sete quando a gente vai fazer Ka-
premiações de renome – cinco fka, Che Guevara, Augusto
APCA (Associação Paulista de dos Anjos é sempre autoral,
Críticos de Artes), um Promo- é a minha impressão da obra.
dança e um Bravo!Prime. Com Eu tenho uma história de vida
estigma de polêmico que ele construída psicologicamente,
não concorda, o artista falou então é meu jeito de fazer.
ao Jornal de Teatro sobre sua Eu acho tão bom as pessoas
vida prossional, sobre o mer- assistirem e carem incomo-
cado da dança no Brasil e sobre dadas com aquilo... Você tem
suas motivações. que car. Se o sujeito assiste
e não sente nada, deveria pe-
Jornal de Teatro – Como co- gar o dinheiro de volta. Nun-
meçou o seu envolvimento ca tive a intenção de chocar,
com a arte? Borelli: “A minha primeira preocupação, hoje, é o projeto de criação político, me aproximo dessas questões” apenas de me colocar ali, os
Sandro Borelli – Sempre tive meus fantasmas, as minhas
gosto por esporte e essa coi- era criar histórias. Às vezes, ouço comentários e ção será sobre Che Guevara? angústias... Acho que as pes-
sa de cultuar o corpo, mexer o tal, mas não tenho essa convi- SB – Era fatal fazer Che Gue- soas se incomodam porque
corpo. A minha relação com a JT – Qual a sua maior pre- vência próxima do público. vara, um dia chegar a ele. Por estão se vendo, a cena é espe-
arte começou por aí, mas sem ocupação ao criar uma core- toda minha trajetória artística lho, o coitado do criador não
eu perceber. Eu, adolescente, via ograa? JT – Em suas coreograas e do grupo, como fatalmente é culpado daquilo.
fotos, em revistas e em jornais, SB – A minha primeira preocu- há um público especíco que chegamos, um dia, ao Kafka.
de bailarinos clássicos. Achei a pação, hoje, é com um projeto você quer atingir? Principalmente pelo momento JT – Sua intenção sempre foi
construção corporal deles fan- de criação política, até pane- SB – Faço para todos, pensando político da cultura, da nossa política?
tástica e pensei: “queria ter um tária. Me aproximo de questões em todos, mas, especicamente, cultura, essa desordem toda SB – Não, isto eu tinha sem
corpo igual a esse”. Totalmente que vão para esse caminho. Es- para alguns setores. Estes seto- que estão fazendo, essa falta de saber. Fui perceber que esse
narcisista. Entrei na arte desta tamos sempre fazendo Kafka, res, porém, não vão assistir, não projeto político... O que existe deveria ser um caminho há
maneira. Fui aprender balé, mas vai estrear daqui há um mês a vão nem ouvir falar, porque a é apenas distribuição de verba uns cinco anos. Kafka foi o
pensando neste conceito, igual a obra política do Che Guevara, a burguesia não vai ao teatro, não e isto não é projeto político. autor que me chacoalhou, pois
fazer musculação. Fui vivencian- gente fez o Renato Russo, o dis- vem aqui. Mas é legal criar espe- Você vai se engajando cada a obra dele, por trás de tudo,
do, experimentando, sofrendo, curso ético e político dele. A pri- táculos para ela, para esta elite, vez mais e chega uma hora que tem um cunho político mui-
pois você tem que transformar meira coisa é isso, fazer um tipo focado nela, mas com o povo as- percebe que ser artista é engaja- to forte. Quando eu come-
todo o seu corpo... Fui me apai- de arte revolucionária mesmo, sistindo. Isto é expor o sistema. mento total, é ter uma posição cei a perceber isto, começou
xonando e cando... Até hoje. sabe? A arte e o artista existem política, é ser contra um estado a acontecer uma revolução e
para derrubar rei e rainha, der- JT – Você sente que os prê- vigente de coisas. percebi que antes eu já tinha
JT – Como foi a transição de rubar governo, revolucionário mios validaram seu trabalho? isso. Procuro usar minha in-
bailarino para coreógrafo? mesmo. O artista que é a favor SB – Não. Os prêmios são JT – Pela escolha da sua carrei- tuição de maneira mais técni-
SB – Eu tinha uma ambição do sistema está na prossão er- importantes, mas a forma ra, você foi chamado de louco? ca, direcionada assim.
quando comecei, mas estava lá rada. O artista tem que ter esse como são feitas as premia- SB – Nunca me falaram isso,
dentro. Mesmo quando eu era fogo interno de revolucionar o ções... Sempre discordei dis- mas acho que sim. Eu tenho JT – Como é seu processo
bailarino, dançava, eu tinha uma mundo, senão ele está preso ao so. Por exemplo, a dança tem fama, as pessoas acham que eu de criação?
visão crítica muito aguçada. Não sistema e será engolido. uma comissão de três ou qua- sou meio destemperado, meio SB – É emocional, bem sensi-
no sentido de achar que o que tro pessoas que votam, e, ge- bocudo. Tenho esse estigma, tivo. Você começa a ler muito e
eu fazia não era bom, mas eu JT – A maioria de suas obras ralmente, não veem tudo que mas acho que, agora, não mais, procura mais coisas a respeito
observava muito os coreógrafos tem a fama de ser polêmica. acontece. Sempre achei mui- pois sempre fui assim. Então do autor. No caso do Kafka, é
com os quais eu trabalhava, ob- Como ca sua relação com o to duvidoso, mesmo quando continuo produzindo, continuo importante você saber porque o
servava o processo. Sempre me grande público? ganhei. Quer dar prêmio? na área. Mas houve uma época cara escreveu aquilo, você tem
encantava mais o processo de SB – Eu não tenho essa aproxi- Acho ótimo, mas o prêmio em que as pessoas achavam que que procurar identicar o por-
criação desses caras, construin- mação porque o artista não tem não aumenta o seu cachê. O eu queria chocar, outra coisa tão quê... Tem algum motivo. Você
do a coisa, do que propriamente grande visibilidade. As pessoas que aumenta seu cachê é a sua imbecil. Artista chocar? O artis- começa a dissecar o cara, o lado
quando eu estreava e ia para o até me conhecem pelo nome, produção. ta não choca ninguém, o que humano, você ca nas duas coi-
palco. Então foi um processo mas se eu passasse na rua as choca é a vida, a realidade. Mas sas, na obra que ele criou e nele.
natural. Percebi que meu barato pessoas não me reconheceriam. JT – A sua próxima produ- meus pais nunca falaram “não É bem emocionante.
luz!
8 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

Técnica

E haja
Por Danilo Braga Cizo de Souza – Mostrar JT – Quais foram seus ex-

Divulgação
e valorizar a cena em um ca- tremos na mesa de luz? Qual
Cizo de Souza trabalha com minho harmônico. Respeitar foi a cena mais iluminada e
criação. Mas não é ator. Muito a construção da peça, a visão a cena mais escura?
menos pesquisador de teatro ex- do diretor e a composição do CZ – Quando saímos do
perimental. Sua ferramenta de cenário, o que resulta em um modelo tradicional do “palco
trabalho é a luz. Light Designer, movimento equilibrado, que italiano”, o iluminador é obri-
é ele quem, literalmente, ilumina une o ator, a cena, o espaço gado a quebrar seu paradigma,
os palcos. Cizo começou aos 16 criado e o olhar do especta- isto é, a sair da zona de con-
anos, em 1985, como eletricista, dor. É unir, com o desenho forto, do tradicional e partir
ofício que aprendeu com o tio. da luz, o explícito e o implíci- para o desconhecido. Uma das
Quatro anos mais tarde, foi con- to no tempo, no espaço e nas obras que mais experimentei
vidado para atuar na XX Bienal personagens. os extremos foi “O Fausto”,
de São Paulo, na área de ilumi- de Goethe, no Casarão da Rua
nação. Por três anos trabalhou na JT – Foi no TBC que você Maranhão, onde a atriz Selma
empresa Som Lux, como técnico teve seu primeiro contato Egrei fazia brilhantemente o
de iluminação. Em seguida, en- com a iluminação teatral. personagem Mesto. Trouxe-
trou para o Teatro Brasileiro de Como surgiu essa paixão? mos toda a escuridão do per-
Comédia (TBC), onde descobriu CZ – Estudei violão clás- sonagem, e, ao mesmo tempo,
a paixão pela iluminação teatral. sico durante quatro anos e toda a riqueza cultural do ca-
Entre seus grandes trabalhos es- tinha verdadeira paixão pela sarão, com os seus afrescos na
tão “O Gato Malhado e a Ando- música. Para pagar os estu- parede em um caminhar de luz
rinha Sinhá”, de Vladimir Capella dos, trabalhava como técnico e sombra.
e “No Reino das Águas Claras”, de eletricidade. Mas o que fez
que lhe rendeu o prêmio APE- com que eu mudasse mesmo JT – Quais prossionais Cizo descobriu sua paixão pela iluminação no Teatro Brasileiro de Comédia
TESP, em 2000. É vencedor, tam- foi a minha primeira monta- e trabalhos mais marcaram
bém, do Prêmio Coca-Cola, pelo gem de iluminação: foi em um sua carreira? JT – Qual fórmula você partir da concepção do diretor.
espetáculo “Avoar”, outra obra de show do Cesar Camargo Ma- CZ – O Jorginho de Car- segue ao receber um texto? Eu gosto de assistir os ensaios
Vladmir Capella, em 2005. riano, chamado Prisma. Ali, valho sempre me faz pensar Há algum ritual ou uma for- para começar as composições.
meu coração bateu mais forte. em iluminação. Atualmente, ma especíca que você use na
Jornal de Teatro – Foto- Depois, em contato com a lin- adoro o trabalho de Paulo concepção de um trabalho? JT – Você tem medo do
graa é escrever com luz. guagem do teatro, o magnetis- Cesar Medeiros. Gosto mui- CZ – Na verdade, não. Pro- escuro?
Cinema é essa escrita em mo foi criado. Fui hipnotizado to, também, do trabalho de curo não criar imagens no mo- CZ – De forma nenhuma.
movimento. Qual é o papel pelos seus encantos, detalhes e Wagner Freire e de Nelson mento em que eu leio um texto, A escuridão é uma oportuni-
da iluminação no teatro? possibilidades de composição. Ferreira, são inspiradores. porque o meu trabalho surge a dade de fazer nascer a luz.

Marketing Cultural
Sem dar passos no escuro
Tirar todas dúvidas é a melhor maneira para se evitar problemas na hora das prestações de contas, seja para empresas públicas ou privadas
Por Felipe Prestes que o Fumproarte poderia en- Um aspecto importante a
Divulgação

gessar menos a execução dos ser debatido é a presença de


Incentivos à cultura, por projetos. “Você faz o projeto um prossional especializado
meio de editais públicos, têm muito tempo antes de levá-lo aos na prestação de contas. “O ide-
sido um dos alicerces das palcos e as ideias mudam. A bu- al seria ter a presença de alguém
produções culturais no Brasil rocracia, muitas vezes, emperra que zesse isto”, opina Roberto
desde a década passada. Con- as alterações que se quer fazer”. Oliveira, mas, segundo ele, isso
seguir verba, seja ela de fundos Oliveira conta que quando raramente acontece. O Fum-
públicos ou direcionada pelas o Depósito conseguiu verba do proarte, por exemplo, permite
empresas privadas, facilita a fundo para encenar uma peça que a contratação de um conta-
empreitada dos artistas – ainda de Nélson Rodrigues, o pro- dor seja requisitada no projeto.
mais com o baixo poder aquisi- jeto requisitava a presença de Mas a maioria dos proponentes
tivo do consumidor brasileiro. músicos no palco. Entretanto, prefere utilizar a verba com a
Entretanto, este processo tem depois de já contemplada com produção do espetáculo.
suas diculdades, desde con- verba do fundo, a direção do Mesmo assim, Álvaro Santi
feccionar um bom projeto, até espetáculo achou melhor colo- conta que são poucos os casos
uma questão menos lembrada: car uma trilha sonora gravada que necessitam de devolução de
a prestação de contas. e usar o dinheiro de outra for- dinheiro. “O erro mais recor-
“Nós sempre aconselha- “DR QQ – Quriosas Qomédias” montado com verba do Fumproarte ma. “Não conseguimos realizar rente é o de pagar um serviço
mos todos a ler os documen- essa alteração. Parece que se a uma empresa não habilitada”,
tos”, arma Álvaro Santi, de esclarecer suas dúvidas an- do em 1996, na capital gaúcha, força a coisa do jeitinho”. arma. Contudo, uma maneira
gerente do Fumproarte, fun- tes de executar o projeto. concorda com essa opinião. O diretor cita o Prêmio Fu- ecaz de evitar problemas, se-
do municipal que fomenta a “É muito mais difícil desfa- “Antes de qualquer alteração narte como exemplo de presta- gundo Santi, parece ser mes-
cultura em Porto Alegre. O zer o que foi feito de forma er- no projeto, aconselho mandar ção de contas simplicada. “Os mo a de estar em permanente
conselho parece óbvio, mas rada do que entrar em contato uma carta em que se peça auto- contemplados com a verba do contato com os responsáveis
os contratos nem sempre são conosco e perguntar. A gente rização e só realizar as mudan- prêmio só precisam provar que por scalizar as prestações de
lidos minuciosamente. Após sempre procura solucionar”, ças com o aval necessário”, diz realizaram os espetáculos da contas. “Tendo certeza de cada
observar todos os itens que explica Santi. O diretor do De- Roberto Oliveira. maneira a que propuseram. Dá passo a ser tomado, dicilmen-
deve cumprir, o produtor tem pósito de Teatro, grupo forma- O diretor, porém, acredita mais liberdade ao criador”. te vai se errar”, diz.
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
9
Festivais
Artistas de todo mundo marcam presença no Filo em Londrina
Festival Internacional, em sua 41ª edição, teve mais de 90 apresentações e a presença de oito países, em clima de total descontração e alegria

Por Adoniran Peres workshops, palestras, bate- contos do escritor João Anza-

r
Fábio Alcove
papos e os projetos sociocul- nello Carrascoza foram utiliza-
Um festival de todas as ar- turais que contribuirão para dos na montagem, onde se so-
tes, que conta e retrata parte o aprimoramento de nossos bressaem conitos e ternuras
importante da história cultu- estudantes, prossionais de familiares, com as quais o pú-
ral do Brasil. Assim pode ser artes cênicas e do público em blico se identica. Já na catego-
denido o Filo (Festival Inter- geral”, disse Bertipaglia. ria Dança-Teatro, a peça Judite
nacional de Londrina), o mais A presidente de honra do Quer Chorar, Mas Não Conse-
antigo do gênero em toda a Filo, Nitis Jacon, também res- gue, do diretor David Iannitelli,
América Latina, que, desde saltou a abrangência do fes- lotou o Teatro Usina Cultura,
1968, apresenta espetáculos tival e prestou homenagens a dia 12. Nos próximos dias 19,
de reconhecido valor artísti- dois grandes homens de teatro, 20 e 21, o grupo Espanca, de
co, estético e de reexão críti- cujas perdas, este ano, foram Minas Gerais, traz para Lon-
ca, além de transformar a ci- muito sentidas: Augusto Boal drina o espetáculo “Congresso
dade paranaense em um palco e Reinaldo Maia. “Ambos de- Internacional do Medo”.
multicultural do mundo. São ram bases fundamentais para La Omisión de
La
grupos de teatro, de dança, que o Filo se desenvolvesse”, INTERNACIONAIS Timbre 4, foi um Familia Coleman, do grup
dos destaque do o argentino Teat
de música e circos brasileiros, lembrou Nitis, estendendo o Entre os destaques da pro- Mercosul ro
que fazem intercâmbio com tributo a Carlos De Gennaro, gramação do Filo 2009 tam-
artistas de outros países. músico e ator integrante dos bém estão os espetáculos da
Com 49 atrações, de oito primeiros grupos universitá- França e da Rússia. Os palha-
países – forma mais de 90 rios do Norte do Paraná. ços russos do Teatro Licedei, Divulgação
apresentações –, o evento com o “Semianyki”, inédito
abriu as cortinas, dia 5 de ju- OS ESPETÁCULOS no País, se apresentam nos
nho, e, até o dia 21, a propos- Após a solenidade, o públi- dias 12, 13 e 14. Os franceses
ta é contagiar o público, levar co, que lotou o Teatro Ouro estarão representados pelos
emoção e alegria aos palcos Verde, assistiu e aplaudiu de espetáculos “Le Jeune Prin-
e às ruas da cidade. Além da pé o espetáculo “A Noite dos ce et la Vérité”, com o grupo
programação internacional, Palhaços Mudos”, da Cia. La Studio Théâtre de Stains, nos
com renomados espetáculos Mínima (SP). Na mesma noi- dias 18, 19 e 20, e “Passage
de todo o mundo, grupos e te, a plateia acompanhou, no Désemboîté”, com a Com-
artistas de São Paulo, do Rio Teatro do Filo, o espetáculo pagnie Les Apostrophés, no
de Janeiro, de Minas Gerais, “Rainha[(s)] – Duas Atrizes dia 11. Além desses, o Filo
do Distrito Federal, do Pa- em Busca de um Coração”, contou, nos dias 9 e 10, com
raná e do Rio Grande do Sul com direção de Cibele Forjaz, “Pépé e Stella”, do Teatro ro, com a apresentação do
de São Paulo. Na tarde de do- Gioco Vita, da Itália, uma das er tu ra , o pú bl ico lotou o Teat ”
também fazem parte na mos- Após a ab os Mud os
oite dos Palhaç
tra nacional. Somente a pro- mingo, dia 7, no Parque Zerão, melhores companhias de tea- espetáculo “A N
dução londrinense entra na o espetáculo “Circo Rural”, do tro de sombras e bonecos da
Célia Aguiar

programação com 14 espetá- Centro Londrinense de Arte atualidade.


culos de dança, de circo, de Circense, colheu aplausos e Já entre os espetáculos do
música e de teatro. sonoras gargalhadas de pes- Mercosul, destaque para o
soas de todas as idades. Foi grupo argentino Teatro Tim-
ABERTURA quase uma hora de encenação, bre 4, com o espetáculo “La
Na cerimônia de aber- com os tradicionais números Omisión de La Familia Co-
tura, a satisfação de realizar circenses e contornos teatrais. leman, apresentado nos dias
mais uma edição do Filo to- Além dessas atrações, o Filo 9 e 10. Primeira peça escrita
mou conta de organizadores, contou com “Dias Raros”, do pelo autor e diretor Cláudio
patrocinadores, autoridades grupo Travessia, de São Paulo, Tolcachir, a encenação é um
e do público que compare- apresentado na Sala do Sesc painel realista, que mostra
ceu ao Teatro Ouro Verde. Londrina. A peça traz uma de- uma família emocionalmente
O diretor do Filo, Luiz Ber- licada partitura de sentimen- perturbada, através de perso-
tipaglia, abriu a edição 2009, tos sobre a qual se desenvolve nagens bizarros, psicóticos, Judite Quer Chorar
,M
que comemora os 41 anos do o trabalho dos atores. Quatro manipuladores. Iannitelli, lotou o Te as Não Consegue, do diretor David
atro Usina Cultura
festival, destacando a progra-
mação e ressaltando a impor-

II Festival Contemporâneo de Cenas Curtas: inscrições abertas


tância das parcerias rma-
das para viabilizar o evento.
Segundo Bertipaglia, apesar
de todo cuidado e esforço, a que mais se destacarem para te, na sede da Cia de Teatro nas, R$ 70. Caso a cena não
organização ainda enfrenta Por Daniel Pinton
comporem um espetáculo de Contemporâneo, de segunda seja selecionada pelo co-
enormes diculdades para re- cenas, que cará em cartaz no à sexta-feira das 14h às 20h, missão de seleção, a taxa de
alizar o evento. Estão abertas, até dia 5
de julho, as inscrições para Teatro II, em setembro, sem- via internet no site www.cia- inscrição é devolvida inte-
“Neste ano, com a con- pre aos sábados, às 21h, e do- deteatrocontemporaneo.com. gralmente ao grupo teatral.
ança dos patrocinadores, da o II Festival Contemporâ-
neo de Cenas Curtas, pro- mingos, às 20h. br, ou pelo correio, enviando O resultado da seleção será
Amen (Associação dos Ami- Segundo os organizadores, a mesma cha de inscrição divulgado pela organização
gos da Educação e Cultura movido pela Cia de Teatro
Contemporâneo. O festival, o festival tem como objetivos adquirida no endereço eletrô- no dia 10 de julho. A sede
Norte do Paraná) e da UEL promover a produção teatral, nico, à sede da companhia, da Cia de Teatro Contem-
(Universidade Estadual de que será realizado nos dias
18 e 19 de julho, na sede da o intercâmbio entre os grupos aos cuidados da coordenado- porâneo ca na rua Conde
Londrina) foi possível trazer que trabalham dentro da sede ra Aline Bourseau. de Irajá, 253 - Botafogo,
mais de uma centena de apre- companhia, no Rio de Ja-
neiro, contemplará 12 espe- da companhia, grupos tea- Cada grupo participante Rio de Janeiro (RJ). Mais
sentações com 50 companhias trais e público, além de desta- pode inscrever até três ce- informações, assim como
e artistas, sem contar as atra- táculos de grupos da área de
teatro, dança, poesia e mú- car e divulgar novos talentos, nas com duração máxima de o edital completo de inscri-
ções musicais e performáticas valorizar as artes cênicas e in- 15 minutos para cada cena. ção, podem ser adquiridos
dos Pontos de Encontro do sica, que se apresentarão no
local, durante o evento. Pos- centivar as manifestações cul- A taxa de inscrição para uma pelo próprio site da compa-
Filo. Além disso, oferecemos turais do País. As inscrições cena é de R$ 30, para duas ce- nhia ou pelo telefone (21)
grande quantidade de ativi- teriormente, a organização
selecionará até sete cenas podem ser feitas pessoalmen- nas é de R$ 50 e para três ce- 2537-5204.
dades formativas, ocinas,
10 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista
Mara Carvallio atriz, diretora, roteirista e dona de escola de teatro

A Mulher que Faz


Por Daniel Pinton
Fotos: Daniel Pinton

Empreendedora. Não há
melhor palavra para denir
a trajetória multifacetária de
Mara Carvallio (grafado desta
forma mesmo). Atriz, roteirista
e diretora de teatro, de cinema
e de televisão, Mara é a prova
viva das inúmeras possibilida-
des que as artes cênicas ofere-
cem a quem a elas se dedica.
A entrevistada do Jornal de
Teatro recebeu nossa reporta-
gem no Teatro Solar de Bota-
fogo, no Rio de Janeiro, horas
antes de encenar a peça – de
sua autoria – “De Corpo Fe-
chado”, com a calma e a alegria
de quem se garante naquilo
que faz. E Mara Carvallio faz
muito. Da estudante de cinema
do interior de São Paulo aspi-
rante à atriz até a mulher dona
de escola de teatro, totalmente
independente, só cou a sim-
patia, o talento e a ambição de
produzir mais e mais. É esse
caminho que funde a evolução
pessoal com a prossional que
Mara nos conta a seguir.

Jornal de Teatro – Você é


natural de Ourinhos. Como
foi sua infância no interior Segundo Mara Carvallio, “a natureza é o maior espelho para construirmos qualquer coisa, isso me deu um start para começar”
de São Paulo, longe da lou-
cura e da agitação de uma JT – Apesar dessa vonta- JT – Você iniciou a sua ca ligar para isso, senão ia car está com uma cara mais novo
metrópole? de desde cedo, mesmo re- carreira como atriz levada louca. Fui tentando seguir o –, mas estamos embutidos em
Mara Carvallio – Foi muito primida, em ser atriz, você pelo seu ex-marido, Antônio meu caminho naquilo que eu um ambiente composto pelos
saudável, principalmente por- primeiro cursou Cinema. A Fagundes. O fato de ele já acreditava e não naquilo que os que são e os que não são pre-
que estava longe dessa balbúr- vontade de dirigir e elabo- ser um ator consagrado na outros achavam. Eu também conceituosos. Às vezes você se
dia que é a capital. Ali comecei rar roteiros nasceu antes da época abriu portas para você tinha que entender que as pes- perde. Mesmo se policiando,
a construir os meus sonhos e vontade de atuar ou o curso ou atrapalhou, na medida soas poderiam me ver tanto de às vezes, você se pega fazendo
os meus caminhos, logicamente de Cinema foi uma saída que muita gente olhou com um jeito quanto de outro. um julgamento preconceituo-
sem saber onde chegaria. Tudo mais fácil para car no meio o preconceito? so, não estamos livre disso.
parecia tão distante para mim das artes cênicas? MC – Tanto abriu quanto JT – Você falou em pre-
que, mesmo sonhando ser atriz, MC – Eu fui para São Paulo fechou portas. Estando ao lado conceito. Se considera uma JT – Você trabalha como
nunca tive a coragem de assumir com 13 para 14 anos e já queria de uma pessoa muito signica- pessoa preconceituosa? atriz, roteirista, diretora e já
isso a mim mesma. Foram esses participar mais disso, porque tiva prossionalmente como é MC – O ser humano é pre- chegou até a correr atrás de
‘pés no chão’ que me deram for- havia uma vaidade misturada o Fagundes, as cobranças são conceituoso, eu sou preconcei- patrocinadores, além de ser
ça para ir em frente, buscar as com necessidade. Chegou um que você seja igual e eu ainda tuosa. Mas tento trabalhar para dona uma escola de teatro.
conquistas que vivi no dia-a-dia, momento no qual eu não sabia estava trilhando o meu cami- não desenvolver isso. Já achei Você geralmente prioriza
o lidar com a terra. A natureza é muito bem onde queria chegar nho. Mas as pessoas só sabiam que um ator era ruim porque um projeto por vez ou con-
o maior espelho para construir- e os conceitos se misturaram do meu prossionalismo e do ele fazia um programa que eu segue trabalhar em diversas
mos qualquer coisa, isso me deu um pouco. O que achei mais meu talento ao assistirem uma não gosto. Mas, às vezes, ele frentes ao mesmo tempo?
um start para começar. próximo do que eu queria era o peça minha e nem todas assis- está ali por falta de oportuni- Arranjar tempo é um proble-
cinema. Nunca havia pensado tiam. Tive cobranças e exigên- dade, os caminhos são muito ma para você?
JT – E como foi o seu em escrever, pois sempre tive cias em um momento da minha diversos para você chegar onde MC – Sou meio maluca
primeiro contato com as ar- certa diculdade. Escrever e vida em que eu não estava tão quer. Às vezes, você se pega e bem cobrada por isso, de
tes, o seu despertar? Havia roteirizar vieram bem depois. preparada. Mas abriu portas? com preconceito de algumas querer fazer tudo ao mesmo
algum movimento artístico Na verdade, eu queria ser atriz Abriu porque tive chance de coisas. O que eu faço sempre é tempo. Às vezes, dou conta, às
na cidade? e achei que o cinema era um fazer coisas que talvez demo- tentar abrir a minha cabeça para vezes, me perco no meio do ca-
MC – Não, não tinha nada caminho bom para eu começar, rasse muito tempo para fazer. trabalhar isso. Os preconceitos minho porque ca muita coisa
mesmo. Quando aparecia algo, pois eu iria me aproximar da- Fechou? Fechou porque havia mais comuns a gente consegue a fazer e esqueço um item ou
mexia muito com a gente. Os quilo que eu queria. Até por eu um preconceito também que eliminar. Pelo menos pensa outro dessas coisas. Não con-
lmes clássicos e a televisão ser de Ourinhos e ter ido para caminhava ao meu lado, me que sim, porque a gente os tra- sigo dizer “não” para as coisas
instigaram a minha vontade. São Paulo sozinha não tinha mostrando uma pessoa opor- balha – a questão do branco e porque estou sempre estimula-
Meu pai tinha uma feira na qual muita informação e nem sabia tunista, mas você corre esse do negro, a homossexualidade, da a novas conquistas. Quando
iam muitos artistas, isso causa- os caminhos que teria de trilhar risco com tudo o que você faz o cara que está com uma mu- vejo, não tenho tempo para
va um deslumbre em mim. para chegar onde eu queria. na vida. O que eu z foi nun- lher mais nova, a mulher que nada. Já chegou a ser proble-
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
11
Entrevista

Divulgação
ma, mas também foi a melhor trabalho de maneira positiva.
fase da minha vida quando eu
fazia duas peças de teatro, uma JT – Em “Elas são do Ba-
novela e estava começando a ralho” você aborda a loucura
minha escola. Foi um momen- humana, o ponto em que o
to em que eu trabalhei bastan- ser humano deixa de ser ra-
te, mas quei em minha plena cional. Você chegou a algu-
forma física. ma conclusão desse tema?
MC – O ser humano é uma
JT – Ao longo de sua car- doença de pele da Terra, alguém
reira, em muitas oportunida- bem complicado de se lidar. O
des, você trabalhou e contra- que me fez escrever essa peça foi
cenou com o seu ex-marido, a reportagem de uma americana
Antônio Fagundes. Como que levou um tiro na boca do ex-
foi trabalhar para e com al- namorado e quis voltar com o
guém com quem você tem cara. Eu co pensando na loucu-
extrema intimidade? Facili- ra dela, onde pode chegar o ser
ta ou diculta? humano. Será que entre um ca-
MC – Você pode fazer com fezinho e outro ela não percebeu
que seja positivo ou negativo. que o cara era doido? Eu acho
Depende da sua maneira de o ser humano muito doido. Por
conduzir as coisas. Tento fazer mais que conheça a pessoa, você
da melhor maneira possível, nunca sabe quem está do seu
fazer com que essa intimidade lado. O o tênue entre a loucura
nos aproxime prossionalmen- e a sanidade é muito difícil de se
te também. Com o Fagundes descobrir e isso me aige muito.
isso era muito positivo porque Você, a todo momento, pode es-
eu o conheço muito prossio- tar ao lado de um assassino.
nalmente. Então, escrevia para Mara na companhia de Blota Filho e Carlos Martin. O trio faz bonito na peça “De Corpo Presente”
ele já pensando na maneira dele JT – Em 1995, “Vida Pri-
falar. Mas eu conseguia separar vada” falava muito dos con- Na estreia, por exemplo, eu
as coisas. Quando eu escrevia itos na relação a dois. Ago- não estava sendo a persona-
para o “Carga Pesada”, por ra, em “De Corpo Presente”, gem, eu estava interpretando,
exemplo, entregava para ele o você aborda, com certo viés vendo tudo que estava aconte-
cendo em volta – a luz, o tex-
“Atriz eu fui atrás, o dom de es-
trabalho como ator. O que fa- cômico, o tema morte e tem
to, as marcas – e eu não queria
cilitava na nossa proximidade
era que talvez ele não zesse
uma declaração sua em seu
site sobre a dor da perda re- isso. Eu tenho esse domínio, crever foi Deus quem me deu”.
com qualquer outro autor as cente de seu pai. Nas peças mas eu tenho medo dele por-
críticas que fazia a mim. Então, que escreve você reproduz que, às vezes, me distancio do
sempre foi positivo, até porque episódios que aconteceram personagem. Meu coração ca
me acrescentava e me ajudava na sua vida ou servem ape- totalmente acelerado. com bom humor, mas é ver- zindo, mas o meu foco ago-
a ser melhor naquilo que fazia, nas de inspiração? dadeiro, é real. Se não tomar ra é construir o meu teatro.
crescemos juntos. O Fagundes MC – São dados detonan- JT – Nessa peça você conta vai car com “banho Não vou deixar de ser atriz,
tinha uma exigência prossio- tes, mas não é o todo. Alguns toca em assuntos delicados de velho”. Me perdoe quem vou continuar a escrever, não
nal que, às vezes, me fazia sair dados passam na minha vida como vida a dois, amor e se sinta ofendido com isso, vou abandonar esse dom que
arrasada dos ensaios, isso fez e eu armazeno de uma tal ma- tesão depois dos 50 anos. mas acho que com essa rea- Deus me deu. Atriz eu fui
com que eu crescesse muito. neira que depois os reutilizo. Como está sendo a recep- lidade ou você brinca ou vai atrás, o dom de escrever foi
Eu sou muito grata, indepen- Meu trabalho transita pelas mi- ção do público à peça? car muito triste ao envelhe- Deus quem me deu. Não que
dentemente dele ter aberto ou nhas experiências, mas ele tem MC – Eu procuro fazer de cer. Pessoalmente me aige eu não tivesse estudado muito
fechado portas para mim. Ele que ser abrangente para não uma maneira bem-humorada, muito, mas eu tenho que rir para conseguir ser uma autora
foi uma pessoa muito signi- ser algo especicamente meu. porque tudo que tem na peça disso. É a maneira mais hábil de projeção, mas é um dom
cativa para mim, pois me ensi- Em “Vida Privada” coloquei é real. A idade passa para to- que eu achei para passar por que Deus me deu. Um dia
nou demais. Queimei algumas o que sempre aigiu a todo ser dos. A frase que mais gosto na esse processo na minha vida. sentei e escrevi “Vida Priva-
etapas do meu trabalho porque humano: a questão da traição. peça é: “Reconhecer que en- da” e camos quatro anos em
ele me indicou os caminhos. Ela é dolorosa tanto no âmbi- velheceu é como reconhecer JT – Depois de tantos cartaz fazendo grande suces-
Para mim o saldo é positivo. to familiar quanto em relação que é alcoólatra. No começo trabalhos em tantas fun- so. Esse teatro que eu quero
a amigos. Essa coisa de você a gente resiste, depois assume ções diferentes, o que você construir vai ser em parceria
JT – Em “Gente que Faz” pensar que está com alguém e e, no nal, aceita”. A idade sente que ainda falta? com o Bruno Fagundes (seu
você escreveu e dirigiu uma não está, da pessoa mentir para aige todo mundo, te traz MC – Vou ter um teatro, lho) e o Carlos Martin (seu
peça para o seu lho, Bruno você mexe muito. Meu traba- coisas diferentes de quando esse é o meu próximo proje- namorado), que topou mais
Fagundes. Como foi esta lho traz coisas não só da minha você era jovem. Eu falo disso to. Quero continuar produ- essa loucura comigo.
experiência? vida, mas, principalmente, da
MC – Quanto ao Bruno, observação.
às vezes, a gente prolongava o BIOGRAFIA ARTÍSTICA
ensaio em casa. Mas ele é uma JT – “De Corpo Presen-
pessoa muito interessada e tem te” estreou há pouco tempo. Como autora e diretora: Como atriz: 1990 – Pantaleão e as Visitadoras
muita conança no meu traba- Ainda sente certo nervosis- Televisão: Televisão: 1991 – Parzifal
lho. E eu no dele. Sempre ten- mo antes de entrar no palco? 2000 – Algo em Comum; Vinte e 1990 – O Dono do Mundo (TV Globo) 1992 – Macbeth
tei tirar esse vínculo familiar do MC – Eu sinto uma tensão, Três Anos; Cai na Real; Tudo pela 1992 – O Mapa da Mina (TV Globo) 1994 – Vida Privada
Bruno, exijo na medida que ele sim. Ultimamente acho que Fama (TV Bandeirantes) 1993 – Renascer (TV Globo) 1995 – Oleanna
pode corresponder como ator. não tive uma estreia tão tensa. De 2004 a 2007 – Carga Pesada 1994 – A Viagem (TV Globo) 1999 – Últimas Luas
(TV Globo) 1996 – O Rei do Gado (TV Globo) 2000 – Inspetor Geral
Já cheguei a ameaçá-lo, a tirá-lo Como escrevi, dirijo e atuo, a
1998 – Corpo Dourado (TV Globo) 2002 – Elas são do Baralho
da peça se não estudasse o texto única responsável se algo der Teatro: 2001 – Marcas da Paixão (TV Record) 2009 – De Corpo Presente
e faria igual com qualquer ator. errado sou eu, dei a cara para 1995 – Vida Privada 2005 – Carga Pesada (TV Globo)
Ele tinha que entender que não bater. Não é insegurança, mas é 2000 – Elas são do Baralho Cinema:
havia proteção. Então, sempre uma adrenalina que não da para 2002 – Gente que Faz Teatro: 2000 – Bossa Nova
conseguimos separar muito controlar e, às vezes, ela toma 2008 – Terça Insana 1988 – Fragmentos de um Discurso 2007 – Quer Saber?
bem esse lado prossional do uma forma maior que você, te 2009 – De Corpo Presente Amoroso 2008 – Rinha
familiar e desenvolver nosso faz car consciente no palco.
12 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro J

Reportagem
A arte de soltar a voz nos palcos da exemplo de dom, pois tem bri-
Fotos: Divulgação
Por Alysson Cardinali Neto RESPIRAR É
lho, colorido, suavidade. A voz da Amélia destaca a importância
Doce, dramática, forte, bri- Nana Caymmi tem personalida- FUNDAMENTAL dos ensaios, e Alessandra
lhante... Juvenil, lírica, interpreta- de, emoção à or da pele”, diz. Respirar de forma (à esq.) tem disciplina quase
correta é fundamental budista
tiva... Traços da personalidade de
para o bom uso da voz.
uma mulher exuberante? Pode DISCIPLINA A respiração abdomi-
até ser (se é que beldade perfei- QUASE BUDISTA nal e intercostal são
ta assim existe), mas a “dama” Emoção, aliás, foi o que le- as melhores amigas
em questão atende pelo nome vou a atriz e cantora Alessan- dos cantores. Elas dão
de voz. E, acredite, reúne estes dra Verney, 34 anos, a sair de o apoio muscular que
e muitos outros atributos, o que Santa Maria, no interior do Rio o aparelho respiratório
nos transforma em seres espe- Grande do Sul, para realizar precisa para garantir o
ciais, diferenciados, independen- seu sonho prossional, no Rio melhor som possível
temente do sexo, da raça ou do de Janeiro. Com experiências e a melhor passagem
credo que tenhamos. É graças em musicais – “Tudo é Jazz!” de ar. Ao inspirar, abri-
à voz que conseguimos nos co- (2004), “Ópera do Malandro, mos as costelas e es-
municar e expressar nossas emo- em Concerto (2006) e “7, o mu- tufamos um pouco a
ções, nossos sentimentos, nossos sical” –; em comédias – “Aqui barriga para fora, e, ao
pensamentos. Uma criação real- se faz, aqui se paga” (2002) –; expirar, soltamos o ar
mente divina, que não só nos di- na televisão – “Chiquinha Gon- e tentamos manter as
ferencia das outras espécies, mas zaga” (1999) e “América” (2005) costelas abertas, mas
nos molda, nos faz únicos. – e no cinema – “Apolônio murchando a barriga
Brasil, o campeão da alegria” para dentro, à medida
Cada pessoa tem uma voz
que o ar sai. Esse é
própria e especial. Carrega (2003) –, a gaúcha alia o amor
um dos exercícios de
dentro de si um instrumento ao ofício com uma disciplina respiração mais efica-
particular, vivo, com caracterís- quase budista. “A voz é minha zes. Porém, o ar e sua
ticas siológicas e psicológicas maior paixão. Por isso, procuro utilização é a parte mais
singulares. Para cada voz, uma tratá-la com o maior zelo possí- complexa do canto e é
personalidade diferente. Falar é vel. É um grande privilégio tê-la necessário tempo para
uma arte e, não por mera coin- como instrumento de trabalho, entender a coluna de ar
cidência, é justamente na arte, e, a partir dela, expressar todos usada para cantar.
especicamente nos palcos da os tipos de sentimentos para,
vida, que podemos observar to- consequentemente, despertar a
das as nuances da voz. Sim, ela emoção do outro”, revela Ales- Amélia Gumes (trabalha a voz uso devem ter acompanhamento EXERCÍCIOS SÃO v
é primordial no teatro, respon- sandra, que faz aula de canto de talentos como Arlete Salles, de fonoaudiólogo ou otorrinola- INDISPENSÁVEIS d
sável por incrementar os textos, desde os 17 anos, começou a Daniele Winits e Jonathas Faro, ringologista para garantir que a Exercitar a voz também é par- p
em uma trama na qual torna-se cantar prossionalmente aos entre outros) faz coro com Cal patologia seja sanada. O prepa- te da rotina de atores e cantores. e
música vocal, que emana do pei- 18, e, desde então, dedica-se ao e enaltece a valorização dos en- rador vocal, o professor de canto Foi o que fez Alessandra Verney. p
to, dos pulmões e do ventre de máximo em busca do aprendi- saios e a dedicação à carreira. “A ou o fonoaudiólogo garantem a Embora nunca tenha feito fa- c
atores e atrizes para chegar – e zado e do aperfeiçoamento. voz é importante porque é usada correção sonora para que não culdade de canto, ela recorreu às o
encantar – à plateia. “Após iniciar as aulas de can- como instrumento para as artes, haja reincidência”, garante. aulas particulares para aprimorar c
to, senti uma mudança signi- seja ela falada ou cantada. O tex- sua técnica vocal e se aperfeiçoar d
ESTUDO E cativa em minha voz. Quando to apresentado com diferentes como cantora e atriz. “Eu estuda- n
VOZES IDENTIFICADAS e
APRIMORAMENTO: comecei a fazer teatro musical, vi entoações vocais ou dinâmicas A identificação de uma voz va canto lírico e também cantava
FUNDAMENTAIS que era diferente da forma que eu cantadas levam ao expectador música popular. Mas melhorei a
é feita mediante a avaliação C
Cal Coimbra, doutora em cantava até então. Por isso, sem- diferentes sensações, que contri- perceptiva de três categorias de muito, também, graças aos exce-
fonoaudiologia e especialista em pre busco me aperfeiçoar e estu- buem com a riqueza de recursos lentes professores que tive, entre q
parâmetros:
voz e linguagem pelo Conselho dar todos os tipos de repertório. que podemos utilizar nesse tipo • Qualidade vocal – é a percepção eles Vera do Canto e Mello, Mir- s
Federal de Fonoaudiologia, não Estudar técnica de teatro musical de trabalho”, revela Amélia, que que se tem das características na Rubim e Eliane Sampaio. De a
só lida com a voz, mas a enal- abriu ainda mais meu leque de tem a receita para quem deseja qualitativas de uma voz específica dois anos para cá, estudo com o m
tece. “A voz é arte, uma beleza opções, inclusive no gênero po- aprimorar a voz: “Existem várias • Emissão vocal – é a percepção maestro Marconi Araújo”, revela
da natureza humana, capaz de pular. Naturalmente, a voz falada técnicas de canto, de correção que se tem de como um som vo- Alessandra, que toma cuidados
transmitir todos os estados de também foi trabalhada junto com da fala, aquecimentos vocais e cal está sendo produzido com a voz mesmo quando não
emoção em nuances tão sutis a voz cantada. No que diz respei- relaxamento corporal para libe- • Expressão vocal – é a percepção está em cena.
que dão ressonância ao coração to à parte vocal do teatro musical, rar tensões. O mais importante, que se tem de como a pessoa acres- “Antes de entrar no palco, d
dos ouvintes. A voz tem colori- meu objetivo maior é fazer com porém, é que atores e cantores centa subjetividade ao que é dito sempre faço aquecimento, mas a
do, brilho, tonalidade, energia, que a voz acompanhe o que o tenham o acompanhamento de nada longo demais, pois gosto t
intensidade”, frisa. Acostumada personagem exige. Hoje, quando prossionais da voz para estar DISFONIAS de car concentrada o máximo s
a trabalhar com atores, atrizes, faço um papel, a primeira coisa em constante aprimoramento e As disfonias mais comuns são possível. Bebo muita água. É um M
cantores e todas as pessoas que que busco é a unicidade da voz aprendizado, porque cada instru-
chamadas de fendas, fendas em cuidado indispensável. Quando e
ampulheta, irritação nas pregas por estou em cartaz, dicilmente ç
fazem da voz um instrumento falada do personagem com a can- mento funciona de uma maneira conta de refluxo, nódulos e cistos.
de trabalho (professores, vende- tada, que é fundamental. Soman- diferente. Não existe uma bula saio após o espetáculo, a m de ç
Apesar dos nomes esquisitos, todas r
dores, repórteres, padres etc), Cal do esses fatores à interpretação, igual para todo mundo. Existem descansar vocalmente para o dia
essas disfonias são curáveis, desde v
ressalta a importância do estudo eles se interligam e um ajuda ao linhas de técnica a serem segui- que com tratamento adequado (daí seguinte. No meu caso, faz dife-
e do aprimoramento para quem outro”, diz Alessandra. das, mas para cada pessoa, de rença, mesmo tendo uma boa b
a importância de saber qual é o pro- i
faz da voz um ganha-pão. Perse- acordo com suas necessidades fissional com quem se trabalha pois, resistência vocal. Uma boa noite
verança e disciplina, segundo ela, UM INSTRUMENTO e foco, existe uma abordagem de sono também é fundamental a
caso ele não saiba determinar o tipo
são os segredos para o sucesso PARA AS ARTES diferenciada”, explica a profes- de tratamento, pode gerar patologias para o bem-estar da voz”, avisa s
prossional. Mas como, anal, é este es- sora de canto, que manda um mais sérias e mais difíceis de serem Alessandra, que não dispensa s
“Algumas pessoas nascem tudo e onde aprimorar a voz? recado aos que se acham donos tratadas). Quem lida com voz tem sessões com fonoaudiólogos. q
com o dom, com o talento, mas Sessões de fonoaudiologia e au- de disfonias (incorreções na que aprender sobre o tratamento de Fonoaudiólogos, aliás, que r
existem aquelas que buscam o las de canto são bons caminhos. voz) incuráveis: toda e qualquer disfonias para não cometer erros e têm participação fundamen- u
teatro e o canto pelo desejo, pela “A fonoaudiologia pode nortear voz é trabalhável. acabar destruindo uma voz por im- tal no aprimoramento vocal de é
aptidão. Bem trabalhados e com os rumos para a criação de um “O que, às vezes, pode di- perícia ou falta de conhecimento. Em quem deseja soltar a voz, seja nos s
disposição, todos podem ter su- ator, de uma atriz, de um cantor cultar esse trabalho é um ouvido casos de artistas com disfonia, o tra- palcos, nas telas ou na vida. “O o
cesso”, avalia a fonoaudióloga, ou de uma cantora com relação ruim, mas isso também se apren- tamento deve ser feito em conjunto trabalho em fonoaudiologia para M
que dá exemplos de artistas que à melhoria da comunicação”, de, mesmo que seja um processo com o fonoaudiólogo e com o prepa- atores de teatro é, fundamental- c
nasceram com o dom para usar observa Cal Coimbra. A atriz, um pouco mais demorado. Vo- rador vocal para que o procedimento mente, o equilíbrio entre voz e Q
a voz. “A voz da Gal Costa é um produtora e preparadora vocal zes com patologias sérias por mal
seja coeso e tenha sucesso. emoção. É buscar o controle da s
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
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Reportagem
vida Técnicas específicas
Óperas, musicais e peças de facilitar o uso correto da voz, livra o dono da voz de estudo,
teatro. Quando a voz está bem apesar de serem, ressalta, sim- aperfeiçoamento e orientação
cuidada, bem treinada e bem ples de entender como funcio- prossional. “A voz perfeita é
trabalhada, o dono da voz está nam, mas complexos na hora aquela que já nasceu equilibrada
no ponto para fazer bonito em de realizá-los. “Basicamente em harmônicos e timbres agra-
qualquer uma destas áreas, cer- usa-se abdome, diafragma e dáveis de serem ouvidos, mas
to? Errado. Pelo menos é o que músculos intercostais para se a orientação de fonoaudiólo-
garante Ester Elias, formada obter uma respiração básica. gos e professores de canto, que
em Técnica de Canto Lírico e Mas é preciso participar de tenham bom conhecimento de
Popular pela Escola de Música uma aula ou uma terapia vocal siologia e anatomia da voz, é
de Brasília e em Fonoaudiolo- para melhor entender e praticar fundamental”, frisa Ester, que
gia, pela Universidade Estácio tais exercícios”, diz. considera vozes perfeitas as do
de Sá. Segundo Ester, o traba- São nestas aulas, segundo cantor Leonardo Neiva e da
lho, além de diferenciado para Ester, que todas as vozes po- cantora Julie Andrews.
quem atua em óperas, musicais dem ser melhor estudadas e Quanto aos cuidados para
ou peças teatrais, utiliza téc- trabalhadas. No mundo das se ter uma voz sempre bonita
nicas especícas, que exigem artes há espaço para todas as e saudável, Ester recomenda
muito de cada prossional. vozes. “A que não tem como não fumar e beber, pelo me- Ester recomenda não fumar
“O trabalho do cantor líri- ser trabalhada é aquela que não nos, dois litros de água por dia.
co ou da cantora exige mais do é naturalmente anada. Pode “A água mantém faringe e cor- aulas de canto. “Praticamente
trato vocal. Pede mais técnica. estar ligada a alguma resposta das vocais hidratadas”, avisa. toda disfonia pode ser curada.
A voz é predominante. No mu- auditiva, ou seja, não compre- “Não falar fora de sua tecitura Dependendo do seu grau, deve
sical, tem que haver equilíbrio ende a nota que ouve e por isso ou potência vocal, o que resul- ser tratada só na terapia de voz,
entre o lado cantor e ator. Ou não consegue reproduzir cor- ta num abuso vocal, também é mas, às vezes, chega a ser neces-
seja, é preciso que o prossional retamente. Mas isso é especi- importante”, acrescenta Ester, sária cirurgia. As mais comuns
seja bom cantor e bom ator. No camente para o canto”, revela, que recomenda, ainda, comer são por abuso vocal, alergias e
teatro, o uso da voz é somente acrescentando haver tratamen- maçã, “por se tratar de um bom até por questões emocionais”,
para a fala e isso requer muito to para solucionar quaisquer adstringente, que limpa a voz e alerta Ester, que coleciona
cuidado e uma técnica especí- problemas vocais. evita o famoso pigarro”. participações em importantes
ca para a voz falada”, observa. Para Ester, é possível, in- Já as famosas disfonias, musicais como Os Miseráveis,
Ester recomenda alguns clusive, se chegar à voz perfeita segundo Ester, precisam ser Ópera do Malandro e A Novi-
exercícios de respiração para nas artes, o que, garante, não tratadas antes de terem início ça Rebelde, entre outros.
voz sem perder a espontaneida-

Ficou afônico, mas ganhou experiência


de, tentando expandir a sua voz
por todo o espaço cênico onde
está atuando. O movimento cor-
poral é outro fator de importân-
cia para o trabalho cênico. Todo “Quando, por algum motivo, se ressente muito”, diz o cantor, dias professores inventando coi-
o corpo deve estar em sintonia fico rouco ou afônico, sinto-me que faz aulas de canto diariamente sas, querendo descobrir a pólvora,
constante com a palavra que sai completamente aleijado”. Pode e procura estar sempre agasalha- confundindo muito mais a cabeça
da voz e da emoção. Essa harmo- parecer dramático, mas é assim do, além de não beber nada muito dos alunos do que esclarecendo”,
nia é que facilitará o ator a criar que o cantor de ópera Murilo gelado ou muito quente. observa Murilo, que deixa um reca-
entidades e personagens durante Neves, 31 anos, se vê quando “Mas sem paranoias, pois te- do para quem deseja seguir a sua
a sua atuação no palco”, explica seu instrumento de trabalho nho que dominar minha voz. Acho carreira: muito estudo.
Cal Coimbra, adepta de hábitos apresenta alguma avaria. “Fico péssimo me sentir dominado por “Infelizmente, não se pode
que favoreçam a saúde vocal de assim porque é através da voz ela. Observo que meus colegas comparar a segurança e o apuro
seus pupilos, como hidratação, que eu transmito a minha arte”, mais paranóicos normalmente técnico dos cantores líricos das
aquecimento da voz e relaxa- resume Murilo, que, em nove são os primeiros a ficar doentes. décadas de 1950 e 1960 com os
mento do aparelho fonador. anos de carreira obteve suces- Há que se ter cuidados, mas sem de hoje em dia. Numa era em que,
so e premiações, mas colecio- histeria. Quem não tem resistên- mesmo no teatro falado, vemos
RESULTADO DIGNO nou alguns contratempos, como cia não pode cantar ópera”, avalia peças encenadas em salas de 200,
DE APLAUSOS quando, na véspera de uma Murilo, que estuda canto desde os 300 lugares, por atores usando mi-
apresentação, perdeu a voz. 17 anos e já teve vários professo- crofone, parece muito distante da
O resultado nal, após tanta Murilo brilha em óperas
“Fui a um otorrinolaringolo- res no Brasil – inclusive uma rus- realidade lutar no gogó com uma
dedicação, geralmente é digno de gista e ele me prescreveu, caso sa – e na Itália. “Vejo estudantes orquestra sinfônica completa”,
aplausos. “A voz é primordial no eu não melhorasse a tempo, e professores se contentando com acrescenta Murilo, que acabou de grande atrativo são os virtuosis-
teatro, tão importante que por si injeção de cortisona. Acabei uma aula por semana, às vezes até voltar do Festival Amazonas de mos vocais que se ouve nessas
só pode incrementar os textos. tomando-a e, de fato, minha menos. Isso não basta, não é sufi- Ópera, onde cantou em três óperas obras. O trabalho em musical é
Mas, em primeiro lugar, é preciso voz voltou. Cantei a primeira ciente. Ninguém aprende a cantar e um recital de música de câmara muito direcionado e a música
encontrar seus centros de proje- parte do espetáculo com segu- com uma aula por semana. Não lar- – também faz trabalhos no Theatro está mais ligada ao que o tex-
ção, situados no diafragma, cora- rança, mas, no meio da noite, go a minha professora de jeito ne- Municipal do Rio de Janeiro e parti- to pede. Então todo o trabalho
ção e alto da cabeça. Pulsações, a voz acabou completamente. nhum”, revela Murilo, cuja estreia cipa regularmente do projeto Ópera é em cima do ator e se usa a
ritmos, contrações, gritos, nós de Como tinha que prosseguir no profissional aconteceu em 2000, no Bolso, da Prefeitura do Rio, onde técnica para resolver alguns
vibrações e de contradições são palco, acabei falando tudo, em na “Ópera dos Três Vinténs”. cantou as óperas “La Cenerentola”, problemas que só o texto não
bases corporais. Tudo isto está vez de cantar. Aprendi que a Desde então, o cantor já se “Les Pécheurs de Perles”, “Don corrige. Atores tradicionais de
implícito na técnica vocal que o gente tem que saber a hora de apresentou por todo o Brasil e Pasquale” e “L´Italiana in Londra”. teatro puro trabalham a voz fala-
ator deve possuir para produzir cancelar uma apresentação”, pôde não só mostrar o seu talen- Também já se apresentou em São da relacionada ao seu persona-
sentido. O processo de criação de revela Murilo. to, mas detectar as deficiências de Paulo, em Florianópolis, em Curiti- gem e esse trabalho vem desde
sentido na arte dramática implica O episódio, porém, mais do sua área no País. “Nós, brasileiros, ba e em Blumenau. a pesquisa do personagem. O
que o ator desaprenda as usuais que fazê-lo ter o timing para temos um idioma que não favorece O talento de Murilo é reconhe- que diferencia um do outro é o
regras que reduzem seu corpo a cancelar uma apresentação, em nada a emissão para o canto cido pela professora de canto Amé- ponto de partida em que a voz
rendeu-lhe outros ensinamen- lírico. Sentimos muito mais dificul- lia Gumes. Segundo ela, o trabalho se torna importante e define
um simples porta-voz. O objetivo
tos em relação aos cuidados dade em projetar a voz. A musica- de quem faz ópera é mais árduo, todo o resto. Simplificando, é
é que a voz do ator torne-se mú- com a voz. “É fundamental para lidade e a sensibilidade são essen- muscularmente e musicalmente, como se na ópera se definisse
sica vocal e dirija-se não apenas à o cantor de ópera o estudo ciais, mas observo que o que falta que todos os outros e exige muito a voz primeiro, nos musicais as
orelha, mas, sim, ao corpo inteiro. constante e o treinamento di- nos estudantes de canto brasilei- mais tempo de estudo e dedicação. músicas definem a voz falada do
Música percebida pela caixa torá- ário. O cantor de ópera é como ros é a técnica mesmo. Existe mui- “Hoje em dia já se cobra muito mais personagem e no teatro o per-
cica, pelos pulmões e pelo ventre. um atleta da voz. Se algum ta confusão nesse quesito. Existe a parte ator desses cantores do que sonagem define a sua própria
Quando isso acontece, temos o músculo perde o treino, a voz muito diletantismo. Vejo todos os antigamente, mas, ainda assim, o voz”, compara Amélia.
sucesso”, frisa Cal Coimbra.
14
voz
16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

Divulgação
O QUE FAZ O

A
FONOAUDIÓLOGO
• Liberação das tensões desne-
cessárias ao corpo: relaxamento
de pescoço e ombros, associados

de um expert
à respiração profunda, porém su-
ave. Identificar pontos de tensão.
• Suporte respiratório: estimular
a respiração nasal, respiração li-
vre e suavizar o fluxo aéreo
• Dicção precisa: leitura de trava-
língua
• Ressonância: exercícios de re- Um expert da voz. Assim não fumo, bebo muito pouco
laxamento de mandíbula, língua e pode ser denido o carioca Fe- álcool e muita água”, enumera.
bochechas lipe Grinann, 35 anos, dubla- Uma mudança de hábito,
• Ritmo, dicção e musicalidade dor, mas que já fez de tudo um porém, em prol da voz, o dei-
da fala: ajustar os pontos de ar- pouco sobre o tema. Ator pro- xou um pouco triste. “Sempre
ticulação (pedir ao ator que sinta ssional desde 1995 – trabalhou li que a lactose costuma deixar
o seu corpo, se escute e se per- na área teatral com Gabriel Vi- uma espécie de muco nas cor-
ceba para detectar possíveis ina- lela, Paulo de Moraes (Armazém das vocais e comecei a perceber
dequações). Companhia de Teatro) e Cininha que, coincidentemente, depois
• Projeção vocal: imaginar uma de Paula, entre outros diretores de ingerir os lactos, eu cava pi-
pessoa no início, no meio e no fim consagrados – e ex-backing vo- garreando muito. Então cortei
da platéia e emitir a voz para que cal, durante dois anos, do can- da minha vida o leite, os quei-
cada uma delas ouça, respectiva- tor Milton Nascimento (no es- jos e o iogurte. No começo, foi
mente. petáculo Tambores de Minas), bem sacricante, pois eu era
• Expressões faciais: tentar de- Felipe possui vasta experiência, viciado em comer queijo, mas
monstrar diversas emoções e sen-
também, na área de locução e substituí tudo por soja (que
sações em frente a um espelho.
• Sotaques: suavizá-los ou incre- dublagem. Ou seja, um currícu- eu também gosto bastante) há
mentá-los de acordo com o per- lo que o credencia a falar (aliás, quase um ano e a diferença tem
sonagem. gesto que ele faz até quase à sido grande. Hoje, sinto minha
exaustão diariamente) sobre a voz muito menos suscetível a
CUIDADOS COM A VOZ importância do uso da voz. intempéries, como mudança
Poucas vezes o ditado “men- “Sou apaixonado pelo que de clima, resfriados, gripes e
te sã, corpo são” fez tanto senti- o ser humano é capaz de fazer alergias. Sinto-me, vocalmente,
do. Afinal, para que a voz esteja através da voz. Eu li que mui- muito mais resistente”, diz Fe-
“afinada”, além de cuidados e tos monges tibetanos desen- lipe, que participa, desde 2001,
exercícios específicos com ela, volveram uma técnica para o de várias campanhas importan-
o corpo, como um todo, preci- canto, na qual numeroso grupo tes em âmbito nacional (Jornal
sa estar em perfeita harmonia. emite uma única nota, mas o O Globo, Natura, Sprite, Re-
Uma voz bonita requer um corpo que se ouve são muitas outras nault, Embratel, Claro, Becel,
saudável e tudo que se fizer pelo notas. É como se eles entrassem Canal Futura, Sony Ericson –
corpo terá efeitos sobre a voz. em sintonia com o som do Uni- durante três anos, foi um dos
Alguns cuidados permitem essa verso. Isso é fascinante!”, diz locutores dos canais da Rede
combinação perfeita: Felipe teve passagens pela música ao lado do cantor Milton Nascimento
Felipe, que gosta de exercitar Telecine, através dos progra-
• Evitar o frio com suas mudan-
as possibilidades da voz ao má- mas Cineview e Movie Box).
Conselhos e bom humor
ças de temperatura.
• Praticar ginástica respiratória ximo, sempre disposto a achar Dono de um vozeirão – ape-
todas as manhãs. As inspirações um registro diferente, uma nova sar do 1,65 metro de altura – Fe-
e expirações deverão ser feitas forma de falar os textos. “Assim lipe já deu voz, em português, às Figura bem-humorada, Felipe são elementos que podem se fra-
pelo nariz, de maneira ampla, len- como existem médicos que só falas de Jude Law, Matt Dillon, Grinann revela que tem como gilizar facilmente. É importante
ta, profunda e abdominal. cuidam do coração, escolhi me Tom Cruise e Ewan MacGregor hobby ir às videolocadoras e car ter um prossional conceituado
• Ginástica respiratória dedicar com mais profundidade em lmes famosos como Moulin tentando “se achar”! Ou então, que acompanhe você, que conhe-
• Banhos frios matinais à arte do ‘ator-vocal’. A minha Rouge, Hulk, Madagascar, Tuba- antes de dormir, “zapear” os ca- ça os seus pontos fracos, os me-
• Caminhadas, corridas, bicicleta ou maior satisfação é quando ouço rão e A Dama e o Vagabundo, nais da televisão até se ouvir nos dicamentos que reagem melhor
qualquer outro exercício aeróbico. alguém dizer: ‘Nossa, nem pare- mas não consegue escapar de lmes. “Tem dia que eu não dur- com você. Assim como é com-
• Comer com bom senso: pouco, ce você!’”, revela. uma situação, no mínimo, inu- mo enquanto eu não me acho’”, plicado cancelar um espetáculo
lentamente e mastigando bem. Tamanha dedicação levou sitada na vida real. “Minha voz diverte-se Felipe, que deixa um por motivo de doença, cancelar
Existe uma importante relação Felipe a trocar, em 2008, o Rio é média-grave e condizente com
entre o aparelho vocal e os ór- recado para quem deseja seguir uma gravação resulta em uma
de Janeiro por São Paulo, onde a minha idade (35 anos), mas a sua carreira. “Durante muitos innidade de prejuízos. É quase
gãos digestivos. trabalha como dublador e lo- como eu tenho 1, 65 de altura
• Evitar falar ou cantar em am- anos, os lmes eram feitos sem como se não pudéssemos car
cutor nas principais empresas e cara de 25 anos, toda vez que mim. Hoje, eles são feitos sem doentes”, avisa Felipe, que cona
biente ruidoso. Não competir paulistanas, além de professor alguém me ouve em um lme os que ainda não estão no mer- plenamente na sua fonoaudiólo-
com barulhos externos de dublagem da Dubrasil, roti-
• Evitar falar ou cantar quando ou apenas conversa comigo por cado. Ou seja, de certa forma, o ga (Maria Cecília Periotto).
na que o obriga a estar sempre telefone imagina que o dono da mundo sempre roda e sempre “Ela sabe ‘quase tudo’ de
estiver resfriado ou rouco.
• Álcool e fumo são proibidos (be-
atento e cuidadoso com seu ins- voz é um homenzarrão de 1,80, funciona sem a gente. Se você mim, conhece os trabalhos que
bidas alcoólicas congestionam a trumento de trabalho. “Tomo no mínimo! Quando nalmente quer passar a fazer parte de uma faço e sabe das minhas necessida-
mucosa laríngea e promovem uma muitos cuidados com a minha me encontram, às vezes, nem festa que já é divertida sem você, des vocais, das minhas diculda-
diminuição da energia muscular da voz. Como preciso utilizá-la de conseguem esconder a carinha aprenda a se fazer notar. Seja des. Ela montou uma sequência
mesma). Gelados, quando não es- uma forma sobre-humana, pre- de decepção”, brinca Felipe, especial. Tenha atitude, educa- de exercícios de aquecimento,
tiver utilizando a voz. ciso estar com ela sempre des- que, como dublador, trabalhou ção, prossionalismo, gentileza que eu faço todos os dias ao acor-
• Sono: 8 horas é o recomendá- cansada e pronta. Por isso evito durante 12 anos em todas as e, principalmente, uma relação dar. E a minha otorrino (Cristiane
vel para uma voz descansada. tomar gelado, pegar chuva, dor- empresas do ramo, no Rio de muito íntima com a sua voz. Carla Viana) também já entendeu
• Voz cansada ou rouquidão: re- mir sem camisa... Tento dormir, Janeiro, e como professor de du- Perceba as suas necessidades, os as urgências e o desgaste que cir-
pouso vocal absoluto. no mínimo, sete horas por noi- blagem na Casa e Companhia de seus cansaços e a fortaleça para cundam o meu trabalho, a ques-
• O café provoca taquicardia e te, jamais falo alto em boates ou Artes Avancini, além de diretor extrair dela até o que você nunca tão dos ambientes sem ventilação
poderá colocar o cantor nervoso. lugares barulhentos, evito gritar, de dublagem na Double Sound.
Pode, também, interferir no ritmo pôde imaginar que seria capaz”, e com ar condicionado forte. Essa
dos movimentos respiratórios. diz Felipe, que deixa outra dica dupla tem me salvado”, garante.
para os futuros dubladores.
• Repertório de canto: adequado
para seu tipo de voz. Nada pior para “ É importante ter um “Assim como todo senhor(a) CONTATOS:
o aparelho vocal do que tessituras de idade tem o seu geriatra e toda Amélia Gumes: agumes@yahoo.com.br
não adequadas ao seu timbre. profissional conceituado que mulher tem o seu ginecologista, Ester Elias: ester_elias@hotmail.com
Fonte: ABC da Saúde (texto acho que todo ator deveria ter a A. Verney: www.alessandraverney.com
elaborado pela fonoaudióloga Ân-
gela Guimarães Coelho).
possa acompanhar você “ sua fonoaudióloga e o seu otor-
rino. Nosso material de trabalho,
M. Neves: murilo_neves@hotmail.com
Felipe Grinann: Central Dubrasil
a voz, e também as pregas vocais, Fone (11) 3814-6458
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
15
Política Cultural
Fotos: Felipe Prestes

NOVA LEI ROUANET PREVÊ DISTRIBUIÇÃO DE


VERBA E QUEBRA DO DIREITO AUTORAL
A Lei Rouanet, de incentivo à cultura, receberá uma nova
proposta de mudança no próximo dia 22. Um dos principais
argumentos do governo para a alteração é a má distribuição
da verba recebida, que vai principalmente para as regiões sul
e sudeste.
No último dia 6, o governo se juntou a algumas pessoas da
classe artística para um debate sobre os principais problemas
da legislação, que atualmente tem metade de sua verba des-
tinada a apenas 3% dos beneficiados. Outros debates sobre
a Lei Rouanet foram promovidos ao redor do Brasil, inclusive
pela internet, onde o projeto ficou aberto para a consulta, che-
gando a receber mais de duas mil sugestões do público.
Algumas das mudanças previstas são a de melhor distri-
buição dessa renda e de uma comissão para avaliar os pro-
jetos artísticos que teria a participação do governo, um dos
aspectos polêmicos da nova proposta. Além disso, as obras
beneficiadas pela lei sofrerão de uma espécie de quebra de
direitos autorais, podendo ser usadas pelo governo para fins
educativos um ano e meio após sua realização. Ive Andrade

PROJETO DE LEI NO RIO PREOCUPA


Artistas da classe popular, com roupas coloridas e poemas: escadarias históricas servem de palco para ensaios FUNCIONÁRIOS DA REDE ESTADUAL

Arte e moradia popular


Um projeto de lei que será votado nesta segunda quinzena de
junho causa polêmica na área cultural do Rio de Janeiro. Trata-
se de um repasse da administração da Secretaria Estadual de
Cultura para as Organizações Sociais, chamadas de OS, que são
entidades privadas sem fins lucrativos.
Prédio público torna-se moradia e espaço para oficinas de teatro em Porto Alegre O Theatro Municipal foi retirado do projeto na última semana
e mesmo que seja aprovado, não deve voltar a ser gerido por uma
OS. Entretanto, quase 30 outros espaços continuam fazendo parte
Por Felipe Prestes da lei, o que está gerando diversas críticas dos funcionários da
rede pública, que são contra alguns pontos do projeto, como a
No meio da tarde de um dia co- dispensa de licitação para os contratos feitos pelas organizações.
mum, quem passava nas históricas O projeto prevê que a Secretaria Estadual de Cultura passe a
escadarias da Avenida Borges de ser administrada pelas OS, ou seja, os espaços ainda seriam públi-
Medeiros, em Porto Alegre, via jo- cos, mas seriam administrados pelo setor privado. Também haveria
vens maquiados, bem vestidos com o empréstimo de funcionários públicos para trabalhar em espaços
camisas coloridas e calças brancas, das organizações, mas o pagamento continuaria a vir do Estado,
dramatizando poemas ao som de medida que poderia gerar uma perda de direitos trabalhistas.
um violão. Na manhã daquele dia Apesar da retirada do Theatro Municipal, a Fundação Anita
22 de maio, fora inaugurado o Resi- Mantuano de Artes do Estado do Rio (Funarj) continua no projeto.
dencial Utopia e Luta. É o primeiro Ive Andrade
prédio público do País a se tornar
moradia popular.
“O espaço foi ocupado em 2005
pelo Movimento Nacional de Luta
pela Moradia, quando foi realiza-
do o último Fórum Social Mundial
sediado na capital gaúcha”, conta Cartaz no Residencial Utopia e Luta: incentivo às conquistas pessoais
Festa do Teatro é novo
movimento teatral de São Paulo
Eduardo Solari. Hoje, ele coordena
a Coopsul (Cooperativa Solidária Nanci Araújo, cantora e também acontecendo no momento”, conta.
Utopia e Luta), que ganhou em de- moradora do edifício, coordena um Na inauguração do Residencial
nitivo as chaves do antigo edifício espaço no térreo que serve de pal- Utopia e Luta, o grupo se fez presente Dia 18 de junho, 12h, artistas
Reprodução

do INSS das mãos do ministro das co para ensaios de grupos de teatro com uma curta apresentação. “Por en- estarão em frente ao Teatro Muni-
Cidades, Márcio Fortes. engajados com as causas populares, quanto este foi o nosso maior contato cipal de São Paulo para promover a
A ocupação de espaços ocio- como a Terreira da Tribo. O “Qui- com os moradores do prédio. Agora Festa do Teatro, com performances
sos nas áreas centrais de grandes lombo das Artes” possui um palco, começamos a realizar ocinas por e distribuição de ingressos gratui-
cidades é uma medida que faz com equipamento de som, abriga uma aqui e eles ainda estão um pouco tími- tos. No período de 19 a 28 de ju-
que famílias de baixa renda tenham mostra de cd’s de artistas inde- dos, mas tenho certeza que logo vão nho, a cidade será palco de um dos
mais acesso à infraestrutura e não pendentes e um brechó aos nais participar também”, relata Marques. maiores eventos de artes cênicas do
precisem se deslocar por grandes de semana, além de computadores O Levanta Favela realiza oci- País, onde serão distribuídos mais
distâncias para chegar aos locais de que são disponibilizados para ado- nas no prédio às segundas, quartas, de 30 mil ingressos para mais de
trabalho e lazer. Uma ação inclusi- lescentes carentes. Uma biblioteca sextas e sábados. Os ensaios de te- cem peças em cartaz.
va e pioneira. está sendo montada. atro de ação direta possuem roteiro A Festa do Teatro tem por ob- Página do site Festa do Teatro
O Residencial Utopia e Luta é Sandro Marques, do grupo Le- e personagens que permitem que jetivo promover o acesso à diversi-
ainda mais inclusivo, já que os mo- vanta Favela, ministra ocinas de qualquer um entre e logo se encai- dade da produção teatral contem- par de ingressos para uma das pe-
radores levaram cultura para o local. teatro no local. Criado em abril de xe nas apresentações. Além disso, porânea. A programação do evento ças participantes do projeto. Infor-
Dentre as 42 famílias com renda de 2008, com menos de um mês de o grupo ensaia uma peça baseada abrange desde o teatro de grupo até mações sobre as peças, número de
até três salários mínimos que ga- fundação já fruticava de sua ligação em poemas de Brecht e na vida do as grandes produções, permitindo ingressos por espetáculo e formas
nharam apartamento, oito delas são com os movimentos sociais e apre- autor, que em dezembro deve estar que o público tenha um panorama de distribuição estão disponíveis no
formadas por artistas, caso dos in- sentações no Dia do Trabalhador do sendo encenada nos principais espa- da pluralidade da arte realizado na site www.festadoteatro.com.br. A
tegrantes da Tribo de Atuadores Ói ano passado. “Chamamos o grupo ços públicos da capital gaúcha, em cidade. A distribuição dos ingressos realização é do grupo Parlapatões,
Nóis Aqui Traveiz, Renan Leandro de cambada de teatro em ação dire- assentamentos do MST e onde mais será feita em dois pontos xos e um Chaim Eventos e J.Leiva. O evento
e Edgar Alves, e do próprio coorde- ta, porque realizamos intervenções movimentos sociais requisitarem a móvel. Com regras claras e objeti- conta com o patrocinado da CCR
nador do coletivo, que é músico. curtas na rua sobre temas que estão presença do grupo. vas, cada cidadão poderá retirar um via lei Rouanet. (Redação)
16 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

São Paulo
O mundo mágico de
Maria Zélia

Fotos: Danilo Braga


Vila situada no bairro do Belenzinho, em São Paulo, traz muitas histórias e
personagens em seus prédios, nas ruas e nos palcos da vida real
Por Danilo Braga
“O que eu sempre falo é que
a vila é um pedacinho do céu”.
Edélcio Pereira Pinto, zelador vo-
luntário da Vila Maria Zélia enche
o peito ao descrever o local onde
mora. “É um lugar único”.
A conversa acontece em um
prédio que, um dia, foi boticário,
uma legítima pharmacia. Edél-
cio, que prefere ser chamado de
Dedé, nasceu e mora na Vila Ma-
ria Zélia, no bairro do Belenzinho,
Zona Leste da capital paulista.
Dada como pronta e fundada o-
cialmente em 17 de maio de 1917,
a vila foi planejada e desenvolvida Na Vila, situada no bairro Belenzinho, já foram dirigidos diversos lmes
para atender às necessidades dos
operários de uma fábrica de sacaria
de café, a Companhia Nacional de
Tecidos de Juta, fundada por Jor-
ge Street, um dos fundadores da
Fiesp. Dedé é neto de um desses
funcionários. Seu avô era conhe-
cido como João Grandão: 1,92
metro de altura e muita admiração
pelo seu patrão. Quando Dedé era
pequeno e dizia que street signi-
cava rua, em inglês, seu avô não
compreendia e se revoltava: “Toma
tento rapaz, toma tento de mangar
o nome desse homem porque esse
homem é um Servo de Deus.”
Não é possível precisar a data
em que o vilarejo começou a ser
construído, mas sabe-se que, em O espetáculo Hysteria levou o grupo a excursionar por vários países “A vila é um pedacinho do céu”, diz zelador voluntário da Maria Zélia
1910, a fábrica já funcionava a todo
vapor. Foi desenvolvida nos moldes moradores com a máquina estatal. cos. No dia 25 de agosto de 2006, viemos. Eu não sei como posso pa- gavam itens de cenário para a apre-
de uma vila da cidade inglesa cha- A sede onde hoje funciona o teatro o então prefeito da cidade de São gar esses moços e essas moças.” sentação de um repertório criado a
mada Saltaire pelo mesmo arqui- é o prédio onde foi a pharmacia. O Paulo, Gilberto Kassab, assinou Hoje, a situação está conside- partir de textos de Eduardo Gale-
teto francês que a construiu: Paul edifício, entretanto, cou fechado convênio com o INSS para a libe- ravelmente denida e os prédios ano. A apresentação, prevista para
Pedraurrieux, um dos prossionais por 60 anos, assim como os maiores ração de seis imóveis, que, segun- serão restaurados. Ao entrar no vi- o m do ano, surgiu a partir do
que inuenciou o trabalho de Ra- prédios da vila. A razão disso eram do nota da prefeitura, tinham sido larejo, um dos edifícios que surgem trabalho de pesquisa para O Ator
mos de Azevedo. Além das casas, as dívidas com o Iapi, que depois se liberados “para implementação de à vista é o antigo restaurante. Há Dramaturgo, que aconteceu com
creche, escolas, a pharmacia, sapa- tornou INAMPS, para nalmente projeto de revitalização da área e uma placa indicando obras da pre- o Grupo XIX ali na vila mesmo.
taria, restaurante, clube esportivo e se tornar INSS, “proprietário” dos desenvolvimento de atividades.” O feitura, avaliada em cerca de R$ 120 Durante a pesquisa, usaram textos
salão de bailes, Jorge Street também imóveis”. Sara Antunes quis saber teatro estava nessa entrelinha. mil. As escolas se tornarão ETECs de Clarice Lispector. A pesquisa se
mantinha um Núcleo de Artes Cêni- da possibilidade de usar o espaço do Centro Paula Souza, com foco tornou uma montagem, em forma-
cas na vila. O teatro, anos mais tar- para o teatro, e junto com a Asso- A VILA É POP na formação de restauradores. Em to arena, chamada Vila Clarice.
de, tornar-se-ia um dos principais ciação Cultural da Vila Maria Zélia, Lágrimas discretas escorrem outro prédio, o maior deles, fun- A escolha pelos textos de Gale-
pilares de existência – e também re- foram à sede do INSS para realizar pelo rosto de Dedé, que, tímido, cionará o Teatro Maria Zélia, uma ano é explicada por Paulinho. “Uma
nascença – da Vila Maria Zélia. esse trabalho. Depois de muita luta, as enxuga com a ternura de quem casa de espetáculos para a cidade característica que a gente achou no
A invasão inevitável dos me- conseguiram, de forma precária, se envergonha do que não conse- de São Paulo. O Armazém nº 9, Galeano é a de contar histórias. A
ninos do teatro uma autorização para a abertura gue controlar. Mas certamente o onde ontem foi a pharmacia e hoje gente viu que não tinha muito sen-
A vila é favorita entre diretores dos espaços. pranto discreto que surge em meio funciona o teatro, amanhã será um tido a gente dramatizar na verdade
e atores. Foram rodados lá os lmes O Grupo XIX de Teatro criou, à conversa não é motivo de vergo- centro de formação de chefes de e optamos, então, pela narrativa”,
Ravina, com Eliana Lage, O Corin- então, a encenação de Hysteria, que nha, mas de muito orgulho. “Meu cozinha, preparados para receber contou. Gi completa: “São perso-
tiano, com Mazzaropi, e No País ganhou o coração dos moradores coração transbordou de alegria. Al- a Copa do Mundo de 2014. “Tudo nas e não personagens. Na Clari-
dos Tenentes. Depois de um tempo da vila e do mundo: foram convi- gumas pessoas menos informadas, caminha para que um sonho meu ce, éramos personagens contando
adormecida, Sara Antunes, do grupo dados para levar o projeto adiante quando eu abracei a causa do XIX, seja realizado, um sonho pessoal”, textos. Neste daqui a gente optou
XIX de teatro, foi quem, por assim e representar o teatro brasileiro no falaram: é Dedé, ca com esse ban- conta Dedé, animado novamente. por sermos atores narradores dos
dizer, redescobriu a vila. O interesse Ano do Brasil na França (2005). do de viado. Esse termo pejorati- textos do Galeano”. A Vila Maria
para fazer arte naquele lugar foi ins- Junto com o gurino e a força de vo. Essa idiotice. Só uma pessoa LUGAR NÃO Zélia foi a materialização do espa-
tantâneo, assim como o desejo pela vontade, o grupo XIX levou, tam- pequena pode ter preconceito nos CONVENCIONAL ço não convencional, que segundo
conquista. E essa conquista se deu bém, informações sobre a vila, fa- dias de hoje. Eu falava: é, vocês Anoitece e chegam à Vila, pro- a dupla, deixa o público mais per-
através de muita luta: não dos mo- tos e algumas fotos. A comunidade verão o que eles farão por nossa curando por Dedé, Paulo Placido e to. “É um lugar muito vivo, muito
radores locais com os meninos do europeia se interessou pelo local e vila. E eles deram uma visibilidade Gisele Lavalle, do grupo Compa- ativo, que o grupo XIX conseguiu
teatro, mas dos meninos de teatro e catalizou alguns processos políti- extraordinária para o lugar de onde nhia do Fubá. Gi e Paulinho carre- transformar aqui”.
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
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Salvador

A Cia. Baiana de Patifaria consegue


transformar o cotidiano em humor e,
duas décadas depois do seu surgimento,
continua a lotar salas pelo país

Autonomia do riso sou, sempre de maneira independente. ao ponto de a plateia invadir o teatro, governo, para que os empresários pos-
Atualmente, ele se prepara - junto com quebrar a porta e tomar conta do pal- sam investir com maior força”, reclama.
Grupo um dramaturgo de nome famoso, mas
ainda desconhecido na Bahia, o Vinícios
de Moraes - para lançar a próxima co-
co, porque a lotação estava esgotada”.
Então chegaram as etapas de registrar
a companhia, os meios de produção
Para não deixar de tratar do tema, as-
sim como é feito com vários outros que
permeiam a sociedade como um todo,
baiano média da Cia, “Sirico-tico”.
Enquanto isto não acontece – o es-
e todo o processo de fazer teatro. No
segundo espetáculo, os gurinos foram
Lelo faz, no nal de cada espetáculo,
uma minipalestra de conscientização do

completa 21 petáculo está previsto para estrear nos


palcos baianos no mês de setembro
-, os patifes levam “A Bofetada” aos
comprados com o cartão de crédito de
um amigo, que foi-se pagando aos pou-
cos com a bilheteria.
público. “Porque acredito que, ali, na
plateia, pode ter o gerente de marketing
ou o dono de uma empresa que pode vir
anos com palcos, novamente, para comemorar a
maioridade. As apresentações aconte-
Quando a peça estreou, uma carac-
terística também foi claramente desta-
a nos apoiar no futuro”.
O próximo espetáculo da Cia Baiana

espetáculo
cem no Teatro do Isba, em Salvador, até cada. “A Bofetada” cava muito tempo de Patifaria já está em fase de gestação e
5 de julho. em cartaz, de casa cheia e sempre sendo chegará aos palcos no mês de setembro.
Segundo Lelo, A Cia Baiana de Pati- reivindicada pelo público. “Para se ter Os produtores não contam detalhes,

independente faria estava destinada ao sucesso desde


o início por uma questão muito simples:
a forma inovadora com que o quinteto
uma ideia, a primeira temporada cou
quase seis anos em cartaz”. Nesse perío-
do também foi gerada uma modicação
mas armam que será uma comédia.
Quanto à “A bofetada”, o destino será
determinado pelo público.
em cartaz se propunha a trabalhar. “A Cia veio na
contramão de como se produzia teatro
cênica no espetáculo para que a estru-
tura não pudesse envelhecer e as piadas
“Acho que ela vai ser enterrada no
dia que eu achar que eu pessoalmente
no momento, em 1987. Eu digo na con- eram modicadas de acordo com o as- não posso mais fazer o espetáculo e o
tramão, porque, de certa forma, aqueles sunto do momento. público não quiser mais assisti-lo. Co-
grupos que existiam estavam ligados à Ao longo dos 21 anos de existência mecei a fazer este espetáculo quando
Por Paloma Jacobina gura do diretor e a nossa companhia do espetáculo, a capacidade de improvi- eu tinha 24 anos, hoje estou indo para
surgiu a partir da proposta dos atores”, sação do grupo rendeu alguns bordões os 47 e acredito que coloco nos meus
Cinco atores desempregados em explica. inesquecíveis, como o “Um momento personagens a mesma energia de antes.
busca de um lugar sob a luz dos holofo- Lelo Filho, Moacir Moreno, Eduar- lindo, maravilhoso” da personagem de Assim como eu envelheci, nosso públi-
tes. Foi assim que surgiu, há 21 anos, em do Leal, Tom Carneiro e Fernando Ma- Lelo Filho, Fanta Maria. “Esse caco sur- co está mais velho e está levando mais
Salvador, um dos grupos de teatro de rinho vinham de processos diferentes giu numa das primeiras apresentações e gente para ir renovando a plateia”.
maior sucesso do Brasil: a Cia Baiana de do teatro que embarcaram na produção eu fui aperfeiçoando. Hoje ele se tornou
Patifaria. O grupo só se prossionalizou de “Abafabanca” de forma improvisada, marca registrada da Fanta Maria e não
Fotos: Divulgação

em 1991, já com o seu segundo espetá- com todos os gurinos emprestados e a pode ser retirado”, conta Lelo. Confira a entrevista completa
culo e maior sucesso de público, “A Bo- atuação de diretores convidados. Tudo - com Lelo Filho no site
fetada”, em cartaz. Foi aí que os patifes funções, custos, perdas e/ou lucros - era SEM PATROCÍNIO www.jornaldeteatro.com.br
viram que a aposta de transformar o co- dividido. Apesar do sucesso, “A Bofetada” só
tidiano em humor renderia bons frutos. E a resposta do público foi imediata. teve patrocinador uma única vez, na co-
De lá para cá, a Cia assinou um re- “Os espetáculos daquela época tinham memoração dos 10 anos, e por apenas
pertório de seis espetáculos (“Abafaban- curta duração: o ator ensaiava três me- três meses. “A Lei Rouanet nunca nos
ca”, “A Bofetada”, “Noviças Rebeldes”, ses para car duas semanas em cartaz. ajudou. Acho que a intenção é boa, mas
“3 em 1”, “A Vaca Lelé” e “Capitães da O nosso foi o primeiro espetáculo que nós, por exemplo, somos uma compa-
Areia”). Todos saíram de cartaz, mas “A cou em cartaz quase um ano, passando nhia que nunca utilizou desses recursos,
Bofetada” cou. Muitos atores também por vários teatros de Salvador, sempre apesar de sempre termos projetos apro-
já passaram pela pele dos personagens com casa cheia”. vados. Mas é uma perda de tempo, por-
que debocham das situações enfrenta- Quando o “Abafabanca” acabou, a que nós nos inscrevemos, atendemos a
das pela nossa sociedade. Cada um im- montagem de “A Bofetada” já aconteceu toda a burocracia, mas nunca consegui-
primindo sua marca, levando seu bor- de forma prossional. “Foi o espetáculo mos o patrocínio”, revela Lelo Filho.
dão e piadas para o palco e renovando, que prossionalizou nosso trabalho no Segundo ele, a Cia é autossustentá-
assim, os textos de Mauro Rasi, Miguel sentido de nos fazer entender que aquilo vel. “Vivemos de bilheteria”. Lelo ar-
Magno e Ricardo Almeida a cada nova nós estávamos desenvolvendo de forma ma que a falta de informação do empre-
temporada. improvisada precisava ser pensado e sariado é um dos maiores responsáveis
Do formato original, o ator e atual elaborado para que continuasse dando por tal situação. “Esta semana estava
diretor, Lelo Filho, e a falta de patrocí- frutos”, reete. conversando com a diretora do novo es-
nio se mantém como marca da monta- A primeira temporada de “A Bofeta- petáculo da Cia, Fernanda Paquelê, que
gem. Baiano que venceu as diculdades da” fez com que a Cia Baiana de Patifaria recentemente teve de dar uma aula de
de se fazer teatro no nordeste brasileiro, se modicasse sem perder a essência. O legislação ao diretor de um banco que
Lelo hoje se orgulha dos 800 mil espec- sucesso já conquistado com a primeira não conhecia os benefícios de se investir
tadores conquistados nas 50 cidades comédia foi extrapolado pela segunda. em cultura. O pior é que estas informa-
brasileiras por onde o espetáculo já pas- “Nós já lotamos a sala do Coro do TCA ções deveriam ser dadas pelo próprio
18 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

Sindicais ECAD

O preço da música no
(ESCRITÓRIO CENTRAL
DE ARRECADAÇÃO
E DISTRIBUIÇÃO)

É uma sociedade civil, de


natureza privada, instituída
pela lei federal nº5.988/73,
administrada por dez asso-

TEATRO
Por Bruno Pacheco ciações de música e mantida
pela atual Lei de direitos au-
torais brasileira – 9.610/98.
A compositora, instrumen-
Ele arrecada e distribui direi-
tista e regente brasileira Chi- tos autorais decorrentes da
quinha Gonzaga, no início do exibição pública de músicas
século XX, não só “abriu alas” nacionais e estrangeiras.
para as mulheres começarem a
buscar igualdade e respeito na Ecad possui sistema avançado, mas ainda gera dúvidas Tem sede na cidade do Rio
de Janeiro e 24 unidades
vida social como também deu
importantes passos para o fu- em quem paga e recebe direitos autorais no País arrecadadoras em todo o
País, 600 funcionários e 240
turo da classe artística brasilei- agências autônomas instala-
ra. A musicista foi responsável rais, surgiu o Ecad (Escritório anos de experiência com es- ança dos artistas quanto aos das em todos os estados da
pelos primeiros movimentos Central de Arrecadação e Dis- petáculos musicais e teatrais, valores cobrados e repassados federação. São enviados, por
em defesa dos direitos autorais tribuição), com o objetivo de o pagamento ao Ecad sempre aos autores de obras musicais. mês, cerca de 40 a 50 mil
no País, além de ter sido uma centralizar toda a arrecadação e cou por conta da produção. “O artista não tem controle se boletos bancários cobran-
das fundadoras, em 1917, da distribuição dos direitos auto- A gente entra em contato com recebe tudo que lhe é de direi- do direitos de quem utiliza
SBAT (Sociedade Brasileira de rais e de execução pública mu- eles e passa o repertório do to. Fica sempre uma dúvida”, música publicamente, os
Autores Teatrais), que até hoje chamados “usuários de mú-
sical. Através de unidades nas artista no caso de shows ou encerra a produtora. O Ecad sica”, que são cerca de 350
garante os direitos desses pro- principais capitais e 150 agên- explica que os critérios e parâ-
somente as músicas que se- mil cadastrados.
ssionais do teatro. cias credenciadas que atuam no metros de cobrança são deni-
rão usadas quando se trata de O sistema de controle de
Chiquinha questionava o interior fazendo o trabalho de dos pelas associações de músi-
peça teatral. Daí, eles calculam informações do Ecad possui
fato de não receber nenhuma captação e cadastramento dos ca que compõem o escritório,
quanto deverá ser pago”. 279 mil titulares diferentes
compensação nanceira pela teatros, o órgão acompanha os o que garante a delidade do e 1,15 milhão de obras ca-
No caso dos teatros, o Ecad
utilização de suas obras musi- espetáculos em todo o Brasil. repasse dos valores. Em 2008, talogadas, além de 665 mil
utiliza um percentual sobre a
cais nos teatros da época. Ela O estatuto da instituição, ava- foram arrecadados em direitos fonogramas. A distribuição
receita bruta da bilheteria ou a dos direitos autorais é feita
justicava sua indignação di- lizado por dez associações de autorais no segmento de teatro
capacidade de público do tea- mensalmente e trimestral-
zendo que a sua música era tão música, classica os teatros o total de R$ 1.919.530.
tro como bases para calcular o mente e 75,5% do que é
importante e proporcionava como usuários eventuais de preço nal. Esse último, quan- arrecadado é destinado ao
tanto sucesso quanto os textos música, ou seja, a cobrança por GRANDE DIREITO titular da obra. A obra mu-
do não há cobrança de ingres-
apresentados. Os anos se pas- direitos autorais deve ser feita Quando um espetáculo sical pode ser classificada
so. “O valor calculado a partir
saram e, graças à inquietação apenas pelas obras musicais possui trilha musical compos- como mecânica e ao vivo. A
do número de pagantes é o que
dessa grande artista brasilei- utilizadas nas peças. ta especicamente para ele e música mecânica é compos-
acreditamos ser mais honesto. ta por duas partes: a autoral
ra, um legado de músicos, de Esse pagamento é de res- devidamente comprovado em
Sempre prero por este méto- e a conexa; que são os in-
compositores, de intérpretes e ponsabilidade da produção do contrato, a cobrança de di-
do”, acrescenta Greice, que já térpretes, os músicos e os
de regentes pode, hoje, rece- respectivo espetáculo e não reitos pela execução pública
produziu espetáculos de artis- produtores fonográficos.
ber não só pela utilização de do teatro onde está em car- passa a ser de responsabili- O direto sobre a música
tas como Tom Zé, Elza Soares
suas músicas nos palcos, mas, taz, como explica a produtora dade da SBAT. Nestes casos, ao vivo é toda destinada ao
e Yamandú Costa, além de ter
também, nos diversos meios Greice Barros. “Nos meus dez as obras musicais são consi- autor (ou autores da obra
trabalhado com os grupos mi-
reprodutores de música, como deradas de Grande Direito. musical). O não pagamen-
neiros Luna Lunera e Galpão. to do direito autoral é uma
as emissoras de rádio e de te- ”Ainda há a possibilidade de
Mesmo dono de grande co- violação à lei e o infrator
levisão, os bares e restaurantes, o autor vender os direitos de
bertura e um dos sistemas de responderá judicialmente
a internet, os celulares e, entre uma composição para os pro-
arrecadação e distribuição de pela utilização não autoriza-
outros, acredite, até videoquês. dutores do espetáculo. Neste da das músicas (fica sujeito
direitos autorais mais moder-
Em 1973, com a promul- caso, não há arrecadação para às sanções criminais e civis
nos do mundo, o Ecad convi-
gação da Lei de Direitos Auto- nenhum órgão”. cabíveis, conforme Código
ve com as críticas e a descon- Penal Brasileiro e os artigos
105 e 109 da Lei Federal de
direitos autorais).
(Fonte: site e assessoria
de imprensa do Ecad)

DIREITOS AUTORAIS,
O QUE SÃO?
É um conjunto de prerro-
gativas conferidas por lei à
pessoa física ou jurídica cria-
dora da obra intelectual, para
que ela possa gozar dos be-
nefícios morais e intelectuais
resultantes da exploração
de suas criações. O Direito
Autoral está regulamentado
por um conjunto de normas
jurídicas, que visa proteger
as relações entre o criador e
a utilização de obras artísti-
cas, literárias ou científicas,
tais como textos, livros, pin-
turas, esculturas, músicas,
ilustrações, projetos de ar-
quitetura, gravuras, fotogra-
fias etc. Os direitos autorais
são divididos, para efeitos
legais, em direitos morais e
patrimoniais.
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
19
Formação
Fotos: Divulgação

O laboratório de cenograa destaca-se como centro de estudos, pesquisa e experimentação teatral. O Espaço Cenográco completou 11 anos de existência em 2009

Cenário de criações Escola de cenografia aperfeiçoa profissionais em São Paulo


Por Pablo Ribera nava o curso de cenograa panhem os projetos do Espaço valor da inscrição é de R$ 20. O curso é realizado às ter-
mantido pelo núcleo, decidiu desenvolvidos para teatro, TV, “O que se espera dos alunos ças e quintas-feiras das 19h
O mundo teatral consis- aprofundar os estudos da lin- shows, eventos, exposições, ar- formados é que eles adquiram às 22h. Neste semestre, teve
te em uma tríade: quem vê, guagem cenográca, criando quitetura teatral etc. um conhecimento básico e te- início em março. O formando
o que se vê e o imaginado. E assim o Espaço Cenográco, A ideia, segundo o funda- nham condições de entrar no recebe certicado que é váli-
para isso, além dos artistas que de forma independente e em dor, é formar prossionais na mercado de trabalho”, ar- do para o registro de DRT de
trabalham no palco e daqueles um atelier próprio. área de cenograa, gurinos mou Serroni. cenógrafo.
que os dirigem, é necessária “O interesse por cursos de e adereços teatrais, com pelo
toda uma equipe para comple- cenograa é cada vez maior menos três encontros sema- ESPAÇO CENOGRÁFICO
tar o jogo de sentidos. e o mercado aumenta dia a nais. Ainda é oferecida a reali-
Foi pensando nesses pro- dia com novas possibilidades. zação de estágio para os alunos O Espaço Cenográfico de São geradas ao redor desta área tão
ssionais que surgiu o Espaço Hoje o cenógrafo, além de te- do curso, que podem trabalhar Paulo apresenta-se desde sua ori- específica e pouco acessível no
Cenográco de São Paulo, loca- atro, ópera, dança, música, TV nos projetos desenvolvidos gem como um centro de estudos que Brasil.
lizado na rua Dr. Teodoro Bai- e cinema, ‘cenograas mais an- para teatro, TV, shows, even- mantém a permanência da pesquisa e Desta maneira, criando se-
ma, na Vila Buarque. Trata-se tigas’ tem sido solicitado para tos, exposições, arquitetura experimentação no campo das áreas quência às suas motivações prin-
de um laboratório permanente atuar na área de estandes, vitri- ligadas à cenografia, arquitetura tea- cipais, o laboratório atualmente
teatral e vivenciar a prática da
nes, museograa, exposições, tral e outras linguagens correlatas. apresenta a manutenção de sua
de pesquisa e de experimen- criação.
parques temáticos, eventos, Através de um apelo pedagógico biblioteca, que já conta com o
tação nas áreas de cenograa, “Escolas especícas para as conteúdo especializado mais com-
arquitetura teatral e outras lin- festas, carnaval, além de poder, áreas chamadas ‘técnicas’ são entre profissionais do setor e estu-
dantes interessados na área, o Espaço pleto do País e fornece anualmen-
guagens do tipo. O centro de muitas vezes cuidar também muito necessárias em nosso País. te um curso de cenografia, que
estudos nasceu por conta da de gurinos e atuar na área de Temos carência de cursos de Cenográfico sempre manteve a ideia
de transformar e incrementar o apro- já existe há dez anos no Espaço
necessidade em treinar e criar arquitetura teatral ou ministrar formação como cenograa, ilu- Cenográfico e vinte anos em sua
alternativas para a demanda de palestras, workshops etc”, ex- fundamento dos estudos da linguagem
minação, gurinos, cenotecnia, totalidade, se contados os tempos
plicou Serroni. relacionada à cenografia brasileira.
prossionais na área e para in- técnicos de palco, contrarregras, de sua permanência no CPT.
O Espaço, explica Serroni, Em 2009, mais especificamente no
teressados em pesquisar e fazer camareiras”, disse Serroni. dia 30 de maio, o Espaço Cenográfico O Espaço Cenográfico tam-
cenograa. “No Espaço Ceno- oferece cursos de seis meses, Para fazer o curso, o inte- bém tem publicado seu livro “Te-
completou 11 anos de existência. Ao
gráco, o curso é alternativo, com possibilidade de prorro- ressado precisa passar por um longo destes anos, no laboratório de atros do Brasil” de J.C.Serroni,
direcionado a quem já tem uma gação de mais quatro meses, processo seletivo, que conta cenografia pôde desenvolver exposi- mantém um jornal bimestral “Es-
formação básica e necessária à dependendo do grupo, dos com prova de conhecimentos ções relativas às cenografias nacionais paço Cenográfico News” e fornece
cenograa, como arquitetura, projetos do Espaço, ou de uma gerais em artes e cultura, nada e internacionais, percorrer diferentes atendimento e monitoria de teses
Artes Plásticas, Design, Moda, necessidade de continuidade muito especíco, apenas para estados do País com a mostra de seu aos alunos graduados e interessa-
etc”, disse o arquiteto, cenó- dos trabalhos desenvolvidos reconhecer a aptidão do can- acervo permanente, além de fornecer dos no assunto.
grafo e gurinista de teatro, para o curso. Ele é composto didato mais desenho e trabalho a realização de palestras, fóruns e con-
televisão e shows, J.C. Serroni, de 60 aulas teóricas, de 16 aulas manual. Passando essa fase o ferências relacionadas aos assuntos da PRINCIPAIS INTEGRANTES:
fundador do Espaço. práticas de atelier e 12 palestras candidato passará por uma en- cenografia e arquitetura teatral. - J.C. Serroni - arquiteto,
O Espaço foi criado em de prossionais de comprova- trevista que será marcada com Dentre o amplo leque de atividades cenógrafo e figurinista
1997 por Serroni que, após di- da experiência, no qual são en- antecedência. Passando na en- realizadas, sempre manteve preocupa- - Telumi Helen - cenógrafa
rigir por 11 anos o Núcleo de fatizadas a experimentação e a ção no caráter formativo e reflexivo do e figurinista
trevista poderá o candidato re-
prática, além da teoria e da his- conhecimento. Tem assim, como seu - Gustavo Lanfranchi - arquiteto
Cenograa do CPT (Centro alizar sua matrícula no valor de
tória da cenograa. Além disso, objetivo primeiro, proporcionar a difu- - Alexandre Liba - arquiteto
de Pesquisas Teatrais do Sesc) R$ 400,00. As mensalidades se- - André Serroni - produtor
onde realizava as cenograas é proposto uma espécie de es- rão no mesmo valor, perfazen- são e o intercâmbio das informações
dos espetáculos e coorde- tágio, para que os alunos acom- do um total de 6 parcelas. O
20 16 a 30 de Junho de 2009 Jornal de Teatro

Homenagem

Sem chance para dizer Adeus!


Morte de Juliana de Aquino no AF 447 deixa o mundo dos musicais de luto. Cantora, que fazia sucesso na Alemanha, veio visitar a família
Por Claudio Magnavita de “The Lion King”, em 2002. A
descoberta de talentos brasileiros
Quando o “Jornal Nacional” para as grandes montagens da
revelou o nome das primeiras Broawday, no Brasil, despertou
vítimas do acidente do Airbus o interesse dos produtores do
A330 da Air France, a classe ar- “The Lion King”, que promo-
tística – especialmente o pessoal veram audições em Salvador, no
ligado aos musicais – não acre- Rio de Janeiro e em São Paulo.
ditou no que foi divulgado. En- Aprovada na seleção, Julia-
tre as vítimas do voo 447 estava na embarcou para a Alemanha
Juliana de Aquino, apresentada sem desfazer os seus laços com
como “uma cantora brasileira o Brasil – permaneceu em con-
que participava de espetáculos tato com os amigos e, sempre
na Alemanha e que regressava que possível, regressou para as-
depois de ter visitado a família sistir às estreias dos espetácu-
em Brasília”. Entre as imagens los dos seus colegas, entre eles
da reportagem, o depoimento Maurício Xavier, com quem
do seu pai, Benedito de Aquino, trabalhou na montagem alemã
colhido no aeroporto da Capital do “The Lion King”.
Federal, onde tinha ido buscar “Trabalhar com a Juliana foi
notícias da lha. muito divertido, ela sempre ti-
Não havia dúvidas. Ela ha- nha coisas boas para falar e nos
via embarcado no 447 da Air incentivávamos. Foi uma alegria
France. Ainda no chão, com a tê-la na plateia do “Avenida Q” e
aeronave no Galeão, ela fez uma de “Os Produtores”. O seu apoio
última chamada para a família, me motivava muito”, relembra
despedindo-se e rearmando a Xavier, que confessa ainda não
sua alegria em retornar para a acreditar no que aconteceu.
Alemanha, onde iria protago- Sempre el às suas origens,
nizar o musical “Wicked”, no Juliana aproveitou a viagem a
papel de Elphaba. Foi a última Brasília para revisitar pessoas
vez que seus entes queridos pu- e lugares importantes na sua
deram escutar a sua voz, aliás, carreira. Poucos dias antes de
voz que foi o passaporte para embarcar, ela esteve no Estú-
uma das mais exitosas carreiras dio de Performance Artística de
de um talento do teatro musical Brasília e cantou para os alunos
brasileiro no exterior. as canções do seu novo musical
Quatro horas depois, em “Wicked”. Ela não escondia a
pleno Oceano Atlântico, fecha- sua alegria de ser a protagonis-
vam-se denitivamente as cor- ta desta montagem. Estudava
tinas para Juliana, que foi um com anco e não se desgrudava
dos expoentes de uma surpre- da nova missão. Trabalhava em
endente safra de talentos brasi- cada nota para melhorar ainda
lienses, que, no início desta dé- mais a sua perfomance. Confes-
cada, começaram a despontar sou ao pai, Benedito, que acha-
nas grandes produções do tea- va que este personagem seria Expoente da boa safra de artistas brasilienses, Juliana iniciou carreira de forma precoce, aos 4 anos
tro musical brasileiro, entre eles um marco na sua carreira.
Saulo Vasconcelos, Frederico A família cou contagiada segue tocar um maior número Neste CD, a faixa de tra- mos juntos para o vestibular da
Silveira, Sara Sarres, Alessan- com seu entusiasmo e não pode- de pessoas com o seu trabalho. balho era Manoel, que termi- UNB”, revela Fabio Barreto,
dra Linhares, Paula Capovilla, ria imaginar que, depois daquela A vida de Juliana sempre na com o refrão: “Manoel foi ator e cantor que reside ainda
entre outros jovens talentos despedida, a sua carreira seria esteve marcada por sinais do para o Céu... Manoel foi para em Brasília e complementa:
que tiveram como professor e ceifada de forma tão precoce. destino. A sua mãe Walkíria o Céu”. É impossível escutar a “um dos traços mais marcantes
preparador vocal o maestro Na Áustria, em 2008, Julia- tem o seu nome inspirado em faixa sem se emocionar. da sua personalidade era a sua
Marconi Araújo, regente do na participou da montagem de um dos clássicos de Richard Juliana tinha como autor generosidade”.
coro da UNB, que atuou como “Jesus Cristo SuperStar”, onde, Wagner, um dos maiores com- preferido um gênio da literatura Para os amigos e fãs o sen-
regente do Les Misérables. no papel de Maria Madalena, foi positores alemães. Como uma francesa e patrono dos aviado- timento maior é o de vitória. O
Enfrentando as diculdades aplaudida em cena aberta por guerreira a serviço dos deuses a res da França, o escritor Antony aplauso é a melhor homenagem
para a sua formação, principal- um dos momentos mais tocan- D. Walkíria de Aquino esteve no Saint Exupery, autor de “O para esta jovem talentosa brasi-
mente por estar fora do eixo tes do musical. A sua gura for- Rio acompanhando as notícias Pequeno Príncipe”, piloto de leira, que na busca da realização
Rio-São Paulo, Juliana come- te e marcante cedia espaço para ao lado de outros familiares do avião na segunda grande guerra do seu sonho, que encarava a
çou de forma precoce, aos qua- uma doçura e leveza que levava voo 447. Lembrando da lha, e que também desapareceu em sua voz como um dom de Deus,
tro anos de idade, estudando os espectadores às lágrimas. que na sua página do Orkut se um acidente aéreo. embarcou para a sua derradeira
piano, no Instituto de Música Lágrimas que brotaram dos denia como “uma criação de Para uma de suas maiores viagem deste plano no trágico
de Brasília. A sua carreira teve amigos com a notícia do voo Deus”, esta mãe, na dor do seu amigas, Alessandra Linhares, voo 447. Até neste momento,
o incentivo constante de sua 447 e zeram com que muitos luto, arranjou força para conso- “cará a lembrança e o exemplo uma coincidência. Teve como
mãe, Walkíria, que a acompa- brasileiros corressem para os si- lar os outros, transformando-se de uma vencedora”. A amizade colega de jornada o maestro Sil-
nhava nas audições e nas aulas. tes de relacionamento e para as- em um exemplo. “Minha lha que começou ainda em Brasília, vio Barbato, seu amigo e regen-
A veia artística herdou de seu sistir os seus vídeos no Youtube. era minha melhor amiga e con- aumentou os laços mesmo com te da Sinfônica de Brasília.
avô, que também era músico e Várias mensagens de pesar fo- dente. Os nossos melhores a distância. “Nos falávamos Dois talentos ceifados de for-
tocava clarinete. ram deixadas, todas lamentan- momentos eram quando estu- sempre. E o seu timbre belíssi- ma precoce e que nestes aplau-
Logo após se formar em do a perda pelo seu talento e a dávamos juntas e quando eu a mo e a sua voz poderosa abriam sos de despedida só nos trazem
Canto pela UNB, Juliana viu raridade de sua voz. A grande visitava na Europa”, relembra as portas para as principais uma única questão, que ca sem
abrir uma janela internacional: a ironia é que o foco da grande sua mãe, que tem como missão montagens europeias”, garante. resposta e que a lógica não ex-
audição para artistas de origem mídia sobre o acidente chamou manter viva a obra e o trabalho “Juliana era uma pessoa que plica. O por quê deste apagar de
afro-descendente, criada pelos a atenção para esta jovem artis- da lha, que, em 2001, lançou o sabia bem o que queria. Lembro luzes tão repentino, que nos pri-
produtores da montagem alemã ta, que de forma póstuma con- seu CD, “Primeira Vez”. do seu esforço quando estuda- vou desses grandes talentos?
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
21
Vida e Obra
Fotos: Divulgação - André Wanderley

Uma carreira vitoriosa


Tônia Carrero, Musa de Ipanema dos anos 1940, cuja história se confunde com o teatro brasileiro, é homenageada pelo Prêmio APTR
Por Felipe Sil Lá em Casa”, onde seu parceiro teatro brasileiro ao constituir elegância, Tônia se aprofunda resultado garantido para correr
foi o virtuoso e já lendário ator um repertório com peças de em um mundo de sofrimentos o risco na produção e na inter-
Difícil encontrar quem nun- Paulo Autran. Já conquistaria, autores clássicos, como Shakes- de uma miserável prostituta. A pretação de textos modernos.
ca tenha ouvido falar de Maria então, um prêmio de atriz reve- peare, e de vanguarda, como decadência ctícia levaria a atriz Seu estilo de interpretação em
Antonieta Portocarrero The- lação pela Associação dos Crí- Sartre. A estreia do grupo é em à glória do teatro, garantido-a os “Quartett”, de Heiner Müller,
dim, atriz brasileira de 87 anos, ticos Cariocas. De fato, a atriz 1956, com “Otelo”, de Shakes- prêmios Molière e Associação surpreende público e crítica, o
mais conhecida como Tônia besticaria os especialistas no peare, em que Tônia atinge uma de Críticos Cariocas. que lhe rende o Molière de me-
Carrero. Bastião do teatro de meio por sua beleza e malícia, fama de longo alcance com sua Nos anos 1970, continua a lhor atriz. Em 1990, reencontra
qualidade, a Musa de Ipanema que também seriam postas em elogiada Desdêmona. investir em peças tradicionais o velho parceiro de cena Pau-
dos anos 1940 tem uma coleção potência em 1950 com a peça O repertório eclético e sua e de retorno garantido como lo Autran em “Mundo, Vasto
de interpretações marcantes “Amanhã, Se Não Chover”, de psique versátil permitiu a Tônia “Macbeth”, de Shakespeare Mundo”, uma coletânea de
também no cinema e na televi- Henrique Pongetti. amadurecer seu já renomado (aliás, um inesperado insuces- textos de Carlos Drummond
são. Resta o orgulho de quem “Para falarmos da história talento durante o período. Sob so), “Casa de Bonecas”, de de Andrade.
superou preconceitos de críti- do teatro nós temos que in- a direção de Celi, atua em pe- Ibsen, e “Constantina”, de So- Na década de 1990, atua sob
cos que, na sua época áurea, lhe cluir a Tônia Carrero. Durante ças de sucesso como “A Viúva merset Maugham. Com direção a direção do lho Cecil Thiré
torciam o nariz, talvez desarma- muito tempo ela teve um papel Astuciosa”, de Carlo Goldoni, de Flávio Rangel e ainda eston- em “Ela é Bárbara”, de Barillet
dos pela radiante beleza exalada essencial de musa da arte bra- e “Entre Quatro Paredes (Huis teantemente bela, protagoniza e Grédy. Em 1999, novamen-
pela atriz. Fácil entender, por- sileira. Mesmo trabalhando em Clos)”, de Jean-Paul Sartre, “Doce Pássaro da Juventude” te, associa-se a um encenador
tanto, porque a terceira edição tantas novelas e programas de ambas de 1956; “Frankel”, de em 1976. Nos anos 1980, Tô- mais jovem, Eduardo Wotzik,
do Prêmio APTR (Associação TV, sua alma sempre esteve no Antônio Callado, em 1957; e nia começaria a década em “A para atuar em “Um Equilíbrio
dos Produtores de Teatro do teatro. Ela conseguiu calar a “Calúnia”, de Lillian Hellman, Volta Por Cima”, de Domingos Delicado”, de Edward Albee.
Rio) homenageia a atriz. boca de críticos e especialistas em 1958. Em 1960, recebe o Oliveira, em 1982 e, dois anos Sem parar, atua em 2000 ao
Pelo aspecto sociológico de que torciam o nariz para sua distinto Prêmio Governador do depois, interpretaria o papel de lado de Renato Borghi em “O
sua biograa, pode-se até dizer beleza estonteante. Sua impor- Estado de São Paulo de melhor Sarah Bernhardt em “A Divina Jardim das Cerejeiras”, de An-
que Tônia Carrero foi uma gui- tância é estrondosa”, declara atriz por “Seis Personagens À Sarah”, de John Murrel. ton Tchekhov, com direção de
nada de um País que não sabia Carlos Carvalho, diretor da Es- Procura de um Autor”, de Luigi Diretor da Companhia Élcio Nogueira.
de maneira exata como lidar cola Técnica de Artes do Rio. Pirandello, estreado em 1957. de Teatro Contemporâneo, Na TV, Tônia também usou
com a Segunda Guerra Mun- Em 1953, Tônia obtém Em 1965, sem a estrutura Dinho Valadares arma que todo seu talento para rechear a
dial. Com toda a família a seguir grande sucesso pessoal na cena da companhia e sem a presença Tônia Carrero é um exemplo história do veículo com perso-
a carreira militar, a jovem esco- teatral sob a direção do seu ma- de Adolfo Celi, Tônia cria a sua para iniciantes no meio. “Seu nagens marcantes como a so-
lhe o bálsamo da arte. Apesar rido, o italiano Adolfo Celi, na própria empresa, a Companhia legado como atriz não se dá sticada Stella Fraga Simpson
de graduada em Educação Físi- peça “Uma Certa Cabana”, de Tônia Carrero. A ideia então em apenas uma peça. Para per- em “Água Viva”, de Gilber-
ca, não demorou a buscar a car- André Roussin. Sua curta, mas vigente é que a rma viabilize ceber seu verdadeiro talento é to Braga, em 1980. A mesma
reira de atriz quando se mudou espetacular trajetória no TBC, esporádicas montagens prota- preciso relembrar toda a car- performance memorável seria
para Paris, casada com o artista inclui participações em “Uma gonizadas pela estrela. Inter- reira. Foi através do amadure- oferecida pela atriz na nove-
plástico Carlos Arthur Thiré. Mulher do Outro Mundo”, de preta com extrema habilidade e cimento e do lapidar de suas la “Louco Amor”, em 1983,
Ao voltar da França, já se Noel Coward; “Negócios de genialidade a peça “A Dama do aptidões que ela conseguiu com o mesmo diretor, como
sobressai ao protagonizar o l- Estado”, de Louis Verneuil; e Maxim’s”, de Georges Feydeau, demonstrar que não era só um a também charmosa e chique
me “Querida Susana”, em 1947. no papel principal de “Cândi- dirigida por Gianni Ratto, em rosto bonito no meio, o que Mouriel. Na TV Globo ainda
Logo após, sua energia e vitali- da”, de Bernard Shaw, e “San- 1965, ao lado do sempre com- era suspeita de muita gente. fez mais história ao atuar em
dade a tornariam a principal es- ta Marta Fabril S.A.”, de Abílio panheiro, até fora dos palcos, Ainda deixou uma prole fabu- outros clássicos como “Sangue
trela da Companhia Cinemato- Pereira de Almeida. Paulo Autran. Em 1968, alcança losa de artistas como o Cecil e do meu Sangue”, “Pigmaleão
gráca Vera Cruz, em que atuou Junto com Paulo Autran, um ponto alto em sua carreira o Miguel Thiré”, comenta. 70” , “O Cafona”, “Primeiro
em diversos lmes durante os forma com seu marido nos com Neusa Suely, personagem A partir de 1986, Tônia amor”, “Esse louco amor” e
anos 1950. A estreia em teatro anos 1950, o italiano Adolfo principal de “Navalha na Car- Carrero, novamente, mudaria “Senhora do Destino”. Tônia
foi apenas no TBC (Teatro Bra- Celi, a Companhia Celi-Autran- ne”, de Plínio Marcos. Após de maneira radical os rumos também entrou na história
sileiro de Comédia), em 1949, Carrero. Até os anos 1960, este um estágio em que realizava de sua carreira, deixando de in- da extinta TV Manchete com
com a peça “Um Deus Dormiu grupo revolucionaria a cena do peças favoráveis à sua beleza e vestir em clássicos e textos de “Kananga do Japão”.
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Opinião
Um espetáculo deve sempre
p ser avaliado pelos mesmos critérios e críticos?

Luiz Carlos Vasconcelos Eduardo Moreira


Se considerarmos que a crítica é a atividade exercida por um espectador profissional – o crítico – que Antes de mais nada, considero que a crítica é um elemento fundamental para o crescimento e o
tem a função de analisar as várias camadas constitutivas do objeto cênico para detectar a sua eficiência desenvolvimento da atividade teatral e lamento muitíssimo que cada vez exista menos espaço nos jornais
enquanto experiência estética significativa; para esse tipo de atividade. Estamos vivendo um tempo em que os profissionais da crítica perderam o
Se considerarmos também que “espetáculos com enfoques diferentes” quer se referir a toda a gama espaço para discutir idéias e se tornaram mais e mais indicadores de entretenimento. Uma cidade como
de experiências cênicas desde as que são construídas a partir de uma literatura dramática até aquelas Belo Horizonte, por exemplo, com algumas honrosas exceções, praticamente não tem críticos que exerçam
apoiadas na própria construção poética da cena e, portanto, determinadoras de novos paradigmas; sua função regularmente.
Se considerarmos, por fim, que o fenômeno teatral sempre se apoiou e sempre se apoiará num triângu- Dito isso, a título de introdução, entro no tema em questão, afirmando que não vejo por quê deva
lo imutável – teatro/ ator/ espectador, podemos afirmar: independentemente do lugar, da época, da forma, existir setorização da crítica para os diferentes tipos de espetáculos.Acho que o crítico é uma espécie de
do novo paradigma a ser estabelecido, ou da última invenção tecnológica arrastada para dentro da cena, espectador privilegiado que deve ter amplas condições de compreender a diversidade e a complexidade
que para existir a arte do teatro, alguém (um ator, uma pessoa) terá que realizar algo (com alguma qualidade dos múltiplos extratos da arte, e especificamente, do teatro.Criar padrões específicos de análise para de-
artística) diante de outro alguém (uma testemunha, um espectador). terminados “tipos” de teatro soa como uma certa atitude de condescendência que um crítico deve passar
Se aceitas essas considerações preliminares, podemos então afirmar que o papel da crítica é justamen- longe, pelo bem do meio.
te revelar e analisar as diferenças e mesmices que constituem a pluralidade da cena contemporânea. Por- A diversidade é um elemento fundamental para a vida do teatro. É muito bom que exista e floresça o
tanto, a produção crítica deveria ser diferente na proporção do número das diferentes realizações cênicas. teatro comercial, o experimental, o performático, a vanguarda, o musical, a comédia, a tragédia, o drama,
Se aceitarmos como verdadeira a tríade teatro, ator e espectador, deveríamos aceitar que o critério de etc. Da crítica espera-se a obviedade de um olhar amplo e sem qualquer tipo de preconceito sobra as
análise a ser adotado pela crítica, mesmo diante de toda diversidade, poderia ser um só, ou seja – responder múltiplas formas de abordagem teatral.
às seguintes questões fundamentais: que qualidade/eficiência tem o que o ator realiza e a cena que foi cons- Agora, independente da linguagem ou da proposta, existe um padrão de qualidade e de rigor que preci-
truída? E o que imprime/causa esse ator e essa construção cênica, no corpo-experiência do espectador? sa ser reconhecido e apontado. Senão corremos o risco de cair naquela máxima defensiva de que o público
Responder a essas questões será o desafio dos grupos, diretores e também dos críticos. ou a crítica não gosta do meu espetáculo porque não entendeu ou porque é burro. O pior inimigo do teatro
Mas como exigir aprofundamento da crítica se os espaços disponibilizados para o exercício crítico nas é o mau teatro que, desgraçadamente, se alastra como erva daninha.
páginas dos periódicos cada dia fica menor? Por que publicar só uma crítica sobre determinada encenação? Acredito, sim, que existem critérios de qualidade que podem ser aplicados aos diferentes tipos de
Por que não arejar esses espaços convidando outros profissionais da área, inclusive estudantes, para um espetáculos. Abrir mão disso é arriscar cair num relativismo perigoso. O que se pede a um bom crítico é
exercício analítico com várias leituras sobre o mesmo objeto cênico? clareza na argumentação, honestidade, ausência de preconceito e uma boa dose de cultura.
Mas os críticos só não podem esquecer, de nenhuma forma, que criticar é produzir sentido a partir de E, para terminar, gostaria de dizer que essa é uma opinião pessoal e que, sendo o Galpão um grupo de
um fenômeno que, em si, já é produtor de sentido; é o olhar do analista sobre o olhar do artista sobre o atores em que as pessoas têm suas próprias opiniões, muitas vezes divergentes, esse não é um ponto de
mundo. E esse é um exercício estético e ético. vista do grupo.
Luiz Carlos Vasconcelos – Diretor e ator, criador do palhaço Xuxu, um dos fundadores da Escola Piollin e Eduardo Moreira – É fundador do Grupo Galpão (www.grupogalpao.com.br), tendo participado de todas a
do Piollin Grupo de Teatro (www.piollin.org.br), sediados em João Pessoa /PB suas montagens tanto como ator, como diretor e assistente de direção. O Grupo tem sede em Belo Horizonte /MG
Jornal de Teatro 16 a 30 de Junho de 2009
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Internacional
Luciana Chama apresenta os principais palcos de Los Angeles e mostra que nem só de cinema vive
a cidade norte-americana. Em Londres, Adriano Fanti solta o verbo sobre a dita crise no West End.
“Nota-se um pânico infundado!”, diz.

O mundo do teatro Greetings, you all!


na cidade dos anjos
“Mary Poppins” e “Dreamgirls” são ingleses do setor têm contra a aproxi-
os espetáculos que já dão o que falar mação do modelo da Broadway, onde
na programação de 2009. uma lista de nomes de produtores apa-
O bacana dos grandes teatros é Adriano Fanti recendo em cima do título é de praxe.
Luciana Chama o programa de incentivo ao públi- Londres Mas outro fator é que antigamente era
co: em épocas de grande volume de maior o número de produtores que
Los Angeles
espetáculos na agenda, as casas ofe- possuíam os teatros onde suas peças
recem pacotes com preços especiais produzidas estavam em cartaz; como
por meio de assinaturas. São muitas ainda é o caso de Andrew Lloyd Web-
Capital mundial do cinema, Los as opções de entretenimento por Muito tem se falado nos últimos ber, como citei na última coluna.
Angeles é conhecida mundo afora aqui, logo as produções apostam na meses aqui na “teatrolândia’’ sobre É justo dizer que 31 produtores
pelos seus astros do cinema e da tele- delização da plateia, estimulando como a “recession” (crise econômica para “Spring Awakening” realmente
visão. Quando a palavra teatro é men- o interesse de fã por fã ao divulgar mundial) tem inuenciado no número parece assustador – de fato, foram
cionada, imediatamente nos remete- sempre uma novidade atraente. de produtores aliados para apresenta- quatro a mais que na produção da
mos à Broadway de Nova York, e não Para quem gosta de um ambien- rem um único show do West. Sim, a Broadway. Mas este foi um musical
à cidade dos anjos. te mais intimista e com uma pro- crise afetou o setor artístico também, sem ninguém famoso (yeah!!!), orça-
Entretanto, o mundo da perfor- gramação “cool” e “cult”, a Geffen mas jornalistas tem feito um conve- mento de £ 2 milhões e custo semanal
mance em Los Angeles é ferveção Playhouse é boa pedida. Ao lado da niente link sensacionalista – o que, a de £128 mil. Uma brava empreitada
pura, repleta de atores premiados e Ucla, com apenas 525 assentos e meu ver, não passa de uma forma de para qualquer produtor em qualquer
consagrados em cartaz, com teatros muito, muito charmosa, a casa ofe- desviar do foco real. cenário nanceiro. No entanto, o pú-
espalhados por toda a cidade. Anal, rece variedade de estilos e textos de O número de nomes de produtores blico realmente se importa se levou
entre um lme e outro, atores e dire- autores premiados. Vira e mexe é envolvidos em uma só produção vem um produtor, ou cinquenta, para co-
tores precisam continuar trabalhando. possível esbarrar numa celebridade crescendo por um longo tempo, mas locar a produção em pé? Provavel-
Localizado no coração de de Hollywood pelo hall do local, mas com a chegada no West End – e recen- mente, estão apenas interessados em
Hollywood, o Pantages Theatre é pal- principalmente é o ambiente adequa- te partida – de “Spring Awakening”, se a peça é de boa qualidade ou não.
co dos maiores espetáculos e um dos do para assistir a uma dessas estre- com 31 produtores agregados, trouxe Uma olhada em volta do West
principais cartões postais da cidade. Olas brilharem ao vivo. “Time Stand novos índices. No entanto, em tempos End, atualmente, sugere uma gura
teatro foi inaugurado em 1930 e já teveStill”, texto do vencedor do prêmio mais prósperos, quando “Desperately pouco inovadora com total falta de
como dono Howard Hughes – aquele Pulitzer Donald Margulies, sobre Seeking Susan” estava em cartaz levan- novas obras ou mesmo de conteúdo.
interpretado por Leonardo Di Caprio o drama de jornalistas cobrindo a do o nome de 13 produtores associa- Portanto, a junção de produtores co-
no lme “O Aviador”. Com 2.600 lu- guerra do Iraque, está em cartaz com dos, não houve alvoroço algum. rajosos deveria estar sendo celebrada
gares, é o melhor lugar para conferir Alicia Silverstone e Anna Gunn. E um momento oportuno, em ao invés de abordada de forma er-
musicais da Broadway. As montagens Portanto, caros, não é só de ci- meio à recessão, para principalmente rônea. Espero que este fechamento
californianas de “O Rei Leão” e “Wi- nema que vive a cidade dos anjos – a mídia transformar isso em “a crise prematuro de “Spring Awakening”
cked” foram um sucesso estrondoso e além dos grandes lmes e seriados no West End” quando na verdade (10 semanas) não esmoreça estes ou
caram em cartaz por dois anos con- de televisão, a cidade produz um acho que tem pouco a ver com a re- outros produtores a continuar inves-
secutivos cada um; só neste ano, o tea-bom teatro, com um cenário cultu- cessão e mais a ver com o fato de que tindo em trabalhos criativos.
tro já abrigou “Rent”, “Mamma Mia”, ral vibrante, cheio de talentos e boas o custo das produções tem inevitavel- Nota-se também na nossa classe de
“Dirty Dancing”, “Legally Blond” e surpresas. A ideia de vir me fazer mente crescido ao passo que inves- atores aqui no West End, um pânico
“Fiddler on the Roof ”. uma visita, agora, tornou-se ainda timento no setor teatral – com altas infundado em relação à crise, achan-
O “competidor” do Pantages mais excitante? taxações – tem se tornado cada vez do que não podem bater asas de seus
ca a cargo do Ahmanson The- menos atraente. shows atuais para tentar ingressar em
atre: mais charmoso, mais gla- Minha questão é: Todo este rebu- outras peças, senão carão desempre-
Bill Sellat

moroso, localizado no coração liço em torno da união de produto- gados; o que está fazendo com que não
cultural de Downtown chama- res, realmente importa? Muito disso haja audições acontecendo, e tenho
do Los Angeles Music Center, e também devido à resistência que os muitos colegas querendo audicionar!
que é considerado um dos três
Salena Semmers

maiores centros da arte perfor-


mática dos Estados Unidos. Lá,
você assiste não só a musicais,
mas a clássicos da literatura
americana e europeia, óperas e
concertos. Katharine Hepburn,
Elizabeth Taylor, Rex Harrison
e James Earl Jones são algumas
das estrelas que zeram histó-
ria nesse palco, que foi inteira-
mente remodelado em 1995, e
hoje tem capacidade para 2.000
lugares. “Minksy’s”, “Ain’t
Misbehavin”, o balé hispâni- c o
Dame Edna, a comédia musical
“Monty Python’s Spamalot”, Luxuosa escadaria do Pantages Theater, em LA As ruas vazias de West End, em Londres. Crise econômica chegou por lá
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