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FCCE

Federação das Câmaras de Comércio Exterior


Foreign Trade Chambers Federation

2006
20 de março

Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL ÁFRICA DO SUL
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

FCCE is the o ldest Trade Association dedicated In the recent past, the FOREIGN TRADE CHAM-
Exclusively to Foreign Trade activities. BERS FEDERATION – FCCE signed an accord with
Founded in 1950 by entrepreneur Joao Daudt de the CHAMBERS OF COMMERCE COUNCIL OF THE
Oliveira (who was also the founder of the National Trade AMERICAS, an organization representing the Bilateral
Federation five years earlier), FCCE has been in Chambers of Commerce in the following countries:
operation for over 50 years, motivating and supporting ARGENTINA, BOLIVIA, CANADA, CHILE, CUBA,
the work of Bilateral Chambers of Commerce, Foreign ECUADOR, MEXICO, PARAGUAY, SURINAM,
Consulates, Business Councils and Mixed Commissions URUGUAY, TRINIDAD AND TOBAGO and VENE-
at the federal level. ZUELA.
FCCE, by force of its Statute, has national scope with In addition to the several dozen Bilateral Chambers of
Regional Vice-Presidents in various states of the Commerce affiliated with FCCE throughout Brazil, the
Federation, and also operates in the international realm Presidents of these Chambers of Commerce belong to
through “Cooperation Convention’s” established with the current Administration: Brazil-Greece, Brazil-
various organizations of the highest credibility and Paraguay, Brazil-Russia, Brazil-Slovakia, Brazil-Czech
tradition. Among these is the International Chamber of Republic, Brazil-Mexico, Brazil-Belarus, Brazil- Portu-
Commerce (ICC) founded in 1919, with headquarters gal, Brazil-Lebanon, Brazil-India, Brazil-China, Brazil-
in Paris, which has more than 80 National Committees Thailand, Brazil-Italy and Brazil-Indonesia, in addition to
across the five continents, in addition to running the the President of the Brazilian Committee of the
most important “International Arbitration Court” in the International Chamber of Commerce, the President of
world, founded in 1923. the Brazilian Commercial Exporting Company Association
The FOREIGN TRADE CHAMBERS FEDERATION ABECE, the President of the Brazilian Railroad Industry
headquarters is located at Avenida General Justo 307, Association ABIFER, President of the Brazilian Container
Rio de Janeiro, which is also the main office of the Terminal Association and the President of the Mechanical
National Confederation of Commerce (Confederação Industries and Electric Material Union, among others.Also
Nacional do Comércio – CNC). The FCC and the CNC included are various Consuls and foreign diplomats,
have held a partnership for nearly two decades, working among them the Consul General of the Republic of Gabon,
through the “Administrative Support Convention and the Consul of Sri Lanka (formerly Ceylon) and the Trade
Mutual Cooperation Protocol.” Counselor Minister of the Portuguese Embassy.

The Administration
ADMINISTRATION FOR THE 2003/2006 TRIENNAL
President

JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1 st V i c e - P r e s i d e n t

PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ

Vice-Presidents

Gilberto Ferreira Ramos


Joaquim Ferreira Mângia
José Augusto de Castro
Ricardo Vieira Ferreira Martins

Antonio Carlos M. Bonetti – São Paulo


Sohaku R. C. Bastos – Bahia
Claudio Chaves – Norte

Directors

Diana Vianna de Souza Daniel André Sauer


Alberto Vieira Ribeiro Jeferson Malachini Barroso
Alexander Zhebit José Paulo Garcia de Pinho
Alexandre Adriani Cardoso Juan Clinton Llerena
André Baudru Luis Cesario Amaro da Silveira
Antonio Augusto de Oliveira Helayel Marcio Eduardo sette Fortes de Almeida
Arlindo Catoia Varela Mariano Marcondes Ferraz
Augusto Tasso Fragosso Pires Oswaldo Trigueiros Junior
Bruno Bastos Lima Rocha Raffaele Di Luca
Carlos Fernando Maya Ferreira Ricardo Stern
Cassio José Monteiro França Roberto A. Nóbrega
Cesar Moreira Ronaldo Augusto da Matta
Charles Andrew T‘ang Sergio Salomão
Claudio Fulchignoni Stefan Janczukowicz

Fiscal Council (Holders)

Delio Urpia de Seixas


Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
EDITORIAL

APOIO
Tshwaranang – abraçamos
os irmãos sul-africanos
Nos anos 80, as sanções internacionais impostas à África do Sul trouxeram dificuldades
econômicas a um país internamente desunido. A posição geográfica no continente africano
era estratégica no contexto da Guerra Fria, mas a África do Sul precisava aproveitar as
vantagens do livre comércio e os benefícios dos fluxos de capitais produtivos. Os enormes
problemas internos foram superados com boa vontade. Os reflexos do atraso social foram
percebidos não como uma barreira intransponível, mas como uma grande oportunidade
para a renovação e para a reconstrução do país. Um novo caminho foi trilhado a partir da
libertação de Nelson Mandela, em 1990, e das eleições diretas, em 1994. A pluralidade
étnica foi admitida no contexto moderno dos respeitos aos direitos humanos e da igualdade
de oportunidades.A terceira eleição democrática, realizada em 2004, solidificou a liberdade,
a igualdade e a democracia como instituições permanentes. Nesse processo, a África do Sul
retornou à comunidade internacional; e em grande estilo.
A escolha da África do Sul como país-tema de seminário bilateral promovido pela
FEDERAÇÃO DAS CÂMARAS DE COMÉRCIO EXTERIOR – FCCE não se deu por um
acaso. TSHWARANANG, como foi batizado este seminário, significa, em uma das diferentes
líguas utilizadas na África do Sul, abraçar ou acolher. A compreensão de problemas
comuns passa pela elaboração de soluções conjuntas. Isto é abraçar. Brasil e África do Sul
enfrentam desafios sociais relacionados à pobreza, ao desenvolvimento e à inclusão
social. Nesse sentido, o comércio exterior assume papel de relevo, quando considerados
seus desdobramentos sobre o nível de emprego e salários. Justamente no momento em
que a África do Sul busca resultados mais significativos no relacionamento político e
CONSELHO DE
comercial com o Brasil, a FCCE realizou, em 20 de março de 2006, o Seminário Bilateral
CÂMARAS DE COMÉRCIO
de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-África do Sul, objeto dessa edição. Cabe DAS AMÉRICAS
ressaltar, aqui, que a relação do Brasil com a África do Sul ficou mais próxima a partir do
governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a criação do fórum IBAS, no qual
os dois países, juntamente com a Índia, materializaram a cooperação Sul-Sul. Expediente
Além do próprio interesse despertado pelo país, o sucesso do seminário Brasil-África Produção
do Sul deve ser compartilhado com toda a equipe da representação diplomática, consular Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE
Av. General Justo, 307/6o andar
e comercial sul-africana no Brasil. Fica, aqui, o registro e o agradecimento especial pela Tel.: 55 21 3804 9289
simpatia e total colaboração da Embaixadora Plenipotenciária da África do Sul, Lindiwe e-mail: fcce@cnc.com.br
Zulu, que, com sua presença enriqueceu os trabalhos do seminário Brasil-África do Sul e, Editor
O coordenador da FCCE
com seu interesse, honrou-nos com sua presença durante os trabalhos do seminário Brasil-
Textos e Repor tagens
Rússia, realizado um mês antes, em fevereiro de 2006, também por esta FCCE. Impossível Elias Fajardo
não mencionar a colaboração da equipe do Consul Econômico em São Paulo, Jacob Moatshe, José Antonio Nonato
Marlene Custódio
e do Marketing Officer, Mark Rabbitts. Fundamental foi, igualmente, o incansável apoio do Lília Nabuco
Diretor-Conselheiro do Conselho Superior da FCCE e, também, Consul Honorário da João Sant’Anna
África do Sul no Rio de Janeiro, D. Philippe Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança. Projeto Gráfico, Edição e Ar te
Estopim Comunicação
Ainda há muito por fazer. As relações comerciais entre Brasil e África do Sul, antes Tel.: 55 21 2518 7715
equilibradas, agora ressaltam um importante déficit comercial. Certos ítens da pauta de e-mail: estopim@estopim.com
exportações da África do Sul para o Brasil perderam considerável espaço. Outros deram Revisão
lugar a similares importados pelo Brasil de terceiros países. De meados dos anos 80 até Maria Virgínia Villela de Castro

2006, as exportações brasileiras para a África do Sul cresceram 28 vezes, ao passo que as Fotografia
Christina Bocayuva
importações brasileiras daquele país cresceram apenas 7 vezes. Esta é uma das funções do Secretaria
seminário promovido pela FCCE: incrementar o comércio bilateral, considerando o Maria Conceição Coelho de Souza
estabelecimento do necessário equilíbrio. A minimização do déficit comercial pode vir a ser Sérgio Rodrigo Dias Julio

obtida a partir da evolução das negociações entre a África do Sul e o Mercosul. As opiniões emitidas nesta revista são de
responsabilidade de seus autores. É permitida a
Boa leitura. reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
O EDITOR
SUMÁRIO

6 E N T R E V I S TA “Atividade turística
brasileira deve ser
Lindiwe Zulu
dirigida como empresa”
“Seria bom se nossos
países fossem parceiros The Palace: o único hotel
em todas as áreas” seis estrelas em todo o
Nelson Pereira dos Reis mundo
“Devemos olhar a África como
parceira para a conquista de novos
mercados” 51 H O T E L A R I A
Hotéis-escola Senac

18 A B E RT U R A 52 I N T E R C Â M B I O
Exportações brasileiras para a África
do Sul cresceram 17 vezes Investir no comércio melhora a qualidade de
vida da população

24 P A I N E L 1 Cônsul Honorário quer mais intercâmbio


cultural e comercial
Comércio bilateral
cresce, mas déficit é
fonte de preocupação 55 T E N D Ê N C I A
“Já há uma cultura

29 P A I N E L I I exportadora entre
empresários brasileiros”
Agronegócio: um setor de interesse
no comércio bilateral 57 E M P AU TA
FCCE nasceu antes do início da
35 P A I N E L I I I Segunda Guerra Mundial

Turismo: setor brasileiro pode fazer bons


negócios com a África do Sul
59 E D U C A Ç Ã O
Uma proposta pedagógica inovadora

38 E N C E R R A M E N T O 60 N E G Ó C I O S
Valorização de acordos Parceiros políticos e
bilaterais econômicos

40 E S P E C I A L 62 R E T R O S P E C T I VA
Reciprocidade relativa Um ano de sucesso

42 T U R I S M O 65 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S
Trem Azul, uma janela para a África do Sul 70 C U R TA S
ENTREVISTA

“Seria bom se nossos


países fossem
parceiros em todas
as áreas”
Embaixadora Lindiwe Zulu aponta a tecnologia,
a saúde e o comércio bilateral como campos
promissores de cooperação
Aumentar a circulação de informações mais aprofundadas e
abrangentes entre os dois países e equilibrar as trocas comerciais
são as questões mais importantes para melhorar as relações entre
Brasil e África do Sul, na opinião de Lindiwe Zulu, Embaixadora
Plenipotenciária da África do Sul no Brasil.
Como exemplo de um segmento no qual as trocas comerciais poderi-
am melhorar, ela cita os vinhos produzidos em seu país, muito aprecia-
dos em todo o mundo. “Eu não vejo razão de não haver mais vinhos
nossos aqui”, diz. A tecnologia e o conhecimento científico seriam ou-
tros campos de cooperação.A embaixadora citou, também, as áreas de
mineração e de transmissão de energia. A África do Sul tem forte pre-
sença no setor mineral, sendo o primeiro produtor mundial de ouro,
cobre, urânio e diamantes. A mineração participa com 12% do Produ-
to Interno Bruto do país, na ordem de US$ 120 bilhões. “Temos minas
de mais de quatro quilômetros de profundidade e é preciso muita
tecnologia para trabalhar nessas condições”, afirmou.
A própria Lindiwe Zulu é resultado da África do Sul pós-apartheid,
que tenta reunir suas diferentes etnias num esforço de reconstru-
ção nacional. Há, também,espaço para a participação das mulheres
nos diferentes campos da vida do país.
Durante sua participação no Seminário Bilateral de Comércio
Exteror e Investimentos Brasil-África do Sul, ela se mostrou inte-
ressada não só em relação às discussões técnicas, mas também em
relação às pessoas presentes, revelando a curiosidade de quem de-
seja abrir novos caminhos para seu país.
6 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 7
ENTREVISTA

A senhora acredita que existem, hoje, suas populações. A senhora acredi-


possibilidades de um maior incre- ta que nas áreas de políticas públi-
mento nas relações econômicas e po- cas de saúde e de produção e distri-
líticas entre o Brasil e a África do Sul? buição de medicamentos os dois
LZ – Acho que podemos aumentar bas- países poderiam estabelecer uma
tante o conhecimento entre os dois paí- cooperação?
ses, procurando fazer com que o Brasil LZ – Acho que algumas dessas áreas
obtenha mais informações sobre a África mencionadas são importantes para a Áfri-
do Sul e com que a África do Sul também ca do Sul, especialmente no setor de saú-
adquira informações mais abrangentes e de pública. Temos um programa de com-
aprofundadas sobre o Brasil. Além disso, bate à Aids no meu país e sabemos que o
também podemos aumentar o conheci- Brasil já começou a produzir suas pró-
mento nos setores específicos onde exis- prias vacinas e procura também avançar
tem possibilidades de maiores investimen- na questão de democratizar as patentes
tos e atividades comerciais. Para conse- desses medicamentos. É importante co-
guirmos tudo isso, precisamos ter certeza nhecermos estas iniciativas brasileiras
de que cada um conhece o outro, tanto
no nível pessoal, quanto no comunitário. “ A tecnologia sul-africana
de mineração é avançada
não só para podermos futuramente im-
portar medicamentos do Brasil, como


Isso tem a ver, também, com a economia. também para vermos as possibilidades de
Digo isso, porque os balanços dos setores e seria muito útil ao Brasil produzir esses medicamentos em terri-
comerciais entre o Brasil e a África do Sul LINDIWE ZULUN tório sul-africano. Isso significa construir
são mais favoráveis ao Brasil. É importan- fábricas e plantas industriais ligadas à área
te para nós tentarmos normalizar esses ín- A África do Sul possui minas de mais de saúde, não só para abastecer a África
dices. Sabemos que a economia do Brasil de quatro quilômetros de profundidade e do Sul, mas para podermos direcioná-
é muito grande e não é necessário igualá- é preciso uma tecnologia muito avançada las para todo o continente africano, pois
la à do meu país, mas podemos tentar di- para explorá-las. Além disso, a África do passamos por momentos difíceis e seria
minuir o desequilíbrio entre as duas. Sul conta, ainda, com tecnologia de ponta bom que os nossos países fossem par-
na área de medição elétrica. ceiros em todas as áreas.
Na opinião da senhora, quais os se- A África do Sul pode tornar-se um bom
tores e os produtos que podem e Falando do ponto de vista do Bra- trampolim para o Brasil na África. Os bra-
devem participar mais do comér- sil, a senhora acredita que os nossos sileiros têm feito um esforço para formar
cio bilateral entre os dois países? produtos têm sido bem aceitos e e conquistar novos parceiros em todo o
LZ – A África do Sul tem produtos que absorvidos pelo mercado interno mundo. Gostaríamos de destacar que não
seriam bastante necessários ao Brasil neste sul-africano? Existem outros setores faz sentido usar o território sul-africano
momento específico do seu desenvolvi- que poderiam exportar mais para apenas como espaço de passagem e de
mento econômico. Conta, ainda, com avan- o seu país? produção industrial. É preciso pensar
ços tecnológicos nas mais diversas áreas, LZ – O Brasil tem exportado para a África sempre em parcerias com empresas lo-
que podem também ser muito úteis. Como do Sul uma quantidade e uma diversidade cais para produzir bens na África do Sul,
exemplo, cito o caso do vinho. Já falamos muito grande de bens e serviços e acho os quais, inclusive, poderiam ser usados
sobre isso em várias ocasiões e não sei bem que a concentração desses produtos é sufi- em outros países.
a razão de não haver mais vinhos africanos ciente, por enquanto. Nesse cenário que
no Brasil, no momento atual. Um outro reflete bem o que é atualmente o nosso A senhora ressaltou, em seu pronun-
setor que merece nossa atenção é o do co- comércio bilateral, se o Brasil se dispuser a ciamento no Seminário Bilateral de
nhecimento científico e tecnológico. Hoje, procurar ainda outros produtos para ven- Comércio Exterior e Investimentos
a tecnologia sul-africana de extração mine- der aos sul-africanos, corre o risco de de- Brasil-África do Sul, que o Brasil
ral é muito avançada e seria muito útil ao sequilibrar ainda mais a nossa corrente de está fabricando, com eficiência, re-
Brasil, que também tem uma província comércio. Acredito que a tendência mais médios para a Aids. Além disso, o
mineral bastante expressiva. Os equipa- interessante seria concentramos nosso co- nosso país tem se destacado na dis-
mentos de mineralogia desenvolvidos pe- mércio nos produtos brasileiros que já são tribuição desses medicamentos
los sul-africanos ou importados de países vendidos hoje na África do Sul. para a população que deles neces-
que têm excelência no setor são muito avan- sita, e que não tem condições finan-
çados e tenho certeza de que, como tal, Um dos problemas comuns entre a ceiras de adquiri-los a preços de
seriam muito úteis ao Brasil. África do Sul e o Brasil é a saúde de mercado. A senhora acha que o go-

8 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


verno da África do Sul faria o mes- Tenho quatro filhos e apenas um vive ricanos. Além de um pouco de história,
mo? Distribuiria gratuitamente os aqui. Ele já é adulto e tem sua própria vida. eu já conhecia o futebol e o carnaval
remédios para as pessoas aidéticas? Minha filha trabalha com desenho indus- brasileiro.
LZ – O governo do meu país já começou trial e tem demonstrado interesse em tra-
a distribuição dos remédios que comba- zer o trabalho dela para o Brasil. Como a senhora tem sido tratada
tem a Aids e a África tem estudos sobre os aqui pelos brasileiros?
efeitos no vírus, assim como o Brasil tam- O Brasil correspondeu às suas ex- LZ – Sou muito feliz aqui,e as pessoas
bém os possui. A realidade é que vive- pectativas? O país é o que a senhora são muito amáveis comigo. As famílias e
mos, hoje, os mesmos desafios nesta área pensava que fosse? os vizinhos de Brasília são muito afetuo-
e podemos compartilhar nossas experi- LZ – Eu esperava o que eu já conhecia. sos. No momento, estou tentando apren-
ências e resultados positivos. Vim para o seu país a partir de Johan- der mais sobre o desenvolvimento do
O governo sul-africano decidiu distri- nesburgo, que é a cidade mais ativa da seu país. Isto é algo mais amplo do que o
buir medicamentos para a sua população, África. Quando estava estudando histó- carnaval. Espero que em 2010, por oca-
especialmente para as pessoas mais po- ria, procurei aprender mais sobre o país. sião da Copa do Mundo, mais brasileiros
bres que estão infectadas pelo vírus, e isto O Brasil é o maior país da América Lati- possam ir à África do Sul.
nem sempre coincide com os interesses na e, quando eu era estudante, conheci
das multinacionais que fabricam tais me- estudantes brasileiros e também outros Vinda de um país africano, como a
dicamentos, pois reivindicam preços me- jovens que vinham de países latino-ame- senhora analisa a convivência entre
lhores para eles. Estamos tentando achar as diferentes etnias no Brasil?
caminhos para introduzir os remédios, mas LZ – Acho que, na África do Sul, não
também pensamos, o tempo todo, na pos- A trajetória de uma sabemos muito sobre a questão das raças
sibilidade de oferecermos melhores con- no Brasil. Desde que cheguei aqui, espe-
dições de vida para essas pessoas.
mulher: da luta política rava ver afro-brasileiros em outras posi-
à diplomacia ções estratégicas ou tomando decisões
Conte-nos um pouco sobre sua vida importantes. Acho que isso é um pro-
pessoal e sobre sua trajetória pro- Lindiwe Zulu nasceu no KwaZulu blema a se resolver e a África do Sul pode
fissional. Como foi o caminho até o Natal, uma das nove províncias sul- ajudar. Podemos colaborar com um es-
posto de embaixadora plenipoten- africanas. Formou-se em Jornalismo forço nesse sentido. É difícil para mim,
ciária no Brasil? Qual é a sua for- e fez pós-graduação na mesma área, que vim da África do Sul, e ocupo uma
mação? em Moscou, onde morou por sete certa posição, ver muitos afro-brasilei-
LZ – Nasci na África do Sul, mas não pude anos, tornando-se tradutora do idio- ros sem conseguir acesso a áreas impor-
ser criada na minha própria cidade. Cresci ma russo. Filiou-se à Força de Liber- tantes. É difícil lidar com isso. A diplo-
numa cidade vizinha, por causa do sistema dade da África do Sul, em 1976, par- macia nos ensina a lidar com isso, mas
do apartheid vigente na época, que segre- ticipando da luta contra o apartheid. não a negar essa realidade.
gava os negros. Isto aconteceu com mui- Em 1979, tornou-se membro do
tas pessoas, comunidades e etnias em meu Congresso Nacional Africano, o mes- O que a senhora achou do semi-
país. Meu pai não conseguiu um emprego mo partido de Nelson Mandela. Foi nário?
apropriado na África do Sul. A única ocu- exilada e morou em Angola, Moçam- LZ – Foi bastante importante e nos
pação a que ele teve acesso foi a de moto- bique e Swazilândia, entre outros paí- deu oportunidade de dizer: ‘vamos lá
rista de caminhão. Eu cresci na África do ses que apoiavam a luta contra o fazer alguma coisa’. Temos muito a
Sul. Estudei lá e depois do fim do regime apartheid. oferecer ao Brasil e queremos que o
do apartheid, eu me mudei.Vivi naTanzânia, Em 1991, voltou para a África do Brasil conheça nossos interesses lo-
em Zâmbia e em Uganda. Visitei e vivi em Sul e foi eleita, nas primeiras eleições, cais e nossas agências de viagem, por
muitos países da África. Foi difícil, mas para o Parlamento Estadual de Gauteng. exemplo. Queremos nos mostrar de
consegui um bom aprendizado. Posteri- Em seguida, trabalhou no Ministério várias formas e realizar propostas que
ormente, fui estudar jornalismo em Mos- das Relações Exteriores. Em 2000, reflitam nosso potencial de contribui-
cou e me graduei na Rússia. tornou-se conselheira do ministro, ção. Acho que esse foi o começo de
Saí da África do Sul em 1978 e voltei lidando com países em conflito no alguma coisa. Queremos desenvolver
em 1991. Nessa época, fui eleita para ser continente africano. Deixou o gover- negócios, especialmente com o Rio
representante da minha província no par- no e foi trabalhar no setor privado, na de Janeiro, uma cidade que sempre
lamento e depois fui trabalhar no Minis- Vodacom (empresa de telefonia ce- nos abrigou. Gostaríamos, também,
tério das Relações Exteriores. Mais tarde, lular), até que recebeu o convite para de desenvolver um trabalho com ou-
vim para o Brasil. ser embaixadora no Brasil. tras cidades brasileiras.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 9


ENTREVISTA

“Devemos olhar a
África como parceira
para a conquista de
novos mercados”
Nas relações comerciais com a África do Sul, os especialistas apon-
tam uma preocupação com o atual desequilíbrio acentuado a favor
do Brasil. Neste cenário, o governo brasileiro tem estimulado os
empresários a buscar maneiras de aumentar o fluxo de importação
de produtos africanos. É o que afirma Nelson Pereira dos Reis,
Presidente da Câmara de Comércio Brasil-República Sul Africana.
Ele avalia que há uma grande abertura por parte dos setores em-
presariais brasileiros, mas a África do Sul não tem conseguido uma
oferta de produtos que atendam a essas demandas. A Câmara de
Comércio Brasil-República Sul Africana considera possível rever-
ter essa tendência por meio de pesquisas realizadas junto às peque-
nas e médias empresas sul-africanas, que utilizam matéria prima
local no processo de produção, e representam um mercado pro-
missor para os importadores brasileiros.
Nelson Pereira dos Reis ressaltou, ainda, com entusiasmo, nesta
entrevista exclusiva à revista da FCCE, a possibilidade de investi-
mentos conjuntos do Brasil e da África do Sul, e a criação de plata-
formas para a conquista de novos mercados para produtos dos dois
países. Segundo ele, todo o continente africano apresenta novas e
inexploradas possibilidades na área de comércio exterior.

Quais os setores que despertam 400 milhões. Naturalmente, essa preocu-


mais interesse para o comércio en- pação tem sido apresentada pelos dirigen-
tre Brasil e África do Sul? tes do governo sul-africano. O governo
NPR – A corrente comercial entre os brasileiro tem pedido à área empresarial
dois países tem se diversificado e amplia- e, especialmente, à Câmara de Comércio
do bastante. A preocupação que existe, Brasil-República Sul Africana, que ajude,
atualmente, é com o desequilíbrio acen- não a inverter essa tendência, mas a bus-
tuado a favor do Brasil, que está com um car um maior equilíbrio da balança co-
faturamento de mais de US$ 1,3 bilhão, mercial, aumentando o fluxo de importa-
enquanto a importação não chegou a US$ ções da África do Sul para o Brasil. Exis-

10 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 11
ENTREVISTA

tem razões para isso. Todos os setores em- O senhor considera que a política
presariais brasileiros que importam pro- pode interferir positivamente no
dutos, equipamentos e matérias-primas comércio ou ele tem leis que inde-
têm tido uma abertura muito grande com pendem de fatores políticos? Por que
relação à África do Sul. Acho que há uma o Brasil tem interesse político nessa
grande empatia entre os dois países, no aproximação com a África do Sul?
entanto, a África do Sul não tem uma oferta NPR – Os dois países têm uma sinergia
de produtos que atenda às atuais necessi- política e um interesse geopolítico impor-
dades do mercado brasileiro ou ao pró- tante. Do ponto de vista da regulamenta-
prio interesse dos exportadores sul-afri- ção, ambos têm economias abertas, sem
canos. Nós temos um exemplo disto no restrições, e a importação voltada para o
segmento de vinhos. A África do Sul, hoje, mercado. Eu acho, realmente, que o setor
é uma produtora de vinhos de alta quali- privado deve se mobilizar mais. O Brasil,
dade. Desenvolveu tecnologia e produz hoje, está criando uma mentalidade expor-
vinhos muito apreciados, a maioria dos ex- tadora mais acentuada e, talvez, esteja um
portadores sul-africanos não vêem o Bra- pouco mais à frente do que a África do Sul,
sil como um mercado atraente, porque que ainda limita suas exportações a produ-
conseguem preços melhores em outros tos básicos, como os minérios. Talvez os
países. O Brasil é ávido por importação produtos manufaturados necessitem de
de vinhos, que são trazidos da Austrália, mais investimentos, e o empresariado bra-
da Nova Zelândia, do Chile, da Argentina, sileiro já começa a enxergar nisso uma opor-
da França e da Espanha, no entanto, o co- tunidade. O Brasil passa a olhar não só a
mércio com a África do Sul é mais restrito África do Sul, como todo o continente afri-
porque não há oferta suficiente. cano, como parceiro, com a possibilidade

Qual seria o caminho para reverter


essa tendência, estimulando os dois
“O Brasil obteve um
faturamento de US$ 1,3 bilhão
com as exportações para a
de fazer investimentos conjuntos, criando
plataformas de exportação para outros mer-
cados. Esses investimentos são uma forma
países a buscarem um incremento muito importante de cooperação.
maior na comercialização de pro- África do Sul, enquanto as
dutos africanos? Em que áreas o senhor acha que isso
importações não alcançaram


NPR – Uma das possibilidades, com a qual é promissor?
já estamos trabalhando, é incentivar o go- US$ 400 milhões NPR – Na área de transportes isso já está
verno brasileiro a pesquisar o segmento NELSON PEREIRA DOS REISN acontecendo. Algumas montadoras já têm
das médias e pequenas empresas africa- aberto esse mercado, com auto-peças e
nas, que têm um potencial considerável. tanto, cabe aos empresários da África do outros componentes. Isso poderia se am-
A área de artesanato, por exemplo, pos- Sul, aumentando a oferta de produtos, pliar para o setor de resinas termoplásticas,
sui uma oferta de produtos em escalas em escala compatível com os interesses por exemplo, no qual o Brasil apresenta
mais compatíveis com a demanda brasi- dos importadores brasileiros. limitação relativa à matéria-prima.
leira, e utiliza matérias-primas locais. Eu
acho, porém, que falta agressividade aos Com a sua experiência na área, o se- Nesse cenário, o senhor vê a cultura
empresários sul-africanos para conquis- nhor acha que o governo tem feito também como um produto com
tar o mercado brasileiro. Isso nós temos a sua parte e o empresário precisa potencial de exportação ou de in-
colocado para as delegações sul-africanas fazer mais intensamente a dele? tercâmbio?
e para o próprio governo, pois é preciso NPR – Eu acho que o governo brasileiro NPR – Acho que você tocou em um pon-
que o empresariado sul-africano seja in- tem feito a sua parte, procurando incenti- to importante. Vamos tratar inicialmente
centivado a exportar. var e facilitar todas as demandas vindas da do turismo, que considero um campo de
A verdade é que a África do Sul tem África do Sul. Essa abertura do nosso go- exploração bastante importante. O brasi-
uma tradição de exportação na área mine- verno tem sido bastante significativa, in- leiro está começando a descobrir a África
ral, e nós importamos regularmente car- clusive por motivação política, o que se como destino turístico. Por sua vez, a Áfri-
vão, platina e ferro-liga. É necessário esti- confirma em iniciativas como o Fórum ca caminha no sentido de criar uma classe
mular o crescimento de outros setores IBAS, entre Índia, Brasil e África do Sul, média que está querendo viajar mais, e
menos explorados, como o setor quími- além dos acordos comerciais que estão logo vai descobrir o Brasil com todo o
co, por exemplo. Parte da iniciativa, por- em andamento entre esses países. seu potencial turístico.

12 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


Do ponto de vista cultural, existem O senhor também é presidente da O senhor diria que o setor mine-
muitas semelhanças entre os dois países. Copebrás, uma empresa do Grupo ral como um todo e a sua empresa
Nos encontros bilaterais podemos, tam- Anglo American Brasil Ltda. Fale em par ticular têm conseguido
bém, perceber as afinidades étnicas. Não sobre a empresa e em que setores vencer esse desafio de explorar e,
tenho dúvidas de que existe, ainda, um ela atua? ao mesmo tempo, proteger o meio
potencial grande na área da produção NPR – A Anglo American é uma empresa ambiente?
cultural, que envolve música, cinema e tradicional, de origem sul-africana, que NPR – Sem dúvida, esse desafio já está
correlatos. começou com a exploração de ouro e de bastante encaminhado. A Anglo American
diamantes. Hoje, é a maior produtora tem sido uma das empresas líderes em
mundial de platina, e grande produtora de termos de sustentabilidade na atividade de
Um engenheiro no cobre, níquel e fosfato. Como está no Brasil mineração. Qualquer iniciativa ou projeto
comércio internacional há 40 anos, é uma empresa bastante inte- da empresa começa pela discussão sobre
grada ao território e às condições brasilei- a proteção do meio ambiente e a questão
Engenheiro metalurgista formado ras de produção. da segurança.
pela Escola Politécnica da Universi-
dade de São Paulo – USP, com cursos
de pós-graduação nas áreas de Eco-
nomia e Administração, Nelson Pe-
“ Estamos num processo
acelerado de consolidação
das relações comerciais,
Este é um assunto bastante comple-
xo. O que preocupa mais às empre-
sas de mineração: a água, o ar, o solo
reira dos Reis tem mais de vinte anos ou a própria presença humana, que
de experiência nas áreas petroquímica não apenas com a África do Sul, pode sofrer impactos provocados
e de fertilizantes. pelas atividades da empresa?
mas também com


É Diretor-Presidente da Anglo NPR – É a partir da preocupação com
American Brasil Ltda. e Diretor Pre- o Cone Sul-africano todos os recursos naturais disponíveis
sidente da Copebrás Ltda., que opera NELSON PEREIRA DOS REISN que a atividade cria a sua sustentabilidade.
complexos petroquímico e minero- Com relação às pessoas, sem dúvida, a
químico que atendem a segmentos A tecnologia utilizada é sul-africana? segurança é a prioridade número um.
econômicos que vão de fabricantes de NPR – A empresa explora e beneficia Hoje, as metas de segurança na empresa
detergentes a fertilizantes fosfatados. integralmente a sua matéria-prima, com são absolutas. Nossa meta relativa a aci-
É, também ,Vice-Presidente e Di- tecnologias que já existiam e que foram dente, por exemplo, é zero. Por isso, te-
retor Titular do Departamento do desenvolvidas aqui; naturalmente, com mos trabalhado intensamente em trei-
Meio-Ambiente da Federação das In- todo o apoio e suporte tecnológico que namento e, também, em conscientização,
dústrias do Estado de São Paulo – a Anglo American fornece à empresa no para conseguirmos, realmente, mini-
FIESP; Presidente da Câmara da Agri- Brasil. mizar todos esses riscos.
cultura da International Fertilizer
Industry Association – IFA; Vice-Pre- Um fenômeno que tem modificado O senhor gostaria de dizer mais al-
sidente da Associação Nacional para a área de exploração mineral é o con- guma coisa?
Difusão de Adubos – ANDA; Mem- ceito de mina economicamente viá- NPR – Eu queria me congratular com a
bro do Conselho Diretor da Associ- vel. Com os aumentos do preço do iniciativa dos Seminários Bilaterais de Co-
ação Brasileira da Indústria Química ouro, antigas minas que tinham sido mércio Exterior e Investimentos, que têm
– ABIQUIM; Vice-Presidente do abandonadas, por serem considera- sido realmente muito oportunos. A par-
Sindicato das Indústrias de Produtos das economicamente inviáveis, ago- tir deles, correntes do comércio que eram
Químicos para Fins Industriais e da ra estão sendo recuperadas. Isso tam- insignificantes se fortaleceram. Países
Petroquímica no Estado de São Pau- bém acontece no setor em que a sua como o Brasil e a Argentina, apesar de vi-
lo – SINPROQUIM; Presidente da empresa trabalha? zinhos, viviam praticamente de costas um
Câmara de Comércio Brasil-Repú- NPR – Quando nós analisamos produti- para o outro, olhando para direções dife-
blica Sul Africana; Conselheiro da vidade, consideramos sempre a questão rentes. Hoje, já formam um bloco comer-
Câmara de Comércio e Indústria Bra- do preço, numa perspectiva de sustenta- cial importante, graças a entendimentos e
sil/Polônia; Membro do Conselho ção a médio e longo prazos. A viabilidade a acordos firmados.
Estadual de Meio-Ambiente do Es- econômica de um produto não é definida O Brasil vive, hoje, um processo acelera-
tado de São Paulo – CONSEMA e pelo preço de hoje. Além disso, existem do de incremento e consolidação de suas
Membro do Conselho Nacional de outros fatores, como a sustentabilidade do relações comerciais, não apenas com a
Recursos Hídricos do Ministério do ponto de vista ambiental e a questão de África do Sul, mas também com o Cone
Meio Ambiente. segurança. Sul- africano.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 13


Pesquisa por produto, país de de
ou nome do exportador

Disponível em 4 idio
inglês,espanhol e f

Relação
atu
stino

mas: português,
rancês

de exportadores
alizada mensalmente
Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos BRASIL ÁFRICA DO SUL
Av. General Justo nº 307 – Centro, Rio de Janeiro – RJ – Sede da Confederação Nacional do Comércio – CNC

Programa do Seminário : 20 de março de 2006


14:00h Sessão Solene de Abertura 14:30h PAINEL I: Ampliação do comércio de bens e serviços no setor de
mineração e equipamentos de prospecção
Presidente da Sessão e Pronunciamento Especial: Presidente do Painel: João Augusto de Souza Lima – Presidente da FCCE
Marcio Fortes de Almeida – Ministro de Estado das Cidades
Moderadora: Luciene Ferreira Machado – Chefe do Departamento de Comércio
Pronunciamentos: Exterior do BNDES
Sra. Lindiwe Zulu – Embaixadora Plenipotenciária da África do Sul
Expositores:
Jacob Moatshe – Representante no Brasil do Departamento de Comércio e
Indústria da África do Sul Nelson Pereira dos Reis – Diretor–Presidente da Anglo-American no Brasil
Fábio Martins Faria – Diretor do Departamento de Planejamento e
Componentes da Mesa: Desenvolvimento do Comércio Exterior – MDIC
Philippe Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança – Cônsul Hon. da África do Sul no
Rio de Janeiro
Debates com o Plenário
Nelson Pereira dos Reis – Presidente da Câmara de Comércio Brasil República
Sul Africana 15:30h PAINEL II: As negociações bilaterais no agronegócio:
Arthur Pimentel – Diretor de Comércio Exterior- DECEX do MDIC soja, açúcar e álcool
Fabio Martins Faria – Diretor do Departamento de Planejamento e Presidente do Painel e Moderador:
Desenvolvimento de Comércio Exterior do MDIC Fábio Martins Faria – Diretor de Departamento de Planejamento e Desenvolvimento
Gustavo Affonso Capanema – Diretor-Conselheiro do Conselho Superior da FCCE do Comércio Exterior – MDIC
Embaixador Paulo Pires do Rio – Diretor-Conselheiro do Conselho Superior da FCCE Expositores:
Theóphilo de Azeredo Santos – Presidente da ICC Jovelino de Gomes Pires – Coordenador da Câmara de Logística da Associação
Luciene Ferreira Machado – Chefe de Departamento de Comércio Exterior de Comercio Exterior do Brasil – AEB
do BNDES Arthur Pimentel – Diretor de Comercio Exterior do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior
Debates com o Plenário
17:00h Painel III: As relações Brasil-África do Sul no contexto do 18:00h Sessão Solene de Encerramento
turismo bilateral Presidente da Sessão e Pronunciamento Especial:
Presidente do Painel: José Augusto de Castro – Vice-Presidente da Associação de João Augusto de Souza Lima – Presidente da FCCE
Comércio Exterior do Brasil – AEB
Componentes da Mesa:
Moderador: Philippe Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança – Cônsul Hon. da África do Sra. Lindiwe Zulu – Embaixadora Plenipotenciária da África do Sul
Sul no Rio de Janeiro
Philippe Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança – Cônsul Hon. da África do Sul
Pronunciamento Especial: Oswaldo Trigueiros Jr. – Presidente do Conselho de no Rio de Janeiro
Turismo da Confederação Nacional do Comércio – CNC Theóphilo de Azeredo Santos – Presidente da Câmara de Comércio
Internacional – ICC
Debates com o Plenário
Nelson Pereira dos Reis - Presidente da Câmara de Comércio Brasil República
Sul Africana
Jacob Moatshe – Representante no Brasil do Departamento de Comércio e
Indústria da África do Sul
Selai Khuele – Conselheiro Comercial da Embaixada da África do Sul
José Augusto de Castro – Vice-Presidente da Associação de Comércio Exterior
do Brasil – AEB

COQUETEL: Em homenagem Embaixadora Plenipotenciária da África do Sul


LINDIWE ZULU
ABERTURA

Corrente de comércio com a


África do Sul cresceu 17 vezes

O Ministro Marcio Fortes de Almeida, Dom Phillippe Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança, Nelson Pereira dos Reis e Fábio Martins Faria.

A Sessão Solene de Abertura do o Cônsul Econômico da África do em detrimento da América Lati-


Seminário Bilateral de Comércio Sul, Jacob Moatshe, representan- na. Em seu pronunciamento, a
Exterior e Investimentos Brasil- te em no Brasil do Departamen- Embaixadora Plenipotenciária da
África do Sul contou com o pro- to de Comércio e Indústria da África do Sul, Lindiwe Zulu, afir-
nunciamento do Ministro de Es- África do Sul, lamentou o dese- mou que o desenvolvimento so-
tado das Cidades, Marcio Fortes quilíbrio atual da balança comer- cial dos parceiros econômicos é
de Almeida, que fez uma análise cial entre os dois países, mas res- condição para a evolução das
sobre os mais recentes dados e es- saltou que esta questão tem mais realções bilaterais
tatísticas do comércio bilateral, a ver com o comportamento eco-
Presidente da Federação das Câ-
chamando a atenção para o dese-
quilíbrio favorável ao Brasil. Por
sua vez, em seu pronunciamento,
nômico da própria África do Sul,
que, nos últimos anos, tem volta-
do seus olhos para outros países,
O maras de Comércio Exterior –
FCCE, João Augusto de Souza
Lima, abriu o Seminário Bilateral de Co-
mércio Exterior e Investimentos Brasil-

18 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


África do Sul, o 14º seminário da série pro-
movida pela Federação, em parceria com o
Governo Federal, chamando para compor
a mesa as seguintes personalidades: Theó-
philo de Azeredo Santos, Presidente da
Câmara de Comércio Internacional e
membro vitalício do Conselho Superior da
FCCE; Gustavo Affonso Capanema, Dire-
tor-Conselheiro do Conselho Superior da
FCCE; Nelson Pereira dos Reis, Presiden-
te da Câmara de Comércio Brasil-Repú-
blica Sul Africana; Fábio Martins Faria, Di-
retor do Departamento de Planejamento e
Desenvolvimento de Comércio Exterior
do MDIC; Dom Philippe Tasso de Saxe-
Coburgo e Bragança, Cônsul Honorário da
África do Sul no Rio de Janeiro; Arthur
Pimentel, Diretor do Departamento de
Comércio Exterior do MDIC; Luciene A Embaixadora Lindiwe Zulu e João Augusto de Souza Lima na abertura do Seminário.
Ferreira Machado, Chefe do Departamen-
to de Comércio Exterior do BNDES. brasileiro, os principais itens de exporta- Os termos da negociação do setor auto
O Presidente da FCCE registrou tam- ção são os automóveis e as auto-peças, que motivo, além da definição de regras de ori-
bém as presenças do Presidente da Câmara geram cerca de US$ 350 milhões. É im- gem e de pleitos sul-africanos com rela-
de Comércio Brasil-Rússia, Gilberto Ra- portante registrar que a África do Sul é, ção a pescados, estão todos sendo discuti-
mos, e do Coordenador da Câmara de também, um dos destinos de nossa pro- dos, mas tão logo estas negociações se con-
Logística – CLI da Associação de Comér- dução de carnes. Para este país, vendemos cluam, trarão bons resultados para os dois
cio Exterior do Brasil – AEB, Jovelino de US$ 137 milhões, incluindo suínos, aves países. A relação do Brasil com a África do
Gomes Pires. A seguir, passou a presidên- e bovinos. Não podemos esquecer a ven- Sul ficou mais próxima a partir do Gover-
cia da Sessão ao Ministro de Estado das da de tratores, com US$ 70 milhões, de no do Presidente Luiz Inácio Lula da Sil-
Cidades, Marcio Fortes de Almeida que, a fumo, com US$ 50 milhões, de minério va, com entendimentos para a criação do
seguir, deu início ao seu pronunciamento. Fórum IBAS, que reúne Índia, Brasil e
O ministro saudou os presentes tra-
tando inicialmente das razões de sua pre-
sença no seminário. Muito à vontade, re-
velou que isso se explicaria a seguir e co-
“ A aproximação com os
sul-africanos tornou-se
mais intensa com a
África do Sul.”

Inclusão social
Para o Ministro Marcio Fortes de
meçou destacando a importância do en-
contro entre Brasil e África do Sul, dois
países que, nos últimos 20 anos, viram sua
criação do Fórum IBAS
M ARCIO F ORTES DE ”
A L M E I DA N
Almeida, as negociações internacionais en-
volvem temas de várias naturezas, passan-
do por desenvolvimento, comércio, ques-
relação comercial aumentar nada menos de ferro, com US$ 30 milhões e de soja, tões ambientais, tecnologia e inclusão soci-
que 17 vezes. com US$ 20 milhões. Já as exportações al. Em 6 de junho de 2005, numa reunião
da África do Sul para o Brasil se concen- entre os três países, realizada em Brasília,
Mercado crescente tram em produtos como hulha, metais, chegou-se a uma declaração sobre estes
“Em 1986 tínhamos uma corrente de ligas, laminados, ferro-cromo, ferro- temas, o que motivou o estreitamento das
comércio de US$ 100 milhões. Hoje, o manganês e ferro-alumínio, que se desta- relações. Mesmo anteriormente, em agos-
volume de negócios já atinge US$ 1,7 bi- cam nesta relação comercial.” to de 2003, no Rio de Janeiro, já havia sido
lhão. As exportações brasileiras cresce- Segundo o ministro, no momento, es- realizado o Fórum de Desenvolvimento
ram 28,5 vezes, passando de US$ 48 mi- tão em curso negociações entre o Brasil, a Econômico com Eqüidade Social, que con-
lhões para US$ 1,3 bilhão. As importa- África do Sul e a Índia, para estabelecer tou com a participação do Chanceler Cel-
ções cresceram cerca de sete vezes, pas- um acordo comercial como o Mercosul. so Amorim, do Ministro do Desenvolvi-
sando de US$ 51 milhões para US$ 341 “A parte do acordo com a Índia evolui mento da África do Sul e também de um
milhões. É um salto significativo que mos- rapidamente; já passou pela Câmara e está representante da Índia, quando temas
tra a potencialidade que temos a desen- no Senado. A negociação do Mercosul com como desenvolvimento com eqüidade so-
volver dentro deste comércio. Do lado a África do Sul ainda está em andamento. cial, transportes, biotecnologia, informática,

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 19


ABERTURA

O ministro informou que visitará em


breve a África do Sul para dar seqüência
ao convênio de troca de informações e
colaboração em vários termos, inclusive
propondo ajuda a outros países africanos
que enfrentam problemas semelhantes.
“Estamos aqui para tratar basicamente de
comércio, mas também de desenvolvi-
mento tecnológico, turismo e cultura, te-
mas cuja abordagem será feita pelos téc-
nicos das referidas áreas. Antes de termi-
nar quero saudar minha querida amiga, a
Embaixadora da África do Sul, Lindiwe
Zulu, a quem passo a palavra.”

Bom relacionamento
A embaixadora fez uma calorosa sau-
dação, destacando sua surpresa pela pre-
A Embaixadora Lindiwe Zulu fala sobre seu país e afirma acreditar numa cooperação bilateral. sença do público tão numeroso, que lotou
o auditório do quarto andar da Confede-
micro-crédito, micros e médias empresas, mento e podem conduzir um processo ração Nacional de Comércio – CNC. Co-
situação de crianças, jovens e idosos, além de direcionamento de decisões e, também, meçou seu pronunciamento, em portu-
de questões sobre gênero e raça, foram apro- de recursos para países com situação ain- guês, escusando-se por não dominá-lo.
fundados. da muito mais delicada. “Para mim é uma grata surpresa rece-
“Tratamos, ainda, de ciência e tecnolo- “O Programa Habitat, da ONU, que ber hoje, em nosso seminário, tantas pes-
gia, envolvendo biotecnologia, sociedade tem como objetivo promover, ambiental soas. Para ser honesta, não esperava que a
da informação, nanotecnologia, estratégi- e socialmente, o desenvolvimento susten- casa ficasse tão cheia. Vou abrir com algu-
as para maior entrosamento na área da ele- tável dos assentamentos humanos, tem mas palavras que escrevi em português,
trônica e para melhoria e ampliação do sua visão específica sobre o problema. Ao porque estou no Brasil há um ano meio e
acesso à internet. Foram eventos impor- discuti-lo, em Nova Iorque, em 2005, per- estou preparada para dizer algumas pala-
tantes que mostram como estamos nos cebemos a necessidade de promover al- vras nesta língua. Quando aqui cheguei não
aproximando da África do Sul e da Índia. entendia uma palavra do idioma, mas es-


Por isso, minha presença aqui. Em reuni- tou freqüentando aulas de português para
Nossa relação é boa
ões bi ou tripartites entre Brasil, Índia e aprender bem vossa língua, pois é muito
África do Sul, tratamos, ainda, de ques- mas temos de trabalhar importante entender as pessoas sem a
tões sociais e habitacionais. Estivemos, para que ela se traduza necessidade de intérpretes. Caso cometa
também, na Cidade do Cabo, em julho de em ações positivas alguns erros, por favor, me desculpem,


2005, e em Nova Iorque, na Fundação ainda sou uma estudante.”
Rockfeller, para discutir as Metas do Mi- para nossos povos Lindiwe Zulu ressaltou, em seguida, a
lênio da ONU, cujo objetivo é assegurar a LINDIWE ZULUN importância do seminário, especialmente
sustentabilidade ambiental.” no momento que seu país busca resulta-
Entre as metas propostas, o ministro gumas mudanças, sobretudo em relação a dos mais significativos e eficazes no rela-
destacou duas: a de número 10, que trata orçamentos nacionais. No Brasil, os pro- cionamento político e comercial com o
da tentativa de redução, pela metade, dos jetos de Parcerias Público Privadas – Brasil.
números de habitações sem acesso a água PPPs, podem ser uma boa alternativa para “Digo mais significativo não porque eu
potável e saneamento básico; e a meta 11, esta ação. Temos trabalhado muito no sen- tenha qualquer intenção de reduzir a rela-
que propõe a redução de 100 milhões de tido de dar um tratamento mais eficaz e ção atual, mas porque, no espaço de tem-
habitantes em áreas de situação precária, direto a estas questões, não considerando po que estou aqui, cheguei à conclusão
como as favelas, até 2015. Nas reuniões saneamento e habitação como qualquer que tanto o Brasil quanto a África do Sul
mencionadas, diversos acordos sobre tro- despesa normal, ou seja, tratando-os como não estão desfrutando das plenas possibi-
ca de experiências foram assinados, já que investimentos, sem afetar o déficit primá- lidades e oportunidades apresentadas
Brasil, Índia e África do Sul têm proble- rio. É por isso que, com imensa satisfação, pelo atual paralelismo e cooperação em
mas comuns na área de habitação e sanea- estou aqui.” nível bilateral e trilateral. Ambos os paí-

20 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


ses partilham avanços e dificuldades se-
melhantes: um parque industrial diversi-
ficado; renda per capita considerada de
média a fraca; um moderno sistema finan-
ceiro. Ao mesmo tempo, enfrentamos
agudos desafios sociais, especialmente
entre pobres e ricos. Isso é tudo o que
posso dizer em português neste estágio
de minha convivência com o Brasil, mas
na próxima vez já estarei apta a fazer uma
conferência completa.”

Economias complementares
A embaixadora continuou seu pronun-
ciamento em inglês, chamando a atenção
para os pontos que unem e podem apro-
ximar nossas economias e que, no seu en-
tender, são complementares. Para ela, o
que está faltando neste relacionamento é Na abertura, Jacob Moatshe traçou um panorama sobre a macroeconomia sul-africana.
um pouco mais de conhecimento mútuo.
“Vou comentar alguns pontos da rela-
ção da África do Sul com o Brasil, o relaci-
onamento bilateral e agora a nova relação
trilateral com o IBAS. Muito foi dito so-
bre a aproximação histórica entre os nos-
sos países, mas acho que falta procurar-
mos saber um pouco mais sobre cada um.
Do ponto de vista político, a relação é
muito boa, mas temos que trabalhar para
que se traduza em ações positivas, para
além das áreas de comércio, indústria e
negócios, incluindo, também, áreas socais
e de desenvolvimento. Gostaríamos que
mais brasileiros fossem à África do Sul e
mais sul-africanos viessem ao Brasil.”
A embaixadora afirmou, ainda, que o
entendimento não poderá progredir se as
nações não se compreenderem mutua-
mente. Para ela, o desenvolvimento soci- Theóphilo de Azeredo Santos cumprimenta a Embaixadora Plenipotenciária Lindiwe Zulu.
al é tão importante quanto o econômico,
pois só assim pode-se pensar no que com- não se envolverem agora, depois poderá “Vou começar a falar sobre a população
prar e vender. ser tarde demais. Estou feliz de ver tantas e dar um panorama geral da macro-
“É importante aumentar, também, o gerações presentes aqui.” economia, incluindo as políticas monetári-
relacionamento entre os indivíduos. Não as e fiscais. Espero apresentar muitas infor-
vou estender esta apresentação porque Parceiros comerciais mações aos que pretendem investir na Áfri-
outras pessoas vão falar. Jacob Moatshe, O Ministro Marcio Fortes de Almeida ca do Sul, mostrando as oportunidades e
nosso Cônsul Econômico, vai detalhar passou a palavra ao Cônsul Econômico da serviços oferecidos aos investidores.”
assuntos específicos. Agradeço a todos por África do Sul, Jacob Moatshe, que come- “A África do Sul tem uma área de 1,2
terem vindo a este encontro, isso significa çou seu pronunciamento saudando a ami- milhão de quilômetros quadrados e uma
muito para o relacionamento da África do zade que une os dois países e fazendo uma população de 44,8 milhões de pessoas,
Sul com o Brasil. Estou feliz por ver tan- apresentação de números da economia que falam 11 idiomas, sendo o inglês a
tos jovens presentes. Meu país acredita que sul-africana, com destaque para sua evo- língua de negócios. O chefe de Estado é o
o futuro pertence aos jovens e, se eles lução nos últimos anos. Presidente Thabo Mbeki. Os principais

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 21


ABERTURA

Infra-estrutura sul-africana
Rodovias e ferrovias
Grandes redes de transporte terrestre cruzam o país e criam
conexões com a África Sub-Saariana.
Portos
Instalações portuárias estratégicas estão localizadas em
Durban, Cidade do Cabo, Port Elizabeth, East London, Richards
Bay e Saldanha Bay.
Juntos, estes portos são responsáveispor 188 milhões de
toneladas de carga por ano.
Telecomunicações
A África do Sul é o 23º país em desenvolvimento de tele-
comunicações e o 17º em uso da internet.
O crescimento do número de telefones celulares é conside-
rado um dos maiores do mundo.

itens da pauta de exportação são, basica- “Um aspecto que nos deixa pesarosos
mente, produtos minerais e metais.” é quando vemos os números da balança
Os principais parceiros comerciais são comercial entre nossos países. Constata-
Alemanha, China, Estados Unidos, Japão mos que exportamos, em 2004, apenas
e França. US$ 268 milhões de dólares para o Brasil,
“Nosso governo se comprometeu a em oposição ao US$ 1,3 bilhão que o Bra-
investir US$ 4,5 bilhões para alavancar sil exportou para nosso país. Esses nú-
áreas como eletricidade, água, telecomu- meros estão crescendo. Esta é a oportu-
nicações e outras infra-estruturas. Até nidade de trabalharmos juntos para equi-
1999, tivemos um crescimento negati- librar esses dados, o que não deixa de ser
vo. Depois de 2001, alcançamos um cres- Os sul-africanos têm um grande desafio.”
cimento positivo, com uma recuperação
significativa em 2003, à qual estamos dan- procurado desenvolver a Oportunidades
do continuidade.” sua logística de transportes, Falando da infra-estrutura que a África
do Sul oferece, Jacob Moatshe chamou a
Legislação moderna modernizando as ferrovias, atenção para os portos estrategicamente
O cônsul ressaltou também o progres- as estradas de rodagem e localizados em Durban, Cidade do Cabo,
so das leis trabalhistas de seu país e afir- Port Elizabeth, East London, Richard Bay
mou que elas são motivo de orgulho. os portos. Na outra página, e Saldanha Bay.
Exaltou igualmente sua legislação maríti- os portos de Durban e da “Quero convidar empresários brasi-
ma e a comercial. Destacou os avanços na leiros a a atuar na África do Sul. Temos
área de marcas e patentes e de copyright. Cidade do Cabo. oportunidades para investimento em
“Isto quer dizer que o produto feito na aqüicultura, floricultura, frutas, vegetais
África do Sul está protegido. Estamos canos. Eles confiam em nossa economia, e processamento de plantas. Na área auto-
igualmente orgulhosos de nosso judiciá- no nosso mercado robusto e no sistema motiva, existe oportunidade de compa-
rio e da Constituição do país. A África do financeiro bem regulado.” nhias do Brasil transferirem tecnologia
Sul tem um dos melhores reguladores de Em termos de telecomunicações, a para a África do Sul ou serem parceiras
sistema financeiro. Quatro de nossos ban- África do Sul está no 17° lugar entre os em nosso projeto, pois vosso país é mui-
cos estão entre os 500 melhores do mun- usuários de internet no mundo e quer fa- to forte nos negócios automotivos. As
do e nosso sistema financeiro está em cres- zer negócios com o Brasil especificamen- corporações oferecem oportunidades,
cimento. Uma prova da confiança que os te na área de indústria de celulares. Esta é ainda, na área dos eletrônicos e compo-
grandes bancos estrangeiros depositam em uma grande oportunidade de exportação nentes de alumínio, na indústria quími-
nosso sistema financeiro é o fato de mui- e o governo quer compartilhar avanços ca, com componentes orgânicos e inor-
tos terem investimentos em bancos afri- tecnológicos. gânicos.”

22 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


O cônsul citou outras áreas a serem
exploradas por investidores estrangeiros:
aviação, principalmente na parte de com-
ponentes de helicópteros, e a indústria
ferroviária, para a qual um grande projeto
de estradas de ferro está programado.
“No transporte, há oportunidade para
companhias que queiram se expandir e
constituir parceria conosco. O governo tem
muitos incentivos destinados aos investi-
dores estrangeiros. O nosso endereço na
internet é http://www.thedti. gov.za

Balança comercial
O Ministro de Estado das Cidades, Marcio
Fortes de Almeida, analisou algumas colo-
cações feitas pelo Cônsul Jacob Moatshe,
chamando a atenção para ações pontuais
implementadas pelo Brasil que, segundo ele, Brasil. Estávamos no Ministério da Agri- “Aí pode estar a origem do saldo nega-
podem ser responsáveis pelo atual déficit na cultura neste período e incentivamos for- tivo da África do Sul. Nossos produtos
balança comercial entre os dois países. temente as exportações de carnes. De são vendidos por serem competitivos,
“Quanto à preocupação do represen- 2003 a 2005, quando estivemos no MDIC, como é o caso da carne, que estamos co-
tante da África do Sul em relação ao défi- tivemos negociações e ações diretas en- locando no mundo inteiro. Temos que
cit da balança comercial, em 2005, quan- volvendo o setor automotivo, inclusive descobrir como incrementar a importa-
do o Brasil exportou US$ 1, 3 bilhão con- com a instalação de uma planta montadora ção de produtos sul-africanos na área de
tra US$ 341 milhões de produtos sul-afri- da General Motors na África do Sul.” minerais, ferro-liga e ligas em geral, para
canos, quero deixar claro que isso não foi O ministro registrou, ainda, que as ex- ver quais os que podem ser mais compra-
sempre assim. Como já disse, nos últimos portações de automóveis e peças atingiram dos pelo Brasil. Este também é um obje-
20 anos a nossa corrente de comércio se a cifra de US$ 350 milhões, mais os trato- tivo do seminário: incrementar o comér-
multiplicou 17 vezes. Em 1986, o saldo res com volume de vendas de US$ 70 mi- cio para um maior equilíbrio. A negocia-
era favorável à África do Sul em US$ 3 lhões, o que soma cerca de US$ 560 mi- ção em curso, envolvendo Mercosul e
milhões. O mesmo aconteceu em 1994, lhões em produtos exportados. Todos fo- África do Sul, pode levar à solução desse
1995, 1996, 1997 e 1998. Só depois hou- ram objeto de ação direta das empresas e, problema, identificando oportunidades
ve uma mudança, passando a favorecer o sempre, com o apoio governo brasileiro. de investimentos para os dois lados.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 23


PAINEL I

Comércio bilateral cresce, mas


déficit é fonte de preocupação
Os mecanismos bancários e o apoio oficial às exportações ajudam a
aumentar a corrente comercial entre o Brasil e a África do Sul
O painel I, que debateu a am-
pliação do comércio de bens e
serviços no setor de mineração
e equipamentos de prospecção,
reuniu João Augusto de Souza
Lima, Presidente da FCCE;
Luciene Ferreira Machado, Che-
fe do Departamento de Comér-
cio Exterior do BNDES; Nelson
Pereira dos Reis, Diretor da
Copebrás, do grupo Anglo-
American no Brasil e Presiden-
te da Câmara de Comércio Bra-
sil-República Sul Africana; e Fá-
bio Martins Faria, Diretor do Luciene Ferreira Machado analisou o papel do BNDES na promoção das exportações.

Departamento de Planejamen- dade, que vem ganhando importância e Luciene Ferreira Machado explicou
to e Desenvolvimento de Co- já representa cerca de 30% do orçamen- que o banco não financia commodities agrí-
to do BNDES, da ordem de R$ 60 bi- colas e minerais, concentrando-se em
mércio Exterior do Ministério lhões, para 2006. bens de capital e manufaturados de uma
“Começamos com um foco muito res- forma geral, por uma razão simplesmen-
do Desenvolvimento, Indústria trito, inicialmente na América Latina, prin- te orçamentária. Dado que o bolo de re-
e Comércio Exterior – MDIC. cipalmente na América do Sul, valendo- cursos é finito e escasso, tem privilegia-
nos de um instrumento mitigador de ris- do produtos cuja venda não pode pres-
cos da região, que é o convênio de paga- cindir de financiamento. “O banco tem
mentos e créditos recíprocos. Aos pou- trabalhado desta forma e tem sido bas-
uciene Ferreira Machado, modera- cos, fomos expandindo nosso leque de tante bem sucedido nos últimos anos, di-

L dora do painel, abriu os trabalhos


fazendo algumas observações so-
bre o papel do BNDES na promoção das
atuação, que inicialmente se concentrava
nos bens de capital. Hoje, tanto automó-
veis como máquinas agrícolas, carnes de
versificando o portfólio de produtos
apoiados e de mercados atingidos. Há cin-
co anos, certamente, não teríamos qual-
exportações. Lembrou que o banco já frango, boi e suína, são setores apoiados quer experiência em África do Sul, Ásia
tem mais de 50 anos, mas somente nos pelo banco na sua linha de fomento ao ou em mercados diferentes da América
últimos 15 tem-se dedicado a essa ativi- comércio exterior.” do Sul ou da América do Norte. Hoje, a

24 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


realidade é absolutamente diferente. Te- Oportunidades tações brasileiras, inclusive por meio de
mos uma ação muito mais pulverizada, Nelson Pereira dos Reis disse que seminários e pela atuação da embaixada,
apoiando a empresa brasileira aqui, para como expositor representa uma empresa de representações consulares e do Minis-
que ela produza com recursos a um cus- que tem origem sul-africana, que está no tério de Indústria e Comércio da África
to competitivo”. “Esses recursos”, expli- Brasil há mais de 40 anos e que tem pro- do Sul, ampliando os contatos e apresen-
cou, “estão atrelados à Taxa de Juros de curado apoiar todas as iniciativas que vi- tando empresários locais interessados em
Longo Prazo – TJLP, que é uma oferta sem o estreitamento das relações entre o importar. Relatou, no entanto, a existên-
de financiamento local com custo muito Brasil e a África do Sul. cia de algumas dificuldades, como a de
inferior ao das linhas de financiamento “Eu, na realidade, estou aqui mais pre- escala, por exemplo. “Às vezes, existem
do mercado, e são qualificados pelo ban- sente na condição de presidente da Câma- produtos que nos interessam, cuja escala
co como de ‘pré-embarque1’, ou seja, ra de Comércio Brasil-África do Sul. A de oferta não é compatível com a necessi-
financiamento à produção.” Câmara de Comércio já tem mais de 20 dade do importador brasileiro. Assim são
anos de operação e tem acompanhado, ao perdidas algumas oportunidades.”

“ Pequenas e médias
empresas sul-africanas
e brasileiras têm bons
longo destes anos, a melhoria quantitativa
e qualitativa do comércio bilateral entre o
Brasil e a República Sul Africana. As câ-
maras de comércio têm, naturalmente, a
“Identificamos novas oportunidades,
não especificamente na questão de pro-
dutos, mas na questão empresarial”, dis-
se. “A questão essencial é a das pequenas e
resultados em exportações
NELSON PEREIRA DOS ”
REISN
função de apoiar e incentivar o desenvol-
vimento das relações comerciais entre
empresários dos dois países, com forne-
médias empresas. Na África do Sul, como
no Brasil, há uma profusão de pequenas e
médias empresas que têm trabalhado com
A moderadora continuou, nesta linha, cimento de informações, pesquisas, opor- produtos diferenciados, com algumas
sua análise da atuação do BNDES: “Da tunidades e realização de seminários; o que tecnologias específicas. A similaridade que
mesma forma que outras agências de cré- fizemos ao longo de todos estes anos.” existe entre nossos países na questão cul-
dito à produção no mundo, também atu- Para o expositor, o déficit comercial é tural e climática tem configurado um gran-
amos na ponta do financiamento à comer- motivo de preocupação e deve ser trata- de potencial de comércio que, após a apro-
cialização, para privilegiar aqueles itens do de maneira mais profunda. Ele lem- ximação de empresários dos dois países,
que precisam de longo prazo de pagamen- brou que o governo brasileiro, em suas já gerou algumas correntes de negócios.”
to. Neste último caso, operamos com ga- várias instâncias, principalmente no
rantias internacionais de uma rede de 110 MDIC e no Ministério das Relações Ex- Setor mineral
bancos, pelo menos quatro ou cinco na teriores, tem procurado alertar todos os Nelson Pereira dos Reis lembrou que
África do Sul. Esses bancos podem re- agentes que militam na relação Brasil- a África do Sul tem longa tradição no se-
presentar garantidores nessas operações África do Sul, pedindo que trabalhem no tor mineral, sendo líder mundial na pro-
de exportação. São bancos que têm um sentido de buscar uma situação de equi- dução de alguns bens. Isto fez com que
limite de crédito expressivo para operar líbrio. Lembrou, também, que Marcio fosse desenvolvida uma expertise muito
globalmente, da ordem de centenas de Fortes de Almeida, Ministro de Estado grande em termos de tecnologia, princi-
milhões de dólares, o que mostra a im- das Cidades, já havia enumerado, na aber- palmente na questão de serviços, poten-
portância e a representatividade do siste- tura do seminário, as razões principais para cial que pode ser aproveitado pelo
ma financeiro daquele país, com vários este descolamento da relação comercial empresariado brasileiro.
bancos que podem atuar em conjunto que, num determinado momento histó-
com o BNDES nesse tipo de operação.”
“Outros mecanismos”, continuou a
moderadora, “são os internacionalmente
rico, foi equilibrada.
“Houve itens da pauta de exportação
da África do Sul para o Brasil que foram
“ As áreas de mineração,
planejamento e organização
da frota são experiências
usados, como o seguro de crédito à ex- simplesmente reduzidos ou até elimina-
portação, que hoje é manejado pelo Te-
souro Nacional, mas cujas decisões são
tomadas por um órgão colegiado, do qual
dos”, afirmou Nelson Pereira dos Reis,
citando como exemplo o caso ocorrido
no setor de fertilizantes, com uma das em-
sul-africanas bem sucedidas
NELSON PEREIRA DOS REISN”
o BNDES também participa. Em seguida, presas do grupo, que atua no Brasil. “Em “A África do Sul tem desenvolvido
a moderadora passou a palavra ao primei- determinado momento”, disse, “o Brasil, muito a área dos chamados softwares para
ro expositor, Nelson Pereira dos Reis, Di- que era um grande importador da África mineração, planejamento, otimização de
retor-Presidente Copebrás, do grupo do Sul, por questões de mercado dirigiu operação e organização da frota, obtendo
Anglo-American no Brasil e, também, suas importações para outras regiões”. resultados bastante satisfatórios. Há mui-
presidente da Câmara de Comércio Bra- Ele explicou que tem havido um es- ta oferta neste setor e eu acho que ele
sil-República Sul Africana.” forço para aumentar o volume de impor- pode ser mais bem aproveitado pela co-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 25


PAINEL I

Nelson Pereira dos Reis e Jacob Moatshe discutem o déficit comercial entre Brasil e África do Sul.

munidade minerária brasileira, especial- ao Brasil interessados em negociar com são deste comércio bilateral, que, assim,
mente pelas pequenas e médias empre- o segmento de médias empresas. “Acho pode-se expandir. A princípio, estas ativi-
sas.” Segundo ele, algumas experiências que esta será uma das maneiras que nós dades não estão óbvias. Devem ser iden-
com pequenas mineradoras brasileiras, vamos encontrar para melhorar ou ate- tificadas e prospectadas, e a Câmara de
utilizando esses serviços, têm gerado bons nuar o desequilíbrio existente”, finalizou, Comércio Brasil-República Sul Africana
resultados: “Eu acho que esta é uma opor- recomendando a importadores e empre- pode ajudar neste tipo de mapeamento.”
tunidade bastante interessante, que pode- sários que realmente olhem a África do Em seguida, a moderadora passou a pala-
se aproveitar”, frisou. Sul como um país de oportunidades de vra a Fábio Martins Faria, Diretor do De-
“A Câmara de Comércio Brasil-Re- importação interessantes. partamento de Planejamento e Desenvol-
pública Sul Africana”, disse, “está à dis- vimento de Comércio Exterior do MDIC.
posição de todos os empresários inte- Terceiros mercados
ressados que queiram mais informações. A moderadora Luciene Ferreira Ma- Balança comercial
Isto pode ser feito também diretamente chado disse que gostaria de fazer suas as Fábio Martins Faria teve a oportunida-
com o consulado e com a embaixada.” palavras de Nelson Pereira dos Reis, acres- de de conhecer a África do Sul há cinco
“Essas informações podem ser obtidas centando um ponto. “Um aspecto em que anos e ficou surpreso com sua grande si-
facilmente”, afirmou, explicando que a temos sido bem-sucedidos é a explora- milaridade com o Brasil. Informou que
intenção da instituição é atuar mais como ção conjunta de terceiros mercados. Sen- faria uma breve explanação sobre a balan-
facilitadora, seja nos detalhes, na aproxi- do o Brasil um país que tem potencialidade ça comercial brasileira e depois falaria do
mação para o desenvolvimento das no- no setor de equipamentos de mineração comércio entre os dois países. Disse que,
vas relações, enfim, naquilo que se cha- e, sendo a África do Sul um país que de- a partir de 2003, o comércio brasileiro
ma de criação da corrente de comércio. senvolveu uma tecnologia de gerencia- teve um crescimento acentuado e, que,
Ele ressaltou que o desejo político e as mento de softwares na mesma atividade, nos dois primeiros meses de 2006, o Bra-
oportunidades que existem entre os dois temos a expectativa de que, num curto sil manteve o ritmo acelerado de desen-
países devem ser explorados e revelou espaço de tempo, Brasil e África do Sul volvimento do comércio exterior, com
que tem recebido, constantemente, visi- possam fornecer, em conjunto, material uma média diária de crescimento de
tas de empresários sul-africanos que vêm para outros mercados. É uma nova dimen- 19,4% nas exportações e de 25% nas im-

26 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


Evolução do comércio exterior brasileiro Em termos de evolução, o que mais
tem crescido nas exportações brasileiras
Janeiro–Fevereiro – 1996 / 2006 – US$ milhões
são os manufaturados. Dos produtos que
35.000
Fonte: MDIC
30.376
o Brasil exporta, o grupamento mais for-
30.000 te é o de transportes, que inclui o setor
automotivo, autopeças, aeronaves, trato-
25.000
res e máquinas agrícolas. Em segundo lu-
20.000 18.021 gar, estão os produtos metalúrgicos, com
toda a siderurgia envolvida, os próprios
15.000 12.355
metais, petróleo e combustíveis, com um
10.000 crescimento de 107% no primeiro bi-
5.666
mestre de 2006. Em seguida, os minéri-
5.000
os, produtos químicos e, só então, a
0 agroindústria, com as carnes. Depois vêm
os equipamentos, seguidos do complexo
-5.000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 da soja, calçados, papel celulose e açúcar.
“Com isto, percebe-se maior diversifica-
Exportação Importação
Impor tação Saldo Corrente
Cor rente de Comércio ção na pauta de exportações, composta,
também, por produtos de maior valor
Evolução da corrente de comércio Brasil / África do Sul agregado”, afirmou. “De vez em quando,
me surpreendo com algum articulista di-
1995 / 2006 - US$ milhões FOB zendo que o Brasil ainda é um exportador
1.711 Fonte: MDIC/SECEX de produtos básicos e commodities, apesar
de divulgarmos estes dados toda a sema-
na.” Segundo Fábio Martins Faria, os ex-
1.304 portadores brasileiros cada vez mais di-
versificam produtos e mercados e ampli-
935
am suas vendas, entendendo a exporta-
ção como um fator de posicionamento
710 683 710
659 estratégico dentro do mercado global.
507 530 “Hoje, nós estamos cientes de que isto
410 faz parte da estratégia comercial de todas
251
207
as empresas, portanto, não nos surpreen-
demos com o crescimento continuado do
nosso comércio exterior. Em termos de
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2005 2006 intensidade tecnológica, podemos com-
Jan-Fev Jan-Fev
parar 2006 com 2005. A maior contribui-
Os dados estatísticos evidenciam a continuidade do crescimento das exportações. ção para o crescimento este ano tem sido
de produtos com utilização de alta
portações, seguindo aquela inversão de representa um crescimento de 12%. Nós tecnologia. Produtos de tecnologia inter-
tendência na qual as importações crescem podemos ter tranqüilidade quanto à meta mediária para alta são os que mais têm cres-
num ritmo mais acelerado que as expor- apresentada, dado o crescimento muito cido na nossa pauta de exportação, mos-
tações. Com isso,estão acumulados no superior no início de 2006. O que nos trando justamente a ampliação de produ-
ano US$ 24 bilhões de exportações e US$ anima bastante é o aumento das exporta- tos de maior valor agregado no conjunto
17,2 bilhões de importações, com uma ções de manufaturados, embora no pri- da nossa pauta exportadora.”
corrente de comércio de US$ 41,2 bi- meiro bimestre de 2006 os básicos tenham “Em termos de mercado os principais
lhões e um saldo comercial de US$ 6,8 tido crescimento mais forte, influencia- parceiros do Brasil têm sido os países da
bilhões. dos, sobretudo, pelas exportações brasi- América Latina, não só favorecidos pela
“O Ministro do Desenvolvimento, In- leiras de petróleo.” Há, ainda, outros pro- proximidade geográfica, mas também pe-
dústria e Comércio Exterior, Luiz Fer- dutos básicos, como o minério de ferro e las afinidades culturais. Em segundo lu-
nando Furlan, anunciou no início do ano a a soja, que também contribuem de forma gar, vêm União Européia, Estados Unidos,
meta de exportar US$ 132 bilhões contra expressiva para os números de nossas ex- Ásia, África e Europa Oriental. Em ter-
os US$ 118 bilhões do ano passado, o que portações. mos de participação das empresas, 78%

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 27


PAINEL I

das exportadoras são empresas médias e brasileira necessita e vai precisar comprar
pequenas e 20% são empresas de grande cada vez mais.”
porte. Quando se fala em receita, esta par- No comércio bilateral, houve um cres-
ticipação é inversa: só cerca de 10% do cimento do número de empresas partici-
valor total exportado pelo país são das pantes, ou seja, mais empresas têm-se in-
pequenas e médias empresas.” Fábio teressado pelo mercado sul-africano e têm
Martins Faria disse que tem sido feito um buscado fazer negócios com empresas da
trabalho para a ampliação do valor agrega- África do Sul. A balança comercial sul-
do dos produtos, o que, acredita, só vai africana tem sido deficitária nos três últi-
apresentar resultados efetivos no médio e mos anos, com um forte déficit em 2004,
longo prazos. mas que se reduziu bastante em 2005. A
“Em matéria de participação do comér- participação das exportações brasileiras
cio no PIB, as exportações atingiram 16% nas importações da África do Sul atingiu
em 2004. Estamos aguardando os dados 2,49% em 2005. No sentido oposto, a par-
de 2005 para divulgação, mas o que é cer- ticipação sul-africana nas importações
to é que, a cada ano que passa, aumenta o brasileiras manteve-se estável, em torno
grau de abertura da economia brasileira,
ampliando a participação do comércio
exterior no PIB. Em 2004, tivemos cerca
de 6% correspondentes à corrente de co-
“ Acredito num amplo
campo de possibilidades
para ampliar o
de 0,7%. Os principais clientes da África
do Sul são Alemanha, China, Estados Uni-
dos, Japão, Reino Unido, Arábia Saudita,
França, Irã, Itália e Coréia. O Brasil não
mércio no PIB.”
“Em termos de participação no comér-
cio mundial, o Brasil tem tido crescimento
comércio bilateral
FÁBIO MARTINS FARIAN ” está entre os principais mercados de des-
tino da África do Sul. “Nós esperamos que,
com esta intensificação do comércio e a
ano a ano e, em 2005, continuou a crescer. aproximação cada vez maior dos dois paí-
Temos uma participação pequena nas ex- 62,8%. Se persistir este quadro, ele acre- ses, em breve, tanto o Brasil constará nes-
portações mundiais com, 1,14% em 2005. dita que haverá redução no desequilíbrio. ta lista, quanto a África do Sul constará na
“Do outro lado da balança, tivemos um “Acho que há um quadro de oportuni- nossa lista”.
crescimento de 20,7% nas importações no dades para a África do Sul em relação ao Os números mostram que há um gran-
primeiro bimestre deste ano. Os itens que Brasil”, afirmou. A África do Sul é, hoje, de potencial entre os dois países. Os ex-
mais cresceram foram os bens de consu- o vigésimo destino das exportações bra- portadores brasileiros têm sabido desco-
mo, ao contrário do que aconteceu em sileiras. brir oportunidades no mercado da África
2005. Houve um crescimento bastante ex- Em 2005, houve um crescimento de do Sul, inclusive estabelecendo parcerias
pressivo de bens de capital, o que repre- 32% das vendas brasileiras à África do Sul; para alcançar terceiros mercados, sobre-
senta investimento, renovação do parque acima da média de 21%. A exportação tudo os países vizinhos que integram a área
produtivo e atualização tecnológica. Hou- brasileira é composta basicamente de ma- de livre comércio da África do Sul. Em
ve, também, um crescimento expressivo nufaturados: componentes e produtos compensação, há um desafio para as em-
da área de petróleo e combustíveis.” acabados representam 78% do que ven- presas da África do Sul, que é o de apro-
demos no ano de 2005. Nas importações veitar as oportunidades no mercado bra-
Comércio bilateral brasileiras, a África do Sul é o 36º forne- sileiro. “Acho que o crescimento das ex-
O comércio bilateral com a África do cedor, e teve um crescimento de 27,6%; portações sul-africanas para o Brasil ainda
Sul, disse Fábio Martins Faria, tem cresci- bastante acima do crescimento médio de está abaixo do potencial existente. O mo-
do de forma expressiva, porém com um 19% das importações brasileiras no ano mento é favorável, pois a moeda brasileira
saldo bastante favorável ao Brasil. “Em passado. A África do Sul, portanto, tam- se apreciou bastante, tornando os produ-
2006 já está havendo um crescimento um bém foi muito eficiente exportando seus tos sul-africanos muito competitivos no
pouco mais acentuado das importações, produtos para o Brasil, afirmou. Brasil. Há um campo de possibilidades para
em termos relativos, mas acreditamos que Os principais produtos vendidos pela ampliar este comércio bilateral e, acredi-
ainda vai persistir este quadro de dese- África do Sul ao Brasil são ferro-liga, hulhas, to que, como países irmãos, esta é uma
quilíbrio.” Ele destacou que, entre os pro- motores para veículos, platina, barras de tendência irreversível”, finalizou.
dutos que o Brasil exporta para a África alumínio, compostos heterocíclicos e Antes de encerrar o painel, a modera-
do Sul, alguns vão integrar produtos de laminados planos. “A África do Sul é uma dora Luciene Ferreira Machado passou a
exportação daquele país. grande produtora mineral, tem um grande palavra para a Embaixadora Lindiwe Zulu,
Em 2005, as exportações brasileiras parque de ferro-liga e é um grande produ- que ressaltou a importância de intensificar
cresceram 10,4% e as impor tações tor de cromo. São produtos que a indústria a corrente comercial entre os dois países.

28 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


P A I N E L II

Agronegócio: um setor de
interesse no comércio bilateral
A logística é muito importante para aumentar a corrente comercial
É possível aumentar significativa-
mente o comércio bilateral com
o aperfeiçoamento de um siste-
ma logístico que garanta o trân-
sito de mercadorias entre Brasil
e África do Sul. Esta foi uma das
conclusões do painel II do Semi-
nário Bilateral de Comércio Ex-
terior e Investimentos Brasil-
África do Sul, que apontou a par-
ticipação ativa dos dois países em
negociações internacionais, bus-
cando a ampliação de sua corren-
te de comércio.

Fábio Martins Faria, Diretor do Depar-


tamento de Planejamento e Desenvolvi-
mento de Comércio Exterior do MDIC,
presidiu este painel dedicado às negocia-
ções bilaterais relativas ao agronegócio nas
áreas de soja, açúcar e álcool. Um dos te-
mas de maior interesse para ambos os pa-
íses é o acesso a mercados para produtos Jovelino de Gomes Pires analisou as opções para os empresários do agronegócio.
agrícolas.
O painel teve com expositores Jove- produção brasileira, tornando-a com- merciais são fechados, mas nem sem-
lino de Gomes Pires, Coordenador da Câ- patível com o crescimento de nossas ex- pre se consegue cumpri-los da forma
mara de Logística Integrada – CLI, da As- portações. Tais medidas também vão desejada”, afirmou.
sociação de Comércio Exterior do Brasil possibilitar maior aproximação com a O coordenador da CLI abordou, ain-
– AEB, e Arthur Pimentel, Diretor de Co- África do Sul. Segundo ele, há um es- da, o que considera um dilema para o
mércio Exterior do MDIC. forço conjunto do Presidente Luiz comércio externo brasileiro: “devemos
Inácio Lula da Silva e dos ministérios produzir açúcar ou álcool?” Esclareceu
Infra-estrutura relacionados com o setor para superar que o álcool, hoje, tem muitas vantagens,
Em sua exposição, Jovelino de Go- as barreiras internas. Uma destas bar- porque no Brasil ele é feito da cana-de-
mes Pires relatou as medidas que estão reiras é a própria legislação do país, que açúcar, cujo preço de venda corresponde
sendo tomadas para melhorar a infra- acaba criando dificuldades para impor- à metade daquele proveniente da beter-
estrutura necessária ao escoamento da tadores e exportadores: “os acordos co- raba, muito usada na Europa para o mes-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 29


P A I N E L II

A coleta mecanizada já é uma realidade no processo de produção de cana-de-açúcar. A organização do trabalho gera maior rapidez na

mo fim. Além disso, o álcool vem sendo prando-o de várias regiões, Jovelino de
usado em todo o mundo como um subs- Gomes Pires lamenta que as negociações
tituto para os derivados do petróleo, com- em torno do comércio da soja brasileira
bustível não renovável cuja queima é res- com aquele país não tenham evoluído
ponsável pela emissão de gases poluentes. como poderiam.
Neste cenário internacional, o expositor Para que o ritmo de crescimento do
considera que, com a produção do álco- comércio exterior brasileiro como um
ol em larga escala, estaremos mais pro- todo possa ter continuidade, ele realçou a
tegidos dos aumentos do preço do pe- necessidade de uma melhoria substancial
tróleo. em todo o sistema logístico. São necessá-
O Brasil tem expressiva “Nós temos, hoje, uma expressiva ex- rios investimentos em meios de transpor-
portação de açúcar, e o álcool já é utilizá- te, rodovias, ferrovias e, sobretudo, no sis-
exportação de açúcar e vel em praticamente todos os motores de tema portuário. Muitos dos portos brasi-
álcool e precisa cuidar automóvel. Podemos, então, atender às leiros estão necessitando de dragagem, e
duas demandas”. este fator atinge diretamente o comércio
da infra-estrutura das com a África do Sul.
Soja e álcool
diferentes fases da Aperfeiçoamento
Em 2000, o Brasil exportou 6.502 to-
produção, desde a neladas de soja; em 2004 chegamos a O coordenador da CLI ressaltou que
colheita da cana até o 15.764 toneladas. O álcool por sua vez, a África do Sul tem a maioria de seus par-
passou de 117 toneladas exportadas para ceiros comerciais no Hemisfério Norte
transporte. A plantação 1.927 toneladas, no mesmo período. e, em função disto, apesar da poten-
Em relação à soja, suas fronteiras es- cialidade de comércio com o Brasil e de
da soja tem se expandido
tão se expandindo para o Norte do país, ambos estarem localizados no Hemisfé-
em todo o país, onde existem muitas áreas já desmatadas, rio Sul, os sul-africanos reduziram dras-
passíveis de exploração. A produção vem ticamente a sua frota de navios com des-
equipando fazendas crescendo de forma expressiva, deven- tino ao Sul. O Brasil, por sua vez, tem
como as de Mato Grosso do atingir cerca de 30 milhões de tonela- uma frota pouco significativa, o que tem
das, em menos de dez anos. Como a Áfri- dificultado os negócios de exportadores
(página seguinte). ca do Sul é grande importadora neste brasileiros. Muitas empresas tiveram que
setor, sobretudo de óleo de soja, com- recorrer às suas coligadas na Ásia para

30 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


colheita e um melhor aproveitamento da safra. O armazenamento da soja conta com silos distribuídos por toda a região produtora.

atender os acordos já firmados. Segundo


ele, o governo brasileiro, por meio de
reuniões entre os órgãos competentes e
as associações de classe, está trabalhan-
do intensamente para buscar resultados,
no menor prazo possível.
“Nós estamos com excedentes de pro-
dução voltados para a exportação. Há uma
nova geografia econômica a explorar, mas
temos que fazer investimentos para me-
lhorar os nossos canais de exportação e
estamos sensibilizando os setores públi-
co e privado neste sentido”.
Com o deslocamento do cultivo de
soja para o Norte do Brasil, 11% da pro-
dução é escoada por novos corredores de
exportação: São Luiz, Belém, Porto Velho
e Santarém, explica o expositor, enquan-
to aponta as prioridades de investimento.
Para facilitar o acesso a São Luiz e Porto
Velho, é preciso melhorar o eixo viário A produção intensiva de soja emprega equipamentos sofisticados.
constituído pela BR-158, que está com o
asfaltamento incompleto, além de agilizar sido realizadas as obras de dragagem “O empresariado brasileiro está traba-
a ferrovia Norte–Sul. necessárias, estão conseguindo atracar lhando muito rapidamente na busca de so-
As rodovias BR-174 e BR-364, que em Porto Velho. luções. Nós temos que conscientizar e
dão acesso a Porto Velho, também ne- Por sua vez, o Porto de Santarém está motivar os nossos parceiros comerciais,
cessitam de obras. Para dar uma idéia recebendo carga através da BR-163, que assim como nossos colegas do governo,
da importância deste eixo, o coorde- vem do Mato Grosso e do Pará e, ao lon- para acompanharem este ritmo”.
nador da CLI lembra que os navios car- go desta via, estão se instalando vários pro- Jovelino Pires coloca uma outra ques-
gueiros Panamax, impedidos de atra- jetos de desenvolvimento liderados pela tão para ser avaliada, que faz parte da
car nos portos do Sul por não terem iniciativa privada. logística da exportação brasileira. A soja

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 31


P A I N E L II

Porto de Paranaguá

Obras na BR-251, que liga Brasília-DF a Unai-MG.

que estará saindo por esses novos corre- frota de veículos, que foi se tornando
dores de exportação, no Norte do país, absoleta ao longo do tempo”.
certamente será em grão, porque as insta- Jovelino de Gomes Pires concluiu,
lações industriais para o processamento mostrando-se confiante, que é possível
Porto de Itajaí estão todas instaladas no Sul. Quanto aos aumentar significativamente o comércio
corredores tradicionais de exportação bilateral entre Brasil e África do Sul, en-
(Rio Grande do Sul, Paranaguá, Santos e frentando todos esses desafios: “a solução
Vitória) no Sul e Sudeste do país, ele é planejar e caminhar de mãos dadas, des-
alertou para o fato de que as rodovias des- se modo chegaremos lá”.
ta região já estão com sobrecarga, em fun-
ção do aumento crescente da produção Esforços conjuntos
brasileira. Durante a sua exposição no painel II,
o Diretor de Comércio Exterior –
Modernização dos portos DECEX do MDIC, Arthur Pimentel,
Porto de Rio Grande O expositor revelou otimismo ao relatou os esforços conjuntos do minis-
anunciar a aprovação, pelo governo, de um tério, por meio de seus vários departa-
programa denominado Reporto, de estí- mentos, particularmente os de sua área,
mulo ao desenvolvimento de equipamen- na busca constante do aperfeiçoamento
Os portos brasileiros tos destinados à modernização dos por- dos instrumentos para simplificar e
necessitam de dragagem tos, que terá a participação do BNDES. agilizar suas ações. Ressaltou, igualmen-
“O aspecto mais complexo a enfrentar te, a importãncia de criar meios para
e aperfeiçoamento para é a dragagem dos portos, para permitir melhor atender e aproximar importado-
melhor atender ao que navios com maior calado, que trans- res e exportadores, chamando-os a
portam mais carga, possam passar pelos interagir com o governo.
comércio internacional. canais de acesso aos terminais.Vamos tam- O diretor do DECEX analisou ainda as
A manutenção das bém recuperar a nossa marinha mercante, estratégias utilizadas na sua área, para au-
com a maior rapidez possível, porque nós mentar o intercâmbio entre Brasil e Áfri-
estradas, outra temos que ultrapassar as fronteiras marí- ca do Sul. “As nossas exportações, como
timas. Da mesma maneira, estamos ten- vimos, estão no rumo certo, agora preci-
necessidade urgente, já tando resolver o problema das rodovias e samos buscar as condições para aumentar
está em andamento em ferrovias, priorizando as mais importan- as compras brasileiras na África do Sul.”
tes para o escoamento da produção. Pen- Atualmente, entre os vários órgãos go-
todo o território nacional. samos, também, na recuperação da nossa vernamentais que trabalham com o comér-

32 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


cio externo brasileiro, de maneira direta ou de cooperação econômica, como o que merciais não podem trabalhar sem ter o
indireta, estão o Banco Central, o Banco do está sendo desenvolvido com a África do foco nas regras internacionais de comér-
Brasil, o BNDES, a Secretaria da Receita Sul, em estágio já bem avançado. cio. Temos vários exemplos em que, mes-
Federal e a Seguradora Brasileira de Crédi- mo tendo este cuidado, algumas opera-
to à Exportação, que interagem nos pro- Atuação do DECEX ções brasileiras têm sofrido restrições nes-
cessos de compras e vendas internacionais. Quanto ao Departamento que dirige, te sentido, no âmbito da Organização
Depois de mencionar a atuação desses ór- Arthur Pimentel explicou que cabe ao Mundial do Comércio – OMC.”
gãos, o expositor passou a relatar as fun- DECEX operacionalizar os programas e
ções e comentar a atuação dos departamen-
tos e áreas dedicadas ao comércio exterior
dentro da estrutura do MDIC.
acordos fechados pelas outras áreas, re-
lativos tanto à exportação quanto à im-
portação.
“ Com a simplificação dos
trâmites administrativos e a
possibilidade de visualizar
Além de secretarias que cuidam da Ele citou como exemplo de instru-
produção interna, comércio e serviços, mento inteligente o drawback, que signifi- necessidades do mercado,
o MDIC conta, também, com o Depar- ca a importação de algumas matérias pri- podemos alinhavar alguns


tamento de Planejamento e Desenvolvi- mas, produtos semi-acabados ou compo-
mento de Comércio Exterior, responsá- nentes para serem processados no Brasil,
macro-objetivos
vel pela disseminação da mentalidade ex- e depois exportados como produtos, com ARTHUR PIMENTELN
portadora e de projetos e programas de maior valor agregado.
estímulo à exportação, como o Estado “Nós procuramos, de forma sistemáti- Neste cenário, destaca-se ainda a Área
Exportador, que obteve muito êxito, e o ca, aperfeiçoar esses mecanismos, dire- de Estudos de Comercialização que, con-
Exporta Cidade. Estes programas têm cionando várias ações no sentido da sim- jugando importação e exportação, acu-
por objetivo aproximar os governos fe- plificação e modernização dos meios e ins- mula em um banco de dados informa-
deral, estadual e municipal das cédulas trumentos e, também, adequando a capa- ções a respeito de produtos, setores, ca-
produtivas do país, onde se encontram cidade do Governo Federal às necessida- deias produtivas e, ainda, compras e ven-
as unidades fabris das empresas. As vári- des dos usuários, que são os importado- das brasileiras, que podem ser dis-
as instâncias governamentais e órgãos res e exportadores, e dos outros órgãos ponibilizadas para o público e o empre-
locais, por meio de um esforço conjun- que atuam, de maneira direta ou indireta, sariado. Ressaltando mais uma vez os cri-
to, podem ajudar a resolver os proble- no comércio exterior”. térios do seu trabalho, informou que “os
mas pontuais de um determinado muni- Arthur Pimentel ressaltou, ainda, a estudos são divulgados de forma bem
cípio, cidade e grupo de produção inte- importância de os órgãos governamen- neutra e horizontal e podem interessar
ressados em atuar no mercado externo. tais estarem atentos ao ambiente de ne- tanto ao ambiente acadêmico como às
gócios e às empresas. “Não adianta o go- associações de classe, federações de in-


verno achar que está elaborando algo in- dústrias e outras entidades”.
É preciso planejar e investir teligente se isto não servir ao importa-
em transporte, rodovias, dor e ao exportador. Considero que te- Informatização e agilidade
ferrovias e portos para mos procurado agir neste sentido, sem O Sistema Integrado de Comércio Ex-
deixar de dar atenção especial às normas terior – SISCOMEX, inteiramente criado
manter o crescimento das e regulamentos, que é nossa função como no Brasil, começou a ser desenvolvido em
exportações brasileiras
JOVELINO DE ”
GOMES PIRESN
governo”.
Dentro do DECEX, Arthur Pimentel
comentou a atuação de algumas áreas de
1992 e foi lançado entre 1995 e 1997.
“Nesse período de implantação do sis-
tema, até 2005, conseguimos que 97%
apoio, como a de Créditos e Financiamen- de todas as operações de exportação fos-
Segundo Arthur Pimentel, o MDIC tos, que considera muito importante. sem automatizadas. Ou seja, o próprio
conta, também, com o Departamento de “Dependendo do volume de algumas sistema, sem interferência humana, é ca-
Defesa Comercial – DECOM. Sua fun- operações e do seu valor, tanto o exporta- paz de fazer registros e atender a certas
ção é tentar controlar a voracidade de al- dor brasileiro como o importador estran- demandas. Também em 2005, tivemos
guns países na colocação de seus produtos, geiro podem não ter condições de efetuar cerca de 7 mil operações de drawback
com preços que podem afetar o desenvol- o pagamento à vista. Sendo assim, temos deferidas, com uma movimentação de
vimento, determinadas cadeias produtivas instrumentos para fomentar o crédito, tra- US$ 35 bilhões, com 70% de auto-
e o nível de emprego no Brasil. balhando de forma coerente com as re- matização”.
O MDIC conta, ainda, com o Departa- gras comerciais”. O sistema está em processo constante
mento de Negociações Internacionais – O diretor do DECEX fez, no entanto, de desenvolvimento. “Hoje, já se pode fa-
DEINT, que cuida de tratados e acordos uma advertência: “Hoje, os agentes co- lar em SISCOMEX WEB, que divulga in-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 33


P A I N E L II

de financiamento. Existe, ainda, o Regis- “Hoje está sendo desenvolvida a pri-


tro de Venda, para operações de venda de meira versão do módulo. Ele será homo-
commodities e mercadorias negociadas na logado, primeiro, em âmbito interno pe-
Bolsa de Valores, instrumento que assegu- los funcionários, depois será testado por
ra ao exportador brasileiro as condições algumas entidades de classe e, finalmen-
pactuadas nas negociações a longo prazo. te, pelas empresas que, por meio de trei-
Todas as operações são registradas no namento, testarão a operacionalidade do
SISCOMEX, informa Arthur Pimentel, sistema. Assim, poderão dar sua opinião e,
exaltando os benefícios do sistema: “com também, participar da homologação do
a simplificação dos trâmites administrati- NOVOEX.”
vos e a possibilidade de visualizar as ne- Arthur Pimentel reafirmou, mais uma
cessidades do mercado, nós podemos ali- vez, a necessidade de haver maior interação
nhavar alguns macro-objetivos.” do governo com a classe empresarial.
Falando ainda sobre algumas respon- “É preciso buscar o tempo todo parce-
sabilidades da sua área, o expositor lamen- rias público-privadas, novas formas de apro-
tou o fato da legislação brasileira ser ultra- ximação e engajamento das empresas. O
passada para algumas operações: “é preci- governo tem que chegar à classe empresa-
so haver um trabalho contínuo de atuali- rial, já que tem a percepção do comércio
zação para que as leis cumpram o seu ob- exterior como uma decisão de negócios
jetivo.” não só da empresa, mas também dos go-
A necessidade de reformulação per- vernos federal, estadual e municipal.”
manente das regras e procedimentos tam-

“ Com o Sistema Integrado de bém se constitui numa marca forte de sua Integração
gestão. O DECEX implantou um grupo Encerrando os trabalhos, o presidente
Comércio Exterior, em 2005, de trabalho contínuo para verificar todas do painel II, Fábio Martins Faria, reafir-
conseguimos que 97% das as possibilidades de sistematização de al- mou a necessidade de integração entre os
operações de exportação guns procedimentos, visando a melhorias mercados brasileiro e sul-africano, por


no atendimento ao usuário. meio da ampliação das linhas marítimas,
fossem automatizadas
conforme foi colocado pelo expositor
ARTHUR PIMENTELN Informações Jovelino de Gomes Pires.
O diretor do DECEX anunciou com O Diretor do Departamento de Pla-
formações estatísticas por meio de uma entusiasmo o novo módulo de exporta- nejamento e Desenvolvimento do Co-
lista eletrônica, no primeiro dia de cada ção que será brevemente implantado: uma mércio Exterior do MDIC analisou, tam-
mês”. Com este recurso, é possível fazer plataforma WEB por meio da qual pode- bém, a atuação do governo brasileiro no
circular e capitanear uma série de infor- se, entre outras coisas, conseguir uma re- fomento ao comércio exterior.
mações dentro dos departamentos. O dução substancial de informações exigidas. “Há um grande esforço do governo
expositor complementou: “a informação O sistema está sendo desenvolvido por brasileiro no sentido da facilitação do pro-
só tem valor quando é divulgada”. um grupo de trabalho composto por re- cesso de importação. O drawback, por
presentantes do Banco do Brasil e da Re- exemplo, é um estímulo à exportação que
Os licenciamentos ceita Federal, entre outros parceiros, para traz embutido um estímulo à importação,
O DECEX é responsável também pe- torná-lo uma ferramenta que permita pois desonera produtos que servem de
los licenciamentos. Na importação, eles interação efetiva com o exportador. base para a indústria, comprados em ou-
são divididos em dois grupos. A Declara- Atualmente o módulo ainda funciona tros países”.
ção de Importação – DI é um licencia- com telas fixas que devem ser preenchi- Depois de apontar algumas facilidades
mento automático, que não precisa da das pelo usuário, e as informações vão di- trazidas por ações governamentais, como
anuência do DECEX e pode ser despa- retamente para um banco de dados no a simplificação de procedimentos buro-
chado em outros setores. Os licencia- Banco Central. No novo módulo haverá cráticos, especialmente na área aduaneira,
mentos não automáticos, chamados de LI, um ‘orientador’ que exerce a função de reafirmou a importância da desoneração
devem ser emitidos no âmbito do pró- guia no caminho da exportação e, princi- da importação com a redução de impos-
prio departamento. palmente, um simulador da operação, para tos, inclusive sobre insumos para a in-
Nas exportações, o DECEX trabalha indicar eventuais erros que poderão ser dústria brasileira, pois isto abre espaço para
com o Registro de Crédito, no caso de corrigidos antes do envio de dados para o que a África do Sul amplie suas exporta-
operações que necessitem de algum tipo Banco Central. ções para o Brasil.

34 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


P A I N E L III

Turismo

Setor brasileiro pode fazer bons


negócios com a África do Sul
Estrutura do país pode servir de exemplo para que nossos técnicos e
políticos avaliem a força deste mercado que cresce em todo o mundo
O painel III do Seminário Bilate-
ral de Comércio Exterior e In-
vestimentos Brasil-África do Sul,
que tratou das relações entre os
dois países no contexto do turis-
mo bilateral, foi presidido pelo
Vice-Presidente da Associação de
Comércio Exterior do Brasil –
AEB, José Augusto de Castro, e
teve como moderador o Cônsul
Honorário da África do Sul no
Rio de Janeiro, D. Philippe Tasso
de Saxe-Coburgo e Bragança. O
pronunciamento especial foi pro-
ferido pelo Presidente do Con-
selho de Turismo da Confedera-
José Augusto de Castro afirmou que a ‘indústria’ das viagens é um produto de exportação.
ção Nacional do Comércio –
CNC, Oswaldo Trigueiros Jr. grande diversidade cultural e riqueza de portantes a aprender com os sul-africanos
fauna, flora e paisagens. em termos de estradas, de organização e,
“Para mim, esse é o painel mais agradá- ainda, de exploração da natureza sem afetar
osé Augusto de Castro abriu os traba- vel deste encontro sob todos os aspectos, o meio ambiente. É um país que conheci

J lhos falando de sua satisfação em par-


ticipar de uma mesa na qual o ponto
central do debate é o turismo. Ele se con-
pois falar de turismo é sempre uma satisfa-
ção. Visitei a África do Sul, um destino que
recomendo vivamente a todos, por ser um
turisticamente; e posso dizer que é exce-
lente sob todos os aspectos. Temos opor-
tunidade, a partir de agora, de conhecer um
fessou muito à vontade para tratar do as- dos mais ricos e bem organizados locais pouco mais sobre a África do Sul. Eu passo
sunto, pois considerou que, além de ser turísticos, com inúmeros atrativos, além de a palavra ao Presidente do Conselho de
um tema sempre prazeroso, a indústria que sua beleza exuberante por todos conheci- Turismo da CNC, Oswaldo Trigueiros Jr.”
se desenvolve em torno das viagens é atu- da. Gostaria de observar que, quando se
almente um dos grandes produtos de ex- compara a África com a Índia ou a China, Propulsor de negócios
portação da maioria dos países, especial- tem-se a impressão de que existem duas O Presidente do Conselho de Turismo
mente quando se trata de nações como a Áfricas: a África como um todo e a África da CNC destacou a importância do turis-
África do Sul e o Brasil, detentores de do Sul. Quero dizer que temos coisas im- mo como propulsor de negócios nas mais

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 35


P A I N E L III

natural e cultural.
“Nós não devemos ficar convencidos de
que somos os maiores. Se, por um lado,
temos um povo excelente, receptivo, co-
municativo e alegre, por outro lado, con-
tamos, também, com aspectos difíceis de
serem tratados e superados. Temos que
vencê-los, ou, então, vamos ver o tempo
passar e nos habituaremos às anomalias que
existem no Brasil e que são desfavoráveis
ao turismo. De nada adianta dizer que o vi-
sitante esteve aqui, foi bem tratado e só um,
ou dois, ou três foram assaltados, ou não
puderam andar na Praia de Copacabana.
Não podemos querer fingir que aqui está
tudo bem só porque na França ou nos Es-
tados Unidos os turistas também são assal-
tados. Não devemos fazer este tipo de com-
paração, mas sim ter a consciência de que
estamos errados. Devemos fazer tudo para
dar certo, corrigindo nossos erros.”
Oswaldo Trigueiros Jr. diz que temos um povo comunicativo que trata bem os visitantes. O Presidente do Conselho de Turismo
acha que o Brasil tem uma imagem sim-
diversas áreas da economia, além de ser soas diferentes, em hemisférios diferentes, pática diante da maioria dos povos estran-
ele mesmo um produto, uma indústria de com costumes diferentes. Havendo uma geiros e, por isso, tem tudo para desen-
alto valor econômico. alavanca nesta atividade nas cidades onde as volver uma ação própria na área do turis-
“Primeiramente, quero agradecer ao pre- câmaras de comércio e as pessoas se en- mo, sem espelhar-se ou comparar-se com
sidente da FCCE, João Augusto de Souza contram, as conquistas do comércio exte- países cujas características são completa-
Lima, o convite para participar deste painel, rior, certamente, seriam facilitadas. Eu quero mente diversas das nossas.
cujo tema considero da maior importância
nas relações bilaterais. A intervenção do pri-
meiro palestrante já nos deu uma noção do
que é o turismo na África do Sul. Com isso,
“ O turismo é uma arma
importantíssima
para que possamos negociar
Comparações
“Nós não temos como comparar o Bra-
sil com os Estados Unidos, a França ou a
ele já tirou metade do meu encargo; assim, Inglaterra. Devemos explorar, no bom
me resta falar um pouco sobre o Brasil. Que- com pessoas diferentes, sentido, a natureza, o ecoturismo, que é
ro aproveitar a oportunidade para louvar a em hemisférios diferentes, importantíssimo, além da prestação de


organização do evento pela feliz iniciativa de serviços diretamente vinculada às ativida-
acrescentar o turismo nos seminários da com costumes diferentes des que envolvem viagens. Com o avanço
FCCE, pois esta atividade deveria ser pauta de O S WA L D O T R I G U E I R O S J R . N tecnológico, tem-se desprezado um pou-
todas as reuniões, com todos os países.” co o homem, valorizando-se excessiva-
deixar claro que, hoje, o turismo represen- mente as máquinas. As companhias
Turismo é indústria ta um enorme aporte de capital em todos especializadas e as agências que exploram
Para o Presidente do Conselho de Turis- os países. É considerado como fator pri- o turismo não podem se render à máqui-
mo da CNC, o turismo tem representado mordial no desenvolvimento, para o cres- na; elas devem estar preparadas para lidar,
uma indústria de alto poder produtivo, es- cimento do número de empregos, para in- sobretudo, com o homem. O ser huma-
pecialmente na época em que vivemos, tercâmbios de culturas e, especialmente, no quer carinho, quer comunicação, e isso
quando o intercâmbio entre os homens deve para a realização de negócios.” o brasileiro tem para dar e vender. Temos
ser intenso e afável. Além disto, os especia- Oswaldo Trigueiros Jr. destacou, ain- que aprender a fazer isso.”
listas já detectam, hoje, os mais diferentes da, que o Brasil tem muito a aprender
tipos de viagens turísticas: de negócios, de nessa área. Apesar de afir mar que Estrutura precária
caráter científico, de lazer etc. estamos vivendo um bom momento, ele O expositor destacou, ainda, a impor-
“O turismo é uma arma importantíssi- acrescentou que falta muito ao país para tância que o setor passou a ter, principal-
ma para que possamos negociar com pes- explorar adequadamente suas riquezas mente, depois da criação do Ministério de

36 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


P A I N E L III

O Rio de Janeiro: um conhecido destino internacional. Table Mountain, na Cidade do Cabo: um ícone sul-africano.

Turismo. Segundo ele, esta atividade cres-


ceu em importância, porque passou a ga-
nhar o centro das discussões em Brasília.
“Hoje, apresenta-se mais o nosso país,
fala-se mais nas opções que oferecemos e,
realmente, após a implementação do mi-
nistério, as relações melhoraram. Há, ain-
da, no entanto, muito trabalho pela frente.
Temos que ter um ministério que mante-
nha bom relacionamento com os outros
países, porque não é só exportar, temos
que importar, ter acordos bilaterais turísti- Um hotel às margens do Rio Amazonas.
cos tão eficientes quanto os de comércio.
O Brasil precisa ser “vendido” no exterior as críticas de Oswaldo Trigueiros Jr. sobre
numa perspectiva de longo e médio prazo. as ferrovias e rodovias que estão em pés-
É, também, importante conhecer bem os simo estado. Em seguida, passou a palavra
países que se interessam pelo Brasil. Não ao Cônsul Honorário da África do Sul no
adianta preparar pacotes turísticos para um Rio de Janeiro, D. Philippe Tasso de Saxe-
país, sem conhecer sua mentalidade e a Coburgo e Bragança, para fazer suas con-
expectativa da sua população.”
Outra deficiência apontada pelo ex-
positor foi o estado das estradas de roda-
“ A África do Sul tem muito
a oferecer em vários quesitos
de infra-estrutura
siderações. O cônsul chamou a atenção
para o potencial turístico da África do Sul.
“A África do Sul oferece um tremen-
gem. Segundo ele, nossas rodovias não do potencial para os operadores brasilei-
estão em bom estado, e é necessário
modernizá-las, por exemplo, fazendo
uso de asfalto preparado.
que nós ainda não possuímos

D. PHILIPPE TASSO DE SAXE-COBURGO E BRAGANÇAN
ros; um potencial que eu diria igual ou
superior ao da Flórida, já muito explora-
da. É um novo e excelente mercado, com
“Além disso, praticamente não temos conhecimentos e experiências bem-suce- uma infra-estrutura de primeira ordem,
ferrovias, setor onde nos encontramos didas e não fazer do turismo mais uma pla- com rodovias e ferrovias em bom estado
muitos anos atrasados. O transporte marí- taforma política. O Brasil tem tudo para ser de funcionamento, inclusive com o famo-
timo é outra questão, pois os navios estran- uma grande potência no setor, mas se não so Blue Train, um tipo de Orient Express que
geiros que chegam para o carnaval e passa- trabalharmos, se não tivermos os pés no vai da Cidade do Cabo para Pretória. A
gem do ano encontram dificuldade na uti- chão, continuaremos falando no escuro. África do Sul tem muito a oferecer em
lização das instalações obsoletas dos por- Agradeço a todos que tiveram a paciência vários quesitos de infra-estrutura que nós
tos brasileiros. Temos que trabalhar para de me ouvir, pois meu interesse é cons- ainda não possuímos. Além do mais, com
que o turismo receptivo tenha real condi- truir, já que adoro este país. Muito obrigado o real valendo dois dólares, a África do
ção. Nossa realidade não é das melhores, e sejam muito felizes.” Sul torna-se um destino muito atrativo
por isso devemos observar o que existe de O presidente do painel III, José Au- para os brasileiros.”
bom em outros países, absorver, importar gusto de Castro, considerou justificáveis

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 37


ENCERRAMENTO

Valorização de acordos bilaterais


Recomendações para uma maior aproximação turística com a África do Sul
Sul, e coloco à disposição todo o nosso
equipamento que possa ser útil para esta
finalidade”.
Afirmando a sua confiança nos resul-
tados do esforço conjunto, Souza Lima
disse acreditar que “o governo da África
do Sul, por meio de sua representação di-
plomática, e o presidente do Conselho de
Turismo da CNC podem tomar uma série
de medidas para que acordos bilaterais se-
jam firmados”.
João Augusto de Souza Lima lembra que
a África do Sul foi considerada, pelo gover-
no brasileiro, como país estratégico, junta-
mente com a China e a Rússia. “Entre ou-
tras possibilidades de negócios, existe um
potencial turístico na África do Sul que
precisa ser explorado. O patrimônio natu-
ral, a cultura e o nível de desenvolvimento
A Embaixadora Lindiwe Zulu ao lado do Presidente da FCCE, João Agusto de Souza Lima. dos dois países são bastante diferentes. É
preciso fazer com que os bra-
A Sessão Solene de Encerramento do sileiros conheçam a África do
Sul”.
Seminário de Comércio Exterior e O presidente da FCCE en-
Investimentos Brasil-África do Sul cerrou as atividades agrade-
cendo o apoio recebido da
contou com as presenças de Lindiwe Embaixadora da África do Sul,
Zulu, Embaixadora Plenipotenciária Lindiwe Zulu e de toda a sua
equipe, bem como o apoio in-
da África do Sul; Dom Philippe Tasso
cansável do Cônsul Honorá-
de Saxe-Coburgo e Bragança, Côn- rio no Rio de Janeiro, Philippe
sul Honorário da África do Sul no Rio Tasso de Saxe-Coburgo e
Lindiwe Zulu, Marcio Fortes e Ernane Galvêas. Bragança, que é, também Di-
de Janeiro e membro do Conselho retor-Conselheiro e membro
Superior da FCCE; Theóphilo de vitalício do Conselho Supe-
presidente da Federação das Câ- rior da FCCE. “Philippe é um dos mais
Azeredo Santos, Presidente da Câma-
ra de Comércio Internacional – ICC;
e José Augusto de Castro, Vice-Pre-
O maras de Comércio Exterior –
FCCE, João Augusto de Souza
Lima, ao presidir a Sessão solene de en-
brilhantes membros do Conselho Supe-
rior e meu amigo pessoal, a quem agrade-
ço, em especial, toda a colaboração dada
cerramento, manifestou o seu apoio às idéi- para a realização deste evento.”
sidente da Associação de Comércio as sobre turismo apresentadas no painel Finalmente, o Presidente Souza Lima
III, durante o pronunciamento do Presi- manifestou seu agradecimento pelo inte-
Exterior do Brasil – AEB; e Jacob dente do Conselho de Turismo da Confe- resse e pela receptividade do público pre-
Moatshe, representante no Brasil do deração Nacional do Comércio – CNC, sente ao Seminário Bilateral de Comércio
Oswaldo Trigueiros Jr. “Reitero meu total Exterior e Investimentos Brasil – África
Departamento de Comércio e In- apoio a qualquer iniciativa para o incre- do Sul, e a certeza de que o evento trará
dústria da África do Sul. mento do turismo entre Brasil e África do muitos frutos para todos os presentes.

38 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


HOTELARIA

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 39


ESPECIAL

Reciprocidade relativa
hoje, o maior gerador de renda e emprego
entre todas as atividades internacionais; se-
gunda, que os Estados Unidos são o cam-
peão das viagens internacionais com a parti-
cipação de 61 milhões de viajantes por ano,
dos quais 4 milhões para a América do Sul,
sendo apenas 700 mil para o Brasil, em sua
maioria homens de negócios, de modo que,
atualmente, de cada sete turistas norte-ame-
ricanos que se dirigem à América do Sul ape-
nas um vem ao Brasil; e terceira, que o Brasil
tem uma nítida e inexplorada vocação turís-
tica, por suas belezas naturais, seu clima, suas
praias, a diversidade de sua cultura, seu povo
amável e acolhedor, podendo transformar
tudo isso em dólares e emprego.
O Ministério do Turismo, sob o coman-
do do competente empresário Walfrido
Mares Guia, está empenhado em fazer valer
essa vocação turística do Brasil, realizando
extraordinário esforço no sentido de trazer
ao País, até 2007, cerca de 9 milhões de visi-
Antonio de Oliveira Santos, presidente da Confederação Nacional do Comércio. tantes estrangeiros. Esse esforço, entretan-
to, está sendo desperdiçado em grande par-
Antonio de Oliveira Santos es- ao terrorismo internacional e à imigra- te pela desnecessária aplicação do “princípio
ção ilegal. de reciprocidade”,
teve presente no Seminário O Brasil revi- invocado pelo Bra-
de Comércio Exterior e Inves- dou, a nosso
equivocadamente,
timentos Brasil-África do Sul. aplicando o “prin-
ver, O Brasil
“tem uma
inexplorada vocação
turística, por suas
nítida

belezas
e sil. Evidentemente,
há nesta atitude um
sentido equivocado
Neste artigo, ele analisa obri- cípio da recipro- de soberania, que
cidade”, baseado naturais, seu clima, não está em jogo. O
gatoriedade de visto em passa- no Estatuto dos suas praias. A diversidade que está em jogo é
portes de norte-americanos, Estrangeiros de
de sua cultura e seu povo o interesse nacional
1980, segundo o de atrair maiores
canadenses e mexicanos, uma qual “poderá ser amável e acolhedor podem fluxos de turistas,
medida que tem prejudicado o dispensada a exi- transformar tudo isso em de gerar maior nível
turismo brasileiro gência de visto ao
turista nacional do
país que dispense
dólares e empregos

ao brasileiro idêntico tratamento”. A par-


” de renda para o se-
tor e criar milhares
de novos empregos
no mercado de trabalho nacional.
aís livre, democrático, sem dúvida tir de então as autoridades brasileiras, im- As razões que levaram os Estados Uni-

P a mais próspera democracia do


mundo, os Estados Unidos reagi-
ram com indignação à covarde agressão
puseram aos norte-americanos, inclusive
canadenses e mexicanos, a obrigatoriedade
burocrática de visto em seus passaportes.
dos a reforçar a vigilância em seu território
nada têm a ver com a pseudo -reciprocidade
invocada pelo Brasil. Simplesmente, porque
sofrida em 11 de setembro de 2001, au- Evidentemente, escaparam às autorida- é uma atitude de inexplicável retaliação, sem
mentando as exigências e o rigor nas con- des brasileiras três importantes considera- sentido prático, sem objetividade, obviamen-
cessões de vistos em passaportes, face ções: primeira, que o turismo representa, te contrária à política de turismo do Gover-

40 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


Breve perfil da
Confederação
Nacional do Comércio
Representante legal, máxima e
legítima do empresariado comerci-
al brasileiro, a Confederação Naci-
onal do Comércio – CNC foi fun-
dada a 4 de setembro de 1945 e é
reconhecida pelo Decreto 20.068
de 30 de novembro de 1945.
Defensora da democracia e da
economia de mercado, a CNC é
Antonio de Oliveira Santos cumprimenta a Embaixadora da África do Sul, Lindiwe Zulu, por uma entidade sindical e tem
ocasião do seminário realizado pela FCCE. como objetivo orientar, coorde-
nar, proteger e defender todas as
no brasileiro e visivelmente prejudicial aos atividades econômicas do comér-
interesses nacionais. cio, harmonizando-as com os su-
Por todas essas razões, entende a Con- periores interesses do País.
federação Nacional do Comércio, em A Confederação Nacional do
nome de cerca de 5 milhões de empresá- Comércio é responsável pela cria-
rios do setor, que faria bem o presidente ção, organização e administração,
Lula submeter proposta ao Congresso em âmbito nacional, do Serviço
Nacional, no sentido de flexibilizar a le- Social do Comércio (Sesc) e do
gislação que faculta a imposição de des- Serviço Nacional de Aprendizagem
necessárias restrições à entrada de estran- Comercial (Senac), instituições
geiros e de divisas no País. Sobram argu- privadas e sem fins lucrativos, re-
mentos ao Ministério do Turismo para
conhecidas por Decretos-leis. Jun-
convencer o Ministério das Relações Ex-
tas com a CNC, formam um siste-
teriores. O País só tem a ganhar. Lindiwe Zulu, João Augusto de Souza Lima e ma mantido integralmente pela
Artigo publicado em 24 de abril de 2006 Lenoura Schmidt, Chefe de Gabinete da classe empresarial do comércio,
no Jornal do Commercio presidência da CNC.
sem ônus para os empregados ou
para os cofres públicos.
O Sistema CNC está sintoni-
zado com os princípios e interes-
ses mais expressivos do país e
tem, no seu todo, posturas claras
e inequívocas nas áreas política,
econômica e social.
Visando o aprimoramento inte-
gral dos recursos humanos, a va-
lorização do trabalhador, o forta-
lecimento de uma sociedade de-
mocrática, próspera e livre, o Sis-
tema CNC é parte integrante da
vida brasileira, empenhando-se
continuamente pelos caminhos da
estabilidade, do desenvolvimento
A Embaixadora Lindiwe Zulu, os Ministros Marcio Fortes de Almeida e Ernane Galvêas, Lenoura Schmidt e econômico e da justiça social.
Antonio de Oliveira Santos trocam impressões a respeito do Seminário Brasil-África do Sul.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 41


TURISMO

Trem Azul
Uma janela para a alma da África do Sul
Para os brasileiros, “trem azul” é uma mudou oficialmente para The Blue Train e
música do Clube da Esquina, grupo de novos vagões dormitórios foram cons-
músicos mineiros que projetou Milton truídos especialmente para ele em 1972,
Nascimento e Beto Guedes. Para quem sendo depois reformados, em 1997. A li-
visita a África do Sul, o Trem Azul, ou The nha é administrada pela The South African
Blue Train, é o transporte ferroviário mais Railways, mas hoje em dia pertence à ini-
famoso do país, fazendo o trajeto entre a ciativa privada.
Cidade do Cabo e Pretória, de duas a três Os vagões mantêm o requinte de um
vezes por semana. hotel de luxo, com um clima perfeito para
Confortável e veloz, tem alto padrão mulheres românticas, casais apaixonados
de serviço, acomodações requintadas, e e homens misteriosos. O serviço é de pri-
oferece o prazer de desfrutar paisagens meira categoria, a gastronomia é ótima e
magníficas. O anúncio nas revistas sul-afri- há glamour de sobra.
canas diz tudo: “uma janela para a alma da O passageiro tem direito a aperitivo no
África do Sul”. quarto, toalete privativo, banho de banhei-

Como começou
Alguns vagões pintados de azul deram
origem a esta denominação, na primeira
metade do Século XX. Em 1946, o nome

42 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


Alguns vagões foram
especialmente
construídos para o
Trem Azul, cujas
instalações aliam o
luxo à elegância.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 43


TURISMO

As cabines do Trem
Azul são decoradas
com requinte e
possuem comodidades
modernas em matéria
de comunicação
e até mesmo uma
biblioteca.
A infra-estrutura e os
serviços de hotelaria
cinco estrelas
oferecem aos
passageiros uma
viagem inesquecível.

ra e um mordomo quase exclusivo. A ca-


bine é enorme, com decoração requinta-
da e algumas facilidades modernas como
aparelho de som, tv, DVD, telefone e ar
condicionado.

Culinária
As refeições são uma atração à parte:
de ostras a receitas kosher, para quem se-
gue as tradições judaicas, passando por
carnes exóticas, como a de impala, uma
espécie de antílope, rápido e elegante
como o The Blue Train. No vagão-restau-

44 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


rante, a carta de vinhos tem muitas op- do. A região tem algumas das minas mais
ções. Os viajantes não erram se optarem profundas que se conhecem, podendo
pelos produtos locais. Os vinhos sul-afri- chegar até a 4 mil metros de profundida-
Pelas janelas do
canos atingiram a excelência, em especial de. É uma boa oportunidade para conhe- trem, que parte da
os preparados com as uvas pinotage. cer o país.
Uma viagem nesta maravilha puxada A antiga locomotiva pode atingir 110 Cidade do Cabo
por uma locomotiva de 1956 dura o sufi- quilômetros por hora, mas, nesse caso, a e vai até Pretória,
ciente para manter a sensação de encanta- pressa é boa amiga da perfeição. Uma câ-
mento: no máximo duas noites para cada mara instalada no alto da locomotiva cap- desfilam algumas
roteiro. No trajeto, algumas das paisagens ta as imagens que são transmitidas em telão das paisagens mais
mais bonitas do mundo. no segundo vagão e revelam não só a rapi-
No roteiro de um dia e uma noite, há dez da máquina como a beleza da paisa- encantadoras do
uma parada em Kimberley, cidade que gem. Esse vagão, também chamado de continente africano,
preserva em suas construções a história carro de observação, é dotado de amplas
dos exploradores holandeses. Há visitas janelas e de todo o conforto, incluindo com destaque para
ao Museu da Mina de Diamantes e ao Big bar e biblioteca. A passagem custa 1.300 as savanas e os
Hole, uma enorme cratera que foi esca- dólares, mas vale a pena, especialmente
vada à mão pelos mineradores em busca no verão e, principalmente, para quem animais selvagens.
da pedra preciosa mais cobiçada do mun- gosta de sonhar.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 45


TURISMO

“Atividade turística brasileira


deve ser dirigida como empresa”
Confederação Nacional do Comércio investe em escolas, hotéis e veículos de
comunicação para desenvolver “indústria sem chaminés”
O Conselho de Turismo da Con-
federação Nacional do Comér-
cio – CNC é um órgão colegiado
que reúne dirigentes empresa-
riais, representantes do meio
acadêmico, jornalistas especiali-
zados, executivos de órgãos do
poder público, consultores e
especialistas da área. Criado
com a finalidade de discutir e
analisar as diretrizes para o de-
senvolvimento do setor no
país, tem se destacado como um
palco de debates e troca de ex-
periências na busca de soluções
para a modernização e o desen-
volvimento da atividade turísti-
ca do Brasil.
Na CNC, Oswaldo Trigueiros Jr. tem promovido uma ampla discussão em torno do tema.

Presidente do Conselho de Tu- que um grupo criou o Conselho de Turismo. cia. Sua principal plataforma é retomar a

O rismo da CNC, Oswaldo Tri-


gueiros Jr., falou à revista da
FCCE sobre o órgão iniciou suas ativida-
Muitos avanços e problemas, que hoje estão
acontecendo neste campo, foram previstos,
mas, infelizmente, pouco se fez para alterar o
política dos precursores, chamando para
este fórum de debates não só os técnicos
da área, mas representantes da sociedade
des quando aquela que atualmente é cha- quadro então vigente. Perdemos muito tem- civil que tenham contribuição a dar.
mada de “indústria sem chaminés” não ti- po, deixamos passar oportunidades precio- “Tenho convidado a participar conosco
nha a relevância que ostenta hoje. sas para colocar o turismo brasileiro no pata- das discussões, advogados, juristas, repre-
“O Conselho de Turismo da Confedera- mar de empresa que ele merece estar.” sentantes da indústria, da área cultural, de
ção Nacional de Comércio foi criado numa todos os segmentos sociais. Isso enrique-
época em que a atividade, no Brasil, ainda Sociedade civil ce o debate e amplia nossa percepção. Caso
engatinhava. Era, então, sinônimo de alegria, Em 2005, o Conselho de Turismo da contrário, as reuniões se resumiriam a pro-
de aperitivo; não tinha a importância que tem CNC completou 50 anos. Há dois anos blemas do dia-a-dia dos agentes de via-
hoje, de uma indústria. Foi neste contexto Oswaldo Trigueiros Jr. está na presidên- gem, como emissão de bilhetes, preço das

46 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


passagens e, certamente, não é este o pa- sua visão, é aquele que, além de buscar
pel do Conselho de Turismo. No ano pas- divertimento, viaja com a intenção de re-
sado, lançamos uma publicação bimensal almente conhecer outras realidades, ou-
que teve grande aceitação. Portugal já so- tros modos de vida.
licitou autorização e vai editar uma revista “Viajar para ficar num hotel e só sair para
semelhante, e a Espanha também quer fazer compras não é fazer turismo. Isso é
criar um conselho de turismo.” programa de ‘comprista’ que não traz ne-
nhum benefício ao setor. Não é bom para o
Transporte deficiente turista, que perde uma grande oportunida-
Segundo o presidente do Conselho de Iguaçu: a preferência dos estrangeiros.
Turismo, hoje a entidade tem uma ação
diversificada e trabalha com um único
objetivo: o engrandecimento do turismo.
Há, ainda, muito o que fazer para a mo-
dernização do mercado local. Mesmo os
técnicos da área ainda não têm a noção
exata da força do turismo como atividade
econômica. Oswaldo Trigueiros Jr. relata
um fato que, de certa maneira, ilustra esta
deficiência.
“Recentemente participei de um debate
no qual alguém sugeriu que o transporte O Parque Nacional da Tijuca é o mais procurado por brasileiros.
nas rotas internas do Brasil fosse explorado
por empresas internacionais. Na ocasião, de de ampliar seus
perguntei ao proponente deste absurdo: ‘e, conhecimentos,
neste caso, onde é que fica a soberania do nem para o país vi-
Brasil?’ Nenhum país deixa uma empresa sitado, pois certa-
internacional explorar o transporte domés- mente esta pessoa
tico. Por que é que nós vamos deixar que não será um bom
isso aconteça? As rotas em nosso território veículo de publici-
têm que ser exploradas por companhias na- dade, uma vez que
cionais. Caso contrário, seria o mesmo que pouco poderá dizer
entregar a Amazônia ou o Pantanal.” a respeito do país
O Conselho de Turismo tem como fi- visitado. Este é um
nalidade propor, a partir de sugestões vin- turista que só traz
das da sociedade, soluções para as entida- benefício para o
des de classe e para a CNC, que, segundo comércio local, um
Oswaldo Trigueiros Jr., “é um centro de retorno de curto Ouro Preto: uma jóia encravada nas montanhas de Minas Gerais.
turismo fantástico. A Confederação Naci- prazo.Ao contrário,
onal do Comércio, hoje, faz muito mais o visitante que se comunica, que quer co- estados brasileiros, principalmente na área
pelo turismo do que se pensa, pois além nhecer a história, que se deslumbra com as cultural. Ele pretende que cada um apre-
de hotéis, mantém escolas que promo- belezas naturais, com as origens, com o en- sente um documento com a relação do que
vem cursos voltados para a especialização canto do povo, este, sim, é o visitante que existe de mais representativo em matéria
da mão-de-obra. Tem, também, emisso- nos interessa. Este é aquele que sai daqui e de características marcantes, influência cul-
ras de televisão que muito contribuem fala para os amigos e recomenda os lugares. tural, comércio, gastronomia e música.
para a promoção e a divulgação do setor.” A cultura aproxima os povos e facilita até “Quero que cada estado prepare seu
os entendimentos comerciais. Quando os dossiê. Depois, vou realizar um encontro
Turismo é cultura empresários compreenderem isso, vão para discutir os temas apresentados e ela-
Para Oswaldo Trigueiros Jr., quem vi- valorizá-la como mola propulsora de bons borar um documento que será encami-
aja por lazer também realiza uma atividade negócios.” nhado ao Ministério do Turismo. Este é o
envolvida com a cultura. Quem sai de seu Segundo Oswaldo Trigueiros Jr., uma papel do Conselho de Turismo, e, assim,
país, conversa, ouve, adquire e transmite de suas próximas metas no Conselho de esperamos contribuir de forma efetiva
conhecimento. O verdadeiro turista, na Turismo será trabalhar para agregar mais os para o aprimoramento do setor.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 47


TURISMO

The Palace: o único hotel seis


estrelas em todo o mundo
Inspirado numa antiga lenda, magnata sul-africano da hotelaria
reconstrói cidade e ergue um palácio digno de príncipes e reis.
Hospitalidade majestosa, piso coberto
por 15 mil metros de tapete, hall principal
inspirado na Capela Sistina. Cada suíte com
mais de 800 peças de artesanato africano. A
decoração é exótica, com detalhes minuci-
osamente planejados e desenhados: mural,
parapeito, fechaduras, abajures, lustres, pal-
meiras desidratadas na entrada, grandes mo-
saicos feitos com pedras preciosas, afrescos
e grossas colunas entalhadas com elefan-
tes, antílopes, leopardos, leões e pássaros.
Cachoeira, praias e mar artificiais.
The Palace Hotel faz jus ao nome. É um
verdadeiro palácio e o único hotel seis estre-
las do mundo. Uma lenda local conta que na
região havia uma cidade com um grande pa-
lácio, construído para o rei de uma antiga
civilização do norte da África, que escolhera
aquele vale para viver com sua corte. Um
terremoto destruiu a cidade real, deixando
apenas lembranças no imaginário coletivo.
Inspirado nesta história, o magnata sul-
africano da hotelaria, Sol Krezner, especia- O complexo turístico tem
lista em construir complexos turísticos quatro hotéis, teatros,
temáticos, se apropriou da fantasia, desco- cinemas, restaurantes,
brindo e reconstruindo a cidade e o palácio,
que se transformou numa verdadeira lenda shoppings e diversas quadras
contemporânea. Assim surgiu o resort de Sun para prática de esporte.
City and The Lost City, um gigantesco com- Na decoração exótica uma
plexo de lazer e hospitalidade, cuja maior mistura de luxo com
atração é o The Palace Hotel. Conhecê-lo é
uma experiência inesquecível. Nada mais
imagens de animais
chique do que hospedar-se nele. selvagens africanos.
Piscinas com ondas de até
Floresta dois metros ou aquecidas
Sun City fica na província de North
e uma cachoeira
West, a cerca de 200 quilômetros de
Johannesburgo. O complexo conta com deslumbram o visitante,
completa infra-estrutura e um luxo para que também pode tentar
milionário nenhum botar defeito. Há qua- a sorte no cassino.
tro excelentes hotéis, teatros, cinemas, res-

48 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


dos poucos clubes do mundo com dois
campos de golfe de 18 buracos. Conta, tam-
bém, com instalações que permitem a so-
brevivência de pássaros silvestres em con-
dições semelhantes ao seu habitat natural,
além de um zoológico com filhotes de
animais africanos. Os hóspedes do com-
plexo turístico podem fazer safári fotográ-
fico, com direito a um encontro com os
Big Five: elefantes, leões, rinocerontes, hi-
popótamos e leopardos.
Idealizado, desenhado e construído em
apenas dois anos o The Palace Hotel é uma
exibição impressionante do poder da
criatividade humana. Foi erguido bem de-
pois da inauguração das primeiras instalações
taurantes (um deles o Brazilian Coffe Shop), do complexo hoteleiro. Na época, o com-
aldeias com lojas de grifes famosas, 11 qua- plexo era exclusividade de milionários bran-
dras de tênis, quadras de squash, esportes cos e se transformou em símbolo da segre-
aquáticos, seis grandes piscinas (uma gação racial do país. Nos anos 80, no auge da
aquecida e outra com ondas de até dois luta contra o apartheid, e quando o Palace
metros), rio e cachoeiras, praia, tobogãs, ainda nem existia, Bob Dylan chegou a gra-
trampolim, spas e centro de convenções. var a música “Sun City”, pedindo aos turistas
A floresta tropical que circunda o com- que boicotassem o local. Com os novos tem-
plexo também surgiu da imaginação hu- pos, o centro de entretenimento deixou de
mana: na verdade, originalmente ela era uma ser exclusividade de milionários, mas mes-
savana, uma formação natural parecida com mo assim, uma diária no Palace, o único que
o cerrado brasileiro, formada por árvores dá acesso a todas as atrações do complexo,
retorcidas, arbustos e grama. Hoje, o luxu- custa cerca de US$ 350 nos apartamentos
riante National Park em torno do hotel é a comuns. Hospedar-se numa suíte pode cus-
quinta reserva natural do país, e abriga um tar quase US$ 4 mil por dia.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 49


CULTURA

FCCE
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimentos


Calendário 2006

20 de fevereiro RÚSSIA

20 de março ÁFRICA DO SUL

24 de abril FRANÇA

22 de maio PERU

19 de junho PORTUGAL

17 de julho CHINA

21 de agosto PANAMÁ

18 de setembro SUÉCIA

23 de outubro ESPANHA

13 de novembro FINLÂNDIA

11 de dezembro ALEMANHA

50 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


HOTELARIA

Hotel Senac Grogotó. Hotel Grande Hotel São Pedro.

Grande Hotel Campos do Jordão. Hotel Ilha do Boi.

Hotéis-escola Senac Os Hotéis-Escola do Senac


• Hotel Ilha do Boi
Vivência de trabalho em ambiente de ensino Vitória – Senac/ES
• Hotel Senac Grogotó
Barbacena – Senac/MG
O crescimento e a modernização da dar esse crescimento, o Senac, além de
• Hotel Grande Hotel São Pedro
rede hoteleira nacional são hoje pilares do algumas centenas de cursos de qualifica-
Águas de São Pedro – Senac/SP
desenvolvimento do turismo no Brasil. Ao ção, habilitação e aperfeiçoamento, man-
lado de grandes complexos hoteleiros, tém seis hotéis-escola. • Grande Hotel Campos do Jordão
multiplicam-se no país estabelecimentos São instalações de primeiro nível, onde Campos do Jordão – Senac/SP
de pequeno e médio portes, financiados o aluno tem oportunidade de aprender ao
• Hotel Senac Guaramiranga –
por empreendedores nacionais. mesmo tempo em que vivencia situações
Escola de Turismo e Hospitalidade
O sucesso desses novos empreendi- reais de trabalho. Para o cliente, os hotéis-
Guaramiranga – Senac/CE
mentos hoteleiros está condicionada à escolas representam uma oportunidade
qualidade dos recursos humanos empre- de desfrutar serviços de qualidade, com • Hotel-Escola Senac Barreira Roxa
gados. Disposto a acompanhar e respal- padrão Cinco Estrelas. Natal – Senac/RN

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 51


INTERCÂMBIO

Investir no comércio melhora a


qualidade de vida da população
Metas da ONU para o milênio estimulam o desenvolvimento de programas
habitacionais em todo o mundo e a troca de experiências no setor
Novos países começam a abrir
caminhos e a se destacar no âm-
bito do comércio internacional.
Do entendimento entre eles sur-
gem novos cenários e situações de
intercâmbio. O Ministro de Es-
tado das Cidades, Marcio Fortes
de Almeida, em entrevista con-
cedida durante o Seminário Bi-
lateral de Comércio Exterior e
Investimentos Brasil-África do
Sul, fala da grande possibilidade
de troca de experiências entre
Brasil, África do Sul e Índia e dos
acordos que estão sendo firma-
dos com estes países.
O ministro alertou para o grave
problema do déficit habitacional,
e relacionou os diversos itens en-
volvidos nas medidas relativas à O ministro considera os temas de inclusão social relevantes para o comércio internacional.

qualidade de vida e de habitação Gostaria que o senhor falasse do urbanismo e habitação. Esse caminho de
para as populações carentes, tais acordo, que já está em andamen- entendimento é a base do chamado
to, entre o Brasil e a África do Sul. Fórum IBAS (sigla formada pelas iniciais
como materiais de construção Qual o seu teor e que setores vai de Índia, Brasil e África do Sul), consti-
duráveis, saneamento, asfalta- beneficiar? tuído por países que têm muitas experi-
mento, energia e transporte, MF – Conforme me referi na abertura ências a trocar e grande possibilidade de
do seminário, existem vários acordos. Na canalizar medidas e recursos para outras
com as possibilidades de investi- minha área, especificamente, há um acor- nações que enfrentam o problema deli-
mento industrial e de comércio. do que assinamos com a África do Sul, cado do déficit habitacional; uma das
As metas do milênio estimulam em Nova Iorque, em setembro de 2006, metas estabelecidas pela ONU para o
objetivando a troca de informações, de milênio.
o desenvolvimento de progra- experiências e, também, a definição de Fizemos esta reunião em Nova Iorque
mas habitacionais em todo o possíveis instrumentos a serem adotados com o objetivo, ainda, de buscar o aper-
mundo. futuramente pelos governos na área de feiçoamento de mecanismos nas áreas fi-

52 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


mas de inclusão social que são objeto de MF – Hoje em dia, quando se fala em
Pequena biografia do ministro discussão entre os três países, incluindo resolver o problema das favelas, ou seja,
Marcio Fortes de Almeida revela, desenvolvimento, micro-crédito, tecno- habitações em assentamentos precários
em sua trajetória profissional, uma logia, e questões de gênero e inserção ra- ou muito precários, como é o caso de
versatilidade exercida entre os dife- cial, além de questões comerciais. Em re- várias áreas nas grandes e médias cida-
rentes setores da administração pú- lação à Índia, o acordo com o Brasil está des, é preciso enfrentar, eventualmente,
blica brasileira. em andamento: já passou pela Câmara e o problema da remoção, seja por ques-
• Diplomata e Advogado está no Senado. Em relação à África do tões de risco ambiental ou por questões
• Doutor em Direito Público pela Sul, há uma negociação em curso para fe- específicas de urbanização. Isto implica
Faculdade Nacional de Direito chamento de um acordo deste país com o na retirada e transferência de famílias de
Mercosul, mas ainda está numa etapa an- determinada área para outra região, onde
• Ministro de Estado das Cidades terior, pois envolve, da parte brasileira, têm que estar assegurados não apenas
• Secretário Executivo e Ministro discussões sobre temas importantes, itens como saneamento, água e esgoto,
interino do Ministério do Desenvol- como o setor automobilístico. Do lado da mas também o fornecimento de energia
vimento, Indústria e Comércio Ex- África do Sul, há certos pleitos na área elétrica e de transporte. Ou seja, quando
terior pesqueira e, ainda, discussões sobre defi- se fala na solução do problema de habi-
• Secretário Executivo e Ministro in- nições de regras de origem. Esse acordo tação e das favelas, tem que se pensar na
terino do Ministério da Agricultura ainda não está pronto para ser assinado. As implantação de linhas de ônibus e trens
Pecuária e Abastecimento discussões continuam, mas espero que ele de superfície, o que significa grandes in-
• Secretário Executivo e Ministro in- possa ter o tratamento rápido que foi dado vestimentos a serem feitos.
terino do Ministério de Minas e ao caso da Índia. É bom ressaltar, no en- Não é fácil resolver o problema das
Energia tanto, que no acordo com a Índia o núme- favelas, pois não é simplesmente uma
ro de imposições aduaneiras colocadas não questão de colocar casas em outro lugar.
• Presidente e membro do conselho foi tão alto quanto se esperava, mas, de Toda a infra-estrutura tem que ser dada,
das seguintes empresas: qualquer maneira, é importante que o pri- senão as pessoas não fixam residência e
Furnas, Light, Eletrosul, Eletrobrás, meiro passo já tenha sido dado. continuam morando debaixo da ponte,
Companhia Siderúrgica Nacional - pois estarão mais próximas das ofertas
CSN, Itaipú Binacional, Companhia Com a sua vivência na área, o senhor de serviços e do local de trabalho. Além
Docas do Rio de Janeiro, Companhia considera que o comércio exterior disso, distâncias grandes implicam na
Docas de Imbituba, Embrapa, Conab, tem alguma interface com a ques- perda de muitas horas por dia apenas
Codevasf, CEASA MG, Casemg, tão habitacional? com locomoção.
Ceagesp, Banco da Terra, Senar,
BNDES, Finame, CBTU,TRENSURB,
TVE (Roquette Pinto)
Cônsul Honorário quer mais
nanceira e orçamentária dos países envol-
vidos, para que os resultados das ações de intercâmbio cultural e comercial
enfrentamento do problema sejam mais
visíveis. Isto, porque alguns desses países
Um país com grande diversidade humana e paisagística
consideram que as metas colocadas no que tem tudo para encantar os brasileiros
perfil do milênio são, até certo ponto,
modestas diante do preocupante cresci- om Philippe Tasso de Saxe-Coburgo de humor, que alguns brasileiros ainda con-
mento dos problemas relacionados à ha-
bitação e ao saneamento.
D e Bragança, Cônsul Honorário da Áfri-
ca do Sul no Rio de Janeiro e membro vita-
fundem o Sul da África com a África do
Sul: “muitas vezes recebo telefonemas de
lício do Conselho Superior da Federação pessoas querendo obter informações so-
Problemas comuns como o comba- das Câmaras de Comércio Exterior – bre outros países da região, pensando tra-
te à pobreza e ao déficit habitacional FCCE, destaca, entre os bons resultados tar-se de uma representação do continente
concorreram para a aproximação do seminário, a aproximação entre os dois africano. Naturalmente, sou obrigado a ex-
entre Brasil e África do Sul? países e o conhecimento mais amplo da plicar a diferença”.
MF – Nós tivemos no ano passado, aqui África do Sul por parte dos brasileiros. “O
no Brasil, um seminário com a Índia e a mais importante”, diz ele, “é que a África do Diversidade
África do Sul tratando de desenvolvimen- Sul passa a ser mais divulgada e conhecida “A África do Sul”, diz ele, “é um país
to e eqüidade social. Existem vários te- aqui no Brasil”. Ele revela, com uma ponta com grande diversidade paisagística, cul-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 53


INTERCÂMBIO

tural e de clima, que vai do temperado ao turístico na África do Sul. O desconheci-


tropical. É um mundo em um país, como mento também vale para a maioria dos bra-
gostam de dizer os sul-africanos. A infra- sileiros, que imaginam a África do Sul ape-
estrutura é muito boa e as auto-estradas nas como um lugar quente com muitos
são maravilhosas. Tem, obviamente, po- animais selvagens. Johannesburgo, por
breza. Isto porque, depois que acabou o exemplo, uma das principais cidades sul-
apartheid, houve muita imigração e as fron- africanas, verdadeira metrópole, fica a 2.000
teiras foram praticamente abertas. Em dez metros de altitude, na mesma latitude de
anos, a população passou de 28 milhões Santa Catarina. Faz tanto frio lá como cá.
para 44 milhões de pessoas. Veio gente de A África do Sul é o Sul da África.Tem o
Ruanda, da Nigéria e de outras regiões. privilégio de ser banhada por dois ocea-
Pensavam: ‘É um país rico, vamos pra lá’. nos. Do lado Oeste, de frente para o Bra-
Inicialmente, foram recebidos de braços sil, é banhada pelo Atlântico. Do lado Leste,
abertos, mas, depois, as autoridades che- pelo Oceano Índico, através do qual esta-
garam à conclusão de que era necessário beleceu poderosa corrente de comércio
controlar esse fluxo migratório, porque com a Índia, que fica mais ao Norte.
recebíamos muitas pessoas sem uma liga- A Oeste, no extremo Sul do continen-
ção definida com o país e sem a qualifica- te africano, justamente onde se encontram
ção mínima necessária para participar do o Atlântico e o Índico, no Cabo das Tor-
seu processo de desenvolvimento.” mentas (aquele que depois de vencido pe-
Da cultura holandesa dos primeiros los navegadores portugueses foi chama-
colonizadores, muita coisa ainda sobrevi-
ve na moderna África do Sul. “Para come-
çar, há o africâner, a língua que a maioria
dos brancos utiliza, ainda que o inglês es-
“Ao contrário
do que muitos
do de Cabo da Boa Esperança) está Cape
Town, a Cidade do Cabo. Localiza-se na
latitude correspondente à do Rio Grande
do Sul, castigada pelas frentes frias que
teja adquirindo um lugar cada vez mais
brasileiros pensam, vêm da Antártica,
importante. Muitas das grandes fazendas nunca houve Do ponto de vista comercial, o cônsul
da Província do Cabo estão ligadas a essa honorário da África do Sul concorda com
escravidão


cultura. Tudo isso continua”. a Embaixadora Lindiwe Zulu sobre a ne-
Durante muito tempo, Dom Philippe na África do Sul cessidade de estreitar as relações bilate-
teve negócios com a África do Sul, expor- rais: “o Brasil não é conhecido na África
tando produtos como doces e balas. Com DOM PHILIPPE TASSO DE do Sul e o Brasil não conhece a África do
S A X E -C O B U R G O E B R A G A N Ç A
o fim do apartheid e o fechamento do con- Sul. É um problema cultural. Se, por um
sulado geral no Rio de Janeiro, foi convi- lado, o empresário sul-africano sempre
dado a assumir como cônsul honorário. tamente diferentes, culturalmente, dos buscou relacionar-se com países como
“Eu aceitei e tomei posse no primeiro na- povos que migraram para o Brasil, força- Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos,
vio de guerra sul-africano que obteve li- damente, como aqueles que vieram de mantendo, também, algum comércio
cença para entrar no porto do Rio de Ja- Angola, Guiné e Nigéria. Por isso, não há com a Ásia, especialmente com a Índia,
neiro, em 1993, quando começaram as contato cultural. Aliás, esta é uma aproxi- por outro, há alguns setores em que Bra-
mudanças na África do Sul”, lembra. mação que nós estamos querendo sil e África do Sul são concorrentes, como
incrementar.” Mesmo a música, muito boa frutas e flores, por exemplo.”
Cultura negra segundo ele, é diferente da nossa. “Os rit- Dom Philippe acredita que um dos
Apesar de grande parte da população mos são diferentes. É uma cultura bem caminhos para vencer este desconheci-
brasileira ser de afro-descendentes, não diversa das que conhecemos.” mento mútuo é incrementar o intercâm-
há qualquer ligação entre as etnias negras bio cultural e o turismo. “Começa a haver
do Brasil e as da África do Sul. Por uma Potencial turístico um intercâmbio de estudantes, mas tudo
razão simples, mas que poucos brasilei- Turistas sul-africanos no Brasil são pou- muito incipiente”, revela. Ele classificou a
ros conhecem: nunca houve migração da cos, embora os sul-africanos do pós- iniciativa da Federação das Câmaras de
África do Sul para o Brasil, como ensina apartheid, com maior poder aquisitivo, es- Comércio Exterior como muito impor-
Dom Philippe. tejam começando a viajar em massa. Al- tante para a aproximação entre Brasil e
“Ao contrário do que muitos brasilei- guns vêm especialmente por causa do car- África do Sul. “Temos que prestigiar e con-
ros pensam, nunca houve escravidão na naval ou para visitar a Amazônia, mas o Bra- tinuar a fazer eventos como esse seminá-
África do Sul. Os povos de lá são comple- sil é muito pouco conhecido como destino rio”, afirmou.

54 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


TENDÊNCIA

“Já há uma cultura exportadora


entre empresários brasileiros”
Obter receita com exportações é estratégia de muitas companhias brasileiras

Fábio Martins Faria considera promissora a busca das empresas brasileiras por uma participação no mercado internacional.

“As exportações brasileiras têm do Desenvolvimento, Indústria e Como o MDIC está vendo os resul-
tados da política de exportação
revelado um crescimento excep- Comércio Exterior – MDIC.
brasileira no primeiro semestre de
cional nos últimos anos, mas as im- O diretor mescla o realismo 2006?
portações também crescem a um fornecido pelos dados estatísticos FMF – Os dados têm demonstrado que
ritmo acelerado, indicando um ao otimismo de quem conhece os as exportações brasileiras continuam com
enorme vigor, ao contrário do que se po-
maior equilíbrio na balança co- meandros do comportamento do dia esperar, em função de ter havido uma
mercial, o que é muito saudável setor. Ele relativiza, junto aos ex- apreciação muito grande da nossa moeda.
para o nosso comércio exterior.” portadores, os impactos da valo- Hoje, estamos divulgando dados que re-
É o que afirma nesta entrevista rização do real, porque conside- velam um crescimento excepcional; mas
as importações também estão crescendo
Fábio Martins Faria, Diretor do ra, entre outros fatores, o câm- a um ritmo bastante acelerado, o que é
Departamento de Planejamento bio atual como uma tendência de muito saudável para o nosso comércio
e Desenvolvimento do Ministério curto prazo. exterior.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 55


TENDÊNCIA

Com o aumento das importações dendo, cotado na moeda estrangeira. O mentalidade exportadora está se
brasileiras, estaríamos perto de MDIC está avaliando os impactos dessa consolidando no Brasil?
atingir o equilíbrio nas nossas rela- apreciação da nossa moeda, mas temos que FMF – As exportações brasileiras vêm
ções comerciais, ou isso varia de entender que isso não afeta, de forma ge- crescendo seguidamente desde 2002. De
acordo com cada setor e com cada neralizada, os exportadores. 2003 até agora, acumulamos um saldo co-
grupo de produtos? mercial acima de US$ 100 bilhões, com
FMF – O grande objetivo da política para
o comércio exterior brasileiro é que haja
um crescimento nos dois pratos da balan-

A meta de exportação
de US$ 132 bilhões,
para 2006, é factível
crescimento simultâneo de importação.
O país dobrou as suas exportações, que
totalizavam, na ocasião, US$ 62 bilhões e,
ça. Até o ano passado, as exportações vi- no ano passado, chegaram a US$ 118 bi-
nham crescendo num ritmo mais acelera- porque tivemos um crescimento lhões. Eu vejo que as empresas, hoje, têm
do do que as importações. Em 2006, os como estratégia comercial tornarem-se
de 19% nas exportações


dados acumulados de janeiro até a terceira mais competitivas, buscando uma sobre-
semana de março mostram as importa- nos primeiros meses do ano vivência de longo prazo, procurando cres-
ções crescendo 25% e as exportações FÁBIO MARTINS FARIAN cer e ampliar mercados.
19% em média. São ritmos bastante in- Atualmente, para que uma empresa
tensos, que nos deixam muito animados Alguns setores que têm seus custos seja competitiva no mercado interno,
com relação ao que está projetado para integralmente definidos em reais são ela também tem de procurar participar
este ano. muito afetados. Estes setores utilizam do mercado internacional. Percebe-se
O Ministro Luiz Fernando Furlan anun- muita mão-de-obra e compram todas que a maior parte das empresas que es-
ciou, no início do ano, que a nossa meta as suas matérias-primas internamente. tão hoje exportando definiram como
de exportação pra 2006 é de US$132 bi- Já outros setores têm parte dos seus estratégia obter uma parte da sua recei-
lhões. No ano passado, o Brasil exportou custos em componentes importados ou ta com exportações. Isso permite a elas
US$ 118 bilhões. pagam um preço de commodities, como ganhos de eficiência, porque o produto
os de intensa tecnologia. É o caso da vai se tornar competitivo no exterior.

“ O objetivo de uma política


saudável para o comércio
exterior brasileiro é que
indústria de aviões, cuja importação é
muito forte. Assim, quando existe um
custo considerável em moeda estran-
Com isso, a empresa estará testando não
só a modernidade de sua tecnologia,
como também a aceitação e a afirmação
geira, o produtor ganha com o que im- de seu produto em mercados interna-
haja um crescimento porta. Além disso, muitas empresas fo- cionais. Assim, ela poderá minimizar os
nos dois pratos da balança
FÁBIO MARTINS FARIAN ” ram beneficiadas por uma conjuntura
internacional bastante favorável. É o caso
do setor siderúrgico que teve um cres-
cimento forte nas cotações dos seus
efeitos de câmbio e os efeitos con-
junturais do mercado interno, porque
terão parte da sua receita vinda do mer-
cado externo.
O senhor considera que temos produtos. Algumas commodities agríco-
condições de alcançar a meta
estabelecida?
FMF – Essa meta significa um crescimen-
las também tiveram seu preço bastante
elevado. Muitos manufaturados também
conseguiram fazer um reajuste nos seus
“ O ministério está avaliando
os impactos da valorização
do real, mas esta tendência
to de 12% nas exportações em relação ao preços para compensar, em parte, a
ano passado. Como estamos crescendo apreciação da nossa moeda. Além disso, é provisória e não afeta
este ano a uma média de 19%, acho que muitas empresas, sobretudo as de mai- de forma generalizada


ela é perfeitamente factível. or porte, conseguem antecipar as suas
divisas e aplicar no mercado interno,
as empresas exportadoras
Alguns analistas financeiros dizem diminuindo dessa forma o efeito da va- FÁBIO MARTINS FARIAN
que, se o dólar se aproximar de lorização do câmbio.
R$ 2,00, isto poderá afetar a nossa Eu vejo como uma realidade bastante
política de exportações. Isto é ver- Esse nosso esforço exportador já promissora a busca das empresas por uma
dade ou os efeitos da valorização vem de vários anos, e tem tido ex- participação no mercado internacional. Já
da nossa moeda são relativos? celentes resultados. Ele está de fato existe uma cultura exportadora no Brasil.
FMF – Sem dúvida a valorização do real é se consolidando, ou ainda está su- O que é conjuntural é essa valorização do
preocupante, porque significa que o ex- jeito a perturbações provenientes real, que eu considero uma tendência de
portador está recebendo um valor me- de mudanças na conjuntura interna curto prazo, que a médio e longo prazos
nor, em real, pelo produto que está ven- ou externa? O senhor diria que a não persistirá.

56 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


EM PAUTA

FCCE nasceu antes do início da


Segunda Guerra Mundial
Embora 19 de agosto de 1950 seja con-
siderada, em termos históricos e esta-
tutários, como a data da fundação da Fe-
deração das Câmaras de Comércio Ex-
terior – FCCE (neste dia, o empresário
João Daudt de Oliveira registrou oficial-
mente o estatuto, que permanece com
pequenas alterações, em vigor até hoje),
na realidade a atual FCCE é a sucessora da
Federação das Câmaras de Comércio Es-
trangeiras, cuja Ata de Constituição re-
monta ao dia 5 de abril do ano de 1932.
Em 1932, a cidade do Rio de Janeiro,
então risonha e franca, ainda era a capital
da República. Naquele ano, por iniciativa
da Câmara Portuguesa de Comércio e In-
dústria do Rio de Janeiro,Vitorino Moreira
assumiu a primeira presidência desta Fe-
deração, que foi composta pelas câmaras
bilaterais então existentes e, também, por
representações diplomáticas sediadas na
capital do país.
A Federação das Câmaras de Comér-
cio Estrangeiras teve seus trabalhos inter-
rompidos diante da eclosão da Segunda
Guerra Mundial, porque faziam parte
dela, como seus fundadores e membros
da diretoria, empresários da CâmaraTeuto-
Brasileira e da Câmara Italiana, entidades
que representavam oficialmente a Alema-
nha e a Itália, países membros do Eixo, ao
qual os países aliados declararam guerra.
Evidentemente, por uma questão de pru-
dência e habilidade, os dirigentes da Fe-
deração interromperam seus trabalhos,
aguardando o desfecho do insensato con-
flito mundial que ceifou milhões de vidas
e deu grandes prejuízos à atividade comer-
cial da época.
Como curiosidade, reproduzimos aqui
parte de documentos históricos sobre a
Federação que antecedeu a FCCE. Esta
documentação reforça a atual FCCE como Os estatutos informam sobre os objetivos da Federação das Câmaras de Comércio
a mais antiga associação de classe nacional Estrangeiras no Brasil. Entre os fundadores, o português Vitorino Moreira, seu primeiro
relacionada com o comércio exterior. presidente. Muitos países foram aderindo à Federação criada em 1932.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 57


EM PAUTA

Documentos da época tratam da


permissão para os membros da
Federação das Câmaras de
Comércio Estrangeiras no Brasil
entrarem nos navios atracados
no Porto do Rio de Janeiro.

58 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


EDUCAÇÃO

Uma proposta
pedagógica
inovadora Centro educacional do SESC LER.

de do Norte, Rondônia e Roraima o pro-


jeto também engloba o “Habilidades de
Estudo”, cujo foco principal é o reforço
escolar em horário extra-curricular. Este
projeto está centrado preferencialmente
no atendimento às crianças de 2º ciclo que
apresentem distorção em relação à ida-
de/série. A proposta educativa baseia-se
em práticas sociais de leitura e escrita que
vêm garantindo o êxito desses alunos e
sua permanência no processo escolar.
Na área da Saúde, o SESC LER conta
com o apoio do projeto OdontoSESC,
consultórios móveis que oferecem trata-
mento odontológico e ações educativas
de prevenção. As deficiências visuais que
afetam freqüentemente o desempenho
escolar são acompanhadas pelo projeto
VER PARA APRENDER, no qual os alu-
foco do SESC LER é o exercício atualização, contribui também para a for- nos passam por exames oftalmológicos e,

O da cidadania. Além dos limites da


sala de aula, o projeto estimula nas
comunidades onde atua a valorização da
mação continuada dos professores da rede
pública e privada.
Os Centros Educacionais funcionam
quando necessário, recebem óculos para
correção da deficiência visual.
Os Centros Educacionais difundem a
escrita e da leitura como formas saudáveis em construções adaptadas às característi- cultura e a integração da comunidade, re-
de convívio social. O projeto busca a cas de cada região. Cada Centro tem três alizando torneios e gincanas, festivais de
integração de atividades de escolarização salas de aula, campo de esporte e sala de música, mostras de filmes e artes plásti-
de jovens acima dos 15 anos e adultos de leitura contendo um acervo diversificado cas, em parceria com o projeto ArteSESC.
baixa renda do interior do Brasil com com obras literárias e livros técnicos ne- Os cursos de culinária - pães, doceria; ce-
ações que o SESC já desenvolve nas áreas cessários à formação continuada dos pro- râmica, cabeleireiro, cestaria, piscicultu-
de saúde, cultura e lazer. Os alunos têm fessores. As salas de leitura são equipadas ra, organização de cooperativas e tantos
acesso não só às salas de aula como tam- ainda com televisão, antena parabólica e outros, são ministrados por voluntários
bém às salas de leitura, que dispõem de videocassete. ou por instituições parceiras como o
um variado acervo, além de outros espa- Um dos destaques do SESC LER deve- SENAC, o SEBRAE e a EMBRAPA, e pro-
ços próprios para atividades esportivas, se ao grau de interiorização geográfica que porcionam alternativas de geração de ren-
culturais e de atendimento à saúde. o projeto oferece em termos de educa- da e a plena cidadania dos moradores das
Pólos irradiadores de cultura e ponto ção, representando um trabalho verdadei- comunidades.
de encontro das comunidades, os Cen- ramente pioneiro de oferta de serviços O SESC LER conquistou o reconheci-
tros Educacionais do SESC LER estão pre- educacionais gratuitos às comunidades mento da UNESCO, em abril de 2005, o
sentes em 66 municípios de 18 estados. mais distantes, como por exemplo, desde que representa um aumento da credi-
O projeto, criado em 1999, parte da alfa- o extremo norte, Laranjal do Jarí - AP ao bilidade pelo trabalho desenvolvido com a
betização de jovens e adultos para assumir sul do país, em Caçador - SC. abordagem de temas sociais de relevância
um novo conceito em educação e cidada- Nos estados do Acre, Amazonas, para a educação de todos, da formação con-
nia. Por meio de seminários e cursos de Amapá, Ceará, Maranhão, Pará, Rio Gran- tinuada de professores e da inclusão social.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 59


NEGÓCIOS

Parceiros políticos e econômicos


Cônsul econômico acredita que corrente comercial pode se beneficiar de
entendimentos que vêm sendo desenvolvidos na área política
to, vivemos uma fase de grande desnível
da balança comercial e, especialmente por
este motivo, temos muitoo que negociar.
É preciso trabalhar para diminuir a dife-
rença entre as exportações brasileiras para
a África do Sul e vice-versa, cifra que no
ano passado ultrapassou US$ 1 bilhão.”
Este déficit está aumentando muito,
mas, segundo o cônsul, a responsabilida-
de é mais da África do Sul que, por falta de
uma política específica, acabou perdendo
oportunidades importantes de ampliar
seu comércio com o Brasil.

“ Um dos problemas mais


difíceis são as altas tarifas
de importação e o custo Brasil,
que é muito elevado

J A C O B M OAT S H E N

“As exportações brasileiras cresceram


muito nos últimos anos e a África do Sul
estava voltada para outros mercados. Na
verdade, não esperávamos esta mudança
tão rápida, pois, até 1997, a balança co-
mercial era favorável aos produtos sul-
africanos. Naquele ano, a diferença era de
cerca de US$ 400 milhões em favor da
África do Sul. Com o crescimento do
Jacob Moatshe acredita que o diálogo abrirá as portas para equilibrar o comércio bilateral. mercado do Leste Europeu, os sul-afri-
canos acabaram esquecendo um pouco os
ompartilhando de uma visão co- cio e Indústria da África do Sul – DTI, Jacob negócios com a América Latina.”

C mum em organismos internacio-


nais como a Organização Mundial
do Comércio – OMC e a Conferência das
Moatshe, que participou do Seminário Bi-
lateral de Comércio Exterior e Investimen-
tos Brasil-África do Sul, promovido pela
Parcerias
“Por meio dos fóruns e organismos
Nações Unidas sobre o Comércio e De- FCCE. Prova disso, segundo ele, são os en- internacionais, como o IBAS e a OMC,
senvolvimento – UNCTAD, Brasil e Áfri- contros mantidos pelos Presidentes Luiz vamos tentar recuperar este espaço per-
ca do Sul vivem um bom momento de en- Inácio Lula da Silva e Thabo Mbeki. dido, retomar estas relações que podem
tendimento; prova disto é a criação do abrir novamente o mercado dos produ-
fórum de cooperação trilateral Índia, Bra- Boa fase tos sul-africanos ao Brasil. Um dos pro-
sil e África do Sul – IBAS. No plano políti- “Acho que esta boa fase política pode- blemas mais difíceis de resolver são as al-
co, as relações estão afinadas, segundo nos- rá se transformar numa relação importante, tas tarifas de impostos de importação e o
so entrevistado, o Cônsul Econômico e re- também, na área econômica, favorecendo custo Brasil, que é muito elevado. Este é
presentante do Departamento de Comér- muito o comércio bilateral. No momen- um desafio grande para a África do Sul,

60 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


NEGÓCIOS

mas, acreditamos que, por meio do diálo-


go e das negociações poderemos chegar a
acordos mais favoráveis.”
O Cônsul Econômico, Jacob Moatshe,
acredita que uma outra forma de contor-
nar este problema seria por meio de par-
cerias entre empresas brasileiras e empre-
sas sul-africanas na área de tecnologia. Se-
gundo ele, as empresas brasileiras do se-
tor poderiam investir na África do Sul,
onde há muita matéria-prima.
“Além disso, o governo está incenti-
vando as empresas estrangeiras a investi-
rem em nosso território e, ao invés de ex-
portar nossas matérias-primas, vamos
beneficiá-las e fabricar produtos que po-
dem ser exportados já manufaturados,
agregando-lhes valor. Os empresários bra-
sileiros podem participar desta parceria e Cena de Tsotsi, que retrata o cotidiano violento vivido por um líder de gang de Johannesburgo.
usufruir dos benefícios fiscais que estamos
oferecendo.” O cônsul lembrou, que, produzindo
O país oferece, entre outras vantagens, na África do Sul, a empresa poderá vender
isenção de impostos às empresas investi- para o mercado local ou para os países
“Tsotsi”, filme
doras para importar máquinas de alta vizinhos com vantagens aduaneiras. A Áfri- roteirizado e dirigido por
tecnologia. É um plano de longo prazo ca do Sul mantém um tratado com treze Gavin Hood e premiado
que visa, principalmente, desenvolver a países do continente africano, para os quais com o Oscar de melhor
indústria local e formar mão-de-obra es- é possível vender sem o pagamento de
filme estrangeiro em
pecializada. impostos.
“Acredito que isso poderá ser um gran- “Uma empresa brasileira que já tem 2006, é um exemplo de
de atrativo para os empresários brasileiros, parque industrial na África do Sul é a sucesso das relações
que poderão, por exemplo, montar uma Marcopolo, fabricante de ônibus, que está bilaterais no setor da
empresa têxtil na África do Sul e, de lá, vendendo muito bem para diversos países produção cultural.
exportar para os Estados Unidos sem o pa- do continente. O sucesso do empreendi-
gamento de impostos, pois temos um tra- mento é grande e eles já estão pensado em Resultado da parceria
tado que nos isenta deste tipo de tributo. O abrir outra fábrica.” entre uma produtora
mesmo acontece com a União Européia, e inglesa e outra sul-
tenho certeza que estas são vantagens mui- Cultura e tecnologia
africana, o filme
to atraentes a qualquer empreendedor.” O setor cultural também pode criar
recebeu apoio
empregos e, segundo o cônsul, tem po-
Infra-estrutura tencial expressivo nas relações bilaterais. financeiro do governo
A África do Sul fez uma pesquisa e Com relação ao cinema, o governo, por da África do Sul para
constatou que necessitava de grandes in- meio de seu Industrial Development sua realização.
vestimentos em infra-estrutura, principal- Corporation, investiu no filme Tsotsi, de
mente nas áreas de eletricidade, água e te- Gavin Hood, que ganhou o Oscar de me-
lecomunicações. O governo colocou à lhor filme estrangeiro em 2006. O filme quando têm qualidade, como é o caso des-
disposição de investidores cerca de 400 narra uma história dura e impactante ocor- se vencedor do Oscar, podem atrair um
milhões de rands (R$ 1,5 bilhão) e está rida nas periferias das grandes cidades e novo olhar para nossa realidade, nossos
procurando empresas, de preferência sul- tem sido muito bem recebido também produtos, nosso estilo de vida. O gover-
africanas. Quando a empresa local não pre- pelo público local. no também tem investido muito na área
enche os requisitos técnicos necessários “O cinema tem sido um dos bons in- de ciência e tecnologia, pois não existe
para desenvolver o projeto, vai buscar no vestimentos. Além de possibilitar uma crescimento sem desenvolvimento neste
exterior parceiros que possam suprir esta ampla divulgação de nossas riquezas natu- setor. Também nesta área temos muito a
deficiência. ral e cultural, as obras cinematográficas, partilhar com o Brasil.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 61


RETROSPECTIVA

Um ano de sucesso
Seminários da FCCE reúnem personalidades do
comércio, da indústria, da política e da diplomacia
O primeiro Seminário Bilateral de Co-
mércio Exterior e Investimentos da Fede-
ração das Câmaras de Comércio Exterior
– FCCE, em 4 de abril de 2005, foi dedica-
do a Portugal. A presença de personalida-
des importantes dos dois países mostrou
que a iniciativa iria atrair a atenção dos seto-
res ligados à importação e exportação.
Em 2005, foram realizados 12 semi-
nários, enfocando também Marrocos, Bél-
gica e Luxemburgo, Suíça, Argentina, Brasil-Portugal, o primeiro seminário. O seminário da Rússia reuniu personalidades das
Venezuela, México, Chile, Holanda, Itá-
lia, Polônia e Canadá. Em fevereiro de
2006 aconteceu o Seminário da Rússia e
em março o da África do Sul.
A atividade comercial tem como uma
de suas características principais propiciar
uma maior aproximação entre os povos.
Diferentes povos, modos de pensar e con-
cepções de mundo foram colocadas lado
a lado, tendo como preocupação comum
o incentivo ao aumento do fluxo comer-
cial entre os países.
Políticos, diplomatas, técnicos, empre-
sários e estudantes continuam a freqüen-
tar esses importantes fóruns de relações
internacionais. Em 2006 estão previstos,
ainda, seminários dedicados à França, ao
Peru, a Portugal, à China, o Panamá, à Sué-
cia, à Espanha, à Finlândia e à Alemanha. Coquetel em homenagem ao Embaixador da Rússia Vladimir Tyurdenev (à direita).

Mesa de abertura do seminário dedicado à Itália. Pronunciamento de Mario Benavente no seminário do Chile.

62 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


Raymond Van de Putte, Pierre Goffin, Bernard Gevaert, Ministro Helio Magalhães de
áreas pública e privada e lotou o auditório da CNC. Mendonça e João Augusto de Souza Lima, durante o seminário Brasil-Bélgica/Luxemburgo.

Entrevista coletiva com a Ministra Maria van der Hoeven, da Holanda. James Mohr Bell, Jean-Yves Dionne e Jacky Delmar (Brasil-Canadá).

Theóphilo de Azeredo Santos, Bernardo Cabral, João Augusto de René Venendaal e Luiz Limaverde assinam carta de intenções
Souza Lima, Embaixador da Polônia Pawel Kulpiowski, Piotr Maj e durante o seminário Brasil-Holanda.
Dariusz Dudziak no seminário da Polônia.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 63


RETROSPECTIVA

Mario Mugnaini, Salvador Arriola, Antonio Carlos Bonetti e a Arthur Pimentel, Theóphilo de Azeredo Santos, o Cônsul-Geral da
Embaixadora do México Cecília Gonzáles trocam impressões ao Suíça no Rio de Janeiro, Klaus Bucher e o Senador Bernardo Cabral
final de seminário do México. participaram do seminário dedicado à Suíça.

Marcio Fortes de Almeida, João Augusto de Souza Lima e o Embaixador da Venezuela Julio José Garcia Montoya, Marcio Fortes de
Embaixador da Venezuela Julio José Garcia Montoya. Almeida e Theóphilo de Azeredo Santos no Seminário da Venezuela.

Empresários marroquinos e o Embaixador No seminário da Argentina, Benedicto Fonseca Moreira, Embaixador José Botafogo
Carlos Alberto Simas Magalhães (ao centro). Gonçalves, o Embaixador Marcondes de Carvalho e Carlos Geraldo Langhoni.

64 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


RELAÇÕES BILATERAIS

Em 2005, foi registrado um crescimento mais acentuado das importações do que das
exportações sul-africanas. Um quarto das exportações do país foi de pedras preciosas,
enquanto que foram comprados no exterior principalmente máquinas e equipamentos.

Comércio Exterior da África do Sul


ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE
Evolução da balança comercial da África do Sul
1995 a 2005 – US$ milhões
DO DEPARTAMENTO DE
PLANEJAMENTO
70.000
E DESENVOLVIMENTO DO
COMÉRCIOEXTERIOR 60.000
DA SECRETARIA DE COMÉRCIO Exportação Importação Saldo
50.000
EXTERIOR DO MDIC
40.000

30.000
a década de noventa, o fluxo de

N comércio sul africano obteve uma


média anual de US$ 51 bilhões e
o saldo comercial manteve-se equilibra-
20.000

10.000

0
do. A partir de 2000, a corrente de co-
mércio do país mostrou-se crescente, -10.000
contabilizando, em 2004, US$ 103,1 bi-
-20.000
lhões, mais que o dobro da média alcan- 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
çada nos anos noventa. Embora em ritmo Fonte: OMC
menos acelerado, a expansão do comér-
cio exterior da África do Sul continuou em 2005, com a soma das Exportações da África do Sul
exportações e importações totalizando US$ 118,4 bilhões, sig- Principais produtos – 2005 – participação %
nificando aumento de 14,8% relativamente ao ano anterior.
Em 2005, a África do Sul registrou um crescimento mais acen- Combustíveis
tuado das importações do que das exportações. As compras ex- minerais
9,5%
Automóveis e
Siderúrgicos autopeças
ternas do país se expandiam em 16,5% sobre 2004 e somaram 11,6% 8,3%
US$ 66,5 bilhões, o que posicionou o país como o 32º maior Máquinas e
equipamentos
importador mundial. Do lado das vendas externas, o crescimen- 6,9%
to registrado foi de 12,7%, no mesmo comparativo, perfazendo Minérios
um total de US$ 51,9 bilhões, colocando o país como 39º maior 4,5%
exportador mundial. Nesse ano, as contas externas da África do
Alumínio e
Sul proporcionaram um déficit comercial de US$ 14,6 bilhões, Pedras obras
Demais
contra US$ 11,1 bilhões em 2004. preciosas produtos
3,3%
25,0%
Em 2005, um quarto (US$ 12,9 bilhões) das exportações da 31,0%

África do Sul foi de pedras preciosas. Os demais principais pro-


dutos exportados pelo país foram: siderúrgicos (total de US$
6,0 bilhões), combustíveis minerais (US$ 4,9 bilhões), automó- Fonte: Global Trade Atlas

veis e autopeças (US$ 4,3 bilhões), máquinas e equipamentos


(US$ 3,6 bilhões), minérios (US$ 2,3 bilhões) e alumínio e obras combustíveis minerais (US$ 7,8 bilhões), equipamentos elétri-
(US$ 1,7 bilhão). cos (US$ 5,7 bilhões), automóveis e autopeças (US$ 5,6 bi-
Do lado das importações, a África do Sul comprou, principal- lhões), instrumentos e aparelhos médicos (US$ 1,7 bilhão), ae-
mente: máquinas e equipamentos (um total de US$ 8,7 bilhões), ronaves (US$ 1,5 bilhão) e plástico e obras (US$ 1,4 bilhão).

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 65


RELAÇÕES BILATERAIS

Importações da África do Sul Importações da África do Sul


Principais produtos – 2005 – participação % Principais países fornecedores – 2005 – participação %

16,0
Equipamentos 14,0 Fonte: Global Trade Atlas
elétricos 14,0
Combustíveis 10,4% Automóveis e
minerais autopeças
14,2% 10,3% 12,0
Instrumentos e
aparelhos 10,0
médicos 9,0
3,2% 7,8
8,0
6,8
Aeronaves
2,8% 5,5 5,5
Maquinas e 6,0
equipamentos 4,4 4,1
Artigos de
Artigos
15,8% plástico 4,0 2,9
2,6% 2,6
Demais
produtos 2,0
40,9%
0,0

dita

ça

Irã

ia

Sul
ão

nido
Uni stados
anh

Chin

Itál
Fran
Jap

do
Sau
dos

oU
Alem

éia
Rein

bia

Cor
Fonte: Global Trade Atlas

Ará
No que diz respeito aos mercados de origem das importações Exportações da África do Sul
do país, o Brasil foi o 11º maior fornecedor em 2005, uma posi- Principais países de destino – 2005 – participação %
ção a mais que a que ocupou em 2004, superando a Austrália. No
12,0
ano, os principais países fornecedores ao mercado sul africano Fonte: Global Trade Atlas
foram: Alemanha (participação de 14,0% no total, somando US$ 10,0
10,0
9,8
9,5
7,7 bilhões), China (9,0%, total de US$ 4,9 bilhões), Estado
Unidos (7,8%, US$ 4,3 bilhões), Japão (6,8%, US$ 3,7 bilhões) 8,0
e Reino Unido (5,5%, US$ 3,0 bilhões). 6,4
Quanto aos países de destino das exportações da África do 6,0
Sul, em 2005, os principais foram: Japão (participação de 10,0% 4,5

no total, perfazendo US$ 5,2 bilhões), Reino Unido (9,8%, US$ 4,0
2,9 2,7 2,7
5,1 bilhões), Estados Unidos (9,5%, US$ 4,9 bilhões), Alema- 2,6 2,4

nha (6,4%, US$ 3,3 bilhões) e Países Baixos (4,5%, US$ 2,3 2,0

bilhões). O Brasil ocupou a 30º colocação no ranking de merca-


dos de destino. 0,0
a

ia

ica

a
ão

nido

Uni stados

aixo
anh

Chin

anh

Suiç
trál
Jap

A participação das exportações brasileiras nas compras da


Bélg
dos
oU

Alem

Esp
es B

Aus
E
Rein

País

África do Sul evoluiu significativamente nos últimos anos. Em


2000, o Brasil tinha sido responsável por apenas 1% das impor-
tações do país. No ano de 2005, essa participação foi de 2,5%, em Participação do Brasil no comércio exterior da África do Sul
valor somou US$ 1,4 bilhão 2000 a 2005
Quanto às exportações sul africanas, o Brasil foi destino de
Fonte: MDIC/SECEX, OMC e Banco Central da África do Sul
apenas 0,7% das vendas do país no último ano, somando US$
342 milhões . Em 2001, havia participado com 1,0% do total das
vendas do país. 0,7%

0,6% 0,6%
1,0% 0,6%
Intercâmbio comercial
0,8% 2,5%
entre Brasil e África do 1,6%
1,8%
1,8 % 1,8%
1,8%
1,5%
Sul – 2005 1,0%

O mercado sul africano se tornou um importante destino de 2000 2001 2002 2003 2004 2005
produtos brasileiros especialmente a partir de 2004. Nesse ano, Importação da África do Sul Exportação da África do Sul
as exportações para o país atingiram a cifra de US$ 1,04 bilhão,

66 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


Intercâmbio comercial Brasil/África do Sul pou a 20ª posição entre os países compradores de produtos naci-
2005/2004 – US$ milhões FOB onais, mesma colocação do ano anterior.
Nas exportações brasileiras para o continente africano, o país
Fonte: MDIC/SECEX
Variação % 2004/2005: é, tradicionalmente, o maior comprador de produtos brasileiros,
Exportação: + 32,3% 1.711
Importação: + 27,4% respondendo por 22,9% das exportações para a região, que so-
Saldo comercial: + 33,9%
Corrente de comércio: + 31,2%
maram US$ 5,98 bilhões.
1.369
1.304 Nas importações totais do Brasil, a África do Sul se posicionou
na 36ª colocação, avançando quatro posições em relação a 2004,
1.036 1.028
quando foi o 39º maior país de origem das compras externas
768 nacionais.
No ranking dos países africanos de origem das importações
brasileiras, a África do Sul se posiciona na terceira colocação,
342
268 atrás de Argélia e Nigéria, tradicionais fornecedores de petróleo
ao Brasil. Em 2005, a África do Sul respondeu por 5,1% de um
total de US$ 6,7 bilhões adquiridos da região.
Exportação Importação Saldo Corrente de
Comércio A composição da pauta de exportação brasileira para a África
2004 2005
do Sul é, basicamente, de produtos industrializados. Em 2005,
a participação desses bens foi de 81,5% no total – 78,6% de
produtos manufaturados, somando US$ 1,1 bilhão, e 2,9%
com um aumento de 41,3% em relação ao ano anterior. de semimanufaturados, total de US$ 40 milhões. Os básicos
Essa expansão continuou em 2005 e as exportações para o responderam por 18,4% do total, um montante de US$ 252
país totalizaram US$ 1,37 bilhão, 32,2% a mais que em 2004. O milhões.
aumento foi muito superior ao total do
crescimento das exportações brasileiras Evolução do intercâmbio comercial Brasil/África do Sul
totais, de 22,6%. Esse movimento propi- 1996/2005– US$ milhões FOB
ciou uma maior participação das vendas
para a África do Sul no total exportado 1.400
Exportação Importação Saldo Comercial
pelo Brasil, de 1,07%, em janeiro-dezem-
1.200
bro de 2004, para 1,16%, em 2005.
As importações brasileiras provenien- 1.000
tes da África do Sul apresentaram aumen-
to de 27,4% em 2005, somando US$ 342 800
milhões. O crescimento das importações
600
brasileiras oriundas desse mercado foi,
também, superior ao aumento das impor- 400
tações totais, de 17,1%. A participação sul
africana no total importado pelo Brasil se 200
expandiu de 0,43% para 0,46%.
0
No período de 1994 a 1998, os saldos
comerciais bilaterais apresentaram déficits -200
para o Brasil. Em 1999, ocorreu uma in- 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
versão e o comércio bilateral começou a Fonte: MDIC/SECEX

apresentar superávits cada vez mais favo-


ráveis ao País. Em 2005, essa cifra atingiu
o montante de US$ 1,027 bilhão, valor recorde histórico no O grupo de produto que mais cresceu, no comparativo 2005/
comércio entre Brasil e África do Sul. 2004, foi o de manufaturados, aumento de 42,3%, seguido pelos
Outro recorde histórico no relacionamento comercial, foi a básicos, aumento de 10,6%, enquanto que os semimanufaturados
soma das importações e exportações bilaterais. Em 2005, a recuaram em 20,5%.
corrente de comércio totalizou US$ 1,7 bilhão, aumento de Dentre os principais itens exportados pelo Brasil ao mer-
31,2% com relação a 2004, US$ 407 milhões a mais em ter- cado em análise, os de maior participação na pauta foram:
mos absolutos. autopeças (principal item, participação de 8,7% no total),
Quanto à posição da África do Sul como destino das exporta- veículos de carga (7,4% do total), carne de frango (7,3%),
ções brasileiras, no período janeiro/dezembro-2005, este ocu- chassis com motor (5,8%), tratores (4,7%), automóveis de

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 67


RELAÇÕES BILATERAIS

Ranking da África do Sul nas exportações brasileiras Ranking da África do Sul nas importações brasileiras
2005/2004 – US$ milhões FOB 2005/2004 – US$ milhões FOB

Ordem País Valor '% Part% Ordem País Valor '% Part%

2004 2005 2005/04 2004 2005 2005/04


1 1 Estados Unidos 22.741 11,8 19,2 1 1 Estados Unidos 12.851 11,6 17,5
2 2 Argentina 9.915 34,5 8,4 2 2 Argentina 6.239 12,0 8,5
4 3 China 6.834 25,6 5,8 3 3 Alemanha 6.144 21,1 8,4
3 4 Países baixos 5.283 -10,7 4,5 4 4 China 5.353 44,3 7,3
5 5 Alemanha 5,023 24,5 4,2 6 5 Japão 3.407 18,8 4,6
6 6 México 4.064 2,9 3,4 9 6 Argélia 2.838 45,9 3,9
9 7 Chile 3.612 41,9 3,1 7 7 França 2.700 18,0 3,7
8 8 Japão 3.476 25,6 2,9 5 8 Nigéria 2.652 -24,3 3,6
7 9 Itália 3.224 11,0 2,7 10 9 Coréia do Sul 2.327 34,5 3,2
20 20 África do Sul 1.369 32,2 1,2 8 10 Itália 2.276 11,1 3,1
36 36 África do Sul 342 27,4 0,5

passageiros (4,5%), óleo de soja refinado (4,1%), fumo em Exportações brasileiras para a África do Sul por fator agregado
folhas (3,9%), açúcar refinado (3,8%) e motores para auto- 2005 – participação %
móveis (3,5%).
Alguns produtos apresentaram excepcional desempenho no Semimanufaturados Manufaturados
2,9% 78,6%
crescimento das vendas para o mercado sul africano. Os princi-
pais foram: gasolina (de zero para US$ 20,4 milhões), açúcar
refinado (+432,5%, para US$ 52,2 milhões), máquinas e apare-
lhos para fabricação de celulose (+405,0%, para US$ 5,5 mi-
lhões), vidro flotado (+391,5%, para US$ 8,4 milhões), fio-
máquina e barras de ferro ou aço (+375,1%, para US$ 5,5 mi-
lhões), máquinas e aparelhos para tratamento de pedras Básicos
18,4%
(+333,9%, para US$ 6,1 milhões), veículos de carga (+205,7%,
para US$ 101,5 milhões) e painéis de fibras de madeira
(+139,4%, para US$ 6,3 milhões).
Do lado da importação, o Brasil adquiriu da África do Sul Fonte: MDIC/SECEX

83,3% de produtos industrializados e 16,7% de básicos.


A pauta importadora é concentrada principalmente em dois Exportações brasileiras para a África do Sul por fator agregado
itens, ferro-ligas, 16,7% do total, e carvão mineral, 9,5% do 2005/2004 – US$ milhões FOB
total. Os demais principais produtos importados pelo Brasil fo-
ram: platina em forma bruta (5,5% da pauta), motores para auto- 1.077
móveis (5,0%), laminados planos (3,9%), compostos hete- Variação % 2004/2005:
rocíclicos (3,9%), barras , tiras e folhas de alumínio (3,8%), fio- Básicos: + 10,6%
Semimanfaturados: - 20,5%
máquina (2,9%), hidrocarbonetos (2,9%) e rolamentos e en- Manufaturados: + 42,3% 757
grenagens (2,9%).
Em 2005, o estado de São Paulo foi responsável por pra-
ticamente a metade das exportações brasileiras para a África
do Sul, 48,8% do total. Nesse ano, as exportações paulistas 228
252

para o mercado sul africano foram compostas principalmente


por automóveis e autopeças, máquinas e equipamentos me- 50 40
cânicos, açúcar, carne e combustíveis. O segundo maior es-
tado fornecedor ao país é o Rio Grande do Sul (participação Básicos Semimanufaturados Manufaturados
de 16,9% no total) e em seguida está Santa Catarina (10,8% 2004 2005 Fonte: MDIC/SECEX
do total).

68 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL


Principais produtos exportados pelo Brasil para a África do Sul Principais produtos importados pelo Brasil da África do Sul
2005 – US$ milhões FOB 2005 – US$ milhões FOB

57 Fonte: MDIC/SECEX
119 Fonte: MDIC/SECEX

102 100

80 79
33
62
56 54 52
48
19
17
13 13 13
10 10 10

Motores para
veículos

Compostos
heterocíclicos

Laminados
planos

Hidrocarbonetos
e derivados

Rolamentos e
engrenagens
Barras/perfis/
fios de alumínio
Ferro-ligas

Hulhas

Platina

Fio-máquina
Óleo de soja
refinado
Veículos
de carga

Carne de
frango

Chassis
com motor

Açúcar
refinado

Motores para
veículos
Autopeças

Tratores

Automóveis

Fumo em
folhas

Com uma participação de 43,9% na pauta de importação na- Principais estados exportadores para a África do Sul
cional proveniente da África do Sul, São Paulo é também o maior 2005 – US$ milhões FOB
comprador de produtos originários desse mercado. Em 2005,
Fonte: MDIC/SECEX
São Paulo comprou da África do Sul, principalmente: produtos 668

siderúrgicos, máquinas e equipamentos mecânicos e químicos


orgânicos. Seguidamente a São Paulo estão Minas Gerais (12,9%)
e Espírito Santo (8,3%).
Considerando os dados de 2005, 1.626 empresas brasileiras
efetuaram vendas à África do Sul. Comparando-se a 2004, quan-
232
do 1.500 empresas exportaram ao país, o número aumentou em
8,4% – 126 empresas a mais. 148
118
Na importação, no mesmo período, 549 empresas brasilei- 71
ras realizaram compras de produtos provenientes da África do 34 19 18 9 8
45

Sul, contra 535 em 2004. O que representa um aumento de 14


empresas em termos absolutos e 2,6% de aumento em termos
Rio Grande
do Sul
Santa
Catarina

Paraná

Espírito
Santo

Rio de
Janeiro
São Paulo

Bahia

Mato Grosso
do Sul
Mato
Grosso
Minas
Gerais

Demais
relativos.

Principais estados importadores da África do Sul Número de empresas brasileiras exportadoras e


2005 – US$ milhões FOB importadoras no comércio com a África do Sul
2005 e 2004
Fonte: MDIC/SECEX
150
Fonte: MDIC/SECEX
1.626
1.500

44
535 549
28
24 23
18 15 11 10 12
6
Rio Grande
do Sul
Amazonas

Paraná

Santa
Catarina
São Paulo

Espírito
Santo

Rio de
Janeiro
Minas
Gerais

Ceará

Bahia

Demais

2004 2005
Exportadores Importadores

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • ÁFRICA DO SUL 69


CURTAS

Visita do Ministro energética”, declarou. transferidos do


O Ministro da Mpahlwa Departamento de
Indústria e Comércio da também falou Comércio e Indústria da
África do Sul, Mandisi sobre a África do Sul e, também,
Mpahlwa, visitou o Brasil em possibilidade de por funcionários
abril para participar da edição empresa estatal de armas contratação de serviços de brasileiros.
latino-americana do Fórum Denell. Nosso interesse na engenharia brasileiros,
Econômico Mundial. CVRD e na Glencore está devido ao longo período Interesse
Acompanhado de uma relacionado ao fornecimento por que o país passou sem A economia da África do
delegação de cerca de 15 de matérias-primas e infra- investir em infra-estrutura. Sul apresenta números
empresários sul-africanos, estrutura logística”, disse A delegação que interessantes para os
Mpahlwa visitou a Mpahlwa acompanhou o ministro especialistas em comércio
Companhia Vale do Rio Doce Outra área que tem estava interessada nas exterior, principalmente para
– CVRD, a suíça Glencore e despertado a atenção do país possibilidades de negócios os importadores brasileiros.
a Embraer. africano é a energética. em setores como o de O comércio entre Brasil
“A África do Sul tem “Temos muito interesse na vinhos, vidros, cadeiras para e África do Sul, em torno de
competitividade considerável tecnologia de deficientes, cosméticos, US$ 700 milhões em 2002,
na indústria aeroespacial, biocombustíveis têxteis, talheres, artesanato, se elevou para US$ 1,7
principalmente na área de desenvolvida pelo Brasil. produtos químicos, filmes bilhão em 2005, com um
defesa. Buscamos a Somos um país totalmente cinematográficos e aumento de quase 160% em
cooperação da Embraer num dependente de petróleo automóveis. três anos. No acumulado em
momento em que estamos importado e queremos 12 meses, até fevereiro de
reinvestindo na nossa diversificar nossa matriz Apoio ao comércio 2006, o Brasil exportou
O Departamento de US$ 1,39 bilhão para África
Comércio e Indústria da do Sul, de onde comprou,
África do Sul tem no mesmo período, US$
representantes econômicos 368,58 milhões, gerando
em mais de 55 grandes superávit de US$ 1,02
cidades do mundo, com o bilhão.
propósito de promover as O país abriga cerca de 6%
exportações, os de toda a população do
investimentos, a transferência continente e é responsável por
de tecnologia e as relações 45% da produção mineral da
comerciais bilaterais com África. O custo da eletricidade
A Revista dos Seminários Bilaterais de esses países. é um dos mais baratos do
O escritório do mundo e alguns bancos sul-
Comércio Exterior e Investimento, Departamento Comercial africanos foram incluídos entre
organizados pela FCCE, é distribuída entre em São Paulo não só lida as 500 maiores instituições
as mais destacadas personalidades, do com relações comerciais de bancárias do planeta.
ambas as partes, como
Brasil e do exterior, que atuam no também conduz as visitas Apoio
comércio internacional. que têm como finalidade o O Ministro do
comércio com empresas Desenvolvimento, Indústria
brasileiras e estimula e Comércio Exterior, Luiz
Anunciar aqui é fazer chegar o seu investimentos, além de Fernando Furlan, informou
produto a quem realmente interessa, a fornecer informações que o BNDES poderá
econômicas básicas sobre disponibilizar linhas de
quem decide.
África do Sul e Brasil. O crédito específicas para
Procure-nos. escritório de São Paulo é a setores que enfrentam
sede do Departamento dificuldades causadas pela
Tel.: 55 21 2221 9638 Comercial do Consulado desvalorização do dólar
eduardo.teixeira@abrapress.com.br Geral da África do Sul. Ele frente ao real. O ministro
é formado por diplomatas considera que a atual

70 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL


técnicas de lidar com o A África do Sul precisava
Colaboração valiosa precioso mineral que vencer o isolamento causado
desafiam a arte dos em parte por sanções
Fernando Tomé, Secretá- joalheiros. A região é árida e econômicas que lhes foram
rio-Geral da Câmara de exibe uma beleza rústica em impostas por conta do
Comércio Brasil-Repú- que o deserto se alterna regime racista.
blica Sul Africana, desta- com pradarias cheias de Moçambique, por sua
cou-se por sua valiosa flores e animais típicos da vez, tinha necessidade
colaboração com a FCCE África. São atrações urgente de restaurar o seu
em todas as etapas que interessantes as cachoeiras comércio interno e
antecederam a realização Augrabies Falls (foto à direita) internacional e de
do Seminário Bilateral de e as dunas avermelhadas do promover investimentos
Comércio Exterior e In- Kalahari Gemsbok National em sua infra-estrutura
vestimentos Brasil-África Park (foto abaixo). destruída por 20 anos de
do Sul. Fernando Tomé embates armados.
Corredor Maputo A solução encontrada
Na década de 1990, foi a criação de uma
cotação do dólar cria Mineração terminou o regime do parceria público privada
problemas para alguns Ao visitar a África do Sul, apartheid na África do Sul e a que ficou conhecida como
setores exportadores. os empresários e sangrenta guerra civil no Corredor Maputo,
“Estamos reunindo nossas especialistas da área de vizinho Moçambique. Seus envolvendo vários setores
equipes com esses mineração costumam fazer governos e suas sociedades da vida de ambos os países.
segmentos, em busca de uma parada obrigatória em locais se viram, então, diante Entre as iniciativas bem
alternativas, com a parceria Kimberley, conhecida do desafio de reconstruir sucedidas, destaca-se uma
do BNDES, para aporte de mundialmente como a suas economias destroçadas fábrica de alumínio com
recursos de financiamentos capital do diamante. Ali por diferentes tipos de investimentos de milhares
para as empresas”, disse o podem conhecer modernas conflito. de dólares na capital
ministro.
O BNDES já mantém
linhas especiais para
exportadores; uma delas de
financiamento para
embarques em reais e outra
de capital de giro para
pequenas e médias empresas.
Segundo o ministro,
indústrias dos setores
calçadistas e automobilístico –
que têm muito interesse no
continente africano,
especialmente na África do
Sul – já utilizam estas linhas. moçambicana (foto acima),
Luiz Fernando Furlan além de iniciativas
lembrou, ainda, que nem industriais em torno da
todos os setores estão em produção de gás natural.
dificuldades. Aqueles que O corredor foi planejado
utilizam muitos insumos também para dar a algumas
importados e, também, províncias sul-africanas um
aqueles cujos produtos acesso mais fácil ao porto
subiram por causa do aumento mais próximo, que é
da demanda do mercado justamente situado em
externo, estão se beneficiando Maputo, a capital
da valorização do real. moçambicana.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • Á F R I C A DO SUL 71

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