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A Internet de Coisas e o Efeito nos Consumidores

Ruy José Guerra Barretto de Queiroz - Professor Associado, Centro de Informática da UFPE - Publicada
em 18/08/2009

A invasão da tecnologia na vida de todos nós é uma realidade, se por um lado é benéfica, inexorável e
explícita, por outro lado tem seu aspecto sutil e extremamente invasivo. Em relatório recente intitulado
“Web Squared: Web 2.0 Five Years On” (“A Web ao Quadrado: Web 2.0 Após Cinco Anos”), Tim O'Reilly,
um dos mais influentes blogueiros e pensadores do Vale do Silício, em parceria com John Battelle,
fundador e chairman da Federated Media Publishing, avaliam o atual momento em que vivenciamos a
interseção entre as tecnologias da web e a emergente “internet de coisas” (objetos do mundo real
conectados à internet). Exemplo inusitado é o caso do primeiro marcapasso Wi-Fi controlado à distância
pela internet: conforme matéria da Reuters (“First Wi-Fi Pacemaker In US Gives Patient Freedom”,
10/08/09) após depender de um marcapasso por 20 anos, Carol Kasyjanski se tornou o primeiro paciente
americano a receber um marcapasso sem-fio que permite que seu médico monitore sua saúde de longe.
Quando Kasyjanski vai ao St. Francis Hospital em Roslyn, New York, para um check-up de rotina, cerca
de 90% do trabalho já foi feito porque seu médico entrou no seu computador e tomou conhecimento do
que ele precisava saber sobre sua paciente. Um outro registro da emergência de uma intrigante “internet
de coisas” surgiu em Julho de 2008 a partir da divulgação de um acordo da IBM com a Matiq, a
subsidiária de tecnologia da informação da Nortura, o maior produtor de alimentos da Noruega, para
utilizar a tecnologia da identificação por radio-freqüência (RFID) no rastreamento de produtos derivados
do frango e da carne bovina desde sua produção no campo, ao longo de toda a cadeia de suprimentos,
até as prateleiras dos supermercados.

Do ponto de vista econômico, trata-se de uma oportunidade para o aumento de competitividade, conforme
a análise de Jacques Bughin, Angela Hung Byers, e Michael Chui no artigo “Using technology to
turbocharge innovation in a downturn” (“Usando a tecnologia para turbocarregar inovação num momento
de declínio”, portal da McKinsey & Company, 06/08/09). Candidata a membro do seleto grupo de grandes
inovações que podem varrer do mapa velhos modelos de negócios, criando os fundamentos para um
crescimento verdadeiro, a internet de coisas emerge a partir de minúsculos sensores, computadores e
outros microdispositivos que são embutidos em objetos físicos e conectados através de redes sem fio. Aí
nascem os objetos mais “inteligentes” e mais interativos, com o potencial de transformar os modelos de
negócios tradicionais, a começar pela maior eficiência e pelo oferecimento de fatias menores na venda de
bens e serviços que dispõem de mecanismos de auto-monitoração. Ao invés de comprar um produto
imediatamente, ou assinar um contrato de longo prazo, ao cliente passa ser oferecida a possibilidade de
pagar somente pelo uso de fato, pois os sensores podem registrar a utilização. Conforme os autores, em
alguns casos, o que era uma despesa de capital pesada é transformada numa despesa de operação mais
leve à medida em que produtos são transformados em serviços. “A nova lógica de pagar por valor está
criando uma variedade de novos modelos de negócios”, afirmam Bughin, Byers & Chui, tomando como
exemplo a indústria de motores de aeronaves, onde os fabricantes estão vendendo o “empuxo” como um
serviço, ao invés de motores como produtos, pois hoje são capazes de registrar eletronicamente o uso e o
desempenho de seus motores. Ao mesmo tempo, os fabricantes de aeronaves estão oferecendo
contratos que garantem o “tempo de disponibilidade” de seus produtos usando sensores embutidos em
estruturas de aeronaves que são capazes de determinar quando a manutenção preventiva se faz
necessária.
O fato é que a internet de coisas propicia o “encontro” da rede com o mundo físico. Como diz Richard
MacManus no seu artigo “Web Squared: When Web 2.0 Meets Internet of Things” (“Web Elevada ao
Quadrado: Quando a Web 2.0 Encontra a Internet de Coisas”) publicado em 05/08/09 no portal
ReadWriteWeb.com, o termo ‘web elevada ao quadrado’ é uma tentativa de dar um novo rótulo e uma
nova imagem à chamada internet interativa, conhecida também como “Web 2.0”. Lançada em Junho
último por ocasião da sexta conferência anual sobre a internet e seu impacto no mundo real, a idéia,
expressa pelos fundadores e coordenadores do evento como “Web 2.0 + World = W2”, surge a partir da
percepção de que o paradigma “a rede como uma plataforma” significa mais que simplesmente oferecer
velhas aplicações através da rede (conforme o paradigma “software como serviço”). “Significa construir
aplicações que literalmente se tornem melhores à medida que mais pessoas as utilizam, aproveitando os
efeitos em rede não apenas para adquirir usuários, mas também deles aprender e construir a partir de
suas contribuições,” argumentam O’Reilly e Battelle, lembrando que já em 2004 chamavam a atenção
para o fato de que a Web 2.0 tem tudo a ver com aproveitar a inteligência coletiva. Hoje os sensores
estão propiciando uma nova fonte de dados para as técnicas da Web 2.0, pois as “aplicações de
inteligência coletiva não estão mais sendo conduzidas unicamente por humanos através de teclados,
porém a cada vez mais por sensores.” O fato é que a Web não é mais uma mera coleção de páginas
estáticas de HTML que descrevem algo no mundo. Cada vez mais a Web é o próprio mundo: tudo e todos
no mundo imprimem uma “sombra de informação”, que, segundo O’Reilly e Battelle, se refere a “uma aura
de dados que, quando capturados e processados inteligentemente, oferece oportunidades extraordinárias
e implicações de dobrar mentes.” Independente da fonte dos dados de sensores, após coletada a
inteligência coletiva pode ser aplicada à própria fonte. Isso é o que os autores chamam de “laço de
realimentação virtuoso”, através do qual as aplicações baseadas em sensores vão melhorando à medida
que mais pessoas as utilizem.

Num artigo anterior (“Product Managers & Marketers: What The Internet of Things Means For You”,
11/08/09), MacManus considera que quando produtos comerciais estiverem conectados à internet, serão
introduzidas diversas novas funcionalidades e possibilidades de marketing. Tudo isso porque ao
possibilitar que seu produto esteja conectado à internet (como já o fazem boa parte dos grandes
fabricantes de software para a devida atualização automática), ao menos em princípio o fabricante ou o
distribuidor pode rastrear o uso do produto pelo consumidor. Por exemplo, ao implantar um chip RFID
num aparelho telefônico que se conecta à internet, torna-se possível à empresa de telefonia a obtenção
de dados como: com que freqüência o usuário utiliza o telefone; quanto tempo, em média, o usuário gasta
em cada chamada; quais são as características do aparelho que o usuário utiliza com maior freqüência;
onde o usuário mais usa o aparelho (em combinação com sensores de localização); quem mais usa o
aparelho na residência do usuário, além dos tempos que cada um o utiliza.

É possível que as leis de proteção à privacidade do cidadão já terão evoluído bastante à época em que
este cenário venha a ser o predominante. Porém, mesmo se esse for o caso, o produtor poderá
facilmente ser capaz de negociar com muitos de seus consumidores: entregue-nos todos aqueles dados e
lhe daremos um desconto!

Do ponto de vista do consumidor, a privacidade e a segurança parecem mais ameaçadas do que nunca,
pois uma das características da internet de coisas é o enorme volume de dados que introduzirá na Web, a
maior parte desses dados serão certamente de natureza bastante pessoal. MacManus retoma um dos
exemplos frequentemente citados, qual seja o uso de RFID em supermercados. Se por um lado o
processo de compra será mais eficiente e transparente, contando com a ajuda de chips RFID nos
produtos, no celular (permitindo comparação de preços online e no local) e no cartão de crédito
(dispensando a necessidade de espera para pagamento ao caixa), por outro lado mais de uma entidade
estarão coletando dados sobre seus hábitos de compra: o próprio supermercado, a empresa de telefonia
celular, e a administradora do cartão de crédito.

Num artigo publicado recentemente no portal da Wired do Reino Unido (“The new hidden persuaders”,
03/06/09), David Rowan resume assim os perigos de um cenário como esse:

“Quão desnudas estarão nossas preferências pessoais para os anunciantes quando todo o nosso
histórico de clicks no controle remote de nossa TV digital estiver conjugado com nossa história de
navegação na web, nossos dados de armazenamento e de e-mail, registros de todos os nossos
movimentos através de câmeras de reconhecimento de face e etiquetas de identificação por radio-
freqüência, e os mapas de nossos sinais do telefone celular? Mesmo que você esteja determinado a
resistir a tal manipulação de seus desejos mais profundos alimentada por dados, como você sabe que
esse vasto mar de informações não vazará ou não será utilizado contra seus próprios interesses, talvez
por uma empresa de seguro-saúde ou um futuro empregador?” Por mais assustador que o cenário se
apresente, não há como fugir. Há, sim, que endurecer com a reivindicação de legislação apropriada, mas
sem perder a esperança no que a tecnologia trará de benefício para a vida do cidadão.

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