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alfosses
extraordinário
Se as Cidades fossem abertas.
Se não houvesse paredes,
ou se as paredes fossem transparentes.
imples
Se as paredes fossem janelas.
Se estivéssemos expostos a outras dimensões,
ou se simplesmente déssemos pela sua existência.
Se nos questionássemos pelo simples prazer de encontrar novos significados.
Se estivéssemos mais atentos ao que nos circunda.
Se de repente nos encontrássemos sem querer num espaço totalmente alheio.
Se olhássemos para o desconhecido como o nosso reflexo.
Não seriamos tão estupidamente críticos.
mentee
Se os nossos hábitos e as nossas maneiras de agir e de ser fossem idênticas.
Se vestíssemos todos as mesmas roupas,
usássemos os mesmos perfumes,
se tocássemos a mesma música.
Se as opções se esgotassem.
Não estaríamos aqui.
xtraord
Se estivéssemos a partilhar o mesmo espaço sem darmos conta disso.
E se ainda por cima estivéssemos a caminhar na mesma direcção
com objectivos semelhantes.
Se a realidade fosse nua e crua.
Se natural fosse simplesmente extraordinário.
Não haveria mais nada a dizer.
inário
além, e voltar a olhar para trás.
Este é o ponto zero,
o ponto das possibilidades infinitas.
Daqui, a vista parece atingir o ponto onde o mar e o céu se dissolvem.
Este é o ponto onde nos encontramos no presente.
Daqui para a frente, tudo é possível.
com imensas histórias, romances secretos, palavras sussurradas fazem pensar. Os teus
amores proibidos, artistas de circo que se instrumentos, os múltiplos que tocas, és tu.
atropelam uns aos outros com um ritmo Superas-te nas notas e o ar absorve o mundo
próprio e atraente. E sai de trás do palco um atento a elas. Deixas de ser gente e passas a
realejo, e uma concertina maluca que canta ser a gente, dissolves-te e não queres saber. E
bem, e um senhor a vender algodão doce de basta ouvir um disco de uma ponta à outra que
lábios vermelhos à porta dos carrinhos de as imagens começam a cirandar na cabeça,
choque. Cada som é diferente e grita mais passam a uma velocidade estonteante e caem
alto para ser ouvido na multidão. E eu ouço-os no chão cansadas. Os filmes que se fazem e
todos. Sopram sempre de uma forma sábia as histórias que se apagam são motivos para
e bem construída. Danço assim, sem parar, te ouvir. Muito.
nouvelle vague
Soprar e tirar o pó. Pegar e voltar a está presente, criando um ambiente familiar
baralhar. Foi assim que nasceu um dos e agradável a todos os que gostam do Jobim
projectos musicais mais interessantes da e do Gilberto dos anos 60. Esta é, pois, uma
actualidade. Olivier Libaux e Marc Collin são reconstrução que se faz misturando vários
os responsáveis pela ideia. Os Nouvelle Vague estilos e várias épocas, deixando ao critério
foram criados para reconstruir canções do fim de quem ouve a conotação temporal devida.
dos anos 70 e princípios dos 80, do período Os ritmos são inconstantes, os rumores
pós-punk e new wave. Era a música que debaixo do ouvido não nos atraiçoam e fazem
ouviam quando eram jovens, agora despida que gostemos deles.
dos vícios do costume, com um toque de As mulheres estão sempre presentes nos dois
leveza e suavidade. As vozes que dão vida a discos. Eloisia, Camille, Daniella D’Ambrosio,
temas tão marcantes na época como “Just Melanie emprestam a beleza do seu timbre a
can’t get enough” dos Depeche Mode ou “Blue um projecto que, segundo os criadores, nunca
Monday” dos New Order nunca os tinham irá descambar para um cd de originais, ou não
ouvido antes. Marc e Olivier fizeram questão fossem eles a nova vaga do que de melhor
disso. Era assim mais fácil pintar por cima se fez no panorama musical dos anos em
sem respeitar as linhas condutoras da obra. que se usavam casacos de cabedal e cabelos
Quer no primeiro álbum, com o nome do encaracolados com franja. Ainda bem que isso
projecto, quer agora no segundo, “Bande a eles não quiseram recuperar.
Part”, a sonoridade brasileira da bossanova
seetadino
rostos da cidade
texto de Ana Elisa
Foi o meu avô. Ensinou-me tudo, a olhar a bonitas com sapatos bons e bonitos. É por
pele, a cheirar a pele, a pensar no sapato isso que gostam deles. Tenho por aí moldes
como o que nos “faz andar”. Lembro-me de que fui fazendo…que nunca passaram disso,
ir para a oficina dele ouvir as Rádio Novelas ideias da minha cabeça. Custa-me arranjar
e ficar fascinado com o trabalho. Ainda hoje essas porcarias chinesas e de plástico. Fazem
gosto dos cheiros, lembram-me o meu avô. mal aos pés e são feitos por quem só anda
Comecei a aprender com 8 anos, para mim descalço. Mas há sapatos muito bons. Como
era uma oportunidade de estar com ele e esses ténis que tem calçados (GEOX) que têm
depois sempre achei que era uma profissão de essa palmilha respirável. Italianos, claro…os
respeito. Hoje já não é assim. Fui aprendendo, sapatos italianos são muito bons.
fazendo pequenos trabalhos e cá estou. É para tudo, meias solas, cozer aqui e ali,
remendos, alargar, pôr solas…há de tudo. As
Nunca pensei ser outra coisa. E todos os dias pessoas não costumam ser muito exigentes,
estou com o meu avô nas ferramentas e nas querem só as coisas bem feitas, mas há um
técnicas. Trabalho a sério há 45 anos. Por aqui senhor que me pede sempre para atar um
passam muitas histórias. Os sapatos contam sapato ao outro. Diz que tem de ser assim.
muito de alguém. Se joga à bola, se é ou não Cada um tem as suas loucuras.
vaidoso. E há pessoas que ficam por aqui, a Gosto muito de Lisboa. E gosto de ser
falar dos problemas delas. Eu olho para os sapateiro aqui. Acho que Lisboa tem lugar
sapatos e depois para elas. para esta profissão, feita na entrada de
prédios, como o meu caso.
Tenho dias de arranjar 50 ou mais sapatos, Um sapato para Lisboa? Uma sandália porque
outros dias fico a olhar para um ou dois e andamos todos sem dinheiro. Ah, um sapato
insisto nesses. Também desenho, sim. Gosto clássico vermelho escuro ou beringela,
de fazer sapatos de mulher, salto alto, a redondo à frente e tacão de 7,5 cm. Que me
atar no tornozelo. As mulheres ficam mais diz? Usava? Numa tarde desta?
B.I.
António José Gomes, o “meias solas”
56 Anos
Sapateiro
Martim Moniz, Lisboa
Do que gostas? Diferentes em quê?
De tudo. Em tudo.
Gostas mesmo de tudo? Não concordo.
Sim. Tens de concordar. Uma coisa é gostares de algo, a outra é gostares das consequências desse algo.
Mesmo mesmo? Tu enlouqueceste e o médico ainda não te avisou.
Sim. Não desconverses, sabes que tenho razão.
Ninguém gosta de tudo. Podes gostar de muitas coisas. Quase tudo, aceito. Agora tudo? Não, não tens?
Sim, gosto de tudo, porquê? Ai é? Então dá-me outro exemplo.
Nada, mas acho estranho. De quê?
Porquê. Conheço várias pessoas assim que gostam de tudo. De tudo mesmo. Quando falo de tudo falo De que coisas que gostes, na medida em que gostas de tudo.
daquelas pequenas coisas que as pessoas às vezes se esquecem e até chegam a desprezar. Todas essas Gosto de cenoura.
coisas. Essa não serve.
Como por exemplo? Não serve como?
Queres um exemplo para quê? Não serve, não é do mesmo género da outra. Eu preciso de uma coisa do mesmo género da do bife para
Para perceber até onde vai esse teu “gosto” por tudo. provar que tenho razão.
Ok, vamos lá. Gosto de que me salpiquem a roupa com molho de bife num restaurante. Então a tua razão tem condições específicas para ser razoável, é isso? A isso chama-se não ter razão.
Ninguém gosta disso. A sério, diz outra coisa que gostes, assim mais esquisita.
Eu gosto. Como a do bife?
E o que te leva a gostar disso? Sim, como a do bife.
A sensação de que alguém fez de propósito para que me salpicassem a roupa. Isso leva-me a pensar que Gosto de mijar na parede dos prédios à noite.
existe alguém para quem eu sou importante, nem que seja para fazer este tipo de coisas. Ah?
Ah ah, apanhei-te! Quando dizes “esse tipo de coisas” está implícita uma conotação negativa, logo não Sim, gosto disso.
gostas de que te salpiquem a roupa mas sim do que isso possa significar. Não me lixes.
Isso é a mesma coisa. Esta também não serve?
Não é não. Eu posso gostar de tomar banho com água a ferver porque gosto ou porque fico com a pele Serve, serve para ver que estás todo janado.
vermelha e isso dá-me uma ar mais bronzeado. São coisas completamente diferentes. Cala-te e dorme.
omara
portuondo
Existem canções que nos transportam para American Way” muito próprio. Imaginam-
ambientes onde nunca estivemos e para se os canalhas e os pândegos, as putas e os
momentos que nunca vivemos. As de Omara chulos, os artistas decadentes e as burguesas
são exemplo disso. Basta ouvir a primeira nota emancipadas. Tudo com muito fumo à
que o ritmo caliente de Cuba se entranha. Os mistura. Os segredos descobrem-se à medida
movimentos tornam-se mais sensuais e a que vamos ouvindo os discos, de uma ponta
boca vai acompanhando, sem saber, a letra. à outra, sem parar, como se de um filme
A voz é quente e desperta desejo. Veludo se tratasse. Passamos pela fase do namoro
que nos trespassa e nos faz vibrar. Os pés, escondido, pelas discussões amorosas, pelas
lentamente, vão olhando, em gestos repetidos, noites fogosas em quartos manhosos e pela
para cima. Rodam as pernas umas nas outras, separação sofrida e mentirosa. Sentimos
e roçam nas paredes escuras. As vibrações tudo com toda a força e ao mesmo tempo. A
são fortes, suadas de sentido e com uma rouquidão da sua voz traz até nós a beleza
profunda vivência. Omara quase sempre canta do marginal, a Cuba escondida nas ruas de
os seus males de amor, típicos de cabarets Havana, dentro de paredes que sabem mais do
e clubes nocturnos onde se junta a gente que o mero ocasional.
boémia da América mais latina, num “South
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atypyk
eureka!
“OS MELHORES EXEMPLOS ATYPYK”
chuva
No entanto, para além de nós, Os Outros, naquele mês, se não se apressarem no passo,
existem aqueles a que nós chamamos, quando lá chegarem o lugar já está ocupado.
porto
contive-me. Senti que estaria a ser alguém visão que se turva ao ver-vos juntos irá aos
diferente do que fora até aí, e para além poucos libertar-se das partículas desse
do mais nós já não existíamos. O passado nevoeiro. Ultrapassei-te e não há nada que
jazia agora no meio de vocês, por entre me possas dizer que o contrarie. Sei que vou CONCERTO
fluidos corporais, por entre beijos trocados encontrar outro homem que me preencha. Sérgio Godinho
e roubados por um desconhecido, nos Sei que vou encontrar outro homem que me O cantor apresenta o seu álbum “Ligação Directa”.
resquícios de sexo deixados no lençol…para complete mais do que tu e aí sim vou sentir- 7 DEZ, às 22h00 na Sala Suggia da Casa da Música
mim já não havia nada. Apesar da dor latejante me completamente reconstruída, pronta para
no coração segui em frente. Abri a porta da recomeçar, esquecendo-me da minha vida EXPOSIÇÃO
rua ainda com o sabor do sangue derramado passada entretanto perdida. BES Revelção 2006
cá dentro na boca, mas com os olhos raiados Exposição de fotografia na qual serão mostradas as obras inéditas de João Serra, Nuno Maya,
Bruno Ramos e Frederico Fazenda, artistas vencedores da 2ª edição do concurso
BES Revelação
texto de Pedro Palrão até 14 JAN, na Casa de Serralves
barcelona
FESTIVAL
BAC! 06 - Festival Internacional de Arte Contemporânea de Barcelona
Festival de difusão das diversas disciplinas da arte contemporânea que junta nomes
já consagrados a jovens promessas.
até 17 DEZ no Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona
bilbao
EXPOSIÇÃO
100% África
Selecção das obras mais representativas da colecção de arte contemporânea africana
do fotógrafo e empresário suiço Jean Pigozzi (Contemporary African Art Collection).
até 18 FEV no Guggenheim Bilbao
londres
EXPOSIÇÃO
David Smith
Esta é a maior exposição alguma vez feita na Europa com obras do famoso escultor americano
do século XX.
até 21 JAN na Tate Modern Gallery
são paulo
BIENAL
27ª Bienal de São Paulo
A maior mostra de arte contemporânea do Brasil, este ano com o tema “Como viver junto”,
dá a conhecer dezenas de artistas de vários países do mundo.
Didier Fiuza Faustino, a dupla João Maria Gusmão + Pedro Paiva, e Cláudia Cristóvão são os
artistas que representam Portugal.
até 17 DEZ no Parque do Ibirapuera, portão 3
tokyo
EXPOSIÇÃO
Bill Viola nós estamos em www.cru-a.com
O conhecido artista de vídeo nova-iorquino apresenta trabalhos que representam as suas fala connosco através do info@cru-a.com
reflexões acerca da vida, da morte e do futuro. envia coisas boas para play@cru-a.com
até 8 JAN no Mori Art Museum a CRU A número um sai a 9 de Janeiro
e sim, é verdade, não falámos do natal
4ª A 6ª 22H // SÁB 17H E 22H
TEL 218 689 245
M/12