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Exame Nacional de História 1ª chamada – 03/07/2003
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Exame Nacional de História 1ª chamada – 03/07/2003
Com estas políticas de alianças, havia que manter a coesão dos respectivos blocos, sendo que, à URSS e aos
EUA reservava-se o direito de reprimir pela força as tentativas de abandono de algum Estado-membro. Assim se
explica, a intervenção soviética na Hungria (1956) e na Checoslováquia (1968), assim como o envio de forças
americanas para a Guatemala (1954), para Cuba (1960-62) ou para a República Dominicana (1965).
Para além da estratégia das alianças, havia a estratégia do armamento. O lançamento das bombas atómicas no
Japão acabou sim com o terrível flagelo que foi a II Guerra Mundial mas iniciou uma era de terror.
No início só os americanos possuíam o segredo da bomba atómica, desenvolvida no segredo do Projecto
Manhattan, mas, quando, em 1949, os russos fizeram explodir a sua primeira bomba atómica, a confiança do
Ocidente desmoronou-se. De imediato os cientistas americanos começaram a trabalhar, e já em 1952 se testava
no Pacífico a bomba de hidrogénio (bomba H), mil vezes mais potente que a bomba de Hiroshima. Tinha
começado a corrida ao armamento. No ano seguinte, já os russos tinham a bomba H e o ciclo reiniciou-se,
levando as duas superpotências à produção maciça de armas nucleares.
Esta estratégia obrigava ao dispêndio constante de enormes somas em pesquisa e armamento de forma a evitar
a supremacia do lado contrário, sendo que, em 1952, a URSS gastava, em despesas militares, 80% do orçamento
do Estado. Era o “equilíbrio instável do terror”, nas palavras de Churchill, um dos traços mais salientes da guerra
fria.
O afrontamento bipolar do pós-guerra prolongou-se até aos finais dos anos 80, altura em que o bloco soviético
se desmoronou, tendo atingido o seu ponto máximo entre 1947 e 1955, período ao qual chamamos guerra fria,
termo que ficou popular entre os jornalistas norte-americanos para designar o clima de terror e hostilidade que se
havia apoderado das relações internacionais; as batalhas davam-se nos jornais, nos laboratórios...a verdadeira
guerra parecia iminente.
O poder destrutivo das novas armas introduziu na política mundial uma característica nova: a dissuasão, que se
revelava na tentativa de persuasão por parte de um bloco em relação ao outro, dizendo que não hesitaria em usar
o seu armamento nuclear. No entanto, ambas as superpotências tinham consciência das consequências que isso
traria. Portanto, evitavam o confronto directo, remetendo as acções armadas para os conflitos localizados, onde
apoiariam a facção que se identificasse mais com os seus ideais. Daí que, ao longo da “cortina de ferro”, onde a
tensão teoricamente seria maior, a guerra fria nunca tenha degenerado em guerra declarada.
O mundo dividia-se em os maus e os bons. Esta visão maniqueísta dos dois sistemas era atiçada por uma
gigantesco aparelho de propaganda que inculcava nas populações a ideia de superioridade do seu sistema e a
rejeição e o temor do lado contrário, ao qual atribuíam as intenções mais sinistras e os planos mais diabólicos.
É neste contexto que os serviços de informação e segurança (CIA e KGB) ganham um crescente
protagonismo, e o mundo de espiões e agentes secretos alimenta o clima de suspeita, de intolerância e de
fanatismo que varreu o mundo nos anos da guerra fria.
Embora, pelas suas características, este conflito ultrapasse largamente o âmbito da guerra fria, as duas
potências não perderam a oportunidade de estender a sua influência ao Médio Oriente: enquanto Israel se
acolheu à protecção dos EUA, a causa palestiniana contou, a partir dos anos 50, com o apoio soviético.
⇒ A guerra da Indochina
Com o fim da 2ª Guerra Mundial, a França retoma a direcção da sua antiga colónia, mas defronta-se com um
poderoso movimento independentista de feição comunista, o Vietminh.
O conflito, inicialmente tomado como uma mera luta contra o colonialismo, internacionaliza-se após 1949: a
China maoísta dá o seu apoio aberto à guerrilha e os EUA financiam o esforço da guerra francês.
Em 1954, após a tomada de Dien Bien Phu pelas forças do Vietminh, a França considera-se vencida, e, nas
negociações em Genebra, dá-se a divisão (provisória) do Vietname: o Norte, comunista, sob a liderança de Ho
Chi Minh, líder da guerrilha; o Sul, sob os auspícios americanos, com o antigo imperador Bao Dai. Entre as duas
áreas, estende-se uma zona desmilitarizada ao longo do paralelo 17.
(Do processo de irradiação da guerra fria faz parte também a Guerra da Coreia – ver O BIPOLARISMO EM
QUESTÃO, segundo parágrafo – e a formação da República Popular da China)
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⇒ Houve, no entanto, o surgimento de uma outra potência: a Europa, que conseguiu voltar ao plano da vida
económica mundial, através da união dos seus países, através da formação da CEE.
A origem da CEE está na C.E.C.A. – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço –, formada por proposta de
Roberto Shuman, ministro dos Negócios Estrangeiros francês, em 1951, composta pela Bélgica, Luxemburgo,
Holanda, França, Alemanha Federal e Itália. O seu sucesso levou os Estados fundadores a assinarem o Tratado
de Roma, em 1957, no qual se instituiu a CEE – Comunidade Económica Europeia, cujo principal objectivo
consistia na abolição de tarifas e barreiras comerciais entre os Estados-membros, possibilitando a livre
circulação de pessoas, mercadorias, capitais e serviços.
Posteriormente, a CEE viria a ser alargada através das adesões da Irlanda, Dinamarca e Reino Unido, em
1973; da Grécia, em 1981; de Portugal e Espanha, em 1986; e da Finlândia, Áustria e Suécia, em 1995.
Pelo Tratado de Maastricht, assinado em 1992, e que entrou em vigor a 1 de Novembro de 1993, a CEE
adoptou a designação de UE – União Europeia – mas este tratado provocou fortes reacções na Europa dos
Quinze: muitos europeus, nomeadamente os ingleses, característicos pela sua individualidade, pelo seu
conservadorismo e cepticismo, passam a recear perder a sua identidade nacional, através da adopção de uma
moeda única, o que, desde 1 de Janeiro de 2001 até hoje, não se tem verificado; pelo contrário, o Euro tem
representado uma evolução monumental da Europa em relação ao mundo, nomeadamente ao dólar americano.
Nos tempos atribulados do bipolarismo, e ainda da guerra fria, que só termina realmente em 1989, com a
queda do Muro de Berlim, o progressivo surgimento de uma Europa unida representou mais um concorrente
forte na cena económica mundial, ajudando a apagar o sentimento de um mundo dividido em dois.
⇒ Outro factor ainda que contribuiu para o enfraquecimento do bipolarismo foi a independência dos países
do Terceiro Mundo, e o movimento dos não-alinhados.
O Terceiro mundo nasce de todo o longo processo de descolonização. Primeiro há a contestação ao
colonialismo, impulsionada pelo impacto exercido pela II Guerra Mundial:
1. A guerra abalou a solidez dos impérios: o Japão, antes de ter sido derrotado, ocupou a Indochina, a Malásia,
as Índias Ocidentais Holandesas (Indonésia), a Birmânia, sem reacção eficaz dos colonizadores europeus –
era o desprestígio da Europa na região;
2. A guerra “acordou” os dominados: 2 milhões de indianos, 275.000 norte-africanos e 175.000 soldados da
África Negra foram incorporados nos exércitos aliados; soldados estes que lutavam pelos direitos humanos e
pela liberdade (dos outros), e que tomaram consciência assim, da injustiça do sistema colonial e desejaram
também a sua liberdade e independência, crescendo o descontentamento das populações relativamente aos
colonizadores, por causa dos sacrifícios exigidos às populações das colónias;
3. A guerra enfraqueceu, em termos políticos e económicos, os Estados europeus, que não conseguem
contrariar a contestação anticolonialista;
4. As duas superpotências eram favoráveis à descolonização: os EUA, porque tinham sido uma antiga colónia,
e a URSS, porque apoiava a revolta dos povos contra os interesses capitalistas e queria alargar a sua
influência aos países recém-formados;
5. A ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos, recomenda a abolição de todas as políticas
discriminatórias nas colónias e, em 1960, aprova a Resolução 1514, que consagra o direito à
autodeterminação dos territórios dominados e condena as potências que continuam a reprimir os
movimentos independentistas.
6. Nas metrópoles europeias, a opinião pública reconhece a justiça das reivindicações independentistas e está
contra guerras em defesa das colónias.
Depois, surgem os movimentos nacionalistas, que visam a recuperação da identidade cultural e nacional dos
povos colonizados. Estes movimentos adquirem rapidamente uma dimensão política, constituem-se em partidos
que, quer por via negocial, quer pela força das armas, lutam pela autodeterminação dos territórios coloniais.
Os seus líderes, muitos deles educados nas metrópoles, lutam pela independência política, mas também contra
o subdesenvolvimento económico, visto como uma consequência da dominação colonial, como foi o exemplo de
Mohandas Gandhi, ou Mahatma (alma grande). Muitos deixam-se seduzir pelo socialismo soviético ou pelo
maoísmo, como foi o exemplo de Kwame Nkrumah, responsável pelo primeiro Estado independente da África
Negra, o gana, em 1957, que, depois da revolução, adoptou um regime totalitário, marcado por um forte culto da
personalidade e por uma corrupção generalizada.
As vias de descolonização foram múltiplas, dependendo das especificidades dos territórios e da atitude das
potências colonizadoras.
Pode-se distinguir a descolonização aceite pela metrópole, em que a transferência de poderes foi gradual e por
etapas, e a descolonização violenta, resultante de uma luta armada, mais ou menos longa.
A Inglaterra foi a potência que melhor aceitou a independência das suas colónias, graças, em grande parte, à
qualidade do trabalho dos seus administradores, conseguindo reunir grande parte dos seus antigos territórios na
Commonwealth, uma comunidade de Estados ligados pelo símbolo comum da Rainha Isabel II, e por laços
económicos, culturais, de amizade...
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A França só aceitou a independência dos seus territórios da Indochina e da Argélia depois de guerras. O
mesmo se passa com a Holanda em relação à Indonésia, a Bélgica, em relação ao Congo, e Portugal, em relação
a Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde.
A primeira vaga independentista verifica-se entre 1945 e 1959: na Ásia, a Indochina francesa, a Índia, de que
depois se separou o Paquistão; no Médio Oriente, a Jordânia, a Síria e o Líbano; no Norte de África, a Tunísia e
Marrocos.
A segunda vaga ocorre entre 1960 e 1980, e significa o despertar da África, com o surgimento de 17 novos
Estados independentes no continente, como consequência da Resolução 1514. Em 1963, constitui-se a
Organização de Unidade Africana (OUA), com o objectivo de reforçar os laços entre os novos Estados, numa
perspectiva pan-africanista, e de lutar contra as potências colonialistas que teimavam em não descolonizar, como
era o caso de Portugal, contra o qual a OUA desenvolveu uma intensa actividade diplomática.
⇒ Portugal viu-se obrigado a alterar a sua política ultramarina e a sua imagem, tendo em conta que até a
sua velha aliada britânica se preparava para a transferência pacífica de poderes nas suas colónias. No
entanto, para Portugal, não havia possibilidade de abdicar dos seus territórios. Então, opta-se por uma
operação de cosmética que elimina as expressões colónia e império colonial, revogando-se o Acto Colonial
em 1951. Deste modo, Portugal deixa legalmente de ter colónias, que a partir de então passam a ser
chamadas Províncias Ultramarinas.
Na prática, o novo quadro jurídico apenas reforçava a autonomia das autoridades portuguesas nos territórios,
sendo que mesmo o estatuto das populações pouco se alterou: a condição inferior de indígena foi regulamentada
pelo novo Estatuto do Indigenato, publicado em 1954. Nele se definiam as condições requeridas aos nativos para
se elevarem à categoria de assimilados, equiparada à de cidadão português; condições essas que deixavam 99%
da população nativa de fora da cidadania portuguesa pois exigiam, para além da maioridade (18 anos), a
expressão correcta em português, o exercício de uma profissão, o podre satisfazer as suas próprias necessidades e
as da família a seu cargo, e não ser desertor nem refractário ao serviço militar.
Em 1961, pelas repetidas acusações de discriminação e condenações de que foi alvo na ONU, Portugal elevou
os nativos à categoria de assimilados, mas nem por isso a situação de inferioridade económica, analfabetismo e
privação de direitos se alterou significativamente.
Dado o movimento de garantias de independência noutras colónias pertencentes a outros países, as Províncias
Ultramarinas portuguesas também desejaram a sua autonomia total.
Nas décadas de 50 e 60, após vários anos de preparação de múltiplas organizações políticas e sindicais
clandestinas, organizaram-se os movimentos que, pela via da luta armada, mais contribuíram para a
independência dos nossos territórios, como a UNITA (União para a Independência Total de Angola), que surge
pela mão de Jonas Savimbi; a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), criada por Eduardo Mondlane;
como o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde), fundado por Amílcar Cabral.
Os confrontos iniciaram-se no Norte de Angola, em Março de 1961, e “rapidamente e em força” marchou o
primeiro contingente português, para Angola. Assim começa a guerra colonial portuguesa.
Em parte ofuscada pela mediatização do conflito no Vietname, a guerra colonial portuguesa passou
relativamente despercebida na comunidade internacional, embora tenha exigido um sacrifício tal do povo
português, tendo deixado a Guerra do Vietname a um nível cinco vezes inferior em termos de mobilização de
tropas (7% da população activa).
Portugal resistiu, ultrapassando, em muito, os prognósticos da comunidade internacional, tendo o conflito
durado 13 anos. Recusou-se sempre a via do diálogo e da negociação, pois as autoridades portuguesas nunca
reconheceram a guerrilhas como movimentos e libertação nacionalista, mas sim como terroristas infiltrados por
Estados vizinhos, tendo o conflito chegado a um impasse. Torna-se então, evidente que o futuro da guerra se
identificava com o futuro do regime.
⇒ Contrariando igualmente o movimento descolonizador dos anos 60, temos os casos da Rodésia e da África
do Sul, dominadas também por minorias brancas que institucionalizaram políticas de apertada segregação
racial em favor dos brancos.
Na Rodésia do Sul, os colonos brancos, liderados por Ian Smith, proclamam, em 1965, a independência desta
colónia inglesa, contra a vontade da Inglaterra e da ONU, que se recusam a reconhecê-la como um Estado, dado
o seu carácter segregacionista, mas com o apoio dos EUA, da vizinha África do Sul e de Portugal, que vê nela
um aliado contra a transferência de poderes. São estas as forças que permitem a Ian Smith resistir contra a
pressão internacional e às guerrilhas de libertação negras.
Na África do Sul, desde 1948 se reforçavam as barreiras legais que separavam os brancos do resto dos
cidadãos, constituindo um sistema fortemente segregacionista, denominado de apartheid, que consistia no
“desenvolvimento separado das raças”, sob a supremacia da raça branca (europeus) que, no país, representava
apenas 17% da população.
O sistema incluía a separação territorial (criação de 10 bantustões, os “Estados negros”, pretensamente
autónomos, mas, na realidade, completamente dependentes da República da África do Sul, onde habitavam cerca
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de metade dos negros do país, em condições de extrema miséria) e a discriminação jurídica que, ano após ano,
foi afastando os não-brancos dos lugares públicos, transportes, hospitais, escolas, zonas residenciais, empregos,
jardins, praias e escadas destinados à minoria europeia. Os não-brancos eram detidos por desrespeito às leis do
apartheid pela mínima infracção e, segundo as Nações Unidas, cerca de mil condenados foram executados, por
todo Mundo, entre 1961 e 1965, sendo que metade deles era de nacionalidade sul-africana.
Desde cedo que o modelo do apartheid foi condenado nas mais diversas instâncias internacionais, tendo-se a
África do Sul visto obrigada a abandonar a própria Commonwealth, em 1961. No entanto, apesar do isolamento e
das sanções económicas impostas pela ONU, este sistema brutal conseguiu manter-se até ao fim dos anos 80.
⇒ De todo este processo nasce o Terceiro Mundo. O conceito designa os países excluídos do
desenvolvimento económico, estendendo-se pelo Sul do Globo, abrangendo a América Latina, a África e a
Ásia do Sul e sudeste (com a excepção do Japão). Inclui as regiões mais pobres e mais populosas do mundo,
economicamente dependentes das nações industrializadas.
Cientes dos seus interesses comuns, esforçam-se por estreitar laços e por adoptar uma posição comum na
política internacional, independente dos dois blocos hegemónicos. É o que acontece na Conferência de Bandung,
na Indonésia, em 1955, que condena o colonialismo, rejeita a política de blocos e apela à solução pacífica dos
conflitos internacionais.
O Movimento dos Não-Alinhados nasce oficialmente na Conferência de Belgrado, em 1961. Teve como
principais promotores Nehru, da Índia, Tito, da Jugoslávia e Nasser, do Egipto, e tornou-se a expressão do sonho
de independência e liberdade das nações mais frágeis face às pressões das superpotências e do mundo
desenvolvido em geral. O Movimento foi eficaz na luta contra o colonialismo, mas não consegue a
independência efectiva em relação aos dois blocos, revelando a partir do final da década de 60, uma
aproximação em relação à União Soviética, que se sentia mais descansada com mais território para exercer a sua
influência.
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Em Outubro de 1962, aviões americanos obtêm provas fotográficas da instalação, em Cuba, de mísseis de
médio alcance capazes de atingir os EUA, e dá-se um dos mais graves episódios do afrontamento bipolar. O
Presidente Kennedy reage com determinação e sangue-frio: exige a retirada imediata dos mísseis sob pena de
retaliação nuclear, e entretanto, isola a ilha através de um bloqueio marítimo.
Entre 22 e 28 de Outubro, o Mundo vive na iminência de uma terceira guerra mundial, mas a dissuasão, mais
uma vez, funciona: Kruchtchev cede e, sob a promessa americana de não-agressão ao regime de Fidel Castro,
retira os mísseis de Cuba.
- crises no Médio Oriente:
• a crise do Canal do Suez iniciou-se em Julho de 1956, aquando da nacionalização da companhia anglo-
francesa que controlava o canal do Suez, por parte do Egipto de Nasser, em resposta à recusa da França e
da Inglaterra financiarem a grande barragem de Assuão, essencial para o desenvolvimento do país, que
tinha obtido armas da Checoslováquia, no ano anterior, numa clara afirmação de independência
relativamente à antiga potência colonizadora, a Grã-Bretanha, e à política de blocos em geral.
Numa tentativa de depor Nasser, a França e a Inglaterra iniciaram negociações secretas com Israel com vista a
um ataque concertado sobre o Egipto, tendo as operações militares recebido de imediato a condenação dos
“dois grandes” e da ONU, que exigiram o cessar-fogo.
Aparentemente de acordo, as duas superpotências não faziam mais do que salvaguardar os seus trunfos na
zona: a inclusão de Israel nas operações militares obrigava os EUA a condenar a agressão, sob pena de
inflamar, contra si, dado o seu apoio na controversa criação do Estado de Israel, os ânimos do mundo árabe; a
URSS via, no apoio ao Egipto, a possibilidade de aumentar a sua influência no Médio Oriente.
• a Guerra do Yon Kipur, em 1973, quando o Egipto, à frente dos aliados árabes, consegue recuperar o
controlo sobre a margem oriental do Canal do Suez e uma parte significativa da Península do Sinai. O
avanço no Sinai é travado pelos Israelitas, numa eficaz contra-ofensiva que resultou num rápido armistício
15 dias mais tarde.
- Guerra do Vietname: após a guerra de libertação da Indochina, a colónia Francesa, entre a França,
auxiliada pelos EUA, e a China, que apoiava o Vietminh na luta pela independência, que acabou por ganhar,
com a rendição da França, em Maio de 1954, o Laos e o Camboja tornam-se independentes e o Vietname
fica dividido pelo paralelo 17, segundo os Acordos de Genebra: a Norte, uma república democrática pró-
comunista; a Sul, uma república nacionalista pró-americana.
Perante a escalada da guerrilha vietcong, o braço armado da Frente de Libertação Nacional do Vietname do
Norte, os EUA decidem intervir na luta contra o comunismo ao lado dos vietnamitas do sul, e em Março de
1964, desembarcam 3500 fuzileiros americanos, tendo desembarcado nos três anos seguintes mais de meio
milhão de soldados.
Não estando preparados para a guerra na selva e de guerrilha, o exército mais poderoso do Mundo foi
humilhado, anunciando a retirada progressiva, em 1968.
A intervenção no Vietname constitui o mais duro revés da política de contenção americana. Os EUA não só
não conseguiram evitar a reunificação do país sob o comunismo, em 1975, como saíram da guerra
desprestigiados, marcados aos olhos do Terceiro Mundo como o ferrete do imperialismo, como fizeram nascer
um clima de mal-estar moral e uma onda de contestação, no seio da sua própria comunidade, onde os jovens
foram os protagonistas.
⇒ A contestação juvenil/estudantil foi um fenómeno mundial, embora com muita mais força nos EUA, a
partir dos anos 60. Até então, vivia-se num conformismo confortável, até que os jovens se começaram a
mostrar contra as ideias do sistema. A partir de 1965, o movimento ganha força com as manifestações de
pacifismo, contra a Guerra do Vietname, contra os modelos político-económicos dominantes (o capitalismo
e o “comunismo real”), contra o consumismo, a moral burguesa (valores do trabalho, da família,
conservadorismo...) e contra a discriminação racial.
Trata-se do movimento “hippie” que procura formas de vida alternativas, valoriza o mor livre, a mística
oriental, o consumo de drogas, o ”rock” e os grandes festivais de música.
O movimento alastra à Europa Ocidental, e radicaliza-se do ponto de vista político: França (Maio de 1968),
Alemanha e Itália, onde os resquícios destes movimentos vão dar origem ao terrorismo político com o
assassinato de políticos e banqueiros, e Inglaterra.
Os movimentos de constatação juvenil optam por vias marxista alternativas ao modelo soviético, a fim de se
recuperar a sua pureza, sem o autoritarismo do partido, devolvendo o poder ao povo. São exemplos o maoísmo,
na sua vertente da Revolução Cultural, o trotskismo, a auto-gestão (na França, trabalhadores derrubam os patrões
e tomam eles próprios conta da produção), e o “guevarismo” (Che Guevara, o grande símbolo destas vias
marxistas alternativas).
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AS DIFICULDADES DO ANOS 70
⇒ A partir de 1975, inesperadamente, pois até aí, o modelo capitalista imperava em toda a sua plenitude, abate-
se uma crise nos países industrializados, com acentuadas descidas dos respectivos PIBs, encerramentos de
empresas, afectando, em especial os sectores siderúrgico, da construção naval e automóvel, e o têxtil,
subindo em flecha o desemprego. Paralelamente, e ao contrário do que se verificou nas crises anteriores, a
inflação tornou-se galopante. Este fenómeno inédito recebeu o nome de estagflação, termo que aglutina as
palavras estagnação (da produção) e inflação.
Esta crise económica nos anos 70 deu-se, sobretudo, à conjugação de dois factores:
a crise energética – nos finais da década de 60, o petróleo era a fonte de energia básica de que dependiam
os países industrializados. Em 1973, os países do Médio Oriente, membros da OPEP (Organização dos
Países Exportadores de Petróleo), que até aí tinham mantido baixo o custo do barril de crude, fazem deste
recurso natural uma arma política, quadruplicando os preços, como retaliação à ajuda ocidental a Israel na
Guerra do Yon Kipur, impondo-se mesmo um boicote total aos EUA, à Holanda e à Dinamarca, “inimigos
da causa árabe”. Em 1979, a situação agravar-se-ia ainda mais com novas subidas de preço devido à crise
política no Irão (segundo maior exportador mundial) e à posterior Guerra Irão-Iraque.
Estes “choques petrolíferos” provocaram um acentuado aumento dos custos de produção dos artigos
industriais, e consequentemente, o encarecimento dos artigos junto do consumidor, gerando uma quebra no
consumo.
a instabilidade monetária, provocada pela suspensão, em Agosto de 1971, da convertibilidade do dólar em
ouro. A excessiva quantidade de moeda posta em circulação pelos Estados Unidos, cujo dólar se tinha
tornado numa espécie de moeda-padrão, em virtude da hegemonia económica americana, obrigou o
presidente Nixon a decretar a suspensão da sua convertibilidade em ouro, o que desregulou o sistema
monetário internacional dando origem a um fenómeno de inflação galopante.
⇒ A agitação social dos anos 70 é caracterizada pelos problemas políticos do Terceiro Mundo.
Em África, o problema são as graves rivalidades étnicas.
Os novos Estados herdaram fronteiras artificiais traçadas a “régua e esquadro” pelos europeus, que tanto
integram, num mesmo território, etnias diferentes, como separam grupos coesos, como os somalis,
desmembrados entre a Somália, o Quénia e a Etiópia.
As rivalidades étnicas são, muitas vezes, reforçadas por antagonismos religiosos. Assim sendo, não admira
que, em grande parte dos Estados africanos, as lutas de libertação se tenham prolongado, no período pós-
independência, em violentas guerras civis e em tentativas separatistas geralmente abortadas, de que o Katanga,
no Zaire, e o Biafra, na Nigéria, são dois exemplos.
Por vezes, as questões políticas fazem explodir ódios ancestrais que resultam em massacres interétnicos, como
acontece no Ruanda, entre tutsis e hutus, entre 1963-64, que vitimou 150.000 pessoas e, novamente, em 1994,
desta vez com um saldo de 500.000 mortos e dois milhões de fugitivos.
Num tal contexto, os regimes políticos tendem para a ditadura, porque mesmo os reputados líderes
nacionalistas, que orientam a sua luta sob o signo da liberdade política, se acabam por tornar, uma vez no poder,
chefes de um Estado totalitário. Mas, em muitos países, os líderes carismáticos das lutas de libertação não se
conseguiram manter no poder, sendo rapidamente derrubados por golpes militares que estabeleceram regimes
ainda mais tirânicos e corruptos e que, por sua vez, foram também vítimas de novos golpes de força: só entre
1960 e 1980 ocorrem 60 golpes de Estado na África Negra, 2/3 dos quais foram bem sucedidos.
Na América Latina, a situação de clivagem social (20% da população encontrava-se subalimentada, a
agricultura virava-se para as culturas de exportação e imensos latifúndios coexistiam com milhões de
camponeses sem terra) oferecia campo aberto às ideologias de esquerda, que os americanos tentavam, a todo
custo, contrariar, através do patrocínio da luta contra essas mesmas, quer frontalmente, quer por intermédio
da CIA, e através do apoio ás ditaduras de sentido contrário, que quase cobriram o subcontinente. Exemplo
paradigmático foi o violento golpe chileno que, em 1973, derrubou o presidente Salvador Allende,
legitimamente eleito, e instaurou um regime fortemente repressivo, liderado pelo general Augusto Pinochet,
um dos líderes mais violentos da História da América Latina.
Neste contexto, a guerrilha alastra, patrocinada ora pelos soviéticos, ora pelos americanos e, com ela, alastra a
instabilidade e a violência política.
No mundo islâmico, o orgulho de tempos passados renova-se, com a expulsão dos povos estrangeiros.
Ocupando uma vasta área geográfica que se estende do Médio Oriente ao Norte de África, os muçulmanos
partilham o respeito pelos princípios do Corão, do qual emana um vasto conjunto de normas que serve de
base aos mais variados aspectos da vida: religiosos, familiares, sociais, judiciais, etc., sendo que, no mundo
muçulmano, a religião invade todos os domínios e nada se pode entender sem ela.
O renascimento do nacionalismo árabe e a sua estruturação em Estados independentes coincidiu com a
criação, na Palestina, do Estado de Israel, “afronta” que contribui, como nenhum um outro factor, para criar um
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elo de solidariedade entre os países muçulmanos, reforçado pelo protagonismo alcançado por Nasser, pela
partilha de uma língua, de uma cultura e de uma religião. No entanto, há profundas diferenças neste mundo, pois,
há semelhança do cristianismo, a religião muçulmana sofreu divisões, opondo-se dois grandes grupos: os sunitas,
maioritários e que representam uma facção mais tolerante e aberta, que admite a coexistência entre o poder
religioso e o poder civil; e os xiitas, minoritários, mas extremamente activos, que rejeitam toda a autoridade
laica, reconhecendo como único poder o dos guias espirituais, os ayatollahs, que representam, simultaneamente,
a autoridade civil e religiosa. É este grupo que identificamos com os fundamentalistas islâmicos.
Em 1979, um revolução xiita, sob a orientação do ayatollah Khomeini, tomou o poder no irão, derrubando o
Xá Reza Pahlevi (pró-ocidental), e repondo em vigor castigos bárbaros, há muito caídos em desuso, iniciando
uma rápida islamização de toda a vida social e política, rejeitando limiarmente os valores e influências do mundo
ocidental. Esta subida ao poder dos ayatollahs reavivou o conceito de guerra santa, fomentando acções violentas
contra o Ocidente e contra os governos dos países árabes mais moderados, sob os quais pesa a acusação de
colaborarem com o “grande Satã” americano.
A QUEDA DOS ÚLTIMOS REGIMES AUTORITÁRIOS NA EUROPA OCIDENTAL
⇒ A crise política de 1958-62, em Portugal, marca o princípio do fim do regime autoritário de Salazar.
Apesar de ter recuperado do abalo que foi a queda dos regimes fascistas europeus após a 2ª Guerra Mundial, a
mesma recuperação não foi conseguida face ao “terramoto” provocado pela candidatura de Humberto Delgado
às eleições presidenciais de 1958.
A campanha do “General Sem Medo” superou, em impacto e apoio, todas as previsões, quer do Governo quer
da Oposição.
A “vitória” do candidato do regime, o almirante Américo Tomás, permite a Salazar sobreviver à crise, que
procura extinguir com uma severa repressão: o general Humberto Delgado, demitido das suas funções, parte a
caminho do exílio, logo seguido do bispo do Porto (pela carta de críticas que enviou a Salazar, no rescaldo das
eleições); a PIDE desencadeia uma ofensiva de grande envergadura contra o Partido Comunista (na
clandestinidade) que perde, num ano, 2/3 dos seus militantes; reprimem-se com feridos e mortos, as
manifestações do 5 de Outubro, do 1º de Maio e do 31 de Janeiro.
Em 1962, agudiza-se uma crise estudantil que põe em pé de greve as universidade de Lisboa e Coimbra.
Toda esta agitação rompeu a apatia dos media internacionais face à ditadura portuguesa, até aí considerada um
regime paternalista e quase benévolo. A projecção internacional vai reforçar-se com o célebre “caso do Santa
Maria”: um navio português no mar das Caraíbas é tomado de assalto, a 22 de Janeiro de 1960, pelo exilado
capitão Henrique Galvão, à frente de um comando do DRIL (Directório Revolucionário Ibérico de Libertação)
Esta sua acção é considerada pelas potências estrangeiras como um acto de protesto contra um regime repressivo
e, aquando da descoberta do navio pelos americanos, estes entregam os rebeldes, são e salvos, ao exílio que o
Brasil lhes oferece.
A grave crise interna que o regime enfrenta complica-se com a eclosão da guerra colonial, em 1961, mas o
velho ditador a tudo resiste. Só a inevitável morte de Salazar parece ser a solução.
⇒ A 18 de Dezembro de 1968, dada a “incapacidade permanente” de Salazar, operado a um hematoma alguns
dias antes, o Conselho de Estado inicia o processo institucional para a sua substituição. O Prof. Marcello
Caetano é o escolhido, sobre quem convergem as esperanças de uma mudança política, e que, de imediato,
tomou algumas medidas que pareceram atenuar o cariz totalitário do regime:
• regresso do exílio de algumas personalidades como o bispo do Porto e Mário Soares;
• moderação da actuação da polícia política (que se passa a chamar Direcção Geral de Segurança – DGS);
• abrandamento da censura (mais tarde designada Exame Prévio);
• abertura da União Nacional (rebaptizada, em 1970, de Acção Nacional Popular – ANP) a sensibilidades
políticas mais liberais.
Dava-se aos portugueses a “liberdade possível”, com o intuito de progressivamente se evoluir para um Estado
menos autoritário, dentro de uma “evolução na continuidade”. Este conjunto de medidas, que gerou um clima de
optimismo e esperança num real liberalização do regime, ficou conhecido por “Primavera marcelista”.
No entanto, o teor destas medidas chocava com a continuação da guerra colonial, defendida pelo novo
governante, um claro apoiante dos interesses das populações brancas no ultramar. Isto provocou uma forte
contestação, por parte do Exército e dos portugueses, que Marcello Caetano viu necessidade de reprimir,
desencadeando uma vaga de prisões e remetendo para o exílio personalidades ainda agora de regresso ao país,
como foi o caso de Mário Soares.
A partir de 1970, a credibilidade do marcellismo deteriora-se rapidamente:
• no plano externo, reacendendo-se as críticas da ONU à política colonial e aumentando a credibilidade dos
movimentos de libertação;
• no plano interno, sendo que os deputados liberais abandonam a Assembleia Nacional, recrudescem as
acções dos grupos de extrema-esquerda, alarga-se a contestação dos católicos progressistas e cresce, a olhos
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vistos, o descontentamento nas Forças Armadas, donde veio o mais duro golpe: um prestigiado general
Spínola, herói da guerra da Guiné, publica um livro onde afirma abertamente que a guerra nas colónias está
perdida. Marcello Caetano, após a leitura do livro, percebe “que o golpe militar [...] era inevitável”.
⇒ O golpe militar de 25 de Abril de 1974
⇒ Portugal a caminho da democracia. O reforço das instituições democráticas
⇒ A descolonização portuguesa e o seu impacto na África Austral
⇒ As transformações democráticas na Grécia e em Espanha
(estes são os tópicos que ainda devem ser abordado dentro desta matéria, que se encontram entre as páginas 277
e 288 do manual “O Tempo da História”, volume 2, ou noutro qualquer manual de História do 12º ano)
TRANSFORMAÇÕES IDEOLÓGICAS E LINHAS ESTRATÉGICAS DOS ANOS 80
⇒ A crise económica dos anos 70 pôs em evidência as debilidades do sistema económico e social do
Ocidente: ao mesmo tempo que diminui o investimento privado e abranda o crescimento produtivo, as
finanças públicas acusam um enorme défice orçamental gerado, em grande parte, pelos pesados encargos
que lhes impõe o Estado-Providência.
Para ultrapassar a crise, os Estados optaram por uma via pragmática que os conduziu a uma menor
interferência do Estado nas questões económicas e sociais, sendo esta uma inversão do modelo keynesiano, à
qual chamamos neoliberalismo, em vigor durante os anos 80.
O neoliberalismo caracteriza-se:
• em termos económicos, pelo incentivo ao investimento privado através da redução dos encargos que
pesavam sobre as empresas e de uma revisão das leis laborais no sentido de facilitar, quer a contratação quer
o despedimento de trabalhadores;
• no comércio externo, pela manutenção por parte dos estados de taxas aduaneiras reduzidas, capazes de
evitar a retracção do comércio mundial que se verificou nos anos 30;
• no campo social, pelo retrocesso do Estado-Providência, assumindo-se como inevitável a redução das
comparticipações do Estado em matéria de protecção social, pois a elevada taxa de desemprego e de
envelhecimento da população provocaram um desequilíbrio entre as receitas e os encargos da Segurança
Social. (Margaret Thatcher, chefe do Governo britânico [Partido Conservador], e Ronald Reagan, presidente
dos EUA [Partido Republicano], foram, nesta época, os mais decididos defensores desta política neoliberal).
A redução das comparticipações sociais provoca o descontentamento na população, que imputa ao estado a
obrigação de promover a justiça social e o bem-estar dos cidadãos, fazendo com que o a crise do Estado-
Providência continue um problema aberto.
⇒ A tendência neoliberal dos anos 80 contribuiu para reforçar a onda de contestação que, nos países de
Leste, se dirigia à economia colectivizada e ao Estado socialista em geral.
Razões do descontentamento social e sinais da decadência do regime:
marasmo económico;
falta de bens de consumo;
salários muito baixos;
corrupção generalizada;
falta de liberdade de expressão e informação;
brutalidade das forças de segurança;
aumento da criminalidade e do consumo de álcool.
Como tentativa de resolução da situação, o novo secretário-geral do PCUS, Mikhail Gorbatchev lança, entre
1985 e 1986, as bases da perestroika (“reestruturação”) e da glasnot (“transparência”), um conjunto de reformas
político-económicas cujo objectivo era reanimar o sector produtivo e, simultaneamente, liberalizar o regime.
Tratava-se, nas palavras do seu autor, de realizar o “enlace do socialismo com a liberdade”. Reformas essas que
gozaram de uma grande popularidade, quer na União Soviética, quer no estrangeiro. No entanto, o fracasso
económico da perestroika e a liberdade de expressão/manifestação trazida ela glasnot rapidamente se
conjugaram numa avalancha de críticas e reivindicações que Moscovo não conseguiu controlar.
A crise do modelo marxista e o afrouxamento da linha totalitária conduziram, rapidamente, à desagregação do
bloco soviético. Em 27 de Outubro de 1989, o Pacto de Varsóvia reconhece “o direito de cada nação decidir
livremente a sua política”; poucos dias depois, a 9 de Novembro, perante o mundo estarrecido, cai o muro de
Berlim; alguns meses passados, todos os países que gravitavam na esfera soviética se abrem ao
multipartidarismo, o que levou à extinção do Pacto de Varsóvia, a 1 de Julho de 1991. Em Dezembro, depois da
secessão das Repúblicas Bálticas e da Moldávia, desaparece a própria União Soviética, que dá lugar à CEI
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(Comunidade de Estados Independentes), estrutura federativa que agrupa as antigas repúblicas (agora Estados de
direito) da ex-URSS (à excepção das Repúblicas Bálticas).
Nos anos 90 desenha-se, assim, uma nova ordem mundial. Os Estados Unidos, privados do seu único rival,
gozam, agora, de uma hegemonia incontestada.
⇒ Uma segunda vaga pacifista sucedeu na Europa e dá-se o reinício das negociações sobre armamento
porque:
• a invasão soviética do Afeganistão, em 1979, e o consequente malogro dos acordos de SALT II levaram a
mais uma “corrida aos armamentos”;
• o fantasma da guerra nuclear ressuscita na Europa, e dão-se gigantescas manifestações, sobretudo entre
1982 e 1983, na Alemanha e na Inglaterra, onde os manifestantes, sob o slogan “antes vermelhos que
mortos”, protestavam directamente contra a decisão da NATO de instalar, na Europa, mísseis Pershing II e
mísseis Cruise.
Depois de um primeiro encontro “de boa vontade”, em 1985:
• os dois países aceitam a suspensão de todos os mísseis de médio alcance estacionados na Europa (INF –
Intermediate Range Nuclear Forces), acordo considerado o primeiro passo concreto para um futuro
desarmamento (1987);
• novo tratado, em 1990, para a redução de armas convencionais.
• os esforços para o desarmamento prosseguem ao longo da nova década, sobretudo no âmbito das armas
nucleares e químicas.
No entanto, a recusa de alguns países em assinarem as convenções internacionais, o seu desrespeito, bem
como o enorme potencial destruidor do armamento “no activo” não permitiram afastar, de vez, a hipótese de uma
destruição maciça.
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