O ser humano é dotado de um cérebro funcionalmente complexo,
cujas funções não totalmente foram desvendadas pela ciência e cujas habilidades e capacidade ainda são razoavelmente desconhecidas. Admitido como um intermediário entre o ser consciente e superior, dotado de alma e espírito (nous), e o corpo físico a que serve, o cérebro se vale de sensores externos para obter informações sobre o meio físico em que o corpo vive, armazenando-as e interpretando-as de acordo com o seu aprendizado anterior e progressivo. Poder-se-ia dizer que o cérebro, à semelhança dos computadores, está quase vazio, ao nascer, nutrindo-se de informações, conhecimento e sabedoria à medida que a vida passa. Diz-se que, sendo inteligente, o ser humano usa seu cérebro para construir novas concepções, a partir das idéias arquivadas em sua memória e dos influxos indutivos provenientes de seu eu superior. Assim sendo, ele tem consciência do significado dos acontecimentos vividos ou observados pelos sensores e avaliados pela mente racional, perquiridora e pelo eu interior supra físico. Cumpre, aqui, então, distinguir entre o que se entende por percepção e o que quer dizer consciência, pois são fases distintas do processo de formação do pensamento humano, a percepção sendo condição principal para a formação da consciência. Perceber é adquirir conhecimento de que um fato ocorreu, por meio do uso dos sentidos e pela indução subjetiva. O fato pode ser, simplesmente, o deslocamento de um animal pela planície ou, mais complexo, a devastação que um terremoto tenha causado numa certa região. Costumamos dizer que tomamos consciência dessas ocorrências pelos simples fato de que os lemos no jornal ou vimos suas imagens pela televisão. Talvez as duas coisas. Na verdade, queremos dizer que tomamos conhecimento dos fatos, mas não cabe afirmar que temos deles consciência, pois ainda falta uma etapa importante na sua aquisição. Não devemos, portanto, confundir conhecimento com percepção, esta pressupondo aquele, mas ainda dependendo de outros fenômenos para existir. Ao percebermos, utilizamos os sensores objetivos (audição, tato etc.) para fazer os registros físicos relacionados com o objeto, e os perceptores subjetivos (provenientes do eu interior) que associam, ao registro inicial, valores agregados, que vão permitir uma apreciação final mais completa (como a dor dos habitantes no local da tragédia, ou a preocupação de autoridades envolvidas). Assim, a percepção – função complexa da mente objetiva e subjetiva – fornece um conhecimento bastante completo do fato percebido, fazendo-nos emitir juízo de valor sobre ele. No entanto, não nos envolvemos completamente, pois o fato ainda é externo ao ser, ou seja, ele não nos pertence inteiramente nem nós dele somos parte integrante. Quando um conhecimento anteriormente adquirido interfere decisivamente na nossa tomada de posição, na formação de um juízo de valor relacionado com o que faremos a seguir ou com a atitude que vamos tomar, dizemos que formamos consciência dele. Dizendo de outro modo, temos consciência daquilo que, por qualquer meio, nos envolve como indivíduos e nos inclui como participantes de um evento, ainda que passivamente. A consciência vem, assim, depois da percepção, na ordem dos acontecimentos, podendo ser imediata ou posterior a estes. Quando temos consciência imediata, participamos de acontecimentos que evoluem logo após, como, por exemplo, nas situações de perigo ou de emergência. Percebemos, avaliamos, agimos e, assim, temos consciência de todo o alcance daquilo que nos envolveu. A consciência imediata pode ser confundida, aqui, com a percepção, pois se dá logo depois desta, em termos temporais. Viajando, certa vez, com a família, após uma curva da estrada deparei-me com dois caminhões que desciam em nossa direção, com velocidade, sendo impossível que pudessem parar ou desviarem-se de nós. Percebendo a inevitabilidade do choque, dei uma guinada com o carro, fazendo-o ir, abruptamente, para o acostamento, freiando-o, a seguir, até que parasse. Os caminhões, ainda emparelhados, passaram, ruidosamente, ao meu lado. Percebei, então, que estava tremendo dos pés à cabeça, pela adrenalina que havia sido injetada em meu sangue. Só então, dei-me conta do risco por que havia passado e as possíveis conseqüências de uma colisão. Depois de passado o perigo, eu tive a plena consciência dele e de suas possíveis conseqüências, ainda que a percepção do acontecimento tivesse ocorrido muito antes, permitindo- me a reação reflexa, quase instintiva. Quando ocupamos posição de destaque num organismo social – como um clube, por exemplo – nossas ações se refletem sobre todo o organismo, fazendo-o reagir de algum modo. Cumpre-nos, pois, antecipar as reações possíveis a cada atitude que tomamos, a fim de que não sejamos surpreendidos por efeitos adversos inesperados, cujos resultados podem ser definitivos e negativos. Essa antecipação depende, em muito, da percepção que tenhamos do meio que nos cerca (o organismo social), das condicionantes históricas de sua existência, da nossa individualidade, das leis e regulamentos que ordenam a existência legal do organismo e de tudo o mais que possa influenciar os eventos posteriores a uma tomada de decisão. Todos os indivíduos, numa sociedade, têm o dever de ter consciência de cada atitude ou ato que tomar ou praticar, a fim de não se tornar inadequado para o meio circundante e, em conseqüência, ser rejeitado ou expelido, como proteção automática da coletividade. Sopesar cada gesto, palavra ou ação, antecipando-lhes os resultados e as reações que se possam produzir pode resultar numa facilidade maior de adaptação aos ambientes em que cada um deve passar parte de sua vida, facilitando o desenvolvimento de relacionamentos muito melhores e embasados em confiança, reciprocidade, tolerância e amizade. Não basta perceber o que poderá ocorrer, em cada caso: é necessário ter consciência do significado de cada ocorrência para todos os envolvidos. Na Maçonaria, desfrutamos da fraternidade decorrente de nossa aceitação de todos os irmãos tal como eles são. Quando ocorre uma divergência, a melhor saída é a do diálogo franco, aberto, cordial e sincero, em que as razões possíveis sejam confrontadas, se necessário com o arbítrio de outros irmãos, até que um caminho conciliatório apareça, de modo a que o valor maior - a fraternidade - seja preservado. Ao ser admitido maçom, o novo membro da irmandade começa a ter uma percepção cada vez mais percuciente da Ordem, dos seus usos e costumes, das suas exigências e da sua maneira de viver. Essa percepção progressivamente mais completa leva o aprendiz a buscar mais conhecimentos específicos que com ela interajam, permitindo-lhe, pouco a pouco, integrar-se na família a que aceitou pertencer e, mais ainda, a participar, efetiva e decididamente, nas suas atividades as mais variadas. Quando um irmão que ocupe um cargo administrativo ou tenha importância histórica para a loja adota uma postura ou toma uma iniciativa, tudo o que daí decorrer influenciará todos os outros obreiros, fazendo-os reagir nas mais inesperadas e inusitadas direções, com intensidade nem sempre proporcional ao fato gerador. Isso é humano e como humanos devemos aceitar. Por esse motivo, antes de adotar a postura ou agir, particularmente se há notas de discordância na sua intenção, o maçom deve empregar toda a sua maestria na formação de uma consciência precisa e completa das conseqüências da sua decisão, assegurando-se de que ela é o melhor para a ordem e para si mesmo. Só a vivência maçônica através dos graus iniciais, relevantemente passivos e receptivos, permite que, por meio do estudo e da sua própria aplicação nos trabalhos que lhe são solicitados, o Aprendiz, com a sua percepção maçônica desperta e crescente, passe ao grau seguinte – o de Companheiro – em que prosseguirá desenvolvendo essa consciência específica de que a Maçonaria vai necessitar quando, completados os estudos do grau, for, afinal, exaltado Mestre. Fica, então, o repto: procuremos, antecipadamente, ter consciência de tudo o que nos fará decidir, seja lá sobre o que for, para que as decorrências e conseqüências de nossos atos e posições não produzam efeitos negativos em nossa irmandade e em nós mesmos. Aproveitemos cada momento na companhia dos nossos Irmãos para enriquecermos os nossos conhecimentos, aprimorarmos o nosso poder de percepção real e completa dos fenômenos de toda ordem que ocorrem nas nossas reuniões e eventos, tornando o nosso convívio cada vez mais harmonioso e fraterno, na busca perene da paz universal. Reflitamos sobre isso!...