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CONSIDERAÇÕES SOBRE A

JUVENTUDE, AS BELEZAS E OS
PODERES... ALGO SOBRE BORDAS
E TRANSBORDAMENTOS DA ARTE.

Aldo Victorio
A larga produção conceitual sobre a formação da juventude
brasileira aponta, assim como para a juventude planetária, para a
relevância das redes culturais nas quais todos os jovens movimentam
seus cotidianos. Tais redes são constituídas pela interminável criação
dos micro-meios locais (e transitantes) de pertencimento cultural e
proteção tribal. Movimentada pela diversidade de modos de ser e agir
compõe-se a vasta rede da juventude contemporânea. Entretanto, a
mutação, o trânsito e a performatividade dinâmica, a criação de novos
modos e usos dos elementos compositivos dos cotidianos aposentam
qualquer definição universalizante da juventude. As práticas cotidianas
são frequentemente atravessadas pela invenção de linhas de fuga,
de escapes do inescapável. Assim, a cada novo limite ou obstáculo
imposto pelas dinâmicas sociais, por sua vez sempre atingidas pelas
decorrências do mercado, novas formas de viver emergem da suposta
banalidade do cotidiano. Essas importantes criações se territorializam
no campo das corriqueiras práticas diárias, seja na ação da língua, seja
nos comportamentos afetivos, nos hábitos e usos do corpo e nos modos
de uso de adornos, nas escolhas e criações das Indumentárias, etc. Nas
diagramações e tatuagens dos afetos, na ourivesaria da juvenilidade, na
detonação das existencialidades... Essas observações são argumentos
que trazemos a favor do universo juvenil, adesão incondicional e mais,
elogio. Elogio que vai sobretudo, para o que mais entendemos como
destacável do mundo juvenil contemporâneo: os meninos e meninas
periferizados. Relevo cada vez mais pregnante na trama cultural do
país.
A propósito, não é novidade que a maior parte das ações
políticas implementadas e praticadas no Brasil nunca favoreceu os
pobres, quiçá os jovens e crianças do limbo social que é o não lugar
para além das proteções do estado, da empregabilidade., etc.. Essa
perversa face da arquitetura social brasileira decorre do acúmulo de
dívidas sociais até então ainda insanamente ampliadas. Trata-se de
uma poupança de patologia social cujo crescimento descontrolado,
além de atingir gravemente quase a totalidade da infância e juventude
urbana pobre, vem, em um não surpreendente efeito, eliminando
um a um dos aparatos de preservação dos privilégios dos principais
responsáveis e beneficiados de tal “estado das artes”. Contudo, esses
efeitos rebeldes são apenas colisões erráticas, longe de qualquer projeto
de luta sistematizada que ofereceria possibilidades de formação de
uma sociedade mais justa.
O paroxismo da crise a que assistimos e participamos é o
estilhaçamento da cidade, na qual todos são, em menor ou maior grau,
alvo dos estilhaços. Uns certamente ainda mantêm alguma proteção
que os defende dos efeitos erráticos dos embates desordenados a que o
drama da cidade é quase sempre reduzido. Assim, na ‘cidade violenta’,
como em qualquer guerra, o maior risco é sempre o do mais frágil, e o
mais frágil é, sabidamente, o grupo daqueles que estão no ‘ar antes de
mergulhar’, ou seja, os jovens pobres, desfuturados e cuja insegurança
– atributo de muitos que perderem os mínimos benefícios da condição
infantil - osarremessada em direção à nublada e aparentemente
inatingível vida adulta.
O percurso açodado destes meninos e meninas é bombardeado
por toda sorte de petardos - das diversas cobranças de produção de
recursos, passando pelas exigências escolares, à adaptação social, auto
sustento, etc. - e minado por imprevisíveis armadilhas e artimanhas das
tramas operatórias do mercado, entre as quais predomina o fascinante
e aterrador mundo imagético. Meio à multiplicidade de perspectivas
que buscam dar conta da atualidade, vivemos a pós-modernidade, ou
modernidade tardia, configurada pela complexidade e pelo contraste,
nos quais as juventudes contemporâneas são encurraladas pelo que
constituiu o capitalismo contemporâneo, pós-industrial ou financeiro.
Maquinário de ação global que é inimaginável descolado do recurso à
sedução do olhar e do jogo das imagens.
E é justo o jogo das imagens que encurrala os jovens nos
seus cruciais atravessamentos mais emblemáticos da vida corporal e
social. É preciso, pois, compreender a juventude também como um
delicado embate sucessivo e simultâneo de diferentes desafios, seja os
já mencionados, além dos de ordem fisiológica (mudança do corpo,
ebulição hormonal), e os de sentido agudamente cultural: a conquista
da aceitação, do pertencimento tribal, das realizações afetivas, etc.
Nos tempos de agora, estes últimos, que denominamos de ‘ordem
cultural’, fundados historicamente em ritos de passagem que antecedem
a inserção social, se agravam duramente na medida em que todas as
instâncias simbólicas da ordenação social são atingidas pelas ações do
mercado, via de regra, devastadoras. O ritualístico de cunho societal é
então substituído por qualquer pastiche que gere lucro. De redução em
redução à produto consumível, reeditável e novamente descartável, as
ligações sociais vão de desmantelando e dando espaço à insuportável
fragmentação de sentidos na qual, arriscadamente flutua a sociedade
contemporânea.
O mercado vibra na apropriação de qualquer campo no qual
identifique possibilidades de geração de capital. O esgotamento do
modelo industrial fez com que o maquinário capitalista investisse
fortemente sua devastadora capacidade para um campo de recursos
inesgotáveis: os aspectos estéticos do campo simbólico e suas
veiculações. Se a potência limite da condição humana sempre foi a
criação e fruição do mundo, tal complexo fundo sem fundo, gerador
das tessituras humanizadoras, se mostraria um sedutor campo a
ser explorado. A condição juvenil, sempre atravessada por riscos
e fragilidades, é, também, e simultaneamente, o espaçotempo da
radicalidade na experimentação estética que advém do embate de ser
e estar no mundo. Talvez uma compensação orgânica para assegurar
tão delicada travessia. Este cenário de especial ecologia atrai nefastas
explorações mercadológicas. Não é à toa que a publicidade de
qualquer coisa é sintonizada em esferas eternamente juvenis, assim
como a maior parte dos sedutores produtos,são apresentados, sempre
na medida e proporção da idealizada freqüência juvenil. Na caçada
voraz do mercado, as armas estão dirigidas para um grupo fragilizado
pela embriagues decorrente da urgência do desejo por experimentações
estéticas. Implacáveis, essas armas se configuram das mais agressivas
às mais sutis formas de persuasão e sedução, e com estas invadem todos
os espaços e com a mesma voracidade cria oportunidades de invasão
tanto nas ambiências públicas quanto nas privadas. Os chips do desejo
irrealizável são, assim, instalados tanto nos mais favorecidos quanto
nos mais pobres.
Sublinhar essas atuações da maquinaria mercadológica
facilita o desenho das diferentes formas de ação da juventude meio às
muitas guerras que lhe envolvem e atingem. Suas formas de ação são
preciosos indícios, a partir dos quais poderemos produzir um panorama
de entendimento do ambiente e espaçotempos juvenis para utiliza-lo em
seu próprio proveito.
A produção imagético/sedutora, intensamente utilizada
pelas estratégias mercadológicas, vem provocando interferências
significativas na vida dos jovens. Personagens destituídos de co-
autorias que acabam indefesos num mundo de imagens, de hiper-
realidades, nos termos de Baudriallard, de puro simulacro. Enfrentar
essa problemática impõe recuperar alguns aspectos da significação,
não apenas da imagem, mas da experiência estética e sua participação
na formulação da humanidade. Leva, então, a sublinhar a presença da
manifestação (produção e fruição) estética em todas e qualquer cultura
e assim destacar a força que esse campo - a estética - não apenas como
produção de prazer com a beleza, mas, sobretudo como corpo dos
sentidos da vida, significa. Até em um açodado percurso pela história
da humanidade é possível reconhecer a importância do jogo estético e
sua constante geração imagética, nos mais íntimos ritos da vida privada
ou nos mais solenes eventos públicos.
A força do investimento na aparência frequentemente reduz
à superfície dos acontecimentos, via a narrativa da ornamentação, as
suas concretas realizações. Não é de admirar que, com a emergência
do capitalismo, qualquer manifestação da potência estética seja
objeto da exploração mercadológica. Tanto como veículo para
novos investimentos, quanto como geradora de produtos, a relação
produção/fruição estética passa a subjazer todas as ações do mercado.
Para tanto foi se dando a artificialização de novas diferenças,
como a invenção do gênio criador às mais específicas definições,
valorizações e hierarquizações das obras de arte. Nesse caminho, foi
instaurada uma ilusória, mas potente e atuante, centralidade estética,
sustentada por um sistema de eleições e interdições, legitimizações e
invisibilizações de toda a sorte de obragens. Fez-se também, assim,
o universo da Arte outorgada, cuja estrutura e discurso legitimadores
vêm conquistando maior potência a cada momento e movimento de
seu próprio engendramento. A arte consolidou-se como obra estética,
obra constituída por uma tessitura de verdades severamente formulada
a partir de uma (auto)poética ao avesso, cujo triunfo de sua produção
implicou na periferização avassaladora de muitas belezas e de suas
gentes, como vemos hoje diagramada/espatifada as pessoas na cidade.
Entretanto, a despeito de tudo isso, nos centros e nas periferias se faz
coisas imprescindíveis à cidade e à cimentação societal que, por falta
absoluta de denominação melhor, chamamos de Arte.

Aldo Victorio

Professor do Instituto de Artes da UERJ e Líder do grupo de pesquisa


Estudos Culturais em Educação e Arte (UERJ/UFRRJ), Linha de
pesquisa Juventude líquida: estética / educação / acontecimentos.

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