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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal
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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
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DIREITO ADMINISTRATIVO

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DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO

1. LIMITAÇÕES DO ESTADO AO DIREITO DE PROPRIEDADE

1.1. Perfil Constitucional


A Constituição Federal assegura o direito à propriedade, conforme disposto no art.
5.º. É um direito individual, sendo, portanto, cláusula pétrea.

• Art. 5.º, inc. XXII: é garantido o direito à propriedade.

• Art. 5.º, inc. XXIII: a propriedade atenderá a sua função social.

Em seu art. 170, a Constituição Federal estabelece que “a ordem econômica,


fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:

II – propriedade privada; ...”

O direito à propriedade tem limites, sendo condicionado ao bem-estar da sociedade


e devendo ser respeitado como direito fundamental e como direito da atividade econômica.
Com efeito, de acordo com a doutrina civilista de vanguarda, o direito de propriedade tem
hoje, de acordo com o perfil impresso pela Constituição vigente, natureza jurídica de
Direito de Ordenação Social.

1.2. Definição
O art. 524 do Código Civil estabelece que propriedade é o direito de usar, gozar,
usufruir e dispor de um determinado bem, e de reavê-lo, de quem quer que injustamente o
esteja possuindo.

O referido artigo abrange a propriedade de bens materiais e de bens imateriais. Bens


imateriais (como o direito intelectual, que está disposto na Lei n. 9.610/98) é matéria que,
nos dias de hoje, não está mais disciplinada pelo Código Civil.

1.3. Função Social


A propriedade, embora protegida pela Constituição Federal, deverá satisfazer às
necessidades da sociedade.

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A Constituição Federal define o que seja função social:

• Propriedade urbana – art. 182, § 2.º, da CF: a propriedade urbana cumpre sua
função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da
cidade expressas no plano diretor – plano diretor (art. 182, § 1.º, da CF) é o
documento legal que estipulará as regras para o desenvolvimento ordenado de
uma sociedade, de uma cidade. O plano diretor deverá conter: demarcação de
zona de proibição de construção; zona de indústria; zona de residência; zona
comercial; zona de tombamento e outras situações.

• Propriedade rural – art. 186 da Constituição Federal: a função social é


cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente e segundo
critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:

- aproveitamento racional e adequado da propriedade (caráter subjetivo);

- utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio


ambiente (caráter subjetivo);

- observância das disposições que regulam as relações de trabalho (caráter


subjetivo);

- exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e também dos


trabalhadores.

Para propiciar o bem-estar social, o Estado poderá intervir tanto na propriedade


privada quanto nas atividades econômicas das empresas. O que se exige é que tal
intervenção respeite os limites constitucionais que amparam o interesse público e garantem
os direitos individuais.

Se a propriedade estiver cumprindo a sua função social, conforme disposto na


Constituição Federal, a única possibilidade de intervenção é com base na supremacia do
interesse público sobre o particular, ou seja, por necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social; nesse caso, conforme disposto no art. 5.º, inc. XXIV, da Constituição
Federal, mediante prévia e justa indenização em dinheiro.

Se não estiver sendo cumprida a função social da propriedade, o proprietário sofre


uma penalidade – perda da propriedade – e faz jus a uma indenização; porém, essa não será
prévia, não será justa, nem em dinheiro (art. 182, § 4.º, inc. III, da CF).

Sendo o imóvel rural, deverá obedecer ao disposto no art. 184 da Constituição


Federal.

Assim, a desapropriação poderá ocorrer, esteja ou não a propriedade cumprindo a


sua função social: no primeiro caso, por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse
social; no segundo como penalidade. Em ambas ocorrerá a indenização, caso contrário
ocorreria confisco, o que é proibido pela nossa Constituição Federal, salvo na hipótese de
expropriação de glebas utilizadas para a plantação e cultivo de plantas psicotrópicas (art.
243 da CF).
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1.4. Meios de Intervenção na Propriedade


Por ser o Direito de propriedade considerado verdadeira cláusula pétrea, núcleo
intangível da Constituição Federal, as modalidades de intervenção na propriedade privada
só podem estar previstas no texto constitucional, e são: A requisição; a ocupação
temporária; a limitação administrativa; a servidão e o tombamento, a seguir definidas.

1.4.1. Requisição
Requisição é meio de intervenção na propriedade, que traz restrições ao direito de
uso, diante da hipótese de iminente perigo público (exemplos: inundação, incêndio,
sonegação de gêneros de primeira necessidade, conflito armado, comoção intestina).

É disciplinada pelo art. 5.º, inc. XXV, da Constituição Federal: no caso de iminente
perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.

O iminente perigo público, disposto no artigo em estudo, não está caracterizando o


perigo em si, mas sim o perigo em via de acontecer.

Só comportará indenização caso exista dano decorrente da utilização por parte da


Administração Pública.

1.4.2. Ocupação temporária


Ocupação temporária é a utilização transitória, remunerada ou gratuita, de bens
particulares pelo Poder Público, para a execução de obras, serviços ou atividades públicas
ou de interesse público. Essa prerrogativa estatal pode ser transferida a concessionários e
empreiteiros, desde que autorizados pela Administração.

Tanto a ocupação temporária como a requisição são modalidades de intervenção


quanto ao uso. A diferença básica entre ambas está em que, para a requisição, é necessário
o iminente perigo público, enquanto para a ocupação temporária, que, via de regra, ocorre
em imóvel não-edificado, não é necessário o iminente perigo público, bastando o interesse
público.

A ocupação gera indenização, caso exista prejuízo decorrente do uso do bem pela
Administração Pública.

1.4.3. Limitação administrativa


Limitação é toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública,
condicionadora do exercício de direitos ou de atividades particulares, às exigências do
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bem-estar social. Assim, por exemplo, para a construção de um prédio, será necessário
respeitar determinada altura, em obediência à lei de zoneamento. São preceitos de ordem
pública, por isso impostos de forma unilateral e imperativa. Deverão, contudo,
corresponder às justas exigências do interesse público.

As limitações administrativas tanto podem constituir matéria privativa de lei –


quando envolverem assunto que somente podem ser tratado por meio desta espécie
legislativa – quanto ser impostas por regulamento (cuja forma é o decreto regulamentar),
quando consistirem em especificação de matéria já constante em lei. Poderá também a
Administração recorrer a provimentos de urgência para estabelecer limitações ao uso da
propriedade.

As limitações administrativas ao uso da propriedade podem gerar obrigações e


direitos subjetivos entre os vizinhos, obrigando a observância das limitações por parte dos
que constroem sob imposições administrativas.

O direito subjetivo entre vizinhos, nas limitações administrativas, é assunto que vem
causando profundas divergências nos tribunais. Há julgados que negam ação ao vizinho
para exigir de seu confinante o atendimento das limitações.

É entendimento de Hely Lopes Meirelles1 que, “no direito de construir, por expressa
determinação do Código Civil, as normas de vizinhança são sempre complementadas pelas
limitações administrativas ordenadoras da construção e assecuratórias da funcionalidade
urbana”.

O Tribunal de Justiça de São Paulo proferiu decisão, confirmada pelo Superior


Tribunal de Justiça, no seguinte sentido: o proprietário lesado por obra vizinha, erguida
com infração de normas edilícias, tem ação contra o dono da obra e contra a entidade
pública que a autorizou legalmente.

1.4.4. Servidão
A servidão é meio de intervenção na propriedade particular, que estabelece restrição
quanto ao uso, por intermédio de imposição específica, concreta e onerosa, visando
possibilitar a realização de obras e serviços públicos; por exemplo: obrigação, imposta a
determinada propriedade privada, de suportar a passagem de fios de energia elétrica –
imóveis particulares onerados como serventia pública.

A servidão é onerosa porque impõe dever concreto ao proprietário, apresentando


restrição apenas a ele.

O proprietário submetido à servidão administrativa terá direito à indenização


correspondente ao prejuízo causado ao imóvel. Não havendo prejuízo que decorra do uso
da propriedade pelo Poder Público, nada há a indenizar.

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Direito Administrativo Brasileiro: Limitação Administrativa. 26.ª ed. São Paulo: Malheiros , 2001. p. 596.
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1.4.5. Tombamento
O tombamento é o meio de intervenção na propriedade que faz restrições quanto ao
uso, justificando-se nas hipóteses de proteção ao patrimônio artístico, cultural e científico,
de coisas ou locais que devam ser preservados (art. 216, § 1.º, da CF).

Não é meio de transferência da propriedade. Essa permanece no domínio e posse de


seu proprietário; porém, as coisas tombadas não poderão ser demolidas, destruídas ou
modificadas, sem a autorização do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (IBPC).

Tombar significa registrar, inventariar, inscrever nos arquivos da Administração


Pública. Interessante observar que a origem da palavra tombamento remonta ao Direito
português, pois os registros eram realizados nos livros da Torre do Tombo.

São efeitos do tombamento:

• obrigação do proprietário de conservar o bem;

• obrigação de aceitar a fiscalização do Poder Público;

• os proprietários vizinhos ficam proibidos de realizar qualquer obra, construção,


que retire a visibilidade do bem tombado;

• direito à indenização pelo proprietário, no caso de despesas extraordinárias tendo


em vista a conservação do bem, nos casos de interdição do uso do bem
tombado, ou de prejuízo à sua normal utilização.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. DIREITO DAS SUCESSÕES

Elencado no Livro V, da Parte Especial do Código Civil, o Direito das Sucessões


abrange os artigos 1.784 a 2.027. Além do Código Civil, a própria Constituição Federal,
em seu artigo 5.º, inciso XXX, garante o direito de herança. Também o Código de Processo
Civil apresenta regras com relação a inventários e partilhas (artigos 982 a 1.045 do Código
de Processo Civil).

A abertura da sucessão ocorre com a morte do titular do direito, que transmite,


imediata e automaticamente, a posse e a propriedade dos bens aos herdeiros. Essa abertura
também é chamada delação, e é informada pelo princípio da saisine.

Sucessão é a transmissão dos bens de uma pessoa para outra, podendo ser inter
vivos ou causa mortis.

A sucessão causa mortis também é chamada sucessão hereditária. O sucessor a


título universal (herdeiro) continua, de direito, com a posse do seu antecessor (artigo 1.207
do Código Civil). Assim, pode fazer uso das ações possessórias.

A sucessão hereditária dá-se em favor dos sucessores legítimos (previstos na lei) ou


testamentários (nomeados pelo testador).

O Princípio da Saisine foi acolhido no artigo 1.784 do Código Civil (Le mort saisit
le vif – A morte transfere a posse ao vivo).

Como conseqüência desse princípio, a capacidade para suceder é a existente ao


tempo da abertura da sucessão, que se regerá conforme a lei então vigente (artigo 1.787 do
Código Civil).

O herdeiro que sobrevive ao de cujus, ainda que por apenas um instante, recebe a
herança e a transmite aos seus sucessores, mesmo se morrer no momento seguinte.

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2. SUCESSÃO HEREDITÁRIA

2.1. Conceito
A sucessão hereditária consiste na transmissão de bens de uma pessoa, em razão de
morte, aos sucessores previstos na lei ou nomeados em testamento.

Com a morte de alguém, dá-se a transmissão de bens, que independe do inventário e


da partilha; a posse e o domínio dos bens transferem-se imediatamente aos sucessores, sem
necessidade de qualquer formalidade (artigo 1.784 do Código Civil). O que existe
inicialmente é a denominada posse indireta (direito sobre a posse e o domínio), visto que a
posse direta cabe ao administrador provisório. A entrega efetiva dos bens ocorre somente
após a partilha.

Os bens transmitidos na sucessão hereditária abrangem tanto os bens materiais


como direitos, obrigações, créditos, débitos etc. Esse acervo hereditário é chamado herança
(conjunto de bens transmissíveis).

A palavra herança apresenta dois sentidos: genericamente, é o que resta aos


herdeiros após o pagamento das dívidas do falecido; juridicamente, é considerada um bem
indivisível, por ficção da lei, até que se efetue a partilha.

Quando se fala em pessoa que vem a falecer, está se falando da pessoa natural (ser
humano), que tenha nascido com vida, e não da pessoa jurídica. A morte da pessoa natural
acarreta a abertura da sucessão, que também pode decorrer da ausência; essa, entretanto,
num primeiro momento, faz surgir a abertura da sucessão provisória, para, depois de
transcorrido o lapso legal, consolidar a sucessão definitiva.

Os sucessores são chamados herdeiros; podem ser pessoas físicas ou jurídicas,


existentes na data da abertura da sucessão. Exceções:

• resguardam-se os direitos do nascituro que tenha sido concebido antes da morte;

• no caso de fundação (pessoa jurídica criada após a abertura da sucessão).

Os herdeiros podem ser legítimos (previstos em lei) ou nomeados por testamento. A


lei estabelece uma ordem de preferência aos legítimos, denominada ordem de vocação
hereditária (OVH), que vem expressa no artigo 1.829 do Código Civil, senão vejamos:

• descendentes – herdeiros necessários;

• ascendentes – herdeiros necessários;

• cônjuge sobrevivente – herdeiro necessário;

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• colaterais até o quarto grau;

• Município, Distrito Federal, ou União (se os bens estiverem localizados em


território, autarquia federal de administração da União) a depender de onde
estiver localizado o bem.

O autor da herança pode nomear um sucessor em testamento (herdeiro instituído).


Esse sucessor, ainda que não faça parte do rol constante do artigo 1.829 do Código Civil,
possui direitos sucessórios a título universal, se não concorrer com herdeiro necessário; se
concorrer, tem direito à parte ideal. Ao lado do herdeiro instituído, pode ser indicado no
testamento um legatário, que tem direito a título singular; por sucessão a título singular
entende-se a hipótese de o testador mencionar um bem definido, determinado para ser
entregue (legado).

Há diferenças entre herança e espólio, quais sejam:

• Herança é o conjunto de bens, direitos e obrigações deixados por uma pessoa aos
seus sucessores (sentido genérico).

• Espólio é a denominação que se dá à herança do ponto de vista jurídico-formal.


Enquanto os bens estão sob inventário, aguardando partilha, utiliza-se a
expressão espólio. O espólio tem capacidade processual e é representado pelo
inventariante; porém, não é pessoa jurídica considerando-se o Código Civil não o
catalogar assim. O espólio pode, inclusive, transmitir e adquirir bens, com
autorização do juiz. A natureza jurídica do espólio é de universalidade de bens, e
não de pessoa-jurídica.

2.2. Espécies de Sucessão


a) Sucessão legítima

É a modalidade de sucessão decorrente da lei, que obedece à ordem de vocação


hereditária legalmente estabelecida (artigos 1.829 a 1.856 do Código Civil). Aplica-se na
falta de testamento.

b) Sucessão testamentária

Modalidade de sucessão que surge de atos de última vontade, praticados pelo de


cujus para que valham depois de sua morte. Opera-se, em geral, por meio de testamentos e
codicilos (artigos 1.857 a 1.990 do Código Civil).

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2.3. Sucessores
Também chamados herdeiros e legatários, verdadeiras espécies do gênero sucessor,
são os beneficiários da herança, tanto por sucessão legítima quanto por sucessão
testamentária, seja a título universal ou singular.

2.3.1. Herdeiro legítimo


O herdeiro legítimo pode ser universal, se único herdeiro; ou ter direito à parte ideal
dos bens deixados, se houver mais de um sucessor. Enquanto não concretizada a partilha, a
herança é indivisível (artigo 1.791 do Código Civil). Com efeito, o Código Civil considera
o direito à sucessão aberta bem imóvel por ficção legal, ainda que todos os bens deixados
sejam bens móveis.

A cessão de direitos hereditários é perfeitamente possível; entretanto, o sucessor não


pode ceder um determinado bem, visto que não paira direito sobre bens definidos. Por ser
considerada bem imóvel por ficção legal, a cessão deve ser feita por escritura pública
(artigos 1.793 a 1.795, do Código Civil).

2.3.2. Herdeiro testamentário


O herdeiro testamentário é aquele indicado no ato de última vontade do de cujus.
Subdivide-se em instituído e legatário. O herdeiro instituído é herdeiro a título universal; o
legatário é herdeiro a título singular, visto que tem direito a uma coisa certa (legado).

Se o bem deixado ao legatário for infungível, ele adquire seu domínio desde logo; se
fungível, somente após a partilha. Quanto à posse, ele pode requerer aos herdeiros
instituídos quando da abertura da sucessão, mas esses não são obrigados a entregar antes de
se certificarem de que o espólio é solvente.

2.3.3. Herdeiro necessário


O herdeiro necessário é aquele que, se e quando existente à época da sucessão,
possui, por lei, direito a uma parte da herança (legítima), que seria a metade indisponível,
ou seja, 50% do patrimônio do morto. Assim, o de cujus não pode dispor, por testamento,
de mais da metade do seu patrimônio (artigo 1.789 do Código Civil).

Os artigos 1.845 e 1846 do Código Civil mencionam as disposições sobre os


herdeiros necessários, que são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

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2.3.4. Herdeiro aparente


Herdeiro aparente é aquele que ostenta a qualidade de herdeiro; mas, na realidade,
não o é. Os atos praticados pelo herdeiro aparente são válidos quando dirigidos a terceiro
de boa-fé (artigo 1.817 do Código Civil). O herdeiro aparente fica obrigado a indenizar os
demais herdeiros pelos prejuízos causados com seus atos.

3. TRANSMISSÃO DA HERANÇA
A transmissão da herança ocorre no momento da abertura da sucessão (princípio da
saisine). Logo após a morte do de cujus, os herdeiros entram na posse dos bens – o
inventário e a partilha servem somente para formalizar a transmissão dos bens, atendendo
ao princípio da continuidade registral. Com relação a alguns bens, não há necessidade de
inventário e partilha.

Com a morte do titular dos bens, portanto, os herdeiros passam ao domínio e à posse
dos bens. A posse direta cabe ao administrador provisório (artigo 985 do Código de
Processo Civil) até que o inventariante preste o compromisso (artigo 940, parágrafo único,
do Código de Processo Civil).

O administrador provisório é aquele que, de fato, estava na posse dos bens no


momento do falecimento do de cujus. Aberto o inventário, a posse direta passa ao
inventariante (que pode ser quem está na posse provisória, um dos herdeiros ou até um
terceiro).

O inventário deve ser feito no foro do domicílio do autor da herança, ainda que o
óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, será
considerado o local da situação dos bens; e se além da falta de domicílio, o de cujus
possuía bens em lugares diferentes, será considerado o lugar do óbito (artigo 96 do Código
de Processo Civil).

A capacidade para suceder regula-se pela lei vigente à data da abertura da sucessão
(artigo 1.787 do Código Civil). São capazes, para suceder, as pessoas previstas na lei ou no
testamento, podendo ser pessoa natural ou jurídica.

Os direitos do nascituro estão assegurados nos artigos 2.º e 1.798 do Código Civil,
que o tornam capaz para suceder. À prole eventual (futuro filho de alguém denominado
pelo testador) é garantido o direito de sucessão (artigo 1.799, inciso I, do Código Civil).

A comoriência, de acordo com o artigo 8.º do Código Civil, ocorre quando dois ou
mais indivíduos falecem na mesma ocasião, sem que seja possível determinar se um
precedeu ao outro. Nesse caso, não herdam entre si, e sim cada qual transmite sua herança
aos seus sucessores.

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4. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA

A herança é uma universalidade; é o conjunto de bens deixado pelo morto.


Diferencia-se do legado, por deixar um bem certo e determinado. Esse conjunto de bens,
ou ainda o bem determinado deixado como legado, podem ser aceitos ou renunciados,
desde que em sua totalidade.

4.1. Aceitação da Herança


A aceitação é apenas a confirmação da transferência dos bens, feita pela lei
(saisine). Pode acontecer das seguintes formas:

• expressa: quando o herdeiro declara que aceita os bens;

• tácita: quando o herdeiro comporta-se de modo a deduzir que aceitou a herança;

• presumida: o interessado em que o herdeiro declare a aceitação da herança pode


requerer ao juiz que fixe prazo para que o herdeiro se manifeste. Se o herdeiro
não se manifestar dentro do prazo judicial, presume-se a aceitação ou a adição.

A natureza jurídica da aceitação é de negócio jurídico unilateral, incondicional e


indivisível.

É unilateral, pois se aperfeiçoou com uma única manifestação de vontade.

É incondicional, porque não se pode aceitar ou renunciar a uma herança sob


condições (artigo 1.808 do Código Civil).

É indivisível, pois não se pode aceitar a herança em parte; o mesmo cabendo ser
dito com relação à renúncia. Mas, se testado ao herdeiro um legado, é possível a aceitação
desse e a renúncia da herança, e vice-versa (artigo 1.808, § 1.º, do Código Civil).

Por fim, ressalte-se que o eminente Des. Carlos Roberto Gonçalves, em sua obra,
determina ser a aceitação negócio jurídico “não-receptício”, porque independe de
comunicação a outrem para a produção dos seus efeitos.

A aceitação pode ser retratada, desde que não prejudique os direitos dos credores.

O herdeiro não responde pelas dívidas do morto, que superem a força da herança.
Em razão desta disposição, inserida inclusive no texto constitucional, extinguiu-se a
denominada aceitação a benefício do inventário, uma vez que, legalmente, hoje todas as
heranças aceitas não implicam prejuízos maiores que o valor os bens recebidos pelos
herdeiros.

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4.2. Exclusão do Direito à Herança


Em alguns casos, seja por disposição da lei, seja por conta do testador ou até mesmo
pela vontade do herdeiro, algumas pessoas são afastadas do direito à herança.

4.2.1. Exclusão voluntária


A exclusão voluntária ocorre por vontade do herdeiro, que renuncia à herança
expressamente (artigo 1.805 do Código Civil).

4.2.2. Exclusão por determinação legal


Conforme o artigo 1.814 do Código Civil, a lei prevê a exclusão de certas pessoas
ao direito à herança e descreve hipóteses em que o herdeiro será afastado por indignidade.
Em relação ao indigno, cumpre ressaltar que se trata de resquício da denominada morte
civil, seus herdeiros recebem a herança como se o indigno morto fosse, e este fica privado
de administrar os bens recebidos por seus herdeiros.

4.2.3. Exclusão testamentária


O testador pode excluir o sucessor, desde que seja herdeiro necessário (ascendente
ou descendente) do direito à herança, por meio do instituto denominado deserdação, em
razão de fatos não tão graves quanto os de indignidade, mas que ofenderam o testador,
assim dispostos nos artigo 1.961 e seguintes do Código Civil. Assim como a indignidade, a
deserdação depende de ação para produzir os seus efeitos, ação esta a ser proposta pelos
demais herdeiros.

4.3. Renúncia da Herança


Renunciar é manifestar a vontade de não figurar no rol de herdeiros.

A renúncia retroage à data da abertura da herança (morte do de cujus),


considerando-se o renunciante como se nunca tivesse existido.

A renúncia deve ser expressa e solene. Faz-se por escritura pública ou por termo nos
autos, não se admitindo renúncia tácita. A renúncia, ainda, não pode ser condicional,
parcial ou a termo. É possível, todavia, renúncia da herança e aceitação do legado, ou vice-
versa; entretanto, numa ou noutra situação, deve ser feita na totalidade da herança ou do
legado.

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Sendo o herdeiro casado, a doutrina diverge quanto à necessidade da outorga uxória


para renúncia da herança. Para uma primeira posição, entende a outorga ser necessária,
tendo em vista tratar-se de bem imóvel, segundo o artigo 80, inciso II, do Código Civil
(majoritária). Para outros, não há necessidade da outorga, pois não se trata de “alienação”
de bens.

O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel (artigo 80, inciso II, do
Código Civil), independentemente dos bens que componham a herança.

4.3.1. Espécies de renúncia


São as seguintes as espécies de renúncia:

• Abdicativa ou propriamente dita: quando manifestada antes da prática de


qualquer ato que signifique aceitação tácita. Essa renúncia deve ser pura e
simples, feita em benefício do monte. Assim, com a renúncia, os bens serão
repartidos entre os demais herdeiros. Nessa modalidade de renúncia, recolhe-se
apenas o imposto causa mortis.

• Translativa (cessão ou desistência): o renunciante indica a pessoa em favor de


quem pratica o ato. Dessa forma, há uma aceitação seguida de doação. Portanto,
incidem dois impostos de transmissão, um causa mortis e outro inter vivos.
Considerando-se o artigo 1.647 do Código Civil, que prescreve que os bens
imóveis só podem ser alienados após outorga uxória, parte majoritária da
doutrina entende ser essa necessária para a renúncia translativa. Outra corrente
entende dispensável, pois renúncia não é alienação, conforme exprime o próprio
artigo 1.647.

O herdeiro só poderá renunciar se o seu ato não prejudicar eventuais credores. Não
produz efeitos a renúncia à herança, feita até dois anos antes da decretação da quebra
(artigo 52, inciso I, do Decreto-lei n. 7.661/45).

4.3.2. Efeitos da renúncia


São os seguintes os efeitos da renúncia:

• exclusão, da sucessão, do herdeiro-renunciante;

• retroação da renúncia à data da abertura da sucessão;

• acréscimo na cota dos herdeiros legítimos da mesma classe (artigo 1.810 do


Código Civil);

• impossibilidade da sucessão por direito de representação (artigo 1.811 do


Código Civil).
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Se todos os herdeiros de uma mesma classe renunciarem, os da classe seguinte


herdarão por direito próprio (por cabeça) e não por representação (por estirpe) – porque o
renunciante é considerado como se nunca tivesse existido.

É retratável a renúncia quando proveniente de erro, dolo ou violência (artigo 1.812


do Código Civil). Na verdade não se trata de retratação, mas sim de anulação do ato.

4.3.3. Renúncia própria


A renúncia – de que trata o Código Civil, em seus artigos 1.805 e seguintes – é a
renúncia pura e simples, sem termo, condição ou prazo, e não parcial. É a declaração
expressa do herdeiro de que não quer a herança.

O quinhão do herdeiro-renunciante volta ao monte mor, para ser dividido entre os


demais herdeiros, da mesma classe ou da classe subseqüente.

Não há sucessão por representação do herdeiro-renunciante (artigo 1.811 do Código


Civil).

Se o herdeiro-renunciante tem credores, poderá, mesmo assim, renunciar à deixa;


entretanto, a lei faculta ao credor habilitar-se no lugar desse herdeiro, para receber seu
crédito (artigo 1.813 do Código Civil).

4.3.4. Renúncia imprópria


A renúncia imprópria não é uma renúncia verdadeira. A renúncia imprópria implica
dois atos: a aceitação da herança e a transmissão dessa, por cessão de direitos, a outrem.

A renúncia deve ser expressa, feita por escritura pública ou termo nos autos. A
renúncia imprópria também é chamada translativa ou in favorem.

RENÚNCIA PRÓPRIA RENÚNCIA IMPRÓPRIA

Dispensa-se a outorga uxória É necessária a outorga uxória

Incide o imposto causa mortis (40% ao Incide o imposto causa mortis e o ITBI
Estado sobre bens imóveis) (esse somente sobre bens imóveis)

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DIREITO CIVIL

5. HERANÇA JACENTE

De acordo com os artigo 1.819 e seguintes, herança jacente é aquela para a qual não
aparecem herdeiros, sejam legítimos ou testamentários, ou, ainda que existentes, são
excluídos da herança (deserdação, indignidade).

Publicados os editais, e não comparecendo nenhum herdeiro no prazo de um ano, a


partir do primeiro edital, a herança passa de jacente para vacante.

A herança vacante, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, passa ao


Município onde se situa o bem, ou ao Distrito Federal, ou ainda à União, caso o bem esteja
em Território não dividido em municípios.

5.1. Procedimento de Arrecadação


O parágrafo único do artigo 1.822 do Código Civil está em consonância com o
artigo 1.158 do Código de Processo Civil.

O Código de Processo Civil, artigos 1.142 a 1.158, aborda o procedimento para a


arrecadação de bens da herança jacente. Aparecendo algum herdeiro, converte-se em
inventário.

O herdeiro, reconhecido depois da sentença declaratória da vacância, deve ingressar


com ação direta reivindicando bens (petição de herança); porém, somente poderá fazê-lo se
aparecer até cinco anos após a abertura da sucessão.

6. SUCESSÃO DO AUSENTE

6.1. Conceito
De acordo com o Código Civil, o ausente é pessoa que está em local incerto e não
sabido, não tendo deixado procurador para administrar os seus bens. A proteção do ausente
tem caráter patrimonial, não objetivando resguardar sua pessoa.

Ao ausente é nomeado um curador (artigo 1.160 do Código de Processo Civil).

Qualquer interessado (cônjuges, herdeiros, credores) e o Ministério Público podem


pedir a nomeação do curador. Suas obrigações abrangem os atos de administrar os bens,
arrolando-os, arrecadando-os e vendendo os móveis de fácil depreciação, recolhendo os
valores, representando o ausente em Juízo e fora dele.

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DIREITO CIVIL

O curador deve ser remunerado com base em porcentagem da renda líquida anual do
ausente, não podendo superar 10%. O curador responde pelos prejuízos causados, por ação
ou omissão, culposa ou dolosa.

6.2. Partilha dos Bens do Ausente


O juiz mandará arrecadar os bens do ausente, nomeando-lhe curador. Serão
publicados editais, durante um ano, anunciando a arrecadação e chamando o ausente para
entrar na posse de seus bens.

Após um ano da publicação do 1.º edital, sem que o ausente tenha se manifestado,
poderão os interessados requerer a abertura da sucessão provisória, com a citação pessoal
dos herdeiros presentes e do curador e, por editais, a dos ausentes, para oferecerem artigos
de habilitação.

A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória produzirá efeito seis


meses após sua publicação. Mas logo que passe em julgado, abre-se o testamento (se
houver) e procede-se ao inventário e à partilha dos bens do ausente, como se esse houvesse
falecido.

Se, dentro de 30 dias, não comparecer interessado ou herdeiro, que requeira o


inventário, a herança será considerada jacente.

6.3. Efeitos da Partilha em Relação aos Sucessores Provisórios


Os sucessores provisórios não podem alienar os bens do ausente, pois têm o dever
de conservá-los. Somente os frutos são alienáveis.

Os bens imóveis, excluindo-se os casos de desapropriação, dependem de ordem do


juiz para serem alienados, exigindo-se ainda que estejam em estado de ruínas ou que
possam ser convertidos em títulos da dívida pública.

Os sucessores deverão garantir a restituição dos bens recebidos, mediante caução


(artigo 1.166 do Código de Processo Civil), penhor ou hipoteca equivalente aos quinhões
respectivos. O herdeiro será excluído da sucessão provisória, caso não possa dar a garantia
necessária. O excluído pode receber a metade dos frutos do quinhão que lhe caberia, desde
que prove a falta de meios (artigos 30 e 34 do Código Civil).

Os frutos pertencem aos sucessores provisórios, quando forem descendente,


ascendente ou cônjuge do ausente. Os demais sucessores deverão capitalizar a metade
desses frutos e prestar contas anuais ao juiz competente (artigo 33 do Código Civil).

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DIREITO CIVIL

6.4. Efeitos da Abertura da Sucessão Provisória em Relação a


Terceiros não-Herdeiros
Os efeitos da abertura da sucessão provisória em relação a terceiros não-herdeiros
são:

• o pagamento do imposto causa mortis ao Fisco;

• transmissão do direito à sucessão provisória aos herdeiros dos sucessores, em


caso de morte destes;

• possibilidade dos legados serem exigidos dos herdeiros;

• extinção dos vínculos patrimoniais personalíssimos existentes em favor do


ausente (usufruto);

• impossibilidade dos herdeiros provisórios intentarem ações para redução de


doações inoficiosas, feitas em vida pelo ausente.

Na partilha, os imóveis serão confiados, em sua integridade, aos sucessores


provisórios mais idôneos (artigo 31 do Código Civil).

Para Carvalho Santos, todavia, não é possível a cessão de quinhão hereditário após a
abertura de sucessão provisória.

6.5. Da Sucessão Provisória à Definitiva


Os sucessores provisórios, uma vez empossados nos bens da herança, passam a
representá-la ativa e passivamente, contra eles correndo as ações relativas ao ausente
(artigo 32 do Código Civil). Podem, até mesmo, propor ações em defesa dos bens
adquiridos.

Caso um dos sucessores, na defesa de seus interesses, litigue contra o ausente, o juiz
deverá providenciar a nomeação de curador especial para defender os interesses desse
último.

Se, durante o período de sucessão provisória, ficar provado o momento do


falecimento do ausente, será essa data a da transmissão dos bens (artigo 31 do Código
Civil). Não se sabendo o exato momento da morte do ausente, serão considerados herdeiros
os existentes no momento da abertura da sucessão provisória, conforme entendimento de
Pontes de Miranda.

Caso o ausente apareça, cessam, imediatamente, as vantagens dos sucessores


provisórios, ficando esses obrigados a restituir àquele os bens recebidos (artigo 36 do
Código Civil).
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DIREITO CIVIL

Extingue-se a sucessão provisória, com:

• a certeza da morte do ausente (artigo 1.167, inciso I, do Código de Processo


Civil);

• o reaparecimento do ausente, do seu procurador ou de quem o pretenda;

• o decurso de dez anos, transformando-se em sucessão definitiva (artigo 1.167,


inciso II, do Código de Processo Civil);

• quando o ausente tiver 80 anos de idade na data do desaparecimento de seu


domicílio, e tiver decorrido cinco anos de suas últimas notícias (artigo 1.167,
inciso III, do Código de Processo Civil).

As custas e despesas judiciais, com o reaparecimento do ausente, correrão por conta


deste, pelo fato de ter sido o causador do processo de sucessão provisória.

6.6. Sucessão Definitiva


Após dez anos do trânsito em julgado da sentença declaratória da sucessão
provisória, os interessados poderão requerer a sucessão definitiva (artigo 1.167, inciso II,
do Código de Processo Civil, que reduz o prazo previsto no artigo 37 do Código Civil).

Com a sucessão definitiva, os herdeiros tornam-se proprietários dos bens; porém,


seu domínio é resolúvel – extingue-se, se reaparecer o ausente dentro dos dez anos
seguintes. Ocorrida a sucessão definitiva, os herdeiros têm direito de levantar as cauções
anteriormente oferecidas. Por fim, observa-se que a necessidade da sucessão definitiva
ocorre para garantir o princípio da livre circulação de bens.

Os legitimados para sucessão definitiva são os mesmos da sucessão provisória,


podendo os interessados, conforme anterior explicação, levantar as cauções prestadas.

Resumindo:

• os herdeiros tornam-se proprietários resolúveis dos bens da herança;

• os herdeiros adquirem os frutos dos bens e os seus rendimentos;

• os herdeiros, além de poderem alienar, gratuita ou onerosamente, os bens da


herança, podem até mesmo gravá-los;

• os herdeiros podem levantar cauções anteriormente prestadas;

• os herdeiros podem intentar ações próprias contra terceiros, inclusive no que diz
respeito a doações inoficiosas do ausente em vida;

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DIREITO CIVIL

• ocorre a efetiva divisão dos bens do ausente.

6.7. Regresso do Ausente


Caso o ausente reapareça no prazo de dez anos após a abertura da sucessão
definitiva, terá direito a receber, no estado em que se encontrem, os bens existentes ou os
sub-rogados, ou ainda o preço recebido pelo sucessor, desde que prove que os bens são
realmente sub-rogados e que o dinheiro encontrado em mãos do sucessor corresponde ao
preço justo.

São aplicados ao tema os seguintes princípios:

• os atos praticados pelos sucessores são válidos;

• o sucessor não pode enriquecer às custas do ausente;

• o ausente não tem direito aos frutos percebidos no período da ausência.

6.8. A Ausência no Direito de Família


A declaração de ausência, ainda que definitiva, não autoriza novo casamento do
outro cônjuge. A ausência pode, todavia, ensejar o divórcio, e por via oblíqua dissolver-se a
sociedade conjugal.

De acordo com o artigo 484 do Código Civil de 1916, se o cônjuge do ausente tiver
falecido ou for impedido de exercer o pátrio poder, os filhos serão considerados como se
órfãos fossem, ficando sob tutela.

7. REPRESENTAÇÃO

No caso de premoriência, pode haver representação (artigo 1.844 do Código Civil).


Essa somente existe na linha de descendentes, e não na de ascendentes.

Não há representação na sucessão testamentária, ou seja, os herdeiros do instituído


ou do legatário não podem representá-los no caso de premoriência.

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A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
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DIREITO COMERCIAL
Contratos – Parte Geral

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DIREITO COMERCIAL

DIREITO COMERCIAL

Contratos – Parte Geral

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. TEORIA GERAL

1.1. Introdução e Explicações Necessárias

Diante da relativa “unificação” constatada em nosso ordenamento jurídico, a parte


geral que disciplina o direito contratual aplica-se tanto às relações civis quanto às relações
empresariais. Portanto, de grande utilidade o estudo da matéria apresentada nos módulos
da disciplina Direito Civil, especificamente módulos 9, 10 e parte do módulo 11, que
tratam da matéria Contratos.

Inicialmente, é relevante compreender que os contratos travados entre particulares,


excluídos os contratos de trabalho, atualmente, submetem-se a dois regimes diferentes,
quais sejam: civil e de tutela dos consumidores.

Aplica-se o regime do direito do consumidor aos casos em que há relação contratual


entre consumidor e fornecedor.

Como princípios clássicos que disciplinam os contratos temos a autonomia das


vontades, a supremacia da ordem pública e a pacta sunt servanda.

A autonomia das vontades reflete a possibilidade de as partes exercerem a


liberdade de optar entre contratar ou não, com as pessoas que quiserem, segundo as
cláusulas e condições que estabelecerem.

A supremacia da ordem pública bem representa uma limitação ao primeiro


princípio, dado que, em havendo divergência entre o interesse do particular e o interesse
público, prevalece o último.

A pacta sunt servanda, também conhecida como princípio da força obrigatória dos
contratos, reflete a máxima de que o contrato faz lei entre as partes contratantes; uma vez
firmado, todas as obrigações assumidas no contrato são de cumprimento obrigatório,
sujeitando-se, em caso de inadimplemento, às penalidades da lei ou do próprio contrato,
sem prejuízo da possibilidade do cumprimento coercitivo.
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DIREITO COMERCIAL

Importante se faz ressaltar que o princípio da pacta sunt servanda encontra


exceção na cláusula rebus sic stantibus que permite ao Poder Judiciário rever as cláusulas
contratadas (ensejando, pois, hipóteses nas quais, mesmo contratada, determinada
obrigação não será de cumprimento obrigatório), podendo alterá-las em caso de verificação
de onerosidade excessiva, trazida por fato imprevisível (motivo pelo qual essa teoria é
também chamada Teoria da Imprevisibilidade ou Teoria da Imprevisão).

No ordenamento civil recentemente inaugurado, valoriza-se a autonomia da


vontade das partes (devidamente limitada pela supremacia da ordem pública). Assim, a
cláusula rebus sic standibus e a teoria da imprevisão foram bastante prestigiadas em
decorrência das alterações.

Importante se faz compreender que, além das alterações trazidas pelo novo Código
Civil, a grande responsável pela autonomia conferida às partes no momento da contratação
é a legislação consumerista, a qual, ao tutelar aqueles que celebram contratos em situação
de desigualdade, abriu espaço para aqueles que têm condições equivalentes disporem
livremente de sua vontade, contratando da maneira que melhor lhes aprouver, desde que as
disposições contratuais não se choquem com interesses públicos e, muito menos, firam o
ordenamento jurídico vigente.

É de se frisar que o ordenamento jurídico recém implantado, no que tange aos


contratos, confere grande valor à liberdade na contratação, devendo ser observada a função
social do contrato, nos exatos termos do artigo 421.

Com efeito, o novo codex prima pela equivalência entre as prestações contratuais,
isto é, a manutenção do equilíbrio contratual buscando evitar que algum contratante
obtenha vantagens às quais não tenha dado causa. Esta equivalência não será verificada
exclusivamente quando da fixação preliminar das obrigações, mas deverá ser analisada a
qualquer momento, desde que o cumprimento torne-se excessivamente oneroso a uma das
partes. Nessa hipótese, constatada a injustiça contratual, restará cabível a resolução por
onerosidade excessiva, prevista nos artigos 478 a 480 do estatuto civil.

1.2. Classificações dos Contratos

Grande é o número de classificações apresentadas pela doutrina. Nesta oportunidade,


verificaremos aquelas de maior importância para o estudo dos contratos:

a) Contratos bilaterais e unilaterais

Os contratos bilaterais, também chamados sinalagmáticos, são aqueles em que


ambas as partes contratantes assumem direitos e obrigações, como no caso da compra e
venda, locação, dentre outros.

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DIREITO COMERCIAL

Já os contratos unilaterais são aqueles em que somente uma das partes contratantes
assume obrigação, como na doação, no comodato etc.

Como se verifica, a bilateralidade ou unilateralidade é considerada quanto às


obrigações e direitos conferidos às partes, não com relação à constituição do contrato, o
qual será sempre negócio jurídico bilateral (exige a existência de duas partes contratando).

b) Contratos consensuais, reais e solenes

Os contratos consensuais são aqueles em que o encontro de vontades de dois ou


mais sujeitos é suficiente para a formação do contrato, conforme previsão do artigo 482, do
Código Civil. Trata-se de exemplo de contrato consensual a compra e venda.

Reais são os contratos que exigem, para a formação do vínculo além do consenso de
vontades, a entrega da coisa contratada (da res). É exemplo de contrato real o mútuo
bancário, que para ser considerado realizado necessita da entrega do dinheiro pelo
mutuante (banco) ao mutuário. Outros exemplos de contratos reais são o comodato e o
depósito.

Solenes são os contratos que, em decorrência de previsão legal, demandam a


emissão de um documento para a sua formação. Trata-se de exemplo de contrato solene o
contrato de seguro, que necessita da emissão da respectiva apólice para se aperfeiçoar.

c) Contratos comutativos e aleatórios

Os contratos comutativos são aqueles em que as prestações são certas e


determinadas, permitindo às partes antecipar em como será a execução deste, pois tal
contrato não se sujeita a qualquer modificação imprevista (álea). É exemplo de contrato
comutativo a compra e venda.

Os contratos aleatórios, como se observa da própria denominação, são aqueles


caracterizados pela impossibilidade de se antecipar como se dará a execução, tendo em
vista que se sujeitam a uma álea – evento incerto que influencia a execução. Nesses
contratos, a priori, não há uma equivalência entre as prestações assumidas pelas partes. A
título de exemplo, temos o contrato de seguro, que é comutativo para o segurado (pois ele
sabe que, ocorrido o sinistro, será indenizado) e aleatório para a seguradora (que estará
obrigada ao pagamento apenas se ocorrer um fato eventual – sinistro).

Finalmente, salienta-se a existência dos contratos acidentalmente aleatórios que são


os tipicamente comutativos que, em razão das circunstâncias, tornam-se aleatórios.

Os contratos acidentalmente aleatórios dividem-se em duas espécies: venda de


coisas futuras e venda de coisas existentes, mas expostas a risco.

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DIREITO COMERCIAL

No tocante à venda de coisas futuras, há uma subdivisão em emptio spei e emptio


res speratae:

· Emptio spei (venda da esperança), trabalha-se com a hipótese de o negócio restar


impossibilitado por motivos alheios à vontade da parte responsável pela entrega
da coisa, cabendo à parte que receberia a coisa o pagamento do valor integral
contratado, desde que não tenha agido com dolo ou culpa, de conformidade com
artigo 458, do diploma civil.

· Emptio res speratae (venda da coisa esperada), verifica-se naqueles casos em


que há possibilidade de a quantidade da coisa esperada ser maior ou menor do
que o avençado no contrato, cabendo à parte o pagamento do valor contratado
por menor que seja a quantidade do que fora estipulado. A obrigação de
pagamento do valor estipulado só restará excluída se não houver quantidade
nenhuma do que fora estipulado. Esta regra se extrai do artigo 459 do Código.

A solução para a venda de coisas existentes, mas expostas a risco, encontra-se


disciplinada no artigo 460, do codex, segundo o qual o risco é assumido pelo adquirente.
Assim, o alienante terá direito a todo o valor avençado mesmo que a coisa já tenha deixado
de existir quando da contratação, desde que de sua inexistência ele não tivesse
conhecimento (artigo 461, do estatuto civil).

d) Contratos típicos (nominados) e atípicos (inominados)

Um contrato é considerado típico quando suas características (denominação, direitos


e obrigações assumidas pelas partes, peculiaridades etc.) encontram-se referidas, de modo
específico, na lei. A título de exemplo, temos contrato de comissão, previsto nos artigos
693 a 709 do diploma civil, bem como a compra e venda, prevista nos artigos 481 e
seguintes do mesmo estatuto.

Os contratos atípicos são aqueles que, apesar de não estarem previstos em lei (nem
suas peculiaridades, ou mesmo os direitos e obrigações que são assumidas pelas partes),
são firmados pelas pessoas que, no próprio instrumento contratual, estipulam as obrigações
e os direitos assumidos, o nome da própria avença, as eventuais condições etc. Essa
modalidade de contrato reflete, em todas as considerações, o princípio da autonomia das
vontades. O fundamento para sua validade é encontrado no artigo 425 do Código Civil de
2002.

Deve-se observar que, mesmo havendo doutrina em contrário, a simples existência


de regra jurídica própria para determinado contrato não é suficiente para que ele seja
considerado típico; mister se faz que haja legislação que discipline direitos e obrigações
naturais daquele tipo contratual. O contrato de leasing ainda deve ser considerado como
atípico, apesar de previsto em lei, pois essa somente prescreve questões tributárias acerca
da avença, não colacionando questões inerentes à disciplina contratual.
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DIREITO COMERCIAL

Há corrente doutrinária que salienta a existência dos denominados contratos mistos,


que são aqueles resultantes de combinação entre contrato típico e atípico.

1.3. Da Extinção dos Contratos


A extinção dá-se pelas formas preconizadas pela Teoria Geral dos Contratos, quais
sejam, as formas normais e anormais de extinção:

a) Formas normais de extinção dos contratos

Extinção normal do contrato se dá por força do adimplemento das obrigações


assumidas, extinguindo-se assim a relação jurídica obrigacional.

b) Formas anormais de extinção dos contratos (artigos 472 a 480, do Código Civil)

Tratam-se de formas anômalas a extinção contratual, as quais poderão ocorrer por


força de resolução, resilição ou rescisão.

A primeira modalidade de extinção pressupõe o descumprimento, por contraente,


de cláusula contratual, ou seja, sua inexecução. O descumprimento poderá se dar de
maneira voluntária (quando um dos contraentes atua dolosa ou culposamente) ou
involuntária (quando o descumprimento decorre de caso fortuito ou de força maior).

Este último caso (descumprimento involuntário) poderá decorrer de fatos


imprevisíveis e extraordinários, caso em que restará configurada a hipótese do artigo 478
do Código Civil (resolução por onerosidade excessiva).

No que tange à resilição, esta liga-se à manifestação de vontade de uma ou ambas


as partes no sentido de extinguir o que fora contratado. A denominação conferida pela
doutrina a cada uma das modalidades de resilição depende da manifestação da vontade das
partes, como se verifica:

• Resilição bilateral, também denominada distrato: prevista no artigo 472, ocorre


quando as partes contratantes, arrependendo-se do contrato firmado, de comum
acordo resolvem, por bem, rescindir a avença. Salienta-se que o distrato deverá
ter a mesma forma utilizada para a contratação.

• Resilição unilateral, também denominada denúncia: prevista no artigo 473,


ocorre quando, por haver expressa previsão legal ou contratual, ou mesmo em
razão de o contrato ter sido celebrado por prazo indeterminado, é permitido à
parte contratante, unilateralmente, rescindir a avença, comunicando à outra parte
sua intenção, devendo, contudo, a parte interessada, cumprir um prévio aviso,
geralmente previsto no próprio contrato – trata-se da denominada resilição
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DIREITO COMERCIAL

unilateral, de acordo com os ensinamentos da doutrina. O parágrafo único do


artigo 473 conferiu ao nosso ordenamento medida legal protetiva, que previne
conseqüências muito desfavoráveis ao contratante que tenha empreendido
muitos investimentos ao contrato, garantindo-lhe prazo prazo compatível ao
proveito dos investimentos consideráveis feitos para a execução contratual. A
previsão assemelha-se ao aviso prévio contratual.

Importante frisar que o termo rescisão é utilizado normalmente como


sinônimo de resilição bem como de resolução. Entretanto, essa não é a melhor
posição.Devemos entender que a rescisão deverá ser empregada àqueles
contratos que devem ser dissolvidos pela verificação de vícios da vontade
(coação ou mesmo estado de perigo) ou algum outro defeito do ato jurídico
( como é o caso da lesão).

Das hipóteses acima definidas, podemos verificar alguns exemplos. Nesse sentido,
se nos basearmos em um contrato de locação para fins não-residenciais, temos:

· extinção pelo adimplemento: término do prazo do contrato com a entrega das


chaves;

· resilição pelo distrato: antes do término do contrato, as partes resolvem extinguir


o contrato, com a devolução do imóvel

· resilição pela denúncia unilateral: antes do término do contrato, o locatário


devolve as chaves do imóvel locado, pagando, proporcionalmente, a multa
contratual (a Lei n. 8.245 prevê a possibilidade de o locatário rescindir, antes do
prazo pactuado, o contrato de locação);

• resolução: em razão da falta de pagamento dos alugueres, o locador pleiteia o


despejo do locatário. Sendo decretado o despejo e reintegrado o locador na posse
do imóvel locado, extinto estará o contrato de locação.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA

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DIREITO CONSTITUCIONAL

1. FINANÇAS PÚBLICAS

Finanças Públicas é matéria disciplinada nos artigos 163 a 169 da Constituição Federal.

Orçamento é o programa de receitas e despesas que explicita a política econômico-


financeira e o programa de trabalho do governo, obedecidos os princípios de unidade,
universalidade, anualidade, exclusividade e não- vinculação, entre outros. No âmbito
infraconstitucional, a legislação básica sobre a matéria encontra-se na Lei n. 4.320/64 e
na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n. 101/2000).

Pelo princípio da unidade, a lei orçamentária anual deve ser única, consolidando os
diversos orçamentos setorizados.

Pelo princípio da universalidade, todas as despesas e receitas devem estar previstas no


orçamento (§§ 1.º e 5.º do artigo 165 da Constituição Federal).

Pelo princípio da anualidade, a lei orçamentária deve conter um programa de receitas e


despesas para o exercício financeiro subseqüente. O exercício financeiro coincide com o
ano civil (1.º de janeiro a 31 de dezembro), conforme estabelece o artigo 34 da Lei n.
4.320/64.

Pelo princípio da exclusividade, a lei orçamentária anual não conterá dispositivo


estranho à previsão de receitas e despesas. Não se inclui na proibição a autorização para
a abertura de créditos suplementares e para a contratação de operações de crédito, ainda
que por antecipação de receitas, nos termos da lei.

A Constituição Federal também prevê o plano plurianual. Ao contrário da lei


orçamentária, que traça receitas e despesas para o exercício subseqüente, a lei que
instituir o plano plurianual deve estabelecer as diretrizes, os objetivos e as metas da
Administração Pública tanto para as despesas de capital e outras delas decorrentes como
para as despesas relativas aos programas de duração continuada.

Pelo princípio da não-afetação, também denominado princípio da não- vinculação


(artigo 167, inciso IV, da Constituição Federal), em regra é vedada a vinculação de
impostos a órgão, fundo ou despesa.

Imposto, conforme consta do artigo 16 do Código Tributário Nacional, é o “tributo


cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade
estatal específica”. Por isso, costuma-se afirmar que o imposto é uma exação (exigência)
não-vinculada, uma exigência cujo fato gerador não se liga a uma atividade estatal
específica, relativa ao contribuinte ou por ele provocada, ou seja, a exação independe de
contraprestação específica.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

O inciso IV do artigo 167 da Constituição Federal, porém, estabelece exceções quanto à


repartição das receitas tributárias (artigos 158 e 159 da Constituição Federal) e admite
vinculação de parte das receitas com impostos a investimentos nas áreas de saúde (artigo
198, § 2.º, da Constituição Federal e artigo 77 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias), ensino (artigo 212 da Constituição Federal), fundo de combate à pobreza
(artigo 80 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) e prestação de garantias
às operações de crédito por antecipação de receita (artigos 165, § 8.º, e 167, § 4.º, ambos
da Constituição Federal).

De acordo com o artigo 169 da Constituição Federal, as despesas com pessoal ativo e
inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder
aos limites previstos em lei complementar, sendo que, atualmente, a matéria está
disciplinada no artigo 20 da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n.
101/2000).

A iniciativa do projeto de lei orçamentária é do chefe do Poder Executivo. O Poder


Judiciário e o Ministério Público encaminham suas propostas orçamentárias para o
Poder Legislativo, juntamente com a proposta do Poder Executivo (artigos 66, § 1.º,
inciso II, alínea “b”; 99, § 1.º; 127, § 3.º, e 165, todos da Constituição Federal).

A sessão legislativa não é interrompida enquanto não for aprovado o Projeto de Lei de
Diretrizes Orçamentárias (artigo 57, § 2.º, da Constituição Federal). Se não receber a
proposta orçamentária no prazo fixado nas constituições (Federal ou Estaduais) ou nas
Leis Orgânicas dos Municípios, o Poder Legislativo considerará como proposta a lei
orçamentária vigente (artigo 32 da Lei n. 4.320/64).

1.1. Dos Precatórios


É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba
necessária aos pagamentos de seus débitos, constantes de precatórios judiciários,
apresentados até 1.º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte,
quando, então, terão seus valores atualizados monetariamente. Antes da Emenda
Constitucional n. 30/2000, a atualização era feita em 1.º de julho do exercício anterior ao
do efetivo pagamento.

Os pagamentos devidos pelas Fazendas Federal, Estadual e Municipal (e suas


respectivas autarquias e fundações públicas – pessoas jurídicas de direito público), em
virtude de sentença judicial transitada em julgado (exclui os casos de acordos, que poderão
não se sujeitar a precatórios desde que presente o interesse público e observada a
moralidade administrativa), far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de
apresentação dos precatórios e da conta dos créditos respectivos.

O precatório, conforme explicita a Constituição Federal, é decorrente de sentença


judicial, executada na forma do artigo 730 do Código de Processo Civil. Em outras
palavras, significa que a pessoa jurídica de direito público (entes políticos, autarquias e
fundações públicas) é citada para opor embargos, e não para pagar.
2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO CONSTITUCIONAL

Decorrido o prazo sem a apresentação dos embargos, ou no caso de os embargos


opostos serem julgados improcedentes, o juiz da causa expede o chamado ofício
requisitório ao presidente do seu respectivo tribunal – órgão competente para a expedição
do precatório.

A execução contra as empresas públicas e as sociedades de economia mista (pessoas


jurídicas de direito privado), em regra, faz-se na forma processual comum, inclusive com a
penhora de bens, quando necessária a medida.

Observe-se, porém, que recente decisão do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o


Recurso Extraordinário n. 220.906-DF2, estabeleceu distinções entre as paraestatais que
exercem ou não atividades típicas do Estado (primeira parte do artigo 173 da Constituição
Federal). Com isso, reconheceu a impenhorabilidade dos bens da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos, empresa pública federal, determinando que a execução seguisse
mediante precatório (artigo 100 da Constituição Federal).

Exceção expressa à ordem dos precatórios são os créditos de natureza alimentícia


(os dessa natureza compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos,
pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou
invalidez, fundadas na responsabilidade civil), que têm preferência sobre os demais e
entram em lista cronológica própria (não dispensam os precatórios, mas esses terão uma
ordem própria e mais célere, elaborada em separado, nos termos do parágrafo único do
artigo 4.º da Lei n. 8.197/91).

Até a Emenda Constitucional n. 30/2000, promulgada em 13.9.2000, não estava


explicitada a necessidade do trânsito em julgado da sentença, para a formalização do
precatório. Hoje a exigência está expressa.

O juiz ou tribunal que proferiu a decisão exeqüenda encaminhará os cálculos ao


presidente do tribunal competente (na Justiça Estadual de São Paulo é o Tribunal de
Justiça), o qual providenciará a requisição (instrumentalizada pelo precatório devidamente
numerado) do pagamento ao ente devedor.

Exemplo: os precatórios apresentados até 1.º.7. 2003 devem ser pagos até o final de
2004, quando terão seus valores atualizados monetariamente.

As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados ao Poder


Judiciário, recolhendo-se as importâncias respectivas à repartição competente.

Os pagamentos serão determinados pelo presidente do tribunal responsável pelo


precatório, segundo as possibilidades do depósito. O presidente do tribunal que, por ato
omissivo ou comissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular do precatório,
responderá por crime de responsabilidade.

As obrigações definidas em lei como de pequeno valor – e que devem ser


cumpridas pelas pessoas jurídicas de direito público em decorrência de sentença transitada
em julgado – não estão sujeitas aos precatórios.
2
Informativo STF 213, de 8.12.2000.
3
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO CONSTITUCIONAL

No âmbito federal considera-se débito de pequeno valor aquele de até 60 salários


mínimos, nos termos do § 1.º do artigo 17 da Lei 10.259/01. Estados e municípios têm
poderes para editar leis fixando os valores que dispensam precatórios (§ 4.º do artigo 100
da Constituição Federal). Até que a lei seja editada o valor é de até 30 salários mínimos
para os Municípios e 40 salários mínimos para Estados e Distrito Federal (Emenda
Constitucional n. 37/02).

O cumprimento do acordo ou sentença dos Juizados Federais (valores de até 60


salários mínimos, nos termos da Lei n. 10.259/2001, em vigor a partir de janeiro de 2002),
após o trânsito em julgado da decisão (que não está sujeita ao reexame obrigatório), será
efetuado em 60 dias, contados da requisição, por ordem do juiz, à autoridade citada para a
causa, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil. Caso
a autoridade não cumpra a requisição do juiz e não torne efetivamente disponível o
numerário, o próprio juiz da causa determinará o seqüestro do valor suficiente ao
cumprimento da obrigação.

Se o valor da execução ultrapassar 60 salários mínimos, o credor pode renunciar à


diferença, a fim de que seja dispensado o precatório. Veda-se o fracionamento
(recebimento de até 60 salários mínimos pela forma estabelecida na Lei n. 10.259/2001 e
do restante mediante precatório).

A Lei dos Juizados Federais, ao dispensar os precatórios, basicamente repete a


redação do artigo 128 da Lei n. 8.213/2001 (com as alterações da Lei n. 10.099/2000), que
estabelece a dispensa do precatório em casos de débitos previdenciários de pequeno valor
(exigidos fora dos Juizados Federais).

1.2. O Pagamento Parcelado


De acordo com o artigo 78 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, os
precatórios pendentes de pagamento na data da promulgação da Emenda Constitucional n.
30/2000 (13.9.2000) e os que decorram de ações ajuizadas até 31.12.1999 serão liquidados
pelo seu valor real, em moeda corrente, acrescidos de juros legais, em prestações anuais,
iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos. O credor pode ceder seu crédito.

O prazo de parcelamento fica reduzido, de 10 para 2 anos, nos casos de precatórios


originários de desapropriação de imóvel residencial do credor, desde que
comprovadamente único à época da imissão na posse.

Os créditos que não estão sujeitos ao parcelamento são: os de natureza alimentícia,


os definidos em lei como de pequeno valor, os que já tiveram seus recursos liberados (fase
que antecede ao depósito judicial), os já depositados em Juízo, os que já foram
anteriormente submetidos a parcelamento (artigo 33 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias) e os decorrentes de ações ajuizadas a partir de 1.º.1. 2000.

As prestações anuais a que se refere o caput do artigo 78 do Ato das Disposições


Constitucionais Transitórias, na redação da Emenda Constitucional n. 37/02 (decorrentes
4
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO CONSTITUCIONAL

de parcelamento) que não forem liquidadas até o final do exercício a que se referem, terão
poder liberatório dos tributos da entidade devedora.

Nos termos da Emenda Constitucional 37/02, os precatórios de até 30 salários


mínimos (no caso de débito de Município) e de até 40 salários mínimos (no caso de débito
de Estado) devem ser pagos de uma só vez.

1.3. Do Seqüestro de Rendas


Caso algum credor seja preterido em seu direito de precedência (por isso a ordem
cronológica e a numeração dos requisitórios), poderá requerer ao presidente do tribunal o
seqüestro de quantia necessária ao pagamento do débito. Antes de ordenar ou não o
seqüestro, o presidente do tribunal colhe a manifestação do chefe do Ministério Público.

De acordo com o § 4.º do artigo 78 do Ato das Disposições Constitucionais


Transitórias, o credor sujeito ao parcelamento do seu crédito poderá requerer ao presidente
do tribunal competente o seqüestro dos recursos financeiros da entidade executada,
suficientes ao pagamento da prestação não satisfeita (e não do total devido), nas seguintes
hipóteses:

• se houver omissão da parcela no orçamento: conforme ressaltamos


anteriormente, é obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito
público, de verba necessária aos pagamentos de seus débitos constantes de
precatórios judiciários, apresentados até 1.º de julho;

• se vencido o prazo anual, a parcela não for integralmente paga;

• se verificada a preterição do direito de precedência do credor, de acordo com a


ordem cronológica do precatório: essa hipótese de seqüestro, conforme antes
anotado, também se aplica em favor de credores que não estão sujeitos ao
parcelamento e que forem preteridos no direito de precedência cronológica de
seus créditos.

Observação: complementando o tema, remetemos o aluno ao Módulo XII, tópico


“Da Intervenção Federal pelo Não-Cumprimento dos Precatórios”.

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em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO


TRABALHO
Recursos em espécie

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Recursos em Espécie

1. RECURSOS

No Processo do Trabalho são possíveis os seguintes recursos:

• ordinário;

• de revista;

• agravo de instrumento;

• agravo de petição;

• embargos infringentes e de divergência;

• agravo regimental;

• pedido de revisão;

• adesivo;

• embargos declaratórios;

• extraordinário;

• correição parcial.

1.1. Recurso Ordinário


O recurso ordinário equivale à apelação do Processo Civil. É o recurso interposto
das decisões que põem fim ao processo (definitivas ou terminativas), isto é, das sentenças
de primeiro grau e das decisões proferidas pelos Tribunais Regionais do Trabalho (segundo
grau) em processos de sua competência originária (dissídio coletivo, mandado de
segurança, ação rescisória etc.).

A sede legal desse recurso consta do art. 895 da Consolidação das Leis do Trabalho
que, por defeito redacional, estabelece caber o recurso apenas das decisões definitivas, o
que não é verdade, uma vez que as decisões que terminam o feito na Justiça do Trabalho,
como, por exemplo, o acolhimento de uma exceção de incompetência em razão da matéria,
também podem ser impugnadas por meio de recurso ordinário.
1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

O recurso ordinário é igualmente cabível quando do arquivamento do feito (extinção


do processo sem julgamento do mérito).

1.1.1. Recurso ordinário voluntário


O recurso ordinário voluntário é o interposto pela parte vencida, no todo ou em
parte, na decisão impugnatória.

1.1.2. Recurso ordinário por imposição legal


Também chamado recurso ex officio, o recurso ordinário por imposição legal é o
decorrente das sentenças contrárias à União, aos Estados, aos Municípios, às fundações de
direito público e autarquias (Dec.-lei n. 779/69).

Não se trata de verdadeiro recurso, uma vez que o juiz que prolatou a sentença não
recorre da própria decisão, o que seria absurdo. É uma simples e necessária remessa de
ofício ao tribunal para que a decisão seja revista, objetivando resguardar interesses
públicos.

1.2. Recurso de Revista


Das decisões proferidas em grau de recurso ordinário, em dissídios individuais, cabe
recurso de revista para uma das Turmas do Tribunal Superior do Trabalho. O dispositivo
que assim estabelece é o art. 896 da Consolidação das Leis do Trabalho.

O recurso de revista objetiva, principalmente, a uniformização de jurisprudência.

Somente vai para o Tribunal Superior do Trabalho, por meio desse recurso, matéria
de direito. As matérias de fato têm, como último veículo de apreciação, o recurso ordinário.

O Enunciado n. 126 do Tribunal Superior do Trabalho dispõe: “Incabível o recurso


de revista ou de embargos (CLT, arts. 896 e 894, 'b') para reexame de fatos e provas”.

Nos termos do art. 896 da Consolidação das Leis do Trabalho, na sua redação atual,
cabe recurso de revista das decisões proferidas em grau ordinário, quando:

• derem ao mesmo dispositivo de lei federal interpretação diversa da que lhe


houver dado outro tribunal regional, no seu pleno ou turma, ou a Seção de
Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, ou a Súmula de
Jurisprudência Uniforme dessa Corte;

• derem ao mesmo dispositivo de lei estadual, convenção coletiva de trabalho,


acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento empresarial de observância
2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

obrigatória em área territorial que exceda a jurisdição do tribunal regional


prolator da decisão recorrida, interpretação divergente, na forma da alínea "a";

• proferidas com violação literal de disposição de lei federal ou afronta direta à


Constituição Federal.

Nesse sentido, o recurso de revista, além de servir para que o órgão judiciário
superior reexamine a matéria de direito, também serve como uniformizador da
jurisprudência e como defesa, vamos dizer assim, da manutenção do sistema
constitucional.

É endereçado ao Tribunal Superior do Trabalho.

Para comprovação da divergência jurisprudencial, a Súmula n. 337 do Tribunal


Superior do Trabalho determina ao recorrente:

“I – Junte certidão ou cópia autenticada do acórdão paradigma ou cite a fonte oficial


ou repositório autorizado em que foi publicado;

II – Transcreva, nas razões recursais, as emendas e/ou trechos dos acórdãos trazidos
à configuração do dissídio, mencionando as teses que identifiquem os casos confrontados,
ainda que os acórdãos já se encontrem nos autos ou venham a ser juntados com o recurso
(Res. n. 35/94, DJ 18-21 e 22.11.94) ”.

Claro está que a divergência jurisprudencial ensejadora do recurso deve ser atual.

1.2.1. Prequestionamento
A Súmula n. 297 do Tribunal Superior do Trabalho estabelece:

“Diz-se prequestionada a matéria quando na decisão impugnada haja sido adotada,


explicitamente, tese a respeito. Incumbe à parte interessada interpor embargos declaratórios
objetivando o pronunciamento sobre o tema, sob pena de preclusão.”

A referida Súmula ampliou o campo de aplicação dos embargos declaratórios, que


não poderão ser tidos como protelatórios, se interpostos com tal objetivo.

A Lei n. 9.756/98 modificou o art. 896 da Consolidação das Leis do Trabalho,


incluindo novas regras para o conhecimento do recurso de revista, dispondo no § 3.º do
mencionado artigo a obrigatoriedade de os Tribunais Regionais do Trabalho adotarem uma
uniformização jurisprudencial.

Nos termos do § 2.º do art. 896 da Consolidação das Leis do Trabalho, não caberá
recurso de revista das decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho (Plenos ou Turmas)
em execução de sentença, inclusive no processo incidente de embargos de terceiro, “salvo
na hipótese de ofensa direta e literal de norma da Constituição Federal”.

3
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1.3. Agravo de Instrumento


O agravo de instrumento é um recurso muito restrito, uma vez que, nos termos do
art. 897 da Consolidação das Leis do Trabalho, somente cabe dos despachos que
denegarem a interposição de recurso.

Para o agravo de instrumento as partes devem promover a formação do instrumento,


instruindo a petição de interposição, obrigatoriamente, com cópia:

• da decisão agravada;

• da certidão da respectiva intimação;

• das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;

• da petição inicial;

• da contestação;

• da decisão originária;

• da comprovação do depósito recursal;

• do recolhimento das custas.

Facultativamente, outras peças, que o agravante reputar úteis, poderão ser juntadas.

Assim, seja qual for o recurso denegado, caberá agravo de instrumento. O agravo é
autuado em separado, aplicando-se, para a formação do instrumento, no que couber, além
do dispositivo da Consolidação das Leis do Trabalho, os arts. 524 e 525 do Código
Processual Civil.

O prazo para interposição do recurso é de oito dias. Tem igual prazo o agravado,
para contraminutar.

Em decorrência do juízo de reconsideração, pode o juiz, que denegou seguimento ao


recurso agravado, rever a decisão impugnada.

A Lei n. 9.756/98 também introduziu novas regras em relação a esse recurso, com o
objetivo de celeridade processual, porque com todas as cópias que devem ser juntadas no
instrumento, como visto linhas atrás, o Tribunal ad quem, em tese, acolhendo o agravo,
poderá julgar de imediato o recurso que obteve despacho denegatório.

1.4. Agravo de Petição

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

O agravo de petição está disciplinado no art. 897, “a”, da Consolidação das Leis do
Trabalho. É recurso próprio para as decisões do juiz da Vara do Trabalho ou do juiz de
Direito investido de jurisdição trabalhista, nas execuções.

Concordamos com José Augusto Rodrigues Pinto (Execução Trabalhista, LTr) quando
afirma que o agravo de petição cabe das decisões definitivas, em processo de execução
trabalhista, e das decisões interlocutórias que envolvem matéria de ordem pública capaz de
justificar o novo exame de seu conteúdo.

A interpretação do artigo é controvertida.

Não há recurso específico da sentença de liquidação, embora alguns julgados o


admitam.

O prazo para interposição do recurso, bem como para as contra-razões, é de oito


dias, como para todos os recursos trabalhistas, salvo para os embargos declaratórios, o
recurso extraordinário e o pedido de revisão, o que, aliás, já foi ressaltado no módulo
anterior.

Importante é que o agravo de petição só será recebido quando o agravante delimitar


justificadamente as matérias e os valores impugnados, para permitir a execução imediata
da parte remanescente.

1.5. Embargos no Tribunal Superior do Trabalho


No Tribunal Superior do Trabalho temos os embargos infringentes e os embargos de
divergência.

1.5.1. Embargos infringentes


Os embargos infringentes têm cabimento das decisões não-unânimes proferidas pela
seção especializada em dissídios individuais, como, por exemplo, mandado de segurança e
ações rescisórias. Não serão admitidos se a decisão atacada estiver em consonância com
precedente ou súmula de jurisprudência dominante no Tribunal Superior do Trabalho.

Também não são cabíveis contra decisão proferida em agravo de instrumento oposto
de despacho denegatório de recurso de revista.

Cabem, porém, nas decisões em dissídios coletivos.

1.5.2. Embargos de divergência


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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Os embargos de divergência objetivam uniformizar a jurisprudência e pressupõem:

• decisões divergentes das Turmas;

• decisões das Turmas divergentes, da seção de dissídios individuais;

• decisões das Turmas divergentes de enunciados e súmulas;

• decisões das Turmas que violarem lei federal ou a Constituição Federal


(embargos de nulidade).

A divergência deve ser comprovada pelo embargante na forma da Súmula n. 337 do


Tribunal Superior do Trabalho, conforme anteriormente transcrito.

1.6. Agravo Regimental


O agravo regimental é o agravo previsto nos regimentos internos dos tribunais; é,
também, recurso no sentido restrito, limitando-se ao exame do despacho agravado, quase
sempre nos mesmos casos do agravo de instrumento. A regra está em cada regimento.

1.7. Pedido de Revisão


O pedido de revisão é recurso de decisão interlocutória – quebrando a regra da
irrecorribilidade das decisões interlocutórias – quando o valor da causa for indeterminado e
for fixado pelo juiz.

Na audiência, por ocasião das razões finais, poderá qualquer das partes impugnar o
valor fixado; se, entretanto, o juiz o mantiver, o interessado poderá interpor o recurso de
revisão, em um prazo de 48 horas, sem efeito suspensivo. A sede legal encontra-se na Lei
n. 5.584/70, que dispõe sobre regras de direito processual.

1.8. Recurso Adesivo


O art. 500 do Código de Processo Civil é que nos permite a possibilidade do
recurso adesivo. Neste artigo consta a sua configuração, estabelecendo a Súmula n. 196 do
Tribunal Superior do Trabalho a compatibilidade desse recurso com o Processo do
Trabalho.

“O recurso adesivo é compatível com o Processo do Trabalho, onde cabe, no prazo


de oito dias, no recurso ordinário, na revista, nos embargos para o Pleno e no agravo de
petição.”

6
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

O prazo de oito dias tem cabimento nas ações julgadas “procedentes em parte”, isto
é, quando os litigantes são ao mesmo tempo vencedores e vencidos.

Nesses casos, quando uma das partes recorre, a outra, que não interpôs recurso, além
de fazer as contra-razões, poderá aderir ao recurso principal.

O recurso adesivo seguirá a sorte do principal, porque a ele está subordinado quanto
aos requisitos formais. Por exemplo, se o principal não subir por intempestivo, o adesivo
também não sobe.

1.9. Embargos Declaratórios


Discute-se na doutrina a natureza dos embargos declaratórios; todavia, como
mencionado no capítulo dos recursos, entendemos que essa é a sua natureza (art. 496 do
CPC).

Os embargos declaratórios vêm estabelecidos no art. 535 do Código de Processo


Civil, interpostos, no prazo de cinco dias das sentenças ou acórdãos, nos casos de
obscuridade, contradição e omissão.

Os embargos declaratórios interrompem o prazo para eventuais outros recursos, para


ambos os litigantes (art. 538 do CPC).

Importante a Súmula n. 278 do Tribunal Superior do Trabalho:

“A natureza da omissão, suprida pelo julgamento de embargos declaratórios, pode


ocasionar efeito modificativo no julgamento”.

A omissão ou a contradição não argüida em embargos implica preclusão, não


podendo ser suscitada em grau de recurso (Enunciado n. 297 do TST).

1.10. Recurso Extraordinário


São pressupostos específicos dos recursos extraordinários: a existência de uma
causa; que essa causa tenha sido decidida em única ou última instância por um tribunal e
que a decisão tenha envolvido (direta ou indiretamente) questão federal.

Ao Superior Tribunal Federal, como guardião por excelência da Constituição


Federal, incumbe exercer o controle da constitucionalidade dos atos inferiores de quaisquer
dos Poderes da República.

A Súmula n. 279 do Superior Tribunal Federal estabelece: “Para simples reexame de


prova não cabe recurso extraordinário”.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Outras súmulas ajudam a configuração do recurso em exame, como a de n. 400


(decisão que deu razoável interpretação à lei, ainda que seja a melhor, não autoriza recurso
extraordinário pela letra “a”) ou a de n. 454 (simples interpretação de cláusulas contratuais
não dá lugar a recurso extraordinário).

No campo trabalhista, o recurso extraordinário é interponível das decisões


proferidas pelo Tribunal Superior do Trabalho, desde que agridam a Constituição Federal,
no prazo de 15 dias.

1.11. Correição Parcial


Para a moderna doutrina publicista, a correição parcial teria caráter recursal. Não
concordamos, porém, uma vez que entendemos essa figura como uma providência de
natureza administrativa.

Cabe correição quando existentes dois pressupostos: ato judicial atentatório à boa
ordem de procedimento e que não possa ser impugnado por recurso.

A tarefa de fixar prazo tem sido cometida aos regimentos internos dos tribunais.
Segundo norma do Tribunal Superior do Trabalho, o prazo é de cinco dias e, assim, esse
prazo é, normalmente, reproduzido pelos tribunais regionais.

A petição é autuada na Secretaria da Corregedoria Regional, de maneira


fundamentada. O juiz, cujo ato é impugnado, presta as informações necessárias e o
corregedor procede ao julgamento.

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em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO


Intervenção do Estado no Domínio Econômico

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Intervenção do Estado no Domínio Econômico

O Estado, no decorrer dos séculos, vem apresentando acentuado papel no


relacionamento entre o domínio jurídico e o domínio econômico. Atualmente, essa atuação
vem sendo questionada, e assim questiona-se também qual deve ser o papel do Estado na
realização do fenômeno econômico.

Para melhor entender a atuação que o Estado deverá ter hoje no domínio
econômico, mister perquirir uma visão histórica da questão.

1. LIBERALISMO E INTERVENCIONISMO

Os sistemas econômicos (também chamados modelos econômicos), como


organização institucional da sociedade, criados para enfrentar o problema da escassez de
recursos, podem ser classificados em três modelos fundamentais:

• Sistema fundado na tradição: baseado na repetição de tudo o que já estiver


ocorrendo, ou seja, na reiteração dos padrões comportamentais até então
existentes; sistema no qual os agentes econômicos, sem efetiva racionalidade,
repetem os padrões de comportamento impostos pela tradição.

• Sistema fundado na autoridade: no qual se verifica uma fusão entre os planos


econômico e político, cabendo ao Estado promover um plano (planejamento) em
que se encontrem previstas as variáveis da produção (economia planificada);
sistema baseado na crença de que o Estado, por meio da autoridade, pode
resolver o problema econômico, planificando a economia.

• Sistema fundado na autonomia: também chamado modelo de mercado ou


sistema descentralizado, no qual os cidadãos, individual ou agrupadamente, são
livres para tomarem as decisões econômicas, por não acreditarem que o Estado
pode resolver o problema econômico; ao contrário, crêem na idéia de que é
dispensável o planejamento do Estado, já que agirão hedonisticamente
(objetivando a maximização dos resultados), todos os agentes agirão da melhor
forma possível, gerando uma planificação subliminar do mercado; o referido
sistema, tempos após sua criação, passou a ser denominado sistema capitalista.

A História mostra que têm havido combinações entre esses três modelos, originando
famílias de sistemas, conforme a predominância de cada um.

Ao final do século XVIII, como conseqüência dos ideais de liberdade surgidos na


Europa, em contraposição ao absolutismo real visto como direito divino, começaram a
1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

surgir as constituições chamadas liberais. Com essas constituições, que foram o primeiro e
fundamental instrumento para a implantação do sistema descentralizado ou autônomo
supracitado, surgiram as idéias complementares, entre as quais se destacam:

• idéias que, com o objetivo de enfraquecer o Estado, asseguravam e pregavam a


liberdade, inclusive a econômica, estabelecendo uma distinção razoavelmente
ampla entre o plano político e o plano econômico e demarcando a tripartição dos
poderes;

• a sistematização ou codificação do Direito privado, representando uma estrutura


apta a assegurar a certeza das relações jurídicas, configurando um grande
suporte para a implantação do sistema de mercado;

• o desenvolvimento de um Direito Administrativo amoldado ao sistema liberal


com uma posição absenteísta do Estado, surgindo o poder de polícia como forma
incipiente de impor restrições a certas iniciativas dos particulares tidas como
ofensivas à ordem, à segurança e à incolumidade dos cidadãos, uma vez que a
liberdade individual não poderia ser ilimitada, encontrando seus limites na
proteção dos interesses sociais e públicos.

Embora o progresso e o desenvolvimento da tecnologia e da atividade econômica


tenham sido notáveis, os aproximadamente 150 anos de vivência do sistema liberal
produziram um quadro político e socialmente conturbado, acabando por revelar
importantes falhas, inoperacionalidades ou imperfeições do sistema, devido à confirmação
do alto grau de dificuldade apresentado pela função de coordenar as inúmeras decisões de
aspectos econômicos.

As falhas apresentadas por esse sistema, que podem ser chamadas falhas de
mercado, são cinco e correspondem à ausência dos pressupostos que haviam lastreado a
concepção liberal na sua formulação, quais sejam:

• Mobilidade de fatores: representa a agilidade de modificação dos fatores de


produção, a fim de se poder reagir aos sinais indicativos, representados pelos
preços, revertendo automaticamente certas situações indesejáveis. Verificou-se,
porém, que essa agilidade não ocorre; na verdade, em quase todos os fatores
(físicos, operacionais, institucionais etc.) existe uma rigidez que impede aqueles
deslocamentos céleres, automáticos e oportunos para o afastamento das situações
indesejáveis que se apresentam em determinadas circunstâncias.

• Acesso às informações relevantes: pressuposto básico, pois, dispondo dessas


informações sobre o mercado e sobre as características dos produtos nele
negociados, os agentes poderiam atuar hedonisticamente, fato responsável pela
organização e planificação do mercado. Entretanto, quer em razão do aumento da
complexidade dos produtos, do tamanho dos mercados e de inúmeros outros
fatores, quer em decorrência da intenção dos agentes econômicos de
esconderem informações para agirem de forma egoísta, verificou-se ser
impossível assegurar a todos os agentes a totalidade das informações relevantes
de que necessitavam.
2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

• Concentração econômica: uma falha de estrutura. O mercado foi pensado,


originariamente, como um conjunto de unidades economicamente pequenas, sem
que a presença ou ausência de qualquer uma dessas unidades pudesse ou tivesse
um peso que implicasse alterações do próprio mercado (a respeito de
concentração econômica, verificar exposição no próximo módulo).

• Externalidades: correspondentes a fenômenos pelos quais os custos ou


benefícios de qualquer atividade circulam na economia. Esses custos/benefícios
passam de um setor para outro, sem qualquer compensação e desconfiguram o
funcionamento do mercado, pelo fato de alguns produtos ou serviços terem, por
preço, valores distintos daqueles que realmente deveriam ter, em razão da
incorporação do benefício ou prejuízo – em decorrência da externalidade,
positiva ou negativa, respectivamente. As externalidades configuram falha de
sinal, uma vez que os preços e custos dos produtos assinalam o seu grau de
escassez. Como as externalidades têm a habilidade de maquiar esses preços, a
respectiva escassez não é fielmente sinalizada.

• Existência de bens coletivos (públicos): ou seja, bens que atendem


simultaneamente a um conjunto de pessoas. Esses bens geram uma falha de
incentivo, uma vez que, no regime de mercado, os produtores são levados a
produzir, e os consumidores a adquirir, pelo menor preço possível – ambos,
portanto, são incentivados pelo preço. Quanto aos bens públicos, não há
incentivo, porque não existe a possibilidade de exclusão.

Verificadas essas falhas (inoperacionalidades) do mercado, começou a surgir um


grande número de normas jurídicas visando o respectivo controle ou mesmo a mitigação
dessas falhas. Trata-se, justamente, da re-introdução do Estado no sistema econômico,
mediante a edição de normas de caráter geral e regulamentar. Esse re-ingresso do Estado
não foi sistemático, nem sempre conscientemente desejado, mas fruto de uma necessidade
incontrolável, à falta de outra alternativa para lidar com essas inoperacionalidades.

A ação do Estado, como mero controlador das inoperacionalidades do mercado,


recebeu o nome capitalismo regulamentar ou neoliberalismo, designação que quer
mostrar a permanência dos ideais do liberalismo, mas modificados para poderem levar em
consideração os novos reclamos provocados pelo imperfeito funcionamento dos mercados.

Iniciou-se, assim, o fenômeno da intervenção do Estado na economia, ou no


domínio econômico, função essa que passou a ser aceita, desde que cercada das
indispensáveis cautelas para limitá-la ao estritamente necessário, ou seja, suprir as
disfunções maiores do sistema, sem, contudo, tolher-lhe as condições de funcionamento. A
essa função, acoplou-se outra, decorrente da colocação, agora sim, consciente, de objetivos
de política econômica, isto é, de posições e resultados a serem assumidos ou produzidos
pelo sistema econômico para o desempenho do sistema como um todo. Assim, para a
intervenção do Estado na economia, os objetivos de caráter político também foram
relevados.

Verifica-se, portanto, e, em conclusão, que a presença do Poder Público na


economia deixa de ter por justificativa apenas as falhas do mercado, passando também a ter
3
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

uma segunda e extremamente poderosa motivação, que se acoplou à primeira e que decorre
das preferências políticas quanto ao desempenho total do sistema, levando o Estado não
somente a completá-lo, mas também a direcioná-lo deliberadamente visando fins
específicos.

2. O SISTEMA REGULAMENTAR E OS FINS DA POLÍTICA ECONÔMICA

A necessidade de o Estado voltar a regular o sistema econômico, devido às falhas


estruturais do mercado, acabou sendo também, como já salientado, justificada por outra
questão – a de impor ao conjunto como um todo padrões de desempenho consentâneos
com preferências politicamente definidas, inspiradas nos valores próprios de cada povo.

Essas preferências, repise-se, que são inspiradas nos valores próprios de cada povo,
traduzem-se em fins, que são aspirações ainda mais ou menos vagas e gerais.

O Professor Fábio Nusdeo ensina que “é extremamente difícil destacar os principais


objetivos perseguidos pelas várias nações, mesmo porque eles têm variado, segundo as
épocas, as particulares fases da conjuntura e a orientação política dos governos ... Um
estudioso, Boulding, os vê, em última análise, como meros desdobramentos de quatro
grandes fins e aspirações de ordem geral, comuns à maioria dos povos, independentemente,
mesmo, dos regimes políticos e dos sistemas econômicos vigentes.”3 São eles:

• progresso econômico: pode ser entendido como o crescimento econômico, ou


seja, a possibilidade de ampliar a capacidade produtiva, ou ainda, uma melhora
no atendimento das necessidades humanas;

• estabilidade econômica: se refere a dois ideais. O primeiro, de eliminar as


flutuações do nível de renda e de emprego, abrandando, assim, toda a chamada
política anticíclica visando atenuar a amplitude dos sucessivos ciclos de
prosperidade e depressão. O segundo, refere-se à moeda, ou seja, representa o
ideal da manutenção, dentro de determinados limites, do poder de compra da
moeda, a fim de evitar processos inflacionários ou deflacionários mais agudos;

• justiça econômica: basicamente identificada com uma preocupação de


redistribuição de renda, dado o pressuposto de que o mercado funcionará, em
geral, como um mecanismo concentrador da renda;

• liberdade econômica: que pode ser vista de diversas formas, como um


imperativo categórico ao ser humano, por lhe permitir a escolha autônoma de
seus objetivos.

Essas finalidades básicas da sociedade desdobram-se em inúmeras outras intenções


e objetivos, tais como a industrialização, a globalização etc.

3
Curso de Economia: Introdução ao Direito Econômico. 1997. p. 198-199.
4
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

A definição dos objetivos da política econômica varia segundo a posição de cada


autor e os critérios utilizados para enfeixar, sob uma mesma denominação, objetivos
diversos, geralmente perseguidos pela sociedade. Esses fins, colocados pelo Poder Público
para a economia, surgem, assim, como uma espécie de bens coletivos, no sentido técnico,
uma vez que irão compor o ambiente econômico propício de que se beneficiarão, em
conjunto, todas as unidades componentes do sistema para criação de condições favoráveis
à realização de objetivos próprios a cada uma delas.

Referidos objetivos podem ser divididos em dois grupos:

• ativos: buscam introduzir um novo padrão para o sistema econômico.


Configuram-se como de alta atração para a sociedade como um todo e para os
setores beneficiados, atraindo, a bem da verdade, um certo consenso;

• restritivos: têm função conservadora, tendendo a ser impopulares, porque


impõem uma certa restrição para um grupo, motivo pelo qual são de difícil
implantação em termos políticos. São marcados pela manutenção de determinado
equilíbrio, baseado em quatro objetivos: a) estabilidade monetária; b)
estabilidade de emprego; c) estabilidade da balança de pagamento; d)
estabilidade ou preservação do meio ambiente.

Considerando-se as supracitadas finalidades básicas da sociedade, pode-se afirmar


que a estabilidade configura um objetivo restritivo e, as outras três – progresso, justiça e
liberdade – podem ser caracterizadas como objetivos ativos ou restritivos, dependendo da
específica atuação dentro de cada um desses objetivos.

É importante salientar que a ênfase excessiva conferida a um determinado objetivo


compromete normalmente os demais, motivo pelo qual as medidas de política econômica
devem sofrer, por meio da sociedade, um controle quanto à sua legitimidade, inclusive com
intuito de evitar a sua captura por grupos de interesse, inteiramente desvinculados do bem-
estar geral.

Esse sistema combina, portanto, a criatividade e o dinamismo do mercado à ação


estatal supridora das suas deficiências, voltada, ao mesmo tempo, a implementar alguns
objetivos mais amplos, fora do alcance dos particulares. Trata-se, esse sistema, de
economia de iniciativa dual.

Referido sistema implicou profundas modificações no quadro jurídico ocidental,


principalmente no campo constitucional, onde as cartas políticas deixaram de se limitar às
garantias individuais e à organização do Estado para incluírem direitos de caráter
econômico e social, contemplando, implícita ou explicitamente, programas para o
aperfeiçoamento do sistema econômico.

5
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

3. AS FALHAS DO ESTADO

Essa descrição do sistema dual, também chamado sistema misto, em um primeiro


momento, pode ter levado à crença de obtenção da perfeição em termos de reorganização
econômica das sociedades modernas. Não é assim, entretanto, pois, como todo mecanismo,
também é dotado de imperfeições e vulnerabilidades, decorrentes fundamentalmente do
problema da discrepante forma de comportamento dos seus dois setores componentes – o
público e o privado – e, por conseqüência, da precária e imperfeita reação desse último às
medidas de política econômica emanadas daquele. Controversa ainda é a questão quanto de
Estado/quanto de mercado e, também, a relativa aos setores em que deve o Estado atuar.
Até o momento, não há respostas conclusivas para quaisquer delas.

Verifica-se, portanto, que o Estado, ao corrigir as falhas do mercado, buscando a


estabilidade e a justiça, acaba por tolher a liberdade. Essa constatação permite afirmar que
o Estado, visando sanar as imperfeições do mercado, algumas vezes impõe regras de
política econômica, podendo acontecer que essas duas funções nem sempre corram
paralelamente e acabem por se imbricarem.

Esse choque de visões dos interesses econômicos (ativos e restritivos) é comum,


originando o que se denomina falhas do sistema de mercado ou falhas do sistema
econômico – se o mercado tem suas inoperacionalidades, a ação do Estado também tem
suas falhas.

As falhas de ação do Estado podem ser desenhadas da seguinte maneira:

• juridificação: configura a criação de um número muito grande de normas legais e


regulamentares cuja tendência é a de edificar uma babel normativa, dificilmente
absorvível pelo mercado, gerando crises de absorção, de má adaptação e de
rejeição;

• princípios motores distintos: decorrentes da forma muito lógica do sistema dual,


uma vez que tanto o Estado quanto o mercado têm lógicas próprias de
funcionamento. O Direito, como sistema instrumental de política, não conseguirá
impor à Economia de base hedonista padrões exógenos a ela, mas apenas injetar-
lhe estímulos para serem processados endogenamente segundo a sua mecânica
característica;

• captura: decorrente da dinâmica especial apresentada pelo relacionamento entre


regulados e reguladores. Os contatos entre eles devem ser estreitos, sobretudo em
razão de dados e informações a serem necessariamente fornecidos pelas unidades
reguladas às agências estatais, inclusive quanto a eventuais dificuldades ou
impossibilidade de cumprimento das normas editadas, fato que pode gerar a
captura, ou seja, as exigências regulamentares passam a se amoldar às
necessidades e interesses das unidades reguladas ou de algumas delas;

6
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

• interesses próprios dos reguladores: diversas vezes, os órgãos reguladores, em


vez de perseguirem na direção para a qual foram criados, passam a seguir
caminho distinto, desenvolvendo objetivos próprios, relacionados com a carreira
e o prestígio pessoal dos seus membros, com o poder etc.

• grupos de pressão: também chamados grupos de interesse ou lobbies, que não


são um mal em si, mas, pelo fato de poderem representar interesses individuais,
tornam-se preocupantes;

• poder da burocracia: o processo de edição de medidas pode ser conduzido de


acordo com as preferências da burocracia ou dos grupos de pressão que a tenham
influenciado – diversos estratagemas podem levar a resultados não plenamente
legítimos.

Todas essas vulnerabilidades, sinteticamente apontadas, levaram à crise do processo


regulatório da economia, motivando o movimento da desregulamentação e da privatização.

No entanto, é forçoso perceber a existência de limites para o processo liberatório,


dado que, à medida que ele avança, os inconvenientes do excesso de liberalização se fazem
sentir e a demanda política por maior ação reguladora será irreversível. Desta forma é
evidente a impossibilidade de ignorar o problema ambiental, o problema da concentração
econômica etc.

4. AS AGÊNCIAS REGULADORAS INDEPENDENTES E A TEORIA DOS


ORDENAMENTOS SETORIAIS

Nesse contexto, e principalmente a partir do Segundo Pós-Guerra, o Estado, diante


de uma sociedade crescentemente complexa e dinâmica, começou a verificar a impotência
dos seus instrumentos tradicionais de atuação, o que impôs a adoção de mecanismos
administrativos mais ágeis e tecnicamente especializados.

Assim, a tecnologia jurídica até então predominante, com suas regulamentações


genéricas para todos os setores sociais, começou a se transformar para enfrentar os novos
desafios, surgindo órgãos e entidades dotados de independência frente ao aparelho central
do Estado, com especialização técnica e autonomia normativa, capazes de direcionar as
novas atividades sociais no caminho do interesse público juridicamente definido.

Os ordenamentos setoriais, também chamados seccionais vieram, então, a constituir


instituto de crescente valia quando o Estado verificou a impotência dos seus mecanismos
regulatórios tradicionais, pois, repita-se, não era mais possível atuar satisfatoriamente sem
encarar, com agilidade e conhecimentos técnicos específicos, a emergente realidade
socioeconômica multifacetária com a qual se deparara.

7
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Apesar da sua origem relativamente antiga – seu principal marco é a Interstate


Commerce Commission, criada nos Estados Unidos, em 1887, para regular os serviços
interestaduais de transporte ferroviário –, os ordenamentos setoriais e respectivos órgãos e
entidades implementadores constituem, cada vez mais, um importante mecanismo de
diálogo entre o Direito, que não pode abrir mão do seu caráter normativo, e a economia,
que não abre mão da capacidade, que detém, de impor a sua própria lógica.

Tal fenômeno tem proporcionado importantes transformações no Direito público,


tais como:

• a pluralização das fontes normativas, não mais de titularidade exclusiva 4 do


Poder Legislativo;

• a descentralização do aparato estatal por meio da criação de entes ou órgãos


autônomos, dotados de independência frente aos tradicionais poderes do Estado;

• a relativização do modelo hierárquico e vertical de Administração Pública, com a


emergência de mecanismos gerenciais e finalísticos de organização.

Os ordenamentos setoriais, instituídos pelo Estado por imposição da realidade


econômica e técnica, possuem uma base econômica identificável. Têm por função a
regulação das atividades empresariais ou profissionais que possuem aspectos sensíveis ao
interesse coletivo, tais como os serviços públicos, a exploração de determinados bens
públicos, o comércio de valores mobiliários, a atividade financeira, a produção de
medicamentos etc., que não podem ser deixadas ao livre-arbítrio privado.

Nesse sentido se pode afirmar que, quando o legislador julga ser necessária uma
maior rigidez do controle estatal, os ordenamentos setoriais são conferidos a entidades ou
órgãos do próprio Estado, mas alheios à sua administração central, com a qual não
possuem vínculos de hierarquia ou de significativo controle. São os casos das agências
reguladoras aqui no Brasil, ou das commissions norte-americanas e das autoridades
independentes francesas e espanholas.

Com esse fenômeno, as agências reguladoras independentes são dotadas de


competências complexas, acabando por fortalecer o Estado de Direito. Isso porque, ao
retirar do emaranhado das lutas políticas a regulação de importantes atividades sociais e
econômicas, atenuando a concentração de poderes na Administração Pública central, as
agências – acredita-se – alcançam, com melhor proveito, o escopo de garantir eficazmente
a segurança jurídica, a proteção da coletividade e dos indivíduos empreendedores de tais
atividades, ou por elas atingidos.

Assim sendo, elas, as agências reguladoras independentes, enquanto ordenamentos


setoriais, são um dos vários instrumentos dos quais o Estado pode dispor para desenvolver
4
Essa afirmação está assim colocada apenas para fins de demonstração da criação de inúmeros outros
órgãos reguladores, pois, como é cediço, a atividade legislativa nunca foi exclusiva do Poder Legislativo. A
doutrina de Montesquieu, além de ter sido objeto de interpretações radicais e absolutas, não contempladas
pelo próprio autor, nunca foi aplicada em sua inteireza, conforme ensina ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria
Geral do Estado. Coord. J. J. Gomes Canotilho. 3.a ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. p.
416.
8
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

suas atividades regulatórias. Possuem as seguintes características, cuja soma e mútua


interpenetração configuram o mecanismo regulatório mais utilizado na atualidade e em
franca expansão:

• órgãos ou entidades independentes, atípicos em relação ao tradicional aparato


administrativo, com acentuada característica de independência decisória e alta
competência técnica, normalmente colegiados, que ditam regras de
comportamento aos operadores, fiscalizam-nos, aplicam-lhe sanções e formulam
propostas ao Poder Legislativo e ao Governo;

• caráter técnico, já que, com os fenômenos industriais e pós-industriais, a vida


social deixou de se fundar em valores preponderantemente políticos, em sentido
estrito, para também se inspirar fortemente em fatores técnicos. Esses fatos têm
feito com que a especialização em determinado setor do Direito deva ser
acompanhada de profundos estudos técnicos de matéria regulada, sendo cada vez
mais comuns e necessários os “juristas-economistas”, “juristas-sanitaristas” etc.;

• policentrismo, no sentido de que, com o florescimento dos ordenamentos


setoriais, dificilmente a organização do aparato administrativo retornará ao
caráter unitário projetado nos oitocentos (século XIX), e que já começara a ruir
com o advento dos entes locais autônomos e das entidades da administração
indireta; o que surge é um aparato com novos instrumentos de integração e
coordenação; é o reconhecimento de novos graus do exercício autônomo da
discricionariedade, com a emergência de mecanismos de controle mais
finalísticos que hierárquicos;

• amplo poder normativo, com poder regulamentar e com delegificação, ou seja, a


retirada, pelo próprio legislador, de certas matérias, do domínio da lei, passando-
as ao domínio do regulamento.

No entanto, não se deve refutar o diálogo que pode, como deve, existir entre as
entidades reguladoras independentes e os sistemas político e econômico; porém, não pode
chegar a sobrepujá-las, a captá-las.

Os seus dirigentes devem ter em mente que a independência da qual essas entidades
são dotadas só será capaz de propiciar os benefícios sociais para os quais foram instituídas,
se a própria entidade, no seu âmago, atender aos princípios maiores da Administração
Pública e do Estado de Direito, mantendo-se sempre plurais e transparentes diante dos
diversos segmentos que a compõem e do meio social envolvente.

5. INTERVENÇÃO NO DIREITO POSITIVO BRASILEIRO

9
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

A Constituição Federal de 1988 surgiu com a característica de ruptura com a


tendência francamente intervencionista da Constituição de 1967-1969, mas deixando-se
ainda impregnar de idéias protecionistas, originadas da tradição.

A análise do art. 173 da Constituição Federal permite afirmar que, salvo os casos
previstos na própria Constituição, a exploração direta da atividade econômica pelo Estado
constitui-se uma exceção. A regra é a de que o Estado não deve atuar diretamente no
domínio econômico, podendo assim agir em situações excepcionais, restritas à necessidade
decorrente de dois fatores que deverão estar previstos em lei: imperativos de segurança
nacional e relevante interesse coletivo.

Os casos previstos na Constituição que deferem ao Estado a atuação no domínio


econômico são aqueles mencionados nos artigos 175, 176 e 177, ou seja, a prestação de
serviços públicos, a exploração de jazidas, recursos minerais e potenciais de energia
hidráulica e o monopólio da União relativamente ao petróleo, bastante reduzido pelas
regras introduzidas pela Emenda Constitucional n. 9/95, e o monopólio relativo aos
minerais nucleares.

O Estado, quando explora diretamente a atividade econômica, submete-se ao mesmo


regime jurídico aplicável às empresas privadas, torna explícita sua sujeição às obrigações
civis, comerciais, trabalhistas e tributárias, e proíbe a concessão de privilégios fiscais que
não sejam extensivos aos particulares (§§ 1.o e 2.o do art. 173 da CF).

Justamente para aclarar a imposição de afastamento do Estado da exploração direta


na atividade econômica, o artigo 174 da Constituição Federal definiu os novos papéis do
Estado, como agente normativo e regulador da atividade econômica.

Assim, a intervenção do Estado no domínio econômico pode se dar de duas formas:


direta e indireta. Na forma direta, tem-se as empresas públicas (art. 173, §§ 1.o, 2.o e 3.o, da
CF), encontrando-se o Estado na forma de empresário. Na forma indireta, o Estado
intervém por meio de normas que têm por finalidade fiscalizar, incentivar ou planejar,
sendo o planejamento somente indicativo para o setor privado (art. 174 da CF).

Obs: para um detalhamento mais efetivo recomenda-se a leitura dos artigos 173 a 181 da
Constituição Federal.

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total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
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MÓDULO XI

DIREITO ELEITORAL
Crimes Eleitorais

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DIREITO ELEITORAL

DIREITO ELEITORAL

Crimes Eleitorais

São considerados crimes eleitorais os que buscam atingir as eleições em qualquer


das suas fases (desde a inscrição do eleitor até a diplomação). Por atingirem diretamente a
ordem política do Estado, os crimes eleitorais são classificados como espécie do gênero
crimes políticos (crimes dirigidos contra a ordem política e social do Estado). Há crimes
eleitorais previstos no Código Eleitoral e na Lei Geral das Eleições (Lei Complementar n.
64/90).

A polícia das eleições é a Federal, embora, por solicitação dessa ou por requisição
da Justiça Eleitoral, a Polícia Civil e a Polícia Militar possam atuar concomitantemente.

Os crimes eleitorais são apurados mediante ação penal pública incondicionada


(artigo 355 do CE). O prazo para o oferecimento da denúncia é de dez dias (esteja o
acusado preso ou solto) e, em regra, a competência para o seu julgamento é do juiz
eleitoral.

Caso o autor do delito desfrute de prerrogativas funcionais, o julgamento poderá ser


deslocado para o Tribunal Regional Eleitoral (exemplo: crime eleitoral praticado por um
juiz eleitoral, um promotor eleitoral ou um prefeito), para o Superior Tribunal de Justiça
(exemplo: crime eleitoral praticado por um governador) ou para o Supremo Tribunal
Federal (exemplo: crime eleitoral praticado pelo Presidente da República, por Deputado
Federal ou Senador).

Não há previsão de interrogatório, o qual poderá ser facultado pelo juiz eleitoral ao
acusado. Recebida a denúncia, o acusado é citado para contestar em dez dias, seguindo-se
com a colheita dos depoimentos das testemunhas e com as alegações finais (arts. 355 a 364
do CE).

Não havendo pena expressamente prevista, aplicam-se os prazos mínimos previstos no


artigo 284 do Código Eleitoral (15 dias para os crimes punidos com detenção, e um ano
para os crimes punidos com reclusão).

A execução da pena por crime eleitoral será realizada pelo Juízo das Execuções
Criminais, nos termos da Súmula n. 192 do Superior Tribunal de Justiça. O
acompanhamento de medidas suspensivas decorrentes do artigo 89 da Lei n. 9.099/95 é
feito pelo próprio Juízo eleitoral (Juízo processante), conforme decidiu o Superior Tribunal
de Justiça no Conflito de Competência n. 18.673, DJU de 19.5.1997. Durante os efeitos da
condenação, o sentenciado fica com seus direitos políticos suspensos (artigo15, inciso III,
da Constituição Federal).

Quanto aos direitos políticos passivos (elegibilidade), há que se observar que os


condenados criminalmente, com sentença transitada em julgado, pela prática de crimes
contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público, o
1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO ELEITORAL

mercado financeiro, por crimes eleitorais e por tráfico de entorpecentes, permanecerão


inelegíveis por três anos após o cumprimento da pena (artigo 1.º , inciso I, alínea “e”, da
Lei Complementar n. 64/90).

Das sentenças condenatórias ou absolutórias cabe recurso (normalmente denominado


apelação criminal) no prazo de dez dias (artigo 362 do CE). Esse recurso é o único com
efeito suspensivo.

Contra as decisões previstas no artigo 581 do Código de Processo Penal cabe o


recurso em sentido estrito, no prazo de cinco dias.

Em face das decisões do Tribunal Regional Eleitoral cabem recurso especial (artigo 121,
§ 4.º, incisos I e II, da Constituição Federal) ou recurso ordinário (artigo 121, § 4.º,
inciso V, da Constituição Federal), no prazo de três dias. Contra decisão do Presidente
do Tribunal Regional Eleitoral que negue seguimento ao recurso especial cabe agravo de
instrumento, em três dias (artigo 279 do CE).

Contra as decisões do Tribunal Superior Eleitoral cabem recurso extraordinário ou


recurso ordinário (se decisão denegatória de habeas corpus ou mandado de segurança),
em três dias.

No processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos crimes comuns que lhe forem
conexos, assim como nos recursos e na execução que lhes digam respeito, aplicar-se-á,
como lei subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal (artigo 364 do CE).

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DIREITO INTERNACIONAL
Direito Internacional Privado e Comércio Internacional

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DIREITO INTERNACIONAL

Direito Internacional Privado e Comércio Internacional

Prof. Carlos Husek

1. INTRODUÇÃO

O Direito Internacional Privado e o comércio internacional possuem pontos de


contato muito grandes: as questões de comércio internacional envolvem pessoas em países
diversos e, portanto, o conflito de leis no espaço está sempre presente. Os mecanismos que
resolvem tais conflitos são encontrados no Direito Internacional Privado, como as regras
referentes aos elementos de conexão aplicáveis em cada caso concreto.

2. NOÇÕES

O comércio internacional está ligado ao que chamamos lex mercatoria – um corpo


de regras costumeiras e de princípios comuns a todo comércio que se faz além fronteiras do
Estado.

Para muitos, as relações comerciais internacionais parecem escapar a um direito


estatal e direcionar-se a um direito uniforme nessa área.

O estudo do comércio internacional abrange os contratos internacionais, suas


cláusulas mais importantes, os incoterms, a arbitragem comercial etc.

3. CONTRATOS INTERNACIONAIS

O contrato é definido como um acordo de vontades, com o objetivo de criar uma


relação de direito e apresenta dois requisitos básicos: o acordo de vontades e a necessidade
de subordinação do contrato à lei.

O contrato é internacional quando contém algum elemento estrangeiro de


importância vital. Daí a aplicação do Direito Internacional Privado para a solução de seus
problemas.

1
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DIREITO INTERNACIONAL

Na verdade, o contrato internacional depende de um conjunto de fatores: domicílio


das partes, substância dos negócios, lugar da constituição da obrigação ou lugar da
execução da obrigação etc.

3.1. Cláusulas Contratuais


Muitos são os contratos internacionais, a saber: know-how, prestação de serviços,
transferência de tecnologia, transporte, compra e venda, leasing, franchising, transporte
marítimo, entre outros.

A elaboração do contrato internacional é mais detalhada que a dos demais contratos,


demandando, em geral, um tempo maior de gestação por conter cláusulas diferenciadas,
próprias do comércio internacional.

Três fases fundamentais encontram-se nos contratos internacionais: fase de


formação, fase de conclusão e fase de execução.

A formação do contrato abrange uma série de atos por meio dos quais surge,
concretizado, o consentimento contratual. É um período de ajuste de vontades para a
conclusão do acordo. Nesse período entram as noções de oferta e aceitação do contrato,
cujas regras o Direito Interno não satisfaz plenamente. Observamos que o mundo moderno
possui meios diversos de comunicação, que incluem não só carta, telefone, telegrama, mas
também fax e computador, e que certamente podem ensejar interpretações diferenciadas do
momento da consumação das vontades para a feitura do contrato.

Aqui, nosso espaço é muito limitado para o desenvolvimento das teses possíveis,
fazendo-se necessária a leitura de livros específicos sobre os contratos internacionais e suas
configurações. Basta-nos saber, e essa a finalidade de parte deste módulo, que o Direito
Internacional Privado e o Direito do Comércio Internacional têm regras bem diferenciadas
dos diversos ramos do Direito Interno de cada um dos Estados.

Dentre as cláusulas contratuais mais estudadas, principalmente na fase de formação


do contrato, algumas merecem destaque: as cartas de intenção, as lettres de patronage ou
confort letters, os acordos de segredo, os bid bonds ou garantias, e as cláusulas standards
ou condições gerais do contrato. Outras cláusulas podem ser estudadas; porém, aqui,
ficaremos com as mais importantes, quais sejam:

• Cartas de intenção: documentos preparatórios para o contrato definitivo, em


que os partícipes do contrato balizam as negociações, fixam pontos essenciais,
estabelecem a repartição das despesas da negociação e a obrigação das partes, e
podem fixar os elementos temporais.

• “Lettres de Patronage” ou “Confort Letters”: cartas de conforto ou de abono,


usadas com freqüência nos contratos de mútuo ou de financiamento com
bancos, financeiras ou asseguradoras; são firmadas por uma sociedade
(sociedade controladora) em favor de um banco ou outro agente financeiro, para
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DIREITO INTERNACIONAL

que esse último conceda um mútuo ou financiamento a uma sociedade


controlada.

• Acordos de segredo ou “secrety agreement”: acordo de sigilo de determinados


aspectos do contrato, como, por exemplo, resguardar um dado confidencial que,
se desrespeitado, impõe ao infrator uma penalidade. Representa uma obrigação
de não divulgar certas informações e conhecimentos confidenciais. Tem
autonomia como contrato, embora esteja ligado a um contrato de comércio
principal. Constitui-se num contrato temporário na fase de negociação.

• “Bid Bonds” ou garantias: garantias que nascem da prática do comércio


internacional, normalmente nos contratos de compra e venda, de prestação de
serviços ou licitação. Uma das espécies de garantia é o compromisso assumido
por um banco (garantidor) perante um beneficiário, pelo qual o garantidor se
obriga, no caso de uma das partes faltar com o cumprimento de suas obrigações
contratuais, a efetuar um pagamento ao beneficiário, dentro dos limites
indicados.

• Cláusulas Standards: são as condições gerais do contrato; são cláusulas


conhecidas que facilitam o comércio internacional.

4. ARBITRAGEM INTERNACIONAL

A arbitragem tem sido muito utilizada no Direito Internacional Público para dirimir
conflitos entre os Estados e, também, no Direito do Comércio Internacional, para dirimir
conflitos entre comerciantes. A arbitragem caracteriza-se como um procedimento de
composição de conflitos de interesses que atua fora dos quadros estabelecidos da jurisdição
estatal. Seu fundamento último encontra-se na autonomia da vontade.

Os árbitros, nos conflitos internacionais, aplicam a lex mercatoria ao Direito do


Comércio Internacional, constituído por regras e princípios aplicáveis às relações
jurídicas no comércio internacional.

A solução por meio de arbitragem pode vir nos contratos de comércio internacional
como um compromisso, uma vez que é preferível à tutela dos Estados, por ser mais rápida
e mais consentânea à substância das relações comerciais – lidando muitas vezes com
produtos perecíveis – e com a necessidade de soluções rápidas, desapegadas de
formalismos e do encaminhamento por várias instâncias, juízos e recursos para a
confirmação definitiva.

Muitas associações de arbitragem têm sido criadas para fazer valer tais
compromissos, quer nas Américas, quer no Velho Mundo. As questões que lhes são
submetidas nas lides de comércio internacional, os árbitros resolvem pelas regras de direito

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DIREITO INTERNACIONAL

consuetudinário, reconhecidas pelos comerciantes, pelo bom senso – não é apanágio dos
árbitros, porque os juízes também devem tê-lo – e pela eqüidade.

5. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E TRABALHO INTERNACIONAL

Aqui daremos uma rápida noção a respeito de Direito Internacional Privado e


trabalho internacional, uma vez que é impossível se falar em trabalho verdadeiramente
internacional, a não ser no caso de funcionários de organismos internacionais, que realizam
atividades em torno do objetivo desses organismos, criados pelos Estados por meio de um
tratado internacional. Esses funcionários contam, porém, com estatuto próprio – a própria
Carta que criou o organismo internacional – ou um documento anexo, um protocolo ou
algo semelhante, que rege as atividades das pessoas que trabalham no organismo
internacional. Desta forma, vale o tratado internacional para a solução de eventual litígio
entre o funcionário e o organismo em que trabalhe. No mais, trabalho internacional é o
daquele que é contratado numa empresa em seu país e é transferido para o exterior. As
regras para solução dos conflitos passa pela questão da competência da Justiça interna e
pelas normas e princípios do Direito Internacional Privado.

5.1. A Transferência do Empregado para o Estrangeiro


É preocupante a transferência tanto do empregado brasileiro para o estrangeiro
quanto de estrangeiros, por exemplo, para o Brasil.

A regra está disposta na Súmula n. 207 do Tribunal Superior do Trabalho: “A


relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no país da prestação de serviços e
não por aquelas do local da contratação”. O empregado, independente do local da
contratação, pode prestar serviços em mais de um país, sendo que, nesse caso, a relação
jurídica formada e a competência jurisdicional seguem as regras que beneficiam o
trabalhador, porque ao trabalhador é que cabe o direito de escolha da jurisdição.

5.2. Trabalho no Mercosul


A questão do Direito do Trabalho no Mercosul passa pela harmonização nas
legislações de seus Estados-membros, no trabalho feito pelo Subgrupo de Trabalho,
constituído para viabilizar regras específicas sobre as relações sociais.

O Foro Consultivo Econômico e Social, órgão do Mercosul, representa os setores


econômicos e sociais, com função meramente consultiva, devendo estar representados na
sua composição os diversos setores da sociedade civil: trabalhadores, empresários,
consumidores, universidades, mulheres e jovens.

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DIREITO INTERNACIONAL

Algumas questões prioritárias foram apontadas para melhorar e ampliar o


relacionamento no Mercosul: os encargos trabalhistas, que no Brasil e na Argentina têm
custo altíssimo; as migrações trabalhistas e a harmonização das normas de circulação de
trabalhadores; a criação de um sistema de certificação ocupacional entre os países; a
implantação de um sistema comunitário de informações para a formação, qualificação e
requalificação profissional; a saúde e segurança no trabalho; e o sistema de fiscalização
sobre as empresas e trabalhadores no cumprimento das regras impostas.

A matéria é complexa e situa-se tanto no âmbito do Direito Internacional Público


como no âmbito do Direito Internacional do Trabalho. Todavia, quando um trabalhador
brasileiro vai trabalhar num dos Estados que compõem o Mercosul, ainda empregamos os
entendimentos referentes ao Direito Internacional Privado – conflitos de leis –, que alguns
já estão se acostumando a chamar Direito Internacional Privado do Trabalho.

Todas essas matérias – Direito Internacional Privado, Comércio Internacional,


Arbitragem, Direito do Trabalho no Mercosul – aparentemente sem quaisquer ligações,
estão sendo aqui registradas para dar a exata dimensão do Direito Internacional que, nos
dias atuais, toca de perto quase todos os campos, em relação aos quais os profissionais do
Direito não podem mostrar-se ignorantes. Alguns concursos públicos já estão começando a
exigir o mínimo desses conhecimentos. A tendência, para nós, é de que essa exigência
aumente.

5.3. Competência da Justiça Brasileira


A competência internacional do juiz brasileiro é regida pelos critérios do domicílio
do réu, da situação da coisa e dos efeitos territoriais das obrigações.

A Justiça brasileira tem competência para julgar estrangeiro domiciliado no Brasil


(artigo 88, inciso I, do Código de Processo Civil) quando aqui tiver de ser cumprida a
obrigação e quando a ação se originar de fato ocorrido ou praticado no Brasil (artigo 88,
incisos II e III, do Código de Processo Civil). Tais competências são relativas.

Também é competente a Justiça brasileira, de forma absoluta, quando se tratar de


ação relativa a imóvel situado no Brasil, de inventário e partilha de bens situados no Brasil,
ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional
(artigo 89, incisos I e II, do Código Processo Civil).

Na Justiça do Trabalho, a competência internacional se estende aos dissídios


ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e não
haja convenção internacional dispondo em contrário (artigo 651, § 3.º, da Consolidação das
Leis do Trabalho), sendo certo que a especificação da nacionalidade – empregado ser
brasileiro – parece contrariar, dentre outros, o artigo 5.º, caput, da Constituição Federal e
os princípios e regras internacionais. Desse modo, entendemos que o estrangeiro, sem
dúvida, também pode acionar a Justiça brasileira nas mesmas situações.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

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1. CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA

1.1. Falsificação de Alimentos – Artigo 272 do Código Penal


“Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício
destinado a consumo, tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo:

Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa”.

1.1.1. Objetividade jurídica


Proteção à saúde pública, à incolumidade pública.

É crime de perigo concreto, uma vez que a lei exige efetiva situação de perigo
(“tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo”).

Os crimes podem ser de dano ou de perigo. No primeiro caso, a lei exige um dano
efetivo (morrer, machucar etc.). No segundo, basta o perigo, que prescinde de resultado
material (perigo de comer e morrer). O crime de perigo divide-se em:

• Perigo abstrato: apesar das teorias contra, ainda existe no Direito Penal. A
conduta é presumida, pela lei, como perigosa.

• Perigo concreto: a lei exige uma situação efetiva de perigo.

É necessário laudo pericial que comprove, além da adulteração, que o alimento


tornou-se nocivo à saúde (perigo concreto).

Um produto com validade vencida, por exemplo, não se enquadra nesse artigo,
salvo se comprovado que se tornou nocivo à saúde.

A nocividade pode ser positiva ou negativa (divisão feita pela doutrina). A positiva
constata-se no caso de o produto ser nocivo à saúde. A negativa, na hipótese de ter
reduzido valor nutritivo (o produto deixa de conter suas propriedades; por exemplo, perde
suas vitaminas).

1.1.2. Sujeito ativo


Qualquer pessoa, inclusive o fabricante, comerciante etc.

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1.1.3. Sujeito passivo


É a coletividade, os consumidores em geral.

Se a vítima é a coletividade, o crime atinge um número indeterminado de pessoas.


Por isso, se o crime atingir pessoa determinada, não se subsume ao art. 272, podendo
incorrer em lesão corporal (art. 129 do CP), tentativa de homicídio (art. 121 do CP),
periclitação da vida ou da saúde de outrem (arts. 130 e ss. do CP) etc.

A falsificação de alimentos não é crime hediondo.

A epígrafe da Lei n. 9.677/98, que dá nova redação ao artigo, afirma ser hediondo
esse crime, mas o texto não confirma isso, e a epígrafe não tem força de lei. Adveio a Lei
n. 9.695/98, que inclui somente a falsificação de remédios no rol dos crimes hediondos,
não mencionando a falsificação de alimentos.

1.1.4. Condutas típicas


As condutas típicas, em princípio, podem ser usadas como sinônimos. Mas, na lei,
cada uma tem seu significado:

• Corromper: estragar, infectar, desnaturar, deteriorar, empobrecer, decompor.

• Adulterar: mudar para pior, introduzir um componente na substância ou


produto alimentício.

• Falsificar: alterar com fraude (fazer parecer verdadeiro).

• Alterar: modificar de qualquer forma.

Não basta a prática dessas condutas – é necessário que elas tornem o produto
nocivo à saúde ou que reduzam seu valor nutritivo.

1.1.5.Objeto material
O objeto material é a substância ou produto alimentício, ou seja, aquilo destinado à
alimentação de ser humano.

A substância pode ser líquida, sólida, natural, industrializada, preparada, de primeira


necessidade ou não.

O § 1.º do art. 272 do Código Penal equipara bebidas, com teor alcoólico ou não, a
alimentos.

O tipo penal traz um outro elemento: “destinado a consumo”. A substância ou


produto deve atingir um número indeterminado de pessoas (coletividade).
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Se alguém quiser adulterar o alimento de uma pessoa específica, incorrerá em outro


delito (exemplos: lesão corporal, homicídio, tentativa de homicídio, periclitação da vida e
da saúde de outrem etc.).

A expressão “destinado a consumo” abrange toda a cadeia de produção e consumo.


Não só os alimentos que estão em uma prateleira de supermercado, mas o estoque inteiro,
por exemplo, é incluído, pois é destinado ao consumo. A jurisprudência cita, ainda, o óleo
corrompido usado nas pastelarias, a adição de sulfato de sódio na carne, o bromato de
potássio no pão, a alteração de uísque.

A conduta não se tipifica com os alimentos que estão sendo transportados para o
supermercado, ainda não destinados ao consumo.

1.1.6. Elemento subjetivo do tipo


O elemento subjetivo do tipo é o dolo. Não há necessidade de finalidade especial,
basta o dolo genérico.

É possível a forma culposa.

1.1.7.Consumação e tentativa
A consumação ocorre quando o produto se torna nocivo à saúde ou tem reduzido o
seu valor nutritivo. O efetivo consumo do produto é mero exaurimento.

A tentativa é possível.

1.1.8. Figuras equiparadas


§ 1.º-A : fabricar, vender, expor à venda, importar, ter em depósito para vender,
distribuir ou entregar, de qualquer forma, a consumo.

1.1.9. Modalidade culposa – § 2.º


Pune as condutas previstas quando praticadas de forma culposa.

1.1.10. Crime qualificado pelo resultado


O art. 285 do Código Penal determina a aplicação do art. 258, do mesmo diploma,
quando:
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• o crime é doloso e resulta em lesão corporal de natureza grave: a pena privativa


de liberdade é aumentada de metade;

• o crime é doloso e resulta em morte: a pena é aplicada em dobro;

• o crime é culposo e resulta em lesão corporal: a pena aumenta de metade;

• o crime é culposo e resulta em morte: a pena será a do homicídio culposo


aumentada de 1/3.

As duas primeiras hipóteses configuram crime preterdoloso.

1.2. Falsificação de Remédios


O crime de falsificação de remédios é parecido com o de falsificação de alimentos,
pois contém as mesmas condutas: falsificar, corromper, adulterar, alterar.

1.2.1. Objeto material


Produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais.

1.2.2. Objetividade jurídica


A saúde pública. Trata-se de crime de perigo abstrato, não exige resultado.

1.2.3. Elementos objetivos do tipo

Produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais – são aqueles aptos a tratar,


curar ou aliviar doenças.

Objetos materiais equiparados (§ 1.º-A):

• Medicamentos: substâncias preparadas ou utilizadas como remédio; é


abrangente. Exemplos: remédio para baixar o colesterol, vacinas – não servem
apenas para curar.

• Matéria-prima: substância com a qual é preparado, produzido o remédio.

• Insumos farmacêuticos: são produtos utilizados para fazer o remédio, mas que
não são propriamente medicamentos. Exemplo: sabor artificial de laranja, para
melhorar o gosto do remédio.

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Insumos por si sós, não são medicamentos.

• Cosméticos: produtos de maquiagem, de limpeza de pele. Exemplo: falsificar


batom, esmalte, desodorante.

• Saneantes: são os produtos de limpeza. Exemplos: sabão em pó, detergente para


louças.

• Produtos de uso em diagnóstico: produtos utilizados para detectar a extensão da


doença. Exemplo: corante para contraste.

O crime de falsificação de remédios, com o advento da Lei n. 9.695/98, foi incluído


no rol dos crimes hediondos.

1.2.4. Elemento subjetivo do tipo


Basta o dolo.

É prevista a modalidade culposa no § 2.º.

1.2.5. Consumação e tentativa


A consumação ocorre com a prática das condutas previstas no tipo,
independentemente de resultado ou utilização da substância por alguém. É diferente da
falsificação de alimentos, que, além da prática da conduta típica, precisa da nocividade.

A tentativa é possível.

1.2.6. Condutas equiparadas – § 1.º


Incorre na mesma pena do caput quem importa, vende, expõe à venda, tem em
depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto
falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. O § 1.º-B faz incidir no tipo o produto que
se encontre nas seguintes condições:

• sem registro, quando esse é exigido;

• em desacordo com a fórmula constante do registro;

• sem os requisitos de identidade e de quantidade exigidos para sua


comercialização;

• com redução do seu valor terapêutico ou de sua atividade;

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• tenha procedência ignorada;

• tenha sido adquirido em estabelecimento sem licença da autoridade.

Obs.: vender remédio “picado” – por exemplo, comprar a cartela e vender as


unidades separadamente – é considerado crime hediondo.

1.2.7. Crime qualificado pelo resultado


O art. 285 do Código Penal determina a aplicação do art. 258 do mesmo diploma,
se:

• O crime é doloso e resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de


liberdade é aumentada de metade.

• O crime é doloso e resulta morte, a pena é aplicada em dobro.

Essas duas hipóteses configuram crime preterdoloso.

• O crime é culposo e resulta lesão corporal, a pena aumenta de metade.

• O crime é culposos e resulta morte, a pena será a do homicídio culposo


aumentada de 1/3.

2. CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

2.1. Quadrilha ou Bando – Artigo 288 do Código Penal


“Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer
crimes:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Parágrafo único – A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou o bando é armado.”

A Lei de Tóxicos exige a união de duas ou mais pessoas para configuração da


quadrilha ou bando (art. 14 da Lei n. 6.368/76). A Lei dos Crimes Hediondos (art. 8.º da
Lei n. 8.072/90) prevê uma forma qualificada para o art. 288 do Código Penal; não altera
sua redação, dispondo apenas sobre o preceito secundário (pena).

P.: É possível a tipificação no art. 288 do Código Penal se a quadrilha ou bando


ainda não praticou crime?

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R.: Sim, não é preciso o cometimento de um delito; basta que haja associação com o
fim de praticar crimes.

“Quadrilha ou bando” é delito autônomo.

2.1.1. Objetividade jurídica


A paz pública é uma forma de proteger a incolumidade pública.

É crime de perigo abstrato, presumido.

2.1.2. Sujeito ativo


Quaisquer pessoas, mais de três. É crime de concurso necessário ou plurissubjetivo.

Inclui-se no cômputo o menor, o inimputável, o louco etc., para se chegar ao


mínimo de quatro pessoas. O menor responderá por ato infracional (ECA). Para subsumir
ao art. 288 do Código Penal, pelo menos um dos integrantes tem de ser imputável.

P.: Pode haver quadrilha ou bando, ainda que não se identifiquem todos os seus
membros?

R.: Sim, desde que um seja identificado.

P.: A absolvição de um dos membros da quadrilha ou bando leva à absolvição de


todos?

R.: Depende. Exemplo: quatro pessoas são denunciadas por formação de quadrilha;
demonstrado que um deles não era integrante, os outros três não responderão pelo delito
por atipicidade (o tipo exige mais de três para configuração). Se, no entanto, seis são
denunciados e um consegue provar que não fazia parte do bando, os outros cinco poderão
responder pelo delito, desde que preenchidos os requisitos do art. 288 do Código Penal.
Não demonstrada a existência da quadrilha ou bando, in dubio pro reo, todos serão
absolvidos.

P.: Os membros da quadrilha precisam se conhecer?

R.: Não; por exemplo, no tráfico de entorpecentes, há várias pessoas envolvidas e


que não precisam se conhecer.

2.1.3. Sujeito passivo


Sujeito passivo é a coletividade.

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2.1.4. Elementos objetivos do tipo


São elementos objetivos do tipo:

• Associação: reunião.

P.: Qualquer reunião de quatro pessoas, com finalidade de praticar crime, tipifica
quadrilha ou bando?

R.: Não. O tipo exige um vínculo especial que diferencia a quadrilha ou bando do
concurso de agentes.

A doutrina e a jurisprudência exigem um vínculo de estabilidade e permanência


(vínculo associativo), intenção de permanência e estabilidade.

• Estabilidade e permanência: deve haver a intenção de manter a quadrilha ou


bando, ainda que essa acabe no dia seguinte. Isso distingue o delito, do art. 288
do Código Penal, do concurso de agentes, pois nesse a associação é ocasional; é
para determinado fato.

Não tipifica quadrilha ou bando se a união aconteceu para a prática de apenas um


crime (nesse caso há concurso de agentes).

A quadrilha ou bando pode praticar um crime só. Mas a intenção deve ser para a
prática de vários crimes.

Exemplo: configura quadrilha ou bando a união de mais de três pessoas que desejam
cometer diversos crimes, ainda que não consigam praticar nenhum, ou pratiquem um,
sendo logo desmantelada pela polícia.

A organização do grupo não é uma característica que distingue a quadrilha ou bando


do concurso de agentes, pois esse pode ser organizado também.

• Finalidade de praticar crimes indeterminadamente: nem a própria quadrilha


sabe qual crime cometerá a seguir.

Distingue-se do concurso de agentes porque nesse a finalidade é determinada. O


concurso de agentes pode acontecer para o cometimento de mais de um crime, mas sempre
determinado.

P.: Existe quadrilha ou bando para a prática de contravenção penal?

R.: Não. Por exemplo, não configura quadrilha ou bando, a reunião de mais de três
pessoas para a prática do jogo de bicho.

P.: É possível a formação de quadrilha ou bando para a prática de crime culposo?

R.: Não. O crime de quadrilha ou bando exige a intenção de praticar crime (dolo).
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P.: Quadrilha ou bando são expressões sinônimas?

R.: Atualmente são consideradas como expressões sinônimas.

P.: A quadrilha ou bando pode praticar crime continuado?

R.: Quadrilha ou bando não é um crime continuado, mas sim os crimes que ela(e)
pratica podem ser continuados. A quadrilha ou bando é crime autônomo em relação aos
crimes que ela(e) comete.

Exemplo: quadrilha ou bando formada para furtos em residência. Entram em quatro


casas e são presos. Haverá o crime de quadrilha ou bando, mais os de furto de maneira
continuada (arts. 288 e 155, c.c. art. 71, todos do CP).

P.: Todos os integrantes da quadrilha precisam praticar o crime ajustado?

R.: Não. Os que executarem o delito serão autores diretos; os demais, mandantes ou
partícipes.

O crime de quadrilha ou bando é um delito permanente; a conduta protrai-se no


tempo. A importância prática dessa informação diz respeito ao flagrante.

Por vezes pode não existir o flagrante do crime praticado pela quadrilha, mas deve-
se ficar atento porque sempre haverá flagrante em relação ao crime de quadrilha ou bando.

2.1.5. Elementos subjetivos do tipo


Além do dolo, é preciso ter o especial fim de praticar crimes, indeterminadamente;
não importa qual será o delito.

A Lei n. 8.072/90, no art. 8.º, traz um tipo específico para a quadrilha ou bando que
praticar crimes hediondos ou assemelhados. Se o delito praticado for o da Lei n. 6.368/76
(Lei de Tóxicos), será observado o preceito do seu art. 14, cuja pena será a do art. 8.º da
Lei n. 8.072/90 – por ser posterior e benéfica ao réu.

2.1.6. Consumação e tentativa


A consumação ocorre com a associação (crime formal), desde que exista a
finalidade de praticar crimes.

A união deve ser de, no mínimo, quatro pessoas, porque o tipo estabelece “... mais
de três pessoas ...”.

A tentativa não é admitida, pois o crime é unissubsistente e formal. Ou a quadrilha


está consumada ou é um indiferente penal.

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P.: É cabível a desistência voluntária de crime de quadrilha ou bando?

R.: Não, porque o crime consuma-se quando as pessoas se associam.

2.1.7. Casuísticas
Chefe de quadrilha é preso e continua – dentro da penitenciária – controlando os
integrantes do bando; desmantelado o grupo pela polícia, o chefe não será denunciado
novamente, pois o crime é o mesmo – trata-se de conduta permanente.

Se esse mesmo chefe formar outra quadrilha dentro da prisão, será denunciado pelo
art. 288 do Código Penal – formação de novo bando.

A polícia prende os integrantes da quadrilha; posteriormente, por um motivo


qualquer, eles são soltos; se formarem de novo a quadrilha, serão denunciados outra vez –
porque a permanência foi interrompida e há conduta diversa.

2.1.8. Crime qualificado – Artigo 288, parágrafo único


Na verdade, trata-se de uma causa de aumento. A pena é aplicada em dobro se a
quadrilha ou bando for armado.

Arma é expressão genérica, podendo ser própria ou imprópria.

A arma imprópria é o objeto feito para outra finalidade (exemplos: faca, tesoura,
bisturi etc.). A arma própria é aquela fabricada para ferir ou matar (exemplos: revólver,
espingarda, metralhadora etc.).

P.: Uma arma apenas basta para configurar o aumento da pena, ou todos os
integrantes devem estar armados?

R.: Apenas uma arma basta. O que importa é o poder de intimidação.

P.: O porte dessa arma precisa ser ostensivo?

R.: Prevalece na jurisprudência que não. A mera existência da arma é suficiente para
incidência da causa de aumento.

P.: Podemos aplicar essa causa de aumento para a quadrilha ou bando de crimes
hediondos?

R.: Sim. A causa de aumento pode ser aplicada ao art. 8.º da Lei n. 8.072/90.

P.: A Lei dos Crimes Hediondos trouxe um tipo penal autônomo?

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R.: Não. O art. 8.º da Lei n. 8.072/90, que altera os limites da pena prevista no art.
288 do Código Penal, deveria constituir um parágrafo desse tipo penal, pois trata-se de
uma forma qualificada do crime de quadrilha ou bando.

P.: Pode-se aplicar causa de aumento sobre qualificadora?

R.: Sim. Pode-se aplicar o aumento de pena da quadrilha ou bando armada no art.
8.º da Lei dos Crimes Hediondos.

Obs.: na Lei de Tóxicos, o art. 14 é um tipo autônomo, pois modifica o caput do art.
288 do Código Penal, traz nova capitulação ao delito de quadrilha ou bando formado para
fins de tráfico ilícito de entorpecentes, que será denunciado pelo art. 14 da Lei n. 6.368/76
(que é tipo autônomo e específico). A pena a ser aplicada, entretanto, será a prevista no art.
8.º da Lei n. 8.072/90, por ser lei posterior mais benéfica.

2.1.9. Delação premiada


Prevista no parágrafo único do art. 8.º da Lei n. 8.072/90: “o participante e o
associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando o seu
desmantelamento, terá a pena reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços).”

P.: O dispositivo, contido na Lei dos Crimes Hediondos, pode ser aplicado ao art.
288 do Código Penal?

R.: Não. O benefício da delação premiada incide apenas ao crime de quadrilha ou


bando previsto no art. 8.º da Lei n. 8.072/90. Considerando-se que a redução recai somente
sobre o delito de quadrilha ou bando, não sobre as infrações por ela cometidas.

A Lei de Proteção às Vítimas e Testemunhas, Lei n. 9.807/99, traz a delação


premiada no art. 13. Essa é utilizada para qualquer crime, desde que presentes seus
requisitos. Sendo eficaz, extingue a punibilidade do acusado.

2.1.10. Concurso de crimes


Na denúncia deve constar o crime de quadrilha ou bando mais o(s) praticado(s) em
concurso material, pois o tipo previsto no art. 288 do Código Penal é autônomo.

2.1.11. Questões polêmicas


a) Quadrilha ou bando que pratica roubo com uso de arma de fogo

Denuncia-se pelo delito de quadrilha ou bando (art. 288 do CP), com a causa de
aumento prevista no parágrafo único do dispositivo, em concurso material com o crime de

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roubo (art. 157 do CP), aumentado pelo emprego de arma (art. 157, § 2.º, inc. I, do CP).
Essa é a posição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e
majoritária na doutrina, com o fundamento de não constituir bis in idem, pois são delitos
autônomos; o primeiro tutela a paz pública; o segundo, o patrimônio. Nada obstante,
encontra-se, na doutrina e jurisprudência minoritária, o entendimento de a hipótese
configurar bis in idem.

b) Quadrilha ou bando mais furto, em concurso de agentes

Atenção: para efeito de denúncia, não se discute a questão do bis in idem; a exordial
deve ser ampla, porque pode não ser confirmada a acusação.

3. CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

3.1. Falsificação de Documento Público – Artigo 297 do Código Penal


“Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público
verdadeiro:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.”

3.1.1. Objetividade jurídica


A fé pública, a confiança que as pessoas têm de ter no documento público. O crime
atinge a coletividade (crime vago).

3.1.2. Sujeito ativo


Sujeito ativo é qualquer pessoa. Tratando-se de funcionário público, incide a causa
de aumento, prevista no § 1.º do art. 297, desde que o funcionário prevaleça-se do cargo e,
com isso, obtenha alguma vantagem ou facilidade para falsificar documento público.
Exemplos: utilizar o crachá para ingressar no departamento; acessar dados no computador
com senha pessoal etc.

3.1.3. Sujeito passivo


O Estado, a coletividade. Pode haver também vítima secundária, a pessoa lesada
pela falsificação.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

3.1.4. Elementos objetivos do tipo


São elementos objetivos do tipo:

• Falsificar: criar materialmente um documento inexistente – fazer ou contrafazer


o documento. A falsificação pode ser no todo ou em parte. Contrafazer é utilizar
uma cópia do modelo verdadeiro para falsificá-lo.

• Alterar: modificar algo que já existe. O documento verdadeiro existe e é


adulterado.

3.1.5. Requisitos da falsificação


São os seguintes os requisitos da falsificação:

• Que seja idônea, apta a iludir, capaz de enganar qualquer pessoa, considerando-
se o padrão médio da sociedade.

Segundo a jurisprudência, a falsificação grosseira não constitui crime, pois não é


capaz de enganar as pessoas em geral. Se uma pessoa é enganada com falsificação
grosseira, pode configurar o estelionato (que considera a vítima em si, não o padrão
médio).

• Que tenha capacidade de causar prejuízo a alguém. A falsificação inócua não é


crime.

3.1.6. Objeto material


• Documento público: é elemento normativo do tipo.

Documento é toda peça escrita que condensa o pensamento de alguém, capaz de


provar um fato ou a realização de um ato de relevância jurídica.

P.: A fotografia é considerada documento para o Direito Penal?

R.: Não, pois não é peça escrita.

A fotografia pode fazer parte de um documento; nesse caso a solução é diferente: se


trocada, há crime. Exemplos: troca de fotografia de RG, de laudo pericial.

P.: Xerox é documento?

R.: Não. Porém a xerox autenticada é documento.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

P.: Falsificação de fita de vídeo é falsificação de documento?

R.: Não, pois não é escrito. Entretanto, se a fita fizer parte de um laudo pericial, há
crime, pois passa a fazer parte do documento escrito.

Falsificação de disco também não é falsificação de documento; disquete de


computador também não é documento.

Não se pode falsificar carta anônima; por não ser identificada, não condensa o
pensamento de alguém.

O telegrama pode ser documento público, caso seja expedido por funcionário
público e contenha conteúdo público.

3.1.7. Requisitos do documento público


São requisitos do documento público:

• deve ser elaborado por funcionário público;

• no exercício da função, o funcionário deve ter atribuição para elaborar


documentos;

• deve obedecer às formalidades legais.

P.: Um documento estrangeiro pode ser considerado documento público?

R.: Sim. Desde que seja considerado público no país de origem e que satisfaça os
requisitos de validade previstos no nosso ordenamento, como, por exemplo, tradução
realizada por tradutores públicos juramentados.

3.1.8. Documentos públicos por equiparação


São documentos de natureza particular que, pela sua importância, foram
equiparados pela lei a documento público (art. 297, § 2.º, do CP).

• documento emitido por entidade paraestatal: administração indireta;

• título ao portador ou transmissível por endosso: títulos de crédito, como, por


exemplo, cheque, duplicata, nota promissória;

• ações de sociedade comercial: independentemente do tipo de ação (ordinária,


preferencial etc.);

• livros mercantis: quer sejam obrigatórios ou facultativos;

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

• testamento particular: hológrafo.

3.1.9. Elemento subjetivo do tipo


A lei não exige intenção especial; basta o dolo.

3.1.10. Consumação
O crime consuma-se quando existe a falsificação ou alteração. É crime de natureza
formal; basta o resultado jurídico, não precisa do resultado naturalístico.

3.1.11. Tentativa
É possível porque a conduta é plurissubsistente.

3.2. Concurso de Crimes

3.2.1. Falsificação de documento público e estelionato (art. 171 do CP)


• A falsificação absorve o estelionato – corrente minoritária. A justificativa é de
que a falsificação é crime mais grave (princípio da consunção) e o estelionato é
mero exaurimento.

• O estelionato absorve a falsificação – corrente majoritária, adotada pelo Superior


Tribunal de Justiça. A justificativa é de que o estelionato é crime-fim e a
falsificação é crime-meio. A falsificação é um elemento do tipo do estelionato
(“qualquer outro meio fraudulento”).

Súmula n. 17 do Superior Tribunal de Justiça: “Quando o falso se exaure no


estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por esse absorvido”.

• Há concurso formal de crimes: é a posição adotada hoje pelo Supremo Tribunal


Federal. A conduta é única, começa na falsificação e termina no estelionato. A
conduta ofende mais de um bem jurídico, pois a falsificação ofende a fé pública e
o estelionato ofende o patrimônio. Não se pode falar em consunção porque há
dois bens jurídicos atingidos, com vítimas diferentes.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

• Há concurso material de crimes: é apenas uma posição de referência. Há duas


condutas, com vítimas diferentes, que ofendem bens jurídicos diversos e, por
isso, não se pode usar a consunção. Atualmente, não se defende essa posição.

3.2.2. Falsificação de documento público e uso de documento falso


(art. 308 do CP)
Se uma pessoa falsifica e usa o documento público, responde por falsidade – essa é
a posição majoritária. O uso é mero exaurimento; é post factum impunível.

Exige-se, entretanto, que faça uso do documento a mesma pessoa que o falsificou.

3.2.3. Falsificação e sonegação fiscal


Alguém falsifica documento público para pagar menos, ou para não pagar tributos.
Pratica crime de sonegação fiscal – princípio da especialidade.

Quando o agente paga o tributo antes do recebimento da denúncia, extingue-se a


punibilidade.

O agente que falsifica um documento para encobrir crime de sonegação praticado


anteriormente, responde pelo delito que praticou e também pela falsidade que usou para
encobri-lo (concurso material).

3.2.4. Falsificação de documento público (falsidade material) e


falsidade ideológica (art. 801 do CP)
Prevalece a falsidade material sobre a ideológica.

4. FALSIDADE DE DOCUMENTO PARTICULAR – ARTIGO 298 DO


CÓDIGO PENAL

O tipo é igual ao da falsificação de documento público. A diferença é que o


documento em questão não é público e sim particular.

Documento particular, por exclusão, é aquele que não é público.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

P.: Um cheque, devolvido pelo banco por insuficiência de fundos, é tomado por
alguém para falsificação. É documento público ou particular que a pessoa está
falsificando?

R.: O cheque devolvido não pode ser transmitido por endosso; logo, não é mais
considerado documento público por equiparação. Então, configura documento particular.

P.: Documento público nulo é falsificado por alguém. A falsificação é de documento


público ou particular?

R.: Se o documento público é nulo, não é documento público; mas, se possui


relevância jurídica, a falsificação é de documento particular.

O Professor Damásio de Jesus entende que o documento público nulo é considerado


documento particular.

P.: Petição é documento?

R.: A petição não prova nada, não é documento.

P.: A petição pode ser usada como documento?

R.: Sim. Mas, nesse caso, deixa de ser mera petição e ganha a qualidade de
documento.

P.: Um documento endereçado à autoridade pública é um documento público?

R.: Não. Documento público é aquele feito por autoridade pública.

5. FALSIDADE IDEOLÓGICA – ARTIGO 299 DO CÓDIGO PENAL

A falsidade ideológica é voltada para a declaração que compõe o documento, para o


conteúdo do que se quer falsificar.

Por exemplo, quando alguém falsifica um documento público, ainda que seu
conteúdo seja verdadeiro, o documento é falso. A falsificação material torna todo o
documento falso.

Não tem sentido discutir a falsidade ideológica quando todo o documento é falso. A
falsidade ideológica existirá quando o documento for verdadeiro e somente o conteúdo for
falso.

Quem falsifica assinatura, falsifica documento – falsidade material, pouco


importando o conteúdo. Exemplo: alguém pega um talonário de cheques não assinados
pelo correntista e faz uso deles com outra assinatura; uma vez que cheque só existe a partir

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

da sua emissão, a partir da assinatura, a falsificação tipifica falsidade material e não


ideológica.

Diferente se alguém pegar uma folha de cheque, assinada pelo correntista, e


falsificar a quantia; aí é falsidade ideológica.

5.1. Objetividade Jurídica


A fé pública, a confiança na declaração do conteúdo do documento.

5.2. Sujeito Ativo


Qualquer pessoa. Se funcionário público, incide o aumento de 1/6 na pena–
parágrafo único do artigo 299 do Código Penal.

5.3. Sujeito Passivo


O sujeito passivo é o Estado. Pode existir sujeito passivo secundário, ou seja, a
pessoa lesada pela falsidade.

5.4. Elementos Objetivos do Tipo


• Omitir declaração que deveria constar: conduta omissiva própria, ligada ao
dever de agir. Deve haver uma norma que obrigue a pessoa a fazer a declaração.

• Fazer inserir declaração falsa ou diversa da que deveria constar: é fazer com
que terceiro insira. Trata-se de falsidade ideológica indireta, ou seja, o agente
atua indiretamente e quem efetiva a falsidade é outra pessoa.

• Inserir declaração falsa ou diversa da que deveria constar: falsidade ideológica


direta.

5.4.1. Diferença entre declaração falsa e diversa da que deveria constar


Declaração falsa é aquela que não condiz com a realidade. Exemplo: custou 500
mil e a pessoa faz constar 5 mil.

Declaração diversa da que deveria constar não precisa ser necessariamente falsa.
Exemplo: declaração de bens; a pessoa coloca outro documento no lugar da declaração de

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

bens. A declaração não é falsa (o documento é verdadeiro), mas é diferente da que deveria
constar.

A falsidade ideológica deve ser idônea, capaz de enganar e de causar prejuízo


relevante juridicamente.

5.5. Requisitos para a Configuração da Falsidade Ideológica Segundo a


Jurisprudência
Os requisitos para a configuração da falsidade ideológica segundo a jurisprudência
são os seguintes:

• Que a declaração tenha valor por si mesma. Se a declaração tiver de ser


investigada pela autoridade pública, não há crime. Exemplo: declaração de
pobreza feita perante o delegado – se for falsa, não tipificará o delito, porque
deve ser investigada.

• Que a declaração faça parte do objeto do documento. Exemplo: contrato de


compra e venda – a declaração que pode ser considerada crime é a referente ao
objeto do contrato. As declarações que não façam parte do objeto do contrato não
são relevante, como, por exemplo, o endereço falso da testemunha que assinou o
acordo é irrelevante.

5.6. Casuísticas
Alguém, que pega a assinatura de um amigo em uma folha em branco e preenche
como confissão de dívida, pratica o crime de falsidade ideológica.

Se uma pessoa pegar uma folha e falsificar a assinatura de outra, pratica o crime de
falsidade material.

Uma pessoa assina um cheque e entrega para outra preencher; se essa preencher o
cheque com um valor superior, pratica o crime de falsidade ideológica.

Se a pessoa pegar um talão de outra, preencher o cheque e falsificar a assinatura, é


caso de crime de falsidade material.

Se alguém obtém ilicitamente o documento – arromba o cofre –, a jurisprudência


equipara a obtenção ilícita à falsidade material.

Não é qualquer folha em branco assinada que configura documento: somente é


considerada documento quando tem destinação.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

Se, em um boletim de ocorrência, o escrivão inseriu fatos que não foram narrados, o
crime é de falsidade ideológica. A falsificação é do conteúdo, pois o escrivão não alterou o
documento, apenas inseriu declaração falsa.

5.7. Elemento Subjetivo do Tipo


Além do dolo, exige-se o fim de prejudicar direito ou criar obrigação ou, ainda,
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

5.8. Consumação e Tentativa


Na modalidade omissiva, a consumação ocorrerá quando a pessoa se omitir, não
cumprindo sua obrigação. Não cabe tentativa.

Na conduta inserir, o crime estará consumado quando o agente colocar, inserir a


declaração falsa. É possível a tentativa.

A conduta, de fazer inserir, consuma-se quando o terceiro inserir. A tentativa é


admissível.

O agente não precisa conseguir seu objetivo. O crime estará consumado com a
conduta descrita no tipo.

5.9. Formas Qualificadas – Artigo 299, parágrafo único


Trata-se de causa de aumento de pena de 1/6, se:

• A falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil.

Registrar filho alheio como próprio (“adoção à brasileira”) não configura o crime
em pauta, e sim o do art. 242 do Código Penal – crime especial.

Registro de nascimento inexistente não é falsidade ideológica e enquadra-se no


delito previsto no art. 241 do Código Penal.

• O crime for praticado por funcionário público, prevalecendo-se do cargo.

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DIREITO PENAL

6. USO DE DOCUMENTO FALSO – ARTIGO 304 DO CÓDIGO PENAL

“Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os arts.
297 a 302:

Pena – a cominada à falsificação ou à alteração”.

É crime remetido; significa que tem como elemento do tipo a menção expressa a
outro tipo penal.

6.1. Objetividade Jurídica


A fé pública.

6.2. Sujeito Ativo


Sujeito ativo é qualquer pessoa, menos o autor da falsificação.

6.3. Elementos Objetivos do Tipo


A conduta é fazer uso. Consiste em utilizar documento falso como se fosse
verdadeiro. Exemplo: nota fiscal falsificada, utilizada para provar compra e venda.

O uso deve ser efetivo, não bastando mencionar que possui o documento.

Uso por solicitação de autoridade – é o exemplo do guarda que pede o documento


ao motorista e esse mostra a carteira falsa. A posição majoritária mudou o entendimento –
não considerava crime o uso por solicitação porque exigia espontaneidade. Prevalece,
atualmente, no Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal que há crime, porque a
exigência da espontaneidade não persiste, bastando a conduta voluntária e dolosa da prática
do crime.

A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é um documento que possui finalidade


específica – a autorização para dirigir veículo. Seu porte é obrigatório apenas para
condução de automotores. Com essa premissa, desdobram-se as seguintes hipóteses:

• o motorista, na direção de um veículo, que porta CNH falsa incide no crime de


uso de documento falso (o porte, no caso, configura o uso);

• se, em uma festa, o policial, no momento de uma revista, pega uma CNH falsa,
não há o delito de uso de documento falso, porque a habilitação não se presta
para identificar pessoas; o fato, porém, pode não ser atípico e, se preenchidos os
21
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DIREITO PENAL

requisitos, é possível enquadrá-lo nos arts. 297 ou 299 do Código Penal


(falsificação de documento público ou falsidade ideológica, respectivamente);

• se a autoridade tomasse o RG (falso), ao invés da CNH, o fato também seria


atípico ou se enquadraria nos dispositivos dos arts. 297 ou 299 do Código Penal;
isso porque o porte do RG não é obrigatório;

• se o policial exige a identificação e o agente mostra o RG falso, aí sim,


caracteriza-se o crime de uso de documento falso.

6.4. Elemento Subjetivo do Tipo


É o dolo (direto ou eventual, em caso de dúvida). Não se exige elemento especial.

Se houver erro, exclui-se o dolo.

6.5. Consumação e Tentativa


O crime está consumado com o uso efetivo para a finalidade do documento.

A tentativa não é admitida, pois o crime é unissubsistente (ato único).

7. FALSA IDENTIDADE – ARTIGO 307 DO CÓDIGO PENAL

“Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito


próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa, se o fato não constitui
elemento de crime mais grave”.

7.1. Objetividade Jurídica


A fé pública.

7.2. Sujeito Ativo


Sujeito ativo é qualquer pessoa.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

7.3. Sujeito Passivo


Sujeito passivo é a coletividade (o Estado – trata-se de crime vago). Pode haver
vítima secundária, pessoa lesada pelo fato.

7.4. Elementos Objetivos do Tipo


A conduta é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade.

• Atribuir-se: a pessoa se faz passar por outra.

• Atribuir a terceiro: fazer pessoa se passar por outra, que efetivamente existe ou é
fruto de criação.

P.: O que é identidade?

R.: Majoritariamente, seu conteúdo é visto em sentido amplo. São as características


que individualizam uma pessoa (nome, filiação, nacionalidade, estado civil, idade, status
social, profissão etc.).

Se a pessoa muda uma dessas características está mudando de identidade.

A falsidade tem de ser idônea, apta a enganar.

Deve haver relevância jurídica na imputação falsa, capacidade de causar dano.

Existe uma posição minoritária que entende o conceito de identidade em um sentido


estrito (personalidade). Exemplo: quando a pessoa se faz passar por outra, real ou
imaginária.

Atribuir-se ou atribuir a alguém é conduta comissiva.

P.: O silêncio pode configurar falsa identidade?

R.: Não, exige-se manifestação do agente. O mero silêncio não configura o crime.
Não é preciso falar que é outra pessoa, basta agir como tal. Exemplo: assinatura.

O nome artístico não configura falsa identidade, porque se incorpora à própria


pessoa.

O “nome de guerra” usado pelo travesti, pode configurar crime, se encontrada


relevância jurídica.

O preso em flagrante ou aquele que é interrogado em Juízo e dá outro nome para


eximir-se da condenação comete o delito de falsidade ideológica, pois isso ultrapassa a
autodefesa.

Encontra-se, no entanto, julgado em sentido contrário:


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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

“No sistema jurídico vigorante, constitucional ou infraconstitucionalmente, o


indiciado e o acusado, presos ou soltos, que declinam nome falso não realizam o tipo
contido no art. 307 do Código Penal. Em verdade, estão no exercício da autodefesa, em seu
mais lato sentido, nos termos do artigo 5.º, inciso LXIII, da Carta da República que lhes
conferiu o direito extremo de, até mesmo, calar-se, sem admitir que derive de sua conduta
qualquer inferência que lhes seja prejudicial.”(TJRJ, 7.ª CCrim, Ap. n. 44.306/00, , rel.
Des. Nildson Araújo da Cruz, j. em15.3.2001, v. u.).

7.5. Elemento Subjetivo do Tipo


Além do dolo, a lei exige um elemento subjetivo – obter vantagem em proveito
próprio ou alheio, ou então causar dano a outrem.

A vantagem pode ser patrimonial ou moral.

É importante que essa seja indevida, ilícita. Se for devida, configura exercício
arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP).

7.6. Consumação e Tentativa


O crime consuma-se com a conduta de atribuir-se ou atribuir a terceiro a falsa
identidade. O delito é formal, pois não se exige resultado.

A tentativa será possível se a conduta for plurissubsistente ( exemplos: disfarce,


encenação). Se unissubsistente, não há tentativa.

A falsa identidade é crime subsidiário. A subsidiariedade é expressa pelo tipo “... se


o fato não constituir crime mais grave”. Identificado, portanto, delito mais grave, a falsa
identidade fica absorvida.

7.7. Distinção e Concurso de Crimes


Trocar fotografia da carteira de identidade para prestar concurso no lugar de outro
tipifica o crime de falsificação de documento público.

O uso de documento falso prevalece sobre a falsa identidade, porque essa constitui
elemento daquele.

Falsa identidade e constrangimento ilegal são crimes autônomos – há concurso


material.

Se a pessoa se faz passar por médico, comete o crime de exercício ilegal da


medicina (art. 282 do CP).

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PENAL

Se a pessoa se faz passar por funcionário público e exerce a função pública, comete
usurpação de função pública (art. 328 do CP).

P.: Quando a pessoa apenas finge ser funcionário público, mas não exerce qualquer
ofício, qual o crime que comete?

R.: Segundo o art. 45 da Lei das Contravenções Penais “não comete o crime de
falsa identidade, mas a contravenção do art. 45 da LCP, aquele que, sem assumir a
personalidade de qualquer outro indivíduo, simplesmente finge ser funcionário público”
(TACrimSP, Ac., rel. Cunha Camargo, JUTACrim 22/282)5.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

5
FRANCO, Alberto Silva e STOCO, Rui (coord.). Código Penal e sua Interpretação Jurisprudencial: Parte Especial.
7.ª ed. São Paulo: RT, vol. 2, 307.
25
___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Contribuição Social

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Contribuição Social

1. NATUREZA JURÍDICA DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL

Existem várias teorias para justificar a natureza jurídica da contribuição social;


assim, seguindo a classificação de Sérgio Pinto Martins6, temos as seguintes teorias:

• Teoria do Prêmio do Seguro.

• Teoria do Salário Diferido.

• Teoria do Salário Atual.

• Teoria Fiscal.

• Teoria Parafiscal.

• Exação sui generis.

Teoria Definição Crítica

Teoria do Equiparação ao prêmio do seguro A contribuição pertence ao Direito


Prêmio do pago pelas companhias seguradoras. Público, pois é compulsória, já que
Seguro o seguro é firmado entre
particulares.

Teoria do Parte do salário não é paga Não há ajuste de vontades quanto


Salário diretamente ao obreiro, mas é voltada ao seu pagamento.
Diferido para a Seguridade Social.

Teoria do Duas cotas são pagas: uma pelos Não há atualidade em tal salário e
Salário Atual serviços prestados e a outra para a nem ele é pago diretamente pelo
Seguridade Social. empregador.

Teoria Fiscal A contribuição é uma obrigação Não se pode enquadrá-la em


tributária. nenhuma das espécies tributárias.

Teoria Sustenta os encargos do Estado que Arrecadando a autarquia a


Parafiscal não lhe são próprios. contribuição, não desnatura sua
natureza tributária.
6
Direito da Seguridade Social. 16.ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 88-99.
1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Exação Sui Não é tributo nem contribuição


Generis parafiscal. Imposição estatal atípica,
prevista na Constituição e na
legislação ordinária.

Após a Constituição Federal de 1988, com seu art. 149, houve o término da
divergência doutrinária, que se pacificou no sentido de que a contribuição social para a
Previdência Social tem natureza jurídica de tributo.
7
Esclarece, tal entendimento, Roque Antonio Carrazza , ao comentar o art. 149,
parágrafo único, da Constituição Federal:

“Com a só leitura desse artigo, já percebemos que as contribuições em tela têm


natureza nitidamente tributária, mesmo porque, com a expressa alusão aos ‘arts. 146, III, e
150, I e III’, ambos da Constituição Federal, fica óbvio que deverão obedecer ao regime
jurídico tributário, isto é, aos princípios que informam a tributação no Brasil. Tal, diga-se
de passagem, a jurisprudência do Pretório Excelso.”

Dessa forma, a contribuição social enquadra-se no art. 3.º do Código Tributário


Nacional, ou seja, trata-se de “prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor
nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada”. Somente para ilustrar nosso
estudo, informamos que esse último requisito – atividade plenamente vinculada – poderá
ser confirmado com a consulta ao art. 33 da Lei n. 8.212/91.

Apesar do consenso no tratamento da contribuição social como tributo, devemos


analisar algumas especificidades, pois, conforme sua finalidade, poderá ser enquadrada
como imposto ou taxa.

A taxa tem por característica uma contraprestação do Estado efetiva ou


potencialmente, segundo dispõe o art. 145, inc. II, da Constituição Federal c. c. o art. 77 do
Código Tributário Nacional. Assim, com relação ao empregado, até poderíamos dizer que a
contribuição social tem natureza jurídica de taxa. Todavia, com relação ao
empregador/empresa, não ocorrerá contraprestação, e sim uma imposição; nesse caso, a
contribuição social assemelha-se ao imposto.

Pelo exposto, percebe-se que a contribuição social é um tipo de tributo híbrido: ora
se assemelha com imposto, ora com taxa.

2. CARACTERÍSTICAS DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL

7
Curso de Direito Constitucional Tributário. 16.ª ed. São Paulo: Malheiros.
2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Uma vez considerada tributo, a contribuição social deverá estar adstrita aos
princípios tributários, como, por exemplo, o da legalidade, o do tratamento isonômico por
intermédio da capacidade contributiva, entre outros.

Há uma especificidade com relação ao princípio da anterioridade. A Constituição


Federal veda a cobrança de tributos que tenham sido criados ou majorados no mesmo
exercício financeiro (art. 150, inc. I, “b”, da CF). Mas a contribuição social está vinculada
ao princípio da anterioridade mitigada ou nonagesimal (90 dias) (art. 150, inc. I , “b”, da
CF).

As contribuições sociais criadas ou majoradas podem ser cobradas após 90 dias da


data da publicação da respectiva lei.

A competência para legislar sobre contribuições sociais é exclusiva da União (art.


149 da CF). Porém, a Constituição Federal autoriza os Estados e Municípios a legislarem
sobre essa matéria para custeio da seguridade dos seus próprios servidores (art. 149, par.
ún., da CF).

Ressalta-se que sempre as contribuições sociais terão, como fatos geradores, os


previstos na Carta Magna.

A União pode criar outras contribuições, além das já expressamente previstas,


conforme dispõe o art. 195, § 4.º, obedecendo, nesse caso, o art. 154, inc. I, da Constituição
Federal.

Segundo o art. 16 da Lei n. 8.212/91, tal competência é reflexo da responsabilidade


que a União possui em face de eventual insuficiência financeira da Seguridade Social,
quando decorrente do pagamento de benefícios de prestação continuada da Previdência
Social, na forma da Lei Orçamentária Anual.

3. Contribuições Sociais dos Segurados Empregado, Empregado


Doméstico e Trabalhador Avulso – Artigo 20 da Lei n. 8.212/91
Os segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso contribuem de
acordo com uma tabela fixada em lei:

Salário-de-contribuição Alíquotas para fins de


(R$) recolhimento ao INSS
(%)

Até 468,47 7,65


De 468,48 até 600,00 8,65

3
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

De 600,01 até 780,78 9,00


De 780,79 até 1.561,56 11,00

Observação: a Tabela acima foi alterada pela Portaria MPAS n. 525, de 20.5.2002.

Para a pessoa que ganha até três salários mínimos, a lei n. 9.311/96 autoriza que a
alíquota seja reduzida em pontos percentuais proporcionais ao valor da Contribuição
Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

Na hipótese de segurado que tenha mais de um emprego, o enquadramento será


feito mediante a soma dos salários-de-contribuição que receber. Exemplo: “A” possui dois
empregos: no emprego 1, recebe salário de R$ 500,00; no emprego 2, recebe o mesmo
valor – R$ 500,00; ambos os salários totalizam o valor de R$ 1.000,00 – esse empregado,
consoante a tabela aqui apresentada, contribui com a alíquota de 11%.

Se a soma dos salários ultrapassar o teto, o empregado contribuirá somente até o


teto; o valor que ultrapassar não será considerado como base de cálculo para a
contribuição.

No caso do 13.º salário, a contribuição será calculada isoladamente. Exemplo: "A"


ganha R$ 1.500,00. Em dezembro receberá o salário e o 13.º salário – R$ 1.500,00
(contribui com 11%) + R$ 1.500,00 (contribui aqui com 11%).

3.1. Contribuição do Segurado Facultativo e do Segurado Contribuinte


Individual
São contribuintes individuais o autônomo, o equiparado ao autônomo e o
empresário.

Essa contribuição sofreu alterações com o advento da Lei n. 9.876, de 26.11.1999,


uma vez que revogou o artigo 29 da Lei n. 8.212/91, o qual determinava o valor da
contribuição por meio de uma tabela que correlacionava classes e salários-base com
períodos fixos e pré-determinados.

Dessa forma, segundo esclarecimentos de Sérgio Pinto Martins:

“Somente as pessoas que estavam no sistema antes da vigência da Lei 9.876/99 é


que ainda recolhem sob a forma de salário-base. Pessoas que ingressaram no sistema a
partir da vigência da Lei 9.876/99 recolhem contribuição à razão de 20% sobre sua
remuneração, observando o salário mínimo e o teto do salário-de-contribuição.” 8

O segurado tem de ficar um certo período em cada classe de salário-base para que
possa mudar para outra. Esse período é chamado interstício.
8
Fundamentos da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 2001. p. 52.
4
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Classe Número mínimo


de meses de Salário-base Alíquota Contribuição
permanência (R$) (%) (R$)

De 1 a 6 12 De 200,00 De 40,00
a 936,94 20 a 187,39

7 12 1.093,08 20 218,62

8 24 1.249,26 20 249,85

9 24 1.405,40 20 281,08

10 - 1.561,56 20 312,31

Tabela apresentada por Sérgio Pinto Martins.9

O segurado vai contribuir com uma alíquota de 20%.

A tabela de transição, que está sendo gradativamente extinta, somente se aplica aos
segurados contribuintes individuais (antigos autônomos, equiparados a autônomos e
empresários) que estavam filiados ao Regime Geral de Previdência Social antes da
vigência da Lei n. 9.876/99. Nesse sentido, o artigo 28, inciso III, da Lei n. 8.212/91 (com
redação dada pela Lei n. 9.876/99), o artigo 4.º da Lei n. 9.876/99 e o artigo 278-A do
Decreto 3.048/99 (Regulamento da Previdência Social).

A partir dessa data há uma tabela transitória que está excluindo as escalas. Quem se
filiou após 28.11.1999 teve a possibilidade de ingressar diretamente na 3.ª classe,
extinguindo-se, assim, a 1.ª e a 2.ª classes. Dessa forma, como já ressaltado,
gradativamente todas as classes serão extintas.

Desde abril de 2002 tornou-se possível iniciar a contribuição na 6.ª classe.

A partir de dezembro de 2003 serão extintas, e será necessário apenas respeitar os


limites do piso e do teto.

A legislação autoriza que o contribuinte individual possa deduzir de sua


contribuição até 45% do valor que a empresa recolheu sobre a remuneração paga a ele.

Porém, esses 45% nunca podem ultrapassar 9% do salário de contribuição do


segurado.

9
Op. cit. p. 53.
5
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Exemplo: uma empresa contrata advogada para defendê-la em determinada ação. A


empresa terá de pagar a Previdência – a advogada poderá utilizar até 45% do que foi pago
pela empresa e diminuir de sua contribuição. Esse valor, se descontado, não poderá ser
superior a 9% do que ela irá pagar como contribuição. Especificando:

A empresa paga à advogada R$ 1.000,00 pelo trabalho. A empresa recolherá 20%


sobre esse valor, ou seja, R$ 200,00 ao Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS)
(20% x 1.000,00) (ver art. 22, inc. III, da Lei n. 8.212/91).

Contudo, se, de um lado, uma empresa “X” paga a uma advogada a quantia de R$
1.000,00, deverá contribuir para a Previdência com 20% sobre esse valor. Por outro lado, a
segurada também contribuirá à Previdência, com base em idêntica alíquota, incidente sobre
a mesma base de cálculo. Entretanto, permite a Lei que a segurada desconte 45% do valor
efetivamente recolhido ou declarado pelas empresas a que tenha prestado serviço, incidente
sobre a remuneração que esta tenha pago ou creditado, limitada a dedução a 9% do
respectivo salário-de-contribuição (e não da sua contribuição). Assim sendo, a advogada
em questão poderá deduzir de sua contribuição de R$ 200,00 (20% x 1.000,00) o montante
de R$ 90,00 (45% da contribuição da empresa, que foi de R$ 200,00). Como esse valor não
ultrapassa 9% do salário-de-contribuição desse segurado contribuinte individual (lembre-se
que o salário-de-contribuição do contribuinte individual é o total das remunerações
recebidas, observado o limite-teto do salário-de-contribuição), pode ser integralmente
deduzido, resultando em uma contribuição final de R$ 110,00 (R$ 200,00 - R$ 90,00).

Os segurados facultativos e contribuintes individuais que perderem a condição de


segurados (após o período de graça), se voltarem a contribuir, começarão na 1.ª classe que
existir na época. Se for após dezembro 2003, será a última classe.

3.2. Segurado Especial – Artigo 25 da Lei n. 8.212/91


• Pequeno produtor rural.

• Parceiro.

• Meeiro.

• Arrendatário.

• Pescador artesanal.

Todas essas figuras devem exercer suas atividades sob regime de economia familiar.
O conceito de regime familiar está contido no § 1.o do artigo 12 da Lei n. 8.212/91. Cada
um dos integrantes desse núcleo familiar, ou seja, cônjuges, companheiros e filhos ou
equiparados maiores de 16 anos, é considerado segurado especial.

Observação: os garimpeiros não são mais segurados especiais, desde a edição da


Lei n. 8.398, de 1.1.1992.

6
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

A contribuição corresponderá a:

• 2,0% da receita bruta, proveniente de comercialização da sua produção;

• 0,1% da receita bruta, proveniente de comercialização da sua produção,


para o financiamento das prestações por acidente de trabalho.

O segurado especial e seus dependentes terão direito aos benefícios (valor de um


salário mínimo)previstos no artigo 39 da Lei n. 8.213/91.

O segurado especial que também opta por contribuir como facultativo não perde a
condição de segurado especial. A opção visa melhorar seu salário- de-contribuição, para
que possa usufruir benefícios acima do mínimo previsto no citado artigo 39 da Lei n.
8.213/91.

Sempre que o segurado especial comercializar sua produção rural e o adquirente for
uma pessoa jurídica, essa fica sub-rogada no direito de descontar a contribuição de 2,1% e,
depois, recolher aos cofres da Previdência. Se não houver a retenção e o recolhimento aos
cofres públicos, quem estará sonegando será a empresa.

4. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS DO EMPREGADOR, DA EMPRESA E DA


ENTIDADE A ELA EQUIPARADA NA FORMA DA LEI – ARTIGO 195,
INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, COMBINADO COM ARTIGOS
22 E 23, DA LEI N. 8.212/91.

Artigo 195 da Constituição Federal– “A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei,


incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a


qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro”.

As empresas, além de figurarem no pólo passivo da obrigação tributária, ou seja,


atuando como contribuintes, e dessa forma recolhendo as mencionadas contribuições
sociais aos cofres da Previdência Social, também retêm contribuições das quais não são

7
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

contribuintes, agindo, assim, como responsáveis tributárias– art. 128 do Código Tributário
Nacional.

As contribuições dependem do tipo da empresa e da atividade econômica exercida.

4.1. Empresas em Geral


Contribuem com 20% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a
qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados, trabalhadores avulsos (art. 22,
inc. I, da Lei n. 8.212/91) e contribuintes individuais (art. 201, inc. II, Dec.-lei n. 3.048/99),
que lhe prestem serviços.

Além dessa contribuição, com o objetivo de financiar os benefícios concedidos em


razão de grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do
trabalho, contribuem com 1%, 2% e 3%, dependendo do grau de risco de acidentes do
trabalho (leve, médio e grave), sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no
decorrer do mês, aos segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes
individuais.

A empresa deve tentar reduzir o grau de incidência de incapacidade laborativa de


seus empregados, com aparelhos, exercícios, atividade física etc. Com isso terá uma
redução da alíquota. Exemplificando: se o acréscimo era de 3%, poderá resultar em 2% ou
1%.

Essa redução estimula a empresa a desenvolver uma política de prevenção dos


riscos ambientais do trabalho.

A empresa contribuirá com 12%, 9% ou 6% sobre o valor da remuneração paga aos


segurados que exerçam atividade que dê direito a aposentadoria especial, respectivamente
em 15, 20 ou 25 anos.

Aposentadoria especial Alíquota

15 anos 12%

20 anos 9%

25 anos 6%

4.1.1. Contribuições que a empresa em geral e as agroindustriais devem


reter e recolher aos cofres da Previdência Social
• As contribuições do segurado empregado e dos trabalhadores avulsos a seu serviço.

8
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando a empresa contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra. Exemplo:


contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do pagamento.

4.2. Instituições Financeiras – art. 22, § 1.º, da Lei n. 8.212/91


As instituições financeiras são os bancos comerciais, de investimento, as
sociedades de crédito, de financiamento, as caixas econômicas e outras.

Estão obrigadas a contribuir com uma alíquota de 22,5%, incidente sobre a


folha de salários (remuneração paga aos empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes
individuais).

As instituições financeiras também contribuirão com o acréscimo de 1%, 2%


ou 3%, que serão utilizados para o financiamento de benefícios concedidos em razão do grau
de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho. Essa
porcentagem pode ser diminuída com uma política de prevenção.

Incidem, ainda, 12%, 9% ou 6% sobre o valor pago aos segurados que exerçam
atividade que dê direito a aposentadoria especial, respectivamente em 15, 20 ou 25 anos.

4.2.1. Contribuições que as instituições financeiras devem reter e


recolher aos cofres da Previdência Social
• As contribuições do segurado empregado e dos trabalhadores avulsos a seu serviço.

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando a instituição financeira contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra.


Exemplo: contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do
pagamento.

•Sempre que contratar transportador autônomo, a instituição financeira deve reter


2,5% do valor dos serviços realizados.

•A instituição financeira também é obrigada a reter 15% do valor bruto do


pagamento feito pelos serviços prestados por trabalhadores autônomos.

4.3. Produtor Rural, Pessoa Física com Empregado e o Segurado


Especial – art. 25 da Lei n. 8.212/91
9
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

A alíquota de contribuição é de 2% sobre a receita bruta proveniente da


comercialização da produção rural.

O produtor rural, pessoa física com empregado, contribuirá também com 0,1%
para o financiamento das prestações por acidentes de trabalho.

Além disso, acresce-se 0,1% para contribuições devidas a terceiros (exemplo:


SESI, SESC, SENAC, etc.).

Ao final, o produtor rural, pessoa física com empregado, vai contribuir com
uma alíquota total de 2% sobre a receita bruta proveniente da comercialização rural.

4.3.1. Contribuições que o produtor rural, pessoa física com


empregado, deve reter e recolher aos cofres da Previdência Social
• As contribuições do segurado empregado e dos trabalhadores avulsos a seu serviço.

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando o produtor rural contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra.


Exemplo: contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do
pagamento.

•Sempre que contratar transportador autônomo, o produtor rural deve reter 2,5% do
valor dos serviços realizados.

•O produtor rural também é obrigado a reter 15% do valor bruto do pagamento feito
pelos serviços prestados por trabalhadores autônomos.

4.4. Produtor Rural Pessoa Jurídica (Agroindústria)


Matéria disciplinada no artigo 22A da Lei n. 8.212/91. (artigo incluído pela Lei n.
10.256 de 09 de julho de 2001)

Define a contribuição devida pela agroindústria como sendo o produtor rural


pessoa jurídica cuja atividade econômica seja a industrialização de produção própria ou de
produção própria e adquirida de terceiros, incidente sobre o valor da receita bruta
proveniente da comercialização da produção

A contribuição é de 2,5%, incidentes sobre a receita bruta proveniente da


comercialização da produção rural.

O produtor rural, pessoa jurídica, contribui com 0,1% para o financiamento das
prestações por acidente de trabalho.
10
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Além disso, incidirá a alíquota de 0,1% referente às contribuições devidas a


terceiros (SESC, SESI, SENAC, etc.).

4.4.1. Contribuições que o produtor rural, pessoa jurídica, deve reter e


recolher aos cofres da Previdência Social
• As contribuições do segurado empregado e trabalhadores avulsos a seu serviço.

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando a empresa contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra. Exemplo:


contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do pagamento.

•Sempre que contratar transportador autônomo, a empresa deve reter 2,5% do valor
dos serviços realizados.

•A empresa também é obrigada a reter 15% do valor bruto do pagamento feito pelos
serviços prestados por trabalhadores autônomos .

4.5. Associação Desportiva que Mantém Equipe de Futebol Profissional


– art. 22, §§ 6.º a 11.º, da Lei n. 8.212/91
A contribuição é de 5% da receita bruta de espetáculo desportivo, valendo também
para os jogos internacionais realizados no Brasil.

Consoante SÉRGIO PINTO MARTINS10, “aqueles clubes que não proporcionarem a prática
do futebol profissional, organizado na forma da Lei n. 9.615/98, não se beneficiarão da
alíquota diferenciada e terão de recolher a contribuição normal de 20% sobre a folha de
pagamento de seus empregados”.

A associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional vai contribuir,


ainda, com 5% sobre qualquer forma de patrocínio: uso de marca e transmissão em rádio
ou televisão.

4.5.1. Contribuições que a associação desportiva, que mantém equipe


de futebol profissional, deve reter e recolher aos cofres da Previdência
Social
• As contribuições do segurado empregado e trabalhadores avulsos a seu serviço.

10
Direito da Seguridade Social. 13.ª ed. Atlas. p. 212
11
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando a associação desportiva contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra.


Exemplo: contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do
pagamento.

•Sempre que contratar transportador autônomo, a associação desportiva deve reter


2,5% do valor dos serviços realizados.

•A associação desportiva também é obrigada a reter 15% do valor bruto do


pagamento feito pelos serviços prestados por trabalhadores autônomos.

4.6. Empresas que Optarem Pelo SIMPLES (Sistema Integrado de


Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e
Empresas de Pequeno Porte) – Lei n. 9.317/96
As Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, inscritas no SIMPLES, efetuarão
contribuição única com base na receita bruta mensal. Essa contribuição substitui os
recolhimentos referentes ao IRPJ, PIS, contribuição social sobre o lucro, COFINS, IPI e a
contribuição para a Seguridade Social devida com base no art. 22 da Lei n. 8.212/91.

Conforme alerta SÉRGIO PINTO MARTINS11, “não estão incluídas no sistema: a CPMF e a
contribuição previdenciária do empregado”.

4.6.1. Contribuições que as empresas optantes do SIMPLES devem


reter e recolher aos cofres da Previdência Social
Portanto, mesmo fazendo parte do SIMPLES, as seguintes obrigações continuam:

• As contribuições do segurado empregado e trabalhadores avulsos a seu serviço.

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando a empresa contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra. Exemplo:


contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do pagamento.

•Sempre que contratar transportador autônomo, a empresa deve reter 2,5% do valor
dos serviços realizados.

11
Fundamentos de Direito da Seguridade Social. Atlas, 2.001. p. 64
12
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

4.7. Entidade Beneficente de Assistência Social em gozo de isenção


das cotas patronais – art. 195, § 7.º, da Constituição Federal, e art. 55
da Lei n. 8.212/91
Doutrinadores entendem tratar-se de imunidade, pois a não incidência do tributo
provém da própria Constituição Federal.

Essa isenção não é automática, devendo ser requerida pela entidade beneficente de
assistência social; se preenchidos todos os requisitos legais, será deferida.

O valor da isenção poderá ser proporcional, caso as entidades não pratiquem, de


forma exclusiva e gratuita, o atendimento às pessoas carentes. Exemplos: hospitais –
isenção proporcional ao número de leitos gratuitos; escolas particulares – isenção
proporcional ao número de bolsas gratuitas.

Gozam de isenção integral entidades de área beneficente que não visam lucros.

Essas entidades podem até receber alguma forma de remuneração, que, no entanto,
deve ser usada unicamente para a sobrevivência da entidade.

As entidades beneficentes passam por uma fiscalização periódica.

A isenção incide também sobre as contribuições relativas a pagamento feito pela


entidade aos contribuintes individuais, por exemplo, a um advogado para defendê-la em
uma ação.

4.7.1. Contribuições que a as Entidades Beneficentes de Assistência


Social devem reter e recolher aos cofres da Previdência Social
• As contribuições do segurado empregado e dos trabalhadores avulsos a seu serviço.

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando a entidade beneficente contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra.


Exemplo: contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do
pagamento.

•Sempre que contratar transportador autônomo, a entidade deve reter 2,5% do valor
dos serviços realizados.

4.8. Cooperativa de Trabalho


Cooperativas de trabalho em relação aos:

13
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

• empregados;

• trabalhadores avulsos;

• contribuintes individuais que prestarem serviços à cooperativa.

Exemplo: cooperativas de médicos – os médicos não pagam contribuição, mas as


pessoas que trabalham, secretária, office-boy etc., contribuem.

A contribuição será de:

• 20% da remuneração paga a eles;

• 1%, 2%, 3% – benefícios por incapacidade laborativa decorrentes de riscos


ambientais do trabalho;

• 12%, 9%, 6% – aposentadoria especial (só sobre a remuneração do trabalhador


submetida a ela)

4.8.1. Contribuições que as cooperativas de trabalho devem reter e


recolher aos cofres da Previdência Social
• As contribuições do segurado empregado e dos trabalhadores avulsos a seu serviço.

•A contribuição de 2%, relativa à aquisição da produção rural do produtor pessoa


física e segurado especial.

•Quando a cooperativa contratar serviço mediante cessão de mão-de-obra. Exemplo:


contratar firma de limpeza. Essa contribuição é de 11% do valor total do pagamento.

•Sempre que a cooperativa contratar transportador autônomo, ela deve reter 2,5% do
valor dos serviços realizados.

•A cooperativa também é obrigada a reter 15% do valor bruto do pagamento feito


pelos serviços prestados por trabalhadores autônomos.

4.9. Empregador Doméstico – art. 24 da Lei n. 8.212/91


O empregador doméstico contribui com uma alíquota de 12% sobre o salário-de-
contribuição de seu empregado, respeitado o teto.

4.10. Deduções que a Empresa Pode Fazer Relativamente às


Contribuições
As empresas podem deduzir das contribuições, incidentes sobre a folha de salários,
o que pagaram a título de salário-família.
14
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Antes da Lei n. 6.136/74, era possível deduzir o salário maternidade; atualmente,


porém, por ser uma prestação previdenciária paga pelo INSS, não poderá ser deduzida.

4.11. Inovações Trazidas pela Lei Complementar n. 110 de 29.6.2001


A Lei Complementar n. 110 de 29.6.2001 instituiu a contribuição social devida
pelos empregadores em caso de despedida sem justa causa, com alíquota de 10% incidente
sobre o montante de todos os depósitos devidos, referentes ao Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço – FGTS.

Para instituir essa contribuição, fundamentou-se ser ela destinada ao pagamento da


correção monetária do depósito do FGTS.

Em seu artigo 2.º, a Lei estabelece um adicional de 0,5% sobre a folha de


pagamento dos empregados para o FGTS. Conforme o § 2.º do mencionado artigo esse
adicional será devido pelo prazo de 60 meses, a contar de sua exigibilidade, ou seja, de
outubro de 2001 a setembro de 2006.

Ficam isentas:

• as empresas inscritas no SIMPLES, desde que o faturamento anual não


ultrapasse o limite de R$ 1.200.000,00;

• as pessoas físicas, em relação à remuneração de empregados domésticos;

• as pessoas físicas, em relação à remuneração de empregados rurais, desde que


sua receita bruta anual não ultrapasse o limite de R$1.200.000,00.

Há divergências doutrinárias quanto à constitucionalidade da Contribuição Social


ora tratada.

15
___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Procedimentos Especiais

__________________________________________________________________
Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Procedimentos Especiais

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. AÇÕES POSSESSÓRIAS

A proteção da posse faz-se por meio dos interditos, que são apenas três:

• ação de reintegração de posse;

• ação de manutenção de posse;

• interdito proibitório.

A ação é considerada possessória quando o seu objeto envolve posse; por isso, é
imprescindível identificar qual a relação jurídica que o sujeito mantém com a coisa.

Não basta, entretanto, que a causa de pedir envolva direitos possessórios; a ação de
nunciação de obra nova e os embargos de terceiro não se encaixam no rol das ações
possessórias. O que conduz à ação de reintegração de posse é o esbulho; no caso de
manutenção, deve haver a turbação; e, no interdito proibitório, deve existir grave ameaça
de esbulho à posse.

1.1. Fungibilidade

Aplica-se o princípio da fungibilidade às possessórias, concedendo o juiz a tutela


mais adequada ao caso concreto, independentemente do tipo de ação que foi proposta pelo
autor (por exemplo: se o autor ingressa com ação de manutenção de posse alegando
turbação e, à época da concessão, ocorrem mudanças nos fatos, tornando-se caso de
esbulho, o juiz irá conceder a reintegração da posse. O contrário não ocorre, pois se
eventual turbação se transforma em mera ameaça, por exemplo, haverá perda do objeto e o
processo será extinto sem julgamento do mérito por falta de interesse de agir).

O princípio da fungibilidade está disposto no artigo 920 do Código de Processo


Civil, assim regulamentado:

1
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

“A propositura de uma ação possessória, em vez de outra, não obstará a que o juiz
conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos requisitos
estejam provados”.

A fungibilidade aplica-se às possessórias, justificando-se tal fato por ser de difícil


identificação a espécie de agressão à posse e por existir a possibilidade de que a agressão
inicial venha a alterar-se no curso da demanda.

Turbação é todo ato que embaraça o livre exercício da posse; esbulho é o ato pelo
qual alguém priva outra pessoa do poder, de fato, sobre a coisa.

Inexiste, porém, a fungibilidade entre um interdito possessório e um instituto que


não o seja. Por exemplo: não pode o juiz valer-se da fungibilidade para julgar ação
possessória como se fosse petitória e vice-versa.

1.2. Legitimidade

1.2.1. Legitimidade ativa


O artigo 926 do Código de Processo Civil estabelece a condição de possuidor para a
propositura dos interditos. Exige-se, ainda, que tenha sido esbulhado ou turbado em sua
posse. O detentor não tem a faculdade de propor ação possessória, por não ter a posse.

Nas possessórias, excetua-se a regra geral de que o cônjuge necessitará de


consentimento do outro para propor a ação – não há a necessidade da participação de
ambos, exceto nos casos de composse e de ato por ambos praticado (art. 10, § 2.º, do CPC).

Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros – legitimação


concorrente – e também um contra o outro; nesse caso, é necessário verificar qual das
posses foi a ofendida (artigo 1.197, do Código Civil).

1.2.2. Legitimidade passiva


O réu, nas ações possessórias, é o autor da ameaça, da turbação ou do esbulho. O
terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era, também é legitimado para
figurar no pólo passivo.

Quando a turbação ou o esbulho for causado por menor púbere, será possível ajuizar
ação contra ele; porém, o menor deverá estar assistido por seus pais ou responsáveis. No
caso de menor impúbere, a ação deverá ser ajuizada em face do responsável pelo incapaz.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A pessoa jurídica, de direito privado ou público, poderá ocupar o pólo passivo das
ações possessórias, pois a ninguém é dado o direito de desapossar outrem sem o devido
processo legal.

1.3. Competência
Trata-se de competência absoluta, não podendo ser derrogada ou modificada. Serão
propostas, as ações possessórias, no foro onde o imóvel violado estiver localizado ou, em
se tratando de bem móvel, no foro do domicílio do réu.

1.4. Procedimento

1.4.1. Petição inicial


A petição inicial deve conter os requisitos dos artigos 282 e 283 do Código de
Processo Civil.

O autor, em petição inicial, deve qualificar o réu, exceto quando impossibilitado de


fazê-lo, por exemplo, em grandes invasões, quando não é possível identificar todas as
pessoas.

O autor deverá afirmar, na inicial, a existência da posse, a duração desta, a natureza


do ato violador e a data em que esse ato ocorreu. Não basta que o autor afirme o seu direito
possessório; o autor deve demonstrar o esbulho ou a turbação de sua posse.

O Código de Processo Civil, em seu artigo 921, autoriza cumular, ao pedido de


proteção possessória, a condenação de perdas e danos, o desfazimento de construção ou
plantação e a pena cominatória em caso de descumprimento de ordem judicial, sem
prejuízo do rito especial.

Outros pedidos poderão ser cumulados, desde que observadas as disposições do


artigo 292 do Código de Processo Civil.

O juiz pode conceder ou não a liminar possessória, que constitui uma antecipação de
tutela com requisitos próprios: entre eles encontra-se a violação do direito possessório a
menos de ano e dia.

A liminar, na ação possessória, limita-se à proteção possessória, não atingindo, por


exemplo, a execução por perdas e danos. Pode ocorrer uma antecipação de tutela da
execução por perdas e danos; entretanto, deve-se seguir as regras do artigo 272 do Código
de Processo Civil.

A liminar pode ser concedida diretamente ou após a audiência de justificação. Será


concedida de plano quando houver prova documental idônea para a demonstração dos
requisitos do artigo 927 do Código de Processo Civil. A declaração de pessoas que
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

conhecem o fato não servirá como prova para a concessão direta da liminar, visto que a
prova testemunhal deve ser produzida em Juízo.

Se a liminar não for concedida de plano, será designada uma audiência de


justificação onde serão ouvidas as testemunhas do autor, não havendo a rigor, a
necessidade de serem elas arroladas antecipadamente. O réu deve ser citado para
comparecer à audiência; porém, não poderá levar testemunhas nem apresentar provas,
devendo limitar-se a assistir a audiência e, eventualmente, a reperguntar às testemunhas e
oferecer contradita, em caso de suspeição ou impedimento.

A finalidade da audiência de justificação é permitir que o autor faça oralmente a


prova de seu direito e é realizada em seu exclusivo interesse. Partindo dessa finalidade,
deve-se analisar a forma da audiência.

1.4.2. Caução
O artigo 925 do Código de Processo Civil estabelece: “Se o réu provar, em
qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de
idoneidade financeira para, no caso de decair da ação, responder por perdas, o juiz
assinar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução sob pena de ser depositada a
coisa litigiosa”.

O juiz, portanto, ao conceder a liminar, em princípio não pode exigir do autor que
ele preste uma caução real ou fidejussória. O que o sistema prevê é que o réu, na sua
defesa, possa requerer que o autor preste caução, sob o argumento de que este não teria
idoneidade financeira para arcar com os prejuízos caso não tenha a tutela jurisdicional a
seu favor. Nesse caso, o juiz pode fixar a caução, sob pena de o bem, objeto da ação
possessória, ser depositado. Essa regra do Código de Processo Civil deve ser interpretada
sistematicamente, ou seja, o réu deve demonstrar o risco pela falta de idoneidade financeira
e, ainda, deve colocar em dúvida a cautelar concedida.

1.4.3. Resposta
Concedida a liminar, o réu será citado para responder a demanda. O prazo para
resposta é de 15 dias. Entretanto, o Código de Processo Civil prevê dois termos iniciais
para esse prazo:

• se a liminar foi negada ou concedida diretamente, o prazo para responder será o


da juntada do aviso de recebimento ou do mandado de citação (regras gerais do
CPC);

• se o juiz designou audiência de justificação, o prazo para responder irá fluir


dessa audiência (art. 930, par. ún., do CPC).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

O artigo 922 do Código de Processo Civil permite ao réu formular pedido na


contestação – caráter dúplice das ações possessórias. Alegando que foi ofendido em sua
posse, o réu pode requerer:

• proteção possessória – que a possessória seja declarada em seu favor;

• indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo


autor.

No entanto, não será permitido ao réu requerer a concessão de liminar na


contestação.

Respondida a demanda, os atos serão praticados em respeito ao procedimento


comum ordinário, até a sentença.

1.4.4. Recurso
Proferida a sentença, cabe contra ela o recurso de apelação. A posição dominante é a
de que essa apelação será recebida nos efeitos suspensivo e devolutivo, visto que a ação
possessória não se enquadra em nenhuma das situações do artigo 520 do Código de
Processo Civil.

Das decisões interlocutórias, o recurso cabível é o agravo; entretanto, da decisão que


concede ou não a liminar, somente cabe agravo de instrumento; não cabe agravo retido
contra decisão liminar porque o seu julgamento se faria, em caso de futura e eventual
apelação, já na fase final do processo.

1.4.5. Execução da sentença


A execução das ações possessórias é execução latu senso, ou seja, a sentença é
executada diretamente, sem a necessidade de um processo de execução. A proteção
possessória não admite embargos de devedor contra a execução de sentença transitada em
julgado.

1.4.6. Disposições gerais


Os embargos de terceiro são admitidos, embora haja pequena divergência
jurisprudencial. É entendimento do Professor Humberto Theodoro Júnior12: “Assim,
embora haja pequena divergência jurisprudencial, o certo, porém, é que o melhor
entendimento, aliás dominante nos Tribunais, é, a exemplo da doutrina, no sentido de que
12
Curso de Direito Processual Civil: Procedimentos Especiais. 26.ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. vol. III, p.140.
5
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

‘podem ser oferecidos embargos de terceiro na fase de execução de mandado de


reintegração de posse'”.

Quanto ao embargo de retenção por benfeitorias, é entendimento do Professor


Humberto Theodoro Júnior que, “se o demandado tem benfeitorias a indenizar, e pretende
exercer, se cabível, o direito de retenção, há de fazê-lo no curso da ação por meio da
contestação e nunca por via de ‘embargos de retenção’, após a sentença, porque tais
embargos pressupõem, logicamente, a existência de uma execução de sentença, nos moldes
da condenação à entrega de coisa certa (art. 744 do CPC)”.

O artigo 923 do Código de Processo Civil dispõe que, na pendência de ação


possessória, não se admite ação relativa a domínio. Se fosse feita uma interpretação
gramatical desse dispositivo, chegar-se-ia a duas conclusões:

• às partes não se admite a discussão dominial no Juízo possessório;

• não se deve julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertence
o domínio.

Essa interpretação tem sido afastada pela doutrina e pela jurisprudência. Pode
ocorrer que o autor e o réu estejam afirmando a sua posse com base na existência de um
domínio; nesse caso, a finalidade do artigo 923 do Código de Processo Civil não existe
mais, visto as próprias partes estarem alegando o domínio. O juiz, portanto, somente pode
decidir uma ação possessória com base na propriedade se ambas as partes invocarem a
qualidade de donas da coisa.

Questão interessante diz respeito à possibilidade de ajuizar ação possessória em face de


pessoa jurídica de direito público. A melhor solução aponta para a possibilidade, de acordo
com unanimidade legal, doutrinária e jurisprudencial, todavia, com duas restrições:

• O juiz não pode deferir a liminar antes de ouvir o representante do Poder Público
(art. 928, par. ún., do CPC).

• Se o Poder Público já deu ao imóvel uma destinação pública, não é possível a


ação possessória. Nesse caso, cabe ação de desapropriação indireta para pleitear
perdas e danos.

2. AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA

Compete ao proprietário ou possuidor impedir a continuação de obra nova, no


imóvel vizinho, que lhe cause danos (art. 934 do CPC) ou que esteja em desacordo com os
regulamentos administrativos.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Obra é toda e qualquer alteração física da coisa.

É requisito essencial da ação de nunciação de obra nova que a obra seja nova; não se
encontre em fase de acabamento e que os prédios sejam vizinhos.

Os artigos 1.299 a 1.301 do Código Civil são fundamentos materiais que


possibilitam o embargo de obra de outro.

Cumpre observar a diferença entre ação de dano infecto e ação de nunciação de obra
nova. Com efeito, A ação de dano infecto pode ser exercida quando o prédio do vizinho
ameaça ruir. Vizinho é todo aquele que mora suficientemente perto, para que a obra feita
em um dos imóveis repercuta no outro. Ação de nunciação de obra nova é remédio
processual que visa solucionar conflitos no confronto do direito de construir com o direito
de vizinhança.

O Supremo Tribunal Federal autoriza a conversão da nunciação de obra nova em


perdas e danos, para não ofender o princípio constitucional da função social da
propriedade. Deve ser aplicada com cuidado e em casos especiais.

O artigo 934, inciso II, do Código de Processo Civil dispõe que cabe nunciação de
obra nova ao condômino, para impedir a alteração da coisa comum. A alteração de
substância exige o consentimento de todos os condôminos.

Conforme artigo 934, inc.III, do Código de Processo Civil, compete ao Município a


ação de nunciação de obra nova para evitar o desrespeito às leis, aos regulamentos e às
posturas municipais.

É pacífico o entendimento de que a legitimidade conferida ao Município estende-se


a qualquer pessoa jurídica de direito público.

2.1. Procedimento

2.1.1. Embargo extrajudicial


O artigo 935 do Código de Processo Civil dispõe que, em caso de urgência, quando
não há tempo hábil para a obtenção de embargo judicial, o interessado pode propor
embargo extrajudicial para a paralisação da obra.

O interessado deve fazer-se acompanhar por duas testemunhas e, em voz alta,


notificar ao proprietário ou construtor para não continuar a obra.

O interessado, no prazo de três dias, deve obter a ratificação judicial da medida.

Deferida a ratificação, ela retroage até a data dos embargos extrajudiciais – eficácia
ex tunc da decisão.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A ação de nunciação de obra nova é dotada de concessão de liminar, que pode ser
concedida de plano ou depois de realizada a audiência de justificação.

O prazo para a contestação da ação de nunciação de obra nova é de cinco dias.

3. AÇÃO DE USUCAPIÃO DE TERRAS PARTICULARES

Usucapião é um modo originário de aquisição da propriedade. A pessoa torna-se


proprietária por usucapião, se preenchidos todos os requisitos previstos em lei.

A ação de usucapião é meramente declaratória e tem eficácia ex tunc.

P.: A ação publiciana é uma ação de usucapião?

R.: A ação publiciana é uma ação de natureza petitória que pode ser impetrada
quando alguém já usucapiu, mas não tem o imóvel registrado em seu nome.

P.: Julgada procedente a ação publiciana, a sentença é válida para registro do


imóvel, no Cartório de Registro de Imóveis?

R.: A procedência da ação publiciana não vale como registro no Cartório de Registro
de Imóveis para o usucapião.

Dispõe a Súmula n. 237 do Supremo Tribunal Federal: “O usucapião pode ser


argüido em defesa”.

Usucapião especial pode ser alegado em defesa, hipótese em que a sentença que o
reconhecer poderá ser levada a registro no Cartório de Registro de Imóveis (Lei n.
6.969/81).

3.1. Procedimento
Foro competente para o procedimento especial do usucapião de terras particulares é
o da situação do bem usucapiendo. O Juízo será o cível, salvo se houver Vara Especializada
dos Registros Públicos.

A petição inicial deve observar tanto os requisitos gerais, contidos no artigo 282,
quanto os especiais, contidos nos artigos 941 e 942, todos do Código de Processo Civil:
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• planta descritiva do imóvel;

• certidão atualizada do imóvel, cuja finalidade é demonstrar que não existe


possessória em curso;

• certidão do distribuidor cível, cuja finalidade é verificar se houve ou não citação;

• justo título, somente para usucapião ordinário.

Devem ser citados para a ação de usucapião (art. 942 do CPC):

• as pessoas em cujo nome o imóvel está registrado;

• todos os confinantes;

• eventuais terceiros interessados, por edital.

Se um dos dois primeiros for citado por edital e não aparecer, o juiz deve nomear
curador especial, tendo incidência o disposto no artigo 9.º, inc. II, do Código de Processo
Civil.

Além de citar essas pessoas, há necessidade de intimação:

• do Ministério Público (art. 944 do CPC);

• da Fazenda da União, do Estado, do Município (art. 943 do CPC).

Dispõe a Súmula n. 150 do Superior Tribunal de Justiça: “Compete com


exclusividade à Justiça Federal dizer quando há ou não interesse da União”.

Foi eliminada do rito da ação de usucapião a audiência de justificação, de modo que


o rito passou a ser o ordinário.

A sentença confere, ao autor, título que lhe permite transcrever o imóvel no Registro
Público.

4. AÇÃO DE DIVISÃO E DEMARCAÇÃO DE TERRAS PARTICULARES

4.1. Introdução
A propriedade privada, conforme dispõe o artigo 1.228 do Código Civil, implica o
direito de usar, gozar e dispor; porém, para que gere realmente eficácia erga omnes é
indispensável que o registro seja perfeito. Nessa linha de raciocínio, a área da propriedade

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

deve ser de precisão absoluta para que o titular tenha plena segurança de todos os efeitos
dos seus direitos e prerrogativas.

O artigo 946 do Código de Processo Civil estabelece quando a ação é demarcatória


e quando é divisória; elas não são excludentes, já que se pode demarcar para depois dividir.
Com a fixação dos limites da demarcação, os confinantes são terceiros em relação à
divisão, que não lhes produz nenhum efeito – só continuam no processo para que não
sejam despojados da área.

Tanto a ação de divisão como a de demarcação pode ser feita de forma amigável,
sendo desnecessário recorrer ao Judiciário.

Ambas as ações têm caráter dúplice.

4.2. Ação de Demarcação

4.2.1. Introdução
A ação de demarcação está prevista no artigo 946, inc. I, do Código de Processo
Civil: "Cabe a ação de demarcação ao proprietário para obrigar o seu confinante a estremar
os respectivos prédios, fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já
apagados". Visa, portanto, por fim a conflito de limites. Devem existir dois ou mais
imóveis confrontantes.

4.2.2. Petição inicial


De acordo com o artigo 950 do Código de Processo Civil, a ação demarcatória deve
vir instruída, além dos fixados no artigo 282 do mesmo diploma legal, com alguns
requisitos especiais:

• títulos da propriedade;

• designação do imóvel pela situação e denominação;

• descrição dos limites.

Não precisa haver uma exata limitação da área. O autor descreve os limites que
entende correto, muito embora o objetivo da ação seja descobrir os verdadeiros limites. Se
o autor não coloca quais os limites que entende correto, a inicial é inepta, pois não garante
qualquer defesa. A indicação dos confinantes é fundamental, para que todos possam ser
atingidos pela demarcatória.

Segundo o artigo 951 do Código de Processo Civil, a demarcatória pode vir


cumulada com pedido de restituição de terreno invadido ou de indenização de danos.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

4.2.3. Procedimento
O procedimento é o peculiar do ordinário, contendo em especial a obrigatoriedade
de prova técnica.

A citação dos réus que moram na Comarca será pessoal; dos demais, por edital (art.
953 do CPC).

O prazo para contestação é de 20 dias, sendo prazo comum; mesmo quando houver
litisconsortes não se conta em dobro. Segue como o procedimento ordinário, porém com
prova técnica. O juiz deverá nomear dois arbitradores e um agrimensor, antes de sentenciar.
Os arbitradores farão um laudo minucioso e o agrimensor juntará planta da região,
podendo as partes se manifestarem no prazo comum de dez dias sobre o que julgarem
conveniente.

Com o trânsito em julgado, começa a segunda fase – a demarcação em si (arts. 959 e


ss.).

4.3. Ação de Divisão

4.3.1. Introdução
A ação de divisão está prevista no artigo 946, inc. II, do Código de Processo Civil:
"Cabe a ação de divisão ao condômino, para obrigar os demais consortes a partilhar a coisa
comum”. Sendo o imóvel divisível, qualquer dos condôminos está legitimado a promover a
ação para a divisão da coisa comum, pois o condomínio, no caso, goza de absoluta
temporariedade.

4.3.2. Petição inicial


Além dos requisitos do artigo 282 do Código de Processo Civil, o artigo 967 do
mesmo instituto estabelece que a petição inicial será sempre instruída com os títulos de
propriedade e deverá conter:

I- a indicação da origem da comunhão e todos os característicos do imóvel. O juiz


precisa saber a natureza do condomínio e a sua possível divisibilidade.

II- todas as qualidades jurídicas dos condôminos, indicando aqueles que


efetivamente têm posse, benfeitoria e cultura na coisa.

III- as benfeitorias comuns.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

4.3.3. Procedimento
Na ação de divisão é requisito a sentença transitada em julgado que diga admissível
a divisão. Após, passa-se ao trabalho de divisão efetiva. Os dois arbitradores e o
agrimensor são nomeados e medirão o imóvel para divisão.

Todos os condôminos devem fazer o pedido de quinhão e apresentar seus títulos em


dez dias. Podem os co-proprietários se manifestar em 10 dias. O juiz decide em 10 dias
sobre as impugnações.

A avaliação da área e das benfeitorias será feita pelo laudo do agrimensor. As partes
são ouvidas em 10 dias, e o juiz passa a partilhar a área (art. 979 do CPC). É elaborado,
então, o auto de divisão, assinado pelo juiz, agrimensor e arbitradores. Tem-se, assim, a
sentença homologatória de divisão. Por fim, cada título será levado a registro no Cartório
de Registro de Imóveis.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Do Procedimento do Júri

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Do Procedimento do Júri

Prof. Fernando Capez

1. JUDICIUM CAUSAE

A segunda fase do procedimento do Júri, após a sentença de pronúncia, é o juízo da


causa ou judicium causae, o qual se inicia com o oferecimento do libelo pela acusação.
Para o início da segunda fase, a pronúncia deve transitar em julgado.

1.1. Desaforamento
Durante essa fase é possível que ocorra o pedido de desaforamento (artigo 424 do
Código de Processo Penal). Desaforamento é o deslocamento da competência territorial do
Júri. Somente a sessão de julgamento é que se desafora. Os demais atos são praticados na
comarca onde corre o processo.

É impossível o pedido de desaforamento durante o sumário da culpa, pois nessa fase


ainda não há certeza de que haverá julgamento pelo Júri. Só a pronúncia transitada em
julgado dá a certeza do julgamento pelo Júri.

O desaforamento deve ser sempre para a comarca mais próxima, desde que nela não
existam os mesmos motivos que ensejaram o desaforamento. Assim, por exemplo, um
crime que causou revolta em toda uma região, não adianta desaforar para uma cidade
vizinha.

São causas do desaforamento:

a) motivos de ordem pública;

b) dúvida a respeito da imparcialidade dos jurados (Atenção: a dúvida não é sobre a


imparcialidade do juiz – essa enseja exceção de impedimento ou suspeição);

c) risco à segurança do réu;

d) quando, passado um ano do recebimento do libelo, o julgamento não tiver se


realizado.

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Tem legitimidade para pleitear o desaforamento:

• qualquer das partes, por requerimento;

• o juiz, por representação; salvo no último caso (d), em que só as partes podem
requerer.

O pedido é formulado ao Tribunal de Justiça; a Câmara Criminal com competência


para julgar os recursos do Júri irá decidir, ouvindo sempre o Procurador-Geral de Justiça.

O desaforamento pode ser pedido até um dia antes da sessão do julgamento. Por não
ter efeito suspensivo, deve ser requerido o quanto antes.

Pergunta: Concedido o pedido de desaforamento, é possível requerer um segundo


desaforamento?

Resposta: Sim. É possível novo desaforamento desde que, na nova comarca, surjam
novos motivos.

Reaforamento é a volta do julgamento para ser realizado pelo Júri da comarca de


origem, sendo necessário que ali tenham desaparecido os motivos que provocaram o
desaforamento e que algum motivo tenha surgido na comarca para onde o julgamento fora
remetido. Portanto, em tese, admite-se o retorno do julgamento para a comarca de origem.

1.2. Libelo
O libelo é a “peça inaugural do judicium causae, consistente em uma exposição
escrita e articulada do fato criminoso, contendo o nome do réu, as circunstâncias
agravantes e todas as demais que influam na fixação da sanção penal. (...) O libelo é
composto de três partes: introdução, articulado e pedido. Na introdução, consta a menção
ao processo-crime, a designação do acusador, pelo seu cargo, e o nome do réu (exemplo:
‘Por libelo-crime acusatório, diz a Justiça Pública, por seu Promotor de Justiça infra-
assinado, nos autos do processo-crime 428/90, que move contra o réu Ernestino de Souza,
o seguinte: (...)’). No articulado, o fato criminoso e suas circunstâncias vêm expostos em
artigos sintéticos e objetivos (exemplo: ‘Que provará: 1) que o réu efetuou disparos de
arma de fogo contra a vítima, produzindo-lhe os ferimentos descritos no laudo de fls.; 2)
que esses ferimentos foram a causa da morte da vítima; 3) que o réu é reincidente’). No
pedido, a acusação deve requerer a procedência da ação, com o recebimento do libelo e a
condenação do acusado pelo Júri, como incurso no tipo incriminador, pelo qual foi
pronunciado (exemplo: ‘Isto posto, requeiro seja o presente libelo recebido, e o réu levado
a julgamento perante o júri, como incurso no artigo 121, caput, do Código Penal, a fim de
ser condenado’)”13.
13
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 7.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 580
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O libelo é oferecido pela acusação (Ministério Público) somente contra o réu que foi
intimado da decisão de pronúncia. A pronúncia só transita em julgado após a intimação do
réu.

O libelo é totalmente vinculado à pronúncia. Isto é, no libelo o Ministério Público


não pode alterar a classificação jurídica do crime constante na pronúncia. “A pronúncia
bitola o libelo”. Também não pode o Ministério Público incluir, no libelo, qualificadora
que não conste da pronúncia. Se a acusação não concorda com a pronúncia, deve recorrer,
mas não inovar no libelo.

O Ministério Público pode incluir agravantes e causas de aumento de pena no libelo.

Pergunta: Se o Ministério Público não incluir no libelo as agravantes, pode fazê-lo


em momento posterior?

Resposta: No dia do julgamento, nos debates, a acusação pode alegar as agravantes,


mas não as causas de aumento da pena.

O libelo é uma peça articulada, ou seja, deve ser escrita na forma de artigos. Se
houver mais de um crime na pronúncia, deverá ser elaborada uma série de artigos para
cada crime. Se houver mais de um réu, deve ser realizado um libelo para cada réu.

No libelo, a acusação pode requerer a juntada de documentos, as diligências ainda


não realizadas e apresentar o rol de testemunhas, no máximo cinco, que serão ouvidas em
plenário.

Pergunta: Se o Ministério Público não juntar documentos no libelo, pode requerer a


juntada posteriormente?

Resposta: Sim. No processo penal é possível a juntada de documentos a qualquer


momento, cientificando a parte contrária. O limite temporal no judicium causae à juntada
de documentos é dado pelo artigo 475 do Código de Processo Penal. Segundo esse
dispositivo, os documentos a serem exibidos em plenário devem ser juntados e
comunicados à parte contrária com antecedência de, pelo menos, três dias do julgamento.

As testemunhas podem ser arroladas em caráter de imprescindibilidade. A parte que


arrolou a testemunha com esse caráter pode se recusar à realização do julgamento se essa
não comparecer. O julgamento será adiado. Para desistir de testemunha imprescindível no
julgamento, deve haver anuência da parte contrária, bem como dos jurados, se já formado o
conselho de sentença.

3
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

O não-comparecimento da testemunha arrolada em caráter de imprescindibilidade


não impedirá a realização do julgamento, nos seguintes casos:

• se a testemunha estiver em lugar incerto e não sabido;

• se a testemunha residir em comarca diversa da jurisdição do Júri.

Prazo para o oferecimento do libelo:

• cinco dias (a contar da intimação pessoal para o oferecimento) para o Ministério


Público, na ação penal pública;

• dois dias para o querelante, tanto no caso de queixa subsidiária quanto no de


queixa exclusivamente privada.

Se o Ministério Público não oferece o libelo, o juiz não pode mais nomear promotor
ad hoc para apresentá-lo, já que essa figura viola o artigo 129, § 2.º, da Constituição
Federal de 1988. Hoje, o juiz aplica o artigo 28 do Código de Processo Penal, por analogia.
Também não há que se falar em aplicação de multa pelo juiz, pois isso violaria a autonomia
do Ministério Público (artigo 127, § 2.º, da Constituição Federal).

Se o querelante não oferecer o libelo, ocorre o seguinte:

• na ação penal exclusivamente privada – a perempção;

• na ação penal privada subsidiária da pública – o Ministério Público reassume a


ação (artigo 420 do Código de Processo Penal).

Observação: pode haver libelo em ação exclusivamente privada no caso de conexão


em que há litisconsórcio ativo entre querelante e Ministério Público.

O fenômeno do lançamento do libelo ocorre quando o querelante, na ação penal


privada subsidiária da pública, apresenta o libelo intempestivamente, fora do prazo legal de
dois dias. O Código de Processo Penal determina que ele seja lançado dos autos (artigo
420 do Código de Processo Penal), quer dizer, seja excluído dos autos. Os autos serão
remetidos ao Ministério Público.

Oferecido o libelo, esse será examinado pelo juiz, que poderá ou não recebê-lo.
Caso não o receba, o juiz deverá notificar o Ministério Público para que apresente outro em
48 horas (artigo 418 do Código de Processo Penal).

4
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Recebendo o libelo, o juiz, neste mesmo despacho, deve determinar a entrega de


cópia ao réu em três dias e notificar a defesa para apresentar a contrariedade ao libelo, no
prazo de cinco dias.

A falta da entrega da cópia do libelo ao réu e da notificação para a apresentação da


contrariedade gera nulidade, evidentemente relativa (artigo 564, inciso III, alínea “f”, do
Código de Processo Penal), dependendo de prova do efetivo prejuízo14.

1.3. Contra Libelo


O contra libelo segue as mesmas regras do libelo. Deve ser apresentado no prazo de
cinco dias. A defesa pode requerer a juntada de documentos, a realização de diligências e
apresentar o rol de testemunhas, em número máximo de cinco, que irão depor em plenário.
As testemunhas da defesa também podem ser arroladas em caráter de imprescindibilidade.

Para a defesa é uma peça de apresentação facultativa, assemelhando-se à defesa


prévia. Deve ser dada a oportunidade de apresentação, mas, caso a parte não apresente, não
causa nulidade, porque pode ser uma técnica da defesa só se manifestar em plenário.

1.4. Saneador
Apresentados o libelo e o contra libelo, o juiz determina a realização das diligências
necessárias. Após isso, profere um despacho saneador e marca a data para a sessão de
julgamento.

2. JULGAMENTO EM PLENÁRIO

A sessão de julgamento em plenário é composta pelas seguintes fases:

• instalação da sessão;

• formação do Conselho de Sentença;

• atos instrutórios;

• debates;

• julgamento.

14
Op. cit. p. 583.
5
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

2.1. Instalação da Sessão


Presente o Ministério Público, no dia e na hora designados para a reunião do Júri, o
juiz-presidente da sessão verifica se a urna contém as cédulas com os nomes dos 21 jurados
sorteados, e determina que o escrivão faça a chamada. Declarará instalada a sessão se
comparecerem no mínimo 15 jurados. Caso contrário, convoca nova sessão para dia útil
imediato (artigo 442 do Código de Processo Penal).

O juiz anuncia o processo que será submetido a julgamento e ordena ao porteiro que
apregoe as partes e as testemunhas.

Observação: Esse é o momento para a argüição de nulidade relativa, ocorrida após a


pronúncia sob pena de convalidação (artigo 571, inciso V, do Código de Processo Penal).
Se ocorrer nulidade após esse momento, deverá ser argüida imediatamente a sua
ocorrência, sob pena de preclusão (artigo 571, inciso VIII, do Código de Processo Penal).

2.1.1. Ausências
a) Se o réu regularmente intimado não comparece

• Ausência justificada: o julgamento é adiado.

• Ausência injustificada:

- se a infração for inafiançável, o julgamento somente se realiza com a


presença do réu e, nesse caso, o juiz pode decretar a prisão preventiva
para assegurar a aplicação da lei penal;

- se a infração for afiançável, o julgamento será realizado à revelia do


réu.

b) Se o advogado não comparece

• Ausência justificada: o julgamento é adiado.

• Ausência injustificada: o juiz deverá adiar a sessão de julgamento, nomear por


cautela um advogado dativo e oficiar à Ordem dos Advogados do Brasil o
ocorrido. Se no dia do novo julgamento o antigo advogado comparecer, é ele
quem participa do julgamento.

c) Se o Ministério Público (acusação) não comparece

• Ausência justificada: o julgamento é adiado.

6
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

• Ausência injustificada: o juiz deverá adiar a sessão de julgamento, oficiar ao


Procurador-Geral da Justiça e comunicar ao substituto automático do promotor.
Não há mais a figura do promotor ad hoc.

d) Se o querelante não comparece

• Ausência justificada: o julgamento é adiado.

• Ausência injustificada: ocorre a perempção, em caso de ação penal


exclusivamente privada, ou o Ministério Público reassume a titularidade, em
caso de ação penal subsidiária da pública.

e) Se o assistente de acusação não comparece

• Sua ausência nunca provoca o adiamento da sessão.

f) Se a testemunha não comparece

• Se arrolada em caráter de imprescindibilidade: adia o julgamento, salvo se


estiver em local incerto e não sabido ou for de fora da terra.

• Se arrolada sem caráter de imprescindibilidade: não adia o julgamento, mas


pode sofrer condução coercitiva, multa e processo-crime por desobediência.

g) Se o jurado não comparece

• Ausência injustificada: sujeita-se ao pagamento de multa.

2.2. Formação do Conselho de Sentença


O juiz, após verificar que se encontram na urna as cédulas relativas aos jurados
presentes, realiza o sorteio de sete deles para formarem o conselho de sentença (artigo 457
do Código de Processo Penal).

Antes do sorteio, o juiz adverte os jurados dos impedimentos do Júri. No mesmo


conselho de sentença, são impedidos de servir marido e mulher, ascendente e descendente,
sogro e genro ou nora, irmãos, cunhados durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou
madrasta e enteado. Dos impedidos entre si por parentesco, servirá ao Júri aquele que
houver sido sorteado em primeiro lugar. Também advertirá sobre as incompatibilidades

7
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

legais por suspeição – parentesco com o juiz, promotor, advogado, réu ou com a vítima
(artigo 458 do Código de Processo Penal).

Conforme a Súmula n. 206 do Supremo Tribunal Federal, é nulo o julgamento


ulterior por Júri do qual participe jurado que tenha tomado parte em julgamento anterior
do mesmo processo.

Na medida em que as cédulas vão sendo abertas, a defesa, e depois a acusação,


podem recusar os jurados sorteados. Recusa motivada, isto é, com fundamento em
impedimento ou suspeição, as partes podem fazer quantas recusas forem necessárias. Já a
recusa imotivada ou peremptória, isto é, sem qualquer justificativa ou fundamento, cada
parte só tem direito a três.

A recusa de jurado pode provocar a cisão do julgamento. Existindo dois ou mais


réus, com diferentes defensores, se um defensor aceita um jurado e o outro o recusa,
havendo aceitação desse jurado pela acusação (Ministério Público), o julgamento será
cindido. Só haverá o julgamento de um réu; o outro réu terá seu julgamento adiado.

Se o jurado, aceito por um defensor e recusado por outro, também for rejeitado pelo
Ministério Público, será excluído, e não haverá cisão do julgamento.

Escolhidos os sete jurados, o juiz faz a seguinte exortação: “Em nome da lei,
concito-vos a examinar com imparcialidade essa causa e a proferir a vossa decisão,
conforme a vossa consciência e os ditames da Justiça.” Os jurados prometem e estarão
compromissados. A partir desse momento, passa a vigorar a incomunicabilidade dos
jurados.

A incomunicabilidade não significa mudez. Os jurados podem conversar entre si,


desde que não seja sobre o processo. Não podem conversar com terceiros estranhos ao
processo; a comunicação com o mundo exterior ocorre somente via oficial de justiça. Tal
medida visa garantir o sigilo das votações.

2.3. Atos Instrutórios


O juiz-presidente inicia os trabalhos com o interrogatório do réu. Nesse
interrogatório, além do juiz-presidente, os jurados também podem fazer perguntas ao réu.

Em seguida, o juiz elabora um relatório do processo, com os fatos, as provas e as


conclusões das partes. É um resumo de todo o processo e destina-se aos jurados (artigo 466
do Código de Processo Penal). Se requerida pelas partes, ou por jurado, o escrivão fará a
leitura das principais peças do processo (artigo 466, § 1.º, do Código de Processo Penal). A
leitura deve ser feita sem qualquer entonação.

Inicia-se a oitiva das testemunhas. Primeiro, são inquiridas as testemunhas de


acusação e a vítima, se o crime foi tentado. O juiz, o promotor (parte que arrolou), o
assistente, o advogado do réu e os jurados fazem as perguntas. Segue-se a inquirição das
testemunhas de defesa. O juiz, o advogado do réu (parte que arrolou), o promotor, o
8
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

assistente e os jurados fazem as perguntas. As partes fazem a inquirição da testemunha


diretamente.

Após ser inquirida, a testemunha deve permanecer incomunicável até o final do


julgamento, salvo se for dispensada pelas partes. Isso porque o Código de Processo Penal
permite a reinquirição da testemunha a qualquer momento, até na tréplica.

2.4. Debates
Terminada a inquirição das testemunhas, o promotor lerá o libelo e os dispositivos
da lei penal em que o réu se acha incurso e produzirá a acusação. Concluída a acusação, o
defensor terá a palavra, para a defesa. O tempo será de duas horas para cada parte.
Havendo mais de um réu, o tempo será acrescido em uma hora.

Encerrada a fala da defesa, o juiz indagará à acusação se fará uso da réplica. Em


caso negativo, o promotor deve se limitar a dizer “não”, pois se fizer qualquer comentário
em seguida, dará direito à tréplica. Em caso positivo, a defesa terá direito a tréplica. O
tempo será de 30 minutos para cada um. Havendo mais de um réu, o tempo será acrescido
em mais 30 minutos.

A defesa não pode inovar sua tese no momento da tréplica devido ao princípio do
contraditório. Se inovar, essa tese não será quesitada.

Se a acusação for composta pelo promotor e pelo assistente de acusação, eles


deverão combinar entre si a distribuição do tempo. Não havendo acordo, o juiz marcará o
tempo de cada um, não excedendo o limite previsto em lei.

Apartes são as intervenções que uma parte faz na fala da outra. Não estão previstos
em lei. Segundo a jurisprudência, são possíveis desde que exista concordância do orador, e
devem ser feitos de forma cordial e que não visem atrapalhar o orador.

2.5. Julgamento
Após os debates, o juiz pergunta aos jurados se eles estão habilitados a julgar ou se
precisam de mais esclarecimentos (artigo 478 do Código de Processo Penal). Esses
esclarecimentos devem relacionar-se somente com matéria de fato.

Em seguida, o juiz lê os quesitos e explica a significação legal de cada um. Indaga


se os jurados têm algum requerimento ou alguma reclamação a fazer. O juiz, então, anuncia
que vai se proceder ao julgamento e determina que o réu seja retirado do plenário.

O juiz, os jurados, o promotor, o advogado, o escrivão e dois oficiais de justiça


dirigem-se à sala secreta. Os jurados passam à votação dos quesitos sob a presidência do
juiz. O jurado vota sim ou não, sem qualquer discussão ou fundamentação, em razão do
sigilo das votações. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em contradição com outra
9
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

já proferida, o juiz, explicando aos jurados em que consiste a contradição, submeterá


novamente à votação os respectivos quesitos. O veredicto apura-se por maioria.

2.6. Quesitação
Atenção: assunto muito perguntado na fase oral!

Quesitação é o questionário; são as perguntas feitas pelo juiz aos jurados, que
deverão responder sim ou não. É elaborado com base no libelo, no contra libelo, no
interrogatório e nos debates. Como no Júri vige a defesa plena, todas as teses devem ser
quesitadas, ainda que incompatíveis. Haverá um questionário para cada réu, e uma série de
quesitos para cada crime.

Conforme a Súmula n. 156 do Supremo Tribunal Federal, é causa de nulidade


absoluta do julgamento a falta de quesito obrigatório. Também a Súmula n. 162 do
Supremo Tribunal Federal determina que é causa de nulidade absoluta do julgamento se os
quesitos da defesa não precederem os quesitos das agravantes (a jurisprudência também
inclui as qualificadoras).

A ordem dos quesitos ocorre da seguinte forma:

• Autoria e materialidade (exemplo: “O réu efetuou disparos de arma de fogo


contra a vítima, produzindo-lhe os ferimentos descritos no laudo de fls. 12?”).

• Letalidade, no caso de crime consumado (exemplo: “Estes ferimentos foram a


causa da morte da vítima?”), ou animus necandi, no caso de tentativa (exemplo:
“Assim agindo deu o réu início à execução de um crime de homicídio que só não
se consumou por circunstâncias alheias à sua vontade?”).

• Teses da defesa (Súmula n. 162 do Supremo Tribunal Federal). As teses da


defesa devem ser quesitadas na seguinte ordem:

- Tese da defesa relativa à desclassificação, no caso do crime ser consumado


(desclassificação imprópria). Exemplo: “O crime foi praticado por
imprudência, consistente em ter o réu experimentado a arma, sem certificar-
se previamente que estava municiada?”. Aceitando essa tese, interrompe-se a
votação porque cessa a competência dos jurados, deslocando-se para o juiz-
presidente. Atenção: se o crime for tentado, não há necessidade de
formulação de quesito próprio para a desclassificação, que se dá com a
simples negativa do segundo quesito, relativo ao animus necandi
(desclassificação própria);

- teses relativas às excludentes de ilicitude (nesse caso, deve haver quesito


sobre a existência ou não do excesso doloso ou culposo); se alegada a
legítima defesa, cada requisito deve ser quesitado, como, por exemplo, "O
réu defendia direito próprio? Defendia-se de agressão injusta? Utilizou-se
dos meios necessários?".
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

- teses relativas às causas de exclusão da culpabilidade;

- teses sobre o privilégio.

• Os relativos à existência de qualificadoras.

• Os relativos à existência de causas de aumento ou diminuição.

• Os relativos à existência de agravantes e atenuantes.

Observações:

• Ainda que não se alegue a existência de circunstâncias atenuantes, o juiz deverá


elaborar um quesito genérico da atenuante, sob pena de nulidade absoluta.
Exemplo: "Existe alguma atenuante em favor do réu?".

• Se os jurados reconhecerem que o réu agiu em legítima defesa, o juiz deve fazer
os quesitos sobre o excesso. Se os jurados reconhecerem a existência do excesso,
surgem dois caminhos:

- reconhecem o excesso doloso: continua o homicídio doloso. O juiz


prossegue nos quesitos.

- reconhecem o excesso culposo: desclassificam o delito para homicídio


culposo;

• Se os jurados reconhecerem a existência de privilégio, ficam prejudicados os


quesitos referentes às qualificadoras subjetivas. Reconhecido o privilégio,
somente podem ser formuladas perguntas sobre as qualificadoras objetivas.

• No crime de aborto é necessário elaborar um quesito autônomo a respeito da


existência da gravidez. No crime de infanticídio é necessário elaborar um quesito
autônomo sobre a existência do estado puerperal.

• Em se tratando de concurso de agentes no crime de homicídio, o primeiro quesito


será elaborado de forma não-individualizada. Exemplo: "Terceira pessoa efetuou
os disparos?". A participação do réu só será indagada no quesito seguinte, de
forma detalhada. Exemplo: "O réu é o mandante do crime? O réu é o autor
intelectual do delito? O réu teve contribuição para a consumação do delito?".

2.7. Desclassificação no Júri


Se os jurados desclassificam o crime, o julgamento desse crime competirá ao juiz-
presidente do Júri (artigos 74, § 3.º, e 492, §2.º, do Código de Processo Penal).

A desclassificação pode ser:


11
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

• própria: ocorre quando os jurados desclassificam a infração sem estabelecer a


tipificação do fato; o juiz-presidente tem liberdade para definir a infração e julgar
o fato; Exemplo: “O réu iniciou a sua conduta visando um resultado que não se
consumou por circunstâncias alheias à sua vontade?” Resposta: Não. O réu não
tinha o animus necandi (dolo de matar).

• imprópria: ocorre quando, na desclassificação pelos jurados, fica estabelecido o


enquadramento do fato, cabendo ao juiz-presidente apenas a aplicação da pena.
Exemplo: “O réu agiu com imprudência?”. Resposta: Sim. Agiu com culpa,
homicídio culposo. Ao juiz resta aplicar a pena.

Pergunta: Se o Júri absolve o réu de crime doloso contra a vida, a quem compete
julgar os crimes conexos?

Resposta: Na doutrina predomina o entendimento que os crimes conexos serão


julgados pelo Júri. Se houve absolvição é porque os jurados conheceram o mérito. Se
foram competentes para julgar o crime doloso, também o são para julgar os crimes
conexos. Ocorre a perpetuatio jurisdiciones (artigo 81 do Código de Processo Penal). Na
jurisprudência, a questão é mais dividida. Há tendência a serem julgados pelo juiz-
presidente em razão de aplicação analógica do artigo 492, § 2.º, do Código de Processo
Penal.

a) Desclassificação no Júri para a infração de menor potencial ofensivo

Exemplo: tentativa de homicídio, desclassificada para lesão corporal dolosa leve ou


lesão corporal culposa. Segundo a doutrina, deve-se aguardar o trânsito em julgado da
desclassificação e remeter o processo ao Juizado Especial Criminal (artigo 98 da
Constituição Federal). Há precedentes do Supremo Tribunal Federal acolhendo essa
posição.

b) Desclassificação de crime militar

Exemplo: no Júri, o advogado, sem negar a autoria, sustenta que não houve dolo
eventual, mas sim culpa imprópria. O crime de homicídio culposo praticado por militar em
serviço é da competência da justiça militar. A justiça comum é incompetente para julgar
esse delito. Deve o juiz aguardar o trânsito em julgado da desclassificação e remeter o caso
para a justiça militar, sob pena de violar regra constitucional de competência.

2.8. Sentença
“Encerrada a votação e assinado o termo referente às respostas dos quesitos, o juiz
deverá proferir a sentença.

12
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

No caso de absolvição, o juiz deve colocar o réu imediatamente em liberdade, salvo


se estiver preso por outro motivo.”15

2.9. Atribuições do Juiz-presidente na Sessão de Julgamento (artigo


497 do Código de Processo Penal)
Observação: é obrigatória a leitura desse artigo antes de uma prova.

As atribuições do juiz-presidente na sessão de julgamento são:

• Regular os debates. Para isso o Código de Processo Penal lhe concede o poder de
polícia.

• Interromper a sessão de julgamento, por tempo razoável, para repouso ou


refeição dos jurados.

• Dissolver o conselho de sentença, caso constate que o réu está indefeso.

• Resolver todas as questões de direito que não dependam do julgamento dos


jurados (exemplos: preliminares, eventuais nulidades invocadas).

• Determinar de ofício, ou a requerimento, a realização de diligências consideradas


imprescindíveis. Essas diligências, de preferência, devem ser realizadas de
imediato, sem dissolver o conselho de sentença; se não for possível, deve
dissolver o conselho e marcar novo júri.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

15
CAPEZ, Fernando. Op. cit. p. 590
13
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

DIREITO TRIBUTÁRIO
Impostos Federais

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DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO

Impostos Federais

1. IMPOSTO SOBRE IMPORTAÇÃO (II)

O Imposto de Importação (II), também chamado tarifa aduaneira, está disciplinado


nos artigos 153, inciso I e § 1.º, da Constituição Federal, 19 a 22 do Código Tributário
Nacional e no Decreto-lei n. 37, de 18.11.1966.

1.1. Competência
O Imposto de Importação é de competência da União Federal, liga-se diretamente às
relações do Brasil com outros países, razão pela qual exige-se a uniformidade do
tratamento tributário, projetando-se, no cenário internacional, a personalidade jurídica e
política da Federação como um todo, e não de cada Estado-membro.

1.2. Contribuinte
O contribuinte do Imposto de Importação é o importador ou quem a ele a lei
equiparar (artigo 22, inciso I, do Código Tributário Nacional). É considerado importador
qualquer pessoa, jurídica ou natural, regularmente estabelecida ou não, sendo suficiente a
introdução da mercadoria no território nacional com intenção de que aqui permaneça de
forma definitiva.

Também será considerado contribuinte do Imposto de Importação (artigo 22, inciso


II, do Código Tributário Nacional) o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados,
em leilão realizado pela Alfândega, que poderá lançá-lo por homologação, uma vez que o
contribuinte efetue o pagamento do tributo antes da ocorrência da fiscalização, conforme
exige a lei.

1.3. Função
O Imposto de Importação é instrumento relevante da política econômica, atuando na
proteção à indústria brasileira, pois permite a esta competir no mercado interno em
condições de igualdade ou de vantagem com produtos do exterior, aspecto que sobrepõe
sua relevância como fonte de arrecadação para o Tesouro. Predomina, portanto, sua função
extrafiscal.

1
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DIREITO TRIBUTÁRIO

1.4. Fato Gerador


De acordo com o artigo 19 do Código Tributário Nacional, o fato gerador do
Imposto de Importação é a entrada de produto estrangeiro no território nacional.

A mercadoria nacional ou nacionalizada exportada que retorna ao País (a exemplo


de peças que são exportadas e posteriormente importadas ao Brasil) será considerada, para
fins de incidência do imposto, como estrangeira, estando, portanto, sujeita ao Imposto de
Importação, exceto quando ocorrer uma das hipóteses do artigo 1.º, § 1.º, do Decreto-lei n.
37/66, alterado pelo Decreto-lei n. 2.472/88:

•enviada em consignação e não for vendida no prazo autorizado;

•devolvida por motivo de reparo técnico, para conserto ou substituição;

•devolvida por motivo de modificação na sistemática de importação por parte do


País importador;

•devolvida por motivo de guerra, calamidade pública ou outros fatores alheios à


vontade do exportador.

Tal fato gerador ocorre na data da entrada dos produtos estrangeiros no território
nacional. Se houver alteração da alíquota no período de tempo entre a obtenção de guia de
importação e o desembaraço aduaneiro ou efetivo desembarque, caberá solucionar a
questão de qual alíquota deve ser aplicada a maior ou a menor.

Esclarece o tributarista Hugo de Brito Machado (Curso de Direito Tributário,


Malheiros Editores, 21.ª edição, pág. 264): “Obtida a guia de importação ou forma
equivalente de autorização da importação, se necessária, ou efetuado o contrato de câmbio,
e efetivada a aquisição do bem no exterior, o importador tem direito a que a importação se
complete no regime jurídico então vigente. Se ocorre redução de alíquota do imposto de
importação antes do desembaraço aduaneiro, é razoável admitir-se que o imposto seja pago
pela alíquota menor. Se ocorre aumento, devem ser respeitadas as situações jurídicas já
constituídas. O artigo 150, inciso III, alínea “a”, combinado com o artigo 5.º, inciso
XXXVI, da Constituição Federal o determinam.

Se o importador já está juridicamente vinculado a situação cujo desfazimento lhe


causará prejuízo significativo, evidentemente está incorporado a seu patrimônio o direito
de ter consumada a importação à luz do regime jurídico, inclusive tributário, então vigente.
Salvo se as alterações desse regime jurídico o favoreçam, pois neste caso não se aplica o
princípio da irretroatividade.

Com efeito, a não ser assim, estaria inviabilizada a importação, como atividade
empresarial. O governo poderia levar à ruína qualquer importador com um simples ato de

2
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DIREITO TRIBUTÁRIO

elevação de alíquota do imposto de importação, o que efetivamente não é compatível com


o Estado de Direito que assegura a livre iniciativa econômica”.

Não basta a entrada física do produto no país, já que, para a incidência do imposto
de importação, os produtos devem ser destinados ao Brasil. Aeronaves com mercadorias
estrangeiras que pousam em nosso território, para fins de abastecimento, não sofrem a
incidência do tributo.

1.5. Base de Cálculo


Estabelece o artigo 20 do Código Tributário Nacional que a base de cálculo do
imposto de importação é:

•expressa na unidade de medida adotada pela lei tributária, quando se trata de


alíquota específica;

•o preço normal de venda que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo de


importação, em condições de livre concorrência, para entrega no lugar de entrada no
País;

•o preço de arrematação, no caso de produto levado a leilão, por motivo de


apreensão ou abandono.

1.6. ALÍQUOTA
Aplicam-se dois tipos de alíquotas: a específica e a ad valorem.

•Alíquota específica: expressa por uma quantia determinada, em função da unidade


de quantificação dos bens exportados. Assim, diz-se que o imposto corresponderá a
tantos reais por cada metro, ou quilômetro, ou outra unidade qualquer de medida do
produto.

•Alíquota “ad valorem”: indicada em porcentagem a ser calculada sobre o valor do


bem.

1.7. Lançamento
O lançamento do Imposto de Importação é feito, geralmente, mediante declaração
prestada pelo exportador. A autoridade da Administração Tributária poderá recusar
qualquer dos elementos dessa declaração.

3
_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
DIREITO TRIBUTÁRIO

1.8. Considerações Especiais


O referido imposto não está sujeito ao princípio da anterioridade da lei porque nele
há a predominância de sua função extrafiscal, podendo sofrer aumento durante o mesmo
exercício financeiro. Além disso, o mencionado tributo também é considerado como uma
exceção ao princípio da legalidade, pois a Constituição Federal/88, em seu artigo 153, §
1.º, autoriza a alteração de suas alíquotas (somente), dentro dos parâmetros legais, por
intermédio de um decreto do Poder Executivo.

Caberá a restituição do Imposto de Importação sempre que este for pago em


excesso, por motivo de erro de cálculo ou erro de aplicação da alíquota, ou se houver dano,
extravio ou perda do produto.

2. IMPOSTO SOBRE EXPORTAÇÃO (IE)

O Imposto de Exportação (IE) está disciplinado no artigo 153, inciso II e § 1.º, da


Constituição Federal e nos artigos 23 a 28 do Código Tributário Nacional.

2.1. Competência
De acordo com o artigo 153, inciso II, da Constituição Federal, compete à União
instituir e cobrar impostos sobre “exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou
nacionalizados”.

2.2. Função
O Imposto sobre Exportação tem função predominantemente extrafiscal; portanto, a
ele não se emprega o princípio da anterioridade (artigo 150, § 1.º, da Constituição Federal),
e o princípio da legalidade se mostra atingido pelo artigo 153, § 1.º, da Constituição
Federal. Tal fato se dá por ser o Imposto de Exportação instrumento da política econômica,
fonte de recursos financeiros para o Estado.

Estabelece o artigo 28 do Código Tributário Nacional que “a receita líquida do


imposto destina-se à formação de reservas monetárias na forma da lei”, em face de o
imposto ter função ligada à política econômica relacionada com o comércio internacional.

4
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DIREITO TRIBUTÁRIO

2.3. Fato Gerador


O fato gerador do Imposto sobre a Exportação é a saída, do território nacional, de
produto nacional ou nacionalizado, indicado em lista aprovada pelo Poder Executivo
(artigo 23 do Código Tributário Nacional e artigo 1.º, § 3.º, do Decreto.-lei n. 1.578/77).

Considera-se ocorrido o fato gerador no momento da expedição da guia de


exportação ou de documento equivalente.

2.4. Alíquotas
Existem duas espécies de alíquotas no imposto de exportação:

•Alíquota específica: expressa por uma quantia determinada, em função da unidade


de quantificação dos bens exportados. Assim, diz-se que o imposto corresponderá a
tantos reais por cada metro, ou quilômetro, ou outra unidade qualquer de medida do
produto.

•Alíquota “ad valorem”: indicada em porcentagem a ser calculada sobre o valor do


bem.

O Imposto de Exportação é exceção ao princípio da legalidade estrita, conforme


estabelece o artigo 26 do Código Tributário Nacional, autorizando o Poder Executivo, por
meio de decreto e nos limites fixados em lei, a alterar as alíquotas do imposto, a fim de
ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.

2.5. Base de Cálculo


Conforme estabelece o artigo 24 do Código Tributário Nacional, é base de cálculo
do Imposto de Exportação:

• a unidade de medida adotada pela lei, quando se trata de produto sujeito a


alíquota específica;

• o preço normal que o produto alcançaria, ao tempo da exportação, quando se


tratar de produto sujeito a alíquota ad valorem.

Ao Conselho Monetário Nacional compete a expedição de normas sobre a


determinação de base de cálculo do imposto e a fixação dos critérios específicos. Compete-
lhe também estabelecer pauta de valor mínimo, para os casos nos quais o preço do produto
for de difícil apuração, ou suscetível de oscilações bruscas no mercado internacional.
5
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DIREITO TRIBUTÁRIO

2.6. Contribuinte
Segundo o artigo 27 do Código Tributário Nacional, contribuinte desse imposto é o
exportador ou quem a lei a ele equiparar.

Exportador, por sua vez, é aquele que remete a mercadoria, a qualquer título, para o
exterior, ou a leva consigo, não sendo necessário que seja empresário, já que a exportação,
como fato gerador do imposto em causa, pode ser eventual e sem intuito de lucro. Porém,
de um modo geral, exportador é um empresário que habitualmente realiza as operações de
exportação profissional.

2.7. Lançamento
O lançamento do Imposto de Exportação é feito, geralmente, mediante declaração
prestada pelo exportador. A autoridade da Administração Tributária poderá recusar
qualquer dos elementos dessa declaração.

2.8. Considerações Especiais


A utilização do Imposto de Exportação é eventual, ficando sua incidência sob
dependência de certas situações ocasionais, ligadas à conjuntura econômica.

3. IMPOSTO SOBRE A RENDA E PROVENTOS DE QUALQUER


NATUREZA (IR)

O Imposto sobre a Renda e proventos de qualquer natureza está disposto no artigo


153, inciso III, da Constituição Federal, e nos artigos 43 a 45 do Código Tributário
Nacional.

A competência para criar o imposto é da União e, de acordo com o § 2.º do artigo


153 da Constituição Federal, esse tributo será exigido conforme os critérios de
generalidade, universalidade e progressividade. Em outras palavras, a legislação e os atos
do Executivo referentes ao tema devem cuidar para que o tributo seja cobrado sem
distinções subjetivas. Cumprindo também o princípio constitucional da igualdade, o
mencionado imposto deverá, obrigatoriamente, possuir alíquotas progressivas.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

3.1. Fato Gerador


O Código Tributário Nacional estatui, em seu artigo 43, que o fato gerador do
Imposto de Renda vem a ser a disponibilidade econômica (recebimento efetivo de
acréscimo pecuniário) ou jurídica (registro contábil de crédito de valor a favor do
contribuinte) de:

“I – renda – fruto do trabalho, do capital, ou da combinação de ambos;

II – proventos de qualquer natureza (acréscimos patrimoniais não abrangidos no


conceito acima)”.

“§ 2.º Na hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei


estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de
incidência do imposto referido neste artigo.”

Dessa forma, o Código Tributário Nacional acabou por incluir quaisquer tipos de
aumento do patrimônio da pessoa física ou jurídica como fato gerador do Imposto de
Renda. É justamente esse incremento que constituirá a base de cálculo do imposto.

3.2. Base de Cálculo


A base de cálculo poderá ser apurada de três formas (artigo 44 do Código Tributário
Nacional) sobre o lucro:

•Real: para pessoas físicas, determinando-se pelo somatório de todos os rendimentos


anuais (salários, aplicações financeiras, ganhos na alienação de bens etc.). Para
pessoas jurídicas, o regime de apuração pode ser traduzido como o lucro contábil
(receitas – descontadas as despesas do exercício), ajustado por adições, exclusões ou
compensações prescritas ou autorizadas pela legislação tributária (artigo 6.º do
Decreto-lei n. 1.598/77).

•Arbitrado: se não houver meios de apuração do lucro real, por ausência de escritura
comercial e fiscal, ou por recusa na apresentação de livros e documentos, a
autoridade fazendária poderá estipular (de acordo com critérios razoáveis, por
exemplo, a média histórica do lucro da empresa) o lucro a ser tributado. Trata-se,
pois, de medida que visa proteger o Fisco e evitar fraudes.

•Presumido: utilizada pelas firmas individuais e pessoas jurídicas cuja renda anual
não ultrapasse os lindes legais. Distingue-se do lucro real por não haver a tributação
sobre o efetivo acréscimo patrimonial, mas sim sobre um lucro presumido.

3.3. Recolhimentos
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DIREITO TRIBUTÁRIO

Apesar de ser tributo de apuração anual (podendo ser trimestral para empresas),
tanto pessoas físicas como jurídicas estão obrigadas a fazer antecipações mensais. Para
pessoas físicas, aplica-se a tabela progressiva a seguir:

Base de Cálculo Alíquota Parcela a Deduzir

(R$) (%)

1.058,00 0 0

1.058,00 até 2.115,00 15 R$ 158,70

Acima de 2.115,00 27,5 R$ 423,08

Tabela Progressiva para Cálculo Anual do Imposto de Renda de Pessoa Física para o
Exercício de 2003, Ano-Calendário 2002:

Base de Cálculo Alíquota Parcela a Deduzir

(R$) (%)

12.696,00 0 0

de 12.696,00 até 25.380,00 15 R$ 1.904,40

Acima de 25.380,00 27,5 R$ 5.076,90

Na Declaração de Ajuste, havendo saldo devedor (total das antecipações é inferior


ao devido), deverá ocorrer recolhimento suplementar. Se, por situação inversa, o saldo for
credor, a pessoa física receberá a restituição corrigida pela taxa Selic e a pessoa jurídica
poderá contabilmente compensar o crédito que possui nas antecipações do exercício
seguinte, também com atualização da Selic.

3.4. Alíquotas do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas Tributadas


pelo Lucro Real, Presumido ou Arbitrado
As alíquotas do imposto de renda em vigor desde o ano-calendário 1996 são as
seguintes:

8
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DIREITO TRIBUTÁRIO

a) 15% (quinze por cento) sobre o lucro real, presumido ou arbitrado apurado pelas
pessoas jurídicas em geral, seja comercial ou civil o seu objeto;

b) 6% (seis por cento) sobre o lucro inflacionário acumulado até 31 de dezembro de


1987, das empresas concessionárias de serviços públicos de energia elétrica e
telecomunicações, das empresas de saneamento básico e das empresas que exploram a
atividade de transporte coletivo de passageiros, concedida ou autorizada pelo Poder
Público e com tarifa por ele fixada, realizado no período de apuração (trimestral ou anual)
do imposto.

3.5. Adicional
A parcela do lucro real que exceder ao resultado da multiplicação de R$ 20.000,00
(vinte mil reais) pelo número dos meses do respectivo período de apuração sujeita-se à
incidência do adicional, à alíquota de 10% (dez por cento). Também se encontra sujeita ao
adicional a parcela da base de cálculo estimada mensal, no caso das pessoas jurídicas que
optaram pela apuração do imposto de renda sobre o lucro real anual, presumido ou
arbitrado, que exceder a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Em relação às pessoas jurídicas que optarem pela apuração do lucro presumido ou


arbitrado, o adicional incide sobre a parcela que exceder o valor resultante da multiplicação
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pelo número de meses do respectivo período de apuração.

A alíquota do adicional é única para todas as pessoas jurídicas, inclusive instituições


financeiras, sociedades seguradoras e assemelhadas.

O adicional incide, inclusive, sobre os resultados tributáveis de pessoa jurídica que explore
atividade rural (Lei n.º 9.249, de 1995, artigo 3º, § 3.º). No caso de atividades mistas, a
base de cálculo do adicional será a soma do lucro real apurado nas atividades em geral com
o lucro real apurado na atividade rural.

3.4. Lançamento
O lançamento do Imposto sobre a Renda decorre da declaração que o contribuinte
fornece ao Fisco sobre o fato gerador do tributo.

Em face dessa determinação, pergunta-se: haveria lançamento por declaração (artigo


147 do Código Tributário Nacional) ou por homologação (artigo 150 do Código Tributário
Nacional)?

Resposta: Essa questão é controversa na doutrina e na jurisprudência, porquanto


influi no termo inicial da contagem do prazo decadencial. Pode-se afirmar, no entanto, que
a corrente mais forte manifesta-se a favor do artigo 150 do Código Tributário Nacional
(lançamento por homologação).

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITOS HUMANOS
Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal)
Título I - Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução
Penal

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DIREITOS HUMANOS

Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal)

Título I - Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução Penal

Profs.: Luiz Antônio de Souza

Vitor Frederico Kümpell

1. INTRODUÇÃO

Examinando tudo o que já foi dito nos módulos anteriores, e tendo por base a
Constituição brasileira, induvidoso concluir que repousa no Estado o grande artífice da
construção, implementação, observância, defesa e respeito aos direitos humanos
fundamentais. Flávia Piovesan, a respeito, destaca que a consolidação da cidadania é
responsabilidade do Estado, responsabilidade essa derivada do texto constitucional, que
adotou, amplamente, a concepção contemporânea de cidadania.16

Investigando o perfil constitucional do Estado brasileiro, segundo Flávia Piovesan


“a ordem constitucional de 1988 representa um duplo valor simbólico: é ela o marco
jurídico da transição democrática, bem como da institucionalização dos direitos humanos
no país. A Carta de 1988 representa a ruptura jurídica com o regime militar autoritário que
perpetuou no Brasil de 1964 a 1985”.

Com a Constituição de 1988, revela, ocorreu uma “redefinição do Estado brasileiro,


bem como dos direitos fundamentais. Extrai-se do sistema constitucional de 1988 os
delineamentos de um Estado intervencionista, voltado ao bem-estar social. O Estado
constitucional democrático de 1988 não se identifica com um Estado de direito formal,
reduzido a simples ordem de organização e processo, mas visa a legitimar-se como um
Estado de justiça social, concretamente realizável. O texto constitucional de 1988
confirma, nesse sentido, o esgotamento do modelo liberal de Estado, estabelecendo um
Estado de bem-estar social, intervencionista e planejador”. 17

Em seu artigo 1.º, a Carta Constitucional de 1988 elege princípios fundamentais a


nortearem o Estado brasileiro, concebido como Estado Democrático de Direito, dentre eles,
nos incisos II e III, a cidadania e a dignidade da pessoa humana. Esses princípios são
pilares fundamentais a orientar todo o sistema, somente atingíveis com a observância e o
respeito aos direitos humanos fundamentais.

16
Temas de Direitos Humanos. 1.ª ed. Max Limonad, 1998. p. 205-229.
17
Op. cit. p. 206 e 226-227.
1
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DIREITOS HUMANOS

Portanto, a implementação, a observância e o respeito aos direitos humanos


fundamentais são mandamentos constitucionais, e tal é tarefa sobretudo do Estado,
imprescindível e necessária para a consolidação da cidadania e dignidade da pessoa
humana.

A propósito, no que toca à cidadania, a Carta Constitucional adota a concepção


contemporânea, reconhecendo a indivisibilidade e a universalidade dos direitos humanos,
bem como o “processo de especificação do sujeito de direito”. Quanto ao sujeito de direito,
“deixa de ser visto em sua abstração e generalidade e passa a ser concebido em sua
concretude, em suas especificidades e peculiaridades”.18

Em apertada síntese, Flávia Piovesan conclui: “A responsabilização do Estado na


consolidação da cidadania está condicionada ao fortalecimento de estratégias que sejam
capazes de implementar os três elementos essenciais à cidadania plena, quais sejam, a
indivisibilidade e universalidade dos direitos humanos e o processo de especificação do
sujeito de direito”.19

Essa tarefa do Estado deve estar presente em todos os momentos, em todas as


situações e, especialmente, numa oportunidade muito singular, muito específica, em que a
proteção estatal se faz ainda mais exigível: quando o indivíduo estiver cumprindo a pena
resultante de uma condenação ou quando estiver preso provisoriamente.

2. DIREITOS HUMANOS E EXECUÇÃO PENAL

O direito de punir, adverte Miguel Reale Júnior, “se desenrola em três momentos: o
primeiro, quando do mandamento do legislador para que o destinatário da norma se
abstenha de praticar o ato tipificado como crime, sob pena de sanção; o segundo momento,
quando a norma penal é desrespeitada, gerando o direito do Estado à persecução penal, na
busca de dar efetividade à ameaça antes genérica; no terceiro momento, se sobrevier ao fim
do processo penal uma condenação, surge o direito à execução desta pena”.20

A respeito da execução da pena, dispõe o artigo 1.º da Lei de Execução Penal (Lei n.
7.210/84): “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal ...”, ou seja, concretizada definitivamente a pena, deverá ela ser
efetivamente cumprida..

Acontece, porém, que o fato de alguém estar sentenciado em definitivo, cumprindo


pena, não priva tal pessoa dos direitos humanos fundamentais que lhe são inerentes,
exceção feita, obviamente, aos direitos incompatíveis com a situação específica de
indivíduo preso.

18
Idem, ibidem. p. 227-228.
19
Temas de Direitos Humanos. p. 229.
20
O Direito de Liberdade no Processo Penal. Revista Cejap, set. 2000, p. 27.
2
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DIREITOS HUMANOS

Com efeito, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, em seu


Preâmbulo, por um lado, proclama que “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da
liberdade, da justiça e da paz no mundo”. Em seu artigo I, em seguida, proclama: “Todas as
pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. No Preâmbulo do Pacto de San
José da Costa Rica, por outro lado, encontramos: “os direitos essenciais da pessoa humana
não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter
como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção
internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o
direito interno dos Estados americanos”.

Assim, como já enfatizamos, os direitos fundamentais, essenciais, são conferidos ao


indivíduo tão-somente em razão da sua condição de pessoa humana, devendo ser
observados inapelavelmente; portanto, o fato de encontrar-se preso não o afasta dessa gama
de direitos, exceção feita aos direitos incompatíveis com essa condição.

A pessoa presa logicamente sofre restrições de alguns direitos fundamentais, tais


como a liberdade de locomoção (artigo 5.º, inciso XV, da Constituição Federal), o livre
exercício de qualquer profissão (artigo 5.º, inciso XIII, da Constituição Federal), a
inviolabilidade domiciliar em relação à cela (artigo 5.º, inciso XI, da Constituição Federal);
todavia ficam intactos inúmeros outros: direito à dignidade humana (artigo 1.º, inciso III,
da Constituição Federal), direito à vida, segurança e propriedade (artigo 5.º, caput, da
Constituição Federal), direito à integridade física e moral (artigo 5.º, incisos III, V, X e
LXIV, da Constituição Federal).

A tendência constitucional contemporânea, sabe-se, é a de conferir especial relevo


aos direitos humanos, concebidos como fundamentais e indissociáveis da plena realização
da pessoa humana. Essa escala de valores adotada pelas Cartas Constitucionais, coloca o
ser humano como figura central; daí por que a limitação de direitos do indivíduo deve estar
reservada a situações específicas. Não pode, todavia, essa limitação atingir, afetar, violar a
dignidade da pessoa humana, princípio fundamental a nortear todo o sistema constitucional
brasileiro.

Assim, embora preso, o indivíduo deve ter respeitada a sua integridade física e
moral, bem como a sua dignidade. Luiz Vicente Cernicchiaro e Paulo José da Costa Junior
acentuam que “o conceito e o processo de execução, de modo algum, podem arranhar a
dignidade do homem, garantida contra qualquer ofensa física ou moral. Lei que
contrariasse esse estado, indiscutivelmente seria inconstitucional”.21

Importante papel, nesse sentido, está reservado ao Estado. Cândido Furtado Maia
Neto adverte: “Um Estado somente é democrático quando as autoridades públicas
constituídas (legisladores, polícia, promotores de justiça, juízes de direito e servidores
penitenciários), que protagonizam o sistema de administração de justiça, aplicarem o
Direito Penal-Penitenciário resguardando os princípios gerais de Direitos Humanos do
processado e do condenado preso”.22

21
Direito Penal na Constituição. 3.ª ed. São Paulo: RT, 1995. p. 144.
22
Direitos Humanos do Preso. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 1-2.
3
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DIREITOS HUMANOS

Entretanto, não há dúvida de que cabe ao Poder Judiciário, principalmente, o papel


de garantidor dos direitos e liberdades fundamentais, especialmente das pessoas
condenadas e presas. Assim Celso Luiz Limongi assevera: “No Estado Democrático de
Direito, portanto, com a divisão dos Poderes, cumpre principalmente ao Poder Judiciário
ser o garante, o instrumento principal de defesa da cidadania e dos direitos humanos
fundamentais, contra o arbítrio dos Poderes Executivo, Legislativo e do próprio Judiciário.
É o Judiciário o bastião moral e legal que protege o indivíduo contra o arbítrio do Estado.
E os juízes precisam estar bem ciosos dessa grave responsabilidade”.23

Nesse sentido, ainda, as precisas observações de Alberto Silva Franco: “Urge que o
juiz, além do normal exercício da jurisdição penal, faça valer, efetivamente, os direitos
fundamentais e garantias constitucionais do cidadão, no campo penal e processual penal,
todas as vezes em que tais direitos ou garantias suportem ou estejam em vias de suportar
algum tipo de lesão. Urge, ainda, que o Juiz Penal tome consciência de que, além da
jurisdição penal, exerce também a jurisdição constitucional das liberdades e que, por isso,
não pode compactuar com nenhum agravo à Constituição Federal”.24

Apesar de todas as considerações anteriores, a situação carcerária no país é


extremamente grave. As violações aos direitos humanos ocorrem em profusão, existindo
uma profunda e triste discrepância entre os ditames legais, os escritos doutrinários e a
realidade.

Com efeito, a superpopulação carcerária, a falta de condições mínimas de higiene,


segurança e saúde, além de violações sexuais às quais estão os presos sujeitos, sem contar a
violência a que estão expostos, tanto por parte dos funcionários como de outros presos,
uma realidade corrente no país, fazem com que os indivíduos cumpram pena em condições
degradantes, indignas, desumanas, configurando uma das mais sérias violações aos direitos
humanos. Diante dessa triste realidade, cumpre às autoridades concretizar aquilo que o
texto constitucional, os diplomas internacionais e a Lei de Execução Penal determinam, o
que é um enorme desafio a ser vencido.

3. REGRAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS DOS


RECLUSOS

No Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966) encontramos algumas


regras que traduzem direitos das pessoas presas. Desta forma, o Pacto dispõe em seu artigo
7.º: “Ninguém poderá ser submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes”. Em seguida, em seu artigo 9.º, temos: “Toda pessoa tem
direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado

23
Direitos Humanos e Execução Penal. In: Direitos Humanos – Visões Contemporâneas. publicação da Associação Juízes para a
Democracia, 2001. p. 117.
24
Lei de Crimes Hediondos. Fascículos de Ciências Penais. Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor, 1992, ano 5, vol. 5, p. 55. Apud
STEINER, Sylvia Helena de Figueiredo. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos e sua Integração ao Processo Penal
Brasileiro. São Paulo: RT, 2000. p. 134.
4
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DIREITOS HUMANOS

arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos
previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela estabelecidos”.

Ainda nesse Pacto, em seu artigo 10, encontramos outras disposições atinentes ao
tema. No item 1 está disposto: “Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada
com humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana”. No item 2a,
encontramos: “As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com sua
condição de pessoas não condenadas”. No item 2b, por sua vez: “As pessoas jovens
processadas deverão ser separadas das adultas e julgadas o mais rápido possível”.
Finalmente, no item 3: “O regime penitenciário consistirá em um tratamento cujo objetivo
principal seja a reforma e reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinqüentes juvenis
deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e
condição jurídica”.

Na Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, conhecida como Pacto de


San José da Costa Rica, encontramos disposições similares. Confira-se o artigo 5.º, in
verbis:

“Artigo 5.º – Direito à integridade pessoal

1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos
ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à
dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias


excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas
não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e
conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento.

5
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DIREITOS HUMANOS

6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a


readaptação social dos condenados.”

Além dessas disposições, a Organização das Nações Unidas prevê regras mínimas
para o tratamento dos reclusos, além do instrumento denominado Princípios Básicos para o
Tratamento dos Reclusos (Resolução n. 45/111, de 14.12.1990), que configuram regras
mínimas e princípios a serem observados na organização penitenciária e no tratamento dos
presos.

Um dos princípios básicos a ser observado é o da igualdade, na medida em que o


instrumento normativo contempla: “as regras que se seguem devem ser aplicadas,
imparcialmente. Não haverá discriminação alguma com base em raça, cor, sexo, língua,
religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, meios de fortuna, nascimento
ou outra condição. Por outro lado, é necessário respeitar as crenças religiosas e os preceitos
morais do grupo a que pertença o recluso”.

O instrumento normativo, ainda, prevê regras básicas com respeito à separação dos
reclusos em categorias. São elas, em síntese:

• na medida do possível, homens e mulheres devem estar detidos em


estabelecimentos separados; nos estabelecimentos que recebem homens e
mulheres, a totalidade dos locais destinados às mulheres será completamente
separada;

• presos preventivos devem ser mantidos separados dos condenados;

• pessoas presas por dívidas, ou outros reclusos do foro civil, devem ser mantidas
separadas de reclusos do foro criminal;

• os jovens reclusos devem ser mantidos separados dos adultos.

Além dessas, outras regras existem prevendo as condições dos estabelecimentos com
relação à higiene pessoal, vestuário, exercício e desporto, serviços médicos, informação e
direito de queixa dos reclusos, contatos com o mundo exterior, biblioteca e religião. E, por
fim, está estabelecido um sistema de disciplina e sanções.

4. DO OBJETO E DA APLICAÇÃO DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

Abordando especificamente o tema objeto de nosso estudo, vamos nos pautar,


essencialmente, pelo disposto nos artigos 1.º a 3.º da Lei de Execução Penal (Lei n.
7.210/84), trazendo, quando necessário, os influxos constitucionais pertinentes.

4.1. Natureza, Finalidade e Objeto da Execução Penal


6
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DIREITOS HUMANOS

De acordo com o artigo 1.º da Lei de Execução Penal: “A execução penal tem por
objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado”.

A execução penal, portanto, é uma atividade complexa, tendo, tal atividade, reflexos
no Direito Penal, no Direito Processual Penal e no Direito Administrativo.25

Atendendo, especialmente, as disposições contidas em instrumentos internacionais,


que contemplam que a finalidade da pena deve ser a reinserção social do condenado26, bem
como a orientação constitucional, no sentido de que a República Federativa do Brasil tem
como fundamento a cidadania e a dignidade da pessoa humana, a Lei de Execução Penal
dispõe, no artigo 1.º, que o objetivo da execução é “proporcionar condições para a
harmônica integração social do condenado”.

Com essa visão, perfeitamente adaptada ao texto constitucional, a execução da pena


privativa de liberdade não tem, somente, finalidade retributiva e preventiva, mas, sim, em
especial, a finalidade de reintegrar o condenado na comunidade. E, se assim é, “resulta
claro que não se trata apenas de um direito voltado à execução das penas e medidas de
segurança privativas de liberdade, como também às medidas assistenciais, curativas e de
reabilitação do condenado, o que leva à conclusão de ter-se adotado em nosso direito
positivo o critério da autonomia de um Direito de Execução Penal ao invés do restrito de
Direito Penitenciário”.27

No tocante à finalidade da pena, portanto, pode-se afirmar que a Lei de Execução


Penal “adotou os postulados da Nova Defesa Social, aliando a esta a prevenção criminal e
a humanização da execução da pena e afastando o ‘tratamento’ reformador, na esteira das
mais recentes legislações a respeito da matéria”.28

A Escola do Neodefensismo Social ou a Nova Defesa Social é “um movimento de


política criminal humanista fundado na idéia de que a sociedade é apenas defendida à
medida que se proporciona a adaptação do condenado ao meio social (teoria
ressocializadora)”.29 Todavia, “embora o pensamento dominante se funde sobre a
ressocialização, é preciso nunca esquecer que o direito, o processo e a execução penal
constituem apenas um meio para a reintegração social, indispensável, mas nem por isso o
de maior alcance, porque a melhor defesa da sociedade se obtém pela política social do
Estado e pela ajuda pessoal”.30
25
MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 8.ª ed. São Paulo: Atlas, 1997. p. 25 e 34: “Realmente, a natureza jurídica da
execução penal não se confina no terreno do Direito Administrativo e a matéria é regulada à luz de outros ramos do ordenamento
jurídico, especialmente o Direito Penal e o Direito Processual. Há uma parte da atividade da execução que se refere especificamente
a providências administrativas e que fica a cargo das autoridades penitenciárias e, ao lado disso, desenvolve-se a atividade do Juízo
de execução ou atividade judicial da execução”. Diante disso, pode-se afirmar que “a execução penal é uma atividade complexa,
que se desenvolve nos planos jurisdicional e administrativo”.
26
Encontramos no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966), no art. 10, item 3, que: “O regime penitenciário
consistirá em um tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinqüentes juvenis
deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição jurídica”; encontramos ainda, na
Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, em seu art. 5.º, item 6:
“As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados”.
27
MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. cit., p. 27.
28
MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. cit. p. 34.
29
Idem, ibidem. p. 30.
30
CUNHA LUNA, Everardo da. Apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Idem, ibidem.
7
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DIREITOS HUMANOS

Assim, duas finalidades sobressaem do artigo 1.º da Lei de Execução Penal,


configurando o objeto da execução penal: “efetivar as disposições da sentença ou decisão
criminal” e “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado”. Portanto, as penas e medidas de segurança devem realizar “a proteção dos bens
jurídicos e a reincorporação do autor à comunidade”, no que se entrevê a adoção dos
princípios da Escola da Nova Defesa Social.31

4.2. Princípios Observados no Processo de Execução


O artigo 2.º da Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) estabelece: “A jurisdição
penal dos juízes ou tribunais da justiça ordinária, em todo o território nacional, será
exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Processo
Penal”.

4.2.1. Princípio da legalidade


O primeiro princípio que exsurge do dispositivo é o denominado princípio da
legalidade, que a doutrina também tem chamado princípio de legalidade da execução
penal. Por esse princípio, “todas as medidas de execução penal aplicadas pelo juiz da
execução devem estar previstas em lei, sob pena de caracterização de excesso ou desvio de
execução”.32

Assim, é possível impor ao condenado todas as sanções penais e restrições


estabelecidas em lei; todavia não se admite qualquer limitação que não esteja prevista. Isso
se dá, pois “com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a execução da pena,
além de se constituir numa atividade administrativa, adquiriu status de garantia
constitucional, como se depreende do artigo 5.º, XXXIX, XLVI, XLVII, XLVIII e XLIX,
tornando-se o sentenciado sujeito de relação processual, detentor de obrigações, deveres e
ônus, e, também, titular de direitos, faculdades e poderes”.33

Aliás, e para que não reste dúvida, consta da Exposição de Motivos, no item 19, que
o princípio da legalidade “domina o corpo e o espírito da lei, de forma a impedir que o
excesso ou o desvio da execução comprometam a dignidade e a humanidade do Direito
Penal”.

4.2.2. Princípio da jurisdicionalidade


Esse princípio também é extraído do artigo 2.º, uma vez que o dispositivo refere-se à
“jurisdição penal” e ao “processo de execução”; tal princípio impõe que, em toda execução

31
MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. cit. p. 33.
32
MARCHI DE QUEIROZ, Carlos Alberto. Resumo de Direitos Humanos e da Cidadania. São Paulo: Iglu, 2001. p. 130.
33
MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. cit. p. 36.
8
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DIREITOS HUMANOS

penal, as medidas, limitações e decisões devem ser tomadas e os conflitos decididos pela
autoridade judiciária.

Portanto, o dispositivo contempla a “jurisdicionalização da execução penal”, motivo


pelo qual é exigida a intervenção do juiz na execução da pena, sem prejuízo de outras
providências, de caráter administrativo, cabíveis na espécie. “Ao passar em julgado a
sentença condenatória, surge entre o condenado e o Estado uma complexa relação jurídica,
com direitos, expectativas de direitos e legítimos interesses, de parte a parte, inclusive no
que se refere aos incidentes da execução e, como em qualquer relação jurídica, os conflitos,
para serem dirimidos, demandam a intervenção jurisdicional”.34

Julio Fabbrini Mirabete acentua: “A justiça penal não termina com o trânsito em
julgado da sentença condenatória, mas se realiza, principalmente, na execução. É o poder
de decidir o conflito entre o direito público subjetivo de punir (pretensão punitiva ou
executória) e os direitos subjetivos concernentes à liberdade do cidadão. Esse conflito não
se resume aos clássicos incidentes da execução, mas se estabelece também em qualquer
situação do processo executório em que se contraponham, de um lado, os direitos e deveres
componentes do status do condenado, delineados concretamente na sentença condenatória
e, de outro, o direito de punir do Estado, ou seja, de fazer com que se execute a sanção
aplicada na sentença”.35

4.2.3. Princípio do devido processo legal


A execução, já vimos, visa tornar efetiva a sanção concretizada na sentença
condenatória. Tal se dá por meio de um conjunto de atos processuais – cujo objetivo é o
cumprimento efetivo da pena pelo condenado – portanto, há processo na execução.
Todavia, tem-se entendido que a execução penal não é uma ação executiva penal
autônoma, mas, sim, integra o processo penal condenatório como sua última fase. A
execução penal, portanto, é uma fase do processo penal.36

Conclui Julio Fabbrini Mirabete: “Deve-se utilizar, portanto, a expressão processo


de execução para designar o conjunto de atos jurisdicionais necessários à execução das
penas e medidas de segurança como derradeira etapa do processo penal”.37

Se há processo de execução, logicamente devem ser observadas todas as garantias


incidentes no processo penal e cabíveis in casu, quais sejam: o contraditório e a ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, o juiz natural, a publicidade dos atos
processuais, o duplo grau de jurisdição (veja o artigo 197 da Lei de Execução Penal, que
prevê o recurso de agravo, sem efeito suspensivo, das decisões proferidas pelo Juízo).

34
BERGAMINI MIOTTO, Arminda . Curso de ciência penitenciária. vol. 3. São Paulo: Saraiva, 1975. p. 701, Apud MIRABETE,
Julio Fabbrini. Op. cit. p. 37.
35
MIRABETE, Julio Fabbrini.Op. cit. p. 37.
36
JARDIM, Afrânio Silva. Reflexão Teórica sobre o Processo Penal. Justitia 127/99. Apud MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. cit. p.
39-40.
37
MIRABETE, Julio Fabbrini, Op. cit. p. 40.
9
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DIREITOS HUMANOS

4.3. Preservação de Direitos


Na seqüência, no artigo 3.º da Lei de Execução Penal, encontramos: “Ao condenado
e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”.

Como destacamos anteriormente, o artigo 3.º, caput, diz textualmente que o fato de
alguém estar sentenciado definitivamente, cumprindo pena, ou mesmo preso
provisoriamente, não priva tal pessoa dos direitos humanos fundamentais que lhe são
inerentes, exceção feita, é claro, aos direitos incompatíveis com a situação específica de
indivíduo preso. Isso decorre da Carta Constitucional, não havendo possibilidade de
contraposição.

Examinando o texto constitucional e outros diplomas legais, encontramos os


seguintes direitos que permanecem intactos, dentre outros:

1. o direito à vida (art. 5.º, caput, da CF);

2. o direito à segurança (art. 5.º, caput, da CF);

3. o direito à igualdade (art. 5.º, caput, da CF);

4. o direito à propriedade (art. 5.º, caput, e incs. XXII, XXVII, XXVIII, XXIX e
XXX, da CF);

5. o direito à integridade física e moral (art. 5.º, incs. III, V, X e XLIV, da CF; e art.
38 do CP);

6. o direito à liberdade de consciência e de convicção religiosa (art. 5.º, incs. VI,


VII e VIII, da CF; e art. 24 da LEP);

7. o direito à instrução (art. 208, inc. I e § 1.º, da CF; e arts. 17 e 21 da LEP) e de


acesso à cultura (art. 215 da CF);

8. o direito ao sigilo de correspondência e das comunicações telegráficas, de dados


e telefônicas (art. 5.º, inc. XII, da CF; e art. 41, inc. XV, da LEP);

9. o direito de representação e de petição aos Poderes Públicos, em defesa de


direito ou contra abusos de autoridade (art. 5.º, inc. XXXIV, "a", da CF; e art. 41,
inc. XIV, da LEP);

10. direito à assistência judiciária (art. 5.º, inc. LXXIV, da CF; e arts. 15 e 16 da
LEP);

11. direito à indenização por erro judiciário ou por prisão além do tempo fixado na
sentença (art. 5.º, inc. LXXV, da CF).38

38
MIRABETE, Julio Fabbrini.Op. cit. p. 44-45.
10
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DIREITOS HUMANOS

Examinando a Lei de Execução Penal, encontramos ainda outros direitos conferidos


ao preso, entre muitos aqui não destacados:

1. direito à alimentação, vestuário e alojamento, ainda que tenha o condenado o


dever de indenizar o Estado, na medida de suas possibilidades, pelas despesas
com ele feitas durante a execução da pena (arts. 12, 13, 41, inc. I, e 29, § 1.º, "d",
da LEP);

2. direito a cuidados e tratamento médico-sanitário em geral, conforme a


necessidade, ainda com os mesmos deveres de ressarcimento (art. 14, § 2.º, da
LEP), garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do
internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou
dependentes, a fim de acompanhar o tratamento (art. 43 da LEP);

3. direito ao trabalho remunerado (art. 39 do CP; e arts. 28 a 37 e 41, inc. II, da


LEP);

4. direito à previdência social, embora com forma própria (art. 43 da LOPS e arts.
91 a 93 do respectivo regulamento; art. 39 do CP; e art. 41, inc. III, da LEP);

5. direito à igualdade de tratamento, salvo quanto à individualização da pena (art.


41, inc. XII, da LEP);

6. direito à proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso


e a recreação (art. 41, inc. X, da LEP);

7. direito à visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias


determinados (art. 41, inc. X, da LEP).39

4.4. Garantia da Isonomia de Tratamento


Por fim, o artigo 3.º, em seu parágrafo único, emenda: “Não haverá qualquer
distinção de natureza racial, social, religiosa ou política”.

Esse dispositivo, vê-se, nada mais faz que reconhecer o princípio da igualdade
disposto no artigo 5.º, caput, da Constituição Federal, proibindo qualquer discriminação de
natureza racial, social, religiosa ou política, aqui também enquadrável a discriminação em
razão de opção sexual, que não tem guarida, mesmo nas prisões.

39
MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. cit. p. 44-45.
11
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Abuso de Autoridade – Lei n. 4.898/65

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Abuso de Autoridade – Lei n. 4.898/65

Luiz Fernando Vaggione

1. FIGURAS PENAIS

Examinaremos, a seguir, as figuras típicas que mais se configuram na prática.

Lembramos, desde logo, que os crimes de abuso de autoridade são, eminentemente,


subsidiários. Serão absorvidos quando forem elemento constitutivo de crime autônomo.
Para Oscar Xavier de Freitas, que integrou o Ministério Público do Estado de São Paulo, a
Lei n. 4.898/65 surgiu para punir abusos de pequeno potencial, de menor comoção social.
Para o citado autor, os delitos mais graves encontram no sistema codificado um
instrumento mais eficaz, porque exigem uma investigação mais demorada para efetivar a
repressão.

1.1. Artigo 3.º


Segundo o art. 3.º da Lei n. 4.898/65, constitui abuso de autoridade qualquer
atentado contra:

• Alínea “a”: liberdade de locomoção.

Ao analisarmos a presente figura penal é imprescindível ressaltarmos a existência de


outro tipo penal aplicável à restrição da liberdade individual. Estamos nos referindo ao
previsto no art. 4.º, alínea “a”, da própria Lei de Abuso de Autoridade. Esse delito, quando
configurado, absorverá a mesma alínea do artigo precedente, porquanto considerado
especial em relação à infração ora estudada. Nele, a restrição à liberdade de locomoção
ocorrerá quando a autoridade ordenar ou executar medida privativa da liberdade
individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder. Logo, se a restrição à
liberdade individual decorrer de ordem ou execução de medida privativa da liberdade
individual, aplica-se o art. 4.º, “a”.

Utilizaremos a alínea “a” do artigo 3.º quando o atentado à liberdade de locomoção


revestir-se de outra forma, ou seja, quando a liberdade de locomoção não decorrer de
prisão ilegal ou com abuso de poder. Como exemplo, lembramos o comportamento de
autoridade que, ciente de sua arbitrariedade, visando perseguir determinado indivíduo,

1
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

convoca-o e o mantém por várias horas em repartição pública, privando-o de sua liberdade
de locomoção.

Vejamos a jurisprudência:

“Ainda que não chegue a efetivar-se ilegal recolhimento ao cárcere, pratica abuso de
autoridade o militar que obriga a vítima a acompanhá-lo a diversos quartéis, com o
propósito de puni-la por alegado desrespeito à sua pessoa” (TACrimSP, rel. Valentim Silva,
JUTACrim 23/198).

Nem toda a restrição à liberdade de locomoção será considerada abusiva. Suponha


que a autoridade policial de uma pequena cidade encontre vagando pelas ruas um
psicopata. Com os objetivos de preservar sua integridade física, identificar seus pais ou
responsáveis legais e garantir a ordem pública, a autoridade poderá entender que, não
havendo um serviço público apto a atendê-lo de imediato, é inevitável mantê-lo nas
dependências da Delegacia de Polícia – certamente não o colocará numa cela com outros
presos – pelo tempo estritamente necessário ao seu encaminhamento à família, ao
responsável legal, ou para um hospital. A mesma solução pode ser necessária em relação a
um ébrio que esteja pondo em risco a sua vida e a de outras pessoas, sem que a restrição à
liberdade individual configure um abuso de poder.

• Alínea “b”: inviolabilidade do domicílio.

Segundo o art. 5.º, inc. XI, da Constituição Federal: “A casa é asilo inviolável do
indivíduo, ninguém podendo nela penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso
de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial”.

De acordo com o dispositivo constitucional, só se pode entrar na casa de outrem:

- durante o dia ou à noite, em caso de flagrante, desastre, ou para prestar socorro;

- exclusivamente durante o dia, para cumprir ordem judicial.

O conceito de domicílio para a aplicação da Lei de Abuso de Autoridade é o previsto


no § 4.º do Código Penal, isto é, qualquer compartimento habitado, aposento ocupado de
habitação coletiva, compartimento não-aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade (o escritório do advogado, o consultório do médico, do dentista, por exemplo).
Não se compreendem na expressão "casa", segundo o § 5.º do art. 150 do Código Penal,
hospedaria, estalagem, as partes comuns de habitação coletiva, taverna, casa de jogo e
outras do mesmo gênero. Compartimentos abertos ao público também não são protegidos
pela lei penal, tais como bares, cinemas, restaurantes, entre outros. Inaplicável é o
conceito de domicílio previsto no art. 31 do Código Civil.

Há divergência acerca da aplicação da presente figura penal quando a violação do


domicílio é praticada por funcionário público. Há conflito aparente de normas entre o art.
3.º, “b”, da Lei n. 4.898/65 e o art. 150, § 2.º, do Código Penal. Ressalte-se, desde logo,
que a violação de domicílio prevista no Código Penal, mesmo em se considerando a forma
2
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

agravada, é punida com uma sanção privativa de liberdade mais branda (de um mês e dez
dias a quatro meses de detenção ou multa). Para Gilberto e Vladimir Passos de Freitas, não
se aplica o art.150, § 2.°, do Código Penal, mas sim o art.3.º, “b”, da Lei n. 4.898/65. A lei
especial é mais abrangente em relação à sanção prevista no Código Penal e, também,
elevou o máximo da pena privativa de liberdade. Aplica-se, pois, o princípio da
especialidade. Assim, todo aquele que, no exercício de cargo, emprego ou função pública,
praticar violação de domicílio, estará incurso no art. 3.º, “b”, da Lei n. 4.898/6540. Para Rui
Stoco, no entanto, deve prevalecer o art.150, § 2.º, do Código Penal, pois nele o abuso de
poder constitui circunstância legal específica41.

A violação de domicílio será absorvida, quando for crime-meio para a prática de


outro abuso de poder. Poderíamos citar a invasão de um domicílio para prender ilegalmente
uma pessoa, por exemplo. Neste exemplo, aplica-se o princípio da consunção.

• Alínea “c”: sigilo da correspondência.

Artigo 5.º, inc. XII, da Constituição Federal: “É inviolável o sigilo da


correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal”.

Frise-se que a proteção constitucional é mais ampla, pois assegura não só o sigilo da
correspondência, mas, também, o das comunicações telegráficas, de dados e telefônicas.

A alínea “c” do artigo 3.º tipifica, no entanto, exclusivamente, a violação do sigilo


da correspondência escrita (epístola ou carta). A violação da comunicação telefônica é
punida na forma do art. 10 da Lei n. 9.296/96 (reclusão de dois a quatro anos e multa).

Há casos nos quais a autoridade pode ler a correspondência alheia, sem que esse
comportamento configure abuso de poder. A garantia constitucional do sigilo da
correspondência e a figura penal em estudo não podem servir de escudo para a prática de
ilícitos penais, isto é, contra a coletividade. Vejamos algumas hipóteses:

a) Nos estados de defesa e de sítio podem ser impostas restrições ao sigilo da


correspondência, nos termos do art.136, § 1.º, inc. I, “b”, e do art. 139, inc. III,
respectivamente, ambos da Constituição Federal.

b) No caso de carta aberta, porquanto demonstra o desinteresse do remetente em


manter o conteúdo em segredo.

c) Em relação à correspondência dos presos. Sabe-se que é direito do preso o


contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros
meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes (art. 41, inc. XV,
da Lei n. 7.210/84). Tal direito, entretanto, pode ser suspenso ou restringido mediante ato
40
Abuso de Autoridade. 8.ª ed. São Paulo: RT, 1999. p. 37.
41
Abuso de Autoridade. In: Leis Penais Especiais e sua Interpretação Jurisprudencial. 7.ª ed. São Paulo: RT, 2001. p. 8.

3
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

motivado do diretor do estabelecimento penal (parágrafo único do art. 41 da Lei n.


7.210/84). A manutenção da ordem e da segurança do estabelecimento penitenciário poderá
levar a autoridade a determinar a abertura das correspondências dos presos (STF, HC n.
70.814-5, rel. Min. Celso de Melo). No entanto, a leitura é vedada quando a
correspondência for dirigida ao Promotor de Justiça ou ao Juiz de Direito (Portaria n. 3, de
22.3.1983, da Coordenadoria dos Estabelecimentos Penais do Estado de São Paulo –
Coespe).

• Alínea “i”: incolumidade física.

Consiste em toda ofensa praticada pela autoridade contra o indivíduo, sendo


indiferente que a violência não tenha deixado vestígios. A violência pode consistir em
maus-tratos, nas vias de fato, nas lesões corporais ou mesmo na supressão da vida.

Há controvérsia acerca da configuração do delito na hipótese de violência moral.


Sustenta-a Vicente Sabino Júnior, citado por Gilberto e Vlademir Passos de Freitas, na
obra já mencionada: “... a violência a que alude o Código Penal, em seu art. 322, não
obstante a opinião contrária de Bento de Faria, compreende o fato abusivo, que pode ser
material ou moral. O que se exige, na lição de Manzini (Tratado, vol. V, n. 1.354), é que
desse fato resulte um dano para terceiros e descrédito para a Administração Pública ...”.
Podemos citar como exemplos, o disparo de armas de fogo com o intuito de atemorizar a
vítima, o emprego de hipnotismo etc.

“A Lei n. 4.898/65, cuidando dos casos de abuso de autoridade, se tipifica, não só


quando ocorre a vis corporalis, mas, também, a violência moral” (TACrimSP, rel. Paula
Bueno, RT 398/298).

No caso de ser o sujeito passivo criança ou adolescente, incidirá a Lei n. 9.455/97


(art. 1.°, c.c. o § 4.°, inc. II). Essa lei revogou, expressamente, o art. 233 do Estatuto da
Criança ou Adolescente (Lei n. 8.069/90).

A propósito da Lei de Tortura (Lei n. 9.455/97), sustenta Rui Stoco que o aludido
diploma revogou a alínea “i” do art. 3.º e a alínea “b” do art. 4.º, ambos da Lei de Abuso de
Autoridade42. Não podemos concordar inteiramente com o ilustre autor. A tortura exige
finalidade específica, ou seja, só se configura se o agente visar um dos objetivos previstos
nos incisos I e II do art. 1.º. Entre esses fins não encontramos, por exemplo, a mera
maldade, o simples desejo de ver a vítima sofrer. Assim, se o torturador for movido por tais
finalidades, teremos o enquadramento no art. 3.º, “i”, da Lei n. 4.898/65. Na maioria dos
casos – é preciso admitir –, a autoridade visa a obtenção de confissões ou declarações.
Nessas hipóteses aplica-se a Lei de Tortura (art. 1.º, inc. I, “a”, c. c. o § 4.º, inc. I, do
mesmo artigo). Parece-nos mais acertado afirmar que a Lei de Tortura derrogou o art. 3.º,
“i”, da Lei de Abuso de Autoridade (revogação parcial do dispositivo).

Existe outra discussão a ser encarada: teria o art. 3.º, “i”, da Lei n. 4.898/65,
revogado o art. 322 do Código Penal (violência arbitrária)?

42
Op. cit.. p. 31
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Art. 322. Praticar violência, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da pena correspondente à


violência.

No Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo predomina o entendimento que


sustenta a revogação. No Supremo Tribunal Federal, no entanto, há orientação diversa
(RTJ 54/304, 56/131 e 62/266), pois para a Suprema Corte não se confundem os crimes de
violência arbitrária e de abuso de poder. Na violência arbitrária, o sujeito ativo atua sem o
amparo de norma legal. No abuso de autoridade, ao contrário, pressupõe-se a existência de
uma norma legal que autorizava o ato administrativo. O agente excede-se, abusando do
poder que lhe fora confiado.

Se, além do abuso, é cometido outro crime – lesões corporais ou homicídio, por
exemplo – aplica-se o concurso material de infrações (RT 563/396 e JUTACrim 47/207).
Essa é a orientação que predomina na jurisprudência. Há precedente nesse sentido, do
próprio Supremo Tribunal Federal, em voto do Min. Cordeiro Guerra (RTJ 101/595). Há
outra corrente que sustenta o concurso formal. O crime de abuso tem como objetividade
jurídica preservar a credibilidade do serviço público, o respeito à autoridade e os direitos e
garantias constitucionais do cidadão. Tais finalidades são diversas das perseguidas pelo art.
121 ou art. 129 do Código Penal.

• Alínea “j”: direitos e garantias assegurados ao exercício profissional.

A infração penal alcança todas as profissões regulamentadas, visando assegurar o


seu livre exercício.

Trata-se de norma penal em branco. Para a existência do delito é necessária norma


complementar que disponha sobre as garantias e prerrogativas da profissão. Lembremos o
exercício da advocacia, por exemplo. Sua disciplina está na Lei n. 8.906/94 (EAOB).
Também constitui abuso de poder, por exemplo, impedir a visita de Promotor de Justiça à
Cadeia Pública. As garantias e prerrogativas inerentes às suas funções estão disciplinadas
na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei n. 8.625/93). No âmbito do Estado de
São Paulo suas funções, garantias e prerrogativas estão previstas na Lei n. 734/93.

“Pratica abuso de autoridade, violando direitos e garantias legais assegurados ao seu


exercício profissional, o Delegado de Polícia que impede Promotor de Justiça de visitar
Cadeia Pública” (TACrimSP, rel. Renato Mascarenhas, JUTACrim 83/316).

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1.2. Artigo 4.º


Constitui também abuso de autoridade:

• Alínea “a”: ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as


formalidades legais ou com abuso de poder.

O dispositivo revogou o caput do art. 350 do Código Penal (exercício arbitrário ou


abuso de poder).

De acordo com o art. 5.º, inc. LXI, da Constituição Federal: “Ninguém será preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei”.

Três são as formas de prisão admitidas pela Constituição Federal:

a) Flagrante delito, cujas hipóteses e formalidades estão previstas nos artigos 301 e
seguintes do CPP.

b) Prisão administrativa do militar, quando se tratar de crimes propriamente


militares ou de transgressões militares. Trata-se de exceções previstas no inc. LXI
do art.5.º da Constituição Federal. Outras hipóteses excepcionais estão definidas nos
artigos 136, § 3.º, inc. I (estado de defesa) e 139, inciso. II (estado de sítio), ambos
da Constituição Federal.

As demais formas de prisão administrativa foram extintas pela nova Constituição


Federal. O art. 319 do Código de Processo Penal é um desses casos. Referido dispositivo
punia os remissos e omissos em entrar com dinheiro a seu cargo aos cofres públicos e os
desertores estrangeiros. Outra hipótese envolve o art. 69 da Lei n. 6.815/80, que previa a
possibilidade de o Ministro da Justiça decretar a prisão administrativa, por até 90 dias, de
estrangeiro submetido a processo de expulsão. Atualmente, a prisão será requerida ao
Poder Judiciário, isto é, ao Supremo Tribunal Federal.

c) Ordem escrita da autoridade:

I - Do juiz criminal:

1. Prisão temporária (Lei n. 7.960/89).

2. Prisão preventiva (arts. 311 a 317 do CPP).

3. Prisão em virtude de sentença de pronúncia (art. 408, § 1.º, do CPP).

4. Prisão em virtude de sentença condenatória recorrível (art. 393, inc. I, do CPP).

5. Prisão decorrente de sentença condenatória transitada em julgado.


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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

II – Do juiz cível:

1. Prisão por não cumprimento de acordo ou julgado relativo a alimentos (art. 19 da


Lei n. 5.478/68).

2. Prisão civil do depositário infiel. Admitida também em relação ao depositário


infiel, tratando-se de alienação fiduciária. É firme a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal no sentido de ser constitucional a prisão civil do depositário infiel. O Supremo
Tribunal Federal (HC n. 75.306-0/RJ, de 12.9.1997, rel. Min. Moreira Alves) firmou o
entendimento de que, em face da Constituição Federal de 1988, persiste a
constitucionalidade do dispositivo. O art. 7.º, item n. 7, da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, de 1969, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, não pode se
contrapor à permissão do art. 5.°, inc. LXVII, da Constituição Federal, por ser norma
infraconstitucional (tratados e atos internacionais). A referida convenção foi ratificada pelo
Brasil em 25.9. 1992. Veja, no mesmo sentido, o HC n. 72.131.

3. Prisão do falido (arts. 14, inc. VI; 35; e 151, § 3.º, da Lei de Falências – Dec.-lei
n. 7.661/45).

4. Prisão do síndico (art. 69, § 5.º, da Lei de Falências).

A prisão de qualquer pessoa, além de subsumir-se nas hipóteses acima alinhadas,


deve revestir-se das formalidades legais. Essas visam assegurar o respeito às garantias e
direitos constitucionais.

• Prisão para averiguações: cuida-se de medida não amparada na lei e que, assim,
constitui evidente abuso de poder.

• Alínea “b”: submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a


constrangimento não autorizado em lei.

A Constituição Federal, em seu art. 5.º, inc. XLIX, preceitua que é assegurado aos
presos o respeito à integridade física e moral. Como se não bastasse, o inciso III do citado
artigo determina o respeito à dignidade da pessoa humana, como um dos fundamentos do
Estado Democrático de Direito.

O Código Penal, por sua vez, dispõe que o preso conserva todos os direitos não
atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua
integridade física e moral (art. 38).

Idêntica determinação está inserida no art. 40 da Lei de Execução Penal (Lei n.


7.210/84).

Pressupõe-se, para a aplicação da alínea em estudo, que a prisão seja legal. Não
obstante, a autoridade excede-se, praticando ou permitindo que a pessoa detida seja
atingida em sua dignidade. Há, nesse momento, abuso de poder. Citamos, como exemplos,
a exposição forçada do preso à imprensa ou ao público de uma maneira geral; sujeitá-lo ao

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

escárnio coletivo; submetê-lo a trabalho degradante; sujeitá-lo a ofensas à sua honra, entre
outros comportamentos.

Se a vítima do vexame ou do constrangimento for criança ou adolescente, que esteja


sob a guarda ou vigilância da autoridade, o crime será o descrito no art. 232 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, punido com detenção de seis meses a dois anos.

• Alínea “c”: deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente, a prisão ou


detenção de qualquer pessoa.

Segundo o art. 5.º, inc. LXII, da Constituição Federal, a prisão de qualquer pessoa e
o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família
do preso ou à pessoa por ele indicada.

No caso de prisão em flagrante, a comunicação deverá ser efetivada assim que se


terminar de lavrar o respectivo auto. Na hipótese de cumprimento de ordem de prisão,
assim que a custódia se concretizar.

No caso de falta de comunicação de custódia de criança e adolescente, tipifica-se o


delito previsto no art. 231 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

• Alínea “d”: deixar o juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal


que lhe seja comunicada.

Dispõe o art. 5.º, inc. LXV, da Constituição Federal que a prisão ilegal será
imediatamente relaxada pela autoridade judiciária.

Cuidando-se de sujeito passivo criança ou adolescente aplica-se o art. 234 do


Estatuto da Criança e do Adolescente.

Trata-se de crime próprio, porquanto exige do sujeito ativo especial qualidade, de


natureza profissional: ser juiz.

Lembramos que o delito de abuso de poder exige dolo. Assim, só se configurará a


alínea em foco quando o estudo do elemento subjetivo demonstrar que a autoridade agiu
com desejo de vingança, maldade, capricho, arbitrariedade, prepotência, entre outros
comportamentos que ensejam o abuso de poder.

• Alínea “e”: levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar
fiança, permitida em lei.

Segundo o art. 5.º, inc. LXVI, da Constituição Federal, ninguém será levado à prisão
ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança.

O delito em questão poderá ser praticado por juiz ou autoridade policial. À


autoridade policial cabe o arbitramento de fiança, nos casos de detenção e prisão simples,e
ao juiz, nos mesmos casos e nos crimes punidos com reclusão. Recusando ou demorando a

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XXI
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

autoridade policial à concessão de fiança, o preso – ou alguém por ele – poderá prestá-la
perante o juiz, nos termos do art. 335 do Código de Processo Penal.

• Alínea “i”: prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de


segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir
imediatamente ordem de liberdade.

O delito em estudo, inserido pela Lei n. 7.960/89, que instituiu e regulamentou a


prisão temporária, revogou o inciso II do parágrafo único do artigo 350 do Código Penal.

Trata-se de crime doloso, omissivo próprio e que se consuma com a conduta


negativa da autoridade.

Após o lapso de cinco dias ( art. 2.º, § 7.º, da Lei n. 7.960/89) ou de 30 dias (Lei n.
8.072/90), a liberação deverá ser automática, isto é, independentemente de ordem judicial.
Os prazos acima indicados poderão ser prorrogados por iguais períodos. Quanto à pena
privativa de liberdade, ou à medida de segurança, exige-se a ordem do juiz.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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MÓDULO XI

MEDICINA LEGAL
Medicina Forense Aplicada ao Código Penal

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MEDICINA LEGAL

MEDICINA LEGAL

Medicina Forense Aplicada ao Código Penal

1. INTRODUÇÃO

Medicina Forense, aplicada ao Código Penal e ao Código Civil (essa última é


matéria a ser abordada no próximo módulo), faz parte do conteúdo programático do curso
normal e visa reiterar itens importantes, que ainda não foram abordados, bem como
preparar os candidatos para responder questões que incluam conhecimentos de Medicina
Forense – habituais nas provas de Direito Penal, Civil e Processual Penal –, em concursos
para o Ministério Público, Magistratura e outros.

2. PONTOS RELEVANTES

a) Caracterizar lesão corporal, integridade corporal e saúde

Lesão corporal é a ofensa à integridade corporal e à saúde. Comprometimento da


integridade corporal é a ofensa orgânica, sem comprometimento funcional, ou seja, a
estrutura está comprometida, mas não o seu funcionamento. De forma geral, podemos dizer
que é uma alteração do hardware. Comprometimento da saúde é a doença, enfermidade; é
a alteração funcional (software).

b) Diferenciar função habitual de trabalho

Função habitual corresponde às funções da vida em geral, que não necessitam de


aprendizado especializado, como andar, comer e tomar banho, entre outras. Função de
trabalho é um bem maior. É a capacidade dependente de aprendizagem especializada, a
capacidade de trabalhar, o conjunto de ações diferenciadas típicas do homem.

c) Diferenciar debilidade, perda e inutilização

Debilidade é a perda da capacidade até 70 ou 75% (de membro, sentido ou função);


inutilização é a perda maior que 70 ou 75%, e perda equivale, regra geral, à amputação.

d) Conhecer os critérios de perigo de vida

Conhecer os critérios de perigo de vida, como perigo real (diagnóstico, e não


prognóstico) e nexo causal. O aluno deve rever as apostilas de Traumatologia, para
complementação.

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MEDICINA LEGAL

e) Conhecer os critérios de deformidade permanente

Conhecer os critérios de deformidade permanente, como, por exemplo, a sensação


vexatória para quem mostra e/ou para quem vê uma deformidade, o critério de visibilidade
e de gradiente estético anterior (sexo, idade e nível socioeconômico).

f) Conhecer os critérios de morte

Conhecer os sinais abióticos imediatos, e entender as diferenças dos critérios de


morte encefálica, usados nas situações de transplante de órgãos. É importante rever as
apostilas de Tanatologia.

g) Entender as diferenças entre morte agônica e súbita

A morte agônica , caracterizada por intervalo de tempo entre a ação e a morte; e


morte súbita, como o termo informa, de ocorrência súbita, caso em que não se observa, de
início, a ação, ou seja, o primeiro evento notado é a própria morte.

h) Conhecer as modalidades de morte

Aqui, morte natural e violenta (homicídio, suicídio e acidente). Nas situações de


morte natural, o médico-assistente é obrigado a fornecer a Declaração de Óbito, salvo em
casos em que a causa básica da morte não é conhecida. Em tais situações, os restos mortais
são encaminhados aos serviços de verificação de óbito, a fim da pesquisa necroscópica ser
realizada. Nas mortes violentas, os estudos necroscópicos são desenvolvidos nos institutos
médicos legais. As mortes suspeitas, quase sempre, são analisadas de forma igual às mortes
violentas.

i) Conhecer os sinais duvidosos e certos de conjunção carnal

• Sinais duvidosos: dor, hemorragia, lesões e contágio (contaminação).

• Sinais certos: rotura himenal, presença de esperma na vagina e gravidez.

j) Conhecer a perícia que diferencia natimorto de nativivo

A prova mais conhecida – docimasia de Galeno –, baseada nos estudos gregos,


procura pesquisar a atividade pulmonar extra-uterina, durante a autópsia, verificando o
comportamento do pulmão em água, ou seja, a flutuação + respiração extra-uterina (vida
extra-uterina), e não-flutuação = ausência de respiração extra-uterina. Atualmente, as
provas mais seguras são as histológicas, que evitam os resultados falso-positivos
(putrefação) e falso-negativos (broncopneumonia).

k) Conceituar perícia

Exames realizados por técnicos a serviço da Justiça. A perícia pode ser realizada
através de relatório (laudo ou auto), parecer (opinião) e atestado (constatação).

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MEDICINA LEGAL

l) Diferenciar peritos oficiais de “louvados”

São peritos oficiais os funcionários de repartição pública, como Instituto Médico


Legal, Instituto de Criminalística e Manicômio Judiciário, entre outros (ver arts. 434 do
CPC e 159 do CPP). São peritos “louvados” os nomeados. São também chamados de
peritos não-oficiais. (ver arts. 421 e 431 do CPC e 195 do CPP).

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MÓDULO XI

PORTUGUÊS
Orientação para Pronúncias Questionáveis
Organização do Texto e o Ritmo da Escrita

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PORTUGUÊS

PORTUGUÊS

Orientação para Pronúncias Questionáveis

Organização do Texto e o Ritmo da Escrita

1. ORIENTAÇÃO PARA PRONÚNCIAS QUESTIONÁVEIS

Ortoepia: parte da gramática que estuda a pronúncia; o erro gera a cacoepia (falar roba, em
vez de roubar).

Prosódia: estudo da tonicidade; a pronúncia da sílaba errada faz surgir uma silabada
(rúbrica em vez de rubrica).

1.1. Guia de Pronúncia

eu adapto

ele adapta

aficionado

eu afrouxo

ele afrouxa

eu almejo (ê)

ele almeja (ê)

âmbar

eu apaziguo

ele apazigua

ele(s) apazigúe(m)

aresto (é)

eu arguo

ele argúi

eles argúem
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que eles arguam

ele argüiu

austero (é)

autópsia

avaro

eu averiguo

ele averigua

ele(s) averigúe(m)

beneficente

blefe (é)

bodas (ô)

dúplex

caracteres (é)

cassetetes (é)

cateter (é)

eu cavouco

ele cavouca

condor

crosta (ô)

eu designo

ele designa

distinguir

docimasia

dolo (ó)

eu estouro

ele estoura

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exegese (z)(gé)

extra (ê)

experto (ecs)

filantropo (ô)

fluido (úi)

foro (ô)

fortuito (úi)

gratuito (úi)

hábitat

hieróglifo

homizio

ibero (é)

ileso (ê)

eu impregno (é)

ele impregna (é)

ímprobo

eu impugno

ele impugna

incesto (é)

inodoro (ó)

eu inteiro

ele inteira

ínterim

juniores (ô)

látex

leso (é)

3
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lêvedo

mercancia

misantropo (ô)

mister (é)

necropsia

Nobel

novel

obséquio (z)

ômega

pecha (é)

eu peneiro

ele peneira

probo (ó)

eu propugno

ele propugna

pudico

eu readapto

ele readapta

recorde

eu repugno

ele repugna

eu resigno

ele resigna

eu roubo

ele rouba

rubrica

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ruim

eu saúdo

ele saúda

servo (é)

sesta (é)

sintaxe (ce)

sobejo (ê)

subsidiar (ci)

subsídio (ci)

suor (ó)

sursis (sí)

têxtil

torpe (ô)

tóxico (csi)

tríplex

uxoricida (cso)

xérox

Palavras com dupla pronúncia: ortoépia/ortoepia, projétil/projetil, sóror/soror, réptil/reptil,


autópsia/autopsia, acróbata/acrobata, xérox/xerox, necrópsia/necropsia.

1.2. Acréscimos, Cortes, Trocas e Afins


adivinhar (e nunca advinhar)

alcagüetar (e nunca cagüetar)

asterisco (e nunca asterístico)

beneficente (e nunca beneficiente)

cabeleireiro (e nunca cabelereiro)

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caderneta (e nunca cardeneta)

caranguejo (e nunca carangueijo)

disenteria (e nunca desinteria)

doze (e nunca douze)

estupro (e nunca estrupo)

exacerbar (e nunca exarcebar)

fratricídio (e nunca fraticídio)

freada (e nunca freiada)

geminado (e nunca germinado)

lagarto (e nunca largato)

losango (e nunca losângulo)

macérrimo (e nunca magérrimo)

manteigueira (e nunca mantegueira)

mendicância (e nunca mendigância)

meritíssimo (e nunca meretíssimo)

meteorologia (e não metereologia)

mortadela (e nunca mortandela)

octogésimo (e nunca octagésimo)

opróbrio (e nunca opróbio)

plebiscito (e nunca plesbicito)

prazeroso (e nunca prazeiroso)

problema (e nunca pobrema)

reivindicação (e não reinvindicação)

sobrancelha (e nunca sombrancelha)

viger (e nunca vigir)

2. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO E O RITMO DA ESCRITA


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PORTUGUÊS

Na harmonização entre termos, frases, períodos e parágrafos, estabelece-se o ritmo


da escrita, uma construção que só se equilibra e se mantém caso se projete aquele que está
no outro pólo, ou seja, o leitor. Na organização verbal, a função essencial dos sinais de
pontuação é dar um ritmo ao leitor, isso com a finalidade de gerar clareza e facilitar a
compreensão. Por tal motivo, possui uma visão mais madura o autor que, ao escrever, retrai
o ego para poder, com o outro, dividir o ato de criar, dentro de um princípio de alteridade e
cooperação. Dessa relação entre autor e leitor, há o pressuposto da interação, uma atitude
que estranhamente se dá em tempo e lugar diferentes, porém sem nunca perder o fio que os
interliga: o texto.

2.1. Análise de Problemas Textuais

2.1.1. Repartição dos parágrafos


Alguns parágrafos revelam certa fragilidade estrutural porque sofrem fragmentação.
Por haver uma seqüência que traz o tema dentro de um mesmo enfoque, seria, como no
exemplo abaixo, mais produtiva a recomposição em um só parágrafo.

Trecho original (A)

A Constituição Federal do Brasil, em seu artigo segundo, dispõe que “são poderes
da União, independentes e harmônicos entre si, o legislativo, o executivo e o judiciário”.

A tripartição dos poderes resultou da nova concepção de Estado.

Antigamente, os reis encarnavam todos os poderes, ou seja, legislavam, julgavam e


administravam.

Trecho recomposto (A)

A Constituição Federal do Brasil, em seu artigo segundo, dispõe que “são poderes
da União, independentes e harmônicos entre si, o legislativo, o executivo e o judiciário”.
Essa tripartição dos poderes resultou da nova concepção de Estado, pois, antigamente, os
reis encarnavam todos os poderes, ou seja, legislavam, julgavam e administravam.

Também há textos que trazem parágrafos longos demais. Apesar da unidade


temática, há um aspecto físico, em que a memória começa a ter dificuldade por causa do
excesso de informação em um só parágrafo. Há, portanto, um equilíbrio entre conteúdo e
tamanho a ser respeitado. A mudança de um parágrafo para outro possui alguns limites,
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PORTUGUÊS

geralmente ligados a três aspectos (muito flexíveis): – a mudança de tópicos (que são as
unidades que o texto vai construindo);

• o grau de detalhamento das informações em relação ao tópico geral do texto;

• o tamanho do próprio parágrafo.

2.1.2. Extensão dos períodos


Deve sempre haver controle na produção das frases e dos períodos, criando um
equilíbrio quantitativo e qualitativo, tanto no desenvolvimento do conteúdo (correlação
equilibrada entre a informação já posta com aquela que ainda virá) quanto no aspecto
formal, isto é, a extensão.

Quando a extensão do período foge ao normal, traz, de forma inevitável, um conjunto de


dificuldades e imperfeições:

• pontuação sobrecarregada e confusa, pois dificulta identificar as correlações e faz


nascer concorrências referenciais;

• excesso de conexões e, por conseqüência, abundância de subordinações e de


orações reduzidas, principalmente as de gerúndio.

Trecho original (B)

O controle preventivo, como o próprio nome diz, é aquele que ocorre antes da
criação da lei ou do ato normativo, pode ser feito pelo Poder Legislativo, por meio das
Comissões de Constituição e Justiça, no momento em que essas analisam os projetos de lei
que são submetidos ao seu crivo, pelo Poder executivo, por intermédio do chamado “veto
jurídico” e pelo Poder judiciário, no caso de ocorrer violação das normas constitucionais
do processo legislativo, desde que seja provocado tal controle por quem tenha direito
subjetivo ao devido processo legislativo, em regra é o parlamentar que participa do
processo legislativo.

Trecho recomposto (B)

O controle preventivo, como o próprio nome diz, é aquele que ocorre antes da
criação da lei ou do ato normativo e ele pode ser feito pelos três poderes: pelo poder
legislativo, por meio das Comissões de Constituição e Justiça, no momento em que essas
analisam os projetos de lei que são submetidos ao seu crivo; pelo poder executivo, por
intermédio do chamado “veto jurídico”; e pelo poder judiciário, no caso de ocorrer
violação das normas constitucionais do processo legislativo. Nesse último caso, ocorre
desde que seja provocado por quem tenha direito subjetivo ao devido processo legislativo,
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PORTUGUÊS

que, em regra, é o parlamentar que de tal processo participa.

Outra preocupação está vinculada à fragmentação do período, construção que não


oferece o nexo necessário para facilitar a vida do leitor. A correção agora se dá pela troca
do ponto por uma vírgula e, com base na correlação criada, a inserção de um conectivo. Ao
criar um outro ritmo, também se cria uma outra forma de apreender o trecho.

2.1.3. Fluência na leitura e ritmo


Muitos trechos exigem ou um ritmo diferente do proposto ou uma conexão mais
fluente, mudanças que permitam prosseguir sem sobressaltos. Mostra-se muito eficiente
para o leitor a colocação de elementos rítmicos que o orientam para aquilo que vai ser
redigido, a fim de que ele percorra o trecho cognitivamente preparado.

Deve-se, portanto, estar atento à capacidade de o texto comunicar e autocomunicar-


se por meio de construções que mantêm o desenvolvimento do conteúdo e,
simultaneamente, norteiam a leitura para as correlações mais importantes ou para aquilo
que deve ser percebido em destaque. Isso ocorre, por exemplo, com os paralelismos:

Trecho original (C)

As espécies de liberdade provisória sem fiança, divide-se em obrigatória e


permitida.

Nas obrigatórias é direito incondicional do acusado e dá-se nos casos em que se


livra solto.

Já a permitida verifica-se nos casos em que não caber prisão preventiva.

Somente o juiz de direito pode conceder liberdade sem fiança.

Trecho recomposto (C)

As espécies de liberdade provisória sem fiança dividem-se em obrigatória e


permitida. A obrigatória é direito incondicional do acusado e dá-se nos casos em que se
livra solto; já a permitida verifica-se nos casos em que não couber prisão preventiva. A
liberdade sem fiança pode ser concedida somente pelo juiz de direito.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E


COLETIVOS
Meio Ambiente

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Meio Ambiente – Lei n. 6.938/81

1. INTRODUÇÃO

O art. 3.º da Lei conceitua meio ambiente como o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química ou biológica, que permitem, abrigam e
regem a vida em todas as suas formas.

A doutrina faz distinção entre meio ambiente natural, meio ambiente artificial e
meio ambiente do trabalho:

• Meio ambiente natural: é o que existe independentemente da atuação do homem


(flora, fauna ).

• Meio ambiente artificial: é a interação do homem com o meio ambiente natural.


Alguns autores chamam de meio ambiente cultural ou patrimônio cultural
(urbanismo, paisagismo, zoneamento, meio ambiente do trabalho, patrimônio
histórico).

• Meio ambiente do trabalho: existe uma dificuldade para saber se envolve relação
contratual de trabalho ou não. Tem competência para resolver esta questão a
Justiça do Trabalho (trabalho insalubre, p. ex.). Mas se há , por hipótese, uma
caldeira com perigo de explosão, colocando em risco grande número de pessoas,
tem competência a Justiça Estadual (decisão do STJ). Se o meio ambiente do
trabalho se relaciona com contrato de trabalho, relação trabalhista, tem
competência a Justiça Trabalhista. Caso se relacione à saúde, à segurança, tem
competência a Justiça Estadual. No campo do MP Estadual, atua a Promotoria de
Acidentes do Trabalho. Havia discussão se a competência era da Vara Comum ou
da de Acidentes do Trabalho. Hoje é pacífico, a competência é da Vara de
Acidente do Trabalho.

Com relação ao patrimônio histórico, questiona-se qual é o caminho para a proteção,


se via administrativa ou via judicial.

Pela via administrativa temos o tombamento –(procedimento administrativo


destinado à proteção do bem, que não poderá mais ter suas características modificadas).

Um bem que não está tombado pode ter proteção judicial, pois o esgotamento da via
administrativa não é condição para o requerimento de proteção judicial. Não há vinculação.
Pode-se propor ação civil pública para obter decisão judicial de proteção do patrimônio
histórico.

1
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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

O dano ao meio ambiente é matéria de interesse difuso, mas é possível que um


terceiro sofra particularmente um dano, tornando individual o interesse (da vítima) – sem
que o prejuízo ao meio ambiente perca sua característica de difuso.

P: Qual princípio trata da responsabilidade pelo dano ao meio ambiente?

R: São dois os princípios. O princípio da responsabilidade objetiva, que significa


que independe de culpa do causador do dano, sendo necessário apenas a prova deste da
atividade e do nexo causal; e o princípio da responsabilidade solidária, em que todo
causador do dano (partícipe) responde por ele solidariamente – após, é possível a discussão
de responsabilidade individual em ação regressiva.

1.1. Medidas Protetivas do Meio Ambiente

1.1.1. Medidas protetivas administrativas


• Inquérito Civil: exclusivamente do MP.

• EIA (Estudo de Impacto Ambiental): é procedimento administrativo destinado à


prevenção e monitoramento dos danos ambientais. É um estudo das possíveis
modificações que a atividade pode causar ao meio ambiente. Deve ser feito
obrigatoriamente antes de qualquer atividade que possa causar dano ao meio
ambiente e publicado no Diário Oficial. Se não for realizado, é possível sua
imposição por decisão em ação civil pública. Todo EIA tem uma RIMA
(Relatório de Impacto Ambiental).

A autoridade que faz o EIA é designada pela Secretaria do Meio Ambiente (área
federal e estadual). Nada impede que empresa privada o forneça.

1.1.2. Medidas protetivas judiciais


• Ação Popular.

• Ação Civil Pública: MP, União, Estados, Municípios, autarquias, empresas


públicas, fundações, sociedades de economia mista e associações (art. 5.º da Lei
n. 7.347/85).

Deve figurar no pólo passivo das ações todo aquele que, por ação ou omissão, direta
ou indiretamente, causar dano ou ameaça de dano ao meio ambiente, inclusive o próprio
Poder Público, desde que atue diretamente.

2
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

A omissão do Estado em fiscalizar, prevenir o dano ambiental acarreta sua


responsabilidade subjetiva, dependendo da demonstração de culpa; mas, quando pratica
uma conduta comissiva, sua responsabilidade passa a ser objetiva.

As indenizações referentes às ações ambientais são destinadas a um fundo


específico para o meio ambiente.

P: Ação ambiental prescreve?

R: Não, pois o objeto de sua proteção é imprescritível.

1.2. Responsabilidade pelo Dano Ambiental


A responsabilidade de natureza objetiva tem fundamento legal no art. 14, § 1.º, da
Lei n. 6.938/81 – o poluidor é obrigado, independentemente da existência de culpa, a
reparar o dano causado ao meio ambiente e o dano causado a terceiro em razão da
atividade.

A responsabilidade solidária entre todos os causadores do dano ambiental significa


que a ação pode ser proposta contra qualquer um dos responsáveis (que primeiro deve
reparar o dano e depois terá o direito de regresso em face dos demais causadores do
prejuízo, mesmo princípio do Código do Consumidor).

1.3. Conceitos de Direito Ambiental


Degradação da atividade ambiental é toda alteração adversa das características do
meio ambiente, alteração contrária ao meio ambiente;

Poluição é a degradação da atividade ambiental, mas a lei distingue a atividade


ambiental da poluição.

Para a Lei, poluição é a degradação da atividade ambiental que:

• resulte direta ou indiretamente prejuízo para a saúde, segurança e bem estar do


cidadão;

• resulte direta ou indiretamente condições adversas às atividades sociais e


econômicas;

• afete de maneira desfavorável à biota (conjunto de seres animais e vegetais de


uma região);

• afete as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

• gere lançamento de matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais


estabelecidos.
3
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Poluidor: é a pessoa física ou jurídica de direito público ou privado, responsável


direta ou indiretamente por atividade causadora de poluição, de degradação ambiental.

Recursos ambientais: são constituídos pela atmosfera, pelas águas, sejam


superficiais ou subterrâneas, pelos estuários (nascentes de água), pelo mar territorial, solo,
subsolo, elementos da biosfera (onde encontramos seres vivos, fauna e flora).

1.4. Princípios de Direito Ambiental

1.4.1. Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal


Art. 225, caput, CF e art. 2.º da Lei n. 6.938/81: O Poder Público tem o dever de
defender e preservar o meio ambiente, assegurando a sua efetividade. A ação
governamental deve ser dirigida para o equilíbrio ecológico.

1.4.2. Princípio da prevenção e da precaução


Art. 225, caput, art. 225, § 1.º, inc. IV, da CF e art. 2.º da Lei n. 6.938/81: Deve ser
dada prioridade às medidas que evitem os danos ao meio ambiente. Impõe a
obrigatoriedade de estudo prévio de impacto ambiental (EIA); publicidade a esse estudo,
proteção de áreas ameaçadas de degradação (proteção do ecossistema).

1.4.3. Princípio da educação ambiental, também chamado de princípio


da informação
Art. 225, caput,§ 1.º, inc. VI e art. 2.º, inc. IX, da Lei n. 6.938/81: O Poder Público
deverá promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e deve promover a
conscientização pública da necessidade de preservação do meio ambiente. A comunidade
deve estar capacitada para participar da defesa do meio ambiente.

1.4.4. Princípio da cooperação ou da participação.


Art. 225, caput e art. 2.º, inc. X, da Lei n. 6.938/81: O Estado e a coletividade
devem atuar conjuntamente na prevenção e na preservação do meio ambiente (cooperação
entre Estado e a sociedade e participação efetiva da sociedade na proteção do meio
ambiente).

4
_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1.4.5. Princípio do poluidor pagador, também chamado de princípio da


responsabilização
Art. 225, § 3.º, da CF e art. 4.º da Lei n. 6.938/81: O poluidor é obrigado a corrigir,
a recuperar o meio ambiente, além de ser obrigado a cessar a atividade nociva. A
recuperação ambiental pode ocorrer por indenização para a coletividade, não para o
Estado, que vai para um fundo com gerência específica. A responsabilidade é objetiva e
abrange aspectos civis, penais e administrativos.

1.4.6. Princípio da política demográfica adequada


Está dentro do princípio da intervenção estatal. Obriga o Estado a estabelecer
política demográfica.

1.4.7. Princípio do desenvolvimento sustentável


Desenvolvimento econômico compatível com as condições ambientais.

1.5. Estado como Responsável pelo Dano Ambiental


O Estado pode atuar de duas formas:

• pode ser autor da atividade danosa, p. ex., empresa estatal que polui um rio;

• pode agir por omissão, não exercendo seu poder de polícia.

P: A responsabilidade do Estado é a mesma?

R: O entendimento predominante é que não. Os graus de responsabilidade são


diferenciados:

• Se o Estado for autor direto do dano: responsabilidade objetiva.

• Se o Estado agir por omissão: responsabilidade subjetiva, ou seja, dependente de


culpa.

A forma de o Estado atuar de maneira omissiva pode ser, p. ex., autorizando o


funcionamento de uma empresa sem a devida regulamentação da atividade.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Se o dano foi causado diretamente pela autorização – era inerente da atividade


causar dano ambiental – trata-se de responsabilidade objetiva, porque o dano foi causado
de forma direta pelo Estado.

Se o Estado regulamentar as atividades e o particular causar dano ambiental,


voluntariamente, aquele (Estado) só será responsável se houver omissão por parte dos
agentes que deveriam impedir o dano. A responsabilidade é subjetiva, dependendo da
demonstração de culpa no caso concreto. Deve-se comprovar a omissão do agente estatal.

A responsabilidade do Estado por fato da natureza possui uma regra básica de que o
Estado não responde pelos acontecimentos da natureza. Há hipóteses, porém, em que há
concorrência de fatores, p. ex., inundação, porque a prefeitura não limpa os bueiros. É
possível responsabilizar o Estado, de forma subjetiva, desde que o fato da natureza seja
previsível.

1.6.Questões Processuais - Direito Processual Ambiental

1.6.1. Intervenção de terceiro


P: A responsabilidade ambiental, sendo objetiva, é compatível com intervenção de
terceiros?

R: A responsabilidade objetiva é incompatível com intervenção de terceiros, porque


esta admite apenas a discussão sobre a exclusão ou não da responsabilidade. Não admite a
discussão sobre responsabilidade parcial, sobre quem é responsável. O dano deve ser
indenizado para depois se discutir a responsabilidade.

1.6.2.Competência
A competência para processar a ação coletiva poderá ser da Justiça Federal, se presente
interesse da União, de entidade autárquica ou empresa pública federal, como ordena o art.
109, I, da Constituição Federal. No entanto, não prevalece anterior posicionamento do
Superior Tribunal de Justiça (Súmula 183 do STJ -cancelada), que ordenava a aplicação da
regra do § 3o. do referido dispositivo (processamento na Justiça Estadual sempre que
inexistente Vara da Justiça Federal no local do dano), porque inexistente ressalva expressa
na Lei 7.347/85 (Ação Civil Pública) e na Lei 8.078/90 (Código de Defesa do
Consumidor).

Se o dano atingir mais de um Estado membro, havendo interesse da União, a competência


será da Justiça Federal.

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_________________________________________________________________________ MÓDULO XI
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1.6.3. Litispendência
É possível o trâmite conjunto entre a ação para defesa do meio ambiente e ações
com efeitos análogos. Não se reconhece, todavia, litispendência:

• entre ação coletiva e individual (entre ação civil pública e individual);

• entre ação civil pública para tutela de direitos difusos e ação civil pública para
tutelar direitos coletivos;

• ação coletiva para defender direitos homogêneos e ação individual para proteger
o mesmo interesse;

• ação civil pública para defender interesses difusos e ação civil pública para
defender interesse individuais homogêneos.

P: Qual a hipótese em que é reconhecida litispendência?

R: Ação popular e ação civil pública com finalidade de defesa do meio ambiente,
pois, em ambos os casos, o titular do interesse é a coletividade.

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução


total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.
A violação dos direitos autorais caracteriza crime descrito na legislação
em vigor, sem prejuízo das sanções civis cabíveis.

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___________________________________________________________________

CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XXI

EXERCÍCIOS
CURSO ANUAL
OPÇÃO 3

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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Assinale a questão que não caracteriza uma das modalidades de restrições ao


direito de propriedade privada estabelecida pela Administração Pública:
a) limitações administrativas;
b) ocupação temporária;
c) requisição e servidão administrativa;
d) encampação.

2. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,


segundo critérios e graus de exigências estabelecidos em lei, aos seguintes
requisitos:
a) aproveitamento racional e adequado; utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente; observância das relações de trabalho e
exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e também dos trabalhadores;
b) aproveitamento racional e adequado; parcelamento ou edificação compulsórios;
c) política de desenvolvimento e de expansão urbana;
d) aproveitamento racional e adequado; pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade.

3. Estabelece o art. 5.º, inc. XXV, da Constituição Federal, que “no caso de iminente
perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.” Tal dispositivo
caracteriza qual modalidade de intervenção do Estado ao direito de propriedade
abaixo enumerada:
a) limitação administrativa;
b) servidão administrativa;
c) requisição;
d) ocupação temporária.
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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

4. Assinale a alternativa incorreta sobre tombamento:


a) Pode ser individual ou geral.
b) Obriga o proprietário a conservar o bem.
c) Do tombamento pode decorrer a obrigação de o Estado indenizar, caso a imposição
resulte obrigação de fazer para a conservação do imóvel, a sua interdição ou o
impedimento de sua normal utilização.
d) Configura confisco.

5. Qual das assertivas não corresponde à característica inerente ao meio de


intervenção na propriedade denominado ocupação?
a) Trata-se de modalidade de intervenção quanto ao uso.
b) Não há possibilidade de indenização, ao proprietário do bem, por parte da
Administração caso a ocupação lhe tenha ocasionado prejuízos.
c) Essa prerrogativa estatal pode ser transferida a concessionários e empreiteiros, desde que
autorizados pela Administração a ocupar terrenos baldios ou propriedades
inexploradas, nas proximidades das obras ou serviços públicos a realizar.
d) Não há necessidade de iminente perigo público, bastando o interesse público.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CIVIL

1. Com a abertura da sucessão:


a) a posse direta dos bens deixados pelo autor da herança compete ao administrador
provisório, até que seja aberto o inventário;
b) a administração passará ao inventariante a posse direta dos bens deixados pelo autor
da herança, após a abertura do inventário;
c) recebe o legatário o domínio e a posse imediata dos bens que lhe foram legados, em
conjunto com os herdeiros;
d) todas as alternativas estão corretas.

2. O legado precípuo consiste:


a) na disposição sobre coisa certa e determinada, quando favorece pessoa que já seria
herdeira legítima pela ordem da vocação hereditária;
b) na disposição sobre coisa certa e determinada, quando o legado for puro e simples;
c) na disposição sobre coisa certa e determinada, quando ao tempo do falecimento do
testador, a coisa se achava entre os bens da herança;
d) nenhuma das alternativas está correta.

3. A aceitação da herança é:
a) indispensável para que se consolide a transmissão dos bens ao herdeiro;
b) a manifestação de vontade do beneficiário da herança, para que se complemente os
três momentos da transmissão: a abertura da sucessão, a delação da herança e a
aquisição;
c) tácita, quando resulta de atos compatíveis somente com a condição de herdeiro;
d) todas as alternativas estão corretas;
e) apenas as alternativas “a” e “c” estão corretas.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

4. Assinale a alternativa incorreta:


a) Testamento mancomunado é o testamento conjuntivo, feito por duas ou mais pessoas
em instrumento único.
b) O herdeiro precisa ter capacidade para suceder no momento da abertura da sucessão,
regulando-se pela lei então em vigor.
c) Com relação à sucessão testamentária, exige-se que o beneficiário nascituro tenha
sido concebido até a morte do testador.
d) Em nenhuma hipótese é possível que o beneficiário nascituro herde, sem que tenha
sido concebido até a morte do testador.

5. Prejudicando o herdeiro seus credores, com a renúncia à herança:


a) não podem os credores prejudicados aceitá-la em nome do renunciante, porque a
renúncia é irretratável;
b) não podem os credores prejudicados aceitá-la em nome do renunciante, porque a
única pessoa legitimada a infirmar a renúncia feita pelo herdeiro é o seu cônjuge;
c) podem os credores prejudicados, mediante autorização do juiz, aceitá-la em nome do
renunciante;
d) não podem os credores prejudicados aceitá-la em nome do renunciante, porque a
aceitação ou renúncia da herança é ato personalíssimo do herdeiro;
e) podem os credores prejudicados aceitá-la em nome do renunciante, dispensada
qualquer autorização judicial.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO COMERCIAL

1. Quais são os regimes a que se submetem os contratos travados entre particulares,


excluídos os contratos de trabalho?
a) civil, comercial e administrativo;
b) comercial, civil e tutela dos consumidores;
c) tutela dos consumidores, civil, administrativo;
d) civil, e tutela dos consumidores.

2. Com o Novo Código Civil, além dos princípios clássicos do direito contratual,
foram elevados e acrescentados como princípios:

a) O conflito aparente e a função social do contrato;


b) a boa fé e a probidade;
c) A interpretação do contrato de forma mais favorável à parte mais fraca;
d) a ilicitude da renúncia antecipada de direito resultante da natureza do negócio.

3 . São exemplos de contratos bilaterais:


I) compra e venda;
I) doação;
II) locação;
III) depósito.

Assinale a alternativa correta:


a) as alternativas I e IV estão corretas;
b) as alternativas II e IV estão corretas;
c) as alternativas I e III estão corretas;
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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

d) todas as afirmações estão corretas.

4. Analise as afirmações abaixo:


I. Contratos consensuais são aqueles em que o encontro de vontades de dois ou mais
sujeitos é suficiente para a formação do contrato.
II. Contratos comutativos são aqueles em que é impossível antecipar como será a sua
execução.
III. Contratos atípicos são aqueles que, apesar de não estarem previstos em lei, são
firmados pelas pessoas que, no próprio instrumento contratual, estipulam as
obrigações e direitos assumidos.
IV. Contratos reais são aqueles que, além do consenso de vontades, para a formação do
vínculo é necessário a entrega da coisa.

Assinale a alternativa correta:

a) I, III, IV.
b) I, II, III
c) I, II, IV.
d) Todas as afirmações estão corretas.

5. A rescisão pelo distrato ocorre quando:

a) por haver expressa previsão legal ou contratual, ou mesmo em razão de o contrato ter
sido celebrado por prazo indeterminado, as partes contratantes puderem rescindir o
contrato;
b) uma das partes, por não ter cumprido com a obrigação assumida, permite à outra
buscar a rescisão da avença;
c) as partes contratantes, arrependendo-se do contrato firmado, de comum acordo,
resolvem por bem rescindir a avença;
d) nenhuma das afirmações anteriores está corretas.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. Qual princípio estabelece que todas as despesas e receitas devem estar previstas no
orçamento?
a) princípio da unidade;
b) princípio da legalidade;
c) princípio da universalidade;
d) princípio da exclusividade.

2. Sobre o imposto, conforme a Constituição Federal, é correto afirmar que:


a) é um tributo vinculado;
b) é um tributo cuja obrigação não tem como fato gerador uma situação; independente de
qualquer atividade estatal específica;
c) é um tributo não vinculado;
d) não é espécie de tributo.

3. No caso dos precatórios, a pessoa jurídica de direito público é citada para:


a) apelar no prazo de dez dias;
b) opor embargos no prazo de cinco dias;
c) pagar;
d) opor embargos no prazo de dez dias.

4. Quanto aos créditos de natureza alimentícia é correto afirmar que:


a) dispensam os precatórios;
b) têm de obedecer a ordem dos precatórios;
c) têm preferência sobre os demais e entram em lista cronológica própria;
d) estão sujeitos ao parcelamento.
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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

5. O decreto de intervenção no Distrito Federal ou em um Estado-membro é


expedido:
a) pelo presidente do Senado, sem a necessidade de ser ouvido o conselho da República;
b) pelo presidente da Câmara dos Deputados, depois de ouvido o Conselho da República;
c) pelo Presidente da República, depois de ouvido o Conselho da República;
d) pelo Presidente da República, sem a necessidade de ser ouvido o Conselho da
República.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. Assinale a alternativa que contém a afirmação correta:


a) Recurso Ordinário.
b) Recurso de Revista.
c) Agravo de Instrumento.
d) Pedido de Revisão.

I. Objetiva a uniformização da jurisprudência, cabendo em caso de violação de lei


federal.
II. Somente cabível dos despachos que denegarem a interposição de recurso.
III. Interposto das decisões que põem fim ao processo.
IV. Recurso de decisão interlocutória, quando o valor da causa for indeterminado e o
juiz fixar o valor.

a) I, II, III, IV.


b) III, I, II, IV.
c) II, I, IV, III.
d) III, I, IV, II.

2. Sobre o recurso de revista não podemos afirmar que:


a) é incabível para reexame de fatos e provas;
b) a parte deve demonstrar divergência jurisprudencial ou violação literal de dispositivo de
lei ou da Constituição Federal para seu conhecimento;
c) é apresentado ao Presidente do Tribunal Regional do Trabalho que poderá recebê-lo ou
denegá-lo, não sendo necessária a fundamentação;
d) ao recebê-lo, a autoridade recorrida deverá declarar o efeito em que o recebe.

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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

3. O recurso adesivo, cabe, no prazo de oito dias, na interposição de:


a) recurso ordinário, recurso de revista, embargos e agravo de petição;
b) recurso ordinário, agravo de instrumento e embargos;
c) recurso de revista, agravo de petição e recurso extraordinário;
d) embargos e agravo de instrumento.

4. Em que hipóteses é cabível a interposição do recurso de revista na fase de


execução?
a) apenas em caso de violação à lei federal;
b) apenas em caso de violação ao dissídio jurisprudencial;
c) em caso de violação à lei federal ou ao dissídio jurisprudencial;
d) apenas em caso de violação à Constituição Federal.

5. Sobre o agravo de petição é incorreto afirmar que:


a) destina-se a atacar decisões do juiz ou do presidente nas execuções ou no processo de
conhecimento;
b) é cabível nas decisões interlocutórias que envolvem matéria de ordem pública, capaz de
justificar o novo exame de seu conteúdo;
c) o agravante deve delimitar justificadamente as matérias e os valores impugnados;
d) não há necessidade do pagamento do depósito para sua interposição.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

1. Assinale a alternativa que relaciona corretamente os sistemas econômicos:


• Sistema fundado na tradição.
• Sistema fundado na autoridade.
• Sistema fundado na autonomia.
I. Também chamado modelo de mercado ou sistema descentralizado, onde os
cidadãos, individual ou agrupadamente, são livres para tomarem as decisões
econômicas, dado não terem a crença de que o Estado pode resolver o problema
econômico.
II. Baseado na reiteração dos padrões comportamentais até então existentes.
III. Verifica-se uma fusão entre os planos econômico e político, cabendo ao Estado
promover um plano onde se encontram previstas as variáveis da produção, dada a
crença de que o Estado pode resolver o problema econômico.
a) I – II – III.
b) I – III – II.
c) II – I – III.
d) II – III – I .

2. No que se refere aos principais objetivos perseguidos pelas várias nações,


podemos afirmar que:
a) o progresso econômico redistribui a renda, a partir do pressuposto de o mercado
funcionar, em geral, como um mecanismo concentrador;
b) a estabilidade econômica consiste em eliminar as flutuações do nível de renda e de
emprego e evitar processos inflacionários ou deflacionários mais agudos;
c) busca-se a liberdade econômica, ou seja, a capacidade de ampliar a capacidade
produtiva;
d) a Justiça econômica permite a escolha autônoma de seus objetivos.

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3. Assinale a alternativa que não contenha falhas de ação do Estado:


a) Juridificação, captura, princípios motores distintos.
b) Captura, interesses próprios dos reguladores, poder da burocracia.
c) Interesses próprios dos reguladores, grupos de pressão e captura.
d) Captura, interesses próprios dos reguladores, reorganização econômica.

4. Assinale a alternativa correta:


I. Os ordenamentos setoriais têm por função a regulação das atividades empresariais
ou profissionais que possuem aspectos sensíveis ao interesse coletivo.
II. Quando o legislador julga ser necessária maior rigidez do controle estatal, os
ordenamentos setoriais são conferidos a entidades ou órgãos do próprio Estado,
com a qual possuem vínculos de hierarquia ou de significativo controle.
III. As agências reguladoras independentes são um dos vários instrumentos dos quais o
Estado pode dispor para desenvolver suas atividades regulatórias.
a) V – V – V.
b) F – F – F.
c) V – F – V.
d) F – V – V.

5. Quanto à intervenção no direito positivo brasileiro não podemos afirmar que:


a) é uma exceção, sendo regra que o Estado não deve atuar diretamente no domínio
econômico;
b) o Estado pode atuar na prestação de serviços públicos, na exploração de jazida, entre
outros;
c) quando o Estado explora diretamente a atividade econômica, submete-se ao regime
jurídico diverso do aplicado às empresas privadas;
d) a intervenção do Estado no domínio econômico pode se dar de forma direta e indireta.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ELEITORAL

1. Assinale a alternativa incorreta. São considerados crimes eleitorais:


a) Valer-se o servidor público de sua autoridade para coagir alguém a votar ou não votar
em determinado candidato ou partido.
b) Votar em seção eleitoral em que não está inscrito, salvo nos casos expressamente
previstos, e permitir, o presidente da mesa receptora, que o voto seja admitido.
c) Minorar os preços de utilidades e serviços necessários à realização de eleições, tais
como transporte e alimentação de eleitores, impressão, publicidade e divulgação de
matéria eleitoral.
d) Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de propaganda, imputando-
lhe fato ofensivo à sua reputação.

2. Assinale a alternativa que traz a correspondência certa:


I. Crime eleitoral praticado por juiz eleitoral, promotor eleitoral ou prefeito.
II. Crime eleitoral praticado por governador.
III. Crime eleitoral praticado pelo Presidente da República, deputado federal ou
senador.

1. O julgamento poderá ser deslocado para o Superior Tribunal de Justiça.


2. O julgamento poderá ser deslocado para o Supremo Tribunal Federal.
3. O julgamento poderá ser deslocado para o Tribunal Regional Eleitoral.

a) I – 1; II – 3; III – 2.
b) I – 1; II – 2; III – 3.
c) I – 3; II – 2; III – 1.
d) I – 3; II – 1; III – 2.

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3. Assinale a alternativa correta:


a) O interrogatório encontra-se expressamente previsto pela legislação eleitoral.
b) Os crimes eleitorais são apurados mediante ação penal pública condicionada.
c) Os crimes eleitorais são apurados mediante ação penal pública condicionada.
d) Recebida a denúncia, o acusado é citado para contestar em cinco dias.

4. A respeito das afirmações abaixo:


I. Caso não haja pena expressamente prevista, aplicam-se os prazos mínimos previstos
no art. 284 do Código Eleitoral: 15 dias para os crimes punidos com detenção e um
ano para os crimes punidos com reclusão.
II. A execução da pena por crime eleitoral será realizada pelo juízo das execuções
criminais, nos termos da Súmula n. 192 do Superior Tribunal de Justiça.
III. Conforme dispõe o inciso III do art. 15 da Constituição Federal, durante os efeitos
da condenação por crime eleitoral, o sentenciado fica com seus direitos políticos
suspensos.
a) As alternativas I e II estão corretas.
b) As alternativas II e III estão corretas.
c) Todas estão corretas.
d) Somente a alternativa II está correta.

5. Pode-se afirmar quanto aos crimes eleitorais e seu procedimento:


a) quanto aos direitos políticos passivos (elegibilidade), há que se observar que os
condenados criminalmente, com sentença transitada em julgado, pela prática de crimes
contra a economia popular, a fé pública, a administração pública, o patrimônio público,
o mercado financeiro, por crimes eleitorais e por tráfico de entorpecentes,
permanecerão inelegíveis por três anos após o cumprimento da pena;
b) todos os recursos cabíveis em face das decisões têm efeito suspensivo;
c) no processo e julgamento dos crimes eleitorais e dos comuns que lhe forem conexos,
assim como nos recursos e na execução, que lhes digam respeito, aplicar-se-á, como lei
subsidiária ou supletiva, o Código de Processo Penal;
d) contra as decisões do Tribunal Superior Eleitoral cabe recurso extraordinário ou
ordinário, em seis dias.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO INTERNACIONAL

1. De qual fator o contrato internacional não depende?


a) Lugar de constituição ou execução da obrigação.
b) Domicílio das partes.
c) Substância dos negócios.
d) Aprovação de órgão estatal.

2. Assinale a alternativa que associa corretamente as cláusulas contratuais de


formação do contrato internacional:
I. Confort Letters.
II. Cartas de Intenção.
III. Bid Bonds.

1. Garantias que nascem da prática do comércio internacional, normalmente nos contratos


de compra e venda, prestação de serviço ou licitação.
2. Usadas com freqüência nos contratos de mútuo ou de financiamento com bancos,
financeiras ou seguradoras. São firmadas por uma sociedade em favor de um banco ou
outro agente financeiro.
3. Documentos preparatórios para o contrato definitivo. Estabelecem obrigação das partes
e podem fixar elementos temporais.

a) I – 1; II – 3; III – 2.
b) I – 2; II – 3; III – 1.
c) I – 3; II – 1; III – 2.
d) I – 1; II – 2; III – 3.

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3. Assinale a alternativa incorreta sobre a arbitragem internacional:


a) É um procedimento de composição de conflitos de interesses atuantes fora dos quadros
estabelecidos da jurisdição estatal.
b) Seu fundamento encontra-se na autonomia da vontade.
c) Aplica-se o Direito do Comércio Internacional.
d) Deve sempre vir como um compromisso para a solução de conflitos nos contratos do
comércio internacional.

4. Quanto ao trabalho no Mercosul, assinale a alternativa correta:


I. O Subgrupo de Trabalho é constituído para viabilizar regras específicas sobre as
relações sociais.
II. O Foro Consultivo Econômico e Social deve ter em sua composição representantes
de diversos setores da sociedade civil.
III. Os encargos trabalhistas e a criação de um sistema de certificação ocupacional entre
os países são algumas questões prioritárias para melhorar e ampliar o
relacionamento no Mercosul.
a) Todas as alternativas estão corretas.
b) Apenas duas estão corretas.
c) Apenas uma está correta.
d) Todas as alternativas estão incorretas.

5. Assinale a alternativa correta em se tratando de competência da justiça brasileira:


a) É absolutamente competente quando o estrangeiro estiver domiciliado no Brasil,
quando no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação e quando a ação se originar de fato
ocorrido ou praticado no Brasil.
b) Na Justiça do Trabalho, a competência internacional estende-se aos dissídios ocorridos
em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro, ainda que
haja convenção internacional dispondo o contrário.
c) É regida pelos critérios do domicílio do réu, da situação da coisa e dos efeitos
territoriais das obrigações.
d) É relativamente competente quando se tratar de ação relativa a imóvel situado no
Brasil, ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PENAL

1. Assinale a alternativa correta em relação ao crime de falsidade de remédios e


substância alimentícia:
I. O crime previsto no caput do artigo 273 do Código Penal consuma-se com a
corrupção, alteração, falsificação ou adulteração de produtos destinados ao
consumo.
II. O delito citado não admite a modalidade culposa.
III. Para configuração do delito as substâncias devem ser destinadas ao consumo,
usadas ou empregadas pelo público em geral por um número indeterminado de
pessoas.

a) Todas as afirmativas estão corretas


b) I e III estão corretas
c) Todas estão incorretas
d) I e II estão corretas

2. Assinale a alternativa correta:


a) A participação do menor não pode integrar o crime de quadrilha ou bando mesmo
quando este seja capaz de manifestar o seu entendimento e vontade para o acordo do
fim comum.
b) A aplicação da agravante constante do parágrafo único do artigo 288 do Código Penal
será aplicável somente se todos os componentes encontrarem-se armados.
c) Para consumação do delito do artigo 288 do Código Penal é necessário que o bando ou
quadrilha tenha cometido algum crime.
d) Os fins dos componentes da quadrilha ou bando deve ser o de cometer delitos, da
mesma espécie ou não.

3. São documentos públicos por equiparação:


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_________________________________________________________________________MÓDULO XXI

a) Documentos de natureza particular que pela sua importância a lei equipara-os a um


documento público.
b) Documentos públicos que são equiparados a documentos particulares.
c) Documentos elaborados por funcionário público.
d) N.d.a.

4. Assinale a alternativa incorreta:


a) Declaração falsa é aquela que não condiz com a realidade.
b) A falsidade ideológica tem que ser idônea capaz de causar prejuízo relevante
juridicamente.
c) A declaração diversa do que deveria constar é necessariamente falsa.
d) O sujeito ativo da falsidade ideológica pode ser qualquer pessoa e seu sujeito passivo é
o Estado ou uma pessoa, considerada esta como sujeito passivo secundário.

5. Sobre a falsa identidade é incorreto afirmar:


a) O crime consuma-se com a conduta de atribuir-se ou atribuir à 3ª pessoa a falsa
identidade.
b) A tentativa será possível se a conduta for unissubsistente.
c) O silêncio não configura a falsa identidade pois não é necessário falar, mas há a
necessidade de agir.
d) O nome artístico não configura falsa identidade porque se incorpora à própria pessoa.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

1. Qual a definição da natureza jurídica da contribuição social, dada pela Teoria do


Salário Diferido:
a) Equiparação ao prêmio do seguro pago pelas companhias seguradoras.
b) Parte do salário não é paga diretamente ao obreiro, mas é voltada para a Seguridade
Social.
c) Sustenta os encargos do Estado que não lhe são próprios.
d) Não é tributo nem contribuição parafiscal. Imposição Estatal atípica, prevista na
constituição e na legislação ordinária.

2. Qual a definição da natureza jurídica da contribuição social segundo a teoria


Fiscal?
a) Não é tributo nem contribuição parafiscal. Imposição Estatal atípica, prevista na
constituição e na legislação ordinária.
b) Duas cotas são pagas: uma pelos serviços prestados e a outra para a seguridade social.
c) Sustenta os encargos do Estado que não lhe são próprios.
d) A contribuição é uma obrigação tributária.

3. Qual a crítica recebida pela Teoria Parafiscal de sua definição da natureza jurídica
da contribuição social?
a) Arrecadando a autarquia a contribuição, não desnatura sua natureza tributária.
b) Não se pode enquadrá-la em nenhuma das espécies tributárias.
c) A contribuição pertence ao Direito Público, pois é compulsória, já que o seguro é
firmado entre particulares.
d) Não há ajustes de vontade quanto ao seu pagamento.

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4. A contribuição social se submete ao princípio da:


a) Anterioridade.
b) Anualidade.
c) Anualidade Nonagesimal.
d) Anterioridade Nonagesimal.

5. A competência para legislar sobre contribuições sociais é exclusiva:


a) Dos Estados.
b) Do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.
c) Da União.
d) Dos Municípios.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. Assinale a alternativa falsa, frente às ações possessórias:


a) Aplica-se o princípio da fungibilidade tendo em vista que se trata de fatos
extremamente voláteis.
b) É legitimado para propor ação possessória aquele que sofreu a violação,
independentemente de seu estado civil.
c) O autor da ação possessória deve demonstrar a origem de seu direito, sendo possível a
cumulação de pedidos de proteção possessória, perdas e danos, desfazimento de
construção ou plantação, e pena cominatória, em caso de descumprimento de ordem
judicial.
d) O juiz pode conceder a liminar possessória, que constitui uma antecipação de tutela
com requisitos próprios, exigindo do autor caução real ou fidejussória.

2. Quando se admite reconvenção nas ações possessórias?


a) Cumulativamente com os pedidos de proteção possessória, perdas e danos,
desfazimento de construção ou plantação, e pena cominatória, em caso de
descumprimento de ordem judicial.
b) Nunca se admite, pois, por apresentar caráter dúplice, essas ações permitem que o réu
faça todos seus pedidos na contestação.
c) Somente se admitirá para veicular outras pretensões que não sejam os pedidos de
proteção possessória, perdas e danos, desfazimento de construção ou plantação, e pena
cominatória, em caso de descumprimento de ordem judicial.
d) A qualquer momento, desde que não exaurido o prazo para resposta do réu.

3. Assinale a alternativa que contém a afirmativa correta:


I. Adquire-se a propriedade por usucapião se preenchidos todos os requisitos legais,
sendo a ação meramente declaratória com efeitos ex tunc.
II. Ação publiciana é ação reivindicatória sem título, cuja procedência vale como
documento hábil ao registro do usucapião no Cartório de Registro de Imóveis.
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III. No Direito brasileiro, o menor prazo para o usucapião é de cinco anos proveniente
da criação do usucapião especial pela Constituição Federal/88.
a) V – F – F.
b) F – V – V.
c) V – V – F.
d) F – F – V.

4. Assinale a alternativa que relaciona corretamente as afirmativas abaixo.


• Ação de Demarcação.
• Ação de Divisão.
• Ação de Nunciação de Obra Nova.
I. Cabe ao condômino, para obrigar os demais consortes a partilhar a coisa comum.
II. Cabe ao condômino, para impedir que o co-proprietário execute alguma obra com
prejuízo ou alteração da coisa comum.
III. Cabe ao proprietário, para obrigar seu confinante a extremar os respectivos prédios,
fixando-se novos limites entre eles ou aviventando-se os já apagados.
a) I – II – III.
b) III – I – II.
c) II – I – III.
d) I – III – II.

5. A ação possessória pode ser ajuizada em face de pessoa jurídica de Direito


público:
I. Quando o juiz não deferir liminar antes de ouvir o representante do Poder Público.
II. Quando não tenha sido dado ao imóvel destinação pública.
III. Sempre, pois não há nenhuma restrição legal.
a) Somente a alternativa III está correta.
b) As alternativas I e II estão corretas.
c) Somente a alternativa I está correta
d) Somente a alternativa II está correta.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Sobre o libelo é incorreto afirmar que:


a) Constitui peça inaugural do judicium causae, expondo em forma escrita e articulada o
fato criminoso, contendo o nome do réu, as circunstâncias agravantes e todas as demais
que influam na fixação da sanção penal.
b) Havendo mais de um réu, deve ser elaborado um libelo para cada um. No caso de um
mesmo réu ter cometido mais de um crime deverá ser elaborado um libelo para cada
crime.
c) Se o representante ministerial não oferece o libelo, o juiz deverá oficiar ao Procurador-
Geral, a fim de que se designe outro promotor para fazê-lo.
d) O defensor não está obrigado a contrariar o libelo, uma vez que se trata de mera
faculdade, podendo preferir reservar seus argumentos para o plenário.

2. Assinale a alternativa correta:


I. O desaforamento só é possível após o trânsito em julgado da pronúncia do réu.
II. Ocorrendo interesse de ordem pública, dúvida sobre a imparcialidade do Júri ou
sobre a segurança do réu, o desaforamento poderá ser decretado pelo tribunal
competente em decorrência de requerimento de qualquer das partes ou por
representação do próprio juiz.
III. O desaforamento tem efeito suspensivo, sendo sua mera solicitação capaz de
suspender o Júri.
a) Todas as afirmações estão corretas.
b) Apenas a alternativa I está correta.
c) As alternativas II e III estão corretas.
d) Somente a alternativa III está incorreta.

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3. Assinale a alternativa correta:


a) Devem estar presentes pelo menos dez jurados para que o juiz declare aberta a sessão
do Júri.
b) Se arroladas em caráter de imprescindibilidade, a falta de comparecimento das
testemunhas acarretará o adiamento do Júri.
c) Se o representante do Ministério Público deixar de comparecer ao julgamento, este será
adiado para a próxima sessão; porém, será mantido o mesmo promotor.
d) Não justificando a sua ausência no dia do julgamento, o juiz deverá sem exceção
decretar a prisão preventiva do acusado.

4. Assinale a alternativa correta


I. No caso de infanticídio, o estado puerperal deve ser perquirido em quesito próprio,
isolado do quesito da conduta e nexo causal.
II. O Júri pode desclassificar o delito não apontando nova classificação, que implica a
desclassificação própria; ou pode desclassificar o delito apontando qual crime foi
praticado, que implica a desclassificação imprópria.
III. Na desclassificação imprópria fica o juiz vinculado à decisão dos jurados, não tendo
qualquer margem de discricionariedade.
a) Todas as afirmativas estão corretas.
b) Somente as alternativas I e III estão corretas.
c) Somente a alternativa III está incorreta.
d) As alternativas II e III estão incorretas.

5. Quanto à formação do conselho de sentença, é incorreto afirmar que:


a) após o sorteio, não pode haver qualquer tipo de comunicação entre os jurados, mesmo
em assuntos relativos ao processo;
b) as partes, defesa e acusação, nesta ordem, poderão recusar sem justificativa até três
jurados, além das recusas justificadas;
c) pode servir no Júri o jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo;
d) só será realizado sorteio dos jurados para formação do conselho de sentença se
presentes 15 jurados, dos quais serão sorteados sete.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. Não pode ser cobrado, no mesmo exercício financeiro da publicação da lei que o
institui, o Imposto sobre:
a) Produtos Industrializados (IPI);
b) Importação de Produtos Estrangeiros (II);
c) Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários
(IOF);
d) a Renda de proventos de qualquer natureza (IR).

2. O Imposto sobre a Renda:


a) Tem como fato gerador a disponibilidade econômica ou jurídica de renda, assim
entendido o produto de capital, bem como os proventos de qualquer natureza, assim
entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito de renda.
b) Pode ter as atuais alíquotas substituídas por uma alíquota única, mediante alteração por
lei ordinária, que assegure a arrecadação do mesmo montante propiciado pela
legislação vigente.
c) Juntamente com o Imposto Territorial Rural, constitui os dois únicos impostos federais,
disciplinados por lei ordinária, que se submetem ao princípio da anterioridade, previsto
no art. 150, inc. III, "b", da Constituição Federal.
d) Imposto recebido na fonte pelo IPREM, autarquia municipal, em razão de rendimentos
pagos, a qualquer título, fica pertencendo àquela autarquia municipal.

3. A União Federal institui Imposto de Importação com alíquotas menores para as


mercadorias importadas por alguns Estados, em relação a outros, sob a alegação
de que aqueles Estados são mais pobres e os demais, ricos. Essa diferenciação é:
a) legítima, pois a União Federal tem poder para instituir tributos diferenciados em relação
aos Estados;
b) legítima, pois compete à União Federal a política de desenvolvimento dos Estados mais
pobres;
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c) ilegítima, pois a União Federal não pode instituir tributos que não sejam uniformes em
todo o território nacional;
d) ilegítima, pois a diferença de riqueza não está prevista como suporte para essa diferença
de tributos em relação aos Estados.

4. A União Federal lança Imposto de Renda contra alguém que cedeu em comodato
um imóvel cuja proprietária é pessoa que não é seu dependente. A base de cálculo
do imposto correspondeu ao valor estimado do aluguel. Esse imposto:
a) é devido, porque ocorreu disponibilidade jurídica da renda, embora não recebida
efetivamente;
b) é devido, porque a União Federal pode estimar a renda virtual do imóvel cedido em
comodato, tributando-a;
c) é indevido, porque o fato gerador é a disponibilidade econômica ou jurídica da renda;
d) é devido, porque o comodatário não é dependente do comodante.

5. Assinale a alternativa incorreta:


a) Ao Imposto de Exportação não se aplica o princípio da anterioridade da lei em relação
ao exercício financeiro de cobrança, por prestar-se como instrumento de política
econômica.
b) O fato gerador se dá no momento da saída de produtos nacionais ou nacionalizados do
território nacional.
c) O Poder Executivo não pode alterar as alíquotas do Imposto de Exportação nem em
função dos objetivos da política cambial nem em função dos objetivos do comércio
exterior.
d) O lançamento do Imposto de Exportação é feito, geralmente, mediante declaração
prestada pelo exportador, podendo a autoridade da administração tributária recusar
qualquer dos elementos desta declaração, desde que amparado pela legislação.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITOS HUMANOS

1. Assinale a alternativa incorreta:


a) A consolidação da cidadania é responsabilidade do Estado, responsabilidade essa
derivada do texto constitucional, que adotou, amplamente, a concepção
contemporânea de cidadania.
b) A ordem constitucional de 1988 representa um duplo valor simbólico: é ela o marco
jurídico da transição democrática, bem como da institucionalização dos direitos
humanos no País.
c) O Estado constitucional democrático de 1988 afigura-se um Estado de direito formal,
reduzido a simples ordem de organização e processo, legitimando-se como um Estado
de justiça social.
d) O texto constitucional de 1988 estabelece um Estado de bem-estar social,
intervencionista e planejador.

2. Assinale a afirmação incorreta:


a) A concepção contemporânea de cidadania reconhece a indivisibilidade e a
universalidade dos direitos humanos, bem como o processo de especificação do
sujeito de direito.
b) No processo de especificação do sujeito de direito, este deixa de ser visto em sua
abstração e generalidade e passa a ser concebido em sua concretude, em suas
especificidades e peculiaridades.
c) A consolidação da cidadania está condicionada ao fortalecimento de estratégias que
sejam capazes de implementar os três elementos essenciais à cidadania plena, quais
sejam, a indivisibilidade e universalidade dos direitos humanos e o processo de
especificação do sujeito de direito.
d) No processo de especificação do sujeito de direito, este é visto globalmente, na sua
generalidade, em confronto com as outras pessoas, sem se ater a particularidades e
especificidades.

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3. É errado afirmar que:


a) Os direitos essenciais da pessoa humana derivam do fato de ser ela pessoa humana,
independentemente de qualquer outra referência ou especificidade.
b) A Organização das Nações Unidas não prevê regras mínimas a serem observadas no
tratamento dos presos, deixando a cada País estipular, por si só, as condições,
respeitando a independência de cada Nação.
c) A tendência constitucional contemporânea é de conferir especial relevo aos direitos
humanos, concebidos como fundamentais e indissociáveis da plena realização da
pessoa humana, colocando o ser humano como figura central.
d) A Organização das Nações Unidas prevê regras mínimas para os reclusos e, entre elas,
contempla a igualdade entre os presos e regras básicas com respeito à separação dos
reclusos em categorias.

4. Aponte a alternativa incorreta:


a) A execução penal é uma atividade complexa, com reflexos no Direito Penal, no
Direito Processual Penal e no Direito Administrativo.
b) O objeto da execução penal é efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal e
proporcionar condições para uma harmônica integração social do condenado e do
internado.
c) A Lei de Execução Penal adota o pensamento da Escola da Nova Defesa Social,
movimento de política criminal humanista fundado na idéia de que a sociedade é
apenas defendida à medida que se proporciona a adaptação do condenado ao meio
social (teoria ressocializadora).
d) A execução da pena privativa de liberdade tem, essencialmente, finalidade retributiva
e preventiva, e apenas secundariamente preocupa-se com a reinserção social do
condenado.

5. Atente para as seguintes afirmações:


I. O princípio de legalidade da execução penal impõe que todas as medidas de
execução penal aplicadas pelo juiz da execução devem estar previstas em lei, sob
pena de caracterização de excesso ou desvio de execução.
II. O princípio da jurisdicionalidade, ou a jurisdicionalização da execução penal, é o
princípio pelo qual o juiz deve intervir em todos os momentos da execução,
especialmente no campo das providências de caráter administrativo.
III. Tem-se entendido que a execução penal integra o processo penal condenatório como
sua última fase; daí por que, em havendo processo de execução, todas as garantias
incidentes no processo penal devem ser observadas.

Assinale, agora, a alternativa correta:

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a) As três afirmações estão corretas.


b) As três afirmações estão incorretas.
c) Há, apenas, duas afirmações corretas.
d) Há, apenas, uma afirmação correta.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1. Os crimes de abuso de autoridade:


a) visam punir grandes abusos de poder, absorvendo as demais infrações penais;
b) são delitos subsidiários;
c) dependem, para sua configuração, de resultado naturalístico;
d) dependem de representação do ofendido, condição de procedibilidade para o
exercício da ação penal.

2. O art. 3.º, alínea “a”, da Lei n. 4.898/65:


a) é crime de consumação antecipada;
b) contém vários núcleos, o que o torna um delito de ação múltipla ou de conteúdo
variado;
c) tutela, exclusivamente, o prestígio da Administração Pública;
d) não incide quando o comportamento típico se amolda no art. 4.º, alínea “a”, da Lei
n. 4.898/65, pois se aplica o princípio da especialidade.

3. A inviolabilidade do domicílio:
a) é absorvida quando for crime-meio para a prática de outros abusos de autoridade;
b) enseja a aplicação da regra do concurso material com o delito previsto no art. 150, §
2.º, do Código Penal;
c) definida no art. 3.º, alínea “b”, admite a forma tentada;
d) é incompatível com o Estado Democrático de Direito.

4. O art. 3.º, alínea “c”, trata do sigilo da correspondência. Podemos afirmar que:
a) o tipo penal abrange as demais formas de comunicação, tais como a telefônica e a de
dados;
b) é absorvido, caso se configure crime previsto na Lei n. 6.538/78, que dispõe sobre
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os serviços postais;
c) a norma tutela uma garantia constitucional de cunho absoluto, não admitindo, por
exemplo, que a direção do estabelecimento penitenciário intercepte carta do preso;
d) n.d.a.

5. Segundo art. 3.º, alínea “i”, da Lei n. 4.898/65:


a) há consenso quanto à impossibilidade de configuração no caso de violência moral;
b) quando do abuso de autoridade decorrer lesão corporal ou morte da vítima, admite-
se o concurso material de crimes;
c) é pacífico na jurisprudência que o dispositivo revogou o art. 322 do Código Penal;
d) será sempre absorvido pela Lei de Tortura (Lei n. 9.455/97).

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

MEDICINA LEGAL

1. Assinale a alternativa incorreta:


a) Debilidade é o enfraquecimento ou redução da capacidade funcional ou de uso de
membro, sentido ou função.
b) Incapacidade permanente para o trabalho é a situação definitiva em que o indivíduo
fica privado de exercer qualquer atividade lucrativa.
c) A perda ou inutilização acarreta um dano em grau máximo na funcionalidade de
membro, sentido ou função.
d) Deformidade permanente consiste em qualquer alteração grave capaz de reduzir
alguma função do indivíduo.

2. São considerados sinais certos de conjunção carnal, exceto:


a) rotura himenal;
b) Hemorragia;
c) presença de esperma;
d) gravidez.

3. Assinale alternativa que contém a seqüência correta:


I. Atestado.
II. Relatório.
III. Parecer.
a. Descrição minuciosa de uma perícia médico-legal, a fim de responder à solicitação da
autoridade policial ou judiciária frente ao inquérito.
b. Documentos elementares, declaração pura e simples, por escrito, de um fato médico-
legal e suas conseqüências.
c. A discussão e a conclusão da perícia são os pontos de maior relevo nesse documento.

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a) I – a; II – b; III – c.
b) I – b; II – a; III – c.
c) I – b; II – c; III – a .
d) I – a; II – c; III – b.

4. Analise as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta:


I. Denomina-se natimorto o feto morto durante o período perinatal.
II. O feto nascente apresenta todas as características do infante nascido, menos a
faculdade de ter respirado.
III. Infante nascido é aquele que nasceu, respirou e recebeu os primeiros cuidados
médicos.
a) As alternativas I e II estão corretas.
b) As alternativas II e III estão corretas.
c) Somente a alternativa I está correta.
d) Todas as alternativas estão corretas.

5. Entre as afirmativas abaixo, assinale a alternativa que não corresponde a uma


prova de morte, segundo os padrões atuais:
a) Ausência total de resposta cerebral, com perda da consciência.
b) Causa de coma desconhecida.
c) Abolição dos reflexos cefálicos.
d) Estruturas vitais do encéfalo lesadas irreversivelmente.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1. Os recursos, nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e Juventude, salvo o


de agravo e embargos de declaração, têm prazo de interposição e resposta de:
a) Princípio da prevenção e da precaução.
b) Princípio do desenvolvimento sustentado.
c) Princípio da participação.
d) Princípio da educação ambiental.
e) Nenhuma das anteriores.

2. Os estudos e o respectivo relatório de impacto ambiental:


a)devem ser exigidos sempre que o empreendimento ou atividade importar em significativa
degradação ambiental.
b)torna-se dispensável, desde que o empreendedor preste caução idônea.
c)apresentados pelo empreendedor torna-se obrigatória a expedição das respectivas
licenças.
d)nenhuma das alternativas.

3. Em se tratando da competência para processar e julgar as ações ambientais, qual


das alternativas abaixo está absolutamente correta?
a) Deu-se à competência a natureza relativa, pois fixada em razão do território, podendo
ser derrogada, dependendo de exceção para ser conhecida.
b) Será deslocada para Justiça Federal em detrimento do foro do local do dano, bastando
para tanto que haja simples alegação de interesse da União na causa, conforme vem
decidindo o Superior Tribunal de Justiça.
c) Se o resultado do dano ecológico alcançar mais de um Estado-membro, competente
para apreciar e julgar a demanda será a Justiça Comum do Estado que tiver afetada
maior parte de seu território.
d) Será fixada pelo critério da prevenção na hipótese de dano generalizado que se espraie
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para além de uma mesma circunscrição judiciária.

4. O princípio do “poluidor-pagador” que vem sendo introduzido no Direito


Ambiental:
a) visa contestar a poluição, através do pagamento antecipado pelo poluidor de quantia a
ser revertida ao Fundo Estadual de Meio Ambiente pelos danos eventualmente causados.
b) significa que aquele que polui fica obrigado a corrigir ou recuperar o ambiente,
suportando os encargos daí resultantes, não lhe sendo permitido continuar a ação poluente,
ainda que esta tenha sido devidamente autorizada pelo Poder Público.
c) conjugado com a teoria da “ pré-ocupação” legitima o proprietário a exercer sua
atividade, emitindo ou não poluentes, desde que tenha se instalado anteriormente no local e
não implique em infração aos direitos de vizinhança.
d) n.d.a.

5. O estudo prévio de impacto ambiental exigido pela Constituição da República no


artigo 225, § 1º, IV, da CF/88:
a) tem por fim fazer valer o princípio da responsabilidade que norteia o Direito Ambiental.
b) dá aplicação ao princípio da prevenção que também o orienta.
c) aciona o poder de polícia ambiental do Estado, já que impõe uma limitação à liberdade
de iniciativa econômica do particular.
d) as duas últimas alternativas procedem.
e) impróprio.

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