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FCCE

Federação das Câmaras de Comércio Exterior


Foreign Trade Chambers Federation

2007
09 julho

Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL CORÉIA DO SUL
FCCE

Federação das Câmaras


de Comércio Exterior

Foreign Trade Chambers


Federation

Fédération des Chambres


de Commerce Extérieur

Federación de las Cámaras


de Comercio Exterior
Federação das Câmaras de Comércio
Exterior

A FCCE é a mais antiga Associação de Classe dedicada RIOR – FCCE assinou Convênio com o CONSE­LHO DE
exclusivamente às atividades de Comércio Exterior. CÂMARAS DE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS, organismo
Fundada no ano de 1950, pelo empresário João Daudt que representa as Câmaras de Comércio Bilaterais dos
de Oliveira (a ele se deve, 5 anos antes, a fundação da seguintes países: ARGEN­TINA, BOLÍVIA, CANADÁ,
Confederação Nacional do Comércio – CNC ), a FCCE CHILE, CUBA, EQUA­DOR, MÉXICO, PARAGUAI,
opera ininterruptamente, há mais de 50 anos, incenti- SURINAME, URUGUAI, TRINIDAD E TOBAGO e VE-
vando e apoiando o trabalho das Câmaras de Comércio NEZUELA.
Bilaterais, Consulados Estran­geiros, Conselhos Empre- Além de várias dezenas de Câmaras de Comércio Bi-
sariais e Comissões Mistas a nível federal. laterais filiadas à FCCE em todo o Brasil, fazem parte da
A FCCE, por força do seu Estatuto, tem âmbito nacio- Diretoria atual, os Presidentes das Câmaras de Comércio:
nal, possuindo Vice-Presidentes Regionais em diversos Brasil-Grécia, Brasil-Paraguai, Brasil-Rússia, Brasil-Eslo-
Estados da Federação, operando também no plano interna- váquia, Brasil-República Tcheca, Brasil-México, Brasil-Be-
cional, através “Convênios de Coope­ração” firmados com larus, Brasil-Portugal, Brasil-Líbano, Brasil-Índia, Brasil-
diversos organismos da mais alta credibilidade e tradição, a China, Brasil-Tailândia, Brasil-ltália e Brasil e Indonésia,
exemplo da International Chamber of Commerce (Câmara além do Presidente do Comitê Brasileiro da Câmara de
de Comércio Inter­nacional – CCI), fundada em 1919, com Comércio Internacional, o Presidente da Associação Bra-
sede em Paris e que possui mais de 80 Comitês Nacionais, sileira da Empresas Comerciais Exportadoras – ABECE,
nos 5 continentes, além de operar a mais importante o Presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferro-
“Corte Internacional de Arbitragem” do mundo, fundada viária – ABIFER, o Presidente da Associação Brasileira dos
no ano de 1923. Terminais de Contêineres, o Presidente do Sindicato das
A FEDERAÇÃO DAS CÂMARAS DE COMÉRCIO Indústrias Mecânicas e Material Elétrico, entre outros.
EXTERIOR tem sua sede na Avenida General Justo no Some-se, ainda, a presença de diversos Cônsules e diplo-
307, Rio de Janeiro, (Edifício da Confederação Nacional matas estrangeiros, dentre os quais o Cônsul-Geral da
do Comércio – CNC) e mantém com essa entidade, há República do Gabão, o Cônsul do Sri Lanka (antigo “Cei-
quase duas décadas “Convênio de Suporte Administrativo lão”), e o Ministro Conselheiro-Comercial da Embaixada
e Protocolo de Cooperação Mútua”. Em passado recente de Portugal.
a FEDERAÇÃO DAS CÂMARAS DE COMÉRCIO EXTE- A Diretoria
Diretoria 2006-2009
Presidente

JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1 s t Vice-Presidente

PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ

Vice-Presidentes Vice-Presidente Europa


Arlindo Catoia Varela Jacinto Sebastião Rego de Almeida (Portugal)
Gilberto Ferreira Ramos Vice-Presidente N or te
Joaquim Ferreira Mângia Cláudio do Carmo Chaves
José Augusto de Castro
Vice-Presidente Sudes te
Ricardo Vieira Ferreira Martins
Antonio Carlos Mourão Bonetti
Vice-Presidente Sul
Arno Gleisner

Diretores

Diana Vianna De Souza Luiz Oswaldo Aranha


Marie Christiane Meyers Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida
Alexander Zhebit Oswaldo Trigueiros Júnior
Alexandre Adriani Cardoso Raffaele Di Luca
Andre Baudru Ricardo Stern
Augusto Tasso Fragoso Pires Roberto Nobrega
Cassio José Monteiro França Roberto Cury
Cesar Moreira Roberto Habib
Charles Andrew T’Ang Roberto Kattán Arita
Daniel André Sauer Sergio Salomão
Eduardo Pereira De Oliveira Sizínio Pontes Nogueira
José Francisco Fonseca Marcondes Neto Sohaku Raimundo Cesar Bastos
Luis Cesario Amaro da Silveira Stefan Janczukowicz

Conselho Fiscal (Titulares)

Delio Urpia de Seixas


Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
Editorial

UM TIGRE DE PESO APOIO

A Coréia do Sul é o primeiro país asiático a ser enfocado pelo projeto de Seminários Bilate-
rais de Comércio Exterior e Investimentos, realizado pela Federação das Câmaras de Comércio
Exterior - FCCE, com o apoio e participação do governo federal, por meio dos Ministérios das
Relações Exteriores e do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, das principais
associações de classe, tais como a Confederação Nacional de Comércio - CNC, a Câmara de
Comércio Internacional – ICC, a Associação de Comércio Exterior do Brasil - AEB e o Conselho
das Câmaras de Comércio das Américas.
Ressaltar a importância deste seminário é, sem dúvida, pertinente. Em um mundo em que a
globalização se configura como um processo irreversível, buscar o desenvolvimento, incremento e
diversificação do comércio exterior brasileiro com países do leste asiático – região que apresenta
o mais pujante ritmo de crescimento econômico do planeta - revela-se tarefa das mais urgentes.
E dentro desse quadro regional e estratégico, é bastante salutar o reconhecimento da Coréia do
Sul como um país com o qual se deve estreitar relações toda e qualquer nação que aspira por uma
inserção maior no comércio mundial.
O seminário mostrou que muito temos a aprender com esse país asiático. Egressa de uma das
mais terríveis guerras do século XX (a Guerra da Coréia, ocorrida entre 1950 e 1953, dividiu o
país entre o norte comunista e o sul capitalista), a Coréia do Sul tornou-se, em menos de meio
século, um país de economia forte, com uma renda per capita três vezes maior do que a brasi-
leira. O país é reconhecido por apresentar um comércio exterior agressivo, no qual a venda de
CONSELHO DE
produtos de alta tecnologia prevalece em sua pauta exportadora.
CÂMARAS DE COMÉRCIO
Com empresas líderes nesse mercado de grande valor agregado, a Coréia do Sul consegue DAS AMÉRICAS
obter saldos positivos com vários países do mundo, inclusive o Brasil. Nem mesmo a crise finan-
ceira global, desencadeada em 1997, conseguiu reverter a posição de destaque que o país ostenta Expediente
como uma das mais importantes economias do mundo. Há muitos fatores que ajudam a explicar
o fenômeno sul-coreano, mas, sem dúvida, um dos principais é o forte investimento na educação Produção
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
em todos os níveis. Nesse quesito, infelizmente, o Brasil ainda apresenta defasagem nítida. – FCCE
Av. General Justo, 307/6o andar
O encontro promovido pela FCCE, contudo, deu provas de que há grandes motivos para Tel.: 55 21 3804 9289
que possamos acreditar em dias melhores para o Brasil no campo da economia. A estabilização e-mail: fcce@cnc.com.br
econômico-financeira é fato. O comércio exterior nacional continua, em 2007, andando a passos Editor
O coordenador da FCCE
largos e, ao que tudo indica, as exportações brasileiras poderão fechar o ano com um crescimento
Textos e Reportagens
de 16% em relação a 2006. Apesar da premente necessidade de se firmar uma agenda de refor- Ana Redig
Brunno Braga
mas estruturais, é cada vez mais factível acreditar que o País segue um rumo certo. Dentro desse
Edição e Arte
cenário positivo e de maior segurança econômica, é mais do que compreensível que empresários
Resh Comunicação
coreanos busquem investir mais no Brasil. O próprio empresariado brasileiro começa a acordar
Tel.: 55 21 2173 3553
para a necessidade de também entrar no importante mercado desse tigre asiático.
e-mail: info@resh.com.br
A FCCE investe, por meio da realização do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Jornalista Responsável
Investimentos Brasil-Coréia do Sul, na união de esforços entre o poder público e a iniciativa Adriana Melo (MTB:004014/98)
privada para que se intensifiquem ainda mais as linhas de comércio entre os dois países. A FCCE Revisão
acredita, portanto, que tão importante como promover encontros de alto nível como este é elevar Resh Comunicação
o fomento da cultura do comércio exterior - tão imprescindível no mundo de hoje - em todas Fotografia
Christina Bocayuva
as esferas da sociedade brasileira.
Secretaria
Maria Conceição Coelho de Souza
Sérgio Rodrigo Dias Julio
Boa leitura. As opiniões emitidas nesta revista são de
responsabilidade de seus autores. É permitida
a reprodução dos textos, desde que citada a
O EDITOR fonte.
Sumário

6 E ntrevista 30 C I N E M A
O embaixador Coréia do Sul investe
plenipotenciário da na sétima arte e
Coréia no Brasil, Jong- ganha prêmios
Hwa Choe revelou internacionais, com
que a intenção do cinema nacional em
governo coreano é grande fase
estimular ainda mais
as empresas a investirem no
país 3 2 investimentos
Acordos bilaterais são um caminho natural
1 2 A bertura para aquecer o comércio: alavanca exportações
e facilita o fluxo de investimentos no país
Parte do sucesso da Coréia no mercado
internacional é creditado aos inúmeros acordos
bilaterais fechados pelo país 3 6 tecnologia
Fortes investimentos em tecnologia e educação
elevaram o país asiático à condição de uma

1 5 Painel I das mais fortes economias do mundo

É preciso criar oportunidades de investimentos


e financiamentos
3 9 P olítica
Último Embaixador Plenipotenciário do Brasil
na Coréia do Sul, Pedro Paulo Assumpção
2 0 Painel I I fala sobre a ascensão econômica ocorrida no
país durante o período em que serviu em Seul
Em discussão: petróleo e prevê um relacionamento cada vez mais
e fontes alternativas de
energia próximo entre Brasil e Coréia

4 2 esporte
Taekwondo: o
esporte mais
2 5 painel I I I popular da Coréia
brilha nos Jogos
Alternativas para o incremento das relações Pan-Americanos do
comerciais Rio

5 3 relaç õ es bilaterais
2 9 E ncerramento
A Coréia do Sul é um dos países asiáticos de
maior potencial para parcerias comercias com
5 8 C urtas
o Brasil
E ntrevista

Intensificação das
relações bilaterais
entre Brasil e Coréia
vai gerar ganhos para
ambas as partes
Países têm muito a aprender um com o outro
Brasil e Coréia do Sul são países que estão distantes geograficamente, mas que traba-
lham em conjunto para estreitar as relações. Alcançando esse objetivo, ambas as nações
terão muito a ganhar. A análise é do Embaixador Plenipotenciário da Coréia no Brasil,
Jong-Hwa Choe, que participou do Seminário Bilateral de Comércio e Investimentos
Brasil-Coréia do Sul, no qual proferiu pronunciamento especial durante a Sessão Solene
de Abertura do evento.
Em entrevista concedida à Revista da Federação das Câmaras de Comércio Exterior,
Choe revelou que a intenção do governo coreano é estimular ainda mais as empresas a
investir no Brasil. Ele também aproveitou para convidar empresas brasileiras a entrar no
mercado coreano, uma vez que a economia daquele país está entre as mais dinâmicas do
mundo. Há um ano e meio servindo como embaixador no Brasil, ele falou ainda sobre
projetos de parceria que coreanos e brasileiros podem firmar no campo dos biocombus-
tíveis, demonstrando que o governo coreano também está preocupado com os potenciais
problemas climáticos que poderão advir com o aquecimento global.

Como o senhor avalia a importância ótima oportunidade para nos conhecermos


deste seminário? ainda mais.
JHC - Brasil e Coréia vêm estabelecendo,
nos últimos anos, ótimas relações, não Qual a visão geral que a Coréia do
somente no campo do comércio, mas em Sul tem em relação ao Brasil e como
vários outros setores. No entanto, chama ela pode facilitar o intercâmbio co-
a atenção o fato de estarmos nos tornando mercial entre os dois países?
cada vez mais próximos na área das trocas JHC - O Brasil é um país imenso, tanto em
comerciais, que atingiu um fluxo de US$ população quanto em extensão territorial.
5,7 bilhões de dólares no ano passado. Sem Além disso, dispõe de grande abundância
falar que os investimentos das empresas de recursos naturais. Não obstante essas
coreanas no Brasil vêm crescendo de for- características, o Brasil possui uma demo-
ma bastante significativa também. Há mui- cracia sólida e uma economia que vem se
tas indústrias coreanas em várias partes do destacando ao longo dos anos. Tudo isso
Brasil. Temos fábricas em São Paulo, Rio faz com que ele se torne um global player
de Janeiro, Ceará, Manaus, etc. Enfim, as de peso. Por essa razão, a Coréia busca
nossas relações estão melhorando cada vez se aproximar cada vez mais do Brasil. É
mais e as projeções são bastante otimistas. claro que estamos muito distantes geogra-
Por isso, o seminário é, sem dúvida, uma ficamente mas, hoje em dia, as distâncias

 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l •Coréia do Sul 
E ntrevista

geográficas não são tão importantes. O


mundo de hoje permite que contatos
sejam estabelecidos de forma instantânea,
o papel de estreitar as relações entre os
dois países, pois são esses imigrantes que,
no dia-a-dia, apresentam e introduzem a
“ O Brasil é um país imenso,
tanto em população quanto em
extensão territorial. Além disso,
independentemente das distâncias. Há, cultura e o modo de vida coreanos no Bra-
sem dúvida, entre os dois países diferenças sil. Por outro lado, quando muitos deles dispõe de grande abundância de
culturais marcantes. No entanto, se houver viajam para a Coréia, acabam fazendo o recursos naturais. Não obstante
investimentos em políticas que visem a um mesmo por lá.
maior intercâmbio, os brasileiros conse-
essas características, o Brasil pos
guirão promover o seu país na Coréia e Há convênios e parcerias firmados sui uma democracia sólida e uma
nós estaremos promovendo mais a Coréia que o senhor poderia destacar? economia que vem se destacando
no Brasil. JHC - Sim, há vários acordos firmados
ao longo dos anos.Tudo isso faz
entre os nossos países, mas o objetivo é
que mais acordos sejam estabelecidos. No com que ele se torne um global


Como fazer com que as relações
entre os dois países se fortaleçam, âmbito do Mercosul, bloco regional no player de peso
a despeito das diferenças culturais qual o Brasil faz parte, já realizamos cinco J o n g - H wa C h o e
existentes? encontros, objetivando intercambiar in-
JHC - Existem no Brasil cerca de 50 mil formações sobre a situação econômica e a se, então, o Grupo do Estudo Conjunto
coreanos, sem falar nos descendentes, que agenda comercial de ambos. Em 2004, por Mercosul-Coréia, que deverá avaliar as
aqui moram e trabalham. A esmagadora ocasião da visita do Presidente da Coréia, perspectivas de uma negociação comercial
maioria deles está em São Paulo. Grande Roh Moo-Hyun, a Brasília, foi anunciada entre as partes.
parte deles é formada de empresários de a realização de um estudo conjunto para
pequeno e médio porte. O interessante avaliar o impacto de um eventual acordo A Coréia do Sul é o quinto maior
é que esses coreanos acabam exercendo comercial Mercosul-Coréia. Formou- importador de petróleo e o sétimo

10 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


maior consumidor de petróleo do
mundo. Atualmente, quando se
fala na busca por combustíveis re-
Perfil
nováveis, não seria do interesse da O Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Coréia no
Coréia do Sul em também investir Brasil, Jong-Hwa Choe, assumiu o atual posto que ocupa em março de 2006, mas
nessa área? tem uma extensa jornada dentro da carreira diplomática do seu país. Economista,
JHC - O governo da Coréia está se formado pela Universidade Nacional de Seul, ele iniciou a carreira em 1975, depois
mostrando bastante preocupado com as de obter aprovação no exame de seleção para o Alto Serviço Diplomático coreano.
ameaças do aquecimento global. Por isso, Em 1978, ele atuou como Vice-Cônsul Geral do Consulado da Coréia em Nova
o nosso governo tem feito o máximo para Iorque. Em seguida, já no início da década de 80, ele ocupou a posição de Segundo
incorporar medidas que diminuam o im- Secretário na Embaixada da Coréia no Panamá e, em 1985, assumiu o cargo de
pacto que esse problema ambiental pode Primeiro Secretário na Embaixada da Coréia nos Estados Unidos.
acarretar. Assim, estamos começando a Após passar por vários setores dentro do Ministério de Relações Exteriores da
buscar fontes de energia renovável, como Coréia, assumido, por diversas vezes, cargos de chefia, foi no ano 2000 que ele
os biocombustíveis. Nesse momento, o ocupou, pela primeira vez, o posto de embaixador, junto à Embaixada da Coréia
nosso governo estuda criar leis que es- na Jordânia. Dois anos mais tarde, ele ficou à frente da Embaixada da Coréia nos
timulem empresas a utilizarem energia Estados Unidos, onde ficou até 2006, para depois assumir o cargo de Embaixador
renovável, como a adoção de veículos flex no Brasil.
(movidos tanto a álcool como a gasolina).
Mas precisamos buscar parcerias nesse
setor para que possamos implementar volvimento econômico da Coréia. servar bem, a política educacional coreana
essas políticas. E, nesse aspecto, vemos no Em que bases e prioridades esses não é muito diferente da brasileira. Mas na
Brasil um importante aliado na busca de investimentos foram feitos? Coréia, ficou estabelecido um comprome-
soluções para esse problema. Afinal, vocês JHC - Há mais de 50 anos, o nosso gover- timento social e familiar para a melhoria
representam a liderança mundial no setor no entendeu que investir em educação era na educação. Sem o comprometimento das
de energia renovável, com tecnologia de a chave que abriria as portas para o desen- famílias coreanas com a educação, talvez
ponta e recursos em abundância. volvimento. E nós fizemos investimentos não tivéssemos alcançado o sucesso no
em todos os níveis, desde a educação básica desenvolvimento socioeconômico que nós
O forte investimento em educação até a formação universitária. Mas eu gosta- ostentamos hoje.
promovido pelo governo coreano é ria de acrescentar que o sucesso do setor
apontado como um dos principais educacional coreano não é fruto apenas de O que o Brasil pode aprender com a
fatores para o sucesso do desen- políticas governamentais. Se formos ob- Coréia e, por outro lado, o que a Co-
réia pode aprender com o Brasil?
JHC - Bom, acredito que o que Brasil pode
aprender conosco a importância que nós
damos para os investimentos em ciência e
tecnologia, focando, como base para alcan-
çar esse objetivo, fortes investimentos em
educação, como já mencionei. Além disso,
outro fator que consideramos importante
para o desenvolvimento da economia
coreana é a nossa grande abertura para a
economia mundial. Em relação ao que nós
podemos aprender com o Brasil, eu gosta-
ria de destacar as ótimas relações entre os
mais diversos povos que aqui residem. No
Brasil não há conflitos religiosos, étnicos,
regionais e ideológicos. Para um país como
o nosso, dividido por ideologias, é uma
lição de convivência pacífica que o Brasil
passa, não somente para nós coreanos, mas
Souza Lima, presidente da FCCE, cumprimenta o Embaixador Jong-Hwa Choe para o mundo como um todo.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l •Coréia do Sul 11


A bertura

Parte do sucesso da Coréia


no mercado internacional é
creditado aos inúmeros acordos
bilaterais fechados pelo país
Relação comercial entre Brasil e Coréia do Sul ainda é muito pequena

Em tempos de economias globa-


lizadas, a Coréia do Sul é um país
que se encaixa perfeitamente no
que se pode considerar um caso
de sucesso. Ostentando, há várias
décadas, elevados índices de desen-
volvimento industrial e socioeconô-
mico, apresentando uma economia
amplamente aberta a investimentos
estrangeiros e contando com um
dos parques tecnológicos mais
avançados do mundo, o país asiático
é hoje um global player de peso e,
daí, a importância de se buscar um
maior estreitamento nas relações Mesa de abertura do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-Coréia

comerciais com esse país. Com a neiro, e promovido pela Federação


P
ara a Sessão Solene de Abertura
do Seminário, compuseram a
apresentação de um Estado que das Câmaras de Comércio Exterior mesa de trabalhos o secretário
possui perfil promissor e ávido por - FCCE, no dia 9 de julho de 2007. de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio
firmar parcerias comerciais com O evento teve a participação de Exterior - MDIC, Armando Meziat, pre-
o Brasil, teve início o Seminário representantes dos dois governos, sidindo a sessão; o senador e consultor
da Presidência da CNC, Bernardo Ca-
Bilateral de Comércio Exterior e In- membros do setor empresarial dos bral; o ex-presidente do Banco Central,
vestimentos Brasil-Coréia, realizado dois países, acadêmicos e estudantes Carlos Geraldo Langoni; o embaixador
plenipotenciário da Coréia do Sul no
na sede da Confederação Nacional da área de Relações Internacionais, Brasil, Jong-Hwa Choe; o presidente do
do Comércio - CNC, no Rio de Ja- além de demais convidados. Conselho Superior da FCCE, Teophilo

14 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


A bertura

de Azeredo dos Santos; e o embaixador e comércio exterior coreano está abaixo de


diretor-conselheiro do Conselho Superior 1%”, afirmou.
da FCCE, Paulo Pires do Rio. O secretário revelou também que a
Ao fazer a apresentação inicial da ses- pauta das exportações brasileiras para a
são, o secretário de Comércio Exterior Coréia está concentrada em commodities.
do MDIC, Armando Meziat, fez um breve Em contrapartida, as exportações coreanas
levantamento acerca do comércio exterior para o Brasil concentram-se, em quase
brasileiro frente ao coreano. “Sabemos que sua totalidade, nos produtos industria-
a Coréia, nos últimos anos, teve um desen- lizados. “O que temos visto no Brasil,
volvimento extraordinário nas suas trocas principalmente este ano, é o crescimento
comerciais, atingindo, em 2006, a marca das exportações dos produtos básicos,
de US$ 600 bilhões na sua corrente de puxado pelas cotações internacionais e
comércio. Enquanto isso, o Brasil, que até pelas condições favoráveis do mercado
os anos 60 exportava mais do que a Coréia, internacional. Não podemos esquecer,
hoje tem menos da metade do volume de entretanto, de que é necessário crescer a
exportações quando comparado àquele participação das exportações dos produtos
país”, afirmou Meziat. Ele considerou, manufaturados”, considerou.
no entanto, que o Brasil está assistindo, Dentro de um plano geral, Meziat
nos últimos anos, o crescimento da par- afirmou que os exportadores brasileiros
ticipação do seu volume de comércio podem contar com o apoio governamen- “Enquanto a Coréia
com o resto do mundo, notadamente no tal para a inclusão de novas empresas
comercializa com o mundo
setor de exportação. Para evidenciar essa de comércio exterior, sobretudo para
análise, o secretário citou projeções do dar condições para que os exportadores cerca US$ 600 bilhões, a
governo federal que apontam um volume continuem com a performance apresen- nossa participação no
de exportações, até o final deste ano, da tada nos últimos anos, apesar da taxa de comércio exterior coreano
ordem de US$ 150 bilhões, representando câmbio atual estar pouco competitiva.
um aumento de 10,5% em relação ao ano “Estamos fazendo com que essas empresas está abaixo de 1%”
anterior. A performance das importações continuem a apostar no comércio exterior A r m a n d o M e z i at .
foi também apontada por Meziat como e incorporando inovações tecnológicas,
mais um termômetro de como o comércio apostando, assim, na melhoria da sua 40 empresas coreanas estão hoje fazendo
exterior nacional vive um bom momento produtividade. Dentro desse espírito, acho negócios nos mais variados setores indus-
no ano de 2007. “No período de 12 meses este seminário extremamente oportuno”, triais, por todo o Brasil. Mesmo assim, há
(entre junho de 2006 e julho de 2007), já concluiu o secretário, passando a palavra ainda muitas outras empresas coreanas que
superamos a marca dos US$ 100 bilhões ao embaixador plenipotenciário da Coréia estão procurando parceiros comerciais e
em importações”, declarou. Contudo, do Sul no Brasil, Jong-Hwa Choe, que fez de negócios para os seus investimentos.
de acordo com o secretário, o comér- o pronunciamento especial para a Sessão Nesse contexto, algumas companhias
cio exterior brasileiro precisa ampliar o Solene de Abertura. brasileiras estão também dando bastante
seu relacionamento com o mundo. Ao atenção ao vigoroso mercado coreano e
comparar os resultados brasileiros com Reforçar as relações bilaterais ao seu grande potencial de crescimento”,
os coreanos, o representante do MDIC O embaixador iniciou a sua fala fazendo afirmou.
disse que ainda há muito a ser feito para agradecimentos à iniciativa da FCCE em A robustez da economia coreana
alcançar o patamar desejado no setor de realizar o seminário e à presença dos con- também foi ressaltada pelo embaixador.
comércio exterior. vidados ao evento. “O comércio bilateral Ele mencionou que, no ano passado, o
Ao levar em conta as trocas comerciais e os investimentos entre Brasil e Coréia tamanho do mercado importador corea-
entre Brasil e Coréia, Meziat avaliou que têm crescido consideravelmente nos no alcançou a marca de US$ 320 bilhões
essa relação é ainda muito pequena. “Há últimos anos. Somente no ano passado, e que esse setor no país está crescendo
nessa relação um déficit de US$ 1 bilhão nosso comércio bilateral totalizou cerca a uma média de 10% a 20% ao ano. “A
para o nosso país. Exportamos para os de US$ 5,7 bilhões, o que representou Coréia tem um mercado aberto bastante
coreanos, no ano passado, apenas US$ 2 um crescimento de 30% em relação ao amplo para todos os países do mundo.
bilhões e importamos desse país somente ano anterior”, declarou o embaixador. De Nesse sentido, é muito encorajador saber
US$ 3 bilhões. Além disso, enquanto a acordo com ele, os investimentos também que duas das maiores empresas brasileiras
Coréia comercializa com o mundo cerca registraram crescimento notável, alcan- - a Companhia do Vale do Rio Doce e o
US$ 600 bilhões, a nossa participação no çando em torno de US$ 1 bilhão. “Mais de Banco do Brasil - instalaram escritórios

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 15


A bertura

país, procurando novas oportunidades de de acordos bilaterais”, declarou. Estou convencido que isso nos dará uma
negócios por lá”. Para o embaixador, isso Ele revelou que, em relação ao Brasil, excelente oportunidade para colocar as
representa um desenvolvimento bastante estão sendo conduzidos há dois anos es- nossas atuais relações de comércio e de
positivo. Em sua avaliação, tais iniciativas tudos que objetivam firmar um Tratado investimentos num nível mais alto”, con-
podem estimular outras companhias bra- de Livre Comércio com o Mercosul. “As cluiu. Após o término do pronunciamento
sileiras a entrar no mercado coreano.“A nossas economias parecem ter condições do embaixador, o presidente da mesa,
Coréia está de braços abertos para receber ideais para firmar mecanismos de livre Armando Meziat, deu por encerrada a
empresas brasileiras de porte internacional comércio, pois temos um justo grau de Sessão Solene de Abertura.
como a Petrobras, a Embraer, a Friboi, a complementariedade”, considerou o
Gerdau, a Datasul e a Marcopolo. Gos-
taríamos de ter os seus escritórios de
representação em nosso país”, disse. O
diplomata acrescentou que a Embaixada
embaixador. De acordo com os cálculos
apresentados pelo diplomata, o tratado
trará resultados que atenderão às expecta-
tivas de se atingir um fluxo de comércio da
“ A Coréia está de braços abertos
para receber empresas brasileiras
de porte internacional como a
da Coréia, em Brasília, e o Consulado ordem de US$ 1 trilhão, caso os dois países Petrobras, a Embraer, a Friboi, a
Coreano, em São Paulo, estão prontos para concluam um acordo de livre comércio.
receber e ajudar, da maneira necessária, “Precisamos olhar de maneira proativa
Gerdau, a Datasul e a
todas as empresas brasileiras que desejem para a atual conformação do comércio Marcopolo. Gostaríamos
fazer negócios com o país asiático. global e considerar todos os benefícios de ter os seus escritórios de
Outro aspecto considerado relevante
pelo embaixador, com vistas ao desen-
volvimento das relações comerciais e de
investimentos entre Brasil e Coréia, é o
potenciais que um Tratado Bilateral de
Livre Comércio entre Brasil e Coréia
poderia trazer para as nossas economias.
representação em nosso país
J o n g - H wa C h o e ”
estabelecimento de conversações entre os
países, com o objetivo de se firmar acor-
dos bilaterais de livre comércio. “Apesar
do engajamento ativo das negociações em
bases globais nos últimos quatro anos,
ainda não vemos uma luz no fim do túnel

“ As nossas economias parecem


ter condições ideais para firmar
mecanismos de livre comércio,
pois temos um justo grau de
complementariedade
J o n g - H wa C h o e ”
em relação às metas traçadas na Rodada
de Doha. Por isso, a Coréia tem também
buscado firmemente um grande número
de tratados bilaterais de comércio e in-
vestimento. Nós já assinamos um Tratado
de Livre Comércio com o Chile, com a
ASEAN - Associação de Nações do Su-
deste Asiático e EFTA (sigla em inglês para
Associação Européia de Livre Comércio).
Muito recentemente, assinamos um im-
portante Tratado de Livre Comércio com
os EUA. Além disso, a Coréia está agora
intensivamente conduzindo negociações
comerciais com o Canadá e Japão em bases

16 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Painel I

Criando oportunidades de
investimentos e financiamentos
Painel discutiu as potencialidades dos mercados dos dois países

Palestrantes do Painel I discutiram alternativas para o incremento das relações entre Brasil e Coréia, levando em consideração um sistema de competição
global cada vez mais acirrado

Analisar e preparar um ambiente Banco Central do Brasil e atual dire- moderada pelo vice-presidente da
macroeconômico propício para o tor do Centro de Economia Mundial FCCE, Paulo Fernando Marcondes
aumento do fluxo de investimentos da Fundação Getúlio Vargas – FGV Ferraz, mostrou a importância de
entre Brasil e Coréia do Sul. Esse foi – que também presidiu a sessão; se discutir, de forma aprofundada
o objetivo do Painel I do Seminário Wong Chan Park, vice-presidente e qualificada, os meandros econô-
Bilateral de Comércio Exterior do Korean Development Bank; e micos e políticos dos dois países
e Investimentos Brasil-Coréia. O Dong-Hyung Park, diretor-geral dentro de um sistema de competi-
painel teve como expositores Carlos da Korea Trade-Investment Pro- ção global cada vez mais acirrado e
Geraldo Langoni, ex-presidente do motion Agency - Kotra. A sessão, complexo.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 17


Painel I

L
angoni teceu elogios à condução expansão das exportações. Com todo esse tratégia que vem sendo implantada com
da política macroeconômica brasi- ambiente externo, a economia brasileira êxito”, afirmou.
leira que, segundo ele, vem tendo consegue “surfar” nessa onda favorável” Sem desconsiderar a permanência do
resultados surpreendentes. “Hoje é muito analisou. papel dos Estados Unidos como carro-
mais fácil falar sobre o futuro da economia Além do “bom humor” da economia chefe do comércio mundial, ele declarou
brasileira. O Presidente Lula disse que o global, Langoni considerou bastante que a liderança americana vem perdendo
Brasil vive um momento mágico, mas em o peso que ostentava há algumas décadas,


economia, esses momentos não acontecem em razão do soerguimento da China. Para
por acaso. Eles têm fundamentos lógicos”, Apesar de todas essas Langoni, as principais preocupações para
afirmou Langoni. O economista explicou incertezas, a economia uma possível instabilidade econômica
que os bons números da economia nacional são os chamados déficits gêmeos (fiscal e
se devem, em grande parte, ao ambiente mundial segue uma trajetória conta-corrente) da economia americana.
financeiro internacional positivo. Em sua de expansão. Eu diria que a “Apesar de todas essas incertezas, a eco-
análise, o mundo se recuperou de forma probabilidade de um ajuste nomia mundial segue uma trajetória de


extraordinária após viver uma breve re- expansão. Eu diria que a probabilidade
cessão em 2001.
recessivo hoje é pequena de um ajuste recessivo hoje é pequena”,
“A economia internacional vive uma era Carlos Geraldo Langoni afirmou. De fato, o boom dos preços das
de ouro e vem crescendo a taxas de 5% ao commodities, em virtude, sobretudo, da for-
ano. Ao mesmo tempo, há uma situação de te demanda chinesa, pode dar uma idéia de
grande liquidez internacional, com juros pertinente o processo de mudanças na que uma forte crise internacional não está
reais muito baixos. Existe, na realidade, mentalidade nacional. Esse novo compor- num horizonte próximo. “As commodities
um excesso de poupança e é preciso alocá- tamento veio propiciar uma arquitetura continuam com preços elevados. Ainda
la na busca de investimentos rentáveis”, de- macroeconômica consistente que se baseia este ano, o aumento dos preços desses
clarou. Para ele, as economias emergentes na estabilidade, no esforço de manter a produtos primários foi em torno de 19%”,
que apresentam um bom comportamento inflação sob controle, na responsabilidade explicou Langoni.
macroeconômico são as que mais têm se fiscal, na necessidade de gerar superávits As projeções para o futuro da economia
beneficiado com o atual clima de intenso primários sustentáveis e na adoção do brasileira também são boas. Ao comentar
fluxo de capitais. “O comércio mundial câmbio flutuante. “Estamos colhendo as estimativas do governo federal para o
sempre cresce como múltiplo do PIB benefícios e podendo amplificar o efeito superávit comercial de US$ 42 bilhões
mundial. Há uma demanda externa extre- desse cenário externo favorável devido à em 2007, ele disse que o Brasil aproveitou
mamente robusta que ajuda a viabilizar a consistência e à formulação de uma es- esse momento favorável para acumular um
expressivo volume de reservas internacio-
nais. Segundo dados do Banco Central, o
governo brasileiro conta com US$ 145
bilhões em reservas. “Até o final do ano,
acredito que elas estejam no patamar de
US$ 165 bilhões”, declarou.

Risco Brasil
O economista observou a redução da
relação entre a dívida líquida pública e o
PIB como um dos sinais de que o Brasil
caminha no rumo certo. “A dívida pública
apresentava uma tendência de crescimento
explosiva até 2002, até que começou a se
estabilizar. A tendência agora é de queda
gradual e firme. As projeções são de que,
a partir de 2008, essa relação fique abaixo
de 40% do PIB, caminhando para 35%
nos dois anos seguintes. Isso é resultado
de uma política fiscal apertada, com ge-
ração de superávits primários expressivos,
Langoni traça cenário macroeconômico otimista
acima de 4% do PIB. Estamos reduzindo

18 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Painel I

a nossa vulnerabilidade interna”, declarou. palmente na área fiscal. Abertura comercial


Segundo Langoni, além da mudança do Langoni informou que todo esse am- Para atender ao anseio de pavimentar a
perfil da dívida, há no governo um senso de biente de estabilidade na economia está rota do crescimento econômico expressivo
responsabilidade econômica, buscando mi- possibilitando a queda do risco-país. A e sustentável, Langoni disse que é preciso
nimizar os riscos de default, o que faz com decisão da administração atual em manter superar os obstáculos dos baixos índices
que o país gere confiança. Ele explicou a política macroeconômica do governo an- de investimentos no país, com taxa atual
que, ao eliminar os papéis indexados à taxa terior vem fazendo com que o índice que abaixo de 20%. Contudo, ele projetou
de câmbio, o Brasil conseguiu aumentar os mede o grau de risco para investimentos uma tendência de crescimento da taxa
prazos de pagamentos da dívida e a capta- no país, elaborado por agências interna- de investimentos para os próximos anos.
ção de investimentos externos. “O Brasil é cionais, diminua sensivelmente. “Hoje o “Estamos prevendo algo em torno de 25%
hoje um país muito mais seguro para atrair risco-país anda flutuando em torno de do PIB, o que é, na verdade, um índice
investimentos privados”, declarou. 150 pontos-base e, pela primeira vez, não razoável. Para se ter uma idéia, o Chile
A queda da taxa de juros também foi houve percepção de aumento de risco em é o único país latino-americano que tem
apontada por Langoni como de extrema um quadro eleitoral durante a campanha taxas de investimentos da ordem de 27%
importância para a saúde da economia presidencial de 2006. Isso significa um do PIB. Atingindo a taxa de 25% , acredito
nacional. Ele destacou o papel do BC que, amadurecimento fantástico em âmbito que um novo nível de crescimento poten-
apesar de ser extremamente criticado, institucional e deve se repetir nas próxi- cial da nossa economia será viabilizado”,
soube conduzir a tarefa de reduzir os juros mas eleições”, afirmou. Ele ressaltou que considerou.
básicos sem comprometer a estabilidade a queda de percepção de risco já coloca o De acordo com Langoni, o baixo índice
monetária. “Muitas vezes, o BC tem que Brasil próximo à categoria de investiment de investimentos acaba por refletir nos
remar contra a maré. Quando havia o grade. “É um momento emblemático. Do resultados que medem o grau de compe-
risco de uma aceleração inflacionária, a ponto de vista macroeconômico e fiscal, titividade das empresas brasileiras dentro
instituição elevou os juros. Contudo, o que estamos melhor que a Índia, que já é um do contexto internacional. “Estamos em
país de reconhecido baixo grau de risco de 49º lugar, atrás do México e da Rússia. A


investimento”, afirmou o economista. Na
O Brasil tem que avançar América Latina, somente dois países são
explicação está no fato de que temos um
setor privado extremamente competitivo,
mais em termos de abertura considerados pelas agências de risco como mas o ambiente de negócios ainda penaliza
da economia, porque há investment grade: Chile e México. o setor privado. Carga tributária excessiva
uma correlação muito forte Energia – algo em torno de 35% do PIB -, marco
entre abertura, ganhos de regulatório muitas vezes indefinido ou
Langoni elogiou a iniciativa governa- pouco consistente”, afirmou o economista.
produtividade e investimentos mental de preparar um pacote de me- Para ele, sem uma melhoria institucional,
diretos estrangeiros didas para dirimir potenciais problemas o Brasil vai continuar perdendo um espaço


de infra-estrutura no setor de energia, que poderia ser muito maior.
e domésticos com o Programa de Aceleração do Cres- No que tange ao perfil da abertura
Carlos Geraldo Langoni cimento - PAC. Ele lembrou que o país comercial brasileira, o ex-presidente do
apresenta uma matriz energética das mais Banco Central disse que o País apresenta
diversificadas e equilibradas do mundo. hoje uma taxa de coeficiente de abertura
vemos é que estamos caminhando para um “Temos um potencial imenso no campo da ordem de 30% em relação ao PIB.
índice de juros básicos em torno de 10,5% da energia hidrelétrica e expressivas fontes Apesar de reconhecer que essa taxa é
para o final deste ano, o que significa uma de petróleo e gás natural. Contamos com maior do que a média histórica, de 12%,
taxa real em torno de 6,5%, já que o uma enorme possibilidade de produção de ele considerou esse índice ainda baixo. “O
governo prevê uma inflação na casa dos energia através da biomassa. Somos líderes Brasil tem que avançar mais em termos
4% em 2007”, declarou. Apesar de ainda em produção de etanol, que acabou se de abertura da economia, porque há uma
considerar alta a taxa de juros estimada, tornando moeda de barganha geopolítica correlação muito forte entre abertura,
ele ressaltou que ela ficará bastante abaixo e alavanca para investimentos estrangeiros ganhos de produtividade e investimentos
dos índices registrados dois anos atrás. e de comércio. Sem falar no grande po- diretos estrangeiros e domésticos”, disse.
“Provavelmente, em 2008, vamos ter uma tencial na área do biodiesel”, disse. Apesar Na avaliação dele, o Brasil tem que liderar
taxa real na faixa de 6%”, projetou. Para disso, segundo ele, o Brasil não consegue esse processo de destravamento da Rodada
ele, entretanto, a aceleração da queda da apresentar um marco regulatório consis- de Doha e ser mais agressivo e pragmático
taxa de juros só não é mais intensa em tente, o que pode afugentar investimentos nas negociações bilaterais.
razão da suspensão da agenda de reformas privados que visem a uma melhoria do Langoni reafirmou seu otimismo em
estruturais da economia brasileira, princi- setor de energia brasileiro. relação ao futuro da economia brasileira.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 19


Painel I

“Estamos na ante-sala do clube restrito a partir dos anos 90, verificamos diversos liga o aeroporto internacional ao centro
de países que crescem de forma contínua gargalos em nossa infra-estrutura. Por isso, de Seul e teve um custo total de US$ 1,7
por dez, quinze anos. O nosso modelo foi criado, em 1994, o PPI”, afirmou Park. bilhão. “A construção dessa via nos deu a
atual vai levar a economia brasileira a um De acordo com o representante do KDB, dimensão necessária de como os projetos
patamar de crescimento em torno de 4% e o programa tinha como objetivo aumentar em infra-estrutura na Coréia alcançariam
5%, o que já é um resultado extremamente os investimentos em infra-estrutura e su- altos custos”, revelou o representante da
significativo. Esse quadro representa, sem perar esses grandes gargalos, decorrentes KDB. Ele explicou que a geografia da Co-
dúvida, uma perspectiva real de o Brasil dos poucos investimentos governamentais réia, que tem 70% do território rodeado
encontrar, finalmente, um padrão muito nessa área no início dos anos 80. “Era pre- por montanhas, é a principal razão dos


mais estável e socialmente mais favorável ciso resolver esse caos em curto tempo. O
de desenvolvimento”, concluiu. PPI foi a fórmula encontrada pelo governo Com a finalidade de dar
coreano para induzir recursos privados garantias à iniciativa
KDB nos setores de infra-estrutura e evitar que
O segundo expositor do painel foi o enormes gastos públicos se transformas-
privada para que haja
vice-presidente do Korea Development sem em déficits fiscais futuros”, disse. recursos disponíveis
Bank - KDB, Woong Chan Park. Ele ini- O palestrante revelou que há, atualmen- para a finalização
ciou a sua exposição traçando um breve te, cerca de 68 projetos em andamento no de projetos, durante o
histórico do banco de desenvolvimento país. Os custos totais de financiamentos,
coreano. Fundada em 1954, logo após o desde a implementação do programa em período de construção,
final da Guerra da Coréia, a instituição 1994, estão na ordem de US$ 54 bilhões. os subsídios podem
surgiu com o objetivo de dar suporte ao “A via de acesso para o Aeroporto Inter- chegar até a 40% dos


desenvolvimento da economia sul-core- nacional Incheon foi o primeiro projeto
ana, em moldes similares ao do BNDES. a ser implantado pelo PPI”, afirmou. A custos totais
“Apesar de ser um banco governamental, estrada, que tem extensão de 40 Km, Woong Chan Park
atuamos também como uma instituição de
múltiplas funções, como aquelas voltadas
para carteiras de crédito comercial”, dis-
se o representante do KDB. Ele revelou
que, no ano passado, o banco passou a
atuar no Brasil por meio de uma agência
subsidiária.
Em relação às políticas públicas de
investimentos em infra-estrutura, Park
apresentou ao público a experiência ado-
tada pela Coréia nesse campo, denominada
Participação Privada em Infra-estrutura
- PPI, que segundo ele, é a versão coreana
da Parceria Público-Privada - PPP brasi-
leira. Ele citou o Programa de Aceleração
do Crescimento - PAC, como um progra-
ma governamental que também guarda
semelhanças com as antigas iniciativas do
governo coreano, no tocante ao aporte de
recursos públicos em obras de infra-estru-
tura no país. “Tomei conhecimento de que
o PAC é um programa que visa a estimular
o crescimento da economia brasileira em
uma média anual de 5% nos próximos
quatro anos, com fortes investimentos
governamentais, sobretudo em infra-es-
trutura. O governo coreano, por meio do
KDB, também auxiliava as empresas, com
o objetivo de dinamizar a economia. Mas Park, vice-presidente do KDB: banco investiu US$552 milhões em infra-estrutura, em 2006

20 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Painel I

elevados preços cobrados para os projetos fatia das inversões do país asiático em Japão e Cingapura. Estamos também em
de infra-estrutura. terras brasileiras nos últimos dez anos. primeiro lugar no ranking de melhor en-
Conciliar os acordos firmados entre Em 2006, o total de recursos aportado sino médio entre os países da Organização
o setor privado e o governo coreano em foi da ordem de US$ 552 milhões sendo de Cooperação e Desenvolvimento Econô-
bases iguais gerou algumas dificuldades. As que, dentro do quadro das multinacionais mico - OCDE”, declarou, acrescentando
finanças públicas dependem do futuro do que mais investiram no Brasil, cinco estão que esses dados fazem com que a Coréia
fluxo de caixa, que é imprevisível. Por isso, entre as 500 maiores empresas do mundo. do Sul seja apontada como um dos seis
é importante que as empresas que assinam Por outro lado, ele lamentou o fato de as países que apresentam o melhor capital
contratos de financiamentos tenham um empresas brasileiras não demonstrarem o humano do mundo.
fluxo de caixa suficientemente grande. Isso mesmo interesse para investir na Coréia. Por fim, ele lamentou o fato de a Coréia
mostra a necessidade de ambas as partes “Infelizmente, a corrente de investimentos do Sul não estar incluída na sigla BRICs
se comprometerem na execução dos pro- de empresas brasileiras para o nosso país - Brasil Rússia, China e Índia – que repre-
jetos. No entanto, o vice-presidente do ainda é muito pequena, mas acredito que senta o consórcio de países que apresenta-
KDB conta que o montante de subsídios essa situação deva mudar em breve, pois a rão em 2050, segundo análise de agências
promovido pelo governo é também parte maior empresa brasileira – a Vale – abriu, internacionais, as mais fortes economias
integrante do programa de investimentos no ano passado, escritório por lá”, disse. do mundo. “Ter a Coréia incluída entre
à infra-estrutura do país. “Com a finalidade Park citou que uma das grandes van- os BRICs dará um maior dinamismo à
de dar garantias à iniciativa privada para tagens de se investir na Coréia reside no leitura econômica desse grupo, sobretudo
que haja recursos disponíveis para a fina- fato de que o tigre asiático apresenta uma no que tange a questões como estabilidade
lização do projeto, durante o período de das populações com melhor performance macroeconômica, maturidade política,
construção, os subsídios podem chegar até educacional do mundo. “Cerca de 41% da abertura para o comércio e investimento
a 40% dos custos totais”, relatou Park. população coreana tem formação univer- e qualidade da educação da população”,
sitária, perdendo apenas para o Canadá, concluiu.
Promoção de investimentos
O último palestrante do painel foi o
diretor-geral da Korea Trade-Investment
Promotion Agency - Kotra, Dong-Hyung
Park. Ele ressaltou o dinamismo da eco-
“O Brasil é a 11ª economia do mundo e a Coréia, a 12ª.
Contudo, enquanto o Brasil conta com a enormidade dos recursos
naturais, nós investimentos em tecnologia e qualificação dos
nomia coreana, sobretudo no campo da
tecnologia, e que a Coréia do Sul possui
um mercado interno forte, com grande
poder de compra. Em relação ao Brasil, o
nossos recursos humanos
Dong-Hyung Park ”
executivo destacou a importância do país
em seus aspectos políticos e econômicos.
“Devido às características dos dois países,
acredito ser possível incrementar as nossas
relações comerciais”, afirmou. Segundo
ele, essa relação já vem demonstrando
crescimento significativo, sobretudo a
partir de 2003. O executivo apresentou
um quadro que demonstrava as posições
econômicas do Brasil e da Coréia do Sul
no mundo. “O Brasil é a 11ª economia do
mundo e a Coréia, a 12ª. Contudo, en-
quanto o Brasil conta com a enormidade
dos recursos naturais, nós investimentos
em tecnologia e qualificação dos nossos
recursos humanos”, afirmou o diretor da
Kotra.
Outro dado importante levantado por
Park foi o aumento dos investimentos
das empresas coreanas no Brasil. O setor
de manufaturas respondeu por grande

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 21


Painel II

Petróleo e fontes alternativas de


energia em discussão
A importação e exportação de bens manufaturados ocupa 25% do PIB no
Brasil atualmente; sistemas informatizados facilitam trocas comerciais
O Painel II do Seminário Bilateral de Comércio Exte-
rior e Investimentos Brasil – Coréia do Sul tratou das
relações que envolvem os setores de petróleo e as fontes
alternativas de energia entre os dois países. Participaram
do Painel II, o Subsecretário de Assuntos Internacionais
do Estado do Rio de Janeiro, Ernesto Rubarth; o Geren-
te de Comercialização de Produtos Claros da Petrobras,
Luthero Winter Moreira; e o advogado e representante
do escritório de advocacia Demarest & Almeida, Hee
Moon Jo. O Diretor de Planejamento e Desenvolvimen-
to de Comércio Exterior do MDIC, Fábio Martins Faria,
também participou, atuando como moderador. Os participantes do painel II discutiram sobre energia

C
omo já é tradicional em suas parti- destaque para o segmento de material de cio entre Brasil e Coréia praticamente
cipações em seminários na FCCE, transportes, com US$ 10,2 bilhões em dobrou. No entanto, esse é um dos pou-
o Embaixador Ernesto Rubarth exportações no primeiro semestre. cos países com os quais o Brasil tem um
abriu o Painel II trazendo os números da No lado das importações, o grupo de comércio deficitário, e este desequilíbrio
evolução do comércio entre o Brasil e o produtos que mais cresceu no primeiro vem aumentando. Isso fez com que a Co-
país convidado. Primeiramente apresen- semestre de 2007 foi o de matérias-pri- réia passasse a ser um dos principais des-
tou os dados brasileiros, que apontaram mas, que engloba os componentes de tinos das exportações brasileiras, mas é,
para um crescimento expressivo tanto produção. Neste segmento, a Coréia tem especialmente, uma das principais origens
das importações como das exportações. uma participação importante como for- das nossas aquisições. Em 2006, a Coréia
“No comparativo do ano passado tivemos necedor ao Brasil. Em seguida, o grupo aparece como 18º destino com 1,4% das
certa retenção dos números por causa mais importante é o de bens de capital, nossas importações, comprando, sobre-
da paralisação que ocorreu na Receita que apresentou crescimento de 24,3%, tudo, produtos básicos e mantendo certa
Federal. Mesmo assim, a corrente de co- e que também é fundamental para o estabilidade na compra de manufaturados
mércio cresceu 22,6% - número bastante processamento, atualização ou expansão brasileiros. O minério de ferro é o princi-
superior ao que vem sendo registrado no da capacidade produtiva nacional. “Hoje pal produto vendido à Coréia, seguido de
mercado mundial”, avaliou. Para Rubarth, 70% do que o Brasil importa são itens que produtos siderúrgicos, petróleo, soja, mi-
o aumento das vendas de produtos básicos vão entrar de alguma forma na produção lho e celulose, além de veículos de carga,
brasileiros se explica pelo aquecimento do país. Se agregarmos a isso o petróleo e que se diferenciam por serem produtos de
da demanda mundial, numa evolução combustíveis teremos 87% da importação maior intensidade tecnológica, portanto,
muito favorável de preços. Ainda assim, brasileira focada na produção. E isso é com maior valor agregado.
o país também apresenta crescimento em muito positivo”, comentou Rubarth. Do lado da importação a Coréia figura
todos os produtos de valor agregado, com De 2002 até hoje, o volume de comér- como o 7º maior fornecedor do Brasil,

22 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Painel II

com expansão de 3,4% em 2006. Entre os coreanos também a respeito de biocom-


principais produtos adquiridos da Coréia bustíveis.
estão partes de aparelhos transmissores e
receptores, circuitos integrados, disposi- Biocombustíveis
tivos de cristal líquido, partes e acessórios Luthero Winter Moreira explicou que
para máquinas de processamento de dados, há cerca de dois anos e meio a empresa
um conjunto de partes e peças que vão optou por aproveitar toda a sua experi-
entrar em parte do processo produtivo ência de mais de 30 anos no manuseio de
no país. Em seguida, automóveis, circuitos biocombustíveis, em especial o etanol,
impressos, veículos e materiais para vias para se tornar um grande exportador
férreas, polímeros, plásticos e óleos com- deste produto. Várias transformações
bustíveis. Rubarth explicou que o déficit positivas foram realizadas, como deixar
de comércio entre Brasil e Coréia está em de ser uma empresa monopolista e ex-
linha com o perfil da Coréia com o mundo, clusivamente de petróleo para se tornar
que é superavitário. Mas o seu saldo co- uma empresa de energia. Além disso,


mercial é formado por um volume muito a Petrobras vem realizando um grande
mais expressivo do que o brasileiro. esforço de mundialização, expandindo Hoje 70% do que o Brasil
“Eu acredito que a questão fundamental suas atividades para inúmeros países, onde importa são itens que vão
é o peso relativo do comércio em relação busca obter petróleo e gás, com sucesso,
ao PIB, e creio que nós estamos caminhan- sobretudo em sua especialidade que é
entrar de alguma forma na
do na mesma trilha da Coréia”, afirmou. águas profundas e ultraprofundas. Outro produção do país. Se agregarmos
O diplomata destacou que a indústria dos objetivo que se tornou fundamental de a isso o petróleo e combustíveis
dois países é bastante complementar, mas dois anos para cá foi a decisão de a empresa
que é fundamental que o Brasil aprenda se expandir internacionalmente no ramo
teremos 87% da importação
com a experiência da Coréia. “Eu tive a dos biocombustíveis, negócio que vem se brasileira focada na produção.
oportunidade de visitar aquele país há
dois anos, em comitiva presidencial e
fiquei impressionado com a mudança que
colocando como extremamente atrativo
para a companhia.
“Empresas de todo mundo estão se
E isso é muito positivo
E r n e s to R u b a rt h ”
encontrei em relação há 20 anos, quando movimentando no sentido de adotar o de álcool combustível brasileiro, o Japão
servi na Embaixada de Seul,” contou. Ru- manuseio dos biocombustíveis por uma foi – e continua sendo – nosso principal
barth explicou que toda a transformação necessidade de mercado”, explicou. Hoje foco. Estudos conjuntos no sentido de
da economia sul-coreana está calcada na o principal foco para o uso dos biocom- permitir a adoção, no mais curto espaço
prioridade absoluta dada à educação. “Já ti- bustíveis não é tanto econômico, mas no- de tempo possível, da mistura de etanol à
vemos a oportunidade de observar o mes- tadamente ambiental. “Em alguns países, gasolina no Japão vêm sendo realizados,
mo fenômeno aqui mesmo, no Seminário como é o caso da Coréia, é até estratégico, tanto com estatais japonesas como com a
dedicado à Finlândia. Este investimento por haver uma dependência exclusiva do iniciativa privada,” revelou. Outros países
na formação de seres humanos muito mais petróleo importado. São países altamente asiáticos, vendo esta movimentação, vêm
capacitados a incorporar cada vez mais desenvolvidos, grandes consumidores de se aproximando da Petrobras em busca
tecnologia no processo produtivo é que combustível, que não produzem petróleo de cooperação técnica, de estudos, visan-
gera esse exemplo de sucesso”, finalizou. e se sentem um pouco incomodados com do à mistura e o eventual fornecimento
Luthero Winter Moreira, da Petrobras, esta dependência exclusiva de um produto no futuro. “Nós temos nos colocado à
concordou com Rubarth, destacando a ca- importado e produzido em áreas do globo disposição e procurado desenvolver co-
pacidade coreana de desenvolver e investir que são muito suscetíveis a problemas po- operação, objetivando que a Petrobras
no crescimento do país. líticos,” lembrou. Além dos altos preços, a possa ser fornecedora para esses países e,
Winter disse que a Petrobras mantém insegurança no abastecimento de petróleo eventualmente, até estabelecer parcerias
um relacionamento comercial com a Co- leva alguns países a buscar o domínio dos nesses lugares para a distribuição local,
réia, fornecendo petróleo e importando biocombustíveis e o uso desses produtos armazenagem e troca de sinergias que
itens de alta tecnologia para seus trabalhos como alternativa, pelo menos como com- nos permitam maximizar a atuação no
de exploração petroleira, inclusive navios plemento. negócio etanol.”
de altíssima tecnologia que ainda não se Moreira contou que a Petrobras tem
pode fabricar no Brasil. Ele revelou que sido procurada por países de todo mundo, Logística
a empresa vem desenvolvendo diálogos em especial da Ásia. “Quando a empresa Até há dois anos o Brasil era o maior
e tratativas com alguns interlocutores decidiu se tornar um grande exportador produtor de álcool do mundo. Recen-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 23


Painel II

que possamos exportar de forma eficiente em logística, a Petrobras também desen-


e a mais barata possível”, completou. volve estudos para entrar na produção
O principal projeto de logística que a de etanol, pois a empresa não pretende
Petrobras está desenvolvendo é a constru- se tornar usineira ou fazendeira de cana.
ção do alcoolduto que vai ligar o interior No entanto, não descarta a possibilidade
de Goiás ao porto de São Sebastião, no de ter parcerias com empresas do ramo,
estado de São Paulo. A empresa já possui que já dominam este setor, e pretende
uma rede de dutos que permite realizar constituir sociedades para a construção de
o transporte do álcool da refinaria de novas usinas dedicadas à exportação, em
Paulínia, que é a maior do país e fica diferentes regiões do Brasil. “A primeira
próxima a Campinas, até a refinaria de leva de usinas construídas a partir dessas
Duque de Caxias (RJ) e de lá para o ter- parcerias destinará sua produção para o
minal marítimo da Ilha D´Água, que fica Japão. Temos certeza de que a Coréia, ao


no centro da Baía de Guanabara. “Lá nós finalizar os intensos estudos que vêm rea-
O Brasil tem grande temos um grande terminal que já está até lizando, será um consumidor deste álcool
disponibilidade de terras para exportando o álcool da Petrobras, e nós que será exportado por esta nova estru-
plantar cana e aumentar a pretendemos interligar essa rede de dutos tura logística que está sendo projetada e
com o interior do Brasil, onde se concen- será construída pela Petrobras”, concluiu
produção de álcool, mas tem tra a grande produção de álcool, como na Luthero Winter Moreira.
alguma dificuldade de escoar região de Ribeirão Preto e arredores, e O último expositor do Painel II, Hee
este álcool até os portos
Luthero Winter Moreira

temente foi ultrapassado pelos Estados


” onde se concentrará a grande produção
futura de álcool: Triângulo Mineiro e
estados de Goiás, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul”, contou Moreira durante
Moon Jo, é representante do escritório
de advocacia Demarest & Almeida, atu-
almente composto por 29 sócios e 350
advogados, com cerca de mil funcionários,
Unidos, que produzem álcool de milho, sua exposição. Ele afirmou que a produção e escritórios em todo o Brasil, Nova Iorque
que é bem mais caro e, do ponto de vista de etanol está se expandindo para essa e que, em breve, terá um escritório de
energético, bastante inferior ao álcool da região por uma série de facilidades como representação na Ásia. Moon Jo é corea-
cana-de-açúcar. A Petrobras está investin- terras mais baratas e fartas, além de clima no e veio para o Brasil há 20 anos cursar
do no aperfeiçoamento da sua logística. e solo adequados. doutorado na USP, e agora trabalha para a
Mesmo com uma produção bastante ex- Este alcoolduto vai permitir que a Demarest & Almeida, em Seul, e veio ao
pressiva, o Brasil ainda não está preparado Petrobras tenha uma capacidade de expor- Rio de Janeiro especialmente para parti-
para ser o grande fornecedor de tantos tação de 8 bilhões de litros de álcool por cipar do Seminário. Ele está envolvido em
países simultaneamente. “Se hoje Japão e ano, usando as duas facilidades portuárias um projeto de investimento ligado à área
Coréia resolverem implementar a mistura que possui: Ilha D’Água e São Sebastião, de bioenergia, realizado com os setores
e ainda os Estados Unidos estenderem a em São Paulo. Também está prevista uma privado e público na Coréia para incentivar
mistura por todos os estados, o Brasil não interligação do alcooduto à hidrovia Tietê- o investimento do mercado brasileiro.
teria como suprir a demanda por álcool Paraná, que já está em funcionamento e Segundo Moon Jo, a Coréia discute,
todos esses países”, afirmou Moreira. Por onde haverá investimentos para um aper- atualmente, a adoção dos biocombustíveis
isso, a Petrobras está somando esforços feiçoamento que permitirá transportar e a melhor forma de fazê-lo. Para ele, exis-
com a iniciativa privada com o objetivo cargas do Mato Grosso do Sul e do interior tem quatro elementos positivos em torno
de aumentar o número de usinas, inves- de São Paulo até próximo à capital paulis- da questão: aumento da renda, proteção
tindo em novas fronteiras agrícolas para ta, transformando-a em um corredor de ao meio ambiente, substituição de uma
produzir mais álcool e garantir o abasteci- exportação de álcool. A produção descerá energia finita por uma renovável e garantia
mento futuro. Além disso, a empresa está do interior pelo duto e pela hidrovia, por de energia para o país. Ele explicou que,
especialmente preocupada com a logística meio de barcaças. O ponto terminal será hoje, 97% da energia consumida na Coréia
necessária para fazer esta produção chegar ligado à refinaria de Paulínia por um braço é importada. Em 2005, US$ 42 bilhões
à exportação. “Estamos realizando estu- do alcooduto, com aproximadamente 90 foram gastos em importação de petróleo.
dos em diferentes regiões do Brasil para km de extensão. “Desta forma teremos Isto significa a totalidade de toda a expor-
aperfeiçoar essa logística, pois o Brasil uma integração logística, um sistema tação automobilística e de semicondutores
tem grande disponibilidade de terras para muito eficiente de escoamento do álcool daquele país no mesmo período. “O gover-
plantar cana e aumentar a produção de produzido no Centro-Sul do Brasil e em no coreano pretende chegar a 2012 com
álcool, mas tem alguma dificuldade de parte do Centro-Oeste”, defendeu. pelo menos 7,9% desta energia substituída
escoar este álcool até os portos. A idéia é Paralelamente a esses investimentos pela bioenergia,” revelou.

24 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Painel II

Biodiesel e etanol
A introdução do biodiesel na Coréia
do Sul começou em 2002 com a adição
30 anos de história
de 20% à gasolina. A experiência foi feita Foi nos anos 70, ainda sob o regime militar, que o Brasil fez a opção de adotar
em 73 postos durante dois anos, tempo o etanol da cana-de-açúcar como combustível instituindo o Pró-Álcool. Na época
obrigatório para a aprovação do uso. foi uma iniciativa isolada, impulsionada exclusivamente por motivos econômi-
Em outubro de 2004, uma lei passou a cos, devido aos dois sucessivos choques do petróleo que afetaram a economia
permitir a mistura de outras alternativas brasileira. A iniciativa também visava a promover o desenvolvimento nas áreas
à gasolina. Em julho de 2006 começaram agrícolas, estabelecendo o homem no campo e fomentando uma indústria que
os testes com DD5 e DD20. Moon Jo pudesse crescer no interior do Brasil. A idéia foi extremamente bem-sucedida,
explicou que há muita política em torno mais notadamente no estado de São Paulo, com incentivo à plantação de cana
desta questão, envolvendo um complexo e à instalação de usinas. Apesar do sucesso, o Pró-Álcool também teve seus
e acirrado jogo de interesses da indús- desacertos, depois da euforia inicial, quando apresentou alguns problemas e
tria. No caso do etanol, há um interesse um certo declínio.
ainda maior, por causa da composição
de frotas na Coréia. Em agosto de 2006 Houve fases em que o álcool não foi produzido apenas para ser misturado à
começaram testes de etanol na praça. gasolina, mas sim para abastecer uma frota criada pela indústria nacional, que
Espera-se que no segundo semestre de passou a dedicar quase a totalidade da sua produção para carros exclusivamente
2008 todos os elementos envolvidos na movidos a álcool. Esta proposta também entrou em declínio, por problemas
questão tenham sido decididos. A prin- internos de mercado. A Petrobras vivenciou todo o processo desde o início, na
cipal polêmica atualmente é até onde ir época como empresa monopolista, com controle estrito do Estado brasileiro.
com a mistura. Há uma discussão política
e na indústria para chegar a um valor A empresa foi um instrumento estatal para implementação do Pró-Álcool e
entre 5% e 10%. Moon Jo explicou que, foi a responsável por desenvolver todos os estudos técnicos necessários à mistura
nesses casos, geralmente a Coréia segue do álcool, à formulação da gasolina para receber esta mistura e ao funcionamento
o exemplo do Japão, que surpreendeu dos motores.Toda a logística de dutos que transportam derivados de petróleo foi
permitindo que a mistura chegasse a direcionada para a implementação do álcool, bem como a logística de distribuição
10%. No caso da Coréia também adotar que permitisse abastecer um país continental como o Brasil.
os 10%, seria necessário 1 bilhão de litros
de etanol para abastecer o mercado local, Todo esse esforço e aparato fizeram com que a Petrobras aperfeiçoasse tec-
demanda que poderia ser atendida pela nologias que nenhuma outra empresa detém no mundo, muito menos explora-
capacidade de produção da Petrobras. doras de petróleo. O Brasil é, atualmente, o país com mais expertise não apenas
Os estudos econômicos preliminares na produção de etanol, extraído a partir da cana, mas de muitos outros tipos de
sobre o biodiesel indicam que a produção biocombustíveis.
doméstica, feita a partir de qualquer fon-
te, precisaria ter um custo inferior a US$
0,59. Isso seria praticamente impossível,
a não ser que uma decisão política seja Produtos que apresentaram crescimento na exportação:
tomada no sentido de criar incentivos
governamentais de financiamento da Transportes Carnes
produção. Já em relação ao etanol, está Produtos metalúrgicos Máquinas e equipamentos
definido que a importação do produto Petróleo Açúcar e álcool
acabado é viável economicamente, mas Soja Papel e celulose
não como produção local. E o Brasil é o Minérios Calçados e couro
único país que poderá ultrapassar qual- Químicos
quer desafio dos concorrentes em termos
de preços internacionais. “Isto quer dizer
que a Coréia está disposta a importar o Principais fornecedores de produtos ao Brasil
produto, o que pode começar a partir do
segundo semestre de 2008, ou primeiro Ásia – 22,6% União Européia – 25,7% América Latina – 30,4%
semestre de 2009”, garante o advogado.
Moon Jo, porém, ainda espera que o
governo coreano ofereça algum tipo de

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 25


Painel II

benefício tributário para que coreanos


possam investir no exterior, tanto em
produção como em pesquisa.
Moon Jo torce pela aprovação de um
percentual acima de 20% para o biodie-
sel e mínimo de 10% para o etanol. O
representante da Demarest & Almeida
encerrou o Painel II sugerindo que a
Coréia possa inicialmente importar e
depois seguir com uma parceria de pro-
dução local. “Pelo que o representante da
Petrobras acaba de apresentar, parece que
temos um casamento promissor”, disse.


Moon Jo lembrou que a distância física
entre Brasil e Coréia é um grande desafio Para encurtar a distância física e cultural, o Brasil deve parar de
a ser enfrentado. “Altos funcionários do pensar grande e agir pequeno. É preciso investir em um caso de sucesso,
governo coreano tiveram resistências a
integrar a missão para o Chile por causa
da distância, mas se houver uma nego-
ciação com o Mercosul, por exemplo,
pois o capital segue o sucesso rapidamente

do mundo para fazer negócios.


Hee Moon Jo ”
deve investir em sua imagem, ligada aos
eles poderiam se interessar em con- De qualquer forma, Moon Jo revelou recursos naturais, e o caso de sucesso
seguir bons resultados em bloco, pois que a China está chegando à saturação e mais significativo parece ser o etanol. Ele
isso amplia a possibilidade de parcerias o Brasil é uma grande oportunidade de encerrou seu pronunciamento com um
bem-sucedidas”, explicou. Ele disse que investimentos para os empresários core- conselho: para encurtar a distância física
o empresário coreano costuma questio- anos, que precisam investir no exterior. e cultural, o Brasil deve parar de pensar
nar se não é melhor ficar mais tempo na “A experiência de empresas coreanas no grande e agir pequeno. “É preciso investir
China, Rússia, Índia ou mesmo no Vietnã, Brasil registra mais sucessos do que fra- em um caso de sucesso, pois o capital
pelo desgaste que é viajar até o outro lado cassos”, contou. Para Moon Jo, o Brasil segue o sucesso rapidamente”.

Cidade nova
Hee Moon Jo aproveitou sua presença no Seminário para trazer ao Brasil um conceito inovador: a Cidade Nova. A Coréia
tem um pequeno território, com mais de 47 milhões de habitantes, extremamente concentrados nas cidades grandes, princi-
palmente Seul. Por isso é constante a preocupação com a qualidade de vida, que inclui melhoria das vias públicas, moradias e
comunicações. Ao longo dos anos o governo coreano vem procurando várias alternativas. Há uma década, observando outros
países como os Estados Unidos, foi desenvolvida a idéia de criar ou reformar uma cidade ou bairro. Basicamente significa
comprar o terreno e desenvolver toda a estrutura, com base em um planejamento. Há duas alternativas: remodelagem de uma
cidade ou bairro e criação de uma cidade satélite, ligada à cidade central por meio de rápido sistema de transporte.
Em ambos os casos, é preciso, primeiro, comprar o terreno, que sofrerá terraplanagem e instalação de todos os benefícios
da tecnologia da informação. O planejamento é total. Escolas, áreas de lazer, comércio e indústria são proporcionalmente
distribuídos. O transporte subterrâneo e aéreo garante o acesso rápido à Cidade Central, sem perda de tempo em engarra-
famentos. Para quem acha que esta é uma “cidade do futuro”, Moon Jo garante que tudo isto será realidade em 50 anos. As
parcerias público-privadas – PPPs podem viabilizar essa construção rapidamente e o retorno virá por meio da venda do que
foi construído. O projeto já foi vendido para a Mongólia e o Vietnã.
Hee Moon Jo acredita na aplicação do mesmo conceito no Rio de Janeiro e em São Paulo, já que ambas as cidades sofrem
com a grande concentração de habitantes e ganhariam muito se pudessem planejar melhor sua infra-estrutura, com todas as
facilidades tecnológicas. Seria necessário desapropriar entre 30km e 60 km, passar para parceiros privados a tarefa de construir
uma cidade encomendada pela necessidade da própria cidade, de acordo com o seu desenvolvimento. O governo entraria
com o compromisso de comprar, por exemplo, os prédios públicos, como escolas e hospitais, e a iniciativa privada venderia
o restante das construções. O custo acabaria saindo muito mais baixo, já que a mais nova tecnologia da informação estaria à
disposição de todos. O desafio seria pensar em algo inovador para o transporte.

26 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Painel III

Alternativas para o incremento


das relações comerciais
Brasil precisa aproveitar as oportunidades mostradas pela Coréia

A discussão do Painel III girou em torno das exportações brasileiras de serviços e produtos manufaturados para a Coréia

O Painel III do Seminário Bilateral de Comércio Exte- que contou, ainda, com os expositores Edson Lupati-
rior e Investimentos Brasil – Coréia do Sul foi dedicado ni, Secretário de Comércio e Serviços do Ministério
às exportações brasileiras de serviços e produtos manu- do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
faturados para a Coréia. A principal questão abordada - MDIC, e Jovelino Gomes Pires, Coordenador da Câ-
foi a necessidade de se estabelecer acordos bilaterais que mara de Logística da Associação de Comércio Exterior
facilitem as relações comerciais entre os dois países. do Brasil. O moderador foi o Diretor de Planejamento
O ex-embaixador Plenipotenciário do Brasil na Coréia e Desenvolvimento do Comércio Exterior do MDIC,
do Sul, Pedro Paulo Assumpção, presidiu o Painel III, Fábio Martins Faria.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 27


Painel III

P
edro Paulo Assumpção abriu o
Painel III contando um pouco de
sua experiência enquanto servia na
embaixada do Brasil em Seul, de 2000 a
2006. Segundo ele, muitos empresários
brasileiros, em busca de uma opinião que
lhes mostrasse a relevância de adotar a
Coréia como um possível parceiro de
comércio e de investimentos, pediam para
que ele resumisse o país em uma frase.
“A Coréia, para mim, é o resultado de
um processo de educação seguro, muita
inovação tecnológica e competitividade
em nível internacional”, dizia.
Para o ex-embaixador, o fator mais
marcante é a competitividade, pois, se-
gundo ele, nenhum processo produtivo se
inicia naquele país se não tiver esta carac-
terística. A razão é simples: a base física do
mercado coreano não excede a população
do estado de Pernambuco, que tem cerca
de 8 milhões de habitantes. Portanto, para
ser competitivo e ter esta presença no
mundo, a Coréia não pode pensar exclu-


sivamente no mercado interno. É preciso
produzir desde o início com a vocação para A Coréia, para mim, é o resultado de um processo de
o mercado mundial. educação seguro, muita inovação tecnológica e competitividade


Assumpção afirmou que o comércio
entre Brasil e Coréia ainda é muito pe- em nível internacional
queno, diante das potencialidades dos P e d ro P au l o A s s u m p ç ã o
dois países. “Muito se fez, muito se está
fazendo, muito mais se precisa fazer para por estado desses serviços e quais são as Assumpção sugeriu que o Brasil pen-
aumentar este comércio”, apontou. Este principais empresas exportadoras de todo sasse seriamente na negociação de um
aquecimento entre o comércio Brasil- este setor terciário. instrumento comercial entre os dois paí-
Coréia, segundo ele, deveria abranger não Assumpção lembrou, ainda, a exposição ses, como um acordo de livre comércio.
apenas a rotina comercial, ou seja, a explo- feita no Painel II pelo advogado Hee Moon “Poderia ser um acordo Mercosul-Coréia,
ração dos produtos já existentes na pauta Jo, representante do escritório de advo- mas possivelmente seria uma negociação
de exportação de ambos os lados, mas cacia Demarest & Almeida, que defendeu complexa, em função do estado em que se
sobretudo buscar idéias novas, inclusive a necessidade de se estabelecer um foro encontra o Mercosul. No caso do bloco,
no que diz respeito às formas de atuação. entre os dois países. “É uma idéia extre- evoluir da posição aduaneira de hoje para
Edson Lupatini, Secretário de Comércio mamente atraente e creio que deveríamos uma área de mais livre comércio, com
e Serviços do MDIC, concorda: “O Brasil fazer alguma coisa para que pudéssemos complementariedade na área institucional
tem um grande potencial para aumentar o congregar altos executivos de um pequeno e política, poderia abrir caminho para uma
intercâmbio na área de comércio exterior grupo de empresas coreanas estabelecidas negociação bilateral entre Brasil e Coréia”,
com a Coréia”, afirmou. Lupatini revelou no Brasil”, sugeriu. O inverso, no entanto, argumentou. Ele descartou a possibilidade
que, pela primeira vez na história, a Se- seria mais difícil, pois o Brasil teria que de que um acordo Brasil-Coréia conflitasse
cretaria de Comércio e Serviços do MDIC trabalhar mais com representantes da área com a Agenda de Doa, a grande arquitetu-
está publicando uma balança comercial comercial. Existem apenas duas empresas ra de negociação comercial mundial. “Hoje
de serviços. O Secretário apresentou brasileiras estabelecidas na Coréia, atual- há tantos acordos bilaterais no mundo
um esboço da publicação, que inclui as mente: a Companhia Vale do Rio Doce, que se algum dia sair a grande arquitetura
importações e exportações para todos os recentemente instalada, e o Banco do comercial todos esses acordos serão ajus-
países, que tipo de serviços nós exporta- Brasil, cujo escritório já está autorizado, tados e confluirão para esta arquitetura”,
mos e importamos, quais são as origens mas ainda não está funcionando. previu. Partindo deste pressuposto, os

28 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Painel III

uma inteligência produzida: o software


complexo para fazer cálculos estruturais
de barragens, de um metrô ou de uma
embarcação; além de serviços médicos,
contábeis, administrativos e bancários, por
causa das divisas que entram e saem do
país,” esclareceu. Além disso, o secretário
lembrou que o país ainda gera comércio
de insumos como cimento, equipamentos
e veículos para fazer toda a logística de
grandes obras. Por isso, ele acredita que
investir nesta área contribuiria não apenas
para uma maior inserção internacional,
mas principalmente seria estratégico en-
trar neste grande mercado asiático.

Radiografia
Como a Secretaria de Comércio e


Serviços do MDIC também trabalha com
O Brasil tem um grande potencial para aumentar o comércio varejista, ela reúne todas as
o intercâmbio na área de comércio exterior com a Coréia
E d s o n L u pat i n i ” Juntas Comerciais do país, permitindo
traçar um panorama das empresas corea-
nas estabelecidas hoje no Brasil. Segundo
Lupatini, há empresas de todos os níveis,
países que negociarem acordos bilaterais Brasil tem, na área da indústria naval, um ramos e portes. O setor que mais se
não terão perdido tempo no caminho. potencial muito grande para fazer um destaca é o de reparação de veículos au-
Pedro Paulo Assumpção citou o exemplo trabalho conjunto com a Coréia do Sul. tomotores, em função da importação de
do Chile, primeiro país a fazer um acordo “Sabemos que Coréia, Cingapura, Japão veículos sul-coreanos. “Hoje a comunidade
de livre comércio com a Coréia do Sul. e Vietnã, por exemplo, têm pedidos que sul-coreana tem um contingente bastante
Segundo ele, esta iniciativa fez com que somam cerca de 4 mil novos navios e há expressivo. São pessoas físicas, empresá-
o comércio entre os dois países se expan- dificuldades em entregar essas encomen- rios, sociedades de empresas jurídicas etc.
disse de maneira extraordinária em pouco das até 2012.” Lupatini acredita que este Só em São Paulo existem 3.100 pessoas
mais de dois anos. é um importante campo a ser explorado, físicas trabalhando na área de prestação de
já que o Brasil tem um grande expertise serviços,” disse. Para Edson Lupatini, seria
Balança de serviços nesta área, com engenheiros muito bem interessante que o Brasil também pudesse
O secretário Edson Lupatini trouxe, em capacitados, que trabalham com alta tec- conhecer a realidade da comunidade brasi-
sua exposição, os números do intercâmbio nologia. Este fato já foi demonstrado ao leira na Coréia e manter um canal de troca
comercial de serviços com a Coréia, que mercado internacional com a construção de informações com o governo daquele
considerou bastante tímido. Durante o de navios e plataformas de petróleo pela país. Lupatini disse que esses dados são
ano de 2006, o Brasil exportou cerca de indústria nacional. fundamentais para começar a traçar uma
US$ 18 bilhões em serviços contra US$ 27 O secretário também destacou a área relação dos serviços brasileiros que inte-
bilhões em importações. Já o intercâmbio de construção civil, sobretudo no segmen- ressam à Coréia e vice-versa. “Temos um
comercial com a Coréia neste segmento to de projetos de engenharia. “Isso já está grande trabalho a fazer e tenho certeza de
não alcançou US$ 3,1 milhões. E isso dian- acontecendo em grande escala na América que estes dados podem, de alguma forma,
te de um aumento de 121% em relação Latina e creio que podemos e devemos estimular uma maior aproximação entre os
a 2005, quando as exportações ficaram ter a mesma relação comercial no que diz dois países,” finalizou.
pouco acima de US$ 1 milhão. Em con- respeito a serviços,” recomendou. Edson
trapartida, o Brasil importou da Coréia do Lupatini lembrou que projetos na área Marca nacional
Sul, US$ 19 milhões. “Esses números estão de serviços são interessantes, pois têm a O Coordenador da Câmara de Logística
muito aquém das nossas potencialidades. característica de “arrastar” outros serviços da Associação de Comércio Exterior do
Podemos alavancar este comércio e o es- complementares, gerando mais negócios. Brasil, Jovelino Gomes Pires, foi o último
tudo que fizemos mostrará onde podemos “Quando se exporta um projeto de servi- convidado a falar no Painel III. Ele desta-
investir,” analisou. Segundo Lupatini, o ços de engenharia, com ele vai junto toda cou que a curva de desenvolvimento e de

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 29


Painel III

crescimento da Coréia se parece com a e serviços a preços competitivos, pois eles onde existe grande expertise.
do Brasil. “Me lembrei do crescimento de têm uma demanda cada dia maior. A ques- “Poderíamos, ainda, pensar em proje-
8,6% que tínhamos na época dos governos tão é estudar onde podemos abastecê-los tos de cuidados ambientais, programas e
militares, as crises, e o desenvolvimento e fechar a parceria”, sugeriu. serviços bancários, talvez até contando
que conquistamos nos últimos anos”. Para Para Gomes Pires, a realização deste com o BNDES para desenvolver nossos
ele, a Coréia deu um grande salto sobre seminário já é um ponto de partida. “São projetos na Coréia,” sugeriu. Ele destacou
a questão da pobreza e da guerra, para trabalhos como este que a Federação das que empresas brasileiras na área de saúde
chegar onde está hoje: é a terceira grande Câmaras de Comércio Exterior vem rea- já realizam exames e enviam o diagnóstico,
potência da Ásia, só perdendo para Japão lizando, com o apoio da Associação do Co- em japonês, para o Japão, aproveitando o
e China. Gomes Pires concordou com os mércio Exterior e de tantos parceiros, que baixo custo. “O mesmo poderia ser feito
outros palestrantes do Painel sobre o co- nos permite iniciar as conversações, com para a Coréia”, garante. Para ele, o Brasil
mércio pobre que Brasil e Coréia mantêm a importante presença de representantes deveria, também, investir no turismo,
hoje. “Lupatini tem razão quando diz que dos governos brasileiro e coreano”. Entre sobretudo na Amazônia, Bahia e Rio de
a Coréia pode ser nosso grande parceiro as idéias de serviços que o Brasil poderia Janeiro, que já têm imagem internacional
na indústria naval. Eles são os melhores exportar, Jovelino Gomes Pires citou o fixada de beleza natural, farta recreação,
produtores, sabem fazer navios como setor de Comunicação. Deu o exemplo esportes e programação cultural. “Esses
ninguém, e nós não temos uma frota sufi- bem-sucedido do Exporta Brasil, programa elos entre as duas sociedades precisam ser
ciente, já que fretamos navios de bandeiras realizado pelos Correios, e ainda a venda incentivados”, finalizou.


estrangeiras. Se o Brasil aumentar signi- de novelas brasileiras, que já fazem sucesso
ficativamente exportação e importação, em muitos outros países do mundo. “Além Creio que é fundamental
aumentaríamos o volume de fretes, que é disso, creio que é fundamental investirmos investirmos em marcas e
um segmento de serviços” destacou. Ele em marcas e franchising. O conceito de
contou que visitou o estaleiro de Hunday, churrascaria rodízio é totalmente nacional,
franchising. O conceito de
que é o maior do mundo, trabalha 24 e encanta todos os estrangeiros, mas preci- churrascaria rodízio é totalmente
horas por dia e coloca um novo navio no sa ter sua marca trabalhada.” Para Gomes nacional, e encanta todos os
mar a cada cinco dias. “É o estaleiro mais Pires, a marca brasileira precisa ser forta- estrangeiros, mas precisa ter sua


competitivo do mundo. Com este nível de lecida para mostrar ao mundo que o Brasil
expertise e de tecnologia, é um excelente tem coisas muito boas, como educação, marca trabalhada
parceiro para quem quer vender produtos cursos, palestras e seminários a distância, J ov e l i n o G o m e s P i r e s

Lupatini, Assumpção e Gomes Pires falaram sobre as exportações brasileiras de serviços e produtos manufaturados.

30 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Encerramento

Coréia do Sul: um dos países


asiáticos de maior potencial
para parcerias com o Brasil
Participação dos palestrantes foi fundamental para o sucesso do evento
A Sessão Solene de Encerramento
do Seminário Bilateral de Comércio
Exterior e Investimentos Brasil-
Coréia do Sul teve à frente o pre-
sidente da Federação das Câmaras
de Comércio Exterior - FCCE,
João Augusto de Souza Lima. Para
a sessão, ele chamou para compor
a mesa o Embaixador plenipoten-
ciário da Coréia do Sul no Brasil,
Jong-Hwa Choe; o Diretor-Geral da
Korea Trade-Investment Promotion
Agency – Kotra e Dong-Hyung
Park. O presidente da FCCE des-
tacou a contribuição de todos os
participantes do seminário, dizendo
acreditar que os objetivos previstos
foram alcançados.

“Chegamos ao final deste seminário as qualificações necessárias para se tornar


com a certeza de que os nossos objeti- um dos principais parceiros comerciais do “Dentre os países asiáticos, a
vos foram atingidos. Quero agradecer a Brasil”, afirmou. Coréia do Sul é o que apresenta o
equipe da República da Coréia, liderada Souza Lima também fez agradecimen- maior potencial e possui todas as
pelo senhor Embaixador Choe e o apoio tos à participação dos palestrantes bra-
que nós tivemos de todos os membros sileiros que, segundo ele, abrilhantaram
qualificações necessárias para se
da embaixada e do consulado coreanos o seminário com as suas exposições. Por tornar um dos principais
para a realização deste evento. Dentre os fim, ele convidou todos os presentes para parceiros comerciais do Brasil”
países asiáticos, a Coréia do Sul é o que o coquetel em homenagem ao embaixador João Augusto de Souza Lima
apresenta o maior potencial e possui todas coreano.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 31


cinema

Cinema sul-coreano
em grande fase
Coréia do Sul investe na sétima arte e ganha prêmios internacionais
A superprodução “Shiri” – filme exi-

Divulgação Imovision
bido no Brasil sob o título de “Missão
Terrorista” (1999) – marcou o início desta
nova fase, resultado de uma Coréia em
ascensão cultural e econômica. O longa
de ação, dirigido por Kang Je-gyu, bateu
as bilheterias de “Matrix” e “Titanic” no
mercado local e está na lista dos 30 filmes
mais vistos na história do país. Atualmente,
o cinema da Coréia do Sul sobrevive de
sua bilheteria interna. O circuito local é
ocupado por uma média de 60% de pro-
duções nacionais e pelo menos a metade
dos títulos na lista dos Top 10 é coreana.
A maior parte dos filmes exibidos em casa
também é nacional.

Sucessos de bilheteria
“Casa Vazia” ganhou o Leão de Prata por melhor direção no Festival de Veneza de 2004 Em 2004 o mundo percebeu a força
do cinema sul-coreano, quando o aclama-
Pode parecer surpreendente para os poucos países do mundo onde o díssimo “Oldboy”, de Park Chan-Wook,
ganhou prêmio especial do júri no Festi-
brasileiros que não acompanham de cinema nacional é mais visto do que
val de Cannes. Chan-wook, de 43 anos,
perto a sétima arte, mas o cinema o americano. Este é o resultado de transformou-se no mais famoso da nova
sul-coreano tem sido aclamado pela expressivos investimentos privados geração de diretores coreanos. Ele assina
a trilogia “Oldboy”, “Sr. Vingança” e “Lady
crítica nacional e a internacional, nas produções, aliado a uma nova e Vingança”, que estreou no Brasil recente-
e as produções vêm arrebatando brilhante geração de diretores que mente. “Oldboy” gerou polêmica depois
vários prêmios na Europa. Atual- tem realizado filmes de todos os que o sul-coreano Cho Seung-hui – que
matou 32 pessoas na Universidade de Vir-
mente, a Coréia do Sul é um dos gêneros. ginia Tech, em abril deste ano – declarou
que o filme foi uma de suas inspirações.

N
Polêmicas à parte, “Oldboy” é violento e
o início da década de 90, inves- superproduções com estilo hollywoodiano cheio de ação, mas é, também, recheado
tidores privados começaram a fecharam suas portas ou tiveram que se de cenas de amor, sexo, humor, ironia e
aplicar recursos no cinema sul- adaptar. É que, junto com a nova indústria mesmo plasticidade e virtuosismo.
coreano. A revitalização econômica e as cinematográfica local, surgiu uma nova ge- Outro grande sucesso que encantou a
rápidas transformações urbanas em Seul ração de diretores que conseguiu captar a Europa foi “Casa Vazia”, de Kim Ki-duk,
contribuíram para atrair o público para as alma do público coreano e criar uma marca que ganhou o Leão de Prata por melhor
salas de exibição. Com o tempo, as boas bem característica: a mistura de gêneros. direção no Festival de Veneza de 2004 e
universidades passaram a oferecer cursos Isso quer dizer que em um filme de ação melhor filme de toda a mostra, prêmio
de cinema e o governo tem colaborado haverá drama, comédia e algum suspense. conferido pelo júri internacional de críti-
com incentivos à produção audiovisual e O espectador vai assistir a uma história cos da FIPRESCI, a federação mundial da
com apoio a empresas de tecnologia. No que desperta várias emoções diferentes categoria. O filme conta a história de um
entanto, os estúdios que apostaram nas no mesmo filme. jovem sem rumo, que entra nas casas de

32 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


cinema

estranhos e mora nelas enquanto os donos O maior sucesso de bilheteria do ano de Alguns são voltados para famílias e amigos
estão fora. Para pagar a “hospedagem”, ele 2006 foi o triste, engraçado e assustador que querem privacidade, e atendem até oito
lava as roupas dos donos, faz a limpeza e “O hospedeiro”, de Bong Joon-ho, que já pessoas por sessão. O grupo aluga a sala e
executa pequenos consertos nas casas. chegou ao Brasil. Com um roteiro bem escolhe o filme, que pode ser antigo ou estar
Tudo muda, porém, quando ele invade amarrado, efeitos especiais de qualidade em cartaz no momento.Tudo pode reserva-
uma mansão em que o dono está viajando, e uma boa história – contada com ritmo e do pela Internet. O programa, no entanto,
mas sua bela esposa não. Para escapar do frescor – o filme levou 27% da população custa caro: US$ 240 por grupo (ou US$ 30
casamento infeliz e da vida vazia, ela se às salas de cinema, mobilizando 13 milhões por pessoa). Na parte nobre da capital, o
une ao rapaz e, sem trocar uma palavra, a de espectadores só na Coréia do Sul. Para Cinema Charlotte atende um grupo maior:
dupla passa a invadir outras casas. se ter uma idéia, o último grande sucesso até 34 clientes por sessão. Mas o valor é o
O diretor, de 46 anos, utiliza poucos nacional de bilheteria no Brasil, “2 Filhos mesmo: US$ 25 durante a semana e US$
diálogos, que poderiam mesmo ser supri- de Francisco” foi visto por 6 milhões de 30 nos finais de semana, por filme.
midos, já que ele consegue captar, através brasileiros, ou 3,15% da população. A abertura de salas desse tipo foi uma
das imagens, as sensações dos personagens. conseqüência natural diante do expressivo
O filme mostra um tipo de marginalida- Cinema vip aumento da produção de filmes sul-co-
de urbana, encarnada em personagens A excelente fase do cinema sul-coreano reanos. O sucesso de público também
inadaptados socialmente, solitários e mudou, também, o conceito de algumas incentivou a construção de salas de proje-
sigilosos. Mesmo assim, o público assiste salas de projeção do país. São ambientes ção de grande capacidade, como uma que
a uma história de amor romântica quase pequenos, com poltronas mais confortáveis comporta 500 espectadores e é considerada
surreal. e amplas, com serviços de bebida e comida. a 12º maior do mundo.

Divulgação Pandora Filmes

Pelo menos 13 milhões de sul-coreanos assistiram ao filme “O hospedeiro”, maior sucesso de bilheteria no ano passado, exemplo de mistura de gêneros

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 33


investimentos

Acordos bilaterais são um


caminho natural para aquecer o
comércio entre os dois países
Abertura comercial não só alavanca exportações, como também atrai e
facilita o fluxo de investimentos no país

Para Carlos Geraldo Langoni, o Brasil será, depois da China, o segundo principal mercado emergente para investimentos estrangeiros

Diretor do Centro de Economia entrevista, entre outras coisas, ele Como o senhor vê o Brasil hoje fren-
te ao comércio internacional?
Mundial da FGV e ex-presidente fala sobre o comércio internacional, CGL - Nos últimos anos o Brasil voltou a
do Banco Central do Brasil, Carlos os entraves a um crescimento ainda ser um pólo de atração de investimentos
estrangeiros. Isso vem se dando pelo fato
Geraldo Langoni acredita que a maior de investimentos estrangeiros
de o país ter conquistado a estabilidade
Coréia tem condições de investir de no país e o pioneirismo brasileiro na macroeconômica e reduzido sua vulnera-
forma mais efetiva no Brasil. Nesta área de biocombustíveis. bilidade externa e interna. Com isso - e

34 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Investimentos

apesar de uma série de problemas que nós continuam sendo, como país desenvolvi- conseguiu atrair investimentos diretos
ainda enfrentamos, principalmente na área do que é, um grande pólo de atração de nos últimos anos. Creio que o Brasil deve
burocrática, no marco regulatório e na investimentos. Além disso, a Coréia tem investir em acordos que sejam do seu
carga tributária -, o Brasil é hoje um atra- uma dívida de gratidão com aquele país interesse, por que não?
ente mercado para investimentos vindos por causa do apoio recebido no fim da
do exterior. Na minha opinião, o Brasil Segunda Grande Guerra. De qualquer for- Acompanhando este raciocínio,
será, depois da China, o segundo principal ma, o Brasil é a segunda potência entre as acordos de isenção e/ou redução
mercado emergente para investimentos economias emergentes. Para isso, porém, tarifária entre Brasil e Coréia seriam
estrangeiros. o país precisa ter uma postura mais agres- iniciativas interessantes para aque-
siva na área de negociações comerciais, de cer essas relações?
O senhor não acredita que a Índia uma forma geral. Isso envolve idealmente CGL - Sem dúvida! Qualquer acordo de
e a Rússia possam ocupar esta po- o sucesso na Rodada Dhoa, na Organiza- negociação comercial que reduza barrei-
sição? ção Mundial do Comércio – OMC que, ras, tarifárias ou não, e que estimule in-
CGL - Acho que o Brasil está bem à infelizmente, vive uma crise, devido à vestimentos estrangeiros são bem-vindos.
frente da Índia e da Rússia nesse aspecto disputa entre Estados Unidos e União Eu- Sobretudo os acordos de bitributação, que
de investimentos diretos estrangeiros. Na ropéia em torno de subsídios agrícolas. No são muito úteis, porque fazem com que a
verdade, nós estamos voltando para o pa- entanto, independentemente do acordo tributação de uma empresa estrangeira
tamar de US$ 30 bilhões por ano em fluxo multilateral – que seria a melhor solução – no caso coreana – instalada no Brasil seja
de investimentos diretos estrangeiros. Esse para o Brasil – o país poderia e deveria deduzida do seu imposto pago na própria
fluxo tem estado muito concentrado nos buscar acordos bilaterais da forma mais Coréia. Essa é uma das iniciativas que po-
Estados Unidos, Europa e União Européia ampla possível. dem incentivar a vinda de mais empresas
nos últimos anos, mas acredito que a ten- coreanas para o Brasil. Quando não há este
dência agora é haver uma diversificação.
Com isso, teremos investimentos diretos
da própria China, Índia e Rússia, que são
países emergentes que estão começando,
“ Qualquer acordo de
negociação comercial
que reduza barreiras,
tipo de acordo, a empresa recolhe no país
de origem e no Brasil, onerando muito o
preço do produto final. O espaço para uma
negociação comercial mais ampla sempre
como o Brasil, a ter suas multinacionais. tarifárias ou não, existe e é importante.

A Coréia pode ser um dos países a e que estimule A falta de um marco regulatório e
investir no Brasil? investimentos estrangeiros a necessidade de reduzir a buro-
CGL - Eu acredito que a Coréia tem todas
as condições de investir de forma mais
expressiva no Brasil. Isto porque a eco-
nomia coreana tem grandes empresas em
é bem-vindo
Carlos Geraldo Langoni” cracia no Brasil, não pode atrasar
esses acordos? O senhor teme que
o Brasil perca investimentos se não
trabalhar logo neste sentido?
diversos setores, é bastante forte em tec- Quais seriam os países mais interes- CGL - Esta resposta deveria ser sim,
nologia, e cada vez mais se consolida nesta santes para o Brasil fechar acordos certamente. O curioso, no entanto, é
área. Já temos grandes empresas coreanas bilaterais? que apesar de tudo isso – falta de marco
presentes no Brasil, como a LG, Samsung CGL - Os acordos bilaterais são um ca- regulatório, excesso de burocracia, au-
e Hyundai, entre outras. Isso demonstra minho natural para aquecer as relações sência de competitividade, má colocação
que existe uma tendência para que haja comerciais entre dois países, quaisquer que em termos de ambiente de negócios - o
um aumento no fluxo de investimentos e sejam eles. Certamente negociações com Brasil hoje é um dos mais importantes pa-
no comércio entre os dois países. a Coréia e com todos os Tigres Asiáticos íses, disputando com o México, apesar de
– Japão, Malásia, Tailândia, Cingapura apresentar uma tendência de crescimento
Estados Unidos e Coréia assina- – são de grande interesse para o Brasil, pois mais rápida em termos de investimentos
ram recentemente um acordo de amarram uma parceria entre essas nações. diretos estrangeiros.
redução tarifária de 95%, faltando Existe uma correlação muito forte entre
apenas o endosso do Congresso abertura comercial e investimentos estran- O senhor quer dizer que o Brasil po-
Nacional americano para que o geiros. Em geral, a abertura comercial não deria disputar o primeiro lugar em
acordo passe a vigorar. Este tipo de só alavanca exportações, como também investimentos com a China, se resol-
incentivo pode ser uma ameaça a atrai e facilita o fluxo de investimentos vesse esses problemas?
um maior fluxo de investimentos no país, isso é uma correlação clássica. O CGL - Não é possível fazer esta afirmativa,
em outros países? melhor exemplo disso é o Chile, país que mas com certeza o Brasil deveria se pergun-
CGL - É claro que sim. Os Estados Unidos mais tem acordos bilaterais e que mais tar o que poderia ser em termos de pólo de

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 35


investimentos

investimentos, se houvesse uma redução da CGL – Não, hoje a tecnologia é um fator os efeitos do aquecimento global. Isto é
burocracia e uma melhoria no marco regula- que ninguém é capaz de deter. No entanto, urgente e faz com que a pesquisa na área
tório. Principalmente agora, que eu vejo um mesmo que algum outro país detenha a de biocombustíveis esteja bastante intensa
papel importante das empresas coreanas nessa mesma tecnologia que a brasileira, poucos em todo o mundo, sobretudo nos Estados
área de bens de capitais e de infra-estrutura. têm a mesma capacidade de produção de Unidos, onde o etanol é produzido a partir
cana-de-açúcar que o Brasil tem. Portan- do milho. A alternativa da madeira deve
O que o Brasil tem a oferecer para to, não é só uma questão de tecnologia, ser investigada, pois o milho é muito caro
a Coréia? mas de vantagens comparativas herdadas e ainda esbarra na questão da produção
CGL - O Brasil é um grande exportador como terra, solo, clima e manejo. Isso de alimentos, o que não acontece com o
de produtos primários e já exporta uma sem falar da pesquisa genética que o Brasil Brasil, que produz etanol a partir da cana.
quantidade enorme de minério de ferro vem desenvolvendo nesta área e na qual Portanto, podemos esperar muitos avanços
para a Coréia, mas certamente a área de deve continuar avançando. Porém, não nesta área, pois os altos preços estimulam
biocombustíveis é a que mais vai interessar há dúvida alguma de que em 10 ou 15 a produção de novas tecnologias.
àquele país. O Brasil hoje tem uma posição anos haverá muitos outros países desen-


excepcional com este novo instrumento de volvendo e produzindo biocombustíveis
barganha e de negociação comercial. Mais de diversas origens. Parece, inclusive,
Eu acredito que a Coréia tem
do que isso, o país tem neste setor uma que o futuro do etanol é ser produzido todas as condições de investir
ferramenta de barganha geopolítica. Ele a partir de qualquer tipo de madeira. de forma mais expressiva no
detém a tecnologia e lidera a produção, Então a expectativa é de que venhamos a
pelo menos no que se refere ao etanol, e ter uma concorrência grande. Esta é uma
Brasil. Isto porque a economia
tem condições de dar um grande salto na tecnologia muito importante, não só para coreana tem grandes empresas em
área de biocombustíveis. reduzir o impacto econômico do preço diversos setores, é bastante forte
do petróleo e o problema do esgotamen- em tecnologia, e cada vez mais


Com tantos interesses em torno to do recurso, mas sobretudo por causa
deste tema, é possível segurar essa da pressão mundial para que se polua se consolida nesta área
tecnologia por muito tempo? menos o meio ambiente, diminuindo Carlos Geraldo Langoni

Perfil
Nascido em Nova Friburgo, estado
do Rio de Janeiro, Carlos Geraldo
Langoni é PhD em Economia pela
Universidade de Chicago (Estados
Unidos). Desde o início de sua car-
reira dedicou-se à área acadêmica,
sempre atuando na Fundação Getúlio
Vargas, no Rio de Janeiro, de onde
foi professor e Diretor da Escola de
Pós-Graduação em Economia. A vida
acadêmica foi interrompida apenas
entre 1980 e 1983, quando foi pre-
sidente do Banco Central do Brasil.
Hoje Carlos Langoni é Diretor do
Centro de Economia Mundial da FGV
e consultor de empresas.

36 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Energia

Em busca de mercados além-


mar para o etanol
Para gerente da Petrobras, a Coréia do Sul é um dos mercados mais
promissores para o etanol brasileiro
O etanol não é mais uma promessa, mas dos maiores consumidores de gasolina do
uma realidade. É preciso, portanto, inves- mundo. “Já efetuamos alguns contatos com
entidades governamentais e empresariais
tir cada vez mais para suprir os interesses coreanas no sentido de dar início a estudos
e as demandas de vários países do mundo de viabilidade de projetos nessa área no
país. Eles entendem que a colaboração
por essa matriz energética. A análise é do
técnica da Petrobras será extremamente
gerente de comercialização de Produtos importante para que consigam alcançar
Claros da Petrobras, Luthero Winter Mo- esse intento”, afirmou Moreira.
Se são incontestáveis os benefícios para
reira, que participou do Seminário Bilate- o Brasil em comercializar o etanol com
ral de Comércio Exterior e Investimentos mercados estrangeiros de grande poten-
cialidade, como é o caso da Coréia, faz-se
Brasil-Coréia. Ele foi um dos expositores
também necessário atentar aos meios que
do Painel II do seminário, cujo tema garantam o suprimento desse produto para
abordado foi: Relações Brasil-Coréia nos os países compradores. Segundo o gerente
Moreira afirmou que está prevista a construção
da Petrobras, está prevista a construção de dois alcoodutos no Brasil
setores de petróleo e fontes alternativas de de dois alcoodutos que permitirão escoar
energia. A presença coreana no setor auto- etanol para os principais portos do Brasil. combustível.
O primeiro a ser anunciado ligará Goiás Já o segundo alcooduto terá uma ex-
motivo. “Vejo com bons olhos esse evento.
ao Porto de São Sebastião, em São Paulo. tensão de cerca de 900 Km e contribuirá
A Petrobras já tem parcerias com a Coréia E o segundo projeto logístico ligará Cam- para atender as demandas pelo etanol de
do Sul no campo do petróleo, exportando po Grande (MS) ao porto de Paranaguá países asiáticos, especialmente da China e
(PR). “Os investimentos para a construção do Japão.“Não há dúvidas, porém, de que
esse produto para lá. É no setor de etanol, a Coréia do Sul também se tornará, muito
desses dois alcoodutos estão na ordem de
porém, que a nossa empresa entende que US$ 2 bilhões”, calculou Moreira. em breve, um dos principais importadores
a Coréia é um mercado altamente pro- O primeiro alcooduto, que foi anun- do etanol brasileiro, juntamente com os
ciado oficialmente pelo Presidente Lula Estados Unidos, China e Japão. Já domina-
missor”, afirmou Moreira, em entrevista no início do ano, contará com a extensão mos o desenvolvimento desse combustível
exclusiva à Revista da FCCE. de 1.150 Km. A rede sairá de Senador e somos líderes nesse setor, graças ao Pro-
Canedo, em Goiás, atravessará Minas em álcool. E como o interesse por combustí-
direção a São Paulo, passando por Ribeirão veis alternativos vem crescendo a cada ano,

O
gerente da Petrobras contou Preto, maior região produtora de álcool, e o Brasil tem, nesse campo, um papel espe-
que os coreanos demonstram pela Refinaria de Paulínia, a maior do País, cial”, declarou Moreira. Ele, no entanto,
forte interesse na aquisição e até chegar ao porto. O tempo previsto de ressaltou que ainda é cedo para descartar o
popularização de automóveis com com- construção da gigantesca obra é de dois petróleo como principal matriz energética
bustível flex (movidos tanto a gasolina anos. “Estimamos que o duto começará mundial. “O petróleo ainda será a fonte de
como a álcool), sobretudo em virtude a operar já em 2010”, afirmou o gerente energia dominante no mundo a médio e
do alto preço do petróleo no mercado da Petrobras. O duto terá capacidade em longo prazo. A Petrobras, porém, está
internacional, além das preocupações para transportar 4 bilhões de litros e é o preparada para o futuro, buscando investir
ambientais, derivadas pelo alto consumo primeiro de uma série de projetos para em vários campos da energia alternativa”,
desse combustível fóssil. A Coréia é um ampliar a infra-estrutura de transporte do declarou o gerente.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 37


Tecnologia

A chave do sucesso sul-coreano


Fortes investimentos em tecnologia e educação elevaram o país asiático à
condição de uma das mais fortes economias do mundo LG Electronics/ Divulgação

Parque industrial da LG Electronics, em Manaus

D
Samsung, LG e Kia Motors são e pouca importância até meados se destacando internacionalmente em
dos anos 60, foi sob o governo diversos setores, principalmente na pro-
marcas bastante conhecidas do con-
do presidente Park Chung-Hee dução de navios, veículos e equipamentos
sumidor brasileiro. Contudo, o que que a indústria sul-coreana conheceu um eletrônicos.
elas têm em comum, além de serem crescimento espetacular graças à priori- “Pesados investimentos em educação
dade que os planos econômicos deram e forte senso de disciplina são fatores que
potentes multinacionais que agre- a esse setor e ao considerável montante explicam o sucesso das empresas coreanas
gam tecnologia e estarem presentes dos investimentos estrangeiros, sobretu- ao redor do globo”, afirma Jong-Hwa
do americanos e japoneses. Por meio de Choe, Embaixador Plenipotenciário da
em diversos países do mundo? A subsídios direcionados especificamente Coréia do Sul no Brasil. Devastada por
resposta é simples: a origem. Essas e para cada conglomerado econômico, o uma das mais sangrentas guerras civis do
demais empresas coreanas traduzem governo do general Park conseguiu forçar século passado – o conflito que dividiu
a expansão da indústria do país. Com essa o país em Norte e Sul -, a Coréia do Sul
o sucesso do país no campo indus- íntima relação Estado-indústria, as grandes conseguiu se recuperar economicamente.
trial, o que ajudou a figurar a nação empresas sul-coreanas conseguiam obter Em quase três décadas, o PIB (Produto In-
financiamentos que garantiam seu cresci- terno Bruto) do país cresceu a uma média
asiática como uma das dez maiores mento e sua atuação em várias áreas. Dessa de 8,6% ao ano, um dos maiores índices
economias do mundo. maneira, a Coréia do Sul foi aos poucos de crescimento registrados no mundo. No

38 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Tecnologia

entanto, em 1997, o país viveu a sua maior cidades de recuperação da região. Depois exportação de dispositivos de alta tecnolo-
crise econômica – que atingiu também de sofrer uma queda no PIB de 6,7% em gia que fortalece os investimentos na área.
outros países da região, como Malásia, 1998, o país voltou a crescer com força: O mercado interno também corresponde
Indonésia,Tailândia,Taiwan, Hong Kong e 10,9% em 1999; 8,8% em 2000; e pouco a uma fatia grande para o setor.
Cingapura -, que levou inúmeras empresas mais de 3% em 2001. E foi o setor de Ainda de acordo com informações do
sul-coreanas à falência. A principal causa tecnologia um dos responsáveis pelo novo governo desse país, há, atualmente, cerca
da crise, conforme alegaram os represen- salto de crescimento do país. De acordo de 37 milhões de usuários de Internet
tantes do Fundo Monetário Internacional com dados do governo sul-coreano, desde – numa população de 48 milhões de ha-
- FMI, foi a má administração das empresas 1998, o setor de tecnologia da informa- bitantes -, o que significa que a Coréia do
coreanas. Como estavam bastante atreladas ção do país vem crescendo a uma taxa Sul detém um dos maiores percentuais de
aos incentivos do governo, elas não busca- de 25% ao ano, graças às exportações de internautas do mundo. Chama a atenção
vam medidas que visassem ao saneamento computadores pessoais, celulares e semi- também o índice de usuários de telefones
financeiro de suas corporações e, por isso, condutores. Num plano geral, o setor de celulares no país. Ao todo, pouco mais de
endividaram-se sem se preocupar com a TI responde por um terço do volume total 80% da população sul-coreana possui te-
gestão interna. das exportações sul-coreanas que, no ano lefones móveis, o que dá ao país asiático o
Após o baque financeiro, a Coréia passado, atingiu a marca de US$ 326 bi- status de terceiro maior mercado mundial
conseguiu mostrar uma das maiores capa- lhões. No entanto, não é só o comércio de desse produto.
Samsung/ Divulgação

Em 2004, foi construída, em Campinas, uma fábrica de telefones celulares da Samsung, uma das mais famosas marcas coreanas

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 39


Tecnologia

Presença coreana no Brasil


De acordo com o diretor da Korea Trade-Investment Promotion Agency - KOTRA, Dong-Hyung Park, existem
hoje no Brasil cerca de 40 empresas coreanas. Contudo, são as gigantes Samsung, LG e Kia Motors que mais se
destacam no mercado nacional.

Samsung
Líder no mercado brasileiro de monitores e discos rígidos para PCs, e detentora de grande fatia no mercado de telefonia celu-
lar, a Samsung está presente no Brasil desde 1986. Contudo, a primeira unidade industrial da empresa coreana foi inaugurada em
1995, em Manaus, onde atua na Zona Franca. Desde então, a Samsung investiu cerca US$ 300 milhões, incluindo a construção,
em 2004, de uma fábrica de telefones celulares em Campinas, São Paulo. A partir de outubro de 2004, a empresa passou a investir
e comercializar produtos de áudio e de vídeo. A Samsung obteve faturamento de US$ 700 milhões em 2004, com crescimento
de 46% em relação ao ano anterior.

Kia Motors
Inaugurada em 1992, a Kia Motors do Brasil é uma das subsidiárias mais importantes da empresa sul-coreana no mundo. Ela
iniciou sua operação com a importação e comercialização de quatro modelos: a van e o furgão Besta, o sedã Sephia e os utilitários
Ceres e K3500. Contudo, foi com a grande aceitação do modelo Besta que a Kia se consolidou no mercado brasileiro. O veículo
tornou-se, nos anos 1997, 1998 e 2001, o veículo importado mais emplacado no país. Durante esse período a empresa investiu
paralelamente em sua estrutura de pós-vendas. Instalou em 2002 na cidade de Itu (SP) seu Centro Nacional de Distribuição de
Peças, que ocupa uma área construída de 7.000 m2 e mais 12.000 m2 de área de estocagem, com mais de 56 mil itens originais
em estoque para assegurar a reposição de peças e componentes, atendendo aos pedidos da rede de concessionárias em todo o
território nacional. Atualmente, segundo estimativas da empresa, circulam cerca de 105 mil unidades de veículos Kia pelas ruas
e estradas brasileiras.

LG Electronics
Já a LG Electronics está no Brasil há 10 anos. O escritório central e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa estão
localizados no estado de São Paulo e a empresa conta com dois parques industriais: Manaus (AM) e Taubaté(SP). Ao todo, são
cerca de cinco mil funcionários em todo o País, o que faz com que a maioria dos produtos que comercializa no Brasil seja fabri-
cada aqui. Entre os itens mais comercializados estão TVs convencionais, TVs de tela plana, TVs LCD, displays de plasma, DVDs e
home theaters. Em 2006, a subsidiária brasileira da LG Electronics atingiu o faturamento de US$ 1,8 bilhão, representando um
crescimento de 38,4% em relação a 2005. Para 2007, a empresa estima faturar no Brasil US$ 2,5 bilhões.

LG Electronics/ Divulgação

Linha de produção de celulares da LG, em Taubaté (SP)

40 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Política

As relações entre as Coréias do


Sul e do Norte
Ainda não há um tratado de paz, mas o movimento é de aproximação

O embaixador Pedro Paulo Assumpção prevê um relacionamento cada vez mais próximo entre Brasil e Coréia

Diplomata de carreira, Pedro Paulo Assumpção foi o serviu em Seul (2000 e 2006), compara a realidade que
último Embaixador Plenipotenciário do Brasil na Coréia viveu com os dias de consolidação econômica de hoje e
do Sul. Ele conta, nesta entrevista, como foi a ascensão prevê um relacionamento cada vez mais próximo entre
econômica ocorrida no país durante o período em que Brasil e Coréia.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 41


Política

Como o senhor compara a Coréia As recentes inspeções nucleares na antes. Ele foi tratado com muita cortesia,
em que o senhor viveu e trabalhou Coréia do Norte também são sinais as negociações foram muito favoráveis e
com a situação do país hoje? de aproximação? aconteceu uma surpresa: os coreanos do
PPA - O grande desafio da Coréia do Sul PPA - Certamente! Os coreanos do norte norte, declararam que estão preparados
está centrado no processo político de paz, concordaram com uma inspeção das ins- para desmontar seu arsenal nuclear. Isso é
rumo ao fim da guerra com a Coréia do talações nucleares de Yongbyon, que fica uma coisa extraordinária, mas é claro que
Norte. Este processo está ora mais, ora a 75 km ao norte da capital Pyongyang, houve pressões econômicas e políticas para
menos complicado. Durante o tempo em e receberam os representantes da agên- que isso acontecesse.
que eu servi na Embaixada Brasileira, o cia de energia nuclear, cuja sede é em
processo vivia um momento bastante di- Viena. Eles inspecionavam regularmente O senhor acredita na reunificação
fícil, mas já entre 2005 e 2006 começou essas instalações até 2003, mas depois das duas Coréias?
a ficar mais fácil por causa da aceleração disso nunca mais puderam voltar. Assim PPA - A situação da Coréia do Norte é
o mundo não tinha idéia do que estava se muito ruim. Além disso, pouco se sabe
passando emYongbyon. Ainda se sabe pou- sobre o país, não há dados, estatísticas, nú-

“ A gradativa pacificação da
península coreana é importante
para os dois lados. Porém, antes
co, e neste meio tempo a Coréia do Norte
andou disparando mísseis sem ogivas
nucleares. Saíam da Coréia, atravessavam
e caíam depois do Japão, colocando este
meros, nada. Não se sabe sequer o PIB do
país. A renda per capita anual presumida
fica entre US$ 300 e US$ 500, enquanto
na Coréia do Sul é de acima de US$ 20
da unificação é preciso pensar em país em risco. Eram somente testes, com mil. Então a diferença é muito grande.
mísseis desarmados. De qualquer forma, O que está acontecendo hoje são passos
algo ainda mais difícil, que é a assistimos um momento importante de concretos mostrando que o ambiente está
reconciliação entre os dois lados” mudanças. Recentemente o principal se desanuviando, mas é um processo muito
P e d ro P au l o A s s u m p ç ã o negociador americano foi convidado a lento, apesar de importantíssimo, já que
visitar aquele país, onde nunca havia estado antes não acontecia absolutamente nada.

das negociações entre o chamado Six-party


Talks, composto por seis países: Coréia do Coréia do Norte X Sul
Sul, Coréia do Norte, China, Japão, Esta-
dos Unidos e Rússia. Essas negociações ti- Em 1904 o Japão realizou uma e os Estados Unidos reagiram. Mon-
nham o objetivo de desmilitarizar a ameaça terrível ocupação e anexou a Coréia taram uma força multinacional, que
da Coréia do Norte. Isto porque quando a ao seu território. A Segunda Grande desembarcou no Sul e foi empurrando
guerra entre Coréia do Norte e Coréia do Guerra, no entanto, que se encer- as tropas para o Norte, até o paralelo
Sul terminou, não foi assinado um tratado rou em 1945 com o lançamento de 38. O general Douglas MacArthur
de paz, mas um armistício, ou seja, as hos- bombas atômicas sobre Hiroshima queria ir até o final, até a fronteira
tilidades foram suspensas, mas não houve e Nagasaki, terminou com o Japão com a China, mas o presidente ame-
paz negociada entre os dois lados. Isto se rendendo aos aliados a bordo de ricano Harry Truman, discordou. Isto
quer dizer que existe uma guerra latente, um navio. O tratado que foi assinado aconteceu entre 1950 e 53.
mas sem exércitos ou hostilidades bélicas. continha a exigência de desocupação O raciocínio era que se as tropas
No entanto, permanece uma separação imediata das tropas da Coréia. Neste chegassem até a fronteira da China,
rigorosa localizada no famoso paralelo 38, mesmo momento era criada a Orga- os chineses seriam obrigados a in-
que divide oficialmente as duas Coréias. nização das Nações Unidas - ONU, tensificar a participação na guerra, o
Desde então, há uma grande tensão na fortemente apoiada pelos Estados que não era sua intenção. Por isso os
relação entre os dois países. Agora estamos Unidos, que tinha interesse no fim da americanos pararam no rio Han-gang,
começando a ver novos passos tendendo à guerra. Entre os anos 40 e 50 Coréia onde fica o paralelo 38 e ali se manti-
pacificação. São passos pequenos, porém do Norte e Coréia do Sul conviviam. veram. Uma negociação terminou no
concretos, como a experiência de rolagem Tentou-se estabelecer um governo, armistício de 1953, criando uma linha
do primeiro trem entre os dois países, o mas a Coréia do Norte entendeu democrática que divide a península
que não acontecia há 50 anos. Um trem foi que deveria invadir a Coréia do Sul, abaixo e acima do rio, como o “muro
da Coréia do Norte até a Coréia do Sul e com o intuito de fazer a unificação à de Berlim”. Por isso a Coréia do Sul
outro no sentido contrário, com 50 con- força. As tropas chegaram até o Sul da tem uma relação especial e uma dívida
vidados de cada lado. O ato não ocasionou Península, ganharam o apoio da China histórica com os Estados Unidos.
desdobramentos, mas é significativo.

42 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Política

Hoje o quadro é bem mais otimista. A Historicamente, o Brasil procura sempre


gradativa pacificação da península coreana dialogar pela onde quer que seja necessário
é importante para os dois lados. Porém,
antes da unificação, é preciso pensar em
e a Coréia não é exceção para nós. O então
presidente Fernando Henrique Cardoso PERFIL
algo ainda mais difícil, que é a reconcilia- foi à Coréia do Sul em janeiro de 2001.
O embaixador Pedro Paulo As-
ção entre os dois lados. Foi uma guerra Nesta ocasião, ele foi até Taedong, na divisa
sumpção é diplomata de carreira,
muito dolorosa, morreu muita gente de e fez um discurso em que, entre outras
tendo trabalhado 10 anos e 4 meses
ambos os lados, e gerou mágoas profundas, coisas, restabeleceu as relações formais
seguidos fora do país, servindo nas
instigadas governamentalmente especial- entre Brasil e Coréia do Norte. Hoje já há,
embaixadas do Brasil em TelAviv,
mente pela Coréia do Norte, de ojeriza ao inclusive, embaixadas do Brasil nas duas
Israel; Cidade do Panamá, Panamá; e
outro lado. A Coréia do Sul, que está mais Coréias, embora o embaixador brasileiro
Seul, na Coréia do Sul. Pedro Paulo
aberta para o mundo, vive uma situação em Pequim (China) exerça a função cumu-
Assumpção foi Embaixador Plenipo-
positiva econômica e politicamente é tudo lativamente à Coréia do Norte.
tenciário do Brasil na Coréia entre
mais fácil. De qualquer forma, o processo
agosto de 2002 e julho de 2006, ou
é positivo. A paz – mesmo sem a reunifica- Como é o comércio entre os dois
seja, logo depois da ascensão e da con-
ção – tornaria a Coréia do Sul ainda mais países?
solidação econômica daquele país.
interessante do que já é hoje, para atrair PPA - No meu entender, o comércio
investimentos. E para a Coréia do Norte entre Brasil e Coréia do Sul está aquém
é bom por motivos óbvios: a aproximação das suas possibilidades. A Coréia exporta
ajudaria a gerar novos parceiros interna- em torno de US$ 3,5 bilhões e o Brasil
cionais e a ampliar seu relacionamento no US$ 1,5 bilhão, o que gera déficit para guem empresários, há uma preparação de
Conselho das Nações Unidas, passando a nosso país. Em parte isso ocorre porque agendas, acordos são assinados etc. Nessas
ser um país com o qual se possa normal- os produtos brasileiros exportados para a duas visitas houve a identificação de áreas
mente dialogar. Coréia são básicos, enquanto aquele país potenciais de cooperação, embora nenhum
exporta produtos de alto valor agregado, o acordo significativo tenha sido firmado.

“ Estreitar relações com um país


é sempre significativo, cria-se
uma agenda positiva, um
que o torna um grande parceiro comercial.
A tecnologia coreana interessa ao Brasil
e nossos recursos naturais interessam a
eles, já que importam 70% de todos os
Isso, porém, não é o mais importante.
Estreitar relações com um país que fica tão
longe é sempre significativo, cria-se uma
agenda positiva, um país passa a conhecer
país passa a conhecer alimentos que consomem. A geografia da mais o outro. Quando o presidente core-


Coréia é basicamente formada por montes ano esteve no Brasil, a Copa sediada em
mais o outro pontiagudos que impedem ou dificultam Japão e Coréia tinha acabado de acontecer
P e d ro P au l o A s s u m p ç ã o muito a agricultura. A única coisa que eles e o Brasil havia se tornado extraordina-
produzem é o arroz, de forma caríssima, riamente mais conhecido. O futebol tem
Como é o relacionamento entre ao custo de três ou quatro vezes superior uma força de comunicação muito grande
Brasil e Coréia do Sul? ao cultivado na China, mas a produção e o Ronaldinho é um ídolo conhecido por
PPA - O relacionamento político é muito continua porque o arroz é muito impor- qualquer pessoa na Coréia do Sul.
bom. O Brasil é um país que favorece tante na cultura coreana e tem um fundo
tudo o que possa representar uma solução religioso. A agricultura coreana é cada vez Como o senhor avalia as possibilida-
pacífica para qualquer controvérsia. Por menos relevante, já que cerca de 75% da des de incrementar este relaciona-
isso, quando há iniciativas de retomada produção do país é de origem industrial, o mento entre Brasil e Coréia?
de diálogo, o Brasil apóia com grande en- que é mais vantajoso economicamente. PPA - Eu tenho uma avaliação muito po-
tusiasmo, mesmo não tendo interferência sitiva neste sentido. O coreano tem uma
direta neste conflito. O país reconhece A visita de Fernando Henrique ge- capacidade de trabalho incrível, e tem o
que naquela área os principais parceiros rou desdobramentos? objetivo de aumentar as relações com o
nas negociações de paz são as grandes po- PPA - Sim, gerou. Como reciprocidade à Brasil, que é considerado um parceiro
tências que, de certa forma, interferiram visita de Fernando Henrique, o presidente privilegiado na América do Sul. A Coréia
no processo histórico de formação da coreano visitou o Brasil em novembro de do Sul deseja fortemente negociar um
Coréia, da guerra e da sua resolução. Os 2004, e já no mandato seguinte, Lula foi acordo de comércio bilateral com o Brasil.
grandes players desse processo são os seis à Coréia (maio de 2005), estreitando de O embaixador foi bastante claro em seu
países que citei anteriormente. Mesmo forma intensa as relações entre os dois discurso neste Seminário em relação a isso.
assim, a política externa brasileira favo- países. Uma visita presidencial é sempre No momento em que o Brasil quiser, os
rece o nosso diálogo com todas as nações. um elemento catalisador pois, com ele, se- coreanos estão dispostos a negociar.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 43


Esporte

Taekwondo: esporte nascido na


Coréia, é ouro no Brasil
O esporte mais popular da Coréia brilha nos Jogos Pan-americanos do Rio
Crédito: Publius Vergilius - Site RIO 2007

Diogo Silva, atleta de taekwondo, ganhou a primeira medalha brasileira de ouro no Pan 2007

O primeiro atleta a conquistar uma Brasil, o esporte foi introduzido no Brasil, a Academia Liberdade, em
medalha de ouro para o Brasil no pelo Grão-Mestre Sang Min Cho, São Paulo, e começou a chamar ou-
Pan-Americano deste ano foi Dio- que chegou ao país em julho de tros mestres coreanos para expandir
go Silva, no taekwondo. O esporte 1970, sem falar o idioma português o taekwondo no país. O esporte,
nasceu na Coréia, já há mais de 2 e sem qualquer conhecimento da hoje, está difundido em todos os
mil anos e está difundido em todos cultura brasileira. Nesse mesmo estados brasileiros, reunindo cerca
os continentes, devido a um grande ano ele inaugurou aquela que seria de 100 mil praticantes ativos, sendo
esforço de mestres coreanos. No a primeira escola a ensinar o esporte mais de 3 mil faixas pretas.

44 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Esporte

A
palavra taekwondo pode ser tra- a paciência e a humildade, além, é claro, de o rei de Koguryo resolveu enviar forças
duzida como “caminho dos pés ser um método bastante eficiente de defesa militares para prestar treinamento a alguns
e mãos através da mente”. “Tae” pessoal. O taekwondo foi introduzido guerreiros da nobreza de Silla e ajudá-los
significa pé, chutar, pular, equilibrar e até como esporte olímpico de exibição nas a livrar a península e eles próprios dos
defender. “Kwon” significa mão, socar, ba- Olimpíadas de Seul, em 1988. Em 1996, ataques inimigos. Esta foi a primeira vez
ter ou defender. “Do” quer dizer caminho, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, já consta- que o taekwondo (naquela época conhe-
maneira ou filosofia de vida. Portanto, o va na disputa de medalhas, consagrando-se cido como taekyon) foi introduzido no
taekwondo é mais do que uma luta ou uma esporte olímpico oficial nas Olimpíadas de reino de Silla, que seria a partir de então,
forma de defesa pessoal, é uma filosofia Sidney, em 2000. seu maior propagador. A nobreza de Silla
que engloba o corpo e a mente. Para o foi convocada para formar um grupo de
povo coreano, a prática do taekwondo im- elite, responsável pela defesa e proteção
plica em um modo de vida, de disciplinas, História da nação.
na adoção de uma moral saudável e de um No século VII, a Coréia estava dividida Eles foram treinados em várias mo-
ideal nobre. Há algo de arte e de respeito em três reinos - Koguryo, Paekche e Silla dalidades, como arco-e-flecha, marcha,
que também envolvem o esporte. – que viviam em conflitos constantes. Silla, espada, bastão, lança, táticas militares e
O taekwondo é um esporte que de- o menor e menos desenvolvido, era cons- taekyon. Seu rei, no entanto, acreditava
senvolve a coordenação motora e a parte tantemente invadido pelos outros e por que ainda lhes faltava uma ideologia, para
física e mental do praticante, trabalha a piratas japoneses, que se aproveitavam de que não fossem nada além de um grupo
memória, ensina disciplina e valores, bem sua fraqueza e incompetência militar para de assassinos bem treinados. Por isso, es-
como noções de hierarquia e respeito. saqueá-los. Ignorando suas diferenças com tudaram história, filosofia, ética e moral
Além disso, desenvolve o espírito de luta, seu vizinho mais próximo, e preocupado budista. Esta foi a base para a formulação
a auto-confiança, a liderança, a seriedade, com a segurança de seu próprio reino, do seu código de honra: fidelidade ao rei;

Crédito: Publius Vergilius - Site RIO 2007

Platéia cheia para assistir às lutas de taekwondo nos Jogos Pan-americanos deste ano no Rio

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 45


Esporte

lealdade aos amigos; respeito aos pais;


nunca recuar perante o inimigo; e só matar
quando não houver alternativa. Com a As faixas e sua representação
formulação deste código de honra, o mo-
A caminhada do praticante do taekwondo é dividida inicialmente em Gubs e em
vimento passou a denominar-se Hwarang-
seguida em Dans. Cada gub corresponde a uma faixa colorida que o atleta amarra na
Do (“Do” significa “o caminho” em todas as
cintura, por sobre o dobok, a vestimenta característica dessa arte marcial. As faixas
artes marciais orientais).
representam o significado filosófico do praticante de taekwondo e distingue sua
A partir da formação deste grupo,
graduação. A faixa deve ser usada com apenas uma volta na cintura, simbolizando
Silla tornou-se tão poderosa que, em 670
a perseguição de um objetivo; o serviço a um mestre, com inabalável lealdade; e
d.C., conseguiu unificar os três reinos da
alcance da vitória em um só golpe.
península sob a sua bandeira. O grupo
de elite passou a viajar pelo interior da
península para conhecer melhor a região
e a população e, assim, foram espalhando Conheça o significado de cada cor:
o taekyon por todo o reino, até 935 d.C.
Durante esta época, o taekyon se tornou Branca
popular como uma atividade de recreação Inocência, o iniciante ainda não tem prévio conhecimento do taekwondo
ou um sistema de desenvolvimento físico,
ainda que fosse também uma excelente Amarela
forma de defesa pessoal. Somente durante Terra, onde a planta brota e fixa sua raiz. É dada quando a base do taekwondo está
a dinastia Koryo (935 d.C. - 1392 d.C.) firmada
esse foco começa a mudar. Nessa época o
taekyon passou a ser conhecido como subak Verde
e deixa de ser visto como um sistema de Crescimento da planta, o aluno começa a se desenvolver na técnica do taekwondo
desenvolvimento físico, passando a ser
encarado como uma arte marcial. Azul
Durante a ocupação da Coréia pelo Céu, para onde a planta se dirige; seu objetivo. Representa o amadurecimento da
Japão, a prática do taekwondo foi proibida, técnica do aluno
assim como todas as atividades culturais
coreanas, como a fala, o canto, o estudo Vermelha
do idioma e o uso das roupas tradicionais. Perigo, alerta ao aluno sobre a necessidade de autocontrole, bem como seu oponente
Em 1913, o caratê japonês foi introduzido a manter-se afastado
na Coréia e apoiado pelo regime militar
do Japão, ganhando popularidade até a Preta
independência do país, em 1945. Assim, Oposto do branco, maturidade e conhecimento no taekwondo
vários líderes de artes marciais começaram
a ensinar o esporte clandestinamente,
já com combate totalmente desarmado.
Começaram a aparecer as associações ou
uniões, chamadas de kwan pelos líderes do
taekwondo, até o surgimento da Federa- Juramento do praticante de Os princípios do taekwondo
ção Mundial de Taekwondo (The World taekwondo
Taekwondo Federation-WTF). 1- Observar os princípios do 1- Cortesia
Após a liberação da prática do taekwon- taekwondo
do, o General Choi Hong Hi começou a 2- Respeitar o instrutor e seus 2- Integridade
ministrar treinamento de artes marciais superiores
para todos os militares, com o objetivo de 3- Nunca fazer mau uso do ta- 3- Perseverança
fortalecer o corpo e a mente do exército ekwondo
coreano. O desempenho deste preparo 4- Ser campeão da liberdade e 4- Autocontrole
foi positivamente demonstrado durante da justiça
as guerras contra a Coréia do Norte e do 5- Ajudar a construir um mundo 5- Espírito Indomável
Vietnã. mais pacífico

46 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Comércio

Incentivo governamental à
exportação de serviços
Brasil e Coréia têm grande potencial para ampliar relações comerciais.

Edson Lupatini afirma que os médicos brasileiros são certificadores de resultados de análises laboratoriais e de imagem para os Estados Unidos

Antes de assumir o cargo de Secre- o drawback – mecanismo de im- nacional, bem como os navios para
tário de Comércio e Serviços do portação de insumos como peças, exportação e os aviões produzidos
Ministério do Desenvolvimento, componentes e matérias-primas pela Embraer são feitos por meio
Indústria e Comércio Exterior - que entram no país com suspensão do drawback, que movimenta entre
MDIC, Edson Lupatini foi diretor de todos os tributos para que se- US$ 7 e 8 bilhões por ano. Nesta
do Departamento de Operações jam utilizados na produção de bens entrevista, Lupatini fala sobre o
de Comércio Exterior do órgão para posterior exportação. Assim, comércio de serviços entre Brasil e
por cinco anos. Durante sua gestão é possível agregar valor aos itens Coréia e garante que os dois países
foram desenvolvidas as ferramentas produzidos, permitindo que o país têm características complementa-
que automatizaram os processos exporte produtos mais sofisticados. res que podem incrementar seus
de importação e exportação, como Toda a produção automobilística negócios.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 47


Comércio

Como está atualmente a balança Brasil, com todo o potencial de serviços, da exportação de serviços e demonstram
comercial de serviços entre Brasil com toda a inteligência que tem aqui, não que ainda há concentração. Em seguida,
e Coréia do Sul? pode, de alguma forma, ter algum tipo estão Minas Gerais, Paraná e Rio Grande
EL - A nossa balança comercial de serviços de parceria com a Coréia do Sul nesse do Sul. Os estados que registraram maior
com a Coréia ainda é desequilibrada. O segmento? O universo para esta área de variação de crescimento entre 2005 e 2006
Brasil exportou, em 2006, cerca de US$ serviços é muito grande. também foram os maiores importadores:
3,1 milhões. Mesmo este valor sendo São Paulo (41%) e Rio de Janeiro (40%),
101% superior ao registrado em 2005, de Como é o perfil do potencial da ex- seguidos de Minas Gerais e Paraná. Outro
US$ 1,4 milhão, ainda está muito aquém portação brasileira de serviços? dado importante que a publicação traz é
do volume de importações feitas da Coréia EL - Pela primeira vez o país realizou e vai sobre os serviços exportados. No topo da
que, em 2006, foi de cerca de US$ 19 mi- publicar uma balança comercial focada em lista em 2006 está o turismo, seguido de
lhões. Apesar de não ser um valor muito serviços. Esses números são o resultado de transportes e serviços prestados a empre-
alto, é bem superior ao que exportamos um grande esforço do MDIC, com uma sas.Também entre os serviços importados,
para lá, e também vem registrando cresci- valiosa colaboração do Banco Central do o destaque vai para as áreas de transporte
mento, já que representou um acréscimo Brasil. Essa publicação vai apresentar um e turismo, seguidos pelas intermediações
de 32% aos US$ 14 milhões importados panorama das nossas exportações e impor- financeiras e comércio por atacado (lo-
em 2005. É um intercâmbio comercial tações de serviços e revelar o destino das gística prestada pelos atacadistas, como
muito incipiente e podemos melhorar exportações e a origem das importações. distribuidores).
muito nesta área. Posso adiantar que o Brasil exportou cerca
de US$ 18 bilhões em 2006, valor 21% Como esta publicação pode con-

“ O Brasil exportou cerca de


US$ 18 bilhões em 2006, valor
21% acima do que foi enviado
acima do que foi enviado para fora do país
em 2005. No mesmo período importamos
US$ 27 bilhões, também 21% acima dos
US$ 22 bilhões registrados em 2005. O
tribuir para melhorar a balança
comercial de serviços?
EL – Este estudo mostra que, por conta
dos transportes, temos um déficit em
para fora do país em 2005. aumento dos dois índices indica desen- nossa balança comercial, apesar do cres-
volvimento no país. Além da balança, a cimento nas exportações e importações
No mesmo período importamos publicação vai trazer uma avaliação mensal de serviços. Este é o ponto principal pois,
US$ 27 bilhões, também de desempenho e a participação de cada quanto mais intenso o comércio de bens,
21% acima dos US$ 22 bilhões estado nas exportações de serviços. maior é necessidade da utilização de navios
para levar e trazer mercadorias exporta-
registrados em 2005.
Entre os estados, quais são os que das e importadas pelo Brasil. Hoje este
O aumento dos dois índices indica mais exportam serviços? transporte é feito por navios de bandeiras
desenvolvimento no país
E d s o n L u pat i n i ” EL - Os destaques são Rio de Janeiro e
São Paulo que, juntos, representam 84%
estrangeiras e temos que pagar o frete.
Por isso, se aumentamos nossa conta de

Como a realização deste Seminário


pode ajudar neste sentido?
EL - Este tipo de seminário é importante
porque abre muitas possibilidades. Primei-
ro, por permitir que conheçamos os nossos
interlocutores, por meio do contato direto
com a delegação do país visitante. Isso é
fundamental em qualquer aproximação
comercial. Em segundo lugar, as expo-
sições realizadas nos painéis e o diálogo
travado nos intervalos nos permite saber
exatamente quais são as áreas em que
pode haver uma atuação maior de um país
ou de outro, verificando os potenciais e
descobrindo as razões de deixarmos de
exportar esse ou aquele tipo de serviço.
Por exemplo, sabemos que a Coréia do Sul
tem um expertise na área naval. Por que o Lupatini era ainda diretor do MDIC quando desenvolveu o drawback

48 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Comércio

comércio de bens, aumentamos, conse- gente sabe, mas os médicos brasileiros são se são sociedades anônimas, empresários,
qüentemente, os custos com transporte. certificadores de resultados de análises em que região e em que estados estão
Essa questão vale ser destacada, mas não laboratoriais e de resultados de imagem instaladas etc.
chega a ser uma grande preocupação. para os Estados Unidos. A reboque desses
projetos vem a exportação de insumos, O senhor já tem um raio X das em-
O que o Brasil pode fazer para in- cimento, máquinas, equipamentos, cami- presas coreanas no Brasil?
crementar a balança comercial com nhões, veículos de todo tipo, turbinas e EL - A maior concentração fica em São
a Coréia do Sul? motores, por exemplo. Paulo e a atividade mais expressiva é re-
EL - Existe um enorme potencial na área paro de veículos, provavelmente por causa
de construção civil. Os projetos de enge- Como é possível aumentar o impac- da grande frota de veículos coreanos que
nharia vêm acontecendo com muito suces- to dos serviços no Brasil? importamos. Há também muitas empresas
so na América do Sul, e é um ótimo nicho EL - A importância dos serviços nos países de abate de aves, aluguel de vídeos, de
para se investir. Na verdade, o segmento desenvolvidos é de 85 % do PIB. No Brasil máquinas e equipamentos, agências de
de serviços tem uma característica muito fica em torno de 58% e, por isso, ainda publicidade, agências de viagem, gestão
interessante. Um projeto de engenharia ou há muito espaço para crescer. O PIB de empresarial, atividades topográficas, arti-
de construção naval arrasta outros tipos de serviços na Coréia representou 52% em gos de vestuários etc. Esta é a radiografia
serviço, como softwares altamente comple- 2006 do total das riquezas produzidas no das empresas sul-coreanas no Brasil hoje.
xos para fazer os cálculos estruturais da- país, por isso eu acredito que há um grande
quelas obras – barragens, metrôs ou uma
embarcação. São programas desenvolvidos
especificamente para este fim. Quando se
usa este software desenvolvido aqui, isso é
potencial na parceria entre os dois países.
A Secretaria de Comércio e Serviços
do MDIC reúne informações de juntas
comerciais de todo o Brasil. O cadastro
“ A importância dos serviços nos
países desenvolvidos é de 85 % do
PIB. No Brasil fica em torno de
considerado exportação de serviço. Há nacional de empresas mostra que temos 16 58% e, por isso, ainda há muito


exportação também de serviços de admi- milhões de organizações, entre brasileiras
nistração, de contabilidade, bancários e e estrangeiras, estabelecidas no Brasil.
espaço para crescer
médicos, já que somos referência mundial Por esses registros podemos identificar E d s o n L u pat i n i
em termos de serviços médicos. Pouca as empresas coreanas instaladas no país,

Lupatini e o embaixador Jong-Hwa Choe participaram das discussões do seminário

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 49


Direito

Direito Internacional: fonte


catalisadora de paz entre os
povos
Nações emergentes devem ter mais voz na Organização das Nações Unidas
Advogado, professor da Faculdade
de Direito da Universidade São
Francisco (SP) e doutor em Direito
Internacional pela Universidade de
São Paulo, o coreano He Moon Jo
é um entusiasta da idéia de fortale-
cimento do Direito Internacional
como fonte catalisadora da paz e
harmonia entre os povos de todo
o mundo. Aliada à essa idéia, ele
também defende a reformulação
do Sistema das Organizações das
Nações Unidas - ONU, com o
objetivo de dar mais voz às nações
emergentes, porquanto elas vêm se
tornando cada vez mais influentes
no mundo atual. He Moon Jo tam-
bém é favorável à idéia de o Brasil
pleitear uma vaga como membro
permanente no Conselho de Segu-
rança do órgão, apesar de discordar
das atuais articulações da diplomacia
brasileira para conseguir esse inten-


to. Segundo ele, esses movimentos A ONU tem um sul-coreano como Acredito ser urgente que
podem frustrar as pretensões do secretário-geral da instituição – Ban
País. Palestrante do Painel III do Ki Moon. O que representa essa es- se discuta a melhor forma de
Seminário Bilateral de Comércio colha para o mundo hoje? condução das reformas na ONU,
HMJ - É um homem preparado. Na sobretudo no sentido de ampliar e
Exterior e Investimentos Brasil- verdade, já estava mais do que na hora
Coréia do Sul, ele falou à Revista de a ONU ter como secretário-geral um distribuir regionalmente as vagas
da FCCE sobre as perspectivas do representante do leste da Ásia. E a escolha de países-membros no Conselho
Direito Internacional para o futuro de um sul-coreano estava prevista. Isso de Segurança. Isso ajudaria a dar


porque já é uma tradição que a escolha
próximo, num ambiente de incer- do secretário-geral da instituição seja feita
mais credibilidade àinstituição
tezas geopolíticas. por representantes de países considerados He Moon Jo

50 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Energia

discretos, do ponto de vista da geopolítica tem que ser feito de forma discreta, sem sobretudo em relação às políticas
mundial. A sua escolha, portanto, repre- muito barulho. controversas dos Estados Unidos
senta a importância de se colocar com na sua guerra declarada contra o
força o tema do multilateralismo, bastante Como o senhor observa a atual di- terrorismo internacional?
enfraquecido nos dias de hoje. Além dis- plomacia brasileira, que busca dar HMJ - O Direito internacional passa,
so, Ban Ki Moon é, sem dúvida, bastante maior ênfase às relações sul-sul, e atualmente, por uma fase de transição.
preparado para esse cargo. Ele tem grande não focar apenas nas relações com Acredito que estamos passando da fase do
experiência profissional como funcionário os países do hemisfério norte? unilateralismo para o período do multila-
público. Por isso, eu acredito que ele terá HMJ - Houve, sem dúvida, uma mudança teralismo. O unilateralismo norte-ameri-
sucesso na condução de reformas do sis- radical da política externa do governo Lula cano está chegando a um nível de desgaste
tema ONU. em relação à gestão anterior. O que vemos tão grande que não haverá alternativa que
é uma tentativa de reedição dos conceitos não buscar a cooperação. Isso vale mesmo
E como o senhor observa a refor- e idéias terceiro mundistas. Isso fica evi- na luta contra o terrorismo. Além disso,
mulação política e organizacional dente quando o País busca se aproximar já não é mais novidade que as funções do
da ONU, sobretudo no Conselho de da China, Índia, África do Sul, Oriente Estado passam por mudanças significativas
Segurança? Médio e unir forças contra os países nos dias de hoje, sobretudo pela influência
HMJ - É uma tarefa bastante difícil. O industrializados em suas demandas. Essa do fluxo do mercado global. Por isso, acre-
Direito Internacional moderno nasceu a estratégia, no entanto, pode ter um efeito dito que está se desenvolvendo a visão de
partir do Tratado de Paz de Westphalia, desgastante para o Brasil. É preciso que o elevar o cidadão de cada Estado ao patamar
em 1648 (o tratado que pôs fim à Guerra governo brasileiro busque uma sinergia de cidadão internacional, que ficará sob
dos Trinta Anos – 1618 a 1648, entre ca- ao invés de uma posição de confronto jurisdição de uma Justiça internacional.
tólicos e protestantes na região da Europa permanente. É claro que essa política tem Isso, para mim, se configura como um
Central) que criou também a idéia de dado resultados positivos, mas se o Brasil dado positivo para o desenvolvimento do
Estado soberano, que tem como finalidade continuar com essa postura de conflito Direito Internacional.
a segurança internacional, por meio do Norte-Sul, pode ser que essa diplomacia
conceito chamado “balança de poder”. “quebre”. Por outro lado, é interessante Em seu livro “Introdução ao Direito
Esse conceito perdurou até o término da notar que, na região do Mercosul, a di- Internacional Público”, o senhor
1ª Guerra Mundial, com a criação da Liga plomacia brasileira cede além do que é ressalta que os países em desenvol-
das Nações, em 1919, e, depois, com a necessário, e quando vai dialogar com os vimento devem atuar de forma mais
ONU. Contudo, se nós formos verificar países industrializados mostra-se bastante ativa para influenciar a formação
a formação do Conselho de Segurança da intransigente em diversos assuntos. É das normas internacionais. Contu-
ONU, observamos que a correlação de preciso que se compreenda que, no mundo do, como pode ser possível, em um
poder dos países membros permanentes de hoje, a flexibilização e o equilíbrio nas mundo cada vez mais dividido e
é bastante semelhante àquele conceito negociações são extremamente positivos desigual socioeconomicamente?
antigo de “balança de poder”. Por isso, para se alcançar objetivos. HMJ - As normas internacionais vigentes
acredito que seja urgente que se discuta a foram formuladas pelos países ocidentais
melhor forma de condução das reformas industrializados. Nos dias de hoje, é visível


na ONU, sobretudo no sentido de ampliar o aumento do peso de países como China,
e distribuir regionalmente as vagas de paí- É preciso que se Índia e Brasil na esfera internacional. No
ses-membros no Conselho de Segurança. compreenda que, no mundo entanto, para que esses países consigam
Isso ajudaria a dar maior credibilidade à de hoje, a flexibilização ter maior influência na formação de no-
instituição. vas normas internacionais, é preciso que
e o equilíbrio nas se desenvolva não somente o conceito
E o senhor apóia a pretensão do negociações são de diplomacia econômica e política, mas
Brasil em se tornar um dos membros extremamente positivos também a idéia de diplomacia jurídica. E


permanentes do Conselho? isso tem que ser feito em conjunto entre
HMJ - Eu apóio essa reivindicação. É um
para se alcançar objetivos diplomatas de carreira, mas também na
sonho antigo da diplomacia brasileira. He Moon Jo Academia, nas organizações não-gover-
Eu entendo que, para a consolidação da namentais e em associações empresariais.
segurança internacional, seja necessária a Só dessa forma poderemos modificar as
inclusão de mais alguns países, e o Brasil normas internacionais atuais e trazer be-
tem peso para isso. Contudo, do ponto Como o senhor avalia a situação nefícios socioeconômicos de forma mais
de vista da diplomacia internacional, isso do Direito internacional hoje, distribuída.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 51


Negócios

Rio de Janeiro e Coréia: um


casamento promissor
Novos investimentos no estado criam grandes oportunidades

Diplomata de carreira, Ernesto Rubarth trabalhou na


embaixada de Seul de 2000 a 2003. Esta experiência fez
com que ele conhecesse bem a pujança, a capacidade e
o poderio da economia coreana. Atualmente, Rubarth
é Subsecretário de Assuntos Internacionais do Estado
do Rio de Janeiro e vê com muito bons olhos a busca
pela aproximação dos dois lados, por meio da realização
do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Inves-
timentos Brasil-Coréia do Sul.
Ernesto Rubarth disse que o Estado do Rio de Janeiro
está vivendo um novo ciclo de grandes investimentos,
como o Complexo Petroquímico da Petrobras, em
Itaboraí e a Usina Metalúrgica de Itaguaí, além do
Porto de Açu, que começa a ser implantado agora no
noroeste do estado e vai escoar a produção de minério
de ferro de Minas Gerais. “Todos esses investimentos
criam grandes oportunidades de comércio ou forneci-
mento de serviços e equipamentos. A Coréia tem uma
economia muito próspera e desenvolvida e está em fase
de inovação tecnológica”, explica Rubarth. Por isso,
ele aposta em parcerias tanto na parte comercial como
em investimentos – que devem se associar a essas que Para Rubarth, o Estado do Rio de Janeiro está vivendo um novo ciclo de
grandes investimentos.
já estão em andamento. “Creio que poderíamos pensar
em termos de uma cooperação na área de tecnologia ações complementares. “Temos um acervo de pesquisa
da informação, já que a Coréia é o principal produtor básica bastante reconhecido internacionalmente, mas
mundial de semicondutores, entre outros componen- há dificuldades em transformar este conhecimento em
tes eletrônicos”, sugere. O subsecretário esclarece um produto tecnológico comercializável no mercado,
que os coreanos estão muito à frente do Brasil neste que é justamente o ponto forte da Coréia. Este seria
segmento, mas que os dois países poderiam promover um casamento promissor”, prevê Rubarth.
52 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul
Negócios

H
á algum tempo o governo co-

Rodolfo Clix
reano vem negociando com o
brasileiro a instalação, no Brasil,
de um Centro de Tecnologia de Comuni-
cação e Informação. As negociações são
longas e o local a ser implantado ainda
não foi definido, mas o Rio de Janeiro é
uma das possibilidades. “O Rio tem muitas
virtudes. Entre as mais importantes, apon-
to a logística, já que é um grande centro
distribuidor de mercadorias, e o fato de
ter uma população bastante instruída,
considerando todos os institutos instalados
no estado”, destaca.
Rubarth acredita que o potencial de
parcerias entre a Coréia e o Brasil, par-
ticularmente o Rio de Janeiro, é muito
grande. Apesar de o Brasil ter optado pela
TV digital japonesa, que difere da coreana,
a Coréia tem exportado muitos compo-
nentes para televisão, por meio da Zona
Franca de Manaus. “Porém, essa é uma
corrente de comércio já estabelecida. O
mais importante a se fazer neste Seminário
é pensar na renovação da pauta de comér-


cio exterior, modernizando, atualizando e
dinamizando essa relação, de modo que os O noroeste do Estado do Rio de Janeiro é um tradicional produtor de
dois países possam aproveitar ao máximo cana-de-açúcar, nós temos possibilidades fortes de trabalhar este
segmento produtivo no sentido de fornecer aos coreanos tanto o etanol
“ O Rio tem muitas virtudes.
Entre as mais importantes,
aponto a logística, já que é um
como os biocombustíveis provenientes de outras origens
E r n e s to R u b a rt h ”
com a Coréia. “Os coreanos precisam lhar este segmento produtivo no sentido
grande centro distribuidor de
muito de energia, já que eles não têm de fornecer aos coreanos tanto o etanol
mercadorias, e o fato de ter uma fontes próprias. Hoje, dependem muito como os biocombustíveis provenientes de
população bastante instruída, do petróleo, cujos grandes fornecedores outras origens”, garante. Para facilitar essas
considerando todos os institutos estão no Oriente Médio. Sabe-se, porém, negociações, o governador Sérgio Cabral


que essas fontes são problemáticas, não só Filho está programando uma visita oficial
instalados no estado por representarem custos elevados e serem à Ásia, liderando uma delegação empre-
E r n e s to R u b a rt h esgotáveis, mas também por poluírem o sarial. “Como o governador não pode se
meio ambiente”, explica o Subsecretário. ausentar por muito tempo, provavelmente
as oportunidades existentes”, defende. Hoje há um movimento mundial no sen- a viagem ficará restrita a um máximo de
No Porto de Açu, por exemplo, o tido de tornar a energia mais limpa, por três países. Ainda estamos organizando
objetivo primeiro do empreendimento é causa da ameaça do aquecimento global, as agendas, mas a Coréia tem grandes
escoar o minério de ferro extraído em Mi- e a Coréia do Sul não está fora deste pro- chances de ser uma das nações visitadas”,
nas Gerais, que já é um produto tradicional cesso. Portanto, segundo ele, o Brasil tem adianta Rubarth.
na pauta de exportações do Brasil para a grandes possibilidades de fornecer esta O Subsecretário de Assuntos Interna-
Coréia. Ernesto Rubarth sugere que o por- energia para a Coréia, já que detém uma cionais do Estado do Rio de Janeiro acredi-
to seja uma via natural de escoamento de tecnologia avançada na área. ta que o Seminário Bilateral Brasil-Coréia,
outros produtos, como o etanol e outros “O noroeste do Estado do Rio é um organizado pela FCCE, poderá impulsio-
biocombustíveis, aumentando o volume de tradicional produtor de cana-de-açúcar, nar a relação com a Coréia, enriquecendo
exportações e diversificando o comércio nós temos possibilidades fortes de traba- e valorizando esta visita.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 53


Parceria Comercial

Intercâmbio comercial e
financeiro entre Brasil e Coréia
Kotra possui escritório em São Paulo há um ano e meio
negócios. Confira trechos da entrevista: importante no que diz respeito a prestar
consultoria nesse campo.
Há quanto tempo existe o escritório
da Kotra no Brasil e quais são as suas E no sentido contrário? É possível
atribuições? destacar algum setor do empresaria-
DHP - A Kotra está no Brasil, com escri- do brasileiro que mais busca atuar
tório na cidade de São Paulo, há um ano e na Coréia do Sul ?
meio. É uma agência que tem como obje- DHP - Infelizmente ainda são poucas as
tivo promover o intercâmbio de negócios empresas brasileiras que demonstram
e investimentos entre os dois países. É interesse em investir na Coréia, mas
por meio da Kotra que muitas empresas acredito que isso possa mudar em breve.
coreanas que desejam realizar negócios no Essa mudança pode ser vista com a visita
Brasil se interam a respeito da legislação de representantes da Vale e do Banco do
brasileira, da situação econômica do País, Brasil à Coréia realizada no primeiro
das potencialidades do mercado, e muitos semestre deste ano. Ambas manifestaram
outros dados importantes. Esse trabalho forte interesse em abrir escritórios por lá.
também é realizado para as empresas brasi- A nossa expectativa é que, a partir desses
Park lamenta que sejam poucas as empresas
brasileiras interessadas em investir na Coréia leiras que estejam interessadas em investir movimentos, outras empresas de grande

N
e instalar seus negócios na Coréia. porte possam mostrar mais interesse em
o corrente processo de globali- investir na Coréia.
zação, entender os mecanismos Muitas das grandes empresas sul-
das economias de vários países é coreanas estão instaladas hoje no E como o senhor vê o futuro das
peça-chave para que determinado Estado Brasil. Quais são as vantagens e relações comerciais entre Brasil e
consiga usufruir, ao máximo, as vanta- as desvantagens observadas pelo Coréia?
gens oferecidas dentro desse sistema de empresariado sul-coreano em sua DHP - O futuro das nossas relações se de-
unificação comercial e financeira. Estar atuação em nosso país? senha bastante promissor. No entanto, vejo
informado sobre os mercados é também DHP - Cerca de 40 empresas coreanas que a assinatura de um tratado bilateral de
útil para que se evitem sérios prejuízos têm, atualmente, negócios no Brasil. E o livre comércio entre Brasil e Coréia po-
às empresas que decidam navegar mundo volume de investimentos vem crescendo deria aumentar, de forma exponencial, o
afora, em busca de oportunidades de ne- nos últimos anos. Dentro desse quadro, é nosso fluxo de comércio. Os nossos países
gócios. Dong-Hyung Park é diretor geral possível afirmar que as grandes empresas não apresentam economias concorrentes,
da Korea Trade-Investment Promotion da Coréia apostam muito no Brasil, não so- ao contrário do que acontece entre Brasil e
Agency – Kotra no Brasil. Com escritório mente porque elas vêem a potencialidade China, uma vez que brasileiros e chineses
em São Paulo, Park diz, em entrevista à do mercado interno para seus produtos, competem em várias instâncias comerciais
Revista da FCCE, que a agência atua como mas também porque o Brasil é regional- (setor de têxteis, calçados, brinquedos).
intermediária das empresas coreanas que mente importante e serve, inclusive, como Brasil e Coréia são, sim, economias que
se interessam em investir no Brasil, mas base de exportação para outros países do se complementam. Na América Latina, já
pouco conhecem a realidade do País. Da entorno. Sem dúvida, esses são dados temos um acordo desse tipo com o Chile,
mesma forma, a Kotra também pode atuar vantajosos. Em relação às desvantagens, no qual conseguimos mais do que dobrar
como consultora para empresas brasileiras a principal delas é a dificuldade que as o fluxo de comércio com esse país. Mais
que decidam investir na Coréia, levan- empresas coreanas têm para entender recentemente assinamos um acordo se-
tando todas as informações pertinentes a legislação brasileira. Perde-se tempo melhante com os Estados Unidos. Vamos
sobre o país asiático para que o empresário para examinar uma papelada bastante ex- torcer para que, em breve, consigamos
conheça melhor o ambiente para os seus tensa. Por isso, o papel da Kotra é muito esse mesmo tipo de relação com o Brasil.

54 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Relações Bilaterais

Intercâmbio comercial Brasil - Coréia do Sul


A RTIGO ELABORADO P E L A E QU I P E D O D E PA RTA M E N TO DE

P L A N E J AMENTO E DESEN VO LV I M E N TO D O C O M É R C I O E X TERIOR

DA SECRETARIA DE C O M É R C I O E X T E R I O R D O M D I C

A Coréia do Sul é a décima segunda maior economia


do mundo e a terceira maior da Ásia, atrás apenas do
Japão e da China. No ano de 2006, o PIB do país foi
de US$ 888,3 bilhões. Este número é especialmente
significativo ao se levar em conta que o país possui uma
população de 48,3 milhões de habitantes, o que o faz
apresentar um PIB per capita de US$ 18,4 mil.

No mesmo período, a corrente de comércio sul-coreana


somou US$ 635 bilhões, o equivalente a 71,5% do PIB, o que
a torna uma das economias mais abertas do mundo. No ranking
dos países exportadores em 2006, a Coréia do Sul se situa em
11º, com vendas de US$ 325,7 bilhões e participação de 2,7%
nas exportações mundiais. Na importação, ela se situa em 13º,
totalizando vendas de US$ 309,3 bilhões e participação de 2,5%
das importações mundiais. Com isso, o saldo comercial foi supe-
ravitário em US$ 16,4 bilhões.
Nesse ano, o principal grupo de produtos exportados pela
Coréia do Sul foi maquinaria elétrica, com participação de 26,3%
no total das exportações do país e soma de US$ 85,6 bilhões.
Em seguida, os principais grupos foram: veículos/ automóveis
(participação de 13,1% e total de US$ 42,6 bilhões), maquinaria
mecânica (13%, US$ 42,3 bilhões), barcos e navios (6,6%, US$
21,5 bilhões), combustíveis minerais (6,4%, US$ 20,9 bilhões),
instrumentos óticos e médicos (5,7%, US$ 18,5 bilhões), plásticos
e obras (4,7%, US$ 15,4 bilhões), ferro e aço (4,3%, US$ 14
bilhões), produtos químicos orgânicos (3,9%, US$ 12,7 bilhões)
e produtos de ferro/aço (1,8%, US$ 5,9 bilhões).
Quanto aos grupos de produtos que compuseram a pauta
importadora da Coréia do Sul, os principais foram: combustíveis
minerais (28% do total e soma de US$ 86,7 bilhões), maquinaria
elétrica (17%, US$ 52,6 bilhões), maquinaria mecânica (10,4%,
US$ 32,3 bilhões), ferro e aço (5,5%, US$ 16,9 bilhões), instru-
mentos óticos e médicos (4,5%, US$ 14 bilhões), produtos quí-
micos orgânicos (2,8%, US$ 8,8 bilhões), minérios (2,6%, US$
8,2 bilhões), plásticos e obras (2,0%, US$ 6,1 bilhões), cobre e

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 55


Relações Bilaterais

obras (1,8%, US$ 5,7 bilhões) e veículos/


automóveis (1,7%, US$ 5,2 bilhões).
O maior mercado comprador de pro-
dutos sul- coreanos é a China. Em 2006,
a China adquiriu 21,3% das exportações
do país, o equivalente a US$ 69,5 bilhões.
Os Estados Unidos é o segundo maior
comprador, com participação de 13,3%,
US$ 43,2 bilhões. Em seguida estão: Japão
(8,2%, US$ 26,5 bilhões), Hong Kong
(5,8%, US$ 19,0 bilhões), Taiwan (4,0%,
US$ 13,0 bilhões), Alemanha (3,1%, US$
10,1 bilhões), Cingapura (2,9%, US$ 9,5
bilhões), México (1,9%, US$ 6,3 bilhões),
Reino Unido (1,7%, US$ 5,6 bilhões) e
Índia (1,7%, US$ 5,5 bilhões).
Já o principal fornecedor da Coréia do
Sul é o Japão. No ano, o Japão foi origem
de US$ 51,9 bilhões, 16,8% do total das
aquisições sul-coreanas. Em seguida, o
maior fornecedor foi a China (participação
de 15,7% no total, US$ 48,6 bilhões),
Estados Unidos (7,8%, US$ 33,7 bilhões),
Arábia Saudita (6,6%, US$ 20,6 bilhões),
Emirados Árabes Unidos (4,2%, US$ 12,9
bilhões), Alemanha (3,7%, US$ 11,4 bi-
lhões), Austrália (3,7%, US$ 11,3 bilhões),
Taiwan (3%, US$ 9,3 bilhões), Indonésia
(2,9%, US$ 8,8 bilhões) e Kuwait (2,6%,
US$ 8,1 bilhões).
Já a participação do Brasil na exporta-
ção da Coréia do Sul foi de 1%, superior
à participação brasileira nas importações
do país, de 0,6%.

56 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Relações Bilaterais

Intercâmbio comercial entre Brasil e


Coréia do Sul – 2006
O único ano recente em que o Brasil
foi superavitário nas trocas comerciais com
a Coréia do Sul foi 2003. Nesse período,
as exportações nacionais para esse mer-
cado mudaram de patamar a registraram,
pela primeira vez, soma superior a US$
1 bilhão, passando de US$ 852 milhões
em 2002 para US$ 1,2 bilhão em 2003,
um crescimento de 43,5%. No mesmo
ano, as compras brasileiras de produtos
sul-coreanos foram de US$ 1,1 bilhão, o
que gerou um saldo de US$ 144 milhões.
À exceção de 2003, o comércio bilateral
é historicamente deficitário para o Brasil.
Esse déficit culminou em 2006, quando
contabilizou US$ 1,1 bilhão. No ano, as
vendas nacionais ao país foram de US$ 2
bilhões e as compras US$ 3,1 bilhões.
A Coréia do Sul é uma das principais
origens das importações brasileiras. Em
2006 o país foi o sétimo maior fornecedor
do Brasil e galgou duas posições em relação
ao ranking de 2005. 3,4% das importações
nacionais se originaram da Coréia do Sul
no último ano.
Já a posição do país como destino das
exportações nacionais é um pouco infe-
rior. Com aquisições de 1,4% das vendas
brasileiras, a Coréia do Sul foi o 19º maior
país de destino das exportações no ano de
2006. Em 2005, havia sido o 18º.
A pauta brasileira das exportações para
a Coréia do Sul é composta principalmente
por produtos básicos (61,3% do total). Já
os produtos industrializados responde-
ram por 38,7% do total, distribuídos em
22,3% de semimanufaturados e 16,4% de
manufaturados. No comparativo de 2006
com 2005, os produtos básicos cresce-
ram 14,3%, enquanto os manufaturados
recuaram 0,8% e os semimanufaturados
caíram 15,4%.
No conjunto total da pauta, os prin-
cipais itens exportados à Coréia do Sul
foram: minérios de ferro, com participa-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 57


Relações Bilaterais

ção de 22,6% da pauta, total de US$ 443


milhões; semimanufaturados de ferro ou
aço (14,3%, US$ 280 milhões); petróleo
em bruto (12,3%, US$ 241 milhões); soja
em grão (6,9%, US$ 135 milhões); milho
em grão (4,7%, US$ 92 milhões); farelo
de soja (4,6%, US$ 92 milhões); celulo-
se (3,6%, US$ 70 milhões); laminados
planos de ferro ou aço (3,1%, US$ 61
milhões); minérios de cobre (3,1%, US$
61 milhões); e veículos de carga (2,7%,
US$ 54 milhões).
Dentre os principais produtos exporta-
dos para a Coréia do Sul, na comparação
de 2006 com o ano anterior, destaca-se o
aumento das vendas dos seguintes itens:
milho em grãos (+505,8%, para US$
92,0 milhões); carne de frango (+427,9%,
para US$ 34,8 milhões); veículos de carga
(+136,8%, para US$ 53,7 milhões); algo-
dão em bruto (+67,2%, para US$ 38,5
milhões); petróleo em bruto (+64,7%,
para US$ 241,6 milhões); e minérios
de cobre (+33,9%, para US$ 61,2 mi-
lhões).
Em 2006, as importações oriundas da
Coréia do Sul caracterizaram-se por itens
industrializados de alto valor agregado,
com os bens manufaturados representando
98,5% da pauta. Os principais produtos
importados procedentes desse mercado
foram: partes de aparelhos transmissores
e receptores (principal item, respondendo
por 26,2% da pauta, somando US$ 813
milhões); circuitos integrados (16,1%,
US$ 501 milhões); dispositivos de cristal
líquido (7,7%, US$ 240 milhões); partes
e acessórios de bens de informática (4,3%,
US$ 134 milhões); automóveis (2,7%,
US$ 85 milhões); circuitos impressos
(2,2%, US$ 68 milhões); veículos e ma-
teriais para vias férreas (2,1%, US$ 64
milhões); polímeros plásticos (2,1%, US$
64 milhões); óleos combustíveis (1,7%,
US$ 52 milhões); e motores e geradores
elétricos (1,4%, US$ 42 milhões).
As exportações brasileiras para o mer-
cado sul-coreano são relativamente bem
distribuídas entre as unidades da federa-
ção. O Espírito Santo foi a principal ori-
gem, com participação de 24,5% na pauta
brasileira e soma de US$ 386 milhões. Em

58 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


Relações Bilaterais

seguida estão: Minas Gerais (participação


de 19,6% e total de US$ 308 milhões),
Rio de Janeiro (16,8%, US$ 265 milhões),
Pará (14,8%, US$ 234 milhões), São Paulo
(14%, US$ 221 milhões), Mato Grosso
(9,0%, US$ 142 milhões), Rio Grande
do Sul (8,3%, US$ 131 milhões), Paraná
(7,6%, US$ 119 milhões), Bahia (3,8%,
US$ 59 milhões) e Santa Catarina (2,5%,
US$ 40 milhões).
Não obstante, as importações brasilei-
ras de produtos sul-coreanos são extrema-
mente concentradas em duas unidades da
federação. São Paulo foi o principal destino
em 2006, com participação na pauta total
de 47%, contabilizando compras de US$
1,5 bilhão em produtos desse mercado. O
Amazonas é o segundo maior importador,
com participação de 32,7%, soma de US$
1 bilhão. Em seguida estão: Espírito Santo
(participação de 4,8%, US$ 150 milhões),
Rio de Janeiro (3,1%, US$ 98 milhões),
Santa Catarina (2,4%, US$ 75 milhões),
Goiás (2,1%, US$ 67 milhões), Rio
Grande do Sul (2,1%, US$ 64 milhões),
Maranhão (1,7%, 52 milhões), Paraná
(0,9%, US$ 27 milhões) e Minas Gerais
(0,8%, US$ 26 milhões).
Em 2006, 807 empresas brasileiras
realizaram vendas à Coréia do Sul, contra
812 anotadas no ano anterior. No tocante
às importações, contabilizaram-se 2.467
empresas nacionais compradoras de pro-
dutos sul-coreanos, número 9,3% acima
do contabilizado em 2005 (2.256 empre-
sas), representando, em termos absolutos,
aumento de 211 empresas.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 59


Curtas

produtos da lista dos mais


exportados pelo Brasil que
não registrou crescimento
foi o de equipamentos
eletrônicos. Isso ocorreu
porque algumas empresas
descontinuaram a produção
de celulares no país.
Nenhuma delas é coreana.

Destino: União Européia


A União Européia recuperou
a posição de primeiro
destino das exportações
brasileiras, com 32,2%
de expansão no primeiro
semestre de 2007. Outros
destinos também têm
registrado crescimento,
devido a um trabalho
constante de diversificação
Patrícia Latini foi sorteada e recebeu um celular das mãos de Pedro Paulo Assumpção
de mercado, buscando
Sorteio contornar as conseqüências
No Seminário, duas da valorização do real.
estudantes foram Parece que o efeito do
contempladas com aparelhos câmbio está sendo absorvido
de telefone celular. O pelo setor privado e as
sorteio dos dois telefones, empresas permanecem
que já é uma tradição tendo na exportação uma
do evento, foi realizado estratégia de ampliação dos
durante a Sessão Solene negócios e, sobretudo, de
de Encerramento. As competitividade.
ganhadoras foram Priscila
A Revista dos Seminários Bilaterais Rodrigues, estudante do 4º
período, e Patrícia Latini, do Vazamento de óleo no
de Comércio Exterior e Investimento, 2º período, ambas do curso litoral
organizados pela FCCE, é distribuída entre de Relações Internacionais. Em 7 de dezembro, o
as mais destacadas personalidades, do Desta vez, o sorteio contou petroleiro Hebei Sprit
com uma novidade: foi se chocou contra um
Brasil e do exterior, que atuam no comércio colocada uma urna exclusiva cargueiro sul-coreano no
internacional. para os estudantes que Mar Amarelo, a oeste da
compareceram ao seminário. Coréia do Sul, causando
Segundo o presidente da o vazamento de dez mil
Anunciar aqui é fazer chegar o seu produto FCCE, João Augusto de toneladas de óleo e consistiu
a quem realmente interessa, a quem Souza Lima, é uma forma de no maior acidente deste
decide. reconhecimento à presença tipo na história do país.
maciça dos universitários O óleo chegou a algumas
Procure-nos. nos encontros bilaterais praias do litoral coreano e
promovidos pela instituição. o governo declarou estado
Tel.: 55 21 2570 5854 de calamidade naquele
eduardo.teixeira@abrapress.com.br Celulares local. O acidente ameça os
O único segmento de setores turístico, pesqueiro e

60 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul


marisqueiro. maiores empresas integradas empresa, no Rio de Janeiro. sétimo maior consumidor
de energia do mundo. do recurso no mundo. O
Segundo o presidente da objetivo desse acordo,
Reatores na Coréia do companhia, José Sérgio Armazenagem de petróleo segundo informou o governo
Norte Gabrielli, o maior desafio Durante a 2ª Conferência coreano, é transformar o
O governo norte-coreano se da Petrobras daqui para Ministerial sobre Energia, país asiático em distribuidor
comprometeu a desativar o frente será quanto à gestão realizada em maio na Arábia de petróleo, vendendo parte
reator de Yongbyon, centro de custos e de prazos para Saudita, a Coréia do Sul do estoque armazenado para
de seu programa nuclear, até a entrada em operação assinou um acordo com países em desenvolvimento.
31 de dezembro de 2007. dos empreendimentos, Kuwait, Catar e Emirados Atualmente, a Coréia do
O acordo prevê a completa além da gestão de recursos Árabes Unidos, os principais Sul tem capacidade para
desativação do programa humanos, já que, segundo países produtores de armazenar 256 milhões de
nucluear norte-coreano, mas ele, está cada vez mais difícil petróleo, para armazenagem barris de petróleo bruto
não estabelece um prazo encontrar profissionais conjunta de petróleo bruto e e produtos derivados.
para isso. As negociações da área. As informações produtos refinados. A Coréia Noruega, Argélia, França
incluem Coréia do Sul, foram divulgadas em do Sul é o quinto maior e China já armazenam
China, Estados Unidos, coletiva realizada na sede da importador de petróleo e o petróleo em tanques no país.
Japão e Rússia, que se
comprometeram a oferecer

Banco de Imagens da Petrobras / Divulgação


ajuda internacional ao país.

A caminho da paz
Diante de negociações
envolvendo outros países
para pôr um fim no atual
regime de armistício,
os líderes norte e sul-
coreanos assinaram uma
declaração com medidas
para impulsionar a paz,
depois de estarem em
conflito desde 1953. Há um
comprometimento de ambas
as partes pela busca de uma
solução pacífica, respeitando
seus respectivos sistemas
políticos e cooperando
financeiramente. O anúncio
foi feito no início de outubro.

Plano de negócios da
Petrobras
A Petrobras divulgou
em julho um plano de
negócios com previsão de
investimentos da ordem
de US$ 112,4 bilhões
até 2012, 28,6% a mais
do que a previsão feita
até 2011. O objetivo é
se tornar uma das cinco Previsão da Petrobras é de investimentos da ordem de US$112,4bilhões até 2012.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul 61


Curtas

Federação das Câmaras de Comércio Exterior


Foreign Trade Chambers Federation
Fédération des Chambres de Commerce Extérieur
Federación de las Cámaras de Comercio Exterior

Conselho Superior
MembrosVitalícios

Antônio Delfim Netto

Benedicto Fonseca Moreira


Bernardo Cabral
Carlos Geraldo Langoni
Ernane Galvêas
Giulite Coutinho
Gustavo Affonso Capanema (Vice-Presidente)
José Carlos Fragoso Pires
Laerte Setúbal Filho
Milton Cabral

Paulo D’Arrigo Vellinho

Paulo Pires do Rio


Paulo Tarso Flecha de Lima

Philippe Tasso de Saxe-Coburgo e Bragança


Theóphilo de Azeredo Santos (Presidente)

62 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B r a s i l • Coréia do Sul

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