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2007
09 julho
Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL CORÉIA DO SUL
FCCE
A FCCE é a mais antiga Associação de Classe dedicada RIOR – FCCE assinou Convênio com o CONSELHO DE
exclusivamente às atividades de Comércio Exterior. CÂMARAS DE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS, organismo
Fundada no ano de 1950, pelo empresário João Daudt que representa as Câmaras de Comércio Bilaterais dos
de Oliveira (a ele se deve, 5 anos antes, a fundação da seguintes países: ARGENTINA, BOLÍVIA, CANADÁ,
Confederação Nacional do Comércio – CNC ), a FCCE CHILE, CUBA, EQUADOR, MÉXICO, PARAGUAI,
opera ininterruptamente, há mais de 50 anos, incenti- SURINAME, URUGUAI, TRINIDAD E TOBAGO e VE-
vando e apoiando o trabalho das Câmaras de Comércio NEZUELA.
Bilaterais, Consulados Estrangeiros, Conselhos Empre- Além de várias dezenas de Câmaras de Comércio Bi-
sariais e Comissões Mistas a nível federal. laterais filiadas à FCCE em todo o Brasil, fazem parte da
A FCCE, por força do seu Estatuto, tem âmbito nacio- Diretoria atual, os Presidentes das Câmaras de Comércio:
nal, possuindo Vice-Presidentes Regionais em diversos Brasil-Grécia, Brasil-Paraguai, Brasil-Rússia, Brasil-Eslo-
Estados da Federação, operando também no plano interna- váquia, Brasil-República Tcheca, Brasil-México, Brasil-Be-
cional, através “Convênios de Cooperação” firmados com larus, Brasil-Portugal, Brasil-Líbano, Brasil-Índia, Brasil-
diversos organismos da mais alta credibilidade e tradição, a China, Brasil-Tailândia, Brasil-ltália e Brasil e Indonésia,
exemplo da International Chamber of Commerce (Câmara além do Presidente do Comitê Brasileiro da Câmara de
de Comércio Internacional – CCI), fundada em 1919, com Comércio Internacional, o Presidente da Associação Bra-
sede em Paris e que possui mais de 80 Comitês Nacionais, sileira da Empresas Comerciais Exportadoras – ABECE,
nos 5 continentes, além de operar a mais importante o Presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferro-
“Corte Internacional de Arbitragem” do mundo, fundada viária – ABIFER, o Presidente da Associação Brasileira dos
no ano de 1923. Terminais de Contêineres, o Presidente do Sindicato das
A FEDERAÇÃO DAS CÂMARAS DE COMÉRCIO Indústrias Mecânicas e Material Elétrico, entre outros.
EXTERIOR tem sua sede na Avenida General Justo no Some-se, ainda, a presença de diversos Cônsules e diplo-
307, Rio de Janeiro, (Edifício da Confederação Nacional matas estrangeiros, dentre os quais o Cônsul-Geral da
do Comércio – CNC) e mantém com essa entidade, há República do Gabão, o Cônsul do Sri Lanka (antigo “Cei-
quase duas décadas “Convênio de Suporte Administrativo lão”), e o Ministro Conselheiro-Comercial da Embaixada
e Protocolo de Cooperação Mútua”. Em passado recente de Portugal.
a FEDERAÇÃO DAS CÂMARAS DE COMÉRCIO EXTE- A Diretoria
Diretoria 2006-2009
Presidente
1 s t Vice-Presidente
Diretores
A Coréia do Sul é o primeiro país asiático a ser enfocado pelo projeto de Seminários Bilate-
rais de Comércio Exterior e Investimentos, realizado pela Federação das Câmaras de Comércio
Exterior - FCCE, com o apoio e participação do governo federal, por meio dos Ministérios das
Relações Exteriores e do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, das principais
associações de classe, tais como a Confederação Nacional de Comércio - CNC, a Câmara de
Comércio Internacional – ICC, a Associação de Comércio Exterior do Brasil - AEB e o Conselho
das Câmaras de Comércio das Américas.
Ressaltar a importância deste seminário é, sem dúvida, pertinente. Em um mundo em que a
globalização se configura como um processo irreversível, buscar o desenvolvimento, incremento e
diversificação do comércio exterior brasileiro com países do leste asiático – região que apresenta
o mais pujante ritmo de crescimento econômico do planeta - revela-se tarefa das mais urgentes.
E dentro desse quadro regional e estratégico, é bastante salutar o reconhecimento da Coréia do
Sul como um país com o qual se deve estreitar relações toda e qualquer nação que aspira por uma
inserção maior no comércio mundial.
O seminário mostrou que muito temos a aprender com esse país asiático. Egressa de uma das
mais terríveis guerras do século XX (a Guerra da Coréia, ocorrida entre 1950 e 1953, dividiu o
país entre o norte comunista e o sul capitalista), a Coréia do Sul tornou-se, em menos de meio
século, um país de economia forte, com uma renda per capita três vezes maior do que a brasi-
leira. O país é reconhecido por apresentar um comércio exterior agressivo, no qual a venda de
CONSELHO DE
produtos de alta tecnologia prevalece em sua pauta exportadora.
CÂMARAS DE COMÉRCIO
Com empresas líderes nesse mercado de grande valor agregado, a Coréia do Sul consegue DAS AMÉRICAS
obter saldos positivos com vários países do mundo, inclusive o Brasil. Nem mesmo a crise finan-
ceira global, desencadeada em 1997, conseguiu reverter a posição de destaque que o país ostenta Expediente
como uma das mais importantes economias do mundo. Há muitos fatores que ajudam a explicar
o fenômeno sul-coreano, mas, sem dúvida, um dos principais é o forte investimento na educação Produção
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
em todos os níveis. Nesse quesito, infelizmente, o Brasil ainda apresenta defasagem nítida. – FCCE
Av. General Justo, 307/6o andar
O encontro promovido pela FCCE, contudo, deu provas de que há grandes motivos para Tel.: 55 21 3804 9289
que possamos acreditar em dias melhores para o Brasil no campo da economia. A estabilização e-mail: fcce@cnc.com.br
econômico-financeira é fato. O comércio exterior nacional continua, em 2007, andando a passos Editor
O coordenador da FCCE
largos e, ao que tudo indica, as exportações brasileiras poderão fechar o ano com um crescimento
Textos e Reportagens
de 16% em relação a 2006. Apesar da premente necessidade de se firmar uma agenda de refor- Ana Redig
Brunno Braga
mas estruturais, é cada vez mais factível acreditar que o País segue um rumo certo. Dentro desse
Edição e Arte
cenário positivo e de maior segurança econômica, é mais do que compreensível que empresários
Resh Comunicação
coreanos busquem investir mais no Brasil. O próprio empresariado brasileiro começa a acordar
Tel.: 55 21 2173 3553
para a necessidade de também entrar no importante mercado desse tigre asiático.
e-mail: info@resh.com.br
A FCCE investe, por meio da realização do Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Jornalista Responsável
Investimentos Brasil-Coréia do Sul, na união de esforços entre o poder público e a iniciativa Adriana Melo (MTB:004014/98)
privada para que se intensifiquem ainda mais as linhas de comércio entre os dois países. A FCCE Revisão
acredita, portanto, que tão importante como promover encontros de alto nível como este é elevar Resh Comunicação
o fomento da cultura do comércio exterior - tão imprescindível no mundo de hoje - em todas Fotografia
Christina Bocayuva
as esferas da sociedade brasileira.
Secretaria
Maria Conceição Coelho de Souza
Sérgio Rodrigo Dias Julio
Boa leitura. As opiniões emitidas nesta revista são de
responsabilidade de seus autores. É permitida
a reprodução dos textos, desde que citada a
O EDITOR fonte.
Sumário
6 E ntrevista 30 C I N E M A
O embaixador Coréia do Sul investe
plenipotenciário da na sétima arte e
Coréia no Brasil, Jong- ganha prêmios
Hwa Choe revelou internacionais, com
que a intenção do cinema nacional em
governo coreano é grande fase
estimular ainda mais
as empresas a investirem no
país 3 2 investimentos
Acordos bilaterais são um caminho natural
1 2 A bertura para aquecer o comércio: alavanca exportações
e facilita o fluxo de investimentos no país
Parte do sucesso da Coréia no mercado
internacional é creditado aos inúmeros acordos
bilaterais fechados pelo país 3 6 tecnologia
Fortes investimentos em tecnologia e educação
elevaram o país asiático à condição de uma
4 2 esporte
Taekwondo: o
esporte mais
2 5 painel I I I popular da Coréia
brilha nos Jogos
Alternativas para o incremento das relações Pan-Americanos do
comerciais Rio
5 3 relaç õ es bilaterais
2 9 E ncerramento
A Coréia do Sul é um dos países asiáticos de
maior potencial para parcerias comercias com
5 8 C urtas
o Brasil
E ntrevista
Intensificação das
relações bilaterais
entre Brasil e Coréia
vai gerar ganhos para
ambas as partes
Países têm muito a aprender um com o outro
Brasil e Coréia do Sul são países que estão distantes geograficamente, mas que traba-
lham em conjunto para estreitar as relações. Alcançando esse objetivo, ambas as nações
terão muito a ganhar. A análise é do Embaixador Plenipotenciário da Coréia no Brasil,
Jong-Hwa Choe, que participou do Seminário Bilateral de Comércio e Investimentos
Brasil-Coréia do Sul, no qual proferiu pronunciamento especial durante a Sessão Solene
de Abertura do evento.
Em entrevista concedida à Revista da Federação das Câmaras de Comércio Exterior,
Choe revelou que a intenção do governo coreano é estimular ainda mais as empresas a
investir no Brasil. Ele também aproveitou para convidar empresas brasileiras a entrar no
mercado coreano, uma vez que a economia daquele país está entre as mais dinâmicas do
mundo. Há um ano e meio servindo como embaixador no Brasil, ele falou ainda sobre
projetos de parceria que coreanos e brasileiros podem firmar no campo dos biocombus-
tíveis, demonstrando que o governo coreano também está preocupado com os potenciais
problemas climáticos que poderão advir com o aquecimento global.
”
Como fazer com que as relações
entre os dois países se fortaleçam, âmbito do Mercosul, bloco regional no player de peso
a despeito das diferenças culturais qual o Brasil faz parte, já realizamos cinco J o n g - H wa C h o e
existentes? encontros, objetivando intercambiar in-
JHC - Existem no Brasil cerca de 50 mil formações sobre a situação econômica e a se, então, o Grupo do Estudo Conjunto
coreanos, sem falar nos descendentes, que agenda comercial de ambos. Em 2004, por Mercosul-Coréia, que deverá avaliar as
aqui moram e trabalham. A esmagadora ocasião da visita do Presidente da Coréia, perspectivas de uma negociação comercial
maioria deles está em São Paulo. Grande Roh Moo-Hyun, a Brasília, foi anunciada entre as partes.
parte deles é formada de empresários de a realização de um estudo conjunto para
pequeno e médio porte. O interessante avaliar o impacto de um eventual acordo A Coréia do Sul é o quinto maior
é que esses coreanos acabam exercendo comercial Mercosul-Coréia. Formou- importador de petróleo e o sétimo
país, procurando novas oportunidades de de acordos bilaterais”, declarou. Estou convencido que isso nos dará uma
negócios por lá”. Para o embaixador, isso Ele revelou que, em relação ao Brasil, excelente oportunidade para colocar as
representa um desenvolvimento bastante estão sendo conduzidos há dois anos es- nossas atuais relações de comércio e de
positivo. Em sua avaliação, tais iniciativas tudos que objetivam firmar um Tratado investimentos num nível mais alto”, con-
podem estimular outras companhias bra- de Livre Comércio com o Mercosul. “As cluiu. Após o término do pronunciamento
sileiras a entrar no mercado coreano.“A nossas economias parecem ter condições do embaixador, o presidente da mesa,
Coréia está de braços abertos para receber ideais para firmar mecanismos de livre Armando Meziat, deu por encerrada a
empresas brasileiras de porte internacional comércio, pois temos um justo grau de Sessão Solene de Abertura.
como a Petrobras, a Embraer, a Friboi, a complementariedade”, considerou o
Gerdau, a Datasul e a Marcopolo. Gos-
taríamos de ter os seus escritórios de
representação em nosso país”, disse. O
diplomata acrescentou que a Embaixada
embaixador. De acordo com os cálculos
apresentados pelo diplomata, o tratado
trará resultados que atenderão às expecta-
tivas de se atingir um fluxo de comércio da
“ A Coréia está de braços abertos
para receber empresas brasileiras
de porte internacional como a
da Coréia, em Brasília, e o Consulado ordem de US$ 1 trilhão, caso os dois países Petrobras, a Embraer, a Friboi, a
Coreano, em São Paulo, estão prontos para concluam um acordo de livre comércio.
receber e ajudar, da maneira necessária, “Precisamos olhar de maneira proativa
Gerdau, a Datasul e a
todas as empresas brasileiras que desejem para a atual conformação do comércio Marcopolo. Gostaríamos
fazer negócios com o país asiático. global e considerar todos os benefícios de ter os seus escritórios de
Outro aspecto considerado relevante
pelo embaixador, com vistas ao desen-
volvimento das relações comerciais e de
investimentos entre Brasil e Coréia, é o
potenciais que um Tratado Bilateral de
Livre Comércio entre Brasil e Coréia
poderia trazer para as nossas economias.
representação em nosso país
J o n g - H wa C h o e ”
estabelecimento de conversações entre os
países, com o objetivo de se firmar acor-
dos bilaterais de livre comércio. “Apesar
do engajamento ativo das negociações em
bases globais nos últimos quatro anos,
ainda não vemos uma luz no fim do túnel
Criando oportunidades de
investimentos e financiamentos
Painel discutiu as potencialidades dos mercados dos dois países
Palestrantes do Painel I discutiram alternativas para o incremento das relações entre Brasil e Coréia, levando em consideração um sistema de competição
global cada vez mais acirrado
Analisar e preparar um ambiente Banco Central do Brasil e atual dire- moderada pelo vice-presidente da
macroeconômico propício para o tor do Centro de Economia Mundial FCCE, Paulo Fernando Marcondes
aumento do fluxo de investimentos da Fundação Getúlio Vargas – FGV Ferraz, mostrou a importância de
entre Brasil e Coréia do Sul. Esse foi – que também presidiu a sessão; se discutir, de forma aprofundada
o objetivo do Painel I do Seminário Wong Chan Park, vice-presidente e qualificada, os meandros econô-
Bilateral de Comércio Exterior do Korean Development Bank; e micos e políticos dos dois países
e Investimentos Brasil-Coréia. O Dong-Hyung Park, diretor-geral dentro de um sistema de competi-
painel teve como expositores Carlos da Korea Trade-Investment Pro- ção global cada vez mais acirrado e
Geraldo Langoni, ex-presidente do motion Agency - Kotra. A sessão, complexo.
L
angoni teceu elogios à condução expansão das exportações. Com todo esse tratégia que vem sendo implantada com
da política macroeconômica brasi- ambiente externo, a economia brasileira êxito”, afirmou.
leira que, segundo ele, vem tendo consegue “surfar” nessa onda favorável” Sem desconsiderar a permanência do
resultados surpreendentes. “Hoje é muito analisou. papel dos Estados Unidos como carro-
mais fácil falar sobre o futuro da economia Além do “bom humor” da economia chefe do comércio mundial, ele declarou
brasileira. O Presidente Lula disse que o global, Langoni considerou bastante que a liderança americana vem perdendo
Brasil vive um momento mágico, mas em o peso que ostentava há algumas décadas,
“
economia, esses momentos não acontecem em razão do soerguimento da China. Para
por acaso. Eles têm fundamentos lógicos”, Apesar de todas essas Langoni, as principais preocupações para
afirmou Langoni. O economista explicou incertezas, a economia uma possível instabilidade econômica
que os bons números da economia nacional são os chamados déficits gêmeos (fiscal e
se devem, em grande parte, ao ambiente mundial segue uma trajetória conta-corrente) da economia americana.
financeiro internacional positivo. Em sua de expansão. Eu diria que a “Apesar de todas essas incertezas, a eco-
análise, o mundo se recuperou de forma probabilidade de um ajuste nomia mundial segue uma trajetória de
”
extraordinária após viver uma breve re- expansão. Eu diria que a probabilidade
cessão em 2001.
recessivo hoje é pequena de um ajuste recessivo hoje é pequena”,
“A economia internacional vive uma era Carlos Geraldo Langoni afirmou. De fato, o boom dos preços das
de ouro e vem crescendo a taxas de 5% ao commodities, em virtude, sobretudo, da for-
ano. Ao mesmo tempo, há uma situação de te demanda chinesa, pode dar uma idéia de
grande liquidez internacional, com juros pertinente o processo de mudanças na que uma forte crise internacional não está
reais muito baixos. Existe, na realidade, mentalidade nacional. Esse novo compor- num horizonte próximo. “As commodities
um excesso de poupança e é preciso alocá- tamento veio propiciar uma arquitetura continuam com preços elevados. Ainda
la na busca de investimentos rentáveis”, de- macroeconômica consistente que se baseia este ano, o aumento dos preços desses
clarou. Para ele, as economias emergentes na estabilidade, no esforço de manter a produtos primários foi em torno de 19%”,
que apresentam um bom comportamento inflação sob controle, na responsabilidade explicou Langoni.
macroeconômico são as que mais têm se fiscal, na necessidade de gerar superávits As projeções para o futuro da economia
beneficiado com o atual clima de intenso primários sustentáveis e na adoção do brasileira também são boas. Ao comentar
fluxo de capitais. “O comércio mundial câmbio flutuante. “Estamos colhendo as estimativas do governo federal para o
sempre cresce como múltiplo do PIB benefícios e podendo amplificar o efeito superávit comercial de US$ 42 bilhões
mundial. Há uma demanda externa extre- desse cenário externo favorável devido à em 2007, ele disse que o Brasil aproveitou
mamente robusta que ajuda a viabilizar a consistência e à formulação de uma es- esse momento favorável para acumular um
expressivo volume de reservas internacio-
nais. Segundo dados do Banco Central, o
governo brasileiro conta com US$ 145
bilhões em reservas. “Até o final do ano,
acredito que elas estejam no patamar de
US$ 165 bilhões”, declarou.
Risco Brasil
O economista observou a redução da
relação entre a dívida líquida pública e o
PIB como um dos sinais de que o Brasil
caminha no rumo certo. “A dívida pública
apresentava uma tendência de crescimento
explosiva até 2002, até que começou a se
estabilizar. A tendência agora é de queda
gradual e firme. As projeções são de que,
a partir de 2008, essa relação fique abaixo
de 40% do PIB, caminhando para 35%
nos dois anos seguintes. Isso é resultado
de uma política fiscal apertada, com ge-
ração de superávits primários expressivos,
Langoni traça cenário macroeconômico otimista
acima de 4% do PIB. Estamos reduzindo
“
investimento”, afirmou o economista. Na
O Brasil tem que avançar América Latina, somente dois países são
explicação está no fato de que temos um
setor privado extremamente competitivo,
mais em termos de abertura considerados pelas agências de risco como mas o ambiente de negócios ainda penaliza
da economia, porque há investment grade: Chile e México. o setor privado. Carga tributária excessiva
uma correlação muito forte Energia – algo em torno de 35% do PIB -, marco
entre abertura, ganhos de regulatório muitas vezes indefinido ou
Langoni elogiou a iniciativa governa- pouco consistente”, afirmou o economista.
produtividade e investimentos mental de preparar um pacote de me- Para ele, sem uma melhoria institucional,
diretos estrangeiros didas para dirimir potenciais problemas o Brasil vai continuar perdendo um espaço
”
de infra-estrutura no setor de energia, que poderia ser muito maior.
e domésticos com o Programa de Aceleração do Cres- No que tange ao perfil da abertura
Carlos Geraldo Langoni cimento - PAC. Ele lembrou que o país comercial brasileira, o ex-presidente do
apresenta uma matriz energética das mais Banco Central disse que o País apresenta
diversificadas e equilibradas do mundo. hoje uma taxa de coeficiente de abertura
vemos é que estamos caminhando para um “Temos um potencial imenso no campo da ordem de 30% em relação ao PIB.
índice de juros básicos em torno de 10,5% da energia hidrelétrica e expressivas fontes Apesar de reconhecer que essa taxa é
para o final deste ano, o que significa uma de petróleo e gás natural. Contamos com maior do que a média histórica, de 12%,
taxa real em torno de 6,5%, já que o uma enorme possibilidade de produção de ele considerou esse índice ainda baixo. “O
governo prevê uma inflação na casa dos energia através da biomassa. Somos líderes Brasil tem que avançar mais em termos
4% em 2007”, declarou. Apesar de ainda em produção de etanol, que acabou se de abertura da economia, porque há uma
considerar alta a taxa de juros estimada, tornando moeda de barganha geopolítica correlação muito forte entre abertura,
ele ressaltou que ela ficará bastante abaixo e alavanca para investimentos estrangeiros ganhos de produtividade e investimentos
dos índices registrados dois anos atrás. e de comércio. Sem falar no grande po- diretos estrangeiros e domésticos”, disse.
“Provavelmente, em 2008, vamos ter uma tencial na área do biodiesel”, disse. Apesar Na avaliação dele, o Brasil tem que liderar
taxa real na faixa de 6%”, projetou. Para disso, segundo ele, o Brasil não consegue esse processo de destravamento da Rodada
ele, entretanto, a aceleração da queda da apresentar um marco regulatório consis- de Doha e ser mais agressivo e pragmático
taxa de juros só não é mais intensa em tente, o que pode afugentar investimentos nas negociações bilaterais.
razão da suspensão da agenda de reformas privados que visem a uma melhoria do Langoni reafirmou seu otimismo em
estruturais da economia brasileira, princi- setor de energia brasileiro. relação ao futuro da economia brasileira.
“Estamos na ante-sala do clube restrito a partir dos anos 90, verificamos diversos liga o aeroporto internacional ao centro
de países que crescem de forma contínua gargalos em nossa infra-estrutura. Por isso, de Seul e teve um custo total de US$ 1,7
por dez, quinze anos. O nosso modelo foi criado, em 1994, o PPI”, afirmou Park. bilhão. “A construção dessa via nos deu a
atual vai levar a economia brasileira a um De acordo com o representante do KDB, dimensão necessária de como os projetos
patamar de crescimento em torno de 4% e o programa tinha como objetivo aumentar em infra-estrutura na Coréia alcançariam
5%, o que já é um resultado extremamente os investimentos em infra-estrutura e su- altos custos”, revelou o representante da
significativo. Esse quadro representa, sem perar esses grandes gargalos, decorrentes KDB. Ele explicou que a geografia da Co-
dúvida, uma perspectiva real de o Brasil dos poucos investimentos governamentais réia, que tem 70% do território rodeado
encontrar, finalmente, um padrão muito nessa área no início dos anos 80. “Era pre- por montanhas, é a principal razão dos
“
mais estável e socialmente mais favorável ciso resolver esse caos em curto tempo. O
de desenvolvimento”, concluiu. PPI foi a fórmula encontrada pelo governo Com a finalidade de dar
coreano para induzir recursos privados garantias à iniciativa
KDB nos setores de infra-estrutura e evitar que
O segundo expositor do painel foi o enormes gastos públicos se transformas-
privada para que haja
vice-presidente do Korea Development sem em déficits fiscais futuros”, disse. recursos disponíveis
Bank - KDB, Woong Chan Park. Ele ini- O palestrante revelou que há, atualmen- para a finalização
ciou a sua exposição traçando um breve te, cerca de 68 projetos em andamento no de projetos, durante o
histórico do banco de desenvolvimento país. Os custos totais de financiamentos,
coreano. Fundada em 1954, logo após o desde a implementação do programa em período de construção,
final da Guerra da Coréia, a instituição 1994, estão na ordem de US$ 54 bilhões. os subsídios podem
surgiu com o objetivo de dar suporte ao “A via de acesso para o Aeroporto Inter- chegar até a 40% dos
”
desenvolvimento da economia sul-core- nacional Incheon foi o primeiro projeto
ana, em moldes similares ao do BNDES. a ser implantado pelo PPI”, afirmou. A custos totais
“Apesar de ser um banco governamental, estrada, que tem extensão de 40 Km, Woong Chan Park
atuamos também como uma instituição de
múltiplas funções, como aquelas voltadas
para carteiras de crédito comercial”, dis-
se o representante do KDB. Ele revelou
que, no ano passado, o banco passou a
atuar no Brasil por meio de uma agência
subsidiária.
Em relação às políticas públicas de
investimentos em infra-estrutura, Park
apresentou ao público a experiência ado-
tada pela Coréia nesse campo, denominada
Participação Privada em Infra-estrutura
- PPI, que segundo ele, é a versão coreana
da Parceria Público-Privada - PPP brasi-
leira. Ele citou o Programa de Aceleração
do Crescimento - PAC, como um progra-
ma governamental que também guarda
semelhanças com as antigas iniciativas do
governo coreano, no tocante ao aporte de
recursos públicos em obras de infra-estru-
tura no país. “Tomei conhecimento de que
o PAC é um programa que visa a estimular
o crescimento da economia brasileira em
uma média anual de 5% nos próximos
quatro anos, com fortes investimentos
governamentais, sobretudo em infra-es-
trutura. O governo coreano, por meio do
KDB, também auxiliava as empresas, com
o objetivo de dinamizar a economia. Mas Park, vice-presidente do KDB: banco investiu US$552 milhões em infra-estrutura, em 2006
elevados preços cobrados para os projetos fatia das inversões do país asiático em Japão e Cingapura. Estamos também em
de infra-estrutura. terras brasileiras nos últimos dez anos. primeiro lugar no ranking de melhor en-
Conciliar os acordos firmados entre Em 2006, o total de recursos aportado sino médio entre os países da Organização
o setor privado e o governo coreano em foi da ordem de US$ 552 milhões sendo de Cooperação e Desenvolvimento Econô-
bases iguais gerou algumas dificuldades. As que, dentro do quadro das multinacionais mico - OCDE”, declarou, acrescentando
finanças públicas dependem do futuro do que mais investiram no Brasil, cinco estão que esses dados fazem com que a Coréia
fluxo de caixa, que é imprevisível. Por isso, entre as 500 maiores empresas do mundo. do Sul seja apontada como um dos seis
é importante que as empresas que assinam Por outro lado, ele lamentou o fato de as países que apresentam o melhor capital
contratos de financiamentos tenham um empresas brasileiras não demonstrarem o humano do mundo.
fluxo de caixa suficientemente grande. Isso mesmo interesse para investir na Coréia. Por fim, ele lamentou o fato de a Coréia
mostra a necessidade de ambas as partes “Infelizmente, a corrente de investimentos do Sul não estar incluída na sigla BRICs
se comprometerem na execução dos pro- de empresas brasileiras para o nosso país - Brasil Rússia, China e Índia – que repre-
jetos. No entanto, o vice-presidente do ainda é muito pequena, mas acredito que senta o consórcio de países que apresenta-
KDB conta que o montante de subsídios essa situação deva mudar em breve, pois a rão em 2050, segundo análise de agências
promovido pelo governo é também parte maior empresa brasileira – a Vale – abriu, internacionais, as mais fortes economias
integrante do programa de investimentos no ano passado, escritório por lá”, disse. do mundo. “Ter a Coréia incluída entre
à infra-estrutura do país. “Com a finalidade Park citou que uma das grandes van- os BRICs dará um maior dinamismo à
de dar garantias à iniciativa privada para tagens de se investir na Coréia reside no leitura econômica desse grupo, sobretudo
que haja recursos disponíveis para a fina- fato de que o tigre asiático apresenta uma no que tange a questões como estabilidade
lização do projeto, durante o período de das populações com melhor performance macroeconômica, maturidade política,
construção, os subsídios podem chegar até educacional do mundo. “Cerca de 41% da abertura para o comércio e investimento
a 40% dos custos totais”, relatou Park. população coreana tem formação univer- e qualidade da educação da população”,
sitária, perdendo apenas para o Canadá, concluiu.
Promoção de investimentos
O último palestrante do painel foi o
diretor-geral da Korea Trade-Investment
Promotion Agency - Kotra, Dong-Hyung
Park. Ele ressaltou o dinamismo da eco-
“O Brasil é a 11ª economia do mundo e a Coréia, a 12ª.
Contudo, enquanto o Brasil conta com a enormidade dos recursos
naturais, nós investimentos em tecnologia e qualificação dos
nomia coreana, sobretudo no campo da
tecnologia, e que a Coréia do Sul possui
um mercado interno forte, com grande
poder de compra. Em relação ao Brasil, o
nossos recursos humanos
Dong-Hyung Park ”
executivo destacou a importância do país
em seus aspectos políticos e econômicos.
“Devido às características dos dois países,
acredito ser possível incrementar as nossas
relações comerciais”, afirmou. Segundo
ele, essa relação já vem demonstrando
crescimento significativo, sobretudo a
partir de 2003. O executivo apresentou
um quadro que demonstrava as posições
econômicas do Brasil e da Coréia do Sul
no mundo. “O Brasil é a 11ª economia do
mundo e a Coréia, a 12ª. Contudo, en-
quanto o Brasil conta com a enormidade
dos recursos naturais, nós investimentos
em tecnologia e qualificação dos nossos
recursos humanos”, afirmou o diretor da
Kotra.
Outro dado importante levantado por
Park foi o aumento dos investimentos
das empresas coreanas no Brasil. O setor
de manufaturas respondeu por grande
C
omo já é tradicional em suas parti- destaque para o segmento de material de cio entre Brasil e Coréia praticamente
cipações em seminários na FCCE, transportes, com US$ 10,2 bilhões em dobrou. No entanto, esse é um dos pou-
o Embaixador Ernesto Rubarth exportações no primeiro semestre. cos países com os quais o Brasil tem um
abriu o Painel II trazendo os números da No lado das importações, o grupo de comércio deficitário, e este desequilíbrio
evolução do comércio entre o Brasil e o produtos que mais cresceu no primeiro vem aumentando. Isso fez com que a Co-
país convidado. Primeiramente apresen- semestre de 2007 foi o de matérias-pri- réia passasse a ser um dos principais des-
tou os dados brasileiros, que apontaram mas, que engloba os componentes de tinos das exportações brasileiras, mas é,
para um crescimento expressivo tanto produção. Neste segmento, a Coréia tem especialmente, uma das principais origens
das importações como das exportações. uma participação importante como for- das nossas aquisições. Em 2006, a Coréia
“No comparativo do ano passado tivemos necedor ao Brasil. Em seguida, o grupo aparece como 18º destino com 1,4% das
certa retenção dos números por causa mais importante é o de bens de capital, nossas importações, comprando, sobre-
da paralisação que ocorreu na Receita que apresentou crescimento de 24,3%, tudo, produtos básicos e mantendo certa
Federal. Mesmo assim, a corrente de co- e que também é fundamental para o estabilidade na compra de manufaturados
mércio cresceu 22,6% - número bastante processamento, atualização ou expansão brasileiros. O minério de ferro é o princi-
superior ao que vem sendo registrado no da capacidade produtiva nacional. “Hoje pal produto vendido à Coréia, seguido de
mercado mundial”, avaliou. Para Rubarth, 70% do que o Brasil importa são itens que produtos siderúrgicos, petróleo, soja, mi-
o aumento das vendas de produtos básicos vão entrar de alguma forma na produção lho e celulose, além de veículos de carga,
brasileiros se explica pelo aquecimento do país. Se agregarmos a isso o petróleo e que se diferenciam por serem produtos de
da demanda mundial, numa evolução combustíveis teremos 87% da importação maior intensidade tecnológica, portanto,
muito favorável de preços. Ainda assim, brasileira focada na produção. E isso é com maior valor agregado.
o país também apresenta crescimento em muito positivo”, comentou Rubarth. Do lado da importação a Coréia figura
todos os produtos de valor agregado, com De 2002 até hoje, o volume de comér- como o 7º maior fornecedor do Brasil,
“
mercial é formado por um volume muito a Petrobras vem realizando um grande
mais expressivo do que o brasileiro. esforço de mundialização, expandindo Hoje 70% do que o Brasil
“Eu acredito que a questão fundamental suas atividades para inúmeros países, onde importa são itens que vão
é o peso relativo do comércio em relação busca obter petróleo e gás, com sucesso,
ao PIB, e creio que nós estamos caminhan- sobretudo em sua especialidade que é
entrar de alguma forma na
do na mesma trilha da Coréia”, afirmou. águas profundas e ultraprofundas. Outro produção do país. Se agregarmos
O diplomata destacou que a indústria dos objetivo que se tornou fundamental de a isso o petróleo e combustíveis
dois países é bastante complementar, mas dois anos para cá foi a decisão de a empresa
que é fundamental que o Brasil aprenda se expandir internacionalmente no ramo
teremos 87% da importação
com a experiência da Coréia. “Eu tive a dos biocombustíveis, negócio que vem se brasileira focada na produção.
oportunidade de visitar aquele país há
dois anos, em comitiva presidencial e
fiquei impressionado com a mudança que
colocando como extremamente atrativo
para a companhia.
“Empresas de todo mundo estão se
E isso é muito positivo
E r n e s to R u b a rt h ”
encontrei em relação há 20 anos, quando movimentando no sentido de adotar o de álcool combustível brasileiro, o Japão
servi na Embaixada de Seul,” contou. Ru- manuseio dos biocombustíveis por uma foi – e continua sendo – nosso principal
barth explicou que toda a transformação necessidade de mercado”, explicou. Hoje foco. Estudos conjuntos no sentido de
da economia sul-coreana está calcada na o principal foco para o uso dos biocom- permitir a adoção, no mais curto espaço
prioridade absoluta dada à educação. “Já ti- bustíveis não é tanto econômico, mas no- de tempo possível, da mistura de etanol à
vemos a oportunidade de observar o mes- tadamente ambiental. “Em alguns países, gasolina no Japão vêm sendo realizados,
mo fenômeno aqui mesmo, no Seminário como é o caso da Coréia, é até estratégico, tanto com estatais japonesas como com a
dedicado à Finlândia. Este investimento por haver uma dependência exclusiva do iniciativa privada,” revelou. Outros países
na formação de seres humanos muito mais petróleo importado. São países altamente asiáticos, vendo esta movimentação, vêm
capacitados a incorporar cada vez mais desenvolvidos, grandes consumidores de se aproximando da Petrobras em busca
tecnologia no processo produtivo é que combustível, que não produzem petróleo de cooperação técnica, de estudos, visan-
gera esse exemplo de sucesso”, finalizou. e se sentem um pouco incomodados com do à mistura e o eventual fornecimento
Luthero Winter Moreira, da Petrobras, esta dependência exclusiva de um produto no futuro. “Nós temos nos colocado à
concordou com Rubarth, destacando a ca- importado e produzido em áreas do globo disposição e procurado desenvolver co-
pacidade coreana de desenvolver e investir que são muito suscetíveis a problemas po- operação, objetivando que a Petrobras
no crescimento do país. líticos,” lembrou. Além dos altos preços, a possa ser fornecedora para esses países e,
Winter disse que a Petrobras mantém insegurança no abastecimento de petróleo eventualmente, até estabelecer parcerias
um relacionamento comercial com a Co- leva alguns países a buscar o domínio dos nesses lugares para a distribuição local,
réia, fornecendo petróleo e importando biocombustíveis e o uso desses produtos armazenagem e troca de sinergias que
itens de alta tecnologia para seus trabalhos como alternativa, pelo menos como com- nos permitam maximizar a atuação no
de exploração petroleira, inclusive navios plemento. negócio etanol.”
de altíssima tecnologia que ainda não se Moreira contou que a Petrobras tem
pode fabricar no Brasil. Ele revelou que sido procurada por países de todo mundo, Logística
a empresa vem desenvolvendo diálogos em especial da Ásia. “Quando a empresa Até há dois anos o Brasil era o maior
e tratativas com alguns interlocutores decidiu se tornar um grande exportador produtor de álcool do mundo. Recen-
“
no centro da Baía de Guanabara. “Lá nós finalizar os intensos estudos que vêm rea-
O Brasil tem grande temos um grande terminal que já está até lizando, será um consumidor deste álcool
disponibilidade de terras para exportando o álcool da Petrobras, e nós que será exportado por esta nova estru-
plantar cana e aumentar a pretendemos interligar essa rede de dutos tura logística que está sendo projetada e
com o interior do Brasil, onde se concen- será construída pela Petrobras”, concluiu
produção de álcool, mas tem tra a grande produção de álcool, como na Luthero Winter Moreira.
alguma dificuldade de escoar região de Ribeirão Preto e arredores, e O último expositor do Painel II, Hee
este álcool até os portos
Luthero Winter Moreira
Biodiesel e etanol
A introdução do biodiesel na Coréia
do Sul começou em 2002 com a adição
30 anos de história
de 20% à gasolina. A experiência foi feita Foi nos anos 70, ainda sob o regime militar, que o Brasil fez a opção de adotar
em 73 postos durante dois anos, tempo o etanol da cana-de-açúcar como combustível instituindo o Pró-Álcool. Na época
obrigatório para a aprovação do uso. foi uma iniciativa isolada, impulsionada exclusivamente por motivos econômi-
Em outubro de 2004, uma lei passou a cos, devido aos dois sucessivos choques do petróleo que afetaram a economia
permitir a mistura de outras alternativas brasileira. A iniciativa também visava a promover o desenvolvimento nas áreas
à gasolina. Em julho de 2006 começaram agrícolas, estabelecendo o homem no campo e fomentando uma indústria que
os testes com DD5 e DD20. Moon Jo pudesse crescer no interior do Brasil. A idéia foi extremamente bem-sucedida,
explicou que há muita política em torno mais notadamente no estado de São Paulo, com incentivo à plantação de cana
desta questão, envolvendo um complexo e à instalação de usinas. Apesar do sucesso, o Pró-Álcool também teve seus
e acirrado jogo de interesses da indús- desacertos, depois da euforia inicial, quando apresentou alguns problemas e
tria. No caso do etanol, há um interesse um certo declínio.
ainda maior, por causa da composição
de frotas na Coréia. Em agosto de 2006 Houve fases em que o álcool não foi produzido apenas para ser misturado à
começaram testes de etanol na praça. gasolina, mas sim para abastecer uma frota criada pela indústria nacional, que
Espera-se que no segundo semestre de passou a dedicar quase a totalidade da sua produção para carros exclusivamente
2008 todos os elementos envolvidos na movidos a álcool. Esta proposta também entrou em declínio, por problemas
questão tenham sido decididos. A prin- internos de mercado. A Petrobras vivenciou todo o processo desde o início, na
cipal polêmica atualmente é até onde ir época como empresa monopolista, com controle estrito do Estado brasileiro.
com a mistura. Há uma discussão política
e na indústria para chegar a um valor A empresa foi um instrumento estatal para implementação do Pró-Álcool e
entre 5% e 10%. Moon Jo explicou que, foi a responsável por desenvolver todos os estudos técnicos necessários à mistura
nesses casos, geralmente a Coréia segue do álcool, à formulação da gasolina para receber esta mistura e ao funcionamento
o exemplo do Japão, que surpreendeu dos motores.Toda a logística de dutos que transportam derivados de petróleo foi
permitindo que a mistura chegasse a direcionada para a implementação do álcool, bem como a logística de distribuição
10%. No caso da Coréia também adotar que permitisse abastecer um país continental como o Brasil.
os 10%, seria necessário 1 bilhão de litros
de etanol para abastecer o mercado local, Todo esse esforço e aparato fizeram com que a Petrobras aperfeiçoasse tec-
demanda que poderia ser atendida pela nologias que nenhuma outra empresa detém no mundo, muito menos explora-
capacidade de produção da Petrobras. doras de petróleo. O Brasil é, atualmente, o país com mais expertise não apenas
Os estudos econômicos preliminares na produção de etanol, extraído a partir da cana, mas de muitos outros tipos de
sobre o biodiesel indicam que a produção biocombustíveis.
doméstica, feita a partir de qualquer fon-
te, precisaria ter um custo inferior a US$
0,59. Isso seria praticamente impossível,
a não ser que uma decisão política seja Produtos que apresentaram crescimento na exportação:
tomada no sentido de criar incentivos
governamentais de financiamento da Transportes Carnes
produção. Já em relação ao etanol, está Produtos metalúrgicos Máquinas e equipamentos
definido que a importação do produto Petróleo Açúcar e álcool
acabado é viável economicamente, mas Soja Papel e celulose
não como produção local. E o Brasil é o Minérios Calçados e couro
único país que poderá ultrapassar qual- Químicos
quer desafio dos concorrentes em termos
de preços internacionais. “Isto quer dizer
que a Coréia está disposta a importar o Principais fornecedores de produtos ao Brasil
produto, o que pode começar a partir do
segundo semestre de 2008, ou primeiro Ásia – 22,6% União Européia – 25,7% América Latina – 30,4%
semestre de 2009”, garante o advogado.
Moon Jo, porém, ainda espera que o
governo coreano ofereça algum tipo de
“
Moon Jo lembrou que a distância física
entre Brasil e Coréia é um grande desafio Para encurtar a distância física e cultural, o Brasil deve parar de
a ser enfrentado. “Altos funcionários do pensar grande e agir pequeno. É preciso investir em um caso de sucesso,
governo coreano tiveram resistências a
integrar a missão para o Chile por causa
da distância, mas se houver uma nego-
ciação com o Mercosul, por exemplo,
pois o capital segue o sucesso rapidamente
Cidade nova
Hee Moon Jo aproveitou sua presença no Seminário para trazer ao Brasil um conceito inovador: a Cidade Nova. A Coréia
tem um pequeno território, com mais de 47 milhões de habitantes, extremamente concentrados nas cidades grandes, princi-
palmente Seul. Por isso é constante a preocupação com a qualidade de vida, que inclui melhoria das vias públicas, moradias e
comunicações. Ao longo dos anos o governo coreano vem procurando várias alternativas. Há uma década, observando outros
países como os Estados Unidos, foi desenvolvida a idéia de criar ou reformar uma cidade ou bairro. Basicamente significa
comprar o terreno e desenvolver toda a estrutura, com base em um planejamento. Há duas alternativas: remodelagem de uma
cidade ou bairro e criação de uma cidade satélite, ligada à cidade central por meio de rápido sistema de transporte.
Em ambos os casos, é preciso, primeiro, comprar o terreno, que sofrerá terraplanagem e instalação de todos os benefícios
da tecnologia da informação. O planejamento é total. Escolas, áreas de lazer, comércio e indústria são proporcionalmente
distribuídos. O transporte subterrâneo e aéreo garante o acesso rápido à Cidade Central, sem perda de tempo em engarra-
famentos. Para quem acha que esta é uma “cidade do futuro”, Moon Jo garante que tudo isto será realidade em 50 anos. As
parcerias público-privadas – PPPs podem viabilizar essa construção rapidamente e o retorno virá por meio da venda do que
foi construído. O projeto já foi vendido para a Mongólia e o Vietnã.
Hee Moon Jo acredita na aplicação do mesmo conceito no Rio de Janeiro e em São Paulo, já que ambas as cidades sofrem
com a grande concentração de habitantes e ganhariam muito se pudessem planejar melhor sua infra-estrutura, com todas as
facilidades tecnológicas. Seria necessário desapropriar entre 30km e 60 km, passar para parceiros privados a tarefa de construir
uma cidade encomendada pela necessidade da própria cidade, de acordo com o seu desenvolvimento. O governo entraria
com o compromisso de comprar, por exemplo, os prédios públicos, como escolas e hospitais, e a iniciativa privada venderia
o restante das construções. O custo acabaria saindo muito mais baixo, já que a mais nova tecnologia da informação estaria à
disposição de todos. O desafio seria pensar em algo inovador para o transporte.
A discussão do Painel III girou em torno das exportações brasileiras de serviços e produtos manufaturados para a Coréia
O Painel III do Seminário Bilateral de Comércio Exte- que contou, ainda, com os expositores Edson Lupati-
rior e Investimentos Brasil – Coréia do Sul foi dedicado ni, Secretário de Comércio e Serviços do Ministério
às exportações brasileiras de serviços e produtos manu- do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
faturados para a Coréia. A principal questão abordada - MDIC, e Jovelino Gomes Pires, Coordenador da Câ-
foi a necessidade de se estabelecer acordos bilaterais que mara de Logística da Associação de Comércio Exterior
facilitem as relações comerciais entre os dois países. do Brasil. O moderador foi o Diretor de Planejamento
O ex-embaixador Plenipotenciário do Brasil na Coréia e Desenvolvimento do Comércio Exterior do MDIC,
do Sul, Pedro Paulo Assumpção, presidiu o Painel III, Fábio Martins Faria.
P
edro Paulo Assumpção abriu o
Painel III contando um pouco de
sua experiência enquanto servia na
embaixada do Brasil em Seul, de 2000 a
2006. Segundo ele, muitos empresários
brasileiros, em busca de uma opinião que
lhes mostrasse a relevância de adotar a
Coréia como um possível parceiro de
comércio e de investimentos, pediam para
que ele resumisse o país em uma frase.
“A Coréia, para mim, é o resultado de
um processo de educação seguro, muita
inovação tecnológica e competitividade
em nível internacional”, dizia.
Para o ex-embaixador, o fator mais
marcante é a competitividade, pois, se-
gundo ele, nenhum processo produtivo se
inicia naquele país se não tiver esta carac-
terística. A razão é simples: a base física do
mercado coreano não excede a população
do estado de Pernambuco, que tem cerca
de 8 milhões de habitantes. Portanto, para
ser competitivo e ter esta presença no
mundo, a Coréia não pode pensar exclu-
“
sivamente no mercado interno. É preciso
produzir desde o início com a vocação para A Coréia, para mim, é o resultado de um processo de
o mercado mundial. educação seguro, muita inovação tecnológica e competitividade
”
Assumpção afirmou que o comércio
entre Brasil e Coréia ainda é muito pe- em nível internacional
queno, diante das potencialidades dos P e d ro P au l o A s s u m p ç ã o
dois países. “Muito se fez, muito se está
fazendo, muito mais se precisa fazer para por estado desses serviços e quais são as Assumpção sugeriu que o Brasil pen-
aumentar este comércio”, apontou. Este principais empresas exportadoras de todo sasse seriamente na negociação de um
aquecimento entre o comércio Brasil- este setor terciário. instrumento comercial entre os dois paí-
Coréia, segundo ele, deveria abranger não Assumpção lembrou, ainda, a exposição ses, como um acordo de livre comércio.
apenas a rotina comercial, ou seja, a explo- feita no Painel II pelo advogado Hee Moon “Poderia ser um acordo Mercosul-Coréia,
ração dos produtos já existentes na pauta Jo, representante do escritório de advo- mas possivelmente seria uma negociação
de exportação de ambos os lados, mas cacia Demarest & Almeida, que defendeu complexa, em função do estado em que se
sobretudo buscar idéias novas, inclusive a necessidade de se estabelecer um foro encontra o Mercosul. No caso do bloco,
no que diz respeito às formas de atuação. entre os dois países. “É uma idéia extre- evoluir da posição aduaneira de hoje para
Edson Lupatini, Secretário de Comércio mamente atraente e creio que deveríamos uma área de mais livre comércio, com
e Serviços do MDIC, concorda: “O Brasil fazer alguma coisa para que pudéssemos complementariedade na área institucional
tem um grande potencial para aumentar o congregar altos executivos de um pequeno e política, poderia abrir caminho para uma
intercâmbio na área de comércio exterior grupo de empresas coreanas estabelecidas negociação bilateral entre Brasil e Coréia”,
com a Coréia”, afirmou. Lupatini revelou no Brasil”, sugeriu. O inverso, no entanto, argumentou. Ele descartou a possibilidade
que, pela primeira vez na história, a Se- seria mais difícil, pois o Brasil teria que de que um acordo Brasil-Coréia conflitasse
cretaria de Comércio e Serviços do MDIC trabalhar mais com representantes da área com a Agenda de Doa, a grande arquitetu-
está publicando uma balança comercial comercial. Existem apenas duas empresas ra de negociação comercial mundial. “Hoje
de serviços. O Secretário apresentou brasileiras estabelecidas na Coréia, atual- há tantos acordos bilaterais no mundo
um esboço da publicação, que inclui as mente: a Companhia Vale do Rio Doce, que se algum dia sair a grande arquitetura
importações e exportações para todos os recentemente instalada, e o Banco do comercial todos esses acordos serão ajus-
países, que tipo de serviços nós exporta- Brasil, cujo escritório já está autorizado, tados e confluirão para esta arquitetura”,
mos e importamos, quais são as origens mas ainda não está funcionando. previu. Partindo deste pressuposto, os
Radiografia
Como a Secretaria de Comércio e
“
Serviços do MDIC também trabalha com
O Brasil tem um grande potencial para aumentar o comércio varejista, ela reúne todas as
o intercâmbio na área de comércio exterior com a Coréia
E d s o n L u pat i n i ” Juntas Comerciais do país, permitindo
traçar um panorama das empresas corea-
nas estabelecidas hoje no Brasil. Segundo
Lupatini, há empresas de todos os níveis,
países que negociarem acordos bilaterais Brasil tem, na área da indústria naval, um ramos e portes. O setor que mais se
não terão perdido tempo no caminho. potencial muito grande para fazer um destaca é o de reparação de veículos au-
Pedro Paulo Assumpção citou o exemplo trabalho conjunto com a Coréia do Sul. tomotores, em função da importação de
do Chile, primeiro país a fazer um acordo “Sabemos que Coréia, Cingapura, Japão veículos sul-coreanos. “Hoje a comunidade
de livre comércio com a Coréia do Sul. e Vietnã, por exemplo, têm pedidos que sul-coreana tem um contingente bastante
Segundo ele, esta iniciativa fez com que somam cerca de 4 mil novos navios e há expressivo. São pessoas físicas, empresá-
o comércio entre os dois países se expan- dificuldades em entregar essas encomen- rios, sociedades de empresas jurídicas etc.
disse de maneira extraordinária em pouco das até 2012.” Lupatini acredita que este Só em São Paulo existem 3.100 pessoas
mais de dois anos. é um importante campo a ser explorado, físicas trabalhando na área de prestação de
já que o Brasil tem um grande expertise serviços,” disse. Para Edson Lupatini, seria
Balança de serviços nesta área, com engenheiros muito bem interessante que o Brasil também pudesse
O secretário Edson Lupatini trouxe, em capacitados, que trabalham com alta tec- conhecer a realidade da comunidade brasi-
sua exposição, os números do intercâmbio nologia. Este fato já foi demonstrado ao leira na Coréia e manter um canal de troca
comercial de serviços com a Coréia, que mercado internacional com a construção de informações com o governo daquele
considerou bastante tímido. Durante o de navios e plataformas de petróleo pela país. Lupatini disse que esses dados são
ano de 2006, o Brasil exportou cerca de indústria nacional. fundamentais para começar a traçar uma
US$ 18 bilhões em serviços contra US$ 27 O secretário também destacou a área relação dos serviços brasileiros que inte-
bilhões em importações. Já o intercâmbio de construção civil, sobretudo no segmen- ressam à Coréia e vice-versa. “Temos um
comercial com a Coréia neste segmento to de projetos de engenharia. “Isso já está grande trabalho a fazer e tenho certeza de
não alcançou US$ 3,1 milhões. E isso dian- acontecendo em grande escala na América que estes dados podem, de alguma forma,
te de um aumento de 121% em relação Latina e creio que podemos e devemos estimular uma maior aproximação entre os
a 2005, quando as exportações ficaram ter a mesma relação comercial no que diz dois países,” finalizou.
pouco acima de US$ 1 milhão. Em con- respeito a serviços,” recomendou. Edson
trapartida, o Brasil importou da Coréia do Lupatini lembrou que projetos na área Marca nacional
Sul, US$ 19 milhões. “Esses números estão de serviços são interessantes, pois têm a O Coordenador da Câmara de Logística
muito aquém das nossas potencialidades. característica de “arrastar” outros serviços da Associação de Comércio Exterior do
Podemos alavancar este comércio e o es- complementares, gerando mais negócios. Brasil, Jovelino Gomes Pires, foi o último
tudo que fizemos mostrará onde podemos “Quando se exporta um projeto de servi- convidado a falar no Painel III. Ele desta-
investir,” analisou. Segundo Lupatini, o ços de engenharia, com ele vai junto toda cou que a curva de desenvolvimento e de
crescimento da Coréia se parece com a e serviços a preços competitivos, pois eles onde existe grande expertise.
do Brasil. “Me lembrei do crescimento de têm uma demanda cada dia maior. A ques- “Poderíamos, ainda, pensar em proje-
8,6% que tínhamos na época dos governos tão é estudar onde podemos abastecê-los tos de cuidados ambientais, programas e
militares, as crises, e o desenvolvimento e fechar a parceria”, sugeriu. serviços bancários, talvez até contando
que conquistamos nos últimos anos”. Para Para Gomes Pires, a realização deste com o BNDES para desenvolver nossos
ele, a Coréia deu um grande salto sobre seminário já é um ponto de partida. “São projetos na Coréia,” sugeriu. Ele destacou
a questão da pobreza e da guerra, para trabalhos como este que a Federação das que empresas brasileiras na área de saúde
chegar onde está hoje: é a terceira grande Câmaras de Comércio Exterior vem rea- já realizam exames e enviam o diagnóstico,
potência da Ásia, só perdendo para Japão lizando, com o apoio da Associação do Co- em japonês, para o Japão, aproveitando o
e China. Gomes Pires concordou com os mércio Exterior e de tantos parceiros, que baixo custo. “O mesmo poderia ser feito
outros palestrantes do Painel sobre o co- nos permite iniciar as conversações, com para a Coréia”, garante. Para ele, o Brasil
mércio pobre que Brasil e Coréia mantêm a importante presença de representantes deveria, também, investir no turismo,
hoje. “Lupatini tem razão quando diz que dos governos brasileiro e coreano”. Entre sobretudo na Amazônia, Bahia e Rio de
a Coréia pode ser nosso grande parceiro as idéias de serviços que o Brasil poderia Janeiro, que já têm imagem internacional
na indústria naval. Eles são os melhores exportar, Jovelino Gomes Pires citou o fixada de beleza natural, farta recreação,
produtores, sabem fazer navios como setor de Comunicação. Deu o exemplo esportes e programação cultural. “Esses
ninguém, e nós não temos uma frota sufi- bem-sucedido do Exporta Brasil, programa elos entre as duas sociedades precisam ser
ciente, já que fretamos navios de bandeiras realizado pelos Correios, e ainda a venda incentivados”, finalizou.
“
estrangeiras. Se o Brasil aumentar signi- de novelas brasileiras, que já fazem sucesso
ficativamente exportação e importação, em muitos outros países do mundo. “Além Creio que é fundamental
aumentaríamos o volume de fretes, que é disso, creio que é fundamental investirmos investirmos em marcas e
um segmento de serviços” destacou. Ele em marcas e franchising. O conceito de
contou que visitou o estaleiro de Hunday, churrascaria rodízio é totalmente nacional,
franchising. O conceito de
que é o maior do mundo, trabalha 24 e encanta todos os estrangeiros, mas preci- churrascaria rodízio é totalmente
horas por dia e coloca um novo navio no sa ter sua marca trabalhada.” Para Gomes nacional, e encanta todos os
mar a cada cinco dias. “É o estaleiro mais Pires, a marca brasileira precisa ser forta- estrangeiros, mas precisa ter sua
”
competitivo do mundo. Com este nível de lecida para mostrar ao mundo que o Brasil
expertise e de tecnologia, é um excelente tem coisas muito boas, como educação, marca trabalhada
parceiro para quem quer vender produtos cursos, palestras e seminários a distância, J ov e l i n o G o m e s P i r e s
Lupatini, Assumpção e Gomes Pires falaram sobre as exportações brasileiras de serviços e produtos manufaturados.
Cinema sul-coreano
em grande fase
Coréia do Sul investe na sétima arte e ganha prêmios internacionais
A superprodução “Shiri” – filme exi-
Divulgação Imovision
bido no Brasil sob o título de “Missão
Terrorista” (1999) – marcou o início desta
nova fase, resultado de uma Coréia em
ascensão cultural e econômica. O longa
de ação, dirigido por Kang Je-gyu, bateu
as bilheterias de “Matrix” e “Titanic” no
mercado local e está na lista dos 30 filmes
mais vistos na história do país. Atualmente,
o cinema da Coréia do Sul sobrevive de
sua bilheteria interna. O circuito local é
ocupado por uma média de 60% de pro-
duções nacionais e pelo menos a metade
dos títulos na lista dos Top 10 é coreana.
A maior parte dos filmes exibidos em casa
também é nacional.
Sucessos de bilheteria
“Casa Vazia” ganhou o Leão de Prata por melhor direção no Festival de Veneza de 2004 Em 2004 o mundo percebeu a força
do cinema sul-coreano, quando o aclama-
Pode parecer surpreendente para os poucos países do mundo onde o díssimo “Oldboy”, de Park Chan-Wook,
ganhou prêmio especial do júri no Festi-
brasileiros que não acompanham de cinema nacional é mais visto do que
val de Cannes. Chan-wook, de 43 anos,
perto a sétima arte, mas o cinema o americano. Este é o resultado de transformou-se no mais famoso da nova
sul-coreano tem sido aclamado pela expressivos investimentos privados geração de diretores coreanos. Ele assina
a trilogia “Oldboy”, “Sr. Vingança” e “Lady
crítica nacional e a internacional, nas produções, aliado a uma nova e Vingança”, que estreou no Brasil recente-
e as produções vêm arrebatando brilhante geração de diretores que mente. “Oldboy” gerou polêmica depois
vários prêmios na Europa. Atual- tem realizado filmes de todos os que o sul-coreano Cho Seung-hui – que
matou 32 pessoas na Universidade de Vir-
mente, a Coréia do Sul é um dos gêneros. ginia Tech, em abril deste ano – declarou
que o filme foi uma de suas inspirações.
N
Polêmicas à parte, “Oldboy” é violento e
o início da década de 90, inves- superproduções com estilo hollywoodiano cheio de ação, mas é, também, recheado
tidores privados começaram a fecharam suas portas ou tiveram que se de cenas de amor, sexo, humor, ironia e
aplicar recursos no cinema sul- adaptar. É que, junto com a nova indústria mesmo plasticidade e virtuosismo.
coreano. A revitalização econômica e as cinematográfica local, surgiu uma nova ge- Outro grande sucesso que encantou a
rápidas transformações urbanas em Seul ração de diretores que conseguiu captar a Europa foi “Casa Vazia”, de Kim Ki-duk,
contribuíram para atrair o público para as alma do público coreano e criar uma marca que ganhou o Leão de Prata por melhor
salas de exibição. Com o tempo, as boas bem característica: a mistura de gêneros. direção no Festival de Veneza de 2004 e
universidades passaram a oferecer cursos Isso quer dizer que em um filme de ação melhor filme de toda a mostra, prêmio
de cinema e o governo tem colaborado haverá drama, comédia e algum suspense. conferido pelo júri internacional de críti-
com incentivos à produção audiovisual e O espectador vai assistir a uma história cos da FIPRESCI, a federação mundial da
com apoio a empresas de tecnologia. No que desperta várias emoções diferentes categoria. O filme conta a história de um
entanto, os estúdios que apostaram nas no mesmo filme. jovem sem rumo, que entra nas casas de
estranhos e mora nelas enquanto os donos O maior sucesso de bilheteria do ano de Alguns são voltados para famílias e amigos
estão fora. Para pagar a “hospedagem”, ele 2006 foi o triste, engraçado e assustador que querem privacidade, e atendem até oito
lava as roupas dos donos, faz a limpeza e “O hospedeiro”, de Bong Joon-ho, que já pessoas por sessão. O grupo aluga a sala e
executa pequenos consertos nas casas. chegou ao Brasil. Com um roteiro bem escolhe o filme, que pode ser antigo ou estar
Tudo muda, porém, quando ele invade amarrado, efeitos especiais de qualidade em cartaz no momento.Tudo pode reserva-
uma mansão em que o dono está viajando, e uma boa história – contada com ritmo e do pela Internet. O programa, no entanto,
mas sua bela esposa não. Para escapar do frescor – o filme levou 27% da população custa caro: US$ 240 por grupo (ou US$ 30
casamento infeliz e da vida vazia, ela se às salas de cinema, mobilizando 13 milhões por pessoa). Na parte nobre da capital, o
une ao rapaz e, sem trocar uma palavra, a de espectadores só na Coréia do Sul. Para Cinema Charlotte atende um grupo maior:
dupla passa a invadir outras casas. se ter uma idéia, o último grande sucesso até 34 clientes por sessão. Mas o valor é o
O diretor, de 46 anos, utiliza poucos nacional de bilheteria no Brasil, “2 Filhos mesmo: US$ 25 durante a semana e US$
diálogos, que poderiam mesmo ser supri- de Francisco” foi visto por 6 milhões de 30 nos finais de semana, por filme.
midos, já que ele consegue captar, através brasileiros, ou 3,15% da população. A abertura de salas desse tipo foi uma
das imagens, as sensações dos personagens. conseqüência natural diante do expressivo
O filme mostra um tipo de marginalida- Cinema vip aumento da produção de filmes sul-co-
de urbana, encarnada em personagens A excelente fase do cinema sul-coreano reanos. O sucesso de público também
inadaptados socialmente, solitários e mudou, também, o conceito de algumas incentivou a construção de salas de proje-
sigilosos. Mesmo assim, o público assiste salas de projeção do país. São ambientes ção de grande capacidade, como uma que
a uma história de amor romântica quase pequenos, com poltronas mais confortáveis comporta 500 espectadores e é considerada
surreal. e amplas, com serviços de bebida e comida. a 12º maior do mundo.
Pelo menos 13 milhões de sul-coreanos assistiram ao filme “O hospedeiro”, maior sucesso de bilheteria no ano passado, exemplo de mistura de gêneros
Para Carlos Geraldo Langoni, o Brasil será, depois da China, o segundo principal mercado emergente para investimentos estrangeiros
Diretor do Centro de Economia entrevista, entre outras coisas, ele Como o senhor vê o Brasil hoje fren-
te ao comércio internacional?
Mundial da FGV e ex-presidente fala sobre o comércio internacional, CGL - Nos últimos anos o Brasil voltou a
do Banco Central do Brasil, Carlos os entraves a um crescimento ainda ser um pólo de atração de investimentos
estrangeiros. Isso vem se dando pelo fato
Geraldo Langoni acredita que a maior de investimentos estrangeiros
de o país ter conquistado a estabilidade
Coréia tem condições de investir de no país e o pioneirismo brasileiro na macroeconômica e reduzido sua vulnera-
forma mais efetiva no Brasil. Nesta área de biocombustíveis. bilidade externa e interna. Com isso - e
apesar de uma série de problemas que nós continuam sendo, como país desenvolvi- conseguiu atrair investimentos diretos
ainda enfrentamos, principalmente na área do que é, um grande pólo de atração de nos últimos anos. Creio que o Brasil deve
burocrática, no marco regulatório e na investimentos. Além disso, a Coréia tem investir em acordos que sejam do seu
carga tributária -, o Brasil é hoje um atra- uma dívida de gratidão com aquele país interesse, por que não?
ente mercado para investimentos vindos por causa do apoio recebido no fim da
do exterior. Na minha opinião, o Brasil Segunda Grande Guerra. De qualquer for- Acompanhando este raciocínio,
será, depois da China, o segundo principal ma, o Brasil é a segunda potência entre as acordos de isenção e/ou redução
mercado emergente para investimentos economias emergentes. Para isso, porém, tarifária entre Brasil e Coréia seriam
estrangeiros. o país precisa ter uma postura mais agres- iniciativas interessantes para aque-
siva na área de negociações comerciais, de cer essas relações?
O senhor não acredita que a Índia uma forma geral. Isso envolve idealmente CGL - Sem dúvida! Qualquer acordo de
e a Rússia possam ocupar esta po- o sucesso na Rodada Dhoa, na Organiza- negociação comercial que reduza barrei-
sição? ção Mundial do Comércio – OMC que, ras, tarifárias ou não, e que estimule in-
CGL - Acho que o Brasil está bem à infelizmente, vive uma crise, devido à vestimentos estrangeiros são bem-vindos.
frente da Índia e da Rússia nesse aspecto disputa entre Estados Unidos e União Eu- Sobretudo os acordos de bitributação, que
de investimentos diretos estrangeiros. Na ropéia em torno de subsídios agrícolas. No são muito úteis, porque fazem com que a
verdade, nós estamos voltando para o pa- entanto, independentemente do acordo tributação de uma empresa estrangeira
tamar de US$ 30 bilhões por ano em fluxo multilateral – que seria a melhor solução – no caso coreana – instalada no Brasil seja
de investimentos diretos estrangeiros. Esse para o Brasil – o país poderia e deveria deduzida do seu imposto pago na própria
fluxo tem estado muito concentrado nos buscar acordos bilaterais da forma mais Coréia. Essa é uma das iniciativas que po-
Estados Unidos, Europa e União Européia ampla possível. dem incentivar a vinda de mais empresas
nos últimos anos, mas acredito que a ten- coreanas para o Brasil. Quando não há este
dência agora é haver uma diversificação.
Com isso, teremos investimentos diretos
da própria China, Índia e Rússia, que são
países emergentes que estão começando,
“ Qualquer acordo de
negociação comercial
que reduza barreiras,
tipo de acordo, a empresa recolhe no país
de origem e no Brasil, onerando muito o
preço do produto final. O espaço para uma
negociação comercial mais ampla sempre
como o Brasil, a ter suas multinacionais. tarifárias ou não, existe e é importante.
A Coréia pode ser um dos países a e que estimule A falta de um marco regulatório e
investir no Brasil? investimentos estrangeiros a necessidade de reduzir a buro-
CGL - Eu acredito que a Coréia tem todas
as condições de investir de forma mais
expressiva no Brasil. Isto porque a eco-
nomia coreana tem grandes empresas em
é bem-vindo
Carlos Geraldo Langoni” cracia no Brasil, não pode atrasar
esses acordos? O senhor teme que
o Brasil perca investimentos se não
trabalhar logo neste sentido?
diversos setores, é bastante forte em tec- Quais seriam os países mais interes- CGL - Esta resposta deveria ser sim,
nologia, e cada vez mais se consolida nesta santes para o Brasil fechar acordos certamente. O curioso, no entanto, é
área. Já temos grandes empresas coreanas bilaterais? que apesar de tudo isso – falta de marco
presentes no Brasil, como a LG, Samsung CGL - Os acordos bilaterais são um ca- regulatório, excesso de burocracia, au-
e Hyundai, entre outras. Isso demonstra minho natural para aquecer as relações sência de competitividade, má colocação
que existe uma tendência para que haja comerciais entre dois países, quaisquer que em termos de ambiente de negócios - o
um aumento no fluxo de investimentos e sejam eles. Certamente negociações com Brasil hoje é um dos mais importantes pa-
no comércio entre os dois países. a Coréia e com todos os Tigres Asiáticos íses, disputando com o México, apesar de
– Japão, Malásia, Tailândia, Cingapura apresentar uma tendência de crescimento
Estados Unidos e Coréia assina- – são de grande interesse para o Brasil, pois mais rápida em termos de investimentos
ram recentemente um acordo de amarram uma parceria entre essas nações. diretos estrangeiros.
redução tarifária de 95%, faltando Existe uma correlação muito forte entre
apenas o endosso do Congresso abertura comercial e investimentos estran- O senhor quer dizer que o Brasil po-
Nacional americano para que o geiros. Em geral, a abertura comercial não deria disputar o primeiro lugar em
acordo passe a vigorar. Este tipo de só alavanca exportações, como também investimentos com a China, se resol-
incentivo pode ser uma ameaça a atrai e facilita o fluxo de investimentos vesse esses problemas?
um maior fluxo de investimentos no país, isso é uma correlação clássica. O CGL - Não é possível fazer esta afirmativa,
em outros países? melhor exemplo disso é o Chile, país que mas com certeza o Brasil deveria se pergun-
CGL - É claro que sim. Os Estados Unidos mais tem acordos bilaterais e que mais tar o que poderia ser em termos de pólo de
investimentos, se houvesse uma redução da CGL – Não, hoje a tecnologia é um fator os efeitos do aquecimento global. Isto é
burocracia e uma melhoria no marco regula- que ninguém é capaz de deter. No entanto, urgente e faz com que a pesquisa na área
tório. Principalmente agora, que eu vejo um mesmo que algum outro país detenha a de biocombustíveis esteja bastante intensa
papel importante das empresas coreanas nessa mesma tecnologia que a brasileira, poucos em todo o mundo, sobretudo nos Estados
área de bens de capitais e de infra-estrutura. têm a mesma capacidade de produção de Unidos, onde o etanol é produzido a partir
cana-de-açúcar que o Brasil tem. Portan- do milho. A alternativa da madeira deve
O que o Brasil tem a oferecer para to, não é só uma questão de tecnologia, ser investigada, pois o milho é muito caro
a Coréia? mas de vantagens comparativas herdadas e ainda esbarra na questão da produção
CGL - O Brasil é um grande exportador como terra, solo, clima e manejo. Isso de alimentos, o que não acontece com o
de produtos primários e já exporta uma sem falar da pesquisa genética que o Brasil Brasil, que produz etanol a partir da cana.
quantidade enorme de minério de ferro vem desenvolvendo nesta área e na qual Portanto, podemos esperar muitos avanços
para a Coréia, mas certamente a área de deve continuar avançando. Porém, não nesta área, pois os altos preços estimulam
biocombustíveis é a que mais vai interessar há dúvida alguma de que em 10 ou 15 a produção de novas tecnologias.
àquele país. O Brasil hoje tem uma posição anos haverá muitos outros países desen-
“
excepcional com este novo instrumento de volvendo e produzindo biocombustíveis
barganha e de negociação comercial. Mais de diversas origens. Parece, inclusive,
Eu acredito que a Coréia tem
do que isso, o país tem neste setor uma que o futuro do etanol é ser produzido todas as condições de investir
ferramenta de barganha geopolítica. Ele a partir de qualquer tipo de madeira. de forma mais expressiva no
detém a tecnologia e lidera a produção, Então a expectativa é de que venhamos a
pelo menos no que se refere ao etanol, e ter uma concorrência grande. Esta é uma
Brasil. Isto porque a economia
tem condições de dar um grande salto na tecnologia muito importante, não só para coreana tem grandes empresas em
área de biocombustíveis. reduzir o impacto econômico do preço diversos setores, é bastante forte
do petróleo e o problema do esgotamen- em tecnologia, e cada vez mais
”
Com tantos interesses em torno to do recurso, mas sobretudo por causa
deste tema, é possível segurar essa da pressão mundial para que se polua se consolida nesta área
tecnologia por muito tempo? menos o meio ambiente, diminuindo Carlos Geraldo Langoni
Perfil
Nascido em Nova Friburgo, estado
do Rio de Janeiro, Carlos Geraldo
Langoni é PhD em Economia pela
Universidade de Chicago (Estados
Unidos). Desde o início de sua car-
reira dedicou-se à área acadêmica,
sempre atuando na Fundação Getúlio
Vargas, no Rio de Janeiro, de onde
foi professor e Diretor da Escola de
Pós-Graduação em Economia. A vida
acadêmica foi interrompida apenas
entre 1980 e 1983, quando foi pre-
sidente do Banco Central do Brasil.
Hoje Carlos Langoni é Diretor do
Centro de Economia Mundial da FGV
e consultor de empresas.
O
gerente da Petrobras contou Preto, maior região produtora de álcool, e o Brasil tem, nesse campo, um papel espe-
que os coreanos demonstram pela Refinaria de Paulínia, a maior do País, cial”, declarou Moreira. Ele, no entanto,
forte interesse na aquisição e até chegar ao porto. O tempo previsto de ressaltou que ainda é cedo para descartar o
popularização de automóveis com com- construção da gigantesca obra é de dois petróleo como principal matriz energética
bustível flex (movidos tanto a gasolina anos. “Estimamos que o duto começará mundial. “O petróleo ainda será a fonte de
como a álcool), sobretudo em virtude a operar já em 2010”, afirmou o gerente energia dominante no mundo a médio e
do alto preço do petróleo no mercado da Petrobras. O duto terá capacidade em longo prazo. A Petrobras, porém, está
internacional, além das preocupações para transportar 4 bilhões de litros e é o preparada para o futuro, buscando investir
ambientais, derivadas pelo alto consumo primeiro de uma série de projetos para em vários campos da energia alternativa”,
desse combustível fóssil. A Coréia é um ampliar a infra-estrutura de transporte do declarou o gerente.
D
Samsung, LG e Kia Motors são e pouca importância até meados se destacando internacionalmente em
dos anos 60, foi sob o governo diversos setores, principalmente na pro-
marcas bastante conhecidas do con-
do presidente Park Chung-Hee dução de navios, veículos e equipamentos
sumidor brasileiro. Contudo, o que que a indústria sul-coreana conheceu um eletrônicos.
elas têm em comum, além de serem crescimento espetacular graças à priori- “Pesados investimentos em educação
dade que os planos econômicos deram e forte senso de disciplina são fatores que
potentes multinacionais que agre- a esse setor e ao considerável montante explicam o sucesso das empresas coreanas
gam tecnologia e estarem presentes dos investimentos estrangeiros, sobretu- ao redor do globo”, afirma Jong-Hwa
do americanos e japoneses. Por meio de Choe, Embaixador Plenipotenciário da
em diversos países do mundo? A subsídios direcionados especificamente Coréia do Sul no Brasil. Devastada por
resposta é simples: a origem. Essas e para cada conglomerado econômico, o uma das mais sangrentas guerras civis do
demais empresas coreanas traduzem governo do general Park conseguiu forçar século passado – o conflito que dividiu
a expansão da indústria do país. Com essa o país em Norte e Sul -, a Coréia do Sul
o sucesso do país no campo indus- íntima relação Estado-indústria, as grandes conseguiu se recuperar economicamente.
trial, o que ajudou a figurar a nação empresas sul-coreanas conseguiam obter Em quase três décadas, o PIB (Produto In-
financiamentos que garantiam seu cresci- terno Bruto) do país cresceu a uma média
asiática como uma das dez maiores mento e sua atuação em várias áreas. Dessa de 8,6% ao ano, um dos maiores índices
economias do mundo. maneira, a Coréia do Sul foi aos poucos de crescimento registrados no mundo. No
entanto, em 1997, o país viveu a sua maior cidades de recuperação da região. Depois exportação de dispositivos de alta tecnolo-
crise econômica – que atingiu também de sofrer uma queda no PIB de 6,7% em gia que fortalece os investimentos na área.
outros países da região, como Malásia, 1998, o país voltou a crescer com força: O mercado interno também corresponde
Indonésia,Tailândia,Taiwan, Hong Kong e 10,9% em 1999; 8,8% em 2000; e pouco a uma fatia grande para o setor.
Cingapura -, que levou inúmeras empresas mais de 3% em 2001. E foi o setor de Ainda de acordo com informações do
sul-coreanas à falência. A principal causa tecnologia um dos responsáveis pelo novo governo desse país, há, atualmente, cerca
da crise, conforme alegaram os represen- salto de crescimento do país. De acordo de 37 milhões de usuários de Internet
tantes do Fundo Monetário Internacional com dados do governo sul-coreano, desde – numa população de 48 milhões de ha-
- FMI, foi a má administração das empresas 1998, o setor de tecnologia da informa- bitantes -, o que significa que a Coréia do
coreanas. Como estavam bastante atreladas ção do país vem crescendo a uma taxa Sul detém um dos maiores percentuais de
aos incentivos do governo, elas não busca- de 25% ao ano, graças às exportações de internautas do mundo. Chama a atenção
vam medidas que visassem ao saneamento computadores pessoais, celulares e semi- também o índice de usuários de telefones
financeiro de suas corporações e, por isso, condutores. Num plano geral, o setor de celulares no país. Ao todo, pouco mais de
endividaram-se sem se preocupar com a TI responde por um terço do volume total 80% da população sul-coreana possui te-
gestão interna. das exportações sul-coreanas que, no ano lefones móveis, o que dá ao país asiático o
Após o baque financeiro, a Coréia passado, atingiu a marca de US$ 326 bi- status de terceiro maior mercado mundial
conseguiu mostrar uma das maiores capa- lhões. No entanto, não é só o comércio de desse produto.
Samsung/ Divulgação
Em 2004, foi construída, em Campinas, uma fábrica de telefones celulares da Samsung, uma das mais famosas marcas coreanas
Samsung
Líder no mercado brasileiro de monitores e discos rígidos para PCs, e detentora de grande fatia no mercado de telefonia celu-
lar, a Samsung está presente no Brasil desde 1986. Contudo, a primeira unidade industrial da empresa coreana foi inaugurada em
1995, em Manaus, onde atua na Zona Franca. Desde então, a Samsung investiu cerca US$ 300 milhões, incluindo a construção,
em 2004, de uma fábrica de telefones celulares em Campinas, São Paulo. A partir de outubro de 2004, a empresa passou a investir
e comercializar produtos de áudio e de vídeo. A Samsung obteve faturamento de US$ 700 milhões em 2004, com crescimento
de 46% em relação ao ano anterior.
Kia Motors
Inaugurada em 1992, a Kia Motors do Brasil é uma das subsidiárias mais importantes da empresa sul-coreana no mundo. Ela
iniciou sua operação com a importação e comercialização de quatro modelos: a van e o furgão Besta, o sedã Sephia e os utilitários
Ceres e K3500. Contudo, foi com a grande aceitação do modelo Besta que a Kia se consolidou no mercado brasileiro. O veículo
tornou-se, nos anos 1997, 1998 e 2001, o veículo importado mais emplacado no país. Durante esse período a empresa investiu
paralelamente em sua estrutura de pós-vendas. Instalou em 2002 na cidade de Itu (SP) seu Centro Nacional de Distribuição de
Peças, que ocupa uma área construída de 7.000 m2 e mais 12.000 m2 de área de estocagem, com mais de 56 mil itens originais
em estoque para assegurar a reposição de peças e componentes, atendendo aos pedidos da rede de concessionárias em todo o
território nacional. Atualmente, segundo estimativas da empresa, circulam cerca de 105 mil unidades de veículos Kia pelas ruas
e estradas brasileiras.
LG Electronics
Já a LG Electronics está no Brasil há 10 anos. O escritório central e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa estão
localizados no estado de São Paulo e a empresa conta com dois parques industriais: Manaus (AM) e Taubaté(SP). Ao todo, são
cerca de cinco mil funcionários em todo o País, o que faz com que a maioria dos produtos que comercializa no Brasil seja fabri-
cada aqui. Entre os itens mais comercializados estão TVs convencionais, TVs de tela plana, TVs LCD, displays de plasma, DVDs e
home theaters. Em 2006, a subsidiária brasileira da LG Electronics atingiu o faturamento de US$ 1,8 bilhão, representando um
crescimento de 38,4% em relação a 2005. Para 2007, a empresa estima faturar no Brasil US$ 2,5 bilhões.
LG Electronics/ Divulgação
O embaixador Pedro Paulo Assumpção prevê um relacionamento cada vez mais próximo entre Brasil e Coréia
Diplomata de carreira, Pedro Paulo Assumpção foi o serviu em Seul (2000 e 2006), compara a realidade que
último Embaixador Plenipotenciário do Brasil na Coréia viveu com os dias de consolidação econômica de hoje e
do Sul. Ele conta, nesta entrevista, como foi a ascensão prevê um relacionamento cada vez mais próximo entre
econômica ocorrida no país durante o período em que Brasil e Coréia.
Como o senhor compara a Coréia As recentes inspeções nucleares na antes. Ele foi tratado com muita cortesia,
em que o senhor viveu e trabalhou Coréia do Norte também são sinais as negociações foram muito favoráveis e
com a situação do país hoje? de aproximação? aconteceu uma surpresa: os coreanos do
PPA - O grande desafio da Coréia do Sul PPA - Certamente! Os coreanos do norte norte, declararam que estão preparados
está centrado no processo político de paz, concordaram com uma inspeção das ins- para desmontar seu arsenal nuclear. Isso é
rumo ao fim da guerra com a Coréia do talações nucleares de Yongbyon, que fica uma coisa extraordinária, mas é claro que
Norte. Este processo está ora mais, ora a 75 km ao norte da capital Pyongyang, houve pressões econômicas e políticas para
menos complicado. Durante o tempo em e receberam os representantes da agên- que isso acontecesse.
que eu servi na Embaixada Brasileira, o cia de energia nuclear, cuja sede é em
processo vivia um momento bastante di- Viena. Eles inspecionavam regularmente O senhor acredita na reunificação
fícil, mas já entre 2005 e 2006 começou essas instalações até 2003, mas depois das duas Coréias?
a ficar mais fácil por causa da aceleração disso nunca mais puderam voltar. Assim PPA - A situação da Coréia do Norte é
o mundo não tinha idéia do que estava se muito ruim. Além disso, pouco se sabe
passando emYongbyon. Ainda se sabe pou- sobre o país, não há dados, estatísticas, nú-
“ A gradativa pacificação da
península coreana é importante
para os dois lados. Porém, antes
co, e neste meio tempo a Coréia do Norte
andou disparando mísseis sem ogivas
nucleares. Saíam da Coréia, atravessavam
e caíam depois do Japão, colocando este
meros, nada. Não se sabe sequer o PIB do
país. A renda per capita anual presumida
fica entre US$ 300 e US$ 500, enquanto
na Coréia do Sul é de acima de US$ 20
da unificação é preciso pensar em país em risco. Eram somente testes, com mil. Então a diferença é muito grande.
mísseis desarmados. De qualquer forma, O que está acontecendo hoje são passos
algo ainda mais difícil, que é a assistimos um momento importante de concretos mostrando que o ambiente está
reconciliação entre os dois lados” mudanças. Recentemente o principal se desanuviando, mas é um processo muito
P e d ro P au l o A s s u m p ç ã o negociador americano foi convidado a lento, apesar de importantíssimo, já que
visitar aquele país, onde nunca havia estado antes não acontecia absolutamente nada.
”
Coréia é basicamente formada por montes ano esteve no Brasil, a Copa sediada em
mais o outro pontiagudos que impedem ou dificultam Japão e Coréia tinha acabado de acontecer
P e d ro P au l o A s s u m p ç ã o muito a agricultura. A única coisa que eles e o Brasil havia se tornado extraordina-
produzem é o arroz, de forma caríssima, riamente mais conhecido. O futebol tem
Como é o relacionamento entre ao custo de três ou quatro vezes superior uma força de comunicação muito grande
Brasil e Coréia do Sul? ao cultivado na China, mas a produção e o Ronaldinho é um ídolo conhecido por
PPA - O relacionamento político é muito continua porque o arroz é muito impor- qualquer pessoa na Coréia do Sul.
bom. O Brasil é um país que favorece tante na cultura coreana e tem um fundo
tudo o que possa representar uma solução religioso. A agricultura coreana é cada vez Como o senhor avalia as possibilida-
pacífica para qualquer controvérsia. Por menos relevante, já que cerca de 75% da des de incrementar este relaciona-
isso, quando há iniciativas de retomada produção do país é de origem industrial, o mento entre Brasil e Coréia?
de diálogo, o Brasil apóia com grande en- que é mais vantajoso economicamente. PPA - Eu tenho uma avaliação muito po-
tusiasmo, mesmo não tendo interferência sitiva neste sentido. O coreano tem uma
direta neste conflito. O país reconhece A visita de Fernando Henrique ge- capacidade de trabalho incrível, e tem o
que naquela área os principais parceiros rou desdobramentos? objetivo de aumentar as relações com o
nas negociações de paz são as grandes po- PPA - Sim, gerou. Como reciprocidade à Brasil, que é considerado um parceiro
tências que, de certa forma, interferiram visita de Fernando Henrique, o presidente privilegiado na América do Sul. A Coréia
no processo histórico de formação da coreano visitou o Brasil em novembro de do Sul deseja fortemente negociar um
Coréia, da guerra e da sua resolução. Os 2004, e já no mandato seguinte, Lula foi acordo de comércio bilateral com o Brasil.
grandes players desse processo são os seis à Coréia (maio de 2005), estreitando de O embaixador foi bastante claro em seu
países que citei anteriormente. Mesmo forma intensa as relações entre os dois discurso neste Seminário em relação a isso.
assim, a política externa brasileira favo- países. Uma visita presidencial é sempre No momento em que o Brasil quiser, os
rece o nosso diálogo com todas as nações. um elemento catalisador pois, com ele, se- coreanos estão dispostos a negociar.
Diogo Silva, atleta de taekwondo, ganhou a primeira medalha brasileira de ouro no Pan 2007
O primeiro atleta a conquistar uma Brasil, o esporte foi introduzido no Brasil, a Academia Liberdade, em
medalha de ouro para o Brasil no pelo Grão-Mestre Sang Min Cho, São Paulo, e começou a chamar ou-
Pan-Americano deste ano foi Dio- que chegou ao país em julho de tros mestres coreanos para expandir
go Silva, no taekwondo. O esporte 1970, sem falar o idioma português o taekwondo no país. O esporte,
nasceu na Coréia, já há mais de 2 e sem qualquer conhecimento da hoje, está difundido em todos os
mil anos e está difundido em todos cultura brasileira. Nesse mesmo estados brasileiros, reunindo cerca
os continentes, devido a um grande ano ele inaugurou aquela que seria de 100 mil praticantes ativos, sendo
esforço de mestres coreanos. No a primeira escola a ensinar o esporte mais de 3 mil faixas pretas.
A
palavra taekwondo pode ser tra- a paciência e a humildade, além, é claro, de o rei de Koguryo resolveu enviar forças
duzida como “caminho dos pés ser um método bastante eficiente de defesa militares para prestar treinamento a alguns
e mãos através da mente”. “Tae” pessoal. O taekwondo foi introduzido guerreiros da nobreza de Silla e ajudá-los
significa pé, chutar, pular, equilibrar e até como esporte olímpico de exibição nas a livrar a península e eles próprios dos
defender. “Kwon” significa mão, socar, ba- Olimpíadas de Seul, em 1988. Em 1996, ataques inimigos. Esta foi a primeira vez
ter ou defender. “Do” quer dizer caminho, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, já consta- que o taekwondo (naquela época conhe-
maneira ou filosofia de vida. Portanto, o va na disputa de medalhas, consagrando-se cido como taekyon) foi introduzido no
taekwondo é mais do que uma luta ou uma esporte olímpico oficial nas Olimpíadas de reino de Silla, que seria a partir de então,
forma de defesa pessoal, é uma filosofia Sidney, em 2000. seu maior propagador. A nobreza de Silla
que engloba o corpo e a mente. Para o foi convocada para formar um grupo de
povo coreano, a prática do taekwondo im- elite, responsável pela defesa e proteção
plica em um modo de vida, de disciplinas, História da nação.
na adoção de uma moral saudável e de um No século VII, a Coréia estava dividida Eles foram treinados em várias mo-
ideal nobre. Há algo de arte e de respeito em três reinos - Koguryo, Paekche e Silla dalidades, como arco-e-flecha, marcha,
que também envolvem o esporte. – que viviam em conflitos constantes. Silla, espada, bastão, lança, táticas militares e
O taekwondo é um esporte que de- o menor e menos desenvolvido, era cons- taekyon. Seu rei, no entanto, acreditava
senvolve a coordenação motora e a parte tantemente invadido pelos outros e por que ainda lhes faltava uma ideologia, para
física e mental do praticante, trabalha a piratas japoneses, que se aproveitavam de que não fossem nada além de um grupo
memória, ensina disciplina e valores, bem sua fraqueza e incompetência militar para de assassinos bem treinados. Por isso, es-
como noções de hierarquia e respeito. saqueá-los. Ignorando suas diferenças com tudaram história, filosofia, ética e moral
Além disso, desenvolve o espírito de luta, seu vizinho mais próximo, e preocupado budista. Esta foi a base para a formulação
a auto-confiança, a liderança, a seriedade, com a segurança de seu próprio reino, do seu código de honra: fidelidade ao rei;
Platéia cheia para assistir às lutas de taekwondo nos Jogos Pan-americanos deste ano no Rio
Incentivo governamental à
exportação de serviços
Brasil e Coréia têm grande potencial para ampliar relações comerciais.
Edson Lupatini afirma que os médicos brasileiros são certificadores de resultados de análises laboratoriais e de imagem para os Estados Unidos
Antes de assumir o cargo de Secre- o drawback – mecanismo de im- nacional, bem como os navios para
tário de Comércio e Serviços do portação de insumos como peças, exportação e os aviões produzidos
Ministério do Desenvolvimento, componentes e matérias-primas pela Embraer são feitos por meio
Indústria e Comércio Exterior - que entram no país com suspensão do drawback, que movimenta entre
MDIC, Edson Lupatini foi diretor de todos os tributos para que se- US$ 7 e 8 bilhões por ano. Nesta
do Departamento de Operações jam utilizados na produção de bens entrevista, Lupatini fala sobre o
de Comércio Exterior do órgão para posterior exportação. Assim, comércio de serviços entre Brasil e
por cinco anos. Durante sua gestão é possível agregar valor aos itens Coréia e garante que os dois países
foram desenvolvidas as ferramentas produzidos, permitindo que o país têm características complementa-
que automatizaram os processos exporte produtos mais sofisticados. res que podem incrementar seus
de importação e exportação, como Toda a produção automobilística negócios.
Como está atualmente a balança Brasil, com todo o potencial de serviços, da exportação de serviços e demonstram
comercial de serviços entre Brasil com toda a inteligência que tem aqui, não que ainda há concentração. Em seguida,
e Coréia do Sul? pode, de alguma forma, ter algum tipo estão Minas Gerais, Paraná e Rio Grande
EL - A nossa balança comercial de serviços de parceria com a Coréia do Sul nesse do Sul. Os estados que registraram maior
com a Coréia ainda é desequilibrada. O segmento? O universo para esta área de variação de crescimento entre 2005 e 2006
Brasil exportou, em 2006, cerca de US$ serviços é muito grande. também foram os maiores importadores:
3,1 milhões. Mesmo este valor sendo São Paulo (41%) e Rio de Janeiro (40%),
101% superior ao registrado em 2005, de Como é o perfil do potencial da ex- seguidos de Minas Gerais e Paraná. Outro
US$ 1,4 milhão, ainda está muito aquém portação brasileira de serviços? dado importante que a publicação traz é
do volume de importações feitas da Coréia EL - Pela primeira vez o país realizou e vai sobre os serviços exportados. No topo da
que, em 2006, foi de cerca de US$ 19 mi- publicar uma balança comercial focada em lista em 2006 está o turismo, seguido de
lhões. Apesar de não ser um valor muito serviços. Esses números são o resultado de transportes e serviços prestados a empre-
alto, é bem superior ao que exportamos um grande esforço do MDIC, com uma sas.Também entre os serviços importados,
para lá, e também vem registrando cresci- valiosa colaboração do Banco Central do o destaque vai para as áreas de transporte
mento, já que representou um acréscimo Brasil. Essa publicação vai apresentar um e turismo, seguidos pelas intermediações
de 32% aos US$ 14 milhões importados panorama das nossas exportações e impor- financeiras e comércio por atacado (lo-
em 2005. É um intercâmbio comercial tações de serviços e revelar o destino das gística prestada pelos atacadistas, como
muito incipiente e podemos melhorar exportações e a origem das importações. distribuidores).
muito nesta área. Posso adiantar que o Brasil exportou cerca
de US$ 18 bilhões em 2006, valor 21% Como esta publicação pode con-
comércio de bens, aumentamos, conse- gente sabe, mas os médicos brasileiros são se são sociedades anônimas, empresários,
qüentemente, os custos com transporte. certificadores de resultados de análises em que região e em que estados estão
Essa questão vale ser destacada, mas não laboratoriais e de resultados de imagem instaladas etc.
chega a ser uma grande preocupação. para os Estados Unidos. A reboque desses
projetos vem a exportação de insumos, O senhor já tem um raio X das em-
O que o Brasil pode fazer para in- cimento, máquinas, equipamentos, cami- presas coreanas no Brasil?
crementar a balança comercial com nhões, veículos de todo tipo, turbinas e EL - A maior concentração fica em São
a Coréia do Sul? motores, por exemplo. Paulo e a atividade mais expressiva é re-
EL - Existe um enorme potencial na área paro de veículos, provavelmente por causa
de construção civil. Os projetos de enge- Como é possível aumentar o impac- da grande frota de veículos coreanos que
nharia vêm acontecendo com muito suces- to dos serviços no Brasil? importamos. Há também muitas empresas
so na América do Sul, e é um ótimo nicho EL - A importância dos serviços nos países de abate de aves, aluguel de vídeos, de
para se investir. Na verdade, o segmento desenvolvidos é de 85 % do PIB. No Brasil máquinas e equipamentos, agências de
de serviços tem uma característica muito fica em torno de 58% e, por isso, ainda publicidade, agências de viagem, gestão
interessante. Um projeto de engenharia ou há muito espaço para crescer. O PIB de empresarial, atividades topográficas, arti-
de construção naval arrasta outros tipos de serviços na Coréia representou 52% em gos de vestuários etc. Esta é a radiografia
serviço, como softwares altamente comple- 2006 do total das riquezas produzidas no das empresas sul-coreanas no Brasil hoje.
xos para fazer os cálculos estruturais da- país, por isso eu acredito que há um grande
quelas obras – barragens, metrôs ou uma
embarcação. São programas desenvolvidos
especificamente para este fim. Quando se
usa este software desenvolvido aqui, isso é
potencial na parceria entre os dois países.
A Secretaria de Comércio e Serviços
do MDIC reúne informações de juntas
comerciais de todo o Brasil. O cadastro
“ A importância dos serviços nos
países desenvolvidos é de 85 % do
PIB. No Brasil fica em torno de
considerado exportação de serviço. Há nacional de empresas mostra que temos 16 58% e, por isso, ainda há muito
”
exportação também de serviços de admi- milhões de organizações, entre brasileiras
nistração, de contabilidade, bancários e e estrangeiras, estabelecidas no Brasil.
espaço para crescer
médicos, já que somos referência mundial Por esses registros podemos identificar E d s o n L u pat i n i
em termos de serviços médicos. Pouca as empresas coreanas instaladas no país,
“
to. Segundo ele, esses movimentos A ONU tem um sul-coreano como Acredito ser urgente que
podem frustrar as pretensões do secretário-geral da instituição – Ban
País. Palestrante do Painel III do Ki Moon. O que representa essa es- se discuta a melhor forma de
Seminário Bilateral de Comércio colha para o mundo hoje? condução das reformas na ONU,
HMJ - É um homem preparado. Na sobretudo no sentido de ampliar e
Exterior e Investimentos Brasil- verdade, já estava mais do que na hora
Coréia do Sul, ele falou à Revista de a ONU ter como secretário-geral um distribuir regionalmente as vagas
da FCCE sobre as perspectivas do representante do leste da Ásia. E a escolha de países-membros no Conselho
Direito Internacional para o futuro de um sul-coreano estava prevista. Isso de Segurança. Isso ajudaria a dar
”
porque já é uma tradição que a escolha
próximo, num ambiente de incer- do secretário-geral da instituição seja feita
mais credibilidade àinstituição
tezas geopolíticas. por representantes de países considerados He Moon Jo
discretos, do ponto de vista da geopolítica tem que ser feito de forma discreta, sem sobretudo em relação às políticas
mundial. A sua escolha, portanto, repre- muito barulho. controversas dos Estados Unidos
senta a importância de se colocar com na sua guerra declarada contra o
força o tema do multilateralismo, bastante Como o senhor observa a atual di- terrorismo internacional?
enfraquecido nos dias de hoje. Além dis- plomacia brasileira, que busca dar HMJ - O Direito internacional passa,
so, Ban Ki Moon é, sem dúvida, bastante maior ênfase às relações sul-sul, e atualmente, por uma fase de transição.
preparado para esse cargo. Ele tem grande não focar apenas nas relações com Acredito que estamos passando da fase do
experiência profissional como funcionário os países do hemisfério norte? unilateralismo para o período do multila-
público. Por isso, eu acredito que ele terá HMJ - Houve, sem dúvida, uma mudança teralismo. O unilateralismo norte-ameri-
sucesso na condução de reformas do sis- radical da política externa do governo Lula cano está chegando a um nível de desgaste
tema ONU. em relação à gestão anterior. O que vemos tão grande que não haverá alternativa que
é uma tentativa de reedição dos conceitos não buscar a cooperação. Isso vale mesmo
E como o senhor observa a refor- e idéias terceiro mundistas. Isso fica evi- na luta contra o terrorismo. Além disso,
mulação política e organizacional dente quando o País busca se aproximar já não é mais novidade que as funções do
da ONU, sobretudo no Conselho de da China, Índia, África do Sul, Oriente Estado passam por mudanças significativas
Segurança? Médio e unir forças contra os países nos dias de hoje, sobretudo pela influência
HMJ - É uma tarefa bastante difícil. O industrializados em suas demandas. Essa do fluxo do mercado global. Por isso, acre-
Direito Internacional moderno nasceu a estratégia, no entanto, pode ter um efeito dito que está se desenvolvendo a visão de
partir do Tratado de Paz de Westphalia, desgastante para o Brasil. É preciso que o elevar o cidadão de cada Estado ao patamar
em 1648 (o tratado que pôs fim à Guerra governo brasileiro busque uma sinergia de cidadão internacional, que ficará sob
dos Trinta Anos – 1618 a 1648, entre ca- ao invés de uma posição de confronto jurisdição de uma Justiça internacional.
tólicos e protestantes na região da Europa permanente. É claro que essa política tem Isso, para mim, se configura como um
Central) que criou também a idéia de dado resultados positivos, mas se o Brasil dado positivo para o desenvolvimento do
Estado soberano, que tem como finalidade continuar com essa postura de conflito Direito Internacional.
a segurança internacional, por meio do Norte-Sul, pode ser que essa diplomacia
conceito chamado “balança de poder”. “quebre”. Por outro lado, é interessante Em seu livro “Introdução ao Direito
Esse conceito perdurou até o término da notar que, na região do Mercosul, a di- Internacional Público”, o senhor
1ª Guerra Mundial, com a criação da Liga plomacia brasileira cede além do que é ressalta que os países em desenvol-
das Nações, em 1919, e, depois, com a necessário, e quando vai dialogar com os vimento devem atuar de forma mais
ONU. Contudo, se nós formos verificar países industrializados mostra-se bastante ativa para influenciar a formação
a formação do Conselho de Segurança da intransigente em diversos assuntos. É das normas internacionais. Contu-
ONU, observamos que a correlação de preciso que se compreenda que, no mundo do, como pode ser possível, em um
poder dos países membros permanentes de hoje, a flexibilização e o equilíbrio nas mundo cada vez mais dividido e
é bastante semelhante àquele conceito negociações são extremamente positivos desigual socioeconomicamente?
antigo de “balança de poder”. Por isso, para se alcançar objetivos. HMJ - As normas internacionais vigentes
acredito que seja urgente que se discuta a foram formuladas pelos países ocidentais
melhor forma de condução das reformas industrializados. Nos dias de hoje, é visível
“
na ONU, sobretudo no sentido de ampliar o aumento do peso de países como China,
e distribuir regionalmente as vagas de paí- É preciso que se Índia e Brasil na esfera internacional. No
ses-membros no Conselho de Segurança. compreenda que, no mundo entanto, para que esses países consigam
Isso ajudaria a dar maior credibilidade à de hoje, a flexibilização ter maior influência na formação de no-
instituição. vas normas internacionais, é preciso que
e o equilíbrio nas se desenvolva não somente o conceito
E o senhor apóia a pretensão do negociações são de diplomacia econômica e política, mas
Brasil em se tornar um dos membros extremamente positivos também a idéia de diplomacia jurídica. E
”
permanentes do Conselho? isso tem que ser feito em conjunto entre
HMJ - Eu apóio essa reivindicação. É um
para se alcançar objetivos diplomatas de carreira, mas também na
sonho antigo da diplomacia brasileira. He Moon Jo Academia, nas organizações não-gover-
Eu entendo que, para a consolidação da namentais e em associações empresariais.
segurança internacional, seja necessária a Só dessa forma poderemos modificar as
inclusão de mais alguns países, e o Brasil normas internacionais atuais e trazer be-
tem peso para isso. Contudo, do ponto Como o senhor avalia a situação nefícios socioeconômicos de forma mais
de vista da diplomacia internacional, isso do Direito internacional hoje, distribuída.
H
á algum tempo o governo co-
Rodolfo Clix
reano vem negociando com o
brasileiro a instalação, no Brasil,
de um Centro de Tecnologia de Comuni-
cação e Informação. As negociações são
longas e o local a ser implantado ainda
não foi definido, mas o Rio de Janeiro é
uma das possibilidades. “O Rio tem muitas
virtudes. Entre as mais importantes, apon-
to a logística, já que é um grande centro
distribuidor de mercadorias, e o fato de
ter uma população bastante instruída,
considerando todos os institutos instalados
no estado”, destaca.
Rubarth acredita que o potencial de
parcerias entre a Coréia e o Brasil, par-
ticularmente o Rio de Janeiro, é muito
grande. Apesar de o Brasil ter optado pela
TV digital japonesa, que difere da coreana,
a Coréia tem exportado muitos compo-
nentes para televisão, por meio da Zona
Franca de Manaus. “Porém, essa é uma
corrente de comércio já estabelecida. O
mais importante a se fazer neste Seminário
é pensar na renovação da pauta de comér-
“
cio exterior, modernizando, atualizando e
dinamizando essa relação, de modo que os O noroeste do Estado do Rio de Janeiro é um tradicional produtor de
dois países possam aproveitar ao máximo cana-de-açúcar, nós temos possibilidades fortes de trabalhar este
segmento produtivo no sentido de fornecer aos coreanos tanto o etanol
“ O Rio tem muitas virtudes.
Entre as mais importantes,
aponto a logística, já que é um
como os biocombustíveis provenientes de outras origens
E r n e s to R u b a rt h ”
com a Coréia. “Os coreanos precisam lhar este segmento produtivo no sentido
grande centro distribuidor de
muito de energia, já que eles não têm de fornecer aos coreanos tanto o etanol
mercadorias, e o fato de ter uma fontes próprias. Hoje, dependem muito como os biocombustíveis provenientes de
população bastante instruída, do petróleo, cujos grandes fornecedores outras origens”, garante. Para facilitar essas
considerando todos os institutos estão no Oriente Médio. Sabe-se, porém, negociações, o governador Sérgio Cabral
”
que essas fontes são problemáticas, não só Filho está programando uma visita oficial
instalados no estado por representarem custos elevados e serem à Ásia, liderando uma delegação empre-
E r n e s to R u b a rt h esgotáveis, mas também por poluírem o sarial. “Como o governador não pode se
meio ambiente”, explica o Subsecretário. ausentar por muito tempo, provavelmente
as oportunidades existentes”, defende. Hoje há um movimento mundial no sen- a viagem ficará restrita a um máximo de
No Porto de Açu, por exemplo, o tido de tornar a energia mais limpa, por três países. Ainda estamos organizando
objetivo primeiro do empreendimento é causa da ameaça do aquecimento global, as agendas, mas a Coréia tem grandes
escoar o minério de ferro extraído em Mi- e a Coréia do Sul não está fora deste pro- chances de ser uma das nações visitadas”,
nas Gerais, que já é um produto tradicional cesso. Portanto, segundo ele, o Brasil tem adianta Rubarth.
na pauta de exportações do Brasil para a grandes possibilidades de fornecer esta O Subsecretário de Assuntos Interna-
Coréia. Ernesto Rubarth sugere que o por- energia para a Coréia, já que detém uma cionais do Estado do Rio de Janeiro acredi-
to seja uma via natural de escoamento de tecnologia avançada na área. ta que o Seminário Bilateral Brasil-Coréia,
outros produtos, como o etanol e outros “O noroeste do Estado do Rio é um organizado pela FCCE, poderá impulsio-
biocombustíveis, aumentando o volume de tradicional produtor de cana-de-açúcar, nar a relação com a Coréia, enriquecendo
exportações e diversificando o comércio nós temos possibilidades fortes de traba- e valorizando esta visita.
Intercâmbio comercial e
financeiro entre Brasil e Coréia
Kotra possui escritório em São Paulo há um ano e meio
negócios. Confira trechos da entrevista: importante no que diz respeito a prestar
consultoria nesse campo.
Há quanto tempo existe o escritório
da Kotra no Brasil e quais são as suas E no sentido contrário? É possível
atribuições? destacar algum setor do empresaria-
DHP - A Kotra está no Brasil, com escri- do brasileiro que mais busca atuar
tório na cidade de São Paulo, há um ano e na Coréia do Sul ?
meio. É uma agência que tem como obje- DHP - Infelizmente ainda são poucas as
tivo promover o intercâmbio de negócios empresas brasileiras que demonstram
e investimentos entre os dois países. É interesse em investir na Coréia, mas
por meio da Kotra que muitas empresas acredito que isso possa mudar em breve.
coreanas que desejam realizar negócios no Essa mudança pode ser vista com a visita
Brasil se interam a respeito da legislação de representantes da Vale e do Banco do
brasileira, da situação econômica do País, Brasil à Coréia realizada no primeiro
das potencialidades do mercado, e muitos semestre deste ano. Ambas manifestaram
outros dados importantes. Esse trabalho forte interesse em abrir escritórios por lá.
também é realizado para as empresas brasi- A nossa expectativa é que, a partir desses
Park lamenta que sejam poucas as empresas
brasileiras interessadas em investir na Coréia leiras que estejam interessadas em investir movimentos, outras empresas de grande
N
e instalar seus negócios na Coréia. porte possam mostrar mais interesse em
o corrente processo de globali- investir na Coréia.
zação, entender os mecanismos Muitas das grandes empresas sul-
das economias de vários países é coreanas estão instaladas hoje no E como o senhor vê o futuro das
peça-chave para que determinado Estado Brasil. Quais são as vantagens e relações comerciais entre Brasil e
consiga usufruir, ao máximo, as vanta- as desvantagens observadas pelo Coréia?
gens oferecidas dentro desse sistema de empresariado sul-coreano em sua DHP - O futuro das nossas relações se de-
unificação comercial e financeira. Estar atuação em nosso país? senha bastante promissor. No entanto, vejo
informado sobre os mercados é também DHP - Cerca de 40 empresas coreanas que a assinatura de um tratado bilateral de
útil para que se evitem sérios prejuízos têm, atualmente, negócios no Brasil. E o livre comércio entre Brasil e Coréia po-
às empresas que decidam navegar mundo volume de investimentos vem crescendo deria aumentar, de forma exponencial, o
afora, em busca de oportunidades de ne- nos últimos anos. Dentro desse quadro, é nosso fluxo de comércio. Os nossos países
gócios. Dong-Hyung Park é diretor geral possível afirmar que as grandes empresas não apresentam economias concorrentes,
da Korea Trade-Investment Promotion da Coréia apostam muito no Brasil, não so- ao contrário do que acontece entre Brasil e
Agency – Kotra no Brasil. Com escritório mente porque elas vêem a potencialidade China, uma vez que brasileiros e chineses
em São Paulo, Park diz, em entrevista à do mercado interno para seus produtos, competem em várias instâncias comerciais
Revista da FCCE, que a agência atua como mas também porque o Brasil é regional- (setor de têxteis, calçados, brinquedos).
intermediária das empresas coreanas que mente importante e serve, inclusive, como Brasil e Coréia são, sim, economias que
se interessam em investir no Brasil, mas base de exportação para outros países do se complementam. Na América Latina, já
pouco conhecem a realidade do País. Da entorno. Sem dúvida, esses são dados temos um acordo desse tipo com o Chile,
mesma forma, a Kotra também pode atuar vantajosos. Em relação às desvantagens, no qual conseguimos mais do que dobrar
como consultora para empresas brasileiras a principal delas é a dificuldade que as o fluxo de comércio com esse país. Mais
que decidam investir na Coréia, levan- empresas coreanas têm para entender recentemente assinamos um acordo se-
tando todas as informações pertinentes a legislação brasileira. Perde-se tempo melhante com os Estados Unidos. Vamos
sobre o país asiático para que o empresário para examinar uma papelada bastante ex- torcer para que, em breve, consigamos
conheça melhor o ambiente para os seus tensa. Por isso, o papel da Kotra é muito esse mesmo tipo de relação com o Brasil.
DA SECRETARIA DE C O M É R C I O E X T E R I O R D O M D I C
A caminho da paz
Diante de negociações
envolvendo outros países
para pôr um fim no atual
regime de armistício,
os líderes norte e sul-
coreanos assinaram uma
declaração com medidas
para impulsionar a paz,
depois de estarem em
conflito desde 1953. Há um
comprometimento de ambas
as partes pela busca de uma
solução pacífica, respeitando
seus respectivos sistemas
políticos e cooperando
financeiramente. O anúncio
foi feito no início de outubro.
Plano de negócios da
Petrobras
A Petrobras divulgou
em julho um plano de
negócios com previsão de
investimentos da ordem
de US$ 112,4 bilhões
até 2012, 28,6% a mais
do que a previsão feita
até 2011. O objetivo é
se tornar uma das cinco Previsão da Petrobras é de investimentos da ordem de US$112,4bilhões até 2012.
Conselho Superior
MembrosVitalícios