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Vídeo
Objetivo: Aprender os conhecimentos básicos para montar um vídeo. Elaborar um roteiro, filmar. Captar imagens no
computador, montagem e edição de vídeo.
Teatro
Objetivo: Aprender como montar uma peça de teatro através de um tema específico.
Elaborar um Blog
Objetivo: Montar um blog com conteúdo escolhido pelo grupo, dialogando com as temáticas da Caravana.
Rádio Comunitária
Objetivo: Mostrar como funciona uma rádio comunitária, dando notícias sobre os acontecimentos no caminho e no FSM.
Informações sobre dados e contatos de facilitadores das Oficinas no site oficial da Caravana:
www.caravanadecomunicacao.org.br
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“
É necessária uma aldeia inteira
para cuidar de uma criança”
Provérbio africano
Por Sandro Silva de Lima
Com a intenção, dentre outras, de promover uma maior mobilização social, jovens de muitos
estados do Nordeste do Brasil, com o apoio de diversos segmentos da sociedade civil,
organizaram a Caravana de Comunicação e Juventudes.
Sensibilizando as pessoas através de oficinas e práticas artísticas, que debatiam diversos
pontos importantes para a juventude e a sociedade, os/as jovens da Caravana contribuíram para
mobilizar as pessoas, ajudando-as a refletirem sobre seus problemas, a não vê-los como algo
natural, mas como algo possível de modificação.
As juventudes mostraram a força dos/das jovens que muitos acusam estar ausentes do debate
acerca dos problemas sociais de nosso mundo. Parece que não é bem assim. Aqui e ali,
encontramos diversos e diversas jovens, das áreas rurais e urbanas, trabalhando, debatendo,
fazendo intervenções sociais e políticas, mobilizando outros e outras jovens para a missão de
pensar e construir coletivamente suas bandeiras de luta.
Outro ponto forte e inovador desta ação foi a participação ativa das juventudes na construção e
execução dessas intervenções. No exercício da criatividade e da construção coletiva, os/as jovens
foram capazes de organizar mobilizações, deixando nas ações realizadas sua marca de alegria e
de responsabilidade por onde passaram.
A mobilização social vivida na Caravana revelou outro elemento importante: a mudança, a
transformação da percepção e das práticas juvenis. Durante e depois da Caravana, as pessoas, os
ambientes, o mundo não era mais o mesmo para muitos desses jovens que foram transformados
por esta ação. Acreditamos que essa transformação foi resultado das experiências educativas
vivenciadas coletivamente pelos jovens e pelas jovens, presentes nos sorrisos compartilhados,
nos olhares, nos desejos suscitados, no sentir as pessoas e os lugares, no brincar.
Os processos mobilizadores da Caravana tiveram um ponto alto: o Fórum Social Mundial/2009.
Esse evento constituiu-se como espaço onde as juventudes mostraram sua alegria e indignação.
O Fórum Social Mundial/2009 representou este lugar de encontro, de fortalecimento, de apoio as
nossas pautas de luta, aumentando nossa capacidade de ter esperança. Foi também um
verdadeiro espaço enriquecedor de formação mútua, promotor de mudanças no coração e na
mente daqueles que participaram da Caravana de Comunicação e Juventudes.
Da mesma forma, buscaremos dialogar com Deleuse, Guatarri e Sodré, autores que nos ajudarão a entender
a relação entre o individual e o comum, entre a singularidade e a pluralidade nas relações sociais e nas ações
coletivas criadas e estabelecidas na e pela Caravana.
Igualmente importante será a teoria dialógica de Paulo Freire, com a qual buscaremos refletir sobre o fazer
pedagógico, político e cultural, assumido pelos/pelas jovens, no processo de tematização das questões juvenis e
comunitárias.
A visão biológica do chileno Humberto Maturana iluminará a reflexão e o entendimento sobre o significado e o
aprendizado da convivência na diversidade, questão sempre trazida à tona pelos/pelas jovens em suas vivências.
O texto está divido em três partes: na primeira, fazemos alusão breve ao público que participou da Caravana;
na segunda, parte central desta reflexão, abordamos as representações sociais que os/as jovens fazem de sua
experiência e de suas práticas nos percursos vividos na Caravana; na terceira, concluímos o texto, apresentando
algumas considerações a reflexão desenvolvida neste trabalho.
1. Os/as jovens de que estamos falamos pertencem ou estão ligados e ligadas a Movimentos de Juventudes – Grupo Jovem Geração
Futuro, Grupo de Jovens Fala Sério (Ceará), Rede de Jovens do Nordeste - RJNE, Pastoral de Juventude do Meio Popular, Rede de
Resistência Solidária, Centro Popular de Cultura e Comunicação (Fortaleza-CE), Coletivo Gambiarra Imagens, IntegraSol, Projeto
Crescendo no Morro, Projeto Peixearte, Grupo Pé no Chão, Caranguejo Uca; a Entidades Ambientalistas e pela reforma agrária –
Movimento dos Sem Terra – MST; a Organizações Não-Governamentais, Centros de Defesa dos Direitos Humanos e entidades de
defesa do direito à comunicação – Escola de Formação Quilombo dos Palmares - EQUIP, Grupo de Apoio às Comunidades Carentes -
GACC, Obra Kolping do Nordeste (Ceará e Piauí), Visão Mundial (Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte), Centro de Comunicação da
Juventude - CCJ, Diaconia (Ceará e Pernambuco), Volens, MSD/ASD; a Entidades ligadas ao mundo do trabalho – Sindicato dos
Trabalhadores Rurais (STR), Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA; a Redes Sociais – Rede de Jovens do Nordeste, Rede de
Resistência Solidária; a Organizações de Mulheres e organizações pela livre orientação sexual – Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais do Nordeste - MMTR-NE; a Organismos governamentais ligados aos setores populares – Programa
Conexões de Saberes (projeto de extensão comunitária da UFPE);
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Para muitos/muitas jovens da Caravana, a experiência de sair de casa, do seu bairro, da sua comunidade, foi
uma experiência de “êxodo”, de desterritorialização e de reterritorialização. Essa experiência, para os/as jovens,
representou o aprendizado da convivência, do viver coletivo, do con-viver com o diferente.
Duas dimensões nos chamam a atenção nessa experiência de “êxodo”, que, no contexto da Caravana,
assumiu um caráter educativo: a da desterritorialização/reterritorialização, e a da convivência.
A saída de casa, do bairro e da comunidade de origem, na verdade, não representou só um passeio por outros
mundos rurais e urbanos. Representou uma dupla
experiência, mesmo que temporária, de desterritorialização e
de reterritorialização. Na primeira (desterritorialização), os/as
jovens vivenciaram a saída de seus ambientes, onde
construíram, afirmaram relações sociais e deram significação
às suas identidades; onde suspenderam sua segurança
(psicológica) e se abriram para construir e afirmar outras
relações sociais, afetivas e político-culturais, de certa forma
buscando construir outros territórios para si (no sentido cultural
e psicológico). Guatarri e Deleuse (1991, p. 66), fazendo
referência a processos como estes, ressaltam:
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Foi muito interessante observar os/as jovens entre os/as jovens. A fala deste caravaneiro
buscando um “chão” interno e externo (um território) explicita muito bem o tipo de relação vivida na
para pisar, construir segurança na sua inserção
sociopolítica e cultural em outros territórios, processo
que não se deu sem conflitos e contradições, embora Não tem uma participação individual.
profundamente educativo. Nessa aventura, é que os/as Toda participação aqui tá sendo
jovens vivenciaram a produção de si na relação com os coletiva; a gente tá construindo esse
outros e com as comunidades.
coletivismo, e o que tá dando força à
Vimos também que a produção (social, política,
cultural, psicológica, etc.) de si, do outro e das Caravana é essa diversidade no
comunidades nas relações estabelecidas, remeteu coletivo (...) (RAMON).
os/as jovens à experiência da reterritorialização. Isto é,
o processo inverso, de construir-se individual e Vi m o s t a m b é m q u e o p r o c e s s o d e
coletivamente na relação com as outras pessoas, com reterritorialização implica um “compartilhar o
os outros territórios; de estabelecer novas relações, mesmo espaço com outras pessoas tão diferentes
afirmar novas identidades, enfim, incorporar novos no modo de agir, mas que têm o objetivo em comum”
aprendizados – individuais e coletivos. O depoimento (NETO - Baturité – Ceará). Isto é, os/as jovens
desta caravaneira é muito significativo nesse sentido: vivenciaram a experiência de inserir-se e assumir
outros territórios, estabelecendo diálogos e
construindo propostas com os outros jovens e com
O fato de estarmos juntos, jovens de as comunidades, fazendo pontes entre seus
"nordestes" distintos do Brasil; essa saberes e os saberes locais, dando significado e
troca de saberes, essa mistura de sentido coletivo ao fazer sociopolítico e cultural
culturas, de sotaques; esse cuidar um na/da Caravana.
do outro, o exercício da tolerância, o A outra dimensão vivenciada pelos/pelas jovens
na sua experiência de “êxodo” foi a da convivência.
exercício do amor, esses para mim Muitos/muitas jovens falaram, poetizaram e
foram os melhores aprendizados experimentaram o aprendizado da convivência,
(AURILENE). oportunizado pelos espaços e relações educativas
estabelecidas pela e na Caravana. É como fala o
O processo da reterritorialização implicou a jovem abaixo:
(re)construção, (re)significação ou (re)afirmação dos
próprios referenciais, numa relação dialógica, na
perspectiva freireana: (...) A Caravana está me dando a
oportunidade de estar dentro dos
O diálogo é o encontro entre [seres movimentos; estou começando
humanos], mediatizados pelo mundo, agora dentro dos movimentos, e é
para designá-lo. [...] o diálogo é o muito importante... ela está me
encontro no qual a reflexão e a ação, dando a oportunidade de interagir
inseparáveis daqueles que dialogam, com as outras pessoas, com outras
orientam-se para o mundo que é comunidades e está realmente me
preciso transformar e humanizar, este permitindo conhecer os meus
diálogo não pode reduzir-se a direitos e deveres(...) A Caravana
depositar idéias em outro
(FREIRE, 1980, p.83).
está me dando a oportunidade de
aprender coisas novas e de passar
o que eu sei. Então, está tendo essa
A reterritorialização vivida pelos/pelas jovens não troca de experiência(...)
se deu sem conflitos. Ela foi se constituindo na
(EDGLEISON).
pluralidade, diversidade, num grau de abertura à
realidade, numa perspectiva de interação muito forte
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Este outro jovem fala que o aprendizado da convivência não foi um processo simples e, portanto, sem
conflitos e dificuldades. Ele diz o seguinte:
Esta singularização e pluralidade, portanto, revelam a constituição de um sujeito social (coletivo) que se abre
para a inserção sociopolítica e cultural, como bem expressa a fala deste jovem caravaneiro:
Foi essa a sensação... sinto-me agora mais fortalecido e experiente, para mostrar à
sociedade aquilo que ela não quer ver (Willian).
Esta visão comunga com a visão acerca do
individual e do comum, expressa por Sodré (1999, p.
141), quando afirma:
Foi no movimento dessa tecitura, onde os jovens afirmavam sua singularização e a pluralidade, que sua
experiência de inserção sociopolítica e cultural foi construída; foi nesse movimento que construíram significados e
sentidos para o seu fazer na Caravana, produzindo novas relações sociais e interferindo na sociedade.
Na “caravana” que fizemos pelos percursos juvenis dos caravaneiros e caravaneiras, também observamos as
práticas, suas representações, sentidos e significados.
As práticas sociopolíticas e culturais desenvolvidas na Caravana podem ser organizadas ou enunciadas em
torno dos seguintes blocos: práticas diagnósticas; práticas comunicativas e informacionais; práticas de
mobilização; práticas de intervenção e proposição. Observando essas práticas na Caravana, podemos definir
cada uma delas.
Práticas diagnósticas: inserção no contexto comunitário local, observação direta e levantamento das
realidades socioeconômicas, políticas e culturais das comunidades;
Práticas de mobilização: processos e atividades que visam ocupar a rua, a praça, os espaços , convocar
vontades, colocar em movimento as pessoas, suas potencialidades e desejos em função de um propósito
comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados;
Práticas comunicativas e informacionais: uso das diferentes mídias e linguagens de comunicação – grafite,
rádio, vídeos, internet, etc. – para comunicar um tema, problema, mobilizar pessoas, fazer formação
política;
Práticas de intervenção e proposição: processos e atividades voltados para debater ou colocar em
discussão um tema, uma questão, um problema e, a partir da participação coletiva, construir soluções e
proposições. As intervenções podem ser feitas na rua, na praça, numa sala, enfim, em qualquer lugar. O
uso da arte, cultura e das mídias e linguagens variadas foi central nessas práticas.
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Nas atividades sociopolíticas e culturais da Caravana, essas práticas foram vivenciadas de forma integrada
(a divisão aqui é didática) pelos/pelas jovens e desenvolvidas através de diferentes formas: visitas, oficinas, rodas
de conversa, cordéis, poesias, teatro, seminários, músicas, dentre outras formas. Todas buscaram garantir a
dimensão educativa, mobilizando a participação ativa e comprometida dos sujeitos e comunidades.
De fato, no contexto da
Caravana, as práticas sociopolíticas A Caravana foi um processo múltiplo de
e culturais assumiram uma conhecimentos, foi um processo de muitas atuações
diversidade de conteúdos, sentidos formadoras e atuações políticas de mudanças para um
e abordagens, numa dimensão outro mundo. (...) A troca de informações e
criativa do saber, como bem explicita
experiências com outras pessoas. (Vanessa)
essa jovem:
Se aa proposta
Se proposta era
era fazer
fazer intervenções
intervenções em em
comunidades para
comunidades para tematizar
tematizar aa possibilidade
possibilidade dede um
um
outro mundo,
outro mundo, de
de ajudá-las
ajudá-las aa entrar
entrar em
em contato
contato com
com
as pautas
as pautas que
que não
não chegam
chegam atéaté elas,
elas, também
também éé
importante notar
importante notar oo quanto
quanto asas intervenções
intervenções
ocorreram dentro
ocorreram dentro de
de nós.
nós. (SANDRO
(SANDRO APRENDIZ)
APRENDIZ)
O que inferimos, a partir dessas falas, é que, as práticas político-pedagógicas e socioculturais, para os/as
jovens, são vistas como auto-formadoras e portadoras de mudanças subjetivas, antes mesmo de atingirem seus
objetivos maiores. O próprio ato sociopolítico-pedagógico-cultural pensado para outros sujeitos, em si, já é auto-
formador e produtor de mudanças dos sujeitos que o constroem; o tema, a questão, o problema que originou o ato
político-pedagógico-cultural, já carrega, nesse fazer, a auto-formação dos sujeitos, já produz, nesses sujeitos,
relações subjetivas e objetivas que criam, recriam e potencializam o mundo dos envolvidos e das envolvidas
nesse ato. O pensamento de Freire (2002, p. 51) reforça essa compreensão:
A partir das relações do ser humano com a realidade, resultantes de estar com ela
e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu
mundo. [...] vai acrescentando e ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai
temporalizando os espaços geográficos. Faz cultura. E ainda o jogo destas relações
do ser humano com o mundo e deste com os outros seres humanos, desafiando e
respondendo ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser
em termos de relativa preponderância, nem das sociedades nem das culturas. E, na
medida em que cria, recria e decide, vão se confirmando as épocas históricas. É
também criando, recriando e decidindo que o ser humano deve participar destas
épocas.
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Mas, não estamos falando de qualquer ato político-pedagógico e sociocultural. Estamos falando de um ato
político-pedagógico e sociocultural que articula duas dimensões: a linguagem artística e o discurso político, como
assinala um dos caravaneiros:
(...) Podemos batucar os nossos gritos de revolta contra a opressão que quer nos impedir de
sermos gente de direitos. Nós encenamos, nos colocando no lugar do outro, e, fazendo isso,
mostramos que é possível a transformação das pessoas para se indignarem contra situações de
violência. (...) No final de tudo, o importante mesmo, não é exibir uma solução, mas provocar um
bom debate. Até porque, cada realidade, pede soluções diferentes (...).
O destaque que eu faria é o destaque cultural, onde a gente conseguiu pegar toda a
problemática que a juventude está passando, que as comunidades estão passando,
e transformar isso em cultura, em arte, e expressar isso de uma forma bastante
diferente. Acho que essa passagem da gente pelas diversas cidades, também traz
conosco um pouco da memória desse povo (...).
Refletindo e analisando o que diz esse jovem, e considerando as diferentes e multifacetadas formas de
trabalhar os temas, as questões sociais, os problemas das comunidades na Caravana, podemos afirmar que a
experiência cultural e político-pedagógica vivida pelos/pelas jovens foi muito profunda e contribuiu para
potencializar o poder criador que os/as jovens possuem no diálogo consigo mesmos/as e com a realidade social.
Ao mesmo tempo em que mergulharam artístico-culturalmente na realidade dos outros jovens e das
comunidades, vivenciaram-se como sujeitos políticos, capazes de modificar a realidade. Esse fato nos lembra o
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que Freire fala sobre o processo de mudança, de transcendência que acontece com o ser humano quando se
assume como ser capaz de transformar-se e de transformar a situação histórica em que vive. Ele afirma:
Na medida em que [o ser humano] faz essa emersão no tempo, libertando-se de sua
unidimensionalidade (uma só dimensão), discernindo-a, suas relações com o
mundo se impregnam com o sentido conseqüente. Na verdade, já é quase um lugar-
comum afirmar-se que a posição normal do ser humano no mundo, visto como não
está apenas nele, mas com ele, não se esgota em mera passividade. Não se
reduzindo tão-somente a uma das dimensões de que participa - a natural e a
cultural - da primeira, pelo seu aspecto natural, da segunda, pelo seu poder criador,
o ser humano pode ser eminentemente interferidor (grifo nosso)... Herdando a
experiência adquirida, criando e recriando, integrando-se às condições de seu
contexto, respondendo a seus desafios, objetivando-se a si próprio, discernindo,
transcendendo, lança-se o ser humano num domínio que lhe é exclusivo - o da
História e o da Cultura (FREIRE, 2002, p. 49).
Com Freire (2002), podemos dizer que o ser humano integrado é um ser humano sujeito. Essa integração,
tomada como capacidade de se inserir e interferir na realidade na perspectiva de sua transformação, foi bastante
vivenciada na Caravana e revela o diferencial das práticas político-pedagógicos e socioculturais pensadas e
desenvolvidas pelos jovens e pelas jovens. Observamos que foi pela integração, isto é, pela inserção e
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intervenção crítica e criativa na realidade, que os/as jovens se apropriaram dos temas fundamentais no
contexto da Caravana, reconhecendo suas tarefas concretas, as daquele momento e as do futuro. Os
depoimentos destes caravaneiros são indicadores dessa constatação:
Essa experiência de intervenção no espaço público foi muito importante e expressiva durante toda a
Caravana. Ela destaca que os processos educativos desenvolvidos pelos/pelas jovens se preocuparam e
trabalharam o enfoque e a perspectiva da cidadania ativa, aquela que busca formar cidadãos/cidadãs
autônomos/autônomas e críticos/críticas, capazes de assumir o exercício do controle social na esfera pública,
tornando-se atores sociopolíticos na sociedade.
Vimos serem explicitadas e vivenciadas uma visão e uma prática de educação popular, edificada numa
"pedagogia do público, da decisão, da construção de um sentido comum" (PONTUAL, 2005, p. 11). Uma
educação que promove a apropriação crítica dos temas emergentes da cidadania, principalmente daqueles
temas relacionados com a justiça de gênero, as relações interculturais e intergeracionais, empoderamento e
governo das cidades e das regiões (PONTUAL, 2005). Trata-se, então, de uma pedagogia da gestão
democrática, capaz de contribuir para a construção de novas formas de exercício do poder no terreno da
Sociedade Civil e por parte do Estado.
- O processo político-pedagógico e
metodológico precisa considerar o
caráter multifacetário da intervenção
sociopolítica e sociocultural, onde
podemos trabalhar as diferentes
dimensões, abordagens, conteúdos e
instrumentos;
- É necessário ficar atento e trabalhar
de forma sistemática a dimensão da
subjetividade, fazendo as pontes entre
as motivações profundas dos sujeitos
envolvidos na ação e os desafios da
intervenção sociopolítica e cultural;
- Aprofundar o caráter auto-formativo e
produtor de sujeitos políticos das
próprias vivências político-pedagógicas
e socioculturais, refletindo e
sistematizando os saberes de
experiência e os aprendizados da
prática;
- Estudar o papel da arte e da cultura
nos processos de mobilização social e
político-pedagógicos, analisando como
as abordagens artístico-culturais podem
oferecer subsídios estratégicos para
uma intervenção efetiva, mas alegre,
prazerosa e extremamente
conscientizadora, na perspectiva da
educação popular;
- É fundamental estruturar e articular,
no processo político-pedagógico e
sociocultural, duas dimensões chaves
no trabalho: a inserção no contexto
sócio-comunitário e a intervenção
política.
A juventude que fez e tomou parte da Caravana de Comunicação e Juventudes utilizou da arte o tempo
todo para chamar a atenção para o que está acontecendo com as juventudes do Nordeste e do mundo
inteiro.
Nós nos unimos nessa Caravana com o intuito de mobilizar outros jovens e outras jovens para
discutirmos questões que nos afligem, para debatermos direitos básicos e universais que nos são negados,
direitos como o respeito ao ser humano, independentemente de raça, etnia, opção religiosa e sexualidade.
Quando a gente pintava o rosto, vestia-se de chita, botava o megafone na boca e as faixas nas mãos, era
para cortejar outros/outras jovens, mostrando que somos capazes de grafitar um mundo mais bonito; que a
gente pode dançar esperanças para situações conflitantes, que às vezes nos matam antes mesmo de
tentarmos enfrentá-las. Podemos batucar os nossos gritos de revolta contra a opressão que quer nos
impedir de sermos gente de direitos. Nós encenamos, colocando-nos no lugar do outro, e, fazendo isso,
mostramos que é possível a transformação das pessoas para se indignarem contra situações de violência.
Através do click da câmara fotográfica, mais do que imagem, a gente quis mostrar coisas capazes de dizer
sentimentos, que as palavras não conseguiram alcançar. No final de tudo, o importante mesmo, não era
exibir uma solução, mas provocar um bom debate. Até porque, cada realidade, pede soluções diferentes.
Essa é a cara desse pessoal que pegou a estrada, porque nossos olhos brilham com a possibilidade de
que, juntando-nos, “um outro mundo é possível”.
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Embora o primeiro contato na cidade de Juazeiro houve troca de experiência e de realidade, lidar
com o diferente foi bastante difícil até a chegada em Teresina-Pi, onde a democracia e o respeito
ao outro não foi prioridade, quando era solicitado menos excesso em relação ao grupo; podendo
mencionar também a falta de uma real concepção do que seria o FSM por grande parte dos
integrantes da CCJ-Ba, mesmo havendo uma formação sobre o evento. Chegando em Teresina, a
sensação de estar participando do FSM se intensificou quando a pulsação do corpo foi
substituída pelo som dos tambores e energia dos demais jovens que ali se encontravam
representando o estado do Pernambuco e do Ceará, recepcionando a CCJ-Ba com uma grande
ciranda, que se tornou o ponto chave da integração dos participantes. A caravana da Bahia ficou
incumbida de realizar uma oficina na comunidade de Timon-Ma, no bairro de Cidade Nova, um
lugar carente, desprovido da infra-estrutura e do olhar atento dos governantes locais, foi ai que
pude deparar com uma realidade trágica, principalmente quando Kivia e eu, conhecemos a família
de Sr. José, morador de uma casa de taipa de mão, dentro de um cômodo único, sobrevivendo no
limiar da dor de sua doença e a fraqueza de não poder sustentar seus três filhos de forma digna;
repetindo assim durante toda a caminhada, historias de dor e de indignação, nos levando a
questionar sobre qual seria a dignidade existente naquela população? mas durante a tarde
quando as oficinas estavam sendo ministradas surge um novo sentido, pois éramos observados
por cerca de quinze jovens com olhares curiosos, dispostos a mudança através das provocações
causadas pela oficina de Salvador, sobre “Juventude no século XXI”, estimulando através de
contextualização sobre os movimentos políticos e culturais para instigar a luta e mudança em
uma comunidade carente de informações, esta passagem pela cidade de Timon, mostrou uns dos
pontos mais inesquecíveis de todo o trajeto da CCJ.
(Suemys Luize Pansani Tavares)
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Senhores e Senhoras,
A Caravana de Comunicação e
Juventudes é uma iniciativa conjunta de
organizações, movimentos sociais, redes,
grupos de jovens e tem o apoio de órgãos
públicos de alguns municípios da região
Nordeste. Tem como objetivo central contribuir
para a democratização da comunicação,
levando à cena pública e ao Fórum Social
Mundial 2009 os conteúdos, olhares e
questões das juventudes do Norte e Nordeste
do Brasil.
Nós que fazemos a Caravana de
Comunicação e Juventudes em Crateús, junto
com a Cáritas Diocesana, Sindicato dos Professores do Município, Sindicato dos trabalhadores Rurais,
Paróquia Senhor do Bonfim e demais entidades apoiadoras, com a juventude crateuense das comunidades
de Poti, Realejo, Jatobá dos Umbelinos, Açude dos Barrosos, Fátima I e II, Frei Damião e Sede, viemos
convocar a todos e todas a pensar e construir caminhos e soluções para os problemas do município, a partir
das proposições e posicionamentos da juventude como protagonistas e sujeitos de direito.
Através desta carta queremos fazer valer o clamor dos jovens e das jovens que participaram dessa
Caravana e desejam mudança, queremos a partir das discussões realizadas nas oficinas, reivindicar:
1. DIREITO À EDUCAÇÃO
Ampliação da estrutura escolar com laboratórios de informática, biologia e química, Biblioteca ampla, com
profissionais capacitados, aula de informática para todos da comunidade;
Maior valorização da cultura e esporte;
Abertura da escola para os jovens no fim de semana, feriado e férias;
Maior utilização da quadra de esporte pela comunidade;
4 . JUVENTUDE E TRABALHO
Mais oportunidades de trabalho e renda para as pessoas;
Mais cursos de qualificação para a juventude;
Ampliação das escolas e universidades com cursos diversificados para os jovens;
Ampliação das escolas técnicas, das escolas familiares agrícolas;
Mais apoio e incentivo ao jovem da área rural na plantação e produção agropecuária;
Maior preparação do jovem para o mundo do trabalho;
Maior oportunidade de acesso dos jovens ao micro-crédito;
Certos de que vamos ser ouvidos/das e sermos atendidos/das, nos comprometemos em levar ao
Fórum Social Mundial as visões de mundo, desafios e inquietações das comunidades, assim como a
juventude crateuense se comprometem em monitorar e acompanhar a realização das propostas aqui
apresentadas.
Reafirmando nosso compromisso e a esperança, clamamos: "Ajunta aí, meu povo! Outro mundo é
possível".
ABRAVO (PI)
ABRAÇO SISAL - (BA)
ACOOPAMEC (BA)
ASSOCIAÇÃO SANTO DIAS (CE)
CAATINGA - Ouricuri (PE)
CABEÇA ATIVA (PE)
CARITAS ( PI)
CCJ- Centro de Comunicação e Juventude (PE)
CHANGEMAKERS (Noruega)
COLETIVO GAMBIARRA IMAGENS (PE)
CONEXÕES DE SABERES (PE e PI)
CONSELHO ESTADUAL DA JUVENTUDE (PI)
COORDENAÇÃO ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS E JUVENTUDE (PI)
CONSELHO NOVA VIDA (CONVIDA)
DIACONIA
EQUIP - Escola de Formação Quilombo dos Palmares (PE)
ESCUTA (CE)
FALA SÉRIO (CE)
FETAG (PI)
GACC - Grupo de Apoio às Comunidades Carentes (CE)
GAJOP - Gabinete de Assessoria às Organizações Populares (PE)
GERAÇÃO FUTURO (PE)
INSTITUTO GANDHI (PI
INTEGRASOL (CE)
MMTR-NE - Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
OBRA KOLPING (CE e PI)
PEIXEARTE (PE)
RÁDIO LIVRE-SE (PE)
RECID (PI)
REDE DE JOVENS DO NORDESTE (PE)
REDE DE RESISTÊNCIA SOLIDÁRIA (PE)
REDE DE ARTICULAÇÃO DO GRANDE JANGURUSSU E ANCURI (CE)
REFAISA
SERTA - Serviço de Tecnologia Alternativa - Glória de Goitá (PE)
SOLTANDO A VOZ (CE)
VISÃO MUNDIAL BRASIL - Unidades Operacionais de Fortaleza-CE, Rio Grande do Norte, Sertão I (AL) e
Salvador-BA
VOLENS - Brasil - Bélgica
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VOLENS (Bélgica)
Christian AID (Inglaterra)
TEARFUND (Inglatrerra)
ZUIDDAG (Bélgica)
Operation Daywork (Noruega)
AIN - Igreja da Noruega
DISOP (Bélgica)
SOS Abandonados (Bélgica)
CESE (BA)
VISÃO MUNDIAL (BR)
BANCO DO NORDESTE
SECRETARIA DE TRABALHO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO CEARÁ
GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ
EMATER - (PI)
PREFEITURA MUNICIPAL DE RECIFE (PE)
PREFEITURA MUNICIPAL DE CRATEÚS (CE)
PROGRAMA CONEXÕES DE SABERES
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
EMATER (PI)
CÁRITAS DIOCESANA DE CRATEUS (CE)
SINDICATO DOS PROFESSORES DO MUNICÍPIO DE CRATEUS (CE)
SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS DE CRATEUS (CE)
PARÓQUIA SENHOR DO BONFIM - CRATEUS (CE)
IRPAA (BA)
COOPERATIVAS DE CRÉDITO (BA)
DOADORES PARTICULARES
Mais detalhe sobre os apoios no site www.caravanadecomiunicacao.org.br
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Encaminhamentos:
1. Multiplicar e difundir junto às associações, comunidades, ONGs e grupos juvenis a
"Carta da Juventude";
2. Fortalecer a mobilização social dos jovens e das comunidades a fim de levar adiante as
propostas da Caravana;
3. Apresentar projetos sociais como instrumento para viabilizar as propostas da Caravana;
4. Potencializar a luta contra o lixão visando a construção de um Aterro Sanitário;
5. Criar um fórum local para debater e encaminhar as questões referentes à construção da
Barragem Fronteiras e a desapropriação das terras quilombolas;
6. Buscar interferir no Orçamento Público visando o redirecionamento dos recursos
públicos;
7. Apresentar projeto de iniciativa popular em prol da criação da Secretaria de Cultura e do
Fundo de Cultura.
58
COSTA, Antonio Carlo Gomes. Protagonismo Juvenil: adolescência, educação e participação. Salvador:
Fundação Odebrecht, 2000.
CORTI, Ana Paula. Diáologos com o mundo juvenil: subsídios para educadores/Aana Paula Corti e Raquel
Souza. - São Paulo: Ação Educativa, 2004, 250 p.
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