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Nos termos do inciso IV do artigo 649 do Código de Processo Civil, são absolutamente
impenhoráveis os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de
aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de
terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal.
A própria Constituição Federal, em seu artigo 7º, inciso X, garante a proteção do salário na
forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa.
Não obstante a farta jurisprudência, em especial pelos acórdãos proferidos pelo Superior
Tribunal de Justiça no tocante a ilegalidade de tal prática, vemos que algumas decisões
proferidas por alguns tribunais estaduais vem referendando práticas comuns celebradas por
instituições bancárias, abrindo assim precedentes e discussões.
Sem delongas, respeitando as opiniões divergentes, temos que comete ato ilícito a instituição
financeira que, sem autorização, bloqueia a totalidade dos rendimentos mensais do correntista
para pagamento de dívida. Nestes termos, o ato ilícito em questão poderá ser apto a gerar
indenização por danos morais, tendo em vista que o correntista/consumidor poderá ser
injustamente privado do seu único meio de subsistência, sendo impossibilitado de suprir as
suas necessidades básicas e as de sua família, como moradia, alimentação e saúde.
Sendo o salário indispensável para a manutenção da família, temos ainda que é abusiva
cláusula em contrato de abertura de crédito em conta corrente que permite sua retenção para
amortização da dívida decorrente do uso do saldo devedor. Assim, mesmo com cláusula
contratual permissiva, a apropriação do salário do correntista pelo banco-credor para
pagamento de cheque especial e de empréstimos é ilícita, pois viola os artigos 1º, inciso III, e
7º, inciso X, da Constituição Federal, o artigo 51, inciso IV, do Código de Defesa do
Consumidor, bem como o artigo 649, inciso IV, do Código de Processo Civil.
Não muito diferente, também destacamos decisões dos Tribunais de Justiça do Rio Grande do
Sul e Sergipe:
Nestes casos não valem as insurgências dos devedores em afirmar que a verba de natureza
alimentar não poderia ser penhorada. Para alguns desembargadores, a garantia da
impenhorabilidade não pode servir de impedimento para cumprir responsabilidades assumidas
e não pagas.
De acordo com este entendimento, a retenção e/ou penhora de apenas uma porcentagem da
verba de natureza alimentar não fere o espírito do artigo 649 do Código de Processo Civil. O
objetivo da proteção legislativa, no entendimento dos julgadores, é evitar que o pagamento de
determinada dívida torne inviável a subsistência do devedor.
Outra consideração importante para alguns desembargadores está no fato de que até mesmo
as verbas de natureza alimentar são livremente negociáveis, ou seja, disponíveis, como, por
exemplo, a consignação em folha de pagamento, prática cada vez mais comum entre
servidores públicos, em que se destina previamente parte do salário para o pagamento de
determinadas dívidas.