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ENTREVISTA
Simpatia, competência
e talento: Esther Góes
conduz com maestria suas
carreiras artística e política
Págs. 8 e 9
Uma publicação da Aver Editora - 15 a 30 de Setembro de 2009 - Ano I Nº 11 R$ 5,00

Susto no
João Caldas

camarim! Histórias de fantasmas rondam os teatros


de todo o Brasil - dentro e fora dos palcos

O ator Saulo Vasconcelos em cena no


espetáculo “O Fantasma da Ópera”

VIDA & OBRA FESTIVAIS MARKETING CULTURAL EVENTO


Sempre atual, obra de 16ª edição do Porto Oi já investiu mais de
Caio Fernando Abreu se Alegre em Cena apresenta R$ 170 mi em projetos
destaca pela humanidade propostas ousadas e de sociais e beneficiou cerca Di
vu
lga
çã
de três milhões de pessoas
o
de seus personagens qualidade nos palcos
Págs. 20 e 21 Págs. 16 e 17 Pág. 6 Doutores
da Alegria
Divulgação

DANÇA comemora 18
anos e inaugura
Alonso Barros conquistou o reconhecimento novo espaço
internacional pelas suas coreografias e agora volta ao
Brasil para “Pernas pro Ar”, com Cláudia Raia programação
Pág 12 especial

Cena do musical “The Last Five


Years”, assinado por Alonso
2 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
3
Editorial
Thiago Sabino / Divulgação

Presente dos Fantasmas


No dia em que resolvemos fazer uma matéria sobre as histórias dos
fantasmas que “vivem” nos teatros, uma conversa nos assombrou na
redação de São Paulo. Estávamos no terraço do prédio, na Rua da Con-
solação, de onde se tem uma bela vista do cemitério. Sim, bela, pois, de
alguma forma, a emoção das despedidas que acontecem ali também fica
Brasília registrada no local. Entre risos e histórias, descobrimos que, ao lado do
nosso prédio, está o endereço onde funcionou o Teatro Record, respon-
Teatro do Concreto: sável por aglomerações históricas na região, principalmente durante os
grupo de Brasília se anos da Jovem Guarda.
firma como referência Quanto mais histórias fomos reunindo dos teatros do País, mas fasci-
em cultura e nada ficou a equipe em descobrir mais. Seria um efeito da influência dos
fantasmas do Teatro Record? Por que essas almas penadas se interessam
pesquisa teatral tanto pelos teatros? Por que os fenômenos que nos fogem a compreen-
Pág 19 são (e por vezes a razão) interessam tanto às pessoas?
Não tivemos nenhuma resposta do além, mas uma frase atribuí-

Índice da a Hipócrates pode guiar um raciocínio. Digo atribuída, pois não


acredito tanto nas frases que atravessaram tempos e traduções, mas,
de alguma forma, refletem pelo menos um pensamento parecido
com a intenção do autor: “Porque a vida é curta, a arte é longa e a
FORMAÇÃO................................................................7 oportunidade é única”.
Universo acadêmico das artes cênicas Embaralhando um pouco essa frase, temos diferentes respostas para
as dúvidas apresentadas. Os fantasmas estariam aproveitando nossa
A professora Ivanise Medeiros de Albuquerque Garcia fala sobre oportunidade única de escrever em um veículo que acredita que a arte é
a importância do estudo histórico do teatro maior que o tempo de nossas vidas – em um período em que só se fala
de coisas curtas. Ou a vida destes fantasmas artistas foi curta demais
para apresentaram seu trabalho, pois acreditam, mais que qualquer um,
REPORTAGEM............................................10 e 11 que a eternidade da arte está nos minutos curtos de aplauso.
Aliás, tivemos um sinal de um desses bons companheiros do além.
Personagens ocultos Antes mesmo de definirmos que a nossa homenagem em Vida e Obra
Contos, causos e estórias dos fantasmas que atormentam seria sobre Caio Fernando Abreu – em uma matéria escrita pelo colabo-
o imaginário do povo nos teatros brasileiros rador Rodolfo Lima –, nossa repórter gaúcha Adriana Machado revelou
que uma de suas primeiras (e mais emocionantes) entrevistas da carreira
foi com o escritor. Acaso ou mais um espetáculo destes artistas que, à
FESTIVAIS................................................................16 sua maneira, inspiram diariamente o trabalho dos colegas de palco?
Cena Contemporânea
Rodrigoh Bueno
O Festival Internacional de Teatro de Brasília completa dez anos de
Editor do Jornal de Teatro
existência com apresentações, workshops e oficinas

POLÍTICA CULTURAL................................................18 CARTA


Secretaria Municipal de Cultura do RJ Aos editores do Jornal de Teatro
Divulgado o resultado do edital de ocupação dos teatros do Rio.
Vencedores poderão ocupar os espaços durante dois anos (...) Gostaria de parabenizar a equipe que compõe essas publicações.
São artigos muito bem escolhidos e que representam com inteligência a
nossa cultura. Enfim, nós, ligados ao teatro, temos a necessidade de atua-
lização constante e vocês nos proporcionam uma leitura fácil e agradável.
HISTÓRIA................................................................ 22 Parabéns pelo excelente trabalho.
“Na Selva das Cidades” Jonas de Moraes e Rafael Rios Filho
Terceira obra do escritor alemão Bertold Brecht volta ao País após 40 Teatro Laboratório da ECA-USP - Depto de Artes Cênicas
anos da apresentação da peça em palcos brasileiros

Email Redação: Redação Rio de Janeiro: Rua General


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4 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores
TEATRO DE RONDÔNIA PROCURA HOMENAGEADO
A classe artística de Porto Velho se mobiliza para escolher “MISTÉRIO BUFO”

Fotos: Guga Melgar / Divulgação


qual personagem da história de Rondônia deve ser homenagea- NOS PALCOS DE
do como nome do novo teatro estadual, que deve inaugurar no BRASÍLIA
final do ano. Quem sai na frente na corrida é Jango Rodrigues, Escrita quando o
policial que dedicou boa parte de sua vida ensinando teatro autor Vladimir Maiakó-
para crianças no Estado. Cabe a ele também o título de um dos vski tinha apenas 25
percussores da chamada segunda fase do teatro na capital do anos, a peça recorre
estado, no ano de 1978. Assim que a classe definir um nome, o às variadas noções de
mesmo será apresentado à Assembleia Legislativa e posto em tempo para dar enredo
votação. à eterna busca da aven-
Sol Coêlho / Divulgação
tura humana. O dra-
maturgo é considerado
um dos mais importan-
tes do teatro russo do
século XX e a monta-
gem conta com direção
de Cláudio Baltar e Fá-
bio Ferreira. “Mistério
Bufo” permanece em
cartaz no Centro Cul-
tural Banco do Brasil
Brasília até o dia 12 de
outubro.

Diretores da montagem
adaptaram texto de
1918 para situações
atuais, com contraste
entre passado e futuro

FESTIVAL DE DANÇA

Divulgação
DE JARAGUÁ DO SUL
(SC) ABRE INSCRIÇÕES
A primeira fase de inscrições
para a mostra e o concurso do
Espetáculo “A Farsa do Panelada” abriu evento na praça do Teatro 4º Festival de Dança de Jaraguá
segue até o dia 25 de setembro.
FESTIVAL NORDESTINO DE O evento ocorre entre os dias
TEATRO COMEMORA AS MELHORIAS 23 e 25 de outubro na cidade
O evento, que aconteceu entre os dias 1 e 12 de setem- catarinense. Entre os convida-
bro, foi marcado pelas evidentes melhorias na estrutura dos dos estão a Academia Corpo
teatros da cidade, aprimorados para proporcionar ao público Livre, de Joinville (SC), com “A
mais conforto e aos artistas melhor apoio técnico. Este foi Noite na Polinésia”, de Liliana
um dos pontos abordados pelo secretário de Cultura de Gua- Köhn; e a Cia. de Dança Eliane
ramiranga, Potiguar Fontenele, na solenidade de abertura do Fetzer, de Curitiba (PR), que vai
XVI FNT (Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga), apresentar a coreografia “Caba-
na praça do Teatro Municipal Rachel de Queiroz. Mais infor- ret”, de Eliane Fetzer. A novi-
mações e o registro fotográfico do Festival estão disponíveis dade deste ano é a programação Oficina do BNB reuniu artistas, produtores e gestores culturais
no site www.agua.art.br/fnt2009. intensa de oficinas, seminários e
sessões de vídeo-dança. AÇÃO DE MICROPROJETOS MAIS CULTURA
INVESTE 13,5 MILHÕES NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO
ATORES ANGOLANOS
DEFENDEM O O MinC (Ministério da Cultura), por meio do Programa
INTERCÂMBIO ENTRE Mais Cultura, investirá R$ 13,5 milhões no seminário brasilei-
PROFISSIONAIS ro. A ação de Microprojetos Mais Cultura beneficia especial-
Em entrevista ao portal mente jovens entre 17 e 29 anos, oriundos de áreas de vulne-
de notícias Angop, o repre- rabilidade social, que desenvolvem projetos culturais nas mais
sentante da Companhia de diversas linguagens.
Teatro Dadaísmo, Aurio Qui- O projeto será executado em parceria com a Funar-
cumba, defendeu a necessi- te (Fundação Nacional de Artes), o BNB (Banco do Nor-
dade de intercâmbio entre deste) e as secretarias de Cultura dos onze estados que in-
profissionais das artes cênicas tegram a região do semiárido – Paraíba, Alagoas, Ceará,
como forma de adaptação à Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe, Maranhão,
contemporaneidade mundial. Pernambuco, Minas Gerais e Espírito Santo. Serão selecio-
Para ele, artistas de países nadas, através de editais estaduais, cerca de 1,2 mil inicia-
como Moçambique, Cabo- tivas. Cada uma será premiada com até 30 salários mínimos.
Verde, Portugal e Brasil tra- O objetivo da ação é promover a diversidade cultural por meio
balham de forma diferente, do fomento e incentivo aos artistas, grupos artísticos inde-
com particularidades que os pendentes e pequenos produtores culturais. Os prêmios serão
angolanos ainda não têm. concedidos a pessoas físicas e jurídicas sem fins lucrativos que
“ (…) Encenadores, drama- desenvolvam projetos nas áreas de artes visuais, artes cênicas,
turgos, autores, atores e todos música, literatura, audiovisual e artes integradas. Os projetos
os outros integrantes dos gru- deverão ser realizados e concluídos em um ano, a partir da data
pos devem se preocupar em de assinatura do contrato de concessão de prêmio.
investigar, para trabalharmos o Os prazos de encerramento de inscrições podem ser verifi-
teatro de uma forma mais pro- cados em cada um dos editais vigentes nos estados, publicados
fissional, não como tem sido no Diário Oficial da União e dos 11 estados envolvidos, bem
até agora onde todos pensam como nos sites do MinC (www.cultura.gov.br), da Funarte (www.
que são profissionais e, sem funarte.gov.br), do BNB (www.bnb.gov.br), do INEC (www.inec.org.br)
bases, partem agora para o ci- e do Programa Mais Cultura (http://mais.cultura.gov.br).
nema”, disse ao portal.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
5
Bastidores
CIA DE DANÇA

Bruno Zanardo / Divulgação

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COMEMORA DEZ ANOS
Os bailarinos da Criart Cia
de Dança, de Recife, celebraram,
no dia 8 de setembro, no Teatro
Barreto Júnior, seus dez anos de
atuação na cena teatral. A come-
moração foi marcada por dois
espetáculos: “Orum Aiê”, que
estabelece relação entre os dois
planos da existência (Orum,
mundo mítico dos antepassados,
morada dos deuses, e Aiê, o mun-
do dos homens, do tempo pre-
sente); e “Marim Brincante”. No
palco, também esteve em cena o
grupo convidado Faces Ocultas
Fernando Fecchio, Débora Duboc e Thiago Adorno: protagonistas Companhia de Dança. Fundada O musical é de autoria de Fátima Valença e dirigido por Fábio Pilar
pela bailarina e coreógrafa Paula
DÉBORA DUBOC REESTREIA COMÉDIA Azevedo, a Criart tem como ob- ÚLTIMOS DIAS!
DE DARIO FO E FRANCA RAME, COM jetivo a difusão da cultura popular O espetáculo “Eu Sou o Samba”, em cartaz em São Paulo, no
DIREÇÃO DE NEYDE VENEZIANO regional a partir das mais diversas Teatro Santa Cruz, ficará permanecerá até o dia 27 de setembro na
Estressada por conta de uma crise afetiva, a publicitária manifestações culturais utilizando capital paulista. O musical conta com coreografia de Carlinhos de
Júlia, produtora de comerciais, resolve gravar um DVD para uma linguagem moderna. Jesus e cenário e figurino da carnavalesca Rosa Magalhães.
deixar ao marido, antes de se matar. Empenhada nessa ta-
refa, vive aventuras hilariantes enquanto é interrompida por
divertidas situações corriqueiras na sala de sua casa. ABUJAMRA FAZ ITINERÂNCIA COM BECKETT CENTRO CULTURAL
Este é o mote da comédia “Um Dia (Quase) Igual aos Ou- POR CABO VERDE E CAPITAIS BRASILEIRAS SESI MACEIÓ
tros”, do italiano Dario Fo (Prêmio Nobel) e Franca Rame, “Começar a Terminar”, de Samuel Beckett, encenado por Anto- REABRE AS PORTAS
que volta ao cartaz agora no Teatro Bibi Ferreira, em São Pau- nio Abujamra ano passado foi convidado para representar o Brasil Após uma longa espe-
lo. O espetáculo segue em cartaz até o dia 4 de outubro. no Festival Internacional de Teatro de Cabo Verde, o Mindelact (re- ra, o Centro Cultural Sesi,
alizado há mais de 15 anos e considerado o maior festival de teatro em Maceió, finalmente
do continente africano), em setembro. Entre as atrações do evento, reabriu suas portas para
XVI FESTIVAL DE TEATRO DO RIO além do diretor brasileiro, estão nomes como Peter Brook e a parti- o público. Foram mais de
DIVULGA LISTA DE PEÇAS SELECIONADAS cipação de vários grupos de países europeus, africanos e americanos. três meses de reformas, o
Os organizadores do XVI Festival de Teatro do Rio divulgaram A montagem de Abujamra teve o patrocínio dos Correios e agora que causou indignação da
a lista das peças selecionadas para o evento que ocorrerá de 28 de conta com o apoio da BR Petrobras para ser apresentada em cinco população local. O teatro
setembro a 7 de outubro. Sete grupos teatrais foram escolhidos capitais ainda em 2009: Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Sal- reestreou, no dia 11 de
entre cem inscritos para apresentar seus espetáculos na capital ca- vador e Recife. Além da itinerância do espetáculo e sua participação setembro, com a segunda
rioca. no importante festival do continente africano, Antonio Abujamra edição do 24 Horas Cultu-
As peças concorrerão à premiação nas categorias de melhor também será homenageado em Cabo Verde, onde será exibido ra, festival que apresentou
ator, melhor ator coadjuvante, melhor atriz, melhor atriz coadju- Solo, o novo filme de Ugo Georgetti. Nessa turnê, a equipe da peça 18 atrações ininterruptas,
vante, melhor direção, melhor figurino, melhor cenografia, melhor vai aproveitar para captar imagens para o conteúdo do programa e, com uma cara nova,
iluminação, melhor texto, melhor espetáculo, melhor espetáculo Provocações, da TV Cultura. Saiba mais sobre o Mindelact em www. agradou a todos os alagoa-
pelo voto popular e Prêmio Especial, que poderá premiar qualquer portugal-linha.pt/mindelact. nos presentes.
outra categoria. Além das apresentações, o Festival, que é ideali-
zado pelo Centro Cultural da Universidade Veiga de Almeida, irá
Renato Hatsui / Divulgação
homenagear o ator e diretor Milton Gonçalves pelos seus feitos na
carreira. Mais informações no site: www.uva.br/festivaldeteatro
EVENTO A VIDA É FEITA DE
ATOS PREMIARÁ GRUPOS GAÚCHOS
Visando atrair novos talentos aos palcos gaúchos, o Tea-
tro de Arena, em Porto Alegre, realizará o evento A Vida é feita
de Atos, no dia 1º de outubro. O objetivo da festa é comemorar
os 42 anos da casa em grande estilo. E para isso não faltarão in-
centivos. Principalmente para os grupos teatrais. Não fugin-
do a regra dos últimos anos, o Teatro promoverá novamente
o Prêmio de Incentivo à Pesquisa Teatral, que premiará duas
companhias para a ocupação do Teatro de Arena, em 2010.
Os grupos vencedores receberão um auxílio financeiro de R$22 mil da
Secretaria de Estado da Cultura para desenvolver suas atividades. Além
disso, eles poderão utilizar as instalações da casa de espetáculos por seis
meses (cada uma em um semestre) para estudo e experimentação.
Para a diretora do Teatro de Arena, Viviane Juguero, essa é uma
chance única para as companhias mostrarem seus trabalhos e, é
claro, de poder disseminar a arte do Estado por todo o País. “To- GRANDE GALA 2009 APRESENTA OS MELHORES DA DANÇA
dos os grupos que conquistaram esse prêmio são artistas de ta- Nos dias 3 e 4 de outubro acontecerá a 16ª edição do Grande Gala Enda 2009 – que apresenta os
lento, que se dedicaram ao máximo. Talvez sem essa ajuda, nem destaques no campo da dança, no Estado de São Paulo. O evento acontece no Memorial da América
todos poderiam alçar voos altos na carreira, como aconteceu com Latina, quando o publico irá apreciar espetáculos dos balés clássico, moderno e contemporâneo,
o Caixa de Elefante, ganhador em 2006”, diz. dança folclórica e de salão e jazz.
6 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Fotos: Divulgação

Marketing Cultural

Oi 
Por Daniel Pinton
Fundado em 2001, o Oi Fu-
turo, instituto de responsabilidade
para o Futuro
Empresa de telefonia amplia seus investimentos
em projetos sociais e culturais pelo Brasil 
sensoriais em seus espaços de
visitação, que incluem galerias de
artes visuais – onde, por exem-
Klauss Vianna que atualmente
recebe a trilogia de espetáculos
“Por Elise”, “Amores Surdos” e
>> A fachada original do Oi Futuro RJ dialoga com suas linhas futuristas

plo, obras do renomado artista “Congresso Nacional do Medo”,


da empresa de telefonia Oi, tem plástico Gary Hill foram expos- todos montados pelo grupo Es-
promovido a cultura brasileira tas na última semana -, teatro – panca!. Até o final do ano, ain-
através de projetos apoiadores das em cartaz com a peça “Sutura” da serão apresentadas as peças
mais variadas expressões artísticas e a infantil “A História do 4º Rei “No Pirex” e “Inveja dos Anjos”.
em todo o Brasil. Já foram investi- Mago” -, o espaço Biblio_tec Além das produções teatrais, o
dos pelo instituto mais de R$ 170 – um lugar onde o visitante en- Klauss Vianna também abriga-
milhões em mais de 550 projetos contra livros envolvendo arte e rá nesta temporada o espetáculo
sociais e a estimativa da empre- tecnologia -, o Infomúsica - que de dança Era para Ser e Não Foi,
sa é que mais de três milhões de coloca à disposição dos visitan- o festival Transamazoniennes e
pessoas já foram contempladas tes CDs raros e lançamentos shows musicais diversos. No Oi
nos 17 Estados onde atua. musicais - e um cyber restaurante Futuro BH, o visitante também
“Para 2009, o Oi Futuro - o Conexão.Sabor -, além de fre- pode conferir encontros com no-
pretende estender às novas re- quentemente servir como abri- mes importantes do pensamento
giões de atuação da companhia go para workshops interativos e da arte contemporânea para
os mesmos programas que já >> No caprichado espaço Infomúsica o vistante tem à disposição CDs raros
como o do Perc Pan 2009, um papos interativos, perfomances
contribuem para a construção dos mais prestigiados festivais de multimídia e oficinas voltadas à iniciativas selecionadas, em meio cados válidos nas leis estaduais
de uma sociedade melhor. Esse percussão no mundo. Em suma, arte, à cultura e à tecnologia no as mais de quatro mil propostas e municipais de incentivo à cul-
conjunto de programas e inicia- um lugar de fusão de linguagens Oi Cabeça, no Palavraimagem inscritas dos diferentes Estados tura”, explica a assessoria do Oi
tivas, validados pela sociedade e convergência de mídias que e na Galeria Mural. da área de atuação da compa- Futuro, gestor do projeto. “O
civil através de consulta pública, valeu ao instituto o prêmio Ur- nhia, há mostras de cinema e programa considera fundamen-
foram fundamentais para o in- banidade 2005, oferecido pelo QUASE R$ 30 MILHÕES artes visuais, longa-metragens, tais aspectos como a capacida-
gresso da Oi no ISE (Índice de Instituto dos Arquitetos do PARA A CULTURA obras de teatro, shows de músi- de de geração de novas plateias,
Sustentabilidade Empresarial) da Brasil, pela sua contribuição A grande contribuição da ca, festivais de dança, novas tec- de renda, de criação de novas
Bovespa”, enfatiza o presidente cultural e arquitetônica à cida- Oi para a cultura brasileira, no nologias, cultura popular, litera- oportunidades de trabalho e de
do Oi Futuro, José Augusto da de do Rio de Janeiro.   entanto, vem através de seus pa- tura e patrimônio. “Os projetos formação de artistas. Também
Gama Figueira. O Espaço Cultural Oi Fu- trocínios teatrais. Somente este foram avaliados por comissões foram priorizadas iniciativas que
No Oi Futuro do Rio de Ja- turo Belo Horizonte, no bairro ano, serão cerca de R$ 29,2 mi- especializadas em cada uma das valorizam talentos regionais e
neiro, localizado no bairro do Mangabeiras, não fica atrás em lhões investidos na cultura brasi- áreas culturais e terão a confir- que possibilitem o intercâmbio
Flamengo, o visitante tem con- matéria de atrações. O carro- leira através de leis de incentivo mação do patrocínio condicio- de ideias e a convergência entre a
tato com inúmeras experiências chefe da filial mineira é o Teatro estaduais e municipais. Entre as nada à apresentação dos certifi- arte e tecnologia”, completa.

Técnica
Iluminação: a técnica que faz a diferença
atro de Arena, em Porto Alegre,
Leonardo Serafim
Por Leonardo Serafim para um bom profissional da
ministrou o curso Pintando em área. Saber lidar com equipa-
A preocupação com a ilumi- Cena, que tem como objetivo mentos dos mais básicos aos
nação no teatro é antiga. No tea- estimular a criatividade e a sensi- mais sofisticados, ter noção de
tro grego, onde a luz era exclusi- bilidade do artista na concepção ângulo para os refletores, conhe-
vamente natural, os espetáculos do desenho de luz de uma peça, cer minuciosamente uma cabine
iniciavam com o nascer do sol abordando conceitos e sistemáti- de controle fazem a diferença
e, às vezes, avançavam à noite. cas importantes para sua criação em um espetáculo. “Se a peça é
Utilizando da criatividade, esses e execução. mais dramática, você utiliza uma
profissionais buscavam sempre Destinado a diretores, atores, velocidade x na cena. Se o ator
locais com luzes abundantes e técnicos de iluminação e demais está em evidência, pode-se bai-
auxílio do fogo para fazer suas interessados, a oficina foi uma xar ou aumentar a luz. Tudo isso
produções. oportunidade para novos talen- é faz parte do aprendizado técni-
História bem diferente nos tos surgirem nos palcos gaúchos, co”, garante o iluminador Sergio
tempos atuais. “Hoje a ilumina- como frisa a iluminadora. “A in- Oliveira.
ção faz toda a diferença. Pode tenção do curso é desenvolver a Para quem quer seguir no
ajudar a compor um bom cená- imaginação dos alunos. Ajudá- ramo da iluminação teatral,
rio. Pode dar ênfase a uma atua- los a ganhar uma percepção di- Claudia de Bem aconselha duas
ção e é tão importante para uma ferente, que possa incrementar coisas: dedicação e paixão. “Co-
apresentação quanto os atores. É um espetáculo. Hoje, se um di- mecei a trabalhar com luz por in-
uma ferramenta de auxilio que, retor sabe trabalhar com a luz e teresse próprio. Sempre gostei e
por instantes, pode virar prota- tem um bom iluminador o céu é fui atrás. Fiz assistência para um
gonista de um espetáculo.” o limite.” amigo e depois nunca mais parei.
Quem afirma é a iluminado- Mas não basta apenas ter Para aqueles que querem traba-
ra Claudia de Bem. Com uma criatividade para ser um ilumi- lhar na área, é preciso disposição
longa carreira na frente e atrás nador. É preciso mais. O conhe- e realmente sentir prazer no que
dos palcos, ela, a convite do Te- cimento técnico é indispensável está fazendo”, disse. >> O Pintando em Cena incentiva novos talentos a trabalharem com a luz
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
7
Formação

Teorizando o universo cênico


Divulgação
Por Ive Andrade ro e reservo um momento espe-
cial para os séculos XIX e XX,
Profissional que trabalha os primórdios do teatro moder-
com o mundo acadêmico das no, as grandes companhias, o
artes cênicas há três décadas, teatro amador e, então, a era dos
Ivanise Medeiros de Albu- diretores, a figura do encenador,
querque Garcia viu o perfil que vivemos agora... Anterior-
dos alunos na universidade mente o que se via era o desta-
se transformar com o passar que para as estrelas. Depois até
dos anos. Além da diferença para as companhias. Agora o
notável nos estudantes, seus chamariz principal é o encena-
conhecimentos sobre a área dor. Claro que ainda existem as
a deixam apta para traçar um pessoas que vão ao teatro para
perfil do cenário brasileiro ver atores globais, mas quem
atual. Para ela, vivemos em realmente gosta é atraído pela
uma era onde “o chamariz figura do diretor. Na primeira
principal (que atrai a plateia) metade do século XX o dire-
é o encenador”, ou seja, os di- tor era o que menos importava.
retores das peças são os que Agora podemos perceber essa
levam o público aos teatros, mudança. Figuras como Zé
apesar do poder das grandes Celso e Gabriel Vilela marcam
companhias e de atores de te- sua impressão no teatro e têm
levisão. A professora da FAP público, às vezes, independente-
(Faculdade de Artes do Para- mente de seus atores.
ná) falou ao Jornal de Teatro A Faculdade de Artes do Paraná também teve o perfil dos alunos transformado durante os últimos anos
sobre as tendências no uni- JT – O que ainda precisa
verso acadêmico das artes cê- JT – Como a expectativa dos do colégio e entram na uni- IM – Acho história, seja do ser incorporado nas discus-
nicas e a importância do estu- alunos mudou nos últimos versidade pensando em atuar teatro ou não, sempre im- sões acadêmicas de teatro?
do histórico do teatro, entre anos? Quem costuma seguir nas novelas da Rede Globo portante em qualquer área. A IM – Existem muitas ques-
outros assuntos. carreira acadêmica? Atores, ,até aqueles que têm o inte- trajetória e a compreensão do tões a serem discutidas. Na
jornalistas, professores? resse pelo estudo e desenvol- período permite que o aluno universidade em que eu tra-
Jornal de Teatro – Como IM – Dou aulas há anos e vimento acadêmico. perceba o teatro como uma balho estamos trazendo uma
você percebe o ensino aca- percebo que o interesse, an- manifestação social e histó- série de assuntos a respeito de
dêmico de artes cênicas? tes, era pelo teatro. Hoje isso JT – Você ensina História rica. Os estudantes percebem pesquisa. O teatro contempo-
Ivanice Medeiros – Acho está ampliado para a publi- do Teatro. Por ser uma dis- isso e acabam se envolvendo râneo tem muitos caminhos a
que o ensino de artes cêni- cidade, para o cinema, para ciplina teórica, os alunos com a matéria. serem explorados e vias que
cas na universidade tornou-se a televisão... Por outro lado, têm resistência? ainda não foram contempla-
acadêmico com o passar dos existe também o interesse IM – Vejo muito interesse da JT – Pode-se dizer que das. A bibliografia que temos
anos, sempre procurando en- pela pesquisa, a preocupação parte dos alunos que entram houve um período mais disponível no Brasil também
caminhar para pesquisas das em estudar linhas diferentes... no curso. Eles têm interesse rico criativamente na histó- ainda é pequena. São poucos
diversas áreas. Acredito que Vejo isso como uma tendên- em estudar os diversos cami- ria do teatro brasileiro? os trabalhos de relevância
pelo fato de existirem mui- cia. O interesse também apa- nhos do teatro. IM – Atualmente eu só leciono disponíveis. É preciso desen-
tos cursos livres para forma- rece cada vez mais cedo e o para alunos do primeiro ano da volver esses títulos. Só que
ção de ator, que fazem o ator perfil desses estudantes atu- JT – Qual é a importância licenciatura. Mas começo sem- vejo que existe um interesse
mesmo, a universidade assu- almente é diversificado. Tem da história do teatro para o pre dando um espaço pequeno grande. A tendência é que
me esse papel acadêmico. desde adolescentes que saem desenvolvimento do ator? para a origem do teatro brasilei- cresça o número de trabalhos.

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8 1º a 15 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista

Trabalho intenso a favor


Por Felipe Sil terial sobre a artista. Eu tive de

Fotos Divulgação
viajar para a Alemanha para
Com a carreira extensa e
impecável exposta a todos no Atriz Esther Góes leva sua experiência e mentalidade fazer a minha investigação in
loco. De lá trouxe biografias,
currículo de Esther Góes, con- documentos e muitas entrevis-
fesso que não sabia bem como ousada para os palcos, para a TV e para a Funarte tas com gente que também es-
seria a personalidade dessa atriz tudou a atriz e o Berliner.
que, em outubro, tem a tarefa JT – Como se preparou
de incorporar no palco nin- para interpretar o persona-
guém menos que Heléne Wei- gem?
gel, a lendária artista que revo- EG – A preparação foi algo
lucionou o teatro no início do muito interessante. No teatro
século passado. Já estava pre- épico o interesse é focado exa-
parado para lidar com alguém tamente no espectador da pla-
que poderia, até pelo acúmulo teia. Há uma exigência de não
de experiências passadas e de se fazer nenhuma concessão a
afazeres atuais, não estar muito efeitos especiais ou coisas do
interessada em abrir a sua vida tipo. O que mais me marcou,
e bater um papo com o Jornal porém, foi o trabalho do regis-
de Teatro. Engano meu. Esther tro vocal de Weigel, que é natu-
se mostrou rapidamente ser ralmente muito grave.
uma das fontes mais simpáti- JT – Como foi feito?
cas com quem já tive oportu- EG – Tive que realizar um
nidade de conversar. Em uma intenso trabalho para conse-
entrevista que durou aproxi- guir alcançar timbres mais gra-
madamente uma hora e meia, ves de voz para falar dentro do
a atriz falou sobre o monólogo registro dela. O modo como
“Determinadas Pessoas-Wei- ela se comunicava era inimi-
gel”, sua participação na série tável. Algo maravilhoso e que
“Bela, a Feia”, na TV Record, consegue exalar ternura em um
e sobre sua atuação como co- registro muito grave.
ordenadora de programação JT – Como analisa a sua
do Complexo Cultural Funarte participação em “Bela, a
de São Paulo. O resultado pode Feia”, como a personagem
ser visto abaixo: Bárbara?
EG – Eu gosto muito desse
Jornal de Teatro – No dia personagem. É desafiante. Tra-
24 de outubro estreia o seu ta-se de uma mulher comple-
monólogo “Determinadas tamente mutante. Uma mon-
Pessoas – Weigel”, em São tanha-russa (risos). Ela age
Paulo? Como é essa obra? e reage de acordo com cada
Esther Góes – Essa peça acontecimento. Existe essa
procura mostrar a criação do coisa da pessoa que foi muito
teatro épico através da perso- mimada na infância e na juven-
nagem Heléne Weigel, esposa tude, tendo mais do que preci-
do dramaturgo Bertold Brecht. Esther não esconde a emoção ao interpretar Weigel, uma atriz que, de certa forma, reinventou o teatro sava, e depois perdeu tudo.
Na verdade, esse tipo de teatro JT – Alguma semelhança
nasce com o trabalho de Bre- com a realidade da socieda-
cht aliado à interpretação dessa juventude eu abracei como der melhor profissão? gostei muito dela. Aquela coisa de brasileira?
artista. Foram os fundadores uma causa o teatro de Brecht. EG – Claro. Na década de de não colocar nada acima da EG – Muitas mulheres que
da companhia Berliner Ensem- Gostava dessa coisa absoluta 20, ela já possuía uma lingua- verdade. É sempre muito im- na década de 50 eram sociali-
ble, que teve uma importância em busca da investigação sobre gem avançadíssima para a épo- portante analisar as pessoas tes, que construíram verdadei-
imensa no século passado, que o teatro, de ver a entrega dos ca. A artista transcendia os li- generosas do sexo feminino. ros impérios e viviam em fes-
perdurou até a década de 70. artistas. mites e não seguia os caminhos Apesar de grandes articulado- tas maravilhosas e divinas pela
Buscavam sempre colocar fir- JT – Como é interpretar tradicionais. Essa mulher exige ras, costumam ser vistas sem- madrugada passaram por esse
memente a posição que arte e uma atriz que, de certa ma- realmente uma investigação pre como pessoas imprecisas. problema. É um fenômeno
política poderiam andar juntas. neira, reinventou o teatro? muito profunda. Estudando-a, Essa é a segunda personagem bem típico da década de 50. Só
Essa peça, primeiramente, é EG – O meu filho, Ariel eu percorro a minha própria que interpreto que possui essas que, após a decadência, essas
uma investigação sobre o te- Borghi, dirige a peça e ele me trajetória e o fundo da minha características. pessoas não conseguem escon-
atro e a sociedade. Weigel era ajudou muito na investigação alma. Isso é precioso. JT – Qual foi a primeira? der a realidade, mas também
uma mulher que vivia o teatro desse personagem. Todas as JT – Por que decidiu es- EG – Foi Tarsila do Ama- não esquecem a memória. Bár-
em todas as horas do seu dia. características de Weigel são trear essa peça? ral. Esta era realmente tímida. bara é uma personagem que
JT – Deve ser interessan- de vanguarda. Teve uma cora- EG – Há alguns anos pro- Já Weigel fechava a boca era passou por tudo isso e agora é
te pegar essa história a par- gem suprema por, mesmo ju- curava uma referência. Depois para não ser impedida de reali- da classe média, que não tem
tir da perspectiva deste novo dia e tendo passado por duas de um tempo de estrada teatral, zar o seu trabalho. Interpretan- mais de onde tirar e o que co-
século, não? guerras mundiais, ter fundado você acaba sentindo um gran- do Tarsila era possível ver toda mer muitas vezes. Então, aca-
EG – Sim, é interessante, um trabalho como o Berliner de vazio na profissão e faz arte a formação do modernismo. Já ba chateada e irritada, sempre
a partir da vivência do século logo no pós-nazismo. É uma por fazer. Ser atriz é poder se com Weigel reparamos na arti- louca para ter novamente aque-
XXI, dar um novo sentido a mulher de uma complexidade reconstruir várias vezes. A in- culação do teatro épico. É im- la antiga vida, o que acaba lhe
todos esses acontecimentos. ímpar e que exige um gran- vestigação do papel do artista pressionante a grandeza do tra- proporcionando um falta de
Temos hoje uma distância de esforço de compreensão e se tornou necessária. Eu pre- balho. No entanto, ela é quase sentimentos com os outros.
histórica, que nos permite dar também capacidade de síntese. cisava de alguém que fosse um invisível. O trabalho de Brecht, JT – Qual a diferença en-
uma perspectiva mais crítica Weigel é uma mulher da con- guia. A descoberta da possibi- porém, é todo feito baseado na tre atuar no teatro e na TV?
na avaliação da trajetória dessa temporaneidade. lidade de reencarnar alguém maneira de sua interpretação. EG – Atuar em si nunca é
mulher. Para mim é muito legal JT – Ter estudado a vida como Weigel me pareceu, en- Aqui no Brasil, por exemplo, diferente. Existe o prazer puro
esse trabalho, já que na minha de Weigel te ajudou a enten- tão, um grande desafio. Sempre eu e Ariel achamos pouco ma- e simples da interpretação. Só
Jornal de Teatro 1º a 15 de Setembro de 2009
9
Entrevista

da efervescência cultural

Inúmeras peças teatrais estão no currículo de Esther Góes, mas a atriz destaca “Hair”, “O Que Mantém um Homem Vivo” e “Tarsila” como seus mais importantes trabalhos no palco

que a TV e o teatro são lugares nema. Só que tudo funcionou tante. Orgulho-me muito do em são Paulo? cais da Funarte em São Paulo.
realmente diferentes. Talvez bem em “Stelinha”. Também trabalho que fiz no Teatro Ofi- EG – Queria que esse lo- Queremos que a direção desses
por já ter feito muitas pesqui- fiz um trabalho muito bonito cina antes disso tudo. Uma obra cais abrigassem não só o teatro espaços seja democrático. Não
sas profundas e ter atuado há que foi “Pagu”, de 88, em que que me marcou mesmo e que comercial, mas também essa queremos que haja qualquer
muito tempo nesse meio, creio interpretei pela primeira vez a jamais esquecerei é “Tarsila”, tensão inovadora que busca outro tipo de interferência na
que o teatro é o espaço que Tarsila do Amaral. que sintetiza muito bem minhas desesperadamente um espaço escolha dos gestores desses lo-
mais me convém. Na TV o ne- buscas dentro da profissão. e apoio. Queremos trabalhar cais que não seja o mérito.
gócio é mais representar, já que JT – E na TV?   com um número grande artis-  
não tenho muito direito à esco- EG – Na TV eu destacaria JT – Por que aceitou o tas de diferentes áreas, envolvi- JT – Sua experiência no
lha dos temas e nem participo meus dois últimos trabalhos desafio de coordenar a pro- dos com a região e lhe dando teatro pode ser usada a favor
deste processo. Apenas faço o na TV Record: o “Amor e In- gramação do Complexo Cul- acesso a vários pontos de cul- da Funarte?
que é pedido. Gosto muito de trigas” e agora “Bela, a Feia”. tural Funarte de São Paulo? tura. Focamos muito nas artes EG – Sem dúvida. Sei bem
experimentar a obra que é feita Na Rede Globo eu citaria “O EG – Entrei a convite do visuais. Enfim, queria propor- o que dói em quem trabalha
na televisão. É uma arte mais Direito de Amar”. Já fiz tam- Sérgio Mamberti, presidente da cionar ações disseminadas em com arte. Não temos aqui
voltada para o grande públi- bém várias coisas boas na TV Funarte a nível nacional, no dia todo o espaço e que consigam no Brasil a figura do produ-
co. Divirto-me muito na TV, Cultura, que inclusive voltam 8 de janeiro, para ajudá-lo em integrar a população do entor- tor do artista. Ele é o próprio
principalmente quando se trata a reprisar diversas vezes. Era o uma tarefa dificílima, que era no, realizando uma parceria de produtor na maioria das ve-
de comédia. São personagens início da minha carreira e me recuperar um trabalho de anos integração dos moradores com zes. O artista tem não só que
sempre muito gostosos e que orgulho bastante dessa fase. que estava sendo abandonado agentes culturais. O meu obje- criar, mas fazer acontecer. Na
me permitem degustar bastante em São Paulo. Era preciso uma tivo é fazer com que o artista verdade, ele precisa de um
novas linguagens. JT – No teatro, quais ação efetiva para agir em todos tenha liberdade de ter um es- Estado que lhe dê suporte e
os espetáculos que mais te os lugares do poder público si- paço de experimentação, com condições para dar sustenta-
JT – De todas as apari- marcaram? tuados no Estado. Eu observei as condições mínimas de su- bilidade econômica, visibili-
ções no cinema, quais as que EG – Já fiz tanta coisa no que eram lugares onde a cultu- porte. Com isso, ele acabará dade e reconhecimento. Há
te marcaram mais? teatro... Mas não posso deixar ra poderia ter um papel impor- influenciando outras pessoas, experiências que dão certo e
EG – No cinema foi “Ste- de citar o “Hair”. Tinha diver- tante, voltado inclusive para a que também poderão usufruir outras que não. Para a gente,
linha”, de 1990, um filme em sas críticas quanto a esse espe- própria população. Poderiam esse espaço. A arte tem esse o que interessa é que haja essa
que fui premiada como melhor táculo, mas, hoje, vejo como foi ser espaços ocupados por ar- negócio bonito de círculo de experiência. Esse é um direi-
atriz no Festival de Gramado. bonito ter entrado no meio pela tistas cheios de criatividade influências.   to fundamental da arte: exis-
Naquela obra eu experimentei porta da frente, em um obra de que anseiam por ter algum lu- JT – E sobre os editais de tir. Privilegiamos o acesso a
a linguagem cinematográfica e tão grandes proporções. De- gar para realizar o seu trabalho. ocupação... quem não tem meios comer-
muita coisa era nova. Não che- pois de “Hair” eu cito “O que JT – Quais são suas EG – Agora, em outubro, ciais e procuramos sempre
guei a fazer muitos filmes. Não Mantém um Homem Vivo?”, ideias de como utilizar me- divulgaremos o resultando dos ser isentos. Quero apenas fa-
sou uma atriz específica de ci- que também me marcou bas- lhor os espaços da Funarte editais de ocupação para os lo- zer com que cultura floresça.
10 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Reportagem

Personagens
Ocultos Corredores escuros e assombrados, mentes atormentadas,
almas perturbadas. Você acredita em fantasmas?

“As pessoas sempre falavam, mas eu não acreditava. Dizia que


era arte de gente brincalhona que usa dos medos dos outros
para alimentar esse tipo de lenda”, diz Luciano Nonato
Fotos de divulgação

veio. Quando
foram atrás dela,
ela desapareceu”,
detalha.
As muitas histórias a
respeito de figurinos que
se mexiam sozinhos e por-
tas que fechavam e abriam sem
ninguém por perto engrossam,
há muitos anos, a lista de hor-
ror do teatro local. Mas o céti-
co funcionário não acreditava
que tinha chegado a sua vez de
vivenciar uma história de ter-
ror. Certo de que se tratava de
algum colega de trabalho en- Histórias assombrosas já fazem parte da história do Teatro Amazonas Saulo conta casos, mas é cético
graçadinho que conseguira se sentações do cantor Edson de terror em que a vida pare- a orquestra notou. Quando
esconder para assustá-lo, Lu- Cordeiro, que teve casa lotada ce imitar a arte, o Jornal de perguntaram a ele o que esta-
ciano abriu as cortinas seguro todos os dias. “Com exceção da Teatro pegou o crucifixo e re- va acontecendo, ele disse
de que o pegaria desprevenido. poltrona de número 13, que, solveu investigar mais a fundo que tinha visto uma criança
Por Paloma Jacobina No entanto, se surpreendeu ao apesar de vendida, ficou deso- quem são essas estrelas obscu- cair no fosso que separa a or-
As notas tristes que se avistar o piano vazio, coberto cupada em todas as apresenta- ras dos teatros. Se prepare para questra da plateia”, relembra.
ouviam por detrás da cortina pela espessa manta que o pro- ções”. Segundo Luciano, aque- uma viagem de norte a sul do “O problema é que, quando
já descerrada do palco prin- tegia da poeira. la sequência de fatos derrubava Brasil que vai fazer sorrir, cho- a produção foi olhar o local
cipal do Teatro Amazonas “Aquela cena me apavo- por terra todas as suas certezas. rar e se apavorar. para regatar a criança, ela não
soavam mais intrigantes que rou”, admite. “As pessoas Será que realmente existiam Foi mais ou menos assim estava lá. Não havia ninguém,
pavorosas para o então assis- sempre falavam, mas eu não fantasmas perambulando pelos a experiência vivida pelo ator tampouco vestígios de que al-
tente de iluminação da casa. acreditava. Dizia que era arte corredores daquele antigo tea- e cantor brasiliense Saulo Vas- guém caiu no fosso”.
“Eu tinha certeza de que não de gente brincalhona que usa tro? Seria mesmo a alma da ga- concelos. Apesar de insistir que Cético, Saulo afirma que
havia mais ninguém no lo- dos medos dos outros para rota que morrera incendiada na- não acredita no sobrenatural, tudo não passa de uma cria-
cal e por isso mesmo fiquei alimentar esse tipo de lenda”, quele mesmo terreno, antes da ele também tem histórias de ção da mente humana, apesar
atento quando ouvi o piano relembra. “Mas, no momento construção do teatro, que circu- fantasmas para contar. Uma de- de alguns moradores da região
sendo tocado. Não fiquei em que vi que não havia nin- lava pelos corredores apavoran- las aconteceu durante apresen- afirmarem que sempre avistam
com medo. Fiquei curioso”, guém no local, bateu um pâni- do a todos? Ou seriam aquelas tação realizada no Teatro Abril, os fantasmas das vítimas do
relembra Luciano Nonato. co enorme. Algo que eu nunca imaginações construídas pela em São Paulo, quando um ter- terremoto que destruiu o an-
Já fazia mais de cinco anos havia sentido”, revela. cabeça cansada do aposentado? ceiro integrante (inexistente) foi tigo prédio do local, em 1985.
que Luciano trabalhava pe- A primeira vez que Nona- O certo é que as histórias registrado em cena pelos moni- “Cada um tem uma razão para
los corredores do imponen- to notou a presença de algo de terror muitas vezes conta- tores da equipe da coxia. acreditar e ver o que bem qui-
te teatro manauara quando o sobrenatural no local marcou das nos palcos do mundo afo- No entanto, o contato mais ser. Acho que histórias de eso-
episódio aconteceu. Até en- o início de uma série de estra- ra viraram realidade no Teatro sério que ele afirma ter vivido terismo, fantasmas e outras
tão, jura ele, nunca tinha pre- nhezas. Dias depois, ele estava Amazonas. Naquele palco onde com os fantasmas do teatro questões que fogem à ciência e
senciado nada do gênero. “O fazendo a ronda, quando per- sentimentos profundos são usa- aconteceu, curiosamente, du- à razão têm poucas chances de
mais próximo que cheguei dos cebeu alguém passando para a dos para mexer com a emoção rante a apresentação do musi- serem verdadeiras”, afirma.
famosos fantasmas que apavo- sala da administração, já com o de não apenas um, mas de toda cal “O Fantasma da Ópera”, O ator e diretor baiano Ân-
ram os freqüentadores daqui, teatro fechado. “Corri atrás da uma plateia – onde amor e ódio em que ele vivia o personagem gelo Flávio é outro que jura não
até aquele dia, foi através dos moça de branco pedindo que são vividos aos extremos – que principal, um suposto fantasma acreditar em fantasmas, mesmo
causos (sic) que ouvia de um ela parasse e dizendo que ela podem perambular os espíritos que assustava os freqüentadores depois da estranha experiência
e outro colega de trabalho”, não poderia ficar ali. Um se- perturbados ainda presos a este do teatro. que viveu ao encenar o espetá-
lembra. “Uma vez, um conhe- gundo depois, ela sumiu atrás mundo. E por que não em bus- “Estávamos fazendo uma culo “A Casa dos Espectros”,
cido meu se deparou com uma de uma pilastra”. ca de refúgio, ou simplesmente apresentação no Centro Cultu- no prédio da antiga Faculdade
moça toda de branco circulan- As histórias e aparições atraídos pelas energias que en- ral Tel Elmex, no México, em de Medicina da Bahia, no Cen-
do pelos bastidores sem que misteriosas continuaram, como volvem o lugar? 1999, quando o violoncelista tro Histórico de Salvador.
ninguém soubesse de onde ela as ocorridas durante as apre- Para contar essas histórias desafinou a tal ponto que toda “Aquele prédio é assusta-
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
11
Reportagem
Fotos de divulgação
dor e todos sabem disso. Eu ela realmente viu algo, mesmo
não ficava nele sozinho à noi- que tenha sido produzido pela
te sob hipótese alguma, mas própria mente”.
eu não acreditava mesmo que E como podem ser tão
poderiam existir fantasmas no céticos diante de tantas afir-
local, até que um membro da mações? Será que realmente
produção do espetáculo jurou existiam fantasmas perambu-
ter visto um homem velho e lando pelos corredores daquele
esfarrapado caminhando pelo antigo casarão? Seriam mesmo
jardim e desaparecendo diante as almas das vítimas do terre-
dos olhos dela”, detalhou. moto responsáveis pelas apari-
Segundo Flávio, o depoi- ções no México? Ou também
mento da garota foi tão verda- seriam aquelas imaginações
deiro que todos ficaram com construídas pelas nossas men-
medo. “E ela me pediu para tes atormentadas? A decisão é
se afastar do grupo por tempo sua. A história quem conta so-
indeterminado e continua se mos nós. Por via das dúvidas,
recusando a trabalhar naquele tome cuidado ao andar sozi-
lugar novamente. Acredito que nho por um velho teatro. Em Ribeirão Preto, no Teatro Carlos Natal, a iluminação balança mesmo com o teatro vazio e sem vento

Mesmo após a morte, espíritos continuam em cena Os espectadores do além


Por Daniel Pinton no Rio de Janeiro Por Carlos Gabriel Alves quer, mas o Fantasma de Dom
Pedro II, que já foi visto, mais
Fantasmas existem sim. A A arte, quando manifestada, de uma vez, abandonando seu
afirmação categórica poderia apoia-se muitas vezes na ficção quadro na parede para dar um
soar como irresponsável ou e no místico, apropriando ele- “passeio” pelo salão e depois re-
digna de um baita mentiroso, mentos considerados longe da tornar a sua posição de origem.
mas funcionários dos mais diver- realidade em suas formas de As aparições causam dife-
sos teatros do Rio de Janeiro não expressão. Em quadros, livros, rentes sensações para quem já
apenas corroboram com a certe- filmes e peças o “ir além” é a as presenciou. Machado assumiu
za, mas também exibem um rico forma escolhida para questio- ter medo, já Macaxeira mostrou-
leque de histórias daqueles que já nar e explicar o mundo e nossas se tranqüilo. “Não tenho medo,
passaram desta para uma melhor crenças. Até aí, nada de novo. apenas continuo fazendo meu
e ainda não conseguiram mudar Mas será que o lugar onde a arte trabalho”. Porém ambos con-
de palco: são os chamados fan- é concebida e realizada também cordam que os fantasmas se
tasmas do teatro. segue essa lógica? tornam parte do imaginário
As já consagradas histórias O Teatro Municipal de São que envolve o ambiente teatral.
de pianos e violinos em concerto José dos Campos, no interior de “Alguns de fora não acreditam,
durante a madrugada inóspita do São Paulo, recebe de tempos em outros têm medo, mas acaba
Theatro Municipal do Rio de Ja- tempos a visita de uma mulher sendo interessante. Vira len-
neiro já não assustam mais. Mais “morena de cabelos crespos”. O da”, afirmou Machado.
do que lendas, viraram parte do auxiliar de luz e som, Paulo Ma- Por falar em lenda, o Teatro
inventário de um dos teatros chado, que há quinze anos traba- Guaíra, localizado na capital
mais tradicionais do Brasil. As Teatro Oi Casa Grande tem recebido visitas, no mínimo, estranhas lha na casa, comenta que, além paranaense, Curitiba, carrega,
histórias do Municipal, no en- da mulher desconhecida - que foi desde sua construção, uma his-
tanto, chegam a parecer contos não tem ninguém”, afirma com famosa escola de atores do Rio vista por ele no camarim, outros tória que os atuais funcionários
infantis frente aos mais novos veemência. de Janeiro que se passam his- estranhos fenômenos também acreditam ser apenas mito.
relatos de funcionários de dois tórias inusitadas contadas por foram presenciados. “Às vezes O teatro foi construído em
outros teatros da cidade. O CASO DA José Severino da Silva, o famo- ouço me chamarem e, toda vez 1952 e, durante o processo, um
Não precisou de mais de BONECA BIZARRA so Zé do Tablado, que lá che- que vou ver, não tem ninguém. operário conhecido por “Mi-
seis meses na função para que Os acontecimentos mais gou para trabalhar como cama- Já ouvi muito barulho de gen- kito” se acidentou e morreu.
a recepcionista e funcionária sinistros presenciados pela reiro aos 28 anos. Hoje, aos 60 te andando no palco e, quando Anos depois, um vigia que mo-
da limpeza do Teatro Oi Ca- funcionária no Casagrande, anos, Zé recorda, em detalhes, acendi a luz, estava vazio”. rava no local dizia ver o fantas-
sagrande, Flávia Primo, perce- no entanto, estão atrelados a aparições mais do que sinistras Em Ribeirão Preto, também ma de Mikito constantemente
besse que o local recebe visitas duas peças de grande suces- que presenciou no local onde no interior paulista, o maquinista dentro do teatro. Seu Esposí-
no mínimo, digamos, estranhas. so no teatro: “Hamlet” e “O viveu maior parte de sua vida. Idelvan Ernesto Carvalho, mais to, o funcionário em atividade
Fugindo do constante binômio Mistério de Irma Vap”. No “Já vi muito fantasma. Até conhecido como Macaxeira, re- mais antigo do Guaíra, acredita
madrugada/teatro vazio, onde caso de “Hamlet”, misteriosos hoje os fantasmas do Tablado lata fatos bem semelhantes. “Já que a história do operário não
as histórias que são contadas homens de preto e, em “Irma aparecem para mim. Via gente vi, mais de uma vez, a ilumina- passa de mito.
geralmente se passam, Flávia Vap”, uma boneca bizarra. “Na dançando no palco, as pessoas ção balançando com o teatro Em Ribeirão Preto, Maca-
conta que todas as suas experi- época em que “Hamlet” esteve chamavam pelo meu nome na vazio, sem vento. Já ouvi sons xeira também aponta histórias
ências com o outro mundo são aqui em cartaz, eu vi durante o minha cara e quando eu me vi- e barulhos e, quando fui checar, consideradas mitos. “Falam
claras e à luz do dia. dia umas pessoas de preto an- rava e abria a cortina não tinha não havia ninguém”. que o teatro foi aterrado com
“Diariamente, de manhã dando na passarela suspensa. ninguém”, conta. Macaxeira nunca viu nenhu- terra de cemitério e que no ter-
cedo, no lounge do teatro, Quando íamos até lá não havia Desempregado e vivendo ma imagem que parecesse com reno de trás tem uma pessoa
vejo uma sombra, um vulto mais ninguém. Teve uma vez atualmente em Itaboraí, mu- um fantasma, mas já teve im- enterrada com uma cruz. Por
que passa rápido e depois não também que colocaram uma nicípio do Estado do Rio de pressão de estar acompanhado isso ocorrem coisas estranhas
consigo mais ver nada. Na pri- boneca de decoração ao lado Janeiro, Zé do Tablado lembra dentro do Teatro Municipal de por aqui. Mas não acho que
meira vez até pensei que era de um pôster da peça “Irma com saudosismo do dia em Ribeirão Preto totalmente va- seja verdade”.
um amigo meu e fui atrás, mas Vap” e umas meninas que tra- que o espírito de um diretor zio. “Muita gente conta mentira Casos como esses ninguém
quando cheguei perto não ti- balham aqui contam que ela amigo apareceu para ele e fez por aí, mas o que eu vi foi real. nunca vai conseguir provar se
nha mais ninguém. A pessoa (a boneca) ficava seguindo as um pedido bastante esquisito. Alguns dos meninos que traba- realmente aconteceram ou se
que eu pensava que era estava pessoas com os olhos. De tan- “Depois de falecido, um dire- lham aqui também já viram e são apenas lendas. Mas, tratan-
inclusive em casa. O Tião, que to medo que ficaram tiraram a tor de teatro chamado Damião ouviram coisas”, ressalta. do-se de teatros, nada é impos-
faz obra aqui, também diz que boneca”, lembra. apareceu na minha frente, cha- Ainda no Estado de São sível.
durante o dia escuta alguém o O Teatro Tablado foi outro mou pelo meu nome e pediu Paulo, Santos é outro lugar com Quem sabe em sua próxima
chamando e quando segue a palco que não serviu apenas de cerveja e brigadeiro. Não fi- histórias intrigantes. De acordo visita ao teatro você não se de-
voz não tem ninguém. Diz que espaço inicial para grandes ato- quei com medo dele porque com relatos de funcionários, o pare com um atual espectador
ouve barulho de alguém subin- res da dramaturgia brasileira. ele gostava muito de mim”, Municipal da cidade litorânea da vida, sem reflexo, curtindo
do na plateia e quando chega lá É na estrutura cênica da mais diz, orgulhoso. abriga não um fantasma qual- o espetáculo ao seu lado?
12 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Dança

COREÓGRAFO BRASILEIRO
retorna ao país após trajetória de sucesso na Europa
Jarbas Homem de Mello
Por Jarbas Homem de Mello um amigo meu foi chamado para fazer
um conserto beneficente na Inglaterra
Após um dia exaustivo de traba- para a Lady Di, fui ver um ensaio, a co-
lho, o experiente e conceituado core- reógrafa me conheceu, gostou de mim
ógrafo Alonso Barros recebeu o Jor- e me chamou para trabalhar. Voltei para
nal de Teatro na academia Pulsarte, os musicais como interprete em “Rock
em São Paulo, onde está ensaiando Horror Show”, e aí vieram uma suces-
o espetáculo “Pernas pro ar”, nova são de musicais como “Sweet Charity”,
produção de Cláudia Raia. Na entre- “La Cage aux folles” etc.
vista, ele falou de sua trajetória artís-
tica, da vida na Europa (onde reside JT – E como se deu essa passa-
atualmente) e dos bons “acidentes” gem do performer para Coreógrafo
que a vida lhe proporcionou. de Musicais?
AB – Depois que eu voltei a traba-
Jornal de Teatro – Você participou lhar nos musicais, comecei a lecionar no
da montagem de “A Chorus Line”, Performing Arts, em Viena, uma escola
de 1983, espetáculo que lançou artis- de musicais muito conceituada. Lá, eu
tas de grande destaque como Cláu- coreografava muito para os shows, e isso
dia Raia, Raul Gazola e o saudoso começou a mostrar muito o meu traba-
Tales Pan Chacon. lho, então veio a grande oportunidade
Alonso Barros – Foi logo depois de de coreografar “Kiss me Kate”, uma su-
eu me decidir pela arte, largando meu per produção. Foi quando eu realmente
curso de arquitetura. Foi uma produção entrei no mercado como coreógrafo, e,
do Walter Clark, e foi onde tudo come- desde então, não parei mais. Com isso,
çou realmente. Nessa época eu iniciei fui diminuindo meus trabalhos como
minhas experiências como coreógrafo, performer e me tornando realmente co-
montei uma versão do Pippin, que foi reógrafo. Mantive minha base em Viena
muito elogiada na época, e aí vieram ou- e comecei a trabalhar em vários países
tros musicais como interprete, até 1988, da Europa.
quando decidi sair do Brasil.
JT – E como surgiu o convite para
JT – Você saiu do Brasil poucos voltar a coreografar no Brasil?
anos depois de ter iniciado uma pro- AB – Esse foi mais um feliz acidente
missora carreira. Foi a busca de no- na minha carreira. Eu estava no Brasil,
vas oportunidades de trabalho que o visitando a família, e sabia que estavam
levaram a Europa? montando o “Sweet Charity”. Fiquei in-
AB – Na verdade, o que me levou teressado, mas eu já não tinha mais con-
à Europa foi uma inquietação geral. Eu tato com a Cláudia Raia desde a época
tinha vinte e poucos anos na época, achei do “Chorus Line”, mas uma amiga mi-
que era o momento de ousar, rodar um nha, que trabalhava na CIE na época,
pouco. Eu estava um pouco cansado de me indicou. A Cláudia lembrou de mim
musicais e, na verdade, tinha o sonho de e me recomendou na hora, me pediram
conhecer e trabalhar com a Pina Bausch um registro do meu trabalho e fecharam
– eu era e sou louco pelo trabalho dela. comigo, foi aí que conheci o Charles
Na época, havia um amigo morando em Moeller e o Cláudio Botelho, que ago- O coreógrafo Alonso Barros volta ao Brasil após adquirir vasta experiência no exterior
Viena que estava participando de um ra me chamaram para a montagem de
show brasileiro. Estavam precisando de
gente, achei que era a minha chance, mas,
chegando lá, não tinha trabalho algum,
“O Despertar da Primavera”. Agora já
emendei outro trabalho aqui, que é o
“Pernas pro Ar”, um projeto da Cláudia
“Aliás a vida já é uma grande piada,
pois o show havia sido transferido para
o final do ano. Como eu só descobri isso
quando cheguei, não havia nada para fa-
Raia que começou pequeno, há mais de
um ano, e que agora tomou proporções
de mega produção. Estou muito feliz
você nasce vive e morre... É ridículo!”
zer. Na época, estava acontecendo um por dividir a criação desses espetáculos JT – E qual sua relação com os Viena para uma montagem de “Vitor
festival e fui fazer uma aula, um coreó- com profissionais renomados como a “franchising” da Broadway? ou Vitória”.
grafo que estava começando um trabalho própria Cláudia, o Luiz Fernando Verís- AB – Essa é uma estrutura que eu
de dança contemporânea em Viena me simo, Cacá Carvalho e Marconi Araújo. já conheço e não me interessa. Preciso JT – E o sonho de conhecer a
viu e me convidou para trabalhar. de espaço para a relação coreógrafo/ Pina Bausch, se realizou?
JT – Outra grande característica diretor/ator. Preciso exercitar a cria- AB – Essa é uma história boa, quan-
JT – Quer dizer que, apesar do do seu trabalho, além da sensualida- ção, mesmo dentro de uma estrutura do eu estava ensaiando “Rock Horror
susto, você chegou na Europa e co- de, é o humor. Você sempre prioriza pré-estabelecida. Se não houver esse Show” em Viena, ela abriu audições
meçou sua carreira de performer isso nas suas coreografias? espaço eu não me encaixo. Se eu não para um trabalho sobre a Áustria. Eu
imediatamente? AB – Sempre trabalho com o humor. estiver aberto ao novo, eu vou acabar faltei ao ensaio do espetáculo para fazer
AB – Bom, depois desse trabalho em Mesmo em cenas dramáticas, penso que me repetindo e não quero isso. Cada o workshop, ao final da audição ela veio
Viena, recebi o convite para trabalhar de o humor às vezes pode potencializar o espetáculo é único, cada elenco é úni- falar comigo e disse que tinha gostado
modelo. Aí eu pensei: melhor que lavar drama, e isso é do ser humano, busco co, mesmo em uma remontagem. muito de mim, mas meu perfil era muito
pratos né? (risos). Eu fiquei modelando isso na composição dos personagens, latino para um espetáculo sobre a Áus-
por um ano e meio mais ou menos e, esse patético da existência. Aliás, a vida JT – E quais os planos futuros? tria (risos) e não poderia me usar para
um tempo depois, resolvi participar de já é uma grande piada, você nasce vive e AB – Um dia depois da estreia do esse trabalho, mas que as portas de sua
uma competição internacional de novos morre... É ridículo! E nós estamos aqui “Pernas pro ar”, eu embarco para a cia estavam abertas para eu fazer aulas e
coreógrafos, naquele mesmo festival de para aproveitar o banquete enquanto é Alemanha, para ensaios de uma re- tentar futuros trabalhos com ela. Eu não
Viena. Ganhei o primeiro lugar, o que tempo, e eu não uso isso no trabalho montagem minha de “Hair”. Só de- pude ir porque estava sob contrato, mas,
me deu uma visibilidade, e foi nessa como um escapismo, mas sim como um pois é que volto para minha casa, em de certa forma, o sonho se realizou. Foi
época também que eu voltei para os mu- tom crítico mesmo, e isso me ajuda dra- Viena, devo voltar ao Brasil para a um momento muito especial para mim,
sicais, e de uma maneira bem inusitada, maticamente para contar uma história. montagem de “Gipsy”, e novamente que eu guardo com muito carinho.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
13
Artigo
Divulgação

A crítica teatral
jornalística:
qual seu papel?
PRIMEIROS PASSOS comprova a seriedade, a responsabili-
PARA UMA BOA CRÍTICA dade e o constante dever de estudar,
Ninguém duvida que a primei- conhecer, enfim, para não ser nem
ra característica exigida a autores de leviano nem permissivo quando tra-
quaisquer editorias dos jornais e revis- tamos de assunto tão sério como o é
tas, impressos (as) e eletrônicos (as), para mim o teatro.
é que se escreva com clareza. Essa Em um segundo momento da mi-
exigência tão importante ao repórter, nha pesquisa, realizo entrevistas com
cuja função é desembaraçar os fatos Mariângela Alves de Lima, há mais
do cotidiano para seu público lei- de 30 anos crítica teatral de “O Es-
tor, é apontada por Sábato Magaldi tado de São Paulo”, e, nesses diálo-
em artigo como condição primordial gos, conversamos a respeito das ideias
para que um texto crítico obtenha seu dela sobre as teorias que levantei pela
objetivo primeiro que é estabelecer pesquisa bibliográfica. A partir disso,
a comunicação entre quem escreve e chego mais perto da forma como ela
quem lê. Ele acrescenta que o crítico se aproxima de um espetáculo teatral,
“julgue com extrema honestidade e de que maneira ela lida com o fazer da
sem preconceitos de gênero”. Magaldi crítica teatral e suas ideias a respeito
diz também que “a primeira função da da finalidade de suas críticas.
crítica é detectar a proposta do espe- Assim como Sábato Magaldi, de
táculo, esclarecendo-a, se preciso, pelo quem foi aluna na graduação em críti-
veículo da comunicação. Em seguida, ca teatral na Escola de Comunicações
Sabato Magaldi: (o crítico) “julgue com honestidade e sem preconceito de gêneros” cabe-lhe julgar a qualidade da oferta e e Artes da USP, acha que a condição
da transmissão ao público”. sine qua non de um texto crítico deve
Para realizar o que chama de “jul- ser sua clareza para o estabelecimento
gamento” ele evidencia a necessidade da comunicação entre autor e leitor.
Por Michel Fernandes, sários para propagar a reflexão acerca de o crítico assegurar seu conhecimen- E defende a posição de que, para o
Especial para o Jornal de Teatro dos novos fenômenos teatrais, pon- to sobre o objeto que vai propor a re- artista, a crítica interfere muito pou-
to que vai de acordo com as ideias da flexão crítica – o espetáculo teatral. E, co, “a crítica teatral não faz com que
Há algumas edições desse Jornal de dramaturga Marici Salomão, de que a para a aquisição de tal saber, cabe ao nenhum gênio do teatro desperte, ou
Teatro, o editor Rodrigoh Bueno regis- crítica é uma das bases da percepção, crítico, além de sólida formação em seja, a reflexão crítica não dá ao artista
trou, em seu editorial, um justificado es- discussão e difusão de novos caminhos cultura geral, a frequente leitura sobre as respostas estéticas para a excelência
panto com a conversa de alguns críticos das artes cênicas. a estética teatral, seus diversos estágios ou não de seu trabalho”. Em um en-
Não quero com esse texto glorificar diante da história teatral, estudos sobre contro realizado com alunos do cur-
de teatro, que estavam na mesma van
a atividade de crítico teatral, que exerço os mestres – como Artaud, Meierhold, so de Crítica Teatral, ministrado por
que ele, em um determinado festival de no Aplauso Brasil – www.aplasobrasil.
teatro. Segundo Rodrigoh, tais críticos Craig, Bob Wilson, Stanislavski, Bre- Silvia Fernandes e Luiz Fernando Ra-
com.br –, seria no mínimo pedante e cht e Piscator, entre tantos outros –, mos, ela acrescentou o medo que tem
não gostaram do espetáculo que tinham pretensioso, mas, antes, reconhecer a
visto, mas teriam de “pegar leve” em conhecimentos sobre a dramaturgia de que suas críticas “policiem” o tra-
responsabilidade que carregamos ao as- de Sófocles a Shakespeare, de Brecht a balho dos artistas.
seus textos, pois o espetáculo levava a sinar nossos artigos e, por isso mesmo,
assinatura de um “figurão”. Dea Loher, de Padre Anchieta a Nelson Mariângela traz em sua vivência o
nos entregarmos à dúvida, ao questio- Rodrigues, de Maria Adelaide Amaral a terror do cerceamento da livre expres-
Deprimente saber que a autocensura namento constante. Em lugar do auto-
dos que não têm coragem para assumir Juca de Oliveira, do texto coletivo ao são, devido à ditadura militar, e, sendo
ritário “isso pode” e “isso não pode”, processo colaborativo. Enfim, ser crí- assim, compreende-se seu pavor ao
suas posições frente a uma peça – por reconhecer que o teatro é território li-
medo de desagradar a alguém cuja car- tico é não ter medo de estudar e reco- “policiamento” dos artistas a partir
vre, em que quaisquer experimentações nhecer que o saber jamais se esgota. de críticas que apontem os aspectos
reira é coroada por sucessos ou aos ar- são possíveis e que, concordando ou
tistas que, em sua trajetória, compilaram favoráveis e desfavoráveis de tal e tal
discordando do fenômeno teatral que espetáculo, mas acredito – talvez ain-
um exército de amigos influentes – exis- A CRÍTICA EM PESQUISA
se critica, é necessário o embasamen-
ta e seja mais praticada do que sonha Desenvolvo uma pesquisa, Antu- da esteja vivendo numa utopia! – que
to teórico e de experiências, vividas ou
nossa vã filosofia. apreendidas em leituras, para se tecer nes Filho e José Celso Martinez Cor- é possível o diálogo entre o crítico e
E, além dessa ideia equivocada e que o texto que, aliás, nada deseja ser defi- rêa: Apolo e Dionísio do teatro sob a o objeto de sua crítica não como bula
atravanca a reflexão – absolutamente nitivo, mas, tão-somente, uma alavanca perspectiva das críticas e outros textos que direcione o trabalho posterior do
necessária – para os avanços estéticos de para a discussão sobre tal fenômeno, já de Mariângela Alves de Lima, para o artista, mas como material que lhe sir-
nosso teatro, há um grupo de pessoas que segundo diz o diretor inglês Peter Arquivo Multimeios do Centro Cul- va para saber como se dá uma leitu-
que lidam, direta ou indiretamente com Brook “o verdadeiro bom teatro só tem tural São Paulo (CCSP). Em primeiro ra do trabalho dele por um indivíduo
a crítica teatral, que abre concessões a inicio ao cair do pano”. lugar, tal estudo me colocou dentro de fora do mesmo, nem que para discor-
espetáculos de iniciantes com a justifica- É preciso refletir, sobretudo, “o que uma fortuna de escritos teóricos que dar e deletar essa outra perspectiva.
tiva de que é preciso incentivá-los. é?” e “para quem é dirigida?” a crítica propõe reflexões a respeito do fazer
Em artigo de Sábato Magaldi le- teatral. É preciso diferenciar a crítica do texto crítico, de suas possíveis atri- Michel Fernandes é jornalista
mos que a crítica comete muitos erros teatral dos materiais de divulgação de buições e contribuições para o campo cultural, crítico, pesquisador de tea-
de avaliação, mas são equívocos neces- um espetáculo. do saber teatral. Tal perspectiva me tro e editor do portal Aplauso Brasil.
14 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Sindicais

Sinparc: apoio aos produtores mineiros


Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas do Estado de Minas Gerais defende os (vários) interesses políticos e jurídicos da categoria
Por Pablo Ribera oficial dos produtores.
Entre as principais ações PARA SE FILIAR:
Em 1988, um grupo de da entidade estão a repre- PESSOA JURÍDICA liação dirigido a diretoria do Sinparc o nome do requerente como pro-
produtores de teatro e dança sentação dos produtores cê- anexando cópia do CNPJ e do Con- dutor do evento e a respectiva fi-
de Belo Horizonte, ao refletir nicos em todas as comissões A – Estar devidamente regis- trato Social em vigor ou do estatuto cha artística e técnica dos eventos
sobre a necessidade de uma de ocupação dos teatros pú- trado como empresa ou grupo pro- com a respectiva ata de eleição e homologada pela entidade pro-
organização que apoiasse estes blicos de Belo Horizonte e dutor de artes cênicas, em Minas posse do responsável e demais com- fissional comprovando terem os
profissionais, criou a Ampar nas comissões das Leis de Gerais, no mínimo há dois anos a provações acima solicitadas. integrantes registro profissional na
(Associação Mineira de Pro- Incentivo à Cultura Estadual partir da data do pedido de filiação; função exercida.
dutores de Artes Cênicas) que, e Municipal, administração B – Comprovar a realização de, PESSOA FÍSICA C- Encaminhar pedido de filia-
mais tarde, após ter a sua repre- do Teatro Clara Nunes e a no mínimo, duas produções de arte ção, dirigido a diretoria do Sinparc,
sentação consolidada, transfor- realização da Campanha de cênica profissional nos dois últimos A – Estar registrado como Produ- anexando cópia do respectivo re-
mou-se no Sinparc (Sindicato Popularização do Teatro e da anos da data do pedido de filiação, tor autônomo em uma das áreas de gistro de autônomo e demais com-
dos Produtores de Artes Cê- através de cópia do contrato com artes cênicas (teatro e dança), em provações acima solicitadas.
Dança, projeto considerado
o teatro onde se realizou o evento; qualquer município de Minas Gerais Obs.: Não será aceita filiação ao
nicas de Minas Gerais). A mu- o mais importante das artes material gráfico e jornalístico com- até 31 de dezembro de 2002. Sinparc de requerente cujo nome
dança foi feita com o objetivo cênicas de Minas. O Sinparc, provando a realização e destacan- B – Comprovar a realização de, (pessoa física) ou qualquer membro
de organizar um segmento que pelo seu estatuto, tem como do o nome da empresa como pro- no mínimo, duas produções de artes (empresa ou grupo) já conste como
despontava no teatro em Mi- função defender os interesses dutora do evento e ficha artística e cênicas profissional nos dois últimos filiado do Sinparc em alguma empre-
nas Gerais. Em 2001, quando da categoria política e juridi- técnica homologada pela entidade anos da data do pedido de filiação sa, grupo ou como pessoa física.
a Ampar já contava com mais camente, além de desenvolver profissional comprovando terem através de cópia do contrato com
de 70 profissionais filiados, a ações que ampliem as condi- os integrantes registro profissional o teatro onde aconteceu o evento; Para outras informações envie
categoria aprovou a transfor- ções de trabalho e o acesso na função exercida. material gráfico e jornalístico com- e-mail para sinparc@ccentralpark.
mação para sindicato e, a partir ao teatro Mais informações, C - Encaminhar pedido de fi- provando a realização e destacando com.br
daí, tornou-se a representante acesse: www.sinparc.com.br

Evento

18 anos de riso, alegria e esperança


Doutores da Alegria comemora aniversário, em setembro, com inauguração de espaço multimídia para eventos e programação especial
Divulgação
Por Pablo Ribera
PROGRAMAÇÃO
A ONG Doutores da Ale-
gria, grupo de artistas especia-
DE ANIVERSÁRIO
lizados na arte do palhaço em SÃO PAULO
hospitais, completa 18 anos de
trabalho no próximo dia 28 de Palestra Boas Misturas – 17/9
setembro. Para comemorar a A atriz e palhaça Thais Ferrara
data, a organização inaugurou e a psicóloga Morgana Masetti
o espaço Doutores da Alegria narram suas histórias dentro
e realiza uma programação es- da Doutores da Alegria e falam
pecial, com espetáculos, pales- sobre as boas misturas que mé-
tras e outras atividades durante dicos e “besteirologistas” provo-
todo o mês. cam no hospital.
O espaço, localizado na Horário: 19h30
sede da ONG, na rua Alves Doutores Contam Causos – 24/9
Guimarães, em São Paulo, con- A ONG prepara uma edição
ta com uma sala multimídia, especial com os palhaços circen-
galpão para cursos e eventos, ses Picolino e Picoli.
A ONG idealizada por Wellington Nogueira é pioneira em levar o teatro e a arte do palhaço aos hospitais Horário: 19h30
além de uma loja com produ-
tos personalizados dos “bes- seminar informações, estimular A criação do espaço reflete Nogueira, o grupo cresceu e,
teirologistas”. “É um espaço a pesquisa e atender ao público o caminho traçado pelos Dou- hoje, trabalha também em ou- RECIFE E BELO HORIZONTE
aberto a todo o público, aonde em geral. “Pode-se ver, tam- tores da Alegria ao longo de tros setores e atividades, como
se pode encontrar um pouco bém, os arquivos dos Doutores sua trajetória. A ONG foi pio- espetáculos, cursos, palestras A sede mineira recebe uma
do nosso trabalho”, disse o co- da Alegria ao longo destes 18 neira em levar o teatro e a arte e debates. “Temos uma atua- “Palhestra”, no dia 18, às 19h:
anos e o trabalho desenvolvido do palhaço aos hospitais. “Rea- ção fora dos hospitais muito “Doutores Contam Causos”, no
ordenador de Criações Artísti-
por nós”, explicou Brandini, lizamos cerca de 700 mil visitas grande. Passamos, também, a dia 25, às 19h, e o “Menor Fes-
cas, Angelo Brandini. tival de Palhaços Mineiros do
O espaço Doutores da Ale- acrescentando que o acervo é aos hospitais durante estes 18 propagar a arte do palhaço”,
Mundo”, no dia 26, às 17h. No
gria conta, ainda, com uma constituído por livros, relató- anos. Também influenciamos o disse Brandini. A organização Recife, no dia 27, acontece a 1ª
Midiateca, também presente rios, folhetos, projetos, vídeos, poder público com programas articula atualmente uma rede edição de Doutores Contam Cau-
no Recife (PE) e em Belo Ho- fotos, artigos de jornais e ou- de saúde e conseguimos passar de cerca de 250 grupos de sos, às 19h.
rizonte (MG). Elas têm como tros documentos produzidos a filosofia que temos, da deli- atuação semelhante, o progra- As inscrições podem ser fei-
objetivo apoiar cursos e ativi- ou coletados pelos Doutores, e cadeza e respeito com o próxi- ma “Palhaços em Rede”, que tas pelo site: www.doutoresdaa-
dades desenvolvidas por suas cujos temas tenham como foco mo”, afirmou Brandini. inclui oficinas de orientação legria.org.br
diferentes áreas e projetos, dis- o palhaço. Idealizado por Wellington gratuitas.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
15
Festivais
Evandro Salles

“O festival vai além


de uma simples mostra de teatro.
Ele interfere na vida da cidade”.
Guilherme Reis, curador do Cena Contemporânea
fala sobre o reflexo do festival nos artistas da cidade

Por Adair de Oliveira dia 20 de setembro. atividades formativas para o es-


De acordo com o curador pectador, o que se vê no palco
O Cena Contemporânea do festival, Guilherme Reis, surge mais aprofundado, mais
– Festival Internacional de Te- Brasília recebia poucos espetá- compreendido. De acordo com
atro, que ocorreu entre os dias culos, geralmente os grandes, vários depoimentos que recebo,
2 e 13 de setembro, em Brasí- com atores de renome na te- sei que o Cena mudou o teatro
lia (DF), completou, este ano, levisão que vinham para tem- de Brasília. O festival instiga os
uma década de existência. A poradas no Teatro Nacional a artistas e estudantes e irem mais
pré-adolescência (somente a preços exorbitantes. Não estava fundo, a não quererem o banal,
fase) revela, a cada ano, um fes- incluído no circuito teatral alter- a buscarem o risco, a investiga-
tival mais adulto e maduro, que nativo. “Nós estávamos inte- rem e confrontarem seus limi-
começou íntimo em alguns te- ressados em trazer para Brasília tes. Acho que tudo tem sido um
atros do Distrito Federal. Cria- espetáculos que fossem além grande aprendizado e uma troca
do em 1995 (houve anos em dos caminhos já conhecidos. que alimenta a cidade”, conclui.
que o evento não foi realizado, Trabalhos experimentais, ino-
Guilherme Reis, curador, junto com Catarina Acioly e Bidô Galvão
daí as dez edições de comemo- vadores e inventivos, que fizes- TEATRO NA CAPITAL
ração em 2009), o Cena nasceu sem o cruzamento das lingua- Segundo o jornalista e dra- que viaja o País e tem surpreen- de qualidade e também o que
com a proposta de promover, gens artísticas. Foi assim que maturgo Sérgio Maggio, o te- dido público e crítica. O público está sendo produzido em outros
na capital federal, a circulação nasceu o Cena”, conta. atro brasiliense existe deste a interno de Brasília tem começado Estados e países”. Para a atriz
de informações sobre teatro Guilherme frisa que o even- fundação da capital. Há pes- a enxergar isso e não só assistir a Clara Camarano, além de movi-
e dança por meio da exibição to segue com a preocupação de quisas que mostram a atividade peças de artistas famosos. O Te- mentar a cidade o evento é um
de espetáculos. O festival, com apresentar o que há de mais in- proliferando nos primeiros anos atro Goldoni, por exemplo, na espaço para os artistas de Brasí-
o passar do tempo, tem am- quietante em termos de artes cê- da década de 1960 e, depois, 210 Sul, vive lotado com produ- lia apresentarem trabalhos, bem
pliado sua importância e di- nicas. Inclui-se na programação sendo brutalmente coibida pelo ções locais de nomes de expres- como colocar Brasília em foco
mensão, sempre em busca das atividades de formação, como golpe militar. “Imagine o que são nacional como Hugo Rodas, como produtor cultural, saindo
melhores montagens do teatro oficinas, workshops, conversas significou para a cultura, sobre- por exemplo”, conta. do eixo Rio-São Paulo. A atriz
nacional e internacional, além com os artistas sobre o pro- tudo o teatro, uma ditadura de De acordo com o diretor ressalta, ainda, que o festival pro-
de proporcionar intercâmbio cesso de trabalho, seminários e quase duas décadas em uma ci- Fernando Guimarães, o Cena picia ao público ver excelentes
para os artistas locais e o públi- fóruns de cultura, entre outros. dade que estava nascendo. Hoje Contemporânea é importantís- peças a preços populares. Cerca
co. Este ano o festival contou “Acredito que, assim, o festival temos uma produção própria, simo para o desenvolvimento de 300 artistas participaram do
com uma extensão na cidade vai além de uma simples mos- alimentada por duas universi- artístico na cidade. Ele avalia que festival. Durante 12 dias foram
de São Paulo, onde os espetá- tra de teatro. Ele interfere na dades – UNB (Universidade de “é uma excelente oportunidade apresentados 24 espetáculos em
culos podem ser vistos até o vida da cidade. Ao propor estas Brasília) e Dulcina de Morais – de vermos espetáculos de gran- 12 teatros.

Compagnie Un loup pour l’homme apresenta «Appris par corps» em turnê pelo Brasil
Divulgação
rigir seus próprios trabalhos e to Alegre, Florianópolis, Rio
Por Dominique Belbenoit desenvolver pesquisas sobre de Janeiro e São Paulo serão
Um corpo a corpo fasci- a linguagem corporal. Oriun- as próximas cidades a serem
nante entre o francês Ale- dos da Escola Superior das agraciadas com o espetáculo.
xandre Fray e o canadense Artes de Circo de seus res- Segundo Alexandre, foi
Frédéric Arsenault fez do es- pectivos países, Alexandre e necessário muito trabalho de
petáculo “Appris par corps” Frédéric uniram seus talentos pesquisa para fundar a com-
um dos destaques da décima e criaram seu primeiro e único panhia. “O enriquecimento
edição do Cena Contemporâ- trabalho “Appris par corps”, por meio do esporte, da lei-
nea – Festival Internacional cuja tradução seria “Aprender tura corporal, da literatura e
do Teatro de Brasília. Con- de corpo”. A apresentação do da originalidade, entre outros
cebida a partir de uma visão espetáculo lhes valeu o pri- assuntos, foram primordiais
extensa de técnicas corporais, meiro e conceituado prêmio para conceber o espetácu-
a peça, da Compagnie Un Jeunes Talents Cirque (Jovens lo repleto de beleza e poesia
loup pour l’homme, mistura a Talentos do Circo), em 2006, impregnada de humanidade”,
dança, o teatro e a acrobacia, na França. revela o acrobata, que fazia
dispensando as palavras, mas “Nosso trabalho teve malabarismos nas ruas de Pa-
capaz de provocar diversas grande receptividade em toda ris antes de montar sua pró-
emoções a cada cena. a França. Nosso país possui pria companhia.
O confronto entre os dois uma política de incentivo à Para seu companheiro,
homens no palco oscila de for- cultura muito extensa. Por Frédéric, “Appris par corps”
ma ambígua entre gestos deli- isso, tivemos a oportunidade constitui um marco inova-
cados e violentos, entre força de fazer uma turnê tanto no dor no segmento teatral ao
e fragilidade, entre a vontade Alexandre Fray surpreende plateia com golpe em Frédéric Arsenault território francês quanto no possuir elementos do Novo
de escapar do karma da união europeu. Apresentamos “Ap- Crico, movimento nascido na
e a tentação de se fundir como rica de humanidade. do de um encontro entre os pris par Corps” na Holanda, França nos anos 1970. “Esse
irmãos inseparáveis. Em pou- acrobatas Alexandre Fray e na Dinamarca, na Inglaterra, estilo ainda é novo e fascina o
cas palavras, numa cenografia COMPANHIA Frédéric Arsenault, que já na Itália, na Espanha e, agora, público no mundo inteiro. O
pura os dois acrobatas nos A Compagnie Un loup haviam trabalhado juntos em no Brasil, por meio de pro- Cirque Du Soleil, por exem-
desvendam simplesmente a pour l’homme nasceu no sul outras ocasiões. Ambos divi- gramas governamentais”, ex- plo, tem como pilar esse mes-
complexidade de uma relação da França, em 2005, resulta- diam a mesma vontade de di- plica Frédéric. Curitiba, Por- mo movimento”, afirma.
16 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Festivais
Denis Farley Divulgação

Por Leonardo Serafim / JT Ao centro, a coreógrafa


Ivana Milicevic em
Existe uma certa época “Crepuscule des Oceáns”.
do ano, em Porto Alegre, que À direita, cena de “Kiss Bill”
artistas dos quatro cantos do
planeta desfilam seus talentos Divulgação
pelos teatros da capital gaú-
cha. Que bilhetes se esgotam
em segundos, por um público
pronto para saciar sua sede
pela boa arte. Que as acon-
chegantes poltronas das casas
culturais da cidade são toma-
das por um mar de gente, que
busca, em algumas horas de
espetáculo, transbordar emo-
ções que apenas a arte cênica
pode proporcionar. Tudo isso
acontece no POA em Cena,
evento que conquistou milha-
res de fãs com o passar dos
anos, e chegou a sua 16ª edi-
ção no começo de setembro.
Desde 1994, na primeira
edição do evento, mais de 690
peças, de 32 países, foram
encenadas em solo gaúcho.
Centenas e mais centenas de
artistas, sejam eles sul-ame-
ricanos, europeus ou de uma
origem qualquer, pisaram nos
palcos da cidade para encan-
tar mais de 700 mil pessoas
que já prestigiaram o festival.
Nessa 16ª edição, o even-
to promete manter a qualida-
de dos últimos anos – quem
sabe, até, superá-la. Para isso,
não faltam atrações. Logo na
estreia, o Porto Alegre em
Cena trouxe um dos espe-
táculos mais conceituados e
cults do cenário internacio-
nal: a peça canadense “Kiss
Bill”, paródia de uma das ta o drama da escritora Mar-
obras-primas de Quentin Ta- guerite Duras, que relata sua
rantino, “Kill Bill”. Dirigida angústia enquanto espera o
pela coreógrafa portugue- regresso de seu marido, depor-
sa Paula de Vasconcellos, a tado para um campo de con-
encenação deixa de lado os centração nazista, em 1945. Já
banhos de sangue aplicados “Le Grand Inquisiteur”, estó-
pela atriz Uma Thurman, na ria extraída de um romance de
versão original, para focar no Fiódor Dostoiévski, conta a
amor e na compaixão. Reche- volta de Jesus Cristo à Sevilha
ado por números de danças e do século XVI.
um humor impagável, a heroí- Entre as atrações nacio-
na da peça, ao invés de ir atrás nais estão peças do Rio Gran-
de Bill para cortar sua cabeça, de do Norte, de Pernambuco,
vai ao seu encontro para per- da Bahia, do Rio de Janeiro, de
doar todas as suas atrocidades São Paulo, de Belo Horizonte,
cometidas no passado. de Goiás e do Rio Grande do

PORTO ALEGRE
As atrações canadenses Sul. O teatro gaúcho estará re-
não param por aí. Junto com presentado por dez espetácu-
a França, o vizinho educado los que concorrem ao Prêmio
dos Estados Unidos possui as Braskem em Cena. Mais uma
peças mais cobiçadas pelo pú- vez, o Projeto de Descentra-
blico gaúcho. Regado pela boa lização levará encenações a

EM CENA 2009:
trilha sonora, que se impõe todas as regiões periféricas da
pelas “Sonatas Para Piano”, cidade, como uma iniciativa
de Beethoven, o espetáculo consolidada na grade do Em
“Crépuscule des Océans” traz Cena, levando arte e cultura
bailarinos que executam com para essas comunidades.
maestria movimentos ora su- Além das peças, o Porto
tis, ora enérgicos. Alegre em Cena também con-
tará com diversas oficinas gra-
O MUNDO DO TEATRO
Já os franceses não deixam
seu charme de lado e prota- tuitas espalhadas pela capital.
gonizam três das principais O público poderá interagir e
peças do festival. “Quartett”,
texto de Heiner Müller diri- EM APENAS UMA CIDADE aprender um pouco mais so-
bre o teatro com renomados
gido por Bob Wilson, com atores, diretores, professores,
Isabelle Huppert será respon- diretor francês Patrice Ché- no cinema, (Irmãos, de 2003, assistir as obras, terá de se figurinistas e cenógrafos, que
sável pelo encerramento no reau, também mostrará sua e Gabriele, de 2005) Chéreau conter para não cortar os pul- estarão presentes até o dia 25
Em Cena 2009. O renomado genialidade no evento. Mais apresentará nada menos que sos, devido aos fortes temas. de setembro, data de encerra-
conhecido por seus trabalhos dois espetáculos. E quem for Em “La Douleur”, ele retra- mento do festival.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
17
Festivais

TEMAS DO POA EM CENA


POLÊMICAS E CORPOS NUS EM MAIS UMA EDIÇÃO DO POA EM CENA
Fotos: Divulgação

Por Adriana Machado


Com tantos espetáculos a
serem assistidos, o POA em
Cena se torna um mosaico de
assuntos polêmicos e instigan-
tes, sem deixar de lado a con-
temporaneidade. Nos palcos
dos teatros da cidade será pos-
sível ver – e refletir – obras de
ficção política que exploram a
realidade da guerra e seu poder
transformador da consciência
coletiva, como, por exemplo,
o espetáculo “Diciembre”, do
Chile. Ainda da América La-
tina, insegurança, violência,
drogas, ética, culpa e responsa-
bilidade numa história sobre a
morte acidental de um menino
de oito anos provocada pela
polícia numa desastrada perse-
guição a terroristas, ponto de
partida de “El ultimo fuego”,
do Uruguai.
Textos perturbadores fa-
zem parte do universo teatral
apresentado no festival. Pro-
va disto é o “La Douler”, da No dramático espetáculo uruguaio “El ultimo fuego”, um menino de oito anos morre por causa de uma perseguição policial a terroristas
França, um pequeno volume
em forma de diário, onde a
escritora Marguerite Duras re-
lata sua angústia enquanto es-
pera o regresso de seu marido,
deportado para um campo de
concentração nazista, em 1945.
Mas na programação do POA
em Cena existem ainda histó-
rias capazes de fazer rir. “La
madre impalpable”, da Argen-
tina, trata de uma mãe atrapa-
lhada que vai à escola de seu
filho para queixar-se de dis-
criminação por ele ser gordo,
numa cruzada patética e, com
certeza, engraçada.
Grandes escritores e dra-
maturgos não serão esqueci-
dos, exemplo resgatado em
“Le Grand Inquisidor”, roman-
ce escrito pelo russo Feódor
Dostoievski, em um capítulo
retirado da obra Os irmãos Ka-
ramazov (A Lenda do Inquisi-
dor), relatando a volta de Jesus A cantora Ná Ozzetti interpreta Carmem Miranda em “Balangandâs” Direto da vizinha Argentina, a comédia “La Madre Impalpable”
Cristo à Sevilha do século XVI.
Nelson Rodrigues, por sua vez, nus ou com roupas de baixo, filme “Kill Bill”, do cineasta imitando instrumentos musi- Miranda. O público terá a
inspirou a montagem “Los Sie- executando com maestria mo- americano Quentin Tarantino. cais). Os artistas se auto-in- chance de ouvir 15 canções
te Gatitos”, do Uruguai, co- vimentos ora sutis, ora ener- Os espetáculos musicais titulam oito “aliens”, amigos especialmente selecionadas,
locando em cena uma família géticos – caso da companhia respeitam o ecletismo do pú- do Planeta Voca (um mundo em companhia do violonista
que projeta em sua filha caçula Crépuscule des Océans. Ou blico e começa com “Ruas” onde a comunicação é feita Dante Ozzetti e o violonce-
todas as esperanças de salvação. então em duetos, exaltando o – show da cantora Mísia, de apenas por expressões vocais) lista e guitarrista Mário Man-
Os espetáculos nacionais tam- amor através de coreografias Portugal, uma das mais im- que, ao longo dos anos, ouvi- ga. Outras atrações são “No
bém adaptam obras de Moacyr engenhosas de um dos maio- portantes fadistas portugue- ram a música da Terra e agora Salto”, de Leo Cavalcanti, e,
Scliar (“A mulher que escreveu res nomes da dança moderna sas surgidas na última década, querem imitar os sons. finalmente, Adriana Calca-
a Bíblia”); Eugene O´Neil (“An- daquele país, James Kudelka, com participação especial de Os destaques nacionais nhoto com “Qualquer coisa
tes do café”) e Lya Luft (“O si- coreógrafo e diretor artístico Adriana Calcanhoto. Fenôme- não são menos importantes, de intermediário”, recheada
lêncio dos inocentes”). do National Ballet, no In Pa- no surgido a partir de vídeos com o show de Arthur Nes- de poesia portuguesa de Ca-
radisum. Em “Kiss Bill”, da na internet, o grupo israelen- trovski, Luiz Tatit e Zé Mi- mões e Fernando Pessoa, o
CORPOS EM EVIDÊNCIA portuguesa Paula de Vascon- se The Voca People, de Israel, guel Wisnik, no Theatro São fado, a canção provençal de
Na dança, o Canadá impe- cellos, três montagens, numa fará cantorias à capela, coreo- Pedro e Balangandãs, de Ná Arnaut Daniel, Amália Ro-
ra com maestria. Os destaques mistura de dança e teatro, es- grafias e o moderno beat-box Ozzetti, e as canções imor- drigues e os versos de Fiama
serão os corpos musculosos, tão juntos em uma paródia ao (sons produzidos com a boca talizadas na voz de Carmem Pais Brandão.
18 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Política Cultural

Fotos: Divulgação
Juntos, a sala Baden Powel e os teatros Maria Clara Machado, Carlos Gomes e Ziembinski tiveram 38 propostas inscritas

Divulgado o resultado do edital de ocupação de teatros do Rio


Vencedores poderão ocupar os espaços da Secretaria Municipal de Cultura pelo período de dois anos, com possibilidade de renovação

Por Felipe Sil e democratização cultural, Humberto maneira de democratizar o acesso. Não nossas unidades. O edital é muito es-
Araújo; a gerente de artes cênicas, Ana que já não tivéssemos pessoas qualifi- pecífico. Algumas das questões pre-
A expectativa era grande para a di- Luísa Soares; e a gerente da rede de tea- cadas na gestão desses espaços, mas, sentes falam, por exemplo, do espaço
vulgação dos vencedores do edital de tros, Alessandra Reis. agora, é uma maneira mais justa de se físico das unidades e da potencializa-
ocupação da Rede Municipal de Tea- A secretária Jandira Feghali, em trabalhar”, explica. ção dos locais. Queremos um teatro
tros, divulgado no dia 14 de setembro, comunicado, já se pronunciou sobre o A Sala Baden Powell, cujo proje- que funcione de terça a domingo, pelo
pela Secretaria Municipal de Cultura do edital. “Até o fim do ano a programa- to vencedor receberá R$ 200 mil por menos nos períodos da tarde e da noi-
Rio de Janeiro, no Teatro Café Pequeno. ção (dos espaços) estará acontecendo, ano, teve nove propostas inscritas; o te. Desejamos, também, que a unidade
Nada menos que 50 projetos estavam na com os teatros recebendo um aporte Teatro Carlos Gomes, com R$ 250 mil consiga ser bem utilizada nos seus es-
disputa para ocupar os espaços por dois financeiro anual para realizá-la”, limi- anuais, teve cinco; o Espaço Cultural paços com, além de espetáculos, ofici-
anos – com possibilidade de renovação. tou-se a dizer. Sérgio Porto, com R$ 150 mil, sete; o nas, ciclos de palestras e atrações do
A seleção dos projetos foi feita por Essa é a primeira vez que a Secre- Ziembinski, o Café Pequeno e o Maria tipo”, comenta Ana.
uma comissão formada por quatro re- taria Municipal de Cultura abre editais Clara Machado, cada um com R$ 100 As inscrições para a Lei do ISS tam-
presentantes da sociedade que já pos- de ocupação para espaços do órgão da mil por ano, tiveram, respectivamente, bém estão abertas (até 30 de outubro
suem experiência no assunto: o ator e prefeitura. Anteriormente as unidades 12, cinco e 12 propostas. Além desses para os projetos culturais que quiserem
diretor Sergio Brito, a bailarina e core- eram distribuídas entre diretores artís- valores, cada espaço poderá obter pa- concorrer ao incentivo). Já se inscre-
ógrafa Angel Viana, o diretor do Teatro ticos convidados. Para Ana Luísa, ge- trocínios externos. veram, até agora, mais de 200 projetos
de Anônimo, João Artigos, e o crítico rente de Artes Cênicas da pasta, a ideia “Ter recebido 50 projetos é uma (que podem receber até R$ 500 mil cada
teatral Lionel Fisher. Três representan- é poder dar a oportunidade para qual- marca invejável. Não esperávamos um) e mais de 80 empresas. Confira a
tes do governo também fazem parte da quer pessoa interessada e bem prepa- tantas propostas, pois restringimos lista dos vencedores no site www.rio.
comissão: o subsecretário de difusão rada poder assumir um local. “É uma bem os requisitos para ocupação de rj.gov.br/cultura.

Opinião

Pensamentos que caíram em desuso


Gerson Steves
“Branca e radiante vai, a noiva... Logo a ao seu lado do que lendo. Olivetti Lettera. E fiz cópias com carbono, além tro! Todo mundo chia. E de maneira naturalis-
seguir, o noivo amado.” A Lúcia montou a peça com “jeitão de das fotocópias; não era xerox, era fotocópia. Se ta, sem postura, sem andar, sem elegância. A
Minha mãe cantava esses versos. Nun- TBC”. Dizia: “Vou fazer teatrão de boa qualida- soubesse que carbono era um crime ecológico, TV acabou com a elegância. Repare: nem em
ca tinha ouvido uma gravação sequer. Acha- de”. E fez. Foi professora de muita gente boa não tinha usado tanto. novela de época a maioria é elegante. Uma
va que era cantada pela Ângela Maria, Dalva que está por aí. E excelente diretora. Foi indica- Leila Diniz! Era o nome da Olivetti. Verdadei- garotada esperta de praia que só andou de
de Oliveira... sei lá, Claudia Barroso! Outro da ao Shell por “Minh’alma Alma Minha”, com ra musa naquele filme do Domingos de Oliveira, chinelo e bermuda na vida, como pode fazer
dia, acordei com a música na cabeça, fui Linneu Dias – que poucos sabem quem foi e “Todas as Mulheres do Mundo”, e, claro, linda novela de época?
pesquisar e baixei uma gravação. ficou conhecido por ter sido casado com a Lilian de barrigão de fora na praia. Minha mãe e mi- Outro dia falei para uma pessoa: bota
Engraçado esse negócio de baixar. Hoje, Lemmertz e ser pai da Julia. nhas tias acharam um horror! Só li a edição do ponto-e-vírgula na frase. E ouvi: “ponto-e-vír-
com um computador, qualquer imbecil feito Mas falo dela por quê? Ah! Sonoplastia. A Pasquim anos mais tarde, graúdo, quando ela já gula? Mas ponto-e-vírgula não caiu em desu-
eu baixa uma gravação e coloca em um CD Lu Lacerda e a Lúcia Pereira colocaram em cena tinha morrido. so?” Alguém pode me explicar o que significa
para tocar em uma festinha (e vira DJ), para uma gravação do Caruso cantando “Una Furtiva Pena as pessoas terem feito tanto teatro e essa porra de expressão: cair em desuso?
colocar na peça dos amigos (num clique vira Lácrima” e eu tinha que chorar. Foi a prova de não termos um registro sequer. Nunca vi Cacilda Papo de velho, né? É que eu sou do tem-
sonoplasta). Só não se baixa bom gosto. que Stanislavski sabia do que falava e o tal Mé- no palco. Apenas fotos e o filme horroroso da Vera po do papel carbono, da máquina de escre-
Daí, lembrei das trilhas feitas pela Tunica todo das Ações Físicas tinha mesmo fundamen- Cruz, “Floradas na Serra”. Ela dizia tudo articulado, ver, da TV Excelsior. De um monte de coisas
ou pela Lu Lacerda. A Lu fez a trilha da peça to. Na verdade, era Pavlov puro. Sabe Pavlov? erres e esses no lugar. Jeito antigo. Devia ficar que caíram em desuso: como a elegância,
que considero minha estreia profissional, Pois é: puro. Eu segurava uma laranja, ouvia a bom no teatro, onde ainda é possível falar assim. o bom gosto, o glamour... a ética. Quem tá
com direção da Lúcia Pereira, mineira de música e chorava. Até hoje choro quando ouço N’Um filme Falado, Caetano fala – ele não caindo em desuso sou eu!
Guaxupé que nos deixou cedo. Foi em “A a música. Ou pego uma laranja da fruteira, o –, uma atriz fala, aliás, como se fala naquele
Vida Impressa em Dólar”, de Clifford Odets que vier primeiro. filme! E depois dizem que cinema é ação. Pois * Gerson Steves tem 25 anos de ativida-
(que só tinha sido montada pelo Oficina). Sinto falta dos sonoplastas que pesquisa- então, ela diz que a TV destruiu a tradição de des teatrais na cidade de São Paulo, tendo
Lúcia foi uma das mais importantes pes- vam trilhas, faziam experiências, traziam coisas falar mantida viva pelo teatro. Engraçado é que atuado como diretor, dramaturgo, ator, produ-
quisadoras de teatro do País, sabia tudo de para a gente ouvir no gravador de rolo. Sou do ficam, ela e um rapaz, falando e falando com tor e professor.
TBC, Arena e Oficina. Você dizia: “Um Deus tempo do vinil e do gravador de rolo. Do papel um chiado que ninguém suporta. A telenovela E descobriu que a canção lá de cima foi
Dormiu Lá em Casa” e ela mandava a ficha carbono, TV a válvula, máquina de escrever. imprimiu um jeito chiado de dizer o texto e que gravada por Agnaldo Timóteo.
técnica. Biblioteca viva, aprendíamos mais Meus primeiros escritos saíram de uma a gente passou a suportar em tudo, até no tea- www.gersonsteves.com.br
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
19
Brasília
Fotos: Divulgação

TEATRO
DO
CONCRETO
em diálogo com Brasília
O grupo, profundamente identificado com o Distrito Federal, inspira-se na arquitetura do plano piloto para se firmar como um centro de cultura e pesquisa no Planalto Central

Por Dominique Belbenoit um teatro pedagógico. Fizemos o pesquisador.


a circulação do nosso traba-
O Teatro do Concreto é um lho, “Diário de um Maldito”, TRABALHOS
grupo profundamente identi- nas cidades satélites, e, antes REALIZADOS
ficado com a cidade e com as do espetáculo chegar ao local, O primeiro trabalho profis-
possibilidades de diálogo que o realizamos um trabalho de pré- sional que investigou as possibi-
seu significado simbólico e real apreciação em escolas públi- lidades de composição da cena
possibilita. O nome do grupo cas”, exemplifica. a partir da dança pessoal come-
foi inspirado na composição Seguindo essa linha de ra- çou em 2003, na Universidade
básica e arquitetônica da Capi- ciocínio pedagógico, Francis de Brasília, e resultou no espe-
tal Federal, onde curvas e retas pretende, durante o Festival táculo “Sala de Espera”, adap-
são feitas de concreto. “Querí- Cena Contemporânea, realizar tação do romance “A Doença”,
amos um teatro que dialogas- o primeiro fórum de teatro de uma experiência de Jean-Claude
se com a cidade assim como grupo. “Temos o desejo de aju- Bernardet. Em 2005, a peça foi
o rock e a música em geral dar a fortalecer o teatro de gru- selecionada para o II Prêmio
convive de forma bem visceral po aqui no DF e isso representa SESC do Teatro Candango e,
com Brasília”, conta o diretor uma preocupação pedagógica em 2006, para a mostra Fringe
e fundador do Teatro Concre- muito forte. Quanto mais gru- do Festival de Teatro de Curiti-
to, Francis Wilker. pos conseguirem se efetivar, ba e para a II Mostra de Teatro
Segundo Wilker, o Concreto mais a cidade tem a ganhar em Barreiras (BA).
trabalha na perspectiva do pro- culturalmente”. Para completar Em 2004, o grupo se conso-
esse processo, o Concreto está, lidou como um coletivo criador Para o diretor Francis Wilker, o Teatro de Brasília não é só comédia
cesso colaborativo de criação e
envolve criadores de trabalhos atualmente, publicando três e iniciou ampla pesquisa acerca
teatrais nos processos de pes- textos de projetos de três gru- da vida e obra do dramatur- fundar práticas e conceitos para to como um grupo de Brasília,
quisas. Em outras palavras, o pos de Brasília que serão am- go Plínio Marcos. O processo, ampliar o fazer teatral e a atu- assim como os nossos traba-
foco de trabalho da companhia plamente divulgados durante que durou dois anos, resultou ação como grupo. O processo lhos. Outra meta é solidificar a
teatral está na reflexão sobre o festival. Segundo Francis, os no espetáculo “Diário do Mal- resultou na peça “Borboletas nossa pesquisa de linguagem.
temas que afligem o homem textos tiveram uma linguagem dito”, que estreou no Teatro têm Vida Curta”, espetáculo Acho que esse aspecto é o mais
contemporâneo e na investiga- diferenciada, com uma drama- Oficina do Perdiz, em novem- que explora a questão da me- importante para nós” conta o
ção de novas possibilidades de turgia própria, o que foi decisi- bro de 2006. O espetáculo, que mória a partir de sons e dos ob- diretor.
composição da cena teatral. vo na seleção final. “Essa divul- deu maior visibilidade ao grupo, jetos, e leva o espectador a uma Para Wilker, Brasília trans-
“Temos procurado traba- gação ajudará esses grupos a se alcançou grande repercussão viagem emocional pela infância põe a ilusão que só produz co-
lhar muito diálogo no espaço consolidarem e ganharem mais em 2007, ao participar de im- e suas descobertas inaugurais. média, o que é totalmente errô-
urbano e eu acho que no nosso visibilidade”, garante. portantes festivais e acumular Em 2006, o trabalho foi um dos neo. “Não que eu seja contra,
DNA tem sempre essa vonta- O Teatro do Concreto tem prêmios e elogios da crítica es- convidados do 7º Festival de mas o teatro daqui não é só isso,
de de dialogar e de pensar no como fundamento o diálogo pecializada e internacional. “É Cenas Curtas do Galpão Cine existe um movimento muito
que representa um grupo de e a pesquisa. Atualmente, tem um trabalho que nos deu uma Horto (MG) e, em 2008, do forte de dramaturgia, mas que
teatro na capital do País. Nesse pesquisado o tema “Amor e projeção muito grande, inclusi- Festival Nacional de Teatro de não é divulgado o suficiente.
processo colaborativo, procura- abandono”. Como primeiro re- ve internacional. Ganhamos o Macapá. Pouca gente conhece esses tra-
mos, também, criar novos tipos sultado dessas investigações, foi prêmio Cesp de Teatro, no qual Em agosto de 2009, o gru- balhos que considero bastante
de dramaturgia, o que já nos criado o Ruas Abertas, um con- a nossa atriz Michele Coutinho po participou do projeto A Arte vigorosos” acredita.
proporcionou certo reconheci- junto de intervenções cênicas ganhou premio de melhor atriz dos Malditos, do SESC Santos Outra meta em andamento é
mento por parte dos apreciado- no espaço urbano que integrou e, o grupo, de melhor cenogra- (SP), e, em maio, do mesmo ano a realização de um centro de re-
res”, avalia. o Festival Cena Contemporânea fia”, comemora. da IV Mostra Latino Americana ferência ao Teatro Candango na
Criado em 2003, o grupo 2008 em Brasília. “Para isso, o Um marco na trajetória do de Teatro de Grupo, organizada própria sede do Concreto, onde
reúne 13 artistas de diferentes diálogo com os brasilienses faz- grupo foi a participação, em pela Cooperativa Paulista de Te- doações de material são bem
cidades satélites do Distrito Fe- se extremamente necessário. 2006, na oficina Processo Co- atro, em São Paulo. vindas. “A ideia é reunir mate-
deral, além de colaboradores a Realizamos campos de pesquisa laborativo, realizada em Brasília, riais e produções de teatro feitas
cada novo processo. A propos- aqui, nos corredores do Conic, pelo Galpão Cine-Horto (Gru- FUTURO aqui no DF. São livros, DVDs,
ta do diretor Francis Wilker é, e nas ruas, o que tem chama- po Galpão-BH/MG) tendo O Teatro do Concreto pos- monografias, biografias de au-
também, levar à essas regiões do atenção das pessoas. Fomos como orientadores o drama- sui metas que visam a formação tores teatrais etc... Vamos rea-
mais isoladas, um pouco do dia dialogar, também, com os gru- turgo Luís Alberto de Abreu, a de plateia em termos de drama- lizar, também, palestras abertas
a dia do grupo. “O Concreto pos de teatro, com as escolas diretora e atriz Tiche Vianna, o turgia. “Nosso desejo é se for- ao público e convidaremos pro-
tem uma preocupação que é públicas e com os moradores diretor Chico Medeiros e o ator talecer cada vez mais como um fissionais candangos para falar
pedagógica, mas não fazemos das cidades satélites, o que ge- Júlio Maciel. Segundo Wilker, a grupo de Brasília e que o DF de diversos temas relacionados
rou novas perspectivas”, conta experiência possibilitou apro- reconheça o Teatro do Concre- ao teatro regional”, revela.
20 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

Vida & Obra

Caio F. um autor que o teatro não esquece


Por Rodolfo Lima, especial tro e o fascínio que a obra de
Abreu exerceu e continua exer-
para o Jornal de Teatro cendo sobre os atores.
Os amigos foram os primei-
ros responsáveis em dar visibi-
(...) e acreditávamos que lidade à obra de Caio nos pal-
um dia seríamos grandes, em- cos. Além de Alabarse, Nunes
bora aos poucos fossem nos e Breda, acrescente Gilberto
bastando miúdas alegrias co- Gawronski, Grace Gianoukas
tidianas que não repartíamos, (“Sobre o Amor e Amizade”)
medrosos que um ridiculari- e Nara Keiserman (“(Eu) Caio
zasse a modéstia do outro, pois – Jogo Teatral”). A relação de
queríamos ser épicos heróicos Gawronski com os textos do
românticos descabelados sui- Caio rendeu diversas encena-
cidas, porque era duro lá fora ções: “Pode ser que seja só o
fingir que éramos pessoas leiteiro lá fora” (1983), “Uma
como as outras(...) Caio F.. - Estória de Borboletas” (1991),
(“Visita”) “A beira do mar aberto”, “A
A relação do teatro com Dama da Noite” (1997), “Do
Caio Fernando Abreu é antiga. outro lado da tarde” (1998) e
Mais precisamente do ano de “Uma visita ao fim do mundo
1976, quando, junto com Luiz – um estudo cênico” (2006).
Arthur Nunes, estreou “Sarau Natural que quando os amigos
das 9 às 11”. Nunes, no prefá- pessoais esgotassem a necessi-
cio da edição esgotada – relan- dade de viver as personagens
çada agora pela Editora Agir do Caio, anônimos assumissem
com supervisão de Marcos a dura tarefa de levar adian-
Breda – do “Teatro Completo te projetos teatrais a partir da
de Caio Fernando Abreu”, afir- obra do autor.
ma que, desde o final dos anos Numa conversa pelo telefo-
1960, o escritor já estava envol- ne com Jorge Cabral, cunhado
vido com os atores gaúchos. O do autor e representante legal
autor chegou a excursionar por da sua obra, a representativida-
cidades do Rio Grande do Sul, de do teatro em relação à obra
atuando na peça “Serafim-fim- do Caio é pequena. Sempre o
fim” de Carlos Meceni. procuram para que liberem os
Embora menos conhecida, a direitos dos textos, mas não
faceta dramaturga do Caio teve acredita que seja o teatro a
seu reconhecimento em 1988, mola propulsora para alavan-
quando dividiu com Nunes o car a memória do artista. “Não
Prêmio Molière de melhor au- acho que o teatro seja o res-
tor do ano, pela peça “A Maldi- ponsável por sustentar viva a
ção do Vale Negro”. A edição obra do Caio. Ele tem um pú-
lançada em 1996 – nove meses blico cativo que o lê. O fato de
após sua morte – traz sete peças ter conseguido que a obra dele
e um punhado de cenas avulsas, “Acho que há algo de ‘errado’ com quem cria. É alguém que não está fosse relançada pela editora
como frisou o autor do prefá- Agir ajudou. Nesses cinco anos
cio. Entre as quais se tornaram
conhecidas estão “Pode ser que
satisfeito com a realidade e precisa recriá-la para poder viver, para que o Caio ficou sumido – logo
após sua morte, foi esquecido.
seja só o leiteiro lá fora” (Prê-
mio Serviço Nacional do Tea-
suportar o real. Os artistas são pessoas essencialmente carentes. Acho Suas obras em edições novas
trouxeram visibilidade, agrega-
tro), “O Homem e a Mancha”
(que viria a ser montado em que nos atores de teatro isso é mais nítido, somos frágeis. Você no fundo da aos dez anos de seu faleci-
mento, que ocasionou algumas
1996 pelo amigo e ator Marcos
Breda), “Zona Contaminada” escreve, pinta ou dança para ser amado, para ser aceito...” - Caio F. homenagens. O teatro tem sua
parte, mas não é fundamental”,
e a sua adaptação do romance reforça Cabral.
“Reunião de Familia”, de Lya do um conto seu, “O Príncipe viveu “andando pelo mundo, sempre rejeitou rótulos, enqua-
Luft, dirigida por outro amigo, Sapo”, foi publicado na Revista prestando atenção em cores dramentos e definições defini- MOSTRA CAIO F.
no caso o diretor gaúcho Lucia- Claudia, em 1966. Caio estava que não sabia o nome (...) di- tivas sobre seu trabalho. “Eu Eis aí onde se encaixou a
no Alabarse. com 18 anos e já guardava na vertindo gente, chorando ao não tenho opinião definitiva Mostra Cênica Caio F., primei-
Caio Fernando Loureiro de gaveta “Limite Branco”, seu telefone” – parafraseando a sobre nada. Não acho que isso ra mostra paulista que reuniu
Abreu nasceu dia 12 de setem- primeiro romance. Escritor, música “Esquadros” de Adria- seja insegurança.. Acho que é trabalhos concebidos a partir
bro em Santiago do Boqueirão, jornalista, cronista, tradutor, na Calcanhoto, uma de suas abertura. Tudo é passível de da obra do gaúcho, morto há
no Rio Grande do Sul – quase crítico, roteirista, dramaturgo, musas. uma outra interpretação”, es- 13 anos, e mostrou que o teatro
fronteira com a Argentina. Sua esotérico e jardineiro estão A vida literária de Caio fica- creveu certa vez. Vou me ater nunca o esqueceu. Montagens
carreira como escritor come- entre as facetas que o autor rá para uma próxima resenha. aqui – brevemente – na relação espalhadas por vários cantos
çou a ganhar projeção quan- exerceu durante os 48 anos que Mas é bom frisar que o autor estabelecida entre Caio, o tea- do País, exercícios cênicos em
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
21
Vida & Obra
Fotos de divulgação

“O Dia que Júpiter encontrou Saturno” é um dos sucessos de Caio F.


Rui Padoim

As obras de Caio F. continuam a ser encenadas em palcos de todo o Brasil. Na foto, uma cena de “Epifanias” Rodolfo Lima emociona público em “Réquiem para um Rapaz Triste”

final de curso, teses de mestra-


do e doutorado por todo o can-
sem apoio financeiro, Fernanda
Boechat – atriz do monólogo “Como estudei um pouco de teatro, escrevo também segundo o método
to – ano passado participei de
dois eventos na UNESP, onde
em questão – comenta: “Não
acho que essa devoção seja es- Stanislawski, eu incorporo a personagem. Se a personagem é um de-
cerca de dez alunos estudavam pecifica do Caio. Mas é um ex-
sua obra – fazem com que a celente exemplo dessa paixão. pressivo ou suicida eu vou ficar um pouco assim também durante o tem-
memória de Caio permaneça Esse tipo de projeto que en-
viva. A mostra foi um recorte tramos sem nenhum recurso po em que estiver lidando com aquela personagem. Problemas materiais
bem modesto das dezenas de financeiro é relacionado com
encenações que existem.
Em parceria com o Casa-
uma necessidade pessoal do
grupo. Uma das coisas mais
também interferem... contas” – Caio F.
rão do Belvedere, produzi uma bonitas que o Caio deixou
programação de terça-feira à foi essa possibilidade de se turno”, conto da fase mística do recorte singular da vasta obra e da loucura (...) E como tudo
sábado durante os meses de apaixonar pelos seus textos. autor, presentes no livro “Mo- do autor. Caio se tornou um está mudando, e como eu pró-
maio e junho deste ano. “Acho O texto dos dragões é uma rangos Mofados”. “Confesso homem de teatro e seu amor prio estou mudando e como
importante falar do Caio hoje, necessidade dentro de mim e que conhecia o Caio como lei- por atores e pelo palco é reve- é inevitável que as coisas se-
porque tudo que ele aborda é vai me acompanhar indepen- tor, mas não era apaixonado renciado a cada montagem que jam mutações constantes, me-
contemporâneo e você sem- dentemente do meu estado no pela obra dele. Quando, em estreia anualmente em algum tamorfoses incessantes, meu
pre se identifica com algo. E momento. O sentimento da 2008, vi a montagem do “leitei- canto do Brasil. trabalho sempre mudará (...)
a forma como ele fala destas paixão resume isso.” ro”, eu fiquei surpreso. Eu acre- Reunir todos seria um so- Literatura é também meu jeito
questões atuais é muito poéti- Thiago Kozonoi, responsá- ditava que era uma obra datada, nho impossível. Uma segunda pessoal de ajudar a derrubar as
ca. A poesia é algo que está se vel pela direção de “Pode ser viva mais datada, e descobri que edição da mostra já me inquie- prateleiras para preparar um
perdendo. Portanto, seus textos que seja...” fala sobre a possibili- havia no texto uma contempo- ta, pois possibilitaria ver ou- novo mundo”, observou Caio
me encantam e dizê-los é uma dade dos textos do autor serem raneidade de estilo e temática. tros textos encenados, outras numa entrevista concedida ao
forma poética de resgatar essa datados. “Caio não fala de uma A fragmentação das rela- propostas e outros sotaques jornal Folha de S. Paulo em 7
valorização da palavra. Suas pa- época especifica. Ele aponta. ções amorosas, o fim das uto- para as personagens do Caio. de novembro de 1977.
lavras têm cor e imagens. Ele Os personagens são intelectu- pias, a impossibilidade do amor, Autor, esse envolvido sempre Pouca coisa mudou nas
nos toca magistralmente. As alizados, tem uma postura hi- a solidão desenfreada e os vícios com os problemas do homem, angústias do homem? Vivo
imagens sugeridas pelo Caio ppie, mas é uma escolha deles. cotidianos, a eterna espera pelo no que os fazem semelhan- me perguntando. Trinta e dois
não são vistas como banais, Todos os personagens trazem outro, a loucura do dia-a-dia, a tes – independentemente do anos após a entrevista a voz
despertam o belo na rotina, no sua própria visão de mundo. É homossexualidade, o misticis- que os separam fisicamente – de Caio permanece ressoando.
óbvio”, comenta Ivania Davi, mais humana do que situacio- mo, a religiosidade, sua relação e nas questões internas cada Uma casa para um homem que
que participou na mostra como nal. O legal é a contradição que com as flores, com o vírus HIV vez mais minadas pelo mundo nunca teve seu próprio imó-
diretora (“Réquiem para um ra- há entre eles, com argumentos e a urbanidade de seus contos exterior. “Tenho escrito prin- vel parece pouco. Axé (como
paz triste”) e atriz (“Epifanias”). distintos e complexos”. e personagens estão presentes cipalmente sobre esse nosso escreveu Caio em algumas de
A Cia. Teatro Íntimo trouxe Para a mostra, Paulo Goya na obra do autor e muito bem tempo (...) para desvendar ca- suas cartas).
o monólogo “Os Dragões” pela – o responsável pelo Casarão representados nos espetáculos. madas ocultas e mais profun- *Rodolfo Lima é jornalis-
primeira vez a São Paulo. Sobre – concebeu sua versão para “O Os textos expostos na mos- das da realidade e do ser hu- ta e ator. Contato:
o esforço de fazer todo o trajeto dia que Júpiter encontrou Sa- tra nada mais foram do que um mano até a fronteira da miséria teatrodoindividuo@yahoo.com.br
22 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

História

Roupa
Pya Lima

nova
40 anos da versão brasileira de
“Na Selva das Cidades” é brindada com novo espetáculo
Por Adoniram Peres
Depois de 40 anos apre-
sentado no Brasil pela Cia.
cartas de um jogo. É o retra-
to de uma sociedade agressiva,
egoísta e intolerante que mas-
sacra a delicadeza e compra
de 1968 é um período que ar-
rasta o Brasil a um confronto
com intensas contradições: a
ditadura mostra-se cada vez
Teatro Oficina, o espetáculo opiniões em um mundo no mais repressiva, lançando o
“Na Selva das Cidades”, ter- qual as pessoas estão cotidia- Ato Institucional nº 5; a luta
ceira obra do autor alemão namente se destruindo, e tudo armada há dois anos traz a
Bertolt Brecht, volta em for- em sua volta”, explica Fonseca. violência para as principais
ma de musical. Uma reeleitu- A trilha sonora tem o mes- capitais; e São Paulo, semi-
ra encenada pela Cia. Teatro mo tom da encenação, calca- destruída ao longo de quilô-
do Incêndio. Em cartaz (com da no rock pesado. Urbílio metros para as obras da via
preços populares) desde o também criou temas épicos, elevada que hoje a atravessa,
dia 11 de setembro, na sala inspirados em “A Floresta do era convulsionada pelas pas-
Renée Gumiel do Comple- Amazonas”, de Villa-Lobos, seatas estudantis.
xo Cultural Funarte, em São e musicou o poema “A Lenda A primeira montagem
Paulo, a peça – dirigida por do Soldado Morto”, de Bre- brasileira de “Na Selva das
Marcelo Marcus Fonseca – cht, que o colocou na lista ne- Cidades” pela Cia. Teatro
foi adaptada para a atual re- gra de Hitler, interpretada em Oficina, em 1969, foi dirigi-
alidade brasileira. Segundo cena por Wanderley Martins. da por José  Celso Martinez
o diretor, a previsão é que A atriz e intérprete Cida Mo- Correa e cenários de Lina Bo
o espetáculo fique um mês reira empresta sua voz a uma Bardi, trazendo no elenco
em cartaz. “A intenção é nos das canções da peça. Segundo Renato Borghi no papel de
apresentarmos em outro tea- Marcelo Fonseca, mesmo du- George Garga, Othon Bas-
tro de São Paulo em janeiro rante os diálogos, a música in- tos vivendo o malaio Shlink
de 2010 e, em seguida, via- vade a ação dramática com o e Ítala Nandi como Marie
jarmos pelo Brasil”, destaca. que ele chama de “comentá- Garga. Nesta encenação exi-
Nesta adaptação, 14 ato- rios musicais”, interferências ge uma total remodelagem
res em 11 cenas dão vida à feitas pelos músicos. do espaço físico da Oficina:
implacável luta pela sobrevi- O espetáculo é a terceira as cadeiras são retiradas e o
vência diante da destruição incursão da companhia Tea- palco giratório, desmontado,
causada por dois homens tro do Incêndio na obra do dá lugar a um espaço amplo,
que se enfrentam e se des- autor alemão Bertolt Brecht. cujo centro é ocupado por
troem sem motivo algum. O Com as bem sucedidas mon- um ringue de boxe.
humor cínico, a poesia e a tagens de Baal – “O Mito da Com tais técnicas, e ro-
música (originalmente com- Carne” e “A Boa Alma de bustecida pelas incessantes
posta por João Urbílio e exe- Setsuan” –, o grupo criou improvisações do elenco, a
cutada ao vivo), dão o tom a uma identificação própria peça chega a ter cinco ho-
esta montagem. “O espetá- com o dramaturgo, lendo de ras de duração no período
culo tem um forte poder de maneira particular esse autor de ensaios e motiva o dese-
comunicação com a juventu- que não se pode rotular. jo de encená-la em capítulos
de. Queremos que as pessoas diários. Mas, é compactada Rene Ramos, Liz Reis e Marcelo Fonseca em cena que já foi vivida por
saiam do teatro e façam uma HISTÓRICO para cerca de três horas de Othon Bastos, Ítala Nandi e Renato Borghi
reflexão sobre o que acaba- Segundo o diretor Marce- espetáculo. A violência, tema
ram de ver”, revela o dire- lo Fonseca, apesar do tempo do texto, atravessa toda a en- lhados metaforicamente. O abre a guerra entre os dois,
tor Marcelo Fonseca, acres- entre as adaptações e por cenação. Razão pela qual, ao crítico Herbert Jhering disse que atravessa toda a trama.
centando que o espetáculo ser um texto literário, a obra final de cada cena – denomi- naquela ocasião: “nessa peça Das implicações metafísicas
aborda a relação das pessoas apresenta uma contextualiza- nada round – os adereços e seres humanos sugam uns presentes nesse confronto
dentro de uma sociedade que ção atual independentemen- elementos cenográficos em aos outros como vampiros; até a mais sangrenta sobre-
busca objetivos sem pensar te do período. “Tanto nas cima do ringue são estraça- nela, as boas ações destroem. vivência nos mangues que
nas consequências de suas adaptações de 1923 quanto lhados pelos atores, ao grito E os charcos exsudam luz”. cercam a cidade, onde am-
ações – em que a relação ho- na de 1969 foram aborda- de: quebra!! A peça é ambientada em bos serão caçados pela polí-
mem e dinheiro são aborda- dos assuntos relacionados às Na verdade, “Na Sel- uma fictícia Chicago norte- cia. A peça explora todas as
dos nas questões tipicamente questões políticas e sociais va das Cidades” estreou em americana, onde uma família etapas da desarticulação da
brasileiras. de cada época. Em 2009, não 1923 e provocou opiniões di- de emigrados tenta sobrevi- família Garga. A irmã Maria,
“É o texto sobre a metró- será diferente, a obra discuti- vergentes dos críticos. Nela, ver. O jovem Garga torna-se estuprada pelos capangas do
pole com o cidadão dentro. rá assuntos atuais”, destaca. dois homens entram em luta empregado de uma livraria malaio, se entrega à prosti-
A peça traz questionamen- É no clima do período da por uma espécie de “posse e vai experimentar um insó- tuição, caminho que também
tos dessas grandes cidades ditadura militar que o Ofici- da alma”, onde os seres hu- lito desafio: vender sua opi- a namorada de Garga trilha-
já impregnadas nas pessoas, na chega a 1969 e elege o tex- manos ao redor deles são nião para o poderoso ma- rá. Os pais, reduzidos quase
como parte do corpo. Como to de “Na Selva das Cidades” meras peças utilizadas num laio Schlink, controlador da a objetos, chafurdam no lixo
se tudo em sua volta fossem sua nova montagem. O ano jogo onde corpos são empi- prostituição e do tráfico. Isso à cata de comida.
Jornal de Teatro 15 a 30 de Setembro de 2009
23
Internacional
Sabe como é a rotina de quem tenta um papel em um espetáculo musical? Adriano Fanti sabe
muito bem e dá dicas de como se preparar para os testes. Luciana Chama também resolveu
aconselhar nossos leitores, com experiências (muito) bem-sucedidas de como se agradar um
fã. Acompanhe!

We Love all access! Triple Threat


lidam com os telefonemas. O merchandising
(camisetas, canecas, bonés, chaveiros e
afins), credenciais VIP de acesso ao backs-
Performer
tage, convite para festa pós-show com os é um privilégio para os poucos que conse-
artistas, tudo preparado com muito cuidado guem o trabalho. Este era o meu caso anos
e enviado aos clientes pelo correio (já passei atrás, quando fazia musicais no Brasil. Mas,
muitas tardes ajudando a galera a dobrar ca- Adriano Fanti ainda assim, senti a necessidade de me
Luciana Chama miseta). Serviço paralelo ao sistema de venda
de ingressos (operado pela Ticketmaster), o I Londres especializar no assunto. O que me fez arru-
Los Angeles mar minhas malas e me mandar para Lon-
Love All Access é a melhor alternativa para dres em busca desta formação que eles
o fã ter um acesso diferente e mais próximo chamam de triple threat (ameaça tripla);
A obsessão americana em agradar aos fãs ao seu ídolo e ao seu rock’n’roll life style. A Aí você chegou naquela audição (não e um termo que acho um pouco boçal, mas
é fator de primeira instância nos negócios do empresa agora promete expandir horizontes e jurídica. É do termo inglês “audition”, para é como se referem.
entretenimento. Afinal, quem paga o ingresso aposta suas fichas na área teatral. teste) para uma peça onde lhe pedem duas Há centenas de cursos em teatro musi-
somos nós, audiência. Ideias e incentivos cada Fan Manager: Shakira, Depeche Mode, canções contrastantes, um pequeno monólo- cal em Londres, mas é preciso fazer a sua
vez mais substanciosos e inusitados dão a re- Paul Oakenfold e The Doors são apenas alguns go e que traga consigo roupas confortáveis pesquisa, pois também tem muita porcaria.
gra no direcionamento do mercado (e o aten- dos clientes dessa nova empresa californiana para uma sessão de movimento. Você che- Os cursos de maior renome, sendo os das
dimento ao cliente é o primeiro departamento que se dedica exclusivamente a colecionar ga ao endereço apontado e vê um mar de universidades que fazem parte da CDS
a ser remodelado e investido nas grandes e administrar fãs. Fazendo um bom uso da cabeças à frente apanhando um número, o (conselho de escolas de drama), tem uma
empresas). A era dos atendentes de telefone nova geração de instrumentos tecnológicos, qual pedem para que fixe em lugar visível no concorrência sempre muito acirrada – cen-
robóticos e insensíveis acabou. Novas empre- a companhia – que é especializada em marke- seu corpo. Bem vindo à audição: você é um tenas e centenas de candidatos, todos os
sas especializadas em lidar diretamente com ting do entretenimento – arrumou uma ma- número! E reze para que seja um pequeno anos, se aplicam para os cursos no topo
o público tem surgido e dado o que falar em neira de engajar os fãs apaixonados a ajudar a ou prepare-se para esperar por horas. Iden- do “rank” do CDS. E são poucas as vagas.
Hollywood. Duas delas me chamaram mais aumentar e fomentar o fã-clube do seu artista tificou-se? O processo de admissão é como o de uma
atenção, até por serem pioneiras no assunto: favorito. Utilizando-se principalmente do ma- A espera finalmente chegou ao fim. Você audição para musical; algumas fases e um
I Love All Access: empresa dedicada a rketing viral e social media como ferramentas adentra a sala e percebe uma banca de pesso- workshop na última.
prover pacotes exclusivos para shows aos fãs principais do seu negócio, a Fan Manager já é as que estão ali para lhe julgar (antes fosse ju- Algo interessante é que os responsá-
“de carteirinha”. O intuito é proporcionar ao fã famosa por produzir resultados rápidos, com rídica!). Você brevemente sorri, eles sorriem de veis pela seleção nunca aprovam ninguém
uma experiência inesquecível, com a possibili- um investimento inicial nas comunidades onli- volta, e logo nota uma outra pessoa ao canto: que esteja em estágio inicial. Isto devido a
dade de arrematar os melhores assentos dis- ne, “street teams” e fanbase. o pianista (soa como um bom título para filme). estes cursos terem altíssima reputação em
poníveis, merchandising exclusiva, tratamento Ideias novas e adaptáveis aos outros Ele sorri (se tiver sorte), lhe pede sua partitura providenciar “performers” de alto padrão
VIP e acesso sem precedentes aos seus ar- campos da indústria das artes – para bom e você: “Hein? Não serve à capela?” para o West End todos os anos. Por isso,
tistas favoritos. O atendimento ao publico é entendedor... Deve estar pensando: “Ah, vai! Ninguém os escolhidos são sempre candidatos que
impecável: a empresa não possui um número Vai lá: www.iloveallaccess.com ; é tão desavisado! Bom, lembro que nas audi- previamente já estudaram todas as moda-
grande de funcionários e todos no escritório www.fanmanager.net. ções para “Grease Brasil”, três irmãs cantoras lidades, mas que precisam de uma lapidada
chegaram preparadas para cantar à capela, a ou integração.
escolha: “Amor I Love You”, da Marisa Monte A verdade é que muitos já estão até
– detalhe, em trio! prontos para o mercado antes mesmo de
Após o canto, interpretação e dança, pas- começar o curso. No entanto, não se traba-
sou para a segunda fase (geralmente em outro lha profissionalmente sem formação acadê-
dia) e ali mais adiante, na terceira fase, pediram mica, pois, sem ela, não se consegue o tão
que preparasse uma canção do espetáculo esperado agente (aqui também e necessá-
como o personagem. Interrompem e pedem rio ser agenciado para trabalho em teatro),
que cante menos (soe mais falado como na téc- que é a meta de todos ao final dos árduos
nica usada para teatro musical) e conte mais a anos de treinamento. É através de um “sho-
história. Já na parte de dança, quando já esta wcase”, que você mostra para os agentes e
bem sem fôlego, após haver aprendido a core- produtores “tops” de Londres o que você é
ografia, pedem que agora cante ao executá-la. capaz de fazer e torce para que um deles lhe
Quem é “macaco velho” conhece bem essa ofereça representação. É chegada a hora de
história, mas a moral da história é: alguém que “audicionar” e por em prática todo aquele
estudou canto, atuação e dança separadamen- preparo físico, horas e horas despendidas
te, não necessariamente está apto a fazer tea- em voz e atuação, e técnica de audição.
tro musical. Como professor formado em teatro Mas a competição é feroz não só em núme-
musical eu diria que a palavra chave é integra- ros, mas também na qualidade.
ção. A ponte entre as três modalidades, que só Para os leitores que me pediram dicas
um curso especializado pode oferecer. no assunto, espero que a visão não roman-
Infelizmente, no Brasil, ainda não é pos- tizada de quem presencia a realidade nua e
sível encontrar um curso universitário ou crua aqui não tenha sido muito desanimado-
profissionalizante no assunto, apesar do cres- ra. Vale a pena também mencionar que se
cimento notório do setor nos últimos anos. sua nacionalidade não é inglesa, as dificul-
O que há, todavia, é a parceria de figurinhas dades são em dobro. Preconceito rola solto
carimbadas, colegas meus, que começaram e sem um inglês perfeito e sem sotaque, as
a trabalhar em teatro musical desde o come- chances são praticamente nulas. Já para os
cinho dele no Brasil e, hoje, juntam-se para que são exclusivamente dançarinos (as),
oferecer cursos ocasionais que trazem muito a barreira da língua é muito suavizada. No
conhecimento para os aspirantes. entanto, a sensação de ter superado estas
O “performer” brasileiro tem sido muito e outras barreiras me faz dizer: se é o que
autodidata, aprendido na prática. Mas este queres, vá de cabeça. Vale a pena!
24 AF ASA 0035-09M AN FESTAS 260X368.pdf 08.09.09 10:18:56 15 a 30 de Setembro de 2009 Jornal de Teatro

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