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5-PROGRESSOS E DIFICULDADES DA DEMOCRACIA POLÍTICA NO

PRINCÍPIO DO SÉCULO

5.1-APERFEIÇOAMENTO DO REGIME REPRESENTATIVO NAS


DEMOCRACIAS LIBERAIS DO OCIDENTE

A consolidação do sistema democrático

O período conhecido como “belle époque” (1890-1914) marcou o apogeu


inquestionável da Europa. Este caracterizou-se por um profundo dinamismo
demográfico; pela supremacia científica e tecnológica, fruto das revoluções industriais;
pelo domínio comercial e financeiro e também pela dominação colonial dos outros
continentes.
Em termos políticos, a Europa estava também mais avançada já que a maior parte
dos países que a constituíam tinham posto termo aos regimes absolutos e tinham
instaurado regimes liberais, onde os direitos e liberdades dos cidadãos eram
respeitados e estes participavam activamente na vida política, elegendo os seus
representantes aos respectivos parlamentos. A segunda metade do séc.XIX foi, aliás,
a época do parlamentarismo. O sistema representativo estendeu-se à maioria dos
estados europeus, cada vez com maior legitimidade.
Esta Europa de finais do séc.XIX, inícios do séc.XX era essencialmente uma
Europa monárquica: em1880, só existiam duas repúblicas – a Suiça e a França – e
em vésperas da Primeira Guerra Mundial, a maioria dos países continuavam
monárquicos e apenas mais um país se tornara republicano – Portugal. Todavia, esta
aparente unidade europeia escondia uma indisfarçável diversidade:
- as monarquias do Norte da Europa eram democracias liberais, onde os
mecanismos do sufrágio universal estavam implantados; as Constituições escritas ou o
costume garantiam os direitos dos cidadãos e a separação dos poderes; os soberanos
tinham um papel reduzido na vida política já que se limitavam a reinar e não a governar;
os cidadãos elegiam os deputados, seus representantes nos Parlamentos, que exerciam o
poder legislativo e controlavam os respectivos governos. Nestes países eram
reconhecidas as liberdades de expressão, de pensamento e de opinião.
- as monarquias da Europa Central, mediterrânica e balcânica, viviam uma
situação intermédia, podendo considerar-se regimes autoritários mais ou menos

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moderados por uma Constituição e pelo Parlamento. Contudo, as constituições
continuavam a deixar a maior parte do poder nas mãos do rei e das classes em que a
monarquia se apoiava, a aristocracia e a grande burguesia.
- as monarquias do Leste europeu, Impérios Russo e Otomano, eram autocracias,
regimes autoritários sem constituição. Os poderes legislativo, executivo e judicial
estavam concentrados na mão do czar e do sultão, respectivamente; os ministros
respondiam exclusivamente perante os monarcas e não havia liberdade política nem
liberdade de expressão.
Este quadro genérico esconde a evolução particular de cada país europeu para a
democracia, nalguns casos uma evolução lenta, mas irreversível. Os modelos mais
acabados de democracias liberais eram a Grã-Bretanha e a França.
A Grã-Bretanha na era vitoriana (1837-1901) tornou-se um perfeito exemplo do
funcionamento de um regime parlamentar quase totalmente democrático. Foi nessa
época que as instituições políticas britânicas atingiram a sua forma praticamente
definitiva: a Rainha reinava mas não governava e escolhia o primeiro-ministro dentro
do partido mais votado e que ganhara as eleições.
O papel dos partidos tornou-se verdadeiramente importante e o pluralismo era já uma
realidade, já que para além dos conservadores (ou tories) e dos liberais existiam outros
partidos.
Reformas sucessivas tornaram progressivamente o sufrágio quase universal e o
escrutínio permitia a vitória do partido que obtivesse a maioria, evitando as crises
ministeriais.
O poder executivo era, pois, exercido por um governo que governava em nome de Sua
Majestade e pelo monarca que era o chefe, apenas nominal, desse poder executivo. Por
sua vez, o poder legislativo dividia-se entre o Governo e o Parlamento formado por
duas câmaras: a Câmara alta ou Câmara dos Lordes e pela Câmara baixa ou
Câmara dos Comuns.
Até 1909, a Câmara dos Lordes teve mesmo direito de veto sobre as medidas tomadas
pela Câmara dos Comuns. Esta tinha, porém, o poder de votar os impostos e de vigiar o
executivo.
Progressivamente e após as sucessivas reformas do sistema eleitoral, o regime liberal
britânico evoluiu para um verdadeiro regime (quase) democrático, não só pelo
alargamento do corpo eleitoral mas também pela instauração do voto secreto e pela
atribuição do subsídio parlamentar. Continuaram, contudo, excluídos da participação

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eleitoral 40% dos homens e a totalidade das mulheres. Progressivamente, porém, o “país
legal” teve tendência a aproximar-se cada vez mais do “país real”.
Este equilíbrio político e o clima de prosperidade económica permitiram levar a cabo
certas reformas sociais, como o desenvolvimento do ensino e o reconhecimento dos
sindicatos. A Grã-Bretanha é o melhor exemplo da transição de um regime liberal para a
democracia feita sem sobressaltos e sem abalar as estruturas.
A França em 1875, adoptou o sufrágio universal para a eleição dos representantes
da Nação no Parlamento: sufrágio directo para a eleição da Câmara dos Deputados,
indirecto para a eleição dos senadores, cujo cargo era vitalício e que formavam o
Senado. O poder legislativo estava confiado ao Parlamento bicamaral e era notória a sua
prevalência sobre o executivo, agravado pelo elevado número de partidos, o que se
saldava por uma grande instabilidade ministerial. De facto, a ausência de escrutínio
maioritário a uma volta e do bipartismo provocava grande instabilidade nos governos de
coligação.
O Presidente da República, chefe do Estado, eleito por sete anos pelas duas Câmaras
reunidas em Congresso, nomeava o primeiro-ministro que por sua vez, escolhia os
ministros que eram responsáveis perante o Parlamento.
A Constituição de 1875 dava ao Presidente da República iniciativa legislativa, mas a
partir de 1877, este viu os seus poderes restringidos, e a Câmara dos Deputados tornou-
se, de facto, o órgão essencial da vida parlamentar da III República. Os poderes estavam
equilibrados já que ambas as Câmaras tinham iniciativa legislativa juntamente com o
Governo; o Parlamento podia ser destituído pelo Presidente da República.
Os republicanos viram o seu poder consolidado nas eleições de 1879 quando
conseguiram expulsar do Senado os notáveis, conservadores, elegendo para aquele
órgão uma maioria de republicanos. No mesmo ano conseguiram também fazer eleger
um republicano para Presidente da República. Tais vitórias tiveram o apoio das “novas
camadas” sociais, agora com direito de voto: a burguesia liberal, as classes médias e os
camponeses.
A conquista da democracia foi lenta e progressiva. Contudo, em 1914, o unânime
consenso em torno da democracia não era ainda uma realidade entre os franceses.

-do sufrágio censitário ao sufrágio universal

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Nos países mais desenvolvidos, a burguesia tinha implantado regimes políticos
liberais que deram aos cidadãos a possibilidade de participarem activamente na vida
política, através da formação de partidos políticos e das eleições. Deste modo, o regime
representativo substituíra os regimes monocráticos e o governo de um número de
notáveis substituíra o governo de um só homem, o rei absoluto.
Todavia, essa participação no poder estava reservada apenas aos detentores de
um mínimo de riqueza e de cultura – sufrágio censitário. Restringia-se não só o
direito de eleger como o de ser eleito. Nos regimes de sufrágio limitado, o direito de
voto não era, de facto, um direito, mas um privilégio ou uma função atribuída pela
Nação àqueles que tinham meios suficientes para se dedicarem gratuitamente aos
assuntos políticos. Foi deste modo que foi entendido o direito de voto, na Grã-Bretanha,
até 1914.
Aos elegíveis exigia-se ainda maior nível de fortuna. O facto de a função de
deputado não ser remunerada, dissuadia os menos ricos a candidatarem-se a um cargo
político. Para mais, as campanhas eleitorais eram também caras e isso fazia reduzir
ainda mais o número de potenciais candidatos.

Vimos que as novas classes sociais do funcionalismo, as classe médias e o operariado,


que ascenderam socialmente ao longo do séc.XIX, devido às transformações da
economia e da educação, conscientes da sua força, se achavam no direito de participar
na vida política, de tomar decisões e de votar. Esses desejos eram alimentados pelo
pelos detractores do liberalismo que não se cansavam de reclamar o direito de voto para
todos e não só para alguns.
Se, nos regimes liberais, o sistema representativo censitário aparecera como a arma
política privilegiada para lutar contra o despotismo da monarquia absoluta e como
veículo para conduzir a burguesia ao poder, mostrava-se, agora, incapaz de dar voz aos
novos grupos sociais desejosos de maior abertura política.
Por outro lado, o liberalismo, confrontado com as novas ideologias,
nomeadamente com as várias formas de socialismo, entrou em declínio a partir de
1850. Ao longo da segunda metade do séc.XIX e até 1914, a Europa encetou um novo
mas lento caminho no sentido da democracia
Esta pressupunha o alargamento do corpo eleitoral. Porém, isso só se tornaria
possível através do sufrágio universal. A luta por esse direito, juntamente com
reivindicações sociais e laborais, agitara a Europa. Até mesmo o Reino Unido foi

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abalado por lutas pelo direito ao voto: o movimento feminista reclamava o direito de
voto para as mulheres. As sufragistas utilizaram todos os meios para chamarem a
atenção para a sua causa.
Progressivamente, e com bastantes dificuldades, o sufrágio universal foi sendo
introduzido nos diversos países europeus. Contudo, no início do séc.XX, era ainda
essencialmente adulto e masculino. Só muito dificilmente as mulheres conquistaram o
direito de voto: nos Estados Unidos a partir de 1890, na Europa bem mais tarde.
As leis eleitorais impunham ainda outras condições para além das restrições quanto ao
sexo, idade, instrução e situação judicial, havia-as também quanto à residência, se
era fixa ou não. A partida, portanto, grande parte da população ficava excluída. Deste
modo, os cidadãos com direito ao voto continuavam a ser apenas uma parte dos
habitantes de um país, isto é, o “país legal” continuava a não coincidir efectivamente
com o “país real”.
Algumas medidas, porém, contribuíram decisivamente para a democratização da vida
política, tais como a introdução do subsídio parlamentar, que permitiu aos menos
abastados fazerem face a dispendiosas campanhas eleitorais. Era inegável, contudo,
o grande peso político que os mais ricos continuavam a ter, fazendo reverter a seu favor
as campanhas da imprensa que controlavam.
Outro passo importante para a instauração das democracias foi o reconhecimento da
liberdade de reunião e de associação. Ainda outra condição se revelou imprescindível:
a introdução do escrutínio eleitoral secreto, que tornou possível a liberdade de escolha,
a sinceridade do voto e a igualdade de oportunidade de todos os candidatos.
A limitação da duração dos mandatos dos eleitos foi outra das condições da
democracia. Tornou-se, assim, possível a alternância no poder de todas as famílias
políticas.
Ligados às mutações dos sistemas políticos, apareceram ou estruturaram-se os
partidos políticos modernos.
Apesar dos avanços em direcção à democracia, os sistemas chamados democráticos
de finais do séc.XIX e início séc.XX não deixavam de ser ainda regimes assentes
num sufrágio restrito. A verdadeira democracia implica o sufrágio
verdadeiramente universal que não era ainda este do início do século.

-o desenvolvimento da instrução e da informação

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A democratização pressupunha, pois, iguais direitos de participação na vida
pública para todos os cidadãos e o desenvolvimento da sua sociabilização política,
realizada através da educação e da informação. O progresso da democracia foi um
processo paralelo com o da conquista da liberdade de expressão e de informação,
liberdades essenciais ao funcionamento dos regimes democráticos.
A evolução institucional deste período não pode ser desligada do aumento do poder da
imprensa. Não foi por acaso que os estados germânicos e da Europa central apostaram
numa legislação fortemente restritiva da liberdade de imprensa, que contrastava com a
de países como a França ou a Inglaterra. O desenvolvimento da imprensa foi ainda
favorecida pelos progressos técnicos que permitiram aumentar as tiragens, baixar os
custos e chegar mais facilmente a um maior número de leitores.
A educação era, contudo, a condição essencial à construção de uma opinião pública
esclarecida. Os partidários das ideias democráticas reconheciam a instrução como
imprescindível à democracia, pela formação cívica que dava aos futuros eleitores.
Cabia ao professor e à escola a tarefa de os formar e de lhes dar instrução para
compreenderem as escolhas que fariam mais tarde.
Apesar das particularidades de cada país da Europa, o que é certo é que em todos eles
houve grandes progressos na educação. A instrução tornou-se um dever do Estado na
maior parte dos países democráticos liberais do Ocidente. Para mais, a burguesia e as
classes médias faziam pressão junto dos Estados para a generalização do ensino
primário obrigatório.
As escolas populares tornaram-se, assim, num veículo privilegiado de transmissão
de valores conservadores e da moral laica e burguesa que o povo incorporou
também como seus. Este modelo de educação laica nem por isso veio alterar a
distinção entre direitos e deveres diferenciados para homens e mulheres.
A instituição escolar passou a ser da responsabilidade do Estado, o que não se fez sem
choques. Em alguns países, como foi o caso de França e Portugal, a opinião pública
dividiu-se em dois grandes blocos: os conservadores e partidários da ordem pensavam
que a escola deveria defender os valores tradicionais e ministrar um ensino religioso;
outros defendiam uma escola gratuita, obrigatória e laica. Este debate entre clericalismo
e laicismo foi muito vivo na Europa, sobretudo em França, onde os republicanos
radicais tinham imposto um ensino laico.
As políticas escolares do fim do século seguiram, no geral, estes mesmos princípios:
desenvolvimento do ensino primário, gratuito e obrigatório; renovação dos

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métodos pedagógicos; reforma e ampliação dos ensinos secundário e superior,
reservados à elite.
Portugal, durante a Primeira República, seguiu modelos idênticos ao de outros países
da Europa.

O regime republicano em Portugal

-da Monarquia à República

O regime republicano foi implantado em Portugal a 5 de Outubro de 1910, pondo-se


fim à monarquia constitucional portuguesa. Em sintonia com o que se passava no resto
da Europa, nos últimos anos da Monarquia, a desilusão foi grande em relação aos
governos liberais.
O republicanismo desenvolvia-se em Portugal também através dos intelectuais da
década de 70 que criticaram cada vez mais abertamente o regime político vigente e
deram um decisivo impulso ao replubicanismo português. A “geração de 70” apontara o
dedo acusatório à monarquia responsabilizando-a pela “decadência dos povos
peninsulares”. Foram também responsáveis pela difusão e enriquecimento do ideário
republicano, nomeadamente no tocante ao anti-clericalismo que caracteriza o
republicanismo português.
A oposição ao Regime levou à criação de dois novos partidos: o Partido Socialista,
em1875 de influência prouhhoniana, de fraca implantação entre as massas; e o
Partido Republicano, em 1876, que veio a conseguir uma mais profunda implantação
– a sua propaganda dirigia-se sobretudo às baixas classes médias, aos operários, aos
donos de pequenas oficinas, aos lojistas e comerciantes. A partir da década de 80, o
Partido Republicano conseguiu afirmar-se como o grande partido da oposição e
soube aproveitar em seu favor o descontentamento popular causado pelo Ultimato
Inglês de 1890 – a Inglaterra desejava ligar os seus domínios coloniais do Norte de
África aos do Sul, isto é, o Cairo ao Cabo, o que era impedido pelo Mapa Cor de Rosa.
Débil, a nível interno, devido à grave crise económica e financeira de 1890-91, sempre
dependente da ajuda inglesa, a monarquia constitucional não tinha condições para fazer
face às consequências que adviriam se não cedesse às exigências inglesas quanto às
coloniais africanas. E, portanto, cedeu.

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O Partido Republicano ganhou cada vez mais adeptos. Para a difusão de ideário
republicano, contribuiu também decisivamente a Maçonaria e a Carbonária, sociedade
secreta que visava derrubar a monarquia de modo violento. Os autores do regicídio de 1
de Fevereiro de 1908, em que foram assassinados o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro
D. Luís Filipe, eram elementos daquela sociedade secreta.
O novo rei D. Manuel II subiu ao trono e a ordem institucional foi aparentemente
retomada, mas o descrédito da Monarquia era já demasiado grande. Além de mais,
tornara-se clara a necessidade de dar ao povo a possibilidade de maior controlo sobre os
governos e mesmo de eleger deputados operários para o Parlamento. Em 1910, todos
concordavam em que era necessária uma maior democratização da vida política e
do Estado.
Para além da agitação política existia ainda uma profunda agitação social e laboral.
Perante tal situação, operários e classes médias uniam-se na profunda desconfiança
em relação à velha ordem estabelecida e os republicanos, aproveitando-se da
situação para fazer propaganda, prometendo austeridade e seriedade, pareciam ser a
única saída possível para tal crise.
De facto, a Monarquia chegaria ao fim a 5 de Outubro de 1910, depois de um
golpe militar liderado por oficiais republicanos. Assim, após este golpe militar, o Partido
Republicano Português tomou conta do poder e deu início à Primeira Republica
portuguesa.

-a legislação social republicana

Após o golpe militar vitorioso, foi nomeado um governo provisório que, em menos
de um ano conseguiu pôr em prática alguns dos principais pontos do seu programa. A
sua actividade pautou-se essencialmente pela necessidade de assegurar a ordem interna
e obter o reconhecimento das potências estrangeiras, numa Europa que, como vimos,
era maioritariamente monárquica.
O programa do Partido Republicano Português de 1891 estava ainda em vigor no ano
de 1910. De acordo com este, o partido propunha-se fundar a democracia através
do sufrágio universal, do municipalismo e da secularização da vida pública.
Mais do que separar a Igreja do Estado, à república interessava o controlo do Estado
sobre a Igreja, de modo a impedir que esta se transformasse num Estado dentro do
Estado, ganhando demasiado poder.

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Profundamente anti-clerical, a Republica lançou, logo em 1910, uma grande
ofensiva contra a Igreja em Portugal: foram expulsas do país todas as
congregações religiosas e encerradas todas as casas religiosas.
Em 20 de Abril de 1911, a Igreja foi separada oficialmente do Estado, sendo
declarados livres todos os cultos religiosos; proibiu-se o ensino religioso nas escolas; foi
abolido o juramento religioso nos actos civis; foi proibido o exercício da docência aos
padres e religiosos; foram nacionalizados os bens da Igreja, incluindo os próprios
templos; foram proibidas as procissões e abolidos os feriados católicos; decretados não-
válidos os casamentos, baptismos e enterros católicos, só sendo reconhecidos estes actos
quando registados no Registo Civil; foi, também, decretada a lei do divórcio…
Estas medidas foram profundamente impopulares, tendo as manifestações de
desagrado sido fortemente reprimidas.

Procurando não defraudar as expectativas criadas nalguns grupos sociais,


nomeadamente, nas classes médias urbanas e no proletariado, os governos
republicanos tomaram várias medidas legislativas de carácter social: as leis da
família, leis de carácter assistencial e laboratorial e reforma do ensino.
Com a promulgação das leis da família instaurou-se o casamento civil como o único
válido; introduziu-se o divórcio; protegeram-se os filhos ilegítimos; estabeleceu-se a
liberdade e a igualdade entre os dois membros do casal.
Através da legislação de carácter assistencial, criaram-se instituições de protecção à
infância, à velhice e a todos os pobres em geral; procedeu-se à reforma dos serviços de
saúde e assistência. Tendo em conta as carências habitacionais das classes operárias,
determinou-se, em 1919, a construção de bairros operários.

Grande número de diplomas legais republicanos são, contudo, de cariz laboral: o


direito à greve; o direito ao descanso semanal ao domingo para todos os assalariados
complementado por legislação posterior que fixou o horário de trabalho. Em 1913,
estabeleceu-se a responsabilidade patronal quanto aos acidentes de trabalho na indústria.
Todavia, só em 1919 se instituiu o seguro contra desastres de trabalho.
O facto é que muitas destas leis não eram cumpridas pelo patronato e, ainda em 1926,
não se concedia o descanso dominical aos empregados do comércio e da indústria.
Medidas de grande alcance social foram também, não só a reforma do ensino, mas
todas as iniciativas culturais promovidas pela República.

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Para além dos estudos e debates sobre a educação, cultura e pedagogia, o governo
republicano encetou uma reforma global do ensino.
A Primeira República revelou um especial cuidado pela instrução primária, uma
vez que o ensino primário e os seus professores eram considerados essenciais para a
formação de republicanos conscientes. Devido à separação da Igreja e do Estado, as
escolas do princípio do século foram escolas laicas.
O ensino primário tornou-se obrigatório até aos 10 anos e era ministrado
gratuitamente pelo Estado. O ensino pré-escolar também mereceu especial cuidado,
tendo sido criados os primeiros jardins de infância.
O ensino secundário sofreu várias reformas em termos curriculares de modo a
preparar melhor os alunos para o prosseguimento dos estudos. Era frequentado apenas
por uma minoria, sobretudo oriundos da média e alta burguesia urbana, cujos pais
tinham possibilidades económicas. Muitos pais preferiam, contudo, pôr os seus filhos
nas escolas técnicas que, a par de uma formação secundária básica, os preparavam
rapidamente para a entrada imediata no mercado de trabalho.
A reforma republicana do ensino superior passou pela criação das Universidades de
Lisboa e do Porto, que vieram retirar a Coimbra o monopólio do ensino superior em
Portugal.
De modo a alargar as possibilidades de acesso a este grau de ensino aos estratos mais
baixos da média burguesia, instituíram-se bolsas de estudo.
Outras iniciativas permitiram a divulgação da cultura entre as massas,
desenvolvendo-se uma verdadeira educação popular: cursos livres; conferências;
exposições; concertos para o povo a baixos preços; publicações, muitas delas vendidas a
preços irrisórios ou distribuídas gratuitamente, a par do aparecimento de novos títulos
de jornais e de revistas; em muitas bibliotecas abriram-se salas destinadas ao público
infantil e foram criadas bibliotecas ao ar livre nalguns jardins públicos.

-o parlamentarismo

A intensa actividade legislativa pode fazer parecer que a obra da República foi fácil e
que decorreu com normal serenidade. Todavia, o regime republicano teve reais
dificuldades de implantação em largas zonas do país, sobretudo nas rurais, onde as
populações, profundamente católicas e conservadoras, viam com apreensão as
mudanças introduzidas pelo novo regime.

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E uma das limitações apontadas á República foi o facto de os republicanos, apesar
das promessas do Partido Republicano, nunca terem tido a coragem de democratizar
realmente o sistema político introduzindo o sufrágio universal – só podiam votar os
cidadãos maiores de 21 anos que soubessem ler e escrever ou que fossem chefes de
família há mais de um ano. Em 1913, os republicanos afastaram mesmo as mulheres
da participação na vida política, assim como aos analfabetos, aos militares no activo e
aos incapazes, não lhes concedendo o direito de voto.
Ora, uma das primeiras tarefas do Governo Provisório foi proceder à eleição de
uma Assembleia Constitucional Constituinte em Maio de 1911, iniciando os
trabalhos com vista à redacção de uma nova Constituição.
A Constituição de 1911 conferia o poder legislativo ao Congresso da República.
Este órgão era formado por duas Câmaras: a Câmara dos Deputados – formada por
representantes dos círculos eleitorais, maiores de 25 anos e eleitos por 3 anos; e o
Senado – formado por representantes dos distritos e das províncias ultramarinas, com
mais de 35 anos, eleitos por 6 anos.
Ao Congresso competia fazer as leis, suspendê-las ou revogá-las, elaborar o
orçamento da República, organizar a defesa nacional, etc. Era também o Congresso que
elegia o Presidente da República, que tinha apenas uma função representativa, sendo
obrigado a promulgar todas as leis emanadas daquelas duas Câmaras.
O presidente nomeava o chefe do Governo, que, por sua vez, escolheria os outros
ministros. Se o Parlamento podia depor o Presidente da República e este os
ministros, o Parlamento não podia ser deposto por ninguém, a não ser pelos
eleitores quando elegessem um novo parlamento. Na prática, o Governo só se manteria
se gozasse de maioria parlamentar.
A Constituição de 1911, estabeleceu, pois, um regime parlamentar, com nítida
preponderância do poder legislativo sobre o executivo, já que o Congresso era o
órgão mais importante da vida política nacional; tudo dependia da sua aprovação ou
desaprovação, o Governo tinha que permanentemente prestar-lhe contas, o que tornava
a tarefa governativa morosa e pouco eficaz.
Esta preponderância do Parlamento na vida política foi uma das principais
causas da instabilidade governativa da Primeira República Portuguesa.

-a instabilidade política e social

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A instabilidade governativa resulta também, em grande parte, dos problemas
internos e das rivalidades entre os numerosos partidos, muitos deles com programas
mal definidos e com fraca implantação social.
Logo em 1912, o principal partido nacional, o Partido Republicano Português
cindiu-se devido a divergências ideológicas e rivalidades pessoais entre os seus
dirigentes. Deste saíram três novos partidos: o Partido Democrático, liderado por
Afonso Costa; o Partido Evolucionista, chefiado por António José de Almeida e o
Partido Unionista, chefiado por Brito Camacho.
Os dois últimos, de cariz mais conservador, tinham programas menos elaborados e
menos originais que o primeiro. O Partido Democrático apresentava um programa
muito arrojado para a época, de feição socializante. Reflectia os interesses da pequena
e média burguesia, mas não afrontava as camadas superiores da burguesia e da
aristocracia. Era equilibrado e preconizava um certo número de medidas sociais que
lhe captaram as simpatias dos operários e dos camponeses. Não admira, pois, que se
tenha tornado o maior partido português.
Outro factor de instabilidade era o permanente confronto com as forças
conservadoras que não tinham desaparecido com a queda da Monarquia. A Igreja, que
se vira desapossada de bens e de privilégios seculares, profundamente humilhada pelo
novo regime, aliada da Monarquia, representava um perigo para a República pela
grande influência que tinha sobre as populações, sobretudo nas zonas rurais. Os
monárquicos, que representavam outro factor de oposição ao regime, tentaram
sempre a reposição da Monarquia tendo encabeçado várias tentativas abortadas de
conquista de poder.
Por sua vez, a grande burguesia não encarava com simpatia um regime com
demasiadas preocupações sociais com as camadas populacionais de mais fracos
recursos.
Acrescente-se a todas estas questões os problemas económicos com que se
defrontou, desde o início, a Primeira República: economia de base rural assente numa
estrutura de propriedade arcaica e com fraca produtividade; indústria pouco
desenvolvida e com elevada participação estrangeira; comércio externo excessivamente
dependente dos produtos agrícolas e com uma balança comercial permanentemente
deficitária; uma estrutura viária muito má; escândalos financeiros e os inevitáveis
reflexos das crises mundiais; condições de miséria em largos sectores da população;
descontentamento social face à descida dos salários e à perda do poder de compra,

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greves, etc. Muitas destas dificuldades acentuaram-se com a eclosão da Primeira
Guerra Mundial e com a participação portuguesa no conflito.
As opiniões dividiram-se quanto à participação activa de Portugal na guerra: por um
lado o interesse nacional assim o ditava, pois alinhar ao lado dos Aliados
representaria o reconhecimento efectivo do novo regime no estrangeiro, a que se
juntava a questão colonial, ou seja, a necessidade de defender as colónias africanas
portuguesas, já que a Alemanha manifestara sempre grande interesse por essas colónias.
Nisto concordavam democratas e evolucionistas. Por outro lado, unionistas,
monárquicos e católicos, simpatizantes da causa alemã, achavam prematura a
decisão portuguesa de participar na guerra.
Nos inícios de 1916, a pedido da Inglaterra, Portugal apresou os navios alemães e
austro-húngaros encontrados em águas portuguesas, o que provocou a declaração de
guerra da Alemanha a Portugal (9 de Março) e o corte de relações diplomáticas
com a Áustria-Hungria.
Perante tão grave problema, os partidos uniram-se na chamada União Sagrada
que organizou o Corpo Expedicionário Português, que partiu para França, nos inícios
de 1917.
A situação de guerra na Europa trouxe consigo a escassez de toda a espécie de bens e
obrigou ao racionamento de produtos. A fome grassava sobretudo entre as classes mais
pobres da cidade, enquanto o número de mortos e feridos entre os soldados portugueses
crescia sempre, o que fazia aumentar o descontentamento popular contra a República.
Afonso Costa, presidente do Conselho, descurou a política interna e reprimiu duramente
a agitação social crescente.
Em 5 de Dezembro de 1917, triunfou uma revolta chefiada por Sidónio Pais,
financiada por grandes proprietários e membros da alta burguesia, com o apoio do
Partido Unionista. Sidónio Pais instaurou uma ditadura militar chamada República
Nova. Foi um período de confusão política – o regime, sem programa definido,
aguentou-se apenas em torno da figura deste chefe carismático, pouco a pouco, porém, a
fraqueza de um regime que vivia quase exclusivamente da mística do seu chefe revelou-
se. Perdendo os apoios iniciais, Sidónio Pais procurou e conseguiu apoios na extrema-
direita, o que fez afastar os republicanos que ainda lhe eram fiéis. A desilusão com a
República era completa – o assassínio de Sidónio Pais, em 14 de Dezembro de 1918,
marcou o início de um período muito conturbado.

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Os monárquicos aumentaram o seu poder e prepararam a restauração do
regime, e, se em Lisboa a revolta foi facilmente controlada, já no Norte a questão se
revelou bem mais difícil. Após um período de guerra civil, as forças republicanas
entraram no Porto a !3 de Fevereiro de 1920 e derrotaram os monárquicos. Vitoriosos
nas eleições de 1919, os democráticos voltaram ao poder e o País voltou novamente à
República Velha.
Os anos que se seguiram, já na década de 20, foram de profunda instabilidade, não
só devido aos problemas económicos agravados pela guerra, mas também pelo
confronto mais aberto de novas ideologias, como o comunismo e o fascismo. Os
governantes portugueses, pouco preparados para as tarefas governativas, eram mal
vistos pela opinião pública.
A isto se juntavam os inúmeros motins revolucionários, fortemente reprimidos pela
Guarda Nacional Republicana: a corrupção, os ataques bombistas, os atentados
políticos, etc., habilmente explorado pelas forças de direita, monárquicos e forças da
Igreja.
Todo este clima faz nascer o desejo de um governo forte, capaz de impor o
respeito, fazendo aumentar as simpatias por soluções autoritárias semelhantes às
da Itália de Mussolini e da Espanha de Primo de Rivera.
A queda da Primeira República estava para breve, o que veio a acontecer em 28 de
Maio de 1926.

5.2-AS ASPIRAÇÕES DE LIBERDADE NOS ESTADOS AUTORITÁRIOS


E A QUEDA DOS IMPÉRIOS

O autoritarismo monárquico: agitação social e reivindicações nacionalistas

Estabelecendo-se progressivamente de Ocidente para Oriente, a democracia


encontrou, contudo, forte resistência à sua implantação nalgum dos países europeus,
sobretudo nos chamados Impérios autoritários – Impérios alemão, austro-hungaro,
otomano e russo. Os fins do séc.XIX e o início do séc.XX foram anos de grande
agitação política e social por toda a Europa, sobretudo entre 1905 e 1914.

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Cada vez mais conscientes e organizados, os operários industriais dos países europeus
mais evoluídos, tendo conseguido um nível de vida melhor, não estavam dispostos a
perdê-lo. Por isso, nalguns países, a situação de diminuição de salários reais, entre 1900
e 1914, e a consequente diminuição do poder de compra, assustou sobretudo o
operariado e a pequena burguesia.
Em França, a partir de 1905, cresceu a agitação social que coincidiu com a unificação
dos partidos socialistas. Simultaneamente, o movimento sindical influenciado pelos
anarquistas, preconizou a acção directa, nomeadamente o recurso à greve. Em 1907 e
1908, as greves foram marcadas por incidentes sangrentos. Após alguns anos em que
não foi possível formar maiorias coerentes, radicais e socialistas radicais uniram-se e
ganharam em bloco as eleições de 1914.
A Inglaterra foi também sacudida, nos anos de 1911 a 1913, por greves. Ao mesmo
tempo desencadeou-se o movimento das sufragistas que exigiam o voto para as
mulheres e que usaram todos os meios para chamarem a atenção para a sua causa. A
tudo isto se juntava a questão da Irlanda: a resistência nacionalista contra o domínio
inglês tomou novo alento no princípio do séc.XX.
A Itália conheceu, no fim do séc.XIX, um período agitado, sobretudo no Sul onde a
retoma económica foi mais difícil. A situação alastrou a todo o País, enquadrada pelos
socialistas e pelos sindicalistas. Os motins foram esmagados pela força, já que a
burguesia conservadora julgou que se estava à beira de uma revolução socialista quando
mais não era do que uma revolta motivada pela miséria e pela fome. Nas eleições de
1900, a esquerda saiu reforçada, sobretudo os socialistas. Em 1907/1908 e depois em
1912/1913 renasceram as greves e a agitação revolucionária nos campos e das cidades.

Nos Impérios autoritários, porém, às questões laborais juntavam-se ainda as


reivindicações políticas, nomeadamente as relativas à exigência do sufrágio
universal, e a questão das nacionalidades.
A questão das nacionalidades não se reduz apenas à ideia de nação em termos
geográficos mas remete antes para outra realidade: a da existência de entidades
históricas e socioculturais (nacionalidades), com consciência da sua especificidade
em termos linguísticos, históricos ou religiosos, e que se sentem capazes de se
constituir como entidades sociopolíticas, isto é, como nações, com órgãos de governo
autónomos, e até mesmo como Estados nacionais.

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Na carta política da Europa de meados do séc.XIX, de facto, Estado e Nação não
coincidem em muitos casos. Assim no mesmo Estado coexistiram, por vezes, várias
nações, enquanto que noutros casos uma nação estava repartida por vários Estados.
Nos casos da Alemanha e da Itália, vários Estados independentes, formados por
população da mesma etnia, falando a mesma língua, uniram-se. Mas, o problema das
nacionalidades atingiu maior acuidade nos Estados que englobavam várias nações
desejosas de autonomia política, como era o caso dos Impérios austríaco, otomano e
russo. No Império austríaco viviam populações alemãs (austríacos), húngaras, eslavas
(checos, eslovacos e polacos a Norte; eslovenos, croatas e sérvios a Sul), romenos e
italianos. – No Império Otomano, sob a dependência turca, encontravam-se povos
europeus cristãos (búlgaros, gregos, romenos e sérvios) ou asiáticos (arménios) e povos
muçulmanos não turcos (albaneses na Europa e árabes no próximo Oriente e na África
do Norte). - O Império Russo englobava, a Norte e a Ocidente, as chamadas
“populações alógenas” (finlandeses, bálticos, alemães e polacos).
Para além do desejo de autonomia, gerou-se também a aspiração de unidade entre
algumas delas, que estavam repartidas entre os três impérios: os Sérvios e os
Romenos partilhados pelos impérios austríaco e otomano e os Polacos pela Prússia,
Império russo e Império austríaco.
O movimento das nacionalidades foi, todavia, um movimento de elites em que os
intelectuais tiveram um papel decisivo no despertar e da propagação da ideia nacional.
As massas populares mostraram-se relativamente alheadas da questão. Basta ver o
exemplo das unificações alemã e italiana, que não nasceram tanto da afirmação da
vontade popular como da conjugação de interesses económicos e da vontade
política dos homens de Estado: a união aduaneira alemã (Zollverein) preparou a união
política dos Estados alemães, sob a orientação de Bismarck; a unidade italiana teve
como obreiro principal o Presidente do Conselho do Piemonte, o Conde de Cavour.

»O Império Alemão, fundado em 1871 e constituído por monarquias, tinha um


carácter híbrido que não nos permite colocá-lo entre as verdadeiras democracias.
Formado por 25 Estados e por um território do Império, a Alsácia-Lorena uma estrutura
federal, mas era, na verdade, dominado pela Prússia: cada um dos Estados conservava o
seu rei e o seu governo, mas era o rei da Prússia quem exercia o poder executivo com
o título de imperador alemão, delegando os seus poderes num chanceler,
responsável unicamente perante o monarca. Não existia, todavia, um verdadeiro regime

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parlamentar já que o governo era apenas responsável perante o Imperador e não perante
o Reichstag.
O Bundesrat, onde tinham assento os representantes dos Estados, tinha poderes
legislativos importantes mas era, também ele, dominado pelos representantes da Prússia.
O Reichstag, apesar de eleito por sufrágio universal, era mais uma tribuna política do
que um centro de decisões.
Entre 1871 e 1890, Bismarck foi chanceler do Império alemão e esforçou-se por
consolidar a unidade desse mesmo império – encetando uma luta contra a influência da
Igreja católica e dos socialistas e contra as minorias étnicas (Alsacianos, Lorenos,
Dinamarqueses e Polacos)
A aristocracia terratenente tinha muito peso na sociedade e no Estado. Defendia
posições políticas conservadoras que lhe asseguravam a preponderância ao nível da
administração. Aristocracia e grande burguesia, que formavam a classe dirigente,
uniram-se contra as reformas políticas e sociais. Estas classes possidentes revelavam-
se profundamente temerosas perante o “perigo socialista” e perante as classes
trabalhadoras. Os valores conservadores da base social de apoio da monarquia alemã
explicam a luta contra o activismo socialista e contra a emergência das nacionalidades
não alemãs (Dinamarquesa, Polaca e Alsaço-Lorena) e o apoio à política pangermanista.
Nos finais da década de 1960, a vida económica progredira rapidamente com a
fundação de numerosos bancos e de grandes consórcios industriais.
A crise rebentou em 1873; a recuperação económica recomeçou a partir de 1885 e não
cessou de aumentar até 1914.
Para além das questões laborais, também as questões políticas ligadas à
exigência do sufrágio universal estiveram na génese da agitação social dos primeiros
anos do séc.XX. A agitação eleitoral que começara em finais de 1908 em vários
Estados alemães atingiu, na Prússia, proporções nunca vistas, dando origem a
várias manifestações populares, que culminaram em Berlim, em Março de 1909, com
uma manifestação de 150 mil pessoas.
O progresso económico criou expectativas nas classes mais baixas, o sufrágio
universal fez aparecer novos partidos e assistiu-se à progressão dos partidos
moderados do centro e da esquerda social-democrata, partidários de reformas, em
detrimento dos partidos conservadores. Em 1912, o Partido Social Democrata obteve
35% dos votos e tornou-se o mais importante partido do Reichstag.

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Com o início da guerra, contudo, as dificuldades económicas aumentaram: a
população civil conheceu o racionamento dos víveres, a inflação aumentou, baixou o
poder de compra dos trabalhadores, etc. O descontentamento traduziu-se em
manifestações e greves, que foram, depois, aproveitados pela ala esquerda dos
socialistas, que incitou os trabalhadores a preparar a revolução e a pôr fim ao conflito. O
maior surto de greves na Alemanha desencadeou-se já em 1917/1918, mas, contudo, não
afectou o esforço de guerra.
As zonas em conflitos nacionalistas mais agudos eram a Alsácia-Lorena e a
Polónia. A Alsácia-Lorena fora anexada pela Alemanha em 1871. O movimento
autonomista fortalecera-se depois de 1890, já que progredira a germanização da antiga
província francesa através da cultura, da imigração de colonos alemães e dos
casamentos mistos. Na Polónia, a germanização acentuou-se sobretudo a partir de
1907, ano em que se proibiu o uso da língua polaca. A Alemanha pretendia, ainda,
expropriar terras aos grandes senhores polacos para as distribuir por famílias de colonos
alemães. A resistência polaca reforçou-se e estendeu-se até à Alta Silésia.
A Primeira Guerra apanhou o Império Alemão num momento de transição para uma
verdadeira democracia política.

»A Áustria-Hungria era um império multinacional, formado por 8 nações, com


línguas, religiões e origens diferentes. Entre 1848 e 1916, foi o Imperador Francisco
José, quem deu unidade a este vasto império. Governou apoiado na nobreza, na Igreja
católica e numa poderosa burocracia, permanentemente confrontado com a agitação
nacionalista dos povos do Império.
Por volta de 1860, o absolutismo foi definitivamente abandonado. Perdida a influência
austríaca no conjunto dos Estados alemães em favor da Prússia, o Império Austro-
Hungaro viu-se a braços com a ameaça da sua dissolução interna.
Forçado a transformar-se para que pudesse sobreviver, o Império entrou em acordo
com os húngaros e, em 1867, os dois reinos – Áustria e Hungria – uniram-se numa
monarquia dualista. Cada um dos seus países continuava a ter o seu próprio governo,
mas a diplomacia, as finanças, o exército e a marinha eram comuns. O Imperador
Francisco José tornou-se, em simultâneo, imperador da Áustria e rei da Hungria. Este
acordo com os húngaros relegou para segundo plano as nacionalidades eslavas de
ambos os reinos. Os Checos, por exemplo, continuavam a reclamar uma autonomia
semelhante à conseguida pelos Húngaros e a formação de uma tripla monarquia. A

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solução federal não foi aceite pelo imperador que cedeu apenas em questões culturais
como, por exemplo, na igualdade das línguas e na criação do Teatro Nacional e da
Universidade de Praga. Os jovens checos, desiludidos e desejosos de reformas políticas,
pediram a independência e a ruptura com Viena.
A Áustria, que tinha desde 1867 Constituição e regime parlamentar, instituiu, em
1906, o sufrágio universal. Todavia, o sistema eleitoral dava vantagem às
populações alemãs, que representavam uma minoria entre os povos do Império.
Se os progressos económicos e sociais pareciam favorecer a evolução para uma
sociedade de tipo ocidental, a questão das nacionalidades impediu a transição política. A
vida parlamentar austríaca via-se paralisada pela agitação da minoria eslava, sobretudo a
checa, o que acabou por deixar o poder inteiramente nas mãos do imperador e dos
burocratas. Na Hungria as soluções foram ainda mais autoritárias do que na Áustria.
A Áustria-Hungria conhecera, no início da década de 70 do séc.XIX, um progresso
económico notável. A industrialização repartiu-se, contudo, de modo muito desigual no
Império, permanecendo a Hungria um país essencialmente agrícola e tornando-se a
Áustria muito mais industrializada.
A burguesia experimentava uma profunda inquietação perante o crescimento e a
agitação do proletariado urbano – novas greves agitaram Viena nas duas últimas
décadas do séc.XIX. A agitação social não tinha apenas como causas questões
laborais ou étnicas, mas também questões políticas como a luta pelo sufrágio
universal. Na Hungria, a questão do sufrágio universal foi também uma das
questões que maior agitação social provocou. Em 1905, Francisco José pretendeu
introduzir neste país o sufrágio universal para enfraquecer o movimento separatista
húngaro, apoiando-se em forças democráticas. Contudo, as classes possidentes,
receosas de perder preponderância face às minorias eslavas, levaram a melhor e
entraram em acordo com a monarquia de Viena, tendo apenas aceitado o sufrágio
censitário. A partir deste momento o movimento revolucionário esbateu-se.
A aristocracia húngara opunha-se ainda aos desejos de autonomia dos povos eslavos
(Croatas e Eslovacos), praticando uma política de magiarização forçada. Em zonas
ocupadas pelos eslavos do Sul, para além dos movimentos grevistas, surgiu em cena, em
1913, um grupo separatista que empregava o terror para atingir os seus fins políticos e
donde saíram os assassinos do arquiduque Francisco Fernando da Áustria, facto que
acabou por dar origem à Primeira Guerra Mundial.

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Nas vésperas da Grande Guerra, o Império mostrava sintomas de prosperidade
económica, a industrialização progredira, a classe média ganhara influência
económica e política, devido à introdução do sufrágio universal e a classe operária,
organizada desempenhava um papel activo na vida pública. A esquerda reforçara-
se, e o Partido Social Democrata tornou-se o maior partido do Império. A burguesia
intelectual continuava a ser a grande defensora do separatismo. A maioria da população,
contudo, não rejeitaria continuar a viver num regime federal, se todos os povos ficassem
em pé de igualdade.

»No Império Russo, o czar, senhor único de toda a Rússia, exercia um poder sem
limites, reunindo nas suas mãos todos os poderes. Este regime autocrático apoiava-se
sobretudo na nobreza fundiária, donde saíam os chefes militares, os chefes religiosos,
os altos funcionários administrativos e os ministros, numa poderosa burocracia, na
Igreja ortodoxa, na polícia e no exército encarregados de reprimir as múltiplas
revoltas dos povos do Império. Num país onde 90% da população eram camponeses
servos e onde nove em cada dez habitantes eram analfabetos, a oposição era fraca.
O czar Alexandre II tentara algumas reformas como a abolição da servidão, a
criação de assembleias provinciais, a reforma da censura entre outras. Contudo, essas
reformas suscitaram a hostilidade dos conservadores que as achavam perigosas,
enquanto outros as achavam demasiado insignificantes.
Perante a revolta da Polónia (1863) e de um primeiro atentado contra o czar, este
adoptou novamente uma política autocrática, reprimindo mais firmemente os
movimentos contestatários.
Após o assassinato de Alexandre II, em 1881, o regime radicalizou-se ainda mais.
Mas, mesmo este czarismo profundamente autocrático foi forçado a evoluir
perante as exigências de uma elite desejosa de reformas. Czares como Alexandre III
e Nicolau II, absolutistas convictos, pretenderam conciliar a transformação económica
e social do país dentro de uma autocracia, sem qualquer espécie de abertura. Este último
apoiou-se nas classes privilegiadas para prosseguir a sua política fundada na
autocracia, ortodoxia e russificação. Uma das questões para resolver era também a
das nacionalidades submetidas ao Império russo, cujas rivalidades eram alimentadas
pelo poder central para mais facilmente impor a sua tutela.
O desenvolvimento industrial dera origem a uma burguesia industrial que exigia
o sufrágio universal e as liberdades fundamentais e uma classe operária que acima de

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tudo desejava resolver os seus problemas económicos e que estava menos consciente
dos problemas políticos.
A crise económica fez desencadear inúmeras greves entre 1900 e 1905. Perante a
recusa de evolução do regime, a oposição fortaleceu-se. O confronto entre o poder e
a oposição, tornado inevitável, deu-se em 1905. A repressão continuou, apesar das
inegáveis concessões do czar: a ameaça da guerra civil obrigou o czar a estabelecer
um regime constitucional criando um parlamento, a Duma, e a garantir o respeito
pelas principais liberdades. Continuou, todavia, com o poder de dissolvê-lo quando
quisesse. Em 1907, a Duma foi dissolvida duas vezes e a repressão sobre os estudantes
universitários tornou-se mais forte, prova do endurecimento de regime.
A agitação voltou à Rússia em grande força em 1912, em pleno desenvolvimento
industrial, e desde então o número de grevistas não parou de aumentar. Às greves
juntou-se o lock-out dos patrões. A situação tornou-se explosiva.
Em vésperas da Primeira Guerra Mundial a democracia era ainda considerada na
Rússia como subversiva. A oposição continuava dividida: de um lado, os liberais, que
levaram a bom termo a revolução de Março a Outubro de 1917, e do outro, os sociais-
democratas, que fizeram triunfar em Novembro de 1917, a revolução marxista.

»Nos outros países da Europa Ocidental e Balcânica, as soluções políticas foram


todas elas de cariz autoritário impedindo qualquer tentativa de democratização: no
Império Otomano, o regime político absolutista não evoluiu, apesar da agitação e
da revolta das nações sob o seu domínio. Na zona balcânica do Império, o
nacionalismo não parou de crescer, frente à inexistência de reformas liberais por parte
do sultão turco.
Face aos massacres dos Arménios (1897), dos Gregos e dos Macedónios, nasceram
por toda a parte sociedades secretas armadas que puseram os Balcãs em permanente
ebulição. Por outro lado, tanto a Sérvia como a Grécia e a Bulgária pretenderam a
supremacia sobre a península balcânica. A Revolução dos Jovens Turcos, em 1908, que
impôs ao sultão uma Constituição e que reivindicava reformas, veio ainda provocar
mais tensões.
Apesar de reprimir duramente as revoltas, o Império não conseguiu impedir o
aparecimento de países independentes que se afastaram da sua esfera de influência, mas
que acabaram por instituir, também eles, regimes autoritários – Albânia, Bulgária,
Sérvia, Grécia, Roménia e Montenegro.

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A queda dos impérios e a formação dos Estados Liberais

A questão das nacionalidades colocou-se, pois, com maior acuidade na Europa


danubiana e balcânica, cadinho de povos de diversas origens. Estas nações exigiam a
formação de Estados independentes. A solução não era fácil e só muito dificilmente
qualquer mapa político conseguiria cobrir o mapa étnico, linguístico ou mesmo
religioso dessas mesmas nacionalidades. Por outro lado, o movimento nacionalista
ganhou, na Europa, novos contornos ao defrontar-se com o socialismo.
Todavia, após a Primeira Guerra Mundial, sob a égide da Sociedade das Nações e
em consequência do Tratado de Versalhes, algumas nações conseguiram finalmente
tornar-se independentes e um novo mapa político se desenhou na Europa: os quatro
impérios multinacionais foram substituídos por novos Estados fundados no direito
dos povos disporem de si próprios.
Nasceram assim, no quadro político europeu, novas democracias liberais
parlamentares, onde os cidadãos através do sufrágio universal, tomavam parte activa
na vida política dos seus respectivos países.
Nas zonas onde os traçados de fronteira eram particularmente difíceis foram
organizados plebiscitos através dos quais as populações escolheram o país em que se
desejavam integrar, como foi o caso da Alta Silésia, onde a maioria da população
escolheu permanecer na Alemanha. Em 1918, a Alsácia-Lorena voltou para a França.
Os Impérios Alemão, Austro-Húngaro, Russo e Otomano foram desmembrados e
deram lugar a novos Estados.
O novo mapa da Europa nascido dos tratados de paz foi imediatamente rejeitado
pela Alemanha, Itália, Grécia e Turquia. De facto, uma vez que não houve
deslocações massivas de populações, o princípio da autodeterminação foi aplicado
apenas parcialmente: 3.2 milhões de alemães da zona dos Sudetas ficaram integrados
na Checoslováquia e o corredor de Danzig, atribuído à Polónia para lhe permitir o
acesso ao mar, separava, ao fim e ao cabo, duas zonas alemãs. Assim ao resolver-se o
problema das nacionalidades, colocou-se imediatamente o problema das minorias.

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