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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 12 de novembro de 2008 • 3

REFÉNS DO ABANDONO 1

Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press

Onde o Estado
não alcança
Monique Renne/CB/D.A Press
A principal política pública para atender crianças e adolescentes vítimas de
abuso e exploração sexual só existe em 22% dos 5.564 municípios brasileiros. Os
Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas) — para onde
são encaminhados meninos e meninas que sofreram agressões e negligência —
funcionam em apenas 1.230 cidades. Nos lugares onde não há Creas, as vítimas
ficam sem qualquer amparo para superar o trauma da violência sexual.
A ajuda precária pode ser medida em números. Diariamente, a Secretaria
Especial de Direitos Humanos recebe 360 denúncias referentes a violência
sexual. Mas os Creas só têm capacidade de atender uma média de 158 pessoas
por dia. Ou seja, mais da metade dos casos fica sem assistência. “A rede não dá
conta de auxiliar todas as vítimas”, reconhece a subsecretária de Promoção aos
Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira.
Essa realidade poderia ser muito diferente. Uma economia de apenas 4% nas
despesas do governo com energia elétrica permitiria dobrar o investimento no
combate à violência sexual contra crianças e adolescentes. A conta de luz da
União custa R$ 1,14 bilhão por ano. Até 15 de outubro de 2008, foram aplicados
R$ 47,5 milhões para atender vítimas de abuso e exploração sexual. O
levantamento foi realizado pela ONG Contas Abertas, a pedido do Correio.
Além de escasso, o recurso é distribuído de forma desigual. Dos R$ 47,5
milhões gastos de janeiro a outubro, o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS) recebeu R$ 40,5 milhões, 85% do total. Esse valor foi
investido na implantação de Creas e no pagamento de profissionais. “O
combate ao abuso e à exploração sexual deve envolver diferentes atores”, aponta
Neide Castanha, secretária-executiva do Comitê Nacional de Enfrentamento à
Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Valéria Gonelli, diretora do Departamento de Proteção Especial do MDS,
ressalta o esforço do governo federal em ampliar a assistência. Ela argumenta
que, há três anos, os centros existiam somente em 316 cidades. “Trabalhamos
para levar o serviço a todos os municípios onde há risco de violência sexual,
ATENDIDA PELO CREAS EM NATAL, mas nossa maior dificuldade está em descobrir onde a necessidade é mais
SILVIA, 14 ANOS, RECLAMA DA FALTA DE urgente”, justifica. “É algo que, quase sempre, acontece entre quatro paredes.”
CONTINUIDADE NA AJUDA PSICOLÓGICA

REDE DE ituada a 58km de Natal, ta rotatividade. A maioria dos ideal é que fossem todos do qua-

ATENDIMENTO A
CRIANÇAS VÍTIMAS DE
S a pacata cidade de Goia-
ninha é um dos milha-
res de municípios brasi-
leiros onde crianças e adolescen-
tes não contam com uma rede de
profissionais tem contratos tem-
porários e fica apenas um ano em
atuação. O entra-e-sai de funcio-
nários confunde as crianças. De-
pois de um longo processo para
dro das prefeituras, mas a lei de
responsabilidade fiscal impede
os municípios de contratar.”
A falta de especialização nos
centros de atendimento também
VIOLÊNCIA SEXUAL proteção social contra a violência conquistar a confiança das víti- é criticada. Até 2002, o governo
e exploração sexual. “As meninas mas, a equipe precisa deixar o federal manteve um serviço es-
COBRE APENAS 22% daqui vão para a Praia da Pipa, posto. A ajuda é interrompida, o pecífico para crianças e adoles-
DOS MUNICÍPIOS onde fazem programas com tu-
ristas em troca de dinheiro ou
trauma persiste.
Silvia, de 14 anos, foi abusada
centes vítimas de violência se-
xual, o programa Sentinela. Há
R$ 47,5
BRASILEIROS.
PREFEITURAS TÊM
presentes”, reclama Dione Maria
Almeida, assistente social da pre-
feitura de Goianinha.
pelo padrasto aos 10. Ao ouvir os
relatos desesperados da menina,
a mãe achou que tudo não passa-
dois anos, o projeto foi substituí-
do pelos Creas.
Além das vítimas de abuso e
milhões é o total
Há anos a prefeitura da cidade va de uma fantasia infantil e ficou exploração, esses centros rece- destinado ao combate
DIFICULDADE EM potiguar reivindica a construção ao lado do marido. Silvia teve que bem registros de violência do- à violência sexual
de um Centro de Referência Es- sair de casa para viver em um dos méstica e casos de discrimina-
CONTRATAR E pecializado de Assistência Social abrigos de Natal e hoje recebe ções, trabalho infantil e cumpri-
(Creas). Mas a parceria necessá- atendimento no Creas. “Eu gosto mento de medidas socioeducati-
ASSISTÊNCIA
À VÍTIMA
MANTER
PROFISSIONAIS
ria para instalar a unidade ainda
é irreal. Dione Almeida ressalta
de vir conversar com a psicóloga,
me ajuda bastante”, conta Silvia.
vas. “Aumentaram as obrigações,
mas continuamos com o mesmo
R$ 40,5
ESPECIALIZADOS NA
que um Creas com serviço volta-
do ao apoio das famílias seria um
aliado importante na luta contra
Mas ao chegar ao centro em uma
segunda-feira de setembro, a me-
nina perguntou: “Cadê a psicólo-
número de profissionais”, comen-
ta Luzia de Carvalho, coordena-
dora do Creas Comércio, que fun-
milhões
é o valor concentrado pelo
ASSISTÊNCIA INFANTIL a exploração. ga que participou do nosso grupo ciona no centro de Belém. Ministério do
Nos 4.334 municípios não na semana passada”? Descobriu O psicólogo Ângelo Motti, ge- Desenvolvimento Social
atendidos pelos Creas, o desam- que a funcionária havia deixado rente nacional do Sentinela de
Monique Renne/CB/D.A Press paro é a regra. As vítimas acabam o cargo após o fim do contrato. 2000 a 2002, critica a extinção do
Creas
Os Centros de Referência
Especializados de
Assistência Social são
sem atenção especializada e os
casos de violência sexual contra
crianças e adolescentes aumen-
Alta rotatividade
Em João Pessoa, a alta rotativida-
programa. “A diversidade das si-
tuações colocadas para as equipes
dos Creas prejudica a capacidade
360
denúncias de exploração
compostos por uma equipe tam. Onde o Estado não está, o de dos funcionários da área de de dedicação às vítimas de violên- sexual ou abuso de crianças e
básica de psicólogo, terreno fica livre para a atuação assistência social incomoda até a cia sexual”, avalia. adolescentes são
assistente social e advogado. de abusadores e de exploradores. prefeitura. Dos 62 servidores da Em todo o Brasil, há dificul- encaminhadas todos os dias à
Os profissionais têm a Em Natal, o Creas funciona Secretaria de Desenvolvimento dades para fazer a rede de aten- Secretaria Especial de Direitos
missão de acolher as em uma casa ampla na área cen- Social, apenas dois são concursa- dimento funcionar de maneira Humanos. Mas a capacidade
de atendimento dos Creas é
vítimas, minimizar o tral da cidade. No local, traba- dos. “O número de técnicos é in- integrada. Na esfera federal, a
sofrimento e abrir caminho de...
lham duas psicólogas, duas assis- significante perto da demanda. Secretaria Nacional de Direitos
para a punição dos tentes sociais, um assessor jurídi- Faz pouco tempo que a assistên- Humanos traça as ações con-
agressores. Além dos casos co, seis educadores sociais, além cia social deixou de ser vista co- juntas na área de Saúde, Educa-
de violência sexual, os Creas
devem proteger crianças que
estejam sofrendo violência
física, negligência,
de motorista, vigia e recepcionis-
ta. Com essa organização, o Creas
realizou 155 atendimentos a víti-
mo benesse para ser considerada
uma necessidade”, explica a se-
cretária de Desenvolvimento So-
ção e Assistência Social. Mas, na
maioria dos estados e municí-
pios, não existe um órgão simi-
158
pessoas por dia.
abandono, ameaças e mas de violência sexual só no pri- cial, Francisca Fernandes. lar capaz de fazer a articulação
maus-tratos. São, ainda, meiro semestre deste ano. Mes- Em Brasília, no sexto andar do dos programas. “A política de
responsáveis por fiscalizar mo com boas condições de tra- Ministério do Desenvolvimento atenção integrada não é realida-
adolescentes em balho, há fila de espera para a as- Social e Combate à Fome, a dire- de. Ainda não conseguimos
cumprimento de medida sistência psicológica. tora do Departamento de Prote- identificar quem pode assumir
socioeducativa, liberdade Além da grande procura, uma ção Especial, Valéria Gonelli, re- responsabilidades nos estados e
assistida ou prestação de falha compromete a qualidade conhece que a rotatividade dos municípios”, lamenta a subse-
serviços à comunidade
do acolhimento das vítimas: a al- profissionais é um problema. “O cretária Carmen Oliveira.

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1. Programa por R$ 25 clientes.Disse ter 22 anos,mas tinha corpo de 15. Leia mais na internet:
Os postos de gasolina são ponto para prostitutas e Entre uma noite de quinta e uma manhã de sexta, Confira o orçamento de cada município
traficantes de drogas. As garotas assediam os declarou ter transado com três homens diferentes. para o combate à violência sexual
caminhoneiros,candidatam-se para subir na Segundo ela,os programas renderam R$45,mas ela
Podcast:
boléia dos caminhões.Em um dos postos de Padre voltaria para casa apenas com R$ 25.O resto,havia Carmen Oliveira fala sobre o
Paraíso (MG),Leide se insinuava para possíveis gastado em pedras de crack. atendimento às vítimas

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