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J.J.

Gremmelmaier

J. J. Gremmelmaier

Crônicas de
Gerson
Travesso 1
Em 2013, quando as crônicas curtas já
somavam 16 pequenos livros,
J.J.Gremmelmaier resolveu compilar em
menos livros, pois dava a impressão, somando
16 livros que suas obras eram extensas, e o
escritor não gostava da impressão errônea de
ter tantos livros.
Como resultado disto ele compilou as obras
que achou possível e conveniente, o que
pareciam mais de 100 livros, começaram a
reduzir rapidamente, dando a noção para o
escritor, da verdade e de quanto outros
projetos estavam perdidos em meio a estas
obras, esperando para serem acabadas.

1
Este primeiro livro reúne as 4 primeiras obras da
série Crônicas de Gerson Travesso:

1 – Estão Pisando no Meu Calo! Pag. 003


2 – Estou Pisando no seu Calo! Pag. 105
3 – Merda! Pag. 191
4 – Está Difícil de Limpar Pag. 291

Esta compilação, manteve as capas originais em


preto e branco no começo de cada texto, pois
J.J.Gremmelmaier, sempre dizia que os textos
contavam uma Historia, as Crônicas outra, e as
Capas, davam o clima que ele queria as obras,
assuntos sérios falados com uma pitada de
descontração.

CIP – Brasil – Catalogado na Fonte


Gremmelmaier, João Jose
Crônicas de Gerson Travesso 1, Romance
de Ficção, 408 pg./ João Jose Gremmelmaier /
Curitiba, Pr. / Bookess / 2011
1. Literatura Brasileira – Romance – I –
Título
2. Literatura Paranaense – I — Título
3. Crônicas – I — Título
85 – 0000 CDD – 978.000

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J.J.Gremmelmaier

1 - Estão
Pisando no
Meu calo!
Primeira Ediçao

Curitiba
Ediçao do Autor
2010/2011
5
Política
Eu evito falar de política, mas as vezes, de 2 em
2 anos, algo me entra a cabeça, e não consigo parar de
pensar!
Não é como se tudo fosse normal, pois política
não é normal, Democracia, é a vontade da maioria, se
a maioria quer mijar fora do pinico, não vou mijar
apenas para os satisfazer!
Quando as vezes olho a política, vejo alguém se
dizer cientista político, e me pergunto, o que faz um
cientista político?
São raras as faculdades de política, mas pensei
em o que ensinaria em uma faculdade destas.
Hipocrisia com certeza, entre outras coisas;
Estes dias estava lendo um artigo em uma destas
revistas de circulação nacional, e ele criticava o
candidato Tiririca, não estava criticando os demais
candidatos que nos fazem de palhaços, e sim, o
candidato usar o personagem como se este fosse
ilegítimo ser eleito por isto, mas me perguntei,
democracia deixou de ser a vontade da maioria, se a
maioria queria um falso caçador de marajás, o
colocamos no governo, se queríamos um falso
trabalhador, o colocamos no governo, se queríamos
um cientista social, o colocamos no poder, mas se
querem um palhaço, o cientista deveria analisar o por
que, e não o criticar, pois são estes cientistas políticos,
que transformam candidatos ladrões e vigaristas em
elegíveis, lhes prestando consultoria.‖
Gerson Travesso
Curitiba, 21 de Setembro de 2010

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J.J.Gremmelmaier
Gerson acorda mais um dia, cheiro de álcool pela
casa, tudo fora do lugar, olha ao lado da cama;
―Pelo menos sozinho hoje!‖
Senta-se naquele quarto ao centro de Curitiba e olha em
volta, a bagunça de sempre, na segunda Gerda daria um jeito
nisto, que ele sabia que na terça já estaria uma bagunça, pois
era terça feira, pega o controle e liga a TV, a TV gritava
absurdos de sempre, olha para fora, ainda chovendo, será que
este ano vai chover o tempo todo, onde estava a primavera,
estava a olhar pela janela quando o telefone tocou, demorou
para encontrar na mesa ao lado da cama, cheia de papeis, um
computador pessoal e mais papeis com rascunho, atendeu;
— Sim!
— Esta atrasado, esqueceu que tem de levar o Pedro a
escola hoje!
— Merda!
— Gerson, em quanto tempo?
Ele olhou o relógio e olhou ao fundo e falou;
— Estou saindo, já passo ai!
O senhor soltou o telefone e pegou uma camisa
amassada do armário, uma calça jeans e pos um boné, nunca
gostou de sua calvície, olhou o espelho, acabado, pegou a
chave, procurou o celular a cama, e saiu ainda pondo uma
jaqueta sobre o corpo, estava frio, estava querendo tomar um
chope com os amigos, mas o tempo não estava facilitando;
Saiu com tudo da garagem do prédio e 5 minutos depois
estava a porta da casa da ex, uma repórter competente
demais para ficar muito tempo com Gerson, que a olhava
ainda com admiração, mas ele realmente não era alguém para
se manter num casamento, o filho o cumprimentou, entrando
no carro;
— Esta acabado pai!
— Estou, mas você parece que vai para uma festa,
namorada nova?

7
O menino não respondeu e quando saiu do carro no
colégio olhou o pai e nem falou nada, entrando em meio a
uma turma a porta, pegando um boné na mochila e pondo na
cabeça, o senhor riu sozinho um segundo, entre olhar o filho e
alguém buzinar as costas;
Ele foi ao centro e sentou-se em um café na Praça
Osório, comprou o jornal, e abriu em sua crônica, sabia que
não tinha muito espaço e cada dia tinha menos, as vezes as
pessoas diziam que ele queria perder o emprego, mas isto era
o que ele fazia melhor, provocar;
Dalton, companheiro de redação parou ao seu lado com
o terno impecável, e enquanto tomava o café o rapaz a frente
engraxava seu sapato, sempre brilhoso;
— Soube que pegou pesado de novo! – Dalton;
— Fazer o que, na pagina que estou, se não provocar
ninguém lê!
O rapaz sorriu e falou;
— E esta aparência?
O engraxate sorriu e Gerson falou;
— Sai da boca da vaca!
Gerson tomou o café olhando as moças da noite
voltando para casa, não estava nem com vontade de mexer,
mas uma parou ao seu lado e falou;
— Paga um café Gerson?
— Você ganha mais que eu!
— Pelo jeito caiu da cama mesmo? – Dalton;
Gerson sorriu e fez sinal para o rapaz por um café para a
moça, a olhou e perguntou;
— Pelo jeito a terça foi fraca!
— E quando terça é forte?
— Não sei, pense que largaria isto depois da morte de
sua prima!
— Não sei fazer outra coisa!

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Gerson estava afiado e olhou a moça e falou olhando
para o menino que engraxava o sapato de Dalton;
— Zequinha, não caia nesta lábia, esta moça atira como
ninguém!
Ela sorriu e Dalton a olhou com aquele ar de superior;
— Não ligue ele, esta queimando tudo hoje!
A moça mediu o senhor e perguntou;
— Deve ter acordado cedo hoje?
— Sim, todo dia!
— Quer saber eu não me preocupo com o Gerson, ele
não dá bola e mesmo assim tem um monte de problemas,
você com os problemas dele, nem sairia da cama!
— Fala como se o conhecesse!
— Você é aquele cronista social, se não me engano,
Dalton Damaceno, o que já herdou isto do pai que fazia isto
antes!
— Pelo jeito é informada, você que escreve para ele?
— Não, mas lembro de rostos muito bem rapaz, mas ele
é assim, cheio de farpas, gosto disto nele!
Dalton olhou para Gerson e perguntou;
— Com esta a ex?
— Trabalhando, acho que vou parar de trabalhar e pedir
uma pensão!
O engraxate se divertia a ouvir isto todo dia, um dia era
esta, outro uma moça de olhos azuis, as vezes ali, as vezes
umas 3 horas depois em pleno calçadão;
— Soube que ela esta namorando o Frank!
Gerson olhou para Dalton e falou serio;
— Dalton, eu sei disto, não precisa forçar! Eu a perdi,
não foi o contrario, sei o lixo que sou, não sou da laia dela!
Dalton olha ao fundo a ex de Gerson, a mede, linda
como sempre, com seu vestido impecável, salto 15, maquiada,
vindo com Frank naquele sentido;
— Pode ser, mas ela vem ai!
9
Gerson nem olhou, pediu mais um café e esperou os
dois chegarem;
— Bom dia! – Frank;
Dalton respondeu, e Gerson olhou para traz, mediu a ex
de cima a baixo e falou;
— Bom dia!
Frank se perdeu, mas viu Gerson o estender a mão;
— Soube que foi promovido!
— Sim, vou para a gerencia de conteúdo do Diário
Vespertino!
— Toma um café ou esta atrasado? – Dalton;
— Em cima do horário, mas com calma tomamos café
depois!
Gerson se despediu da moça e olhou para a ex;
— Deixei ele a tempo, Marta!
— Pensei que iria mais uma vez atrasar?
Gerson não entrou na provocação, pagou o café e foi
andando no sentido da redação, atravessou a praça, uma
quadra a mais na Desembargador e adentrou ao prédio de 16
andares onde a redação ficava nos últimos 6 deles;
Gerson estava um trapo, mas não baixava a guarda,
enquanto alguns ficavam em seus ternos olhando indignados,
não ligava para isto, os demais não viam quem escrevia, e sim
o conteúdo, se vissem talvez nem comprassem o jornal;
Gerson escreveu um pouco, em sua mesa, e depois de 9
horas, que não precisava, mas a exigência era ficarem ali,
desceu e foi a um bar bem na esquina, sentou—se para fora e
pediu uma cerveja, bebeu até ficar tonto, e foi para casa
dormir‖

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“Iniqüidade”
Estava ouvindo um culto, não sou evangélico,
talvez cristão, mas não estava a igreja, é que de casa
dá para ouvir a noite o pastor a orar na igreja batista a
uma quadra de meu edifício, ele começou a falar de
iniqüidade, e de coisas como pedofilia,
homossexualismo, aborto, e coisas erradas apontando
para um partido político toda a culpa daquilo,
desculpa, mas me veio duas perguntas a mente!
O que é iniqüidade? Depois, isto não é
iniqüidade?
Vou ao mesmo discurso de sempre, a igreja
pregar que o homem veio antes da mulher, ela
estabelece que o homem é mais, machista o tempo
inteiro, e depois se negar a responsabilidade do achar
que ele é dono da família, da agressão de homens a
mulheres, de namorados as namoradas que os
deixaram, mas não assumem as sua parcela de
iniqüidade.
Segundo, eu não tenho medo do julgamento de
deus, falar em deus e temer a ele é temer as próprias
iniqüidades que diante de deus serão visíveis.
Terceiro, religião não deveria se envolver em política
direta, pois estão cometendo crimes em nome da
igreja, crimes silenciosos, a escola ao lado do prédio
tem problemas nas aulas de quinta e não temos como
reduzir ou sensibilizar o pastor a frente, tudo que foi
tentado, foi induzido que cultua demais afasta de
Deus. Temos pais sendo induzidos a casar as filhas

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com 12, 13, 14 anos, para não caírem nas tentações do
demônio, isto é pedofilia institucionalizada.
Cultura é importante, combater a iniqüidade sim,
mas com verdade, leis contra pedofilia, já existem,
mas não podemos nos omitir, é a omissão que
transforma pais de família em criminosos;
Por ultimo, gostaria que os brasileiros, todos,
soubessem ler, e entender a bíblia, para que não se
distorcesse o que esta escrito lá por iniqüidade de
pastores que tem medo do julgo de deus.‖
Gerson Travesso
Curitiba, 22 de Setembro de 2010

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Gerson acorda mais um dia, arrasta o corpo com
calma ao banho e depois se veste com mais calma, faz a
barba, não era de fazer a barba todo dia, nem paciência para
isto tinha, escovou os dentes com calma, e foi ao trabalho,
chegou mais cedo, pagou um café para o menino que
engraxava o sapato dos demais, pois estava sempre com um
Rainha velho no pé.
Olhou o jornaleiro falar;
— Não sei o que escreveu Gerson, mas o pastor da
Universal saiu xingando daqui!
— Ele sabe ler?— Pergunta Gerson cinicamente;
O jornaleiro sorriu, este era Gerson, poderia estar mais
arrumado aquele dia, mas não deixava barato;
Cumprimentou as pessoas de sempre, e foi a redação,
tinha que por algumas coisas em dia, não muitas, mas
estranhou quando Frank chamou a sua sala;
— Fala Frank?
— Temos de cuidar de você rapaz, temos reclamações
atrás de reclamações, mas parece que pegou pesado!
— Quer que me retrate? – Gerson;
— Melhor não, eles vão esquecer, mas pega leve na
religião, sabe que tem gente aqui dentro que reza uma
cartilha diferente da sua!
— Sei!
Frank o dispensou, Gerson não tinha idéia nenhuma do
que escrever, estava naqueles dias que pegaria algo que
escreveu anteriormente com palavras diferentes faria seu lixo
matinal;
Acessou os e—mail, tinha uma montanha de
reclamações, ele nunca lia elas, mas sempre salvava em seus
arquivos pessoais, no fim teve um que o chamou atenção;
―Você é o demônio em forma de gente, que deus tenha
pena de sua alma, que toda iniqüidade que falou, não entre
em ouvidos despreparados, que o amor de Jesus Cristo opere
em sua alma!‖
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―Demônio‖ Pensou ele;
Gerson saiu para o almoço e viu uma manifestação na
frente da redação, estranhava isto, ninguém nunca fazia
protestos;
Gerson passou por eles, vantagem de ser um
desconhecido, as faixas eram gritantes, mas tinham conotação
política, sabia que estava a poucas semanas das eleições;
Sentou—se no mesmo restaurante de sempre, pediu a
comida, pegou um guardanapo e começou a escrever idéias;
Aquele dia foi o mesmo de sempre, mas não foi ao bar
beber, estava com um pouco de dor de cabeça e mesmo ele
as vezes se recolhia;

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Demônios na Política
Vi alguns candidatos à presidência, se prenderem a
assuntos religiosos, vi alguns citarem os outros como se não
fossem dignos de serem candidatos, acho hipocrisia alguém
beijar uma criança em campanha, acho hipocrisia alguém ir a
igreja e depois roubar em Brasília.
Acho que política não se decide quem é demônio ou
quem é santo, pois santo ninguém é, ninguém conseguiria
concertar este pais sendo santo. Mas isto não transforma
ninguém em demônio, isto não dá o direito de uma das partes
acusar a outra de que é um caminho não religioso.
Quando vejo as pessoas prontas a votar apenas em
cristãos, votar em pastores, em católicos respeitados, em
políticos no caminho cristão, lembro, que foi assim que
começou o Nacional Socialismo, dentro de regras que mataram
os adversários, por não serem cristãos, temos de cuidar com
isto, não podemos despertar ódios religiosos e nos esconder em
uma mascara de Cristãos;
Por ultimo, aborto no Brasil é caso de educação e saúde
publica.
Gostaria de pedir aos pais, Cristãos ou Não, que
deixassem o tabu no passado, e falem de sexo com os filhos,
pois não é função da igreja ou dos políticos fazerem isto, é sua
responsabilidade explicar a seu filho que tem hora para tudo,
até para ter filhos.

Gerson Travesso
Curitiba, 23 de setembro de 2011

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Gerson foi dormir sedo, descobriu até qual o nome da
novela que passa sei lá que horas, ele conhecia como novela
das oito, mas o jornal hoje em dia começa depois disto,
sentou-se ao computador pessoal e começou a pensar em sua
vida, ele sempre sonhara escrever um livro, mas nunca parou
para escrever o mesmo;
Anotou muitas idéias, pediu uma pizza, e ficou a curtir a
vista da varanda de seus apartamento, pouco mais de 2
metros quadrados de varanda, mas seu mundo, podia estar
bagunçado, mas era dele;
Preparou as coisas para o dia seguinte, achava que
havia pegado leve, até o redator estranhou o tom bem serio
da reportagem, aborto no Brasil, esta era a temática que ele
pensara naquela noite, e escreveu o titulo de seu livro;
―Perdendo a Vergonha‖
Gerson dormiu bem, talvez a anos não dormisse tão
bem, ele em si achava que o álcool o ajudava a dormir, mas
viu que depois de anos conseguiu dormir sem pensar nos
erros do passado;
Pela manha, já pronto se manda a porta da casa da ex,
que quando liga para ele ouve;
— Estou na portaria esperando!
— Não dormiu em casa?
Gerson não respondeu, obvio que ela saberia que ele
dormiu em casa, estava limpo, barba feita, cheiroso, e quando
o filho entrou no carro estranhou;
— A mãe pediu para ver se estava bem?
— Como esta filho?
— Bem, mas parece que tomou banho hoje!
— Até eu tomo banho!
— E vai ter tempo para ver a apresentação do colégio no
sábado?
Gerson olhou para o filho e perguntou;
— Já é neste sábado?
— Não vai poder ir?
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— Não disse isto, mas vai ser que horas?
— As 4 da tarde!
— Para seu desgosto filho, prometo tentar aparecer!
O menino sorriu e saiu pela porta e falou olhando ele;
— Fica melhor com este sorriso, o que o fez sorrir?
Aquela pergunta entrou na mente de Gerson, mas não
fizera nada, apenas curtira a idéia de escrever um livro, e no
fim gostou de algumas anotações;
Gerson foi a um café na boca, sentou—se a tomar seu
café, os demais repórteres estranharam a ausência dele no
café de sempre, mas estava pensando em sua obra de arte,
mais arte do que obra;
Calmamente vai a redação e estranha quando uma moça
pega em seu braço a porta e pergunta;
— Você é Gerson Travesso?
Olhou a menina, não deveria ter mais de 16 anos, e
respondeu afirmativamente;
— É ele pessoal!
Gerson não sabe de onde vieram tantos ovos e tomates,
mas a frente do prédio ficou lotada, ele olhou a menina e
falou;
— Espero que não faça falta este alimento, já que estão
a desperdiçar em mim! – Sorriu e o segurança olha para
Gerson, se estava arrumado até aquele instante, não mais,
uma zeladora olhou para ele e falou;
— Vai me pagar um adicional por isto Gerson!
— O adicional, se for em dinheiro pago, Rute!
Ela sorriu e o segurança perguntou;
— Quer usar o banheiro dos fundos antes de subir?
— Sim, digo que fico melhor desarrumado, ninguém me
nota!
O segurança sorriu, Gerson foi a um banheirinho no
fundo, tirou a camiseta, a calça, passou uma água, depois
lavou a cabeça e os braços torceu a camisa, a calça ficou

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úmida, não teria como trabalhar um dia inteiro assim, vestiu a
roupa, saiu pela porta olhando os baderneiros e perguntou;
— Sobrou algo para um omelete?
Um senhor que vestia um terno impecável olho
atravessado para ele;
— Isto deve ser cara de fome, da próxima vez dá para o
pastor os ovos e os tomates, ele esta com fome!
Atravessou a rua e entrou em uma galeria, os
seguranças da galeria que viram o acontecido barraram os
pseudo-evangélicos, enquanto Gerson comprava uma
camiseta, calça, cueca, um tênis e uma meia;
Saiu arrumado, entrou na redação e olhou para Rute;
— Desculpa, não pensei que alguém ainda jogasse
tomate em alguém!
— Esta provocando Gerson!
Gerson subiu a sua sala, obvio, nem chegou a mesa e
tinha um recado na mesma;
―Falar com Frank‖
Gerson deu meia volta e passou por Marta a
cumprimentando, já entrando na sala de Frank;
— Fala Frank!
— Temos mais reclamações, tem de parar de bater!
Gerson sentou-se e falou;
— Estamos vendendo menos jornais, Frank?
— Não, mas como disse, tem gente acima de você que
não esta gostando!
— Eu sempre escrevi escrachado, estou na pagina 10 ao
lado das notas de falecimento, ninguém lê, sabe que isto tem
conotação política, não é nada além da distribuição dos
santinhos do candidato deles a presidência!
— Não esta entendendo Gerson, se voltar a provocar
pode conseguir uma advertência!
— Então lê antes de mandar a redação, ontem mandei
para vocês lerem ninguém achou provocação, o Paulo – O

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J.J.Gremmelmaier
redator do jornal – falou que estava tão leve que me
perguntou se tinha sido eu que tinha escrito!
— Gerson, pega leve, o nosso trabalho nós fazemos!
Gerson pela primeira vez achou que era perseguição
pessoal, nunca tivera problemas, mas tudo bem, foi a sua
mesa, os jornais se extinguiram naquele dia, ele nem
conseguiu ler como ficou sua nota, saiu e foi ao mesmo
restaurante e viu a imagem dele levando uma chuva de ovos
na propaganda eleitoral adversária, que dizia que mostrava o
quanto era antidemocrático o candidato adversário, ele ficou
irritado com aquilo, mas se estavam querendo confusão, qual
o peso para ele;
Gerson não gostava de aparecer, ele as vezes gostava
de ser apenas mais um cronista, não tinha muita importância,
ele conseguia ser ele, sempre teve medo de que com a fama,
tivesse de escrever o que as pessoas queriam;
Voltou a redação e subiu, se a idéia era algo de
conscientização, ele não ia deixar barato, mas sabia que teria
seu preço;
Escreveu um pouco, desceu tomar um café e no fim
daquele dia foi ao bar, pediu uma cerveja como sempre, mas
tomou apenas meia, pediu um refrigerante, abriu o
computador pessoal e começou a anotar as coisas que achava
interessante;
Quando percebeu que estava tarde, foi a seu
apartamento e dormiu, estava gostando de estar mais sóbrio;

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Escrúpulo
Peço desculpas já antecipadas aos que não
gostam de mim, aos evangélicos, aos petistas e aos
adoradores do demônio, eu não sou de todo ruim,
mas vi que havia pego pesado, não tenho direito de
ofender uma pessoa, por pensar diferente dela, não
tenho direito de dizer que é função do pai educar o
filho, não tenho o direito pois realmente, meu
casamento faliu, minha esposa cuida de meu filho, o
vejo apenas uma vez por mês, sou nocivo a educação
dele, foi isto que o juiz falou.
Peço também desculpa a quem me viu ser
chovalhado de ovos e tomates, ontem na TV, e
passam fome, mas não pertenço a aquele partido, e
achei sem escrúpulo eles filmarem aquilo, e usarem
para avacalhar o outro candidato, pois se ele não
tinha motivos para falar que estão usando a maquina,
agora tem, aquele vídeo foi tirado pela câmera de
segurança da agencia de um dos Bancos Estatais em
frente da redação, e para ser editada e direcionada,
entre as 9 hs e as 12:30, e estar pronta a ir a publico,
foi com conivência de alguém do Banco;
Peço por ultimo desculpas aos meus
companheiros de Jornal, não os queria expostos em
algo que sempre odiei, escândalos, me desculpem,
pois não quero que minha imagem afete a imagem
responsável e dinâmica do jornal.
Gerson Travesso
Curitiba, 24 de Setembro de 2010

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J.J.Gremmelmaier

Gerson acorda com o celular tocando, não era 6 da


manha, atende com sono;
— Gerson, gostaria que fosse a minha sala mais sedo
hoje pela manha! – Frank;
— Algum problema?
— Nos falamos lá!
Gerson sorriu, já fora mais sedo ao trabalho, já
trabalhara em outras redações, fora mais feliz em outras, mas
fora para o Jornal Vespertino quando ainda casado com Marta,
ela achou o local ideal para o trabalho dela;
Gerson sabia que não deveria ter saído da antiga
repartição, deixou bons amigos, mas ficou a sensação que não
era comprometido com o jornal, embora nisto eles tivessem
razão;
Se veste com calma, toma um banho demorado, era
Sexta Feira, queria sair um pouca naquela noite, mas nem
sabia com quem ainda, naquela redação não fizera amigos,
não verdadeiros amigos, pois Frank pareceu um amigo até
falar para sua esposa onde haviam passado a noite anterior,
depois de uma noitada daquelas, mas obvio, tudo que aqui se
faz, aqui se paga, esta era o lema de Gerson, e não deixaria
de estar bem apresentado;
Passou no café e ainda estava fechado, sinal que vinha
bomba, deus o queria sem cafeína nas veias;
Caminhou calmamente, cumprimentou o segurança do
prédio, e subiu, obvio que a redação silenciosa, antes do agito
era outro mundo, abriu seu computador pessoal e olhou o
lugar, tirou umas fotos do local, algo dizia que viria mais uma
suspensão, não pegara pesado, mas estava longe de ser leve;
Estava a escrever quando Frank entrou todo
engravatado pela porta, o perfume do senhor chegou 15
minutos antes, isto era uma brincadeira de Paulo, fez sinal
para ir a sala dele, Gerson salvou o que estava fazendo e
entrou na sala;

21
— Fala Frank!
— Senta ai!
Tom agressivo, o que estava acontecendo;
— Você não sabe mesmo não bater?
Gerson olhava serio para o senhor, não queria responder,
não estava ali para isto, o tom só confirmou o que sabia que
aconteceria;
— Gerson, pedi para lhe afastarem por 5 dias, espero
que pense no que esta fazendo, pois se não melhorar na volta,
sabe bem o que vou ter de fazer!
Gerson não falou nada, levantou—se e perguntou;
— Algo mais, Frank?
— Não vai nem se desculpar?
— Se eu me desculpar muda o que? Frank!
— Nada, esta tomada a decisão!
— Então só vou pegar meu computador pessoal, e sair,
pois sei que a idéia foi sua, ex—amigo!
— Acha que é pessoal?
— Não, o jornal que sempre compro as 10, estava
esgotado antes das 8, e você vai dizer que foi a sua
reportagem que vendeu os jornais, muito boa por sinal, mas é
pessoal, eu e você sabemos disto, mas você que não
entendeu, Frank, eu sou alguém que vive melhor sozinho,
Marta é uma ótima repórter, mas merece algo muito melhor
que eu, e sinceramente, depois disto, melhor que você
também!
Gerson sai pela porta, pega o seu computador pessoal e
senta—se para tomar café;
O jornaleiro lhe viu e falou;
— Pelo jeito esta ficando famoso!
— Isto passa!
Zequinha chegou e Gerson lhe pagou um café, e com
calma, abriu seu computador pessoal, procurou uma rede sem
senha, no centro de Curitiba esta cheio, e acessou a Internet,

22 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
viu seus E-mail, algumas coisas que ele não estava
acostumado, como parabenizações pelas crônicas, ―puxa
sacos‖, pensava ele;
— Tudo tranqüilo Gerson? – Paulo, o redator;
— Tudo, suspenso por 5 dias!
— Esta falando serio?
— Sim, não entendi por que, mas sinal que estou
fazendo mais barulho do que consigo ouvir!
— E esta ai calmo?
— O que posso fazer, pular de uma ponte?
— Sabe que a morte é a única coisa irreversível nesta
vida, não fala besteira!
— Vai fazer o que a noite Paulo?
— Não sei, alguma idéia?
— Sim, escrever uma crônica!
Paulo sorriu e perguntou;
— Ainda pensando em escrever um livro?
— Em 3 dias escrevi mais que nos últimos 10 anos!
— Inspirado, isto é bom, mas ninguém me falou de sua
suspensão ontem!
— É pessoal Paulo, não se mete!
— Frank que o dispensou?
— E me disse que na volta, se não me comportar vou
ser mandado embora!
— Ele acha que ganha o que com isto?
— Nem quero pensar nisto, mas estava pensando em
fazer um churrasquinho, e trocarmos uma idéia sobre um
livro!
— Esta mesmo disposto a conversar?
— Eu estou, a muito não escrevia, e sabe que a muito
não acreditava no que escrevia, mas alguém acreditou!
— Você cutuca com classe, mas enquanto não chamou
atenção ninguém se preocupou!

23
— Se deixassem quieto, com certeza ficaria invisível
novamente e me depararia com o saudoso esquecimento!
— Vi ontem na TV que esta mais careca, nunca te vejo
tirando o Boné!
Gerson sorriu e falou;
— Vai lá, pois vai que o Gerson passa uma daquelas
crônicas inaceitáveis, tem de ler elas!
— Frank não tem tino de repórter, mas sabe como é,
filho de acionista, temos de engolir!
— Estou vendo que o acionista não esta precisando de
dinheiro Paulo!
Paulo paga o café e sai na direção da redação;
Fabrícia, uma prostituta que não tinha este nome, mas
que Gerson nunca quis saber o nome real olha para ele com
aqueles olhos azuis e pergunta;
— Ficou famoso, não trabalha mais?
— Tem uma vaguinha lá onde você trabalha, estou
quase desempregado!
— Fala serio, o que esta fazendo aqui?
— Me deram uma advertência de 5 dias!
A moça pede um café e fala;
— Então hoje eu pago o café!
— Pelo jeito a quinta foi boa! – Gerson;
— Quer falar?
— Não sei, não sou bom em desabafar!
— Antigamente estaria com uma cerveja à mesa a estas
horas!
— Esta cidade não esquenta mais, deveria estar um dia
de sol, e olha esta garoa!
— Pro meu negocio é bom este clima! – Fabrícia;
— Alguém tem de se dar bem na vida!
A moça que deveria ter perto de uns 25, poderia ser
mais, poderia ser menos, abraçou Gerson e perguntou;
— Vai me fazer companhia hoje?
24 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Não, hoje tenho algumas coisas a fazer!
— Passa lá a noite!
— Vou pensar, ou lhe ligo!
— Ainda tem meu numero?
— Sim, mas da ultima vez que liguei um homem
atendeu e achei melhor não falar nada!
A moça sorriu, pagou o café e saiu pelo calçadão com
muitos homens babando e outros mexendo;
Na redação Marta soube por Paulo da suspensão de
Gerson, não iria perguntar para Frank o porquê, não iria
misturar as coisas, mas a noticia do afastamento dele correu a
redação como pólvora, e Paulo pede para falar com Frank;
— Algum problema Paulo?
— Não, apenas quero saber quem coloco no espaço ao
lado dos falecimentos!
— Põem um aviso que a coluna ficara 5 dias sem redator,
e coloca uma publicidade!
— Pagina 10 é difícil por publicidade Frank!
— Sempre tem algo, sabe como a noticia do
afastamento de Gerson foi recebida na redação!
— Nem tive tempo de verificar Frank!
Paulo desconversou e saiu, obvio que não era uma boa
idéia por um adendo que a coluna não sairia por 5 dias, mas
cumpria ordens, passou para ele o modelo e Frank aprovou e
assinou, tirando o peso das costas de Paulo, que não queria
envolver—se, se era pessoal, melhor não por a colher;
Zequinha olha para Gerson e perguntou;
— Por que o afastaram?
— Por que pego pesado, mesmo quando tenho de pegar
leve!
— Mas ouvi muitos dizerem que o seu jornal nunca
vendeu tanto!

25
— Acho que nunca algo na pagina 10 havia sido lido
com tamanha freqüência, mas amanha não sai, por 5 dias não
sai nada, daí eles me esquecem e a paz retorna!
— Acha que eles não vão lhe mandar embora?
— Acho que no fim, talvez, sempre tento ver o lado bom
das coisas, mas não sei exatamente qual foi desta fez!
— Você é dos poucos que conversam com a gente, a
maioria puxa o papo de sempre, mas não nos põe na conversa,
têm vergonha de nós!
— Zeca, por mais que eles se façam de superiores, eles
não sujariam suas lindas unhas para engraxar o sapato, então
tens um emprego que enquanto eles se acharem superiores,
se mantêm!
— Acha que eles não são superiores?
— Acho que se o mundo sofresse uma grande catástrofe
amanha, você sobreviveria, eles, morreriam! O que quero
dizer com isto, você é especial, eles, engravatadinhos sem
função fora de uma sociedade, eles não merecem o arroz que
comem, por sinal, nem eu!
Zequinha sorriu e viu mais uma moça chegar ao local,
era meio dia e meio, mas aquela não falava com ninguém;
— Pensei que estaria bêbado a esta altura!
— Algum problema Marta?
— Quero saber a verdade, por que ele lhe afastou?
— Ele disse que peguei pesado, e que tinha 5 dias para
me acalmar, se quando voltasse, continuasse naquela linha,
seria rua, então em 5 dias, ele vai esperar mais umas poucas
notas, pois ele sabe como você que não sei pegar leve, e vai
me mandar embora!
— E esta fazendo o que ai?
— Pensando em o que por no meu currículo, fora
incompetente, não achei nenhuma outra qualidade em mim!
— Acha que alguém vai o querer?
— Marta, eu me viro, tenho uma reserva para pagar a
pensão, não se preocupe com isto!
26 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Não estou pensando na pensão!
— Não, mas sei que mesmo desempregado, se atrasar
um dia, você me denuncia e lá vou eu visitar a cadeia!
— Apenas me preocupei!
— Eu também, mas não gosto desta solução, esperar 5
dias para depois ele me mandar embora, mas primeiro vou
pensar, depois vejo o que faço!
— Vê se não esquece da apresentação de amanha!
— Pede desculpas para o Pedro, mas eu não vou!
— Ele vai ficar triste!
— Eu sei que ele vai ficar triste, mas diz para ele que
não vou!
— Não quer cruzar com Frank, é isto?
Gerson não respondeu, mas era evidente isto, ir lá e
sorrir com tudo desandando, não era de seu feitio;
— Mas nem sei como falar que você não vai!
— Inventa, você sempre foi boa nisto!
— Eu nunca falei mal de você!
— Não, ele é um alcoólatra, um mulherengo, só sai com
prostitutas, não tem nem um emprego descente, não se
arruma, não é algo que quero ao lado de meu filho!
— Sabe que estava defendendo ele de você!
— Então defende ele de mim, diz que perdi o emprego,
que estava alcoolizado e que não apareci, estava com uma
piranha, caído em alguma sarjeta! – Gerson falou um pouco
mais alto;
— Você não presta mesmo e eu me preocupando!
Gerson a vê levantar—se e pede mais um café, já era o
décimo segundo café, ele estava a escrever e Zeca pergunta;
— Por que pegou tão pesado com ela?
— Por que ainda a amo, mas ela não me ama, e o
melhor para ela é se manter longe de mim!
— Você a ama por isto deixa ela brava daquele jeito!

27
— Brava ela estava no dia da nossa audiência de
divorcio, eu cheguei alcoolizado e cheirando a perfume barato,
ela não agüentou e descascou o verbo!
— Você é bom nesta coisa de mulheres bonitas!
— Zeca, o que diferencia uma mulher bonita de uma feia,
é apenas os olhos de quem a vêem!
Zeca sorriu e Gerson voltou a escrever, era perto das 6
da tarde quando ele comeu um salgadinho, pagou a conta, e
sentiu seu celular tocar ao bolso;
— Fala filho!
— Por que você não vai?
— Filho, não quero estragar sua festa, se for, vai dar
merda!
— A mãe disse que você esta quase desempregado,
pensei que estava se dando bem no serviço, todos os colegas
me perguntavam de você!
— Me dar bem é uma coisa, trabalhar para o pai do
namorado de sua mãe é outra, e se for lá, vou o socar, não
quero estragar a festa!
— Ele disse que vocês eram amigos outro dia!
— Filho, sua mãe merece algo melhor que eu e ele, ela
não merece sofrer, ele é alguém como eu, mas que nasceu
com dinheiro, no resto, fede igual!
— Mas não vai?
— Filho, se for, eu perco o emprego na segunda, não
daqui a 15 dias!
— Mas passa aqui depois?
— Se me avisar quando ele saiu, passo, se ele posar ai,
esquece!
Gerson estava a andar no calçadão, e uma moça o
barrou na rua, e perguntou;
— Você é Gerson Travesso!
Gerson olhou em volta e falou;

28 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Se tiver alguém com ovo e tomate escondido digo
que não!
A moça riu e perguntou;
— Podemos tomar um café!
— Podemos, mas estou cheio de café, tomei uns 20
hoje!
— O café da redação é tão bom assim?
— Não, mas quem é você?
— Priscila Dantas, Gazeta Popular!
— O que quer moça?
Ela apontou uma cafeteria e sentaram—se, o celular
tocou e Gerson falou;
— Paulo, estou na confeitaria das famílias, me encontra
aqui!
A moça olhou para Gerson e perguntou;
— Sempre me disseram que era alguém mal vestido,
despreocupado com a aparência, mas não me aparentou isto a
primeira vista!
Gerson não respondeu, estava a olhar para ela,
esperando para falar;
— Certo, estamos precisando de um colunista no seu
estilo, mas não contratamos, compramos artigos e os
publicamos!
— Pagam bem?
— Mais ou menos, mas por que?
— Só para saber quanto a mais minha ex vai me tirar
por mês!
— Você pelo jeito não leva nada a serio!
— Senhora Dantas, estou quase desempregado, eu
aceito vender crônicas para a Gazeta Popular!
— Eles vão lhe mandar embora, são malucos?
— Não sei qual a influencia que tem na Gazeta?
— Suficiente para parar as vezes as maquinas!

29
— Um dado triste, me afastaram 5 dias por divergências,
por acharem que estou pegando pesado de mais!
— Você até elogiou aqueles incompetentes!
Gerson sorriu e falou olhando para a porta;
— Entrem pessoal, não sei se conhecem, Senhora
Dantas da Gazeta Popular!
Paulo sorriu sem graça, veio com Rogério e Francisco,
dois rapazes das prensas;
— Prazer! – Paulo que olha para Gerson e pergunta –
Ainda sóbrio?
— Sim, primeiro os negócios, já conversamos Paulo!
Os três sentaram—se e a moça falou;
— Priscila, quando você elogia incompetentes, eles não
lêem como sendo um elogio e sim como se estivesse tirando
sarro!
— Teria alguma coisa para publicar?
— Não sei, podemos fazer algo, qual a idéia!
A moça pega o celular e Gerson ouviu somente a parte
de cá da historia;
— Rômulo, tem como parar e abrir um espaço de
colunista na pagina três!
— Estou, sabe Gerson Travesso – a moça ficou um
tempo no silencio – certo, sei de tudo isto Rômulo, mas o
Jornal Vespertino o afastou da pequena nota dele por 5 dias, e
ele tem interesse em nos vender material!
— Vou falar com ele, mas segura as maquinas!
Gerson ouvia aquilo, nunca pensara em ter algo na
pagina três, era como se tudo na vida fosse evoluir para um
dia ter uma noticia de capa, ou uma crônica em uma pagina
impar;
— Gerson, teria como escrever um texto para ontem?
Gerson abre o computador pessoal e redige, faz algumas
anotações e passa para a moça olhar, ela sorri, este era o
estilo que o redator disse temer, mas ela pediu o computador

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J.J.Gremmelmaier
emprestado, olhou a placa de área Wirelles na parede, entra
na Internet e passa para a redação o texto, o redator do jornal
do confirmou o recebimento e a moça olhou para Gerson;
— Passa lá na segunda para receber!
— Passo, mas vai fazer o que agora, Priscila?
— Nada, algo em vista?
— Eu e o Paulo estamos estudando um tema para um
livro, e vamos fazer um churrasquinho, se aceitar o convite!
— É escritor?
— Não, mas parece que é uma alternativa!
Paulo olhou para Gerson e perguntou;
— Mas onde, seu sindico não deixa mais a gente entrar
lá?
— Verdade, mas as coisas mais impensadas são as mais
gostosas, ou não?
Paulo sorriu, vinha bomba;
— Sim, onde?
— Vamos fazer um churrasquinho no parque Barigüi,
hoje a noite é agitado de qualquer jeito, separamos uma
daqueles quiosques na frente da lanchonete, o som pode ser o
do carro, bateria tem de sobra, e parece que até a chuva esta
parando! – Fala olhando para fora;
— Você é maluco! – Priscila;
— Ainda esta a tempo de dizer não!
— Posso convidar uma amiga?
— Deve, 4 marmanjo sozinho não é churrasco, e
homossexualismo!
Paulo sorriu, já ouvira isto muitas vezes, mas a forma
que Gerson falava era especial;
Os 5 saíram a caminhar voltando pelo calçadão,
passaram no Mercadorama e compraram o que precisava,
Gerson estacionou o carro na frente e pos carvão, cerveja,
coca—cola, files, comprou uma grelha, sal grosso, fósforo e
álcool, e mais algumas coisas para acompanhar, sabia que

31
ninguém comia pão ali, mas sempre comprava pão, quando a
moça buzinou a frente do estacionamento Gerson seguiu,
Paulo e os rapazes já tinham ido;
Gerson estacionou o carro ao lado do de Paulo a frente
de um dos quiosques, fazia anos que ele não ia ali, estavam
até conservado, pensou que a idéia até não fora tão ruim, já
que ele mesmo duvidou da idéia;
Paulo estava a arrumar o lugar;
— Sua ex me ligou!
— O que houve?
— Não sei, parece que na segunda vão tirar o aviso de
que a sua crônica não sairia por 5 dias, vão por apenas que
não sairá!
— Ele fez algo assim para amanha? – Gerson;
— Fez! – Paulo;
— O que você fez para este cara? – Pergunta sorrindo
Priscila;
— Conhece Marta Boaventura? – Pergunta Gerson para
Priscila;
— Sim, um desperdício naquela redação!
— É a atual do meu chefe, minha ex esposa!
— Você foi casado com Marta Boaventura? – Priscila;
— Eu sou a prova de que ela não é tão inteligente
assim!
Paulo sorriu, pegou o carvão e colocou fogo, ajeitando a
grelha por cima, colocou uma lingüiça para assar enquanto
Priscila olhava para Paulo, Gerson foi ligar o som do carro,
sertanejo a volumes assustadores;
— É serio que ele foi afastado?
— Sim, mas ele não se preocupa em estar em uma folha
par ao lado dos comunicados de falecimento, diz sempre que
se um dia morrer pelo menos as pessoas saberão de cara, os
poucos que lêem sua coluna, por que ele não redigiu aquele
dia!

32 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Ele parece espontâneo, eu estaria preocupada se
tivesse preste a perder o emprego!
— Ele esta preocupado, ele nem bebeu, este sorriso é
um misto de desespero e duvida!
— O conhece bem?
— Mais ou menos, ele não se abre, mas se estivéssemos
bem, ele estaria falando em fazermos uma festa, irmos a uma
casa noturna, bebermos até cairmos ou dormirmos no sofá e
os seguranças nos porem para fora!
— Ele tem filho?
— Cuidado moça, este não é alguém para se apaixonar!
Priscila sorriu, e olhou Gerson chegar com o computador
pessoal, abrir sobre a mesa;
— Tem de relevar os erros ainda!
Paulo olhou o arquivo em PDF e falou;
— Esta levando a serio, já até escolheu uma capa!
— Provisória, sabe que amo gatos!

33
— E sua ex odeia!
— Todos falam dela mais do que eu, não sei por que?
— Por que ela se preocupou com você, sabe disto!
— Eu também me preocupo com ela, por isto fico o mais
longe possível, pois sou o problema dela sempre!
Paulo sorriu e Priscila passou o braço no de Gerson e
perguntou;
— Não vai beber, tem motivos a comemorar!
— Acho que estou dando um tiro no pé, mas tudo bem,
apenas quero trocar uma idéia. E sua amiga, não vem?
— Ela esta para chegar!
Os rapazes da parte de produção estavam bebendo e
mexendo com um grupo de moças a uns 50 metros dali, e
Paulo pergunta alto;
— Alguém ai quer lingüiça?
Priscila viu que ali seria o mico dos micos, mas parecia
intrigada com aquele rapaz, quer dizer, deveria ter uns 45
anos, mas se comportava como um rapaz, boné, camiseta e
calça jeans, um sorriso maroto, viu sua amiga estacionar,
Gerson nem olhou as moças, não inicialmente, estava sentado
a trocar idéias malucas com Paulo;
— Vai ser mais um lixo, mas se quer escrever! – Paulo;
— Lixo é que vende, se fizer um romance, quem vai ler?
— Sabe que não estou falando por mal Gerson!
— Sei, mas pelo jeito gostou da idéia?
— Se conseguir a por no papel!
As moças estavam mais afastadas e Paulo perguntou;
— Onde achou esta moça?
— Interessado?
— Ela esta interessada em você, ou não notou?
— Não, sabe que não, mas vamos mudar de assunto! –
Gerson fechou o computador, guardou no carro, pegou um
uísque e o gelo que tinha deixado no porta mala, com alguns
copos, põem na mesa e fala;
34 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Agora vamos ao assunto serio!
Paulo sorriu, e somente neste momento que Gerson
reparou que haviam duas amigas da moça, não só uma e
falou;
— Dá conta de duas Paulo?
— Você não presta Gerson!
— Me conta algo que não saiba!
Priscila apresenta as amigas;
— Gerson, Paulo, estas são Rosa e Maria!
— Bem vindo ao mico da semana! – Gerson;
— Você é o rapaz que nos fez vender menos jornal esta
semana? – Perguntou Maria;
— Não sei, dei tanto trabalho assim!
— Bebe alguma coisa?
— Tem o que?
Gerson olhou a moça e falou;
— Temos deixa me ver, latinhas e copos, mas pode ter
cerveja nos copos e uísque nas latinhas, ou algo assim!
— Me vê um uísque mesmo!
Gerson sorriu, sinal que não sabia onde pararia naquele
dia, abraçou Priscila e perguntou;
— Casada ou solteira!
— Solteira graças a deus!
— Que deus a conserve assim! – Gerson;
Priscila sorriu e perguntou;
— E você, tem alguém alem de uma ex?
— Um filho, mas como toda criança de 12 anos, tem
vergonha do pai!
— Estranho, você não é feio para ficar sozinho!
— Eu gosto de estar com quem gosto, e quando se casa,
no começo se aceitam os amigos, depois, vão os afastando,
depois vem os filhos, mudam os grupos de amizades e
começam os assuntos chatos, filhos, filhos, filhos, e filhos!

35
— Não gosta de seu filho?
— Gosto, mas não preciso falar dele quando em uma
reunião de amigos, não gosto de ter de desviar ou desmarcar
algo por que as crianças não podem ir, adoro meu filho, e
provavelmente amanha ele vai me odiar!
— Por que, o que vai aprontar?
— Não vou a apresentação dele no colégio!
— Mas por que?
— Por que meu chefe e minha ex estarão lá, ele vai falar
uma merda principalmente depois do que escrevi hoje, no seu
jornal de amanha cedo, ele me dá a conta na segunda!
— Não deveria por seu filho nisto Gerson!
— Amanha vejo se apareço, mas já o preparei para não
aparecer, então se aparecer, será uma surpresa!
Gerson olha nos olhos da moça e pergunta;
— Não tinha nada melhor para fazer numa sexta a
noite?
— Tinha, desmarquei!
Gerson sorriu, a moça era rápida, seu estilo de conversa,
fizeram uma carninha, os rapazes apareceram quando a
comida começou a cheirar com duas meninas, e mais 4 filão
de plantão.
Gerson tomou pouco naquele dia, Paulo viu que ele
estava se contendo, Maria estava sempre por perto, e Gerson
não entendia aquela aproximação, já que estava abraçado
com Priscila, e mesmo depois que beijou Priscila ela ficava ali,
sempre muito próxima;
Paulo beijou a companheira dela, e os rapazes da
produção se despediram e foram ao bar a frente, as moças
assim que eles se afastaram sumiram, e Paulo perguntou;
— E agora?
— Não sei, me de opções! – Gerson;
— Você que é bom em opções!
— Não tem idéia alguma? –Priscila;

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J.J.Gremmelmaier
— Vai dizer que acaba assim, antes das onze a reunião?
– Maria;
Rosa abraçou Paulo e falou algo, que Gerson não
entendeu, mas estava alcoolizado já, então falou;
— Tem um problema, minhas opções foram por água a
baixo!
— Por que? – Paulo;
— Eu pensei nos cinco correndo nus na praia e tomando
banho, mas bebi demais para dirigir!
Priscila sorriu, e o sorriso de Maria intrigou Gerson;
— Mas você tem sempre uma segunda, uma terceira
opção!
— Amigo, a terceira opção esta fora de cogitação, eu
não vou para casa dormir hoje!
Paulo sorriu;
— Também não gosto desta idéia!
Rosa sorriu meio decepcionada;
— Rosa, uma sugestão?
A moça olhou para Paulo e perguntou;
— Não vai me deixar em casa, ou vai?
— Ninguém esta falando em casa! – Paulo;
A moça sorriu novamente, acertaram as coisas e saíram
em dois carros na direção da rodovia do café, do Barigüi é um
pulo, passa ao lado, fizeram o contorno no viaduto logo a
frente e voltaram uns 200 metros, adentrando a um motel, Vis
a Vis, Paulo pediu qualquer quarto entre o 1 e 5, pois são os
que tem duas vagas para estacionar, e duas camas também,
no mesmo quarto;

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J.J.Gremmelmaier
Aos que me amam!
Estou escrevendo sentado a Confeitaria das Famílias, e alguém
vem a mim, depois de 10 horas de desespero e café, e me oferece a
oportunidade de escrever uma matéria, pagina 3, sonho de qualquer
jornalista, melhor que isto só a capa.
Gostaria mais uma vez de agradecer aos mais de 6 mil e-mail
que recebi de pessoas ligadas a igrejas, Pentecostal, Evangélica,
Protestante, Batista e Católica, desculpe se esquecia alguma, me
chamando de Demônio, pedindo meu afastamento, me jogando ovos,
agradeço a eles, pois me fizeram pensar, e o assunto é serio.
Sexo na adolescência sempre aconteceu, desde que o mundo é
mundo, Maria teve Jesus ainda criança, mas esta na hora de
conscientizarmos nossos filhos que sexo é bom, mas feito de forma
correta, evita por alguém ao mundo que venha sofrer, pois mesmo
pensando muito, acabamos magoando nossos filhos, imagine os ter
sem nos prepararmos para isto.
Esta na hora de a sociedade acordar que educação sexual não é
crime e se os pais estivessem fazendo seus papeis, papel de pai, os
filhos estariam prontos a enfrentar uma aula sobre sexo, sem
brincadeirinhas, sem criancices, sem constrangimento.
Outra coisa, esta na hora da sociedade ter real direito a credo,
pois não vejo como direito a credo, ser tachado pela maioria como
ateu ou demoníaco por não acreditar na religião deles, poderia eu ser
ateu, e mesmo assim ser respeitado, poderia eu ser judeu, e ser
respeitado, poderia eu acreditar em um credo indígena ou africano, e
não ser tachado de demônio.
Gosto da idéia de falar com os filhos sobre religião, não gosto
da idéia de ir a um culto e ver algo serio ser tratado com nenhum
respeito, pois sexta feita da benção ao sabonete é palhaçada, mas
ouvi de meu apartamento isto ontem a noite!
Acho que o governo deveria regular certas coisas, você ter
direito ao credo, mas o pastor, o padre, o rab, comprovar formação
religiosa para tal cargo, pois não é admissível que qualquer um se
passe por padre, pastor ou o nome que der, e este arraste multidões a
discriminação!
Gerson Travesso
Curitiba, 25 de Setembro de 2010

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Gerson amanheceu com Priscila em um braço e
Maria no outro, que loucura fora aquela noite, Priscila sorriu
ao ver ele sair da cama e ir ao banho, depois pediu um café, a
parte triste vinha agora, pagar a conta e ir para sua vida,
estava sentado a cama, com Priscila olhando ele enquanto
Maria tomava um banho quando o celular tocou;
— O que foi esta noite, Priscila?
— Boas vindas, não gostou?
— Adorei, mas é de por medo vocês duas a cama!
— E você tem medo de alguma coisa?
— Sim, de machucar mais alguém!
Priscila vê ele atender o celular;
— Fala Marta?
— O que fez, Frank me acordou logo cedo!
— Sabe que não posso ficar sem trabalho Marta, apenas
um bico na Gazeta Popular!
— Mas não pode fazer isto!
— Marta, meu contrato não é como o seu, não recebo
exclusividade, sabe disto, muitas vezes escrevi para outros,
mas por que a preocupação, ele não quer minha matéria lá,
por que vou implorar para isto!
— Mas ele me ligou preocupado!
— Não posso ajudar!
Gerson desligou o celular e o de Priscila tocou;
— Fale Rômulo!
— Sua idéia esta vendendo menina, os retardados
puseram um anuncio dizendo que não vão por a crônica dele
por 5 dias no ar, e quando as pessoas começara a ver isto,
primeiro compraram o jornal deles, mas quando o primeiro
falou que ele estava em nossa pagina 3, parece que os jornais
começaram a sumir, o seu pai me ligou parabenizando as
vendas deste sábado!

40 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Disse que era uma cartada arriscada, mas se desse
certo, podia dar lucro!
— Sabe se ele não faria outra para segunda?
— Acredito que sim, mas teria de falar com ele! – Fala
Priscila piscando para Gerson;
— Fale, parece que estamos com reclamações aos
montes entrando nos e—mail da empresa!
— Falo com ele, mas me acordou cedo para um sábado
só para isto?
— Esta uma corrida tão grande aqui, que se ele quisesse
escrever já para a Gazeta de Domingo, o dono, seu pai, falou
que mudava a primeira pagina com uma chamada para ele na
3!
— Ele é tão maluco como eu, vou ligar para ele e ver o
que consigo, pois sei que já esta nas bancas a de domingo!
— Ele recolheu, vê se consegue e me liga!
Priscila desliga o telefone e olha para Gerson;
— Quer vender uma reportagem para uma edição que
esta atrasada, edição de domingo!
Gerson sorriu e Maria desceu pelas escadas nua e
perguntou;
— O que esta acontecendo?
— Pararam a distribuição de domingo, querem que
Gerson faça uma Crônica para a pagina 3! – Priscila olhava
para Gerson esperando uma posição;
— Sabe que faço, liga para ele e confirma, mas tenho de
escrever algo bom, quer dizer, horrível, é domingo!
A moça ligou para o redator e disse que teria de
encontrar com o rapaz ainda, mas que assim que tivesse o
material o passava;
Gerson terminou o café e foi ao carro, nu, pegou o
computador pessoal e começou a redigir, ele não era de meias
palavras, mas estava a redigir quando o telefone dele tocou;
— Fala Frank!

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— Você quer a conta na segunda, é o que entendi?
— Você me dispensou por 5 dias, sabe que meu
contrato não é de exclusividade, eu tenho de comer, sei que
vai descontar de mim cada dia afastado!
— Não pode fazer isto e esperar continuar na empresa!
— Frank, qual o problema?
— Você sabe o problema!
— Não sei, estou acordando num motel agora, e você
me ligando, o que esta acontecendo!
— Você na pagina 3 da Gazeta!
— Qual o problema nisto, você nunca me deu mais do
que a pagina 10, se o material não tem valor, quem perde é
eles, se não me quer na sua empresa, o problema é seu, não
meu, vou arranjar outro lugar para trabalhar!
— Não disse que não quero você na empresa!
— Não diretamente, mas disse que se não mudasse você
não teria outra alternativa, mas me repito, qual o problema
real Frank!
— Eles querem uma reportagem na segunda dizendo
que é exclusivo nosso!
— Vão pagar quanto pela exclusividade, e que garantias
terei de que em 15 dias não estarei na rua!
— Nenhuma!
— Então diz para eles, lerem o papel que você mandou
eu ir ao departamento pessoal assinar, lá diz, 5 dias sem
remuneração, por indisciplina e assuntos tratados não
condizentes a índole da empresa!
— Não posso faze isto!
— Não é homem de assumir que fez, que ninguém lhe
pressionou!
— Tem de relevar Gerson!
— Falamos a tarde, você vai na apresentação de Pedro,
lá nos falamos, não é coisa para falar por telefone!
— Nos vemos lá!

42 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Gerson desliga o telefone e continua a redigir, a moça
sorriu, ele não iria voltar de cabeça abaixada, passa o texto
para Priscila ler e ela fala;
— Sabe que provocar você sabe?
Gerson a beija e pergunta;
— Vai fazer o que hoje?
— Por que?
— Tenho de ver uma apresentação infantil hoje!
— Posso ir junto? – Maria;
Gerson sorri, não sabia o que havia ali entre as duas,
mas estava entrando de sola naquilo;
— Por mim tudo bem!
Priscila passou o material para a redação e voltaram
para a cama, a apresentação era só as 4 da tarde, então
tinham uma manha inteira para se curtir ainda, Maria beijou
Gerson a cama e deitaram um pouco mais, era sábado, dia de
descanso dos demais.
Gerson surge no colégio de mãos dadas com Priscila e
olha os meninos se preparando para ir a região do palco,
peças infantis, com conotação adolescente, foi lá e
cumprimentou o filho que sorriu, iria primeiro ver a
apresentação, depois os problemas;
O menino sorria ao se apresentar, embora olhasse para
a moça que estava com o pai com desconfiança, sempre
pensara, como toda criança, que os pais voltariam a se
entender, quem dera tudo fosse como as crianças pensavam,
mas a verdade geralmente é mais doida que os sonhos de
quando se casa, de quando se conhece alguém;
Gerson sentou—se a frente, com Maria em um lado e
Priscila do outro, Marta olhou ele ao longe, não pareciam
aquelas garotas de programa que ele costumava usar de
companhia, e que na maioria das vezes era apenas sexo.
Frank vendo Gerson acompanhado lembrou que ele
falou que passara a noite no motel, pensou se com as duas,
mas provavelmente não, quando ele conheceu Gerson, era
43
bem o estilo do amigo acabar a noite em um motel, mas Frank
tentava puxar a mente de onde conhecia aquele sorriso;
No fim das apresentações uma pequena recepção para
os pais dos alunos, e Frank chega ao lado;
— Não pode fazer isto, esta me forçando lhe mandar
embora!
Gerson vê Priscila se afastar um pouco, não confiava
nela, mas nem tudo na vida pode ser apenas flores, olhou
Frank e perguntou;
— Não me entenda mal Frank, eu apenas vim ver meu
filho em sua apresentação do colégio, eu precisava me sentir
vivo para estar aqui nesta hora, não tem haver com você, com
o jornal, se sim com o que ele espera de um pai!
— Mas você vendeu uma reportagem a concorrência!
— No mês passado vendi mais de 40 crônicas para
vários jornais, revistas, de variadas bandeiras, e nunca
ninguém me advertiu pois sabem que não sou um grande
repórter, não sou um grande jornalista, eu em si, sou tão
ignorado, que demoraram 3 dias para saber qual a minha
estampa para me jogarem ovos, você com certeza teriam
acertado no primeiro dia!
— Mas não se preocupa em perder o emprego!
Priscila chega ao lado, e Gerson não era bobo, sabia que
a Gazeta estava lhe usando, mas não tinha muito o que fazer
nesta hora;
— Sei que pode me mandar embora, Frank, não estou
preocupado se morrerei dentro de poucos dias, hoje, apenas
vim ver meu filho!
Frank olha para a moça e pergunta;
— De que boca ele lhe tirou?
Marta lhe deu um cutucão;
— Da Boca do forno da Gazeta Popular! – Priscila;
— Você trabalha lá, me parece familiar!
— Priscila Dantas, deve ter ouvido falar de mim!

44 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
O senhor se recolheu, estava diante de uma das
herdeiras da Gazeta Popular, viu que tinha dado um tiro no pé,
e Priscila olha para Marta e fala;
— Se um dia precisar de um jornal de verdade para
trabalhar, Marta, saiba que as portas da Gazeta estão abertas
a bons repórteres!
— Sabe quem sou?
— Sim, mas os bons estamos sempre de olho!
Gerson cumprimentou o filho, que falou;
— Veio, me enganou direitinho, quase me perdi no texto
pai, não se faz isto!
— Desculpe, mas cansei de beber e vim lhe ver pagar o
mico!
O filho abraçou Gerson, ele olhava em volta e algo não
estava certo, mas não estava preocupado com isto, não
naquele momento;
Depois de um tempo Gerson se despediu e ouviu Frank
falar;
— Passa lá amanha para conversarmos!
Gerson não respondeu, ele não sabia se iria, sabia que o
que estava ruim, iria piorar, mas assim que deixou Priscila em
uma mansão no Hugo Lange, voltou para seu apartamento de
40 metros, escreveu mais um pouco e foi dormir, precisava
descansar.

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Nota de Falecimento
Venho através desta anunciar a morte do Bom Senso, ele
morreu de desgosto, por perseguição religiosa, sua caixa de e—mail
estava lotada de xingamentos, sentiu—se discriminação e
principalmente, viu que os demais estavam sendo manipulados por
igrejas, que deixam de falar de fé, de deus, para falar de política. Ele
deus seus últimos suspiros ontem.
Venho prestar minha homenagem ao falecido Bom Senso, que
nos permitiu chegar a ser uma sociedade democrática, sociedade que
mesmo com todas as diferenças sociais, construiu um país melhor
para se viver, venho prestar minha homenagem póstuma a ele, que
muito fez por este país;
Gostaria também de homenagear, antes de seu falecimento, o
honrado Direito de Imprensa, que em muito tem sofrido, acusado
injustamente por atos de jornalistas como eu, se querem me
escrachar por ter personalidade, tudo bem, mas não joguem nas
costas do velho e bem conceituado Direito de Imprensa a culpa;
Também homenagear os dois candidatos a presidência do topo
das pesquisas, que não é por preferir a terceira candidata que votarei
para ela, e sim, por coerência, ela é mais gente que os dois anteriores
juntos, não são péssimos candidatos, mas estão mostrando seus lados
mais obscuros;
Queria também agradecer a Gazeta Popular por me abrir este
espaço para rechaçar acusações, sei que a coragem da imprensa
nacional é uma das chaves para que a democracia continue a
funcionar no Brasil;
Por ultimo, gostaria de agradecer os mais de 20 mil e—mail de
apoio a minha pessoa, dizendo que não é um grupo pequeno de
desesperados, que tem medo de perder seus fieis, que vai calar a
imprensa neste pais, muito menos a democracia, como alguns me
criticaram por ser a favor da separação, divorcio, repondo com fatos,
apenas 12% dos Brasileiros são contra o divorcio, democracia e a
vontade da maioria, mas o principal, alguém acha certo, uma mulher
apanhar do marido, e por uma lei da igreja ser condenada a voltar a
cama com este ser, acho que as vezes, pensar no que se fala não custa
muito!
Gerson Travesso
Curitiba, 26 de Setembro de 2010
46 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Gerson acordou domingo com o ligar de seu filho, era
dia de ficar com o filho, o domingo do mês, ele não perderia
isto por nada, se arrumou e passou na casa da ex, ele não
subiu, nunca subia, não depois que o juiz determinou que ele
ficasse afastado mais de 50 metros, outra coisa que ele
achava um absurdo, a lei diz que todos são iguais perante a lei,
até um juiz decidir o contrario, pois o direito de ir e vir é
inerente a todos os seres:
Gerson pegou o filho e desceu para Morretes, uma cida
histórica descendo a cerra no sentido das praias do Paraná,
estava a fim de curtir o domingo, desceram o rio Nundiaquara
de bóia, alugaram grandes bóias de pneu de trator, foram a
parte alta e desceram o rio se divertindo, raspando a bunda
nas pedras, como Gerson falava, depois foram a cidade,
almoçaram frutos do mar com barreado, olhando o mesmo rio
cortar a cidade, ele estava a torrar as suas reservas, estava a
ponto de jogar tudo para o ar, o sorriso do filho lhe valeu, os
dois foram depois a Antonina no fim do dia, cidade vizinha a
Morretes, mas já na Baia, comer porção de ostra, sentados na
Prainha, depois de dias, ele estava a olhar a vida com olhos
diferentes, ele começava a achar que sua vida, que antes
condenava, que não tinha função, fora vivida com intensidade,
mas principalmente com amor;
Os dois curtiram o dia, e deixou o menino a porta de
casa;
— Não quer subir um pouco pai?
— Não sei, a ultima vez não deu certo!
— Eu falo com ela, não vai embora!
O menino subiu e depois de uns 15 minutos, desceu e
disse que estava tudo bem por ela, Gerson a muito não jogava
com o filho, estava mesmo precisando descontrair, mas em
meio a isto, atendeu o telefone e era Priscila;
— Sim?
— Você disse que iria fazer um artigo para segunda,
esqueceu?
— Esta no seu e—mail, olha que esta lá!
47
— Pensei que iria me ligar hoje!
— Depois falamos, estou com meu filho hoje!
— Depois lhe ligo!
O filho olhou para Gerson e perguntou;
— O que tem com aquela moça?
— Não sei, muito sedo para saber, a conheci ontem,
andando no calçadão!
— E já a leva para ver o filho se apresentar?
— Tinha de estar sóbrio filho, e ela que estava ao lado
quando resolvi ir, não estava preocupado se ela estava lá, e
sim em estar lá!
Pedro sorriu e subiram, Marta olha para Gerson e fala;
— Estou abrindo uma exceção, não é para acostumar!
Gerson olhou para o filho;
— Vamos lá dentro pai, ela esta nervosa! – Pedro;
Marta quis brigar com o filho, mas não faria na frente de
Gerson, e os dois sentaram—se e ligaram o X—Box em um
projetor e jogaram mais de 3 horas, estava tarde quando
Gerson foi para casa, mas estava feliz, e sabia que não seria
sempre sorrisos, as vezes até ele sentia—se bem, e aquele foi
um dia feliz;

48 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Homossexualismo
Quando se fala em relação a dois, muitos acham que
sempre tem que ser apenas dois, que tem de ser do mesmo
sexo, que tem de ser como a sociedade aceita, mas isto gera a
pergunta do dia;
Acha que a sociedade é mais importante que sua
felicidade?
Eu acho que não, e se você, acha sua alma gêmea em
alguém do mesmo sexo, não serei eu que direi que é uma
doença, que é inaceitável, por que acho, que acima da
sociedade que o cerca, existe você, como cidadão.
Não acho que todos os problemas do país estejam nas
drogas, acho que estão na educação, e não falo de anos a mais
na escola, falo de educação em casa, educação no dia a dia, não
ensinamos as crianças em casa, e depois elas vão cometer erros
e desrespeitos, por falta de educação familiar;
Mas o que tem uma coisa a ver com a outra?
Apenas que sua felicidade deveria contar acima de tudo,
é o amar ao próximo como a si mesmo, acima de qualquer lei,
mas para isto, você tem de aprender a se amar, tudo na vida
tem peso e medida, mas o maior peso, é sua felicidade, e ela
vem primeiro no se amar, depois achar uma alma gêmea, e
amar ao próximo, como a si mesmo, e deixar de amar o
próximo, se isto lhe fizer mal. Se amar acima de tudo. Ache
sua tampa, ache sua metade, não deixe para depois ser feliz,
não deixe para amanha sua felicidade, seja feliz agora, mas
para isto pense, o que lhe faz feliz?
Por ultimo, ame a você acima do deus que as igrejas
falam, pois você é parte de deus, amar a deus sobre todas as
coisas, é amar a você mesmo acima de todas as coisas, é ser
você, é ser feliz!
Gerson Travesso
Curitiba 27 de Setembro de 2010

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Amanheceu segunda, Gerson estava de bem com a
vida, mas um vazio o tomava, ele não sabia exatamente por
que, mas não estava feliz;
O telefone toca e ouve Priscila;
— O que aconteceu, não me ligou?
— Estava cansado, mas esta fazendo o que agora?
— Nada!
Os dois marcaram de tomar um café no lugar de sempre,
Gerson não fez a barba naquele dia, pos uma camiseta
amassada e a roupa de sempre, com o eterno boné a cabeça,
ele era assim, adiantava vender um peixe apenas por
aparência, quando na verdade, o conteúdo já estava podre a
anos;
Gerson sentou—se, pagou o café para o Zeca, e o
jornaleiro veio a ele e perguntou;
— Mudou de emprego?
— Não, apenas fazendo um bico!
— Sabe que você esta ficando famoso!
— Acho difícil, ouvi muita merda ontem, antes de ontem,
estão me usando politicamente, ninguém vai lembra de mim
em alguns dias, pode ser que a eleição acabe na semana que
vem, daí me esquecem!
— Vai votar na Marina mesmo?
— Sim, embora seja onde estejam a maioria dos meus
desafetos, não vou jogar meu voto no lixo!
Gerson viu a moça chegar e lhe deu um beijo, estranhou,
não estava acostumado a coisas tão rápidas, para ele as
coisas eram lentas e eternas, mas isto não queria dizer que
ele não viveria aquilo, ainda mais por que não confiava em
repórteres, foi falando isto que perdeu a ex, foi escrevendo
sem pensar que chegou onde esta;
— Como esta nosso colunista mais famoso? – Priscila;
— Já tenho dono e não sabia? – Gerson falou e viu o
jornaleiro e Zeca a sorrir;
— Não disse isto!
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J.J.Gremmelmaier
Gerson sorriu, a moça não estava acostumada com ele
ainda, talvez nunca se acostumasse;
— Desculpa, mas como faço para receber as crônicas?
— Passamos lá a tarde!
Gerson viu Marta e Frank chegar para um café e falou;
— Se vai oferecer trabalho para ela, deixa eu longe!
Priscila olhou para Marta e não respondeu, um alerta
piscou na cabeça de Gerson, mas tudo bem, estava mesmo
querendo confusão;
— Precisamos conversar Gerson! – Frank;
— Passo lá daqui a pouco!
— Estão juntos? – Marta pergunta olhando para Priscila;
Gerson olhou para Priscila e perguntou;
— Estamos juntos?
A moça sorriu, eles não falaram sobre isto, mas na
duvida devolveu a pergunta;
— Não sei, já falamos sobre isto?
Gerson sorriu e Marta ficou os olhando;
Os demais foram as suas redações e Gerson escreveu
mais um pouco, pôs o computador pessoal em uma pasta, a
de sempre, e caminhou tranqüilamente até o jornal, não tinha
de bater ponto por mais 4 dias, afastamento de 5 dias úteis,
não conta sábado e domingo, subiu com calma,
cumprimentando todos, estava com um sorriso ao rosto, mas
como sempre;
Entrou na redação, olhou em volta, e foi a sala de Frank,
ele o recebeu e falou;
— Veio, pensei que nem apareceria para dar satisfações!
— Frank, por regra, não deveria estar aqui, sabe disto, 5
dias úteis, volto na sexta a trabalhar, então o que quer falar,
não vim trabalhar, e sim conversar!
— O Ramalho quer falar com você!
— Passo lá quando sair daqui!
— Ele não esta feliz!
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— Frank, eu não estou feliz com tudo isto, então não
provoca!
— Certo, mas vai parar de escrever para a Gazeta?
— Não sei, fechei 5 dias de crônicas, não mais que isto
com eles!
— Tem coragem de falar isto?
— Você disse que teria de mudar, mas sabe que não
farei, então esta conversa esta chata Frank!
— Preciso que volte ao trabalho!
— Quando?
— Hoje!
— Volto, sem problemas!
— Pensei que já havia fechado com a outra redação!
Gerson não respondeu, saiu pela porta e foi a do
presidente do jornal, este era um nome que para ele não
cabia, pois acima existiam os donos, mas tudo bem, as
pessoas gostam de sentir—se mais do que são;
Aguardou na recepção, tomou mais um café e entrou na
sala, sabia que Ramalho não falava com todos, era alguém
que ele nunca falara, sempre se reportou a outras pessoas;
— Pelo jeito não aprendeu ainda a se vestir? – Ramalho,
em seu terno que deveria valer mais de 12 meses de salário
de Gerson;
— Bom dia senhor, no que posso ajudar?
— Não gostei de ter escrito para a concorrência!
— Estranho isto senhor, fui afastado por estar pegando
pesado aqui, e que teria de mudar a minha forma de ser
quando retornasse na sexta próxima, agora reclamam de ter
vendido apenas o que não lhes interessava publicar!
— Gerson, você sempre foi um bom colunista, mas não
gostamos de gente que não veste a camisa da empresa!
Gerson olhou serio para o senhor;
— E?

52 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Pedi para Frank lhe trazer novamente a redação, mas
não gostaria de ver sua reportagem em outro jornal!
— Senhor, eu não sou exclusivo deste jornal!
— E nem vai ser!
— Então não pode me pedir para não escrever a outros
jornais!
— Se o fizer esta demitido, Gerson!
Gerson que estava sentado, levantou—se;
— Algo mais senhor?
— Não, pode voltar ao trabalho hoje!
Gerson sorriu, saiu pela porta e desceu para o
departamento pessoal, pediu a conta, um andar abaixo, não
voltou para cima, caminhou as 10 quadras e adentrou a
Gazeta, passou no recebimento, depois de um pré cadastro,
recebeu pouco pelas reportagens, pensou que com aquilo que
pagaram, teria um salário pior, mesmo que com 30
reportagens boas por mês, mas não foi ali para discutir, viu a
frente da redação um café, e sentou—se, viu quando Priscila
saiu de mãos dadas com outro rapaz que não conhecia, ela
não os viu, ao lado estava Maria, sorriu e foi para casa;
Gerson estava em casa quando recebeu uma ligação;
— Onde você esta, deveria estar aqui a produzir! –
Frank;
— Boa tarde Frank, liga para o departamento pessoal, e
pergunta quando vou voltar!
— Pensei que iria voltar a trabalhar, você falou isto!
— Sei o que falei, mas não estou feliz trabalhando ai,
não estou feliz em trabalhar na Gazeta, melhor me afastar um
pouco!
— Mas..
— Frank, eu pedi a conta, não volto, pode comunicar ao
Ramalho que também não escrevo ainda para a concorrência,
me enchi!
Gerson desliga o celular e atende novamente;

53
— Onde você esta Gerson!
— Em casa, Priscila!
— Pensei que estaria lá a trabalhar de volta!
— Não, e diz que pelo preço que pagam colunas
independentes, não vou escrever mais!
— Passou aqui e não veio falar comigo?
— Estava com a cabeça quente, amanha falamos!
Gerson saiu de casa a caminhar, não estava entendendo
o que fez, mas obvio, ele pela primeira vez na vida pensou se
queria ser jornalista o resto da vida;
Gerson via a movimentação as ruas, ultima semana de
campanha de primeiro turno das eleições, a cidade estava com
gente por todos os lados, sentou—se no calçadão da XV de
Novembro e ficou a olhar o pessoal a passar, pediu um chope,
para ele um era apenas lavar a garganta, ficou a pensar no
que faria, não queria continuar;
O celular de Gerson tocou;
— Tudo bem Marta?
— O que aconteceu, pediu a conta?
— Pedi, eles querem me prender na pagina 10 sem
vender minhas reportagens, sabe que não dá para passar o
mês com isto!
— Mas vai trabalhar na Gazeta?
— Não, pagam pior do que ai!
— E por que então está desfilando com a herdeira por
ai?
— Ela só esta me usando Marta para chegar até você!
— Esta falando serio?
— Não sei mais o que é sério e o que não é!
— O pessoal esta preocupado, sabe que nós riamos
juntos das suas notas na pagina 10, o resto era coisa séria!
— Marta, por 3 dias tenho pensado, e não estava num
caminho que me fizesse feliz, provocava para ter reações, mas

54 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
não o tipo de reação que tive, queria as pessoas pensando,
mas não estão, então de que me vale tudo isto!
Na Gazeta Priscila foi falar com Rômulo;
— Quer que insista para ele fazer mais uma crônica?
— Não sei, ele pediu a conta no Vespertino!
— Então nem vou ligar para ele!
— Acha que ele não precisa de dinheiro?
— Acho que ele é um destes que acha que pode mudar
o mundo, mas é uma criança diante da realidade! – Priscila;
— E acha que conseguimos fazer aquele Paulo pedir a
conta?
— Não sei, vi que Marta ficou tentada a vir a nossa
redação conversar!
— Aquela é um nome que gostaria de ter em nossos
quadros!
— Talvez seja a única coisa boa que este Gerson ainda
pode nos trazer!
O senhor sorriu;
— Tenta mais duas reportagens, no fim de semana
acaba a eleição e sabe que ele será passado!
A moça sorriu e ligou para Gerson, mas ele não atendeu
o telefone;
Gerson estava sentado ainda a tomar um segundo chope
quando Paulo passou por ele e sentou—se a mesa;
— Tudo bem amigo?
— Senta ai Paulo, temos de conversar!
Os dois conversavam e Gerson passa uma matéria que a
Tribuna havia pago a mais de um mês, e que ele estava
devendo, por e—mail, depois passou algumas coisas para o
Correio, para a outra Gazeta, e para o Jornal de São Paulo,
estava defendendo os trocados;
Paulo estava a olhar Gerson e perguntou;
— Acha que no fim foi tudo armação?

55
— Não, cada um defende suas idéias, mas eu não posso
viver sem estes bicos que faço, não sou exclusivo, recebo por
matéria, em media 26 delas por mês, na base de 150 reais por
matéria, mas não foi isto que me fez pedir a conta!
— O que foi?
— Me enchi de escrever apenas para satisfazer o meu
ego e dizer que tinha uma profissão, pois nunca fui bom nisto,
mas ainda dá para defender um trocado!
— Tira quanto a mais com estes bicos?
— Duas vezes mais, pequenas colunas em mais de 50
jornais, não mais de 2 artigos por mês!
— Esta então tirando mais que Marta como exclusiva?
— Só não conta para ela, certo!
Paulo sorriu e perguntou;
— Acha então que devo ficar lá!
— Você não tem nem chance do mesmo cargo na
Gazeta, vai fazer o que, começar do zero de novo?
— Verdade, mas as vezes na empolgação nos
precipitamos!
— Por isto estou conversando!
Paulo pede um Chope e os dois começam a falar
banalidades;
No meio da conversa ele atende o telefone e ouve;
— Não quer falar mais comigo? – Priscila;
— Quase respondi não, sabe que falávamos de você
hoje!
— Você e quem?
— Eu e Paulo!
— Sabe se ele vem trabalhar para nós?
— Não estávamos falando de negócios!
— Certo, estão onde?
— Sentados no calçadão em frente ao bondinho
tomando um Chope!
— Já chegamos ai!
56 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Paulo olha para Gerson;
— E que resposta eu dou?
— Pergunta o que estão oferecendo, vai lá, sem
compromisso, se perguntarem na redação, esta namorando
alguém lá, vai ver que nada é exato, eles querem desarticular
o Diário, eu vou acabar um tempo por lá!
— E por que ela esta ainda lhe procurando?
— Paulo, posso estar enganado, mas o objetivo do jornal
dela é Marta!
— Por que?
— Vai dizer que alguém do meio não sabe que eu e
Marta éramos casados?
— Nisto tem razão, alguns colunistas até hoje falam dos
escândalos da separação de vocês dois!
Gerson viu as 3 virem a eles e se calou;
— Oi meninas? – Paulo;
— Oi, este seu amigo não quer mais saber de trabalhar!
— Ele é como muitos, não gosta mesmo de trabalhar!
Gerson sorriu;
— Vai fazer o artigo para amanha ou não vai?
Gerson olha para Priscila e fala;
— Passei no seu e—mail, tem de namorar menos e
trabalhar mais! – Fala Gerson com um sorriso;
— Mas o redator quer pelo menos mais 3 artigos!
— Passei para 5 dias, você que sabe quando vão perder
o interesse!
— Acha que vamos lhe deixar escapar?
— Eu não tenho como escapar! – Fala Gerson a
abraçando;
Paulo sorriu, o amigo não queria nada com a moça, mas
as coisas estavam meio confusas para Paulo, na cabeça dele
Gerson estava desempregado, mas viu que o rapaz tinha
recebimentos maiores que os dele, um mundo que ninguém
via, algo que saia de norte ao sul do país, e sem exclusividade
57
a nota da manha seguinte sairia em 22 jornais, ele fez questão
de vender, nem sempre o fazia, mas queria garantir os
recebimentos do mês;
Aquela noite passaram no apartamento de Paulo, um
bom apartamento na região da Água Verde, loucuras de dois
solteiros perdidos em 3 braços, Paulo teve certeza das coisas
quando viu o comportamento de Rosa a cama com Gerson, e
o das duas com ele, nada era para sempre ali, mas não
sabiam o animal que estavam despertando em seu amigo;

58 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier

Nota de Agradecimento
Gostaria de agradecer a todos os que me xingaram nos
últimos 4 dias, gosto da vitrine, mas eles não entenderam, não
sou eu o motivo, e sim a sociedade;
As vezes queria poder dizer que tudo esta ótimo, que não
acho que Bolsa Família é compra de voto, pois é, que obras
feitas em época de eleição não são eleitoreiras, mas são, que
existe diferença entre os partidos políticos deste país, mas não
tem, estamos a poucos dias de escolher um presidente, e o que
vejo a TV, é uma apelação atrás da outra, garanto que se o voto
não fosse obrigatório, muitos não iriam assinar em baixo desta
baixaria, e era possível o terceiro lugar ganhar uma eleição no
Brasil;
Me xingaram com tudo que sabiam xingar, mas o mais
repetitivo foi de Demônio, mas o que é um demônio, nunca vi,
é como anjo, não se vê, é questão de crença, na minha eles não
existem, não acho que alguém que peca tem o demônio no
corpo, ele apenas não tem educação e respeito pela sociedade
que o cerca, não é o demônio, é o humano, que muitos
esquecem, não são bons, não a totalidade, existem laranjas
podres em meio as bem formadas maças, e infelizmente,
sabemos que elas vão estragar o todo;
Mas gostaria de dizer, que assim como o Brasil tem de se
preparar a nível econômico para o futuro, tem de se preparar a
nível de extinguir todas as discriminações, não só a de raça,
mas a religiosas e sociais também;
Travesso
Brasil, 28 de Setembro de 2010

59
Gerson foi para casa já de madrugada, deixando o
amigo e as três a cama, não era onde queria acordar aquele
dia, amanheceu vendo o mar, sóbrio, a mais de 100 km de
Curitiba; O celular tocou e atendeu;
— Esqueceu que tem de levar Pedro a escola!
— Esqueci e não tenho como o levar!
— Esta onde?
— Guaratuba a ver o mar! – Guaratuba é uma cidade
litorânea;
— Sozinho!
— Com o mar, apenas ele!
— Esta bem, sei que mesmo negando gosta do que faz!
— Estou bem, mas cuida do Paulo, a Gazeta esta
tentando o fazer perder o emprego, não que tenham interesse,
e sim, para prejudicar o Vespertino!
— E ele esta onde, pelo jeito sabe?
— Na cama com Priscila!
— Pensei que estava com ela?
— Eu não tenho ninguém Marta, sabe disto, não presto,
mas não tenho como mudar!
— Eu levo ele hoje, mas não acostume!
Gerson se despediu e voltou ao carro, foi com calma,
subindo a serra, ele estava a pensar o que faria, não estava
querendo sumir, estava a pensar em seu livro, sentou—se
num restaurante em Morretes e abriu seu computador pessoal,
escreveu um pouco, estava a ver o rio correndo a baixo de
onde estava, comendo um camarão com barreado, não estava
preocupado, sabia que algo parecia mudar dentro dele, por
que saiu do obscuro mundo que vivia, por que?
Começa a escrever e pensar, o dia foi gostoso, mesmo
sozinho, o senhor estava a querer se achar, não estava fácil
para ele, embora fosse alguém forte, inteligente, se depara
com a incerteza de um futuro, não pensar no futuro é uma
boa forma de viver, mas quando a duvida sobre ele cai sobre
a pessoa, as duvidas vêem como algo que não controlava;
60 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Sexo
As vezes penso qual a função da sociedade, manter a paz,
a harmonia, as coisas como estão, geralmente é esta a função,
alguns vão dizer que é a essência do ser humano, digo que
essência não se controla, essência reprimida não é essência;
Ontem fiz algo incrível, mas me veio uma pergunta, é
certo?
Não, não é socialmente aceito, então não é certo.
Outro dia disse que era a favor de que as pessoas
corressem atrás de sua felicidade, de suas almas gêmeas,
independente do sexo, mas se sua metade não estiver numa
relação a dois, e sim a três, o que você faria?
Complicado, se uma pessoa não lhe satisfaz e a sociedade
lhe nega o direito a mais um ou uma, pois bigamia é crime, o
que você faz?
Não me entendam errado, não sou a favor dos que saem
por ai a terem casos, terem amantes, sou a favor da felicidade,
se você não esta feliz em uma relação a dois, por que se
prender a ela, e quem é a sociedade para dizer o contrario;
Poderia usar a bíblia para defender esta tese, mas deixei
ela de fora, na verdade apaguei a parte que o fazia, mas numa
situação hipotética, se você mulher, não esta feliz com o
desempenho de seu marido, mas ele é perfeito em todo o resto,
por que por um detalhe o abandonar, traz para a relação mais
alguém. Aquele casal de bi, mas que se encontraram e a
sociedade os taxou de homossexuais, por que se prenderem a
isto, por que fazer o que a sociedade quer, por que dizer não a
sua felicidade, deus não quer você triste, ele o quer radiante, se
o seu vizinho acha ruim, manda ele cuidar da casa dele, não da
sua!
Gerson Travesso
Curitiba, 29 de Setembro de 2010

61
Amanheceu quarta, Gerson foi deixar o filho na escola,
não tinha mais nada a fazer naquele dia, o filho parecia mais
alegre, mas ele não estava bem, algo o estava perturbando;
Priscila ligou e Gerson foi a redação da Gazeta, ela o
recebeu, viu como seria, a formalidade dela, mesmo com
sorrisos e foi apresentado ao pessoal; — Rômulo, este é
Gerson Travesso!
O senhor o mediu de cima a baixo;
— Prazer em conhecer, o rapaz que nos fez vender
muitos jornais na ultima semana!
— O prazer é meu, senhor!
— Priscila me contou que lhe mandaram embora!
Gerson sorriu, não foi o que aconteceu;
— Estava falando com Priscila, temos um espaço para
um colunista, sem exclusividade, se quiser encarar?
— Em que pagina?
— Na 8!
— Pode ser! – Gerson sabia que não era o que ele
queria, mas também sabia que para jogar tem de estar em
campo;
— É um contrato temporário, como os padrões da
empresa!
Gerson sabia o que queriam dizer, em menos de 3
meses estaria na rua, ainda na experiência;
— Por mim tudo bem! – Gerson;
Rômulo olhou para Priscila e a moça acompanhou
Gerson apresentando o pessoal, lembra que já entrara em
outras redações, tudo igual, a primeira vista, tudo mil
maravilhas, mas teria de falar com Paulo; — Nos deixou
sozinhas lá e sumiu?
— As vezes até os elefantes descansam!
— Não é gordo Gerson!

62 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Muitas apresentações, um contrato temporário assinado,
sem exclusividade, e muitas letras miúdas, que Gerson leu
antes de assinar, ali estavam os reais motivos, os que o
levariam a ser mandado embora, mas não se preocupou com
isto;
Depois de tudo assinado, ele ouviu o que sabia ser o
ponto certo; — Gerson, só queria pedir uma coisa!
— Uma?
— Duas, aqui dentro somos apenas colegas de trabalho,
e para evitar escrever para outros jornais na experiência!
Gerson sorriu, mas não respondeu, sabia onde aquilo
chegaria, mas nunca foi de abrir os seus planos para alem
dele mesmo;
— Vou apenas ter de passar em alguns lugares antes de
começar, você já tem a reportagem de hoje, ou quer outra?
— Aquela esta boa, mas sabe que assim que passar a
eleição, vai para a pagina oito!
— Gosto da invisibilidade, senhora Dantas!
Ela sorriu, ninguém a chamava de velha, e senhora a
dava mais idade do que tinha, mas não reclamou;
Gerson saiu e entregou currículo em vários jornais, ele
não estava contente com isto, não era fácil alguém abrir uma
vaga para ele, não queria ser apenas mais um, mas o que
tinha mudado?
Gerson andou até o café de sempre, na Praça Osório,
sentou-se e olhou Zeca triste; — O que aconteceu menino?
— Nada!
— Fala!
— Estes fiscais, parecem apenas para nos constranger,
para nos por para correr, como se eu não pagasse para eles,
não poderia mais trabalhar!
— Pagou?
— Tem jeito?
— Tem, mas calma, não posso pegar pesado sempre!

63
Zeca sorriu e Gerson pediu um café e perguntou para o
jornaleiro; — Sabe quem é o fiscal que pressiona os
engraxates!
— Aquele Cardoso!
Gerson tomou um café e voltou a redação, aquele dia foi
sozinho para casa, não atendeu a ligação de Priscila, apenas a
de Paulo, explicou que iria tentar na Gazeta, mas que
duvidava que daria frutos, explicou as condições e após nem 5
minutos de conversa se atirava a sua cama desarrumada;

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J.J.Gremmelmaier
Fiscais
Às vezes penso se alguns têm função, se não seria o caso
de os por para trabalhar, fiscais de cá, fiscais de lá, mas eles
não estão ali para cumprir ordens, e sim, receber propina!
Quantos fiscais para um trabalho que a informatização da
prefeitura jurava que iria acabar, quantos fiscais que acham que
o que eles falam que é a lei, e não o que esta escrito.
Acho que direito ao trabalho justo vem antes de
repressão, direito a sobreviver com seu suor, não pode estar
abaixo da prefeitura, pois o que é uma prefeitura se não algo
para nos garantir os direitos, e não para nos reprimir os
direitos;
Abaixo esta ditadura de regras, que nem na lei municipal
esta, são decretadas por secretarias, que uma hora aprovam um
bar na esquina de uma escola, mas não deixam um engraxate
trabalhar sossegado;
Acho que se a lei existe, que seja cumprida, mas por
todos, pois o que vejo não é isto, e uma vez que a lei não é
igual a todos e os fiscais e adendos da prefeitura, aprovam de
acordo com o que eles querem, não baseados na lei!
Prefeito, com todo respeito, prefiro uma cidade como
camelos a uma com bares nas esquinas dos colégios!
Gerson Travesso
Curitiba 30 de Setembro de 2010

65
Na manha da quinta ele acordou sedo, levou o filho
ao colégio, falaram de coisas que as vezes deixava Gerson
sem jeito, mas tinha de falar, tinha de fazer sua parte, o
deixou lá e foi a nova redação, já de cara, sua caixa de e—
mail lotada de apoios, estranhou, uma coisa era ele ser mal
falado, outra bem falado, um dos repórteres chegou a ele;
— Prazer, Robson!
— Tudo bem?
— Poderia me dar uma dica?
Gerson movimentou os ombros rápido para traz e
arregalou os olhos e falou;
— Algo errado Robson, nunca ninguém me pediu uma
dica!
O rapaz jovem, deveria ter uns 20, sorriu e falou;
— Vejo que tem coragem de escrever, você apoiou a
nível nacional não só a união homossexual, mas todo tipo de
união por amor!
— As vezes queria que as leis nos permitissem ser nós
mesmos, mas sei que nunca vão mudar isto!
— Nunca é muito tempo!
— Em que posso ajudar Robson?
— Rômulo pediu para fazer uma reportagem sobre
fiscais da prefeitura, o que acha que daria impacto!
— Passear o dia pela 15 de novembro e conversar com
as pessoas, e observar os fiscais o dia inteiro a rondar
tomando cafezinho, extorquindo engraxastes, mas não põem
nomes, eles pegam pesado contra quem tem apoio de
qualquer tipo!
— Pelo jeito conhece bem a área?
— Eu moro no centro, eu trabalho no centro, uso o carro
apenas pela manha para deixar meu filho no colégio e volta a
garagem, adoro a cidade, mas odeio esta coisa de boa vida
dos fiscais da prefeitura!
— Eles odeiam você?

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J.J.Gremmelmaier
— Nem sabem quem sou, ninguém sabe, se por meu
nome em um anuncio eles vão saber, mas se por minha cara
sem dizer quem é, eles não identificariam!
O rapaz anotou algumas coisas e viu Priscila chegar a
ele e falar;
— Vai me gelar?
— Sabe que não é isto Priscila, o lugar não ajuda!
— Sabe que quando me falou quem era por um breve
momento duvidei naquele dia!
— Sei, hoje estou mais para a descrição daquele dia,
barba por fazer, cabelo desajeitado, camisa amarrotada, este
sou eu!
— E não tem medo de me perder?
— Só se perde o que é não é seu, o que é, o tempo
passa e lhe traz novamente a vida!
— Acha que não sou sua?
Gerson olhou em volta e falou;
— Aqui não!
A moça sorriu, mas Gerson estava mais concentrado em
o que escreveria, não tinha assunto para aquele dia, ele
odiava seguir as noticias, mas fez seu trabalho;
Maria chega ao lado dele enquanto redigia e perguntou;
— Agora vai esquece de nós?
— Nem lhe vi aqui Maria, se escondeu?
— Não, trabalho no administrativo!
Gerson viu que a moça estava suada, e perguntou;
— Carrega piano lá?
— Alguns são pesados, Gerson!
— Vai fazer o que depois do trabalho?
— Não sei, alguma idéia?
— Idéias tenho aos montes, difícil é as por em pratica!
Maria sorriu e perguntou; — Quer que chame a filha do
dono?

67
— Não sei ainda o nível da relação de vocês, parecem
inseparáveis!
— Temos de conversar!
— Eu saio daqui a pouco!
— Não bate o ponto na saída!
— Maria, não sei o seu contrato, mas o meu diz que não
sou exclusivo, que o horário é livre, mas logo depois de
assinar eles lhe passam sua escala de trabalho!
— Eu sou exclusiva!
— Então lhe espero na lanchonete em frente!
— Ai é uma espelunca!
— Lhe espero ali!
Maria sorriu e Gerson passou ao redator a crônica, e saiu
pela porta, e viu o rapaz da manha chegando;
— Gostaria de sua opinião!
— Vamos tomar um café!
Desceram e foram tomar um café e o rapaz perguntou;
— Você tem algo com a filha do dono?
— Acho que não, ele gosta de usar dos corpos novos a
disposição, não lhe usou ainda?
— É minha prima!
— Esqueço que a empresa é familiar! - O rapaz sorriu,
Gerson deu suas opiniões e o rapaz voltou ao jornal, enquanto
Gerson sentou no fundo a observar o lugar, pediu uma cerveja,
e com calma serviu um copo, viu quando Priscila entrou
abraçada com Rômulo, o beijou, mas nem olhou para dentro,
ele achava que aquela ali era uma profissional, perdendo
dinheiro nesta idade num lugar daqueles, pois das meninas da
noite que conhecia, todas ganhavam mais que este cargo de
gerencia do Jornal;
Os dois estavam ali, sem se preocupar até verem Maria
chegar, Priscila soltou o senhor, mas somente neste momento
olharam para dentro e viram Gerson sentado a mesa, Maria
sentou-se e perguntou; — Não gosto do lugar! – Maria;

68 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Estou começando a gostar!
— Estes dois nunca vão assumir a relação!
— Ela esta perdendo dinheiro neste ramo, Maria!
Maria sorriu e perguntou; — E eu não?
— Você é sincera, difícil é fazer parecer real mesmo não
sendo, ela deveria estar a ganhar dinheiro por ai, tem gente
mais rica por ai que acreditaria direitinho!
— Ciúmes!
— Maria, gosto de sexo, mas tenho um problema!
— Se apaixona?
— Não, eu não sei mais o que é isto, gosto de me
divertir, mas odeio machucar as pessoas! - Priscila e Romulo
saíram no sentido do jornal e Maria falou; — Vamos ficar aqui?
— Não, vamos a um lugar mais calmo!
Maria sorriu, Gerson pagou a conta e viu Rosa abraçar
Maria e falar;
— Ela mandou os acompanhar!
Gerson estranhou, Maria também; — Então vamos! –
Gerson;
Andaram 12 quadras e subiram para o apartamento
bagunçado dele, até que esta semana estava calmo;
— O que quer falar? – Gerson; Ela foi ao ouvido dele e
falou; — Sem fofoqueiras para ouvir!
Gerson a deitou na cama e a beijou, depois puxou Rosa
e dormiu bem a vontade aquela noite.

69
Até que enfim
Ufa, espero que acabe mesmo a propaganda eleitoral, me
sinto o palhaço do outro lado do televisor, alguém dizer o nome
e o numero, não é propaganda, alguém pode me dizer que isto
dá voto, mas acredito que dá tanto voto como sujar nossas
calçadas de véspera, pois ganha—se com isto o que merece,
voto de desespero, voto inconsciente, voto ignorante;
É hora do povo brasileiro parar para pensar em quem
vota, vejo as pesquisas para deputado federal, quase tudo a
mesma coisa, para a assembléia, gente como problemas
narrados e escancarados, na lista dos mais cotados, será que
somente eu leio as noticias, acho que não, mas a maioria não
lê!
Gostaria de pedir que pensassem em quem vão votar,
anotar o nome e numero, não para ir a urna, e sim para ver para
quem foi seu voto, e cobrar dos que o receberam, que façam jus
do voto de vocês.
Peço também que votem pensando em coisas que os
governantes podem fazer, e não no que sonham, que eles
podem deixar todos ricos, milionários, é fantasia de conto
infantil, pois quem trabalharia.
Se seu político se comprometeu a caçar os demônios na
assembléia, cobre dele isto, e vá lá ver ele dormir na primeira
fila, sem nem prestar atenção no que se fala. Pois não existem
demônios, então você esta jogando seu voto no lixo;
Se seu político, digo seu, pois eles deveriam lhe prestar
satisfação, já que foi você que o pos lá, prometeu algo, cobre,
não se omita, faça valer o que chamam de democracia;
Gerson Travesso
Curitiba, 30 de Setembro de 2010

70 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Rosa saiu sedo e Gerson perguntou para Maria;
— O que queria falar!
— Você não presta!
— Queria que ficasse bem claro isto!
— Ela esta lhe usando, sabe que vão lhe mandar
embora!
— Sei, pensei que nem ofereceriam a vaga, mas não me
preocupo!
— Por que?
— Acha mesmo que vou escrever apenas para eles?
— Não, você não é exclusivo, mas com certeza lhe
alertaram para o que aconteceria se o fizesse!
— Se não o fizer eles perdem o interesse, se fizer me
mandam embora, dá na mesma!
— Me responderia uma coisa sincera Gerson?
— Se me responder sinceramente depois, tudo bem!
— O que você faria se Marta fosse contratada para o
jornal!
— Nada, ela é passado, bem passado!
— Não sente nada por ela?
— Ela é a mãe de meu único filho, só isto!
— É difícil ver o que esta sociedade faz com as relações!
— Agora é minha vez!
A moça sorriu;
— Qual sua função referente a mim na empresa!
Maria desviou o olhar;
— Você não tem a ver com minha função!
— Qual sua função?
— Manter a calma entre os diretores, alguns muito
carentes, como deve imaginar!
— Pagam bem por isto?
— Menos do que mereço, mas como posso fazer,
contrato de exclusividade!
71
— A nível do que é seu contrato de exclusividade?
— Assinei sem ler, até se escrever um livro, a empresa é
representante legal de meus escritos!
— E vai ficar nisto?
— Não posso sair!
— Confia em alguém?
— Não!— Maria;
— Ótimo, vou indicar uma jornalista para alguns jornais
que escrevo, mas preciso de um nome, e somente eu e você
saberemos quem é esta jornalista!
— Fala serio?
— Não sei quanto você ganha como exclusiva?
— Sete mil!
— Tem meses que consigo vender 3 artigos para os
meus mais de 50 jornais que escrevo, este mês tirei mais de
22 mil!
— E se veste assim?
Ele puxa ela aos lábios e beija com vontade;
— Mas tem de parar de fazer serviços extras! – Gerson;
— Já mandando em mim?
— Não, mas isto a vai tirar credibilidade, já tirou, você
esta sendo gozada na repartição inteira!
— Vazou?
— Estou lá há dois dias, e já sei!
— Mas se Priscila pedir!
— Que ela faça, seu contrato não diz respeito a isto, e
uma quebra de contrato pode lhe gerar muito dinheiro!
— E se descobrirem?
— Não vou dizer que não pode acontecer, mas se for
dentro de uns dois meses, já estará com suas contas sendo
cobertas pelos demais artigos!
— Por isto não se preocupou em assinar sem
exclusividade, parecia burrice você aceitar, mas agora olhando,

72 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
esta dentro de um jornal, com todas as pessoas lhe passando
informação, mas escrevendo para quem lhe quiser!
— Maria, se todos os jornais me pedissem 26
reportagens por dia, eu trabalhava como burro de carga por
10 meses e tirava férias!
— Certo, mas precisa de que?
— Um nome, que você faça isto em um computador
pessoal que só você saiba a senha, esta senha eu mudo de 3
em 3 meses, e de 10 reportagens, para mandar para os meus
contatos!
— 10?
— Quer que lhe pague adiantado por estas crônicas?
Maria sorriu e perguntou;
— Então quando ela fez questão de pagar o motel, se
fez de desentendido para que?
— Sabe por que, outra coisa, lá dentro, apenas amigos!
— Por que? – Maria;
— Por que não quero lhe complicar, são dois meses para
que o esquema de certo!
— Mas ela vai perguntar?
— Diz para ela a verdade, que queria saber sua função
diante de mim!
— Ela vai achar estranho!
— Ela sabe que a vi como Rômulo ontem, o que ela
pode reclamar?
— Você sabia dos dois?
— Sim, vi os dois juntos quando vim na segunda receber
as crônicas!
— E não falou nada?
— Vai se vestir, você tem de bater o ponto!
— Mas o que vai fazer a noite?
— Vamos, ou acha que não gosto de me complicar!
— O que vamos fazer a noite?

73
— Vou lhe transformar em alguém como Marta, e não é
para levar para o lado negativo esta frase!
— Nunca entendi por que acabou, vocês pareciam o
casal de jornalistas do ano em um dia, e o escândalo no
seguinte!
— Digamos que ela descobriu o que já lhe deixei claro
de cara, que não presto! - Maria foi ao banho, e Gerson olhou
ela andar pelo quarto bagunçado, anotou algumas coisas no
computador pessoal e o preparou para o dia de trabalho;
Tomou um banho e foi com ela a redação, ela subiu
para a parte dos exclusivos e administração, e ele entrou na
redação com muitos parabenizando o jovem Robson pela
reportagem, Gerson sentou—se a sua mesa, e enquanto os
demais conversavam, instalou um espião na maquina que ele
usava, e passou contato para mais de 70 jornais, indicando
uma amiga, Carla Travesso, uma prima, dinâmica, e que tinha
algum material, alguns pediram para ver o material, ele
apenas leu estes e—mail, e começou a escrever alguns textos
a mais.
Mais um dia normal, mas que a noite falou muito com
Maria que não sabia o nome que iria usar;

74 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Sexta Feira
Alguns dizem ser o melhor dia da semana, mas eu acho
um dia triste, pois toda a sexta, por mais que se tente, sempre
acaba a cerveja gelada, e a única coisa que faria ela não acabar
seria beber menos, mas com estes políticos gritando a TV e
Radio, o que posso fazer.
Alguns dizem ser um dia de oração, concordo, o dia do
fim de todos os trabalhos, o se preparar para iniciar um novo
trabalho, então fico a pensar em como posso começar a
próxima semana bem, ganhe quem ganhar, terei de trabalhar na
segunda.
Penso em como posso não fazer nada no sábado, meu dia
de descanso, meu dia de oração, meu dia de pensar no que fiz
de minha vida.
Mas ainda estamos na sexta, ainda não é sábado e muito
menos domingo, mas sexta é dia do que?
De um churrasco a noite entre os amigos?
De um culto?
De uma festa em uma boate?
De um retiro espiritual?
Ou um tiro a cabeça?
Na verdade é um dia para tudo isto, numa sociedade que
não se dá mais ao direito de descansar, quando pensamos que
Sexta é um bom dia, esquecemos que estamos agradecendo a
chegada do Sábado, e não a sexta em si, pois quando a maioria
ler isto, ainda terá de trabalhar o dia inteiro!
Vão labutar, que quando lerem este artigo, com o dia
abrindo lá fora, pode ser que faça tudo que descrevi acima, mas
em nada adiantaria se não o fizesse por um único motivo,
correr atrás da minha felicidade!
Um bom fim de semana para todos!
Gerson Travesso
Curitiba, 31 de Setembro de 2010
75
Mais uma manha sóbrio, mas estava gostando de
escrever a noite, de por a historia e comentários de uma vida
para fora, não estava preocupado com muito mais coisas, mas
estava disposto a fazer mais uma grande jornalista, mesmo
que a perdesse depois, o dia foi bem chato:
No fim do dia, ele passou para mais de 40 jornais um
texto de Carla Travesso, e disse que havia uma companheira
de jornalismo da prima que também tinha textos bons, mas
que passaria tudo no dia posterior;
Priscila sentou-se a frente de Gerson e falou;
— Acho que entendeu errado o que viu ontem!
— Calma Priscila, eu não vi nada!
— Mas achou algo que não é real?
— O que achei?
— Que foi tudo armação, pois perguntei para Maria o
que você queria com ela, ela me disse que perguntou a função
dela referente a você!
— Eu desconfio de algo muito fácil, mas é um defeito de
jornalista que começou na criminalística da Tribuna!
— Vai fazer o que hoje?
— Não sei ainda, acho que vou sair com seu primo, que
foi ovacionado ontem!
— Não vai o corromper!
— Vamos junto!
— Se ele vai não quero estar por perto, pode não
parecer, mas respeito um pouco o sigilo familiar!
— O convite esta de pé! – Sorri Gerson – E a
reportagem de hoje e amanha estão prontas, não sei se existe
ela no domingo?
— Sim!
— Então vou fazer um apelo trabalhista no domingo!
A moça sorriu e foi a parte de dentro e Rômulo olhou
para ele e fez sinal para ir a sala;
Gerson foi, o cumprimentou;

76 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Tudo bem Rômulo?
— Não sei, as más línguas falam horrores de você, mas
aqui dentro é discreto demais, mas soube que vendeu um
artigo para a Gazeta esta semana!
— Teria que ser sincero Rômulo, tenho artigos vendidos
por mais 15 dias, já foram enviados, não tenho como pedir de
volta, e são apenas um reforço nos ganhos!
— Não gostamos de free lancer!
— Então por que não contratam todos por
exclusividade?
— Não temos dinheiro para isto!
— Então por que pagam free lancer!
O senhor se calou e falou;
— Sabe que a administração não vai gostar quando
relatar isto!
— Sei, mas se quiser peço a conta, Rômulo!
— Não é preciso, as pessoas esquecem que nem todos
escrevem por dinheiro!
— Eu escrevo!
Gerson voltou para sua mesa de Robson foi a ela e
agradeceu;
— Robson, tem namorada?
— Não, sem tempo para isto!
— Vamos sair hoje a noite, eu, você, Maria, acho que
posso convidar a Rosa, tenho um amigo, mas como sua prima
disse que não ia por que você ia, temos uma vaga para mais
uma garota!
— Mas..
— Não aceito não, saímos direto daqui!
— Vamos onde?
— Ainda não sei, mas tenho mais 3 horas para
descobrir!
O rapaz sorriu e perguntou;
— E onde acabam suas festas?
77
— Depende do dia, as vezes nem acabam!
Gerson sorriu e viu Rômulo vir cumprimentar o rapaz,
puxação de saco, é o nome para isto;
Se reunirão na lanchonete a frente, tomaram uma
cerveja e Rosa veio a mesa e falou;
— Não vai convidar o Paulo?
— Já esta convidado, mas deve estar chegando!
Gerson pega o celular e lê uma mensagem e fala aos
ouvidos de Maria;
— Sem sena de ciúmes!
— Por que?
Gerson mostrou a mensagem que Paulo passou;
―Amigo, sua ex insistiu em ir a esta reunião, não sei o
que ela pensa que fazemos nela!‖
Maria riu e olhou o menino sentar a mesa;
— Vai corromper o menino?
— Vamos! – Fala Gerson pedindo mais uma cerveja;
— Gerson, não sei se deveria ir a algo sem saber quem
vai?
— Eu, você, Maria, Rosa, Paulo que é redator do
Vespertino, e minha ex!
— O que vamos fazer? – Robson;
— Se divertir, mas se tiver algo a mais para fazer
Robson, não gosto de forçar ninguém a nada!
— Apenas Rômulo disse para tomar cuidado!
— Verdade, tome cuidado comigo! – Gerson tirando
sarro;
— Vamos onde? – Rosa;
Gerson olha para a porta e vê Priscila chegando a mesa;
— Onde vamos mesmo? – Priscila;
Maria riu, e Gerson viu Paulo chegar a lanchonete, com
Marta, se queriam a aproximar, ele faria isto pela ex, mas isto
era maluquice, ele mesmo sabia que ali não daria em boa
coisa;
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J.J.Gremmelmaier
Gerson pegou o celular e foi a porta e conversou um
tempo com alguém, e quando voltou olhou para o pessoal e
perguntou;
— Alguém tem algo urgente para fazer?
— Tenho de estar em casa antes das 10! – Marta;
— Foi um prazer sua companhia, amor, mas as 10 nem
vamos ter começado a aquecer!
— 10 da manha! – Marta irritada;
— Melhor!
O pessoal viu uma van parar a porta e Gerson falar;
— Nossa condução chegou!
— Não vai falar mesmo? – Robson;
— Vou, mas todos para dentro agora, estamos perdendo
tempo!
O pessoal viu ele pagar a conta e entraram na van e o
motorista foi no sentido de Almirante Tamandaré, e entraram
em um restaurante de comida mineira, mas que não
funcionava a noite, o lago ao fundo, e apenas uma
churrasqueira ao fundo acesa, eles viram que seria algo mais
contido, ele dispensou o motorista e Maria abraçou Gerson e
perguntou;
— O que pretende?
— Olhe a forma que ela se porta, não como ela quer se
portar, mas como ela se porta!
— Por que?
— Por que lhe quero como sendo uma grande jornalista,
não apenas na mão destes que não sabem o que querem!
— Mas ...
— Decidiu o nome?
— Nem idéia!
— Então eu vou escolher o nome, tem os artigos?
— Sim, passei para você por e—mail!
— Pela empresa?
— Sim!
79
— Que seja a ultima vez!
— Certo, não quer problemas?
— Não quero lhe prejudicar, Maria, e se acha que
Priscila esta aqui para outra coisa, não entendeu nada ainda!
Paulo chegou a churrasqueira e perguntou;
— Mas e a bebida?
— A reunião é de trabalho, não lhe avisaram?
— Não teve graça!
— Esta chegando!
Um pequeno furgão chegou ao local e trouxeram um
freezer e o encheram, carne, para os aperitivos, tinha duas
pontas de costelas inteiras que pareciam estar a horas no
fogo;
Paulo sorriu e viu Rosa chegar a ele para conversarem,
ele estava sorridente, e Robson assumiu os aperitivos a
churrasqueira e Priscila começou a conversar com Marta, era
uma intenção quase certa a ida dela para a Gazeta, mas
Gerson já tinha falado muito, não falaria mais, sentou—se,
serviu um uísque para Maria, esta gostava de coisas fortes e a
beijou;
— O que acha que posso mudar?
— Não li os textos ainda!
— Mas o que não gosta em textos!
— Odeio os meus textos, então eles são o ponto a não
fazer!
Robson chegou ao lado e perguntou;
— Pensei que iria dar uma festa, isto é mais para uma
confraternização intima!
— Robson, as pessoas falam demais, meu grupo de
convivência é sempre bem restrito, se algo vaza, sei por onde
vaza, mas este é o começo do fim de sexta!
— Começo? – Robson;
— Bebe algo?
— Não vi refrigerante!
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J.J.Gremmelmaier
— Tem no freezer, na porta da esquerda!
— Pelo jeito quer falar algo? – Maria;
— Ainda não entendi o que faz Maria?
— Eu, distraio, mas o sobrinho do dono não me põem
na mão, apenas os velhos e chatos da redação!
— Obrigado pelo chato e velho! – Gerson;
— Você entendeu!
— Sei que entendi, mas vamos com calma, daqui a
pouco cuida dele um pouco?
— Vai falar com Marta?
— Sim, quero saber o que ela veio fazer aqui!
— Pensei que não gostava dela!
— Vocês sempre pegam a parte errada, disse que não
prestava, mas que não gostava de machucar ninguém!
— Certo, mas ... — Gerson a beijou, de forma a moça se
perder no que iria falar – sei lá o que ia falar!
— Que vamos a uma festa hoje que não vou a muito
tempo!
— Esta não é a festa?
— Parece uma festa?
— Não, mas três homens e 4 mulheres, parece seu estilo
de festa!
— Estou precisando comprar um Viagra, vocês matam
comigo!
Maria sorriu, e viu ele a deixar ali e foi falar com Priscila
e Marta, olhou para Priscila e perguntou;
— Me daria um momento com minha ex?
— Sim, já me esqueceu?
— Não quis trazer o Rômulo?
— Não sei onde você vai acabar hoje, melhor não!
Gerson olhou para Marta e perguntou;
— Tudo bem?
— Não sei se foi uma boa idéia vir!

81
— O que veio fazer aqui, Marta?
— Ver o que você fazia, mas vejo que Paulo esta com
uma moça, e você perece pronto para ficar com outra!
— Marta, sabe que não presto, o que veio fazer?
— Vim ver o que você faz nas sextas a noite!
— Posso perguntar uma coisa Marta?
— Fala?
— Vai me processar se avançar hoje?
— Não se atreva!
Gerson passou a mão nos cabelos cacheados da ex,
castanhos bem claros, olhos caramelo, puxou ela aos lábios e
a beijou;
Marta primeiro não retribuiu, mas depois o beijou com
força;
— Não é certo!
— Ninguém aqui esta preocupado com isto Marta!
— Mas você esta com a moça!
— E você com Frank!
— Mas...
Gerson a beijou de novo e falou;
— Relaxa, se quer ver tem de ser com a cabeça livre de
preconceitos Marta!
— Você não presta!
Gerson pressionou as duas nádegas da ex e falou;
— Lembro quando falava isto, e não acabava em um
tribunal!
Marta o beijou por longos dois minutos;
— Mas se quiser ir embora?
— Sabe bem onde estamos, bem fácil!
— Quer que vá?
— Não, mas não vou dizer que não seria o certo!
Gerson pegou na mão dela e foram a churrasqueira,
Paulo via isto ao longe, abraçou Rosa e chegou mais perto;
82 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Como esta a carne Robson?
— Boa, mas é muita carne!
— É que festas têm hora para começar, local para
começar, mas nunca se sabe se vai acabar em uma hora ou
48 horas!
Gerson chegou e abraçou Priscila com um braço,
abraçou Marta com o outro e perguntou olhando Priscila;
— E você, o que veio fazer aqui?
— Você disse que o convite estava de pé!
— E continua, mas você não disse o que veio fazer?
— Vim cuidar de você! – Responde Priscila chegando os
lábios perto, para provocar, ele a beija, mas não solta a mão
de Marta;
— Robson, terá de me ajudar hoje, pois com três eu não
posso!
Robson sorriu, Maria olhou atravessado e perguntou;
— E vamos fazer o que?
— Um churrasco entre amigos, um culto, uma festa em
uma boate, terminando com um tiro a cabeça, esqueci do
retiro espiritual!
— Fala serio! – Robson;
— Você vai terminar isto onde? – Maria;
— Domingo eu tenho de ir votar!
Maria sorriu;
— E até lá?
— Nem escureceu ainda, vocês querem saber demais!
Primeiro foi o churrasco, depois uma boate, por ultimo
uma reunião na capela mais usada por Gerson, o quarto 4 do
Vis a Vis;

83
Tiros
Ontem tive a impressão que morreria, fui barrado em
uma barreira policial as 3 da manha, voltando para casa,
encostado na parede, violentamente, mas a pergunta, o que a
policia fazia em uma vila as 3 da manha, não me diga que é
repressão ao crime, ninguém não ligada ao crime teria coragem
de estar lá se não fizesse parte, pelo menos foi esta a
impressão, outra coisa, por que a policia militar é autorizada a
usar arma calibre 12, mesmo estas de segurança de bancos, o
que acontece se um soldado destes se descontrolar, seja por
medo ou por imposição da farda, e puxar o gatilho?
Morte com certeza, pois uma 12 a menos de um metro é
pelotão de fuzilamento, mas se não existe pena de morte no
Brasil, por que armas que condenam a morte os adversários;
Alguém gritou aqui atrás, por que os marginais usam
escopetas e armas mais pesadas;
E o que uma dose ajuda num caso destes?
Nada, vai matar inocentes e não vai deixar de morrer!
Alguém gritou que o medo que faz eles usarem estas
armas!
Mas toda vez que alguém me barra com uma doze, me
sinto um marginal, e vejo que nós eles tratam como marginais,
os marginais, com respeito, ai tenho certeza de que algo se
perdeu na sociedade!
Gerson Travesso
Curitiba, 01 de Outubro de 2010

84 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Amanheceu sábado e o pessoal saiu acompanhando
Gerson, passou na casa da sogra e pegou o filho, e foram no
sentido do litoral, passaram em um parque de diversão em
Matinhos, depois foram a orla, ver o mar bater ao fundo,
Marta estava com o filho, e viu que Gerson estava impossível,
não teria mais espaço na vida dele, ela que lhe dera liberdade;
Maria abraçou Gerson e perguntou;
— O que foi esta noite?
— Loucura, gostou do menino?
— Ele é bem servido, mas tem de aprender direitinho!
— Ele tem o estilo de sexo da Marta!
Maria sorriu e viu Priscila atender o telefone a frente, o
bater das ondas não dava para ouvir o que ela estava falando,
mas quando olhou para Gerson, sabia que vinha bomba;
— O que você aprontou?
— Eu?
— Sim, dizem que você esta com entrevista marcada de
trabalho em mais de 20 lugares!
— Acho que vocês não sabem nem olhar para o lado,
mas querem controlar o que não lhes diz respeito!
— Não vai negar?
— Estou no meu fim de semana, se quer falar de
trabalho, sobe, falamos na segunda!
Maria viu que Gerson não era de apagar incêndio;
— Vai ficar? – Pergunta Priscila para Maria;
— Sim, ele me deixa em casa!
Priscila olhou os demais e saiu na direção do carro;
— O que ouve? – Robson;
— Nada que uma boa conversa não explicasse, mas
alguém se irritou! – Gerson;
— Mas o que foi isto?
— Disse que acabava a festa com um tiro a cabeça, era
figurado, mas sempre alguém briga comigo!
— Vamos voltar pai?
85
— Não, vamos todos almoçar primeiro em Morretes e
depois subimos!
— Não entendi nada! – Marta;
— Ela achava que conseguiria a levar para a Gazeta
Popular!
— Mas por que acha que não vou?
— Depois que voltáramos, olha seus e—mail e me
responde se você vai!
— O que você sabe?
— Que a Gazeta do Povo a quer como Cronista Exclusiva,
para 6 matérias por semana!
— E como ela saberia? – Paulo;
— Se eu sei, por que ela não saberia?
Marta sorriu e falou; — Pensei que iria me convencer a ir
para o Popular?
— Sempre disse que merece alguém melhor que eu, e
não igual como Frank!
O rosto dela foi para uma cara de indignação, ou algo
parecido a isto; Paulo chegou a Marta e perguntou;
— Vai nos abandonar?
— Se for serio isto, você não iria?
— Quase pulei para o Popular!
— E não fez por que?
— Ainda não decidi, mas trocar meia dúzia por 4 não é
meu feitio! - Marta sorriu e Maria perguntou;
— O que esta aprontando?
— Depois falamos, vamos almoçar e depois
conversamos! - Almoçaram e subiram a serra, cada um a sua
casa, ou não, mas Gerson sentou-se em casa e ligou o
computador; — Maria, para os meus contatos agora você é
Priscila Souza e Silva!
— Por que?
— Normal ter que ter um nome que chame a atenção!
— E o que vai fazer?
86 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Maria vê ele passar os e-mail para mais de 70 endereços,
e no fim abraça ela e fala; — Agora vamos falar serio!
— Sobre?
— Ser uma grande Jornalista!
— Como o que?
— O nome de Marta, é Roseli, mas poucas pessoas
sabem disto!
— Quer dizer que ela usa um pseudônimo?
— Sim, meu sobrenome nunca foi Travesso!
— E o que acha que eles vão fazer quando descobrirem
que você esta vendendo matérias?
— Eu vou mudar o pseudônimo em mais de 60 lugares,
estou indicando você e uma prima para substituírem as
minhas Crônicas!
— Você vai me indicar como substituta de coisas que já
faz?
— Sim!
— Acha que vão aceitar?
— As matérias que passei de minha prima, mais de 50
jornais concordaram em publicar!
— Sobrinha?
— Sim, preciso aos poucos passar para outros, mas
expliquei para Rômulo que tinha alguns artigos vendidos, mas
que não estava mais vendendo novos, liguei para uma
sobrinha, e eu escrevo mas ela usa o nome dela, em parceria
cobriremos as minhas matérias!
— E junto me lança?
— Sim, acho que eles gostam de números, as vezes nem
olham o conteúdo final, mas quanto mais cronistas, mais eles
sentem-se felizes!
— E terá quando a resposta?
— Segunda lhe passo a resposta, mas tem de fazer o
que falei, não a vi se mexendo!
— Você entra na vida das pessoas assim?
87
— Tento não me envolver, Maria, o tempo inteiro!
— E acaba envolvendo do mesmo jeito!
Gerson foi passando as coisas e assuntos que não se
falava em cidades pequenas, o que não se falava em Brasília,
o que não se falava no norte do país, ele era de chutar o
balde, mas somente onde desse retorno, não tiro;
A moça ficou a seu braço ate a manha seguinte;

88 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Viva a Democracia
Democracia, forma de organização política onde a
vontade da maioria impera, mas é das formas mais cruéis e
sanguinárias que existem, elas eliminam minorias, criam
estados religiosos, impõe regras sociais encima disto, mas
principalmente, pressionam as minorias;
Brasil ame-o como queremos ou deixe-o!
Viva a Democracia
Hoje vamos eleger os deputados estaduais e federais,
mais os senadores, para todo o país, e minha pergunta,
Democracia é mesmo a vontade da maioria?
Lembrem de não votarem em ladrões, em bandidos, em
corruptos, lembrem que melhor um Tiririca que não sabe ler e
escrever do que Deputados que não lêem mesmo sabendo ler, o
que assinam. Lembrem que ninguém deveria ser obrigado a
votar, e se acabarmos hoje, teremos o feriado de finados, senão
teremos de votar no meio do feriado.
Mas democracia no Brasil ainda não e a vontade da
maioria, ninguém me perguntou se achava correto votar para
dois candidatos a Senador, e os dois mais votados serem
eleitos, isto não é mais democracia, não a nível de escolha dos
senadores, pois proíbe que a oposição exista, pois permite que
se eleja com os mesmos votos, dois candidatos e não só um!
Queria então uma lei que me permitisse votar nos 30
deputados federais!
Viva a Demagogia!
Gerson Travesso
Curitiba, 2 de Outubro de 2010

89
Domingo de eleição, Gerson acorda aos braços de
Maria, se pensasse em estar com alguém naquele dia a uma
semana, diria que estavam malucos;
A campainha tocou e foi a ela, abriu e viu Marta a porta,
ela olhou por cima do ombro e perguntou;
— Acha que podemos conversar?
— Entre!
— Não quero atrapalhar!
— Não atrapalha!
— Quem esta ai?
— Maria!
Marta entrou e olhou a moça ir ao banho, a casa estava
uma zona e perguntou;
— Como sabia que iriam me propor aquilo?
— Apenas me perguntaram quem seria o melhor nome,
até me ofereceram o cargo, mas não sirvo para isto!
— Você recusou ir a Gazeta e ficou no Popular?
— Sim, toma um café?
— Veste alguma coisa, como consigo prestar atenção
assim?
Gerson a encostou na parede e falou;
— Não olhando!
Marta o beijou e perguntou;
— Por que esta fazendo isto?
— Marta, lhe devo muito, mas não sou para você, sabe
disto!
— Mas por que então me seduziu?
— Você é a mãe de meu menino, você é especial Roseli,
você é das poucas pessoas que me conhecem de antes de
tudo, da faculdade de jornalismo, das brigas estudantis, das
palhaçadas anarquistas, mas você é mais do que este traste, e
ficar do meu lado é se machucar!
Marta o beijou e falou;
— Não quero que me mande embora Gerson!
90 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
Gerson a deitou na cama atrás e a beijou, enquanto
Maria tomava banho, os dois ficaram ali um bom tempo e
depois a moça viu Maria sair do banheiro vestida o beijar e
falar;
— Me liga depois!
— Já vai?
— Tenho de votar, não esquece que você também!
— Verdade, e no estadual sempre dá fila!
A moça beijou Gerson e saiu pela porta, ele pegou a ex
e entraram num banho, se curtiram e foram votar;
— Vai fazer o que hoje? – Marta;
— Tenho de estar no inicio da apuração no TRE, você
deve precisar ir a redação, todos os jornais vão segurar a
edição de amanha, para ter a posição dos deputados, dos
governadores e da Presidência!
— Vai escrever sobre isto?
— Nem sei, mas o que faz aqui Marta?
— Tenho de me apresentar amanha na Gazeta do Povo,
não sei com quem falo?
— Com quem pediu para você ir lá?
— Então estou encrencada, presidente do jornal de cara!
— Ele é gente boa Marta!
— O que aquela Priscila não gostou?
— Vou descobrir dentro em pouco, quando for a
redação!
Os dois se despediram e sem dar nomes, Gerson
escreve sua crônica, mas não sabia nem se seria publicada,
chega a redação e Rômulo pede para falar com ele;
— Algum problema Rômulo?
— Priscila disse que você que indicou Marta para a
Gazeta?
— Não foi bem assim, eles não fazem o que quero, e
sabe disto!
— Mas falou o que?
91
— Que não era colunista para um jornal daqueles, citei
alguns nomes, entre eles, Marta de lá, Maria daqui, mas eles
não conheciam Maria e preferiram Marta!
— Acha que Maria tem potencial?
— Sempre falo que ela teria de usar um nome mais
pomposo, menos Maria, mas ela não gosta desta idéia!
— Por que acha isto!
— Rômulo, se eu ler o nome do jornalista e tiver lá Maria
das Dores eu acho que é nota religiosa!
Rômulo riu;
— Mas então eles lhe sondaram para ir para lá?
— Eu mandei currículo para muitos lugares, mas nunca
pensei que eles me chamariam, pensei na parte de
criminalística, mas não colunista, não tenho o perfil para uma
Gazeta!
— E quando vai mandar sua matéria?
— Já esta na mão do pessoal da prensa, pagina oito
ninguém lê antes, Rômulo!
O senhor sorriu;
Rômulo nem olhou a reportagem, nem olhou para nada,
capa com os dois candidatos a presidência em segundo turno
era capa de quase tudo no país;

92 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier

Viva a idiotice!
Me dizem que tenho de me conformar, e tenho, sempre
digo que democracia é isto, mas elegem pessoas ligadas aos
escândalos na assembleia, e obvio o que vai acontecer agora,
eles eleitos, os processos são arquivados, já que esperaram a
eleição para determinar isto.
Teremos 6 pastores na assembleia, lá vem leis
antidemocráticas, pois seis não é maioria, mas sempre acabam
votando leis como a que permite som alto nas igrejas, acho que
deus não é surdo para terem de gritar;
Depois de meses de propaganda que até me dava orgulho
de ser brasileiro, novamente chego para votar e vejo aquela
imundice, quando vamos caçar os políticos que jogam milhões
em papel nas ruas, que no dia de chuva de hoje, foi tudo para as
redes de coleta de água, e depois os mesmos vão falar que a
prefeitura não fez direito, que tem de limpar os bueiros, queria
ver estes candidatos com uma pá a mão limpando as ruas e
depois as galerias de água!
Gerson Travesso
Curitiba, 02 de Outubro de 2010

93
Gerson acorda sedo na segunda, não tinha muito o
que fazer, passou na casa de sua ex e levou o pequeno Pedro
ao colégio, e depois vai a redação, e senta—se sedo, nem
passou no café, Marina tinha mostrado ao Brasil sua força, e
isto era importante, esperava que ela mantivesse a coerência
no segundo turno, não se queimando;
Ele estava sentado e viu Priscila sentar—se a sua frente
e falar;
— Gerson, preciso ser sincera!
— Pediu minha cabeça a seu pai! – Gerson;
— Sou tão previsível assim?
— Não, mas tem de ver que esta me tomando por uma
criança, posso usar a aparência de quem é desleixado, que
não gosto das coisas, mas sabe que não sou assim!
— Você me induziu o tempo inteiro!
— Não sei do que esta falando?
— Você me seduziu e vai dizer que não?
O tom foi alto, e obvio neste momento que era um
escândalo, e ele falou calmamente;
— Não é um bom lugar Priscila!
— Mas você nem está ai se vou me dar mal?
— Você não vai se dar mal se não falir o jornal, e sabe
disto!
— Mas você me usou?
— Eu?
— Sim!
Gerson pegou nas mãos dela e ela as puxou;
— Só estou sendo sincera, eu pedi sua cabeça a meu
pai!
— Sem problema Priscila, isto não me chateia!
— Mas não pode não se preocupar com nada!
— Me preocuparia em ver a mãe de meu filho ser usada
como objeto em uma redação destas, me preocuparia se você
tivesse sido sincera em qualquer segundo, me preocuparia se
94 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
precisasse deste emprego, mas como disse, isto não me
chateia!
Priscila se levantou e falou gritado;
— Você me paga por isto Gerson!
— Pelo que, e quanto?
A redação estava parada a ver ela gritar, ninguém vira
os dois juntos, o que estava acontecendo, mesmo Rômulo
estranhou a moça, mas poderia ser apenas mais um jogo;
— Passa no departamento pessoal, não quero mais lhe
ver por aqui!
Gerson clicou para encerrar o programa, fechou com
calma o computador e foi ao departamento pessoal, estava
meio incrédulo, não entendera, mas se precisavam que se
fosse, estava pronto para ir;
No fim do dia Priscila vai ao apartamento de Gerson,
queria xingar mais um pouco, vê o tumulto de uma vizinha
chamando o bombeiro, isolarem a área.
Os Bombeiros arrombam a porta do apartamento de
Gerson, a cama queimada, com um corpo carbonizado sobre
ela, era a imagem triste que se tinha, a policia foi chamada;
Qual a conclusão mais fácil, suicídio, mesmo que ele
tenha que jogar gasolina nele mesmo depois de escrever um
artigo de despedida, deixar sobre a mesa, em seu computador
ligado, e atear fogo nele mesmo de forma a não pegar na
mesa afastada da cama.
Suicídio com certeza;

95
Gerson na terça feira abre o diário Vespertino,
sentado ao calçadão de Caioba, praia paranaense e na
capa estava a imagem de um corpo carbonizado, e em
baixo uma matéria descrevendo a morte de um ótimo
jornalista, a policia ainda analisava se fora suicídio,
embora o corpo carbonizado indicava que não, a carta de
despedida, ultima crônica, ao lado da cama, no
computador aberto, indicava o suicídio;

A quem interessar ( Não interessa mesmo)


Estou escrevendo a horas este meu ultimo artigo, já
apaguei muitas vezes, não sei o que falar, mas gostaria de
agradecer a minha ex, ela me deu uma coisa importante na
vida, mas cuida dele em minha ausência.
Estou também pedindo desculpas aos que não
entenderam, eu não sou contra o casamento, apenas o meu não
deu certo, eu não sou contra deus, mas ele poderia acabar de
vez com esta existência, eu não sou contra religião, mas acho
que deveriam ser proibidas.
Por penúltimo, peço desculpas ao Pedrinho, eu não vou
poder ir a sua formatura do colegial, não saberei o que ele
escolheu ser quando for um homem de verdade, mas peço uma
coisa filho, não seja repórter, esta profissão acabou comigo.
Marta, queria dizer que ainda lhe amo, e um dia, se sair
do inferno, sabe que ele não vai gostar de me ter por lá, nos
encontramos por ai.
Sei que a maioria não me entende, mas gostaria de
apenas dizer umas ultimas palavras!
Vão a merda!
Gerson Travesso;
03 de Outubro, meu aniversario, de 2010

96 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier

Gerson vê Marta e o filho chegarem no carro de


Maria, ele olha para traz e fala;
— Não sei se posso aparecer assim em publico?
— Você esta bem pai?
— Sim, mas alguém morreu naquela cama filho, só não
sei quem!
— Esta dizendo que chegou em casa e alguém estava
morto?
— Sim, e não posso aparecer, já que alguém decretou
minha morte, me enterraram e não fizeram DNA, deixa assim,
é mais seguro para mim!
Marta abraça o ex e fala;
— Não gosto disto!
— Marta, estava na hora de eu morrer, mas daqui eu me
viro e ganho meu dinheiro!
— Como?
— Alguém esta comprando as minhas crônicas, e as de
Maria, estamos vendendo em atacado, mais de 50 jornais,
pelo menos 8 colunas para cada ao mês, dá para viver bem!
Maria o abraçou e perguntou;
— Quanto?
— Uns trocados, quer quanto?
— Os 22!
— Vou tentar chegar lá!
Os quatro foram a uma casa a beira da praia na cidade
da Penha em Santa Catarina, e com calma almoçaram;
— Não deveria estar na Gazeta hoje? – Gerson pergunta
para Marta;
— Eles vão estranhar não estar em seu enterro, isto sim!
— E você? – Pergunta olhando para Maria;
— Esta uma bagunça só lá na redação, todos viram
Priscila brigar com você, ela parece ter sido uma das primeiras
a chegar ao quarto!
97
— Alguém tem idéia de quem estava naquela cama?
— Não sei, você não sabe? – Marta;
— Quando cheguei no apartamento, vi o tumultuo, me
afastei, achei que era mais alguma manifestação, mas ouvi no
radio de um bar vizinho que eu havia morrido!
— E por que não foi lá justificar?
— Ainda não sei, eu não me declarei morto, Marta, eles
que estão me declarando assim!
— Vai complicar as coisas assim!
— Não, mas tudo bem!
Conversaram um pouco e ele acompanhou as duas a
cidade vizinha, Navegantes, de onde pegaram um avião para
Curitiba;
As duas foram ao enterro, caixão fechado e um policial
chega a Marta e pergunta;
— Senhora, podemos conversar?
Marta olhou como se perguntasse que ele era;
— Sou o Investigador Domingos, poderíamos falar?
A cara de triste, enterro era sempre triste, mas as
pessoas falavam muita coisa ruim nestes dias;
— Senhora, precisamos saber, ele tinha algum inimigo?
— Eu não sou mais casado com ele, investigador, a
ultima vez que o vi estava com Priscila da Gazeta Popular?
— Quando foi isto?
— Na noite de sexta para sábado!
— Sabe se eles estavam juntos?
— Meu ex não era de relacionamentos sérios senhor!
— Saberia o motivo que ele foi afastado do jornal que
trabalha?
— Não, ele que pediu a conta, mas teria de ver isto com
eles também!
— Desculpa importunar numa hora destas, mas é que
tentamos falar com você antes e ninguém sabia onde estava!
— Não me ligaram?
98 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Deu fora de área!
— Ai não sei, estava no Boqueirão, vendo a única
parente viva dele fora o filho!
— Certo, mas desculpa!
O Investigador chega a outro olhando o pessoal e
pergunta;
— O que parece estranho?
— Todos são estranhos, ou pessoas que trabalharam
com ele, o sobrenome dele nunca foi Travesso, mas o que
mais estranho é a declaração do amigo do antigo jornal que
trabalhava!
— O que ele falou?
— Foi ele que disse que Gerson havia o ligado para
beberem no fim do dia, por que tinha perdido o emprego, e
precisava beber!
— Ele não pretendia se matar que hora?
— Uma hora antes do acontecido!
— Estranho, e o que mais ele falou?
— Que não foi ele que escreveu o texto!
— Por que?
— Ele me mostrou 3 anos de trabalho, o rapaz nunca
justificava um titulo, ele dizia que se não iam ler, que não
lessem, ele não iria explicar antes, falou que se fosse Gerson,
ele usaria um gerúndio no inicio de sua carta de despedida,
ele sabia os erros da escrita, mas gostava de revoltar, dizia
não escrever para cultos e sim para seus leitores, e disse que
se ele fosse se despedir, falaria o nome da esposa, e não o de
pseudônimo de trabalho, e por ultimo, ele não nasceu no dia
dois de outubro, embora estivesse em sua certidão de
nascimento esta data!
— Alguém que conhecia o morto, mas quando ele viu ele
por ultimo?
— Na tarde de Sábado, depois de uma noitada, eles
almoçaram em Morretes e subiram pois domingo teriam de
votar!
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— Ele sabe com quem ele passou a noite?
— Sim, aquela que chegou com a ex, e que esta sobre o
caixão ali na frente!
— Ele tem patrimônio?
— Não, um apartamento caindo aos pedaços, deixou o
bom apartamento para a esposa criar bem o filho na
separação a 8 meses!
— Não é financeiro, pode ter sido passional?
— Não tenho idéia, mas as pessoas, pelo que fiz o
levantamento hoje, ninguém o via como alguém que iria se
suicidar!
— E financeiramente?
— Mesmo perdendo o emprego, tinha procura, pelo que
entendi, ele escrevia para muitos jornais e revistas, ganhando
um bom dinheiro por mês!
— E acha que vamos por onde?
— A que pode ser mais complicado!
O investigador apontou a moça que chegava com o pai,
e um advogado ao lado, se passando por apenas mais um;
— Acha que ela sabe?
— Ela gritou com ele no fim da manha, ele é mandado
embora por isto, ele morre a traz e ela foi vista próxima ao
apartamento na tarde de ontem!
— Mas ela não vai falar?
— O advogado do Jornal disse que ela só vai falar se for
intimada a depor!
— E não temos nada, é isto?
— Ainda não, mas não dá para assinar como suicídio!
— Deram a causa morte?
— Sim, afogamento!
— Afogamento?
— Não tem como ser conclusivo, pois estava puro osso
carbonizado quando os bombeiros chegaram lá!
— Mas quanto tempo demoraram?
100 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier
— Não mais que 15 minutos, com escada e tudo, pois do
apartamento se vê a base dos bombeiros a meia quadra da
praça Rui Barbosa, 8 quadras na contramão, mas apenas oito
quadras do apartamento dele!
— E estava já todo carbonizado?
— Tem coisa estranha nisto!
Um fez sinal para o outro sair, conversarem do lado de
fora do cemitério municipal, passaram os arcos da fachada;
— Estranho como?
— Pense, ele sai do escritório ao meio dia, com seu
dinheiro, pouca coisa, havia ficado não mais de 3 dias no
jornal, ele sempre fazia a pé até em casa, ele andava as
poucas quadras, mas geralmente não iria para casa, mas foi,
ele teve tempo de comprar combustível, ninguém viu ele lá
antes, ele não era querido pelo sindico, então este sabia até o
minuto que o senhor chegava!
— E duas da tarde nós já estávamos lá dando de cara
com os ossos carbonizados!
— Sim, não teve tempo, não é algo para se fazer assim,
ele chegou, escreveu rápido, sem pensar, encharcou a cama
com gasolina, afastou a mesa do computador para que não
pegasse fogo, tomou parte da gasolina e depois pois fogo no
corpo!
— Verdade, pediram exame de DNA?
— Não entendi?
— Pode não ser ele, ou não pode!
— Mas por que ele não estaria aqui para dizer que não é
ele?
— Não tenho idéia, mas alguém pediu o teste?
— Não, vamos ter de pedir uma petição para depois do
enterro, e o juiz não vai gostar disto!
— Podemos ter perdido o criminoso, por falta do DNA!
— Ou não nos complicarmos com ele!
Os dois sorriram e voltaram a delegacia, o enterro foi no
jazigo da família;
101
Meus Pêsames!
Tio, ninguém merece um fim destes, mas queria lhe
homenagear, mesmo que com muitos estranhado isto.
Você foi um bom tio, você sempre foi pelos gerúndios,
sempre foi pelas péssimas concordâncias, sempre foi por
palavreados pesados, nunca foi de amar sem nada em troca,
mas aprendi uma coisa com ele, que gente de bem, ou gente de
mal, quando morre, vira santo, e não queria lhe sujar com isto;
Tio, você era um alcoólatra sem concerto, um
mulherengo que não perdoava nada, um homem careca que
odiava a careca escondida por baixo do boné.
Tio, sabe que gostava de você, mas também sabe, morto
não reclama, mas não acredito que você se suicidou, você não é
de pequenos shows, se fosse para se suicidar, seria em cadeia
nacional, e não numa cama escondida, mostrando ao mundo
que morava naquela espelunca que chamava de apartamento;
Tio, meus respeitos, minhas condolências a meu pequeno
primo, que não merecia isto.
Mas queria por ultimo pedir uma boa investigação para
apurar isto!
Gerson Travesso pode não ter sido um exemplo a seguir
mas era uma pessoa sincera, e hoje são raras as pessoas assim;
Carla Travesso
Navegantes, Santa Catarina
04 de Outubro de 2010

102 J.J.Gremmelmaier
J.J.Gremmelmaier

À Gerson Travesso
O Jornalismo perde um grande Mané, ele sempre foi
mais pelo chocar do que pelo conversar, alguém capaz de
conquistar no papo, no escracho, nem todos entendem os
Mané, mas este era especial, alguém que queria que o povo
pensasse, e isto é raro nos dias de hoje!
Gerson, onde estiver, queria dizer que lhe amava, assim
como muitas moças da Metro e da Lido, mas nada que de para
você concertar hoje, viu que até parou de chover, mas a pedido,
vou sentar no calçadão, chamar o Paulo, os amigos, chamar um
rapaz no violão para tocar um sertanejo, e vamos tomar um
uísque com refrigerante, vamos depois fazer um churrasquinho,
pois sei, que não queria lagrimas neste dia, e sim sorrisos.
Por ultimo, se ver Deus por ai, pede para ele lhe
entender, pois se tem alguém capaz de convencer Deus que
está errado é você, Mané!
Maria das Dores
04 de Outubro de 2010
Feliz aniversario Mané

103
Os amigos se reunirão no calçadão depois do
enterro, tomaram muitas cervejas, muitos uísques, mas
principalmente, falaram mal de Gerson Travesso.
Se tinha uma coisa que este ser merecia, era uma
homenagem póstuma, mesmo que fosse para dizer, foi tarde.
E aquele sorriso de Paulo e Maria, era estranho em meio
aos demais, eles sabiam que o amigo estava longe de morrer,
mas estavam a curtir uma festa que diria a Gerson, você
perdeu, e sabiam que ele iria falar algo impensável pois
realmente, ninguém espera da vida estar em sua festa depois
do enterro.

Continua....

104
105
106
J. J. Gremmelmaier

Crônicas de Gerson Travesso

2 - Estou
Pisando no
Seu calo!
Primeira Ediçao

Curitiba
Bookess
2011
107
Esta é a continuação de Estão pisando em
meu Calo!
Este conto é sobre um repórter, ele tem
problemas pessoais e emocionais, esta no meio
de um reencontrar com a ex, em meio a saída
de uma antiga acomodação de sua vida.
Escreve notas sobre assuntos diversos, criticas
sociais, financeiras ou políticas.
Ele se fez passar por morto, e agora corre atrás
de resolver os dilemas de sua nova vida.

108
Incorporei
Gerson Travesso
Das ultimas coisas que este genial encrenqueiro me
passou, foi o vídeo que o pastor usava para convencer os fieis,
e lá tinha uma cena realmente chocante, de um índio
enterrando uma criança viva e todos vendo aquilo, e nada
fazendo.
Fiquei com a imagem alguns dias a cabaça, e resolvi
fazer uma pergunta a todos;
Os índios no Brasil são Brasileiros ou Não?
Todos me responderam que sim!
Matar uma criança não é crença, pois nem o Pajé tem
uma afirmação que ele possa provar, afirmar que a criança não
tem alma por ser gêmea, desculpa, ignorância. Mas a pergunta
fica no ar por que, se o Pajé é tido como Brasileiro, ele
responde a constituição, e lá chamamos estas coisas de
homicídio, duplamente qualificado, e hediondo, o que a Funai
esta fazendo que não prendeu o pajé ainda?
Dizem que os índios não aceitam interferência de
Brancos!
Então eles não são Brasileiros?
Pois não sou a favor de manter o índio como ele era na
época do descobrimento, seria o mesmo que dizer que nós
brancos, teríamos de ser como em 1500, absurdo! O índio tem
direito a terra, mas esta terra é do país onde ele mora, e os
trazermos a modernidade, é parte de os fazer ir ao futuro, como
estão, eles não chegam no futuro, ou quer dizer, o filho do Pajé
chega ao futuro rico, o resto, morto!
E por ultimo, isto cria precedentes que não gostaria de
ver, imaginem eu ler a bíblia e autorizar que um pastor
aplicasse o velho testamento, matar pelas leis de Moises e não
o poder condenar por ser culto religioso!
Maria das Dores
Curitiba 10 de Outubro de 2010

109
Maria ainda estava trabalhando para a Gazeta,
ganhou destaque quando conseguiu incorporar o personagem
Gerson, ela a poucos dias disse que na nota de domingo,
incorporaria as criticas de Gerson, e isto fez com que o
proprietário do jornal oferecesse a ela um espaço mais digno
na pagina 7 de domingo, mas ela acordou o domingo na
prainha na Penha, olhando Gerson a cama;
— O que esta pensando?
— Como você vai voltar a vida?
— Sabe que teremos trabalho, mas os detalhes não vou
lhe contar!
— Por que?
— Em crimes é melhor não ter cúmplices!
— Sabe que Priscila mudou, estou a estranhando!
— Advogados bons sempre instruem bem!
— Não acredita que ela mudou?
— Não!
— Mas queria você lá comigo!
— E eu a queria aqui comigo, mas alguém tem de
trabalhar! — Fala Gerson sorrindo;
Os dois almoçaram juntos e ela subiu para Curitiba, o
agito político estava grande.
Em Curitiba Paulo olha para o Jornal sentado a
varanda do quarto e ouve ao celular;
— Daí amigo, vamos a guerra?
— Não entendi ainda o que vamos fazer Gerson!
— Vamos fundar nosso Jornal, o que mais!
— Acha certo isto?
— Paulo, não pedi nada de ilegal para você, ou pedi?
— Não, mas volta quando?
— Dia quinze deve estar tudo pronto, amigo!
Paulo desliga o celular e liga para Rosa, os dois marcam
para sair aquela tarde, ainda nublado e chuvoso, foram ver

110
um filme e quando na saída o senhor viu Priscila parar a frente
de Paulo e perguntar;
— Paulo, gostaria de conversar!
— Vamos a praça de alimentação e conversamos! —
Paulo;
— Algum problema? — Rosa;
Priscila não respondeu e sentaram-se a praça de
alimentação do Paladium Shopping, Paulo olhou a moça como
se perguntando o que estava acontecendo;
— Paulo, sei que foi você que falou que estivemos todos
juntos no sábado para a policia, e gostaria de saber por que?
— Não sei, estávamos todos bem, não falei nada
referente a brigas, apenas que estávamos nos divertindo, por
que?
— O advogado me disse que me intimaram!
— Priscila, se não teme, não deve, algo esta errado
nesta historia, mas não entendi ainda o que!
— Por que?
— Ele falou que iria para casa apenas trocar de roupa, e
tomaríamos um chope no calçadão naquele fim de dia!
— Acha que não foi suicídio?
— Não foi, mas parece que a policia esta a fim de fechar
o caso, apenas querendo mostrar serviço, pois teve gente
usando ainda a imagem do rapaz na TV, e a pressão política
foi para apurarem, passou o segundo turno, tudo volta ao
normal!
— Mas por que do agito?
— Sabe que cada um dos lados, esta jogando sujeira no
ventilador para não olharem seus rastros, mas nada que de
um único processo!
— Lhe indiciaram a depor?
— Sim, mas algum problema Priscila?
— Eu queria que evitasse falar demais!

111
Paulo olha para Rosa, esta entendeu que precisava ser a
sós, e levantou-se;
— Vou dar uma volta!
Priscila olha a moça sair e fala;
— Esta sempre foi esperta!
— Priscila, se mentir vou estar me envolvendo, sabe
disto!
— Sei, mas preciso de ajuda, seu amigo me tirou do
serio aquele dia!
— Imagino, ele sabe tirar as pessoas do serio!
— Mas preciso que fale o menos possível, estou disposta
a pagar por isto Paulo!
— Não vou me fazer de arrogado, sei que se omitir,
posso responder depois e precisar gastar o que ganhei em
advogado!
— Posso pedir para meu advogado lhe ligar?
— Evita telefone Priscila, época de eleição esta tudo
grampeado, sempre foi assim, pede para ele passar na minha
redação amanha fim do dia!
— Peço, mas não posso pagar muito!
— Priscila, meu silencio vai ser do tamanho do que tiver
na conta no dia anterior a meu depoimento, sabe que sou
pobre, e não quero que seu advogado inverta para cima de
mim!
— Vou falar com meu pai, uma ultima coisa, sabe por
que pediram exame de DNA do cadáver?
— Por que não deu tempo Priscila para tudo que
aconteceu!
— Não entendi?
— Ele não teve tempo de fazer tudo o que fez, para se
matar, ele não teve mais de uma hora entre sair andando da
repartição, comprar combustível que Maria disse não ter lá no
dia anterior, escrever uma despedida, afastar um armário, e
por fogo em seu corpo!

112
— Acham que pode não ser ele?
— Sim, e somente o DNA vai confirmar!
— Agora entendi o por que me chamar para depor,
estava pensando que era por homicídio, mas podem
desconfiar... — Priscila se cala e olha em volta — onde ele se
esconderia se não estivesse morto!
— Ele tem aquela casa aqui no litoral, já falei para a
policia, mas lá não passou ninguém, só isto, deram batida até
nos imóveis que ele passou para a ex!
— Então ele não esta em lugar conhecido?
— Eles vigiam até Maria, para ter idéia!
— Eu pensei que o caso era mais simples!
— Priscila, posso omitir a briga de vocês, sabe que terá
um preço por isto, pois sei que se ele aparece vivo, quem se
complica somos nós com as mentiras!
— Você trabalha em um jornal mais acostumado com
estas noticias, o que acha que pode ter sido!
— Não sei, mas descobriremos, mas mesmo isto não
encaixa, ele me ligou para tomarmos um Chope, ele não faria
isso se estivesse querendo armar sua própria morte!
— Acha que mesmo isto não encaixa!
— Ele pode ter sido morto, mas se foi, vai indicar pré
intenção, pois foi muito rápido e pensado para parecer
suicídio!
— Quer dizer que o DNA que vai indicar o caminho?
— Sim, mas mesmo ele pode dar indefinido!
— Por que?
— Não entendo disto, mas o delegado disse que o único
parente vivo que ele tem que se propôs a ceder material é
uma prima de terceiro grau, a que esta fazendo dinheiro com
a morte dele, e o filho!
— O filho não seria suficiente?
— Metade da cadeia, não a completa, mas não entendi
isto!

113
— E se der indefinido?
— Eles não terão como contestar que não era ele, mas
gostaria de saber se era meu amigo ou não!
Rosa volta a mesa e os assuntos mudam;

Marta liga para o delegado e fala;


— Delegado, podemos falar?
— Importante?
— Sim, mas não sei se deveria estar lhe comunicando e
não sei se não posso estar sendo monitorada!
— Motivo?
— Não sei se foi brincadeira, mas alguém afirma que
seqüestrou Gerson e que quer um milhão de reais que ele
tinha em uma conta de aplicação, que ignoro!
— Passo ai, me aguarde!
Marta olha para a porta, e não sabe o que fazer, estava
a seguir um plano maluco, que não sabia onde acabaria;
Meia hora depois o Delegado entra na casa;
— Descreve com calma o que aconteceu?
— Ligaram no telefone fixo, e disseram que Gerson foi
seqüestrado e que tenho 48 horas para sacar o dinheiro, mas
nem sei que dinheiro é este, e entram em contato!
— Algum barulho estranho?
— Ligação muito ruim, as vezes parecia que passava um
caminhão por traz, mas poderia ser outra coisa!
— Acha que pode ser verdade?
— Não sei, enterrei meu ex marido, mas nem tenho
idéia do que esta acontecendo!
O delegado pega os dados e volta para a delegacia e
chama dois investigadores, mas domingo não conseguiriam
levantar o que ele queria, mas ele fez uma serie de pedidos,
que os dois investigadores não entenderam muito o sentido;

114
Chip Contra Hipocrisia
Acho que antes de um deputado, um cidadão, ou um juiz
proferir coisas que dizem respeito aos demais, deveria se instalar
neles um chip que os proibissem mentir.
Porque?
Por que onde já se viu um deputado bater seu carro
alcoolizado, matar ocupantes de outro carro, e dizer que não
lembra, tenta culpar o semáforo, daqui a pouco ele vai acusar os
mortos, e pior, as pessoas ainda votam nestes seres!
Onde já se viu alguém se negar a doar sangue por que não
pode gerar provas contra ele mesmo! Acho que os Juízes que
compactuam com esta interpretação tem rabo preso! Pois isto é
interpretação! Daqui a pouco vão dizer que não podem nem citar
o nome dos acusados antes do fim do inquérito, nem no
julgamento para proteger os inocentes!
Hipocrisia, e pior, hipocrisia com assinatura de magistrados
que deveriam defender a lei por traz das decisões!
Vejo dois Brasil, o que não tem direito e o que tem
dinheiro, não é questão de cor, e sim, se tem ou não dinheiro, pois
quem tem dinheiro, consegue mil vantagens, quem não tem, vai
preso por roubar uma maça, coisa que facilmente se resolveria.
Estes dias fui fazer uma queixa na delegacia contra roubos
na Internet, o recado na parede da sala de espera, para salientar
que qualquer desacato a funcionário publico é crime, foi tão
gritante, que levantei e fui para casa, pois um delegado ou
escrevente me fala merda enquanto faço a reclamação e quem vai
preso sou eu!
Acho que sou igual perante a lei a funcionários públicos,
mesmo esta lei dizendo o contrario, e se eles podem nos desacatar
com atendimento de terceira, deveríamos poder no mínimo
reclamar, mas não, nós somos presos se o fizermos, eles, que
nosso salário paga seus salários, não podem ser nem chamados a
atenção que vira desacato!
Carla Travesso
Curitiba, 11 de Outubro de 2010

115
Na Delegacia de Homicídios o delegado Santos
chega ao trabalho e vê um dos investigadores que havia
pedido as coisas anteriores, era perto das 11 da manha;
— Novidades?
— Sim, algumas!
— Algumas, sinal que pegamos uma meada?
— O motivo pelo menos!
— Não entendi?
— Estou ainda verificando Delegado, mas o que tenho é
uma conta aberta aqui em Curitiba no dia seguinte a morte do
meliante, e esta conta, recebeu perto deste milhão de reais,
nestes últimos dias, vindos do Jornal Gazeta Popular!
— Esta dizendo que alguém esta depositando, mas por
que?
— Não entendi isto, mas são pequenos depósitos, mas
que enchem a conta, o gerente disse que em 24 horas
teremos um milhão de reais lá!
— E as assinaturas disto?
— A conta foi aberta no dia anterior a morte, e o
funcionário não aparece no trabalho desde o dia!
— Sumido, pode ser nosso homem?
— Pode, ele era bom em sistemas, tem 5 processos na
Delegacia Contra Crimes na Internet contra este cara!
— Mas por que vieram a afirmar que o falecido estava
vivo?
— Se precisam que alguém tire ele de lá, e sabem que a
greve de Parte da Policia esta preste a acabar, precisam tirar
antes do DNA, mas ainda não entendi como este dinheiro esta
sendo desviado!
— Verifica na empresa!
— Plínio foi verificar senhor!
— O que mas tem ai?
— A foto e nome do funcionário desaparecido do Banco!

116
— Vê se ele não esta por perto, sabe de onde veio a
ligação para a senhora!
— Rodoviária de Curitiba, mas o telefone dela esta
realmente grampeado delegado!
— Alguém profissional!
— Equipamento de ultima geração senhor!
O delegado viu os últimos relatórios, e o que era um
caso prestes a fechar sem nada para mexer começa a tomar a
mesa;

Na Gazeta o investigador pede para falar com Priscila


que estranha;
— Algum problema investigador?
Ele passa a determinação judicial para ela que lê e
pergunta;
— Por que disto Investigador?
— Se estivéssemos nos ajudando não precisaríamos
disto, mas não tenho como abrir o por que?
— Motivo?
— Sigilo do inquérito!
— Mas aqui esta um pedido para lhe dar acesso a nosso
sistema de dados, não gosto disto!
— Prefere que o juiz determine a apreensão, paramos
seu jornal!
Priscila viu que era serio;
— Tem motivo por traz disto ou apenas nos
amedrontando!
— Não amedrontamos ninguém, senhorita!
Dois rapazes estavam as costas do Investigador e assim
que a moça mostrou uma mesa, eles sentaram—se e
começaram a busca que pretendiam deter;
Os rapazes começaram a acessar os dados anotar as
coisas, imprimiram algumas folhas e se retiraram, era fim do

117
dia quando o investigador e os dois especialistas chegaram a
delegacia;
— O que descobriu?
— O rompo esta sendo feito em pequenos volumes, 2%
dos salários, acréscimo de 4% em todos os pagamentos
eletrônicos, e um desvio de uma conta de pagamento e giro
do Jornal!
— Tem como saber quem?
— Temos a chave que esta sendo usada para isto
senhor!
— A do morto?
— Não, o morto não tinha acesso a isto, estão
acessando pela chave de Rômulo Balsami, gerente geral do
Jornal!
— E algo mais?
— Parecem existir outras 3 contas sendo enchidas, mas
teremos de falar com 3 bancos, para saber a quem
pertencem!
— Esta a dizer que são 4 saídas!
— Sim, só não sei quem ainda, e não falamos nada!
— Começo a achar que o falecido esta vivo, em algum
lugar!
— Por que? — O investigador Plínio;
— Por que lembra que a filha do dono brigou com ele,
será que ele não descobriu algo, ele era daqueles que não
fechava a boca!
— Acha que ele faz parte?
— Não sei, ou não quis se deixar seduzir pela dona do
jornal que estava roubando o pai, só suposição, nada
concreto!
— O que quer que façamos!
— Não sei, verifique as contas de amanha, e vamos ver
o que fazemos!
Reunirão dados e saíram para conversar;

118
Onde esta a abundancia?
Todo dia vejo as coisas subindo de preço, mas antes se
falava de inflação, agora se ignora a mesma, a cesta básica esta
próxima a um preço aceitável, mas e o resto, nos não comemos
feijão sem tempero, não comemos arroz puro.
Acho que as coisas estão muito caras, de casa a
transporte, mas no meio da eleição ninguém reclama como se o
Brasil estivesse perfeito, não está!
Quando reclamo falam que só sei fazer isto!
Vocês não conheceram um verdadeiro reclamante, pois
morreu em mais um índice de violência sem explicação, as
pessoas estão mais violentas, se matando no transito, como
Gerson falava, este é o país onde todos querem levar vantagem,
mesmo que a vantagem de uns cause câncer nelas mesmas.
Lei de Gerson, gostamos de levar vantagem em tudo, e
por que uma propaganda nos vende cigarro morremos de
câncer.
Espertos que nós somos, não?
Maria das Dores
Curitiba, 12 de Outubro de 2010

119
Gerson em uma casa na Penha, Santa Catarina,
termina de lavar o piso, de limpar a casa perfeitamente, põem
uma roupa esfarrapada, pega o carro e sai em direção do
Paraná;

Em Curitiba o delegado vai com o investigador nos 3


bancos, havia algo errado, mas não sabiam o que era, e as
demais contas estavam vazias, houve uma transferência no
dia anterior via sistema para 3 outras contas, e o delegado
teria de ter permissão judicial para ter acesso;
— Que merda, desconfiaram e esvaziaram tudo!
— Mas como, viu que as contas estão em nome do
morto!
— Conseguem rastrear de onde foi usado o
computador?
— Sim, pedi para o pessoal da Civil de Santa Catarina
dar uma olhada Delegado, praia da Penha!
— Sabe o endereço?
— Sim, mas não temos ainda o que liga as coisas!
— Consegue uma autorização do Juiz, alguém esta
mexendo em dinheiro de alguém morto, temos de saber
quem!
O investigador sai e o delegado adentra a sala dele e vê
Marta sentada o esperando;
— Problemas?
A moça passa para o investigador uma foto, e fala;
— Me ligaram hoje cedo, querem o dinheiro!
O delegado pega a foto, Gerson sentado em uma
cadeira, por traz um plástico preto, o jornal da Gazeta do dia
anterior, olha para a moça e fala;
— Ele parece ter sobrevivido, mas a pergunta, de quem
é o corpo?
— Não sei delegado, não sei nem o que fazer, não sei
nem do que eles estão falando!

120
— Senhora, o que vou falar não sai desta porta!
— Fala!
— Alguém grampeou o seu telefone, mas esta mesma
pessoa esta desviando um dinheiro alto para a conta de seu
ex marido, hoje deve terminar de ter o milhão de reais que
eles pediram!
— Então Gerson tinha dinheiro? — Marta;
— Não, mas alguém abriu uma conta no nome dele no
dia anterior a morte dele em um banco e esta conta desde a
morte dele esta enchendo!
— E o que faço?
— Vai ter de confiar senhora!
— Tenho alternativa?
— Não, e nem teria mais como sacar o dinheiro, esta
sobre judice desde a morte! — Mentiu o Delegado;
— O que faço?
— Vai para casa, marca com eles, estamos grampeando
o grampo deles, então saberemos quando eles entrarem em
contato!
— Mas e o dinheiro?
— Um rapaz vai amanha cedo a sua casa, e vão juntos
ao banco e sairão de lá com uma mochila!
— Não é arriscado?
— Por um milhão, não vou dizer que não!
Marta sai dali, ela, Maria e Gerson não se falavam a 3
dias, e Marta sabia que não se falariam até ele reaparecer,
estava preocupada;
O Investigador entra na sala e fala;
— Quem estava na casa, saiu de lá ontem a noite!
— Eles estão nos acompanhando os passos ou é só
impressão!
— Não sei senhor, mas temos o nome das 3 contas que
foram transferidas!
— Menos mal, de quem?
121
— Do funcionário, Dário Damaceno, Frank Ronamo,
herdeiro do Diário Vespertino e ex chefe de Gerson, e Rômulo
Balsami!
— Quanto esta nestas contas?
— Outro milhão!
— Então quem mais esta no esquema?
— Não sei, mas a idéia pelo jeito foi atravessada por
alguém, pois estava olhando os dados, no dia seguinte da
morte aparente de Gerson, o sistema começa a jogar mais
para a conta do morto que para os outros 3 juntos!
— Alguém esta roubando os 3, é o que esta dizendo?
— Sim!
— Consegue ordem de prisão para os 3!
— Sabe que será um escândalo!
— Imagino!
A policia se agita e Marta olha para Frank na redação e
pergunta;
— Alguma noticia diferente?
— Não Marta, quando vai me procurar de volta!
— Desculpe, somente quando se perde as vezes se tem
a noção do que se perdeu!
— Tem de superar, amor, ele já esta a discutir com
deus!
Marta desviou os olhos, era fim de tarde e vê uma leva
de policiais chegarem ao jornal;
— Senhor Frank Romano?
— Sim!
— Esta preso, qualquer coisa que falar pode e será
usado contra o senhor!
O senhor se assusta;
— O que esta acontecendo? — Marta;
O policial não respondeu, apresentou a determinação e
se viu o pai dele vir para a sala e perguntar;
— O que esta acontecendo?
122
O policial esticou a determinação do juiz e o senhor
falou;
— Deve estar tendo um engano, lhe tiro de lá ainda hoje
filho!
Ao mesmo tempo se prendia Rômulo na sede da Gazeta
e a pergunta que se fazia, era onde estaria o rapaz;

123
Arbitrariedade de Sentimentos
Tivemos um diretor do jornal preso, e diante dos demais
a policia nem deu satisfação, apenas o prendeu;
As vezes sentimos como se fossemos perseguidos ainda,
e ao ver um colega de trabalho ser arrastado para fora, penso
em como a humilhação e degrado da imagem, é algo que não
temos como concertar, como um pai de família pode chegar em
casa e explicar para os filhos que alguém que não fora acusado
antes, fora preso simplesmente, como explicar para o filho que
todos somos inocentes até se prove o contrario, ou um juiz
decidir.
Mas por outro lado, como um criminoso pode estar ao
nosso lado, e não vermos, a policia investiga a alguns dias o
desvio de recursos do Jornal para uma conta particular, falam
nestas horas em milhões como sendo trocado, e fico a pensar,
como alguém que parece amigo, companheiro, preocupado
com os nossos problemas numa hora é o amigo, na outra, o
estelionatário que rouba um milhão de reais!
Temo as vezes ser injusta, como posso eu acusar alguém,
que para mim era um pai na redação. Mas como posso também
ignorar que ele tem uma conta bancaria com 330 mil reais
desviados do Jornal, um esquema que tendia a desviar mais de
5 milhões se ficasse dois meses ativo!
Maria das Dores
Curitiba, 13 de Outubro de 2010

124
Amanheceu em Curitiba com um rapaz vindo
acompanhar Marta a um banco, e a moça estranhou, olhou
em volta, digna de Oscar a interpretação, até o investigador
ficou tenso, mas encheram a sacola e foram a casa da moça,
Era por volta do meio dia quando o telefone da casa
tocou e ele atendeu, com a voz tremula, sabia que estava
mentindo, isto fez parecer o medo real, era real, se desse
errado, ela se daria mal;
— Sim!
— Ouça apenas, em meia hora, na praça Osório, do lado
do Mercadorama tem um telefone, aguarde lá!
— Mas.. — a ligação já havia caído, o rapaz fez sinal
para ela ter calma, e falou;
— Tem de manter a calma, vamos estar lá, mas com
calma chegamos lá!
A moça saiu da casa e foi a praça, olhava em volta, com
aquela mochila as costas quando o telefone tocou;
— Entra no carro que esta parando — uma pausa —
agora, a sua frente!
Marta entrou no carro, vidros escuros, um opala antigo,
e este saiu queimando pneu, a moça foi deixada meia quadra
dali;
A policia a recolhe e ela pergunta;
— O que farão com ele agora?
O investigador não falou, não foi pago o seqüestro, e a
presença da policia ficou evidente, tentaram seguir o carro
mas o acharam abandonado com a mochila e tudo revirado a
20 quadras dali, aprenderam para verificação; Marta foi
conduzida a delegacia e o delegado a olhou; — Não parece
preocupada!
Marta não respondeu, estava em cacos, mas estava uma
pilha, ela olhou as mãos tremulas e falou;
— Me chama um advogado!
— Não a acusamos de nada senhora!

125
— Mas vou o acusar, formalmente de tentativa de
assassinato, meu assassinato e de Gerson, pois seu plano esta
provavelmente garantindo a morte dele!
— Sabe que isto é desacato?
— Não, não estou lhe desacatando, estou dizendo que
vou lhe processar Delegado, pois eu poderia estar morta, se
eles vissem que não tinha dinheiro antes de me liberar,
provavelmente é o que aconteceria!
— Mas não aconteceu!
— E o que vai acontecer com Gerson agora!
O delegado se calou, o investigador entra pela porta e
fala;
— Nada senhor, nem pista, usaram somente telefones
públicos, e agora sabem que estamos no caso!
— Tira esta moça daqui antes que a prenda por
desacato!
O investigador olha para o delegado, não iria discutir ali,
mas obvio que nada fora planejado, o delegado não esperava
por um morto que estivesse vivo, e sim, sua participação, mas
e agora, se o rapaz fosse inocente, o que aconteceria.
O investigador conduziu a moça a porta, estava quase
entrando quando viu a moça pegar um táxi e se afastar;
— O que aconteceu?
— Ela disse que ia me processar por tentativa de
assassinato!
— Tem de relevar Delegado, ela estava tensa e sem o
dinheiro, se o tivesse, também estaria, quando ela entrou no
veiculo, pensei realmente que a tínhamos perdido!
— A idiota não sabia que não era para entrar!
— Falamos para ela fazer o que pedissem, sabe disto
delegado!
— Como eles saíram tão fácil do centro, eu demoro
horas para sair do centro e eles saem em 15 minutos!
— Alguém contou os sinais, e cronometrou a entrada
dela e a saída, foi feito por profissional senhor!
126
— Odeio quando pareço principiante nisto Plínio, e ela
tem razão, o que faremos se o rapaz parecer morto!
— Não sei senhor, vou dar uma ordem de procura, até
então ninguém estava o procurando, ou um cativeiro, vamos
tentar, não podemos desistir!
— Faça isto!

127
Algo Impensável
Estava a falar com Marta Boaventura, e ela me falou algo
impensável, Gerson Travesso, até ontem estava vivo, ela estava
irritada, estava decepcionada, foi induzida a fazer uma
pagamento de resgate sem dinheiro pela policia local, ela
chorava, pois ela se considerava culpada pela segunda morte de
Gerson.
Venho a publico pedir uma coisa, se conhece algum
ponto que possa ter um cativeiro, que possa ter alguém
escondido, que possa vir a servir para isto, ligue para o 190, e
avise, pode estar ajudando a salvar um encrenqueiro querido
por muitos, odiados por outros, mas que esta preso em algum
lugar, nem sei se no estado, mas se conhece um lugar destes,
ligue, é anônimo mesmo.
Peço também a quem o seqüestrou, de uma chance para
que tenhamos ele de novo, este insuportável ser, este ser que
nos faz odiar e amar com a mesma freqüência.
Gerson, agüenta, vamos o achar!
Maria das Dores
Curitiba, 14 de Outubro de 2010

128
A noticia do estar seqüestrado de Gerson Travesso
confirmou sem o exame de DNA que ele estava vivo, mas
vinha a pergunta, de quem era o corpo, o que acontecera?
O delegado tentou falar com Marta e não conseguiu, a
moça não estava em casa e não atendia o celular quando ele
ligava;
— Ela não nos atende, vão a buscar no Jornal!
— Senhor, não é uma boa idéia! — Plínio
— Sei que não é, mas o que posso fazer, falei demais
ontem, ela falou de mais depois, agora não temos um caso,
temos milhões de pessoas perguntando quem era o morto, e a
assembleia para volta ao trabalho no sindicato é só hoje a
noite!
Marta chega a sala de seu superior na outra Gazeta, e
ouve;
— Esta bem Roseli?
— Não sei, hoje queria sumir, acho que fiz tudo errado!
— Pelo jeito passou por algo pesado ontem?
— Sim, e no final, depois de eu ter encarado, um
delegado filha da puta, desculpa o termo, mas ele ainda vira
para mim e induz que eu não estava preocupada, estava
tremendo e o delegado querendo jogar em cima de mim o
erro dele!
— Fala, desabafar, faz bem!
— Chorei a noite, acabei falando de mais para a ultima
namorada de Gerson, as vezes esquecemos que somos todos
deste ramo e olha no que deu?
— O presidente do Jornal pediu para lhe dar apoio, pois
algo esta errado, o delegado fez duas coisas para induzir a
morte do rapaz, e isto ou é incompetência demais ou
participação!
— Parece incompetência mesmo!
— Mas tem de ver que ele prendeu dois dos 3
envolvidos no dia anterior, alertando que a policia estava no
caso, e depois a jogou em uma operação mal elaborada!
129
Marta silenciou, ficou a pensar como estaria Gerson,
estava a se preocupar, mas ela estava bem, nada fora
encontrado, mas não entendia ainda os planos de Gerson;
A policia começa a receber denuncias de cativeiros e
começa a estourar um atrás do outro, mais de 12 libertos e
nada de Gerson.
Enquanto a policia prendia pessoas por um lado,
achadas em locais de cativeiro, no outro extremo, advogados
conseguiam a liberdade de Frank, mas como o jornal Gazeta
querendo que Rômulo pagasse o dinheiro desviado, este não
conseguiu a revogação da prisão preventiva;
O dia se arrastava quando Marta comparece com um
advogado diante do Delegado;
O advogado se apresentou e Delegado olhou a moça;
— Queria lhe pedir desculpas, mas ainda preciso de sua
ajuda!
Marta olha como se esperasse que ele terminasse de
falar;
— Tenho uma afirmação e não sei o que fazer com ela,
mas precisava lhe perguntar uma coisa, e não sei como!
— Pergunta de uma vez delegado!
— Qual o motivo da separação de você e de Gerson!
Marta olha para o advogado, depois para o Delegado;
— Se não quiser responder tudo bem! — Advogado;
— É que temos uma declaração do sindico dele, que ele
recebia as vezes um rapaz em casa, sei que é estranho falar
isto, mas este rapaz, pode ser o corpo que estava a cama, o
mesmo que tem mais de 300 mil reais em uma conta,
desviado da Gazeta!
Marta escolhe as palavras;
— Não sei como falar isto Delegado, Gerson sempre foi
Bi!
— Bi? — Delegado!
— Bissexual, ele não gostava apenas de mulheres, e
nem apenas de homens, ele não se detinha a estas coisas!
130
— Então seu ex poderia ter um namorado?
— Não posso afirmar isto delegado!
O investigador entra pela porta e o delegado o olha;
— O que houve Plínio?
— Aquele Redator, Paulo, quer lhe falar!
— Manda ele entrar!
Paulo entra e cumprimenta Marta e depois olha para o
delegado;
— Alguma coisa em especial?
— Uma coisa que não sei se posso falar assim, com
tanta gente ouvindo?
O Delegado agradece Marta e a olha sair;
— Paulo, sabia que seu amigo era homossexual?
— Todos sabiam que ele era Bissexual Delegado, esta
em todos os relatórios referente a ele! — O Investigador que
entrava com Paulo;
O delegado olha para Paulo;
— Sim, esta em meu relatório, por que delegado?
O delegado ficou pensando em quanto passou
desapercebido e pergunta;
— Sabe se ele tinha algum namorado ultimamente?
— Gerson não era de se envolver Delegado, saia as
vezes, mas não era de ter namorados!
— Certo, o que veio falar?
— Que Domingo, estava a passear no shopping e fui
cercado para uma conversa por Priscila, e ela mostrou
interesse em que não falasse muito, me induziu a omitir
muitas coisas se fosse chamado a depor, mas como não
achava que Gerson pudesse estar vivo, achei que ela estava
falando da briga deles, e depois fiquei com aquilo a mente um
bom tempo, mas depois de tudo que aconteceu, ela me
depositou hoje um dinheiro na conta para, segundo ela,
comprar meu silencio, mas não entendo o que sei que ela não
quer que fale, mas deve ter algo!

131
— Interessante, sabe que provavelmente seu amigo esta
encrencado se for um namorado que apareceu morto em sua
cama!
— Ele nunca temeu isto senhor, ele em si só atraia
confusão!
— Você na declaração anterior disse que os dois
estavam juntos, mas pelo jeito mais gente estava lá?
— Sim, ele não era de fazer festas pela metade, então
sempre tinha gente demais e responsabilidade de menos!
— Sabe o motivo pelo qual ele brigou com Priscila?
— Sim, ela estava tentando convencer Marta Boaventura
a ir ao jornal dela, e no meio disto ele conseguiu uma vaga
para ela na Gazeta do Povo!
— Esta a dizer que a briga deles é apenas para evitar
que Marta fosse trabalhar onde ele estava trabalhando?
— Sim, por que?
— Por que se tudo tem haver com o local onde ele
estava trabalhando, pode ser que a única coisa que não
estava nos planos era ela o despedir!
— Não sei senhor, não trabalho lá, mas o que for não
parece ser o que estão falando!
— Por que?
— Priscila depositou 500 mil em minha conta para que
ficasse quieto, então o rombo teria de ser maior!
— Este seu amigo, sabe se ele estava com problemas
financeiros?
— Não, ele tirou no mês passado 4 vezes mais que eu
Delegado!
— Então para ele 500 mil não seria problema?
— Ele sempre omitiu números, ele não saia falando
demais, mas se ele falou em 22 mil no ultimo mês, ele com
certeza tirou mais, isto dá mais de 250 ao ano, não se sujaria
por 300 contos!
— Mas a ganância as vezes cresce os olhos!

132
— Verdade, mas sobre isto somente ele, se for
encontrado, pode lhe esclarecer!
Paulo se despediu e o Delegado virou—se para o
investigador e pergunta;
— Consegue uma lista de bens da família da moça, casa
afastada, rua sem muito ou nenhum movimento, ela pode
estar por traz disto!
— Posso mandar seguir este rapaz também?
— Sim, não é normal alguém querer ajudar, sabe disto!
O investigador sai pela porta e aciona os demais;
Paulo vai a agencia bancaria e transfere os recursos para
uma poupança, não deixaria na conta, e volta a redação, tinha
os últimos acertos da edição do dia seguinte;

133
Agradecimento
Gostaria de agradecer o povo deste estado, com a sua
ajuda, a policia estourou ontem mais de 12 cativeiros, não
achou ainda nosso colega, mas foram 14 pessoas libertas, 32
presas em flagrante.
Por isto estou agradecendo, mas quero reiterar o pedido
para se conhecer algum lugar suspeito, denuncie, são ações
assim que podem deixar você seguro no futuro, são ações
assim que o faz especial, mesmo que no silencio de sua casa.
Gostaria de agradecer a policia que agiu com rapidez a
denuncias e trouxe alivio a muitas famílias que tinham os seus
entes queridos presos por marginais;
Mas peço também a você, que de alguma forma acredita
em justiça, em Deus, e que Deus nos julga por nossas ações, a
ajudar a melhorar este país, vamos as ruas dizer um basta a
violência, vamos nos solidarizar com os policiais que arriscam
suas vidas para que tenhamos justiça.
Maria das Dores
Curitiba, 15 de Outubro de 2010

134
Em uma estradinha de terra que ligava Porto de
Cima, em Morretes a estação de trem de mesmo nome, dois
meninos estavam a descer como todo dia em direção a Porto
de Cima, e ouvem um barulho em um galpão abandonado, as
vezes brincavam ali, e os dois resolvem averiguar e ouvem
uma voz rouca gritar da parte interna;
— Socorro!
Os meninos entram no barracão que já fora a muito
desativado, e olham um buraco ao chão coberto com tabuas,
do lado de cima, água, algumas coisas para comida, uma
bagunça com se tivessem saído as pressas.
Os dois ouvem o pedido de socorro novamente e um
deles olha por uma fresta e vê um senhor com barba por fazer,
e pergunta;
— Como caiu ai!
— Conseguem tirar a madeira?
— Não, esta bem pregada! — Um dos meninos;
— Estou aqui a não sei quanto tempo, se puderem
chamar ajuda! — Fala o senhor em tom muito carente;
— Pedro, desce lá e chama alguém!
— Vai ficar aqui sozinho!
— Sabe que não tem perigo por aqui!
O menino desce rapidamente pela estradinha e o outro
vendo uns salgadinhos come, ignorando que quem estava no
buraco poderia estar a dias sem comer;
15 minutos o menino chega a Porto de Cima e na
primeira pousada fala com o senhor Rodrigues que chama
alguns para ajudar e antes de saírem chamam a policia;
O senhor pega a caminhonete e sobe por aquela estrada
estreita, estava barrenta pois estavam em meio a um ano
muito úmido, o senhor parou no inicio da trilha e foram ao
barracão, os senhores viram que era um cativeiro, fizeram
uma alavanca e desprenderam uma das pontas, e ajudaram a
tirar o senhor de lá;
— Tudo bem senhor?
135
— Agora esta, tem algo para beber, estou com muita
sede!
— Só toma de vagar, quanto tempo esta ai?
— Não sei, até ontem estava coberto com uma lona, não
conseguia saber se era dia ou noite!
Os demais viram o carro da policia chegar e um vir a
frente e olhar para Roberto que comia a bolacha;
— Estão comendo as provas meninos!
O policial olhou para o senhor e perguntou;
— Nome?
— Gerson Rosa, mais conhecido por Gerson Travesso!
Os rapazes cochicharam entre eles e o gerente da
pousada falou;
— O repórter que foi dado como morto e depois como
seqüestrado!
Gerson tomava bem lentamente a água, fez sentir dor
no estomago quando dos primeiros goles, e o mesmo senhor
alcançou uma bolacha para ele, estava magro, sujo, barba por
fazer a alguns dias, era ele apenas um pouco mais relaxado;
Os policiais o conduziram a Morretes, ao posto de
atendimento e foi deitado em uma maca e foram iniciados
exames;

Em Curitiba o Delegado estava a interrogar um dos


rapazes do banco, se vira quem havia feito a conta quando o
Investigador veio a porta e falou;
— Acharam Gerson num buraco perto de Porto de Cima!
— Bem?
— Enterrado em um buraco, pelo jeito sem comer a
alguns dias!
— Vamos lá, segura a noticia!
— Já vazou, todos estão mandando gente para lá!
— Então manda isolarem a área logo, vamos perder
tudo assim!
136
— Já estão descendo, vim apenas o pegar para
descermos!
Os jornais mandaram os seus repórteres e seus
fotógrafos, Gerson saiu em um canto pequeno na maioria,
mas o buraco foi destaque em vários ângulos.
O delegado chega a Gerson, estava em uma maca,
agora lavado e com uma roupa do posto de saúde, estava
sedado e o delegado só o viu dormindo e foi ao medico;
— O senhor é o responsável?
— Sim!
— Qual o estado do senhor ali?
— Fraco, desidratado, parece estar com inicio de anemia,
mas bem no inicio, escoriações pelo corpo, parece que foi
jogado em um ralador!
— Ele pode falar senhor?
— Se puderem deixar ele se recuperar um pouco, pois
ele parece ter sido forte em resistir, ele nem sabe em que dia
está!
— Como não? — Um Investigador;
— Pelo que os policiais que o trouxeram falaram, ele
passou em um buraco, a mais de 30 graus, coberto por 10
dias, ele esta assado, pense em você passar 10 dias seguidos
sem comer e beber direito em uma sauna!
— E quem o achou?
— Dois meninos que passavam pela região, e ouvirão
um barulho e um pedido de socorro!
O delegado olha o investigador e vão tomar os
depoimentos, o delegado parecia irritado e depois de muitos
depoimentos o investigador pergunta;
— O que o irrita Delegado?
— Eu jurava que ele estava envolvido, mas olha o
estado que o achamos, tudo me indicava que ele tinha parte!
— Acha que não tem como?

137
— Ou ele é maluco de se enterrar por 10 dias, viu o que
o senhor falou, 3 pessoas para forçar por fora a madeira para
abrir o buraco!
— Verdade, os meninos disseram que ele estava rouco
quando o acharam!
— Gritando sem saber onde estava, vamos lá dar uma
olhada, mas pelo jeito, não teremos nada;

O delegado olhou o buraco, mal cabia uma pessoa de pé,


olhou em volta, imaginou o lugar em um dia normal, longe de
tudo, a estradinha não tinha mais do que duas passagem de
carro por dia, um lugar bem isolado, se ele não tivesse força
para gritar poderiam encontrar somente o corpo, quando
começasse a cheirar mal;
A informação de que Gerson foi encontrado fez algumas
pessoas irem a Morretes, entre elas, Paulo, Marta, Maria, de
quebra, Priscila e Rosa, e até Frank foi ver como ele estava;
Marta sorriu ao ver Gerson, e Maria ao seu lado falou;
— Fez a gente ir a seu enterro!
Ele olhou como se não soubesse o que estavam falando,
o policial as costas estava a olhar para elas;
— Desculpa, mas como alguém se atreve a se passar
por mim, até nestas horas!
Maria o abraça e Marta olha para Priscila e pergunta;
— Não entendi o que faz aqui!
— Tenho de falar com ele!
— Não vê que não é a hora Priscila?
— Marta, ele pode estar encrencado se não falar com
ele!
Gerson olhou para Marta e falou;
— Tudo bem Roseli, tudo bem!
Priscila estranhou o tom de voz, estava menos agressivo,
menos Gerson Travesso;
— Acha que esta bem para falar sobre isto?

138
— Tenho, daqui a pouco terei alta e mergulharei em
algo que desconheço, ouviu muito nas ultimas horas, mas não
sei como me portar ainda!
Maria abraça Marta e as duas saem pela porta, ficando
ali Priscila diante de Gerson;
— O que mudou Priscila?
A moça olha serio para Gerson;
— Você esta diferente, está bem?
— Sim, mas o que a preocupa Priscila!
— Fui indiciada a depor sobre a sua morte, e comprei o
silencio de seu amigo, Paulo, mas alguém morreu em seu
apartamento, e sabe que vão lhe pressionar sobre isto!
— Deve ter sido o Jéferson!
— Você e homossexual? — Priscila;
Gerson sorriu, da forma matreira dele, pareceu recuar
na imaginação;
— Não sei por que vocês sempre discriminam! Discurso
um, pratica outra!
— Mas você me enganou direitinho!
— Acho que as pessoas não entendem o que querem,
mas o que do que falou vai me complicar?
— A acusação vai jogar você como autor da idéia,
podem ter lhe tirado dos planos, mas vai pagar pela idéia!
— Nem sei da idéia ainda, mas tudo bem, nunca fui
inocente mesmo!
— Acha que se livra?
— Priscila, estou tentando ainda entender o que
aconteceu, mas sei que vou me enrolar com isto, mas coautor
de algo não é grande coisa!
— Mas serio que é homo?
— Não, sou Bi, mas para vocês é tudo igual!
— Maria sabe?
— Se você estivesse acordada no fim da festa de sábado
saberia, mas tudo bem!
139
— Você ficou com meu primo?
Gerson sorriu e não falou nada, mas Priscila ficou a
lembrar dos sorrisos do primo no dia seguinte, não pensou
que fora algo normal, mas não agüentou o pique, dormiu;
— E quando o delegado vem lhe falar?
— Não sei, nem advogado tenho ainda!
— Acha que podemos ter um acordo de conteúdo do
que vamos falar?
— Por que não, embora ainda esteja me inteirando do
assunto!
— Vai me cobrar por isto?
— Não, não é o meu estilo, sabe que não fui a seu jornal
pelo salário, até hoje não entendo a sua agressividade
daquele dia!
— Você subverteu quem coloquei sobre você, qualquer
um teria recusado aquela oferta, você não a recusou, alguém
que mesmo quando parece frágil, tenho de tomar cuidado!
— Ainda não me conhece Priscila, mas tudo bem!
— Como você conseguiu subverter Rômulo?
— Eu? Não entendi a pergunta, ele não fazia meu tipo!
— Fala sério, ou acha que não sei que só pode ter sido
você a convencer ele a entrar numa furada destas!
Gerson sorriu e falou;
— Priscila, esta me tomando por alguém frágil, estou,
mas sofrer na pele não deixa a cabeça lesa, apenas o corpo!
— E mesmo assim falou que poderia fazer um acordo de
conteúdo!
Gerson olhou a porta e viu dois senhores entrarem;
— Senhor Gerson Rosa?
— Sim!
O delegado chega a ele e mostra a credencial;
— Em que posso ajudar?
— Nos informar quem estaria na cama do senhor, seria
uma boa idéia!
140
— Não sei senhor, estava a falar com Priscila, do meu
apartamento apenas duas pessoas tinham a chave, Jéferson e
Dário, mas não acredito que Dário fosse lá!
— Certo, mas achamos que o corpo é de Dário!
— Por que? — Gerson;
— Ele esta desaparecido desde o dia de sua suposta
morte!
— Seria uma perda, um bom menino!
— Ele esta indiciado por roubo, e você também, senhor!
— Roubei quem? Pois não vejo como posso ter roubado
alguém!
— Vai ser indiciado a comparecer, mas não o estamos
acusando formalmente ainda, senhor Gerson Rosa!
Gerson sorriu e falou;
— Amanha devo estar melhor segundo o medico, acho
que já posso ser crucificado!
— Acha engraçado, mas sabemos que sua amiga ai,
pagou para seu amiguinho lá fora para terem uma versão
igual, mas quero saber como você vai explicar o que
aconteceu? — Fala o delegado encarando o rapaz a cama;
— Eu não sei tudo ainda, mas como disse, uma versão
igual, por mais que não seja real, pode livrar alguns!
O delegado olhou serio;
— Mentir diante da justiça é crime senhor Gerson!
— Não disse que mentiria, disse que falarei apenas o
que não incrimine meus amigos, o resto, descubram, sua
função!
— Pelo jeito esta melhorando, mas me alertaram que a
arrogância viria de você!
Gerson sorriu, viu o Delegado se retirar e olhou aos
olhos de Priscila;
— Espero que não tenha sido muito dinheiro transferido?
Priscila riu sem graça, e ouviu;
— Vou ter de me inteirar do caso, antes de falar algo!
141
— Acha que se livra?
— Priscila, eu não sei o que aconteceu, mas algo me diz
que você esta envolvida, mas não é lugar para falarmos disto!
Gerson olhava o policial a porta, sempre se fazendo de
desinteiriçado, estes eram os mais perigosos;
Marta voltou ao quarto e perguntou;
— Acertaram algo?
— Não, acho que seu ex não esta entendendo a
gravidade do problema!
— Não é isto, é que ele é mais um suicidada da cidade!
Gerson sorriu e viu o medico entrar e o aplicar um
sedativo e foi tomado pelo sono;
Frank tentava manter-se perto de Marta, mas ela não
estava muito receptiva, ou estava querendo dar um gelo no
senhor;

142
Agradecimento
Gostaria de Agradecer a toda a sociedade que se
mobilizou estes dias para ajudar a um companheiro de
profissão, gostaria de agradecer a policia, a duas crianças que
acharam o cativeiro, e todos os que ligaram para o 190 e
fizeram deste estado melhor.
Mas não é para parar ai, continuem denunciando,
somente assim, a sociedade se livra de pedófilos, traficantes,
pseudo pais de família, que são verdadeiros carrascos, e
seqüestradores, nossa função é ajudar com o pouco que
podemos, fazendo deste pais um lugar melhor para viver, um
lugar mais justo, e com muito pouco espaço para este tipo de
crime;
Gostaria de dar as boas vindas a nosso amigo e ser
polemico, Gerson Travesso, que tem o meu respeito por fazer
de sua profissão uma missão.
E não esqueçam, viram algo suspeito, relatem, o melhor
vigia das coisas da casa, somos nós, então vamos vigiar nossa
cidade com mais afinco, assim ela não se perdera em mãos
erradas;
Maria das Dores
Curitiba, 16 de Outubro de 2010

143
Amanheceu mais um dia, e Gerson ganhou alta, mas teria
de ficar em repouso, Maria o levou para sua casa já que o
apartamento ainda estava sem cama, uma bagunça que
somente ele poderia por em dia, Gerson olhou pela janela e
olhou Maria o abraçar e perguntou;
— Acha que engoliram que eu era bi?
— Acho que você é Bi, só não tem preferência por
homens, mas vi você em ação outro dia!
Gerson sorriu, e olhou a praça Rui Barbosa ao fundo, por
cima da Rua da Cidadania Central, pensou em o que faria, e
ligou para a policia, e se apresentou diante do Delegado;
— Gerson Rosa, o que o traz aqui?
— Sei que sou acusado, queria apenas saber do que,
para saber se contrato um advogado, ou não!
— De Desvio e Roubo de recursos da Gazeta Popular e
formação de quadrilha!
Gerson olhou para o delegado e perguntou;
— Estou com prisão decretada, queria saber onde me
apresento!
O Delegado sabia que a prisão dele fora decretada com
a dos demais envolvidos, mas não esperava o rapaz a sua
frente logo após ter alta do hospital de Morretes;
— Acho melhor se manter na cidade, mas se achar que
esta interferindo no caso, mando prender mesmo!
Gerson saiu dali, e ligou para Priscila;
— Podemos conversar?
— Onde?
— Ai, é melhor do que numa rua com a policia filmando!
— Certo, lhe espero!
Gerson saiu do bairro do Cajuru e voltou ao centro,
deixou seu carro no estacionamento de seu prédio, se
deparando com a cara de surpresa de muitos, sorrisos de
outros, até o sindico sorriu, estranhou, mas abriu o
apartamento, abriu todas as janelas, olhou o teto todo
manchado ligou para Gerda e pediu para ela limpar a casa, e
144
depois foi ao apartamento de cima, bateu a porta e viu o
senhor João, um senhor totalmente calvo, que olhou para
Gerson e falou;
— Não me livrei de você ainda!
— Boa tarde, senhor João, gostaria de me por a
disposição para pagar qualquer problema que tenha tido, pela
mancha no teto lá em baixo, deve ter tido estragos!
— Pensei que teria de acionar os herdeiros, mas é bom
ver que não vai fugir de pagar os estragos!
— Vou começar a reforma no inicio da semana que vem,
se me passar o que precisa, podemos fazer tudo junto, já que
todo o gesso e toda a fiação da sala eu vou ter de trocar
mesmo!
— Faço uma lista, deixo com quem?
— Deixa com o sindico, ele vai gostar de me forçar a
cumprir tudo que o senhor pedir!
O senhor sorriu e mostrou para Gerson o estrago,
tapetes da sala, sofá, o piso de madeira todo descolado,
imaginou que poderia acontecer, principalmente com os
bombeiros enchendo a peça de água para o fogo não
proliferar.
Gerson saiu dali, foi pedir para o sindico para efetuar a
reforma, e pedir para verificar se alguém mais teve danos com
o fogo, sabia que iriam parecer dois a mais, mas não tinha
como ficar batendo de porta em porta.
Depois de mais uma olhada, saiu do apartamento e foi a
sede da Gazeta Popular, lá chegando ficou a esperar na
antessala de Priscila para falar com ela;
Priscila pediu para ele entrar, e foi apresentado ao
senhor que era proprietário do jornal que falou;
— Rapaz, preciso que seja honesto comigo!
Gerson olhou para o senhor, e pensou, qual a bomba;
— Em que posso ajudar?
— Gostaria de saber qual sua participação no roubo que
teve na empresa!
145
— Senhor, eu vim aqui primeiro passar para Priscila o
comprovante de deposito, que acabei de fazer, do que foi
desviado para a minha conta, novamente para a conta de
origem, não é meu, gosto de dinheiro, mas batalho por ele!
Priscila olha assustada, o rapaz mal saiu da cama, já se
defendia de uma forma a esvaziar as acusações;
— Pelo menos um prejuízo a menos, mas não deveria
estar se recuperando?
— Senhor, eu estou com prisão decretada, pode ser que
amanha não tenha como fazer isto, então estou fazendo o que
posso, quando posso!
— Acha que se livra? — Priscila;
— Acho que não, quem armou fez para parecer que fui
eu, e se não aparecesse, diriam que fui, pois o morto não
sendo eu, quem teria fugido? — Gerson;
— Falava com meu pai, que você tem bastante
influencia, e seria um nome a aguçar as reportagens da
Gazeta, mostrando onde cutucar, para crescermos, mas não
sei se teria coragem de o fazer!
— Não entendi? — Se fez de desentendido;
O senhor olhou para Gerson e falou;
— Precisamos de alguém para a função de Rômulo, mas
não sei se estaria disposto a enfrentar este desafio?
— Sabe que terei de aprender muito para uma função
destas!
— Mas aceitaria?
— Com uma única condição? Talvez duas! — Sorriu
Gerson;
O senhor fez cara feia;
— Quais? — Priscila;
— Não gostaria de passar por cima de vocês, então
gostaria que aprovassem antes de ir as ruas a matéria, me
daria mais segurança se é o caminho que querem seguir!
— Isto não é condição! — Sorri o senhor;

146
— E queria manter minha coluna, pode ser na pagina 10
mesmo, mas é uma forma de se manter atualizado!
— Também não vejo problema nesta condição, mais
alguma?
— Ainda não tratamos de salário! — Gerson;
— Podemos pagar bem, mas terá de ser exclusivo! —
Priscila;
— Quanto? — Gerson;
— Pagávamos 12 para Rômulo, mais a exclusividade de
artigos, podemos chegar — Priscila olha para o pai, e fala
meio que pensando — a vinte por mês!
— Onde assino? — Gerson;
Os dois sorriram, mas sabia que ali estava um problema,
teria de aprender muito a partir daquele dia;
— Posso começar amanha, tenho ainda que contratar a
reforma de meu apartamento!
— Pelo jeito esta corrido para primeiro dia depois de
internado!
— 10 dias pensando que ia morrer, me fizeram pensar
sobre muitas coisas!
— Mas poderia escrever para sua coluna ainda hoje? —
Priscila;
— Lhe passo por e-mail!
O senhor sorriu, este era um estilo que não se via na
maioria dos repórteres, as vezes ficavam horas escolhendo as
palavras para sair o de sempre, mas Gerson estava com
algumas coisas a mente, liga para Paulo, e no fim da tarde
sentam-se ao apartamento do amigo para conversar, depois
de um tempo Gerson foi ao apartamento de Maria, que sorriu
com as novidades;

147
Obrigado!
Não se Acostumem, mas Obrigado!
Gostaria de agradecer a dois meninos, lhes devo a vida,
quem mais me ouviria, quem mais passaria por lá antes de
perder minhas forças, queria agradecer ao povo de Morretes
que fez vigília na porta do hospital para torcer por minha
melhora, e principalmente, a quem se passou por mim em
minha morte, pois ainda prefiro um duble para estas horas;
Vejo que o País não mudou em 10 dias, mas nem sai do
cativeiro, já sou acusado de apropriação indevida, formação de
quadrilha e outros crimes menores, mas não se preocupem,
escreverei para vocês mesmo que de dentro da cadeia, para
falar o que a maioria pensa, mas não tem coragem de
expressar;
Por ultimo, a minha condolência a quem morreu em meu
lugar, não sabemos ainda quem foi, mas tudo aponta para uma
única pessoa, mas gostaria de cobrar da policia, um averiguar e
um prender, dos que me seqüestraram, dos que mataram este
rapaz em meu lugar, e principalmente, um averiguar baseado
nas provas e não em uma caça as bruxas, como muitas vezes
acontece, se joga alguém na fogueira, se põem fogo para depois
de só cinzas, descobrir que o acusado era inocente;
Obrigado também a Gazeta por meu emprego;
Gerson Travesso
Curitiba 17 de Outubro de 2010

148
O delegado chega na delegacia e se depara com os
investigadores o esperando e um fala;
— O advogado de Gerson já conseguiu a suspensão da
prisão, e já declarou ao juiz a devolução dos recursos que
estavam em sua conta que não lhe diziam respeito!
— Este rapaz é rápido, o que mais?
— Rômulo conseguiu a suspensão da prisão temporária,
e parece que esta bem instruído, vai fazer o mesmo com os
recursos que estão em uma conta que ele afirma ignorar e
não ter aberto!
— Eles sempre falam isto! — Delegado;
— Mas este tem algo bem estranho, o rapaz que abriu a
conta não reconheceu o acusado, ele poderia jurar que foi
outra pessoa!
— Mostrou a foto de Gerson?
— Sim, mas também não bate com a descrição dele!
— Certo, então todos os acusados, um provavelmente
morto e os três soltos a atrapalhar a policia!
— Isto!

Gerson antes de ir a redação, espera Rômulo a porta de


seu apartamento no Bairro do Batel, entrou pela garagem, em
um carro que não era dele, para não chamar a atenção;
— O que faz aqui?
— Precisamos conversar Rômulo!
— Você armou para mim!
— Não, mas se não nos cuidarmos, com certeza
podemos estar encrencados, Rômulo!
— E o que quer?
— Conversar onde ninguém nos veja conversar! — Fala
serio pois estavam no corredor de um prédio residencial;
Entraram na peça e Rômulo perguntou;
— O que quer?

149
— Primeiro dizer que quem esta pagando seu advogado
sou eu, não deixe ele cobrar duas vezes!
— Você que o pagou?
— Sim, e estou sugerindo a ele o mesmo esquema de
defesa que o meu, baseado na premissa que todos somos
inocentes até que se prove o contrario, pelo que ele levantou,
olha que só teve 24 horas para isto, que não foi você que
abriu a conta, que não gastou e nem transferiu estes recursos
a lugar nenhum, que embora tenham usado sua senha para a
transferência, usaram mais uma, que a empresa não declarou
qual, pois senão os recursos não sairiam da conta, e sabe bem
disto Rômulo!
— Verdade, você é rápido, mas por que esta me
ajudando?
— Fomos vitimas, e estranhei Priscila me indicar ao pai
para ocupar o seu lugar!
— Ela fez isto?
— Sim, ontem, mas enquanto ela se distraia comigo, o
advogado revogava a sua e a minha prisão, pedi para
devolverem os recursos da minha conta, os quais nem havia
tocado, mas falta algo ai ainda!
— Por que?
— Ela pagou 500 mil pelo silencio de Paulo, não sei o
que ele sabe que valeria mais do que se nós tivéssemos feito
tudo isto, conseguiríamos!
Rômulo olhou serio para Gerson e falou;
— E como vai descobrir?
— Eu vou assumir o seu lugar, mas calma, consigo um
emprego para você!
— Você vai me indicar a alguém?
— Não sei, mas terá de ter calma, só consigo algo
depois das eleições de segundo turno!
— Sabe que estranho isto, a ajuda veio de onde não
esperava!

150
— Rômulo, eu quero me livrar da acusação, alguém nos
pôs no mesmo barco, então quero tampar os furos e
conseguirmos chegar a margem vivos e livres, se fui claro!
— Sim, mas não vai deixar claro esta ajuda?
— Ainda não!
Conversaram mais um pouco e Gerson foi a redação,
acessou o sistema, obteve as informações que seu programa
conseguia e executava e foi apresentado a todos como
Redator Chefe, este era um trabalho, até então ele gostava do
que fazia, mas gostar do que os outros fazem é diferente,
muitos olharam para ele com desconfiança, e começou a
trabalhar, Maria foi lhe cumprimentar como se não tivessem
passado a noite juntos.
Gerson pede para falar com alguns, e em si, decidem os
rumos da Edição do dia seguinte;
Pediu uma mudança de design na pagina 10,
transportando para lá as notas de falecimento, ele gostava de
se inteirar de quem havia morrido;
Muita coisa a aprender no primeiro dia, entendeu por
que as vezes saiam coisas como as notas dele, os Redatores
tinham de olhar muitas paginas, todo dia, e acabavam
passando alguns redatores sem ler. Gerson introduziu as
noticias de sua Prima na pagina 5, e de outra Colunista na
pagina 7, ele e Maria ampliando os recebíveis.
Na hora do almoço, pediu para falar com Priscila, a
redação havia esvaziado para o almoço, e ela estranhou, mas
primeiro ele passou todas as idéias, para aprovação da moça,
ela sorriu, estava bom;
— Agora podemos falar serio Priscila?
— Vem a bomba?
— Sim, o que faço com estes dados que não sei quem
levantou, mas me chegou a pouco por e-mail! — Gerson
esticou para a moça uma planilha, onde mostrava que os
custos da empresa estavam altos, e que para cada 8 reais de

151
ganho, um era desviado por algum tipo de nota fria, de
superfaturamento, de apoio dela pela urgência;
Priscila olha serio para ele e pergunta;
— Vai me chantagear com isto?
— Não é isto Priscila, mas faz direito, quer passar o pé
no seu pai não tenho nada contra, vai ser seu mesmo, mas faz
direito!
— E por que me alerta?
— Me falaram que a policia teve acesso ao sistema por
um dia inteiro, eles podem ter chego a parte disto, Priscila,
eles estão muito calmos, revogaram a prisão de Rômulo, sinal
que tem alguma meada para puxar, e acabamos brigando no
dia errado!
— Pelo jeito quando me falaram que você era rápido,
não tinha olhado direito, mas o que quer?
— Posso ajudar, mas primeiro, isto não passa por seu
advogado, iria parar no ouvido de seu pai!
— Certo!
— Segundo vou dar um jeito de conseguir saber o que a
policia sabe, nem que dando o pescoço a forca!
— Acha que eles sabem?
— Não sei, mas alguém sabe, e no meu primeiro dia
aqui, me passa isto, desconfio que Rômulo sempre soube!
— Ele nunca soube disto!
— Mas alguém tentou o incriminar, mas agora quem vai
olhar direito sou eu, Priscila, pois ai tem algo errado, e
desconfio que sei quem esta por traz, mas preciso olhar a
fundo, pois nem eu e nem Rômulo veríamos a cor do dinheiro
que nos foi passado, então fiz um levantamento por mim, mas
ainda não esta concluído! — Gerson alcança um segundo
papel para a moça que olha;
— Não entendi, o que é isto?
— Os custos reais dos materiais, lhe é comunicado pelo
sistema que custa 7, você acrescenta um e passa a frente com
oito, e como esta com o rabo preso, não olha o verdadeiro
152
custo, que é 4, esta alteração foi feita a pouco tempo, os
custos do jornal estão altos demais, mas alguém esta
enriquecendo, Priscila!
Priscila olha os números e fala;
— Mas como pode algo assim acontecer?
— Não sei, mas me usariam, você esconderia o
acontecido, e esta pessoa, iria fazer uma fortuna aqui dentro!
— Acha que foi Rômulo?
— Não, ele nem sabia da conta bancaria, meu advogado
disse que ele nem sabia o endereço do banco que abriram a
conta, nunca foi visto por lá, estão tentando chegar as
câmeras de segurança do banco, mas parecem ter sumido!
— Mas quanto desviaram?
— Pouco ainda Priscila, mas tem de aprender a fazer, e
vamos ver se mudamos estes recursos para sua conta!
— E tem como fazer?
— Se alguém fez, se mudarmos o destino, veremos
quem vai tentar refazer a operação, sabe que isto é fácil
verificar!
— Tem acesso para isto?
— Nem quero ter, quem vai fazer é você, não vou meter
a mão nisto, mas vou indicar o caminho!
— Não gosta de dinheiro?
— Gosto, mas não sou de grandes gastos mesmo!
— Sei!
— E qualquer coisa você cobre a conta! — Sorri Gerson;
— Vai almoçar onde?
— Ainda não sei, este meu novo trabalho, dá trabalho,
não imaginava o quanto!
Priscila sorriu e falou;
— Então vamos almoçar!
Gerson foi a sua sala, fechou o computador pessoal e a
moça olhou para ele e perguntou;
— Você é mesmo Bi?
153
— Perdeu o interesse por isto?
— Não lhe entendo, fiz de tudo para que fizesse como
todos, e não, você é uma incógnita para mim!
— Vou lhe ensinar como se dar bem, mas depois corre
para os braços de Rômulo, o senhor não merecia esta carga
nas costas!
— Rômulo era uma forma de manter tudo como quero,
ou acha que me contentaria com um salário daqueles que meu
pai me paga?
— Juro que pensei que estava no ramo errado, Priscila!
Priscila olha com malicia;
Paulo estava no Diario e vê o policial chegar a porta e
pedir para falar com ele;
— Entre!
— Podemos conversar? — Delegado;
— Sim, em que posso ajudar?
— Apenas fazer umas poucas perguntas!
— A vontade Delegado!
Os dois se mediram, o delegado tentou impor uma
pressão pela postura, pelo silencio, mas Paulo estava a corrigir
mais uma serie de reportagens para o dia seguinte;
— Senhor Paulo, estamos investigando os desvios de
recursos da Gazeta e a única coisa que não encaixa, é o
pagamento de Priscila para o senhor!
— Descobriu algo senhor?
— Não, mas seu amigo, depois de ter brigado com
Priscila, esta lá a tomar o cargo de Rômulo, alguém que nunca
perderia aquele cargo se não fosse o acontecido!
— Não entendi? — Paulo;
— Estou lhe comunicando Paulo, que esta sobre
investigação, e para não se ausentar da cidade sem nos
comunicar!
Paulo sorriu e falou;
— Esta me acusando de que Delegado?
154
— Participação no desvio dos recursos da Gazeta!
— Então a próxima vez, meu advogado lhe fala senhor,
se assim que trata quem queria ajudar, me intime para depor
da próxima vez!
— Será intimado!
— Passar bem Delegado!
O delegado olhou para o senhor sentado, Paulo voltou a
ler os escritos na tela de computador a frente, dispondo as
noticias, deixando os espaços que se preenchiam depois das
19 para depois, as noticias do dia, as coisas que dariam a
capa.
Frank veio a porta e perguntou;
— O que este delegado queria?
— Me avisar que estou sobre investigação!
— Você?
— Frank, não sei de quem foi a idéia, mas já tentei
decifrar quem esta ganhando com isto, não consegui, então o
delegado deve estar como eu, mas a função dele é esta, a
minha, apenas relatar com muito impacto o que ele descobrir,
mas acho que mesmo ele, não tem a menor idéia do que
aconteceu!
— Por que?
— Por que é um incompetente, o DNA do corpo saiu,
não era quem pensavam, então ou temos mais um
seqüestrado por ai, ou um criminoso solto, mas o delegado
não sabe de quem é o corpo lá, então começou a caça as
bruxas!
— Não era do rapaz que eles supunham?
— Não!
Frank saiu pela porta e voltou e perguntou;
— Acha que isto daria uma capa?
— Acho que podemos ter algo mais interessante, pois
não sei quem escreveria algo assim!
— Aquela prima do Gerson não escreveria?

155
— Vou verificar, se ficar bom, podemos pensar no
assunto!
Frank saiu pela porta, a redação começava a agitar
novamente, com as pessoas voltando do almoço;
Gerson marca com Paulo no calçadão, para tomarem um
Chope, não demonstrava preocupação, quando apenas
repórter, nunca chagaria ali depois das 18, agora, mesmo
marcando as 20:30h chegou depois das 21.
— Parece preocupado Paulo!
— As vezes me arrependo de ter lhe ouvido!
— Quer parar, paramos!
— Não entendi ainda onde vamos chegar com isto!
— No feriado de Finados verá, se ainda estiver no barco!
— O que será sua noticia de amanha?
— 10 dias fora dos ar, o que mudou?
Paulo sorriu, era o maluco do seu amigo de novo, mas
obvio que nem tudo era apenas festa agora, e quando Paulo
viu Priscila vir com Maria não entendeu;
— Podemos sentar?
Gerson beijou Maria e falou;
— Não sei, somos más companhia! — Gerson;
Priscila sentou-se e olhou para Gerson;
— Não entendi ainda como levantou aqueles dados,
estava olhando, são reais, sabe para onde estão desviando?
— Se não tivesse seu desvio, eu pedia para a policia
averiguar, mas como tem, melhor ter calma!
— Do que os dois estão falando? — Paulo;
— Paulo amigo, as vezes é bom não saber, não quer se
complicar por isto!
— Mas parece encrenca? — Paulo;
— Parece! — Maria;
Gerson a abraçou e não desgrudou mais, era domingo,
estava a querer aparentar normalidade, mas não estava sendo
eficiente com isto;
156
Dez dias fora do ar, o que mudou?
Na campanha eleitoral, soube que Tiririca foi processado por
ter muitos votos, pois não vejo alguém pedir comprovação de que
sabe ler e escrever para fazer inscrição, e acho injusto, alguém que
teve mais de um milhão e trezentos mil votos, não assumir ao cargo!
Segunda coisa que soube, os presidenciáveis terminaram de
chutar o pé da cadeira, só confirmando que Marina Silva era melhor
que eles.
Terceiro, vi que tem gente que sentiu minha falta, então voltei,
já devolvi o dinheiro, não se preocupem, não estava na cueca, já
pensou em ter de devolver 10 dias depois, estando com o dinheiro
naquele buraco, ninguém ia por mais a mão nele;
Quarto, desejar um bom retorno aos mineiros do Chile, se tem
uma coisa que eles se livraram, foi de mas noticias por este tempo
todo, e mostram que não só no Brasil mineiros são explorados, ouviu
Serra, não adianta empurrar a culpa nos Mineiros de sua campanha
não decolar, coisa de Paulista, culpar os demais dizendo que sua terra
é ótima e o resto não presta.
Quinto, ouvi a presidente da Argentina querendo Nacionalizar
a imprensa, coisa de fascismo, espero que o povo Argentino, reaja a
isto tudo!
Sexto, santinho de candidato era forma de falar Serra, não era
para fazer um falando de Deus, é apenas usar a mesma palavra para
duas coisas, não queira transformar em uma só!
Por ultimo, para não ser chato ao extremo, já que voltei ao
mundo perdendo uma hora do dia, mas prefiro assim, por mim não
voltava ao horário normal nunca, mas Dilma, se preocupa com a
nação, não com quem está a querer cargo, já que eles só existem se
você se eleger, eu dava um pé na bunda deste Dirceu, que acha que
manda mais que qualquer um, aqui no Paraná transformaram o filho
dele, o ilegítimo, com nome ilegal em Deputado, e ainda falam que é
errado votar no Tiririca, mil vezes ter um palhaço no Planalto do que
políticos nos fazendo de Palhaços;
Curitiba 18 de Outubro de 2010
Gerson Travesso

157
Amanhece segunda, e a primeira pagina da Gazeta
Popular era assunto em todos os meios de comunicação, o
nome da gazeta ao centro, e uma foto na capa para as 60
primeiras matérias, algo que um maluco um dia havia sonhado,
imprimir na capa a idéia de que aquilo é noticia, transformar o
dia anterior em imagens que os leitores levariam para a vida,
e aquela capa, com imagens, uma sobreposição de idéias e
conteúdos, ficou poluída, mas como uma idéia a ser passada;
Gerson chega a sede do jornal, com Maria, seu telefone
toca;
— Fala Roseli! — ―Marta‖ a ex de Gerson;
— O que esta fazendo, parece que todos falam só de
você?
— Bom dia, não sei ainda o que falam!
— Que vai mudar a cara da Gazeta Popular!
— Se melhorar lhe chamo a trabalhar aqui!
— Engraçado, mas o que esta fazendo?
— Chegando ao trabalho, no meu segundo dia como
redator chefe, acho que não entendia ainda o que faz este
cara, mas tudo bem!
— Sei, mas preciso falar com você!
— Marcamos para o almoço!
— Te ligo, prefere algum lugar especial?
Gerson sorriu e falou;
— Não, escolhe, hoje é segunda Roseli!
Desligou o Telefone e se deparou com o elevador
abrindo e o proprietário do jornal o esperando, ele estava de
barba feita, mas camiseta, tênis, calça jeans, não deixou de
ser ele, e atrás uma leva de gente;
— Parabéns rapaz, em sua primeira edição, todos os
jornais falam de sua primeira capa! — O proprietário;
— Agradeço a oportunidade senhor!

158
— Sabe que a idéia foi maluca, quando peguei hoje cedo
o jornal até lhe xinguei, mas depois entendi onde queria
chegar, não apenas mais um, e sim, um jornal a parte!
— Obrigado senhor! — Gerson agradeceu entendendo o
risco, mas ele o faria mesmo, falar em fazer é uma coisa, fazer
é outra, e sabia que se alguém não tivesse elogiado, estaria a
receber uma bronca naquele dia;
Muitos aplausos, Gerson não estava acostumado a isto,
mas não pararia nisto, e quando pensou em sua segunda capa,
seria um desafio surpreender por 30 dias, muito mais por 360
dias, mas queria apenas a posição por 30 dias;
Os números de seu sistema de desvio já apontavam a
uma cifra astronômica, e quando no meio daquela manha, ele
passou um pedido ao seu advogado, para oferecer pelo Diário
Vespertino dois milhões de meio de reais, sabia que estava
arriscando, mas se era para avançar o faria, e bateu a porta
de Priscila, ela lhe recebeu e perguntou;
— Algum problema?
— Não, apenas passando a idéia de amanha!
— Esta com jeito de quem esta aprontando!
— Estou, mas nada que possa falar ainda!
— Certo, descobriu o rombo?
— Não, não estava olhando, do que esta falando?
— Teremos de vender muito jornal, aquele aumento de
custo, fez o jornal lucrativo virar deficitário, estamos perdendo
muito dinheiro, acho que vou falar com meu pai!
— Você que sabe, eu esperava!
— Acha que reverte?
— Acho que nem sempre a solução é se jogar na
fogueira, Priscila!
— Mas como vou poder tocar uma massa falida, meu pai
não olha os números, para ele esta tudo a mil maravilhas!
— Certo, mas eu esperaria, você faz o que acha melhor!
— O que pretende?

159
— Eu, — Gerson olhou em volta e falou — nada que de
para ser falado aqui, depois das 21, quando os demais já
tiverem ido!
— Certo, eu espero até amanha, mas vai ter de me
convencer!
— Priscila, eu que a fiz olhar os números, você nem
estava preocupada em falir o jornal até ontem, e sabe bem
disto!
— Certo, nos falamos depois!
Gerson saiu dali e foi almoçar num vegetariano, no
Green Land, na XV de Novembro, com Roseli, só ela para lhe
fazer entrar num lugar que não tinha carne;
— Tudo bem Roseli?
— Sim, mas não entendi por que e o que esta fazendo,
parece que os demais jornais passaram a lhe olhar com outros
olhos!
— Temporário, sabe disto!
— Mas seu filho esta preocupado!
— Diz para ele que se quiser ser jornalista, não serei
contra!
— Esta doente?
— Não, mas só se ele quiser, deixa claro isto!
— E não vai me contar o que esta aprontando?
— Agora seu advogado vai pedir aumento de pensão,
mas tudo bem!
— Paulo falou que você já estava ganhando mais do que
declarava, o que mudou?
— Que agora ele tem como rastrear uma fonte alta,
antes não tinha!
— E vai negar isto a seu filho?
— De forma alguma, mas você que tem de decidir como
quer, imposto por um juiz, sempre vou pagar o que posso
garantir constantemente, e não o que posso pagar!

160
— Sempre fazendo bico, mas parece que esta colocando
outra em meu lugar!
— Você sempre vai estar em minha vida Roseli, vivemos
momentos que pode negar, mas foram especiais, e não só
para mim!
Roseli desvia o olhar;
— Não precisa ter vergonha, eu não dei outra saída para
você!
— É que você esta diferente, parecendo finalmente olhar
para o futuro, embora sempre olhou, achava que estava
deixando-me fora da sua vida!
Gerson pegou um prato, fez cara de interrogação, o que
comeria, muita verdura, carne de soja, muita coisa que
raramente passaria em seu prato;
— Mas como é ser Redator Chefe?
— Complicado, mas sei de tudo que aconteceu no dia
anterior com exclusividade!
— Acha que vai se dar bem nesta função?
— Não sei, mas se lhe convidasse a tocar um Jornal,
você toparia Roseli?
Roseli olha desconfiada;
— Por que da pergunta?
— A pergunta é se gostaria, não o que faria ainda!
— Tocar um jornal, que tamanho?
— Assim como a Gazeta Popular!
— Acha que vai subir rápido lá?
— Não é isto, toparia ou não!
— Sabe que a proposta é tentadora!
— Então amanha falamos!
— Amanha, não era para o futuro?
— Amanha é futuro, e pode ser depois de amanha, tem
a papelada toda, sabe que transferências não são assim!
— Esta falando serio?
— Pense se quer, isto que preciso saber!
161
— Mas quem seriam as pessoas que contrataria?
— O jornal já esta pronto, e você conhece ele como
poucos, então o pessoal é de confiança!
Roseli olha para Gerson com um sorriso maroto, só
existia um local com tamanho da Gazeta, que ela conhecia o
pessoal, mas ficou a pensar sobre aquilo mastigando a alface;
— Mas ainda é nosso segredo!
— Nosso?
— Meu e seu, ninguém mais saberá quem comprou!
— Certo, mas o que falo na Gazeta! — ―Gazeta do Povo,
onde ela trabalhava, e não Gazeta Popular de onde ele
trabalhava;
— Seja sincera, ninguém lhe ofereceria este cargo, mas
isto se quiser, não antes!
— Mas por que disto?
— Pedro tem de ter algo no futuro, Roseli!
A moça a frente sorriu;
Estavam conversando quando o telefone tocou;
— Fala Paulo?
— Frank esta falando algo estranho aqui!
— O que ele esta falando?
— Que venderam o jornal, e que mandaram um
representante no dia de amanha para conversar, para não se
preocupar, mas sabe se tem um emprego lá na Gazeta!
— Calma amigo, você conhece o representante da nova
empresa!
— Eu conheço?
Gerson pisca para Roseli a frente que faz sinal positivo
com a cabeça e fala;
— Sim, o grupo é estrangeiro, mas quem vai presidir o
jornal, é alguém bem conhecida do pessoal todo!
— Quem?
— Roseli Rosa, não sei por que ela ainda usa este
sobrenome, mas tudo bem!
162
— Roseli será a representante do grupo que comprou o
jornal?
— Sim, mas amanha ela passa ai e conversa com todos!
Paulo relaxa e a noticia corre como pólvora na redação
do Diario. Gerson olha para Roseli e pergunta;
— Confirmada a venda, agora é só dizer que sim!
— Você é maluco!
— Não sou maluco, mas preciso que você esteja lá
Roseli!
— De onde veio o dinheiro?
— De um investimento multinacional na empresa, mas
com calma falamos disto!
— Você disse que era para Pedro?
— Por isto vamos falar com calma, ele ainda é de menor
para assumir isto, e mesmo quando adulto, tem de ver se
nasceu para isto!
— Quem nasce aos seus não degenera! — Roseli;
— Mas as vezes se perde no caminho o tempo suficiente
para falir!
Roseli sorri, foi perguntar uma coisa e veio uma bomba,
ele chega a redação e Priscila pede para falar com ele;
— Tudo bem Priscila?
— Tudo, soube da bomba?
— Em primeira mão!
— O que acha do Diário estar falido, e mudando de
dono?
— Que vai a boas mãos, Priscila!
— Sabia da oferta de venda e não falou nada?
— Sabia, um empresário me perguntou quanto valia o
jornal, ele queria gastar 4 milhões lá, eu disse que se
oferecesse dois e meio vendiam!
— Mas eles tem mais que isto em equipamentos!
— Sim, mas estão tão enterrados em dividas, Frank era
bom em gastar o que não tinha!
163
— Certo, e quem lhe deu a noticia em primeira mão?
— Paulo me ligou, dizendo da venda, e Marta me
confirmou que foi contatada para voltar e assumir a
presidência do jornal!
— Esta dizendo que sua ex vai a presidência do Diário?
— Foi o que ela acabou de me informar, no almoço, ela
comeu, eu estou com fome, pois ninguém merece aquele
vegetariano!
Priscila sorriu e falou;
— Então quem assume o Diário é Marta Boaventura!
— Sim, mas deixa eu voltar ao trabalho, quero poder
estar com tudo pronto as 20!
— Vai sair antes?
— Não, mas quero verificar algumas coisas, e nos
falamos as 21!
— Certo, mas estou quase falando para meu pai!
Gerson balançou os ombros, como se não pudesse fazer
nada;
Maria estava a passar na sala de Gerson e perguntou;
— Podemos falar?
Gerson olhou a porta, andou até ela com calma e
fechou;
— Sim!
— Gerson, sua ex me ligou!
— Já?
— Sim, ela queria que fosse para lá, como repórter
exclusiva!
— Eu gostaria que esperasse, gostaria de você aqui!
— Ouvi que tem algo errado, Priscila esta cortando até
gastos com papeis!
— Pagou um dinheiro que não tinha, agora corta no que
não é economia, e sim material de trabalho!
— Mas quer mesmo que espere?
— Sim, pelo menos até o inicio da semana que vem!
164
— Por que?
— Por que você já é repórter de lá, ou não?
Maria sorri, tinha um pseudônimo na pagina 5 do jornal
concorrente;
— Mas o que faremos aqui!
— Vou ter uma reunião com Priscila as 21, depois disto
nos falamos, não antes!
— Por que?
— Por que tem gente com dinheiro querendo comprar
aqui, só isto, mas ela vai querer pedir muito, então depende
de negociação!
— E você sabe quem esta querendo comprar?
— Sim, sei quem esta querendo comprar, até você
saberia se tivesse prestado atenção nos detalhes!
Maria sorriu, Gerson assumindo um crime;
— Mas e a policia?
— Ainda vamos ter os processos, mas o que posso fazer,
em meio a uma eleição!
A moça sorriu e aquele sorriso acalmou alguns na
repartição, ele se dedicou a sua pagina inicial, e a alocar as
coisas de forma a ir mudando a forma e estilo do jornal, como
ele falaria, Sangue com estilo;

Gerson monitorava por seu computador os montantes, e


as conversas, sabia que Priscila havia ligado para seu pai,
sabia que o senhor havia até ligado para Rômulo se
desculpando, mas nada disto ajudava a manter o jornal ativo;
As 20h confirma com a parte gráfica cada detalhe do
jornal do dia seguinte, e passa pela sala de Priscila, foi munido
de seu computador pessoal e sentou-se a frente da moça;
— Falei com meu pai, ele quer lhe falar!
— E queria lhe mostrar uma coisa!
— O que?

165
Gerson mostra para a moça uma linha de gastos, os
diários, e uma linha de custos, um ascendente, e os recursos
recebidos, com gráfico descendente, e fala;
— Ou paramos isto, ou não sobrevivemos até a eleição!
Priscila olha para os dados e vê que Gerson anotou
alguns dados, e mesmo o nome dele estava em vermelho;
— O que são estes em vermelho?
— Custos a reduzir, mesmo meu salário me proporia a
negociar se for para manter o jornal funcionando!
— Mas se reduzir estes custos, o que aconteceria?
— Olhe para onde esta indo as reservas financeiras da
empresa, Priscila!
— 12% só com cargos de família e afilhados!
— Que não justificam o salário e fazem vocês desviarem
bons funcionários para manter a paz entre eles, não só não
ajudam, estão atrapalhando, mas não são minha família, é
fácil falar!
— Mas e o roubo?
— Olha o ultimo dado!
Priscila olha o gráfico, e olha que estes funcionários,
tiveram aumento autorizado a 2 meses, e este recurso
começou a ser separado pelo sistema para pagar eles, não é
desvio, é apropriação;
— Esta a dizer que este aumento de salário, projetado
esta sendo reservado pelo sistema para pagamento deles, mas
onde esta o recurso?
— Parte na numa conta que não tenho acesso, e parte
em caixa, mas bloqueado para uso, como prioritário a gastos
futuros, parei o sistema de realocação dos fundos, mas mais
que isto não tenho acesso, e mesmo assim, mantendo eles,
não chega a dezembro com a empresa, vocês mandaram bons
funcionários para ficar com eles, enxugaram na parte que era
produção e priorizaram apadrinhamento, estão pesados
demais para voar, queria voar junto, mas não tenho como
voar com estes elefantes de peso extra!
166
Priscila olha para o pai as costas, estava com uma cara
de decepção;
— Esta o convencendo que não foi roubo? — O
proprietário;
— Não, ele estava me olhando que fiz tudo errado pai,
e quem vai acabar com o jornal são seus primos!
O senhor olhou desconfiado;
— Do que estão falando?
— De custos, ele me mostrou que sem cortar custos,
não sobrevivemos até as eleições, e com a estrutura que
estamos, não sobrevivemos a Dezembro!
O senhor que estava firme, sentiu as mãos de Gerson o
apararem e o sentaram a cadeira;
— Mas como posso ter falido, ia tudo bem!
— Mandamos bons funcionários embora, e mantivemos
uma leva de cabide de emprego, lembra quando falamos do
aumento do salários deles a 2 meses?
— Lembro, você era contra!
— Isto vai nos levar a falência!
— Mas não respondiam por 12% dos custos!
— Sim pai, mas eu com tudo que me apropriei, não me
apropriei de 3%, mas mantemos eles a 12% ao mês em
custo!
— E como saímos disto?
Priscila olha para Gerson, ele sabia que parte daqueles
dados estava errado, sabia que tinha jogado, mas falou;
— Tem duas saídas, mas nenhuma é boa, não sei!
— Por que? — O senhor tentando tomar fôlego e
tomando um gole de água;
— Por que são salários altos, mandar eles embora dá ao
jornal um custo que ele não teria como cobrir com um ano de
recursos próprios, mas seria a forma de conseguir manter o
jornal!
— E qual seria a outra?

167
— Enfeitar e passar a frente, mas teria os custos de
mandar este pessoal embora, que ou seria deduzido do
pagamento total, ou assumido por quem comprasse!
O senhor olhou serio para a filha e perguntou;
— Teria como comprar?
— Não pai, não teria!
— De quanto é o furo, por que parece que me
escondem isto?
— Pai, estamos torrando patrimônio dia a dia para
manter o jornal, mas pagando do patrimônio, não do lucro!
— E acha que teríamos como conseguir um empréstimo?
Gerson olhou os olhos do senhor vir ao dele;
— Não sei, mas teria de fazer algo de qualquer forma
senhor, manter este peso vai afundar tudo, e em 10 meses
seus primos fundam outro jornal e o senhor ainda os
carregará!
— Mas são minha família!
— Desculpe senhor, mas família não se mede por onde
você nasceu, e sim se você faz algo para ela crescer, algo
para ela ir a frente, mesmo que sem a mesma dar o valor!
— Minha filha falou que sua Ex conhece investidores,
não seria uma saída?
— Não tinha pensado em quem, mas sabe que perdera
o controle do Jornal?
— Pelo que falou, não tenho saída, vendo ou entro em
uma divida, que o patrimônio não vai cobrir nem os salários!
Gerson se calou, e olhou os olhos de Priscila, pela
primeira vez viu a moça realmente abatida;

168
Imprensa Responsável?
Eu vejo o quanto à imprensa, julga com uma facilidade,
mas não faz o mesmo, referente a sua ética, ela passa de forma
veemente, direta, que na vida tudo vale para se dar bem,
quando alguém faz isto, eles criticam, mas não a ponto de tocar
nas próprias feridas, liberdade de imprensa não é libertinagem,
não é falar o que meia dúzia de pessoas acham como sendo a
verdade absoluta, não é julgar, não lhes cabe isto, não são nem
juízes e nem deus.
Sei que é difícil, às vezes vemos brasileiros abrindo as
portas do mundo, e outros, se submetendo a ordens insensatas
como o Piloto Massa num domingo destes, como já vimos no
passado, mas nada além de bravata, imagino o mesmo repórter
que o criticou no fim de ano com seu filho no GP Brasil, em
países de primeiro mundo, não se comprariam Ferrari, se
esvaziaria o autódromo, deixar-se-ia claro ao mundo, que não
somos mais pequenos, mas somos, latimos alto por 3 dias e
esquecemos, mas o que posso fazer, fomos educados, pelo
menos 90% dos repórteres que estão na ativa, em uma época
que não se podia nem falar, e depois disto, todos, foram
ensinados nas pseudo verdades sobre o Brasil.
Mas o que me dói, é que todos nós obedecemos ordens
insensatas para manter nosso emprego, que paga muito menos
que a formula 1, mas mesmo assim, achamo-nos no direito de
falar mal, se um Galvão Bueno tivesse coragem de falar o que
pensa sobre a família Marinho, admitiria que ele condenasse,
se cada um dos repórteres que falou mal, tivessem coragem de
encarar os proprietários de onde trabalham e falarem o que
pensam, repetir, o que pensam, não bajulação para manter o
cargo, aceitaria criticas como a que ouvi quieto;
Gerson Travesso
Curitiba, 19 de Outubro de 2010

169
Marta comparece ao Diário, como o advogado que
lhe mantinha a procuração dos novos proprietários, uma
companhia de sociedade anônima, que estendia suas ligações
ao Brasil, era proveniente de Portugal;
— Senhor Frank, esta é a pessoa contratada para Gerir a
Empresa como presidente dela a partir desta data!
Frank sorri ao ver Marta ali, mas esqueceu que seu
cargo era de filho do dono, um cargo entre a presidência e a
Chefia de Redação, mas achou que era uma grata surpresa a
ver ali;

Gerson chega ao Jornal e Priscila vem a ele e pergunta;


— Falou com alguém?
— Não, por que?
— Um grupo entrou em contato com meu pai ontem,
oferecendo um montante pelo grupo!
— Mas uma boa proposta?
— Não sei, eles estão lá dentro negociando, não sei se
conhece?
Gerson levantou-se olhando pelos vidros, 4 salas ao lado,
sorriu e falou;
— Alguém querendo uma fatia do mercado!
— Conhece?
— Grupo Alaide, de Portugal, eles que compraram o
Diário!
— Mas como sabe, nem os especialistas no assunto os
reconheceram?
— Minhas fontes não estão em jornais Priscila, as vezes
até pode ter uma ou outra, mas não na maioria!
— E fazemos o que?
— Esperamos, não sei ao certo quanto seu pai vai
negociar!
— Também não sei, fui informada quando cheguei, ele
não fala comigo desde ontem!

170
— Disse para esperar, mas tem de se antecipar, vai
colher os frutos disto!
— Você ainda estava levantando dados, pensei que eu já
tinha todos!
— Priscila, eu não sei como sairemos disto, posso
terminar meu terceiro dia de trabalho aqui com Redator Chefe
desempregado, então relaxa!
— Mas não queria acabar assim!
— Toparia começar algo pequeno comigo?
— Você vai me oferecer emprego?
— Não, uma idéia, ontem fui falar com Rômulo, acho
que vamos montar um pequeno jornal, mas vamos ter de
primeiro nos desenlear da justiça!
— Você agora fala com ele?
— Desde ontem, fazer o que, os dados que levantei
ontem, quase me fez mandar currículo novamente, mas achei
melhor segurar isto!

Gerson chamou a equipe para a reunião do dias, fez


algumas anotações e ouviu alguém falar;
— Sabe se os boatos são reais?
— Boatos? Que boatos? — Gerson;
— Que o Jornal esta falido!
Gerson olhou os presentes e falou sério;
— Eu não sei destes boatos, acho que mudanças
acontecem, sei que muitos devem se perguntar se o jornal
agüenta o rombo do desvio de recursos, e criam estes boatos!
— Acha que manteremos nossos empregos?
— Acho que sim, mas é acho, não esqueçam, sou
também contratado, e qual o mais plausível, mandar embora
os mais novos, como eu, ou os mais experientes como vocês!
O pessoal sorriu, alguém acima que se colocava como
inferior gerava no pessoal um alento;

171
Gerson estava a ler a disposição da pagina 8 quando o
proprietário o chamou a sua sala;
— Gerson, queria lhe agradecer, mas sabe que se for
para cortar custos, vou começar pelos mais recentes!
— Esperava por isto senhor!
— Encara com naturalidade, estranho isto!
— Eu não faria assim, mas encaro com naturalidade, não
sou o dono, sou apenas mais um!
— Certo, termina o dia e passa no recebimento, sei que
foram poucos dias, mas tem o que receber, aproveita, talvez
nem todos tenham isto!
Gerson olhou para o senhor saindo, xingou, não que não
esperasse, mas era o afastar dos problemas, mas ninguém da
patota familiar seria chamada, entendeu onde o problema
seria detonado;
Priscila entra na sala e olha para Gerson;
— Se quiser beber no fim do dia, preciso!
— Vai dizer que estamos os dois na rua? — Gerson;
— Sim, mas ele me mandou por justa causa, e não
tenho nem como reclamar!
— Depois falamos, vamos fazer nosso dia e depois
conversamos!
— Vai mesmo terminar isto, mesmo ele lhe mandando
embora primeiro, depois de alertar do problema?
— Priscila, volta a sua sala, termina o dia, depois nos
falamos!
A moça olha desconfiada, mas volta a sua sala, ele
passa lá depois, confirma todas as confirmações da capa do
dia seguinte, manda para a impressão, muitos na impressão
se assustaram com a noticia, mas os dois sentam-se em na
lanchonete a frente da redação, e Maria chega com um jornal
a mão e pergunta;
— O que é isto?
Gerson fez sinal para ela sentar-se;

172
— Disse para esperar um pouco, se duvidar Marta já pôs
outra no meu lugar!
Priscila olha para Maria;
— Ia deixar o jornal e Gerson não aconselhou?
— Sim, mas quero saber por que?
Gerson encheu o copo e virou, estava pensando em o
que faria, não era de dividir complicações;
— Continuo a pedir para não sair! — Gerson;
— Mas por que fez esta capa?
— Maria, dos 3 na mesa, apenas você ainda trabalha da
Gazeta, eu e Priscila fomos mandados embora hoje! Ela por
desvio de recursos, e eu, por que alertei isto!
— Não entendi? — Priscila;
— Acha que seu pai me mandou embora por que?
— Era o mais barato a manter!
— Falei ontem que me manteria até sem salário para
ajudar a tirar a empresa do buraco, esqueceu?
— Sim, mas o que acha que ele fez?
— Afastou os problemas, os primos devem ter o
convencido de que não era tão ruim assim, já que se ele
manter a custas altas a empresa até dezembro, a família
põem no bolso mais de 36% do capital dela, se vender, eles
ainda processam trabalhistamente quem assumir, já seu pai se
vender agora, consegue o que, 18% do capital da empresa!
— Mas é suicídio? — Priscila;
— Ele não é bom com números! — Gerson olha para
Maria e fala — Fica lá até o inicio da semana que vem, se
nada der certo, Marta segurou sua vaga!
— O que pode acontecer em poucos dias!
— Alguém falar de mais! — Gerson tomando mais um
gole.

173
A quem interessar!
Sei que não gostam deste começo, dizem ser o de minha carta de
despedida, mas hoje estou pedindo emprego, a Gazeta acabou de me
mandar embora pela segunda vez, não sei exatamente onde vou
trabalhar, não sei exatamente o que vou fazer, acho que pedir pensão a
minha ex, já que ela se deu bem, e eu entrei num barco furado, mas
queria agradecer a todos que fizeram desta edição especial, e pedir
desculpas se não podia falar referente o real estado das coisas, mas é
triste alguém lhe perguntar se era verdade os boatos, você já sabendo
que não estaria ali no dia seguinte, olhar para a pessoa e tentar animar,
dizer que não sabia, mas como redator chefe até este instante, era
garantir o jornal a banca hoje cedo, se amanha terá outro, já não é de
minha responsabilidade;
O proprietário me pôs para correr, mas a pergunta que mais me
fazem, por que?
Por que alertei ele que os parentes, o cabide de emprego que ele
montou, desabaria no máximo até dezembro, ele preferiu me mandar
embora, e manter a família a sugar as contas da empresa, mas é a forma
antiga de pensar, não posso condenar alguém por acreditar na família;
Ele não me mandou para a rua só, ele acusou a filha de
apropriação indevida e a mandou junto para a rua, mas ele acusa ela de
ter se apoderado de 3% do que é dela por direito, e os primos, sobrinhos
roubam 12% disto ao mês, e ninguém vê. Daí uma pergunta que me veio
a mente, quando a poucos dias ele acusou o antigo Redator do desvio
dos recursos da empresa, ele não sabia, ou era ele por trás de tudo, como
pode o proprietário de um jornal ter sua senha de acesso usada para
efetivar uma transferência e dizer que foi roubado?
Mas queria novamente me despedir, me desculpar com os demais
jornalistas e redatores da Gazeta, mas não podia dizer antes de terminar
o dia que estava despedido, coisas contratuais;
E por ultimo, se acha que falo de mais, a ultima pergunta. Que
dono de jornal, merece uma jornal, se não sabe o que acontece nele além
dos recursos, que deixa passar esta matéria, e principalmente, esta capa!
Gerson Travesso
Curitiba, 20 de Outubro de 2010

174
J.J.Gremmelmaier 175
J.J.Gremmelmaier
O proprietário compra na banca o jornal e chega
bufando na redação, mas se tinha planos de omitir o
acontecido, estava escancarado, tentou ligar para os senhores
que fizeram a oferta no dia seguinte e nada, não atenderam o
telefone pela manha;
Chama a sala Maria;
— Sabe quem autorizou isto?
— Sua filha e o Redator Chefe, mas nem o vi desde
ontem, queria lhe perguntar sobre isto!
— Minha filha não trabalha mais no jornal!
— Quem vai fazer o trabalho do Redator?
— Outro dia mesmo sem Rômulo o jornal saiu, ou não?
— Sua filha fez por dois dias o trabalho de Rômulo
senhor!
— Quem tem competência para isto?
— Não entendo disto senhor, teria de verificar!
Maria pediu permissão e saindo da sala viu o senhor
ligar para alguém, não sabia como se regeria aquele dia, mas
não ligaria para sua filha, Rômulo não respondia as ligações
dele, algo estava fora do contexto, mas os jornais se
extinguiram as bancas, poderia ter sido uma cartada de
mestre, terceiro dia com todos os exemplares vendidos, era
um alivio as contas, mas enquanto o Diário anunciava nova
editoração para inicio do ano, novo formato, nova presidente,
eles se desenhavam como um jornal que sairia de circulação,
em meio a tensão na Gazeta, muitos não sabiam o que fazer,
a noticia tirava os pensamentos, as idéias sendo corroídas por
um aviso que não chegava, mas que parecia eminente, o para
comparecerem ao departamento pessoal;
Maria senta-se para almoçar e olha Gerson sentar-se a
sua frente, muitos no restaurante viram isto;
— O que faz aqui?
— Queria dizer que continuo não prestando, Maria!
— Mas você jogou todos em pânico!

176
— Não tenho como os acalmar, a minha idéia era uma
transição mais suave aos funcionários, mas ele preferiu o
caminho difícil!
— Por que fez isto? Não me explicou?
— Por que ele havia ligado ontem para o banco, e com
os recursos, ele manteria na aparência até março do ano que
vem, desviando o máximo possível para abrir outro jornal, mas
ele não entende que não conseguiria, ficaria com a divida, os
parentes com o dinheiro, e todo o pessoal sem salário, sem
fundo de garantia, sem nada!
— Mas por que pediu para que ficasse?
— Por que se era para jogar, precisava de uma rainha
no tabuleiro, alguém que pudesse fazer todos os movimentos
no tabuleiro e ninguém nem desconfiar dela!
— Me usou?
Gerson olha serio para Maria, não era de pedir para
confiarem nele, pois nem ele confiava em seus intuitos, mas
olhou serio, sem desviar os olhos dos olhos grandes de Maria;
— Se acha que foi isto, Maria, me enganei referente a
você!
— Não quero ser jogada na rua!
— Não lembra do que falei ontem, ou o que aconteceu?
— Rosa disse que Paulo consegue uma vaga lá para ela,
e eu aqui esperando algo que não sei se vai acontecer!
— Sabe que não vou pedir para confiar em mim, mas
precisava que tentasse se segurar lá até segunda, mas se não
consegue, liga para Marta, ela esta precisando mesmo!
Gerson olhou serio, se levantou e saiu, não fora ali para
pedir nada, fora ali encenar mesmo, o sorriso dele na saída,
mostrava seu intuito, Maria viu outros chegarem a sua mesa,
não sabia o que falar, mas na primeira pergunta soube o que
fazer;
— Você vai nos deixar também?
Maria olhou para a moça do café, se esta estava
preocupada, imagine os demais;
J.J.Gremmelmaier 177
J.J.Gremmelmaier
— Talvez, mas algo me diz que Gerson não desistiu de
nós!
— O que ele poderia fazer?
— Não sei, mas ele não parece ter entregado os pontos,
ele não queria esta saída, mas não entendi ainda qual ele
queria!
— Sabe quantos vão dispensar?
— Não sei, ontem saíram Gerson e a Priscila, mandados
embora, dois custos altos, mas produtivos, Gerson sempre
disse que nossa dificuldade é administrar os elefantes
internos!
Todos se olharam, pareciam perdidos em meio a uma
crise de trabalho;

Gerson vai para casa, olha as reformas, e fala com os


vizinhos, obvio que estava a pisar em calos, mas não parecia
preocupado;
Liga para os advogados da empresa que ele mesmo
criara em Portugal, que lá tinha apenas um jornal de bairro e
uma super pagina na Internet, quem via pela Internet
pensava ser grande coisa, mas é que a sede tinha uma placa
bonita a frente, e um prédio a duzentos metros atrás, de outra
empresa, mas que ficava na imagem, parecia um grande
complexo, não estavam enganando ninguém, mas as vezes
quando as imagens mostram o que as pessoas querem ver,
esquecem de ler as linhas escritas. Gerson manda esperar e
atender ao telefone a tarde, e passa todas as instruções do
que deveria ser feito, e vai ao café, fazia tempo que não
sentava com calma para tomar um, olhou Zequinha que sorriu
ao ver ele de novo na área, pôs as fofocas em dia, enquanto
acessava o sistema por uma rede sem fio aberta, no prédio
imenso a esquina, de quem era, nem idéia, mas deveria ser de
alguém descuidado com estas coisas;
Tomou seu café e esperou algo acontecer, era quase 18
horas, o sol ameaçava surgir diante do céu cinzento, quando o
celular tocou, era Priscila, marcou ali mesmo onde estava;
178
Priscila senta-se, vê ele olhando as noticias e pergunta;
— Não me explicou nada ainda!
— Vamos montar um jornal ou não? — Gerson;
— Mas com que recurso?
— Eu entro com 500, você com 500, e Paulo com 500,
chamamos Rômulo para tocar e em 60 dias esta nas bancas!
— Esta falando serio?
— Sim, por que estaria brincando? — Gerson;
— Não sei, você parece estar sempre brincando!
— Se quiser pode ser mais fácil, mas depende se quer?
— Mais fácil?
— Os mesmos montantes, mas assumimos a massa
falida de seu pai! Mais fácil pois em 30 dias estamos com o
jornal funcionando!
— Como?
— Acha que quando falei para seu pai sobre a condição
era para ele me mandar embora?
— Não, mas pretendia o que?
— Fazer ele vender 80% da empresa, nós ficaríamos
com 60, e o grupo Português com os outros 20%, tocaríamos
a empresa, não haveriam demissões, mas obvio, ele assumiria
o custo de por os elefantes para fora!
— Ele quis se manter mais, acho que ele acredita em
milagre!
— Milagres existem, mas se tem de estar atentos a eles!
— Ele vai me odiar! — Priscila;
— Eu vou tentar, mas com um e meio consigo os 60%
mais facilmente, com um, vou ter dificuldades nesta
negociação!
— Mas a empresa vale mais que isto, por que
conseguiríamos comprar a este preço?
— Em uma semana, ele vai estar levantando capital para
pagar os funcionários, a idéia era captar agora um volume que
desse para jogar as contas para frente, acho que ele até
J.J.Gremmelmaier 179
J.J.Gremmelmaier
queria vender, mas numa fantasia que não cabia mais ao
jornal!
— Acha que ele iria enfeitar e tentar captar recursos dos
bancos e destes investidores?
— Sim, ele estava propondo vender 40% da empresa, o
que lhe manteria o controle acionário, mas ninguém joga
dinheiro limpo em uma empresa, se ela não vai mudar, se ela
vai ficar como esta!
— E por que meu pai não chamou o Rômulo para tentar
tirar a empresa do buraco?
— Talvez por que confiava demais no Rômulo, e falou
merda quando deveria ter ouvido o funcionário!
Rômulo descia a rua e veio ao café, sentou-se a mesa e
perguntou;
— Sabe que estou evitando falar com seu pai!
— Ele esta lhe ligando?
— Sim, parece que ninguém vai dar conta para amanha!
— Eles estão em pânico, difícil de pensar assim! —
Priscila;
— A culpa é deste ai, — fala apontando para Gerson —
quem manda por ele para dentro!
Gerson sorriu e falou;
— A culpa agora é minha?
Ouviu dois sim e Zequinha ao longe sorriu;
— Certo, tenho minha culpa, mas não toda! — Gerson;
— Que papo é este de um emprego, de montar um
jornal?
— Estava falando com Priscila, ela entra com parte do
capital, eu com outra parte e Paulo com outra, e montamos
um jornal, mas precisamos de um Redator Chefe!
— Estão falando serio? — Rômulo;
— Sim, mas ainda temos uma ultima chance de tentar
convencer o velho cabeça dura do pai da Priscila a nos passar

180
o controle acionário, daí não seria coisa para 60 dias, seria
para amanha!
— Por isto pediu para não falar com ele hoje?
— Ele não lhe quer lá, Rômulo, ele quer apenas tampar
o furo para tentar enforcar todos dentro de poucos meses!
— E acha que ele vai ceder?
Priscila pergunta enquanto Gerson atende o Telefone;
— Fala Marta?
— Quando aquela moça vem trabalhar aqui?
— Não sei, mas como foi as coisas hoje?
— O advogado ligou-me e falou que o senhor Português,
fez uma proposta de 60% a 4 milhões!
— Ele assume as dividas e as demissões?
— Não, ele pôs como um grande jogo de marketing para
vender os jornais de hoje, mas disse que a empresa esta
redonda e lucrativa!
— E o que falaram?
— Me falaram para ligar para você e dizer que nestas
condições eles não vão fazer negocio, mas não entendi?
— Pelo jeito vou pedir empréstimo para você Roseli!
— Não brinca, o que ele quis dizer?
— Que na condição que foi tratada não vale o
investimento, mas eu ligo para ele depois!
— Me liga, estou mais perdida referente a isto, em meio
a aprender como se preside um jornal!
Gerson se despediu e sorriu, olhou para Priscila e falou;
— Calma, ainda tem jeito!
Gerson acessou o sistema, e com a chave da presidência,
faz as transferências de capital da empresa para a empresa
portuguesa, mais de 3 milhões de reservas bloqueadas para
uso, cancela compras de matérias para os elefantes, e cancela
seus pagamentos, com carta de demissão mandada para cada
um na manha seguinte, com todos adendos, Priscila não
entendeu o que foi feito, sabia que ele acessou o sistema da
J.J.Gremmelmaier 181
J.J.Gremmelmaier
empresa sentado no café, depois viu ele pegar o telefone e
ligar para alguém;
— Tudo bem Portuga?
— Fala Gerson!
— O que aconteceu que não entendi, não era para impor
as demissões?
— Ele disse que a empresa estava redonda, mas ri
quando ele falou isto!
— Você riu na frente dele?
— Gerson, estamos negociando uma empresa de 22
milhões de reais, apenas em capital, oferecemos 6 por 80%
da empresa, com as condições, ele nos faz uma
contraproposta de 4 por 60% mas sem assumir as condições,
e quer dizer que esta redonda, se tivesse redonda estaria
pedindo no mínimo os 12 pelos 60%!
— Acha que ele liga amanha?
— Disse que iria viajar as 16 horas para Portugal, depois
disto, que tentasse falar com nossa representante na cidade!
— Ela nem sabe o que se passa amigo!
— Sei disto, mas não quero perder estes 10%, para você
pode não ser muito, mas para mim é! — Fala o senhor, com
um sotaque puxado ao Português de Portugal;
— Então vou ajudar, tudo bem?
— Vai ajudar ou complicar?
— Faz uma proposta ainda hoje, de 8 pelos 100%
assumindo como está, mas só vai fechar amanha, se a edição
estiver normal, pois todos lhe passaram a impressão de que
estava afundando o barco!
— Me autoriza fazer isto?
— Sim, se olhar pus 3 e meio a mais na conta, é
pensando já na sua comissão amigo!
O senhor sorriu do outro lado;
Gerson olhou para Rômulo e falou;
— Agora se ele ligar, atende!

182
— O que esta fazendo?
— Estamos, se ele ligar vamos precisar mobilizar todos,
pois é o emprego deles que estará em jogo!
Gerson pediu mais três cafés e ficaram ali, sentados
vendo o tempo mudar, um clima ameno de fim de dia, uma
mudança de rumos e de temperatura;
Rômulo pegou o celular;
— Sim!
— Rômulo, é o senhor Dantas!
— Tudo bem senhor?
— Não, preciso lhe pedir desculpas, não lhe ouvi, e no
fim vi que minha própria filha me roubava!
— Senhor, estou ocupado agora, algo que não pudesse
falar amanha?
— Ocupado?
— O que precisa senhor Dantas?
— Gostaria de lhe falar pessoalmente, se não fosse pedir
muito, mas ainda hoje!
— Onde?
— No jornal, não sei se teria um tempo!
— Pode ser dentro de uma hora senhor, ainda estou
terminando um projeto que preciso entregar amanha!
— Esta trabalhando?
— Iniciando um projeto, pode ser que falte recursos
para o tirar do papel, mas não vou ficar implorando serviço a
quem sabe minha competência!
— Lhe espero em uma hora!
Rômulo desliga e olha para Gerson;
— E agora?
Gerson liga para Maria e pergunta;
— Ainda brava Maria?
— Você não vem hoje?
— Vou, mas como esta o caos na Gazeta?

J.J.Gremmelmaier 183
J.J.Gremmelmaier
— Não tem condição de sair, metade do pessoal
entregou os escritos, mas sem nada de novo, o pessoal de rua
nem saiu, estão todos fazendo seus currículos a esta hora!
— Os textos estão no sistema?
— Sim!
— Posso pedir uma ultima coisa?
— Fala!
— Rômulo vai precisar de ajuda para que o jornal saia
amanha cedo, precisamos pelo menos 3 impressoras e o
pessoal das maquinas lá em uma hora!
— Rômulo vai voltar?
— Esta indo para lá, mas preciso que tenha gente lá
para o apoiar!
— Mas o que ganhamos com isto?
— Dantas acabou de vender o jornal, e vamos o manter
funcionando, entendeu?
— Ele vendeu?
— Sim!
— Quem comprou?
— O grupo que vai ser presidido por Marta Boaventura!
— Para isto que ela queria que fosse trabalhar com ela?
— Sim!
Maria sorriu do outro lado, desligaram e Gerson ouviu o
telefone tocar;
— Fala Portuga?
— Ele vendeu, mas com a condição de que pediu!
— Obrigado amigo, e boa viajem!
— Se cuida Gerson, mas temos de falar do projeto em
Portugal!
— Vamos, mas com calma!
Gerson olhou Priscila e perguntou;
— Já que não desembolsou para esta compra, quer abrir
um jornal comigo?

184
Priscila sorriu e perguntou;
— O que esta aprontando?
— Apenas defendendo o pão de meu filho, apenas isto!
Rômulo foi a Gazeta, depois de meia hora de desculpas,
o senhor explicou que havia vendido o jornal, mas precisava
de um Redator Chefe, o senhor estava parecendo aliviado,
mas estranhou quando Rômulo e ele saíram pela porta e Maria
olhou para Rômulo e perguntou;
— Como fazemos?
— Já olhou os textos? — Rômulo;
— Lixo, precisamos de algo!
— Liga para alguém, vamos imitar alguém hoje, não
podemos deixar parecer que não trabalhamos hoje!
O senhor Dantas olhou para Maria e perguntou;
— Você estava esperando que ele voltasse?
— Não, mas alguém me ligou vindo para cá, e apenas
acionei o pessoal que estava prestes a ir para casa, para
manter as maquinas aquecidas! — Fala Maria olhando para
Rômulo;
— Certo, mas ainda não é oficial o que vou falar Maria,
mas amanha pela manha vou vender o Jornal, mas preciso de
um exemplar nas bancas!
— Quer vender este exemplar ou apenas estar lá? —
Maria;
— Para mim não faz mais diferença Maria, não vendi por
que queria, e sim por não ter alternativa!
— Então vamos trabalhar! — Rômulo;

J.J.Gremmelmaier 185
J.J.Gremmelmaier

186
Amanheceu com os jornais chegando as bancas, e
com um grupo de advogados adentrando a Gazeta, o senhor
Dantas olha os senhores engravatados, e vão a sala do senhor,
detalhes foram sendo passados, e com a venda realizada, o
pessoal que chegava a redação recebia as noticias, muitos
sorrisos, mas uma desconfiança ainda pairava na empresa,
compras geralmente eram sinal de demissões, mas alguns
ficaram tranqüilos com isto;
Haviam assinado e a direção seria passada no dia
posterior, e quando os advogados saíram, com o recibo de
compra a mão, e com o empresário Português a olhar as
coisas, pediu uma reunião com o Redator Chefe, Maria, e mais
4 pessoas chaves;
— Bom dia a todos, quem não me conhece, sou Pedro
Souza, represento a Alaide Comunicações, mas gostaria de
sinceridade hoje!
— Se for sincero? — Maria;
— Maria, estou aqui representando um amigo, posso
parecer desinformado, mas é aparência, sei o que cada aqui
faz, Rômulo, bem vindo a casa novamente, não entendo esta
coisa de mandar os melhores embora, mas precisamos de
uma saída para a empresa!
— E o que sugere?
— Estou mandando hoje, para todos os elefantes
brancos da empresa, a primeira advertência por não terem
chego no horário, preciso de 3 para me livrar deles, ou este
jornal nunca será um bom jornal a trabalhar!
— Mas isto só os colocara nos horários amanha! —
Maria;
— Maria, qualquer assedio, vai ser uma segunda carta
de advertência, não brincamos de jornalismo, e por terceiro,
cada um terá uma leva de afazeres a fazer de hoje em diante,
acabou a moleza, pode ser que alguém nos surpreenda, sei de
dois nomes que provavelmente se manterão, mas mesmo
estes terão de provar seus valores!
— Veio informado! — Rômulo;
J.J.Gremmelmaier 187
J.J.Gremmelmaier
— Vamos anunciar hoje que na parte básica, que não
haverá cortes de pessoal, vamos melhorar algumas coisas,
como uma reforma de fachada e um pintura geral, mais para
aparência, o custo é baixo mas dá animo novo ao pessoal,
mas precisamos de alguém a presidir o grupo, e Maria, me
indicaram seu nome!
Maria olha descrente, senta-se e ouve;
— Alguém pega uma água para ela, mas vai ter de
aprender muito moça!
A reunião foi a dados do dia;

Gerson acorda tarde, Maria não voltara para casa, deve


ter trabalhado a noite inteira, e iria atravessar o dia
trabalhando, comprou o jornal na banca, nada de mais,
apenas mais um dia, senta-se para tomar um café, uma moça
da noite para ao seu lado, e pergunta;
— Ainda desempregado?
Gerson a mede e fala;
— Andou cuidando do corpo?
— Sabia que você repararia, eles falam que sou gostosa
mesmo sem reparar nos detalhes!
— Senta ai, ou já tomou um café?
— Dos completos, mas tudo bem, tomo mais um!
— O que você faria se tudo que fez desse certo, mas os
rastros que deixou foram tão visíveis que vai feder!
— Não entendi?
— Eu aprontei muito, agora a policia vai cair matando!
— E como você apronta, se matando, se seqüestrando?
— Ganhando com isto! — Sorri Gerson olhando os olhos
azuis da moça;
— E esta ganhando muito?
— Acho que depois de anos, vou ganhar mais que você!
— Engraçadinho, sei que não ganha tanto!
Gerson sorriu;
188
— E ainda me faz pagar o café?
A moça sorriu e falou;
— Anda sumido, nem aqui tem estado?
— Estava trabalhando, por 3 dias na minha vida,
trabalhei pesado, acho que foi demais!
A moça sorriu e saiu a rebolar pela rua;

Gerson estava a tomar café ainda quando o celular


tocou e ouviu;
— Ti amo, seu imprestável!
— O que fiz que mereço na mesma frase uma
declaração de amor e um imprestável?
— Você me fez ficar no jornal, tem sua cara a indicação
que recebi!
Gerson sorriu e falou;
— Eu quase perguntei que indicação, mas não seria eu!
— Sabia que foi você, mas o que esta fazendo?
— Você não voltou para casa, agora tomando um café
na Osório!
— Vou até ai, mas não entendi como você fez?
Gerson sabia que ai morava o problema, roubo é roubo
em qualquer lugar, mas estava pensando em como deixar as
coisas redondas antes de ir para as penalidades da vida;
Naquele dia, ele fez tudo o que precisava, quando
sentou-se no fim do dia, com Roseli e Maria a mesa,
estabeleceu que a empresa estava em nome de Pedro, mas
que Roseli a presidiria, Maria ajudaria, mas que ele iria ter de
enfrentar os percalços do caminho, Gerson sabia bem o que
acontecera;
Estava na hora de assumir sua leva de culpa;

J.J.Gremmelmaier 189
J.J.Gremmelmaier

190
J.J.Gremmelmaier 191
J.J.Gremmelmaier

192
J. J. Gremmelmaier
Crônicas de Gerson Travesso

3 - Merda!
Primeira Ediçao

Curitiba
Bookess
2011
J.J.Gremmelmaier 193
J.J.Gremmelmaier

194
Bomba!
Quando estiver lendo isto, estarei me apresentando a
policia, para ser julgado e preso, não posso viver sem a verdade,
vocês podem, mas eu não, e por isto vou me apresentar.
O que fiz? Roubei, este roubo, garantiu o emprego de mais
de 300 pessoas diretamente, mas roubei, não quero justificar, fiz
e não me arrependo, por isto estou me pondo a disposição da
justiça;
Sabe quando você tem todas as chances de ficar quieto,
mas não é seu estilo o fazer, você pode ser preso pela verdade,
mas esta sendo você, ou ficar quieto e morrer por dentro. Minha
ex, dizia que era louco, acho que não discordo dela!
Queria pedir a meu filho que tenha calma, não acredite em
tudo que falam e que eu volto, bom comportamento no Brasil dá
direito a um quarto da pena, acha que moro aqui por quê?
Mas alguns me perguntam por que estou me afastando, o
que estou fazendo nesta edição, antes de ontem não estava no
jornal, hoje estou a escrever nele, o que fiz? É o que mais
perguntam!
Desviei os recursos que permitiriam ao proprietário, tocar o
jornal até março, e deixar todos a ver navios, alguns vão me
dizer que não tinha como garantir que isto aconteceria, não tinha
e não tenho. Mas também me fiz de sequestrado, queria chamar
a atenção, queria o amor de meu filho, queria a atenção que não
merecia, mas isto foi no passado. Mas além de tudo isto, induzi
muitos a caminhos que não deveriam, para me apropriar de
bens, me apropriar de dinheiro, e não pensem que vou abrir mão
disto, se as pessoas não sabem onde esta, por onde saiu, por
que eu tenho de explicar para elas como cuidar de seus recursos;
Por ultimo, gostaria de parabenizar a todos os que
duvidaram de mim, mereci aqueles ovos, aqueles tomates, mas
eles me fizeram acordar para a vida, não adianta passar por ela e
não deixar nada, vocês me fizeram melhor, e isto que importa!
Gerson Travesso
Curitiba, 22 de Outubro de 2010

J.J.Gremmelmaier 195
J.J.Gremmelmaier

Amanhece dia 22 e Gerson se apresenta a delegacia


que o processava e pede para falar com o Delegado, ficou ali
duas horas antes dele entrar sem ouvir o que o rapaz,
falando;
— Me traz aquele Gerson Rosa!
O assistente aponta para a sala dele, e olha nos olhos do
rapaz, não entendera, ainda não sabia de nada, mas ali estava
alguém que lhe surpreendera, ele tinha os rastros, mas seriam
meses para apurar algo, e do dia para noite, o rapaz resolve
falar demais;
— Chama o escrivão! – Fala o delegado;
Gerson não falou nada e o delegado perguntou;
— Espero que não seja mais uma palhaçada sua!
— Como escrevi Delegado, estou aqui para colaborar
com a policia e evitar que inocentes sejam incriminados!
— Espere um pouco, já tomamos o depoimento!
Gerson sabia que do lado de fora, a imprensa estava
começando a acumular, estava a aprontar, e isto não era
barato, era algo que ele sempre pensara em fazer, se
preparara, mas nunca antes dos tomates, pensou seriamente
em fazer;
O escrivão sentou-se ao computador, e o delegado olhou
para o rapaz e perguntou;
— Veio falar sobre o que, pois gostaria de fazer algumas
perguntas!
— Gostaria de narrar o que fiz, sei que vão ficar
perguntas, mas depois fica mais fácil de montar as perguntas!
— E acha que começa quando a historia?
— A historia, começa com uma chuva de ovos e tomates
que levei a alguns meses, até aquele dia, não me preocupava
muito com as coisas, mas naquele dia, algo mudou dentro de
mim, algo quis mais, e nos trouxe até aqui!
— O que quis dizer com o roubou? Na edição de hoje?

196
— Estou com um milhão e oitocentos mil reais em minha
conta corrente, que se rastrear, saíram nos dois últimos dias
de dois lugares que trabalhei, mas eles nem sabem como este
recurso saiu!
— E vai confessar assim?
— Sou suicida como alguns falam!
— E como fez?
— A primeira faculdade que fiz, a mais de 20 anos, foi
de Analista de Sistema, com ênfase em programação, então
na noite após a chuva de ovos, não consegui dormir, e fiz um
programa de inspeção, como tinha acesso interno ao sistema,
foi instalado por dentro da empresa, o programa levantou os
pequenos gastos sem monitoração da empresa, e começou os
triplicando, e com as senhas obtidas pelo manuseio do
presidente e dos diretores da empresa, foi transferindo aos
poucos, para minha conta, mas não queria ter sido mandado
embora, as vezes a ganância é única, e alguém lhe manda
embora deixando o sistema que você montou funcionando, e
o destino lhe apresenta outro sistema, e repeti a operação nos
segundo jornal, mas isto, somando os dois jornais, não me
somou mais de 800 mil reais, mas já é uma boa poupança!
— E de onde veio o restante dos recursos?
— Venda de informação, a muito tempo um grupo
português me consultou, ainda estava na Tribuna, se sabia de
um jornal local que tivesse com problemas de giro, e não
resisti, fiz a armação que gerou o desvio dos fundos para as
contas, visivelmente, para que a Gazeta tivesse problemas de
caixa, o Diário já estava com a corda no pescoço mesmo, e
vendi esta informação para fora, arrecadando com isto outras
duas parcelas de 500 mil reais, somando a parte que vocês se
rastrearem bem, vão conseguir depois de 6 meses de
investigação saber onde estão!
— E por que se fez de morto?
— Mortos não são culpados, mas não era esta a idéia,
precisava de tempo para fuçar nos dados das duas empresas

J.J.Gremmelmaier 197
J.J.Gremmelmaier
para os obter, não é fácil descobrir como funciona uma
empresa na qual você só faz a parte fácil, como funciona!
— E quem era o rapaz no seu quarto?
Gerson tira um cartão do bolso e passa para o delegado;
— Era a identificação que tinha no congelador do HC!
O delegado pega e repete o numero para o escrivão,
estava perplexo;
— Sabe que esta confessando alguns crimes?
— Sim, entre eles violação de cadáver, roubo,
apropriação, e desvio de recursos, entre outros!
— E por que você esta contando a historia?
— Por que fiz um cálculo, vocês iriam chegar a mim em
no máximo 3 meses, não sou de correr, então estaria apenas
adiando algo, e pior, estaria gerando em 3 meses, marketing
para a historia, poderia até usar ela para ganhar dinheiro, e ai
seria um complicante para mim, pois estaria a induzir o
caminho da justiça, e sei que os juízes não gostam quando os
fazemos de idiotas!
— Como armou para aparecer naquele buraco?
— Isto foi o mais engraçado, pois se não fosse tão longe,
teriam olhado melhor, vocês não fizeram o trabalho direito,
pois se vocês fizessem, e ainda pode ser feito, um teste
acústico, por alguém a gritar dentro daquele buraco, e por
alguém a andar na estrada, veria que jamais se ouviria algo da
estrada!
— Então como eles ouviram, vai dizer que comprou os
meninos?
— Não, mas como não voltei lá, na beira da estrada, tem
3 pequenos alto-falantes, com um fio que vai até o buraco, e
embutido no barro tem um microfone, dos pequenos, também
não verificaram que o barracão estava com luz e que havia
sido alugado por apenas 10 dias!
— Isto verificamos, mas então sabia que os meninos
passariam lá?

198
— Senhor, deve ter seguido uma pista na praia da Penha,
na qual vocês chegaram a uma casa lavada na manha anterior,
eu estive escondido lá por 10 dias!
— E como sabe disto?
— As vezes você contrata advogados e eles conseguem
as informações que lhe livrariam, mas não divido com eles a
verdade, e sabe disto delegado!
— Mas não faz sentido sua confissão!
— Mas estou aqui confessando, e se apurar, vai ver que
nada do que falei é mentira!
— Por que parece que tem mais coisa ai?
— Delegado, eu confessar que desviei um milhão e
oitocentos, não quer dizer que o senhor consiga rastrear onde
ele esta, vai conseguir descobrir de onde saiu, mas não todo o
destino!
— E acha que vamos deixar você usar quando sair?
— Acho que não estou muito preocupado ainda, se
somar todos os meus crimes com pena máxima, contando
tudo mesmo, deve dar 20 anos, em 5 estou livre, e daí penso
em o que vou fazer!
— Então esta em algo que vai ter valor daqui a 5 anos?
— Algo que se sair daqui a 20 vai ter valor senhor!
— E acha que não conseguiremos rastrear?
— Eu gosto das leis deste país senhor, se me
processarem pelo crime, pago também pelos desvios, e em 5
anos, posso pedir para sair sem me preocupar em pagar o que
desviei, já que a divida terá prescrito, e para a lei terei pago
pelo crime!
— Você esta menosprezando a lei, sabe que pode
conseguir se complicar com isto?
— Sei que sempre critiquei estas leis, e ninguém me
ouviu, a mais de 10 anos falo que deveríamos mudar isto, não
mudaram, e não vão mudar por minha causa!
— Me surgiu uma duvida!
— Sim?
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J.J.Gremmelmaier
— Por que então devolveu parte do dinheiro?
— Devolvi os 400 para poder ter tempo para receber as
duas parcelas de 500, sem vocês desconfiarem!
— Sabe que esta empresa esta encrencada, financiar um
crime é formação de quadrilha!
— Isto é com eles, não comigo!
— Sabe por que Priscila Dantas pagou seu amigo?
— Sei!
— Por que?
— Isto nada tenho a confessar, teria de perguntar para
eles!
— Sabe mas não vai falar, seria isto?
— Sim, não me cabe acusar alguém, se o pai dela não
deu parte não serei eu que darei!
— Afirma sem falar que ela roubou o pai?
— Não afirmei nada!
— Isto transforma seu amigo em cúmplice de um crime!
— Se ela for processada será crime, se não, não existe
crime!
— Posso acionar todos eles por formação de quadrilha!
— Esta confundindo a palavra amigos, com quadrilha,
isto só confunde o júri, esta me dando cartas a usar, que me
tiraram da pena máxima apenas senhor!
— Parece que estudou o caso bem?
— Li um pouco de lei, descobri que se estuda direito não
pelas leis impressas, e sim pelas interpretações que juízes
tiveram das leis, abrindo brechas nas leis, estranho um Juiz ter
mais poder que a lei escrita, por que ele interpretou
diferenciado da intenção da lei!
— Sabe que sairá daqui preso?
— Sei!
— Por que tenho a impressão de ter mais coisas que
esta omitindo?

200
— É insistente nesta pergunta, mas a resposta é obvia
Delegado, é por que tem mais coisa ai, mas eu confesso a
minha parte, não a dos demais!
O Delegado olhou para o escrivão, adicionou algumas
frases, e passou para Gerson que leu com calma, corrigiu duas
virgulas que invertiam o sentido do que foi falado, e depois de
concertado assinou a confissão, foi algemado e levado para a
policia Federal no bairro de Santa Cândida, onde viu um
senhor sentado a cela, bem confortável, sempre disse que
faria faculdade para um dia usar uma cela assim, mas era
piada, não para ser preso;

A noticia da prisão do Jornalista tomou as manchetes


dos jornais escritos, falados e televisionados, e o advogado de
Gerson pede para falar com ele, sala de entrevista, e o
advogado pergunta;
— Não entendi por que confessou?
— Por que sou culpado, mas me faz um favor, sei que o
juiz não vai gostar, mas pede permissão para escrever minhas
noticias de dentro da cadeia!
— Ele não pode lhe proibir de se expressar!
— Sei disto, mas pede por escrito, não quero dar a
impressão de que estamos usando isto para outro fim, pois
não estaremos mesmo!
— Sabe que esta se complicando?
— Sei, mas não teria como me limpar, não teria como
ignorar tudo isto!

J.J.Gremmelmaier 201
J.J.Gremmelmaier

Como se complicar, em algo tão simples!


Direto da policia federal, escrevendo para quem quiser saber o que é
isto, realmente conforto, comodidade, vantagens, não parece com as prisões que
conhecia.
Imaginava ser assim, mas olha que se tivéssemos prisão assim para
todos, acho que mais pessoas cometeriam crimes por ai, não mereço tanto, mas
se a idéia era me fazer ficar quieto, esta é uma forma que não vai funcionar, se
a idéia era dizer para o mundo que há justiça, mostra o que sempre falei, dois
Brasil, um para quem tem recursos e um para quem não tem;
Estava a pensar sobre meus crimes, sabe quando você acha que o
melhor caminho, é o que o vai difamar e mesmo assim segue por ele, sabe
quando tudo na vida parece errado, até você mesmo, e não se nega a confessar
isto.
Não confundam, não estou fazendo como pastores que dizem a frente de
seus rebanhos, pequei, cristo operou em minha alma, agora doem dinheiro para
a igreja. Estou assumindo um crime, e não vou dizer que Jesus operou em minha
vida, pois sei que Jesus não existiu, não é questão de ser Deus ou não, ele
simplesmente não existiu, e todo historiador descente sabe disto, então não tem
como operar em minha vida, pois farsa não impera, não opera e não redime.
Não achem que por que me prenderam vou mudar de idéia, que não vou
falar que acho algumas coisas crime, mesmo diante de uma sociedade que
aceita, não aceito!
Alguém vai me dizer que Mateus falou, não sei quem disse, mas gosto
das próprias palavras atribuídas a ele, para o desmentir, você já se imaginou
Deus, e você virar para você mesmo, e falar, Pai, por que me abandonaste?
Sabe quando sei que todos já ouviram isto, e continua repetindo?
Mas por que estou falando isto?
Por que não quero que as pessoas que tem fé confundam as coisas, o
que fiz, não foi obra do demônio, o demônio não habita em mim, foi apenas obra
minha, e como um autor consciente que a policia estava no rastro, adiantei-me
aos fatos!
Mas por que?
Por que não quero ficar em liberdade esperando o julgamento, pois cada
dia que passo aqui, será deduzido de minha pena, se demorarem para me julgar,
posso já de cara pedir por bom comportamento uma prisão domiciliar, e não
adianta dizer que não é justo, eu sempre falo que não é justo, mas se a lei é
para todos, serve para mim também!
Por ultimo, acho que o que confessei hoje, só vai ajudar a não ficarem
perdendo tempo com indagações que não tem resposta, pois não quero ficar um
ano esperando o fim do inquérito!
Bom dia para vocês, pois aqui na cela da Policia Federal esta muito bom!
Gerson Travesso
Curitiba 23 de Outubro de 2010

202
O delegado levanta os dados e vê que o rapaz falou
muito, mas teria de ter acesso ao sistema para confirmar,
chama Gerson a depor e este é sentado a frente do Delegado;
— Esta feliz com o alvoroço? Estão querendo lhe linchar
por dizer que Jesus não existe!
— Se um só deles me provar o contrario, me redimo!
O delegado sorriu e falou;
— Crime sem corpo não é crime!
— Verdade, crime sem corpo não é crime, e morto sem
corpo não é morto, é armação, sabe disto delegado!
— Vai querer me convencer também?
— Não, mas o que precisa, delegado?
— Que me convença que teve acesso aos sistemas das
duas empresas!
Gerson olhou para ele e falou;
— Se conseguir meu computador pessoal que esta em
minha casa, lhe mostro como!
— E com ele vamos a qual empresa?
— Ir, não ouviu que estava em Santa Catarina e tive
acesso?
— Quer dizer que poderia me mostrar daqui mesmo?
— Sim, só preciso de uma rede sem fio!
— Por que sem fio!
Gerson olhou serio para o delegado;
— Se conseguir o computador lhe mostro!
Os rapazes foram a casa dele e trouxeram o computador
pessoal era começo de tarde;
Gerson abriu calmamente o computador, não havia
senha de acesso, mas clicou em um ícone na área de trabalho,
e este pediu senha, ele bateu 8 vezes asterisco, e o delegado

J.J.Gremmelmaier 203
J.J.Gremmelmaier
viu o programa procurar uma rede sem fio com senha nos
prédios vizinhos, e conectar;
— Assim delegado, não deixo o rastro em um IP
conhecido, não deixo rastro que vai levar direto a mim!
— Esperto, mas isto é legal?
— Acho que é dos menores crimes que assumi!
— Certo, mas como teria acesso!
Gerson acessou o site do primeiro Jornal, pos sua senha
de acesso, e código, e numa pasta interna ao jornal, já dentro
do servidor da Gazeta, deu dois cliques e um programa entrou
em ação novamente, com a pergunta;
―Confirma reativação do sistema de procura?‖
Gerson clicou em sim e o Delegado viu a confirmação
dos novos códigos de acesso de todos os diretores, e uma tela
abriu dando os valores que a partir daquele momento seriam
desviados, estimativa para 30 dias, 200 mil reais.
O delegado olha aquilo e olha para o rapaz que veio da
delegacia de crimes na Internet e pergunta;
— Isto é real?
— O rapaz sabe o que faz Delegado, ele sentado aqui
aciona algo que ainda esta instalado lá, e que pode ver, vai
desviar recursos, até fazer a transferência, fora da vista do
próprio sistema!
— Achei que entendia disto, vejo que não entendo nada,
vou precisar de um especialista! – Delegado;
Gerson deu um comando e o rapaz viu que a tela parou
e veio a pergunta;
―Cancela rastreio?‖
Gerson dá um clique no Enter e senta-se olhando para o
especialista, o delegado olhou para Gerson e perguntou;
— E tem o programa instalado nos dois jornais?
— Sim, mas estão desativados, mas mostra a fragilidade
dos sistemas!

204
— Sabe que invasão de sistema é crime? – O
especialista;
— Estou colaborando, senhor, sei os crimes que cometi,
e estou me entregando pois aqueles algoritmos foram algo
que me veio tão naturalmente a mente, que a melhor forma
de não os usar, é manter-me atrás das grades!
— O que mais consegue fazer com isto? – Delegado;
— Abrir contas em sites de Bancos, deixando faltar
apenas o comparecer do cliente assim que tudo estiver pronto,
até os cartões e os créditos apurados!
— Você usou o mesmo programa para abrir as contas
que desviou os recursos?
— Sim, e como fui apenas uma vez na agencia, no dia
de confirmar a operação, vocês tem a imagem de quem
estava na mesa no dia da abertura, mas não foi feito
pessoalmente, o terminal foi o que estava com o sistema de
abertura aberto, mas não foi preciso ir lá para isto!
— Por isto ninguém lembra de você?
— E de ninguém que abriu estas contas, mas o banco
não vai afirmar que alguém invadiu o sistema e abriu uma
conta assim, quem confiaria em um banco assim!
— Sabe que isto é falsidade ideológica?
— Sei, vai me perguntar se sei de cada crime que
cometi?
— Para confirmar! – Delegado;
— Eu confirmo, mas gostaria de saber, assumiria as
multas de transito que nega, mesmo sabendo que as fez,
delegado?
— Do que esta falando?
— Que todos nós quebramos as leis, de acordo com
nossas vontades, mas a maioria não assume!
O especialista olha para o sistema, abre a programação,
com um CD que trouxera e olha para Gerson;
— Mas parece inofensivo!

J.J.Gremmelmaier 205
J.J.Gremmelmaier
— Por isto ninguém olha, nem os antivírus, nem os
firewall, pois é algo simples, em C++, mas nada
aparentemente ofensivo!
O delegado ficou a observar o especialista a mexer no
computador pessoal;
— Delegado, melhor pedir para o juiz vedar qualquer
tecnologia para Gerson Rosa!
— É grave?
— Ele fez algo que muitos no departamento vão querer
olhar, algo que uma vez dentro, rastreia tudo, mas como se
fosse o usuário de maior nível no sistema, pela senha de
acesso da pessoa, e geralmente estas pessoas tem liberdade
de tirar e colocar dados nos sistemas, abrindo brechas para se
manipular tudo dentro das empresas!
— Acha que ele conseguiria fazer o que relatei com este
programa?
— Ele teria como limpar as pistas que o senhor não
tivesse acessado antes!
— Quer dizer que ele poderia até limpar os dados, mas
então por que ele confessou? – Delegado encarando Gerson;
Gerson sorriu, o delegado sabia que tinha algo a mais,
mas o que não sabia;

Gerson voltou a prisão e o um dos investigadores chega


ao delegado e fala;
— Delegado, temos algo que pode ser o motivo de tudo,
mas não sei se deveríamos expor isto!
— Fala!
— Lembra do caso Fabrícia?
— Sim, tivemos 10 prostitutas mortas, jurava que estava
cercando ela, e aparece antes de ontem morta!
— Sim, mas tem algo que vai gostar de saber!
— Não estou entendendo?

206
— Ela fez Programação de Sistema, e antes de ser
prostituta, era programador do Branisco!
— Mas...
— Ela conhecia Gerson Rosa, que freqüentava a casa
dela, não a boate, ele ia lá freqüentemente, ultima vez a 3
dias!
— Esta dizendo que pode ter ligação entre os crimes?
— Sim, mas não entendi o que, mas acho que
assassinato, pode ser o motivo do senhor ter se entregado,
puxando as investigações para um crime que sabe que a pena
é menor, e nos afastando de homicídio qualificado,
intencional!
— Investiga mas divide com poucos isto, não os dados
reais, acho que alguém dentro dá o serviço para o advogado
dele!
— E o que faço se precisar de algumas intimações e
alguma busca e captura?
— Fala direto comigo!

O Investigador Plínio, abre a pasta do caso Fabrícia, ele


muitas vezes duvidou que fosse a moça a assassina, abre a
pasta e vê primeira assassinada, uma garota de programa,
assim que sai do Gato Preto as 8 da manha, e andava na
direção do apartamento, dobrou a esquina e foi encostada a
grade do apartamento, ninguém viu, mas a moça foi
encontrada com uma faca enfiada em seu coração, debruçada
para frente, com carteira e bijuterias, com o dinheiro do
programa que fizera antes de ir comer algo no Gato Preto.
Segunda morta, saia da Metro, e subia na direção de sua
casa, morreu a duas quadras de casa, a 100 metros da
primeira;
Terceira, morta em um quarto de motel, com o
acompanhante, o atendente disse que não viu ninguém sair do
quarto, e não reparou nas pessoas que tinham entrado, jurava
que o senhor que entrara era mais velho que o que foi

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J.J.Gremmelmaier
encontrado morto, entraram 3 pessoas no quarto, duas foram
encontradas mortas!
Quarto caso, a Própria Fabrícia, encontrada morta na
esquina de baixo do Gato Preto, onde fazia ponto, morta a
faca também, numa noite de terça, ninguém viu nada;
Olha os casos, a proximidade de lugares, como 5 crimes,
4 prostitutas e um cliente morrem com distancia de 5 quadras,
e continua acontecendo, o que ligava os casos, esta era a
pergunta, o investigador foi conversar com a companheira de
quarto da primeira vitima, bateu um tempo, e uma moça vem
a porta e fala;
— Não faço programas em casa!
O investigador estica a identificação, passando a vista na
moça de calcinha e sutiã a porta;
— O que quer, não gosto de cana!
— Investigando a morte de sua companheira de quarto!
— Paula morreu, ninguém veio saber, por que agora?
— Ninguém falou com você?
— Um policial no primeiro dia, depois nem sei se abriram
inquérito!
— Podemos conversar?
— Sim! – Fala a moça abrindo um pouco a porta,
apartamento desarrumado, o cheiro forte de cigarro, e os
moveis velhos chamaram a atenção;
— Poderia me responder poucas perguntas?
— Sim!
— Sabe se sua amiga conhecia Gerson Travesso, um
jornalista?
A moça olhou atravessado e perguntou;
— Por que quer saber isto?
— Ela conhecia!
— Sim, foi o único a aparecer e perguntar se estava bem,
se precisava de algo, ele ajudou no enterro!
— Eram amigos?
208
— Gerson é alguém que viveu alguns anos na noite,
depois casou, e quando separou-se a poucos meses, voltou a
aparecer!
— E qual a relação de Paula com Fabrícia!
— Aquele Transexual não gostava de Paula!
Plínio se calou, algo passara desapercebido, e olhou para
a moça, quase que sem saber o que perguntar;
— Por que Fabrícia não gostava de Paula?
— Por que não sei, mas a velha rixa entre travestis e
prostitutas nas esquinas!
— Sabe se mais alguém não gostava de Paula?
— Isto é difícil, mas você desconfia de alguém?
— Não, acho que alguém esta limpando a rua, pode ser
concorrência, mas não sei, uma ultima pergunta, Paula tinha
alguma divida de drogas?
— Esta chamando ela de drogada?
Plínio olhou serio para a moça;
— Sei que ela era viciada em Crack, mas preciso saber
se alguém poderia a ter matado por isto!
— Ela consumia apenas o que podia pagar!
— Obrigado, vou passar outras vezes, quero fazer
algumas perguntas a mais!
— Apareça, pode ser a noite também! – Fala maliciosa a
moça;
O investigador vai ao IML, onde haviam os dados da
moça, e com eles, volta a delegacia;
— O que descobriu, parece intrigado?
— Fabrícia era um travesti, não foi ele que morreu lá!
— Mas afirmaram que era ela!
— Alguém plantou alguém muito parecida, mas fui ao
IML, foi uma moça que encontraram morta, não um travesti!
— Algo além disto que ligue a Gerson?
— Ele pagou parte do enterro da primeira!
— Estranho isto não ter aparecido antes!
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J.J.Gremmelmaier
— Delegado, pelo que reparei, Fabrícia era parte do
esquema de distribuição de drogas na região, pode ter sido
cobrança de drogas, mas se fosse isto, o que Gerson era no
esquema, que ia a casa do rapaz algumas vezes, ninguém ia
lá!
— Acha que pode ser assassinato com motivação em
drogas?
— Não sei nada delegado, estou divagando para pensar!

Gerson estava a sua cela, sem comunicação para fora,


mas o senhor a frente tinha um televisor, e um celular, não
queria usar ainda, nem sabia se o senhor era alguém infiltrado,
as vezes ele mesmo achava que via filme de ação de mais;

210
Olha eu!
Estava sentado a olhar minha vida, um dia pensei que
sabia o que seria, no passado pensei em fazer programa de
computador, quase fiz programa nas esquinas, pensei em
casar e acabei vendo que não servia para ser casado, fui
batizado, fiz primeira comunhão e crisma, mas em nada isto
me mostrou Deus, não por que ele não exista, mas não se
prende a uma fé. Todos que conheço tem medo da morte, eu
acho ela uma benção, pois nos livra do peso da vida, mas
nunca tiraria uma vida, ou minha vida.
Olhando para as celas a frente, penso em como querem
que alguém se arrependa de algo numa cela boa destas, e não
é o piorar dela que facilita as pessoas olharem o mundo como
melhor.
Estava a saber que um amigo morreu, todos na noite o
conheciam por Fabrícia, vi muitos homens babarem por ele
sem saber quem era de verdade, mas este Travesti vai fazer
falta na noite, sei que ele não gostava de concorrência, mas
como alguém pode querer viver como mulher, sendo um
homem, obvio que a concorrência tinha algo que ele não
oferecia, mas o contrario também era real. Mas se ele morreu
fazendo o que fazia melhor, vai ser feliz pela eternidade, ele
sempre falava que queria morrer produzido, para chegar
diante de Deus como sentia-se, um ser que nascera homem,
escolhera ser homem, mas não no corpo de um, e sim num
corpo que ele construíra, que dizia representar sua alma!
Gostaria de saber quem tem matado tantos na noite de
Curitiba, queria que alguém descobrisse, pois a noite não tem
a mesma magia com o medo nos rostos que sorriam antes.
No ultimo mês, perdi 3 amigas e agora Paulo Pedro de
Oliveira, Fabrícia para a maioria, onde esta a policia que não
vê nada que acontece ali?
Gerson Travesso
Curitiba 24 de Outubro de 2010

J.J.Gremmelmaier 211
J.J.Gremmelmaier

O delegado olha o jornal, aprendera a ler a noticia de


Gerson, e pede para falar com Plínio;
— Leu o jornal?
Plínio fez que não, mas depois que passou os olhos
falou;
— Alguém que conhecia o Traveco pelo nome completo!
— E que não vai esconder que conhecia as demais!
— Ele é suicida Investigador!
— Esperto, mas vou verificar, ele pode estar nos dando
um caminho sem saber, pois teria de fazer uma investigação
só para descobrir o que ele publicou, mas quem relatou que
era ela?
— O policial que chamou o IML!
— E os documentos?
— Sem documentos, na roupa que estava não tinha nem
onde guardar documentos!
— Delegado, sei que parece maluquice, mas algo me diz
que é um caminho a seguir, mas precisava que ele não
olhasse para isto, pois a impressão que tenho lendo o jornal, é
que ele já sabe que estamos investigando!
— Verdade, mas acho que foi coincidência!
— Mas .... – o investigador passava pelas paginas do
caso – merda, vou ter de fuçar mais!
— O que ouve?
— Primeira morte, Pietra Paula Oliveira!
— Não entendi?
— Me passou uma maluquice pela cabeça Delegado,
irmãos sempre brigam, mas tenho de verificar!
— Acha que a primeira vitima era irmã do Traveco?
— Acho que tenho de verificar antes de qualquer outra
coisa!
O investigador sai e o delegado vê o outro entrar;
212
— Delegado, o representante da empresa que comprou
os dois jornais!
— Manda entrar!
O delegado arregala os olhos vendo Marta Boaventura,
mais exatamente, Roseli Rosa, entrar pela porta, já que o
primeiro era nome fantasia;
— Você que é representante da empresa que comprou
os jornais?
— Fui nomeada oficialmente ontem, mas o que gostaria
de saber delegado!
— Comunicar que a empresa esta sendo processada por
comprar informação obtida por invasão de sistema!
— Apenas comunicar?
— Precisava saber se confirma a afirmação de Gerson
Rosa de que vocês ofereceram dinheiro por informação
privilegiada!
— Pagar por informação, é um costume normal nas
empresas de comunicação, senhor delegado!
— Mas os dados foram obtidos de forma ilícita!
— Compramos as informações, não incentivamos crimes,
compramos informação de mais de 12 jornais no país, que
estão vindo ao grupo, mas não somos responsáveis pelos
métodos usados!
— Discordo senhora, principalmente agora que sei que o
seqüestro foi uma farsa!
— Disto, não vou tratar, pois ele vai pagar caro por isto
senhor, eu com pena dele, e ele aprontando para não pagar
pensão!
— Poderia esclarecer os intuitos da compra de
informação?
— A Alaíde, esta comprando jornais no Brasil, para
ampliar sua leva de abrangência, esta começando por Curitiba,
Londrina, Maringá, Joinville, Florianópolis e Porto Alegre, mas
devem haver novas compras dentro de alguns meses!

J.J.Gremmelmaier 213
J.J.Gremmelmaier
— Tem idéia de quanto Gerson obteve em recursos com
esta venda de informação?
— Soube hoje cedo, um milhão de reais, e pensar que
tive de pedir duas vezes a prisão dele o ano passado por não
pagamento de pensão!
— Tem idéia de onde ele pode ter investido estes
recursos?
— Não, gostaria de saber, mas não sei!

Plínio entrevista familiares da segunda vitima, e um


companheiro da terceira vitima, e na volta tem a confirmação,
primeira vitima, irmã de Fabrícia, que não tinha este nome,
olhou os casos de morte, o caminho não estava dando em
nada, quando ele dá uma incerta na casa de Fabrícia, e um
rapaz estava lá;
— Posso saber quem é você? – Investigador;
— Eu e Fabrícia dividíamos a casa, mas se ela morreu,
vou ter de achar algo menor, não vou poder com o aluguel
sozinho!
— Sabe se Fabrícia tinha alguma inimiga?
— Não, e ficou paranóica depois da morte da irmã!
— Por que?
— Por que já tinha perdido uma prima a 4 meses, agora
havia perdido a irmã, estava meio assustada!
— Com quem consigo informação sobre esta prima, que
morreu a 4 meses? Sabe se desvendaram o caso?
— Nem terminaram o inquérito ainda, mas acho que a
única pessoa que poderia lhe informar sobre isto é a irmã da
morta!
— Sabe onde a encontro?
— Não, mas para vocês da policia deve ser algo fácil!
— Por que?
— Repórter famosa, Marta Boaventura!

214
Plínio sorriu, quanto mais fuçava mais quente ficava as
cinzas, voltou para a delegacia e o delegado ficou a ver o
investigador olhando os registros de mortes, não achou
ninguém morta a 4 meses nem como o sobrenome
Boaventura e nem Rosa, lembrou que Rosa era sobrenome de
casada, foi ao registro dela e viu o sobrenome dos pais da
moça, Oliveira, era mais alguém a ouvir, mas já estava
cansado, se informou, viu outros nomes relacionados com a
morte, tinha de trocar uma idéia, e sentou-se a frente do
delegado;
— Pelo jeito não foi um dia muito bom? – Delegado;
— Não faz sentido, mas estava me perguntando se
verificaram se o diploma de jornalismo de Gerson é autentico!
— Por que?
— Por que ele e a ex, não usam seus nomes, ambos
escolheram nomes fantasia, e mesmo quando casados, nomes
diferentes!
— Verifico isto, mas por que?
— Verifica o da senhora também!
— Acha que estão os dois envolvidos? – Delegado;
— Teria um motivo para isto Delegado?
— Ela assumiu a presidência dos 2 jornais,
representante legal deles no Brasil!
—Delegado, o que vou falar é loucura, mas levantei e é
real, o nome de solteira de Marta, é Roseli Oliveira, ela teve
uma prima, morta a 4 meses, uma prostituta, ela era prima de
Pietra Paula e de Paulo Pedro, quer dizer, do rapaz ela ainda
é!
— Esta a dizer que ouve três mortes relacionadas a
família da moça, nos últimos 4 meses!
— Não, deixa eu acabar, ela é Oliveira por Pai, e Souza
por parte de mãe, as outras duas mortes, Gerda Souza, a
Branca, e Jaqueline Souza, a Jaque, também primas da moça!
— Ela é parente de todas as mortas?

J.J.Gremmelmaier 215
J.J.Gremmelmaier
— Sim, mas isto não é crime, já que isto explicaria por
que os 3 enterros primeiros Gerson participou do racha do
pagamento das custas!
— E não participou do ultimo por que estava preso!
— Sim, mas Marta cuidou dos custos, eles não
escondem isto, podem não falar, mas não escondem!
— Certo, eles cuidam dos enterros, mas isto complica
todo o caso!
— Sim, pois transforma não numa morte acidental, é
uma morte programada, daí comecei a fazer os levantamentos,
dos primos de Marta, apenas dois ainda estão vivos, um em
Portugal, e um no Brasil, dos tios, todos mortos, todas mortes
estranhas, algumas tidas como naturais, mas começo a
duvidar e não tenho como verificar!
— Então Fabrícia pode estar se escondendo, se estão
matando todos, poderia achar que era a próxima!
— Sim, pois todos diziam que Gerson era uma carta de
segurança dela, não entendi isto, mas foi o que ouvi, que com
ele preso, o traveco entrou em pânico!
O Delegado olha para o investigador e pergunta;
— Por onde quer ir?
— Vou ter de levantar algumas coisas, pois embora
existam no discurso, Gerson sempre falou em uma prima, mas
o pai dele era filho único, e não consegui verificar a mãe, mas
ninguém nunca viu a prima dele, e Gerson é agente dela, ele
que repassa as matérias dela para todos os jornais, desconfio
que mesmo ela não existe!
— Pelo jeito este rapaz é dos encrenqueiros grandes!
— Pelo jeito, mas pode não ser isto, vou ter de ir a
Florianópolis amanha, assim que voltar nos falamos!
— Acha que deveria ouvir a moça sobre a morte do
primo?
— Acho que sim, faz parte do nosso trabalho!
O delegado sorriu e o rapaz voltou a sua mesa;

216
Jogos Educativos
Lembro com saudades de quando os jogos, faziam você
pensar, você exercitar, você se inteirar de assuntos, hoje, desculpa,
induzem nossos filhos a violência, meu filho me pergunta por que só
compro jogos de corrida, educativos e coisas assim!
Uma pergunta, quando os jovens chegarem a idade adulta o
que serão, pois eles acham normal jogos onde a única missão, é
sobreviver matando todos os demais, ou é sair pelas ruas matando,
espancando, batendo carro, roubando carro, atropelando pessoas, o
que vocês pensam que estão fazendo com seus filhos?
Não adianta dizer que o que vi na ultima vez que fui a uma
Lan House foi educativo, não foi, e não são só meninos brincando
disto, é luta, é briga, é assassinato, tem um jogo que é mais terrível,
o menino fica se matando varias vezes, vale como objetivo do jogo,
se matar mais vezes possível, você pode se incendiar, você pode por
a cabeça em um triturador, e coisas assim.
A pergunta é onde estão os pais, o que eles estão esperando,
que os filhos sejam normais quando crescer?
Mas estes dias, antes de ser preso, fiquei em uma esquina a
olhar, os jovens, pois com 18 anos são jovens, primeiro eles jogam
em uma Lan, depois vão a Academia, tem braços imensos, e por
ultimo sentam ao bar e tomam uma cerveja, nesta idade eu já
trabalhava, já fazia faculdade, olho estes rapazes, o que acham que
serão na vida, alguns até fazem faculdade a noite, pois em algum
lugar tem de mostrar o corpo escultural. Faculdades se multiplicam
mas a qualidade se deteriora, dia atrás de dia;
Mas sem desviar o assunto, quem regula estes jogos, como
posso aceitar que se venda isto no Brasil, vão me dizer que são
contrabandeados, que os legalizados tem alerta de idade para o
consumidor. Certo, mas a maioria, para ter graça, tem de se jogar
em rede, ou melhor, alguém tem de instalar em um servidor para
que todos joguem, isto não é difícil de monitorar, programas piratas,
desculpa, se fossem proibidos, era entrar na Lan e fechar as portas,
se lá tivesse instalado, pois mesmo para adultos, assaltar, matar e
espancar é crime, se pedofilia na Internet é crime, induzir a violência
também deveria ser!
Gerson Travesso
Curitiba 25 de Outubro de 2010

J.J.Gremmelmaier 217
J.J.Gremmelmaier

Marta estava deixando o carro em casa, voltando da


obrigação de deixar o filho ao colégio, quando um rapaz a
entregou a intimação a depor, não havia motivo, apenas depor,
estranhou mas não se negaria a isto;
Gerson também foi clamado a depor pela manha, e
Marta a tarde, e sentou-se a frente do delegado;
— Pelo jeito vai ficar mais tempo preso senhor, do que
pretendia!
— O que fiz agora?
— Talvez nada, mas pedi uma acareação hoje a tarde, e
preciso lhe fazer algumas perguntas!
O Delegado viu o advogado de Gerson entrar na sala,
sabia que os direitos do rapaz seriam obedecidos, o
cumprimentou;
— Tudo bem Gerson? Sabe que não precisa responder
nada que o incrimine!
— Sei disto, senhor Pereira, apenas contribuindo com a
justiça, mas não sei ainda do que se trata?
O Advogado olhou para o delegado que encarou Gerson
e perguntou;
— Qual o seu envolvimento no esconder do verdadeiro
Paulo Pedro de Oliveira, encoberto por uma falsa morte,
estamos levantando a verdadeira identidade da morta, mas
não foi Fabrícia, e sim uma moça muito semelhante a ela!
Gerson olhou o advogado e falou;
— Poderia nos dar um momento a sós?
O advogado olhou para o escrivão;
— Sei o que estou fazendo! – Gerson;
O advogado saiu da sala e Gerson olhou para o escrivão
e perguntou;
— Nos daria apenas 2 minutos?
O Delegado estranhou, mas fez sinal para o escrivão sair,
pelo jeito Gerson iria falar algo mas que não queria

218
testemunha, assim que o escrivão saiu, Gerson sabia que
poderiam estar gravando, mas não seria uma declaração
formal;
— O que precisa saber delegado?
— Sabe da farsa?
— Sei do por que da farsa, não tinha certeza da morte
de Fabrícia, a foto na capa da Tribuna não parecia ela!
— Você por uma foto de jornal pode afirmar isto, como?
— Primeiro, a foto mostra de lado, um corpo ao chão, o
defunto deve ter não mais de um metro e sessenta, Fabrícia
tinha mais de um e setenta e cinco, não tinha quadris
formados, a moça morta tinha, e seios de silicone não reagem
a gravidade como os naturais delegado!
— Certo, mas disse saber a causa!
— Sim, o motivo de sempre, dinheiro!
— Dinheiro, não entendi?
— Marta mudou de nome para fugir disto senhor, se
olhar os registros dela, depois da morte de 3 tios, em São
Paulo, dois vieram a Curitiba, esta briga já dura 50 anos, e
acho que da linha dos Oliveira, acho que sobrou apenas ela e
Fabrícia, da linha dos Souza, todos que conheci estão mortos!
— Não faz sentido! – Delegado;
— Não, mas é questão complicada, para fazer sentido!
— Então fala de uma vez!
— A mais de 50 anos, dois irmãos roubaram uma igreja
em Tiradentes, Minas, Flavio e Maria Oliveira, estes dois
irmãos, depois do roubo se esconderam em Santos, dizem,
para mim isto é lenda familiar Delegado, que os dois se
apoderaram de mais de 60 quilos de ouro, 12 santos
esculpidos, originais, banhados a ouro, e todos os artefatos da
Igreja de Bom Jesus em Tiradentes, os dois irmãos
esconderam isto e combinaram em dividir entre eles com
calma, quando a poeira baixasse este dinheiro, mas algo
aconteceu, e numa reunião que deveria ter acontecido a 40
anos atrás, Maria, que havia cassado e morrido 6 meses antes
J.J.Gremmelmaier 219
J.J.Gremmelmaier
não apareceu, mas parece que o marido dela apareceu, e
começou esta guerra de morte lá, morte aqui, mas algo intimo
a uma família, não sei ao certo quem fez o que, entrei nesta
família quando casei com Roseli, mas os pais dela, eram
primos, os dois se apaixonaram e casaram, a família foi contra,
então os dois se mandaram para o Paraná, mas a pouco
tempo, uns meses, começaram a morrer as pessoas ligadas a
família, obvio que veio um medo que a praga da família
estivesse se voltando a família aqui escondida!
— Mas como soube do caso?
— Quando os primos de Marta se mandaram para
Curitiba, acabamos nos inteirando disto, vieram fugidos de lá,
Roseli ficou assustada, pois sempre estranhara a morte do
irmão mais novo, que morreu misteriosamente em São Paulo!
— E por que não procuraram a policia?
Gerson sorri, olha para o delegado e pergunta;
— Por que, vocês quando o caso de morte vem de
prostitutas, de gente pobre, desculpa a sinceridade, mas vocês
deixam o caso em uma gaveta e esquecem, o caso da prima
de Roseli está em alguma destas gavetas, sem ninguém nem
se preocupar com o caso!
— Acha que sua ex vai confirmar o que falou aqui?
— Não respondo por ela Delegado, apenas por mim!
— Mas se ela tiver medo, por que não falar?
— Por que ela se esconde atrás de um sobrenome falso,
já fazia isto quando a conheci na faculdade, escancarar isto é
virar vitrine, e como vocês não vão a proteger, as vezes
parecem querer que morramos para ter mais pistas, não sei se
ela falara!
— E você não declara isto oficialmente?
— Delegado, se olhar o numero de mortes, deste caso,
vai ver que não é pouco, e até agora, ninguém se importou,
eu nunca descobri quem ganharia com isto, pois somente isto
poderia me levar a descobrir quem esta matando, mas não
achei quem ganharia, pois não sei onde esta o objeto deste

220
roubo, não sou herdeiro disto, mas me preocupo com meu
filho, ele é herdeiro desta confusão!
— Se não for você o assassino, quer dizer?
— Verdade, e devo ter matado a maioria dos herdeiros
quando tinha entre 4 e 8 anos, comecei cedo!
— Não vai declarar isto oficialmente?
— Não, se o escrivão estivesse a acompanhar me
negaria a falar, a dar respostas, pode não entender delegado,
mas não vou declarar para ninguém que meu filho é herdeiro
deste problema!
— Mas os registros dizem que conhecia Fabrícia a muito
tempo!
— Sim, ainda era um homem, estudante de Computação,
fizemos faculdade em paralelo, eu na Federal e ele na Puc,
através dele que conheci Roseli, não tenho como negar isto!
— Por que parece que esta historia fede diferente do
que está a falar!
— Por que o fedor é forte senhor!
— Mas qual o valor deste roubo, para valer tantas
mortes?
— Não sei ao certo, mas 60 quilos de ouro, dá quase um
milhão de reais, mas o resto nem sei o que é ao certo, para
saber o valor!

Em Florianópolis uma moça estava a passar o café da


manha quando ouve a campainha, desliga o leite, e vai a porta,
olha pelo olho mágico, não reconheceu, abriu a porta com a
tranca e olhou o senhor;
— Senhorita Carla Rosa!
— Sim!
O rapaz tirou a identificação de policial, mostrou para a
moça falando;
— Investigador Plínio, da policia Civil do Paraná,
podemos conversar?

J.J.Gremmelmaier 221
J.J.Gremmelmaier
A moça olhou desconfiada, pegou a identificação, olhou
a foto e o rapaz a foto e perguntou;
— O que quer senhor?
— Apenas conversar!
A moça destrava a porta e olha desconfiada;
— Me espere na sala, senhor, vou terminar de me vestir!
Plínio foi a sala, e a moça ao quarto, sobre a mesa da
sala, o jornal do dia com a matéria dela, e um computador
pessoal, com uma pagina aberta em um editor de texto, com
uma matéria escrita, somente não assinada, Plínio não resistiu
e deu uma olhada, e quando ouviu um movimento sentou-se
rápido a sala;
A moça veio vestida simples, camiseta, jeans e olhou
para o senhor;
— O que precisa saber investigador!
— Me inteirando do assunto, você é prima de Gerson
Rosa?
— Sim! – A resposta foi seca, a parede do apartamento
se via o diploma de Jornalismo pela Universidade Federal de
Santa Catarina;
— Qual a sua relação com seu primo?
— Temos opiniões divergentes, mas que entre
discussões e rusgas, nos afinamos em outros assuntos!
— Não entendi!
— Briga entre primos, o que precisa senhor, isto é
pessoal!
— Soube que ele lhe indicou para muitos trabalhos, até
é seu procurador e representante junto a muitos jornais,
confia nele a este ponto?
— Não, mas enquanto o dinheiro estiver entrando certo,
não tenho como reclamar!
— Não confia nele e mesmo assim ele que a representa?
— Senhor, antes dele me representar, eu era apenas
uma repórter local sem emprego, hoje tenho emprego,

222
escrevo para mais de 70 jornais no país, e 12 o exterior, não
tenho do que reclamar!
— Estava trabalhando? – Pergunta o senhor olhando
para o computador pessoal;
— Não, estava fazendo o meu café! – Fala arrisca a
moça;
— Sabe por que seu primo esta fazendo questão de ficar
preso?
— Nem idéia!
— Sabe se alguém de sua família morreu
misteriosamente nos últimos meses?
— Não entendi a pergunta?
— Apenas eliminando dados!
A moça pareceu pensar e falou;
— Não, ninguém morreu nos últimos meses, não de
minha família!
— E da de seu primo?
— Ai não sei, não conheço a ex dele para afirmar algo!
— Certo, só mais uma pergunta! – O senhor olhou em
volta, achara o que não combinava. – Se esta se dando tão
bem com as reportagens, por que o computador é velho, o
apartamento esta aos pedaços, parece que tudo precisa de
reforma!
A moça olhou serio para o investigador e falou
levantando-se;
— Me reservo a não responder! – Fala a moça já quase
na porta, a abre – Passar bem!
O investigador se levanta e sai pela porta, e a moça
sorri;

Marta chega a delegacia no inicio da tarde, e o Delegado


olha para a senhora e fala;
— Boa tarde, Roseli Rosa!
— O que está acontecendo delegado!
J.J.Gremmelmaier 223
J.J.Gremmelmaier
— O assunto do dia é a pseudo morte de seu primo!
Roseli sentou-se e olhou para o delegado;
— Como Pseudo?
— O corpo encontrado é de uma moça, muito
semelhante para quem não conhecia, mas uma moça!
— E o que quer saber?
— Me inteirar deste caso, já que os meus levantamentos
põem você e mais 3 pessoas como alvos, e apenas a senhora
e seu filho estão em minha área de atuação, pois Santos e
Lisboa não o fazem!
— Não tenho como o ajudar Delegado!
— Mas se não me ajudar, serei obrigado a tornar publico
isto!
— E se ajudar, eu e meu filho morremos, que alternativa
me dá delegado!
— Me ajude a achar o assassino, fica mais fácil e seguro
para a senhora!
— Como posso ajudar, já que pelo que sei, o assassino
inicial já pode ter morrido e passado para alguém o objetivo
de matar os demais, mas por algo que desconheço!
— Mas que pode estar relacionado a acontecimentos
recentes, pois ninguém continua matando sem um objetivo!
— Então primeiro descubra o objetivo, que depois eu
ajudo!
— Mas seus pais não lhe passaram nada que pudesse
ser um objetivo a alguém?
— Meus pais nem falaram que existiam os parentes fora
da cidade, eles foram excluídos, pois quando no passado
primos se casavam, era bem mais complicado que hoje em
dia!
— Mas não herdou nada que pudesse ter valor?
— Não, me deixaram uma casa no Ahu, mas foi vendida,
somente depois da morte deles descobri existirem parentes
externos a cidade, uma tia assumiu minha educação, e

224
quando terminaram de vender os bens, me deixaram em uma
associação de menores, e sumiram!
— Esta a dizer que foi educada pelo estado mesmo
tendo herança?
— Eu não vi a herança, não tenho nem uma lembrança
de minha mãe e meu pai, ou apenas as memórias de um
passado muito distante!
— Foi criada onde?
— No Orfanato São Francisco, até os 14, depois teve
uma regra interna que não manteriam crianças superiores de
14 anos, achei um lugar em um lar espírita, ali no Capanema,
comecei a trabalhar, vi alguns primos, fugidos aparecerem,
nem sabia que tinham conhecimento de onde eu estava, e
surgem em minha miserável vida, passamos fome juntos e
somente depois dos 18 consegui um local para morar, alugado,
comecei minha faculdade, que demorei 8 anos de esforço para
terminar, foi na faculdade que conheci Gerson, alguém capaz
de me fazer esquecer o passado, me achar especial, isto devo
a ele, que vinha de uma família pequena!
— Mas seus primos não podem ter trazido algo?
— Nem idéia, teria de perguntar para eles!
— Mas onde encontro seu primo?
— Não sei!
— Por que um rapaz que dividia uma casa com seu
primo disse que seu ex marido dava segurança a ele!
— Não sei do que esta falando senhor!
O delegado não insistiu, dispensou a moça e ficou a
fazer os levantamentos dos demais casos;

Plínio chega de Florianópolis e entra na sala do


Delegado;
— E daí, o que descobriu?
— Nada, nada mesmo, a moça mora num prédio bom no
centro, mas não parece estar bem financeiramente, mas disse

J.J.Gremmelmaier 225
J.J.Gremmelmaier
que enquanto estivesse entrando o dinheiro ela não teria nada
contra o primo!
— Falou com estas palavras?
— Não, mas sabe quando o discurso parece não
encaixar com o fato, o apartamento esta caindo aos pedaços!
— Sei, mas ela existe pelo menos!
— Sim, é jornalista mesmo, e estava a escrever o artigo
de amanha quando cheguei lá!
— Lhe tratou bem?
— Nada, áspera e desconfiada!
— Verifiquei os diplomas, todos legais Investigador,
Gerson não terminou a faculdade de Programação, mas
terminou a de jornalismo!
— E a ex?
— Alguém que não tinha nada antes de conhecer Gerson,
a interroguei, tudo bate no sentido de que os primos vieram
fugidos para Curitiba, ela não tinha nada, mas a vinda deles
para a cidade é que acabou a aproximando de Gerson!
— Ela falou algo sobre os assassinatos?
— Não, Gerson falou, ele parece não ter freio na língua
mesmo!
— E por onde vai a investigação?
— Do que ele confessou, somente confirmamos parte do
que ele falou, como não temos como afirmar como ele tirou
algo que tem diretor antigo da empresa que nem notou o que
aconteceu, nem sabe do desvio, nem tem idéia do quanto
saiu!
— Se ele não falasse, não pegaríamos ele, isto que não
encaixa!
— Isto é o que nos intriga, mas não são as mortes ainda,
tem que ter mais coisa ai!
— Mas onde?
Os dois se olham sem respostas;

226
Vontade de falar merda!
Quando nos teatros da França se fala merda para quem vai entrar no
palco, é um desejo de sucesso, sonhar com merda, sinal de dinheiro a caminho,
sonhar que pisou em merda, sinal que vai decolar no emprego, mas se merda é
tão bom, por que fede?
Fede por que é merda, mesmo trazendo coisas boas, ela saiu de um lugar
fedido, ela é sinal que você alimentou seu corpo, sua alma, sua existência, mas o
fedor depende de o que você comeu!
Repolho, deus me livre, carne, cruz-credo, mas na hora de comer não
reclamamos, apenas depois do cheiro, que apenas nós resistimos, não por opção,
e sim por não ter alternativa!
Quantas vezes falei merda, por que sei que federia, mas não fedeu por
que falei, e sim por que alimentei a existência com coisas fedidas.
É a existência comparada a não existência, e vai me perguntar o que é
inexistência, é não poder fazer o que se quer, é não poder garantir o futuro de
alguém que você gerou, é ver todos os demais saírem de férias, e você ali, preso
a um emprego que não lhe levara a nada, nem pagar suas contas!
Me perguntaram o que podemos fazer sobre isto?
Não sei vocês, mas por anos não fiz muita coisa, por anos não sabia o
que poderia fazer, até alguém sentar a minha frente e falar;
— Gerson, se eu morrer, cuida da Roseli, eu que a coloquei nisto!
— O que fez, Pedro? – Era estranho chamar Fabrícia de Pedro, mas
como amigos, não era difícil;
— Quando fugi, trouxe uma praga comigo, e sem querer a envolvi!
Demorei horas, dias para entender o que acontecia, mas quando ele
morreu, pensei em como posso ajudar, e fiquei a pensar, o que plantei, o que
posso plantar, o que posso fazer, comecei a pensar em quem estava vivo, para
chegar matando as pessoas sem ninguém ver, sem ninguém se meter, e me veio
uma certeza, não é uma pessoa, é uma entidade, por que ninguém da época dos
acontecimentos esta vivo, ninguém sobreviveu, mas continuam a matar, não é
questão de dinheiro, ou não de pouco dinheiro, mas é referente ao que se
roubou, ainda penso nisto, o que se rouba que não tem preço, o que se rouba que
não para alguém, independente dos gastos, do tempo, de meio século, o que?
Fabrícia vou cuidar de todos, não quero saber onde se escondeu, mas se
você se escondeu, algo muito errado está por traz, sei que quando fugiu era um
adolescente, imagino o pânico de abraçar as outras 3 pessoas que havia sobrado,
todos menores, e se mandado para Curitiba, não era opção, era sobrevivência.
Mas lhe afirmo, vou cuidar deles, e se alguém quer me ver fora de
controle, toque em minha família, eu sou suicida, mas principalmente, sou
Família, acima de Deus, acima da lei, acima da justiça, seja divina ou não, sou
Família!
Vai dar Merda!
Gerson Travesso
Curitiba, 26 de Outubro de 2011

J.J.Gremmelmaier 227
J.J.Gremmelmaier
Amanhece e o Delegado terminava de ler e vê o
Investigador entrar pela porta com o jornal a mão:
— O que ele quis dizer com isto? – Plínio;
— É um não toque na minha família, que vai ter
represália!
— O que não sabemos dele, não é uma ameaça velada,
é uma ameaça direta!
— Não sei, mas Plínio, vai a Minas e descobre o que foi
dado como roubado neste pseudo roubo!
— Por que?
— Ele tem razão, ninguém da época esta vivo, todos os
sobreviventes fugiram a Curitiba, por anos pareciam não saber
onde estavam, mas descobriram e começou tudo de novo!
— O que mais quer que faça? – Plínio;
— Deixa comigo, estava lendo os seus relatos, vou
mandar prender a companheira de apartamento de Paula!
— Por que?
— Ela lhe induziu para Fabrícia, mesmo sabendo que
eram irmãos, é muita coincidência, ela induzir a alguém
morta!
— Certo, vou a Minas!

No centro de uma favela existente na divisa de Colombo


e Pinhais, região metropolitana de Curitiba, um senhor termina
de ler o jornal e chama dois rapazes;
— Preto, vai ao centro, verifica!
— Mas por que?
— Família, sabe o que é isto?
— Sim, mas como vamos passar desapercebidos!
— Vai lá, se Gerson estiver precisando de algo, ele
deixou algo para nós!
— Certo, vou lá pai!
O rapaz sai no sentido do centro em um opala negro,
rebaixado, com a lataria tão limpo que dava para se pentear
228
na lataria, os vidros com película escura, os pára—choques
cromados, parou na frente do prédio de Gerson e subiu ao
apartamento, e viu a porta um senhor que perguntou;
— Deve ser o filho do Machadinho!
— Sim, meu pai mandou verificar o que ele precisa!
— Proteção para a ex e o filho, e todos os que o
cercavam!
— Sabe o que a policia vai achar disto?
— Ele quer eles vivos, podem ser presos, mas vivos!
— Certo, tem os endereços?
O senhor, advogado de Gerson, esticou um papel para o
rapaz que saiu dali, como entrou, poucos o viram;

Priscila passa na Gazeta, Maria a chama para conversar;


— O que foi Maria?
— Quer trabalhar ou ainda torrando dinheiro?
— Gerson disse que abriríamos um Jornal e foi preso!
— Quer ou não!
— Sim, mas o que farei?
— Vamos por as contas em dia, mas estamos precisando
de matérias diferentes, coisas diferentes!
As duas ficaram ali conversando;

O advogado de Gerson pede para falar com Roseli que o


recebe em sua sala no Diário;
— O que aconteceu Pereira?
— Gerson mandou acionar Machadinho para proteger
todos, não sei a idéia, ele não dividiu o porquê, apenas que
tinha de ser feito!
— Sabia que os dois não tinham por que estar brigados,
mas sinal que é grave, sabe quem ele pediu para proteger?
— Sim, 12 endereços!
— 12?

J.J.Gremmelmaier 229
J.J.Gremmelmaier
— Estarão de olho 24 horas em você e no menino, e em
outras 5 pessoas!
— 5?
— Sim, mas não sei quem são, não gosto de tratar com
gente assim! – Pereira;
— O senhor que sabe, se não esta contente, fala com
Gerson, ele acha outro advogado!
— Ele não ouve, fala demais, nos dispensa quando não
quer que ouçamos, não sei onde estou colocando os pés!
Roseli olha para o senhor, pensa um pouco e fala;
— Também não sei senhor, mas é bom saber que ele
pediu a proteção do filho!
O senhor saiu dali, Roseli olhou para Paulo a porta e
falou;
— Tudo bem?
— Sim, problemas?
— Advogados sem estomago para a defesa de Gerson!
Paulo sorriu e saiu pela porta;

O Delegado vê um investigador entrar na sua sala e


falar;
— Precisamos falar Delegado!
— O que aconteceu?
— Não sei, mas os rapazes que mandou deixar de olho
no apartamento vazio de Gerson, narram um encontro hoje do
advogado de Gerson e do Paulinho, filho do traficante
Machadinho de Almirante Tamandaré!
— Se encontraram no apartamento de Gerson?
— Não, no corredor, se fosse no apartamento
saberíamos o que trataram, mas se encontraram no corredor,
na porta do Apartamento!
— E algo mudou?

230
— Sim, estamos vendo gente de Machadinho nas portas
do Jornal Diário Vespertino e na frente do Colégio do filho do
Gerson neste momento!
— Agora entendi, este rapaz é rápido, quando li hoje
cedo a coluna dele, não havia pensado em um pedido de
ajuda e proteção, mas foi o que fez, mas o que ele tem haver
com Machadinho!
— Estamos levantando isto, mas um informante de
Colombo disse que Paulinho é afilhado de Gerson!
— Afilhado, este senhor parece a cada hora mais enfiado
em encrenca, mas nada que de para ligar a mais alguma
coisa!
— Por que?
— Ele confessou que desviou 800 mil reais, os
levantamentos indicam pouco mais de 8 mil, o resto não
conseguimos rastrear!
— Já pensou se ele não assumiu isto mesmo sem ter
feito?
— As vezes, mas não acredito nisto, mas se ele investiu
no submundo os recursos, não teríamos como monitorar isto!
À tarde e o Investigador Plínio, depois de descer em BH,
pegou um carro no sentido de Tiradentes, era fim de tarde
quando ele chegou a igreja barroca de Santo Antonio em
Tiradentes, e pediu para falar com o responsável, estava
acompanhado de um investigador da policia Mineira, exigência
da policia local para ajudarem foi ter alguém deles por perto;
— Desculpe Padre Benito, este investigador vem do
Paraná pois um caso antigo daqui, esta gerando mortes lá, e
ele precisava lhe fazer umas perguntas!
— Boa Tarde Delegado, não temos o que esconder na
casa de deus!
— Boa Tarde, meu nome é investigador Plínio, Homicídio
de Curitiba, e deve estar estranhando isto senhor!
— Sim, homicídio de um lugar tão longe, em que posso
ajudar!
J.J.Gremmelmaier 231
J.J.Gremmelmaier
— Estamos com uma das testemunhas de um caso, que
já tem 4 mortes em nossa cidade, afirmando que a causa das
mortes, é o apoderar-se de ouro e peças religiosas que
pertenceram a esta igreja, e foram roubados a 51 anos, e
gostaria de saber, se teria registro do que foi roubado, ou se
foram roubados, pois nos pareceu uma historia muito
fantástica!
O religioso olhou para o Delegado local e depois para o
Investigador e perguntou;
— Os falecidos, eram daqui?
— Não, jovens que nunca pisaram nestas terras,
aparentemente!
— Eles faziam o que?
— Qual a relevância senhor! – Perguntou o Investigador;
— Por que pessoas que roubam a igreja, em nada
parecem merecedoras de clemência!
— Os mortos são descendentes dos que roubaram
senhor!
— Mas arvores ruins não dão bons frutos em sua
maioria!
Plínio olhou o senhor e falou;
— Parece ter raiva nestas palavras, que saiba a igreja é
física, bens físicos não deveriam ser a prioridade, e sim as
almas, mas se não pode ajudar, tudo bem senhor!
— Não disse que não posso ajudar!
Plínio não falou nada, mas olhou o senhor aos olhos, e
reparou que o religioso olhou para o delegado antes de falar;
— Ouve um grande roubo nesta igreja a mais de 50
anos, sei que é parte da historia, dizem que roubaram
apetrechos da igreja, todos banhados em ouro, as seis
imagens, entre elas a própria imagem de santo Antônio!
— Teria como ter uma descrição destes objetos?
— Qual o interesse! – Delegado;
— Achamos que isto vai surgir lá, já que parece que a
50 anos as famílias que roubaram estão brigando, e pelo que
232
sabemos, temos apenas 4 pessoas vivas ainda, então deve
surgir por lá algo, e preciso identificar estes objetos!
O delegado olhou para o padre;
— Tudo bem Delegado, o investigador pode ter razão, e
seria uma dádivas termos de volta mesmo que 50 anos depois,
os objetos roubados!
O religioso pediu para os acompanhar, adentraram uma
pequena peça nos fundos da igreja, onde tinham todos os
registros da igreja, batismos, casamentos, gastos,
acontecimentos, e o senhor puxou um em particular e pos
sobre uma mesa, antes de abrir falou;
— Só queria uma promessa Investigador!
— Promessa?
— Sim, que só tornara publico isto se for necessário!
— Com certeza senhor, não vim aqui para sair falando
do roubo, pois ele para as leis já prescreveu como crime, mas
se acharmos algo, precisamos saber se é daqui, pois acredito
que quem rouba uma igreja rouba outras coisas!
— Verdade, os que se deixam levar pelas tentações, não
se contentam com pouco, sempre querem mais!
O padre abriu a pagina e passou ao investigador, que
leu atentamente, inicialmente não entendeu, mas depois de
um tempo, conseguiu ler a letra cursiva e anotou algumas
coisas;
―254 quilos de ouro‖
―Aparatos de missa:
Castiçal de 9 velas, em ouro
6 taças de vinho em Ouro,
Seis porta taças em Ouro
Seis pires em Ouro
Imagens:
Santo Antonio Adornado em cerejeira banhado em Ouro
Menino Jesus em cerejeira com vestes em Ouro

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J.J.Gremmelmaier
Virgem Maria em imbuia, com vestes em ouro e 45
diamantes
Santo Antonio com o Menino ao Colo em imbuia
Jesus Coroado em imbuia‖
Plínio leu uma frase, não entendeu, e depois da terceira
vez, olhou para o padre de perguntou;
— Não entendi, aqui diz Crânio de Tiradentes, o que
quer dizer com isto?
— Esta era a peça mais importante do acervo
Investigador, quando espalharam os pedaços de Tiradentes
depois de enforcado e retalhado como exemplo, a igreja
guardou o crânio, e estava em uma sala interna, não sei o que
eles pretendiam roubando o crânio, mas mostra que eles não
respeitam nem os mortos!
— Esta a dizer que tinham entre os pertences mortos o
Crânio de um Mártir?
— Sim!
— Não sei se este conseguirei recuperar Padre, mas
agradeço a ajuda, pois acredito que se algo assim aparecer,
podemos rastrear os demais!
— Agradeço jovem, seria uma felicidade receber os
pertences roubados novamente!

Plínio se hospeda em uma pensão a duas quadras da


igreja, sua mente esta a toda, muita coisa sem significado, ele
sentou-se para a janta e viu que algumas pessoas da cidade
entraram e um senhor veio a ele e perguntou;
— O senhor deve ser o investigador que veio falar com o
padre?
— Sim, por que?
— Curiosidade, qual o motivo de alguém vir de longe
falar com o padre!
— Quem disse que sou de longe?
— Com esta pronuncia com certeza é do sul!

234
Plínio sorriu, mas olhou para o senhor e falou;
— Na verdade vim apenas confirmar se houve um crime
aqui a 51 anos, pois alguém acredita que esta havendo
retaliação em nossa cidade ainda referentes a estas mortes!
— Retaliação? – Perguntou o senhor, estava em um
terno muito caro, Plínio parecia não prestar atenção, mas era
bem atento a detalhes, relógio suíço, gravata italiana, sapatos
italianos;
— O delegado insistiu que viesse, mas não vi nada que
ligue ao pessoal de lá! – Desconversou o investigador;
— Bom saber, mas fica até quando?
— Amanha cedo vou embora!
— Então aproveite a noite!
Plínio viu o senhor sair pela porta, olhou para a moça da
estalagem que desviou o olhar quando a olhou, e pensou em
o que fazer, pegou o celular, passou uma mensagem para o
delegado, para a ex esposa, pediu uma cerveja e terminou a
janta com calma;
Quando terminou, deixou tudo acertado com a dona da
estalagem para sair logo cedo, e foi ao seu quarto, carregou a
arma, algo dizia a mente dele que algo muito errado estava ali,
queimou a anotação que fizera a caneta, apagou as
mensagens e a caixa de contatos do celular, ajeitou uma
coberta na cama, cobriu com um lençol, fechou a janela, e
apagou a luz, sentou-se ao chão, próximo da janela, por traz
das cortinas, começava a achar que estava maluco, quando
ouviu barulho vindo pelo corredor, andando com passos
pesados pelo corredor com tabuas de madeira, ouviu quando
alguém pôs uma chave na porta e a que ali estava caiu no
tapete próximo a porta, estava quieto, próximo a janela
quando a porta abriu e se viu a silhueta de dois homens
grande, viu um pegar uma arma, viu o brilho, este engatilhou
a arma, e chegou perto da cama, ele puxou o lençol e Plínio
ouviu o estilhaçar do vidro as costas junto com o barulho
chegando de dois tiros distantes, e viu os dois corpos caindo
no sentido da cama, assustado, sem entender, olhou a porta,
J.J.Gremmelmaier 235
J.J.Gremmelmaier
e viu outro senhor vir a janela, o senhor vinha no sentido que
Plínio estava, ele estava quieto, reconheceu o delegado
quando a luz da rua bateu em seu rosto, ele olhou para fora,
sem ver Plínio ao chão, pegou a arma e foi na direção da
cama, protegido pela parede, mirou no sentido da cama,
esticou a mão, Plínio não reparou que outro senhor entrava
pela porta e este falou;
— Parado delegado!
O delegado assustado esticou a arma e sentiu o tiro lhe
acertando o braço;
— Quem se atreve a atirar em mim! – Falou o Delegado;
O rapaz acendeu a luz, o delegado não reconheceu,
tentou pegar a arma;
— Se quer morrer Delegado, faz isto!
— Quem é você!
Plínio estava quieto e viu mais 4 homens entrarem, e um
gritar no corredor;
— Todos dormindo, nada aconteceu aqui hoje!
Se ouviu as portas fechando, o senhor que atirou no
Delegado chegou a cama e empurrou os corpos e viu que não
havia ninguém na cama, olhou em volta e achou os olhos de
Plínio e falou;
— Investigador, temos ordens de o conduzir a Curitiba
vivo!
O delegado viu o Investigador com a pistola a mão sair
de traz da cortina e perguntar;
— O que esta acontecendo aqui?
— Não sabemos senhor, mas quando recebemos ordens,
a cumprimos! – O senhor que atirara no Delegado;
Plínio chega ao delegado e encosta a arma na ferida
apertando e pergunta;
— Por que me matar, nem sabia nada?
— Sabe mais do que deve, não vão conseguir sair da
cidade, lhes pegamos antes de chegarem na próxima cidade!

236
O senhor olha para Plínio e fala;
— Vamos, antes saímos vivos, depois vemos o que
aconteceu!
Plínio viu a movimentação na parte baixa e pergunta;
— Trabalham para quem?
— Neste momento a serviço de Gerson Rosa!
Plínio não entendeu e saíram pela porta, ouviu um
ultimo tiro vindo do quarto, mas não queria saber se mataram
ou não o delegado, foram a pequena praça na frente e um
helicóptero surgiu no céu, e o investigador subiu, se a saída
seria pelo ar seria mais fácil;

J.J.Gremmelmaier 237
J.J.Gremmelmaier
Silêncio, a vida corre perigo!
As vezes penso sobre historia e hoje, vou falar de uma que não é
própria desta data, mas mostra que pequenos homens, fazem mais do
que muitos grandes homens, e um deles se chamou Joaquim Jose da
Silva Xavier, diria que ele foi um grande mártir, mas gostaria de falar
que ele é o exemplo de um Brasil capitania, onde tudo ia ao Rio e de lá
para Portugal, nossas riquezas roubadas e sumindo pelo mundo.
Mas eles foram quem descobriu esta terra, por direito tinham
direito a explorar!
Desculpe, roubar é roubar em qualquer tempo, seja feito por reis,
imperadores, papas ou padres.
Sempre que alguém diz que Portugal descobriu o Brasil, vem a
brincadeira séria, quem cobriu? Mas a pergunta deveria ser, quem
perdeu? Pois as terras tinham habitantes, tinham culturas milenares
mortas por portugueses, franceses, espanhóis, holandeses, ingleses,
com a assinatura da igreja seja ela protestante ou apostólica romana,
mortos por terras, por ouro, por diamante, mortos por crueldade, por
maldade, então ninguém descobriu o Brasil, e sim, se apropriaram,
como estavam se apropriando do mundo com armas, com saques, com
uma cruz de mortes espalhada pelos mundos, o qual a igreja não tinha
direito, pois eles pregavam que não existia terra aqui!
Mas voltando ao assunto, um grande homem, de um talento
incrível, mesmo sem formação superior, se destacou em varias coisas,
era uma excepcional pessoa, capaz de ter amigos pelo mundo que vivia,
morto não por ter participado da Inconfidência Mineira, e sim, por não
fazer parte da corte, os demais, poupados da morte, por uma confissão
forçada, mostra duas coisas, os ricos sempre acham culpados, nos
menos influentes, segundo, não eram homens de assumir que nem a
corte agüentava mais a exploração sendo passada a outros, eles
queriam ser ricos, mas com a ganância de querer o todo, e não o pagar
pelo que fora lhes dado, que era o direito de nos explorar!
Daí entra em cena Tiradentes, o culpado para livrar os covardes,
alguém que tinha coragem e inteligência, mas que fora traído pelos que
aparentemente apoiavam a idéia, lhe colocando como culpado e vitima
por todos os demais;
Esta é uma homenagem a Joaquim Jose da Silva Xavier, pois por
ter mãe brasileira, que foi condenado, órfão desde os 11 anos, a filiação
pesava na vida de quem era julgado, pai e mãe Portugueses era
respeitado, mãe da terra, tidos como bichos, por isto, como bicho desta
terra, presto minha homenagem a Joaquim, o nosso único herói, o
resto, Portugueses que ignoravam nossa realidade!
Gerson Travesso
Curitiba 27 de Outubro de 2010
238
Amanheceu e Plínio chegava a Delegacia, sem dormir,
deixado lá por rapazes que sumiram assim que ele entrou na
delegacia, o delegado chegou logo após, depois de uma
ligação do secretario de segurança, olha Plínio a tomar um
café e pergunta;
— O que aprontou Plínio?
— Não sei, o que fiz? – Investigador;
— O secretario de segurança de Minas me ligou e lhe
acusam de ter matado 3 pessoas em Tiradentes!
— E o que falou?
— Que iria relatar assim que chegasse!
— E o que ele respondeu? – Plínio;
— Que assim que me pegassem, ele me ligava para
acertar o que pretendíamos!
— Delegado, eu não morri lá por que alguém aqui
resolveu me dar segurança lá, e não entendi o porquê!
— Não entendi?
— O delegado da cidade, e mais duas pessoas,
invadiram meu quarto, armados para me matar, dois foram
abalroados pela janela, e um por um senhor que não conheço,
mas que matou o delegado!
— Complicado, e quem lhe deu proteção?
— O senhor, que não conheço, não falou quem era,
apenas disse que tinha como função me trazer com segurança
a Curitiba, e quando indagado para quem trabalhava, ele disse
que para Gerson Rosa!
— Esta a dizer que ele comanda matadores em Minas?
— Não delegado, que se ele não os tivesse mandado lá,
eu estaria morto!
— Mas por que?
— Por que estão atrás de algo maior, nesta historia!
— Maior como?

J.J.Gremmelmaier 239
J.J.Gremmelmaier
— Passei uma lista de coisas que foram roubadas de lá
em seu celular Delegado!
— Por que fez isto?
— Não sei, algo me dizia que não iria sair de lá vivo!
— Mas o que tem de diferente nesta lista?
— Fora a quantidade de ouro que dá quase 4 milhões de
reais, tem uma coisa que não escrevi, não parece real, mas os
padres daquela igreja guardavam o crânio de Tiradentes, e a
baixo do nome de Tiradentes estava escrito, ―Crânio de
Joaquim Xavier e o Mapa‖!
— Mapa?
— Não sei o que é Delegado, mas tem de ser algo
grande, pense que mais de 50 anos depois, eles me matariam
para que isto não saísse de lá!
— Acha que tem de ser isto?
— Não sei, mas acho que Gerson sabe mais do que esta
falando!
— Este cara não parece real, ele fez uma homenagem a
Tiradentes na coluna dele de hoje!
— Disto que estou falando, ele sabe o que esta
acontecendo, mas o que, nem idéia!
— Tem outra coisa Plínio, ontem chegou um
levantamento que mandei fazer dos bens de Gerson, nada
além de 3 imóveis, foi o que o cartorário me passou!
— Não entendi?
— Ele não põem nada em seu nome, não sei se ele se
precaveu ou tem mais coisa ai, mas ele não tem bens para
pagar nem o que ele afirmou que roubou, mas que não
estamos conseguindo provar que ele roubou, mesmo com a
confissão!
— Mas não entendi quem são os homens que me
tiraram de Minas, frios e calculistas, profissionais, não é como
estes marginaizinhos que estamos acostumados!

240
O delegado começou a inteirar o investigador dos
assuntos que ficaram pendentes, e os dois começam a ver que
a historia estava muito confusa;

O dia se arrastava e Marta bate a casa do senhor Dantas,


que a faz esperar na sala enquanto se arruma, o senhor veio
todo cheio de pompa, não lucrara, mas saíra com um dinheiro
pequeno, mas ainda assim, mantendo o patrimônio, como a
casa de mais de 6 milhões, com quadros caros, com luxo e
requinte por todos os lados, na região do Hugo Lange, Casa
que ocupava meia quadra em uma área nobre da cidade de
Curitiba;
— Marta Boaventura, o que a traz a minha humilde casa!
— Negócios, senhor Dantas, negócios!
— E o que podemos fazer de negócios, já que assumiu o
jornal que tocava, como representante do conglomerado
Português!
— Uma pergunta simples, dependendo da resposta, que
terá tempo de pensar, podemos fazer negocio!
— Certo, qual a pergunta?
— Quanto quer para tirar a acusação de roubo sobre
Gerson Rosa?
O senhor olhou ela serio, e falou engrossando a voz;
— Não quero nada, quero que ele apodreça na cadeia!
— Então estou de saída! – Marta se levantou e o senhor
viu a empregada acompanhar a senhor a porta;
Marta saiu xingando baixo;
— Velho burro, depois não venha reclamar!
Enquanto isto o senhor ligou para o advogado e falou o
acontecido, o mesmo não tinha provas do ocorrido, mas o
advogado perguntou quanto ofereceram, e o senhor ficou sem
resposta;

J.J.Gremmelmaier 241
J.J.Gremmelmaier
Marta chega ao trabalho, faz todos os projetos andarem
e liga para Maria, marcando uma reunião no fim do dia,
marcou com Paulo e pediu para ela convidar Priscila;

No Aeroporto Afonso Pena, em São Jose dos Pinhais,


região metropolitana de Curitiba uma leva de senhores,
desembarca;
— O que vamos fazer na cidade?
— Nos informaram que na cidade tem os herdeiros, que
devem saber onde esta o mapa, mas o principal, temos depois
de pegar o mapa, decifrar o mapa!
— Não entendo a importância disto!
— Melhor nem perguntar muito, sabe as conseqüências!
O rapaz que fizera o comentário se cala, mas obvio, a
resposta aguçou o interesse, algo valioso estava relacionado,
só poderia ser isto;

Na Policia Federal, o advogado de Gerson fala;


— Não gosto de andar as escuras Gerson, parece que
estou cometendo um crime!
— Quer pular fora?
— Não, mas tenho medo!
— Sei disto, acha que gosto de estar aqui, Pereira?
— Não, sei que mesmo falando bem da cadeia, deve
estar querendo sair correndo!
— Sim, quando presos damos falta de coisas que nunca
valorizamos, até as brigas com o sindico sinto falta!
— Mas o que faço?
— Diz para o investigador Plínio, que preciso falar com
ele!
— Por que?
— Pereira, eu não lhe excluo por motivos bobos, mas
não quero lhe envolver no que não precisa, tem coisa que

242
ninguém vai ser culpado, crimes de mais de 40 anos atrás,
mas não tenho como seguir sem alguém olhando os detalhes!
— Soube que o colocou naquela lista de proteção, ele e
a família dele, mas não entendi!
— Mas ele entendeu, Pereira, ele estaria morto a esta
altura se não o tivesse feito!
— E quem o teria matado?
— Eles se denominam por Inconfidentes, usam símbolos
maçons, são maçons mas com um objetivo de estar nos
grandes meios, e não por outro motivo!
— Mas o que eles querem?
— Esta historia é longa, quando Joaquim Jose foi preso,
ofereceram anistia a todos os demais, menos para ele, não era
para ele assumir tudo sozinho, não era para pagar por tudo
sozinho, era para ter um levante, e começarem a partir dali
uma grande investida!
— Joaquim Jose, quem é este?
— Tiradentes, sabe que é?
— Sim, mas o que tem haver?
— Tiradentes tinha um grande dom, envolver e
convencer as pessoas referente a seus objetivos, enquanto os
demais falavam muito ele controlava a ida ao Rio dos Ouro
pelo caminho Real, deve ter ouvido falar!
— Sim!
— Ele convenceu muitos naquele caminho que deveriam
lucrar mais com aquilo, a corte no Rio ficava rica e as
imediações de Ouro Preto estavam se definhando, com
algumas exceções, pagavam muito para manter os garimpos
abertos!
— E?
— Gosto de ouvintes! Tiradentes foi traído, por que os
demais queriam por nele a culpa e dividir o ouro que ele tinha
levantado e desviado no caminho Real para apoiar a
Inconfidência, que para Tiradentes não era Mineira, ele
acreditava que se Minas e o Rio se levantassem, os Paulistas
J.J.Gremmelmaier 243
J.J.Gremmelmaier
viriam junto, e com os descontentes na Bahia virariam a mesa
e imporiam o que pensavam, colocando os portugueses para
correr, criando a nação Brasileira!
— E por que não aconteceu?
— Não sei ao certo, mas alguém entregou os planos a
Corte, e vieram como urubus sobre os Inconfidentes, mas
quando a maioria, que eram membros da sociedade local,
viram que iria feder, jogaram a culpa sobre Tiradentes, que
havia negado uma primeira vez, fora solto, e quando tentou
falar com os demais e estes não o receberam, soube que iriam
lhe por a corda no pescoço para safar a deles, foi neste
momento que ele pediu para os dois irmãos mais novos,
descerem o caminho real, eles levaram com eles um mapa,
para resumir, o ouro que Tiradentes havia desviado sumiu,
mas mesmo assim o condenaram e o enforcaram!
— Mas o que esta historia que parece mais fantasia que
realidade tem haver com você?
— Tem haver que a 51 anos, alguém roubou uma igreja
em Tiradentes, em Minas, e junto aos pertences roubados,
havia mais de 200 quilos de ouro, artefatos religiosos, e junto
a um crânio, um mapa, a crença de que este mapa leva ao
esconderijo onde Joaquim guardou o ouro, para se escapasse,
refazer os planos, alimenta este grupo de Inconfidentes, a
matar, a mais de 50 anos, os herdeiros dos ladrões deste
ouro!
— E você é um dos herdeiros desta praga?
— Não, mas meu filho é, e não quero ele morto ou
usado para que me pressionem a falar o que não sei!
— Então não tem haver com sua prisão?
— Não, mas tem haver com minha família!
— Achava que estava me escondendo envolvimento com
crimes maiores, pelo jeito não!
— Não, mas preciso que fale com o investigador, que
preciso falar com ele!

244
Fim do dia, Marta senta-se ao calçadão e olha em volta,
vê os rapazes de Machadinho a volta, mas viu uns senhores
com ternos alinhados demais para serem da cidade, os
rapazes de Machadinho acompanharam o olhar da moça, que
vê Priscila e Maria sentar-se a mesa, pede uma cerveja, e
depois vêem Paulo chegar a mesa;
— O que esta acontecendo Marta? — Maria;
— Não sei, mas Gerson parece ter me posto proteção na
hora certa, mas melhor ficarmos visíveis que invisíveis!
— Mas o que quer tratar? – Maria;
— Queria falar com Priscila, pois a idéia de Gerson, era
um jornal como o que estamos transformando o Diário, algo
mais dentro de noticias pautadas, profissionais renomados,
deve ter notado que estamos mudando gente de um jornal
para o outro!
— Sim!
— A idéia para a Gazeta é algo mais voltado a sangue,
violência e coisas do gênero, ele escolheu a Gazeta para isto
para tirar a imagem do Nome Gazeta de coisas apenas serias,
isto é marketing, mas ele queria um terceiro jornal local, e ai
que entrava a sociedade com Priscila e Paulo, onde a idéia é
ter ou formar um grande cartunista local, e toda a edição, na
primeira pagina, teria as noticias resumidas ao lado, não mais
que 5 delas, o nome do jornal no topo e uma grande sátira a
tomar a primeira pagina!
— Você quer dizer que a idéia dele ainda esta de pé?
— Sim, mas como o recurso não pode vir via conta dele,
foi transferida para minha conta, mas ele espera que você
Priscila, — olha para Paulo – e você, Paulo, comecem a idéia,
ele entra com a parte de recursos que ele disse que
disponibilizaria!
Os demais olharam-se e viram um dos senhores bem
vestidos sentar a frente da mesa delas e olhar para as moças
e perguntar;
— São da cidade? – Tentando puxar assunto;

J.J.Gremmelmaier 245
J.J.Gremmelmaier
Marta olhou os demais e falou;
— Sim, e se um dos seus tocar na arma, pode se
considerar morto, pois aqui na minha cidade senhor,
Inconfidentes são traidores!
O senhor arregalou os olhos, ninguém a mesa entendeu,
mas o senhor se levantou e saiu da mesa, voltando aos seus,
eles olharam o local, e viram-se cercados, a maioria não viu
eles sendo conduzidos a uma via lateral e desarmados serem
jogados em um micro ônibus;
Trataram dos assuntos normais, e Marta forçou eles
começarem, falaram de coisas mais leves, mas a senhora
estava nervosa, não tinha ao certo certeza de que tudo estava
bem;

246
Eleições!
Alguém me perguntou em quem votar, queria dizer que Dilma
era uma boa candidata, e que Serra não privatizaria, mas estaria
mentindo, então comecei a pensar o que fazer no feriado de finados,
talvez nunca uma eleição esteve em feriado tão apropriado, votamos
no dia das bruxas, ficamos sabendo do resultado logo a seguir, e já
mortos, vamos ao feriado, num caixão talvez, mas com certeza,
mortos e exauridos de tantas baixarias, quando se fala em eleição
hoje em dia, tem gente fazendo o sinal da cruz, não sei se é positivo
ou negativo, se for um pedido de proteção a Deus, talvez positivo,
se for para lembrar que os senhores feudais crucificavam os servos,
que era como chamavam o povo não pertencente a realeza por
desobediência, ou não subserviência, talvez seja ruim.
As eleições estão chegando, e mordi a língua este ano,
confesso que antes do horário político cheguei a falar com uns
amigos, ainda bem que este ano temos 3 candidatos bons, quem
ganhar será um bom caminho, mas olha que os dois do segundo
turno, não se parecem com as pessoas que começaram a campanha,
parecem mais galos de briga que candidatos a presidência, certo que
nunca gostei da democracia, certo que nunca me simpatizei com
algumas idéias, mas ultimamente estou repensando, pois mais
fascista que os dois candidatos a presidência, esta difícil, só faltou
alguém dizer que era Jesus e a outra dizer que era Maria Madalena,
pois as baixarias estão me tirando a vontade de votar, certo que
preso não vota, mas este é outro assunto a se discutir.
Você comete um crime, você deixa de ser cidadão por causa
disto? Não, não deixa, isto é lei da época da Ditadura, com medo
que os presos políticos se elegessem, vetar o direito de elegibilidade
de um preso já é complicado, mas tirar dele o direito de voto, o
direito de ser um cidadão, ridículo!
Hoje se você se cadastra, pode votar em uma sessão eleitoral
no consulado da França, uma pergunta, alguém que mora há 10
anos na França é mais cidadão brasileiro que um preso?
Gerson Travesso
Curitiba 28 de Outubro de 2010

J.J.Gremmelmaier 247
J.J.Gremmelmaier
Gerson estava a ler o seu jornal quando um dos
agentes federais veio e o conduziu a sala de conversa, sentou-
se e viu o agente da policia Civil, Plínio, sentar-se a frente
dele;
— O que quer falar?
Gerson contou o que sabia, para ele era lenda, pois não
era como aprendera a historia do Brasil, imagine você ter de
transformar Inconfidentes em traidores, mas contou o que
sabia ao investigador;
— Esta me dizendo que o que eles não querem é
alguém procurando o mapa que estava com o crânio?
— Sim, mas não acredito que o mapa tenha sido
roubado!
— Por que?
— Ninguém seguiu nem para o Rio e nem para Minas,
foram a São Paulo, acredito que o mapa pode nem ter existido,
ou se existiu, nunca chegaria a Minas novamente!
— Por que acha que existe o mapa?
— A pergunta se responde por si, eu apenas acho, não
tenho certeza de nada, mas sei que alguém acredita, e esta
matando por isto!
— Sabia que iria a minas, mas como?
— Eu induzi a isto, não lavo minha mãos do que induzo
as pessoas a fazerem!
— Certo, mas acha que eles vão vir?
— Acho que parte já veio, mas não posso ter certeza,
estou aqui dentro, jogando com peças que não sei exatamente
onde estão!
— Se você fosse procurar algo assim, onde procuraria?
— Não sei, nem idéia! – Mente Gerson;
— E sabe o quanto eles desviaram em ouro?
— Dizem que a ordem do Bonifácio era desviar 10% dos
impostos que iam a capital, para o Rio de Janeiro, se você
considerar que chegou a Portugal naquele ano, 12 toneladas
de ouro só de Minas Gerais, daria mil de duzentos quilos de
248
ouro, mas sabe que havia o desvio de ouro tanto nos
garimpos quanto na corte do Rio, mais as doações a igreja no
Rio, os 10% de dizimo, acredito que não menos de mil e
quinhentos quilos de ouro, mais de 22 milhões de reais atuais,
na época se comprava muito mais que hoje com isto em ouro!
Plínio anotou e perguntou;
— Mas onde se esconderia algo assim?
— Não sei, mas acredito que boa parte deste ouro, não
esta mais disponível, investigador, minha intenção não é achar
o ouro, e sim deter os matadores que vão mandar sobre meu
filho!
— Acha que virão?
— O que você acha? – Pergunta Gerson;
— Acho que até eu virei alvo, não entendi por que?
— Por que um investigador da policia pode apurar mais
mortes, mais coisas que um simples qualquer por ai!
Plínio anotou mais algumas coisas, e foi a delegacia,
onde se deparou com uma recepção nada calorosa, de
investigadores federais;
— Qual a acusação? – Plínio;
— De ter matado 3 pessoas!
— Posso perguntar quem acusou, quem viu, quem
testemunhou, quem fez balística em minhas armas para ver
que elas não dão tiro a mais de 15 dias, quem mobilizou a
Federal, em uma caso que a muito vocês deveriam ter entrado,
e nunca foram chamados?
O delegado olhou para o investigador com um sorriso, o
policial Federal olhou o investigador e falou;
— Pode ter matado com outra arma!
— Então sabe que não foram mortos com estas? Como
senhor, quem é o senhor, o que tem haver com a tentativa de
assassinato que sofri em Tiradentes, o que o senhor sabe
disto, pois parece estar ciente e ter participação!
— Esta me acusando?

J.J.Gremmelmaier 249
J.J.Gremmelmaier
— Devolvendo as acusações! Já que não fez nada além
de vir me acusar, sem levantar os dados, que devem estar
sumindo em Tiradentes enquanto me pressiona aqui!
— Vai querer me ensinar a fazer meu trabalho?
— Não, pois não perderia meu tempo fazendo isto! –
Plínio;
— Estamos pedindo para o Delegado o afastar do caso
que esta e nos acompanhar a Minas!
— Para que? – Delegado;
— Para esclarecer duvidas!
— Vocês parecem o querer silenciar, e não esclarecer
duvidas, pois ninguém me explicou o que três agentes
armados faziam de noite no quarto de Plínio, se ele esta vivo,
é por que levou sorte, desconfiou, mas não vejo motivos da
urgência, parece realmente esconder algo! – Delegado;
— Senhor, não queremos ter de interferir em sua
delegacia para que ele nos acompanhe!
— Estuda lei rapaz, não tem como interferir sem um
motivo plausível, e isto foi uma ameaça, e se me ameaçar de
novo, o prendo senhor, defendemos os nossos, e saiba que
tudo nesta sala é gravado, então segura a língua senhor, que
não esta em casa!
— Vou relatar a superintendência local!
— O Superintendente da Policia Federal Local, Delegado
Heitor de Barros, um amigo, ele vai nos ouvir antes de lhe
conceder algo que não esta em jogo, mando um rapaz a
Tiradentes, ele fala apenas com duas pessoas, o Padre, o
Delegado e a moça da hospedagem, mas mesmo que o
tivessem matado teria inquérito senhor, ele já havia passado o
que conseguiu lá, e levantaria todos os detalhes e por quês,
que alguém inventaria e vocês assinariam em baixo, pode ter
certeza, vou pedir para averiguar, cada morte suspeita de
pessoas que foram falar com o padre, e morreram, pois agora
sei que tem algo ai a investigar!
— Ele já havia relatado?

250
— Sim!
— Mas..
Plínio sorriu e falou;
— Delegado, eles monitoram o padre, ele iria falar algo
que falei, que não passaria a frente se não fosse necessário,
pode ter certeza, este policial não merece o titulo que tem!
Outro policial veio ao ouvido do Delegado e falou;
— Merda, Plínio, chama os policiais, manda prender este
pessoal aqui!
— Não pode nos prender!
O delegado olhou para a porta e falou;
— Tem mais alguém lá fora?
— Dois no carro!
— Algema e põem na carceragem, só não fala que são
policiais, e prendam estes dois!
Plínio não entendeu, mas quando os policiais saíram
olhou o investigador e falou;
— Me tira o Gerson da Cadeia, e vamos tentar amenizar
os acontecimentos!
— O que aconteceu?
— Mataram o filho do Machadinho, na porta da escola
do filho de Gerson, e levaram o menino, agredindo
professoras, e crianças!
— Vai feder!
— Vai!

O Delegado liga para o superintendente da Policia


Federal e comunica o que estava fazendo, e alerta que vai vir
pressão, não entendeu o porquê, mas alguém estava
pressionando, e nada se fazia ao acaso;

Gerson vê a policia o tirar dali, e Plínio lhe alcança um


celular e fala;
— Mataram o filho de Machadinho e pegaram seu filho!
J.J.Gremmelmaier 251
J.J.Gremmelmaier
— Quem?
— Não sabemos, mas Machadinho não vai deixar barato!
Gerson pensa e liga para Machadinho e pergunta;
— O que aconteceu Carlinhos, perdeu a noção de
perigo?
— Os desgraçados chegaram atirando!
— Deve ter provocado ontem!
— Deveria ter matado todos!
— Deveria mesmo! O que fazemos agora, me deve dois
filhos!
Plínio olha para Gerson, alguém que não estava
acalmando Machadinho, estava cobrando algo, não ouvia o
que se falava do outro lado;
— Estamos os seguindo, estão numa casa no Boqueirão!
— Cerca e me avisa, a civil que vai estourar!
— Confia nisto?
— Não quer perder mais gente, ou quer?
— Não, sabe que o menino era tudo para mim!
— Sei, mas vamos amenizar isto!
Gerson desligou e ligou para Marta;
— Roseli, o que pediram?
— Eles querem a carta!
— Retardados, eles querem é matar alguém!
— Onde esta?
— Alguém da Civil vai passar em sua casa, não saia daí
antes de o rapaz bater a porta, mataram o filho do
Machadinho!
— Merda, o que vai fazer!
— Resgatar o Pedro, põe o seu celular para retransmitir
a ligação para o meu!
— Certo, mas acha seguro!
— Nada é seguro, mas tenta não entrar em pânico!

252
Marta segurou as lagrimas e desligou, mudando a
configuração para siga-me;
Gerson olhou para Plínio e perguntou;
— Alguém veio lhe pressionar?
— Sim!
— Quero falar com esta pessoa, mas preciso de um
computador e o nome dele antes!
O investigador pega o seu computador pessoal e alcança
para o senhor, que acessa a rede e enquanto digita liga para
Paulo;
— Paulo, me ouve, não fala!
— Certo!
— Alerta vermelho!
— Quem?
— Tudo que enxergar, tudo mesmo, até familiares de
policiais envolvidos, tudo!
— Aciono o Teixeirinha!
— Obrigado amigo!
— O que esta acontecendo?
— Acionando empresas de segurança, este tipo de
pessoa, pega crianças e velhos como refém para calar os
demais, como sua família Plínio!
— O que esta acontecendo?
— Não sei, desconfio, mas não sei!
Plínio viu o senhor acessar a rede, puxar informação da
conta bancaria do investigador da Federal e mostrou para o
Investigador;
— Ele esta recebendo trocado, 20 mil para pressionar e
lhe levar de volta, pelo preço diria que vivo ou morto!
— Como consegue fazer isto!
— Estou lhe mostrando, mas não fiz nada! – Gerson
acessa os registros do policial e vê que ele tem esposa, filha,
vê os gastos com cartão de credito, com certeza uma amante,
e entradas constantes vindas de uma fonte que não era o
J.J.Gremmelmaier 253
J.J.Gremmelmaier
governo federal que lhe pagava o salário, e acessa o sistema,
olha em volta, mais de 10 mil pagamentos por mês, do que
era a empresa? Veio a pergunta a cabeça de Gerson, e viu os
endereços dos proprietários, importação e exportação de
Granitos, olhou os montantes, e as cedes, direitos de extração
em 54 pontos entre Minas e Rio de Janeiro, mas Granito saia
apenas de uma das extrações, o que sairia das outras?
— O que tanto olha!
— Tentando achar o por que disto, sempre tem de ter
um por que! E geralmente é dinheiro!
— Achou algo?
Gerson não respondeu, desligou o computador, e o
entregou ao Investigador;
Sai algemado da viatura, e é levado a sala do Delegado,
era uma encenação, parte da delegacia continuava a funcionar
como se nada estivesse acontecendo, e nada sabiam mesmo;
Plínio tira as algemas e o celular que ainda estava com
Gerson toca;
— Fala Machadinho!
— Anota ai!
— Fala!
— Barracão abandonado, na Tenente Souza e Silva
quase no Rio Belém!
— Tem o numero?
— Barracão vermelho, sem portas!
O celular estava no viva voz, então todos ouviram o
endereço;
— Vigia eles, não os perde!
— Estamos fechando as ruas, daqui ao aeroporto é um
pulo!
— Solta balões amigo!
— Verdade!
Gerson olhou o Delegado e falou;

254
— Temos o endereço, mas preciso falar com este policial
federal!
— Para que?
— Ele esta recebendo dinheiro para estar aqui delegado,
preciso saber se ele tem preço, ou esta tão atolado que já não
é um policial e sim um marginal!
— Vai com ele Plínio!
— Sim, mas consegue cercar o barracão?
— Sim, estamos com sorte, os dois aeroportos estão
fechados por nevoeiro, ventou da serra, sem visão nenhuma!
Os dois saíram e foram a cela, Plínio olhou os policiais a
porta e falaram;
— Podem separar aquele senhor, para interrogatório!
Os policiais algemaram o policial federal e o sentaram
em uma mesa, com duas cadeiras, Plínio chegou, ficou de pé
apoiando a mão na cadeira e falou;
— Vai colaborar ou não!
— Não tenho a ver com isto!
— Só para lhe informar, quem lhe depositou os 20 mil
na conta, seqüestraram a pouco uma criança, se ela morrer,
você paga pela morte, e eles mataram o filho de um traficante
conhecido da cidade para fazer este seqüestro, posso ignorar
o bom senso e apenas lhe entregar ao pai da criança morta!
— Não tenho nada haver com isto!
Gerson entrou na sala, e sentou-se a frente do senhor,
Plínio olhou o senhor a riscar um papel, depois de um tempo
olhou para o policial e falou;
— Agente Federal Fabrício Souza, você que escolhe o
que fazer, para mim, não precisa dizer que não tem nada
haver com isto, pois sei que tem, é meu filho que aqueles
senhores seqüestraram, e tentaram ontem a noite pegar
minha esposa, meu nome, Gerson Rosa, pode ser que consiga
matar meu filho, minha esposa, mas posso ser sincero, se eles
tocarem em meu filho, esta lista de nomes que estou
rabiscando, pode considerar mortos, e nela, esta sua filha, sua
J.J.Gremmelmaier 255
J.J.Gremmelmaier
esposa, sua amante, até aquela mãe irritante de sua esposa,
mas sua mãe, seus irmãos, mas não esta seu nome, pois você,
vou processar por fazer serviço para seres como os Souza, os
descendentes daquele que se inteirou da historia e roubou o
roubo, mas a pergunta é, policial, até onde terei de matar
para você parar do outro lado!
— Não pode ameaçar-me e achar que sai livre!
— Não entendeu, estou preso, o investigador me
comunicou que vocês pegaram meu filho a pouco, depois disto,
dei apenas dois telefonemas, mas pode contar, se não der
outro, estarão todos mortos mesmo!
O policial Federal olha para o Civil e pergunta;
— Por que disto?
— Se não tivesse os 20 mil na conta, poderia acreditar
que era inocente, mas como tem, e sabemos quem pagou,
queremos saber quando vai voltar a ser policial no lugar de
assassino pago!
— Mas não pode concordar com isto!
— Como disse, você não tem nada com isto, então por
que teme, represália a todas as famílias que estão envolvidas!
Gerson olha os nomes e sua cabeça estava com um
nome a cabeça, girando a caneta em volta do nome, Plínio viu
que o senhor estava longe e lê o nome que ele não cansava
de circundar;
―Maria das Dores Souza‖
O celular de Gerson tocou, viu que era Marta (Roseli),
atendeu;
— Sim!
— Gerson!
— Fala Maria!
— Reconheceu minha voz?
— Estou com seu primo a minha frente, lembra de
Fabrício Souza!
— Ele lhe pegou?

256
— Sim, o que vai querer Maria?
Plínio ouvia e chamou os demais, algo estava mudando;
— Dizer que Roseli já era!
Gerson não falou nada e desligou o telefone, e olhou
para Plínio e falou;
— Mataram Roseli, falta eu e meu filho!
O policial parecia sorrir sentado do outro lado da cadeira,
mas Gerson respirou fundo e falou;
— Eu volto para a Policia Federal, não tenho mais o que
fazer investigador!
— Desistiu?
— Não, mas morri hoje, sei que não tem como tirar meu
filho de lá vivo se já mataram Roseli, sei que eles não vão
parar antes de nos matar, não sou como eles, posso ameaçar,
mas não mato crianças, não tenho como ganhar de ratos, pois
somente sendo um rato para ganhar, ele sorri, pois rato é
assim, come lixo e acha que é feliz!
— Mas e a operação?
— Desculpa, não posso!
Gerson pega o celular e fala;
— Paulo, esta onde?
— Acesso!
— Cuidado, Maria é um deles, Marta esta morta, se
cuida!
Gerson desligou e bateu no 9 e ouviu;
— Fala Gerson!
— Acabo de saber que mataram Roseli, não sei o que
fazer, quero morrer amigo, e se mataram Roseli,
provavelmente Pedro já esta morto!
— Quem fez isto?
— Uma mineradora, de Minas, tocada por Geraldo Souza,
fachada de mineradora de Granito, fachada!
— Vai fazer o que?
— Me recolher, não esquece que ainda estou preso!
J.J.Gremmelmaier 257
J.J.Gremmelmaier
Gerson olha para o rapaz a frente e fala;
— Ri, pois quando chegar em casa, vai sentir o que sinto
agora, Geraldo ganhou, mas você, vai sofrer como eu, aqueles
rapazes no galpão no Boqueirão, vão sofrer, não sou capaz de
ser um rato, mas sou capaz de falar demais, e ver o mundo
implodir, vocês me tiraram a vida, por que vou me preocupar
com vocês!
Uma lagrima corria ao rosto de Gerson quando ele
esticou a mão a frente do corpo, para que Plínio o algemasse;
Maria chega ao Jornal e Rômulo manda ela passar no
departamento pessoal, ela achava engraçado aquilo, mas
chegando a rua, viu rapazes a jogar em uma van, e sumir no
sentido de Almirante Tamandaré;
No chão do apartamento de Roseli, um policial arromba
a porta e vê a moça ao chão, toca no pulso, viva, aciona a
emergência, e a moça dá entrada no Hospital Evangélico,
pressão muito baixa, dois tiros na altura do peito, um pegou
num colar, e outro atravessou o pâncreas, este era o mais
complicado, ela passa por 16 horas de operação;
A policia cerca o barracão e os rapazes de Machadinho
escalam as paredes, se posicionando no telhado, olhando em
volta, deveria ter mais gente envolvida, viram o menino
amarrado, os tiros começaram a abalroar dos mais próximos
do menino para os mais distantes, e quando os rapazes deram
sinal que poderiam entrar, os policiais tiraram o menino do
centro do barracão, era mais de duas da manha quando o
menino foi levado ao hospital, onde a mãe dele ainda lutava
pela vida, em uma operação muito demorada;

258
Covarde!
Me processem, me matem, mas são covardes, Geraldo Souza,
um covarde, mas vou lhe dizer uma coisa que não sabe, minhas
lagrimas vou transformar em sangue, covardes como o senhor,
capaz de mandar matar crianças, não é gente, é paranóico, mas pela
primeira vez mexeu com quem não deveria, mandar matar meus
primos, relevei, mandar matar seus filhos, mostra que não é gente,
é bicho, rato do mais sujo, imundo, não os que sobrevivem em locais
inóspitos e sim, daqueles que estão no mais luxuoso dos mundos,
mas o mais demorado dos banhos não limpa, covarde!
Hoje vou falar sobre uma lenda, uma que demorei anos para
entender que era lenda, nos anos de 1700, saiam de Minas, mais de
12 toneladas ano de ouro, em meados daquele século, alguém
inventou a historia que não havia mais ouro em minas, e empresas
de exploração de ouro foram perdendo suas concessões, hoje
poucas empresas tem estas concessões, mas concessões de
extração de Granito, existem aos montes, mas o que não se sabe é o
quanto ainda sai de ouro das serras de minas, muito mesmo!
A pergunta que me fazem, mas o que tem com isto?
Um covarde chamado Geraldo Souza, mandou matar minha
esposa e filho, entendam, o senhor montou uma fortuna nos últimos
anos desviando ouro para o exterior, mas mesmo sem querer, meu
filho ainda era um herdeiro desta fortuna, ele não esta matando por
que precisa, e sim, ganância, mas se os herdeiros dele acham que
vão conseguir me matar, vão ter de me matar aqui na policia
federal, quero ver se alguém tem coragem, pegar crianças em
colégio, mulheres sozinhas em apartamento, fácil, quero ver me
tirarem daqui!
Mas covarde, lhe desafio, e lhe afirmo, o que é meu por
direito, agora vou me inteirar do que é, pois se gerou o sofrimento a
família Oliveira de sua descendência, a transformando em Zero, vou
lhe tirar o ultimo centavo, quero lhe internar como maluco numa
casa de terceira, onde coma arroz com couve, o resto de seus dias,
e como esta gordo, vai durar muito assim, e vou lá todo ano lhe
informar que estou feliz, lhe dizer, covarde, vai pagar aqui cada gota
de sangue que derramou!
Gerson Travesso
Curitiba 29 de Outubro de 2010

J.J.Gremmelmaier 259
J.J.Gremmelmaier
Plínio amanhece no hospital, vendo a senhora na UTI, a
sobrevivência dela não fora anunciada, a violência no colégio
era matéria de 5 jornais da cidade, o menino olha para o
policial e fala;
— O que aconteceu?
— Seu pai não sabe que estão vivos ainda!
— Por quê?
— Ele precisa pensar, e raiva faz a gente pensar, as
vezes achamos que o caso é simples, mas eles estavam
escondendo-se, ninguém sabe ainda que estão vivos!
— Ele vai ficar maluco investigador!
— Imagino, os que os pegaram tentaram pegar minha
esposa e filha, tentaram pegar a filha do Delegado, não sei o
que fazer ainda, mas tenho de pedir que mantenha-se aqui,
tem dois policiais que vão ficar a porta, mas nem eles sabem
quem esta aqui, ela precisa melhorar, sair do estado que esta!
— É grave? – Pergunta o menino olhando o chão, como
se não quisesse que a resposta fosse afirmativa;
— Sim, mas ela foi forte!

Na Gazeta, Rômulo chama Priscila para ajudar, explica o


que Paulo falou, estava meio perdido, parecia que as coisas
estavam novamente desandando, mas teria de manter a
cabeça fria;

No Diário, Paulo tentava tocar as coisas, mas não sabia


o que estava acontecendo, estava em pânico, e ao mesmo
tempo, monitorando tudo que conseguia, sabia que algo não
fora como falaram, pois viu o menino sendo conduzido para o
hospital, tentou entender por que, não conseguiu, mas não
havia também a confirmação da morte de Marta, algo ainda
estava no ar, mas não sabia o que;
Plínio senta-se a frente do Delegado e fala;
— Estou acabado! – Estava com uma caneca de café;
— Eu também, como está sua família?
260
— Bem, mas a de Gerson esta em pedaços!
— A moça não resistiu?
— Resistiu, mas ainda é muito grave, ela perdeu 3 litros
de sangue, a operação para limpara tudo, para tirar as balas,
para refazer parte do pâncreas parece ter demorado muito,
ela esta em coma induzido, os médicos não sabem se vai sair
desta!
— E Gerson?
— Puxou para ele tudo, como sempre, escancarou a
historia, e esta esperando mais reação!
— Acha que vem mais?
— Não sei, ontem quando os rapazes do Machadinho
entraram antes, evitaram a morte do menino, mas foi um
massacre, 32 deles mortos, eles não pouparam ninguém!
— Se estivesse lá mataria eles, tentaram pegar minha
filha! – Falou o Delegado;
— Sei disto, muitos estão estranhando a linha de defesa
ter vindo de quem sempre perseguimos!
— Não entendi o problema ainda!
— Pelo que entendi, o que Gerson desconfia, é que a
empresa que na teoria tira apenas Granito, extrai de pontos
pré determinados por um mapa de produção que foi dos
Inconfidentes, 12 toneladas de ouro ano, ele faz isto a mais de
40 anos!
— Acha real?
— Eles saem do nada e passam a ter muito nestes
últimos 40 anos, usam o Granito Tipo Italiano para justificar o
dinheiro, mas se parar para olhar os números, não dá!
— Qual o patrimônio antes e depois?
— Antes, apenas 22 mil dólares, fiz em dólar pois não
sei quanto valia o dinheiro da época!
— Entendo!
— Hoje ele tem mais de 4 bilhões em patrimônio
declarado!

J.J.Gremmelmaier 261
J.J.Gremmelmaier
O delegado fez os cálculos e falou;
— Mais de 8 milhões por mês nos últimos 40 anos de
acumulo de riqueza, é muito dinheiro!
— Isto explica muita coisa, mas é difícil provar!
— E o pessoal morto, alguém reclamou?
— Não, ninguém reclamou, mas com certeza vem mais!
— E o que Gerson fez?
— Ele esta acabado, pensa que mataram o filho e a
esposa, não esta legal!
— Mas por que não falou para ele?
— Não sei ainda, mas quero o ver em ação, desculpa a
sinceridade Delegado, mas quero que estes seres se ferrem,
não o quero tendo pena de quem faria o mesmo com nossas
famílias, acho que nem eles sabem mais por que tanta morte,
se perderam achando-se mais do que são!

O investigador pede para falar com Gerson na cadeia, e


o senhor vem a ele e pergunta;
— O que faz aqui?
— Quero saber se vai ficar chorando ou vai fazer algo?
— Não sei se quero fazer, não sei se quero viver!
— Seu filho esta vivo! – Plínio;
— O tiraram de lá?
— Machadinho matou todos antes de entrarmos para
resgatar o menino!
— Ele deve estar perdido!
— Sim, mas preciso que de o troco, vai deixar barato?
— Não, mas o juiz não me deixa agir, mas calma, eles
vão reagir, os chamei para mim, mas deve saber, vitrine não
ataca, apenas recebe as pedras!
— Não entendi!
— Mas vai entender!

262
Em Florianópolis uma moça bate a porta de Carla que
abre e fala;
— Não deveria estar morta?
— Sabe que não Carla!
— O que quer Fabrícia?
— Dar o troco, e se pudermos ganhar dinheiro, vamos
ganhar!
Fabrício olha em volta e pergunta;
— Mora nesta pocilga?
A moça sorriu, abriu a porta do quarto, abriu uma porta
grande do guarda roupa e os dois passaram para o quarto ao
lado, maior, com vista para o mar, e a moça mostrou os
resultados das pesquisas que fez para Fabrícia;
— Você também esta se saindo bem, mas não entendi o
por que do que aconteceu, Carla!
— Por que vocês são herdeiros daquilo, o senhor fez o
que fez, mas as terras estão em nome dos dois irmãos, e ele
não pediu nada de transferência ainda pois ficaríamos
sabendo da transação, tudo ainda esta nos nomes de 50 anos
atrás!
— Quer dizer que ele desviou dos nossos recursos, por
40 anos?
— Ele matou toda a sua família, Fabrícia!
— Ainda bem que Gerson é de segurar a língua, no que
realmente importa!
— Não entendi?
— Quando eles nos acharam, fingimos 4 mortes, mas
sabe se realmente pegaram Roseli ontem?
— Esta entre a vida e a morte, no Evangélico, não sei se
agüenta!
— Gerson sabe disto?
— Não, apenas da sobrevivência do filho, o investigador
não vai falar que ela sobreviveu e depois dizer que morreu!
— Nisto ele esta certo!

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J.J.Gremmelmaier
Fabrícia acessa o sistema de rastreamento e coloca no
destino que queria, e começa a conseguir senhas de acesso,
de transferência, de contas, de muita coisa, mas a primeira
coisa que faz, é imprimir uma lista de nomes que recebem
para serviços para a empresa, retransmite para Machadinho
pedindo suas cabeças, e depois começa a transmitir os bens,
os numerários, os recursos em outros países deram mais
trabalhos, mas foi acessando um por um, quando a conta dele
piscou com mais de 1 bilhão de Dólares ele fez os comandos,
queria dar trabalho, muito trabalho;

Em Belo Horizonte, Geraldo em meio a sua mansão olha


para um rapaz entrar pela porta e falar;
— Todos mortos senhor!
— Incompetentes, pago para eles um simples trabalho,
e não me dão conta!
— O menino e os policiais ainda estão vivos!
— Prioriza no menino e no pai dele!
— O pai esta numa prisão da policia federal, estamos
conseguindo uma comida envenenada, o menino não
rastreamos ainda!
— Localizem e matem, estamos quase no fim disto, não
vamos parar agora, os policiais deixem para quando a poeira
baixar!
— Vou autorizar senhor!
— Só uma coisa!
— Sim!
— Sabe de minha sobrinha neta, ela não entrou em
contato!
— Acho que a pegaram também senhor!
— Mate estes desgraçados!
O rapaz sai pela porta enquanto o senhor acende um
charuto cubano, enquanto olha pela janela de sua mansão;

264
Na delegacia, o fim do dia se apresentava e uma ceia
caprichada veio a cela, desconfiou, o senhor que estava junto
perguntou qual o motivo para tanta comida, se era uma
comemoração, e Gerson falou serio, que era veneno, o senhor
não acreditou, Gerson viu o senhor comer e quando passou
mal, chamou o policial, pos o dedo na garganta e vomitou,
olhou o senhor sentar e perder cor, os policiais vieram e viram
Gerson branco, e o senhor morto ao lado, e a comida, Gerson
se fazia de mal e olhou os rapazes, viu quem estava meio
sorridente, um chamou a ambulância, e antes dela Plínio
chega a delegacia da federal e o Delegado aciona a
corregedoria da Policia Federal, aquilo foi assassinato em meio
a um local que deveria prover segurança aos presos;
Gerson entrou na ambulância, olhou um dos meninos de
Machadinho no volante, e viu Plínio entrar atrás e olhar os
enfermeiros e falar;
— Identificação!
Gerson olhou para Plínio e falou baixo;
— Vamos sair logo Investigador, rápido!
O investigador entendeu e se mandaram, o Delegado
recebeu uma ligação de Plínio e depois a ambulância parou no
hospital, Gerson olhou a ex a cama, abraçou o filho e
perguntou para Plínio;
— Como posso ter certeza que ela não vai ser morta
aqui?
— Não temos como a tirar daqui, Gerson!
Gerson chegou ao lado da ex, lhe deu a mão, ela estava
em teoria em coma, mas o senhor teve impressão que ela
apertou sua mão, e falou;
— Estou tirando o Pedro da cidade, volto pela manha,
mas reage, ele precisa de você, eu preciso de você!
Gerson deu a mão ao filho e saíram pela porta, saíram
com calma e foram de ambulância ao Aeroporto, vôo direto
para Florianópolis;

J.J.Gremmelmaier 265
J.J.Gremmelmaier
Quero pedir desculpas!
Talvez seja minhas ultimas palavras neste jornal, mas
gostaria de falar algo serio!
Depois de amanha votem com ciência de que o Brasil é
melhor hoje, do que quando éramos apenas explorados, mas
esta na hora do Brasil ser de todos, não só de meia dúzia de
pessoas, é hora de o brasileiro mostrar seu valou, quando
estiver lendo esta matéria, terei fugido com um falso
envenenamento da policia federal, não quero morrer, e não
vou ficar esperando para me matarem, estou indo a BH, e
alguém sabe que vou lá, e podem contar, se não tinha
motivos para odiar alguém, agora tenho, se não tinha motivo
para revidar, agora tenho, se não tinha motivo para sair de lá,
me deram, não posso ficar a mercê da vontade dos outros,
quando a vida de meu filho esta em jogo, e se só existe uma
forma de o manter vivo, vou por este caminho, se não existe
forma de eu sobreviver, que meu filho sobreviva!
Alguém me pergunta se tudo que fiz valeu a pena?
Ignorante é aquele que mata alguém mais rico que ele,
pois acha que queremos o trocado que roubou de uma nação,
de uma família, de uma pessoa que o amou, mas que acha
que amor se compra, uma informação Geraldo, Maria morreu,
Fabrício Morre hoje, Pauleti morre hoje, Roberval, morre hoje,
e muitos outros, mas como quer o ouro só para você, lhe
prometo, não vou lhe deixar sem ele, lhe prometo cobrir de
ouro, se é a única coisa que presa, vou lhe garantir isto!
Primos distantes, se querem vir me matar, estarei em
BH meio dia do dia de hoje!
E sei onde vou encontrar este seu avô sem escrúpulos,
quem quiser se despedir dele, melhor fazer antes do meio dia,
depois vai ser difícil!
Gerson Travesso
Curitiba 30 de Outubro de 2010

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O delegado lê a coluna de Gerson e olha para Plínio;
— O que ele vai fazer?
— Não sei, mas o pessoal que havia chego, começou a
voltar para BH, primeiro interceptamos uma noticia dizendo
que Gerson havia sido envenenado como planejado, depois
que algo estava errado, viram Gerson passar em seu
apartamento, e sair com o menino que estavam procurando!
— Ele foi para onde?
— Não sei, embarcou para Florianópolis ontem a noite,
mas hoje só Deus sabe onde esta!
— E não quer saber?
— Algo me diz que alguém mexeu com quem não
deveria, e sabe bem do que estou falando!
— Alguém inocente até que ele prove o contrario!
Plínio riu, era uma definição interessante de Gerson;
— Pedi proteção e vou a BH delegado, quero ver a
confusão de perto!

Era fim da manha, Gerson estava sentado em um banco,


a sua frente a Lagoa da Pampulha, olhou em volta e viu
Machadinho chegando de carro e parar na altura que ele
estava, levantou-se e entrou no carro, Gerson olhou para
Machadinho e perguntou;
— O que faz aqui?
— Vim ver de perto quem matou nosso filho!
— Ele é meu Machadinho!
— Você esta muito misterioso, não vou deixar este
senhor sair por ai curtindo com a nossa cara!
Gerson sorriu, pararam a uma quadra da casa, se via o
tumultuo na entrada:
Gerson tocou no ombro do motorista e falou;
— Me deixa na quadra de traz?
Machadinho estranhou, mas não poderiam ficar ali a
olhar aquilo muito tempo;
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J.J.Gremmelmaier
Gerson parou ao lado de uma caminhonete, desceu,
puxou uma micha ao bolso e abriu a porta do carro, puxou
dois fios, o alarme desligou, deu partida e saiu no sentido de
um material de construção no inicio da vila, comprou 10
galões para gasolina, pos na traseira e parou em um posto de
gasolina, os encheu e deu a volta na quadra, ficando na parte
mais alta da rua, uma quadra acima, pegou uma faca e furou
os galões de gasolina, a inclinação da rua fez um pequeno
escorrer de gasolina no sentido da casa do senhor, estava a
ver escorrer a uns minutos quando andando riscou um fósforo
e jogou no rastro de gasolina, viu o rastro de fogo correr nos
dois sentidos, encostou rápido na parede de viu o fogo tomar
a caminhonete uns 40 metros a frente e segundos depois ela
explodir, o susto se fez no sentido e os seguranças se
armaram, algo iria realmente acontecer;

Dentro da casa, o telefone toca e uma funcionaria


atende;
— Poderia falar com Geraldo Souza?
— Quem gostaria?
— Gerson Travesso!
— Ele não pode atender senhor, esta ocupado!
— Diz então para ele que a casa vem ao ar em 10
minutos, depois não reclama que não avisei!
A moça olha assustada e o senhor olha para ela;
— Quem era?
— Algo Travesso!
— O que ele disse?
— Que a casa vai pelos ares em 10 minutos!
Foi neste momento que se ouviu o estouro da
caminhonete dentro da casa;
— Filho de uma puta, o que ele acha que vai conseguir,
que saia assustado e caia nesta? – Geraldo;
Machadinho pega um lança míssil no inicio da rua, e sai
pelo teto de vidro do carro, olha no sentido da casa, mira, e
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puxa o gatilho, apoiando o lança míssil no ombro, este cruzou
o ar e acertou em cheio a porta de frente da casa, o senhor a
duas salas dali ouve a explosão e vê a linha de fogo vir no
sentido dele, se jogando ao chão;
Os seguranças correm todos no sentido da rua, onde
Machadinho atira um segundo míssil, que acerta os carros na
entrada, fazendo os mesmos explodirem, os moradores se
escondem, era uma guerra que não viam nas ruas chiques de
BH, enquanto todos os seguranças correm para a entrada da
frente, a luz pisca na casa, Gerson pula o muro dos fundos,
muro de rico, baixo, entra pela porta do fundo, olha para a
moça na peça e faz sinal para ela se abaixar, ela estranha,
mas vê o rapaz pegar uma arma a cintura, ele foi entrando
lentamente, e ouviu a moça da peça ao fundo gritar para
alguém;
— Ele foi por ali!
Entrou quieto, na mente de Gerson nem ele sabia o que
estava fazendo ali, quer dizer, ele era maluco, sabia bem o
que queria fazer, mas não tinha idéia de como;
Parou em um canto, antes de entrar em uma imensa
sala, viu um senhor, cabelos grisalhos gritar com alguém,
enquanto se omitia por traz de uma pesada cortina;
— Matem este desgraçado, o que estão esperando!
Um rapaz passou pela cortina entrando na sala;
— Tem alguém estranho já na casa senhor, melhor
tirarmos o senhor daqui!
— Não gosto de fugir, e não quero morrer dentro de um
carro, detonado por um lança mísseis!
— Verdade, mas melhor se recolher no escritório, pois
só tem uma saída!
Gerson viu o rapaz ajudar ao senhor, para que
levantasse da poltrona, o senhor se apoiou em sua bengala, e
lentamente cruzou a peça, entrando em uma ao lado, o rapaz
fechou a porta e ficou ali a olhar toda a sala, olhou as escadas,

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tentava adivinhar onde o rapaz estaria, já que na lógica, se ele
tivesse chego na sala, teria matado o seu patrão;

Machadinho deixa o carro, entra em outro e some


sentido centro descendo a rua, o carro foi cercado e explodiu
2 minutos depois, jogando muitos dos rapazes de Geraldo ao
chão;
Gerson olhou em volta, uma pequena pilha de papel ao
fundo das cortinas, mais a sua direita, os vidros que dariam
para fora, mas o deixariam visível, qual a saída, pegou a arma,
engatilhou e abriu a cortina, atirou na perna do rapaz, depois
no ombro, os tiros fizeram os seguranças do lado de fora
voltarem-se para o lado interno, Gerson pegou a arma do
rapaz e o encostou na parede;
— Calma, não vim matar ninguém hoje, então só
mantêm a calma!
— Ele esta aqui! – Gritou o rapaz;
Gerson irritado atirou nele pelas costas, e o rapaz caiu
lateralmente, abriu a porta, e viu um senhor segurando uma
doze, trancou a porta as costas e perguntou;
— Deve ser Geraldo Souza!
— E você alguém morto!
— Não duvido, mas gostaria de conversar!
— Sobre o que?
— Sobre sua estupidez, acha que vai levar este dinheiro
para o buraco?
— Meus netos vão viver bem com ele!
— Mortos?
— Não tem como matar a todos eles!
— Não pretendo, mas gostaria de saber por que, pois
dinheiro, é apenas dinheiro, luxo, se parar de limpar, acaba,
lustres de prata, ficam horríveis sem 3 funcionários por mês só
para cuidar deles!

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— Você não entendeu que não vou dividir o que não
pertence aos demais, com aqueles, quer dizer, com os mortos!
– Riu o senhor;
— Dividir, o senhor não tem como dividir o que não tem,
não é seu, as concessões talvez, mas se tiver de pagar os
impostos do que sonegou nos últimos anos, com juros, vai ter
um rombo grande, e pode ter certeza que esta parte, vai
pagar, se acha que meu filho quer seu ouro, também não
sabe com quem esta mexendo, mas tudo bem, deve ser muito
velho para prestar atenção nas coisas modernas! – Gerson
ouvia as pessoas a entrar na peça ao lado, via as cortinas
fechadas para fora, mas se uma coisa que ele não fora ali
fazer, fora matar o senhor, não ainda;
Gerson olha o senhor como se querendo que ele atirasse
de uma vez, e ouve;
— Vem aqui me matar, acha que para alguma coisa?
— Não, é que tem de se inteirar de quem manda matar
senhor, pois eu não quero os seus trocados, e não vou deixar
um primo distante se apoderar do que é de meu filho!
— Acho que não sabe o quanto tiramos destas terras?
— Se foi bom administrador, o que duvido, pois parece
mais preocupado em matar do que passar para seu nome, não
mais de 7 bilhões em ouro!
— Então sabe o motivo!
Gerson estava de olho na mão do senhor, que a tirou do
gatilho para coçar a perna, ele mirou e o senhor viu a 12 voar
de sua mão, olhou para o rapaz que em 6 passos rápidos
chegou a ele;
— Pena que o senhor não aprendeu uma única coisa,
Geraldo, o prazer do desapego! – torceu o braço do senhor e
o encostou na parede, pegou a perna uma algema e o senhor
não entendeu, viu-se algemado e encostado a parede;
— Acha que sai vivo daqui?
— Se eu sair vivo, o senhor vai viver, se não, vai morrer,
mas não lhe compete mais isto!

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Gerson ouviu alguém forçar a porta com força, sentiu o
rapaz jogar o corpo sobre a porta, riscou um fósforo e jogou
na cortina de ceda, rente a janela, quase apagou o fogo, antes
da ultima fagulha pegar na seda seca de anos, e começar a
tomar aquela parede;
Gerson se posicionou atrás do senhor sentado a uma
cadeira, rente a parede, engatilhou a arma, e ficou a olha a
porta;
Na terceira insistência a porta cedeu, e 3 rapazes
entraram mirando em Gerson;
— Baixe a arma! – Gritou um;
— E você me mata, engraçado, muito engraçado!
Os rapazes viram o fogo tomar a parede, e a iluminação
entrar por aquela janela, o fogo começava a pegar em uma
escrivaninha encostada a janela e correr pelo tapete, a fumaça
tomava o local, Gerson pegou um peso de papel, faziam anos
que não via um, a arremessou na janela, olhando os rapazes e
com a arma engatilhada na cabeça do senhor, o vidro se
desfez e parte da fumaça começou a sair por ali;
— O que quer?
— Não sei, me dêem uma alternativa!
— Larga a arma e conversamos!
— Rapaz, a ordem que Geraldo deu é me matar, eu
quero uma alternativa, se estou aqui, é por que não tinha
alternativa lá fora, então largar a arma não é uma alternativa!
— Matem este desgraçado de uma vez!
Gerson da com a arma na cabeça do senhor que
desacorda, olha para os rapazes e fala;
— Disto que estava falando!
— Mas não podemos o deixar sair, sabe disto!
— Então não terão seus salários, serão processados por
assassinato, pois me matar não vai ser como sempre, a
imprensa esta chegando a porta, pois nenhuma bala chega a
mim, antes da cabeça dele ir pelos ares!

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O som das coisas queimando as vezes davam estalos, e
aquele som correndo pela peça, distraia os rapazes que não
ouviam os tiros do lado de fora;
Um dos rapazes falou serio para Gerson;
— Mata ele de uma vez, e lhe matamos!
— Deve ser um dos herdeiros da massa falida que seu
avô insiste em dizer que é uma herança a ser passada!
— Como massa falida?
— Sabe como é, velho, 4 amantes, filhos, netos,
parentes, a folha de pagamento dele é muito cara, ele torrou
mais que acumulou nos últimos 40 anos, e quer saber, ele
vivo ou morto, para você, não faz diferença!
Gerson sorriu e viu Plínio e agentes Federais entrarem
na peça, e renderem os 3 rapazes, Plínio olhou para Gerson e
perguntou;
— Não o matou ainda?
— Não, tenho uma divida com este senhor, e gosto de
pagar minhas dividas antes de qualquer coisa!
— Sabe que esta encrencado rapaz? – Um agente
Federal;
— Sei!
Gerson deixou a arma sobre a mesa e estendeu as mãos
para ser preso, foi conduzido para Curitiba, teriam de fazer
alguns testes de balística para saber quem matou quem, mas
Gerson não deixaria alguém pagar por algo que ele fez, como
sempre dissera, suicida;

Os rapazes de Geraldo Souza, vêem os advogados


chegarem a delegacia, o senhor para quem trabalhavam era
respeitado, mas também chega junto, uma leva de advogados
com vários tipos de petições, porte de arma de uso do
exercito, inexistência de empresa que respondesse pelas
armas achadas no local, e varias outras coisas, como a
explosão de um carro por eles, por acharem que era suspeito,

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a pergunta de quem achavam que eram, para tomar a lei em
suas mãos é que mais pesava;

Num hospital, o senhor acorda e vê um policial sentado


ao lado da cama, e pergunta;
— Onde estou?
— Hospital São Carlos!
— Quem é você?
— Alguém que para sua sorte, não morreu em
Tiradentes, senão estaria morto nesta hora!
— Não sei do que esta falando?
— Nisto você e Gerson são diferentes, muito diferentes,
ele não é arrogante apenas quando a policia esta longe, como
o senhor, ele é arrogante em tempo integral!
— Ele esta preso?
— Sim, mas o senhor esta sendo processado por mandar
matar ele, a esposa dele, os primos, os tios por parte de
esposa, o filho, um senhor que dividia a cela com ele, e coisas
assim, então é melhor falar com seu advogado antes de
qualquer coisa!
— E o que faz aqui então?
— Apenas avisando, de mim não vai ter pena, a pressão
sobre o senhor será grande, e não quero nem ver isto feder!
— Esta me ameaçando?
— Me processe senhor!
— Acha que acabou?
— Não, o senhor não entendeu, não acabou! – Plínio
sorriu e falou com dois rapazes a porta;
— Melhor revistarem todos, mas provem a comida antes
de entrar, não queremos que ele morra envenenado!
Plínio só fechou a porta depois que falou, para por medo
no senhor, estava irritado, mas não entendeu o que Gerson foi
fazer lá;

274
Em Florianópolis Fabrícia fala com Carla;
— Agora vamos sair daqui, acho que vão vir verificar
tudo no prédio!
— Por que?
— Por que deixamos rastros, mas não quero deixar
dinheiro!
A moça sorri e pergunta;
— Não entendi como você fez tudo isto e ninguém
notou?
— Isto é fácil, enquanto todos olhavam para BH,
ninguém olhou para as contas!

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Quem quer dinheiro?
Acho que muitos querem dinheiro, e se alguém conhecido
em BH precisar, posso até emprestar, posso ver um juros bem
baixinho para não me chamarem de explorador!

Alguns me viram triste esta noite, mas meu parceiro de


cela foi envenenado, se não tivesse fugido conseguiria um
hábeas Corpus, mas não pedi nenhum ainda.
Mas queria dizer para quem tentou me matar, que acertou
o alvo errado e agora terá de responder por homicídio
qualificado, pois teve intenção de matar, mas queria só lhe
alertar de uma coisa, não que tenha algo haver com isto, mas já
deu uma olhada em suas contas bancarias?
Agora vamos falar serio, amanha, vocês irão as urnas, não
esqueçam de levar o protetor solar e a saída de banho, peguem a
estrada e nem olhem para traz, eu faria isto se não estivesse
preso, olharia o resultado apenas depois do feriado, já que nada
muda mesmo!
E para não me chamarem de maluco, estive ontem de BH,
fugi da policia e fui ver quem queria me matar, sabe como é, não
sou bom em ficar esperando para morrer, mas não consegui o
intuito que queria, o senhor já esta velho, imagine ter 4 bilhões
de dólares em patrimônio, e não conseguir ir ao banheiro
sozinho, ter 4 amantes, mas não conseguir dar uminha, até
entendi por que se apega a tentar matar os familiares, deve ser
raiva, mas senhor, ficaremos velhos também, e não se preocupe,
sei como gastar o seu dinheiro!
Gerson Travesso
Curitiba 30 de Outubro de 2010

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O Delegado lia a noticia e vê Plínio entrando pela
porta, e pergunta;
— Não entendi nada hoje?
— Nem eu, ele estava lá cercado, sem fazer nada, o que
ele quis dizer com tudo isto? – Plínio;
Começaram a trocar idéias e por a verdadeira
investigação em dados, que pareciam não fazer sentido;

Marta sai do coma, olha em volta, entende que estava


em um hospital e vê uma enfermeira vir a ela;
— Mantenha a calma senhora, precisa descansar!
— Meu filho! – Saiu a voz fraca de Roseli;
— Ele esta bem!
Roseli sorriu, e ficou a olhar as paredes, tudo que nunca
desejou, tubos pelos braços, sentia como se algo lhe faltasse a
altura do peito, não conseguia mexer-se a cama;
Um médico veio a ela, fez exames, anotou os dados da
maquina as costas, como pressão, batimento cardíaco, viu que
a moça estava sem febre e sem falar nada saiu pela porta;

Na Policia Federal um investigador vindo de Minas Gerais


pede para falar com Gerson Rosa, que é levado não para a
sala padrão e sim para uma com uma única mesa ao centro, e
duas cadeiras;
— Senhor Rosa?
Gerson sorriu, era uma das poucas formas que não
gostava de ser chamado, mas olhou o senhor e perguntou;
— Sim, em que posso ajudar?
— O senhor Geraldo Souza, o esta acusando de tentativa
de assassinato, de roubo e de ter colocado fogo em sua casa!
— E por que um investigador da Federal estaria
levantando estes dados? – Gerson;
— A policia local não esta colaborando!
— Já perguntou para Geraldo Souza o por que?
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— Em Minas não aceitamos que seres de nossa terra,
sejam acusados de coisas que não devem!
— Certo, então diz para ele, que se ele mandar matar
meu filho de novo, desta vez, tudo que era dele, vai para
gente que ele não conhece, doação anônima a entidades pelo
mundo, se ele não sabe segurar seus intuitos de matar
crianças, e um policial federal, no lugar de investigar vem falar
merda, da próxima vez nem venha, não vou falar!
— Acha que pode me desacatar?
— Vai fazer o que, me prender por isto? – Gerson olha
nos olhos do rapaz e olha para o rapaz a porta e fala;
— Aqui acabou, não tenho nada mais a falar!
— Não vai colaborar, sabe que esta assinando sua
culpa?
Gerson mordeu a língua para não falar, olhou para o
policial a porta novamente;
— Acha que sai vivo daqui se não colaborar?
Gerson olhou para a porta e não tinha ninguém, olhou
para o senhor e falou;
— Mais um covarde!
Gerson estava com as mãos para traz, algemadas, e viu
o senhor levantar e encostar a cabeça dele na mesa;
— Você não sabe o que é dor rapaz, mas posso lhe
providenciar isto!
Gerson sentiu uma pancada na cabeça, viu tudo torto,
não gritou de dor, sentiu a mesma batida na altura da vista
que fechou por instinto, mas sentiu inchar de uma vez,
reconhecendo que o rapaz estava armado, o rapaz ia bater de
novo e viu dois senhores de pé a porta;
— Disse que queria ficar sozinho com ele!
Plínio olhou o olho de Gerson e falou;
— Acho que não entendeu Investigador, ele não vai
morrer aqui hoje, e você – outros policiais entraram e o
algemaram – esta preso por abuso de poder! – Plínio olha

278
para o Procurador a porta e fala – Quem estava a porta
também senhor!
— Mas não pode fazer isto?
— Alguém morreu aqui, ou faz isto ou vai ser todos, pois
estou vendo que não é seguro a ninguém se manter nesta
instalação da policia Federal!
Plínio chega a Gerson e pede a chave da algema, olha
para a sala ao lado, a que sempre falara com Gerson, com um
vidro entre eles;
— Tudo bem rapaz?
— Tudo, mas o que aconteceu?
— Vai se fazer de bobo agora?
— Não, mas o que posso fazer, não tive acesso
suficiente para poder ter feito algo, Investigador!
— Mas sabe que foi feito!
— Qualquer que olhe, sabe!
O olho de Gerson sangrava e a cabeça também quando
o Delegado da Federal entrou na sala, vendo o estado do
rapaz e olhou o Investigador da Civil e perguntou;
— O que faz aqui?
— Pedindo seu afastamento por envolvimento na morte
de Paulo Cordeiro, e a agressão a Gerson Rosa dentro de suas
instalações, e o Procurador aqui ao lado, esta com sua carta
de afastamento para o julgamento do mérito!
— Não podem fazer isto!
— O procurador pediu intervenção em toda a unidade,
liberdade condicional aos presos e principalmente, quebra de
sigilo fiscal e telefônico de todos!
— Mas é um absurdo!
Gerson olha Plínio, não estava entendendo tudo aquilo,
mas obvio, não era mais seguro, não tinham como afastar
todo rapaz que tinha procedência de Minas, a maioria bons
homens, mas algo estranho acontecia ali;

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Gerson foi conduzido ao hospital para primeiros socorros,
e aproveitou para ver Roseli na UTI, a moça olhou o rosto
deformado e enfaixado de Gerson, ameaçou um sorriso, mas
falou baixo;
— Como estou?
— Viva, pensei que tinha lhe perdido!
— Não se perde o que não se tem!
Gerson sorriu, a lucidez dela o deixou feliz;

Foi conduzido a uma sala da policia civil e o delegado


sentou-se e perguntou;
— Como alguém faz o que você fez?
— Não sei ainda o que fiz Delegado!
— Acertaram direito você desta vez!
— Sei onde peguei pesado, mas o desespero faz isto!
— E acha que ele queria o que?
— Saber onde esta o dinheiro, se antes não tinha motivo
para estarem aqui, agora tem, saber onde o dinheiro foi parar!
— De que dinheiro você esta falando?
— Dois bilhões em recursos que estavam em 6 bancos
pelo planeta, que sumiram da conta de Geraldo Souza, mas
isto aconteceu bem antes daquele senhor estar a sala comigo,
ele sabe que não fui eu, mas como não sabe quem, veio sobre
mim!
— E quem fez?
— Defuntos!
Plínio sorriu, enquanto estavam a seguir o senhor,
alguém acessou as contas de Geraldo e esvaziou, mas deveria
ter deixado rastro, mas teriam de ver como foi feito;
— Mas ele vai querer o dinheiro de volta!
— Senhor, eu cheguei a BH a transação já havia sido
feita, com a assinatura digital do senhor que se diz roubado,
ele que tem de provar que não transferiu para algum paraíso

280
fiscal o dinheiro, para não dividir com os parentes, já que
parece ser muito apegado aos bens!
— E como você saberia?
— Sabe bem como, e não vou falar!
— E acha que ele vai lhe deixar livre para isto?
— Não, mas se me matar, e a meu filho, todo o dinheiro
vai para o destino de meu testamento, ele não tem como
afirmar o que é dele, já que nunca pagou imposto sobre estes
recursos, mais da metade estava em um banco em Trinidad
Tobago, não no Brasil, pois boa parte do dinheiro nunca foi
gerado no Brasil!
— Certo, venda de ouro ilegal, seria isto?
— Sim, mas eu acho que a policia federal deveria estar
sobre ele e não sobre mim!
— Não entendi a agressão que recebeu hoje?
— Nem eu senhor! – Sorri Gerson;
— Imagine se soubesse!
— Mas pelo jeito agora volto ao meu cárcere, tem um
colete a prova de bala para emprestar? – Gerson;
— O juiz decretou a sua liberdade condicional!
— Mas não pedi isto senhor!
— Mas todos os detidos da Delegacia da Policia Federal
de Santa Cândida estão sendo mandados para casa!
— Então vou ligar para uns e cobrar as custas dos
advogados!
O Delegado sorriu, muitos lá estavam a anos tentando
liberdade condicional e eram tidos como perigosos para
conseguirem, e de uma hora para outra, todos a rua de uma
vez;
Gerson sai dali, vê um carro de vidros escuros parar a
porta da delegacia, o investigador acompanhava pela janela.
Gerson entra no carro e abraça o filho, o carro vai no sentido
do centro, e Gerson sobe para seu apartamento, olha a
bagunça, mas estava reformado, viu a cama sem nada, e
olhou para as roupas ao guarda roupa, pegou uma camisa e
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J.J.Gremmelmaier
uma calça jeans, ligou para Paulo, Priscila e Rômulo marcando
para dentro de duas horas no calçadão, ele não poderia beber,
condicional não o permitia isto;
Sai com o filho, e vão a um barraco na divisa com
Colombo e Gerson entra e olha para Machadinho;
— Tudo calmo?
— Tudo, ela esta lá dentro!
Gerson faz sinal para o menino ficar a sala e entra em
um quarto e olha Maria algemada a uma cama;
— Por que Maria?
— Ainda vivo?
— Me enganou direitinho, mas queria saber por que?
— Nosso tio nos colocou nisto, mas não imaginava que
ele mudasse para o matar tão rápido!
— E vai lá e mata Marta, por que, por trocados?
— Muito dinheiro, Gerson, muito dinheiro!
— Trocado, se dividisse o que Geraldo tinha, no numero
de pessoas que ele pretendia, pouco mais de 5 milhões para
cada! Se estivesse prestando atenção, queria que você
chegasse a isto em 4 anos, mas sem precisar matar ninguém!
— Não foi pessoal, sabe disto!
— Matar meu filho não é pessoal, o que é pessoal para
vocês?
— Sabe que gostei de você, mas só faltava vocês!
— Acho que não entendeu, a 12 anos, escondemos e
falsificamos mortos, assim que soubemos de onde vinha o
ataque, todos os pseudo mortos dos últimos 12 anos, apenas
4 vocês mataram, o resto, com nomes diferentes esperando
seu tio avô morrer e por vocês para correr, pois ele não tem
direito a mais de um quarto daquilo, e ele sabe disto!
— Esta mentindo!
Gerson sente pelo perfume que Fabrícia tinha entrado na
peça, pois este Traveco se mexia silenciosamente, muito
silenciosamente;

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— Vai a matar Gerson?
— Não, preciso de alguém vivo do lado de lá!
— Alguém, por que?
— Por que senão eles invertem a historia e quem vai
para a cadeia são vocês, que não morreram!
Maria olha para a moça, entendera que ali estava um
dos que deveriam ter morrido, e vê Machadinho entrar e falar;
— Falta apenas aqueles dois policiais Federais!
— Pode matar todos, e amanha começamos a reassumir
os nossos nomes! – Fabrícia;
O senhor saiu e Maria olhou para o rapaz e perguntou;
— Quem é você moça?
Fabrícia engrossou a voz e falou;
— Paulo Pedro de Oliveira, priminha!
Maria olha para Gerson e pergunta;
— Você sabia e fez questão de fazer aquela matéria?
— Sim, mas não esperava que você me traísse! Mas
deixa as coisas mais fáceis assim!
— Por que?
— Preciso de alguém do outro lado, já que embora
vocês falem que estão querendo matar uma parte, sei que
estavam matando gente dos dois sobrenomes, algo que a
mantendo escondida e tida como morta, estou lhe poupando a
vida! Principalmente depois das ultimas mortes, vocês estão se
matando as centenas!
— Acha que sai vivo?
— Maria, quando as vezes, as pessoas escondem suas
verdadeiras origens, nos forçam a ilegalidade, a fazer coisas
que não gostamos, mas que é onde não se olha muito!
— Mas vai me deixar presa aqui, lhe processo!
— Se quiser podemos a matar, embora seja um
desperdício, podemos conseguir isto! – Fala Gerson olhando a
moça;
— Teria coragem?
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J.J.Gremmelmaier
Gerson sorri e sai pela porta, e senta-se a frente de
Carla que pergunta;
— O que estamos fazendo?
— Sobrevivendo, e como podemos por uns milhões no
bolso no fim, acho que ninguém vai reclamar!
— E como resolvemos os demais problemas?
— Evitem acessar sistemas que dêem para rastrear,
podem fazer por Lan, existe aos montes algumas que não
pedem cadastro, e se pedirem, ditem, não mostrem
documentos!
— Certo, mas vai fazer o que?
— Terminar de fazer o que estava fazendo quando
aceleraram tudo em meu sentido!
Os demais veem Gerson sair pela porta, entrar no carro
com o filho e sair no sentido do centro;
Sentados ao calçadão, Paulo, Priscila e Rômulo
conversavam quando viram Gerson chegar e pedir um
refrigerante;
— Esta doente? – Priscila;
— Não, estou de condicional, o que dá na mesma!
Paulo sorriu e perguntou;
— Como podemos tocar isto, sem Marta?
— Ela saiu de coma hoje, mas ninguém precisa saber
disto ainda!
— Ela esta viva? – Paulo;
— Sim, mas não sei por quanto tempo! – Fala triste
passando a mão nos cabelos do filho;
— Mas o que faremos?
— Estou esperando vocês dois – olha para Paulo e
Priscila – tirarem o projeto do papel, mas parece que está
difícil, tive de fugir da cadeia para isto!
— Não brinca, você faz falta! – Priscila;
O olhar de Rômulo para ela foi de alguém que ainda
amava aquela mulher;
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— Primeiro Priscila, liga para seu pai e pergunta pela
ultima vez, quanto ele quer para tirar a acusação contra mim,
se ele não quiser vamos para o plano dois!
Gerson olha para Rômulo;
— Conhece alguém bom em organizar uma Redação?
— Maria, mas não entendi o que aconteceu!
— Fica entre nós, mas foi Maria que deu os dois tiros
que estão mantendo Roseli na UTI!
Os demais silenciaram-se e Rômulo falou;
— Tem aquele primo de Priscila, Daniel, não ficou muito
na Gazeta, parece estar estudando Administração, mas era
rápido nos pensamentos!
— Se conseguir falar com ele, não entra em detalhes
ainda, mas fala que é estruturar uma empresa da primeira a
ultima contratação, e tocando a redação de um jornal!
— O sindicato dos Jornalistas vai reclamar! – Priscila;
— E do que não reclamam, mas assim que ele se formar,
financiamos uma pós em Jornalismo!
Paulo sorriu, armações de Gerson;
— Paulo, os recursos vão entrar em sua conta, já que
não sei quando poderei mexer no que coloquei na conta de
Roseli, tem um terreno no Hauer que pode servir, uma quadra
que antes era uma empresa apenas, esta a 3 quadras da linha
verde e conseguimos acomodar muita coisa lá!
— E o que faremos referente a você? – Rômulo. – Não
pode ficar preso por processos sem cabimento!
— Rômulo, se o pai de Priscila aceitar um acordo, não
volto para a cadeia, as acusações somem, não existe crime se
não existir reclamação, mas consegui o que queria, estar num
lugar que trouxesse a policia ao outro problema que estava
vivendo, não fui lá para ficar preso, e sim, para estar onde
não pudessem me acusar, e muito menos, se omitir!
— Então se meu pai aceitar um acordo, até quanto vai o
acordo?

J.J.Gremmelmaier 285
J.J.Gremmelmaier
— Pede para ele falar um valor, terei de analisar, mas se
abrir a negociação, já é um bom sinal!
— Faço!

Gerson sai dali a andar com o filho pelo calçadão,


voltando para seu apartamento, hora de dormir um pouco, no
dia seguinte, não sabia se tinha de ir votar ou não!

286
Viva o Rei morreu, viva o novo Rei!
Quando ler isto, milhares de Brasileiros estarão indo
as urnas, escolher um novo presidente e muitos
governadores, mas sempre terei a impressão de estar
indo obrigado votar, estranho isto, mas é o que
acontece, por que o voto é obrigatório?
Comodidade de políticos que ganham com isto, se
eles passassem a perder, a lei mudaria?
Acho triste este tipo de coisa, pois no lugar de
sentir como um direito, acabo sentindo-me obrigado, já
não é agradável ter de ouvir o horário gratuito, e nada
democrático, pois se fizessem um plebiscito, acredito que
o povo votaria pelo fim do horário político gratuito.
Depois temos de ouvir mentiras e não podemos
intervir, alguém fala que milhões saíram da classe D e
foram a C, quando eu estudava, não existia classe E, era
A, B e C, mas quando subdividiram a classe pobre em C,
D e E, deveria ter adivinhado que iriam usar isto
politicamente.
Mas poderiam falar, que neste fim de outubro, uma
leva imensa de pessoas desta classe C, estão com os
cartões de credito atrasados!
Mas mesmo assim, vamos votar, vamos acreditar,
vamos dizer ao mundo que somos em alguma coisa
primeiro mundo, nem que seja na mentira que somos
uma democracia, pois sempre digo, em países
democráticos, o povo participa, escolhe os pré
candidatos, as idéias, as propostas, e este candidato vai
as urnas representando uma idéia, e se não a cumprir,
cadeia nele!
Gerson Travesso
Curitiba 31 de Outubro de 2010

J.J.Gremmelmaier 287
J.J.Gremmelmaier
Os jornais do dia, davam destaques a eleição do dia,
muitos planos se fariam naquele dia, o país parado para uma
eleição e depois um feriado, o de finados, Gerson não poderia
sair da cidade sem comunicar o juiz, sinal que estava preso a
cidade até o fim do fim de semana, Gerson sempre se
perguntou como certas pessoas conseguem as coisas de
madrugada, como conseguem hábeas corpus num domingo a
tarde, mas sabia bem que quanto mais alto na cadeia social,
mais fácil de conviver com estas pessoas, principalmente
numa cidade, que ele sempre dizia ser um ovo, Curitiba, se
quer não encontrar ou não ser encontrado um dia, não
adianta fugir, eles lhe acharam no buraco mais escondido da
cidade;
Domingo se apresenta preguiçoso, lento, Gerson estava
louco para fazer alguma coisa, mas não tinha o que fazer, pelo
menos este ano não teve lei seca, as pessoas pareceram
beber menos este ano que a eleição passada;
Gerson e o filho foram ao hospital, o menino queria ver
a mãe, a ultima vez que a viu, não estava bem;
UTI é visita rápida, mas o menino estava mais feliz, e os
dois pararam em um quiosque de Internet no Shopping
Curitiba, depois que saíram do Hospital Evangélico, sentaram
lá e Gerson perguntou para o filho;
— Para qual entidade vamos doar o dinheiro?
— Vamos mesmo doar isto?
— Filho, doando ou não doando, teremos problemas,
mas se não conseguirem rastrear, melhor assim, já que
estamos falando apenas da nossa parte!
— E os tios vão doar também?
— Não sei, acho que já temos para viver, mas sabe que
independente do acontecido, já teríamos com o que viver!
Os dois ficaram a trocar idéias, estavam no Shopping as
20 horas quando a apuração apontava Dilma como a nova
presidente da republica, os dois tomaram um sorvete, e foram
para casa;

288
Parabéns Brasil
Mostramos mais uma vez que independente de tudo,
mantemos a ordem, mostramos civilidade, parabéns para os
Brasileiros, pois estamos evoluindo como nação, como povo,
deixamos de ser o país do futebol para ser o Brasil, de lideres
respeitados.
Sorrio ao ver que mais uma vez a democracia venceu,
mesmo não acreditando em democracia, sorrio pois somos por
natureza, todos um pouco anarquistas, e em meio a tantos
anarquistas um pouco de Democracia é positivo.
Não se acha anarquista?
Então vou falar por mim, toda vez que vocês voltam da
praia, é a hora que quero ir para lá, toda vez que um filme é
muito disputado, não assisto de cara, as vezes 3 anos depois,
em DVD, já na sessão dos catálogos, por que? Não gosto de
olhar para o lado que mandam-me olhar, todos sempre olham
para a bola, mas não vêem o gorila acenando e roubando, eu
prefiro roubar o gorila, que não nos acha ameaça, enquanto
vocês não viam o gorila roubar. Mas algumas coisas estão
mudando, vocês estão olhando para o lado, não estão
deixando barato, estamos virando uma nação, alguns vão
dizer até que enfim, e direi;
―Somos Jovens, e mais ainda como republica, e
andamos em passos largos para conseguir o que queremos!‖
Hoje estou alegre, e tenho motivos para isto, alguns
ficam felizes com um carro novo, com uma casa nova, com
um governo novo, eu, de estar a escrever com meu filho
perguntando coisas sobre o meu trabalho, olhando os relatos
que fiz para meu livro, que por sinal ele não deveria estar
lendo, é novo ainda para entender, mas o principal, as
pessoas que amamos estão bem, as que odiamos não
existem, e Parabéns Dilma, você conseguiu, ia fazer uma
piada, mas melhor não, deixa ela curtir até dia 31 de
dezembro, que depois ela vai ter muito trabalho pela frente;
Gerson Travesso
Curitiba, 01 de Novembro de 2010

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J. J. Gremmelmaier

Crônicas de Gerson
Travesso
4 - Está difícil
de Limpar!
Primeira Ediçao

Curitiba
Ediçao do Autor
2010/2011

293
Deixar claro uma coisa, esta é uma estória de
ficção, estou acompanhando a tendência
mundial, escrever historia encima de historias
famosas, mas pensei, qual a maior fantasia que
existe no Brasil e cheguei a conclusão que uma
das maiores, são os próprios livros de Historia,
que nos contam historias pela metade,
historiadores que não se prendem apenas a
fatos, e distorcem o que viram pra vender seu
peixe, então se é para inventar, vou inventar
falando de passado no presente, inventar uma
historia no Novo Caminho Real, certo que ele
foi aberto a partir do inicio de 1701, mas ficou
popular somente mais a frente, quando os
piratas começaram atacar os pequenos barcos
que faziam o transporte de ouro de Paraty até o
Rio de Janeiro!

J.J.Gremmelmaier 294
J.J.Gremmelmaier
Feliz 2010!
Bem vindos ao ano, estranho dizer isto no inicio de novembro, mas sabe
como é, existem anos especiais, aqueles que insistem em não começar, mas vi
os preços as prateleiras e soube, agora começou o ano.
Primeiro, como todo ano, vem o carnaval, muitos anos, começam logo
após o Carnaval, aos desfiles, as descontrações, as bebedeiras, as mortes no
transito, mas este ano não foi assim, pois tinha copa do mundo, então todos
estavam esperando a copa, vi muitos comprarem em 24 e 36 meses uma linda
TV de plasma, para ver a Holanda vencer o Brasil, o jogo eles esquecem, mas o
cartão de credito de muitos esta estourado, e o Brasil não venceu. Mas alguns
otimistas logo ao fim do jogo acharam que o ano começaria, mas esqueceram,
havia eleição, e começa a baixaria;
Mas agora começou o ano, e vamos trabalhar, pois daqui a pouco é
natal, ano novo e começa tudo de novo!
Não esqueçam de pagar as prestações, não esqueçam das contas e do
emprego, que dizem estar em alta, mas vemos muitos desocupados ainda as
ruas!
Sei que muitos não gostam de minha pessoa, mas queria dizer, que vocês
tem razão, mas agora somos um país de primeiro mundo, elegemos uma mulher
para o cargo máximo, coisa de pais desenvolvido, de país democrático, não sei
se ela conseguira lavar a roupa suja do século passado e mais 10 anos deste
século, que ficaram sujas em Brasília, mas sei que ela vai se esforçar, espero
que ela tenha coragem de tratar o problema do aborto, não precisamos autorizar
o aborto para tratar o mesmo, mas não podemos também abrir mão do direito de
credo, a favor de um e contra os demais.
O Brasil tem uma das igrejas mais lindas do Universo, a de Brasília,
projetada por um Comunista Ateu, então Dilma, lembre ao entrar na Catedral de
Brasília, que o que faz o Brasil especial é a diversidade, alguns falam em
democracia, mas ouço os mesmos falarem em leis que beneficiam suas igrejas, é
democracia ou estado religioso?
Temos de saber diferenciar, e sempre digo que se um evangélico lesse a
Bíblia, não estava em Brasília fazendo política, estava sim a pregar nas mais
distantes igrejas deste país, pois um rapaz a mais de 2 mil anos disse‖ A Cezar o
que é de Cezar, a deus o que é de deus!‖, política não é coisa de deus, e sim
estado de leis, onde não se pode seguir a cegas e permitir que se mate a pedrada,
não se pode permitir exploração de menores, isto quer dizer, não permitir que
eles casem para aliviar o peso dos pais, mas não acho justo proibir um menino
de trabalhar aos 14 para conseguir chegar mais longe.
Acho que com uma mulher lá, as coisas podem vir a mudar um pouco
mais, e desejo a ela sorte, pois tocar o país requer um pouco!
Gerson Travesso
Curitiba, 02 de Novembro de 2010
Gerson acorda e vê seu filho pronto para ir ao
colégio, faz um café rapidamente e saem na direção do
colégio, o menino estava triste, e não era para menos, em
meio a tudo sua mãe, Roseli, estava ao hospital, os médicos
diziam que ela estava se recuperando bem, mas sempre com
ressalvas que deixavam as coisas pesadas;
Gerson estava perdido, com planos, um livro escrito pela
metade, e muito medo do que seria seu futuro, não por ele,
sabia da importância de uma mãe na educação de uma
criança, pensava em como as coisas estavam tortas, após
deixar o filho no colégio senta-se a praça Osório e pede um
café, Zequinha sorri e fala;
— Voltou?
— Alguém deu falta, menos mal!
Gerson sentou-se, olhou os jornais, nada de novo, não
que ele não soubesse com 24 horas de antecedência, pois os
crimes não eram noticia, eram constatações, não havia noticia
em informar que alguém foi assassinado, já que é o narrar de
um fim, e fim não merece tanto destaque quanto um começo;
Ele estava a tomar seu café calmamente quando Paulo
sentou-se e perguntou;
— Vai voltar a trabalhar?
— Acho que amanha, hoje vou achar investidores!
— Para que?
— Para não precisarmos do dinheiro que nos torna
sócios em 33% em um jornal!
— E quem vai investir no novo jornal?
— Não sei ainda! Mas não quero dispor muito da
empresa!
Paulo sorriu e perguntou;
— E como esta Marta?
— Vou a ver meio dia, hora da visita!
— E Pedro?
— Evita chorar na minha frente, mas esta com medo!

J.J.Gremmelmaier 296
J.J.Gremmelmaier
— E você?
— Apavorado! — O rosto de Gerson mostrava que não
estava muito feliz com aquilo, era mais um desabafo, os dois
conversaram um pouco e Gerson saiu no sentido do Hugo
Lange, e bate a porta do senhor Dantas, e o mesmo o atende
em sua sala de ostentação;
— Veio pessoalmente tratar do que propôs a minha
filha?
— Vim negociar, já que não tenho os 2 milhões que
pediu para retirar a acusação!
— Negociar, o que tem para negociar?
Gerson olha uma moça que serve um suco, agradece,
toma um gole e olha o senhor Dantas aos olhos;
— Não sei se lhe interessa, mas não custa tentar, o
grupo que comprou seu jornal, vai criar um terceiro jornal na
cidade, algo que deve valer perto de uns 20 milhões, e render
perto de um milhão em distribuição de lucro ao ano, para seus
sócios, mas não consigo mais que 10% disto, e teria de me
desligar do jornal!
— Você tem 10% de algo que vai valer, mas não me
parece real algo de tamanho tão grande?
— Compreendo sua desconfiança, mas faz parte de um
acordo que tinha com eles, mas eles não pagam em dinheiro,
apenas em ações deste novo empreendimento, mas para mim
seria algo interessante da mesma forma, iria me gerar um
ganho de 200 mil ao ano, o que pode ser mais do que apenas
ganhar um dinheiro que se perde com o tempo!
— Não entendi?
— Eu tenho 10% da empresa, ela tende a um lucro
superior a 2 milhões ao ano, distribuído entre os sócios, ou
aproximadamente 200 mil ao ano, uma boa poupança
mantendo o valor bruto valorizando!
— E se aceitar esta parte, o que fará?
— Não serei preso, o que para mim é uma grande coisa!
— Quem mais é sócio desta empresa?
297
— Isto não sei, sei da minha parte, sei que eles
arrecadaram recursos com outros na cidade, mas acredito que
a maioria ainda é deles, gostam de mandar!
— E eles administram bem? Não conheço o grupo?
— Sempre me pagaram bem, nunca tive problema com
eles como com alguns outros jornais de renome no país!
— E como seria este jornal?
— Eles lançam o primeiro volume em 3 meses, deve ser
um jornal que pretende abranger o sul do país inicialmente,
estão agilizando as publicidades, mas a base é sempre a sátira,
enquanto eles estão transformando a Gazeta em algo ao estilo
Tribuna do Paraná, estão fazendo do Diário Vespertino algo
mais clássico, noticias respeitadas, e a idéia é um terceiro
jornal, valorizando a sátira, algo mais apimentado, mais ao
estilo dos jornais franceses!
— E como sabe tanto?
— Sou informado senhor, vocês não me viam, mas eu a
muito vendia idéias ao seu jornal senhor Dantas!
— E se não aceitar?
— Terei de vender para outro, para pagar minha defesa,
e com isto nem eu nem o senhor ganhamos, pois sei que a
defesa vai ser cara!
— Acha que os demais não vão lhe processar?
— Os demais não tem provas, não tem rastros, mas o
menor dos rastros é o que vai me levar para a cadeia se não
tivermos um acordo!
O senhor sorriu, achava que o rapaz estava indo para o
lugar que nunca deveria ter saído e fala;
— Mando meu advogado falar com quem para acertar
isto?
— Paulo, o redator do Diário, esta sendo o
representante momentâneo enquanto Marta se recupera de
um assalto que quase a tirou a vida!
— Soube da tragédia, mas ninguém fala disto, sabe por
que?
J.J.Gremmelmaier 298
J.J.Gremmelmaier
— Não, tentei descobrir quem foi e nada apareceu,
parece ser gente grande, pois ninguém teve coragem de falar!
— Você perdeu uma grande mulher rapaz!
— Isto eu sei, escolhas erradas são minha especialidade!
Os dois se despediram e Gerson saiu dali, ligou para
Paulo e explicou o que fez, e o senhor sorriu do outro lado,
mas o principal, ligou para o advogado e informou que fizera
um acordo com o senhor Dantas, e perguntou;
— Quem falta agora?
— Se o senhor Dantas tirar a acusação, acho difícil o
inquérito se manter, mas tem de cuidar, ele sempre foi metido
a se dar bem, e não cumprir um acordo!
Gerson sorriu, era um risco, mas um risco de não mais
de 150 mil reais, por uma divida de 2 milhões de reais.
O senhor vai ao Evangélico logo após pegar o filho no
colégio, e os dois entram na UTI, Roseli estava sentada a
cama, com uma sonda, olhou os dois e falou;
— Fico aqui até quando?
— Não sei, mas esta melhor?
— Sim, mas a comida é horrível!
Pedro sorriu e falou;
— É bom lhe ver sorrir mãe!
A senhora abraça o filho e um medico veio a Gerson e
perguntou se afastando da cama, deixando lá mãe e filho
abraçados;
— Senhor, sabe se tem como pagar um tratamento
especial?
— Por que?
— Ela teve 85% do pâncreas retirado, ela não pode
consumir álcool ou comidas gordurosas!
— Ela vai odiar isto, mas qual a gravidade?
— Ela reagiu bem, já vi gente chegar melhor e não se
recuperar, mas o caso dela é de acompanhamento, vai

299
precisar de nutricionista, de acompanhamento de perto por
pelo menos um ano!
— Ela vai ter alta quando?
— Estávamos esperando alguém para se responsabilizar,
vamos a transferir para uma enfermaria!
— Não teriam um quarto?
— O plano medico dela não cobre!
— Pago no particular, se for o caso!
— Verifico isto, mas teria de deixar uma garantia, na
tesouraria, é apenas burocracia, mas necessário!
— Sem problemas, mas ela esta bem?
— Melhorou muito no ultimo dia, vamos a acompanhar
mais uma semana, se tudo evoluir damos alta de 7 a 9 dias!
— Não tenho pressa pela alta senhor, apenas pela saúde
dela!
O rapaz anotou o numero do quarto e falou;
— Mas tem de acertar na tesouraria ainda hoje, senão
ela vai para a enfermaria!
Gerson sorriu, era estranho isto, o dinheiro acima da
vida, mas sabia as regras, e não era para todos, deixou o
rapaz ali, e voltou para conversar com Roseli;
— Quando vão me dar alta?
— Tem de manter a calma, mais uma semana, pelo
menos!
— Odeio UTI!
— Amanha vai para um quarto, mas tem de ter calma
Roseli!
— Odeio hospitais!
Gerson a abraçou e falou;
— Sabe que você me deu um grande susto?
— E aquela sua amiguinha, já esta presa?
— Não, não esta!
— Vai a proteger?

J.J.Gremmelmaier 300
J.J.Gremmelmaier
— Sim, você não quer nada comigo!
— Você não presta Gerson, tem de se conformar que
acabou!
— Já me esqueceu?
— Sabe que quase tive uma recaída, mas quando levei o
tiro, acordei que não aguento neste seu mundo!
— Nosso!
Roseli sorriu e olhou os demais;
— Este local e triste, as pessoas morrem aqui!
— Não brinca com isto, mas vê se não foge!
— Não dá idéia para ela! — Pedro;
Roseli olha atravessado para o filho, mas com um sorriso
nos lábios;
— Até você já esta contra mim?
Pedro sorriu, os três trocaram farpas por um tempo, e
depois de 45 minutos pai e filho foram ao centro almoçar.
Os dois vão a alguns endereços, Gerson negocia 5%
com um, 5% com outro de algo que estava ainda somente no
papel, mas que despertava a curiosidade de muitos,
principalmente políticos, estes gostavam de ter uma fatia de
algo que vendia opinião, então o vender da idéia de fazer
alguém senador, de alguém deputado federal era uma arma
na mão do rapaz que poderia ser qualquer coisa, menos burro,
e no fim daquele dia se reúne com Paulo e Priscila em meio ao
calçadão da XV de Novembro para tomar um café;
— O que aprontou? — Priscila;
— Mudei os planos, mas quero saber se estão dentro
mesmo com as novas especificações!
Paulo olhou para Gerson e perguntou;
— Vai pular fora?
— Não, mas preciso estar livre para tocar esta idéia, e se
Marta não melhorar 100% terei de assumir o papel dela, então
devem saber que pode ficar pesado!
— Mas qual a idéia?

301
— Fiz um acordo com seu pai, Priscila, no valor de 10%
da empresa, para ele tirar as acusações contra a minha
pessoa, mas a idéia é termos a maioria, e ninguém saber que
somos nós por traz da empresa, entro como representante do
grupo Português, mas sabem que não serão eles mandando. A
idéia, 25% para cada um que esta a mesa, não os 33%, 10%
para seu pai, e três sócios, que captei hoje, onde cada qual
entra com 4 milhões de reais, pelos 5% deles!
— Quer dizer que vendeu nossos 5% por 4 milhões? —
Priscila;
— Sim, os recursos vão entrar durante a semana,
fechando a parte jurídica da empresa, mas temos sempre um
problema!
— Qual? — Paulo;
— Temos sempre de estar pelo menos 2 em acordo, pois
teremos um grupo com peso de 25%!
Paulo sorriu, a mensagem era para ele, pois se Priscila
se unisse ao pai, teria mais de 35%, unindo todos os demais
teriam 50% e ele e Gerson teriam a mesma quantidade;
— Então a empresa já tem o capital? — Priscila;
— Sim, mas estou entrando com um terreno de 700 mil,
e espero a entrada do capital dos dois!
— Vai nos cobrar mesmo assim? — Priscila;
— Priscila, estou cobrando 500 por uma fatia que terá
um valor bem maior, o que esta reclamando? — Gerson;
— Nada, estava pensando se o capital seria suficiente,
agora entendo que a idéia era captar recursos, mas quem
comprou?
— Políticos, eles adoram ter parte de algo assim!
Trocaram idéias sobre a editoração, e Rômulo chegou ao
grupo, veio com Daniel, o grupo crescia, e foram ao barracão
que agora fazia parte do jornal, começaram a definir espaços,
e a definir o que seria necessário, definir coisas que podem
passar desapercebidas, como o nome do jornal, mas para eles
era importante;
J.J.Gremmelmaier 302
J.J.Gremmelmaier
Hoje é um dia importante!
Não sabe por que?
Imaginei, mas hoje é Quarta feira, dia de começar a trabalhar, algumas
coisas me indicam um ano corrido, mas com certeza melhor do que o que foi até
este ponto, não vejo mais as pessoas a porta da redação para me jogar ovos,
não vejo mais os cabos eleitorais a balançar bandeiras nas esquinas, ainda temo
as vezes quando vejo isto, mas sei que votaram consciente, não pegaram um
santinho no chão e votaram, não venderam seus votos, e se o fizeram, após
recebido votaram para outro, mas aqueles seres balançando bandeiras sempre
me dão a duvida se alguém vota por causa das bandeiras, ouvi um dizer que é
para eles sentirem que estão votando em quem vai ganhar, mas não voto para
ganhar, voto por acreditar em algo, as vezes voto por ser obrigado ir a urna,
mas não por que alguém vai ganhar, já que a impressão local pode me dar um
sensação enganosa, de que um candidato vai vencer, mas sei que como morador
do sul do país, não importa meu voto.
Como não importa?
Um dia no passado, um rapaz me perguntou se era a favor do estado ser
dividido em dois, criando o estado do Iguaçu, falei que era a favor, poderia criar
um do Iguaçu, um do Paraná, um de Paranaguá, e o rapaz me olhou como se
fosse algo absurdo, mas explico, você sabe que temos peso muito pequeno nas
votações do país, enquanto a media nacional é acima de 3 filhos, temos cidades
no sul que o índice chaga a um, temos uma densidade demográfica que não
corresponde a 10% da população do pais, mas o principal, temos uma
participação política em Brasília, muito baixa, baixa mesmo, se você pensar que
cada estado criado lhe gera deputados e no mínimo 3 senadores, acho que
deveríamos dividir o estado em 3 no mínimo, já que somos geograficamente
diferentes, e com vocações diferentes, já que não plantamos na capital, mas
temos população para influenciar a votação do estado inteiro!
Pense que se o estado fosse dividido em 3, só o que hoje é Paraná, teria
mais peso em Brasília que o Sul inteiro!
Mas é um absurdo, isto é golpe político!
Verdade, mas quando transformaram Roraima, Rondônia e Amapá em
Estados, foi o que foi feito, Roraima tem o peso político do Paraná em Brasília,
mas eles tem metade da população de Londrina!
Mas não é a mesma coisa!
Verdade, ainda tivemos de ver um governador do Maranhão, se lançar
candidato a Senador pelo Amapá, e ser eleito!
Absurdo é não escolhermos os candidatos, eles escolhem a anos e nos
impõem, somos uma falsa democracia, mas não acho que o sul tivesse de ter
mais do que os 10% de peso em Brasília, mas gostaria que cada estado tivesse o
peso de sua população, pois é fácil se ter os filhos e mandar a São Paulo, e
manter os recursos na mão dos coronéis, temos ainda de melhorar isto!
Gerson Travesso
Curitiba, 03 de Novembro de 2010
O Delegado da homicídios chega a delegacia e vê
Plínio a sua sala o esperando;
— O que aconteceu?
— Algum acordo, pois o senhor Dantas tirou a acusação!
— Então não temos nada?
— O homicídio em Minas Gerais, nada mais!
— Então vamos o pegar por isto!
— Acho que é a única coisa que ele não vai escapar, a
balística afirma que o rapaz morreu com um tiro as costas!
— E como estão as acusações referente aos roubos da
família Souza?
— Rastreamos o IP, foi realizado de um prédio no centro
de Florianópolis, mas nenhum dos apartamentos corresponde
ao IP exato, nos dá um local, mas sem determinar o exato,
não entendo disto, mas o pessoal de crimes pela Internet
estão perdidos!
— Qual o problema?
— Foi feito com a senha de acesso do senhor Geraldo
Souza, não temos como afirmar que foi outra pessoa, ele ligou
para muita gente naquela semana, a muitos celulares em
transito, pode ter sido sobre ordens dele!
— Sabemos que não foi Plínio, mas não sabemos quem
foi, este é o problema!
— Verdade, mas parece que as mortes em Minas
continuam, muitos Souza se matando, parece uma guerra, o
senhor Geraldo esta em prisão domiciliar, mas a policia local
não quer mexer com ele!
— Com uma folha de pagamento daquela, ninguém quer
mexer mesmo, eu temeria pela vida de minha família em
mexer com alguém como ele!
— Mas acabamos mexendo sem saber!
— Fomos induzidos a isto, mas não gosto disto da
mesma forma, não sou marginal, odeio me sentir protegido
por seres que não vejo, mas que sei estarem lá me olhando!
— Eu não reclamo, e nem minha esposa e filhos!
J.J.Gremmelmaier 304
J.J.Gremmelmaier
O Delegado se calou, era uma posição estranha de se
aceitar; Gerson naquele dia pede uma permissão ao juiz para
ir ao Rio de Janeiro, teria assuntos referente a compra de
materiais e equipamentos a acertar na cidade do Rio, o juiz
concede, e o senhor, após passar no hospital, ver que Marta
estava melhorando, deixar Pedro na casa de Machadinho, se
manda para o Rio;
Gerson vai a Biblioteca Nacional, queria saber sobre o
Caminho Imperial, algo havia lhe fugido da historia, ainda
pensava em proteger seu filho, Geraldo recolheu o pessoal,
estava muito visível, e Gerson entra no salão principal da
Biblioteca, um rapaz o indica o terceiro piso, na sessão de
Mapas Antigos, alguns ele não teria acesso, apenas a copias,
mas começa a pesquisa sobre mapas e Joaquim Jose da Silva
Xavier, não apareceu nada, estava a pesquisar a uma hora
quando o rapaz avisou que já era 18 horas e iriam fechar a
sessão, anotou as coisas e se despediu, ficou a pensar em o
que poderia fazer;
Sentou-se em uma lanchonete em frente, de onde via a
imponência do prédio, e começou a organizar suas idéias, era
uma maluquice falar de Inconfidência Mineira, sem falar do
Caminho Real, sem falar de Ouro Preto, ouro de aluvião, mas
de onde vinha o ouro? As perguntas começavam a fervilhar
em sua mente, Joaquim sendo o responsável por manter o
caminho que vinha ao Rio aberto, quantos dias se demorava
na época para fazer o mesmo, o que a cidade de Tiradentes,
tão longe de Ouro Preto tinha haver com a historia, não fazia
sentido, a historia que lhe contaram estava com tamanhos
furos, que não conseguia ligar as peças, como um
inconfidente, faz para unir um país, qual a idéia, por que
parece que algo esta errado;
Gerson estava a ler suas anotações e vê que Tiradentes
ainda se destaca na produção de estanho, não de ouro, o que
ligaria as duas historias?

305
Gerson estava em um imenso quebra cabeça quando
termina de redigir a coluna do dia seguinte e transmite via
Internet para Rômulo na Gazeta;

J.J.Gremmelmaier 306
J.J.Gremmelmaier
Estrada Imperial!
Vamos falar de poder, estamos a poucos dias do que foi uma
demonstração de civilidade do povo brasileiro, eu nunca soube se isto é
positivo ou negativo, o que é civilidade?
Não reagir violentamente contra o que lhe perturba!
Sim, ser civilizado é ver um assassino que matou crianças, e não o
matar, apenas o mandar para julgamento, é saber que alguém passa fome,
e não a dar um trocado pois ela é menor, e esta sendo explorada, é saber
que um deputado rouba e o reeleger, acho que a civilidade as vezes faz com
que os seres ao governo, não nos dêem valor, as vezes queria que o povo
soubesse de sua força, mas não sou a favor de crucificar alguém sem
provas.
Vi uma mãe pelo dinheiro mandar prender o filho este ano, para
vingar a morte da neta, mesmo sem provas de que o filho o tenha feito,
mas ela agora administra os recursos do filho judicialmente, estranho isto,
dinheiro falar mais do que justiça.
Mas voltando a civilidade, um dia um Inconfidente foi morto, pois
alguém foi a favor de manter tudo o que estava errado, como estava, e
Joaquim Jose da Silva Xavier morreu enforcado, uma assinatura em sangue,
uma morte com a assinatura dos torturadores das cadeias do Brasil Colônia,
mas que livrava os covardes da corte do Rio e Minas da morte.
Ouvi alguns dizerem que ele não foi morto, pois as pessoas que iriam
morrer, não usavam capuz, para que o povo soubesse o que acontecia com
os que traíssem a coroa, mas não esqueçam, ele não assinou a confissão
por vontade, ele não traiu os demais, então o rosto dele deveria estar como
o de alguns que saem das delegacias deste país, mortos ou quase mortos
depois de confessar um crime, que as vezes nem sabiam onde foi cometido!
Gostaria de ver estas coisas mudarem, mas não mudaram ainda,
estamos ainda num país onde a lei é feita por quem esta ao poder, não pela
constituição, e vemos isto como uma herança da civilidade, não acho certo
policiais ostentarem armas mortais em 4 dentro de uma viatura que foi
nosso dinheiro que pagou, em bairros residenciais, por que não entram nos
morros, no lugar de ficarem a desfilar arrogância e desperdício pelas ruas!
Acho que quem faz este país especial são as pessoas, mas
poderíamos ser melhores, pois ainda carregamos vícios da época que
éramos colônia, e uma delas, o que chamam de civilidade, pois a lei não
deveria ser seguida apenas pelo povo, deveria ser seguida por juízes,
deputados, senadores, ricos e policiais, não só por nós, o povo!
Civilidade, um assunto conturbado, pois toda vez que defendemos
nossos direitos, de cidadãos, nos acusam de não sermos civilizados, mas
quem nos acusa, geralmente é quem se beneficia da reclamação!
Gerson Travesso
Curitiba 04 de Novembro de 2010

307
Gerson vai a Biblioteca logo cedo e começa a passar
uma idéia maluca pela mente, o que seria a forma mais
estranha de esconder ouro, num país destes? Onde se
esconderia algo assim! Ele não achou muita coisa, teria de
caminhar, teria de fazer algo que fosse impensado, pegou os
endereços das empresas de Geraldo, começou a traçar um
caminho, não era de desistir de uma idéia, e a documentação
de seu jornal estava saindo do papel, não teria como acelerar
isto, tinha muita coisa a fazer ainda.
Gerson loca um carro e sai na direção da serra Carioca.
Primeira parada seria já em Teresópolis, uma fazenda
que nada produzia, mas que estava na lista das coisas e
empresas do senhor, teria de dar uma olhada;
Loca um carro e sobe a serra no sentido de Teresópolis,
subiu pela 116, e passou pela cidade, ajeitada, bonita, mas
não era seu destino, viu a placa indicando o rumo de
Petrópolis e seguiu, assim que passou o rio Jacó, reduziu, viu
uma pequena estrada surgir a direita, pois a esquerda eram
terras do Parque Nacional da Serra do Órgão, estrada de chão,
meia hora de estrada não pela distancia, e sim pela
quantidade de buracos da estrada, alguns que raspou o fundo
do carro, outros que agradeceu estar seco, pois seria um
atoleiro com chuva, mas obvio, por ali não saia produção de
nada, não por aquela estrada, passou a frente da cede, não se
via nada, parou no portão e bateu, a guarita na frente parecia
a muito abandonada, entrou por um caminho que pode ter
sido usado, mas que estava vazio, não tinha nada além de um
barracão sem telhas, alguns maquinários todos enferrujados, e
nem segurança, mas o que roubariam ali, realmente nada de
valor aparente, Gerson volta ao carro e pega a estrada
novamente, agora Petrópolis, era fim de tarde, parou na altura
do vale de Cuiabá, pois não enxergava muito, a neblina cobriu
tudo, mas começava achar que a viajem foi um tempo perdido,
parou para comer em uma pousada e olhava suas anotações,
viu o céu abrir, já era noite, continuou o caminho chegando a
Petrópolis a noite, queria pensar, então dormiu por ali;

J.J.Gremmelmaier 308
J.J.Gremmelmaier
Inconfidente
As vezes paro para pensar o por que escrevo, deve ser por que tento
entender as coisas, e a minha melhor forma de pensar ainda é com os dedos, nunca
aceitei as coisas como a maioria dita, sempre disse que decorar é para quem não
sabe ler, e que provas não deveriam conter pegadinhas e sim aplicação na pratica do
que se aprendeu nos estudos, pois não acredito que um professor de física acredite
que os alunos dele vão lembrar da formula que decoraram para passar, não acredito
que um professor de português ache mais importante condenar um acento errado,
tirando de jovens a vontade de escrever, do que os ver criando historias, e as
passando para frente, não acredito que uma professora de matemática ache que
decorar uma tabuada que conseguisse formar contando nos dedos é sinal de
inteligência, numa época que calculadoras são tão normais que estão a frente dos
alunos nas escolas, seja no relógio, no celular ou no computador!
Por que tocar neste assunto?
Por que já ouvi muitos falarem na minha formação, e acredito que isto não
esteja melhorando, que nunca entenderam a revolução francesa, que nunca
entenderam a idéia maluca de Hitler, que achavam inaceitável matarem judeus em
campos de concentração.
Eu acho absurdo você não entender que a revolução francesa revolucionou o
mundo, os direitos dos cidadãos do mundo, pois o povo deixa de ser servo e vira
cidadão, talvez uma das conquistas mais importantes que nos trouxe aos dias de hoje.
Acho que a maioria não entende Hitler, pois ele perdeu, senão estariam
aplaudindo!
Nunca aplaudiríamos aquelas atrocidades!
Se Hitler tivesse ganho, estariam, pois a igreja católica estaria a apoiando a
Luterana também, seria como contamos as barbaridades das Cruzadas, como
contamos as barbaridades dos americanos e ingleses no Iraque, no Vietnã, na Coréia,
aplaudindo os mais fortes, e ninguém nunca antes do fim da segunda guerra, e nem
depois, reclamou de excluir Judeus, de matar Judeus, de explorar Judeus, acha
mesmo que isto foi o principal ou foi a forma dos dirigentes condenarem os lideres
Alemães por coisas que eles também fizeram, mas eram os vencedores.
Por que falar nisto?
Por que nosso único Herói Nacional, foi morto por ter idéias, e apenas um
entre milhares de pessoas, se manteve fiel a idéia de Inconfidência, é estranho usar
este termo, o único ser leal a causa, foi o morto, estranho pois Lealdade é o antônimo
de Inconfidente.
Todos os crimes cometidos na época do império, pelos reis era aceito, pois
eles eram os reis, e nós, os servos que tinham de acatar as ordens vindas do Rio de
Janeiro ou de Portugal, e isto que valia até pouco tempo, as leis eram para nós, os
servos, daí vem a pergunta, quando vamos deixar de ser servos, quando vamos
levantar a cabeça e depor o sistema e nos por como cidadãos e não como servos de
quem manda, pois este é um problema, ainda me sinto servo nesta nação, um servo
com direito a palavra, mas onde a maioria não tem direito a leitura;
Gerson Travesso
Curitiba 05 de Novembro de 2010

309
Gerson acorda em Petrópolis, sem saber ao certo
para onde ir, tinha se informado na Mapoteca da Biblioteca
Nacional, na Seção Iconográfica, sobre o Caminho Imperial,
não estava interessado na parte anterior a 1700, e sim a que
foi usada depois de 1750, aquela que evitava os trechos junto
ao mar, próximos a costa, onde os piratas atacavam e
roubavam parte do ouro vindo de Minas, sabia que Teresópolis
não estava no antigo caminho, mas como tinha também a lista
de bens de Geraldo, ficou intrigado, mas começou a olhar o
mapa, 3 mil propriedades que iam de Magé, a Monte Azul, já
próximo a divisa com a Bahia, se o caminho ia até Diamantina,
os bens do senhor iam bem mais ao norte, ele foi anotando e
vendo que os imóveis acompanhavam a Serra do Espinhaço,
depois de passar por Diamantina, e um ultimo um imóvel em
Manga, estava com dificuldade de achar esta cidade então foi
a Internet, anotou onde ficava e anotou ―Minas‖.
Pegou o carro passou pela rodovia que teria de ir no dia
anterior, agora voltando a Itaipava, em uma parte acidentada
da estrada, uma estrada em curvas, acompanhando o rio,
surgiu uma pequena estradinha na altura de Cascatinha, esta
era fechada, mas se via as marcas bem salientes das rodas
dos carros, embora com buracos, comuns a estradas sem
asfalto naquela serra, pois o índice pluviométrico do local é
dos maiores do Brasil, viu alguns caminhões passarem no
sentido oposto, cheios de algo que parecia pedra, quase pôs o
carro num barranco para que eles passassem, chega a porta
da empresa e pergunta se havia departamento de Marketing,
o senhor não soube responder e apontou a uma construção,
bem ao fundo;
— Estaciona a Direita que assim ninguém pede para
retirar o carro para que os caminhões passem!
Gerson olhou em volta e perguntou;
— É sempre tão movimentado assim?
— Não, mas quando acham um veio novo, os caminhões
de detritos da pedreira enchem o caminho!

J.J.Gremmelmaier 310
J.J.Gremmelmaier
―Veio‖, podia ser de qualquer coisa, mas Gerson virou
para o senhor, já que oficialmente era uma empresa de venda
de Granito, e perguntou;
— Quando cortam o granito, esta estrada não atrapalha
a retirada?
— As vezes, mas eles tiram em grandes blocos, vendem
em natura para a Itália!
Gerson estacionou o carro mais a frente e pediu para
falar como responsável, um senhor pediu que o aguardasse, e
quando o recebeu, foi simpático;
— Quem o senhor representa? — O Senhor;
— Estamos fazendo um jornal local, mais voltado a
preservação, sei que deve achar estranho estar aqui!
— Realmente, não se acha defensores da natureza em
pedreiras!
— Eu não sou contra o progresso senhor, mas como
sabe, a sociedade consome a imagem que se leva a ela, pode
entrar apenas com a imagem de um explorador de recursos
naturais, ou transformar isto em uma empresa que agrega
valor nacional, uma empresa que reforça nossas divisas
internacionais, não deixa de explorar, mas as pessoas
compram a propaganda!
— E qual a tiragem deste jornal?
— Vai sair com 30 mil exemplares inicialmente,
distribuídos entre pousadas e hotéis de Petrópolis, Itaipava e
Teresópolis!
— E acha que ganharíamos o que com isto?
— Eu sempre apoio a imagem de empresas que somam
ao país recursos, mas não conheço muito sua empresa, para
ser sincero, vim do sul, como minha forma de falar entrega, e
estou a pouco tempo em Petrópolis!
— Veio de onde?
— Não sei se conhece, Lapa!
— Só de livros de historia, mas então é novo na região?

311
— Sim, e pretendo bater de porta em porta
apresentando a ideia! Não estou cobrando nada senhor,
estou apresentando a ideia, deixando um cartão, e mesmo
que vier a querer nos brindar com uma publicidade sua, só
pagaria depois da entrega dos jornais!
— Então vou ser sincero, não acredito que os
proprietários aprovem uma publicidade destas!
— Desculpe, pensei que fosse o proprietário! — Gerson
sempre soube que as pessoas gostam de passar por mais do
que são, o senhor sorriu e falou;
— Não, o dono é meu Tio-Avô, mas gostaria de dar uma
olhada?
— Se não estiver incomodando?
O senhor sorriu, e saíram a caminhar, pegaram um
veiculo aberto, que produzia mais fumaça do que qualquer
coisa, e depois de uma pequena trilha, de onde vinham
caminhões e mais caminhões, viu o grande buraco surgir,
paredes imensas de pedra em todos os sentidos, Gerson
estava com uma caneta ao bolso e uma na mão, ambas com
micro câmeras, sabia que a memoria de cada uma não daria
para mais que 10 fotos, mas fotos que muitas vezes poderia
ficar desfocada, ou em um ângulo ruim;
— Achamos mais um grande veio de Granito! — Fala o
senhor apontando para uma das paredes, se via a cor
esverdeada da rocha, viu também que haviam alguns blocos,
deveriam ter dois metros cúbicos, quanto pesaria algo daquele
tamanho, viu que no fundo, havia um túnel que entrava na
grande montanha, não perguntou, o senhor não falou nada,
mas viu que lá não entrava a maioria, era uma região isolada;
— Somente Granitos de Exportação? — Pergunta Gerson
mostrando interesse;
— Não, temos também produção de pedregulho para
construção civil, pois a maioria da região é de pedra de baixo
valor comercial!
— Impressão minha ou tinha um rio naquele morro? —
Sorriu Gerson;
J.J.Gremmelmaier 312
J.J.Gremmelmaier
O senhor sorriu, mas não respondeu, era um sim,
caminharam um tempo, e Gerson pegou uma pedra negra ao
chão, olhou para o senhor que falou;
— Pedra é o que mais temos aqui!
— Senhor, não gostaria de atrapalhar mais, se me
autorizar mando uma proposta por e-mail, referente ao jornal,
se tiver interesse volto, mas se não tiver, voltamos a falar
mais a frente!
— Não vai desistir no primeiro não?
— Nunca desisto no primeiro não!
Gerson saiu dali, entrou no carro e saiu por aquela
estrada, indo no sentido de Itaipava, parou em um
restaurante, e olhou o mapa, agora iria até Pedro do Rio,
depois no sentido de Secretario, onde teria a próxima parada.
Pegou uma pequena estrada em Secretário, e olha em
volta, uma pequena trilha indo rente a um rio, e olha em volta,
saiu do carro, fotografou, e olhou em volta, foi por um tempo
naquela trilha, depois viu um sitio, com placa bem imponente
de não entre, Gerson não fora até ali para apenas dar a volta,
fotografou a placa, a trilha estreitava de tal forma após o
portão do sitio, que Gerson olhou em volta, olhou para a
estrada, carro com tração dianteira ia ser difícil subir, pedras
de calçamento antigo, com muitos buracos, seria maluquice,
estava anoitecendo, mas ele era maluco, fez contorno na
entrada do sitio, e começou a subir de ré pela trilha, o carro
raspava em galhos caídos, em mato, o carro não era bom para
isto, pois a visibilidade era ruim, viu quando a trilha inclinou
mais, o carro patinou com vontade, o cheiro de pneu
queimado na pedra, mas acelerou e continuou deslizando em
subida, a traseira jogava para as laterais, e olhando pelo
retrovisor jogava a frente para o mesmo sentido e assim foi
subindo, quando aplainou um pouco parou o carro, pois se
parasse antes provavelmente teria de descer um bom trecho,
antes de conseguir recomeçar a subir.

313
Desceu do carro e olhou em volta, mato para todos os
lados, sorriu, se o carro pifasse ali estaria perdido, mas de que
adiantava a vida sem a emoção, era o que ele pensava;
Olhando de longe, se via que o sitio com a placa de não
entrar se estendia montanha acima, não se via movimento,
mas não queria dizer que não tivesse valor, abriu seu
computador pessoal, e viu que ali era tido como uma empresa
de exploração de Granito, talvez fosse reservas para um futuro,
mas aquelas placas de não entrem eram realmente uma forma
de deixar as pessoas longe, embora era estranho, pois a única
coisa que fazia as pessoas olharem para aquele lugar eram as
placas de não entrem, pois sem elas muitos passariam
desapercebidos. Pensou se a estrada chegaria até onde, era
uma trilha que ainda subiria um tempo, conservada seria
rápida, mas parecia em meio a uma área de preservação, sem
nada a conservando, apenas deteriorando;
Voltou ao carro, os pernilongos estavam mordendo para
valer, e começou a subir mais um pouco, estava em uma
curva em subida quando viu que teria de usar outro caminho,
pois uma imensa arvore atravessou o caminho, não teria como
a tirar, e nem desviar, mato para todo lado, a noite não
deixava ver muito, não teria o que fazer, olhou em volta, pôs
o banco o máximo que pode para trás, baixou o banco, se
acomodou, e dormiu, mal, dolorido mais dormiu;

J.J.Gremmelmaier 314
J.J.Gremmelmaier
Atenção
Estou em meio a uma região que todos falam da beleza, mas acho que mais
uma vez não estamos olhando o que importa, turismo gera dinheiro, mas que tem de
ir para a região, e não para o bolso de poucos, ou sair em impostos caros.
Estou na serra Carioca, escrevi de uma cidade chamada Secretário, se me
perguntar o que faço aqui?
Vim dizer para alguns que não morri, e que se ele tem segredos, melhor
esconder direito, pois vou olhar debaixo do tapete.
Devem estar me achando um maluco, devo estar, o tapete que estou
querendo levantar, é a verdadeira historia da Inconfidência, mas não vou sair por ai
dizendo que um foi herói e outro não, posso dizer que um foi Herói, o restante
covardes, e anos depois surgiram ladrões, mas não vou assinar em baixo de uma
historia mal contada.
Ontem estava no Rio de Janeiro, fui a Biblioteca Nacional, sonho de criança a
conhecer, comecei a minha busca, mas ainda falta muito para descobrir a verdade, o
grande problema, é que a historia é contada por historiadores, apoiados por Reis,
Ditadores, Dinheiro, e não pela verdade.
Lembro de meu professor de Historia, em meio a isto, Professor Edson,
alguém que me ensinou a pensar, me ensinou a ser em parte desconfiado para com a
historia. Mas isto já faz mais de 20 anos!
Vou ter de discordar de Kenneth Maxwell, é lindo ver Tiradentes apenas como
um Branco, ambicioso e sem propriedade, eu diria que Kenneth esqueceu que
Tiradentes, ou como gosto de Falar, Joaquim Jose da Silva Xavier, era Brasileiro
branco, não Português branco, talvez ele não soubesse a diferença, mas em 1789
fazia muita diferença.
Alguns vão estranhar isto, pois você aprendeu que muitos foram condenados,
mas desculpa, não os vi morrerem pela causa, alguns não entendem ou ignoram a
importância de Joaquim na historia, ele era militar, que importância poderia ter?
Os militares que protegiam as estradas, para duas coisas, o manter dos
escravos, e o não existir de grupos de ladrões naquele caminho, mas o próprio
Joaquim tinha seus 5 escravos, então ele não era um abolicionista, ele não estava
contra o regime, pois este regime pagava seu salário, os demais, padres, banqueiros,
gente de muito mais dinheiro, mas que conheciam Joaquim, qualquer um que tinha
ouro a transportar por aquele caminho o conhecia, seria como um Grande Fazendeiro,
comandar uma revolta, e na hora de apontar o culpado, apontar para um Jagunço da
Fazenda e dizer que ele fora o responsável por isto.
Mas a historia conta assim, e o Alferes foi morto como símbolo. Porque não
mataram o Padre, o banqueiro, os donos de Minas de Ouro? Por que eles pagaram
suas penas, mas o Alferes não tinha nada além dos 5 escravos para pagar sua divida
com a coroa.
Então a pergunta que se faz, qual o objetivo dos que se intitulavam
Inconfidentes Mineiros? Eles não queriam nossa liberdade, mas o que eles queriam?
Não estou desmerecendo Tiradentes, acho que ele é a amostra do herói nacional,
nós, o povo que sofre nas ruas todos os dias, explorados por políticos, por impostos,
por policiais que arrotam imponência, por ricos que nos atropelam bêbados na
madrugada, e esquecem!
Gerson Travesso
Brasil, 06 de Novembro de 2010

315
Gerson acorda com alguém batendo a janela do
carro, olha para fora, o carro todo embaçado, ajeita-se e abre
a porta, 3 rapazes imensos, armados olham para ele e um
pergunta;
— O que faz aqui?
Gerson ainda estava acordando, mas olhou em volta, e
falou;
— Queria ter chego até a outra ponta da trilha ainda
ontem a noite, mas a arvore não me deixou!
— Sorte sua, pois dali para frente, tem uma descida que
acaba em um grande deslizamento sobre a antiga trilha!
— Me disseram que estava aberta esta trilha! — Gerson
olhando os rapazes armados, não viu carro ou algo assim, sua
cabeça trabalhava entre perguntas e respostas.
— A dois anos que esta fechada senhor, mas esta em
área particular!
— Desculpa, pensei que estava em uma estrada, não
queria incomodar!
— Se puder nos acompanhar! — Falou um dos rapazes
tocando na arma;
Gerson naquele instante lembrou do que seria sua
crônica do dia, mas quem lia ela, mas apenas falou.
— Sem problemas, na verdade quero sair daqui de uma
vez mesmo!
Os três se olharam, não pareceu uma boa coisa para
Gerson, pôs as duas canetas no bolso de trás, e um dos
rapazes falou, quando ele ameaçou entrar no carro.
— Vamos a pé!
— Não é muito para caminhar? — Gerson sentiu alguém
o empurrar, um dos rapazes, e começou a andar, viu o outro
pegar as coisas dele no carro, estava olhando quando ele
soltou o freio de mão, e viu o rapaz por um galão de gasolina
no carro, ascender, empurrar um pouco o carro que começou
descer com violência aquela estrada, não viu onde, mas ouviu

J.J.Gremmelmaier 316
J.J.Gremmelmaier
a batida e a explosão, ficou obvio que não eram amistosos, e
que não sairia fácil dali;
— Por que disto?
— Anda, não sabemos se podemos matar você, então
anda!
— Melhor me matar então! — Gerson;
— Acha que não matamos, branquinho!
Gerson odiava o racismo, fosse ele de branco a negro ou
o inverso, ou mesmo entre brancos, achava que mostrava a
cultura da pessoa, e isto não era uma boa coisa naquele
momento.
Caminhou com um a frente de dois as costas, não olhou
para eles e sim para a trilha em meio a mata, chamar aquilo
de trilha era chamar mato de grama, mas com galhos, pedras
e coisas assim, ele foi seguindo colado a eles;
Viu quando se aproximaram de uma cabana, era mato
para todo o lado, olhou em volta e não se via além das
arvores para todos os lados, arvores que ali pareciam ter no
máximo 10 metros de altura.
Foi empurrado para dentro, um dos rapazes forçou seus
ombros para traz e se viu sentado, enquanto o rapaz
amarrava suas mãos e pés, bom sinal para ele, não o
matariam ainda.
— Quem é você senhor? — Perguntou o maior deles,
negro, um metro e noventa para mais, parecia ter mais de um
metro de ombro a ombro, parando aquele grande rosto, com
nariz achatado, olhando Gerson bem de perto;
— Gerson Rosa!
— O que faz aqui?
— O que todos fazem, turismo de aventura!
— Aqui não tem aventura para o senhor!
— Não entendi o que fiz, mas devo ter entrado em um
lugar que não deveria mesmo!
— Já falamos que aquele lugar tem dono!

317
Gerson não foi pela provocação, mas falou, tom ameno,
não queria parecer medo, mas sabia que estava enrascado se
não saísse dali.
— O que posso fazer para sair vivo daqui?
— Não depende mais de você, mas estamos esperando
alguém nos passar um radio!
— Então estou morto, é só isto?
O senhor sorriu e Gerson calou-se, olhou em volta, uma
cabana de madeiras da própria região, sem tratamento, no
meio do nada, um dos cantos havia um fogão a lenha.
— Acha que sai vivo branquinho? — Provocou outro;
Gerson não respondeu;
— Não vai falar a branca de neve?
Gerson sorriu, branca de neve, quem dera fosse bonito,
quem dera tivesse alertado alguém que ele viria para ali,
quem dera não fosse sempre de dividir pouco com os outros.
Gerson viu o primeiro chegar a ele e falar;
— Espero que tenha reservas alimentares pois aqui não
tem comida para você!
Gerson sorriu, já fizera muitas vezes regime, mas o que
lhe preocupava era a água, mas talvez não saísse com vida, e
enquanto os 3 estavam por ali, ele não fez força nas cordas,
pois não queria que apertassem mais. Olhou para as armas,
armas de caça, aquilo matava fácil qualquer um, mas a muito
não via uma, sentiu o cheiro do café, este não era café normal,
era café de fazenda, aquele seco, torrado e moído a antiga, os
três saíram após cada qual encher uma caneca pela porta,
Gerson puxou a caneta do bolso e sem olhar, tirou a haste de
metal que segurava a tampa, e começou a passar na corda,
não teria como escapar, mas talvez sobreviver;
Viu quando dois se aproximaram da porta, jogou o corpo
para traz, e olhou para os dois como se estivesse
desconfortável;

J.J.Gremmelmaier 318
J.J.Gremmelmaier
— Calma senhor, não sabemos ainda o que pode lhe
acontecer, mas parece que alguém ficou interessado em falar
com você!
Gerson não respondeu, ouviu algo chegando, parecia um
trator, não duvidava, mas ouviu o lado de onde vinha o som,
pois talvez fosse a rota de fuga, ou não, o terceiro veio a eles
e falou;
— Se comportem, não queremos complicação com o
dono!
―Dono?‖
Gerson ouviu o movimento do lado de fora, mas estava
realmente sem saber quanto viveria, sentiu a corda ceder na
mesma hora que viu um senhor e uma moça entrarem pela
porta.
— Senhor, não sei se seria este senhor? — Falou um dos
rapazes com um respeito que estranhou.
O senhor mediu Gerson, olhou os documentos e
perguntou olhando para Gerson;
— Pensei em alguém mais esperto?
Gerson não respondeu, a moça sorriu e falou;
— Pelo jeito não deve ser ele, pai!
— Difícil ter dois Gerson Rosa, perdidos neste fim de
mundo filha, ainda mais munido de tecnologia e se fazendo de
inofensivo!
— Quer que o faça falar? — Um dos agora empregados,
não mais se portando como antes;
— Não é preciso! — O senhor chegou a frente de Gerson
e perguntou. — Veio me matar, não vai conseguir!
Gerson riu, nem sabia quem estava a frente dele, e o
senhor temendo sua vida, bem compreensivo;
— Acha mesmo senhor, que se viesse lhe matar, viria
desarmado, em um carro que não subiria facilmente aquela
trilha, e não entraria direto atirando? — Gerson;
— Dizem que não deixa vestígios do que faz!

319
— Eu desconfiaria de quem lhe disse isto, mas se vou
morrer, deixa-me morrer em paz! — Gerson;
O rapaz negro viu que o senhor sentado não baixava a
guarda, pelo menos não no discurso;
— E acha que eles lhe matariam rápido? — O senhor;
— Acho, pois ninguém quer ser pego com uma encrenca
como eu, odiaria ser transformado em herói!
— Acha que alguém lhe procura?
— Sim, pois a 3 horas deveria ter passado meu artigo do
dia, não passei, algumas pessoas devem estar acionando o
juiz, já que eles acham que eu estou fugindo, não esquece, eu
matei e o juiz não quer me deixar solto!
A moça sorriu, pois fazia sentido, não seria amigos vindo
o soltar, seria a policia vindo o caçar;
— E se o acharem morto?
— Morri!
— Não se preocupa?
— Lógico que me preocupo! — Fala Gerson puxando as
pernas para frente e colocando as mãos sobre as pernas.
O senhor sorriu e olhou para o rapaz a porta;
— Pelo jeito nem um nó sabe fazer Francisco?
— Quer que amarremos, íamos matar mesmo!
— Pelo jeito iriam o deixar fugir, mas ele não sabe onde
esta!
— Mas é maluco suficiente para correr por ai!
O senhor voltou os olhos para Gerson;
— O que veio fazer aqui?
— Algo me apontou os endereços, estou apenas
olhando!
— E o que viu?
Gerson põem a mão no bolso e pega a pedra e põem na
mão do senhor, que a olha, e alcança para a moça, que puxa
uma faca da cintura, Gerson não havia notado que até a moça
seria mortal para ele, ela pego a faca e passou forte em uma
J.J.Gremmelmaier 320
J.J.Gremmelmaier
das pontas da pedra, e o oxido de ferro esfarelou deixando
ver o ouro por baixo disto.
— E onde achou isto, já que sei que não foi em minhas
terras!
— Não sei quem é o senhor! — Gerson olhando o senhor
serio;
— Não sabe, e vem as minhas terras?
— Estava olhando as terras vizinhas, mas esqueci a base
mais antiga de qualquer historia, pendure uma placa de não
toque em algo, e todos vão tocar sem olhar o que tem ao
lado!
— As terras ao lado não são minhas!
— Mas meu filho se ficar vivo vai a herdar!
— Certo, mas onde achou isto?
— Numa mineradora de Granito na altura de Cascatinha!
— Mas eles tem uma grande produção de Granito lá!
— Discordo, mas tudo bem!
— Discorda, mas eles exportam de lá Granito, por que
eles estariam explorando ouro se tem algo em quantidade e
preço muito bom para vender!
— Por que o Granito que tinha lá, não estava sendo
tirado, e sim, colocado lá, quando passei por lá!
A moça olhou para o pai e falou;
— Lhe disse que aquela formação dificilmente geraria
um Granito daqueles!
O rapaz as costas não estava entendendo nada, mas
ouviu Gerson olhar para ele e perguntar;
— Espero que não seja Francisco Xavier?
O negro o olhou e perguntou;
— Sabe quem sou?
— Sim, mas não me nego a morrer, nem que seja para
alguém descobrir a burrada depois de feita!

321
Os outros dois rapazes olharam para Gerson, não
queriam confusão, e viu o senhor branco olhar para Gerson e
perguntar;
— Por que ele seria chave, já que parece que entrou de
cabeça nesta historia?
— Se falar você me mata senhor!
O senhor sorriu e olhou para os outros dois e falou;
— Posso falar com Francisco, — olhou serio os dois —
agora!
Os dois saíram e Francisco, meio perdido viu os dois
saindo;
— O que esta acontecendo senhor Reis!
―Reis‖ o senhor que herdou os escravos de Tiradentes,
alguém que fazia parte, mas que viu tudo inverter quando os
grandes apontaram Tiradentes como um grande líder, mas
todos sabiam que se fosse assim, seu imediato que deveria ter
ido a forca.
Gerson olhou o senhor e falou;
— Então as terras são dos Reis?
— Sim, mas vejo que sabe mais da historia do que eu?
— Apenas lendas que estão levando a família e
herdeiros de minha ex à morte! Se meu filho não estivesse na
historia, poderia deixar eles em paz!
— E o que acha que eles escondem ali?
— Reservas, como a que têm mais abaixo, locais que ou
exploraram ou ainda vão explorar!
— Mas e se não tiver nada?
— Acho que não entendeu a idéia Reis?
— Um levante contra a coroa, o que tem a entender?
— Que o levante ainda estava sendo articulado,
desviando parte dos 10% que ficavam as igrejas, parte dos
impostos do que se declarava em mais de 100 minas, mas tem
de ver que os portugueses numeravam as montanhas, as
explorações, não o numero de buracos como minas, que

J.J.Gremmelmaier 322
J.J.Gremmelmaier
davam varias coisas, diamantes mais ao norte, ouro mais ao
centro do estado, estanho mais para a serra mas não sei o
que mais tinha nisto!
— E acha que eles desviaram, foram mandados para a
África!
— Se eles tivessem sabido como, teriam, mas não
sabiam, o próprio Geraldo tira do país boa parte, navegando
um longo trecho para longe dos olhos pelo São Francisco, rota
que era pensada na época para unir os Pernambucanos, os
Baianos e Mineiros nesta idéia, mas que seu parente por um
ódio pessoal, que não vou entrar no mérito, desencadeou 10
anos antes da data prevista!
— Do que esta falando?
— Que o ouro desviado daqui, mais a frente gerou
algumas rebeliões separadas na Bahia e em Pernambuco, mas
a idéia era ser algo maior, mas no fundo seu antepassados
tinha ração, eram covardes, e ele mesmo viu isto acontecer,
não enfrentariam a corte, nem naquela hora nem depois!
— E acha que estão ainda usando isto para desviar o
ouro?
— Somente parte, eles não tem os lugares, tem
especulação sobre isto, mas não algo real!
— Não entendi?
— O problema é que as montanhas foram ditadas em
uma carta, que sumiu, mas foi parar na mão de Geraldo Souza,
mas lá deve ter a base da cartografia dos anos de 1700 a
1800, onde se estabelece distancias em dias a cavalo, se narra
pedras de referencia, e coisas assim!
— E por que eles estão ali, e não aqui?
— Interpretação, se olhar os rios aqui desmoronam,
desbarrancam e mudam seus leitos, ele esta a direita do rio,
não sei o que diz no papel, mas se reparar antes do sitio deles,
tem um caminho de pedra, onde provavelmente correu o rio a
mais de 100 anos!
O senhor olhou a filha que falou;

323
— Ele tem razão, se for isto, não é nem estas terras e
nem a que eles estão, e sim o que esta antes daquilo!
— Mas o que tenho haver com isto? — Francisco;
— Rapaz, os negros não tinham sobrenome nos anos de
1700, eles adquiriam o sobrenome dos seus proprietários, e
um ascendente seu, trabalhou diretamente para Joaquim Jose
da Silva Xavier, Tiradentes para os menos cultos, mas para
mim é apenas uma suposição o que vou falar agora!
— O que quer falar com ele? — Reis;
— Que existe um relato que ele tinha uma imensa
amizade, e quando foi traído, mandou os 4 escravos de
encontro a seu parentes, com um mapa original, não o que foi
apreendido na casa dele quando foi preso e torturado, e morto
ainda na cadeia, quando eles enforcaram Tiradentes, ele já
havia morrido na mão dos torturadores do Império, por isto o
enforcaram com um capuz, mas não sei quem mataram,
dizem que foi um bêbado que dividia a cela com Tiradentes,
para que não saísse de lá que ele morreu, mas não tenho
como verificar isto!
— Acha que o mapa que foi dado não era o que dava os
locais reais das minas?
— Acho que o mapa que ele defendeu, não tinha ouro, e
sim a prova real, sobre outras pessoas que não tinham como
escapar por serem Brasileiros, e não portugueses!
— Mas condenaram portugueses também!
— Não sei exatamente o que aconteceu, mas em Lisboa
os filhos da terra chamada Brasil, ou descendentes deles eram
tão mal vistos que muitos mandavam estudar na França, mas
os cabeças da revolução eram todos monarquistas, queriam
liberdade de Portugal, mas não o fim da monarquia!
— Como pode afirmar isto?
— Por que a bandeira que conhecemos como a dos
Inconfidentes não é a verdadeira, é a versão criada quando
bem a frente pensou no caso!
— Mas como era esta bandeira?

J.J.Gremmelmaier 324
J.J.Gremmelmaier
— Três triângulos, dois vermelhos em baixo e um azul
sobre os dois e no meio dos Triângulos um rei, dourado, e a
famosa frase sobre eles, nada haver com a bandeira de Minas
de hoje!
— O que fazemos com ele? — Francisco;
— Ainda bem que não o mataram, ele sabe mais do que
eu sobre isto, mas Francisco, algo vem sendo passado de pai
para filho em sua família?
— Sim, mas esta penhorado na Caixa Econômica!
— Ouro? — Gerson;
— Um bastão de ouro, vem de muito longe na historia
de minha família, mas não sei a historia dele!
— E esta onde?
— Paraíba do Sul! — Falou o rapaz, grande demais, mas
Gerson olhava ainda sem saber se sairia vivo dali, soltou os
pés sem olhar para eles, ainda estava tenso.
— Vamos lá, mas prefiro a estrada a esta trilha! — Sorri
o senhor — Amarra o rapaz, na volta falamos!
Gerson sorriu, menos mal, mas ainda pretendia fugir,
mas havia algo errado ali, a moça olhou para Gerson como se
algo a intrigava, mas quando ela saiu viu os outros dois
entrarem, e sentiu na forma que olharam para Francisco que o
matariam, mas não adiantava falar, o senhor o amarrou, e um
outro pediu para falar com ele no lado de fora, Gerson correu
a mão pelo bolso, pegou a outra caneta, estava perdendo as
fotos, mas não importava nada se não estivesse vivo, acelerou
a mão, e tendeu o corpo caíndo para o lado, se livrou da corda
no mesmo momento que ouviu um tiro ao longe, pegou o fogo
que estava ao fogão a lenha e colocou fogo em 4 partes
daquela peça, madeira seca começou a pegar rápido fogo,
saiu pela janela, mas não correu, esperou distante um pouco,
queria saber por onde eles foram, viu os dois chegarem rápido,
vendo a cabana pegar fogo, um deles ameaçou entrar, mas
não teve coragem;
— Acha que ele morreu ai?

325
— Não sei, melhor olhar, o senhor Reis não gosta de
falhas, mas não gostei de matar o Francisco, mas ele deve ter
aprontado algo muito grande para que o senhor e a moça
pedissem a morte dele, viu a frieza que a moça pediu a
cabeça de Francisco?
— Vi, acho que vou achar outro patrão, ela manda me
matar e nem saberei por que morri!
O outro sorriu, os dois deram uma volta, ampliando o
rastro, estavam procurando passos longe da casa, mas Gerson
não estava muito longe, sentia o calor da casa a pegar fogo,
viu quando um dos rapazes encostou a arma de Francisco, e
começaram a atirar no sentido da mata, e ouviu o menor
deles falar;
— Eu vou cair fora, se pediram a cabeça de Francisco
por pouco, ele não vai nos deixar vivo por termos deixado este
branquela escapar!
— Verdade!
Gerson viu os dois pegarem dois cavalos mais afastados,
subirem nele e irem no sentido do barulho que ouvira o
veiculo que não vira;
Gerson se enfiou na mata, no sentido que ouvira o tiro,
e a beira do riacho, viu o corpo do senhor caído morto, pelas
costas, um tiro de ama de caça, puxou ele para a beira, não
teria como fazer um buraco, começou a juntar pedras, e
cercar o corpo, o mínimo que poderia fazer por alguém morto
covardemente, pensou se não deveria fazer uma oração, mas
não acreditava em Deus como os demais, mas reparou em
pequenas pedras negras agrupadas em uma parte mais baixa,
em meio a areia grossa do rio, pôs algumas no bolso, olhou o
rio, e começou a subir o mesmo, se o rio foi desviado algumas
vezes, não pode dizer onde iria chegar, mas sabia que o se
esperava era ele acompanhar o rio ao sul, e não ir ao norte,
então não parou para pensar, começou a acompanhar o rio
mais de longe, viu que campos e plantações se abriram,
saindo da área de mata. Subiu em um ponto mais alto e viu
um vilarejo a norte, teria de ser Inconfidência, chegou a um
J.J.Gremmelmaier 326
J.J.Gremmelmaier
telefone, não tinha documentos, todos o olhavam naquela
cidade pequena, não sabia se eram pessoas dos donos da
terra, e tendo dois contra ele, era melhor não aparecer muito,
ligou para Priscila e ela conseguiu uma vaga para ele em uma
pousada, fazendo um deposito, e avisou a empresa do carro
alugado, tomou um banho, e conseguiu que a moça permitisse
que ele usasse o computador do local para passar sua
reportagem, foi a um banho demorado e caiu na cama sem
saber se acordaria no dia seguinte;

327
Viva a falta de pressa!
Pensei que a esta hora estaria em Juiz de Fora, acabo de chegar em
Inconfidência, ainda no Rio, estranho como as vezes tudo dá certo em um dia,
acho que tudo deu certo no dia de ontem, e hoje será mais aventura, amanha
cedo devo começar a sair da região, destino para a parte da manha, Paraíba do
Sul, depois tenho de pensar se vou continuar, sei que não sou bem querido em
Minas como no Rio de Janeiro, estranho como conquisto inimigos como quem
sua ao caminhar ao sol.
Descobri algumas coisas nestes dias, uma que não se deve confiar em
desconhecidos, outra, todas as pessoas são lunáticas, como gritava, não sei se
eles ainda cantam, sabem se o Tequila Baby ainda canta? Mas descobri que por
aqui só tem maluco e trabalhador, mas não se difere um do outro a rua!
Conheci ontem um descendente dos escravos que pertenceram a
Joaquim Xavier, mas ele estava velho e não conhecia a historia que precisava,
mas mostra que eles ainda estão neste caminho, e me veio uma pergunta, será
que o inimigo vem de onde pensei, ou o inimigo é mais rasteiro, mais covarde, e
vem de um lugar diferente, sabem que Judas gera Judas, isto nunca muda, é
questão de arvore, não se colhe Pêra em Videira!
Hoje devo me apresentar em para um juiz em Paraíba, se não aparecer,
podem tentar me achar, mas acho que vão achar-me morto, e não esqueçam, o
mandante foi Judas!
Falando serio, estou em uma cidade gostosa perdida em uma parte do
Rio que poucos conhecem, pensando em se viveria aqui bem, quase certeza,
mas a cidade me expulsaria daqui na primeira chance.
Outra coisa, conheci ontem uma moça linda, pena que nem me olhou,
mas se não nos vermos, fica minha admiração, Patrícia Reis, sei que pobre não
cabe na sua lista de amigos, mas sonhar não custa nada!
E por ultimo, vocês não devem ter entendido nada, mas a historia de
hoje é curta, e não espero que alguém entenda, mas junto a um rio que não sei
o nome, tem um corpo de um senhor, nome, Francisco Xavier, ele é descendente
de negros escravos, mas foi morto com uma arma de caça, como não queria
morrer, fugi ao norte, mas queria dizer a quem tentou me matar, que Francisco
me falou onde esta o verdadeiro brinde, desta busca, não adianta ir a Caixa
Econômica, resgatar algo que não deveria se poder resgatar, mas no país do
jeitinho, sei que vão conseguir, mas não esperem que não cobre isto dos
funcionários da Caixa depois, mas não adianta, vocês não entendem nada de
historia, mas com certeza, sua filha realmente é linda!
Mas queria pedir desculpas a locadora de veículos, o carro não esta em
bom estado, escorreu barranco abaixo, com muita pedra e não tive como olhar
como ficou!
Abraço deste maluco, sei que não entenderam nada, mas quando chegar
a Paraíba do Sul, eu passo minha crônica de amanha, se não passar, estarei na
coluna ao lado!
Gerson Travesso
Inconfidência, Rio de Janeiro, 07 de Novembro de 2010

J.J.Gremmelmaier 328
J.J.Gremmelmaier
Gerson se virava na cama, agitado, quando abre os
olhos, lembra do sonho da noite anterior, parecia o mesmo,
mas Francisco olhava para ele, o sangue estava marcado em
vários pontos de seu peito;
— Obrigado Gerson!
— Eu causei sua morte, não tem por que agradecer!
— Eles acharam o corpo, minha morte será declarada!
— Não entendi?
— Eu também não, mas me disseram que agora posso
partir!
Gerson olhou em volta e perguntou;
— Estamos onde?
— Me disseram que era para alguém vir de lá, achavam
que seria você!
Gerson não entendeu a afirmativa;
— Quer dizer que alguém morreria lá?
— Os Anjos da morte estavam lá, as vezes levam um, as
vezes muitos!
— Anjos da Morte?
— Todos dizem que você não acredita, que você matou
Deus dentro de você!
— Não o matei, mas deixei ele no lugar onde ele se pôs!
O senhor olhou sem entender;
— Eu o deixei na infância, onde ele insiste em ficar, não
vou o levar a minha vida adulta, se ele não nos quer adultos!
— Não fale besteira Gerson, você é aguardado, não
entendi!
— Aguardado, devemos estar na entrada de um sistema
de regeneração!
O senhor sorriu com imensos dentes brancos, e falou
sumindo;
— Se cuida, muitos vão o querer trazer para cá!
Gerson viu o senhor sumir a sua frente, olhou em volta e
viu alguns olhos estranhos olhando bem ao fundo, não
329
identificava rostos, apenas os olhos ao ar, como se muitos o
observassem, ele se virou para ver mais e sentiu o corpo cair,
e acertar o chão do quarto, acordando assustado, olhou em
volta;
―Estou ficando maluco!‖
Gerson vai ao banheiro, lava o rosto, tira a roupa e entra
em uma ducha fria, não gostava de sonhar coisas assim,
lembra que sonhou com sua mãe assim, no dia que ela
amanheceu morta, era sistemático, ele sempre achara que era
uma fuga, das coisas que fazia, mas o lugar sempre fora o
mesmo, sempre os olhos olhando-o, saiu do banheiro, vestiu a
roupa, e acertou o hotel saindo da cidade, algo não estava
certo.
O rapaz da pousada o chamou no telefone falando que o
carro da locadora já estava ali, e que era só pegar a chave
com ele.
Foi ao carro, viu um envelope destinado a ele, pegou o
dinheiro que ali estava, foi a uma loja de equipamentos
eletrônicos, e comprou um computador pessoal e alguns
apetrechos.
Gerson olhou o endereço que baixara na internet, pensa
no nome que tinha aquele caminho imperial, Caminho novo,
era o caminho de 1800, ele pensou em voltar pelo antigo, o
que fora aberto por Bandeirantes, na procura de Ouro,
caminhos de 200 anos antes, que não deveriam ter nem
vestígios mais, apenas estradas sobrepostas, e pequenos
trechos, que ficaram a beira das mesmas.
Próximo destino, uma fazenda em Ewbank da Câmara,
foi parte de Juiz de Fora, por muito tempo, mas o interesse de
Gerson vem do nome antigo da vida, Tabuões, palavra
portuguesa para galpões, usada na antiguidade.
Saindo da cidade pela rodovia Br40, foi rápido chegar a
pequena cidade, pouco mais de 3 mil pessoas com área rural e
tudo, foi a igreja, não era antiga, nada resistira ali da época a
igreja era antiga mais uma construção de não mais de 100
anos, então foi a uma fazenda, que fora da família Souza, mas
J.J.Gremmelmaier 330
J.J.Gremmelmaier
mudara de mãos, a primeira coisa que estranhou, foi que a
estradinha surgiu na saída da cidade a esquerda da pista, mas
teve de descer do carro e abrir uma porteira, que barrava o
passar por ali, desceu do carro e verificou que eram duas, dos
dois lados da ferrovia, sorriu, abriu as duas, passou o carro,
saiu dele e voltou fechar as duas porteiras, esperava fazer isto
novamente naquele fim de dia, mas como nem sempre o dia
era como ele esperava, ficou a observar, mas aquela porteira
veio a calhar, pois ficou evidente que havia um carro o
seguindo, mais atrás viu outro carro que sabia que era do
pessoal do Carvalhinho, sorriu fechando a segunda porteira e
um rapaz chegando para abrir a outra, entrou no carro e se
mandou pela estradinha, o GPS apontava que não era área
coberta pelo GPS, mas a internet via satélite pegava e o mapa
do Google pegava no computador aberto no banco ao lado,
não na parte mapa, e sim na parte Satélite.
Parou na fazenda, numa aglomeração de casas depois
de 5 km naquela estrada de chão, muita poeira, buracos, mas
Gerson gostava de acelerar em estradas como aquela.
Parou numa casa e perguntou sobre onde ficava a
antiga Fazenda dos Souza, um senhor apontou e perguntou se
ele era o novo proprietário, Gerson não respondeu, era sinal
que estava abandonada, dirigiu até onde o mato permitiu, não
queria perder mais um carro naquele dia.
Gerson desce do carro e olha a construção abandonada
ao fundo, e caminha por aquele caminho, olha ao fundo a
montanha, e uma pequena formação, parecia uma entrada de
mina, daquelas que se fazia um buraco e ia—se aprofundando
cada vez mais, olha em volta, o rio estava distante, mas a
forma era de terra acomodada a séculos, olhou em volta,
voltou ao carro, pegou uma lanterna, olhou novamente a volta,
o carro que o seguia chegava a casa do senhor ao fundo, não
olhou, foi para sua exploração.
Gerson forçou com a mão a tabua que protegia o buraco,
ela estava sem tranca e abriu, mostrando um buraco estreito,
não mais de um por um, em descida de 30 graus, entrando

331
para o fundo, aquilo se desmoronasse seria morte certa, pois
era buraco aberto em terra, se ninguém abrisse novamente o
caminho, um enterro sem corpo para acharem.
Gerson parecia não estar preocupado, começou a entrar,
por mais de 500 metros foi entrando como se estivesse se
escorando, a terra amarelada e seca pelo menos parecia firme,
desceu um bom tempo, e depois dos 500 metros parou em
uma parede que parecia pedra, ascendeu a lanterna, em meio
ao breu e viu que era calcaria, não era um local que se
achasse ouro, pegou um canivete ao bolso e tirou uma
amostra, começou sair e quando chegou a borda, viu três
rapazes olhando para ele sujo sair do buraco;
— Quem esta invadindo? — Pergunta um dos rapazes;
— Eu! — Falou Gerson tirando sarro, os rapazes
estavam armados, estavam em meio a um nada, mas achou
que não perderia a chance, perdia a vida mas não a chance.
— E quem é o engraçadinho?
— Alguém que seu chefe, mandou matar ontem, quem
mais!
— Nosso chefe não mandou lhe matar ontem! — Um dos
rapazes;
— Então não estou invadindo terras que tenha de lhe
dar satisfação!
— Como sabe que ele vendeu estas terras?
— Comprei elas, mas vi que foi um péssimo
investimento!
Um dos seguranças apontou a arma para Gerson e
falou;
— Pode nos acompanhar por bem, ou baleado, você que
escolhe!
— Baleado! — Gerson olhando o rapaz;
Gerson olhou para o rapaz, que ouviu alguém gritar ao
fundo;
— Melhor todos baixarem as armas!

J.J.Gremmelmaier 332
J.J.Gremmelmaier
Os três olham para trás e veem uma leva de policiais,
Gerson olhou mais ao fundo e viu o pessoal de Machadinho
apenas olhando, o senhor na casa ao fundo olhava pela janela,
pensando o que estava acontecendo ali, tanta gente;
O segurança abaixou a arma a guardando e os policiais
foram chegando e um olhou para Gerson e falou;
— Deve ser quem procuramos, Gerson Rosa?
— Eu, mas por que estão me procurando?
— Assassinato, sabe bem disto!
Gerson olhou para o policial e falou serio;
— Se vai fazer o trabalho do chefe destes capangas, por
que os para senhor policial?
— Acha que pode falar assim com a policia? — Fala um
policial o algemando — Vamos ver o quanto você é valente!
— Valente, se tivesse eu e você, e não esta leva nas
suas costas, não seria mais que um covarde! — Fala Gerson
olhando para o rapaz, que o chutou as pernas, caiu de joelhos
e olhou para o rapaz que o apontara a arma, e fala — Prefiro
com um tiro ainda!
O rapaz sorriu, o policial bateu com a arma na cabeça de
Gerson que viu as coisas turvas, o pessoal de Machadinho se
posicionava na estrada, e quando o primeiro carro de policia
estourou ao lado de um dos rapazes, os 10 policiais, olharam
assustados, o segundo explodiu, o senhor velho a janela se
recolheu assustado, os policiais começaram a voltar meio
agachados no mato, um usava Gerson de escudo, mas
ouviram o terceiro carro dos policiais estourar e na sequência
o dos seguranças de Geraldo Souza também, sobrou somente
o carro de Gerson, olhavam um carro chegar ao longe pela
estrada, viram ele dar um cavalo de pau, e trancar a estrada,
olharam o outro extremo e viram um outro fazer o mesmo.
— Quem esta fazendo isto? — Um dos policiais;
— Não lhe avisaram que estamos dentro de uma guerra
entre famílias? — Outro;
— Mas não com gente atacando a policia!
333
Gerson sorriu e viu o rapaz que o prendera, o jogar ao
canto, Gerson pegou um clips ao bolso, e abriu a algema sem
olhar, começou a rastejar pelo mato alto, os policiais estavam
muito ocupados se defendendo, se escondendo no mato alto
para lhe dar atenção, os seguranças repararam o que o
senhor fazia e começaram sair no mesmo sentido, talvez
pensando em pega-lo a frente;
Gerson estava no meio do mato quando ouviu dois
helicópteros ao ar, viu que os rapazes o seguiam, mas não
estava preocupado com estes, policia no Brasil, é mais
perigosa que marginais, eles querem ganhar, e tendo o lucro
ao bolso lhe soltam, a policia protegida por sua posição ainda
põem drogas em seu bolso e lhe mata como traficante.
— Todos parados! — Se ouviu por um alto-falante no
helicóptero, os policiais assustados viram gente descendo e os
imobilizando, os policiais indignados eram jogados ao chão,
estavam gritando barbaridades como vocês me pagam, quem
pensam que são, quando viram um senhor vir pela estrada
com seu carro, e parar a frente dos mesmos e falar;
— Onde esta o senhor? — Pergunta para um dos
policiais;
— Ainda não o vimos! — Um dos que imobilizava o
policial, mas o senhor olhava para o policial esperando a
resposta;
— Vai se ferrar!
O senhor sacou uma arma as costas e todos ouviram o
tiro que estourou a cabeça do policial, ele virou—se para o
próximo e perguntou a mesma coisa;
— Ali atrás se embrenhando no mato!
O senhor olhou em volta e falou;
— Senhor Rosa, precisamos falar!
Gerson olha para os seguranças que se abaixam mais,
levanta-se e olha para o senhor;
— O que quer senhor? — Gerson;
— Mandaram lhe matar, gosto de saber por que?
J.J.Gremmelmaier 334
J.J.Gremmelmaier
— Nunca vai saber, se fosse grande coisa já saberia!
Os rapazes que se embrenhavam ao chão, viram que a
coisa iria complicar, mas Gerson não sabia ainda quem era o
senhor, e obvio, olhou ao fundo e viu que os dois rapazes que
estavam aos carros fechando a estrada tinham sumido, olhou
para o senhor e perguntou;
— Mas posso saber quem você é, antes dos meus lhe
matarem? — Gerson olhando para o senhor;
O senhor olhou assustado, os rapazes ao chão ainda não
estavam entendendo o acontecido, mas obvio, ali tinha o
grupo da policia a favor de Geraldo, eles que eram
funcionários diretos, o senhor Marques que trabalhava para os
Reis, mas quem mais estaria ali? Os rapazes olharam ao longe,
e os dois carros que trancavam a estrada explodiram, e o
senhor olhou para Gerson;
— Quem é você?
— Alguém que compra a cada dia seu espaço no
inferno!
— Não vai me responder o que perguntei?
— Se me der um bom motivo para não o matar!
Os policiais ao chão estavam vendo que as coisas se
complicavam, um dos helicóptero se aproxima do local onde
Gerson estava, e os demais viram um lança míssil cruzar o céu,
e o helicóptero cair ao fundo, se despedaçando na casa
abandonada ao fundo; O senhor olhou serio para Gerson;
— Podemos ter um acordo de não agressão, enquanto
estiver em meu estado!
— Ainda não sei seu nome para saber se é um bom
acordo? — Gerson;
— Teobaldo Marques!
— Teobaldo, não posso ter um acordo com você, sabe
disto!
— Por que?
— Você mata Oliveiras, e não posso lhe deixar neste
caminho!
335
— Sabe o que faço mas não sabe quem sou?
— Você, dinheiro matando prostitutas, crianças,
mulheres, eles lhe temem, mas não sabem o cheiro de
covarde que tem, eles lhe respeitam, mas nunca lhe viram em
campo com um rifle apontado a sua cabeça!
— Esta jogando, não tem como ter tudo cercado!
Gerson lembrou de um filme, esticou as mãos e fez que
atirou na cabeça de um dos seguranças, e a cabeça do mesmo
estourou, o senhor se recolheu, os rapazes pensaram em se
abaixar, mas se ouviu tiros vindo de todos os lados, e os 14
homens desabaram ficando o senhor a frente, olhou para ele e
perguntou;
— Acha mesmo isto?
Os policias estavam jogados ao chão, o senhor Marques
puxou a arma e sua cabeça foi atingida por 10 tiros ao mesmo
tempo, e viram o outro helicóptero explodir ao céu, olhou para
os três rapazes ao chão e falou;
— Melhor saírem abaixados! — Apontando o sentido;
Os policiais viram Gerson sair do mato, entrar em seu
carro, acelerar com a ré engatada, deu cavalinho de pau e sair
pela estrada sem olhar para trás, levantando poeira, os
policiais algemados viram carros saírem em vários sentidos,
um deles parou e 4 homens saíram atirando, enquanto os
policiais levantavam—se assustados, caiam mortos, um senhor
chega aos 3 homens de Geraldo e fala;
— Avisa seu chefinho, que Gerson não os quis mortos,
senão estariam!
O senhor sai dali como se nada tivesse feito, com uma
casa em chamas ao fundo, corpos caídos ao chão, um
helicóptero caído junto a mata a frente, carros estourados,
tanto ali como na estrada, em meio a uma cena de guerra, o
senhor da casa olha assustado, olhando em volta;
Geraldo olha os três a chegar em sua casa em BH, e
pergunta;
— Por que não o trouxeram?

J.J.Gremmelmaier 336
J.J.Gremmelmaier
— Marques esta morto!
— Como? — Fala o senhor se levantando;
— Ele, o grupo de Pereira da Militar, todos mortos!
— Ele os matou?
— Quem não sabemos, mas o senhor que nos deixou
vivo falou que estamos vivos por que Gerson não nos quis
mortos!
— Mas não reagiram?
— Pereira e seu grupo nos desarmou, iam dar uma sova
nele, e lhe entregar, ou o matar, não entendemos, mas
quando saiamos de lá, os homens de Marques chegaram
estourando e fechando tudo! — O rapaz descreveu o
acontecido e Geraldo perguntou;
— E onde ele esta agora?
— Nem idéia, mas o grupo dele é de profissionais senhor,
não é como crianças atirando!
— Vi isto aquele dia, aqui em casa, mas ninguém me
acredita, mas Marques é uma grande perda!
— Não entendi, ele é Rosa ou Oliveira?
— Ele teve um filho com uma herdeira dos Oliveira!
— Então é família para ele?
— Tem mais coisa ai, pois os nossos estavam morrendo
e sempre achei que eram os Oliveiras, mas começo achar que
pode ser algo a mais, pois não mandei Marques lá, e você
falou que ele disse que foi lá matar Gerson, e havia mandando
todos segurarem as armas, o que esta acontecendo, para
quem Marques e Pereira estavam trabalhando?
— Nem idéia, o senhor tem?
— Não, mas sei que vamos ficar sabendo, segura o
pessoa!
Geraldo olha os dois saírem e a moça entra pela porta e
pergunta;
— O que quer Avô?

337
Ele sorriu pensando em onde iria com aquilo, demorou
entender, agora poderia ser tarde;
Gerson chega a cidade de Santos Dumont, se hospeda
em um hotel ao centro, e vai a uma lan, acessar a internet,
estranha alguns contatos em seu correio, alguns jornais
querendo uma reportagem, reportagens com conteúdo
exclusivo falavam os e-mail, sinal que vinha bomba, e trocou
idéias por MSN com Priscila, Paulo, e com seu filho, que pediu
para ele se cuidar;

J.J.Gremmelmaier 338
J.J.Gremmelmaier
As vezes fazemos merda!
Muitos editores odeiam quando uso este termo, mas sei que esta em meu
vocabulário para definir coisas que não fazem parte do contesto educado, não é
apenas uma palavra, é uma situação, acredito que daqui até Diamantina será uma
leva de complicação, meu rastro vai deixar corpos, posso não ter atirado em ninguém,
mas sei que vão jogar sobre mim o peso, quando atirar, não esqueçam, eu vou
assumir, mas ainda não saquei a arma, ainda ando em Minas Gerais desarmado,
crente no poder da palavra, crente no caminho que vou traçar, era para estar aqui,
hoje vejo uma replica miniatura da Torre Eiffel pela janela do quarto, com a prefeitura
dando fundo a imagem, estou em Santos Dumont, amanha devo perder um tempo
aqui, sempre quis conhecer Cabangu, desde o primário, mas agora aqui não vou
perder a chance.
O que é Cabangu?
Vou ver um museu, erguido na fazenda onde Santos Dumont nasceu, mas
agora é turismo mesmo, perdi a pressa, pois sei que amanha serei procurado, e não
quero que digam que estou me escondendo!
Mas do que você se esconderia?
28 corpos achados em uma fazenda em Ewbank da Câmara!
O que você fez lá, Gerson?
Não morri, mas estranho algo como o que aconteceu, acho que o senhor que
viu tudo lá, se não foi morto, pode explicar o que aconteceu pois eu não entendi!
Sabe você ir ver uma terra que comprou, e ser cercado primeiro por 3 senhores bem
vestidos, calçados de mais de 500 dólares, ternos que depois devem ter rasgado se
arrastando para fugir de lá como eu, mas minha camiseta não custou os dólares dos
ternos e camisas deles, mas estava lá cercado, chegou um contingente da policia, sei
que eram policiais de verdade por que minha cabeça ainda dói da coronhada que
levei, policia do Brasil, muda de endereço, não muda de cultura, mas depois fomos
cercados por um senhor que vi matar o comandante dos militares, ele se denominou
Teobaldo Marques, mas não sei quem era, pois alguém estourou a cabeça dele, deixar
claro, não estava armado, mesmo que tivesse levado a esta altura os 3 primeiros já
teriam me desarmado, mas os homens deste Teobaldo algemaram os policiais,
morreram algemados, covardes estes assassinos, mas sai de lá rastejando, entrei no
carro e acelerei enquanto vi carros explodirem, um helicóptero cair, não sei quem
estava brigando lá, mas com certeza não queria morrer lá!
Acha que vamos engolir esta historia?
Sabe que acho que não vão acreditar, mas tudo bem, pode ser que não
tenham 28 corpos, mas alguns vão ter, e quem sobreviver sei que vira atrás de mim,
mas por isto acalmei, prefiro uma cidade calma mas com mais testemunhas, pois as
armas que vi em Ewbank da Câmara dava para tirar a cidade inteira do ar!
Por ultimo, a crônica hoje sai em 5 jornais, não são exclusivas como alguns
pediram, mas a partir de amanha, posso não ter como escrever com esta calma,
então se tiver algo, é no Diário Vespertino, alguém me perguntou por que no
Vespertino?
Isto é fácil responde, comprei de um grupo Português, e coloquei em nome
de meu filho, então nada mais justo que escrever no jornal de meu filho, se chama
isto de dois nomes, um quando se quer elogiar e outro quando se quer falar mal,
pode ser considerado apadrinhamento, ou negocio de Família!
Gerson Travesso
Santos Dumont, Minas Gerais, 08 de Novembro de 2010

339
O Delegado Santos da homicídio de Curitiba chega a
sua sala com a secretaria lhe passando o telefone;
— Sim?
— Delegado, aqui é da Federal de Minas, gostaríamos de
trocar informações, um marginal saiu de sua cidade e temos
32 corpos de pessoas mortas, precisamos de cooperação!
— De quem estão falando? — O Delegado estava num
daqueles dias que não queria encrenca;
— Gerson Rosa!
— O que aconteceu?
O senhor narrou e o Delegado viu Plínio entrar pela
porta, pôs o jornal na frente do Delegado, que perguntou;
— O senhor esta onde Investigador? — O Delegado;
— Ewbank da Câmara!
— O maluco do Gerson Rosa afirma que esta em Santos
Dumont, não sei se é longe daí?
— Não, mas como saberia isto?
— A descrição induz a um hotel na frente da praça da
prefeitura!

Gerson tomava café com calma lendo o jornal local, e vê


o local ser cercado, tinha duas alternativas, mas nenhuma lhe
agradava, morrer fugindo era uma versão normal da policia
local, então terminou o café, subiu para o quarto, pegou seus
documentos, guardou o computador, e desceu para a
recepção, pagando mais 4 dias de hospedagem, saiu da
recepção e deu de cara com os policiais entrando, armados, os
hospedes assustados, olhou para o policial, Federal de Minas,
já apanhara dele, mas o rapaz olhou a cabeça inchada de
Gerson e falou;
— Parado!
Gerson riu, pois estava de camiseta, com uma pequena
bolsa de mão, a soltou, boné, calça jeans, tênis, esticou os
braços para cima e falou;
— Demorou Investigador, não sabe ler? — Gerson;
J.J.Gremmelmaier 340
J.J.Gremmelmaier
— Desta vez não escapa Gerson Rosa!
— Sei disto, mas é mais fácil me prender, alguém que
deixou em 10 jornais de circulação nacional onde estava, do
que ir atrás de seu chefinho!
— Sabe que ofender servidores em cumprimento da lei é
crime?
Gerson sorriu, mas algo em um local aberto e com
testemunhas, era uma boa forma de agir, Gerson olhou para a
porta e viu seu advogado entrar e falar;
— O que esta acontecendo aqui?
— Sendo preso por ter publicado onde estava no Estado
de Minas!
O investigador chega algemando Gerson, joga a bolsa
dele para outro rapaz, e olha para o advogado;
— Ele esta sendo recolhido por assassinato a policia
federal de Minas, em BH!
— Acho que não posso fazer nada, Gerson! — O
advogado;
— Só pede um corpo delito amanha, pois sei que eles
odeiam não me bater! — Fala olhando o investigador;

Gerson foi de carro até Barbacena, onde pegaram um


avião para BH, mesmo de carro era perto, não teria por que
tanto esforço, mas o jornalista estava calmo, e não era duas
da tarde e seu advogado conseguiu duas coisas, provar que
ele não deu um tiro, e que não estava se escondendo, o juiz
não teve como o manter detido, leis injustas, sempre
favorecem quem tem dinheiro;
Gerson pega o avião e volta a Santos Dumont, primeira
parada em Barbacena e depois um helicóptero até a fazenda
onde queria apenas visitar, ou melhor, provocar;

Gerson desce do helicóptero e vê Geraldo parado a


frente da casa que fora de Santos Dumont, mas não era a
principal, ele fora muito mais longe dali, mas o que atraia
341
Gerson a cidade eram coisas da época que chamava-se
Palmira, mas nada que tinha naquela fazenda o interessava a
fundo, conhecia bem a historia de Alberto o sexto filho, um
gênio incansável, mas que teve condição de desenvolver sua
genialidade.
Olhou o senhor e perguntou;
— Boa tarde, desculpa o atraso! — Gerson;
— Não tem medo de morrer rapaz?
— Estes dois ai me devem a vida, espero que possa sair
hoje daqui vivo, daí podem considerar a divida paga! — Fala
olhando os dois;
— Sabe que se os ordenar não sairá!
— E se não sair, o senhor também não sai, mas a
pergunta que me faço, o desperdício vale o que nunca vai por
a mão?
— Não sei o que acha que nunca porei a mão?
— No meu filho, todos os seus morrem antes dele!
— Acha que ele sobrevive? — O senhor riu;
— Não entendeu Geraldo, você que me pôs nisto, meu
filho nunca saberia deste dinheiro, ele tem mais que o senhor,
mas não saio por ai arrotando dinheiro que esta todo em
nome dele!
— Acho que não sabe ainda quanto eu tenho!
— Nada, mas estes rapazes não sabem, o custo que
gera ter de queimar dinheiro com propina, com apropriação, e
coisas que não pode mexer sem perder o direito sobre o que
faz!
— Se inteirou um pouco, mas já legalizei muito, deve
imaginar!
— A pergunta, por que meu filho iria lutar por uma
mínima fatia de algo imenso, se o que ele tem e muito maior
que esta fatia, não estou falando que ele tem mais que o
senhor, mas que a fatia dele é muito boa, não precisa de
trocado!
— E faz o que aqui?
J.J.Gremmelmaier 342
J.J.Gremmelmaier
Gerson pega no bolso um papel e fala;
— Seguindo o verdadeiro mapa de Joaquim!
Geraldo olha assustado;
— Não pode ter me roubado isto!
— Não, o seu é diferente deste, este é o calar de uma
leva de Historiadores que acham que ganham algo
desmentindo um mito, aqui tem os locais onde ele escondeu
armas, ouro, mas nada comparado ao que o senhor explorou,
algo para financiar a Conjuração Mineira, e não para ficar rico
e matar a própria esposa, você não terá meu perdão Geraldo,
matar alguém que lhe amava para ficar com um dinheiro, que
lhe deu o que, gente que ama o dinheiro que lhe cerca, mas
não lhe respeitam!
— Então esta correndo atrás da historia, mas isto não
vai salvar seu filho?
— Geraldo, acho que você não sabe mais o valor da
palavra família, mas tudo bem, velhos não preciso respeitar,
pois aprendi a respeitar a família antes de qualquer coisa, o
senhor quer que todos morram para passar uma fatia grande
para aquela sobrinha neta, velho babão!
— Não se atreva a tocar nela!
— Acha que o atrai para cá para que?
— Mas ganha o que com isto?
— Alguém para servir de moeda de troca!
— Mas o que mais vai fazer?
— Agora tenho Maria, Patrícia e como é o nome desta,
Carla?
— Quem é Patrícia?
— Quem fez o pessoal dos Reis mostrarem a cara ontem,
se querem matar todos, agora vão entender que não sou
bonzinho!
— Você espera pegar quem agora?
— Não sei ainda, mas espero chegar em Manga vivo, e
sabe do que estou falando!

343
— Vai até Manga?
— Depois vou descer o rio um pouco, até Morpará!
— Não entendi?
— Tem de entender que todos que deixar no meu
caminho, só vai fazer feder mais!
— Acha que tenho como o deixar vivo?
— Todos a sua volta são pelo dinheiro Geraldo, não
abusa, o preço supera o seu e morre!
— E veio fazer o que aqui?
— Fiquei na cidade para a policia me prender, pois tinha
de fazer teste de balística, e outras, para limpar minha barra!
O senhor viu um senhor chegar a Gerson e perguntar;
— Vai ao encontro agora?
— Sim! — Olhou para Geraldo e falou — Nos vemos,
mas se não entendeu ainda para me deixar em paz, melhor
não abusar, acabo com aquele seu grupo de extermínio da
civil e da federal, quero ver o estado me temer se me obrigar
a fazer isto!
— Acha que pode tanto?
Gerson sorriu, cumprimentou os dois seguranças e foi a
uma lanchonete em frente e sentou-se a frente do senhor
Reis;
— Boa Tarde!
— Onde esta minha filha seu desgraçado!
— Bem cuidada, por enquanto, pois estou vivo!
— Não se atreva a tocar nela!
— Senhor, primeiro, vamos fazer um acordo, você vai
me vender as terras em Secretario, depois vai tirar estes
homens do meu pé!
— Somente depois que libertar minha filha!
Gerson sorriu e fez sinal para um dos rapazes, se
levantou e falou;
— Pensa com mais calma senhor, não esta pensando!
Gerson ia se afastando e ouviu;
J.J.Gremmelmaier 344
J.J.Gremmelmaier
— Mas esta querendo retaliação, vai conseguir!
Gerson olha para o senhor e fala;
— Pode ser, mas um aviso, se tocar em meu filho, e ele
sofrer um arranhão, faço com a sua família o que fiz com a
dos Souza, é só olhar as mais de 80 mortes na ultima semana,
e pense se quer isto, mas o senhor Geraldo não entendeu
ainda, então melhor ser mais compreensivo que aquele burro!
Gerson saiu dali e os demais viram o helicóptero voltar a
pousar e Gerson subir nele, os seguranças cobrindo o local e
sumir a noroeste;

345
Vamos voltar a um assunto chato!
Quem tem dinheiro, fica livre!
Lembra que sempre critiquei isto?
Não lembra? Compreendo, não lia minhas matérias, acho que as
vezes apenas eu as lia, mas sempre disse duas coisas, que as leis deste país
deveriam mudar, e que deveriam servir para todos, mas sou a prova agora
viva, que não são.
Não acho justo alguém matar alguém pelas costas e ficar livre, mas a
lei me permite isto, não acho certo alguém roubar e ficar livre, assim como
não acho legal alguém seqüestrar seus seqüestradores e ficar livre, mas
como digo, leis são para quem tem dinheiro, para defender o que temos, o
que queremos!
Alguns acham que vou mudar com dinheiro, acho que posso chegar
aos 50 e doar tudo, pois que graça tem a vida sem a aventura, mas sei que
nem todos tem potencialidade, nem todos tem coragem, e nem todos não
tem os escrúpulos, mas eu realmente os deixei no passado, algumas
semanas atrás. Mas não darei nada de graça, doar não quer dizer, dar de
graça!
Sobrevivi a mais um dia, e se estão lembrados, meus planos de
viajem estão ampliando, acabo de falar com minha sócia, meu segundo
jornal deve abrir em Fevereiro, prometo estar em Curitiba para o
lançamento do ―Ria se Puder‖, baseamos o nome nos primeiros jornais, que
não podiam fazer criticas diretas em Paris, e apenas faziam comedia de suas
desgraças, não se falava o policial me bateu, e sim, mostrava a cena do
espancado dizendo, escorreguei na delegacia!
Ainda estou em Minas, mais exatamente em um hotel de frente a
praça principal em Alfredo Vasconcelos, amanha quero dar um pulo no velho
caminho, em Bichinho ao lado de Tiradentes, mas amanha começo a
desvendar o por que de tudo isto, queria chamar ao local historiadores, pois
ali quero mostrar que um grande homem não é apenas aquele que morre, e
sim aquele que organiza, mas mesmo estes as vezes são traídos!
Espero todos lá, juro não matar ninguém por isto!
Mas hoje fiquei feliz, as vezes lembro que a vida vale mais do que
apenas bons momentos, lembrei de coisas do passado, de gente que me faz
falta, e principalmente, das pessoas que somaram em minha vida, mesmo
algumas que me traíram, espero poder ser um pouco melhor de hoje em
dia, não quero ter de repetir as coisas muitas vezes para ser ouvido, não
gosto de estar longe de meu filho, de estar longe de meu apartamento
bagunçado, das pessoas que me suportam, mas que forço sorrirem apenas
por eu estar ali, odeio a falsidade, mas nunca os pouparei de minha vida
para facilitar a deles, então não adianta torcerem por minha morte, pois eu
volto!
Gerson Travesso
Alfredo Vasconcelos, MG, 10 de Novembro de 2010

J.J.Gremmelmaier 346
J.J.Gremmelmaier
Em uma casa em Contagem, grande Belo Horizonte,
a 15 minutos do aeroporto, uma moça é lançada em uma cela,
e olha para dentro;
— Maria, você esta viva? — Carla;
— Carla, por que esta aqui também, o que tem com
aquele desgraçado?
— Com o nosso avo?
Maria sorriu, olhou a outra moça na cela e perguntou;
— Quem é ela?
— Não sei, puseram ontem ai, não falou nada ainda!
Maria a mede, gente de dinheiro, e pergunta;
— O que aprontou para Gerson Rosa, para que esteja
aqui?
A moça parecia ter raiva no olhar, mediu Maria e falou;
— Não lhe interessa!
— Sabe que Gerson foi uma burrada! — Fala Maria
olhando para Carla;
— Sabe que seu avô não vai parar!
— Acho que nosso avô nunca pegou alguém como
Gerson pela frente!
— Mas o que ele pode sozinho?
— O que ouvi onde estava presa, na região
metropolitana de Curitiba, foi marginais de renome falando
dele como um líder!
— De onde saiu este maluco?
— Eu deveria o ter ouvido, mas sabe como é difícil dizer
não ao avô, o senhor estava me ensinando como ganhar
muito dinheiro, mas sempre aquela cobrança do vô, vocês me
devem muito, está na hora de pagar!
— Mas o que deu errado, era para ter morrido a esposa
e o filho naquele dia? — Carla;
— Ele acionou todo mundo que conhecia, sei que o
pessoal que estava no barracão, que o filho dele foi preso,
quando a policia entrou já estavam todos mortos!
— Mas você encobriu a pseudo-morte dele?
— Depois disto que o Avô resolveu pressionar, estava
próxima, mas foi burrice o tentar matar!
Patrícia que ouvia as duas falarem olhava desconfiada,
quem eram estas moças que só falavam em matar Gerson, ela
tinha ódio no olhar;
— Se tiver uma segunda chance moça, garanto que ele
não escapa vivo!
— E por que o mataria?
— Ele me sequestrou, me jogou neste buraco, não
preciso mais que isto para odiar ele!
— Garanto que o mandou matar, não sei quem é, mas
garanto, ele não guarda raiva de você!
— Então por que me manteria aqui?
— Não sei quem você é!
Maria olha para Carla e pergunta;
— E esta historia que estamos nos matando aqui no
estado?
— Muitos mortos, mas ninguém sabe quem esta por traz,
o vô acha que é este Gerson!
Maria se calou, poderia realmente ser;

Gerson teve mais uma noite de sonhos estranhos,


acorda de madrugada com o celular tocando;
— Me acordou Machadinho!
— A policia do estado esta indo para ai!
— O que fiz agora?
— O senhor Reis lhe acusa de ter sequestrado a filha
dele!
— Então desliga o celular, mas não vai ao cativeiro hoje,
a encomenda já esta lá?
— Chegando lá!
— Bom, amanha passo lá, mas calma, sabe que não fiz
Machadinho!
J.J.Gremmelmaier 348
J.J.Gremmelmaier
O senhor sorriu do outro lado e desligou o celular,
Gerson perdeu o resto do sono, foi a um banho e na primeira
hora do café da manha estava no restaurante do hotel.
Gerson olhou em volta, e saiu caminhar em Alfredo
Vasconcelos, depois pegou o carro e acelerou na direção de
Barbacena e pega a BR265 no sentindo de São Joao Del Rei,
de Barbacena é um pulo, chegou em São Joao Del Rei, pegou
a estrada no sentido de Tiradentes, poderia ter entrado antes,
na estrada de chão, mas queria ir naquele sentido, apenas
premonições depois de mais uma noite sonhando com mortos;
Gerson parou a frente da pequena igreja de Bichinho,
olha apenas dois carros, não estava tão perdido assim, mas
viu um repórter vir a ele e perguntar;
— Senhor Gerson, o que pode nos falar sobre as
acusações que recaíram hoje cedo sobre o senhor!
— Não sei, do que me acusam agora?
Gerson olhou para a estrada e viu mais carros chegando,
e não pode deixar de notar que havia policiais também,
exagerou, ele estava em uma curva que não sabia no que iria
dar em sua vida, começou a andar, por uma trilha que surgia
por traz da igreja, passou uma pequena rua e continuou, foi
devagar para os repórteres o acompanhar, não queria
escândalo ali, nem saberia se aquilo daria em algum lugar,
caminhou sem muita pressa, se soubesse que eles seriam tão
lentos tinha parado para comprar um artesanato na região.
Viu a montanha tomar forma a frente, pegou o pequeno
pedaço de papel, estava pondo muita fé neste pseudo-herói,
mas seria divertido para ele, se não achasse nada, viu a
entrada de uma caverna, e muitas madeiras fechando a
entrada, olhou as madeiras, pôs a mão do lado da madeira e
viu que ela tinha mais de 3 dedos seus de espessura,
madeiras antigas, olhou os repórteres, puxou uma madeira,
embora dissesse para não entrar na placa pintada a mão e
desbotada, nem ele sabia onde estava pondo os pés, mas com
calma começou a entrar, não tinha luz, os repórteres atrás
falaram algo mas Gerson não parou, continuou andando,
349
memorizou o caminho, que em sua cabeça parecia fácil,
primeira a esquerda, poucos passos, a esquerda novamente.
Mas quando tocou aquele lugar no escuro lhe pareceu que
estava no lugar errado, pois deu de cara com uma parede,
passou a mão, para sentir onde estava, e sentiu uma farpa
entrar em seu dedo, xingou, tirou a farpa e olhou em volta,
achou um canto e puxou uma tabua;
Gerson olhou para dentro e pensou que não deveria ter
trazido a imprensa, mas já era tarde, viu o pouco brilho do
celular, o brilho amarelado e muitos caixotes que
provavelmente eram armas antigas, os repórteres chegaram a
ele e o rapaz jogou a luz para onde Gerson olhava, e soltou
um assovio;
— O que é isto? — Perguntou o repórter;
Gerson sorriu, pois as pessoas foram chegando, o
policial veio com a gana de prender ele, e se deparou com o
brilho amarelado do lugar, Gerson esperou mais alguns
chegarem e olhou para o primeiro repórter e respondeu alto;
— Esta era parte da reserva que Tiradentes e alguns da
Conjuração Mineira, era a base para armarem e financiarem
algo que estava ainda no começo!
— Esta a dizer que isto esta escondido a mais de 200
anos?
Gerson pensou e apenas balançou a cabeça, olhou o
policial e falou;
— Em que posso ajudar policial?
— Tem de nos acompanhar!
— Sem problema! — Gerson olhou o repórter e puxou a
madeira de uma caixa e todos viram ele pegar uma arma, e
alcançar para o repórter — E tinham armas também!
Gerson começou a sair, os policiais não sabiam o que
faziam, se isolavam a área ou acompanhavam o senhor para
fora, o advogado de Gerson chegando olha aquele ouro todo e
fala;
— Você realmente perdeu noção das coisas!

J.J.Gremmelmaier 350
J.J.Gremmelmaier
O policial não falou nada, mas pensou que se achasse
algo assim, nunca mostraria para os demais;
Gerson foi quieto até o carro da policia e viu mais
policiais chegando, e as ordens para isolarem uma região,
apontou a trilha;
— Pegaram este desgraçado, ele já falou onde escondeu
minha filha? — Senhor Reis;
— Ainda não senhor, vamos o levar a São Joao Del Rei!
Gerson foi quieto, o advogado acompanhou a leva de
repórteres, as noticias da região fizeram vários repórteres irem
ao pequeno vilarejo de Bichinho.
Ele estava sentado a frente da imprensa, a fotografar o
senhor, calvo, que foi novamente levado a uma sala, as velhas
fotos de frente e de perfil, foi sentado a frente do Delegado;
— Melhor segurar a língua senhor Gerson, pois esta
encrencado aqui, sequestro, assassinato, e pelo que esta
sendo relatado, apropriação do ouro do senhor Geraldo,
escondendo naquela mina!
— Senhor, aquele não é o ouro do senhor Geraldo!
— E de quem seria?
Gerson não sabia onde jogaria a culpa, mas falou
calmamente;
— Se o senhor Geraldo afirmar que aquele ouro é dele,
não duvido que já não o tenha feito, ele poderia explicar por
que o ouro estava nas terras do senhor Reis, sei que pode
parecer estranho o que vou falar, mas aquele ouro tem dono,
não sou em eu nem o senhor Geraldo, o dono dele esta me
acusando de sequestrar a filha dele, mas não deixa de ser
dele o ouro!
— E como quer que acredite nisto?
— Fácil, pensa, se o senhor Geraldo declara que extrai
apenas 2 mil quilos de ouro por ano, todos vendidos para a
Caixa, de onde teria uma sobra de 25 toneladas de ouro? Ou
pela declaração de renda do senhor Geraldo, ouro de extração
de mais de doze anos senhor!
351
— Mas o senhor Reis também não o declara?
— Não disse que ele explorou aquilo, mas chamei a
imprensa mais para comunicar o fato, já que não me interessa
aquele ouro, mas é uma herança a muito perdida no tempo
senhor, mais de 200 anos, a própria pureza do ouro vai
revelar isto, pois não se tinha todo cuidado de hoje como o
ouro, antigamente!
— Mas não pense que sairá livre?
— Sei que precisam de um culpado senhor, é mais fácil
que assumir os seus erros, mas estou aqui, não fugi, na
verdade declarei publicamente onde estaria!
— Mas acha que o senhor Reis vai aliviar seu lado com
esta historia?
— Não. Como falei, dois senhores que pensam com o
bolso, mas não quando uma filha corre risco, mas me prender
só vai mostrar para ele que não fui eu!
Gerson talvez não tivesse a noção da encrenca que
estava armando, mas quando os advogados de Reis leram a
declaração, o próprio, foi ao cartório de Prados, e viu que
realmente aquelas terras pertenciam a sua família, a muitos
anos com alguns impostos pendentes, mas ainda da família,
não entendeu, nunca soubera daquelas terras, e de repente
um estranho chega a seu estado e lhe mostra uma fortuna,
pagou os impostos atrasados e pediu a transferência para seu
nome como herdeiro dos Reis, o cartorário pediu os
documentos necessário, se você não vive no Brasil, cartório é
onde se registra os bens, uma máfia passada de pai para filho,
que a séculos se apropria de terras, cobram por serviços que
as leis nacionais insistem em manter, e coisas afim.
O senhor Souza não gostou da ação de Gerson, pois
realmente ele não teria como provar que o ouro era dele, tirou
a petição de apropriação, pois poderia entrar em uma guerra
que não teria como ganhar.
Gerson estava em uma cela, esperando transferência,
cela lotada, muitos pobres, cadeia no Brasil ainda é para pobre,

J.J.Gremmelmaier 352
J.J.Gremmelmaier
os juízes negam para pobres habeas corpus que concedem até
em domingo para ricos, mas odeiam que alguém fale isto.
Era inicio da noite quando o Delegado pediu para falar
com ele novamente, obvio que algo estava errado, delegados
as 6 da tarde vão para casa, Gerson viu o senhor Geraldo
sentado a sala, e o delegado entrar pela porta, o
cumprimentar;
— Tudo bem padrinho!
Gerson soube que cheiraria a merda aquilo;
— Sim menino, o que temos aqui?
— Um ladrão de galinha, mas vocês estão
transformando o ladrão de galinha em ave de rapina padrinho!
— Ele tem algo que me interessa, dizem que é um mapa
onde tem coisas como a que ele mostrou hoje!
Gerson soube naquele momento que iria apanhar, mas
não sabia quanto, viu 3 policiais entrarem pela porta, cada
qual com um cassetete na mão, mas ainda ninguém o
perguntara nada;
— Só não o matem! — Falou o delegado saído como o
senhor Geraldo;
Gerson conheceu mais uma vez a mão da policia, mas
apanhar era uma especialidade de Gerson, algo que aprendera
desde pequeno, relaxou o corpo e levou chute, batidas no
corpo, viu que estes eram mais inteligentes, pouparam a
cabeça, as mãos e braços, a ideia era deixar doido, mas não
deixar algo que a imprensa ao fotografar visse, depois de uma
hora de surra, o pegaram ao chão e jogaram na cela, onde um
rapaz, resolveu o bater mais um pouco, mas viu que era gente
do senhor Geraldo, pois também evitou o rosto, mas entendeu
o recado, ali apanharia, jogariam na cela, apanharia de novo,
sem poder dizer que foi a policia que bateu;
Gerson depois de mais uma hora levando chutes, com
muitos reclamando do barulho, mas nada fazendo, viu o rapaz
parar, se encolheu no mesmo canto que estava caído, ficando
ali a pensar, o corpo estava todo doido.

353
Feliz 11 de Novembro
Primeiro ponto do dia, desculpe se não vou falar das novidades do dia de
ontem, mas se estão lendo este artigo, a estas horas fui preso e não tive tempo
de substituir pelo que deveria representar o dia de ontem.
Segundo ponto, não sei, a estas horas dois senhores ricos do estado de
Minas devem estar me processando, por sequestro, por assassinato, e por mais
alguma coisa, mas se estou preso, sempre digo que sou suicida, devo ter
apanhado, devo estar ainda em alguma cela local esperando para ser
transferido, odeio apanhar, odeio ser preso, mas devo estar colhendo o que
plantei;
O que você plantou?
3 sequestros, mais de 100 mortes, mais de 3 bilhões em desvio de ouro,
dinheiro e coisas de valor, entre elas, diamantes, não é trocado, não para mim,
mas para quem me prendeu, sim é trocado, mas eles tem motivos para me
odiar, um teve a neta, 21 anos, amante de Geraldo desde os 15 anos
sequestrada, se fosse eu seria pedofilia, ele, apenas uma relação saudável de vô
e neta! O segundo teve a filha sequestrada, alguém que se formou em Geologia,
mas que não poderia deixar lhe passar as coordenadas que ficariam visíveis para
quem entende um pouco disto, se eu que entendo que Ouro é um metal pesado,
que dá em locais específicos, assim como diamante entendi, uma geóloga tiraria
de letra. A terceira pessoa presa, desculpe não posso revelar o nome, mas Reis e
Souza matarem todos, tenho de ter alguém de cada lado vivo, é a logica, não
adianta todo este dinheiro e não ter herdeiro para isto.
Mas sequestro é um crime hediondo!
Sim, hediondo, com vender drogas, como estuprar netas, como roubar de
pobres para ficarem mais ricos, mas eles não têm uma prova sequer contra mim,
por que não sujei minhas mãos com isto, assim como eles não sujam as deles,
aquela velha historia, desviam uma fortuna em Brasília, e o assessor que foi o
cabeça, nunca o Ministro, nunca o Deputado, nunca o Senador, até o zelador as
vezes é acusado, mas o dinheiro nunca aparece, pois todos nós sabemos que
não foi ele, mas aceitamos as desculpas esfarrapadas de nossa justiça.
Mas você fez ou não fez?
Estou ficando maluco, eu mesmo me indagando! A resposta é a mesma,
assumo o que conseguirem provar, às vezes assumo mais do que isto, e eles
mesmo assim não conseguem provar. Mas vai a pergunta que todos sabem a
resposta, mas alguns nunca pensaram nisto, todos nós sabemos que em todas
as grandes cidades do país, existem compradores de ouro, a pergunta, se o ouro
acabou, acredita mesmo que apenas o comprar de joias já feitas manteria este
pessoal, em todo o país?
Mas depois da pergunta vem à afirmação, hoje talvez seja morto, por
quê? Aliados viram inimigos, inimigos viram as costas e balas veem de lugares
que não deveriam, mas como sempre digo, não acreditem no que veem, não sou
tão fácil de matar assim!
Gerson Travesso
Não Sei, MG, 11 de Novembro de 2010

J.J.Gremmelmaier 354
J.J.Gremmelmaier
Amanheceu dia 11, uma quinta feira, e Gerson é
levado a presença do delegado, viu que só havia ele ali, mas
poderia ter mais gente a ouvir longe, mas nem estava
interessado;
— Sabe o que queremos senhor, por que não nos dá de
uma vez?
Gerson sorriu e falou;
— Sabe por que!
— Não sei, espertinho!
Gerson sorriu e falou;
— Se quer mandar bater em alguém, covarde, por algo
que esta em minha carteira, bens pessoais que ficaram numa
caixa, quando fui jogado aqui dentro, você não deveria ser
delegado, e sim o faxineiro daqui!
O senhor olhou com raiva, um dos rapazes entrou
minutos depois e falou;
— Desculpe delegado! — Falou o rapaz esticando um
papel para o delegado;
— E apanhou quieto? — O delegado abrindo um papel
antigo, onde haviam 46 endereços, e números ao lado, alguns
diziam cobre, alguns ouro, outros diamantes, os números não
batiam, mas tinha os endereços.
Gerson já havia cutucado então se manteve quieto, mas
foi levado a cela novamente, procurou o rapaz que o batera a
noite como os olhos, o rapaz estava deitado, os demais não o
importunavam, deveria ser o valente a favor dos policiais do
lado de fora, chegou e chutou o rapaz bem na altura do rim, o
rapaz se recolheu, Gerson deixou o bicho dentro dele vir a
tona, e começou a chutar, mas não só o baço, a cabeça, o
saco, ele não pouparia o desgraçado da dor que ainda sentia;
O senhor olhou o numero ao lado do endereço em São
Joao Del Rei, e o numero 25 ao lado de Ouro, e 3 ao lado de
Armas, entendeu que se os números fossem toneladas em
ouro, teriam uma fortuna em bens envolvidos naquilo, e ligou
para o padrinho.

355
Uma operação se fez em 31 endereços no estado de
Minas e 8 no estado do Rio, e 6 no estado de São Paulo.
Geraldo chega a um endereço na região de Curvela, não
estava em suas terras, mas áreas como a que estava, ele
tomaria se fosse o caso, mas adentou a uma mina
abandonada, viu as tabuas já retiradas, empilhadas
ordenadamente, viu um rapaz chegar a ele e falar;
— Senhor, os locais afirmam que ontem alguém tirou 3
caminhões de algo daqui!
— Filho da puta!
O delegado que acompanhava o padrinho perguntou;
— O que houve padrinho?
— Pensei que o rapaz estava ficando maluco, pois
estava dando para alguém, algo que vale em ouro mais de
300 milhões, mas ele não estava lá para isto!
— E o que ele estava fazendo lá então? — O Delegado;
— Se você quisesse esvaziar 45 locais, o que faria?
— Quer dizer que ele se pôs como isca?
— Sim, e alguém enquanto ele se fazia de isca,
esvaziava tudo, nós o estávamos espancando e ele já sabia
que os locais deveriam estar vazio, pode ser que um ou outro
ainda tenha algo, mas se acharmos algo é por que o que
tiraram valia mais daquilo que ficou para traz!
— Este rapaz me paga!
— Pensei em ter uma carta contra ele, mas o que vemos,
é que ele armou muita coisa, antes de vir a Minas!

Em Curitiba Machadinho vê Fabrícia entrar pela porta;


— O que ouve Fabrícia?
— Acha que é uma boa ideia?
— Dá sumiço no menino, acha que consegue o que falou
ontem?
— Estou indo para Minas hoje!
Pedro ao lado de Machadinho vê o transexual pegar em
seu braço e o arrastar dali;
— O que pretende Machadinho? — Um dos rapazes.

J.J.Gremmelmaier 356
J.J.Gremmelmaier
— Não pretendo dividir meio a meio com Gerson o que
peguei ontem!
O rapaz sorriu;

Delegado Santos lê a crônica e pergunta para Plinio;


— O que ele quis dizer com isto?
— Não sei, algo de muito valor, maior do que o que
estampa os jornais de circulação nacional o pessoal dele deve
ter pego, pois parece um aviso, vão tentar me matar!
— E com este senhor joga o tempo inteiro, acha que é
verdade isto?
— Ele alerta no fim que é difícil o matar, mas não sei o
que ele ganharia com isto!
Roseli que havia lido a coluna antes de qualquer um,
dois dias antes, tenta ligar para Machadinho, ela ainda estava
internada, Machadinho não atende, então liga para Plinio, que
estava ao lado do delegado ainda;
— Investigador Plinio? — Uma voz fraca ao telefone;
— Sim!
— Roseli Rosa, preciso lhe falar, mas acho que algo ruim
esta acontecendo!
Plinio vê um investigador entrando pela porta, faz sinal
para fechar a porta, olhando para o delegado;
— Fala Roseli, o que esta acontecendo?
— Machadinho deveria estar cuidando de meu filho,
estou preocupada, ele não atende minhas ligações, algo
aconteceu!
— Mas o que pode ter acontecido?
— Não sei Investigador, ainda estou internada, mais 3
dias para uma alta, não sei!
— Acha que ele pode ... desculpa se a chocar... ter
matado seu filho?
— Parece paranoia, mas não acredito que ele fosse
morto, se ele sabe que se atender pedirei para falar com meu
filho, mas se o mataram vão tentar me matar também!
— Mas quem estaria interessado nisto?

357
— Os herdeiros, Gerson não tem herdeiros, quer dizer,
uma prima, mas eu tenho muitos, e o bem de 3 jornais de
circulação local pode ser um bom incentivo para isto!
— 3?
— Para de se fazer de desinformado! — A frase quase
não saiu, a moça ouve um movimento no corredor, e escorre
pela cama, tirando o soro, com dificuldade toca o chão, e
deixa o corpo cair lentamente, escorrendo para o chão, sente
uma dor — Ai, mas agora tenho de desligar.
O investigador pega a chave do carro e o delegado viu
que algo estava acontecendo.
Roseli se arrasta para de baixo da cama, não era um
lugar bom, era visível, se arrasta enquanto ouve alguém mais
perto, deveria ser paranoia, ela não estava bem, a dor na
altura do ponto na altura do pâncreas doía, ela chegou ao
banheiro e trancou a porta, enquanto viu alguém entrar
violentamente no quarto, e olhar para a janela;
— Onde ela se meteu? — Roseli sabia que a voz era de
Machadinho, ficou quieta, mas viu alguém forçar a porta do
banheiro, não tinha saída, teria de ter sorte nesta hora, mas o
que fazer, arrastou o corpo até a parte do box de banho, e se
encolheu num canto, a dor estava quase a tirando a
consciência;
O rapaz que estava com Machadinho fala;
— Rápido, a segurança esta chegando!
O senhor dá com força na porta, a mesma abre, olha
para a Roseli, caída ao chão, ela olha em seus olhos, a moça
se perguntava por que, mas viu o senhor, um tio para ela,
puxar a arma, e fechou os olhos, ouviu um tiro, mas não
sentiu dor, o rapaz a porta vendo Machadinho cair saiu da
porta correndo pelo corredor, no sentido oposto a segurança
que ao ouvir o tiro aceleraram.
O segurança chega a porta junto com um medico que
ouvira o tiro, e veem a moça a sangrar no banheiro, e o
senhor caído morto a porta do mesmo;
O medico entrou rápido e tocou num botão, e alguns
médicos vieram pelo corredor, com enfermeiros, a moça foi
J.J.Gremmelmaier 358
J.J.Gremmelmaier
posta numa maca, e foi para uma cirurgia, demoraram para
ver que ela não levara o tiro e sim que o ponto havia aberto, e
sangrava muito;
A moça voltava para a UTI, já com os pontos refeitos
quando Plinio chegou, quando viu o corpo de Machadinho,
sabia que algo muito diferente havia acontecido, os
seguranças prenderam um rapaz na portaria que foi falar com
ele;
— O que esta acontecendo rapaz!
— Não sei de nada, não vou falar de nada antes de meu
advogado chegar!
Plinio odiava a ideia de marginais terem mais dinheiro
para o advogado que os próprios policiais, as coisas estavam
se invertendo, olhou para o policial a porta e perguntou;
— A arma dele?
— Deve ter jogado em algum lugar, quando o pegaram
estava sem ela!
— Vasculha o lugar, acho que foi este rapaz que matou
Machadinho, e se perguntarem algo, deixa escapar como se
não quisesse falar isto! — Plinio olhando o policial;
— Não fui eu que o matei, ninguém vai acreditar nisto!
Plinio olha para o rapaz e fala;
— É a minha melhor carta, como você não vai falar
nada! Acho que nem advogado vai ter no fim do dia!
Plinio sai pela porta e fala para outro;
— Tranca, mas cuidado que parece que alguém o quer
matar!
O policial entendeu a recomendação e tiraram o rapaz
dali;
Plinio foi falar com o medico, que confirmou que a moça
não corria mais perigo de vida, mas com certeza o filho de
Gerson a esta altura poderia estar morto, se fosse isto, teriam
uma guerra, pelo menos era a impressão que Plinio tinha, de
que algo sobre aquele senhor não fora revelado, pediu
segurança para a moça e voltou a delegacia;

359
Em São Joao Del Rei, era inicio da noite e Gerson foi
novamente tirado da carceragem, talvez outra surra, não
estava bem, vomitara sangue no inicio da tarde, mas aquele
rapaz que o surrara não iria mais surrar alguém por algum
tempo.
Foi levado a mesma sala, então poderia ter o mesmo
destino do dia anterior, olhou o delegado entrar e depois o
rapaz da Policia Federal, pensou que talvez fosse pior do que
o dia anterior;
— O que fazemos com você?
— Já tentou antes, mas talvez consiga agora! — Gerson;
— Acha que alguém se importa?
— Deveriam, mas pelo jeito são todos burros mesmo!
— Pelo jeito gosta de apanhar! — O Delegado;
— Desculpa, esqueço que alertar pessoas de que não
estão olhando a própria bunda fedendo, ofende!
O agente da Federal segurou a cabeça de Gerson, que
fechou o olho, conhecia bem os métodos o senhor, que lhe
olhou;
— Acha que nos ofende?
Gerson não respondeu, mas viu o senhor Souza entrar
pela porta e olhar para Gerson;
— Seus amiguinhos estão fora de controle rapaz, acha
que alguém vem o ajudar?
Gerson ainda esperando a pancada contra a mesa olha
desconfiado;
— Não, mas ninguém ouve quando se grita!
— O que gritou?
— Que eles vão me matar, gritei isto para ver se alguém
ainda me tinha em consideração, mas não sei, se eu morrer,
sei que minha esposa e filho morrem, se ainda estiverem vivos,
sinal que alguém ainda me tem consideração, se não, sinal
que assim que for transportado para outro lugar, estarei
morto!
— E por que eles lhe matariam?
— Já gritei isto, odeio me repetir mas como morto não
tenho muitas opções, 6 bilhões de Reais é a resposta, que
J.J.Gremmelmaier 360
J.J.Gremmelmaier
deve ser aproximadamente quando eles recolheram ontem,
por que me dar minha parte, se podem apenas me matar!
O agente da Federal olho para o Delegado, pela primeira
vez o senhor havia ouvido, o delegado pensou nisto no inicio
do dia, mas pensou que teriam posto a mão naquilo, mas não,
o próprio Geraldo sabia que algo assim era motivo suficiente
para ele travar uma guerra de anos, por que os demais não
matariam o rapaz;
— Tranca ele Delegado! E libera de uma vez esta
transferência!
Gerson não sorriu, eles ainda não estavam pensando,
mas mostrava o quanto o senhor ali a frente apenas usava a
neta, pois era como se dissesse, que morram os sequestrados,
que morra este ai, Gerson não sorriu não por não ter vontade,
mas para que os presentes pensassem que ele não esperava
aquilo.
Em Curitiba Paulo olha as três reportagem que Gerson
lhe passara dias antes como possibilidade, não sabia o que
fazer, mas viu Priscila entrar pela porta e falar;
— Podemos falar Paulo?
— Fala Priscila?
— Por que tentaram matar Marta hoje?
— 3 bilhões de reais, só por isto, metade do que ele
achava que existia em ouro e diamante, a dois dias quando
passou as ultimas reportagens!
— Atrás disto que ele foi lá?
— Não, ele foi atrás de uma forma de parar o senhor
Geraldo, mas pelo jeito achou outros inimigos, e algo que
transformou aliados em inimigos!
— Ele esta onde?
— O advogado dele voltou hoje, para Curitiba, alguém o
ameaçou de morte se continuasse lá, provavelmente tentarão
o matar amanha, quando for transferido, mas não sei qual das
3 reportagem por!
Priscila olha as três sobre a mesa, e fala, pegando o
telefone;

361
— Para as maquinas! — Alguém do outro lado da linha
deve ter perguntado por que — Abre um espaço na primeira
pagina e um na pagina 3, nem quero saber o que tinha lá!
Paulo sorriu, ligou para o pessoal das maquinas e fez o
mesmo, e ligou para alguns contatos de Gerson, aqueles que
publicavam as tantas reportagens do maluco daquele amigo;

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J.J.Gremmelmaier

363
Sorria!
Não escrevo para dizer o que vai acontecer, e sim, para explicar,
a dois dias disse que quem tem dinheiro não é preso neste país, e agora
estou preso, esta reportagem foi escrita a dois dias para se ainda
estivesse preso. O que me chateia é que se estou preso, ainda, sinal
que alguém vai querer me tirar o que tenho, temo pela vida de meu
pequeno Pedro e minha es, Roseli, vocês a conhecem por Marta, mas
temo por eles.
Quem faria mal aos meus?
Um tio, algumas pessoas que achava e chamava de amigos,
alguns que não entendem onde estão pisando, com a conivência de
quem poderia proibir, e sei que se eles não proibirem, estão assinando o
atestado de óbito, de Pedro Rosa, Roseli Rosa, Maria das Dores Souza,
Priscila Reis e Carla Souza, depois se os vir chorando por ai, não
esqueçam, é fingimento, pois eles assinaram embaixo das execuções.
Qual o motivo de minha morte?
Não sei se morrerei, sempre sonhei com minha morte, mas acho
que se for para o outro lado, não interessa o motivo, e sim, para onde
irei, mas os culpados provavelmente os que verem surgindo com rostos
novos, em algum lugar do mundo, se dizendo grandes empresários
brasileiros, ninguém os verá como assassinos, ladroes e sim como
brasileiros que deram certo!
Quando vai acontecer?
Não tenho bola de cristal, não esqueçam, nem sei onde estou
agora, mas se ainda estou preso, sinal que alguém desviou recursos
meus, e acha, pois esta pessoa não entende que não tem como, mas ela
acha, que minha morte a fara rica, mas como digo, tudo que vem fácil
vai fácil!
Mas queria dizer a Roseli que onde estiver, ela foi especial em
minha vida, por mais que as pessoas cheguem e digam que não prestei,
sempre soube disto. Meu filho, queria que soubesse que onde estiver,
sei que esta vivo, não me pergunte como, mas sempre sonho com as
pessoas que vão morrer, ontem para mim, a 3 dias para você, sonhei
com um senhor negro, grande chamado Francisco, ele me dizia seu
nome, então quando o vi, sabia que ele morreria, mas nunca sonhei
com você filho, então onde estiver, lembra do que a sua mãe sempre
falava, família não é aquela que esta sempre em casa, mas sempre
pesa, família é aquele que nunca aparece, mas quando precisamos, esta
lá!
Gerson Travesso
Não Sei, MG, 12 de Novembro de 2010

J.J.Gremmelmaier 364
J.J.Gremmelmaier
Um sonho!
Sonhei que eu morria, sei que alguns vão estranhar o que vou
falar, mas sempre sonhei com mortos, primeiro morto que sonhei
ainda estava no primeiro grau, mas sem entrar em detalhes, acho
que morrerei neste dia, talvez não, mas sonhei falando com alguém
que não era humano, não sei como descrever o que vi, era um ser
negro, não estou falando da cor negra, estou falando que ele era
negro, não havia uma boca, não haviam cabelos, não posso dizer
nem ao certo que era um ser como costumava ver, mas nunca
esquecerei daqueles olhos, e do som estridente que me entrava ao
ouvido como musica, acho que se tentasse explicar aqueles
segundos, escreveria um livro, mas senti o que o ser falava, ele
induzia que morreria e iria para os campos de aprendizado, que por
mais que tentasse não escaparia de lá, que o mundo a volta não
tinha mais importância, pois tudo que vivi morreria comigo, que
quando se nasce em alma, na morte, não existiria mais passado ou
futuro, mas não acredito nisto, mas tinha de falar.
Acha que vai morrer?
Acho que estarei entrando no dia de hoje em uma curva, com
uma possibilidade imensa de sair da mesma morto, mas não quer
dizer que me matar seja fácil, não quer dizer que não vou lutar por
meu direito a vida, não quer dizer que os seres que viraram as
costas para mim, estarão tranquilos, pois sei que não estarão!
Acha que alguém o defendera?
Não espero que alguém levante minha bandeira, pois não sou
uma bandeira a ser erguida, deveria ter sido queimada antes de
terminada, antes de ser hasteada deveria alguém ter me
transformado em pano de chão, mas não esqueçam, eu defendo
minha existência, a minha bandeira, mesmo com minha vida!
E por que o assunto ficou mórbido?
Porque provavelmente amanha estarão com meu nome na
coluna de falecimentos, não esqueçam, meu real nome é Gerson
Rosa.
Gerson Travesso
MG, 12 de Novembro de 2010

J.J.Gremmelmaier 366
J.J.Gremmelmaier
Editado em outros Jornais do País:

Quanto custa?
Quanto custa minha vida, quanto custa a minha
existência?
Acho que posso responder isto!
Mais de 100 mortes a mais, mais de 6 bilhões de
motivos amarelo ouro, mais de três jornais, mais do que
sonhei na vida gastar, estranho lhe matarem por algo que
nem sei quanto é!
Pois não sei quanto se compra com um bilhão de reais,
pois se somasse tudo que gastei na vida, acho que não
chegaria em mais de 40 anos, um milhão de reais, estou
falando de gastos pessoais, não investimentos em nome de
meu filho, mas então meu motivo morte é algo como se
estivessem me matando aos 80 anos, como alguém que
valesse por mais de 3 mil pessoas como eu, estou ficando
maluco, então não estranhem as comparações, mas 3 mil
pessoas como eu, vivendo até os 80 anos com o que gasto,
não gastariam os 6 bilhões de Reais, então é realmente um
bom motivo para morrer!
Acha que algo lhe vai acontecer?
Acho que por mais que tente, hoje irei dobrar uma curva
que não sei se posso sair, não sei se quero sair, pois quantas
vezes as pessoas acham que são invencíveis, imortais, mas
não sou, e tudo me indica uma curva sem volta neste dia!
Queria pedir desculpas a Roseli, desculpas a Pedro, pois
sei que lhes devo explicações e desculpas, mas nem sempre
as coisas são como queríamos que fosse, nem sempre
assoprei as feridas da vida, geralmente era de cutucar para
me lembrar que a ferida doía, e que antes de cicatrizada,
ainda poderia infeccionar e complicar as coisas, desculpa!
Gerson Travesso
MG, 12 de novembro de 2010
Em Curitiba um agito se faz na imprensa, evidente
que algo aconteceria naquele dia, mas o que o agito em uma
cidade num país com o tamanho do Brasil poderia fazer, quase
nada.
O Delegado Santos vê o investigador Plinio entrar pela
porta e falar;
— Por que acho que é mais uma armação dele?
— Não sei, mas o agito esta geral, a anos não recebia
uma ligação que odiava receber!
— Quem vai colocar a colher?
— Um General que a muitos anos não ouvia falar, es
Dops, es policia de Repressão, es Inteligência de Brasília!
— Quem é este Gerson, sempre me pergunto isto? —
Plinio;
— Alguém que parece ter alguma coisa pesada no
passado!
— Por que?
— O general pediu para segurar os meus, para não me
meter na historia de Gerson Rosa!
— Em outras palavras para nos fazermos de mortos?
— Sim, odeio isto, assim como odiava ser protegido pelo
pessoal do Machadinho, mas este que Deus o tenha!
— Não entendi, o senhor morreu tentando matar Roseli
Rosa!
— Também não, mas alguma informação do menino?
— Nada, quando apareceu um corpo de uma criança
ontem numa cava do Iguaçu pensei que fosse ele!
— Não era?
— Não, mas espero surgir este corpo a qualquer
momento, e outra coisa, podemos não meter o pessoal no
caso Gerson Rosa, mas teremos de segurar a guerra que pode
ter pelos pontos de Machadinho!
— Alerta todo pessoal, na nossa região são 6 favelas,
temos de cuidar para não virar uma guerra!

J.J.Gremmelmaier 368
J.J.Gremmelmaier
Em Minas, nas primeiras horas do dia a transferência de
Gerson assinada chega ao Delegado, que sorri, se queriam o
matar, que o poupassem deste encargo, os rapazes da Policia
Federal vieram pegar ele para conduzir a policia Federal de BH.
Gerson sai em um carro, de São Joao Del Rei no sentido
de BH, pegaram a BR 383, uma estrada que Gerson não
queria pegar, mas sabia que não fugiria a seu destino.
Gerson olha pela janela a esquerda e vê a Serra da
Moeda, deveria estar perto de Entre Rios de Minas, segurou
firme no apoio que tinha as costas, enquanto os policiais
aceleravam.
Os policiais conversavam, quando veem o carro que ia a
frente como batedor, frear violentamente, eles freiam atrás,
um caminhão em plena curva fazendo uma manobra, os
policiais pensam em sair do carro e sentem algo os acertando,
uma carreta que joga um carro sobre o outro, o carro
abalroado tem a traseira jogada para cima e gira no ar, caído
de ponta cabeça sobre o outro carro, os policiais que vinham
mais atrás, param sem sofrer nada, mas viram pessoas saindo
armada da beira da estrada, onde o mato estava mais alto e
apontar armas pesadas, metralhadoras AR15.
Gerson olhou para aquilo pela fresta na traseira, estava
de ponta cabeça, soltou a mão ouvindo os primeiros tiros, ele
conhecia aquele barulho, escorreu o corpo deixando sair pela
fresta que abriu na traseira, e se posicionou por baixo dos
carros, os motoristas estavam tontos para verem algo, a
fumaça indicava que seria apenas uma passagem rápida, mas
ajudou Gerson se posicionar ao mato, se deitando ao chão,
com as mãos algemadas. Estava se afastando aos poucos
quando ouviu a explosão do carro de baixo, e a cena de um
dos policiais correr pegando fogo, ouviu os tiros.
Gerson olhou em volta e percebeu que estava num
declive, rolou silenciosamente, como ele dizia, não se
entregaria assim fácil.
Gerson tentava não fazer barulho, mas ouviu o
caminhão saindo da estrada, ouviu mais tiros, ouviu outro
369
estouro, veio de poucos metros dele, não teria como ver que o
terceiro carro foi explodido depois que mataram os dois
policiais, quem estava por traz daquilo não estava poupando
ninguém, não queriam testemunhas, Gerson virou-se, e espiou
ao longe, viu alguns caminhões pararem e recolherem as
pessoas, encrenca, a cena dos carros estourados talvez salvou
a vida de Gerson, mas ele ainda não tinha certeza disto, não
sabia bem onde estava, se recolheu e ficou quieto, lembrou da
época de seus 19 anos, um ano no exercito, lembrou de
quanto não lhe serviu nada aquilo, mas saiu de lá com braços
mais fortes e sem pretensão de um dia voltar a servir o país
com uma arma na mão, ficou quieto, inicio da manha, quando
ouviu os caminhões se afastarem ao norte, sabia que teria de
segurar sua vontade de sair correndo, ouviu a sirene de um
carro que parou a uns 100 metros, viu o policial rodoviário ao
longe chamar reforço, e não mais de meia hora depois a
estrada se enchia de carros da policia civil para recolher os
corpos, de guinchos para retirar os carros, e de muitos
curiosos, em uma estrada de pista simples, onde liberavam
um pouco de cada lado, deveria ter fila se arrastando por
quilômetros, nos dois sentidos, viu um carro da policia Federal
chegar e conversar com os policiais rodoviários;
— Quem é o responsável? — Policial Kelvin da Federal;
— Não temos responsável, apenas o comandante esta
vindo, parece que esta difícil chegar em qualquer sentido!
— O que aconteceu?
— Não sabemos, temos dois carros que evidentemente
bateram, mas não temos os carros nos quais eles bateram, 6
corpos, aparentemente apenas os policiais!
O policial Federal olhou em volta, uma curva acentuada,
conseguiu pensar em algumas possibilidades, foi ao mato alto
e viu varias pegadas, achou alguns cartuchos de metralhadora
e olhou para o outro policial Federal;
— AR15!
— Odeio armas assim, o que podemos fazer com as que
temos?
J.J.Gremmelmaier 370
J.J.Gremmelmaier
— Avisa o pessoal de BH que Gerson Rosa fugiu!
— Acha que ele fugiu?
— Ou esta morto, mas temos de pensar na fuga, não na
morte, se ele morreu não nos diz respeito!
— Aviso, aviso das baixas?
— Sim, se ele estiver vivo, alguns dos nossos o vão
querer matar por isto!
— Não gosto de justiça assim!
O outro não falou, mas pensou; ―Mais um certinho!‖

A noticia de que o carro que levava Gerson explodiu joga


muita investigação na região, poucos estavam dispostos a
acreditar que ele estava solto, Gerson olhava o pessoal ao
longe, pensou na consequência, não lhe passou boas coisas a
mente, se emaranhou mato adentro e começou a se afastar
do local, em uma casa mais a frente, consegui um pedaço de
arame, abriu a algema e olhou em volta, não sabia onde
estava, mas precisava pensar antes de se comunicar, ou
melhor, queria chegar em BH antes das pessoas começarem a
pensar.
Andando seria difícil, então ele olhou uma caminhonete
antiga, fez ligação direta e saiu no sentido de Congonhas,
numa estrada ruim mas era um bom caminho a seguir, tinha
passado a pouco por Moeda, quando o carro parou, olhou o
ponteiro de gasolina apontar para baixo, desceu da
caminhonete, estava em um trecho da Serra da Moeda, e
começou a subir por uma trilha, estava achando que poderia
atravessar ela antes de escurecer, estava a seguir por uma
vegetação rasteira quando sentiu algo lhe picar a perna,
chutou a cascavel e xingou, sentou-se mais a frente, tirou a
camisa, amarrou a perna, para prender a circulação, não tinha
nada para cortar o local, não conseguiu chegar com a boca na
batata da perna, olhou em volta, tinha uma casa ao longe,
parecia muito longe, ouvia uma rodovia mais a frente, mas
poderiam ser quilômetros, resolveu continuar a andar, não
tinha noção de onde estava exatamente, mas aquela casa
371
parecia uma saída, ele andou enquanto aguentou, em certa
hora, sentindo tudo turvo na vista, passou por um córrego,
lavou a cabeça, sentiu tudo rodar, se encostou numa pedra e
não conseguiu mais levantar-se, perdendo a consciência;

As policias Militar e Civil do estado de Minas procuravam


o rapaz, a Federal acompanhava o movimento das duas
policias, para dar apoio para quem precisasse, o Policial Kelvin
estava em sua sala quando o Policial Morais entrou;
— O que tem para mim?
— Nada ainda, mas como estamos dividindo tudo, as
balas encontradas na estrada não são uma leva sem registro,
e sim uma leva de balas compradas pelo exercito, o
laboratório do exercito de Brasília apontou como sendo um
carregamento para a Aeronáutica da Base do Bacacheri, em
Curitiba!
— Estes dados estão corretos?
— Estranhamente estão, alguém do exercito de lá,
resolveu o tirar daqui!
Kelvin pega o telefone e liga para o delegado da
Homicídios em Curitiba;
— Senhor, espero que tenhamos cooperação!
— O que aconteceu?
— Embora possa parecer estranho, alguém dai ajudou
Gerson escapar!
— Ele escapou?
— Tudo indica que sim, pois temos munição de
metralhadoras que foram destinadas a região, teria algo a
dizer!
Santos pensou se poderia falar;
— Acho que não entendeu policial, mas nada do que
acho pode ser falado por telefone!
— Por que?
— Já ouviu falar no General Tamoio, de Curitiba?

J.J.Gremmelmaier 372
J.J.Gremmelmaier
— Não!
— Então se informa!
— Esta omitindo informações delegado!
— Estou, por telefone estou!
O policial insistiu, mas Santos não falaria nada, nem
pessoalmente.
O Policial reservou um voo para Curitiba e partiu naquela
noite para a capital Paranaense;

373
Os jornais relatavam na manha de sábado a fuga de
Gerson, mas um rapaz chegou a cela que as moças estavam
em Contagem e fala;
— Espero que alguém pague algo por vocês!
O rapaz joga o jornal para dentro e fala;
— Eles não sabem, mas Gerson já era!
Maria pega o jornal e olha a reportagem, seis policiais
mortos e nada do corpo de Gerson, olha para Carla e fala;
— Agora me preocupo!
— Por que?
— Carla, nosso avô não fez nada para nos tirar daqui,
este pessoal que esta nos prendendo são... — Maria para na
nota sobre o enterro de Machadinho — ...merda, alguém
mudou todo o comando matando o pessoal, acho que agora
estamos correndo risco de vida!

Gerson se vê em um lugar estranho, e olha o senhor


sem corpo, negro a sua frente, que emite aquele som agudo
que lhe era compreensivo, mas que em nada parecia as
palavras;
— Bem vindo!
— Onde estou?
— Sabe onde esta, sempre sonhou com este momento!
Gerson olhou em volta, viu muitos olhos novamente, e
ao longe pessoas, Gerson olhou melhor, não eram pessoas,
eram espectros de gente, translúcidos, e o ser falou;
— Ande, tem de ir!
Gerson olhou as próprias mãos, não era mais matéria,
pensou que deveria ter morrido, sentiu uma dor naquele
momento, e olhou para o ser;
— Ande, a fila tem de andar!
Gerson olhou para traz e viu uma criança, mal conseguia
andar, muito pequena, abaixou—se e a pegou no colo e
começou a andar;

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— Ninguém pode ajudar aos demais! — Falou o ser;
Gerson ignorou, e mais a frente pois a criança no chão,
não deveria ter um ano, ela não falava, mas olhava com
aqueles grandes olhos para ele, e lhe dando a mão o menino
ia andando lentamente, Gerson viu alguns passarem por ele, e
viu um dos policiais sentado a frente, parou ao lado e
perguntou;
— O que houve policial!
Gerson ouviu o ruído vindo agudo de longe;
— Não podem conversar!
O rapaz olhou Gerson e falou;
— Tenho mulher, uma linda menina de 3 anos, não é
justo morrer agora, as deixando sofrer!
— O mundo não é feito de justiça, deveria saber disto,
olha este menino, acha certo alguém assim morrer?
O policial olhou para a criança e falou;
— Não, nós vivemos, ele nem isto!
— Mas não entendi onde estamos! — Gerson que ouvia
a advertência mais uma vez para não falarem uns com os
outros;
— Deve ser o inferno, não fui bom em vida, não fiz mal
a minha esposa e filha, mas não posso dizer que fui bom com
o resto!
— Pode ser qualquer lugar, menos Inferno! — Gerson
que ouvia o ser gritar;
— Por que olha para aquele ser!
— Não ouve o que ele fala?
— Sei que deve ser algo terrível, mas ouso apenas o
ruído! Deve ser para não falarmos pois ele o faz quando
conversamos!
— Certo, mas não é o inferno! — Fala olhando para a
criança e outras que passavam por eles, alguns com
dificuldades, de tão pequenos, a maioria ignorava os demais
indo no sentido de uma luz, Gerson parou e olhou para a
criança e ela lhe olhou como se sentisse dor;
375
— Ainda sente dor? — Perguntou pra criança;
Ela balançou a cabeça, como se fosse chorar com a dor;
Gerson o pegou no colo e sentou-se, ao lado do policial.
— Não vai andar?
— Acho que o menino pode ainda ter uma chance, não
entendo disto, mas olhe em volta, alguns parecem ainda sentir
dor, alguns parecem leves, outros, pesados!
— Acha que alguns já morreram mesmo, e outros, ainda
tem chance?
— Acho, mas sei que você já morreu, eu não sei, fui
mordido por uma cascavel quando fugia pela trilha enquanto
os carros explodiam!
— Eu morri mesmo?
— Sim, mas pense que nada acontece ao acaso, com
certeza algo melhor deve existir naquela luz!
— E não quer isto? — O policial;
— Não sei, gosto de viver, gosto das dificuldades, gosto
da vida com dificuldades, mas eu ainda sinto dores!
— Acha que pode ainda voltar?
— Não sei, mas acredito que aquela luz é algo para não
se voltar, mas com certeza um lugar melhor!
— Mas acha que alguns... — o rapaz ia dizer não
morreram e vê um senhor se desintegrar a frente, os demais
não viram, todos olhando apenas para a luz, ignoraram aquilo,
Gerson sorriu e olhou o menino ao seu lado e fala olhando
para ele.
— Abre estes lindos olhos e olha para o lado menino!
Gerson viu o inverso, ele fechar os olhos e sumir, como
se nunca tivesse estado ali;
O policial sorriu e falou;
— Salvou alguém, não desiste nem estando a porta de
um mundo melhor?
— Não, uma coisa é ter a vida e não saber o que fazer
com ela, vivi muito tempo assim, outra é ter a

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responsabilidade de evitar que certas pessoas venham a
entrar naquela fila!
— Acha que terei uma chance, vejo que alguns ficam
parados, medo de encarar aquilo!
Gerson olhou em volta, viu um senhor velhinho do outro
lado e sentou-se ao lado, o policial acompanhou;
— Tudo bem senhor?
— Não podemos falar uns com os outros! — O senhor;
— E por que não poderíamos?
— Aquele ser não gosta!
— A quanto tempo o observa?
— Não sei, me parecem séculos! Milhões de pessoas
passando aqui, todas indo ao inferno, deve estar cheio lá
dentro!
— Acho que não esta olhando direito senhor! — Gerson;
— Por que, acha que alguém como eu iria para onde?
— Com certeza para o mesmo lugar que aquelas
crianças que passam ali a frente!
— Devem ter sido terríveis com suas mães para merecer
este castigo!
— Acha mesmo que existe inferno?
— Se não for inferno o que seria? Não quero arriscar!
Gerson vê o policial fixar a vista na luz e começar a
andar, não olhou mais para ele;
— O seu amigo foi chamado, você logo vai, é só bobear
e ficar olhando para lá!
— Não tem ninguém que morreu que gostaria de ver? —
Perguntou Gerson;
— Não, eu não queria morrer, não quero ir ao inferno, e
não gosto de falar com ninguém, meus pensamentos se
perdem assim!
— Não entendi?
— Não ouço minha filha quando você fala, as vezes a
ouço, ela chora as vezes, queria poder a ver mais uma vez!
377
Gerson meche os dedos do pé, e ouve em sua mente
alguém falar;
―`Pai, ele mexeu os dedos!‖
— Você a ouve? O que ouve?
— Ela vem desabafar, as vezes ouço vozes que não
conheço, mas não sei as regras disto!
— Quer uma dica?
— Você é novo aqui, o que poderia me dizer algo que
não saiba!
Gerson vê que o senhor esta estático, deveria estar
naquela posição a muito tempo;
— Ouve sua filha neste instante?
— Não, você esta falando, ela esta chorando, não sei
por quê?
— Faz uma coisa, tenta mexer os dedos do pé!
— Não consigo, estou muito tempo parado aqui! Hoje
acho que nem se quisesse conseguia chegar a luz, sentei aqui
pois o corpo estava pesado!
Gerson se abaixa e ouve o ser falar;
— Não pode intervir!
Gerson olha para o ser negro, pega nos pés do senhor,
toca a energia, pois era translucido, dos mais translúcidos que
tinha por ali, mexeu o pé e o senhor ouviu algo em sua mente,
o que Gerson não sabia, mas fez o movimento como os pés
para frente e para traz e ouviu, talvez por estar tocando o
senhor uma voz feminina, já nem tão jovem falar em sua
mente;
―Enfermeiro, ele mexeu o pé!‖
Gerson mexeu novamente e o senhor sorriu, ele
entendeu;
— Faz uma coisa senhor, abre os olhos, força eles, tem
uma família o esperando, mas espero que tenha pensado
sobre seus erros, e não os cometa novamente!

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Em um hospital em São Paulo, um senhor a 12 anos em
Coma abre os olhos e olha nos olhos da filha chorando, o
enfermeiro sai correndo, algo estava mesmo acontecendo, e
com dificuldade estende a mão para a filha, enquanto Gerson
o vê sumir a sua frente;
Gerson passou um tempo imenso indo de um em um,
fazendo aquilo, quando já não tinha ninguém ali, não naquele
caminho, viu o ser negro o olhar, a única coisa que se
identificava naquele ser era os olhos, mexeu os pés
novamente;
―Pai, ele mexeu de novo!‖
Gerson pensa em seus olhos abrindo com força, e olha
um rapaz ao lado da cama falar;
— Parece que esta voltando!
Gerson sentiu uma dor insuportável na perna!
— Calma senhor, uma cascavel das grandes o pegou,
sorte sua que sempre tenho uma vacina na geladeira!
Gerson olha o senhor, tenta falar algo, mas ainda estava
muito ruim, sonho estranho que havia tido.
— Obrigado senhor, onde estou? — Gerson com
dificuldades;
— Km243 da BR040!
— Quer que chame alguém?
— Acho que a policia, pois não quero problemas para os
dois!
O senhor mais velho olhou desconfiado;
— É um fugitivo?
Gerson olhou para o senhor e falou;
— Sim, mas melhor apenas apontar onde tem alguém
como eu, não se envolve, todos os que se envolveram alguém
matou!
— Filho, liga para o seu irmão em Moeda e pede para vir
aqui!
— Sim pai, mas acha que ele pode andar?

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— Se for quem penso, ele andou muito para estar aqui,
filho!
— Sou Gerson Rosa senhor!
O senhor olhou para ao filho que acelerou o passo;

Em Moeda um senhor atende o telefone na delegacia;


— O que houve irmão?
— O pai quer falar com você! Urgente!
— Mas estou ocupado, sabe o tumultuo que esta aqui?
— O assunto se chama Gerson Rosa irmão!
O senhor olha em volta, e fala para o irmão;
— Estou indo!
O senhor chega a frente da delegacia e olha para um
auxiliar e fala;
— Carlos, liga para o grupo, reunião na casa de meu pai,
em uma hora!
— Mas hoje?
— Sim, ontem não dá!
O auxiliar sai dali e o senhor olha para o policial Federal;
— Em que acham que esta caminhonete abandonada
aqui tem haver com o que procuram, por sinal, o que
procuram?
— Um fugitivo, ele é perigoso, se virem alguém me
avisem!
— Se alguém diferente passar aqui falamos, mas o carro
foi abandonado depois da cidade, pode ser que tivesse alguém
o esperando, pois senão estaria na estrada entre aqui e
Bromadinho, e se ele saiu da estrada, melhor chamar o
pessoal do IML, esta região é lotada de cascavel!
— Acha que se ele se embrenhou no mato, não seria
uma boa ideia?
— Se ele o fez, existe uma grande chance de o
acharmos morto senhor! Mas se alguém o esperava, embora

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não parece logico, pois não havia combustível no carro, ele
pode estar muito longe agora!
— Alguma outra possibilidade?
— Teria de verificar em Bromadinho, se alguém deu
carona a alguém para lá, pois para cá não voltou!

Em Curitiba o Delegado vê chegar a sua sala o


investigador da Federal;
— O que esta escondendo?
O delegado se levanta e fala olhando para a secretaria;
— Vamos tomar um café ali na frente, já voltamos!
O policial viu que era algo que não seria oficial,
estranhou mas atravessou a rua com o Delegado, via-se o
Jardim Botânico do outro lado da Avenida, pediram dois
pingados e sentaram;
— O que este senhor que me falou tem haver com
Gerson Rosa?
— Senhor, aquele carro do outro lado da rua, esta lá a
dois dias, é do exercito, eles estão me monitorando, o General
mandou eu ficar de fora disto, e sei que ele ainda dá sumiço
em pessoas na cidade, não quero entrar na lista de
desaparecidos!
— Mas por que ele protegeria Gerson?
— Ele não falou em proteger, ele disse para não nos
metermos, o que quer dizer, não levantar provas do que
acontecesse, o filho de Gerson esta sumido a dois dias, uma
criança ainda, a esposa dele sofreu um atentado, no hospital
que esta, tentaram a matar, esta na UTI, acho que a ideia não
é o proteger!
— Mas por que?
— Não sei, descobri depois do aviso que Gerson passou
somente um ano no exercito e foi expulso, ele desde que foi
expulso, ainda fazia faculdade de Informática, começou
assinar Gerson Travesso, poucas pessoas o chamam de Rosa,
talvez poucas soubessem o verdadeiro nome dele, embora
381
tenha pai e irmãos por parte de pai, estes não parecem se
meter ou ser preocupar, mas no momento não estou
investigando!
— O que as pessoas da cidade acham do que
aconteceu?
— Ouve um silencio, ninguém se posicionou, eles
jogaram na imprensa o que ele havia escrito até ontem, hoje,
nada, ninguém tem ideia do que esta acontecendo!
— Acha que este general vai intervir!
— Acho que não viveu a época da ditadura rapaz, ele
ainda acredita que as coisas não mudaram!
— Vou ter de ver isto de perto!
— Meus pêsames, mas não vai poder dizer que não
avisei!
O policial sai olhando para o carro do exercito do outro
lado da rua.

Numa casa na beira da BR040, alguns carros que


contornaram a serra, começam a chegar a casa, enquanto um
senhor senta-se ao lado da cama e olha para Gerson;
— Gerson Rosa em pessoa, sabe que muitos o
procuram!
Gerson olha o policial, pensou ouvindo os demais carros
chegarem que seriam repórteres e mais policiais;
— Estou me entregando, não quero complicar quem me
ajudou!
O senhor olha para o pai e fala;
— O que aconteceu pai?
— Estava caído na beira da nascente, se não fosse ver
uma ovelha ontem, teria amanhecido morto!
— Cascavel?
— Sim, pela mordida das grandes, ele esta com um
hematoma grande na perna esquerda, recomendava um
hospital, pois ele pode perder a perna!

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O senhor olha a perna e fala;
— Já verificamos isto!
Volta os olhos para Gerson e pergunta;
— Tem ideia de com quem esta mexendo, senhor Rosa?
— Não estou entendendo alguma coisa? — Gerson;
— Não, mas vou relevar, já fui mordido por Cascavel,
meu pai disse que delirei por 4 dias, quando uma me mordeu,
eu não lembro daquele dias!
— O que quer saber?
— Se achou o mapa?
— Esta com o senhor Souza!
— Merda, assim ele esvazia tudo antes de chegarmos,
mas quantos pontos apontava o mapa?
— Os 46 primeiros pontos!
— Acha que ele já esvaziou?
— Quem é você?
— Nos denominamos de os Herdeiros da Moeda!
Gerson olhou para o senhor com um misto de dor e
ignorância;
— Somos um grupo de resistência, se podemos nos
chamar assim!
— Grupo?
— Sim, mais de 30 mil pessoas espalhadas em 12
estados, mas somos poucos, mas a muito procuramos o mapa
que nos permitiria realizar os planos!
— Posso saber que planos, para saber se posso ajudar?
— Senhor Gerson, alguns a anos perguntam se o senhor
é do grupo, pois sempre bateu de frente, alguns em Curitiba
não acreditam que o senhor podia tanto, por isto nunca o
contataram!
— Não entendi o objetivo!
— Educação, saúde, mas principalmente, preparar o país
para uma democracia durável!
— Parece um politico falando!
383
— Temos os nossos políticos também, mas poderia
responder se acha que o senhor Souza se apoderou do ouro
dos Inconfidentes?
―Inconfidentes?‖ Pensou Gerson ainda tonto;
— Acha que se acreditasse que tinha ouro lá, tinha
levado a imprensa?
O senhor sorriu, e fez uma ultima pergunta;
— Ouvi alguns falarem que tem um jornal, sempre
gostamos de ter pessoas influentes em nossos quadros!
— Estou fundando meu terceiro Jornal, mas ainda não
sei onde estou pisando!
— Alguém cauteloso, gosto de gente assim, pois vejo
muitos aceitarem apenas por um titulo, não parece querer e
ser o que falam senhor Gerson!
— Nunca ouvi a opinião dos outros mesmo! — Gerson
sentiu uma dor forte na perna e o senhor mais velho chegou
perto;
— Filho, ele precisa de um medico!
— Pietra já deve estar chegando, vem ela e os dois
enfermeiros do Posto de Saúde!
Gerson viu o senhor olhar para o filho desconfiado;
— Tem certeza que é uma boa ideia?
— Pai, ele descobriu em poucos dias, algo que
procuramos a mais de 50 anos, sabe bem disto!
— Mas a policia diz que ele é perigoso!
— O senhor também seria se ameaçassem a nós pai!
O senhor sorriu pela primeira vez e perguntou;
— Mas quem ameaçaram da família dele?
O senhor olhou para Gerson, não sabia se deveria falar;
— Pai, a es-esposa dele esta na UTI, e o filho, ninguém
ainda sabe se esta vivo ou morto!
As palavras entraram na alma de Gerson, mas sabia que
seu filho não estava morto, pelo menos ele acreditava nisto, e
manteria isto vivo dentro dele;
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J.J.Gremmelmaier
A moça chegou, aplicou um analgésico e tirou parte da
pele e carne da batata da perna, limpando e fechando a
ferida;
— Ele vai dormir um pouco, mas o por que da reunião?
Fizeram uma reunião, enquanto Gerson dormia como
uma criança agora medicado e com a parte gangrenada
retirada da batata da perna;

O senhor Reis recebe uma ligação;


— Senhor Reis, tem 36 horas para levantar 30 milhões
em notas pequenas, se não o fizer, entregamos o corpo de
sua filha mortinha!
— Eu não negocio como assassinos!
— Se em 36 horas não tivermos o dinheiro, recebera o
corpo!
O senhor iria responder mas ouviu o telefone desligado,
olhou para o policial que falou;
— Um telefone publico no centro!
— Mas como ele chegou a cidade?
— Senhor Reis, desconfiamos de Gerson Rosa esta
morto! — Fala o policial federal;
— Mas quem estaria então com minha filha?
— Alguém que matou em Curitiba o filho de Gerson,
tentou matar a es-esposa, matou o comparsa dele lá, um
traficante de renome!
— Mas acham que deveria negociar?
— Acho bom levantar o dinheiro, não sei exatamente o
que pensar, tem até gente do exercito envolvida!
O senhor olha para a porta e vê uma leva de militares
entrando na casa, o policial federal estranhou e viu um senhor
todo paramentado de medalhas chegar a eles;
— Pelo jeito não entenderam quando falei para não
mexerem nisto? — Fala o senhor;

385
— Quem é que pensa que é, minha filha corre risco de
vida! — Senhor Reis;
— Eu, alguém que não gostaria de ter como inimigo,
mas em questão de horas descubro onde aquele Gerson se
escondeu!
— Pensei que o havia matado? — O policial federal;
— De alguma forma ele conseguiu sair do carro antes
dele explodir, soube do fracasso depois, mas sempre soube
que ele tinha mais de uma vida, mas desta vez ele não me
escapa!
— Pelo jeito ele mexeu com muita gente? — Senhor
Reis;
— Com pessoas erradas, sempre com pessoas erradas!
— Mas não estamos em seu caso, general, estamos em
um caso de triplo sequestro, mas quem assumiu parece
principiante!
— Não sei exatamente quem assumiu, mas Gerson
sumiu em meio a Serra da Moeda, e não apareceu ainda, eu
espero que ele tenha morrido lá, mas acredito somente
quando ver o corpo!

A beira da BR040, o senhor da casa olha para Gerson


assim que desliga o telefone;
— Pelo jeito o seu grupo ainda esta na ativa, eles
pediram um resgate para libertar cada uma das moças?
Gerson ouve aquilo, levanta-se com dificuldade olhando
para o senhor;
— Teria como me conseguir um celular, um que não
tivesse ligação com sua família?
— Tem de descansar!
— Quantas horas para pagarem o resgate?
— Meu filho disse que 36 horas, mas isto foi perto das 6
da tarde de hoje!
— Onde esta minha roupa? — Fala Gerson que se
levanta ignorando a dor a perna;
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— Tem de descansar!
— Senhor, não sei se entendeu a urgência, mas 3
pessoas vão morrer e eu serei o culpado!
— Mas por que a matariam?
— Talvez um consiga pagar o resgate, mas conheço
alguém que não tem como levantar quase nada de dinheiro,
quanto pediram por cabeça?
— 30 Milhões!
Gerson olha serio para o senhor;
— Vai conseguir uma roupa e um celular ou terei de sair
pelado?
O senhor ligou para o filho;
Gerson estava revirando um armário quando o Delegado
chegou e apontou a arma para ele;
— O que pensa que vai fazer?
— Se queria me matar, já deveria ter me deixado
morrer!
— Não podemos deixar você sair por ai, eles vão lhe
matar! Tem um general que foi me falar a poucas horas, não
sei se conhece, General Tamoio?
— Mais um motivo para ficar longe de vocês neste
instante, este adora matar gente e sumir por ai, algumas
pessoas custam a entender que a época do regime militar já
acabou!
— Ele quer sua cabeça! — Gerson viu uma calça que o
serviria, uma camisa, eram roupas usadas, viu o tênis sujo
junto a cama, pegou uma toalha com o senhor apontando a
arma para ele;
— Vou tomar um banho, se quer atirar, me pouparia o
banho!
O delegado baixou a arma;
— Mas o que vai fazer?
— Preciso de um celular, consegue para mim, não gosto
de andar as escuras!

387
Era noite, Gerson tomou um banho rápido, pôs as
roupas, olhou para o Delegado que lhe esticava um celular;
— Mas quero saber o que vai fazer?
— Salvar 3 reféns, me apoderar de algo que é meu, e
chutar a bunda de um general, alguma duvida?
O senhor mais velho sorriu, alguém que encontrara
quase morto a menos de um dia, estava ali, pronto a ir para
outra guerra;
Gerson pega o celular e liga a cobrar para um numero;
— Quem? — Uma voz grossa do outro lado da linha;
— Esta voz não lhe cai bem Fabrícia!
— Sobreviveu?
— Sim, preciso saber, de que lado esta?
— Seu filho esta comigo aqui em Curitiba! Acabei tendo
de matar aquele Machadinho, e sua es quase estragou tudo,
tentando fugir, pois se ficasse na cama a mira pela janela não
teria sido tão arriscada!
— Como esta sua prima?
— UTI, com a policia a porta, mas temos aquele nosso
amigo do exercito na sua cola!
— Consegue o telefone da Dalma, e passa uma
mensagem neste numero!
— Vai ligar para ela?
— Que saída tenho, e prepara as coisas, se for
necessário vamos precisar dela detida!
— Você é maluco!
— Solta na Internet que Gerson sobreviveu, e que cada
amigo que o virou as costas, melhor começar a correr!
— Eles vão achar que é brincadeira!
— Amanha ao meio dia já não acharão isto, e o efeito é
para a madrugada de depois de amanha!
— O que vai fazer?
— Se falasse teria de lhe matar! — Fala sorrindo Gerson;
Gerson desliga o telefone e olha para o Delegado;
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— Consegue um carro, ou um lugar onde possa roubar
um carro?
— Não para nunca?
— Se quer ajudar a hora é esta, tenho pelo que entendi
menos de 32 horas para ajeitar as coisas, é bem apurado!
Gerson disca a cobrar para Paulo e fala;
— Tudo bem amigo?
— Gerson, pensei que tinha morrido!
— Quase, para as maquinas, vou lhe passar algo mas
ainda não escrevi, tenho de chegar em um lugar que de para
lhe transmitir isto, e sei que este lugar não poderei ficar mais
de meia hora após ter lhe transmitido, este ruído que esta
ouvindo na ligação é por que alguém o grampeou amigo!
— Bom saber, mas faço o que mais?
— Não sai da repartição, liga de outro numero para
Priscila e deixa tudo engatilhado!
— Vai fazer o que?
— Salvar três moças, já que esta tudo desandando
mesmo!
— Certo, se cuida!

Gerson olha para o Delegado e fala;


— Não podemos mais ficar aqui, meia hora para sair!
— Quem é este general?
— Es Dops, acha que esta acima da lei, e ninguém o
põem no lugar, mas preciso de um carro agora!
O delegado fez sinal para ele e para o pai saírem e
entraram na viatura;
— Para onde?
— Itabirito é difícil daqui?
— BH é mais perto!
— Então BH, que seja o que Deus quiser, melhor,
Contagem!

389
Gerson entrou no carro, o senhor ligou a sirene e se
mandou no sentido de BH, antes da cidade pegou a esquerda
e contornando a cidade em 40 minutos estavam entrando em
Contagem, Gerson deu um endereço, subiu deixando os dois
aguardando no carro, nem 15 minutos depois entrou no carro
e olhou para o delegado;
— Gostaria de não os envolver nisto!
— Somos um grupo, nos defendemos!
— Não gosto de Corporativismo, isto nos faz fazer
burrada, pega seu pai e volta para Moeda, lhe ligo assim que
precisar!
— Quando!
Gerson olha o relógio do computador que estava abrindo
ao colo;
— Por volta das 18 horas, vou precisar de 10 pessoas,
bem vestidas e com cara de poucos amigos!
— E vai fazer o que agora?
— Garantir fundos, para que tudo dê certo!
Gerson sai do carro e senta-se em uma praça, olha a
mensagem no celular e disca para o numero que Fabrícia
havia passado;
— Por gentileza, senhora Dalma?
— Quem gostaria?
— Gerson Rosa!
Gerson nem sabia se a senhora o atenderia, esperou no
telefone e ouviu uma voz que a mais de 26 anos não ouvia;
— O que quer Gerson!
— Saber por que disto!
— Você não apareceu a 26 anos, o que quer, que alivie
agora para você?
Gerson pensou nas palavras e falou;
— Não, avisa seu pai, que pela segunda vez, não morri,
e se ele tentar de novo, desta vez vou revidar!
— Acha que vou acreditar que ele tentou lhe matar?
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— A mensagem não é para você Dalma, queria fugir de
casa com um pé rapado como eu, mas você era de menor,
hoje sei a burrada que estava fazendo, mas aos 20 faria, hoje
não mais, mas avisa seu paizinho, aquele covarde estuprador
e torturador do Dops, que não vou deixar barato! — Gerson
desligou o telefone;
Estava sentado a uma praça no centro de Contagem,
acionou o seu programa e uma rede foi achada em algum
prédio a volta, acessou o sistema, escreveu uma matéria e
lançou para a redação;

391
Bom dia Brasil!
Para quem pensou que morri, até eu a uma noite ao ser picado por uma
cascavel pensei que minha existência havia terminado, mas ainda estou aqui,
vão ter de me engolir;
Primeiro queria pedir desculpas a um General, o General Tamoio,
desculpa por sair do carro antes dele estourar, desculpa por não ter morrido,
mas vê se não mata ninguém que falhou na operação, pois sei que covardes
como o senhor, escondidos atrás de uma farda, não deixaram de ser os covardes
que foram na época da ditadura militar, sei que muitos bons Generais hoje estão
tomando o seu lugar, mas pessoas como o senhor deveriam ter ido a
julgamento. Acho que crimes hediondos deveriam ter pena perpetua sem
abreviação de pena, e que não deveriam prescrever, pois uma vez torturador,
sempre torturador.
Meu segundo aviso é aos meus pseudo-amigos, os que para infelicidade,
não morri, se acham que vão tomar o que é meu por direito, esqueceram com
quem estão falando, se acham que vão ver a cor do dinheiro ou ouro mais do
que hoje, esqueçam, amanha vão ver um ser obscuro no caminho da luz, mas
nada haver com riqueza.
Por ultimo, senhor Reis, senhor Souza, quando vão parar de fazer
burrada, quando vão ouvir a razão no lugar da arrogância, este general ai ao
lado, esta pouco se importando se Carla ou Patrícia vão morrer, ele quer me
pegar, e o que são 3 moças morrerem para isto, ele já matou mais de mil em
porões da ditadura, gente bem mais nova, bem mais inocente, o que é ver mais
três morrerem!
General, deveria estar em casa cuidando da Cria, e não se metendo onde
nem jurisdição tem para estar. Cadê a Policia Federal que não manda um
General destes para casa, ele não tem nada a fazer em Minas, que ele volte para
o Bacacheri e ponha o rabo entre as pernas.
Desculpe as crianças que lerem esta reportagem pelos palavrões, mas as
vezes falo Merda, as vezes Bosta, mas tem gente que fede mais que estas coisas
que ainda andam em nossa sociedade, sei que não posso melhorar tudo do dia
para a noite, mas sei que bons homens, seguindo tendências boas estão
mudando a forma de ser deste país, pessoas que ainda me fazem acreditar neste
país!
Dalma, sei que não apareci a mais de 26 anos, um dia teria de saber por
que! Pois sou um covarde, gosto de meu coro junto ao corpo e meu coração
batendo no peito, não me adianta dizer que amo, se não tenho vida para amar,
não adianta dizer que gosto, mas não ter nem olhos, nem ouvidos para gostar,
não adianta fazer de conta que seu pai nos deixaria viver em paz, pois me
escondi 26 anos no nariz dele, e ele ainda não esqueceu, acho que o problema
não é você, não sou eu, e sim, a possessão que ele tem sobre a filha, isto não é
amor, isto é doença, mas não pertenço ao exercito para enfrentar seu pai a tiro,
não sou santo, mas gosto de viver, alguns, até eu me defini as vezes como
suicida, mas na verdade sou apenas irresponsável, inconveniente, irracional, mas
de suicida não tenho nada, adoro viver!
Gerson Travesso
Contagem, MG, 14 de Novembro de 2010

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Era madrugada do dia 14 quando Gerson entra em
uma casa, na região de Contagem, entra atirando com um
silenciador, 6 corpos depois chega a sala e olha para um
rapaz;
— Pensei que afilhados não traíssem! — Gerson;
— Padrinho, sabe que não nos deixou alternativa!
— Não sei nada, onde esta meu dinheiro? Minha parte?
— Vai dizer que não foi você que nos roubou ontem?
— Ontem estava a cama recuperando-se de uma
mordida de cobra, e não vi ninguém tentar me salvar, ao
contrario, tentaram matar os meus!
O rapaz puxou a arma, mas foi atingido no peito antes
de terminar de esticar a arma;
Gerson pega uma chave, agachasse tirando a munição
da arma do rapaz e entra na carceragem, olha para Maria que
fala;
— Veio nos matar?
— Sim!
Maria recua e fala;
— Pensei que tinha me enganado a seu respeito!
Gerson sorriu e olhou para as três;
— Melhor saírem rápido, em meia hora isto vai estar
cheio de novo! — Fala abrindo a porta e dando as costas, as
moças saíram meio que desconfiadas, Gerson ouviu alguém
engatilhar uma arma quando estava saindo pela porta, olhou
para Patrícia e falou;
— Não sabe mesmo em que mundo vive?
— Vou lhe matar!
Gerson queria acreditar que ela não puxaria o gatilho,
olhou ela nos olhos;
— Acha que ganha o que me matando?
— Vingança!
Gerson sorriu e continuou a sair, não olhou para traz
nem para ver se a moça puxou ou não o gatilho da arma,
entrou num taxi e se mandou para a porta da casa de Souza,
pulou a porta do fundo e sentou-se no escritório, a madrugada
acabava do lado de fora, quando o senhor entrou pela porta
vendo Gerson ali, parado, o esperando;
— Pelo jeito quer mesmo morrer! — Geraldo;
— Manda aquele cagão entrar de uma vez, quero falar
com ele! — Gerson vendo o general as costas;
O general entrou com dois militares que apontaram para
Gerson;
— Manda eles segurarem os dedos, pois se chegarem
perto de atirar, meu melhor atirador os mata, e o conhece
bem General! Lembra de Paulo?
— Você e ele, deveria ter desconfiado!
— Estupra o rapaz e quer se fazer de santo, a diferença
é que ele gostou, eu odiei!
O senhor Geraldo olhou para o militar com desconfiança;
— Não ouça estas barbaridades, ele sequestrou sua
neta!
— Verdade, ela deve estar chegando a qualquer
segundo Geraldo, mas tem de parar de ouvir este cagado ai a
sua frente!
— O que veio fazer aqui? — Geraldo;
— Estabelecer uma acordo de paz, um acordo de
cavalheiro, pela vida de minha família!
— E o que poderia me oferecer que me fizesse pensar!
— Poderia lhe devolver os 3 bilhões de Dólares que
desviei do senhor, mostrando minha intenção em negociar
isto!
O general puxou a arma de um dos rapazes e apontou
para Gerson;
— Vou lhe matar!
Se ouviu um tiro atravessar a janela e acertar o ombro
do general que soltou a arma;

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— Todos sentados, não quero complicação! — Fala
Gerson;
— Ele esta sangrando! — Geraldo;
— Verdade! — Gerson olhou para a porta e falou —
Carla pode chamar um medico, não queremos que este
sangue podre manche o tapete! — A moça olhou meio
indignada, Gerson olhou Patrícia ao fundo, algo estava fora do
que ele previra;
Geraldo olhou a porta as três moças, e olhou para
Gerson;
— As soltou?
— Tive de matar um afilhado para isto, odeio às vezes a
ganancia das pessoas!
A moça entrou, pegou o telefone e chamou uma
enfermeira, e um auxiliar, que sempre estavam de prontidão
para cuidar do senhor Geraldo;
Gerson olhou os dois rapazes e falou;
— Melhor soltarem as armas, assim ninguém morre aqui
hoje!
Os dois olharam pela janela e obvio que havia agitação
do lado de fora, mas nem Gerson sabia quem era, mas pegou
o celular, leu uma mensagem e olhou para Geraldo enquanto
cuidavam do General;
— Temos um acordo ou não?
— Não gosto de você, rapaz!
— Então não me dará opção senhor!
— Sabe que levou sorte da primeira vez que saiu daqui,
quer tentar de novo?
Gerson olhou para o senhor, pôs a arma sobre a mesa e
olhou para o general;
— Melhor vocês dois conversarem, ainda tenho de firmar
um terceiro acordo, mas têm até amanha cedo para ambos
deixar as coisas do passado no passado! — Gerson deixou a
arma ali e saiu pela porta como se nem estivesse preocupado,

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seguiu o corredor para o fundo, pulou o muro baixo do fundo
e sumiu pela rua acima;
— Quem é este rapaz General?
— Alguém que quero matar, apenas isto!
Maria ouviu Gerson tentar fazer um acordo, olhou para
Carla e as duas seguiram para o quarto da mesma, Patrícia foi
junto, parecia meio perdida;
— O que não entendi? — Carla;
— Ouviu ou não?
— Ele disse que se apoderou de 3 bilhões do vô, e nosso
vô não quis o acordo!
— Mas por que?
— Ele é teimoso, ele não tem noção de gastos Maria,
acha que as minas levantam novos recursos rapidamente!
— Acho que temos de falar serio com nosso avô!
— Mas o que este Gerson pode fazer?
— Carla pensa, qual o custo de deixar 3 pessoas vivas,
se a parte de cada uma aqui, não seria mais que alguns
milhões, ele esta pagando um bilhão por cabeça e nosso avô
esta se fazendo de surdo!
— Mas o que ele pode fazer?
— Algumas coisas, uma delas é nos piratear!
— Não entendi?
— Se ele souber o esquema, ele pode roubar parte do
ouro, e não podemos dar parte, pois o ouro não sai
legalmente das Minas!
— Mas sempre teriam recursos!
— Carla, todos nós sabemos que o ouro esta acabando,
se Gerson desviou os 3 bilhões que estavam em dinheiro, o
que sobrou foi terras, isto é custo, quanto custa manter esta
maquina, Carla?
— Mais de 30 milhões mês!
— Posso estar enganada, mas era um bom acordo, mas
vocês parecem ter perdido noção de onde podem parar!
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— Vai fazer o que?
— Abrir mão de tudo que tenho direito! — Maria;
— Por que?
— Por que? Para não morrer, pois tem algo muito errado
ai! — Maria olha para Patrícia e pergunta — O que faz aqui
ainda!
— Entendendo o problema, falam de mortes e milhões
como tudo fosse trocado, mas — Patrícia olha para Carla —
que esta sua postura com seu avô parece bem o que Maria
pensou, entendi, mata todos pensando em ficar com algo, que
depois é só matar o velho, vi a forma que domina a casa, mas
não esta pensando, o que vi em uma única amostra do que
aquele senhor calvo, Gerson como vocês falam, mostrou para
quem quis ver, foi 25 toneladas de ouro, mais de 300 milhões,
mas o que quero entender, é onde o resto foi parar, vocês
estão falando de trocado, e aquele senhor pode estar se
apoderando de bem mais do que vocês conseguem ver!
— Do que esta falando? — Carla;
— Já falei demais!
Patrícia olha para Maria e pergunta;
— Como posso falar com meu pai?
Maria acompanha a moça até a parte baixa da casa, e
veem o general saindo em uma maca, e o senhor olha para
Patrícia;
— E quem é você?
— Patrícia Reis!
— Ele soltou todas, por que disto?
— Senhor, se o senhor não sabe pensar, não posso fazer
nada!
Patrícia fala com seu pai, e se manda para um
apartamento no centro, onde seu pai estava acomodado, há
anos não ia naquele apartamento, desde o tempo da
faculdade, pois preferia a região sul do estado;
Patrícia entra no apartamento e vê Gerson sentado a
sala com seu pai, olha o senhor e pergunta;
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— O que faz aqui?
— Lhe dando a chance de puxar o gatilho de novo!
— Como esta filha?
— Estranhando o que esta acontecendo?
— Por que? — Senhor Reis;
— Por que vi alguém recusar 3 bilhões de Dólares em
um acordo por 3 vidas, o que não entendi? — Fala olhando
para Gerson;
— Que aquele velho não iria pagar o resgate, o que
mais! — Gerson;
— Por isto as foi tirar de lá?
— Eu gosto de Maria, ela sabe disto!
— E detêm alguém que gosta? — Patrícia;
— Ela tentou matar minha es-esposa, e estava por traz
da tentativa de morte de meu filho!
— Mas por que esta aqui?
— Propondo uma parceria com seu pai!
A moça olhou para o pai e falou;
— Vai fazer um acordo com isto ai?
Gerson sorriu, e o senhor falou;
— Sabe que sim Filha!
— Mas ele me sequestrou?
— Mas ele mesmo gerou o recurso para a tirar de lá,
esqueceu, quer dizer, menos de 10% daquilo pagava seu
resgate!
— Mas não gosto disto!
Gerson olhou para o senhor e falou;
— Pense bem senhor, pois não quero problemas de
família em meio a isto!
— Vou falar com ela, mas acho que faremos negócios!
Gerson se despediu e saiu pela porta;
— O que vai fazer com este marginal?

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— O que esta acontecendo filha, como esta,
machucaram você!
— Odeio este ser, odeio este senhor!
O pai abraça a filha e fala;
— Deixa eu lhe abraçar, você esta bem mesmo?
Os dois ficaram ali abraçados;

Gerson senta-se a olhar a lagoa da Pampulha, pensando


em o que faria, vê Fabrícia sentar-se ao seu lado e perguntar;
— E agora Gerson?
— Quase voltando para casa, mas ainda temos o
problema do General!
— O material esta guardado, mas não gosto daquilo,
parece tão visível?
Gerson sorriu, e falou;
— Vou começar a pensar nisto quando ver a montanha
de tijolos, mas não sei ainda como alguém descarrega algo
daquele peso e não pensa no que é?
— Boa parte esta oxidado por 200 anos, descarregamos
como chumbo, mas alguns desconfiaram mesmo!
— E pôs onde que acha que não esta seguro?
— No pátio externo do seu novo jornal, mas ainda não
falamos sobre a minha parte nisto?
— Quer quanto?
— Aceito metade!
— Quer mesmo 3 bilhões?
— Por que não?
— Então tudo bem, 3 bilhões!
O travesti sorriu e falou grosso;
— Acha que o general nos deixa em paz?
— Algum militar sabe viver em paz? Eles são educados
para a guerra e não para a paz!
Gerson olha em volta e fala;

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— Melhor ir, alguém tem de cuidar de Pedro!
— Aquele menino é especial Gerson, levou sorte grande!
Gerson sorri;

Gerson pega o computador e se informa sobre tudo o


que estava pensando em fazer, ouviu o celular tocar;
— Fala Maria?
— Quero falar com você!
— Acha que precisa disto Maria?
— Você não presta Gerson, mas eu também não!
— Estou na Pampulha!
— O que faz ai?
— Lhe esperando, temos de conversar sem
testemunhas!
— Vai me matar?
— Sabe onde vamos nos entender, mas vem de uma vez,
pois o se o pessoal do exercito chegar antes pode não me
achar aqui!
— Onde na Pampulha?
— A três quadras de onde você está!
Maria sorriu e saiu pela porta do apartamento, viu que
havia um carro a vigiando do outro lado da rua, mas saiu a
caminhar, atravessou a avenida e sentou-se ao lado de
Gerson;
— Quem são os vigias?
— Exercito!
— Mas então vamos sair rápido?
— O exercito não me põe medo, o problema é a
aeronáutica!
— O que quer falar?
Gerson a olha aos olhos e pergunta;
— Gosto de coisas diretas, Maria, quer parar de fazer
burrada, ou vai continuar neste caminho torto?

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— Quero saber se vai estar aqui até quando?
— Amanha vou estar em Curitiba, quer estar lá comigo?
A moça sorriu e viu ele a beijar, Gerson estava pensando
no que havia escrito, e pensou para si mesmo;
―Não adianta me enganar, sou suicida mesmo!‖

Saíram dali e pegaram um carro no sentido norte,


destino que somente Gerson sabia, e quando 4 horas depois
estavam entrando em Diamantina a moça perguntou;
— O que viemos fazer aqui?
— Apenas quero saber onde estou pisando Maria!
— E o que veio verificar?
Gerson encostou o carro e olhou para Priscila, que havia
chego a menos de duas horas ali, Maria a olha e pergunta;
— O que ela faz aqui?
— Alguém tinha de fazer parte do serviço!
— Não confio nela?
Gerson olhou para Maria e sorriu;
— Já estão juntos de novo? — Priscila;
— Aparando arestas, mas pegou as caixas que pedi?
— Sim, mas não entendi?
— Esta onde?
— Eu mostro! — Priscila entrou em um carro e os dois a
seguiram, ela parou em um deposito, olhava para Gerson
indignada, mas sabia que ali tinha algo que não entendera!
Gerson entrou e viu uma das caixas, pegou um canivete,
a ponta de uma pequena faca se destacou, fez força na ponta
e olhou a arma a caixa, olhou para Priscila e perguntou;
— Me vende por quanto estas caixas?
— Quanto quer pagar por elas?
— Faça um preço?
Priscila sorriu, e perguntou;
— Sabe que somos sócios nisto, mas o que não entendi?

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Gerson puxa uma caixa de munição, abre ela e corta o
fundo de uma bala, metal muito mais mole do que deveria se
fosse munição real. Gerson esticou a bala de pouco mais de 4
centímetros de comprimento e um de raio, aberta no fundo
para Priscila, que olhou aquilo;
— Não entendi?
Gerson fez o mesmo com outra bala, virou em sua mão,
primeiro caiu um pó negro e depois alguns diamantes, Maria
abriu os olhos, haviam muitas caixas ali;
— E queria me comprar isto?
— Deve ter perto de 300 mil por caixa de armamento
em diamante!
A moça contou as caixas e olhou ao longe!
— Tem mais de 10 mil caixas!
— A munição é sua parte, Priscila!
— O que não vi? — Priscila;
Gerson pega a arma, pesada, passa a faca esfregando o
cano da arma, e uma pequena película de estanho mostrou o
verdadeiro material ao qual foi feito as armas, puro ouro;
— Então eles olharam, levaram o ouro e você pegou o
resto? — Maria;
— Maria, são 10 mil caixa, como 10 rifles, e 30 caixas de
munição, cada rifle deve pesar perto de 6 quilos de ouro!
— Então aqui esta o bruto? De tudo? — Priscila;
Os três estavam conversando quando viram uma leva de
pessoas armadas os cercarem, Maria olhou para Gerson e
falou;
— Desculpa, mas não posso deixar você com estes 12
bilhões de reais, pelo que entendi!
Um senhor chegou a ela e a beijou, olhou para os dois e
falou;
— Achou o que queria amor? — O senhor para Maria;
— Sim, manda carregarem as caixas, depois explico,
Cezar!

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O senhor olhou para Gerson e perguntou;
— Quer que os mate?
— Acho que ainda podemos precisar dele vivo, para ser
o culpado de alguns crimes!
O senhor sorriu, e olhou para os rapazes e falou;
— Esvaziem!
Priscila estava assustada, mas viram os demais
chegarem com empilhadeiras e começarem a retirar
rapidamente as caixas dali!
Priscila olha para Gerson e pergunta;
— E agora?
— Vamos sair rápido, acho que meia hora eles vão
perceber a enganação!
Priscila olhou em volta e viu alguns rapazes chegarem a
ele e perguntar;
— Quer que os sigamos?
— Sim, mas de longe, e apenas para saber onde eles
estão baseados!
Gerson liga para o Delegado e agradece o apoio, Priscila
olha para o senhor e pergunta;
— Mas falou serio, pois pediu para deixar apenas uma
caixa, todas as 30 mil caixas são como aquela?
— A conta falava em 32150 caixas, não vai me desviar
duas mil caixas Priscila?
Ela sorriu e perguntou;
— Mas vi o mapa, não tinha isto lá?
— Eram 3 papeis, deixei apenas o que apontava para o
ouro, e numero de diamantes, mas como eles não acharam os
diamantes, acharam que algo estava errado, tinha lá também
o numero de caixas de armas!
— Acha que quanto vale mesmo uma arma daquela?
— Perto de 90 mil reais cada, só em ouro!
— Não entendi?

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— Existe uma fundição de chumbo que era usada, aqui
em diamantina, acho que eles usavam para fazer as armas, as
protegendo com estanho, o que evitava a oxidação, nas acho
que se derretermos alguns tabletes de chumbo, podemos
achar algo em seu interior!
— Acha que pode ter o que ali?
— Parte ouro, parte diamante!
— Mas por que tudo isto?
— Era um esquema montado, mas alguém denunciou,
alguém escondeu o mapa, os culpados que sabiam de algo
foram mandados a cantos distantes na África, e quem ficou foi
morto!
— Então o esquema estava montado, funcionando, mas
quando prenderam os culpados deixaram tudo no meio do
caminho?
— Sim, pois o modelo destas armas são francesas, mas
não acredito que vieram armas de ouro da França!
— E o que faremos agora?
— Ainda tenho de pisar no calo de Maria, mas fora isto,
se me esperar podemos fazer um churrasquinho no fim do dia!
A moça sorriu;
Em BH, Maria entra na casa do avô com os seus homens,
havia mostrado para o amante a arma que Gerson a mostrara,
o rapaz pensou que estavam ricos, então agora teriam de se
manter vivos, isto passava por uma coisa, matar o senhor
Geraldo Souza.
O senhor olha a sobrinha neta e pergunta;
— Mas por que disto neta?
— Dinheiro, não foi a única coisa que nos mostrou o
valor!
O senhor olhou para a moça e Carla olhou para ela e
perguntou;
— O que esta acontecendo aqui?
— Cezar, nosso problema é só estes dois, depois ligo
para a policia e digo que Gerson passou aqui, vi ele sair pelos
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fundos, a policia do jeito que querem o pegar, nem vão
duvidar!
O rapaz aponta a arma para o senhor, que vê seus
momentos chegando ao fim, uma dor forte lhe corre o peito,
mesmo sem um tiro, o senhor cai, Carla se debruça e vê o
rapaz apontar a arma para ela, e ouve;
— Melhor largar a arma! — Cezar olha para quem falou
e veem o local cercado pela policia;
— Um médico rápido! — Grita o policial.
O medico entrou, mas não conseguiram salvar o senhor
Geraldo, a moça olhou para o policial da Federal e perguntou;
— Mas como chegaram aqui tão rápido?
— Um senhor ligou para nós afirmando que havia sido
passado para traz por Maria, que só sobrava uma coisa entre
Maria e o gastar do dinheiro!
— Quem foi este ser que salvou minha vida?
— Gerson Rosa senhorita!
Ela sorri, o maluco que queria um acordo, o maluco que
foi capaz de propor uma fortuna para ficar vivo;

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Republica!
Hoje é um dia importante, temos de comemorar, pois a
alguns anos, nesta data, nasceu o Brasil, quase como é hoje,
mas não adianta dizer que o país tem 510 anos, pois não tem,
somente quando proclamamos a republica, viramos nação,
alguns dizem que viramos nação quando D. Pedro proclamou
a independência, mas não, viramos nação apenas na
republica, pois antes não éramos um só, éramos uma
emaranhado de tantas vontades particulares que não
poderíamos ser considerados nação, tínhamos revoltas
regionais, alguns ainda falam que querem separar o sul,
alguns o Nordeste, outros o Sudeste! Mas somos uma nação,
onde existe um ser que mesmo que todas as ruinas caíssem,
seriamos os Brasileiros, um povo especial, em um lugar
especial, conheço italianos a 60 anos nos USA que ainda se
denominam Italianos, conheço Italiano a 6 meses no Brasil
que mal fala o português e se denomina Brasileiro, somos
uma nação de braços abertos, de coração aberto, só temos de
aprender abrir os braços para nossos vizinhos e os abraçamos,
o resto, já fazemos, estamos melhorando, estamos
aprendendo, estamos virando uma nação adulta, consciente
de seu papel.
Aproveitem o feriado, mas lembrem, não bebam na
volta, cuidado com as chuvas, e principalmente, não
esqueçam, hoje a alguns anos nascia alguém muito especial,
chamado Brasil, e que nos aceitou com os nossos defeitos, de
braços abertos.
Sei que sou dos que mais reclamam, dos que mais joga
sujeira ao ventilador, mas entendam, amo esta nação, e quem
ama, puxa a orelha as vezes, quem não ama, nunca nos
mostra nossos erros!
Gerson Travesso
Curitiba, 15 de Novembro de 2010

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Crônicas de Gerson Travesso 2


Continua em ―5 - Bosta!‖

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