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CICLO B
“Senhor, obrigado por teres vindo. Terias podido salvar-nos sem teres vindo.
Bastava simplesmente que quisesses salvar-nos; não se vê que a Encarnação
fosse necessária. Mas quiseste vir para termos o exemplo completo de toda a
perfeição [...]. Obrigado, Mestre, por teres vindo, por estares no meio de nós,
homem entre os homens, o Homem entre os homens, como um entre tantos
[...], e, apesar disso, o Homem que tudo atrai a si, porque, desde que veio, não
existe outra perfeição. Obrigado por teres vindo e porque eu posso ver-te e
alimentar a minha vida em ti”2.
São Marcos, que nos transmite a catequese de São Pedro, deve ter ouvido o
relato dos lábios do próprio Apóstolo, em todos os seus pormenores. Como
Pedro devia lembrar-se desse olhar de Jesus que, no começo da sua vocação,
também pousara sobre ele e mudara o rumo da sua vida! E Jesus, fixando nele
o olhar, disse-lhe: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas, que quer
dizer Pedro5. E a partir daquele instante a vida de Pedro foi outra.
Jesus olhou com afecto para o jovem que se aproximara d’Ele e convidou-o:
“Segue-me. Caminha sobre os meus passos. Vem para o meu lado!
Permanece no meu amor!”13 É o convite que talvez nós tenhamos recebido um
dia..., esse em que resolvemos segui-lo sem mais altos e baixos. “O homem
precisa deste olhar amoroso: tem necessidade de saber-se amado, de saber-
se eternamente amado e escolhido desde toda a eternidade (cfr. Ef 1, 4). Ao
mesmo tempo, este amor eterno de eleição divina acompanha o homem
durante toda a vida como o olhar de amor de Cristo. E isto sobretudo no
momento da provação, da humilhação, da perseguição, do fracasso [...]. Então,
a consciência de que o Pai nos amou desde sempre no seu Filho, de que
Cristo nos ama a cada um e sempre, torna-se um ponto de apoio firme para
toda a existência humana. Quando tudo se conjuga para nos fazer duvidar de
nós mesmos e do sentido da nossa vida, então esse olhar de Cristo, ou seja, a
consciência do amor que n’Ele se mostrou mais forte do que todo o mal e toda
a destruição, essa consciência permite-nos sobreviver”14.
É a alegria da entrega, tão oposta à tristeza que afogou a alma do jovem rico
que não quis corresponder à chamada do Mestre.
III. VAI, VENDE QUANTO TENS e dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos
céus; e vem depois e segue-me, disse Jesus a esse jovem que tinha muitos
bens. E as palavras que deviam comunicar-lhe uma grande alegria, deixaram-
lhe na alma uma grande tristeza: Mas ele, afligido por estas palavras, retirou-se
triste. “A tristeza deste jovem deve fazer-nos reflectir. Podemos ter a tentação
de pensar que possuir muitas coisas, muitos bens neste mundo, pode fazer-
nos felizes. E no entanto, vemos no caso deste jovem do Evangelho que as
muitas riquezas se converteram em obstáculo para aceitar o chamamento de
Jesus. Não estava disposto a dizer sim a Jesus e não a si próprio, a dizer sim
ao amor e não à fuga! O amor verdadeiro é exigente”16.
... E vem depois e segue-me. Com que ansiedade não estariam todos à
espera da resposta do jovem! Com essa palavra – segue-me –, Jesus chamava
os seus discípulos mais íntimos. Era um convite que implicava acompanhá-lo
no seu ministério, escutar a sua doutrina e imitar o seu modo de vida... Agora,
depois da Ascensão aos Céus, esse seguimento não é, logicamente,
acompanhá-lo pelos caminhos e aldeias da Palestina, mas permanecer onde
Ele nos encontrou, no meio do mundo, e fazer nossa a sua vida e doutrina,
comunicar-nos com Ele mediante a oração, tê-lo presente no trabalho, no
descanso, nas alegrias e nas penas..., dá-lo a conhecer com o testemunho
alegre de uma vida simples e com a palavra.
(1) Sab 7, 7-11; (2) Jacques Leclerq, Treinta meditaciones sobre la vida cristiana, Desclée de
Brouwer, Bilbao, 1958, págs. 50-51; (3) Mc 10, 17-30; (4) cfr. Mt 19, 16; (5) Jo 1, 42; (6) cfr. Mc
2, 5; (7) cfr. Lc 7, 13; (8) cfr. Mt 9, 9; (9) cfr. Lc 19, 5; (10) cfr. Mc 12, 41-44; (11) cfr. Jo 8, 10;
(12) cfr. Lc 22, 61; Mc 14, 72; (13) João Paulo II, Homilia, 1.10.79; (14) João Paulo II, Carta aos
jovens, 31.03.85, 7; (15) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 1; (16)
João Paulo II, Homilia, 1.10.79; (17) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n.
300; (18) Lc 9, 62.