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Apontamentos
aulas de Direito da Família,
2009/2010
AUTOR
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APONTAMENTOS DE AULAS DE DIREITO DE FAMILIA
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Ao iniciar o Curso de Direito da Família parece-me fundamental, não só
apresentar o objecto do seu Programa, mas ainda a justificação do mesmo.
O objecto do Direito da Família não é difícil de identificar nesta fase em
que os alunos se encontram, nos últimos anos da licenciatura.
Afirmei antes, quando tive ocasião de dar Aulas de Direito da Família ao 4º
Ano, que inserido naquela fase, o Curso só teria sentido como uma
disciplina de cúpula e de reflexão.
Terei admitido implicitamente que fosse possível um outro entendimento,
menos crítico, da matéria. Terei sobretudo feito apelo à minha própria
experiência, de quartanista desta Casa quando o enfrentei, à conclusão que
então me pareceu evidente, de que a maturidade filosófica, social, jurídica,
era incompatível com um estudo anterior.
Mas, menos de um ano passado sobre esse episódio não partilho tal
opinião. Afinal, iniciamos a Filosofia do Direito nos tempos do 1º Ano e só
ganhamos com a experiência formativa. A reflexão sobre os institutos
sociais e os seus fundamentos, que o Direito da Família propicia, requer,
sem dúvida, espírito crítico, capacidade de compreensão dos fenómenos
sociais, políticos, capacidade de abstracção, maturidade para o ensaio
inevitável de caminhos alternativos, sempre que uma solução mostra não
satisfazer as solicitações cidadãs. Mas tal acontece em todo o Direito.
Onde está então a diferença?
Diria que no modo como aqui somos interpelados. Pois em Direito da
Família não é um instituto ou um acervo delimitado dos mesmos que se
encontra sob a espada de Dâmocles da mudança. São todos, ou quase todos.
Dieter Schwab é um Autor alemão, um grande civilista, um nome maior do
jusfamiliarismo. Quando confrontado com a missão de introduzir a este
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ramo escreveu que em nenhum outro lugar encontrava o Direito Civil tanta
alteração ao longo do último século, em nenhum outro ramo fora tão
favorável, também, à aceitação de tal mudança. 2009
Sugiro que leiam Schwab, mas reconheço que bem podemos acompanhar
as linhas mestras do seu pensamento de antemão.
O Direito da Família cura de uma realidade institucional que tem sofrido
enormes mutações. Não é mais a Família em sentido biológico apenas,
embora essa componente biológica seja essencial. Não preciso de recordar
as consequências sociais negativas que resultam do abandono, do repúdio
de um filho, de um parente próximo. Inscrita no código de valores que
sufragamos desde logo em sede constitucional há uma axiologia que tem
por base a realidade familiar próxima. E, subjacente à mesma, não está
apenas (embora o esteja de algum modo) a solidariedade, o espírito de
entreajuda, que invectiva a não abandonar um pobre, um indefeso. Há mais
do que isso, ainda que se afigure difícil determinar o quê, qualificar o
fundamento deste dever para com a Família.
Nos tempos mais recentes fala-se e escreve-se dobre a importância dos
afectos no Direito. Estes afectos seriam o alicerce a partir do qual se pode
erguer a rede de obrigações de ajuda entre pais e filhos, netos e avós, e
muitas outras relações de verdadeira proximidade vivencial.
Mas a delimitação dos contornos dos afectos é um Sísifo. Em que consiste.
É verdade que já Aristóteles sustentava uma ética de responsabilidade pelas
emoções e pelo modo como as exprimimos em termos sociais.
Em todo o caso, a ideia releva de uma outra ideia anterior, que ganhou
foros na doutrina anglo-americana e também europeia a partir dos anos 60.
Trata-se da ideia da concepção do homem como ser cultural, social, em
grande medida produto do meio que o recebe e do qual partem os influxos
essenciais na construção da sua personalidade.
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me pergunto se, afinal, teremos condições para neste modesto tempo que
nos é destinado penetrar verdadeiramente em temas de dogmática especial
com o apuro que esta requer. E, nesta fase primeira, afora o panorama da 2009
Família legal contemporânea, são as questões tradicionais que os ramos do
Direito convocam que nos ocupam.
Assim: a Família na Ciência Jurídica, as ligações ao direito privado e a
crescente ligação ao direito público, Constitucional e Penal. Hoje, estas
relações são absorventes, muitas vezes esgotantes. Assim acontece, como
veremos, com os temas de Direito Internacional, com as Convenções
Internacionais que proliferam, relativas a Mulheres em risco (Tráfico,
Escravatura) e a Menores, também aos Idosos. Não esquecendo a ligação
ancestral do Direito da Família português ao da Santa Sé, que se modificou
de modo importante com a Concordata 2004.
Mas as ligações ao direito privado permanecem. Não sei dizer em que
medida proliferam, se proliferam. Os regimes de bens são múltiplos, a lei é
permissiva, como veremos, de uma grande amplitude nesse domínio. Mas
será, na prática, tão importante assim o regime de bens num Casamento que
tende para a fragilidade, que surge no horizonte legal, vivencial dos
nubentes com medidas de dissolução ágeis e que parece vocacionado para a
precariedade? Não estou emitindo um juízo de valor sobre a opção
legislativa. Mas olho as novas normas no diálogo que impõem com o
direito anterior e pergunto-me acerca do carácter em parte semântico que
este vem, em alguns aspectos, assumindo.
Claro que a Lei do Divórcio, entrada em vigor há menos de um ano,
desempenhou aqui papel fundamental. Estudá-la-emos a seu tempo.
Ainda no âmbito privado, surge a ligação ao direito sucessório. Tão
importante para alguns autores que se criou, designadamente na nossa
Faculdade, uma disciplina de Direito da Família e das Sucessões.
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Este Direito não mudava o conteúdo das normas vigentes, mas procurava
centrar o núcleo de cada um dos Direitos em conexão com o núcleo do
outro. Obnubilando os elementos que, tanto no Direito da Família, como no 2009
das Sucessões, relevavam dos contributos dos momentos liberais e de
vanguarda da legislação, acentuava o seu carácter institucional. Por este
modo, centravam os estudantes a atenção nos elementos em que a vontade
dos progenitores, titulares de bens, se fazia incidir sobre o proveito dos
membros do seu agregado. Membros face aos quais todos os demais
adquirentes mortis causa de bens eram figuras alheias, de móbil
concorrencial e compreendidas numa lógica hereditária que sublinhava a
sua distância face ao fenómeno sucessório em questão.
A seu tempo veremos das consequências de uma tal compreensão.
Enfim, analisaremos as fontes essenciais do Direito da Família, a
Constituição e o Código Civil. Se estivessem na Alemanha (suponham que
haviam tido a dita de serem alunos de Schwab!...) encontravam com muita
probabilidade já um Capítulo intitulado Enquadramento Constitucional
Que inaugurava as fontes do Direito da Família. Hesito em ir por aí.
Reconheço a supremacia dos princípios constitucionais, mas tenho também
presente que a interpretação da Constituição se completa, nesta matéria,
com um a plêiade de conceitos oriundos do direito civil O Código Civil
fornece a primeira pista, logo no princípio do Livro IV, ao enunciar as
fontes das relações jurídicas familiares. Estudar-se-á aqui, pois, o
parentesco, o casamento, a afinidade, a adopção. Diria: numa primeira fase,
o parentesco, o Casamento. São os conceitos que referenciam situações e
instituições determinantes na compreensão da Constituição, de todo o
Direito da Família.
Mas sob que perspectivas?
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prejuízo de recordarmos que o actual Código Civil ainda não abriu mão,
como veremos, da expressão concubinato), um concubinato, uma
imoralidade com algum reflexo jurídico? 2009
Vemos então que o anátema social existe, quer em razão do modelo de vida
sexual, quer das formas de organização interna. Uns aceitam a igualdade
plena dos cônjuges, dos unidos de facto, outros rejeitam-na e persistem em
quadros familiares que exibem paradigmas anteriores. A autoridade do
marido/homem paterfamilias é uma relíquia que perdura em vastos meios.
Claro que não pode ser assim, pois há uma lei sobre uniões de facto, o que
mostra que colhem a respeitabilidade do legislador, reflexo seguro do
respeito social. Mas as reticências mantêm-se. Há quem considere a lei um
erro. Independentemente de formular agora juízos sobre ela, uma coisa
parece certa: há hoje mais lei entre o céu e a terra do que o Livro IV do
Código Civil. Ora, deve esta matéria albergar-se na nossa disciplina? Se
provarmos que se deixa cobrir por um denominador comum, a resposta será
afirmativa. Mas não basta ser legalista e argumentar com a existência de
uma lei. O legislador pode ter criado um regime obsoleto, ou
terminologicamente indutor em erro. E que fazer nesse caso? Só se
detivermos uma matriz dogmática segura poderemos opinar. Ora isso
implica um conceito material de Família para efeitos de Direito.
E o parentesco, que importância tem para além das relações mais estreitas
que marcam o núcleo familiar nos nossos dias? Faz sentido conferir o
poder paternal a um tio que vive noutra cidade ou mesmo noutro país e mal
conhece o sobrinho? Não seria mais realista recorrer de imediato, em tais
casos, a instâncias da comunidade, experientes, pedagogicamente
apetrechadas para ajudar uma criança, um jovem, disponíveis para
acompanhar os seus conflitos? Ou antes dá-lo de adopção a pais de vocação
que o desejem? Ou explorar as potencialidades que a nova Lei do
Apadrinhamento Familiar desde ontem nos oferece? *
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AULA nº 3
O objecto do Direito da Família.
Da proximidade entre as formas juridicamente
contempladas à tese da heteronomia; Direito da
Família e direito das famílias.
1. Questões preliminares.
Procuramos agora o objecto jurídico da Família. O problema
é complexo e é-o em crescendo. Por um lado, há um
substrato cultural proveniente da realidade da vida que
conduz a uma corrente de opinião maioritária a este
respeito, como conduz por igual a uma visão muito
partilhada sobre o sentido das realidades que, existindo na
lei, se afastam dos paradigmas tradicionais. A Família, para
a generalidade das pessoas, não estará muito distante da
fórmula quase poética com que um autor americano a
retrata. É o lugar onde nascem os filhos e se enterram os
maiores, um lugar inconfundível com qualquer instituição
que se mostre transcendente ao plano da intimidade que
biológica e culturalmente construímos.
E esta Família sulca-se, na Lei, por dois conceitos que
retratam instituições indispensáveis ao nosso plano de
abordagem. Penso no Casamento.
Depois, com o tempo, recebeu a ordem jurídica portuguesa
novos parâmetros, que hoje se acolhem nas Leis 6 e 7 de
2001, de 11 de Maio. As Uniões de Facto adquirem
importância crescente: aumentaram um tanto e sobretudo,
alargou-se o debate sobre a sua legitimação. Esse debate,
permeado de argumentos de vária ordem, é também (para
nós, é essencialmente) um debate jurídico.
Quem, partindo de um núcleo familiar, constrói o seu
próprio paradigma, por aproximação ou distanciamento à
realidade matriz, opta em Portugal pelo Casamento. O
Casamento é o modelo a partir do qual se reproduz a
institucionalização dos padrões de vida e de afectos entre
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2.O Matrimónio
A Constituição é o baluarte da sua consagração, o que
importa desde logo uma referência que se erga a partir dos
seus alicerces.
Não nos permitirá ela, contudo, avançar muito em sede de
densificação do conceito legal de casamento. Embora exista
doutrina em sentido contrário, que verbera a índole aberta
e susceptível de abarcar outras tipologias de casamento
para além da lei ordinária, a verdade é que sempre se
confronta essa discussão, que depois faremos, com o
problema de saber em que medida esta eventual ampliação
do conceito para além dos limites em que a lei ordinária
(Livro da Família, Código Civil) o recorta é injuntiva face ao
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Aula nº 4
Introdução
Poderá afirmar-se que a nossa ordem social aceita as
regras legais em vigor em clima de identificação, sintonia
com o seu conteúdo. A discussão marca a diferença entre
aceitar ou não um regime mais denso para as formas de
união homossexual. Não se questiona de um modo geral
que produzam efeito as Uniões de Facto, assim como os
efeitos que produzem.
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Aula nº 5
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Os pressupostos da celebração
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6ª e 7ªAulas
Fontes Constitucionais do Direito da Família (continuação)
Do casamento civil e católico no Código de Seabra à República
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HIPÓTESES A RESOLVER
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Ex: Xavier faz saber a Eulália que todos os documentos que tem
em sua posse sobre o passado criminal desta, e até agora
ocultado, virá à tona, caso ela não case com Firmino, filho de X,
que precisa de um apoio experiente e de uma mão forte na
liderança da sua vida: Eulália, precisamente.
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REVISÃO DE MATÉRIA
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