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ISSN: 0873-2019

ESTUDOS
DO

INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRAÇÃO


1996
Estudos do I.S.C.A.A II Série • N°2 • 1996
Revista de Publicação Anual

Direcção: Joaquim José da Cunha

Coordenação: José Fernandes de Sousa


Virginia Maria Granate Costa e Sousa

Conselho Consultivo: Professores Coordenadores das Áreas


Científicas do I.S.C.A.A.

Edição e Propriedade: Instituto Superior de Contabilidade e


Administração de Aveiro

Apoio Administrativo e Assinaturas: Biblioteca do I.S.C.A.A.


R. Associação Humanitária dos Bombeiros Velhos de Aveiro
Apart. 5 8 - 3 8 0 0 - Aveiro
Tel.: (034) 381977-381911; Fax: (034) 28975

Preço: 1.500$00

ISSN: 0873-2019

Depósito legal n°: 922 54/95


Capa: Design. Francisco Espíndola
Trat. de texto: apoio técnico de Maximina Gonçalves Maneiro
Impressão: Tipografia Minerva Central, Lda./1997
Estatuto Editorial
1. Carácter da Revista
1.1. A Revista Estudos do I.S.C.A.A. será publicada anualmente, preven-
do-se a sua distribuição para o mês de Outubro.

1.2. Objectivos

1.2.1. Reforçar a identidade do I.S.C.A.A. no espaço técnico,


científico e cultural das Escolas de Ensino Superior.

1.2.2. Criar um espaço de reflexão interdisciplinar de acordo com


as exigências de uma abordagem científica da complexa
realidade empresarial e seus enquadramentos.

1.2.3. Dinamizar a análise crítica de experiências concretas no


interior das empresas com base na observação, em estudos
empíricos e em dados estatísticos.

1.2.4. Acompanhar, na medida do possível, os resultados da


pesquisa e da reflexão científica no interior da Escola - e,
quanto possível, no país e no estrangeiro - nos domínios
relevantes para a actualização dos profissionais diplomados
e formados no I.S.C.A.A..

1.2.5. Promover a criação de um Centro do Património


Contabilístico Português que permita enraizar as soluções
criativas para os desafios actuais na tradição técnico-
científica e cultural dos estudiosos portugueses da
Contabilidade e conexas Ciências empresariais.

2. Colaboradores
2.1. A Revista Estudos está aberta a todos os estudiosos e profissionais
dispostos a reflectir sobre quaisquer questões e experiências que
reforcem os valores humanos, aprofundem conhecimentos e
promovam a eficácia no desempenho das múltiplas tarefas exigidas
ao profissional saído do I.S.C.A.A., sem discriminação de
paradigmas teóricos ou de correntes de pensamento.
2.2. Os colaboradores naturais da Revista Estudos do I.S.C.A.A. são os
Docentes da Escola e seus diplomados, cujas páginas se podem
constituir em espaço privilegiado de divulgação dos seus trabalhos
académicos, após adaptação ao seu modelo editorial.

2.3. Não sendo uma revista para consagrados, acolherá, com gosto,
trabalhos de personalidades com prestígio no mundo da
contabilidade e vizinhos domínios científicos - podendo mesmo
solicitar a sua colaboração.

2.4. Toda a colaboração não solicitada deverá ser acompanhada de uma


síntese do curriculum vitae.

2.5. A colaboração dá direito a seis exemplares da Revista Estudos do


I.S.C.A.A., podendo o autor solicitar algumas separatas, sem
qualquer encargo adicional para a Revista, cujo número não poderá
ultrapassar 10% da edição.

3. Responsabilidade dos artigos


3.1. Os textos publicados são da total responsabilidade dos seus autores.

3.2. A Revista não se responsabiliza pela devolução do material enviado


para publicação.

4. Reprodução dos artigos


4.1. A reprodução integral ou parcial dos textos publicados fica
dependente de autorização da Revista, sendo sempre exigida a
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4.2. Esta limitação não abrange a pequena citação indispensável ao


comentário crítico.

4.3. Os autores dos trabalhos não abdicam do natural direito de


propriedade em relação aos mesmos, mas a sua publicação pela
Revista dispensa esta de lhes solicitar autorização para satisafazer os
pedidos abrangidos pelo n°. 4.1. deste Estatuto.
A Lógica da Velocidade dos Elementos do Capital

António Lopes de Sá
Professor Catedrático
Presidente do I.P.A. T.
Sumário

• Introdução
• A Estática e a Dinâmica do Capital
• A Velocidade dos Meios Patrimoniais
• Velocidade dos Elementos do Capital em Relação aos Sistemas de
Funções
• A Velocidade dos Sistemas de Funções Patrimoniais
• Velocidade e Universo Patrimonial
• Temporalidade Sistemática e Velocidade Eficaz
Introdução

Os meios ou elementos que compõem o capital das empresas tendem a


se movimentar constantemente.
Como variadas são as funções que cada um dos meios patrimoniais
referidos desempenha, também variadas tendem a ser as velocidades ou
tempos em que se completam as circulações. Cada utilidade deve-se exercer,
em face de cada necessidade, em uma época que precisa ser a conveniente.
Existem diversos giros, diversas formas de analisá-los e de acordo com a
significação de cada um, torna-se possível ter uma noção da dinâmica da
riqueza. Tal dinâmica é relevante para que se consiga a sobrevivência dos
empreendimentos e para que exista o equilíbrio geral, mas subordina-se a
condições diferentes.
As leis de regência da circulação, todavia, são universais, ou ainda,
valem sempre em todos os lugares e em todas as empresas, se conservadas
as mesmas circunstâncias de ocorrência.
Há uma lógica de relações diante da velocidade dos elementos do
capital que guia a metodologia da análise da agilidade dos capitais e cujas
bases são o objecto deste trabalho.

A Estática e a Dinâmica do Capital

Quando um património está apenas constituído e seus elementos não


exercem qualquer função ou utilidade, dizemos que a situação é estática ou
de ausência de movimento.
A tendência dos meios patrimoniais é a de movimentação, todavia,
pois, ilógico seria formar-se a riqueza se ela não se destinasse a prestar
utilidade.
O estado estático ou inercial, por conseguinte, não é aquele natural da
riqueza aziendal, embora as demonstrações e informações contábeis sejam
sempre o espelho de situações estáticas ou de sequências de estáticas e que
se apresentam como fluxos.
Masi muito bem posicionou a questão, leccionando: "A estática
patrimonial é o estudo do património aziendal, considerado como se
estivesse parado em um dado momento na sua estrutura qualitativa e

7
quantitativa, isto é, nos seus elementos e nos seus componentes ou valores."1
Enquanto nos preocupamos, por conseguinte, com os elementos em si,
com a sua participação estrutural, propriedades funcionais, apenas, estamos
realizando estudos de natureza contábil que se ligam à Estática Patrimonial.
Os registos contábeis, como informações, em sua quase totalidade
referem-se a momentos determinados, como se a riqueza neles estivesse
imóvel.
A grande preocupação moderna, todavia, vem sendo exactamente a da
movimentação e não apenas a de situação inercial.
Isto demanda uma série prodigiosa e específica de estudos que se
situam no campo funcional e neste naquele circulatório.

A Velocidade dos Meios Patrimoniais

A dinâmica dos capitais é fruto das funções ou utilizações destes, na


perseguição da satisfação das necessidades empresariais e que são diversas.
O movimento é imperioso na vida empresarial e de acordo com a
tendência do mesmo distinguem-se os diversos aspectos da vida dos
empreendimentos.
Assim, por exemplo, cada material, em uma indústria, possui uma
velocidade própria, em relação ao tempo que entra na empresa, participa por
sua aplicação na produção e se escoa, incorporado aos produtos, na entrega
deste aos clientes, voltando, depois, a empresa a adquirir mais materiais,
aplicá-los e escoá-los, e, assim, consecutiva e constantemente.

Distinguem-se, nitidamente, diversos tempos e diversos movimentos.


Opera-se, aí, o que denominamos "rotação" ou "giro" do meio ou
componente patrimonial.
A rotação é, pois, uma relação entre o movimento de um elemento do
capital e a posição estática média do mesmo, em um período qualquer.
Sempre o movimento e o tempo em que este se opera, o elemento do
capital e seu curso, são os objectivos da observação.

1
MASI, Vicenzo - Stática Patrimoniale,vol. I, pag. 3, 3a edição, editor CEDAM, Pádua, 1945.
Ou seja:

2^ Mox -s- ( 2_i Esx H- n)

Portanto: A somatória do movimento de um meio patrimonial qualquer


durante um período ( M O X ) , dividida pela somatória das estáticas do mesmo
meio no mesmo período (Esx : n), determina o quociente de giro.
O movimento se determina pelo confronto das estáticas iniciais e finais
em face do que ocorreu de entradas.
Comparar posições estáticas e o volume dos elementos em suas
movimentações é uma forma de entender o quanto se repetem
movimentações similares em uma sequência de ocorrências.
Tais volumes, em entradas, saídas e permanências, repetindo-se,
determinam aspectos de uma vitalidade circulatória.
Assim, por exemplo o estoque inicial (Ei) de um período sendo $400,
as compras (C) $1.600 e o estoque final (Ef) $200, o movimento (Mo) terá
sido de $1.800, ou ainda:

(Ei + C) - Ef = Mo

Quando se realiza a circulação, todavia, ou seja, quando os materiais


viram produtos e estes se transformam em cambiais a receber ou em
dinheiro, novas funções irão ocorrer, com relevância própria; cada fase de
transformação enseja novos giros.
Esse ir e vir onde os elementos do capital se metamorfoseiam, são
circulações inequívocas.

Ou seja:

Dinheiro transformando-se em materiais, materiais em produtos,


produtos em cambiais a receber, cambiais a receber em dinheiro.

')
O repetir dessa sequência e de cada sequência circulatória é um giro do
elemento patrimonial que participa da transformação.
Circulação e giro não se confundem, pois, conceitualmente, em
doutrina contábil.
A circulação é a simples transformação de estado de um componente
da riqueza ou meio patrimonial, mas, o giro já é uma sucessão contínua
de circulações.

Logo:

a —> b= Ci

ou seja, um elemento patrimonial a, implicando em um elemento


patrimonial b, isto é igual a um movimento circulatório Ci.
A sequência dos movimento de a são giro, assim como os de b.

Logo:

2_i(a —> b)x = Gi


,v=l

Ou seja, a somatória de uma circulação qualquer, a um número


indeterminado é seu giro e este pode fixar-se desde que se conheça o factor
n, ou seja, quantas vezes a circulação se operou.
Cada componente tem seu próprio giro ou rotação, ou seja, tem a sua
própria velocidade.
Podemos definir, pois, a velocidade de um meio patrimonial como
uma relação entre as estáticas dos extremos2 desse mesmo meio e
o seu movimento 3 operada no mesmo período, de um tempo determinado.

~ Em terminologia de escrita contábil essas estáticas são denominadas de inventários, quando a


constatação da existência se operou fisicamente.
Geralmente, quanto aos meios patrimoniais, o movimento é determinado pelo custo dos bens
entrados e circulados. No exemplo que já referimos, no caso dos estoques, esse movimento seria o
das Compras. No caso dos créditos seria o valor cedido em razão de vendas a prazo.

10
Para fins didácticos, de maior esclarecimento, ainda, do que já foi
exposto, ampliemos os recursos de raciocínio sobre a matéria, com mais
exemplificações, apresentada sob outros ângulos, mas, também, válidos e
esclarecedores .
Admitamos, pois, a plena generalidade, aplicável a qualquer meio
patrimonial e a qualquer necessidade patrimonial, hipotetizando, em uma
linha, a imagem do fenómeno, da seguinte forma:

Estática Inicial (x) (y)Estática Final


Movimento (Mo)

Em decorrência dessa imagem, também seria possível estabelecer-se


uma fórmula matemática de expressão universal dos giros, sob outra forma
de expressão5, da seguinte maneira:

x+y
2

Ou seja: O movimento operado por um meio patrimonial ou


necessidade patrimonial (Mo), dividido pelo promédio das situações iniciais
(x) e finais (y) existentes em um período determinado é o Giro (G).
Sendo universal, repito, esta fórmula tanto se aplica a meios
patrimoniais (estoques, créditos a receber etc.) como a necessidades
patrimonais (dívidas e obrigações diversas etc.).

4
Dada a importância do fenómeno, para os teoremas que são desenvolvidos, não é demasiado
ampliar os ângulos de esclarecimentos sobre a questão.
5
Já que anteriormente apresentamos a fórmula, também válida, sob outro ângulo de enfoque:

n n

2^ Mox -s- (2^ Esx ■*- n)


x=\ x=\

11
A universalidade confirma o aspecto científico da observação desses
fenómenos.
Por isto é licito falarmos de rotação ou giro de materiais, rotação ou
giro de produtos, rotação ou giro de créditos a receber, rotação ou giro de
dívidas, etc. , como aplicações dessa generalidade descrita.
Tal fórmula genérica pode comportar variações, como derivadas, mas,
não excluir-se-á, jamais, o carácter de generalidade que a mesma contém.

Velocidade dos elementos do capital em relação aos


sistemas de funções
Cada giro, de cada componente, tem a sua expressão, em cada Sistema
de funções patrimoniais e é exactamente isto que minha teoria proclama e
onde ela se diferencia de outras formas de análise.
O julgamento sobre a qualidade do giro, depende do que ele
representa, não por si só, mas em relação a cada um dos sistemas de
funções.
O giro ou rotação, em análise contábil, deve ser uma medida relativa
em razão da função e não, apenas, do elemento patrimonial.
O que importa saber é como se comporta o movimento em relação a
cada utilidade que deve suprir.
Isto implica na observação de cada sistema de funções e de seus
próprios movimentos, onde os tempos são sempre variáveis.
Não me parece adequado falar-se da eficácia do giro de uma
mercadoria isoladamente, senão em relação ao que ele representa diante de
cada função patrimonial que deve executar.
O mesmo se passa com qualquer outro movimento de qualquer meio
patrimonial.
Um giro de mercadorias, de 90 em 90 dias, pode ser muito bom para
efeitos dos resultados da empresa, mas, prejudicial como meio de
pagamento, na liquidez.
Assim, por exemplo, esperar para vender feijão na entresafra, produz
maiores lucros, mas, pode prejudicar a capacidade de pagamento.

Os quocientes de rotação derivam-se do confronto entre posições estáticas e dinâmicas de um


elemento patrimonial, em um período de tempo qualquer, ou seja, o que se visa é conhecer quantas
vezes uma posição estática existente conseguiu renovar-se no tempo. Tais quocientes são
evidências da vitalidade dos componentes da riqueza.

12
O tempo de um giro pode ser muito bom, portanto, para um sistema de
funções (como o da resultabilidade, exemplificado) e ser ruim para outro
sistema (como o da liquidez, também do exemplo).
Logo, como teorem, podemos enunciar:

"O tempo de rotação ou velocidade de um elemento da riqueza,


produz efeitos variáveis, de acordo com a participação que possui cada
componente, em cada sistema de função patrimonial".

E também:

"A qualidade de uma rotação ou giro de um meio patrimonial se


mede de acordo com a sua participação em cada um dos sistemas de
funções dos quais participa, podendo ocorrer eficácia ou ineficácia de
acordo com a finalidade sistemática".

Portanto, afirmar, de forma categórica que o giro de mercadorias de 60


em 60 dias é bom, parece-nos contrariar a realidade.
É preciso que seja considerado o aspecto relativo do giro, em razão da
relatividade de cada sistema de funções.
Há uma qualidade de giro para a liquidez que pode não coincidir com a
qualidade de giro para a produtividade e nem para a resultabilidade e vice-
-versa.
O giro será favorável quando promover a eficácia em todos os
sistemas básicos de funções patrimonais, ou seja, atender a todos os tipos
de necessidades e isto é possível quando se estruturam os elementos do
capital em plena compatibilidade com a velocidade deles.
Em que limites tal composição deve operar-se é uma tarefa de quem
busca modelos de comportamento da riqueza para orientar os modelos de
decisões administrativas.

A Velocidade dos Sistemas de Funções Patrimoniais

A nós nos parece adequado falar de giros de componentes, mas,


também, de giros de sistemas de funções patrimoniais.

13
Há um giro determinável para um sistema, decorrente da somatória dos
giros dos meios patrimoniais e daquela dos giros das necessidades
patrimoniais.
Admitamos um exemplo, com o sistema de liquidez.
Já falamos sobre as variedades que se operam entre os diferentes
movimentos, ou seja, há um giro das mercadorias, um giro dos créditos a
receber, por exemplo, e a somatória desses nos oferece, em regime de
média, um giro dos meios de pagamentos.
Há um giro de dívidas a Bancos, um giro de dívidas a fornecedores e a
somatória nos oferece, também, como base de média, um giro das
necessidades de pagamentos.
O confronto desses giros de meios e necessidades nos oferece a média
do giro da Resultante do sistema da liquidez.
Tudo, pois, em sentido dinâmico, oferece uma Resultante Dinâmica,
medida por giros (que são expressões dinâmicas).
Consideremos um exemplo prático:
Giro de estoques de 90 em 90 dias; admitindo que o valor dos estoques
demonstrados em balanço é de $900.000,00, teremos um giro diário de
$10.000,00.
Os dias de giro, referidos, são aqueles que se obtêm pela divisão dos
dias do período em estudo pelo quociente de rotação.
Quociente de rotação, repetimos, é o resultado do confronto do valor de
movimento pelo valor dos estoques médios inventariados.
Imaginemos uma situação de giro também de 90 em 90 dias para os
créditos a receber e um valor a receber de $1.800.000,00, demonstrado;
teremo, nesse caso, $20.000,00 por dia.
Os meios de pagamento diários seriam de $10.000,00 + $20.000,00,
produzindo uma realidade de entrada diária, em média de $30.000,00.
Suponhamos que dentro dos mesmos raciocínios a saída, por
pagamento de dívidas e obrigações, seja da ordem de $15.000,00, diários.
Esse valor, suposto, deriva-se, também, do mesmo critério de confrontos, ou
seja, o do valor demonstrado em uma situação, dividido pelos dias de giro.

Na década de 60, elaboramos a nossa Teoria da Liquidez Dinâmica, apresentada à Real Academia
de Ciências Económicas y Financeiras da Espanha, muito antes de elaborarmos a nossa Teoria das
Funções Sistemáticas do Património.

14
Conhecidos os meios de pagamentos em médias diárias de realizações e
as saídas por obrigações, também em médias diárias de exigibilidades, o
confronto desses factores nos oferece a resultante 8do sistema de liquidez.
O cotejo seria de realização média diária dos meios de pagamentos
contra exigibilidade média diária de desembolsos em dinheiro ou
pagamentos compulsórios médios.
A Resultante do sistema nos indicaria, pois, dentro desse regime de
velocidade e valores, um quociente dinâmico de 2, representativo da
velocidade do sistema de liquidez.
Tais exemplos práticos de apurações dinâmicas nos mostram a medida
da velocidade do sistema, a partir do confronto da velocidade média de seus
componentes.

Logo:

"A velocidade de um Sistema de Funções Patrimoniais é uma


resultante das relações ponderadas e médias, entre as velocidades dos
meios patrimoniais e das necessidades patrimoniais do mesmo sistema".

E como corolário desse Teorema:

"Cada sistema de funções patrimoniais tem a sua própria


velocidade".

A velocidade sistemática, todavia, é sempre uma relação entre os


componentes do sistema e que basicamente são: os meios patrimoniais e as
necessidades patrimoniais pertinentes ao mesmo sistema.
Assim, por exemplo, na liquidez, os meios são os recursos para pagar e
as necessidades as dívidas que precisam ser resgatadas.
No sistema da resultabilidade a necessidade é a receita, ou seja, as
vendas que deverão suprir o regime de resultados e os meios são os
investimentos configurados nos custos e as margens de resultados que se
colocam nos preços para que a venda seja, então, suprida de elementos para
apresentar o produto no mercado.

Resultante de um sistema de funções patrimoniais, em nossa teoria, é o quociente entre os valor;


dos meios patrimoniais e as necessidades patrimoniais do mesmo sistema.

15
A velocidade com que os componentes de um sistema se movem é
que determina, pois, a dinâmica do Sistema e esta é uma medida de
eficácia ou de ineficácia, de acordo com cada caso e circunstância.

Velocidade e Universo Patrimonial


É possível obter-se a medida da velocidade de uma riqueza se partirmos
dessa sequência lógica de outras velocidades do complexo, ou sejam: dos
meios patrimoniais e dos sistemas.
A ordem deve ser a de conhecer a velocidade de cada Sistema e depois
a do total deles.
Um sistema de funções reúne específicas utilizações dos componentes
do capital na perseguição do suprimento de necessidades também
específicas.
Cada sistema tendo sua velocidade só a comparação da eficácia das
mesmas pode dar uma ideia do que ocorre com o universo do capital.
A velocidade da liquidez pode não ser a velocidade do sistema de
resultados e nem a dos dois aquela do sistema da protecção de riscos.
Portanto, a velocidade do Universo ou também dita Massa Patrimonial,
é aquela que se deriva da velocidade dos seus sete sistemas de funções.
Há, pois, uma rigorosa lógica nessa sequência, repetimos, ou seja: há
uma velocidade dos meios patrimoniais, uma velocidade do sistema e a
consequente velocidade do universo patrimonial.
Logo, como teorema, possuímos:

"A velocidade do universo patrimonial é resultado da somatória das


velocidades das resultantes dos Sistemas de Funções Patrimoniais."

Falamos, todavia, de uma velocidade da massa como se ela fosse


uniforme, mas, na verdade, é heterogénea e só de forma relativa é possível
conceber-se uma velocidade global.
Podemos expressar em números uma velocidade do capital como um
todo, mas tal forma nunca deixará de ser simbólica.
O que se constata, na realidade, é que existem elementos que possuem
por natureza o giro mais veloz e outros a mais longo prazo, mas, na
realidade, a tendência de toda a riqueza é a de realizar movimento.

16
O grupamento em "circulante", "realizável", "permanente",
"imobilizado" e outras denominações, prende-se a esse aspecto, todavia, se
analisarmos a questão sob o ponto de vista dos sistemas de funções, essa
classificação, eminentemente financeira, pode sofrer modificações e não
pode ser tomada como base para encontrar-se a velocidade do Universo
Patrimonial.
Esta a razão pela qual, o critério tradicional de demonstrações não é
apto para os estudos científicos mais complexos e necessita ser adaptado e
até abandonado, sob certas circunstâncias.
A partida dobrada, absolutamente lógica e válida, oferece apenas
aspectos demonstrativos estáticos e relativos aos sistemas que enfoca e que
são os da Estabilidade (evidência das posições patrimoniais em face do
equilíbrio) e os da Resultabilidade (evidência das posições de resultados);
no máximo, e ainda insuficientemente, tem-se tentado demonstrações das
circulações, sem um êxito completo e sem uniformidade (por falta de apoio
doutrinário).
A abrangência das partidas dobradas não tem sido explorada, ainda,
com todos os recursos que pode oferecer.
Em realidade, o que denominamos débito e crédito, é apenas a
evidência de causa e de efeito de um fenómeno, sem a abrangência de
muitos outros aspectos das relações lógicas que envolvem a efectivação dos
fatos contábeis.
Para fins de decisões administrativas, de estudos de comportamento
científico da riqueza, as informações ainda são insuficientes, na forma
tradicional em que se realizam e onde a preocupação básica foi e ainda é a
legalidade apenas.
O Princípio contábil da "essência sobre a forma", buscou corrigir, em
parte, o problema, mas, longe está, ainda, de alcançar uma abrangência, em
face das limitações dos critérios de registros tradicionais.
Quando se estudam os fenómenos da velocidade, todavia, para
estabelecer os teoremas, como bases de teorias em Contabilidade, é preciso
aprofundamentos de muito maior expressão.

17
Temporalidade Sistemática e Velocidade Eficaz
O estudo das ciências se processa através das relações dos fenómenos
observados, em um curso lógico de raciocínios que conduz às proposições
lógicas.
Na metodologia moderna da pesquisa, a colecta de um grande número
de informações constitui o primeiro passo e segundo Bravo e Marques,
observar e conjecturar são elementos que devem estar coligados
fundamentalmente na busca das verdades.
Nos domínios contábeis observamos e podemos juntar razões que nos
confirmem que o tempo de maturação de uma função patrimonial parece ser,
de fato, aquele em que a prestação da utilidade, pelo meio patrimonial,
consegue anular a necessidade, promovendo a eficácia.
Tal tempo de produção da eficácia, entendo, é o da temporalidade
funcional do meio patrimonial.
Percebe-se que não basta o movimento, não é suficiente a velocidade no
tempo certo se a eficácia não se promove, ou seja, se tais dimensões não
suprem as necessidades de forma a anulá-las.
Esta a primeira verdade que na prática comprovamos quando, por
exemplo, os preços que formamos são aptos para conseguirem a colocação
tempestiva dos produtos e a produção do lucro pertinente.
Contrariamente, se o estoque é pesado e não se desfaz no tempo hábil
para produzir recursos de pagamentos, também, a temporalidade não se
cumpre satisfatoriamente, pois, aquela eficaz seria a que não oferecesse
comprometimentos na liquidez.
A temporalidade, pois, é um tempo natural de utilidade, competente
para gerar a eficácia.
Uma velocidade no tempo, pois, harmónica com as necessidades, é
condição importante para que a empresa possa cumprir os seus objectivos
sem maiores problemas.

9
BRAVO, Lúcio E. Gonzales e MARQUES, Gustavo - Metodologia de la investigación,
Editorial de Belgrano, Buenos Aires, 1996, página 61 e seguintes.

18
No contexto empresarial, por conseguinte, é preciso que tais '
temporalidades sejam harmónicas e ocorram em todos os sistemas,
produzindo a eficácia em cada um deles e de forma que cada um influa
positivamente sobre o outro.
A esse fenómeno atribuímos a denominação de Interacções Perfeitas,
em nossa teoria das funções.
E justo, pois, falar-se de uma velocidade eficaz que dimana de
interacções perfeitas entre sistemas de funções patrimoniais.
Isto implica admitir-se um conceito de "velocidades harmónicas",
gerando "temporalidades harmónicas".
De todo esse conjunto de observações e raciocínios, com a produção de
conceitos definidos, pode-se construir o "Teorema da Temporalidade e
Velocidade Eficaz", cuja proposição lógica é a seguinte:

"Há uma temporalidade que satisfaz as interacções perfeitas dos


sistemas básicos do património e ela ocorre através da velocidade
harmónica dos giros dos meios patrimoniais, produzindo a velocidade
eficaz" ■

Há, sem dúvida, uma velocidade competente para cumprir, no tempo, e


em quantitativos e qualitativos suficientes, a anulação das necessidades
patrimoniais, ou seja, uma velocidade eficaz.
Ao analisarmos, portanto, as informações contábeis (e elas pouquíssimo
valem sem que sejam explicadas e interpretadas), devemos buscar as
relações eficazes que promovem a temporalidade sustentada por uma
velocidade eficaz.
Isto demanda o estudo da matéria desenvolvida neste trabalho, como
ponto de partida para a obtenção de caminhos para construção de modelos
contábeis de eficácia, para sustentarem modelos de decisões administrativas
racionais.

19
Bibliografia
ALUJA, Jaime Gil, La estimación de magnitudes económicas en el
processo de inversion, in "Anales", edição da Real Academia de Ciências
Económicas y Financieras, Barcelona, 1996
AMADUZZI, Aldo, II sistema dell'imprese nelle condizioni
prospetiche dei suo equilíbrio, 2a. edição, editor Angelo Signorelli, Roma,
1950.
BIGNAMI, Antonietta Amália, L'impresa e il suo equilibrio nei cicli
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BIONDI, Mário, Tratado de Contabilidad Intermedia e Superior, 4a.
edição, editorial Macchi, Buenos Aires, 1993
BRAVO, Lúcio E. Gonzales e MARQUES, Gustavo, Metodologia de la
investigación, Editorial de Belgrano, Buenos Aires, 1996
CAIADO, António Pires e GIL, Primavera Martins Daniel, Fluxos de
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CARQUEJA, Hernâni O., Valorimetria endógena das existências, in
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GIROLAMI, C, L'analyse et de l'optimisation du fonds de roulement,
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MALLO RODRIGUEZ, Carlos, Pasado, Present y Futuro de la
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MASI, Vicenzo, Statica Patrimoniale, vol. I, 3a edição, editor CEDAM,
Padua, 1945
SÁ, António Lopes de, A produtividade e a eficiência nos pequenos e
médios negócios, edição Ediouro, Rio de Janeiro, 1993
SÁ, António Lopes de, Teoria da Contabilidade Superior, edição IPAT-
-UNA, Belo Horizonte, 1994
SÁ, António Lopes de, Nuevos Rumbos Científicos en la Contabilidad,
em Suma, n°41, Maryland, USA, Junho de 1996
SÁ, António Lopes de, Teoremas da Rotação ou Giro dos meios
patrimoniais e a lógica da velocidade (Dinâmica do Capital), in JTCE,
Lisboa, Julho de 1996
SCHMALENBACH, Eugen, Dynamische Bilanz, edição G.A.
Gloeckner, Leipzig, 1926
WITTE, Eberhard, Die Liquiditàtspolitie der unternehmung, edição
J.C.B. Mohr, Tubingen, 1963

:>.()
A Associação Comercial de Aveiro - contributo para
uma história de 130 anos*

José Fernandes de Sousa


Prof. Adjunto do Quadro do
I.S.C.A..A..

Este trabalho evadiu-se do seio de um projecto para ser acolhido no âmbito de uma
Comemoração pela qual sobreviveu.
Permito-me transferi-lo, para um novo espaço, quase intacto - o que não quer dizer
imóvel, pois há certezas reforçadas, dúvidas que resistem , opacidades não vencidas e, até,
novas expectativas - , apesar da tessitura viável com as linhas de pesquisa sugeridas, que se
cruzam nesta rota de elite - a d'A Associação Comercial de Aveiro - , concebida e traçada por
elites regionais em consonância com ideais e interesses nacionais, que lhe emprestam toda a
sua espessura histórica.
Não se trata, ainda, da merecida história de uma prestigiosa Associação mais que
secular. Permanece um esforço no sentido de, a partir de informações e reflexões, tecidas
assumidamente com base na documentação produzida pela instituição - de valor histórico
inegável - , construir uma visão global que, sendo lacunar, não ultrpassa o período em que o
grémio aveirense se mantém autónomo, isto é, antes da sua integração no Estado Corporativo.
O título que escolhi para a palestra comemorativa - e que mantenho - espelha essa limitação.
Reitero aos Ex.mos Srs. António G. Videira e Milton S. Santos - digníssimos Presidente
e Secretário, respectivamente, desta prestigiosa Associação - os meus mais sinceros
agradecimentos pelo apoio efectivo que me concederam, nomeadamente pela forma aberta e
digna como fui acolhido naquela casa, onde trabalhei com prazer, pelo interesse com que
acompanharam a realização deste trabalho e o entusiasmo com que o receberam - , bem
expressos na publicação de uma Separata do Boletim Informativo da A. C. A. (nc101),
destinada aos sócios.

21
Sumário
1. Liberalismo e Movimento A ssociativo
2. Condições da Criação da Associação Comercial de Aveiro
3. Caracterização da Associação Comercial de Aveiro
4. A Associação Comercial de Aveiro e o Desenvolvimento Económico
Regional
4.1. O complexo lagunar
4.2. Fomento agrícola e Programa da Junta das Obras da Barra
4.3. Criação de gado
4.4. Comércio e transportes
4.4.1. O Canal de S. Roque
4.4.2. A Linha do vale do Vouga
4.5. Movimento A ssociativo
4.6. Ensino, Formação e Cultura
Concluindo
Anexos

■ 22
1. Liberalismo e Movimento Associativo
O processo de implementação do Liberalismo em Portugal tropeça nas
associações profissionais especializadas, as corporações do Antigo Regime,
e sacrifica-as aos princípios do individualismo e do liberalismo económico:
o Decreto que o Rei Soldado subscreve em 7 de maio de 1834 invoca o facto
de não se coadunarem com os princípios da Carta Constitucional e de
constituírem "outros tantos estorvos à indústria nacional que para medrar
muito carece da liberdade que a desenvolva e da protecção que a defenda"1.

A abolição dos entraves ao capitalismo não impede que teóricos e


políticos do liberalismo promovam o movimento associativo: chegam a
aceitar que a verdadeira reforma social estaria "num plano de associação de
todas as classes laboriosas"2, desde que "livre, espontânea, nascida das
conveniências individuais e não das prescrições da lei ou dos rigores do
sistema»3.
O movimento Associativo, apesar de as vicissitudes da construção da
sociedade liberal o penalizarem até finais do século XIX - se exceptuarmos a
constituição de 1838 - , toma novo fôlego e desdobra-se em múltiplas
formas: as tradicionais associações de socorros mútuos, cuja finalidade é
auxiliar os associados nos momentos difíceis da vida, as cooperativas, que,
pelo menos para alguns dos seus doutrinários, aspiram a constituir uma
alternativa à forma de organização social, e, finalmente, as associações de
classe4.

O movimento associativo envolve quase todos os grupos sociais, mas,


já em 1876, Costa Goodolphim, um dos seus estudiosos, reconhece que "a

1
Santos, Fernando Piteira, Direito de Associação, in Joel Serrão (Dir. de), Dicionário de
História de Portugal, vol. I Porto, Iniciativas Editoriais, 1971, p. 237.
2
Ferreira, Silvestre Pinheiro. Projecto de Associação para o Melhoramento da Sorte das
Classes Industriosas, in Maria Beatriz Nizza da Silva, Silvestre Pinheiro Ferreira: Ideologia e
Teoria, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1975, pp. 243 e ss..
3
Nogueira J.F.Henriques, Estudos sobre Reforma em Portugal, in Santos, Fernando Piteira,
Direito de Associação, in Joel Serrão (Dir. de), Dicionário de História de Portugal, vol. I
Porto, Iniciativas Editoriais, 197lp. 237.
4
Oliveira, César, O Socialismo em Portugal - 1850 - 1900, Porto, Afrontamento, 1973,
passim.

23
classe comercial, uma das mais numerosas, é aquela que mais tem
compreendido o princípio da associação, e a tem firmado em bases sólidas"5.
Não se pode estranhar esta realidade: os comerciantes têm uma tradição
associativa e no modelo económico da Regeneração, que se impõe na 2.a
metade de oitocentos, o comércio, a par da agricultura de exportação,
prevalece sobre a indústria6.
As associações comerciais vão surgindo, mesmo sem cobertura legal,
ao ritmo da evolução do processo económico capitalista e da tomada de
consciência local de que a sua formação pode contribuir para a defesa dos
interesses sindicados, para o progresso regional e o fomento nacional.

Que as associações de Lisboa (1834-1836) e Porto (1834) fossem as


primeiras a surgir é natural: são os dois maiores centros urbanos, poios de
desenvolvimento que bipolarizam o mercado interno e dominam o comércio
internacional - em valores 1854, 98,8% das exportações e 98,4% das
importações efectuadas por via marítima - , ao mesmo tempo que assumem
uma influência política inegável, pois se Lisboa é a capital do Reino, o Porto
é o referencial ímpar da Monarquia Constitucional.
As Associações de Lisboa e Porto servem de modelo às que vão
surgindo, quase pela ordem de importância do espaço económico em que
estão inseridas: Figueira da Foz, 1835; Covilhã (Fabril e Mercantil), 1840;
Viana do Castelo e Ilha Terceira, 1852; Aveiro 1858; Coimbra, 1863; Braga,
1864; Santarém, 1891, etc.

2. As Condições da Criação da Associação Comercial de


Aveiro

Em meados de oitocentos, Aveiro vive fundamentalmente da


agricultura: cerca de 57% da população do concelho trabalha no campo e
esta percentagem eleva-se para 93% no Distrito. A terra, à excepção dos

5
Goodolphim, Costa, A Associação, Lisboa, Seara Nova, 1974, p. 98.
Pereira, Miriam Halphern, Livre Câmbio e Desenvolvimento Económico - Portugal na
Segunda metade do sec. XIX, Lisboa, Cosmos, 1971, passim; Idem, Política Económica -
Portugal Secs. XIX e XX, Livros Horizonte, Lisboa, 1979, pp. 9 e ss..
Justino, David, A Formação do Espaço Económico Nacional. Portugal 1810 - 1913, vol. 1,
Vega, 1988, pp. 208 e 209. Obra fundamental para a compreensão da estrutura do espaço
económico português no período considerado.

24
cereais panificáveis em que Aveiro é deficitário, fornece-lhe o sustento -
milho, feijão, batatas, legumes, carne, pelo menos no interior - e ainda
alguns produtos de exportação, como as madeiras de pinho, e alguns
minérios, como as pirites8. Contudo, a parte mais dinâmica da sua economia
deriva desse conúbio genesíaco entre o mar e a terra - a Ria de Aveiro - ,
autêntica fábrica de sal, peixe e moliço, cuja produtividade se prende com o
estado da Barra.

Aveiro carrega, desde longa data, essa consciência aguda de que a sua
prosperidade depende do bom equilíbrio do complexo lagunar .
Nos finais do Século XVIII e princípios do século XIX o assoreamento
da Barra dificulta o acesso ao mar e a laguna corre o risco de se transformar
num pântano miasmático, junto ao qual a cidade poderia definhar.
A sua grande riqueza, a produção de sal, estava gravemente ameaçada,
representando apenas 1,2% da produção nacional, pois das 500 marinhas
existentes, apenas 188 estavam em funcionamento1".
Após porfiados esforços, a Barra é aberta em 1808, mas a falta de
sequência das obras de fixação dos areais não chega para dinamizar as
actividades da Ria.
A seguir à vitória liberal, os 3.000$00 reis de rendimento apurados na
Alfândega de Aveiro são modestos se comparados com os 34.885$00 reis da
Figueira da Foz ou com os 22.000$00 reis de Viana do Castelo, para não
falar do 1.087.474$00 reis da alfândega do Porto - se bem que à frente de
Esposende, Vila do Conde, Monção, etc. - isto é, ocupava o 3.° lugar entre
as alfândegas do Norte".

Justino, David, Problemas de História dos Preços: o Sal e o milho no mercado de Aveiro
(1862 - 1931), in Revista de História Económica e Social, Dir. de Vitorino Magalhães
Godinho, Julho/Dezembro, n.° 2 Lisboa, Sá da Costa, 1978, pp. 29 e ss. .
9
Gaspar, João Gonçalves, Aveiro - Notas Históricas, Ed. Da Câmara Municipal de Aveiro,
1983, pp. 97 e s s e 117 ess..
Justino, David, Problemas de História dos Preços: o Sal e o milho no mercado de Aveiro
(1862 - 1931), in Revista de História Económica e Social, Dir. de Vitorino Magalhães
Godinho, Julho/Dezembro, n.° 2 Lisboa, Sá da Costa, 1978, p. 31.
" Senão, J. Veríssimo, História de Portugal, Vol. VIII, Lisboa, Verbo 1986, pp. 288 e 289.

25
A nova ordem liberal, para a qual Aveiro contribui com os seus
mártires , vai apoiar o desenvolvimento da Região. As obras da Barra
iniciam-se sob o comando do engenheiro António Gonçalves Chaves, que
apoia o risco de nivelamento do Cértima, enquanto é posta a concurso a
empreitada de encanamento do Vouga até São Pedro do Sul13.

Apesar disso, Aveiro não cresce: as más condições de fixação da


população e a falta de edifícios para instalar as repartições públicas
despovoam a cidade a favor das localidades vizinhas. Uma representação ao
Governo, que o Conde de Tomar atende provisoriamente (1850), propõe a
transferência da sede do concelho para Esgueira que, "pela sua riqueza,
maior número de habitantes e posição central»" oferece melhores
condições'4.
Contudo, Aveiro, em meados de oitocentos, ocupa um lugar
privilegiado no comércio de cabotagem: em 1851 passam pela sua Barra
17.533 toneladas de mercadorias - 13.741 de exportações e 3.792 de
importações - , movimento que apenas é superado, ao nível dos portos
secundários, pelo da Figueira da Foz, devido ao peso das entradas, e de
Setúbal.
Este fluxo comercial com base no sal, leguminosas e papel, volta-se
essencialmente para o Porto com o qual mantém 67,5% de todo seu tráfego
marítimo: 78,42% de exportações (10.775 toneladas) e 27,61% de
importações (1.077 toneladas). A capital do Norte, entre 1859-1862, acolhe
75% do sal destinado ao mercado interno, pois apenas 25% segue
directamente para o interior. A Feira de Março (1855) o Porto envia 30%
dos comerciantes e 50% dos valores concorrentes15.
Esta avassaladora presença comercial do Porto é acompanhada por uma
apetência insaciável pelo espaço económico de Aveiro: em 1854 uma
comissão encarregada de avaliar as necessidades do seu comércio recupera
um conhecido projecto setecentista de construção de "um canal desde a Foz

~ Gomes Marques, Aveiro, Berço da Liberdade - a revolução de 16 de Maio de 1928, Aveiro,


Tip. Luso, 1928, passim.
Serrão, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, Vol. VIII, Lisboa, Verbo 1986, p. 230.
1
Idem, Ibidem, p. 252.
15
Justino, David, A Formação do Espaço Económico Nacional. Portugal 1810 - 1913, vol. I,
Vega, 1988, p. 283.

26
do Douro até Ovar, tornando a Ria de Aveiro navegável até Mira ou ainda
mais longe, e o Vouga até S. Pedro do Sul"16.
A praça de Aveiro compreende os objectivos da Foz do Douro e os
riscos do projecto: acesso directo à província da Beira e forte concorrência
no seu espaço comercial. Como alternativa a tal melhoramento, Aveiro
propõe um maior empenhamento do Governo nas obras da Barra e bate-se
pela recuperação do selo da sua alfândega - que lhe fora retirado, como,
aliás, a outros portos do Norte, por alvará de 22 de Novembro 1774, sob
pretexto de uma verificação mais eficaz dos fluxos aduaneiros - , cujo
monopólio o Porto forceja por conservar17.
Começam a esboçar-se as condições para o aparecimento de uma
associação comercial: Aveiro, afastado do comércio externo, acantonado
junto ao mar no seu anfiteatro natural, quase isolado por terra, com a
segunda maior potência comercial a disputar-lhe o seu natural espaço
económico, não poderia ficar indiferente, nomeadamente os seus
comerciantes, que devem ter começado a pensar numa organização mais
eficaz da sua defesa.

A Regeneração, no âmbito do Fontismo, vai realizar melhoramentos


importantes em Aveiro.
As obras da Barra, que o estrénuo defensor da política melhorista, José
Estevão, considera não "igrejinha política nem preocupação de terra natal,
mas interessa à economia geral do Estado"18 , arrancam em 1859 com a
abertura de um canal de acesso, cujos reflexos são evidentes na recuperação
das salinas e no movimento da Barra19.
Nesse mesmo ano a Câmara de Aveiro é uma das 40 autarquias a
receber a medalha de bronze dos esponsais de D. Pedro V e da Rainha D.
Estefânia20, facto que não pode deixar de revelar a importância que a cidade
vem assumindo.

16
Idem, Ibidem, p. 268.
17
Idem, Ibidem, p. 209.
18
Gaspar, João Gonçalves, Aveiro - Notas Históricas, Ed. Da Câmara Municipal de Aveiro,
1983, p. 152.
19
Justino, David, Problemas de História dos Preços: o Sal e o milho no mercado de Aveiro
(1862 - 1931), in Revista de História Económica e Social, Dir. de Vitorino Magalhães
Godinho, Julho/Dezembro, n.° 2 Lisboa, Sá da Costa, 1978, p. 31.
20
Serrão, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, Vol. IX, Lisboa, 1986, Verbo, p. 213.

27
Aveiro, com uma única saída por terra - a estrada que passava ao lado
da fonte dos Amores rumo à Palhaça, Mamarrosa, Cantanhede, Coimbra -
consegue ver concluída, antes da década de setenta, a sua rede viária básica.
Na década de cinquenta, fica ligada à via rodoviária Lisboa - Porto; o
troço Aveiro - Albergaria (1854), continuando em 1863 - 1864, seguirá para
Viseu; em 1856 fica riscada a estrada que liga Aveiro - Penacova por
Oliveira do Bairro, Malaposta, Anadia e Luso; em 1861 está concluída, pela
Gafanha da Nazaré, a ligação ao forte da Barra que, pouco depois, seguirá
para a Barra e Costa Nova do Prado; em 1862 arranca a estrada que, por
Eixo, Eirol, Travassô aproxima Aveiro de Águeda, para depois seguir rumo
à Covilhã, via Tondela - , não sem que antes, 1869, tenha surgido a variante
que, com três pontes de ferro, une Eixo a São João de Loure. A ligação ao
sul do Distrito, a única que faltava, arranca em 1867 por Ílhavo, Vagos e
Mira - - um concelho que, em 1855, fora trocado, com Coimbra, pelo da
Mealhada.
A ligação ao Norte e ao Sul do País ficará reforçada com o bem
sucedido apoio de José Estevão, que aproximou de Aveiro o traçado do eixo
ferroviário Lisboa - Porto: em 1863 é inaugurada a ligação ao Norte,
aperfeiçoada com a conclusão da ponte Maria Pia, em 1877; a ligação
efectiva-se em 1864, após aterro do Cojo21

3. Caracterização da Associação Comercial de Aveiro


Qual o papel da Associação Comercial de Aveiro na política melhorista
de oitocentos?
Vamos tentar caracterizar o grémio aveirense e definir o seu papel no
processo de desenvolvimento regional na 2.a metade do século XIX,
avançando o mais possível, com base na investigação desenvolvida, pelo
século XX.

A Associação Comercial de Aveiro fica institucionalizada em 25 de


Novembro de 1858. Assume-se como "a reunião de todos os comerciantes
nacionais e estrangeiros da mesma cidade, legalmente admitidos" e visa
" Promover o desenvolvimento do Comércio, indagando todos os meios

21
Gaspar, João Gonçalves, Aveiro - Notas Históricas, Ed. Da Câmara Municipal de Aveiro,
1983, pp. 163 ess..

28
legais para prover como mais convier à prosperidade deste importante ramo
de riqueza nacional" no espaço económico do Distrito, ao mesmo tempo que
recusa a "discussão ou ingerência em quaisquer assuntos alheios aos
interesses mercantis"22.

A vida da Associação, até à década de 90, carece, pelo menos até ao


momento, de base documental.
Pensamos que o seu arranque foi lento: se a 9 de Setembro de 1858,
ainda antes da aprovação dos estatutos, a lei consagra a eleição anual de um
vogal seu para a Junta das Obras da Barra, a inscrição dos primeiros sócios
de que temos conhecimento sucede apenas em 1864: 35 aderentes21. Os seus
fundadores - entre os quais se encontra Sebastião de Carvalho Lima (1821 -
- 1896), que se impôs pela sua "auto-cultura, pela sua agudeza de espírito,
pela prontidão da resposta, pela mordacidade da sátira, pela serenidade fria,
pela inteligência penetrante, pela acção política, social e económica"
desenvolvida em Aveiro24, (foi Presidente da Câmara, da Junta Geral do
Distrito e co-fundador da Caixa Económica, "instituição simpática e
benemérita, de que por muito tempo foi a alma, e até a vida, nas situações
difíceis")23 - e promotores - como Nicolau Anastácio Bettencourt,
activíssimo Governador Civil de Aveiro, natural do Funchal, onde nasceu a
14 de Fevereiro de 1810, no dizer de Costa Goodolphim, "um dos caracteres
mais respeitáveis"26, detentor das Ordens de Cristo, Conceição, etc. - não a
deixariam permanecer numa atitude expectante face à dinâmica económica e
social de Aveiro.
Costa Goodolphim assinala uma iniciativa desencadeada para preservar
a operacionalidade da Barra: em 1873, uma representação sua ao Governo,
dá conta do seu atafulhamento e propõe-lhe um pedido de empréstimo, cujos

~~ Estatutos da Associação Comercial de Aveiro e seu respectivo Regulamento, 3.a parte, Art.
1.°, 2." e 4.°, Aveiro, Minerva Central, 1895, p. 3
Goodolphim, Costa, A Associação, Lisboa, Seara Nova, 1974, p. 108. O autor refere 32
associados, mas os documentos da Ass. referem 35.
Gaspar, João Gonçalves, Aveiro - Notas Históricas, Ed. Da Câmara Municipal de Aveiro,
1983, p. 146.
Associação Comercial de Aveiro, Relatório e Contas do Ano de 1896, Aveiro, Minerva
Central, 1897, p. 5. Aí se refere que S. C. Lima foi sócio fundador e várias vezes presidente
da Direcção da Ass. Com. de Aveiro.
26
Goodolphim, Costa, A Associação, Lisboa, Seara Nova, 1974, p. 196.

29
encargos a Associação se dispõe a assumir através do lançamento de um
imposto, cerca de 3 contos anuais, sobre o fluxo comercial da Barra27.

Que outras acções desenvolveu a Associação Comercial de Aveiro até à


década de 90?
Não o sabemos, por agora, mas a perda de terreno face ao centralismo
estatal, nomeadamente no que se refere à Junta da Barra, na sequência da
Reforma dos Serviços Hidráulicos na década de 80, revela a sua fraqueza -
que é, afinal, a impotência de uma cidade de Província face à Capital que,
esteada na política dos transportes e comunicações, constrói um Estado
Moderno e talha um mercado nacional que reforça o seu poder económico,
social e político no contexto nacional, facto que acontece mesmo em relação
à Capital do Norte.
O "Regulamento para a Execução dos Estatutos", aprovado em 12 de
Março de 1895 — quase 37 anos após a data da sua fundação - parece
revelar o empirismo do seu funcionamento anterior e o despertar para uma
nova vida. Este "Regulamento ..." - com 53 artigos, contra os 24 dos
Estatutos dei858 - , mais parece um projecto de novos estatutos que,
elaborado com base numa experiência associativa, e ensaiado ao longo de
uma década, com pequenas alterações, desemboca nos estatutos de 1905.

A colectividade aveirense renasce, com novo vigor, no seio de


mutações estruturais da sociedade portuguesa finessecular: a crise política
do Ultimam (1890) acorda o país do sonho impossível do Mapa Cor de
Rosa, agita os brios nacionalistas e provoca um abalo "sem paralelo desde as
invasões napoleónicas", diria Basílio Teles; a crise económica assume ,
desde pelo menos 1890 - 91, uma face comercial, em resultado da crescente
queda da procura dos produtos agrícolas pelos países europeus,
nomeadamente Inglaterra e aprofunda-se com a crise financeira de 1898,
agravada pelas importações crescentes que, com os 50 países credores a
pretenderem intrometer-se na gestão das finanças públicas, faz perigar a
independência nacional; a crise social manifesta-se na agudização das
tensões sociais, motivadas pela crescente passagem das relações de
colaboração à luta de classes, pois se a burguesia resolve o problema do
escoamento dos produtos agrícolas e industriais, com a inflexão das trocas

Idem, Ibidem, p. 111.

30
para o mercado colonial, os trabalhadores debatem-se com a queda brutal
dos salários reais; e, finalmente, a crise ideológica, bem patente no
desencontrado fervilhar de ideias em busca de soluções que o
republicanismo promete conseguir com uma força quase mística, que se
torna a base do seu triunfo político.

O desafio é enorme e as respostas republicanas foram insuficientes: as


tarefas de reorganização do Estado, as reacções monárquicas, a Primeira
Guerra Mundial, a inflação geradora da carestia de vida, a agudização dos
confrontos sociais, a recorrente crise financeira, o desgaste da sua base
social de apoio e a impossibilidade de adoptar, no contexto do capitalismo
mundial, um novo modelo de desenvolvimento, com base na
industrialização, tudo isto vai lançar o país para fora de um enquadramento
liberal e democrático-8.
Esta complexa realidade nacional não pode dispensar as energias e a
lucidez do movimento associativo para resolver os problemas nacionais: a
lei de 9 de Maio de 1891 sanciona a formação das associações de classe.
A colectividade aveirense afoita-se nas novas condições gerais da
sociedade portuguesa que, além de lhe oferecerem o impulso para o seu
"renascimento", a partir de "um pequeno núcleo de sobreviventes" , "após
alguns anos de imobilidade"29, não deixarão de lhe modelar o carácter, de se
reflectir nos fins prosseguidos, nos meios utilizados, no funcionamento
interno e nas acções desenvolvidas.
A nova associação plasmada no regulamento de 1895 assume-se como
associação de classe e liga-se a objectivos mais vastos, quais sejam os de
"Promover e defender os interesses e direitos do Comércio, da Indústria e
Navegação do Distrito de Aveiro."30

Nos estatutos de 1905, elaborados após 10 anos de experiência


associativa, desaparece a denominação explícita de "associação de classe",

Pereira, Miriam Halphern, Livre Câmbio e Desenvolvimento Económico - Portugal na


Segunda metade do sec. XIX, Lisboa, Cosmos, 1971, passim; Idem, Política Económica -
Portugal Secs. XIX e XX, Livros Horizonte, Lisboa, 1979, passim
29
.Associação Comercial de Aveiro, Relatório e Contas do Ano de 1896, Aveiro, Minerva
Central, 1897, p. 4.
Estatutos da Associação Comercial de Aveiro e seu respectivo Regulamento, 3.a parte, Art.
1.", 2." e 4.°, Aveiro, Minerva Central, 1895, Art. 2.° do Regulamento, p. 7

31
facto que parece significar a recusa do princípio sindical da irredutibilidade
de interesses dos diferentes grupos sociais que se vinha instalando na
sociedade portuguesa. A ausência de uma referência estatuária à Navegação,
se não deixa de significar o arrefecimento da mística colonial, a 15 anos do
Ultimatum, bem pode envolver uma tomada de consciência de que mais
importante do que o mercado colonial seria para Aveiro o mercado nacional
e europeu, nomeadamente o espanhol, pois seria mais difícil esperar destes a
absorção dos seus excedentes - produtos da Ria, carne, produtos hortícolas e
pomícolas - do que do mercado colonial, quase só receptivo aos nossos
vinhos e a alguns têxteis.

A defesa dos interesses do Comércio e da Indústria passa pela firme


adesão estatutária aos ideais do liberalismo, com relevo para a política dos
melhoramentos materiais, centrada na valorização do complexo lagunar e
suas estruturas de apoio, e para a promoção do saber das "luzes", bem
patente nas preocupações com a formação geral e profissional, quando se
dispõe a "subsidiar quaisquer estabelecimentos de instrução onde
principalmente sejam leccionadas disciplinas que constituem a educação
indispensável a um bom empregado do comércio" 31, com a formação
contínua, presente no desejo de criar "uma biblioteca, um gabinete de leitura
de livros e publicações adequadas aos seus fins"12 e com a informação
assinalada nos propósitos de lançar um "Boletim Informativo" , capaz de
acompanhar, através de conhecimentos úteis, o exercício da actividade
profissional33.

A Associação alarga a base social e geográfica de recrutamento dos


seus associados: podem tornar-se sócios efectivos - aos quais assiste o
direito e o dever de participar a todos os níveis na vida da colectividade -
aqueles que no espaço económico do Distrito se dedicam às actividades
comerciais e industriais ou conexas, tais como "oficiais da marinha

31
Estatutos da Ass. Com. e Industrial de Aveiro, Aprovados em Sessão Ordinária da Assem-
bleia Geral de 18 de Fevereiro de 1904, e ratificados em Sessão de 29 de Dezembro do
mesmo ano, Aveiro 1905, Art. 3.°, § 5, Minerva Central, 1905, folha 3.
" Estatutos da Associação Comercial de Aveiro e seu respectivo Regulamento, 3.a parte, Art.
1.", 2.° e 4.°, Aveiro, Minerva Central, 1895., Regulamento Art. 1 § 1.
"Estatutos da Ass. Com. e Industrial de Aveiro, Aprovados em Sessão Ordinária da Assem- -
bleia Geral de 18 de Fevereiro de 1904, e ratificados em Sessão de 29 de Dezembro do
mesmo ano, Aveiro 1905, Art. 3.°, § 5, Minerva Central, 1905, Art. 49°, folha 16.

32
mercante, os gerentes ou agentes e correspondentes dos bancos e
companhias e, excepcionalmente, os indivíduos que não pertencendo à
classe comercial e industrial se recomendem pela sua instrução e
probidade", 34 mesmo sem "serviços relevantes prestados ao comércio e
indústria do Distrito", como exigia o Regulamento de 1895. Além disso,
mantém a categoria de sócio correspondente - "os que residindo fora de
Aveiro contribuíram com informações, esclarecimentos ou quaisquer
serviços de utilidade para com o comércio e indústria locais» - e cria a
categoria de sócio honorário - "os indivíduos que prestarem serviços
relevantes ao comércio e indústria desta cidade" (Art.° 4.° § 2 e 3).
Esta abrangência, se tem como objectivo primordial revitalizar a
associação, dando-lhe força representativa, põe a descoberto a mobilidade
da sociedade portuguesa, na qual novos grupos socio-económicos adquirem
estatuto invejável; e revela que , mesmo em associações de classe, as
solidariedades horizontais podem conviver com as verticais, isto é, a
consciências de classe define-se mais pela convergência de interesses do que
pelas relações de propriedade.

A abertura da Associação a personalidade recomendadas pela sua


"ilustração e probidade", isto é, a intelectuais capazes de alinhar pelos
interesses da elite económica, visa tornar mais esclarecida a sua acção no
contexto melindroso da evolução da sociedade portuguesa.
A exclusão dos estrangeiros dos órgãos de gestão da Associação,
reflecte, creio, a onda de nacionalismo, exacerbado pela cobiça colonial do
expansionismo europeu e pelo esbulho africano da velha aliada, e não
esconde a animosidade que resulta da impotência de conter a agressiva
concorrência económica dos estrangeiros.
A estrutura organizativa da Associação é simples: a Assembleia Geral,
"sede do poder soberano", elege uma Mesa constituída por três membros -
- Presidente, Secretário e Vice-Secretário - e a Direcção, composta por cinco
membros - Presidente, Secretário e três Directores, dentre os quais sai, por
eleição da Direcção, o Tesoureiro - e por cinco elementos substitutos - uma
inovação que procura obviar ao vazio das funções administrativas e
gexecutivas.

Idem, Ibidem, Art. 4.°, § 1.°, folha 3.

33
Estes dois órgãos, dentro do princípio da separação de poderes,
aparecem totalmente distintos, deixando o Presidente e o Secretário da
Direcção de acumular os mesmos cargos na Assembleia Geral.
A gestão é assegurada gratuitamente, por dever dos sócios, e os
serviços auxiliares dispõem apenas de um cobrador, que assegura a
percepção das quotas, e de um escriturário, que se encarrega do expediente,
mas apenas desde 1901, ano em que a Associação tem sede própria, em
prédio alugado3'.

A colectividade aveirense é uma pequena associação: a sua força


sindical atinge o máximo em 1905, com 227 sócios efectivos e 4 honorários,
e a sua capacidade financeira não ultrapassa os 525$845 reis, receita de
190836.
A debilidade da estrutura organizativa e do poder financeiro da
Associação realça o papel das suas Direcções - por onde passaram distintos
aveirense, tais como o Dr. Edmundo Magalhães Machado, Gustavo Ferreira
Pinto Basto, Domingos José dos Santos Leite, etc. - na definição de uma
estratégia centrada na mobilização dos sócios, dos aveirenses, das forças
vivas da terra e de personalidades políticas influentes - entre as quais
emerge o conselheiro Francisco de Castro Matoso da Silva Corte-Real,
irmão de Luciano de Castro, que foi chefe do Partido Progressista nos finais
do século XIX e presidente de Governos - e na escolha de um projecto
regional de acordo com as opções da Monarquia Constitucional -
melhoramentos materiais e fomento económico, educação e formação
profissional - , e do movimento associativo - a solidariedade profissional e
social, patente na consagração estatutária do dever de prestar auxílio aos
filhos dos sócios falecidos, cuja orfandade os deixasse em dificuldades.
A eficácia da sua acção deriva igualmente do seu afastamento de
questões alheias ao espírito de uma associação de classe - as religiosas e
político-partidárias.
Em 1901, um dos elementos da sua Direcção tenta uma representação
ao Governo sobre a questão das congregações religiosas, sendo-lhe recusado

35
A. C. A., Livro de Actas da Direcção da A. C. A., Sessão de 25/10/1901.
36
A. C. I.A., Relatório da Associação Comercial e Industrial de Aveiro, Ano de 1905,
Minerva Central, 1906, pp. 7, 9 e ss.. Relatório da Direcçaão da Ass. Com. e Industrial de
Aveiro - Ano de 1908, Aveiro, Minerva Central, 1909, p. 27.

34
seguimento "por julgar de carácter estranho aos fins da associação"37.
Idêntica recusa espera o pedido de Apoio da Associação de Lojistas de
Lisboa para uma representação sobre a questão académica e os actos
ditatoriais do governo38.
Esta isenção não a inibe de apoiar ou Promover festas cívicas e
religiosas ou recepções a monarcas e membros do governo, com frequentes
deslocações a Aveiro, nesta viragem do século.

As simpatias republicanas instalam-se na Associação Comercial de


Aveiro, após o 5 de Outubro - a mudança política colocou na presidência da
Direcção o Dr. André Reis, aquele que no dia 7 de Outubro hasteou nos
Paços do Concelho a bandeira do Centro Escolar Republicano, de recente
criação, 190939 - , ficando bem patentes na saudação dirigida ao Ministro da
Guerra pelo malogro da incursão anti-republicana, em que se distingue o
capitão aveirense Maia Magalhães, e no decidido apoio ao anunciado 1.°
Congresso Republicano, embora sem perder de vista "que ao comércio da
terra vem, sem dúvida, trazer grandes vantagens"40.

Na turbulência da sociedade portuguesa, estas atitudes não deixaram de


ser apontadas de facciosas. Em 1919, uma proposta de circular, assinada por
51 sócios, destinada a mobilizar comerciantes e industriais, faz eco dessas
acusações: "há quem diga que esta colectividade em qualquer tempo serviu
interesses públicos de qualquer facção", mas "a actual Direcção" reitera,
com toda a veemência, " que só procurará servir os interesses defensáveis do
seus associados e da cidade de Aveiro"41.
A República vai criando os seus cépticos, sem dúvida, mas este esforço
directivo assinala uma clara consciência de que a perda de uma imagem de
isenção política, desencadeada com a mudança de regime não favorece a
vida do grémio aveirense e provoca a deserção dos seus associados,
reduzidos a pouco mais de uma centena.

37
A. C. A., Livro de Actas da Direcção da A. C. A., Sessão de 09-04-1901.
38
A. C. I. A., Livro de Actas da Direcção da A. C. e I. De Aveiro, Sessão de 27-05-1907.
39
Gaspar, João Gonçalves, Aveiro - Notas Históricas, Ed. Da Câmara Municipal de Aveiro,
1983, pp. 188 e 189.
40
A. C. I. A., Livro de Actas da Direcção da A.C. I. A., Sessão de 05-02-1913.
41
Idem, Ibidem, Sessão de 16-01-1919.

35
Os Estatutos de 193142, embora decalcados, pelos de 1905, retiram aos
indivíduos "ilustrados e probos", alheios à actividade comercial e industrial,
o direito de serem sócios efectivos, isto é, de participarem activa e
directamente na orientação da associação - restrição que, mais do que uma
nova consciência de classe, significa a vontade de reservar o espaço
associativo às questões profissionais.
Estes são ainda os Estatutos de uma Associação autónoma, mas, já em
Julho de 1930, o Dr. Salazar lhe permitia adivinhar o seu lugar, após a
revolução política em curso: " a expressão mais fiel do que qualquer outra
do sistema representativo" deve passar pela "intervenção directa dos
organismos componentes da nação - família, freguesias, municípios e
corporações" - na "constituição dos corpos supremos do Estado"43.
Vem aí a Constituição de 1933, o Estatuto do Trabalho Nacional e a
legislação complementar, que erguem o Estado Social e Corporativo, em
cuja arquitectura, a colectividade aveirense, metamorfoseada em Grémio do
Concelho de Aveiro, a custo se acomoda.

Se aceitarmos a versão da comissão Directiva, em carta dirigida ao


subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social, a Associação
Comercial e Industrial de Aveiro deixara de existir na década de 30: "a
maioria" teria desertado por não pactuar com a sua transformação em
"centro reviralhista" e os restantes encerraram a porta logo que tiveram
conhecimento da sua integração na estrutura do Estado Corporativo44.

4. A Associação Comercial de Aveiro e o


Desenvolvimento Económico Regional
Nos finais Século XIX, vive-se na Associação Comercial de Aveiro um
clima de optimismo, bem patente na convicção de que a cidade saiu "dessa

A. C. I. de Aveiro, Estatutos da Ass. Com. e Industrial de Aveiro (Ass. de Classe),


Aprovados por Alvará de 24 de janeiro de 1931, Aveiro, Gráfica Aveirense, L.da. 1932.
43
Sousa, Manuel Alberto Andrade e, O Corporativismo. Sua história, evolução e reflexos no
Comércio, através dos tempos, Vila Nova de Famalicão, 1971, p.8
44
Comissão Directiva do Grémio do Comércio de Aveiro, Carta ao Subsecretário de Estado
das Corporações e Previdência Social, Aveiro, 4 de Janeiro de 1941, pp. 1, 2 e 3.

36
espécie de marasmo que por tantos anos tem tolhido o seu natural
desenvolvimento"45.

4.1. O Complexo Lagunar

A acção do grémio aveirense volta-se prioritariamente para a


valorização do complexo lagunar.
As 60.000 toneladas de produção anual de sal, as 12.000 toneladas
anuais de peixe, vindo do litoral (quase só sardinha), cujo valor ascende a
250 - 300 contos, os 50 contos de valor anual da pesca da Ria e os 100
contos de capital investido pelas empresas em S. Jacinto46 - cálculos da
própria Associação para 1899, ela que foi a grande dinamizadora da
rigorização da medida e da estatística nas actividades da Ria de Aveiro -
impõem este complexo económico como "a melhor fonte das suas riquezas e
o principal factor da sua actividade comercial e industrial"47.
No seguimento das suas preocupações com a pesca abusiva na Ria,
desloca-se a Aveiro um técnico da Comissão Central de Pescarias, o Eng.
Albert Alexandre Girard, cujas investigações, ao mesmo tempo que revelam
a riquíssima variedade de espécies da Ria, 52, 48 fornecem as bases
científicas para o "Regulamento da Indústria da Pesca e Apanha do Moliço",
uma das aspirações da Associação, em estudo desde 1905, e conduzem à
criação de um "Corpo de Polícia Fluvial" que virá, em 1908, a ser dotado de
uma lancha a vapor49.
Em Agosto de 1899, a Associação requer ao Capitão do Porto de
Aveiro a integração de dois representantes seus - Francisco Augusto da
Fonseca Regala, professor do Liceu de Aveiro, e José Ançã Júnior, natural
de Ílhavo na "Comissão Local de Pescarias" de cuja competência espera

A. Comercial de Aveiro, Relatório da Direcção da Ass. C. de Aveiro no ano de 1899,


Aveiro, Minerva Central, 1900, p. 26.
46
A. C. A., Resposta à Circular do Ex.mo Senhor Ministro da Obras Públicas às associações
Agrícolas, Comerciais e Industriais do país, Aveiro, 1898, pp. 29 e 30.
Relatório da Dir. da Ass. Com. e Ind. de Aveiro no ano de 1899, Aveiro, Minerva Central,
1900, pp. 34 e 35.
47
A. C. de A., Relatório da Direcção A.C.A. no Ano de 1897, Aveiro, Tip. Comercial, 1898,
pp. 45 e 46.
48
A.C.A., Relatório e Contas do Ano de 1896, Aveiro, Minerva Central, 1897, p. 7.
49
A. C. e Industrial de Aveiro, Relatório da Dir. da A. C. I. A. - ano de 1908, Aveiro,
Minerva Central, 1909, p. 26

37
preciosa ajuda na regulamentação da pesca da sardinha nas diferentes
regiões do País50.
A operacionalidade do porto de abrigo e a navegabilidade dos canais da
Ria merecem-lhe a maior vigilância. Reclama, e vai conseguir, a
permanência de um rebocador, a reforma do "Corpo de Pilotos da Barra",
com Estatutos aprovados desde 1905, a vinda de uma draga e material
complementar" - esse benefício do maior alcance económico"51 - , a limpeza
do canal que conduz a Ovar e o Cais dos Mercanteis, usado para a descarga
do pescado vindo do litoral.
A Associação luta ainda por um plano de prioridades na execução das
obras da Barra que privilegie "os trabalhos de que resultasse não só uma
utilidade imediata, mas que melhor satisfizessem as conveniências do
movimento marítimo da Ria", cujo critério esbarra com "a pertinaz e
caprichosa obstinação do chefe das obras"52, técnico dos Serviços
Hidráulicos.

Esta dissidência deixa claro que a Associação tem, para a gestão do


complexo lagunar, uma estratégia descentralizadora - aliás ensaiada noutras
Barras do País.

No seu horizonte imediato está a recuperação de um organismo de base


local - a sua proposta vai mesmo no sentido da prevalência do elemento
local sobre o central - capaz de responder com eficácia aos problemas da
Barra. O grémio aveirense bate-se por uma Junta das Obras da Barra dotado
de autonomia financeira - com base no subsídio anual de 6 contos e na parte
da colecta do Real de água, o Real da Barra, cuja base de incidência fiscal,
tradicionalmente o vinho e carne, deseja ver alargada - , com funções
administrativas - inspecção e fiscalização, não só das obras da Barra, mas de
todas as actividades da Ria - e capacidade "deliberativa - em relação às
prioridades de execução do plano que vier ser aprovado. A sua criação e
instalação, em Julho de 1898, satisfaz no essencial os votos da associação, -
- nela representada pelo seu Presidente, um vogal (e não dois), - que a

A. Comercial de Aveiro , Relatório da Direcção da Ass. Com. de Aveiro no ano de 1899,


Aveiro, Minerva Central, 1900, p. 53.
51
A. C. A., Relatório e Contas no Ano de 1896, Aveiro, Minerva Central, 1897, p. 8.
52
A.C.A., Relatório da Direcção da Ass. Com. da Av. no ano de 1897, Aveiro, Tip.
Comercial, 1898, pp. 17e20.

38
considera "um grande passo dado para a prosperidade e regeneração
económica da nossa terra"53.

4.2. Fomento Agrícola e Programa da Junta das Obras da


Barra

Desde 1889 que, em Portugal, se ensaia uma política de fomento


agrícola, tendente a recuperar o déficit cerealífero com base num original
proteccionismo - garantia do preço do trigo e importação condicionada - que
desemboca na Lei de Elvino de Brito, de 1899, considerada por uns a Lei
benemérita e por outros a Lei da fome - uma contradição que resulta do
agravamento de preço do trigo e do pão, que afecta gravemente o nível de
vida dos trabalhadores e beneficia os agricultores e os moageiros.
É dentro deste contexto preparatório da "lei dos cereais" que o ministro
solicita às Associações Comerciais, Industriais e Agrícolas a sua
colaboração na definição dos meios conducentes à regeneração económica
do país.
A Associação aproveita para delinear algumas considerações sobre o
fomento agrícola e as questões regionais.
O diagnóstico que avança das condições do atraso da agricultura do
Distrito revela um exacto conhecimento dos seus principais problemas:
excessiva divisão da propriedade e descontinuidade das parcelas familiares,
bloqueamentos técnicos e falta de formação do agricultor, que o tornam
pouco receptivo aos novos processos de modernização agrária.
As soluções que preconiza inserem-se na orientação das reformas
liberais que, ao arrepio das razões económicas que aconselham uma
alteração do regime de propriedade, não conseguem ladear as condições
socio-políticas e propor alterações da estrutura fundiária.
Contudo, considera possível vencer as resistências do mundo rural: o
camponês, "muito activo e não estúpido", tornar-se-à receptivo aos novos
processos agrícolas - rotação de culturas, selecção de sementes, de adubos
químicos, mecanização, etc. - , se lhe forem assinaladas, de forma palpável,
as sua vantagens. Para isso propõe, dentro dos princípios da pedagogia
activa, aquela que melhor se adapta à idiossincrasia do camponês, a criação
de estações agronómicas piloto servidas por bons funcionários que, com

Idem, Ibidem, Passim e p. 13.

39
base em experiências lançada nas terras dos agricultores mais inteligentes,
desenvolvam uma acção geradora de disposições críticas favoráveis à
adopção dos modernos processos agrícolas54.

O complexo lagunar, com terrenos alagados, dunas, ria e barra, é


perspectivado através de um conjunto de medidas que configuram um
autêntico plano integrado de fomento e valorização de todas as
potencialidade desse espaço económico.
Os terrenos salgados, depois de uma correcta fixação dos limites da
propriedade, uma tarefa complexa em que o Estado terá de continuar a
intervir, devem ser destinados, conforme o nível das suas cotas, à cultura de
cereais, ao estabelecimento de viveiros e de salinas e à cultura do moliço.
As areias movediças, em parte responsáveis, quando sopradas pelo
vento, pelo assoreamento dos terrenos, esteiros e barra, devem ser
imobilizadas pela arborização sistemática e aproveitadas, com a ajuda das
lamas dragadas, para a cultura agrícola de cereais e ervagens.
As diferentes formas de valorização do complexo lagunar, apresentadas
numa óptica de custos e proveitos, com recurso ao método estatístico e
comparativo, permitem-lhe considerar que, "ao fim de vinte anos apenas, o
rendimento dos terrenos transformados cobrirá já todas as despesas das
dragagens da Ria, do revestimento progressivo dos areais, dos juros e
amortização de todos os capitais gastos até essa data»55.

Este plano de fomento, que apresenta a vantagem de na crítica situação


do país se assumir auto-financiado, integra-se conscientemente numa
"política de fixação" centrada na valorização territorial, na criação de
emprego útil, no abrandamento do surto migratório, na superação do déficit
cerealífero de Aveiro e do país e permite realizar o sonho dos aveirenses - "o
ideal dos seus filhos mais queridos" - , qual seja o da "regeneração material
e económica das condições de navegabilidade e serviço marítimo da Barra e
Ria de Aveiro"56.

A. C. A., Relatório da Dir. da Ass. Com. e Ind. de Aveiro no ano de 1899, Aveiro, Minerva
Central, 1900, pp. 5 e ss..
55
Idem, Ibidem, p. 23
56
Idem, Ibidem, p. 23

40
A concretização deste projecto envolve uma reserva significativa: a
desconfiança em relação ao Estado-empresário, como agente da sua
realização. A comparação que adianta entre baixa rendibilidade do projecto
silvícola estatal da Torreira e o projecto de valorização das Gafanhas,
"executado por um limitado número de colonizadoras rudes e analfabetos,
mas habilmente dirigidos"57, cujos terrenos, ao fim do primeiro ou segundo
ano, conseguem altos níveis de produtividade, é acompanhada de acerada
crítica à capacidade empresarial do Estado.
O poder central já conhece o recado: a Associação, em consonância com
as aspirações locais, privilegia a descentralização, a iniciativa privada, com
base no contrato, e considera que o processo de desenvolvimento de Aveiro,
nomeadamente o do complexo da Ria , passa pela orientação de uma
entidade local - A Junta das Obras da Barra - , à qual se destina, penso, este
programa de colonização dos areais do litoral.

4.3. Criação de Gado

No âmbito do fomento agrícola, a associação aparece, por sugestão de


alguns agricultores mais atentos às orientações do Congresso da Liga
Agrária do Norte, a promover a selecção do gado bovino, "forma de
protecção prática e eficaz à indústria dos lacticínios e engorda", actividade
da qual espera o "desafogo do agricultor". Propõe, de imediato, como forma
de arranque de um processo mais vasto, a criação experimental de postos de
reprodução de gado bovino no concelho de Aveiro onde, a partir de "uma
escolha mais escrupulosa dos reprodutores", se ensaie o aperfeiçoamento da
raça bovina - como aliás vinha sendo feito com a raça cavalar, com base no
apoio do serviço de remonta do exército - , em função do destino dos seus
efectivos, leite, engorda ou trabalho58.
Esta aposta na qualidade, face à perda dos mercados europeus
invadidos por carne das colónias, impulsiona uma medida mobilizadora dos
agricultores, nomeadamente os criadores de gado de engorda: aconselha a
Câmara de Aveiro a criar um mercado "puramente proteccionista" de cereais
e gado e estabelece um prémio para os melhores expositores, a distribuir

3/
Idem, Ibidem, p. 18
A C. de A. , Relatório da Direcção da Ass. Com. de Aveiro no ano de 1897, Aveiro, Tip.
Comercial, 1898, p. 51.

41
durante a Feira de Março, dia 25, que, após a feira da madeira, se vê de novo
alargada.59
Este mercado, inaugurado a 25 de A bril de 1899, apesar de
"desanimado e escasso", não lhe retira o mérito de iniciar as mostras do
gado bovino, desde 1914 - 24 e 25 de Julho - , alargadas ao gado cavalar e
lanígero, criando a A ssociação, para cada uma das espécies, um prémio
pecuniário no valor de 10 escudos60.

4.4. Comércio e Transportes

4.4.1. O Canal de S. Roque

A Associação empenha-se decididamente na construção de um cais de


desembarque dos produtos da Ria, capaz de realizar uma ligação eficiente
entre o centro produtor e a rede viária.
O seu projecto centra-se no Canal de S. Roque, a Norte da cidade, que
devia ser alargado até ao Senhor das Barrocas e marginado por duas vias,
estrada e ramal, em toda a sua extensão de 1.500 metros, com ligação aos
■, ■ 61
respectivos nos viários .
A obra visa uma função económica: a descarga directa das mercadorias
para os meios de transporte adequados fica facilitada e provoca a diminuição
de tempo e de custos; mas o facto de essa infra-estrutura desviar os
carreteiros do centro da cidade e acabar com o espectáculo do sal e peixe
podre, espalhados ao longo do percurso, torna palpáveis as suas vantagens
sanitárias e estéticas, nomeadamente para aqueles que, como A ssociação,
orgulhosos da beleza do Distrito, desejam promover as suas potencialidade
turísticas, alindando a sua sala de visitas.

59
A. C. A., Relatório da Direcção da Ass. Com. d'Aveiro no Ano de 1900, Aveiro,Minerva
Central, 1901 p. 17.
60
A. C. I. A. Relatório da Direcção da As. Com. e Industrial de Aveiro - Gerência do Biénio
de 1913 e 1914, Aveiro, Minerva Central, 1915, p.34; Livro de Actas da Direcção, Sessão de
09.07.1914.
61
A.CA., Relatório da Direcção da Associação Comercial de Aveiro no Ano de 1898,
Aveiro, Minerva Central, 1899, pp. 16 e ss..

42
O ano de 1899 assiste à aprovação parcial do projecto: o alargamento
do canal e a estrada iniciam-se com a concessão de 3 contos . O ramal
ferroviário exige uma luta prolongada: a Associação demonstra à
Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses a rendibilidade do
projecto e, "dada a garantia de lucros"63, ameaça promover a criação de uma
companhia que se proponha construí-lo e explorá-lo; ao Rei D. Carlos é
representado que "seria um verdadeiro atentado ao progresso e prosperidade
dos povos" travar a construção do ramal .
Tudo em vão: o Tesouro exauriado e o receio dos particulares
inviabilizaram a obra65. A República veio a reconhecer o seu interesse, mas,
ao nível da concretização, apenas se conseguiu um pequeno ramal, sem
qualquer funcionalidade, condenado a desaparecer .

4.4.2. A Linha do Vale do Vouga

Nos finais do século XIX, o País tem uma rede viária, nomeadamente
ferroviária, aceitável. Aveiro está ligada a essa rede e pode levar os seus
produtos até à Europa... ou ficar-se apenas pela Espanha, mas a Associação
Comercial de Aveiro quer uma linha de penetração no interior que melhor
defina o seu espaço comercial.
Quando em 1899 toma conhecimento de que o projecto de via reduzida
Aveiro-Viseu, já estudado, aprovado e concessionado desde 1896, está
ausente do "Plano de Viação Acelerado", lançado pelo Governo, não hesita
mobilizar todos os meios ao seu alcance, incluindo o comício público, para
viabilizar a execução da obra67.
Numa representação ao Rei, ao mesmo tempo que exalça as vantagens
dessa via de penetração no interior, acusa que tal "preterição representa uma
injustiça na distribuição dos benefícios públicos". E, numa clara consciência
do que está em jogo no processo de estruturação da rede viária, adianta: "a

62
A. C. A., Relatório da Direcção da A C. A., Ano de 1899, Aveiro, M. Central, 1900, p. 25.
63
Idem, Ibidem p. 43.
64
Idem, Ibidem p. 47.
65
Idem, Ibidem p. 22.
66
A. C. e I. de Aveiro, Relatório da Direcção da As. Com. e Industrial de Aveiro - Gerência
de 27 de Julho de 1911 a 31 de Dezembro de 1912, Aveiro, Minerva Central, 1913, p. 20;
Relatório da Direcção da As. C. e Industrial de Aveiro - Gerência do Biénio de 1913 - 1914.
Aveiro, Minerva Central, 1915, p. 35
67
A. C. A., Livro de Actas da Direcção da A. Com. de Aveiro, Sessão de 24.12.1899.

43
zona natural de Aveiro, limitada pelo Vouga e montanhas que o ladeiam,
perde capacidade de concorrência que os novos meios de comunicação
determinam"68.
Após vicissitudes várias o melhoramento é aprovado pelo Governo de
Luciano de Castro (1905), "a cujos esforços se deve a aprovação final"69
pelo Parlamento.
A Associação mantém-se atenta à execução da Obra, tendo nela
intervenções decisivas: apoia um novo traçado, que favorece Eixo e
Águeda70, e desencadeia a reacção de Aveiro à disposição de a companhia
concessionária, ao arrepio do que ficara combinado, se preparar para dar
prioridade ao terminal de Espinho, facto que ameaçaria, com a sua
concorrência, o comércio do pescado de Aveiro na Beira Interior71.

A defesa do espaço económico regional da intromissão de estranhos


desvela-se não apenas nas iniciativas que promove ou apoia, mas igualmente
nas que recusa: o prolongamento da linha de Torres até Aveiro, desejado por
Mira, é acolhido com frieza, ficando claro que a questão devia ser encarada
exclusivamente "sob o ponto de vista de estreitar as relações entre Aveiro e
as importantes povoações de Ílhavo, Vagos e Mira72; o apoio solicitado pela
Associação Comercial da Figueira da Foz para obras no seu porto de mar
recebe uma resposta realista: estando o de Aveiro a necessitar de
melhoramentos, "inutilmente reclamados, reconhece a impossibilidade em
que está de aceder aos desejos daquela agremiação"73.
O esforço de criar justas condições de concorrência aflora na guerra
que tem de travara com a Real Companhia dos Caminhos de Ferro
Portugueses a favor da fluidez do tráfego, dificultado ora por falta de
pessoal ou de material circulante, ora por horários inadequados, prejudiciais
ao comércio de sal e especialmente ao de peixe fresco, que, pela Linha da
Beira, segue para os centros industriais do interior, pois "a rapidez de

A. C. A., Relatório da Direcção da Associação C. I de Aveiro, Ano de 1905, Aveiro,


Minerva Central, 1906, p. 31.
69
A. C. A., Livro de Actas da Direcção da A. C. I. de Aveiro, Sessão de 12.121906.
A. C. I. A., Relatório da A.C. e Industrial de Aveio, Ano de 1908, Aveiro, Minerva Central,
1909, p. 23.
71
A. C. I. A., Livro de Actas da Direcção da A. C. I. A., Sessão 14.01.1907.
72
A. C:A, Livro de Actas da Direcção da A. C. A., Sessão de 03.10.1904.
73
A. C. I. A., Livro de Actas da Direcção da A. C. I. A., Sessão de 05.08.1907.

44
transporte representa aumento de valor da mercadoria"74; desvela-se no
esforço desenvolvido para fazer baixar o preço das tarifas, que, conjugadas
com as mais baixas praticadas no Vale do Mondego, ameaçam o comércio
de Aveiro; e patenteiam-se, ainda, nas oportunas reclamações contra a
injusta concorrência dos vendedores ambulantes.

4.5. Movimento Associativo

O grémio aveirense reconhece que o ressurgimento económico nacional


passa pelo desenvolvimento do movimento associativo.
O Sindicato Agrícola do Distrito de Aveiro, constituído em 1899,
resulta de uma iniciativa da Associação, a sugestão do Ministro das Obras
Públicas, Elvino de Brito, de visita a Aveiro. A Associação promove a
elaboração de uma visita de todos os agricultores individuais que, "pela sua
ilustração, posição social e conhecimentos úteis, estivessem no caso de
concorrerem para a constituição de uma colectividade". Após o 1.° ano de
exercício é a própria Associação que considera evidentes os serviços
prestados à agricultura por esse "melhoramento de subida importância"75.
Em 1903, no seguimento de reclamações dos proprietários das salinas
acerca do "modo absurdo de realizar a venda de sal, sem medida certa,
sujeita a todo o capricho e contingência", a Associação desencadeia um
processo que conduzirá à fundação da "Associação dos Proprietários das
Marinhas", da qual espera, para além da defesa dos seus interesses, uma
maior solidez da indústria do sal e uma melhoria das condições de vida dos
marnotos, "que estão longe de ser felizes"76.
A colectividade aveirense cultiva o espírito associativo e mantém
relações com inúmeras associações do País: Lisboa, Porto, Figueira da Foz,
Coimbra, Braga, Vila Real, etc., figurando o Presidente da Associação
Comercial de Viana do Castelo, pelo menos desde 1911, no quadro dos
sócios honorários da associação aveirense.
A Associação acompanha, desde 1908, a iniciativa da Associação dos
Lojistas de Lisboa de reunir o 1.° Congresso Nacional das Associações

A. C. I. A, Relatório da Direcção da A. C. I. A. no Ano de 1898, Aveiro, Minerva Central,


1899, p. 33.
75
A.C.A., Relatório da Direcção da A.C.A. no Ano de 1899, Aveiro, M. Central, 1900, p.20.
76
A. C. A. Relatório da Direcção da A. C. A. no Ano de 1903 , Aveiro, M. Central, 1904,
p.ll.

45
Comerciais e Industriais, nele se fazendo representar através de 2 delegados,
Dr. Alberto Souto e António Maria Marques da Costa, aquando da sua
realização, de 2 a 7 de Maio de 191477.
Não lhe escapa a atitude do associativismo patronal face ao surto do
movimento operário que, em 1914, sob o signo do sindicalismo
revolucionário, cria em Tomar a União Operária78. As suas reacções contra
as greves são decididas e organiza em Aveiro, diante do Governo Civil, uma
jornada de luta contra a lei das 8 horas de trabalho, uma das conquistas do
movimento operário, acentuando a forma gravosa como estava a ser
implantada. Apoia, pelo menos desde 191979, os trabalhos preparatórios do
1.° Congresso das Associações Patronais que a Confederação Patronal
Portuguesa, aparecida em 1921, sendo uma das 60 Associações
representadas80.

4.6. Ensino, Formação Profissional e Cultura

A Associação trilha o ideal utilitário do Ensino profissional e


compreende o seu enorme alcance social e nacional: a classe média precisa
de novas saídas profissionais e o país de técnicos à altura dos desafios da
concorrência internacional, pois esta "não perdoa e, sem excepção, escolhe
para os seus protegidos, os mais capazes"81.
A crescente complexidade da actividade comercial faz-lhe sentir, pelo
menos desde 1897, a necessidade de um Curso Elementar de Comércio que
privilegie as Línguas estrangeiras e "os processos mais simples e exactos de
escrituração". O objectivo é claro: quer formar, em Aveiro, profissionais
competentes destinados "ao comércio local e ao das possessões
ultramarinas", numa clara alusão à sangria emigratória dos aveirenses para

77
A. C. I. A. Relatório da Direcção da A. C. I. A. - Gerência do biénio de 1913 e 1914,
Aveiro, Minerva Central, 1915, p. 33; Livro de Actas da Direcção da A. C. I. A., Sessão de
12.04.1914.
78
Oliveira, César, A Criação da União Operária Nacional, Porto, Afrontamento, 1973.
79
A. C. I. A., Livro de Actas da A. C. I. A., Sessão de 04.12.1919.
80
Marques, A. H. de oliveira, (Dir. de), História da 1.° República Portuguesa - as Estruturas
de Base, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1978, p. 408.
81
A.C. A., Relatório da Dir. da A. C. A. no Ano de 1900, Aveiro, M. Central, 1901, p. 21.

46
as colónias, onde "os estrangeiros concorrem bem armados de saber, capitais
e protecção das respectivas nações"82.
Em 1907, quer transformar a escola Fernando Caldeira, - já alargada
por influência da Associação com a disciplina de Desenho decorativo, "um
precioso instrumento de Educação"83 - , dotando-a com o ainda não
conseguido Curso Elementar de Comércio e com oficinas de carpintaria e de
cerâmica, actividades propícias à aplicação prática do Desenho84 - um eco da
influência das "Escolas de Aplicação Alemãs" que, com reflexos na
pedagogia Sergiana, deslumbravam a elite pedagógica do País.
O interesse da República pelo Ensino Profissional - e a teimosia dos
aveirenses, nomeadamente do Dr. Alberto Souto - trouxe a Aveiro o Curso
Elementar de Comércio (1913-1914), mas o Curso de Pilotagem, igualmente
aprovado, encontra no Senado resistências insuperáveis.

O Ensino Liceal, que o ano de 1852, por influência de José Estevão, vê


aparecer em Aveiro, não é esquecido: desde 190585 que a Associação, com
base na realidade económica e social de Aveiro, reclama a promoção do
Liceu de Aveiro a Liceu Central como forma de evitar o excesso de alunos
nos actuais liceus centrais, "o que, evidentemente, considera, não pode
convir à boa ordem do ensino"86.
Em 1914, a ameaça de retirar de Aveiro a Escola Normal, criada em
1897, não a deixa inactiva: faz subir ao poder os graves inconvenientes que
pesariam sobre a cidade e os concelhos vizinhos, após a saída da Escola
"onde vêm habilitar-se os que hão-de ser professores e educadores das novas
gerações" .

No domínio cultural, dispõe-se a fundar na própria sede, integrada nas


Comemorações do Centenário do Nascimento do prestigioso tribuno
aveirense, a Biblioteca Popular José Estevão. A realização deste projecto,

82
Idem, bidem, pp. 20 e 21.
A. C. A., Relatório e Contas do Ano de 1896, Aveiro, Minerva Central, 1897, pp. 10 - 11.
4
A. C. I. A., Relatório da Direcção da A. C. I. A., Ano de 1907, Minerva Central, 1908 p
22
85
A. C.I.A., Livro de Actas da Direcção da A.C.I.A., Sessão de 10.02.1905
86
A. C. I. A., Relatório da Direcção da A. C. I. A. - Gerência do biénio de 1915e 1916
Aveiro, Minerva Central, 1918, p. 35
87
A. C.I.A. Relatório da Direcção da A. C. I. A. - Gerência do biénio de 1913 e 1914, Ano de
1908, Aveiro, Minerva Central, 1915, p. 24.

47
nomeadamente a aquisição de livros, merece-lhe especiais cuidados:
esforça-se por mobilizar "todos os que trabalham na República das letras",
solicita à Câmara a inscrição de uma rubrica orçamental de 50$00 reis
anuais e cativa 15% da sua receita média ordinária - facto inédito, onde se
colhe a importância atribuída a uma iniciativa que se perde nas vicissitudes
políticas da mudança de regime88.

Concluindo, podemos afirmar que durante este período a Associação


está aberta a todos os problemas que a rodeiam, promove soluções e não se
furta a apoiar os projectos em que acredita. Não se limita a agir no domínio
dos grandes melhoramentos materiais, sociais e culturais, mas acompanha
igualmente os protestos contra a violência dos impostos, verbera o excesso
de zelo do fisco ou a sua falta por parte do Banco de Portugal, em relação ao
estado das moedas em circulação, critica os meandros jurídicos que
dificultam a cobrança de pequenas dívidas, compromete-se vivamente na
luta pela permanência dos militares em Aveiro e pela dignidade do Exército,
reclama obras no Asilo, etc., enquanto reivindica comboios que, na época de
Verão, desçam ou subam até Aveiro para permitir às populações o gozo das
belas praias do seu Distrito.
A colectividade aveirense conquista um prestígio que lhe confere o
estatuto de interlocutor dos interesses regionais: o Poder recorre aos seus
serviços no sentido de solucionar as questões nacionais; as aspirações locais
não raro vêem nela o canal privilegiado de acesso aos centros de decisão; e
as inúmeras associações congéneres do País, aliás dentro do espírito de
solidariedade associativa, não se esquecem de solicitar o seu apoio às
representações com que tentam influenciar as opções políticas.

Qual o segredo do sucesso desta pequena Associação de província ?

Sem dúvida, o trabalho e a dedicação à causa do desenvolvimento de


Aveiro. Mas igualmente o apoio firme e concertado dos deputados
aveirenses que, preferindo a "acalmação" ao afrontamento partidário,
conseguem manter-se atentos às aspirações regionais; o bom entendimento
com as forças vivas regionais, nacionais e o povo de Aveiro; a
disponibilidade, quase sem limites, de personalidades influentes nas esferas

A.C.I.A., Relatório da Dir. da A.C.I.A., Ano de 1908, Aveiro, Min. Central, 1909, p. 24.

48
do Poder, sempre vigilantes e dispostas a apoiar as justas aspirações dos
seus conterrâneos; e, finalmente, a inteligência com que a colectividade
aveirense soube evadir-se de uma acanhada visão corporativa e inserir as
suas propostas, de cunho vincadamente regional, na estratégia de
desenvolvimento nacional.

A lição - a do passado - aí fica !89

A palestra terminou da seguinte forma:


Basta, minhas senhoras e meus senhores.
O futuro já chegou e será bem mais longo e auspicioso que o pretérito.
São os meus votos.
Muito obrigado.

49
ANEXOS"" :

A ortografia dos documentos foi actualizada.

50
I. Estatutos da Associação Comercial de Aveiro90

Capítulo I
Da Formação, objecto efins da Associação
Artigo 1.° - A Associação Comercial de Aveiro é a reunião de todos os
comerciantes nacionais e estrangeiros da mesma cidade, legalmente
admitidos.
§ 1.° - A admissão é regulada pelos presentes estatutos.
§ 2.° - O associado pode ser expulso por deliberação da Assembleia
Geral, e sobre exposição motivada da Direcção.
Artigo 2.° - O objecto desta Associação é de promover o
desenvolvimento do comércio desta cidade e do distrito, indagando as suas
necessidades, e procurando todos os meios legais para prover como mais
convier à prosperidade deste importante ramo de riqueza nacional.
Artigo 3.° - Os negócios da competência da Associação serão tratados e
decididos em Assembleia geral, ou pela Direcção.
Artigo 4.° - É defesa a discussão ou ingerência em quaisquer assuntos
alheios aos interesses mercantis.

Capítulo II
Da Assembleia Geral
Artigo 5° - A Assembleia Geral reunir-se-á todas as vezes que for
convocada pela direcção, ou quando a sua convocação for requerida por
quatro ou mais associados.
Artigo 6.° - As suas decisões formam-se pela pluralidade absoluta dos
membros da Associação, que se acharem presentes.
Artigo 7.° - Haverá reunião da assembleia geral no dia 15 de Janeiro de
cada ano, para proceder à eleição do Presidente e Vogais da Direcção.
Artigo 8.° - Compete à mesma Assembleia:
1.° - Aprovar ou rejeitar os projectos ou propostas que lhe forem
apresentados pela Direcção ou pelos associados, sobre quaisquer assuntos de
que possa resultar utilidade ao comércio, e bem assim as petições,
representações ou queixas sobre matérias comercias de interesse geral, que
hajam de ser dirigidas pela Associação aos poderes superiores do Estado;

A.C.A., Estatutos da Associação Comercial de Aveiro e seu respectivo Regulamento,


Aveiro, Minerva Central, pp.3 e ss..

51
2.° - Votar a soma precisa para custeamento das despesas ordinárias da
Associação, ou quaisquer outras que houverem de efectuar-se.
Artigo 9.° - A Associação Comercial de Aveiro não reconhecerá como
representação do comércio desta cidade, senão aquela que for aprovada e
dirigida pela Assembleia Geral.

Capítulo III
Da Associação
Artigo 10.° - A Associação é representada pela Direcção, composta de
Presidente, Secretário e três Directores, eleitos por escrutínio secreto dos
associados presentes.
Artigo 11.° - São válidas as decisões da Direcção da Associação
Comercial de Aveiro que forem tomadas por três dos seus membros.
Artigo 12.°- Pertence á Direcção:
1.° - Toda a administração económica da Associação;
2.° - A eleição do Tesoureiro, que será um dos Directores;
3.° - Nomear os serventes necessários, arbitrar-lhes ordenados e
regular-lhes as obrigações;
4.° - Prover nos casos urgentes em benefício do Comércio;
5.° - Dar execução e seguimento às resoluções da Assembleia Geral.
Art.° 13.°- A Direcção entreterá correspondência com todos os portos
nacionais e estrangeiros que julgar conveniente.
Art.° 14.° - A Direcção reunir-se-á uma vês cada mês; além desta
reunião mensal, haverá sessão extraordinária da Direcção, todas as vezes
que for mister.
Art.° 15° - O Presidente e Secretário da Direcção exercem
cumulativamente os mesmos cargos nas reuniões da Assembleia Geral da
Associação.
Art.° 16.° - A Direcção funciona por espaço de um ano, e pode ser
reeleita.
Art.° 17.° - A Direcção cessante apresentará um relatório da sua
gerência à Associação reunida por ocasião de proceder à eleição da nova
Direcção.

52
Capítulo IV
Dos direitos e deveres dos associados
Art.° 18.° - Todos os comerciantes nacionais e estrangeiros
compreendidos na acepção do artigo 35 do Código Comercial podem ser
admitidos na Associação; e assim gozam dos direitos dos associados, e se
sujeitam aos correlativos deveres.
§ único - São considerados desde já como sócios todos os que se acham
inscritos na lista de criação da Associação, estando nas circunstâncias
requeridas.
Art.° 19.° - Todo o negociante que pretender associar-se, deve requerê-
lo à mesa da Direcção, e pode também ser proposto por algum dos
associados. Depois de havido o assentimento dela, é reputado associado; e
como tal se inscreverá no competente livro.
Art.° 20.° - Todo o associado pode apresentar à direcção e à
Assembleia Geral as propostas que bem lhe parecer relativas ao comércio.
Art.° 21.° - Haverá um regulamento interno para a casa da Associação
Comercial.
Art.° 22.° - Os associados são obrigados ao pontual cumprimento do
dito regulamento e poderão ir, todas as vezes que quiserem, à casa da
Associação, para examinar os livros e mais papeis que houver, ou para
apresentar visitantes de qualquer outra praça, assinando-se no respectivo
livro.
Art.° 23.° - O correspondente da Associação fica por esse facto na
categoria de associado sem contribuir para as despesas.

Capítulo V
Disposições gerais
Art.° 24.° - Qualquer reforma com alteração dos presentes Estatutos só
poderá ser realizada com aprovação da Assembleia Geral, e depende para
sua validade da confirmação do Governo.

(Estes Estatutos foram aprovados por Decreto de 25 de Novembro de 1858)

53
II. Regulamento para Execução dos Estatutos91

Capítulo I
Associação e seus fins
Artigo 1.° - A Associação Comercial de Aveiro é uma associação de
classe, com a sua sede em Aveiro. O seu fim, em conformidade do disposto
no artigo segundo dos Estatutos, é promover e defender os interesses e
direitos do Comércio, Indústria e Navegação do distrito de Aveiro, usando
para o conseguir os seguintes meios:
1.° - Criar uma biblioteca e um gabinete de leitura, de livros e
publicações úteis e adequadas ao seu fim;
2.° - Promover conferências, prelecções, ou simples práticas sobre
assuntos de reconhecida utilidade para o Comércio e Indústria;
3.° Promover a convivência entre os associados procurando quanto
possível tornar amigáveis as relações de uns para os outros;
4.° - Representar perante os poderes públicos sobre qualquer assunto
que tenda a beneficiar o Comércio, Navegação e Indústria do distrito;
5.° - Estabelecer relações e correspondências com as sociedades de fim
idêntico, e com os principais centros do Comércio e Indústria do distrito;
6.° - Empregar finalmente toda a sua actividade para manter os direitos
e regalias do Comércio, Navegação e Indústria do distrito, investigar as suas
necessidades e procurar conseguir os possíveis benefícios a estes
importantes factores de riqueza pública.
§ único - A medida que os seus meios de acção o forem permitindo irá
a Associação dando cumprimento ao disposto nos números antecedentes.
Art.° 2 .° - A Associação é representada pela Assembleia Geral dos
associados a qual, depois de regularmente constituída, delega os seus
poderes em uma Direcção eleita todos os anos, em harmonia com as
respectivas disposições dos estatutos.
Art.° 3.° - A Associação adoptará um timbre especial, tendo ao centro
um emblema do Comércio e inscrição do título em volta.
Art.° 4.° - Todos os documentos emanados da Associação ou da sua
Direcção, serão selados com o timbre a que se refere o artigo antecedente.

91
Idem, Ibidem, pp. 9 e ss..

54
Capítulo II
Assembleia Geral
Art.° 5.° - A Assembleia Geral compõe-se de todos os sócios efectivos
da Associação Comercial de Aveiro.
Art.° 6o. - A mesa da Assembleia Geral é composta de um Presidente e
de um Secretário, os quais pela disposição do artigo 15.° dos Estatutos são
os mesmos da Direcção.
Art.° 7.° - Quando a qualquer das suas reuniões deixe de comparecer, à
hora marcada, o Presidente da Direcção, a Assembleia Geral nomeará dentre
os sócios presentes quem o substitua na presidência, procedendo do mesmo
modo para com o Secretário, quando este deixe também de comparecer.
Art.0 8.° - A Assembleia Geral é convocada pelo Presidente para dia,
hora e local certo, por avisos individuais por escrito, com antecedência de
um dia pelo menos.
§ único - Em casos urgentes poderá este prazo ser reduzido a seis horas,
declarando o Presidente à Assembleia o motivo da urgência.
Art.° 9.° - A Assembleia considera-se constituída quando a ela compa-
receram pelo menos 20 associados .
Art.° 10.° - Quando no dia designado para a reunião da Assembleia
Geral não compareça, à hora marcada, número suficiente de sócios para ela
se poder constituir, ficará a reunião emprazada para o dia seguinte, à mesma
hora e no mesmo local, podendo então a Assembleia funcionar com
qualquer número de associados que se ache presente.
Art.° 11.° - As reuniões da Assembleia geral são ordinárias ou
extraordinárias.
§1.° - Consideram-se reuniões ordinárias a prescrita no artigo T. dos
Estatutos, a qual terá lugar no terceiro Domingo do mês de Janeiro, e a que
lhe deve suceder no Domingo seguinte.
§ 2° - Consideram-se reuniões extraordinárias todas as que, além das
ordinárias, forem convocadas pela Direcção, ou requeridas pelos associados,
nos termos do artigo 5.° dos Estatutos.
Art." 12.° - Quando a reunião extraordinária da Assembleia Geral tenha
lugar a requerimento dos associados, não poderão estes ser menos de quatro,
declarando por escrito ao Presidente qual o assunto que desejam submeter à
apreciação da Assembleia.
Art.° 13.° - Na primeira reunião ordinária da Assembleia Geral,
apresentará a Direcção o relatório e contas da sua gerência durante o ano

55
findo, lidos os quais se procederá à nomeação de uma comissão, composta
de três membros, encarregada de examinar e dar parecer acerca do assunto.
Art.° - 14.° - Na segunda reunião ordinária da Assembleia geral,
discutirá esta o parecer da Comissão encarregada de examinar o relatório de
contas da Direcção, votando-as em seguida e passando depois à eleição da
nova Direcção, que entrará em exercício no dia 1 de fevereiro de cada ano.
Art.0 15.° - Em cada uma das suas reuniões ordinárias pode a
Assembleia Geral ocupar-se de qualquer assunto de interesse para a
Associação, quer seja proposto pela Direcção, quer por alguns associados.
Art.° 16.° - Em todas as convocações para a reunião extraordinária da
Assembleia Geral, declarará sempre o Presidente o assunto sobre que ela
tem a resolver, não sendo válidas quaisquer resoluções tomadas estranhas ao
mesmo assunto.
Art.° 17.° - Pertence à Assembleia Geral:
1.° - Eleger a Direcção de que trata o art. 10.° dos Estatutos;
2.° - Nomear uma comissão de três membros na sua primeira reunião
ordinária, para dar parecer acerca do relatório e contas apresentadas pela
Direcção;
3.° - Discutir, votar e resolver todos os assuntos que forem submetidos à
sua apreciação, e possam interessar o Comércio, Navegação e Indústria do
distrito;
4.° - Autorizar as despesas extraordinárias quando as julgue
indispensáveis,
criando ao mesmo tempo a receita correspondente;
5.° - Aprovar ou modificar os regulamentos que forem submetidos à sua
apreciação, depois de os discutir e julgar necessários;
6.° - Discutir e votar as contas e relatório anual da Direcção e o
respectivo parecer da Comissão que as examinar;
7.° - Resolver a admissão dos sócios honorários sobre proposta da
Direcção;
8.° - Deliberar sobre a eliminação de qualquer sócio quando a Direcção
assim lho proponha com fundados motivos;
9.° - Julgar os recursos em que se apele para a sua deliberação;
10.° - Conceder ou recusar aos associados a exoneração ou escusa dos
cargos para que tenham sido eleitos;
11.° - Fazer cumprir as prescrições dos Estatutos e Regulamentos por
ela aprovados e bem assim todas as suas deliberações legalmente tomadas;

56
12.° - Resolver sobre todos os casos omissos nos Estatutos e
Regulamentos da Associação.
Art.° 18.° - Todas as decisões da Assembleia Geral serão tomadas por
maioria dos sócios presentes que tomarem parte na votação em harmonia
com o disposto no Art. 6.° dos Estatutos;

Capítulo III
Associação
Art. 19. - Em harmonia com o dispostos nos artigos 1.° e 18.° dos
Estatutos, consideram-se habilitados para fazer parte da Associação
Comercial de Aveiro todos os comerciantes, nacionais ou estrangeiros, e
excepcionalmente os indivíduos que, não pertencendo à classe comercial se
recomendem pela sua ilustração, probidade e serviços relevantes prestados
ao Comércio ou Indústria do distrito.
§ único - Os sócios dividem-se em três classes: efectivos,
correspondentes e honorários.
Art.° 20.° - São sócios efectivos todos os comerciantes residentes em
Aveiro, a quem seja aplicável a doutrina dos artigos 18.° e 19.° dos
Estatutos.
1 ° - Os sócios efectivos são obrigados a contribuir para as despesas da
Associação com as quotas determinadas pela Assembleia Geral.
2.° - Aos sócios efectivos compete a Direcção da Associação, sendo os
únicos que têm ingresso nas reuniões da Assembleia Geral e que podem
votar ou ser votados para todos os cargos.
Art.° 21.° - São sócios correspondentes os comerciantes que, residindo
fora de Aveiro, concorram com informações, esclarecimentos e serviços de
reconhecida utilidade para a Associação e para o Comércio e Indústria do
Distrito.
Art.° 22.° - Pertencem à categoria dos sócios honorários os indivíduos
que, não estando no caso de ser sócios efectivos, tenham prestados
relevantes serviços ao comércio da localidade ou classe comercial do país.
§ único - Os diplomas de sócios honorários só podem ser conferidos
pela Assembleia Geral da Associação, reunida em sessão extraordinária e
em votação por escrutínio secreto.
Art.° 23.° - A admissão dos sócios efectivos é decidida pela direcção a
requerimento do candidato, ou mediante proposta de qualquer dos sócios de
igual categoria.

57
§1.° - A proposta para sócios efectivo deverá conter o nome do
proposto, o género de comércio a que se dedica, e a sua residência. Esta
proposta, de que se dará conhecimento aos associados, estará patente
durante 5 dias na sala da Associação, a fim de qualquer daqueles possa
dirigir à Direcção as observações que entender sobre a admissão do
proposto.
§2.° - A direcção resolverá a admissão ou rejeição do sócio proposto no
prazo de 15 dias, a contar da data em que lhe for entregue a respectiva
proposta ou requerimento de admissão.
§3.° - Da rejeição por parte da Direcção tem o proponente ou o próprio
candidato recurso para a Assembleia Geral.
Art.° 24.° - Não é permitido a nenhum sócio efectivo tomar parte na
Assembleia Geral da Associação sem que tenha decorrido um mês depois da
sua admissão, e sem que tenha satisfeito aos encargos de diploma e
Estatutos a que se refiram os artigos 27.° e 31.° deste Regulamento.
Art.° 25.° - Os sócios correspondentes são nomeados pela Direcção que
dará parte à Assembleia Geral, na primeira reunião posterior, das nomeações
que fizer.
Art.° 26.° - Os sócios correspondentes e honorários não pagam coisa
alguma à Associação como tais, tendo entrada na casa da Associação e
gozando todos os direitos que assistem aos sócios efectivos, menos os de
tomar parte nas discussões ou votações da Assembleia Geral.
Art.° 27.° - Haverá diplomas para as três classes de sócios, sendo os
dos correspondentes e efectivos assinados pela Direcção e os dos honorários
pela mesa da Assembleia Geral.
§ único - Estes diplomas serão gratuitos para os sócios honorários e
correspondentes, e obrigam os efectivos ao pagamento de 500 reis por uma
só vez.
Art.° 28.° - Os sócios efectivos contribuirão anualmente para a despesa
da Associação com a quota de 1$200 reis cobrada em duas prestações no
primeiro mês de cada semestre.
§ único - A importância desta quota pode ser alterada quando as
circunstâncias o exigirem.
Art. 29.° - Perde o direito de sócio todo aquele que deixe de pagar a sua
quota de um ano, depois de avisado por escrito pela Direcção para o fazer no
prazo de 15 dias, e bem assim todo aquele que praticar qualquer acto menos
conforme com a dignidade própria e da Associação.

5H
§1.° - Esta perda de direitos pode ser temporária pelo prazo que
Assembleia Geral determinar, ou definitiva.
§2.° - A Direcção dará todos os anos conhecimento à Assembleia Geral
dos sócios que se achem incursos neste artigo, para que ela se resolva acerca
da sua suspensão ou expulsão.
§3.° - A votação da Assembleia Geral à cerca da suspensão ou expulsão
dos sócios é sempre em escrutínio secreto.
Art.0 30.° - O Sócio que pretender retirar-se da Associação deverá fazer
constar por escrito a sua resolução à Direcção.
§ único - O sócio que deixar de fazer parte da Associação só poderá ser
novamente admitido por deliberação da Assembleia Geral.
Art.° 31.° - A cada sócio efectivo será distribuído um folheto contendo
os Estatutos da Associação e regulamentos em vigor, sendo obrigado ao
pagamento de 200 reis em que se avalia o custo da impressão.
Art.° 32° - Os sócios efectivos poderão apresentar como visitantes
pessoas de fora da terra, suas conhecidas, ficando estas com o direito de
frequentar a Associação por espaço de quinze dias.

Capítulo IV
Direcção
Art.° 33.° - A Direcção compõe-se de cinco membros, conforme o
disposto no art. 10.° dos estatutos, sendo um Presidente, um Secretário e três
Vogais, um dos quais acumulará as funções de tesoureiro.
Art.° 34.° - Os sócios podem pertencer à Direcção por mais de dois anos
seguidos, salvaguardado o disposto no Art.° 49.° do presente Regulamento.
Art.° 35.° - As deliberações da Direcção são tomadas por maioria de
três, pelo menos, dos seus membros.
Art.° 36.° - Compete á Direcção:
1.° - A Administração Económica da Associação;
2.° - Nomear empregados, quando necessários, estipulando respectivo
ordenado com a autorização da Assembleia Geral, e despedi-los quando seja
justo;
3 o - Representar perante as estações oficias sobre os assuntos de
interesse comercial para a localidade;

59
4o - Distribuir pelos seus membros os diferentes trabalhos da
Associação de modo que eles se executem com toda a regularidade,
5.° - Votar a admissão ou propor a exclusão dos sócios a que sejam
aplicáveis as disposições dos Estatutos e deste Regulamento;
6.° - Cumprir e fazer cumprir os Estatutos, Regulamento em vigor, e
deliberações da Assembleia Geral;
7.° - Apresentar, em devido tempo, à Assembleia Geral o relatório dos
trabalhos da Associação e as contas da sua receita e despesa;
8.° Ter um livro das actas de todas as reuniões e os que forem precisos
para que o expediente da Associação, a cargo do Secretário;
9.° - Representar a Associação em todos os actos públicos e particulares
para que seja convidada;
10.° - Deliberar nos casos omissos sem ofensa da lei orgânica da
Associação, e com a aprovação da Assembleia Geral;
Art.° 37.° - Pertence ao presidente da Direcção:
1.° - Regular os trabalhos da Direcção e da Assembleia Geral,
presidindo às sessões tanto de uma como de outra;
2.° - Fazer um resumo imparcial, antes de propor a votação, das
questões a que dizem respeito;
3.° - Dar execução às deliberações tanto da Assembleia Geral como da
Direcção;
4.° - Superintender em todas as dependências da Associação, sendo
coadjuvado pelos outros membros da Direcção;
5.° - Assinar a correspondência, ordens de pagamento, expediente da
Associação.
Art.° 38.° - Pertence ao Secretário:
1.° - Redigir e lavrar as actas, tanto da Assembleia Geral como da
Direcção;
2o. - Organizar o serviço da secretaria tendo a seu cargo o expediente da
Associação;
3.° - Fazer passar as ordens de pagamento, assinando-as juntamente
com o Presidente da Direcção.
Art.° 39.° - Pertence ao tesoureiro:
1.° - Efectuar a arrecadação dos rendimentos da Associação;
2.° - Fazer os pagamentos em face das respectivas ordens assinadas pelo
Presidente e Secretário de Direcção;
3.° - Examinar a escrituração da receita e despesa, verificando se o
saldo está conforme com o dinheiro em cofre.

60
Capítulo V
Eleições
Art. 40°. - As eleições fazem-se por escrutínio secreto e vencem-se por
maioria absoluta dos votantes.
§ único - Quando na primeira eleição se não consiga maioria absoluta,
ou haja empate, proceder-se-á à nova eleição que se vencerá então por
maioria relativa.
Art. 41°. - Nas listas para a eleição da Direcção deve designar-se bem claro
para cada nome o cargo respectivo

Capítulo VI
Fundos da Associação
Art.° 42.° - Constitui o fundo da Associação toda a sua receita, quer
ordinária quer extraordinária.
§1.° - Considera-se receita ordinária a proveniente das quotas anuais
dos associados, do prémio dos diplomas e Estatutos, e o rendimento de
quaisquer haveres que de futuro a Associação possa a vir a possuir.
§2.° - Considera-se receita extraordinária toda a proveniente de
qualquer procedência, não especificada no parágrafo antecedente.
Art.° 43.° - Logo que o seu fundo o permita, e em harmonia com o
disposto no Art." 21.° dos Estatutos, arrendará a Associação uma casa
adequada, onde possa estabelecer a sua secretaria celebrar as suas reuniões,
e oferecer aos associados um ponto de reunião diária a que possam
concorrer todos os que desejarem.
§ 1.° - Para a guarda, limpeza e serviço desta casa, nomeará a direcção
um servente que desempenhará ao mesmo tempo os cargos de contínuo e
cobrador da Associação.
§2.° - À Direcção compete o regulamento interno desta casa, em
harmonia com os meios de que puder dispor.
§3.° - Para a fiscalização do regulamento desta casa nomeará a direcção
mensalmente um dos seus membros.
Art.° 4.4.° - As despesas da Associação dividem-se em ordinárias e
extraordinárias.
§1.° - São ordinárias as que dizem respeito ao expediente da secretaria,
renda de casa, ordenado do servente, limpeza e conservação da mobília, e
cobrança das receitas.

61
§2.° São extraordinárias todas as não compreendidas no parágrafo
antecedente.
Art.° 45.° - Para ocorrer às despesas ordinárias da Associação está a
Direcção autorizada a dispor das suas receitas.
Art.° 46.° - As despesas extraordinárias só podem ser feitas com
autorização especial da Assembleia Geral que, ao autorizá-las, votará ao
mesmo tempo a receita necessária para lhe fazer face.
Art." 47.° - É indispensável a autorização especial da Assembleia Geral
para votar e cobrar as receitas extraordinárias.
Art.° 48.° - A Direcção é responsável para com a Associação por
qualquer infracção dos artigos antecedentes.

Capítulo VII
Disposições Gerais
Art.° 49.° - Nenhum sócio poderá recusar-se a exercer o cargo para que
for eleito.
§ único - Exceptuam-se os casos de doença ou força maior devidamente
justificados e o de haver exercido algum cargo no ano anterior.
Art." 50.° - Os cargos da Associação são todos gratuitos.
Art.° 51.° - Nenhuma representação sobre assuntos relativos ao
comércio, ou de interesse geral para a localidade, poderá ter seguimento sem
que seja deliberado pela Assembleia Geral.
Art.° 52.° - Nos casos omissos nos Estatutos e Regulamentos em vigor
observar-se-ão as disposições para casos análogos nas leis das sociedades
anónimas e associações.

62
Art.° 53.° - Este regulamento, depois de aprovado pela Assembleia
Geral, obrigará tão rigorosamente como os Estatutos.

(Este Regulamento foi aprovado em sessão de Assembleia Geral de 12 de Março


de 1895).

A Direcção
O Presidente
Sebastião de Carvalho Lima
Secretário
Domingos José dos Santos Leite
Directores
Carlos da Silva Melo Guimarães
Eduardo Augusto Ferreira

63
III. Estatutos da Associação Comercial e Industrial de
Aveiro92
Capítulo I
Denominação, Sede efins da Associação
Art.0 1.° - A Associação Comercial de Aveiro, criada por decreto de
vinte e cinco de Novembro de 1858, passará a denominar-se Associação
Comercial e Industrial de Aveiro, e reger-se-à pelos presentes estatutos.
Art.° 2.° - Para todos os efeitos esta Associação considera-se fundada
em 25 de Novembro de 1858.
Art.° 3.° - Os seus fins são os seguintes:
1.° - Discutir, dentro dos limites das leis, todas as questões de interesse
comercial e industrial, e particularmente aquelas que digam respeitam às
classes que compõem esta Associação.
2.° - Representar aos poderes constituídos sobre todos os aspectos que
interessem às mesmas classes;
3.° - Iniciar, desenvolver e ilucidar quaisquer assuntos ou
melhoramentos comercias e industriais que interessem directa ou
indirectamente às classes de que se compõe esta associação;
4.° - Procurar colocação para os filhos que os sócios deixarem na
orfandade, sem meios de subsistência, encaminhando-os na vida comercial
ou outra qualquer, auxiliando-os segundo o seu comportamento e aptidão;
5.° - Subsidiar dentro das forças do cofre, quando a Assembleia Geral o
determinar, quaisquer estabelecimento de instrução onde principalmente
sejam leccionadas as disciplinas que constituem a educação indispensável a
um bom empregado do comércio;
6.° - Subsidiar nas mesmas condições quaisquer serviços públicos ou
particulares que facilitem o movimento do comércio desta praça,
nomeadamente a permanência de um rebocador para auxílio da navegação
da Barra de Aveiro;

" A. C. I. A., Cópia dos Estatutos da Associação Comercial e Industrial de Aveiro,


Aprovados em sessão ordinária da Assembleia Geral de 18 de Fevereiro de 1904 e
Ratificados em sessão de 29 de Dezembro do mesmo ano, Aveiro, Minerva Central,
1905. Trata-se de um Manuscrito, acompanhado de cópia(s) dactilografada(s) - que,
eventualmente, não chegou a ser publicado, embora estejamos face a um documento
amadurecido, capaz de resistir às vicissitudes políticas emergentes, como veio a
verificar-se nos Estatutos de 1931.

64
1° - Finalmente, promover o desenvolvimento do comércio e indústria
desta cidade e distrito por todos os meios legais.

Capítulo n
Admissão dos Sócios
Art.° 4.° - A Associação tem três classes de sócios: efectivos,
correspondentes e honorários.
§ 1.° - São Sócios efectivos os indivíduos nacionais ou estrangeiros,
residentes em Aveiro ou nos concelhos limítrofes, que se dediquem ou
tenham dedicado a qualquer ramo de comércio ou indústria, os oficiais de
marinha mercante, os gerentes ou agentes e correspondentes de bancos e
companhias, e excepcionalmente os indivíduos que, não pertencendo à
classe comercial ou industrial, se recomendem pela sua ilustração e
probidade.
§ 2.° - São Sócios correspondentes os que, residindo fora de Aveiro,
contribuírem com informações, esclarecimentos ou quaisquer serviços de
entidade para o comércio e indústria locais.
§ 3.° - Sócios honorários são os indivíduos que prestarem serviços
relevantes ao comércio e indústria desta cidade
Art.° 5.° - A admissão de sócios efectivos pertencem à Direcção, e será
precedida de proposta assinada por um ou mais sócios, na qual se menciona
o nome do proposto, profissão e lugar onde a exerce.
Art.° 6.° - A proposta para admissão de qualquer sócio considera-se
aprovada, quando for votada pela maioria da Direcção.
§ único - Da deliberação que admita ou registe qualquer sócio, haverá
recurso para a Assembleia Geral, que sobre ele resolverá definitivamente .
Art.° 7.° - Perdem o direito de sócios:
1.° - O que, devendo os recibos de dois semestres, os não pagou dentro
de quinze dias depois de avisado por ofício da Direcção;
2.° - O que infringir o preceituado nestes estatutos e seu regulamento
interno;
3.° - O que pelo seu irregular comportamento prejudique ou deslustre a
associação ou a classe a que pertence;
4.° - O comerciante que estiver falido, e o tribunal julgue a quebra
fraudulenta;
5.° - O que o sem motivo justificado se recuse a aceitar qualquer cargo
para que tenha sido eleito, salvo o caso de reeleição.

65
§ 1.° - Todas estas penalidades são da competência da Direcção, que,
sempre que as aplique, o participará dentro de cinco dias ao sócio arguido,
avisando-o de que pode recorrer no prazo de dez dias para a Assembleia
Geral.
§ 2.° - A penalidade de que trata o número um pode ser remida, se a
Direcção assim o entender, readmitindo o sócio depois de ele pagar o que
estiver devendo ao cofre social.
Art.° 8.° - A admissão dos sócios correspondentes pertence à
Assembleia Geral.
Art.° 9.° - A nomeação de sócios honorários é da exclusiva
competência da Assembleia Geral em presença de proposta, na qual devem
relatar-se os serviços que o proposto tenha prestado.
§ I o - A proposta deve ser firmada pela Direcção ou pela mesa da
Assembleia Geral, ou por nove sócios no gozo dos seus direitos.
Art.° 10.° - Aos sócios de todas as classes será enviado grátis o diploma
e um exemplar dos estatutos.
Art.° 11.° - Os sócios honorários e correspondentes têm os mesmos
direitos que os sócios contribuintes. Não podem eleger nem ser eleitos para
os cargos da Associação, e não são obrigados a apagar quotas.

Capítulo Hl
Deveres do Sócios
Art." 12.0 - Os Sócios efectivos são obrigados:
Io - A pagar a quota semestral de 600 reis desde o mês de Janeiro ou
Julho, anterior à data da sua nomeação;
2.° - A servir gratuitamente os cargos da Associação para que forem
eleitos ou nomeados, não sendo todavia obrigados a aceitar a reeleição sem
que hajam decorridos dois anos desde que deixaram de exercer qualquer
cargo;
3.° - A concorrer quando lhe seja possível para o engrandecimento da
Associação , acatando e cumprindo as suas determinações;
4.° - A comparecer às reuniões da Assembleia Geral, onde lhes não é
permitido fazer-se representar por qualquer outra pessoa;
5.° - A velar quando moralmente possam pelas famílias pobres dos
sócios falecidos.
§ único - Os sócios podem reunir o pagamento das suas quotas pagando
por uma só vez as quotas de dez anos. O produto da remissão constitui fundo
de reserva.

66
Art.° 13.° - A quota designada no número um do artigo doze, pode ser
alterada quando a Assembleia Geral o julgar necessário.
§ único - A alteração da quota para ter efeito carece de aprovação do
governo.

Capítulo IV
Direitos dos Sócios
Art.° 14.° - Os Sócios têm direito:
1,° - A discutir todos os assuntos que se tratarem em Assembleia Geral
e a emitir votos sobre eles;
2.° - A eleger e ser eleitos para qualquer cargo da Associação;
3.° - A indicar, por escrito, aos corpos gerentes tudo quanto julgarem
conveniente a bem das classes que a Associação representa;
4.° - A requerer a convocação extraordinária da Assembleia Geral,
sendo o requerimento assegurado por nove ou mais sócios, e designando-se
o fim da reunião. Não poderá porém a Assembleia ocupar-se do assunto sem
que esteja presente a maioria dos representantes;
5.° - A examinar os livros e mais documentos pertencentes à
Associação na época para isso designada;
6.° - A gozar todos os benefícios que lhe conferem os estatutos e bem
assim, aqueles que, pela Direcção ou por determinação da Assembleia Geral
forem novamente criados.
§ único - Estes direitos só se adquirem depois de dois meses de
Associados.

Capítulo V
Dos Fundos da Associação
Art.° 15.° - Os fundos e haveres da Associação são representados:
1.° - Pelas quotas dos Sócios;
2.° - Pelo produto de reunião de quotas;
3.° - Pelo juro de fundos capitalizados;
4.° - Por quaisquer outras receitas que a Associação venha a perceber.
§ único - Todos estes fundos são arrecadados pelo tesoureiro, sob a sua
imediata responsabilidade.
Art.° 16.° - O Capital da Associação é destinado a satisfazer os
encargos consignados nestes estatutos e bem assim os que dimanarem de
resoluções tomadas em Assembleia Geral .

67
§ 1.° - Quando o Capital disponível não chegar para ocorrer às despesas
consignadas, a Direcção requererá expressamente à Assembleia Geral a fim
de esta resolver as dificuldades.
§ 2.° - Não obstante o que fica exposto no parágrafo antecedente a
Direcção não poderá aplicar quantia alguma aos fundos capitalizados sem
prévia resolução da Assembleia Geral, expressamente convocada para esse
fim.

Capítulo vi
Da Assembleia Geral
Art.° 17 - A Assembleia Geral compõe-se de todos os associados
que estiverem no gozo dos seus direitos. E convocada com vinte e quatro
horas de antecipação por meio de aviso directo aos sócios.
Art.° 18.° - A Assembleia Geral é o poder soberano da Associação.
Julga-se constituída e são válidas as suas deliberações, logo que estejam
presentes vinte sócios.
§ 1.° - Quando a Assembleia Geral for convocada para alterar os
presentes estatutos, ou para tratar da dissolução da Associação, então só se
julgará constituída com a maioria dos sócios existentes.
§ 2.° - Se à primeira sessão, convocada para os fins designados no
parágrafo antecedente, não comparecer a maioria referida, far-se-à segunda
convocação, e a Assembleia Geral funcionará com o número de sócios que
concorrer, sendo válidas as suas deliberações, salvo o disposto no Art.° vinte
e sete.
Art.° 19.° - Pertence à Assembleia Geral:
1.° - Eleger a mesa, direcção, as comissões e mais cargos que julgar
precisos ao bom funcionamento da Associação;
2.° - Determinar o emprego dos fundos disponíveis;
3.° - Conceder ou recusar a exoneração que os sócios pedirem dos
cargos para que forem eleitos;
4.° - Conhecer e julgar os recursos que lhe forem afectos;
5.° - Cumprir e fazer cumprir as prescrições destes estatutos e bem
assim todas as demais deliberações tomadas em Assembleia Geral;

6.° - Deliberar sobre quaisquer pendências que se suscitarem entre os


corpos gerente e alguns dos associados;
7.° - Promover toda a justa protecção aos interesses de qualquer
associado que porventura se veja agravado nos seus legítimos direitos.

68
Art.0 20.° - A mesa da Assembleia Geral é composta de um presidente,
um Vice-Presidente, um Secretário e Vice-Secretário .
Art.° 21.° - Ao Presidente da Assembleia Geral compete:
1.° - Convocá-la e dirigir os seus trabalhos;
2° - Despachar no prazo de três dias os requerimentos que lhe forem
apresentados;
3.° - Rubricar os respectivos termos de abertura e encerramento nos
livros da Associação;
4.° - Assinar os diplomas dos sócios e as actas;
5.° - Instalar as comissões que forem eleitas pela Assembleia Geral;
6.° - Manter a ordem nas sessões.
Art.° 22.° - Ao Secretário compete:
1.° - Redigir e assinar as actas;
2.° - Redigir e expedir os avisos de convocação da Assembleia Geral,
quando superiormente lhe for ordenado;
3.° - Assinar com o presidente os diplomas dos sócios;
4.° - Prover a todo o expediente da mesa.
Art.° 23.° - As atribuições do presidente pertencem na falta deste ao
vice-presidente e assim sucessivamente até ao vice-secretário.
§ único - Na falta de todos os membros da mesa da assembleia Geral
presidirá o sócio que a Assembleia escolher. Este nomeará o secretário.
Art.0 24.° - A Assembleia Geral terá reuniões ordinárias e
extraordinárias:
1.° - As reuniões ordinárias terão lugar no dia quinze de Dezembro e
quinze de Fevereiro, ou no primeiro dia útil imediato se aqueles forem
santificados.
2.° - As reuniões extraordinárias terão lugar:
a) Quando o presidente da Assembleia Geral julgar necessário;
b) Quando a direcção o requerer por escrito;
c) Quando tiver de julgar os recursos de que tratam o parágrafo único
do Art.° seis e parágrafo único do Artigo 7.°;
d) Quando nove ou mais associados o requerer devendo neste caso
observar-se o disposto no número 4 do Art.° 14.°
Art.° 25.° - Na reunião ordinária do mês de Dezembro far-se-à a eleição
dos corpos gerentes que devem servir no biénio seguinte e que entrarão em
exercício no dia dois de Janeiro.

69
§ único - Nesta mesma sessão eleger-se-á uma comissão de três
membros que examine as contas e dê o seu parecer sobre os actos da
direcção cessante.
Art.° 26.° - O parecer de que trata o artigo antecedente será impresso
juntamente com o relatório e contas da direcção e distribuído aos sócios até
ao dia cinco de Fevereiro, para serem discutidos na reunião ordinária
seguinte.
Art.0 27.° - Às deliberações da Assembleia Geral que não tenha
concorrido a maioria dos associados poderão ter um único recurso para a
mesma Assembleia; mas, para que esse recurso seja admitido é preciso que a
petição seja assinada e acompanhada em Assembleia Geral por um número
de sócios em dobro daqueles que sancionaram a deliberação recorrida, e
deve ser apresentada dentro de quinze dias.
Art.° 28.° - Das deliberações da Assembleia Geral se lavrarão as
competentes actas que serão lançadas no livro respectivo.

Capítulo VII
Da Direcção
Art.° 29.° - A Direcção será composta de um presidente, um secretário
três directores, um dos quais servirá de tesoureiro.
§ único - Para os substituir haverá cinco suplentes.
Art.° 30.° - A direcção compete:
1.° - Administrar todos os negócios da Associação;
2.° - Adquirir casa apropriada aos misteres e fins da Associação, no
lugar mais central possível;
3.° - Cumprir e fazer cumprir as disposições dos presentes estatutos,
bem como todas as deliberações da Assembleia Geral;
4.° - Promover a arrecadação da receita e pagar todos os encargos da
associação;
5.° - Conhecer da veracidade e justiça das reclamações e mais
exigências dos sócios;
6.° - Admitir os empregados necessários ao serviço interno e externo da
Associação, arbitrando-lhes os vencimentos e demiti-los quando não
cumpram os seus deveres;
7.° - Participar aos sócios os prazos para reclamar sobre as
contribuições;
8.° - Deliberar sobre as despesas extraordinárias não podendo estas
exceder vinte por cento da receita média dos últimos três anos e dando conta

70
à Assembleia Geral, na sua primeira sessão ordinária, do uso que fizer desta
faculdade;
9.° - Dar contas da sua gerência à Assembleia Geral em tempo
competente e na conformidade dos estatutos;
10.° - Requerer a convocação da Assembleia Geral todas as vezes que o
julgar conveniente;
11.° - Prover de remédio a qualquer falta ou incidente que não esteja
previsto nos estatutos;
12.° - Ter patentes na época própria os livros e mais documentos
relativos à sua gerência, para serem examinados pelos sócios;
13.° - Auxiliar as comissões que a Assembleia Geral elegeu;
14.° - Nomear os sócios efectivos e correspondentes, excluir os que
estiveram compreendidos nas disposições do artigo sete;
15.° - Mandar distribuir a todos os associados um exemplar do
relatório, no tempo e condições que determina o artigo vinte e seis;
16.° - Promover conferências, prelecções ou palestras de reconhecida
utilidade;
17.° - Promover e sustentar a dignidade, interesses e boa ordem da
Associação;
18.° - Deliberar em casos urgentes, sobre qualquer assunto, dando conta
à Assembleia Geral;
§ único - A direcção não pode dispensar protecção aos sócios que não
estiverem correntes no pagamento das suas quotas.
Art." 31.° - Ao presidente da Direcção compete:
1.° - Abrir e encerrar as sessões e regular os trabalhos;
2.° - Assinar com o secretário todas as actas, cheques e todas as ordens
de pagamento.
§ único - Na sua falta presidirá às sessões o vice-presidente, e, no
impedimento dos dois, o director efectivo que a Direcção escolher.
Art.° 32.° - Ao Secretário da Direcção pertence:
1.° - Redigir e assinar as actas e fazer todo o mais expediente;
2.° - Assinar conjuntamnete com o presidente as contas e ordens de
pagamento;
3.° - Matricular no livro competente todos os sócios que fizerem parte
da Associação.
Art.° 33.° - O tesoureiro é o único que recebe todos os fundos da
Associação e como tal compete-lhe:

71
1.° - Assinar com o secretário todos os recibos de quotas e quaisquer
outras receitas da Associação;
2.° - Fiscalizar a cobrança de todos os rendimentos da Associação e
propor qualquer meio que facilite a sua melhor arrecadação;
3.° - Satisfazer prontamente todas as ordens de pagamento que se lhe
apresentarem da parte da Direcção, assinadas pelo presidente e secretário.
Art.° 34.° - A Direcção é solidariamente responsável por todos os seus
actos, bem como por todos os valores da Associação, salvo os casos de força
maior devidamente comprovados.
Art.° 35.° - As funções e responsabilidades da Direcção só terminam
quando esta tenha feito entrega de todos os valores pertencentes à Direcção.

Capítulo VIII
Das Eleições
Art.° 36.° - As eleições gerais da associação serão feitas por escrutínio
secreto e na conformidade do estabelecido no Art.0 vinte e cinco.
§ único - As funções da Direcção e da mesa da Assembleia Geral são
de exercício bienal, podendo os seus membros ser reeleitos.
Art.° 37.° - No dia designado para a eleição depois de lida e aprovada a
acta da sessão anterior, o presidente interromperá a sessão pelo tempo
suficiente para a factura das listas, as quais deverão ser compostas do
seguinte modo:
1.° - Para os cargos da mesa da Assembleia Geral contendo quatro
nomes, designando-se adiante de cada um o cargo respectivo;
2.° - Para a Direcção, contendo dez nomes, sendo os cinco efectivos
designados no Art.° vinte e nove e os seus respectivos substitutos.
Art.° 38.° - Reaberta a sessão, o presidente mandará proceder à
chamada dos sócios e recepção das listas pela inscrição de presença, e
concluído que seja o acto começará o escrutínio.
Art." 39.° - Se contra o acto eleitoral houver algum protesto que a
Assembleia entenda dever tomar em consideração, será eleito um conselho
intendente composto de cinco membros, sendo um presidente, um secretário
e três adjuntos, o qual dará o seu parecer perante a Assembleia Geral,
convocada para esse fim dentro do prazo de oito dias, sobre se deverá ou
não proceder-se a novas eleições. Se o parecer for afirmativo, terão estas
lugar dentro de quinze dias, anulando-se previamente as anteriores.

72
Capítulo IX
Disposições Gerais
Art.° 40.° - As diferentes classes de que se compõe esta Associação
poderão reunir quando o julguem conveniente nas salas da Associação, para
tratarem dos assuntos que mais particularmente lhes interessem, sob a
direcção do presidente e secretários especiais, observando-se sempre nestas
sessões parciais as disposições contidas nos presentes estatutos.
§ 1.° - Estas reuniões não deverão complicar com as da Assembleia
Geral nem com os dos corpos gerentes.
§ 2.° - As despesas feitas com o expediente das reuniões de que trata
este artigo, ficam a cargo das respectivas classes que as promoverem.
Art.° 41.° - Os assuntos levados ao conhecimento da Assembleia Geral
por qualquer das classes que se reunirem nos termos dos artigos
antecedentes e seus parágrafos, serão por aquelas tomadas na consideração
que merecerem, prestando-se-lhes todo o seu apoio, quando entenda dever
dispensar-lho.
Art.° 42.° - Quando em Assembleia Geral ou pela Direcção forem
eleitas ou nomeadas comissões especiais para se ocuparem de qualquer
assunto, estas lavrarão actas dos seus trabalhos devidamente assinadas pelos
respectivos presidente e secretário, para serem competentemente arquivadas.
Art." 43.° - Quando a Associação possuir um número de sócios muito
superior à lotação da sala das suas sessões e tenha de reunir em Assembleia
Geral para qualquer assunto poderá a mesma assembleia ser convocada para
local apropriados, subentendendo-se neste caso que está funcionando na sua
sede.
Art." 44.° - Os corpos gerentes poderão, sempre que julgarem
conveniente para o interesse das classes de que se compõe a Associação,
ouvir e constatar quaisquer indivíduos ou colectividades estranhas à
Associação.
Art.° 45.° - Só podem fazer parte dos corpos gerentes ou da mesa da
Assembleia Geral os súbditos portugueses no gozo dos seus direitos civis.
Art.° 46.° - Quando a Assembleia Geral se constituir em sessão solene
para comemorar qualquer acontecimento grandioso ou facto histórico,
poderá convidar para abrilhantar esses actos quaisquer oradores estranhos à
Associação.

73
Art." 47.° - Os regulamentos aprovados em Assembleia Geral servirão
de complemento aos presentes estatutos e obrigarão aos sócios como lei
orgânica da Associação.
Art.° 48.° - Os presentes estatutos poderão ser alterados quando a
Assembleia Geral, expressamente convocada para esse fim, assim resolva,
devendo nessa sessão ser discutido o relatório que justifique a necessidade
da sua alteração.
Art.° 49.° - Quando as forças do cofre o permitam, publicar-se-à
mensalmente um "Boletim da Associação", jornal em que deverão ser
tratados os assuntos que mais directamente interessem aos associados
debaixo do ponto de vista comercial e industrial e bem assim todos os que
respeitem à prosperidade da Associação.
Art.° 50.° - Os casos omissos nestes estatutos serão regulados pelo
decreto de nove de Maio de 1891.
Art.° 51.° - A dissolução da Associação só poderá verificar-se quando o
número de sócios for menos de vinte e um, ou quando a Assembleia Geral o
resolver em sessão especial, convocada expressamente para esse fim, e
conforme o parágrafo primeiro do artigo dezoito.

74
Art.° 52.° - Dada a dissolução, todos os livros e mais documentos serão
relacionados, encerrados e entregues à autoridade competente, e o espólio,
depois de liquidado, será entregue à Santa Casa de Misericórdia de Aveiro.
Está conforme.
Aveiro, e Secretaria da Associação Comercial, 10 de Janeiro de 1905

Presidente,
Domingos José dos Santos Leite
Secretário,
António da Cunha Pereira
Tesoureiro
João Francisco Leitão
Os Directores
Elias dos Santos Gamelas
Francisco Ferreira da Maia.

Reconheço de verdadeiras as cinco assinaturas supra


Aveiro, 12 de Janeiro de 1905
Em fé de verdade.
Francisco Marques da Silva
Recebi duzentos e cinquenta réis.
Paço, quatro de Fevereiro de mil novecentos e cinco
Eduardo José Coelho

75
Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria. - Direcção Geral do
Comércio e Indústria. - Repartição do Comércio.— Eu El Rei faço saber aos que
este Alvará virem que, Atendendo ao que me representou a associação de classe
estabelecida em Aveiro, com a denominação de Associação Comercial de Aveiro,
pedindo a minha Aprovação para os estatutos por que pretende reger-se em
substituição dos que foram aprovados por Alvará de vinte e cinco de Novembro de
1858.
Visto o artigo 3.° do decreto de 9 de Maio de 1891:
Hei por bem aprovar os estatutos da Associação Comercial de Aveiro que passa
a denominar-se Associação Comercial e Industrial de Aveiro, que constam de nove
capítulos e cinquenta e dois artigos e baixam com este Alvará assinados pelo
Ministro e Secretário de Estado dos Negócios das Obras Públicas, Comércio e
Indústria com a expressa cláusula de que esta aprovação será retirada quando a
associação se desvie dos fins para que é instituída, não cumpra fielmente os seus
estatutos, não preste ao Meu Governo as informações que ele lhe pedir sobre os
assuntos da sua especialidade a que se refere o n.° 6 do artigo 4.° do citado decreto
de Maio de 1891, não desempenhe devidamente as funções que lhe forem
incumbidas por leis especiais, ou finalmente, quando infrinja o mesmo decreto por
cujas disposições sempre e em qualquer hipótese se deverá regular. Pelo que mando
a todos os tribunais, autoridades e mais poderes a quem o conhecimento deste Alvará
competir e guardar tão inteiramente como nele se contém.
Não pagou direitos de mercê por não os dever. E por firmeza do que dito é
este vai por mim assinado e selado com o selo das Armas Reais e com o de verba.
Dado nos paço, aos quatro de Fevereiro de 1905.

El Rei
Eduardo José Coelho.

Lugar do selo
Alvará pelo qual Vossa Majestade Há por bem Aprovar os estatutos da
associação de classe denominada Associação Comercial e Industrial de Aveiro.
Passou-se por despacho de catorze de Dezembro de 1904.

Selo de verba 700 reis


Pagou de selo a quantia de cinco mil reis.
Lisboa - R. da Receita Eventual, 30 de Janeiro de 1905
O Escrivão
W. S. R. de Oliveira
O Recebedor
C. Real
Registado a folhas 153 do livro 2.°

76
A Derivação das Funções de Custo.
O Problema da Minimização.

Margarida Maria Solteiro Martins Pinheiro


Professora Adjunta de Matemática
I.S.C.A.A.
Sumário:
O presente artigo faz parte de um dos temas discutidos no concurso de
provas públicas para Professores-Adjuntos do Ensino Superior Politécnico,
realizado em Dezembro de 1994. Após uma abordagem dos métodos de
optimização clássicos, pretendeu-se aplicar a teoria matemática da
determinação de máximos e mínimos, de funções com várias variáveis
sujeitas a restrições, à resolução de um problema económico de
minimização de custos. De modo a melhor elucidar a técnica utilizada, o
artigo termina com a concretização de um problema aplicado a uma função
específica em economia.

78
Introdução
Chamamos factores de produção a todos os inputs que entram no
processo de fabrico de um produto. Entenda-se aqui input não só o material
em si, como também capital, trabalho, espaço, etc. (Muitas vezes
utilizaremos o termo "bens" em vez de inputs). Ao conjunto de todos os
factores de produção, isto é, de todos os inputs e aos resultados finais
obtidos, chamamos conjunto de produção. E, uma vez que para obter um
input é necessário um pagamento, uma questão importante é a de saber
como maximizar o resultado final, dado um nível inicial de input. À função
que limita o conjunto produção, chamamos função produção. Ou seja, a
função produção relaciona a quantidade de produto final que é possível
obter a partir de um dado nível de factores de produção, para uma dada
tecnologia, num determinado período de tempo.

A Função Produção
Podemos falar em inputs fixos e em inputs variáveis.
Quando, na função produção, todos os inputs são fixos, à excepção de
um, dizemos que estamos em presença de uma função produção com
factores fixos. Quando este tipo de relação ocorre falamos em função
produção a curto prazo. Por exemplo, no caso de haver dois tipos de input, 1
e 2 a função produção f(x2,x] ) com x, fixo, mede o máximo de produto
final que é possível obter a partir de x, unidades do bem 1 e de x2 unidades
do bem 2.

Produto tota
.

/ conjunto
de
/ ^ produção ^
X2

Figura 1 - Função Produção com um factor fixo x.

79
A fim de que, reunindo input se possa obter o produto final da maneira
mais eficiente possível, precisamos de utilizar determinado caminho, a que
chamaremos processo de produção, ou seja, de uma forma abrangente, o
processo de produção pode ser definido como a técncia por meio da qual um
ou mais produtos vão ser obtidos a partir da utilização de determinadas
quantidades de factores de produção, usando os meios mais eficientes de
produção.

Quando, na função produção, todos os inputs são variáveis, dizemos


que estamos em presença de uma função produção com factores variáveis.
Quando este tipo de relação ocorre falamos em função produção a longo
prazo. Vejamos como o conceito de função produção se adopta ao caso de
haver vários inputs envolvidos no processo. Por exemplo, no caso de haver
dois factores de produção 1 e 2 a função produção f(xl,x2) mede o
máximo de produto final que é possível obter a partir de x, unidades do
bem 1 e de x2 unidades do bem 2. Neste caso ( no caso de só haver dois
bens envolvidos) podemos ainda representar, de um modo fácil e intuitivo
todas as possíveis combinações das matérias 1 e 2 que são necessárias à
obtenção de determinada quantidade de produto final. Ao conjunto de todas
essas possíveis combinações, chamamos isoquanta.

Convém desde já observar que, atendendo às definições apresentadas, a


função produção é, por hipótese, contínua, deve ser definida no tempo e está
unicamente definida para quantidades positivas de x, e x2 dos inputs e do
produto final q
Vejamos alguns exemplos de função produção.

a) função produção com factores fixos.


A mais simples das funções de produção que são habitualmente
utilizadas é a de função produção de factores fixos que vamos representar
analiticamente por / ( x , ,x2 ) = minjx, , x 2 }

80
b) função produção com factores variáveis.
Um caso importante é o da função C.E.S. (constant elasticity of
substitution). A sua expressão analítica é da forma
i
p p
f(xl,x2) = A[ôxl- + (l-õ)x2~ p
onde ô e p são parâmetros, estando p relacionado com a elasticidade
1
de substituição pela fórmula seguinte <J = , sendo o a elasticidade de
1+ p
substituição. (A elasticidade de substituição relaciona as variações relativas
na intensidade de utilização dos factores com a variação relativa das
produtividades marginais - a definir posteriormente - Simbolicamente,
representando por a a elasticidade de substituição e por PM', a

<5ln(^)
x,
produtividade marginal do factor 1, temos a = j^rz—).
L
<5( )
PM2
Particularizando para o=\ e recorrendo à regra de L'Hôpital,
encontramos outro caso frequentemente usado que é o da função produção
Cobb-Douglas, do tipo f(xs,x2) = Axl"x2h com xl, x 2 >0 e A>0. O
parâmetro A mede, a quantidade de produto obtido por cada unidade
utilizada do factor 1 e do factor 2. Os parâmetros a e b medem o quanto
do produto obtido se deve à variação dos valores de x, e x2.

Produto Marginal e Taxa Marginal de Substituição


Técnica
Estudemos agora um conceito fundamental na teoria microeconómica:
o de produto marginal.
Designemos por 1 e 2 as variáveis envolvidas no processo de produção
por xl e x2 as quantidades das variáveis 1 e 2, respectivamente e por y a
quantidade de produto total. Podemos pensar na seguinte questão: "Em
quanto varia o valor de y se, uma vez fixada a quantidade x2, fizermos
variar o factor 1 de uma unidade? Para dar resposta a esta questão definimos

81
produto marginal do factor 1, ( PM , (x, ,x2)) ou mais simplesmente PM ,
como o quociente entre a variação do produto final, quando o factor 1 sofre
uma variação unitária; simbolicamente
_ Ay ^f(xl+Axi,x2)-f(xl,x2)
Ax, Ax,
Analogamente definimos produto marginal do factor 2.
De um modo pouco rigoroso, podemos descrever o produto marginal do
factor 1 como o aumento extra de produto final que obtemos ao
aumentarmos de uma unidade o factor 1. Convém no entanto recordar que o
produto marginal, do modo que foi definido é sempre o acréscimo verificado
na produção quando se utiliza mais uma unidade de um factor. No caso
particular da função em causa ser contínua, o produto marginal toma a
dy
forma PM. = .
dxx
Suponhamos agora outra situação: pretendemos saber o quanto
podemos prescindir do factor 1 de tal forma que, aumentando o factor 2 na
medida certa, obtenhamos exactamente a mesma quantidade de produção.
Ou seja, de que quantidade extra do facto 2, Ax 2 , precisamos se podermos
prescindir de uma pequena quantidade do factor 1, Ax,, de modo a obter o
mesmo nível do produto final?
A resposta é dada pela noção de taxa marginal de substituição técnica,
simbolicamente TMST( xx,x2).
Para determinar a expressão analítica da taxa marginal de substituição
técnica, consideremos as variações nas quantidades dos factores 1 e 2 que
mantêm constante o nível de produção.
&y = f(xi + Axi , x 2 ) + / ( x , , x 2 + Ax 2 ) = 0
ou seja
/(x,+Ax,,x2) /(x,,x2+Ax )
!
Ay —— Ax, + — — Ax.,
Ax, Ax2
A_y = PM, Ax, + PM 2 Ax 2
Ac2 _ PM{
Ax, ~ PM2

82
A esta razão chamamos taxa marginal de substituição técnica e dá a
resposta à pergunta anterior, isto é,
Ax2 P M{
Ax, P M,
Ou seja, a taxa marginal de substituição técnica não é mais do que o
quociente entre os produtos marginais dos factores de produção. No campo
Ax
contínuo, tomando-se o limite da relação - — - quando A x, tende para
Ax,
zero, temos TMST = -:Z1Á- ■ Note-se que, numa isoquanta, para haver
dx\
eficiência é necessário que as produtividades marginais sejam positivas.
Analisemos agora o gráfico seguinte:

X2

X 2

X 1

Figura 2 - Análise da variação dos factores

Ao passar do ponto A para o ponto B da isoquanta, reduziu-se a


utilização do factor x2 de -Ax2 e aumentou-se a utilização do factor x, de
+Ax,. O nível de produção permaneceu constante e igual a Qo.
Se essas mesmas variações fossem em termos infinitesimais, o ponto A
tendia a aproximar-se de B e a taxa marginal de substituição técnica seria

representada por -—— e teríamos a TMST num ponto. Ou seja, a TMST é


dxi
dada pelo simétrico do declive da tangente à isoquanta, em cada um dos seus
pontos. Logo, podemos afirmar que o declive da isoquanta é igual ao
simétrico da TMST. Como essa taxa é sempre positiva, por convenção,

83
conclui-se que o declive de uma isoquanta é sempre negativo. Ainda
analisando o gráfico e se tomarmos o valor da TMST em termos absolutos,
vemos que esta é decrescente ao longo da curva o que traduz a ideia de que
se está disposto a renunciar cada vez menos a x2 para obter mais uma
unidade de x1.
Esta relação vai ter uma aplicação importante quando considerarmos a
questão de como obter um determinado nível de produção ao menor custo
possível.

Custo de Produção
Os exemplos discutidos até agora, colocam a empresa perante a
oportunidade de comprar apenas dois inputs diferentes. É desnecessário
dizer que esta não é uma situação real. De uma forma muito geral os
problemas orçamentais da empresa podem ser colocados como uma escolha
entre não apenas dois, mas n inputs, em que n pode ser um número muito
elevado. Considerando apenas dois bens (n=2), a isocusto é uma linha recta,
como veremos posteriormente. Considerando três bens (n=3), é um plano.
Quando temos mais de três bens, a isocusto transforma-se naquilo a que os
matemáticos chamam hiperplano ou plano multidimensional.
Genericamente, podemos representar uma função produção tal que
q = f(xx,x2,...,xn), representando xí,x2,...,xn as quantidades
utilizadas dos factores, durante um certo periodo de tempo.

Após nos termos referido brevemente à teoria da produção, vamos


agora debruçar-nos sobre a teoria dos custos. O objectivo seguinte é pois o
de traduzir a teoria da produção numa teoria de custo coerente.
A teoria do custo é de primordial importância na tomada de decisões.
De facto, o princípio básico que norteia o comportamento de uma empresa é

1
Tudo o que foi dito para a empresa pode ser visto em termos de consumidor porque,
parafraseando os autores neoclássicos, a satisfação das necessidades do consumidor não é
mais do que uma produção. Alfred Marshall (séc. xix) propôs uma solução muito simples para
este problema. É considerar a escolha do consumidor como uma escolha entre um bem
particular, chamemos-lhe 1, e uma amálgama de outros bens, designados por 2. Actualmente
esta amálgama é conhecida por dois nomes: dinheiro marshalliano ou bem composto.
Podemos pensar no bem composto como a quantidade de rendimento com que o consumidor
fica de pois de comprar o bem 1.
análogo àquele que condiciona o desempenho de um consumidor individual,
que é o da maximização dos resultados.
Vejamos como o conceito de custo pode ser entendido de maneira
simples. Já dissemos que, para obtermos os produtos finais, é necessário
dispor de uma certa variedade de inputs, inputs esses que têm os seus custos.
O pagamento total que deve ser feito para se poder usar esses factores é
designado custo total da produção.
Apesar de, à primeira vista, o conceito de custo parecer de fácil
entendimento, alguns problemas se levantam. De facto, o conceito mais
frequente de custo é um conceito monetário. Ora, tal noção não é
inteiramente correcta. Distinguimos assim entre custos explícitos e custos
implícitos. Desginamos por custos explícitos as despesas com a compra ou
aluguer de factores de produção. São exemplos de custos explícitos a
compra de materiais, o pagamento de salários, o aluguer de instalações. Por
outro lado, são exemplos de custos implícitos o salário do empresário, o
equipamento da empresa ou os seguros da empresa. Não sendo este tipo de
custo tão óbvio como o custo explícito, põe-se o problema de como o
determinar. Definimos então um novo conceito: o do custo de oportunidade.
De acordo com este princípio "o custo de um input (é a oportunidade
perdida) é o valor que teve de ser renunciado em não o utilizar da melhor
maneira possível".

Isocustos
O nosso objectivo é o de minimizar os custos de produção, na obtenção
de um certo nível de produto final; isto é a procura do ponto óptimo.
Podemos seguir duas vias: minimizar os custos sujeitos à restrição da
quantidade a produzir ou maximizar a produção para uma despesa total em
factores fixa. No presente trabalho optou-se pelo primeiro processo. Para o
segundo caso os procedimentos seriam semelhantes embora com o objectivo
de maximização. Em ambos os casos as conclusões finais são exactamente
as mesmas.
Para resolver este problema de minimização, comecemos por
determinar quais as possíveis combinações de quantidades de input que são
possíveis de obter uma vez fixado o custo total.
Definimos isocusto (ou curva de igual custo) como o lugar geométrico
dos pontos representativos de combinações de quantidades utilizadas dos
factores, para um mesmo custo total.

85
i) Representação analítica de isocusto
Considerem-se dois factores de produção que dão origem a um único
produto final. Suponham-se as condições de produção homogéneas e que se
trata de uma função produção a longo prazo, isto é, em que ambos os
factores são variáveis. E, sendo os factores variáveis os custos também são
variáveis.
Designemos por x, e x 2 as quantidades dos factores de produção e por
w, e vv7 os preços de uma unidade de cada factor, respectivamente. (É
claro que supomos w, > 0. .e.. w2 > 0). Então, a função isocusto para um
certo nível de custo n pode ser escrita tal que C = wlx[ +w2x2 .
Para se obterem as diferentes quantidades de x, ou x2 ao longo da
mesma recta de isocusto, deve-se resolver a expressão anterior em ordem a
w, C
x, ou x 2 . Resolvendo em ordem a x 7 , vem x2 = x, + — .
w2 w2
Facilmente se vê que esta não é mais do que a expressão analítica de
w>, C
uma recta, de declive negativo — — e ordenada na origem — . Fazendo
w2 w2
variar o valor de C, obtemos uma família de rectas de isocusto. Observe-se
que, por definição, cada ponto de uma recta de isocusto tem o mesmo custo
C e curvas de isocusto superior estão associadas a valores superiores do
custo C.

2
a) Evidentemente, se o custo fosse hipoteticamente dependente apenas da utilização de certa
quantidade X, , o custo seria C= Wx X j . Do mesmo modo procederíamos se a produção só
dependesse do segundo factor.
b) Num processo a curto prazo, o factor fixo (digamos X2 ) tem um custo fixo dado pelo
preço unitário desse factor , VV2 e o factor variável tem um custo variável; o custo seria então

C - w,x, + w2x2

86
ii) Representação gráfica de isocusto
Na representação gráfica de uma isocusto, utilizemos um referencial
cartesiano onde, nos eixos vertical e horizontal figurem as quantidades
físicas, possíveis de serem utilizadas, dos dois factores.
Como vimos na representação analítica de uma isocusto, existem várias
alternativas de combinação das quantidades x, e x2 dos factores produção
utilizados na obtenção de determinados bem, de forma a que o somatório do
produto dessas quantidades pelo preço de cada factor, resulta no mesmo
valor do custo total.
Como uma isocusto é uma recta e para a representar graficamente,
bastará, para um mesmo nível de custo n, determinar dois pontos da recta,
digamos os pontos de intersecção com os eixos coordenados.

W:
isocusto

Figura 3 -Representação geométrica de uma isocusto

Métodos de Optimização Clássicos


Os métodos de optimização clássicos são úteis na procura da solução
óptima de uma função contínua e diferenciável. São métodos analíticos e
fazem uso das técnicas do cálculo diferencial na procura do ponto óptimo.
Apesar de a maior parte dos problemas envolver funções descontínuas e/ou
não diferenciáveis, os métodos clássicos constituem a base de
desenvolvimento de novos métodos.

87
Vamos pois referir neste capítulo, condições necessárias e suficientes
na procura do óptimo de uma função, para diferentes formulações do
problema.

- Funções com uma única variável -

Definição 1
Uma função / (x) tem um mínimo relativo ou local no ponto 1 = 1 se
f(x)<f(x + h), para valores de h suficientemente pequenos.
Analogamente, um ponto x diz-se um máximo relativo ou local da
função f(x) se f(x)>f(x + h) , para valores de h suficientemente
próximos de zero.

Definição 2
Diz-se que a função / (x) tem um mínimo global ou absoluto no ponto
x = x se f(x)< f(x), para qualquer valor de x pertencente ao domínio
da função (não apenas para pontos numa vizinhança de x ).
Analogamente, um ponto x é um máximo global ou absoluto de
f(x), se f(x)> f(x), para qualquer ponto x do domínio da função.

Definição 3
Ao máximo e mínimo de uma função, chamamos extremos da função.3

A partir de agora e sempre que se nos afigurar útil faremos o estudo, salvo indicação em
contrário, apenas para os mínimos, uma vez que para os máximos basta considerar a função
simétrica. Assim e sem perda de generalidade, optimização pode entender-se como
minimização já que, o máximo de uma função pode ser encontrado procurando o mínimo da
função simétrica.
Os teoremas 1 e 2 que se seguem indicam, respectivamente, condições necessárias e
condições suficientes para a determinação do mínimo relativo de uma função com uma única
variável (Rao, 1979).

88
Teorema 1
Se uma função / (x) está definida no intervalo [a,b] , tem um mínimo
relativo no ponto x = x com a<x <b e ainda se existe e é finita
df
— = f'(x) no ponto x = x , então / (x*) = 0
dx
(A um ponto onde / (x*) = 0 chamamos ponto estacionário)

Teorema 2
Sejam / " (*') = / " (*') =...= f'"~l) (x*) = 0 e fM(x*)*0.
Então f(x*) é:
i) um mínimo de / (x) se / (x ) > 0 e n é par;
ii) um máximo de f(x) se / '" (x ) < 0 e n é par;
iii) nem máximo nem mínimo se n é ímpar.

- Funções com várias variáveis sem restrições -

Apresentamos agora o caso da determinação de extremo de uma função


com várias variáveis, não sujeitas a restrições. As demonstrações envolvem
desenvolvimentos em série de Taylor. (.Rao, 1979)

Teorema 3
Se f(x) (onde x é um vector de n componentes) tem um extremo no
ponto x = x e se existe a primeira derivada parcial de / (x) no ponto x ,
então
JL(x-).JL(Jt-)^...|l(;O-0
oxí ox2 oxn

Teorema 4
Uma condição suficiente para um ponto estacionário x ser um ponto
extremo da função é que a matriz Hessiana (matriz formada pelas segundas
derivadas parciais) de f(x) , calculada no ponto x seja:

89
i) definida positiva se x é um mínimo;
ii) definida negativa x se é um máximo.

- funções com várias variáveis em que as restrições são


expressas por igualdades -

O problema clássico da optimização é o de minimizar uma dada função


(função objectivo) em que as variáveis estão sujeitas a restrições.
Simbolicamente, pretende-se minimizar a função

z — f(x) sujeita a restrições g. (x) = bn com i = 1,2,..., m, (1)

em que as funções / e gí são supostas possuírem derivadas parciais


de Ia ordem com respeito a todas as variáveis e x é um vector de n
componentes. As restrições são supostas independentes. De entre os vários
métodos de resolução deste problema, iremos abordar em particular o dos
multiplicadores de Lagrange. A ideia básica envolve uma função particular
que designamos por função de Lagrange de modo a converter o problema
com restrições (1) num problema sem restrições.

Definição 4
Diz-se que uma função f(x) tem um máximo local ligado em x — x
se existe um e>0 tal que f(x)<f(x*) para todo o x satisfazendo
| x-x* | < £ e as ligações de (1).

Para um problema de optimização sem restrições (ligações), diremos


que / (x) tem um máximo local em x = x se a definição anterior é válida,
ainda que omitindo a referência às ligações de (1).

4
Uma matriz A diz-se definida positiva se todos os seus valores próprios são positivos. Os
valores próprios são os valores de X que são soluções da equação \A — Âl\ = 0 .

90
Definição 5
Diz-se que uma função f(x) tem um mínimo local ligado em x — x ,
se existe e>0 tal que f(x)>f(x*) para todo o x satisfazendo
■ *

< £ e as ligações de (1).

De modo análogo ao anterior, se o problema não tem restrições,


dizemos que a função f(x) tem um mínimo local ligado em x = x se a
definição anterior é válida, com omissão das ligações de (1).

i) Condições necessárias para a existência de um mínimo local ligado


No método dos multiplicadores de Lagrange, vamos introduzir uma
nova variável para cada restrição. Ou seja, ao problema original que tinha n
variáveis e m restrições, adicionamos m novas variáveis pelo que, no total,
temos n+m variáveis. É claro que há simplificações com a introdução destas
novas variáveis, ou não teria sentido o exercício. A essência deste método é
converter um problema de extremos condicionados de tal forma que as
condições para a determinação de extremos não condicionados, sejam
aplicáveis. Para exemplificar o processo, comecemos por considerar o
problema mais simples de duas variáveis e uma restrição. Posteriormente
analisaremos o caso geral.

a) Um caso particular: o caso de duas variáveis e uma restrição

Teorema 5
Seja f(xl,x2) uma função sujeita à restriçãog(xl ,x2) = 0. É
condição necessária para que f(x{,x2) tenha um ponto extremo em
(x,*,x 2 *)que

(x,\x/) = 0 (2)
dxx dx2 dx2 dxx
(Rao, 1979).

Supondo -^— (x, , x2 ) / 0 podemos reescrever a equação (2) tal que


dxn

91
df _ dx2 dg
(x, ,x2 ) = 0 (3)
dxx dg_ dxx
dx1

Designemos por X a quantidade

ax-,
(4)

dx2
que denominamos multiplicador de Lagrange. Substituindo em (3) vem

(x',x2') =0 (5)
dx{ dx}

De modo análogo, reescrevendo a equação (4) encontramos

(x]\x2) =0 (6)
dx2 dx2

E, é claro, que a restrição é válida, em particular, no ponto extremo;


isto é, g(xl,X2)\(xl ,x2 ) = 0 . Resumindo, as condições necessárias para
que o ponto (x, *,x2 *) seja um extremo ligado são:

df „ dg
(x. ,x 2 ) = 0
ox{ oxx

(x,\x2*) = 0 (7)
oí*2 ar-
g(x{ ,x2 ) = 0

92
Mas as condições expressas em (7) poderiam também ter sido
determinadas usando uma função do tipo

F ( x , , x 2 , A) = / ( x , , x 2 ) + A g ( x , , x 2 )

designada por função de Lagrange. De facto, calculando as derivadas


parciais de F ( x , , x2 ,X) em ordem a x , , x2 e X, respectivamente e igualando
a zero, (no ponto (x, *,x 2 *) ) obteríamos as equações anteriores.

Assim

dF_ df „ dg
(x, ,x2 )= 0
dx\ dx. dx.
dF
= 0 <=> (x. ,x2 )= 0 (7.1)
cà"7 dx-, dx-,
dF_ g(x, ,x2 ) = 0
= 0

b) O caso geral: condições necessárias para a existência de um mínimo


local ligado

Suponhamos que z = f (x) tem um mínimo local ligado em x = x . É


sabido que um extremo de / deve anular a sua diferencial total. Por outras

dg . .
Observe-se que, ao exigirmos ~ — ( x , ,X 2 ) # 0 na definição de A , poderíamos
ax7
dg , 4
igualmente e sem perda de generalidade, ter exigido "T~~ (Xj , X 2 ) ^ 0 , se tivéssemos
ca,
escolhido para variável independente X2 . Ou seja, a dedução das condições necessárias pelo
método dos multiplicadores de Lagrange requer apenas que uma das derivadas parciais
g ( x , , X2 ) seja não nula, no extremo da função.

93
palvavras, é a condição necessária para que a função f(x) tenha um
extremo no ponto x que dz = 0; isto é

df^^-dx^O (8)
i=\ dX;

Mas, como as m equações das restrições são diferenciáveis temos, após


diferenciação, o sistema
" dg ■
d
Sj ~Li~^~dxi =0..,..j'- \,...,m (9)
,=i ox,

(Rao, 1979).
Multiplicando cada uma das equações de (9) por uma constante X-t e
somando, para todos os valores de j , com (8), formamos uma expressão que
designamos por dF tal que
Oí!

dF = df+JjXj(JJdx,
-^dxl)\x* (10)

Reorganizando a equações (10) de modo a evidenciar os termos em


dx ., temos

rfF = 2 ^ 1 ' x V ] ^ i - (11)


-T— IX + X / i ; - IX lûX;
or, J=1 ca,
Mas então í/F = 0, uma vez que, por (8) e (9) cada uma das parcelas é
nula. A tendendo às m restrições de (1), apenas (n-m) das n variáveis xt são
independentes. Suponhamos que são xm+l ,...,xn. Vamos agora escolher os
A ( , que até aqui eram arbitrários, tais que os coeficientes das primeiras m
variações dxi sejam nulos. Ou seja, escolhemos A ; tais que

a,+P''ãT0--'='•-' m (12)

94
Com isto, a equação (11) passa apenas a envolver as variações
dxm+,,...,dxn. Mas e porque as variáveis xm+[ ,...,xn são independentes,
os diferenciais dxm+l,...,dxn correspondentes podem ser escolhidos não
nulos, permitindo a variação de cada uma delas. Logo

^ + è ^=0-'-/=m+1'-'n (13)

De (12) e (13) resulta

^7 + S A ^ =0 -'-' = 1'-'n (14)

E claro que é suposto que as restrições são verificadas no ponto


extremo, isto é,gj(x") = 0. Então, e no caso geral de n variáveis e m
restrições, as condições necessárias para a existência de um mínimo ligado,
são

df v o dg>n • ,
~Z^T +
2-i^i ~\— = 0..,..i = \,...,n
<*i j=\ dXi (15)
gj{x*) = Q..,...j-\,...,m

Tal como no caso de apenas duas variáveis e uma restrição, também o


sistema (15) poderá ser determinado, através da derivação parcial da função
Lagrangeana.
m

F(x,X) = f(x) + ^Ãjgj(x) (16)

A qualquer ponto satisfazendo as condições de (14) chamamos ponto


estacionário ou ponto crítico def(x). Um ponto estacionário em que f(x)
toma um valor máximo ou mínimo é chamado um ponto extremo e o
correspondente valor da função é um valor extremo. É de notar que nem
todos os máximos ou mínimos ocorrem em pontos estacionários; por outro
lado, nem todos os pontos estacionários correspondem a máximos ou
mínimos.

95
ii) Condições Suficientes para um mínimo local ligado
É importante recordar que as condições expressas em (15) não são
suficientes para a existência de um mínimo local ligado d e / ( x ) ) . As
condições suficientes envolvem derivadas de 2a ordem e novas definições.
Tal como no caso de um extremo não condicionado, é possível
expressar essas condições de segunda ordem sob a forma de um
determinante. No caso de um extremo condicionado falamos em
determinante Hessiano orlado.
Seja então z = f(x) uma função de várias variáveis sujeita a restrições
gi(x) = bi com i = l,...,m, em que as funções / e gi são supostas
possuírem derivadas parciais de primeira ordem com respeito a todas as
variáveis e x é um vector de n componentes. Construa-se o determinante
quadrado de ordem m+n, a que chamamos determinante Hessiano orlado
\H\ e que é da forma
0 0 o g 8i~
0 0 o g §2

0 o o g Sm
\H
8„ ^11 ^ \2

8n * 21 22 F2n

e " F F F
Sm n\ ' nl

g|
onde o i = e F com índice duplo denota as derivadas de segunda

d2F
ordem da função de Lagrange, tal que Fkl = A função z = f(x)
dxkdx,
tem um máximo no ponto x = X se os menores principais orlados \Hm+l ,

// m + 2 | , ... \H\ , alternam de sinal, sendo o sinal de |H m+1 | o mesmo de


m+l
(-l) . Quando todos esses menores principais orlados têm o mesmo sinal,
m *

a saber o sinal de (-1) então z tem um mínimo no ponto x - x .

96
Observações:

a) Sendo An um determinante quadrado de ordem n, entenda-se por


menor principal de ordem k de An, o determinante que se obtém de An,
suprimindo (n-k) linhas e (n-k) colunas.
b) Podemos formar vários menores principais orlados a partir de \H\ . O
que contem Fkk como último elemento da sua diagonal principal, notamo-lo
por \Hk\ .
c) A função de Lagrange pode tomar a forma
m

F(x,Ã) = f(x) + ^Xj[bj -gj(x)]..,onde...gj(x) = bj (17)

De facto, basta admitir as constantes bj na função de restrição, de


modo que, apareça G} (x) = 0 na função de restrição, onde
Gj(x) = bj-gj(x).

- O tratamento clássico de restrições com desigualdades -

Consideremos o seguinte problema: pretende-se minimizar a função


Z = f(x) sujeita a restrições
gj(x)<0..,..j = i,...,m (18)

Repare-se que estas restrições com desigualdades podem ser


transformadas em restrições com igualdades, bastando para tal adicionar
variáveis não negativas, y 2 tais que
gjM + y/' =0...,...j = \,...,m (19)

sendo os y. desconhecidos. Mas assim estamos em condições de


aplicar o tratamento clássico de restrições com igualdades. De facto, o
problema agora toma a forma: pretende-se minimizar a função z = f(x)

97
sujeita a restrições Gj(x,y) = gj(x) + y * = 0 com j = l,...,m, onde y
é o vector dos y ■ desconhecidos. O problema pode então ser resolvido
utilizando os multiplicadores de Lagrange. Para tal, construa-se a função F
tal que
m

F{x,y,X) = f{x) + JJXiGj{x,y) (20)


;=i

onde X é o vector dos multiplicadores de Lagrange. Os pontos


estacionários da função Lagrangeana podem ser determinados resolvendo as
condições necessárias

^ix,y,X) = ^{x) + ±Xj^ =0 i = l,..,n

— - (*,y,À) = G, (x,y) = gj(x) + yJ2(kx) = 0.. , . . ; = 1,..., m


c/A

— - ( x , y , A ) = 2A.y J . = 0 j = \,...,m

(21)+(22)+(23)

Observe-se que, da própria construção de Gy (x, v), resulta que as


equações (22) garantem que, de facto, gj(x) < 0..,..j = l,...,m (porque
somamos uma quantidade positiva com outro que, evidentemente é negativa,
uma vez que o resultado é nulo). Por outro lado, a equações (23) implica
que, ou A = 0 ou y. = 0. Introduza-se agora um novo conceito: o de
restrições activas e inactivas.

Definição 6
Sejam g;. (x) < 0, m restrições a uma dada função z = f(x). A s
restrições g , tais que g . (x) = 0 no ponto óptimo, chamam-se restrições
activas. A s restrições g . tais que gj(x) < 0 no ponto óptimo, chamam-se
restrições inactivas.

98
Voltando um pouco atrás, tínhamos visto que 2X. y. = 0 implicava
Ãj=0 ou yj=0. Se Xj = 0 , (logo y ^ . ^ 0 ) , então g . < 0 e as
restrições são inactivas, pelo que não nos interessam. Se y. = 0, então
gj. = 0 (por (22)) e as restrições são activas no ponto óptimo. Designemos
por G, o conjunto dos índices das restrições activas no ponto óptimo e por
G2 o conjunto dos índices de todas as restrições inactivas, tais que
G, + G 2 representa o conjunto total dos índices das restrições. Então, para
j e Gj, y . = 0, isto é, as restrições são activas; para j € G 2 , X, — 0 e as
restrições são inactivas.

Podemos então resolver as equações (21) sob outra forma, atendendo a


que
Se j € G, =» gj = 0, ou seja ^ = 0.
Se y 6 G2 => g. < 0 , ou seja X . = 0.

+
T~ 2 A ^ T = 0..,..i = l,...,n (24)

Analogamente, podemos reescrever as equações (22) tal que

gJ(x) = 0..,..jeGl. (25)

gj(x) + yj2 =0..,..jeG2 (26)

Prova-se ainda que, das equações (24), (25) e (26), no caso da


determinação do mínimo local ligado, é X ■ >0..,je G2 (Rao, 1979).
Resumindo, o sistema de equações necessárias para a determinação do
mínimo local ligado é equivalente ao sistema

"V - + Z_,Xj^— = v..,..i -l,...,n


dx, ôf ' dxi (27)
X. > 0 jeG

99
6
Às condições expressas neste sistema, chamamos condições de Kuhn
Tucker, em homenagem aos seus autores, ou seja, as condições de Kuhn
Tucker não são mais que as condições necessárias à existência de um
mínimo local ligado, numa optimização de restrições com desigualdades,
conforme exposto no início deste capítulo (o tratamento de restrições com
desigualdades), contudo tais condições são apenas necessárias e não
suficientes para garantirem a existência de um máximo local ligado. Há,
todavia, uma classe de funções, funções côncavas e convexas, para as quais
as condições de Kuhn Tucker são necessárias e suficientes na determinação
do máximo global da função.
No caso de o conjunto das restrições activas ser desconhecido, as
condições de Kuhn Tucker têm o seguinte aspecto:

I- + ^Ã7= 0 ' = '--"


Ajgj = ° 7 = 1,...,m (28)
gj ^ 0 j = \,...,m
Á,j > 0 j - l,...,m

(Observe-se que estas são afinal as condições deduzidas anteriormente


na determinação do mínimo de uma função sujeita a restrições com
desigualdades; a "novidade" é que então A pode ser também nulo).
Como observação final, se as restrições impostas fossem de tipo
gj> 0 e o problema de maximização, os valores de A . na equações (28)
teriam de ser positivos.
Por outro lado se o problema for de minimização e as restrições do tipo
gj > 0 ou se o problema fôr de maximização e as restrições do tipo
gj < 0 os valores de X . na equações (28) teriam de ser negativos.

'No caso dos problemas de maximização verifica-se que à < 0 . . . , j G G , .

100
Resumindo:

Condições de Kuhn Tucker

Condições de Kuhn Tucker num problema de minimização sujeito a


restrições do tipo g . < 0 :

/-+Z^3r = 0 i = l...,n
àxi i=1 de,
^jgj = ° 7 = 1,...,m (29-1)
gj ^ 0 7 = 1,...,m
Ay > 0 7 = 1,...,m

Condições de Kuhn Tucker num problema de maximização sujeito a


restrições do tipo g . > 0.

^lx-^-°- i= l n
-
hjgj = ° 7 = 1,...,m (29-2)
■gj ^ 0 7 = 1,...,m
Ay>0 7 = 1,. ..,m

Condições de Kuhn Tucker num problema de minimização sujeito a


restrições do tipo g y > 0.

T-+Z^^r =o / = i,...,n
*,-£; = 0 7 = 1,....m (30-1)
•g,- ^ 0 7 = 1,...,m
A, < 0 7 = 1,...,m

101
Condições de Kuhn Tucker num problema de maximização sujeito a
restrições do tipo gj < 0.

< ^jgj = 0 j = l,...,m (30-2)


■g, ^ ° j = l,...,m
Xj < 0 y = 1,..., m

Funções Côncavas e Convexas

Definição 7
Chamamos conjunto convexo ao conjunto S de todos os pontos tais
que, dados dois pontos de S, então o segmento de recta que os une ainda
pertence ao conjunto.
Simbolicamente:
S é conjunto convexo <=> se para xx,x2 e S , então x e S onde
x = ax2 + (1 -<xt, )...com...a e xl

Definição 8
Uma função f(x) diz-se convexa sobre o conjunto convexo X se, para
quaisquer dois pontos x , , x 2 e X e para todo o Xe [0,1 ] se tem
f(Áx2+(\-Áxl))<Xf(x2) + (\-Ã)f(xl)
Isto é; se o segmento que une os dois pontos, está sempre acima ou
coincide com o gráfico de / (x).

Definição 9
Uma função f(x) diz-se concava sobre o conjunto convexo X se,
— f(x) é convexa.
Isto é, se o segmento que une os pontos está sempre abaixo ou coincide
com o gráfico de / (x).

102
Teorema 6
Um mínimo local de uma função convexa num domínio convexo é
também um mínimo global.
No caso de função objectivo ser estritamente convexa, esse mínimo
global é único.
(Rao, 1979).

Teorema 7
Um máximo local de uma função concava num domínio convexo é
também em máximo global.
No caso de função objectivo ser estritamente concava, esse máximo
global é único.
(Rao, 1979).

O Teorema da Suficiência de Kuhn Tucker


Já dissemos que, as condições de Kuhn Tucker apresentadas são apenas
necessárias; na programação não linear, a formulação das condições
suficientes, envolve conceitos como os de concavidade e convexidade.
Vamos de seguida enunciar um teorema, devido a Kuhn Tucker,
conhecido por teorema da suficiência.

Teorema 8 (Teorema da Suficiência)


Dado o problema de minimizar z = / ( x ) sujeita a restrições
g ; (x)<br.(i = l,...,m) e x> 0 e se são satisfeitas as condições:
a) A função objectivo f(x) é diferenciável e convexa no ortante
não negativo;
b) Cada função da restrição g ; (x) é diferenciável e côncava no
ortante não negativo;
c) O ponto x satisfaz as condições de Kuhn Tucker para um
mínimo.
Então x é um mínimo global de z = f(x).
(Chiang, 1982)7

Entenda-se por "ortante não negativo" o equivalente n-dimensional do quadrante não


negativo. Tal como foi formulado acima, o teorema da Suficiência refere-se apenas a
problemas de minimização. Mas a adaptação a problemas de maximização não é difícil; basta

103
O Custo Mínimo para um Determinado Nível de
Produção
Os princípios básicos que norteiam o comportamento de uma empresa
são análogos àqueles que condicionam o desempenho de um consumidor
individual: o da maximização dos resultados e o da minimização dos custos.
Do ponto de vista do consumidor, essa maximização/minimização
consiste em um indivíduo disfrutar o maior nível de satisfação decorrente da
utilização de determinados bens, compatível com o mesmo nível de renda
possível.
(Após tudo o que aqui foi dito sobre optimização, entendemos que, por
facilidade de representação, seria melhor abordar apenas o caso de
existência de dois bens).
Em termos de empresa, o ponto de tangencia entre uma particular
isoquanta e uma determinada isocusto identifica o ponto óptimo no que se
refere à combinação ideal de recursos para uma certa quantidade de produto
final.

i) A solução gráfica
Já vimos anteriormente que há várias combinações possíveis de input
capazes de produzirem um determinado nível de produto final e que essa
relação podia ser graficamente traduzida através de uma isoquanta. De um
modo geral, cada ponto de uma isoquanta corresponde a um método
específico de produção de determinado produto final. E, perante as
alternativas tecnológicas, a empresa deve escolher o método óptimo que
corresponda ao custo mínimo, para atingir esse nível de produção.
Suponhamos, por facilidade de exposição, que utilizamos somente dois
factores de produção 1 e 2 de preços, respectivamente, w, e w2.
Designemos novamente por x{ e x2 as quantidades dos inputs 1 e 2,
respectivamente.

trocar as palavras "convexa" e "côncava" nas condições a) e b) e usar as condições de Kuhn


Tucker para um "máximo" na alínea c).

104
Nestas circunstâncias a empresa contará com uma única isoquanta e uma
família de isocustos. A questão fundamental é a da determinação da menor
isocusto para que seja atingido determinado nível de produção pre-
estabelecido. Graficamente, consideremos a figura junta

Figura 4 - Determinação da menor isocusto

Observando a figura, depreende-se que o nível de produção retratado


pela isoquanta I, pode ser obtido pelos custos inerentes à isocustos C„ ou
Cn+l. De facto, a isoquanta I intersecta as referidas isocustos nos pontos A,
B e T. Contudo, a isocusto Cn retrata um nível de custos inferior.
Consequentemente, o nível óptimo obtém-se para o ponto T onde a isocusto
é tangente à isoquanta previamente estabelecida. Ou seja, tal ponto de
tangencia é condição fundamental para a minimização do custo. Resumindo,
o problema da obtenção de um determinado nível de produção pelo menor
custo possível, pode ser resolvido graficamente, começando com uma
isoquanta específica (aquela que corresponde ao nível da produção que
estamos a tentar produzir) que depois é colocada sobre um mapa de linhas
de isocusto, correspondendo cada uma a diferentes níveis de custo. O ponto
óptimo dos factores de produção de menor custo corresponde ao ponto de
tangencia entre uma linha de isocusto e a isoquanta especificada.
Recorde-se que o declive de uma isoquanta em qualquer ponto é igual a
PM,
- e que a este quociente, não afectado do sinal menos se chama taxa

105
marginal de substituição técnica. Combinando isto com a ideia de que o
custo mínimo ocorre num ponto de tangencia com a linha de isocustos (cujo
w, P Mi w,
declive é - — ) resulta que = — no ponto óptimo ( x, *, x, *), ou
w2 P M2 w2
PM, P M, w, w2
cruzando a multiplicação = ou ainda = —.
w, w2 P M{ P M2
w
\
Observação: Entende-se por custo marginal a variação

verificada no custo total pela produção de mais uma unidade do produto


FM,
final. A expressão indica o produto marginal ponderado do factor 1.

ii) A solução analítica; o método dos multiplicadores de Lagrange

Condição Necessária

O problema matemático a resolver é o da minimização dos custos,


condicionados a um dado nível de produção. Já vimos que a isocusto, de
acordo com as notações adoptadas, é da forma C=vv,x, + w 7 x 2 . A
restrição do problema, ou seja, a função produção correspondente a
determinado nível da mesma, é q = f(x], x2 ) ■
Podemos resolver este problema de várias maneiras. Por exemplo,
substituir a restrição na função a minimizar. Todavia, o processo mais geral
e o que iremos aqui utilizar é o dos multiplicadores de Lagrange. Construa-
se a função
F(xx ,x2,P i) - w,x, + w2x2 + À,[q - / ( J C , ,x2)]

106
As condições necessárias à existência de um mínimo ligado devem
verificar as equações (7.1) tal que

dF_ (x, ,x2 ) = 0


=0
dx]
dF_
= 0 o < (w2 - A — ) (x, ,x2 ) = 0
dx-, ox2
dF_ q-f(xi,x2) =0
=0
dl

ou seja

„ dq
O.-A^f)
ox
(x*,x 2 )=0
w = A dx
dq
x
x
dq
(w2 -A——) (x, ,x2 ) = 0 <=> w-, = l dx2 (31)+(32)+(33)
dx7
r/-/(x,\x2') = 0 q = f(xl.x2)

Observe-se que a equação (33) é a própria restrição ao problema.


Dividindo (31 ) por (32) vem
dq dq
l
dxx w, áx
-^— ou seja ~
dq w1 dq
l
dx2 dxn
De onde
dq dq
dxx ár, PM, PM,
, isto é
w, w2 w, w7

107
Esta expressão, que estabelece que a razão da produtividade marginal
de cada factor pelo respectivo preço deve ser igual ao quociente da
produtividade marginal do outro factor pelo seu preço, é pois a condição
necessária para a determinação do custo mínimo, condicionado a um dado
nível de produção.

Condição Suficiente

Neste caso teremos de construir o determinante Hessiano orlado (ver


resultado expresso em ii) do capítulo "funções com várias variáveis em que
as restrições são expressas por igualdades").
Como temos apenas uma restrição (m=l) a condição suficiente requer
que todos os menores principais desse determinante sejam negativos. Ora
dq dq
0
dx2
dq d'q d'q
H -X -X
dXy dx.dx-i
2
dq dq d7q
-X -X
dx1 dxjdx. dx-,~
Neste caso só há um menor principal orlado, a saber \H3\ = \H\ (temos
n=2 e m=l). Então, a condição suficiente para que ocorra a minimização do
custo para um dado nível de produção é que \H\ < 0. Mas, de (31), (32) e
(33) vem

0 w,
^
X7 X
d q d q
H -X
X dxldx2
2
âq d\
-X' -X
X dx1dxx dx^

108
Atendendo às propriedades dos determinantes,

0 w, W-,
2
<9 g , <92g
1
-A -A-
A2
d2 q d q
-A- -A
dx7dx. dxn~

De onde, a condição suficiente toma a forma

w. w7
<9 ç <9?g
w, -A ■A <0 (34)
âc," ckjáx,
d2q
vv. A •A
dx^dx. <3x,"

Só depois da determinação do ponto óptimo podemos chegar à função


custo uma vez que esta traduz a optimização; ou seja, a função custo é a
curva que contem os pontos óptimos.
d q
Convém referir que, embora as derivadas parciais cruzadas
dx,dx1

d'q
tenham sido calculadas separadamente, elas são iguais desde que
cbc2dx\

sejam ambas contínuas. Este resultado é conhecido como Teorema de


Young.

109
Neste caso, a ordem pela qual a diferenciação parcial é feita torna-se
d'q dq
irrelevante, uma vez que ——-— = ———.
oxxax2 ox2oxl

Resumindo:

Dada a função produção q = f(xi,x2) e a isocusto C = wlxi + w2x2


podemos, recorrendo às condições necessárias para a determinação do ponto
óptimo, relacionar os inputs tal que x2 = g(xt ) , sendo g uma função. Uma
vez satisfeita a condição suficiente e substituindo xn na função q, obtemos
q em função de x] ; ou seja q = h(x{ ) e logo x] = h~ (q). Exprimindo
ainda x2 em função de q e substituindo na isocusto, encontramos
finalmente a função custo total C = r(q) (função óptima). Isto é, em
situação óptima, a função custo relaciona os custos com as quantidades
produzidas.

Um Exemplo Final

Uma empresa produz com uma função produção Q = AK2 VL , onde


K e L representam capital e trabalho, respectivamente. Se o preço de uma
unidade de trabalho é 1 e o preço de uma unidade de capital é 2, que
quantidade de capital e de trabalho deve ela empregar se o seu objectivo é
minimizar o custo?

Resolução:

Consideremos a empresa a utilizar apenas os bens "capital" e


"trabalho".
Pretende-se minimizar C = L + 2K sujeita à restrição Q = AK1 v t -
Construa-se o Lagrangeano
F = L + 2K + X(Q - AK2 VI)

110
Comecemos por estudar as condições necessárias.

Atendendo ao sistema 7.1, obtemos

A
4l_
dL 41 2K2
dF r- 1
A=
— = 2-8AKJL = 0 <=>4 AK^IL
dK Q = 4K24Z
oA

Igualando os valores de X, podemos exprimir o capital em função do


trabalho.
1
2 ^ 4KL = 2K-
2K 4KyfI

Logo K = 2L.

Substituindo na função produção podemos exprimi-la apenas como


função de L

Passemos agora à condição suficiente.

Utilizando as condições de segunda ordem e atendendo ao Teorema de


Young, temos sucessivamente,

111
dK2
d2Q K2
^ = 8^VZ
dK dt
dQ_2K2 d2Q d2Q 4K
.{Teorema., de.. Young)
e BLdK dKdL 41 '

Construa-se e calcule-se o hessiano orlado e exprimam-se os resultados


em função de L.

0 1 2 0 1 2
2 1 1 1 5
1 XK -UK
Û 7Z IL L L
1 1 ?
2 -UK A8VZ ')
L K

Mas então a condição suficiente é satisfeita, uma vez que —— é


negativo (supomos que, para haver eficiência o trabalho é positivo).

Exprimindo agora o capital e o trabalho como função de Q,


encontramos
f
Q}2
L=h K = 2\
V 16y

Finalmente, substituindo no custo encontramos a função custo total que

procurávamos. Donde C = 5\ é a função óptima procurada.


\6)

112
Bibliografia:
Casson, M. (1973) Introduction to Mathematical Economics. London,
Willian Clowes & Sons.
Chacholiades, M. (1986) Micro-economics. London, Collier Macmillan
Publishers.
Chiang, A. (1982) Matemática para Economistas. São Paulo, McGraw-
Hill.
Frank, R. H. (1994) Microeconomia e Comportamento. Lisboa,
McGraw-Hill.
Garófalo, G. L. e Carvalho, L. C. P. Teoria Microeconómica. São
Paulo, Editora Atlas S. A.
Henderson, J. M. e Quandt, R. E. (1972) Microéconomie. Paris, Dunod.
PisKounov, N. (1979) Cálculo Diferencial e Integral. Porto, Lopes da
Silva Editoras.
Rao, S. S. (1979) Optimization Theory and Applications. Calcutta,
Wiley Eastern Limited.
Varian, H. R. (1984) Microeconomic Analysis. London, W. W. Norton
& Company.
Varian, H. R. (1990) Intermediate Microeconomics. London, W. W.
Norton & Company.

113
Contabilidade de Gestão e Seu Futuro

Rui Mário Magalhães Gomes Mota


Professor Adjunto da área de Contabilidade
I.S.C.A.A.
Sumario

1. Aspectos conceptuais: Contabilidade de gestão e outras aplicações e,


ou, perspectivas da Contabilidade
2. Passado e presente da Contabilidade de gestão
2.1. O passado
2.2. Meio ambiente actual e condicionantes da gestão das empresas
- relações com a Contabilidade de gestão
3. Contabilidade de gestão e seu futuro
3.1. Função da Contabilidade/do Contabilista (de gestão)
3.2 . Novas concepções
3.2.1 Custos fixos, custos variáveis, moderna produção e
custos indirectos
3.2.2 "A.B.C." (Custeio Baseado nas Actividades), valor
acrescentado e "A.B.M." (Gestão Baseada nas
Actividades)
3.2.3 Medidas da "performance"
4. Conclusões
1. Aspectos conceptuais: Contabilidade de gestão e
outras aplicações e, ou, perspectivas da Contabilidade
Muito sucintamente, vamos referir duas questões:

a) Contabilidade e suas aplicações e, ou, perspectivas;


b) Contabilidade de custos e Contabilidade de gestão.

Atente-se na figura "Aplicações da Contabilidade", elaborada a partir


de obra de Leandro Canibano, mas com adaptações e afastamentos das
concepções deste autor.

A perspectiva em que nos situamos é a seguinte:

- A Contabilidade pode e deve ser encarada em visão unitária; existem,


porém, diversas aplicações e, ou, perspectivas;
- Por vezes, estamos perante aplicações: vide Microcontabilidade e
Macrocontabilidade, entre as quais os valores registados e, sobretudo, os
conceitos utilizados são, ou podem ser, substancialmente diferentes; outras
vezes, trata-se, apenas, de perspectivas: tome-se como exemplo a
Contabilidade de custos e a Contabilidade de gestão, entre as quais as
"fronteiras" inexistem.

Isso não significa que a expressão Contabilidade de gestão não acentue


(de modo particularmente feliz) aspectos fundamentais, que devem ter-se
presentes. Assim:

a) A expressão liga-se à ideia de custo relevante para a tomada de


decisões -ideia que Shillinglaw e Horngren difundiram amplamente a partir
do início dos anos 60;

b) Acentua a ultrapassagem da visão da Contabilidade interna como


subsistema -diríamos mesmo, como serventuária- da Contabilidade
financeira; subsistema destinado meramente à valorização de existências e
de imobilizados construídos ou fabricados pela própria empresa, para
efeitos de elaboração das demonstrações financeiras;

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c) Vinca a ideia de que a Contabilidade interna deve, para ser útil na gestão
das empresas, incorporar conceitos como encargos figurativos, custos de
oportunidade, custos e proveitos marginais, sistemas de informação
integrados na (e servindo) a estratégia (e a reformulação da estratégia) da
empresa -conceitos estranhos à Contabilidade financeira e, por vezes, à
Contabilidade de custos, pelo menos em visão tradicional;

d) Liga-se, por fim, à noção de que todo um conjunto de medidas não


quantificadas monetariamente, de ordem física e, ou, de ordem qualitativa,
podem e devem ser captadas e transmitidas pela Contabilidade interna;
Robert Anthony sublinhava, há mais de 15 anos, que as informações físicas
(com consequências económicas) são conhecidas muito mais rapidamente
que as monetárias e que devem ser, de imediato, transmitidas.

Nesta matéria, entendemos importante a exposição de Fernandez


Fernandez, autor que salienta três concepções na relação entre a
Contabilidade de custos e a Contabilidade de gestão:

-A restritiva (separação rígida),


-A integradora (identificação),
-A renovadora (separação não rígida, situando a Contabilidade de
custos na génese da Contabilidade de gestão e atribuindo a esta domínio
mais amplo que àquela).

Estamos fundamentalmente de acordo com Fernandez Fernandez (que


defende a concepção renovadora), mas sublinhamos que não se está perante
ramos ou divisões da Contabilidade, mas sim perante perspectivas.1
E se é praticamente impossível -em empresa de razoável dimensão, com
variedade de produtos ou de serviços- a Contabilidade demonstrar as suas
imensas potencialidades sem efectuar apuramentos de custos, facto é que a

Na nossa opinião, há uma tendência excessiva para estabelecer ramos e divisões na


Contabilidade; por exemplo, a Contabilidade estratégica, que, a nosso ver, traduz uma
evolução da Contabilidade, assentando na ideia simples -como simples são, quase sempre, as
ideias de longo alcance- de que a informação proporcionada pela Contabilidade deve reflectir
a (e integrar-se na) estratégia da empresa, bem como proporcionar bases informativas para
eventuais reformulações estratégicas, é, frequentemente, vista (na nossa opinião, mal) como
um novo ramo da Contabilidade.

119
própria Contabilidade financeira contém um manancial de informações para
gestão quantas vezes desprezado -atente-se na figura "Gestão de Clientes".

Pretende-se salientar com essa figura que se dada empresa quiser classificar
os seus clientes em 4 grupos (com o intuito de vir a contar, sobretudo, com
clientes como os tipificados no lado esquerdo da diagonal do quadrado), terá
que se apoiar em informações da Contabilidade financeira -não da
Contabilidade interna.
É, pois, dentro da concepção de Contabilidade de gestão que
expusemos -concepção próxima da "renovadora", encarando-se a
Contabilidade de custos como uma Contabilidade de gestão, não como a
Contabilidade de gestão e tendo presente que também a Contabilidade
financeira pode (melhor, deve) ser útil para decisões nas empresas - 2 que
vamos passar ao ponto seguinte, apoiados, principalmente, em Kaplan e
Atkinson.

2. Passado e presente da Contabilidade de gestão

2.1. O passado
As origens da moderna Contabilidade de gestão remontam à Revolução
Industrial, sobretudo à indústria têxtil e às unidades metalúrgicas das duas
primeiras décadas do século XIX.
A construção dos caminhos de ferro (nos países mais desenvolvidos,
por volta de 1850) proporcionou, logo de seguida, um impulso decisivo à
Contabilidade de gestão. Tratava-se de empreendimentos gigantescos,
mobilizando enormes recursos financeiros e humanos, com dispersão por
vastíssimas áreas geográficas. Dispôs-se, porém, de comunicações
telegráficas e contou-se com o apoio de adequadas medidas da
"performance"concebidas para o tipo de empreendimento.
Medidas como o custo por tonelada/milha (ou km), o custo por
passageiro/milha (ou Km) e rácios operacionais (do tipo custos
operacionais

Tendo, porém, presente que a Contabilidade financeira está marcada por princípios, normas,
critérios e convenções que visam, sobretudo, a análise (com relevância e fiabilidade) por
parte de utilizadores exteriores às entidades que elaboram demonstrações financeiras.

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o
divididos por proveitos operacionais), aplicadas ainda nos dias de hoje, vêm
da época.
Mais tarde, as empresas siderúrgicas, dados os elevadíssimos
investimentos em capital fixo e a concorrência que enfrentavam,
desenvolveram (no último quartel do século XIX) processos de apuramento
dos seus custos de produção: nos E.U.A., por exemplo, tornou-se conhecida
a "obsessão" pelos custos de Andrew Carnegie, o "rei do aço".
No início do século XX, grandes empresas distribuidoras (como a
Sears-Roebuck e a Woolworth) utilizavam, também, rácios adequados à sua
actividade, tais como a margem bruta sobre as vendas e rácios de rotação de
stocks.
De comum, salientava-se a preocupação com a medida e o controlo da
eficiência.
O desenvolvimento da Contabilidade de gestão prosseguiu e na
primeira década do presente século, nos E.U.A., as grandes unidades
siderúrgicas, químicas, petrolíferas e vidreiras aplicavam custos padrões
(em materiais e mão de obra) no controlo dos seus custos industriais.

Problema já debatido na época era o da imputação dos encargos gerais


de fabrico ("overhead costs"), os quais, nas unidades de maior dimensão,
eram afectados aos produtos na base de sobrecargas ("markups") incidentes
sobre as horas de mão de obra trabalhadas ou sobre as horas máquina
despendidas. E suscitavam-se, também então, objecções a esse tipo de
imputações, na base de que só em termos globais se obtinham valores
significativos, mas irrelevantes quando se pretendiam apuramentos
desagregados.

Importante foi, igualmente, a introdução de medidas como a R.O.I.


("Return on Investment"), na qual o rácio dos resultados sobre os activos era
dado (e analisado) pelo produto de duas relações: dos resultados sobre as
vendas (rendibilidade), das vendas sobre os activos (rotação).
A R.O.I. foi desenvolvida pela DuPond Powder Company, empresa
capital intensiva do sector químico, que dispunha de uma grande quantidade
de unidades produtivas com gestão descentralizada, em que se manifestava
acentuadamente a necessidade de combinar descentralização com controlo e
gestão comuns. A breve trecho a R.O.I. começou a ser desagregada por
muito mais do que dois rácios.

122
E quando, em 1919, a DuPond salvou a General Motors da falência
iminente e lhe transmitiu os seus processos de medida e controlo da
"performance", difundiram-se ainda mais os instrumentos de orçamentação e
controlo de gestão.
Também as noções de economias de escala e de economias de alcance
-sendo estas derivadas da descentralização combinada com medidas de
controlo e de uma gestão comuns- se enraizaram por volta de 1920.

Nas grandes unidades industriais e distribuidoras norte-americanas


(tais como a DuPond, a United States Steel, a General Motors, ou a Sears e a
Woolworth) vivia-se a ideia, por volta de 1925 -que correspondia, aliás, à
realidade da época-, que a Contabilidade era um indispensável instrumento
de gestão das empresas.
Atravessara-se um período de cerca de 100 anos (1825-1925) de
extraordinário desenvolvimento e afirmação prática da Contabilidade de
gestão.

Entrou-se, porém -e na opinião de Kaplan e Atkinson, durante cerca de


60 anos (isto é, de 1925 a 1985)-, em período de estagnação da
Contabilidade de gestão (e de "Relevance Lost"^), em grande parte, referem,
devido a dois factores:

- à preponderância (nomeadamente a partir da Grande Depressão de


1929-33) da Contabilidade e da Auditoria financeiras, que reduziram a
Contabilidade de gestão a subsistema da Contabilidade financeira, destinado
a apresentar custos de absorção, para efeitos de valorização de existências,
sem relevância para gestão, mas respeitando o princípio da prudência; 4

3 "Relevance Lost" (relevância perdida) é expressão que utilizamos em homenagem à já


clássica obra de Robert Kaplan e de Thomas Johnson, publicada em 1987, sob o título
"Relevance Lost: The Rise and Fall of Management Accounting", ou, traduzindo, "Relevância
Perdida: Ascensão e Queda da Contabilidade de Gestão".
4
Os custos administrativos, comerciais e financeiros desde cedo foram encarados pelos
Auditores como custos do período, ou seja, custos extintos (não imputáveis a existências). Já
os "overhead costs" foram encarados como custos dos produtos, isto é, custos a imputar às
existências finais; a imputação dos overhead costs" fazia-se com base em "markups" assentes
em horas homem ou horas máquina consumidas pelos produtos.

123
-à clara preferência, nos E.U.A., por sistemas monistas, relevando num
só conjunto os movimentos das empresas com o exterior e os seus
movimentos internos.

Temos, no entanto, que assinalar que (na nossa opinião) a exposição de


Kaplan e Atkinson é passível de críticas, dado que:

a) Incide, em exclusivo, sobre os E.U.A. e ignora grandes autores


europeus -como Schmalenbach (que já em 1899 estabelecera a
distinção entre custos fixos e custos variáveis), Schneider e
Pederson- e os respectivos contributos;
b) Ignora o método das secções homogéneas, desenvolvido pela
CEGOS, em França, em 1927 e publicamente exposto em 1937,
após 10 anos de experimentação;
c) Exagera ao referir 60 anos de estagnação da Contabilidade de gestão:
mesmo nos E.U.A. verificaram-se contributos inovadores, quer nos
anos 30, quer nos 50.

Atente-se, quanto a este aspecto, no custeio variável, que tanto pode ser
encarado como uma modelização simples permitindo a antevisão dos
resultados em diferentes níveis de produção e vendas,5 como pode ser visto

Como se sabe, no custeio variável a componente fixa dos encargos gerais de fabrico é
tratada como custo do período, logo, custo extinto, não imputável a existências. Isso permite a
definição de funções lineares de resultados (em que a variável independente simboliza
quantidades vendidas), proporcionando fácil determinação do "break-even" (ponto crítico de
vendas) e a previsão de resultados para diferentes níveis de vendas. Também no custeio por
absorção se podem efectuar previsões e análises custo/volume/resultado; só que, então, as
funções-resultados que se definem são não lineares a duas variáveis (simbolizando
quantidades produzidas e quantidades vendidas), tendo as análises custo/volume/resultado
que assentar na utilização de derivadas parciais combinadas com o cálculo diferencial.
Prevêem-se então variações nos resultados, em consequência de alterações em quantidades
produzidas e em quantidades vendidas, com diferenças (em regra) irrelevantes. Tanto quanto
é do nosso conhecimento, este caminho (aplicação do cálculo diferencial a funções-resultados
em custeio por absorção) não tem sido suficientemente desbravado. No entanto, entre nós,
Matos de Carvalho tem procedido a modelizações de resultados tanto em custeio variável
como em custeio por absorção; o recurso a derivadas parciais, mas não ao cálculo diferencial,
tem, porém, limitado as análises do autor ao impacte sobre os resultados de variações
unitárias no custeio por absorção -o que , sendo relevante em termos económicos, apresenta
escasso interesse em termos empresariais. Pode, contudo, afirmar-se que o caminho está já
iniciado...

124
como reacção à perda de relevância no apuramento dos custos por absorção
-nos moldes em que esse apuramento se efectuava.

Entendemos, no entanto, que é razoável afirmar que a Contabilidade de


gestão quase estagnou, não durante 60 anos (1925-1985), mas durante cerca
de 30 (1955-1985) -com alguma dose de arbitrariedade que estas datações
normalmente contêm.

E assim chegamos ao presente, ou ao passado não muito distante (anos


80), em que se verificou que a Contabilidade de gestão não evoluiu, mas em
que, naturalmente, o Mundo não parou nem esperou pela Contabilidade de
gestão.

2.2. Meio ambiente actual e condicionantes da gestão das


empresas - relações com a Contabilidade de gestão

Em termos muito sumários (mais de apresentação de tópicos do que de


explicações), o ambiente que, desde há anos, condiciona a vida e a gestão
das empresas e que obrigou (e obriga) a Contabilidade de gestão a evoluir
caracteriza-se (sem pretender ser exaustivo) por:

-Globalização das comunicações, dos mercados de bens, de serviços e


financeiros, bem como da concorrência; vide: G.A.T.T. (mais recentemente,
Organização Mundial de Comércio) e desarmamentos pautais, espaços
económicos supranacionais (com liberalizações quer dentro de cada espaço,
quer relativamente a áreas exteriores), deslocalizações industriais,
internacionalização das empresas; afirma-se (e bem) que "Portugal é uma
pequena economia aberta";

-Novos países/espaços industrializados: Coreia, Taiwan, Singapura,


Hong-Kong, China (esta não generalizadamente, mas com efectiva
importância em diversos sectores);

-Encurtamento do ciclo de vida dos produtos, ou seja, do período que


abrange o lançamento, o crescimento, a maturidade e o declínio dos
produtos;

125
-Importância acrescida dos serviços, das actividades de enquadramente
e de suporte da produção, logo, dos custos indirectos; vide a automação:
começa-se pelo CA.D. ("Computer Aided Design"), passa-se para o C.A.D-
C.A.M. ("Computer Aided Design" e "Computer Aided Manufacturing"),
entra-se no F.M.S. ("Flexible Manufacturing Systems") e, depois, no C.I.M.
("Computer Integrated Manufacturing", com ligação em rede e sob controlo
computorizado da produção e da armazenagem, combinando-se produção
robotizada com veículos automatizados que transportam e armazenam
matérias primas, produtos em curso e produtos acabados, sendo a
intervenção humana quase inexistente, ou melhor, quase invisível); e,
verificam-se: elevadas amortizações de equipamentos, necessidade de
engenheiros de "software", de operadores de sistemas, de trabalhadores
especializados na conservação de equipamentos sofisticados; de tudo isso
resulta o crescimento dos custos indirectos e a premência em responder à
velha questão de imputar com relevância esse tipo de custos; outros
exemplos: na 2a Guerra Mundial, "por detrás" de cada combatente
encontravam-se 2 militares de suporte, na Guerra do Golfo (em 1991), cada
combatente norte-americano contava com 10 militares de apoio; os custos
em mão de obra directa de um Macintosh rondam os 2% do custo total;

-Novos processos, estilos e "filosofias" de gestão: "Just in Time" (que


é, como se verá, muito mais do que simples técnica de redução de stocks),
partenariado com fornecedores, qualidade total, organizações "lisas" e
matriciais, excelência empresarial, melhoria contínua e fidelização de
clientes, "target costing" (isto é, o preço de venda possível é que determina o
custo industrial "alvo" e tudo é feito, desde a fase da concepção dos
produtos, para produzir dentro do custo "alvo" definido), "downsizing",
reengenharia, especial atenção aos recursos humanos ("não há qualidade
sem pessoas de qualidade");

-Noção de que pronto e inteligente aproveitamento de oportunidades é


(pelo menos) tão importante como elaborado planeamento; não há, apenas,
ameaças: há também (sobretudo?) oportunidades; requerem-se empresas
"leves e lisas", com descentralização e respostas prontas, tendo, no entanto,
que existir "núcleo duro" de coesão: dado pelo pensamento estratégico, pela
qualificação do pessoal, pela cultura da empresa e partilha de valores, por
sistema de informação para gestão relevante e tempestivo.

126
Pode, porém, perguntar-se: o quê que a Contabilidade gestão tem que
ver com tudo isso?
Tem tudo; tudo porque houve e há que superar a "Relevance Lost" (a
relevância perdida):

a) Exigem-se apuramentos relevantes e tempestivos de custos, não


podendo, de modo algum, na moderna produção, desprezar-se os (ou tratar-
se com ligeireza a imputação dos) custos indirectos; e há que reconceituar a
distinção entre custos fixos e custos variáveis;

b) Há que "colar" a Contabilidade à estratégia (ou à reformulação da


estratégia) da empresa: se a estratégia da empresa é aspecto fundamental na
sua gestão, como pode a Contabilidade ignorá-la? Atente-se, por exemplo,
no modelo de Michael Porter;^ e não sendo a estratégia algo de estático,
antes dependendo do comportamento dos outros actores (concorrentes da
empresa), há que obter e tratar dados de origem interna e externa;7

c) Exigem-se outros horizontes temporais no apuramento dos custos; há


que obter custos por projectos -começando-se por captar o que sucede a
montante do lançamento em produção da Ia unidade de um novo produto-,
conseguindo compatibilizar apuramentos em visão de longo prazo com
valores para demonstrações externas anuais, semestrais ou trimestrais;

Considerando o modelo de estratégias de Michael Porter (empresas cuja estratégia assenta


na liderança pelos custos, empresas que concorrem na base da diferenciação dos seus
produtos ou serviços e empresas que vivem da focalização, de nichos do mercado), observe-se
que: nas empresas lideres pelos custos, é fundamental implantar custos padrões com
permanentes apuramentos de desvios; nas que diferenciam os seus produtos (ou serviços),
haverá que controlar devidamente despesas de investigação e desenvolvimento; naquelas que
vivem de nichos de mercado, a informação terá de contemplar como evoluem quotas de
mercado da empresa e de concorrentes.
-7

Tenhamos presente que as disciplinas da estratégia caracterizam os diferentes campos de


batalha e determinam os factores que conduzem a vantagens no posicionamento da cada actor,
com vista à enunciação de regras para o sucesso. Esta noção, aplicada à Contabilidade
(estratégica) conduz à necessidade de obter, tratar e comparar informação interna e
informação externa (posicionamento dos outros actores), por exemplo: custos de
concorrentes, ou dos melhores concorrentes, comparativamente com a "performance" e com
os custos da empresa.

127
d) Requer-se atitude crítica e actuante -não "fatalista"- perante os
custos; isto é, que se determinem custos relevantes para decisões,
oportunamente obtidos, analisados e comunicados, mas, mais do que isso,
que se conclua se são custos adequados, "sustentáveis" perante os custos dos
melhores concorrentes, quais as respectivas tendências evolutivas (em si
mesmas e perante os melhores) e que fazer para os reduzir;

e) Sem esquecer medidas físicas e informações de tipo novo na


Contabilidade (qualitativas, por exemplo), que podem ser decisivas no
proporcionar de informação relevante e tempestiva.

O Contabilista (de gestão) terá cada vez mais de ser "bilingue"


(expressão de Michel Lebas), ou "trilingue", no sentido de "se sentir à
vontade", no mínimo, na Contabilidade, na Gestão e nos sistemas de
informação de gestão.

Não terá, por certo, vida nem tarefas fáceis. Mas quem as terá, no
futuro?

3. Contabilidade de gestão e seu futuro

3.1. Função da Contabilidade/do Contabilista (de gestão)

Qual, pois, o papel da Contabilidade/do Contabilista (de gestão), num


futuro que, em muitos casos, é já presente, ou, até, passado?

Na nossa opinião, é o seguinte:

-Participar activamente -no quadro da sua (alargada) formação- na


construção (nunca acabada) de uma organização de elevada "performance",
através:

Io) Da concepção (em ligação com os gestores e com os outros


membros da equipa) e implantação de um sistema, relevante e oportuno, que
meça a "performance" da empresa e a sua tendência (em si mesma e
comparativamente com a das melhores empresas), sistema esse que também
capte e comunique medidas não monetárias e se integre na estratégia da
empresa;

128
2o) Da modelização do comportamento dos custos da empresa, por
forma a permitir previsões válidas;

3o) De uma atitude actuante perante os custos e a "performance" da


empresa e de novos horizontes temporais no apuramento dos custos.

E isto suscita uma imensidão de questões. Razões de economia de


exposição forçam-nos a incidir, apenas, nas três que, de seguida, expomos.

3.2 Novas concepções

3.2.1. Custos fixos, custos variáveis, moderna produção e custos


indirectos

Afirma-se frequentemente: custos fixos são os que não variam, no seu


total, com as variações do volume de produção.

Mas esta conceituação, tão simples na sua aparência, encerra enormes


dificuldades. Recorde-se, por exemplo, Eric Schneider, que, na clássica obra
(dos anos 40) "Contabilidade Industrial", afirmava tornar-se "a floresta
virgem dos custos" especialmente densa logo que se tentava penetrar na
distinção entre custos fixos e variáveis...

Ora, para Kaplan e Atkinson, o problema não reside tanto em


determinar quais os custos fixos e quais os custos variáveis de dada
empresa, mas antes em apurar porquê entre duas empresas industriais, do
mesmo sector de actividade, produzindo o mesmo tipo de produto, com o
mesmo volume de produção e tecnologias idênticas,

-uma tem custos (ditos) fixos correspondentes, por exemplo, aos


ordenados e encargos de 2 trabalhadores qualificados de suporte às
actividades produtivas, porque, por hipótese, produz 1.000.000 de
unidades/ano do produto X, com uma só gama, A;

-enquanto a outra tem custos (ditos) fixos correspondentes, por


exemplo, aos ordenados e encargos de 12 trabalhadores qualificados com o
mesmo tipo de funções, porque, por hipótese, produz 1.000.000 de

129
unidades/ano do produto X, repartidas por 1.001 gamas (variando a
produção de cada gama das 100 às 100.000 unidades/ano).

Kaplan e Atkinson situam a resposta à questão fundamental que


formulam na variedade de produtos e, ou, de gamas e na complexidade da
produção.

É que, na primeira daquelas empresas, comparativamente com a


segunda, tudo é simples: poucas paragens e tempos de preparação e
reafinação de máquinas, poucas reprogramações de máquinas de comando
numérico, poucos reescalonamentos da produção, poucos lançamentos de
ordens de fabricação, poucos movimentos de controlo de itens em (ou para)
stocks, facturação e expedição simplificadas, sistema de informação para
gestão "leve".

Acentuam os citados autores que os custos (ditos) fixos são os que mais
tendem a crescer na moderna produção, tendendo a variar com a diversidade
dos produtos, ou das gamas, bem como com a complexidade da produção.

E a ilação é a seguinte: se cada vez mais a "velha" questão da


imputação dos custos indirectos não pode ser ignorada, nem levianamente
tratada, há que encontrar bases de imputação "finas" (e não "volúmicas" -
expressão de Michel Lebas), que tenham em conta os factores de
variabilidade dos (ditos) custos fixos -problema dos "cost drivers"
adequados e do "A.B.C.".

A não ser assim, as consequências são de dois tipos:

-a) subvenções "cruzadas" das pequenas séries (exigindo permanentes


reafinações e reprogramações de máquinas) pelas grandes, dos produtos
complexos (consumindo muitas actividades) pelos simples, das séries ou dos
produtos fazendo muito apelo a actividades de suporte da produção pelos
que fazem pouco apelo;

-b) gestão errada dos recursos da empresa, conduzindo ao permanente


estrangulamento dos recursos (mais) escassos.

E isto coloca-nos no "coração" do "A.B.C./A.B.M".

130
3.2.2. "A.B.C." (Custeio Baseado nas Actividades), valor
acrescentado e "A.B.M." (Gestão Baseada nas Actividades)

O "A.B.C" assenta nas seguintes ideias-chave:

-São as actividades, mais que os produtos, que consomem recursos


(donde, gerir custos supõe gerir actividades); 8

-Os custos são directos relativamente a uma e a uma só actividade; esta


e o modo como é executada é que engendra o consumo de recursos;

-Os custos (os consumos de recursos) chegam aos produtos através da


utilização de actividades;

-Logo, imputar com relevância custos aos produtos (nomeadamente na


moderna produção) supõe visão transversal da empresa, decompondo-a em
actividades (cada secção comporta inúmeras actividades) e escolhendo
"cost drivers" 9 significativos, que raramente são "volúmicos". Assim sendo,
temos que definir actividades e que salientar que -na lógica do "A.B.C." - é
indispensável classificar as actividades (vide figura ""Activity Based
Costing", "Comptabilité à Base des Causes"").

° Dizemos que são as actividades, mais que os produtos, que consomem recursos, dado que,
embora no mercado os produtos se apresentem como os efectivos portadores dos custos,
podem existir actividades que não se transmitem (ou não transmitem utilidade) aos produtos.
y
"Cost drivers" são "vectores de custos" traduzindo adequadas relações de causa-efeito, de
tal modo que a situações de maiores utilizações de actividades sejam atribuídas maiores
custos, a situações de menores utilizações de actividades sejam atribuídas menores custos; os
autores franceses chamam aos "cost drivers" indutores de custos, enquanto os seus colegas
espanhóis lhes chamam geradores de custos.
Atendendo às características da moderna produção, os "cost drivers" assentam em larga
medida em factores como o número de ordens de fabricação, o número de reafinações, de
reprogramações, de movimentos de controlo de itens em stock; raramente (ou melhor, apenas
em tipos determinados de actividades) os "cost drivers" são "volúmicos", no sentido de se
basearem em quantidades de horas homem trabalhadas, ou de horas máquina dispendidas.
Como facilmente se deduz, os "cost drivers" têm funções idênticas às das unidades de obra no
método das secções homogéneas, conduzindo, porém, a outra "finura" de imputações, em
especial na moderna produção.

131
■§.

§ 1
Actividades são processos, conjuntos de tarefas ou de acções,
desenvolvidos com dadas finalidades, que dispõem de meios (consomem
recursos) e assentam em sistemas de conduta (métodos, modos não únicos
de dispor os meios com vista às finalidades).10

Entre as diversas classificações das actividades, apresentamos a


seguinte (embora outras também contenham enormes potencialidades, mas
mais quanto ao apuramento dos custos n ) , que conduz directamente ao
"A.B.M." e a reflexões e actuações estratégicas:

-Actividades com valor acrescentado (valor acrescentado na acepção de


Michael Porter), que são as que fazem aumentar o interesse dos
clientes pelos produtos ou serviços; dentro das actividades com valor
acrescentado há as principais (que são a "alma" do negócio) e as secundárias
(que acrescentam valor, mas que podem ser subcontratadas);

-Actividades sem valor acrescentado (mas que consomem recursos),


como, por exemplo, as que estão associadas ao recondicionamento dos
produtos.

O "A.B.C." deve, portanto, ser encarado numa dupla perspectiva:

-a) como método de análise e de apuramento dos custos, dando especial


atenção aos custos indirectos;

' " Alguns exemplos de actividades : qualificar fornecedores, recepcionar matérias, reafinar
máquinas, (re)programar uma máquina de comando numérico, produzir, efectuar controlos de
qualidade, expedir produtos. É óbvio que as actividades podem/devem ser desagregadas em
subactividades (vide "produção", actividade extremamente abrangente), devendo, porém,
como sempre, ter-se presente o binómio custo-benefício.
' ' Importantíssima é, do ponto de vista do apuramento dos custos, a classificação das
actividades, nas empresas, em: actividades ao nível unitário (exemplo, cortar dada quantidade
de pele para produzir sapatos), actividades ao nível de lote (exemplo, reafinar ou reprogramar
uma máquina, devido ao lançamento em fabricação de um novo lote), actividades ao nível dos
produtos (exemplo, formação do pessoal, devido à fabricação de um novo produto, ou a
alterações na concepção dos produtos), actividades ao nível da empresa (exemplo, actividades
da Contabilidade, ou de gestão geral). É que, como se deduz, os custos variam, nos quatro
tipos de actividades, em função de factores muito diferentes e só no primeiro tipo (ao nível
unitário) os "cost drivers" são, ou podem ser, "volúmicos".

133
-b) como ferramenta para análise crítica das actividades, conduzindo ao
"A.B.M." e a actuações ligadas à estratégia da empresa.

E esta última perspectiva é inerente ao "A.B.C.", visto que a própria


classificação das actividades empurra nessa direcção.

Observe-se, por último (tendo presente o que acabámos de expor), que


embora o "A.B.C." possa ser compatibilizado com o método das secções
homogéneas, apresenta aspectos singulares, tendo introduzido contributos de
grande alcance na Contabilidade de gestão -vide figuras "Compatibilização
"ABC/Secções Homogéneas" e ""A.B.C." e "A.B.M."".12

3.2.3. Medidas da "performance"

"Performance" I 3 é conceito difícil de definir, porque é abrangente,


cobrindo várias acepções.

Pensamos, com Michel Lebas, que o conceito supõe a eficiência


("doing things right") e também a eficácia ("doing the right things"), mas
que não se cinge à conjugação de eficiência com eficácia.

lz
Duas observações finais sobre o "A.B.C.":
a) Não nos iludamos: apesar das potencialidades do método, continua válida a mensagem do
Professor Gonçalves da Silva (em "Contabilidade Industrial", citando Costa André) de
que na lógica do pensamento económico não se requerem medidas exactas, mas sim
medidas relevantes. Também no "A.B.C.", devido (não só) à relação custo-benefício, os
apuramentos não são (não podem ser ) exactos; podem, isso sim, ser relevantes.
b) Um autor francês (Michel Lebas), com a subtileza e argúcia que lhe são reconhecidas,
chama ao 'A.B.C." "Comptabilité" (observe-se agora) "À Base des Causes"; pensamos
que, de facto, na simplicidade do método, conjugada com o ir à origem das coisas, reside
a sua fecundidade; e não podemos, mais uma vez, deixar de recordar o Professor
Gonçalves da Silva (em "Contabilidade Industrial"), citando Kipling (traduzimos sem
preocupações de rigor literário):
"Tenho seis honestos servidores,
Ensinaram-me tudo o que sei.
Chamam-se O Quê e Porquê e Quando
E Como e Onde e Quem."
1 o
Uma tradução aceitável de "performance" é desempenho; mas, brincando um pouco
(embora muito seriamente): não se traduza a palavra "performance", porque o próprio
impacte sonoro do termo veicula um dinamismo que se perde com "desempenho".

134
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Deste modo, empresa com elevada "performance" é aquela que, entre
outros aspectos:

-consegue estabelecer, em devido tempo, objectivos adequados,


demonstra capacidade de realização (de passagem de objectivos a
concretizações), produz com moderado consumo de recursos (com
eficiência) e com qualidade, projecta uma boa imagem de si e dos seus
produtos ou serviços para o exterior, obtém melhoria contínua e fideliza os
seus clientes, aumenta o seu próprio valor, sobrevive e cresce de forma
sustentada num horizonte de longo prazo.

Mas se é difícil definir "performance", é imprescindível -numa empresa


que pretenda sobreviver no Mundo de hoje- medir, em permanência, a
"performance".

Haverá, porém, que saber medi-la, conseguindo, aos vários níveis da


organização, escolher as variáveis-chave para o sucesso da empresa (o que
supõe estabelecer adequados nexos de causalidade com os objectivos e a
estratégia da empresa), que possam ser medidas, em si mesmas e na sua
tendência evolutiva (e comparativa em face das melhores empresas).
Por exemplo: se se admite que é fundamental para os objectivos de
dada empresa cumprir prazos de entrega a clientes (nexo de causalidade
estabelecido), medir a "performance" exige a determinação do impacte da
percentagem de encomendas em atraso relativamente à data negociada com
os clientes. Que dizer, então, do facto de a empresa ter passado da média 5
dias de atraso, afectando 10% dos clientes, para 5 dias de atraso, afectando
5% dos clientes? A empresa terá evoluído bem, segundo parece; mas como é
que isso se compara com as melhores empresas, ou com as melhores

137
empresas concorrentes? Atente-se na figura "Medidas da ""Performance" E
"Benchmarking"". 14

E tudo isto é fundamental para a Contabilidade e para o Contabilista


(de gestão), em especial quando na moderna produção muitas das
tradicionais medidas da "performance" podem não assentar nas (ou não
seleccionar as) variáveis-chave a serem medidas.

Alguns exemplos:

-Em empresa que tenha aplicado a "filosofia" "Just-in-Time" (ver figura


""J.I.T." = "Just in Time"") medidas físicas do tipo tempo de fabricação
dividido pelo "throughput time" (idealmente = 1) são fundamentais, tal
como pode ser fundamental calcular tempos de transporte, tempos de espera,
ou distâncias percorridas (isto é, factores de ineficiência).15

O exemplo que demos mede a "performance" a um determinado nível da organização; a


um nível superior serão (ou serão também) necessárias novas medidas da "performance".
Será, assim, cada vez mais necessário avaliar, a par da eficiência e da eficácia, a evolução da
empresa com base em novos indicadores, atendendo, por exemplo, à variação (entre o início e
o fim de determinado período) do valor dos sistemas (por exemplo, do sistema da qualidade e
do sistema da informação para gestão), do valor da clientela e do valor dos recursos humanos.
É claro que isto suscita uma importante questão: a de que medidas relevantes podem
apresentar-se como pouco precisas; mas esse tipo de caminho terá, por certo, que ser
percorrido, porque só assim se estabelecerão nexos de causalidade com factores de sucesso a
longo prazo.
Observe-se que, muito mais do que técnica de redução de stocks, o "Just-in-Time" é
"filosofia" de gestão, em que se procura, através da conjugação de múltiplos factores, reduzir
o tempo que medeia entre o momento do início da fabricação e o momento da expedição para
clientes (o chamado "troughput time"). Define-se a seguinte relação: "troughput time" =
tempo para fabricação + tempos para controlo + tempos para transportes + tempos de espera;
considera-se que o tempo para fabricação é o que acrescenta valor e que o tempo restante não
acrescenta valor (é "waste time"); donde, o objectivo é fazer coincidir o "troughput time" com
o tempo para fabricação (conseguindo "waste time" = 0), o que exige qualidade total,
eliminação de tempos de espera, redisposição na localização dos equipamentos e dos
armazéns, elevada formação do pessoal, minimização de todos os tipos de existências (causas
de "waste times" e factores de aumento dos custos), tudo tendo que se articular no sentido de
a produção fluir continuamente. É claro que as empresas que encaram o "J.I.T." como
simples técnica de redução de stocks" limitam-se a empurrar para os seus fornecedores
matérias primas e outros componentes, mas nem conseguem reduzir outros tipos de
existências (produtos em curso e acabados), nem retiram do "J.I.T." os seus (outros) imensos
benefícios.

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-Em empresas que adoptaram o "J.I.T" pode não fazer sentido apurar
medidas de eficiência (relações "inputs'Voutputs") centradas neste ou
naquele trabalhador, nesta ou naquela máquina: nesse ambiente tendem a só
ser significativas medidas ao nível de toda a linha, porque uma ineficiência
"aqui" resulta, quase sempre, de um problema "acolá";

-Por outro lado, em muitas produções cerca de 80% dos custos totais
dos produtos, ao longo do seu ciclo de vida, estão predeterminados no
momento da fabricação da Ia unidade de um novo produto; isto salienta a
importância da concepção dos produtos e das despesas de investigação e
desenvolvimento: é muito mais fácil e racional conceber devidamente e, por
isso, produzir economicamente, do que dar pouca atenção à concepção e
conseguir, depois, produzir economicamente; mas isso evidencia duas
questões fundamentais para a Contabilidade de gestão:

-a importância em medir as despesas de investigação e


desenvolvimento;

-a necessidade de deslocar o cálculo dos custos do curto prazo para o


período que corresponde ao ciclo de vida dos produtos e na (eventual)
recuperação dos custos de I.&D. ao longo de um período que (problema
adicional) tem vindo a encurtar-se; teremos, então, uma Contabilidade de
custos por projectos, ou um "life-cycle costing" -vide figura ""Target
Costing"".16

' " Com o "target costing", aquando da decisão de fabricar um novo produto, define-se um
preço de venda compatível com as condições do mercado e com os objectivos de vendas, ao
qual se deduz uma margem (margem alvo, que assenta na estratégia da empresa, bem como na
sua política de crescimento e de financiamento), assim se obtendo um custo de fabricação
("target cost", custo alvo). Estima-se, depois, o custo de produção do novo produto que é,
normalmente, largamente superior ao custo "alvo", havendo, por isso, desvio a anular.
Desenvolvem-se, nesse sentido, todos os esforços na fase da concepção do produto e faz-se
intervir a "engenharia de valor", para simplificar e eliminar componentes do produto, sem
diminuição do interesse do consumidor. De seguida, o planeamento da produção e a redução
contínua de custos durante a fabricação ("kaizen", termo japonês) conduzem a situar o custo
efectivo nos limites do custo alvo. A técnica foi desenvolvida pela Toyota (há cerca de vinte
anos) e é aplicada pela totalidade dos construtores japoneses de automóveis, bem como por
cerca de 75% dos fabricantes japoneses de produtos electrónicos.

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4. Conclusões

Após um período (de cerca de 100 anos) de extraordinário


desenvolvimento e de demonstração prática da sua utilidade, a
Contabilidade de gestão passou por várias décadas de quase estagnação.

A partir, sensivelmente, de 1985, a Contabilidade de gestão -forçada a


evoluir pelas exigentes condições do Mundo actual- deu sinais de
recomeçar a responder às necessidades informativas das empresas.

A reconceituação dos custos fixos, o desenvolvimento do "A.B.C." e os


passos que decididamente começaram a ser dados para uma imputação
relevante dos custos indirectos, a perspectiva estratégica que a
Contabilidade tem vindo a assumir, a noção de que também é preciso captar,
analisar e comunicar informação não monetária e que as condições em que
decorre a moderna produção e a gestão das empresas requerem medidas da
"performance" de novo tipo, a deslocação a que se começa a assistir do
cálculo dos custos do curto para o longo prazo mostram que a Contabilidade
de gestão recomeçou a evoluir.

Definitivamente ultrapassada está a visão da Contabilidade de gestão


como mero subsistema da Contabilidade financeira.

E embora pensemos que a globalização da concorrência aumenta as


necessidades informativas das empresas -porque estas carecem, mais ainda
do que antes, de medidas relevantes e tempestivas da "performance"-
abrindo à Contabilidade de gestão oportunidades inauditas, também
pensamos que o arranque e a renovação da Contabilidade de gestão ainda
mal começaram.

O futuro pode, de novo, ser extraordinariamente profícuo, porque as


oportunidades são imensas; tudo depende das respostas que a Contabilidade
de gestão for capaz de dar.

143
Principais obras e artigos de apoio

-"Advanced Management Accounting" - Robert Kaplan, Anthony


Atkinson, Prentice Hall International Editions, Englewood Cliffs, 2a edição,
1989.

-"Contabilidad. Análisis Contable De La Realidad Económica" -


Leandro Canibano, Ed. Pirâmide, Madrid, 6a edição, 1991.

-"Contabilidad de Costes Y Contabilidad De Gestion" - Angel Saez


Torrecilla, Antonio Fernandez Fernandez e Gerardo Gutierrez Diaz,
McGraw-Hill, Madrid, 1994.

-"Contabilidad de costes y Contabilidad de gestion: una propuesta


delimitadora" - Antonio Fernandez Fernandez, em "Cuestiones Actuales de
Contabilidad de Costes", publicação da ACODI, coordenada por Angel Saez
Torrecilla, McGraw-Hill, Madrid, 1993.

- "Contabilidade Industrial" - F.V. Gonçalves da Silva, Sá da Costa,


Lisboa, 6a Edição, 1975.

-"O Custeio Variável e a Indústria. Uma Opinião Crítica" - José Manuel


de Matos Carvalho, em "Jornal de Contabilidade", boletim da APOTEC, n°
225, Dezembro de 1995.

-"Revue Française de Comptabilité", nrs. 226 (Set./91), 265 (Mar/95),


269 (Jul,Ag./95) - Michel Lebas: "Comptabilité analytique basée sur les
activités, analyse et gestion des activités", "Comptabilité de gestion: les
défis de la prochaine décennie", "Oui, il faut définir la performance".

144
Diálogo Estratégico Empresas /Estado*

Virgínia Maria Granate Costa e Sousa


Professora Coordenadora do Quadro de Economia
do I.S.C.A.A.

* Lição apresentada em Provas públicas - Dec. - Lei n° 185 / 81, de 1 de Julho, art. 26, n°
ai. a), no I.S.C.A. de Aveiro, em Abril de 1996.
Sumário :

1. A Comunidade Económica no Seio da Tríade

1.1. O modelo de crescimento comunitário


1.1.1. Crescimento e Emprego
1.1.2. Emprego por Grandes Ramos
1.2. Grandes Causas Macroeconómicas do Desemprego
na C E .
1.3. As Respostas da Política Económica
1.4. Competitividade e Emprego

2. Os Actores da Mudança - as Empresas e o Estado


2.1. A cultura dominante
2.2. As Responsabilidades Sociais das Empresas e o Fim
do Welfare State
2.3. O Diálogo Estratégico

Anexo

146
1. A Comunidade Económica no Seio da Tríade

A Comunidade económica do optimismo, do desenvolvimento


sustentado, de Maastricht, "do progresso social consagrado na História da
Europa "', acorda, subitamente com um pesadelo - a recessão , o
desemprego, as desigualdades sociais a fome e a miséria de milhares de
pessoas ! Porquê?

1.1. O modelo de crescimento comunitário

Competir numa economia global lutando desesperadamente pela


sobrevivência e pela vitória é hoje um objectivo bem patente e uma palavra
que inunda o nosso quotidiano. E tudo se globaliza ! Seja como globalização
financeira, dos mercados e estratégias, tecnológica, da I & D , dos modos de
vida e dos padrões de consumo , da governação e regulação , ou como
unificação política do mundo.2
Constata-se, no entanto, que o fenómeno de globalização actual se
encontra falseado pela " triadização ", uma vez que " para os japoneses,
norte americanos e europeus o mundo que conta é o seu mundo" e cada vez
mais eles investem entre si.3
É debaixo deste enquadramento sócio-económico que assistimos a um
crescimento económico comunitário modelado por uma má gestão de
recursos: dos recursos materiais pela sua sobreutilização e esgotamento ; dos
recursos humanos pela sua manifesta subutilização.

1
Conclusões da Presidência, Conselho Europeu de Corfu, 24-25 de Junho de 1994, pág. 7.
*■ Grupo de Lisboa, Limites à Competição , Fundação Calouste Gulbenkian, 1994 ,
Coordenação da Ed. Portuguesa : J.L. Cardoso e C.I.S.E.P.., Tradução de Maria José Silveira,
Economia & Gestão, Pub. Europa - América , Portugal, 1994, pág. 45.
■* Idem , ibidem pág. 114 a 116.

147
1.1.1. Crescimento e Emprego

O crescimento comunitário tem sido , com efeito , um crescimento


pouco intensivo em emprego, bem ao contrário dos E.U.A. - que se
apresentam como modelo. Vejamos os quadros ( n° 1 a 6 ) e os gráficos ( n°
1 a 6 ) reveladores da divergência entre taxas de crescimento do P.I.B.p.m. e
taxas de crescimento do emprego total em alguns países da Comunidade
Económica , nos E.U.A. e no Japão.

Portugal - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,


do P.I.B. p.m. ( a preços constantes de 1985 )
e do Emprego Total - Quadro n° 1

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

P.I.B. 4,58 II 1,62 2,14 -0,17 -1,87 2,81 4,14 5,25 3,92 5,16 4,37

Emprego * -0,39 1,06 -1,9 -1,15 -1,5 0 -2,7 || 0,5 0,08 1,04 0,87

Fonte : National Accounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993
* Os valores utilizados em 87 / 90 são previstos

148
Portugal - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,
do P.I.B.p.m. e do Emprego Total - Gráfico n" 1

Fonte : Quadro n° 1 , na página anterior

França - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,


do P.I.B. p.m. ( a preços constantes de 1985 )
e do Emprego Total - Quadro n° 2

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 li 1988 11989 1990 1991

P.I.B. | 1,62 1,18 2,55 0,69 1,31 1,88 2,52 2,25 li 4,5 li 4,1 2,25 1,16
Emprego II 0,05 -0,6 0,16 -0,39 -0,93 -0,31 0,11 0,29 li 0,79 II 1,1 0,99 0,41

Fonte : National Accounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

149
França- Taxas de variação, em relação ao ano anterior,
do P.I.B.p.m. e do Emprego Total - Gráfico n" 2

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Fonte : Quadro n° 2 , na página anterior

Reino Unido - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,


do P.I.B. p.m. ( a preços constantes de 1985 )
e do Emprego Total - Quadro n° 3
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 11989 || 1990 1991

P.I.B. -2,18 J]-1,31 1,69 II 3,66 2,33 3,75 4,15 4,82 4,31 II 2,11 || 0,52 -2,25

Emprego -0,26 -3,9 1-1,8 -1,25 1,9 1,26 -0,09 1,8 3,2 2,5 I 1,1 -2,99

Fonte : National A ccounts.Detailed Tables.Vol. II , 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

150
Reino Unido - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,
do P.I.B.p.m. e do Emprego Total - Gráfico n° 3

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Fonte : Quadro n° 3 , na página anterior

Alemanha - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,


do P.I.B. p.m. ( a preços constantes de 1985 )
e do Emprego Total - Quadro n° 4

li 19801198111982 li 1983 1984 1985 11986 O 1987 1988 1989 1990 1991

P.I.B. 1,07 0,17 -0,95 1,54 2,78 [I 1,89 2,23 1,42 3,72 3,41 5,09 3.71

Emprego || 1,55 -0,1 -1,19 -1,42 II 0,16 0,74 1,39 0,72 0,78 1,46 3 2,57

Fonte : National A ccounts.Detailed Tables,Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

151
Alemanha - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,
do P.I.B.p.m. e do Emprego Total - Gráfico n" 4

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Fonte : Quadro n°4 , na página anterior

E.U.A. - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,


do P.I.B. p.m. ( a preços constantes de 1985 )
e do Emprego Total - Quadro n° 5
11980 II1981 II1982 1983 1984 11985 1986 J] 1987 1988 li 1989 li 1990 1991
P.I.B. -0,4 li 2,2 11-2,15 3,6 6,66 3,15 2,78 3,08 I 3,93 2,72 0,81 -1,14
Emprego 0,28 II 0,99 ||-1,65 1,16 4,89 2.3 1,74 2,9 2,84 2,37 1,21 1,61
Fonte : National A ccounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

152
E.U.A. - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,
do P.I.B.p.m. e do Emprego Total - Gráfico n° 5

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Fonte : Quadro n° 5 , na página anterior

Japão - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,


do P.I.B. p.m. ( a preços constantes de 1985 )
e do Emprego Total - Quadro n° 6

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991

P.I.B. 13,63 3,58 3,16 2,7 | 4,27 4,98 2,63 4,11 6,21 4,71 4,82 4,05

Emprego 0,68 0,77 0,82 1,51 0,34 0,56 0,85 0,85 1,67 1,96 2,11 2,05

Fonte : National Accounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

153
Japão - Taxas de variação, em relação ao ano anterior,
do P.I.B.p.m. e do Emprego Total - Gráfico n° 6
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Fonte : Quadro n° 6 , na página anterior

Portugal - com diferenciais de crescimento / emprego muito elevados ,


em 86 e 87, período cujo crescimento se encontra induzido por altas taxas de
investimento, revela em 87/90, ao contrário do período anterior, taxas de
crescimento do emprego sempre positivas.
França - Com diferenciais de crescimento / emprego mais elevados em
88 (o ano de maior taxa de crescimento do P.I.B.) e 89 ( o 2° melhor ano
para o crescimento ), revela uma maior aproximação entre crescimento e
emprego em fases descendentes do ciclo como acontece em 83 e 91.0
período 88 /90 revela-se como o mais generoso na criação de empregos.
Reino Unido - apresenta fortes diferenciais de crescimento / emprego
em 83 e 86. Os anos mais favoráveis para a criação de emprego são os de 88
e89
Alemanha - caracterizada por baixos diferenciais de crescimento /
/emprego mesmo em anos de maior crescimento do P.I.B. como é o caso de
1988e90.

154
O ano de 83 evidencia um gap razoavelmente elevado entre o
crescimento do P.I.B. e do emprego manifestamente devido ao crescimento
negativo do emprego. Bons anos de crescimento económico como os de
89/91 revelam diferenciais crescimento / emprego reduzidos e boas taxas de
crescimento do emprego.
E.U.A. - revela-se como país modelo na apresentação dos menores
diferenciais crescimento / emprego sendo o pior resultado atingido em 1983.
O crescimento do emprego é sempre positivo, com excepção do ano de
82 - o pior ano do ciclo. Os anos de 80 e 91, apesar de ostentarem um
crescimento negativo do P.I.B., revelam-nos um crescimento do emprego
positivo, o que é um facto a merecer destaque.
Japão - apresenta diferenciais elevados, atingindo o máximo nos anos
de maior crescimento do P.I.B., ou seja, em 85 e 88.
Apesar de ostentar grandes diferenciais crescimento / emprego, este
país apresenta umas boas taxas de criação de emprego.
De assinalar a redução do diferencial crescimento / emprego em 91
apesar da boa taxa de crescimento do P.I.B..
Os anos de 88 /91 são bons anos para a criação de emprego neste país.

No ano de 91 os países que conseguem fazer coincidir boas taxas de


crescimento do P.I.B. e um reduzido diferencial crescimento / emprego são a
Alemanha e o Japão e principalmente este último com a taxa mais elevada
de crescimento do P.I.B. , 4,05 %.
Portugal , em 1990, apresenta também uma boa taxa de crescimento,
4,37%, mas infelizmente um diferencial crescimento / emprego elevado.

As médias das variações anuais ,do P.I.B. e do emprego total , para o


período 80/91 permitem também uma visão comparada e mais algumas
conclusões ( Quadro n° 7 e Gráfico n° 7, na página seguinte ) .

155
Taxas de variação, em relação ao ano anterior,
do P.I.B.p.m. ( a P.C. de 85 ) e do Emprego Total
em % ( média em 80 / 91 ) - Quadro n° 7
Portugal * França Reino Alemanha E.U.A. Japão
Unido
P.I.B. p.m. 2,89 2,17 1,8 2,17 2,1 4,07
Emprego -0,37 0,14 0,12 0,81 1,72 1,18
Gap 3,26 2,03 1,68 1,36 0,38 2,89

Fonte : Quadros 1 a 6
referente ao período 80/90

Taxas de variação, em relação ao ano anterior,


do P.I.B. p.m. ( p.c. de 85 ) e
do Emprego Total - em % ( média em 80 /91 ) - Gráfico n° 7

| ! S — *
MP.I.B.p.m. :

1 J Emprego

Gap

T;i|ião"

Fonte: Quadro n° 7 supra

O maior gap é detido por Portugal , com 3,26. É um caso preocupante


uma vez que a uma taxa de crescimento do P.I.B.p.m. elevada , 2,89 - a 2a

156
maior depois do Japão - corresponde uma taxa de crescimento do emprego
negativa , a única , no valor de 0,37. Parece evidente que o crescimento da
economia portuguesa não tem sido um crescimento intensivo em emprego,
mas intensivo em capital, com uma forte vertente importada que se constitui
como um factor negativo na criação de postos de trabalho.
Segue-se o Japão que, apesar de apresentar o segundo maior gap, 2,89,
ostenta, também, a segunda melhor taxa de criação de emprego , 1,18.
Neste país as altas taxas de crescimento do P.I.B.p.m. aparecem
associadas a elevados níveis de produtividade do trabalho, em obediência à
lei de Kaldor - Vendoorn : "um crescimento elevado ( fraco ) do P.I.B. induz
um crescimento elevado ( fraco ) da produtividade do trabalho "4 . Por outro
lado, os elevados níveis de produtividade reduzem os custos salariais e
permitem uma boa rendibilidade do factor trabalho que assim aparece como
um factor de produção privilegiado do sistema produtivo japonês.
Dos países comunitários em estudo aquele que apresenta um menor gap
é a Alemanha , com 1,36 - país cujo sistema produtivo , nível de
investimento e produtividade mais se aproxima do Japão.
Os casos da França e do Reino Unido são preocupantes principalmente
devido ao seu fraco crescimento do emprego.
Finalmente os E.U.A. , embora com uma taxa de crescimento do P.I.B.
que é cerca de metade da japonesa, ostentam uma taxa de criação de
emprego de 1,72 - a maior de todos os países em observação - o que permite
um gap reduzido - o mais reduzido - de 0,38. A reduzida taxa de crescimento
americana, associada a uma taxa elevada de criação de emprego, pode ser
explicada pela baixa dos ganhos de produtividade representando o
dinamismo do emprego no sector terciário.

Pode-se concluir que quanto maior é o diferencial entre a taxa de


crescimento do P.I.B. e a taxa de crescimento do emprego, nomeadamente
em épocas de expansão, mais difícil se torna atingir o pleno emprego uma
vez que as fases de recessão ou depressão não permitem, embora possam
reduzir o diferencial crescimento / emprego , a criação dos postos de
trabalho necessários.

4
Gourlaouen, J. P., Économie , de L' Entreprise à L'Économie Nationale, Vuibert Gestion,
Paris, 1986, pág. 234.

157
" Um aumento da intensidade de emprego do crescimento comunitário
comparável ao realizado nos E.U.A. " 5 é um grande objectivo da Europa
dos nossos dias.

1.1.2. Emprego por Grandes Ramos

Tem-se assistido, ao longo de 1980 / 1990 , no seio da Tríade , a um


crescimento que se revela criador de emprego no grande ramo Comércio e
Serviços. Observe-se o quadro n° 8, em baixo, os quadros 9 a 13 e os
gráficos n° 8 a 13 , nas páginas seguintes, sabendo que:
* Agricultura, Silv., Caça e Pesca - corresponde ao ramo 1 das National
Accounts;
* Indústria - corresponde aos ramos 5 , 10 , 20 e 23 das N.A.;
* Com. e Serviços - corresponde aos ramos 24, 29, 32, 38, 47 e 48 das
N.A.

Evolução do Emprego Total, por Grandes Ramos,


em Portugal - Base 100: 1980 Quadro n° 8

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

Ag.,Silv. Pesca 100 98,9 91,4 86,7 87,2 90,2 83,3 83,8 80,2 75,8 72

Indústria 100 100,7 100,1 99,8 95,3 93,1 89,7 88,7 89 90,5 92,2

C. e Serviços 100 103 103,9 104,6 104,6 104,6 105,9 107,7 110,3 114,8 118,3

Fonte : National Accounts.Detailed Tables.Vol. II , 1979 - 1991 , O.C.D.E.. Paris, 1993

3
Comissão Europeia, Crescimento, Competitividade, Emprego - Os Desafios e as Pistas para
Entrar no Séc. XXI, " Livro Branco " , Luxemburgo, Serviço das Publicações das C.E., 1994,
pág. 64.

158
Evolução do Emprego Total por Grandes Ramos,
em Portugal - Base 100: 1980 Gráfico n° 8

i IAg.,Silv. Pesca
Indústria
Com. e Serviços

Fonte : Quadro n° 8 , na página anterior

Evolução do Emprego Total, por Grandes Ramos,


em França - Base 100: 1980 Quadro n° 9

1980 1981 1982 1983 198411985 11986II1987 1988 198911990 1991

Ag.,Silv. Pesca 100 96,6 93,4 90,2 I 87,4 I 85 | 82,5 79,4 76,5 73,4 70,3 67,5
Indústria II 100 | 97,3 95,9 93,6 I 90 I 87 J] 85,8 84,2 83,5 83,9 84,3 83,4
C. c Serviços 100 101,1 102,7 103,91104,9 II 106,5 II 107,8 109,7 111,9 114,1 116 117,7

Fonte : National Accounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

159
Evolução do Emprego Total por Grandes Ramos,
em França - Base 100: 1980 Gráfico n° 9

' ' Ag s;iv Pesca


1 Indústria
-Com. e Serviços

O O O O O O O O O O O O S C S O O C 0 0 9 \ 0 \

Fonte: Quadro n° 9 , na página anterior

Evolução do Emprego Total, por Grandes Ramos,


no Reino Unido - Base 100: 1980 Quadro n° 10

1980 1981 1982 1983 1198411985 1986 1987 1988 1989 1990

Ag.,Silv. Pesca 100 97,7 96,6 95,1 I 94 I 94,2 92,2 J) 90,4 88,7 86,5 86,9

Indústria 100 91,3 86,6 II 82,6 I] 81,8 | 81,3 79,2 79,2 J 80,7 82,5 82,8
C. e Serviços 100 99 99,1 99,7 103,2 105,5 106,7 109,6 114 117,8 121,9

Fonte : National Accounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

160
Evolução do Emprego Total por G. Ramos,
no Reino Unido - Base 100: 1980 Gráfico n° 10

Ag.,Silv. Pesca
140
Indústria
Com. e Serviços

Fonte: Quadro n° 10 , na página anterior

Evolução do Emprego Total, por Grandes Ramos,


na Alemanha - Base 100: 1980 Quadro n° 11

1980 1981 1982 li 1983 li 1984 1985 1986 II1987 li 1988 1989 1990
Ag.,Silv. Pesca 100 li 97,5 94,2 91,2 88,3 | 85,2 | 83,9 80,2 76,8 73,3 70,9
Indústria 100 98,4 95,4 li 92,5 li 92,1 92,1 93,1 J 92,9 92,7 93,8 96,6
C e Serviços | 100 I|l01,4|| 102 102 102,911104,6 li 106,6 108,5 110,6 112,8 116,7
Fonte : National Accounts,Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

161
Evolução do Emprego Total por G. Ramos,
na Alemanha - Base 100:1980 Gráfico n° 11

]Ag.,Silv. Pesca
120
Indústria
100 Com. e Serviços

Fonte: Quadro n" 11 , na página anterior

Evolução do Emprego Total, por Grandes Ramos,


nos E.U.A. - Base 100: 1980 Quadro n° 12

1980 1981 1982 II1983 || 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991

Ag.,Silv. Pesca 100 99,5 I 97,9 I 99 | 96,5 91,2 90,9 J) 93,2 93,8 92,9 91,8 92,7
Indústria 100 99,7 || 93 I 91,7 | 97,3 97,7 1 97,2 97,8 1100,11| 100,4 99,5 95

C. e Serviços 100 f 101,7II102,2 II104,4 109,5 113,2 116,2 120,7 124,4 128,4 131 130

Fonte : National Accounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

162
Evolução do Emprego Total por G. Ramos,
nos E.U.A.- Base 100:1980 Gráfico n° 12

' ' Ag.,Silv. Pesca


I Indústria
■Com. e Serviços

Fonte: Quadro n° 12 , na página anterior

Evolução do Emprego Total, por Grandes Ramos,


no Japão - Base 100: 1980 Quadro n° 13

1980 1981II198211983 11984 1985 1986 1987 1988 19891| 1990 1991
Ag.,Silv. Pesca 100 96,9 I 95 I 91,9 | 88,4 | 87,2 85 83,7 82,2 81,1 80,1 77,6

Indústria 100 100,4| 99,7 |100,6| 101 II 101,411101,1 100 102,7 105,1 106,7 110

C. e Serviços 100 102 104,51107,6 II108,9 II 110 || 112,5 115,2 117,1 119,9 123,5 126,3

Fonte : National A ccounts.Detailed Tables.Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993

163
Evolução do Emprego Total por G. Ramos,
no Japão- Base 100: 1980 Gráfico n°13

I Ag.,Silv. Pesca
Indústria
Com. e Serviços

00 00 00 00
*o t- 00 c\ O i-c
00 00 00 00 Os 0\
^ ^ 9i 9>

Fonte: Quadro n° 13 , na página anterior

A terceriarização, explicada pela reestruturação da procura a favor dos


serviços mas também pelas diferenças de rendibilidade dos diversos ramos
de actividade é especialmente evidente na economia americana.
A indústria - a grande aposta dos japoneses - espelha alguma perda de
competitividade das indústrias europeias .
Finalmente a Agricultura, Silvicultura, Caça e Pesca aparece quase em
extinção em termos de emprego ( principalmente no emprego por conta de
outrem) nos vários países em análise.

As situações observadas espelham estruturas diversas em termos de


emprego conforme o comprova o quadro n° 14, na página seguinte.

164
Estrutura do Emprego Total ( em % )
Comp. Internacional em 1991
Quadro n" 14
Portugal * França R. Unido * Alemanha * E.U.A. Japão
Ag.,Silv. Pesca 20,3 5,7 2,1 3,5 2,7 8,8

Indústria 34,5 28,2 28,9 39,7 23,3 33,5

C. e Serviços 45,2 66,1 69 56,8 74 57,7

Fonte : National Accounts.Detailed Tables,Vol. II, 1979 - 1991 , O.C.D.E., Paris, 1993
* ( em 1990)

A economia portuguesa apresenta uma estrutura de emprego bastante


diferente da dos outros países em análise nomeadamente no que diz respeito
ao volume de emprego da Ag., Silv.,Caça e Pesca e do Comércio e Serviços-
-elevado no primeiro e reduzido no segundo.

Dos restantes países podemos observar, mais nitidamente :

- duas apostas na indústria - Alemanha e Japão ;


- duas apostas no Comércio e Serviços - Reino Unido e E.U.A.

Segundo Michael Porter, as economias, no seu desenvolvimento


competitivo, podem enfrentar duas fases: uma de avanço e outra de declínio.
A fase de avanço está sujeita a três etapas : a primeira impulsionada por
factores, a segunda pelo investimento e finalmente a terceira impulsionada
pela inovação . A fase de declínio é caracterizada por uma única etapa
impulsionada pela riqueza.6
O Japão atravessa a etapa da inovação7, apostando na competitividade
das suas indústrias, sob a marca de uma produtividade elevada bem ao
contrário do seu comércio e serviços que enfrenta barreiras: as internas do
baixo consumo e as externas da língua.

Porter.Michael E., A Vantagem Competitiva das Nações , tradução de Waltensir Dutra ,


The Competitive Advantage of Nations , Ed. Campus, Lda, Rio de Janeiro, 1993, pág. 614.
1
Idem, ibidem, pág. 787.

165
A Alemanha, potência industrial desde o séc. XIX, aposta
decisivamente na inovação e aproxima-se fortemente da última etapa - a da
riqueza, 8 o que lhe acarreta uma tendência para o decréscimo do
investimento de longo prazo e uma crescente sensibilidade às cotações das
acções e aos lucros de curto prazo . A sua debilidade nos serviços é notória e
a aposta na criação de novas empresas será fundamental para a eliminação
do desemprego.

O Reino Unido , ao atravessar a etapa impulsionada pela riqueza9,


enfrenta perdas de competitividade. A debilidade industrial estende-se, o
poder de compra, ao baixar, compromete a qualidade da procura que assim
se repercute aos produtos e a competitividade volta a baixar. O desemprego
aumenta e torna-se importante a criação de novas empresas, impulsionadas
por novas metas empresariais que girem menos à volta dos resultados
financeiros de curto prazo ( tal como nos E.U. os investidores dedicam-se
pouco às empresas ) e apostem mais no investimento nomeadamente
industrial.

Os E.U.A. estão a entrar na etapa impulsionada pela riqueza.10 A perda


de competitividade de algumas indústrias é evidente, especializando-se este
país no Comércio e Serviços, que contribui , como vimos no quadro n° 14 ,
com 74 % do emprego em 1991. É a convivência dos empresários com o
investimento de curto prazo, com o lucro imediato, com as cotações das
acções, com os prestigiados serviços financeiros e as movimentadas Bolsas
de valores, com a fácil concessão de crédito ao consumo que corrói a
poupança e com os défices públicos que contribuem para os aumentos de
taxas de juro que comprometem o investimento. Neste país, em 1988, a taxa
máxima sobre os ganhos de capital de longo prazo é de 33% e igual à de
curto prazo, enquanto no Japão há isenção e na França se atinge apenas os
16%."

Idem, ibidem, pág. 798.


Idem, ibidem, pág. 803.
J
Idem, ibidem, pág. 807.
' Idem, ibidem , pág. 814 .

166
A indústria americana sofre da falta de investimento e de inovação: é
que " a crescente « eficiência » dos mercados de capitais em muitos países
encerra riscos paradoxais de reduzir a taxa de investimento das empresas"12.

Portugal , para ser competitivo, terá que ultrapassar a fase " dos
factores", característica dos países em desenvolvimento, para diminuir a sua
vulnerabilidade aos ciclos económicos e às oscilações de taxas de câmbio.O
volume de emprego , ainda possível na Ag.,Silv.,Caça e Pesca e na Indústria,
associado a baixos índices de produtividade e a baixos salários , deverá ser
defendido através do investimento material e imaterial .

1.2. Grandes Causas Macroeconómicas do Desemprego na CE.

Após o primeiro choque petrolífero , a CE. reduziu a sua taxa de


criação de postos de trabalho. Parece evidente que as políticas económicas
praticadas não têm sabido colocar em primeiro lugar um objectivo
fundamental - o crescimento sem desemprego.

Um sistema produtivo que não tem sabido reagir à concorrência e


conflitos emergentes, no seio da distribuição de rendimentos , estão no
centro de uma questão - o fraco nível de investimento comunitário,
nomeadamente quando comparado com o investimento nipónico.

É que a taxa de rendimento económico das imobilizações dada pela


relação entre o E.B.E. e o Investimento Bruto, tem vindo a decrescer sob a
acção da redução da relação entre o E.B.E. e o V.A.B. e da baixa da
produtividade do capital. Mantendo-se o peso dos impostos menos
subsídios, a degradação da parte do E.B.E. no V.A.B. resulta do aumento
das remunerações ( encargos salariais e não salariais).
Assim, o jogo combinado da baixa da produtividade dos equipamentos
e a degradação da repartição primária do V.A. em prejuízo do E.B.E.
contribui, evidentemente , para reduzir o rendimento das imobilizações.

Idem, ibidem, pág. 818

167
A repartição secundária do V.A., ou seja do E.B.E., em impostos sobre
o rendimento, em juros, dividendos, etc., até ao saldo final - a poupança
bruta - permite o cálculo da taxa de poupança ( Sb / V.A.B.).
Em vários países, como sabemos, é nítida a degradação da taxa de
poupança, nomeadamente das empresas não financeiras, associada à viva
progressão dos encargos financeiros tanto maior quanto a subida de taxas de
juro coincinda com baixas taxas de autofinanciamento.
E assim que - dado o facto de o rendimento das aplicações financeiras
superar, muitas vezes, o rendimento económico do investimento - a
motivação para a especulação tem vindo a superar a motivação para o
investimento.

Por último, uma taxa de crescimento efectivo na CE. ( entre 88 e 90 )


superior ao crescimento potencial leva a uma pressão inflacionista
desencadeadora de políticas monetárias mais restritivas e à consequente
entrada em recessão , com a inevitável perda de postos de emprego.

1.3. As Respostas da Política Económica

Todas as medidas de política económica devem assegurar o


crescimento, o emprego e a convergência real com a estabilidade de preços ,
para uma U.E.M. que não conduza ao desemprego de grande parte da
população activa comunitária.

Pretende-se uma estabilidade da política monetária envolvida por


descidas de taxas de juro tão importantes quanto se pretenda aumentar o
volume de investimento comunitário.

A política de rendimentos e preços vai permitir, quando devidamente


apoiada pelas outras políticas económicas , subidas salariais moderadas e
compatíveis com a recuperação da capacidade de autofinanciamento das
empresas.
A política orçamental deverá conquistar défices reduzidos numa
tentativa de uma colaboração crescente com a poupança nacional que se
pretende incrementar

168
A política fiscal deverá apoiar o investimento, nomeadamente de longo
prazo, motivar para uma melhor gestão dos recursos raros e incentivar a
criação de emprego.

Investimentos em investigação e desenvolvimento, na educação e em


infraestruturas deverão ser compatíveis com as situações financeiras dos
diversos sub sectores do sector público( S60) .Vejamos essa situação , no
período de 87/89 , em vários países da Tríade (gráfico número 14 , em
baixo, e 15 a 20 , nas páginas seguintes).

O sector S63 ( Segurança Social ) mostra-se fundamental com a sua


contribuição positiva para o equilíbrio global do sector S60 , em todos os
países em observação e muito especialmente no Japão e mesmo nos E.U.A.
Nos países europeus a situação de S63 não é propriamente privilegiada,
apresentando a Alemanha, mais uma vez , uma situação menos desfavorável,
nomeadamente no último ano do período.

Contribuição de cada subsector de S60 para o equilíbrio global


( em % do P.I.Bp.m. ) - Portugal - ( 87 / 89 ) - Gráfico n° 14

UN5(S61)/P.I.B.
□ N5(S62)/P.I.B.
□ N5(S63)/P.I.B.

1987 1988 1989

Fonte: quadro n° 15 , em Anexo

169
Contribuição de cada subsector de S60 para o equilíbrio global
( em % do P.I.B.p.m.) - Espanha - ( 87 / 89 ) - Gráfico n" 15

HN5(S61)/P.I.B.
□ N5(S62)/P.I.B.
ON5(S63)/P.I.B.

Fonte: quadro n° 16 , em A nexo

Contribuição de cada subsector de S60 para o equilíbrio global


( em % do P.I.B.p.m.) - França - ( 87 / 89 ) - Gráfico n° 16

HN5(S61)/P.I.B.
□ N5(S62)/P.I.B.
□ N5(S63)/P.I.B.

1987 1988 1989

Fonte: quadro n° 17 , em A nexo

170
Contribuição de cada subsector de S60 para o equilíbrio global
( em % do P.I.B.p.m.) - Reino Unido - ( 87 / 89 ) - Gráfico n° 17

@N5(S61)/P.I.B.
DN5(S62)/P.I.B.
□ N5(S63)/P.I.B.

1987 1988 1989

Fonte: quadro n" 18 , em Anexo

Contribuição de cada subsector de S60 para o equilíbrio global


( em % do P.I.B.p.m.) - Alemanha- ( 87 / 89 ) - Gráfico n° 18

HN5(S61)/PXB.
□ N5(S62)/P.I.B.
□ N5(S63)/P.I.B.

1987 1988 1989

Fonte: quadro n° 19 , em A nexo

171
Contribuição de cada subsector de S60 para o equilíbrio global
( em % do P.I.B.p.m.) - E.U.A.- ( 87 / 89 ) - Gráfico n° 19

HN5(S61)/P.I.B.
□ N5(S62)/P.I.B.
□ N5(S63)/P.I.B.

1987 1988 1989

Fonte: quadro n° 20 , em Anexo

Contribuição de cada subsector de S60 para o equilíbrio global


( em % do P.I.B.p.m.) - Japão- ( 87 / 89 ) - Gráfico n" 20

HN5(S61)/P.I.B.

□ N5(S62)/P.I.B.
□ N5(S63)/P.I.B.

1987 1988 1989

Fonte: quadro n° 21 , em Anexo

172
A comparação internacional em 87 / 89 mostra a situação favorável
dos E.U.A. e especialmente do Japão tanto no que diz respeito à taxa de
poupança do sector S63 como à sua capacidade de financiamento ( gráfico
número 21 , em baixo, e 22 na página seguinte ) : como se pode também
observar a situação é cada vez mais favorável , para estes dois países, ao
longo do período em observação.

Taxas de poupança de S63 ( em % do P.I.B.p.m.)


Comp.Internacional Gráfico n° 21

H1987 D1988

Q1989

Fonte: quadro n° 22 , em Anexo

173
CF. ou N.F. de S63 ( em % do P.I.B.p.m.)
Comp.Internacional Gráfico n" 22

S1987
01988
D1989

-0,5*
Portugal Espanha França Reino Alemanh E.U.A. Japão

Unido a

Fontc:quadro n" 23 , em Anexo

O equilíbrio de sector S63 , moldado pela sua taxa de poupança dada a


insignificante taxa de investimento, ao longo de 87 / 89 , mostra-se
especialmente favorável para o Japão ( gráficos n° 23, 24 e 25 , nas páginas
seguintes ) deixando bem longe os países comunitários em observação, e
conferindo ao país " do sol nascente " uma importante vantagem competitiva
para o futuro e especialmente quando a tónica é a diminuição dos encargos
não salariais que incidem sobre a mão de obra, como forma de aumentar a
parte do E.B.E. no V.A.B. das empresas e assim contribuir para um aumento
da capacidade de autofinanciamento das empresas e do investimento.

174
Equilíbrio de S63 - Comparação Internacional em 87
Gráfico n° 23

D(Sb+Tc)/P.I.B.
3
1 '
2,5] □ I/P.I.B.
2
1,54
1 /\ffi SC.F./P.I.B.
lj f J"l
0,5 \ s íí
04^ f B r C.F./P.I.B.
L / I/P.I.B.
3 A
U 73
C3
F (Sb+Tc)/P.I.B.
C
O SB O
CM
a U.
G
uu S
<

Fonte: quadro n° 24 , em Anexo

Equilíbrio de S63 - Comparação Internacional em 88


Gráfico n° 24

4-^
32J ■fáf
1 Lg
oS ~~--<: Dy 7 C.F./P.I.B.
-ik
"sã ■FI/P.I.B.
a
■5 F (Sb+Tc) / P.I.B.
u a c
o t/2 1-
a. S
c

<

Fonte: quadro n° 25 , em Anexo

175
Equilíbrio de S63 Comparação Internacional em 89
Gráfico n" 25

C.F./P.I.B.
I/P.I.B.
(Sb+Tc) / P.I.B.

Fonte: quadro n° 26 , em Anexo

1.4. Competitividade e Emprego

A dificuldade de penetração das empresas comunitárias nos mercados


externos é um facto observável , por exemplo, através do comportamento
dos rendimentos líquidos do exterior ( gráfico n° 26 , na página seguinte ).

176
R.L.E. no P.N. B.p.m.( em % )
Comparação Internacional em 91
Gráfico n° 26

1991

Japão Í
c = 0
E.U.A. | ' i
i
Alemanha r — 3= u
Reino Unido r — * D1991
França r —i
Espanha ! : UR
Portugal (*) |
■1' A - —A ^ /
-1,2 -1 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8

Fonte: quadro n° 27 , em Anexo

Em 1991, último ano com valores comparativos disponíveis, todos os


países comunitários , em observação, com excepção da sua " locomotiva " -
a A lemanha , apresentam valores negativos nos seus rendimentos líquidos
do exterior, ou seja os rendimentos resultantes do somatório algébrico dos
rendimentos RIO e R40 com o Resto do Mundo.
Parece evidente , tendo por base o indicador R.L.E. / P.N.B. p.m. ( em
%) , a força de penetração das empresas nipónicas, norte americanas e
alemãs no Resto do Mundo.

Os gráficos ( n° 27, 28 e 29, nas páginas seguintes ) permitem as


seguintes conclusões:

- a fraca posição da França ( o país comunitário escolhido para


exemplo) relativamente aos E.U.A. e ao Japão;
- o incremento da força conquistadora das empresas nipónicas.

177
França - Os R.L.E. no P.N.B. p.m. ( em % ) em 1980 / 1991
Gráfico n° 27

R.L.E./P.N.B.p.m.

R.L.E./P.N.B.p.m.

Fonte: quadro n° 28, Anexo

E.U.A. - Os R.L.E. no P.N.B. p.m. ( em % ) em 1980 / 1991


Gráfico n° 28
R.L.E./P.N.B.p.m.

R.L.E./P.N.B.p.m.

Fonte: quadro n° 29 , em Anex

178
Japão - Os R.L.E. no P.N.B. p.m. ( em % ) em 1980 / 1991
Gráfico n° 29
R.L.E./P.N.B.p.m.

0,8 " -R.L.E./P.N.B.p.m.


0,6
0,4
0,2

0,2 1D X / 00

-0,4 1

Fonte: quadro n° 30 , em Anexo

Resta à Europa, fundamentalmente, crescer tendo por base as suas


exportações e o investimento (como componente da procura interna) ,
resistindo para que o aumento da concorrência internacional não seja um
travão a estes objectivos.

Mas onde reside a força competitiva de um país ?

" A Riqueza das Nações baseia-se, cada vez mais , na criação e na


exploração do saber "!3

Será , então , importante que se definam os seguintes objectivos numa


Europa que se pretende competitiva e criadora de postos de emprego:

'-* Comissão Europeia, Crescimento, Competitividade , Emprego - Os Desafios e as Pistas


para Entrar no Séc. XXI , " Livro branco " , Luxemburgo, Serviço das Publicações Oficiais
das Comunidades Euripeias, 1994, pág. 82.

179
- fazer investimentos imateriais insistindo na chamada
" desmaterialização" da economia ;
- manter um crescimento sustentável do sector industrial,
nomeadamente através das eco-indústrias e das tecnologias limpas;
- reduzir o desnível entre oferta global e procura global, fazendo
crescer os serviços mas sem perda de importância da indústria
transformadora uma vez que ela determina a competitividade do sistema
produtivo14 ;
- conduzir um crescimento mais intensivo em emprego, numa tentativa
de conciliação de progresso económico e social, uma vez que o Recurso
Humano é o mais precioso de todos;
- produzir com Qualidade.

2. Os Actores da Mudança - as Empresas e o Estado

No seio de uma competitividade crescente, cuja agressividade põe em


perigo as empresas e a solvabilidade dos Estados , dois actores se perfilam
com responsabilidades na condução do processo - as empresas e o Estado.

2.1. A cultura dominante

As empresas, ao dominar os mercados e em consequência o processo


de globalização, determinam e moldam a cultura dominante - " a cultura
dos objectos ",15

Mas, será a empresa a nova instituição reguladora ?

As empresas ao pretenderem ser competitivas poupam mão de obra e


substituem-na progressivamente por capital fixo, conquistando

Idem , ibidem, pág. 82.


Op. cit. nota n° 2 , pág. 105

180
produtividade, provocando desemprego e transferindo custos para a
colectividade - os custos resultantes dos subsídios e do aumento da pressão
fiscal e das contribuições sociais sobre a mão de obra ainda resistente e,
consequentemente, também, sobre elas próprias, conduzindo a um círculo
vicioso infernal. Este processo é desencadeador de desigualdades já que as
empresas mais empregadoras acabam por ser penalizadas e sucessivamente
afastadas da competição permanecendo no mercado precisamente aquelas
que menos mão de obra ocupam.
Por outro lado, o crescimento conduzido por essas empresas
dominantes tem provocado a degradação do ambiente, sem a respectiva
contrapartida, num perfeito desrespeito por esses valores, quase sempre
conduzidas no caminho cego do lucro, sem o emprego de tecnologias limpas
e esquecendo a " contabilidade verde ".

Mostra-se, assim, a cultura dominante com traços caracterizadores onde


realçam as desigualdades, as injustiças sociais,a degradação ambiental e ,
em suma, a má qualidade de vida no seio da Era da Qualidade.

2.2. As Responsabilidades Sociais das Empresas e o Fim do Welfare


State

As empresas ao reclamarem " menos Estado e mais Mercado ", esperam


colaboração do Estado nos custos de I&D, na educação e formação da
população activa, nas infraestruturas de apoio à produção, na colocação dos
seus produtos...mas o que dão à sociedade em troca ?

O compromisso do Estado deverá envolver o comprometimento da


Empresa na criação de emprego - ela é, com efeito, " a única organização
capaz de assegurar a gestão óptima dos recursos materiais e não materiais
disponíveis no mundo " , adquirindo "gradualmente uma legitimidade
histórica e um papel social que se aproximam, em muitos aspectos , da
legitimidade e do papel próprios do Estado ".16

Op. cit., nota n° 2 , pág. 113.

181
E que, muito para além da privatização da propriedade , as empresas
têm vindo a privatizar o papel do Estado ao tentarem conquistar a sua
função reguladora. Será, então, o fim do Welfare State ?
No seio da globalização ( triadização ) assiste-se a privatizações
crescentes, erguendo-se a competitividade a objectivo n° 1 e esquecendo-se
irremediavelmente o emprego.

Nos anos consequentes ao primeiro choque petrolífero, em parte como


consequência do aumento do desemprego e de políticas fiscais
expansionistas, o sector público ( sem incluir as empresas públicas )
aumenta de dimensão.
É esse sector público alargado que nos anos 80 e 90 se insiste em
combater, debaixo de um insistente pensamento - a redução do défice
público.

Mas será possível que o sector público esteja condenado a diminuir de


importância , de peso ?

Wagner, atribuindo a expansão do sector público ao governo central e


local, considera que o processo de industrialização arrastará consigo não só
progresso social e económico, visto no aumento do rendimento, mas também
necessidades crescentes de regulação pública, de actividades de protecção -
surgidas com a crescente complexidade do sistema, com o aumento da
densidade populacional e com o fenómeno de urbanização e surgimento de
novos conflitos.
Também o progresso económico-social arrastará preocupações
crescentes com uma distribuição mais equitativa dos recursos.
Por outro lado, a intensidade da procura de serviços como a educação
tem a ver com a sua elevada elasticidade - rendimento , característica
comum a muitos serviços públicos.

Musgrave põe a dúvida relativamente ao incremento do investimento


público. Será que com o aumento do rendimento ( aumentando o
investimento privado e a relação Investimento global / P.N.B. ) aumentará a
relação Investimento público / P.N.B.?
Considera que os serviços públicos , ligados a necessidades secundárias
por oposição às necessidades primárias normalmente satisfeitas por

182
intermédio da iniciativa privada, têm toda a probabilidade de aumentarem
com o aumento do rendimento do país e do seu grau de desenvolvimento.
Reconhece, também , que o aumento do consumo privado requer um
aumento do consumo público, ao mesmo tempo que a crescente
complexidade das economias requer um maior poder regulador.17

Nos tempos que correm, em que o aumento do desemprego exige


aumento de transferências, de serviços sociais e uma maior preocupação
com a lei, com a ordem e com a protecção dos cidadãos ; quando a criação
de emprego implica investimentos em educação, em investigação e
desenvolvimento, em formação contínua, e em infraestruturas diversas como
em transportes e comunicações ; quando a crescente complexidade
económica e social exige um forte poder de regulação, como se pode pensar
que o peso do sector público possa diminuir ? Aumentar a sua eficácia será,
penso, a resposta mais correcta.

2.3. O Diálogo Estratégico

Com o fim do pleno emprego o Homem deixa de ter segurança , seja


económica , seja social e torna-se um ser dependente, não livre , no seio de
uma aparente democracia . Como evitar esta situação degradante ?

Através de relações de cooperação entre empresas financeiras, não


financeiras e Estado , num enquadramento competitivo saudável, que não
esqueça a criação de postos de trabalho , na senda de um modelo de
desenvolvimento que crie qualidade de vida.

Lado a lado com as grandes empresas competitivas deverão florescer


P.M.E., as micro empresas, em áreas de emprego intensivo, em ligação com
o desenvolvimento local, apoiadas em tecnologias centradas no Homem,
todas, micro e macro empresas, em diálogo aberto com o Estado - elemento
regulador e corrector das " falhas de mercado ".

17
Gemmell, Norman e outros , The Growth of the Public Sector - Theories and Internatio-
nal Evidence, Edward Elgar Publishing Limited, Hampshire, England, 1993, pág. 103 a 120.

183
Muito há a fazer em domínios fundamentais como os da investigação e
desenvolvimento, da educação , dos regimes e estruturas legislativas, fiscais
e financeiras.

Todas as atenções deverão estar voltadas não somente para reduzir o


desemprego e o crescente mal-estar social mas fundamentalmente para criar
emprego evitando o "paradoxo da riqueza "18, ultrapassando as lições
keynesiana ( o desemprego exige um aumento da procura ) e neoclássica ( o
desemprego surge ligado a faltas de rendibilidade ) e prestando uma atenção
especial às crises do comércio internacional, à competitividade, tendo bem
presente que num sistema económico cada vez mais aberto o crescimento
não é sinónimo de emprego, para um dado país l9 .

Defende-se um enquadramento macroeconómico apoiado em descidas


de inflação, na estabilidade cambial, na redução dos défices públicos , num
sistema fiscal diferente - que não sobrecarregue o recurso subutilizado e
poupe os recursos sobreutilizados, mas, pelo contrário , que inverta esta
lógica de redistribuição -, numa consolidação da descida das taxas de juro de
curto prazo e da inversão da recente tendência para a subida das taxas de
juro de longo prazo como forma de estimular o investimento e assim criar
postos de emprego.20 É que a existência de altas taxas de juro provocadas
por desequilíbrios estruturais do sistema financeiro, por um custo de
intermediação elevado ou por um comportamento especulativo que estimula
a desordem monetária internacional - provoca o bloqueamento da economia
real21.

1S
Giorgio Ruffolo, Os Paradoxos da Riqueza, in Revista Finisterra n° 17, Lisboa 1995 náe
103. 'FS'
Greffe , Xavier, Politique Économique - Programmes, Instruments et Perspectives, Eco-
nómica, Paris,
1987, pág. 257.
20
Op. cit. in nota n° I, pág. 12.
71
íi
Op. cit. in nota n° 19 , pág. 445.

184
Anexo

Contribuição de cada subsector de S60 para


o equilíbrio global ( em % do P.I.B.p.m.)
Portugal - ( 87/89 ) - Quadro n° 15
1987 1988 1989

N5(S61)/P.I.B. -5,04 -4,48 j -2,56

N5(S62)/P.I.B. -0,67 -0,014 -0,16

NS(S63)/P.I.B. 0,08 í 0,64 0,4


Fonte: Q.E.C. , Contas de Subsectores , Contas Nacionais.
1986-89,1.N.E., Lisboa, 1994,

Contribuição de cada subsector de S60 para


o equilíbrio global ( em % do P.I.B.p.m.)
Espanha - ( 87/89 ) - Quadro n° 16
1987 1988 1989

N5(S61)/P.I.B. -3,46 -2,9 -2,19

N5(S62)/P.I.B. 0,036 -0,32 -0,81

N5(S63)/P.f.B. 0,29 -0,01 0,2


Fonte:National Accounts, Detailed Tables, Vol. II, 1979 - 91 ,
O.C.D.E., Paris, 1993
Contribuição de cada subsector de S60 para
o equilíbrio global ( em % do P.I.B.p.m.)
França ■ ( 87/89 ) - Quadro n° 17
1987 1988 1989
N5(S61)/P.I.B. -1,93 -1,69 -1,41
N5(S62)/P.I.B. -0,14 -0,18 -0,07
N5(S63)/P.I.B. 0,19 || 0,22 || 0,36

Fonte:National A ccounts, Detailed Tables, Vol. II. 1979 - 91 ,


O.C.D.E., Paris. 1993

Sendo : S61 - Central Government ( Ad. Central)


S62 - Local Government ( Ad. Local )
S63 - Social Security Funds ( Segurança Social )
P.I.B.( Gross Domestic Product at Current Prices )
N5 ( saldo da Conta C5 de cada subsector )
Conta C5 ( Capital A ccumulation A ccount )

Contribuição de cada subsector de S60 para


o equilíbrio global ( em % do P.I.B.p.m.)
Reino Unido - ( 87/89 ) - Quadro n° 18
1987 1988 1989
N5(S61)/P.I.B. -1,52 -0,39 0,09
N5(S62)/P.I.B. -0,34 -0,2 -0,37
N5(S63)/P.I.B. 0,41 0,81 0,2
FonteiNational A ccounts, Detailed Tables, Vol. II, 1979 - 91 ,
O.C.D.E., Paris, 1993

186
Contribuição de cada subsector de S60 para
o equilíbrio global ( em % do P.I.B.p.m.)
Alemanha - ( 87/89 ) - Quadro n° 19
1987 1988 1989

N5(S61)/P.I.B. -2,24 -2,35 1 -0,76

N5(S62)/P.I.B.* 0,008 0,13 0,13

N5(S63)/P.I.B. 0,33 j 0,06 0,75

Fonte:National Accounts, Detailed Tables, Vol. II, 1979 - 91 ,


O.C.D.E., Paris, 1993
* S62 = State or Provincial Government + Local Government

Contribuição de cada subsector de S60 para


o equilíbrio global ( em % do P.I.B.p.m.)
E.U.A. - ( 87/89 ) - Quadro n" 20
1987 1988 1989

N5(S61)/P.I.B. -3,77 -3,7 -3,03

N5(S62)/P.I.B. -0,13 -0,23 -0,24

N5(S63)/P.I.B. 0,4 0,87 0,94

Fonte:National Accounts, Detailed Tables, Vol. II, 1979 - 91


O.C.D.E., Paris, 1993

187
Contribuição de cada subsector de S60 para
o equilíbrio global ( em % do P.I.B.p.m.)
Japão - ( 87/89 ) - Quadro n° 21
1987 1988 1989
N5(S61)/P.I.B. -1,96 -1,13 -1,23
NS(S62)/P.I.B. -0,11 0,07 0,61
N5(S63)/P.I.B. 2,75 3,27 3,32
Fonte:National Accounts, Detailed Tables, Vol. II, 1979 - 91
O.C.D.E., Paris, 1993.

Taxas de Poupança de S63 ( em % do P.I.B.p.m.)


Comparação Internacional - Quadro n° 22
1987 1988 1989
Portugal 0,13 0,68 0,45
Espanha 0,48 0,18 0,47
França 0,48 0,5 0,63
Reino Unido 0,41 0,81 0,2
Alemanha 0,37 0,11 0,79
E.U.A. 0,4 0,87 0,94
Japão 2,78 3,29 3,34
Fonte: para Portugal : Q.E.C., Contas de subsectores, Contas
Nacionais , 1986-89,1.N.E., Lisboa,1994 , para os outros países :
National Accounts, Detailed Tables,Vol.II, 1979-91, O.C.D.E.,
Paris, 1993

188
Capacidade de financiamento ou N.F. ( N5)
de S63 ( em % do P.I.B.p.m.)
Comparação Internacional - Quadro n° 23
1987 1988 1989

Portugal 0,083 0,635 0,403

Espanha 0,29 -0,01 0,2

França 0,189 0,216 0,357

Reino Unido 0,41 0,81 0,2

Alemanha 0,32 0,06 0,75

E.U.A. 0,4 0,87 0,94

Japão 2,75 3,27 3,32

Fonte: para Portugal : Q.E.C., Contas de subsectores, Contas


Nacionais , 1986-89,1.N.E.,Lisboa, 1994 , para os outros países :
National Accounts, Detailed Tables,Vol.II,1979-91, O.C.D.E.,
Paris, 1993

Equilíbrio de S63 ( Comparação Internacional em 1987 )


Quadro n" 24
Portugal Espanha França Alemanha Japão

(Sb+Tc) / P.I.B. 0,131 0,48 0,484 0,37 2,78

I / P.I.B. 0,048 0,19 0,295 0,05 0,03

CF. / P.I.B. 0,083 0,29 0,189 0,32 2,75

Fonte: para Portugal : Q.E.C., Contas de subsectores. Contas Nacionais ,


1986-89,1.N.E.,Lisboa, 1994 , para os outros países : National Accounts,
Detailed Tables,Vol.Il,l979-91, O.C.D.E.,Paris, 1993

Sendo: Taxa de poupança = ( Sb+Tc ) / P.I.B.


Sb = N4= poupança bruta
TC = Capital Transfers = somatório de recursos menos empregos de R70
I = P40+P70

189
Equilíbrio de S63 ( Comparação Internacional em 1988 )
Quadro n° 25
Portugal Espanha França Alemanha Japão
(Sb+Tc) / P.I.B. 0,683 0,18 0,502 0.11 3,29
I/P.I.B. 0,048 0,19 0,286 0,05 0.02
CF. / P.I.B. 0,635 -0,01 0,216 0,06 3,27
Fonte: para Portugal : Q.E.C., Contas de subsectores. Contas Nacionais ,
1986-89,1.N.E.,Lisboa, 1994 , para os outros países : National Accounts, Detailed Tables,
Vol.11.1979-91, O.C.D.E., Paris, 1993

Equilíbrio de S63 ( Comparação Internacional em 1989 )


Quadro n° 26
Portugal Espanha França Alemanha Japão
(Sb+Tc) / P.I.B. 0,45 0,47 0,631 0,79 3,34
I/P.I.B. 0,047 0,27 0,274 0,04 0,02
CF. / P.I.B. 0,403 0,2 0,357 0,75 3,32
Fonte: para Portugal : Q.E.C., Contas de subsectores, Contas Nacionais ,
1986-89,1.N.E.,Lisboa,1994 , para os outros países : National Accounts,
Detailed Tables.VoI.II.l979-91, O.C.D.E., Paris, 1993

190
R.L.E. no P.N.B.p.m.( em % )
Comparação Internacional
em 91 - Quadro n° 27
| 1991

Portugal * | -0,55
Espanha -1,05

França -0,67

Reino Unido -0,7

Alemanha 0,705

E.U.A. 0,47

Japão 0,703

* Anode 1990
Fonte: National Accounts, Detailed
Tables,Vol.Il,1979-91, O.C.D.E., Paris, 1993

França - Os R.L.E. no P.N.B. p.m. ( em % ) em 1980 / 1991


Quadro n° 28
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991

R.L.E./P.N.B.p.m. 0,45 0,32 0,06 -0,29 -0,54 -0,55 -0,33 -0,23 -0,2 -0,16 -0,36 -0,67

Fonte: National Accounts, Detailed Tables,Vol.11,1979-91, O.C.D.E., Paris, 1993

191
E.U.A. - Os R.L.E. no P.N.B. p.m. ( em % ) em 1980 / 1991
Quadro n" 29
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991

R.L.E./P.N.B.p.m. 1,3 1,2 1 0,98 0,77 0,5 0,36 0,27 0,32 0,45 0,53 0,47

Fonte: National Accounts, Detailed Tables.Vol.II, 1979-91, O.C.D.E., Paris, 1993

Japão - Os R.L.E. no P.N.B. p.m. ( em % ) em 1980 / 1 9 9 1


Quadro n° 30
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991

R.L.E./P.N.B.p.m. -0,03 -0,21 0,02 0,11 0,17 0,35 0,37 0,59 0,62 0,71 0,69 0,7

Fonte: National Accounts, Detailed Tables,Vol.II,1979-91, O.C.D.E., Paris, 1993

Sendo : R.L.E. ( Rendimentos Líquidos do Exterior ) = RIO ( Compensation


of employees ) + R 40 ( Property and entrepreneurial income )
sendo empregos - recursos da Conta de S90 - Resto do Mundo )
P.N.B.p.m. = Gross National Product
P.I.B.p.m. + R.L.E. = P.N.B.p.m.

192
ÍNDICE

António Lopes de Sá,


A Lógica da Velocidade dos Elementos do Capital 5

José Fernandes de Sousa,


A Associação Comercial de Aveiro - contributo para uma história
de 130 anos 21

Margarida Maria Solteiro Martins Pinheiro,


A Derivação das Funções de Custo.
O Problema da Minimização 77

Rui Mário Magalhães Gomes Mota,


Contabilidade de Gestão e Seu Futuro 115

Virgínia Maria Granate Costa e Sousa


Diálogo Estratégico Empresas / Estado 145
Sugestões para Apresentação dos Originais

1. Os originais podem ser acompanhados por uma nota biográfica que não exceda três linhas.

2. Os textos devem fazer-se acompanhar de um sumário elaborado de acordo com os tópicos do


artigo.

3. Os artigos não podem, em princípio, exceder 25 páginas, marginadas de acordo com os


parâmetros da Revista. As recensões não devem ultrapassar as cinco páginas.

4. Os originais serão acompanhados de registo em diskete, de acordo com as seguintes normas de


processamento de texto:
4.1. Sistema Operatitvo: MS/DOS - ambiente Windows.
4.2. Tipo de Letra:Times New Roman, com o seguinte tamanho: 14 no título, 13 nos capítulos,
etc., 12 no texto e 10 nas notas.
4.3.Alinhamento do texto em centímetros:Top. 5,5; Bot. 6,75; Ins.5,5; Out. 3,5; Head. 1,25;
Foot.5,5; Paragr. 1,0; e com opção de páginas par e ímpar.

5. Bibliografia, referências bibliográficas, citações e notas.


5.1. A Bibliografia deve ser ordenada com base no apelido do autor: Ex: Amorim, Jaime Lopes. Se
a obra for colectiva, normalmente mais de três autores, refere-se pelo nome do Io autor e pelo vocábulo
latino alii ( ou apenas al.). Ex: Amorim, Jaime Lopes et al (ou e o.).
5.2. As referências bibliográficas devem seguir as orientações vulgarmente aceites: rigorosas,
precisas e uniformes, respeitando o seu carácter específico. As monografias devem inserir as seguintes
informações: Autor, (eventualmente o ano da l.aed.), título, volume, edição, local da edição, editor, ano
da edição consultada. Os artigos das publicações periódicas devem referir: autor, título do artigo, in título
da publicação, local da publicação, série, volume, n°, data (mês(es) e ano, pags (50-75) em que se
encontra o artigo.
5.3. As referências bibliográficas coladas às l"s citações devem acrescentar aos campos
enunciados em 5.2, a(s) página(s) - p.ou pp. - e, se fôr caso disso como nos Dicionários e Jornais, etc.
a(s) coluna(s). Ex.Godinho.Vitorino Mag.aDiães, Complexo histórico-geográfico, in. Joel Serrão, (Dir.
de), Dicionário de História de Portugal, Vol.l/A-D, Porto, Iniciativas Editoriais/Figueirinhas, p. 645,
col.2. As referências bibliográficas relativas às 2.as citações colhem a vantagem da sequência das notas:
aparecem abreviadas recorrendo aos vocábulos latinos idem (autor), ibidem (obra) e, às vezes, passim (
em vez de uma indicação precisa da página). A redução dos campos bibliográficos acontece igualmente
quando as referências têm por suporte a bibliografia geral. Ex: Amorim, Jaime Lopes A (ou B); ou
simplesmente o ano de publicação: Amorim, 1929, p. 20.
5.4. Localização das referências bibliográficas.
5.4.1. As referências bibliográficas podem aparecer em nota de rodapé, na totalidade ou
articuladas com a bibliografia geral.
5.4.2. Podem igualmente surgir, em alguns casos restritos, no interior do texto logo a seguir à
citação, seguindo o modelo mais sintético de referência. Ex: Amorim, 1947 D, p. 20.
5.4.3. As notas podem também aparecer no final do texto, devendo esta opção prevalecer sempre
que o artigo exige longas notas informativas ou explicativas, que em rodapé tornam demasiado pesado o
seu desenvolvimento.
V

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