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QUINTA-FEIRA
Os pintinhos que buscam refúgio debaixo das asas da mãe são uma imagem
do justo que procura protecção no Senhor, como podemos ler com frequência
na Sagrada Escritura: Guarda-me como à menina dos teus olhos, esconde-me
sob a sombra das tuas asas3, porque Tu és o meu refúgio, uma torre fortificada
contra o inimigo. Oxalá possa eu habitar sempre no teu tabernáculo e acolher-
me sob o amparo das tuas asas4, lemos nos Salmos. O profeta Isaías recorre à
mesma imagem para assegurar ao Povo eleito que Deus o defenderá contra o
cerco do inimigo. Assim como os pássaros estendem as suas asas sobre os
seus filhos, assim o Eterno todo-poderoso defenderá Jerusalém5.
No fim da nossa vida, Jesus será o nosso Juiz e o nosso Amigo. E enquanto
durar a nossa peregrinação, dar-nos-á todas as ajudas de que necessitamos,
pois a sua missão é uma só, como era quando vivia aqui na terra: salvar-nos.
Não podemos imaginá-lo distante das dificuldades que nos rodeiam, indiferente
ao que nos preocupa! “Se sofremos penas e desgostos, Ele nos alivia e
consola. Se caímos doentes, será o nosso remédio ou então dar-nos-á forças
para sofrer, a fim de merecermos ir para o Céu. Se o demónio ou as paixões
nos atacam, dar-nos-á armas para lutar, para resistir e para alcançar vitória. Se
somos pobres, enriquecer-nos-á com toda a sorte de bens no tempo e na
eternidade”6.
Nada do que nos venha a acontecer poderá separar-nos de Deus, como nos
ensina São Paulo numa das Leituras da Missa8, pois se Deus é por nós, quem
será contra nós? Aquele que não poupou nem o seu próprio Filho, mas por nós
todos o entregou à morte, como não nos dará também com ele todas as
coisas?... Quem nos separará, pois, do amor de Cristo? A tribulação?, a
angústia?, a fome?, a nudez?, o perigo?, a perseguição?, a espada? Nada nos
poderá separar d’Ele, se nós não nos afastarmos.
São João Crisóstomo recorda-nos que “o próprio São Paulo teve que lutar
contra numerosos inimigos. Os bárbaros atacavam-no, os seus próprios
guardas armavam-lhe ciladas, até os fiéis, às vezes em grande número, se
levantaram contra ele e, no entanto, Paulo triunfou de tudo. Não esqueçamos
que o cristão fiel às leis do seu Deus vencerá tanto os homens como o próprio
Satanás”11. Se nos mantivermos sempre perto de Jesus presente na Sagrada
Eucaristia, venceremos todas as batalhas, ainda que às vezes pareça que
fomos derrotados... O Sacrário será a nossa fortaleza, pois Jesus quis ficar
para nos amparar, para nos ajudar em qualquer necessidade. Vinde a Mim...,
diz-nos todos os dias.
Quando já se podia perceber que ia ser perseguido, São Tomás More foi
intimado a comparecer perante o tribunal de Lambeth. No dia marcado,
despediu-se dos seus, mas não quis que o acompanhassem ao embarcadouro,
como de costume. Iam com ele somente William Roper, marido de sua filha
mais velha, Margareth, e alguns criados. Ninguém no barco se atrevia a romper
o silêncio. Ao cabo de uns minutos, More sussurrou inopinadamente ao ouvido
de Roper: Son Roper, I thank our Lord the field is won: “Meu filho Roper, dou
graças a Deus, porque a batalha está ganha”. Mais tarde Roper confessaria
não ter entendido naquele momento o significado dessas palavras, mas que
veio a fazê-lo depois: compreendeu que o amor de More tinha crescido tanto
que lhe dava a certeza de saber que triunfaria de qualquer obstáculo13. Era a
convicção de que, sabendo-se próximo do seu último combate, o Senhor não o
abandonaria no momento supremo. Se nos mantivermos perto de Jesus, se
formos almas de Eucaristia, o Senhor proteger-nos-á como as aves protegem
os seus filhotes, e sempre, ante os maiores obstáculos, poderemos dizer de
antemão: A batalha está ganha.
Santa Maria, que tantas vezes falou com o Senhor aqui na terra e agora o
contempla para sempre no Céu, colocará nos nossos lábios as palavras
oportunas se alguma vez não soubermos muito bem o que dizer-lhe. Ela acode
sempre prontamente em socorro da nossa inépcia.
(1) Lc 13, 34; (2) Hino Adoro te devote; (3) Sl 17, 8; (4) Sl 61, 4-5; (5) Is 31, 5; (6) Cura d’Ars,
Sermão sobre a Quinta-feira Santa; (7) Santo Afonso Maria de Ligório, Visitas ao Santíssimo
Sacramento, 1; (8) Rom 8, 31-39; Primeira leitura da Missa da quinta-feira da trigésima semana
do Tempo Comum; (9) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 219; (10) Fil 4,
3; (11) São João Crisóstomo, Homilias sobre a Epístola aos Romanos, 15; (12) Santa Teresa,
Vida, 22, 6-7; (13) cfr. São Tomás More, La agonía de Cristo, Rialp, Madrid, 1988, introd., pág.
33; (14) S. Josemaría Escrivá, Forja, n. 835.