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FILOSOFIA
SOCIOLOGIA
ANTROPOLOGIA
LITERATURA
CURSO DE INTRODUÇÃO
Verão, 2004
SOCIOLOGIA,ANTROPOLOGIA,
FILOSOFIAELITERATURA
CURSO DE INTRODUÇÃO
FELIX QUI POTUIT RERUM COGNOSCERE CAUSAS
(Feliz de quem pôde conhecer a causa das coisas)
BIBLIOGRAFIA:
DREYFUS, Hubert L. & RABINOW, Paul. “Michel Foucault: Uma Trajetória
Filosófica – Para além do estruturalismo e da hermenêutica”. Tradução de
Vera Porto Carrero. Introdução: Traduzida por Antonio Carlos Maia. FU,
2000, p. 229-249.
FOUCAULT, Michel. “Microfísica do poder”. Tradução de Roberto Machado. 4ª
edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984, 295 p, capítulos II, XI, XIV,
XV.
MACHADO, Roberto. “Introdução: Por uma Genealogia do Poder” in
FOUCAULT, Michel. “Microfísica do Poder”. Tradução de Roberto
Machado. 4ª edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984, 295 p.
LITERATURA
O nascimento da literatura ocidental
e a antiguidade
Homero e a Ilíada
Virgílio e a Eneida
A Idade Média e as literaturas
nacionais
Dante Alighieri e a Divina Comédia
Cervantes e Dom Quixote
Shakespeare e Hamlet
Do Romantismo a Modernidade
Goethe e o Fausto
Baudelaire e As Flores do Mal
O Indivídio e a literatura
contemporânea
Kafka e O Processo
Dostoievski e Os Irmão Karamazov
Pessoa e sua Poesia
O nascimento da literatura ocidental e a
antiguidade
A síntese de realismo e idealismo, que consiste em harmonizar as formas da natureza
com as formas ditadas pelo espírito, percorre toda a arte produzida na Grécia antiga
e constitui um princípio básico da estética ocidental, especialmente em seus
momentos de recuperação dos valores clássicos. A arte grega antiga remonta ao
segundo milênio antes da era cristã e originou-se na ilha de Creta, próspero núcleo
comercial, famoso pela decoração suntuosa de palácios como Cnossos e Festo.
Foram desenvolvidos pólos gregos em filosofia, dramaturgia e poesia, ao lado da
sistematização da história, artes plásticas, arquitetura e narrativas mitológicas como
a Teogonia, principal fonte de origem sobre deuses. Ainda, com o surgimento das
cidades-estados (polis) – cidades politicamente ativas no século VIII a.C. é organizada
a primeira Olimpíada na cidade de Olímpia.
Das cidades políticas gregas, destacaram-se: Atenas “democrática e comercial” e
Esparta “oligárquica e agrícola”. Utilizavam-se de mão de obra escrava em todos os
setores da economia, sustentada sobretudo pelo comércio marítimo. Os principais
cultivos eram: oliveiras, videiras e trigo.
No continente, a civilização micênica criou uma arte própria que deixou traços
profundos na Cultura Helênica. No primeiro milênio a.C. produziu-se a arte grega
propriamente dita, que nos séculos IV e III a.C., por intermédio de Alexandre o
Grande e seus sucessores, propagou-se para além do Egeu e do Mediterrâneo e
chegou até a Índia.
Na segunda metade do século V, a arte clássica grega atingiu o apogeu, superando
inteiramente os traços arcaicos e dirigindo-se rapidamente para o realismo idealizado
e para o rigoroso equilíbrio que se revelou no estilo “severo” não só na escultura,
como nas demais artes e na arquitetura. Nasceu então uma concepção tipicamente
grega do universo, totalmente desligada de tradições culturais ou intelectuais herdadas
do mundo antigo. O novo conceito helênico da ordem universal e a vocação heróica
influenciaram toda a produção artística grega.
A Grécia continental passou a segundo plano quando, após a morte de Alexandre o
Grande (323 a.C.), foram criados reinos independentes na costa da Anatólia e no
Egito. O centro da produção artística do mundo helênico se deslocou para cidades
como Rodes, Alexandria, Antioquia e Pérgamo.
Deu-se a esse período o nome de helenístico, para diferenciá-
lo do helênico. De modo geral, foram paulatinamente
abandonados os princípios clássicos da harmonia
rigorosamente orgânica e do movimento em potência, para
representar o movimento desencadeado, de influência
asiática. Gradualmente, a arte deixou de satisfazer as
necessidades estéticas das comunidades para preencher
as dos indivíduos. Teve início o gosto pelo colossal, a estética
do dramático, a representação da velhice, da fealdade e da
infância e a multiplicação dos retratos individuais.
A era helenística marcou a transição da civilização grega
para a romana, em que inoculou sua força cultural. Não se
encontra nela o esplendor literário e filosófico do período
áureo da Grécia, mas divisa-se um grande surto da ciência
e da erudição. Chama-se civilização helenística a que se
desenvolveu fora da Grécia, sob influxo do espírito grego.
Esse período histórico medeia entre 323 a.C., data da morte
de Alexandre III (Alexandre o Grande), cujas conquistas
militares levaram a civilização grega até aAnatólia e o Egito,
e 30 a.C., quando se deu a conquista do Egito pelos romanos.
Grande parte do Oriente antigo foi então helenizado e
assistiu-se a uma fusão da cultura grega, revitalizada nas
áreas conquistadas, com as tradições políticas e artísticas
do Egito, Mesopotâmia e Pérsia.
Depois da morte de Alexandre, a transmissão da cultura grega persistiu nos grandes
centros urbanos, embora sofresse influência dos costumes orientais. A tentativa de
Antígonos, um dos mais antigos generais de Alexandre, de manter intacto o império
conquistado pelo guerreiro macedônio, fracassou após a Batalha de Ipso, na Frígia
(302 a.C.). A partilha do império foi feita entre três generais: Seleucos I Nicator,
Ptolomeu I e Lisímacos. As lutas, entretanto, continuaram, e vinte anos depois o
império foi dividido em três estados independentes: o reino do Egito ficou com os
Lágidas, descendentes de Ptolomeu; o da Síria, com os Selêucidas, descendentes
de Seleucos; e o da Macedônia coube aos antigônidas, descendentes de Antígonos
Alexandria, no Egito, com 500.000 habitantes, tornou-se a metrópole da civilização
helenística. Foi um importante centro das artes e das letras, e a própria literatura
grega tem uma fase chamada “alexandrina”. Lá existiram as mais importantes
instituições culturais da civilização helenística: o Museu, espécie de universidade de
sábios, dotado de Jardim Botânico, Zoológico e Observatório Astronômico; e a
Biblioteca, com 200.000 volumes, salas de copistas e oficinas para preparo do Papiro.
O Reino Egípcio só terminou com a conquista de Otavius, no reinado de Cleópatra.
O reino da Síria abrangia quase todo o antigo império persa até o Rio Indo. A capital
era Antioquia, outro grande centro da cultura helenística, perto da foz do Orontes, no
Mediterrâneo. Os selêucidas, entretanto, não puderam manter a unidade de seu
vasto império, que acabou conquistado pelos romanos no século I a.C. Já o reino da
Macedônia teve de enfrentar a luta das cidades gregas, ciosas da defesa de sua
autonomia, e acabou incorporado ao Império Romano.
Do ponto de vista cultural, o período compreendido entre 280 e 160 a.C. foi
excepcional. Tiveram grande desenvolvimento a história, com Polibius; a matemática
e a física, com Euclides, Eratostenes e Arquimedes; a astronomia, com Aristarcus,
Hiparcus, Seleucus e Heráclides; a geografia, com Posidonius; a medicina, com
Herofilus e Erasistratus; e a gramática, com Dionisius Tracius.
Na literatura, surgiu um poeta extraordinário, Teocritus, cujas poesias idílicas e
bucólicas exerceram grande influência. O pensamento filosófico evoluiu para o
individualismo moralista de Epicuristas e Estóicos, e as artes legaram à posteridade
algumas das obras-primas da antigüidade, como a Vênus de Milo, a Vitória de
Samotrácia e o grupo do Laocoonte.
À medida que o Cristianismo avançava, a civilização helenística passou a representar
o espírito pagão que resistia à nova religião. O espírito grego não desapareceu com
a vitória dos valores cristãos; seria, doze séculos depois, uma das linhas de força do
Renascimento.
Homero
A Homero se atribuem os dois maiores poemas épicos da Grécia antiga, que tiveram
profunda influência sobre a literatura ocidental. Além de símbolo da unidade e do
espírito helênico, a Ilíada e a Odisséia são fonte de prazer estético e ensinamento
moral.
De acordo com o historiador grego Heródoto, Homero nasceu em torno de 850 a.C.
em algum lugar da Jônia, antigo distrito grego da costa ocidental da Anatólia, que
hoje constitui a parte asiática da Turquia, mas as cidades de Esmirna e Quio também
reivindicavam a honra de terem sido seu berço. Até mesmo as fontes antigas sobre
o poeta contêm numerosas contradições, e a única coisa que se sabe com certeza é
que os gregos atribuíam a ele a autoria dos dois poemas.
A tradição lhe atribuiu também a coleção dos 34 Hinos homéricos, dos quais procede
a imagem lendária de Homero como poeta cego, mas que depois se constatou serem
de fins do século VII a.C.
Os maiores especialistas gregos não admitem que tenha sido Homero o autor de
obras como o desaparecido poema Margites ou a paródia épica Batracomiomaquia.
As muitas lendas e a escassa confiabilidade dos dados biográficos sobre Homero
fizeram com que já no século XVIII muitos questionassem até mesmo a existência
do poeta.
As diferenças de tom e estilo entre a Ilíada e a Odisséia levaram alguns críticos a
aventar a hipótese de que poderiam ter resultado da recomposição de poemas
anteriores, ou de que teriam sido criadas por autores diferentes.
Todas essas dúvidas constituem a chamada “questão homérica”, e permanecem
abertas à discussão. Os pontos em que há maior concordância dos estudiosos são:
a Ilíada é anterior à Odisséia; quase com certeza os dois poemas foram compostos
no século VIII a.C., cerca de três séculos após os fatos narrados; foram originalmente
escritos em dialeto jônio, com numerosos elementos eólios - o que confirma a origem
jônica de Homero; pertenciam à tradição épica oral, pelo menos no que se refere às
técnicas empregadas, já que existem opiniões divergentes quanto ao emprego ou
não da escrita pelo autor.
A versão na forma escrita, tal como se conhece hoje, teria sido feita em Atenas
durante o século VI a.C., se bem que a divisão de cada poema em 24 cantos
corresponderia aos eruditos alexandrinos do período helenístico. No decorrer desse
período teriam sido introduzidas várias interpolações. Com base nesses dados, todos
mais ou menos hipotéticos, deduziram-se alguns dados básicos sobre Homero e
sua obra.
Tanto a Ilíada como a Odisséia apresentam diversas
inconsistências internas, como alusões a técnicas e
equipamentos de combate que existiram em épocas
diferentes. Tais inconsistências, porém, poderiam ser
explicadas pelo fato de o poeta, se é que realmente existiu,
ter utilizado materiais anteriores e por terem sido
provavelmente incorporados alguns outros.
Quanto à existência de um autor único para a Ilíada, a
mais antiga das duas obras, argumenta-se que embora seja
evidente a existência de poemas épicos orais anteriores
sobre os mesmos temas, não parece haver existido nenhum
de extensão sequer aproximada, nem dotado de tal
complexidade estrutural. Tal constatação indicaria a
existência de um criador individual, que deu uma nova
estrutura aos temas tradicionais e integrou-os em sua visão
pessoal da realidade.
Encontramos na Ilíada a narração da guerra travada entre
gregos e troianos, no episódio conhecido como “Guerra de
Tróia”. Esta guerra teve origem, acreditam alguns, nos altos
impostos cobrados pelos troianos para a passagem de
especiarias no porto de Tróia, estrategicamente localizado
no estreito de Dardanelos, entre os mares Egeu e de
Mármara. Os gregos, insatisfeitos, em ação pelo
exército, destrói Tróia, tomando o controle sobre o
comércio marítimo na região, o que poderia ter
acontecido entre 1250 e 1240 a.C.
Os que negam a autoria comum de ambas as obras
argumentam que a primeira foi composta em tom
mais heróico e tradicional e que a segunda tende
mais para a ironia e a imaginação. Acrescentam ainda
o emprego de um léxico posterior na Odisséia. Já a
tese que defende a autoria única baseia-se na
afirmação de Aristóteles, de que a Ilíada seria uma
obra da juventude de Homero, enquanto a Odisséia
teria sido composta na velhice, quando o poeta
decidiu redigir a segunda obra como complemento
da primeira e ampliação de sua perspectiva.
Ambas as obras têm características comuns
absolutamente inovadoras, como a visão
antropomórfica dos deuses, a confrontação entre os
ideais heróicos e as fraquezas humanas e o desejo
de oferecer um reflexo integrador dos ideais e valores
da emergente sociedade helênica. Esses
argumentos, somados à mestria técnica evidente nos
dois poemas, favorecem a conclusão de que o autor
da Ilíada, esse grande poeta jônico a quem os gregos
chamavam Homero, foi também o autor, ou principal inspirador da Odisséia.
Ao mesmo tempo em que refletiram luminosamente a antiguidade mais remota da
civilização grega, os poemas homéricos projetaram-na adiante com tamanha
originalidade e riqueza que ela se faria presente nas mais diversas manifestações
da arte, da literatura e da civilização do Ocidente.
Inúmeros poetas partiram de sua influência, inúmeros artistas se impregnaram de
sua fortuna criativa, seu colorido e suas situações, que se tornaram símbolo e síntese
de toda a aventura humana na Terra, a ponto de o nome de um poeta cuja existência
mesma não se pode provar passar a confundir-se com a própria poesia. Quanto à
morte de Homero, a versão mais aceita é de que teria ocorrido em uma das ilhas
Cíclades.
Como disse Platão, Homero foi, no mais pleno sentido, o educador da Grécia. Além
disso, quase toda a literatura ocidental foi diretamente influenciada pelos poemas
homéricos. A Eneida de Virgílio (30/19 a.C.), os Lusíadas de Camões (1572) e o
Ulisses de Joyce (1921) são apenas alguns dos exemplos...
Ilíada
A Ilíada é a mais antiga e mais extensa das obras atribuídas a Homero; tem 15.693
versos hexâmetros e, desde o Período Helenístico, costuma ser dividida em 24
livros ou cantos de extensão variável. A divisão em cantos foi feita pelos filólogos de
Alexandria.O nome do poema deriva de Ílion, nome alternativo da lendária cidade
de Tróia, assim chamada em homenagem a Ilos, um dos ancestrais dos reis troianos.
A cólera de Aquiles, como se anuncia desde o primeiro verso, é o motivo central da
Ilíada, epopéia do poeta grego Homero, que inicia a literatura narrativa ocidental.
Relato de um dos episódios da guerra de Tróia, travada entre gregos e troianos, a
ação da Ilíada se situa no nono ano depois do começo da guerra, a qual duraria um
ano mais, e abarca no conjunto cerca de 51 dias. O título deriva de Ílion, nome grego
de Tróia. A Ilíada narra um drama humano, o do herói Aquiles, filho da deusa Tétis e
do mortal Peleu, rei de Ftia, na Tessália, em torno do fim da guerra dos gregos
contra Tróia. Segundo a lenda, a guerra foi motivada pelo rapto de Helena, esposa
do rei de Esparta, Menelau, por Páris, filho do rei Príamo, de Tróia. Agamenon,
chefe dos exércitos gregos, arrebatara a Aquiles, o mais valoroso dos guerreiros
gregos, sua cativa Briseide. Em protesto, Aquiles retirou-se para o acampamento
com seus guerreiros, e recusou-se a entrar em combate. É nesse momento que tem
início a Ilíada, com o verso “Canto, ó deusa, a cólera de Aquiles”. Para apaziguar
Aquiles, Agamenon envia-lhe mensageiros, com o pedido de que entre na luta. Aquiles
recusa-se e Agamenon com seus homens entram no combate. Os troianos tomam
de assalto as muralhas gregas e chegam até os navios. Aquiles concorda em
emprestar a armadura a seu amigo Pátroclo, que repele os troianos mas é morto por
Heitor. Cheio de dor pela morte do amigo, Aquiles esquece a divergência com os
gregos e investe contra os troianos, vestido com uma armadura feita por Hefesto,
deus das forjas. Consegue fazer recuar para dentro dos muros da cidade todos os
troianos, menos Heitor, que o enfrenta, mas aterrorizado pela fúria de Aquiles, tenta
fugir. Aquiles o persegue e finalmente atravessa-lhe com a lança a garganta, única
parte descoberta de seu corpo. Agonizante, Heitor pede-lhe que não entregue seu
cadáver aos cães e às aves de rapina, mas Aquiles nega piedade, e depois de
atravessar sua garganta mais uma vez com a lança, ata-o pelos pés a seu carro e
arrasta o cadáver em volta do túmulo de Pátroclo. Somente com a intervenção de
Zeus, Aquiles aceita devolver o cadáver a Príamo, rei de Tróia e pai de Heitor. O
poema termina com os funerais do herói troiano. Alguns dos personagens da Ilíada,
em particular Aquiles, encarnam o ideal heróico grego: a busca da honra ao preço do
sacrifício, se necessário; o valor altruísta; a força descomunal mas não monstruosa;
o patriotismo de Heitor; a fiel amizade de Pátroclo; a
compaixão de Aquiles por Príamo, que o levou a restituir
o cadáver de seu filho Heitor. Nesse sentido, os heróis
constituem um modelo, mas o poema mostra também
suas fraquezas - paixões, egoísmo, orgulho, ódio
desmedido. Toda a mitologia helênica, todo o Olimpo
grego, com seus deuses, semideuses e deidades
auxiliares, estão maravilhosamente descritos. Os
deuses, que mostram vícios e virtudes humanas,
intervêm constantemente no desenvolvimento da ação,
alguns em favor dos aqueus, outros em apoio aos
troianos. Zeus, o deus supremo do Olimpo, imparcial,
intervém apenas quando o herói ultrapassa os limites,
ao proporcionar o tenebroso espetáculo de passear à
volta de Tróia arrastando o cadáver mutilado de Heitor.
O poema encerra grande volume de dados e pormenores
geográficos, históricos, folclóricos e filosóficos, e
descreve com perfeição os modelos de conduta e os
valores morais da sociedade do tempo em que foi escrita
a obra. Uma questão muito discutida é o fundo histórico
do ciclo da guerra de Tróia. Possivelmente, sua origem
remonta a reminiscências da luta, travada antes da
invasão dória, no século XII a.C., entre povos de cultura
micênica, como os aqueus, e um estado da Anatólia, o
de Tróia. É historicamente comprovada a existência de estabelecimentos micênicos
na Anatólia, sem que se conheçam as causas possíveis da guerra. O mundo helênico
a que se refere a Ilíada não parece circunscrever-se ao de uma época cronológica
determinada. É muito provável que as lendas foram incorporando elementos de
diferentes etapas da civilização, no curso de sua transmissão oral e até textual.
Aponta-se, por exemplo, a descrição de armamentos e técnicas militares, e até
rituais, correspondentes a diferentes períodos históricos, desde o micênico a
aproximadamente meados do século VIII a.C. Salvo alguns prováveis acréscimos
atenienses, nenhum dado ultrapassa esse período, o que reforça a tese de que o
poema foi redigido nesse último período. A língua e o estilo homéricos foram em
grande medida herdados da tradição épica. Por esse motivo, a língua, basicamente
o dialeto jônico, com numerosos elementos eólios, é um tanto artificial e arcaizante,
e não corresponde a nenhuma modalidade falada normalmente. A métrica empregada
é o hexâmetro, verso tradicional na épica grega.
A Ilíada é antes de tudo poesia, isto é, uma linguagem diferente da linguagem do dia
a dia. Em primeiro lugar ela era cantada. A sua música, que no entanto se perdeu,
sem dúvida auxiliava na memorização desse longo texto. Em segundo lugar, ela é
em versos. Não no sentido usual que esse termo tem hoje em dia, de empregar a
rima, mas na poesia grega os versos consistiam em um mesmo ritmo geral, que era
o ritmo da própria música. Para compor obedecendo este padrão, o poeta era obrigado
a alterar a expressão natural, dando um efeito de artificialismo à expressão. E o
estilo, por se tratar de tema sério, era elevado e solene.
Devido as características da língua grega, é impossível uma tradução da obra que
evidencie todas as suas qualidades formais. É como se víssemos uma tapeçaria
pelo avesso, apenas as suas linhas gerais poderiam ser observadas. Diante de tantas
dificuldades a maioria dos tradutores brasileiros optou por uma tradução em prosa,
traduzindo apenas o conteúdo sem se preocupar muito com a forma.
Poucos aceitaram o desafio de traduzir Homero em versos. Se no século passado
ficou famosa a tradução em versos de Homero feita por Odorico Mendes, neste
século é o trabalho de Carlos Alberto Nunes que se destaca.
Este tradutor traduziu os dois poemas homéricos, a Ilíada e a Odisséia, em dois
formatos, tanto em prosa como em verso. A tradução em prosa é, sem dúvida, de
mais fácil leitura para o leitor comum, mas a tradução em verso permite, uma vez
ultrapassados os obstáculos iniciais, que nos aproximemos em maior grau de algumas
das características formais da poesia homérica.
Eis uma pequena lista com algumas das passagens mais notáveis:
O ‘Catálogo das Naus’ (II)
A ‘Observação do Alto da Muralha’ (III)
O duelo entre Menelaus e Páris (III)
A revista das tropas gregas (IV)
As proezas de Diomedes (IV-V)
O encontro de Diomedes e Glaucos (VI)
O adeus de Héctor e Andrômaca (VI)
A ‘Dolonéia’ (X)
O ‘Engano de Zeus’ (XIV)
A nova armadura de Aquiles (XVIII)
A luta entre Aquiles e o rio (XXI)
Os jogos fúnebres em honra de Pátroclos (XXIII)
Virgílio
(70 - 19 a.c.)
Purgatório
Saindo do inferno, Dante e
Virgílio se vêem diante de
uma altíssima montanha: o
Purgatório. A montanha é
tão alta que ultrapassa a
esfera do ar e penetra na
esfera do fogo chegando a
alcançar o céu. Na base da
montanha encontram o
ante-purgatório, onde
aqueles que se
arrependeram tardiamente
dos seus pecados
aguardam a oportunidade
para entrar no purgatório
propriamente dito. Depois
de passar pelos dois níveis
do ante-purgatório, os
poetas atravessam um
portal e iniciam sua nova
odisséia, desta vez
subindo cada vez mais.
Passam por sete terraços,
cada um mais alto que o
outro, onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais. No último círculo do
purgatório, Dante se despede de Virgílio e segue acompanhado por um anjo que o
leva através de um fogo que separa o purgatório do paraíso terrestre. Finalmente,
às margens do rio Letes, Dante encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas
águas do rio para que possa prosseguir viagem e subir às estrelas.
Paraíso
O Paraíso de Dante é dividido em duas partes: uma material e uma espiritual. A
parte material segue o modelo cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos
formados pelos sete planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno),
o céu das estrelas fixas e o Primum Mobile - o céu cristalino e último círculo da
matéria. Ainda no paraíso terrestre, Beatriz olha fixamente para o sol e Dante a
acompanha até que ambos começam a elevar-se, “transumanando”. Guiado por
Beatriz, Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra personagens como
São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano. Chegando ao céu de estrelas fixas,
ele é interrogado pelos santos sobre suas posições filosóficas e religiosas. Depois
do interrogatório, recebe permissão para prosseguir. No céu cristalino Dante adquire
uma nova capacidade visual, e passa a ter visão para compreender o mundo espiritual,
onde ele encontra nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em volta de
Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, se separa de Beatriz e tem a
oportunidade de sentir o amor divino que emana diretamente de Deus, “o amor que
move o Sol e as outras
e s t r e l a s ” .
o do Paraíso. Cinco anos
antes de sua morte, foi
convidado pelo governo de
Florença a retornar à
cidade. Mas os termos
impostos eram
humilhantes, semelhantes
àqueles reservados à
criminosos perdoados e
Dante rejeitou o convite,
respondendo que só
retornaria se recebesse a
honra e dignidade que
merecia. Continuou em
Ravenna, onde morreu e
foi sepultado com honras.
Helder da Rocha
Fontes: [Encarta 97],
[Larousse 98], [Mauro 98],
[Musa 95], [Cambridge].
Miguel de Cervantes
(1547 - 1616)
Miguel de Cervantes nasceu em 1547, em Alcalá de
Henares, cidade perto de Madri. É filho de um modesto
cirurgião. De formação autodidáctica, aos vinte e três
anos é soldado em Itália; toma parte na Batalha de
Lepanto, na qual perde uma mão (1571). Aprisionado
por piratas, só se libertou cinco anos depois. Mais tarde
passou a residir em Lisboa. Em 1580, voltou à Espanha
e chegou a trabalhar como cobrador de impostos. Devido
a essa profissão, viajou por toda a Espanha, conhecendo
de perto as dificuldades de seus conterrâneos.
Em 1585 publica a sua primeira obra, La Galatea,
romance pastoril. Em 1605 publica a primeira parte de
O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, sendo
imediato o seu êxito literário. Os últimos anos da sua
vida são caracterizados por uma intensa produção
criativa: Novelas Exemplares, Viaje del Parnaso, Ocho
comedias y ocho entremeses, e um romance de
aventuras em que trabalha até à morte — La historia de
los trabajos de Persiles y Sigismunda. Em 1615 publicou
a segunda parte de Dom Quixote. Morreu no ano seguinte, muito conhecido mas
ainda sem recursos.
Em Miguel de Cervantes, representante máximo das Letras de língua castelhana,
confluem todos os géneros novelescos até então cultivados: o picaresco, o pastoril,
o mourisco e o cavalheiresco. Como poeta, cultiva quer a poesia italianizante quer a
tradicional. A sua obra principal neste domínio encontra-se nos sonetos e,
particularmente, em Al túmulo del rey Felipe en Sevilla. Como autor dramático,
destaca-se pelo tom humorístico de pequenas peças como El retablo de las maravillas
ou La cueva de Salamanca. Deve referir-se também a sua tragédia Comedia del
cerco de Numancia, que só é publicada em 1784, sendo hoje considerada uma das
melhores tragédias escritas em castelhano.
Dom Quixote
Por sua inovação - a história traz grande ousadia ao
mostrar os personagens comentando o próprio livro —,
a obra de Miguel de Cervantes é considerada o primeiro
romance moderno, um marco da literatura.A história não
podia ser mais delirante: Dom Quixote é um nobre
espanhol que de tanto ler histórias de cavalaria passa a
acreditar nos feitos dos cavaleiros medievais e decide
se tornar um cavaleiro andante.
Dom Quixote era um fidalgo, filho de pais ricos. No
entanto, durante sua vida ele vai perdendo sua riqueza,
pagando dívidas e comprando livros, mergulhando na
literatura em busca da solução para essas dificuldades.
A história mostra esse ingênuo senhor rural cujo
passatempo favorito era a leitura de livros de cavalaria.
Na sua obsessão, acreditava literalmente nas aventuras
descritas e decide tornar-se um cavaleiro andante. Dom
Quixote começa a agir como um cavaleiro em busca de
uma mudança, uma nova vida. Ele já tinha uma idade
relativamente avançada e vivia muito só, por isso deixa-
se levar pela imaginação e passa a viver num mundo
ilusório, fantasioso.
Muito mais que uma sátira às novelas de cavalaria, a
obra é também uma exaltação ao idealismo e à amizade, retratada no relacionamento
entre Dom Quixote e Sancho Pança. Quixote é um louco, mas tem as grandes
virtudes humanas da esperança e da dignidade. A dupla ficou tão conhecida que se
tornou uma das maiores fontes de inspiração para artistas, escritores, cineastas,
dramaturgos. Uma das imagens mais conhecidas é o desenho feito pelo artista plástico
espanhol Pablo Picasso do cavaleiro e de seu escudeiro, com os famosos moinhos
de vento ao fundo.
Com uma armadura de sucata e papelão e o cavalo, um decrépito pangaré. O fiel
escudeiro Sancho Pança, um ingênuo lavrador, e se auto-intitulando Dom Quixote
de La Mancha, o nosso herói confunde a realidade com as histórias dos livros e sai
pelo mundo em busca de aventuras. As viagens se sucedem sob a alucinação de
quem deseja combater as injustiças do mundo. O nobre e patético Quixote enfrenta
situações supostamente perigosas e ridículas: imagina gigantes em rodas d´água;
vê um cavaleiro de elmo num barbeiro; ajuda criminosos a fugirem, pensando estar
libertando escravos... Será que o nosso herói recupera a razão?
Em suas andanças, Dom Quixote encontra moinhos de vento que na sua alucinação
são tomados por cavaleiros em armas, por gigantes que ameaçam sua adorada
Dulcinea. Sancho alerta Dom Quixote para o engano. Dom Quixote aproximou-se
dos moinhos e arremeteu de lança em riste contra o primeiro moinho. O vento ficou
mais forte e lançou o cavaleiro para longe. Sancho socorreu-o e reafirmou que eram
apenas moinhos. Dom Quixote, respondeu que era Frestão quem tinha transformado
os gigantes em moinhos.
Na batalha conta o “exército de ovelhas” é relatado o encontro de Dom Quixote com
dois rebanhos de ovelha. O cavaleiro, com todo o seu sonho, criou paisagens,
personagens que não existiam, atribuindo-lhes armas, coroas e escudos. Foi então
que o “herói” avançou em direção ao rebanho e foi surrado pelos pastores e pelas
próprias ovelhas.
Ao final da segunda parte do livro, Dom Quixote volta à razão , renuncia aos romances
de cavalaria e morre como piedoso cristão.
William Shakespeare
William Shakespeare, um dos maiores poetas de todos os tempos, nasceu em Abril
de 1564 na cidade de Stratford-upon-Avon. Existe uma pequena controvérsia sobre
a data de nascimento de William. Sabe-se que ele foi batizado no dia 26 de Abril,
como era comum batizar as crianças após alguns dias do nascimento e como o dia
23 de Abril é dia de São Jorge (o santo da Inglaterra) , muitas pessoas dizem que o
poeta mias famoso da Inglaterra nasceu neste mesmo dia (23 de Abril).
Os pais de William eram John e Mary Shakespeare. William foi o terceiro filho a
nascer e também o primeiro homem. John (o pai) era um trabalhador de couro, ele
fabricava cintas, bolsas e luvas. Aparentemente ele era um cidadão respeitado, ele
chegou a até ter o cargo que é comparável a prefeito da cidade. Porem suas dividas
o alcançaram e ele perdeu quase tudo. Se você quiser saber mais sobre a família de
Shakespeare Clique Aqui para ver a genealogia completa de Shakespeare.
A educação de Shakespeare veio principalmente da A Escola do Novo Rei(“The
New King’s School”). Nesta escola os alunos aprendiam o Latim e liam diversos
livros (em latim e em outras línguas). O horário escolar durava nove horas, começava
as seis ou as sete dependendo da estação do ano. Outra fonte de educação veio da
igreja, lá Shakespeare foi exposto à Bíblia e a diversos livros de reza.
Uma possível fonte de inspiração foi a paisagem do interior de Warwickshire (onde
ficava Stratford-upon-avon ). Essas paisagens são mencionadas em varias obras de
Shakespeare.
No dia 28 de Novembro de 1582 William Shakespeare se casa com Anne Hathaway.
William tinha 18 anos de idade e Anne 26. Muitos acreditam que Anne estava grávida
de três meses quando se casou isto é reforçado pelo fato da cerimônia ocorrer tão
rapidamente. Isto também explica o por que Shakespeare se casou com uma mulher
que era oito anos mais velha do que ele.
Susanna foi a primeira filha de Shakespeare, ela foi batizada no dia três de Maio de
1583. Dois anos depois os gêmeos Judith e Hamnet.
Após o nascimento dos gêmeos pouco se sabe sobre a vida de Shakespeare. Esses
anos (de 1586 a 1592) são conhecidos como os anos perdidos. Existem muitas
teorias sobre o que aconteceu na vida de Shakespeare durante estes anos. Ninguém
sabe com certeza por que Shakespeare se mudou de Stratford e foi para Londres.
A teoria mais aceita diz que, Shakespeare teve que se mudar porque caçou nas
terras de um Senhor Thomas Lucy que pelo jeito era um cara muito importante.
Shakespeare se mudou para Londres porque não queria
sofrer com a pena que seria dada a ele. Também dizem
que Shakespeare se vingou de Lucy na obra As Alegres
Comadres de Windsor.
Londres foi o lugar onde Shakespeare se destacou como
um dos maiores poetas de todos os tempos. Foi em
Londres onde tudo começou e foi em Londres onde ele
fez o maior sucesso. Foi também em Londres onde ele
escreveu suas maiores obras. Tudo o que podemos
afirmar é que por volta de 1592 Shakespeare já estava
sendo reconhecido por seu trabalho no teatro. E também
por volta deste período ele já tinha escrito A Comédia
de Erros, A Megera Domada e pode ter escrito Tito
Andrônico , Henrique VI (as três partes) e talvez ainda
Ricardo III.
Desde o inicio de sua carreira Shakespeare se associa
com varias companhias teatrais, ele tinha um ambiente
de trabalho muito fluente. Mas tudo mudou quando a
peste chegou a Inglaterra, e todos os teatros foram
fechados. E só re-abriram de verdade na primavera de
1594.
1594 - 1599 foram anos excelentes para Shakespeare,
ele produziu varias obras de altíssima qualidade. Ele
continuou como ator principal e administrador da
companhia “The Lord Chamberlain’s Men” que também
foi formada durante está época(1594). Durante estes
anos a companhia virou a mais popular de Londres, e
também foi a que mais se apresentou na corte.
Aparentemente a família de Shakespeare continuava
morando em Stratford enquanto ele trabalhava em
Londres. Em Agosto de 1596, seu único filho Hamnet
morreu (Hamnet tinha somente 11 anos de idade).
Em 1603 a rainha Elizabeth morreu e James VI da
Escócia virou James I da Inglaterra. A idade Jacobina
começou, e com isto o grupo “The Lord Chamberlain’s
Men” tornaram-se o grupo “The Kings Men” pois eram o
grupo patrocinado pelo reino.
Em algum tempo entre 1599 e 1601 Shakespeare
escreveu Hamlet, e depois disto escreveu as chamadas
peças problemáticas até que em 1608 escreveu os
grandes romances. Muitos perguntam porque a mente
de Shakespeare virou as tragédias, o que levou ele a
escrever as peças problemáticas. Existem varias
sugestões sobre o que aconteceu mas isto é para outra
hora. De qualquer maneira o importante é que o estilo
de Shakespeare mudou drasticamente, de comedia
(anos 90) para tragédia, e dai para romance.
Shakespeare terminou sua carreira trabalhando com o
novo escritor do grupo “The King’s Men” John Fletcher. Junto a John ele escreveu
três peças finais, Henrique VIII (1613), Os Dois Nobres Parentes(1613 ou 1614) e a
peça que hoje está perdida Cardenio. As duas primeiras ai não são as peças prediletas
de ninguém, e pouco se sabe sobre a ultima.
Shakespeare com certeza foi tratado por, Dr. Hall, seu genro. Não se sabe (para
variar) qual foi a doença que acabou com a vida do poeta. Mas com certeza foi
alguma coisa da idade. Qualquer foi a causa da sua morte Shakespeare chamou
seu advogado para fazer uma revisão final em seu testamento. Shakespeare morreu
no dia 23 de Abril e foi enterrado no dia 25 de Abril.
Hamlet
O Rei Hamlet da Dinamarca, morrera subitamente. Dois meses depois, a Rainha
Gertrudes casou-se com seu cunhado, Cláudio. O jovem príncipe Hamlet, filho do
falecido monarca e legítimo herdeiro do trono, não se conformou com a leviandade
da rainha. Amando o pai, possuindo senso de honra, ficou profundamente magoado
com o procedimento da mãe. Perdeu toda a alegria; já não encontrava prazer na
leitura ou nos exercícios próprios da juventude. O mundo parecia-lhe hostil e triste.
O que mais perturbava Hamlet era não saber ao certo como morrera o pai. Cláudio
afirmava que o rei tinha sido picado por uma serpente, mas Hamlet suspeitava de
que a serpente fora o próprio Cláudio.
Chegou aos ouvidos de Hamlet o rumor de que um fantasma, parecidíssimo com
seu pai, fora visto pelas sentinelas do palácio duas ou três noites seguidas. A aparição
usava a mesma armadura do rei. O espectro aparecia quando o relógio batia meia-
noite e entre os que o haviam visto estava Horácio, amigo íntimo de Hamlet.
Assombrado com a narrativa, Hamlet não teve dúvida de que se tratava do espectro
do pai, e decidiu montar guarda com os soldados.
Como nas noites anteriores, o fantasma apareceu e confessou a Hamlet que era a
sombra do Rei, e que fora cruelmente assassinado pelo próprio irmão, Cláudio, que
pretendia casar-se com Gertrudes e ocupar o trono – exatamente como suspeitara o
p r í n c i p e .
Perturbado com a estranha ocorrência, Hamlet esteve a ponto de ficar louco. Seu
comportamento diante dos outros já não era o mesmo. Temendo que seu
procedimento acabasse despertando a desconfiança do tio, resolveu fingir que
realmente enlouquecera; só assim o rei deixaria de suspeitar dele, julgando-o um
louco inofensivo.
Antes da morte do pai, Hamlet amava uma moça chamada Ophelia, filha de Polônio,
o principal conselheiro do rei. Fizera-lhe muitas declarações de amor e cercava-a de
atenções carinhosas. Ofélia acreditava na sinceridade de Hamlet. Durante a sua
crise de melancolia, o príncipe a esquecera. Agora, fazendo-se de louco, passara a
tratá-la com desprezo, gestos e palavras rudes. Entretanto, meigas lembranças de
Ophelia muitas vezes o enterneciam. Arrependido de algumas palavras mais rudes,
escreveu a Ophelia uma carta apaixonada e extravagante, mas entremeada de frases
afetuosas. Ophelia, de acordo com os costumes antigos, mostrou a carta ao pai, e o
velho a levou ao rei e à rainha. Estes, diante daquela prova evidente, não tiveram
mais dúvidas de que era o amor o verdadeiro motivo da loucura de Hamlet.
Mas Hamlet ainda queria vingança pela morte do pai, e nessa época surgiu no
palácio um grupo de atores. Teve a idéia de fazer o grupo representar para a corte
alguma peça, na qual aparecesse uma cena semelhante
à do assassínio de seu pai. Teria então, oportunidade
de observar no rosto do tio o efeito produzido pelo
espetáculo. Poderia ter desse modo uma idéia mais
segura sobre a culpa de Cláudio. Com esse intuito,
ordenou que se preparasse uma representação para a
qual convidou o rei e a rainha.
A peça escolhida narrava o assassínio de Gonzaga, um
duque de Viena. Quando, na peça, Luciano apareceu
para envenenar Gonzaga, adormecido no jardim, a cena
perturbou de tal forma o tio que este, fingindo um súbito
mal-estar, deixou bruscamente a sala.
Logo em seguida, a pedido do rei, Hamlet foi chamado
aos aposentos da rainha. Esta devia dizer-lhe o quanto
desgostara a ambos o procedimento do príncipe.
Receando que Gertrudes escondesse algum detalhe da
conversa, o rei ordenou à Polônio que se colocasse atrás
das cortinas do quarto da rainha.
Num momento da discussão, Polônio fala de trás da
cortina, e Hamlet acreditando que o rei ali se escondera,
puxou da espada e golpeou várias vezes o pano. Quando
arrastou o corpo, viu que se tratava de Polônio.
Com a morte do pai, Ophelia começara a sofrer graves
perturbações. Quando andava pelas margens de um
riacho, caiu nele e acabou por afogar-se. Hamlet chegou
durante a cerimônia do enterro, quando Laertes,
alucinado pela dor, ao perceber Hamlet, causador da
morte do pai e indiretamente da irmã, partiu para ele e
agarrou-o como um inimigo. Depois do enterro, Hamlet
pediu desculpas e os dois jovens pareceram
r e c o n c i l i a d o s .
Mas o rei Cláudio, sempre procurando eliminar o
sobrinho, convenceu Laertes de que, celebrando as
pazes, devia bater-se em esgrima com Hamlet.
Influenciado pelo rei, Laertes preparou uma arma
envenenada. Depois de alguns lances, Laertes feriu
mortalmente Hamlet com esta arma. Na confusão da
luta, as espadas foram involuntariamente trocadas
depois de caírem no chão. E chegou a vez de Laertes
ser também atingido por um golpe mortal.
O rei preparara para Hamlet uma taça de vinho
envenenada, caso falhasse a espada de Laertes.
Esquecera-se porém, de prevenir a rainha, e esta, tendo
bebido dessa taça, morreu em terríveis convulsões,
declarando ter sido envenenada. Quando Hamlet sentiu
que seu fim se aproximava, voltou-se contra o traiçoeiro
tio, atravessando-lhe com a espada, e força-o a beber
da taça envenenada. Cumpria enfim a promessa que
fizera ao espectro do pai.
Do Romantismo a Modernidade
Goethe
A poucas pessoas é possível denominar de modo tão tranqüilo o epíteto de gênio
quanto a Johann Wolfgang von Goethe. Goethe se destacou de tal forma na literatura,
ajudou a criar um movimento literário, o Romantismo, que influenciou e guiou
praticamente toda a cultura alemã e, no seu rastro, a universal. Nascido em 1749,
em Frankfurt-sobre-o-Meno, ainda adolescente já estudava italiano, latim, grego,
inglês, hebraico e desenho artístico. Escreveu critica literária, romances, peças,
poesia, contos, poesia lírica, cartas e descrições de viagens. Sua inteligência, no
entanto, não se limitava à literatura.
Além de dedicar-se à literatura, Goethe também dedicou-se à ciência. É autor da “A
Doutrina das Cores”, obra em que expõe o resultado de suas pesquisas e estudos
acerca de fisiologia, física e química para tratar do fenômeno das cores. Em “A
Doutrina das Cores” Goethe rivaliza nada mais nada menos com um intelectual da
envergadura de sir Issac Newton. Na verdade, causa espanto a quantidade e
variedade de seus interesses: era um cientista, fez pesquisas em óptica, geologia,
mineralogia, botânica, anatomia humana e zoologia. E, todas as vezes que você
ouvir falar do osso intermaxilar no ser humano, saiba que isso foi contribuição de
Goethe. Foi conselheiro político e militar em Weimar, onde ajudou a construir estradas,
prédios públicos, teatros. Quando morreu em 1832, com 83 anos, foi reverenciado
como um mito da humanidade.
Em virtude disto tudo não pode-se deixar de considerar a semelhança existente
entre a personagem (Fausto) e seu autor. Afinal, Goethe também perseguia o
conhecimento e as canções que irrompiam durante a noite registradas por ele bem
que poderiam ser sopradas em seu ouvido pelo próprio Mephistófeles. De qualquer
maneira o importante é que neste como em outros casos a vida imita a arte.
Outro livro do escritor alemão, ”Werther”, um dos símbolos máximos do Romantismo,
do qual foi fundador, foi escrito quando Goethe tinha 25 anos de idade. Escrito na
forma de cartas, narra as desventuras amorosas do jovem Werther que, na
impossibilidade de consumar seu amor por Carlota, acaba se suicidando. O livro
causou comoção mundial. A identificação com o personagem se tornou tão grande
que começaram a se alastrar os casos em que jovens resolvem seguir o mesmo
exemplo. Tornou-se moda matar-se por amor. A coisa foi tão séria que ficou conhecida
como o “mal do século”. Se já era conhecido nos círculos cultos alemães e um
pouco no exterior, com “Werther” a fama de Goethe explode. Até morrer, nunca
perderia a popularidade. Muito diferente do seu personagem suicida, porém, Goethe
não morreu jovem, teve muitas paixões, algumas correspondidas e outras não, e
pôde gozar muito bem a vida.
Resumo de uma época e prova da genialidade de Goethe, “Fausto” faz parte do
patrimônio cultural da humanidade, é obra da vida inteira do escritor. Começou a ser
escrita em 1774, sendo que a primeira parte foi publicada em 1808; a segunda
somente foi concluída em 1832, pouco antes da morte do autor.
Fausto
Hélio Schwartsman dá um panorama sobre o mito de Fausto.Alerta-nos sobre a existência do
homem que o inspirou (Jörg Faustus) e dá a entender que os primeiros a ficcionalizá-lo, a
transformá-lo em uma personagem foram os cléricos protestantes que acusaram-no de
“vagabundo”, “falastrão”, “patife” e “louco”. Haveria, ainda, segundo Ian Watt, um Fausto mais
jovem, que teria vivido no século V acusado de heresia que se indispôs com Santo Agostinho.
Segundo Schwartsmam o primeiro a associar Faustus ou Fausto a satã foi Lutero
(Conversas à Mesa). Todavia, o mais importante texto que refere-se às peripécias
do mago é o Faustbuch, de autor anônimo. Este data do século XVI e é o primeiro a
desvincular a personagem do homem Jörg Faustus e a mencionar o contrato através
do qual Fausto vendeu sua alma ao diabo.
Após o surgimento da imprensa, o Faustbuch foi reeditado várias vezes sendo utilizado
como fonte de inspiração por Chistopher Marlowe em 1592. Diferentemente da
personagem do Faustbuch, o Fausto criado pelo dramaturgo que rivalizava com
Shakespeare é capaz de cativar o público. Apesar disto, somente com Goethe Fausto
adquiriria uma maior profundidade literária e o direito de ser salvo de seu pecado de
desejar o conhecimento. Depois de Goethe, Thomas Mann (Docktor Faustus) e Klaus
Mann (Mephisto) também dariam sua contribuição à construção desta personagem
comparável à D. Quixote, D. Juam e Robinson Crusoé.
Faustopoderiaserentendidocomoummito,umavezquetambémtraduzumtraçofundamental
da personalidade humana, que é o desejo do conhecimento e do poder que dele advém.
Porém, até mesmo nesse sentido definir Fausto como um mito é um problema. Como frisou
Schwartsmam,háevidênciasdequeoFaustoimortalizadonaliteraturaporChristopherMarlowe,
Johann Wolfgang von Goethe, Tomas Mann e seu filho Klaus Mann, existiu realmente. Teria
vivido entre os séculos XV e XVI e chamado-se Jörg ou Johanes Faustus.
O Fausto de carne e osso teria sido um astrólogo e nigromante que gostava de
impressionar as pessoas e de desfrutar os prazeres da mesa e da cama. O primeiro
a associá-lo a satã (entidade demoniaca da tradição cristã) foi Lutero em sua obra
“Conversas à Mesa”. Com o tempo o homem acabou sendo ofuscado pela sua
imagem. Assim, o mito do sábio que celebra um pacto com o demônio encontra
suas raízes na realidade ao contrário de Édipo, que não foi rei de Tebas e talvez
nunca tenha existido a não ser no imaginário de seu criador.
Fausto situa-se nos limites entre a mitologia e a história, talvez seja esta a razão do
poema de Goethe ter se transformado num clássico. Além disso, deve-se ressaltar
que Fausto encontrou um solo fértil a partir do Iluminismo. Desde então, o
conhecimento é muito valorizado, o que não ocorria na época em que o Jörg Faustus
vagou pela Europa. Assim, foi o fim da Idade Média que abriu caminho para que
Fausto fosse transformado num verdadeiro mito.
De certa maneira, o homem moderno também realiza a mesma trajetória que Fausto,
também faz o seu pacto com secreto com Mephistófeles. Persegue avidamente o
conhecimento para a partir dele desfrutar os prazeres da vida. Não é isto que estamos
fazendo neste exato momento? Hoje mais do que nunca o homem é literalmente
empurrado nesta direção. Nada é capaz de o deter, nem mesmo os freios religiosos.
Originalmente judaísmo, cristianismo e até mesmo o islamismo partilham da mesma
posição em relação ao conhecimento, encarado como a fonte de todo mal. A expulsão
de Adão e Eva do paraíso ilustra bem esta questão. Contudo, na atualidade estes três
grandes sistemas religiosos são obrigados a tolerar a ciência e o desejo de conhecê-la.
Em razão da tradição judaica e cristã podemos dizer que o mito de Fausto é como
que uma atualização, uma modernização de crenças muito anteriores ao século XV
e mesmo ao século V de nossa era. Crenças que encontram-se retratadas de maneira
muito original na Tora ou Velho Testamento. A exemplo de Adão, Fausto obtém o
conhecimento e o prazer, mas acaba sendo obrigado a vagar pelo mundo. Adão é
condenado a trabalhar para seu próprio sustento e Fausto a acompanhar
Mephistófeles. Portanto, de certa maneira ambos foram expulsos do paraíso, se
entendermos este como um estado inicial, primitivo, em que não havia nem prazer,
nem dor. Não parece ser acidental a coincidência de que o primeiro conhecimento
adquirido pelos dois curiosos é relacionado ao prazer. Adão copula com Eva e, na
versão de Goethe, a primeira coisa que Fausto descobre depois do pacto celebrado
com Mephistófeles é o prazer sexual com Margarida.
Goethe fez sua primeira tentativa de escrever sobre o mito alemão Fausto em
1775, no Urfaust, em prosa, que é às vezes denominado de Fausto Primitivo. Em
1797 a idéia foi retomada segundo um plano completamente diferente: em 9 episódios
e como poema dramático para Teatro. Esta nova versão será publicada como texto
definitivo em 1808 (Fausto Parte I). Cumprindo uma promessa feita a seu grande
amigo Friedrich Schiller (1759-1805), Goethe vai trabalhar na Parte II de Fausto até
1831, que na realidade, tem pouca relação com a Parte I, mais conhecida e divulgada,
com a publicação póstuma do texto definitivo em 1832.
Em Goethe o mito encontra sua versão mais acabada e genial. A chave para entendê-
lo está logo no início do poema, onde Deus dialoga com Mephistófeles. A entidade
diabólica pede a Deus a permissão para tentar o cientista obtendo-a com a restrição
de que não poderá ficar com sua alma. Mephistófeles aceita a condição e retruca
que a ele como ao gato só interessa o rato enquanto estiver vivo. Assim, temos na
verdade dois contratos, um entre Deus e Mephistófeles e outro entre este e Fausto.
Mas, Fausto não tem conhecimento do primeiro e sua ignorância é que o faz acreditar
que sua alma pertence ao companheiro de jornada. A sua maneira, Goethe mantém
a tradição religiosa mas escapa à solução maniqueista, conferindo maior colorido e
valor ao mito. Enfim Fausto reencarna Adão, mas não é nem poderia ser condenado
à perdição em virtude de perseguir o conhecimento.
Ao a registrar sua versão sobre o mito de Fausto, Goethe deu a ele algo de sua
própria educação clássica. Com efeito, pode-se estabelecer um paralelo entre a
trajetória de sua personagem e a do filosofo Sócrates, que viveu no século IV aC.
Todos os discípulos que escreveram sobre o ateniense, referem-se ao fato de que
ele admitia que falava com sua entidade protetora, com seu daímom (vocábulo
grego traduzido como sendo equivalente a “demônio”). Como vê-se, o grego e o
personagem de Goethe entram em contato com seres supranaturais e perseguem o
conhecimento. A identidade entre ambos não parece ser meramente casual.
Historicamente, a primeira parte de Fausto é mais importante pelo papel que
representou no movimento pré-romântico alemão Sturm und Drang (Tempestade e
Ímpeto): a peça foi vista como símbolo da alma e cultura moderna, a personificação
da angústia que marcava o espírito da época. Em nossa perspectiva de início de
século XXI, percebemos que Goethe conseguiu orquestrar uma verdadeira tragédia
do desenvolvimento humano, a aventura de Fausto inicia-se na solidão de um obscuro
laboratório medieval de um sábio alquimista e seu idealismo na primeira parte e
termina na segunda parte simbolicamente em meio às convulsões provocadas pela
Revolução Industrial burguesa, o avanço das forças do capitalismo e a destruição
completa sem deixar vestígios, da sociedade e modo de produção feudal, mundo
este que foi transformado através de uma imensa força de trabalho organizada
juntamente com a maquinaria e grande indústria.
A questão trágica do pacto e o desenvolvimento do capitalismo no poema é analisado
em 3 “metamorfoses” de Marshall Berman: o Sonhador, o Amador e o Fomentador.
Fausto em sua primeira metamorfose, antes do seu pacto, vive somente no mundo
platônico das idéias e sonha em voltar ao convívio humano e social, mas a sociedade
e as relações feudais em que vive, não oferece possibilidades de ação e transformação,
de desenvolvimento de todas as suas potencialidades intelectuais e espirituais.
Na sua segunda metamorfose, depois do pacto com Mefistófeles, Fausto rejuvenesce,
tem dinheiro, velocidade e mobilidade social; tenta se adaptar para a integração entre
seu novo mundo de possibilidades infinitas e a estreiteza do mundo feudal. Seu
relacionamento com Gretchen (Margarida) é o símbolo dessa incompatibilidade de
mundos. Fausto tira a jovem camponesa de sua inocência, adulando-a com presentes,
tira-lhe sua virgindade, torna-se seu amante, despertando nela o desejo de mudança,
de desenvolvimento, algo muito difícil para ela, devido a seu forte laço de ligação com
sua comunidade e as exigências do casamento, que não interessa a Fausto, pois este
tem muitas experiências para vivenciar em seu desenvolvimento contínuo.
Na sua terceira e última metamorfose e nos 2 últimos atos do poema, Fausto passa
por diversas experiências: na corte do Imperador, ele evoca Helena de Tróia, símbolo
da beleza clássica; ao cabo de uma longa busca por ela entre as alegorias, deuses e
seres mitológicos da Antigüidade, ele traz Helena para a Alemanha e casa-se com ela.
Mas ela não tarda a desaparecer depois da morte de Euforion, filho do casal, símbolo
do gênio poético (Goethe queria prestar sua homenagem póstuma ao poeta Lord Byron).
Fausto - síntese
É como um herói insaciável e em conflito que Fausto é apresentado por Goethe. Sua
sede de onipotência leva-o a dominar várias ciências, mas nenhuma delas o conduz ao
mistério da existência. Fausto chega, assim, a perder a fé nas vias ordinárias da ciência.
Anseia por conhecer mais e mais: vida, alegria, amor, magia. Anseia por transformar-se
numa espécie de deus, com acesso ilimitado a todas as manifestações da natureza.
No momento em que Fausto tem consciência dos seus limites, Mefistófeles entra
em cena. O demônio se oferece para conduzi-lo a um novo universo, onde as emoções
são íntegras, a sabedoria é infinita e tudo está em perfeita harmonia com a vontade.
E principalmente Mefistófeles lhe propõe o prazer total e pleno da alegria e do amor,
mais o Dom de controlar os sentimentos e as pessoas como um mago, retendo nas
mãos o tempo, e fazendo a natureza oscilar segundo seu próprio desejo. Gozando
plenamente o ato de ser feliz, Fausto deverá no entanto, pagar um preço a
Mefistófeles: entregar-se a ele. Nesse instante, o diabo terá vencido Deus.
O episódio de Fausto e Margarida constitui o motivo central da peça. A jovem é a
personificação da pureza e da candura, atraindo a paixão de Fausto desde o primeiro
momento em que a vê saindo de uma igreja. Mas Mefistófeles não tem poder sobre
ela para lançá-la aos braços de Fausto: Margarida está mais próxima de Deus pelas
suas virtudes. Fausto é insistente e Mefistófeles acaba por se comprometer, criando
uma situação favorável e aproxima Fausto de Margarida. O herói aborda a jovem e
consegue penetrar em seu quarto. Mas invadido por uma onda de ternura, Fausto
não consegue ter senão pensamentos nobres, e afasta-se antes de Margarida chegar.
Fausto acaba por seduzir Margarida. Para poder possuí-la tranqüilamente, Fausto
dá a Margarida um sonífero, destinado à sua mãe. Na verdade, o sonífero era um
veneno que Mefistófeles prepara e, em conseqüência, a mãe da jovem morrerá.
Mas naquela noite, ébria de amor, Margarida nada vê, além de Fausto.
Valentim, o irmão da jovem, é morto por Fausto num duelo. Ciente de sua desgraça,
Margarida sente dentro de si todas as forças do mal. Quando dá à luz ao filho de
Fausto, não vê outra saída senão matá-lo. É então presa por infanticídio.
Fausto ignora totalmente a desgraça. Mefistófeles, porém, deseja ganhar tempo e
afastar o herói da cena trágica. Transporta-o para a noite da Valburga, onde reina
entre os demônios e as feiticeiras. É noite de 1º de maio, quando todas as forças
telúricas se reúnem numa alucinante luxúria.
Porém, a imagem da meiga Margarida é muito forte para que Fausto se abandone
aos sentidos. Sentindo-se um estranho na festa das
bruxas, Fausto depara com uma adolescente de olhos
mortos que o deixa obcecado por rever Margarida.
Mefistófeles não vê outra saída senão transportá-lo ao
cárcere onde a jovem está louca e indiferente à prisão e
à realidade. Não reconhece Fausto e é imune às súplicas
para que fuja com ele. Margarida está consciente da
necessidade do castigo e só pensa em expiar sua culpa.
À visão de Mefistófeles, a jovem recua com horror e
suplica aos céus perdão e proteção. E diante de Fausto
– a quem chama de Henrique, pois com esse nome o
conhecera - seu horror não é menor, ao descobrir nele o
agente da sua destruição. “Ela foi justiçada!” diz
Mefistófeles; “Está salva!” proclamam as vozes vindas
do alto. Sua ânsia de expiação acaba por redimi-la.
No final, Fausto desaparece com Mefistófeles, seguido pelo
grito longínquo de Margarida. O herói alcança sua redenção,
quando, depois de morto, sua alma é disputada com
Mefistófeles e a legião infernal contra a legião celeste de anjos,
que apossam de sua alma, conduzindo-a através da trajetória
ascensional celeste, no indizível do chorus mysticus, e no
encontro com o “eterno feminino”, confirmando “(...) que um
homem puro, embora com ambições, conhecendo o trilhar
de tais aspirações, seguro está do rumo a percorrer na vida”.
Charle Baudelaire
1821-1867
O homem que mudou a literatura moderna: definir o francês Charles Baudelaire
somente desta maneira o manteria muito aquém de sua verdadeira importância.
Tradutor, poeta, crítico de arte e literato, Baudelaire foi o ápice da poesia oitocentista.
Charles foi o único filho de Joseph-François Baudelaire e de sua jovem segunda
esposa, Caroline Archimbaut Defayis. Seu pai havia sido ordenado como padre
quando neófito, mas largou o ministério durante a revolução francesa. Trabalhou
como tutor dos filhos do duque de Choiseul-Praslin, o que lhe proporcionou um certo
status. Ganhou dinheiro e respeito e aos 68 anos se casou com Caroline, então com
26. Vivendo num orfanato e já passada da idade de se casar, ela acabou por não ter
opção. Em 1819, casaram-se. Charles-Pierre Baudelaire veio ao mundo um ano e
meio depois, em 9 de Abril de 1821.
A vida acadêmica de Baudelaire começou no Collège Royal em Lyon, quando Aupick
levou a família inteira ao assumir um cargo na cidade. Mais tarde, foi matriculado no
Liceu Louis Le Grand, quando retornaram a Paris em 1836. Foi justamente aí que
Baudelaire começou a se mostrar um pequeno gênio. Escrevia poemas execrados
por seus professores, que achavam que seus textos eram um exemplo de devassidão
precoce, afeições que não eram normais em sua idade. A melancolia também
despontava no jovem. Aos poucos, ele se convenceu de ser um solitário por natureza.
Em abril de 1839, acabou expulso da escola por seus atos de indisciplina constantes.
Mais tarde, tornou-se aluno da Escola de Direito. Na verdade, Charles estava vivendo
de maneira livre. Fez os seus primeiros contatos com o universo da literatura e
contraiu uma doença venérea que o consumiu durante a vida inteira. Tentando salvar
seu enteado do caminho libertino, Aupick o enviou para uma viagem à Índia, em
1841, uma forte inspiração para sua imaginação, e que trouxe imagens exóticas ao
seu trabalho. Baudelaire retornou a França em 1842.
Neste mesmo ano, ele recebeu sua herança. Mas como dândi que era, consumiu
rapidamente a pequena fortuna. Gastou em roupas, livros, quadros, comidas, vinhos,
haxixe e ópio. Os dois últimos, um vício adquirido após consumir pela primeira vez
entre 1843 e 1845, em seu apartamento no Hotel Pimodan. Pouco depois deste seu
retorno, ele conheceu Jeanne Duval, a mulher que marcou definitivamente a sua
vida. A mestiça primeiro se tornou sua amante e mais tarde, controlou sua vida
financeira. Ela ira ser a inspiração para as poesias mais
angustiadas e sensuais que o poeta escreveu. Seu
perfume e o seus longos cabelos negros foram o mote
da poesia erótica “La Chevelure”.
Charles Baudelaire continuou levando sua vida
extravagante e em dois anos dilapidou todo o seu
dinheiro. Também se tornou presa de agiotas e bandidos.
Neste período, acumulou dívidas que o assombraram
para o resto da vida. Em setembro de 1844, sua família
entrou na justiça para impedi-lo de mexer no pouco
dinheiro da herança que ainda sobrava. Baudelaire
perdeu e acabou recebendo somas anuais, que mal dava
para manter o seu estilo de vida e muito menos para
pagar o que devia. Isto o levou a uma dependência brutal
de sua mãe e ao ódio de seu padrasto. Seu
temperamento isolacionista e desesperador, fruto de sua
adolescência conturbada e que ele apelidou de spleen
retornou e se tornou cada vez mais freqüente.
Após a sua volta a França, ele decidiu se tornar um
poeta a qualquer custo. De 1842 a 1846, compôs o que
mais tarde foi compilado na edição “Flores do Mal”
(1857). Baudelaire evitou publicar todos estes poemas
separadamente, o que sugere que ele realmente tenha
arquitetado em sua mente uma coleção coerente,
governada por uma temática própria. Em outubro de 1845, compilou “As Lésbicas” e
em 1848, “Limbo”, obras que representam a agitação e a melancolia da juventude
moderna. Nenhuma das duas coleções foram lançadas em livros e Baudelaire só foi
aceito no circuito cultural de Paris porque também era crítico de arte, trabalho que
exerceu por um bom tempo.
Inspirado pelo exemplo do pintor Eugène Delacroix, elaborou uma teoria da pintura
moderna, convocando os pintores a celebrarem e expressarem o “heroísmo da vida
moderna”. O mês de janeiro de 1847 foi importante para Baudelaire. Ele escreveu a
novela “La Fanfarlo”, cujo o herói, ou melhor, anti-herói, Samuel Cramer, um alter-
ego do autor, oscila desesperado entre o desejo pela maternal e respeitável Madame
de Cosmelly e o erótico pela atriz e dançarina Fanfarlo. Com este texto, Baudelaire
começava a chamar a atenção, mesmo que timidamente.
Este anonimato acabou-se em fevereiro de 1848, quando participou de manifestações
para a derrubada do Rei Luís Felipe e para a instalação da Segunda República.
Consta que comandou um violento ataque contra o general Aupick, seu padrasto,
então diretor da Escola Politécnica. Este acontecimento leva vários especialistas a
minimizarem a participação do do poeta burguês nesta revolução, já que seus motivos
não seriam sociais e políticos mas sim pessoais, que ainda não havia publicado
nada. Porém, estudos recentes assumem uma veia política brutal em Baudelaire,
em especial sua associação com o anarquista-socialista Pierre-Joseph Proudhon.
Sua participação na revolta de proletários em junho de 1848 é comprovada e também
na resistência contra os militares de Bonaparte, em dezembro de 1851. Logo após
este episódio, o poeta declarou encerrado seu interesse em política e voltou toda a
sua atenção para seus escritos.
Em 1847, ele descobriu um obscuro escritor norte-americano: Edgar Allan Poe.
Impressionado pelas similaridades entre os escritos de Poe com seu próprio
pensamento e temperamento, Baudelaire decidiu levar a cabo a tradução completa
das obras do norte-americano, trabalho este que lhe tomou boa parte do resto de
sua vida. A tradução do conto “Mesmeric Revelation” foi publicado em julho de 1848
e depois, outras traduções apareceram em jornais e revistas antes de serem
compiladas no livro “Histórias Extraordinárias” (1856) e “Novas Histórias
Extraordinárias” (1857), todas precedidas por introduções críticas feitas por Charles
Baudelaire. Depois se seguiu “As Aventuras de Arthur Gordon Pym” (1857), “Eureka”
(1864) e Histórias Grotescas” (1865). Como tradução, estes trabalhos foram clássicos
da prosa francesa, e o exemplo de Poe deu a Baudelaire uma confiança em sua
própria teoria estética e ideais para a poesia. O poeta também começou a estudar o
trabalho do teórico conservador Joseph de Maistre, que, junto com Poe, incentivaram
seu pensamento a ir numa direção antinaturalista e anti-humanista.
Do meio de 1850, ele iria se pronunciar arrependido de ser um católico romano,
apesar de manter sua obsessão pelo pecado original e pelo demônio. Tudo isto sem
a fé no amor e perdão de Deus, e sua crença em Cristo se rebaixou tanto a ponto de
praticamente não existir mais. Entre 1852 e 1854, dedicou vários poemas à Apollonie
Sabatier, sua musa e amante apesar da reputação de cortesã da alta-classe. Em
1854, Baudelaire manteve um caso com a atriz Marie Daubrun. Ao mesmo tempo,
sua fama como o tradutor de Poe aumentava. O fato de ser crítico de arte permitiu
que publicasse algum de seus poemas. Em junho de 1855, a Revue des Deux Mondes
publicou uma sequência de 18 de seus poemas, com o título de “As Flores do Mal”.
Os poemas, que ele escolheu pela originalidade e pelo tema, trouxeram-lhe
notoriedade. No ano seguinte, Baudelaire fechou um contrato com o editor Poulet-
Malassis para uma coleção completa de poemas sob o título prévio.
Quando a primeira edição do livro foi publicado em junho de 1857, 13 dos 100
poemas foram imediatamente acusados de ofensas à religião e à moral pública. Um
julgamento ocorreu no dia 20 de agosto de 1857 e 6 poemas foram condenados a
serem retirados da publicação sob a acusação de serem obscenos demais. Baudelaire
foi multado em 300 francos (mais tarde, reduzido a 50 francos). Em 1866, na Bélgica,
os seis poemas foram republicados sobre o título de “Les Èpaves”. A proibição dos
poemas só foram retirados da França em 1949. Como toda polêmica sempre é
benéfica, “As Flores do Mal” se tornou um marco por sua obscenidade, morbidez e
devassidão. Nascia a lenda de Baudelaire como um poeta maldito, dissidente e
pornográfico.
Porém, as vendagens não foram nada boas. Baudelaire
nutria uma expectativa gigantesca pelo sucesso - o que
não aconteceu - e imediatamente se tornou amargo. Os
anos que vieram transformaram Baudelaire numa
personalidade soturna, assombrado pelo sentimento de
fracasso, desilusão e desespero. Após a condenação
de seu livro, ele se juntou com Apollonie Sabatier e a
deixou em 1859 para retomar seu relacionamento com
Marie Daubrun, novamente infeliz e fracassado. Apesar
de ter escrito alguns de seus melhores trabalhos nestes
anos, poucos foram publicados em livro. Após a
publicação de experimentos de prosa em verso, ele se
concentrou numa segunda edição de “As Flores do Mal”.
Em 1859, enquanto vivia novamente com sua mãe, perto
do rio Sena, onde ela se mantinha reclusa após a morte
de Aupick em 1857, Baudelaire produziu uma série de
obras-primas da poesia, começando com “Le Voyage”
em janeiro e culminando no que é considerado seu
melhor poema, “Le Cygne”, em dezembro. Ao mesmo
tempo, compôs dois de seus mais provocativos ensaios
de crítica de arte: “Salão de 1859” e “Os Pintores da
Vida Moderna”. Este último, inspirado por Constantin
Guys, é visto como uma declaração profética dos
elementos do Impressionismo, uma década antes do
surgimento da escola. Em 1860, publicou “Os Paraísos
Artificiais”, uma tradução de partes do ensaio de “Confissões de um Inglês Comedor
de Ópio”, de Thomas De Quincey, acompanhado por sua pesquisa e análise das
drogas. Em fevereiro de 1861, uma segunda edição, maior e ampliada, de “As Flores
do Mal” foi publicada por Poulet-Malassis. Ao mesmo tempo, publicou ensaios críticos
sobre Theophile Gautier (1859), Richard Wagner (1861), Victor Hugo e outros poetas
contemporâneos (1862), e Delacroix (1863). Estes textos seriam compilados em “A
Arte Romântica”, em 1869. Os fragmentos de sua autobiografia entitulada “Fusèes”e
“Mon Coeur Mis à Nu” também foram lançados entre 1850 e 1860. É também desta
época seu ensaio onde afirma que a fotografia era um engodo, que aquela nova
forma nunca seria arte. Mais tarde, o poeta se arrependeu e voltou atrás em suas
declarações e chegou a ser retratado por Félix Nadar.
Em 1861, Baudelaire tentou se eleger à Academia Francesa mas foi fragorosamente
derrotado Em 1862, Poulet-Malassis faliu e ele foi implicado na falência, o que piorou sua
condição financeira. Seus limites mentais e físicos atingiram o topo.Abandonando a poesia,
ele foi fundo na prosa em versos. Uma sequência de 20 de seus trabalhos foi publicada
em 1862. Em abril de 1864, ele deixou Paris para se instalar em Bruxelas, onde tentaria
persuadir um editor belga a publicar suas obras completas. Lá ficou, amargurado e
empobrecido até 1866, quando após um ataque epilético na Igreja de Saint-Loup at Namur,
sua vida mudou. Baudelaire teve uma lesão cerebral que lhe ocasionou afasia (perda da
capacidade de compreensão e de expressão pela palavra escrita ou pela sinalização,
assim como pela fala) e paralisia. O dândi nunca mais se recuperou. Retornou a Paris no
dia 2 de julho, onde ficou em uma enfermaria até sua morte. Em 31 de agosto de 1867,
aos 46 anos, Charles Baudelaire morreu nos braços de sua mãe.
Quando a morte o visitou, Baudelaire ainda mantinha vários de seus trabalhos não
publicados e os que já haviam saído estavam fora de circulação. Mas isto rapidamente
mudou. Os líderes do movimento Simbolista compareceram ao seu funeral e já se
designavam como seus fiéis seguidores. Menos de 50 anos após a sua morte,
Baudelaire ganhou a fama que nunca teve em vida: havia se tornado o maior nome
da poesia francesa do século XIX.
Conhecido por sua controvérsia e seus textos obscuros, Baudelaire foi o poeta da
civilização moderna, onde suas obras parecem clamar pelo século XX ao invés de
seus contemporâneos. Em sua poesia introspectiva ele se revelou como um lutador
à procura de Deus, sem crenças religiosas, procurando em cada manifestação da
vida os elementos da verdade, de uma folha de uma árvore ou até mesmo no franzir
das sobrancelhas de uma prostituta. Sua recusa em admitir restrições de escolha de
temas em sua poesia o coloca num patamar de desbravador de novos caminhos
para os rumos da literatura mundial.
As Flores do Mal
A principal obra do francês Charles Baudelaire foi e ainda é certamente o seu livro
de poemas Les Fleurs du mal, publicado originalmente em 1857 pelos editores Poulet-
Malassis e De Broise. O volume reunia todos os poemas outrora publicados na
imprensa e outros ainda inéditos. Apresentava-se dividido em cinco partes - Spleen
et ideal, Fleurs du mal, Révolte, Le vin e La mort - e continha 100 poemas, além do
introdutório Au lecteur.
A maior parte destes poemas havia sido escrita desde 1840 e publicada na imprensa
e em revistas literárias européias, como as Revue de Paris, em 1852, Revue de
Deux Mondes, em 1855, Revue française, em 1857, e Revue contemporaine, em
1859, sendo que em junho de 1855 aparece pela primeira vez o título Les Fleurs du
mal sobre um conjunto de dezoito poemas publicados na Revue de Deux Mondes.
O livro sofreu grave processo poucos meses depois do seu lançamento, acusado de
imoralidades, assim como o livro de Gustave Flaubert, Madame Bovary, e tanto o
autor quanto seus editores são condenados por ultraje à moral pública e o livro a ter
suprimido alguns poemas.
Em 1861 sai sua segunda edição, rearranjada e modificada: por um lado, reduzida
pela saída dos poemas censurados - Les bijoux, Le Léthé, À celle qui est trop gaie,
Lesbos, Femmes damnées e Le métamorphoses du vampire - e pela nova formação
do poema Un fantôme, somando quatro sonetos; por outro lado, aumentada com
outros 35 poemas novos, totalizando 126. Os poemas aparecem distribuídos em
outra ordem e é ainda nessa edição que Baudelaire faz mais uma subdivisão em
seu livro, acrescentando o subtítulo Tableaux parisiens. Na época, publica ainda
duas coletâneas de poemas: Les Épaves - também dividida em cinco partes: Pièces
condamnées, Galanteries, Épigraphes, Pièces diverses e Buffonneries, divulgada
principalmente na Bélgica - e Nouvelles Fleurs du mal.
Por fim, ainda sairia uma edição póstuma, em 1868, visto que o poeta falecera um
ano antes, em agosto de 1867, organizada por Charles Asselineau e Théodore de
Banville e produzida por Michel Levy. Essa edição troca o título do poema Au lecteur
por Préface e traz, além dos poemas da edição de 1861 e alguns das coletâneas,
outros poemas publicados na imprensa e mesmo inéditos, totalizando 166.
PERFUME EXÓTICO
O AZAR
Os cegos
O vinho do solitário