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Este artigo propõe discutir o processo de erosão causado pela execução de obras muito próximas às margens de rios e estuários, pois estas podem causar danos ambientais e financeiros irreparáveis. Para tanto relatamos duas experiências ocorridas quando realizávamos serviços de sinalização náutica no estuário do Rio Amazonas, nas quais pudemos observar um fator determinante da durabilidade de faróis e faroletes lá instalados. Constatamos, também, que só através de adoção de medidas mitigadoras poderemos reduzir a magnitude dos impactos causados ao meio ambiente. Finalmente propomos a discussão e a elaboração de normas, que além de restringir a realização de obras, também obrigue a criação de uma faixa de conservação nas margens.
Originaltitel
MEDIDAS MITIGADORAS COMO FATOR DETERMINANTE NA DURABILIDADE DE PEQUENAS OBRAS NAS PROXIMIDADES DE MARGENS
Este artigo propõe discutir o processo de erosão causado pela execução de obras muito próximas às margens de rios e estuários, pois estas podem causar danos ambientais e financeiros irreparáveis. Para tanto relatamos duas experiências ocorridas quando realizávamos serviços de sinalização náutica no estuário do Rio Amazonas, nas quais pudemos observar um fator determinante da durabilidade de faróis e faroletes lá instalados. Constatamos, também, que só através de adoção de medidas mitigadoras poderemos reduzir a magnitude dos impactos causados ao meio ambiente. Finalmente propomos a discussão e a elaboração de normas, que além de restringir a realização de obras, também obrigue a criação de uma faixa de conservação nas margens.
Este artigo propõe discutir o processo de erosão causado pela execução de obras muito próximas às margens de rios e estuários, pois estas podem causar danos ambientais e financeiros irreparáveis. Para tanto relatamos duas experiências ocorridas quando realizávamos serviços de sinalização náutica no estuário do Rio Amazonas, nas quais pudemos observar um fator determinante da durabilidade de faróis e faroletes lá instalados. Constatamos, também, que só através de adoção de medidas mitigadoras poderemos reduzir a magnitude dos impactos causados ao meio ambiente. Finalmente propomos a discussão e a elaboração de normas, que além de restringir a realização de obras, também obrigue a criação de uma faixa de conservação nas margens.
DURABILIDADE DE PEQUENAS OBRAS NAS PROXIMIDADES DE MARGENS
Odmir Andrade Aguiar 1 e Carlos Frederico Borges Pereira 1
Resumo - Este artigo prope discutir o processo de eroso causado pela execuo de obras muito prximas s margens de rios e esturios, pois estas podem causar danos ambientais e financeiros irreparveis. Para tanto relatamos duas experincias ocorridas quando realizvamos servios de sinalizao nutica no esturio do Rio Amazonas, nas quais pudemos observar um fator determinante da durabilidade de faris e faroletes l instalados. Constatamos, tambm, que s atravs de adoo de medidas mitigadoras poderemos reduzir a magnitude dos impactos causados ao meio ambiente. Finalmente propomos a discusso e a elaborao de normas, que alm de restringir a realizao de obras, tambm obrigue a criao de uma faixa de conservao nas margens.
Abstract - This article intend to discuss the erosion process produced by the execution of works neared the margins of estuaries and rivers, because this may cause irremediable environmental and financial damages. To exemplify, we related two experiences that occur when we realized services of maintenance of nautical signs in Amazons estuary, then we could observe a determinator agent of durability of lighthouses installed. We observed that only adopting mitigation measures is possible to reduce the magnitude of environmental impacts. Lastly we propose to discuss and elaborate rules, to restrict this kind of works also impose the creation and conservation of a forest belt at the margins.
Palavras-chave - eroso, sinalizao nutica e medidas mitigadoras.
INTRODUO O texto tem como objetivo mostrar a necessidade de criao de uma norma que restrinja a realizao de obras muito prximo s margens de rios e esturios em funo do impacto ambiental que pode ser causado. Veremos como este dano pode ser causado no propriamente pela obra, mas pelo pessoal que a executa e pelo modo que executada; e que muitas vezes fatores considerados como facilitadores podem ser os mesmos que, em um futuro prximo, causaro a destruio da obra. Desenvolvemos esta idia em funo das experincias por ns vivenciadas quando realizvamos servios de sinalizao nutica no esturio do Rio Amazonas, entre os anos
1 Programa de Eng. Ocenica da UFRJ, bloco C, CEP 21945-000, Rio de Janeiro, RJ.
2 XII Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos de 1993 e 1994. Durante este perodo servamos embarcados no Navio-Faroleiro Almirante Graa Aranha da Diretoria de Hidrografia e Navegao (DHN).
O DESCOBRIMENTO DE UM NOVO FATOR Por dois anos realizamos juntos servios de sinalizao nutica, instalando e fazendo a manuteno de sinais luminosos em toda a costa do Brasil; do litoral do Rio Grande do Sul ao esturio do Rio Amazonas. Devido s caractersticas peculiares da Regio Amaznica, se fazia imperioso que durante a fase de planejamento de cada misso fossem analisadas minuciosamente todas as variveis que poderiam afetar o bom andamento do servio como: o regime de chuvas, o regime hidrogrfico, a proximidade de cidades, o tipo de transporte a ser empregado, o local de acantonamento, etc.. A anlise destes fatores sempre tinham a delimitao temporal do perodo em que nossa equipe estaria realizando o servio. Hoje, aps um auto-exame, podemos observar que muitas vezes devido a complexidade do planejamento estratgico acabamos por no considerar todos os fatores que envolviam determinado servio, em certos momentos por desconhecimento e em outros por erro de avaliao. Nunca, durante as sesses de planejamento, nos ocorreu que pequenas modificaes feitas no local do servio poderiam ter suas propores aumentadas aps nossa partida. Durante o planejamento priorizvamos determinar de como e onde, o material necessrio execuo do servio, seria desembarcado. Visvamos sempre a facilidade de acesso, bem como viabilizar o auxlio do navio caso fosse necessrio. Comumente podamos contar com a disponibilidade de um helicptero, mas infelizmente, em virtude da quantidade de material (at 40 toneladas), seu emprego era sempre descartado, dando- se preferncia ao uso de embarcaes. O desembarque do material era normalmente feito por lanchas ou chatas que abarrancavam, e atravs de uma fila o material era passado de mo em mo at o local do servio propriamente dito. Haviam casos, em que se fazia um caminho com tbuas, entre o local onde estava a embarcao e local do servio. Neste caso o material era transportado com carrinhos de mo. Nunca se realizou um desmatamento com a finalidade de abrir trilhas, a vegetao era somente podada (ou esmagada) nos locais onde se realizava o trnsito das pessoas. Por vezes, ns contvamos com a participao voluntria de pessoas que habitavam s proximidades, nos informando sobre as peculiaridades do regime hidrogrfico, quais os melhores mtodos e horrios para acesso ao local do servio. O contato com o pessoal riberinho, desenvolveu na equipe de trabalho um sentimento de responsabilidade com a preservao do meio ambiente, mantendo-o mais inalterado possvel. Durante a manuteno de faris e faroletes, tanto na barra norte quanto na barra sul do Rio Amazonas, comeamos a observar que muitos deles embora constassem nas cartas nuticas como estando em terra, estavam na verdade, em pequenos bolses de gua. Estes bolses eram pouco maiores que as bases das estruturas (Figura 1), e pelo modo que se desenvolveu a eroso podamos concluir que tal fato no se devia apenas a um processo normal do rio, pois em vez de um amaciamento na margem tnhamos a criao de reentrncias.
XII Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 3 Figura 1 - A formao dos bolses
que teria feito o rio atuar daquela forma? Todo o cuidado foi tomado para que o dano ao meio ambiente fosse o menor possvel, ento por que aquela resposta? A soluo apareceu aps a realizao dos servios no Farol Maria Teresa(PA) e no Farol Ilha do Machadinho(PA); pudemos observar que mesmo s deixando pegadas para traz, estas foram as responsveis por um aumento no processo de eroso.
Figura 2 - Rio Par na preamar Figura 3 - Rio Par na baixa-mar
Os meses escolhidos para a realizao dos servios eram sempre anteriores quele em que o rio tem sua maior cheia, isto levou-nos a presumir que o solo pouco frtil associado com o pequeno perodo de tempo, fazia com que fosse quase nenhuma a recuperao daquela parcela de mata danificada. Nos meses seguintes sem o respaldo da vegetao e de suas razes, e aliados ao regime de cheia do rio e ao aumento do potencial de carreamento em conjuno com as fortes mars daquele esturio (Figuras 2 e 3),
4 XII Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos aumentava do transporte de sedimentos no s das margens, mas tambm, daquela pequena regio desmatada, at o ponto em que criado o bolso. Sem levar em considerao as conseqncias do aumento da vazo slida do rio, as conseqncias deste processo para a estrutura eram as piores possveis, pois ocorriam rachaduras nas bases e inclinaes, o que em questo de pouco tempo gerava a necessidade de se fazer uma grande reforma ou poderia at desativar definitivamente o sinal. Desta constatao veio a necessidade de considerar os possveis efeitos a longo prazo das nossas menores atitudes, de no s realizar anlises dos fatores que influenciaro a execuo do servio, mas tambm de fatores que podero colocar em risco a obra realizada. Como na maioria dos casos de projetos de engenharia, uma pequena economia durante a execuo pode gerar um grande prejuzo no futuro.
DUAS ETAPAS DE UM PROBLEMA No Farol Maria Teresa (Figura 4), localizado na foz do Rio Par, foram tomados todos os cuidados possveis durante o planejamento do servio para que no viesse a ocorrer instabilidade na estrutura, em virtude do farol anterior a este ter sido derrubado pelo rio; para tal foi feito um dimensionamento da base que garantiria a durabilidade da obra. No local destinado ao estabelecimento do farol foi construda uma base em concreto armado de cerca de 10m 2 com 2m de profundidade, dispondo de 4 pilares de sustentao das sapatas travadas entre si de forma a dar maior rigidez e estabilidade estrutura. Infelizmente no havamos compreendido totalmente a importncia das medidas mitigadoras, e alm disso, desta vez a eroso nos precedeu; o ponto que no relatrio de sondagem geolgica, feito seis meses antes, que estaria a quinze metros da margem na mar cheia estava na realidade a cerca de cinco metros quando fomos realizar o servio. Figura 4 - Trmino da construo do Farol Maria Teresa
XII Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos 5 Devido quantidade de material e ao tempo disponvel para realizar a misso, foi decidido, que o desembarque de material seria feito atravs de uma balsa que foi abarrancada exatamente em frente ao local da construo do farol, e visando diminuir os danos ambientais foi usada com alojamento e como ptio de obras. Este procedimento, aparentemente inocente e zeloso, alterou o escoamento do rio naquele local e ocasionou um grande aumento na eroso. A ao da mar em conjuno com o eflvio fez com que, em apenas quinze dias, a margem tivesse um recuo de cerca de 4m. Ao final da obra podamos considerar que ela estava na margem do rio. Aps um ano a torre de 40m do Farol Maria Teresa comeou a inclinar e teve que ser desativada. Numa anlise da situao da estrutura verificou-se que a ao do rio havia danificado a base de tal forma que tornou sua recuperao impossvel. Na pequena Ilha do Machadinho, ao norte da Ilha do Maraj, foi feita a primeira tentativa para a diminuio destes efeitos. O farol j estava com uma das sapatas mostra (figura 5) e a ameaa, neste caso, no era devida a formao de um bolso, mas pelo avano de um igarap que era usado constantemente como acesso ilha, quando a mar estava alta. Embora um pouco diferente dos outros casos, a causa e o efeito eram os mesmos. Para tentar salvar o farol, foi construdo um muro de conteno e dos dois lados do muro foi recolocada a parcela de sedimentos que foi retirada. Neste terreno foi feito o plantio com mudas nativas da Ilha. O resultado no foi totalmente satisfatrio, na parte entre o muro e o igarap no houve tempo suficiente para as mudas crescerem fazendo com que j na primeira cheia a eroso voltasse a ocorrer de modo significativo. Na parte interna do muro a eroso s ocorreu aps as guas avanarem pelas laterais, e mais do que sedimento as guas tambm levaram o muro.
Figura 5 - Vista do Farol Ilha do Machadinho durante a cheia
6 XII Simpsio Brasileiro de Recursos Hdricos
CONCLUSO Em funo destas experincias conclumos que depois de iniciado o processo de eroso quase impossvel reverter seus efeitos, aparentemente o controle desse processo est na adoo de medidas mitigadoras. No caso especfico da sinalizao nutica sugerimos a criao de uma norma tcnica que obrigue os futuros sinais serem colocados o mais longe possvel das margens (cerca de 25m). Tambm sugerimos o reestudo dos procedimentos de desembarque de material, aumentando ao mximo o uso do helicptero ou optando por um veculo do tipo hovercraft, evitando assim, que chatas e balsas permaneam abarrancadas nas proximidades da obra como se vem fazendo, bem como no criar trilhas entre o farol e o rio. Desta forma, seria aconselhvel a realizao de um frum envolvendo representantes dos rgos diretamente ligados s questes ambientais e costeiras (Ministrio da Marinha, IBAMA, etc.) para, em conjunto, tomarem medidas que alm de garantir a segurana e durabilidade das obras em margens, tambm garanta a conservao de uma faixa de mata nativa nas margens dos rios.