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Volume IV
CAMPOS DA COMUNICAÇÃO
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Design da Capa: Catarina Moura
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Covilhã, 2005
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Apoio:
ÍNDICE
Capítulo I
JORNALISMO
Capítulo II
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
O potencial educativo do audiovisual na educação formal, Lara Nogueira Silbiger ... 375
Comunicação/Educação: Um campo em acção, Maria Aparecida Baccega ............. 383
Comunicación y Educación “de cine”, Mª del Mar Rodríguez Rosell .................... 395
La dieta televisiva en la infancia española. Aproximación al estudio de las audiencias
infantiles, Amelia Álvarez, Marta Fuertes, Ángel Badillo y Zoe Mediero ............. 403
A educação popular no Brasil: a cultura de massa, Maria da Graça Jacintho Setton ... 419
Crescer com a Internet: Desafios e Riscos, Neusa Baltazar ..................................... 427
A rádio de modelo multimediático e os jovens: a convergência entre o FM e a Internet
nas rádios nacionais, Paula Cordeiro ............................................................................ 433
Educar para comunicar: una reflexión sobre la formación de los comunicadores en el
contexto de la sociedad de la información, Viviana Fernández Marcial ................. 443
Capítulo III
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS
Capítulo IV
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
APRESENTAÇÃO
António Fidalgo e Paulo Serra
Comunicação, Estética, Arte e Design, Pu- (Capítulo III), Estética, Arte e Design
blicidade e Relações Públicas, Jornalismo, (Capítulo IV) e Comunicação Audiovisual
Estudos Culturais e de Género, Comunica- (Capítulo V); o Volume II, intitulado Te-
ção e Educação, Comunicação Audiovisual, orias e Estratégias Discursivas, compreen-
Opinião Pública e Audiências, Comunicação de as comunicações referentes a Teorias da
e Organização. Comunicação (Capítulo I), Semiótica e Texto
A publicação do enorme volume de (Capítulo II), Retórica e Argumentação
páginas resultante de tal número de comu- (Capítulo III) e Publicidade e Relações
nicações – um volume que, e a aplicar o Públicas (Capítulo IV); o Volume III,
formato estabelecido para a redacção das intitulado Visões Disciplinares, compreende
comunicações, excederia as duas mil e as comunicações referentes a Economia e
quinhentas páginas –, colocava vários dile- Políticas da Comunicação (Capítulo I),
mas, nomeadamente: i) Publicar as Actas do Direito e Ética da Comunicação (Capítulo
VI LUSOCOM e do II IBÉRICO em sepa- II), História da Comunicação (Capítulo III)
rado, ou publicá-las em conjunto; ii) Publi- e Estudos Culturais e de Género (Capítulo
car as Actas pela ordem cronológica das IV); finalmente, o Volume IV, intitulado
Sessões Temáticas ou agrupar estas em grupos Campos da Comunicação, compreende as
temáticos mais amplos; iii) Dada a impos- comunicações referentes a Jornalismo (Ca-
sibilidade de reunir as Actas, mesmo que de pítulo I), Comunicação e Educação (Capí-
um só Congresso, em um só volume, quantos tulo II), Opinião Pública e Audiências
volumes publicar. (Capítulo III) e Comunicação e Organiza-
A solução escolhida veio a ser a de ção (Capítulo IV).
publicar as Actas de ambos os Congressos A realização dos Congressos de Ciências
em conjunto, agrupando Sessões Temáticas da Comunicação na Covilhã e a publicação
com maior afinidade em quatro volumes destas Actas só foi possível graças ao apoio,
distintos: o Volume I, intitulado Estética e ao trabalho e à colaboração de muitas pes-
Tecnologias da Imagem, compreende os soas e entidades, de que nos cumpre destacar
discursos/comunicações referentes à Aber- a Universidade da Beira Interior, o Instituto
tura e Sessões Plenárias (Capítulo I), Fo- de Comunicação Social, a Fundação para a
tografia, Vídeo e Cinema (Capítulo II), Ciência e Tecnologia e a Fundação Calouste
Novas Tecnologias e Novas Linguagens Gulbenkian.
JORNALISMO 11
Capítulo I
JORNALISMO
12 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 13
Apresentação
Jorge Pedro Sousa1
fugir à regra, são também vários os trabalhos Lançar luz sobre o jornalismo e os jor-
seleccionados para o VI LUSOCOM que nalistas e a sua função e repercussão na
elegem como principal método a análise do sociedade e na cultura é tarefa dos pesqui-
discurso. São os casos das pesquisas de Xosé sadores em jornalismo. Estamos certos de
López Garcia e Marta Pérez sobre a infor- que os trabalhos seleccionados reflectem
mação cultural nos meios jornalísticos ga- essa preocupação e atingem o seu nobre
legos; de Telmo Gonçalves sobre os objectivo de construir um conhecimento ci-
enquadramentos temáticos da segunda Guer- entificamente válido sobre os fenómenos
ra do Golfo; de Patrícia Melo sobre o índio jornalísticos, enquanto fenómenos pessoais,
na imprensa pernambucana; e ainda o de Ana sociais, ideológicos, históricos, tecnológicos
Cristina Mandarino sobre “a cor da pele” na e culturais.
imprensa brasileira Nordestina. Finalmente,
a teorização da análise do discurso jornalístico
dramatizado constitui a questão central que _______________________________
1
ocupa Pedro Diniz de Sousa. Universidade Fernando Pessoa.
JORNALISMO 15
1770 e 1850, sendo que estaria aí incluído tomariam o nome de religião afro-brasileira
o período do tráfico clandestino. denominadas genericamente sob os nomes de
Cabe ressaltar, que, se estamos dando Umbanda e Candomblé.
mais ênfase ao grupo étnico jêje-nagô, é Podemos perceber que a base dessas
porque será este que irá fundar as primeiras representações está situada no nível de re-
casa de culto que se tem oficialmente no- lacionamento existente entre o rótulo religi-
tícia, passando este modelo ser tido como oso, a cor da pele e o nível social dos
referência quando se fala de estudos sobre participantes dos grupos religiosos.
as religiões afro-brasileiras. Inclusive é Vale ressaltar que as representações são,
curioso lembrar, que o próprio Nina elas próprias, marcadas por critérios sociais
Rodrigues a estes exalta como “os negros e por mecanismos classificatórios fundamen-
nagôs possuem uma mitologia bastante com- tados no sistema hierarquizado da organiza-
plexa, com divinização dos elementos natu- ção social. Neste sistema, é possível perce-
rais e fenômenos meteorológicos” (ELBEIN, ber fronteiras nitidamente estabelecidas para
1988: 216), “[...] da preponderância adqui- a firmação individual e grupal, fundamen-
rida no Brasil pela mitologia e culto dos jejes tadas nos credos religiosos assumidos, na
e iorubanos a ponto de, absorvendo todos os aparência física (cor da pele, feições, cabe-
outros, prevalecer este culto quase como a los, vestuário, etc.), que indicam a pertença
única forma de culto organizada dos nossos a um dos diversos grupos profissionais e
negros fetichistas”.(ELBEIN, 1988: 215). confessionais que, por sua vez, ajudam a
Os Terreiros, Roças, Abaçás ou Casas- promover a inserção – individual e grupal
de-Santo, denominações correntes utilizadas – nas diferentes camadas da pirâmide social.
para nomear os espaços e grupos de culto (TEIXEIRA, 1992).
aos deuses africanos” – Orixás, Inquices e A articulação entre as rotulações religi-
Voduns – representam assim historicamente, osas e a racial é considerada como um fator
uma forma de resistência cultural, coesão importante para a compreensão do cenário
social, e ao mesmo tempo centro de fermen- social brasileiro, marcado pelo “medo do
tação para sublevações e rebeliões, relatando feitiço”, conforme mostrado por Maggie
às várias rebeliões ocorridas no século XIX (1992), e alimentado e reforçado pelas
como tendo relação com a fé que professa- notícias estereotipadas veiculadas na mídia.
vam os insurretos (RODRIGUES, 1988). É É esse medo exagerado do feitiço/malefício,
interessante ressaltar que Nina Rodrigues ao fruto muito mais de um imaginário, do que
referir-se as rebeliões levava em considera- baseado em verdades comprovadas, que irá
ção apenas a origem e a fé dos rebeldes, promover durante muito tempo uma justifi-
esquecendo-se que as próprias condições em cativa a qual, imprensa e polícia, atribuíam
que estes viviam – sub-humanas – por si só como resultado às perseguições.
já eram motivos suficiente para a rebelião Assim, procuramos buscar identificar a
ou motim. possível articulação existente entre as repre-
As formas da religiosidade africana, no sentações acerca da loucura, criminalidade e
caso brasileiro, podem ser consideradas religiões afro-brasileiras (Umbanda e Can-
fatores fundamentais para a formação de domblé) e as notícias veiculadas nos jornais
reagrupamentos institucionalizados de africa- das cidades de Salvador e Aracaju e de como
nos e seus descendentes, escravos, foragidos estas participaram da construção e cristali-
e libertos. Ao lado de associações religiosas zação de estereótipos negativos incidentes
propriamente ditas, como Terreiros e Irman- sobre aqueles que praticam e cultuam Orixás,
dades de Igrejas Católicas, – e mais tarde Voduns, Inquices e entidades afro-brasileiras.
– Federações, desenvolveram-se durante a A leitura das representações engendradas
escravidão formas de resistência política – sobre a população macumbeira, rótulo ge-
os quilombos – que geralmente estavam nérico incidente sobre negros, mestiços e
associados às práticas religiosas africanas. brancos, adeptos das religiões afro-brasilei-
Assim, passaremos a encontrar mais tarde, ras, aponta para o processo de classificação
em diversas regiões do Brasil, a dissemina- que incide sobre grupos e indivíduos que tanto
ção dos cultos de origem africana, que agora serve para justificar desigualdades sociais,
JORNALISMO 17
mos por considerar que durante os primeiros pesquisa que vai de 1920 até 1942, nos jornais
anos deste século, os estudos da Psiquiatria “A Tarde” e “Estado da Bahia” sobre as
voltavam-se para as religiões afro-brasileiras perseguições aos Candomblés baianos, ape-
como local capaz de promover a teoria aceita nas uma reportagem foi escrita por um
por muitos e, principalmente, por alguns jornalista presente a invasão, não havendo
psiquiatras de que negro e religião eram os nenhum outro registro nas inúmeras repor-
ingredientes perfeitos que, combinados, eram tagens que prove a presença de jornalistas
capazes de promover a loucura e a presentes. O que demonstra que as notícias
criminalidade eram veiculadas de acordo com o imaginário
Os estudos de Raimundo Nina Rodrigues7, e o senso comum daqueles que as escreviam,
Ulisses Pernambucano e Cunha Lopes entre deixando transparecer não só o desconheci-
outros, grandes expositores desta teoria, mento a respeito das religiões afro-brasilei-
acreditavam que a população negra partici- ras, como representavam os estereótipos pelos
pante das religiões afro-brasileiras (Umbanda quais as religiões afro-brasileiras eram per-
e Candomblé) eram passíveis de desenvolver cebidas.
algumas patologias e degenerações. Assim, Com o passar do tempo notícias que
diante desta perspectiva os terreiros em vários relatavam a invasão e posterior captura e
pontos do país, especialmente os do Rio de encarceramento dos freqüentadores e adep-
Janeiro, Salvador e Recife viram-se invadi- tos dos terreiros começaram a aparecer na
dos durante as sessões públicas (fato que daria imprensa escrita. Estas notícias serviriam para
maior destaque às notícias de jornal) por reforçar os preconceitos que já se encontra-
ilustres personagens que tentavam ali encon- vam latentes no imaginário social, agora
trar a prova cabal que referendasse suas substanciados e legitimados pela imprensa.
teorias. Essas notícias transformar-se-iam na manhã
Este autor inclusive foi o fundador da seguinte em manchetes de jornais.
Escola de Patologia Social fortemente influ-
enciado pelas teorias evolucionistas em voga Notícias: ideologias e estereótipos aos
na Europa, que articulava três disciplinas: a negros
medicina, o direito e a antropologia social.
Esta associação tinha como objetivo demons- Os jornais de uma forma geral sempre
trar através de argumentos “lógicos e cien- trouxeram em suas manchetes relatos acerca
tíficos” que a população brasileira era inte- das curas obtidas nos terreiros da mesma
lectual e psicologicamente inferior na con- forma que questionavam a validade e a
frontação com a superioridade indiscutível veracidade de tais fatos, fornecendo, assim,
dos brancos. (RODRIGUES, 1988). material amplo para moldar o imaginário
No quadro em que se explana a social acerca da loucura e da criminalidade
pluralidade da sociedade brasileira, além da e as religiões afro-brasileiras.
discriminação que recai sobre tudo ou todos Assim, perda de controle, exploração
que são considerados negros ou afro, o rótulo pública, crime, suicídio, brigas, adultério,
de macumbeiro supõe ainda uma outra di- roubos, loucuras sempre foram vistas pelos
mensão: aquela estabelecida pela Escola de jornais como atividades comuns no âmbito
Patologia Social que associa certas práticas dos terreiros, da mesma forma que seus
rituais, como possessão, à loucura e a freqüentadores eram percebidos como cida-
criminalidade (BIRMAN, 1986). Outras dãos perigosos, que deveriam permanecer
doenças também foram atribuídas aos negros sobre suspeita policial. Em síntese, todo
e mestiços, assim como atributos morais e macumbeiro era classificado como um pos-
comportamentais, o que contribui fortemente sível delituoso ou delinqüente.
para o enquadramento dessas populações e Quase sempre matéria de primeira página
de suas manifestações culturais e religiosas em jornais populares, este tipo de destaque
como produzidas por “gente de segunda tanto pode ser interpretado como apelo para
categoria” conforme Nina Rodrigues. a venda de jornais através do sensacional e
Vale ressaltar, que segundo Angela do misterioso, – marcas, representações e
Lunhing (2000), no período que realizou sua estigmas – quanto o que se desejava ver
JORNALISMO 19
reforçado. Nesta perspectiva era delimitado, econômica, política e cultural, com a qual
de forma mais nítida o espaço social para se defrontavam intelectuais, escritores, po-
as religiões afro-brasileiras; principalmente líticos, profissionais liberais e setores popu-
na década de 50, quando tais formas reli- lares, não se ajustava facilmente às idéias e
giosas não tinham recebido ainda a marca aos conceitos, aos temas e às explicações
da legitimidade conferida pelos estudos emprestadas, às pressas, de sistemas de
antropológicos desenvolvidos a partir das pensamentos elaborados em países da Euro-
décadas de 50 e 60. 8 (BROWN, 1985; pa. Estava em curso uma fase importante no
TEIXEIRA, 1986). processo de construção de um movimento
Assim, buscamos demonstrar que as capaz de pensar a realidade e a cultura
notícias veiculadas na imprensa valorizam o nacional.(IANNI,1992, apud MANDARINO,
sensacional e o caricato, sendo enfocado 1995: 40).
principalmente homicídios, suicídios e casos As transformações políticas, econômicas
de loucura. Tendo sempre consciente que a e culturais por qual passavam o país, foi
notícia não é um ingênuo relato de um fato, responsável pelo surgimento de várias cor-
mas uma construção elaborada segundo rentes contrárias a aproximação, se é que se
determinada ótica e ética, do nosso ponto de pode dizer desta maneira, entre as classes
vista, todo jornal é um veículo, um instru- populares e os setores mais conservadores e
mento, criador de um mundo no qual se põe hegemônicos da sociedade.
à consciência e ao consumo dos leitores. A busca pela instauração de uma nova
As informações, portanto, são elaboradas ordem mais próximas das aspirações daque-
por escolha, interpretação e avaliação, tor- les que pensavam a necessidade de um Brasil
nando-se assim significativas. O jornal co- moderno, não condizia com uma sociedade
locando-se como reprodutor de uma realida- onde a presença de negros e de seus rituais
de que se dá à observação, torna-se, na impuros pudessem proliferar.
verdade, produtor e reprodutor de um uni- Com isso, procuramos demonstrar que os
verso ideológico que atende a interesses mecanismos reguladores criados pelo Estado
específicos. desde a República não extirparam a crença
Acreditamos que a notícia tem um de- na magia e em sua eficácia, mas ao contrá-
terminado fim, no entanto, resta-nos saber rio, foram fundamentais para sua constitui-
se aqueles que a produzem têm uma cons- ção.
ciência clara de seu conteúdo e de como este Isto vai gerar inúmeras estratégias pelo
repercutirá sobre aqueles que as lêem, ou se povo-de-santo, que em determinado momen-
simplesmente atuam como agentes de uma to vão se fazer acompanhar de políticos e
coisa maior, reproduzindo, eles próprios pessoas influentes, que acabarão por criar
articulações do imaginário social acerca de espaços para estes nos meios de comunica-
determinados grupos, em especial aqueles que ção. Esta estratégia de mão dupla, que por
professam a religião dos Orixás Inquices e um lado é capaz de fazer com que alguns
Voduns. representantes e seus terreiros, passem a ser
vistos de forma diferenciada por uma parcela
Conclusão da sociedade, por outro, vai gerar um com-
prometimento capaz de afastar alguns, e de
Após empreendermos nosso trabalho, cujo levar a suspeita a outros.
objetivo reside em percebermos as represen- Estes mecanismos podem ser percebidos
tações que incidem sobre a cor da pele dos nos processos de formação das várias Fede-
adeptos e praticantes dos cultos afro-brasi- rações em diversos Estados, onde estes locais
leiros, acerca das notícias veiculadas na passam a servir de espaço para a cooptação
imprensa sergipana e baiana, algumas ques- política em troca de favores, como espaços
tões nos parecem relevantes. em colunas de jornais e revistas, além da
O início do século surge como um concessão de horários em rádios.
momento de grande reflexão por parte da- Sobre as perseguições aos cultos afro-
queles que enxergavam a necessidade de brasileiros, podemos concluir que, diferente
transformar o país. A realidade social, do que ocorreu em outros Estados, embora
20 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
o contrário seja enunciado nas poucas repor- recendo ela própria que muita pouca coisa
tagens recolhidas, e apenas apontado nos encontrou na imprensa local nos poucos
depoimentos, em Aracaju, as perseguições e jornais ainda preservados.
a repressão não tinham como principal No caso específico deste estudo, nos foi
objetivo à punição dos adeptos por estes possível identificar que isto vem ocorrendo
praticarem feitiçarias ou malefícios. No junto àqueles pertencentes às minorias, se-
Estado de Sergipe a perseguição fora muito jam elas caracterizadas pelos negros, pelos
mais organizada como forma de instauração adeptos dos cultos afro-brasileiro, enfim, uma
da ordem do que por acusações de feitiçaria. parcela que acaba por ficar à margem da
Como a sociedade sergipana pouco sociedade por não conseguir se articular em
contato tinha com aqueles que à praticavam, um sistema voltado para atender àqueles que
o medo do feitiço era algo apenas cogitado. se proclamam brancos e superiores aos
O caráter norteador dado às perseguições e demais.
a repressão encontravam-se muito mais re- Nesta linha, identificamos ainda que, os
vestido de uma postura ideológica, do que que se intitulam serem brancos, vêm desde
propriamente com preocupação da possível o início do desenvolvimento desse país,
incidência de malefícios. pontuando e delimitando seu território, seja
É curioso percebermos que Dantas (1984), este ligado aos aspectos político, culturais,
ao tratar das perseguições aos cultos afro- sociais, enfim, na maneira pela qual marcam
brasileiros no Estado de Sergipe, e sua relação e exercem suas ações em sociedade. Neste
com as acusações de que serviam de local sentido, encontramos os jornais e as notícias
para abrigo de comunistas, e o papel desem- veiculadas servindo em verdade como
penhado pela imprensa, se utilize, como nós, difusores e norteadores de opiniões de um
para sua análise de jornais da Bahia, escla- determinado grupo.
JORNALISMO 21
Outro traço importante desta guerra é que uma representação da situação conforme aos
ambas as facções accionaram fortemente as interesses oficiais. A cadeia Fox foi a ex-
suas máquinas de propaganda. Do lado norte- pressão mais alta do serviço prestado pelos
americano, essa máquina era, naturalmente, media à máquina ideológica da direita
mais sofisticada, envolvendo mais meios americana, com os seus aliados no mundo
(como o “media center” de Doha, Qatar) e dos negócios, os seus “think tanks” e outros
mais “expertise” em termos de “news mecanismos de influência. Houve, porém,
management”. Do lado iraquiano, houve notáveis excepções a esta linha de análise,
também uma notável pro-actividade na re- como o”New York Times que disse claramen-
lação com os media, com constantes confe- te “não à guerra”3.
rências de imprensas, disponibilização de Os casos estudados aqui são as estações
gravações e oferta de visitas guiadas aos públicas de televisão, com emissão “global”
jornalistas. por satélite, de três países europeus com uma
Para as cadeias televisivas, tal como relação muito diversa com a guerra no Iraque:
outras guerras, o conflito no Iraque foi, em BBC, TV5 e RTP (cujos telejornais foram
grande medida, um produto comercial. Houve difundidos na RTP Internacional). O Reino
grandes investimentos no envio de meios Unido, através do governo liderado por Tony
humanos e técnicos para o Iraque e países Blair, constituiu-se aliado dos EUA relativa-
vizinhos e a expectativa era de recompensa mente ao plano de intervenção militar no
em termos das dimensões das audiências Iraque desde a primeira hora, vindo a enviar
conquistadas. o único outro contingente de tropas nume-
ricamente significativo. A população britâni-
“The networks and cable are massing ca demonstrou, no entanto, uma larga opo-
their own forces at home and overseas sição à guerra. Neste quadro, será relevante
for this potential war, “an analisar a forma como a BBC re-construiu
extraordinary story.” If there’s no war o conflito.
in Iraq, a lot of money will have gone A TV5 é um canal multilateral. As suas
to waste.” (S/A, 2003) emissões de informação são, sobretudo, de
canais franceses como France 2 e France 3,
Os estudos já produzidos sobre a embora associe várias estações públicas do
mediatização da guerra do Iraque sugerem mundo francófono (Suiça, Bélgica e Québec).
que foram mostradas versões muito diferen- A França é um dos Estados que, oficialmen-
tes do conflito em diferentes media. Com base te, mais contestou a guerra. O presidente e
numa comparação internacional, Lamloum o governo franceses oposeram-se frontalmen-
(2003: 15) fala-nos de “six guerres différentes te ao plano americano e procuraram por vários
vues de six postes d’observation distincts” meios político-diplomáticos impedir a
(os media de cinco países e a cadeia de concretização da guerra. A população fran-
televisão Al-Jazira). Uma análise produzida cesa manifestou-se, também, contra a guerra.
para o jornal alemão Frankfurter Algemeine O governo português teve uma posição
Zeitung por Media Tenor (2003) aponta para de apoio à administração norte-americana,
um forte contraste entre a avaliação da embora de modo mais passivo que o Reino
actuação político-militar dos EUA pelas Unido. O patrocínio do primeiro ministro José
televisões alemãs”– sobretudo as privadas – Manuel Durão Barroso e da coligação PSD/
e pelas televisões norte-americanas: predo- CDS no poder a George W. Bush teve,
minantemente negativa no caso das primei- porventura, a maior expressão na cimeira
ras e positiva no caso das segundas. Nos entre Bush, Blair e Aznar que ocorreu nos
EUA, terá havido uma colagem da maior Açores nas vésperas da guerra. Embora sem
parte dos media “mainstream” e, em parti- tropas no terreno no período inicial da guerra,
cular, das televisões à posição oficial ame- Portugal enviou para o Iraque alguns con-
ricana relativamente à intervenção no Iraque. tingentes de forças de segurança após o
Mecanismos de auto-controlo dos media, derrube do regime de Saddam Hussein.
como o sistema de pré-aprovação do guião Este texto procurará identificar as posi-
das estórias adoptado pela CNN2, garantiram ções políticas das televisões referidas acima
26 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
comentadores que, com frequência, são es- Há também uma mudança ao nível dos
pecialistas em questões do Médio Oriente ou jornalistas que relatam a actualidade do
do Iraque e mesmo originários dessas regi- Iraque. Os “embedded” passam a ocupar
ões. menos espaço, dando lugar a jornalistas não
Obviamente, as características da repre- “enquadrados”. A partir de Bagdade,
sentação da guerra na BBC descritas até aqui Rageeh Omar, especialmente, passa a ter
tomaram forma tanto no discurso verbal como uma presença muito significativa nos ecrãs
na imagética, de que a fig. 1 é um bom da BBC. Muito mais próxima dos
exemplo. Como pode ser visto abaixo, o iraquianos e das suas experiências da
símbolo ou “logotipo” televisivo que acom- guerra, a imagem que ele constrói dos
panhou toda a cobertura da guerra na BBC acontecimentos suscita, potencialmente,
integra as palavras”“Iraq War” e uma ima- bastante mais crítica relativamente às
gem com um ponto de luz ao centro que consequências daquele conflito.
irradia em toda a volta. As cores dominantes Após 9 de Abril e a “tomada” de
são o laranja e o preto. Bagdade, fortemente simbolizada no muito
Para este estudo, perguntou-se a cerca de mediatizado derrube da estátua de Saddam
30 pessoas como interpretavam aquela Hussein, a capital iraquiana assiste a uma
simbologia6. A maior parte dos inquiridos viu enorme vaga de saques. As imagens de
na imagem um nascer ou pôr do sol e vários roubo e de caos generalizados, afectando
associaram-na à ideia de um novo começo locais como o Museu Nacional do Iraque
ou um “renascer”. Nesta leitura, a guerra e os seus tesouros culturais, criaram uma
estaria relacionada com libertação e eman- aura profundamente negativa em torno da
cipação. Um número significativo de pesso- guerra e deram mostra da incapacidade
as aludiu também à imagem de uma explo- americana de controlar a situação, deixan-
são. A polissemia da imagem poderá ter sido do adivinhar muitas dificuldades para o
deliberada. futuro. A 10 de Abril, a “pivot” da BBC
refere-se a um “disturbing report” sobre um
Figura 1: hospital a ser saqueado. A situação é
Imagem da BBC, 2 de Abril de 2003 descrita como “a very worrying and very
dangerous turn of events” por Rageeh
Omar.
Os parâmetros da análise realizada estão
sintetizados na tabela 1. A meta-narrativa
é um indicador composto: resulta duma
apreciação das muitas estórias construídas
pelos media a propósito da guerra; da
análise da selecção dos aspectos do acon-
tecimento feita pelos media; da hierarqui-
zação desses elementos; dos actores soci-
ais que intervêm na informação; da
iconografia, etc. Através das setas presen-
tes na segunda coluna, a tabela dá, tam-
bém, conta das mudanças que se verifica-
À medida que a guerra se vai prolongan- ram na imagem construída pela BBC em
do, há uma transformação nos significados torno da guerra. Naturalmente, estas mu-
construídos pela BBC. Após cerca de duas danças são progressivas e relativas. Não se
semanas de combates, a estação mostra cada trata, portanto, de características exclusi-
vez mais o impacto dessa guerra na popu- vas mas de traços dominantes em diferen-
lação. A destruição e o sofrimento, o modo tes momentos. É destacado na tabela o
de sentir das populações árabes e o que dizem “lado da equação” que terá sido mais
os jornais da região, entre outras questões, marcante (devido, por exemplo, à sua
estão cada vez mais presentes na cobertura extensão no tempo) no quadro global da
da BBC. imagem da guerra veiculada pela estação.
JORNALISMO 29
destruição e a dor causadas pela guerra pessoas, nas suas palavras, nas imagens de
ocupam uma grande parte do retrato da casas e ruas destruídas.
situação. A TV5 perspectiva a guerra essen- A morte e o luto são evocadas pelo
cialmente pelos seus impactos junto da sombrio símbolo utilizado pela TV5. Como
população, fazendo um convite à empatia é visível na fig. 2, esse “logotipo” con-
para com este povo que é atacado por um siste num quadrado em que as palavras
exército invasor. A hierarquização da infor- “Guerre en Irak” aparecem a branco sobre
mação e outros aspectos relativos à selec- um fundo negro. Na parte de baixo, há
ção e construção da informação colocam o uma barra vermelha cujo limite superior
espectador mais próximo do olhar dos é irregular. Os sujeitos inquiridos neste
iraquianos do que em qualquer uma das estudo fizeram associações desta imagem
outras três estações. O alinhamento abaixo, com os temas referidos acima (morte e
do bloco noticioso das 21:00 horas do dia luto; muitas pessoas consideraram o ver-
27.03.03 da TV5 (a emitir o canal France melho da imagem como sugestão de san-
3), dá conta disso mesmo. gue).
Note-se que na TV5 não há mudanças dias são os militares americanos, embora em
significativas na perspectivação e quase equilíbrio com a população iraquiana.
narrativização da guerra no Iraque ao longo A nível de comentadores, o”General Lourei-
das semanas analisadas. ro dos Santos e outros militares de alta patente
são presenças regulares. Suellentrop (2003,
4. RTP: Profissionalismo ou “comercia- s/p) argumenta que “the TV generals (…) are
lismo”? hired by the networks to lend an air of
authority to the broadcasts”.
Durante a transmissão contínua inicial A iconografia da guerra reforça a ideia
sobre a guerra, a RTP é a mais sensaciona- do avanço militar. Imagens de tanques, de
lista das três cadeias. Há uma quase-obses- navios de guerra e de outro aparato técnico
são pelos directos e uma repetição constante mostra o poderio das forças anglo-america-
de imagens e comentários sobre os aconte- nas. O “logotipo” da cobertura (ver fig. 3)
cimentos. contém uma bandeira iraquiana sobre a qual
Os primeiros dias são dominados por uma se vê uma circunferência que distorce a
visão “militarista” da guerra que se relaciona imagem. Os sujeitos inquiridos sobre a
com vários aspectos da cobertura: a escolha simbologia televisiva referiram-se à seme-
de imagens da guerra a partir de cadeias de lhança com uma lupa ou com uma mira e
televisão e agências de informação estrangei- à possível alusão ao trabalho jornalístico de
ras; a localização de alguns jornalistas da RTP, busca e análise e ao avanço militar.
como o enviado especial Armando Seixas Até à chegada das tropas americanas a
Ferreira, no porta-aviões USS Theodore Bagdade, o “logotipo” da RTP apresentava
Roosevelt; e os comentadores no estúdio que também, sobre uma barra laranja, as palavras
são, quase exclusivamente, militares. “Objectivo Bagdade”, que parecem aludir ao
A RTP reproduz frequentemente as plano militar. O espectador é, assim, colo-
emissões da CNN sobre o avanço militar no cado ao lado do exército invasor, partilhando
terreno. Na estação americana há uma clara com ele o propósito de atingir a capital do
tentativa de veicular uma imagem favorável Iraque. Tais palavras, aparentemente neutras,
dos soldados dos EUA: estes são mostrados em articulação com o “foco” sobre a ban-
a tratar bem os iraquianos capturados e é dado deira iraquiana, envolvem também os jorna-
um grande ênfase à recepção positiva dos listas na “missão” de alcançar Bagdade.
americanos pelos iraquianos. No entanto, a Posteriormente, o texto muda para “Em
RTP emite, também, excertos da Al-Jazira Bagdade” e para “Após Saddam”, relevando
como, por exemplo, as imagens de “77 mortos a ideia de transição.
civis” iraquianos, potencialmente chocantes, Passados alguns dias sobre o início da
no dia 20 de Março. No mesmo dia, mostra- guerra, o centro nevrálgico da cobertura da
se, prolongadamente, a tentativa de captura RTP passa para Bagdade. Os directos de
de um piloto americano em Bagdade por Carlos Fino a partir da cidade fornecem os
iraquianos. É dado muito mais destaque aos principais enquadramentos da cobertura da
tiros, à agitação da polícia e à acção em geral guerra. O jornalista fala muitas vezes com
do que nos outros canais. a população local (que mostra uma posição
Os actores sociais dominantes no retrato anti-americana) e dá conta da destruição
que a RTP oferece da guerra nos primeiros causada: “a guerra continua implicável com
32 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
2
article.php3?id_article=994, acesso em Num documento da CNN intitulado
09.12.04. “Reminder of Script Approval Policy” podia-se
Tumber, Howard and Jerry Palmer, ler: “A script is not approved for air unless it
is properly marked approved by an authorised
Media at War. The Iraq Crisis, London, Sage,
manager and duped (duplicated) to burcopy
2004. (bureau copy)... When a script is updated it must
Vincent, Richard, “A narrative analysis be re-approved, preferably by the originating
of US press coverage of Slobodan Milosevic approving authority.”(cit. por Fisk, 2003)
and the Serbs in Kosovo”, European Journal 3
Título de um editorial: “Saying no to war”,
of Communication 15 (3), 2000, pp. 321- 09.03.03.
4
44. Alguns críticos chegaram a ironizar com o
Wells, Matt, “Embedded reporters nome da estação chamando-lhe Baghdad
‘sanitised’ Iraq war”, The Guardian, 6 Broadcasting Corporation, numa alusão ao seu
alegado favoritismo pelo lado iraquiano (ver, por
Novembro 2003.
exemplo, Chafetz, 2003).
5
www.medialens.org
6
Os inquiridos foram essencialmente estudan-
_______________________________ tes e docentes universitários, embora se tenha
1
Universidade do Minho, Instituto de Ciên- também questionado cinco pessoas com outras
cias Sociais, Departamento de Ciências da Co- ocupações, cujas opiniões não se desviaram sig-
municação. nificativamente das das primeiras.
36 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 37
teve opção de escolher seu veículo. Assim, fortalecido pelas ações de outras lideranças
para continuar existindo, os jornais tiveram e do próprio cidadão comum, como foi
que buscar uma alternativa de sobrevivência. possível observar em 30 municípios do Rio
Os empresários do setor jornalístico Grande do Sul. Por exemplo, os assinantes
detectaram a necessidade do público em ser dos jornais sentem-se bastante constrangidos
informado sobre os acontecimentos locais ou de fazer qualquer comentário negativo sobre
próximos à comunidade, o que não é feito a qualidade dos jornais, em respeito a seus
pela grande imprensa, e, também, em con- proprietários. Na maioria das vezes, detêm-
tarem com um veículo onde pudessem se em comentários sobre as atitudes comu-
manifestar suas reivindicações e realizar nitárias dos jornalistas, como se elas refle-
denúncias, o que não tem o respaldo da tissem a qualidade técnica do jornal. Em
imprensa de grande porte. Então, para con- conseqüência desse trabalho, os jornais vêm
quistar esse público e sua credibilidade, e, sendo riquíssimo material de pesquisa his-
em conseqüência, o anunciante, que garante tórica sobre seus municípios e a cultura de
a existência da empresa, os proprietários de seus cidadãos, podendo servir de documento
jornais passaram a utilizar seus veículos como para diversas áreas do conhecimento, tais
instrumento de luta das comunidades, atra- como Sociologia, Arquitetura, Medicina,
vés de um trabalho associativo, que visa o Engenharia, História, entre outras.
bem comum. Para tanto, aqueles que tinham Destaca-se, ainda, na prática do jornalis-
posicionamento político partidário tiveram mo interiorano a solidariedade e amizade
que abrir mão de seus comprometimentos e entre os leitores e os jornalistas, além de um
adotar uma postura imparcial e neutra, aten- forte sentimento de vizinhança e bairrismo.
dendo, assim, a todos os segmentos da Há uma cumplicidade entre as partes no que
comunidade. diz respeito à defesa de interesses da comu-
Essa estratégia levou os jornais a nidade. Em contrapartida, essa amizade in-
adotarem normas do jornalismo informativo, terfere na prática do Jornalismo Informativo
através da produção de matérias objetivas, quando a honra de um cidadão está em jogo.
imparciais e neutras, que buscam contemplar Assim, fofocas são inadmissíveis, bem como
a posição de todos os lados envolvidos na a divulgação da intimidade de qualquer leitor,
notícia, e da divulgação ampla dos fatos que especialmente na área sexual.
ocorrem nos mais variados segmentos que A cumplicidade entre os jornalistas e
compõem uma comunidade, pois esta, inde- leitores cria-se e fortalece-se especialmente
pendente da localidade, revelou-se contrária em jornais com tiragens inferior a 20 mil
à omissão dos veículos em torno de deter- exemplares. Isto porque os próprios diretores
minados fatos, o que, no passado, era uma dos jornais e jornalistas participam da dis-
constante. tribuição, levando o jornal porta a porta,
Entendendo por comunidade uma área conversando todos os dias com os leitores
geográfica caracterizada pela afinidade de e trocando idéias sobre os mais variados
valores e ambições de uma determinada assuntos. Além disso, os jornalistas são
população, com a mesma tradição, costumes convidados para os aniversários, casamentos,
e interesses, além da consciência da parti- nascimentos, congratulações, coquetéis, bai-
cipação em idéias e valores comuns, os les, chás, etc. Também precisam estar pre-
jornalistas do Interior gaúcho procuram sentes nos velórios e outras situações de dor
diariamente informar-se e participar das ações e tristeza. Por estas razões, entre outras da
da comunidade, não só divulgando os fatos mesma natureza, os leitores do Interior têm
que a envolvem, mas decidindo e buscando uma afeição especial pelo jornalista da ci-
recursos para que as reivindicações se con- dade e seu jornal. Faz parte da rotina da casa
cretizem, bem como para que essa mesma vê-lo sobre a mesa, de manhã bem cedo,
comunidade aumente gradativamente sua mesmo que seja lido só no final da tarde.
qualidade de vida, nos mais variados aspec- Esta situação, no entanto, quase que
tos, e sua consciência de cidadania. impossibilita o jornalismo investigativo no
Desta forma, o jornalista interiorano é Interior do Estado quando autoridades ou
também um líder comunitário, respeitado e lideranças estão envolvidas em irregularida-
JORNALISMO 39
des. Os jornalistas preferem deixar este tra- ma inesperado: os jornalistas não querem
balho para os correspondentes de jornais da trabalhar no Interior e, os poucos que que-
grande imprensa. Os detalhes só são divul- rem, não estão preparados para exercer todas
gados após a condenação do réu por um as funções que uma redação do Interior exige.
Tribunal. Na busca da conquista do público Além disso, os profissionais falam uma
e do anunciante, os jornais tiveram que buscar linguagem diferente da realidade vivida pelos
qualidade na produção do jornal, acompa- empresários de jornais de menor porte finan-
nhando o padrão das grandes empresas ceiro. Para grande número de jornalistas, o
jornalísticas, que determinam as normas do empresário da comunicação é visto como o
mercado. Qualificaram-se, então, tecnologica- “inimigo”, que quer explorar a mão-de-obra
mente, através da aquisição de máquinas especializada, de maneira que só ele lucre
rotativas, para a impressão do jornal, e de e enriqueça às custas do trabalho do jorna-
computadores, para a produção editorial. lista. Estabeleceu-se, então, um dilema: o
Assim, melhoraram a apresentação dos ve- mercado de trabalho na capital gaúcha está
ículos. saturado, portanto, não existe emprego para
Novas tecnologias requerem mão-de-obra os novos jornalistas na região metropolitana.
qualificada. O Interior, no entanto, não es- O mercado de trabalho abriu-se no Interior,
tava preparado, em matéria de formação de mas grande parte dos profissionais à procura
recursos humanos, para acompanhar a evo- de emprego não está qualificada para atuar
lução industrial do setor. Os empresários nesse segmento. Um grupo menor está pron-
tiveram de improvisar. Sem recursos e com to para atuar em qualquer setor, mas os
a receita comprometida com a compra dos salários oferecidos não compensam o inves-
equipamentos as opções eram poucas. Alguns timento realizado para formação profissional.
contrataram profissionais da capital gaúcha Buscando uma saída, os grupos começam
para ensinar seus funcionários. Outros envi- a conversar para ver se encontram uma so-
aram os funcionários para Porto Alegre para lução. Basicamente, os jornalistas pedem um
que aprendessem as novas tecnologias. salário mais digno; os empresários pedem
Outros, ainda (a maioria), aprenderam na base profissionais mais qualificados. Intermediando
da tentativa do erro e acerto. Observamos esta polêmica, estão as Faculdades de Jorna-
que estas opções não deram grandes resul- lismo. Até o momento, preparam os profis-
tados. É necessária uma formação de médio sionais, intelectual e tecnicamente, para
e longo prazo, especialmente na área jorna- atuarem em empresas de grande porte
lística. Ou seja, a formação universitária em econômico, onde cada profissional exerce
Jornalismo passou a ser uma necessidade, pois apenas uma função e trabalha de acordo com
podemos constatar que a qualidade do jornal a legislação, elaborada para atender direitos
é diretamente proporcional à presença de de trabalhadores metropolitanos.
jornalistas formados nas redações dos jornais. Para que o impasse seja resolvido, é ne-
Apesar da constatação ter sido feita por cessário partir de conhecimentos básicos, que
todos os proprietários de jornais, a maioria determinam a prática do jornalismo interiorano,
não considerou importante investir na qua- atualmente representando um promissor mer-
lidade do profissional. Nem mesmo o jornal cado de trabalho no Rio Grande do Sul.
NH, localizado a 40 quilômetros de Porto O sucesso do produto junto aos consu-
Alegre, valoriza os bons jornalistas, manten- midores dentro de um mercado altamente
do em sua redação 50% de pessoas sem competitivo depende de algumas medidas
formação universitária e estudantes de Jor- práticas para sua produção, tendo como
nalismo, em regime de estágio, proibido pela referencial a Os jornalistas preferem deixar
lei que regulamenta a profissão. Outros, no este trabalho para os correspondentes de
entanto, perceberam a importância da pre- jornais da grande imprensa. Os detalhes só
sença de jornalistas para produção de seus são divulgados após a condenação do réu por
jornais e buscaram contratar profissionais da um Tribunal.
capital gaúcha, onde se concentravam, até a Na busca da conquista do público e do
metade da década, as Faculdades de Jorna- anunciante, os jornais tiveram que buscar
lismo. Depararam-se, então, com um proble- qualidade na produção do jornal, acompa-
40 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
nhando o padrão das grandes empresas empresários de jornais de menor porte finan-
jornalísticas, que determinam as normas do ceiro. Para grande número de jornalistas, o
mercado. Qualificaram-se, então, tecnologica- empresário da comunicação é visto como o
mente, através da aquisição de máquinas “inimigo”, que quer explorar a mão-de-obra
rotativas, para a impressão do jornal, e de especializada, de maneira que só ele lucre
computadores, para a produção editorial. e enriqueça às custas do trabalho do jorna-
Assim, melhoraram a apresentação dos ve- lista.
ículos. Estabeleceu-se, então, um dilema: o
Novas tecnologias requerem mão-de-obra mercado de trabalho na capital gaúcha está
qualificada. O Interior, no entanto, não es- saturado, portanto, não existe emprego para
tava preparado, em matéria de formação de os novos jornalistas na região metropolitana.
recursos humanos, para acompanhar a evo- O mercado de trabalho abriu-se no Interior,
lução industrial do setor. Os empresários mas grande parte dos profissionais à procura
tiveram de improvisar. Sem recursos e com de emprego não está qualificada para atuar
a receita comprometida com a compra dos nesse segmento. Um grupo menor está pron-
equipamentos as opções eram poucas. Alguns to para atuar em qualquer setor, mas os
contrataram profissionais da capital gaúcha salários oferecidos não compensam o inves-
para ensinar seus funcionários. Outros envi- timento realizado para formação profissional.
aram os funcionários para Porto Alegre para Buscando uma saída, os grupos começam
que aprendessem as novas tecnologias. a conversar para ver se encontram uma
Outros, ainda (a maioria), aprenderam na base solução. Basicamente, os jornalistas pedem
da tentativa do erro e acerto. um salário mais digno; os empresários pe-
Observamos que estas opções não deram dem profissionais mais qualificados.
grandes resultados. É necessária uma forma- Intermediando esta polêmica, estão as Facul-
ção de médio e longo prazo, especialmente dades de Jornalismo. Até o momento, pre-
na área jornalística. Ou seja, a formação param os profissionais, intelectual e tecni-
universitária em Jornalismo passou a ser uma camente, para atuarem em empresas de grande
necessidade, pois podemos constatar que a porte econômico, onde cada profissional
qualidade do jornal é diretamente proporci- exerce apenas uma função e trabalha de
onal à presença de jornalistas formados nas acordo com a legislação, elaborada para
redações dos jornais. atender direitos de trabalhadores metropoli-
Apesar da constatação ter sido feita por tanos.
todos os proprietários de jornais, a maioria Para que o impasse seja resolvido, é
não considerou importante investir na qua- necessário partir de conhecimentos básicos,
lidade do profissional. Nem mesmo o jornal que determinam a prática do jornalismo
NH, localizado a 40 quilômetros de Porto interiorano, atualmente representando um
Alegre, valoriza os bons jornalistas, manten- promissor mercado de trabalho no Rio Grande
do em sua redação 50% de pessoas sem do Sul.
formação universitária e estudantes de Jor- O sucesso do produto junto aos consu-
nalismo, em regime de estágio, proibido pela midores dentro de um mercado altamente
lei que regulamenta a profissão. Outros, no competitivo depende de algumas medidas
entanto, perceberam a importância da pre- práticas para sua produção, tendo como
sença de jornalistas para produção de seus referencial a exigência do público do Inte-
jornais e buscaram contratar profissionais rior. Primeiro, o noticiário deve privilegiar
da capital gaúcha, onde se concentravam, até os acontecimentos locais, não divulgados
a metade da década, as Faculdades de Jor- pelos veículos com circulação estadual,
nalismo. Depararam-se, então, com um pro- abrangendo todas as áreas de atuação de uma
blema inesperado: os jornalistas não querem comunidade, de maneira que o leitor reco-
trabalhar no Interior e, os poucos que que- nheça a comunidade na leitura do jornal.
rem, não estão preparados para exercer todas Atualmente, 75% dos assinantes identificam
as funções que uma redação do Interior exige. a comunidade na leitura do jornal.
Além disso, os profissionais falam uma lin- Além do noticiário local, Educação, Saúde
guagem diferente da realidade vivida pelos e Turismo são temas que devem merecer
JORNALISMO 41
empregar jornalistas quanto para se investir Por outro lado, os jornalistas precisam se
na abertura de novos jornais. No entanto, para qualificar em algumas áreas, obtendo maior
que esse mercado passe a ser uma realidade, conhecimento sobre administração empresa-
os empresários do Interior devem valorizar rial, publicidade, programas de editoração
mais a qualidade de seus profissionais, in- eletrônica e fotografia. Além disso, neces-
vestindo especialmente no diagramador, sitam de maior compreensão sobre a forma
fotógrafo e bons repórteres. Condições de vida de pequenas comunidades para que
econômicas não faltam. possam interagir com elas.
JORNALISMO 45
Introdução Sinergia
a algumas dessas premissas postas no cha- de navegar, dar uma ‘olhada’ sem ler
mado estado da arte do gênero. O site oferece muito. Se a informação não se apre-
os conteúdos comuns da versão impressa com senta de forma rápida e atrativa, as
algumas restrições já abordadas anteriormen- pessoas se aborrecem e vão embora,
te, mas também apresenta outros produzidos sem vontade de voltar.16 (BLACK,
exclusivamente para versão digital, caracte- 1998)
rística que o coloca em um estágio mais
avançado dentro do gênero. Alguns enlaces Continuando a análise da página inicial
do site (arquivo de edições anteriores, por do site, outra coluna estreita, mais à direita
exemplo) são de acesso privativo dos assi- da interface gráfica encerra quadros com
nantes da versão em papel, exigindo uma enlaces para colunas fixas do veículo e
senha para o franqueamento da navegação também para outros destaques da edição. Esta
e conseqüente visualização de conteúdos oferta visual direta facilita a tomada de
solicitados. decisão do visitante em seguir na direção dos
A página inicial (homepage) se organiza conteúdos de seu maior interesse. Como fecho
numa grade com quatro colunas, sendo que da composição das informações na grade
a primeira – à esquerda – abriga o menu com gráfica da homepage, está uma quarta coluna
enlaces diretos às editorias e cadernos es- – um pouco mais larga e que se repete
peciais da versão impressa. Uma coluna mais praticamente em todas as páginas interiores
larga na área central da interface acolhe a do site – reservada à publicidade (banners,
manchete principal e uma foto que normal- animações, enlaces a hotsites e/ou sites
mente também está estampada na capa da promocionais). Esta é uma solução de layout
edição impressa. Logo acima aparece um observada em muitos produtos online do
enlace de texto com uma chamada de notícia gênero (revistas e jornais) porque propicia
de última hora direto da redação (com o uma inserção mais fácil da mensagem pu-
horário de atualização), uma informação blicitária, com um destaque adequado e
essencial em um site noticioso. As manche- mesmo modulado no contexto da página e,
tes secundárias do dia por temática/editorias ainda, evita a mescla indesejável do conteú-
(economia, Brasil, política etc.) se distribu- do jornalístico com o espaço comercial do
em com enlaces de texto na parte abaixo da veículo. No entanto, durante a investigação
foto, numa extensão vertical que de no se observou que a comercialização desses
máximo duas telas e meia, que obriga o ambientes gráficos ainda é falha – reflexo
usuário a utilizar a barra de rolagem (scroll) talvez da baixa credibilidade da parte dos
para a visualização. Ainda que esta propor- anunciantes sobre a real efetividade da
ção seja considerada adequada por diversos publicidade no meio digital – e em páginas
expertos em desenho web, o famoso designer interiores do site esta coluna aparece em
americano Roger Black e seus sócios espa- branco, desequilibrando visualmente a
nhóis, Eduardo Danilo e Javier Creus cha- interface.
mam a atenção para o comportamento dos Na parte superior da homepage, se en-
usuários na www diante de páginas muito contram três áreas horizontais retangulares
extensas no sentido longitudinal, indicando que ocupam cerca de um terço da dimensão
possíveis soluções para uma melhor apresen- vertical da tela de abertura (excetuando os
tação visual dos conteúdos: limites das bandas e recursos da janela do
navegador). A primeira área, na parte supe-
Não nos enganemos, ninguém lê tudo. rior, organiza uma barra de navegação mí-
A maioria das pessoas lê somente a nima de acesso ao portal TudoParaná, onde
primeira metade da primeira página está abrigado o site da Gazeta do Povo Online
de um jornal impresso e a maioria dos com enlace à página inicial a partir do
internautas não gosta de ‘deslocar-se’ logotipo, oferta de acesso grátis ao visitante,
pela tela. Em geral, é melhor usar e-mail, visor com menu desdobrável que
botões, trabalhar a organização visual oferece acesso aos diversos canais do portal
do website, arranjando o conteúdo em e um último visor com uma máquina de busca
pequenas partes. Os usuários gostam (search machine) de assuntos.
50 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
A segunda área, logo abaixo da primeira enviados diariamente ao seu e-mail conteú-
barra de navegação relatada anteriormente, traz dos selecionados das editorias de sua pre-
um “cabeçalho” já tradicional em publicações ferência). As lapelas apresentam uma dimen-
digitais do gênero jornalístico, destacando um são menor que a do logotipo e dividem espaço
banner interativo, normalmente com anima- com um calendário identificado pelas inici-
ções que tentam atrair a atenção do visitante, ais dos dias da semana (S, T, Q, Q, S, S)
suportando mensagem publicitária. Em ambos e a data da edição.
os lados do banner – nos extremos esquerdo As páginas internas do site mantêm a
e direito da interface – duas “caixas” ofere- consistência de design observada na página
cem enlaces a conteúdos que podem ser de inicial (homepage), incluindo por vezes al-
interesse objetivo do visitante do site, e servem gumas adaptações pontuais, como sub-me-
como aliciantes visuais e/ou oferta tempestiva nus específicos para a temática ou o
de conteúdo, dado o posicionamento no ar- redimensionamento das colunas que estrutu-
ranjo gráfico da tela/página. ram os arranjos de texto e imagem na
Finalmente, a barra de navegação do site interface ou, ainda, interferências de ordem
da Gazeta do Povo Online está inserida na funcional, quando da inclusão de formulá-
terceira área horizontal, localizada na parte rios ou listas interativas para acesso mais fácil
superior da página inicial. Ele se organiza aos conteúdos específicos.
visualmente em seis lapelas, simulando gra- Como comentário geral, é possível afir-
ficamente pastas de arquivos. A primeira, com mar que o site apresenta uma oferta de
dimensão maior e alinhada à esquerda da conteúdos adequada ao gênero onde está
interface, abriga o logotipo do jornal, numa enquadrado. O design não prejudica a fun-
posição e com o destaque defendidos por cionalidade ou a usabilidade, a arquitetura
Jakob Nielsen e Marie Tahir, no livro é coerente e a tecnologia empregada não
Homepage: 50 websites descontruídos: afasta os usuários com acesso discado e,
ainda, oferece aos visitantes com banda larga
Exibir o nome da empresa e/ou alguns conteúdos específicos, principalmen-
logotipo, em um tamanho razoável e te na área do entretenimento.
em local de destaque – Essa área de
identificação não precisa ser grande Conclusão
mas deve ser maior e mais destacada
do que os itens a seu redor, de modo O design da Gazeta do Povo Online será
a chamar de imediato a atenção reformulado para a implementação do Pro-
quando os usuários entrarem no site. jeto Integração entre as versões impressa e
Geralmente, o canto superior esquer- digital. De acordo com Claudia Belfort, agora
do é o melhor posicionamento para também editora chefe da Gazeta do Povo,
os idiomas lidos da esquerda para a a empresa segue a tendência mundial de
direita.17 (NIELSEN, 2001: 10). otimizar recursos e oferecer conteúdos de
melhor qualidade ao leitor/usuário ao unifi-
Os demais enlaces ofertados na barra de car as redações. O novo desenho da Gazeta
navegação são: capa impressa (imagem da do Povo será reformulado para atender às
capa da edição impressa do dia), edições demandas dos usuários e para dinamizar o
anteriores (com acesso exclusivo aos assi- processo de trabalho dos jornalistas.
nantes da edição impressa), assinaturas (onde O impacto das rotinas produtivas utili-
o usuário pode assinar a edição impressa do zadas na internet sobre a versão em papel
jornal), classificados (espaços publicitários aponta que, até o presente momento dessa
abertos a pequenos anunciantes e populares, investigação, está se refletindo na organiza-
onde são oferecidos a venda objetos, equi- ção de redações de outros meios (inclusive
pamentos e as mercadorias mais variadas, impressos), na disseminação e na produção
uma das características mais fortes e rentá- de conteúdos. É possível constatar que está
veis da versão impressa do jornal) e notícias em processo a reversão da visão inicial
por e-mail (onde o visitante pode preencher quando da implementação dos sites
um formulário interativo e solicitar que sejam jornalísticos, onde os jornalistas envolvidos
JORNALISMO 51
no processo eram encarados pelos seus co- jornalistas e dos empresários dos meios de
legas da redação tradicional como meros comunicação em melhorar a qualidade da
recicladores de conteúdos da versão impressa. informação e oferecer o que o público
A frase do jornalista Roger Flider, dita necessita e deseja, a metamorfose não será
em 1994 – ainda na pré-história dos jornais mais que uma crisálida oca”.18 (FIDLER,
digitais- não perdeu sentido:–“a tecnologia 1994). Parece que a borboleta digital gerada
somente facilita a mudança e cria oportuni- nos últimos anos na www insiste em alçar
dades. Sem o correspondente esforço dos vôo para o mundo real.
52 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
sem servir para a interpretação do seu sig- campo da medicina (vírus diferente, vírus do
nificado, neste caso por referência a outras cancro, doença rara, síndroma imunológica,
doenças malignas e a locais de onde teria afecções imunológicas), outras a recorrer a
emanado: cancro, doença misteriosa e metáforas como pesadelo do século XX,
síndroma cubano3. Como apontava Susan fantasma, psicose, grande morigeradora. São
Sontag, não é estranho que a primeira de- muitas também as relações identificativas da
signação indirecta da nova patologia se tenha Sida, como camaleão, espectro, obsessão dos
feito por referência à mais temida de todas nossos dias, medo, luta desigual e de morte,
as doenças nesse momento, o cancro. A pavor, “casa da morte”, problema de saúde
referência a Cuba vai a par de referências número um, pálida comparação com a peste
a outras regiões exóticas das Caraíbas e a negra, praga mundial, ou a ampliar o seu
África, apontadas como o berço do novo próprio referente (mil vírus). O nome próprio
vírus, como nos primeiros títulos de outros é ainda carregado de sentido quando se faz
jornais internacionais. acompanhar insistentemente por verbos como
Ao contrário das designações indirectas, apavorar, matar, duplicar, propagar, alastrar,
o nome próprio designa directamente o seu subir em flecha, entre outros. Como inves-
referente. Para que exista, é necessário que tigações de outros países deram conta, a
num dado momento ocorra um “acto de psicose do medo percorreu a cobertura destes
baptismo”, como refere Maingueneau primeiros anos, sobretudo o medo do outro,
(1997), que faz notar como o nome próprio que irá alimentar medidas de segregação por
só é dado a seres frequentemente evocados, parte de autoridades e actos discriminatórios
relativamente estáveis no espaço e no tem- no dia a dia. Entre títulos centrados na
po e com importância social ou afectiva. No expansão desmesurada da Sida, encontram-
caso presente, o nome próprio começou por se títulos como Sida: doentes sem cura a
ser importado da designação norte-america- caminho do gueto, a encimar a matéria factual
na (AIDS). Quando transitou para a desig- de uma notícia.
nação portuguesa, começou por se apresen- Nos primeiros títulos do Correio da
tar como acrónimo, a enfatizar cada uma Manhã, em 1983, recorre-se também a
das iniciais de síndroma de imunodeficiência designação indirecta (doença desconhecida,
adquirida, SIDA, com as quatro letras em nova doença, depois identificada por A nova
maiúsculas. Nos primeiros momentos de doença quando se supõe já do conhecimento
afirmação do seu nome próprio, como Sida, do leitor e se anuncia que chegou ao país).
era de género masculino (o Sida). A tran- O jornal introduziu a designação portuguesa
sição para nome comum, como doença como acrónimo logo em 1983, inicialmente
corrente (a sida), ocorre em 1985, desig- com aspas (“SIDA”) e vai prolongar até ao
nação dominante quando escrita no interior início dos anos 90 o uso dominante desse
do título. acrónimo (SIDA). A designação em maiús-
Significativos pelo uso do artigo definido culas permanecerá embora em posição secun-
(a) – a marcar algo já conhecido do leitor dária face ao nome próprio (Sida) ou comum
e com carácter genérico – são dois títulos (sida). Os seus títulos carregam assim mais
de 1983, que coincidem em confinar a nova tempo a designação pelo acrónimo, tornando
doença ao grupo social dos homossexuais: a palavra graficamente mais marcante.
– A peste cor-de-rosa; A doença dos homos- Também estes primeiros títulos são dra-
sexuais, com o primeiro a apresentar duas matizados, ao associarem, à designação e aos
metáforas a intensificar o seu sentido. seus predicados, advérbios que intensificam
A lenta afirmação do nome próprio não a velocidade e a coincidência. Como exem-
exclui o recurso a outras designações indi- plos, em 1983 e 1984: [Sida] já chegou a
rectas. Nos anos 80, marcantes pelo enqua- Portugal, já serve para roubar, já mata na
dramento que trazem a algo de novo e que Suécia, também mata em Israel, já afectou
se vai prolongar no tempo, encontram-se no mais de 3 mil em trinta países, já afectou
Diário de Notícias múltiplas designações três dezenas no Zaire, em Portugal ultrapas-
indirectas, umas tomando como referente o sa já a dezena.
JORNALISMO 55
com sugestões sobre a origem e formas de 1987; justifica optimismo; só depois de 1990;
contágio, dando presença às mais diversas estará à venda daqui a três anos…
possibilidades de transmissão, que alimenta-
riam a exigência de políticas de ostracismo A batalha moral
para todos aqueles que se soubesse serem
seropositivos, como de resto os jornais tam- Sublinhava também Susan Sontag que
bém dão conta, enquanto “factos” a noticiar. uma doença com as características da Sida
Como memória destes fantasmas, aqui se tinha poder para suscitar a convocação de
registam algumas dessas ideias, umas apre- batalhas contra a vivência da sexualidade que
sentadas como “verdades” ou com fortes não decorresse de acordo com os cânones
probabilidades de o serem, só sendo da moral dominante. Para além do foco nos
desmentidas – e não pelo mesmo jornal – homossexuais masculinos como os respon-
muito mais tarde. sáveis pelo contágio, que constituiu o pri-
meiro enquadramento nos dois jornais, à
Picada de mosquitos poderá provocar semelhança do que aconteceu noutros países,
sida4 a referência assertiva a vivências da sexu-
O vírus da SIDA veio do espaço5 alidade, por vezes com ironia, noutras com
Insectos não passam o vírus da sida6 interpelação directa ao leitor, marca uma forte
Sida também se transmite pelas lágri- presença no Diário de Notícias até princí-
mas7 pios dos anos 90.
Sida não se “pega” por contacto Podemos aí reconhecer o peso de fontes
casual8 institucionais, nomeadamente ligadas à Igre-
Vírus da SIDA não se propaga no ja Católica, mas também a assunção pelos
trabalho9 jornais de um discurso moralista e cúmplice
Insectos africanos poderão transmitir
com o imaginado leitor, branco, heterosse-
Sida10
xual e de classe média. Estes títulos mo-
Também no suor foi encontrado o
ralistas vão reduzir-se nos anos 90, altura
vírus da SIDA”11
em que começaram a ter maior visibilidade
Suor não transmite o vírus da sida12
as palavras de pessoas directamente afec-
Beijo é transmissor13
tadas e também das organizações não go-
O beijo não pega a sida14
vernamentais, como a Abraço, que gerou
campanhas com maior visibilidade
A batalha médica
mediática, como a promoção do uso do
A vitória ou a impotência da ciência e preservativo.
da medicina face à síndroma, nestes 20 anos, Entre outros títulos de batalha moral
permanecem como duas grandes narrativas dos primeiros anos, podemos observar
que se interligam. Como marcas dessa dis- como nalguns o Diário de Notícias como
puta, é exemplar o confronto de discursos enunciador se dirige directamente ao lei-
sobre uma provável vacina para a Sida, e tor, pelo imperativo que aconselha, pela
as disputas e desacordos entre as próprias asserção que não admite contestação, pela
comunidades médica e científica sobre as adopção das palavras de outros, fazendo-
possibilidades da sua criação. Assim se as suas ao eliminar as aspas desse discurso
alimentou a ‘novela da vacina’, numa nar- directo:
rativa de final incerto, como ainda hoje
permanece. Acabaram os dias da liberdade sexu-
Nos anos 80, lia-se que a [vacina contra al15
a Sida] pode estar pronta dentro de dois anos; Fidelidade conjugal é o melhor meio
prevê-se para breve; dentro de 4 anos?; difícil para evitar o contágio da doença16
ainda de prever o prazo; prevista para breve; Abuso das leis da natureza resultou
médicos dos EUA anunciam…; é ainda na sida17
impossível; regista progressos; só daqui a Sida está a “moralizar” os costumes
cinco anos; ainda é impossível; admitida para em África18
JORNALISMO 57
12
Bibliografia Correio da Manhã, 20 de Dezembro de
1991. Notícia breve, não assinada
13
Fowler, R. (1991). Language in the News: Correio da Manhã, 1987. Notícia breve, não
Discourse and Ideology in the Press (3ª ed.). assinada
14
Diário de Notícias, 15 de Maio de 1992.
London: Routledge, 1994.
Secção Quotidianos. Notícia breve, não assinada
Maingueneau, D. (1998). Analyser les 15
Diário de Notícias, 16 de Maio de 1987.
textes de communication. Paris, Dunod. Suplemento, chamada de primeira página, para
entrevista com Elisabeth Taylor
Ponte, C. (2004). Notícias e silêncios. A 16
Diário de Notícias, 15 de Junho de 1987.
cobertura da Sida no Diário de Notícias e Informação Geral. Notícia, não assinada, título a
no Correio da Manhã (1981-2000). Porto: 4 colunas. Fonte: bispos espanhóis em carta
Porto Editora pastoral. Foto de cientista, com máscara, em
Sontag, S. (1977-1988). La enfermedad laboratório
17
Diário de Notícias, 23 de Março de 1987.
y sus metáforas. El sida y sus metáforas.
Notícia breve, não assinada, título a 5 colunas.
Madrid: Taurus. Fonte: bispo de Setúbal
18
Diário de Notícias, 28 de Novembro de
1990. Suplemento Medicina e Ciência. Feature de
_______________________________ John Tierney, 2 páginas. Fotografias: criança negra
1
Universidade Nova de Lisboa a ser beijada por mulher branca, de manifestantes
2
Esta pesquisa constitui a III Parte do Pro- negros e de mulher com criança negra ao colo
jecto de Investigação POCTI/COM/36218/99, 19
Diário de Notícias, 20 de Junho de 1991.
Elementos para uma teoria da notícia. Análise Notícia breve, não assinada, título a 2 colunas
de caso sobre a mediação jornalística portuguesa 20
Correio da Manhã, 1 de Agosto de 1985.
de um problema social, VIH/SIDA, coordenado Notícia não assinada. Fonte: director do Instituto
por Nelson Traquina e financiado pela Fundação de Práticas Sexuais Avançadas de São Francisco
para a Ciência e Tecnologia (FCT). 21
Correio da Manhã, 1985. Este título surge
3
Síndroma cubano já matou 564 pessoas, duas vezes nesse ano.
título do Diário de Notícias, de 27 de Março de 22
Correio da Manhã, 27 de Agosto de 1986.
1983. Secção Informação Geral. Notícia, não Feature, página inteira, não assinado. Título à
assinada, título a 2 colunas
4
largura da página, em 3 linhas, fotografias de casal
Correio da Manhã, 18 de Agosto de 1985.
e carrinho de bebé, de jovens mulheres em fato
Notícia, não assinada. Título a 2 colunas. Imagem
de banho.
de crianças, em lixeira. Legenda: Deficientes 23
Correio da Manhã, 21 de Maio de 1987.
condições higiénicas expõem as pessoas a nume-
Notícia, não assinada, título a toda a largura da
rosas infecções, debilitando o sistema imunológico
página
e deixando-as mais vulneráveis ao vírus da SIDA 24
5 Correio da Manhã, 23 de Julho de 1987.
Correio da Manhã, 12 de Dezembro de 1986.
Notícia, não assinada, título a 3 colunas
Notícia de página inteira, não assinada. Imagens 25
do planeta Terra, visto do espaço e de rua em Correio da Manhã, 8 de Julho de 1989.
dia de chuva. Legenda: As chuvas que caem sobre Notícia, não assinada, título a 3 colunas, com
a Terra poderão ser veículo de transporte do vírus destaque
26
da SIDA Diário de Notícias, 8 de Março de 1996.
6
Diário de Notícias, 10 de Janeiro de 1988. Secção Síntese/Sociedade. Notícia breve, não
Secção de Informação Geral. Notícia breve, não assinada
27
assinada Correio da Manhã, 17 de Maio de 1987.
7
Correio da Manhã, 17 de Agosto de 1985. Suplemento “Correio dos Jovens”, manchete.
Fonte: investigadores norte-americanos Título retirado da resposta de um leitor a um
8
Diário de Notícias, 9 de Agosto de 1986. inquérito lançado pelo suplemento
28
Secção de Informação Geral. Notícia breve, não Correio da Manhã, Junho de 1987. Suple-
assinada, título a 2 colunas. mento “Correio dos Jovens”. Como o anterior,
9
Correio da Manhã, 1988. Notícia breve, não título retirado da resposta de um leitor a um
assinada inquérito lançado pelo suplemento
29
10
Diário de Notícias, 25 de Agosto de 1986. Correio da Manhã, 1987. Notícia breve, não
Secção de Informação Geral. Notícia, não assi- assinada, título a 2 colunas. Fonte: administrador
nada, título a 3 colunas. regional de saúde
11 30
Correio da Manhã, 26 de Junho de 1987. Correio da Manhã, 1987. Notícia, não
Notícia, não assinada, título com destaque, a 2 colunas assinada. Título com destaque, 2 colunas. Fonte:
60 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
40
Norton Brandão, médico, no VI Congresso do Diário de Notícias, 15 de Fevereiro de 1989.
Clínico Geral Informação Geral. Notícia, não assinada, 2 co-
31
Correio da Manhã, 4 de Julho de 1987. lunas. Fonte: Grupo de Trabalho da Sida
41
Notícia, não assinada. Título a 2 colunas. Fonte: Diário de Notícias, 18 de Fevereiro de 1989.
documento da Organização Mundial de Saúde Informação Geral. Notícia, não assinada, 2 co-
32
Correio da Manhã, 25 de Novembro de lunas. Fonte: especialistas de saúde, reunidos em
1987. Feature de Miguel Gaspar, 1 página. Título Simpósio
42
à largura da página, em duas linhas. Fonte: Grupo Diário de Notícias, 29 de Novembro de
de Trabalho da SIDA 1994. Reportagem, com chamada de primeira
33
Correio da Manhã, 22 de Março de 1988. página, a propósito do Dia Mundial da Sida.
43
Notícia breve, não assinada. Fonte: Sondagem da Diário de Notícias, 10 de Abril de 1988.
Gallop Informação Geral. Notícia com base em sonda-
34
Correio da Manhã, 7 de Novembro de 1988. gem. Título a 4 colunas. Quadros estatísticos e
Notícia, não assinada, título a 2 colunas e 4 linhas. imagem de laboratório.
44
Fonte: Organização Mundial de Saúde Notícias Magazine. Artigo de opinião de
35
Correio da Manhã, 1989. Notícia breve, não Isabel Leal, psicoterapeuta e psicóloga clínica
45
assinada. Título com destaque. Fonte: Ministra Correio da Manhã, 23 de Outubro de 1990.
Leonor Beleza Fonte: ADDEPOS, Associação dos Direitos e
36
Diário de Notícias, 1 de Setembro de 1985. Deveres dos Seropositivos e Portadores do Vírus
Informação Geral. Notícia, não assinada. Título da Sida
46
a 4 colunas. Fonte: Gabinete do Ministro da Saúde Diário de Notícias, 28 de Novembro de
37
Diário de Notícias, 5 de Setembro de 1985. 1990. Chamada de primeira página, que remete
Suplemento Saúde. Artigo assinado por Maria para uma reportagem assinada por Helena Men-
Guiomar Lima. Fotografia de homem, seropositivo. donça, tendo como base um relatório do Grupo
38
Diário de Notícias, 19 de Março de 1986. de Trabalho da Sida.
47
Informação Geral. Notícia, não assinada, título a Diário de Notícias, 28 de Julho de 1998.
2 colunas. Fonte: Instituto Nacional de Sangue Manchete do jornal, que remete para uma repor-
39
Diário de Notícias, 1 de Junho de 1988. tagem assinada por Leonor Figueiredo. Esta peça
Última página. Notícia, não assinada. Fonte: baseia-se num estudo realizado por dois matemá-
Leonor Beleza ticos e uma epidemiologista.
JORNALISMO 61
“Examine the specific sins of Jayson mer a casa-mãe mas se propagaram muito
Blair and you will find the common para além dela, suscitando variadíssimos
transgressions of everyday journalism. debates nos meios jornalísticos, académicos,
Blair put them together in a spectacular associativos e empresariais, estimulando a
fashion to create a beast that is bigger revisão de regras de conduta e mecanismos
than the sum of its parts. de controlo de qualidade na imprensa (com
It’s time to stop shaking our heads at realce para a necessária accountability, a
Blair’s audacity, which was immense, and prestação de contas aos leitores e à socie-
focus on the habits of journalism”. dade), questionando a eficácia e o grau de
Kelly McBride3 exigência da formação dos jornalistas em
matérias do foro ético, enfim, alertando para
“These guys [director editorial e director- um urgente back to basics no que toca aos
adjunto do The New York Times] did princípios e valores fundadores do jornalis-
not go down because of the Jayson Blair mo, supostamente subalternizados ou ame-
affair, they went down because the açados por uma envolvente sócio-económica
Jayson Blair affair exposed e tecnológica muito pressionante e subme-
a lot of other things”. tidos a uma lógica muito própria - a lógica
Douglas C. Clifton4 de mercado.
Visto a esta luz, o “caso Jayson Blair”,
A justificação por particularmente chocante que tenha sido,
dadas a sua desmesura e a sua continuada
O “caso Jayson Blair”, que agitou for- impunidade, é mais do que uma anormali-
temente os meios do jornalismo e da indús- dade individual, mais do que uma aberração
tria de”media - sobretudo nos EUA, mas não casuística, ultrapassável com a sua pública
só -, em meados do ano de 2003, podia não exposição e uma condenação exemplar; ele
ter passado de apenas (mais) um caso de acaba (como acabou) por ser sinal e sintoma
plágio na imprensa, concluído com um pedido (a) de insuficiências graves de comunicação,
de desculpas do jornal afectado e o organização e gestão no interior da empresa
despedimento do profissional responsável por jornalística; (b) de pouca transparência e
uma conduta individual eticamente reprová- capacidade de diálogo / interacção do jornal
vel. Não seria, infelizmente, o primeiro - e com os seus leitores; (c) dos riscos de uma
não será porventura o último. Reduzido a um cultura de sucesso rápido e espectacular, que
episódio individual, pontual, anómalo, fruto leva à desvalorização de regras e rotinas
porventura de uma personalidade doentia e profissionais elementares; enfim, (d) da
marginal ao sistema mediático institucional, pesada responsabilidade que implica o ofício
o caso não mereceria grandes análises ou de jornalista, um ofício alicerçado em bases
debates. No entanto, ele acabou por ser muito de confiança que nenhum controlo, por mais
mais do que isso. Para além da circunstância presente e rigoroso que seja, alguma vez
de ter ocorrido num dos mais prestigiados conseguirá substituir completamente.
e poderosos exemplos mundiais da imprensa É elucidativo que, logo nos primeiros dias
de referência, o The New York Times (NYT) após o rebentar do escândalo, o próprio dono
- o que levou logo muita gente a glosar o do NYT, Arthur Sulzberger, tenha vindo
mote de que “se isto pode acontecer no NYT, insistir em que aquele era um crime de uma
então deve acontecer em todo o lado”5 -, ele pessoa só (“The person who did this is Jayson
provocou ondas de choque que fizeram tre- Blair”6) e que não devia, portanto, alargar-
62 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
pela substância, uma pessoa tem que compagináveis com o rigor ou o aprofunda-
ganhar grande (‘win big’) e ganhar mento razoável das matérias e fragilizam a
muitas vezes. É uma mentalidade que capacidade de resistência a solicitações de
cresceu nos últimos 20 anos”. (Ed trabalho eticamente duvidosas. É também
Goodpaster 39) num ‘caldo’ destes que podem surgir e medrar
- por vezes com o incentivo das próprias
“O fosso entre ideais professados e chefias - comportamentos do tipo do de
práticas encorajadas é precisamente Jayson Blair:
aquilo que um sociopata explora.
Essas personalidades são especialmen- “No hiper-competitivo mundo dos
te capazes de retirar vantagem da media mais importantes, a tentação de
fraqueza e da vaidade de organizações fazer batota foi obviamente maior do
e de indivíduos, de saber quem pre- que aquilo que Blair podia aguentar.
cisa de ser bajulado e de que modo, “Ele parecia estar a fazer o trabalho
e que caminhos podem ser atalhados de três pessoas - três talentosas
com segurança. Eles reconhecem o pessoas - e ganhava o respeito e
poder de um segredo bem guardado: gratidão dos seus directores. Como
a cultura do jornalismo professa le- poderia ele parar?…” (Dan Kennedy41)
aldade à verdade, minúcia, contexto
e sobriedade, mas de facto recompen- Mas o problema não está apenas no
sa a proeminência, a ‘cacha’, o des- interior das redacções, ou até nas escolas que
tacar-se da multidão e a narrativa preparam futuros jornalistas - e que, na
capaz de fascinar. Os sociopatas sequência deste caso, começaram um pouco
acreditam que só estão a dar aos seus por toda a América a perguntar-se se estarão
superiores aquilo que é secretamente a dar aos jovens a formação ética adequada,
desejado. (…) O número de jornalis- e necessária, para a imersão neste mercado
tas assim arrisca-se a ir aumentando tão tentador como exigente. O contexto
no mundo que estamos a criar. (…) envolvente aqui referido sugere também uma
Os sociopatas, em toda a sua anor- erosão acentuada na relação entre as pes-
malidade, dão-nos novamente lições soas e os media, bem como nas represen-
sobre os mistérios mais recônditos do tações que hoje têm do jornalismo em geral,
normal”. (James Carey40) e dos jornalistas em particular. A impressão
frequente de que “não vale a pena
Foi certamente por estes motivos queixarmo-nos aos jornais” porque “todos
enquadradores que o caso de Jayson Blair fazem isso”, ou a aceitação passiva de gran-
acabou por adquirir uma dimensão bem des ou pequenas ‘ficções’ a temperar os
superior a ele próprio ou ao seu jornal, ‘factos’ como algo normal no trabalho de
apontando pistas de reflexão para o jorna- jornais e televisões, é um sintoma que vai
lismo que se faz hoje, designadamente na corroendo uma relação que devia ser de
imprensa, e até nos órgãos de comunicação confiança - e que tem efeitos profundos no
- os chamados “de referência” - que nos contexto de uma sociedade democrática,
habituáramos a ver, apesar de tudo, com como eloquentemente explicou Richard C.
vontade de resistir aos apelos fortes da Wald:
informação-espectáculo, da facilidade, da
ligeireza ou do nivelamento ‘por baixo’ no “Então o caso de Jayson Blair está
que toca à tentativa de captação de audiên- empolado, certo? Errado. Ele fere o
cias. Times, o que é uma vergonha; ele fere
Estas pressões sentem-se nas empresas de o jornalismo, embora nós sobreviva-
media e particularmente nas redacções, onde mos a isso; mas ele fere a sociedade
os constrangimentos económicos e a escas- de modos que normalmente não são
sez progressiva (aliada à precariedade cres- muito considerados (…)”.
cente) de emprego aumentam a competição, “Se uma série de gente desistiu, ou
impõem ritmos de produção dificilmente não conseguiu queixar-se de uma
JORNALISMO 69
29
David Broder, “The perils of arrogance”, indulgência que, pela sua própria lógica, estava
in Washington Post, ed. de 11.6.03. destinada a acabar mal”.
34
30
Não é certamente por acaso que algumas Rem Rieder, “The Jayson Blair affair”, in
das “fabricações” mais comentadas de Blair sur- American Journalism Review, ed.”Junho 2003.
35
giram quando ele cobria temas “emocionalmente Aquando deste caso, foi muito referida uma
fortes na história recente” dos EUA (como se sondagem de 2002 do Pew Research Center (citada
lhes referiu o próprio NYT em 11.5.03), fossem no jornal PÚBLICO, ed. de 19.5.03) que apurara
eles o 11 de Setembro, o caso do “sniper” as- que 56 por cento dos americanos considerava que
sassino nos subúrbios de Washington ou as his- os “media” cometem “erros frequentemente” e
tórias das famílias de soldados enviados para a 67 por cento achava que os jornalistas “procuram
guerra no Iraque. Histórias cheias de impacto e encobrir esses erros”. Uma outra sondagem, esta
emoção, títulos fortes, temas de grande expecta- de 2003 e da autoria da Gallup (citada no jornal
tiva pública, tornavam ainda mais permeável o PÚBLICO, ed. de 1.6.03), reforçava esta tendên-
já de si pouco rigoroso”‘crivo’ da hierarquia do cia: 62 por cento dos inquiridos era de opinião
que as notícias dos “media” são frequentemente
jornal.
31 inexactas”- o valor mais baixo desde 1985.
E o facto de Jayson Blair chegar frequen- 36
Greg Moore, cit. por Joe Strupp, “Boyd says
temente à redacção com citações “too good to
some at NY-Times are scared”, in Editor &
be true” não só não levantava suspeitas,
Publisher, ed. de 13.5.03.
estranhamente, como até parecia satisfazer os 37
David Broder, “The perils of arrogance”,
directores, sempre ávidos de títulos fortes, in Washington Post, ed. de 11.6.03.
apelativos, e de manchetes com grande impacto... 38
Alexandra Marks, “New York Times
32
Dizia a ex-provedora do leitor do Washing- resignations signal industry turmoil”, in Christian
ton Post, Geneva Overholser (cit. por Joe Strupp, Science Monitor, ed. de 6.6.03.
“Hard times: journalism’s credibility problem”, in 39
Ed Goodpaster, “Journalism’s weakest link”,
Editor & Publisher, ed. de 11.6.03): “Já fomos in Christian Science Monitor, ed. 27.5.03.
além de todos os códigos por que nos regíamos: 40
James Carey, “Mirror of the Times”, in The
até permitimos a fontes anónimas que dêem Nation, ed. de 29.5.03.
opinião…”. 41
Dan Kennedy, “News at the brink”, in
33
Como escreveu Elizabeth Colbert (“Tumult Boston Phoenix, ed. de 23-29.5.03.
in the newsroom”, in New Yorker de 30.6.03), 42
Richard C. Wald, “How to worry about the
“o Times não supervisiona os seus repórteres - Blair affair”, in Columbia journalism Review,
é dado por adquirido que eles tratam bem as edição nº 4 - Julho/Agosto 2003.
43
coisas”. E mais adiante:” Jeannine Guttman, citada por Mark
“O jornalismo diário, por uma série de razões Jurkowitz, “Since the Jayson Blair scandal, more
práticas, depende desta espécie de confiança.(...) readers are becoming watchdogs”, in The Boston
O problema, no caso de Blair, é que o Times torceu Globe, ed. de 11.6.03.
44
as suas regras para o manter no trabalho - uma Ver nota 38.
72 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 73
ção que a sociedade tem sobre si mesma. É preciso também notar que o conceito
São também os meios de comunicação os de notícia tem uma dimensão que podería-
agentes mais relevantes para pôr em contac- mos classificar como táctica e uma dimensão
to os múltiplos subsistemas sociais. Assim, que poderíamos classificar como estratégica.
as pessoas, os grupos, as organizações e a A dimensão táctica esgota-se na teoria dos
sociedade em geral dependem dos meios de géneros jornalísticos. Nessa dimensão, dis-
comunicação para se manterem informados tingue-se notícia de outros géneros, como a
e para receberem orientações relevantes para entrevista ou a reportagem. Todavia, a di-
a vida quotidiana. Quanto mais uma soci- mensão estratégica encara a notícia como todo
edade está sujeita à instabilidade ou à o enunciado jornalístico. Esta opção é aquela
mudança, mais as pessoas, os grupos e as que interessa à teoria do jornalismo enquan-
organizações dependem da comunicação to teoria que procura explicar as formas e
social para compreenderem o que acontece, os conteúdos do produto jornalístico.
receberem orientações e saberem como agir. Complementando uma definição de no-
O modelo da dependência desenvolvido tícia dada por Sousa (2000; 2002), pode dizer-
por Ball-Rokeach e DeFleur (1982; 1993) tem se que uma notícia é um artefacto linguístico
também a vantagem de sistematizar muito que representa determinados aspectos da
pertinentemente os efeitos da comunicação realidade, resulta de um processo de cons-
social e, portanto, das notícias. Esses efeitos trução onde interagem factores de natureza
circunscrevem-se a três categorias: efeitos pessoal, social, ideológica, histórica e do meio
cognitivos (teorias do agenda-setting, da físico e tecnológico, é difundida por meios
tematização, da construção social da reali- jornalísticos e comporta informação com
dade, do cultivo, da socialização pelos media, sentido compreensível num determinado
do distanciamento social, da espiral do si- momento histórico e num determinado meio
lêncio, etc.) efeitos afectivos (teoria dos usos sócio-cultural, embora a atribuição última de
e gratificações, etc.) e efeitos comportamen- sentido dependa do consumidor da notícia.
tais (consequência dos outros dois tipos de A notícia é um artefacto linguístico
efeitos). A grande vantagem desta sistema- porque é uma construção humana baseada na
tização é facultar a integração de diversas linguagem, seja ela verbal ou de outra
“teorias” dos efeitos nessas três grandes natureza (como a linguagem das imagens).
macro-categorias. A notícia nasce da interacção entre a rea-
É necessário ter-se em consideração que lidade perceptível, os sentidos que permitem
quando se fala de efeitos das notícias se fala ao ser humano “apropriar-se” da realidade,
de efeitos possíveis ou mesmo prováveis a a”mente que se esforça por apreender e
larga escala. No entanto, convém não ignorar compreender essa realidade e as linguagens
que, em última análise, os efeitos de uma que alicerçam e traduzem esse esforço
notícia são relativos, pois dependem de cada cognoscitivo.
consumidor da mesma em particular3. As notícias ocupam-se com as aparências
dos fenómenos que ocorrem na realidade
2. Notícia social e com as relações que aparentemente
esses fenómenos estabelecem entre si. A
Uma teoria científica tem de delimitar notícia não espelha a realidade porque as
conceptualmente os fenómenos que explica limitações dos seres humanos e as insufici-
e prevê. A teoria do jornalismo deve ser vista ências da linguagem o impedem4. Por isso,
essencialmente como uma teoria da notícia, a notícia contenta-se em representar5 parce-
já que a notícia é o resultado pretendido las da realidade, independentemente da
do processo jornalístico de produção de in- vontade do jornalista, da sua intenção de
formação. Dito por outras palavras, a no- verdade e de factualidade. Essa representa-
tícia é o fenómeno que deve ser explicado ção é, antes de mais, indiciática6. A notícia
e previsto pela teoria do jornalismo e, por- indicia os aspectos da realidade que refere.
tanto, qualquer teoria do jornalismo deve es- Ao mesmo tempo, a notícia indicia as cir-
forçar-se por delimitar o conceito de notí- cunstâncias da sua produção. Ou seja, entre
cia. notícia, realidade e circunstâncias de produ-
76 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
conferirá um caráter multidirecional ao per- dor ligado à Internet será cada vez
curso dos conteúdos. Peter Dahlgren (2000) mas imprescindível na profissão. Em
acrescenta o fato de um usuário poder rede um computador acede a fontes
comunicar-se com muitos ao mesmo tempo de informação, diversas e longínquas,
(one-to-many), por meio de sites que, em que contextualizam as informações
princípio, cada um pode criar para si. O obtidas de fontes directas e próximas.
usuário aqui não é uma instituição midiática, Receber notícias directamente das
mas um indivíduo. Além disso a Internet agências noticiosas, buscar informa-
oferece a possibilidade de uma pluralidade ção na Internet é algo trivial que um
de usuários comunicarem-se mutuamente computador possibilita, trivialidade
(many-to-many) por meio de fóruns de que, no entanto, altera radicalmente,
debates e outras formas de comunicação em a forma de investigar, tratar e redigir
rede, que estão nas Plataformas Comunica- as notícias próprias.” (FIDALGO,
tivas Multimidiáticas Ciberespaciais (PCMC). 2002:2)
Como já ficou bem acentuado, as con-
seqüências para o campo da comunicação são A definição indica que JAC se refere ao
intermináveis e atingem em cheio o jorna- modo sui generis de fazer jornalismo com
lismo. Passa a haver dúvida se os textos os recursos da Internet e, obviamente, do
informativos que encontramos na rede mun- computador, o que se estende, também, às
dial de computadores podem ser classifica- novas formas de distribuição. Há, ainda,
dos nesta rubrica dos gêneros narrativos. carência de paradigmas para estes estudos e
Muitos pesquisadores vêm se dedicando a o denominado JAC situa-se na esfera da
sistematizar tais espaços, sem que haja emissão, considerando o público leitor como
consenso a respeito. um destinatário mais exigente, tendo evolu-
Podemos citar, entre os primeiros estu- ído pelo poder que a Internet lhe confere.
dos classificatórios no jornalismo no Outros autores sugerem a palavra
ciberespaço, os de Mannarino (2000) o qual webjornalismo para expressar as alterações
analisou 147 jornais com edições na Internet, estruturais no jornalismo que encontramos na
publicados por 16 países, tendo detectado, Internet, argumentando ser um conceito mais
à época, 22 características próprias à versão completo por incluir outros elementos do
online. Para ele essas publicações têm em processo jornalístico. Assim defende
comum um Sistema de Recuperação de Canavilhas, afirmando que o jornalismo na
Informação (SRI), correspondente ao arse- web, ou o webjornalismo pode ser muito mais
nal teórico que a Ciência da Informação do que o atual jornalismo online.
utiliza para disponibilizar pesquisas cientí-
ficas, sendo este o principal diferencial entre “Com base na convergência entre
as publicações informatizadas e as impres- texto, som, imagem em movimento,
sas. Seu trabalho referiu-se aos jornais o webjornalismo pode explorar todas
impressos da grande mídia mundial com as potencialidades que a Internet
versões online. oferece, oferecendo um produto
Estudos mais recentes referem-se a essas completamente novo: a webnotícia”
publicações como Jornalismo Assistido por (CANAVILHAS, 2002: 1)
Computador (JAC), a partir de contribuição
inglesa de Computer Assisted Journalism Nilson Lage aborda a questão do ponto
(CAJ), buscando traduzir as inovações e de vista do profissional referindo-se à
alterações que o computador veio trazer ao reportagem assistida por computador (RAC)5,
jornalismo nas suas diferentes vertentes, desde que conferiria um grau maior de precisão nas
a captação de notícias até o respectivo tra- informações, principalmente no atinente a
tamento e distribuição das mesmas. coleta de dados.
o nome indica, nem sempre são espaços pelos jornais colaborativos, por exemplo,
noticiosos, mas costumam ser providencia- traz indagações pertinentes para a profissão.
dos por pessoas privadas, podendo assumir Nossa sugestão classificatória para os jor-
o formato de um weblog. Estão mais para nais editados nas PCMC tem o propósito
registros publicados na Internet do que para de demonstrar as alterações no jornalismo
jornalismo. As E-newsletters também são enquanto parte de um processo comunica-
textos informativos online, que circulam, em tivo em mutação.
geral, por ocasião de eventos, desaparecendo Os formatos discriminados, os que aqui
assim que estes se realizam. Assumem, tam- não foram contemplados, e os que surgi-
bém, o aspecto de manifesto de determina- ram e surgirão desde então, importam menos,
dos grupos, quase sempre de ativistas polí- no processo de mudança que ora nos ocupa,
ticos que vivem na clandestinidade. Adver- do que a aproximação que promovem entre
timos que a classificação proposta é de os núcleos de emissores e os usuários.
natureza qualitativa, tendo sido criada a partir Merece destaque a ampliação do leque de
do congelamento fictício deste momento da informações que a rede propicia, assim como
Internet, cujo dinamismo não permite mais a profunda alteração nos fluxos informati-
que a indicação de tendências. vos, constrangidos, no modo massivo de co-
municação, por processos de agendamento
Conclusão obedientes a interesses políticos e
econômicos, favorecendo, em geral, seg-
O espaço de um artigo não é suficiente mentos historicamente bem sucedidos naque-
sequer para arrolar todos os questionamentos les setores. O modo de comunicação
que a aplicação das TIC provocam nos ciberespacial, que dá nascimento a formatos
processos informativos, os quais têm no inéditos de jornalismo, permite aos usu-
jornalismo a principal fonte de interação ários conectarem-se instantaneamente entre
social. Há polêmicas desde o papel que a si, produzir seus conteúdos, acessar outros
tecnologia desempenha neste universo, até a tantos, distribuir, rápida e gratuitamente, in-
respeito da identidade do profissional de formações de todos para todos os quadrantes,
imprensa no modelo jornalístico praticado no leva a uma reviravolta nos processos de
ciberespaço. Se é possível detectar-se com- agendamento, que ditam, no modo massivo,
petências reservadas a um segmento profis- os temas sobre os quais formam-se opini-
sional para o exercício de certas rotinas no ões. No ciberespaço há influências recípro-
âmbito de uma organização jornalística cas mais contundentes e as habilidades (ver
convencional, a permissão de participar da nota 3) potencializam a autonomia dos
elaboração de notícias, oferecida ao leitor, públicos.
JORNALISMO 87
3
Em tese de doutorado (Internet, Jornalismo novas concentrações de atores. A conectividade
e Esfera Pública. Estudo sobre o processo infor- distancia-se sutilmente da interatividade por ser
mativo do ciberespaço na formação da opinião- a tendência de juntar entidades separadas e sem
ECA/USP- 2003) a autora defende que no modo conexão prévia, através de redes, mediadas por
de comunicação ciberespacial não existem Meios softwares e hardwares. O dinamismo é a capa-
de Comunicação de Massa (MCM), mas Plata- cidade que cada unidade de rede tem de alargar-
forma Comunicativa Multimidiáticas Ciberespa- se e reduzirse o tempo todo, impossibilitando a
ciais, abarcando mais do que veículos de comu- quantificação dos espaços de interlocução na
nicação, mas espaços complexos de troca de Internet. A velocidade é responsável por uma das
opiniões, com habilidades tanto para o convívio principais distinções entre o modo de comunica-
entre os usuários quanto para o surgimento de ção massivo e o ciberespacial, alterando profun-
formatos inéditos de jornalismo. damente os esquemas distributivos de informa-
4
As habilidades funcionam como traços ções.
sensoriais dos espaços de convivência na Internet, 5
S.Squirra se referiu a esta prática adotando
produzidos pela evolução dos softwares. A a expressão em inglês Computer-assited reportimg
sincronia permite que os interlocutores se comu- (Car). SQUIRRA.S. Jornalismo online. São Paulo:
niquem em tempo real. Na assincronia, a comu- CJE/ECA/USP, 1998, p 83 e seguintes)
nicação se dá sem que os atores estejam conectados 6
Termo aplicado ao software que algumas
à rede ao mesmo tempo. A Interatividade, que pode pessoas criam e disponibilizam gratuitamente na
englobar as outras habilidades, leva a uma relação rede, com qualidade semelhante aos serviços
das pessoas com o entorno digital, cuja extensão oferecidos por grandes empresas. (MOURA,
leva a formação de redes, nas quais formam-se 2002:1)
JORNALISMO 89
competencia. Para eso disponemos – quizá Ignacio Ramonet, director de “Le Monde
sería más exacto decir que padecemos- de Diplomatique” dice que “vivimos la paradoja
las nuevas tecnologías de información de de un mundo en el que nunca como en
transmisión veloz. Por eso tendemos, de nuestros días la gente tuvo a su disposición
manera no siempre consciente, a fiarnos de tanta información y, sin embargo, nunca fue
lo que leemos en la pantalla del ordenador, tan grande y evidente, la desinformación de
de lo que nos llega por la “Red”. A identificar, tantos”.
en suma, el acceso a la información, con el Las máquinas con su aparente infabilidad
conocimiento. nos trasladan esa falsa idea de un mundo
La informatización de las redacciones, las hiperinformado. El error, a mi juicio, reside
impresoras acopladas a los ordenadores, el en lo que podríamos llamar la tecnolotría,
uso constante de los enlaces de microondas, en la confianza casi irracional en el futuro
las transmisiones por satélite, la conexión con que puede desprenderse del empleo de las
“ Internet” y los teléfonos móviles son los nuevas tecnologías aplicadas a la información.
útiles de trabajo que conforman la manopla Es verdad que los ingenieros han hecho su
de los periodistas de nuestros días en los trabajo y lo han hecho bien y, técnicamente,
medios de comunicación y sobre todo en los nunca antes fueron tantas ni tan versátiles
audiovisuales. las posibilidades para transmitir imágenes o
Seres, créanme, y no exagero, agobiados palabras o una combinación de ambas. Pero,
por la dictadura del tiempo y la tensión que como decía, la inmediatez sin el
impone el mundo cibernético que si bien por conocimiento, no es garantía de nada. Va por
una parte está a nuestra disposición – vendría delante la técnica y se nota. Hace tiempo que
a ser el ilota de la cuestión – por otra, nos las matemáticas, la electrónica y la
presiona, y agobia exigiéndonos rapidez y informática aplicada a los procedimientos de
reflejos que constantemente pone a prueba transmisión están en el siglo XXI, mientras
la prepotente superioridad de la memoria que los periodistas y los programadores no
artificial de las nuevas máquinas. siempre disponen, no siempre tenemos,
En resumen, no disculpo el error cometido conocimientos y talento suficiente como para
al devolver de nuevo a Aristóteles a la crear contenidos capaces de aunar el interés
Academia, como en sus años mozos, pero con el rigor, lo informativo como lo
comprendo por qué errores como éste pueden formativo. Esa limitación, por mucha
producirse y repetirse simultáneamente en informática, “Internet” o “ sistema digital”
diferentes emisoras de radio y televisión. que queramos, no menguará hasta que venga
Llamo la atención acerca del que preñada por el conocimiento.
podríamos denominar “culpable emboscado”, A este respecto, creo que la recomendación
que en este caso sería el sistema informático que se puede dar es bien sencilla: primero
utilizado para recibir las noticias en unas cultura, formación del redactor, y después,
Redacciones en las que la diaria y prometéica bienvenidas sean las nuevas tecnologías.
tarea de contar lo que pasa en lo que en la Invertir los parámetros- tentación que se
jerga del oficio se denomina “tiempo real”, advierte en nuestros días, a mi juicio,
es decir, al instante en honor del diosecillo conduciría ineluctablemente al desastre.
de la nueva cultura informativa de la noticia Desastre que por ejemplo, se insinúa ya
servida en directo propicia este tipo de en la deriva equivocada que adquiere el
errores. Que seguiremos cometiendo, no les lenguaje, en este caso el español, por
quepa duda. contaminación del inglés. La primera
Entre otras razones porque en el mundo manifestación del problema aparece en la
nuevo que conforman ya las “Redacciones propia jerga tecnolingüistica de la que se ha
digitalizadas”, no anida sosiego. Apenas resta dotado el gremio. Argó que, pongo por caso,
espacio para “pensar” la noticia. Para nos hace hablar de “programaciones
distanciarse del procedimiento y reflexionar generalistas”, mediante un término que en
acerca de lo que vamos a contar. Tiempo para lengua española carece de significado.
– y pido disculpas por la palabra – Dicho todo lo anterior, añadiré que, pese
contextualizar las noticias. a todo, soy optimista. Creo en el progreso
94 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
y confío en las nuevas tecnologías que de todas las cosas que aspiren a ser tenidas
aplicadas a la transmisión de noticias, allanan por razonables.
no pocos tramos del camino que nos acerca Porque no hace falta ser Diógenes para
a los ciudadanos interesados en conocer qué saber que en nuestros días la televisión tiende
es lo que está pasando en el mundo. Fijaría, a reemplazar a la escuela y para millones de
si acaso, una cautela. Dado que la ciencia ciudadanos los programas y los presentadores
y sus aplicaciones técnicas están cambiando ocupan el lugar antes reservado a las aulas
nuestro mundo y nuestras formas de vivir, y a los maestros. Ese sería el perfil del más
convendría que no perdiéramos el sentido inquietante de cuantos riesgos acompañan a
común. Que por muy modernos y cibernautas los medios de nuestros días y en especial a
que podamos sentirnos, no olvidemos que las la televisión. El riesgo de no estar – por falta
máquinas no son más que instrumentos. Y de preparación de quienes en ella trabajan –
que lo único que nos pondrá a salvo de la a la altura de lo exigible, ni aún contando
confusión es no perder vista que frente a las con las ventajas evidentes de las nuevas
nuevas tecnologías y sus apabullantes tecnologías. Pero hablar de este aspecto de
posibilidades, el hombre debe permanecer en la cuestión sería tanto como abrir otro debate
el centro del escenario como medida última que nos llevaría lejos del tema que nos ocupa.
JORNALISMO 95
O tema deste artigo é como e até que para produzir notícias4 é muito mais forte do
ponto as regras que guiam os métodos uti- que na ciência. Como ambas as formas de
lizados pelos cientistas para organizar, clas- conhecimento apresentam semelhanças, a
sificar e traduzir a realidade poderiam con- ciência tem o potencial de oferecer novas
tribuir com o jornalismo. O objetivo é for- linhas de reflexão para o jornalismo.
necer um modelo teórico de objetividade Tanto a ciência como o jornalismo são
jornalística para futuros estudos empíricos. tipos de processos de conhecimento. Tal
Para isso, devem ser analisadas semelhan- processo pode ser identificado tanto na
ças e diferenças entre jornalismo e ciência. produção quanto na recepção de estudos
No momento seguinte, pretende-se analisar científicos e de notícias. Objetividade se
um determinado conceito de ciência que refere somente à produção como processo de
parece especialmente apropriado para uma conhecimento, ou seja, como jornalistas e
comparação com o jornalismo, o do cientistas trabalham e estruturam as informa-
racionalismo crítico de Karl Popper, e a sua ções que recolhem da realidade, através da
possível aplicação nesta área. Por último, comparação destas com aquilo que eles já
pretende-se apresentar um modelo de sabem5.
objetividade jornalística, que tem como ponto Tanto jornalistas quanto cientistas utili-
central a produção de uma correlação entre zam um método para conhecer a realidade.
realidades social e midiática. Ambos têm suas idéias, opiniões pré-forma-
das, suspeitas ou suposições sobre aquilo que
Ciência e Jornalismo observam. Algumas delas são tidas como
certas, outras precisam ser testadas.
A idéia de objetividade jornalística está As suposições dos cientistas vêm de uma
ligada à de ciência desde a origem daquela teoria científica, uma série de afirmações não
nos Estados Unidos, na década de 20. Se- contraditórias. Essa teoria é o resultado de
gundo Streckfuss2, objetividade significava um saber acumulado, do que outros estudos
originalmente encontrar a verdade através do sobre o mesmo tema já mostraram. No caso
método rigoroso do cientista. De acordo com do jornalista, as suas suposições vêm das
Streckfuss3, objetividade não foi fundada em informações que ele acabou de reunir sobre
uma idéia ingênua de que os seres humanos um determinado assunto. Daí advém uma
podem ser objetivos, mas sim no fato de que outra diferença: o cientista é um especialista,
eles não podem. Esta deveria ser portanto o jornalista, não.
alcançada através do uso de um método O cientista não tem só um tema, mas
científico, ou seja, um procedimento também um problema para resolver. Já o
intersubjetivamente aplicável, comparável jornalista não tem necessariamente um pro-
com os das ciências sociais. Influenciados blema, algo para explicar ou para descobrir,
pelo movimento cultural do naturalismo mas sim um tema. O jornalista só vai for-
científico, os mentores da idéia utilizaram a mular hipóteses quando tiver que noticiar
ciência como exemplo de como um jorna- sobre um problema ou quando problematizar
lismo objetivo deveria ser. a sua pauta. Se o jornalista escreve uma
Como jornalistas trabalham sob muita notícia sobre o reinício das aulas nas escolas,
pressão, suas chances de refletir sobre os seus ele tem um tema. Se a pauta incluir as
métodos é extremamente reduzida, a sua condições que os estudantes vão encontrar
tendência a adotar uma rotina como garantia no recomeço das aulas (por exemplo, a
parcial de sucesso e a repetir a mesma fórmula situação precária do prédio da escola, o
98 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
O princípio da falsificação permite uma mativo se ocupa com este tipo de hipótese,
aproximação da realidade exatamente atra- o racionalismo crítico pode oferecer uma
vés da negação de verdades manifestas. alternativa para os jornalistas sobre como lidar
Nenhum conhecimento, inclusive o da ciên- com os seus pressupostos ou convicções. Para
cia, deve ser tratado como verdade absoluta, isso, é preciso entender no que e até que ponto
mas sim como hipotético, já que não é o racionalismo crítico pode contribuir para
possível conhecer a realidade de maneira o jornalismo.
absoluta e segura. Para Popper, o objetivo maior da ciência
O teste das hipóteses deve seguir deter- é aproximar-se da realidade através da re-
minadas regras na ciência. Os pesquisadores futação do que se sabe até o momento. No
devem testar suas hipóteses através de jornalismo, há diferentes objetivos. Um deles
métodos transparentes, que possam ser re- é mediar informações reais e, através disto,
petidos por outros (intersubjetividade). Se oferecer modelos de orientação prática para
outros pesquisadores repetirem o experimen- o seu público14. Mas o jornalismo também
to sob as mesmas condições, devem chegar pode contribuir para uma aproximação da
ao mesmo resultado que o primeiro. Os realidade através da refutação do que se sabe
instrumentos utilizados devem ser adequados até o momento. No entanto, o jornalista não
para medir o que se pretende medir. refuta necessariamente o conhecimento que
A ciência deve tentar ser objetiva, o que foi acumulado sobre um tema, mas sim as
significa para Popper que o seu método deve informações que se têm até agora sobre um
ser passível de ser testado intersubjetiva- acontecimento. Portanto, a observação da
mente. Ou seja, objetividade de acordo com realidade, ou seja, a pesquisa ou investiga-
o racionalismo crítico não se refere ao teor ção jornalística tem uma função central neste
de verdade das afirmações, mas sim ao conceito de objetividade.
método utilizado. Segundo o racionalismo crítico, a obser-
A ciência que Karl Popper propõe une vação da realidade deve obedecer regras para
percepção e teoria. Se uma teoria é empírica evitar uma percepção falsa15. Por isso, o
(e só teorias empíricas podem ser testadas), cientista deve seguir um determinado méto-
então ela precisa ser acoplada à experiência do, que por sua vez deve respeitar regras de
e à percepção10. Ao mesmo tempo, a teoria observação e de intersubjetividade. O uso de
pode controlar e corrigir a percepção11. um método em jornalismo também pode
contribuir para evitar a formação de imagens
O jornalismo e o racionalismo crítico falsas sobre o que se observa.
Como objetividade para Popper se refere
Quando jornalistas noticiam sobre proble- a uma questão de método, a sua utilização
mas, ou seja, sobre temas ou eventos nos no jornalismo se restringe à fase de repor-
quais há algo para descobrir ou para expli- tagem. No entanto, se objetividade for re-
car, desenvolvem hipóteses. Hipóteses duzida a uma questão de método, o objetivo
jornalísticas podem ser classificadas em três do jornalismo deixa de ser uma correlação
categorias: descritivas, evaluativas e com a realidade primária. Segundo
prescritivas12. Descritivas são afirmações do Neuberger16, o racionalismo crítico pode até
tipo “O presidente renunciou ao cargo hoje atrapalhar, já que ignora regras já
à tarde”. A suposição “A renúncia do pre- institucionalizadas. Ao mesmo tempo, pode
sidente foi melhor para o país” é do tipo contribuir para encontrar novas regras e para
evaluativa e a hipótese “O presidente deve melhorar o processo de conhecimento
renunciar nos próximos dias” se insere na jornalístico. O racionalismo crítico, portanto,
categoria prescritiva. não esgota o problema da objetividade.
A maior parte das hipóteses jornalísticas Além disso, é preciso distinguir entre
são do tipo descritiva, ou seja, passíveis de objetividade em jornalismo e objetividade
serem testadas empiricamente13.O que não se jornalística17. A contribuição popperiana se
enquadra nesta categoria não pertence ao restringe às normas ou regras que jornalistas
jornalismo informativo, mas sim ao jorna- devem utilizar para garantir uma conexão
lismo opinativo. Como o jornalismo infor- entre a realidade social e a realidade
100 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
car. O mesmo princípio vale para a seleção prefeito” não podem ser testadas
das fontes. O fato de o entrevistado ser intersubjetivamente e, portanto, não perten-
advogado não o credencia para comentar o cem ao jornalismo informativo.
projeto de reforma tributária, mesmo que ele
seja o presidente da Ordem dos Advogados. Falsificação em jornalismo
Para analisar este assunto, seria mais ade-
quado ouvir um professor de direito tribu- A idéia de que jornalistas devem obser-
tário, que certamente já trabalhou com o tema. var a realidade de acordo com algumas regras
O modo como o jornalista levanta as para garantir objetividade no seu trabalho não
informações também deve ser apropriado para é nova. A contribuição do racionalismo crítico
investigar ou explicar o fato sobre o qual pode no entanto ultrapassar esta fronteira.
se noticia. Se ele investiga o estado precário A característica principal do racionalismo
das escolas públicas, é mais adequado falar crítico é o princípio da falsificação. É esta
com os professores ou alunos de uma escola norma que determina o tipo de hipótese que
nestas condições e depois ouvir o secretário deve ser formulada, o método e até mesmo
de Educação, e não o contrário. o resultado do trabalho do cientista. Através
O grau de abrangência deve contribuir disso, o pesquisador se “previne” de
para que o acontecimento a ser noticiado seja dogmatismo, seja o seu próprio ou não.
apresentado num contexto mínimo. Isto sig- No jornalismo, a busca por uma liber-
nifica que não basta responder a perguntas dade do juízo de valor tem sido marcada pelo
como o quê, quem, quando e onde. É preciso princípio da neutralidade. O conceito tradi-
levantar os comos e porquês. Também não cional de objetividade como neutralidade nega
basta ouvir uma explicação para o problema, aos jornalistas a possibilidade de desenvol-
já que o objetivo do método é exatamente ver idéias sobre aquilo que eles observam.
evitar uma percepção falsa da realidade. Quando jornalistas têm idéias, suspeitas,
Parte-se do pressuposto de que o levantamen- suposições ou opiniões, então não são mais
to de mais de uma explicação pode contri- objetivos.
buir para evitar isto. No caso de dados Como avaliar, desenvolver idéias sobre
estatísticos, devem ser levantados o universo aquilo que se observa é inerente ao processo
de pesquisa, o método utilizado, o período de conhecimento, neutralidade mostra-se
em que o estudo foi realizado e quem o então um mecanismo incapaz de garantir a
produziu. liberdade dos jornalistas perante juízos de
Para garantir a transparência do processo valor. O problema não é ter opiniões, supo-
do conhecimento, é preciso que outras pes- sições ou pré-conceitos, mas sim o que se
soas possam ter acesso às informações que faz com eles.
o jornalista levantou, bem como ao método Jornalistas tendem fortemente a confir-
utilizado para levantá-las. Os depoimentos mar suas hipóteses, o que Stocking (1989)
prestados bem como dados sobre as fontes chama de confirmation bias. Isto não signi-
(nome, cargo ou função) devem ser gravados fica que estes profissionais inventam fatos
ou anotados de tal forma que outra pessoas ou explicações, mas sim que eles só inves-
(por exemplo, o editor) possa reconstruir o tigam ou pesquisam em uma direção, indi-
processo da reportagem através destas ano- ferente se depois da pesquisa eles ouvem os
tações. dois lados do problema ou não. Jornalistas
Se o jornalista produz uma reportagem se tornam prisioneiros não necessariamente
sobre o projeto de preservação do meio- das próprias convicções, mas também da
ambiente de uma determinada multinacional obrigação de produzir histórias com valores-
através de uma viagem às instalações indus- notícias elevados.
triais paga por ela, esta informação precisa O que estes profissionais devem fazer com
ser colocada à disposição daqueles que le- as suas inevitáveis hipóteses, para que elas
rem a notícia. não atrapalhem uma aproximação da reali-
O princípio da verificação intersubjetiva dade? O princípio da falsificação poderia ser
só funciona para hipóteses descritivas. Afir- aplicado no jornalismo? Deveria? O que o
mações do tipo “João da Silva foi um bom jornalista deve tentar falsificar?
102 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Assumptions in Newsmaking. In: Journalism Glaubwürdigkeit von Medien. Eine theoretische und
Quarterly, vol. 67, n. 2, 1990, p. 296. empirische Studie zum Verhältnis von Realität und
13
Op. Cit., p. 298. Medienrealität. Unveröffentlichte Habilitationsschrift,
14
Ver a respeito Eduardo Meditsch, O conheci- Berlin, 1988, p.13.
18
mento do Jornalismo. In: http://www.jornalismo.ufsc.br/ Christoph Neuberger, op.cit., p. 171.
19
bancodedados/publicacoes.html, 1992, p. 30; Robert Günther Bentele, op. cit., p. 404.
20
Park, News as a Form of Knowledge, 1967. In: Robert Liriam Sponholz, Objetividade em jorna-
Park, On social control and collective Behavior. Chi- lismo. Uma perspectiva da teoria do conhecimen-
cago, London: The University of Chicago Press, 1967, to. In: Revista Famecos - Mídia, cultura e
p. 41-42. tecnologia, n. 21, agosto 2003, p. 110-120.
15 21
Karl R. Popper, Logik der Forschung, Ver a respeito Michael Haller, Recherchieren.
Tübingen: Mohr, 10. Auf., 1994, p. 61. Ein Handbuch für Journalisten. München:
16
Christoph Neuberger, Journalismus als Ölschlager Verlag, 5. Auf., 2000, p. 53; Leonarda
Problembearbeitung. Objektivität und Relevanz in Reyes, Estratégias de investigación. In: Sala de
der öffentlichen Kommunikation. Konstanz: UVK Prensa, n. 26, Diciembre 2000, Ano II, vol. 2, http:/
Medien, 1996, p. 155. /www.saladeprensa.org, p. 2.
17 22
Günter Bentele, Objektivität und Reyes, op. cit., p. 2.
JORNALISMO 105
ciou ter aderido aos weblogs, através da uma mais efectiva expressão. Os weblogs
participação numa iniciativa do Partido tornaram-se espaços alternativos de comuni-
Socialista de Lisboa, o–‘Forum Cidade’’– os cação, onde cada um pode ter a tal ‘voz’ que
weblogs começaram a deixar de ser apenas tantas vezes lhe foi prometida. Sendo certo
espaços virtuais com cobertura mediática; a que poderá existir, na participação efectiva
SIC Radical anunciou que o humorístico na blogosfera, tanto de projecção do ego
‘Gato Fedorento’ passaria a ser um programa como de voyeurismo, parece-nos não menos
televisivo e, pouco tempo depois, seria feito verdade que, apesar disso, as tais ‘vozes’ estão
o lançamento de um livro com uma recolha lá, no mais dos casos abertas à discussão e
de posts do anónimo ‘O meu pipi’ (que em todos eles disponíveis para escrutínio.
acolheria, na altura, cerca de 100 mil visitas Como nos diz Tim Jarrett, “um blogger cria
por mês). uma voz online com história, cronologia,
evolução e contexto”. Mais importante ain-
Apontamentos de análise da, adianta Jarrett, o acto de publicar num
weblog (por oposição a um documento
Ainda que este seja apenas o momento privado) permite que outros escutem a tal
do lançamento de um primeiro olhar sobre ‘voz’: “Se as palavras de um blogger são
esta relação entre os media portugueses e os ouvidas e outros entram no diálogo o blogger
weblogs, haverá ideias que importa deixou de ser um observador passivo da
esquematizar em algum detalhe. internet para se tornar num criador dela. Isto
Em primeiro lugar, parte substancial do permite que pessoas – desde adolescentes
apelo dos weblogs resulta das suas caracte- confusos a programadores de software, a
rísticas intrínsecas. Ferramentas fáceis de tradutores iraquianos em Bagdade e a avós
utilizar por pessoas com poucos conhecimen- com uma paixão pela política – que nunca
tos técnicos, conjugam uma estrutura formal tenham escrito um texto antes sejam lidos
rígida como a possibilidade da abertura a uma em todo o mundo”17. Mesmo aceitando que
míriade de conteúdos, comportando-se aqui esta asserção final da frase denota alguma
a blogosfera como uma espécie de um novo fragilidade, sobretudo em face de um cres-
‘ambiente de trabalho’, não já instalado no cimento naturalmente desregrado e natural-
computador de cada um, mas disponível, para mente pouco inventariado da blogosfera18,
partilha, na web. Uma vez familiarizado com isso não põe em risco o seu principal ponto
um weblog, qualquer internauta pode, sem de ancoragem e de atracção – os weblogs
grande esforço, procurar informações num são espaços pessoais e interpretativos, mar-
outro ou desenvolver o seu. Mesmo tendo cados, em simultâneo, pela subjectividade e
em conta as especificidades das diferentes por um certo grau de responsabilização.
ferramentas disponíveis, a lógica subjacente Em segundo lugar, uma parte significa-
ao formato é a mesma e o conforto que deriva tiva da implantação, da visibilidade e da
dessa constância é, por certo, factor de expansão dos weblogs em Portugal terá
simultânea tranquilização e de renovada resultado do estabelecimento de uma relação
confiança, tão necessárias à manutenção de privilegiada com os media tradicionais. Assim
um outro traço distintivo destas novas pá- como resulta claro, da pouco exaustiva análise
ginas web – a frequência de actualização. À acima apresentada, que um número signifi-
semelhança do que aconteceu noutros países, cativo dos jornalistas envolvidos na escrita
com mais ou menos encorajamento dos media dos textos sobre weblogs partia de uma
tradicionais, o sucesso quase exponencial dos posição de alguma cumplicidade com o
weblogs deve-se, em grande parte, a esta sua formato (seja porque eles próprios eram
potencialidade de abertura a quem nunca bloggers, seja porque eram observadores à
antes teve possibilidade de avançar reflexões, distância), parece também evidente que a
comentários ou informações para além do seu entrada na blogosfera de ‘famosos’, o apa-
círculo restrito de conhecimentos pessoais. recimento de weblogs polémicos e as dis-
A ‘publicação pessoal’, conceito que já cussões internas geradas a propósito destes
havia servido para atrair as pessoas para a dois factores e ainda de um terceiro - a
própria internet, alcança, com os weblogs, distinção entre ‘novos’ e ‘velhos’ bloggers
JORNALISMO 109
portugueses - tenha sido responsável pela crítico de grande parte dos posts publicados,
manutenção do interesse jornalístico no tema. quando aliados a uma multiplicação de fontes
A cumplicidade de que se fala deverá ser razoavelmente bem informadas sobre áreas
entendida como resultante das afinidades e muito específicas poderá estar, ou vir, a
das vantagens percebidas no formato, tanto induzir alguns efeitos no jornalismo portu-
em termos técnicos como de conteúdos. Se guês.
pensarmos na vertente técnica, os weblogs Não teremos ainda chegado a uma fase
parecem encaixar na perfeição com as exi- em que os weblogs dão início a um qualquer
gências do tempo jornalístico presente, movimento com repercussões nos media
potenciam um espaço de sinergias multimé- tradicionais e, em última análise, com efeitos
dia e corporizam um novo conceito de na vida política (como aconteceu com o caso
produção de texto apelativo e adaptável às Trent Lott, ou com a campanha eleitoral de
exigências formais do jornalismo. Se olhar- Howard Dean, nos Estados Unidos), mas os
mos para os aspectos de conteúdo, percebe- sinais de penetração do efeito blogosfera no
mos nos weblogs menos pontos de contacto espaço comunicacional são já alguns. Assi-
com o jornalismo do presente, mas talvez uma nale-se o exemplo de um post que levou a
eventual visualização do que se lhe pode vir uma reacção de um ministro na imprensa,
a pedir: texto cuidado, ligação às fontes, as acções de pendor político que influenci-
formatação menos rígida, estilo mais próxi- aram o debate sobre actos de gestão
mo da’‘voz humana’, maior personalização autárquica (em Lisboa, por exemplo) e os
e menor intermediação. cada vez mais comuns sinais de que os
comentários na blogosfera são usados pela
Publicação individual e jornalismo imprensa de forma idêntica aos produzidos
no contexto dos media tradicionais.
A expansão da blogosfera nacional, no ano A consciência de que a blogsofera existe
de 2003, despoletou discussões acesas sobre e é particularmente atenta aos que se produz
o valor acrescentado dos weblogs para o ou veicula nos media poderá funcionar como
jornalismo, muitas delas replicando debates um motivo adicional de pressão sobre o
semelhantes noutros países. Também aqui se jornalismo, no sentido da actualização da
perceberam excessos de fé nas potencialidades linguagem, de um maior rigor na abordagem
do novo formato para, quase que por si só, dos temas e, sobretudo, de uma mudança de
abrir caminho a um novo tipo de jornalismo atitude perante a sociedade. Os bloggers (que
e, por contraponto, exageros condenatórios, são também leitores/ouvintes/telespectadores)
edificados em torno de noções de que a questionam formas de actuar, perspectivas,
blogosfera seria, sobretudo, espaço de partilha apontam falhas, avançam alternativas e le-
de intimidades e, em muitos casos, lugares vantam novas dúvidas. Isso, se entendido por
de oposição ao jornalismo estabelecido. todos os jornalistas como uma oportunidade
Afigura-se-nos seguro indicar que, mes- para produzir trabalho mais honesto, consis-
mo no presente, a blogosfera portuguesa tem tente e em contacto com as pessoas, pode
a sua quota de weblogs sobre jornalismo e dar-nos uma indicação mais correcta do
de weblogs feitos por jornalistas profissio- eventual novo caminho do jornalismo.
nais 19, mas continua a ter muito poucos Os weblogs serão, assim, neste momen-
exemplos de uma postura próxima da adop- to, muito mais reflexos críticos da actividade
tada, noutros países, pelos chamados weblog- jornalística e potenciais fornecedores de
jornais. Ou seja, serão muito poucos os que, informação adicional específica do que con-
via weblog, produzem, de forma consistente correntes em pé de igualdade. A seu favor,
e com carácter de permanência, trabalho estes espaços de publicação pessoal terão,
jornalístico reconhecido como tal20. naturalmente, o facto de integrarem, sem
Ainda assim, parece-nos relevante apon- qualquer adaptação, uma lógica de entendi-
tar que a grande visibilidade de alguns mento da comunicação baseada no indivíduo,
weblogs, o activismo militante de outros, a como nódulo de redes múltiplas e flexíveis,
qualidade formal de muito do texto que é e não como membro de um qualquer grupo
produzido e o carácter social e politicamente facilmente caracterizável (Wellman e Hogan,
110 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
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4
friendly=true
The Economist (14.08.2003). 18
Apesar de alguns esforços, como é o caso
5
http://campuscgi.princeton.edu/~eszter/ do motor de busca bloogz (www.bloogz.com).
weblog/archives/00000275.html (13.04.2004) 19
Em Abril de 2004 surgiu até um weblog
6
Altura em que Pedro Fonseca anunciou ser- que se intitula ‘Diário de uma jornalista no
lhe impossível continuar com a tarefa. http:// desemprego’.
blogsempt.blogspot.com (17.10.2003). 20
Uma das excepções, embora produzida num
7
http://www.omeudiario.net/ptbloggers ambiente escolar, é o ‘Jornalismoportonet’.
21
(20.04.2004). A este propósito assinale-se o aparecimen-
8
http://apdeites.cedilha.com/numeros.html to, em Abril de 2004, de um espaço, sediado na
(20.04.2004). Galiza, que se propõe ser isso mesmo – o local
9
http://weblog.com.pt (17.10.2003). onde os indivíduos, podem, a partir de qualquer
10
Diário Económico (Media e Pub), lugar, aceder ao seu correio, aos seus weblogs
26.05.2003. e fotologs (www.intper.es).
114 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 115
cidos pelos fracassos do liberalismo político ameaça que pesa sobre o jornalismo. Ope-
e económico, os jornalistas contribuem, na rários de um oficio controverso, os jorna-
verdade, permanentemente para o agravamen- listas, que, para o investigador canadiano,
to da crise em que mergulharam as institui- têm um poder cuja importância é incontes-
ções da modernidade. No início do século tável (Bernier, 1995: 26), os jornalistas
XX, Karl Kraus, um dos mais notáveis minam a legitimidade da sua profissão por
críticos do jornalismo, reconhecia que o jornal recusarem sistematicamente o princípio de
(hoje acrescentaríamos os outros media) tinha imputabilidade. Para Bernier, o cumprimen-
um poder considerável e perigoso. Para o to íntegro da função social do jornalismo,
autor austríaco, ele podia transformar não só ou seja, de «informar de maneira honesta e
a insignificância objectiva em importância imparcial os cidadãos de uma democracia
reconhecida por todo o mundo, como tam- acerca de pessoas, instituições e fenómenos
bém a mentira em verdade5. Céptico em que podem influenciar objectivamente o curso
relação às virtualidades da imprensa, Kraus das suas vidas» (Bernier, 1995: 25), não pode
temia mesmo que ela se tornasse o único significar a impunidade sem limites do tra-
poder realmente absoluto. balho dos jornalistas. Especialista em ética
Há quase um século, Karl Kraus avaliou e deontologia, Bernier defende que os jor-
notavelmente os perigos do jornalismo. nalistas devem justificar-se perante os cida-
Temendo que ele se prestasse apenas ao dãos que, em sua opinião, têm o pleno direito
serviço dos interesses políticos e económicos, de poder julgar com conhecimento de causa
Kraus alertou incansavelmente a sociedade a qualidade do trabalho e dos comportamen-
austríaca para o poder, que ele considerava tos daqueles a quem entregam a tarefa da
devastador, dos jornalistas. Quase cem anos informação.
mais tarde, vemos confirmarem-se algumas Instância última de legitimação do jor-
das suas mais arrepiantes suspeitas. Com nalismo enquanto actividade social reconhe-
abalável desconfiança, olhamos hoje para os cida, o público tem o direito de estar ha-
jornalistas ora como heróis incansáveis na bilitado para julgar e criticar o trabalho
busca insistente da verdade ora como figuras jornalístico produzido em seu nome. Falta,
diabólicas, merecedoras do purgatório, por pois, aos heróis do nosso tempo a fortaleza
causa da distorção da realidade. do consentimento esclarecido dos receptores
A redefinição do jornalismo parece, pois, das suas mensagens. Porém, segundo Bernier,
viver o dilema entre o mérito e a excomunhão. para que o consentimento dos cidadãos não
Considerado indispensável ao funcionamen- seja ignorante é preciso o conhecimento de
to pleno da democracia, o jornalismo per- dois tipos de práticas jornalísticas: por um
manece, porém, na angústia do seu firme lado, as práticas que dão lugar às notícias
reconhecimento. Vive da agitação dos pode- e às reportagens e, por outro, as práticas que
res que governam a vida social e padece da concernem à ocultação ou à censura de factos
afronta das críticas a que o ofício inevita- importantes. (Bernier, 1995: 53).
velmente o condena. Sofre hoje com todas Com Marc-François Bernier, somos im-
as instituições modernas de uma crise de pelidos a procurar na crítica do jornalismo
legitimidade. Aflige-se na afirmação dos a sua própria salvação. A submissão a um
ideais de onde se erradicou e naufraga nos princípio de imputabilidade afigura-se assim
cabos de tormentas da realidade. Vive o como a forma mais democrática de devolver
permanente sobressalto dos equívocos da ao jornalismo e aos jornalistas a legitimidade
imagem “todo-poderosa” que a sociedade por de configuração do espaço público. Na
momentos prometeu reconhecer-lhe. verdade, a insistência no julgamento público
dos jornalistas afigura-se doravante a promes-
A condenação do jornalismo e o princípio sa redentora do ofício que Gabriel García
da imputabilidade Marquez disse ser o melhor do mundo. Por
isso, o jornalismo vive hoje a duradoira
Crentes de uma certa imunidade à crítica surpresa da crítica a que leitores e telespec-
e ao escrutínio público, os jornalistas são, tadores o sujeitam diariamente. Também ele
para Marc-François Bernier, a principal está cada vez mais exposto ao escrutínio das
118 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
anomia. Promover as práticas metajorna- quer intenção altruísta no seu [do escândalo
lísticas é, para nós, a solução para reinventar Casa Pia] tratamento comunicacional»10. No
o jornalismo, na medida em que lhes cumpre mesmo artigo, o euro-deputado dizia mesmo
o mandato de desmistificar a profissão junto que «hoje não é o poder político o principal
do público. mecanismo de impunidade dos poderosos e
dos criminosos – é a comunicação social e
O acto de contrição dos jornalistas os seus métodos».
Desdobrada em espectáculo11, a crise da
Consistindo em assegurar o conhecimen- Casa Pia alastrou-se aos media, ferindo-os
to sobre os métodos e as finalidades da de uma aparentemente injusta condenação.
produção informativa, bem como em apurar Especialmente incomodados com a exposi-
os seus efeitos, o metajornalismo tem tido, ção e o escrutínio público permanente, os
entre nós, o seu expoente máximo na cober- jornalistas não apreciam, segundo Estrela
tura mediática do processo de pedofilia na Serrano, «discutir o seu trabalho com pes-
Casa Pia. O tratamento informativo deste soas de fora do seu “campo profissional”»12.
affaire serviu de pretexto à questionação total No entanto, o feitiço virado contra o feiti-
do jornalismo. Nele se explicitaram os de- ceiro sentou os jornalistas no banco dos réus
sígnios e a perversidade do poder dos jor- e subjugou-os aos argumentos de acusação
nalistas. A propósito deste escândalo voltou da opinião pública. Segundo Francisco José
para a ordem do dia a discussão acerca da Viegas13, manifestaram-se sobre a conduta dos
legitimidade do jornalismo. jornalistas três tipos de opiniões: «os que
Se, por um lado, é verdade que a pro- pensam que a imprensa fez o seu trabalho;
jecção pública do escândalo assegurou aos os que pensam que a imprensa exagerou,
jornalistas, com acento particular à jornalista cometeu erros, cedeu à tentação de se es-
Felícia Cabrita do jornal Expresso, elogios candalizar; finalmente, os que acham que a
cerrados ao papel que desempenham de imprensa devia ter sido mais monigerada e
vigilantes atentos, por outro, também o é que sensata – não se escandalizando.»
os desenvolvimentos entretanto conhecidos Assombrado pelo alvoroço e o tumulto
pelas páginas dos jornais desmistificaram a causado pela revelação de factos chocantes,
ideia romântica, como a classificou Joaquim o público oscilou entre elogios e acusações
Vieira, director do Observatório da Imprensa ferozes à comunicação social. Desfez-se em
portuguesa, do jornalismo como inteiramen- abraços aos jornalistas que tornaram público
te dedicado à causa social. Tendo contribu- um escândalo ocultado há mais de vinte anos,
ído para confirmar o verdadeiro poder dos para logo depois lhes voltar as costas, jul-
media nas sociedades contemporâneas, a gando-os pelos excessos permanentes.
mediatização do processo Casa Pia acabou Agoniada pela desfaçatez dos criminosos, a
por condenar o jornalismo português a uma sociedade portuguesa descobriu-se encoberta
das suas mais constrangedoras exposições por uma nuvem feia. «Como aquelas que,
públicas. a princípio, a gente julga que traz notícia de
Segura de que «o lugar do jornalismo é um fogo ao longe, enfarruscada de fumos e
o da procura da verdade», Estrela Serrano fuligens. Depois, vê-se que é espessa como
foi firme, logo no início do processo, em chumbo, avoluma-se, aproxima-se e parece
Dezembro de 2002, a garantir que «a liber- que é a única coisa que se move, porque o
dade de imprensa e o dever de informar não ar está parado, ameaça desgraça.» (Ivo, 2003:
autorizam tudo»9. Apesar de reconhecer que 14) A nuvem de chumbo que se abateu sobre
«uma das funções mais nobres do jornalismo os portugueses, carregou de cinzento o
é fazer funcionar a democracia», a ex-pro- horizonte do jornalismo.
vedora dos leitores do Diário de Notícias não Acusados de terem deixado de «apenas
poupou críticas à actuação dos jornalistas. “reportar” os acontecimentos, para passarem
Também José Pacheco Pereira se mostrou, a formatá-los»14, os jornalistas foram acusa-
desde o início, muito céptico em relação ao dos de tentação pelo sensacionalismo, de
papel desempenhado pelos jornalistas dizen- exploração despudorada da intimidade, da
do que não acreditava «um átomo em qual- dignidade, de exacerbação das emoções, de
120 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
vamente aos quadros e paradigmas pré-exis- tem sido característico do jornalismo, levan-
tentes e, sobretudo, as possibilidades e ce- do à emergência paulatina de uma outra
nários que se poderão abrir com o acesso realidade radicalmente distinta da anterior. Em
à rede e a respectiva utilização. Nesta linha, qualquer dos casos, torna-se relevante saber
enfatiza-se a quantidade e diversidade de -de que modo é que um dos principais actores
informação disponível, a multiplicidade de deste processo percepcionam e avaliam as
formas e de serviços, as diversas modalida- mudanças em curso.
des de utilização e de relacionamento, as
inúmeras possibilidades de definir menus in- 2. Percepções de jornalistas portugueses
dividualizados de informação e de aceder sobre as mudanças no campo jornalístico
directamente às fontes (Hume, 1995), entre
muitos outros aspectos. A informação disponível sobre a pesqui-
De uma forma mais ou menos expressa, sa em torno da profissão jornalística em
porém, alguns dos discursos sobre as Portugal é, em termos gerais, escassa e, até
potencialidades da Internet tendem a alimen- ao presente, centrada sobretudo na caracte-
tar a crença na possibilidade de, com os novos rização sóciodemográfica (Pais, 1998; Sub-
media, se concretizar a “aldeia global” til, 2001). Em particular sobre o jornalismo
anunciada por McLuhan, marcada por um online, os estudos são ainda mais escassos,
regime comunicacional entre as pessoas e os embora com sinais de atenção progressiva nos
grupos sociais de natureza mais horizontal vários centros universitários que se dedicam
e democrático. Como observa Klinenberg a investigar este campo.
(1999), referindo-se ao campo jornalístico, O assunto foi objecto de debate no úl-
os novos media são apresentados como timo Congresso dos Jornalistas Portugueses,
abrindo aos jornalistas a possibilidade de realizado em 1998, tendo os congressistas
produzir uma informação “mais completa e manifestado, relativamente às novas tecno-
mais fiável”. logias, jornalismo tal como até hoje tem sido
Não iremos ao ponto de afirmar, como entendido e praticado”. Estas novas tecno-
James Fallows (1999), que a 13nternet “mu- logias “não devem ser encaradas como uma
dou mais o comércio do que qualquer outro sentença de morte imediata para as formas
sector”. Em qualquer caso, importa conside- tradicionais de jornalismo e para os seus
rar como convivem e se relacionam os princípios essenciais (...) mas sim como uma
discursos encantatórios sobre as tecnologias maneira diferente de fazer jornalismo, tão
com as práticas empresariais e de gestão que legítima como as outras, desde que igualmen-
procuram tirar partido dessas mesmas tecno- te sujeita a esses princípios” (1998: 17).
logias, designadamente no caso do jornalis- Considerando o polissémico tema do
mo, analisando a esta luz, por exemplo, as congresso, “Jornalismo real, jornalismo vir-
experiências de “fiasco” de finais dos anos tual”, de cerca de uma centena de comuni-
90 e princípios desta década. Assim como cações nele apresentadas, apenas cinco se
importa analisar em que medida novos for- debruçarem sobre a Internet e o jornalismo
matos e modalidades de uso da internet, online e mesmo estas predominantemente
nomeadamente no plano da edição persona- voltadas para a apresentação da novidade e
lizada de informação, configuram lógicas dos medos, expectativas e questões a ela
diferenciadas ao nível da produção, circula- associadas.
ção e utilização ou não passam de “expe-
riências” marginais e, finalmente, inconse- Nota metodológica
quentes.
As mudanças que têm vindo a ocorrer Foi com esta tela de fundo que procu-
nos últimos anos no campo jornalístico rámos ir um pouco mais longe. Dirigimos,
justificam a interrogação sobre se estaremos na primeira metade de Abril de 2001, 285
perante simples desenvolvimentos cartas a outros tantos jornalistas através de
configuradores de cenários novos ou, pelo correio electrónico, contendo em anexo um
contrário, diante de uma ruptura ou mesmo questionário intitulado “Mudanças na prática
de uma revolução relativamente àquilo que do jornalismo”. Os critérios de selecção dos
126 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Entre os que se insurgem contra a de- jornalista ligado a um jornal diário. E outro,
signação detectam-se igualmente sensibilida- com funções de direcção num semanário de
des e níveis diversos de resposta. Também informação geral, acrescenta: “o jornalista é
aqui pode encontrar-se o lado pragmático: mediador de factos e não produtor de con-
“vejo mal que um jornalista seja simultane- teúdos. Este conceito de ‘produtor’ leva à
amente redactor, fotógrafo, radialista, actual tendência de ajustar os factos ao que
cameraman: não dominará bem nenhum”; é e não é vendável”.
“se for levado a fazer tudo, não fará nada
bem feito”. Isto porque a polivalência con- 3. Comentários e problematização
figura uma “usurpação de funções”.
Mas é a lógica económica e o impacte Pode dizer-se que os jornalistas que
de estratégias empresariais que transparece participaram nesta recolha de opiniões ex-
de forma clara noutras opiniões: a primem, nas suas respostas, uma ideia forte
polivalência “é uma designação das entida- de que um dos grandes focos problemáticos,
des patronais para pagarem menos e redu- no actual quadro do jornalismo, deve ser
zirem os custos””e revela que a informação colocado nas empresas e nos grupos de
“é apenas mais uma mercadoria disponível”. comunicação, nas lógicas comerciais que cada
Ou: trata-se de uma “expressão inteligente- vez mais as orientam e que fazem sentir
mente usada por quem pretende reduzir o progressivamente os seus efeitos nas redac-
trabalho dos jornalistas a meros obreiros de ções. O sensacionalismo, a “tabloidização”,
produtos vendáveis”. o infotainment e a superficialidade são ao
No que respeita à expressão “produtores mesmo tempo característica e consequência
de conteúdos”, as opiniões pautam-se por daquele quadro de concorrência exacerbado.
idênticos padrões, com a diferença de que No terreno laboral, os sinais do mesmo
quase não há quem aceite ou justifique tal fenómeno seriam a precarização dos víncu-
conceito: apenas um jornalista refere que os los laborais, o fosso crescente entre uma elite
seus pares nunca foram outra coisa e outro jornalística e o grosso dos titulares de car-
observa que este tipo de designações expri- teira profissional, e a degradação da profis-
me uma tendência de futuro: indica o que são em termos retributivos.
os jornalistas virão a ser. Globalmente, pode detectar-se, no tom
Vários respondentes patenteiam clara geral das respostas, a afirmação mais ou
aversão relativamente à expressão “produto- menos clara do jornalismo como um serviço
res de conteúdos”. Consideram-na “pouco à colectividade, como uma alavanca e um
feliz”, “absurda”, “irritante” e até mesmo revelador fundamentais do espaço público.
“um perigo” e “a negação do jornalismo”. Em sintonia, de resto com o teor geral dos
Das respostas infere-se que os produtores de discursos que a “classe” produz acerca de
conteúdos existem, mas não são jornalistas, si própria, quando se reúne nos seus con-
uma vez que “o jornalismo é mais do que gressos, por exemplo. No entanto, aquilo que
isso””e misturar ou indiferenciar as duas surge como possível manifestação de um ideal
realidades constitui uma “forma de desvir- nobre pode também recobrir uma visão
tuar a profissão, de banalizá-la”. É uma mitificada e romântica dos jornalistas e do
expressão de estratégias empresariais para jornalismo ou, em todo o caso, exprimir uma
criar sinergias e reduzir custos. “Tem a ver dificuldade de reflectir de forma mais com-
com a crise do conceito de jornalista”, plexa e menos dicotómica a relação da
resume um dos inquiridos. Interessante é a actividade profissional com as condições
ênfase que duas das respostas recebidas concretas do seu exercício, hoje e aqui. De
colocam não tanto no conceito de conteúdos, resto, os factores problemáticos referenciados
mas no de produtores. “Os conteúdos podem são sempre exteriores à iniciativa ou respon-
ser jornalísticos, ainda que presentemente sabilidade dos próprios jornalistas: cabem,
tenham uma conotação de infotainment; a antes, às empresas, aos directores, ao mer-
palavra ‘produtore’ remete o jornalismo para cado, etc.
a produção industrial, orientada apenas para Poderia ser lido a esta luz um certo
o mercado, para o lucro”, considera um paradoxo que se apura das respostas rece-
JORNALISMO 129
bidas entre um quadro geral pintado com que pelo fundo. Isto é: não representa uma
tonalidades bastante escuras e, por outro lado, ruptura com as normas, exigências e missão
as esperanças e expectativas depositadas nas que se considera caracterizarem a profissão,
inovações tecnológicas e, em geral, nas embora implique mudanças profundas no
tecnologias. Ou seja, as mesmas tecnologias, modo de praticar o jornalismo. Em todo o
cuja sofisticação e facilidade de uso permi- caso, os vários tipos de riscos, perplexidades
tem às empresas impor aos jornalistas uma e expectativas formulados pela generalidade
efectiva polivalência, vêem-se simultanea- das respostas tornam, pelo menos, evidente
mente investidas de um poder simbólico e um aspecto: o jornalismo online, pelo leque
material profundamente transformador. de questões que levanta e pela complexidade
Nem a dimensão do grupo de profissi- de situações em que está implicado, pressu-
onais inquiridos nem a diversidade das res- põe desafios ainda mais exigentes e profun-
postas obtidas permitem avaliar em que dos aos profissionais e à prática profissional.
medida estas percepções e hipóteses corres- Está longe, por conseguinte, de ser um mero
pondem a movimentos generalizados ou se problema tecnológico e de supor, para ser
fazem sentir de modo especial em determi- bem realizado, uma mera “capacitação ins-
nados contextos. É, porém, saliente uma
trumental”.7
preocupação repetidamente reiterada com os
Em termos gerais, e retomando agora as
rumos que o jornalismo está a trilhar, con-
orientações dos discursos sobre o jornalis-
siderando as condições concretas do seu
mo, a que aludíamos no início deste texto,
exercício.
não é difícil encontrar, nas percepções e
A polivalência, apesar de se inscrever
discursos dos jornalistas aqui inquiridos,
numa lógica que serve em primeiro lugar a
posições influenciadas pela economia polí-
racionalidade económica das empresas, pa-
tica dos media (denunciados como global-
rece constituir uma matéria relativamente à
qual as posições se dividem mais do que mente funcionais à estratégia neoliberal)
relativamente à concepção dos jornalistas coexistentes com posições tecnófilas (ou, em
como “produtores de conteúdos”, a qual conta alguns casos, tecnófobas).
com uma oposição quase generalizada. Não Algumas perguntas que permitiriam in-
é de todo improvável que, no cenário da terrogar o alcance e significado desta con-
polivalência, confluam visões e interesses clusão: em que medida a coexistência subli-
diversos (uma certa imagem da profissão, o nhada constitui de facto uma contradição?
prestígio associado ao uso de certos equi- Que variações é possível captar, tendo em
pamentos, a mira de fontes complementares conta posições diferenciadas na profissão e
de retribuição...). Já a produção de conteú- distintos media ou grupos mediáticos? Que
dos é entendida como uma estratégia de grau de coincidência ou divergência existe
indiferenciação e de retrocesso em termos de entre os discursos produzidos e as experi-
estatuto profissional. É, por conseguinte, ências vividas? Tanto a conclusão referida
sentida como ameaça à própria profissão. como as questões formuladas carecem de
O jornalismo online constitui uma mo- estudos complementares com vista à sua
dalidade cujos desafios se impõem, para a validação e matização. Importa, por isso,
maioria dos inquiridos, mais pela forma do prosseguir as pesquisas.
130 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Bibliografia ~ c s 1 4 2 / a r t i c l e s / M I S C /
informing_ourselves_to_death—postman]
Abreu, Dinis ; Cabral, Eva (2001), ‘O Ramonet, Ignacio (1999) A Tirania da
Independente’ acrescentava pouco ao grupo Comunicação.Porto: Campo das Letras.
(entrevista a Miguel Pais do Amaral), in Salaverría, Ramón (2000) Criterios para
Meios, Abril. la Formación de Periodistas en la Era Di-
Auletta, Ken (1998) “State of the gital. Conferência apresentada no I Congreso
American Newspaper Synergy City”. Nacional de Periodismo Digital (Huesca, 14-
American Journalism Review (http://ajr.org/ 15 de
Article.asp?id=3273). Janeiro de 2000[www.unav.es/fcom/
Barbosa, Elisabete; Granado, António mmlab/mmlab/investig/crite.htm] (consultado
(2004), Weblogs: Diário de Bordo. Porto: em 7.4.2001)
Porto Editora. Sousa, Jorge P. (1999) Os Novos Meios
Bastos, Helder (2000) Jornalismo Elec- Electrónicos em Rede – um Estudo
trónico – Internet e Reconfiguração das Prospectivo sobre Jornalismo Online e Outros
Práticas nas Redacções. Coimbra: Minerva. Conteúdos na Internet Portuguesa.
Bourdieu, Pierre (1996) Sur la Télévision, [www.bocc.ubi.pt]
Suivi de l’Emprise du Journalisme. Paris : Subtil, Mónica (2001) As Mulheres-Jor-
Liber/Raisons d’Agir. nalistas [www.bocc.ubi.pt]
Champagne, Patrick (1998) ‘La Censure Winter, William L. (2000) ‘Our Readers
Journalistique’, in’Les Inrockuptibles, of the Future’’(discurso proferido em
16.12.1998 12.5.2000), American Press
Comissão Executiva do III Congresso dos Institute[www.americanpressinstitute.org]
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Teses, Conclusões. Lisboa.
Fallows, James (1999) ‘But Is It
Journalism?’. The American Prospect, _______________________________
vol.11,n.1 1
Universidade do Minho
2
Hume, Ellen (1995) ‘Tabloids, Talk Radio Utilizamos neste texto os conceitos de
and the Future of News : Technology’s Impact webjornalismo, jornalismo digital e de jornalismo
on Journalism’. The Annenberg Washington online como equivalentes. Estamos, no entanto,
Program in Communications Policy Studies conscientes de que continua a existir alguma
indefinição conceptual, dada a diversidade de
of Northwester University, Washington DC
situações que muitas vezes se confundem: jorna-
[www.annnenberg.nwu.edu/pubs/tabloids] listas que utilizam a Internet como ferramenta de
(24.3.2001) apoio ao seu trabalho quotidiano; jornalistas que
Klinenberg, Eric (1999) ‘Journalistes à elaboram para media tradicionais peças que são
Tout Faire de la Presse Américaine’, in’Le transpostas para a edição online; jornalistas que
Monde Diplomatique,Fevereiro (http:// trabalham apenas no online, procurando, em grau
w w w. m o n d e d i p l o m a t i q u e . f r / 1 9 9 9 / 0 2 / maior ou menor, tirar partido do multimédia e da
KLINENBERG/11643) interactividade (para a discussão deste problema,
é útil a consulta de Bastos, 2000: 120-129).
Martínez-Albertos, José L. (1997) El 3
O Presidente do Americam Press Institute,
Ocaso del Periodismo. Madrid: CIMS William L. Winter, no discurso “Our Readers of
Pais, J. Machado (1998) Inquérito aos the Future”, antecipa o horizonte temporal de
Jornalistas Portugueses – Resultados Preli- Martínez Albertos: “Creio que o salto dos vossos
minares–(documento policopiado apresenta- negócios de jornais para ‘empresas de informa-
do no 3º Congresso dos Jornalistas Portu- ção’ chegará muito mais rapidamente do que
gueses) supõem muitos editores. Acredito, por exemplo,
Pinto, Manuel (2001) “Fontes que, pelo ano 2005, vários jornais americanos terão
anunciado a intenção de eliminar as suas edições
Jornalísticas: Contributos para o Mapeamento
impressas para aderir a mais amplos, criativos e
do Campo”. Comunicação e Sociedade/ úteis pacotes de notícias, informação e publici-
Cadernos do Noroeste, nº1 dade na world wide web”. Lida à luz do que se
Postman, Neil (1990) Informing passou entretanto, tão optimista declaração não
Ourselves to Death. [http://cec.wustl.edu/ pode fazer senão sorrir.
JORNALISMO 131
4
Como Matt Drudge, que revelou no seu Meios, o presidente do grupo Media Capital,
boletim electrónico o caso Clinton-Lewinsky. Miguel Pais do Amaral, considerava que “algo
5
Na altura, os media jornalísticos publicitavam como um jornalista polivalente” é o futuro da
os mails individuais dos jornalistas, uma prática profissão (in Abreu e Cabral, 2001).
7
que sofreu um retrocesso nos anos mais recentes. Cf, a este propósito, as questões sugeridas
6
A título de exemplo, numa entrevista à revista no texto de Salaverría (2000).
132 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 133
A presenza da lingua galega na prensa de Sete de cada dez galegos maiores de cinco
Galiza é moi reducida, pois só está presente anos (o 68,66%) saben ler en galego. Esta
en cinco de cada cen páxinas publicadas. Esta medición da capacidade de lectura en lingua
situación é paradoxal, se temos en conta que galega amosa uns resultados positivos, aínda
a práctica totalidade dos cidadáns galegos que lonxe dos de comprensión do idioma,
entende e fala esta lingua e que máis de dous practicamente unánime (99,16%) e dos de
terzos lena sen dificuldade. Se analizamos con fala, que indican que máis de nove de cada
detemento os datos, advertimos que situación dez galegos (91,05%) dominan oralmente a
é aínda máis grave, pois a proporción de galego súa lingua 5 . Así pois, non existe un
na superficie redaccional (os textos propios do impedimento estrutral para que os xornais que
xornal) é mesmo menor (non chega ao 4%) editan en Galiza poidan publicar as súas
e nos xéneros informativos (agás a entrevista) páxinas en lingua galega, xa que a maioría
aínda descende máis (tres por cento). Ademais, de poboación pode ler en galego.
a lingua galega fica excluída de determinadas En canto ao uso real da lingua, os datos
seccións e temáticas “duras”, como a galegos reflicten unha sociedade
información política española e mundial ou a galegofalante, monolingüe, mais con
economía, quedando reservado o seu uso case tendencia a descender. En concreto, case seis
exclusivamente a seccións e temáticas máis de cada dez galegos (56,85%) son
“brandas”: cultura, sociedade..., e máis locais. monolingües en lingua galega, tres de cada
A situación é semellante en todos os dez (30,29%) son bilingües (empregan cada
xornais, salvando a excepción do Galicia día as dúas linguas) e menos do trece por
Hoxe, integramente redactado en galego, pero cento son castelanfalantes. En cambio, se nos
de escasa in incidencia social dado a súa referimos tan só ás oito cidades nas que se
limitada distribución e o seu carácter editan xornais diarios, os seus habitantes
institucional. Nos últimos 25 anos, o emprego decláranse maioritariamente bilingües,
do galego na prensa foi medrando, mais moi atopando máis castelanfalantes que
de vagar, unha situación significativamente galegofalantes. Por cidades, destacan en
contraditoria non só co dominio e o uso da primeiro lugar Santiago de Compostela, Lugo
lingua galega por parte dos habitantes da e Ourense, pola súa elevada proporción de
Galiza, senón coa reivindicación social latente galegofalantes (entre 38 e 44 por cento) e
(mais demostrada por varios estudos e reducido número de monolingües en castelán
pesquisas) dunha maior presenza da lingua (11 e 14 por cento). Nun nível intermedio
propia de Galiza na prensa do país. atopamos a a Vilagarcía de Arousa, cunha
Para a realización deste estudo, levouse maioría de bilingües (44,5%), pero case a
a cabo un baleirado dos doce xornais galegos mesma cifra de galegofalantes (36,8%); e a
de información xeral durante seis meses Pontevedra, cuxos habitantes divídense
(xaneiro a xuño de 2003), mediante a escolla practicamente en tres terzos segundo a súa
dunha mostra de 22 días, cun intervalo de lingua de uso cotián, (aínda que se inclinan
oito xornadas entre cada unha, para recoller lixeiramente en favor do galego). As outras
como mínimo tres exemplos de cada día da tres cidades (Vigo, A Coruña e Ferrol)
semana. Ademais, realizáronse entrevistas aos caracterízanse polo seu bilingüísmo (arredor
responsábeis de todos os medios escritos do 55% dos seus habitantes), cunha maior
estudados, así como aos dun grupo dunhas proporción de cidadáns que falan en castelán
trinta emisoras galegas de radio e TV. (entre o 25 e o 30 por cento)
134 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Polo que atinxe aos contidos propios do xornais é de 11,56%, unha de cada dez
xornal, á superfice redaccional, o que máis páxinas. Se non temos en conta a Galicia
emprega a lingua propia de Galiza é o Diario Hoxe a media baixa até o 10,44%, xa que
de Arousa, co 6,17%, seguido moi de cerca este xornal presenta unha proporción do
polo Diario de Pontevedra co 6,02%. Os 45,1%, moi por riba do resto. Os medios que
outros xornais que pasan por riba da media teñen unha maior proporción de publicidade
(3,69%) son El Correo Gallego co 3,73%, en galego son o Diario de Arousa (15,32%),
Diario de Ferrol co 4,39% e La Región co El Correo Gallego (14,76%), Diario de
4,45%. Pola contra, os xornais que menor Pontevedra (12,62%) e La Región (12,29%).
espazo lle dedican á redacción en galego son El Ideal Gallego é o xornal que publica
o Faro de Vigo (1,9%), El Ideal Gallego menos publicidade en galego, tan só o 4,45%
(2,2%) e La Opinión (2,23%). El Progreso do total e a seguir atopamos o Diario de
de Lugo, Atlántico Diario e La Voz de Galicia Ferrol, co 7,69% e o Atlántico Diario, co
están por riba do 3% pero sen chegar á media. 9,6%. Os outros dous xornais por debaixo
A media de superficie de publicidade en da media son El Progreso e Faro de Vigo,
galego sobre o total de publicidade dos doce con algo máis do 10%.
% de redacción % de publicidade
en galego sobre o en galego sobre o
Xornal
total de superficie total de superficie
redaccional do xornal publicitaria do xornal
La Voz de Galicia 3,55 11,17
Faro de Vigo 1,9 10,25
El Correo Gallego 3,73 14,76
La Región 4,45 12,29
El Progreso 3,17 10,06
La Opinión 2,23 11,27
Diario de Pontevedra 6,02 12,62
El Ideal Gallego 2,2 4,45
Diario de Ferrol 4,39 7,69
Diario de Arousa 6,17 15,32
Atlántico Diario 3,07 9,6
Galicia Hoxe 100 45,1
Media sen GH 3,69 10,44
Media con GH 10,53 11,56
Visualmente, os doce xornais diarios das que case catro (3,76) están en galego
de Galiza publican cada día máis de 855 e o resto, máis de 69 (69,15), edítanse en
páxinas (exceptuando suplementos), das castelán. Imprime case 16 páxinas de
que unhas 92 (91,95) están en lingua publicidade (15,76) e máis de 57 (57,15)
galega. Non obstante, desas case cen de información. Dentro desta superficie
páxinas, máis da metade (50,63) redaccional, dúas páxinas están en galego
corresponden a Galicia Hoxe e pouco máis (2,11) e 55 (55,04) en castelán. E en canto
de 41 aos outros once xornais. Sen ter en á publicidade, case dúas páxinas son en
conta ao Galicia Hoxe, o xornal medio galego (1,64) e as restantes 14 (14,11)
galego publica cada día 73 páxinas (72,9), publícanse en castelán.
136 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Proporción de galego en cada día da crónica...), que ocupan as dúas terceiras partes
semana da superficie total (65,85%). A gran distancia
se atopan os artigos de opinión, que acadan
A proporción de galego publicada polos o quince por cento dos módulos (15,39%).
xornais cada día da semana mantén un grande Son menos habituais as informacións de
equilibrio de luns a venres, roldando o catro servizo en galego (sete por cento da
por cento (entre o 3,83 e o 4,55%), para subir superficie) e as entrevistas, que representan
lixeiramente os sábados, nos que acada o seis de cada cen módulos
cinco por cento e dispararse os domingos, Nas noticias publicadas en galego
nos que supera o sete. O último día da semana predomina a temática “social” (case tres de
desequilibra de tal forma a tendencia, que cada dez), agrupación moi heteroxénea que
eleva a media semanal até o 5,15, deixando aglutina dende novas do corazón, sucesos,
os restantes días por debaixo desa cifra medio ambiente ou saúde. Case cos mesmos
(Táboa 4). módulos atopamos as informacións de tipo
A proporción de textos en galego sobre cultural, que representan máis de unha de
a superficie redaccional total do xornal segue cada catro (27,56%). A outra gran temática
unha dinámica moi semellante á xa explicada é a política, que suma máis do vinte por cento
sobre a superficie total publicada na nosa dos módulos (22,12%) e se converte no único
lingua e mesmo se acentúan algúns dos seus espazo de información “dura” no que o galego
riscos. Máximo equilibrio, pois, de luns a ten unha presenza algo significativa (aínda
sábado (este día, referíndonos aos datos totais, que a maior parte corresponde a temas de
destacábase un tanto co respecto aos demais ámbito local ou galego); a economía non pasa
gracias á publicidade), superando por pouco do catro por cento e apenas se atopan dezasete
o tres por cento. E gran diferenza en relación pezas de información marítima. Si acadan
ao domingo, que cun 6,07% de galego certa importancia, en cambio, as noticias de
practicamente duplica os datos das demais comunicación, próximas ao oito por cento
xornadas. (7,77%), gracias sobre todo á información
En canto á publicidade en galego, a sobre os programas e actividades da CRTVG
distribución é máis complexa. O primeiro que (Compañía de Radio Televisión de Galicia)
se advirte é unha importante diferenza entre Figura 2.
a fin de semana e os demais días. Sábados Dous ámbitos sobresaen por riba dos
(sobre todo) e domingos exceden con folgura demais: o local e o galego, pois entre os dous
o dez e medio por cento de publicidade en suman máis de tres de cada catro módulos
galego sobre a superficie publicitaria total. publicados en galego.‘A información sobre
Mentres, os restantes días con dificuldade se Galiza rolda o 43% da superficie total e a
achegan ao nove por cento (martes e local supera o 32%. Entre os demais ámbitos,
mércores) ou mesmo baixan do oito (venres). ningún chega ao dez por cento e só o
Por último, hai que salientar a baixa comarcal e o internacional acada cifras
porcentaxe que rexistran os luns, próxima ao significativas, moi superiores ás dos ámbitos
seis por cento. español e provincial (Figura 3.
As seccións nas que os xornais publican
Tipoloxía dos contidos inseridos maior cantidade de contidos en galego son
Local, Cultura, Opinión e Galiza, que suman
O galego, na redacción, é usado sobre entre as catro máis dun 55 por cento dos
todo no humor (16,38%), algo menos nas contidos publicados en galego. Xa por
cartas (11,69%), artigos de opinión (10,81%) debaixo do dez por cento, outros espazos dos
e entrevistas (9,65%) e moi escasamente nos xornais onde é menos difícil atopar
restantes xéneros informativos (3,04%) e nas informacións en galego son Comarcas e
informacións de servizo (2,35%) Táboa 5. Sociedade, ambas as dúas con máis dun oito
A superficie redaccional publicada en por cento cada unha. A moita distancia, con
lingua galega, con todo, corresponde en maior porcentaxes moi baixas, atopamos as distintas
medida a pezas informativas (sen facer seccións de servizos (axendas, guías, grellas
posteriores delimitacións: noticia, reportaxe, de programación televisiva...), que acadan o
JORNALISMO 137
LU MA ME XO VE SÁ DO MEDIA
MEDIA (sen
computar o 3,83 4,37 4,44 4,55 3,92 5 7,18 5,15
Galicia Hoxe)
sete por cento, a sección de comunicación, castelán. Isto representa que máis de tres
con especial protagonismo para a CRTVG, cuartas partes (78,34%) da publicidade do
e as contraportadas dos xornais, xa por consistorio herculino están en castelán e o
debaixo do cinco por cento. Pola contra, 21,66% en galego.
aquelas seccións nas que é moi complicado Por último, están as tres Universidades
atopar a lingua galega son Mundo (0,53%), galegas que publicaron no período analizado
Economía (1,87%), Deportes (1,84%), as un total de 276 módulos de publicidade en
portadas (0,09%) e a sección de España, na galego. Neste apartado está á cabeza a
que, en todas as mostras do noso estudio, Universidade de Vigo, con 130 módulos, case
non demos con ningún módulo en lingua a metade (o 47,10%) do publicado polas
galega. Universidades, despois está a de Santiago de
Compostela, que publica 80 módulos (o
Publicidade 28,99%) e por último a Universidade da
Coruña, con 66 módulos (o 23,91%). A
Case a metade das insercións publicitarias Universidade coruñesa publicou tamén 24
en galego (47%) teñen como orixe algunha módulos en castelán, o que equivale a unha
administración pública, nomeadamente a cuarta parte da súa publicidade na prensa
Xunta de Galicia ou os Concellos. Polo súa galega (26,66%).
banda, as Empresas privadas contratan ao Dentro das Empresas privadas as que máis
redor de dous de cada dez módulos publican son as dúas principais caixas de
publicitarios en galego (20,40%). Séguenlles aforros, Caixa Galicia e Caixanova, e máis
as asociacións e as fundacións, cun 16,63%, os centros comerciais, como Área Central
os partidos políticos (sete por cento) e as (Santiago), o Odeón (Narón) ou o Centro
autopromocións dos xornais, que rozan o seis Comercial A Barca (Pontevedra). Caixa
por cento (5,9%). As necrolóxicas e outros Galicia publica un total de 666 módulos en
anuncios contratados por particulares (como galego, que equivale ao 17,68% do publicado
os clasificados) non chegan ao tres por cento polas empresas privadas, mentres que
(Figura 4). Caixanova queda no 14,38%.
A Xunta publica máis de catro de cada A lingua galega é usada en maior medida
dez módulos de publicidade con finanzamento na publicidade nas autopromocións, máis do
público, os Concellos case o 25%, a TVG vinte por cento e, escasamente, nas
(Televisión de Galicia) o 16% e a porcentaxe necrolóxicas. Hai que salientar que a
restante repártese entre as universidades, as proporción (22,2%) duplica á existente para
deputacións provinciais e outros organismos toda a superficie publicitaria. O xornal que
públicos. A Xunta de Galicia publica 3260 máis emprega o galego como ferramenta para
módulos en galego e 267 módulos en castelán, a súa propia promoción (aínda que despois
o que representa case o dez por cento de toda o uso que faga da lingua á hora de informar
a publicidade inserida pola Xunta na prensa sexa testemuñal) é La Voz de Galicia, que
galega (8,19%). usa o galego en máis da metede das súas
En canto aos Concellos, o que máis autopromocións (52,34%).
publica é o de Vigo, con 412 módulos en El Progreso achégase ao cincuenta por
galego (case o vinte por cento -17,44%-, de cento (46,34%) e o Diario de Pontevedra
toda a publicidade contratada polos concellos rolda o corenta (39,06%). Faro de Vigo, La
galegos). Séguelle o concello de Santiago de Opinión, Diario de Ferrol e Atlántico Diario
Compostela con 270 módulos (o 11,43%), apenas usan o galego para autopromocionarse
o concello de Pontevedra con 217 módulos (Figura 5).
(o 9,18%), o de Ferrol, con 178 módulos, A sección onde máis publicidade en
e o de Lugo, con 41 módulos. Estas catro galego se edita é a de Local con máis de
cidades contratan toda a súa publicidade en dous de cada dez módulos (22,03%) da
galego. Non fan así nin o Concello de superficie publicitaria total en galego. Tamén
Ourense, con 73 módulos en galego e 10 en é frecuente a inserción de publicidade en
castelán, nin sobre todo o da Coruña, que galego nas seccións de Comarcas, co doce
publicou 60 módulos en galego e 217 en por cento (12,06%), Galiza con case dez
JORNALISMO 139
(9,79%) e Servicios, co 7,53%. Fóra das que reúnen máis do dezasete por cento do
seccións habituais, son particularmente total (17,26%). Pola contra, hai seccións nas
elevadas as proporcións de publicidade en que rara vez se insire publicidade en galego,
galego inseridas nos chamados “especiais”, como España, Mundo, Sociedade ou as
superior ao cinco por cento e, sobre todo, portadas e contraportadas, cada unha delas
nas páxinas marcadas como “publicidade”, por debaixo do dous por cento.
7. Estudos precedentes: comparación6
Nos últimos trece anos o galego aumentou informacións que se publicaban en galego,
lixeiramente a súa presenza na prensa escrita, unha porcentaxe que só se incrementaba
en case un punto porcentual, pasando do 4,12 significativamente entre os maiores de 55
ao 5,11, se ben a subida é maior se anos (47%) e de 65 (39%). De igual xeito,
comparamos o dato máis recente co de 1993, máis do oitenta por cento dos enquisados
que baixaba até o 3,02 por cento. Por xornais, aseguraba ler as informacións que se
soben a maioría, nomeadamente La Región, publicaban en galego nos xornais. Outra das
El Progreso e Diario de Pontevedra, que grandes conclusión que se podían tirar do
case dobran os seus datos. Pola súa banda, estudo era unha reivindicación xeral a prol
La Voz de Galicia e o Faro de Vigo soben dunha maior presenza do galego na prensa.
menos que a media, mentres que El Ideal Así, máis de dous terzos (70%) consideraban
Gallego, o Atlántico Diario e, sobre todo, que había “pouca” ou “moi pouca”
El Correo Gallego, baixan con respecto a información en galego na prensa do país,
1990. fronte a un 24 por cento que consideraba
Redacción e publicidade en galego seguen “suficiente” a presenza da nosa lingua e a
tendencias semellantes nas tres medicións: un anecdótico 3,3% que consideraba que se
baixan entre 1990 e 1993 e soben, acadando publicaba “moito” ou “demasiado” en galego.
o seu máximo, no 2003. Case tres de cada dez galegos (26,5%)
O ascenso é maior na redacción, se consideraban que os xornais do país deberían
tomamos como referencia o ano 1990, en ser redactados integramente en galego ou
cambio, se comparamos os datos do noso cunha maioría de espazos na nosa lingua,
estudo cos de 1993, crece máis a publicidade. fronte a unha porcentaxe lixeiramente
E é que as cifras de 1993 amosaban unha superior (31,3%) que avogaba pola situación
gran desproporción en favor da superficie actual (monolingüísmo castelán ou, como
redaccional en galego (aproximábase a dous pouco, predominio) e unha maioría de case
terzos de todo o publicado no noso idioma), o corenta por cento (38%) que apostaba por
mentres que en 1990 e 2003 redacción e unha igualdade (50-50), en todo caso moi
publicidade iguálanse bastante. afastada da actual situación. Por grupos de
idade, os máis novos afirmaban preferir unha
Opinión dos lectores de prensa prensa maioritariamente en galego (48,1%,
os menores de 25 anos, e 40,9%, os menores
¿E que opinan os lectores dos xornais? de 35), as xeracións maduras defendían a
O estudo A información en galego incluía igualdade entre as dúas linguas (aínda que
unha enquisa realizada a unha mostraxe de cunha maior preferencia cara ao castelán que
400 lectores de prensa diaria de toda Galiza. cara ao galego) e os maiores de 55 anos
Menos de tres de cada dez (28,2%) afirmaban defendían o mantemento da actual
ter problemas para comprender as distribución lingüística.
JORNALISMO 141
Mundo) Esta selección se justifica porque son protagonistas los medios pues en más de la
los tres periódicos nacionales de información mitad de los días (62%) los medios cubren
general de mayor tirada y representan informaciones sobre sí mismos y sólo en el
tendencias comercialmente enfrentadas dentro 38% de los ejemplares no contenían esos
del panorama español. De estos diarios se relatos sobre los medios.
analizan las secciones de sociedad, Se cuestiona el gran protagonismo que
comunicación, cultura y espectáculos porque asumen los medios en las páginas de los
se considera que son esas secciones en las diarios y más cuando se advierte que es
que con más frecuencia los diarios informan frecuente que los ejemplares en los que se
sobre sí mismos4. contabiliza autorreferencia se encuentran
Los años de estudio son el año 2001 y varios relatos sobre medios. De hecho los
2002. Se realiza una selección aleatoria de noventa y ocho ejemplares que contenían este
cincuenta y tres días. Y por lo tanto se revisan tipo de relatos generaron casi doscientas
en total 159 ejemplares de diarios. En esos noticias sobre medios.
ejemplares se encuentran 197 relatos en los Se aprecia que el protagonismo que
que los tres diarios o medios de los grupos asumen los medios en las páginas de los
a los que pertenecen son protagonistas. diarios no es siempre el mismo. De los tres
diario objeto de estudio es El Mundo (88%)
Resultados: La cobertura periodística de el que más relatos pública sobre medios, ABC
los medios. (34%) el que menos, situándose en este
aspecto El País (64%) en una posición
El protagonismo de los medios en los intermedia.
medios Se comprueba que es más frecuente que
los diarios hagan referencia a medios que
Se plantea determinar, en primer lugar, pertenecen a su grupo que a los medios que
cual es la presencia en prensa de los relatos pertenecen al grupo de la competencia.
que protagonizan los medios concretamente Cuando ABC, El País y El Mundo deciden
en el periodo 2001-2002. Se puede suponer escribir sobre algún asunto mediático
que los medios, en cuanto a actores sociales, normalmente son ellos o medios de su órbita
pueden ser protagonistas de las noticias con los protagonistas de la noticia. En el 85%
total pertinencia. Pero, teniendo en cuenta que de los relatos analizados los protagonistas son
los actores sociales son muchos y que los el propio diario y medios de la órbita del
principales agentes, protagonistas de la grupo al que pertenece el diario que genera
actualidad, no son presumiblemente los que la información (Gráfico I). Tal cantidad exige
tienen la misión de contarla; es relevante el que se haga un análisis más profundo de estas
número de noticias de las que son informaciones.
JORNALISMO 145
Este análisis de los relatos en los que los en las que se regala o se ofrecen a un precio
diarios cubren informaciones sobre medios inferir junto con el periódico productos de
que están bajo el mismo paraguas corporativo diversa naturaleza como vídeos, DVD, libros,
concluye que estos textos se distribuyen de coleccionables, láminas…, se dan a conocer
la siguiente manera: En un 48% el propio no sólo a través de campañas de publicidad
diario o su empresa editora son los sino también elaborando informaciones. El
protagonistas. Es por lo tanto el periódico 17% de los relatos analizados informan al
quién produce y distribuye la información y lector sobre las promociones que el diario
a la vez actúa en los hechos relatados. En tiene en marcha. Se encuentran dos tipos
un 35% el diario se refiere a los medios de distintos de relatos en lo referente a informar
la órbita de su grupo mediático. Y en un 17% al lector sobre promociones. Por un lado
comparte el protagonismo el propio periódico relatos en los que se da a conocer en qué
con medios de su órbita o grupo. Aunque consiste la promoción, cómo se puede
a este respecto cabe advertir que también adquirir, cuánto tiempo va a durar. Y otros
existen diferencias entre diarios. Pues es El relatos son de seguimiento de la promoción.
País el que más se refiere a medios de su Si se considera que “la promoción comprende
órbita. Ello puede obedecer a que Prisa, el el conjunto de las actividades orientadas a
grupo al que pertenece El País, es el de comunicar a la clientela real o potencial las
mayores dimensiones y más empresas filiales características de un bien o de un servicio,
tiene y puede utilizar este tipo de relatos para con la intención de predisponer a favor de
dar a conocer o potenciar medios o productos ese producto o servicio, o bien de mover
del grupo. directamente a su compra o a su uso”5 es
correcto y acertado que para promocionar sus
Temática productos los periódicos inserten publicidad
en las páginas de sus diarios con el objetivo
Otro aspecto relevante de este trabajo es de persuadir, pero que se promocionen en
determinar qué tipo de noticias son las que la superficie redaccional no está justificado
suelen protagonizar los medios, en definitiva, ni ética ni profesionalmente. En este caso
qué se publica sobre los medios porque este estamos ante informaciones en las que el
análisis determinará hasta qué punto es medio se convierte interesadamente en
pertinente desde el punto de vista del interés protagonista de la noticia.
periodístico la selección de esos asuntos para Y es que se presupone que los textos
constituir noticias. periodísticos tienen como primer objetivo
Aunque la temática de las informaciones informarnos de lo que sucede en el mundo,
que protagonizan los medios es muy variada darnos información de actualidad. Sin
se aprecia que hay temas que destacan por embargo en esos textos, cuando el tema
encima de otros. La mayor parte de las central es dar a conocer un producto o una
noticias que protagonizan los medios tienen promoción que llevan a cabo los medios,
como temas más recurrentes, entre otros y tienen como objetivo principal predisponernos
por este orden: promociones, presentación de a favor de un producto o servicio o incitarnos
libros, encuentros y conferencias, contenido hacia la compra, es decir, dar prioridad a la
de suplementos, medición y difusión de persuasión.
audiencias. Lo mismo sucede en los relatos en los
El tema que más relatos sobre medios que los diarios dan a conocer cuál va a ser
genera es el de las promociones. Las el contenido de los suplementos o dominicales
promociones en prensa se han convertido en que se entregan con el periódico. El 9% de
algo frecuente, la empresa periodística busca las noticias analizadas perseguía este objetivo.
con ellas no sólo captar nuevos clientes sino Otro tema muy recurrente en este tipo
también evitar que los lectores habituales de relatos es el de la presentación de libros
abandonen el diario y acudan a otro rotativo en los que o bien participan las firmas del
de la competencia. Muchas veces estas periódico o bien son productos de las
promociones que llevan a cabo los diarios compañías afiliadas.
146 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Bibliografía _______________________________
1
Universidad Rey Juan Carlos / Facultad de
Aznar H., Ética y periodismo. Códigos, Ciencias de la Comunicación. Madrid (España)
2
estatutos y otros documentos de El País, Libro de Estilo, Madrid, Ediciones
autorregulación. Barcelona, Paidós, 1999. El País, 2002, p.23.
3
El País, Libro de Estilo, Madrid, Martínez de Sousa, Libro de estilo Vocento,
Ediciones El País, 2002. Gijón, Trea, 2003, p 43.
4
Se excluye la sección de televisión porque
Iglesias F., Marketing Periodístico.
en ella se considera justificado el contenido
Barcelona, Ariel Comunicación. 2001.
autorreferencial de las informaciones que se
Kovach, B. y Rosentiel, T., Los elementos
publican. Son normalmente relatos que dan a
del periodismo. Madrid, Ediciones El País, 2003. conocer la programación más destacada, haciendo
Krippendorff, K., Metodología del especial referencia a los estrenos.
análisis de contenido. Teoría y práctica. 5
Iglesias, F. Marketing Periodístico,
Barcelona, Paidós, 1990. Barcelona, Ariel, 200, p. 171.
Martínez de Sousa, J., Libro de Estilo 6
Vila-Sanjuán, Pasando página. Autores y
Vocento, Gijón, Trea, 2003. editores en la España democrática. Barcelona,
Reig R., La comunicación en su contexto. Destino, 2003, p 316.
Una visión critica desde el Periodismo. 7
Kovach, B y Rosentiel, T, Los elementos
Sevilla, Centro Andaluz del Libro, 2002. del periodismo. Madrid, Ediciones El País, 2003,
Tuchmann, G., La producción de la p. 135.
8
noticia, Barcelona, Gustavo Gili, 1983. El 20% no supera las 200 palabras y el 30%
Vila-Sanjuán S., Pasando página. tiene entre 201 y 400 palabras.
9
Autores y editores en la España democrática. Tuchmann, G. La producción de la noticia,
Barcelona Destino, 2003. Barcelona, Gustavo Gili, 1983, p 17.
JORNALISMO 149
ideologizada y politizada. Son también los destrucción y del tiempo, porque hace
años de pujanza del folletín en la prensa, de volver el que pasó y resucita el alma
las novelas por entregas como clara muestra de las edades muertas; es género
primigenia de la interrelación entre literario la novela, que narra lo que
periodismo y literatura. Es muy extensa la nadie ha visto, de suerte que a todos
nómina de escritores dedicados al periodismo, nos parece verlo; es género literario
como Benito Pérez Galdós (cronista de su la crítica, que pesa y mide la belleza
época, tanto en los diarios escritos como en y tasa el valor y contrasta la verdad
su obra narrativa) como Pedro Antonio y las mentiras artísticas; es género
Alarcón (director de El Látigo) o Leopoldo literario la dramática, que crea de la
Alas Clarín, una de las puntas de lanza del nada hombres mejores que los vivos
periodismo de tono didáctico. Sería un y hechos más verosímiles que los
sacrilegio no mentar a Larra, testigo crítico reales; no ha de serlo el periodismo,
de su tiempo y genio que consagró el artículo que lo es todo en una pieza: arenga
periodístico como género literario. Otros escrita, historia que va haciéndose,
escritores-periodistas españoles destacados efemérides instantánea, crítica de lo
fueron Valera, Unamuno, Azorín, Baroja o actual y, por turno pacífico, poesía
Cela, entre otros muchos. idílica cuando se escribe en la
El siglo XX es, sin duda, el del auge del abastada mesa del poder y novela
ensayismo en la prensa. Ortega y Gasset fue espantable cuando se escribe en la
un activo colaborador de periódicos y en mesa vacía de la oposición?”5
periódicos. La España invertebrada es una
recolección de artículos publicados con No fueron pocos los escritores que
anterioridad en prensa, y La rebelión de las pusieron en duda la condición del periodismo
masas fue apareciendo por entregas en el de género independiente como por ejemplo
diario El Sol. Eugenio D´Ors también recurrió Juan Valera, para quien lo que distingue al
a diarios y revistas para difundir su obra y periodista de cualquier otro escritor poco o
su pensamiento. nada tendría que ver con la literatura. El
propio Azorín, que tantas páginas llenó en
Polêmica entre periodismo y literatura multitud de diarios negaba tajantemente
cualquier relación, y se manifestaba además
Polémica esta que se antoja sin solución totalmente contrario a la existencia de centros
evidente o satisfactoria, que convenza a todas especializados en la formación de periodistas.
las partes implicadas. La susodicha polémica La Real Academia Española terminaría
entre periodismo y literatura, entre sus zanjando de un modo contundente e
semejanzas evidentes y sus diferencias inequívoco esa polémica con la incorporación
patentes, se planteó en España en el año 1845 a uno de sus sillones inmortales del periodista
cuando Joaquín Rodríguez Pacheco se refirió Mariano de Cavia.
al periodismo como género independiente, en
su discurso de recepción en la Real Academia. Los teóricos y el asno de Buridán
Cincuenta años más tarde, el escritor-
periodista Eugenio Sellés, también en su Sin que con ello trate de menoscabar
discurso de ingreso en la docta casa afirmaba (nada más lejos de la intención del autor de
la condición del periodismo como género este trabajo) las teorías del periodismo y el
literario independiente: trabajo infatigable de los teóricos de la
comunicación, sus escritos, hipótesis y
“Es género literario la oratoria, que creencias sobre las relaciones entre el
prende los espíritus con la palabra y periodismo y la literatura se asemejan
remueve los pueblos con la voz; es peligrosamente a la parábola del asno de
género literario la poesía, que aloja Buridán 6. La mayoría de estos teóricos
la lengua de los ángeles en la boca coinciden en considerar el significado del
de los hombres; es género literario la periodismo, strictu sensu, como “información
historia, enemiga triunfante de la de actualidad”.
JORNALISMO 151
demuestra que se trata de dos producciones objetividad ritual; por ejemplo, en vez de
narrativas cuya fuerza expresiva e impacto decir lo pobres que son el coronel y su esposa,
es mucho mayor merced al empleo de las se limita a describirlo. Con eso huye de la
técnicas narrativas de la literatura y del ambigüedad propia de las obras estrictamente
cumplimiento de los requisitos básicos de literarias y ficcionales. Es una narración
todo texto periodístico, respectivamente. construida con frases cortas y sencillas, con
Relato de un náufrago se trata de un una genial economía de recursos. Todas estas
reportaje aparecido originariamente en 14 características son propias del lenguaje
entregas en el diario El Espectador. Es un periodístico 15. Profundiza en los hechos
perfecto ejemplo de reportaje novelado, históricos de la realidad objetiva a partir de
deudor en parte del nuevo periodismo elementos ficticios, con lo que se consigue
norteamericano y de piezas como Los una visión mejor y más completa sobre la
ejércitos de la noche, de Norman Mailer o época de la violencia que con miles de
A sangre fría, de Truman Capote. Cumple páginas del periodismo decimonónico. Por
de hecho muchas de las características de los todo ello convenimos en calificar a esta obra
textos nuevoperiodísticos, como la narración como una ficción de base realista.
en primera persona, la realización de una gran La interrelación entre periodismo y
tarea documental o el detallismo, que otorga literatura, entre realidad y ficción incluso, se
una gran verosimilitud a la narración. Se trata da en estas dos joyas narrativas. Si a Relato
de un relato que toma los hechos sucedidos de un náufrago le quitáramos el nombre del
en la realidad y los engarza de una manera marinero Luis Alejandro Velasco, toda la
artística y atractiva. Usa técnicas narrativas narración semejaría más un cuento marino
como el clímax y momentos de tensión y que un reportaje; por el contrario si el inefable
suspense al final de cada entrega diaria. Se coronel protagonista de El coronel no tiene
produce una interrelación entre periodismo quien le escriba tuviera nombre, nos daría
y literatura. De tal modo que si en el momento la impresión de ser un personaje real.
de su publicación nadie dudaba de que se
trataba del más auténtico periodismo, esta Conclusiones
obra (como A sangre fría, por ejemplo) ha
logrado trascender al tiempo. En suma, García Sería un pretencioso (y no deseo tal cosa)
Márquez le da una envoltura literaria a unos si creyera que lo aquí expuesto va a zanjar
hechos reales, otorgando así a todas luces de un modo definitivo la consabida polémica
a sus lectores un conocimiento más completo entre periodismo y literatura. El periodismo
de la realidad del naufragio. se desarrolló en su momento gracias a la labor
Por su parte, El coronel no tiene quien que realizaron en las páginas de los diarios
le escriba, obra maestra de la literatura, sería escritores de los más diversos pelajes. En esa
encuadrada por cualquiera (como ya misma época, en el siglo XIX-XX, la prensa
señalamos anteriormente) como una pieza se convirtió en plataforma y escenario de
narrativa ficcional, exclusivamente. El análisis difusión de las creaciones de novelistas,
exhaustivo de la obra nos conduce a la ensayistas o filósofos. Fue entonces cuando
conclusión inequívoca de que se trata de algo se fraguó la mayor interinfluencia entre estos
más que eso: es literatura que es periodismo. dos campos hermanos.
Soy consciente de lo arriesgado de tal Por razones inciertas ha habido quien ha
afirmación, pero El coronel no tiene quien querido diferenciar y separar
le escriba cumple con las características contundentemente al escritor del periodista.
básicas que todos los teóricos del periodismo Dice Aguilera que “quizás por un residual
señalan como básicos para un trabajo sentimiento posesivo el escritor se niega a
periodístico. A lo largo de las menos de cien reconocer que el periodismo se ha
páginas García Márquez despliega un profesionalizado” 16. Es cierto, pero si le
lenguaje conciso y sobrio, dominado por una damos la vuelta a ese argumento también se
preocupación de eficacia, tomada del cumple una verdad cuasi tautológica: quizás
periodismo. Los adjetivos están contados y por un residual sentimiento posesivo, el
además es reseñable que cuida una cierta periodista se niega a reconocer que la
JORNALISMO 155
3
Bibliografía Félix Rebollo Sánchez, Literatura y
periodismo hoy, Madrid, Fragua, 2000, p. 11.
4
Acosta Montoro, Jose, Periodismo y Gaceta fue el primer nombre que se le dio
a los periódicos. Gazzeta es diminutivo de gazza,
literatura, Madrid, Guadarrama, 1973.
que significa urraca, ave vocinglera. Por un
Aguilera, Octavio, La literatura en el proceso de asimilación, los venecianos habrían
Periodismo y otros estudios en torno al denominado así a las hojas impresas con noticias.
mensaje informativo, Madrid, Paraninfo, 5
Cit. en José Acosta Montoro, Periodismo
1992. y literatura, Madrid, Guadarrama, 1973, p. 82.
Ayala, Francisco, La retórica del 6
Buridán fue un filósofo francés, discípulo
periodismo, Madrid, Espasa Calpe, 1985. del nominalista Guillermo de Occam. El asno de
Garcia Márquez, Gabriel, El coronel no Buridán plantea el caso del asno que estando entre
tiene quien le escriba, Barcelona, Bruguera, dos haces de heno, enteramente iguales en bondad,
no se inclinará a ninguno de los dos y morirá
1985. [12ª edición]
de hambre. Los teóricos de la comunicación se
Garcia Márquez, Gabriel, Relato de un hallan en esa coyuntura, entre el periodismo y
náufrago, Barcelona, Tusquets, 1970. la literatura.
Martin Vivaldi, Gonzalo, Géneros 7
Octavio Aguilera, La literatura en el periodismo
Periodísticos, Madrid, Paraninfo, 1993. [3ª y otros estudios en torno a la libertad y el mensaje
edición]. informativo, Madrid, Paraninfo, 1992, p. 18.
8
Nuñez Ladevéze, Luis, El lenguaje de Octavio Aguilera, op. cit., p. 24.
9
los media, Madrid, Pirámide, 1979. Luis Núñez Ladevéze, El lenguaje de los
Rebollo Sánchez, Félix, Literatura y media, Madrid, Pirámide, 1979, p. 267.
10
Octavio Aguilera, op. cit., p. 25.
periodismo hoy, Madrid, Fragua, 2000. 11
Jorge Urrutia, La verdad convenida.
Rivas, Manuel, El periodismo es un Literatura y comunicación, Madrid, Biblioteca
cuento, Madrid, Alfaguara, 1997. Nueva, 1997, p. 112.
Urrutia, Jorge, La verdad convenida. 12
Francisco Ayala, La retórica del periodismo,
Literatura y comunicación, Madrid, Madrid, Espasa Calpe, 1985, p. 54.
Biblioteca Nueva, 1997. 13
Manuel Rivas, El periodismo es un cuento,
Madrid, Alfaguara, 1997, p. 23.
14
Octavio Aguilera, op.cit., p. 25.
15
_______________________________ Vid. Gonzalo Martín Vivaldi, Géneros
1
Universidade de Santiago de Compostela. Periodísticos, Madrid, Paraninfo, 1993, pp. 29-35.
16
2
José Acosta Montoro, Periodismo y Octavio Aguilera, op. cit., p. 22.
17
literatura, Madrid, Guadarrama, 1973, p. 147. Manuel Rivas, op. cit., p. 19.
JORNALISMO 157
mudança foi apenas de forma, de linguagem, transformou-se num espaço social e cultural
que em nada abalou os princípios basilares que permite estabelecer a comunicação entre
do jornalismo. Por mais forte que seja, uma distintos tipos de rede. Constitui a base
inovação tecnológica não leva consigo material da vida e das formas de relação com
mecanicamente uma transformação profunda a produção, o trabalho, a educação, a política,
do conteúdo das atividades. a ciência, a informação e a comunicação. É
Esse argumento pode ser considerado o coração do novo paradigma sócio-técnico
parcialmente válido. No entanto, necessário de acordo com Castells (2001: 15):
considerar para melhor compreensão que a
essncia da natureza das tecnologias da “Se a tecnologia da informação é o
informação de hoje, especialmente a Internet, equivalente histórico do que foi a
difere radicalmente de outras do passado, e eletricidade na era industrial, em nossa
sua influência pode carregar transformações era poderíamos comparar a Internet
de valores e conceitos. Para o jornalismo, com a rede elétrica e o motor elétrico,
a adoção dessas tecnologias da informação dado sua capacidade para distribuir o
sinaliza mudanças que não ficam apenas no poder da informação por todos os
nível da troca de roupagem, sendo bem mais âmbitos da atividade humana”.
profundas do que muitos costumam analisar,
podendo até mesmo solapar valores Como epicentro do sistema sócio-técnico
fundadores dessa práxis social. emergente, a Internet é um ambiente e sistema
de informação e comunicação (Palácios, 2000
Internet como fator de mudança e Lemos, 2002). Por natureza é multifacetada,
podendo ser um ambiente onde convivem e
A essência das mutações na combinam entre si várias formas. Isso
contemporaneidade tem relação com a significa que pode funcionar num ambiente
natureza diferenciada das tecnologias da compartilhado simultaneamente como
informação e da comunicação em comparação suporte, meio de comunicação que se presta
a outras do passado. Distinguem-se por à expressão e, muitas vezes, como sistema
ampliarem a capacidade intelectual do tecnológico ou ambiente de informação e de
homem, pois permitem transformar a comunicação. A definição de função depende
informação. O que mudou não foi o tipo de em muito do uso que dela se faz em
atividade em que a humanidade está determinado contexto, circunstâncias,
envolvida desde a era industrial, mas sua objetivos, finalidade e aplicação social seja
capacidade tecnológica de utilizar, como força por interesse, atividade específica ou mesmo
produtiva direta, aquilo que caracteriza a por fruição.
singularidade do homem: a capacidade Como criação do homem, entidade real
superior de processar símbolos (Castells, e material da existência, essa tecnologia
1999:78). integra-se a conjuntos culturais existentes, e,
De fato, a revolução tecnológica de hoje portanto, está sujeita aos usos que dela se
muda a experiência de mundo, assim como fazem. Como espaço simbólico de interação
aconteceu na Revolução Industrial, quando e de cognição, gera novas formas e
surgiram novas relações técnicas de produção, possibilidades de comunicação, de trocas
relações sociais e de poder baseadas na significativas e sociabilidade que constituem
propriedade privada dos meios de produção em si uma cultura específica.4
e no tipo de superestruturas características Por tal condição, Castells (2001:51)
do capitalismo. “A mudança é tão cultural acredita que a Internet carrega em si os
e imaginativa quanto tecnológica e valores e a cultura de seus criadores. A cultura
econômica”, segundo Johnson (2001:35) da Internet é caracterizada por uma estrutura
Neste contexto, a Internet adquiriu formada por quatro estratos superpostos: a
importância estratégica no modelo social cultura tecnomeritocrática, a cultura hacker,
forjado pela revolução das tecnologias da a cultura comunitária virtual e a cultura
informação e da comunicação. Mais do que empreendedora. Juntos esses estratos
um protocolo informativo, a Internet contribuíram para que a Internet fosse
160 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
construída e sustentada com base em valores Na pesquisa realizada junto a duas das
tais como o de liberdade individual, de principais e mais tradicionais emissoras
pensamento independente, da idéia de brasileiras dedicadas ao jornalismo – Jovem
cooperação entre usuários, de comunicação Pan AM e Bandeirantes AM – constatou-se
horizontal, conexão interativa, informal e que a Internet hoje parte da realidade do
cooperativa entre usuários. modo de trabalhar do jornalista de rádio e
está integrado às suas rotinas produtivas.
Internet e as rotinas produtivas do Exerce influência em todas as fases das
radiojornalismo rotinas produtivas, desde a recolha da
informação, seleção, redação, edição e
Como instrumento básico do jornalismo, veiculação da notícia. Ao fazer parte da rede
a Internet oferece multiplicidade de conteúdos informatizada local das emissoras, a Internet
armazenada em computadores remotos e constitui o meio ambiente no qual os
ferramentas que permitem acompanhamento jornalistas se movem e exercem a tarefa de
interativo de qualquer área temática por meio escolher entre centenas de acontecimentos
de grupos de discussão, listas de correio aqueles que merecem o status de notcia.
eletrônico, entre outros. O processo de Nesse ambiente, a Internet funciona como
pesquisa e recolha de informações na rede canal de acesso e contato com múltiplas
apresenta inúmeras vantagens para a produção fontes, agências de notícias e jornais online.
da notícia. Permite aos jornalistas se Por essa condição, o ambiente da redação
inteirarem rapidamente sobre o que já foi hoje é sobre-informado. Há mais informação
escrito sobre determinado assunto; torna os disponível para ser processada se comparado
contatos com as fontes interativos; possibilita aos tempos em que a emissora de rdio
a ampliação e seleção de fontes de assinava, no máximo, três agências de
informação; agiliza a busca de dados, notícias, e recebia material informativo por
pesquisa e consulta a arquivos públicos, telex, teletipo, fax ou telefone. O acesso a
bibliotecas, órgãos públicos; facilita a coleta fontes sem limites temporais contribui para
de maior quantidade de informação num manter o nível de atualização no fluxo
menor espaço de tempo; além de aumentar informativo contínuo do rádio. A lógica da
o potencial de reportagem à distância e do programação de fluxo contínuo aproxima-se
trabalho fora das redações em locais remotos. da eterna renovação do tempo “intemporal”
Ao integrar a rede informatizada da da Internet (Castells, 1999).
redação, a influência da Internet pode ser O ambiente sobre-informado condiciona
percebida na reorganização de funções, também a postura dos jornalistas frente busca
distribuição de tarefas, fixação de rotinas; no de notícias. Deixam de lado a posição de ficar
processamento de textos, coleta de espera de informação para assumirem uma
informação e recepção; na forma de embalar postura ativa de busca orientada na rede com
o produto, armazenagem, manejo do texto; o intuito de recolher e selecionar notícias.
na relação com as agências de notícias, na Obter material de divulgação na rede acabou
checagem da produção do concorrente; no por converter-se num fim em si mesmo.
modo como possibilita corrigir e se certificar A situação não deixa de representar um
quanto veracidade de uma informação; na acréscimo de stress para os jornalistas de
organização das mesas de trabalho na redação rádio na hora de selecionar o que notícia,
a partir de pontos de conexão com a rede; além de colocá-los diante do problema da
no acesso individual do computador e rede avaliação da veracidade e a credibilidade da
interna de dados; no tráfego e transporte de fonte. Na tentativa de se precaver contra
dados no ambiente da redação. Sob o suporte informação incorreta, acabam por restringir
digital, a Internet trouxe rapidez e o campo de pesquisa a jornais e agências
racionalidade ao fluxo de produção. Sem online oriundos da mídia tradicional pela
dúvida, ajudou a constituir uma estrutura credibilidade que construram ao longo dos
organizativa que garante a efetividade e a anos. Os jornalistas recorrem estratégia de
padronização de rotinas de trabalho. comparação de relatos entre duas ou três
JORNALISMO 161
agências para dali extrair o que consensual. redação do rádio assume os valores-notícia
Neste contexto, consolida-se a prática da das fontes pesquisadas.
verificação endógena, ou seja, dentro dos A função de seleção representa um
limites da rede Internet. O que não deixa de recorte, um filtro. Esse recorte hoje se dá
enfraquecer a disciplina da verificação pela moldura constituída pelo ambiente de
essencial ao jornalismo que pretende ser informação e comunicação da Internet.
objetivo. Resulta, portanto, numa relação de Funciona como moldura, uma vez que
dependência de fontes de informação contribui para o corte e focalização, ou seja,
secundária, que trazem em si um certo grau permite capturar, no espaço digital, a cena,
de distorção involuntária no relato dos um fragmento do tempo dentro da pluralidade
acontecimentos. de acontecimentos disponibilizados.5
Ao contribuir para o corte e focalização
Uma nova percepção dos valores dos acontecimentos que serão transformados
noticia em notícia, a Internet coloca nas mãos dos
jornalistas a possibilidade de obter
A Internet é hoje uma referência essencial rapidamente a informação necessária para
na redação do radiojornalismo para avaliar complementar suas matérias, contribuindo
os acontecimentos quanto atualidade, para contextualização e aprofundamento dos
novidade, interesse e importância. O valor temas abordados. Ao mesmo tempo, esse
de atualidade passou a corresponder ao tempo procedimento traz implícito também a
real, ou seja, o processamento da informação padronização do conteúdo porque é comum
se dá num ambiente onde não há o uso freqüente das mesmas fontes. Todos
diferenciação do tempo. O reflexo disso pode- bebem da mesma fonte na hora de compor
se constatar no aumento do ndice de seu noticiário, reproduzindo o mesmo
atualidade na redação. As fronteiras dos discurso. Muito da tendência à
deadlines tornaram-se mais elásticas. As homogeneização deve-se ao comportamento
decisões sobre o que entra ou não no dos jornalistas de atribuírem maior grau de
noticiário da emissora de rádio são tomadas credibilidade às agências de noticias oriundas
cada vez mais em tempo real. Muitas vezes, da mídia tradicional.
a competência em dar a notícia é medida pela Nesse aspecto, a Internet um instrumento
capacidade de lançá-la o mais rapidamente utilizado na redação para acompanhar e
possível, em primeira mão, de modo a superar supervisionar o trabalho do repórter na rua,
em velocidade o concorrente. de modo que poder ser cobrado a ajustar o
O ritmo da informação com o tempo real enfoque de sua cobertura àquele oferecido
muda a lógica do tempo informativo no rádio pelas agências e jornais online. A pressão pela
para entrar numa era de quase “imediaticidade homogeneização dos conteúdos no rádio
absoluta” (Nogueira, 2003), uma vez que os acentuada porque se pode acompanhar em
ciclos esto cada vez mais curtos. Resulta num tempo real a cobertura do concorrente. A
encurtamento do ciclo da informação no situação leva a questionar se observação e
radiojornalismo que na era analógica já era percepção do repórter no local do
considerado elevado e agora ganha maior acontecimento já não são mais suficientes,
aceleração em função da compressão do sendo necessrio recorrer mediação da
tempo. tecnologia para apreender o real. No limite,
Do mesmo modo, os valores-notícia, pode-se criar uma dependência da tecnologia
interesse e importância passaram a ter como para confirmar o que se viu na rua.
referência os acontecimentos pautados pela O ambiente da Internet acrescenta
Internet no último instante. A frequência e percepção dos jornalistas também a noção de
a repetição com que um determinado liberdade de ação sobre a informação. Quando
acontecimento abordado pelas agências e os despachos das agências aparecem na rede
jornais online sinalizam para os jornalistas como se fosse um produto de livre circulação
a exata medida de sua importância e a que qualquer um pode ter acesso. E quem
necessidade de selecioná-lo. Ao recorrer os utiliza, apropria-se desses textos como
Internet para colher notícias prontas, a sendo seu e não de outro. Segue assim um
162 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
dos valores culturais da Internet: o que est se reencontrar na sua própria esfera. O
na rede não de ninguém. Esse sentimento conhecimento realiza-se, por assim dizer, em
está presente no processo de produção do três tempos: o sujeito sai de si, está fora de
radiojornalismo, onde a informação que jorra si e regressa finalmente a si.
na tela do computador a base para a Segundo Kant (citado por Savater, 1999),
composição de boa parte dos noticiários. conhecimento é uma combinação do que a
A liberdade de ação na busca e realidade traz ao sujeito com as formas da
apropriação da informação traz para o campo sensibilidade e o entendimento desse sujeito.
da produção da notícia a percepção da total Esse conhecimento sobre o real é verdadeiro,
transparência da realidade. Na raiz dessa porém não chega senão até onde permitem
percepção est a crença de que a verdade a as faculdades humanas. Significa dizer que
informação, segundo Philippe Breton (2000): o que se conhece não é a realidade pura, mas
apenas como é o real para o sujeito que o
“Esta noção de transparência é conhece. Portanto, se existem condições a
consubstancial ao culto da priori, isto implica que o sujeito desempenha
informação. Ela é sua tradução um papel ativo no processo do conhecimento,
imediata. Ela tem implicações traz algo para esse conhecimento e não se
práticas e espirituais: ela condiciona limita a receber passivamente o que percebe.
a atividade concreta daqueles que É na relação diária com a Internet que
realizam as técnicas ao mesmo tempo os jornalistas aprendem sobre dessa natureza
em que ela constitui o ideal de um tecnológica, a manusear seus recursos para
mundo luminoso, sem manchas, sem obter informação. Os jornalistas não s
entropia. Nesta nova mística, a aprendem, mas são afetados por ela. Esse
transparência um estado que se conhecimento transcende ao nível operacional
procura alcançar. A transparência de entrar e extrair da rede. Envolve a forma
associada a um ideal de luz, harmonia de construção do conhecimento a partir dessa
e êxtase. Ela dá a impressão de passar experiência diria. Nesse aprendizado acaba
do outro lado do espelho.” por constituir novas formas de percepção do
mundo e do processo comunicativo. Na
É nesse contexto que os valores-notícia sociedade da informação não se imagina mais
adquirem sentido e significado, ou seja, no o aprendizado em cima de saberes estáveis,
conjunto de procedimentos que caracteriza a herdados pela tradição. A forma do saber-
ação do jornalista no campo da produção, fluxo, por natureza caótico e sujeito a
seguindo regras específicas de seu modo de flutuações. São mutações cognitivas
funcionamento. A Internet contribui para igualmente velozes, às vezes pouco
moldar crescentemente as formas como se perceptíveis, que ocorrem no ambiente da
vive e experimenta a produção da notícia. redação jornalística, cujos sinais podem ser
O que mudou foram os horizontes desse evidenciados no modo como os jornalistas
mundo e os paradigmas da sua experiência interagem com a rede.
perceptiva (Fidalgo, 2002). Um componente dessa análise a percepção
No processo de conhecimento, um sujeito que os jornalistas têm dos valores que
e um objeto encontram-se face a face. A presidem as escolhas. Essa percepção
relação que existe entre os dois é o próprio construda, em parte, no profissionalismo, ou
conhecimento. A oposição dos dois termos seja, na cultura profissional. O profis-
não pode ser suprimida. Mas um não está sionalismo traduz um conjunto de
separado do outro. O sujeito só é sujeito em conhecimentos relativos atividade profis-
relação ao objeto, e o objeto em relação ao sional e que tem aceitação pblica. De certo
sujeito. A função do sujeito consiste em modo, o profissionalismo controla o
apreender o objeto; a do objeto em poder comportamento dos jornalistas ao estabelecer
ser apreendido pelo sujeito. O sujeito não padrões e normas de comportamento, e ao
pode captar o objeto sem sair de si (sem se determinar o sistema de reconhecimento
transcender); mas não pode ter consciência profissional (Soloski, 1993:95). Esse conjunto
do que é apreendido, sem entrar em si, sem de conhecimento se traduz numa cultura
JORNALISMO 163
Campos dos Goytacazes, o maior muni- “As luzes vão se propagando rapi-
cípio em densidade geográfica do Estado damente por todo o Brasil, graças ao
do Rio de Janeiro, foi um dos primeiros do benéfico influxo de uma Constituição
Brasil a possuir sua imprensa e isso se deve Liberal. A Vila de Campos possui hoje
a diferentes fatores, sendo o mais importante um periódico, o “Correio Campista”,
o nítido desenvolvimento econômico promo- escrito no sentido nacional, e que
vido pela agroindústria açucareira. No livro aparecerá duas vezes por semana.
“Movimento Literário em Campos” Vimos o primeiro número desta fo-
(Typografia do Jornal do Commércio, de J. lha, que contém alguns artigos muito
Rodrigues & C., Rio de Janeiro, 1924), o bem escritos (...)”
escritor Múcio da Paixão2 assinala que ainda
era a Vila de São Salvador dos Campos dos O escritor (op.cit.), também dramaturgo
Goytacazes, quando aqui se publicou seu e crítico literário contemporâneo, na impren-
jornal – o “Correio Constitucional Campis- sa brasileira, de Artur Azevedo, depois de
ta” -, fundado pelo português Antonio José alinhavar que a partir de 1830 Campos
da Silva Arcos, que saiu do prelo nos fins publicou, até 1924, mais de 500 jornais, “o
de l8303. Sobre o assunto, antes relevando que devia de provar o nosso culto pela
que “a propulsão em favor das letras, em imprensa”, diz que memoráveis são os ser-
Campos, para bem dizer caracterizou-se, ini- viços que a civilização deve ao maravilhoso
cialmente, no campo das actividades jorna- invento de Gutenberg. E enfatiza: “D. João
listas, porque a primeira phase da cultura V, Rei de Portugal, assim, porém, não o
literária entre nós foi exercida no jornal”, entendia, tanto que despótica e violentamen-
descreve: te mandou fechar a primeira typografia que
Antonio da Fonseca fundou, no Rio de
“(...) A typografia em que se impri- Janeiro, em 1747, e na qual se imprimiram
miu essa primeira folha campista, foi algumas obras consideradas, hoje (1906),
trazida da França por um professor curiosos exemplares bibliographicos, crian-
que os ilustres fazendeiros campistas do um grande período de obscuridade no
Manoel Pinto Netto da Cruz (poste- país”.
riormente Barão de Muriaé) e O rei, segundo Paixão (apud Evaristo da
Gregório Francisco de Miranda (de- Veiga), ficou com receio da dinastia dos
pois Barão da Abadia) mandaram resultados que traria aos espíritos a fácil
contratar na Europa, para o fim de vulgarização do pensamento e das idéias. De
ensinarem a língua francesa às suas forma que somente depois da chegada de D.
filhas.” João VI e seu séquito ao Brasil é que foi
fundada uma outra tipografia, trabalho cre-
Quando surgiu o primeiro jornal da pla- ditado a Rodrigo Coutinho, o Conde de
nície, o jornalista Evaristo da Veiga, do Linhares, surgindo, em decorrência, a “Ga-
“Diário Mercantil”, do Rio de Janeiro - zeta do Rio de Janeiro”, iniciando o
naquela época intemerato agitador das mas- “periodismo” nacional.
sas, nos dias sombrios que precederam a Dá para se entender, portanto, porque só
Regência e a quem o Brasil muito deve pelos depois de 22 anos da chegada da Família Real
seus grandiosos serviços, segundo as anota- ao Brasil, fugindo do bloqueio continental
ções de Paixão, (p.11) - fez o seguinte estabelecido na Europa por Napoleão
comentário: Bonaparte, Campos editou o seu primeiro
168 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
dias indeterminados, muitas cópias eram no que estiver ao seu alcance e lhe
tiradas para serem distribuídas. Mais adiante, determina a Lei do seu Regimento,
descreve, por exemplo, a maior barriga da fazendo imprimir pela nova
“imprensa” manuscrita daquele tempo: tipographia por elle estabelecida as
actas, ordens e papeis dos seus tra-
“Graças à gentileza do sr. Barão de balhos municipaes, que vai dar as
Miracema, tivemos em nosso poder providências para lhe serem enviadas
um jornal manuscrito do ano de 1826, a comissão, que em consequencia
com o título “O Espelho Campista” desta proposta, trate sem perda de
o qual dava a notícia de um alvoroço tempo o secretario de enviar ao Pro-
causado por ter Manoel Alves de curador não só extractos das actas do
Jesus, em 1822, a horas noturnas, feito presente anno, como também das
tocar a rebate os sinos da cadeia e contas do anno passado de 1829
das igrejas, os tambores e as cornetas cumprindo-se dessa forma os artigos
dos dois batalhões de milicianos, sob 46 a 62 da Lei de 1º de Outubro de
o falso pretexto dos escravos se te- 1828. Sala da Câmara Municipal, 4
rem revoltado e quererem atacar a vila. de novembro de 1830. a) Andrade,
O jornal referido era redigido por Bettancourt”.
Prudêncio Joaquim da Bessa6”.
Monitor Campista - O fato da cidade
de Campos dos Goytacazes - uma homena-
Feydit (p.397) cita que em sessão da gem tardia aos bravos guerreiros que ha-
Câmara Municipal, de 3 de novembro de bitavam a planície, que se estende da Cadeia
1830, Antonio José da Silva Arcos7 partici- do Mar às lonjuras da Barra do Furado –
pou àquela casa ter publicado na Vila um manter, ainda, o terceiro mais antigo jornal
periódico – “Correio Constitucional” – cujo em circulação ininterrupta do país, abre
prospecto remetia oferecendo o mesmo para perspectivas para se pensar em sua impor-
publicação das ordens e atos oficiais. Às tância social, política e econômica durante
folhas 47 do Livro de Atas daquele ano, acha- os períodos marcados pela Colônia e pelo
se o parecer sobre o assunto: Império do Brasil, percorrendo por toda a
história republicana até os dias atuais, mesmo
“(...) Antonio José da Silva Arcos com as mudanças circunstanciais nas áreas
participa a esta Câmara que estabe- econômicas, com ênfase para o surgimento
leceu nesta Villa huma tipographia, na da prospecção e exploração do petróleo na
qual tem proposta á publicar hum Bacia Continental de Campos8.
Periódico, logo que saia a luz o O “Monitor Campista” é, sem dúvida,
primeiro periódico, cujo prospecto uma marca do clamor social da cidade, que,
remete, offerecendo-se á publicação no final do século XIX, era considerada uma
das ordens e actas desta Câmara no das principais produtoras de açúcar e álcool,
dicto Periódico, logo que saia o responsável pelo desenvolvimento da Velha
primeiro número. A comissão he de Província, assinalando-se que, no eito dos
parecer que o secretario responda por meios de produção, prosperava, infelizmen-
parte da Câmara agradecendo ao dito te, o trabalho escravo.
Arcos a sua participação, como tam- O jornal, segundo Feydit (p.398) foi
bém aceitando com agrado os seus fundado por José Gomes da Fonseca
dezejos de ver prosperar o sistema Parahyba, em 4 de janeiro de 1834, com o
Monarchico Constitucional por huma nome de “Campista”, tendo sido um de seus
medida de maior vantagem para os mais importantes colaboradores e sócio o dr.
povos, como seja a da imprensa para Francisco José Alypio, provavelmente um dos
a publicação dos sentimentos livres primeiros jornalistas vitimados pela prática
de cada hum cidadão, cuja liberdade do direito de opinião, numa terra eivada por
amoldada a Constituição do Império. fazendeiros e latifundiários altamente radi-
Que a Câmara concorrerá da sua parte cais com relação ao uso dos escravos como
170 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
O corpo foi levado para a vila e depois lhe dar mais um sitio, o que cumpriu
das providências e autópsia foi o cadáver dando-lhe o dinheiro para o comprar.
enterrado. Dona Maria Custódia Cabral Que Rosas foi o assassino, não resta
mandou fazer ao morto grandes exéquias e a menor dúvida, mas que Neco por
cobriu-se de luto e a mulher do médico sua conta lhe desse cinco contos, isso
assassinado, dona Jacintha, foi presa por não é crível. (...) Que necessidade
alguns dias na cadeia, sendo libertada logo tinha ele de assim proceder? Como
após por falta de provas. Mas, pouco tempo crer que um pobre serrador braçal, que
depois, segundo Feydit, ela se casava com em 1834 ganhava no máximo 500 réis
o serrador Manoel Francisco da Silva, o Neco. por dia, tivesse cinco contos para
O interessante é que dona Maria Custódia pagar ao mandatário? Seria a mulher
Cabral, logo depois do crime, viajou ao Rio do doutor Alypio que dera os cinco
de Janeiro em companhia do doutor José contos para ser assassinado o mari-
Gomes da Fonseca Parahyba e voltam de lá do? Não, porque Alypio não era rico
casados. O escritor fala sobre os boatos: e até a metade da fazenda, depois de
sua morte fora arrematada em praça
“(...) Os contemporâneos davam a pública para pagamento de dívidas. É
autoria do assassinato de formas de se supor que outra pessoa mais
diversas: uns diziam que dona Maria abastada fosse a fornecedora dessa
Custódia fora a mandante; outro, que soma e, querendo arredar de si a
fora o doutor Parahyba, para casar- autoria desse fato delituoso, pagasse
se com esta, o que se efetuou pouco ao assassino para vir em juízo lançar
dias depois da morte de Alypio. De sobre outro o labéu de mandante de
combinação com o moço serrador, o um crime que, por muito tempo,
Neco, mandaram o mateiro, de nome trouxe suspenso o espírito público, e
Rosas, executar o crime. Esses eram ainda hoje é um enigma não decifra-
os boatos que com insistência circu- do”.
lavam entre os campistas e tal corpo
tomaram que, tendo o Imperador D O jornalista e escritor Gastão Machado (“Os
Pedro II de vir a Campos, o doutor Crimes Célebres de Campos”), Ind. Gráficas
Parahyba fez preparar o palacete, onde Atlas, Campos dos Goytacazes, 2ª Edição,
hoje se acha estabelecido o Hotel 1965), segue o mesmo eito dedutivo de Feydit,
Gaspar para recebê-lo; mas o Impe- só que, como teatrólogo, procurou romancear
rador, sendo avisado do que constava as relações entre os personagens, inclusive
em relação ao assassinato do doutor criando diálogos. Só que, no capítulo da
Alypio, não quis se hospedar naque- participação do doutor José Gomes da Fonseca
le palacete no ano de 1847 (...)” Parahyba, ele deixa antever que este mantinha
um romance com a mulher de seu sócio
Todos os mistérios, no entanto, sobre as Francisco José Alypio, antes de sua morte.
causas da morte de Francisco Alypio, nunca Gastão (pp.103-113) amplia a suspeita de
foram dissipados, segundo relata o autor de que Parahyba poderia ser o mandante da
“Subsídios...”, para quem, em 1856, 22 anos morte do sócio por dois motivos: para ficar
depois do crime, quando se apresentou ao com parte da sociedade na tipografia e no
juiz municipal João de Souza Nunes Lima, jornal e, também e, sobretudo, com sua
o indigitado assassinado, Rosas, o mateiro, mulher, “traindo o melhor amigo, já que
requerendo para que o juiz mandasse julgar foram colegas do curso feito na Academia
a sua prescrição, visto fazer mais de 20 anos Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro”. Outro
que havia feito o assassinato. Nesse ponto suspeito, que praticamente desaparece da
o escritor faz suas considerações finais: história é o padre José do Desterro, jovem
teólogo de 28 anos de idade à época e tio
“(...) Declarou: que Neco, o serrador, de Maria Custódia Cabral que, depois do
fora quem lhe mandara fazer o crime escândalo, segundo o escritor, “desapareceu
dando-lhe 5:000$000 e prometendo- da Vila e nunca mais foi visto”.
174 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Múcio (p.18), no entanto, deixa antever fuligem como o confete enegrecido do pro-
que o repórter e sócio do “Campista” fora gresso.
vitimado por causa de suas opiniões polí- Está no “Monitor” o instante especial da
ticas, porque muitos gostariam de pôr termo inauguração da energia elétrica, no dia 24
à vida de “um valoroso jovem voltado para de Junho de 1883, a primeira comunidade
a medicina e para as lides jornalísticas”. da América Latina a obter esta inovação
Polêmicas à parte, o bom é sentir que, tecnológica, antes mesmo que a maioria das
desde o início de sua história, o “Monitor” cidades americanas e européias. Tudo como
faz parte do contexto de defesa do direito frutos do desenvolvimento e porque os
de expressão, embora, em alguns momentos, engenhos tocados a vapor precisavam ser
fosse claramente favorável às classes domi- substituídos por alguma coisa que lhe asse-
nantes, principalmente nos embates da abo- gurasse o aumento da produção.
lição da escravatura, quando se colocou ao O “Monitor” informou, embora com
lado dos escravocratas. dificuldades, as questões da primeira guerra
Foi, inclusive, o único jornal a publicar mundial, a queda da bolsa de Nova Iorque,
notas de fugas e vendas de escravos e, a queima dos cafezais e os investimentos de
também, abrir espaços para o escravocrata uma sociedade que não obteve a moratória
Raimundo Alves Moreira, o famigerado para pagamento de suas dívidas. Abriu
Barbaça, ao se colocar contra a 2ª Confe- manchete para anunciar o fim da II
rência Abolicionista, no Teatro Empyreo, a Grande”Orávio Soares Guerra Mundial e a
27 de jJunho de 1884, promovida pelo hegemonia do capitalismo nas mãos insen-
abolicionista Luiz Carlos de Lacerda, pro- síveis do Tio Sam. O “Monitor Campista”
prietário do Jornal “25 de Março”10, bem foi adquirido pelos Diários Associados, em
como contra as conferências de José do 1936, expressando o desejo do seu então
Patrocínio, nos dias 13 e 15 de Março de presidente, Assis Chateaubriand, de possuir
1885, no Teatro São Salvador. os três mais antigos jornais em circulação
Tudo isso, no entanto, não desmerece a no Brasil – o “Diário”, de Pernambuco; o
grandeza do jornal, ressalvando-se sua po- “Jornal do Commércio”, do Rio de Janeiro;
lítica editorial como reflexo do tempo, pelo e o “Monitor Campista”, de Campos dos
registro histórico do Brasil nos últimos 170 Goytacazes.
anos, marcando, de forma decisiva, suas O jornal realizou várias campanhas de
transformações, com destaque para Campos nível nacional, como “O Petróleo é Nosso”
dos Goytacazes, presente, em termos de e o “Dê Asas ao Brasil”, estimulando o
avanços e recuos no desenvolvimento, em desenvolvimento da aviação civil, redundan-
suas páginas, sendo importante ressalvar do na criação de vários aeroclubes no país,
algumas instâncias. inclusive o de Campos, inaugurado no dia
O “Monitor” marca as lutas abolicionistas, 10 de junho de 1941, com o apoio do Rotary
os crimes célebres do município, a passagem, Club de Campos, durante a gestão dos
várias vezes, do Imperador Pedro II, da presidentes drs. Camilo de Menezes (1940-
Princesa Isabel e do Conde D’Eu. Os gestos 41) e Mário Ferraz Sampaio (1941-1942),
de bajulamentos da aristocracia rural para ainda em funcionamento e prestando relevan-
com a família imperial, os desatinos das elites tes serviços à sociedade. Nesse sentido, por
com a perda da mão obra escrava, a Repú- ser muito difícil enumerar seus melhores
blica e o renascimento da cidade sob o signo momentos nestes 170 anos, pode-se afirmar
do verde dos canaviais e das chaminés que as páginas do “Monitor Campista”
fumegando e derramando na planície sua encerram a própria história do Brasil.
JORNALISMO 175
conquistas e da dominação, quando a cultura real, mas não da sua totalidade. Recolher
indígena foi suplantada pela língua e cultura dados e hierarquizá-los segundo critérios de
européia. A busca por terras, a ocupação importância consiste no processo de produ-
predatória e a subjugação dos povos indíge- ção do texto jornalístico. Tendo como pano
nas acontecem sob a justificativa do discurso de fundo a ideologia inerente à sua formação
religioso: coexistindo com a dominação, a discursiva, o jornalista faz do texto
religião tenta “salvar” os índios da sua “falta jornalístico, além de representacional da
de Deus”. Este contato fez com que os realidade, um texto autoral, apesar das ten-
indígenas passassem de maioria para minoria tativas de se camuflar sua presença subjetiva.
étnica, correspondendo hoje a 0,2% da A mídia impõe uma ordem ao tempo,
população brasileira. fazendo um agendamento do cotidiano, ten-
A representação da identidade do brasi- tando capturar os fatos de modo a reduzir
leiro se constrói a partir da perspectiva do os riscos de imprevistos. O planejamento e
branco europeu. O discurso dominante a previsibilidade resultantes norteiam a coleta
enaltece representações sociais tais como a de informações para a produção do texto
de que “somos uma mistura de raças”, no jornalístico. Daí a Teoria do Agenda-Setting,
qual o “descobridor” é o responsável por definida por McCombs e Shaw, paradigma
trazer à terra um padrão de cultura e que situou o processo de seleção de notícias
tecnologia considerado superior. A valoriza- pela mídia. A imprensa define o que é e o
ção desta mistura não se concretiza. O que não é notícia a partir de um temário
brasileiro não se identifica com o negro, com preestabelecido, o agenda-setting, termo que
o índio e não se vê igual ao branco europeu: se refere a “uma lista de questões e acon-
é uma cópia, e uma imitação nunca se tecimentos que são vistos num determinado
equipara ao original. Somos o “outro” do ponto no tempo e classificados segundo uma
europeu, “outro” que é apagado através do hierarquia de importância” (ROGERS &
discurso do colonizador. O europeu é o centro, DEARING, 1988, 565, apud TRAQUINA,
o início da construção de nossa história. 1999, p. 15).
Para ser índio, é preciso uma legitimação As fontes jornalísticas possuem influên-
oficial e a partir dela é que se recupera uma cia sobre os meios de comunicação em virtude
memória e se reconstrói a simbologia do do lugar social que ocupam, podendo dar mais
grupo. Esta “legitimação” é feita por antro- visibilidade a determinados discursos e agir
pólogos da Fundação Nacional do Índio, onde na formação do agenda-setting da imprensa:
funcionários admitem não acreditar na legi- o conteúdo da mídia depende do jogo de
timidade da identidade indígena no Nordes- interesses dos meios e dos vários setores da
te. O processo de formação das comunidades sociedade. A imprensa, mesmo dando espaço
indígenas no Nordeste passa pela definição às vozes de grupos subalternos, acaba legi-
de “remanescentes de índios”, caboclos que timando o quadro dominante ao fomentar
reivindicaram a condição de índio e lutaram algumas idéias e rechaçar outras, deixando
para garantir o direito à terra. Essa idéia que os assuntos excluídos só entrem através
de”“remanescente” é até certo ponto pejo- de concessões: o exótico, em momentos de
rativa; passa uma idéia de ser “aquilo que protesto ou como parte de outro temário do
restou” A resistência dos indígenas é que tem agenda-setting.
garantido a sua sobrevivência e o Para a Análise do Discurso (AD), o
reaparecimento de povos considerados extin- discurso é uma manifestação da ideologia e
tos. o sujeito é aquele que enuncia de um de-
terminado lugar social. Se o sujeito é o locutor
As Teorias do Agenda-Setting e da Análise de um discurso, se o índio é o locutor do
do Discurso discurso de seu grupo, o jornalista idem. Para
a AD, nenhum sujeito é totalmente livre no
O texto jornalístico é uma organização momento em que faz escolhas discursivas.
discursiva onde são expressas diversas ver- O indivíduo está inserido num contexto
sões sobre um fato. Deve-se compreender a histórico e social que norteia sua fala. Embora
notícia como um relato de fatos do mundo o sujeito pense ser capaz de fazer opções na
JORNALISMO 179
seleção do que diz, para a AD o indivíduo A fonte ativa é a fonte jornalística que
está assujeitado a um contexto que limita o tem papel fundamental na produção do texto,
seu discurso: quem se expressa em sua fala pois, ao prestar informações, tem sua voz
é uma ideologia e a língua é um produto marcada e reproduzida com verbos
histórico e social introdutores de opinião que dão força à sua
O processo de formação do homem argumentação. A fonte ativa determina o tom
determina que seu discurso é o amálgama do discurso do jornalista, que mistura sua voz
de vários outros discursos que circularam na com a da fonte. Isso ocorre de modo
sociedade. O discurso é do outro, somos subliminar e até imperceptível pelo jornalis-
marcados pela presença da fala do outro que ta. A fonte ativa enuncia a partir de uma
contamina nosso dizer. A polifonia é posição social e da qual não pode ou não
constitutiva dos discursos, onde fica registrada quer se afastar: são fontes institucionais,
uma memória discursiva que traz uma carga consideradas mais confiáveis, representantes
de ideologia e história. O jornalista, ao fazer de segmentos de poder.
seu texto, ora marca o discurso da fonte, ora Se há quem tenha “autoridade” para falar,
absorve parte do enunciado do outro como há os que porque ocupam uma posição sem
sendo seu, relatando-o de modo consciente significância. Este espaço é ocupado por
ou não, uma vez que se encontra assujeitado integrantes de segmentos menos expressivos
como qualquer sujeito. As marcas da social e economicamente. O discurso segue
heterogeneidade podem ser vistas a partir de uma ordem que expressa de que posição fala
indicadores: os verbos introdutores de opi- este sujeito. Estratégias discursivas acabam
nião e o uso de aspas em citações. por silenciar ou marcar a voz de certas fontes,
Como por trás de qualquer dizer há um enfraquecendo o seu discurso. Este sujeito
sujeito (o repórter, o editor) apesar da ten- silenciado tem seu discurso rebaixado pelo
discurso do outro: alguém fala em seu lugar,
tativa da imprensa de apagá-lo – numa
diz o que o sujeito poderia ou não quereria
estratégia de legitimar o discurso midiático
falar O sujeito passivo, dado o seu
como objetivo – verificamos a presença
assujeitamento, reproduz o senso comum e
autoral do jornalista. O mito da imparciali-
fortalece os sentidos do discurso dominante
dade vem permitindo à midia camuflar a
como literais, contrapondo-se ao sujeito ativo
tendenciosidade das notícias divulgadas e uma
por sua incapacidade de ser uma fonte ativa
das formas de dar credibilidade à escolha do
no espaço midiático. São fontes passivas,
fato noticiado é o emprego de aspas na sujeitos de proeminência desconhecida ou
apresentação de opiniões. O jornalista, ao citar considerada irrelevante, cuja representação
fontes consideradas de alto nível, exime-se tem acesso restrito à mídia.
de expressar sua opinião abertamente, fazen- A tentativa de dar visibilidade aos dis-
do isso de modo encoberto pela opinião cursos dos vários segmentos é que confere
alheia. A citação é precedida ou sucedida de legitimidade à imprensa, por sua função
verbos introdutores de opinião, quando o mediadora de discursos. As características do
jornalista insere a fala da(s) fonte(s), colo- processo produtivo da notícia – classificação
cando-a(s) em evidência das interferências de ordem pessoal, ideoló-
Apesar do assujeitamento às questões gica e histórica e formação do agenda-setting
ideológicas e estruturais, há espaço para a – constituem-se em elementos de uma dada
inscrição do indivíduo no discurso, onde formação discursiva. Fica claro que o dis-
o sujeito pode deixar sua marca. O sujeito curso jornalístico é polifônico, com a pre-
tem “uma certa competência” na escolha sença das “vozes” da fonte e do emissor (o
de seu material discursivo. Esta concepção jornalista, que camufla sua presença autoral
de sujeito ativo pressupõe que o indivíduo por trás de uma pretensa objetividade). Este
faz algumas escolhas, embora seja afetado discurso tenta se fazer imparcial, deixando
pelo discurso. Segundo Possenti, “a pre- de marcar “vozes” de alguns enunciadores
sença do outro não é suficiente para apagar e do autor do texto, prevalecendo a voz do
a do eu, é apenas suficiente para mostrar discurso dominante na sociedade como sen-
que o eu não está só” (POSSENTI, 2002, do o de consenso. Orlandi (1996) e Marcuschi
p. 64/65). (1991) definem alguns tipos discursivos:
180 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Prensa ABC EP EM LR FV LV G M
Noticia de portada 9% 6,55 6,9% 6,6% 4% 3,8% 6%
En portada 11,5% 20,65 13,2% 13,2% 5,4% 16% 13%
En contraportada 0,8% 0,6% 1,4% 1,5% 2,8% 5,3% 2%
Páginas interiores 77,9% 72,3% 75,7% 75% 87% 74,5% 77%
En suplemento 0,8% — 2,8% 3,7% 0,8% 0,3% 1%
186 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Hasta con un caso como el del Prestige Una de sus tablas planteaba estas
se demuestra que el análisis de Sigal de los diferencias:
dos grandes periódicos americanos, The New Rutinarios: 74,6%
York Times y Washington Post -de 1949 a Informales: 18,7%
1969-, publicado en 1973, sigue vigente. Individuales: 6,6%
Entre lo que él llamó “canales rutinarios” o Por eso dijo: “La elaboración de las
procedimientos oficiales, “canales noticias ha sido atrapada por las prácticas
informales” o procedimientos no oficiales y burocráticas”6.
“canales individuales”, a iniciativa del No han cambiado especialmente las cosas.
reportero, el predominio claro estaba en los Los resultados sobre el uso de fuentes
primeros. en el caso del Prestige son éstos:
Tabla 5 - Fuentes
% % % % % % % % % %
No institucionales 18 22 17 16 33 26 27 35 26 24
Informes y
5 8 7 3 5 5 1 1 1 4
documentos
Otros medios 8 9 9 8 3 5 0 1 1 5
Sin referencia
16 8 22 25 23 26 11 26 13 19
a fuentes
Hay que tener en cuenta que las cifras • El periodismo televisivo es más pasivo
relativas a ‘Sin referencia a fuentes’, en un que el impreso8.
porcentaje elevado habría que sumarlas a las • Epstein en 1981: “En televisión el centro
‘Institucionales’, dada la coincidencia de de atención está puesto en qué ocurre no en
muchos datos informativos con los contenidos por qué ocurre”9,
en las Notas de Prensa emitidas por el Gobierno • Mira Sotirovic 10: diferencias entre
y que se han utilizado sin citar la fuente. televisión y periódicos en cuanto a presentar
El contrapunto a este tan instalado las noticias con significados contextuales
burocratismo excesivo de la información, lo (periódicos) y sin ellos (televisión).
ponía Gans en el tiempo que dediquen los En el análisis del Prestige, se confirman
periodistas al trabajo de investigación. La las tres.
cuestión, decía, es convencer a los periodistas Se podría añadir que en este caso, frente
de buscar las fuentes autorizadas de varias a los medios escritos, las televisiones
posiciones.7 Resulta bastante evidente que aún estuvieron más centradas en el interés humano
no están convencidos. de la catástrofe -fundamentalmente TVE y
TVG- y en las contradicciones de las fuentes
Televisión frente a medios escritos oficiales (Telecinco).
Se puede apreciar en los resultados de
Parto de estas tres ideas: las Claves informativas:
Tabla 6 - Claves
Las claves ABC EP EM LR FV LVG TVE T5 TVG Media
La marca negra 12,4% 11,7% 12,5% 15,45 12,9% 13,6% 23,7% 26,6% 17,0% 16,20%
Actuación
del Gobierno 19,1% 13,7% 18,0% 16,4% 12,6% 10,6% 20,4% 14,5% 18,5% 14,16%
y de la Xunta
Actuación
3,7% 2,8% 2,7% 3,3% 1,2% 1,8% 3,7% 1,3% 2,8% 2,59%
de la UE
188 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Actuación de
gobiernos de 6,0% 5,45 4,7% 2,8% 3,7% 5,0% 3,0% 1,3% 4,9% 4,09%
otros países
Actuaciones
de la oposición,
6,0% 6,0% 9,4% 7,0% 7,1% 4,8% 4,4% 5,3% 6,2% 6,24%
CCAA y
Ayntamientos
Actuaciones
de asociaciones, 1,1% 1,4% 2,4% 0,9% 3,45 2,5% 0,7% 1,0% 1,6% 1,67%
y ONG's
Actuación
6,7% 4,8% 3,9% 5,6% 10,5% 7,5 17,0% 14,5% 23,0% 10,39%
ciudadana
Actuación
de los medios — 1,4% 0,8% 0,5% 0,2% 1,5% 0,7% 1,0% 0,4% 0,72%
de comunicación
Solidaridad con
0,7% 1,4% 1,6% 3,3% 4,4% 4,5% 1,9% 4,6% 2,8% 2,80%
los afectados
El debate /
enfrentamiento 11,6% 14,0% 13,3% 14,5% 5,7% 10,3% 6,7% 4,6% 4,2% 9,43%
político
Críticas y
protestas contra 8,6% 13,1% 11,0% 10,3% 14,7% 13,1% 2,2% 5,6% 4,9% 9,28%
la Administración
Consecuencias
1,5% 1,1% 1,6% 1,9% 0,9% 1,0% 0,7% 1,3% 1,4% 1,27%
políticas
Consecuencias
4,5% 2,0% 2,4% 4,7% 5,0% 4,3% 5,9% 4,6% 5,1% 4,28%
económicas
Consecuencias
3,7% 1,7% 2,0% 2,3% 5,9% 6,0% 6,7% 2,6% 3,5% 3,82%
medioambientales
Consecuencias
2,6% 0,6% 1,6% 2,3% 3,0% 2,3% 0,4% 4,3% 2,6% 2,19%
sanitarias
Explicaciones
5,6% 4,8% 2,7% 5,1% 2,5% 4,5% — 3,3% 0,5% 3,22%
técnicas
Antecedentes 1,1% 2,8% 1,2% 0,9% 0,5% 1,8% 0,7% 2,3% 0,4% 1,30%
Normativas y
4,1% 8,3% 3,9% 2,8% 2,0% 2,5% 1,1% 1,3% 0,2% 2,91%
sanciones
Humor 0,7% 2,8% 4,3% — 3,9% 2,5% — — — 1,58%
TVE: TVE:
• El Nautile no ha encontrado de momento • Según Rajoy, la principal amenaza en
nuevas manchas ni grietas importantes en la Galicia se encuentra a unas 50 millas de Cabo
estructura de los restos hundidos… Silleiro, donde se han localizado varias placas
• Manchas frente a la Isla de Sálvora, de fuel.Además hay una gran mancha en la
a 10 millas de la ría. zona en la que se hundió el Prestige. El Nautile
ha dtectado otras tres grietas más…
Día 6
Los géneros y formatos de la información
Telecinco:
• “Auténtico desastre ecológico en el
Parque Natural de las Islas Atlánticas”. Las iniciativas se detectan también desde
• De los hilos detectados por el submarino la perspectiva de los géneros. En los
ha hablado el presidente del Gobierno. Se resultados del análisis es clara la diferencia
mantiene en lo dicho ayer por Rajoy entre la información y el reportaje (a pesar
–“hilillos de plastilina”- , dice que son de ser éste el género de los informativos con
solamente eso, hilos de fuel valores más amplios). La razón es sencilla,
las diferencias en cuanto a iniciativa del
TVG: medio las marca el valor añadido que
• Cerca de un millar de personas trabajan representan los géneros que exigen la
para que el fuel no dañe el interior de la presencia del periodista en la escena de los
ría de Vigo y por salvar las Islas Cíes, el hechos, el contacto con fuentes directas, la
único parque Nacional de que dispone Galicia tarea de interpretar e investigar, el trabajo,
a día de ho. en fin, fuera de la redacción.
190 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Tabla 7 - Periódicos-Géneros
Géneros
ABC EP EM LR FV LV G Media
periodísticos
Información 66,4% 65,8% 45,8% 50,7% 48% 49,8% 54%
Reportaje 9% 17,4% 12,5% 12,5% 19,8% 12,2% 14%
Entrevista 2,5% 0,6% 2,8% 2,9% 4,2% 3% 3%
Crónica 1,6% 3,2% 4,2% 2,2% 1,7% 1,5% 2%
Artículo
14,8% 5,8% 18,8% 21,3% 18,9% 24,3% 17%
de opinión
Editorial 3,3% 1,9% 4,2% 8,1% 0,3% % 3%
Tira cómica 1,6% 2,6% 7,6% — 5,9% 3% 3%
Otros géneros 0,8% 2,6% 4,2% 2,2% 1,1% 6,1% 3%
No hay duda de que en general hicieron claro que dio a los informativos el tono, el
un esfuerzo en informar con una viveza, color y el olor de la calle.
agilidad y recursos poco habituales. En este
sentido, el hecho de que se sigan Para concluir
considerando a las televisiones más pasivas
que a los medios escritos hace referencia alos Un posible interrogante final es: ¿qué
contenidos más que a los formatos. Se sacaron influencia tuvo esa información en los
las cámaras a la calle, se dio voz a los receptores?.
habitualmente ´sin voz´. Ese periodismo de The Wall Street Journal presagiaba el 11
interés humano que responde a la clave ya de diciembre 2002 que la crisis podría
citada de las actuaciones ciudadanas, quedó amenazar la reelección del gobierno del PP
JORNALISMO 191
en 2004 dado que “este incidente ha puesto resultado de las elecciones municipales del
en evidencia la falta de habilidad de Aznar”. 25 de Mayo de 2003 en uno de los pueblos
Sin embargo, no ocurrió así. más afectados de la Costa da Morte gallega:
Un ejemplo simplemente gráfico fue el Muxía.
8
_______________________________ Wolf, Mauro, La Investigación en
1
Universidad Carlos III de Madrid. Comunicación de Masas, Crítica y Perspectivas,
2
El mundo estaba prestando atención a lo que Piados, 2000: 249.
9
iba pasando, dado que este era un caso claro de Citado por Wolf, M. op. cit.
10
catástrofe con “dimensión internacional”, un Sotirovic, M. op.cit, 124.
11
suceso “globalizado de verdad”, como dijo The Según el documento presentado en febrero
Independent,19.Nov.2002. 2003 por España en el Fidac (Fondo Internacional
3
P Daley, Dan O´Neill, “Sad is Too Mild a Word”: de Indemnización por Contaminación de
Press Coverage of the Exxon Valdez Oil Spill, Journal Hidrocarburos).
12
of Communication, 1991, 41, 4: 42-55. Diezhandino M. Pilar, La Guerra de las
4
Sotirovic, Mira, “How Individuals Explain mil claves. La oportunidad perdida de los medios.
Social Problems: The Influences el Media Use, Estudios de Periodística VIII. Diputación de
Journal of Communication”, March, 2003: 132-33. Pontevedra, 2000: 17-53. Tanto en el término
5
La Voz de Galicia, 26.11.02:11. televisivo llamado “cola” como “pieza” existe
6
Sigal, Leon V., Reporteros y Funcionarios, un video montado y una voz que comenta las
Ed.Gernica, 1978: 20. imágenes. La diferencia es que en la “cola” es
7
Las fuentes que llamamos “institucionales” el propio presentador el que habla en directo y
hacen referencia a las instituciones públicas y en la “pieza “ se trata de una voz en off ya
políticas: desde Gobiernos (central y autonómico), grabada.
13
ayuntamientos, partidos políticos, sindicatos, hasta Mira Sotirovic, “How Individuals Explain
instituciones como el C.S.I.C.; las”“no Social Problems: The Influences of Media Use”,
institucionales”: instituciones privadas, Journal of Communication, Mars, 2003.
14
movimientos de la sociedad civil y órganos que Gans, Herbert. “Reopening the Black Box:
los representan, y voces individuales que sólo son Toward a Limited Effects Theory”, Journal of
portavoces de sí mismas. Communication, Otoño, 1993.
JORNALISMO 193
activo e muito rápido”2. Os jornalistas pre- começo de carreira podia ganhar apenas 500
cisavam de réis diários4.
Alberto Bessa explicava o sucesso dos
“demonstrar que estão alerta, que tudo jornais americanos – as verbas angariadas
ouvem, que tudo vêem, que se não pela publicidade. Para o autor, “Sem a re-
fatigam […]. O que se quer é que o ceita dos anúncios e reclames, as edições dos
público seja informado de tudo no domingos dariam enorme prejuízo às respec-
menor espaço de tempo possível. Para tivas empresas”. É que as edições dos do-
isso, as notícias têm de ser breves, mingos na América, cujo elevado número de
sérias e secas, a não ser que se trate páginas causava assombro,
de casos verdadeiramente sensacio-
nais”. “variam entre 30 e 140 páginas, com
sete colunas de leitura em cada pá-
O mesmo ocorria com os jornais ingle- gina. Atingem cinquenta páginas de
ses: o Times dedicava “uma insignificância anúncios, quatro páginas de histórias
à parte que pode chamar-se intelectual, mas cómicas, coloridas para crianças, um
faz pagar por bom preço a parte destinada trecho de música para cortar e colar,
ao negócio ou a interesses meramente par- um quebra-cabeças que entretém uma
ticulares”. As remunerações e as mordomias meia hora, cinco ou seis páginas
dos correspondentes foram assunto a mere- ilustradas para senhoras com todas as
cer muito destaque no livro, até pelas com- modas da semana, cinco ou seis
parações com a realidade jornalística naci- páginas consagradas ao teatro com a
onal. Para Bessa3, o crítica das peças novas, reproduções
das cenas principais e retratos dos
“correspondente inglês em Berlim artistas”5.
ganha mil libras por ano, tem casa
paga e quinhentas libras para despe- Isto além de duas páginas de correspon-
sas de expediente e de representação. dência estrangeira e vinte consagradas aos
O de Paris, a quem os colegas cha- Estados Unidos.
mam o príncipe dos correspondentes, Das rotinas produtivas dos jornalistas
recebe duas mil libras por ano, habita pouco escreve o autor. Mas refere, embora
uma casa magnífica, tem carruagens sem o designar deste modo, o “faro” para
e cavalos à sua disposição e recebe as notícias:
ainda mil libras por ano para gastos
extraordinários”. “Um dos correspondentes – cita Bessa
– dizia aos jovens jornalistas: «sem-
O autor destacou também os directores pre que logrem apanhar uma indis-
e diferentes níveis hierárquicos dos jornais. crição ou uma informação […] mu-
O New York World, pertencente a Joseph dem logo de assunto, mas não se
Pulitzer, com tiragem diária de um milhão despeçam bruscamente, porque o
de exemplares, tinha um “serviço de infor- interrogado pode reflectir no que disse
mação” com 50 repórteres para os casos de de importante e pedir-lhes que não
Nova Iorque, 30 para Brooklin e 30 para Nova façam uso das suas palavras»”. E
Jersey. Em simultâneo, tinha dez correspon- salienta a realidade portuguesa, onde
dentes em Washington, um nas principais toda a gente preferia estórias de
cidades americanas e um em cada capital da facadas ou adultérios a um artigo de
Europa. Em média, um redactor principal jornalista ou escritor consagrado6.
ganhava de 7 a 9 contos de réis por ano,
o noticiarista (news editor) à volta de 2 contos O mesmo receio tinha sido expresso por
de réis, o redactor dos telegramas de 900 réis outro jornalista, pouco anos antes7. O sen-
a 1,8 contos de réis e o encarregado da secção sacionalismo tomava conta dos jornais. Mas,
desportiva de 2 a 2,5 contos de réis. Isto por apesar destas contrariedades e de os perió-
oposição a Portugal, onde um jornalista no dicos se estarem ainda a libertar dos
JORNALISMO 195
directórios partidários, o autor defendia o vez o exemplo vinha dos Estados Unidos.
jornalismo do nosso país, não “inferior ao Como muitos dos jornalistas possuíam uma
das restantes nações da Europa, pelo que cultura intelectual limitada, o proprietário do
respeita ao seu pessoal que chamarei gradu- World, Joseph Pulitzer, concebeu a ideia de
ado e tratando-se, como é claro, dos jornais uma escola de Jornalismo, anexa à Univer-
verdadeiramente independentes”. Havia ou- sidade de Columbia. Para dotação dessa
tra pecha: o anonimato, o “pior mal de que escola, Pulitzer atribuiu dois milhões de
enferma o jornalismo”. Se, em França, a dólares, garantindo aumentos caso o sistema
colaboração anónima, mais barata ou gratui- funcionasse bem. O programa dos cursos da
ta, ocupava três quartos do texto dos jornais, escola de Jornalismo incluía administração
entre nós, tal situação servia para atrasar a e direcção de um jornal, elaboração material
censura da imprensa imposta por sucessivos do jornal, direito jornalístico, moral do jor-
governos. nalismo, história do jornalismo e forma li-
No momento em que deflagrara a guerra terária do jornal, numa clara aposta inicial
entre a Rússia e o Japão (1904) era obri- para formar gestores de empresas
gatório o tema dos correspondentes de guer- jornalísticas. A escola deveria começar nesse
ra. De acordo com o autor, o Times foi o mesmo ano de 1904. Concluiu Bessa: “Se
primeiro jornal a enviar correspondentes para escrever nos jornais se exigisse um título
especiais aos campos de batalha na guerra de habilitação, seguramente que os autores
da Crimeia: “Calcule-se o sucesso quando o de tais escritos [incorrectos] não poderiam
Times e o Daily Telegraph deram, numa conquistá-lo, por incapacidade; e a imprensa
manhã, a notícia sensacional da tomada de teria lucrado com isso”. Recorrente na his-
Sebastopol, num telegrama dos seus corres- tória do jornalismo português, o tema da
pondentes”. Esse sucesso serviu para os formação própria do jornalista havia sido já
proprietários dos outros jornais criarem encarado por Alberto Bramão, numa confe-
serviços telegráficos. A concorrência a isso rência que realizou em 1899, em Lisboa.
obrigava.
Um ângulo analisado pelo autor foi o da 2. Do percurso profissional de Alberto Bessa
tecnologia. Quando destacou o jornal inglês à Associação da Imprensa Portuguesa
Times, salientou as suas secções: numa delas,
“está o aparelho telegráfico privativo, que liga Alberto Bessa, escritor e jornalista, nas-
com Paris. […] Noutra sala está o aparelho ceu no Porto (29 de Setembro de 1861) e
telefónico [onde] se recebem as transmissões morreu em Lisboa (27 de Janeiro de 1938).
dos debates do parlamento”8. Deste modo, Principiou a sua carreira de jornalista como
o discurso de qualquer deputado seria do redactor principal do jornal socialista O
domínio público uma hora depois de profe- Operário, do Porto, que, mais tarde, se fundiu
rido. Na já referida guerra entre a Rússia e com O Protesto, de Lisboa, chamando-se O
o Japão, um jornalista destacado transmitia Protesto Operário, com redacção nas duas
mensagens através de telégrafo colocado num cidades. O primeiro artigo em O Protesto
navio, para escapar à censura japonesa. Do Operário, que assinou com A. B. (iniciais
mesmo modo, o autor concedeu grande do seu nome, empregues em toda a vida
entusiasmo à maneira como os jornais eram jornalística), saiu na primeira página da
transportados ao longo dos Estados Unidos: edição de 14 de Janeiro de 1883. Depois,
às duas e meia da madrugada, formava-se o jornalista fundou e dirigiu publicações no
um comboio na gare central de Nova Iorque, Porto como A Semana, Miniaturas, Novida-
recebendo volumes de jornais que chegavam des, Velocipedista, Revista Luso-Espanhola,
em vários carros. Transportados para o in- Galeria Portuguesa e Crónica.
terior do vagão de mercadorias, e ao longo Para o segundo número da Galeria
da própria viagem, os empregados dividiam Portuguesa (Natal de 1892), Alberto Bessa
os maços de jornais conforme as localidades escreveu um poema. A seguir, com regula-
e atiravam-nos para as gares das estações. ridade, assinou pequenos textos sobre per-
Outro assunto abordado por Alberto Bessa sonagens do Porto, nomeadamente jornalis-
foi o da formação dos jornalistas. Mais uma tas – acompanhados por gravuras representan-
196 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
do os mesmos. Por seu lado, O Velocipedista, dinheiro, câmbios e bancos, teoria do juro,
surgido em 1893, a defender o ciclismo, a associações comerciais, pesos e medidas,
ginástica e a natação como meios para o proteccionismo e livre-câmbio, marinha mer-
desenvolvimento físico, contaria com a cante, serviço de correios, serviço de telé-
colaboração de Alberto Bessa um ano depois. grafos, contribuições comerciais e industri-
A ligação tornou-se mais íntima até o seu ais. Assumindo querer ligar o nome “de
nome aparecer como director (15 de Outubro modesto e obscuro trabalhador da imprensa
de 1894). Nessa altura, a publicação osten- a uma obra que tivesse utilidade prática”, da
tava já a designação de revista internacional bibliografia consultada Alberto Bessa enume-
de sport-literária, noticiosa e profissional. No raria 53 obras, sendo 33 francesas e quatro
seu percurso portuense, Bessa trabalhou ainda italianas.
nos diários A Discussão, Dez de Março, Voz Quando chegou a director do Jornal do
do Povo, República Portuguesa, Jornal da Comércio e das Colónias, em 1921, com as
Manhã, Província e nos jornais humorísticos iniciais A. B., Alberto Bessa escreveu o
Zé-povinho, Tam-tam e Pimpolho. editorial “De um ano a outro. O que é urgente
O jornalista mudar-se-ia para Lisboa em fazer-se”. Aí podia ler-se: “Não há revulsivo
1896, aos 35 anos, para trabalhar em O social de mais tremendo abalo como o das
Século, a convite do seu director Silva Graça. cóleras ateadas e desenvolvidas pelos gritos
Mais tarde, saiu para fundar o Diário, em da fome. E o problema das subsistências não
1902, com mais nove redactores efectivos do só não está resolvido, como nem sequer se
Século, em conflito com as posições do jornal encontra simplificado”. A esta ideia, contra-
na questão dos tabacos. Em 1906, tornou- pôs uma segunda, no mesmo editorial:
se redactor efectivo do Diário de Notícias.
No ano da implantação da República, trans- “Urge que nos entendamos todos para
feriu-se para o Jornal do Comércio e das o bem comum, com a mesma férrea
Colónias. A morte de representante da vontade potentíssima e com a mesma
empresa e director, a 12 de Julho de 1917, alma empreendedora e crente, que
levou Alberto Bessa ao desempenho das trazíamos a bordo das armadas des-
funções de redactor principal e, a 1 de Janeiro cobridoras, para arrancar da terra –
de 1921, o seu nome aparecia, na cabeça do desta nossa boa terra portuguesa – a
jornal, como director. Ficou nesse cargo até prosperidade que outrora íamos pro-
1932, quando o conselho de administração curar nos mares”11.
passou a dirigir o jornal9. O jornalista atingia
os 70 anos de idade. Em pano de fundo, estava a questão dos
Numa altura em que já pertencia aos jornalistas, a caminho de uma greve, que se
quadros deste jornal, em 1912, escreveu a desencadeou logo no começo de 1921 e se
Enciclopédia do comerciante e do industrial, prolongou por 104 dias.
um volume com 690 páginas voltado objec- Já quando saiu, em 1932, escreveu o
tivamente para o ensino e para os leitores editorial “Ao render da guarda. Entregando
do periódico. Como se observa no frontispício o posto”, tema significativo de todo o seu
do livro, tratava-se de “obra indispensável percurso. Para o jornalista,
a quantos se dediquem ao comércio e à
indústria – repositório de conhecimentos úteis “não desrespeitei as gloriosas tradi-
e necessários a comerciantes e industriais – ções do velho órgão jornalístico. […]
livro de educação teórica e de utilidade sempre procurei servir honestamente
política”. Mais à frente reafirmava tal po- a imprensa sem a desprestigiar ou
sição: “Não é […] um livro para eruditos: conspurcar, não tolerando sem os
é um livro para os que fazem do trabalho meus protestos – um dos quais teve
comercial ou industrial timbre e brasão”10. mesmo certa retumbância – que outros
Os capítulos do livro versam sobre influên- a deslustrassem ou envilecessem, pois
cia do comércio na civilização, história do que, modesto como sou, zelei sempre
comércio, legislação comercial, escrituração a honra do meu nome e a dignidade
comercial, abreviaturas e frases comerciais, da minha profissão”12.
JORNALISMO 197
Acompanhando a saída “da antiga gerên- ca, assim como que não havia fun-
cia da empresa, cuja retirada eu quis acom- dada qualquer agrupação onde os
panhar”, Alberto Bessa recordava não cer- nossos camaradas pudessem encontrar
tamente um protesto mas dois, o primeiro desde logo o auxílio, que tantas vezes
dizendo respeito à posição assumida por ele, lhes escasseia, em casos de doença
Alfredo Cunha, Tito Martins, Manuel Gui- ou inabilidade; e onde as viúvas e
marães, Aníbal Soares e outros responsáveis órfãos dos que fossem seguindo para
dos jornais de Lisboa e Porto, com excepção a sepultura pudessem encontrar, até
de”O Mundo, após reunião no seu Jornal do certo ponto, os recursos que lhes
Comércio e das Colónias, em defesa pela faltassem ao descansar para sempre
liberdade de expressão, silenciada pela en- o braço amigo e protector de seus
trada de Portugal na guerra, em Outubro de maridos e pais, pensara o jornalista
191713. O segundo protesto era mais recente, José de Lemos, da redacção
e também pelo mesmo motivo: a censura de do“Repórter, desde havia muito, em
imprensa estabelecida a 22 de Junho de 1926 convidar os colegas que aderissem à
obrigou a nova reunião no seu jornal, resul- sua ideia a congregarem-se para a
tando no envio de emissários ao quartel do levar a cabo e neste sentido havia até
Carmo. Desta vez, porém, a censura vinha mandado imprimir, à sua custa, uma
para ficar por quase cinquenta anos, obrigan- circular de convite que não chegou,
do-se os jornais a inserirem a frase “Este porém, a fazer seguir”15.
número foi visado pela Comissão de Cen-
sura”14. A José Lemos e Alberto Bessa juntaram-
Alberto Bessa, que começara na impren- se outros jornalistas do Século, Vieira Cor-
sa republicana radical aos 16 anos, justifi- reia e Ludgero Viana.
cara com o muito prestígio alcançado na sua José Carlos Valente, historiador do
longa vida profissional a ocupação dos ele- sindicalismo dos jornalistas portugueses,
vados cargos no Jornal do Comércio e das considera que a criação da Associação da
Colónias, de onde saiu reformado. A sua Imprensa Portuguesa foi feita por oposição
liderança no jornal foi contemporânea do à Associação dos Jornalistas16. Esta última
começo e fecho de um ciclo: do estertor da resultara do trabalho desenvolvido por
Primeira Guerra Mundial e do assassinato do Magalhães Lima, Brito Aranha, Trindade
Presidente Sidónio Pais (1917) à consolida- Coelho, Alves Correia, Cândido de
ção da Ditadura e advento do Estado Novo Figueiredo, Fernando Pedroso, Alfredo da
(1932). Uma vida activa de observação de Cunha, Lourenço Cayolla e Alfredo Gallis,
grandes transformações sociais – para não no começo de 1896. Da associação podiam
relevar as políticas – e a que o profissional, fazer parte escritores ligados à imprensa
desde há muito, também emprestara o seu periódica17. Ao invés, a Associação da Im-
comprometimento em campanhas de apoio prensa Portuguesa tinha uma quotização mais
social aos jornalistas (montepio, socorros económica e um recrutamento mais demo-
mútuos), praticamente logo depois de ingres- crático de sócios, aceitando a presença de
sar em O Século. repórteres (ou informadores), grupo já nu-
Nesse momento, em 1897, tornar-se-ia meroso e que não tinha entrada na associ-
secretário da comissão instaladora da Asso- ação dos jornalistas. Mas parece-me existir
ciação da Imprensa Portuguesa. Em relatório uma demarcação mais fina entre as duas
de actividades, a comissão considerava que, associações. Primeiro, de distinção: enquan-
to a Associação dos Jornalistas (de Lisboa)
“Vendo, com desgosto profundo, que visava pugnar pela qualidade dos textos
não existia em Lisboa nenhuma as- literários nas folhas e pela afirmação, em-
sociação jornalística onde pudessem bora ainda frágil, da emancipação dos jor-
ter livre ingresso todos os trabalha- nais face aos partidos, a Associação da
dores, embora modestos, que se Imprensa Portuguesa tinha preocupações de
empregam na inglória e, por vezes, índole social e reivindicativa (leis laborais
bem rude faina da imprensa periódi- e assistenciais), que estarão na origem do
198 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
A vida da Associação da Imprensa Por- 1895; Quem foi Almeida Garrett, 1903).
tuguesa decairia na passagem para o século Consagrou grande actividade à vida
seguinte, dando sequência a outra instituição, associativa da classe, na antiga Associação
a Associação da Classe dos Trabalhadores da da Imprensa Portuguesa e na Associação dos
Imprensa de Lisboa, fundada em 190525, com Jornalistas e Homens de Letras do Porto, bem
igual espírito democrático e génese do futuro como a homenagens a vultos do jornalismo,
movimento sindicalista nacional dos jorna- como Rodrigues Sampaio26. Representaria
listas. ainda o Instituto de Coimbra, a Associação
Além de uma vida dedicada ao jornalis- de Escritores e Jornalistas de Lisboa, a Real
mo, Alberto Bessa escreveu teatro (O Academia Galega da Corunha e a Real
cabecilha), poesia (Ondeantes, 1883), opereta Academia de Buenas Letras de Barcelona27.
(A reviravolta), colaborou com Guedes de O jornalista anunciara a publicação de outro
Oliveira na imitação da opereta O moleiro livro, Os bastidores do jornalismo, mas não
de Alcalá, Espanhóis em Melilha e Rebenta há indicação em nenhuma biblioteca, o que
a bexiga e fez crítica (Palavra dos Lusíadas, pode significar não o ter concluído.
200 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Bibliografia _______________________________
1
Universidade Católica Portuguesa
2
Aranha, Brito, Factos e homens do meu Alberto Bessa, O jornalismo. Esboço his-
tórico da sua origem e desenvolvimento até aos
tempo. Memórias de um jornalista, Lisboa, nossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Cardoso, 1904,
Parceria António Maria Pereira, 1907. pp. 207-208
Bessa, Alberto, A Associação de Impren- 3
Alberto Bessa, O jornalismo. Esboço his-
sa Portuguesa. Sua fundação e actos da tórico da sua origem e desenvolvimento até aos
comissão instaladora e da comissão especial nossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Cardoso, 1904,
de socorros desde Setembro de 1897 a Março p. 61
4
Eduardo Fernandes, Memórias do
de 1898, Lisboa, Imprensa de Libânio da
“Esculápio”. Das mãos da parteira ao ano da
Silva, 1898a. República, Lisboa, Parceria António Maria Perei-
Bessa, Alberto, A exposição da impren- ra, 1940, p. 73
sa. Número único, Lisboa, Associação da 5
Alberto Bessa, O jornalismo. Esboço his-
Imprensa Portuguesa, 1898b. tórico da sua origem e desenvolvimento até aos
Bessa, Alberto, A Associação da Impren- nossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Cardoso, 1904,
sa Portuguesa no segundo anos da sua p. 219
6
Alberto Bessa, O jornalismo. Esboço his-
existência. Relatório elaborado para ser
tórico da sua origem e desenvolvimento até aos
presente à assembleia-geral, Lisboa, Tipo- nossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Cardoso, 1904,
grafia de O Expresso, 1899. p. 178
Bessa, Alberto, O jornalismo. Esboço 7
Alberto Bramão, O jornalismo, Lisboa,
histórico da sua origem e desenvolvimento Tipografia Rua da Barroca, 1899, p. 20
8
até aos nossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Alberto Bessa, O jornalismo. Esboço his-
Cardoso, 1904. tórico da sua origem e desenvolvimento até aos
nossos dias, Lisboa, Viúva Tavares Cardoso, 1904,
Bessa, Alberto, Enciclopédia do comer-
p. 60
ciante e do industrial, Lisboa, Livraria 9
Jornal do Comércio e das Colónias, 29 de
Central, 1912. Janeiro de 1938
Bessa, Alberto, 100 anos de vida. A 10
Alberto Bessa, Enciclopédia do comercian-
expansão da imprensa brasileira no primei- te e do industrial, Lisboa, Livraria Central, 1912,
ro século da sua existência, Lisboa, Livraria p. xiii
11
O Jornal do Comércio e das Colónias, 1
Central, 1929.
de Janeiro de 1921
Bramão, Alberto, O jornalismo, Lisboa, 12
O Jornal do Comércio e das Colónias, 10
Tipografia Rua da Barroca, 1899. de Abril de 1932
Carvalho, Arons, A censura à imprensa 13
Graça Franco, A censura à imprensa (1820-
na época marcelista, Coimbra, Minerva, 1999 1974), Lisboa, Imprensa Nacional, 1993, p. 49;
Fernandes, Eduardo, Memórias do Arons de Carvalho, A censura à imprensa na época
“Esculápio”. Das mãos da parteira ao ano marcelista, Coimbra, Minerva, 1999, p. 18
14
Arons de Carvalho, A censura à imprensa
da República, Lisboa, Parceria António Maria na época marcelista, Coimbra, Minerva, 1999, p.
Pereira, 1940. 29; Graça Franco, A censura à imprensa (1820-
Franco, Graça, A censura à imprensa 1974), Lisboa, Imprensa Nacional, 1993, p. 70
15
(1820-1974), Lisboa, Imprensa Nacional, Alberto Bessa, A Associação de Imprensa
1993. Portuguesa. Sua fundação e actos da comissão
Sobreira, Rosa Maria, Os jornalistas instaladora e da comissão especial de socorros
desde Setembro de 1897 a Março de 1898, Lisboa,
portugueses, 1933-1974. Uma profissão em Imprensa de Libânio da Silva, 1898a, pp. 6-7
construção, Lisboa, Livros Horizonte, 2003 16
José Carlos Valente, Elementos para a
Tengarrinha, José Manuel, História da história do sindicalismo dos jornalistas portugue-
imprensa periódica portuguesa, Lisboa, ses, Lisboa, Sindicato dos Jornalistas, 1998
17
Portugália, 1965. José Carlos Valente, Elementos para a
Valente, José Carlos, Elementos para a história do sindicalismo dos jornalistas portugue-
ses, Lisboa, Sindicato dos Jornalistas, 1998, p. 33
história do sindicalismo dos jornalistas 18
Rosa Maria Sobreira, Os jornalistas por-
portugueses, Lisboa, Sindicato dos Jornalis- tugueses, 1933-1974. Uma profissão em constru-
tas, 1998. ção, Lisboa, Livros Horizonte, 2003
JORNALISMO 201
19
Alberto Bessa, A exposição da imprensa. Relatório elaborado para ser presente à
Número único, Lisboa, Associação da Imprensa assembleia-geral, Lisboa, Tipografia de O Expres-
Portuguesa, 1898b so, 1899, pp. 21-22
20 23
Alberto Bessa, A Associação de Imprensa José Manuel Tengarrinha, História da
Portuguesa. Sua fundação e actos da comissão imprensa periódica portuguesa, Lisboa, Portugália,
instaladora e da comissão especial de socorros 1965, p. 23424 Alberto Bessa, A Associação da
desde Setembro de 1897 a Março de 1898, Lisboa, Imprensa Portuguesa no segundo anos da sua
Imprensa de Libânio da Silva, 1898a; Alberto existência. Relatório elaborado para ser presente
Bessa, A Associação da Imprensa Portuguesa no à assembleia-geral, Lisboa, Tipografia de O
segundo anos da sua existência. Relatório ela- Expresso, 1899, pp. 28-29
25
borado para ser presente à assembleia-geral, Rosa Maria Sobreira, Os jornalistas por-
Lisboa, Tipografia de O Expresso, 1899 tugueses, 1933-1974. Uma profissão em constru-
21
Alberto Bessa, A Associação da Imprensa ção, Lisboa, Livros Horizonte, 2003, p. 37
26
Portuguesa no segundo anos da sua existência. Brito Aranha, Factos e homens do meu
Relatório elaborado para ser presente à tempo. Memórias de um jornalista, Lisboa, Par-
assembleia-geral, Lisboa, Tipografia de O Expres- ceria António Maria Pereira, 1907, p. 120
27
so, 1899, p. 30 Alberto Bessa, 100 anos de vida. A expan-
22
Alberto Bessa, A Associação da Imprensa são da imprensa brasileira no primeiro século da
Portuguesa no segundo anos da sua existência. sua existência, Lisboa, Livraria Central, 1929.
202 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 203
Os Temas da Guerra.
Estudo exploratório sobre o enquadramento temático
da Guerra do Iraque na Televisão
Telmo Gonçalves1
A Guerra do Iraque foi o conflito inter- Foi na madrugada desse dia que o presidente
nacional mais mediatizado dos últimos tem- norte-americano e os media nos deram conta
pos. Cidadãos de diferentes pontos do globo «em directo» do começo do conflito, que
seguiram de perto, nomeadamente através das vimos deflagrar diante dos nossos olhos
televisões, a evolução de mais um conflito através dos ecrãs de televisão. Uma estação
nas areias do deserto iraquiano, que rapida- de televisão portuguesa, a RTP, teve mesmo
mente se transformou num hiperaconteci- a «felicidade» de ser a primeira a transmitir
mento mundial. Os media prepararam com em directo o início dos bombardeamentos
tempo a grande cobertura mediática de um sobre Bagdade, antecipando-se em poucos
conflito anunciado. Em finais de Janeiro de minutos às grandes cadeias de televisão
2002, no seu discurso do Estado da União, globais.
celebrizado pela metáfora do «eixo do mal», Uma dupla de reportagem, formada por
George W. Bush deixou claro que as ope- Carlos Fino e Nuno Patrício, da janela de
rações em curso no Afeganistão constituíam um quarto de hotel estrategicamente
apenas a primeira fase de uma estratégia posicionado com vista sobre o rio Tigre, fez
global mais vasta. «Aquilo que encontrámos o relato dos primeiros bombardeamentos à
no Afeganistão confirma que, longe de acabar capital iraquiana. As imagens do relato trans-
aqui, a nossa guerra contra o terror está mitidas através de videofone dificilmente
apenas no início»2, declarou o presidente dos deixavam perceber aquilo que se estaria a
EUA, apontando a Coreia do Norte, o Irão passar: pontos de luz a piscar no ar, a imagem
e o Iraque como os pólos da grande ameaça pouco definida do repórter na varanda, uma
terrorista à paz mundial. A administração vista quase imperceptível sobre uma parte da
norte-americana foi deixando perceber que cidade... No entanto, são estas imagens de
o Iraque constituiria a fase seguinte da Guerra fraca definição que povoam a nossa memória
ao Terrorismo. como marco simbólico do início deste con-
No dia 20 de Março de 2003, poucos flito. A própria RTP não se cansou de re-
minutos depois das 2.30h da madrugada, forçar o simbolismo do momento, difundin-
mostraram-se em directo na televisão os do insistentemente um «spot»
primeiros sinais da guerra. As operações autopromocional a recordar o feito excepci-
militares terrestres já tinham começado pelos onal de ter transmitido «em exclusivo» - três
menos um dia antes 3. Mesmo antes da minutos antes da CNN !(cf. Santos, 2003:
apresentação do problema do Iraque ao 26) – os primeiros bombardeamentos da
Conselho de Segurança, em Setembro de Guerra do Iraque.
2002, que conduziu à Resolução 1441, os
EUA já tinham decidido intensificar os Da «comunicação estratégica» à «guerra
bombardeamentos aéreos sobre a zona de em directo»
exclusão aérea, de forma a destruir os sis-
temas de comunicações e de defesa aérea As primeiras bombas sobre Bagdade
iraquianos, preparando assim o «campo de iniciaram uma outra guerra, paralela àquela
batalha» para uma ofensiva terrestre (Clark, que se travava no terreno, mas com efeitos
2004: 41). Terá sido esta a primeira fase da decisivos na condução político-estratégica das
guerra, discreta e invisível, mas extraordi- operações. Os media constituem, com as suas
nariamente decisiva e também letal. possibilidades tecnológicas de mediatização,
Será, no entanto, o dia 20 que ficará na parte integrante dos conflitos internacionais
história a marcar o início da Guerra do Iraque. e das equações estratégicas dos contendores.
204 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
como sucede com os militares envolvidos nas esta guerra foi tematicamente enquadrada.
missões operacionais4. A opção pela incor- Pretendemos, mais precisamente, demonstrar
poração de jornalistas também se justificava quais as problemáticas que, numa perspec-
para evitar as críticas recorrentes dos media tiva macro do fenómeno da guerra, foram
à Administração norte-americana e ao privilegiadas nas opções editoriais da RTP1,
Pentágono, como aconteceu nos conflitos de uma das cadeias de televisão nacionais que
Granada, Panamá, primeira Guerra do Golfo mais investiram e se destacaram na cober-
e Afeganistão. tura deste conflito.
Estima-se que terão sido mobilizados no A hipótese que submetemos aqui a um
total mais de 3000 jornalistas para a região primeiro teste é a de saber se os
durante o conflito, alguns deles a trabalhar enquadramentos mediáticos da Guerra do
numa espécie de versão «embedded» junto Iraque privilegiaram essencialmente os fac-
das autoridades iraquianas. Foram, no entan- tores relacionados com a dimensão estraté-
to, as televisões árabes Al-Jazeera e Abu gico-militar do conflito, anulando outras
Dhabi TV, reportando a guerra através do seu problemáticas importantes para a construção
enquadramento sócio-culutral e usufruindo de de uma percepção multidimensional de um
maior liberdade de acção no lado iraquiano, dos fenómenos sociais mais complexos e
quem terá causado mais problemas à estra- dramáticos que qualquer sociedade pode
tégia da coligação, divulgando as primeiras conhecer.
imagens de soldados americanos mortos e de
vítimas civis dos bombardeamentos sobre «Framing» e enquadramentos temáticos
Bagdade.
O cenário de comunicação da Guerra do A abordagem do framing, que conta com
Iraque foi significativamente diferente, mas mais de duas décadas de evolução nos es-
a questão central que se levanta no estudo tudos do jornalismo, apresenta-se-nos como
do fenómeno de hipermediatização dos con- um bom quadro teórico de referência para
flitos permanece a mesma. Em síntese, trata- o desenvolvimento da nossa problemática.
se de saber de que forma os actores político- Esta corrente de investigação vai buscar as
estratégicos e os media interagem na cons- suas bases teóricas à sociologia de Erving
trução da percepção pública da guerra. Goffman, transpondo para a análise do dis-
Responder a esta questão implica, por um curso jornalístico a noção de «frame» desen-
lado, investigar em que medida as concep- volvida pelo sociólogo na sua obra Frame
ções das elites políticas e militares influen- Analysis (1974). Na tese de Goffman, os
ciaram os enquadramentos através dos quais enquadramentos surgem como princípios
os media foram construindo a narrativa básicos de organização das nossas experiên-
mediática da guerra, e, por outro lado, tentar cias, que operam uma espécie de «corte»
conhecer de que forma os constrangimentos artificial sobre a realidade de forma a con-
de mediatização de uma realidade tão com- ferirem-lhe um sentido, definindo não só a
plexa como é uma guerra, associados a uma forma como interpretamos as situações, mas
certa mitificação que o jornalismo de guerra também como interagimos com os outros. «[A
recebe na cultura jornalística, concorrem para definição de uma] situação é construída em
a definição dos enquadramentos que definem concordância com princípios de organização,
em grande medida a construção da nossa os quais governam os acontecimentos – pelo
percepção da realidade. menos os sociais – e o nosso envolvimento
O trabalho que aqui trazemos não tem subjectivo neles... ‘frame’ é a palavra que
propósitos tão ambiciosos. Trata-se de um utilizo para me referir a tais elementos
estudo exploratório que concorre para esse básicos...», explica Goffman (1974: 10 e 11).
grande objectivo último, mas que se circuns- Em síntese, os enquadramentos apresentam-
creve apenas a um aspecto particular dos se como os processos através dos quais as
enquadramentos mediáticos operados por um sociedades reproduzem sentido, estruturando
canal de televisão nacional durante a primei- a nossa experiência individual da realidade.
ra semana do conflito no Iraque. O que É com base nesta proposta que se vão
pretendemos dar a conhecer é a forma como desenvolver os estudos pioneiros da aborda-
206 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
crítérios de actividade social no es- com o mínimo de prejuízos, no mais curto espaço
paço público (...), o domínio cénico de tempo. É neste contexto que surge a noção
constitui a estruturação desse campo de estratégia integral, que estende a reflexão
como o ‘universo referencial’ que o do fenómeno da guerra muito além do estrito
media constrói. Este universo domínio da aplicação do potencial militar.
referencial não corresponde por isso De acordo com o que sugere a noção de
a um corte apriorístico do conteúdo, estratégia integral, podemos analisar o fenó-
ele depende do papel que jogam os meno da guerra segundo as diferentes for-
actores implicados no acontecimento mas de coacção que um actor político pode
relatado: seja um papel de acção, seja mobilizar na resolução de um conflito:
um papel de palavra. (...) O critério coacção militar, coacção político-diplomáti-
para definir o domínio cénico é, assim, ca, coacção económica e coacção psicológi-
um critério de’actancialização (quem ca. A cada uma destas formas de coacção,
faz o quê sobre quem?), descrevendo corresponderá um domínio específico de
os «actantes», os processos nos quais acção estratégica. Teremos, assim, uma es-
eles se encontram implicados e as tratégia psicológica – responsável pela ac-
finalidades que é suposto prossegui- ção dirigida às opiniões públicas e às forças
rem, e de declaração (quem fala a morais (civis e militares) do campo do
quem a propósito do quê?), descre- adversário (propaganda, contrapropaganda e
vendo os sujeitos da palavra, o valor informação); uma–estratégia político-diplo-
discursivo desta e a finalidade que eles mática – centrada na acção dos actores
visam.» (2001: 33). políticos e diplomáticos (política interna e
política externa); uma estratégia económica
É através da forma como os actores – responsável pela criação e rentabilização
intervêm no discurso jornalístico, das qua- de recursos económico-financeiros para a
lidades em que participam (políticos, mili- prossecução dos objectivos político-estraté-
tares, diplomatas, agentes humanitários, ci- gicos e pela redução das capacidades eco-
vis...) na acção e dos seus actos de discurso nómicas das forças adversas (produção, fi-
que se define em grande medida o enqua- nanceira, comércio externo...); e, por fim, uma
dramento temático dos acontecimentos. É, estratégia militar – responsável pela com-
neste sentido, centrado na forma como o binação dos diferentes recursos do potencial
discurso jornalístico reproduz as acções e militar (terrestre, marítimo e aeroespacial)
apresenta os seus actores, bem como as (Cf. Couto, 1989: 227-239).
selecções que opera dos seus actos de pa- É com base neste quadro de referência
lavra, que pretendemos operacionalizar neste que os actores políticos e militares conce-
estudo o enquadramento temático como bem uma manobra estratégica integrada,
categoria analítica. reflectindo cada domínio de acção uma
problemática particular em que se pode
a) Macrotemas subdividir a análise do fenómeno da guerra.
Propomos a utilização deste racional para a
As teorias da estratégia, que têm por definição dos macrotemas da análise da
objecto central o estudo das situações reais guerra, acrescentando-lhe a dimensão civil,
e potenciais de conflito com que uma «uni- que, naturalmente, ele não integra. Conside-
dade política» se pode defrontar (Cf. Couto, ramos, assim, cinco enquadramentos
1989: 195), oferecem-nos um quadro macrotemáticos na nossa análise:
multidimensional para reflectirmos sobre o - estratégico-militar: todas as acções que
fenómeno da guerra. As concepções estra- representem opções da condução da estraté-
tégicas contemporâneas adoptam uma visão gia militar da guerra e/ou operações milita-
integrada de todo o processo de conflito, res efectivas (terrestres, aéreas, marítimas) –
sugerindo que a boa acção estratégica é aquela (p. ex., análises de especialistas sobre a
que consegue rentabilizar com eficácia os condução da estratégia da guerra, actores
diferentes recursos de uma «unidade políti- políticos ou militares a comentar a evolução
ca» com vista a atingir objectivos políticos das operações, tropas em combate);
208 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
será certamente interessante num estudo mais ção do pivô e qualquer outro elemento de
global, que não teríamos hipótese de desen- mediatização introduzido pela sua «voz». Esta
volver no contexto de um trabalho opção justifica-se porque é o «lead» do pivô
exploratório. que tem como objectivo conferir um primei-
ro sentido de enquadramento ao conteúdo de
Aspectos metodológicos outros géneros jornalísticos. Considerámos,
assim, diferentes formatos da mediatização
Os dados apresentados neste estudo são que utilizámos também como indicadores
resultado do desenvolvimento de uma aná- complementares para análise. No conjunto
lise quantitativa dos telejornais da RTP1, dos sete programas, foram analisados 199
emitidos entre os dias 20 de Março de 2003 itens, cujo conteúdo se encontrava ligado ao
e 26 de Março de 2003. Para a cobertura conflito no Iraque, e classificados 37 itens
da Guerra do Iraque, este canal de serviço referentes a outros assuntos.
público de televisão adoptou um modelo de Na análise dos enquadramentos
informação em contínuo, com a abertura na macrotemáticos, procedemos, como referimos
grelha de emissão de espaços informativos anteriormente, a uma classificação gradativa,
especiais («Jornal da Guerra», «Diário da segundo a qual todos os itens eram anali-
Guerra»), tentando dar aos seus telespecta- sados em quatro níveis: sem significado,
dores a sensação de cobertura em tempo real significado mínimo, significado moderado e
da evolução do conflito. A grelha de alinha- significado acentuado. Na análise dos resul-
mento global da estação ficou, assim, subor- tados finais, concluímos que os níveis inter-
dinada às expectativas de evolução dos médios («significado mínimo» e «significa-
acontecimentos, o que lhe permitiu, por do moderado») não apresentavam relevância
exemplo, emitir em directo o início dos estatística, pelo que optámos por agregar os
bombardeamentos sobre Bagdade. seus resultados aos outros dois níveis (res-
Apesar desta opção editorial, segundo a pectivamente, «sem significado» e «signifi-
qual as exigências da informação ultrapas- cado acentuado»).
sam qualquer lógica de programação pré- Para análise dos enquadramentos
definida, ocupando espaços que tradicional- microtemáticos, uma vez que poderiam surgir
mente são designados para o entretenimento, numa forma afirmativa, negativa ou neutra,
este canal da RTP manteve no mesmo ho- optámos por considerar esses três campos de
rário o programa Telejornal, aproveitando este classificação, o que se revelou infrutífero
momento tradicional de encontro com o seu neste estudo, pois todos os itens com refe-
público para dar as últimas novidades sobre rência a microtemas apresentaram-se-nos
a evolução do acontecimento e fazer um ponto sempre na forma «afirmativa». Pensamos, no
de situação sobre a cobertura geral da guerra entanto, que as três possibilidades de clas-
durante o dia, além de apresentar ainda outros sificação poderão fazer sentido em análises
assuntos que marcavam a actualidade. A futuras.
manutenção do formato habitual deste pro-
grama de informação facilitou a constituição Resultados
do corpus de análise do nosso estudo, pois
seria praticamente impossível não só obter O período analisado coincide com a fase
registos completos de todos os especiais de inicial da ofensiva terrestre da tropas da
informação realizados sobre a guerra, como coligação em território iraquiano, que pode-
também conseguir em pouco tempo, sem uma mos considerar «a primeira fase da guerra»
equipa de investigação, analisar um volume (cf. Clark, 2004). Nos primeiros três dias (20
de elementos tão vasto. Partimos, assim, do a 22), assistimos aos bombardeamentos sis-
pressuposto de que as edições do Telejornal temáticos sobre a capital iraquiana (à ten-
constituem uma «amostra» substantiva da tativa de «capitulação» de Saddam Hussein
cobertura geral da Guerra do Iraque reali- e à campanha «Choque e Pavor», como
zada pela RTP1. anunciou o secretário da Defesa norte-ame-
Como unidade de análise básica utilizá- ricano), aos confrontos entre tropas terrestres
mos o conjunto constituído pela apresenta- e à sua progressão no terreno em direcção
210 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Os efeitos directos e indirectos da guerra a acção dos media durante as várias fases
sobre as populações civis encontram-se pre- da crise iraquiana, que aponta para a existên-
sentes com um significado «moderado» ou cia de uma diferença substantiva no destaque
«acentuado» em cerca de um terço dos itens que a imprensa (Sun, Daily Mirror, Daily
dos telejornais (Anexo – Gráfico 3i). É, assim, Telegraph, Guardian) e as televisões (BBC,
a terceira dimensão da problemática geral da ITN) conferiram às justificações da guerra
guerra mais destacada, registando uma ten- durante a fase de invasão. A investigação de
dência estável ao longo de toda a semana, Howard Tumber e Jerry Palmer constata a
com uma excepção no 3º dia, em que ganha existência de uma desproporção drástica entre
maior destaque (Anexo – Gráfico 3j). a atenção conferida pelas televisões aos
aspectos relacionados com a condução da
b) Onde estão os temas da controvérsia? guerra e a atenção prestada às justificações
e consequências políticas a longo prazo
Tabela 1 - Enquadramentos (2004: 96-113). A partir do momento em que
Microtemáticos Bagdade passa a ser dominada pelas forças
da coligação, segundo o mesmo estudo,
Temas Coligação Temas Adversos verifica-se uma mudança dramática do focus
Armas de atenção das televisões, que passa a con-
Legalidade
de Destruição 10
Internacional
7 centrar-se mais nas consequências da guerra
Massiva
do que na sua condução, enquanto a impren-
Interesses
Ligação Terrorismo 1
Económicos
0 sa mantém uma tendência mais equilibrada
Diabilização Choque
entre as duas dimensões (2004: 102).
4 1
Regime Iraquiano Civilizacional
Total 15 Total 8 Conclusão
O dado mais surpreendente com que nos As conclusões que podemos extrair de um
fomos deparando ao longo do estudo foi a estudo exploratório terão de ser sempre
constatação de uma quase ausência dos sujeitas a uma interpretação ainda mais atenta
microtemas mais recorrentes que alimenta- e rigorosa do que as das investigações aca-
ram – e que ainda alimentam – a esfera de badas, sobretudo quando se trata de análises
controvérsia gerada em torno do debate empíricas exclusivamente quantitativas, ex-
público sobre a intervenção militar no Iraque. traordinariamente úteis como ponto de par-
Apenas 10 por cento dos itens do conjunto tida, mas que tendem a deixar de lado
dos telejornais apresentaram alguma ligação pormenores importantes que só uma análise
com pelo menos um dos seis temas que qualitativa poderá relevar.
definimos no nosso modelo de análise (Ane- Realizámos este trabalho com a intenção
xo – Gráfico 4a). de testar conceitos, um modelo de análise
Nos poucos casos identificados, os temas e a razoabilidade de algumas hipóteses, na
da coligação anglo-americana representam expectativa de encontrarmos caminhos mais
quase o dobro dos temas adoptados pelas seguros para progredirmos na investigação
visões anti-coligação ou pró-iraquianas. No da sua problemática central. A evolução desta
conjunto de todos os temas, a questão das investigação deverá passar não só pelo alar-
armas de destruição maciça foi a mais fre- gamento do seu corpus, tanto no tempo como
quente, enquanto a problemática da falta de nos sujeitos analisados, mas também pela
legitimidade internacional surge em segundo concepção de um modelo de análise quali-
lugar. A questão das possíveis motivações tativa, que contemple outros dispositivos de
económicas por detrás do conflito não é enquadramento mediático, além dos
colocada; a ligação do regime de Saddam a enquadramentos temáticos. Permitimo-nos, no
grupos terroristas e a visão do problema pelo entanto, sublinhar uma conclusão no contex-
prisma do modelo «choque de civilizações» to do nosso corpus, que é limitado, mas
aparecem uma vez. espelha parte significativa da atitude edito-
Estes resultados vão ao encontro das rial de uma estação de televisão num período
conclusões apuradas num estudo recente sobre crucial da Guerra do Iraque.
212 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Se as notícias são, como descreve to, ofereceu aos seus telespectadores uma
Tuchman, «uma janela para o mundo», que versão essencialmente unidimensional do
«pretendem dar-nos aquilo que queremos fenómeno da guerra, com uma excelente vista
saber, necessitamos de saber e devemos para a «frente de combate», mas de costas
saber» (1978: 1), a janela dos telejornais da voltadas à controvérsia sobre a sua existên-
RTP1, durante a primeira semana de confli- cia.
JORNALISMO 213
Anexo
1. Agenda Geral
2. Modalidades da Mediatização
JORNALISMO 215
3. Enquadramentos Macrotemáticos
216 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 217
218 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
4. Enquadramentos microtemáticos
JORNALISMO 219
crítico y creativo de los medios a nuestro dando lecciones de ética, saber hacer,
alcance. confianza y proximidad que deberían ser
Si bien hay iniciativas de medios que adoptadas por los medios de comunicación
están incorporando weblogs a sus tradicionales. Tomemos sus elementos
redacciones35, éstas no deben quedarse en el positivos como una motivación para el
simple exotismo formal de dar una apariencia aprendizaje continuo en la práctica de un
de modernidad. La evolución de los weblogs periodismo de calidad, un Periodismo
está suponiendo algo más que la mera Participativo como no podría ser de otra
proliferación de páginas personales: están manera en una sociedad democrática.
226 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
13
_______________________________ http://dear_raed.blogspot.com/ Para más
1
Universidad Complutense de Madrid. información, consultar la entrevista con Salam
2
We media. How audiences are shaping the Pax en el foro interactivo de BBC News: http:/
future of news and information. http:// /newsvote.bbc.co.uk/mpapps/pagetools/print/
w w w. h y p e r g e n e . n e t / w e m e d i a / d o w n l o a d / news.bbc.co.uk/2/hi/talking _point/3116344.stm
14
we_media.pdf Formato html disponible en: Allbritton, C. Blogging from Iraq. Harvard
www.hypergene.net Nieman Report. Otoño 2003. Pág. 84 http://
3
El movimiento We Media es también el título www.nieman.harvard.edu/reports/03-3NRfall/
del libro que uno de sus mayores precursores, Dan V57N3.pdf
15
Gillmor, está escribiendo sobre Periodismo Mernit, S. “Blogging sites and the blogging
Participativo. Gillmor propone en su página web controversy”. Declaraciones de la portavoz de
h t t p : / / w e b l o g . s i l i c o n v a l l e y. c o m / c o l u m n / la CNN Edna Jonson. Online Journalism Review.
dangillmor/ la discusión de los capítulos que tiene 03/04/2003. http://www.ojr.org/ojr/workplace/
proyectados para su libro y se compromete a p1049381758.php
16
incorporar las contribuciones de los usuarios. Outing, S. Journalists debate closure of
4
We media. Pág. 6. another blog. Online Journalism Review. 29/04/
5
Díaz Noci, J y Salaverría, R. Manual de 2003. http://www.ojr.org/ojr/glaser/
Redacción Ciberperiodística (2003). Barcelona, 1051593413.php
17
Ariel. Capítulo 6. Pág. 296. Datos del Observatorio Español de Internet.
6
Las tecnologías propias del formato weblog http://www.obsinternet. com/
18
son principalmente los sistemas de Trackback y El tráfico en Internet se dispara. Elmundo.es
RSS. Gracias al sistema Trackback podemos seguir http://www.elmundo.es/navegante/2004/03/11/
el rastro del impacto que nuestra publicación haya esociedad/1079024472.html
19
podido tener en otras webs, por medio de un Ari. Espejito, espejito.
link automático a esas referencias. Por su parte, http://ari28.blogspot.com/
la tecnología RSS o Really Simple Syndication 2004_03_01_ari28_archive.html [11/03/2004]
20
se basa en el lenguaje XML y nos permite Ejemplos de ello están disponibles en las
subscribirnos -y ser susceptibles de subscripción siguientes direcciones: http://www.esfazil.com/
por parte de otros- a aquellas webs de noticias kaos/noticia.php?id_noticia=1312 y http://
y weblogs que publiquen en ese formato -por manipuladores.webcindario.com/
21
ejemplo, el New York Times-, de tal manera que Lasica, J.D. “Blog and journalism need each
podamos recibir regularmente sus titulares. other”. Harvard Nieman Report. Otoño 2003. Pág.
7
Gillmor, D. Google Buys Pyra: Blogging 71 http://www.nieman.harvard.edu/reports/03-
Goes Big-Time. 15/02/2003 3NRfall/V57N3.pdf
22
http://weblog.siliconvalley.com/column/ Lasica, J.D. “Blog and journalism need each
dangillmor/archives/000802.shtml other”.Harvard Nieman Report. Otoño 2003. Pág.
8
Los servidores de weblog gratuito estudiados 72 http://www.nieman.harvard.edu/reports/03-
son Blog-City, BlogSpot- Blogger, Diaryland, 3NRfall/V57N3.pdf
23
LiveJournal, Pitas, TypePad, Weblogger y Xanga. El diario ‘USA Today’ acusa a su ex
Informe Perseus. The blogging iceberg. [Consulta: reportero estrella de inventar y plagiar sus
08/10/2003]. http://www.perseus.com/blogsurvey mejores historias.
9
Para localizar un weblog se puede emplear El Mundo. http://www.elmundo.es/elmundo/
un buscador especializado como el Blogdex http:/ 2004/03/19/comunicacion/1079705712.html 19/
/blogdex.media.mit.edu desarrollado por el MIT 03/2004
(Massachussets Institute of Technology) en 2001 24
Le Net épie l’éthique de la presse.
que permite la búsqueda por la dirección web o Liberation.
por texto. También resulta útil la búsqueda a través http://www.liberation.fr/
de los directorios, donde los weblogs vienen page.php?Article=187702 20/03/2004
listados en función de su tema, idioma, etc. Entre 25
Paul Grabowicz, “Weblogs bring journalists
ellos cabe destacar www.bitacoras.net y into a larger community”. “Harvard Nieman
www.blogalia.es como referente en castellano. Report. Otoño 2003.
10 26
Winer, D. http://blogs.law.harvard.edu http://www.campaigndesk.org/
11 27
BloggerCon. Dan Gillmor en declaraciones vía email a
http://blogs.law.harvard.edu/bloggerCon/ Mark Glaser.
12
Pew Internet & American Life Project. One http://ojr.org/ojr/glaser/1076465317.php 10/02/
year later: September 11 and the Internet. 5/09/ 2004
2002. http://www.pewinternet.org/reports/ 28
Adopt-A-Journalist.
toc.asp?Report=69 http://www.scribestalker.com/watch/
JORNALISMO 227
29
Glaser, M. ‘Watchblogs’ Put the Political Researching_ICTS_in_context_ch11_Mortensen_Walker.
35
Press Under the Microscope. 11/02/2004 http:// Algunos periódicos han optado por
ojr.org/ojr/glaser/1076465317.php incorporar a bloggers populares a sus redacciones
30
Baum, G. Tweaking The Times Nose. Online como colaboradores habituales. Es el caso del
Journalism Review. 27/03/2002 http://www.ojr.org/ iraquí Salam Pax y sus artículos en el diario The
ojr/workplace/1017265278.php Guardian y el de Den Beste, un ingeniero
31
Jay Rosen. Why I Love the Adopt-a-Reporter desempleado de San Diego que después de dos
Scheme. Why I Dread It. http://journalism.nyu.edu/ años escribiendo sobre análisis internacional en
pubzone/weblogs/pressthink/2004/01/14/ su weblog ha pasado a ser colaborador de The
watch_site s.html 14/01/2004. Wall Street Journal. Entre los medios que han
32
Welch, M. The new amateur journalists apostado por la incorporación de weblogs dentro
weigh in. Columbia Journalism Review. 2003. de sus páginas, cabe destacar el portal de internet
Septiembre-Octubre. Volumen 5. http:// MSNBC y los medios británicos The Guardian
www.cjr.org/issues/2003/5/blog-welch.asp (http://www.guardian.co.uk/weblog) y BBC News,
33
Glaser, M. The infectious desire to be linked que habilitaron weblogs para sus corresponsales
in the blogosphere. Harvard Nieman Report. Otoño durante la guerra de Iraq. Concretamente, la
2003. Pág. 88 http://www.nieman.harvard.edu/ cadena BBC mantiene un weblog donde invita
reports/03-3NRfall/V57N3.pdf a sus lectores a enviar fotografías y vídeos
34
Tory Mortensen y Jill Walker. Bloggin personales sobre eventos periodísticos que son
Thoughts: personal publication as an online planificados con anterioridad, como por ejemplo
research tool. Artículo académico. material de una manifestación contra la guerra
http://www.intermedia.uio.no/konferanser/ (http://news.bbc.co.uk/1/hi/talking_point/
s k i k t - 0 2 / d o c s / 2780295.stm).
228 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 229
que passamos a nos interessar por esse tema, dos pelo político, na medida em que o poder
em discussões e o intercâmbio com os pro- sindical subordina esses instrumentos à es-
tagonistas da informação sindical – em reu- tratégia sindical (o projeto sindical). Essa
niões, debates, conferências e seminários lógica impõe um controle mais ou menos
promovidos em torno de temas relacionados rigoroso por parte das direções sindicais sobre
à imprensa dos sindicatos – permitiram que a produção redacional e sobre os conteúdos
resgatássemos, ainda, um certo número de editoriais das publicações sindicais. As
elementos de análise bastante úteis à nossa redações são, assim, na maior parte das vezes,
empreitada. impelidas a fazerem escolhas informativas de
A observação direta do campo de pes- acordo com as orientações determinadas pelo
quisa foi facilitada graças à nossa experiên- poder sindical. Não raramente, decisões
cia de cinco anos como redator chefe de uma redacionais são operadas à total revelia dos
publicação sindical, o que possibilitou que jornalistas, cabendo ao dirigente responsável
“freqüentássemos”, durante todo esse tempo, pela imprensa – ou ao próprio presidente da
as práticas e os discursos do jornalismo de organização – a decisão, em última instância,
informação sindical. São justamente essas sobre o que deve ou não ser publicado no
práticas e esses discursos que tentamos, acima jornal do sindicato. Colocada sob a vigilân-
de tudo, descrever e compreender neste cia direta da direção sindical, a redação e
trabalho. A observação dos atores no próprio seus jornalistas deparam-se com um certo
campo de ação permite, de fato, melhor captar número de obstáculos que restringem sua
as verdadeiras manobras subentendidas nas margem de manobra e sua capacidade de
estratégias de cada indivíduo ou grupo e as iniciativa no que concerne tanto às suas
relações de interdependência que se estabe- escolhas redacionais como a seu modo de
lecem entre eles – nesse caso, entre jorna- operar jornalístico.
listas, dirigentes e militantes sindicais – em A denominação de “árbitros” que Paillet4
função dos objetivos que perseguem esses utiliza para designar aqueles que verdadei-
atores no contexto da produção e da difusão ramente decidem nas redações (diretores de
da informação sindical. Nesse sentido, pro- publicação, redatores chefes, articulistas bem
curamos – sempre que possível durante a colocados, editorialistas cotados, etc.) pode,
pesquisa de campo – direcionar ao máximo de certa maneira, ser atribuída aos dirigentes
nossa atenção para as práticas em curso nas que orientam a informação sindical, mesmo
redações sindicais, o que nos possibilitou que esse paralelo pareça um tanto temerário,
confrontar os resultados da observação com haja vista as diferenças significativas que se
os discursos emitidos pelos próprios atores podem observar entre o universo da impren-
sobre suas práticas (quando das entrevistas sa sindical e o de outros meios de comu-
que realizamos no âmbito deste trabalho). O nicação. A comparação, no entanto, parece
material recolhido a partir da observação de apropriada no sentido de mostrar o poder de
campo foi, portanto, enriquecido por uma decisão dos dirigentes sindicais quanto à
série de entrevistas não somente com os definição da informação veiculada na mídia
agentes diretamente envolvidos na produção sindical. Os fatos estão aí, dificilmente
da informação sindical (jornalistas e dirigen- refutáveis: a determinação dos conteúdos
tes), mas também com pessoas mais ou menos informativos, as prioridades editoriais, os
ligadas a esse universo, graças aos quais pontos de vista – em resumo, todos os
obtivemos informações complementares elementos que compõem, por assim dizer,
importantes.3 uma política editorial – são, em boa medida,
Do papel destinado à imprensa dos tributários das decisões desses–“árbitros” que
sindicatos e das contradições que vivem as representam os dirigentes sindicais na rea-
redações sindicais lidade quotidiana das redações. Investidos de
um poder concreto que lhes confere a po-
Ao longo desse trabalho de investigação, sição que ocupam no seio da estrutura, eles
foi possível observar que o papel da infor- correspondem, nesse sentido, ao que Paillet
mação e a “missão” dos meios de comuni- nomina as “camadas superiores” de uma
cação sindicais são amplamente determina- estrutura redacional, enquanto os jornalistas
JORNALISMO 231
(que, segundo sua visão, são simples técni- (...) Os atores dispõem de uma
cos) se enquadram, por sua parte, na cate- margem de liberdade que eles utili-
goria de “proletários”, condenados que são zam de maneira estratégica em suas
a executar o que decidem os primeiros (se- interações com os outros”6.
guidamente, sem muito se interrogar sobre
suas motivações)5. Encontramos, fundamentalmente, duas
Se os dirigentes dispõem, desse modo, de situações que se apresentam ao jornalista
uma latitude de intervenção que lhes permite sindical como possibilidade de ampliar sua
agir tanto sobre as determinações prelimina- margem de manobra no dia a dia de uma
res relacionadas às tarefas da redação (defi- redação. A primeira tem a ver com a natu-
nição da pauta, indicação das fontes, etc.), reza do tema a ser tratado em seu artigo ou
como sobre o enfoque a ser dado às infor- com a seção do jornal para a qual escreve.
mações coletadas (maneira de tratar a infor- A segunda tem origem no abrandamento
mação), o mesmo não se pode dizer da suscetível de intervir na vigilância que exerce
capacidade de decisão e de ação dos jorna- o sindicato sobre o trabalho da redação,
listas sindicais. É falso, no entanto, pensar que ocasião em que esta pode se (re)apropriar do
a margem de manobra das equipes redacionais controle sobre sua produção. Tomemos o
se reduz às operações técnicas de produção exemplo do primeiro caso: a autonomia e a
das notícias, portanto, à execução de tarefas margem de manobra do jornalista sindical
práticas. Em nosso trabalho, exploramos jus- serão, em larga medida, tributários da natu-
tamente a hipótese de que, apesar dos modos reza do tema constituindo o objeto de seu
de estruturação e das regras de funcionamento trabalho redacional. Isso quer dizer, funda-
das redações sindicais que tendem a mentalmente, que, quanto mais ele tratar
obstaculizar a atividade jornalística – em temas não prioritários aos olhos da institui-
função, fundamentalmente, dos objetivos que ção, menos forte será a vigilância desta. Um
impõem os sindicatos à informação e à sua jornalista a quem será confiada a tarefa de
imprensa –, esses fatores não eliminam por escrever um artigo sobre um assunto caro à
completo a capacidade de ação dos jornalis- organização (uma greve por exemplo), terá
tas. Na realidade, eles conseguem, a partir de mais chances de ver seu texto submetido ao
estratégias próprias, construir um certo grau controle da direção. Em contrapartida, a
de autonomia e de liberdade, transformando cobertura de uma manifestação cultural é
as salas de redação sindicais em espaços onde muito provável que não seja submetida a
as práticas jornalísticas permanecem viáveis. outro que não o (a) redator (a)-chefe do jornal.
E é nessa perspectiva que eles pensam e
enquadram suas ações. Concepções diferentes da informação como
Apoiamos nossa demonstração nas noções fonte principal de conflitos
contidas na “análise estratégica” de Crozier
e Friedberg, destacando, em particular, seu As concepções diferentes, muitas vezes
postulado sobre a liberdade relativa dos atores divergentes, que têm dirigentes e jornalistas
e a idéia do poder enquanto jogo central de sindicais dos fatos e da informação e as
uma coletividade organizada. Nossa escolha implicações dessas diferenças no trabalho da
está fundamentada no fato desse modelo redação constituem um parâmetro também
privilegiar os atores e sua capacidade de se importante a ser levado em conta na análise
movimentar no interior das estruturas em que das relações entre esses dois grupos de atores.
atuam (no caso, as organizações sindicais) As “diferenças de percepção da realidade”7
na busca incessante de espaços de liberdade são, de fato, uma das primeiras fontes po-
e de autonomia de ação, a fim de atingir seus tenciais de conflitos entre os diversos grupos
objetivos. Isto apesar dos obstáculos que constitutivos de uma organização.
pesam sobre suas ações. De acordo com a No caso que analisamos, temos, de um
idéia-chave da análise estratégica: lado, o profissional da redação, que parte do
princípio elementar segundo o qual jornal
“(...) não existem sistemas sociais algum, inclusive uma publicação militante,
inteiramente regulados e controlados pode fugir da regra que requer, para que ele
232 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
prio relacionado aos jornalistas e à sua da informação. Tudo indica, porém, que o
atividade – definindo normas redacionais, caminho a ser percorrido ainda é longo.
direitos e deveres da redação – teria, pro- Durante nossa pesquisa, foi possível obser-
vavelmente, um efeito positivo na regulamen- var, por exemplo, a existência de uma grande
tação desse setor no interior das organiza- indiferença de parte dos principais interes-
ções, prevenindo conflitos e regulando as sados na questão (os próprios jornalistas), no
diferenças existentes entre as expectativas de que diz respeito às preocupações
uns e de outros (isto é, de jornalistas e deontológicas relacionadas à atividade. As
dirigentes) no que diz respeito à produção conseqüências desse – “descaso” – simbo-
e à difusão da informação sindical –11. lizado na recusa das redações de colocar o
No contexto particular do jornalismo problema, de estimular uma reflexão e de
sindical, os códigos ou cartas que regem o tomar iniciativas nesse sentido – parecem
exercício da profissão de jornalista (como o evidentes e não poderão resultar em outra
Código de Ética dos jornalistas brasileiros) coisa que não seja exatamente o que as
também não são de grande utilidade, na redações sindicais mais dizem querer evitar:
medida em que seus princípios e orientações a tentação do poder sindical de se imiscuir
dão conta de outra realidade, que é a atividade nos assuntos da redação. Face à ausência de
jornalística praticada no ambiente de traba- uma regulamentação específica da atividade
lho do universo jornalístico convencional. jornalística sindical e à inexistência de um
Para que seja eficaz na definição de prin- estatuto regulando as relações entre redação
cípios e regras capazes de fixar linhas gerais e direção sindical, a integração entre esses
de conduta aos jornalistas sindicais e de dotá- dois grupos de atores passa essencialmente
los de meios práticos para regular as ques- por um processo permanente de negociação.
tões conflitantes, é necessário que um tal
instrumento esteja apoiado nas condições de Quais as orientações possíveis para o
trabalho próprias desse universo, que leve em jornalismo de informação sindical?
consideração as práticas específicas em curso
nas redações sindicais. Para isso, ele deve A imprensa sindical já demonstrou toda
engajar não somente seus integrantes, mas sua importância e necessidade como meio de
também todos aqueles implicados na vida da os sindicatos se dirigirem à massa de sin-
redação – os dirigentes sindicais, em espe- dicalizados e/ou assalariados em geral. Ela
cial o diretor de imprensa, que são os par- tem, no entanto, potencial para ampliar seu
ceiros por excelência dos jornalistas no horizonte de ação, embora a comunicação
processo de construção da informação sin- com os sindicalizados consista em sua pri-
dical. No limite, um tal dispositivo represen- meira e fundamental missão. Pode, por
taria uma tentativa de acomodação desse tipo exemplo, representar um papel importante na
de jornalismo e de suas particularidades às institucionalização de uma “contra-informa-
regras e princípios deontológicos mais rele- ção” nas disputas políticas e sociais que se
vantes da atividade jornalística 12. travam no âmbito da sociedade, contrapon-
Para que se estabeleçam, de fato, con- do-se ao espaço mediático dominante, con-
dições e relações de trabalho estáveis na testando as versões e os pontos de vista
imprensa das organizações, é conveniente oficiais. No que se refere especificamente ao
abrigar as ações da redação sob um instru- campo da informação que interessa
mento que as legitime frente aos que deci- diretamente as organizações sindicais (eco-
dem nas instâncias sindicais. Para isso, faz- nomia, questão social, direito do trabalho,
se necessária uma etapa preliminar aberta a etc.), a imprensa sindical pode fazê-la emergir
amplas discussões, reflexões e análises das sob uma perspectiva diferente daquela pri-
práticas – envolvendo não somente os jor- vilegiada pelas outras categorias de imprensa
nalistas, mas também os responsáveis sindi- (generalista, especializada, econômica, em-
cais –, a fim de balizar conceitos, princípios presarial, etc.). Com esse enfoque, a impren-
e regras de trabalho, além de direitos e sa sindical” – representante legítima de um
responsabilidades de uns e de outros; em campo constituído de meios político e so-
suma, tornar clara as condições de produção cialmente engajados – terá assegurado seu
234 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
lugar num espaço jornalístico que se institui solidados) e do qual ele sofre forte “pressão”
enquanto alternativa ao campo mediático e um outro no qual está inserido – cuja
dominante. Todavia, para atingir tal estágio, característica principal é a ausência de re-
precisa agir de forma resoluta no sentido de ferências que lhe permitam assentar sua
construir e de afirmar sua credibilidade, sem prática –, o coloca em situação de profunda
a qual a ampliação de sua missão estará ambigüidade. A ausência de um corpo mí-
irremediavelmente comprometida. O jorna- nimo de princípios éticos e normas técnicas
lismo sindical será pouco eficaz na instau- adaptadas às condições específicas nas quais
ração de uma contra-informação – que possa ele exerce seu–métier faz com que, se, por
ser útil ao vasto universo dos assalariados um lado, reivindique para si uma “prática
– se não mudar de registro e não abandonar universal”, por outro, a maneira pela qual
em definitivo práticas pouco rigorosas na é levado concretamente a exercer a profissão
apuração e no relato dos fatos. está longe de corresponder à representação
Cabe ao jornalista uma parcela importan- que faz da prática jornalística “ideal”. Por
te de responsabilidade no processo de rea- outro lado, se pretende aderir à prática
bilitação da imprensa sindical, direcionando dominante, terá que adotar pontos de refe-
todos seus esforços no sentido de assegurar rência profissional que lhe serão de utilidade
sua autonomia de trabalho e de reconstruir duvidosa, visto que pouco se adaptam às
suas práticas no interior das redações. Mas particularidades que marcam seu ambiente de
a independência de seus profissionais, em trabalho. Esta é, portanto, a situação do
menor ou maior grau, não será suficiente por jornalista sindical: privado da legitimidade
si só para colocar o jornalismo de informa- que somente é conferida àqueles cujas prá-
ção sindical no caminho da reabilitação que ticas se inscrevem nos preceitos do modelo
a situação requer. Será preciso, para isso, dominante de jornalismo, encontra-se, por
assentá-lo sobre novas perspectivas, especi- assim dizer, diante de um “vazio”. Isso
almente a partir de uma definição menos acontece em razão dessa dificuldade de
equivocada do tipo de informação a ser encontrar em seu próprio campo de atuação
tratada e das práticas redacionais que ela deve profissional, referências que lhe permitam
induzir. O jornalista sindical opera, de fato, preencher esse “vazio”, servindo-lhe de base
em uma zona bastante nebulosa, que se situa sobre a qual assentar suas ações, defender
entre a concepção dominante de informação um tipo particular de prática jornalística e
e das práticas profissionais vigentes na construir, em conseqüência, uma legitimida-
imprensa convencional e uma concepção de profissional.
“particular” da informação e do jornalismo
próprias do universo da imprensa dita Um estatuto para os jornalistas sindicais?
“engajada”, representada, no caso, pelo jor-
nalismo sindical. Ao mesmo tempo em que Essa legitimidade implica a tentativa de
sofre as influências dos valores profissionais reabilitação da prática jornalística em redação
dominantes, do ponto de vista tanto técnico sindical, dando-lhe utilidade e eficácia no
como deontológico (através da formação em exercício quotidiano da profissão. Esse pro-
uma escola de comunicação, de experiência cesso deve iniciar por uma reflexão autocrítica
passada na grande imprensa, da utilização de das práticas vigentes nesses espaços, envol-
manuais de redação dos grandes jornais, etc.), vendo os principais interessados (jornalistas
o jornalismo sindical esbarra em dificulda- e dirigentes sindicais), e culminar na insti-
des próprias ao seu universo. Resulta que está tuição de um corpo de princípios – aceitável
continuamente se defrontando com as con- para uns e outros – aptos a regular a atividade
tradições existentes entre suas práticas espe- jornalística em redação sindical. Os códigos
cíficas e àquelas legitimadas pelo meio de ética da profissão poderiam servir como
profissional jornalístico. importante fonte de referência nesse proces-
Essa posição-limite do jornalista sindical so, e as orientações resultantes poderiam se
entre um universo de contornos mais ou materializar numa espécie de “estatuto” dos
menos definidos (com suas normas técnicas jornalistas e de colaboradores da imprensa
e um corpo de princípios profissionais con- sindical, o qual garantiria condições mínimas
JORNALISMO 235
o colocará ao abrigo das fortes pressões (do que se desenvolvem continuamente, que
poder sindical, dos militantes, dos sindica- sofrem – bem ou mal – as mutações do
lizados), permitindo-lhe estabelecer e preser- tempo e se apresentam ao futuro como
var as condições mínimas de exercício de suas espaços alternativos possíveis. Trata-se,
funções. Ele estará, assim, em condições de portanto, não somente da expressão de uma
premunir a informação contra os desvios que “outra” informação, de idéias, debates,
sofre correntemente nesse meio. conflitualidades, mas, ainda, de uma opor-
A informação sindical tem sua própria tunidade real de trabalho que concerne
especificidade, segue sua própria lógica, importantes efetivos da profissão, cada vez
mobiliza meios que lhe são particulares e mais excluídos do mercado convencional do
inscreve suas práticas em um amplo uni- jornalismo, em função da difícil situação de
verso composto de experiências jornalísticas emprego no setor.
JORNALISMO 237
6
Michel Crozier/Erhard Friedberg, L’acteur tecimentos e sua correta divulgação; Art. 9: É dever
et le système, Paris, Éditions du Seuil, 1977, pp.29- do jornalista: a) Divulgar todos os fatos que sejam
30. de interesse público; b) Lutar pela liberdade de
7
C. Benabou/H. Abravanel, Le comportement pensamento e expressão; c) Defender o livre
des individus et des groupes dans l’organisation, exercício da profissão; d) Valorizar, honrar e
Chicoutimi, Gaëtan Morin, 1986, pp. 371-392. dignificar a profissão; Art. 10: O jornalista não
Citado por Jean Charron, La production de pode: a) Aceitar oferta de trabalho remunerado
l’actualité - une analyse stratégique des relations em desacordo com o piso salarial da categoria
entre la presse parlementaire et les autorités ou com a tabela fixada por sua entidade de classe;
politiques, Québec, Les Editions du Boréal, 1994. b) Submeter-se a diretrizes contrárias à divulga-
8
Francis Balle, (coordenador), Dictionnaire ção correta da informação; c) Frustrar a mani-
des médias, Paris, Larousse, 1998, p. 195. festação de opiniões divergentes ou impedir o livre
9
Ibid., p. 125. debate; Art. 14: O jornalista deve: a) Ouvir sempre,
10
Ibid. antes da divulgação dos fatos, todas as pessoas
11
A redação da CFDT francesa dispõe, por objeto de acusações não comprovadas, feitas por
exemplo, de um “estatuto” dos colaboradores de terceiros e não suficientemente demonstradas ou
sua revista (Magazine CFDT) e de seu jornal verificadas; Art. 15: O jornalista deve permitir o
(Syndicalisme Hebdo) que “(...) regulamenta as direito de resposta àspessoas envolvidas ou
relações entre a direção da confederação, respon- mencionadas em sua matéria, quando ficar de-
sável política pela imprensa, e os redatores” da monstrada a existência de equívocos ou
casa. Essa regulamentação foi colocada em pra- incorreções”.
13
tica após grave conflito que opôs a equipe de Em outros tempos, os militantes improvi-
redatores e a direção sindical no final de 1968 sados jornalistas admitiam as especificidades do
(VERDIER, E.,”La presse syndicale ouvrière”– meio e reconheciam facilmente o fato de prati-
analyse statistique de contenu, Paris, Cresst, 1981, carem um jornalismo de pouca legitimidade aos
p. 70). No caso da imprensa sindical brasileira, olhos da profissão. Eles careciam das condições
não encontramos experiência alguma nesse sen- objetivas e das motivações necessárias para encarar
tido durante nossa pesquisa. Constatamos, ape- qualquer mudança nos hábitos e nas praticas
nas, algumas tímidas iniciativas, sem grande jornalísticas nas quais estavam inseridos.
14
eficácia, levadas a cabo em um ou outro sindicato Daniel Cornu, Journalisme et vérité. Pour
com o intuito de melhorar as relações entre redação une éthique de l’information, Genebra, Labor et
e direção. Fides, 1994, p.431.
12 15
Citemos apenas algumas das prescrições do Ibid., p. 432.
16
Código de Ética da profissão que os jornalistas Relacionamos aqui apenas algumas das
sindicais poderiam fazer uso para preservar um obras utilizadas em nosso trabalho, priorizando
mínimo de autonomia e de seriedade em seu àquelas que consideramos trazer uma análise
trabalho: “ II – Da conduta profissional do jor- fecunda da profissão e que reconstituem a prática
nalista: Art. 7: O compromisso fundamental do do jornalismo sob seus diversos aspectos, além
jornalista é com a verdade dos fatos, e seu tra- de duas a três referências que nos ajudaram na
balho se pauta pela precisa apuração dos acon- reflexão sobre a questão das organizações.
JORNALISMO 239
En terceiro lugar, consideramos que unha en relación con aqueles temas ou aspectos
información que conta con elemento gráfico que ponderan interesar máis a Galicia como
–xeralmente fotografía- ten unha maior país próximo.
relevancia que aquelas que non a están A escasa producción propia tamén sinala
acompañadas de este elemento. Como ou está potenciada pola falla de infraestructura
sinalamos anteriormente, a escasa importancia propia no lugar de orixe da noticia da que
concedida ós temas, o emprego maioritario dispoñen soamente dos xornais máis
de noticias cortas e breves provoca que o próximos á Portugal. En relación con este
emprego de elementos gráficos sexa pouco factor, o de proximidade, os xornais de
máis que puntual. En consonancia co descrito carácter autonómico ( O Correo Galego5 e
ata o momento tamén as fotografías que se La Voz de Galicia), os diarios do sur de
publican aparecen preferentemente naquelas Galicia, o semanario nacionalista A Nosa
con informacións mixtas. Sen embargo, se Terra e o diario comarcal Minho Informativo6
ben a información gráfica publicada nos son os xornais galegos que máis interese
xornais galegos é escasa en relación ó amosan polos acontecementos en Portugal.
conxunto do diario, acada unha relevancia A prensa de Lugo e A Coruña vive allea a
moi importante se realizamos a análise en este interese, probablemente por criterios
función da presencia e información sobre xeográficos e de noticiabilidade.
Portugal. É dicir, entre o 20 e o 25 por cento As fontes son escasas e normalmente
do espacio ocupado polo país veciño nos quedan reducidas á unha ou dúas.
xornais galegos son imaxes. Normalmente de axencia ou, no caso dos
A producción e a temática coincide co xornais con traballadores ou enviados
exposto nas liñas anteriores e coas rutinas especiais o país veciño, con dúas fontes. A
productivas estipuladas en xeral pola prensa información sobre Portugal comparte co
galega. Deste xeito, a procedencia maioritaria xornalismo galego en xeral o predominio de
é de axencias de información –agás no caso fontes institucionais e a penas se recurre ó
dos xornais que contan con traballadores en testemuño directo, ós especialistas, as fontes
Portugal-, son normalmente de caracter económicas ou ás organizacións sociais,
complementario e/ou ilustrativo máis que fontes que non acadan ó 7% das empregadas.
informativo e soen reducirse a un determinado O esquema é similar no caso de informacións
número de personaxes públicos relacionados nas que Galicia e Portugal comparten
coa temática habitual (políticos ou protagonismo. Neste caso, de cada dez fontes,
deportistas) e que, ademais, facilitan o só dúas son lusas.
proceso porque permiten o emprego de
imaxes de arquivo. Conclusións
Finalmente, dedicamos un espacio do noso
estudio a analizar a producción da información, A presencia de Portugal nos xornais
é dicir, a infraestructura que teñen os xornais galegos é aínda escasa e relegada a
galegos para a elaboración da información e determinados ámbitos da realidade
a cobertura dos acontecementos ocurridos alén xornalística. Soamente un factor fai
da fronteira do Miño. incrementar a presencia de Portugal nos
As características da presencia de Portugal medios galegos: a proximidade xeográfica.
nos xornais galegos descrita nas liñas A característica de local dos medios de
anteriores denota unhas carencias importantes comunicación impresos provoca que na
no proceso productivo. En primeiro lugar, a escolma das informacións publicadas prime
maioría dos rotativos galegos carecen de o criterio de proximidade, polo que a prensa
producción propia nos temas referidos a soamente fai referencia á realidade do país
Portugal e realizan un uso case exclusivo de veciño cando ou teñen relación con Galicia
material informativo producido polas axencias ou están xeográficamente preto de Portugal.
de noticias galegas, españolas e mesmo Deste xeito, a proximidade do lugar de
internacionais. Este feito provoca a producción do xornal e dos lectores do mesmo
publicación de informacións neutras, comúns provoca un incremento da presencia de
a tódolos xornais e carentes de focalización información sobre Portugal. Durante os
242 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
A Sección de Comunicación do Consello ata a Guerra Civil, que operará o seu cambio
da Cultura Galega no seu labor de de condición: de emigrante pasa a se
recuperación da memoria histórica do converter nun exiliado. Nestas primeiras
xornalismo galego, traballa no estudio da décadas, Eduardo Blanco Amor concentra a
obra dalgúns dos nosos máis destacados súa actividade nos medios da comunidade
devanceiros que exerceron como profesionais galega en Bos Aires, non só como colaborador
nos medios de comunicación colectivos. Un habitual, senón tamén exercendo cargos de
deles, aínda que máis coñecido coma escritor, responsabilidade nos xornais e participando
é Eduardo Blanco-Amor, autor de novelas activamente na fundación de distintos
cruciais para a literatura galega como A
proxectos. Por outra banda, o escritor comeza
Esmorga ou Xente ao lonxe e obra en castelán
a formar parte da nómina de colaboradores
na que poden destacarse La catedral y el niño
de La Nación. Podemos dexergar o seu
e Las buenas maneras. Se ben mantivo unha
traballo no diario dos Mitre en dúas etapas,
actividade constante como xornalista, que foi
o seu medio de vida fundamental, existen das que falaremos máis amplamente a seguir:
escasos intentos de compilación dos seus 1925-1932, período no que arrincan as súas
traballos nos periódicos.2 Estes esforzos son colaboración e traballa como correspondente
ata o de agora nulos no caso do seu traballo en España entre os anos 1928 e 1929; e 1932-
como reporteiro en América. 1935, que coincide coa segunda estadía como
Emigrado ós 21 anos, no ano 1919, correspondente do xornal en España.
Blanco-Amor chega a Bos Aires coa única A segunda etapa vai dende o 1936 ata
experiencia como xornalista na redacción do os anos 60, concretamente o ano 1965, no
xornal ourensán El Diario de Orense. O seu que fixa a súa residencia definitiva en
biógrafo, Gonzalo Allegue, apunta que o Galicia. A súa condición de exiliado dificulta
mozo Blanco-Amor exercía de “amanuense” a súa participación en determinados proxectos
no medio, mentres que el mesmo sostiña, en xornalísticos, tanto da comunidade galega,
entrevistas moitas décadas despois, que como no propio La Nación, que adopta unha
traballaba como xornalista e asinaba co posición ambigua en relación ao conflicto
alcume de “Herminia Hernández”. bélico en España. Por isto, e polas continuas
Conta, polo tanto, cunha pequena viaxes que deveñen da diversificación da súa
experiencia na profesión, o que o anima a actividade profesional, comeza a colaborar
participar en distintos medios da comunidade con outros xornais americanos como La Hora
galega na Arxentina, e, posteriormente, en
e El Mercurio, en Chile, e El Nacional e
xornais americanos. Para falarmos da súa
El Universal en Venezuela.
traxectoria como xornalista ten sentido
Finalmente, o retorno a Galicia, onde fixa
facermos un percorrido histórico-cronolóxico
a súa residencia definitiva no ano 1965,
por ela, xa que os distintos acontecementos
políticos en España determinan en boa constitúe a última etapa de traballo nos
medida o tipo de traballo que realizará para medios de Blanco Amor. Nestes anos escribe
uns e outros medios, ademais do acceso ós de maneira esporádica para xornais como
mesmos. Porén, podemos dividir a súa El País, La Vanguardia, La Voz de
actividade como periodista fundamentalmente Galicia, Faro de Vigo ou La Región. Nesta
en tres etapas: etapa o xornalismo é para o autor un medio
Unha primeira etapa que abrangue o de subsistencia, co que manterse e poder
período dende a súa chegada a Bos Aires escribir literatura.
246 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
O traballo nos medios galegos en Argentina linguaxe dos socialistas utópicos, máis que
na vertente marxista”. 3 Estes ideiais
Eduardo Blanco Amor desenvolve unha mantéñense en Galicia, na que traballa ata
actividade case que frenética como xornalista o ano 1950, dirixindo a súa liña nos
nos anos vinte e primeira metade dos trinta momentos máis duros, e defendendo a
nas diferentes empresas galegas radicadas na unidade indisoluble das causas republicana
Arxentina. Trátase dunha actividade e autonomista, os temas máis recorrentes
eminentemente política, xa que o autor dos seus artigos e editoriais.4 Ademais do seu
emprega os medios para defender Galicia e traballo neste xornal, colabora na Fouce e
o seu ideario, que vai evolucionando Alborada, ó tempo que desenvolve unha
conforme se producen acontecementos actividade frenética como voluntario a favor
cruciais para a historia galega. As súas da República, en calquera dos actos nos que
primeiras publicacións son na revista Acción se precisara da súa axuda. Inicia, asemade,
Gallega, pero están constituídas, unha breve actividade diplomática cando é
fundamentalmente, por poemas e nomeado vicecónsul en Bos Aires.
colaboracións literarias. No ano 1921 é Posteriormente, recibe o cargo de cónsul da
nomeado director das páxinas literarias do República en Mendoza, co que abre esta nova
Correo de Galicia, medio con certo pasado fronte de combate que compaxina coa escrita
galeguista no que inicia unha serie de artigos na prensa, tanto galega coma arxentina. Esta
sobre os poetas galegos. Estes traballos actividade nos medios da comunidade galega
inaugurais na prensa galega fan que Blanco non estará exenta de problemas. As loitas
Amor aumente a súa experiencia na profesión, internas polo control da federación fan que
que aproveita cando funda, xunto con Ramilo sexa expulsado da mesma en 1928 e impiden,
Illa Couto, a revista galeguista Terra, que ademais, que escriba nas páxinas de El
se constitúe como o voceiro da “Irmandade Despertar. Será rehabilitado cando, xunto
Nazonalista Galega”, representante do ideario con outros intelectuais e forzas políticas, se
político de Vicente Risco. Terra foi, ademais, integra na ORGA (Organización Galega
a primeira revista escrita por completo en Republicana Autónoma) que financia o 20%
galego na emigración arxentina. Neste do custe da publicación. O traballo no seo
primeiro momento profesional, Blanco Amor da comunidade galega, polo tanto, non sempre
identifícase por completo coa tese nacionalista é ben cpomprendido polo conxunto dos
risquiana, que aprendera nos parladoiros co emigrantes. Isto fai que Blanco Amor se
mestre en Ourense e ía espallar a América, identifique plenamente coa consideración que
pero a súa ideoloxía, tal e como indica o Celso Emilio Ferreiro ten dun grupo dos
profesor Núñez Seixas[2] vai evolucionando galegos de Venezuela: “¿Quen era esa Galicia
cara ó republicanismo, primeiro concibido emigrante? Unha minoría que loitaba aillada
como un galeguismo republicano e, a partir comparado coa gran marea da emigración,
de 1931, como populismo galeguista de unha minoría que facía ás veces milagres
esquerdas. En concreto, os órganos da para manter o lume entre centos de ananos
Federación das Sociedades Galegas, El e as masas indiferentes ou manipuladas (…).
Despertar Gallego, que pasará ser É certo que non todos os emigrantes son
posteriormente Galicia, son lugares ananos, claro que non, pero a meirande parte
privilexiados para esta misión. O xornalista endexamais fixo nada para apoiar ou merecer
dirixe a primeira destas publicacións dende o grande esforzo dos que alá loitaron por
1926 deica a súa desaparición en 1930. En dignificar unha terra e unha cultura diante
El Despertar Gallego mantén a liña editorial do mundo. Estou totalmente de acordo coa
“na defensa da ‘democracia republicana’, idea básica do libro de Celso Emilio Ferreiro
contra a degradación de Primo de Rivera e teño, pola miña banda, unha longa
(…), amosando a súa solidariedade coa pobos experiencia detrás chea de historia
ibero-americanos, ameazados polo xigante significativas”.5 A entrada en La Nación É
norteamericano, ou apoiando as loitas das precisamente para estes “ananos” para os que
clases populares arxentinas, dentro dun emprende boa parte do seu traballo no
internacionalismo socializante que fala na xornalismo: para dignificar a figura do
JORNALISMO 247
emigrante galego, que daquela “era una e, como autor literario que está na procura
especie de primera persona después de nadie. dun espacio, dunha linguaxe, o traballo de
Era un ser estigmatizado de tal manera que investigación cultural que desenvolve para
cuando se quería insultar o menospreciar a o diario é de grande importancia. Ademais,
un español, se le decía gallego”.6 Blanco Bos Aires provócalle a Blanco Amor unha
Amor vive unha contradicción constante entre sensación alienante, de desmembramento. De
os ambientes que frecuenta: se ben alterna feito, el mesmo describía a cidade cunha
coa alta burguesía bonaerense, na que ten imaxe moi poderosa, como “una máquina
aspiracións de integrarse, tamén convive coa de moler café, de la cual se sale fatalmente
base popular da emigración galega. Nesta hecho polvo”9. A imaxe de Galicia que retén
esquizofrenia, como indica Luís Álvarez dende a xuventude e vai recuperando nas
Pousa, desenvolve unha “cuase obsesiva súas viaxes servía como unha protección que
maneira de incrementar o nivel de lle permitirá non entrar nese muíño e
concienciación entre os emigrados, mesmo desfacerse.
acentuando as súas contradiccións e En definitiva, Eduardo pon en
provocando conflictos que sempre acaban funcionamento o que deu en chamar o
rebotando na súa persoa”.7 Ademais de poñer “principio da saudade activa”,10 que o impulsa
en funcionamento diversas empresas no seo a traballar para a colectividade galega cando,
da colectividade emigrante e participar nos como “escritor civil” que era, tal e como
máis diversos actos culturais, outra das vías sostén Xavier Carro,11 puidera ter optado por
de dignificación dos galegos na Arxentina foi escribir sobre a cidade ou seguir a liña que
a entrada como correspondente e colaborador fixara co seu relato inacabado A escadeira
no diario bonaerense La Nación. de Jacob.
Accede a este medio o ano 1925, gracias
ó recoñecemento da súa actividade cultural Correspondente en España. Dez anos
nos medios galegos e da man de dous despois
valedores: dunha banda, conta co apoio do
dramaturgo García Velloso, con quen o autor A misión de Blanco Amor para La
establecera un contacto nos parladoiros do Nación será a de exercer como
Café Armonía; doutra, co do responsable de correspondente en España, como enviado de
La Nación en España, o colombiano Sanín excepción que levaba dez anos sen volver
Cano, a quen entevistara para o Correo de ó país de orixe. É por iso que Blanco Amor
Galicia. desenvolve unha especie de saudade in
Ademais do seu compromiso de demostrar præsentia, xa que está en Galicia cando
que os galegos non eran simplemente forza escribe esas descricións ideais que transmite
de traballo intercambiable, a divulgación e no xornalismo arxentino, que, dende logo,
o traballo “misional” en La Nación, tal e contrastan co mundo descrito na súa
como o denomina Álvarez Pousa, obedece actividade literaria, na que se revela o
a dous obxectivos máis; Blanco Amor escribe universo de Auria, por exemplo, cunha
“para esa gente que no irá jamás y que llora “visión dura e crítica (…), pero non
y se emociona con un verso de Rosalía o caprichosa, senón realista e sobria”12.
una estrofa de Curros (…)”8. Traballa, polo Despois de tres anos de colaboración
tanto, neste equilibro inestable entre a constante en Bos Aires, o escritor é enviado
dignificación dun colectivo ós ollos do seu como correspondente a España en dous
país de acollida e o desexo de que este mesmo períodos que, malia non estar moi afastados
grupo contribúa, dende o coñecemento da no tempo, poden dividirse na producción de
súa herdanza, á destrucción do estereotipo Blanco Amor en dúas etapas ben
que pesa sobre el. diferenciadas. En primeiro lugar, exerce como
Podemos apuntar aínda unha terceira correspondente de La Nación entre os anos
dirección no traballo de prensa do autor en 1928 e 1929. Nesta primeira estadía, e nos
La Nación. Como emigrante, o propio Blanco anos anteriores na Arxentina, hai unha clara
Amor precisa recuperar as orixes, o soño da preferencia polos temas culturais e históricos
infancia no que incidirá con tanta frecuencia, de Galicia.
248 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
A súa segunda, e derradeira, viaxe como sobre orixe, vixencia e necesidades da cultura
correspondente a España faina entre os anos galega. Os artigos sobre artistas galegos son
1933 e 1935, nos que a situación política e un espacio preferente dentro do seu traballo
social é moi distinta da que atopara nos anos xornalístico para ir filtrando o seu ideario.
precedentes. Esta realidade transmítese nos Un dos artigos máis reveladores é
seus escritos para La Nación, que deixan de “Alfonso Castelao. Dibujante y escritor
ser culturais para se transformar en artigos humorista” (15/06/1930). Neste escrito
de opinión política. Neles escribe sobre o propugna a necesidade dun “pangalleguismo”
movemento autonomista en Galicia, sobre a que “no quiere significar un aislarse con
República española e sobre o clima de alta hosquedad estéril dentro de lo comarcano y
conflictividade social que deriva na guerra de lo regional”, xa que “en la conciencia de
que o convirte nun exiliado. O contido sus jóvenes está incrustada la firme voluntad
político contrasta coas crónicas sobre cultura de no sentirla, estéticamente, ligada a un
española que tamén aparecen nas páxinas criterio de región o comarca tal como lo
dominicais do diario, -El Greco, escultura enuncia, sin ir más lejos, Ortega y Gasset”.
española, os patios de Toledo…- e que son Blanco Amor, seguindo a teses nacionalistas
froito das chamadas de atención que recibe do seu mestre Vicente Risco, propón volver
por parte da directiva, que lle recomenda que os ollos a Europa, fuxindo dun “cierto
“poña un coidado exquisito en non molestar imperialismo intelectual, frente al que Galicia
o ideario político conservador dos lectores levantó, desde los ‘precursores’ en el siglo
de La Nación”.13 Tamén colabora con textos pasado, una picuda e irreductible rebeldía que
literarios, relatos curtos que serán compilados ha de salvarla (…)”. Propugna, tamén no
como Cuentos de la ciudad, nos que describe seguimento das premisas risquianas, a
as clases sociais de Bos Aires coa súa ironía necesidade de Galicia de se identificar co
característica e se atreve con tramas policiais mar que a separa do resto de nacións celtas:
e psicolóxicas. “Alegría sin esfuerzo, risa de muchacha
A seguir, prestaremos atencións ás deportiva frente a horizontes juminosos como
crónicas e artigos en profundidade que fan dientes sanos: atlantismo”.15
referencia explícita a Galicia, aqueles nos que Para dar unha idea desta ascendencia
se nota a “intención seductora de Eduardo cultural, Blanco Amor fai unha arqueoloxía
Blanco Amor, tanto para convencer sobre a das artes galega, concedendo unha atención
singularidade e a riqueza cultural que especial á expresión literaria. Isto dá lugar
suibxace na personalidade e na obra dos a unha serie de artigos sobre os precursores
clásicos galegos, como para persuadir a que van aparecendo en sucesivas entregas dos
propios – os da comunidade de emigradose “Domingos de La Nación”. Así mesmo,
extraños – a clase ascendente da ilustrada desenvolve un importante traballo de
e cosmopolita Bos Aires- de estaren asistindo investigación no artigo “Lírica gallega. Los
a un outro parto de gran calado cancioneros galaico-portugueses” (18/11/
sociocultural”.14 1934), no que transmite a súa conciencia do
rigor xornalístico: “Dentro de las limitaciones
A divulgación da cultura galega y forma y espacio a que obliga un trabajo
periodístico, no he escatimado esfuerzos para
Dende que desembarca do “Werra” no procurar que sea lo más completo – de un
porto de Vigo, Blanco Amor inicia un periplo modo documental, ya que no
por toda Galicia na procura de material para interpretativoque se haya escrito desde el
as súas crónicas. En calquera medio de ángulo de nuestro tiempo, tanto como es
transporte, e sempre acompañado da súa la primera vez que el tema se trata en lengua
Kodak, -coa que tira as fotos que ilustran castellana”.
os seus traballos-, o escritor desenvolve nas Tamén presta especial atención ás
súas crónicas de viaxes e mini-ensaios sobre manifestacións das artes plásticas galegas, en
temas culturais un estilo persoal e unha especial dos artistas do momento que poden
coidadosa labor de investigación. Cada un ser coñecidos na Arxentina. Así, referencia
destes escritos vai debullando as súas ideas “Una exposición de arte gallego en Buenos
JORNALISMO 249
Aires” (28/07/1929), ou aproveita para difundir Así, para falar da romaxe a San Andrés, cita
o traballo de artistas coma “Santiago Bonome, os cultos celtas, ou sintercala poemas sufís
escultor gallego” (3/11/1929) e Asorey en e suras do Corán para falar das fontes de
“Divagación y paráfrasis. Sobre el escultor Granada.
Asorey” (9/06/1929). Estes textos, entre outros, Podemos falar, no seu traballo xornalístico
serven tamén para difundir as súas dun respecto exquisito pola tradición, o que
consideracións sobre cultura galega. Blanco non impide que divirta ó lector coa mesma
Amor defende que non se estableza unha ironía que demostra coma literato. Non
academia galega, xa que “los profesores percibimos, sen embargo, o distanciamento
impuestos por sistemas burocráticos de do que fala Xavier Carro en relación á súa
ministerio habían de ser fatalmente, y una obra literaria. O Blanco Amor xornalista –
experiencia tristísima en otras actividades del que é, por outra banda, un Blanco Amor que
espíritu abona esta afirmación, personas ajenas escribe artigos e reportaxes vinte anos antes
al asunto y al país, que emprenderían que A Esmorga-, non é un narrador
esterilizante desregionalización que un estado omnisciente, senón un personaxe máis da
centralista, poco o nada comprensivo, ha trama, unha persoa que, case coma un
llevado a cabo durante siglos y que de no haber Hitchcock literario (máis delgado, por
medido la generosa réplica que suponen estos suposto, non soportaría a comparación) se
movimientos autónomos, habrían terminado mestura entre as xentes que retrata. A
por hacer de España un conjunto híbrido y implicación do autor nas súas crónicas é total
desmembrado, sin carácter ni interés”. en dous traballos de especial relevo: “Escenas
Outra das reflexións que fai sobre arte de pesca en la costa galaico-portuguesa” (7/
galega era un tema de total actualidade, a 04/1929) e “Seis días en el mar. Escenas de
expresión enxebre das artes plásticas. Para pesca en la costa galaico-portuguesa” (17/
Blanco Amor, aínda que nunca o puxera e 03/1929). Para escribilos, Blanco Amor
práctica, o enxebre é un específico galego, decide vivir a experiencia, varias décadas
diferente do típico e do castizo pola súa antes de que os xornalistas americanos
condición de espiral creativa, non de círculo iniciaran unha corrente que eles mesmos
sen posibilidade de avance. Galicia,”“un deron en chamar “New Journalism” e que
pueblo que trabaja en el desescombro de si defendía unha posición case protagónica do
mismo”[16], precisa da ética dos seus escritor nos acontecementos que describe. O
creadores, porque aínda non pode permitirse, autor relátao do seguinte xeito: “Por aquel
como sucede noutras nacións, “el lujo de las entón fixen a miña primeira experiencia do
modas y de los malabarismos teóricos”.16 mar. Era un mes de novembre de moi mal
A paisaxe, que relaciona directamente coa tempo e embarqueime no “‘Norita’, matrícula
producción artística,17 e a tradición popular de Baiona, e alá fun baixo o patronato
ocupan boa parte das súas reflexións nos pesqueiro do tío Nartallo ‘O Puto’, de sesenta
artigos sobre Galicia. Algúns dos títulos das anos. ‘Puto’ quere dicir na linguaxe usual
súas colaboracións resultan tan elocuentes de aquela xente ‘listo’, ‘agudo’, ‘asisado’,
como “Romerías gallegas” ou “San Andrés deses que son capaces de albiscar a pesca
de lejos”. Neles procura demostrar a como ao tacto. No outro extremo do rol
especificidade das tradicións galegas, figuraba Pepiño, rapaz de abordo, que por
mostrándoas ós lectores de La Nación como ahí tería uns trece anos. Algúns dos
sucesos marabillosos, ilustrándoos con compañeiros de aquela xeira, moi poucos
cantigas populares, acontecementos históricos meses despois de embarcados nun pesqueiro
e referencias a outras culturas europeas. Estes de Bouzas, morreron afogados”. 18 Estas
mesmos recursos emprégaos cando fala da crónicas literarias son expresión do mellor
Alhambra, dos patios de Toledo, dos xornalismo escrito por Blanco Amor en La
romances de cego cantados nas prazas de toda Nación. O director do diario, Leopoldo
España ou do barrio chino de Barcelona. Lugones, felicitouno con gran cumprido: as
Blanco Amor fuxe do tipismo, dándolle súas crónicas cheiraban a sardiña. Ampliará
trascendencia ós retratos do popular este tema na seguinte viaxe que fai a Galicia
poñéndoos en relación coas artes canónicas. no artigo en profundidade “Glosa del mar
250 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
12
Op. Cit. Carro, p. 96. es el arte renaciente, en Galicia, una constante
13
Allegue, G.: Eduardo Blanco-Amor, diante y voluntaria sumisión al paisaje”, en”“Elementos
dun xuíz ausente, Vigo, Nigra, 1993, p. 130. del arte gallego. El paisaje” (6/05/1928).
14 18
Op. Cit. Álvarez Pousa, p. 4. Casares, Carlos: “Entrevista con Eduardo
15
“La Coruña de los cristales”, (3/12/1933) Blanco-Amor”, Vigo, Grial, nº 41, p. 339. Na
16
“Alfonso Castelao. Dibujante y escritor memoria destes mariñeiros Blanco Amor escribiría
humorista” (15/06/1930) o libro Poema en catro tempos.
17 19
“Más que un producto libre de la fantasía, Op. Cit. Casares, p. 46.
JORNALISMO 253
venres, 5; sábado, 13; domingo, 21; luns, 29 dedican á temática cultural en exclusiva
de setembro; martes, 7; mércores, 15 e xoves, desvirtuaría os resultados da mostra e, polo
23 de outubro. Recollemos, deste xeito, as tanto, o obxectivo do estudio, que é vermos
noticias de cultura de cada día da semana, como a cultura convive e se organiza co resto
pero non escollemos un tramos continuado. de contidos diarios habituais dos medios de
O motivo principal desta escolla é que non comunicación. Cómpre sinalar que
era a intención do estudio facer un seguimento entendemos o concepto de cultura nun sentido
de determinados temas culturais – que amplo. É dicir, inclúense aquelas
puideran ser especialmente relevantes nunha informacións nas que se trata a cultura como
semana e non destacados noutra- senón arte (literatura, pintura, música, cine,
vermos cal era a producción habitual dos teatro…), a cultura como espectáculo
medios. (festivais, premios, concertos…), noticias
Por medio deste sistema poderiamos así referidas ao patrimonio e a cultura popular
mesmo incluír tódolos suplementos que os (feiras medievais, mostras de artesanía…), e
distintos xornais dedican á información tamén aquelas referentes á industria cultural
cultural. Os medios consultados foron os ou ás políticas culturais (subvencións,
seguintes: os xornais Atlántico Diario, Diario doazóns de libros, actividades de promoción
de Arousa, Diario de Ferrol, Diario de do uso da lingua…).
Pontevedra, El Correo Gallego, El Ideal Unha vez compilada a información,
Gallego, El Progreso, Faro de Vigo, Galicia analizámola en base a cinco eixos, as liñas
Hoxe, La Opinión de A Coruña, La Región principais da investigación desenvolvida:
e La Voz de Galicia; os xornais dixitais foron 1 - A importancia que outorgan os medios
galiciadiario.com, vieiros.com e xornal.com; á cultura. Este dato extráese de variables
polo que respecta ás radios, os estudio como se a noticia está referenciada na portada,
abrangue as emisións da Radio Galega e as tamaño de titulares, ubicación na paxinación
desconexións para Galicia de Cadena Cope, do xornal, se a noticia vai ilustrada, ente
Cadena Ser, Onda Cero e Radio Nacional de outros elementos.
España; Televisión de Galicia, Televisión 2 - O ámbito xeográfico da información
Española en Galicia e Antena 3 Televisión cultural: local, galego, estatal, europeo ou
na súa desconexión para a nosa comunidade, internacional.
completan o mapa de medios. 3 - O tipo de cultura que transmiten os
Coa intención de descubrir a importancia medios e cales son os temas predominantes
que lle dan os medios á información cultural, na prensa galega.
tras baleirar os contidos sistematizamos as 4 - A calidade desa información, que
informacións nunha base de datos que contén devén do tratamento que se lle dá: tipo e
1504 rexistros e que analiza os seguintes número de fontes consultadas na súa
campos (ver ficha da base Access no anexo): elaboración, noticias asinadas polo xornalista
Nome do medio, data, espacio/duración da ou non, noticias de axencia ou elaboradas
noticia 2 , presencia en portada/titulares, no propio medio, etc.
sección, xénero, tema e tipo de acto 3, 5 - A lingua escollida no tratamento da
tratamento gráfico, número de fontes, orixe información cultural, galego ou castelán5. As
da información, ámbito xeográfico, liña de limitacións de espacio e tempo, e a extensión
creto, actualidade, lingua na que está escrita do informe final redactado, obrigan a que
e observacións4. expoñamos as conclusións deste traballo, nas
A busca da información cultural na prensa que, para ratificar determinadas aseveracións
escrita non se centrou exclusivamente na incluímos datos do corpo da análise. Nesta
sección que leva este nome, que tampouco análise fíxose unha distinción entre os días
inclúen tódolos medios, senón que se da semana (de luns a xoves) e a fin de semana
analizaron tódolas páxinas dos diarios, mesmo (venres, sábado e domingo) como unha das
as reservadas á opinión. Polo que respecta hipóteses formuladas, a asociación da cultura
á información radiofónica e televisiva, coas actividades de lecer. Tamén se estableceu
estudiáronse os programas informativos de un apartado especial para a publicación
carácter xeral, xa que analizar os que se semanal A Nosa Terra, xa que a periodicidade
JORNALISMO 255
de fontes e a pouca profundidade no xornal sen que pese o criterio temático sobre
tratamento dos contidos. A metade das o xeográfico ou viceversa.
informacións, tanto da prensa como dos 8 - Os temas tratados nas noticias culturais
medios audiovisuais non citan sequera unha distribúense arredor de dous eixos
fonte. En concreto, o 48’3% das noticias da preferentes: dunha banda, a meirande parte
fin de semana na prensa non citan ningunha dos contidos teñen que ver coas
fonte, mentres que o 9’2% citan máis dun manifestacións artísticas canónicas, ben sexa
punto de vista. Esta situación mellora durante en forma de presentación, rolda de prensa,
a semana, na que a metade das pezas posúen exposición, reseña de publicación ou de
cando menos unha fonte especificada. A espectáculo. O outro dos ámbitos das noticias
proporción de noticias con máis dunha fonte desta área ten que ver coa cultura popular,
aumenta ata un 16% dos casos. coas festas tradicionais e as celebracións
Polo que respecta aos tipos de fontes colectivas. Ademais da disociación destes
consultadas, a máis recorrida, nun 51’9% dos dous aspectos da producción cultural, non
casos, é a que cualificamos como existen espacios intermedios nos que se
“Individuo”, persoas que non representan a inserten novas produccións nin alternativas
ningunha institución, empresa ou asociación culturais.
e das que parte a información. A Na prensa diaria o tema máis habitual das
administración pública (concellos, Xunta de noticias de cultura é a música (28’4%), en
Galicia, deputacións e Estado) constitúe un calquera das súas manifestacións, seguida
16’7% das fontes, mentres que as asociacións de lonxe polas artes audiovisuais (11’6%) e
de particulares supoñen o 11’5%. as artes plásticas (11’6%) na fin de semana.
7 - Existe un claro predominio da Nos días laborables, sen embargo, as artes
información cultural local. Isto débese, musicais baixan a unha porcentaxe do 19’5%
fundamentalmente, a aplicación dun criterio
e a literatura alcanza o segundo posto
de proximidade no que respecta aos xornais
(16’3%), seguida polas artes plásticas
galegos que, malia dispor de seccións
(12’5%) e as artes da representación (11’4%).
dedicadas a diferentes demarcacións
O semanario A Nosa Terra, sen embargo,
xeográficas, teñen unha forte vocación
presta unha maior atención á literatura
localista. O ámbito local é preferente nun
(33’5%), pola inclusión de reseñas, crítica
41% das noticias de fin de semana en un
literaria e entrevistas. Na rede, as publicacións
47’1% na semana, o que quere dicir que preto
dixitais amosan preferencia polas artes
da metade das noticias están destinadas ao
plásticas (16’7%), as industrias culturais
público máis próximo xeograficamente. Este
dato non ten correspondencia directa coa (16’7%) e a literatura (16’7%), mentres que
ubicación das noticias nas seccións dedicadas nos medios audiovisuais a radio de decanta
á información local, que só recollen o 24’6% polas artes musicais (21’4%), máis
das noticias no caso da fin de semana e aproveitables como recurso para o medio, e
o 34’2% na semana. A excepción, unha vez a televisión, en virtude á crítica literaria
máis, ven da man de’A Nosa Terra’na que incluída nos informativos de mediodía na
as noticias de ámbito galego son maioritarias TVG, a literatura (33’3%) é o tema máis
(o 71’9%) e están concentradas na sección tratado.
de cultura.’Polo que respecta á prensa dixital A cultura popular coma temática aparece
e aos medios audiovisuais o ámbito preferente en todos os medios analizados nunha
é o galego, na metade das ocasións, xa que proporción moi baixa (1’8%). Asociamos este
a propia cobertura dos medios é nacional. concepto á celebración de festas populares
O peso da axenda dentro dos contidos de certa tradición histórica ou a eventos
culturais da prensa diaria xustifica a programados de participación cidadá. É
preferencia por noticias do espacio local, pero lóxico, polo tanto, que a proporción de
denota, ao mesmo tempo, a importancia das noticias con este tema medre
convocatorias aos medios para a construcción considerablemente en determinadas épocas do
informativa e a desorganización dos contidos ano como o entroido ou a Semana Santa, ou
de cultura, que aparecen espallados polo coincidindo con festas locais.
258 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
3
Bibliografía En tipo de acto, contemplamos as seguintes
categorías: acto conmemorativo, curso/xornada,
Moragas i Spà, Miquel: Espàis de debate/coloquio/conferencia, doazón, espectáculo,
exposición, homenaxe, inauguración, nomeamento,
comunicació O libro este de información
premio, presentación e outros.
cultural da Fundación March 4
Este campo, aberto, permite a inclusión de
comentarios que no encaixan no resto de espacios
nos se organiza a ficha elaborada.
_______________________________ 5
Debido á existencia de Galicia Hoxe e A
1
Consello da Cultura Galega Nosa Terra, nos que toda as información está
2
O espacio mídese na procentaxe de páxina escrita en galego, ou da Radio Galega no medio
que ocupa a información, incluídas as imaxes se radiofónico, os informativos de TVG e TVE-G,
as houber. Polo que respecta á duración, refírese, e Vieiros na rede, as porcentaxes que resultan de
obviamente, os medios audiovisuais e vai medida máis interese son as que se obteñen en medios
en minutos e segundos. nos que a lingua hexemónica é o castelán.
260 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
JORNALISMO 261
representar el 49% en los años setenta al 24% que se trat de un punto de partida de una
en los años noventa-. nueva etapa8.
El análisis de los datos indica que la
información política sufri cambios Cambiar la piel
importantes cualitativos y cuantitativos.
Después de desempeñar un papel fundamental Las tendencias que descubrimos en los
en la instauración del nuevo sistema estudios9 sobre la prensa gallega en la segunda
democrático –durante los años de la mitad del siglo XX constatamos que, en líneas
transición- y en la consolidación del nuevo generales, se mantienen a comienzos del
sistema autonómico –en la década de los tercer milenio, especialmente en lo tocante
ochenta-, esta información perdi al grado de penetración de las prácticas
protagonismo en todos los diarios gallegos. propias del periodismo de servicio. Los
Este descenso de la información poltica, cambios de diseo hicieron posible que esta
defendida por los responsables de los tendencia encontrase un buen marco. De
periódicos por entender que los lectores hecho, tanto La Voz de Galicia como El
estaban cansados de–“tanta política”, estuvo Correo Gallego, que estrenaron diseño en el
acompañado del aumento de las noticias de año 2002, o El Progreso, que hizo el cambio
carácter social y cultural. en el año 2004, eligieron muchos rasgos del
De los datos de este cuadro6 concluimos diario de servicios para su nuevo producto,
que, como iniciativa propia y atendiendo a como también hizo Faro de Vigo en el año
las demandas de los lectores, los periódicos 2003. Otro tanto hicieron, aunque en menor
gallegos incrementaron la denominada medida, Galicia Hoxe, El Ideal Gallego,
informacin de servicio, es decir, aquella que Diario de Ferrol, Diario de Arousa que en
ofrece datos útiles para la vida diaria del el año 2003 mudaron la piel.
usuario de la información –del lector, en el De todas las cabeceras, La Voz de Galicia
caso de los periódicos-. La búsqueda de esta aparece como la que, tras su rediseño del
utilidad inmediata contribuy al incremento del 25 de julio del año 2002, emprendi un
espacio para la información de “camino sin retorno cara a esa fórmula del
entretenimiento, que destac como la periodismo contemporneo: el periodismo de
triunfadora en el cambio de la oferta servicios” 10 . En esta dirección tambin
informativa de los diarios gallegos en los entraron, como ya dijimos, Faro de Vigo, El
últimos años del pasado siglo. Fue una Ideal Gallego, Diario de Arousa y Diario
renovación de contenidos para buscar temas de Ferrol. Con anterioridad, en el cambio
que interesasen más a la gente, en sintonía de siglo, hiciera lo mismo Diario de
con el periodismo de servicio7. Entendemos Pontevedra. Por lo tanto, la mayoría de las
264 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
cabeceras incrementaron los porcentajes del Por lo de ahora, se conforman con dar
que podemos considerar periodismo de pasos en esta dirección. De hecho, quieren
servicios. El resultado es, en la mayoría de potenciar el eslogan que dice “las cosas de
los casos, una fórmula híbrida entre el aqu, contadas desde aqu” como una
peridico local informativo-interpretativo y el reafirmación diaria en el valor estratgico de
periódico de servicios, un modelo que parece la proximidad 14 y con porcentajes de
responder en el mercado a sus necesidades información local que supera en varios casos
para mantener el atractivo para sus lectores el 50 por ciento de la superficie impresa de
más fieles y para sus principales anunciantes. los contenidos analizados, también se percibe
En definitiva, una frmula ajustada para las una mayor interpretación y como la
necesidades del mercado local actual. jerarquización y la fragmentación se
Estos diarios, en los últimos tres años, incrementan, sobre todo para facilitar la
publicaron servicios de muy diversa eleccin, favorecer la lectura y, sobre todo,
naturaleza, donde podemos diferenciar desde ganar rapidez. Los responsables de los medios
las unidades periodsticas de servicio – presumen que el consumidor contemporáneo
conjunto de textos con relación entre si-, de medios impresos desea tener una visin
servicios al lector – radio, televisión, general del panorama informativo con la
agenda...-, servicios orientados al ocio de la mayor diligencia posible, para con
audiencia –cine, espectáculos...- y servicios posterioridad, ahondar en aquellos contenidos
comerciales –las pginas de esquelas, de que considere de mayor interés.
clasificados...-11. De hecho, los porcentajes Esta tendencia a una mayor presencia de
de informacin de servicios sobre el total de la información local tuvo como consecuencia
noticias dejan a la prensa gallega en un lugar que, aún manteniéndose una gran oficializacin
parejo a la de tirada estatal12. Y, a corto plazo, en las fuentes, aumenta la presencia de las
la tendencia citada parece que no tendr vuelta fuentes de la sociedad civil organizada
atrás. (asociaciones de vecinos, organizaciones no
gubernamentales, fundaciones...). Del mismo
Visualidad e profundidad modo, se constata que cada vez tiene mayor
presencia la información no slo de carteleras
En los años 2002 y 2003, los responsables y cuestiones puntuales de servicios, sino
de los diarios gallegos defendieron mucha información para la acción. Cada vez
públicamente la necesidad de combinar la hay más temas de utilidad y más pistas o
mejora del atractivo visual de sus productos referencias para que puedan actuar por su
con una mayor profundidad y una mayor cuenta15.
calidad13. Como resumen de las declaraciones
de intenciones, concluimos en la investigación A modo de conclusión
que todos defienden
A juzgar por los resultados de las
hacer un periódico atractivo investigaciones realizadas sobre la prensa de
visualmente, con la profundidad que Galicia, podemos afirmar, sin temor a dudas,
no de la a televisión, y contar las que el periodismo de servicio se instal en
historias que más le afectan a los la prensa local del noroeste de la península
ciudadanos del común. Prestémosle Ibérica en los últimos tres años. Durante los
menos atención a los políticos y más últimas dcadas se registraron importantes
a la sociedad civil. Retratemos la cambios en los medios impresos que, aunque
ciudad, comarca o región en la que muchos afectaron a la estructura empresarial
vivimos de manera que nuestros y a las propias infraestructuras – plantas de
compradores se sientan reflejados en impresión, reorganización de las
las páginas del periódico. redacciones..., tuvieron tambin una
contribución decisiva para que en el modelo
Toda una declaración de un modelo al de periódico se incorporasen muchos aspectos
que aspiran, pero que aún no consiguieron. de periodismo de servicio.
JORNALISMO 265
ções no jornalismo nos últimos 25 anos. Sua entre práticas historicamente separadas den-
intenção declarada é oferecer uma contribui- tro da comunicação.
ção que possa ser usada por pesquisadores Nosso cenário de estudo é a capital do
e jornalistas que desejam avançar nos jor- Brasil e nossos personagens são os jornalis-
nalismos nacionais. Para ele, a consequência tas e suas relações com o poder. O objetivo
possível de um jornalismo de mercado nada é desvendar como se operam estas relações
mais é que a disssolução da profissão jor- nas rotinas produtivas do jornalismo a partir
nalística em um amplo amálgama de profis- do conceito de “mídia das fontes6”. Ou seja,
sões na área de comunicação, ilustrado pelo como os órgãos institucionais dos Três
neologismo americano media-worker. Os Poderes interferem (ou tentam interferir) na
índices de tal evolução são perceptíveis no pauta das mídias convencionais para influ-
desaparecimento crescente das fronteiras entre enciar o”agenda-setting. Chamamos de
profissões ligadas à produção da notícias. A mídias convencionais aquelas de caráter
infomatização das redações contribuiu para comercial, tradicionais veículos de empresas
que os jornalistas asssumissem tarefas antes e redes de comunicação instaladas no mer-
reservadas a técnicos. A emergência de um cado para distinguir de mídia das fontes.
“jornalismo sentado” (trabalho limitado ao As instituições criaram seus próprios
tratamento de notícias de agências e”releases serviços de comunicação para falar com
distibuídos pelas assessorias de imprensa), o jornais, rádio, televisão, Internet. Segundo
uso do fax , do telefone e da internet, sem Sant’Anna7
precisar sair da redação, segundo Neveu, foi
determinante para reduzir a autonomia dos novos veículos informativos são
jornalistas diantes das fontes. Diluem-se as ofertados ao público por organizações
fronteiras clássicas entre as funções de fonte profissionais, sociais e inclusive do
e redator, como veremos na pesquisa de segmento público. São mídias
Francisco Sant’Anna sobre as “mídias das mantidas e administradas por atores
fontes”. O desenvolvimento de uma impren- sociais que até então desempenhavam
sa institucional (empresas, administrações, apenas o papel de fontes de informa-
órgãos públicos, ministérios, etc) tem pro- ção
vocado debates sobre a identidade profissi-
onal do jornalista. De acordo com Sant’Anna, a imprensa
Segundo os pesquisadores canadenses tradicionalmente vista como um espectador
Charon e Bonville (1996) estamos diante de externo aos fatos começa a perder a totali-
um fenômeno de emergência de uma nova dade do domínio da cena informativa e a
geração de “jornalistas de comunicação”. Ele opinião pública passa a contar com informa-
surge das lógicas comerciais e de uma ções coletadas, selecionadas, tratadas edito-
hiperconcorrência entre publicações, supor- rialmente e difundidas por entidades ou
tes e mensagens. Este novo profissional não movimentos sociais. Ou seja, corporações que
lida necessariamente com a “notícia quente”, possuem interesses corporativos. Para o
mas com matérias requentadas, informações- pesquisador, essa mídia também poderia se
serviço, conselhos e dicas de auto-ajuda. Não chamar “mídia corporativa”, um meio infor-
há compromisso com os fatos. Este jornalista mativo preocupado não apenas em transmitir
é apenas um intermediário, conselheiro a informações mas principalmente em ocupar
serviço dos mais dieversos públicos. Não a agenda mediática com o ponto de vista
estamos aqui falando de reportagem ou de setorial referente aos fatos gerais
jornalimso investigativo. Capital da República, Brasília é também
Trabalhamos com a hipótese do a capital do jornalismo pois tem a maior
embaralhamento do campo do jornalismo concentração de jornalistas per capita: 6500
(Bourdieu, 1983, 1997) que se fundamenta jornalistas para uma população de dois
sobre um conjunto de observações, mais ou milhões de habitantes, ou seja, um jornalista
menos compartilhados pelos profissionais e para cada 350 habitantes.8
certos estudiosos (Utard, 2003:66) sobre os Nosso objetivo é estudar as relações dos
fenômenos de porosidade e de contaminação atores nas rotinas produtivas do jornalismo
JORNALISMO 271
É através dos jornalistas que os políticos nasce com a transferência da capital federal
atingem a notoriedade pública . Ou seja, sem do Rio de Janeiro.
as mídias, não há visibilidade possível. E o Conforme Venício Lima, a concentração
que buscam as mídias das fontes, de insti- de jornalistas nas capitais, sede da burocra-
tuições públicas ou empresas privadas a não cia governamental, reforça a tendência geral,
ser dar visibilidade a seus atos nem sempre tanto profissional como administrativa do
percebidos de maneira espontânea pelos jornalismo, de se privilegiar as fontes ins-
gatekeepers? Evidente que quanto maior a titucionais e estáveis, isto é, as fontes ofi-
audiência das mídias, maior o efeito da ciais. No Brasil esta tendência foi ainda mais
visibilidade desejada. Sabemos que o campo reforçada durante os 21 anos de regime
do jornalismo está sob a pressão do campo militar, pois a centralização do poder e a
econômico por intermédio dos índices de censura direta ou indireta não deixava alter-
audiência. Mas este campo exerce também nativa para os jornalistas.
forte pressão sobre outros campos, principal- Em Brasilia sempre se fez um jornalismo
mente o campo político, onde nada se faz nacional pois no Distrito Federal concentram-
sem interesses e onde o oculto não existe. se as sucursais dos mais importantes jornais
A não ser que o oculto signifique prevari- do país que funcionam como um vetor de
cação. disseminação de fatos políticos diretamente
Estamos falando de jornais e nos concen- ligados às decisões do poder. Ainda que as
tramos nas sucursais dos grandes títulos do Rio redações das sucursais tenham “encolhido” nos
e São Paulo atuando em Brasília10. Mas nossas últimos dez anos, os profissionais das sucur-
entrevistas e a observação dos telejornais assim sais estão entre os mais bem pagos do país.
que dos sites de notícias confirmam esta hi- A legitimidade do jornalismo como cam-
pótese do alcance social dos atores em cena. po do saber dotado de reconhecimento para
atuar socialmente no sistema operacional no
Pesquisadores do jornalismo on-line já demons-
qual está envolvido tende a se deslocar para
traram diversas vezes o quanto às ações das
o campo do hibridismo comunicacional sem
fontes políticas são determinadas e
contornos nítidos. A extensão das competên-
determinantes em função do “tempo real”.
cias jornalísticas para a área da comunicação
Deputados podem mudar o voto nas comissões
institucional pretende substituir o trabalho
conforme o impacto de suas declarações
do jornalista convencional nas rotinas pro-
medidas na repercussão em tempo real.
dutivas da notícia. É neste espaço que se
O universo judiciário serve-se da mídia
legitimam formas de atuação e de influência
para fazer denúncias e provocar mudanças
sobre o fazer jornalístico, confiada a um
na relação de forças no interior de seu campo sistema de mediação instituciona-lizado.
(campo jurídico) e mexer nas hierarquias Segundo Martins,12
internas. Procuradores tornaram-se capas de
revista devido à denúncias de corrupção a organização de aparatos de mídia
através da mídia”11. para agendar a imprensa, coagi-la ou
O campo político se insinua no campo até substituí-la não é um fenômeno
do jornalismo particularmente pelo poder das novo, embora fosse típico de momen-
instâncias governamentais que tem o mono- tos históricos específicos. O que aqui
pólio da informação legítima (fontes ofici- temos em foco é a organização de
ais). Venício Lima (1993: 15) parte da hi- grandes aparatos de mediação,
pótese que existe uma particularidade na agendamento e advocacy num contex-
prática do jornalismo no Distrito Federal to democrático e para fazer face a
(DF), que tem “rotinas e subculturas própri- mudanças conjunturais.Os poderes
as” e um jornalismo que ele chama de político, econômico e público passa-
“oficial” conseqüência do fato singular de ram a necessitar de esquemas própri-
Brasília sediar os três poderes da República os e profissionalizados para ‘oferecer’
e de não ter tido representação política própria conteúdos às empresas privadas e
até a Constituição de 1988. O jornalismo de interferir diretamente na agenda-
Brasília nasce com a cidade que, por sua vez setting.
JORNALISMO 273
Quando era editor-chefe do “Estadão” entre a autonomia necessária para praticar o jor-
1990-1992, ele contabilizou, durante três nalismo. Assim entende ainda um julgado do
meses, as pautas que de alguma forma tinham TST [“Assessor de imprensa não exerce
origem no poder ou se destinavam a cobrir atividades típicas de jornalismo...” (Acórdão
alguma de suas múltiplas manifestações e nº 261412 de 15/05/1998, 3ª Turma; relator:
concluiu que 67% das pautas eram assuntos Ministro Antônio Fábio Ribeiro)] que já vem
oficiais: Presidência da República, Minis- orientando a atuação de advogados trabalhis-
térios, Congresso Nacional, Banco Central, tas.
Tribunais, etc. Deixando de lados as inúmeras definições
de jornalismo consagradas, vamos simplifi-
A transição e a hibridação car e dizer que jornalismo é investigativo
e produz notícias para o público consumidor
A migração de jornalistas para o setor das dos veículos comerciais enquanto que o
assessorias e a atração pelos concursos assessor de imprensa produz pautas, na forma
públicos pode ser explicada, em parte, pela de press releases ou não, decorrentes de uma
crise das empresas, quase todas endividadas atividade muito complexa mas pode ser
e pela precariedade das condições de traba- resumida como um trabalho que consiste em
lho oferecidas nas redações. ajudar o cliente a discernir o que é notícia
Diante de jornadas produtivas que se ou não e a se relacionar com a imprensa.
estendem até doze horas, do achatamento dos Segundo Barbara Hartz17, vem daí boa
salários, das falta de contratos estáveis com parte da confusão. A tradição cultural advinda
carteira assinada ( as empresas estão prefe- da formação e alimentada pela continuidade
rindo contratar pessoas jurídicas em vez de da convivência no meio traduz-se, em alguns
pessoas físicas) os jornalistas profissionais, casos, em um orgulho de pertencer à cate-
dos jovens recém formados aos veteranos goria. Em outros, a origem pode servir como
cansados, todos correm para as funções barganha para valorizar-se junto ao cliente.
públicas. Neste momento de transição e E, talvez em alguns, as duas hipóteses es-
migração, torna-se necessária uma investiga- tejam misturadas. Fora o subjetivismo, ela
ção no campo acadêmico sobre os acredita que os sindicatos de jornalistas
tangenciamentos que atingem o jornalismo aumentam a confusão ao querer manter entre
enquanto profissão historicamente construída seus associados os dois tipos de profissio-
em conseqüência das transformações que vem nais.
se produzindo no campo do jornalismo e que Mas devemos a Philip Schlesinger (1992)
vem afetando o status e a identidade do o questionamento da idéia do
jornalista. “midiacentrismo” dos estudos centralizados
O novo jornalista é um profissional sobre visão do jornalista como único prota-
híbrido com perfil de camaleão, ora identi- gonista ativo da produção de informações.
ficado com as rotinas da redação, ora como Schlesinger convida a refletir sobre a
assessor de imprensa, ora como jornalista/ profissionalização das fontes e a capacidade
funcionário. Também pode estar “produzin- destas em desenvolver uma racionalidade
do conteúdos” para um”site na Internet, numa estratégica baseada sobre a antecipação das
empresa privada, numa ONG ou atuando no rotinas e das práticas jornalísticas para for-
contexto da “advocacia” de causas públicas necer material “pronto-a-publicar”.
e/ou sócio-humanitárias. Sant’Anna acredita que a atual situação
Talvez nem exerça mais funções típicas pode ser explicada pelo critério de “mutação
do jornalismo (cobertura, redação, edição e social, uma transformação de perfis e espa-
editoração), mas tenha-se tornado um pro- ços profissionais provocadas por conjunturas
fissional de alto nível e bem remunerado, cuja sócio, econômicas e culturais.”
especialidade é a de ser um ‘articulador’ junto Esta mutação, segundo Sant’Anna, deve
à imprensa. ser apreciada a partir do conceito de fron-
O jornalista Ricardo Noblat16, voltou a teiras, importado por Ruellan ( 2000; 95) da
alimentar polêmica ao afirmar assessor de Geografia e aplicado na análise do processo
imprensa não é jornalista porque não possui de ocupação agrícola e urbana na Amazônia
276 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
brasileira. Num espaço profissional saturado, dentro do campo do jornalismo e das re-
seria normal que os profissionais afetados lações turvas com o campo político orques-
procurassem terras virgens e expandissem o tradas pelas mídias das fontes. Para garan-
território de suas fronteiras ocupacionais. A tir o capital da credibilidade, o bem maior
fronteira, explica o autor, não é um limite do jornalismo, há que se questionar o
formal de um território de um grupo social, princípio da legitimidade dos geradores de
mas sim um espaço novo a ser ocupado e notícias dos Três Poderes. Afinal, o jor-
conquistado. “O nascimento de uma profis- nalista é o mediador do espaço público
são e seu reconhecimento pela coletividade revisitado por Wolton ( 1997: 380) pois ele
deve-se, em primeiro lugar, à sua capacidade tem circulação privilegiada em todos os
de definir um território.”. espaços: o espaço comum (circulação e
As considerações tecidas neste artigo expressão); espaço público (discussão) e
não esgotam o assunto. A pesquisa está em espaço político (decisão). O jornalista está,
desenvolvimento e não podemos avançar portanto, na passagem do espaço comum
conclusões. Mas insistimos na hipótese da ao espaço público e do espaço público ao
hibridização das categorias profissionais espaço político.
JORNALISMO 277
7
Bibliografia «Mídias das Fontes» - O difusor do jorna-
lismo corporativo (texto de tese em elaboração),
Berger, Christa. Campos em Confronto 2004
8
É quase impossivel informar com exatidão
: a terra e o texto., Porto Alegre: Editora da
quantos jornalistas estão em efetivo funcionamen-
Universidade, 1998 to. Pelos números do Sindicato,de Jornalistas em
Bourdieu, Pierre. Sobre a televisão. Rio 25/03/04 foram emitidos no Distrito Federal:
de Janeiro, Jorge Zahar,1997 3.500 registros para jornalista profissional (registro
——————— , Pierre. O campo ci- plenipotenciário) 476 para jornalista -repórter-
entífico. In:ORTIZ,Renato. Pierre Bourdieu. fotográfico, 241 para jornalista repórter-cinema-
São Paulo:Ática,1983 tográfico, 224 para jornalistas diagramadores e 80
Lima, Venício. A Imprensa em Brasília. para jornalistas ilustradores. Total 4.521 registros
In Jornalismo de Brasília, Impressões e emitidos no DF. Pelos menos uns 2 mil a 2,5 mil
profissionais com registro de fora estão no DF.
Vivências. Sindicato dos Jornalistas do DF,
O que dá um total de 6 500 jornalistas
Brasilia, 1993 registrados.Calcula-se que é o elevado número de
Marcondes Filho, Ciro. A Saga dos cães jornalistas que passam a atuar no mercado sem
perdidos. São Paulo, Hacker,2000 qualquer vinculo com o sindicato: free-lancer,
NEVEU,Erik. Sociologie du Journalisme. cooperativa, pessoa jurídica etc, metade da ca-
Paris, 2001. Ed. La Découverte tegoria trabalha para o setor extra-redação.
9
Ruellan, Denis, Le professionnalisme du Segundo Bourdieu com a noção de campo
flou – identité et savoire-faire des journalistes obtem-se o meio de apreender a particularidade
na generalidade, a generalidade na particularida-
français, Grenoble, PUG, 1993
de.
Schleisinger, Philip, Repenser la 10
Sucursais dos jornais: O Estado de S. Paulo;
sociologie du journalisme. Les stratégies de Folha de S.Paulo n; O Globo; Jornal do Brasil
la source d’information et les limites du 11
Revista Época, 25/03/2002, edição 201, traz
médiacentrisme’– Réseaux n° 51, 1992 p. 75- na capa as fotos dos procuradores Mário Lúcio
99 de Avelar, José Roberto Santoro, Luis Francisco
Utard, Jean Michel. O embaralhamento de Sousa e Guilherme Schelb. Título: Caça
nos gêneros midiáticos. Gênero de discurso corruptos.
12
como conceito interdisciplinar para o estudo Martins da Silva, Luis -Texto distribuído
em aula como parte da pesquisa geral sobre
das transformações da informação midiática.
« Jornalismo Híbrido».
In Comunicação e Espaço Público. Ano VI 13
Foi aprovado recentemente, por unanimi-
Brasilia: UnB,2003 dade, pela Comissão de Trabalho e Ação Social
da Câmara dos Deputados, o projeto de lei que
atualiza a regulamentação dos jornalistas. O projeto
_______________________________ é uma iniciativa Federação Nacional de Jornalis-
1
UnB. tas (Fenaj) e estava tramitando na Câmara desde
2
MARCONDES FILHO, Ciro. A saga dos 1995. No início de 2003, foi reapresentado. O
cães perdidos. São Paulo, Hacker-Editores, 2000, projeto de lei 708/03 segue agora para a Comis-
col. Comunicação & Jornalismo. Martins da Silva, são de Constituição e Justiça e, se for aprovado,
Luis -Texto distribuído em aula como parte da para o Senado Federal. O projeto atualiza várias
pesquisa geral sobre « Jornalismo Híbrido ». funções jornalísticas não incluídas na legislação
4
UTARD, Jean Michel. O embaralhamento em vigor, como a função do assessor de imprensa
14
nos gêneros midiáticos. Gênero de discurso como Dados do Sindicato de Jornalistas Profis-
conceito interdisciplinar para o estudo das trans- sionais do Distrito Federal em 2000.
15
formações da informação midiática. - Comuni- www.observatoriodaimprensa.org.br (2/10/
cação e Espaço Público. Ano VI Brasilia: 2004)
16
UnB,2003 Artigo publicado pela revista Comunicação
5
NEVEU, Erik. Sociologie du Journalisme. Empresarial, da Aberje, e pelo portal Comunique-
Paris, 2001. Ed. La Découverte se,
6 17
Termo cunhado pelo pesquisador Francisco Jornalista e diretora da Hartz –– artigo
Sant’Anna que realiza tese de doutorado sob a «Comunicação Corporativa» publicado no site do
orientação de Denis Ruellan ( Rennes 1, França) Observatório da Imprensa em 2/07/2003.
e da autora deste trabalho. www.observatoriodaimprensa.org.br
278 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 279
Capítulo II
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
280 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 281
Apresentação
Vítor Reia-Baptista1
animados que notadamente reproduzem em para que servissem de base para estabelecer
seus comportamentos, características o enfoque sobre o assunto, atentos a três
emblemáticas, mesmo que simplistas de bom conceitos básicos: Infância, atividade lúdica
e mau, certo e errado, mal e bem. Esta e imaginário infantil.
dicotomia, repetida exaustivamente, episódio A metodologia empregada consistiu na
após episódio, não é enfastiante para crian- pesquisa de campo aplicada acerca dos
ças de faixa de 04 a 08 anos. Antes, são desenhos animados japoneses – DIGIMON
reconfortantes e predominantemente /POKÉMON /DRAGON BALL Z/ MENI-
prazeirosas. Como nos disse Andressa (seis NAS SUPERPODEROSAS /SAKURA
anos, fã de Dragon Ball Z): A gente aprende CARD CAPTOR- apoiada na metodologia
a lutar para defender o bem, tia, bem na antropológica da observação participante, na
linha de conduta aprovada pela sociedade. qual crianças de quatro até oito anos, em três
grupos de sessenta elementos cada,
A metodologia empregada totalizando inicialmente cento e oitenta
pesquisados, reduzidos afinal para quarenta
Tivemos como principais objetivos iden- e quatro, constituídos de representantes de
tificar a compreensão das crianças sobre o segmentos sócio-econômicos distintos, bem
significado dos conceitos de bom-mau, bem- como seus pais e responsáveis, também
mal, certo-errado; verificar a opinião de pais colaboraram respondendo a questionários e
e responsáveis sobre a influência de dese- dando entrevistas.
nhos animados no comportamento das cri-
anças; avaliar se os temas presentes nos Elaboração da amostra e perfil dos entre-
desenhos feitos para crianças favorecem uma vistados
visão crítica da realidade, a falta de valores,
sentido para a vida e embotamento de com- A pesquisa aplicada no Município de
petências para prática da vida adulta. Campos dos Goytacazes no período compre-
O estudo centrou-se no reconhecimento endido entre 2ª quinzena de Junho de 2000
e na identificação do impacto da caracterís- a 1ª quinzena de Dezembro de 2001 cons-
tica dos enredos e personagens do imaginá- tituiu-se inicialmente na aplicação de 180
rio infantil e talvez em atividades lúdicas tais formulários, 108 para meninas e 72 para
como diversão, lazer, fantasia, competição, meninos, dos quais 51 foram devolvidos
aventuras contidas nas séries selecionadas e incompletos e inutilizados e 63 foram des-
suas possíveis influências na formação moral cartados porque as crianças não assistiam
de crianças. De acordo com as fases da análise nenhuma das séries investigadas. Restaram
de conteúdo, a pesquisa foi organizada em 44 formulários servíveis, sendo o público-
etapas: pré-análise, exploração do material e alvo trabalhado dividido em 15 meninas e
interpretação dos resultados obtidos. 29 meninos e seus pais, respectivamente,
A pré-análise constituiu-se primeiramen- sendo trabalhadas as seguintes hipóteses:
te no contato com as séries, para conhecer a) Identificação do tipo de compreensão
suas histórias, enredos e personagens, a fim que os responsáveis por estas crianças de-
de compor um perfil psicológico mesmo que monstram, com relação aos efeitos que a
tosco: entre Janeiro e Novembro de 2001 programação televisiva e particularmente os
foram assistidos seiscentos episódios, de até chamados desenhos animados japoneses
quatro séries diferentes por dia, com duração provocam no comportamento das mesmas;
média de trinta minutos, resultando numa b) Verificação da existência de evidên-
síntese que permitiu a comparação de enre- cias, além de simplesmente circunstanciais,
dos, características dos personagens e elemen- sobre a nocividade do desenho animado,
tos perenes em cada série. destacadamente os japoneses, no estabeleci-
Em seguida, realizamos um levantamen- mento de conduta de crianças;
to de dados bibliográficos com base histórica c) Elaboração do perfil dos personagens
e contemporânea, bem como, materiais re- mais “queridos” e da influência que possam
percutidos e informativos das séries, encon- exercer, pelas razões que os tornam prefe-
trados em livros, jornais, revistas, internet, ridos.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 285
impactar seu psiquismo. Nesta equação, sobre as cenas que mais gostam, usaram
erramos ao atribuir peso acima do necessário diferentes maneiras para responder que eram
ou devido ao ambiente material e economi- aquelas em que o bem vencia o mal, nas que
camente constituído para desfrute das crian- ocorriam lutas bem perigosas, ou onde havia
ças partícipes deste estudo que estivessem magia. Totalizando 71% das crianças, e
na faixa de quatro até seis anos. mesmo sobre as demais opções não apontam
A seguir, constatamos que 43% das cri- nada que contradiga seus pais quando estes
anças passam quantidades de tempo diário em afirmam que não há traço de agressividade,
contato com a televisão, iguais ou maiores do diferente do normal em seus filhos. Em
que as quantidades de tempo diário com os seguida, perguntamos o que deveria aconte-
pais ou professores. Isto só confirma a rea- cer com o personagem mau; 52% das cri-
lidade de que pela estrutura do mundo anças responderam em uma única palavra:
moderno, a criança passa muito mais tempo morrer; 7% declararam que deveria se
na companhia de personagens da televisão do machucar muito, muito mesmo; e outros 7%
que com a família ou na escola; segundo acham que uma boa punição seria sair do
inúmeros artigos, científicos ou não, milhões desenho, sair da televisão.
de crianças, em todo o mundo, substituem a Na questão seguinte, 50% das crianças
ausência familiar e compensam a solidão pela dizem que personagem não pode morrer de
companhia de uma tela colorida, ágil, múl- verdade, só de brincadeira, que vida real é
tipla, presente, disponível. Os modelos de diferente de desenho, que é tudo mentira e
identificação acabam surgindo desse conjunto no outro desenho ele volta, só pode morrer
de influências. Suponhamos que quanto menor de mentirinha, é só uma filmagem e outras
a criança mais influência sofreria e mais respostas na mesmo linha. Isto nos pareceu
suscetível seria de encontrar um herói nefasto, bem adequado até nos preocuparmos com a
violento ou mau caráter, para seguir como familiarização do termo morte.
modelo, considerando os exemplos de desres- Acreditamos nas hipóteses elaboradas no
peito às normas ou regras, romper limites início deste estudo, e temos ciência de que
impostos pelo coletivo, iria parecer atraente a influência do desenho animado, exercida
para crianças, numa etapa de suas vidas em através de personagens heróis, que superam
que estão ainda tateando no aprendizado de seus temores, enfrentam adversidades e
milhares de regras adultas. Seguir normas é superam problemas se é positiva no apon-
difícil e cansativo, principalmente quando sua tamento de condutas socialmente aceitáveis
única ferramenta é o próprio corpo, e a forma e nesta perspectiva, moralmente corretas, por
pela qual este vai ordenando informações exige um lado, também carregam em si o contra-
tempo para comparar experiências, classificá- ponto: as crianças trabalham com a idéia de
las, memorizá-las e aprender com elas. Ob- morte como algo muito singelo,
servamos que 100% das crianças deste estudo desmistificado, e sendo crianças muito pe-
escolheram personagens do bem. quenas ainda, acompanhando diariamente
Inúmeros outros aspectos podem ainda ser episódios em que a mágica, a tecnologia, os
explorados, porém optamos por dirigir e seres mitológicos ou os cientistas podem
centrar nosso estudo nos objetivos previamen- desfazer a morte, isto é inevitável. Para elas,
te estabelecidos. Para tal, destacamos os itens os personagens não morrem: digitransformam,
que acreditamos poder apontar como voltam para a pocket-bola; são regenerados
corroboradores de nossas hipóteses. Entretan- fisicamente por um Dragão Sagrado; são
to, uma impressão tornou-se muito intensa, salvos por cartas mágicas, são reconstituídos
preocupando-nos a ponto de merecer espaço por cientistas. A morte no contexto deste
próprio. É o que segue. desenhos animados não é permanente.
Nos desenhos mais antigos, a morte era
Uma impressão sbore a percepção do um tabu, irreversível quando acontecia,
conceito de morte: exemplo do máximo de punição. Em algu-
mas produções mais recentes, a morte é muito
As crianças compreendem a diferença dramatizada e ocorre em conseqüência de
entre mundo real e televisão. Na pergunta violência física, de tal intensidade em cenas
288 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
radical qualquer tese reducionista que colo- Se aceitarmos outra hipótese, inevitavel-
que a TV como alienadora, idiotizadora de mente estaremos opondo uma separação entre
criança, fomentadora de dependência, o desenvolvimento da inteligência lógico-
deformadora do desenvolvimento mental e consensual ao da imaginação, estaremos
emocional. Aliás, as crianças identificam subestimando sua capacidade de aprender a
programas inadequados por idiotia ou outra construir, gradualmente, uma ficção sabendo
razão qualquer, mas daí a dizer que os que é uma ficção, de entrar na ficção de outro
conteúdos televisivos (indistintamente) são consciente do que estaria fazendo. Acredita-
idiotizantes é atribuir-lhes uma competência mos que as crianças precisam desta elabora-
que verdadeiramente não possuem. ção, não só para apreciar formas de manifes-
Em favor deste mesmo raciocínio, cons- tações artísticas do espírito humano, mas
tatamos que um programa com cenas de também para viabilizar alternativas científicas
violência, assistido sistematicamente, não fará e tecnológicas. Como Einstein dizia que tudo
inefavelmente da criança que o acompanha, que existe é fruto de mera imaginação, tra-
uma criança violenta. Esta é uma afirmação balhamos com a convicção de que no fomen-
eivada de controvérsias no campo científico. to de imaginações poderosas, a televisão ocupa
Porém nosso levantamento de campo não um papel significativo. Esta certeza decorre
deixa dúvidas sobre a posição e opinião dos do entendimento de que ela [a televisão]
pais: seus filhos não mudam de comporta- participa do mundo infantil através de jogos
mento, tornando-se mais agressivos, porque e brincadeiras, vias pelas quais vai formando
vêem desenhos animados japoneses e suas o conhecimento do meio, de si e do outro.
incríveis lutas de artes marciais. Para os pais Não aceitamos mais (como ocorria na etapa
deste estudo, a violência não provoca de projeto de dissertação) a hipótese de que
agressividade, nem perda de sono, nem medo o mal está na televisão, acreditamos ter evo-
luído para a certeza de que o mal possível
ou ansiedade. A criança sabe que é faz de
está no uso que dela se faz. Anteriormente,
conta, segundo eles.
citamos BENJAMIN e sua idéia sobre o papel
PACHECO, refletindo sobre programação
da brincadeira na formação de hábitos e com-
infantil na televisão e cultura, destaca que:
portamentos na vida de cada um de nós. For-
talecemos a crença nesta interpretação ao longo
É inaceitável acreditar que “...” a
desse nosso estudo. Encerramos por agora,
criança seja passiva e acrítica. É
com VASCONCELOS:
inacreditável pensar que ela confun-
da ficção com realidade. Aliás, eu “...” O brincar é uma das mais
creio que uma não existe sem a outra. requintadas formas de ato poético.
Não há realidade que não seja mes- Brincando, eu me afirmo, eu construo
clada de ficção e esta baseia-se no real. e diviso o mundo com um saber que
A criança “...” transita de uma para só o ato de criação permite. Brincan-
a outra e se diverte. Ela sabe que toda do eu exercito minha imaginação e
história tem um final feliz.6 manipulo os objetos, mudo suas for-
mas, seus significados. A realidade é
Acreditamos que a relação das crianças reinterpretada, adquirindo, a cada
com a televisão constitui-se um espaço para brincadeira, novos valores e sentidos.7
o desabrochar do lúdico, que por sua vez
servirá bem para as interações, descobertas, A Autora é Socióloga e Mestre em
investigações que a televisão como maior Comunicação Social pela UFRJ/BR.
fonte moderna de informação permite mais Resenha da Tese de Mestrado apresen-
democraticamente alcançar, e servirá também, tada junto à ECO/UFRJ/BR, Orientada pelo
através da brincadeira que é para a criança, Dr. Muniz Sodré de Araújo Cabral- Agosto
que esta elabore angústias de perda, de morte, de 2002. O texto completo está disponível
de solidão quando ingressa no mundo da no sitio http://geocities.yahoo.com.br/
fantasia. Muito além de confundir ficção e aboynard e a autora poderá ser contatada
realidade, auxilia a criança no desenvolvi- diretamente pelo endereço eletrônico
mento intelectual e emocional. alsboynard@censanet.com.br
290 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
meios, a partir da construção dos seus o caso português, retivemos uma expressão
produtos. de (Aguaded Gómez, 2001: 71):
(Areal, 1995: 17) citado por (Aguaded, A pesar de las interpretaciones, más
2001: 34 e ss.) apresenta um conjunto de o menos alejadas de la
novos objectivos gerais, resultado de um conceptualización que en las páginas
documento posterior intitulado «Educação anteriores hemos esbozado, que se han
para os Media no Ensino Secundário», e que ido realizando de la Educación en
se passa a citar: Medios de Comunicación, hay que
reconocer que el movimiento en fa-
• Utilizar instrumentos de análise e vor de la integración de los medios
reflexão sobre como ler os meios de de comunicación en el marco escolar
comunicação. es ya una realidad, como veremos en
• Estabelecer um distanciamento una breve panorámica de las
consciente e crítico face aos meios de experiencias más significativas (. . .)
comunicação e às suas linguagens.
• Analisar e criticar os valores e
e agora podemos acrescentar, do que se tem
atitudes expressos através dos meios
feito desde 1992 até actualidade, na Univer-
de comunicação.
sidade Fernando Pessoa, o que constitui o
• Desenvolver a expressão de ideias
estudo de caso prático a apresentar em suporte
e a autonomia de pensamento. (. . .)
digital «Live».
• Compreender que os meios de
comunicação oferecem pontos de vista
4. O Estudo de Caso: Universidade
acerca da realidade.
Fernando Pessoa
• Reconhecer que existem distintas
leituras possíveis das mensagens dos
meios de comunicação. 4.1. Supervisão Geral: Aníbal Oliveira.
• Aprender a interpretar a realidade 4.2. Autoria: Alunos do 4ºAno do Curso
através da linguagem dos meios de de Engenharia Publicitária
comunicação. 4.3. Categoria: Publicidade & Media.
• Descodificar mensagens, mitologias 4.4. Ideia: MCA - Uma Agência de
ou estratégias publicitárias. Publicidade que se guia pelos sentidos.
• Analisar mecanismos de manipula- 4.5. Duração: 30‘
ção da opinião pública. (. . .) 4.6. Género Audiovisual: Spot Publicitá-
• Conhecer os «bastidores» da pro- rio TV.
dução mediática. 4.7. Âmbito da Acção: Projecto desen-
• Utilizar técnicas de investigação e volvido no contexto da disciplina de Enge-
documentação, mediante a busca, nharia da Produção Audiovisual 1.
selecção, interpretação e informação. 4.8. Extras: Inclui o Making of.
• Experimentar diferentes técnicas de 4.9. Ano de Produção: 2003-04.
comunicação. 4.10. Budget: Ignorado.
• Desenvolver a expressão através dos 4.11. Mercado-Alvo: Segmento Classe A,
distintos meios de comunicação. B e C, empresários jovens a partir dos 25
anos.
A finalizar esta breve análise problemá- 4.12. Suporte: Projecto e Spot em DVD
tica acerca da Educação para os Media - [Digital Versatil Disk]
298 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Respecto a la “lectura” de filmes, mientras Pero si aquellos cursos les sirvieron para
algunos optan por las obras clásicas como comprender mejor a las máquinas, y para
“Acorazado Potemkin”, otros consideran un desarrollar destrezas en la forma como ordenar
error utilizar estos filmes alejados de la la información, entonces fueron muy
realidad y los intereses infantiles y con un adecuados. Un aspecto básico es entonces
lenguaje (audiovisual) también lejano de lo aprender a ser capaz de organizarse: crear
que es hoy el audiovisual. Preferirían por directorios o carpetas organizadas lógicamente,
ejemplo “El silencio de los corderos” o filmes relacionadas, estructuradas, en donde la
más actuales o incluso series de televisión. información sea fácilmente recuperable.
Es algo así como discutir si enseñar a leer Además, trabajar con diferentes programas y
con el Quijote o con un cuento o con un procesos captando la esencia de los
periódico. procedimientos y los condicionantes técnicos.
Quizás el problema puede residir en que En algunos centros la introducción de la
este tema está todavía demasiado en manos informática personal se realiza justamente al
de amantes del cine y del audiovisual, en revés: a fin de evitar que las manos
vez de haber sido asumido por los profesores, descontroladas de los alumnos alteren nuestra
muchas veces más cercanos a la realidad del configuración equilibrada conseguida con
alumno. El año 72 utilicé con mis alumnos arduos esfuerzos, les negamos cualquier
(12 años) Intolerancia, un filme de Griffith posibilidad de tarea que implique configurar,
del año 1916 de 3 horas de duración. Unos definir, estructurar u organizar. Deben
meses más tarde oí el comentario de un joven limitarse a pulsar ciertas teclas de modo
estudiante de una escuela de cine que en plan automático, siguiendo instrucciones muy
de broma comentaba que, para castigarles, precisas. Me recuerda a un viejo proyecto
les amenazaban con proyectar Intolerancia. de CD-ROM multimedia que teníamos en mi
Comprendí que mi amor al cine me había laboratorio. Se titulaba “El definitivo
llevado demasiado lejos. Todavía hoy no auténtico multimedia” y consistía en una
comprendo como resistieron todo el filme. reflexión crítica y lúdica sobre el multimedia.
¿Existe una demanda social? Al menos El comienzo era así: la pantalla se iluminaba
por parte de los padres, no. Consideran que con mil colores mientras una música
ya ven bastante cine en televisión como para acompañaba el ritmo frenético de unas
ver más en el colegio. Piensan que eso es imágenes que terminaba en un estallido de
algo demasiado atractivo y que por tanto brillo y sonido. Luego se hacía el silencio
siempre habrá tiempo y ocasión para que y la pantalla se volvía azul con un único
aprendan si les gustan. letrero parpadeante:”“Pulse la barra
Pero si no están preparados, si no hay espaciadora”. Esto permanecería hasta que el
medios, si no hay tiempo, si hay discusiones usuario pulsase dicha barra. Entonces
sobre la metodología, si los padres no son aparecería otro cartel: “Vemos que por fin
conscientes... ¿por dónde empezar? ¿Por qué Vd. ha entendido claramente quien manda
empezar? aquí y quien tiene que obedecer. Ahora
podemos continuar con el programa”.
Tecnología Enseñar a los alumnos a controlar
mecánicamente un ordenador no es enseñarles
Aprender a utilizar los ordenadores tiene nada pues seguramente el próximo modelo
un aspecto instrumental, una vertiente que al que accedan funcione de modo diferente.
no debe ser descuidada pero que es Yo ya comprendo que este modelo de
relativamente poco importante. He leído enseñanza responde a los objetivos para los
críticas de profesores hartos de años y años que se creo la escuela con la revolución
haciendo cursos con ordenadores que luego industrial: educar a los futuros trabajadores
hoy ya no les sirven de nada. Si aquellos a realizar mecánicamente tareas diseñadas por
cursos se limitaron a enseñarles cómo abrir otros y cuyo significado ni entendían ni
el MS-DOS o como copiar en un disquete, necesitaban. Pero esas no son las necesidades
su utilidad ha sido realmente baja: hoy no en la época de la revolución en las
hacen falta esas técnicas en absoluto. comunicaciones. Ahora es necesario preparar
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 301
usuarios con iniciativa, capaces de organizar Posiblemente la razón es que tampoco los
su trabajo y tomar decisiones. equipos vienen preparados. Una sencilla
Por esa misma razón es indiferente utilizar recomendación técnica: no se necesita el
uno u otro ordenador, uno u otro sistema último modelo de procesador, ni el más
operativo. Lo importante no son los procesos rápido. La clave es doblar la memoria RAM,
manuales concretos sino la esencia de los lo cual además es una inversión de las más
procedimientos y el desarrollo de destrezas baratas. Hay un viejo consejo que dice que
en el manejo de la información. Crear para hacer un viaje hay que llevar la mitad
carpetas ordenadas por proyectos o facetas de equipaje del previsto y el doble de dinero
de la vida. En muchos casos resulta más del previsto. Pues al comprar un ordenador
adecuado para preparar a los alumnos a hay que adquirirlo la mitad de rápido de lo
utilizar los ordenadores el tener que preparar que es posible y con el doble de memoria
su calendario de deberes que lo que aprenden RAM de la que nos ofrecen (lo cual además
en el aula de informática. Hay personas más normalmente reduce el precio un 20% por
creativas y menos. También hay personas con lo menos). Esta memoria es la que nos va
más o con menos capacidad de trabajar de a permitir tener abiertos varios programas a
modo organizado y ordenado. Pero la invasión la vez.
de la informática exige que todos los alumnos En un curso reciente una profesora se
salgan con destrezas básicas que les permitan quejaba de que con Internet y el ordenador
utilizar estos equipos, al menos, tal como los alumnos copiaban y pegaban un texto sin
posiblemente sigamos concibiéndolos hasta siquiera leérselo y que así presentaban el
bien entrado el siglo XXI. trabajo. Por consiguiente dicha profesora
Claro, el problema es que muchos había prohibido a sus alumnos hacer el trabajo
profesores guardan sus ficheros sin orden, en con ordenador. Eso me recordó dos cosas:
el primer directorio o carpeta que encuentran. a un sobrino mío en COU reescribiendo a
Son ellos los que necesitan una formación máquina el trabajo que había preparado con
en este campo. Y es cierto, volviendo al mito el ordenador porque el profesor no lo permitía
de Frankestein, los ordenadores nos hacen (es obvio que dicho profesor conseguía
cambiar nuestra forma de trabajar. desarrollar destrezas mecanográficas pero
Otra faceta importante en esta dudo que fuera un método inteligente para
introducción al uso del ordenador: la que aprendieran). Otro recuerdo se remonta
capacidad de trabajar con varios programas al comienzo de los setenta: la Ley General
a la vez, la capacidad multitarea del ordenador de Educación introdujo las fichas de trabajo
que debe llevarnos (cuando nuestro equipo personalizado en la escuela, fichas que
lo permita) a también una actividad deberían en parte eliminar los libros de texto
multitarea. También aquí muchos profesores (no lo consiguió por lo que la LOGSE prefirió
piensan que los ordenadores, al estilo de los ponérselo en bandeja a las editoriales de libros
primeros que aparecieron, sólo pueden hacer de texto). Pues bien, en aquella época oía
una cosa cada vez. Dan una orden de imprimir una queja similar: es que los niños se limitan
o de realizar una búsqueda en Internet y a copiar en la ficha lo que pone el libro,
permanecen de brazos cruzados esperando sin estudiar. Así que ahora, treinta años
que se termine la operación. Cuando en después, estamos igual aunque ahora parece
realidad ahora es el momento de seguir con que los estudiantes pierden menos el tiempo
otra tarea, para reanudar la anterior cuando copiando a mano. En ambos casos el
el ordenador haya terminado su trabajo. Cada problema no está ni en las fichas ni en el
vez más tenemos que pensar en ordenadores ordenador: siempre el profesor va a encontrar
que van ejecutando tareas que le enviamos alumnos que tratan de trabajar lo menos
secuencialmente mientras nosotros pasamos posible y de la forma más fácil. Su objetivo
también de una a otra. educativo va a consistir precisamente en
He visto pocas escuelas donde dediquen enseñar a estos niños a aprender y realizar
algún tiempo a este tema. La verdad es que lo mejor posible sus tareas.
muchos profesores a todos los niveles Esto implica que el profesor no debe estar
desconocen como sacar partido al ordenador. tan preocupado por el producto que le
302 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
entregan los alumnos sino por el proceso de interesante. Como el trabajo que le piden es
elaboración de ese producto. Una vieja idea corto, trabajará directamente con el
que no debería olvidarse. Lo que sucede es procesador de textos que abre (ahora tiene
que esto nos lleva a su vez a un cambio en 3 programas abiertos: NetScape, FileMaker
la evaluación: no se debería evaluar sobre y el procesador, por ejemplo el Word). El
productos, sean estos exámenes, pruebas o texto que ha encontrado le parece interesante
trabajos, sino que el profesor debe realizar y copia un fragmento que inmediatamente
un seguimiento durante todo el proceso, pega en Word. Lo selecciona y le asigna la
preguntándole al alumno qué hace y cómo letra cursiva. A continuación vuelve a
lo hace, invitándole a mejorar. Lo cual nos NetScape y selecciona/copia el nombre de
lleva a otro cambio: si dedicamos el tiempo quien ha escrito el texto (afortunadamente
de clase a explicar, no nos queda tiempo para en este caso aparece pues si no, tendría que
observar/evaluar como trabajan, por lo que haber puesto “anónimo”), el título y la URL
es preferible dedicar el tiempo de clase a que (la dirección en Internet donde lo ha
ellos realicen tareas según guías que les encontrado), todo lo cual lo pega a
preparamos y nosotros vayamos pasando de continuación de la cita (lo que requiere ir
persona en persona, de grupo en grupo, y volver varias veces de uno a otro programa).
observando cómo lo hacen. Durante toda la Como no ha encontrado ninguna referencia
mañana no hemos necesitado abrir la boca temporal, no pone el año pero sí añade a
pues los alumnos han buscado sus propias la URL la indicación del día en que la ha
tareas en fichas que habíamos colocado en encontrado. Para terminar añadirá dos líneas
la red. Sólo al final del día en una puesta explicándose A SI MISMO por qué le ha
en común hemos compartido las experiencias parecido interesante la cita.
de ese día. Juan nos ha presentado un elegante El proceso se repite, en ocasiones
y completo trabajo sobre un escritor. Esta era resumiendo algún párrafo, aunque también ha
su historia. seleccionado/copiado/pegado fotos e incluso
Juan abre NetScape y consulta a través un fichero de sonido con la voz del autor y
de la red la tarea que tiene pendiente: tiene una corta secuencia de vídeo que le ha llevado
que entregar un trabajo sobre un escritor media hora durante la que ha seguido
determinado. Mientras mantiene abierto el recogiendo información en las otras ventanas.
programa, abre su base de datos (por ejemplo, Todo esto lo ha colocado en una carpeta/
FileMaker que es muy intuitiva y flexible) directorio que ha creado especialmente.
y busca si tiene direcciones de búsqueda sobre También lo ha ido insertado en el documento
literatura, autores, escritores, etc. Encuentra Word. Con esto ha terminado la primera parte
una dirección de un periódico que está del trabajo.
dedicada al tema y la de un par de editoriales, Ahora aunque mantiene abiertos los
además de un par de librerías virtuales. Con programas, está sentado delante de la pantalla
ayuda del ratón salta rápidamente entre la y releyendo todo lo que ha escrito/copiado.
base de datos y NetScape, copiando en una Reflexiona (dice que espera la inspiración de
las direcciones que luego “pega” en varias los dioses). Abre otro documento Word (que
ventanas que ha abierto en el navegador. redimensiona y resitúa en escalera, igual que
Mientras la segunda ventana de NetScape (la ha hecho antes con las ventanas y los
primera contiene la información sobre el programas) y va construyendo un esquema
trabajo que le piden) está esperando la de lo que quiere poner. Su esquema tiene
respuesta, ha abierto tres ventanas más donde cinco puntos. Copia el esquema y lo vuelve
ha introducido las otras direcciones. Para a pegar a continuación, pero selecciona
cuando termina de abrir ventanas, la del cambiarlo a “todo mayúsculas” para facilitar
periódico ya contiene información y le lleva la tarea. Ahora copia/pega desde el otro
a varias direcciones que explora con ayuda documento fragmentos del material en bruto
de dos ventanas auxiliares. a continuación de cada uno de los cinco
Algunas veces el enlace no lleva a nada apartados. Acaba de “reclasificar” su
y se muere. Pero en algunos casos encuentra información en el marco (esquema) que había
un texto que se refiere al autor y le parece creado. Es importante pues ha buscado,
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 303
todavía nos quedan vestigios en algunas Hoy, 63 años más tarde, la situación es mucho
comunidades donde la palabra del anciano peor.
se respeta como criterio último. Se trata de El incremento del nivel de conocimiento
una situación en la que el incremento de es tan rápido que cada vez resulta más difícil
información en el espacio de dos generaciones escribir un libro y publicarlo sin que haya
es tan lento que el conocimiento acumulado perdido actualidad. Entre 1707 y 1715 Tomas
por la persona de edad era válido para Vicente Tosca publica los nueve volúmenes
resolver los problemas de la comunidad; la de su “Compendio Mathematico”.
sabiduría residía en los ancianos de la tribu. Lamentablemente, lo había escrito entre 1680
El incremento en el volumen de y 1690, unos 25 años antes, inmediatamente
conocimientos de la humanidad se produce antes de la obra de Newton. Así que el autor
de modo irregular, con momentos de gran rehuye considerar como real el sistema
esplendor y avance de las letras y las ciencias, heliocéntrico, aunque acepta que “como
valga la socorrida expresión, y con momentos hipótesis no hay duda ser una de las mejores
oscuros en la historia. que se han discurrido”.
En los últimos siglos, el volumen de Casi tres siglos después no es necesario
conocimientos se incrementa progresivamente tardar tanto en publicar para llegar tarde.
comenzando una curva de despegue con la Berge y Collins publican en Noviembre una
revolución industrial. Podemos encontrar serie de 3 libros sobre comunicación con
numerosos indicadores de como diferentes ordenadores y clase en tiempo real (Berge
personas perciben este desbordamiento del y Collins, 1994). Segun comentaron los
volumen de información disponible, autores (editores) en la conferencia de la
desbordamiento que la hace difícil de manejar AERA, en Abril de 1995, el texto básico
por el hombre. Un indicador muy utilizado (borrador) había sido entregado por los
es la evolución desde el concepto de Homo
autores en Septiembre de 1992, y la versión
Universalis, ingeniero “y” pintor, hacia el
definitiva entregada a la editorial en Julio
especialista, ingeniero “o” pintor, y la alta
de 1993. En definitiva, 10 meses entre
especialización, ingeniero de lenguajes
ambos momentos, y 16 meses más para que
informáticos o diseñador gráfico de portadas
el primer ejemplar pueda llegar a la primera
de libros. Naturalmente, siguen existiendo
librería. Pues bien, de acuerdo con los datos
personas que abarcan varios campos a pesar
disponibles hoy, por cada 10 herramientas
del conocido dicho: “aprendiz de mucho,
(programas) disponibles en Internet a las que
maestro de nada”.
hicieran referencia los autores en su primer
Pero el indicador que más me gusta en
relación a ese desbordamiento de la redactado, había 25 en el momento de
información, es la obra de Vannevar Bush, entregarlo a los editores, y 127 en el
tal como las concibió en 1932 y 1933, las momento de salir el libro a la calle: desde
escribió en 1939 y las publicó finalmente en que el Editor recibió el libro hasta que salió
1945: “As We May Think” (“Tal como el primer ejemplar, parte de la información
debemos pensar”). A quien este autor no le que debía contener el libro se había
diga nada, posiblemente le resulte más multiplicado por 5.
familiar la palabra “hipertexto”. Bush es Algunas estimaciones actuales calculan
considerado el “abuelo” del hipertexto por que en un campo como la ingeniería
el sistema Memex (Nielsen, 1990), informática la cantidad de información
abreviatura de “memory extender” disponible se duplica cada cinco años; en
(“expandidor de memoria”). El siguiente texto el año 2.000 se duplicará cada año. En
de Nielsen, referido a Bush en los años treinta, Estados Unidos, los títulos académicos en ese
es suficientemente ilustrador: “La principal campo deben ser revalidados cada cinco años.
razón por la que Vannevar Bush desarrolló Otros campos de conocimientos con
su propuesta Memex fue su preocupación por velocidades similares de crecimiento son la
la explosión de información científica que Medicina, numerosas ingenierías, varias
hacía imposible, incluso para los especialistas, ramas de la Física y la Química, diferentes
estar al día en el desarrollo de una disciplina”. ciencias medio ambientales, etc.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 305
¿Qué consecuencias tiene todo esto para muchos profesores tendrían serias dificultades
la escuela? En primer lugar existen dos en ayudar a sus alumnos a adquirir unas
consecuencias directas: destrezas de las que ellos mismos carecen.
• la necesidad de una permanente Todo esto nos lleva a una idea clave en
actualización la que insistiré más adelante: la Enseñanza
• la necesidad de diseñar y utilizar nuevos debe cambiar. En este momento nos hemos
modos de organizar y acceder a la fijado en dos aspectos: la menor importancia
Información. que debe darse a la reproducción de
Los hombres y mujeres de hoy y de los conocimientos, y la mayor importancia que
próximos años tropiezan con esa necesidad debe darse al desarrollo de destrezas en el
de actualizar continuamente sus acceso a la información. Pero sigamos con
conocimientos, y esto se traduce en una el análisis.
explosión de la formación continuada,
suficientemente importante como para que la 2. El modo como se codifica la información
Unión Europea haya seleccionado 1996 como
el año de la “formación a lo largo de toda La mayor parte de la información que
la vida”. Pero no es esa la consecuencia hemos recibido a lo largo de toda nuestra
educativa que aquí me interesa resaltar. La vida académica estaba contenida en palabras,
consecuencia que quiero señalar es la en muchos casos escritas. Para nosotros
progresiva disminución de la importancia que resulta habitual pensar en la información en
se da al conocer como acumulación de términos de libros, contenidos en Bibliotecas,
conocimientos. “Conocer” es hoy algo más sedes donde se guarda el conocimiento
que ser capaz de reproducir nombres, hechos humano. Pero no siempre ha sido así.
y conceptos. Pues de día en día crece la Los versos de la Iliada o la Odisea nos
distancia entre lo que somos capaces de hablan de una época en la que la información
“recordar” y el volumen total de información. se transmitía de modo oral, de ahí la
Y pocos años después de terminar los estudios necesidad de utilizar versos que facilitaran
universitarios descubrimos que una parte el recuerdo. Las cristaleras de las catedrales
importante de lo que “estudiamos” ha nos recuerdan una época en la que la imagen
quedado obsoleto. era en gran medida el soporte de la
Y frente a esta realidad, que no suprime información que llegaba a la mayor parte de
la necesidad de poseer una base de habitantes de este planeta. Era una época en
conocimientos sólida, los profesores no han que la gente no necesitaba saber leer.
sabido reaccionar, y continuan en muchos Desde hace unos pocos siglos, la
casos basando su enseñanza en la transmisión Humanidad ha canalizado su necesidad de
de unos contenidos, más o menos almacenar y transmitir la información a través
actualizados. de la palabra escrita en los libros. Y hoy esto
La necesidad de diseñar y utilizar nuevos está cambiando. En el campo profesional y
modos de organizar y acceder a la académico, el soporte de la información
Información es lo que llevó a Bush a diseñar evoluciona hacia los sistemas multimedia, con
su Memex, o a Ted Nelson a utilizar el un elevado peso de la palabra escrita en
término “Hypertexto”. Es cierto que en ciertos algunos casos, pero con un peso creciente
niveles educativos se está produciendo una de la imagen en otros. En el mundo familiar
apertura a este nuevo modo de organizar la y social ya se ha producido la evolución hacia
información. Sin embargo es frecuente una sociedad audiovisual, dominada por los
escuchar quejas sobre los alumnos que “se medios, especialmente por la televisión.
pierden” por ejemplo en Internet. ¡Claro que No entro aquí en una valoración de unos
se pierden! ¿Quién les ha ayudado a hechos sino en su constatación: la imagen
desarrollar las destrezas para este nuevo modo entra con tal fuerza que la mayoría de la
de acceder a la información? Como en tantos población la utiliza como fuente de
otros casos, los alumnos aprenden estas información. Muchos adultos actuales son
destrezas por ensayo y error sin guía ni capaces de reconocer ciertas especies de
tutorización. También hay que reconocer que animales, lejanas de su hábitat, o el contorno
306 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
de países que nunca han estudiado, o la figura síndrome de Frankestein tal como lo define
de personajes residentes en lejanas tierras. Postman: los hombres creamos una máquina
En los países industrializados, ver televisión con un fin definido y concreto, pero una vez
es la tercera actividad en razón del orden de construida descubrimos que la máquina tiene
tiempo dedicado por los ciudadanos adultos; ideas propias, es capaz de cambiar nuestras
las dos primeras son el trabajo y el sueño costumbres y nuestra manera de pensar. Según
(Ferrés,1994a, p. 14). Podríamos seguir Postman este descubrimiento lo realizamos
incluyendo datos sobre el peso de la imagen horrorizados algunas veces, angustiados
en nuestra cultura, pero me parece normalmente y sorprendidos en todos los
suficientemente obvio. casos (Postman, 1991).
Ante esta situación se disparan las Estoy de acuerdo en que la televisión
alarmas. Estas son algunas de las críticas más cambia nuestra manera de pensar,
frecuentes: se produce un descenso en la precisamente esa es la tesis que estamos
capacidad de concentración, se produce un defendiendo. Pero no comparto que este
exceso de información pero ésta es tan descubrimiento me horrorice o angustie.
superficial que más bien hay que hablar de Posiblemente porque la vieja manera de
“saturación de superficialidad, la pasividad pensar no se ha mostrado tan eficaz en
va en aumento, pérdida del espíritu crítico destruir la intolerancia, la opresión, la miseria,
y de la capacidad de razonamiento (Babin el hambre o la guerra. No sé que posibilidades
y Kouloumdjian, 1983). Todas estas críticas de éxito tiene la nueva manera de pensar pero
son analizadas por Babin que nos muestra no parece que lo vaya a hacer peor.
como ante lo que nos encontramos es ante En todo caso, tanto si aceptamos la línea
una “nueva manera de comprender”. de potenciar facetas de la actividad intelectual
Algunas de las nuevas maneras de conocer relacionadas con la imagen, como la analogía,
están relacionadas con la especialización la intuición, el pensamiento global... o
hemisférica. Existe un viejo libro que ofrece potenciar procesos tradicionalmente asociados
ideas sugerentes sobre estrategias y modos al hemisferio derecho (la globalidad, la
de pensamiento visual, metafórico y representación visual, ...), como si aceptamos
multisensorial (VerLee, 1983). Estas ideas nos la línea de interpretar los cambios producidos
permiten avanzar en una línea en relación en su faceta más negativa (superficialidad,
a este nuevo modo como se codifica la irreflexión, dispersión, falta de estructuración
información. Pero existe otra relacionada con del conocimiento,...) lo que sí queda claro
la disminución de la capacidad de atención, es que la Escuela debe cambiar. No puede
la superficialidad de los conceptos, los seguir tratando de transmitir el conocimiento
amplios campos de conocimienots y la como hace 50 años, basados en la palabra,
dispersión y falta de estructuración del especialmente en la palabra escrita.
conocimiento. No creo que se trate de adoptar
una posición de “apocalíptico ante los 3. El modo como accedemos a la
medios”, utilizando el término de Umberto información
Eco, o de seguir los consejos de Jerry Mander
cuando de modo detallado nos expone sus Todavía es posible encontrar en algunos
razones por las que la televisión debería ser edificios antiguos de nuestras más venerables
eliminada (Mander, 1977). universidades aulas al viejo estilo. Ellas nos
No es porque crea que la televisión es dicen mucho sobre cómo se concebía el modo
un tabú. Mander destaca que de 6.000 libros de acceder al conocimiento. Aquí deseo
aparentemente publicados sobre la televisión, resaltar dos características. Una es la seriedad,
sólo ha encontrado uno en el que la idea de la sobriedad, el respeto, el peso abrumador
que la televisión desparezca es considerada de piedras en aulas de techos de altas
de alguna forma, y ante eso decide que nos dimensiones; faltan elementos alegres, faltan
encontramos ante un tabú (Mander, 1977, pg. pintadas, faltan chistes -¿alguien se imagina
357). Mas bien pienso que nuestra cultura a Mafalda en una clase así?. La otra
ha cambiado y ha sido la televisión quien característica es la unidireccionalidad del
la ha cambiado. Aquí podríamos aplicar el discurso: a un lado, en una tarima o, en
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 307
participación. Por primera vez una persona distantes miles de kilómetros. Las redes no
puede distribuir información a nivel de todo sólo proporcionan información al usuario,
el planeta a un costo mínimo. ¡Cualquier sino que este se convierte en sujeto activo
información!. Es cierto que los sistemas de en la construcción de dicha información.
correo electrónico no son nuevos, y por No es posible dedicar mucho más espacio
supuesto, sistemas como el teléfono, etc. Pero pero habría que hablar de cómo también los
lo nuevo es el acceso a través de Internet, medios más convencionales como la radio
una red de costo reducido, a, y la televisión caminan hacia una dimensión
videoconferencias mediante CuSee-Me, más participativa. Y cómo esta evolución
sistemas de aprendizaje gestionado por tecnológica tiene un paralelismo en una
ordenador, forums telemáticos, etc. Y estamos sociedad que podría definirse a través de una
sólo en el comienzo. Existen numerosos “cultura de la participación” (Ferrés y
proyectos en todo el mundo como el KSI Bartolomé, en proceso). Y habría que hacer
(Gaines, 1994) cuyo objetivo es “proporcionar también referencia al hipertexto como modelo
un nueva generación de sistemas de soporte para organizar la información.
al conocimiento basados en una arquitectura Los sujetos de hoy son sujetos que toman
abierta, que permitan la colaboración entre decisiones, que están activos,... y que viven
círculos de estudiosos a través de la inmersos en una cultura del espectáculo y
tecnología de la información, con la intención en una sociedad del entretenimiento. ¿Puede
de conseguir una aceleración sistemática de la Escuela seguir utilizando aquellas viejas
los procesos de conocimiento humano” (p. aulas de piedra?. El modo como accedemos
10). Es el trabajo colaborativo en el seno de a la información ha cambiado, y la escuela
comunidades de investigadores y expertos, debe cambiar.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 309
A escola deixou de ser o único lugar bios e dos ditos populares, o mundo da
de legitimação do saber, pois existe música popular narrativa e do rap deslocam,
uma multiplicidade de saberes que também, a partir de suas próprias gramá-
circulam por outros canais, difusos e ticas, ritmos e prazeres, o ascetismo triste
descentralizados. Essa diversificação do autismo livresco”.
e difusão do saber, fora da escola, são Mas nem sempre é possível realizar essa
fortes desafios que o mundo da co- tarefa, sobretudo no cotidiano acadêmico.
municação apresenta ao sistema edu- Normalmente, nesse meio, docentes e discen-
cacional. tes se fecham em suas áreas, em suas es-
Jesús Martín-Barbero2 pecialidades (até mesmo no âmbito da
Comunicação Social) e “olham” fascinados
Enquanto se introduzem novas modali- a mídia com seus produtos e atores, procu-
dades no sistema educativo, graças ao avan- rando dar conta, de forma isolada, da com-
ço de tecnologias no campo da Comunicação plexidade desse campo. Esquecem, ou sim-
Social, há professores que permanecem plesmente ignoram, o diálogo necessário entre
estacionados no autoritarismo, “como reação as disciplinas, entre as áreas de conhecimen-
à perda de autoridade”, diante de novos to, para se elaborar, como propõe Baccega5,
saberes que os alunos trazem para a sala de “um aparato conceitual que coloca os meios
aula. Hoje, como afirma Martín-Barbero3, no centro das investigações e procura dar
“diante do professor que sabe muito bem conta da complexidade do campo”.
recitar sua lição, senta-se um alunado que, Daí a pertinência em destacar o alerta feito
por osmose com o meio-ambiente comunicati- por Martín-Barbero6 a respeito do que ele
vo, está embebido de outras linguagens, chama “esquizofrenia cultural”, ou seja, os
saberes e escrituras, que circulam pela dois tipos de saber que dividem os cidadãos,
sociedade”. na sociedade moderna, onde a comunicação
Frente a esse quadro, é preciso rever a se converte em “ecossistema”.7 Por um lado,
Escola para que se transforme em espaço o saber que lhes concede o diploma como
propício à autodeterminação dos sujeitos passaporte ao mercado de trabalho e ascen-
envolvidos, como laboratório a novas expe- são social; por outro, o saber que lhes permite
riências pedagógicas, novas práticas docen- compreender as mudanças do sistema pro-
tes, onde se aprenda a convivência uns com dutivo e inovação da sociedade.
os outros e se harmonizem diferenças. Para A exemplo desse autor, defendemos o
tanto, será preciso romper com o sistema segundo tipo de saber, aquele que promove
educativo centrado apenas na escola e no livro a autodeterminação dos estudantes para que
e enfrentar o desafio de transformar o espaço sejam capazes de respeitar o que está posto,
escolar em “ambiente de informação e de conviver com o novo e harmonizar as di-
conhecimentos múltiplos”, como preconiza ferenças. Para tanto, a Escola precisa traba-
Martín-Barbero4, ao reivindicar a existência lhar com o saber difuso e descentrado que
da cultura oral e audiovisual sem desconhe- circula na sociedade, além dos muros da sala
cer a cultura letrada, mas juntando a ela “as de aula, considerando a cultura oral e a
múltiplas escritas“que hoje conformam o audiovisual, respeitando a leitura e a escrita
mundo da informática e o audiovisual”, como meio de criatividade, procurando
trabalhando também a “oralidade cultural das aproximação com o mundo da imagem,
maiorias”, porque “o mundo das piadas e entendendo a sua língua. Como justifica
das narrativas orais, o mundo dos provér- Martín-Barbero8, “a escola desconhece tudo
312 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
o que de cultura se produz e transcorre pelo Social, que procuraram compreender como
mundo audiovisual e pelo da cultura oral: o idoso apareceu na mdia, entre os meses
dois mundos que vivem, justamente, do de agosto a outubro. Para tanto, cada grupo
hibridismo e da mestiçagem, da mistura de de alunos escolheu meios de comunicação
memórias territoriais com imaginários des- social para acompanhar relatos jornalísticos,
locados. Enfrentemos o mal-entendido”. peças e campanhas publicitárias, programa-
ção de lazer, analisando a mediação do
A experiência pedagógica comunicador social (jornalista, relações
públicas e publicitários) entre o idoso e a
Na trilha desse desafio, elegemos o ido- sociedade.
so, que ganhou a atenção da mídia, da Igreja Participaram do trabalho 260 alunos na
Católica e do Governo, em 2003, como primeira etapa e 200 na segunda, organiza-
temática para o desenvolvimento de pesqui- dos em grupo de estudo, em cada uma das
sa-ação com os nossos alunos em três cursos turmas. No final de cada semestre, os grupos
de graduação da UniSantos, nos quais mi- expuseram os resultados da pesquisa-ação em
nistramos disciplinas relacionadas nossa seminrio, discutindo propostas e refletindo
formação: Comunicação Social, Geografia e sobre a contribuição da atividade para o
Nutrição9. O que pretendíamos, no início do crescimento individual e compreensão da
ano letivo, era somente promover a integra- sociedade11.
ção entre jovens e idosos, em meio disso-
lução dos laços afetivos que caracteriza a Da aproximação à descoberta
sociedade do século XXI. No decorrer do
trabalho, porém, constatamos que poderíamos A história deve reproduzir-se de
estender nossa “viagem” e alcanar resultados geração a geração, gerar muitas ou-
no sentido do que defende Baccega10, ou seja, tras, cujos fios se cruzem, prolongan-
de que as pesquisas resultantes do diálogo do o original puxado por outros dedos.
entre os saberes “permitem apontar os meios Ecléa Bossi12
de comunicação como os maiores produtores
de significados compartilhados que jamais Já se conhece, de acordo com os resul-
se viu na sociedade humana, reconhecendo- tados do censo realizado pelo IBGE (Insti-
se, desse modo, sua incidência sobre a tuto Brasileiro de Geografia e Estatística), em
realidade social e cultural”. 2000, o aumento da população idosa no
A estrutura desse nosso trabalho, portan- Brasil13. Porém, na medida em que aumenta
to, compreendeu duas etapas. No primeiro o tempo de vida dos brasileiros, a idade
semestre, os alunos conversaram com idosos cronológica, diminui o respeito, míngua a
a respeito de problemáticas referentes às suas paciência, esgota a consideração para com
áreas de formação. O roteiro da entrevista aqueles que, não sendo mais jovens, não tendo
mais capacidade plena de produção, vivem
aberta consistiu em indagações por parte dos
à margem do Outro, em estado de exclusão
alunos, o que permitia a organização da
social.
narrativa dos idosos quanto aos assuntos de
Com recursos financeiros reduzidos
interesse nas respectivas áreas de formação, pensão e aposentadoria insignificantes diante
ou seja: fatos/acontecimentos que marcaram, do que precisam para tratamento de saúde,
no passado, a vida dos idosos (jornalismo); alimentação e lazer a que tem direito, no
imagens de pessoas ilustres e instituições tempo em que deveria ser de descanso, os
importantes que ficaram na memória (rela- idosos deixam-se morrer, levando consigo
ções pblicas); produtos e marcas de consumo relíquias da sabedoria. Muitas vezes, como
na juventude (publicidade e propaganda); “estorvo” na vida familiar, são “depositados”
alimentos e refeições na família, em outros em asilos e casas de repouso, onde esperam
tempos (nutrição); transformação do meio o tempo passar até que chegue o seu tempo:
ambiente (geografia). o da morte.
O desdobramento do trabalho, no segun- Bosi 14 descreve esse tempo da vida
do semestre, contou com a participação “natural como a cor da pele”, lembrando os
apenas dos alunos do curso de Comunicação preconceitos que cercam o idoso, as dificulda-
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 313
des que enfrenta “para continuar sendo um Trabalhando com a memória, resgatamos
homem”. Mesmo que não seja castigado por a arte de contar histórias, acolhendo o conselho
alguma falha ou distração, mesmo que não no ato do falar vivo. Isso porque acreditamos
seja atingido por algum infortúnio, ele ge- no que Bosi18 afirma sobre “a arte da narra-
ralmente perde a razão de viver ou descobre ção”, que “não está confinada nos livros, seu
a ausência dessa razão, considera Beauvoir15, veio épico é oral. O narrador tira o que narra
em estudo sobre “a velhice”, justificando o da própria experiência e a transforma em
conformismo do idoso na espera da morte. experiências dos que o escutam”.”
Mas, para manter os projetos vivos e Contudo, na atualidade, neste tempo de
afastar o fantasma da morte, o idoso precisa globalização da sociedade do espetáculo, a
do Outro, da sua atenção, além dos cuidados narração foi substituída pela informação frag-
que a idade avançada carece. Aí está a im- mentada que a mídia difunde enquanto no-
portância da memória como trabalho. Lem- vidade “e só tem valor no instante que surge”.
brando, refazemos, reconstruímos, repensa- Assim a informação “se esgota no instante
mos, “com imagens e idéias de hoje, as em que se dá e se deteriora”. A narração é
experiências do passado”, considera Bosi16, diferente, ela “não se consuma, pois sua força
explicitando a lembrança como sobrevivên- está concentrada em limites como o da se-
cia do passado. mente e se expandir por tempo indefinido”.
A lembrança de uma imagem construída A essa consideração, Bosi19 compara a situ-
pelos materiais que estão, agora, à nossa ação do “receptor da comunicação de massa”
disposição, no conjunto de representações que como “um ser desmemoriado”.
povoam nossa consciência atual. [...] ela não Cabe à Escola, portanto, reverter esse
é a mesma imagem que experimentamos na quadro, trabalhando as competências nos dois
infância, porque nós não somos os mesmos pólos da comunicação (enunciador e
de então e porque nossa percepção alterou- enunciatário), revendo e discutindo histórias,
se e, com ela, nossas idéias, nossos juízos propondo alternativas que conciliem univer-
de realidade e de valor. O simples fato de sos, linguagens e percepções; ativando, enfim,
lembrar o passado, no presente, exclui a memórias para evitar o que Martín-Barbero
identidade entre as imagens de um e de outro, chama de “esquizofrenia cultural”.
e propõe a sua diferença em termos de ponto Com o propósito de recuperar a capaci-
de vista. dade de escuta dos jovens, procuramos
Ao trabalhar com a memória, no encon- orientá-los como ouvintes que, esquecendo-
tro entre idosos e jovens, reelaboramos o que se deles próprios, pudessem penetrar na
foi com a proposta do que é para se construir história dos idosos, de tal forma que a arte
o futuro. Lembrando o que diz Chau sobre de narrar fosse transmitida de maneira na-
o trabalho de Bosi17, “ler é retomar a re- tural e agradável. Constatamos, com essa
flexão de outrem como matéria-prima para prática pedagógica, que a partir do encontro
o trabalho de nossa própria reflexão”. foram recuperados fios de uma rede artesanal,
Aí está uma das justificativas para a pri- tecida em milénios: a narrativa, forma
meira parte do trabalho que realizamos com artesanal de comunicação.
nossos alunos da graduação, em 2003. Ao No encontro de tempos diferentes, não
convocar a memória de idosos a respeito de houve substituição, mas o complemento do
objetos que constituem a base para a pre- artesanal com o tecnológico: anotação e
paração profissional desses jovens, eles gravação dos relatos: sobre guerra mundial,
procederam a leitura de vozes dos que fa- ditadura militar, racionamento de comida,
laram (como trabalho de lembrar, da memó- censura das palavras; filmagens das rugas
ria) para a construção de objeto simbólico com histórias, das mãos trêmulas a pedir
de análise (discurso de idosos), procurando carinho, do olhar distante recuperando lem-
compreender sentidos possveis a respeito de branças, tecendo caminhos na relação entre
acontecimentos, imagens, produtos, práticas universidade e sociedade.
culturais, meio ambiente, conforme a proble- No cruzamento dos fios de histórias do
mática levantada em cada um dos cursos passado, surgiram novas histórias que os
envolvidos, nas respectivas disciplinas. alunos construíram como artesãos de uma
314 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
sociedade mais justa, onde idosos e jovens levantaram questões pertinentes para a con-
possam conviver, trocando experiências com tinuidade do estudo sobre o idoso e os meios
mútuo respeito, vincadas de solidariedade. Na de comunicação social, como desafios
metáfora da viagem, vencendo distâncias, os aquisição do saber e formação da cidadania.
universitários renovaram suas bagagens, Sobre a escassez de produções voltadas
porque o saber não está somente nos livros. para o idoso, o jornalista e diretor do Centro
No encontro de descobertas, jovens e idosos de Produção de Cinema e Televisão da
teceram a substância social da memória, da Universidade de Brasília, Paulo José Cunha,
lembrança, a fim de não se perderem his- observa o seguinte:
tórias pessoais que ajudam a construir o Emissora alguma se arrisca a colocar no
conhecimento. ar um programa especificamente destinado
ao público da terceira idade, porque teme ser
O idoso na mídia carimbado de “televisão de velho” e, com
isso, perder a audiência das demais faixas
Em 2003, especialmente no segundo etárias. Desde o departamento comercial até
semestre, a mídia destacou o Brasil de cabelos a teledramaturgia, os estereótipos apontam
brancos, e o idoso foi assunto de pauta em para a necessidade de não se mostrar o velho
diferentes situações. Homenageado na Cam- ou, se tiver de mostrá-lo, que se mostre um
panha da Fraternidade da CNBB – Confe- velho que quer ser jovem, que precisa ser
rência Nacional dos Bispos do Brasil –, que jovem, que não pode jamais “sucumbir” à
conclamou Vida, Esperança e Dignidade a própria velhice.
essa população significativa no país, o idoso
conquistou o seu Estatuto, sancionado em 1º Desafios
de outubro pelo presidente Luís Inácio Lula
da Silva. No entanto, foi vítima da medida “A mídia continuará a dar espaço ao
arbitrária do ministro da Previdência, Ricardo idoso, nos próximos anos?”. Essa questão,
Berzoini, que suspendeu o pagamento das no nosso entender, sintetiza a preocupação
aposentadorias aos segurados com mais de levantada pelos alunos no decorrer dos se-
90 anos, até a prova de que estavam vivos, minários. Nas diferentes mídias e tipologias
comparecendo aos postos da previdência. O textuais, os estudantes constataram o que
sacrifício nas filas, registrado pela mídia, afirmou o editor de um jornal local: “o idoso
revoltou os brasileiros. aparece na mídia quando a pauta pede”.
Além dessas e outras pautas nos notici- E a pauta pedia, como apuraram os alunos,
ários, o idoso mereceu destaque na progra- sempre os mesmos assuntos: doença / saúde
mação televisiva de lazer com abordagem / medicamento, aposentadoria, denúncia de
polêmica: a maldade da neta em Mulheres maus tratos e abandono. Informações de
Apaixonadas, novela de Manoel Carlos, problemas descontextualizados, sem apontar
veiculada no horário nobre da Rede Globo; alternativas para solução. Isso no que se refere
o modernismo da Avó Layla, em Malhação, ao cidadão comum, porque o famoso sempre
que passou no vestibular de Direito e assu- tem espaço para ilustrar matérias sobre
miu o cotidiano dos jovens na universidade. esporte, lazer, qualidade de vida, beleza,
E os nossos alunos do curso de Comu- viagem e “outras maravilhas que não fazem
nicação Social deram conta dessa gama de parte do cotidiano da maioria dos idosos
produção da mídia sobre os idosos, contan- excluídos na mídia”, como desabafou uma
do, muitas vezes, com o apoio da família para aluna. Excluídos eles estão também na
a gravação de programas da televisão, seleção Internet, de acordo com o levantamento dos
e recorte de matérias impressas, esclarecimen- alunos em diversos sites para idosos, com
to de fatos do passado, a fim de que pu- predominância de programas para “diversão
dessem estabelecer relação com “o mundo dentro de casa”: jogos de carta, receitas
de hoje”. culinárias, palavras cruzadas etc.
Nos seminários 20, observamos que os Na publicidade, o idoso quase sempre
alunos, além de confirmarem premissas que aparece em situações forçadas para que haja
investigamos em nossa tese de doutorado21, aproximação com o universo dos mais jo-
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 315
vens. Com isso, algumas peças publicitárias mente, no processo de transformação do todo?
ridicularizam a condição de idoso para vender Como explicam Seabra e Muszkat22 a iden-
produtos destinados aos mais jovens. A tificação de si mesmo, que existe no encon-
questão, como enfatizou um dos grupos tro com o Outro, realiza-se sempre num
envolvidos no trabalho, não é o idoso “ser determinado momento histórico-social entre
jovem, mas parecer jovem”. E essa diferença dois seres na luta pela sua existência. E esse
entre ser e parecer não é contemplada de- momento, no nosso entender, começa na
vidamente nas peças publicitárias, em que os Escola, com pedagogia e currículo capazes
idosos aparecem deslocados como protago- de oferecer oportunidades para que os estu-
nistas em situações persuasivas, de forma dantes desenvolvam capacidades de crítica e
grotesca. questionamento dos sistemas e das formas
Na programação de lazer, sobretudo na dominantes de representação da identidade
dramaturgia, a abordagem foi mais convin- e da diferença. “Pedagogia” significa “dife-
cente. Quase todos os alunos fizeram alusão rença”. Assim Silva23 explica o ato de edu-
aos idosos de Mulheres Apaixonadas e car, que “significa introduzir a cunha da
Malhação, estabelecendo relação entre a tra- diferença em um mundo que sem ela se li-
ma desses dois programas televisivos e si- mitaria a reproduzir o mesmo e o idêntico,
tuações em suas vidas familiares. Exemplo um mundo parado, um mundo morto”.
da aluna que relatou a aproximação com a
avó alcoólatra, enquanto realizava o traba- No país de diversidade como o nosso, a
lho; do aluno que confessou ser “um inútil”, sugestão de Oliveira (2004) complementa o
pois o avô trabalha para pagar a mensalidade que procuramos investigar com os nossos
do seu curso. A idosa Layla, de Malhação, alunos, ou seja: “o que nos une é mais forte
considerada “a avó do sonho” para uns e a do que aquilo que nos separa”. Mas discor-
que envergonharia outros, ganhou mais damos do autor, ao considerar que “a diver-
destaque entre os alunos do que o casal Flora sidade seria a nossa identidade”. Nesse
e Leopoldo, vítima da neta Dóris, em sentido, aderimos à posição de Silva24, que
Mulheres Apaixonadas. Para os jovens, herói aproxima a diferença do múltiplo e não do
não tem idade, principalmente quando desa- diverso, propondo um currículo e uma pe-
fia as regras do jogo, quando introduz o novo, dagogia da diferença e da multiplicidade, com
o diferente, na mesmice do cotidiano. Essa possibilidade de abertura para um outro
“lição” deve ser aprendida em nossas Esco- mundo, o da comunicação, que Martín-
las. Barbero25 aconselha a enfrentar como desa-
Com essa experiência, a questão que fio ao sistema educacional, “desmontando”
colocamos é a seguinte: jovens e idosos estão a “pretensão” da cultura letrada “de ser a
preparados para a alteridade, estabelecendo única cultura digna desse nome e o eixo
a relação do Eu com o Outro, consciente- cultural de nossa sociedade”.
316 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
8
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03 de janeiro de 2004. branças de velhos /, São Paulo, Companhia das
Letras, 1998, 55.
17
Ibid, 21.
18
Ecléa Bosi, / Memória e Sociedade: lem-
_______________________________
1 branças de velhos /, São Paulo, Companhia das
Universidade Católica de Santos – UniSantos
Letraks, 1998, 85.
/ SP / Brasil. 19
Ibid, 87.
2
Jesús Martín-Barbero, / Desafios culturais 20
Como procedimento metodológico do tra-
da comunicação à educação/, São Paulo, Segmen- balho, os seminários consistiram no momento de
to, 2000, 55. exposição sobre os resultados e reflexão a respeito
3
Ibid, 55. da problemática. Portanto, combinamos o seguinte:
4
Ibid, 54-57. a cada falta nas aulas referentes aos seminários,
5
Maria Aparecida Baccega, /A construção do o aluno perderia meio ponto na média entre as notas
campo Comunicação/Educação/, São Paulo, do relatório de pesquisa e a do seminrio.
21
Moderna, 1999, 9. Benalva da Silva Vitorio, /O sentido da TV
6
Jesús Martín-Barbero, / Desafios culturais no cotidiano do idoso: Análise de Discurso como
da comunicação à educação /, São Paulo, Seg- prática teórica transformadora, 2003. 218f., tese
mento, 2000, 55. (doutorado em Comunicação), Escola de Comunica-
7 ções e Artes da Universidade de So Paulo, São Paulo.
Tomando a Colômbia como modelo, Jesús 22
Zelita Seabra, Malvina Muszkat, / Identi-
Martín-Barbero aponta dois tipos de dinâmica que
dade feminina, Petrpolis, RJ, Vozes, 1985, 20.
promovem as mudanças na sociedade latino-ame- 23
Tomaz Tadeu da Silva, /A produção social
ricana: “a de uma comunicação que se converte da identidade e da diferença/, Petrópolis, RJ,
em ecossistema e a de uma forte diversificação e Vozes, 2000, 101.
descentralização do saber”. Para o autor, 24
Ibid, 100.
ecossistema comunicativo “é a relação com as novas 25
Jesús Martn-Barbero, / Desafios culturais
tecnologias, com sensibilidades novas, muito mais da comunicação educação/, São Paulo, Segmen-
claramente visíveis entre os mais jovens” (2000,55). to, 2000, 57.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 317
I – Uma perspectiva educacional sobre o não pode por isso ser negligenciada numa
cinema perspectiva educacional. Este foi um dos
principais objectivos da investigação levada
A investigação realizada em ordem a uma a cabo.
tese de doutoramento teve em conta a defesa José Carlos Abrantes (1992) sublinha as
de um quadro de preparação técnica e ci- virtualidades do cinema não apenas no pro-
entífica que habilite os educadores para a cesso de aprendizagem que envolve os alu-
compreensão dos mecanismos da comunica- nos, mas também na formação de professo-
ção mediatizada no sentido de os dotar com res. A dado passo afirma (pp. 61-62):
capacidade crítica, essencial para o exercício
de tarefas educativas no campo dos media. “[...] o cinema de hoje permite-nos,
Nem sempre uma tal qualificação se veri- com sequências curtas de dois ou três
fica2. Porém, as habilitações que se referem minutos, «dizer» com grande propri-
não respeitam apenas à capacidade de leitura edade e sentido emotivo aquilo que
e interpretação. São exigíveis também para as palavras nem sempre sabem desen-
a compreensão dos efeitos dos media nos cadear. [...] A vantagem do cinema é
públicos a que se dirigem3. No entanto, a que as entradas são infinitas: o que
necessidade de formação dos educadores no é preciso é ter uma preocupação e
campo dos media audiovisuais desde cedo procurar, no filme certo, a resposta
(e podemos considerar os anos 50) levantou mais interessante”.
resistências 4. Hoje, porém, é bem mais
pacífica a aceitação de uma preparação de Este testemunho confirma a experiência
educadores nas diversas formas de comuni- integrada desde há muitos anos no nosso
cação mediatizada5 e, nesse sentido, tentam próprio trabalho, que sempre utilizou o ci-
responder os estabelecimentos de ensino nema (tal como os videogramas), com re-
superior e ainda as múltiplas iniciativas no sultados pedagógicos muito positivos, não só
campo da “educação para os media e da como instrumento lúdico, mas também como
educação pelos media” levadas a efeito pelo fonte de informação e proposta de reflexão
Instituto de Inovação Educacional antes da de questões da sociedade contemporânea. Da
sua infeliz extinção6. forma como o cinema vem sendo referido
Questões da natureza das que se vêm torna-se claro que o tomamos na vertente dita
formulando colocam problemas relacionados comercial e não como um “facto fílmico
com a necessidade de estabelecimento de didáctico” (Jacquinot, 1977), muito embora
bases teóricas e práticas para a utilização – voltamos a sublinhar – nos interessem as
pedagógica do audiovisual, particularmente eventuais valências pedagógicas da produção
do cinema. Ao longo de mais de um século comercial, exactamente porque o nosso olhar
a designada Sétima Arte desenvolve-se em se estabelece dentro de uma perspectiva
múltiplas manifestações de forte impacto e educacional.
popularidade, sobretudo ao nível do entre- Lauro António (1999:23) reforça a ideia
tenimento. No entanto, muitas obras, ao da importância da exploração pedagógica de
cuidarem dos valores estéticos e empenhan- obras cinematográficas num aspecto que vai
do-se em forte intervenção social são, no ao encontro do nosso objectivo, quando nota
campo educativo, uma mais valia. Mas o que os filmes abordam as questões vividas
cinema cedo se constituiu também como na contemporaneidade. Mas o realizador,
poderosa indústria. Uma tão forte presença numa convicção que também perfilhamos,
318 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
coloca a questão de que não basta servirmo- chaves de acesso que lhe permitam a
nos do cinema: descodificação e a interpretação com a
consequente possibilidade de fruírem plena-
“Mas, e o cinema? Raros terão sido mente a obra que lhes é proposta. Pinto &
os professores que se preocuparam em Santos (1996) apelam fortemente para a
mostrar filmes aos seus alunos com necessidade da formação dos espectadores,
a ambição de lhes falar de cinema, desde a Escola, nas regras que enformam a
da sua linguagem específica [...]”. linguagem cinematográfica. Tal conduzirá a
um tipo de espectador mais esclarecido e mais
Porém, se o cinema não se esgota na sua exigente e, consequentemente, mais crítico.
utilização ou na aprendizagem dos seus Só assim o espectador de cinema estará
códigos, também não se reduz ao formato habilitado a Ver, Descodificar e Interpretar.
do televisor, apenas um terminal, um agente E na interpretação o espectador encontra-se
facilitador para a passagem do cinema tal com o autor. Assim se estabelece uma troca.
como o vídeo ou o DVD, a menos que Na história do audiovisual sempre têm
utilizados com projecção, ultrapassando as- surgido analistas que assumem posiciona-
sim as limitações do televisor. Contudo, mentos contraditórios face aos efeitos e às
manda a verdade não esquecermos que esse consequências dos media na vida quotidiana.
é, sem dúvida, o meio mais frequente por Por vezes essas tomadas de posição assumem
onde passam os filmes nas escolas, na for- contornos fundamentalistas sobre a bondade
mação e na animação cultural. Mas o cine- ou a perversidade dos media nas sociedades
ma, durante o século da sua vida, foi criado contemporâneas. Frequentemente posições
para a sala escura e para o grande ecrã, com extremadas são desacreditadas por um maior
tudo o que isso supõe de opções, à partida, rigor da investigação ou pela desmistificação
no que respeita à gramática específica e ao
das premissas que as sustentavam. O estudo
tipo de envolvimento do espectador, como
das teorias da comunicação está aí para o
tão impressivamente refere Edgar Morin. Por
comprovar. Mas do que não resta dúvida é
outro lado, a questão das relações que os
que, na actualidade, a onda – quase diríamos
filmes estabelecem com os diversos tipos de
a moda – que coloca constantemente na
público, com os espectadores concretos, é um
balança as mais triviais abordagens em que
problema complexo que, embora não deixe
a noção de comunicação é agitada como
de estar presente para o visionamento em
bandeira da contemporaneidade, gera
televisor, se coloca certamente de forma
anticorpos que procuram tomar o peso e
diversa quando o filme é visionado em sala.
Sem dúvida que hoje as técnicas digitais, avaliar o significado dessas correntes. As
quer na produção, quer no tratamento, assim conclusões assumidas são umas vezes de
como na distribuição em novos moldes e carácter mais “apocalíptico” outras de sinal
suportes, nos interrogam sobre o futuro mais “integrado”8. Daqui decorre a impor-
próximo da secular Sétima Arte. Mas não tância de um olhar distanciado. No campo
apenas no interior da arte do cinema se educacional existe, por vezes, da parte dos
colocam questões. Também na indústria utilizadores, um deslumbramento acrítico
cinematográfica. Estamos perante uma má- pelas novas tecnologias. Este reparo não
quina produtiva que antecipou – sobretudo contraria a imprescindível atenção dos edu-
no caso americano, pela sua tentacular cadores para a decisiva importância daqueles
hegemonia – o que hoje designamos como instrumentos, apenas sublinha que o novo não
globalização a todos os níveis da rede. poderá fazer esquecer o valor de formas de
Se nos colocamos numa perspectiva comunicação já hoje designadas de tradici-
educacional para encarar o cinema e a uti- onais, uma fórmula, por vezes displicente,
lização de filmes, surge, de forma premente, assumida por alguns que nunca delas sou-
a questão da educação para os media7 con- beram (ou não desejaram) tirar nenhuma mais
ceito e praxis essencial para a formação dos valia de exploração educacional. O cinema
espectadores já que estes, para uma plena poderá ser uma dessas vítimas “tradicionais”.
relação com os filmes, deverão deter as Tal não significa porém que renunciemos a
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 319
consequência, maior será a fruição e a Mas, e uma vez que está em jogo o
compreensão que arrancaremos quer das cinema, não será possível fazer caminho
peças raras, quer das que simplesmente se pedagógico sem o necessário domínio dos
apresentem com a singeleza do objecto constitutivos básicos que sustentam essa
comum. Estas são condições primeiras para linguagem e dão corpo à sua expressão. Esta
aplicações de ordem pedagógica, a partir do é uma condição de partida para que não se
objecto cinematográfico. perca de vista o que está implicado e o que
É neste cruzamento que entendemos a deve ser observado em permanência: a
palavra luminosa do grande cineasta francês imagem, o som, o texto fílmico, a monta-
que foi François Bresson (+1999): “Dirás de gem, os actores e os espectadores. Temos,
um filme que é belo quando te transmitir uma na verdade, ao longo dos anos, na nossa
alta ideia do cinematógrafo”10. Quanto mais actividade docente, sublinhado sempre a
descobrirmos e inventariarmos num filme necessidade de algum domínio da gramática
as riquezas e as subtilezas de expressão – cinematográfica por parte dos educadores. E
no seu conteúdo, sem dúvida, mas sobrema- uma vez que, em última análise, nos inte-
neira na imagem, no som, na montagem ressa o campo educacional, será um corolário
(enfim, trata-se de audiovisual) – mais lógico que um último capítulo se debruce
mergulharemos na beleza daquele cinema que sobre um conjunto de tópicos que relevam
logra ultrapassar a rotina e o lugar comum. da ordem educacional já que o cinema
E essa descoberta e enriquecimento consti- envolve uma matéria prima que, para além
tuirá a alta ideia do cinema. dos aspectos artísticos e dos valores (ou
Uma das linhas de força do estudo que contra-valores) culturais, se manifesta tam-
realizámos alicerça a ideia de que a impor- bém no dia-a-dia como entretenimento e
tância da formação dos agentes educativos como informação. Mas que transporta tam-
(docentes, formadores e animadores culturais) bém, numa outra vertente – de forma ora mais
não pode ser escamoteada nem postergada. subtil, ora mais agressiva –, as ideologias,
Neste sentido estudámos, numa Primeira a propaganda, a aculturação, a violência,
Parte, todo um conjunto de tópicos relaci- estigmas manipuladores que os filmes im-
onados com comunicação e linguagem cine- põem com frequência aos seus espectadores.
matográfica, um todo que culmina num
capítulo onde se relacionam as perspectivas O cinema: um valor no campo da educa-
educacionais que envolvem o cinema. É que, ção
uma vez que estamos no território da edu-
cação para os media, partilhamos da posição Quando antes aludíamos à importância
de Manuel Pinto (1994) quando sublinha que da educação para os media afirmando que
a aquisição de conhecimentos no domínio dos não se poderia reduzir a uma aprendizagem
media não interessará por si mesma mas de elementos de ordem técnica, não pretendí-
apenas na medida em que contribui para uma amos minimizar a importância de tais aqui-
capacidade de descodificação e o estabele- sições. Queremos mesmo sublinhar que será
cimento de uma habilitação crítica11. Assim, mais difícil termos acesso aos valores que
os campos que fomos suscitando e organi- os media encerram – ou assumir uma postura
zando ao longo de seis capítulos assumem crítica – se não estivermos habilitados com
um inventário fundamental para o olhar de chaves para compreender os processos uti-
um educador sobre o cinema, olhar que lizados e para descodificarmos as mensagens
motiva não apenas uma forma de encarar os veiculadas. Na verdade a educação para os
filmes mas também a sua eventual explora- media contraria a posição dos detractores dos
ção pedagógica. Na verdade, o envolvimento meios de comunicação social que denunciam
educacional tece-se numa rede que apela não um estado de coisas frequentemente real mas
só para os aspectos que lhe são específicos, para o qual não apresentam alternativas. Mas
mas passa por outras disciplinas no domínio contraria também o deslumbramento acrítico
da comunicação e não abdica de uma refle- de outros que no campo da educação estão
xão sobre as influências exercidas pelos prontos a receitar como panaceia para todos
media. os problemas a última aquisição técnica
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 321
proposta pelo mercado12. E os media, como para com os outros media, a objecção poderá
bem sabemos, e como aponta Gonnet (1994: ser ultrapassada se nos aplicarmos a uma
45), não são um testemunho transparente da dimensão transversal da educação como a
realidade sendo antes fautores de represen- apresenta o investigador canadiano Michel
tação dessa realidade que pode ser manipu- Pichette:
lada até ao simulacro13. Por isso as mensa-
gens não são neutras. Quando muito os “Nos programas escolares, a educa-
emissores procurarão, eticamente, uma ob- ção para os media deve e pode cobrir
jectividade que nunca é atingida em totali- a totalidade do ensino. Todas as
dade. E os media em geral, particularmente disciplinas são um bom momento para
no audiovisual, com o impacto das imagens tratar dos media [...]. Do ensino da
animadas e o envolvimento dos sons, repre- matemática ao estudo da geografia, da
senta um enorme poder de sedução e de ecologia e da História ou da língua
persuasão. materna, todas as disciplinas podem
Ora o cinema cedo tomou consciência concorrer para uma alfabetização para
desse poder intrínseco aplicado a subtis os media”15.
veículos ideológicos e de propaganda14. Estes
são, no meio de muitos outros, motivos Temos estado a referir-nos à instituição
importantes para que se equipe cada grupo escolar. Não esqueçamos porém que esta
etário, ao longo da vida, com instrumentos formação se impõe para além da Escola. Ela
de descodificação e interpretação dos dispo- deverá estar também presente na animação
sitivos e dos conteúdos. Ora esse conjunto sócio-cultural e na formação profissional.
de capacidades remete, como também lem- Assim os docentes, os animadores e os
bra Gonnet (op. cit.: 49-51), para temas formadores estejam atentos e habilitados.
fundamentais que deverão estar presentes no No caso específico do cinema, compre-
processo educativo. Aí, o autor aponta, tal ender um filme significa não só reconhecer
como também temos feito há três décadas, e identificar os elementos visuais e sonoros
a importância das técnicas não apenas para mas também compreender o discurso fílmico
que se concentra nos códigos cinematográ-
“aprender a utilizar as de uso corren- ficos propriamente ditos que, por sua vez,
te [...] mas sobretudo para compre- também são determinados pelas tecnologias
ender o funcionamento das grandes utilizadas e que se encontram em permanen-
tecnologias mediáticas, dessacra- te evolução. Sublinha-se, portanto, um aspec-
lizando assim esses mesmos utensí- to que a educação de um espectador escla-
lios”. recido terá em conta. Do que vimos dizendo
ressalta a afirmação de Martinez-Salanova
Importante, também, será a compreensão Sanchez (1997: 26):
dos mecanismos da produção. Tal remete para
elementos ligados à economia e ao direito “O cinema é um instrumento impres-
dos media. cindível para analisar a vida humana,
Digamos, de forma pragmática, que os valores e os contravalores. A
preparar as crianças e os jovens para a multiplicidade de significados do
integração destes elementos na sua prática cinema e as possibilidades de trata-
quotidiana é estar a lutar pela dignidade face mento das imagens cinematográficas,
aos usos dos media. Assim acontecerá com convertem a sétima arte num material
o cinema pois que nos encontramos perante didáctico impressionante.”
uma rede de códigos verbais, sonoros,
icónicos, retóricos, estilísticos e outros. Ora, Recordamos que o cinema – que nos seus
na instituição escolar, a recorrente objecção primórdios saltou de feira em feira – ainda
diz-nos que a preocupação com estas ques- durante o período–mudo apresentou, um
tões poderá conduzir a um desvio dos pro- pouco por todo o lado, obras primas hoje
gramas escolares e que nem sequer existe centrais na História do Cinema e objecto de
tempo para tal. Em relação ao cinema, como estudo de várias disciplinas, dentro e fora da
322 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
área da comunicação. Por outro lado o ci- dores presentes o equívoco de que qualquer
nema coisa serve desde que o filme faça uma
aproximação mínima à questão que se pre-
“marca profundamente o repertório tende ilustrar. É nesta incongruência peda-
afectivo da sociedade e dos indivídu- gógica que radica a tendência de muitos
os e, portanto, dos valores que os professores para a utilização ilustrativa de
enformam. [...] O cinema converte-se filmes como 1492: Cristóvão Colombo
em olho fiel e memória crítica do (1992), do britânico Ridley Scott, ou Inês
século XX. Os filmes reflectem situ- de Portugal (1997), de José Carlos Oliveira,
ações e modos de viver e de sentir ou, num outro território, O Clube dos Poetas
que convertem a película em docu- Mortos (1989), do australiano Peter Weir. Os
mento de uma dada época [e assim] educadores terão em devida conta os proble-
determinam uma forma de ver a mas de ordem ideológica, no primeiro caso,
realidade adequando-se em cada e as limitações da narrativa cinematográfica
momento às formas, filosofias e do segundo filme, bem como, no terceiro –
maneiras de pensar de cada tempo” embora num quadro de grande domínio
(Salanova Sanchez, op. cit.: 26-27)16. cinematográfico e na presença de um actor
como Robin Williams –, a facilidade algo
Nesta clara síntese está compendiada a demagógica das propostas pedagógicas. Na
importância educacional do cinema. E quan- voragem da visão utilitarista é mesmo esque-
do alertávamos para que a educação para os cido – como oportunamente recorda Pierre
media não se esgote na aprendizagem téc- Dumont (AA.VV, 1994:160) – que um filme
nica mas, ao mesmo tempo sublinhávamos, não é apenas a–história mas também o seu
que a sua atenção também por aí deverá título, o genérico, o tratamento técnico, bem
passar, isso significa que consideramos fun- como o desempenho dos actores, os cená-
damental o apetrechamento dos espectadores rios, o guarda-roupa, a música... Estas refle-
com os conhecimentos mínimos que lhes xões críticas não devem contudo fazer-nos
permitam analisar a construção do argumen- cair na injustiça de ignorar as experiências
to fílmico. Em segundo lugar – e se for o realizadas no âmbito escolar por iniciativa
caso de estarmos perante um filme construído de tantos professores convictos da importân-
com base numa matriz literária – a habili- cia pedagógica, social, política e artística do
tação para a referência e a abordagem da fonte cinema. São esses professores que – muitas
literária inspiradora terá que existir por parte vezes sem qualquer apoio–– desenvolvem
do professor ou do animador. Depois, e uma actividades de animação cinematográfica e
vez que a maior parte da ficção dos filmes que garantem, em alguns casos, a coorde-
se apresenta – no interior do relato/história nação interdisciplinar do uso do cinema.
– num tempo e num espaço concretos (pas- De algumas das iniciativas de escolas
sado, presente ou futuro), é importante a podem ser encontrados sites na Internet. É
definição do contexto histórico e social em importante também lembrar que Manuel Pinto
que o argumento se concretiza ou a ficção & António Santos (1996) reflectem, com
antecipa o futuro. Não devemos porém actualidade e pertinência, sobre as questões a
esquecer que estamos no interior de um filme. que vimos aludindo referindo concretamente
É que muitos educadores, uma vez termina- experiências existentes ao tempo da redacção
da a projecção, depressa esquecem o filme, da obra (op. cit.: 65-71 e 75-90). Acrescente-
apenas tomado como mero pretexto, dele se que estes mesmos autores não deixam
apenas se servindo para os seus objectivos também de apontar criticamente os escolhos
imediatos. que, na instituição escolar, dificultam, na prática,
Nunca será demais recordar que a uti- todo este processo (pp. 69-70).
lização de um filme – mesmo o especifica- Por outro lado é forçoso explicitar melhor
mente didáctico – nunca dispensará um um outro aspecto, antes referido. A utiliza-
professor ou um animador de chamar a ção de filmes em contexto educacional (na
atenção para os aspectos cinematográficos da Escola ou na animação cultural) não pode
obra. Não deverá alimentar-se nos especta- resultar de uma amálgama indistinta de
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 323
géneros e autores só porque o tema se adapta A forma como vimos suscitando este
aos objectivos a atingir17. O sentido crítico e conjunto de questões arrasta consigo um leque
a contextualização passam também pela com- recorrente de interrogações que, não poden-
preensão do tipo de corrente em que a obra do ser escamoteadas, não encontraram ainda,
se integra. São por isso importantes aspectos no nosso país, uma solução satisfatória. Trata-
que só a História e a Estética do Cinema se de saber quem, quando e sob que formas
explicam. Mesmo na aparente neutralidade se se poderá realizar a formação de professores
exercem as marcas ideológicas, e estas de- – e de outros agentes educativos – em ordem
verão ser explicitadas antes ou depois do a uma iniciação à linguagem cinematográ-
visionamento, conforme a estratégia pedagó- fica e à sua utilização pedagógica. É que
gica o aconselhe18. Será importante lembrar a integração do cinema no processo educativo
ainda que a importância de que se reveste a não pode ser deixada apenas à boa vontade,
capacidade de ler e interpretar os signos por mais meritória que seja. Por outro lado
cinematográficos está intimamente ligada não trata-se de uma forma de comunicação que
apenas à imagem, mas também à destrinça suscita complexas abordagens teóricas, que
dos signos sonoros: ruídos ambiente e música. possui os seus códigos específicos e que é,
Se a existência de um pano de fundo, a nível simultaneamente, uma forma de arte que fez
individual, no campo da cultura, é importante o seu caminho histórico. É claro que uma
para o exercício da descodificação, sem dúvida aproximação a uma tal matéria não se
que será também positivo o treino da atenção improvisa, já que não se pode aceitar a
ao que nos rodeia, no dia-a-dia, e que nos situação que descrevem Pinto & Santos
permitirá ultrapassar a distracção, hoje tão (1996: 70), uma situação onde
persistente pela deseducação televisiva, que
nos impede de ler o conjunto complexo que “o défice pessoal em informação e
um filme nos propõe, ficando apenas na formação sobre o que é o cinema
periferia da história. constitui, frequentemente, uma dificul-
Se a análise de um filme, a que antes dade que só com esforço e
aludimos, é realizada tendo em conta os empenhamento se vai ultrapassando
dispositivos utilizados pela narrativa cinema- [... e] os professores partem do prin-
tográfica, não podemos esquecer que, se na cípio de que o trabalho com este tipo
nossa aproximação temos presentes os va- de recurso é automático, isto é, não
lores educativos, teremos que realizar tam- carece de qualquer aprendizagem
bém, em cada obra cinematográfica, uma específica da sua parte, uma vez que
análise do ponto de vista ético. Tal acarreta os filmes estão ali à mão”.
sem dúvida a emergência dos pressupostos
de carácter ideológico, que estão presentes Ora, perante um tal panorama e frente
no filme, mas também dos que nos foram ao gigantismo das necessidades operatórias
inculcados com a educação e com as opções que temos vindo a referenciar, e sendo o
de vária ordem que fomos assumindo ao cinema “possivelmente o mais poderoso e
longo da vida. E para tal deveremos estar explosivo dos media” tem todo o cabimento
precavidos. Os riscos inerentes (que, a não perguntar, com Reia-Baptista (1995a: 107):
serem tidos em conta, acarretarão preconcei-
tos e interpretações incorrectas) exigem uma “quem transforma o professor numa
clara atitude de abertura para a leitura e a pessoa interessada no cinema, num
interpretação dos dados em presença. Mas sagaz analista dos géneros cinemato-
a necessária tolerância não aliena um sentido gráficos, num competente contextuali-
crítico coerente com os valores que nos zador, num conhecedor da História,
suportam. Ora tal impõe a necessidade (como das técnicas, das teorias e das cor-
preconiza Salanova Sanchez, 1997) de um rentes estéticas, num descodificador
debate onde possa medrar a pluralidade de de mensagens multiculturais, políticas,
abordagens e de juízos em relação às étnicas, éticas, estéticas e poéticas; em
vivências dos participantes e à actualidade suma, num hábil leitor das linguagens
do momento em que os filmes são visionados. do cinema e conhecedor da arte cine-
324 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
13
Cf. Léo Masterman & outro L’ Éducation se procura estimular o conhecimento da obra e a
aux Médias dans l’Europe des Années 90, Con- consciência do entrosamento entre o autor, o assunto
selho da Europa, 1994. e a técnica, mas se procura tão só que o filme
14
É esse poder que se pode tornar maléfico ilustre exclusivamente uma alínea do programa”.
18
na magnífica sedução dos documentários de Leni Tem interesse – e reveste-se de utilidade
Riefenstahl - O Triunfo da Vontade (1935) e prática – a taxinomia utilizada por Reia-Baptista
Olimpíada (1938), ou apelar à comoção das (1995b) quando aponta “três grandes tipos de
lágrimas na propaganda de guerra, com os bri- dimensão pedagógica” do cinema: a dimensão
tânicos David Lean e Noël Coward: “Sangue, Suor afirmativa, de matriz sobretudo hollyodiana, e
e Lágrimas” (In Which We Serve [1943]). que desenvolve teses consentâneas com os valo-
15
«Apprendre a vivre avec les médias, une res e as normas dominantes do contexto cultural
urgence pour l’École et la Démocratie», in L’École em que se insere, assente em bases ideológicas
et les Médias, Médias Pouvoirs, hors série, 1995, e éticas socialmente aceites; a interrogativa,
p. 26; referido por J. Gonnet, op. cit.. Manuel surgida sobretudo nas décadas de sessenta e setenta
Pinto & António Santos (1996) apresentam tam- na Europa e no Japão, questionando os principais
bém propostas concordantes com as de Pichette dogmas vigentes e estruturas narrativas pré-
(cf. pp. 75-77). estabelecidas. O próprio cinema americano desig-
16
A nomeação do cinema como olho evoca nado de independente é um pouco fruto da
naturalmente a concepção simultaneamente ide- contaminação desta corrente. Por fim o que o autor
ológica e experimentalista de cinema-olho do designa como dimensão herege: não já o
realizador soviético Dziga Vertov, nos anos vinte questionamento do dogma, mas a sua subversão
do passado século, e de que são testemunho maior por dentro. O exemplo mais claro – patente na
os seus filmes O Cinema-Verdade (1922-1925) e sua passagem pelo surrealismo (Un Chien Andalou,
O Homem da Câmara (1929). 1928 ou L’ Âge d’ Or, 1930) e que se manteve
17
Michel Tardy (1966: 32) refere-o mesmo ao longo de toda a sua obra – é o do cineasta
como uma perversão pedagógica “em que não espanhol Luis Buñuel (+1983).
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 327
des apresenta diversas consequências que se um são assumidos os efeitos dessas escolhas
manifestam e consequentemente produzem que a todos compromete.
uma diversidade de efeitos. A comunicação, A perspectiva prática exposta é orientada
ludicidade e cidadania colocam em evidên- pelo sentido do humano subjacente à Decla-
cia não apenas o eu/mim, mas também o ele/ ração Universal dos Direitos do Homem
mesmo outro e o nós/ mesmos outros (George (ONU,1948) e pela compreensão teórica sobre
Mead,1934) (Herbert Blumer, 1969). a comunicação, ludicidade e cidadania. O
Condição, manifestação e efeitos que se Projecto Direitos Humanos em Acção pre-
revelam como ecos e espelhos de reconhe- tende ser um contributo para tornar mais
cimento do outro que informa e forma o qualificada a democracia pela prática quo-
conhecimento de si mesmo e produz o social. tidiana dos sentidos do Humano, onde a
Comunicar é cultura e aprendizagem inevitabilidade da influência exige uma ética
(Bateson, 1977 e 1980) Watzlawick et al,1967 e uma estética que têm por base práticas de
e 1976) (Hall, ibid) Ludicidade é comuni- dinamização do desejo, geradoras de confi-
cação e cidadania (Lopes, 1998). Reinventar ança para a decisão da vontade de cooperar/
o mundo é fazê-lo acontecer, praticando. As mudar para o bem comum.
mudanças nas práticas de cidadania come-
çam por cada um. Mobilizando os seus Projectos Direitos Humanos em Acção
próprios recursos, são geradoras de múltiplas
e diferenciadas decisões individuais. Elas Alguns dados: Início – 2000 e em exe-
podem começar em qualquer contexto cução Autor – Conceição Lopes Promotores
situacional (Lopes, ibid) e produzem efeitos Civitas - associação para a promoção e defesa
multiplicadores em outros tantos contextos dos direitos dos cidadãos Civitas Aveiro –
situacionais em que o cidadão participa (em associação para a promoção e defesa dos
casa de cada um, na escola, na rua, na igreja, direitos dos cidadãos (Aveiro) e Universidade
no consultório médico, na loja, no centro de Aveiro/Portugal Financiamento – Comis-
comercial, no cinema, no teatro, no concerto, são Nacional 50 anos da declaração universal
na universidade, numa reunião, numa equipa dos direitos do homem e década das nações
e na sociedade). unidas para a educação em matéria de direitos
O Projecto Direitos Humanos em Acção humanos (1995-2004). Parcerias – Universi-
é uma proposta de intervenção cooperativa dade de Aveiro/Portugal. Comunidades
que visa dinamizar o desejo de cooperar. educativas ligadas aos Jardins de Infância e
Cooperação que se vai construindo em escolas de diversos níveis de ensino. Públicos
pequenas acções de participação conjugada alvo – 25 educadores que integram a rede de
activamente. O Projecto Direitos Humanos dinamizadores locais Crianças e jovens e
em Acção reconhece a importância dos famílias – Cerca de 1200 participantes. Ter-
agentes de desenvolvimento da qualidade ritórios de intervenção: Distrito de Aveiro.
humana e social, na dinamização e Famalicão. Estratégias mediadoras: Caderneta
mobilização dos recursos individuais, na dos Direitos Humanos em Acção. Fórum da
conversa e na negociação que conduzem as cidadania Activa. Curso de formação
decisões, num universo de possíveis escolhas, ludicidade e cidadania. Metodologias: forma-
direccionadas para o bem comum. E como ção-intervenção-investigação.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 329
Inscrição/Incorporação (Connerton)
tipos de expressão
Separação Unidade
Linearidade Continuidade
Fragmentação Simultaneidade
sujeitos/objectos de expressão
Tempo
Si-mesmo
Outro
Comunicação
Unidade Separação
Continuidade Fragmentação
Simultaneidade Linearidade
Do tempo
De si
Do outro / Do mundo (Do Espaço)
Da comunicação (relação/interacção)
UNIDADE SEPARAÇÃO
Unidade do Tempo Separação do Tempo
Unidade de Si Separação de Si
Separação do Outro / do
Unidade do Outro /do Mundo (atenção)
Mundo(selecção)
Unidade da Comunicação Separação da Comunicação
CONTINUIDADE FRAGMENTAÇÃO
Continuidade do Tempo Fragmentação do Tempo
Continuidade de Si
Fragmentação de Si
(Temporalidade alargada de si)
Continuidade do Outro / do Mundo Fragmentação do Outro / do Mundo
Continuidade da Comunicação Fragmentação da Comunicação
SIMULTANEIDADE LINEARIDADE
Simultaneidade do Tempo Linearidade do Tempo
Simultaneidade de Si Linearidade de Si
Simultaneidade do Outro/ do Mundo Linearidade do Outro/ do Mundo
Simultaneidade da Comunicação Linearidade da Comunicação
horizonte da physis, para um sujeito pensante, guesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.
último desenvolvimento da complexidade auto- Ver também os conceitos de ethos e hexis em
organizadora. Mas tal sujeito só pôde aparecer Bourdieu à p. 171 e seguintes.
5
no termo de um processo físico através do qual O termo comunicação, aqui, evoca o sentido
se desenvolveu, através de mil etapas, sempre que possui na Escola de Palo Alto, ou seja, o
condicicionado por um eco-sistema tornando-se sistema que designa a postura, a hierarquia e os
cada vez mais rico e vasto, o fenómeno da auto- movimentos concertados e integrados dos seus
organização. O sujeito e o objecto aparecem participantes e, também, os sentidos que possui
assimcomo as duas divergências últimas quando designa os valores de distinção dos gestos
inseparáveis da relação sistema auto-organizador/ sociais (Bourdieu:1989) e a performance comu-
eco-sistema. nicativa qualitativa e dramática (Goffman:1993).
3
O termo preocupação, aqui, tem o sentido Desta forma, o termo educação para a comuni-
mais associado à ideia de pré-ocupação, ou seja, cação designa a educação que trabalharia com os
intenção prévia de pensamento e trabalho face a sentidos relativos dos gestos sociais, os seus locais
determinada actividade. “pré-ocupação,s.f. ocupa- de origem sócio-culturais e a estrutura de um
ção prévia”. DICIONÁRIO Universal Língua léxico correspondente neste plano da gestualidade.
Portuguesa. (1998) Lisboa: Texto Editora. Neste ponto, podemos nos perguntar sobre o
4
O sentido que este termo tem, aqui, reporta- porque da escola investir com mais ênfase em
se ao sentido figurado de gesto: “Gesto2.[Do fr. conteúdos associados à inscrição do que em
geste.] S.m. Ação, ato (em geral, brilhante): gesto conteúdos associados à incorporação, como su-
de generosidade; gesto de nobreza”. Ferreira, gere Connerton para a esfera sócio-cultural em
A.B.H. (s.d.) Novo Dicionário da Lingua Portu- geral.
342 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 343
Anim(a)ção na Educação
O entre-entendimento na teia da produção do sentido
e sua mediação na educação
Geci de Souza Fontanella*
transformou numa das principais ins- Desenhos são produtos da indústria cul-
tâncias mundiais de definição da tural, de uma cultura mundializada, de um
legitimidade dos comportamentos e lugar um tanto distante, mais também fazem
dos valores.24 parte do nosso lugar, do nosso espaço tem-
poral, do nosso mundo vivido. A formação
O cotidiano é constituído e se constitui cultural foi historicamente ofuscada,
nesta era complexa, descontínua, incerta, despontencializada, mas não dizimada. Pode
caótica, contraditória. São mundos diferentes e deve ser resgatada em dimensões novas
no mesmo mundo. Ao mesmo tempo em que e contemporâneas de nosso tempo.26
se vivencia a era da individualidade, do Consideremos os desenhos animados das
egoísmo, da tirania, do sigilo, das mentiras, indústrias filmográficas Walt Disney e Pixar,
dos roubos, e acima de tudo, do cinismo, que têm repercussão global. Eles preenchem
contraditoriamente se vivencia a era da o tempo de lazer, entram no interior das casas
valorização da criatividade, do voltar-se-para e no interior de nossas escolas. É um mundo
si mesmo, da valorização do simples, do imagético, que tem o poder de se fazer presente
trabalho em equipe, da informação permeando no psíquico de crianças do mundo inteiro. Pelas
todos os âmbitos da sociedade, tentando não idéias de Renato Ortiz esta reflexão é ampla
ser excludente, da liberdade de expressão e demais e nos sugestionamos a pensar no todo,
da escolha, do dizer não aos preconceitos, em tudo. Mas, voltando para o cotidiano, é
do reconhecimento dos gêneros, das misci- aí, no dia-a-dia, no bem viver ou mal viver,
genações variadas, das denúncias, da verda- que a mundialização da cultura se revela, na
de “doa a quem doer”. Em meio a todas estas produção dos sentidos, nas significações e nas
contradições e em nome da sobrevivência e representações, frutos de um processo
da cobiça pelo poder, do desenvolvimento inacabado. Li no livro “Mundialização e
Cultura” de Renato Ortiz, que estes elementos
econômico particular, nacional e internacio-
invisíveis expressam um mecanismo, que
nal, é que vivemos. E é aqui que os meios
reorienta a organização da sociedade.
de comunicação, as mensagens altruístas, as
Como amostra, trazemos muito resumi-
informações, os críticos das características
damente alguns dos muitos exemplos de
primeiras e os defensores das segundas
desenhos animados, que tiveram sucesso em
características mais saudáveis, digamos, tran-
bilheteria, em vendas de fitas vídeos e DVDs:
sitam e se instalam.
Mulan, Toy Story 1 e 2, (1995-1999),
É vivendo no agora e refletindo sobre o
Monstros S/A (2001), Shrek (2001), Lilo
ser/sujeito/criança e pensando no momento
Stitch (2002), e o mais atual Procurando
constituído no atual contexto histórico, so- Nemo (2003). Eis produções da Indústria
cial, cultural, que justifico neste estudo a Cultural, que visam lucro. Por exemplo:
utilização dos desenhos animados como Procurando Nemo é uma animação criada em
instrumento pedagógico. Em Belarmino César parceria pela Pixar Animation Studios e Walt
encontro uma explicação: Disney Pictures. Seu orçamento girou em
torno de US$ 94 milhões. Alto investimento.
O que determina a sua qualidade é Mas, só nos Estados Unidos da América em
o uso, o que pode fazer dela diante apenas três dias de exibição sua bilheteria
de suas possibilidades pedagógicas e chegou a US$ 77 milhões, e na terceira
culturais. Daí se pode pensar em semana de exibição arrecadou mais US$ 29
alfabetização, através do rádio e da milhões. Ao mundo inteiro este filme foi
televisão ou de programas educativos distribuído. Como imaginar seu lucro?
informais, mediados pela comunica-
ção de massa. Nessa perspectiva, a Mesmo sendo um produto da indústria
indústria cultural, ao ampliar a circu- cultural…
lação de informações e permitir o
acesso a um maior contingente de Os desenhos mencionados são produzi-
pessoas, possibilitaria uma melhor dos de maneira diferente. Os roteiros não são
compreensão de mundo.25 somente produtos da imaginação, da litera-
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 349
tura, da fantasia, da luta do bem contra o deficiente, aumentou o seu medo de perdê-
mal; da princesa linda e delicada, loura de lo, aumentando o zelo, que se tornou exces-
preferência, que é salva pelo príncipe, que sivo e danoso para seu filho. É um filme
se apaixona perdidamente e a busca para fazê- que trabalha uma questão presente e perti-
la sua princesa, para viverem felizes para nente. Atualmente existem pais, que criam
sempre. e educam seus filhos sozinhos. Quase sem-
Seus produtores e diretores tiveram a pre é problemático para as mães, mesmo para
sobriedade de trazer para a tela questões os pais, deixar o filho na escola em seu
pertinentes ao movimento da geração presen- primeiro dia de aula. Nemo também sofreu
te. Não dão mais ênfase ao herói, à princesa, conseqüências, por ter desafiado seu pai, para
ao príncipe encantado, ao solitário. A soci- provar-lhe que era capaz. Isso o levou a sérias
edade do “politicamente coerente” traz no- complicações. Perdeu a liberdade, que cus-
vas exigências. Estes filmes refletem estru- tou a recuperar. Para Marlín o desafio foi
turas de pensamento e de imaginário, que grande, teve que enfrentar o próprio medo
acompanham as transformações históricas, a do desconhecido por amor ao seu filho.
partir da segunda metade do século XX, Felizmente pôde contar com Dory, sua amiga
dentre elas, a dimensão do gênero, das “esquecida”, e com a comunidade oceânica
disparidades entre processos civilizatórios, da para ajudá-lo. O amor venceu, mas não por
questão da diferença, como em Procurando magia, pelo irreal. Venceu pela persistência,
Nemo27. Neste filme seu roteirista e diretor pela fé, pelo aprendizado dos desafios en-
Andrew Stanton e Lee Unkrich também carados de frente, pelo acreditar e confiar no
diretor da produção, trouxeram para a tela outro.
um pouco do colorido da fauna e flora do Assim como “Procurando Nemo”, outros
misterioso e mágico oceano, criando situa- desenhos podem ser trabalhados, cada um com
ções inusitadas, tensas, emocionantes e sua característica, com seu roteiro, com sua
cômicas também. Tudo num ritmo alucinante. mensagem e com conhecimento da técnica. Na
Seus personagens são “quase” reais. Muitos produção dos sentidos tudo tem que ser levado
tipos de criaturas marinhas. Uma variedade em conta: o sujeito histórico, o seu ambiente,
de peixes, peixes-palhaços, (Marlín e Nemo), o seu cotidiano, as suas experiências, seus
tubarões, tartarugas marinhas, águas vivas, medos, seus preconceitos, suas rupturas vivi-
anêmonas, baleias, corais, recifes, raias, das, sua persistência, mesmo que seja através
pelicanos. Uma aula linda sobre o mundo de um produto da Indústria Cultural.
subaquático. Os desenhos animados citados no desve-
Toda a equipe contribuiu para trazer lar de sua história fortalecem o sentido de
discussões reais da condição de vida dos seres equipe, promovem a valorização da família,
humanos na sociedade. Trabalhou de uma as discussões de gênero, trabalhando e va-
forma real as sensações de perda, de Marlín lorizando as diferenças, que antes não tra-
(pai de Nemo), com todas suas tensões e ziam. Estão acompanhando o cotidiano
frustração, por ter perdido sua companheira contemporâneo, que estamos vivendo. É
e seus outros 400 filhotes. Só lhe restou impossível a Educação em diálogo com a
Nemo, que, nascendo com uma nadadeira Comunicação fazer o mesmo?
350 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
20
educação: a questão da formação cultural na Hugo Assmann, Reencantar a Educação.
Escola de Frankfurt. 2ª ed., Petrópolis: Vozes, São Rumo à sociedade aprendente. 4ª ed., Petrópolis:
Carlos, EDUFISCAR, 1994, p. 181. Editora Vozes, 2000, p. 40.
8 21
Belarmino Cesar Guimarães da Costa. Octávio Ianni. A Sociedade Global, 7ª ed.,
Educação dos sentidos: a mediação tecnológica Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p.
e os efeitos da estetização da realidade. In: 49-50.
22
Tecnologia, Cultura e Formação... ainda Octávio Ianni. A Sociedade Global, 7ª ed.,
Auschwitz. PUCCI, B., LASTÓRIA, L.A C., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p.
COSTA, B.C.G. (org.) São Paulo: Cortez, 2003, 39.
23
p. 127. Antônio Álvaro Soares Zuin. In: PUCCI,
9
O conjunto de tudo que se entende por Bruno (org.) e outros. Teoria crítica e educação:
mídia, todos os meios que envolvem a comuni- a questão da formação cultural na Escola de
cação e a informação. Frankfurt. Petrópolis: Vozes; São Carlos:
10
Donald A. Schön, Formar Professores como EDUFISCAR, 1994, p. 155.
24
Profissionais Reflexivos. In: NÓVOA, António Renato Ortiz. Mundialização e Cultura. São
(coord). Os professores e a formação. Lisboa: Paulo: Brasiliense, 2000, p. 10.
25
Publicações Dom Quixote, 1997, p. 82. Belarmino Cesar Guimarães da Costa.
11
Nadja Hermann Prestes. A razão, a Teoria Indústria Cultural: Análise Crítica e suas Possi-
Crítica e a Educação. In: PUCCI, Bruno (org.) bilidades de Revelar e Ocultar a Realidade, cap.
e outros. Teoria crítica e educação: a questão da 8, In: PUCCI, Bruno. (org.). Teoria Crítica e
formação cultural na Escola de Frankfurt. educação: a questão da formação cultural na
Petrópolis: Vozes; São Carlos: EDUFISCAR, 1994, Escola de Frankfurt. Petrópolis: Vozes, São Carlos,
p. 86 EDUFISCAR, 1994, p. 190.
12 26
Octávio Ianni. A Sociedade Global, 7ª ed., Bruno Pucci (org.) e outros. Teoria crítica
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999, p. e educação: In: a questão da formação cultural
48. na Escola de Frankfurt. Petrópolis: Vozes; São
13
A imagem é por conta da autora. Carlos: EDUFISCAR, 1994, p. 55.
14 27
Lev Semiónovich Vygotsky. Génesis de las Sinopse: Premiado com o Oscar como o
funciones psíquicas superiores. In: Obras melhor em animação. Seu roteiro foi escrito por
Escogidas, cap. 5, Madrid: Visor, 1995, p. 146- Andrew Stanton, e sua direção ficou por conta
147. do próprio Stanton e Lee Unkrich. Seu enrêdo:
15
Sérgio Paulo Rouanet. Teoria Crítica e Marlín, um peixe-palhaço que de engraçado não
psicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, tem nada, vê sua família ser destruída por um
1998, p. 120. peixe-espada (ou algo do gênero) justamente
16
Cláudia da Silva Santana. Narrativa como quando espera, junto à sua esposa Coral pelo
ensaio cinematográfico: montagem e estética do nascimento de seus 400 filhotes. Depois da tra-
fragmento no pensamento de W. Benjamin.[tese gédia Marlín ficou com um só ovinho, Nemo, que
de doutorado em Comunicação em Semiótica,] São criado com excesso de zelo pelo pai que teme
Paulo: PUC, 2002, p. 68. perdê-lo também. Mas, como na vida, inevitavel-
17
Cláudia da Silva Santana. op. cit., São Paulo: mente Nemo precisa enfrentar os perigos do
PUC, 2002, p. 4. oceano para que possa também conhecer suas
18
Belarmino Cesar Guimarães da Costa. maravilhas. O conflito é estabelecido. O adorável
Indústria Cultural: Análise Crítica e suas Possi- peixinho que, tem uma das nadadeiras deficiente,
bilidades de Revelar e Ocultar a Realidade, cap. acaba convencendo ao pai a levá-lo para a escola.
8, In: PUCCI, Bruno. (org.). Teoria Crítica e Lá chegando, querendo desbravar o desconheci-
educação: a questão da formação cultural na do, é reprimido pelo pai na frente dos colegas,
Escola de Frankfurt. 2ª ed., Petrópolis: Vozes, São já no seu primeiro dia de aula. Ele ser revolta
Carlos, EDUFISCAR, 1994, p. 190. e acaba se arriscando, acabando por ser levado
19
Wolfgang Leo Maar. PUCCI, Bruno (org.) do mar por um mergulhador. Seu pai, Marlín, em
e outros. In: Teoria crítica e educação: a questão desespero, vencendo seus próprios temores inicia
da formação cultural na Escola de Frankfurt. uma viagem no oceano em busca de seu amado
2ª ed., Petrópolis: Vozes; São Carlos: filho. Site oficial: www.pixar.com/featurefilms/
EDUFISCAR, 1994, p. 63-64. nemo.
352 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 353
afectivo, isto é, de uma aprendizagem do Não tendo este Programa uma atitude
espectador enquanto cidadão com hábitos de directa para com o mercado, penso que o
civilidade, livre, consciente e crítico nos seus influencia: numa 1ª fase, através de uma
hábitos culturais. aproximação que se traduz principalmente
ano 2000 (em Janeiro e Fevereiro), apenas guião para as entrevistas, bem como uma lista
foi possível, para a análise, ter em conta os de entrevistados segundo certos critérios).
dados de Lisboa e Coimbra pois, nos outros Importa ainda precisar que a investiga-
países, escolheram-se apenas duas cidades ção que apresentamos não se refere à ob-
para a análise da situação. servação de práticas dos jovens mas sim às
Depois de ponderação, optou-se por praticas declaradas pelos jovens, no inqué-
Lisboa e Coimbra pois uma das obrigações rito e nas entrevistas.
comuns a todos os países era a de não fazer
incidir o estudo em escolas com uma inte- Contexto da Investigação
gração das tecnologias extremamente avan- A Internet em Portugal e na União
çadas nem em escolas de potencial Europeia
tecnológico muito fraco. A opção escolhida,
embora discutível, procurou olhar para aqui- Os indicadores estatísticos publicados pelo
lo que considerámos então como pólos Observatório das Ciências e das Tecnologias
aceitáveis para uma investigação que não em Março de 2002 dão 14% de lares equi-
pode considerar-se, uma investigação quan- pados com computadores em 1997, 27% em
titativa com pretensões de representatividade 2000 e 39% em 2001. Também nas ligações
nacional. Esta escolha pode explicar alguns à internet a percentagem de utilizadores seria
dados que poderão estar inflacionados, dado de 2% em 1996, 6% em 1997 mas em 2000
a análise se ter situado apenas em Lisboa a percentagem de utilizadores sobe para 22%
e Coimbra. e em 2001 seriam já 30% (Mata, 2002). Estes
Os alunos deviam ser escolhidos entre os números parecem querer dizer que uma ex-
que tivessem entre 12 e 17 anos, o que, no pansão continuada da utilização das tecnolo-
caso português, implicou a escolha de tur- gias da informação e da internet, em parti-
mas do 7º, 8º, 9º e 10º, 11º anos. cular, se verifica no ano em que o trabalho
Constituíram-se assim 5 níveis: de campo se realiza.
Nível 1 - 13 anos Se compararmos com a União Europeia
Nível 2 - 14 anos (embora em 2001, por não dispormos de
Nível 3 - 15 anos dados para 2000) vemos que apenas um dos
Nível 4 - 16 anos países que entrou na investigação – a Bél-
Nível 5 - 17 anos gica – ultrapassa a média da União Europeia,
Ficaram assim de fora os jovens de 18 na percentagem da população que utiliza a
anos ano isto dada também a exigência de Internet, sendo que a França iguala essa
comparação internacional. média. Também se reproduzem, no interior
Outro instrumento de investigação utili- da União Europeia, as desigualdades Norte-
zado destinado a captar, de forma mais fina, Sul apontadas a nível mundial.
a realidade que se pretendeu investigar, foi
a entrevista semi-estruturada com alguns dos Tabela 1
alunos que responderam aos inquéritos. Nos Utilização da Internet
anexos encontra-se um guia para a realiza- na União Europeia, 2001
ção das entrevistas que foi preparado por % da população que utiliza
Jacques Piette e utilizado por todos.
Os dados quantitativos dos inquéritos de
%
todos os países foram tratados na Universi-
dade de Sherbrooke com evidentes vantagens Dinamarca 71,2
de economia de custos e de aplicação de Bélgica 49,0
critérios comuns.Esses dados, bem com os União Europeia 40,6
dados qualititativos, foram depois objecto de França 40,6
análise e interpretação em cada país. A
Espanha 36,6
Universidade de Sherbrooke enviou também
a todas as equipas documentos para Itália 35,4
normalisar a pesquisa (instruções de preenchi- Portugal 30,3
mento dos inquéritos, a já referida sugestão de Fonte: Eurobarómetro, Flash 103, Junho 2001
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 363
Já para a Internet que se utiliza em casa tas foi-nos possível verificar ser muito gran-
os dados disponíveis apontam em geral para de a pressão que os jovens que não dispõem
a mesma tendência, embora Espanha e de Internet em casa faziam sobre as famílias
Portugal se equivalham na consulta domés- para estas se equiparem, quase sempre com
tica. argumentos de necessidade para os estudos.
Isto quer dizer que pode pôr-se como hipó-
Tabela 2 tese que o crescimento de utilização da
Utilização da Internet Internet no domicílio se esteja a verificar
em casa na União Europeia, 2001 sobretudo nos lares com jovens, sendo por
% da população que utiliza isso o crescimento geral do país bastante
menor do que o que se revela na faixa etária
% dos jovens estudantes.
Suécia 55,0
Tabela 3
União Europeia 30,9
Evolução dos utilizadores da Internet
Bélgica 49,0 em Portugal por escalão estário
França 22,0 % da população que utiliza
Itália 30,3
Espanha 18,7 2000 2001
Portugal 18,7 15-19 anos 54 72
Fonte: Eurobarómetro, Flash 103, Junho 2001 20-24 anos 45 58
25-29 anos 34 45
Os dados de utilização de que dispomos 30-39 anos 17 26
são bastante mais elevados para a consulta
40-49 anos 10 16
domiciliária pois os jovens que declaram usar
+ de 50 anos 4 7
Internet em casa ultrapassam os 40%. Lem-
bremos que tratámos dados apenas em es- Total 22 30
colas de Lisboa e Coimbra, escolas com Fonte: Mata, 2002
algum equipamento informático, sendo pro-
vavelmente também a sua localização no 3. Representação
interior das cidades explicativa de um pre-
domínio de classes medias, mais estáveis Este aspecto da investigação procurou
economicamente e, por isso, mais predispos- verificar quais as representações que os jovens
tas a investigar no computador e na internet têm da Internet. Mesmo os jovens que usam
como equipamento doméstico. No entanto, pouco constróem as suas representações sobre
nas entrevistas, ouvimos alguns casos de a Internet: o que é, como funciona, como
jovens com famílias operárias ou de serviços os colegas e amigos a utilizam, que efeitos
pouco qualificados revelarem terem já com- pensa que terá. Podemos dizer que procu-
putador e, nalguns casos, terem mesmo acesso rámos saber qual o “espírito da Internet”
à internet ou terem uma expectativa forte de existente nos jovens inquiridos (Flichy, 2001:
a vir a ter em breve. Trata-se de um sector 10). Para isso utilizámos não apenas os dados
que revela uma expansão fortíssima: basta quantitativos como também as opiniões
acentuar que os utilizadores da internet, em expressas nas entrevistas.
1999, seriam 2% e em 2001 seriam já 30%.
Por outro lado, se analisarmos a evolução O que pensam os jovens da Internet
de utilização segundo os escalões etários,
podemos perceber que 54% dos jovens entre Setenta e nove por cento dos jovens
os 15 e os 19 anos utilizavam a internet em inquiridos concorda com a ideia de que a
200o (subindo para 72% em 2001). Na faixa Internet é revolucionária e destes, 48% afir-
dos 40-49 anos apenas 10% utilizava em 2000 ma estar completamente de acordo com essa
ou apenas 4% dos mais de 50 sabiam o que ideia. Apenas 7% dos jovens afirma discor-
era utilizar a internet nesse ano. Nas entrevis- dar da afirmação.
364 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Durante as entrevistas, alguns jovens São os jovens que dispõem de uma liga-
justificam este carácter revolucionário com ção à Internet quem mais afirma estar “par-
a proximidade que a Internet permite face cialmente de acordo” com o carácter revolu-
a outras pessoas e com a espontaneidade cionário da Internet – 34% dos alunos que
de acesso à informação. Importa precisar exprimem esta ideia tem uma ligação no lar.
que a qualificação de revolucionária tal- A opinião que exprime o total acordo com
vez não fosse muito adequada pois no o carácter revolucionário da Internet não
modo de pensar dos jovens, este qualifi- regista grandes alterações entre quem possui
cativo introduzirá um universo de referên- e quem não possui uma ligação à Internet.
cia muito diversificado, conteúdos semân-
ticos muito contrastados e nem sempre Tabela 6
compatíveis com a ideia do romantismo Não se pode passar sem a Internet?
ou da profunda alteração de estruturas que (Opinião; percentagem total, segundo
a revolução sugere para as gerações mais género, segundo posse de Internet
velhas. A Internet, sendo revolucionária no lar e faixa etária)
para os jovens inquiridos, não põe a vida
do avesso: antes a faz continuar de modos Total Raparigas Rapazes
Com Sem
Internet Internet
aqui e além mágicos, extraordinários,
Discorda 45 44 46 50 43
imprevisíveis.
Discorda
21 20 21 19 22
totalmente
Tabela 4 Discorda
24 24 25 31 21
A Internet é Revolucionária? em parte
Concorda 45 46 44 43 51
(Opinião; percentagem)
Concorda
29 30 29 27 32
parcialmente
Discorda 7 Totalmente
16 17 14 16 19
de acordo
Discorda totalmente 3
Discorda em parte 5
Concorda 79 Tabela 6A
Concorda parcialmente 31
Total + Velhos * Novos
Totalmente de acordo 48
Discorda 45 41 47
Discorda
21 20 21
É entre os que não possuem qualquer totalmente
ligação à ‘Web’ no lar que a ideia da re- Discorda
24 22 26
em parte
volução é menos partilhada embora com
Concorda 45 52 41
pouca diferença (85% para os que têm Concorda
29 33 27
Internet, 79% para os que não têm). parcialmente
Totalmente
16 19 14
de acordo
Tabela 5
A Internet é Revolucionária?
(Opinião; percentagem segundo posse Mas se o aspecto revolucionário da ‘Web’
de acesso à Internet no lar) reúne o consenso de grande parte dos inqui-
ridos, 45% acha que, após experimentar não
se pode passar sem ela, sendo igual em
Com Sem
Internte Internet
número os que pensam exactamente o con-
trário. Ou seja, cerca de metade dos jovens
Discorda 4 11
inquiridos rendem-se ao potencial inovador
Discorda totalmente 1 5 da Internet mas um numero igual considera,
Discorda em parte 3 6 mesmo assim, que pode passar sem ela.
Concorda 85 79 De salientar que a afirmação Não se pode
Concorda parcialmente 34 26 passar sem a Internet pode ter uma inter-
pretação pejorativa, uma vez que tem uma
Totalmente de acordo 51 52
dimensão de dependência, sem a qual o adicto
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 365
não pode viver, condicionando, eventualmen- destes, 66% declaram mesmo estar “totalmen-
te, as respostas de alguns dos adolescentes te contra”). Apenas 8% concordam que o
nada inclinados para caucionarem tal depen- tempo passado na Internet não é útil e desses,
dência. uma percentagem mínima de 2% diz “con-
Dos que concordam com a ideia de que cordar completamente” com a ideia de que
é impossível passar sem a ‘Web’, 29% estão navegar na Rede é um desperdício de tempo.
parcialmente de acordo. O grande grupo dos Ou seja, os jovens inquiridos não se sentem
que transmite a ideia com toda certeza, isto a perder tempo quando estão ocupados com
é, estão “totalmente de acordo”, são, sem a Internet. A Internet parece ser uma exten-
dúvida os utilizadores frequentes 36%), são da vida e, nessa medida, uma aplicação
enquanto que os ocasionais se ficam pelos proveitosa do tempo que se lhe dedica.
13% e os regulares pelos 11%. Estes resul- Assinale-se que entre os que têm Internet
tados fazem-nos reflectir acerca dos efeitos em casa é maior a percentagem dos que
que os cibernautas regulares sentem em consideram perder tempo (8% contra 3% nos
relação à sua própria utilização da Internet. que não dispõem de Internet). Possível
De facto, quanto mais se usa a Internet mais explicação: a maior disponibilidade dos
se parece ter a consciência da imprescindibili- primeiros permite-lhes uma maior divagação
dade da rede. nas utilizações aumentando assim esta sen-
Também os mais velhos estão mais no sação de desperdício de tempo.
campo da concordância do que os mais novos.
Terão estes mais consciência de que há O que pensam os jovens sobre a tecnologia
medida que se utiliza um utensílio técnico da Internet
mais este integra o nosso ser social?
Nas entrevistas, existem também depo- Tabela 8
imentos contraditórios pois alguns jovens É fácil aprender a utilizar a Internet?
utilizadores, com e sem ligação em casa, (Opinião; percentagem total
confessavam que tinham ideia de que a Rede e segundo género)
seria completamente “viciante”, por ser algo
tão agradável. Mas, por outro lado, alguns
%
confessavam que a ideia de deixar de poder
utilizar a Internet não era muito agradável, Discorda 11
Muito Tabela 15
Ocasional Frequente
frequente
A Internet melhora a
Discorda 33 39 41
comunicação entre as pessoas?
Discorda (Opinião; percentagem total)
12 17 26
totalmente
Discorda
21 21 15 Total
em parte
Concorda 58 51 48 Discorda 7
Concorda Discorda totalmente 2
24 24 30
parcialmente
Discorda em parte 5
Totalmente
33 28 19 Concorda 87
de acordo
Concorda parcialmente 29
São os utilizadores ocasionais os que Totalmente de acordo 58
concordam em maior número (58%) com a
necessidade de contrôle da Internet. Os A visão que os jovens têm sobre os efeitos
navegadores muito frequentes concordam que a Internet pode ter na comunicação
com formas de controle, mas apresentam interpessoal não parece oferecer grandes
resultados mais elevados nas respostas que dúvidas: 87% dos inquiridos concordam que
deixam algum espaço de manobra: as que a Rede pode ser um contributo para melhorar
falam em posições “parciais”. Trinta por cento a comunicação entre as pessoas.
dos que responderam estar “parcialmente de Durante as entrevistas, alguns salientaram
acordo” com o contrôle são utilizadores muito o facto de ser mais barato e mais fácil falar
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 369
com os amigos ou familiares que estavam sustentam maioritariamente esta boa harmo-
longe. Outros lembraram que tinham conhe- nia entre a utilização e a convivialidade. Mas
cido alguns amigos, que frequentavam o vinte e oito por cento dos jovens está de
mesmo estabelecimento escolar, devido à acordo com a ideia de que os cibernautas
Internet. Esta utilização para comunicação se tornam menos comunicadores. São sobre-
com os que estão perto foi mesmo referida tudo os que não possuem uma ligação à ‘Web’
mais frequentemente, sendo assim um ele- no domicílio que assim julgam.
mento de reflexão que contraria a ideia de Durante as entrevistas, alguns jovens
comunicação mundial frequentemente asso- lembram que algumas vezes se comentam os
ciada à Internet. conteúdos das páginas visitadas com os
De qualquer forma, 58% dos jovens familiares. Alguns salientavam mesmo a
“concorda plenamente” que a ‘Web’ é um navegação partilhada com os pais e com os
factor positivo para a comunicação entre as irmãos.
pessoas. Somente 7% dos estudantes afirma
discordar desta ideia. Não se verificam Tabela 17
grandes disparidades na análise segundo o A Internet é antes de
sexo, nem segundo a faixa etária. Curiosa- mais um meio de diversão?
mente, também não se verificam grandes (Opinião; percentagem total, segundo
diferenças percentuais nas respostas dos perfil de utilizador e segundo
alunos consoante têm ou não acesso à Rede faixa etária)
no lar.
Muito * *
Tabela 16 Total Ocasional Regular
frequente Velhos Novos
Quando se utiliza a Internet Discorda 19 23 17 19 23 16
falamos menos com os outros? Discorda
4 3 4 2 4 3
totalmente
(Opinião; percentagem total, segundo
Discorda
15 19 13 16 17 13
perfil de utilizador e segundo em parte
posse de ligação no lar) Concorda 73 73 73 72 72 75
Concorda
48 50 47 41 48 48
parcialmente
Muito Sem Com Totalmente
Total Ocasional Regular 25 23 26 31 23 27
frequente Net Net de acordo
Discorda 60 53 62 73 51 73
Discorda
36 31 41 48 28 51
totalmente Segundo os resultados do inquérito, a
Discorda
em parte
24 23 21 25 24 22 Internet é antes de mais, um meio de diver-
Concorda 28 32 26 20 33 21 são.
Concorda
20 24 20 14 23 17
Setenta e três por cento dos jovens con-
parcialmente
corda com a afirmação, apesar de somente
Totalmente
de acordo
8 8 6 6 10 4 25% deles estarem “totalmente de acordo”.
São sobretudo os mais velhos que dis-
A maioria dos inquiridos (60%) acha que cordam que a Internet é, antes de mais, uma
o uso da Internet não faz com que se fale forma de diversão. Embora estes também
menos com os outros. Mesmo assim, 28% apresentem os resultados mais elevados na
dos inquiridos acha que tal se verifica. No opção que diz estar de acordo, as diferenças
entanto, a maior utilização parece fazer entre mais velhos e mais novos são mais
decrescer esse temor pois os utilizadores elevadas entre os que discordam. Aparente-
ocasionais são os que têm níveis de mente, o perfil de utilizador não é
discordância menores (53%), aumentando a determinante para a opinião do cibernauta.
discordância nos utilizadores regulares (62%) Para 23% dos utilizadores ocasionais a
e nos muito frequentes (73%). Quem tem Internet é, prioritariamente um meio de
Internet no domicílio, bem como os diversão, para 31% dos cibernautas muito
utilizadores mais frequentes, são os que frequentes também.
370 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Tabela 18 Tabela 19
A Internet é uma ameaça ao português? Navego por sítios em inglês?
(Opinião; percentagem total, (Opinião; percentagem total,
segundo género) segundo género e faixa etária)
Tabela 20 Tabela 21
Comparativamente à Internet, É mais agradável aprender com os
os livros são mais eficazes livros do que com a Internet?
para fazer pesquisa? (Opinião; percentagem total)
(Opinião; percentagem total, segundo
distribuição geográfica e género) %
Discorda 28
Total Lisboa Coimbra Raparigas Rapazes Discorda totalmente 7
Discorda 50 43 57 57 54
Discorda em parte 20
Discorda
16 12 22 12 23
totalmente Concorda 63
Discorda
em parte
34 32 36 35 31 Concorda parcialmente 31
Concorda 35 40 30 39 30 Totalmente de acordo 32
Concorda
27 30 23 30 22
parcialmente
Totalmente
63% dos jovens concorda ser mais agra-
9 10 7 9 8
de acordo dável aprender com os livros. Apesar de toda
a sedução da tecnologia os jovens ainda ligam
50% dos inquiridos discorda que os li- a aprendizagem ao seu objecto secular, o
vros sejam mais eficazes para fazer pesqui- livro.
sas do que a Internet. Ou seja a Internet
seria igualmente eficaz para a pesquisa O que pensam os jovens sobre o futuro
(embora só 35% afirme esta concordância, da Internet
sendo os restantes 15% de não respostas ou
não sabe). Aos jovens entrevistados não lhes custa
a acreditar que a Rede se tornará tão natural
Os elevados resultados em Coimbra (in-
quanto o telefone ou a televisão, num futuro
dicando discordância em relação à maior
próximo: essa é a opinião de 87% dos
utilidade dos livros para pesquisa) podem
inquiridos, dos quais 64% estão totalmente
estar relacionados com o facto de ser em
de acordo com a afirmação. No entanto, a
Coimbra que há um maior número de uti-
maioria assume uma posição realista pois
lizações da Internet em contexto de sala
apenas 33% encara com facilidade a hipó-
de aula – portanto, para pesquisa. Dessa
tese da televisão desaparecer com a
forma, os alunos podem ter não só a
massificação do acesso à Internet.
experiência de navegação arbitrária, mas
Os jovens, durante as entrevistas, men-
sim com um objectivo, podendo testar as
cionaram não ter hábitos de consumo ‘online’.
capacidades de pesquisa da ‘Web’, bem
Muitos sublinharam mesmo que para
como a qualidade das mesmas.
comprar tinham que ver e tocar o produto.
As raparigas parecem ser mais pruden- Apesar disso os inquiridos consideram que
tes que os rapazes, pois os resultados in- as compras em directo serão muito frequen-
dicam que elas recusam mais a ideia de tes: 71% concorda que, no futuro, quase tudo
que a pesquisa na Internet é mais eficaz, se comprará via Internet.
comparativamente aos livros, do que os Talvez por manifestarem alguma descon-
rapazes. Contudo, os resultados oferecem fiança em relação aos produtos que não
diversas leituras: se são maioritariamente podem tocar, 45% afirma estar parcialmente
os rapazes a “discordar totalmente” que os de acordo com esta afirmação. Embora muito
livros sejam mais eficazes que a Internet aproximadas, as percentagens mais elevadas
para fazer uma pesquisa, já são as rapa- relativamente à concordância sobre este uso
rigas que apresentam os resultados mais da Internet verificam-se nos resultados dos
elevados na resposta que indica uma con- alunos mais velhos, e os números vão au-
cordância parcial. mentando consoante o nível de escolari-
372 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
apto para a tarefa. Sua formação deve abar- contribuirá para a formação de “espectadores
car conhecimentos específicos da linguagem de televisão com a boca aberta e os olhos
audiovisual, mecanismos de funcionamento lacrimejantes, que nada mais são que os
dos meios de comunicação de massa e noções sucessores do leitor passivo, silencioso,
didáticas de como educar os alunos neste solitário, cuja cabeça se move para a direita
âmbito. e para esquerda ao longo da linha impressa”.
Por exemplo, após a exibição de um filme, Quanto à parcela de esforço do professor
o professor não deveria deixar de comentar no sentido de promover o aprendizado por
alguns conceitos básicos da realização de um meio de atividades audiovisuais, esta já foi
produto audiovisual. Entre eles, o papel do discutida nos intens anteriores (6 e 7). Em
diretor nas escolhas do enfoque temático, relação à tarefa dos realizadores, discutire-
entrevistados, enquadramentos, iluminação, mos sua contribuição a seguir.
enfim, de todos os elementos que utiliza para Consideramos que o primeiro grande
imprimir uma visão própria de determinado desafio para a produção de filmes didáticos
aspecto da realidade. consiste em encontrar uma personalidade
Em relação ao mito da objetividade, própria. “Sempre um pouco envergonhado de
Colombo (1976) afirma que “no mundo da não ser o autêntico cinema – no sentido de
imagem, a objetividade é só uma ilusão, pois cinema ficção ou narrativo -, o filme peda-
o realizador nunca é neutro e, com sua gógico ou se assemelha ao cinema de ficção
intervenção (enquadramento, angulação, e aceita não ser didático para não ser tedioso,
movimentos de câmera, ritmo do programa) ou dá as costas ao cinema de ficção e aceita
impõe uma interpretação da realidade. Desse ser tedioso para ter certeza de que é didático”.
modo, a simples presença da câmera altera Pimenta (1995) também faz uma distin-
a realidade sobre a qual atua”. ção que pode ser útil para nossa análise. “No
É importante ficar claro para o aluno que filme didático, a preocupação com a infor-
o filme de ficção, o comercial de televisão, mação, com a lógica, com a cognição é quase
o documentário, as reportagens e as notícias exclusiva. Já no filme de lazer, o objetivo
do telejornal são recortes do real. Nas principal é seduzir o público através das
palavras de Baggaley e Duck (1982), os imagens, acessando primeiramente o sistema
espectadores são levados a acreditar que estão sensorial e depois chegando ao cognitivo.
recebendo informações, quando, na realida- Quando o filme didático também consegue
de, estão recebendo posicionamentos e opi- seduzir, ele pode e deve ser utilizado”.
niões sobre a verdade. O professor pode, deve Portanto, está claro que o desafio para
e precisa ser um dos agentes da a produção didática consiste em seduzir o
desmistificação da imagem como represen- aluno, que, além de educando, é também um
tação fiel da realidade. espectador acostumado aos efeitos de sons
e imagens ultra explorados por Hollywood.
8. Conclusão: Linguagem Audiovisual e Desconsiderar a importância da interação
Didatismo entre afetividade e razão para se produzir o
conhecimento, significa condenar a produção
Quanto à missão do audiovisual nas didática ao fracasso. Em relação a esta crise,
escolas, Ferrés (1995) afirma: “O programa Babin e Kouloumdjian (1983) acrescentam
didático baseado no vídeo pode ser simples- como causa “a dificuldade que manifestam
mente um meio de informação. O é com os homens de Gutenberg, particularmente os
freqüência. Porém pode se converter também intelectuais, em admitir a validade da ima-
em um excelente instrumento para que o ginação ou da afetividade nos processos de
aluno aprenda a formular perguntas, para que conhecimento e ensino”.
aprenda a expressar-se, para que aprenda a Desde uma perspectiva audiovisual, não
aprender”. é aceitável um vídeo que, de um lado,
Mas, a fim de que surja esta motivação comunique as emoções (por meio de um
a partir do filme didático, realizadores fundo musical sugestivo ou de imagens
audiovisuais e professores devem unir for- esteticamente belas) e, de outro, as idéias
ças. Do contrário, sua utilização apenas (discurso verbal).
380 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Evidencia-se, hoje, uma grande disputa entre Este lê/interpreta os discursos a partir do
os meios de comunicação, de um lado, e as diálogo com os demais discursos sociais. Essa
tradicionais agências de socialização – escola dinâmica ocorre tanto em nível sincrônico
e família –, de outro. Ambos os lados preten- como diacrônico. As permanências históri-
dem ter a hegemonia na influência da forma- cas, muitas vezes sob a forma de mitos,
ção de valores, na condução do imaginário e provérbios, estereótipos, valores “positivos”
dos procedimentos dos indivíduos/sujeitos. ou “negativos”, também constituem parte
Esse conjunto de relações que se esta- importante desse diálogo entre os discursos.
belecem no imaginário de uma dada cultura, O universo de cada indivíduo é formado
de um determinado grupo, é uma construção pelo diálogo desses discursos, nos quais seu
coletiva, na qual se baseia a memória social cotidiano está inserido.E é a partir dessa
daquele grupo, e a qual a comunidade pro- materialidade discursiva que se constitui a
cura manter. Essa memória coletiva é que subjetividade. Logo, a subjetividade nada
vai respaldar o modo que os indivíduos/ mais é que o resultado da polifonia que cada
sujeitos se vêem no confronto com o outro, indivíduo carrega.
a ação deles em relação aos demais e em
relação às instituições. As relações imagéticas 1. O campo da comunicação
têm como base os corpos físicos.
“Todo corpo físico pode ser percebido O campo da comunicação constitui-se a
como símbolo (....). E toda imagem artístico- partir de uma multiplicidade de discursos que
simbólica ocasionada por um objeto físico originam e configuram a unicidade do dis-
particular já é um produto ideológico. Con- curso da comunicação. O comunicador é o
verte-se, assim, em signo o objeto físico, o indivíduo/sujeito que o assume. Enunciador/
qual, sem deixar de fazer parte da realidade enunciatário de todos os discursos em cons-
material, passa a refletir e a refratar, numa tante embate na sociedade, ele é o mediador
certa medida, uma outra realidade.”2 da informação coletiva.
É nesse âmbito de ficção/realidade que Se, por um lado, o comunicador tem a
a disputa se institui, que a busca da condição de enunciador de um discurso
hegemonia se dá. Aí se constrói o campo da específico, ao produzi-lo ele estará, na ver-
comunicação/educação. dade, reelaborando a pluralidade de discur-
Nesse campo se constroem sentidos sos que recebe: ou seja, estará na condição
novos, renovados, ou ratificam-se mesmos de enunciatário. Ele é, portanto, enunciador/
sentidos com roupagens novas, sempre inter- enunciatário.
relacionados à dinâmica da sociedade, lugar O mesmo ocorre com o indivíduo/sujeito
último e primeiro onde os sentidos verda- ao qual se destina o produto: enunciatário
deiramente se costroem. do discurso da comunicação, este indivíduo/
A sociedade funciona no bojo de um sujeito é também enunciatário de todos os
número infindável de discursos que se cru- outros discursos sociais que circulam no seu
zam, se esbarram, se anulam, se universo, os quais ele mobiliza no processo
complementam: dessa dinâmica nascem os da leitura/interpretação. Como a comunica-
novos discursos, os quais ajudam a alterar ção só se efetiva quando ela é apropriada
os significados dos outros e vão alterando e se torna fonte de outro discurso, na con-
seus próprios significados, nos momentos em dição de enunciatário está presente a con-
que a materialidade do discurso-texto que dição de enunciador. Ele é, portanto,
circula é captada pelo enunciatário/receptor. enunciatário/enunciador.
384 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Um dos desafios está contido nessa Desse modo, a apropriação das ciências
dinâmica: o campo da comunicação consti- sociais para a constituição desse campo se
tui-se de dois pólos básicos, que se dá num processo espiralado de
intercambiam - de um lado, enunciador/ metassignificações, que redundam, obviamen-
enunciatário e, de outro, enunciatário/ te, em novas posturas metodológicas, a partir
enunciador. das quais se poderá dar conta da efetividade
Tendo que incorporar o discurso dos dos processos comunicacionais.
vários outros que é cada um, resultado dos
vários outros universos, compete ao discurso 2. O campo comunicação/educação
da comunicação procurar os “fios ideológi-
cos” (expressão de Bakhtin) com os quais Aí está a base da construção do campo
conduzirá a inter-relação entre eles, tecendo- comunicação/educação como novo espaço
se. Sua trama implica a dialogicidade, pre- teórico capaz de fundamentar práticas de
sente na polifonia, numa manifestação das formação de sujeitos conscientes. Trata-se de
relações macroestruturais com a vida coti- tarefa complexa, que exige o reconhecimen-
diana. to dos meios de comunicação como um outro
O eu plural deve tornar-se claro e ma- lugar do saber, atuando juntamente com a
nifestar essa clareza para o outro; fazer escola e outras agências de socialização.
aflorar a importância dos indivíduos/sujeitos O encontro comunicação/educação leva
de ambos os pólos, na configuração das ver- a nova metassignificação, ressemantizando os
dades, dos valores que permeiam o imagi- sentidos, exigindo, cada vez mais, a capa-
nário, dos comportamentos que estão presen- cidade de pensar criticamente a realidade, de
tes no cotidiano das pessoas, dos grupos, das conseguir selecionar informação (disponível
classes sociais. São essas verdades, valores em número cada vez maior graças à
e comportamentos que, formando a consci- tecnologia) e de inter-relacionar conhecimen-
ência social, ideológica e estética, vão tos.
atualizar as manifestações dos produtos da O desafio, hoje, é a interpretação do
indústria cultural. mundo em que vivemos, uma vez que as
O estudo desse campo incorpora os relações imagéticas estão carregadas da
resultados das ciências, sobretudo as sociais. presença da mídia. Trata-se de um mundo
No processo mesmo de incorporação, temos construído pelos meios de comunicação, que
um primeiro momento de metassignificação, selecionam o que devemos conhecer, os temas
vez que cada ciência se desloca de seu a serem pautados para discussão e, mais que
domínio de origem, com suas configurações, isso, o ponto de vista a partir do qual vamos
e passa a fazer parte de um outro. Mas há compreender esses temas. Eles se constituem
outros processos, configurando outros níveis em educadores privilegiados, dividindo as
de metassignificação: ao compor o novo funções antes destinadas à escola. E têm
campo, cada ciência vai encontrar-se com levado vantagem.
outras que também aí figuram nas mesmas O campo da comunicação/educação é um
condições, ou seja, na condição de dos desafios maiores da contemporaneidade.
metassignificação, e vai dialogar com elas, Não se reduz a fragmentos, como a eterna
reconstruindo-se, cada uma delas, nessa discussão sobre a adequação da utilização das
interdiscursividade. A interdiscursividade tecnologias no âmbito escolar, quer em
implica o diálogo com os outros discursos, escolas com aparato tecnológico de primeira
ao mesmo tempo que revela a especificidade linha quer nas escolas de “pés no chão”, tendo
do discurso construído nesse processo. em vista que a edição do mundo realizada
A Sociologia, a História, a Filosofia, a pelos meios está presente em alunos, pro-
Linguagem etc. ganham outra especificidade fessores, cidadãos. Sua complexidade obriga
no diálogo interdiscursivo. Essa a inclusão de temas como mediações,
especificidade será, agora, não mais a que criticidade, informação e conhecimento, cir-
se prende ao domínio de onde provêm, mas culação das formas simbólicas, ressignifica-
aquela que, no confronto de cada ciência com ção da escola e do professor, recepção, entre
as demais, permite-lhe distinguir-se. muitos outros.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 385
Por essas e incontáveis outras razões, Fredric Jameson aponta três períodos de
podemos perceber como fundamental a expansão capitalista, caracterizados por rup-
construção do campo comunicação/educação. turas “tecnológicas”. Segundo ele,
Ele inclui, mas não se resume a, educação
para os meios, leitura crítica dos meios, uso “houve três momentos fundamentais
da tecnologia em sala de aula, formação do no capitalismo, cada um marcando
professor para o trato com os meios etc. etc. uma expansão dialética com relação
Ele se rege, sobretudo, pela construção da ao estágio anterior. O capitalismo de
cidadania, pela inserção neste mundo edita- mercado, o estágio do monopólio ou
do, com o qual todos convivemos, no qual do imperialismo, e o nosso, errone-
todos vivemos e que queremos modificar. amente chamado de pós-industrial,
O campo comunicação/educação constrói- mas que poderia ser mais bem desig-
se num movimento que percorre o todo e nado como o do capital multinacional.
as partes, em intercâmbio permanente. Ou (...) Esse capitalismo tardio, ou
seja: do território digital a arte-educação, de multinacional, ou de consumo, longe
meio ambiente a educação a distância, entre de ser inconsistente com a grande
muitos outros tópicos, sem esquecer os vários análise do século XIX de Marx,
suportes, as várias linguagens – televisão, constitui, ao contrário, a mais pura
rádio, teatro, cinema, jornal etc. Tudo per- forma de capital que jamais existiu,
corrido com olhos da congregação dessas uma prodigiosa expansão do capital
agências de formação: a escola e os meios, que atinge áreas até então fora do
sempre no sentido da construção da cidada- mercado”.
nia.
Nessa fase, segundo o autor, deve-se
4. Cenários: Da construção ao conhecimento ressaltar, a “ascensão das mídias e da indús-
tria da propaganda”.4
Cada época vivida pela humanidade tem Resultado da fase contemporânea do
características próprias, apresentando, capital, a cultura manifesta fragmentação e
dialeticamente, aspectos positivos e negati- globalização num processo de
vos. complementação que se dá no âmbito do
As distinções entre as épocas podem ser mercado. Como lembra Martín-Barbero5, o
marcadas, entre outros aspectos, pela forma- global é o espaço novo produzido pelo
ção e expansão dos mercados, que determi- mercado e pelas tecnologias, que dependem
nou pólos de concentração, baseados na busca dele para sua permanente expansão.
permanente de acumulação do capital. Otá- O mundo, que sempre esteve em perma-
vio Ianni, em “As economias-mundo”, apon- nente mudança, hoje tem altamente multipli-
ta as diversidades e desigualdades com as cada a rapidez dessas mudanças, devido ao
quais cada totalidade se constitui. Segundo avanço das tecnologias. É esse o cenário que
o autor, cada época “é um todo em movi- possibilita o fortalecimento das corporações
mento, heterogêneo, integrado, tenso e internacionais e conseqüente ruptura das
antagônico. É sempre problemático, atraves- fronteiras nacionais, atingindo “áreas até
sado pelos movimentos de integração e frag- então fora do mercado”.
mentação. Suas partes, compreendendo na- Essa realidade tem como sustentáculo os
ções e nacionalidades, grupos e classes meios de comunicação, mediadores privile-
sociais, movimentos sociais e partidos po- giados entre nós e o mundo, e que cumprem
líticos, conjugam-se de modo desigual, ar- o papel de”costurar as diferentes realidades.
ticulado e tenso, no âmbito do todo. Simul- São os meios de comunicação que divulgam,
taneamente, esse todo confere outros e novos em escala mundial, informações (fragmen-
significados e movimentos às partes. Anu- tadas) hoje tomadas como conhecimento,
lam-se e multiplicam-se os espaços e os construindo, desse modo, o mundo que co-
tempos, já que se trata de uma totalidade nhecemos. Trata-se, na verdade, do processo
heterogênea, contraditória, viva, em movi- metonímico – a parte escolhida para ser
mento.”3 divulgada, para ser conhecida, vale pelo todo.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 387
ção de redes planetárias, nas quais circulam marei de ‘relações de dominação’. Ideologia,
valores, que atendem a interesses determi- falando de uma maneira mais ampla, é sentido
nados. Esse é um dos aspectos da ideologia. a serviço do poder. Conseqüentemente, o
Segundo Chauí, “a ideologia é um con- estudo da ideologia exige que investiguemos
junto lógico, sistemático e coerente de re- as maneiras como o sentido é construído e
presentações (idéias e valores) e de normas usado pelas formas simbólicas de vários tipos,
ou regras (de conduta) que indicam e pres- desde as falas lingüísticas cotidianas até às
crevem aos membros da sociedade o que imagens e aos textos complexos””9.
devem pensar, o que devem valorizar, o que A construção do sentido das formas
devem sentir e como devem sentir, o que simbólicas está diretamente relacionada à
devem fazer e como devem fazer. Ela é, formação socioeconômica. E é só aí que
portanto, um corpo explicativo (representa- podemos verificar em que direção elas estão,
ções) e prático (normas, regras, preceitos) de predominantemente, sendo usadas: se na
caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja manutenção do status quo, servindo apenas
função é dar aos membros de uma sociedade para perpetuar as relações de poder, se na
dividida em classes uma explicação racional sua modificação, trilhando o caminho da
para as diferenças sociais, políticas e cultu- mudança dessas relações de poder. Afinal,
rais, sem jamais atribuir tais diferenças à diz Thompson,
divisão da sociedade em classes, a partir das
divisões na esfera da produção. Pelo contrá- “as formas simbólicas, ou sistemas
rio, a função da ideologia é a de apagar as simbólicos, não são ideológicos em
diferenças como as de classes e de fornecer si mesmos: se eles são ideológicos,
aos membros da sociedade o sentimento da e o quanto são ideológicos, depende
identidade social, encontrando certos das maneiras como eles são usados
referenciais identificadores de todos e para e entendidos em contextos sociais
todos, como, por exemplo, a Humanidade, específicos”10.
a Liberdade, a Igualdade, a Nação ou o
Estado”8. Neste momento em que o mundo está
No momento em que se fala tanto da desfraldado em um número enorme de tem-
ressignificação do papel da escola e do pos históricos e culturais, neste momento em
professor, a partir da intervenção da que as produções, sobretudo no âmbito da
tecnologia, é fundamental nos aproximarmos televisão, viajam pelo mundo e atingem a
das questões referentes à ideologia que cir- praticamente todas as sociedades nesses tem-
cula nos meios de comunicação, nas redes pos/espaços díspares, muitas vezes em tempo
planetárias e, verificando essa circulação, real, pode-se perceber a divulgação, sob forma
procurar saber como a ideologia opera nessa prescritiva, desse conjunto de idéias e valores,
realidade. de normas ou de regras, que procuram dar
suas próprias explicações para as diferenças
5.1 Ideologia e construção de construção sociais, políticas e culturais, objetivando o
de sentido apagamento dessas diferenças, como lembra
Chauí. Manter, por exemplo, uma emissora
Ao tratar de ideologia, não podemos de televisão no ar durante algumas horas do
prescindir de buscar o lugar social da pro- dia, e mais ainda quando se trata de uma grade
dução das formas simbólicas que circulam de programação para 24 horas, é tarefa
nas redes, o lugar social dos receptores dessas hercúlea que exige um trânsito muito grande
formas e as formações sociais nas quais de produções, o que aponta para a permanên-
ambos se encontram. cia desse procedimento.
Segundo Thompson, “o conceito de ide- Não se nega que há diversidade no pólo
ologia pode ser usado para se referir às da produção e que é mais extensa ainda a
maneiras como o sentido (significado) serve, diversidade do entendimento, da interpreta-
em circunstâncias particulares, para estabe- ção da recepção dessas representações.
lecer e sustentar relações de poder que são Cabe à Escola – e aí um dos aspectos
sistematicamente assimétricas – que eu cha- da ressignificação de seu papel – desvelar
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 389
como opera a ideologia, ensinar a ler ade- Desse modo, vemos que todo discurso se
quadamente as formas simbólicas que circu- constitui a partir de sua inter-relação com os
lam na mídia, conformando a realidade. outros e só assim poderá ser interpretado.
Bakhtin, um dos mais importantes teóricos
Recepção: Nova perspectiva nos estudos de da linguagem, tratando da linguagem verbal,
comunicação afirma que a verdadeira substância da língua
é a interação verbal (e não o sistema abstratro
Comecemos por esclarecer que quando de formas lingüísticas). Essa realidade fun-
tratamos de recepção, estamos tratando tam- damental da língua, segundo o autor, mani-
bém do outro pólo: o da emissão. Só o festa-se no diálogo: “Pode-se compreender
encontro dos dois constitui a comunicação. a palavra ‘diálogo’ não apenas como a
Por isso, é preferível falar sempre em campo comunicação, em voz alta, de duas pessoas
da comunicação. Os estudos de recepção não colocadas face a face, mas toda comunicação
são um “lado novo” da comunicação: trata- verbal, de qualquer tipo que seja”12. E con-
se apenas de uma nova perspectiva desses tinua, falando sobre o discurso:
estudos, a qual vem se desenvolvendo nas
últimas décadas. Por outro lado, quando se “ele responde a alguma coisa, refuta,
fala em comunicação, não estamos tratando confirma, antecipa as respostas e
apenas daquela veiculada pelos suportes objeções potenciais, procura apoio etc.
tecnológicos (chamados meios de comunica- Qualquer enunciação, por mais sig-
ção, mídia), embora os consideremos de nificativa e completa que seja, cons-
extrema importância na atualidade, configu- titui apenas uma“fração de uma
rando-se, inclusive, como destacados cons- corrente de comunicação verbal
trutores de realidades. Comunicação é ininterrupta (concernente à vida co-
interação entre sujeitos que, para tanto, podem tidiana, à literatura, ao conhecimento,
utilizar-se predominantemente – e às vezes à política etc.). Mas essa comunica-
tão somente – do mais democrático de todos ção verbal ininterrupta constitui, por
os suportes: o aparelho fonador. As feiras, sua vez, apenas um momento na
a literatura de cordel, o circo, o teatro, o evolução contínua, em todas as
folhetim, o carnaval, entre muitas outras direções, de um grupo social deter-
configuram-se nessa modalidade de comuni- minado”13.
cação e constituem as matrizes históricas dos
produtos dos meios de comunicação, tal qual Cada discurso, quer use apenas a voz ou
os conhecemos hoje. a tecnologia mais avançada – satélite, por
Para que haja comunicação, é preciso que exemplo – é, na verdade, a atualização de
os interlocutores tenham uma “memória” um processo de interlocução entre vários
comum, participem de uma mesma cultura. discursos, manifestação de diálogos, entre os
Isso porque a comunicação se manifesta nos mais diversos gêneros e até entre as mais
discursos e os discursos que circulam na diferentes épocas. Assim, tanto o pólo da
sociedade se constituem a partir da emissão, aquele que produz o programa, que
intertextualidade, que Chabrol conceitua escreve o jornal, quanto o pólo da recepção,
assim: aquele que vê, ouve ou lê o produto, só têm
sua completude sacramentada, só significam
“trata-se de todos os fenômenos de pela via desse diálogo. Trata-se de diálogo
citação, referência, retomada, emprés- que tem como cenário uma determinada
timo, tranformação, derivação, desvio, cultura, e sem o qual não haveria (não se
inversão entre textos, contemporâne- poderiam constituir) a telenovela, o notici-
os ou não, na esfera dos discursos ário, a música etc. Não haveria, inclusive,
sociais, quer seja no interior de um os programas policiais, no rádio e na tele-
mesmo domínio, quer seja entre visão, que causam tanta polêmica. Sem esse
suportes midiáticos ou ainda entre diálogo com a cultura, com as referências
domínios diversos (mídias, literatura, culturais, de ambos os pólos com a cultura
cinema, publicidade etc.)”11. e entre eles mesmos, teríamos uma parciali-
390 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
descobrir quais são os processos reais que bojo da construção das práticas culturais, da
resultam do encontro dos discursos dos meios contrução da cidadania. É desse lugar que
de comunicação apropriados (transitoriamen- devemos nos relacionar com eles. E é esse
te) ou incorporados (com permanência na o lugar de onde temos que esclarecer qual
cultura) pelos sujeitos-receptores imersos em cidadania nos interessa, parece-nos sempre
suas práticas culturais. oportuno reiterar.
Os estudos de recepção estão preocupa-
dos com as características socioculturais dos Considerações finais
receptores. Desse modo, o foco se desloca
para as práticas sociais e culturais mais Muitas outras temáticas compõem o
amplas, nas quais eles estão integrados. É campo da comunicação/educação, o qual se
nesse espaço que se estudará a ressignificação constitui a partir do campo da comunicação.
que os receptores produzem com relação aos Para estudá-lo, é preciso estabelecer um
produtos dos meios de comunicação. diálogo mais amplo, com mais saberes. Sem
Segundo Martín-Barbero, transdisciplinaridade, o estudo da comunica-
ção não ocorre.
“abre-se ao debate um novo horizon-
te de problemas, no qual estão “Tentar desvencilhar-se delas [as
redefinidos os sentidos tanto da cul- disciplinas], identificando a comuni-
tura quanto da política, e do qual a cação a uma disciplina, é reduzir o
problemática da comunicação não campo a uma parcela que, por mais
participa apenas a título temático e rica que seja, não poderá nunca deixar
quantitativo – os enormes interesses de ser um empobrecimento deforman-
econômicos que movem as empresas te e uma usurpação”16.
de comunicação – mas também qua-
litativo: na redefinição da cultura, é A Escola, ressignificada, é chamada mais
fundamental a compreensão de sua uma vez, e sempre, para, no bojo dessa
natureza comunicativa. Isto é, seu realidade, apontar caminhos de democratiza-
caráter de processo produtor de sig- ção. Um desses caminhos passa pela distin-
nificações e não de mera circulação ção entre a informação, fragmentada, e o
de informações, no qual o receptor, conhecimento, totalidade que
portanto, não é um simples
decodificador daquilo que o emissor “inclui a condição de ser capaz de
depositou na mensagem, mas também trazer à superfície o que é ainda virtual
um produtor15”. naquele domínio. Prevê ter claro que
o virtual de um domínio nada mais
Nessa postura, o papel da escola redefine- é que o resultado da interdiscursivi-
se: não basta falar em educação para os meios dade de todos os domínios, possível
ou em leitura crítica dos meios, como se os naquela formação social; que os di-
meios de comunicação fossem uma realidade versos fenômenos da vida são
externa, “de fora”. A escola precisa, portan- concatenados em referência à socie-
to, não apenas problematizar o conteúdo dos dade como um todo. Para tanto, as
meios, mostrando a interface desse conteúdo informações fragmentadas não são
com os valores hegemônicos da sociedade suficientes”.17
e com os interesses que aí residem (ainda
que se trate de uma etapa indispensável). Não E essa inter-relação só é possível pela
basta, também, discutir as propostas dos transdisciplinaridade.
programas midiáticos em confronto com as No campo da comunicação/educação
propostas culturais dos receptores, desvelan- circulam essas
do as convergências e divergências.
Mais que isso: é preciso falar, agora, dessa “situações novas que encontraram sua
construção de sentidos sociais que se dá no expressão teórica mais avançada em
encontro produtos midiáticos/ receptores, no uma compreensão da cultura como
392 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
2
Bibliografia BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia
da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1988, p. 31
3
Bakhtin, Mikhail. Marxismo e filosofia IANNI, Otávio. “As economias-mundo”. In:
Teorias da globalização. Rio, Civilização Brasi-
da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1988.
leira, 1995. p.43
Chabrol, Claude. “Le lecteur: fantôme 4
JAMESON, Fredric. “A lógica cultural do
ou realité? Étude des processus de réception”. capitalismo tardio”. In: Pós-modernismo. A lógi-
In: Charaudeau. Patrick. La presse: produit, ca cultural do capitalismo tardio. Trad. Maria Elisa
production, réception. Paris,Didier, 1988. Velasco. São Paulo, Ática, 1996. p.61
Chauí, Marilena de S. O que é ideologia. 5
BARBERO, Jesús Martín. La comunicación
13ed. São Paulo, Brasiliense, 1983. plural: alteridad y socialidad. Dia-logos. 40, set.
Connor, Steven. Cultura pós-moderna. de 1994. p.73-79
6
Introdução às teorias do contemporâneo. Trad. CONNOR, Steven. Cultura pós-moderna.
Introdução às teorias do contemporâneo. Trad.
Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gon-
Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves.
çalves. São Paulo, Loyola, 1992. São Paulo, Loyola, 1992. p.48
Ianni, Otávio. Teorias da globalização. 7
CHAUÍ, Marilena de S. O que é ideologia.
Rio, Civilização Brasileira, 1995. 13ed. São Paulo, Brasiliense, 1983. p.106
Jameson, Fredric. Pós-modernismo. A 8
CHAUÍ, Marilena de S. O que é ideologia.
lógica cultural do capitalismo tardio. Trad. Op. cit. p. 113-114
9
Maria Elisa Velasco. São Paulo, Ática, 1996. THOMPSON, John B. Ideologia e cultura
Martín-barbero, Jesús. La comunicación moderna. Teoria social crítica na era dos meios
plural: alteridad y socialidad. Dia-logos. 40, de comunicação de massa. Petrópolis,Vozes, 1995.
p. 16
set. de 1994. 10
THOMPSON, op. cit. p. 17. O grifo é nosso.
Martín-barbero, Jesús & Muñoz, Sonia Parece-nos importante destacar a importância do
(coords.) Televisión y melodrama. Bogotá: “entendimento”, da interpretação, da recepção.”
Tercer Mundo Ed., 1992. 11
CHABROL, Claude. “Le lecteur: fantôme
Martín-barbero, Jesús. Dos meios às ou realité? Étude des processus de réception”. In:
mediações: comunicação, cultura e CHARAUDEAU. Patrick. La presse: produit,
hegemonia. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1997. production, réception. Paris, Didier, 1988. p.165
12
Martín-barbero, Jesus. Prefácio. In: BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia
BACCEGA, M. A Comunicação e lingua- da linguagem. 4ed. São Paulo: HUCITEC, 1988.
gem. Discursos e ciência. São Paulo, Mo- p.123 e segtes. (Grifo nosso)
13
BAKHTIN, M. Marxismo .... op. cit. p. 123
derna, 1998. 14
MARTÍN-BARBERO, Jesús & MUÑOZ,
Thompson, John B. Ideologia e cultura Sonia (coords.) Televisión y melodrama. Bogotá:
moderna. Teoria social crítica na era dos Tercer Mundo Ed., 1992. p. 20
meios de comunicação de massa. 15
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às
Petrópolis,Vozes, 1995. mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio
de Janeiro, Ed. UFRJ, 1997. p. 287.
16
MARTÍN-BARBERO, Jesus. Prefácio. In:
_______________________________ BACCEGA, M. A Comunicação e linguagem.
1
Professora da Pós-Graduação da Escola de Discursos e ciência. São Paulo, Moderna, 1998.
17
Comunicações e Artes da Universidade de São BACCEGA, M. A Comunicação ...., op.
Paulo e da Escola Superior de Propaganda e cit. p.112
18
Marketing de São Paulo MARTÍN-BARBERO, J. Prefácio. Op. cit.
394 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 395
(y debe existir) entre educación y medios de Cada una de las numerosas y diferentes
comunicación. Sus ámbitos de actuación son maneras de narrar conforman el universo del
muy diferentes, al igual que sus lenguajes, cine: distintos métodos, diferentes elementos,
su forma, su estructura, su capacidad de variadas formas de “contar historias”, porque
inserción en la sociedad, etc... pero esto no en definitiva el cine es eso, una forma de
deja de enriquecer el proceso hacia un narrar historias, una original manera de
objetivo común: el de encontrar la síntesis, reflejar parte de la realidad, parte de la
y más que la síntesis, la simbiosis4 entre fantasía, o parte de ambas. En algunas
ambos, para formular métodos de trabajo ocasiones el cine es el motor que proyecta
comunes que lleguen a disfrutar de una determinadas temáticas provocando el debate
convivencia armoniosa. social. Otras, casi la mayoría, recoge entre
Serían muchas las razones que podrían sus argumentos lo que por uno u otro motivo
argumentar que la comunicación está ya preocupa o inquieta a la propia sociedad,
definitivamente asociada a la educación, pero bien porque ha sucedido” – el conocido –
tal vez la más evidente es afirmar que tanto “basado en hechos reales”-, o porque, sin
los medios de comunicación como su soporte suceder realmente, la propia estructura de la
tecnológico, además de las posibilidades de narración de ficción permite representar
las nuevas tecnologías y de la informática, nítidamente la realidad (aunque no haya
permiten ampliar las posibilidades educativas. ocurrido nunca, ni haya oportunidad de que
También porque el conocimiento de la ocurra), mostrando a la sociedad esa verdad
realidad no sólo puede ser encontrado en los irreal en forma de producto cinematográfico.
libros (algunos dirían que también está Todos estas formas de narración son más que
Internet). En muchas ocasiones un referente usuales en las producciones cinematográficas
audiovisual permite una educación sencilla, actuales y también del pasado, y su uso en
más gratificante y divertida que la que nos la enseñanza más que aconsejable ya que
ofrece la lectura única de un texto escrito. pueden convertirse en las herramientas
Sí. Es más que evidente que el cada vez perfectas para encauzar una parte de la
más complejo entorno en el que nos ha tocado educación. Aunque insistimos en la
vivir y en el que desarrollar nuestra existencia singularidad de esta idea, ya que la educación
está conformado por las nuevas tecnologías es un fenómeno de carácter multidisciplinar
de la información; de hecho formamos parte y complejo. No olvidemos lo que dice al
de una sociedad totalmente bombardeada por respecto el catedrático de Psicología Social
la imagen, sometida al poder, una sociedad José Ramón Bueno Abad:
que persigue apoyar el desarrollo humano
mediante el uso de las tecnologías de la “Las Instituciones educativas trabajan
información y de las comunicaciones. En este en un doble sentido, si admitimos que
sentido, los amantes del Séptimo Arte en primer lugar la educación es la
podemos presumir con orgullo de la difusión del conocimiento hemos de
permanencia de este invento de finales del compartir que una gran parte de los
siglo XIX que ha sabido adaptarse a la conocimientos que se difunden son
perfección a los cambios técnicos y artísticos conocimientos que son asumidos a
que hemos venido sufriendo ( o disfrutando, través de representaciones sociales”5
ya se sabe que todo depende del punto de
vista) en la última centuria. Supo regalar la Efectivamente, el cine es la ventana en
voz a los personajes que se paseaban por sus la que se reflejan las más comunes, banales,
pantallas, supo adaptarse a la magia del color, profundas y extrañas representaciones
a los cambios socio-históricos, a la sociales… y mucho más, porque a estas
transformación de los formatos; ha sabido alturas estaremos todos de acuerdo en que
adentrarse con soltura en el mundo de las es imposible definir al cine desde un único
nuevas tecnologías y adaptarse al entorno punto de vista; es obligada su mención como
binario, aunque hay quienes todavía no Arte, con mayúsculas, lo suficientemente rico
apuestan al cien por cien por la llegada más y “enriquecedor” (un aspecto éste casi más
que evidente del cine digital… importante que el anterior para la reflexión
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 397
que nos ocupa) como para convertirse en complicada de asimilar y comprender que
material educativo…pero no adelantemos cualquier texto escrito, ya que en este nuevo
ideas. En efecto, el cine puede ser considerado medio de expresión los elementos utilizados
desde muchos puntos de vista: podemos se apoyan, se oponen o se entrelazan entre
estudiar al cine desde los entresijos de la ellos para conseguir una sensación y un
producción y tratarlo como un producto alcance bien diferente al de la narración de
industrial dentro de los muchos posibles; un la misma historia escrita.
producto que se ve afectado por las leyes Ciertamente, gracias a que esto es así,
de la oferta, la demanda o de los gracias a la propia naturaleza de los elementos
condicionantes sociales; podríamos proyectar que componen el lenguaje cinematográfico,
estudios sobre su espectacularidad, sobre los tan versátiles, tan expresivos y tan llenos de
costosos gastos del rodaje y sus sistemas de significado, entenderemos porqué el cine se
producción; nadie negará que el cine puede puede convertir en un medio idóneo para
ser considerado como un producto comercial, enseñar, sobre todo materias como la Historia,
transmisor de formación y de información, que nos obligan a reflexionar sobre hechos
como un instrumento motivador o de pasados, con el agravante de hacer el esfuerzo
conocimiento. El cine puede llegar a de cambiar el punto de vista, la perspectiva,
convertirse en un instrumento de evaluación, situarnos en el contexto general adecuado
en un lugar de encuentro (lo que en otras para encajar todas las piezas del puzzle. No
ocasiones he denominado meeting room) en hablamos de la imagen como medio técnico
el que tienen cabida diferentes lenguajes, sino como, medio de comunicación, como
diferentes ideas, diferentes culturas… un sistema de alfabetización. No perdamos
La evolución del concepto de cine, en su de vista que hay que tener en cuenta que
conjunto, ha ido evolucionando desde sus la imagen es un signo y como tal debe ser
orígenes y paralelamente a la propia Historia. estudiado y aprehendido.
En Nueva York, antes de la llegada del El cine, aún siendo un medio de
cinematógrafo, los centros de reunión del comunicación ejemplar para la transmisión
barrio eran las esquinas de la calle, tal vez de mensajes, valores, ideas, etc…presenta una
algunas tiendas y de forma destacada el bar. serie de limitaciones. Por una parte está
Todos estos lugares suponían ciertos criterios limitado por la contradicción de la doble
selectivos tanto de consumo como naturaleza (social e individual) que presenta,
monetarios, ya que las mujeres y los niños ya que siendo en principio un arte para las
apenas si podían acudir por no tener efectivos masas, debe tener en cuenta la psicología tan
o por tener restringida la entrada. Los criterios variada de los receptores. Parece
de selección se alejaban mucho de ser unos contradictorio que frente a la naturaleza social
criterios basados en la educación o al menos de la que presume el cinematógrafo, deba
en valores sociales. Posteriormente el cine reconocer la singularidad de los integrantes
se convirtió en el nuevo centro vecinal. Era de su público. Y en este sentido tendríamos
barato, ni clasista ni selectivo, había que distinguir básicamente a dos espectadores
valoración social ya que al menos “tipo”: el culto cinematográficamente
proporcionaba información, e incluso llegó hablando, y el inculto. Los primeros a
a convertirse en un centro social de vida diferencia de los segundos, al visualizar el
familiar, algo que los mismos bares nunca filme, no reparan únicamente en detalles
llegaron a conseguir. La verdad es que este superfluos como la interpretación de los
nuevo entretenimiento (ya que actores en escena, de si la historia les parece
verdaderamente en los albores del más o menos interesante, o de unos
cinematógrafo eso es lo que era, algo para espectaculares efectos especiales. Conocerán
entretener) era inofensivo y barato, aunque también otros aspectos que envuelven la
también es cierto que requería para su disfrute existencia de la propia película: el director,
de ciertas actitudes mentales completamente su obra, sus influencias, la escenografía, el
nuevas. Por primera vez se puede disfrutar montaje escogido, el vestuario, la banda
de una realidad tanto visual como auditiva sonora, etc... Aunque esto tampoco es
compleja, y que potencialmente es mucho más suficiente. Muchos conocimientos alternativos
398 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
dispersión, y en la que los procesos mentales protocolos que han empleado algunos de los
son en gran medida de carácter visual y, países más importantes del mundo para incluir
auditivo. entre sus programas curriculares de estudios
Y pese a estas y otras limitaciones que de educación los de los diferentes medios de
podríamos seguir enumerando el cine creó, comunicación, y en concreto los estudios
crea y seguirá creando opiniones. Es sobre cine.
innegable afirmar que la gran pantalla es una Aunque parezca extraño, hace falta
de las mejores vías de reflexión, un magnífico remontarnos a varias décadas atrás para
soporte de expresión. La cuestión consiste, encontrar las primeras experiencias educativas
en aunar esfuerzos para enseñar a leer este que incluyen la enseñanza de los medios de
lenguaje visual, un lenguaje simple y directo, comunicación. Inglaterra comenzó a
pero que necesita de un aprendizaje. El cine introducir la enseñanza del cine en la
puede ser aprendido, enseñado, explicado, educación en la década de los años treinta
reflexionado… del cine se habla, se comenta, del pasado siglo. Por otra parte a principios
se critica, y esto es un peligro porque todo de la década de los setenta, se desarrollan
el público, sin distinción de edad, estatus en Estados Unidos algunas experiencias que
social, cultura, etc…se permiten el lujo de abordaban el análisis de los medios en el
verter comentarios sobre una u otra película, ámbito internacional; pretendían ser
sobre una u otra producción cinematográfica, experiencias progresistas a nivel
y a veces incluso ¡sin haber contemplado la internacional, aunque realmente no llegaron
obra!. Esto sería impensable en otro Arte, a buen término ya que fueron bloqueadas por
sin embargo miles de millones de personas las administraciones de Ronald Reagan y
aprenden en la gran pantalla nuevos modos George Bush. Posteriormente, durante la
de comportamiento y nuevas ideas, descubren gestión de Bill Clinton se vuelven a retomar
en ella una nueva vía de reflexión, una nueva algunos de estos planteamientos que se habían
forma de opinión, un escaparate para poder olvidado allá en la década de los setenta.
reflejar su sentir; en definitiva, un nuevo Australia, - comenta Aparici- es uno de los
soporte de expresión. países que a partir de los setenta ha venido
Insistimos en la idea de que para poder desarrollando un currículo obligatorio para
comprender las historias del universo fílmico la enseñanza de los medios en la educación
en su plenitud hay que desarrollar y asimilar primaria y secundaria. Y también Canadá se
la educación artística necesaria que a día de encuentra entre estos países afortunados que
hoy sigue siendo deficitaria (ya que desde cuentan con una enseñanza de los medios
los programas oficiales es muy poco o casi entre su formación educativa fundamental. Si
nada lo que se hace); es necesario buscar hablamos del caso español tendremos que
caminos alternativos para su incorporación destacar que afortunadamente España acaba
en la educación; y es curioso, porque el propio de introducir en sus nuevos currículos para
cine puede convertirse en la fuente de esa la educación primaria y secundaria la
oportuna educación. En el ámbito teórico, en enseñanza de los medios. ¿Qué va a suponer
nuestra cultura se ha abierto una doble vía esto? Que desde edades tempranas se va a
de análisis: la destinada a la utilización del poder disfrutar del análisis y estudio de los
cine como medio educativo (educación “con” diferentes procesos de comunicación, del
los medios de comunicación), y la referida lenguaje audiovisual y de lo que supone
a la formación para la comprensión de los finalmente el mundo de la imagen y de la
mensajes y lenguajes en ellos utilizados expresión. En este sentido el proyecto español
(educación “para” los medios de contempla que cada escuela pueda desarrollar
comunicación). Ambas son sumamente sus propias asignaturas optativas, según las
importantes y complementarias, y sin necesidades de su propio entorno y de los
embargo nos sorprende leer lo que Roberto intereses de sus propios alumnos.
Aparici ya recoge en su artículo “Educación Ya estamos en disposición de asegurar que
para los medios de comunicación”9 y en el existe un modelo factible de educación
que entre otros interesantes aspectos nos cinematográfica, basado en el tan querido
muestra un repaso histórico de los diferentes arte de la imagen en movimiento que ha
400 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
venido aportando desde sus orígenes un socio, una vía más para la educación. Por
inmenso conocimiento significativo sobre eso entendemos que resulte casi
cualquier materia y sustentado en dos pilares imprescindible el diálogo final que se produce
fundamentales: el lenguaje audiovisual y la con los amigos al salir del cine; con él se
particular recepción del mismo: persigue únicamente encontrar un mensaje
a) El cine es un “medio” de comunicación, más allá del recibido, porque somos
pero también puede ser entendido como un conscientes que ante un mismo hecho las
“lenguaje audiovisual”. Sólo queremos posibilidades de lectura son infinitas, tantas
recalcar, una vez más, que el cine al ser un como espectadores.
medio a favor de la comunicación, se Se puede educar comunicando a través
convierte en espejo de la cultura. Por otra del cine, es cierto. Pero hay que enseñar a
parte, es bien sabido que el lenguaje saber recibir el mensaje que nos ofrece.
audiovisual integra tanto palabras (audio)
como imágenes (visual). La combinación de ”En concreto es necesario saber
ambas hace que el cine hable un lenguaje interpretar la contigüidad de
emocional y afectivo en su sentido más imágenes y textos (que a veces crea
amplio (amor y odio, deseo y temor...); relaciones más insidiosas – por lo
b) La educación cinematográfica se sitúa ocultas- que los puros
en el lado del público. Es el espectador el encadenamientos textuales). Hace
que adopta una actitud activa y el que elige falta comprender los límites de los
su modo de ver una película, el que desarrolla testimonios “reales”: el vídeo no es
una actitud al verla y el que a fin de cuentas la acción; la foto no es la cosa; la
se relaciona con ella. Así pues, el punto de parte no es el todo... (...) En suma:
partida de la educación cinematográfica es el lenguaje de las imágenes y de las
la recepción del cine. Y precisamente el relaciones de éstas con el texto, exige
diálogo que se mantiene entre ambos una formación independiente”10
(espectadores y película) pertenece al corazón
del proyecto educativo cinematográfico. El desarrollo de la comunicación
Porque la educación cinematográfica no se audiovisual facilita una visión más directa
limita a la investigación de la recepción del y tangible de la realidad, pero hay que saber
cine sino que intenta provocar cambios encontrar los peligros que también acompañan
cualitativos, cambiar a los espectadores a estos medios: la diversidad de las fuentes,
formándoles y educándoles. la absoluta mediatización... hay que enseñar
Son los propios espectadores los que por tanto a “interpretar” los mensajes que
establecen relaciones sui generis con las recibimos desde los medios de comunicación.
películas y sus historias. Los productos También son muchas las razones que avalan
cinematográficos inspiran a los espectadores una una educación en materia de medios de
u otra forma de diálogo sobre experiencias comunicación concebida como una
propias de la vida, y en un diálogo, recordemos, preparación de los ciudadanos para el
los participantes abren los ojos y los oídos con ejercicio de su responsabilidad, que ya están
actitud receptiva, a diferencia del debate o de avasallando con el desarrollo de la tecnología
la discusión en que los comportamientos tiene de la comunicación, satélites de radiodifusión,
un matiz de lucha. Y es que el visionado de sistemas de cable, combinación de
historias cinematográficas provoca en los ordenadores y televisión, videodiscos, etc...
espectadores momentos de diálogo que aumentan aún más la gama de opciones
interpersonal, intrapersonal, de comprensión, de de los usuarios de los medios de
interiorización, de reflexión, de confrontación... comunicación. Y en ese grupo nos
el espectador ve entonces el cine como un encontramos todos.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 401
Bibliografía _______________________________
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2
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Hablamos de simbiosis ya que la relación
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por los medios de comunicación” en que la una aproveche lo más positivo de la otra.
5
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Tecnologías. Universidad de Educación a 7
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Distancia. Madrid, 1996. “no tiene organización social, no es un conjunto
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Universitaria de bolsillo. Cine y Sociedad. normas no ceremonial, carece de criterios de
valoración propios, le falta una estructura legal y
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no tiene jefatura establecida”. BLUMER, Collective
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9
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402 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 403
Figura 1
Evolución de la oferta de programación infantil emitida por las cadenas españolas,
en minutos (1992-2003)
infantil en los que la decisión sobre el punto de vista de los analistas, “si un chaval
consumo de televisión recayera sobre más de seis, ocho o diez años ve televisión, muy
miembros de la familia, lo que ha conseguido cerca de él estará parte de su familia: padres,
desplazar esta programación a las primeras hermanos mayores o abuelos” (Vaca, 1997:
horas de la mañana, por razones que tienen 301). Conseguir que el niño sea un “leal
que ver con la planificación global de amigo” del canal puede garantizar que oriente
audiencias de las cadenas. parte del consumo familiar hacia el canal.
De esta modo, la creación de bloques de Pese a todo, el entorno de fuerte
programación infantil en el tramo matinal competencia y la búsqueda de audiencias no
(entre las 7:00 y las 9:00 de la mañana) parece específicamente infantiles sino en las que los
explicarse, en términos de audiencias niños se incorporaran a una audiencia grupal,
disponibles, por el hecho de que las dos como apuntábamos antes, parece ser, en los
demandas dominantes a esa hora son la últimos años, la apuesta de los programadores
información y el entretenimiento infantil. En de las cadenas generalistas de cara a la
el análisis de Contreras y Palacio (Contreras audiencia infantil. En la franja de tarde, por
y Palacio, 2001), la competencia de la radio ejemplo, la programación infantil fue
matinal, fundamentalmente informativa y de progresivamente desplazada por los talk-
gran tradición y consumo en nuestro país, shows y contenedores destinados a las amas
explica la derivación de muchos canales hacia de casa. El resultado ha sido la llamativa
la programación infantil en los primeros tramos desaparición de los contenidos infantiles de
de la mañana, cuando muchos niños “mandan las televisiones generalistas en los últimos
en el mando”, utilizando la expresión de Vaca. años. En la temporada de septiembre de 2003,
En todo caso, el público infantil parece TVE decidió recuperar la tradicional franja
especialmente relevante para los de programación infantil de las tardes, ante
programadores de televisión pero, como cabe la presión política y social3. El análisis
esperar de un modelo televisivo comercial, realizado muestra la diferencia entre el peso
por razones de mercado. Esta cuestión resulta que tiene hoy en día la programación
crucial para entender el fundamento de la específicamente infantil en las televisiones
pugna en los primeros años de la públicas (sobre todo autonómicas) frente al
desregulación televisiva en España por la resto de operadores, como se puede
audiencia infantil, dado que siguiendo el comprobar en la figura 2.
Figura 2
Ciclo horario en minutos de oferta de programación infnatil comparada
entre públicas y privadas estatales 1992 y 2003
Puede verse que las estrategias los niños españoles. Actualmente es muy
programacionales del contenido infantil de grande la distancia entre los estudios
las cadenas públicas y privadas y en dos realizados desde la perspectiva del mercado
momentos distintos - a principios de los audiovisual (estudios de audiencia y de
noventa y a principios de dos mil- son muy eficacia publicitaria o de campañas de imagen
dispares. Las cadenas privadas hacen, a y opinión) y las planteadas desde los
principios de los noventa, una importante requerimientos educativos y de atención a la
apuesta en la franja de mañana (antes de la infancia. No sólo se manejan aproximaciones
salida hacia el colegio), así como en la de metodológicas en buena parte distintas, sino
tarde (al regreso a casa del colegio), con un que los datos y las relaciones perseguidas
pico en la hora del mediodía refleja un intento son de diferente carácter.
de captar al sector infantil que va a comer
a casa. En 2003 desaparece por completo la El Estudio General de Medios
oferta de mediodía y tarde, manteniéndose
la de la mañana, aunque con menor peso en El EGM es un estudio multimedios que
tiempo de programación. se realiza mediante una encuesta a domicilio
La diferencia más significativa en la oferta a una muestra de alrededor de 43.000
de los canales públicos en las dos fechas es individuos, dividida en tres en tres momentos
el aumento, en 2003, de la programación distintos del año4. La muestra tiene como
infantil en la franja de mediodía. Destacable universo de referencia los individuos de 14
es, que aún con todas las presiones sociales y más años que residen en hogares
que como televisiones públicas han podido unifamiliares de todo el país.
recibir en los últimos años, el volumen de
programación infantil en la franja de tarde El panel audimétrico de TN Sofres
sigue siendo más bajo en 2003 que en 1992. Audiencia de Medios
Resaltar por último, que en la franja de
mañana las cadenas privadas apuestan de El panel audimétrico que mantiene la
manera más decidida que las públicas por empresa Taylor Nelson Sofres Audiencia de
la programación infantil (en cantidad) en Medios es la principal referencia para el
ambos periodos, y que a principios de los estudio de la audiencia de la televisión en
noventa, las privadas mantenían una España. El panel se compone de alrededor
programación más abundante en las otras dos de 3.500 audímetros5 denominados activos
franjas mencionadas, pero que en 2003 -lo individuales. Ello significa que determinan
que hemos denominado principios de dos mil- la audiencia de cada uno de los miembros
desaparece casi por completo la programación del hogar en el que se instalan, para lo cual
infantil de sus parrillas en los mencionados requieren la cooperación de cada uno de los
horarios. individuos del panel, que deben identificar
cuándo están viendo la televisión y cuándo
Los estudios de audiencia de la televisión se retiran mediante el mando a distancia del
en el sistema audiovisual español audímetro. El tamaño muestral en individuos
para noviembre de 2003 era de 10.289
En España y a nivel de mercado, los individuos.
índices de audiencia televisiva se obtienen De este modo tenemos, que sólo TN
a través de dos herramientas: el Estudio Sofres abarca casi totalidad de edades en
General de Medios (EGM), realizado por la audiencia infantil pues la segmenta en dos
Asociación para la Investigación de Medios grupos de edad distintos, de 3 a 9 años, y
de Comunicación (AIMC) y el panel 10 a 12 años -en los tramos que afectan a
audimétrico de la empresa Taylor Nelson los objetivos sociodemográficos de este
Sofres Audiencia de Medios. Pero la proyecto de investigación sobre televisión y
complejidad de un estudio de este tipo, unida niños. Pese a que en el informe de situación
a la ausencia de investigaciones de carácter del panel figura un tramo de 3 años, los datos
meta-analítico, hacen que resulte difícil que se ofrecen son sólo de individuos a partir
conocer el contenido televisivo que consumen de 4 años. TN Sofres facilita a las empresas
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 407
del sector dos tipos de datos: los agregados, también los niños, como muestran los datos
donde se incluyen los datos básicos de de esta investigación.
consumo de televisión diario por grandes
segmentos sociodemográficos, y los Descripción del instrumento metodológico
desagregados, en el que se encuentran de dieta televisiva y entorno cultural
identificados cada uno de los individuos del
panel, que por su elevado coste tan sólo es Dado que el objetivo era extraer los datos
accesible a las grandes cadenas de televisión de consumo televisivo de una muestra
estatales y centrales de compras. seleccionada (conocer qué programas de los
emitidos habían sido vistos) y que ésta estaba
El estudio de la exposición de la infancia compuesta por niños, tuvimos que diseñar un
a la televisión desde nuestra investigación instrumento específico para recoger e
identificar lo más fielmente posible los
La investigación en la que se engloba la programas ofertados, que denominamos
comunicación presentada estudia la cuestionario-parrilla, que aplicamos entre los
exposición a la televisión de la infancia días 3 y 9 de noviembre de 2003 (ver Figura
española desde un enfoque sistémico e 3). El primer problema que se encontró fue
integrado por estar ésta englobada dentro de decidir los criterios de selección de la muestra
todo un sistema sociocultural en proceso de para determinar tanto las edades como el
transformación histórica. En ese escenario, volumen de población infantil que el equipo
el recurso a “complejos metodológicos” para podía abarcar.
abordar el sistema eco-cultural se hace El primero quedó resuelto con la selección
necesario (Álvarez, 1990 y 1996; Valsiner, para el estudio de tres edades clave en el
1994; del Río y Álvarez, 1994). Es evidente desarrollo infantil como son los 4, los 8 y
que el cambio y el desarrollo no pueden los 12 años, quedando así recogido el abanico
estudiarse sin investigar la vida de los padres completo de edades concentradas en un
y de los hijos, el cultivo y las dietas colegio español dado que se decidió que estos
televisivas, el sistema eco-cultural (familia, núcleos de educación formal eran el lugar
escuela, comunidad) de manera integrada. El más adecuado para demandar la información
concepto de SSD (Situación Social de a los niños. De este modo, tenemos respuestas
Desarrollo) aplica al medio cultural la idea directas de los niños de 8 y 12 años,
ecológica clásica de un mundo o umwelt obteniendo la información de los de 4 años
específico “por edades” en cada cultura, a través de los padres, que además de estos
aplicado en este proyecto a través del modelo datos sobre el consumo televisivo de sus hijos
desarrollado por del Río y Álvarez (1994 y debían aportar otras informaciones
1996). Se trabaja con la creencia de que la relacionadas con las situaciones de consumo
experiencia inicial del niño con la televisión a través de un cuestionario contextual que
como medio apenas tiene importancia, y que incluía items sobre el medio cultural del niño
es su contenido lo que tiene un impacto y sobre el contexto cotidiano de recepción
acumulativo y duradero (Bickham, Wright y televisiva y que fue administrado a los padres
Huston, 2001). de todos los niños de la muestra.
Pero el impacto ecológico de la televisión El cuestionario contextual ha tratado de
es innegable pues es la actividad cotidiana implementar lo conocido por investigaciones
más potente y extendida en todo el mundo, previas definiendo el ecosistema y actividades
junto con la escuela. No cabe duda de que intra-hogar y extra-hogar y su incidencia en
la televisión es un medio omnipresente. el consumo de televisión. El cuestionario fue
Históricamente los medios de comunicación administrado a la madre o persona al cargo
se han valorado por su valor informativo, de los niños en los tres tramos de edad. Se
educativo y de entretenimiento, pero una de les enviaba a través de sus hijos con una
las funciones actuales más importantes, sobre carta e instrucciones para su
todo el medio televisión, es su valor psico- cumplimentación. La recogida se produjo con
social de sustituta de otros seres humanos. una respuesta prácticamente plena. Es de
Este reemplazo lo practican los adultos y resaltar que, en general, la participación de
408 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Figura 3
Cuestionario-parrilla visual del sábado 8 de noviembre de 2003
destinado a niños de 8 y 12 años
Figura 4
Los programas más vistos por los niños/as de 4, 8 y 12 años
(Salamanca y Madrid)
Figura 5
Programas preferidos por sexo
Figura 6
Programas preferidos por edad
Una de las aportaciones más densas del infantiles. Ello permite contar con pautas claras
estudio es el conocimiento de los programas para el diseño de programaciones. En la
más vistos (ver Figura 4) y de los programas medida en que las diferentes cadenas orientan
preferidos para todas las edades estudiadas, sus programaciones también en función de
por sexo (Figura 6) y por edad (Figura 7). géneros y formatos, es de esperar, como así
Los programas más vistos establecen un matiz ocurre, que ciertas cadenas sean más preferidas
por modalidad (entre aquellos vistos por en ciertas edades (La2 para los niños de 8
completo y los vistos parcialmente, zapeando años; la TVE1, Telecinco y Antena 3 para los
entre varios o interfiriendo la visión con otras de 12 años); o según el sexo (las chicas
actividades); por ello conviene realizar una prefieren infoshows y concursos, mientras que
triangulación -tarea en curso- con los datos los chicos prefieren contenedores y deportes;
audimétricos que no establecen esa distinción. los chicos prefieren más la La2, las chicas
Pese a que, como hemos comentado, la se inclinan más por Antena 3 y Telecinco).
franja de decisión o selección posible es muy La producción de los géneros y formatos,
estrecha, en general los programas preferidos al igual que es más frecuente en unas cadenas
permiten conocer las tendencias del gusto que en otras, tiene diferentes procedencias
infantil y marcar ciertas distancias respecto por su producción (nacional o extranjera).
de las creencias de los programadores. Hemos Hemos analizado también los datos de los
establecido estas preferencias, además de por géneros y formatos vistos por los niños para
programas, con todo detalle, agrupando los disponer de un conocimiento que puede ser
programas por géneros (taxonomía atendiendo útil a la hora de desarrollar estrategias
al contenido -ver Figura 7-) y por formatos culturales y políticas de diseño.
(taxonomía atendiendo a los atributos técnicos Las preferencias pues cambian claramente
y formales -ver Figura 8-). con la edad y están influidas por el género
En general, por ambos criterios, aparecen y por la cultura familiar y el desarrollo
diferencias muy claras en las preferencias cultural del niño.
Figura 7
Tipo de formato de los programas emitidos por las cadenas españolas
recogidas en el estudio
Figura 8
Tipo de género de los programas emitidos por las cadenas españolas
recogidas en el estudio
significativas) entre los niños de dos colegios la cuarta parte la ve con una persona, y
de Salamanca; los niños de uno de los centros, alrededor del 45% la ve en grupo más amplio.
de contexto rico, ven como media la mitad El coviewing desciende según el niño va
de programas que los del otro centro. haciéndose mayor: casi el 40% de los niños
Pero incluso cuando se ve la televisión, de 12 años ven la televisión solos, frente a
una de las principales variables moduladoras un 25% entre 4 y 6 años.
para optimizar su impacto con procesos de Loa datos respaldan la necesidad de
mediación en la ZDP (Zona de Desarrollo diseñar programas de apoyo al ecosistema
Próximo), es la de visionado conjunto o cultural infantil para promover SSD óptimas.
coviewing. Los datos audimétricos (2003, La solución parece que debe ser sistémica
niños de 4 a 12 años) muestran que en España y orquestada, tanto en variables intra-hogar
se siguen manteniendo cotas entre moderadas como extra-hogar, sin olvidar las acciones
y altas de coviewing: entre las situaciones dirigidas a la familia para el adecuado
sociales de visionado, sólo un tercio de los tratamiento del contexto de recepción y de
niños españoles ve la televisión sólo, como las dietas recibidas.
418 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
vistas em circulação. Se por um lado, a autora diversificado e jovem. Os títulos mais rele-
chama a atenção para a necessidade de vantes, em termos numéricos, se encontram
ampliar o entendimento sobre a leitura no na área da arquitetura, decoração e paisagismo
universo brasileiro, integrando entre as prá- (49), informática / games (33), construção
ticas de leitura, álbuns de família, cadernetas e engenharia (29), arte, cultura e educação
de endereço etc., as pesquisas que comenta (20), entre outros. Assim, seria interessante
ignora dados sobre uma grande fonte de chamar atenção para o fato de que todas elas
prazer e leitura que são as bancas de jornal. disponibilizam, nas bancas de jornal, peri-
Não obstante, é forçoso salientar que neste ódica e sistematicamente, um conjunto de
item, em 2001, segundo o Instituto preceitos ou princípios de conduta que aju-
Verificador de Informações, 14.132.700 de dam a orientar os comportamentos de seus
revistas circularam em território nacional. leitores. É como se estas revistas ofereces-
Entre elas, as revistas relativas ao universo sem informações e conhecimentos para um
cultural feminino (feminina, adolescente, público heterogêneo, conhecimento este antes
saúde, puericultura, trabalhos manuais, modo, restrito a um universo de peritos. Poderia
horóscopo - 1.750.041), revistas relativas ao afirmar, nas categorias de Anthony Giddens
mundo dos games e infanto-juvenis A educação popular no Brasil: a cultura
(1.317.050), juntamente com as revistas de massa 13 (1991), que elas estariam ser-
destinadas ao segmento de interessados sobre vindo para publicizar, com a TV e demais
televisão e sociedade (1.288.232), destacam- produtos midiáticos, uma educação fora dos
se como as campeãs em venda. Neste sentido, eixos tradicionais, possibilitando um apren-
este mercado, embora tímido em relação a dizado, e uma circulação do saber, fora da
outros países, na maioria desenvolvidos, escola. Não obstante, para finalizar este item,
parece ser também um exemplo significativo caberia registrar que o aspecto formador e/
que expressa o crescimento de uma cultura
ou educativo de um imaginário ficcional das
de massa letrada no Brasil. Mais recentemen-
mídias não é prerrogativa da cultura brasi-
te, na década de 70, Éclea Bosi, em seu
leira. Martín-Barbero (1995) salientava, nos
clássico “Cultura de massa e cultura popu-
anos 80, que a cultura de países como
lar”, apontava que as revistas faziam parte
México, Argentina, Chile e Brasil, se cons-
do universo de leitura das operárias. Temas
tituíram a partir de uma configuração cul-
sentimentais, horóscopo, religião, moda eram
tural bastante semelhante. Isto é, os meios
os mais presentes. Seria importante ressaltar
de comunicação de massa se fazem presentes
aqui que a prática entre elas estava associada
na nossa história, construindo um cultura
à compra e a constante troca e circulação
dos exemplares. Neste sentido, é possível híbrida em que se mesclam referências da
inferir um efeito multiplicador destes núme- cultura erudita, da cultura popular e da cultura
ros. Nos últimos anos, segundo, o Anuário de massa. Este amálgama entre as culturas
Estatístico de Mídia, comercializou-se, em seria então constitutivo nas configurações
2000, 931 títulos de revistas, sendo os que latino-americanas.
mais se destacam, como foi visto anterior-
mente, são os referentes a um segmento Considerações Finais
feminino e adolescente. No entanto, é expres-
sivo, o número de 370 títulos, relativos a O objetivo deste artigo foi refletir sobre
revistas que poderiam ser qualificadas tam- a cultura de massa no contexto das preocu-
bém como paradidáticas. Ou seja, revistas pações educativas do mundo contemporâneo.
de “vulgarização” de saberes e competênci- Chamei atenção para uma nova configuração
as, conselhos, dicas de estilo de vida vari- cultural e portanto, educacional, que a so-
ados, competindo com as orientações que ciedade brasileira teve acesso ao longo de
podem e devem ser adquiridas nas escolas. sua história. Apresentando dados sobre o
Tal como verificado com a mídia televisiva crescimento da oferta de produtos da cultura
e radiofônica a produção de entretenimento de massa e a paralela demanda de informa-
impresso, via revistas especializadas, ampli- ções e entretenimento, pude observar que a
am o acesso à informação para um público produção midiática complementa há muito,
424 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
que os faz insensíveis aos desafios culturais que mais é de 3, 4 anos, enquanto que a urbana é
a mídia coloca, insensibilidade intensificada di- de 7 anos. Em relação à infra-estrutura, só 5,2%
ante da televisão”(Martín-Barbero,2000:23). delas possuem bibliotecas e 0,5% possuem labo-
3
Neste sentido W.Benjamim oferece uma ratório de informática, enquanto que na zona
interpretação positiva sobre o fenômeno da repro- urbana os índices são 58,6% e 27,9%, respecti-
dução das mercadorias culturais, oferecendo um vamente.
5
contraponto às análises de outros teóricos como Exlusivamente 10,6% possuem computador
Adorno e Horkheimer (1996), embora não des- e 8% usufruem de linhas telefônicas.
6
cartasse o uso ideológico do potencial tecnológico. Esta classificação foi feita à partir da pro-
4
É importante registrar que no final do século gramação oferecida pelo jornal Folha de São
XIX, Estados Unidos e França contavam com Paulo, em 11 das 12 emissoras de canal aberto
apenas 14% e 18% de analfabetos, respectivamen- (exceto a emissora 21), na última semana do mês
te. Ao contrário, o Brasil apresentava um de outubro de 2003. As categorias criadas para
percentual de 84% na condição de analfabetos a classificação são, 1 - educativas (documentários,
(Hallewell,1985;Mira, 1996). Ainda hoje, segun- educativas, entrevistas) 2- ficção (novelas, dese-
do o INEP, Instituto Nacional de Estudos e nhos, seriados, filmes, humor) 3 – informativos
Pesquisas Educacionais, a região rural brasileira (telejornais) 4 – religiosos 5 – paradidáticos, (Fica
ainda conta com 29,8% de adultos analfabetos e comigo, Note e anote etc)
7
a região urbana, 15%. A escolaridade média do Exclusivamente 10,6% possuem computa-
morador da zona rural na faixa dos 15 anos ou dor e 8% usufruem de linhas telefônicas.
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 427
actividades da maleta pedagógica e classi- nologias não significa que estas estejam
ficaram-nas como lúdicas e pedagógicas, na conscientes dos perigos que existem na
medida em que permitem que o acesso à Internet e dos riscos que correm. Aliás, elas
informação e a aprendizagem se realizem de podem muitas vezes estar expostas aos
forma divertida. perigos sem os reconhecerem. De acordo com
No entanto, os pais que participaram na Thierry De Smedt (2003), os jovens têm
análise da maleta pedagógica não tiveram tendência a não atribuir importância aos
uma opinião tão positiva como a das técnicas riscos, considerando-os sempre afastados da
da Equipa de Animação. Segundo os pais, sua própria realidade. O facto de os
o objectivo do programa e a metodologia são utilizadores da Internet se encontrarem,
muito importantes, na medida em que existe muitas vezes, num contexto familiar (em casa
uma preocupação por preparar os jovens para ou na escola) enquanto navegam na Internet,
os riscos que existem, tanto na Internet como faz com que tenham tendência a sentir-se
no mundo real. Contudo, sentem alguma confortáveis, protegidos e despreocupados.
renitência, pois consideram que a curiosida- Por isso, os educadores têm um papel cen-
de move os jovens e estes facilmente esque- tral: aconselhar, alertar e, especialmente,
cerão o que lhes foi ensinado. dialogar com os jovens sobre os perigos que
existem na Internet, tal como os devem
3. O papel do educador aconselhar sobre os perigos que existem nas
suas vidas quotidianas e que devem evitar.
Se tivermos em consideração que os A própria partilha de experiências pode
jovens passam a maior parte do seu tempo permitir aos utilizadores mais experientes
com os educadores e com os pais, o empe- ajudar os menos experientes. O que acontece
nho destes deve ser encarado como uma parte grande parte das vezes é que os utilizadores
fundamental no apoio ao ensino para o uso mais experientes não são os pais ou profes-
da Internet. sores mas sim os mais jovens. Todavia, os
De acordo com um estudo sobre os jovens educadores não deveriam sentir-se inibidos
e as novas tecnologias, realizado por Paulo por este facto, pois ele não significa que não
Ferreira, Ricardo Mendes e Inês Pereira possam ajudar os mais jovens. Antes pelo
(2001), é em casa e na escola que os jovens contrário, visto que grande parte dos jovens
mais consultam e utilizam as novas tecno- não tem consciência dos riscos a que está
logias, nomeadamente a Internet, o que exposto quando navega na Internet.
reforça a ideia de que os pais e os profes- As tecnologias de filtro e/ou a proibição
sores têm um papel fulcral no auxílio e na de aceder à Internet não será a solução para
educação dos jovens para uma utilização mais os problemas que se colocam. De acordo com
correcta deste meio de comunicação. Núria Quintana (2001), os educadores devem
O facto de existir um adulto presente que familiarizar-se com a Internet e acompanhar
possa ajudar, explicar e alertar é fundamen- os jovens nas suas navegações, falando
tal e pode marcar a diferença. O facto é que, abertamente com eles e dando-lhes conselhos.
muitas vezes os pais não se sentem tão à É essencial que os utilizadores aprendam as
vontade na Internet como os seus filhos pois regras básicas de utilização da Internet, que
não estão familiarizados com esta, enquanto estejam elucidados quanto ao tipo de páginas
as crianças rapidamente se adaptam e apren- existentes e à funcionalidade destas, de forma
dem a trabalhar com as novas tecnologias. a conseguirem identificar sozinhos o que lhes
Como defende Seymour Papert (1997), a interessa e o que não lhes interessa. Visto
maioria dos pais sente-se muito orgulhosa em que os jovens aprendem facilmente a traba-
relação à facilidade de aprendizagem dos seus lhar com a Internet, a melhor opção é falar
filhos face à Internet, mas muitos sentem- abertamente com eles sobre o que existe na
se também alienados dessa realidade que eles rede e o que poderão encontrar. É importante
próprios desconhecem. educar para uma utilização positiva da
No entanto, o facto de as crianças Internet e criar uma consciência dos riscos
mostrarem uma tão grande facilidade de que existem para que estes possam ser
aprendizagem no que respeita às novas tec- evitados. A prevenção deve ser uma aposta
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 431
A mudança nas rádios, e da rádio enquan- cidades do país – Lisboa, Porto e Coimbra.
to meio, é um fenómeno que se verifica desde A Cidade FM acompanha, e acrescenta fre-
que a rádio enveredou, de forma irreversível, quências para as regiões do Alentejo, Ribatejo
por um esquema de negócio mais profissi- e Algarve. A única verdadeiramente nacio-
onal, baseado em técnicas modernas de gestão nal, operando igualmente este escalão etário,
e de marketing. Estas mudanças estão ainda é o canal jovem do Estado – Antena 3, com
em desenvolvimento, com um necessário frequências distribuídas por todo o território.
esforço de comunicação das estações, para Lisboa é a cidade onde estes projectos
se aproximarem cada vez mais dos «seus» nasceram e se têm afirmado, ao mesmo tempo
ouvintes. No momento actual, a tendência da que se desenvolvem outros projectos locais,
rádio vai no sentido da segmentação dos também de carácter musical especializado, e
ouvintes por escalões etários e classes so- que contribuem para o dinamismo deste
ciais, mais do que grupos de interesses, conjunto de estações de rádio.
resultando na especialização das rádios em Focalizando esta abordagem num ambien-
torno de géneros musicais. Ao contrário da te urbano, centrado na capital, encontramos
maior parte dos países que nos servem de para análise não só as estações já referidas,
exemplo, Portugal tem um universo de como quatro outras: Mix FM, Oxigénio, Voxx
ouvintes bastante mais pequeno, razão pela e Radar, completam o cenário das rádios
qual a proliferação de rádios temáticas não desenvolvidas a pensar no segmento jovem
tem sustentabilidade económica2. da população da região metropolitana de
A tematização ainda não se verifica - será Lisboa. Na rádio, como em todos os domínios
talvez, o próximo passo -, função também da comunicação, os jovens são um segmento
da legislação que dividiu as rádios em dois ao qual se devem dirigir formas e conteúdos
parâmetros: musicais e informativas, sendo de comunicação específicos. No sector priva-
que as musicais, ainda que se assumam como do, a rádio está a ser encarada como entrete-
rádios temáticas, estão obrigadas a uma nimento, numa perspectiva mais técnica e
informação de carácter generalista. É por essa menos artística, deixando as outras funções
razão que o nosso espectro radiofónico tem para o Serviço Público. O objectivo é ter
poucas rádios temáticas, tendo começado cada vez mais ouvintes, apresentando um
apenas há pouco tempo, a desenvolver es- produto que justifique o investimento publi-
tratégias de especialização musical, mas que citário e proporcione um bom retorno finan-
apresentam outros conteúdos de carácter ceiro. Quais são então, os desafios da rádio
generalista, como a informação noticiosa. para este segmento da população? Que tipo
No segmento da população mais jovem, de programação apresentam as rádios em FM
existem em Portugal, três estações de rádio para os jovens? Se a Internet é um dos meios
privadas, claramente dirigidas ao target 14 de comunicação mais utilizado pelos jovens,
– 25 anos, e com uma especialização mu- qual a utilização que estas rádios fazem deste
sical em torno de diferentes quadrantes canal? Como são os websites das rádios jovens
musicais. A classificação faz-se em função na Internet?
da capacidade dos seus emissores. Para este
segmento, temos rádios nacionais e regio- As rádios jovens em Lisboa: breve carac-
nais (Antena 3); cadeias de rádios (Best Rock terização
FM, Mega FM, Rádio Cidade e Voxx) e rádios
locais (Mix FM, Oxigénio e Radar). A Mega Com uma história que ultrapassa os
FM e Best Rock FM, ainda que não sejam setenta anos de vida, a Rádio Renascença tem
nacionais, transmitem para as três principais acompanhado a evolução da sociedade,
434 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
adaptando-se com alguma habilidade aos O lançamento deu-se a nível local, com
novos cenários da comunicação. Os seus três emissões para as cidades de Lisboa e Porto,
canais, sustentados numa comunicação dis- estando o projecto delineado para um for-
tinta, apresentam uma programação de ca- mato nacional. A BRFM assume um estilo
rácter generalista, orientada em função do de comunicação marcado por uma postura
público que domina as audiências de cada moderna e irreverente. Criada para recupe-
canal. Na década de 90, o grupo Renascença rar os ouvintes deixados por esta estação,
lançou um novo canal, generalista, dedicado conquistar outros que se encontravam
a um público jovem e urbano. A RFM dispersos, e concorrer directamente no mesmo
cresceu, e com ela o seu público, razão target com outras estações jovens.
principal para a criação, em 1998, de uma A transferência do formato da rádio
nova estação - Mega FM -, para acompanhar Comercial para a Best Rock FM, deixou
os gostos dos estudantes do ensino secun- Portugal temporariamente sem uma rádio rock
dário e superior. O seu target é constituído à escala nacional, concentrando esses pro-
por estudantes da grande Lisboa, entre os 15- jectos na capital, com extensão, em alguns
24 anos e as suas emissões são ocupadas com casos, para a cidade do Porto (Best Rock FM,
música, locução dinâmica, pouca publicida- Mega FM) e Coimbra (Mega FM). A Best
de e notícias sobre música. Muito embora Rock FM é uma rádio formatada, com uma
o seu formato musical se apresente genera- playlist de rock contemporâneo, dirigida ao
lista, sem assumir um género musical espe- target 18-26 anos. A programação «herdou»
cífico, os jingles de promoção da estação «a alguns dos programas mais importantes que
tua música - o novo rock», assumem uma faziam parte da lista da Comercial. A «Hora
estratégia que procura de forma muito clara, do Lobo», um programa de cunho alterna-
ir ao encontro de uma geração mais nova, tivo é um dos exemplos, assim como o
com gostos musicais ainda em definição3, mas «Programa da Manhã» que, nesta nova
que se baseia no género rock. estação, pode ter um potencial maior, ar-
A Mega assume-se como uma estação riscando em termos de linguagem, aborda-
católica jovem, concorrendo no espectro gem temática e musical. Criada no ímpeto
radiofónico com espaço ocupado por outras das rádios piratas, a rádio Cidade foi o ano
estações direccionadas ao mesmo público. A passado objecto de reformulação.
diferença é que na Mega há uma clara Ao longo dos seus dezassete anos, a Rádio
preocupação com a música e a linguagem, Cidade foi um projecto que marcou o meio
no respeito dos valores fundamentais da rádio. O sotaque brasileiro, o ritmo de
pessoa ao nível humano e religioso. A Mega animação, a produção, a sonoplastia, a cri-
FM não pode definir-se como uma estação atividade, a alegria, os eventos e a
de rádio com conteúdos especializados, mas irreverência em antena, foram alguns dos
uma estação dirigida a um público determi- aspectos definiram o projecto. Deixou a
nado, incluída num conjunto de rádios com inspiração brasileira e assumiu-se como
targets muito bem definidos. Cidade FM, uma estação moderna e com
O ano de 1998 introduziu a novidade no emissões dinâmicas de música comercial. No
panorama radiofónico nacional, com o res- seu segmento, actuam a Mega FM e a Best
surgimento da rádio Comercial e a Rock FM que usam como argumento o rock.
profissionalização no esquema de exploração A Cidade FM apostou em animadores ex-
comercial do meio. Com uma estratégia perientes para dar voz à estação, usando a
definida no sentido da formatação dos pro- música pop como quadrante diferenciador das
jectos para chegar a públicos bem definidos, suas directas ameaças, cativando especialmen-
a Media Capital Rádio deu início a um te o público feminino.
processo de reformulações que agitaram o No campo das rádios privadas, destaca-
mercado da rádio. As duas novidades recen- mos outras estações que, actuando ainda num
tes foram a criação de uma nova estação, segmento jovem, têm uma selecção musical
Best Rock FM e a mudança do perfil da rádio e uma postura alternativa. Mix FM, Voxx,
Comercial. Oxigénio e Radar, são rádios locais que
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 435
são, mas mais anunciada nas estações com um processo de tematização, tornando-se
maior potência e abrangência de frequência. segmentadas pela idade e especializadas no
Estas, constroem a sua identidade não só com género musical, para dividir os ouvintes, sem
base na playlist que dá a personalidade à contudo, colocarem definitivamente de lado,
estação, como numa estratégia de comuni- franjas da audiência geral que podem iden-
cação para ganhar notoriedade e visibilidade. tificar-se com a estação, apesar da idade não
Algumas estações de rádio promovem-se corresponder aos critérios definidos.
no sentido de criação duma garantia para o Os noticiários têm um tratamento infor-
ouvinte, de um nível determinado de mativo superficial, apresentando os factos
performance e, embora muito próximas, duas nacionais e internacionais de relevo, e dando,
estações podem parecer distintas, quando em alguns casos, destaque a temas ligados
baseadas na diferença de significado veicu- à juventude ou que de alguma forma possam
lada pela sua imagem de marca. A publici- contribuir para a sua formação e educação.
dade, especialmente nos jornais e outdoors, No seu todo, e particularmente nas rádios de
sempre existiu para as estações com maior menor dimensão, a informação está intima-
potencial económico, mas hoje, as fórmulas mente ligada à música, acontecimentos ar-
de promoção e publicidade vão mais longe. tísticos e culturais, com algumas rubricas que
Muito especificamente, a Media Capital enchem a programação e quebram a rotina
Rádio tem estações de rádio absolutamente musical.
diferenciadas, complementares e com iden- Os passatempos são outro elemento
tidades próprias que as faz distinguir da comum nas estações em análise. Assumem-
concorrência e diferenciar entre si. Essa se como uma forma de fidelização dos
diferenciação vai ao ponto de se tornar quase ouvintes e de conquista de audiências para
imperceptível o grupo económico ao qual a estação. A tendência vai no sentido de
pertencem, pela quase inexistente referência oferecer prémios interessantes, prolongando
à imagem institucional, sobrepondo-se uma o passatempo ao longo da emissão e dos dias
forte comunicação no sentido da criação de da semana, apresentando intercaladamente,
uma imagem de marca para cada estação de dados e informações úteis para concretizar
rádio. o prémio e assim, manter os ouvintes sin-
Tem sido feita uma gestão de marketing tonizados mais tempo.
cuidada seguindo uma estratégia de cross A ligação ao ouvinte faz-se, na genera-
promotion que, no caso das rádios em ques- lidade dos casos, com longas sequências
tão, apresenta acções de publicidade na musicais. A antena abre-se pouco à opinião
televisão e revistas do grupo, para o desen- dos ouvintes. Resume-se muitas vezes à
volvimento de uma imagem de marca para, possibilidade de apresentarem um tema
a longo prazo, fidelizar ouvintes/ consumi- musical, em programas específicos. A
dores. Nestas rádios, a música assume-se interactividade baseia-se nas novas tecnolo-
como principal argumento, sendo o critério gias, usando o website da estação como
de selecção musical dentro do género ou promotor da participação dos ouvintes na
subgénero, o factor de diferenciação entre as selecção musical (votação dos temas musi-
estações. A estrutura de programação destas cais), na participação em passatempos (SMS,
estações procura ir ao encontro dos interes- correio electrónico), na troca de opiniões entre
ses do segmento ao qual se dirigem, tendo ouvintes (fóruns e salas de conversação), nas
em consideração que, dentro do mesmo sondagens (poll), e na troca de mensagens
escalão etário, os jovens se dividem por com os animadores da estação (correio elec-
grupos de interesse-identificação, sendo por trónico).
isso, necessário categorizá-los em função dos Assumindo a sua vertente comercial e de
temas e artistas que cada grupo prefere. entretenimento, as rádios jovens privadas
Considerando que o mercado radiofónico em deixam ao serviço público o cumprimento das
Portugal é relativamente pequeno, e que esta outras funções da rádio enquanto meio de
geração faz da Internet um potente aliado para comunicação. A Antena 3, procura de forma
o alargamento do seu universo musical, as assumida, promover o serviço público de
estações em causa não everedaram ainda por rádio, mas falta-lhe uma aposta séria na
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 437
divulgação da cultura jovem, que se afaste rádio, como no facto das estações de rádio
da espiral promocional em que as estações Voxx, Oxigénio e Radar, não estarem ainda
se vêm envolvendo. Ao ouvirmos a Antena presentes na web4. A estratégia para desen-
3, encontramos o mesmo tipo de promoção, volvimento do website depende dos objec-
ao mesmo tipo de eventos e produtos cul- tivos que a estação emissora tem para o meio
turais que nas estações comerciais. De facto, Internet. Nos casos em análise, estão orga-
a RDP não proporciona (pelo menos para o nizados como um meio distinto, em con-
território nacional) um serviço público efec- formidade com a rádio que lhe deu origem,
tivo para a população portuguesa. É um facto representando o que se passa em antena e
que a Antena 3 cumpre parte das suas fun- acrescentando conteúdos que não existem no
ções, assentando numa programação de di- formato «on-air».
vulgação musical, mas falha por procurar O formato FM procura fazer a ponte
continuamente conquistar mais audiências, entre a comunicação áudio e o website da
num estilo que pouco se distingue das rádios estação, apelando à visita, pela sugestão e
privadas dirigidas às camadas mais jovens. referência a conteúdos exclusivos, pela re-
ferência a passatempos, e pela solicitação de
O modelo multimediático de rádio e as mensagens via correio electrónico que se
rádios jovens na web assume como o principal meio de contacto
entre ouvintes e animadores da estação. Estas
A rádio vive neste momento um processo páginas são um vínculo entre o ouvinte e a
de transformação extensivo e com consequên- estação, com informação de carácter
cias maiores do que as primeiras grandes institucional e organizacional, ao mesmo
mudanças que enfrentou, quando apareceram tempo que agregam dados sobre a progra-
os transístores, ou quando passou a emitir mação e informações de todo o género. No
em Frequência Modulada. A digitalização geral, os websites visitados reflectem a
abrange quase todas as tecnologias e proces- personalidade da própria estação, com um
sos técnicos. Multiplicam-se os canais dos design que as caracteriza inequivocamente.
diferentes meios de comunicação que, na rede,
apesar de manterem os traços distintivos http://www.cidadefm.iol.pt
originais, reúnem formas flexíveis e multimé-
dia, inerentes ao sistema digital. A Cidade FM tem um website que re-
Em conjunto com a automatização e a flecte a identidade da estação, com um
compressão de sinal, tornam-se mudanças grafismo apelativo, jovem e moderno. Pro-
fundamentais que abrangem os processos de cura ser original, independentemente da
produção, emissão e recepção da rádio, navegabilidade e facilidade de utilização. A
chegando ao ponto de alterar a natureza do página de entrada recorre a gráficos e
conceito, quando a rádio é transposta para animações, faz uso da cor e das possibili-
um novo suporte que permite a combinação dades multimédia da Internet para apresentar
das características da rádio com elementos o menu de conteúdos. Nesta primeira página
multimédia, numa plataforma de convergên- estão o ícone para escuta da emissão em
cia mediática. O modelo multimediático directo, os passatempos em destaque, um
caracteriza-se por uma utilização da Internet scroll com o tema e o artista que está a tocar
enquanto suporte adicional para as estações e outro com as mensagens enviadas por SMS
de rádio, para emissão e apresentação de para a estação. Estão também as principais
conteúdos. notícias e acontecimentos em agenda. No
A consulta e análise efectuada aos campo da interactividade, há uma página para
websites das estações jovens, levou-nos a conversação em tempo real, um fórum de
concluir que este está a ser utilizado como discussão e outra para registar o feedback
uma estrutura de difusão paralela, apresen- dos ouvintes, relativo aos vários aspectos da
tando serviços e conteúdos distintos dos estação emissora.
existentes na emissão radiofónica em FM. A A Cidade FM é uma estação orientada
selecção dos websites a analisar baseou-se para o entretenimento e no website há di-
tanto no critério «medidas de audiência» de versos componentes para distrair o utilizador,
438 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
como testes de compatibilidade amorosa e tica e cultural para os ouvintes que queiram
outros dados relativos aos signos do Zodí- saber algo mais sobre a estação, fidelizando-
aco. Apesar de apresentar conteúdos com os para integrarem este «Mega» universo.
relevância para o seu público e corresponder Contudo, este website procura ultrapassar o
aos principais aspectos da estação, no geral, esquema de rádio companhia, para enveredar
o website da Cidade resume-se a cumprir as por um caminho de rádio serviço, nomeada-
funções de promoção e complementaridade mente pela oferta de informações de trânsito
e pela subscrição da newsletter electrónica que
http://www.mega.fm permite receber as novidades da estação na
caixa de correio individual, mantendo a es-
A Mega FM renovou há pouco tempo a tação em contacto com os vários segmentos
sua presença na web, com um conjunto de de ouvintes/utilizadores. Os verdadeiros ad-
páginas que reflectem a cultura tecnológica miradores da estação podem inclusivamente
e as modernas tendências de grafismo e fazer o download de wallpapers exclusivos
desenho de websites. A página de entrada da Mega, uma tentativa para que a estação
disponibiliza os principais conteúdos da esteja sempre presente, a cada vez que se liga
estação, os destaques e frequências para cada o computador.
cidade com emissão em FM. Há também um
link para a escuta da emissão em directo, um http://www.bestrock.iol.pt
scroll com o nome da música e do artista
que está a tocar e estão disponíveis infor- O website da Best Rock tem uma apre-
mações do estado do tempo e do trânsito. sentação gráfica estimulante, com os conteú-
O menu de conteúdos está sempre disponí- dos organizados de forma acessível. Corres-
vel, facilitando a navegação pelo site. Existe ponde às principais características (escuta on-
um link para o programa da manhã (há line; informação sobre o nome da música e
igualmente várias referências a este progra- do artista que está a tocar; informações sobre
ma em todo o website) e para o principal a programação, música da estação; notícias
passatempo deste programa. Estão disponí- de música; tops e passatempos), e oferece
veis nesta primeira página links para o top vantagens adicionais, como a possibilidade
de músicas, votações (sondagens e top de participar nos passatempos a decorrer e
musical), divulgação de acontecimentos (da pesquisar os temas musicais músicas que
responsabilidade dos utilizadores), artistas em tocam ou já tocaram, assim como uma
destaque, notícias do mundo da música e listagem dos artistas rock.
contactos da estação, são alguns dos aspec- A possibilidade de «espreitar» aqueles que
tos no menu e na página de entrada da Mega. fazem a rádio é um dos aspectos do menu
As «Karas» da estação também estão principal. Cada espaço de emissão tem uma
presentes, numa página com as fotografias página, com informações sobre as pessoas
e as principais características dos animado- por trás da voz. O site disponibiliza as
res. Mas ao contrário da maior parte das frequências da estação para as diferentes
páginas das outras estações, a interactividade cidades do país e na página inicial há links
não é estimulada pela facilidade de acesso para alguns programas específicos, como o
ao endereço de correio electrónico de cada «Homem que Mordeu o Cão» ou a «a Hora
uma das figuras desta galeria. Facto que aliás, do Lobo», que no site tem um espaço para
é comum às restantes páginas, apresentando a recepção de maquetes para avaliação pelo
apenas o contacto institucional e o endereço responsável do programa. A interactividade
de correio electrónico geral. é estimulada pela facilidade de acesso ao
Assume-se claramente como estação endereço de correio electrónico de cada um
musical, procurando reflectir no website os dos radialistas, e pela sala de conversação
principais aspectos desenvolvidos em ante- que se apresenta como uma das formas mais
na. Está muito virado para o aspecto pro- fáceis e rápidas de interagir com a antena
mocional que a Net proporciona às estações da rádio e os restantes ouvintes.
de rádio, procurando o seu desenvolvimento A fidelização dos utilizadores é um
enquanto fonte de informação musical, artís- aspecto cada vez mais importante para as
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 439
y prácticas, tiempo dedicado a la preparación directrices definidas sino que se posee una
y al estudio de la asignaturas y los exámenes. naturaleza flexible. Por lo que el desarrollo
Cabe resaltar que este sistema permite de habilidades ha de adaptarse a las
abordar la enseñanza no sólo desde la características y condicionantes de cada área
transmisión y aprendizaje de contenidos, sino científica. Por tanto, resulta conveniente
que aporta un nuevo enfoque basado en el reflexionar sobre las habilidades que han de
desarrollo de competencias y habilidades, fomentarse en los comunicadores desde la
tales como, la capacidad investigadora, el formación universitaria.
trabajo en grupo, el auto-estudio, la disciplina
de trabajo. Esto queda explícitamente Modelos de formación
expresado en la propuesta de la Conferencia
de Rectores de Universidades Españolas La formación de comunicadores no ha
(CRUE) de 2001, a saber3: permanecido al margen del sistema de
formación, más o menos generalizado, basado
“...la relevancia social de los estudios en el mecanicismo, la memorización, y una
dependerá en gran medida de la forma de enseñanza centrada en la transmisión
calidad de la educación recibida, de de contenidos más que el desarrollo de un
la diversidad y flexibilidad de los proceso de enseñanza-aprendizaje. Siendo así,
programas con múltiples punto de no es infrecuente que muchos autores y en
acceso y salida, del desarrollo de diversos foros del ámbito de la Comunicación
aptitudes y habilidades para la se haya criticado y analizado de forma reiterada
comunicación, la capacidad de esta problemática.
jerarquizar la información, y el Diversos enfoque o modelos pedagógicos
trabajo en equipo”. han existidos en la formación de
comunicadores. Uno de ellos es el enfoque
El ECTS se define como un sistema que enciclopédico, formación que persigue que
combina una metodología de formación el estudiante posea un conocimiento de
vertical y transversal. Es vertical en la medida diferentes ámbitos del saber, logrando así,
que persigue el dominio de unos egresados con un perfil más de eruditos que
conocimientos que se desarrollan a través de de comunicadores. Otro método de formación,
los programas de las asignaturas y módulos deriva de un enfoque del papel del
de contenidos; transversal, pues fomenta el comunicador, socialmente activo y
desarrollo de aptitudes y actitudes a través transformador, con esta visión la formación
del sistema antes citado. se orienta hacia una vertiente humanista y
La definición de competencias y social. Existe una corriente opuesta, en la que
habilidades4 en el contexto educativo ha sido el proceso formativo intenta abstraerse del
abordado por diversos autores e instituciones. entorno, rehuyendo así de la visión crítica
A modo de se puede citar las competencias e ideológica que necesariamente está presente
definidas por la Scottish Further Education en la práctica de la comunicación. La
Unit5, a saber, habilidades de comunicación formación con carácter neutral se centra, así,
oral y escrita; habilidad numérica, tanto en en una formación instrumental-cultural.
la utilización de los números como en el uso La corriente tecnicista, representa una
de gráficos, resolución de problemas, esto es, práctica formativa errónea. La misma se
el desarrollo del pensamiento crítico, la manifiesta en un tratamiento sesgado a favor
capacidad de organización y planificación, y del dominio de técnicas y de una formación
de evaluación y análisis; aplicación de orientada a la práctica profesional olvidando
tecnologías de la información; y la capacidad el contexto de enseñanza, la universidad y
de trabajo en grupo. con ello el resto de objetivos socio-culturales
La definición del Espacio Europeo de que posee esta institución. En esta visión
Enseñanza Superior, no presupone, y así se reduccionista prevalece el acercamiento al
explicita en diversos documentos del mercado laboral.
Parlamento Europeo, una aplicación Más allá de estas críticas, el gran debate
burocrática, rígida e imparcial de las de la formación en estos momentos transcurre
COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 445
El estudio de la lengua latina es, ante todo, se concibe según el método de formación
tener las bases para conocer la historia y tradicional y no en una formación basada en
evolución de la lengua, en general y de el desarrollo de destrezas y habilidades.
nuestra propia lengua, en particular. Pero es Existen diversos modelos que explican la
mucho más que eso, pues el estudio del latín enseñanza de habilidades de información,
es a su vez una combinación entre una sólida entre ellos el Modelo de Marland (Reino
formación cultural y un marco para el Unido, 1981); el modelo de Kuhlthan
desarrollo de habilidades y aptitudes (Estados Unidos, 1997) y el Modelo
relacionadas con el fortalecimiento de la PLUS(Purpose, Location, Use and Self-
inteligencia y la capacidad reflexiva. Evaluation) de Herring. Se toma como marco
El estudio del léxico, declinaciones, conceptual para definición de dichas
sufijos, prefijos y la historia de los términos habilidades esbozadas en el Tercer Encuentro
favorece, en primer lugar, una habilidad que sobre el Desarrollo de Habilidades
posibilita el crecimiento y enriquecimiento Informativas, celebrado en México se aborda
del vocabulario. El estudio de la lengua y este tema en el contexto universitario, que
la cultura permite contar con recursos bien cabe aplicar con especial énfasis en el
expresivos y figuras que hacen mejoran la campo de la formación de comunicadores.
transmisión y contextualización de ideas. El A saber:
estudio y uso del latín, facilita la comprensión a) Habilidades para identificar la
e inferencia del significado de palabras y naturaleza y alcance de una necesidad de
contextos desconocidos. información. Esto es, que el estudiante pueda
El estudio de la lengua latina desarrolla organizar un tema de investigación,
la facultad de la memoria, la imaginación, planteándose las interrogantes en forma de
el hábito de investigación pues favorece el conceptos estructurados jerárquicamente, a la
adiestramiento en la búsqueda de la génesis vez sea capaz de establecer los límites,
de las palabras y de las realidades que rodean alcance y objetivos reales de sus necesidades
a un término. Su estudio significa además de información. Y con ello lograr una
un importante refuerzo para el aprendizaje orientación efectiva de la búsqueda de
y dominio de la lengua materna. Más aún información.
es útil para el estudio de lenguas foráneas b) Habilidades para buscar y recuperar
y no sólo las de origen romance directo, sino información. Lo cual significa el dominio de
para todas aquellas que se han nutrido de la terminología y las herramientas propias de
palabras del latín tal como el inglés o el la búsqueda y recuperación de información,
alemán. siendo capaces de identificar los diferentes
Ello sin considerar que el dominio de la contextos generadores y conservadores de
lengua y la cultura latina permite formar información, se sepan aplicar los
universitarios cultos y con ello mejores conocimientos y habilidades en pos de la
profesionales. recuperación de información, idiomas,
tecnologías, habilidades comunicativas.
La dimensión informacional También es importante que puedan establecer
la búsqueda y recuperación de información
La información es la materia prima de con una visión estratégica.
la comunicación de ahí que el desarrollo de c) Habilidad para valorar la información.
habilidades informacionales es una constante Desarrollar una visión critica sobre la entidad
en la formación de los profesionales de la de las fuentes, así como el resto de aspectos
Comunicación. De hecho, en el caso de que inciden en la calidad de la información,
España, la asignatura Documentación tales como la actualidad, la veracidad, el nivel
Informativa es de carácter troncal lo cual de profundidad en el tratamiento de la
refleja la importancia y el peso de la misma información. Y sobre todo identificar una
en la formación de comunicadores. Sin información fiable y veraz.
embargo, la existencia de ésta no garantiza d) Habilidad para asimilar y hacer uso
en su totalidad el desarrollo de destrezas en de la información. Este es la capacidad que
este sentido. Entre otras cosas porque aún haga posible transformar la información en
448 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Capítulo III
Apresentação
João Carlos Correia
mação com seu pessoal. Um dos quesitos do vaga de “cuidar da imagem” e ‘para isso
ranking era “Clareza e abertura na comuni- utilizaria, particularmente, a promoção de
cação interna”. Apenas quatro entre as listadas eventos, entre outras ações não claramente
não obtiveram a maior pontuação nesse item, especificadas, mas que permitem a visuali-
as cinco estrelas. zação (e não visibilidade) da instituição.
O segmento de assessoria, em expansão, Trata-se de uma imagem externa, para “ser
apresenta-se hoje como um dos principais vista”, para garantir a “boa aparência” e obter
blocos de referência para o exercício das a “boa aceitação” da sociedade, do público
práticas jornalísticas, ao lado dos meios consumidor, dos demais públicos de interes-
impressos, da TV e à frente do rádio. Se- se.
gundo o professor Gaudêncio Torquato (2002: Segundo Jorge Duarte, fica nítida a
78), avançamos muito nas últimas décadas preocupação dos jornalistas em diferenciar
com o crescimento dos negócios, a abertura o papel dos dois profissionais, enfatizando-
do universo de locução e com o fenômeno se que jornalistas “cuidam da informação”
da globalização. Dados consolidados dão e os relações-públicas “cuidam dos relaci-
conta de que o faturamento das 10 maiores onamentos”. Na opinião do autor da pes-
empresas de assessoria atingiu em 2001 o quisa, há convicção entre os jornalistas de
patamar de 500 milhões de reais, o triplo de que o papel do relações-públicas está mais
1997. Já há duas brasileiras entre as 12 vinculado à questão da criação e manuten-
maiores empresas do mundo no ramo. A Casa ção de uma imagem institucional, embora eles
Branca – sede oficial do governo americano não saibam definir com maior rigor e pre-
– gasta por ano 3,5 bilhões de dólares com cisão as tarefas do relações-públicas e suas
estratégias de comunicação, sendo que 1,5 formas de operacionalização.
bilhão de dólares destinados ao relacionamen-
to com os meios. 4. Atribuições e responsabilidades
envolvidos com uma questão polêmica, frase proferida por um de seus principais
geralmente acham que foram traídos pela executivos: “a comunicação não é apenas útil;
insensibilidade do profissional no desenrolar ela é antes de tudo imprescindível”. Dados
da apuração ou na narração do fato. Aquela para ilustrar a evolução e o posicionamento
velha frase se encaixa nessas situações: “a da Rhodia no atual contexto: em 84, quando
culpa é sempre da imprensa”. O jornalista ainda não havia definido a sua “virada de
Alberto Dines (1997: 15) lembra que numa mesa” na comunicação, dos 92 releases
sociedade que busca o seu aperfeiçoamento enviados aos meios impressos, surgiram
não pode haver o espírito de “dedo no apenas 102 páginas. Já em 87, com a nova
gatilho” contra a imprensa, mas sim um política de relacionamento com a imprensa
acompanhamento crítico e atento de sua em andamento, dos 87 releases enviados aos
evolução. Na sua opinião, se um jornal jornais, a empresa ocupou um espaço equi-
cutucou um fato desconfortável não é mo- valente a 231 páginas. Uma demonstração
tivo para que seja criticado ou silenciado, pois clara que a profissionalização dos serviços
o lícito é mandar investigar, apurar e res- proporcionou um melhor aproveitamento dos
ponsabilizar os envolvidos nos atos que textos enviados aos meios de comunicação.
geraram a denúncia. Dines considera que a E daí por diante, a performance da Rhodia
explicação, o desmentido ou uma resposta foi melhorando a cada ano. Em 89, os quase
transparente mesmo não favorável à empresa 100 releases geraram 390 páginas na mídia
são mais dignos que o silêncio imposto pela impressa e 160 minutos de tevê. Já em 91,
omissão ou censura. com a imprensa totalmente entrosada com o
Um bom relacionamento com a imprensa posicionamento da organização, 800 entre-
pode transformar um problema em sucesso, vistas foram solicitadas através de sua as-
assim como a condução apropriada de uma sessoria de imprensa. Ou seja, a Rhodia
queixa pode resultar em aumento de satis-
praticamente não precisou procurar os veí-
fação do cliente. Quem garante é Christopher
culos. Os jornalistas já tinham a empresa
Haskins, chairman da Northern Foods, da
como uma fonte permanente de notícias.
Grã-Bretanha. Mesmo definindo os homens
Exemplos como a Rhodia já fazem parte do
de negócios britânicos como paranóicos e
cotidiano de muitas outras empresas no Brasil,
sigilosos, integrantes de uma cultura de
que preocupadas em sistematizar as infor-
patrocínio e elitismo e muito reticentes nos
mações geradas em seus diversos núcleos e
contatos periódicos com a mídia, Haskins
aperfeiçoar seus relacionamentos não só com
acredita que só através da imprensa é que
a imprensa, mas também com outros segmen-
os políticos e executivos conseguem se
comunicar de uma maneira eficaz com seus tos, têm procurado estruturar ou ampliar suas
eleitores e clientes. participações junto à opinião pública, con-
Este tipo de pensamento, há alguns anos tratando os serviços de profissionais prepa-
muito comum nos países da Europa e nos rados ou empresas bem estruturadas.
EUA, começa a ser absorvido com total
seriedade aqui no Brasil. Experiências recen- 6. A dimensão das razões
tes demonstram isso: a Rhodia S.A. - um
gigante empresarial vinculado ao grupo fran- Demonstra-se assim, que o papel da as-
cês Rhonê-Poulenc - apresentou um ambi- sessoria de imprensa é fundamental na atual
cioso plano de comunicação social desenvol- conjuntura, a fim de profissionalizar fontes
vido a partir da década de 80 e que em pouco e disputar audiências e que impõe novos e
tempo a projetou como uma empresa mo- complexos desafios. As novas tecnologias, a
derna, aberta, sem medo da verdade e dirigida quebra das fronteiras comerciais, a
com uma visão não apenas voltada para mundialização das organizações, os relacio-
situações eminentemente técnicas e burocrá- namentos, as ferramentas e a formação, além
ticas, mas também posicionando-se nos de alguns outros aspectos demonstram uma
principais veículos de comunicação com série de mudanças que tem provocado uma
idéias políticas e sociais que interessam ao reviravolta no mundo da informação e na
país. Marcou sua presença na mídia com uma forma como as empresas lidam com o pro-
460 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
cesso de gerenciamento deste universo. Hoje, não é apenas mais um simples repassador ou
por exemplo, constatamos uma excessiva receptor de informações, mas sim aquele que
oferta de informação e uma pulverização de busca condições para se inserir como gestor
públicos e meios. Lidamos com um de informação, em um processo dinâmico,
vastíssimo horizonte de mídias de todos os novo e desafiador.
tipos e tamanhos, dos jornais de comunida- As assessorias de imprensa se expandi-
des às grandes redes de comunicação espa- ram principalmente nas últimas décadas. O
lhadas pelo mundo, das redes de informação crescimento se deu na atualidade, em função
das ONGs às agências on-line dos jornais. da expansão dos negócios, através de incor-
E se as empresas estão irremediavelmente porações, fusões e que com isso consequen-
ligadas ao mundo da informação, o que é temente as empresas passaram a ter uma
preciso é melhorar a qualidade da comuni- maior necessidade de comunicação, bem
cação que se pratica, torná-la cada vez mais como se definiu uma abertura do universo
estratégica, oportuna, coerente com os ne- de locução, onde os meios de comunicação
gócios e os valores de cada organização. O saíram de um discurso autoritário para um
que só se faz com organizações cada vez mais discurso muito mais democrático, denunci-
integradas à vida social, atentas ao seu correto ando escândalos e corrupções não só das
posicionamento, coerentes com suas políti- malhas da administração pública como tam-
cas. A comunicação deve ser o resultado de bém dos negócios ilícitos das empresas
uma postura empresarial possível de ser privadas. Isto obrigou as empresas a serem
apresentada e justificada junto à sociedade. mais transparentes para a sociedade. As
Perde poder na atualidade o antigo setor posturas low profile estão sendo substituídas
de comunicação como único depositário da pelas posturas high profile. Um terceiro fator
informação a ser transmitida à mídia, e identificado, o fenômeno da globalização,
ganham destaque a própria organização e pois cada vez mais as empresas e os negó-
todos os seus componentes, que estão o tempo cios estão transnacionais. Com os países
todo interagindo com o mercado e a própria “derrubando” suas fronteiras do ponto de vista
imprensa. Para os profissionais que estão político e econômico isto cria, de certa forma,
atuando na área, o grande desafio apontado a necessidade de uma teia de organização
é o de qualificar a informação disponível, global, uma malha mais abrangente. O que
reconhecer a pluralidade dos públicos, imediatamente obriga as empresas a reagir
posicionar corretamente a organização junto com intensidade aos fenômenos de mercado.
aos meios de comunicação dentro de um Através de uma competente administra-
projeto sistemático e permanente, que englo- ção das informações, uma organização ne-
be preceitos éticos bem definidos, falas cessita de um bom trabalho de comunicação
programadas e ajustadas, uniformes e tem- desde o momento em que é criada e que
peradas com uma boa cultura de comunica- conforme se amplia expande o seu sistema
ção. A cada dia se define um consumidor de comunicação. Ao mesmo tempo, as gran-
de informação/produtos/serviços/cidadão des organizações partiram na frente e se
muito mais exigente, mas que é preciso consolidaram, mas cada organização precisa
cultivar e conquistar. E isto depende eviden- criar a sua identidade, independente de seu
temente de uma boa formação dos profissi- porte, planejando uma intensa comunicação
onais. Há espaço para oportunidades cada vez para tipificar produtos e serviços diferenci-
mais interessantes, mas é preciso muita ados.
responsabilidade, eficácia e criatividade. É Ficou caracterizado que a informação é
preciso também que se reflita a respeito de vital para a vida das organizações, pois as
projetos, estratégias e conceitos. É preciso empresas precisam saber o que está acon-
rever rapidamente conhecimentos e questi- tecendo na sociedade. É a partir destas
onar ações e ferramentas a cada situação possibilidades que são definidas estratégias,
nova. Antes de tudo, é preciso não temer táticas, processos, métodos e filosofias.
o novo, arriscar e ousar. Ao tentar reconhe- Ao valorizar a importância da formação
cer os novos espaços de atuação, o estudo e da ética, foi detectada a necessidade de uma
em questão identificou um profissional que postura de informação clara, transparente,
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 461
objetiva e concisa por parte do profissional, onar a chamada revolução das fontes.
mediador, procurando sistematicamente ajus- Revolução que rompe as fronteiras do
tar os interesses da sociedade aos interesses jornalismo, impondo aos processos sociais
da organização. É preciso definir melhor as uma nova linguagem, tão vigorosa quanto
formas de comunicação a serem utilizadas, eficaz: a linguagem do acontecimento, com
prevendo principalmente a compatibilização a qual se produz a atualidade, dinâmica
do código do consumidor com as informa- complicada da qual o jornalismo faz parte.
ções que saem das organizações. O potencial transformador dos aconteci-
Com a consolidação da democracia e a mentos através da atualidade tem, no sen-
abertura da economia ao mercado internaci- tido jornalístico do conceito, a dimensão das
onal, novas regras se definiram para as razões, que mais não é do que a dimensão
empresas, instituições e pessoas públicas. A ética. O direito à vida, à liberdade, à ver-
comunidade e seus vários segmentos assu- dade, à informação; à honra e à dignidade;
miram lugar de destaque e comunicar-se o direito à casa, ao voto, à justiça, à edu-
deixou de ser uma opção, transformando-se cação, ao trabalho, à saúde; o direito de falar,
em necessidade, obrigação e imposição de de ir e vir, de silenciar, de estar só e de se
um relacionamento onde credibilidade, opor- associar. Na dimensão das razões está a fonte
tunidade e reconhecimento são fundamentais. dos critérios para atribuir significados aos
Responder prontamente às demandas que são acontecimentos e às transformações que eles
colocadas pelos usuários é questão primor- produzem ou podem produzir.
dial, já que cada vez mais torna-se difícil Na perspectiva pragmática, contribuir para
manter uma boa imagem omitindo-se em a credibilidade da notícia é a maneira mais
momentos de crise, deixando sem respostas inteligente de, na contrapartida, as fontes
as queixas e reclamações, fugindo do escla- institucionais se beneficiarem do jornalismo
recimento de problemas que afetam a comu- e do sucesso da sua vocação perseverante.
nidade. Tudo isso, exige um relacionamento Mas a razão mais forte é de natureza ética
cada vez mais profissional com os públicos, e tem nome que identifica um dos mais
e principalmente com a utilização correta dos preciosos valores universais: direito à infor-
meios de comunicação. mação, o direito de informar e ser informa-
Planejar de maneira sinérgica e integra- do, de opinar e receber opiniões - que não
da, tornar equilibrados os fluxos, tornar pertence aos jornalistas, nem à imprensa, nem
simétricos o institucional e o comercial, às fontes, mas à sociedade e a cada cidadão.
valorizar e enfatizar canais participantes, Existe, portanto, o dever de socializar,
estabelecer uma identidade forte e transpa- além das informações, as opiniões, os saberes
rente para a projeção externa e reconhecer e os conhecimentos que ajudam à compre-
a comunicação como poder organizacional ensão da realidade ou a transformá-la para
também foram objetos identificados pela melhor. Essa é a vertente que legitima a
pesquisa como fundamentais para que as atuação profissional dos jornalistas nas ins-
empresas possam alcançar o que Chaparro tituições, produtoras interessadas de aconte-
denomina de a dimensão das razões, dimen- cimentos e conteúdos. E que deu sentido a
são de natureza ética e que pode proporci- esta pesquisa.
462 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
apurar a pertinência de pressupostos teóricos tões ‘como’ e ‘por quê’ certos fenô-
de Marshall McLuhan2, segundo os quais, a menos ocorrem, quando há pouca
partir de um novo meio, os anteriores en- possibilidade de controle sobre os
contram para si novas configurações; e eventos estudados e quando o foco
entender o significado da própria rede de interesses é sobre os fenômenos
mundial de computadores na produção jor- atuais, que só poderão ser analisados
nalística da atualidade. A validade desta dentro de algum contexto de vida
técnica é pertinente ao que se pretende apurar, real”.
uma vez que “A principal vantagem da
pesquisa bibliográfica reside no fato de Ao enfocar as intenções deste método de
permitir ao investigador a cobertura de uma pesquisa, Gil5 afirma que “os propósitos do
gama de fenômenos muito mais ampla do estudo de caso não são os de proporcionar
que aquela que poderia pesquisar conhecimento preciso das características de
diretamente”3. uma população a partir de procedimentos
Ao lado da pesquisa nos chamados livros estatísticos, mas sim o de expandir ou ge-
de referência, procedeu-se ainda a um levan- neralizar proposições teóricas”. Com o autor,
tamento da discussão que o tema tem ensejado também concorda Godoy, ao afirmar que:
na própria mídia impressa, observando-se os
principais textos publicados por especialistas “Ainda que os estudos de caso sejam,
em jornais de grande circulação. Periódicos em essência, pesquisa de caráter
especializados, jornais diários, revistas de qualitativo, podem comportar dados
informação semanal e sítios de internet foram quantitativos para aclarar algum as-
assim rastreados com o objetivo de se buscar pecto da questão investigada. É im-
a maior atualidade possível para os dados portante ressaltar que, quando há
recolhidos, incluindo-se levantamentos análise quantitativa, geralmente o
sociométricos realizados por institutos de tratamento estatístico não é sofistica-
pesquisas. Afinal, ainda segundo Gil, “As do”.6
revistas constituem a principal fonte de
divulgação de pesquisas científicas”, enquanto Partindo-se, então, do pressuposto de que
que os jornais “podem ser bastante úteis numa o estudo de caso “é caracterizado pelo es-
pesquisa, à medida que proporcionam infor- tudo profundo e exaustivo de um ou de
mações atualizadas”. poucos objetos, de maneira a permitir o seu
Para o estudo de caso, escolheu-se o conhecimento amplo e detalhado”7, a citada
ambiente em que as hipóteses aqui levanta- empresa de comunicação foi escolhida por
das pudessem ser testadas, mesmo reconhe- inserir-se no universo típico de suas
cendo-se que a dificuldade de sua genera- congêneres.
lização seja uma das principais limitações No estudo de caso, duas técnicas de
apresentadas por este método. “O propósito levantamento de dados foram adotadas: 1)
fundamental do estudo de caso (como tipo Levantamento espacial de conteúdo da pu-
de pesquisa) é analisar intensivamente uma blicação impressa “Correio Popular”, de onde
dada unidade social, que pode ser, por se retirou dados de caráter quantitativo,
exemplo, um líder sindical, uma empresa que oferecendo a categoria de análise “cartas dos
vem desenvolvendo um sistema inédito de leitores”; e 2) Entrevistas semi-estruturadas
controle de qualidade, o grupo de pessoas com jornalistas da publicação cujas carreiras
envolvido com a CIPA (Comissão Interna de tiveram início no período anterior à adoção
Prevenção de Acidentes) de uma grande da Internet no referido diário, onde se apli-
indústria que apresenta baixos índices de cou o método de pesquisa qualitativa, dando
acidentes de trabalho” 4 , explica Arilda origem à categoria “jornalistas: os impactos
Schmidt Godoy. Ainda segundo a autora, em andamento”, com sete sub-categorias de
análise.
“O estudo de caso tem se tornado a Em relação ao levantamento espacial de
estratégia preferida quando os pesqui- conteúdo, procedeu-se a uma detalhada
sadores procuram responder às ques- catalogação das cartas de leitores publicadas
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 465
bem planejada, o espaço editorial que cada acessá-los, diferentemente do que ocorre com
editoria ocupará na edição em fechamento. os meios eletrônicos convencionais.
Um assunto internacional de grande relevân- A segunda subcategoria de análise
cia, como foi o caso dos atentados em 11 registrou ter a internet levado definitivamen-
de setembro de 2001 na cidade de Nova York, te o leitor para dentro do jornal, papel que
obrigou a abertura de mais espaço na editoria o telefone – por mais que se tentasse – não
internacional, situação análoga a tantas outras conseguiu cumprir. O telefone exigia que,
de interesse do jornal, que foram percebidas dentro da redação, alguém estivesse dispo-
graças ao advento da rede mundial de com- nível para atender, anotar sugestões ou sim-
putadores. plesmente ouvir uma crítica do público no
Também na categoria das grandes trans- exato momento da ligação. Como se sabe,
formações que a internet trouxe ao jornalis- na maior parte do tempo o jornalista está em
mo impresso, os jornalistas incluíram a reuniões de trabalho ou está na rua, levan-
adoção do email nas redações, ferramenta que tando dados para a produção diária, quando
permite um contato direto, para troca de o interessado deixava (ou evitava deixar) re-
correspondências, entre jornalista e leitor, cado com a telefonista. A sincronia era difícil,
tanto para receber denúncias, críticas e o que desestimulava um contato maior entre
sugestões, como para estabelecer um diálogo as partes. O email mudou esse estado de
entre as partes. Siqueira costuma responder, coisas. No “Correio Popular”, as correspon-
de forma individualizada, os emails dos dências à redação foram quintuplicadas depois
críticos de sua coluna política, coisa que não da internet, e 80% das que hoje chegam o
faria se tivesse que escrever cartas conven- fazem por meio da rede de computadores.
cionais para os leitores. As estatísticas apontam que há pelo
A propriedade multiplicadora da internet menos 200 mil internautas na cidade de
também “modificou a carga e especialmente Campinas, contra uma tiragem média de 45
o in-put de informação”18 que chega ao jornal. mil exemplares diários do “Correio Popu-
Os jornalistas recebem hoje muito mais lar”. O público do jornal foi, portanto,
informações do que recebiam até então em potencializado pelo sítio de acesso gratuito
seus ambientes de trabalho. Se antes as que a publicação mantém em seu portal
correspondências chegavam apenas aos edi- “Cosmo”. Ali estão disponibilizadas as
tores, hoje elas chegam (de forma multipli- notícias mais importantes do dia e os textos
cada) potencialmente a todos os jornalistas de todos os colunistas do jornal, bem como
da casa. Carvalho, por exemplo, em atividade links para envio de email a todos os pro-
que desenvolve paralelamente, envia releases fissionais da casa. Há casos já observados
de assessoria de imprensa às chefias e aos de emails remetidos ao jornal, durante a
repórteres. Essa carga extra de informação madrugada, pedindo correção de dados
circulante representou também uma sobrecar- existentes na versão on-line, antes mesmo
ga de trabalho para os que recebem tais da circulação do jornal em papel.
informações, mas garante uma circulação Essa multiplicação do público não ficou
mais livre e um controle descentralizado dos restrita à área geográfica dos limites de
informes que chegam aos jornais. Campinas. Não é raro os jornalistas do
O impacto relatado acima é visto, con- “Correio” receberem emails de leitores re-
tudo, como apenas uma parte inicial da onda sidentes em localidades aonde não chega a
de transformações que ainda continuará atin- publicação impressa. Até mesmo internautas
gindo o jornalismo impresso. Há uma sen- de outros países, como Canadá, Estados
sação generalizada de que a internet afetará Unidos e África do Sul, já chegaram a enviar
o meio impresso com muito mais impacto emails comentando reportagens disponibi-
que os meios de comunicação que a prece- lizadas no sítio. Tratam-se de pessoas que,
deram e fizeram incursões no campo do de alguma maneira, ainda mantêm um vín-
jornalismo – o rádio e a televisão. O fato culo que um dia criaram com a cidade de
se deve à capacidade que têm as publica- Campinas. É o reforço da tese da
ções virtuais de armazenar dados e torná-los desterritorialização do público, permitida pela
disponíveis quando os leitores quiserem rede mundial de computadores.
468 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
grau de retorno para os interessados em uma sive, alterar uma página momentos antes de
manifestação da empresa ou adoção de sua impressão. No “Correio Popular”, chega-
medidas por parte do jornal. Os emails tra- se mesmo a fazer reuniões numa espécie de
tam de toda sorte de temas, incluindo pedido chat para encaminhar a produção do dia –
de informação complementar a reportagens esteja cada participante onde estiver. O
publicadas. colunista político, por sua vez, mesmo es-
A coluna de política recebe quase 1.000 tando em casa, consegue agora manter com
mensagens ao mês, um número considerado suas fontes, via email, o mesmo contato que
grande para um jornal do porte do “Correio manteria se estivesse na redação, também
Popular”, sediado em cidade de porte médio. atualizando-se na leitura de outras publica-
Na forma de cartas ou telefonemas, o editor ções via net e remetendo sua produção editada
da coluna nunca recebera, em período an- para a redação do jornal ao final do expe-
terior à rede, tantas manifestações. Por sua diente25.
vez, somente no mês de novembro de 2001, A facilidade proporcionada aos profissi-
a repórter especial (Costa) recebeu 735 onais de imprensa fica potencializada quan-
correspondências de seus leitores, todas do se observa a situação que enfrenta a editora
através da internet. Entre os emails, há 25 das cartas dos leitores, que devido às suas
propondo matérias sobre meio-ambiente e particulares limitações de ordem física já se
outros 17 sugerindo temas em astronomia. prepara para, num futuro não muito distante,
Antes, essa avalanche de correspondências evitar o desconforto de ter que diariamente
era impraticável. Aqui há duas fortes evidên- sair de casa e dirigir-se à redação do jornal.
cias: a internet aumentou o volume de “A internet vai ser muito boa neste sentido,
mensagens enviadas à publicação e permitiu pois vai me dar a mobilidade que eu vou
maior participação do leitor na produção da precisar para poder continuar trabalhando”26.
pauta. Esse tipo de teletrabalho terá condições de,
A sexta subcategoria de análise apurou seguramente, incorporar ao ramo um contin-
que, em termos de rotina de trabalho, a gente inestimável de profissionais que dei-
internet já permitiu uma redução do tempo xam de trabalhar devido a deficiências fí-
de permanência do profissional de imprensa sicas que impedem suas locomoções. Em
nas redações do jornal22. Este sempre foi um sentido oposto, o risco que se corre é o de
grande problema para a categoria, que conta levar ao afastamento dos profissionais que,
com jornada regulamentar de trabalho de 5 reunidos no ambiente de trabalho, produzem
horas diárias (mais 2 horas extras legais), um clima que dá uma espécie de “espírito
tempo insuficiente, na maioria das vezes, para próprio” a cada publicação, considerado vital
acompanhar o desenvolvimento de um fato para a inspiração de alguns27, especialmente
jornalístico ao longo do dia. Ao assumir daqueles que se iniciaram na profissão nos
funções do editor que produz e orienta pautas, tempos anteriores ao advento da rede mun-
o problema se agrava, pois a jornada de dial de computadores.
trabalho tende a se esticar, com um intervalo Não há dúvida, no entanto, de que as
de tempo raramente aproveitável para outras facilidades permitidas pela internet ajudam
atividades23. A má qualidade de vida, em o profissional a vencer limites e a ganhar
decorrência do estresse e da presença cons- pontos em termos de qualidade de vida, mas
tante exigida no ambiente de trabalho, sem- também colaboram para com a multiplicação
pre foi marca registrada desta profissão, uma do capital. O computador, aliado à internet,
das mais beneficiadas pela nova tecnologia tornou muito mais rápido e barato produzir
de comunicação, visto trabalhar diretamente jornais. “Se antes a gente tinha condições de
com este campo de produção. fazer uma matéria por dia, agora pode fazer
Agora se tornou possível ao editor ori- duas ou três”28.
entar, a partir de sua residência, os passos A sétima categoria de análise apontou que,
iniciais da rotina diária do jornal. De forma no início, a nova tecnologia trouxe aos
otimizada em relação ao telefone ou ao fax24, jornalistas a expectativa de que os jornais
o editor dá sugestões, aponta rumos, desloca impressos, num futuro próximo, estariam com
recursos ou edita textos e consegue, inclu- os dias contados. Em relação aos jornais on-
470 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Bibliografia _______________________________
1
Pontifícia Universidade Católica de Cam-
Gil, Antonio Carlos, Métodos e técnicas pinas (SP – Brasil).
2
, Marshall McLuhan, Understanding Media:
da pesquisa social, 5.ed.. São Paulo: Atlas,
os meios de comunicação como extensões do
1999. homem, Trad. Décio Pignatari, São Paulo, Cultrix,
Godoy, Arilda Schmidt, Pesquisa Quali- 1969, p. 199.
tativa: tipos fundamentais, Revista de Admi- 3
Antonio Carlos Gil, Métodos e técnicas da
nistração de Empresas. São Paulo, mai./jun. pesquisa social, São Paulo, Atlas, 1999, p. 78.
1995.V. 35, n. 3, p. 20-29. 4
Arilda Schmidt Godoy, “Pesquisa Qualita-
Kamel, Ali, “Vida longa para os jornais tiva: tipos fundamentais”. Revista de Administra-
impressos”, disponível em http:// ção de Empresas, São Paulo, mai./jun. 1995. V.
www.oglobo.com.br até fevereiro de 2001. 35, n. 3, p. 20-29
5
Antonio Carlos Gil, ob. cit., p. 73
Lakatos, Eva Maria e Marconi, Marina 6
Arilda Schmidt Godoy, ob. cit., p. 23.
de Andrade, Metodologia do trabalho cien- 7
Antonio Carlos Gil, ob. cit., p. 72-73
tífico: procedimentos básicos, pesquisa bi- 8
Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade
bliográfica, projeto e relatório, publicações Marconi, Metodologia do Trabalho Científico:
e trabalhos científicos, 4.ed., São Paulo, Atlas, procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica,
1992. projeto e relatório, publicações e trabalhos ci-
McLuhan, Marshall, Understanding entíficos, São Paulo, Atlas, 1992, p. 107.
9
Media: os meios de comunicação como Nelson Homem de Mello, em entrevista
gravada, ao autor, 17/jan/2002 .
extensões do homem, trad. Décio Pignatari, 10
Edmilson Siqueira, em entrevista gravada,
São Paulo, Cultrix, 1969.
ao autor, 29/nov/2001.
11
Edmilson Siqueira, idem
Entrevistas 12
Marcelo Pereira, em entrevista gravada, ao
autor, 11/dez/2001.
Carvalho Jr., Dario José. Entrevista 13
Marcelo Pereira, idem
14
concedida no campus da Pontifícia Univer- Dario José de Carvalho Jr., em entrevista
sidade Católica de Campinas às 11 horas do gravada, ao autor, 22/nov/2001.
15
dia 22 de novembro de 2001. Maria Teresa Costa, em entrevista gravada,
ao autor, 29/nov/2001
Costa, Maria Teresa. Entrevista concedi- 16
Maria Teresa Costa, idem.
da na sede do jornal “Correio Popular”, da 17
Kátia Fonseca, em entrevista gravada, ao
cidade de Campinas (SP), em 29 de novem- autor, 16/jan/2002.
bro de 2001. 18
Mario Evangelista, em entrevista gravada,
Evangelista, Mário Alberto. Entrevista ao autor, 8/nov/2001.
19
concedida na sede do jornal “Correio Popu- Nelson Homem de Mello, em entrevista
lar”, da cidade de Campinas (SP), em 8 de citada.
20
novembro de 2001. Kátia Fonseca, em entrevista citada.
21
Fonseca, Kátia. Entrevista concedida na Kátia Fonseca, em entrevista citada.
22
Mario Evangelista, em entrevista citada.
sede do jornal “Correio Popular”, da cidade 23
Dario José de Carvalho, em entrevista
de Campinas (SP), em 16 de janeiro de 2002. citada.
Mello, Nelson Homem de. Entrevista 24
Nelson Homem de Mello, em entrevista
concedida na sede do jornal “Correio Popu- citada.
lar”, da cidade de Campinas (SP), em 17 de 25
Edmilson Siqueira, em entrevista citada.
26
janeiro de 2002. Kátia Fonseca, em entrevista citada.
27
Pereira, Marcelo. Entrevista concedida na Maria Teresa Costa, em entrevista citada.
28
sede do jornal “Correio Popular”, da cidade Maria Teresa Costa, idem.
29
Marcelo Pereira, em entrevista citada.
de Campinas (SP), em 11 de dezembro de 30
Edmilson Siqueira, em entrevista citada.
2001. 31
Ali Kamel, “Vida longa para os jornais
Siqueira, Edmilson. Entrevista concedi- impressos”, http//:www.oglobo.com.br, disponível
da na sede do jornal “Correio Popular”, da em fevereiro de 2001.
cidade de Campinas (SP), em 29 de novem- 32
Nelson Homem de Mello, em entrevista
bro de 2001. citada.
472 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 473
lei que regule a acção do governo do povo, habermasiano, implicavam um contexto social
torna-se um território de luta de demagogos que privilegiava a autoridade de um espaço
pela conquista da atenção e da paixão desse que o filósofo alemão identificou como sendo
mesmo povo7. Por que é que há-de consi- o que caracterizava o conjunto de trocas
derar-se um mal social o exercício do poder comunicacionais da sociedade civil, sendo
que envolva critérios de legitimação que esta percepcionada como uma instituição
passam pela adulação das paixões? Porquê, autónoma relativamente ao poder público do
em última análise, fazer-se coincidir, numa Estado e em relação ao poder da esfera
linha teórica muito forte desde a antiguidade, privada da família (Habermas, J., 1962:149-
o poder do governo “de muitos” com um 167). Autoridade essa reconhecida como
poder acéfalo e facilmente controlado por poder defendido e reclamado como fonte de
quem melhor souber fazê-los reagir a deter- legitimação nas novas Constituições, por
minados tópicos? 8 A questão interessa-nos contraponto ao exercício de um poder po-
porque o argumento mais difundido nas lítico autoritário ou totalitário. O conceito
sociedades democráticas relativamente ao passou a indicar que as avaliações da acção
poder dos meios de comunicação de massas, do governo e a sua publicitação constituem
é o de que as escolhas do público são matéria que se autonomiza em relação à
soberanas, e de que as audiências são legí- opinião pública veiculada pelas estruturas do
timas emanações do seu poder crítico segun- poder, como o parlamento ou os tribunais
do o critério da livre concorrência. Esta ideia (Habermas, J., 1962:99-148).
tem uma grande força retórica, mas impor- Hoje pode definir-se democracia como “o
tará ainda reflectir sobre uma outra realida- poder de públicos que fazem juízos em
de: a que defende a presença de uma regu- público” (Keane, 1991:182). Mas qual é o
lamentação que garanta o respeito universal espaço público em que esses públicos, por
pela igualdade e liberdade na procura de força da maioria, revelam os seus juízos? E
revalorizar o poder real da opinião pública9. deixou o Estado democrático, por definição
um Estado cuja origem radica na represen-
1. Definição de conceitos tação da vontade pública geral por eleição
segundo o sufrágio universal, de representar
O conceito de opinião pública no sentido a opinião pública, no exercício das suas
em que admite como descrição a ideia de competências legislativas e executivas?13
que se forma a partir do momento em que A legitimidade de uma acção democrá-
um cidadão passou a poder intervir de forma tica excede a do acto de legitimação da
directa na vida política ao avaliar os actos representação por acto eleitoral, nesse entre-
do seu governo em público, é um conceito meio surgiram espaços de comunicação que
moderno10 que assenta em pressupostos de responderam, ainda que recorrendo à
direitos e competências naturais e inalienáveis mediatização, às necessidades de fazer uso
de todos os seres humanos defendido clara- da razão pública das massas. Transformou-
mente por Kant11. Sabemos que este conceito se a democracia, e com ela o conceito de
ganha valorização filosófica, política e his- Estado, e transformou-se o conceito de sujeito
tórica com o advento das revoluções liberais que usa a sua razão e procura públicos
que potenciaram a criação de Estados de esclarecimentos, indo privilegiar como fórum
direito, e com a crescente tomada de cons- de discussão, por questões técnicas que
ciência de que ao indivíduo e ao grupo asseguram um espaço cuja presença se
compete controlar, influenciando, as acções globalizou, os media.14 Conscientes da crítica
do Estado. Essa influência pode traduzir-se que muitos dos autores partilham alertando
pela livre troca de ideias entre si e pelo pedido para o domínio do pseudo-público (Habermas,
de esclarecimento crítico acerca da actuação J.,1993:167- 183)) que hoje ocupa o espaço
das instituições, no intuito de vigiar se estas público, não nos é possível identificar o
prosseguem na realização do fim para que declínio de um determinado modelo de
foram eleitas: o interesse público ou o bem público com o esgotamento desse mesmo
comum12. As trocas comunicacionais onde se modelo. Se para os autores precursores de
realizavam essa publicidade crítica, termo Habermas (como Adorno, Horkheimer e
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 475
condições sobre a forma como se exerce esse organização que abriga os interesses do poder
tipo de autoridade.16 O uso do termo “poder” económico.
implica a presença de sujeitos, de uma Quem determina então as acções públi-
interacção mútua e da definição de um cas? Com que legitimidade se exerce esse
conteúdo para essa relação. Quem exerce o poder? David Beetham, opondo-se a Max
poder, quem se sujeita ao poder, como se Weber, diz-nos que um poder é legitimado
apresenta este poder na comunicação de não porque as pessoas acreditam nessa
massas e em especial, o que se estabelece legitimação, mas porque ele pode ser justi-
entre os programadores de televisão e as suas ficado nos termos das suas crenças (Beetham,
audiências. D., 1991:11). Assim, as pessoas reconhecem
Por poder entende-se uma relação de a autoridade de um poder se este se fizer
domínio estabelecida entre dois ou mais reconhecer no quadro dos valores que elas
sujeitos. X será subalterno em relação a Y, partilham. Mas isso deixa-nos sujeitos às
se X reconhecer, se for coagido a reconhecê- circunstâncias históricas da formação da
lo ou for persuadido a reconhecer que Y pode vontade e da opinião pública. E se, de repente,
alterar o seu comportamento. Norberto o sistema de crenças evoluir no ataque aos
Bobbio define assim o poder como “a ca- princípios de uma sociedade democrática? É
pacidade que um sujeito tem de influenciar, aceitável, só porque o quadro de referências
condicionar, determinar o comportamento de se alterou, que esse auditório possa legitimar
um outro sujeito.” (Bobbio, 1999: p.216). O uma outra forma de exercer o poder que se
poder dos meios de comunicação seria então baseie em princípios despóticas? E a pressão
o poder ideológico17 que dos meios de comunicação na constituição
das referências, situa-se a jusante ou a
“se vale da posse de certas formas de montante, das pressões exercidas pelo papel
saber inacessíveis aos demais, de de socialização das instituições estatais que
doutrinas, de conhecimentos, até operam no mesmo sentido? Beetham conside-
mesmo apenas de informações, ou ra que há três condições que têm que estar
então de códigos de conduta, para satisfeitas para que se possa dizer que um
exercer uma influência sobre o com- poder é legítimo: 1. O poder tem que estar
portamento de outrem e induzir os conforme com as regras estabelecidas; 2. As
componentes do grupo a agir de um regras podem ser justificadas num quadro axial
determinado modo e não de de crenças partilhadas quer pelo dominador
outro.”(Bobbio, 1999: p.221). quer pelo subordinado 3. Terá que existir um
consentimento explícito por parte do subordi-
Bobbio não identifica os meios de co- nado relativamente a esta forma de relação
municação como agentes deste tipo de poder, de poder (Beetham, D., 1991:15-25).
mas eu considero que a descrição os engloba Parece-nos que procurar validar assim
também, a par de outros. E o exercício dessa uma forma de poder (não só o poder político
influência atemoriza muitas consciências, já mas qualquer forma de poder) consiste numa
que o auditório que está sob influência é forte demonstração de prova. Pela primeira
numeroso, devido aos meios envolvidos e à evoca-se a validade legal da acção, pela
prática de socialização dos meios de comu- segunda procura-se ver se essas regras as-
nicação já interiorizada nos consumos quo- sentam em crenças que sejam partilhadas
tidianos, e porque o meio se serve de uma pelos sujeitos envolvidos e que acordem
linguagem mais sedutora ao comum dos relativamente (e numa adaptação ao nosso
cidadãos para vender as suas ideias do que tema das categorias de Beetham): a) ao tipo
qualquer outra das instituições de socializa- de autoridade em que assenta o poder (se
ção, as quais têm mais dificuldade em fazer por tradição, por título académico, por com-
passar as suas mensagens (escola, família, petência retórica, etc.), b) sobre os meios que
parlamento, partidos políticos, sindicatos, permitiram à pessoa adquirir as qualidades
igreja, etc.). No entanto, o acesso aos meios para exercer o poder (por cooptação, nome-
e a troca de serviços faz com que este poder ação por provas dadas no exercício das
ideológico esteja dependente do tipo de funções, etc.) e c) sobre os fins para que tende
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 477
16
que analisa a existência de um elo de ligação entre Tratar-se-á de uma discussão acerca das
a audiência (que não é uma realidade redutível razões apresentadas e/ou preconcebidas para o
aos estudos de audimetria) e a opinião pública exercício de tal poder, o qual é praticado na esfera
e os seus efeitos na sociedade democrática. da comunicação social, e mais especificamente da
4
Por legitimação, tomando-se o conceito num televisão, como médium comunicacional que
sentido lato, entende-se aqui o conjunto de razões domina, ainda. Em termos de regulação jurídica,
que preenchem um conjunto de condições reco- este poder, o da Comunicação social está exaus-
nhecidas e aceites pelos interlocutores numa tivamente bem fundamentado e possui um regime
relação de poder. Por poder não entendemos apenas que nos anos mais recentes foi sistematicamente
o que se constrói num espaço de ordem política. renovado com o intuito de aprofundar e fixar de
5
Por cultura política entende-se o conjunto forma mais rigorosa a prática de valores como os
de crenças, símbolos e valores que os indivíduos da liberdade de expressão, pluralismo e rigor de
de uma mesma sociedade partilham acerca do informação (Correia, 2000: vol. I e II), porém este
sistema político (Roskin e outros, 1994:121-141 trabalho irá dar conta da importância de um outro
e Lane e outros, 1996:175-195). plano de análises, onde porventura a doutrina legal
6
Uma razão que manifestamente produz uma busca assento: a dos fundamentos éticos desses
ideologia, a da consagração dos valores tecno-cien- princípios que regulamentam a prática de dar algo
tíficos, que subordina a independência e a competência a ler, ouvir ou ler a alguém. Estamos a um nível
crítica dos indivíduos ao sistema de trocas comerciais. de fundamentação para a qual a discussão acerca
Leia-se, a propósito, as diferenças entre o con- do quadro legal que delimita esta relação de poderes
ceito de liberdade e o da participação do indi- não é suficiente, porque incapaz de pôr como
víduo nos assuntos públicos, dos Modernos em objecto de reflexão as normas de onde parte (leia-
comparação com os Antigos no prólogo da obra se Beetham D., 1991: 3-41 e Habermas,J.,1962:56-
História da Filosofia Política/A liberdade dos 96). Por paralelismo podemos pensar que uma
Antigos por Alain Renaut, assim bem como o comunicação social num regime democrático tem
capítulo preliminar “A política entre a arte e que obedecer aos códigos jurídicos de um Estado
sabedoria”, (Renaut, 1999:23-39). Sobre as “lu- de Direito, mas aqueles não são suficientes para
zes” leia-se o capítulo subordinado ao título “O garantirem uma prática democrática por parte dessa
pensamento político das Luzes” por Alain Renaut instituição. Os dois termos não são sinónimos.
17
e Pierre-Henri Tavoillot no História da Filosofia Leia-se O. Teotónio Almeida que tem um
Política/Luzes e Romantism, (Renaut, 1999:41-85). bom artigo onde explana o conceito de ideologia
7
Cf. Aristóteles, 1998:289-293. (Almeida, T.O., 1995:69-79).
8 18
Ver Canotilho, J. Gomes, 2004; Vargues, Como, no que à televisão diz respeito, a
I.N.,1997. Associação de Telespectadores (ATV).
9 19
No seu livro A Ética da Comunicação e os Direito reconhecido e consagrado na Cons-
Media Modernos, João P. Esteves descreve exem- tituição da República Portuguesa (art. 37º, nº 4), cujas
plarmente a formação deste fenómeno sociológico, formalidades, no caso da Televisão, estão ratificadas
pondo-nos a par das principais teorias que carac- na lei da Televisão art. 53º a 57ª (Sá, 2002:415-420).
20
terizam o tema e apresentando alternativas e indi- A autorização para a divulgação dos resul-
cando vias de realização de uma efectiva razão prática tados implica o seu depósito junto da Alta
em público. Cf. Esteves, 2003: 39-243 e 337-468. Autoridade para a Comunicação Social, a qual tem
10
Ler o artigo onde Kant desenvolve esta ideia por função assegurar uma verificação e avaliação
(Kant, I.,1784:11-19). dos resultados apurados (Correia, 2000:582-583).
11 21
Uma aproximação muito rigorosa ao pen- Leiam-se os artigos em http://www.fcsh.unl.pt/
samento político de Kant pode ler-se em Strauss, docentes/cceia/literacia-iliteracia.pdf e em http://
L.,1987:581-621. observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/cadernos/
12
Habermas nos três primeiros capítulos do cid180720013.htm
22
seu livro Strukturwandel der Öffentlichkeit colige Veja-se o que diz Adorno a este propósito:
a história do conceito e do contexto histórico que Tal como praticamente já não se pode dar um passo
o formou (Habermas, J.1962:13-98. fora do tempo de trabalho sem tropeçar nas
13
Ver um artigo que sintetiza bem as críticas manifestações da indústria da cultura, assim tam-
que têm sido feitas ao estudo de Habermas acerca bém o seus media se adaptaram tão bem uns aos
do espaço público (Garnham, N., 1992:359-376). outros que não deixam espaço onde uma consci-
14
Leia-se o excelente artigo de Wolton a este ência possa respirar e perceber que o mundo deles
respeito (Wolton, D., 1995:167-188). não é o mundo.” (Adorno, 1974: 161-162).
15 23
Eduardo Cintra Torres sintetizou claramen- Leia-se, por exemplo, Adorno, 1974:161-179.
24
te a distinção entre “rating” (audiência de um Explicámos estas questões mais
programa) e “share”, num artigo para o jornal onde detalhadamente em Morgado, I, 2002:1294-1299
escreve, “Público”. Pode ser lido em: http:// e na dissertação de doutoramento subordinada
www.publico.pt/tvzine/critica.asp?id=1244 . ao título Uma Ética para a Política, 2003.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 481
distancia con respecto a la anterior identidad, en casa frente al televisor. Internet, por
por lo que puede considerarse igualmente ejemplo, se convierte en el mando a distancia
marcado por la televisión. Si la televisión en el que se selecciona la programación.
produce lo “inculto”, también produce lo Parecen invertirse así procesos anteriores.
“culto” en la dinámica de la distinción. Lo Antes, lo destacado o famoso en un campo,
que marca la diferencia entre la cultura como como el cultural, iba a la televisión. Los
consumo distintivo y minoritario y la cultura consumidores acudían a la televisión para ver
como expresión del derecho a un gusto es o escuchar lo que no podían ver o escuchar
la televisión. Puede derivarse que la en directo, en el sitio. Ahora, lo destacado en
televisión (o frente a la televisión) genera la televisión configura campos como el cultural.
el sistema de las diferentes concepciones de Los consumidores acuden a los teatros, salas
la cultura y, sin embargo, los integrantes de de cine o de concierto para ver o escuchar lo
ambos polos quedan constituidos en que vieron o escucharon en televisión.
audiencias. Uno de los principales cambios, que
El sistema de la cultura es sostenido muestra el dominio de los medios de
por el sistema de los medios de comunicación, es que en lugar de que la
comunicación masiva. Incluso podría relación con el medio se constituya en un
decirse que los que componen el grupo paréntesis transformador de la identidad
culto se encuentran más integrados en tal ciudadana en la de audiencias, parece que
sistema de medios, en la medida que la identidad de audiencia (seguidor de tal o
consumen diferentes medios de cual programa) se proyecta en la de
comunicación. El análisis de conglomerados ciudadanos. De esta forma, parece que la
realizado de los resultados de la encuesta constitución de las relaciones sociales se
ha configurado tres grupos: a) grupo de bajo encuentra bajo el control de los agentes que
consumo cultural y escaso consumo de ocupan posiciones preferentes en el sistema
diarios, como indicador de variedad de de los medios de comunicación, pues éste,
medios (40,5% lee diarios casi todos los además de seguir sus funciones como tal
días), constituyendo las tres cuartas partes sistema, se constituye en un sistema de poder.
de la muestra; b) grupo aficionado a los El sistema de la cultura (SC) requiere del
espectáculos como consumo cultural, sistema de los medios de comunicación
especialmente el cine, con un mayor nivel masiva (SCM) para su existencia. El SCM
de lectura de diarios (46,5% casi todos los es funcional al SC.
días), abarcando el 20% de la muestra; y ¿Cómo ha sido este proceso?
c) grupo denominado culto, que se Sintéticamente se expone:
encuentra en la lógica de la distinción, con Para su expansión, el SCM necesita
una lectura de diarios relativamente alta subordinar al SC. Un ejercicio de dominio
(61,3%), pero constituyendo sólo el 5% de del SCM que conlleva adaptarse a los temas5
la muestra. del SC.
El SC se vacía. Genera adaptaciones
La relación práctica entre sistemas (homogeneización: patrimonio simbólico
común) y reacciones (fundamentalismos:
La subordinación del sistema cultural al lucha por la gestión de los patrimonios
sistema de los medios, que puede leerse de simbólicos).
manera preocupada desde la lógica de la La subordinación del SC al SCM no
dominación, también imprime lógicas significa abandonarlo al mercado. También
prácticas. Va más allá de la relación abstracta hay sitio para la sociedad (la política en
entre sistemas, del hecho de que el sistema sentido amplio). El sitio de la sociedad entre
de la cultura tenga su génesis en el sistema la homogeneización subordinada y la reacción
de la comunicación mediada. Precisamente fundamentalista, como apunta Wolton6.
por esto, convierte a los consumidores de Pero antes de entrar en los procesos de
cultura en audiencia. Una audiencia que elige globalización, interesa remarcar en síntesis
espectáculos y pantallas, como si estuviera la conclusión alcanzada:
488 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
3
Bibliografía Nótese que cuando se habla desde el discurso
de la cultura como distinción, se subraya el papel
Bourdieu, Pierre, La distinción, Madrid, de la primera persona, como ocurre en este
Taurus, 1998. fragmento discursivo y en el anterior. Sin embargo,
cuando se concreta la expresión de una cultura
Callejo, Javier, “Globalización y
opuesta a la de la distinción, como ocurre en el
digitalización de las audiencias”, en Política caso del fragmento discursivo de los jóvenes de
y Sociedad, vol 39, nº.1, 2002, pp. 69-82. Leganés, hay una especie de huida en la utilización
Luhmann, Niklas, La realidad de los de esa primera persona, incluso cuando
medios de masas, Barcelona, Anthropos, 2000. directamente se ha preguntado por sus gustos.
McLuhan, Marshall, y Powers, B. R., La 4
José Ortega y Gasset, La rebelión de las
aldea global. Transformaciones en la vida massas, Madrid, Revista de Occidente, 1966 (e.o.
y los medios de comunicación en el siglo XXI, 1930).
5
Barcelona, Gedisa, 1990. Niklas Luhmann, La realidad de los medios
Ortega y Gasset, José, La rebelión de las de masas, Barcelona, Anthropos, 2000.
6
Dominique Wolton, La otra mundialización,
masas, Madrid, Revista de Occidente, 1966.
Barcelona, Gedisa, 2004.
Smythe, Dallas W., “Las comunicaciones: 7
Dallas W. Smythe, “Las comunicaciones:
‘agujero negro’ del marxismo occidental”, en G. ‘agujero negro’ del marxismo occidental”, en G.
Richeri (ed.), La televisión: entre servicio público Richeri (ed.), La televisión: entre servicio público
y negocio, Barcelona: Gustavo Gili, 1983. y negocio, Barcelona, Gustavo Gili, 1983.
Wolton, Dominique, La otra 8
Javier Callejo, “Globalización y
mundialización, Barcelona, Gedisa, 2004. digitalización de las audiencias”, en Política y
Sociedad, vol. 39 (1), pp. 69-82.
9
Niklas Luhmann, La realidad de los medios
_______________________________ de masas, Barcelona, Anthropos, 2000, p. 142.
10
1
Universidad Nacional de Educación a Marshall McLuhan y B. R. Powers, La aldea
Distancia. global. Transformaciones en la vida y los medios
2
Pierre Bourdieu, La distinción, Madrid, de comunicación en el siglo XXI, Barcelona,
Taurus, 1998. Gedisa, 1990.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 491
por isto que «as características mais intri- No caso da moeda, a sua iconografia
gantes do euro parecem ser não-económicas» demonstra isto mesmo: elas correspondem a
(Dodd, 2001b: 25) narrativas históricas nacionais produzidas e
reproduzidas de «formas autorizadas pelo
5. O traço de união simbólico Estado» (Pointon, 1998: 231). Jacques
Hymans considera as ligações entre a moeda
A centralização da autoridade política, e e a identidade Europeia a partir da sua
a consequente eliminação da divisão interna iconografia como um processo que evoluiu
ou dissensão simbólica, é facilitada na medida ao longo do tempo, das representações do
em que somos (ou deveremos perceber-nos Estado para representações do indivíduo, e
como) cidadãos e membros de uma única da representação de valores tradicionais para
unidade social – todos parte da mesma valores pós-materiais, equivalentes a um
‘comunidade imaginada’ como lhe chama espírito do tempo (Hyman, 2002).
Benedict Anderson, que realça que os Es- A concepção do símbolo do Euro invoca
tados não só são construídos pela força, mas uma origem comum: representação da letra
pela lealdade, por um compromisso volun- grega épsilon, apontando para o berço da
tário para com uma identidade comum civilização europeia e a primeira letra da
(Anderson, 1983). palavra “Europa”, mas acrescida de um factor
A distinção crítica entre ‘nós’ e ‘eles’ pode político-económico simbólico, as duas linhas
ser exaltada por diferentes símbolos tangí- paralelas representantes da estabilidade do
veis: bandeiras, hinos, arquitectura pública, Euro. Quanto a moedas e notas, o seu de-
mesmo equipas desportivas nacionais. Entre senho corresponde à tentativa de criar signos
os elementos mais potentes está a moeda. A que se prestem a interpretações múltiplas e
partilha de um mesmo dinheiro pode servir que, «em vez de impor uma só visão da
para aumentar um sentido de identidade Europa, convidem o cidadão-consumidor a
nacional de duas formas: porque é emitida desenvolver a sua própria visão» (Hyman,
pelo seu governo ou banco central, a moeda 2004: 21).
corrente actua como uma recordação diária A iconografia das faces portuguesas
aos cidadãos da sua ligação ao Estado; e integra elementos tradicionais, fortemente
porque dado o seu uso universal, a moeda associados ao berço da identidade nacional,
corrente sublinha a pertença a uma mesma a par da simbologia própria da União
entidade social, como acontece Europeia. As faces portuguesas têm os selos
maioritariamente com as línguas nacionais. da autentificação régia, isto é, aqueles que
A mesma justificação se aplica à União o primeiro rei de Portugal, D. Afonso
Europeia: um dinheiro comum poderá ajudar Henriques, utilizava para autenticar os seus
a homogeneizar grupos sociais diversos e documentos. As moedas de 1 e 2 euros, para
frequentemente antagónicos e, por sua vez, além do elemento central, o selo real de 1144,
esta mesma identidade poderá ajudar a um exibem os castelos e escudos de Portugal,
bom funcionamento da ordem monetária. rodeados pelas estrelas da Europa, simboli-
Politicamente, uma moeda nacional pode zando o diálogo, a troca de valores e a
não ser um atributo essencial de soberania dinâmica da construção europeia. Nas mo-
do Estado mas, em geral, foi assim consi- edas de 10, 20 e 50 cêntimos, o elemento
derada, juntamente com o exército e o lan- central do desenho é o selo real de 1142 e
çamento de impostos. Atravessar fronteiras as moedas de 1, 2 e 5 cêntimos apresentam
nacionais significa, em muitos aspectos, o primeiro selo real, de 1134, e a epígrafe
mudar os códigos semânticos incluindo a “Portugal”.
moeda. O dinheiro está, com efeito, muito Os símbolos escolhidos, segundo a
associado às “fronteiras” que, nos Estados memória descritiva das moedas da autoria de
nacionais, são mantidas não só por elemen- Vítor Manuel dos Santos, procuram reflectir
tos territoriais, mas também – e de forma uma forte presença da identidade nacional.
crescente – por distinções simbólicas que No entanto, essa identidade é a mais remota
indicam identidades nacionais como passa- possível. Por um lado, remonta-se a um tempo
portes, bandeiras e moedas. onde, na verdade, como vimos, não começa-
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 497
va ainda a existir uma moeda nacional, mas O que também argumentamos com
circulava uma espécie de “Euro peninsu- Habermas e contra Habermas, é que a cons-
lar”, o Morabitino. Por outro lado, remon- trução do demos Europeu tem de se fazer
ta-se ao período de formação do país, isto a partir do mundo da vida, da comunicação.
é, a um “berço” de nacionalidade, nacio- Ele também argumenta que o dinheiro (como
nalidade essa que levaria ainda muito tempo o poder) é não-comunicativo e é meramente
a construir. Esta é uma memória identitária um meio quantitativo. Através do dinheiro
algo afastada dos elementos identitários não há possibilidade de alcançar uma com-
com que nos habituámos a pensar Portu- preensão comum. No entanto, como tentá-
gal: o país dos actuais territórios, dos factos mos defender, a legitimidade do dinheiro
heróicos, das conquistas, das adversidades depende dos seus significados partilhados
dos mares e das descobertas. De algum (não apenas económicos mas também cul-
modo, tal confirma o afastamento da moeda turais e políticos). Assim, pensamos que a
do Estado-nação afirmado nos séculos mais dimensão comunicativa não pode ser total-
recentes, o Estado conquistador e colonial, mente ignorada e que o dinheiro pode conter
virado para África e para o mar, e uma compromisso de valor. É o que procurare-
aproximação a novos entendimentos e mos explorar de seguida.
origens de um país que se pretende agora
da Europa e pela Europa. 5. Dinheiro e Comunicação
De uma forma mais geral, o desenho da
moeda europeia procurou articular uma iden- Na teoria social sistémica o dinheiro é
tidade colectiva que, não negando as origens considerado neutro. A sua missão é facilitar
nacionais, encontrasse símbolos de pertença a “complexidade do sistema” (Parsons e
colectiva a uma mesma memória arquitec- Smelser, 1956). Da mesma forma, tradicio-
tónica (difusa), e sobretudo a um mesmo nalmente, a economia atribui ao dinheiro um
imaginário de “pontes”, “arcos” e “monumen- conjunto de funções: ele funciona como
tos” que construíssem a grande “casa unidade de troca, unidade de conta e reserva
europeia” projectada com ideais de futuro e de valor. Estas funções, no entanto, são
modernidade. limitadas no momento de procurar uma
Estes ideais de pertença não são apenas, explicação para a existência do dinheiro,
naturalmente, simbólicos: incluem enraiza- contradizendo de imediato uma concepção da
mentos normativos muito concretos que pas- neutralidade do “véu” monetário que carac-
sam pelo desenvolvimento de direitos e ci- teriza a teoria económica abstracta (Ingham,
dadania, pelo desenvolvimento económicos 2004). Na verdade, o dinheiro não tem apenas
e de redes transnacionais de cooperação. funções: é socialmente produzido, regulado
Como já insistimos, sendo a dimensão pela convenção e pela confiança, constitu-
simbólica importante, o êxito de uma ideia indo-se um “facto social”, na medida em que
de Europa não depende apenas da União «independentemente da forma que possa
monetária, mas da sua concretização políti- assumir, o dinheiro é essencialmente uma
ca, social e cultural e do desenvolvimento “promessa” provisória de pagamento»
de uma modernidade colectiva. No momento (Ingham, 2004: 25).
exacto de explicitar o que é “uma identidade A isso está ligado um conjunto de sig-
europeia” parece especialmente relevante o nificações. Por exemplo, como defende James
argumento de Habermas de que a identidade Buchan, na medida em que pode cumprir
Europeia deve desembaraçar-se de uma ideia qualquer objectivo, o dinheiro é “desejo
de Europa como comunidade étnica de um congelado” e o objectivo de vida para muitas
certo imaginário cultural, para desenvolver pessoas: «o dinheiro só é dinheiro no mo-
um demos Europeu: uma Europa cívica que mento em que incorpora um desejo» (Buchan,
traça as suas bases normativas, para além de 1997: 13). Mas, para além desta dimensão
económicas, passa por estabelecer pré-requi- subjectiva, o “facto social” de que fala
sitos como a existência de uma sociedade civil Ingham traduz-se na sua dimensão comuni-
Europeia, de uma esfera pública e de uma cativa: o dinheiro comunica valor, não tem
cultura política Europeia (Habermas, 2001). em si, valor. Apenas porque é um meio que
498 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
No caso do Brasil, temos dois períodos cada subperíodo eleitoral. Analiticamente esta
para a propaganda política dos partidos, decomposição da curva significa introduzir
ambas com datas previamente definidas: antes na equação (1) duas variáveis dummy, uma
das convenções partidárias, que sempre para o primeiro turno e outra para o segundo
ocorrem no mês de junho do ano eleitoral, turno. A equação representativa deste proces-
ou seja, durante o primeiro semestre, e depois so passa a ser:
das convenções. No período pré-eleitoral, o
tempo de propaganda é destinado aos par- Yt = α + (Σ bnYt-n)D1 + (Σ bnYt-n)D2 + et
tidos para a propaganda político-institucional, (2)
sendo vedada qualquer propaganda
identificada como típica de “propaganda Esta nova estrutura analítica tem o
eleitoral”. No período eleitoral, o tempo de objetivo de responder se e com que mag-
propaganda é destinado à propaganda elei- nitude a introdução da propaganda eleitoral
toral. E neste período eleitoral temos, ainda, altera a evolução da distribuição das inten-
a possibilidade de dois momentos: o do 1º ções de voto.
turno (volta) e o do 2º turno (volta). Esta
estrutura competitiva do processo eleitoral 2. O efeito da propaganda eleitoral nas
brasileiro permite decompor o ano eleitoral eleições presidenciais, 1989 a 2002
em três períodos: pré-eleitoral, 1º turno e 2º
turno. Para testar este modelo, tomamos a dis-
A hipótese nula sobre este processo é a tribuição de intenção de voto dos dois prin-
de que a distribuição da intenção de voto não cipais candidatos ao longo de cada ano
se altera significativamente nos três períodos eleitoral, subdivididos pelos momentos em
eleitorais. Assim, a série histórica que repre- que entram em ação as respectivas propa-
senta a disputa pelo voto pode ser decom- gandas, no primeiro e no segundo turnos.7
posta e podemos estimar os parâmetros de Vejamos na tabela os resultados:
Tabela 1
Intenção de Voto Estimulado, 1989-2002
Modelo de Estimação
Esta hipótese, além de intuitiva, é mo; e Média das Notas de Zero a Dez;
empiricamente poderosa. Entretanto, a pro- 3. Com base na data da pesquisa
paganda eleitoral foi inventada para confron- identificamos os períodos eleitorais e os
tar tal tendência estruturalmente duradoura. momentos em que as propagandas dos can-
A propaganda eleitoral tem três objetivos didatos foram veiculadas na TV, em rede,
simultâneos: reter seu eleitorado, conquistar sendo eles Pré-Eleitorais (junho/01-16/agos-
o eleitorado dos adversários e ganhar os to/02) e Horário Eleitoral, tempo de antena,
indecisos. Ora, como todos os eleitores têm (30/agosto-2/outubro/02).
uma avaliação do atual governante, fica claro Testes preliminares apontaram que do
que o efeito relativo persuasivo de uma conjunto das variáveis explicativas as va-
campanha eleitoral será maior ou menor em riáveis FHC R/P (avaliação ruim e péssima
função do posicionamento estratégico dos de FHC) e Dummy HGPE (variável dummy
candidatos em relação ao status quo, ou seja, para o período do horário eleitoral) foram
em relação ao nível de popularidade do as que melhor se ajustaram ao modelo pro-
governante. posto. Para este teste foram feitas cinco
Para testar este modelo, construímos uma regressões, uma para cada candidato, regres-
matriz de dados constituída pelas seguintes sando a evolução da distribuição de inten-
informações agregadas, oriundas de 18 pes- ção de voto de cada candidato sobre a
quisas de opinião entre os meses de junho avaliação de FHC (RP) e controlando este
de 2001 a 2 de outubro de 2002, ante-vés- processo pela variável Dummy HGPE, sen-
pera da eleição:9 do, portanto, cinco regressões com a seguinte
1. Intenção de voto estimulada, em pro- estrutura:
porções, para os quatro principais candidatos
finais, no primeiro turno, e para a pré- IntVtC it = b 0 + b 1it-n Av(FHC) t-n + b 2it-n
candidata Roseana Sarney; (HGPE)Dt-n + _t (5)
2. Avaliação do governo FHC, em pro-
porções, de acordo com as seguintes alter- O resultado da aplicação deste modelo
nativas: Ótimo/Bom, Regular e Ruim/Péssi- está na tabela abaixo:
Tabela 2
Intenção de Voto, Avaliação de FHC e Horário Eleitoral
Modelo de Predição
Modelo Ciro (b) Garotinho (b) Lula (b) Serra (b) Roseana (b)
Constante 7,501 23,636 38,401 40,468 21,683
FHC R/P 0,147 -0,620** -0,107 -0,629** -0,131
Dummy HGPE -0,061 0,397* 0,681** 0,674** —
R2 0,022 0,450 0,448 0,693 0,170
Adj R2 -0,108 0,377 0,374 0,652 -0,179
F 0,169 6,146** 6,079** 16,897** 0,088
DW 0,430 1,623 1,037 1,144 0,991
N 18 18 18 18 7
Fonte: DataFolha. Coleção de pesquisas pré-eleitorais de intenção de voto para presidente, perguntas somente
relativas à Situação A, 1989 a 2002, site do Instituto DataFolha.
Regressão Linear OLS
Sig. (*) p ≤ 0,5%; (**)p ≤ 0,1%
Banco de Dados Opinião Publica, Projeto Eleições Brasileiras, DOXA/IUPERJ.
508 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
5
Bibliografia Para um excelente resumo sobre este debate
ver Thomas M. Holbrook, Do Campaigns Matter?,
Camargos, Malco Braga, “Do Bolso para London, Sage Publications, 1996.
6
as Urnas: A Influência da Economia na Escolha A extensão desse período depende mais da
entre Fernando Henrique Cardoso e Lula na disponibilidade de dados.
7
Todos os dados de intenção de voto, para
Eleição de 1998”, dissertação de mestrado em
as quatro eleições, são de pesquisas feitas pelo
Ciência Política, Rio de Janeiro, IUPERJ, 1999. Instituto DataFolha, considerando somente a
Fiorina, Morris, Retrospective Voting in pergunta de intenção de voto estimulada relativa
American National Elections, New Haven, ao cenário (lista de candidatos) A – primeira
Yale University Press, 1981. pergunta no questionário quando haviam mais de
Holbrook, Thomas M., Do Campaigns um cenário.
Matter?, London, Sage Publications, 1996. 8
A hipótese econômica clássica é a do “voto
retrospectivo/prospectivo”. Ver Morris Fiorina,
Retrospective Voting in American National
_______________________________ Elections, New Haven, Yale University Press, 1981
1
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio e Malco Camargos, “Do Bolso para as Urnas: A
de Janeiro – IUPERJ, e DOXA – Laboratório de Influência da Economia na Escolha entre Fernando
Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Henrique Cardoso e Lula na Eleição de 1998”,
Pública. dissertação de mestrado em Ciência Política, Rio
2
Universidade do Estado do Rio de Janeiro de Janeiro, IUPERJ, 1999.
9
– UERJ, e DOXA – Laboratório de Pesquisa em Os dados utilizados são todos da série de
Comunicação Política e Opinião Pública. pesquisas de opinião do Instituto DataFolha, com
3
Thomas M. Holbrook, Do Campaigns amostras nacionais, todas publicadas. Ver site
Matter?, London, Sage Publications, 1996. DataFolha.
4 10
Morris Fiorina, Retrospective Voting in As quedas de Roseana e Ciro são exemplos
American National Elections, New Haven, Yale cabais do efeito da mídia jornalística e da pro-
University Press, 1981. paganda de ataque impetrada por José Serra.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 511
y una hora o menos, mientras que el EGM estudio y un 10,7% según el EGM. Y
establece el total del consumo nacional en concluiríamos con las dos franjas de edad
118 minutos, por persona y día de lunes a de los más jóvenes. La franja comprendida
domingo, con una media de 59 minutos para entre 20 a 24 años, según nuestro estudio
la radio generalista y de 55 minutos para la sería el 9,6% de los oyentes, mientras que
radio temática. el EGM establece este porcentaje en el 10,2%
Este ranking no dista mucho de las tiempo diario dedicado a esta actividad es
preferencias señaladas por los segovianos de de 147,62 minutos. La mayor parte de los
toda la provincia en el EGM15. En este estudio entrevistados dice consumir entre 1 y media
se señala como principal emisora a la Cadena y 3 horas de televisión al día.
SER en sus frecuencias de OM y de FM para Esto refuerza una tendencia a nivel nacional
la radio generalista, con un 17,6%, y en FM, que nos demuestra que cada día los espectadores
los Cuarenta Principales, con un 10,1%, pasan más tiempo viendo la televisión. Los datos
seguidas de Cadena Dial también en FM, con de SOFRES17 apuntan un incremento, en 2001
un 5,7%16. Sin embargo, a nivel nacional, el el consumo diario por persona llegó a 212
EGM señala como la tercera emisora más minutos y en 2002 subió a 214 minutos.
escuchada con programación generalista a Según el EGM para el año 2003, el
Onda Cero Radio, seguida de la Cadena COPE. consumo por persona y día llega a 246
Tras esta aproximación a la radiodifusión minutos18. Tanto los datos de Sofres como
en Segovia, podemos añadir que estos estudios los del EGM son muy superiores a los niveles
sobre audiencias de radio, a diferencia de los observados en Segovia.
estudios sobre audiencias de televisión en el
que se utilizan tecnologías más fiables, o de Perfil del telespectador
la prensa en la que se utiliza como referencia
la tirada, sólo pueden darnos una aproximación En cuanto al perfil por sexos, observamos
a lo que realmente se está escuchando, pues que las mujeres suponen el 52% del total y
estos estudios estiman a posteriori lo que los los varones el 48%.
oyentes dicen que han oído, pero no pueden El EGM para España señala un 51,3%
recoger lo que realmente han oído, y no siempre de mujeres y un 48,7% de varones19.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 517
En cuanto a la edad, podemos observar nacional es que, en este, la edad supera los
que la franja de 25-34 años alcanza un 65 años.
porcentaje del 18,7%, muy similar al de los
35-44 años (18,5%). A continuación, de 65 Ranking de cadenas de televisión
años en adelante (16,8%), 45-54 años
(15,6%), 55-64 años (11,2%), 20-24 años En lo que se refiere a Segovia capital y
(10,4%) y 15-19 años (8,8%). preguntando a los encuestados por cuáles son
Los datos del EGM para España muestran aquellos canales que suelen ver con asiduidad
que la franja 65 años en adelante, con un (gráfico 6), se confirma el dominio de la
20,2%, es la que más ve la televisión, siendo cadenas generalistas, Telecinco se coloca
la menor la de 14-19, con un 8,4%20. como la más mencionada. Los segovianos
Por último, respecto a la clase social la franja también afirman seguir con cierta frecuencia
mayoritaria corresponde al nivel económico los contenidos programáticos de sus dos
medio-medio, con un porcentaje del 67,2%. De televisiones locales: Televisión Segovia
nuevo los datos del EGM para España señalan (10,1%) y Canal 4 Segovia (7,5%).
que la mayor parte de los telespectadores, el El EGM da a las televisiones locales los
41,2%, son de clase media-media. siguientes porcentajes: Televisión Segovia
Concluimos que el telespectador tipo en (65,4%, 85.000 espectadores en la provincia)
Segovia es mujer, entre 25 y 44 años, de y Canal 4 (51,5%, 67.000 espectadores)21.
clase media. La diferencia con el perfil Cifras sin duda sobrevaloradas.
2
Bibliografía El único estudio local sobre medios de
comunicación publicado hasta la fecha es:
Asociación para la Investigación de Observatorio Socioeconómico de Segovia (Caja
Segovia), Encuesta sobre medios de comunicación
Medios de Comunicación (AIMC), EGM.
en Segovia. 4º trimestre 2000, Segovia, 2000.
Resumen General, Madrid, 2003. Disponible Disponible en www.cajasegovia.es/
en www.aimc.es. observatorio.asp.
Centro de Investigaciones Sociológicas 3
Otros informes sobre medios de
(CIS), Barómetro de octubre. Estudio nº 2.541. comunicación utilizados en nuestra investigación
Madrid, Centro de Investigaciones Sociológicas son los de Sofres, el Barómetro de octubre 2003.
(CIS). Ministerio de la Presidencia, 2003. estudio nº 2541 del Centro de Investigaciones
Comisión del Mercado de las Sociológicas. Ministerio de la Presidencia y la
Telecomunicaciones e Instituto Nacional de Encuesta a hogares españoles sobre tecnologías
de la información y la comunicación realizada por
Estadística, Encuesta a hogares españoles
la Comisión del Mercado de las
sobre tecnologías de la información y la Telecomunicaciones (CMT) y el Instituto Nacional
comunicación. Madrid, Comisión del Mercado de Estadística (INE) y publicada en mayo de 2003.
de las Telecomunicaciones (CMT) e Instituto 4
Porcentaje de personas sobre el universo
Nacional de Estadística (INE), 2003. estudiado.
5
Corominas, M. y Moragas, M. (editores), AIMC, EGM. Resumen general 2003. El
Informe de la Comunicació a Catalunya. universo utilizado por el EGM en la provincia
2000, Bellaterra, Universitat Autónoma de de Segovia es de 130.000 personas. A partir de
ahora nos referiremos al Estudio General de
Barcelona. Servicio de Publicaciones, 2001.
Medios con las siglas EGM. Acabamos de hacer
Corominas, M. y Moragas, M. (editores), un paralelismo entre un dato obtenido en nuestro
Informe de la Comunicació a Catalunya. 2001- estudio y otro del EGM. Estos paralelismos se
2002, Bellaterra, Universitat Autónoma de repiten en otros puntos de esta exposición; por
Barcelona. Servicio de Publicaciones, 2003. ello, es necesario explicar las diferencias entre
Diaz Nosty, B., Informe anual de la ambos estudios.
comunicación 2000-2001. Estado y El EGM es un estudio nacional, que selecciona
tendencias de los medios en España, Madrid, como universo a los mayores de 13 años. En 2003,
Zeta Ediciones, 2001. para todo el país realizó 43.243 entrevistas en tres
periodos distintos del año. En cada una de esas
Díaz Nosty, B., La Comunicación en
fases (olas) la muestra equivale a un tercio de
Andalucía 1999. Situación y tendencias, la muestra anual en cada provincia y Comunidad
Madrid, Zeta Ediciones, 1999. Autónoma. En el caso de la provincia de Segovia
Libro blanco de la prensa diaria, Madrid, el diseño muestral establece desproporción interna
Asociación de Editores de Diarios Españoles para aumentar la razón de muestreo en la capital,
(AEDE), 2003. que es el mayor núcleo de población. En cada
Libro blanco de la prensa diaria, Madrid, ola del EGM está previsto hacer en nuestra
Asociación de Editores de Diarios Españoles provincia 100 encuestas y, como acabamos de
señalar, la mayor parte en la capital.
(AEDE), 2004.
Se puede concluir que, nuestro estudio y el
Noticias de la Comunicación, nº 230, EGM no son equivalentes pero su comparación
noviembre 2003. es posible.
Observatorio Socioeconómico de 6
Noticias de la Comunicación, nº 230,
Segovia (Caja Segovia), Encuesta sobre noviembre 2003, p. 138.
7
medios de comunicación en Segovia. 4º Ibidem.
8
trimestre 2000, Segovia, 2000. Disponible en AIMC, EGM. Resumen general 2003.
9
www.cajasegovia.es/observatorio.asp. Ibidem.
10
Existe otro estudio de la empresa Sigma
Sofres, Anuario de Audiencias de
Dos, llamado Estudio General de Audiencias
Televisión 2002, Madrid, Edita Sofres (EGA) al que haremos alguna referencia.
Audiencia de Medios, 2003. 11
Porcentaje de personas sobre el universo
estudiado.
12
AIMC, EGM/EGM Radio XXI. Resumen
_______________________________ general 2003.
1 13
Todos los autores pertenecen a la Universidad AIMC, EGM/EGM Radio XXI. Resumen
SEK de Segovia. general 2003.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 519
14
Ibidem. de Medios, 2003, p. 17. Minutos de visionado de
15
AIMC, EGM. Resumen general 2003. televisión por regiones 1999-2000.
16 18
En este estudio no aparecen las emisoras Cfr. AIMC, EGM. Resumen general
pertenecientes a RNE ya que se autoexcluyeron 2003.
19
del estudio en 2003, por considerarlo poco fiable. AIMC, EGM. Resumen general 2003.
17 20
Cfr. Sofres, Anuario de Audiencias de Ibidem.
21
Televisión 2002, Madrid, Edita Sofres Audiencia AIMC, EGM. Resumen general 2003.
520 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 521
de onde se fala, como se fala e para quem depende do organismo e das características
se fala); b) a formação ideológica (modelos individuais; 2. Nem todo usuário é violento,
de representação social) e c) as formações a droga só potencializa características indi-
discursivas (diretamente relacionadas às viduais; 3. A bebida e o álcool são drogas
formações ideológicas). A utilização dessas toleradas pela mídia pois dão lucro; 4. A
duas correntes teóricas como referenciais para bebida leva ao consumo da droga ilícita; 5.
a pesquisa levou-me à observação participan- Os verdadeiros culpados são omitidos; 6. A
te, metodologia fundamental para observar periferia consome menos droga comparada
as condições de produção do discurso. à classe média alta; 7. Nem sempre quem
Durante um ano e meio, vários contextos vai às”raves é usuário de droga; 8. As
foram observados, incluindo festas, locais de matérias sobre pesquisas científicas são falsas.
reunião e de consumo, entre outros espaços. Do ponto de vista de interação e de
Após observações, realizaram-se dois Gru- envolvimento, alguns marcadores lingüísticos
pos Focais (GFs), com jovens ravers de durante a conversação realizada no GFl são
classes socioeconômicas diferentes, morado- índices da identidade do grupo. Idade apro-
res da Grande São Paulo, usuários de drogas ximada, condição socioeconômica semelhan-
ilícitas, cujos discursos foram gravados, te, gosto pela música eletrônica, convivência
transcritos e analisados, à luz do referencial em ambiente urbano, participação em raves
teórico já mencionado. Para estimular o e festas com música eletrônica e consumo
grupo, utilizaram-se matérias jornalísticas de drogas ilícitas eram atributos do grupo,
publicadas na mídia impressa e eletrônica responsáveis por ambiente de confraterniza-
(TV). Na Análise dos Discursos realizada a ção e camaradagem. Os jovens mostraram
partir das falas gravadas durante os GFs, experiências e expectativas compartilhadas,
considerei alguns marcadores linguísticos por meio de formas fáticas no discurso,
escritos e orais (conversacionais, tempo como: “verdade”, “com certeza”, “entende”,
verbal, modalizadores expressivos, pronomes, “entendeu”; de gírias: “tipo”, “pô”, “minas”,
operadores argumentativos, discurso direto e “nóia”, “fita louca”, “já era”; de jargões:
indireto, provérbio, ironia, jargão, gíria) “faustão”, “farinha”, “baseado”, “tô limpo”,
presentes em autores, como Maingueneau “pó”, “clubber”; e a repetição de final de
(2000), Koch (2002), Urbano (In: Pretti, frases pelos coenunciadores, como sinal de
1999) e Rodrigues (In: Pretti, 1999). Porém, aprovação à fala do outro no grupo. Chama
a AD não se esgotou nos marcadores da atenção o uso recorrente de gírias, não tão
superfície linguística, completando-se com a ligadas ao universo raver, mas de domínio
contextualização, pois os discursos não são comum dos jovens. Alguns participantes
independentes de sua condição de produção. usavam gírias e jargões de outras tribos, como
As interações entre formações discursivas a do rap (“mano”), e ainda gírias fora de
podem ocorrer mesmo quando o “outro” não moda, a exemplo de “bicho”. Os marcadores
está indicado no discurso, havendo conten- mostram a fluidez desse grupo em outros
ção de sentidos pelo enunciador, por meio espaços sociais, além das outras vozes cons-
de mecanismos de silenciamento3. (Brandão, tituintes dos discursos.
2002). O fato de os componentes do grupo não
considerarem a necessidade de usar todos os
3. O sentido dos discursos jornalísticos códigos da tribo raver, para serem qualifi-
sobre drogas: grupos focais cados como apreciadores da música eletrônica
e das festas, pode estar relacionado à questão
Segundo os participantes do GF1, “Jo- socioeconômica, aos compromisso com tra-
vens da Periferia da Grande São Paulo”, balho e à vida cotidiana. Eles não se enqua-
mesmo dizendo “mentira”, o jornalismo tem dram nos tipos de Mainardi (1999). Há apenas
poder para impor uma realidade generalizante, vestígios dos códigos visuais club: óculos
por interesse ou incompetência. Os argumen- escuros, um ou outro detalhe fluorescente na
tos para justificar o afastamento da mídia em roupa. Mas conhecem os estilos de música
relação à realidade desses jovens são vários. eletrônica, os preconceitos em relação aos
Destaco abaixo alguns: 1. A reação à droga cybermanos, a aura de harmonia nas festas,
524 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
propiciada também pela droga. Quem não a relações de poder, “batalhas travadas no
consome fica “careta”. campo econômico e no terreno do simbó-
A consciência de que são de uma classe lico”.
social menos favorecida revela-se nas opo- Semelhante ao GF1, os jovens do GF2,
sições entre os conceitos de “periferia” - “Jovens de Bairros Nobres de São Paulo”,
aquele que trabalha e sofre, mas sustenta o disseram que a mídia está “errada”. Há
seu vício - e de “playboy” - rebelde sem oposição entre realidade e o dito nas repor-
causa, tem tudo mas é revoltado. tagens jornalísticas. “A própria mídia é que
Os jovens desse grupo são muito enfá- “trata errado” as coisas. E o próprio
ticos nos seus argumentos contra os discur- governo também... Ah, trata errado, tra-
sos generalizantes do jornalismo. Usam ta... Eles omitem informação, e até acres-
exemplos pessoais, justificando pontos de centam coisas que nem sempre é verda-
vista. Diante da realidade, não há como de...”. Apesar da relativização, pois até o
aceitar o estereótipo de drogado e violento, governo “também” é errado, durante a con-
entre outros, imposto pela mídia. versação dos jovens houve reforço e confir-
A introdução de discursos diretos e tre- mação de tratamento equivocado dos usuá-
chos de diálogos é uma estratégia para dar rios de drogas ilícitas, incluindo os ravers.
mais autenticidade à proposição de que a Por meio de marcadores linguísticos e o não-
mídia “mente”. Os diálogos reproduzem dito, apontam a omissão de informações
situações hipotéticas, mas criam um clima importantes relacionadas ao tráfico e às
de verdade - há entonação da voz, para fazer diferenças individuais não respeitadas pela
as vezes da mãe e do filho e ridicularizar mídia. Há contundência na crítica aos dis-
os meios de comunicação, criadores de cursos jornalísticos. Os argumentos dos
imagens erradas das festas. participantes foram agrupados a seguir.
Os vícios e erros na linguagem oral 1. A reação às drogas depende das
revelam a origem dos participantes. Embora “condicionantes” individuais;
na linguagem oral, muitas vezes, a norma 2. A informação “populariza” assuntos,
culta seja desrespeitada, a limitação da es- mas não há qualidade;
colaridade e do repertório linguístico é 3. A mídia omite informações importan-
evidente. A superação ocorre pelo uso de tes, pois os interesses comerciais superam
gírias, operadores argumentativos e formas os de informar com qualidade;
fáticas, como estruturadores dos discursos. 4. As pesquisas generalizam tanto quanto
Provérbios e ditados são mais recorrentes as matérias a respeito delas;
nesse grupo, confirmando a polifonia e o 5. A mídia usa estereótipos para gene-
caráter social da língua no seu manejo dentro ralizar; as fontes não convencem;
do campo discursivo dos jovens, no qual 6. O consumo depende da classe social;
formações discursivas deste e de outros O jornalista deve se qualificar para uma
campos são marcadas por várias vozes: de reportagem que respeite as diferenças.
outras gerações, do popular, do científico. No GF2 a interação entre os enunciadores/
O sentimento de pertença não está nos coenunciadores é verificada por meio de
códigos visuais da tribo raver, mas na marcas como entendeu?, entende?, claro,
identidade do grupo como “periferia”, além de outras. Os pronomes e os tempos
apreciador de música eletrônica – elemento verbais no presente do indicativo e pretérito
aglutinador – , em momentos de comunhão simples também mostraram envolvimento dos
e de afetividade. sujeitos do grupo, comprometidos o tempo
Por não serem potenciais consumidores inteiro, em maior ou menor grau, com os
de grifes caras, os participantes do GF1 comentários. Operadores argumentativos
desvalorizam o uso de roupas, acessórios e confirmam e reforçam as opiniões do grupo.
tênis de marca. Para apreciar as–raves e a Várias formações discursivas atravessam
música eletrônica não é necessário ostentar. os discursos analisados: o da ciência, o do
Porém, reconhecem os códigos mais divul- raver, o do jovem, o de classe social. A
gados pela mídia. Como diz Martín-Barbero polifonia está presente na argumentação, nas
(1997), estão expressas nas mediações as citações, nos exemplos. Há o discurso do
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 525
como una afirmación implícita de los con precisión cómo son los oyentes
investigadores referente a la preeminencia de adolescentes de la radio y cómo son los
la televisión sobre la radio. En las últimas espectadores adolescentes de televisión. Para
décadas, la implantación en los hogares de nuestro estudio, delimitamos la edad de los
la TV, en todas sus posibilidades, videojuegos, adolescentes entre los 12 y los 16 años. Por
Internet ha (ha supuesto) producido un debajo de los 12 años de edad, la capacidad
reparto del tiempo libre de los adolescentes. de decisión, la independencia podría estar
A pesar de todo ello, la radio seguiría muy limitada; por encima de los 16 años las
cumpliendo sus funciones, seguiría teniendo posibilidades de intervención o influencia
su lugar entre los medios de comunicación, podrían ser nulas. Una vez definidos los
seguiría siendo escuchada, especialmente por consumidores de ambos medios, podremos,
los jóvenes, como demuestran algunos quizá, determinar si alguno de ellos, o los
estudios desarrollados en Francia (Kuhn, dos son adecuados para ser utilizado como
1995). instrumentos colaboradores en la educación.
Lo que resulta innegable es la mejor Las experiencias de educación-
delimitación de los grupos consumidores, de entretenimiento a través de la radio se han
las franjas horarias de interés; para algunos, afianzado en los últimos años (véase, por
incluso, de los temas y contenidos de interés. ejemplo, Singhal y Rogers, 1999).
Por tanto, ya no resulta tan interesante Desde el comienzo de la
conocer el número de consumidores de radio institucionalización de los estudios de
o de televisión, o las horas que pasan junto Ciencias de la Información, los medios han
a estos aparatos. El interés se centra en tenido tres funciones esenciales: informar,
determinar tipos de consumidores, hábitos en formar y entretener (Lasswell, 1985). Bien
el consumo, actividades compaginadas con es cierto que la evolución de los diferentes
el consumo. Como expresa la perspectiva de medios, la aparición de nuevos formatos, han
los Usos y Gratificaciones a partir de Katz, conducido al predominio de alguna de estas
Blumler y Gurevitch (1973), el objetivo funciones, quedando casi olvidadas otras.
básico es investigar “qué hace el individuo Como se expresa en el título de esta memoria,
con los medios”. Lo importante ahora son nuestro primer objetivo es conocer los modos
los modos de uso de esos medios y las de consumo de medios, pero como paso
motivaciones que llevan a ese uso (Rubin previo para determinar cuál de estos medios
2002), incluso los usos y efectos (Jensen y sería mejor herramienta para colaborar en la
Rosengren, 1997; Rubin, 1996,2002). En este educación de adolescentes en los temas que
sentido, el presente proyecto busca analizar la Logse recoge como transversales. Algunos
los usos y gratificaciones asociados a la radio trabajos nos abren una expectativa favorable
por parte de los adolescentes. a la radio, como numerosos artículos
El primer objetivo de nuestro estudio es publicados en Cuadernos de Pedagogía, los
conocer los hábitos de consumo de radio y trabajos de José Mª Valls (1992); Muñoz
televisión en los jóvenes. No sólo interesa (1994) y las investigaciones que se vinculan
cuantificar el nivel de consumo de TV o de con la perspectiva “educación-
radio, sino que el estudio se dirige, entretenimiento” (Igartua y Rodríguez Bravo,
principalmente, a conocer en qué situaciones 2002; Singhal y Rogers, 1999).
se consume cada uno de los medios, con quién Nos interesa conocer cómo, cuándo
se comparte el consumo y el grado de libertad consumen radio y televisión, para llegar, no
de elección, con qué otras actividades se a más jóvenes, si no en mejores condiciones
compagina. Este tipo de objetivos están para que los mensajes educativos sean
directamente relacionados con los análisis eficaces. El estudio intenta, igualmente,
desarrollados desde la perspectiva de los Usos plantear a los jóvenes otras opciones de
y Gratificaciones, una de las corrientes en programas, tanto en TV como en Radio; se
comunicación más destacadas para analizar pretende determinar si el consumo que
la conducta mediática (Rubin, 2002). realizan de ciertos programas viene
El objetivo principal de este estudio es determinado por los gustos y preferencias,
obtener los elementos necesarios para definir o por la estricta oferta en los medios.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 531
En cuanto a los programas más Por sexos, parece que los varones
escuchados en la radio, teniendo en muestran mayor inquietud por otros
cuenta las programaciones radiofónicas, contenidos que ahora no se ofertan. En
se confirmaba que los musicales son los ambos sexos, se interesan, primero por
más escuchados por ambos sexos; si bien programas de humor, seguidos por los
los hombres los comparten con los concursos y las historias o relatos. Son
deportivos. Por países, en Portugal se los chicos los que expresan su interés por
escucha, casi exclusivamente música; los programas de sexo, siendo
mientras que en España, si bien los prácticamente insignificante esa propuesta
musicales son los programas más en las chicas.
escuchados, también tienen presencia
significativa otros contenidos.
Jensen, KB. Y Rosengren, KE. (1997). J. Bryant y D. Zillmann (Eds.), Media effects:
Cinco tradiciones en busca de público. En Advances in theory and research (pp 525-
D. Dayan (Comp), En busca del público. 548). Mahwah, NJ.: Lawrwnce Erlbaum
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Barcelona: Gedisa. Singhal, A. y Rogers, E. M. (1999).
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Kuhn, R. (1995) The media in France. 6, nº 1, pp. 3-8. Presenta una evolución de
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Lasswell, H. D. (1985). Estructura y communication research and the uses and
función de la comunicación en la sociedad. gratifications model: a critique. En
En M. de Moragas (Ed.), Sociología de la Communication research vol. 6, nº 1, pp. 37-
Comunicación de Masas. II Estructura, 53. Presenta las limitaciones de la perspective
Funciones y Efectos (pp. 50-68). Barcelona: de los usos y gratificaciones a partir de ciertos
Gustavo Gili. problemas conceptuales.
Lumley, FH. Measurement in radio. Timoteo, J. Repasa la historia de los
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Tiene especial interés el capítulo dedicado ellos la TV y la radio.
a los factores psicológicos de la escucha de Valls, JM. (1992) Educar con y para la
radio. radio. En Comunicación, Lenguaje y
Middleham, G. y Wober, J. M. (1997). Educación nº 14, 67-75. Artículo que revisa
An anatomy of appreciation and of viewing las posibilidades educativas de la radio
amongst a group of fans of the serial utilizada directamente como herramienta en
EastEnders. Journal of Broadcasting and un taller de radio.
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los media: una perspectiva uso-gratificación. use and current events knowledge. Journal
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Barcelona: Paidós.
Rubin, AM. (2002). The uses-and- _______________________________
1
gratifications perspectiva of media effects. En Universidad de Salamanca.
538 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 539
“The pictures inside the heads of these Lippmann debruça-se sobre a forma como
human beings, the pictures of a cultura nos fornece os elementos para
themselves, of others, of their needs, ‘recortar’ a realidade em elementos signi-
purposes, and relationship, are their ficativos, conferindo-lhe nitidez, distintivi-
public opinions. Those pictures which dade, consistência e estabilidade de signifi-
are acted upon by groups of people, cado. O autor reflecte sobre as limitações
or by individuals acting in the name humanas no processamento da informação e
of groups, are Public Opinion with sobre a forma como os preconceitos intro-
capital letters”. duzem enviesamentos na selecção, interpre-
Walter Lippmann, 1922 tação, memorização, recuperação e uso da
informação. Neste sentido, podemos consi-
1. Introdução derar que esta obra de Lippmann constitui
um primeiro esboço de uma área de estudo
Em 1922, o jornalista e analista político hoje dominante no seio da psicologia social:
Walter Lippmann publica Public Opinion, a cognição social.2
uma obra que analisa como as pessoas
constroem as suas representações da reali- 2. Imagens e clivagens: as funções dos
dade social e de que forma essas represen- estereótipos sociais
tações são afectadas tanto por factores in-
ternos como externos. Segundo Lippmann, Lippmann (1992/1961) é considerado o
as ‘representações’ – the pictures inside the fundador da conceptualização contemporânea
heads – funcionam como ‘mapas’ guiando dos estereótipos e do estudo das suas fun-
o indivíduo e ajudando-o a lidar com infor- ções psicossociais (e.g., Ashmore e DelBoca,
mação complexa, mas também são ‘defesas’ 1981; Marques e Paéz, 2000). O termo
que permitem ao indivíduo proteger os seus ‘estereótipo’ já existia desde 1798, mas o seu
valores, os seus interesses, as suas ideolo- uso corrente estava reservado à tipografia,
gias, em suma, a sua posição numa rede de onde designava uma chapa de metal utiliza-
relações sociais. As representações não são da para produzir cópias repetidas do mesmo
o espelho da realidade, mas sim versões hiper- texto (Stroebe e Insko, 1989). O termo
simplificadas da realidade. também já era usado de forma esporádica nas
As representações nunca são neutras, pois ciências sociais para denotar algo ‘fixo’ e
dependem mais do observador do que do ‘rígido’, o que se prende com a origem
objecto, já que este define primeiro e vê etimológica da palavra: stereo que, em gre-
depois: go, significa ‘sólido’, ‘firme’.
Por analogia, Lippmann salientou a ‘ri-
“For most part we do not first see, gidez’ das imagens mentais, especialmente
and then define, we define first and aquelas que dizem respeito a grupos so-
then see. In the great blooming, ciais com os quais temos pouco ou nenhum
buzzing confusion of the outer world contacto directo. A visão dos estereótipos
we pick out what our culture has como algo rígido caracterizou muitos dos
already defined for us, and we tend estudos posteriores sobre esta temática. No
to perceive that which we have entanto, o autor não descurou a possibi-
picked out in the form stereotyped lidade de mudança dos estereótipos e sa-
for us by our culture” (Lippmann, lientou o carácter criativo da mente huma-
1922/1961: 81) na.
540 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
highly charged with the feelings that and openminded, the novelty is taken
are attached to them. They are the into the picture, and allowed to modify
fortress of our tradition, and behind it. Sometimes, if the incident is
its defense we can continue to feel striking enough, and if he has felt a
ourselves safe in the position we general discomfort with his
occupy” (Lippmann, 1922/1961: 96). established scheme, he may be shaken
to such an extent as to distrust all
É precisamente pelo seu papel na manu- accepted ways of looking at life”
tenção do sistema de valores do indivíduo (Lippmann, 1922/1961: 100).
e do statu quo, que os estereótipos dificil-
mente são abalados por informação incon- Estes aspectos viriam a ser estudados
gruente com os mesmos. algumas décadas mais tarde por Allport
(1954/1979) e amplamente demonstrados por
“There is nothing so obdurate to estudos em cognição social. O autor salienta
education or to criticism as the o carácter rígido dos estereótipos e o facto
stereotype. It stamps itself upon the de estes constituírem imagens demasiado
evidence in the very act of securing ‘generalizadas’ e ‘exageradas’ que descuram
the evidence. (…) If what we are a variabilidade dos membros dos outros
looking at corresponds successfully grupos e negam a sua individualidade
with what we anticipated, the (Lippmann, 1922/1961: 116).
stereotype is reinforced for the future Este aspecto foi empiricamente demons-
(pp.98-99). (...) For when a system trado pelos estudos sobre o efeito de acen-
of stereotypes is well fixed, our tuação – a tendência para exagerar as
attention is called to those facts which semelhanças entre os membros da mesma
support it, and diverted from those categoria social e para acentuar as diferenças
which contradict” (Lippmann, 1922/ entre membros de categorias diferentes (Tajfel
1961: 119). e Wilkes, 1963) – e sobre o efeito de
homogeneidade do exogrupo – a tendência
Neste sentido, Lippmann faz referência de perceber o grupo dos outros como mais
ao que posteriormente se veio a designar homogéneo do que o grupo de pertença
como ‘profecias auto-confirmatorias’ (Merton, (Quattrone e Jones, 1980).3
1949/1968), amplamente demonstradas pelos Lippmann debruçou-se ainda sobre o
estudos em cognição social (e.g., Hamilton, poder dos ‘rótulos’ e os seus efeitos nefastos
1979). Quando um membro de determinado na percepção das pessoas: “They are too
grupo age de forma contraditória ao estere- empty, too abstract, too inhuman” (1922/
ótipo, Lippmann considera que, na maior 1961: 160). Na perspectiva do autor, só uma
parte das vezes, este membro passa a ser visto longa educação crítica permitiria aos indi-
como uma excepção, mantendo-se o estere- víduos tomarem consciência do carácter
ótipo intacto. Este só é abalado se o indi- diferido e subjectivo da respectiva apreensão
víduo ainda tiver alguma flexibilidade de da realidade social (p.126). Embora salien-
espírito ou se a informação incongruente for tando o papel da educação – “the supreme
demasiado impressionante para ser ignorada: remedy”(p.408) – Lippmann considera os
estereótipos inevitáveis:
“If the experience contradicts the
stereotype, one of two things happens. “Yet a people without prejudice, a
If the man is no longer plastic, or if people with altogether neutral vision,
some powerful interests make it highly is so unthinkable in any civilization
inconvenient to rearrange his of which it is useful to think, that no
stereotypes, he pooh-poohs the scheme of education could be based
contradiction as an exception that upon that ideal. Prejudice can be
proves the rule, discredits the witness, detected, discounted, and refined, but
finds a flaw somewhere, and manages so long as finite men must compress
to forget it. But if he is still curious into a short schooling preparation for
542 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
de, sendo-lhes atribuídas características ex- significa que o preconceito tenha desapa-
pressivas e exóticas, o que, embora apresen- recido, pois, como os próprios autores sa-
tando uma conotação positiva nas camadas lientam, alguns dos resultados obtidos “are
juvenis, continua a retirar-lhes o estatuto de too good to be true” (Karlins et al., 1969:
pessoa adulta, responsável e com capacidade 11).
de realização. De salientar que este padrão Nesse sentido, os autores salientaram a
de resultados continua a ser encontrado hoje necessidade de distinguir entre estereótipo
em dia em estudos realizados em diversos pessoal, fenómeno psicológico, e estereótipo
países ocidentais relativamente às minorias social, fenómeno cultural:
de origem africana (e.g., Cabecinhas, 2002).
No estudo realizado por Karlins e cola- “we may refer to a single individual’s
boradores (1969) constatou-se, mais uma vez, assignments as his personal stereotype
que o grau de consenso dos estereótipos sobre and the consensual assignment of a
determinado grupo não está directamente given population of judges as a social
ligado ao grau de preconceito exibido em stereotype. (...) The absence of a
relação a esse grupo. Comparando os seus traditional pattern of stereotyping may
resultados com os de Gilbert (1951), os not indicate a decline of stereotyping
autores salientam: itself, but perhaps the formation of a
revised social consensus” (Karlins et
“the apparent ‘fading’ of social al., 1969: 3; itálico no original).
stereotypes in 1951 is not upheld as
a genuine overall trend. Where Os resultados de um estudo realizado por
traditional assignments have declined Sigall e Page (1971) são bem elucidativos
in frequency they have, in the long das pressões normativas que deram origem
run, been replaced by others, resulting
aos ‘novos racismos’. Os autores
in restored stereotypes uniformity. (...)
complementaram o uso da tradicional lista
A feature of this data which is still
de adjectivos com uma manipulação expe-
impressive is the extent to which ‘new’
rimental. Numa das condições os participan-
stereotypes resemble previous ones.
tes respondiam simplesmente (condição
Paradoxically enough, the changes
controlo) e na outra (bogus pipeline) eram
which have occured stand out
informados que o experimentador detinha
because so much has remained the
uma medida fisiológica infalível capaz de
same. Uniformity and favorableness
medir a atitude, uma espécie de ‘detector de
scores correlate significantly across
the three generations of students. The mentiras’. Os autores compararam os este-
collections of traits selected to reótipos dos participantes (americanos bran-
characterize specific groups are very cos) face aos americanos e aos negros, nas
much alike from one generation to the duas condições de resposta. Verificou-se que
next, though the relative popularities na condição bogus pipeline o estereótipo
of those traits have been thoroughly relativo aos ‘americanos’ era mais favorável
rearranged. A great deal of change e o relativo aos ‘negros’ mais desfavorável
consists of a shift of emphasis in the do que na condição controlo, isto é, o
already existing picture” (Karlins et favoritismo pelo grupo de pertença aumen-
al., 1969: 14; itálico nosso). tou quando os participantes julgavam que a
sua ‘verdadeira atitude’ estava a ser medida
Como os autores referem, o conteúdo dos através de um instrumento infalível. Sigall
‘novos estereótipos’ é mais consistente com e Page consideram este resultado “as
as “atitudes mais liberais” da sociedade relatively distortion-free, as more honest and
americana, como demonstrado em diversos ‘truer’ than rating-condition responses”
estudos nos anos 60. A esse propósito, os (p.254; citados por Oakes et al., 1994), o
autores citam Triandis e Vassiliou (1967: que sugere que os estudos com base na lista
238): “it is no longer appropriate to be de adjectivos, sobretudo os realizados a partir
prejudice toward other groups”. Isso não do momento em que se tornou contra-
546 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
2
Platão (s.d./2001). A Républica. Lisboa: A expressão ‘cognição social’ foi introdu-
Fundação Calouste Gulbenkian. zida na Psicologia Social por Bruner e Tagiuri
Quattrone, G. A., e Jones, E. E. (1980). (1954), num artigo sobre a percepção de pessoas.
Na altura, esta expressão não captou a atenção
The perception of variability within ingroups
dos investigadores, que a consideraram demasi-
and outgroups: Implications for the law of ado vaga e imprecisa (Leyens, Yzertyt e Schadron,
small numbers. Journal of Personality and 1994: 15). Esta designação só viria a tornar-se
Social Psychology, 38,141-152. corrente nos anos oitenta, quando a perspectiva
Rokeach, M. (1948). Generalized mental da cognição social se tornou dominante no seio
rigidity as a factor in ethnocentrism. Journal da disciplina.
3
of Abnormal Social Psychology, 43, 259-278. Posteriormente, foi demonstrado que estes
Snyder, M. (1981). On the self- enviesamentos perceptivos não são simétricos ou
perpetuating nature of social stereotypes. In universais, mas estão dependentes do contexto e da
estrutura das relações entre os grupos (e.g., Lorenzi-
D. Hamilton (Ed.). Cognitive Processes in
Cioldi, 1998; Cabecinhas e Amâncio, 1999).
Stereotyping and Intergroup Behavior (pp. 4
Na acepção de Tajfel (1981/1983), os es-
183-212). Hillsdale, NJ: Erlbaum. tereótipos sociais são representações socialmente
Tajfel, H. (1981/1983). Grupos humanos partilhadas sobre as características e os compor-
e categorias sociais (Vol. 1 e 2). Lisboa: tamentos de determinados grupos humanos,
Livros Horizonte. estratificados segundo critérios socialmente valo-
Tajfel, H., e Wilkes, A. L. (1963). rizados e traduzindo uma determinada ordem nas
Classification and quantitative judgement. relações intergrupais. Neste sentido, existe uma
coincidência conceptual entre estereótipos sociais
British Journal of Psychology, 54, 101-114.
e representações sociais. No entanto, o conceito
Vala, J., Brito, R., e Lopes, D. (1999a). de representação social é mais amplo do que o
Expressões dos racismos em Portugal. Lis- de estereótipo social, uma vez que o primeiro
boa: Instituto de Ciências Sociais. abrange todo o tipo de representações indepen-
dentemente do seu objecto, desde que estas sejam
partilhadas no seio de determinado grupo social,
_______________________________ enquanto que o segundo se restringe às represen-
1
Universidade do Minho. tações sobre grupos humanos.
550 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 551
ser perfeitamente identificado como sinal do outro generalizado”: “há sempre uma tragé-
funcionamento normal das instituições poli- dia pessoal por trás das estatísticas sobre a
ciais e de seus modos operatórios – que a violência”. “Qual de nós não sofreu,
rigor nunca funcionaram bem – o que mais indiretamente, a ação dessa violência?”16.
se nota na mídia é a interpretação do pro- Como já apontado, o processo de debate
cesso como evidência clara de uma intensa público somente ocorre quando há um grau
crise institucional. de sensibilidade e atenção, já instalados no
meio social, para situações que se configu-
Accountability ao público em geral: “o país ram como problemas que afetam a toda
não aguenta mais” coletividade. De tal sorte, FHC ressalta que
aquele acontecimento demanda séria atenção
Logo após o encerramento do sequestro, dos governantes e da própria sociedade.
Fernando Henrique, o então presidente da
República, através de pronunciamento trans- “Isso impõe a todos nós brasileiros
mitido em rede de televisão, interpela os e, sobretudo, a nós, que temos res-
telespectadores como parte de uma mesma ponsabilidade de governo, a necessi-
dade de uma ação conjunta, mais
comunidade política de “todos os brasilei-
eficaz, para combater a violência, o
ros” – um de nós – que sente “um misto
crime, a droga, porque estamos che-
de pavor e indignação com o que estava
gando a um ponto que é inaceitável”.
acontecendo”13.
Nesse sentido, a prestação de contas de
“Nós acabamos de assistir, todos
FHC é direcionada ao público, e significa,
estarrecidos, durante horas, a uma de certa forma, uma aceitação legítima da
cena de um sequestro de uma pessoa responsabilidade dos representantes eleitos de
aparentemente drogada, numa violên- garantir e bem comum e prover proteção e
cia absolutamente inaceitável e até segurança pública à população. Desde as
certo ponto contristado por não ver primeiras teorias do Estado Moderno reco-
uma ação mais rápida que fosse capaz nhece-se que é finalidade mínima de um
de evitar o desenlace fatal de uma Governo manter as condições que permitam
jovem absolutamente inocente. (...) E a coexistência pacífica entre grupos e indi-
eu, como presidente da República, não víduos, impedindo ações violentas. Através
poderia deixar de dar uma palavra da ordem jurídica, os indivíduos são expro-
primeiro de solidariedade à família, priados da utilização da violência para atingir
mas, também, ao povo sofrido das seus fins, ficando o Estado, como detentor
cidades do Brasil.” do monopólio do uso legítimo da violência,
com função de prover proteção pública aos
O presidente dá mostras de que é sen- cidadãos contra os custos externos à ameaça
sível aos efeitos maléficos daquela “violên- criminosa. A polícia, como a instituição de
cia absolutamente inaceitável”, em termos do controle social por excelência, se encarrega
sofrimento humano afetando as vítimas reais de prevenir ou impedir os delitos contra a
ou potenciais. Nesse sentido, a violência pessoa, contra a propriedade e contra os
desperta um sentimento genérico de soli- costumes. Reduz, assim, o risco de morte
dariedade, derivado das obrigações éticas e violenta que alarmava Thomas Hobbes e
morais da comunidade social, já que a se- garante a ordem para os indivíduos perse-
gurança física da própria vida tende a ser guirem o próprio interesse, como desejava
um valor fundamental para todos. O próprio Adam Smith.
governador do Rio, após o episódio, assume Por certo, a violência urbana é um pro-
o papel implícito do outro: “Não queria estar blema complexo, sem uma terapia específica
no lugar de nenhum dos passageiros14.” Essa recomendada para resolução da construção
menina poderia ser minha filha15.” O Presi- da ordem democrática. Estudos contemporâ-
dente da República também adota o ponto neos não buscam mais explicar a violência
de vista do que poderia ser chamado de “um urbana numa visão linear de causa e efeitos,
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 555
mas, ao invés disso, entende-se que “um organizado, na droga, as molas fun-
conjunto de fatores desencadeiam um con- damentais. Acho que o país não
junto de dispositivos, com uma cadeia de aguenta mais”.18
efeitos que cruzam entre si” (Zaluar,
1996:53). Fatores sócio-econômicos (a per- A democracia representativa configu-
sistência da miséria, o crescimento do de- ra-se como uma cadeia de delegação de
semprego nas cidades, a precariedade dos competências de decisão, em diferentes
sistemas de educação, de assistência pública níveis: dos eleitores aos representantes elei-
ou de reabilitação) reforçam os processos de tos, do legislativo às agências do executivo,
segregação e exclusão social, negando à do executivo aos diferentes setores ministe-
maioria da população os recursos básicos para riais com suas secretarias, dos chefes de
auto-realização. Ademais, numa sociedade diferentes departamentos executivos aos
com forte tradição de relações hierárquicas, servidores públicos. Tal cadeia de delegação
o princípio de igualdade – seja como igual- se espelha a uma cadeia correspondente de
dade perante a lei, seja como responsabili- accountability, a qual opera na direção in-
dade coletiva pela exclusão de classe – não versa (Strom, 2000: 267). Apesar de algumas
chegou propriamente a se consolidar, nem dificuldades conceituais19, tal noção contri-
como ideário, nem como prática do Estado bui para mostrar os mecanismos que permi-
de Bem-estar social (Paoli & Telles, 2000; tem aos mandatários fazer com que os agentes
Carvalho, 2000; Velho, 1996). A impossibi- públicos sejam responsabilizados (ou
lidade da constituição de processos de reci- responsabilizáveis), accountable ex post, pelo
procidade entre os cidadãos tende a gerar real funcionamento das instituições, no sis-
impasses socioculturais e a irrupção da vi- tema democrático. Seguindo a via
olência dentro e entre os grupos sociais institucional, nota-se que o Presidente da
(Velho, 1996: 10; Soares, 2000). República demanda que os agentes públicos
Contudo, “os representantes são respon- venham a dar respostas ao problema:
sáveis pelas políticas que sustentam e tam-
bém pelos resultados de tais políticas” “O governo federal entrará em contato
(Gutmann & Thompson, 1996:137). Nesse de imediato, como já fiz hoje, com
sentido, FHC sustenta igualmente a expec- o governador do Rio de Janeiro, que
tativa de ser responsável pelos outros agen- naturalmente me disse que eles esta-
tes dentro do sistema político para encontrar vam fazendo o que lhes correspondia
as soluções para os problemas sociais. O e eu disse que estava preparado para
presidente reafirma que, apesar dos governos ajudar no que ele necessitasse. Mas
estaduais serem os responsáveis diretos pela eu sei que, nessas horas, depende da
segurança pública, as autoridades federais, ação direta de quem tem o comando
“no âmbito de suas ações”, já estavam se sobre a polícia”.20
“organizando para impulsionar um programa
de emergência”, uma vez que “a violência Accountability e controle: da “melhor so-
assistida … pelo Brasil obriga uma veloci- lução possível” a uma operação “sem rumo
dade maior”17. Propõe, nesse âmbito, que os e sem controle”
representantes oficiais formem “um mutirão
de combate à violência”, para “agir com mais O primeiro pronunciamento oficial do
energia para coibir esses atos que são fran- Governador do Rio apresenta uma avaliação
camente assustadores”: mais específica de “quem tem o comando
sobre a polícia”. O governador lamenta a
“Com todas as dificuldades que exis- morte da refém e reconhece o desempenho
tem, nós temos que nos dar as mãos: da polícia como satisfatório.
os governadores, o presidente da
República, as forças de segurança, as “(…) a assessoria de imprensa de
Forças Armadas, no que lhes corres- Garotinho informou que o governa-
ponde, para pôr um paradeiro a essa dor “sentiu-se aliviado” com o des-
onda de violência que tem no crime fecho, que ele elogiara a atuação
556 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
enérgica da polícia e que ele havia sua vez, desencadeia mecanismos formais de
considerado que o final do sequestro accountability, baseados em controles hierár-
havia sido “a melhor solução possí- quicos da corporação policial e do judiciário.
vel”21. Contudo, não se pode adotar uma ‘visão
realista’ desse processo, como se as regras
No dia seguinte, o governador declara que fossem claras de início, ou que operem de
o desfecho não agradou nem a ele, nem ao maneira relativamente automática. Ao invés
comandante da operação e “falha foi ter disso, a especificação de uma dada norma
morrido alguém”22. Também o secretário de e sua aplicação ou a interpretação das ações
segurança pública do Rio afirma, de maneira em cada situação particular depende frequen-
bastante ambígua, que os policiais deixaram temente da consideração de diferentes pon-
de corresponder ao desempenho esperado: “a tos de vista, envolvendo a discussão entre
ação do soldado foi inoportuna, ele fez uma vários atores sociais. De tal sorte, é mais
avaliação errada, mas se tivesse matado adequado conceber que diferentes tipos de
Nascimento, e a moça não fosse atingida accountability são acionados numa rede de
por disparos, a ação teria sido correta”23. relações, os quais encampam diferentes
O primeiro passo para desencadear demandas de ´prestação de contas´ – exer-
accountability é nomear algo como um cícios de julgamento e de apuração de res-
problema (Pritchard, 2000). Não há exigên- ponsabilidades – com os quais os oficiais
cia para explicação e justificação, a menos públicos precisam, na prática, lidar.
que alguém defina a questão como sendo algo No espaço de visibilidade midiática, os
impróprio, errado ou indesejável. Se, num agentes da mídia, seguindo um procedimento
primeiro momento, a morte da refém apre- convencional do jornalismo (Mouillaud,
senta-se como um acidente ou uma fatali- 2002), buscam escrutinar a atuação dos
dade, novas falas vêm à cena, alterando tal policiais durante o sequestro. Para comentar
quadro interpretativo. Estabelecem-se as técnicas e os procedimentos adotados pela
polêmicas principalmente em torno: a) da polícia na operação, acionam as vozes de
“conturbada” negociação entre os policiais diversos especialistas – profissionais em ações
e o sequestrador e, em particular, do tiro na táticas de segurança, membros da corporação
hora da rendição, o qual provocou a morte policial atuando em instituições de diferentes
da refém e b) da morte de Sandro do estados, coronéis e delegados. Vários estra-
Nascimento, dentro do carro da polícia que tegistas e representantes superiores da
o conduzia à delegacia, o que levanta a corporação policial ressaltam que o proces-
interpretação imediata de que os policiais so de negociação foi–“completamente equi-
“executaram” o prisioneiro. vocado”25, com erros de avaliação, com usos
Essas questões apresentam, de maneira inadequados de equipamentos e confusão nas
dramática, as duas faces do problema da operações táticas:
polícia na ordem social democrática: (a) a
eficácia na provisão da ordem, a qual en- “o atirador da PM carioca deu tiros
volve a concentração de poder simbólico e considerados de alto risco para sua
instrumental na organização policial; (b) a posição (…) a arma estava um pouco
restrição ao uso do poder na produção da abaixada e ele não tinha noção precisa
ordem pelo policial – i.e, o uso arbitrário da direção do projétil (…). Aquilo foi
de poder pelos agentes do Estado, no uma loteria e a probabilidade de erro
combate ao crime (Paixão e Beato, 1997: 236; era muito maior que a de acerto’’.26
Soares, 2000: 29). A primeira polêmica pode
ser caracterizada como um processo infor- “Houve desencontro de informações
mal de accountability24 – derivada do con- e falta de um comando centralizado
junto de expectativas políticas e sociais, bem – considerada uma regra das mais
como das normas das organizações burocrá- relevantes nesse tipo de situação. A
ticas, de regras de operações de segurança, pior falha na ação foi a de comando.
e dos códigos de ética profissional da Uma tropa bem treinada não admite
corporação policial. A segunda polêmica, por heroísmo individual”.27
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 557
accountability desta instituição. Destacam que a pior coisa que poderia ter aconte-
a punição de policiais é constantemente cido”.51
denegada, sendo que o sistema judiciário
torna praticamente impossível a condenação “Antes ele tinha uma visão, depois
de policiais por crimes violentos. A repre- examinou os fatos, olhou as fotos e
sentante da organização Human Rights Watch mudou de posição e classificou-a
no Brasil, por exemplo, declara que o evento como um fracasso e trocou a chefia
se constitui em uma “possibilidade de o da PM. Fez incontáveis reuniões.
governo brasileiro se posicionar e mudar o Criticou sua polícia e prometeu ver-
histórico de impunidade do país.(…) Segun- bas, programas e ações especiais, além
do ela, apesar do crime praticado pelo se- de indenizar os parentes de Geísa”.52
questrador, ele tinha direito à defesa na
Justiça. (…)50. A mídia não é – nem poderia ser––
responsável pela cadeia de ações que segue
À guisa de conclusão: “um desfecho de- seu curso dentro das instituições, no sistema
sastroso” e recursos para inovação político. Obviamente, a série de demissões
institucional da cúpula da PM seguiu pressões e nego-
ciações de interesses que se dão longe da
A demanda para que os governantes ou visibilidade pública. Não obstante, é inegá-
os representantes oficiais prestem contas, vel que a mídia é fundamental para a cons-
publicamente, de suas ações – no legislativo, tituição pública dos eventos – como o caso
nos tribunais, ou na mídia – força-os a em tela – bem como para catalisar o debate
engajar-se em um tipo de diálogo com seu amplo sobre problemas que se acumulam em
público. A mídia estende a outros de maneira certos setores ou instituições, através do
mais ampla do que seria possível em agrupamento de questionamentos específicos
interações face-aface ou presenciais, o po- e da busca ativa por soluções.
tencial para que os representantes tornem-se A análise dos padrões argumentativos
responsáveis (answerable) (Dahl, 1985; apresentados pela corporação policial sobre
Thompson, 1995). Quando estendido para o evento do ônibus 174, na mídia, evidencia
além dos contextos de rotina, o processo de uma série de obstáculos e patologias que
accountability pública é medido em termos bloqueiam a sintonização do desempenho da
de conquistas práticas contínuas. Está asso- corporação com os interesses públicos. No
ciado a uma diversidade de mecanismos de processo de discussão pública, ficou eviden-
coordenação, explicação e justificação, a te o reduzido espaço para o aparecimento do
partir de preceitos morais e legais. sujeito da argumentação e da negociação. Não
A mídia cria uma base reflexiva que que os membros da corporação policial se
permite os atores sociais mudar suas formas negassem arbitrariamente ao diálogo, mas eles
de apresentação, interpretação e comunica- ficaram, na maioria das vezes, enclausurados
ção diante de atores concretos do sistema na repetição de regras formais, seguindo
político, e, também, diante de uma audiência padrões convencionais de justificação. Ao
implícita de cidadãos. Como vimos, expres- serem chamados a prestar contas, os oficiais
sar e trocar interpretações publicamente pode públicos, que “geralmente possuem um
alterar o modo pelo qual os agentes adqui- conhecimento completo sobre os constrangi-
rem e usam o conhecimento. Se, imediata- mentos legais”, como ressalta Mulgan, “en-
mente após o fim do sequestro, o Governa- quadram suas políticas e decisões de modo
dor do Rio elogiou a ação “enérgica” da a se manterem dentro dos limites legais
polícia e considerou que o episódio teve “o impostos a eles” (Mulgan, 2000: 564).
melhor desfecho possível”, tal avaliação foi Cabe indagar que tipo de accountability
drasticamente alterada: pode-se obter de agentes de instituições cujo
modus operandi interno permanece não
“Garotinho.... mudou de idéia e clas- público. Particularmente no caso da polícia
sificou-a [a ação da polícia] como um carioca, como define Luis Eduardo Soares,
fracasso, “um desfecho desastroso, foi “estamos diante de um universo corporativista
562 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
fechado, fortemente marcado por comprome- Não obstante, é preciso perceber que,
timentos e cumplicidades degradantes, com mesmo quando a deliberação fracassa, o
uma imagem pública negativa, atado a tra- processo de troca de visões, argumentos e
dições autoritárias e burocratizantes, infenso críticas que se inicia fora das instituições
ao planejamento, à avaliação, refratário ao prepara o caminho para a renovação dessas
controle externo e insensível às demandas da mesmas instituições. Como Bohman discu-
sociedade” (Soares, 2000: 148). Obviamen- te, a deliberação dentro de instituições
te, as instituições que negligenciam os anseios meramente re-arranja, ao invés de modificar,
do público e sistematicamente resistem às o conjunto de instalações, dispositivos e
demandas de transformação perdem legitimi- alternativas disponíveis. Quando a delibera-
dade. ção e o modo “normal” de resolver proble-
Isso coloca problemas para a efetividade mas mostram-se bloqueados, o público não
do debate público e para os mecanismos de pode mais deliberar de modo restrito, con-
accountability, considerada como o dever finado aos desenhos institucionais existentes.
de atender os desejos e as necessidades do Quando as instituições tornam-se imper-
cidadão, ou como um mecanismo de contro- meáveis em relação à esfera pública e a
le democrático. Ora, a accountability pres- comunicação é bloqueada por práticas cul-
supõe exatamente a existência de uma co- turais cristalizadas ou por rotinas instituci-
nexão entre o fluxo de comunicação do onais irresponsáveis, os agentes críticos têm
público e o da instituição pública. Como diz que se engajar precisamente nesse tipo de
Habermas: discurso crítico para alcançar o efeito dese-
jado: reabrir um diálogo ampliado e trazer
“Durante os processos de sintoniza- à tona problemas latentes da instituição para
ção, não pode romper-se o laço da o reconhecimento público, demandando aten-
delegação de competências de deci- ção pública e nova regulamentação. Do modo
são. Somente assim é possível con- de vista normativo do sistema democrático,
servar o vínculo com o público de importa saber que constelações de poder se
cidadãos, os quais têm o direito e refletem nesses padrões de ação de determi-
se encontram na condição de perce- nadas instituições e como é possível mudá-
ber, identificar e tematizar publica- los. Como aponta Habermas, esse novo modo
mente a inaceitabilidade social de de operar tem a consciência de crise, maior
sistemas de funcionamento”. atenção pública, busca intensificada de
(Habermas, 1997:83) soluções, tudo contribuindo numa
problematização. Nos casos em que a per-
Se há uma impermeabilidade permanen- cepção dos conflitos e as próprias problemá-
te, por parte da instituição, aos fluxos co- ticas são transformadas pelos conflitos, cres-
municativos advindos da esfera pública, estes ce a atenção e se desencadeiam controvér-
não só deixam de resolver os problemas que sias na esfera pública, envolvendo aspectos
pretendem resolver como, também, tornam- normativos dos problemas enfocados
se inócuos para restabelecer estruturas para (Habermas, 1997:89).
a accountability política. Sabemos bem que Nesse sentido, a comunicação que se
um aparato administrativo e legal adequada- desenrola nos meios de comunicação é cru-
mente flexível e ajustado aos interesses dos cial. Os agentes da mídia processam fluxos
cidadãos está longe de ser o resultado do comunicativos de origem e orientações di-
desejo de indivíduos isolados. De forma versas, direcionando-os para um agregado
frequente, as instituições burocráticas podem comum. Ainda que determinados atores se
não só deixar de proporcionar instalações e esquivem da comunicação aberta e transpa-
arranjos legais adequados, correspondendo rente, no intuito de resguardar, muitas vezes,
apropriadamente aos interesses públicos, interesses corporativistas ou particularistas,
como, também, desviar-se de processos de precisamente por razões não-públicas e por
supervisão independente, e, assim, esquivar- modos não-públicos de atuação, a comuni-
se do “dever de prestar contas”. cação não fica restrita a eles. Ao invés disso,
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 563
ela se entrelaça com a fala de outros atores que se queria intervir. Para resolver proble-
políticos da sociedade complexa e mas complexos, o planejamento inteligente
diversificada. Como vimos, os atores da do governo central exige mais que vontade
sociedade civil estavam menos preocupados política e recursos financeiros (Beato, 2001;
em restabelecer a coordenação das ações 2000:12)56. Programas de intervenção social,
particulares do episódio do ônibus 174 e mais pressupondo ações multidisciplinares e
em tematizar os problemas sócio-econômicos interinstitucionais, focalizadas geografica-
mais amplos que levam à violência urbana mente, requerem a cooperação continuada de
e os déficits do modelo de polícia vigente. diversos atores sociais e processos de apren-
Buscam, com isso, atualizar, dentro do dizagem coletiva, para que novas orientações
Estado de Direito, “sensibilidades em rela- e soluções criativas sejam alcançadas e pas-
ção às responsabilidades políticas regula- sem a guiar os projetos institucionais e as
das juridicamente” (Habermas, 1997: 89). atividades práticas.
Nesse sentido, os mecanismos de inovação Por fim, a mídia não está obviamente livre
e os trâmites rotineiros das instituições de seus próprios obstáculos, seja no âmbito
podem se ver pressionados a sofrer uma de suas organizações institucionais, seja no
‘aceleração’. âmbito de suas práticas sociais. Contudo, para
Diante das controvérsias geradas em torno além dos jogos de interesses de atores so-
do evento do ônibus 174 e da prolongada ciais particulares, que buscam controlar os
crise de legitimidade das instituições encar- fluxos e os conteúdos da comunicação, ou
regadas da segurança pública53, o Presidente das estratégias visando administrar a própria
da República decidiu antecipar o anúncio do imagem (Thompson, 1996, 2000; MaWby,
Plano de Segurança Nacional – um ambici- 2002), a visibilidade midiática é formada por
oso plano envolvendo 124 ações, com pro- uma pluralidade de agentes, sendo que
postas e programas direcionados a todos os nenhum ator pode constituí-la de maneira
elos dos fluxos de justiça criminal54 e com isolada ou exclusiva. Do ponto de visa
significativa cessão de recursos para as normativo, interessa identificar os obstáculos
unidades sub-federativas. Efetivamente que impedem a mídia de cumprir sua função
implementado em 2000, o Plano evidencia como fórum de debate pluralista nas soci-
o comprometimento do governo federal com edades democráticas, estabelecendo platafor-
a questão da segurança pública, que, até então, mas que permitam a expressão de pontos de
era praticamente exclusiva dos estados55. vista de políticos, de representantes da so-
Não se pode supor, apesar disso, efetiva ciedade civil e de grupos de interesse, fa-
democratização dos processos de inovação vorecendo a construção de práticas
institucional. Após 3 anos de implementação deliberativas ampliadas. Resta saber como
do Plano de Segurança Nacional, diversos tornar a mídia mais accountable.
estudos têm apontado que diagnósticos sobre
cada questão em particular não foram rea- NOTA. Agradeço a Gisele Gomes de
lizados. Não houve debates mais amplos que Almeida, Bolsista de Iniciação Científica,
permitissem uma compreensão das vicissitu- pela preciosa colaboração na coleta e na
des presentes nos vários campos e, ainda, uma categorização do material empírico. Univer-
definição mais precisa acerca de modelos sidade Federal de Minas Gerais – Depto de
ideais de funcionamento das instituições em Comunicação Social, FAFICH
564 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Paixão, Antônio L. & Beato, F., Cláudio, European Journal of Political Research, 37,
C. Crimes, vítimas e policiais. Tempo Social. 261-289, 2000.
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sociais latino-americanos. Belo Horizonte: Velho, Gilberto. Violência, reciprocidade
Ed. UFMG, 2000, p.103-148. e desigualdade: uma perspectiva antropoló-
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2000. e os limites da explicação local. In: Velho,
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França, V. et al. Estudos de Comunicação
– Livro do XI Compós. Porto Alegre: Sulina,
2003, pp. 59-84. _______________________________
Rodrigues, Marta M. A. Accountability 1
Universidade Federal de Minas Gerais. Este
& Poder constitucional do executivo brasi- texto apresenta resultados parciais do projeto de
leiro. Teoria Social, n. 9, 2002, pp.158-201. pesquisa intitulado “Mídia e dimensões da deli-
Romzek, Barbara S. & Melvin, J. beração”, financiado pelo CNPq.
2
Dubnick. Accountability and the Public Dada a dificuldade em traduzir o termo
accountability de maneira precisa na língua
Sector: Lessons from the Challenger Tragedy.
portuguesa, este termo vem sendo utilizado em
Public Administration Review, vol. 47, no. inglês na maior parte dos estudos sobre o tema
3, 1987, pp. 227-38. (Rodrigues, 2002; Avritzer, 2002; Lattman-
Rondelli, Elizabeth. Imagens da violên- Weltman, 2001).
cia e práticas discursivas. In: Pereira, C. M. 3
2 O corpus empírico constitui-se de 128
(org). Linguagens da Violência. Rio de matérias jornalísticas veiculadas entre 13/06/00 a
Janeiro: Rocco, 2000. 22/06/00, assim distribuídas entre os veículos:
Sapori, Luís Flavio & Souza, Silas Estado de Minas: 55; Folha de São Paulo: 68;
Barnabé. Violência Policial e cultura militar: Veja: 1 (matéria com chamada na capa); Isto É:
2 (matéria de capa); Época: 2 (matéria de capa).
aspectos teóricos e empíricos. Teoria e 4
O sequestro foi transmitido pelas principais
Sociedade. Junho, 2001, pp.173-213. redes de televisão do país e pela CNN, que
Shapiro, Ian. Optimal Deliberation? The distribuiu as imagens numa cadeia mundial.
Journal of Political Philosophy. Vol. 10, no.2, 5
Tal noção é desenvolvida por diversos
2002, pp.196-211. autores, tais como S. Chambers, J. Cohen, J.
Soares, Luis E., Segurança Pública e Fishkin, A. Gutmann, J. Dryzek e J. Habermas,
direitos Humanos – Entrevista de Luiz que focalizam a deliberação na sociedade civil,
Eduardo Soares a Adorno Sérgio. Novos sustentando um modelo descentrado de delibe-
Estudos Cebrap. No 57, jul. 2000, pp.141- ração, ao invés da deliberação em instituições
administrativas formais.
154. 6
Ao perceber a presença das câmeras de TV,
Souza, Elenice de. Organização Policial o próprio sequestrador estabelece estratégias de
e os desafios da democracia. Teoria e So- comunicação com o público, personifica o cri-
ciedade. Junho, 2001, pp.151-172. minoso sádico e encena dramatizações de mau-
Strom, Kaare. Delegation and tratos às vítimas. Além disso, simulou a morte
accountability in parliamentary democracies. de outra refém e solicitou ao grupo que demons-
566 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
trasse pânico, como esclarecido pelas vítimas em destinados a agregar preferências, as práticas de
diversas entrevistas, na mídia e no documentário debate coletivo são os meios legítimos para a
“Ônibus 174”, de José Padilha, realizado em 2002. construção e a defesa de interesses comuns, bem
7
18/06 – FOLHA – cotidiano – C6 . como a tomada de decisões que vinculam legal-
8
“Na minha fantasia, eu trocava de canal como mente os cidadãos.
se estivesse vendo um filme violento, que aca- 20
FHC (13/06 – FOLHA – cotidiano – C2
baria com um ato de bravura dos mocinhos. O e C4; 13/06 – EM – nacional – p.7).
bandido seria alvejado com um tiro certeiro e as 21
13/06 – FOLHA – cotidiano – C4.
vítimas acabariam salvas” (Jorge Luis de Paula 22
Garotinho (13/06 – FOLHA – cotidiano –
Baptista, em grupo de discussão na Internet, 18/ C3).
06 – FOLHA – cotidiano – C6) 18/06 – FOLHA 23
Josias Quintal (14/06 - FOLHA – cotidiano
– cotidiano – C11). – C6).
9
18/06 – FOLHA – cotidiano – C8. 24
Romzek e Dubnick (1987) propõem dis-
10
18/06 – FOLHA – cotidiano – C8. tinguir entre diferentes formas de accountability,
11
18/06 – FOLHA – cotidiano – C11. a partir da fonte de controle (interno ou externo)
12
Um tratamento adequado do objeto exige e do grau de controle exercido sobre os agentes
que se discrimine analiticamente entre as tendên- públicos (alto ou reduzido). São elas: A
cias e características das práticas delituosas, a fim accountability burocrática – com alto potencial
de se apreender, num intervalo de um tempo, quais de controle interno – deriva-se de arranjos hie-
as ocorrências policiais que manifestam cresci- rárquicos que são baseados na supervisão e na
mento e retração, por cidades ou regiões, com- organização de diretrizes; a accountability legal
parativamente a um período anterior. Os índices – com alto potencial de controle externo – é ga-
de criminalidade urbana violenta vêm crescendo rantida por arranjos contratuaiss: a accountability
paulatinamente em termos absolutos nos anos 80 profissional – com baixo controle interno – é
e 90 e, após 1992 tal crescimento se evidencia baseada na observância da expertise pelos pares
particularmente na taxa de assassinatos (IBGE, ou por grupos de trabalho, já a accountability
1992-1999). Os estudos de Paixão evidenciam que, política – com baixo potencial de controle externo
entre 1932 e 1987, as taxas médias de crime em – é estabelecida pela capacidade dos representan-
Belo Horizonte e São Paulo decresceram subs- tes de prestarem contas e darem satisfações.
tancialmente em relação ao número total de crimes 25
Presidente do Sindicado dos delegados (13/
e em relação a cada categoria em particular 06 – FOLHA – cotidiano – C4).
(Paixão, Adorno, 1993:4). A criminalidade nas 26
Coronel da Polícia Militar de São Paulo,
capitais do sudeste tem declinado enquanto os especialista em tiro defensivo e ações táticas.
crimes contra a pessoa têm aumentado em muitas 27
Coronel da PM, pesquisador da área de
capitais do Nordeste e do Norte do país (IPEA, segurança do Instituto de Segurança Fernand
2003). Braudel (21/06 – VEJA – p.44).
13
14/06 – EM – política – p.8. 28
“Agonia... ação desastrada... e um desfecho
14
Garotinho (13/06 – FOLHA – cotidiano – trágico”. VEJA, 21/06/2002, p.42-43; FOLHA –
C3). cotidiano - 14/06 – C12).
15
Garotinho (13/06 – FOLHA – cotidiano – 29
Geraldo Magela Quintão (16/06 – EM –
C4). política, p.5).
16
14/06 – EM – política – p.8. 30
17
José Gregori (16/06 – EM – política – p.5).
FHC (13/06 – FOLHA – cotidiano – C2. 31
18
14/06 - FOLHA – cotidiano – C6.
13/06 – FOLHA – cotidiano – C2. 32
19
Coronel José Vicente da Silva (13/06 –
A visão da democracia representativa como
FOLHA – cotidiano – C3).
uma cadeia de delegação e accountability é uma 33
Tenente coronel José Penteado (21/06 –
simplificação em diversos aspectos. Primeiro, os
agentes políticos podem ser individuais ou ISTOÉ – p.30 e 32).
34
coletivos, assim como os “cidadãos” (principals). Tenente coronel José Penteado ( 14/06 –
Atores coletivos complicam o exercício de FOLHA – cotidiano – C6).
35
delegação e accountability. Segundo, os eleitores, Tenente-coronel José Penteado (14/06 –
como detentores em última instância da sobera- FOLHA – cotidiano – C6; 21/06 – ISTOÉ – p.30
nia, defrontam-se com grandes problemas de e 32).
36
coordenação. Em sociedades de larga escala, eles 21/06 – ISTOÉ – p.30 e 32.
37
não podem simplesmente decidir sobre os pro- 13/06 – FOLHA – cotidiano – C3.
38
cessos de recrutamento e de supervisão dos Capitão reformado do Exército (14/06 –
oficiais e nem instruir ativamente seus dirigentes. FOLHA – cotidiano – C12),
39
É nesse sentido que modelos deliberativos de 13/06 – FOLHA – cotidiano – C4.
40
democracia defendem que, entre os processos 13/06 – EM – nacional – p.7.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 567
41
Não foi detectada, nas matérias examina- mecanismos de cooperação entre os sistemas de
das, nenhuma declaração oficial confirmando tal segurança pública e a sociedade civil, através de
telefonema do Presidente. ações comunitárias (http://www.soudapaz.org/cam-
42
Garotinho (14/06 – FOLHA – cotidiano – panhas/index.html).
50
C7 e C12). 15/06 – FOLHA – cotidiano – C1.
43 51
14/06 – FOLHA – cotidiano – C6. 14/06 – EM e FOLHA – política e coti-
44
22/07 – FOLHA – cotidiano – C5. diano – p.3 e C12.
45 52
O soldado Marcelo Oliveira dos Santos é 21/06 – ISTOÉ – p.31.
53
afastado pelo BOPE do serviço policial por tempo “Ele (FHC) decidiu antecipar o anúncio do
indeterminado, sendo encaminhando a uma clí- plano, em estudo desde o início do ano, por conta
nica, com o diagnóstico de depressão (16/06 – da ação desastrosa da polícia no sequestro de um
FOLHA – cotidiano – C3). ônibus no Rio de Janeiro” (15/06 – FOLHA -
46
22/06 – FOLHA – cotidiano – C4 P54. cotidiano – C5). Defendendo-se de críticas de
47
Um dos policiais teve o braço quebrado e oportunismo político, FHC afirma: “Não sou
os advogados encarregados do caso tomam esse demagogo. Não há impacto que resolva o pro-
fato como evidência de que houve um embate entre blema da segurança do cidadão; o que há é ação
os policiais e Sandro. As versões são controver- continuada” (16/06 – EM – política – p.5).
54
sas: uma advogada afirma que o conflito ocorreu O Plano Nacional de Segurança Pública
dentro do camburão, quando o sequestrador ten- apresenta propostas e programas direcionados à
tou apanhar a arma do policial; já outra advogada polícia (“Programa Segurança do Cidadão”,
afirma que o embate ocorreu no momento em que “Combate ao Crime Organizado”); ao Ministério
o policial tentava dominar o sequestrador, apli- Público e à justiça (com propostas de
cando-lhe uma ‘‘gravata’’, do lado de fora da Reformulação do Código Penal e do Código do
viatura (16/06 – EM nacional p.7; 16/06 FOLHA Processo Penal), ao setor sócio-educativo de
- cotidiano – C1). reabilitação (Programa de Re-inserção Social do
48
Chaia Ramos e Daniele Braga (16/06 – EM Adolescente em Conflito com a Lei) e do próprio
nacional p.7 e 16/06 FOLHA – cotidiano – C1). Sistema Penitenciário Nacional (Programa
49
Em junho e julho de 2002, houve diversas Reestruturação do Sistema Penitenciário).
55
manifestações da sociedade civil demonstrando o A execução orçamentária no âmbito do
sentimento generalizado de exaustão diante da Ministério da Justiça evidencia que as aplicações
violência, tais como as passeatas “Morro e As- em programas ligados à segurança pública aumen-
falto” no Rio de Janeiro em 18/06, “Basta! Eu taram de R$ 128 milhões, em 1995, para R$ 871
quero Paz”, realizada em mais de 15 estados do milhões, em 2002 (em valores reais, a preços de
país em 7/07. Alem disso, a instituição “Sou da dezembro de 2001) (IPEA, 2003:97).
56
Paz” organizou em 2000 a campanha “Basta! Eu De tal sorte, os recursos acabaram sendo
quero Paz”, em âmbito nacional, atuando em 3 destinados à reprodução de modelos anteriores
frentes principais: (i) promoção de debates sobre constituídos, obsoletos ou deficientes (Soares 2000,
os diversos aspectos da violência, organização de Beato, 2001, Souza 2001). O “Programa Segu-
encontros e consultorias com especialistas sobre rança do Cidadão”, por exemplo, investiu mais
o tema e com lideranças sociais representativas de R$ 1 bilhão de 2000 a 2003, principalmente
em todo país; (ii) desenvolvimento de ações de na compra de veículos e na intensificação do
mobilização social pelo desarmamento e controle policiamento ostensivo, “como se o problema das
radical do uso da arma de fogo (pelos criminosos, polícias no país fosse meramente a insuficiência
pela polícia e pela população em geral); (iii) de recursos, mais do que o esgotamento de um
valorização da polícia e desenvolvimento de modelo policial ultrapassado” (IPEA, 2003:98).
568 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 569
que transfere para a pressão da concorrência, diferente dos que colocam a tónica na ex-
em particular da TVI, a responsabilidade da ploração dos sentimentos dos entrevistados:
manutenção dos directos de Entre-os-Rios: “os meios de massas esforçaram-se por dar
toda a informação, a que deviam dar, alguma
“Quero insurgir-me contra o espírito que não precisavam de dar e até uma ou outra
mórbido que campeia neste país e me que não deviam dar… A TV, na maioria das
obriga a manter dezenas de horas de vezes, tem o consentimento de quem mostra
emissão feitas num lugar onde já o sofrimento” (Público, 12 de Março de
muito pouca coisa pode acontecer. 2001). Este é também um dos aspectos
Quero insurgir-me contra o estilo mencionados por Júlio Magalhães, um dos
sensacionalista/terrorista da TVI, que jornalistas que esteve em serviço na cober-
está a criar em Castelo de Paiva a tura do acontecimento: “Não recorremos a
revolta das populações contra a co- truques nem, como diz a mensagem que se
municação social porque quer fazer quer fazer passar, à exploração indevida e
da tragédia de Entre-os-Rios o ‘Big brutal de quem estava a sofrer. Fizemos
Brother III’” (Emídio Rangel, Diário televisão, não obrigámos ninguém: e, ao
de Notícias, 10 de Março de 2001). contrário do que foi veiculado, nunca senti
em Castelo de Paiva qualquer hostilidade”
Perante a necessidade de manter os direc- (Expresso, 7 de Abril de 2001).
tos no ar, os jornalistas no terreno acabaram Outra crítica recorrente nos textos de opinião
por se ver na contingência de terem de abordar que fazem parte do nosso corpus de análise
populares e familiares das vítimas, um recur- diz respeito à manipulação dos jornalistas pelo
so que foi classificado por muitos como uma poder político e ao aproveitamento por parte
exploração da dor e dos sentimentos. Esta é dos políticos da presença das câmaras. Nesta
uma faceta apontada pelo próprio Sindicato: matéria, as atenções centraram-se nas já refe-
“Entrevistas a crianças, abordagem a pessoas ridas conferências de imprensa das 20h e nos
dentro das suas casas, interpelação a popu- mergulhos em directo, encenações para “res-
lares em visível estado de comoção foram ponder à voracidade das câmaras” (Pacheco
alguns dos erros profissionais graves detec- Pereira, Público, 15 de Março de 2001). Pacheco
tados nestas coberturas.” O aspecto mais Pereira é um dos que critica a “(…) cada vez
visível, que tomou já o jeito de caricatura, maior continuidade entre a construção do ‘show’
foi, sem dúvida, a tradicional pergunta “Como televisivo e os comportamentos de todos os
se sente?”. Estes procedimentos foram alvo outros agentes, a começar pelos agentes po-
de fortes críticas, como é o caso de Pacheco líticos (…)”:
Pereira, ao referir-se à cobertura da TVI:
“Outra absoluta insensatez são as
“Quinze dias de exploração brutal da conferências de imprensa das oito
dor, sob múltiplas formas incluindo horas, feitas por uma panóplia de
a estetização da tragédia com imagens ministros e secretários de Estado. Na
e som tratado, e o incentivo a actos verdade, (…) usam os seus poderes
espectaculares para “encher” a cober- administrativos para impedir a circu-
tura televisiva – como algumas co- lação de informação durante o dia,
locações de flores no rio – não podem para serem eles a dá-la à noite, em
deixar de ter um efeito muito pode- exclusivo (…) Este tropismo para as
roso nos espectadores, que, viciados câmaras (…) atinge os populares,
no consumo televisivo, não tiveram muitos dos quais não são familiares
qualquer alternativa que não fosse das vítimas, mas reclamam o seu
ficarem mergulhados numa celebração direito de ‘ver’ as operações e de
espectacular da dor” (Público, 15 de serem ouvidos pelas televisões” (Pú-
Março de 2001). blico, 15 de Março de 2001).
Também em relação a esta matéria, São vários os que se insurgem contra esta
Eduardo Cintra Torres adopta uma posição “relação” entre os media e os políticos,
574 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
existiram erros e excessos, mas não dormir e o dia seguinte todo ele ‘em
terão sido voluntários e terão decor- directo’. Permaneci dias e dias à chuva
rido tão simplesmente daqueles que e ao frio, em locais lamacentos, com
hoje em dia são os paradigmas da mais de 30 viagens entre o Porto e
comunicação, a saber as tecnologias” Castelo de Paiva…” (Júlio Magalhães,
que” condicionam a forma como Expresso, 7 de Abril de 2001).
percepcionamos a realidade e abrem
caminho à hipermediatização” (Judite Talvez a resposta mais enérgica tenha sido
de Sousa, Jornal de Notícias, 17 de a de Júlio Magalhães, em reacção às obser-
Março de 2001). vações dos vários comentadores, mas em
particular ao já referido texto de José Manuel
“É um facto que os directos das Fernandes, onde o jornalista da TVI afirma
televisões têm sido em excesso, dessa que “não é lícito, pois, ver os chamados
crítica eu também partilho, mas partir fazedores de opinião… e até colegas de
daí para passar um atestado de incom- profissão porem em causa o trabalho dos
petência aos jornalistas das televisões profissionais que estiveram deslocados em
é uma atitude irresponsável” (Pedro Castelo de Paiva”. Quanto às alegadas pres-
Coelho, Público, 25 de Março de sões das redacções, esclarece ainda: “(…)
2001). nunca ninguém nos obrigou a estar ‘em
directo’ as horas que fossem precisas – da
Sem escamotearem os erros cometidos, minha redacção (…) perguntaram sempre se
os jornalistas defendem-se nas circunstânci- era possível aguentar as emissões: nada foi
as em que se desenrola o trabalho de repor- imposto”; “ (…) os acontecimentos editori-
tagem (em directo, em condições físicas muito ais de Castelo de Paiva foram sempre co-
exigentes, no centro de um acontecimento mandados por quem estava no terreno”. Acaba
onde a informação escasseia e se vivem em tom irónico, devolvendo a crítica da
momentos de muita ansiedade): “busca desenfreada de audiências”:
“Somos levados a valorizar uma emis- ”Há dez anos que apresento o jornal
são informativa, a cobertura de um da hora de almoço: primeiro na RTP,
determinado acontecimento, pela capa- agora na TVI. Alguns dos críticos que
cidade que uma estação de televisão tenho lido e ouvido por estes dias nos
revela em estar, em directo, em vários jornais e na rádio, já os convidei para
sítios ao mesmo tempo (…) Por defi- o estúdio. Recusaram-se, mas não se
nição, o jornalista é uma testemunha recusam quando se trata dos jornais
profissional do acontecimento, mas a da noite, do ‘prime-time’: audiências
sua função de mediatizador de factos pois então” (Expresso, 7 de Abril de
fica alterada com a informação em 2001).
tempo real. Os factos são divulgados
na desordem de um acontecimento que Joaquim Fidalgo foi um dos intervenientes
está em produção (…) que, embora tecendo duras críticas, não
(…) Os jornalistas devem garantir que deixou de apontar uma nota positiva em
imagens inaceitáveis não sejam difun- relação ao trabalho dos jornalistas e das
didas. Mas é importante sublinhar que redacções:
no terreno, em circunstâncias difíceis,
o jornalista poderá não estar em con- “Responsabilizar esta lógica global e
dições de proceder à necessária refle- carregar as costas do ‘sistema’ não
xão sobre o compromisso da sua res- pode fazer-nos esquecer que ele tam-
ponsabilidade” (Judite de Sousa, Jornal bém é composto de gente concreta,
de Notícias, 17 de Março de 2001). de responsáveis que tomam decisões,
de gestores que estimulam escolhas,
“ (…) cheguei duas horas depois do de editores e jornalistas que diaria-
acidente, estive toda a noite sem mente fazem o seu trabalho e o servem
576 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
no debate: também os jornalistas e o Sin- recuperando a fórmula que foi então adop-
dicato participaram na discussão. Resta-nos tada pela comunicação social para referir os
saber se os resultados tiveram alguma ex- acontecimentos. Até hoje, terá sido, sem
pressão prática ao nível da qualidade do dúvida, a ponte que mais se viu, mas, no
exercício do jornalismo em Portugal. É uma dia 5 de Março de 2001, a informação não
das tarefas a cumprir nas próximas fases da foi líder de audiências, mas sim uma tele-
investigação. novela: Laços de Família. Foi a novela e não
Para finalizar, uma breve nota. Intitulámos os directos de Entre-os-Rios que deram à SIC
o nosso trabalho “A Ponte mais vista do País”, a pole-position na corrida do dia.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 579
público; é uma opinião composta, soma de isso, supõe-se que todas as opiniões têm valor
várias opiniões divergentes existentes no e se equivalem na composição da opinião
público; está em contínuo processo de for- pública. Na verdade, pelo simples fato de se
mação e em direção a um consenso com- colocar a mesma questão a todo mundo, fica
pleto, sem nunca alcançá-lo. Enfim, no dizer implícita a hipótese de que há um consenso
de Andrade, a opinião pública não é mais sobre os problemas, ou seja, que há um
do que a harmonia entre as opiniões indi- acordo sobre as questões que merecem ser
viduais. colocadas. Nenhuma dessas suposições são
Podemos ainda considerar, nesse proces- evidentes.
so de formação da opinião pública, a exis- O termo “opinião pública” já se tornou
tência de grupos organizados, como os algo de domínio público, ou seja, os meios
movimentos sociais ou as ONGs, que cons- de comunicação de massa e indivíduos de
tantemente se articulam em torno de temas toda ordem social utilizam o termo para
da sociedade ou sobre os temas da mídia e designar diversas situações; entre elas as
que podem ter suas opiniões consideradas no pesquisas de opinião, nas quais,
campo da contra-opinião pública. Na mai- quantitativamente, a soma das opiniões in-
oria das vezes, essas idéias representam dividuais significa a opinião pública; o ato
grupos que não possuem voz na sociedade de um grande número de pessoas saírem às
e que não conseguem difundir, através dos ruas para chorar a morte de um ídolo; um
meios de comunicação, seus pontos de vista, grupo de pessoas que se reúne para invadir
de forma a atingir uma grande parte da um supermercado que cobra preços acima
população, quer seja por não fazerem parte dos estipulados pelo governo; ou, ainda, a
da política vigente, quer seja por não des- participação do público na construção da cena
pertarem o interesse da mídia. final de um programa televisivo.
Esses grupos acabam criando uma soci-
É ainda comum vermos a relação entre
edade periférica de pessoas que não podem
a formação da opinião pública e as infor-
ser tratadas como revolucionárias, sem im-
mações veiculadas pelos meios de comuni-
portância. Um dos grandes exemplos são os
cação de massa. Até porque, historicamente,
próprios cientistas que muitas vezes não
vivemos a era da sociedade de massa, com
conseguem expor seus trabalhos e suas
características inerentes à existência de um
descobertas na área científica ou tecnológica.
aparato tecnológico informacional, impossí-
Muitas vezes essas pesquisas ou invenções
vel de ser desconsiderado para compreensão
poderiam até transformar o próprio caminhar
da formação da sociedade atual.
da sociedade, mas não chegam a ser conhe-
cidas. Sem eles, a sociedade perde a opor- Nesse processo há uma correlação evi-
tunidade de conhecer novas idéias e poder dente entre a formação da opinião pública
refletir sobre elas. e os meios de comunicação de massa. Porém,
Nesse sentido, devemos entender esse a opinião pública é algo que antecede a
conceito como um reforço à hipótese da existência dos veículos de comunicação de
existência não de uma opinião pública de fato, massa e, mesmo nos dias atuais, não está
mas de uma opinião manifestada, publicada unicamente ligada à existência desses veí-
ou conhecida socialmente, excluindo as idéias culos ou das mensagens por eles divulgadas,
daqueles que não têm oportunidade de se até porque, onde houver comunicação entre
expressarem para a grande massa. as pessoas, haverá terreno para a formação
Sobre isso, Bourdieu, em seu ensaio da opinião pública.
L’opinion publique n’existe pas, publicado no Opinião pública é um binômio de domí-
livro Questions de sociologie (1984) de uma nio lingüístico para toda a sociedade, porém
forma direta e extremista afirma: “A opinião de conhecimento para poucos. Suas aplica-
pública não existe”. O autor explica que: ções nos discursos cotidianos da mídia e dos
qualquer pesquisa de opinião supõe que todo atores sociais nem sempre traduzem seu real
mundo pode ter uma opinião; ou colocando significado. Sua forma de construção nem
de outra maneira, que a produção de uma sempre representa a vontade e as idéias da
opinião está ao alcance de todos. Mais que grande massa.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 583
maior desse poder como, vencido o medo Para Barros Filho (1995, p. 220-223), o
à liberdade, pode determinar o seu uso em ser humano tem horror ao isolamento opi-
favor da reinvenção da sociedade”. (Meditsch; nativo. Sustentar uma opinião contrária à
Bragança, 1988, p. 34). da maioria traz desconforto. Esse medo é
O binômio técnica-ciência ainda não está generalizado e estatisticamente comprovado.
totalmente resolvido na Universidade, porém, O medo do isolamento será tanto mais
não podemos desconsiderar o fundamental decisivo na tomada de posição quanto menor
papel que a academia representa como es- a confiança que tiver o indivíduo na sua
paço de discussão, de questionamento e de argumentação, que, por sua vez, é dependen-
crítica social. É um espaço que, no Brasil, te de todo o conjunto de elementos
ainda é restrito a uma parcela pequena da constitutivos do grau de educação, conheci-
sociedade, por problemas sociais básicos mento ou politização.
ainda a serem resolvidos. Por isso, a Uni- Outro fato a se considerar é quando não
versidade é fundamental para a formação de se faz qualquer tipo de pesquisa para se
indivíduos cada vez mais transformadores de conhecer a tendência das opiniões, fazendo
si e do ambiente que os cerca, assumindo com que a opinião pública se forme segundo
a função de formação de indivíduos a visão de uma celebridade midiática que,
multiplicadores de idéias. a partir dos poderes de persuasão previa-
Assim, se afirmarmos que a opinião mente conquistados junto ao público, terá uma
pública é produzida através da consciência dos tendência à formação de idéias junto aos seus
agentes sociais capazes de pensar criticamen- admiradores e fãs.
te os processos que envolvem a coletividade, É importante destacar que, mesmo nos
poderemos ter a Universidade como um espaço meios de comunicação de massa atingindo
privilegiado de reflexão e de pesquisas. uma imensa quantidade de públicos com suas
É comum encontrarmos pesquisas de mensagens, o fenômeno não pode ser con-
opinião que tomam como objeto o recolhi- siderado como recepção coletiva, uma recep-
mento de dados para se apurar o estado da ção de grupos, com possibilidade de discus-
opinião pública, quer seja para se conhecer são e assimilação comuns. O processo de
a aceitação de um produto, uma organização, recepção é amplo, mas individualizado,
um assunto público, um político. permitindo uma distância entre o significado
Nessa ótica, tendo em vista que as real de uma mensagem e a forma como é
pesquisas são feitas normalmente a partir de absorvida por cada indivíduo.
um grupo limitado de pessoas da sociedade Colocamos em questionamento o termo
(com exceções para as eleições diretas), a “comunicação de massa”, rotineiramente
posição dos indivíduos pesquisados, utilizado como algo que envolve toda a massa
selecionados a partir daquilo que os e que, ao nosso ver, deve ser repensado. Se
idealizadores da pesquisa desejam, e de considerarmos que comunicar pressupõe o ato
valores que julgam significativos, será de duas ou mais pessoas interagirem sobre
divulgada para a grande massa, ou para o um mesmo assunto, logo, o que existe em
grupo de interesse, e se caracterizará como um processo de mão única como a mídia é
sendo a visão da opinião pública. informação de massa, ou mais que isso,
Essa visão, com idéia de significar aquilo informação para a massa.
que todos pensam, será passada para a massa Não consideramos, contudo, que toda a
e esta terá a tendência a absorvê-la e repro- massa seja passiva, até porque, acreditamos
duzi-la. A hipótese da espiral do silêncio no oposto. Porém, ela não possui o poder
explica esse fenômeno, mostrando que a partir de se comunicar no momento de transmissão
daí existirá uma tendência a silenciar-se de mensagens pela maioria dos meios de
aqueles que pensam diferentemente da idéia comunicação de massa. As exceções ficam
apresentada como sendo unânime, fazendo por conta de alguns programas produzidos
com que as idéias contrárias normalmente não pelos veículos eletrônicos que contam com
sejam expostas. Esse é o medo do isolamen- a participação do público, cartas de leitores
to, que tem sua base firmada nas questões para os veículos impressos ou interações nas
psicológicas. novas mídias como a Internet.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 585
Além dos modelos acima, a comunicação Essa consciência é opaca a toda uma série
é algo que se dará ou não, posteriormente, de informações que não passam em razão
a depender da possível reação que os indi- mesmo de sua estrutura, enquanto outras
víduos terão sobre o assunto proposto pela informações passam, e outras, enfim, só
mídia, desencadeando um processo real de passam de maneira deformada. Muito fre-
comunicação como as próprias teorias de quentemente, na verdade, quem olha do
comunicação propõem. exterior e tenta comparar o que foi emitido
A opinião pública é algo de interferência com o que foi recebido constata que apenas
social, geográfica e histórica. Algo tem que uma parte da emissão foi recebida e que
acontecer no lugar certo, no momento certo mesmo essa parte, ao nível da recepção,
e com as pessoas certas para que se con- adquiriu uma significação assaz diferente da
figure o caráter de opinião pública. Muitas que fora enviada. Trata-se aí de um fato
vezes uma nova idéia pode precisar de uma extremamente importante que leva especial-
oportunidade de local e de momento social mente a repor em discussão toda a sociologia
para que venha a ser absorvida pela opinião contemporânea na medida em que ela é mais
pública. centrada sobre o conceito de consciência real
Assim, um determinado assunto ou des- que sobre o conceito de consciência possível.
coberta tem início, mas não adquire o for- O real é a realidade que o receptor
mato de algo que envolve a sociedade porque conhece a partir das possibilidades de sua
socialmente ainda não é o momento. Algo interpretação. Uma mesma mensagem sofre-
como opinião de grupo (ou não pública) que rá interferências de recepção em cada indi-
ainda não adquiriu o formato de opinião víduo a partir dos valores que cada receptor
manifestada para poder evoluir para opinião já possui.
pública. A sociedade é mutável, inconstante e deve
Principalmente no tocante à ciência, ser considerada pela sua geografia, pelo seu
fatores comerciais também são relevantes para espaço físico, principalmente num País con-
determinarem se um novo produto ou uma tinental como o Brasil, que agrega vários
nova droga médica deve ser lançada, con- “brasis”, onde os meios de comunicação de
siderando-se que poderá exterminar com um massa normalmente desprezam o caráter
produto já existente no mercado e causar um regional de interpretação de mensagens
caos econômico-social. veiculadas pela mídia.
Nesse sentido, num País onde grande Se pensarmos na importância da reflexão
parte da população é analfabeta, conseguir dos acontecimentos sociais, por cada indi-
uma sociedade crítica no tocante à informa- víduo, reportar-nos-emos à função das Re-
ção é um processo evolutivo. Os meios de lações Públicas como agentes de formação
comunicação de massa falam muito mais da de vários núcleos sociais determinados por
previsão do tempo ou de algo que possa ser instituições prestadoras de todo tipo de
compreendido por pessoas de qualquer nível serviço. Os Relações Públicas são
de escolaridade. Os cientistas se tornam intermediadores entre os meios de comuni-
periféricos, quer seja pela possibilidade de cação de massa e as organizações, e isso é
não compreensão, quer seja por interesses fundamental para que a sociedade possa
econômicos, políticos ou sociais da mídia. conhecer o que se passa dentro de vários
Os fatores psicológicos também têm pólos de existência social, em instituições
interferência na formação da opinião públi- públicas ou privadas.
ca. Segundo Goldmann (1972, p.8), “numa A sociedade se constrói a partir da
transmissão de informações não há apenas existência de cada organismo social e, ao
um homem ou um aparelho que emite in- mesmo tempo, as instituições precisam ter
formações e um mecanismo que as transmi- conhecimento da forma como estão sendo
te, mas também, em qualquer parte, um ser vistas pela sociedade, precisam também
humano que as recebe.” apresentar a sua parcela de importância para
E vai além, explicando a consciência do que o todo seja funcional. Na verdade, os
receptor. Relações Públicas agem como intérpretes dos
586 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
acontecimentos de uma instituição para a capazes de instigar a massa com suas inter-
sociedade, usando como canal os veículos de pretações de fatos.
comunicação. A hipótese da agenda-setting trabalha o
Se considerarmos que, além dos meios conceito de orientação das massas sobre o
de comunicação de massa, as organizações conteúdo e a forma como algo que deve ser
sociais são representativas, na construção da pensado pela sociedade, fazendo com que as
opinião pública, o trabalho de Relações celebridades midiáticas se transformem em
Públicas torna-se muito importante. atores dessa posição.
Se pensarmos no binômio “opinião pú- Relevante se pensar sobre as várias formas
blica” não como algo que é de todos, da de construção da opinião pública. A valo-
massa, mas como algo que se refere aos rização do papel da universidade e a con-
públicos, podemos destacar a forma de vida cepção de privilégio que possuímos com
moderna, que constrói espaços públicos relação aos indivíduos que frequentam a
extremamente privados. Não é público no universidade e que podem questionar os
sentido de livre acesso, mas no sentido de problemas sociais de um País onde grande
distinção de públicos. parte da população passa o dia lutando por
Ainda que dentro de uma filosofia de que condições mínimas de sobrevivência para si
todos possam vir a utilizá-los, as regras para e para sua família. Mais que isso, a impor-
utilização dos espaços públicos colocam tância da reflexão sobre a construção da
barreiras para muitos indivíduos, quer seja opinião pública por aqueles que vivem em
através do poder aquisitivo determinante para um País que não possui destaque no mundo
se freqüentar determinado restaurante ou globalizado, mas que são obrigados a pensar
parque temático, quer seja pela aparência bem diariamente como aqueles que vivem nos
cuidada, roupas da moda e o pé calçado, para Países de ponta da economia mundial para
se freqüentar o shopping center e as ruas que não se tornem ainda mais distantes deles.
dentro dos condomínios residenciais. Por fim, tomemos como última palavra
Tal como os espaços públicos, a inteli- a visão de Habermas (1984: 277), quando
gência coletiva e as novas tecnologias for- defende que a Opinião Pública reina, mas
mam uma globalização que não agrega a não governa. De fato, a opinião pública não
todos. A sociedade de massa ajuda a cons- governa, porque os públicos não atingiram
truir, cada vez mais, indivíduos distintos, um grau organizado de imposição e pressão
grupos distintos e formas de existência dis- sobre seus direitos e suas aspirações de forma
tintas. a terem voz na sociedade; mas reina, em cada
A própria televisão, veículo supremo de grupo social, em cada espaço de reflexão que
comunicação de massa, já distingue seus consegue promover uma contra-opinião
públicos entre TV aberta e TV por assina- pública, à espera de que um dia se torne uma
tura, criando sociedades distintas. As cama- opinião manifestada e consiga, de fato,
das periféricas não são mais marcadas so- construir uma opinião pública no sentido de
mente por questões geográficas, mas pelas manifestação das massas.
novas tecnologias que recriam os grupos
sociais. A Título de Explicação
Os heróis e as celebridades da mídia são
reafirmados no processo. A ilusão de ser e Necessária se faz uma explicação sobre
ter aquilo que não se é e não se pode ter a opção pela grafia do título deste trabalho
reconstrói a celebridade, como alguém que e a forma como este se apresenta: Univer-
tudo tem, tudo pode e se configura como sidade e Mídia – A Opinião Pública In-
representante dos fãs para o mundo não Formação.
acessível. O título aborda os dois principais
A mídia é responsável pela formação da enfoques de construção da opinião pública
opinião pública, através de suas mensagens, apresentados neste trabalho, quais sejam: a
de seus códigos linguísticos, de suas formas influência da universidade, um local de
subliminares de transmissão de informações reflexão e ao mesmo tempo, um organismo
e pela construção e reafirmação de ídolos, social integrante da formação dos profissi-
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 587
onais da área de comunicação dos vários A escolha se dá por acreditarmos que tanto
órgãos ligados à comunicação; e a influência a mídia, quanto a universidade, representam
dos meios de comunicação, veículos de essas duas realidades para a formação da opinião
formação e propagação de valores simbóli- pública. In-Formação é, portanto, um neolo-
cos contribuintes para a formação da opinião gismo criado para tematizar as circunstâncias
pública, conforme exposto ao longo de todo em que se encontra a opinião pública para as
este trabalho. duas instituições (mídia e universidade).
No título podemos verificar ainda o Válido ainda deixar claro que, apesar de
binômio opinião pública, ponto central de não termos optado pela utilização do prefixo
nosso estudo. “In” como forma de negação, de privação,
In-Formação foi a opção encontrada para no sentido da origem latina, esta leitura
elucidarmos dois aspectos: também fica à disposição do leitor que poderá
- o aspecto da mídia e da universidade entender a expressão “In-Formação” sob a
como pólos de Informação, no sentido de perspectiva de “não formação” ou falta de
transmissão de conhecimentos obtidos atra- informação. Isso porque os objetos de estudo
vés de investigação ou instrução; deste trabalho (mídia e universidade) podem
- o aspecto de algo que se encontra em adquirir um caráter de falta de informação
estágio inacabado, ainda em construção, no ou ausência no processo de informação para
sentido de “em formação”, como algo que a sociedade, numa ótica de omissão de
indica movimento em direção a uma meta, informações que poderiam contribuir ainda
um objetivo, um ponto de chegada. mais para o desenvolvimento social.
588 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
nos oferecer um real já elaborado, cular de relação expressa num dado estilo
pronto e confeccionado para consu- de vida adoptado e possível de identificar,
mo imediato e em relação ao qual a partir da sua imagem mediática.
somos alheios”.
Sobre a multiplicidade dos consumos
Nesta perspectiva, a informação e a
publicidade partilham uma lógica, que cada O fenómeno do consumo aqui conside-
vez mais se aproxima: a do marketing rado, concentra-se nas sociedades ocidentais
(Henriques, 1999; McManus, 1994). De contemporâneas e corresponde a um “modo
acordo com este princípio, o “consumo do de actividade sistemática e de resposta glo-
produto” – o consumo de informação – induz bal que serve de base a todo o nosso sistema
um realismo quotidiano tão banal que se torna cultural” (Baudrillard, 1995: 11).
facilmente assimilável, provocando uma O campo do consumo assume-se, pois,
adesão sentimental de natureza simbólica. como uma lógica social que implica conforto,
Significa, então, que os mass media são prestígio, desejo, prazer, felicidade, entre
importantes intervenientes na construção dos outros, e que pressupõe uma dinâmica de
universos de consumo. Assim, parte-se da necessidades e de motivações dos indivíduos.
ideia de que se trata de práticas de consumo No equacionamento da problemática dos
associadas a formas de estar, que parecem consumos identifica-se a existência de qua-
ser cada vez mais legitimadas, a diversos tro orientações principais. A perspectiva moral
níveis do social, o que é visível na sua dos consumos que nos remete para uma
expressão mediatizada. abordagem que realça os efeitos do aumento
Para Moro (1999) todos, independente- do nível de vida e da consequente genera-
mente dos recursos económicos que pode- lização do acesso aos bens de consumo na
mos ter, do sexo, da idade ou da classe social, “sociedade de consumo” e nos agentes so-
somos consumidores. Continuamente toma- ciais (Ortega y Gasset, sd.; Galanoy, 1980;
mos decisões de consumo – sobre alimen- Lipovetsky, 1989). Os consumos na perspec-
tação, vestuário, transportes, lazer e outros. tiva do marketing remetem para a melhoria
Estas decisões são fruto de influências in- do nível geral de vida, para o aumento dos
ternas e externas ao indivíduo: externas que níveis de formação e do acesso à informação
reflectem a influência dos media; internas que enquanto factores na origem do acréscimo
se expressam nos estilos de vida. da agressividade comercial com enfoque no
A expressão que os meios de comunica- papel do consumidor no mercado, da tendên-
ção social traduzem dos consumos vai-se cia para a diminuição da vida útil dos bens
reflectindo no comportamento da sociedade e dos meios de produção e de alterações
actual, através de imagens, linguagens, es- rápidas e profundas no comportamento e
quemas de comportamento, estilos de vida, motivação dos consumidores e utilizadores
estereótipos. Paolo Landi (2002) fornece um (Baudrillard, 1968; Lendrevie, et all., 1993;
exemplo que pode ilustrar esta influência do River, Arellano & Molero, 2000). A perspec-
papel dos media na criação de indivíduos tiva institucional dos consumos remete para
“funcionais no sistema da sociedade de uma orientação mais estrutural deste fenó-
consumo”, através de algumas indicações meno, situando-o numa sociedade de grande
dadas pelo conteúdo das mensagens que lhes produção que gradualmente se tem desloca-
são dirigidas. Nomeadamente, considerar que, do para uma sociedade orientada para o con-
não possuir um determinado produto signi- sumo (Bauman, 1992; Ritzer, 2001). Final-
fica inferioridade, marginalização ou apres- mente, a perspectiva dos consumos enquanto
sar a necessidade de satisfação dos desejos competências remete para um processo de
de modo imediato e facilitado. aprendizagem e formação que os consumi-
No entanto, é difícil identificar uma dores têm vindo a desenvolver em relação
tendência predominante nos consumos actu- a diversos aspectos do consumo (Elias, 1989;
ais. E esta dificuldade aumenta ainda mais, Giddens, 1994).
se considerarmos uma definição extensiva dos De qualquer forma, os consumos impli-
consumos, encarando-os como um tipo parti- cam escolhas e estas reflectem o modelo
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 591
em que cada vez mais objectos e símbolos comportamento e consumo mais generaliza-
têm sido entendidos como mercadorias – a das optando por outras dotadas de maior
esfera do lazer, as crianças, a saúde e a distintividade.
doença, entre outros. Trata-se, para Landi Para uma melhor definição do objecto de
(2002), de uma “mercantilização generaliza- estudo, importa partir da hipótese genérica
da” que tem vindo a dar crescente visibili- de que os estilos de vida se encontram
dade e autonomia à esfera do consumo. relacionados com a imagem mediática dos
A realidade nas sociedades contemporâ- consumos.
neas alterou-se em função da expansão dos Referindo-se ao aspecto do “consumismo”
media que promovem a alteração e multi- na comunicação, Cashmore (1994) defende
plicação das instituições de socialização e a que o “one world” actual resulta da expansão
diversificação das fontes de informação das comunicações, o que comporta aspectos
(Ferin, 2002). Desta forma, os media apre- vantajosos e perigos. Perigos porque enco-
sentam-se como instrumentos de ligação raja as pessoas a viverem para além dos seus
essencial entre os indivíduos e tudo o que meios; vantagens porque estimula a visão do
os rodeia. Ou seja, como “construtores da mundo, os mapas culturais, as referências e
realidade”, na medida em que apresentam uma interpretações. Neste sentido, os aspectos do
selecção parcial de um determinado aconte- quotidiano aproximam-se cada vez mais da
cimento em função de um conjunto de ori- linguagem dos meios de comunicação de
entações tecnológicas e editoriais próprias de massas - a linguagem corrente, o vestuário,
cada meio (Henriques, 1999). É neste sentido etc. Os meios de comunicação social de
que importa perceber a forma como os meios massas surgem assim como um dos elemen-
de comunicação de massas expressam consu- tos da sociedade e da cultura de consumos
mos e estilos de vida dos indivíduos. actuais (de bens, de estilos de vida, de
Ao longo da transição para a estrutura substâncias, etc.).
das sociedades contemporâneas sempre tem É possível identificar uma linha de dis-
havido desigualdades no acesso ao consumo curso segundo a qual a insatisfação leva as
(de objectos ou simbólico). No entanto, para pessoas a adquirirem coisas que rapidamente
além do valor do uso, importa aqui mais a se tornam desinteressantes, e a procura de
lógica da produção e da manipulação dos novos estímulos leva a um ciclo de consu-
significantes sociais e a forma como se tem mo. Landi (2002) é um dos autores que se
acentuado, por uma certa massificação do refere a esta relação com o consumo citando
consumo, mas muito também por acção dos o caso específico das crianças, chamando a
media. atenção para o facto de que desde os pri-
O processo de consumo pode assim ser meiros anos de vida as crianças têm quase
entendido como um tipo de linguagem, todos os brinquedos possíveis. Mas, este autor
equivalente a um código portador de signi- nota que isto resulta da função do marketing
ficação e comunicação. Mas também pode que lhes é dirigido e que é fazer uma espécie
ser entendido como processo de classifica- de treino para o consumo. Assim, a Barbie,
ção e de diferenciação social, em que os as telenovelas e as guloseimas (citando os
objectos e os signos se ordenam como valores exemplos do autor) podem constituir opor-
estatutários e susceptíveis de hierarquizar tunidades de fuga a uma realidade menos
(Baudrillard, 1995). Isto é, os objectos perfeita.
manipulam-se sempre como signos que dis- Esta visão da sociedade de consumo não
tinguem o indivíduo, quer filiando-o num pode deixar perder de vista que a compra
determinado grupo de pertença, quer demar- – o consumo – é o resultado de processos
cando-o de outros por referência a uma de decisão através das quais o indivíduo
diferença de estatuto. persegue certos objectivos. Além disso, a
Este carácter estatutário dos consumos unidade de consumo não é apenas o indi-
expressa estilos de vida, que são igualmente víduo isolado, mas um grupo – familiar, ou
de pertença a um grupo ou de distintividade. de pares – e por isso existe uma pluralidade
Os padrões de estilo de vida podem igual- de pessoas e de factores que afectam cada
mente traduzir a rejeição de formas de processo de escolha.
594 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
O modelo de análise aqui proposto pre- considerados menos distantes e mais fami-
tende seguir sobretudo uma perspectiva que liares. O discurso dos meios de comunicação
entende o consumo como um momento de massas traduz esta complexificação, vi-
importante da produção e elaboração social sível em dimensões do quotidiano como os
de sentido na moderna organização das consumos e os estilos de vida.
sociedades. Este é expresso pelos mass media Neste contexto e, de acordo com as
e reflecte-se nos estilos de vida. reflexões teóricas apresentadas, este estudo
Featherstone (1995) identifica uma assenta na ideia de que os indivíduos são
complexificação das relações que se tradu- confrontados com certos produtos, imagens
zem naquilo que designa por cultura de e comportamentos, veiculados pelos media
consumo. Para o autor, esta complexificação e com os quais se identificam. Esta identi-
da cultura de consumo resulta de imagens, ficação encontra-se relacionada com a auto-
de bens e de signos extraídos de diversas definição dos indivíduos e com o seu rela-
culturas, os quais, à medida que os fluxos cionamento com o social. E reflecte-se nos
de intercâmbio se intensificam, vão sendo consumos e nos estilos de vida.
OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS 595
Capítulo IV
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
598 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 599
Apresentação
Eduardo Camilo1
Nesta breve introdução aos estudos re- cionais, por fenómenos de transformação
lativos à comunicação e às organizações que interna e externa inerentes aos contextos
irão ser apresentados no 2º Congresso Ibé- protagonizados pelas sociológica. Esta pers-
rico (CCCC2004, Universidade da Beira pectiva postula a existência de uma varie-
Interior, 24 de Abril), optámos por proceder dade infinita de práticas comunicacionais: não
a uma sistematização - que não é exaustiva é possível conceber uma única categoria de
– de certas opções de estudo, ângulos de comunicação corporativa, mas uma gama
análise e preocupações de investigação da muito heterogénea e diversa de comunica-
comunidade científica relativamente a esta ções nas organizações.
temática. Certamente que poderíamos suma- A segunda tendência de investigação
riar os conteúdos dos textos que integram este poderá ser classificada como simétrica da
capítulo. Considerámos, porém, tal tarefa anterior: está relacionada com uma
relativamente desnecessária: o leitor interes- hipervalorização da funcionalidade estratégi-
sado nestes assuntos rápida e facilmente ca dos processos de comunicação, conceben-
avaliará cada ensaio a partir da leitura da do-os enquanto recursos que, na sua dimen-
respectiva introdução e conclusão. são mais estrutural, se encontram à dispo-
Poderemos conceber que a investigação sição de todas as organizações. A comuni-
sobre a comunicação corporativa se inscreve cação corporativa tende a ser concebida com
em três direcções principais: 1ª) a dos uma configuração abstracta de factores ou de
modelos e dos paradigmas; 2ª) a da análise componentes estritamente comunicacionais,
da especificidade das mensagens típicas e, que pode aplicar-se a qualquer realidade
3ª), a dos case studies. institucional.
É neste ângulo de análise que se inscre-
Modelos e paradigmas vem as abordagens mais lineares e abstractas
do fenómeno comunicacional. Abstractas,
É nesta direcção de pesquisa que se porque visam criar modelos de intervenção
inscreve a grande maioria das investigações que sejam capazes de funcionar e de se
no âmbito da comunicação corporativa. Não enquadrar em todas as situações da existên-
obstante a sua variedade, é possível constatar cia corporativa. Assim sendo, este paradigma
a recorrência de alguns ângulos de análise não só será útil para a promoção de produtos
e de certas tendências de reflexão e de e de serviços, mas, igualmente, para o in-
abordagem. cremento da moral dos trabalhadores ou para
A primeira estará relacionada com o o relacionamento com accionistas.
estudo do fenómeno comunicacional a partir Abordagens lineares porque se baseiam
de uma abordagem integrada na área da numa confiança nas potencialidades funcio-
sociologia das organizações, procurando nais da comunicação que é considerada
descortinar-se a relação entre a vida, a exagerada. Nesta tendência de investigação,
especificidade, a identidade, a cultura, etc. o pressuposto teórico é sempre o mesmo: a
da corporação e o estatuto da comunicação comunicação nas organizações serve sempre
na empresa. As modalidades de gestão, as para alguma coisa e, nesta medida, é uma
relações de poder encontram-se reflectidas em panaceia para tudo. É útil para a gestão das
práticas e em estruturas comunicacionais trocas de informação, para o incremento dos
específicas, absolutamente singulares. A sin- valores democráticos de participação laboral,
gularidade da comunicação corporativa é, mas também para a manutenção das relações
então, explicada por critérios extracomunica- de poder. É igualmente importante para
600 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
influenciar a percepção dos públicos sobre produções de sentido corporativo com carac-
a organização, percepção essa, que se reflec- terísticas estruturais e basilares.
te na natureza da sua interacção: quanto mais
positiva for a qualidade da percepção, maior A análise da especificidade das mensagens
é o empenho no âmbito da interacção. típicas
Subjacente a estas atitudes descobrem-se as
teorias da comunicação de índole funcional, Um relevante domínio de investigação no
instrumental e, na sua perspectiva mais básica, âmbito das ciências da comunicação corpo-
mais elementar, as de natureza hipodérmica, rativa prende-se com a reflexão sobre as
associadas já não à temática da propaganda especificidades das mensagens produzidas
ou da publicidade, mas, desta feita, à da pelas organizações. Esta é uma área de estudo
comunicação nas organizações. que tem vindo a ganhar importância. A sua
Relativamente à terceira tendência de valorização está relacionada com a emergên-
investigação no âmbito dos modelos e dos cia de análises de índole semiótica e linguís-
paradigmas de comunicação corporativa, tica relativas à natureza dos sentidos desen-
consideramos que ela apresenta um valor de volvidos, interna e externamente, pelas
síntese, salientando-se a preocupação de empresas. Podem ser transmitidos pelos mais
aproveitar o que as outras duas apresenta- variados canais de comunicação e suporta-
vam de mais relevante. No que respeita à dos por diversas matérias expressivas: pala-
primeira tendência, de índole marcadamente vras, imagens, grafismos, mas, igualmente,
sociológica, há o reconhecimento da impos- gestos, objectos, configurações espaciais, etc..
sibilidade de se reflectir abstractamente sobre Nas organizações existe um enorme texto
a comunicação corporativa sem a pondera- corporativo à espera de ser descodificado: um
ção de um contexto de intervenção organi- texto que remete para sentidos de ordem
zacional para o qual terá de remeter inevi- verbal e não verbal produzidos nas reuniões,
tavelmente. Torna-se, então, essencial enten- na gestão dos espaços de trabalho e de
der em que consiste uma organização na sua convívio, na significação de trajectos deter-
singularidade, uma conceptualização desen- minados por signos sinalécticos, etc.. Mas este
volvida a partir dos mais variados ângulos: texto corporativo também se reflecte noutras
desde os de índole antropológica, aos de produções de sentido. É o caso, concretamen-
natureza sociológica e psicológica. No que te, das que se reportam às relações dos
respeita à segunda tendência de investigação, representantes das organizações com os seus
a que apresenta uma especificidade inerente parceiros, relações a partir das quais se
ao domínio das ciências da comunicação, os insinuam múltiplas significações de ordem
principais desafios que se apresentam, rela- corporativa, alguns delas alicerçadas numa
cionam-se com a necessidade de criar um gestão institucionalizada, corporativamente
estatuto para a comunicação corporativa, um ortopedizada, do corpo, possibilitando a
cânone global que pondere todas as práticas emergência de mensagens corporativas de
de comunicação na organização (de índole especificidade cinésica (por exemplo, a gestão
comercial ou corporativa, de natureza per- de uma teatralidade institucional), e, até
suasiva ou informativa, inerentes à Publici- mesmo, paralinguística (o reflexo de uma
dade ou às Relações Públicas) mas, ao mesmo interiorização de um papel profissional e
tempo, que seja suficientemente maleável institucional na maneira de pronunciar as
para se particularizar, para se adequar às palavras). Destacamos, também, os estudos
múltiplas singularidades que as empresas relativos à análise das grandes produções
podem apresentar, quer numa perspectiva textuais de natureza iconográfica, verbal ou
interna, quer externa. Ao invés de gerar um gráfica das organizações: os filmes
único modelo de comunicação corporativa corporativos, os discursos dos corpos geren-
global e totalizante como anteriormente, este tes, os slogans, os símbolos e os logotipos,
trabalho de síntese originará vários, mas na averiguando a sua ambivalência semântica:
condição deles serem configurações particu- por um lado, a significação explícita das
larizadas de actividades comunicacionais, de grandes utopias corporativas, das histórias,
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 601
dos valores, das regras e dos regulamentos; studies: investigações ou análises descriti-
por outro, a evocação indiciática, das práticas vas dos processos e das práticas de comu-
quotidianas, dos constrangimentos e das si- nicação desenvolvidas por determinadas or-
tuações de crise, das real politik corporativas. ganizações. São modalidades de investiga-
Embora sejam predominantes as reflexões ção com certas tradições na comunidade
de índole semântica, procurando-se descobrir científica anglo-saxónica que, na sua dimen-
nos textos das organizações a evocação de são mais primordial, recordam-nos alguns
ideologias corporativas, é igualmente impor- estudos de campo de índole sociológica e
tante as análises inerentes a uma dimensão antropológica. Consideramos que os case-
pragmática. São investigações que valorizam -studies apresentam alguns desequilíbrios do
a dimensão contextual das mensagens, ava- ponto de vista da relevância epistemológica
liando-as a partir de circunstâncias e de para as ciências da comunicação, em geral,
enquadramentos de produção textual produ- e para as da comunicação corporativa, em
zida pela organização e fora dela, descobrindo particular. Alguns, nada mais são do que um
em que medida tais mensagens podem mu- simples trabalho descritivo de um fenóme-
tuamente influenciar-se numa espécie de no ou de um conjunto muito limitado de
intertextualidade corporativa. Mas também são fenómenos comunicacionais de índole cor-
estudos que avaliam as particularidades porativa. Em contrapartida, existem outras
locutórias, ilocutórias e perlocutórias das investigações de maior alcance e ambição
mensagens organizacionais, as circunstâncias científica, nas quais a situação de comuni-
institucionais em que são produzidas e, es- cação descrita, inerente a uma instituição,
pecialmente, a maneira como os interlocutores serve para formular ou para verificar con-
corporativos se apropriam delas e ‘negoceiam’ ceitos relativos a certos modelos e
dialogicamente, num processo de compreen- paradigmas de comunicação e de significa-
são corporativa, a sua gama de significações
ção corporativa.
possíveis e institucionalmente pertinentes.
Apresentação
José Viegas Soares1
mesma linha, a das influências dos novos os áudio visuais nos levaram de novo para
média na comunicação organizacional e a tribo, o que acontecerá agora com esta
consequentemente nos seus executores, quais escrita (SMS, por exemplo) em letra de forma
as modificações que os novos media produ- mas etérea para não dizer virtual?
zirão na nossa visão? Se considerarmos a TV, Estes são quanto a nós alguns dos pro-
(meio frio, no dizer de McLuhan) vemos um blemas que nos dias de hoje interessam a
domínio, o da uma visão icónica sobre uma quem estuda e trabalha em comunicação
visão gráfica que a escrita (meio quente) nos organizacional. Vejamos o que o nosso painel
habituara ao longo de milhares de anos. A de comunicadores nos diz.
chegada dos novos meios repõe a visão
gráfica linear e com um sentido de percurso
_______________________________
da esquerda para a direita, no ocidente claro. 1
Escola Superior de Comunicação Social.
Se a escrita impressa tinha sido a respon- Coordenador da Sessão Temática de Comunica-
sável por toda a organização e burocracia e ção e Organização do VI Lusocom.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 605
ciado ao conceito de um corpo de informa- seu conceito, visto que ela desempenha papel
ções e que se constitui de factos, opiniões, central, vemos na definição de Castells
modelos e princípios, bem como pode estar (1999):
baseado em estados de ignorância, entendi-
mento e habilidade. Tal definição é, de alguma “Rede é um conjunto de nós
maneira, similar às distinções entre os co- interconectados. Nó é o ponto no qual
nhecimentos explícitos e tácitos. O primeiro, uma curva se entrecorta. Concreta-
caracterizado de forma codificada ou formal, mente, o que um nó é depende do tipo
articulado e transmitido a indivíduos, e o de redes concretas de que falamos (...)
segundo significando conhecimento pessoal A topologia definida por redes deter-
enraizado na experiência individual, o que mina que a distância (ou intensidade
inclui crenças pessoais, perspectivas e valo- e frequência da interacção) entre dois
res. Assim, nós frequentemente encontramos pontos (ou posições sociais) é menor
uma ênfase na “organização que aprende” e (ou mais frequente, ou mais intensa),
outras abordagens que reforçam a se ambos os pontos forem nós de uma
internalização da informação - pela experi- rede do que se não pertencerem à
ência e pela acção - além da criação de novos mesma rede. Por sua vez, dentro de
conhecimentos através da interacção. determinada rede, os fluxos não têm
Desta forma, tendo o conhecimento no nenhuma distância, ou a mesma dis-
topo da escala, está caracterizada a neces- tância entre os nós” (1999:498)
sidade do processamento de dados obtidos
resultando em suporte para determinada Castells aponta a inovação tecnológica e
acção. O conceito de conhecimento que a transformação organizacional com enfoque
adoptamos é o de Jamil (2000), ou seja, uma na flexibilidade e na adaptabilidade, como
informação processada de forma estratégica: cruciais para garantir a velocidade e efici-
ência da reestruturação.
“informação mais valiosa e, conse-
quentemente, mais difícil de gerenciar. “Pode-se afirmar que, sem a nova
É valiosa precisamente porque alguém tecnologia da informação, o capitalis-
deu à informação um contexto, um mo global tem sido uma realidade
significado, uma interpretação. Co- muito limitada: o gerenciamento fle-
nhecimento envolve a percepção sis- xível teria sido limitado à redução de
tematizada do que existe, o aprendi- pessoal, e a nova rodada de gastos,
zado do passado e de experiências tanto em bens de capital quanto em
semelhantes às nossas, a compreen- novos produtos para o consumidor, não
são de funcionamento e aplicação de teria sido suficiente para compensar
sistemas associados aos nossos a redução de gastos públicos. Portan-
objetivos e, finalmente, a criatividade to, o informacionalismo está ligado à
pró-ativa”. (Jamil : 20)5 expansão e ao rejuvenescimento do
capitalismo, como o industrialismo
Na prática, a Gestão do Conhecimento estava ligado a sua constituição como
inclui a identificação e o mapeamento de modo de produção” (1999 : 39)
activos intelectuais (intangíveis) ligados à
organização, a geração de novos conhecimen- O uso da Intranet como veículo de
tos para oferecer vantagens e tornar acessí- Comunicação Interna oferece às organizações
vel grandes quantidades de informações um vasto leque de oportunidades na busca
corporativas, compartilhando as melhores de melhor desenvolver a relação empresa/
práticas e a tecnologia que torna possível isso funcionário. Nas empresas que funcionam em
tudo, as denominadas ferramentas para ges- rede e que se autodenominam “organizações
tão do conhecimento. aprendentes”, a Intranet torna-se uma impor-
Todos os esforços por compartilhar (e tante aliada na disseminação e no
disseminar) informação e conhecimento na compartilhamento de informação/conheci-
empresa levam à ideia de rede. Partindo do mento. Os computadores nas mesas de tra-
608 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
balho são transformados em extensões vir- denar aptidões de produção diversa e inte-
tuais onde grandes e pequenos, ao usar a nova grar múltiplas correntes de tecnologia.”
ferramenta tecnológica, conduzem negócios (1998:64). Elas vão muito além da simples
num mundo on-line, onde tudo passa a harmonização de tecnologias, envolvendo
acontecer na velocidade do pensamento. muitos níveis e funções da empresa e estão
Definindo o que vem a ser “empresa em relacionadas à comunicação e ao comprome-
rede’’ de forma mais precisa, Castells afirma timento das pessoas ao longo de toda a
ser um sistema estruturado com o propósito organização. Não estão nos recursos mate-
de alcançar objetivos específicos. riais ou humanos, mas naquilo que as mantêm
unidas, isto é, nos padrões de coordenação,
“Ainda acrescentaria uma segunda ca- harmonização e aprendizagem característica
racterística analítica, adaptada da da organização, bem como não diminuem
teoria de Alain Touraine. Sob uma com o uso, acumulando à medida que são
perspectiva evolucionária dinâmica, há aplicadas ou compartilhadas.
uma diferença fundamental entre dois Referimo-nos a tais conceitos principal-
tipos de organizações: organizações mente por apresentar a Intranet, ferramenta
para as quais a reprodução de seus de endomarketing, como um dos veículos
sistemas de meios transforma-se em seu ideais para a disseminação de conhecimento
objectivo organizacional fundamental; dentro da organização.
e organizações nas quais os objetivos Voltando ao modelo quadrifásico de
e as mudanças de objetivos modelam Nonaka, é possível considerar o ba através
e remodelam de forma infinita a estru- de uma estrutura lógica de interacção huma-
tura dos meios. O primeiro tipo de na, onde a internalização de conhecimento,
organizações chamo de burocracias; o seja ele de natureza tácita ou explícita, torna-
segundo de empresas’’ (1999:191) se, através de um contexto ideal – aqui
sugerimos a Intranet como tal - de forma a
Nonaka e Takeuchi (1995) atestam que a catalisar a reflexão que se transforma em
criação de conhecimento organizacional resulta acção. Os relacionamentos dentro de um ba
da conversão de conhecimento tácito em conduzem ao surgimento de um indivíduo
explícito, em um processo “espiralado” envol- integrado, onde as trocas contínuas favore-
vendo tanto a dimensão epistomológica quanto cem a fortificação dos relacionamentos in-
a ontológica. Já Prahalad e Hamel (1998) ternos, aquém de qualquer modelo predeter-
utilizaram o termo “competências essenciais” minado fora das implicações humanas. Os
para descrever as capacidades estratégicas de indivíduos formam o ba das equipes e essas
uma organização. Os autores acreditam que a formam o ba das organizações.
vantagem competitiva de uma empresa é fruto
de capacidades enraizadas que estão por trás Endomarketing – satisfazendo a quem me vê
dos produtos, às quais chamaram de “compe-
tências essenciais da organização”. A prática do endomarketing, como con-
ceituado por Analisa Brum (1998), nasceu
“[...] as fontes verdadeiras de van- da necessidade de se motivar pessoas para
tagem devem ser encontradas na programas de mudança que começaram a ser
habilidade gerencial de consolidar implementados a partir da década de 50. E
tecnologias e habilidades de produ- como já afirmado por Nassar (1995) e agora
ção que abrangem toda a empresa, reiterado por Brum (1998), o “homem” deve
em competências que capacitam cada ser visto como o elemento principal de todo
negócio individualmente a se adaptar e qualquer processo de mudança e de
rapidamente às mudanças de oportu- modernização empresarial, pois as mudanças,
nidades.”(1998:62) quando implementadas, esbarram em formas
tradicionais e conservadoras, capazes de
Para eles, as competências essenciais desencadear um estresse organizacional que
resultam “do aprendizado colectivo de uma dificulta e impede o desenvolvimento pleno
organização, especialmente de como coor- de qualquer actividade.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 609
Na visão de Brum (1998), o que acon- não saia dos muros da empresa, ainda em
teceu foi o desabamento na pirâmide orga- forma de boatos podem levar instituições e
nizacional em relação ao grau de compro- produtos à ruína.
metimento das pessoas. Sabe-se que ainda Duas estratégias básicas são relacionadas
hoje o envolvimento maior se dá na parte ao endomarketing segundo o trabalho de
de cima da pirâmide (alta direcção e gerên- Brum (1998). A primeira foca a visão da
cias). Sua base continua tendo envolvimento direcção com os propósitos e objectivos da
menor, a não ser que a empresa coloque à Organização. Um exemplo comum são os
sua disposição as informações de que neces- programas de mudança de cultura interna, as
sita para o engajamento total. E um progra- quais visam modificar a atitude de seus
ma de endomarketing bem feito é capaz de funcionários buscando compromisso e leal-
tornar o funcionário um ser comprometido dade com os princípios da empresa. A se-
com a nova postura da empresa e com a gunda estratégia diz respeito à tarefa, focando
modernidade, cada um em sua área de a comunicação de questões específicas quan-
actuação e através do seu trabalho. to ao trabalho em si. Inclui ainda a colecta
Aliado a todo o trabalho de motivação de opinião dos funcionários sobre maneiras
dirigido aos funcionários está a informação de melhorar desempenho e novas formas de
coerente, clara, verdadeira, lógica, centrada trabalho. Neste caso, os objectivos estão
e bem trabalhada. Visto desta forma, a in- directamente relacionados à eficiência dos
formação passa a ser colocada como a maior métodos de produção.
estratégia de aproximação empresa/funcioná- A criação deste espírito de “inteligên-
rio. A informação oficial, dentro da empre- cia grupal” depende da iniciativa da pró-
sa, é de domínio da direcção. Cabe à direc- pria empresa em descobrir aquilo que
ção o envio, ou não, de determinada decisão motiva o funcionário. Discussões sobre o
que, mais tarde, transformada em informa- assunto nas publicações empresariais evi-
ção para a base da pirâmide. A demora no denciam que profissionais especializados
envio desta informação pode ocasionar o que em endomarketing ainda são poucos, o tra-
a autora denomina “entropia da informação”, balho, hoje, cabe aos departamentos de co-
um dos factores que desmotiva o funcioná- municação e de recursos humanos que,
rio. juntos, já desenvolvem campanhas na área.
A indústria é o segmento que mais
“A realidade e o alcance da entropia desenvolve trabalhos em nível de comuni-
da informação, como é chamado este cação interna, mesmo porque o número de
processo, foram estudados pela mo- empregados é bem maior e as negociações
derna psicologia experimental. Uma sindicais a levaram à modificação da men-
informação que é transmitida de boca- talidade interna. A informação deste tipo de
-em-boca, por um certo número de campanha também pode vir alicerçada no
pessoas, sofre alterações cumulativas formação, quando os funcionários crescem
ao longo do caminho. A falta de junto com a empresa que lhes proporciona
canais e instrumentos oficiais de o cenário adequado para que possam enten-
comunicação interna determina o der a padronização dos serviços como uma
cenário adequado para que a entropia decorrência de factos reais, comum àquelas
da informação actue, provocando uma que desejam voltar-se para o mercado. São
opinião interna negativa e contrária criados novos canais de disseminação dos
aos objectivos da empresa” (1998:31) novos padrões, trabalhada a imagem da
empresa internamente, recolhidas sugestões,
Quando as denúncias de irregularidade - e contribuições dos funcionários para
fantasmas dos departamentos de comunica- melhorias internas relacionadas com o cum-
ção - parte dos próprios empregados, é primento dos novos padrões de serviços e
instaurado o caos. Fundamentadas ou não, da nova cultura de atendimentos propostos.
seu poder de influência é muito maior se Este tipo de situação é muito comum quando
partissem de outros sectores da opinião as empresas procuram uma certificação de
pública. Mas mesmo que este tipo de atitude qualidade.
610 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Este novo conceito nasceu dos excelen- “O fato Marx ter baseado sua aná-
tes resultados obtidos com a comunicação lise da acumulação capitalista na
interna. Se antes ver funcionários trabalhan- apropriação da mais-valia da força
do felizes e ter a produção garantida era de trabalho simples obscureceu a
motivo de alívio aos executivos, por que não importância, ou o valor, que o capital
aproveitar do sucesso e mostrar ao público sempre deu à informação. Já no
externo quão boa é a sua empresa? Em outras século XIII, os banqueiros e grandes
palavras, mais este recurso vem para reforçar comerciantes sustentavam redactores
as estratégias de marketing externo, tão profissionais nas diferentes capitais e
eficazes foram as acções de endomarketing. mediterrâneas para que, periodica-
Esse modelo pode ser encontrado tam- mente, lhes enviassem relatórios so-
bém em um grande número de anúncios bre fatos políticos, bélicos ou comer-
gráficos, publicados em jornais e revistas com ciais que pudessem afectar os negó-
chamadas de abordagem interna, que vem cios. Nesses relatórios encontra-se a
causando a simpatia do público externo. origem remota deste moderno jorna-
Como exemplo podem ser citados o do lismo” (1996:34)
BankBoston “Para conquistar clientes, pri-
meiro conquistamos nossos funcionários”, o O nascimento da necessidade de gestão da
da Nestlé “Poucas empresas são sinónimos multidão humana. Atrelado a isso, a Revo-
daquilo que fazem” ou ainda o da Brasmotor lução Industrial funde-se com o desenvolvi-
“Uma organização formada por pessoas mento das primeiras concepções de uma
jurídicas, pessoas físicas e, sobretudo, pes- ciência da comunicação e, ainda, a estruturação
soas felizes” 6. Cada qual com seu apelo dos espaços econômicos. Sua lógica para
gráfico, estes anúncios geralmente se apre- demonstrar a introdução da informação (ou
sentam com a figura de um funcionário mérito) dentro da indústria capitalista funda-
devidamente fardado, sorridente. menta-se na saída do homem da fábrica não
A receita do exomarketing é simples e pelo merecimento, mas expulso pela meca-
foi concebida no próprio dia-a-dia das nização das linhas de montagem.
empresas que quiseram expor o que possuem A imagem clássica do trabalho no século
de melhor em sua estrutura interna. “O XX está associada à transformação da na-
exomarketing serve exactamente para que os tureza através do músculo humano. A intro-
empresários possam mostrar a evolução das dução do computador no ambiente de tra-
suas relações com o público interno” (Brum, balho passa a permitir a manipulação elec-
1998:177) trónica deste “músculo”. A perda da expe-
Neném Prancha, criatura imortal citada riência directa com a tarefa realizada torna
pelo jornalista João Saldanha, dizia que o mais difícil para as pessoas exercer julga-
pénalti é tão importante que deveria ser batido mento sobre ela. A imaginação torna-se mais
pelo presidente do clube. A comparação é importante que o julgamento baseado na
valida: a comunicação empresarial é, hoje, experiência, o que desafia os procedimentos
tão fundamental que deveria envolver direc- “industriais”.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 611
“As Intranets são redes com a mesma Outro aspecto importante a considerar
plataforma tecnológica da Internet, é a existência de um sistema de BackOffice
mas localizadas numa empresa ou que permita facilmente a manutenção da
organização, onde o acesso está res- Intranet. Através de formulários, sem a
tringido somente a determinadas necessidade de formação em informática,
máquinas ou aos colaboradores e ou em alguma linguagem de programação,
funcionários da empresa.” (Reis, pode-se inserir, ou alterar dados da Intranet.
2000:132). É de salientar que em nível de segurança,
só as pessoas habilitadas, mediante um
O tratamento correcto dos dados, de forma nome de utilizador e uma palavra passe,
a transformá-lo em conhecimento e utilizar podem efectuar a manutenção da Intranet.
as tecnologias mais apropriadas visando, A verificação dessa habilitação pode ser
assim, a automatização dos processos e efectuada em nível da base de dados ou
consequentemente a diminuição dos custos de uma forma simples, o servidor web
requer organização e papéis claros de uma verifica se o utilizador pode ou não inserir
equipe coesa. Partindo desse princípio bási- e alterar dados.
co, a constituição, de forma correcta, de toda Um bom exemplo de BackOffice é o
a informação ligada à organização, num único desenvolvido por nós para o jornal on-line
espaço, facilita o seu manuseamento, apren- da UBI – Urbi@Orbi. Ligado a uma base
dizagem e memorização, levando assim ao de dados, o formato do jornal permite que
aumento de produtividade. o jornalista não necessite estar apto a pro-
Por intermédio de ligações a bases de gramar em HTML ou numa outra linguagem
dados, os servidores web fornecem toda a de programação. Facilmente, mediante a
informação através de um browser, ou seja, introdução de uma palavra passe este acede
o utilizador da Intranet, para recolher a à página, que se encontra on-line, a qual
informação que precisa, não necessita saber contém os formulários onde se introduzem
mais do que saber utilizar a Internet. A os dados relativos às noticias. Muito impor-
manutenção contínua do site, bem como as tante ainda é o facto de este sistema poder
medidas de segurança que regem quem acede ser acedido de qualquer computador que tenha
aos diversos tipos de conteúdos, precisa ser ligação à Internet. Neste caso, a ligação entre
planeada logo no início da implementação. o servidor web e o servidor de base de dados
Para garantir uma Intranet que nos per- é efectuada mediante a linguagem de pro-
mita falar o que queremos e principalmente gramação PHP.
dizer o que precisamos, é necessário efectuar Dentro dos limites da empresa, tudo o
um levantamento das verdadeiras necessida- que circula em forma de papel pode ser
des do utilizador, ou seja, o analista de “importado” para a Intranet de forma sim-
sistemas terá de efectuar uma análise de ples e objectiva, desde catálogos de venda
requisitos consistente e com qualidade, que de produtos, recursos humanos, listas tele-
lhe permita implementar um sistema funci- fónicas, jornal interno da empresa ou qual-
onal, simples, e, sobretudo, onde a informa- quer tipo de formulários. Um bom exemplo
ção transmitida reuna um conjunto de carac- do que foi dito é o site dos Serviços
terísticas que garantam a qualidade dessa Académicos da Universidade da Beira Inte-
mesma informação: rior - UBI, pois engloba todo o tipo de
documentos e informações antes só dispo-
Uma informação precisa: correcta e níveis em papel, com as desvantagens que
verdadeira isso comportava, a exemplo da sua acumu-
Uma informação oportuna: existe no lação, deslocamento de alunos até aos ser-
momento e local correcto viços académicos e, consequente, demora em
Uma informação simples: de fácil filas, tumultos para a obtenção de uma sim-
compreensão ples informação. Um docente também já pode
Uma informação concisa: de fácil lançar as notas dos alunos on-line, evitando
manipulação a burocracia.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 613
Este fato se repete algumas vezes antes da dimento, distribuídos pelo País, sob a forma
promulgação da Lei do Ventre Livre, Lei No de agências, postos de atendimento bancário
2.040/1871, cujo Artigo No 4 permite ao (PAB), postos de atendimento eletrônico
escravo a formação de um pecúlio, com base (PAE), casas lotéricas e correspondentes
no que lhe provier de doações, legados, bancários, denominados CAIXA AQUI que
heranças ou de seu próprio trabalho e de favoreceram a expansão da Empresa aos
economias, além de prever a possibilidade de 5.561 municípios brasileiros, em 2002.
alforria, para quem consiga fundos para A atuação da CAIXA abrange o tripé: (a)
indenização de seu valor. Além disto, o Decreto transferências de benefícios; (b) serviços
No 5.153 (13 de novembro de 1873), deter- financeiros; (c) desenvolvimento urbano. No
mina à CAIXA a obrigatoriedade de acolher âmbito do primeiro setor, realizam-se signi-
depósitos advindos de escravos, na Corte e ficativos números de atendimento ao traba-
nas demais províncias (BUENO, E., 2003). lhador brasileiro. Dados alusivos ao primeiro
Em 1934, Ricardo Xavier da Silveira, trimestre de 2002 dão conta de 33,5 milhões
então presidente da Instituição, propõe a de pagamentos de benefícios, somando R$
unificação das Caixas Econômicas do País, 8,4 bilhões, entre pagamentos do FGTS,
mediante a homologação da Lei No 24.246, Seguro Desemprego, Abonos e Rendimentos
embora tão-somente 34 anos depois, o pro- do Programa de Integração Social (PIS) e os
cesso se concretize, ironicamente, por meio programas do Governo Federal, na época,
do temido Ato Institucional No 5 (AI-5), que Bolsa-Escola e Auxílio-Gás. Os serviços
concede ao Regime Militar vigente, poderes financeiros incluem em torno de 500 produ-
ilimitados sobre a nação, suas instituições e tos e serviços oferecidos à sociedade em geral
seu povo. O Decreto No 759/1969 e aos clientes, em particular, que vão desde
os já tradicionais poupança, penhor e habi-
constitui a Caixa Econômica Federal
tação até fundos de investimento, cartões de
(CEF), vinculada ao Ministério da
crédito, previdência privada, letras hipotecá-
Fazenda, como instituição financeira
rias, financiamentos e diversos empréstimos.
sob a forma de empresa pública,
Quanto ao desenvolvimento urbano, a Em-
dotada de personalidade jurídica de
presa atua como agente operador da maioria
direito privado, com patrimônio pró-
das políticas públicas do Governo Federal em
prio e autonomia administrativa.
programas direcionados para habitação para
Especifica, também, as suas atividades, baixa renda, saneamento, pavimentação,
a saber: receber depósitos de poupança; con- planejamento urbano, dentre outros.
ceder empréstimos e financiamentos para pes- Permeando estes três setores macros, no
soas físicas e jurídicas; operar no setor momento, a CAIXA desenvolve projeto de
habitacional como agente do então Banco inclusão social, iniciado no governo do
Nacional de Habitação (BNH); explorar, com presidente Fernando Henrique Cardoso, com
exclusividade, os serviços de loterias (à época, a instalação dos correspondentes bancários
com duas modalidades, Federal e Esportiva); em todo o País e, intensificado no atual
e prestar serviços à população brasileira. Este Governo, com a Conta CAIXA AQUI ou
último item permite a instalação gradativa Conta Cidadã. Em dezembro de 2003, ape-
de outras ações, paulatinamente agregadas às nas seis meses depois do lançamento, esta
funções da CAIXA. permitiu que um milhão de brasileiros fos-
sem bancarizados, com a ressalva de que se
Multiplicidade de Funções trata de segmento de mercado, cujo potencial
para consumo ainda não está totalmente
Como decorrência, tomando como mensurado, despertando, então, o interesse
parâmetro o ano de sua unificação, 1969, até da concorrência.
os dias atuais, registra-se crescimento con- Outra forma de atuação de destaque é o
siderável da CAIXA, tanto em patrimônio, mercado de loterias, cujo monopólio federal
como em estrutura e volume de produtos e é detido pela CAIXA. Em 2001, a arreca-
serviços disponíveis à população brasileira. dação atinge a cifra de R$ 2,8 bilhões,
Hoje, são cerca de 14 mil pontos de aten- distribuídos em pagamento dos prêmios (R$
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 619
879 milhões), seguridade social (R$ 529 O processo evolutivo ocorre de tal forma
milhões) e destinados ao Imposto de Renda que, no último decênio do século XX, a
(R$ 340 milhões). Os produtos lotéricos comunicação empresarial passa a ser consi-
diversificados, pouco a pouco, para atender derada estratégica para grande parte das
as exigências dos diferentes estratos sociais, empresas atuantes no mercado nacional, em
abrangem bilhetes de raspadinhas com prê- sua maioria, influenciadas pela onda do
mios imediatos até pequenas ou grandes marketing e dos processos de reengenharia,
apostas para os prêmios da cobiçada Mega que invadem o mercado e ganham reflexos
Sena. Além disto, a CAIXA atua como nas principais academias brasileiras de ad-
incentivadora da cultura nacional, patrocinan- ministração. O marketing, em termos de
do áreas, como teatro e música. Mantém, realidade nacional, ultrapassa os limites da
ainda, conjuntos culturais nas principais administração e alia-se à comunicação, ge-
cidades brasileiras, com calendários perma- rando discussões conceituais, tanto para os
nentes de atividades e desenvolvimento de leigos como para os profissionais.
projetos, como o Criança Arteira (Brasília), A este respeito, Bueno, W. (2003) acre-
que visa à inclusão cultural. dita que a concepção de comunicação em-
presarial se aprimora, ao longo do tempo,
Comunicação Empresarial/Organizacional
deixando de ser tão-somente um conjunto de
atividades fragmentadas, para se configurar
O processo de comunicação dentro das
como processo integrado que orienta o re-
empresas brasileiras é relativamente recente,
lacionamento das empresas com os seus
evoluindo nas últimas três décadas, em busca
públicos. Torquato (2002), no entanto, diante
de um modelo que integre, sinergicamente,
todos os setores da empresa envolvidos com do processo evolutivo da área, opta por
a comunicação e com o marketing. De forma substituir a expressão – comunicação empre-
sucinta, a história mostra que, na década de sarial––, utilizada por ele mesmo, nos anos
1970, em pleno Regime Militar, a comuni- 1970, pela denominação – comunicação
cação empresarial se dá de forma isolada, organizacional –, mais abrangente e aplicá-
ou seja, os setores responsáveis pela criação vel a instituições públicas, sindicatos, con-
e manutenção da imagem das instituições, federações, escolas etc. De fato, quer se utilize
quase não se comunicam entre si. Como uma ou outra terminologia, no contexto de
resultado, publicações internas, produção de uma instituição pública ou empresa, a co-
releases, organização de eventos, veiculação municação ou a propagada comunicação
de produtos publicitários etc. desarticulados integrada de marketing assume, na realidade
entre si, acarretando desperdício de tempo atual, um conjunto de novas competências,
e dinheiro, e, principalmente, contribuindo que agregam a formação e manutenção da
para a desagregação dos fatores integrantes boa imagem, mediante a intensificação da
da identidade de qualquer instituição. venda de produtos e serviços.
Contudo, é ainda nos anos 70, que se Todavia, é preciso registrar que a evo-
esboça o perfil de uma comunicação empre- lução no mercado não é visível apenas na
sarial eficiente, graças ao ingresso de pro- comunicação. Outros fatores, como a
fissionais da área nas atividades internas das globalização econômica; a evolução dos
empresas, tais como: relações públicas, jor- processos de gestão; a evolução nos sistemas
nalistas e publicitários, que assumem os de vendas e distribuição face às novas tec-
postos, antes ocupados por pessoas com outra nologias; a democratização da educação e da
formação. Na década seguinte, os processos informação e a divulgação do conceito de
comunicativos ganham impulso no mercado cidadania concorrem para a nova postura das
brasileiro, quando grandes empresas e ins- organizações. Estas se tornam mais agressi-
tituições do país criam setores especializados vas mercadologicamente, mas também, mais
de comunicação, nos quais se destacam os responsáveis e cidadãs, favorecendo aos
papéis do jornalista empresarial e do profis- consumidores e cidadãos o exercício de seus
sional de relações públicas. direitos e deveres.
620 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
to e design gráfico, envolvendo-se com ano de 1892, essas Caixas agregam o perfil
questões societárias mais abrangentes de de bancos comerciais, passando de meras
missão e cultura corporativas. Cada vez coletoras de depósitos e “monte de socorro”
mais a identidade é utilizada estrategi- a operadoras de empréstimos sob caução de
camente. A essência do gerenciamento títulos da dívida pública da União, letras e
de identidade é a criação de uma estética bilhetes do Tesouro Nacional, com garantia
corporativa (ou de marca) que expresse e assistência governamental. Como visto, a
a “personalidade” da organização (ou unificação das Caixas acontece somente em
da marca) por meio de elementos de 1969, e a CAIXA, hoje, atua em múltiplos
identidade atraentes. setores. No tocante à composição da marca
e assinatura, a CAIXA já possuiu algumas,
Enquanto isto, a imagem corporativa é que retratam, como natural, o respectivo pe-
o reflexo da identidade no imaginário sim-
ríodo histórico. Entre 1996 a 1997, a partir
bólico coletivo do público no mercado con-
do projeto de reengenharia de 1994 (Pro-
sumidor, onde a empresa está inserida,
grama de Racionalização e Competitivida-
compreendendo clientes, empregados e pú-
de, PRC), responsável pela modificação dos
blico em geral. A imagem pressupõe a
apreensão de valores subjetivos externados seus processos, em todos os níveis, a
pela instituição em diversos momentos de sua Empresa necessitou renovar imagem, mar-
existência e de sua atuação. A percepção do ca, logomarca, logotipo e todos os itens es-
público se dá a partir da fixação da marca téticos da identidade corporativa, tomando
exposta por muito tempo, como também, pela como referencial os resultados de uma
qualidade de atendimento, produtos e servi- pesquisa de imagem corporativa. Os prin-
ços, e, principalmente, pelas políticas empre- cipais indicativos que fundamentam as
sariais adotadas em relação à sociedade. modificações da Empresa, não somente no
Exemplificando: a empresa que desrespeita o que se refere à marca, mas também, à infra-
meio ambiente ou adota uma política de estrutura física, ao modelo de gestão e até
demissão de trabalhadores em massa possui mesmo ao portfólio de produtos e serviços,
imagem mais negativa do que aquela que vinculam-se à clientela, majoritariamente,
investe parte dos lucros em projetos ambientais envelhecida, a agências e postos de aten-
ou culturais. É o que Torquato (2002:162) dimento sem processos de atendimentos pa-
alerta, ao afirmar ser impossível dissociar dronizados, a sistemas de gestão de infor-
mação sem comunicação entre si, ao parque
“[...] o conceito de uma entidade da de equipamentos computacionais e a termi-
imagem que se pretende para ela. Ou nais eletrônicos ultrapassados, a produtos e
seja, quando se distorce para mais ou serviços não competitivos.
para menos a imagem de uma enti- Então, segundo dados contidos no Manual
dade, gera-se uma dissonância [...]”, da Marca, ano de 1997, a escolha da palavra
– CAIXA – resultou do fato de ser a mais
que, em algum momento, é percebida pelos popular e a forma mais coloquial empregada
seus clientes. Caixa – Identidade, Imagem e
pelo público externo e interno para se referir
Processo de Comunicação Integrada.
à Instituição. Além do mais, numa feliz
Retomando a história da CAIXA, é mais
coincidência, é um termo que guarda vários
fácil compreender a formação da sua iden-
tidade corporativa. Criada, em 1861, com o significados vinculados à missão da Empresa,
nome de Caixa Econômica e Monte Socorro, qual seja: guardar, poupar, valor, depósito. À
visava receber economias populares sob a época, também se adotou o elemento síntese
garantia do Governo, enquanto ao Monte não existente anteriormente. O X foi então
Socorro competia emprestar recursos a juros retirado da marca, para ser usado, separada-
módicos, sob penhor, para as classes menos mente, em ações de reforço ou alusão à marca,
favorecidas. Poucos anos depois, em 1874, como em sinalizações de sala de
são criadas outras Caixas Econômicas nas autoatendimento em agências.
capitais das províncias, atuando junto à É evidente que tudo isto conduz à trans-
Delegacia da Fazenda Nacional. A seguir, no formação geral da Empresa, iniciada com uma
622 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
divididos em duas etapas mensais. Na pri- ras, ao mesmo tempo em que comprova os
meira, cerca de 3.000 poupadores conquis- aspectos positivos arrolados, dentre os quais,
tavam prêmios de R$ 1.000,00 e passavam, o reconhecimento do público frente à sua
a concorrer aos prêmios de R$ 10 mil, R$ atuação social, o seu papel na política de
20 mil, R$ 2 milhões e R$ 4 milhões. O habitação, a poupança para todos e o em-
planejamento da Campanha envolveu tanto préstimo para classes desfavorecidas, medi-
a área do produto, como os setores de ante o penhor, também mostra pontos de
comunicação e marketing. A publicidade, conflito na imagem da Empresa. Além de
orientada pela GENCO, criou peças informa- reafirmar o envelhecimento da clientela,
tivas para os empregados a fim de sensibilizá- aponta problemas ligados a grandes filas, ao
los para a divulgação e o convencimento da mau atendimento, à lentidão e ao arcaísmo
clientela. dos terminais de auto-atendimento, e o que
Tais peças eram renovadas, sistematica- parece mais grave, indica que seu extenso
mente, ante a inserção de novos elementos portfólio de produtos e serviços bancários,
na Campanha. A divulgação externa envol- inclusive os produtos direcionados ao setor
veu mídia eletrônica nas principais redes de público, são pouco conhecidos.
rádio e TV, assim como merchandising nas A imagem de banco social tem sido
novelas de maior audiência na rede Globo. reforçada, a cada dia, que o Governo Federal
A ASSIMP teve atuação importante, ao delega mais atribuições para a CAIXA. Hoje
alimentar os meios de comunicação com é responsável pelo pagamento dos programas
notícias sobre a evolução da poupança in- de inclusão do Governo, o que conduz
terna do País, alertando para a importância milhões de pessoas a procurarem pontos de
do processo, como também identificando os atendimento, em qualquer localidade. Con-
beneficiados. Eventos foram realizados em tudo, com as atribuições, é premente a adoção
todas as regiões, de tal forma que tanto de novos investimentos em tecnologia e
aqueles de maior abrangência, como os pessoal, para que o atendimento dimensiona-
realizados nas próprias agências contribuíram do para um número X de pessoas não tenha
para o sucesso obtido. o padrão de qualidade reduzido, haja vista
Em suma, afirmamos que o modelo que o número de clientes triplica, mensal-
adotado pela CAIXA para marketing e co- mente, com a inserção de mais famílias nos
municação vem obtendo bons resultados, cadastros governamentais. No entanto, como
embora ainda não consiga abranger todos os os investimentos não ocorrem com a mesma
aspectos da megainstituição. A evidente velocidade em que se dá a adesão dos novos
expansão da Empresa, mensurada nos lucros clientes, o atendimento não dá vazão, as filas
de 2003, advindos de fatores diversos, como: permanecem, e a rasura da imagem, também.
expansão da carteira de clientes, maior cre- De qualquer forma, a pesquisa citada levou
dibilidade, atuação social mais visível, ao redirecionamento da comunicação e dos
confiabilidade crescente na poupança e ex- processos da Empresa.
pansão do banco da casa própria. No entan- A logomarca, que já passou por temas
to, ao contrário dos demais bancos, cuja como: (1) CAIXA, o banco da vida da gente;
imagem está associada à figura masculina, (2) CAIXA, aqui o Brasil acontece, desde
mais dura, com cobrança de juros maiores agosto de 2003, traz agora a expressão:
e atendimento seletivo, a CAIXA detém uma CAIXA, para você e para todos os brasilei-
imagem feminina que conduz à sua visua- ros. O processo deve resgatar, ainda, o slogan
lização como “a mãe do povo brasileiro”. Isto VEM pra CAIXA você também, da década
concorre para que a população se sinta à de 1980, mas fortemente incorporada à sua
vontade para reclamar e exigir melhores imagem.
serviços, o que contribui para que muitas Além da pesquisa, o principal fator pro-
questões ligadas à sua imagem continuem vocador de mudanças na identidade e que
imutáveis. se reflete na imagem da Instituição, foi o PPA
A este respeito, pesquisa recente, contra- do Governo Federal elaborado com ampla
tada pela CAIXA, no primeiro semestre de participação da sociedade civil em 2003, e,
2003, realizada nas maiores praças brasilei- que provocou a necessária adequação da
624 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
CAIXA à nova conjuntura política, econômica juros devem ser reduzidos, e, por conseguinte,
e social do Brasil, o que foi feito através os lucros bancários também, está revisando
da elaboração do planejamento estratégico da muitos dos seus processos, inclusive em
Empresa com a participação dos emprega- marketing e comunicação. Porém, em qualquer
dos. Esse planejamento ou o PPA CAIXA circunstância, é utópico afirmar que alcançará
já acarretou na mudança dos processos na a excelência no planejamento desses dois
megaestrutura da matriz, mudanças que setores, uma vez que não há como assegurar
devem se estender aos pontos de venda, que os investimentos em logística virão a tempo
trazendo benefícios aos clientes. de atender as novas demandas da CAIXA no
mercado, melhorando o atendimento e, portan-
Finalizando to, a sua imagem. No entanto, com base nas
discussões dos elementos relatados no presente
Neste momento, a CAIXA, pautada pela diagnóstico, e não obstante o clima de
conjuntura de seu microambiente, e, pelas indefinições do mercado financeiro brasileiro,
transformações do macroambiente, dentre acredita-se que o novo modelo conceitual de
elas, as políticas e as do mercado financeiro, comunicação integrada da CAIXA agrega a
segundo as quais, obedecendo às orientações necessidade de revisão permanente, tornando-
da política monetária do atual Governo, os se, essencialmente, ciclodinâmico.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 625
parece adaptar-se cada vez mais ao modelo Neste sentido, propõe-se um desdobra-
de cidadania consumista em que, na nossa mento da progressão do marketing político
perspectiva5, o cidadão parece ser secundário em três grandes gerações, a embrionária, a
em relação ao seu próprio custo. O poder de profissionalização e a de expansão, cada
como dominação parece ter-se deslocado para uma das quais é intermediada em relação à
a ditadura da imagem no sentido em que, seguinte por um período de transição e re-
como refere Manuel Castells 6, o que é contextualização. Tão fundamental é aquilo
determinante já nem é o estar na televisão, que as distingue como o que as aproxima.
mas o não estar, porque o que não existe Acima de tudo, é à luz desta distinção que
na televisão, não existe. os conceitos de imageficação e imageficação
política conquistam o seu peso e a sua
2. O Marketing Político e a Progressão da importância.
Comunicação em Política
2.1. Sobre a Ideia de Uma Geração
Introduzidos os conceitos de imageficação Embrionária do Marketing Político
e imageficação política, propõe-se agora a
ideia de um caminho de interpretação da A admitir-se, esta primeira geração de
proximidade a que se passou a assistir entre marketing político tem início na cultura
estes e o marketing político moderno. clássica e a sua influência mantém-se até à
Quase nada é pacífico no que diz res- chegada da «Galáxia de Gutenberg»13, altura
peito ao marketing político. A começar pela em que o mundo ocidental entra num pe-
sua terminologia, a sua definição e a sua ríodo de transição que termina nos inícios
“história”7. O único aspecto que parece reunir do século XX, com o começo da geração
consenso e unanimidade prende-se com a sua seguinte.
inscrição no espaço. O conjunto dos diferen- É entendida como “embrionária” por ser
tes fenómenos políticos e comunicacionais durante este intervalo de tempo que emerge
que ele designa tem sido reconhecido e aceite a afirmação, o recurso e a promoção de um
por todos na sua circunscrição ao interior das conjunto fundamental e decisivo de diferen-
fronteiras dos países democráticos ocidentais8. tes técnicas e estratégias de comunicação, em
Neste sentido, a sua emergência foi favorecida sentido lato, que têm suportado, mantido e
por um espaço político9, e não tanto por um promovido a comunicação em política ao
espaço geográfico. longo do tempo e que, consequentemente,
Em resposta a uma preocupação hermenêu- estão também na base do que se designou
tica, o marketing político será, antes de mais, depois, e ainda hoje, por marketing político
perspectivado como fruto do seu contexto. Desta moderno.
forma, a principal referência deixa de ser a da Pode dizer-se que a ideia desta geração
sua “história” para passar a ser a da sua se revê na tese segundo a qual o marketing
progressão. O que se procura não é tanto a político sempre existiu14. Propõe-se a ideia
sucessão e o encadeamento dos diferentes de que as condições políticas e institucionais
momentos da sua evolução, mas sim o sentido necessárias à existência do marketing polí-
que ele teve em cada um desses momentos e tico, o modelo democrático e os seus pres-
a forma como cada um deles contribuiu para supostos, tiveram a sua primeira
a sua compreensão. Ou seja, de que modo(s) concretização na Polis grega. De facto, em
a procura das “origens” do marketing político termos políticos, Atenas representa a génese.
nos leva ao encontro de diferentes sentidos e Foi aí que, no período que tem início no
momentos do próprio homem na sua condição século V a.C., se deu «a invenção da po-
de ser-com-os-outros-no-mundo. lítica»15 e teve origem tanto a ideia ocidental
Não se trata, portanto, aqui, de expor ou da cultura 16 como a própria democracia
discutir diferentes modelos de marketing pluralista ocidental cujo critério é a existên-
político10, nem os diferentes critérios que cia de eleições livres. Este, por sua vez,
fundamentam as suas diferentes definições11, pressupõe a concretização de três condições:
nem tão pouco os diferentes tipos de a liberdade de candidatura, a liberdade de
marketing político que se podem admitir12. sufrágio e a liberdade de escrutínio. Naquela
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 629
2
Classical Times to the Present (2nd ed.), Instituto Superior de Psicologia Aplicada/
Boston and New York, Bedford/St. Martin’s, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da
2001, pp. 364-428. Empresa.
3
Para um aprofundamento destes termos na
Rebelo de Sousa, Marcelo, Comentário,
sua complementaridade sugere-se, por exemplo,
in Ruas dos Santos, Margarida, Marketing Joan Leach, Análise Retórica, in Martin W. Bauer
Político, Mem Martins, Edições Cetop, 1996, & George Gaskell, Pesquisa Qualitativa com
pp. 88-89. Texto, Imagem e Som (2ª ed.), Petrópolis, Editora
Ricœur, Paul, Parcours de la Vozes, 2003, pp. 293-318; Patricia Bizzell & Bruce
Reconnaissance: Trois Études, Paris, Éditions Herzberg (Eds.), The Rhetorical Tradition:
Stock, 2004. Readings from Classical Times to the Present (2nd
Ruas dos Santos, Margarida, Marketing ed.), Boston and New York, Bedford/St. Martin’s,
Político, Mem Martins, Edições Cetop, 1996. 2001; Richard A. Lanham, A Handlist of Rhetorical
Terms (2nd ed.), Berkeley, Los Angeles and London,
Sabato, Larry J., The Rise of Political
University of California Press, 1991; Werner
Consultants, New York, Basic Books, 1981. Jaeger, Paideia: A Formação do Homem Grego,
Sartori, Giovanni, Homo Videns: Tele- Lisboa, Editorial Aster, 1979. Para uma leitura
visão e Pós-pensamento (1ª ed. portg.), um pouco mais detalhada sobre a concepção de
Lisboa, Terramar, 2000. ethos aqui proposta sugere-se Antónia C. Perdi-
Silva, Domingos A. B. da, Prefácio à gão, A Ética do Cuidado na Intervenção Comu-
Edição Portuguesa, in Lambin, Jean-Jacques, nitária e Social: Os Pressupostos Filosóficos,
Marketing Estratégico (4ª ed.), Amadora, Análise Psicológica, 2003, Vol. XXI (4), pp. 485-
497.
Editora McGraw-Hill de Portugal, 2000, pp. 4
Para uma abordagem deste conceito na sua
XXI-XXII.
relação com o de liderança pode consultar-se, por
Stallabrass, Julian, Gargantua: exemplo, AAVV, Inside the Mind of the Leader
Manufactured Mass Culture (1st ed.), London (Special Issue), Harvard Business Review, 2004,
and New York, Verso, 1996. Vol. 82(1).
Stephens, Mitchell, The Rise of the Image 5
Uma perspectiva que obedece apenas a um
and the Fall of the Word (1st ed.), New York critério reflexivo. Neste sentido, não é aqui
and Oxford, Oxford University Press, 1998. proposta a título de “cosmovisão”, que seria
Tschichold, Jan, The New Typography: certamente redutora, mas antes como apelo à
A Handbook for Modern Designers (1 st discussão e troca de ideias.
6
paperback ed.), Berkeley, Los Angeles and Cf. A Era da Informação: Economia, So-
ciedade e Cultura, Vol. II: O Poder da Identi-
London, University of California Press, 1998.
dade, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian,
Welch, Kathleen, Electric Rhetoric: 2003.
Classical Rhetoric, Oralism, and a New 7
A questão da sua legitimidade passou pre-
Literacy, Cambridge and London, MIT Press, cisamente, sem a ela se confinar, pela resposta
1999. à pergunta que alguns autores mantiveram, com
Wolton, Dominique, Avant-Propos: ou sem tom pejorativo, como resultado de uma
Audience et Publics: Économie, Culture, postura reticente em relação ao “novo fenómeno”
Politique, Hermès: Cognition, Communication, da comunicação em política, a saber, «o marketing
Politique, Nº 37: L’Audience: Press, Radio, político existe?» (cf. Serge Albouy, Marketing et
Communication Politique, Paris, Éditions
Télévision, Internet, Paris, CNRS Éditions,
l’Harmattan, 1994; Denis Lindon, Le Marketing
2004, pp. 27-34. politique, Paris, Dalloz, 1986).
8
É importante referir que, consoante se
partilhe, ou não, do critério aqui proposto para
_______________________________ a interpretação da “história” do marketing polí-
1
A presente comunicação está associada a uma tico, assim estas fronteiras democráticas designam
Tese de Doutoramento inscrita no ISCTE, na a Grécia Antiga (quando se admite a ideia de um
especialidade de Sociologia da Cultura e da marketing político em sentido clássico) ou a
Comunicação, e foi financiada pela FCT (Progra- América do Norte e a Europa ocidental (quando
ma PRAXIS XXI) e pelo FSE no âmbito do III nos referimos ao marketing político moderno e
Quadro Comunitário de Apoio. Adverte-se para pós-moderno). Contudo, a referência é sempre e
o facto do presente texto não corresponder na necessariamente a de um regime democrático e
íntegra à comunicação oral apresentada no Con- a do pensamento político-filosófico que lhe
gresso. subjaze.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 635
9
H. Cazenave, Marketing Politique, in Lucien Andrew Lock & Phill Harris, Political Marketing
Sfez (Ed.), Dictionnaire Critique de la – Vive la Difference!, European Journal of
Communication (Vol. 2), Paris, P.U.F., 1993, pp. Marketing, 1996, Vol. 30(10/11), pp. 21-31;
1377-1392. Teodoro Luque, ibidem; Margarida Ruas dos
10
Paul R. Baines, Ross Brennan & John Egan, Santos, Marketing Político, Mem Martins, Edi-
“Market” Classification and Political ções Cetop, 1996; Michel Bongrand, Le Marketing
Campaigning: Some Strategic Implications, Politique (2e éd.), Paris, P.U.F., 1993; Nicholas J.
Journal of Political Marketing, 2003, Vol. 2(2), O’Shaughnessy,’The Phenomenon of Political
pp. 47-66; Paul R. Baines, Marketing and Political Marketing (1st ed.), New York, St. Martin’s Press,
Campaigning in the US and the UK: What Can 1990; Gilles Achache, Le Marketing Politique,
the UK Political Parties Learn for the Hermès: Cognition, Communication, Politique,
Development of a Campaign Management Process Vol. 4: Le Nouvel Espace Public, Paris, CNRS
Model?, PhD Thesis at Manchester School of Édition, 1989, pp. 103-112; Mario H. Arconada,
Management, 2001, [disponível em: http:// Teoría y Técnica de la Propaganda Electoral
www.scirus.com (Consulta: 2003-03-16)]; Philip (Formas Publicitarias), Barcelona, ESRP – PPU,
Kotler & Neil Kotler, Political Marketing: 1989; Denis–Lindon, ibidem; por exemplo.
12
Generating Effective Candidates, Campaigns, and Serge Albouy, ibidem; Dominique David,
Causes, in Bruce I. Newman (Ed.), Handbook of Jean-Michel Quintric & Henri-Christian Schroeder,
Political Marketing (1st ed.), Thousand Oaks, Le Marketing Politique (1re éd.), Paris, P.U.F.,
London and New Delhi, Sage Publications, 1999, 1978; por exemplo.
13
pp. 3-18; Philip Kotler, Overview of Political Marshall McLuhan, The Gutenberg Galaxy:
Candidate Marketing, in Bruce I. Newman & The Making of Typographic Man, Toronto,
Jagdish N. Sheth (Eds.), Political Marketing: University of Toronto Press, 1962.
14
Readings and Annotated Bibliography, Chicago, Paul Baines, Marketing and Political
Illinois, American Marketing Association, pp. 1- Campaigning in the US and the UK: What Can
9; Teodoro Luque, Marketing Político: Un Análisis the UK Political Parties Learn for the
del Intercambio Político (1ª ed.), Barcelona, Development of a Campaign Management Process
Editorial Ariel, 1996; Bruce I. Newman, The Model?, PhD Thesis at Manchester School of
Marketing of the President: Political Campaign Management, 2001; H. Cazenave, ibidem; Philippe
as Campaign Strategy (1st ed.), Thousand Oaks, J. Maarek, Pour ou Contre le Marketing Politique?
London and New Delhi, Sage Publications, 1994; Elections et Television: Actes du Colloque,
Philippe J. Maarek, Communication et Marketing Valence, Crac, 1993, pp. 79-83; Dominique David,
de l’Homme Politique, Paris, Litec, 1992; Gary Jean-Michel Quintric & Henri-Christian Schroeder,
A. Mauser, Political Marketing: An Approach to ibidem.
15
Campaign Strategy, New York, Praeger Publishers, José A. Maltez, Princípios de Ciência
1983; entre outros. Política: Introdução à Teoria Política (2ª ed.),
11
Joep P. Cornelissen, Metaphorical Reasoning Lisboa, ISCSP – UTL, 1996, pp. 166.
16
and Knowledge Generation: The Case of Political Cf. Werner Jaeger, ibidem.
17
Marketing, Journal of Political Marketing, 2002, Górgias, Encomium of Helen, in Patricia
Vol. 1(1), 193-208; Jennifer Lees-Marshment, Bizzell & Bruce Herzberg (Eds.), ibidem, pp. 44-
Political Marketing and British Political Parties: 46; Isócrates, Antidosis, in Patricia Bizzell & Bruce
The Party’s Just Begun (1st ed.), Manchester and Herzberg (Eds.), ibidem, pp. 75-79; Aristóteles,
New York, Manchester University Press, 2001; Retórica, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da
Richard M. Perloff, Elite, Popular and Moeda, 1998; idem, La Poétique, Paris, Éditions
Merchandised Politics: Historical Origins of du Seuil, 1980; Platão, Fedro (3ª ed.), Lisboa,
Presidential Campaign Marketing, in Bruce I. Guimarães Editores, 1986; idem, A República (4ª
Newman (Ed.), Handbook of Political Marketing ed.), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1983.
(1st ed.), Thousand Oaks, London and New Delhi, Para uma abordagem mais detalhada a este res-
Sage Publications, 1999, pp. 19-40; Bruce I. peito, sugere-se António Fidalgo, Definição de
Newman, The Marketing of the President: Political Retórica e Cultura Grega, 2001, [disponível em:
Campaign as Campaign Strategy (1 st ed.), http://bocc.ubi.pt (consulta: 2003-04-23)].
18
Thousand Oaks, London and New Delhi, Sage Cícero, De Oratore, in Patricia Bizzell &
Publications, 1994; idem, The Mass Marketing of Bruce Herzberg (Eds.), ibidem, pp. 289-339;
Politics: Democracy in an Age of Manufactured Quintiliano, Institutes of Oratory, in Patricia Bizzell
Images (1st ed.), Thousand Oaks, London and New & Bruce Herzberg (Eds.), ibidem, pp. 364-428.
19
Delhi, Sage Publications, 1999; Philippe J. Maarek, Cf. Kevin LaGrandeur, Digital Images and
ibidem; idem, Marketing Político y Comunicación: Classical Persuasion, in Mary E. Hocks & Michelle
Claves Para Una Buena Información Política, R. Kendrick (Eds.), Eloquent Images: Word and
Barcelona, Buenos Aires y México, Paidós, 1997; Image in the Age of New Media, Cambridge and
636 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
32
London, MIT Press, 2003; Kathleen Welch, Bruce I. Newman, The Mass Marketing of
Electric Rhetoric: Classical Rhetoric, Oralism, and Politics: Democracy in an Age of Manufactured
a New Literacy, Cambridge and London, MIT Images (1st ed.), Thousand Oaks, London and New
Press, 1999; entre outros. Delhi, Sage Publications, 1999; Chris Hegedus &
20
Cf. António Fidalgo, ibidem. Da Pennebaker The War Room [DVD], Pennebaker
21
Philippe J. Maarek, Pour ou Contre le Associates & McEttinger Films, 1993.
33
Marketing Politique? Elections et Television: Actes Cf. Francisco R. Cádima, Salazar, Caetano
du Colloque, Valence, Crac, 1993, pp. 79-83. e a Televisão Portuguesa (1ª ed.), Lisboa, Edi-
22
A paideia é universal e designa a educação torial Presença, 1996.
34
no sentido escrito da palavra cujo sentido se foi Alexandre Coutinho, Como se Faz Um
alargando até englobar a kalokagathia ou forma- Presidente (1ª ed.), Lisboa, Edições «O Jornal», 1990.
35
ção espiritual consciente que pressupunha o Comentário, in Margarida Ruas dos Santos,
conjunto de todas as exigências (ideais, físicas e Marketing Político, Mem Martins, Edições Cetop,
espirituais); cf. Werner Jaeger, ibidem. 1996, pp. 88-89.
23 36
Cf. Paul Ricœur, Parcours de la Dominique Wolton, Avant-Propos: Audience
Reconnaissance: Trois Études, Paris, Éditions et Publics: Économie, Culture, Politique, Hermès:
Stock, 2004, II-1 e 4. Cognition, Communication, Politique, Nº 37:
24
Domingos A. B. da Silva, Prefácio à Edição L’Audience: Press, Radio, Télévision, Internet,
Portuguesa, in Jean-Jacques Lambin, Marketing Paris, CNRS Éditions, 2004, pp. 27-34.
37
Estratégico (4ª ed.), Amadora, Editora McGraw- Francisco R. Cádima, O Fenómeno
Hill de Portugal, 2000, p. XXI. Televisivo, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996, p.
25
Marshall McLuhan, ibidem; Jan Tschichold, 15. A este respeito, sugere-se também Patricia
The New Typography: A Handbook for Modern Holland, The Television Handbook (2 nd ed.),
Designers (1 st paperback ed.), Berkeley, Los London and New York, Routledge, 2000.
38
Angeles and London, University of California Para uma breve referência aos pressupostos
Press, 1998. implícitos, cf. Francesco Parisi, Votes and
26
A respeito do que pode ser pensado, nos Outcomes: Rethinking the Politics-like-markets
nossos dias, como «cultura visual» sugere-se, por Metaphor, European Journal of Law and
exemplo, Julian Stallabrass, Gargantua: Economics, 13, pp. 183-192, por exemplo.
Manufactured Mass Culture (1st ed.), London and 39
Henri-Pierre Jeudy, Les Vertiges de la
New York, Verso, 1996. Médiation, in José A. Bragança de Miranda &
27
Cf. Richard M. Perloff, Elite, Popular and Joel F. da Silveira (Org.), As Ciências da Comu-
Merchandised Politics: Historical Origins of nicação: Na Viragem do Século, Lisboa, Edições
Presidential Campaign Marketing, in Bruce I. Século XXI, 2002, pp. 48-55.
40
Newman (Ed.), Handbook of Political Marketing Mitchell Stephens, The Rise of the Image
(1st ed.), Thousand Oaks, London and New Delhi, and the Fall of the Word (1st ed.), New York and
Sage Publications, 1999, pp. 19-40. Oxford, Oxford University Press, 1998, pp. 5-6.
28 41
Philippe Breton & Serge Proulx, A Explo- Homo Videns: Televisão e Pós-pensamento
são da Comunicação (1ª ed. portg.), Lisboa, (1ª ed. portg.), Lisboa, Terramar, 2000.
42
Editorial Bizâncio, 1997; H. Cazenave, ibidem; Ibidem, p. 9.
43
Larry J. Sabato, The Rise of Political Consultants, Manuel Castells, A Galáxia Internet: Re-
New York, Basic Books, 1981. flexões sobre Internet, Negócios e Sociedade,
29
Stanley Kelley, Professional Public Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
Relations and Political Power (1st paperback ed.), 44
Ibidem, p. 16.
45
Baltimore, The Johns Hopkins Press, 1966 [ed. Idem, A Era da Informação: Economia,
original publicada em 1956]. Sociedade e Cultura, Vol. II: O Poder da Identi-
30
Ibidem. dade, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
31 46
Marketing Político y Comunicación: Cla- José M.Paquete de Oliveira, A Ditadura
ves Para Una Buena Información Política, Bar- Invisível. «Desideologia»: A ideologia dos Nos-
celona, Buenos Aires y México, Paidós, 1997; sos Tempos, in II Fórum Eleitoral – Sociologia
Communication et Marketing de l’Homme Eleitoral, Lisboa, Comissão Nacional de Eleições,
Politique, Paris, Litec, 1992. 1993, pp. 77-90.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 637
das pelas comunidades, instituições e orga- tecnologia graças à sua capacidade de influ-
nizações envolvidas no processo de pesqui- enciar a direcção e o curso da investigação-
sa-desenvolvimento. Concretizam a percep- desenvolvimento, no seio de uma organiza-
ção comum da oportunidade e a ção ou numa rede de organizações. A apren-
implementação de ideias e projectos num dizagem, tal como se entende neste contexto,
futuro relativamente próximo e tornam-se não significa uma formação técnica profis-
assim objectivos fortes que influenciam os sional ou um ensino académico tradicional,
mecanismos de inovação, determinando o mas a gestão de uma solução flexível ou a
processo complexo no qual estão envolvidos antecipação da mudança de uma organização
múltiplos actores, tendo em vista a decisão no seu conjunto.
do prosseguimento de certas escolhas Esta aprendizagem encontra a sua expres-
tecnológicas e do abandono de outras. são quando, por exemplo, uma organização
As visões prospectivas do progresso téc- decide abandonar as estratégias e os concei-
nico assumem uma tripla função: impõem uma tos de gestão ultrapassados, para descobrir
direcção, facilitam a coordenação e agem como e promover mecanismos organizacionais
forças mobilizadoras. Desempenham um papel novos ou reformados e encoraja modos de
na orientação ao procurarem um ponto de reflexão inéditos. A aprendizagem organiza-
partida ao qual todos os indivídudos se podem cional traduzida em imagens e constatações
referenciar para ordenar as suas percepções, originais põe em causa e transforma as
o seu raciocínio e os seus mecanismos de estruturas e a cultura existentes.
tomada de decisão duma forma que defina um A necessidade de aprender é, presente-
objectivo comum para a reflexão sobre o mente, um elemento que condiciona cada vez
futuro. Asseguram a coordenação das percep- mais o sucesso das organizações. Muitas
ções, dos pensamentos e dos processos de instauram uma cultura criada e assente em
tomada de decisão, instaurando a compreen- estruturas da sua própria supremacia, num
são entre os indivíduos e as organizações, meio estável que permita fazer a previsão do
permitindo ultrapassar os quadros de referên- mercado ou de um produto, de um domínio
cia divergentes e simplificando a indispensá- técnico ou de um sector particular. As
vel cooperação entre estes dois grupos. Agem mutações aceleradas obrigam as organizações
como uma força mobililizadora, na qual estão a proceder a uma revisão das suas percep-
presentes as percepções, simultaneamente no ções, dos seus valores e do seu comporta-
‘espírito’ e no ‘coração’ dos indivíduos5. mento, a fim de poder reagir rapidamente à
nova concorrência mundial. Elas devem
O papel da cultura organizacional elaborar estratégias de longo prazo que
englobem processos de produção originais ou
A acção que as visões prospectivas bens e serviços novos. Se estes processos de
exercem sobre as inovações técnicas é, em auto-avaliação intervêm demasiado lentamen-
larga medida, condicionada pela cultura da te, a organização corre o risco de ‘perder o
organização. A cultura organizacional pode comboio’ do progresso técnico ou de perder
representar, simultaneamente, um trunfo e adaptação ao mercado e ver-se-á talvez na
uma desvantagem para o sistema. Ela pro- impossibilidade de preservar a sua compe-
cura um sentimento de estabilidade e uma titividade.
identidade aos quais os membros da orga- A aprendizagem organizacional efectua-
nização se podem referir, igualizando os se ao nível dos indivíduos e dos grupos que
comportamentos, que embora eficaz no muitas vezes estão na sua origem. Todavia,
passado, se arrisca ser inadaptado ou mesmo esta aprendizagem não consiste apenas numa
travar os esforças dispendidos no sentido de acumulação de experiências de formação
relevar os desafios actuais. independentes, mas numa aquisição colecti-
va de percepções ou de competências novas,
O papel da aprendizagem organizacional6 o que pode, na realidade, representar ‘me-
nos’ do que a soma das aprendizagens in-
A aprendizagem organizacional desempe- dividuais operadas no seio de uma organi-
nha um papel crucial na evolução da zação, isto é, as percepções e as competênci-
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 639
as adquiridas pelos indivíduos não são todas ções muito extensas e profundas. Não apa-
transferidas para a organização no seu con- rece isoladamente como uma organização
junto. única, mas vai buscar as suas raízes às
Por outro lado, a aprendizagem organi- empresas da indústria automóvel, aos gover-
zacional reveste muitas vezes uma dimensão nos e às diversas associações do ramo, assim
‘mais vasta’ do que a totalidade dos conhe- como a domínios exteriores à esfera orga-
cimentos pessoais angariados, porque com- nizacional como, por exemplo, ao compor-
bina e amplia ao mesmo tempo os efeitos tamento quotidiano dos condutores e às suas
educativos, as experiências e o saber indi- projecções individuais e colectivas sobre o
viduais, por via dos mecanismos quotidianos que é desejável e realizável.
de cooperação e comunicação. Esta visão prospectiva, em que o auto-
móvel domina as reflexões relativas à mo-
Imaginar conceitos novos e explorar as bilidade, estruturou e condicionou as polí-
inovações ticas de transporte durante décadas, podendo
ser considerada como uma das representa-
As estruturas necessárias para imaginar ções tecnológicas mais conseguidas em
conceitos novos e explorar plenamente as termos de alcance e de impacto a longo prazo.
inovações diferem duma empresa para outra, Durante muitos anos, o automóvel foi o
em certos casos de forma considerável. Num símbolo e o indicador de prosperidade in-
extremo, a investigação e o desenvolvimento dividual e macrosocial. Apesar das tensões
efectuados em certas empresas estão sepa- e das evoluções que anunciam uma
rados das tarefas correntes, de forma a reestruturação da sociedade automóvel não
favorecer ao máximo a liberdade e a cria- está à vista nenhuma ruptura fundamental.
tividade. No outro extremo, podem estar A visão da sociedade do automóvel disfruta
intimamente associados ao funcionamento hoje de uma tal omnipresença em todo o
quotidiano, de maneira a assegurar a mundo, que quase cada uma das organiza-
pertinência dos produtos resultantes da in- ções que por ele se interessaram deixaram
vestigação aplicada. a sua marca, encontrando a sua expressão
Como demonstram os exemplos seguin- numa aprendizagem sistematicamente
tes, os factores descritos (visão prospectiva, centrada na experiência do passado.
cultura e aprendizagem organizacionais) O aparecimento massivo de inovações
podem agir de forma permanente sobre a resultantes da utilização de novas tecnolo-
interacção complexa das mutações gias sem ligação aparente com o automóvel,
tecnológicas e das mudanças organizacionais. tem contribuído para assegurar a sua expan-
Aqueles exemplos têm em comum dois são a nível mundial. A introdução de tec-
aspectos. Em primeiro lugar, referem-se ambos nologias da informação e de técnicas de
a uma forma particular de inovação detecção, assim como da optoelectrónica
tecnológica: as novas tecnologias da informa- alimenta vivas esperanças futuras.
ção e das comunicações (NTIC) e mais pre- Sobrestima-se o ganho real da eficiência
cisamente a informatização e a digitalização produzida pelos acessórios que apelam às
do meio quotidiano. Em segundo, os dois tecnologias da informação, mas não há razão
exemplos explicam claramente que uma re- para subestimar a sua real capacidade de
flexão, que se exprime exclusivamente em resolução das principais dificuldades com que
termos de determinismo tecnológico ou so- hoje se confronta a sociedade do automóvel.
cial, pode modificar ou falsear as perspectivas A telemática oferece perspectivas considerá-
de desenvolvimento futuro. veis para a modernização do sector dos
transportes, admitindo-se que o automóvel
A perenidade da sociedade do automóvel: inteligente funcionando em rede seja o ele-
inovações sem mudança significativa mento central da visão futura da sociedade
do automóvel7.
Contrariamente às visões prospectivas Tendo em conta a direcção que os avan-
próprias das organizações, a representação da ços tecnológicos estão a ter, a melhor maneira
sociedade do automóvel apresenta ramifica- de os classificar seria falar de inovação
640 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Figura 1
Principales áreas e instrumentos de actuación de la comunicación empresarial
Fuente: Elaboración propia
Todas estas formas y acciones de Se trata, por tanto, del paso hacia la
comunicación, como hemos señalado integración y ajuste entre las diferentes formas
anteriormente, responden a objetivos de comunicación generadas por la
diferentes, son planificadas y ejecutadas por organización como un todo, de tal modo, que
áreas empresariales o especialistas diferentes, todas las comunicaciones de la empresa se
con mensajes diferentes y dirigidas a públicos gestionen bajo una misma línea común,
diferentes, poniendo de evidencia la tengan un estilo unitario, armonioso e
diversidad comunicativa que venimos identificador.
denunciando en estas líneas. La comunicación Esta planificación integrada de todas las
corporativa tiene por protagonista técnicas de comunicación disponibles exige
fundamental a la empresa u organización el establecimiento de una adecuada política
como tal y, para ello, trabaja en la de comunicación en la que exista, como
construcción de estrategias globales de señala Capriotti (2001:286-287), una
comunicación con una serie de instrumentos coherencia, un apoyo y una reafirmación
que ayuden a definir la imagen corporativa mutua entre las diferentes alternativas
y, como señala Hébert (1998:2), expresando comunicativas, de tal manera, que se
la forma que quieren ser percibidas por sus identifiquen las necesidades comunicativas de
públicos. cada uno de los públicos con los que
En cambio, las técnicas de la queremos comunicar y, en función de ellos,
comunicación comercial están ligadas al establecer los objetivos, el mensaje a
producto o marca y no a la institución como comunicar y las acciones necesarias.
tal y su eje tradicional es la publicidad, pero Y esta integración se está llevando a cabo
se realizan otras acciones no estrictamente en la realidad empresarial, como señalan
publicitarias como la realizada por la fuerza algunos autores8:
de ventas, las promociones, el marketing Partiendo del concepto de corporate9:
directo, el merchandising, etc. (Ventura, supone la construcción de una identidad
2001:189-190). Por último, la comunicación unificada y vertebrada para cada sujeto – la
interna tiene por objeto el capital humano empresa o institución- con arreglo a ciertos
y utiliza herramientas comunicativas que valores; y previa a cualquier acción de
consigan implicar en el proyecto empresarial comunicación. La comunicación, desde esta
a todos los miembros de la organización, es perspectiva es un medio pero también es un
como señalan Álvarez y Caballero trabajo cotidiano de todo el cuerpo de la
(1998:112): empresa.
Partiendo de la compresión corporativa
“La encargada de dinamizar el de la comunicación: supone unificar e
entramado social de la organización, integrar toda la comunicación que produce
dotándola de una filosofía de acción, la empresa. De ahí, que cobre fuerza y sentido
y canaliza las energías internas de los la figura del director de comunicación situado
integrantes de la misma para lograr en coordinación o en un escalón ligeramente
mayor eficacia y competitividad”. superior dentro de los cuadros de decisión
para posibilitar que su posición “integradora”
Pero teniendo en cuenta que la pueda ser extendida con eficacia a todos los
comunicación es transversal, atraviesa todos los departamentos de la organización.
procesos y es el sistema nervioso central de De esta manera, la imagen de la empresa
la organización (Costa, 2001:55), y que la y la imagen de sus productos” – que
empresa debe ser gestionada como una tradicionalmente han caminado por separado-
globalidad, se pone de manifiesto que todas pueden ir en la misma dirección, y es la
estas formas distintas de comunicación deben comunicación corporativa como principio de
ser coordinadas, integradas y gestionadas gestión la que va a determinar el resto de
corporativamente – o como señala Costa acciones comunicativas y engloba otros
(1995:136), como una corpus orgánico – para contenidos y acciones como la práctica del
presentarse las organizaciones a sus públicos marketing o la publicidad, la gestión de la
y a la sociedad en general con un discurso único. comunicación externa e interna o las
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 651
relaciones con los medios. Es decir, ésta va cuenta de que los servicios no son fácilmente
ser, -como señala Carrascosa (1992:34) – , publicitables bajo los esquemas tradicionales
“el marco que encuadra y coordina la de la comunicación de producto.
publicidad, el marketing y la comunicación La comunicación de producto recurre cada
interna y externa de una organización”. Es vez más a técnicas comerciales y de
decir, en función de este principio, dirigir una marketing, perdiendo carácter comunicativo.
empresa va a significar también atender a los La comunicación de producto presenta el
aspectos comunicativos que se planifican inconveniente de que no es capaz de publicitar
coordinadamente, y los responsables más que el producto concreto de que se trate,
empresariales, por lo tanto, van subrayar su la comunicación corporativa/marca cubre toda
atención sobre un conjunto de problemas la gama de productos, lo que la hace más
comunicativos generales que son prioritarios eficiente.
y de cuya coordinación dependen las acciones La comunicación de producto adquiere
publicitarias o de marketing que deben todo su sentido en el marco de la
establecerse (Benavides, 2001:27). comunicación corporativa y la imagen de
En este sentido, la comunicación marca; es decir, existiría sinergia entre ellas.
comercial de la empresa, que siempre ha ido Sin embargo, como señala Sanz de la
por separado, exige hoy una alta coherencia Tajada (1999:47), la integración de la
con la comunicación institucional, ya que la comunicación institucional y de la empresa
imagen de la empresa, percibida por los con la comunicación de marketing es a
públicos ligados a lo comercial (distribuidores menudo difícil, como consecuencia de las
y otros intermediarios, prescriptores, diferentes concepciones que se practican en
consumidores, compradores, incluso los ambas en la mayoría de las empresas y que
proveedores) interviene decisivamente, en se concretan sustancialmente en tres aspectos:
apoyo de la imagen de marca, en las La actuación del marketing normalmente
relaciones de la demanda en todos los niveles, se planifica más a corto plazo que la del
lo que ratifica la necesidad ineludible de un management.
enfoque integral e integrado de la La estructura de poder en la empresa hace
comunicación de la empresa (Sanz de la que no queden siempre claras las
Tajada, 1999:46). interpretaciones entre los responsables de las
Pero este nuevo principio de gestión no comunicaciones de marketing y de
significa desplazar a un segundo plano a la management, lo que afecta a la posibilidad
comunicación comercial, sino que es la práctica de construir y aplicar una política
comunicación corporativa la que por su integral de comunicación.
carácter globalizador, orienta el resto de Las aportaciones y responsabilidades de
comunicaciones. Así justifican algunos ciertos tipos de comunicación (las relaciones
autores las razones por las cuales se impone públicas especialmente) en la gestión
este nuevo principio (Villafañe, 2000:116): comercial o de ventas, no están claramente
En un contexto de saturación de mercado, definidas, ni se aceptan en muchos casos, si
caracterizado, entre otros aspectos, por un bien se va tomando conciencia cada vez más
elevado nivel de indiferenciación, la clara de que es preciso hacer un esfuerzo de
comunicación de producto se convierte casi comprensión y abordar la estructura técnica
en una “especificación técnica”, por lo que de tal relación de influencia que se observa
se produce un desplazamiento de recursos cada vez más plausiblemente en la realidad
hacia la comunicación corporativa, que hace de la empresa.
las veces de “paraguas” bajo el cual se ampara
la comunicación de producto. La comunicación comercial en el plan
El ciclo de vida de los productos es cada integral de comunicación estratégico
vez menor, frente a la perdurabilidad de la
comunicación corporativa. Por lo tanto, para poder unificar todas
Si la economía se orienta hacia los las comunicaciones de la empresa bajo una
servicios, es perfectamente comprensible el misma línea común, se plantea la necesidad
auge de la comunicación corporativa, habida de una plataforma estratégica de
652 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Figura 2
Representación del plan integral de comunicación estratégica
Fuente: Elaboración propia
dispersos. Para que sean realmente eficaces estratégicos, la cultura corporativa, las
y constituyan un adecuado instrumento de políticas de gestión, la identificación de cada
análisis, es preciso reunir esta información, unidad estratégica de negocio y su cartera
organizarla y valorarla de manera metódica, de productos/servicios.
lo que resulta posible al contar en el seno El proyecto empresarial es una referencia
de las organizaciones con la creación de permanente, escrita y formalizada, de cómo
dispositivos de información e investigación una empresa pretende cumplir su misión
que valoren las tendencias y suministren (Villafañe, 1996:354). Es decir, es un
información no solamente al departamento de documento “maestro” del que van a surgir
marketing, sino también a otras áreas las directrices para elaborar el resto de planes,
empresariales y a la alta dirección12. y de esta forma, como señala Ventura
La auditoría estratégica permite a la alta (2001:212), ya sea implícita o explícitamente,
dirección definir su proyecto empresarial en la misión y el proyecto van a ser el norte
el que se incluyen la misión y objetivos de toda comunicación y de todo mensaje.
654 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
10
corporativa. La integran tres conjuntos: 1. El Este órgano central suele articularse en una
comportamiento corporativo (comprende las dirección de comunicación encargada de la
actuaciones de la empresa en el plano funcional comunicación e imagen corporativa de las
y operativo de sus procesos productivos), 2. La empresas y organizaciones. Y son muchos los
cultura corporativa (es la construcción social de académicos y profesionales que recomiendan
la identidad de la organización, es decir, el modo situar a este departamento o unidad específica
que tiene la organización de integrar y expresar encargada de la gestión de la comunicación en
los atributos que la definen, o dicho de otra manera una primera línea ejecutiva y ser partícipe en
más simple, el modo de ser y de hacer de la la dirección de la compañía o teniendo
organización), y 3. La personalidad corporativa interlocución directa con la presidencia para
(es el conjunto de manifestaciones que la empresa poder gestionar toda la comunicación (Costa,
efectúa voluntariamente con la intención de 2001:62).
11
proyectar una imagen intencional entre sus Por planificación estratégica corporativa
públicos objetivos a través, principalmente de su entendemos el proceso directivo de desarrollo y
identidad visual y de su comunicación). mantenimiento de un ajuste viable entre los
7
NEBOT, Enrique. “El director de objetivos y recursos de la empresa y las cambiantes
comunicación: razones para una utopía” en oportunidades del mercado (Kotler et alt.,
BENAVIDES, J. (ed.):”El director de 1999:35). Este proceso de planificación y los
comunicación”, Edipo, Madrid, 1993, p. 35. En conceptos y herramientas que la soportan favorece
este mismo sentido se expresa REGOUBY un pensamiento estratégico por parte de la
(1989:69) al afirmar que “la empresa sale de su organización, fuerza a la empresa a definir con
círculo económico, inaccesible y frío para entrar precisión sus objetivos y políticas, conduce a una
en una nueva relación amistosa, creando un mejor coordinación de esfuerzos y proporciona
verdadero diálogo con el consumidor”. cifras más fáciles de controlar.
8 12
BENAVIDES, J., GARCÍA, J. y Estos sistemas se les suelen denominar SIM
RODRÍGUEZ, A.: “La publicidad y el corporate (Sistemas de Investigación e Información de
en 1998” en VILLAFAÑE, J. (dtor): El estado Marketing) y se refieren al “conjunto de
de la publicidad y el corporate en España. CAVP elementos, instrumentos y procedimientos para
I, Madrid, 1999, pps. 195-197. obtener, registrar y analizar datos, con el fin de
9
El término corporate, de origen anglosajón, transformarlos en información útil para tomar
significa “todos aquellos procesos (y no sólo los decisiones en marketing” (Santesmases,
de naturaleza comunicativa) que contribuyen a 1999:275).
13
forjar una imagen de una organización en la mente Adaptado de Sanz de la Tajada, L.A.:
de sus públicos y de la sociedad en general” (Ibid. “Comunicaciones de la empresa con su entorno”
VILLAFAÑE, J., 1999, pps 219-227). en IPMARK, nº 514, 1-31 diciembre, 1998, p. 90.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 657
Intencionalidade e Diferença:
Uma Aproximação Fenomenológica à
Intersecção Acção/Comunicação/Informação
Fernando Ilharco1
esta classificação é contestável, entre outros relacionamos com essa pessoa, como por
aspectos, porque os dados enquanto tal, ou exemplo a nossa vizinhança ou a empresa
seja todo o tipo de distinções em que es- onde trabalhamos, inicialmente, podemos não
tamos envolvidos, já têm significado. saber bem quem é aquela pessoa que conhe-
No-mundo, imerso e agindo, um profis- cemos... Este paradoxo deve-se ao facto do
sional, um técnico ou um gestor já está a contexto, isto é, do background, em que essa
estabelecer distinções. Um profissional habita pessoa habitualmente nos surge como ela
o que é familiar e nota o que é diferente. mesma, se ter alterado e dessa forma não
Sempre-e-já-no-mundo, em acção – e o nos ser imediatamente intuitivo estabelecer
profissional está sempre em acção não por quem de facto ela é; essencialmente, não
ser um profissional mas por ser humano… estávamos à espera dela...4 A alteração do
– ele depende de uma rectaguarda de enten- background deixa necessariamente surgir
dimento prévia no âmbito da qual detecta diferentes diferenças, passe o pleonasmo,
novas diferenças e faz novas distinções. Estas porque qualquer realidade surge diversa em
são detectadas conforme ao ter-sido-que- função dos critérios que utilizarmos para a
projecta que ele mesmo é. Assim, tanto os penetrar, entender e classificar. Quer isto dizer
dados como a informação são sempre aquilo que aquilo que as coisas são depende do
que são numa determinada intencionalidade. contexto em que elas surgem, bem como do
Assim, submetemos que, em termos rigoro- background em que nós próprios, na minzisse
sos, um exemplo de uma e outra noção é que somos, estamos envolvidos e não de
algo mais complexo e contextualizado. qualquer contexto ou background de tercei-
O modo como os dados têm um sentido, ros. Não existe posição alguma fora do ter-
uma vez que foram distinguidos, isto é, sido que somos, fora da história, a partir da
destacados de um background, depende do qual possamos dar sentido ao que nos cerca.5
momento em que se encontra / é / está aquele Um ser humano não ‘recebe’ dados do
mesmo profissional, concreto, em função da meio envolvente ou de qualquer outro ser
projecção que ele, sendo um ter-sido, é de humano. Dizer não assegura ouvir. Acede-
si mesmo para si próprio. O sentido dos mos ao que distinguimos no-mundo confor-
dados, por mais desligados que sejam da me ao que nós mesmos essencialmente somos
acção em que o profissional está envolvido, e ao modo como estamos a cada instante,
depende essencialmente dele próprio e não isto é, de acordo com os nossos próprios
do que objectivamente esses mesmos dados termos, com a minzisse. Desta posição
poderiam ser para um observador. ontológica torna-se clara a existência de
Sendo-no-mundo, habitamos o que nos é limites à capacidade de fazer sentido, de
familiar, conforme ao que nós somos e não atribuir significados, quer ao que nos surge
conforme a quaisquer características à-vista, de novo quer ao já conhecido nas suas
Vorhanden (Heidegger, 1962) dessas tercei- múltiplas variações. A nova distinção surge
ras entidades. A familiaridade de uma dada num processo de atribuição de significado,
entidade, física ou não, depende de a termos o que quer dizer de estabelecimento de
experimentado muitas e variadas vezes, em referências e de possibilidades. O seu sig-
sentido fenomenológico, isto é, visto, utili- nificado não é algo dado, aí fora, objectivo,
zado, sentido, etc. Nessa experimentação constante e claro para todos nós. Ao con-
desenvolve-se um processo de indução não trário, o significado das coisas e dos acon-
consciente, o qual nos põe à vontade com tecimentos, por isso, o que eles são, é algo
aquela entidade (Schmitt, 1996: 141). que deve ser procurado no carácter humano
A relevância daquilo que experimentámos de cada manifestação. O significado de uma
e da forma como o fizemos para o desen- nova distinção, a captação pelos sentidos
volvimento de novas experiências é algo que de algo que nos surge – seja numa conversa,
testemunhamos vida fora. Consideremos um na leitura de um texto, ou simplesmente
exemplo comunicacional relativamente trivi- reflectindo – obtém assim o seu primeiro
al. Por vezes quando encontramos alguém que significado com base no contexto em que nós
conhecemos, mas num local e num momento mesmos, individualmente, conforme ao ter-
diverso daquele em que habitualmente nos sido-que-projecta que somos, somos e esta-
660 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
mos imersos. De alguma forma, por um que é informada ou que se informa. Infor-
processo dialéctico, algum entendimento mação, ser informado, é assim essa forma-
parcial é utilizado para entender melhor a ção interior, de mim para mim próprio,
distinção que nos surge, como que utilizando atribuindo uma forma, determinados contor-
peças de um puzzle para tentar descobrir nos, a uma diferença. A pessoa ao distinguir
aquilo que está em falta (Palmer, 1969: 25). algo de novo, traz para si mesma, para os
Cada novo elemento, cada dado que nos limites daquilo que ela é, in-, aquela distin-
surge, em rigor cada dado que nos é dado ção, a qual, enquanto distinção, tem sempre-
no meio em que estamos imersos, é incor- e-já um primeiro sentido, uma primeira forma
porado, apreendido, absorvido não objecti- ou modelação. O significado do prefixo iné
vamente ‘como aquilo que ele é’, mas como precisamente a indicação do ter-sido-que-
nós o tomamos ou entendemos. Isto signi- projecta que essencialmente somos. Informar
fica que o sentido de uma diferença, ou é trazer para o horizonte de significado, do
distinção, ou dado, para uma certa pessoa, todo referencial em que cada um de nós está
de forma a que aquela mesma diferença possa imerso, algo já distinguido conforme aos
ser a diferença que é, depende dessa mesma nossos próprios termos, à minzisse. Os limi-
pessoa que distingue aquela mesma diferen- tes no âmbito dos quais a informação forma
ça. Deste modo, a diferença que cada dado assentam no contexto hermenêutico que a
é para o ser humano que a distinguiu, só pode cada momento cada um de nós é.
ser descrita ou entendida em termos Mas informação não é apenas o in-for-
rigorosos’a posteriori, porque só depois da mo, mas antes a in-form-ação. Às expressões
sua absorção, pode um terceiro, um obser- latinas in e forma junta-se a expressão –ação,
vador mesmo que um auto-observador, tes- a qual vem do sufixo latino -ation, -atio, que
temunhar o tipo de comportamentos desen- significava acção ou processo (MW, 2004).
cadeados por aquela mesma distinção. As- Inform-acção é por isso a acção ou o pro-
sim, por exemplo, a audição de uma nova cesso que forma interiormente; é a acção que
composição musical pode contribuir para in-forma. Esta acção que informa, por sua
alterar o nosso gosto musical, mas pode vez, pode apenas surgir na sua diferença,
também alterar o entendimento que temos do significado e carácter informativo, por isso,
contexto mundial político e social em que transformativo e fazendo a diferença, porque
estamos imersos6,7. a própria acção é o que é ex ante, prévia,
implícita e ontologicamente tida como a
A Intenção que Faz a Diferença fundação do próprio ser, do mundo, da
existência enquanto tal; se assim não fosse,
A essência da informação poderá ser a informação não seria um tipo de acção.
revelada a partir do seu próprio nome, na Informação é um tipo de acção, uma acção
palavra que aponta a coisa em causa. A que é o surgir da diferença que para mim
informação é uma formação interna ou in- próprio faz a diferença, porque a acção, ela
terior.8 Este significado assenta nas origens mesma, é o que já-é, o que conta enquanto
latinas da palavra informação: o verbo in- base daquilo que pode informar. A informa-
formo (Crane, 2002; Cunha, 1982: 436, 364 ção, a acção que informa, é destinada, assim,
e 429), que juntou as expressões in e forma, desde o inicio e fundamentalmente, isto é,
para significar dar forma a uma coisa, na sua essência indivisível, à própria acção
modelar, formar, moldar, formar uma ideia – este é também o argumento ontológico em
sobre algo, representar, delinear, esboçar, que esta investigação assenta.
instruir, educar, informar (Crane, 2002). A O dado, por sua vez, é como a palavra
palavra informação significa assim a impo- indica algo dado, gratuito. Um dado ou vários
sição de uma forma, de uma modelação ou dados têm assim um carácter de disponibi-
de contornos sobre uma coisa, uma ideia, uma lidade, de uma presença prévia. Dados são
entidade distinguida no meio envolvente em algo que acedemos sem esforço, os dados
que está e é o ser humano, a pessoa, que cercam-nos e vêm ter connosco como algo
impõe aquela forma. Esta imposição é in, que nos é dado – “os dados abundam e são
interior, vem de dentro, da própria pessoa facilmente acessíveis” (Gleason, 2004). Como
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 661
nos seus próprios termos, afectando o seu têm significado ou pura e simplesmente nunca
comportamento que-projecta, tal como pode teriam surgido como dados, como algo que
ser testemunhado por um observador ou auto- nos é oferecido, que aí está, mas que não
observador. Informação é por isso o que é faz a diferença para o tipo de acção em que
essencialmente formado e dirigido para o estamos envolvidos, para o tipo de projecção
futuro. É algo que nos foi dado ou que que somos. O significado já-e-sempre é no-
acedemos e que de acordo com nós mesmos -mundo; é o mundo. Não podemos decidir
faz a diferença face à possibilidade de não o significado dos dados, porque as coisas,
nos ter sido dado ou de não ter sido acedido. as distinções surgemnos como elas já são,
De uma perspectiva ex post, em termos ora como dados ora como informação. Assim,
fenomenológicos, devemos considerar os no-mundo não há dados sem significado.
dados como dados, oferecidos, gratuitos e a Todos os dados têm o preciso significado com
informação como formada, constituída, de- base no qual eles mesmos e enquanto tal são
senvolvida. distinguidos. Tal como não captamos puros
Estas noções essenciais sobre o fenóme- dados sensoriais sem sentido, os quais pos-
no da informação em sentido lato emergem teriormente teríamos que interpretar, também
no âmbito da acção, do ser que somos não ouvimos puros sons sem significado
sempre-e-já-no-mundo, como critério primá- (Dreyfus, 1991: 218). Ouvimos a porta fe-
rio do significado. Desta forma um profis- char-se dentro de casa e nunca uma simples
sional, é os seus objectivos transpostos para sensação acústica ou apenas um mero som
a acção, os quais a cada momento lhe sugerem (Heidegger, 1971: 26). O que primeiro
a distinção entre a informação e os dados. ouvimos não são barulhos ou sons
Ou seja, para ele, profissional, imerso em descontextualizados, mas o avançar de um
dados, agindo, determinados dados são apon- carro ou o passar de uma mota... O ouvir
tados como informação porque foram aque- um ‘puro barulho’ requer um estado mental
les os dados que fizeram a diferença no muito artificial e complicado (Heidegger,
âmbito da acção, intenção, em que ele mesmo 1962: 207). No-mundo, as coisas elas mes-
jáestava envolvido. mas, na sua significância, estão muito mais
O surgir de algo que informa é o encon- perto de nós do que todas as sensações
trar daquilo que se está a procurar. A infor- (Heidegger, 1971: 26).
mação são os dados com significado rele- Quando um profissional se refere a ‘da-
vante para a acção em que o profissional está dos sem sentido’, ele está apenas a afirmar
envolvido, porque alteram, completam, que aquilo que lhe chegou à mão, aquilo para
modificam, desenvolvem o todo referencial, o qual foi chamada a sua atenção, não faz
a rede de relações que para ele mesmo liga diferença para o tipo de objectivos, de acção,
umas coisas a outras, factos a eventos, a em que ele já está envolvido. Aqueles dados
pessoas, a ideias, etc., e o faz ser o que é ou aquela informação, afinal constituindo
no-mundo no âmbito de uma intencionalidade apenas um conjunto de dados, não é o que
fundadora. São estas ligações e referências ele estava e está a procurar. A contrario, esta
que abrem, fecham e sugerem possibilidades análise mostra que a informação, enquanto
que constituem o próprio significado. No- tal, consiste no tipo de dados que antecipa-
mundo, o ser humano está-já-e-sempre pro- damente são considerados certos para a acção
jectado sobre o futuro, avaliando possibi- em curso. O sentido da informação, a sua
lidades de fazer e de ser, escolhendo certos relevância em termos de uma acção que já
caminhos ou opções e abandonando outros corre, é algo instintivo e intuitivo para o
tantos. profissional, porque, sendo o projectar que
É nesse contexto ontológico que os dados, tem-sido no-mundo, ele procura informar-se
como informação, fazem a diferença. Tudo, para algo concreto, especifico, como por
literalmente, no-mundo tem por isso signi- exemplo para completar uma análise ou para
ficado. Ser é ser algo. Ser é surgir, constituir concluir um relatório, e isto tendo em vista,
uma distinção, entrar no horizonte de sig- por exemplo, ser considerado um bom profis-
nificado em que o modo de ser humano é sional, visando para ele mesmo e para a
o que é no-mundo. Os dados, por isso, já comunidade em que está imerso a apropri-
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 663
7
do género da que sugerimos seria consistente com Mesmo os dados mais óbvios, geralmente
a prática fenomenológica seguida por Heidegger. inquestionáveis, como por exemplo a captação das
4
Este tipo de mal-entendidos pode mesmo cores, possuem a marca da nossa estrutura. As
ser perturbador – como o leitor já poderá pes- ciências exactas encontraram suficiente evidência
soalmente ter constatado – por exemplo, quando empírica para defender a inexistência de corre-
iniciamos uma conversa com alguém que sabe- lação estatística relevante entre o nome que damos
mos conhecer, mas não fazemos ideia quem seja.... aos objectos coloridos e a medição das ondas
e a conversa vai prosseguindo. reflectidas pelas cores desses mesmos objectos
5
Este aspecto tem sido longamente investi- (Maturana e Varela, 1992: 22). No entanto, é
gado sob perspectivas e no âmbito de metodologias possível correlacionar estados específicos do nosso
variadas e visando objectivos diversos. No campo sistema nervoso com a actividade linguística da
fenomenológico, além dos textos de Heidegger, atribuição concreta de dados nomes às cores que
pode, por exemplo, consultar-se Gadamer (1975), percepcionamos. De uma perspectiva teórica
Hoy (1978), Palmer (1969), Polanyi (1973), diferente, isto vem reforçar as implicações da
Introna (1997), Ilharco e Introna (2004). ontologia em que baseamos esta investigação.
6 8
Sobre este assunto ver o exemplo da au- “The essence of information is revealed to
dição dos Beatles pelo político russo Yavlinsky, us in its name. Information is an inward-forming”
descrito e analisado em Ilharco (2003: 37-43). (Boland, 1983: 363).
666 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 667
producto de forma involuntaria y, por lo tanto, El emisor sigue teniendo como sujeto
en predisposición a distraerse. promotor de la comunicación a la organización
que es, invariablemente, quien intencionalmente
Figura 2 inicia el proceso, aunque la reducción de costes
económicos y la creciente
facilidad en el adiestramiento de
rutinas de producción audiovisual
que ha originado la irrupción de
la tecnología audiovisual digital
posibilita que numerosas
organizaciones den el paso
necesario para originar sus propios
mensajes audiovisuales.
El mensaje cambia. En vez de
ofrecerse la personalidad de la
organización, se apuesta por la
transmisión de la identidad. Lo
que se transmite es la
representación del capital humano
de la organización, no el quién
somos, sino el cómo somos. Este
contenido no se basa en la redundancia, como
Actualización del vídeo institucional: El la información, sino que su naturaleza es
vídeo corporativo emocional emotiva, se apoya en la identificación del
receptor con las imágenes que se muestran,
La evolución de los estudios de razón por la cual percepciones puntuales son
comunicación aplicada a las organizaciones se suficientes para garantizar la eficacia
centran en considerar a las personas - en sus comunicativa del mensaje. Se hace una renuncia
vertientes intelectual y emocional - como el expresa a la información en la firme creencia
elemento diferenciador y ventaja competitiva de que, en el contexto corporativo, ésta ha de
de las empresas e instituciones, y a la situarse en otros medios y soportes que - en
comunicación corporativa como el armonizador complementariedad o de forma aislada - hagan
de la construcción compartida - y consensuada factible la redundancia de los mensajes.
- de la identidad de las organizaciones.
Así mismo, ven en la innovación Figura 3
tecnológica una oportunidad
incuestionable para la extensión
de la utilidad de la comunicación
tanto en el ámbito interno como
externo y su contribución al
desarrollo corporativo.
Aquí se encuentra el eje
central de esta comunicación,
orientada al diseño de un nuevo
modelo de producción audiovisual
más acorde con los nuevos retos
y las incipientes posibilidades del
audiovisual corporativo.
Se produce la siguiente
transformación evolutiva del
proceso comunicativo audiovisual
corporativo (fig. 3):
670 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
tas, pelo esforço desempenhado no encontro dindo dos cenários, das cortinas ou pano de
com a verdade e transparência. A simbologia fundo e desmistificando os mistérios e ilu-
passa a real com a abolição da máscara e sões. Só um espaço assim permite um es-
a recusa à representação tradicional. Dá-se pectáculo de envolvimento, facilitando a
uma procura à experimentação, na medida ligação entre o público e os actores.
em que o mimetismo vai ao encontro da O processo interactivo no teatro moder-
verosimilhança ou anti-ilusionismo.16 no, que vai às suas origens («pré-teatro»)
Segundo as palavras de Michael Beer,17 buscar a sua fundamentação, quando pratica
as vendas modernas também recorrem ao anti- um «espectáculo vivo», num espaço aberto,
-ilusionismo, promovendo o confronto do sem barreiras, encontra nas forças de venda
vendedor e cliente, com mais vivencialidade, uma situação não muito diferente. Por sua
não podendo, tal como o teatro moderno, vez, o comércio actual anexado a uma visão
prescindir em nenhuma das situações, de um mais moderna, alarga o seu espaço de acção,
encontro franco e verdadeiro. dando preferência a locais mais amplos, onde
Além desse elemento referido, também se todos, de uma forma interactiva participem.
verifica uma inquietude nestas duas modali- Os técnicos de vendas terão que estudar
dades comunicacionais convergentes. Criando o lugar adequado aos comportamentos ma-
a arte cénica, mecanismos que facilitem uma nifestados pelos clientes. Os próprios locais
abertura ao imprevisto, tendencialmente fica onde se processa o acto negocial tem influ-
aberta uma faculdade que lhe é confinada – ência psicológica no potencial comprador.22
a improvisação.18 Esta, por seu turno, propor- A expressão dramática é uma actividade
ciona uma atmosfera na qual todo o grupo que funciona como motivação para ambas as
se sentirá à vontade, unidos com a confiança práticas em apreço. O teatro moderno recor-
instalada num processo de livre incorporação re à expressão dramática para melhor com-
de experiências. Os participantes preocupados bater a apatia e o desinteresse. Esta prática
em desvencilharem-se das influências, dos dá-se numa permeabilidade do grupo, que
padrões pré-concebidos, rompem com a es- goza da possibilidade de permutar as suas
tética convencional, enriquecendo o seu tra- diversas experiências no enriquecimento da
balho, em favor de uma criatividade.19 personalidade de cada um, a partir do con-
A não memorização e recusa da ilusão vívio de todos.23
previsível e esteriotipada faz da venda Hoje, contrariamente a épocas anteriores,
moderna um encontro autêntico, enquanto atribui-se a devida importância ao treino dos
aventura sempre renovada, enquanto comuni- vendedores, desde a modalidade mais simples
cação dual simétrica, e não hierarquica. Dave de reuniões de grupo, que intensificam o
Patten20 afirma que é a imprevisibilidade que diálogo dos participantes, à mais moderna
constitui o fascínio das vendas, de modo a forma de interactividade criativa, que desen-
que não existem públicos iguais (até a mesma volve, motiva e suscita o intercâmbio de ideias,
pessoa não tem sempre o mesmo comporta- através do jogo entre os intervenientes.24 Como
mento) e cada cliente proporciona um desen- incentivo ao moral do vendedor, rompem-se
rolar do acto negocial de forma ímpar. com todas as barreiras monótonas e
O «espaço cénico» é outro elemento a desmotivantes que possam prevalecer. Uma das
ter em consideração quer no teatro moderno, medidas modernas é o visionamento de
quer na força de vendas. Todo o espaço pode «sketches» cómicos, por parte dos vendedo-
ser cénico, mas não há espaços iguais, ou res, para criar boa disposição e um compor-
que surtam o mesmo efeito quando postos tamento de êxito com o cliente. Esta activi-
em prática. Na perspectiva de Peter Brook,21 dade é muito interessante e inovadora, mas
cada situação é única, e para que a comu- não tem o mesmo impacto que outras mais
nicação se processe da melhor forma entre activas, que unem a equipa, mobilizando as
actores e público, deve-se coadunar o espaço energias, insuflando um espírito «lutador» nas
com todos os elementos intervenientes no vendas, como o «role playing», o «teatro de
processo dramático. vendas» ou o «slip writing».
O teatro moderno adequa o seu espaço Um outro factor comum ao teatro mo-
de acordo com as suas pretenções, prescin- derno e ao marketing de vendas directas tem
680 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
que ver com o actor/vendedor investigador Jean Baudrillard29 alerta para o controlo que
de novos comportamentos sociais. Reportan- a mitologia baseada na sociedade de consu-
do à intenção expressa a respeito da co- mo pode exercer sobre o indivíduo. Este
relação estabelecida entre o teatro e a so- fenómeno, por sua vez, provocou um sis-
ciedade, aferiu-se que toda a obra tem uma tema de marketing mais voltado para os pro-
função social, e o teatro mais que nenhuma blemas sociais, chamado marketing social.30
outra arte acompanha toda a evolução Esta perspectiva aplica-se a ideias, causas ou
civilizacional, sofrendo influências e colabo- acções sociais, de uma forma formativa,
rando também para a sua transformação. salvaguardando as responsabilidades éticas e
O teatro para se afirmar como forma criativa sociais. Estas actividades vão no sentido de
no trabalho social, terá que nascer enquanto mudar as atitudes, valores e comportamentos
provocação, levando o actor a investigar tudo dos membros - alvo de uma sociedade, através
o que envolve o indivíduo e a sociedade en- da aceitação de uma ideia ou causa.31 Daí
volvente, com a convicção de que não existe o papel influenciador da força de vendas, que
uma certeza definida, pondo a dúvida e a mais próximo dos clientes, poderá utilizar o
incerteza como princípios de reflexão. Neces- contacto co-presente, colaborando na forma-
sariamente, o teatro participa na vida das so- ção de uma sociedade livre de mitos
ciedades, definindo o seu campo de acção, ditado incontroláveis.
pela procura de novos recursos expressivos.25 Da panorâmica observada nestas duas
Na reunião das premissas para a eficácia vertentes comunicacionais, constata-se uma
do vendedor, deverá constar, impreterivel- «coincidência» no percurso das suas políti-
mente, o conhecimento do mercado em geral, cas comunicacionais, com uma convergência
o que o freguês pretende, e qual a sua razão. nos seus pontos chave, tendo por base uma
Esta postura faz do vendedor um investigador maior aproximação entre os intervenientes,
de novos comportamentos sociais, que tem de a intensificação da referida co-presença.
prestar atenção às tendências do ambiente de Parece também visível a importância que
marketing. As mutações dominantes na soci- exerce o relacionamento da cultura com o
edade podem influenciar a actuação dum pro- teatro e com as vendas. Pensa-se que é esta
duto no mercado. Nada é estático neste interacção que origina mudanças nos seus
ambiente, por isso os «investigadores» só terão procedimentos.
êxito se mantiverem uma avaliação constante Actualmente, o teatro e o marketing de-
das forças gravitacionais e reagirem às mu- monstram a construção de uma referência na
danças nessas forças.26 regularização da diversidade cultural muito
Da mesma forma que o teatro investiga vivenciada pelas manifestações de expressão
comportamentos da sociedade onde se pre- dramática num processo de desenvolvimento
tende engajar, vai, a partir desse conhecimen- comunitário, estabelecendo bases para um
to do público receptor, utilizar a melhor maior intercâmbio cultural. Mas, pensa-se que
estratégia para a sua formação. A envolvência tanto o teatro moderno como o marketing de
do teatro e sociedade permite, como que uma vendas directas ainda não conseguiram soli-
relação de «causa-efeito» entre o actor in- dificar as suas filosofias comunicacionais.
vestigador, e actor formador de culturas.27 Existem presentemente muitas práticas céni-
O teatro sempre foi didáctico em toda a cas que não vão ao encontro do público,
sua evolução, mas o moderno, aquele que vai mantendo os espaços de representação vazios,
além da atitude contemplativa e configura-se assim como se encontram nas vendas
como meio de comunicação e expressão cul- interpessoais, comportamentos que dissuadem
tural, responde de pronto aos anseios sociais, os clientes, não estando em conformidade com
culturais e políticos de determinada civiliza- as novas formas de marketing. Terá que haver
ção. Artaud28 considera que uma civilização é necessariamente, uma maior interpenetração
sinónimo de cultura, sendo o teatro moderno do teatro e marketing com o ambiente socio-
a pôr essa cultura-em-acção, instrumentalizado cultural, para uma fomentação e transmissão
para os fins pedagógicos pretendidos. de valores verdadeiros e transparentes, impos-
O marketing de vendas directas também tos pelo teatro vivencial e assimilados pelo
deverá ter um papel formador de culturas. marketing de vendas directas.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 681
28
e Práticas da Vida da Qualidade nos Sistemas Antonim Artaud, O Teatro e o Seu Duplo,
de Vendas,1ª Edição, Lisboa, Publicações D. Lisboa, Fenda, 1989, p. 77.
29
Quixote, 1996, p. 212. Jean Baudrillard, A sociedade de consumo,
23
Peter Brook. op. cit. p. 44. Lisboa, Edições 70, 1995, p. 12.
24 30
Moulinier, op. cit. p.260. William Stanton, Fundamentos de
25
Fernando Peixoto, op. cit. p. 12, 50. Marketing, 2ª Edição, S. Paulo, Livraria Pioneira
26
Regis Mckenna, Novas Estratégias de Editora, 1980, p. 853-854.
31
Marketing, Lisboa, Editora Presença, 1990, p. 31. Aníbal Pires, Marketing, Conceitos, Técni-
27
Deniz Jacinto, Teatro III, Porto, Lello & cas e Problemas de Gestão, Lisboa, Editorial
Irmão Editores, 1992, p. p. 14-15. Verbo, 1991, p. 111.
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 683
relembrando seu tempo de boemia assim Para Ulf Hannerz (1980) com a análise
descreve a animação do Rio: Identidade e das redes podemos verificar como as rela-
Estilo de Vida: ções sociais se articulam entre si e especi-
ficamente como os indivíduos conhecendo
“A noite era difícil conseguir uma pessoas em comum e outras diferentes se
cadeira num café. O largo, quase articulam. A noção de rede é interessante para
intransitável, fervilhava. Os cabarés, pensar a comunicação dentro das organiza-
cheios. O vozerio era ouvido à dis- ções na medida que servirá de suporte para
tância – todo mundo bebendo e can- a análise do estudo em conjunto cada vez
tando, feliz. Uma beleza.” (BROCA, mais diversificado de estruturas sociais.
1966). Sabemos que o indivíduo possui diversos
papéis que irá combinar de acordo com as
O Rio de Janeiro produziu grandes per- situações que podem ser diversas. Em um
sonagens que andavam na contramão de esquema estruto-funcionalista podemos com-
qualquer assepsia que se quisesse elaborar preender a sociedade através dos grupos
na imagem da cidade. Madama Satã, por permanentes e por suas instituições. Tudo se
exemplo, foi um desses emblemas de con- torna mais complexo, porém, quando intro-
fusão, mistura e distúrbio. Esse personagem duzimos em nossas análises os comportamen-
era violento, malandro e homossexual. Um tos que podem se inscrever num quadro
dos nossos especialistas em cultura urbana institucional, mas que podem paralelamente
carioca, Paulo Francis, assim falava: introduzir mudanças através de adaptações e
estratégias. Assim, vemos que as redes
“Satã representa a própria cobrem os grupos permanentes e as institui-
contracultura, que é essa que aí está, ções e por outro lado, que elas cobrem outros
apesar de seus valores intrínsecos e planos sociais. Nestes outros planos as liga-
universais, nos foi imposta de fora ções sociais obedecem menos a regulamen-
para dentro, o que as vezes é bom, tos propriamente ditos do que a obrigações
outras, não. Já Satã emergiu desse impostas pelos próprios participantes, seja os
asfalto, deste clima, deste ragu cul- explicitando e de comum acordo, seja de
tural brasileiro que tentamos negar maneira implícita com um dinamismo pró-
inutilmente, mas que tal qual o rio prio.
do poema de Eliot, é um deus pri- Podemos dizer que nas organizações
mitivo, capaz de adormecer, apenas, complexas da contemporaneidade, devido às
e sempre vivo, vingativo e traiçoeiro. crises e instabilidades da “sociedade de risco”,
A sociedade urbana, de consumo, aqui para usarmos o termo de Ulrich Beck (1997),
é puro verniz, descascando visivel- as coesões se estabelecem muito mais cimen-
mente. Outras forças supridas, estão tadas nesses outros planos sociais, naqueles
aí, poderosamente latente, acumulan- que criamos nos espaços de vivência coti-
do impacto” (FRANCIS, 1975:151). diana.
Levamos em consideração que vivemos,
Esse tipo de inscrição mundana de nos- depois de um determinado tempo, o processo
sas representações mostra que os sonhos, da “modernização reflexiva”. Uma nova
paixões e práticas cotidianas se enraízam forma social está sendo elaborada na super-
como vetor de sociabilidade. Essas “outras fície das nossas associações. As transforma-
forças supridas” formam um dos aspectos ções estão ocorrendo, na maioria dos setores
marcantes da representação da cidade do Rio da sociedade, de maneira silenciosa. Os riscos
de Janeiro e de seus habitantes. individuais, sem citarmos outros riscos, são
As histórias banais em forma de sociabi- controlados pela sociedade pós-industrial. O
lidade criam a ambiência da cidade. A cama- processo atual é o da autoconfrontação com
radagem, como fundo da sociabilidade, tem todos os efeitos da Modernidade e avanços
registro nos estudos de redes em antropo- tecnológicos. A tradição, os hábitos cotidi-
logia. A vida é a intensa e permanente troca anos, os estilos de vida sedimentados no
com o outro para formar a cidade. tempo se distendem podendo criar rupturas
686 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
públicos e com isso vemos o desgaste da das decisões cotidianas e do modo de ser,
identidade do médico. Ele agora briga por pensar e decidir que foram construídos a partir
salários dignos e por hospitais em melhores de estilos de vida.
condições para o atendimento da população. Diferentemente de grande variedade de
O médico está presente nas discussões or- estudos desta área que apontam a importân-
dinárias. Com o salário de médico onde esse cia da organização – isto é, da porção da
profissional poderá morar? Em lugares de vida das pessoas que se passa no contexto
distinção? Com certeza ele terá que fazer do trabalho em empresas – pelos ecos que
parte de assembléias de condomínios medi- produzem direta ou indiretamente na vida de
anos em áreas não tão nobres. seus colaboradores e, em seqüência, em suas
Parece relevante apontar também que, da famílias e na sociedade em geral, parte das
mesma forma em que a comunicação orga- demandas sobre sua força de trabalho parece
nizacional é eficaz em “vender” aos mem- estar condicionada a fenômeno de sentido
bros da empresa os novos valores, conceitos inverso: são os estilos de vida de seus
e normas de validação, ela também é ins- colaboradores que parecem irrigar, com
trumento útil para a exposição de pessoas e qualificações preciosas, a vida na empresa.
comportamentos desviantes para o público- As empresas assim, nesse cenário em per-
alvo mais restrito, na busca da coesão de manente transformação, se relacionarão
esforços, atitudes e comportamentos. Em tal melhor com o lugar onde devem se instalar
processo, as grandes diferenças de repertó- e dialogarão com a identidade cultural do
rios ou mapas de referência entre os indi- local e do povo. A linguagem do house-
víduos que ocupam cargos de diferentes níveis organ, press-release, mesmo o jornal mural
na estrutura organizacional somam-se às e até a intranet devem suportar as atitudes,
diferenças derivadas da identidade, tal como os vocabulários, as ambiências, as
se insere na vida contemporânea. desestruturas, enfim, o estilo de vida que se
Em que pese a existência de um aspecto estabelece na sociedade de riscos e mais
da organização e sua distribuição de poder especificamente ainda com o habitante da
e funções de caráter formal, as evidências cidade maravilhosa que pára para “enxugar
provenientes da nova inserção da identidade sua cervejinha após o trabalho com o seu
cultural no contexto da vida cotidiana apon- chefe imediato. Na sua repartição a sua
tam para um fortalecimento dos vínculos de relação pode até se estabelecer apenas através
natureza informal. Podem surgir embates e de petições, cartas formais ou petições, mas
a situação comunicacional se tornar caótica. a produção vai se estabelecer e se fortalecer
Cada vez mais moldamos nossas aspirações realmente é no espaço informal do botequim.
de pertença, nossos modelos de comporta- Os grupos de referência organizacionais
mento, nossos heróis e mitos organizacionais e, em maior intensidade, os grupos de as-
à semelhança (e segundo uma agenda de piração, parecem desempenhar papel relevan-
prioridades) oriunda de nossa vida civil, longe te no novo mosaico de representações soci-
do alcance da estrutura formal de prioridades ais descentradas na organização. Na medida
organizacionais. Cada vez mais se exige em que o indivíduo almeja pertencer e
flexibilidade, criatividade, capacidade e identifica-se com determinado grupo, mobi-
improvisação para se lidar com a adversi- lizam-se suas energias, suas capacidades, sua
dade dentre as habilidades de capacidades do força produtiva. Por outro lado, se tais
ator organizacional, do gerente. Tais carac- mecanismos de atração passam por período
terísticas vão solicitar fundamentos e ener- de rápidas mudanças, perdendo objetividade
gias individuais que estarão fortemente sob o ponto de vista dos interesses da or-
calcados em sua história de vida e não ganização, o processo de mobilização do
necessariamente em seu percurso numa or- indivíduo perde tanto força quanto direção:
ganização específica. É importante lembrar e o seu esforço em sintonia com o conjunto
que esse sujeito da cultura estará sempre em que se insere fica comprometido. Con-
pronto para mudar de emprego ou mesmo figura-se mais um sinal rumo à resistência
diante da possibilidade do desemprego. frente aos propósitos organizacionais e mais
Estará, portanto, dependente do modo de agir, uma fonte de desalinhamento no tecido
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 689
correlatos, como a legislação pertinente à nistração municipal. Para tanto observa como
área; tabelas de preços de mercado de gê- eixos principais da sua atividade a legalida-
neros alimentícios, de material hospitalar, de de, a legitimidade, a economicidade, a
limpeza, etc, que servem como referência para razoabilidade, a aplicação das subvenções e
todos os setores da administração. a renúncias de receitas.
Por outro lado, além do público geral, Assim está inserida a Controladoria na
segmentos da população – em especial estrutura organizacional da Prefeitura da
auditores, contadores e profissionais que Cidade do Rio de Janeiro, cuja administra-
operam no campo da administração pública ção geral atualmente se distribui por 24
– têm acesso via web a produtos específicos: secretarias, cada uma responsável por campo
o informativo bimestral Prestando Contas, a específico de desempenho. Dependendo das
revista-clipping bimestral na forma de dossiês suas atribuições, algumas secretarias possu-
temáticos, intitulada Fraudes & Corrupção, em departamentos vinculados: são as
e as publicações quadrimestrais de ensaios autarquias, fundações e empresas públicas.
editados com o título de Cadernos da Ao todo, os setores encarregados da execu-
Controladoria, gerados de palestras proferi- ção de inúmeras atividades, projetos e pro-
das por convidados de diferentes áreas do cessos de trabalho somam 50, alguns deles
conhecimento, funções e regiões do país, com órgãos descentralizados, como as 1.029
sempre ancoradas em temas da atualidade que escolas, as 468 creches e as 117 unidades
se configurem como de interesse público. de saúde (postos e hospitais)2.
Entende-se, dessa forma, que a atividade Por reunir tal universo de atuação, a
de comunicação institucional no âmbito do Prefeitura do Rio conta com milhares de
poder público necessitaria dessas duas abor- unidades prestadoras de serviço, que por sua
dagens simultâneas: informativa e vez representam um expressivo universo de
comunicacional. Para fora, dirigindo-se a trabalho para os técnicos da área de controle,
públicos heterogêneos, que inclui tanto o envolvidos em atividades de contabilidade,
cidadão comum como o profissional espe- de auditoria e de informações consolidadas
cialista no setor. Ao adotar tal enfoque tra- de gestão. Assim, os três vértices das
balha também para dentro, incentivando a atividades de controle no município do Rio
participação da equipe técnica em eventos de Janeiro são a Contadoria Geral, a Audi-
internos dirigidos para o âmbito da adminis- toria Geral e a Coordenação Geral de Nor-
tração pública local. mas e Informações Gerenciais.
Ao operar a informação e a comunicação Encarregada da prestação anual de con-
em uma área carente de dados, como é o tas da gestão municipal, a Contadoria Geral
campo do controle no setor público brasi- produz todos os relatórios de execução or-
leiro, a Controladoria Geral atua no parti- çamentária e de gestão fiscal do Município.
cular (difusão das ações de controle das A Auditoria Geral avalia a eficiência com a
contas municipais) em sintonia com a pro- qual são administrados os recursos públicos
pagação do geral (conhecimento das ações e os programas desenvolvidos para atendi-
da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro). mento à comunidade local, com o objetivo
de oferecer para a administração e para os
A Controladoria Geral no âmbito da habitantes da cidade avaliações objetivas,
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro precisas e imparciais dos serviços e ações
prestados pela Prefeitura.
O Rio de Janeiro foi o primeiro muni- Com a inclusão da massa de dados
cípio brasileiro a incluir em sua estrutura relativos à gestão do município no sistema
administrativa um setor dedicado exclusiva- de informações gerenciais, a Controladoria
mente ao controle interno. A Controladoria pretendeu permitir maior nível de delegação
Geral do Município, criada há exatos dez de autoridade aos administradores públicos,
anos, em dezembro de 1993, tem como sem a perda do controle e eliminando a figura
funções principais exercer o controle dos do ‘dono da informação’. A implantação desse
setores contábil, financeiro, orçamentário, sistema teve como objetivo estimular a cri-
operacional e patrimonial de toda a admi- atividade dos usuários e mostrar que resulta-
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 693
dos podem ser atingidos tanto pela redução Na função de Estado, a forma de atuação
das despesas como pela utilização eficiente deve estar apoiada em uma metodologia
dos recursos disponíveis. Para a execução própria e permanente, que independa das
desta estratégia foi criada a Coordenadoria políticas de governo para implementá-la ou
Geral de Normas e Informações Gerenciais, mantê-la. Por isso, no exercício dessas fun-
cuja principal atribuição é fornecer à ções deve ser observada a autonomia técnica
Controladoria e aos órgãos estratégicos da e profissional cabendo aos órgãos enquadra-
Prefeitura informações gerenciais consisten- dos nessa função avaliar a implementação das
tes e confiáveis que subsidiem o processo políticas de governo pelos órgãos pertinentes.
decisório e aprimorem os processos internos Em relação à função de Governo, a forma
para alcançar as metas e os resultados al- de atuar varia de acordo com as políticas
mejados. administrativas prometidas ao eleitorado pelo
Do ponto de vista interno, a repercussão candidato vitorioso durante o processo de
do trabalho independente da Controladoria eleitoral. Neste caso, as diretrizes a serem
foi a melhora nos procedimentos administra- praticadas em cada órgão de governo deve-
tivos da execução orçamentária e financeira rão ser aderentes à essas políticas.
e, como conseqüência, a eliminação de perdas Neste contexto, a Controladoria Geral do
e desperdícios. Do ponto de vista externo, Município do Rio de Janeiro é considerada,
a divulgação dos relatórios e demonstrativos no âmbito da Prefeitura, uma função de
por meio da página oficial da CGM na Estado. O que torna imprescindível garantir-
Internet passou a constituir elemento impor- lhe a independência técnica imprescindível
tante de consulta para os interessados em para gerar a credibilidade necessária a um
finanças públicas e controle governamental. órgão avaliador. Desde o seu início, a direção
Alguns avanços do projeto de divulgação dos setores ligados à atividade-fim da
institucional registram-se na maior Controladoria Geral tem sido exercida por
conscientização, por parte dos profissionais técnicos integrantes do seu quadro próprio.
da área de controle, do seu verdadeiro papel. Essa diretriz garante continuidade das ações
Aos poucos, estão sendo abandonadas for- e a imparcialidade requerida para a realiza-
mas burocráticas de controles formais e ção de controle e avaliações.
adotadas medidas de controle de desempe- Assim, as diversas ações desenvolvidas
nho, além da realização de auditorias base- pela Controladoria desde a sua criação con-
adas na análise e na avaliação de riscos das sistem em colocar o setor na vanguarda por
ações administrativas e das políticas públi- meio da utilização de metodologias e instru-
cas. O importante passou a ser “o que não mentos modernos de gestão, que possibili-
pode dar errado”, em lugar de “o que está tem ampliar a atuação do controle por meio
errado”. Com isso, a expectativa é que, no da mudança de foco. O desafio tem sido fazer
futuro, a Controladoria seja de alguma forma com que o controle desloque sua ênfase,
recompensada por ter colaborado para a gradativamente, dos aspectos formais para os
transformação de um setor público melhor aspectos gerenciais, implementando iniciati-
em relação ao atendimento das necessidades vas pioneiras no âmbito municipal.
da sociedade.
Comunicação Social e Comunicação
Funções de Estado X Funções de Governo Institucional
Comunicação Estratégica:
Aplicação das Ideias de Dramaturgia, Tempo e Narrativas
Luís Miguel Poupinha1
Para além dos processos oficiais e registáveis mente referida de Issues Management, po-
de trabalho ou, recorrendo à noção de Débray, dem ser de maior ou menor relevância para
dos vestígios relativamente fixos e duros que a organização, consoante o impacto que
perduram no tempo, existe uma outra dimensão possam impor-lhe.
onde as estórias circulam, em relação com a Os assuntos, para Heath, têm um ciclo
dimensão narrativa oficial da organização. No de vida e esse ciclo oferece fases próprias
filme “A Comunicação Interna”, a relação de de algo que tem vida: nascimento, crescimen-
quase confronto entre estas duas dimensões é to, emergência, queda, dormência, numa
visível no modo como se tenta resolver o hiato relação com a escala do seu impacto social
entre a versão dos acontecimentos ou seja, a medida em que se vão tornando
organizacionais dos gestores e a (s) versão (ões) públicos com referência a um universo de
dos colaboradores, por via de um incorrecto uso indivíduos aos quais eles dizem respeito. A
de meios de comunicação interna que não lógica do Issues Management, que pode ser
conseguiram evitar a especulação e tão só isso, uma lógica de trabalho, implica
sobreinterpretação dos acontecimentos. pois tanto a capacidade de reacção a assun-
Nessas histórias que circulam, nessas tos que já assumiram impacto nos públicos
narrativas que se vão produzindo e reprodu- da organização quanto a capacidade de
zindo consoante as lógicas próprias às re- antecipação e proacção da organização e dos
lações sociais e às capacidades próprias dos seus actores sobre assuntos que ainda não
indivíduos em estruturarem as versões dos o são em pleno para as audiências. Na referida
seus interlocutores, os acontecimentos são classificação, toma-se também em conta a
narrados e os indivíduos são representados, fase dormente, no sentido em que de algum
assumindo o valor de personagens numa modo a vida de um assunto tem um ponto
acção que se vai perpetuando, cabendo a cada final ou, pelo menos, um momento de saída
um os seus papéis e a todos os que narram das zonas de atenção dos públicos.
a estória uma função própria dentro de uma Aqui, de algum modo, destrinça-se três
certa ideia de intertextualidade na rede de tempos neste processo: o que pode ser, o que
relações sociais no interior da organização. pode vir a ser e o que foi. Esta é também
a lógica do filósofo Charles S. Peirce, no
Assuntos modo como aborda os signos, entendidos
como as coisas do mundo que existem para
De que se fala nas organizações, para o os indivíduos. De algum modo, a realidade
interior e para o exterior, seja em processos que cerca os indivíduos. Os assuntos, tam-
de comunicação interna, de patrocínio, de bém.
relações com Comunicação Social, sites, em
todos os momentos? De tudo. Esse tudo Primeiro, Segundo, Terceiro: o que pode
implica um sistema temático que pertence ao ser, o que está a ser, o que ficou estabe-
universo da organização. Na área de espe- lecido
cialidade das Relações Públicas denominada
como “issues management” encontramos uma O valor da narratividade organizacional
resposta para essa multiplicidade temática da ou das estórias em que a existência desta é
organização: a actividade desta é composta configurada remete, se combinada com as três
por diversas vertentes, essas vertentes por categorias de Peirce: Primeidade,
diversos aspectos. Para além disso, existe Secundeidade, Terceidade. Em resumo,
também um ambiente, recorrendo à teoria de Primeidade implica um valor de potenciali-
sistemas, ambiente esse decomponível em dade daquilo que Wittgenstein chama o estado
diversos aspectos pela análise estratégica da de coisas. Secundeidade remete para a noção
gestão das organizações como, por exemplo, do que se encontra a decorrer; Terceidade
através da análise PEST (Factores Políticos, é a zona das versões estabelecidades sobre
Económicos, Sociológicos, Tecnológicos). o que aconteceu, mesmo que potencialmente
Dentro dessas grandes classificações em mudança ao longo do tempo.
temáticas, existem assuntos mais específicos, Dentro desta sequência, estórias
assuntos esses que, na perspectiva anterior- organizacionais, funcionalidade comunicati-
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 701
midiático de forma participativa, em uma troca nidades para a participação dos alunos em
constante de conhecimentos e experiências. eventos internacionais, realizados e/ou apoi-
Deste modo a Cátedra Unesco contribui para ados pela Cátedra Unesco/Umesp.
a excelência na formação dos estudantes.
Regiocom – Curso Internacional de Comu-
Seminários, cursos, reuniões e workshops nicação para o Desenvolvimento Regional
internacionais
Cursos anuais de aperfeiçoamento para
Com o objetivo de permitir o contato dos docentes, pesquisadores e profissionais, ca-
alunos da Pós-graduação e da Graduação em pacitando-os para a implementação de po-
Comunicação Social com outras culturas, a líticas democráticas de comunicação. Esse
Cátedra Unesco/Umesp abre um espaço para encontro, realizado anualmente, também
receber pesquisadores de outros países. Essas busca estimular a presença de professores-
atividades possibilitam uma maior integra- visitantes, oriundos de outros países/regiões,
ção entre estudantes brasileiros e de outros incrementando o intercâmbio cultural como
países, permitindo o conhecimento das pes- forma de coexistência pluralista, de solida-
quisas que estão sendo desenvolvidas nos riedade humana e de fortalecimento da paz.
vários continentes. Também oferece oportu- Os encontros já realizados foram:
Ano Temática
1996 - I Regiocom Comunicação, Informação e Políticas Públicas
1997 - II Regiocom Comunicação Regional Comparada
1998 - III Regiocom Fluxos Midiáticos Regionais no Brasil
1999 - IV Regiocom Rádio, Cidadania e Serviço Público
2000 - V Regiocom Televisão Comunitária
2001 - VI Regiocom Comunicação e Turismo: perspectiva para o desenvolvimento regional
2002 - VII Regiocom Mídia Local
2003 - VIII Regiocom Mídia Regional em tempo de Globalização
2004 - IX Regiocom Mídia Glocal: a comunicação cidade-mundo
O espaço aberto pela revista Imprensa à Essas atividades objetivam promover es-
pesquisa, fruto do empenho do professor José tudos destinados a diagnosticar o estágio atual
Marques de Melo, tem facilitado o intercâm- de desenvolvimento da indústria da comu-
bio e diminuído a distância entre a teoria e nicação e detectar o grau de sintonia par-
a prática. tilhado em relação às demandas coletivas.
Entre as pesquisas realizadas, destacamos:
Pesquisas realizadas
Imagens Midiáticas do Natal 1996: o primeiro projeto de pesquisa realizado pela Rede Nacional de
Pesquisa Comparativa (RNPC/N). O estudo contou com a integração de pesquisadores de todo o Brasil.
O objetivo foi desenvolver estudos sobre os impactos globais nas identidades regionais da cultura
brasileira, através da observação de jornais editados nos pólos nacionais, nos macro-regionais, nos pólos
meso-regionais e micro-regionais, além de contar com colaboradores que observaram como a televisão,
o rádio, a imprensa feminina, a imprensa católica, e a imprensa evangélica tratam o assunto.
Perfil da Imprensa Regional de São Paulo: Tratou-se de um estudo comparativo do perfil da imprensa
regional paulista com os jornais brasileiros de prestígio nacional, durante uma semana (21 a 27 de maio
de 1996).
Memória das Ciências da Comunicação no Brasil: estudo desenvolvido sobre o perfil do cientista e as
tendências da comunicação existentes nas sociedades científicas, através de levantamento realizado na
Intercom e Compós. A conclusão gerou a publicação: Memória das Ciências da Comunicação no Brasil:
o grupo gaúcho editado pela EDIPUCRS, Porto Alegre.
708 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Histórias de vida: este projeto também contempla também a reconstituição das histórias de vida de alguns
cientistas mais destacados no conjunto da comunidade científica, na área de comunicação, pertencentes
a Escola Latino-americana. Trata-se de esforço empreendido em duas etapas: a) elaboração de perfis
bio-bibliográficos dos principais cientistas brasileiros da comunicação; b) coleta de depoimentos desses
protagonistas, a maioria dos quais ainda está viva e em plena atividade intelectual. Está em fase de edição
um CDRom contendo os perfis bio-bibliográficos de pesquisadores representativos de diferentes gerações
dos Grupos Comunicacionais Paulistas, bem como o desenvolvimento da Enciclopédia do Pensamento
Comunicacional na América Latina.
História da difusão do Pensamento Latino Americano no Brasil: o papel das revistas de ciências da
comunicação. Este esforço apontou como os pensadores brasileiros assimilaram as idéias importadas e
as transformaram em idéias inovadoras sintonizadas com as identidades mega-regionais, inserindo se na
escola latino-americana ou perfilam se como discípulos das escolas européias e norte-americanas.
Imagens midiáticas do Carnaval Brasileiro: a celebração popular dos 500 anos do Brasil. Realizada com
uma rede de 90 pesquisadores brasileiros e de outros países, procurou estudar o modo pelo qual a
imprensa Brasileira e Internacional faz a cobertura do Carnaval Brasileiro, por meio de registro de
informações e análise.
O Mercosul na imprensa do Mercosul: Análise da imprensa escrita na efetiva consolidação do Mercosul.
Participaram os países: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.
Saúde na mídia: integrante da Rede Comsalud, a pesquisa investigou as bases empíricas para
compreender a complexidade da relação saúde e comunicação, e em especial de como os próprios
profissionais do setor de saúde podem ser agentes facilitadores da tarefa de comunicar a sociedade.
Dicionário Bio-Bibliográfico dos pesquisadores Brasileiros das Ciências da Comunicação: Procurou
recolher informações num dicionário sobre vida e obra de pesquisadores do Pensamento Comunicacional
Brasileiro, pioneiros e pesquisadores recentes, com o objetivo de difundir e facilitar o acesso de estudantes
às informações.
Enciclopédia on line do Pensamento Comunicacional na América Latina: com os mesmos objetivos do
dicionário, procura montar um guia de consulta sobre o Pensamento Comunicacional Latino-Americano,
no intuito de recolher o maior número possível de informações sobre publicações, pesquisas e resultados.
Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano “José Marques de Melo”: trata-se de um acervo
documental, disponível na Cátedra Unesco/Umesp, com aproximadamente 10 mil volumes entre livros,
documentos, fitas de vídeo, revistas, fotografias, fitas, entre outros. O principal objetivo é ser um espaço
de referência na pesquisa em Comunicação da e para a América Latina.
A produção acadêmica da Umesp: trata-se de inventário das dissertações de mestrado defendidas no
Programa de pós-graduação em comunicação social da Umesp, no período de 1981/1996. O projeto está
sob a coordenação da prof.a. Anamaria Fadul e consta do levantamento de 400 dissertações e 32 teses,
defendidas até fevereiro de 2004, indexadas na base de dados construída a partir do software microisis.
A pesquisa (em fase de correção e aperfeiçoamento dos dados obtidos relativos aos macros-descritores)
servirá para classificar através dos índices dos Thesaurus da Unesco.
Identidade da imprensa brasileira no liminar do século XXI: o projeto corresponde a um estudo comparativo
dos jornais diários de prestígio nacional e regional do Brasil. Trata-se de estudo comparativo entre a mídia
impressa e digital.
Festas populares como processos comunicacionais: pesquisa realizada em 2001 pelos integrantes da
Rede Folkcom. Seus resultados foram apresentados durante a IV Conferência Brasileira de
Folkcomunicação, realizada no campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Perfil dos Grupos Comunicacionais Paulistas: realizada no primeiro semestre do ano 2000 foi elaborado
um mapeamento dos Grupos Comunicacionais Paulistas, considerando as seguintes regiões: Butantã;
Perdizes: São Bernardo; Barão Geraldo; Avenida Paulista; Santo Amaro; Vila Clementino; Vila Mariana;
Santos; Bauru; Marília; Taubaté. O resultado destas pesquisas foi uma contribuição, através de verbetes,
a ENCIPECOM – Enciclopédia do Pensamento Comunicacional na América Latina.
O discurso comunicacional do Grupo de São Bernardo e seus discípulos: a pesquisa tratou dos discursos
da comunicação científica da Umesp a partir do estudo da produção científica de mestrandos e
doutorandos do Pós-Graduação em Comunicação Social.
Redes de Comunicação
Rede Mercomsul: criada em 1998 tem por objetivos promover atividades de cooperação e intercâmbio
entre docentes, discentes e pesquisadores, bem como entre faculdades, cursos e centros de investigação
da Comunicação.
Rede Folkcom: grupo de pesquisadores brasileiros que tem como meta resgatar, registrar e promover a
folkcomunicação como forma original de comunicação e preservação da cultura. Rede FOLKCOM conta
com inúmeros estudiosos que pesquisam e escrevem a respeito de usos, costumes, festas populares e
de cunho religioso. A Rede edita mensalmente o Jornal Brasileiro de Folkcomunicação.
Rede Nacional de Pesquisa Comparada: até o momento congrega pesquisadores das seguintes
universidades: Universidade do Vale dos Sinos, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
Universidade Estadual de Londrina, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Universidade de São
Paulo, Universidade Metodista de Piracicaba, Universidade Federal de São João Del Rey, Universidade
Federal de Viçosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Sergipe, Universidade de Brasília e
Universidade Federal do Amazonas.
Rede Formada pelo Comitê Acadêmico: Universidade Metodista de Piracicaba, Universidade Federal do
Espírito Santo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, ONG Oboré Comunicações e Artes – SP; Editora
Mantiqueira – Campos do Jordão – SP.
TD(i)Tj-0.3061
e Acadêmica:0cTDa9j-0.3061
onstituída por0 dTDa9jTD(a)Tj-0.8999
ocentes e/ou pesqu0isa
TD(s)Tj-0.5841
dores atuante0s TD(e)Tj-0.3611
em instituições0 pTD(r(o)Tj-0.5841
úblicas, 0 TD(d)Tj-0.7329 0
710 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
Ano Temática
1998 - I Folkcom Folkcomunicação: disciplina científica
1999 - II Folkcom Folkcomunicação e cultura brasileira
2000 - III Folkcom Meios de comunicação, folclore e turismo
2001 – IV Folkcom As festas populares como processos comunicacionais
2002 – VI Folkcom A imprensa do povo
2003 – VII Folkcom Folkmídia: difusão do Folclore pelas indústrias midiáticas
2004 – VIII Folkcom Folkcomunicação Política: a comunicação na cultura dos excluídos
Ano Temática
1997 - I Celacom A trajetória comunicacional de Luis Ramiro Beltrán
Comunicação, cultura, mediações - o percurso intelectual de Jesús Martín-
1998 - II Celacom
Barbero
Gênese do Pensamento Comunicacional Latino-americano: CIESPAL,
1999 - III Celacom
ICINFORM, ININCO (o protagonismo das instituições pioneiras)
Contribuições brasileiras ao Pensamento Comunicacional Latino-Americano:
2000 - IV Celacom
Décio Pignatari, Muniz Sodré e Sérgio Caparelli
Marxismo e Cristianismo: matrizes das idéias comunicacionais Latino-
2001 – V Celacom
Americanas
2002 – VI Celacom A participação da mulher nos estudos comunicacionais latino-americanos
2003 – VII Celacom Pensamento Crítico: impacto e efeitos na Comunicação Latino-Americana
2004 – VIII Celacom Sociedade do Conhecimento: aportes latino-americanos
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 711
de la oferta de servicios de diseño, tanto de participarán tanto las propias empresas como
Extremadura como de aquellas otras regiones los diseñadores encargados de la realización
de España que oferten servicios profesionales de los proyectos.
a Extremadura. A partir del examen anterior - Realización de un catálogo con las
quedará definido el mapa de fortalezas, aplicaciones realizadas, compuesto por una
debilidades, amenazas y oportunidades de la amplia documentación gráfica e información
Comunidad en cuanto a diseño se refiere para tanto de empresas y diseñadores, como del
conformar una base sólida sobre la que proceso de diseño realizado para la empresa.
implantar las estrategias adecuadas.
Fase IV. Guía de Recursos de Diseno en
Fase III. Experiencia Piloto: Incorporación Extremadura
del diseno gráfico aplicado a la estrategia
empresarial en una muestra de empresas Como actuación complementaria al
del sector de Turismo Rural y Actividades “Impulso del Diseño” se prevé la edición de
Complementarias una guía de recursos de diseño para la
Comunidad Autónoma de Extremadura. Se
Esta etapa consiste en una intervención tratará de una guía editada en papel y que
en el sector del Turismo Rural y Oferta además será preparada para ser expuesta en
Complementaria, como sectores de gran auge la web de la Junta de Extremadura, de forma
en Extremadura. Se trata de incorporar tal que tengan acceso a ella todas las
estrategias vinculadas a la imagen en una empresas, profesionales y demás interesados
muestra de quince empresas a través de la en la materia.
prestación de un servicio profesional en
diseño. El proceso de implantación de los Situación actual y reflexión sobre el
proyectos en las compañías se conformará proyecto
en base a una serie etapas de trabajo:
- Sensibilización: realización de una Hasta el momento se ha implementado
jornada inicial. la fase de sensibilización y los hechos parecen
- Captación, definición del proyecto, apuntar a que los emprendedores extremeños
briefing, selección del diseñador y encargo están tomando conciencia sobre la
del proyecto. Una vez se hayan determinado conveniencia de incorporar la imagen y el
estas sociedades, será preciso definir el diseño como elementos decisivos en sus
proyecto a realizar: planteamientos de mercado.
- Diseño de marca y logotipo. Lo que se pretende a largo plazo es que
- Manual de Identidad Visual Corporativa, los empresarios asuman naturalmente la
incluyendo papelería básica. gestión profesional de su imagen corporativa,
- Señalización. desde la dirección de sus compañías. Estamos
- Cartas de menús, listas de precios, etc. en la primera fase, pretendiéndose que como
- Folleto promocional. parte de esa gestión profesional, también se
- Página web, etc. En base a la comunique.
información extraída se determinarán los A pesar de que las inversiones en
elementos prioritarios para el proyecto de comunicación, en Extremadura al igual que
diseño en la empresa, estableciendo el tipo en el resto de España, suelen ser entendidas
de plan a ejecutar. A través del briefing se como gasto y no como inversión, cada vez
comunicará al diseñador los aspectos existe una mayor conciencia sobre la
recogidos en la definición del proyecto a imperiosa necesidad de establecer
desarrollar. mecanismos comunicativos como elementos
- Implementación del proyecto de diseño fundamentales para la diferenciación de la
en las empresas seleccionadas. oferta. Como hemos advertido anteriormente
- Jornada final: presentación de resultados. es el desconocimiento de los puntos débiles
Con las conclusiones de los proyectos o la desconfianza a invertir en aspectos de
realizados y las aplicaciones de diseño gráfico difícil cuantificación quienes constituyen la
se realizará una jornada final donde principal barrera para emprender acciones
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 717
sencilla, un modo de mejorar la eficacia de criterio de Aristóteles (Spang, 1997: 18): “un
la comunicación interpersonal de la discurso que no tiene como objetivo la
organización es actuar sobre la competencia persuasión es una contradicción en sí
de sus portavoces en lo que se refiere al mismo”4. Ello nos lleva a ocuparnos de las
dominio de la comunicación verbal/no verbal condiciones del lenguaje eficaz, lo que
y su autocontrol. hacemos a través de la retórica (Baylon y
No obstante, somos conscientes de que Mignot, 1997: 202), “el primer campo del
para conocer la figura del portavoz hay que saber que se interrogó sistemáticamente sobre
entender, por una parte, el contexto en el que el lenguaje en tanto que medio de
comunica y, por otra, cómo se articula la comunicación y que propuso técnicas
relación de él, como individuo, consigo sistemáticas para hacer más eficaz la acción
mismo y con el público al que habla. De comunicativa”5.
la misma forma que los investigadores de la Este campo de conocimiento ha seguido
Universidad invisible llegaron a la conclusión un largo recorrido desde el siglo V antes de
de que aislar al individuo impide su Cristo – pasando por etapas de prestigio y
conocimiento real, partimos de la idea de que desatención – y está considerado en palabras
es preciso reconstruir el proceso de su de Baylon y Mignot un vector esencial de
interacción para poder después proponer transmisión de la cultura. La retórica clásica
formas de ampliar la competencia se define como el arte de hablar bien,
comunicativa. Hablamos de la capacidad de enunciado que incluye un sentido moral y
traducir la intención del portavoz en un de estilo. Hoy se estudia como (Ortega
mensaje verbal y no verbal que contribuya Carmona, 1997: 42) “la práctica y teoría del
a persuadir al público. Esta destreza está por discurso dirigido a producir un efecto de
tanto en relación con dos parámetros: su persuasión y convicción”6.
intención, u objetivo que busca alcanzar con Por tanto, para estudiar el intercambio
la intervención, y el efecto que produce comunicativo proponemos aplicar algunos
realmente, entendiendo que éste no depende supuestos teóricos de la pragmática; para
en exclusiva de él. profundizar en la competencia comunicativa
Las comparecencias públicas representan encaminada a cumplir una función y alcanzar
casos de comunicación interpersonal, que en un objetivo determinado recurrimos a la
el contexto organizacional sólo se justifican retórica; y para comprender la figura del
por la posibilidad de obtener una rentabilidad. portavoz y las situaciones de comunicación
Para comprender la manera en que el entorno que afronta estudiamos su papel en la gestión
determina la comunicación del portavoz, es de la comunicación corporativa.
decir lo que dice y cómo es interpretado, nos
acercamos a las claves de la filosofía del 2. Actuaciones que permiten actuar sobre
lenguaje corriente de Austin, la teoría de los la competencia comunicativa
actos de habla de Searle, el principio de
cooperación de Grice, la teoría de la Presentamos de forma esquemática nueve
argumentación de Anscombre y Ducrot, la principios pragmáticos básicos para el
teoría de la relevancia de Sperber y Wilson desarrollo de la competencia comunicativa:
y los estudios de cortesía. Aportaciones 1º El portavoz debe elegir el lenguaje
pragmáticas todas ellas sobre aspectos del corriente a la hora de hablar en público y
sentido que dependen de factores complementarlo con el lenguaje específico
extralingüísticos y que, en su conjunto, que comparten los destinatarios (Filosofía del
representan una manera distinta de contemplar lenguaje corriente).
los fenómenos que caracterizan el empleo del 2º El portavoz debe dar un sentido o una
lenguaje. fuerza determinada al contenido de su
Un miembro de la organización, así mensaje en función del objetivo que persigue
identificado, habla a un público en un lugar (Teoría de los actos de habla).
determinado a una hora concreta para obtener 3º El portavoz debe realizar una
algo, de otra forma no se encontraría allí. intervención acorde con el propósito del
Sin duda, en este contexto se cumple el intercambio comunicativo, esto es, cooperar
722 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV
4
Cf. W.C. Redding e T.K. Tompkins, finding common ground, New York, The Guilford
“Organizational communication: past and present Press, 2000, pp. 17 – 45.
15
tenses”, in G. Goldhaber e G. Barnett (eds.), Taylor e Trujillo, Ob Cit. pág. 3.
16
Handbook of Organizational Communication, New Taylor e Trujillo, Ob Cit. pág. 3.
17
York, Ablex, 1988.B.C Taylor e N. Trujillo, S. Deetz, “Conceptual foundations”, in F.
“Qualitative Research Methods”, in F.M Jablin e M. Jablin e L. L. Putman (eds.), The new handbook
L.L. Putman (eds.), The new handbook of of Organizational Communication, Advances in
Organizational Communication, Advances in Theory, Research and Methods, Thousand Oaks:
Theory, Research and Methods, Thousand Oaks, Sage Publications, 2001, pp. 3-46.
18
Sage Publications, 2001, pp. 161 – 194. M. J. Ob. cit. pág. 3.
19
Jablin e L.L. Putman, (eds.) The new handbook S. Deetz, “Describing the differences in
of Organizational Communication, Advances in approaches to organization science: rethinking
Theory, Research and Methods, Thousand Oaks, Burrell and Morgan and their legacy”,
Sage Publications, 2001. Organization Science, nº 7, 1996, pp. 191-207 e
5
J.R. Taylor, A. J. Flanagin, G. Cheney e D. ob. cit. pág. 8.
20
R. Seibold, “Organizational Communication M. W. Allen, J.M. Gotcher, e J.H. Seibert,
Research: key moments, central concepts and “A decade of organizational communication
future challenges”, in W.B. Gudykunst (ed.), research: journal articles 1980-1991”, in S.A.
Communication Yearbook 24, Thousand Oaks, Deetz (ed.), Communication Yearbook, 16,
Sage Publications, 2001, pp. 99 – 137. Newsbury Park, CA, Sage, 1993, pp. 252-330.
6 21
Ob. Cit. pág. 3. L. L. Putman, N. Philips e P. Chapman,
7
Como atestam os trabalhos de revisão de “Metaphors of communications and organization”,
Tompkins, 1967, Redding, 1972 e Jablin, 1978, in S. R. Clerg, C. Hardy e W. R. Word (eds.),
in Tompkins e Wanca-Thibault ob. cit. pág. 2. Handbook or Organizational Studies, Thousand
8
Ob. Cit. pág. 2. Oaks, Sage, 1996, pp. 375-408
9 22
C. Redding, 1985, in Taylor e Trujillo, ob. P. M. Buzzanell, e C. Stohl, “The Redding
cit. pág. 3. tradition of organizational communication
10
K. Miller, “Common ground from the post- scholarship: W. Charles Redding and his legacy”,
positivist perspective. From“‘straw person’ argument Communication Studies, vol. 50, nº4, 1999, pp.
to collaborative coexistence”, in S.R. Corman e M.S. 324 – 337.
23
Poole (eds.), Perspectives on Organizational P. K. Tompkins, “The functions of
Communication: finding common ground, New York, communication in organizations”, in C. Arnold e
The Guilford Press, 2000, pp. 47 – 67. J. Bowers (eds.), Handbook of rhetorical and
11
Redding e Tompkins, Ob. Cit. pág. 3. communication theory, New York, Allyn & Bacon,
12
Taylor e Trujillo, Ob Cit. pág. 3. 1984, pp. 659-719.
13 24
Taylor, Flanagin, Cheney e Seibold, ob. D. Mumby, “Power and Politics”, in F. M.
cit. pág. 3. Jablin e L. L. Putman (eds.), The new handbook
14
G. Cheney, “Interpreting Interpretive of Organizational Communication, Advances in
Research”, in S.R. Corman e M.S. Poole (eds.), Theory, Research and Methods, Thousand Oaks,
Perspectives on Organizational Communication: Sage Publications, 2001, pp. 585 – 623
COMUNICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO 735
736 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV