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A Escola Britânica do Marxismo foi um grupo de historiadores marxistas do século XX que se reuniam em torno da renovação do Materialismo Histórico, valorizando a "Cultura" como parte integrante do "modo de produção", e não apenas como reflexo da economia. Os principais membros foram Edward Thompson, Christopher Hill e Eric Hobsbawm, que desenvolveram uma abordagem cultural e "História Vista de Baixo" dentro do paradigma marxista.
A Escola Britânica do Marxismo foi um grupo de historiadores marxistas do século XX que se reuniam em torno da renovação do Materialismo Histórico, valorizando a "Cultura" como parte integrante do "modo de produção", e não apenas como reflexo da economia. Os principais membros foram Edward Thompson, Christopher Hill e Eric Hobsbawm, que desenvolveram uma abordagem cultural e "História Vista de Baixo" dentro do paradigma marxista.
A Escola Britânica do Marxismo foi um grupo de historiadores marxistas do século XX que se reuniam em torno da renovação do Materialismo Histórico, valorizando a "Cultura" como parte integrante do "modo de produção", e não apenas como reflexo da economia. Os principais membros foram Edward Thompson, Christopher Hill e Eric Hobsbawm, que desenvolveram uma abordagem cultural e "História Vista de Baixo" dentro do paradigma marxista.
Vamos dar um outro exemplo de escola historiogrfica, na histria da
historiografia europia. Este exemplo ser oportuno, pois contrasta com o exemplo do movimento dos Annales em pelo menos um aspecto. Enquanto os historiadores ligados aos Annales possuam as mais diversificadas tendncias tericas, e desenvolviam variadas orientaes metodolgicas em seus trabalhos, os historiadores ligados "Escola Britnica" do Marxismo possuam a singularidade de se autodefinirem todos no interior de um nico paradigma: o Materialismo Histrico.
Como dizamos no texto sobre as "escolas histricas", existem escolas podem que reunir sob a sua identidade historiadores pertencentes aos vrios paradigmas tericos, mas tambm podem existir escolas que se localizam no interior de um nico paradigma ou orientao terica. No mbito do paradigma do Materialismo Histrico, por exemplo, no so raras as escolas mais especficas de historiadores.
A "Escola Britnica" do Marxismo, tambm chamada de "Escola Inglesa", reuniu, na segunda metade do sculo XX, historiadores de orientao relacionada ao materialismo histrico. Todos eles viviam em pases ligados ao Reino Unido. Muitos viviam na Inglaterra, tal como ERic Hobsbawm (ainda vivo), Edward Thompson (1924-1993) e Christopher Hill (1912-2003), e havia outros, como o australiano Gordon Childe (1892-1957), que viviam em outros pases ligados comunidade britnica. Um outro aspecto que nos habilita a nos referirmos a este grupo de historiadores como uma escola o fato de que eles desenvolviam trabalhos coletivos, e tinham um veculo importante para a divulgao de trabalhos dos historiadores do grupo, que era a revista inglesa "Past em Present". J fizemos notar que as "escolas histricas", com frequncia, possuem uma revista sob sua administrao, atravs da qual podem produzir ou motivar a produo de uma Historiografia correspondente ao seu programa de ao e pensamento.
Todos os historiadores da "Escola Britnica" relacionavam-se a um projeto em comum de renovao do Materialismo Histrico, cuja principal caracterstica era a valorizao da "Cultura", no mais postulada como mero epifenmeno da "Economia". Destarte, cada um destes historiadores continuava trabalhando com os pressupostos fundamentais do Materialismo Histrico: Dialtica, Materialismo, Historicisdade Radical. Utilizavam tambm, como todos os historiadores materialistas histricos, conceitos bsicos para este paradigma: "modo de produo", "luta de classes", "classe social", "revoluo". A questo que estes historiadores trabllham de modo mais flexvel com estes conceitos, evitando esquematismos muito simples e procurando apreender uma totalidade mais complexa da vida social.
A renovao dos estudos culturais trazida pela Escola Inglesa tem sido fundamental para repensar o Materialismo Histrico nos dias de hoje particularmente para flexibilizar o j desgastado esquema de uma sociedade que ainda era vista, por muitos marxistas, a partir de uma ciso entre infra- estrutura e superestrutura. Com a Escola Inglesa do Marxismo, o mundo da Cultura passa a ser examinado como parte integrante do modo de produo, e no como um mero reflexo da infra-estrutura econmica de uma sociedade. Existiria, de acordo com esta perspectiva, uma interao e uma retro- alimentao contnua entre a Cultura e as estruturas econmico-sociais de uma Sociedade, e a partir deste pressuposto desaparecem aqueles esquemas simplificados que preconizavam um determinismo linear e que, rigorosamente falando, tambm j havia sido criticado por Antonio Gramsci, outro historiador marxista especialmente preocupado com o campo cultural. Ser oportuno citar uma remarcvel passagem de Thompson:
Uma diviso terica arbitrria como esta, de uma base econmica e uma superestrutura cultural, pode ser feita na cabea e bem pode assentar-se no papel durante alguns momentos. Mas no passa de uma idia na cabea. Quando procedemos ao exame de uma sociedade real, seja qual for, rapidamente descobrimos (ou pelo menos deveramos descobrir) a inutilidade de se esboar a respeito de uma diviso assim.
Thompson rejeita, inclusive, a habitual prioridade interpretativa atribuda ao Econmico. Se algures j se disse que sem produo no h histria, o historiador ingls acrescenta, com alguma ironia: sem cultura, no h produo THOMPSON, 2001, p.258). Por vezes, no seria mesmo possvel separar economia e cultura com relao a certos processos ou fatos histricos, mesmo j referentes ao perodo moderno.
O exemplo mais brilhante desta impossibilidade de separar economia e cultura no estudo de alguns processos histricos especfico foi dado pelo prprio Edward Thompson em suas pesquisas sobre as revoltas populares na Inglaterra no sculo XVIII, que foram expressas em um texto escrito em 1971 com o ttulo A Economia Moral da multido inglesa do sculo XVIII. Thompson demonstra que, neste contexto social, era em nome dos princpios morais que se faziam as queixas, confiscos de gros e pes, e inmeros outros processos pertinentes ao mundo econmico e tambm Poltica . A Economia, neste contexto social e relativamente a estes diversos processos, no era portanto separvel de certas concepes morais que circulavam na sociedade em questo. Economia e Moral, e portanto Economia e Cultura, no eram separveis. Separ-las historiograficamente seria equivalente a perder a possibilidade de compreender aqueles processos histricos. Em vista disto, Thompson introduz um novo conceito no mbito das reflexes historiogrficas: o de Economia Moral (na verdade, conforme indica Thompson, a expresso j havia sido empregada na prpria Inglaterra do sculo XVIII, em uma polmica de Bronterre OBrien contra os autores vinculados Economia Poltica). Posteriormente, o conceito foi incorporado s anlises historiogrficas e passou a ser utilizados por historiadores para a anlise de contextos diversos (SCOTT, 1976).
Outro historiador notvel da Escola Britnica do Marxismo foi Christopher Hill, que trouxe grande impacto aos meios tericos ligados ao Materialismo Histrico ao propor uma leitura indita da Revoluo Inglesa de 1640, com o livro "O Mundo de Ponta-Cabea".Nesta obra, Hill prope uma hiptese inusitada sobre aquele processo histrico: a de que a Revoluo Inglesa no foi um processo nico, unilinear, homogneo, ou sequer uma nica revoluo. Na verdade, teriam ocorrido, durante os acontecimentos que ficaram conhecidos como Revoluo Inglesa, duas revolues paralelas, tensionando- se uma contra a outra. a revoluo que representava os interesses da burguesia acabou por prevalecer e por apagar a outra, a revoluo dos grupos radicais, determinando consequentemente os rumos do processo revolucionrio ingls a partir do triunfo da tica protestante e dos interesses burgueses. Contudo, teria existido uma outra revoluo, radical representada por grupos como os diggers, ranters, levellers, quacres esta sim propondo uma radical reviravolta da sociedade. este olhar para uma histria esquecida, apagada por uma historiografia que trouxe os vencedores para o centro do palco, o que Christopher Hill procura trazer. Aqui temos outro aspecto importante da escola Britnica do Marxismo, que uma especial ateno ao que Thompson chamou de uma Histria Vista de Baixo.
desnecessrio, no Brasil, apresentar o terceiro grande nome da Escola Britnica do Marxismo: Eric Hobsbawm. Com sua srie de livros intitulados "eras" - a "Era das Revolues", a "Era dos Imprios" e a "Era dos Extremos" - Hobsbawm tornou-se grande sucesso no meio editorial. Tento alcanado uma grande longevidade, viveu todo o sculo XX, o que resultou em outro livro, intitulado "Tempos Interessantes - Uma Vida no sculo XX", que permite mostrar um historiador que assiste passagem de sucessivas eras neste sculo no qual o tempo parece ter se comprimido tal a velocidade das transformaes polticas, tecnolgicas e ambientais nele implicadas. Hobsbawm tambm traz a marca da Escola Britnica, escrevendo ensaios tericos "sobre a Histria" (1998), e tambm revelando sua faceta de historiador cultural na srie de crticas sobre o Jazz que publicou durante anos, e que resultou finalmente no livro intitulado "Histria Social do Jazz".
Conforme podemos ver, sem abrir mo dos elementos essenciais do paradigma do Materialismo Histrico, os historiadores da Escola Britnica o renovam,rediscutindo seus conceitos, e trazendo um novo olhar sobre a Cultura e sobre a "Histria Vista de Baixo". Constituem um exemplo oportuno de escola que se desenvolve no interior de um nico paradigma.
*Este texto foi adaptado de um trecho do Terceiro Volume do meu livro "Teoria da Histria" [BARROS, Jos D'Assuno. Teoria da Histria - volume 3: os Paradigmas Revolucionrios. Petrpolis: Editora Vozes, 2011).
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Outras Indicaes Bibliogrficas.
HILL, Christopher. O Mundo de Ponta-Cabea - idias radicais durante a Revoluo Inglesa de 1640. So Paulo: Companhia das Letras, 1987.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o Breve Sculo XX (1914-1991). So Paulo: Companhia das Letras: So Paulo, 1994.
HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes: Uma vida no sculo XX. So Paulo: Companhia das Letras, 2002.
HOBSBAWM, Eric. Histria Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, So Paulo, 1990.
HOBSBAWM, Eric. Sobre Histria. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.
THOMPSON, Edward Palmer. A misria da teoria ou um planetrio de erros: uma critica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
THOMPSON, Edward Palmer. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas : UNICAMP,2001.
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.
THOMPSON, Edward Palmer. A Formao da Classe Trabalhadora Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987