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Não importará muito aqui explanar os erros de gestão política do ME nem também
aqui esgrimir os argumentos que sempre acompanharam a razão dos professores
ao longo deste atribulado processo. Apenas a conclusão última interessará: depois
do protesto (sobejamente fundamentado e justificado) que trouxe às ruas a
indignação e a razão de muitas dezenas de milhares de professores, a aplicação do
modelo de avaliação urdido marginalmente nos longínquos gabinetes do Ministério
da Educação, não apenas se tornou tecnicamente impraticável como também se
tornou politicamente insustentável. Nesta análise, e para fundamentar as propostas
que a seguir se apresentam, começa-se, incontornavelmente, por esta última, as
ilações e repercussões políticas de todo este irracional processo.
1. Ao longo deste penoso e inquietante desvario político do ME, só este não terá
percebido, a tempo e horas, que o modelo de avaliação por si congeminado não
trazia consigo qualquer valor acrescentado para a requalificação das escolas, para a
melhoria do desempenho profissional dos professores e, muito menos, qualquer
mais-valia para os alunos e para as suas famílias. Quando muito, quedar-se-ia por
indirecta e ilusoriamente mascarar as números do insucesso e do abandono
escolares de Portugal nas estatísticas europeias e nas da OCDE;
2. O modelo até aqui proposto pelo ME não se compagina com a realidade
portuguesa e muito menos com o desejado desenvolvimento educativo do País com
base na qualificação do seu capital humano. Ao contrário do que diz a srª Ministra
(Cfr. “A grande Entrevista”, RTP, de 6 de Março p.p.), não é um modelo avaliativo
dos mais modernos e actuais em vigor na Europa. Pelo contrário, antes replica
(quase plagia na íntegra) os modelos externamente impostos, sobretudo para
conter as despesas com a massa salarial dos professores, a países como o Chile, a
Colômbia ou a Roménia (Vide, entre outros, o seguinte link,
http://www.docentemas.cl/bienvenida.php );
Face ao exposto, outra mais séria responsabilidade social e outra mais cuidada
análise se exige, a partir de agora, à maioria política que governa o País: as
reformas educativas (pertinentes ou não) apenas singram se para a sua concepção
e aplicação confluir a participação dos educadores, não numa perspectiva
corporativista, mas, sobretudo, na de co-autores das políticas educativas a
implementar, na medida em que os professores, para além de conhecedores ‘in-
loco’ das reais fragilidades e necessidades do sistema, zelam incessantemente pelo
sucesso escolar e pessoal dos seus alunos.
Será dos objectivos e metas anuais assim estabelecidos que se deverão ser
elaborados os objectivos individuais a formular por cada docente, procurando-se
desta forma compatibilizar a acção destes com as efectivas necessidades da escola.
Registe-se, aliás, que países de referência, como a Finlândia, não têm um sistema
de avaliação docente formalmente instituído e, muito menos, se “policia” as aulas
dos colegas com grelhas de observação nas mãos. A relação do Estado (e, como é
o caso, das administrações locais) faz-se repousar numa base de confiança sobre
os professores, motivando-os e incentivando-os para desempenhos de acrescida
qualidade.
3. Na linha do que acaba ser exposto nos pontos anteriores, o modelo aqui
sufragado assenta no binómio “confiança” e “compromisso”.
Confiança do Estado nos seus professores; compromisso destes, a formalizar
anualmente mediante a apresentação de objectivos individuais, em participar activa
e responsavelmente nos factores críticos de sucesso identificados nos Projectos
Educativos ou, como antes se disse, nos Planos Anuais de Melhoria da Escola, em
estreita colaboração com outras entidades do meio local, a começar, desde logo,
pelo Conselho Municipal de Educação, órgão ao qual nesta matéria devem ser
claramente atribuídas competências de articulação das políticas educativas locais
com base na identificação de necessidades socio-demográficas e sócio-económicas
comuns e caracterizadoras das respectivas comunidades locais.
(Continua)
Foram adicionados novos conteúdos ao presente texto. Nos próximos dias tentarei
alojar aqui o resto do conteúdo da proposta.