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Cad. psicopedag. v.3 n.6 São Paulo jun. 2004
este artigo
COMUNICAÇÃO
Diversamente da Argentina colonizada por um povo que trouxe sua cultura para a
nova terra, no Brasil os índios e posteriormente os escravos africanos não podiam
viver, pensar, expressar, mostrar sua cultura, desvalorizada, desqualificada e
desautorizada pelo emigrante que aqui aportava para levar as riquezas da colônia
para Portugal. O Brasil e seus habitantes eram vistos com desdém pela corte que,
fugindo de Napoleão, aqui precisou viver. Os nobres e os ricos retornavam `a
Europa para estudar.
Em 1979, decorrido quase vinte anos de prática, surge em São Paulo, capital, o
Sedes Sapientae, que prescinde da autorização do estado abrindo mão da
validação acadêmica dos certificados por ela emitidos em troca do exercício da
liberdade de pensamento, expressão multidisciplinar e da formação de
profissionais cuja ética não se pautasse em simples formalismo legal, mas que se
comprometesse com os direitos da pessoa humana. Surge aí o primeiro curso de
especialização em psicopedagogia no Brasil fomentando outros espaços de
autoria em diferentes instituições acadêmicas, no nível de ensino que o estado
exerce até hoje menor grau de regulamentação e controle. Podemos dizer que a
psicopedagogia aqui surgiu como clandestina e cresceu como o patinho feio da
pós-graduação.
Todas essas três concepções (ou duas) se ligam a um outro aspecto que é preciso
também ser entendido - a psicopedagogia teoria. O que é ela? Um campo
específico do conhecimento científico? Um pré-saber? Uma metateoria, uma
perspectiva para a tarefa científica de leitura dos dados reais que envolvem o ato
de aprender?
A estruturação dos dados numa construção teórica exige, assim, uma segunda
ordem de problema que consiste em escolher que tipo de construção vai ser
utilizada na organização desse saber: se aquela construída como um agregado de
dados empíricos, sem a preocupação de encaixe em um contexto mais amplo, ou
seja, fruto da inferência pura; ou aquela que pressupõe a presença de
construções hipotéticas nas quais os dados já estão comprometidos por um a
priori, por uma atitude metateórica.
Toda nova teoria passa por, no mínimo, três estágios: num primeiro estágio
trabalha-se com conceitos emprestados, num segundo os conceitos são
compartilhados e finalmente há a construção de um novo corpo teórico que
transcende os momentos anteriores.
Outras tantas questões podem ser discutidas, este texto reflete a experiência e o
pensamento da autora que dá a sua resposta, construindo em contrapartida o
espaço de inúmeras perguntas.
Referências bibliográficas
*
Doutora em Psicologia da Educação pela PUC/SP
3 Palestra Rumos e diretrizes dos cursos de psicopedagogia apresentada pela
autora no VI Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, II Congresso
Latinoamericano e X Encontro Brasileiro de Psicopedagogos, em 10 de julho de
2003, Universidade Mackenzie, São Paulo, SP.
4 Argentina, Brasil, Uruguai dentre outros.
5 Foucault, M. (1995). Microfisica do poder. (p.236). Rio de Janeiro: Graal.
6 As referidas práticas estarão sendo consideradas para uma adequação à
reflexão teórica em Psicopedagogia considerando a realidade mundial e não
apenas a brasileira. Entendemos que os aportes teóricos contemporâneos
consideram a Psicopedagogia de acordo com a realidade de países como Itália,
Espanha e mais proximamente a Argentina. O Mestrado em Psicopedagogia,
embora pretenda discutir e refletir sobre a realidade brasileira, tem também o
compromisso de contextualizá-lo num âmbito global.