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ARTIGO ARTICLE
Financeirização do Estado, erosão da democracia
e empobrecimento da cidadania: tendências globais?

Marketizing of the State, erosion of democracy


and impoverishment of citizenship: global tendencies?

Karen Mary Giffin 1

Abstract This article analyses the advance of the Resumo Este artigo aborda a questão do avanço
neo-liberal regime, in order to contextualise the internacional do regime neoliberal, contexto da
international formulation of policies focussed on formulação de políticas que focalizam a pobre-
poverty reduction. In recent debates, terms such za, inclusive em países centrais. Em debates re-
as ‘citizenship’ and ‘democracy’ have been subject centes, termos como ‘cidadania’ e ‘democracia’
to critical scrutiny, revealing changes in the rela- têm sido sujeitos à interrogação crítica, revelan-
tions between citizens and the State which ac- do mudanças na relação cidadão/Estado que
company the hegemony of economic criteria that acompanham a hegemonia de critérios econô-
put financial considerations at the centre of na- micos e a financeirização dos Estados nacio-
tional states. We argue that analyses of such glo- nais. Argumentamos que tais processos globais
bal processes require an ample political economy requerem uma abordagem ampla, de uma pers-
perspective, capable of illuminating how the sub- pectiva de economia política, capaz de iluminar
stance of democracy and the legitimacy of state como a substância da democracia e a legitimida-
authority have been conditioned by the advance de da autoridade estatal têm sido condicionadas
of new global entities that represent the interests pelo avanço de novos atores globais que repre-
of capital, favouring the concentration of wealth sentam os interesses do capital, favorecendo a
and the increase of poverty, inequality and exclu- concentração da riqueza e o aumento da pobre-
sion, and installing a state of vital insecurity that za, da desigualdade e da exclusão, e instaurando
affects the majority of the world’s population. uma insegurança vital que atinge a maioria da
Key words Globalization, Neo-liberal political população em nível mundial.
economy, Welfare state, Poverty, Capitalism Palavras-chave Globalização, Política neolibe-
ral, Estado de bem-estar, Pobreza, Capitalismo

1
Depto. de Ciências Sociais,
ENSP/FIOCRUZ. Rua
Leopoldo Bulhões 1480,
Manguinhos. 21041-210
Rio de Janeiro RJ.
karengi@ensp.fiocruz.br
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Giffin, K. M.

“O neoliberalismo é o capitalismo selvagem políticas têm sido implementadas sob a égide de


com porte de armas e habeas corpus preventivo.” programas de ajuste estrutural e com o propósito
Luis Fernando Veríssimo chave de manejar o fardo da dívida e os pagamen-
tos da dívida. [...] As conseqüências tem sido de-
vastadoras para uma grande parte da população5.
Políticas neoliberais e polarização social: O Relatório de 1996 da UNDP (Programa
o avanço das desigualdades das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
nomeia os resultados gerais destes programas
As reformas neoliberais, implementadas a partir como: ‘crescimento sem emprego’; ‘crescimento cru-
da década de 80 e sintetizadas no ‘Consenso de el’, onde somente os ricos se beneficiam; ‘cresci-
Washington’, se apoiaram em três pilares princi- mento sem voz’, que não leva democracia às maio-
pais: rias; ‘crescimento sem raízes’, que atrofia as iden-
- a redução dos gastos públicos em ‘bens de tidades culturais; e ‘crescimento sem futuro’, que
cidadania’ através da privatização de entidades, desperdiça recursos necessários para as gerações
bens e serviços públicos que passaram a ser fon- futuras6. Laurell observa que este processo tem
tes de lucro privado, acessados por consumido- produzido falhas simultâneas em todas as esfe-
res através do mercado; ras de produção do bem-estar social: Estados,
- a ‘flexibilização’ do mercado de trabalho, mercados, e famílias3.
através do abandono de políticas de proteção ao Nos casos em que o pagamento da dívida foi
emprego e retrocesso nos direitos e nas organi- a razão principal destas reformas, a privatização
zações trabalhistas; de empresas estatais representa, também, a
- a ‘desregulamentação’ dos mercados finan- desnacionalização de controle sobre recursos
ceiros e dos controles nacionais sobre a moeda. antes públicos, desde recursos básicos, como água,
Craig e Porter observam que os ajustes estru- a entidades de ponta financeiras e de comunica-
turais visaram a estabelecer uma moldura de raci- ções, quando grupos estrangeiros compram em-
onalidades econômicas [...] que conformam uma presas industriais e de serviços. A desnacionaliza-
matriz literalmente universal para supervisionar ção, por sua vez, leva à internacionalização de lu-
tanto a estabilização como a integração global de cros e à internacionalização de preços, aumen-
economias periféricas1. Enquanto o FMI (Fundo tando o custo de vida em contextos nacionais de
Monetário Internacional) e o Banco Mundial ganhos diminuídos e desemprego maciço.
(BM) impuseram estas ‘reformas’ em países pe- Quando o ímpeto de aumentar as exporta-
riféricos para garantir o pagamento da dívida ções envolve produtos agrícolas e comida, isto
externa, nos países centrais a necessidade de di- pode resultar na diminuição da terra disponível
minuir gastos públicos com ‘programas de aus- para culturas de subsistência e/ou instituir preços
teridade’ e ‘desregulamentar’ as economias foi internacionais proibitivos no país produtor. Para
colocado como essencial para assegurar a con- as populações mais pobres, isto tem levado à es-
corrência no ‘mercado global’. Para seus críticos, cassez de comida, à má nutrição e ao aumento de
a insistência de que ‘não há alternativa’ represen- doenças, e ilustra a vulnerabilidade das famílias
ta e reproduz uma ideologia do modelo hegemô- perante o mercado mundial em termos de acesso
nico do capitalismo do final do século 20, “cuja à comida, água e serviços básicos, incluindo ser-
função é reduzir qualquer resistência ao proces- viços de saúde, educação e transporte 7,8,9,10,11.
so através da sua representação como muito be- Beneria apresenta cifras recentes da ONU que
néfica e inevitável” 2, sendo “un mito adequado demostram o aumento internacional da quase
para detener la búsqueda de otros caminos e in- inimaginável concentração da riqueza, ou pola-
movilizar las fuerzas políticas” 3,4. rização global, assim como a diferenciação ou
As tendências dominantes destas políticas in- polarização de classes dentro dos estados nacio-
cluiram [...] ataques no Keynesianismo e crítica à nais, após vinte anos destas políticas, mundial-
intervenção de governos na economia, desregula- mente. Por exemplo, em 1998, as três pessoas mais
mentação de mercados, cortes no orçamento pú- ricas do planeta tinham posses maiores que o
blico e desmonte do estado de bem-estar, privatiza- PIB combinado dos 48 países ‘menos desenvol-
ção de indústrias públicas, liberalização do comér- vidos’; as posses das duzentas pessoas mais ricas
cio, abertura das portas para investimento inter- superaram a renda combinada de 41% da popu-
nacional e fusões levando à maior concentração de lação mundial, sendo que menos de 4% desta
capital em grandes corporações multinacionais [...] riqueza seria suficiente para proporcionar aces-
Em países com dívidas externas grandes [...] estas so à educação e à saúde básica, alimentação ade-
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quada, água potável e condições sanitárias para car poderes governamentais”19. Yuval-Davis ob-
todos, e cuidados obstétricos para todas as mu- serva que as ameaças ao Estado de Bem-Estar
lheres do planeta. O abismo entre países ricos e Social na Inglaterra refletem a tendência ‘thatche-
pobres tem aumentado, desde um índice de 44/1 riana’ de considerar os cidadãos como consumi-
em 1973 a 72/1 em 199212. Berlinguer aponta “[...] dores individuais, enquanto “obrigações são rea-
o aumento exponencial das desigualdades, tanto locadas, da esfera pública de benefícios e serviços
entre países como dentro de cada país, seja na financiados por impostos, à esfera privada de
saúde como na esperança de vida”13. caridade e serviço voluntário”, o que opera uma
José Antônio O’Campo, Secretário General despolitização da cidadania20.
Adjunto da ONU para Assuntos Econômicos e Segundo Fiori, [...] no final do século XX, foi
Sociais, confirma que, embora as metodologias ficando mais claro que as novas políticas e refor-
de cálculo sejam complexas e diversificadas, da- mas tinham diminuído a participação dos salários
dos revelam uma tendência, entre 1960 e 1990, na renda nacional; restringido e condicionado os
de crescente desigualdade de renda no interior gastos sociais; reduzido a segurança do trabalha-
de 73 países que concentram 87,5% da popula- dor e promovido uma concentração/centralização
ção mundial. Avisa que qualquer estimativa de de capital e renda em todos os países europeus 21.
melhoria neste âmbito é devido ao crescimento Visvanathan observa que uma agenda cada vez
da China e da Índia e que, de qualquer maneira, mais neoliberal concentra riqueza e reduz bens
os 10% mais ricos do planeta aumentaram sua públicos22. Beresford conclui que, no regime ne-
participação na renda mundial, chegando a qua- oliberal, o que parece estar acontecendo é uma cres-
se 50% do total14. cente transferência de custos ao Estado e de lucros
Outros dados revelam um aumento das desi- ao mercado. Exatamente o oposto do que os defen-
gualdades de renda, ou polarização interna, mes- sores do mercado e críticos à intervenção do estado
mo nas populações mais protegidas, nos países argumentaram23.
europeus do OECD (Organização para a Coope- A OIT em 2003 confirma uma tendência ge-
ração e Desenvolvimento Econômico): as cifras ral mundial ao desemprego e à informalização
de renda média per capita mostram uma tendên- do mercado de trabalho, que potencializa o au-
cia geral de crescimento menor entre 1960 e 2004, mento das desigualdades na distribuição de ren-
e entre 1989 e 2000 houve um aumento no coefici- da nos países, informando que, atualmente, 1/3
ente Gini, ou na desigualdade em relação à renda da força de trabalho mundial não consegue ga-
familiar, em todos estes países, menos Alemanha, nhar o suficiente para prover suas necessidades
Irlanda, Países Baixos e Suíça. Embora os Esta- básicas, num “mundo de crescente insegurança e
dos Unidos continuem sendo o país mais desi- incerteza”16.
gual nesta medida, os aumentos maiores neste Desde 2000, a taxa de desemprego aumentou
período foram na Bélgica (16,2%), Finlândia na maioria dos países do OECD, mas é nos Esta-
(15%), Suécia (13,5%) e Áustria (12,7%)15. A OIT dos Unidos, com o mercado de trabalho mais
estima que, em 1997, 17% de todos os domicílios ‘flexível’, que há a taxa de desemprego mais alta
na União Européia tinham níveis de renda abaixo para trabalhadores menos instruídos15.
da metade da média nacional, mesmo após trans- Currie et al. observaram a instalação de uma
ferências diretas e outras formas de seguridade nova insegurança vital nos Estados Unidos a partir
social15. Em 2000, sete destes países tinham taxas dos anos 70 e 80, período no qual o aumento do
de pobreza infantil acima de 15%, também após custo de necessidades básicas resultou num “novo
incluir benefícios sociais16. Cifras que mostram o empobrecimento”, e a crescente diferenciação da
aumento das desigualdades em saúde na Europa estrutura de emprego e de renda familiar produ-
são apresentadas em WHO17 e Machenback18. ziu uma polarização que ele chamou de “brazili-
Price et al., examinando o caso de privatiza- anization” da estrutura de classe americana24.
ções nos serviços de saúde do Reino Unido, a Uma compilação abrangente de dados mais
partir dos acordos da OMC em Seattle, avisam recentes dos Estados Unidos mostra que, apesar
que as mudanças dão acesso a fundos públicos de fortes aumentos da produtividade do traba-
ao setor privado, mas são apresentadas como se lho e do crescimento do PIB entre 1995 e 2005, o
oferecessem fundos privados ao setor público, e aprofundamento destas tendências se confirmou
concluem que estas disputas efetuam o desmon- junto com a simultânea precariedade e intensi-
te da provisão socializada do bem-estar euro- dade do trabalho. Com o aumento das desigual-
peu, com seus objetivos públicos de universali- dades de renda exacerbado pela concentração de
dade e solidariedade, sendo “uma forma de ata- renda de capital, e pela diminuição de impostos
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para os mais ricos, 1% das famílias mais ricas das desigualdades nestes países, a análise com-
apropriaram 57,5% do total em 2003, compara- parativa mostra que, onde há políticas univer-
do com 37,8% em 1979. Esta análise, também, se sais que ofereçam serviços públicos de qualida-
refere à erosão do valor real do salário mínimo de, estes representam também empregos públi-
(hourly wage) e da extensão e qualidade de bene- cos de melhor qualidade, formando mercados
fícios contidos nos contratos de trabalho, como de trabalho menos polarizados25.
seguros de saúde, por exemplo, disponível para Gerschman aponta que a escassez atual de
69% dos trabalhadores em 1979 e apenas 55,9% emprego acompanha a importância do mesmo
em 200415. para a aquisição da cidadania, e que este dilema,
No que diz respeito aos diretores executivos colocado pelo capitalismo internacional, “não
das empresas principais (CEOs), em 2005 seus decorre exclusivamente dos avanços tecnológicos,
rendimentos representaram 262 vezes o salário mas, sobretudo, da capacidade de os Estados in-
do trabalhador médio, comparado com 1965, terferirem, por meio de políticas, nos desígnios
quando eram 24 vezes maiores. Por outro lado, dos empreendimentos internacionais”26, 27,28.
para os trabalhadores jovens que estão entran- Se um Estado de bem-estar social pode ser
do no mercado de trabalho, os salários diminu- definido como modificando as forças do merca-
íram desde 2000, mesmo para os com nível supe- do em nome da eqüidade social, o regime neoli-
rior, e nesta categoria também aumentou a par- beral é seu oposto, e tem promovido aumento
cela de desempregados de longa duração. Segun- global das desigualdades sociais, junto com uma
do este documento, a taxa de lucro das corpora- concentração de capital quase inimaginável. Em
ções em 2005 foi a maior nos últimos 36 anos face das evidências acumuladas, desde 1987 agên-
(com a exceção de 1997) e os autores notam que, cias da ONU tem pedido ‘desenvolvimento com
se tivesse sido mantida uma taxa de lucro em uma face humana’8.
2005 igual a 1979, teria havido uma transferência Para os países nos quais grandes contingen-
anual de US$ 235 bilhões aos trabalhadores15. tes têm acesso inadequado e reduzido a necessi-
Comparado com os outros países do OECD, dades básicas de sobrevivência humana, como
os Estados Unidos são um dos mais produtivos água potável, comida e abrigo, tal privação pode
e mais ricos, e também têm o regime mais liberal ser considerada ‘desumanização’. Para aqueles em
e mais desigual, com os trabalhadores na escala situação um pouco melhor, o aumento dos cus-
inferior ganhando relativamente menos e rece- tos de necessidades básicas, junto com o aumen-
bendo muito menos proteção social. Esta desi- to do desemprego, salários insuficientes e prote-
gualdade social mais aguda se reflete também na ção social diminuída, representam uma profun-
expectativa de vida mais baixa, na mortalidade da precarização de condições vitais. Mesmo com
infantil mais alta e nas taxas de pobreza geral e a tendência geral de redução no número de filhos
da infância mais altas - embora os Estados Uni- e a entrada maciça de mulheres no mercado de
dos gastem mais na saúde do que todos os ou- trabalho, os rendimentos familiares diminuem
tros países do OECD - seja como percentagem com a precarização do trabalho, ao mesmo tem-
do PIB, seja como gasto per capita15. po em que a privatização de ‘bens da cidadania’
O caso dos Estados Unidos, exemplo maior como saúde e educação tem aumentado o custo
do regime neoliberal, mostra claramente que o de vida familiar, instaurando uma insegurança
aumento da produtividade e a evolução positiva vital para a maioria das famílias. Além do sofri-
dos indicadores macroeconômicos não têm, ne- mento humano que isto representa, esta situa-
cessariamente, conseqüências benéficas para a ção de insegurança vital favorece a expansão do
maioria dos trabalhadores, na ausência de polí- crime organizado e da prostituição e do tráfico
ticas robustas que visem a proteger a qualidade de drogas como estratégias de sobrevivência de
de vida de todos, incluindo instâncias fortes de jovens sem outras perspectivas.
barganha coletiva, um salário mínimo digno e Nos países da América Latina, mortes de jo-
uma política fiscal e monetária mais progressista vens por causas violentas aumentaram drastica-
e com ênfase na geração de empregos. mente desde 1980, refletindo a expansão do cri-
Os regimes de proteção social mais extensi- me organizado e do tráfico de drogas e de armas,
vos em países da Europa, por outro lado, não numa situação em que muitos jovens não po-
impediram aumentos na produtividade e ainda dem esperar emprego legal e decente, apesar do
asseguraram melhores condições relativas para aumento dos níveis de instrução29,30. Esta dinâ-
suas populações. Embora haja, também, retro- mica também resultou nas novas ‘mulheres glo-
cessos nos regimes de proteção social e aumento bais’ – babás, empregadas e trabalhadoras do
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sexo na migração internacional, que abandonam liberalismo de dois gumes’: “proteção estatal e
seus países (e, muitas vezes, seus filhos peque- subsídio público para os ricos; disciplina de mer-
nos) para encarar serviços desregulamentados e cado para os pobres”. Agora, os Estados Unidos
degradantes em países ricos31. lideram, internacionalmente, “[...] uma campa-
Resumidamente, o avanço global da hegemo- nha visando ‘fazer retroceder’ (roll back) o que se
nia neoliberal potencializou o desemprego e a con- avançou ao longo dum século de lutas frequen-
centração da riqueza, refletidos em pobreza e desi- temente amargas [...]”, através de uma forma de
gualdade crescente, tanto entre países, como no “estatismo reacionária, violenta e sem lei, com
interior dos mesmos, ao mesmo tempo em que for- seu desprezo pela democracia e pelos direitos
çou a retração nos regimes de proteção social. As humanos, e também pelos mercados”36.
resultantes tendências à polarização social suge-
rem um processo histórico mundial de recriação
de sociedades duais altamente desiguais32, 14,33, 5. O estado neoliberal
Este retrato amplo de exclusão, obviamente, e a erosão da democracia
não significa que as pessoas atingidas sejam víti-
mas passivas, e também não nega as variações Benería observa que o imenso aumento da con-
entre os países, ou nas conseqüências para os centração de capital levanta questões sobre a con-
diferentes grupos locais como vimos: os países centração do poder e o significado da democra-
com grandes dívidas externas mostram os efei- cia e nos lembra que o G8 em 2001 teve que reu-
tos mais devastadores, embora, mesmo nos pa- nir “[...] atrás de barricadas de uma fortaleza de
íses centrais, haja crescente polarização econô- segurança de proporções medievais” 5 e, pode-
mica e social, lideradas pelos regimes liberais. mos acrescentar, dada a repressão armada e a
A imposição de ajustes e reformas do Estado criminalização de protestos recentes de cidadãos
nos países com dívidas externas grandes pode em países centrais do ocidente.
ser vista como ‘business as usual’ da perspectiva Autores preocupados com as conseqüências
que privilegia os lucros das corporações e a acu- destrutivas destas políticas estão trazendo novas
mulação de capital acima de tudo. Dadas as con- análises dos papéis cambiantes dos governos
seqüências documentadas, parece, porém, que nacionais e o efeito deste processo na relação so-
não se pode mais nomear este processo como ciedade civil/Estado, na cidadania e na democra-
‘desenvolvimento’. cia. Para autores latino-americanos como Asa
Nas palavras de Brito, o condicionamento Cristina Laurell, a concepção neoliberal do Esta-
dos orçamentos nacionais pela exigência do su- do mínimo só pode ser entendida na sua oposi-
perávit primário nos Estados endividados igno- ção ao Estado de bem-estar3; Matamala refere-
ra completamente la necesidad social y [...] impo- se à instauração de um ‘Estado de mal-estar’ 37
ne una lógica financeira a la dimensión de las po- que vai na direção oposta dos acordos sobre di-
líticas sociales [...] nos condena a una lógica abso- reitos feitos no âmbito da ONU. Boaventura dos
lutamente devastadora de las posibilidades del de- Santos considera isto uma forma de ‘fascismo
sarrollo social 34. social’ 38.
Wallerstein, observando que há uma contra- Eliza Reis concorda que as transformações
dição básica no capitalismo entre a prioridade dos estados nacionais nos obrigam a confrontar
para acumulação do capital através da explora- os desafios da globalização perante a cidadania,
ção dos trabalhadores e a necessidade de expan- apontando que ‘exclusão social’ é um termo rela-
são contínua dos mercados, avisa que o que se cional, que se refere a algo que outros têm, que
desenvolve não são países: “O que se desenvolve “[...] ser excluído, mais que nada, é ser desapro-
é somente a economia-mundo capitalista e essa priado de direitos sociais” e que a maior parte
economia-mundo é de natureza polarizadora” 35. dos processos correntes de exclusão se refere a
Noam Chomsky considera como “[...] ‘mito’ “bens de cidadania” 39,40,3,41.
mais extraordinário da ciência econômica” a idéia Laurell observa que as políticas neoliberais
de que o livre mercado leva ao desenvolvimento, impõem “[...] la constitución del mercado como
sem considerar a ação do Estado. Aponta a in- principio organizador del ámbito de los benefici-
tervenção, desde sempre, dos governos estadou- os y servicios sociales [...]” e “la introducción de
nidenses na forma de subsídios, medidas prote- mecanismos de mercado, competencia y formas
cionistas e regimes fiscais regressivos (além da de gestión empresarial en el sector público
violação de regras internacionais de trabalho e [...]”3,33. Com a imposição neoliberal da ‘bandei-
outros) que conformam o que ele chama de ‘neo- ra dos recursos escassos’, os serviços públicos e
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benefícios sociais são considerados como gastos tanto ao impacto coercivo (agendador) como dou-
e não como investimentos, o que levou à delibe- trinador (codificador) de forças essencialmente não
rada deterioração das instituições e serviços pú- políticas, primordialmente aquelas associadas aos
blicos na América Latina, à privatização e à mer- mercados financeiro e de consumo48,49.
cantilização de bens da cidadania e aos retroces- Bauman defende a necessidade de conceitua-
sos na proteção ao trabalho e nas formas de or- lizar ‘liberdade positiva’ como um direito de cida-
ganização da classe trabalhadora42. Este regime dania essencial: E isto significa primordialmente
visa “[...] la necessidad de que el estado empren- poder influenciar as condições da própria existên-
da com eficacia sus neuvas funciones mediante cia, dar um significado para o ‘bem comum’ e fazer
una administración moderna y despolitizada”, as instituições sociais se adequarem a esse significa-
com a participação política dos cidadãos reduzi- do. [...] Os indivíduos só são livres quando podem
da às eleições3. instituir uma sociedade que protege e promove sua
Perante este processo, a questão da erosão da liberdade[...]48. Esta formulação é coerente com a
soberania dos estados nacionais tornou-se uma sugestão de Krischke de um “conceito social da
preocupação internacional expressa, por exem- cidadania”50 e implica uma visão da democracia
plo, em um número especial da Current Sociolo- construída em um processo permanente51.
gy dedicado ao tema ‘ordem global ou mundo Já que as evidências mostram que os esque-
dividido’ (como nos informa a Introdução, este mas de privatização e desregulamentação pro-
título poderia ter sido ‘ordem global e mundo duziram, consistentemente, efeitos sociais noci-
dividido’). O editor aponta que “surgem novos vos, eles exigiram, de fato, a mão forte do Esta-
problemas de governança global e responsabili- do. Mas, como Benería aponta: Esta mão respon-
dade democrática, na medida em que a sobera- deu aos interesses de elites nacionais e globais, não
nia dos estados-nações é erodida e seu papel na aos desejos da maioria dos cidadãos, e as políticas
política mundial redefinido” 43,44. [...] – freqüentemente implementadas em nome de
Smelser, por outro lado, entende o Estado liberdade para os mercados – impostas de cima para
como mediador na política internacional e res- baixo e sem um processo democrático de discussão
ponsável por lidar com penetrações externas. Ele e tomada de decisões entre todos afetados5.
considera que, mais que uma perda de soberania, Laxer sugere a noção de ‘democracia profun-
“o diagnóstico correto é que a soberania dos esta- da’: “[...] no sentido dos cidadãos assumirem o
dos-nações é cada vez mais dificultada [...] a dife- controle que tem sido das elites no poder”. Em-
rença é que sua habilidade em controlar eventos bora a discussão conceitual avance, a atuação e
que afetam seu povo é cada vez menor”45. Como os acordos de entidades transnacionais com po-
esta formulação sugere, e como Martinelli43 nos deres globais parecem dificultar, cada vez mais,
lembra, há diferenças importantes entre estados, tal tomada de poder democrático. Laxer conclui
pois aqueles mais poderosos tiveram um papel que “[...] globalização neoliberal representa um
central em dirigir estes processos internacionais. assalto pleno na democracia”52.
Tavares dos Santos considera que estamos Nos termos de Randeria, o “estado facilita-
passando por uma crise de desinstitucionaliza- dor” (‘enabling state’) procura assegurar expro-
ção com a globalização neoliberal impondo o priação eficiente e segurança legal aos investido-
mercado, nas palavras de Ramonet, “[...] como res: “liberalização não significa menos interven-
mecanismo totalitário que procura substituir o ção do estado, mas sim intervenção do estado a
Estado e todas as instituições coletivas. É o mer- favor do capital”. Enquanto a ordem pública é
cado contra o Estado, o setor privado vs. a esfera internacionalizada e privatizada, os direitos dos
pública46,47. cidadãos estão se tornando mais vulneráveis, e
Bauman também observa que uma tendên- “o processo de elaborar as regras é colocado, cres-
cia marcante do nosso tempo é a separação cres- centemente, fora da arena de deliberação legisla-
cente entre poder e política nacional, na medida tiva e tomada de decisões democráticas”53.
em que ‘pressões do mercado’ substituem legis- Nancy Folbre dá um exemplo da perda de
lação política, mesmo em países centrais, que poder dos cidadãos nos Estados Unidos: o peso
entendem a democracia como ‘livre escolha indi- relativo de impostos pagos pelas empresas, como
vidual’. [...]. ‘Desregulamentar’ significa diminuir percentagem do total de impostos, diminuiu em
o papel regulador do Estado, não necessariamente mais da metade desde 1960, mas os acordos fei-
o declínio da regulamentação, quanto mais seu fim. tos no âmbito da OMC limitam a possibilidade
O recuo ou autolimitação do Estado tem como efeito dos cidadãos exercitarem um controle democrá-
mais destacado uma maior exposição dos optantes tico e reverterem esta situação54.
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Nas palavras de Emir Sader: O Estado atual é Unidos e dez vezes maior que o PIB de toda Amé-
indefensável do ponto de vista da grande maioria rica Latina mais o Caribe em 199060,59. Em 2000,
da população [...] uma espécie de governo mundial 51 das maiores entidades econômicas eram cor-
[...] opera através do BM, FMI, G7, OMC [...] de- porações, sendo apenas 49 estados-nações61.
cide indevidamente os destinos da humanidade, Labonte et al. observam que a emergência de
sem ter sido eleito[...]55. cadeias globais de produção e comércio permite
que as CTNs localizem a produção intensiva em
mão-de-obra em zonas ou países de baixa renda,
Os novos atores globais façam pesquisa e desenvolvimento em países com
e a financeirização dos estados nacionais altos níveis de educação pública e investimento
público em pesquisa e declarem seus lucros em
Enquanto a integração internacional de eco- países com impostos baixos, o que tem provoca-
nomias tem uma história longa, O’Connor e do uma competição global entre Estados, que re-
outros apontam que a novidade desta fase neoli- sultou na diminuição de impostos sobre lucros
beral é a intensidade da globalização financeira, das corporações em todos os países61.
como fenômeno político e ideológico56. Gomez Para Atílio Boron, as CTNs são os novos Le-
chama a atenção pelo fato de que a liberalização viatãs [...] atores políticos de primeiríssima or-
dos intercâmbios agora envolve todos os setores dem, quase impossíveis de controlar e causadores
da economia, todos os instrumentos de inter- de um desequilíbrio dificilmente reparável no âm-
venção dos Estados (subsídios, mercados públi- bito das instituições e das práticas democráticas
cos, controles alfandegários ou técnicos, políti- das sociedades capitalistas59.
cas de concorrência, etc.) e todos os parceiros Ilona Kickbush, da Federação Mundial de
comerciais57. Associações de Saúde Pública, observa que tem
O Estado mercadológico se expressa na cres- havido “um enfraquecimento da saúde pública
cente dependência de empréstimos e investimen- [...] nos últimos 30 anos no mundo inteiro, nos
tos internacionais, e no fato da desregulamenta- países tanto desenvolvidos com em desenvolvi-
ção de transações financeiras incluir o mercado mento, e nas instituições internacionais”, e cha-
de câmbio em moedas nacionais. Além de per- ma a atenção para um fato que ela considera um
mitir a livre entrada e saída de capital, muitas ‘escândalo da governança da saúde pública inter-
vezes sem arrecadação de impostos que retor- nacional’: a fundação filantrópica de Bill e Me-
nem à receita pública, isto gera volatilidade e vul- linda Gates tem mais dinheiro para gastar na
nerabilidade extremas na tentativa de gerenciar saúde do que a OMS, que reúne 191 países62,34.
recursos públicos e moedas nacionais que se en- Homedes e Ugalde observaram que os Esta-
contram amarrados a moedas internacionais, o dos Unidos impuseram a ideologia e os interes-
que os sujeitam a ‘ataques especulativos’ de in- ses das corporações americanas nas reformas
vestimento/ desinvestimento em papéis e ativos neoliberais da saúde na América Latina, e que os
dos governos. Outra expressão é a crescente au- programas incluídos foram somente aqueles que
tonomia dos Bancos Centrais, que se tornam exigiram grandes empréstimos internacionais e
independentes ou ‘blindados’ perante qualquer geraram lucros para as CTNs. Analisando os efei-
pressão dos cidadãos. tos destas reformas, concluem: que houve maio-
UNRISD apresenta uma hierarquia interessan- res gastos em saúde e em medicamentos sem
te, para não dizer preocupante, quando algumas melhoria na eficiência; que uma proporção alta
cifras de vendas de CTNs, para o ano de 1992, são das populações continua sem acesso aos cuida-
comparadas com os PIBs maiores da América La- dos de saúde; que a dívida externa aumentou; e
tina: Brasil - US$ 360 bilhões; México - 329 B; que os beneficiários mais evidentes são as pró-
Argentina - 228 B; General Motors - 132 B; Exxon, prias CTNs, as firmas de consultoria e o staff do
Ford - 100 B; Shell - 96 B; Toyota, IBM e Venezuela Banco Mundial63.
- 61B58,59. Segundo Gomez, as gigantescas CTNs A financeirização dos Estados é crucial para
em 1994 controlaram um terço da produção in- entender a evolução rápida das dívidas externas.
dustrial mundial, e o comércio intrafirma, como Nos dados apresentados por Ramamurthy, de
percentagem do comércio mundial total, aumen- 1974 a 1984, a dívida dos países periféricos au-
tou de 20% em 1980 para 33% em 199457. mentou em 800%; por outro lado, os lucros de
Dados de Steffan mostram que, em 1994, a bancos americanos que provinham de operações
receita combinada dos 500 CTNs maiores era internacionais cresceram de 22% dos lucros to-
equivalente a uma vez e meia o PIB dos Estados tais em 1972 a 60% dos lucros totais em 198264.
1498
Giffin, K. M.

O exemplo da desvalorização do Real, que Investors Service e Standard and Poor’s Ratings
em 1998/1999 perdeu 40% do seu valor em se- Groups) que agora coordenam tanto fluxos de ca-
manas, é destacado internacionalmente como pital como estratégias de investimento de CTNs e
“resultado da maior entrada e saída de capital de governos, igualmente [...] são pontos de cristali-
especulativo jamais experimentado por um país zação de soberanías não-nacionais, que de novo
em desenvolvimento” 65,61,66. Segundo Petras e coloca na agenda os motivos básicos da discussão
Veltmeyer, nesta operação houve uma fuga de teórica da democracia: responsabilidade [accoun-
5,4 bilhões de dólares em algumas semanas e de tability] e legitimidade68.
3 bilhões de dólares num único dia. Eles avaliam Price et al. analisaram a reunião da OMC em
que boa parte das reservas do Banco Central (es- Seattle e as implicações dos acordos GATS (Acor-
timados em 20 a 27 bilhões de dólares) neste pe- do Geral sobre Comércio em Serviços) para ser-
ríodo “acabaram nos cofres dos bancos estadu- viços de saúde. Estes autores apontam que, em-
nidenses e nas contas dos especuladores de Wall bora a OMC, naquele momento, incluísse 134
Street, bem como dos capitalistas brasileiros avi- estados membros, as CTNs que ocuparam os
sados previamente da oportunidade de lucros comitês conselheiros decidiram os detalhes das
inesperados66. políticas e estabeleceram a agenda. Visando a um
O aumento da massa de capital financeiro mercado multibilionário em serviços de saúde e
especulativo, assim como das suas taxas de re- acesso a fundos previdenciários, CTNs america-
torno, tem sido espetacular, com o mercado de nas e européias receberam apoio importante do
câmbio movimentando cerca de US$ 1 trilhão governo dos Estados Unidos, do Banco Mundial
diariamente em busca de lucros, o que aumenta e de instituições multilaterais como o Banco In-
a vulnerabilidade dos sistemas financeiros naci- teramericano de Desenvolvimento. Enquanto
onais e a margem de risco sistêmico no plano novas regras são criadas em nome dos interesses
mundial57. Blackburn analisa os conflitos que de privatização dos CTNs e explicitamente apoi-
surgiram em países do OECD referentes às re- adas pelo BM para assegurarem “adequados re-
formas privatizantes de planos de pensões e apo- tornos para investidores”, elas “[...] são apresen-
sentadorias cujos fundos alcançaram, em 1994, tadas, geralmente, como técnicas e, portanto,
o montante de US$10.000 bilhões e “[...] cujos neutras”19.
detentores não têm praticamente nenhuma in- Estes autores alertam para um fato que, em-
fluência sobre os fundos investidos em seu bora represente uma inovação macropolítica de
nome”67. conseqüências monumentais, não tem sido sub-
Berking dá detalhes das novas organizações e metida a qualquer instância de deliberação pú-
regulamentos internacionais que consolidaram blica: os procedimentos instalados pela OMC
o poder de corporações industriais e financeiras para resolver conflitos “permitem aos estados
transnacionais. Agora que possuem uma infra- forçar mudanças nas leis domésticas de outros
estrutura global e autonomia crescente perante estados”. Além disto, “As propostas atuais vão
os regulamentos nacionais, estes atores ocupam permitir às corporações transnacionais legalmen-
[...] uma posição geo-estratégica que, ironicamente, te processar governos que frustram suas aspira-
permite a elas exigirem dos governos nacionais ções de investimentos internacionais” 19.
uma política declarada de não-interferência. Com Labonte et al.61 oferecem exemplos dramáti-
a lógica da política reduzida à lógica do mercado, cos de como países e corporações podem forçar
os governos não são mais os donos das suas própri- mudanças em outros países, através dos proce-
as casas68. dimentos de disputas na OMC, e que demons-
Com a instalação de zonas de livre comércio, tram o sério conflito entre as regras da OMC e a
‘paraísos fiscais’, regimes novos de impostos e tentativa de proteger a saúde pública – ou, como
tarifas, a mercantilização das moedas nacionais coloca Berlinguer13, o conflito entre saúde como
e a integração mundial de mercados financeiros direito e como mercadoria . Como os acordos
e de ações, duas novas formas de organização exigem que as normas sanitárias dos países mem-
foram instaladas sob a liderança dos países cen- bros sejam baseadas em avaliação científica de
trais. Em primeiro lugar são as agências de co- riscos, a recusa da União Européia a permitir a
mércio internacional (e.g. OMC), que têm juris- importação de carne bovina tratada com hor-
dição independente da legislação nacional, e cu- mônios custou ao país milhões de dólares anu-
jas regras devem ser seguidas por todos os esta- ais, pagos aos Estados Unidos e Canadá, porque
dos membros. Em segundo, agências privadas as provas apresentadas de risco para a saúde
de investimento e avaliação de risco (e.g. Moody’s humana não foram consideradas definitivas pe-
1499

Ciência & Saúde Coletiva, 12(6):1491-1504, 2007


los especialistas escolhidos pela OMC. O gover- ladas da deliberação pública e do processo deci-
no do Canadá, por outro lado, foi forçado a sório parlamentar[...]”53. Caberia perguntar: Boa
pagar US$13 milhões a Ethyl Corporation, além governança para quem? Confiabilidade para
de revogar sua proibição referente ao aditivo à quem?
gasolina MMT, conhecido como neurotoxina Miyoshi observa que as CTNs e os grupos
(neste caso, a proibição foi considerada como financeiros dominam não somente os mercados
‘expropriação’ desta CTN); CTNs canadenses, financeiros e as principais redes comerciais locais
por outro lado, disputam o direito da Califórnia e internacionais, senão, também, a elaboração
impedir o uso de outro aditivo, suspeito de ser genética de alimentos e a produção e dissemina-
cancerígeno; a tentativa do governo do Canadá ção de ‘produtos’ culturais, por exemplo. Acom-
de proibir a exportação de água está sendo ques- panhando sua hegemonia econômica/política, As
tionada pelos Estados Unidos, etc. etc.61. operações globais das corporações agora subordi-
A financeirização do Estado baixo às regras nam funções do estado, e em nome da competição,
do FMI, BM e OMC, instituídas pelo G7 junto às da produtividade e da liberdade, o espaço público
corporações transnacionais e aos detentores de está sendo marcadamente reduzido [...] A função
capital financeiro, pode ser vista como instau- da universidade está sendo transformada [...] em
rando uma nova forma de acumulação de capi- gestão industrial [...] uma redução inegável do seu
tal, chamada por Salama de “economia cassino”, papel público e crítico72. Dezalay e Garth anali-
que é particularmente frágil e pobre em criação sam as redes de relações entre bancos, corpora-
de empregos69. Gomez alerta que, com a dimi- ções e universidades nos Estados Unidos, as quais
nuição efetiva da soberania e da autonomia do formaram gerações recentes de advogados e eco-
Estado na esfera da política econômica (política nomistas latino-americanos que se tornaram fi-
fiscal, monetária, cambial, de juro, salarial, etc.) guras chaves na implementação das políticas ne-
[...] estamos diante duma disjuntiva crescente en- oliberais nos seus países de origem71.
tre a idéia de comunidade política capaz de deter- Referindo-se aos protestos massivos - mas
minar seu próprio futuro e a dinâmica das rela- infrutíferos - de cidadãos no Reino Unido contra
ções e forças da economia mundial57. os alimentos transgênicos, Anderson lembra que,
Embora os governos nacionais estejam jo- nas regras que a OMC defende como legítimas,
gando um papel ativo na globalização das suas são admitidas apenas considerações técnicas de
economias, os ajustes estruturais e os novos re- alternativas definidas e julgadas por especialis-
gulamentos ao mesmo tempo representam a in- tas, o que obscurece esta nova forma de domina-
tervenção direta, em estados periféricos, de go- ção política. Argumenta que a imposição da ra-
vernos centrais dominantes e atores financeiros zão tecnológica pelas corporações, permitida pe-
e comerciais internacionais sob sua liderança, cujo los Estados, encaminha e facilita a seleção de um
objetivo explícito é garantir os interesses dos certo tipo de sociedade e naturaliza novos riscos.
investidores internacionais70,71,34. Uma vez acei- Este fim é obscurecido no discurso técnico apoi-
tas as novas regras, a auto-submissão dos go- ado pelos governos, ao mesmo tempo em que
vernos nacionais aos interesses internacionais do limita as possibilidades de participação dos cida-
capital requer que eles assumam uma posição dãos. Com isto, o direito de lucrar através de
firmemente indiferente perante quaisquer deman- mercadorias, o “princípio da ‘mercadoria” é ins-
das dos cidadãos que entrem em conflito com talado - independente de riscos para a vida hu-
estes acordos. Enquanto as elites nacionais po- mana e o meio-ambiente e independente da von-
dem tirar proveito das novas regras53,56, os ter- tade expressa dos cidadãos - “no coração da go-
mos dos contratos e acordos, que freqüentemente vernança global”73.
incluem garantias de lucros futuros em moedas Randeria traz exemplos detalhados de como
fortes, condicionam fortemente até lutas futuras propriedades coletivas de grupos pobres na Ín-
dos cidadãos que almejam maior eqüidade nacio- dia foram privatizadas e passadas para empre-
nal e nos intercâmbios internacionais. sas sob diretivos do FMI e do BM, anotando
Parece irônico (para não dizer cínico) que o como paradoxo o fato de que “[...] volumosas
Banco Mundial, no seu relatório de 1997, pres- novas leis nacionais e supranacionais sobre meio-
creva aos Estados ‘boa governança’, que depen- ambiente e direitos humanos acompanham a
deria da ‘confiabilidade da sua estrutura institu- erosão dos direitos coletivos de comunidades”
cional’ e da ‘previsibilidade das suas regras e po- nestas “democracias sem escolhas”53.
líticas e da constância na sua aplicação’ enquanto Nas palavras de Granda, la causa del dinero
“[...] as políticas e as regras são, no entanto, iso- se corona como nueva teleologia y [...] la ganancia
1500
Giffin, K. M.

se transforma en medio y fin y la racionalidad ins- de quaisquer considerações das necessidades dos
trumental economicista pasa a ser el parámetro de cidadãos ou do bem comum: “a economia tor-
evaluación de la vida material y espiritual74. San- na-se auto-referida, independente de necessida-
tos entende que a atual globalização perversa in- des humanas”80,81.
clui duas violências centrais: a distorção da in- Com novos riscos sistematicamente produ-
formação e a emergência do dinheiro em estado zidos, baixo à hegemonia de critérios econômi-
puro como motor da vida econômica e social4. cos e à racionalidade tecnocientífica, que é natu-
Max Neef desnuda a parcialidade de medir o cres- ralizada como ‘progresso’ ou ‘desenvolvimento’,
cimento econômico através do PIB que - como o este sistema é caracterizado por “uma cegueira a
crescimento da produtividade - não significa, risco que é sistematicamente condicionada” pelo
necessariamente, efeitos positivos sobre a quali- objetivo único do lucro. Liberados de controles
dade de vida dos seres humanos, tendo em vista sociais e políticos, os próprios riscos gerados,
que gastos com acidentes automobilísticos, epi- por sua vez, se tornam oportunidade para novos
demias, guerras, contaminação ambiental, deser- lucros em novas áreas. Assim, este sistema pode
tificação, etc. contribuem para aumentar o PIB75. se perpetuar e se reproduzir através da geração
Um último capítulo nesta discussão é o que de “[...] riscos e condições nocivas autoproduzi-
Gabriel Kolko define como “armas de destruição dos e estender sua área de atividade através de
financeira em massa”, aferindo novos riscos de inovações tecnoterapêuticas relacionadas” 80.
colapso provocados pelo sistema internacional Desta forma, em um sistema político que fa-
financeiro, cuja desregulamentação e liberaliza- voreceu a concentração da riqueza e o empobre-
ção tornaram-se “um pesadelo”, fazendo com que cimento das maiorias, que exigiu a retração dos
sistemas nacionais financeiros tornem-se cres- gastos públicos em bens de cidadania e proteção
centemente vulneráveis ao risco sistêmico maior social e que instalou uma insegurança vital mun-
e a um número crescente de crises financeiras. dial e favoreceu o crime, evidencia-se, também, a
Com grupos de investimento privados assumin- criação de novas oportunidades de lucros atra-
do jogadas de risco maior na tentativa de conse- vés da indústria bélica, das guerras e do ‘controle
guir lucros maiores, a partir de instrumentos fi- do crime’ em que atuam entidades privadas ter-
nanceiros que desafiam a transparência, são “cres- ceirizadas, financiadas pelo ‘Estado segurança’,
centemente perigosos”, criam problemas “ quase que tem aumentado, em muito, seus gastos com
surreais” e “formas de dados cruciais que não guerras, com a construção de penitenciárias e
podem ser coletados e analisados, deixando tan- com publicidade e marketing79,36,82,83,77.
to banqueiros como governos no escuro [...]”76.
Segundo este autor, a preocupação com esta si-
tuação, fora de controle, se estende ao FMI e ao Focalização da pobreza: um caminho para
BM, que promoveram a desregulamentação e ‘governança’ de riscos sociais
agora são incapazes de interferir nestas ‘tenebro- e/ou para disciplinar Estados nacionais?
sas transações’ dos grupos financeiros privados.
Além da pobreza e da desigualdade crescen- Com as evidências acumuladas sobre os custos
tes, as políticas de precarização do mercado de humanos, sociais e ambientais da política econô-
trabalho, privatização de bens de cidadania e fi- mica neoliberal, desde 1990 programas dirigidos
nanceirização do Estado têm sido acompanha- aos segmentos sociais mais vulneráveis são pro-
das pelo crescimento global de conflitos, fraudes movidos pelos organismos internacionais, geral-
e corrupção, com a desregulamentação financei- mente na forma de “medidas esporádicas e ad hoc
ra facilitando a globalização do crime organiza- que pretendem aliviar os casos mais extremos de
do e as guerras produzindo lucros astronômicos aflição e pobreza, e evitar tensões sociais”5. Lau-
para CTNs 5,67,74,26,54,59,77,40,78,79. rell percebe a chamada para políticas de ‘combate
Isto parece instaurar um novo capítulo de à pobreza’ como tentativa de assegurar a legiti-
uma era caracterizada por aquilo que Ulrich Beck midade do processo que tem sacrificado o inte-
chamou de “sociedade de risco”: sociedades alta- resse das maiorias, dentro de uma preocupação
mente produtivas que constantemente geram ris- crescente com a governabilidade3. Labonte et al.
cos (tecnológicos, sociais, políticos, culturais, eco- observam que “[...] ‘redução da pobreza’ substi-
nômicos) que não conseguem controlar, a partir tuiu ‘ajuste estrutural’ no vocabulário do Banco
do fato de que as decisões sobre desenvolvimen- Mundial e do Fundo Monetário Internacional”61.
to tecnológico são monopolizadas pelas corpo- Limoeiro nota que se pode questionar a na-
rações que buscam lucrar através delas, isoladas tureza do ‘desenvolvimento’ neoliberal a partir
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da sua própria história, Ao passo que a temática dades, organizações não governamentais), o que
da “pobreza” tende a desviar a atenção para os cho- oculta diferenças e conflitos sociais e facilita um
cantes “dados” da miséria e da indigência, privile- consenso entre os muitos atores envolvidos: [...]
giando a análise do empírico imediato e a descri- todos apelam ideologicamente a noções de volun-
ção mais espacial do que temporal27. Uma visão tarismo, valores e consenso, e portanto são atrati-
estática da pobreza como condição de vulnera- vos para ativistas dos setores terceiro e comunitá-
bilidade e ‘falta’ representa os pobres como sepa- rio e organizações que trabalham em, e em volta
rados da sociedade e mantém as recomendações de, estes espaços1.
focalizadas nos próprios, embora, no que diz O foco explicitamente local destes programas,
respeito aos ‘beneficiários’, nota-se que eles não concentrado nos efeitos da pobreza, por outro
têm uma visão estática da sua situação, e que lado, obscurece suas causas, incluindo [...] os efei-
muitas vezes [...] as falas dos pobres são [...] claras tos estruturais mais amplos na economia política:
com respeito a abusos de poderes políticos, buro- a estrutura de setores centrais produtivos, fatores
cráticos e jurídicos, e com respeito à falha do esta- que são claramente efeitos do desenvolvimento e
do em proporcionar bens e serviços públicos que ajustes da economia de mercado, o poder do mer-
são acessivos, eqüitativos e efetivos84. cado e questões de acesso ampliado: oportunidades
Wood nota que duas características da po- de migração internacional, restrições de tarifas e
breza são a incerteza e a falta de poder, e que os comércio[...]1
que sofrem de pobreza crônica, freqüentemente, Nesta análise, os autores demonstram como
são obrigados a optar por alguma forma de de- os PRSPs se tornaram uma peça central da polí-
pendência para garantir sua sobrevivência a cur- tica ortodoxa neoliberal, inclusive nos países cen-
to prazo, uma “barganha faustiana”, que alivia trais, e um requerimento para acesso a investi-
mas não permite uma saída da pobreza85. Reco- mentos e empréstimos nos países endividados, e
menda-se articular o foco no empírico imediato que esta forma de ‘inclusão dos excluídos’ consti-
da pobreza com uma perspectiva histórica que tui normas e procedimentos (“construindo insti-
permita sua localização dentro do sistema de re- tuições para mercados” nos termos explicitados
lações sociais e institucionais as quais levaram à pelo Banco Mundial)84 que perpetuam uma ten-
distribuição injusta de direitos e também permi- dência, nas reformas de governança contempo-
ta entender “[...] quais processos estão presen- râneas, a restringir estritamente o papel dos go-
tes e ativamente criando e reproduzindo a po- vernos na política e nos programas, e impõe [...]
breza”86,87. uma série de tecnologias despolitizadas, molduras
Craig e Porter observam que os termos de judiciais, espaços e papéis de participação consen-
redução das dívidas em países com imensas dívi- sual, parceria, investimento social e integração.
das externas não somente incluíram a adoção Esta integração não é simples integração ao mer-
dos regimes impostos de gestão macrofiscal, mas cado: é a constituição das regras, espaços e rela-
também começaram a exigir a canalização dos ções [...]1.
fundos recebidos para investimentos, nos pro- Desta forma, os PRSPs se tornaram parte de
gramas de estratégias para redução da pobreza uma moldura para disciplinar governos e exigir
(PRSP), segundo definições internacionais de in- sua responsabilização: sua representação despo-
dicadores e de populações-alvo. litizada, focada e local da pobreza é articulada a
Estes autores observam que a fórmula das uma estrutura internacional de vigilância e mo-
PRSPs em andamento em sessenta países perifé- nitoramento que “explicitamente amarra países,
ricos, promovida pelo BM, IMF, ONU, funda- através de acordos de gestão da dívida, às políti-
ções privadas e agências internacionais e bilate- cas globais macroeconômicas, de governança, e
rais, parece tomar emprestado os termos políti- sociais”1. Citam um relatório do BM que celebra
cos (‘promover oportunidades para participa- o fato que estes acordos iriam permitir aos orga-
ção’; ‘criar segurança’; e ‘empoderar pessoas’) usa- nismos internacionais “[...] enfocar o programa
dos em discussões das reformas nos países do público inteiro de alocação de fundos, para as-
OECD, em particular nos regimes de bem-estar segurar que todos recursos internacionais e do-
liberais. Apontam como seus termos polissêmi- mésticos são bem gastos”1,84. Estes autores con-
cos (participação, capital social e humano, inves- cluem que os PRSPs funcionam bem como ‘cava-
timento social, comunidade, parcerias, socieda- lo de Tróia político’ que “promove ajuda interna-
de civil, etc.) sugerem a idéia de uma sociedade cional ao mesmo tempo em que deixa de contes-
solidária, integrada e inclusiva, composta por tar barreiras comerciais centrais e o poder do
formas sociais despolitizadas (famílias, comuni- mercado global [...]”1.
1502
Giffin, K. M.

Por fim, Craig e Porter alertam que as perife-


rias continuam como lugares inseguros, envol-
vidos em relações subordinadas e marginalizadas
com interesses centrais poderosos, com recursos e
acesso a mercados apenas residuais. A assimetria
destas relações, que se tornaram marcadamente
mais evidentes nas guerras contra o terrorismo e
no gerenciamento de crises financeiras, continua
a evidenciar os perigos e problemas em construir
estabilidade e segurança na base de desigualdade e
subordinação1.
Mostrar como a agenda neoliberal global
agora insiste em focalizar a pobreza que ela pró-
pria agudizou obviamente não significa que este
não é problema que requer urgente atenção. Mas
significa, sim, ter clareza que a economia política
neoliberal é ‘O Outro’ do bem comum do Estado
nacional, assim como explicitado na nossa Cons-
tituição Federal. Significa, para nós que defende-
mos a saúde pública e esta ‘Constituição Cidadã’,
a necessidade de retomada de uma luta política
pela saúde, alargada para incluir a saúde do pró-
prio Estado nacional.

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