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Financiamento federal e gestão local de políticas


sociais: o difícil equilíbrio entre regulação,
responsabilidade e autonomia

Federal financing and local management of social


policies: the balance among regulation,
accountability and autonomy

Marta Arretche 1

Abstract The article argues that local gov- Resumo O trabalho argumenta que os gover-
ernments had already taken over the manage- nos locais já assumiram a gestão da atenção
ment of health care policy in Brazil. Yet, there´s básica à saúde no Brasil. No entanto, não há
no guarantee that local management will nec- qualquer garantia intrínseca à gestão local que
essarily imply accountability, efficiency, as well promova responsabilidade, eficiência, acesso
as universal and equitable access to health care. universal e patamares eqüitativos de atenção
It heavily depends on the incentives and con- à saúde. A qualidade da ação dos governos de-
trols upon local governments. Those are relat- pende, em grande medida, dos incentivos e con-
ed to public policies institutional design. SUS troles a que estes estão submetidos. Estes úl-
built up, between 1988 and 1993, a complex timos, por sua vez, derivam do desenho insti-
institutional structure through decisions are tucional das políticas. O SUS construiu, entre
to be taken, in order to accomplish health pol- 1988 e 1993, uma complexa estrutura institu-
icy goals and answer new problems posed by cional para a tomada de decisões, a qual deve
reform implementation. The article analyses viabilizar a realização dos objetivos da políti-
the SUS´s institutional tools to induce local ca de saúde, bem como respostas aos novos de-
government actions committed to citizens wel- safios próprios à sua implementação. O traba-
fare and health care quality. It concludes that lho analisa os mecanismos institucionais que
although these mechanisms are not yet in their deveriam produzir gestões locais voltadas ao
full operation, the challenge consists more in bem-estar dos cidadãos e à qualidade da aten-
making them work better than replacing them ção à saúde. Conclui que ainda que estes não
by any other else. funcionem plenamente, o desafio consiste mais
Key words Intergovernmental relations, Lo- em amadurecer a utilização desta estrutura
cal governments, Institutions institucional e menos em redesenhá-la.
1 Departamento de Palavras-chave Relações intergovernamen-
Antropologia Política tais, Governo local, Instituições
e Filosofia/Unesp,
Faculdade de Ciências
e Letras de Araraquara,
Universidade Estadual
Júlio de Mesquita Filho.
Rodovia Araraquara Jaú
s/no , 14800-901,
Araraquara SP.
arretche@uol.com.br
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Já não é nenhuma novidade afirmar que nas úl- primeiros encontros do movimento sanitarista;
timas décadas a gestão local de políticas públi- se em 1988, com a definição constitucional dos
cas tem sido portadora de expectativas as mais objetivos da reforma; ou ainda, se no início dos
positivas com relação a resultados desejáveis da anos 90, quando a NOB/93 começou efetiva-
ação do Estado. Democratização do processo mente a descentralizar o sistema de saúde. Sem
decisório; eficiência na gestão das políticas pú- data precisa de início e de fim, fica sem dúvida
blicas; controle social; qualidade da informação mais difícil definir o tempo de duração da re-
entre decisores, provedores e beneficiários estão forma. Mas, o fato concreto é que ela já aconte-
no topo da lista dos resultados virtuosos da des- ceu. Já não se trata mais de avaliar um proces-
centralização, em oposição aos vícios e proble- so de reformas, mas a gestão de uma política
mas gerados pelas estruturas centralizadas insti- cujos mecanismos de operação já estão institu-
tuídas ao longo do século 20. Entretanto, ainda cionalizados.
são poucos os estudos empíricos que analisam É certo que novos mecanismos de gestão
de forma objetiva os resultados alcançados pela serão introduzidos no SUS, pois o processo de
gestão descentralizada, como atestam as revisões construção do desenho institucional de uma
dessa literatura (Peterson, 1994; Prud’Homme, política nunca acaba. Não apenas pela necessi-
1995; Bossert, 1996; Collins, 1996; Cohen e Pe- dade de um contínuo aperfeiçoamento de seus
terson, 1996). E raros são os estudos que exami- mecanismos de gestão, mas também porque to-
nam as condições sob as quais esta pode de fato do desenho de política é resultado do conflito
produzir os resultados esperados por seus de- entre distintos grupos burocráticos e de inte-
fensores. resse e os grupos perdedores estão permanen-
Escrever este artigo sobre a política de saúde temente buscando oportunidades políticas pa-
no Brasil, e submetê-lo à crítica de especialistas ra introduzir os mecanismos institucionais que
em políticas públicas, me pareceu uma grande mais lhes interessam (Moe, 1989). Modifica-
oportunidade para refletir sobre o tema e, quem ções nos instrumentos não significam, contudo,
sabe, oferecer alguma contribuição. O argumen- modificação de paradigma, isto é, na hierar-
to é simples e pode ser resumido do seguinte quia de objetivos de uma política pública (Hall,
modo: os governos locais já assumiram a gestão 1993).
da atenção básica à saúde no Brasil. No entan- A mudança de paradigma representada pe-
to, não há qualquer garantia intrínseca à gestão lo SUS não foi de pouca monta. Este alterou si-
local que promova responsabilidade, eficiên- multaneamente a trajetória da formação do
cia, acesso universal e patamares eqüitativos de Estado brasileiro, baseada na centralização, e a
atenção à saúde. A qualidade da ação dos gover- concepção prévia de cidadania, assentada sobre
nos depende, em grande medida, dos incenti- a vinculação entre direitos sociais e inserção no
vos e controles a que estes estão submetidos. Es- mercado formal de trabalho – a cidadania regu-
tes últimos por sua vez derivam do desenho ins- lada (Santos, 1979) –, ambos com origens nos
titucional das políticas. Penso que o SUS cons- anos 30. Embora características do modelo an-
truiu, entre 1988 e 1993, nos marcos da demo- terior tenham permanecido pouco ou nada to-
cracia e do federalismo, uma complexa estrutu- cadas – a articulação público X privado na pro-
ra institucional para a tomada de decisões, a visão de serviços; a natureza do contrato de tra-
qual deve viabilizar a realização dos objetivos balho dos médicos que prestam serviços ao se-
da política de saúde, bem como respostas aos tor público; a insuficiente regulamentação do
novos desafios próprios à sua implementação. setor de saúde suplementar até 1998 –, o fato é
Neste trabalho, concentrei minha análise nos que, ainda assim, o Brasil substituiu um mode-
mecanismos institucionais que deveriam pro- lo de assistência à saúde baseado no princípio
duzir gestões locais voltadas ao bem-estar dos contributivo e centralizado por um modelo em
cidadãos e à qualidade da atenção à saúde. Con- que o direito legal de acesso gratuito a ações e
cluo que ainda que estes não funcionem plena- serviços de saúde em todos os níveis de comple-
mente, o desafio consiste mais em amadurecer xidade é universal e no qual a prestação de ser-
a utilização desta estrutura institucional e me- viços está organizada de modo hierarquizado e
nos em redesenhá-la. descentralizado.
Talvez seja um mero exercício acadêmico
perguntar-se quando se completou a reforma
da saúde no Brasil. Também não há consenso
sobre seu início: se no final dos anos 70, com os
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A extensão da descentralização tralização vêm se reduzindo (Arretche & Mar-


ques, 2002).
Em maio de 2002, 5.537 dos 5.560 municípios – Os municípios brasileiros eram responsáveis
99,6% do total – e 12 estados estavam habilita- por 9,6% do total do gasto consolidado em saú-
dos na NOB/96. Dos municípios, 564 estavam de em 1985, por 35% em 1996 (Medici, 2002) e
habilitados na Gestão Plena do Sistema Muni- por 43% em 2000 (Ferreira, 2002). No entanto,
cipal e 4.973, na Gestão Plena da Atenção Bási- mais importante do que a participação na res-
ca (consulta à Secretaria de Assistência à Saú- ponsabilidade do gasto, é a participação no fi-
de). A maior parte das habilitações ocorreu em nanciamento à saúde. Visto pelo ângulo de on-
1998, ano em que entrou em vigência a NOB/96 de se originam os recursos, a participação dos
(Levcovitz et al., 2001). municípios passou de 9,3% em 1985 para 28%
No ano 2000, os municípios brasileiros fo- em 1996; a participação dos estados variou bas-
ram responsáveis, em média, por 89% do total tante mas permaneceu ao redor de 18% naque-
da produção ambulatorial no Brasil, com um les anos e a participação do governo federal caiu
desvio padrão de 19% (consideradas todas as de 73% para 53% no mesmo período (Medici,
categorias de provedores). Em 1995, a taxa mé- 2002). Se na década de 1980 foi notável o au-
dia da produção ambulatorial dos municípios mento da participação dos estados e municí-
era de 65% e o desvio padrão, 38% (Marques e pios no financiamento à saúde, em meados dos
Arretche, 2002). Portanto, entre 1995 e 2000, anos 90 – 1994 a 1996 – a única instância de go-
não apenas a participação dos municípios no verno que apresentou um crescimento regular nos
total da produção ambulatorial aumentou, mas gastos com saúde foi a dos municípios (Piola e
as diferenças entre eles diminuíram. Biasoto Júnior, 2001). Ferreira (2002) construiu
Em dezembro de 2000, a participação dos um indicador chamado Despesas Livres em
municípios no total da rede ambulatorial brasi- Saúde e Saneamento e concluiu que, dos 4.591
leira – consideradas todas as categorias de pro- municípios examinados em sua pesquisa, ape-
vedores – era de, em média, 84%, com um des- nas 583 gastavam menos de 10% de suas recei-
vio padrão de 21%. Esta taxa – diferentemente tas livres com saúde e saneamento (excluídas as
da produção ambulatorial – já era elevada em transferências SUS) e 776 gastavam mais de
1998: 79%, com desvio padrão de 27% (Mar- 30% com saúde e saneamento, sendo que 2.100
ques e Arretche, 2002). estavam em um patamar acima de 20%.
A municipalização da rede ambulatorial Dados agregados escondem a variação entre
brasileira não é recente. Entre 1981 e 1992, os os estados e entre os municípios em cada Esta-
estabelecimentos sob gestão municipal passa- do. No estado do Acre, por exemplo, mais de
ram de 22% do total para 69%, os estabeleci- 50% dos municípios não estavam habilitados à
mentos sob gestão federal regrediram de 28% NOB/96 em dezembro de 2000 (Levcovitz et al.,
para apenas 5%, enquanto os sob gestão esta- 2001); a participação municipal na rede ambu-
dual de 50% para 26% (Costa et al., 1999). Se latorial total era de 43%, com um desvio padrão
considerarmos todas as categorias de prove- de 36% e, na produção ambulatorial total era
dores, em 1989, os municípios já eram respon- de 48%, com um desvio padrão de 37%. Entre-
sáveis por 29% do total dos estabelecimentos tanto, em 1996, a participação municipal na
de saúde e por 44% daqueles que produziam produção ambulatorial era de apenas 15%, com
serviços de atenção básica (postos e centros de um desvio padrão de 36% (Marques e Arretche,
saúde) (cálculos próprios com base no IBGE- 2002). Portanto, além de ser mais a exceção do
MAS, 1989). Isso significa que a municipaliza- que a regra entre os estados brasileiros, o Acre
ção da rede ambulatorial iniciou-se antes de também seguiu a tendência nacional de acele-
1988 e acelerou-se nos anos 90. De todo modo, rado incremento da participação municipal na
é altamente significativo, como resultado do produção de serviços. Em 1995, os municípios
processo, que em 2000 quase 90% da produção da região Norte apresentavam, em média, o
ambulatorial e 84% da rede ambulatorial esti- mais baixo valor de gasto per capita em saúde:
vessem sob responsabilidade dos municípios, R$6,00 contra R$32,00 dos estados da região e
média esta acompanhada de desvio padrão de- R$62,00 do governo federal na região Norte
crescente. Isto é, não apenas a rede e a produ- (Piola e Biasoto Jr., 2001). Entretanto, mesmo
ção de serviços ambulatoriais municipaliza- em um Estado da região Sul – cujos municípios
ram-se, mas também as diferenças entre os mu- gastavam, em média, R$25,00 em saúde contra
nicípios brasileiros nesta dimensão da descen- R$16,00 dos governos estaduais e R$78,00 do
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governo federal em 1995 (Piola e Biasoto Jr., conhecida corrida para baixos patamares de gas-
2001) – como o Paraná, em que a média da pro- to social (race to the bottom), devido ao temor
dução ambulatorial municipal passou de 88% dos governos de que programas sociais genero-
em 1995 para 94% em 2000, o desvio padrão sos atraiam migrantes pobres, o que os obriga-
ainda era de 10% em 2000, embora fosse 25% ria a elevar impostos para financiá-los, afastan-
em 1995 (Marques e Arretche, 2002). do, assim, os investimentos privados (Peterson
Em suma, a municipalização da saúde já era e Rom, 1990; Peterson, 1995). A descentraliza-
um fato inquestionável em 2000, no que diz res- ção das administrações regionais na Itália não
peito à adesão ao SUS, à distribuição da rede foi suficiente para evitar que as diferentes ad-
ambulatorial e da produção de serviços e, tam- ministrações regionais apresentassem padrões
bém – mas em menor medida – ao financia- muito distintos de eficiência e sensibilidade às
mento. Havia grande variação entre estados e demandas dos cidadãos (Putnam, 1996). Mais
entre municípios no tocante a esses indicadores, que isto, a proximidade entre burocracias pú-
mas a tendência até 2000 era de redução das di- blicas e cidadãos no nível local tenderia a elevar
ferenças. as possibilidades de práticas de corrupção (Ro-
sanvallon, 1993; Tanzi, 1995), diferentemente
da expectativa de que a proximidade produziria
O problema da regulação, necessariamente maior controle dos cidadãos
responsabilidade e autonomia sobre seus governos.
O comportamento responsável dos gover-
Não há nenhuma garantia intrínseca à autono- nos – sejam eles locais ou nacionais – depende,
mia dos governos locais que os torne responsá- não exclusivamente, mas em grande medida,
veis, comprometidos com as necessidades dos dos incentivos a que estes estão sujeitos. E são
cidadãos e determinados a administrar com efi- em grande parte as instituições, isto é, desenhos
ciência. de política, regras e normas sociais, que confor-
Em primeiro lugar, descentralização e auto- mam os incentivos ao comportamento dos ato-
nomia da gestão local são termos muito genéri- res políticos (North, 1990; Przeworski, 1996).
cos, dizem muito pouco quanto à natureza dos Não há dúvida de que há governos locais res-
arranjos institucionais sob os quais a gestão lo- ponsáveis e comprometidos com a eficiência da
cal das políticas pode ocorrer. Federações como gestão e o atendimento das demandas dos cida-
a Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá e Estados dãos por motivos programáticos e/ou da quali-
Unidos apresentam razoável grau de variação dade moral de seus governantes. Mas, a respon-
em seus sistemas nacionais de saúde no tocante sabilidade dos governos locais – e, por conse-
à distribuição de funções entre governo federal, qüência, a qualidade de um sistema assentado
estados e municípios; aos formatos institucio- sobre a descentralização – somente poderia ser
nais através dos quais as decisões são tomadas garantida exclusivamente com base no progra-
e aos mecanismos de coordenação das relações ma dos partidos e na qualidade moral dos go-
entre os diferentes níveis de governo (Banting, vernantes se fosse possível garantir que gover-
2001). Em países latino-americanos como Co- nantes deste tipo fossem a maioria. Como isso
lômbia, Chile e Bolívia, que implementaram não é possível, retornamos ao problema dos in-
abrangentes programas de descentralização da centivos ao comportamento responsável das
saúde, o espaço de decisão dos governos locais gestões locais.
variou significativamente entre os países e ao A análise de sistemas descentralizados de
longo do tempo (Bossert, 2000). saúde mostra que o desempenho dos governos
Em segundo lugar, a autonomia dos gover- locais é em grande parte resultado do desenho
nos pode produzir resultados opostos aos espe- institucional dos sistemas nacionais. Bossert
rados pelos defensores mais otimistas da des- (1996) demonstra como as ações dos governos
centralização. Governos locais dotados de auto- locais dependem da extensão e forma em que
nomia para contrair empréstimos e dependen- suas decisões são reguladas pela autoridade cen-
tes de um sistema nacional de transferências fis- tral. Banting (2001) demonstra que países fe-
cais tendem a produzir déficits fiscais sistemá- derativos que alcançaram reduzir significativa-
ticos (Rodden, no prelo), contrariamente à ex- mente as diferenças regionais no acesso aos ser-
pectativa de que a descentralização fiscal pro- viços de saúde são aqueles que concentraram
duziria responsabilidade fiscal. Nos EUA, a au- autoridade no governo federal e desenvolveram
tonomia política e fiscal dos estados produz a abrangentes sistemas de transferências inter-re-
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gionais, assim como federações que concentra- concentrar-se nas estruturas institucionais cu-
ram autoridade no governo federal e instituí- ja operação tem influência sobre as decisões
ram mecanismos efetivos de coordenação in- dos governos. Isto posto, examinamos a estru-
tergovernamental foram mais efetivas em polí- tura institucional formal da política de saúde
ticas de redução de custos. Tendler (1998) mos- no Brasil.
tra que o desempenho dos governos locais na
política de saúde no Ceará dependeu em gran-
de parte da natureza dos incentivos derivados A estrutura institucional formal do SUS
de regras estabelecidas pelo governo estadual.
Em suma, a autonomia local para a gestão Entre os anos de 1988 e 1993 – na Constituição
de políticas cria oportunidades institucionais Federal de 1988, nas leis 8.080/90 e 8.142/90, e
para que os governantes implementem decisões na NOB/93 –, foram estabelecidas as institui-
de acordo com suas próprias preferências, as ções formais do SUS (Figura 1), isto é, as regras
quais não são necessariamente compatíveis com que definem os mecanismos pelos quais os di-
o interesse público e o bem-estar da população. versos interessados na política de saúde pública
São as regras institucionais de uma política pú- no Brasil podem influir no processo de formu-
blica – isto é, regras do processo decisório, me- lação e implementação da política de saúde.
canismos de controle e punição, arenas institu- A primeira dimensão dessa estrutura diz
cionalizadas de representação de interesses, etc. respeito à influência do eleitor sobre as decisões
– que propiciam os incentivos ao comporta- dos governantes em um regime democrático. A
mento dos governos locais. democracia é um regime político que se distin-
Embora uma série de fatores de ordem não- gue pela responsabilidade dos governantes pe-
institucional tenha importância decisiva para rante os governados e é por meio das eleições
a qualidade das gestões locais, tais como, por que essa responsabilidade é garantida (Cheibub
exemplo, o adequado aporte de recursos finan- e Przeworski, 1997). O eleitor tem a possibilida-
ceiros, o fortalecimento da capacidade gesto- de de escolher regularmente aqueles que ocu-
ra dos governos (Levcovitz, 2001) e as desigual- parão os cargos executivos e, portanto, em prin-
mente distribuídas necessidades de serviços cípio, pode definir, via escolha dos candidatos,
de saúde da população, este trabalho pretende que tipo de políticas seriam as melhores para a

Figura 1
Engenharia institucional do SUS

Conselho Nacional
de Saúde
Ministério da Saúde
Comissão Intergestores
Tripartitite

V
Comissão Intergestores
PROVEDORES
Bipartite
Secretarias Estaduais
de Saúde
Conselho Estadual
de Saúde

V
Conselho Municipal Secretarias Municipais
de Saúde de Saúde

ELEITOR
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maioria dos cidadãos. O eleitor pode ainda pu- Por outro lado, a NOB/93 institucionalizou
nir os maus governantes, não lhes dando a pos- a participação de estados e municípios no pro-
sibilidade da reeleição. Em tese, o mecanismo do cesso de formulação das regras da descentrali-
voto deveria funcionar como um incentivo pa- zação. Quando se afirma que o grande mérito
ra que os governos atuassem de modo respon- da consolidação da CIT e das CIBs foi a cons-
sável e em favor do bem-estar dos cidadãos. trução de espaços de negociação, pode-se en-
Uma segunda dimensão da estrutura insti- tender que isso significou suprimir, respectiva-
tucional do SUS diz respeito à natureza das re- mente, do governo federal e dos governos esta-
lações entre os níveis de governo, uma vez que duais, a possibilidade de estabelecer unilateral-
a Constituição de 1988 estabeleceu que o SUS mente as regras de funcionamento do SUS que
deveria ser um sistema descentralizado e hie- afetam os governos locais. A CIT – assim como
rarquizado, cabendo ao município a responsa- as CIBs no plano estadual – deveria funcionar
bilidade de prestar atendimento à população, e como um mecanismo de contrapeso à concen-
à União e aos estados a cooperação técnica e fi- tração de autoridade que a distribuição de fun-
nanceira necessária ao desempenho dessa fun- ções confere ao poder executivo.
ção. A lei 8.080/90 não apenas reforçou a atri- Finalmente, as garantias institucionais do
buição municipal de planejamento e execução federalismo – isto é, a autonomia política de es-
dos serviços de saúde, como ampliou a função tados e municípios – também devem funcionar
da União de alocação de recursos e regulação como um contrapeso no plano local à concen-
do desempenho das ações municipais e esta- tração de autoridade na União, porque estados
duais (Costa et al., 1999). Em conjunto, a regra e municípios podem ser um ponto de veto à
constitucional e a da Lei Orgânica da Saúde es- implementação de políticas federais, já que têm
tabeleceram a distribuição de funções entre os a prerrogativa constitucional da não-adesão aos
níveis de governo no SUS. No modelo brasilei- programas iniciados pelo governo federal ou pe-
ro, é o governo federal que está encarregado das los governos estaduais. Em sua origem, na Con-
funções de financiamento, formulação da polí- venção da Filadélfia nos EUA, o modelo fede-
tica nacional de saúde e coordenação das ações rativo de Estado teve como intenção deliberada
intergovernamentais, sendo que os governos es- suprimir a possibilidade da tirania da União
taduais também estão encarregados do desem- sobre os estados-membros, encarada como um
penho dessa função nos estados. Esse modelo grave problema dos Estados Unitários do con-
de distribuição de funções – que, repito, não é tinente europeu (Ostrom, 1987).
o único adotado entre países federativos – tem Portanto, no SUS o governo federal deve
como conseqüência que o governo federal – is- “regular” as decisões dos governos locais por-
to é, o Ministério da Saúde – está encarregado que controla o financiamento e os mecanismos
de tomar as decisões mais importantes da polí- de coordenação intergovernamental, mas, co-
tica nacional de saúde. A concentração das fun- mo contrapeso, estados e municípios têm direi-
ções de financiamento no governo federal sig- tos institucionalizados de participação na for-
nifica que as políticas dos governos locais são mulação das regras das políticas que lhes afe-
fortemente dependentes das transferências deste tam diretamente e, no limite, têm a prerrogati-
ministério. Além disso, a estratégia de construir va de não aderir à política federal.
um sistema descentralizado através de porta- Uma terceira dimensão da estrutura institu-
rias editadas pelo Ministério da Saúde – as cional do SUS diz respeito às relações entre go-
NOBs – (Lucchese, 1996; 2001; Carvalho, 2001; vernos e sociedade civil. A Constituição Federal
Goulart, 2001; Levcovitz, 2001) implica que e as leis da Saúde institucionalizaram direitos
neste nível de governo está concentrada a auto- de participação política no processo de formu-
ridade para formular as regras que definem as lação e implementação da política de saúde, nos
ações de saúde de estados e municípios. No pla- três níveis de governo. Desse modo, a ação dos
no estadual, as secretarias estaduais de Saúde governos deveria ser debatida, discutida e/ou
também têm poder de influência sobre as polí- fiscalizada – a depender do desenho do conse-
ticas de nível local, dada suas atribuições de lho – por representantes da sociedade civil, o
coordenação das ações, desde que suas políticas que deveria criar incentivos ao comportamen-
sejam congruentes com as regras do Ministério to responsável dos governos, bem como forçá-
da Saúde. A análise das relações entre os dife- los à prática da negociação e da consulta.
rentes governos e seus municípios é por demais Por fim, os governos – nos três níveis da fe-
complexa para ser tratada neste artigo. deração – deveriam ter autoridade sobre os
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provedores de serviços – públicos e privados instalação das CPIs, por exemplo –, a aprovação
–, regulando suas atividades, de modo a garan- congressual não é o mecanismo regular de for-
tir que os cidadãos tenham um atendimento de mulação das regras que interferem na gestão lo-
qualidade, gratuitamente, e que os provedores cal das políticas. Estas são as regras da descen-
sejam eficientes, de modo a reduzir os custos de tralização, consubstanciadas nas NOBs, cujas
operação do sistema. Até a NOB/96, o projeto arenas de formulação são o Ministério da Saú-
SUS pretendia que os municípios se capacitas- de, o Conselho Nacional de Saúde e a Comissão
sem para regular as operações de todos os pro- Intergestores Tripartite. Além disso, no plano
vedores de serviços – fossem eles públicos ou local, a detalhada regulamentação das NOBs
privados, em qualquer nível de complexidade. também subtrai dos legislativos locais grande
Basta lembrar que as regras das transferências parte da possibilidade de interferência sobre
fundo a fundo propiciavam maiores incentivos as decisões da política de saúde. Finalmente,
aos municípios que optassem por habilitar-se Eduardo Marques e eu (Arretche e Marques, no
na condição de Gestão Plena do Sistema Muni- prelo) não encontramos qualquer evidência de
cipal. A NOAS/2001 parece reverter essa con- que os legislativos municipais tenham represen-
cepção, ampliando a noção da atenção básica tado um ponto de veto para a execução da po-
pela qual os municípios seriam responsáveis, e lítica local de saúde. Nem o percentual de votos
reservando à União e aos estados a gestão da obtidos pelo bloco ideológico do partido do
média e alta complexidade (Barros, 2001). Por- prefeito na Câmara, nem o fato de que o prefei-
tanto, embora esteja em curso uma mudança to e o vereador mais votado pertençam ao mes-
na concepção de qual nível de governo deva ter mo partido – indicadores que evidenciariam
autoridade para regular quais tipos de provedo- que o prefeito dispõe de maioria no Legislativo
res, permanece a concepção de que o Estado de- local – revelaram ter qualquer influência sobre
ve ter autoridade para regular os provedores de os resultados da política municipal de saúde.
serviços. A complexidade da estrutura institucional
Em suma, nas instituições formais do SUS, do SUS explica por que têm sido longos os pro-
os eleitores e os representantes da sociedade cessos de formulação (Levcovitz, 2001) e imple-
civil nos conselhos de saúde dispõem de recur- mentação das NOBs (Guimarães, 1995; 2001;
sos para produzir incentivos ao comportamen- Lucchese, 1996; 2001), assim como o período
to responsável dos governos; o governo federal entre as primeiras medidas de descentralização
dispõe de recursos para incentivar o comporta- e a adesão de 99% dos municípios brasileiros ao
mento responsável dos governos locais, mas de- SUS, com a qual se completou a montagem de
ve consultar e negociar com representantes da um sistema hierarquizado e descentralizado de
sociedade civil e dos governos locais para pro- serviços de saúde.
duzir as regras de operação do sistema, assim Esta engenharia institucional deve viabilizar
como os governos locais têm a prerrogativa de a realização dos objetivos gerais do SUS, quais
não aderir aos programas federais; e, finalmen- sejam, a universalização do direito de acesso a
te, os governos dispõem de autoridade para re- ações e serviços de saúde de todos os níveis de
gular os provedores de serviços de saúde. complexidade, o que implica a necessidade de
Como pode ser observado, excluí desta es- uma alocação eqüitativa de recursos federais aos
trutura institucional o papel de controle dos estados e municípios para o financiamento de
Legislativos. Penso que a fase de implementa- ações e serviços de saúde, objetivos estes de na-
ção do SUS – a qual se sucedeu à fase de formu- tureza redistributiva.
lação dos objetivos da reforma, que redunda- Deve também viabilizar respostas a proble-
ram no conteúdo da Constituição de 1988 e nas mas novos derivados seja da própria implemen-
leis da Saúde – implicou um deslocamento da tação do SUS, seja da interface com outras po-
arena principal de formulação da política na- líticas setoriais, seja ainda de novas determina-
cional de saúde: do Parlamento para o Ministé- ções constitucionais e legais que interferem na
rio da Saúde. Embora o Congresso brasileiro te- política de saúde.
nha sido uma arena importante para a aprova- Finalmente, deve viabilizar que os gover-
ção de decisões destinadas a superar as recorren- nos tenham incentivos para gerir as políticas de
tes crises de financiamento da política – apro- saúde com eficiência, o que implica a necessi-
vação da CPMF e EC n. 29/00, por exemplo –, dade de consolidar processos racionais de pro-
assim como tenha recursos institucionais para dução e provisão de insumos e serviços.
fiscalizar desvios na execução das leis, como a
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Como operam os mecanismos em 1998 (com elevada confiabilidade estatísti-


de controle e indução do SUS? ca: –0,281 e –0,132, respectivamente). Contudo,
não é verdade que nas cidades cujo eleitorado
O controle dos eleitores tenda a eleger candidatos filiados a partidos de
esquerda, a provisão de serviços ambulatoriais
Não podemos afirmar com segurança que seja significativamente superior (PT, PV, PDT,
os eleitores punam os maus governantes. Chei- PC do B, PSB). Portanto, pode-se afirmar com
bub e Przeworski (1997) examinaram a exten- razoável margem de segurança que, durante o
são em que o desempenho econômico dos go- período de municipalização, a expansão da ofer-
vernos afeta a sobrevivência política dos gover- ta pública de serviços ambulatoriais munici-
nantes em democracias de 135 países, no perío- pais não pode ser associada a nenhuma corren-
do entre 1950 e 1990, e concluíram que a sobre- te ideológica particular, quer de direita, quer de
vivência dos presidentes parece ser completamen- esquerda.
te independente do desempenho econômico e, Não há dúvida de que os mecanismos de
portanto, ou bem nossos procedimentos estatísti- seleção e punição dos governantes que a de-
cos são falhos, ou bem os governantes não são mocracia confere aos eleitores, bem como o
responsáveis politicamente perante o eleitorado controle público sobre a ação dos governos que
(Cheibub e Przeworski, 1997). Qual seja, não há a livre manifestação da opinião confere aos ci-
evidências empíricas suficientes de que o eleitor dadãos em geral, são instituições políticas da
pune o mau desempenho e premia o bom de- maior relevância como incentivo ao bom de-
sempenho dos governantes. É possível que o vo- sempenho dos governantes. O fato de que, na
to dos eleitores se paute por outras razões que fase de implantação da municipalização, a ex-
não o seu bem-estar material (Cheibub e Prze- pansão da oferta de serviços não possa ser as-
worski, 1997), o que pode ser extensivo à polí- sociada a nenhuma corrente política particular
tica de saúde. revela que todas as correntes políticas estiveram
Destacamos ainda que o eleitor médio não interessadas em agradar seus eleitores com ser-
tem interesse particular sobre os detalhes e mo- viços de saúde, independentemente de haver ou
dos de organização da administração pública não competição eleitoral.
(Moe, 1989), os quais têm de fato impacto so- Entretanto, essas evidências empíricas su-
bre a eficiência das políticas e o bem-estar dos gerem que não seria suficiente confiar que os
cidadãos. incentivos à gestão responsável dos governos
Poder-se-ia, entretanto, argumentar que, no possam advir exclusivamente da ameaça de pu-
plano municipal, a visibilidade da ação dos go- nição dos eleitores. Em primeiro lugar, porque
vernantes é maior e, portanto, ali a conquista do a capacidade de controle dos cidadãos/usuários
eleitor funcionaria como um incentivo ao com- sobre as decisões dos administradores munici-
promisso dos governos com a política de saú- pais é reduzida (Costa et al., 1999).
de. Neste caso, seria plausível supor que a com- E ainda porque o caráter redistributivo das
petição eleitoral gerasse maior provisão de ser- transferências fiscais e de saúde permite que go-
viços de saúde. Eduardo Marques e eu (Arret- vernos locais aumentem a provisão de serviços
che e Marques, no prelo) avaliamos o impacto de saúde, produzindo maior bem-estar a seus
da competição eleitoral sobre a oferta de servi- eleitores, sem que tenham de aumentar impos-
ços ambulatoriais em 611 municípios brasilei- tos para financiá-los. É certo que para garantir
ros e concluímos que não é possível afirmar que patamares básicos de serviços públicos a todos
a primeira tenha tido qualquer efeito sobre a os cidadãos, sistemas nacionais de políticas pú-
última. blicas devem viabilizar que os governos locais
Neste mesmo trabalho, concluímos que as financiem suas políticas independentemente de
preferências ideológicas do eleitorado local re- sua capacidade tributária, rompendo o vínculo
velaram ter um efeito apenas moderado sobre entre capacidade de gasto e de tributação. No
a provisão municipal de serviços de atenção bá- entanto, na ausência de mecanismos de contro-
sica à saúde. Nas cidades em que o eleitorado le, esta forma de financiamento pode produzir
apresenta preferência por candidatos filiados a incentivos para a ineficiência.
partidos considerados de direita e que elegeram Finalmente, se a única motivação de um go-
prefeitos filiados a partidos de direita em 1996 vernante for oferecer bem-estar a seus eleito-
(PFL, PPB), as prefeituras tenderam a produzir res, ele poderá ampliar benefícios no momento
menor volume de atendimentos ambulatoriais presente, às custas do endividamento e transfe-
339

rir a conta para administrações futuras, o que teoria do capital social (Putnam, 1996), um con-
implicará a redução do bem-estar dos cidadãos junto crescente de trabalhos tem examinado a
no futuro. importância de formas prévias de organização
Portanto, um sistema nacional de políticas comunitária e associativa para a qualidade da
que pretenda produzir simultaneamente uni- participação nos conselhos (Costa, 2000; Labra,
versalização, eqüidade e eficiência não poderia 2002; Côrtes, 2002). Finalmente, sob a influ-
repousar exclusivamente sobre os mecanismos ência do neo-institucionalismo, outros traba-
de punição que os eleitores têm sobre seus pró- lhos examinam a hipótese de que certos tipos
prios governantes no plano local, o que nos re- de instituições estatais e desenhos de políticas
mete novamente para a complexa estrutura ins- podem induzir o ativismo cívico em comuni-
titucional do SUS. dades com escassa experiência de organização
prévia, ou mesmo caracterizadas por relações
O papel dos conselhos marcadamente clientelistas (Cohen e Rogers,
1995; Abers, 1997; Tendler, 1998).
A institucionalização dos direitos de par- Avaliações sobre o funcionamento dos con-
ticipação de representantes de grupos organi- selhos municipais de saúde indicam que o posi-
zados e/ou usuários na formulação, acompa- cionamento ideológico dos gestores municipais
nhamento e controle social da política de saú- interfere decisivamente em seu funcionamento
de foi preconizada pela lei 8.142/90 e consoli- (Côrtes, 2002) e que aqueles apresentam maio-
dada com a NOB/93, que condicionou a habi- res avanços e efetividade em municípios gover-
litação ao SUS à instalação de Conselhos de nados por coalizões progressistas (Labra, 2002).
Saúde. Em tese, representantes de usuários ou Côrtes (2002) comparou o desempenho dos
de entidades da sociedade civil deveriam ter – conselhos de saúde e assistência em Porto Ale-
ou adquirir – conhecimentos sobre os detalhes gre e concluiu que a tradição setorial de partici-
administrativos de uma política, estando, por- pação – vale dizer, o tempo de existência de con-
tanto, mais aptos que os eleitores a exercer con- selhos efetivos – interfere em seu desempenho,
trole sobre a ação do executivo. Além disso, nos mas que as relações entre a burocracia do setor
conselhos, os direitos de participação envolvem e as lideranças populares têm um papel decisi-
a obrigação do executivo de prestar informa- vo na forma pela qual a participação ocorre. A
ções e de submeter decisões a representantes abertura dos funcionários públicos encarrega-
da sociedade civil, criando, assim, espaços de dos da relação com os conselheiros à sua parti-
participação que não estão à disposição dos cipação se traduz em mecanismos operacionais
eleitores comuns. aparentemente irrelevantes, mas fundamentais
A despeito da proliferação de trabalhos e para a efetivação da participação, tais como: ho-
teses sobre os conselhos de políticas sociais no rários e locais das reuniões, caráter público ou
Brasil, pouco acumulamos em termos mais fechado dos encontros, tarefas exigidas ou auto-
conclusivos quer quanto ao impacto efetivo rizadas aos conselheiros, etc. Dantas et al. (s.d.)
dos conselhos sobre a gestão das políticas, quer avaliaram os conselhos municipais de saúde na
sobre as condições favoráveis a seu bom fun- Bahia em 1995-1996 e observaram que 64% não
cionamento. A dificuldade de definir o que seja dispunham de um espaço próprio para reu-
bom desempenho dos conselhos, a dificuldade niões, o que significa que o funcionamento dos
de construir indicadores úteis e confiáveis para conselhos dependia em grande medida de uma
comparar uma amostra razoável de casos e a infra-estrutura operacional controlada por fun-
enorme quantidade de conselhos hoje existen- cionários públicos.
tes estão entre os principais obstáculos para Portanto, embora estudos demonstrem que
avaliarmos o impacto real dos conselhos. a capacidade de influência dos conselhos de
As interpretações mais influentes sobre as saúde na formulação e avaliação de políticas se-
condições para que os conselhos possam de fa- ja muito baixa, que a participação efetiva dos
to influenciar as decisões dos executivos divi- conselheiros é limitada pela linguagem técnica
dem-se basicamente em três correntes. Há es- adotada pelos funcionários e que há manipu-
tudos que enfatizam a cultura política; no caso lação e autoritarismo em seu funcionamento
brasileiro, a sobrevivência de padrões autoritá- (Labra, 2002), nada indica que este instrumen-
rios de relação entre Estado e sociedade civil, to não ofereça oportunidades institucionais de
herança de nossa formação histórica (Dagnino, controle e participação dos usuários sobre os
2002). Mais recentemente, sob a influência da governos; em outras palavras, comunidades
340

com prévia experiência de mobilização cívica Os anos 90 revelaram o poder de indução


podem fazer uso dos conselhos para controlar do Ministério da Saúde sobre as decisões dos
os executivos locais, assim como comunidades governos locais. A trajetória da adesão de es-
sem prévia experiência podem adquiri-la atra- tados e municípios às sucessivas NOBs é reve-
vés dos conselhos. Mais que isto, dada sua ins- ladora deste fato. As NOBs 91/92 obtiveram a
titucionalização, governos locais contrários à adesão de 1.074 municípios (Levcovitz, 2001) –
participação têm a opção de manipulá-los, mas 22% dos municípios brasileiros em 1993. Atra-
não podem eliminar sua existência. vés da NOB/93, 3.127 municípios (Guimarães,
Entretanto, o otimismo quanto às possibili- 2001) – 63% do total em 1996 – e 26 estados
dades potenciais dessas instituições deve ser (Lucchese, 1996) foram habilitados. A NOB/96
examinado sob o ângulo das condições que fa- alcançou, como vimos mais acima, a adesão de
vorecem seu funcionamento efetivo. As análi- 99,6% e 12 estados.
ses precedentes indicam, salvo demonstrações A adesão de 22% dos municípios às NOBs
em contrário, que a possibilidade de controle 91/92 não é irrelevante, se considerarmos que
efetivo depende fortemente – pelo menos, até o 1) parte de suas regras contrariavam princípios
momento – da orientação política das adminis- da Lei Orgânica da Saúde, recentemente apro-
trações ou da disposição unilateral de funcio- vada; 2) sua estratégia de habilitação feria a au-
nários públicos setoriais, uma vez que a natu- tonomia dos municípios; 3) a extensão da mo-
reza da relação entre estes e os usuários depen- dalidade de pagamento por produção aos pro-
de basicamente da vontade e dos recursos com vedores públicos reduzia o volume de transfe-
que contam os primeiros. Em outras palavras, rências para os gestores locais (Carvalho, 2001;
a possibilidade de controle dos conselheiros so- Levcovitz, 2001). Se acrescentarmos à orienta-
bre os governos depende em boa medida – pe- ção “antimunicipalista” destas NOBs a oposição
lo menos, nesta fase inaugural – da disposição da liderança do movimento sanitarista e o fato
dos próprios governos para serem controlados. de que o processo de descentralização estava
apenas se iniciando, podemos concluir que uma
As relações intergovernamentais taxa de 22% naquela ocasião já revelava a capa-
cidade de indução do Ministério da Saúde.
Como vimos mais acima, as relações federa- A NOB/93, por sua vez – formulada a par-
tivas no SUS operam através de uma complexa tir de um amplo processo de debates nos quais
engenharia institucional, pela qual o Ministé- municipalistas tiveram destacada participação
rio da Saúde é responsável pelo financiamento (Carvalho, 2001; Goulart, 2001) –, expressa
e coordenação intergovernamentais das ações uma estratégia que leva em consideração a ca-
descentralizadas, ao passo que a CIT é uma are- pacidade de veto de estados e municípios à des-
na de representação federativa que tem poder centralização. A possibilidade de opção entre
de deliberação sobre as regras referentes à divi- três distintas condições de habilitação, hierar-
são de responsabilidades, às relações entre ges- quizadas de acordo com o grau de complexi-
tores e aos critérios de transferência de recursos dade das funções de gestão, permite aos gover-
federais para estados e municípios. Os governos nos locais avaliar os custos e benefícios envol-
subnacionais têm ainda a prerrogativa de não vidos em cada uma delas. A escolha é expressão
aderir aos programas federais, dada sua auto- de um cálculo que considera as próprias capa-
nomia como entes federativos. Assim, embora a cidades gerenciais, bem como a extensão da res-
divisão de atribuições do SUS concentre auto- ponsabilização política pela gestão da saúde que
ridade no governo federal, a CIT seria um pon- os gestores locais pretendiam assumir. A NOB/
to de veto de estados e municípios na formula- 93 ainda punia a não-adesão com não-recebi-
ção das NOBs, assim como estes últimos pode- mento das transferências do Ministério da Saú-
riam exercer seu veto a uma política federal na de, bem como premiava a escolha pela condi-
fase de implementação, simplesmente não ade- ção de gestão mais próxima dos objetivos da
rindo aos programas. Não ignoro que as NOBs reforma com o recebimento da totalidade das
também devem ser aprovadas pelo Conselho transferências automáticas.
Nacional de Saúde (CNS), o que constitui um Entretanto, a crise do financiamento da área
ponto de veto adicional do processo decisório. de saúde a partir de meados de 1993 – derivada
A exclusão do CNS desta análise decorre apenas da recusa do ministro da Previdência de efeti-
do fato de que esta não é uma arena de repre- var as transferências constitucionais da Segu-
sentação estritamente federativa. ridade Social para a saúde (Weyland, 1996) –,
341

combinada com a fragilidade do ministro da bertura do PSF e PACS juntos aumentou de 1,1
Saúde em relação à área econômica (Goulart, milhão em 1994 para 12,1 milhões em 1999 e de
2001) tiveram como conseqüência a incapaci- 328 equipes para 3.500 equipes, respectivamen-
dade do Ministério da Saúde em cumprir os te (Medici, 2002). Esta expansão é decorrência
compromissos da NOB/93 com os estados e direta dos incentivos da parte variável do PAB.
municípios habilitados (Lucchese, 1996). Na- Entretanto, a capacidade de indução do Mi-
quelas condições, ao decidir pela habilitação, os nistério da Saúde parece ainda não ter confir-
governos locais corriam o risco real de assumir mado a proposição de Banting (2001), segun-
responsabilidades por funções de gestão – as do a qual estados federativos que concentraram
quais implicariam gastos adicionais e respon- as funções de financiamento e coordenação in-
sabilização política –, em condições de elevada tergovernamental no governo federal e imple-
incerteza quanto à efetivação das transferências mentaram políticas de saúde de caráter redis-
do Ministério da Saúde. Uma taxa de 63% de tributivo lograram reduzir as diferenças regio-
adesão municipal à NOB/93 – com apenas 144 nais no acesso aos serviços de saúde. Embora a
municípios na condição semiplena (Guimarães, média per capita da produção ambulatorial dos
2001) – pode muito bem ser expressão desta in- municípios brasileiros tenha se elevado de 7,5
certeza. em 1997 para 9 em 2000, o desvio padrão per-
A elevada taxa de adesão dos governos lo- manece exatamente o mesmo – 4,5 – e é muito
cais à NOB/96 é, sem dúvida, expressão dos próximo da média. Isto é, aumentou o acesso,
efeitos cumulativos do longo processo de im- mas a desigualdade na produção de serviços
plantação da descentralização na saúde no Bra- ambulatoriais entre os municípios se manteve.
sil, mas também – e principalmente – dos in- A média per capita de consultas básicas dos mu-
centivos à adesão envolvidos em suas regras. A nicípios permaneceu em 1,4 de 1997 para 1999,
possibilidade de escolhas para a habilitação per- com ligeiro declínio no desvio padrão – 0,9 pa-
maneceu, envolvendo a possibilidade de evitar ra 0,8; isto é, quase nada mudou na distribuição
a dimensão mais complexa e conflituosa da ges- das consultas básicas. As visitas domiciliares dos
tão local dos serviços de saúde, relacionada à agentes municipais praticamente não existiam
gestão da média e alta complexidade. Além dis- em 1997 e saltaram para uma média nacional
so, apenas 2% dos municípios tinham um PAB de 1,2 em 1999, mas o desvio padrão é superior
per capita superior ao da NOB/96 e, portanto, à média: 1,9. Embora tenham se elevado em vo-
tiveram perdas com a nova regra de distribui- lume, as visitas domiciliares permaneciam mui-
ção das transferências; 66% tiveram ganhos e, to concentradas em 1999. A produção média
para 22%, a mudança da regra foi neutra (Cos- per capita de serviços de alta complexidade nos
ta et al., 1999). Finalmente, na implementação municípios em 1997 era de 0,5 pulando para 1
da NOB/96, o Ministério da Saúde foi capaz de em 1999, mas o desvio padrão pulou de 3,4 pa-
conferir credibilidade ao cumprimento de seus ra 6,4, respectivamente. Isto é, a média aumen-
compromissos com os governos locais. tou porque a produção de serviços de alta com-
A capacidade de indução do Ministério da plexidade elevou-se em alguns poucos municí-
Saúde não se restringe à habilitação dos muni- pios líderes, aumentando, portanto, a concen-
cípios ao SUS, mas se estende às prioridades tração da oferta. O gasto per capita em AIHs e
dos governos locais na gestão de seus sistemas SIAs nos municípios aumentou ligeiramente
de saúde, isto é, as regras das NOBs interferem entre 1997 e 1999 – de R$24,00 para R$25,00 –,
nas prioridades dos governos locais. As regras mas o desvio padrão também aumentou: de 22
das NOBs 91 e 92, acompanhadas da ausência para 25; isto é, elevou-se ligeiramente o gasto,
de um sistema de controle de fraudes, estimula- mas a concentração do gasto aumentou ainda
va a maximização das ações de assistência mé- mais (Marques e Arretche, 2002).
dica em detrimento da adequação aos perfis de Seria ingênuo atribuir esses resultados ape-
necessidades de saúde (Levcovitz, 2001). A au- nas à capacidade de indução do Ministério da
sência de mecanismos de financiamento à vigi- Saúde sobre os gestores locais. Fatores de outra
lância sanitária na NOB/93 explica em grande natureza interferem diretamente na concentra-
parte por que esta não entrou na agenda dos ção da oferta de serviços de média e alta com-
governos locais (Lucchese, 2001). O número de plexidade, tais como a limitada capacidade de
visitas domiciliares per capita aumentou espan- investimento do Ministério da Saúde nos anos
tosamente em todos os estados brasileiros entre 90 (Piola e Biasoto Júnior) e o fato de que o gas-
1997 e 1999 (Marques e Arretche, 2002). A co- to público em alta e média complexidade é for-
342

temente dependente da oferta de hospitais pri- na formulação das regras da descentralização


vados e filantrópicos, os quais tendem a con- na NOB/93, através da CIT.
centrar-se em municípios com renda mais ele- Desde então, esses direitos de participação
vada. têm sido respeitados na formulação das Nor-
Não seria inoportuno, entretanto, pergun- mas Operacionais. Entretanto, arenas decisó-
tar-se sobre as razões da resistente desigualda- rias não são neutras – isto é, sua própria confi-
de na oferta de serviços ambulatoriais entre os guração privilegia alguns atores em detrimento
municípios. Em sistemas, como o SUS, em que de outros (Immergutt, 1996). Portanto, o fato
a provisão de serviços é feita com base na dele- de que o Ministério da Saúde seja o ator mais
gação, os agentes encarregados da execução – poderoso desta arena – uma vez que controla
no caso do SUS, os municípios – têm suas pró- recursos dos quais dependem os demais – po-
prias agendas, as quais podem diferir das prio- de representar um claro limite à possibilidade
ridades pactuadas nacionalmente. Como têm efetiva de interferência no conteúdo das deci-
controle sobre a execução dos serviços, os agen- sões. Mais que isto, mesmo que haja consenso
tes podem implementar ações compatíveis com em torno de uma norma, o Ministério da Saú-
suas próprias preferências. Nestas condições, sis- de tem recursos para alterar seu conteúdo na
temas de avaliação, controle, auditagem e mo- implementação das decisões através de porta-
nitoramento do desempenho dos agentes assu- rias administrativas editadas unilateralmente
mem relevância estratégica (Chai, 1995; Hurley (Carvalho, 2001; Levcovitz, 2001).
et al., 1995). Não há dúvida de que o sistema de Em suma, não há dúvida de que o Ministé-
auditagem e monitoramento do Ministério da rio da Saúde dispõe de recursos institucionais
Saúde fez grandes progressos nos anos 90, mas para induzir as decisões dos governos locais. Na
talvez estes não tenham sido suficientes. fase de implantação da descentralização, esta
Além disto, trata-se de perguntar o que tem capacidade foi utilizada principalmente para
sido objeto da avaliação de desempenho dos obter a adesão ao SUS. Entretanto, embora ha-
gestores locais. Barros (2001) considera, por ja uma tendência à redução das diferenças en-
exemplo, que têm sido minimizadas as exigên- tre os municípios quanto à participação no to-
cias com relação a resultados, o que permite aos tal da produção de serviços básicos, permane-
gestores locais o uso de artifícios para adequar cem grandes diferenças no que diz respeito ao
a aplicação dos recursos às suas necessidades. acesso aos serviços. Embora outros fatores ex-
Neste caso, a desigualdade de resultado seria pliquem este resultado, ele parece ser em parte
conseqüência do conteúdo das próprias NOBs. resultado das prioridades atribuídas à estratégia
Melhor dizendo, ao privilegiar regras que pro- de descentralização. Por outro lado, embora es-
duzissem a adesão dos municípios ao SUS, no tados e municípios tenham sido bem-sucedidos
contexto de construção do sistema descentrali- em institucionalizar seus direitos de participa-
zado, exigências orientadas a reduzir a desigual- ção no processo de formulação e implementa-
dade no acesso aos serviços estiveram em se- ção das regras da descentralização, o Ministé-
gundo plano na escala de prioridades. rio da Saúde ainda parece ser o ator mais forte
Passemos agora ao exame da capacidade de nas arenas federativas.
as representações de estados e municípios in-
fluírem na formulação da política de saúde do O controle do Estado sobre os provedores
governo federal. O processo de formulação e
implementação das NOBs 91 e 92 evidenciou Sabemos muito pouco sobre as relações en-
que, dadas as funções atribuídas ao Ministério tre os governos locais e os provedores de servi-
da Saúde no SUS, este contava com recursos ços. Mais que isto: a crença nos benefícios da
institucionais para impor unilateralmente re- descentralização produziu uma espécie de obs-
gras de operação aos demais entes federativos; táculo cognitivo, pelo qual a possibilidade da
mais que isto, dependendo da orientação polí- captura dos governos locais por interesses pri-
tica que estivesse no comando do ministério, vados esteve fora da agenda de debates.
mesmo conquistas legais – inscritas na Consti- Até a NOB/96, a meta do SUS era de que os
tuição Federal e na Lei Orgânica da Saúde – po- municípios deveriam ser capazes de “regular”
deriam ser ameaçadas. A oportunidade política todos os provedores dos mercados locais de saú-
da gestão Jamil Haddad permitiu que a NOB/ de – públicos e privados, em qualquer nível de
93 institucionalizasse os direitos de participa- complexidade. A NOAS 2001 alterou essa ori-
ção das representações de estados e municípios entação, reservando à União e aos estados a ges-
343

tão da média e alta complexidade. Penso que es- Considerações finais


ta mudança apenas aparentemente recentraliza
a política de saúde, e que, na verdade, a NOAS Nos marcos da democracia e do federalismo,
2001 reconhece um fato. Se apenas 10% dos o SUS construiu uma estrutura institucional
municípios estão credenciados na Gestão Plena complexa para coordenar as ações dos três ní-
do Sistema Municipal, a gestão do sistema hos- veis de governo e de provedores de serviços de
pitalar de fato não ocorreu. saúde públicos e privados. Dada a distribuição
Por outro lado, as relações dos governos lo- de funções entre os níveis de governo no mode-
cais com os provedores privados não se restrin- lo SUS e dado o fato de que a municipalização
gem aos provedores de serviços de média e alta da atenção básica já ocorreu, os governos locais
complexidade. Ao produzir serviços de atenção tornaram-se essenciais na provisão de serviços
básica, os governos locais se transformam em de saúde.
demanda da indústria farmacêutica e de equi- Na estrutura institucional do SUS, eleitores
pamentos. E se é verdade que os interesses pri- e representantes dos usuários e da sociedade ci-
vados se ajustam às estruturas estatais, não há vil dispõem de instrumentos para controlar e
porque duvidar que estes setores da indústria fiscalizar a ação dos governos locais. A posição
também tenham descentralizado suas estraté- do Ministério da Saúde nessa estrutura também
gias de oferta de produtos. Côrtes (2002) afir- lhe permite ter expressivo poder de indução so-
ma que médicos e provedores privados conti- bre as decisões e ações dos governos locais, ao
nuam exercendo influência sobre os gestores passo que estes dispõem de direitos institucio-
locais, mas através de canais informais de par- nalizados de participação nas decisões do Mi-
ticipação. nistério da Saúde que lhes dizem respeito. Em
Não sabemos a extensão em que governos conjunto, estes instrumentos deveriam produ-
locais são capturados por produtores de insu- zir incentivos para que os governo locais fossem
mos médico-hospitalares no SUS, mas seria in- comprometidos com uma gestão responsável e
gênuo duvidar que esse fenômeno ocorra. Mais eficaz dos serviços de saúde, o que compreende
que isso, ele desafia os indicadores tradicionais a eficiente regulação dos provedores públicos e
de desempenho, pois, neste caso, a expansão do privados.
gasto e da produção de serviços não é necessa- A despeito dos limites de nossas análises e
riamente expressão de melhoria do atendimen- avaliações, as evidências sugerem que os instru-
to e de eficiência dos serviços. mentos da estrutura institucional ainda não são
plenamente explorados pelos atores diretamen-
te interessados em suas ações. Penso contudo
que se trata mais de aprofundar e amadurecer o
uso dos instrumentos existentes e menos de re-
desenhar esta estrutura.
344

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