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O documento discute a identidade e papel do psicólogo clínico em uma equipe de saúde mental infantil. O autor argumenta que (1) a psicologia clínica enfrenta desafios históricos e políticos em estabelecer sua autonomia como ciência e profissão, e (2) é importante definir claramente as funções do psicólogo clínico para além de tratar apenas distúrbios ou doenças.
O documento discute a identidade e papel do psicólogo clínico em uma equipe de saúde mental infantil. O autor argumenta que (1) a psicologia clínica enfrenta desafios históricos e políticos em estabelecer sua autonomia como ciência e profissão, e (2) é importante definir claramente as funções do psicólogo clínico para além de tratar apenas distúrbios ou doenças.
O documento discute a identidade e papel do psicólogo clínico em uma equipe de saúde mental infantil. O autor argumenta que (1) a psicologia clínica enfrenta desafios históricos e políticos em estabelecer sua autonomia como ciência e profissão, e (2) é importante definir claramente as funções do psicólogo clínico para além de tratar apenas distúrbios ou doenças.
numa equipa de sade mental infantil VCTOR MOITA (*) 1. UM PROBLEMA DE IDENTIDADE COM RAZES HISTRICAS, CULTURAIS E POLTICAS Ao propor-me como tema O papel do psiclogo clnico numa equipa de sade mental infantil)), o meu objectivo no foi dizer nada de novo nem de definitivo sobre este tema, mas pr em comum uma srie de interrogaes e reflexes sobre o que a psicologia clnica como cincia e como prtica, partindo da minha experincia como psiclogo clnico numa equipa de sade mental infantil. Apesar de aparentemente simples, a ta- refa no fcil: - o acesso, histoiicamente recente, da psicologia ao estatuto de cincia; - a ausncia, histrica e politicamente justificvel, mas no aceitvel em re- lao ao presente e ao futuro, de uma psicologia feita por psiclcgos; --a fobia que os psiclogos tm uns dos outros, prejudicando a sua orga- nizao com objectivos cientficos e profissionais, e impedindo deste modo a elaborao de um discurso comum)) (*) Psiclogo. Docente no ISPA. sobre a cincia que cultivam e a pr- tica que exercem; - a incapacidade que muitos psiclogos tm de se afirmarem como tcnicos competentes no seu campo perante a competncia dos outros tcnicos com quem colaboram, so alguns dos motivos que podero justi- ficar a necessidade imperiosa que um psi- clogo sente de falar de si prprio como tcnico. ((Psiclogo, psiclogo quem s tu? ou O psiclogo a procura da sua identidade)) seriam dois ttulos que poderiam exprimir o mal-estar de muitos profissionais de psi- cologia que teimam em ser psiclogos neste pas, aqui e agora, sem terem de se opor ao poder poltico institudo, sem terem de rivalizar com profissionais de campos de intcrveno vizinhos, sem terem de compe- tir entre si. A rea da psicologia clnica uma da- quelas em que mais se sente esta problem- tica: -a ambiguidade do espao semntico da expresso ((psicologia clnica)); - o tradicional e injustificvel domnio dos mdicos nas reas de interveno conotadas com a sade ou a doen- a; 264 -a ausncia de investigao e de cursos de especializao nos domnios da psi- cologia clnica; - a ausncia de carreiras estruturadas na rea da psicologia em geral e da psicologia clnica em particular; -a ausncia de definio de uma pol- tica coerente nos domnios da sade em geral e da sade mental em par- ticular; -a demisso dos psiclogos clnicos, que deixam por mos alheias os crditos de que so detentores, atribuindo a outrem o papel que a si mesmos com- pete na definio do seu estatuto e na defesa dos seus interesses, so algumas das razes que contribuem para a ambiguidade do papel do psiclogo cl- nico em geral, e do psiclogo clnico inte- grado numa equipa de sade mental infan- til, em particular. Proponho-me contribuir com algumas re- flexes que, por um lado, ajudem a clarifi- car as funes do psiclogo numa equipa de sade mental infantil, e, por outro, a mobilizar 05 psiclogos para um trabalho que, entre ns e neste domnio, est todo ou quase todo por fazer. 2. O PSICLOGO CLNICO COMO TERICO E PRATICO DE UMA'CINCIA AUTONOMA 2.1. A uutonomia da psicologia como cincia Como sabemos, uma cincia define-se ba- sicamente pela existncia de um objecto, de uma metodologia e de um estatuto episte- molgico prprios, que levem a construo de um quadro terico de referncia, per- mitindo a elaborao de um discurso coe- rente interpretativo do real. desnecessrio, e tornar-se-ia fastidioso, deter-me exageradamente na descrio da gnese da autonomia da psicologia como cincia. Todos sabemos como se chegou com Henri Pieron, em1908, e com Watson, em 1913 (Fraisse e Piaget, 1967, p. 45) a defi- nio do objecto da psicologia como o es- tudo do (comportamento)); como se vaci- lou, e infelizmente se continua a vacilar, na definio da metodologia prpria da psi- cologia, umas vezes identificada com a da filosofia, outras com a das cincias biom- dicas e sociais; como se confundiu, e ainda hoje frequentemente se confunde, a rela- o epistmica sujeito-objecto prpria da psicologia, com a de outras cincias vizi- nhas com as quais porventura compartilhe parcialmente CP mesmo objecto de estudo e/ /cu metodologias afins. No deixarei, no entanto, de recordar a este propsito algumas ideias que considero fundamentais: - a insuficincia da definio do objecto da psicologia em termos beavioristas clssicos, isto , em termos de mt- mulo-resposta; - a inadequao das metodologias pr- prias da filosofia, das cincias fsico- -matemticas, bio-mdicas e sociais para a apreenso e estudo dos fen- menos ditos (tpsicolgicos~; -a inoperncia da noo de ((corte epis- temolgico)) entre o sujeito e 01 objecto epistmicos como condio bsica para a elaborao cientfica do conheci- mento em psicologia. Inoperncia m a eloquentemente pasta em evidncia por vrias correntes ou escolas entre as quais poderei citar a teoria da for- ma, a teoria de campo de Lewin, a teoria psicanaltica e a teoria da equi- librao de Piaget. Polderemos afirmar, em resumo, que, para fazer cincia em psicologia, -no basta identificar o objecto de es- tudo como o comportamento)) defi- nido de uma forma assptica, isto , em termos de estmulo-resposta, mas importa captar-lhe O sentido)), isto , a relao entre o estmulo e a res- posta mediada pela varivel ((persona- lidade)) tal como prope P. Fraisse. A este propsito escrevia Pierre J anet em 1929 no Boletim da Sociedade Fran- cesa de Filosofia (I): a psicologia do via ser objectiva no sentido em que devia ocupar-se do que se v, das ac- es, dos movimentos, das atitudes do sujeito, acrescentando a isto as suas palavras e as suas maneiras de falar e, por consequncia, todos os factos psicolgicos, mesmo que os conhea- mos por outras vias, deviam ser ex- primveis na linguagem dos factos ex- teriores)). E, noutro lugar (), completa a sua ideia afirmando: para aplicar aos homens a psicologia do compor- tamento importa no apenas atribuir um lugar a conscincia, mas ainda con- sider-la como uma complicao do ac- to que se acrescenta as condutas ele- mentares sem esquecer, na descrio destas condutas, as suas formas supe- riores, tais como a crena. Pode desig- nar-se esta psicologia sob o nome de psicologia da conduta. -No basta usar metodologias que po- nham em evidncia as variveis ditas biolgicas e/ou sociais, mas as que evidenciem as variveis prprias dos processos de elaborao internos: tra- ta-se de considerar o indivduo -ani- mal ou homem- no apenas como um areagente)), mas como um ((agen- te, que trata a informao recebida, venha ela donde vier. Para o bilogo, o que definir preferentemente o indi- vduo ser a sua carga gentica, para q) Vide Fraisse e Piuget, 1967, p. 31. C) ((Autobi ografi a)), tudes phil., 1946, pp. 85-86. Citado in Fruisse e Piuget, 1967, p. 31. o socilogo sero os organizadores ex- ternos, tambm ditos sociais, para o psiclogo sero os organizadores iiiter- nos, as estruturas operatrias, que o habilitam a no suportar passivameate a sua carga gentica ou a sofrer, sem modificar, a aco do meio. -Na relao epistmica, no se trata de separar o sujeito do objecto, mas sim considerar como imprescindvel a pro- moo, manuteno e controlo da sua interdependncia. 2.2. A psicologia clnica: uma psicologia diferente Que dizer ento da psicologia dita cl- nica))? Confere-lhe, esta qualificao, algum estatuto particular como cincia ou como prtica? Todos sabemos, e j atrs referimos, co- mo a ambiguidade do uso do termo d - nico gera algumas confuses, sobre cuja origem no nos vamos deter. Gostaria, no entanto, de referir alguns pontos que, em- bora banais, importa recordar sobretudo aos psiclogos e, porventura, a outros pro- fissionais com quem estes colaborem (m- dicos, educadores, etc.): - a psicologia clnica no tem estatuto de cincia autnoma pelo facto de ser clnica, mas por ser psicologia. O ternio clnico no confere, por isso mesmo, a esta rea do saber psicol- gico um estatuto cientfico prprio; -o termo clnico no qualifica esta psicologia como a psicologia da dom- a ou do ((distrbio)), referindo-se em exclusividade apenas a uma das reas possveis da interveno do psiclogo clnico; -o termo clnico no se refere a uma competncia profissional considerada exclusiva do mdico, identificando psi- cologia clnica com ((psicologia m- P66 dica)), (Cacto clnico)) com ((acta m- dico)), psiclogo clnico)) com psic- logo mdico)) ou ((mdico psiclogo. A este prop6sito refira-se que o termo clnico na sua origem semntica se refere! ao indivduo que est de ca- ma, deitado e por analogia ao in- divduo que est doente)) ou que pre- cisa de ajuda)). O mdico aquele que usa o veneno, ((mezinha)), ((medi- cina)), remdio)>ou afrmaco)) para curar o doente. Penso que devemos lutar um pouco contra a histria e a prtica que confundem ((atitude clnica)) com ((atitude mdica)), ((prtica cl- nica)) com ((prtica mdica)), saber clnico)) com saber mdico)). O termo (clnico)) usado na expresso ((psicologia clnica)) definir apenas uma sensibilidade particular a dois nveis da elaborao cientfica: a) Ao nvel do objecto: a psicologia cl- nica interessa-se pelo indivduo en- quanto tal. E neste sentido que Da- niel Lagache a define como a in- vestigao sistemtica e to completa quanto possvel dos casos indivi- duais)) C). I3 ainda nesta perspsctiva que o psiclogo clnico se interessar pelos indivduos que precisam de aju- da (Zazzo, 1968, p. 137). b) Ao nvel da metodologia: trata-se de um processo de recolha de dados em que se toma sempre e necessariamente em considerao o contexto indi- vidual e original em que um com- portamento)) ou reaco so obser- vados. Em clnica partese sempre do princpio que esse ((contexto)) que d sentido til, quer de um ponto de vista cientfico, quer prtico, ao dado recolhido. O mtodo clnico coloca-nos assim numa via diferente de acesso ao () Vide Zazzo, 1968, p. 37. real, em que no existe a preocupao com a ((assepsia labwatorial)) ou com a ((rigidez da normalidade estatstica)) no processo da recolha dos dados e controlo das variveis. Importa esclarecer que no h opo- sio entre atas diferentes metodolo- gias, mas complementaridade. O con- trolo das variveis no se faz ao nvel genrico da metodologia, mas ao n- vel especfico do ((plano)) ou ((dese- nho experimental. E no devemos confundir ((experimental)) com d ab ra t orial)), aquan t i f icvel)) ou c ien t - fico. 12 nesta perspectiva que, segundo Zazzo (1968, p. 138), se coloca Piaget ao usar a metodologia ((clnica)) na recolha dos dados que lhe permitiram a elaborao das suas conhecidas teoL rias nos mais diferentes domnios da psicologia da criana e da psicologia cognitiva. c) Ao nvel da relao epistmica su- jeito-objecto, no h diferena entre psicologia e psicologia clnica: trata- -se, como j referimos, da promoo e manuteno sob controlo da relao original entre o sujeito e o objecto do conhecimento. Relao essa que se ca- racteriza pelo seu estatuto de inter- dependncia idntico ao que se ob- serva na inter-relao entre o emissor e o receptor segundo o modelo pro- posto pela teoria da comunicao. d) Ao1 nvel dos quadros tericos de re- ferncia: o discurso em psicologia e em psicologia clnica dever ser basi- camente o mesmo. O psic61ogo cl- nico dever fazer um discurso inter- pretativo dos fenbmenos observados, construindo uma metalinguagem cujos paradigmas (ou paradigma) no sejam os quadros tericos de referncia de outras cincias: no h lugar para di- cotomias como o indivduo e o meio, o herdado e o adquirido, o quantific- 26 7 vel e o qualificvel. O recurso ao mo- delo da equilibrao proposto pela teo- ria da forma, pela teoria de campo de Lewin e pela teoria da equilibrao de Piaget, o recurso aos modelos de arti- culao entre o herdado e o adquirido propostos pelas teorias da aprendiza- gem e pela teoria psicanaltica, pr- prio do discurso psicolgico. Falar do real em termos de motivao, deci- so, atitude, representao, imaginrio, crena, papel, jogo, mito, comunica- o, relao, prprio do discurso psicolgico. 2.3. Psicologia clnica. e teoria da comuni- cao Podemos agora interrogar-nos acerca do que caracteriza o discurso do psiclogo clnico, acerca do que o torna distinto de outras discursos. Seria um tema longo. Alinho apenas algu- mas ideias retomando, como h pouco su- geri, o modelo proposto pela teoria da comu- nicao. Este modelo poder fornecer-nos algumas pistas para a clarificao do papel do psi- clogo clnico: a) A primeira a de considerar o com- portamento)), a reaco como uma linguagem, consubstanciada num dis- curso frequentemente, embora no ne- cessariamente, verbalizvel. O psic- logo clnico considerar ento os ((sin- tomas)) no como necessariamente re- feridos a uma ((estrutura patolgica)), mas como um ((discurso)) com um sen- tido prprio, que lhe vem do contexto em que realizado. b) A segunda pista a de considerar a relao entre o psiclogo clnico e os seus interlocutores (consultante, clien- te, colaboradores), bem como a rela- o dos indivduos com quem ou para quem trabalha, nos exactos termos em que se considera a relao entre emis- sor e receptor. Trata-se, portanto, fun- damentalmente de um problema da gnese, processo de codificao/des- codificao de uma mensagem e da identificao dos objectivos da relao de comunicao. Nesta perspectiva, o psiclogo clnico sabe que o diw ., urso)) ele prprio sintoma: se certo que o inconsciente se estrutura como uma linguagem, tambm certo que esta estruturada por aquele (Lacan, 1966). A partir daqui podemos chegar a alguns princpios bsicos que podero esclarecer as funes do psiclogo clnico: a> A verificao de que o ((comporta- mento)) ou ((reaco)) s adquire valor heurstico quando formalizado em ter- mos da teoria da comunicao (Cos- nier, 1974) levar o psiclogo clnico a ultrapassar a formalizao do seu objecto de estudc e/cu interveno em termos de estmulo-resposta. b) A ideia de que o psiclogo clnico um terico e um prtico da motivao E do sentido, e no um terico e um prtico da inventariao assptica de ((comportamentos)) e ((reaces)), Iev- -10- a uma atitude preferentemente compreensiva na relao com o seu objecto de estudo e de prtica. c) A necessidade de atar particularmente atento ii relao de comunicao le- var o psiclogo clnico a considerar-se um terico e um prtico da ((informa- o e da deciso especialmente in- teressado nos processos de elaborao de cdigos, de transmisso da men- sagem)), do ((processamento de dados)). Como j atrs referimos para o psico- logo em geral, e para o psiclogo cl- nico em particular, o objecto de es- tudo no o indivduo weagente)), 268 que ((responde ao estmulo)), o KSU- jeito agente)), que ((elabora os dados)) que lhe chegam. Para o psiclogo cl- nico, o objectivo chegar aos ((proces- sos internos)) da elaborao, do trata- mento da informao, quer se trate do emissor ou do receptor. d) Como terico e prtico da comunica- o, o psiclogo clnico estar atento ao seu prprio discurso sobre o real e, como acontece noutras cincias e pr- ticas, procurar elaborar um ((discurso explicativo)) sobre o discurso do seu interlocutor (consultante, cliente, cola- borador). E nesta medida dever con- siderar que o seu discurso)) como tc- nico se deve transformar numa meta- linguagem, isto , num discurso que constantemente se refere a um cdigo que especfico da cincia que cultiva: a psicologia. Daqui resulta a necessidade de pro- nico e manuteno de uma meta- linguagem, que constantemente e de forma clara se refira ao paradigma da cincia psicolgica e no ao paradigma das cincias filosfica, fsico-matem- tica, biolgica, social ou outras. 3. O PSICLOGO CLNICO NUMA EQUIPA DE SADE MENTAL INFANTIL: A AFIRMAAO DA SUA ESPECIFICIDADE COMO TCNICO A afirmao da especificidade do psic- logo numa equipa de sade mental infantil dever ser feita a diferentes nveis decorren- tes do estatuto de cincia atribudo a psi- cologia. No a prtica que fundamental- mente distingue o psiclogo clnico dos ou- tros tcnicos que integram a equipa. Se ao nvel do objecto e da ((relao epistemo- lgica)) as posies sero basicamente idn- ticas, elas no sero concerteza as mesmas ao nvcl da metodologia e do paradigma de referncia. 3.1. Ao nvel da met oddgi a No vou deter-me muito neste ponto. Os psiclogos sabem, ou deveriam saber, que a psicologia como cincia tem uma metodo- logia prpria para a abordagem do real. Dessa ((estratgia)) metodolgica global de- correm as tcticas concretas de interven- o ao nvel da preveno, diagnstico, prognstico e teraputica. No ser demais pdi r a um psiclogo clnico que use o ((Rorschach)) com a competncia com que um mdico usa o ((estetoscpio)). 3.2. Ao nvel do paradigma de referncia Tambm no me vou deter muito sobre este assunto. O essencial estar dito. Ape- nas recordo1 mais uma vez que ao psi- clogo que, integrado numa equipa multi- disciplinar, compete fazer o ((discurso psi- colgico)) sobre o real. Os psiclogos clni- cos prestam um mau servio a equipa quando, pela sua prtica e pelo seu discurso, se identificam com o mdico, a assistente social ou a educadora de infncia. Privam deste modo a equipa de um contributo ori- ginal, que esses tcnicos no lhe podem, nem sequer lhes compete, dar. Trata-se, de facto, da necessidade de contrapor um dis- curso cujo referencial paradigmtico a cincia e a prtica psicolgicas, a outros dis- cursos, cujos referenciais paradigmticos so outras cincias e outras prticas profissio- nais. 4. CONCLUSO Como tcnico de sade mental infantil, o psiclogo1 no deve demitir-se do seu esta- tuto de psiclogo. Na medida em que quiser contribuir de forma original para a teoriza- o e definio de uma prtica comum a todos os tcnicos de sade mental infantil, dever fomentar com dignidade e competn- 269 cia o desenvolvimento da sua prpria cin- cia. Antes de se diluir numa prtica e num discurso amorfos sob pretexto de que ((tcnico de sade mental)) e no apenas ((psiclogo)), dever tomar conscincia de que a sua incompetncia como psiclogo arrastar a sua incompetncia como tcnico de sade mental infantil. No ser altura de os psiclogos clnicos se organizarem para promoverem uma re- flexo terica sobre a sua prtica? De pro- moverem aces de investigao, reciclagem e formao permanente, que levem a homo- geneizao das metodologias que usam e ?i elaborao de uma linguagem comum? No ser esta uma das vias fundamentais para a descoberta da identidade do psiclogo em geral, e do psiclogo clnico em particular? BIBLIOGRAFIA COSNIER, J. (1974), ((Psycholinguistique et te- chniques projectives)), Bull. de la S. Franaise du Rorschach et des mthodes projectives, 2.' ed., Paris. FRAISSE, P. e PIAGET, J. (1967), Trait de psychologie exprimentale, vol. I, PUF, Paris. LACAN, J. (19661, Sur i'objet de la psycholo- gim, in Cahiers pour I'analyse, n.' 3, Maio/ !/Junho de 1966, p. 6. ZAZZO, R. (1968), Conduites et conscience, vol. 11, Delachaux et Niestl, Neuchtel. 270