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Relatório Final PIBIC (Vigência 08/2006 a 07/2007)

Faculdade de Educação - Universidade de São Paulo

“Escolas Populares: iniciativas católicas em São Paulo


(1910 –1941)”

Erika Garcia
Nº USP 5450252

Orientadora: Maurilane Biccas

São Paulo, agosto, 2007.

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Sumário

Apresentação 03

Projeto de pesquisa em desenvolvimento 05

Atividades desenvolvidas 12

Resultados da pesquisa 31

Considerações finais 50

Referencias bibliográficas 55

Anexos 56

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Apresentação

Este relatório é resultado da pesquisa que venho realizando desde agosto de 2006,
com o projeto de iniciação científica: “Escolas Populares: iniciativas católicas em São
Paulo (1910 –1941)”, sob orientação da Profª Drª Maurilane de Souza Biccas, no qual
estive estudando a educação escolar neste período, com especial enfoque nas iniciativas
formuladas pela Igreja Católica, que criou as Escolas Populares para atender meninos e
meninas operários, no ano de 1910, data de sua criação, até 1941, data em que são extintas.
Este estudo se insere no projeto Múltiplas estratégias de escolarização e alfabetização de
adolescentes e adultos (1870-1970)1, liderado pela Profª. Drª. Maurilane Biccas.
A princípio, o recorte temporal escolhido foi até 1930, pois acreditávamos que esta
iniciativa teve fim por volta de 1926, contudo, ao fazer os levantamentos dos documentos
no acervo da Cúria do Estado de São Paulo, pudemos constatar que as Escolas Populares
atenderam as crianças e jovens até 1941, passando então a funcionar com o nome de
Associação de Escolas Paroquiaes, mudando, de certa forma, os objetivos que foram
propostos em seu Estatuto de Criação, em 1910.
A relevância deste estudo se deve ao fato da criação destas Escolas trazer à tona a
preocupação com a educação popular e o modo como ela se constituiu. Sobre esta iniciativa
busco compreender como foram criadas, organizadas e que projeto político pedagógico
estava subjacente. Neste sentido, este estudo poderá contribuir para um maior
aprofundamento sobre a educação na primeira república, de maneira mais específica, dos
movimentos e grupos organizados pela sociedade brasileira, que pôs em circulação outros
modelos de escolarização, pelo menos diferente da oficial.
Este relatório foi dividido da seguinte forma: 1) Apresentação do projeto que está
sendo desenvolvido; 2) Descrição das atividades desenvolvidas; 3) Exposição dos
resultados da pesquisa. No final deste relatório encontra-se anexada toda a documentação
levantada e transcrita no decorrer da pesquisa.

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Este projeto é financiado pelo CNPq, tem como objetivo principal investigar as múltiplas estratégias de
escolarização de adolescentes e adultos, atentando para as formas históricas de escolarização e alfabetização
destas faixas etárias postas em circulação na sociedade paulista, entre 1870-1970, agenciadas pelos diferentes
grupos, tanto situados nas esferas governamentais, quanto na iniciativa privada.

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1 - Projeto de pesquisa em desenvolvimento
a) Objetivo Geral

• Analisar a experiência das Escolas Populares Católicas voltados para


adolescentes e adultos operários, ocorridos em São Paulo, no período de
1910-1941.
b) Objetivos Específicos
• Compreender as motivações que levaram a igreja católica paulista a criar as
Escolas Populares em São Paulo e sua relação com as outras iniciativas
educativas existentes no Estado;
• Estabelecer uma relação entre esta iniciativa católica e a legislação
educacional do período;
• Conhecer como estas instituições foram organizadas e como funcionavam;
• Identificar e analisar quem foram os professores e os alunos que
participaram desta experiência;
• Levantar os locais e o número de alunos que foram atendidos durante os 31
anos de existência destas Escolas.
• Levantar os programas curriculares utilizados por esta iniciativa
educacional.

c) Justificativa
Para delinear os caminhos deste projeto, fez-se necessário o entendimento da
educação em seu sentido amplo, levando-se em consideração as iniciativas extra oficiais.
Para isso, realizou-se uma leitura de alguns teóricos que trazem em seus textos uma
contextualização do que era a educação vigente no período da Primeira República,
abrangendo as iniciativas dos republicanos, contudo sem deixar de lado as outras, como a
dos libertários, da Igreja, dos movimentos sociais, entre outros. É pertinente, a princípio,
fazer uma breve explanação do contexto segundo os ideais republicanos, para então entrar
na questão das outras iniciativas.
Durante os últimos anos da monarquia já havia um movimento de contestação por
parte dos republicanos no que concerne à política educacional monárquica e a forma como
a sociedade estava estruturada. Quando a República foi instaurada, a grande bandeira de

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luta era a transformação da sociedade brasileira e esta deveria ser atingida por meio da
educação pelo voto e pela escola.
Segundo Maria Lucia Hilsdorf (2005), a educação era vista como resolução dos
problemas sociais, “projetar e realizar a educação escolarizada torna-se a tarefa
republicana por excelência, tanto na fase da propaganda quanto na fase de instituição do
regime” (HILSDORF, p. 61).
Esta preocupação com a escolarização tem um sentido: a elevada taxa de
analfabetismo no país. Grande parte dos alunos em idade escolar estava fora das escolas,
como podemos ver no Anuário de Ensino do Estado de São Paulo de 1918, que traz o
seguinte quadro:
.
*Fonte: Anuário de Ensino do Estado de São Paulo, 1918
Como pode ser visto no quadro, muitas crianças em idade escolar estavam fora da
escola, mostrando a elevada taxa de analfabetismo neste período. Além disso, a freqüência

Ano 1909 1910 1911-1912 1913 1914 1915 1916 1917 1918
% de crianças 28,4 33,3 41,3 43,6 41,9 42,3 41,9 45,0 48,1
matriculadas
% de crianças 71,6 66,7 58,7 56,4 51,8 57,7 58,1 55,0 51,6
não matriculadas
era muito reduzida, também por conta da mobilidade populacional. Constata-se que no ano
de 1909, 71,6% das crianças em idade escolar estava fora das escolas, mas ao passar do
tempo esta situação vai se modificando, havendo um maior equilíbrio entre estes números,
mas ainda assim, estes números mostram-se muito elevados. Além disso, não se pode
descartar outras situações, que são indiretamente responsáveis pela alta taxa de
analfabetismo, que não se deve apenas pelo acesso a escola por parte das crianças, mas
também devem ser levados em conta alguns aspectos referentes a este período histórico,
tais como:
 Abolição da escravatura;
 O trabalho livre e assalariado traz imigrantes, que fazem de São Paulo um
pólo econômico;
 Início da urbanização, com a expansão das fábricas, promove o êxodo
rural, formando o proletariado urbano.

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Observa-se no livro de Raquel Rolnik (1999), que o grande número de imigrantes
vindos para São Paulo começam a formar bairros populares, que se constroem por meio de
casas coletivas e cômodos alugados, distanciando-se da consolidação dos bairros das elites,
que tiveram altos investimentos ao longo de sua história. A lei de zoneamento consolida
estas características, fazendo uma espécie de muralha no entorno destes bairros, para que as
camadas populares não se aproximem, criando, desta forma, sua “própria cidade”, sem a
pobreza e a marginalidade, causando alta segregação.
Todas estas pessoas não estão imersas nesta cultura letrada, fazendo surgir uma
grande disparidade entre as elites e os trabalhadores, que são excluídos da política
educacional. Contudo, o analfabetismo era visto como impeditivo para o progresso do país
e sua erradicação se torna meta da reforma educativa. De acordo com Marta Carvalho
(2000), ao alçar “o analfabetismo a ‘questão nacional por excelência’ e priorizando a
extensão da escola às populações até então marginalizadas é que se implanta em São Paulo
a reforma Sampaio Dória” (CARVALHO, p.228).
Sampaio Dória fazia parte da Liga Nacionalista, que lutava por uma
“republicanização” da República, realizou uma importante reforma educacional, na
perspectiva de estender a escola para um número maior de pessoas. Um de seus objetivos
ao propor esta reforma era o de otimizar os recursos financeiros, estando em consonância
com o número de professores e escolas, para aumentar a quantidade de crianças
escolarizadas e alfabetizadas, sendo assim, ele acreditava que a duração da instrução
primária, que era de quatro anos, deveria ser reduzida para dois, e o método que deveria ser
utilizado para o ensino eficaz era o “método de intuição analítica”.
Se, por um lado, a Reforma proposta por Dória não traz uma grande novidade ao
reduzir a duração do curso para dois anos, já que, devido à elevada taxa de evasão escolar,
os alunos não ficavam os quatro anos na escola; menos de 10 % dos alunos que iniciavam
os estudos chegavam a concluí-lo, com isso, a permanência de fato era por volta de um ou
dois anos, como afirma Rosa Fátima em seu texto Tempos de infância, tempos de escola: a
organização do tempo escolar no ensino público paulista (1892- 1933). Por outro lado,
vários pesquisadores apontam que esta é uma reforma mal compreendida e que, portanto,
precisa ser melhor investigada, uma vez que existiam importantes questões de ordem

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pedagógica na justificativa da redução de 4 para 2 anos, o tempo de escolarização proposto
pelo reformador.
Dória inicia seu governo fazendo um recenseamento escolar, para conhecer a
realidade da instrução primária. Além de saber o número de crianças fora das escolas, se
quer saber onde moram os analfabetos, para que se possam construir escolas nestas áreas.
Com todas as normas colocadas nesta reforma, aumentou-se significativamente a
freqüência dos alunos, introduziram-se novos métodos pedagógicos e encontra-se maior
rigidez com os professores e sua contratação. Em momento algum esta reforma foi voltada
para o ensino particular; entra nesta questão apenas quando se pensa na nacionalização e
nas medidas que foram tomadas para garanti-la, como, por exemplo, a fiscalização do
ensino na língua portuguesa nas escolas estrangeiras, e o ensino de história e geografia do
Brasil.
Esta reforma teve grande impacto na opinião pública, fazendo com que o interesse
pela educação fosse mais abrangente, em âmbito nacional. A princípio, era vista com bons
olhos pelos governantes, pois não trazia muitos gastos: era mais barato reduzir em 02 anos
a escolarização do que criar novos prédios para as crianças que estavam fora da escola,
contudo, como dito anteriormente, várias são as críticas feitas à reforma de Dória, sendo
vista por muitos como um retrocesso do ensino. Entre as críticas estão: promover a
simplificação do ensino, em virtude da diminuição do tempo obrigatório, exclusão das
crianças de 07 e 08 anos do processo de escolarização, já que o ensino obrigatório e
gratuito era para crianças de 09 e 10 anos e descontentamento dos professores frente aos
novos postos de trabalho. (CAVALIERE, 2003). Mesmo sem os resultados esperados, a
Reforma significou um marco, um modelo para os reformadores da época, como afirma
Antunha (1976) ao colocar que:
“A Reforma de 1920 não deve ser julgada pelas inovações
introduzidas, nem mesmo pelos seus resultados práticos,
concretos, mas sobretudo pela agitação de idéias que provocou,
pelos propósitos, atitudes e determinação dos homens que a
conceberam e a conduziram, enfim, pelo impacto que ela causou
no desenvolvimento da história da educação paulista” (p.236)

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Além da Reforma proposta por Dória, é importante levantar algumas outras
mudanças ocorridas anteriormente e que foram significativas para pensarmos o contexto
das Escolas Populares. Um destes marcos na reforma da instrução republicana foi à criação
dos Grupos Escolares, por volta de 1894, mudando a história da educação de todo o país. A
grande inovação trazida por estes Grupos se refere ao fato de que se institui o ensino
seriado, as classes homogêneas e reunidas num mesmo prédio, sob uma única direção em
monumentais edifícios.
Entretanto, os Grupos Escolares nos remete uma indagação: com seu caráter
homogeneizante, definindo faixa etária, pode se pensar que havia uma exclusão de jovens e
adultos que freqüentavam a escola primária naquele período? Tendo como base as leituras
feitas até agora, pode-se afirmar que as políticas educacionais deste período pouco se
preocupavam com a instrução dos trabalhadores e dos mais pobres, oferecendo uma
educação superficial, pouco preocupada com o cientificismo ou academicismo; o que se
buscava era alfabetizar em massa, para fortalecer o sentimento de nacionalismo e
patriotismo, afastando as influências estrangeiras, que eram vistas como um perigo para a
nação brasileira.
Como afirma Antunha (1976), na primeira república há uma nítida diferenciação
entre educação popular e educação das elites. A política deste período se preocupou com o
desenvolvimento da educação popular, visto a necessidade de acompanhar o ritmo de
crescimento da população. Sendo assim, tem-se uma preocupação com a questão da
alfabetização de toda a população, mas as estratégias criadas para estes fins são
diferenciadas. Estas questões são de grande importância para as oligarquias e também para
trabalhadores, mas estes reivindicavam que a educação escolar deveria estar atrelada a
mudanças sociais, tais como distribuição de renda e igualdade de direitos, elementos que
não se configuravam como pauta na reforma republicana, o que fez com que os
republicanos encontrassem grande resistência de movimentos operários e dos trabalhadores
em geral, como dos libertários, por exemplo.
Os republicanos enfrentam essa corrente de forma repressiva: quando assumem o
poder fazem com que fechem suas escolas, no entanto, oferecem ensino profissional técnico
aos trabalhadores. Enquanto socialistas e libertários fundam universidades populares
(centro de cultura operária), os republicanos criam escolas técnicas. O movimento operário

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buscava oferecer uma educação condizente com seus ideais e livre das influências do
Estado ou da Igreja. Segundo Neiva e Clóvis Kassick (2004), no livro A pedagogia
libertária na história da educação brasileira, o movimento libertário no Brasil se
espelhava nos anarquistas de outros países, especialmente da Espanha, buscando novos
métodos pedagógicos e denunciando a “escola enquanto instituição de reprodução dos
interesses da Igreja e do Estado” (KASSICK e KASSICK, 2004 p.16). A inspiração
libertária foi de grande importância para a educação dos trabalhadores, trazendo outros
valores que contestavam os vigentes até então. A educação libertária tem como ideal ser
emancipatória, livre de qualquer tipo de autoridade, devendo promover a auto-gestão.
Estas escolas não se utilizavam dos mesmos materiais pedagógicos que o Estado e
Igreja, pois acreditavam que esse era um meio de propagar os valores burgueses e não
criticar a realidade do país. Dentro de suas escolas, os jornais eram grandes difusores dos
ideais anarquistas, além de serem utilizados como material de estudo dos alunos e de tornar
conhecido os materiais e práticas pedagógicas realizadas fora do país.
A grande crítica dos anarquistas em relação à educação popular promovida pelos
republicanos se refere à sua dualidade, por ser classista, ou seja, para a burguesia a
educação era científica, para o povo a educação era profissional. Em suas escolas buscavam
romper este conceito, oferecendo uma educação para o desenvolvimento completo do
homem, sendo assim, não havia a tradicional divisão entre o trabalho manual e intelectual.
Havia grande dificuldade para manter suas escolas, e o faziam através da contribuição dos
alunos e familiares, de festas, rifas, quermesses ou através de doações.
Outra iniciativa deste período vem dos próprios donos das fábricas, que criam
escolas para crianças operárias ao redor destas, onde deveriam prover o espaço e
estabelecer o horário das aulas, para que não conflitasse com a jornada de trabalho.
Percebe-se, nesta afirmação, a localização estratégica onde foram criadas essas escolas, que
“levantavam a bandeira” de uma urgência da formação de um novo trabalhador, que deve
ser disciplinado e dedicado ao trabalho (HILSDORF, 2005). A matrícula era restrita aos
pequenos operários ou aos filhos de operários, priorizando os analfabetos. Seu currículo era
composto, entre outras coisas, por aulas de leitura, escrita, noções de aritmética e geometria
e educação moral e cívica. Em sua tese de doutorado, A Socialização da Força de
Trabalho: Instrução Popular e qualificação profissional no Estado de São Paulo- 1873 a

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1934, Carmem Moraes (2003) afirma que “estas disciplinas obedeciam a um programa
específico, especialmente dirigido ao tipo de população escolar que visava atingir, o aluno
operário”. (MORAES, p.272).
Assim como existiam as estratégias criadas através da criação das escolas, ao
redor das fábricas também se encontravam vilas operárias, que era um modo de controlar as
greves e protestos, uma vez que os trabalhadores que ali residiam eram dependentes de seus
patrões, podendo ficar sem moradia e emprego caso desacatassem as regras impostas.
Neste período também haviam escolas criadas pelos protestantes, que queriam
uma alternativa para o que era ensinado nas escolas católicas e escolas do império, podendo
assim difundir suas doutrinas e ideais aos alunos que as freqüentava. Segundo Hilsdorf, os
republicanos tinham alguns moldes de educação que aceitavam como sendo uma alternativa
moderna frente ao antigo regime, e entre eles estão estas escolas. É importante ressaltar que
o protestantismo era visto como uma espécie de “heresia” no período da monarquia, já que
a Igreja Católica se ligava ao Estado e “comandava” com ele os posicionamentos do país.
Com a proclamação da República, o Estado e Igreja se dissociam, trazendo a liberdade de
culto, com isso, o embate entre os católicos e protestantes se torna mais fervoroso, com o
protestantismo querendo ganhar espaço e o catolicismo tentando impedi-los de conquistá-
lo.
Nota-se como o protestantismo vinha crescendo no Brasil através de uma coluna
retirada da Revista Eclesiástica Brasileira, que aponta as estratégias criadas para a difusão
da religião cristã, de cunho protestante através de: estações de rádio, com programação
protestante; cruzada nacional de educação (evitar ensino da religião católica com a
contratação de professoras protestantes); Associação das Senhoras Evangélicas; Hospital
Evangélico (Rio de Janeiro, Sorocaba e Goiás); Revistas protestantes; missão de pastores
batistas em Portugal; Imprensa protestante (jornais); difusão das bíblias evangélicas; envio
de jornais e literatura protestantes para as cadeias; Associação Evangélica de Catequese dos
Índios; Fundação do “Mackenzie”; bíblias em braile para o Instituto Benjamim Constant;
“Escola Dominical dos Surdos – Mudos” dirigida por um surdo Manoel de Souza; Casa de
retiros e editora protestante. (Revista Eclesiástica Brasileira 1940, vol 02. - 15/09/1940).
Todas estas situações apontadas já vinham acontecendo desde o começo do
século, o que fazia com que a Igreja Católica sentisse a necessidade de criar algumas

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formas de “combate”, para enfraquecer o movimento protestante ao mesmo tempo em que
ensinava os ideais católicos, tentando aumentar o número de fiéis. Relacionando-se a isso,
talvez pode-se pensar que uma das estratégias encontradas foi à criação das Escolas
Populares, que alfabetizava e escolarizava os meninos e meninas operárias, assim como
disseminava a fé católica, ensinando o catecismo.
A partir de uma análise inicial dos relatórios anuais elaborados pelos grupos
responsáveis pelas Escolas Populares e enviados para a Diocese de São Paulo, afirma-se
que no período de 1910-1941, foram criadas várias unidades em mais de 20 bairros da
cidade. As escolas muitas vezes funcionavam em espaços cedidos pela comunidade, em
dois e até três turnos. Devem ter sido atendidos neste período mais de 18 mil meninos e
meninas operárias, o qual falaremos mais adiante, ao expor os resultados finais desta
pesquisa.
Pode-se perceber a partir deste breve panorama sobre a situação educacional na
Primeira República, que aos trabalhadores não era destinado muito espaço à escolarização,
e esta era realizada, muitas vezes, por iniciativa própria dos movimentos operários ou dos
trabalhadores. Moraes (2003) afirma que os cidadãos recebiam uma educação condizente
com sua função e posição social, sendo assim, a educação que era destinada aos
trabalhadores era muito superficial, apenas se preocupando em alfabetizá-los, para que se
mantivesse a estrutura da sociedade capitalista, pois, como ela mesma diz, “a instrução
escolar era utilizada como importante mecanismo de legitimação e reprodução das relações
sociais capitalistas” (MORAES p.354).

d) Metodologia
Para melhor entendimento acerca desta iniciativa da Igreja Católica, fez-se
necessário, antes de qualquer outra coisa, buscar alguns textos que trouxessem aparatos
para uma melhor compreensão do contexto da educação no período da Primeira República,
na cidade de São Paulo. Também fomos ao arquivo da Cúria para levantar dados sobre
estas escolas.
É importante destacar que o Arquivo Geral da Cúria foi criado em 1918, por Dom
Duarte Leopoldo e Silva, com recolhimento de todos os documentos antigos das paróquias
e de outros departamentos da Cúria Metropolitana. Seu acervo conta com registros de

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batismo, casamento, óbitos, informações de entidades diversas, pastas com documentação
avulsa de paróquias do Estado de São Paulo, sul de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina,
partituras musicais, fotografias, jornais católicos, projetos arquitetônicos, filmes e alguns
manuscritos. O setor de pesquisa do arquivo é voltado principalmente para o atendimento
às entidades da Arquidiocese de São Paulo e usuários externos, sendo que as principais
buscas se referem à cidadania estrangeira, pesquisas acadêmicas em diversas áreas,
genealogias, histórico de algumas entidades, história de bairros e municípios, biografias de
sacerdotes e bispos e processos de beatificação2.
No acervo encontramos diversas pastas separadas por temas, sendo que às Escolas
Populares são destinadas duas delas. O material que encontramos em grande parte era
relatórios anuais, os quais mostravam o desempenho das Escolas, o número de alunos
atendidos, número de sócios que contribuíam para mantê-las, a localização destas Escolas,
nomes das professoras, período de funcionamento etc. Além destes relatórios, encontramos
alguns álbuns sobre uma associação: Tarde da Criança, a qual promovia alguns eventos,
cujo dinheiro arrecadado era doado para instituições que cuidavam de crianças pobres e
abandonadas. Esta instituição é relevante para a pesquisa, pois encontramos uma referência
a ela em um dos relatórios.
Outro lugar de pesquisa foi o acervo de livros raros da biblioteca da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, na qual fomos procurar os Anuários de Ensino do
Estado de São Paulo, para obtermos maiores informações sobre as iniciativas escolares
deste período. Após coletar as informações, fizemos uma sistematização de cada relatório,
levantando os aspectos relevantes destas Escolas, para compreender sua criação e os
objetivos que visavam atender, assim como para tentar encontrar informações sobre as
práticas pedagógicas, perfil dos alunos, entre outras coisas. Ao ter em mãos estes dados,
utilizamos as leituras feitas ao longo do semestre para analisá-los e contextualizar esta
iniciativa no período proposto a ser estudado.

2 - Atividades Desenvolvidas
Como parte das atividades da iniciação científica, que tem por objetivo investir na
formação dos pesquisadores iniciantes, participei de:

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Informações retiradas do site: www.arquidiocese.sp.org.br

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• 6 reuniões de orientação nas quais discutimos o projeto, indicação de
bibliografia de apoio e sobre a documentação.
• Participação nas reuniões do NIEPHE – durante este período, realizamos
leituras de alguns autores da área de história da educação, para discussão em
grupo. Também discutimos capítulos das dissertações de algumas
mestrandas, para conhecermos o que nossos colegas estão estudando na área.
Além disso, recebemos a visita de alguns convidados, como Marcus
Vinicius (Doutorando da pós-graduação da USP), Prof. Dr. Luciano Mendes
de Faria Filho (UFMG) e Prof. Bruno Bontempi Junior (PUC) lemos alguns
de seus textos e os debatemos com o grupo e os autores.
• Trabalho de campo no acervo da Cúria, no qual levantei e transcrevi todos
os dados encontrados, sobre as Escolas Populares; Realizei 03 visitas com
minha orientadora, para juntas analisarmos os materiais e decidirmos o que
seria relevante para o projeto. Durante todo o semestre fui sozinha, uma vez
por semana, para coletar estes dados. Trabalhamos com o estatuto de criação
e os Relatórios Anuais dos anos de: 1910; 1913-1922; 1924-1927; 1929;
1936 e 1941, relembrando que todos eles seguem em anexo ao final deste
relatório. Além destes materiais, encontramos dados sobre o Congresso
Católico e alguns jornais que trazem a questão do ensino religioso
obrigatório nas escolas e os álbuns da Tarde da Criança.
• Trabalho de campo no acervo da biblioteca da Faculdade de Educação,
procurando informações sobre as Escolas Populares nos Anuários de Ensino
do Estado de São Paulo, dos anos de 1910-1912, 1917-1918 e 1935-1936.
• Sistematização de todos os dados encontrados no arquivo;
• Revisão bibliográfica; durante todo o período de vigência da bolsa, li um
total de 04 textos e 05 livros, que serviram de aparato para melhor
entendimento acerca da situação educacional do período da Primeira
República;
• Apresentação do projeto no “V Encontro Intergrupos de Pesquisa de História
da Educação”, realizado na Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo, entre os dias 23 e 25 de julho, com a participação de pesquisadores de

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iniciação científica, mestrado e doutorado dos grupos de pesquisa das
seguintes universidades: USP, UERJ, UFMG, UNESP Araraquara e UFPR;
• Análise e interpretação de todos os dados, fazendo tabulações de alguns dos
materiais coletados, podendo, desta forma, compreender melhor o que foi
esta iniciativa criada pela Igreja Católica;
• Elaboração do relatório parcial, que foi entregue em fevereiro, e
posteriormente do relatório final, que será entregue em agosto.

a) Sistematização de algumas leituras


Fiz o levantamento dos principais pontos de alguns dos textos, para facilitar o
entendimento e auxiliar na preparação deste relatório. A seguir apresentarei alguns
deles.
CAVALIERE, Ana Maria. Entre o pioneirismo e o impasse: a reforma paulista de
1920.
Ao longo do texto, a autora expõe os objetivos da Reforma de Sampaio Dória, no
ano de 1920, as críticas pelas quais passou, as mudanças trazidas e a questão da polarização
entre qualidade e quantidade do tempo da escolarização, não só em relação à Reforma, mas
também traz à tona as preocupações atuais.
Esta reforma, que esteve em vigor a partir de março de 1921 até dezembro de
1925, visava garantir o acesso à escola, mas como não havia recursos financeiros
necessários para ampliar o número destas, reduziu-se a escolarização obrigatória de 04 para
02 anos. Um dos objetivos propostos pela reforma era o de otimizar os recursos financeiros,
estando em consonância com o número de professores e escolas, para aumentar a
quantidade de crianças escolarizadas e alfabetizadas.
Apenas o ensino primário era gratuito e obrigatório. As crianças passaram a entrar
na escola aos 09 anos, fazendo com que as crianças menores, assim como as maiores,
fossem impossibilitadas de freqüentar este espaço.
A autora faz uma retomada do cenário político da reforma, sendo importante
ressaltar as seguintes questões:
o Epitácio Pessoa no governo;
o Força do movimento operário;

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o Grande número de greves: iniciativas dos movimentos operários
para a escolarização eram diversas, o número de escolas por eles
criadas chegou a 25, até 1920, as quais eram mantidas por
associações sindicais e militantes anarquistas;
O número de imigrantes que vivia no país era muito grande, e para as elites
significavam um perigo, por isso havia a necessidade de homogeneizar a nação, ensinando
patriotismo e combatendo o analfabetismo, reformando, deste modo, o ensino até então
vigente. Sampaio Dória é chamado para elaborar esta reforma, estando à frente da diretoria
de Instrução Pública. Ele era representante da corrente liberal, ligado à Liga Nacionalista, e
via o analfabetismo como inimigo da Pátria, precisando ser erradicado. Para ele, a evolução
da nação se promoveria pela educação, e somente através dela é que se combateriam as
influências estrangeiras.
Segundo a autora, o combate a estas escolas aparece nas determinações da
Diretoria de Instrução Pública, segundo o qual elas deveriam cumprir algumas leis, tais
como: “respeito aos feriados nacionais, ensino do português, ensino de geografia e história
do Brasil, ensino dos cantos nacionais, proibição de língua estrangeira para crianças
menores de 10 anos, abertura do estabelecimento às autoridades de ensino” (p.09).
A reforma proposta por Dória, a princípio, era vista com bons olhos pelos
governantes, pois não trazia muitos gastos. Era mais barato reduzir em 02 anos a
escolarização do que criar novos prédios para as crianças que estavam fora da escola. A
primeira medida tomada por Dória foi o recenseamento escolar, com o qual descobriu-se
que um número muito maior de crianças estava fora da escola, e que este número não era
apenas resultado da falta de vagas para todas elas, mas também de uma questão cultural.
Outra questão trazida pelo recenseamento foi o “respaldo à obrigatoriedade e padronização
escolares, que compunham o projeto republicano de homogeneização cultural da
população”. (p.07).
A homogeneização e obrigatoriedade trazidas pela reforma são também um modo
de frear as outras iniciativas escolares, como as estrangeiras, as do movimento anarquista e
de entidades de cultura negra.
A Reforma de 1920 traz à tona a questão da qualidade x quantidade, já que, por
reduzir o tempo da escolarização, ficou sendo vista como despreocupada com a qualidade e

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responsável por sua diminuição. Várias são as críticas feitas à reforma de Dória, sendo vista
por muitos como um retrocesso do ensino. Algumas delas são: promover a simplificação do
ensino, exclusão das crianças de 07 e 08 anos e descontentamento dos professores frente
aos novos postos de trabalho. (p.11)
Mesmo sem os resultados esperados a Reforma significou um marco, um modelo
para os reformadores da época. O método pedagógico utilizado é o intuitivo, sendo
interpretado de outra forma para agilizar o processo de alfabetização. A silabação era
proibida para o ensino de leitura. A experiência de vida do aluno era valorizada para o
aprendizado. O currículo englobava: “linguagem oral, leitura analítica, linguagem escruta,
aritmética, geometria, geografia e história, ciências físicas e naturais, higiene, instrução
moral e cívica, desenho, trabalhos manuais, música e ginástica.” (p.13).
Este currículo era muito extenso para tão pouco tempo de escolarização, e
“apresentava a tentativa de responder às necessidades reais percebidas pelos educadores
relativas à escolarização popular” (p.14);
A grande questão que a reforma traz para os dias de hoje se refere ao tempo, que
não é necessariamente responsável pela qualidade do ensino. Quando pensamos em
aumentar a quantidade de horas que os alunos passarão na escola precisamos pensar em
uma proposta, em um objetivo, repensar como este tempo é gasto neste espaço, pois deixar
as crianças na escola sem ter em mente o que se quer ensinar, e sem pensar na
aprendizagem em seu sentido mais amplo não teremos ganhos qualitativos. Não é porque as
crianças passam mais tempo na escola que elas aprendem mais, e não é aprendendo muito
mais conteúdos que elas tornarão este aprendizado significativo para suas vidas.
KASSICK, Neiva e KASSICK, Clovis. A pedagogia libertária na história da
educação brasileira.
Este livro conta um pouco do movimento anarquista e libertário em relação à
história da educação brasileira. Segundo os autores, a história da educação vinha
deixando de lado a influência que este movimento exerceu no período, jogando luzes
muito mais às iniciativas oficiais, mas que alguns historiadores já começaram a
perceber sua importância.
O movimento no Brasil se espelhava em anarquistas de outros países,
especialmente da Espanha. A educação anarquista buscava novos métodos pedagógicos,

16
denunciando a “escola enquanto instituição de reprodução dos interesses da Igreja e do
Estado” (p. 16). A inspiração libertária foi de grande importância para a educação dos
trabalhadores, trazendo outros valores, contestando os vigentes até então e também é
importante para o fortalecimento de sua luta pelos direitos nas fábricas e na sociedade.
Os jornais operários eram difusores dos ideais anarquistas dentro das escolas,
sendo assim, além de ser material de estudo dos alunos, era propagador das idéias
anarquistas e práticas pedagógicas. Estas escolas não utilizavam os mesmos materiais
didáticos que o Estado e Igreja, pois para eles este era um meio de exprimir os valores
burgueses e não criticar a realidade do país.
A crítica dos anarquistas à educação popular oferecida pelo Estado é por esta ser
classista: para a burguesia era oferecida educação cientifica, para o povo, a educação
profissional. Em suas escolas queriam romper este conceito, oferecendo uma educação
para o desenvolvimento completo do homem, sendo assim, não havia a tradicional
distinção entre o trabalho manual e o intelectual. Os anarquistas tinham dificuldade em
manter estas escolas, e o faziam através da contribuição dos alunos e familiares e festas,
rifas, quermesses, ou através de doações.
O método de ensino era baseado na liberdade, individualidade, expressão e pensar
da criança. Pregavam a co-educação dos sextos e de classes, e por isso enfrentavam
grande repressão da Igreja e Estado. Segundo os autores:
“por ousar colocar lado a lado ambos os sexos, numa mesma sala, numa mesma
atividade educativa, os educadores libertários tiveram que suportar toda a sorte de
pressões da Igreja, que, utilizando-se de artimanhas, da imprensa das instituições,
buscava colocar a população contra aquilo que considerava um ‘descalabro’ – a co-
educação dos sexos” (p.39).
Para concluir o livro, a ultima questão abordada é a importância da educação para
a transformação social. A emancipação popular e a produção da cultura para a recriação
das instituições só se efetivam através da educação, e esta deve ser emancipatória, livre
de qualquer tipo de autoridade, devendo promover a auto-gestão.

17
SOUZA, Rosa Fátima de. Tempos de infância, tempos de escola: a organização do tempo
escolar no ensino público paulista (1892- 1933).

O primeiro aspecto a ser levantado no texto da Rosa F. de Souza é a situação


educacional da República. A grande maioria das crianças não freqüentava a escola, pois
não havia oferta de vagas para atender todas as crianças, com isso, a taxa de analfabetismo
era elevadíssima, atingindo também as crianças que iam à escola. Além disso, há um alto
número de evasão escolar; pouco menos de 10% dos alunos que iniciavam seus estudos
conseguiam concluir o curso primário.
A partir deste cenário, há a urgência em mudar essa realidade, erradicando o
analfabetismo, que era considerado o fator impeditivo do progresso do Brasil. Criam-se,
então, iniciativas para democratizar o ensino primário, e a mais polêmica de todas é a de
Sampaio Dória, que propõe a reforma do ensino a partir da redução de 04 para 02 anos de
duração do curso, visando erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino primário. No
período da reforma Sampaio Dória (1920- 1924) foram implantadas medidas de controle
sobre a freqüência dos alunos, como aplicação de multas, campanhas e notificação aos pais,
exigindo justificativas às faltas. Contudo, Dória é mal interpretado e em 1925 implementa-
se uma lei que revoga a reforma feita por ele.
O período republicano também traz outras mudanças, modificando o ensino até
então vigente. Criam-se novas instituições, os Grupos Escolares, inovam-se os métodos de
ensino e controle, implantando uma “escola primária homogênea, padronizada e uniforme”
(SOUZA, p.130).
Com a mudança no ensino, pode-se levantar outro ponto importante, a influência
que o tempo exerce sobre a escola. Quando os Grupos Escolares são criados e usam-se
outros métodos de ensino-aprendizagem, vê-se a necessidade de empregar o tempo de
forma que se organize os conteúdos a serem aprendidos e a duração de cada atividade. Para
que houvesse um maior controle, tanto por parte dos professores em relação aos alunos,
quanto dos supervisores sobre os professores. A influência do tempo se dá de tal forma que
o relógio faz parte do mobiliário escolar, balizando uma “ordenação temporal da vida social
e da infância” (p.137). O tempo é excessivamente fragmentado e estabelece uma

18
hierarquização de saberes à medida que privilegia algumas atividades frente a outras (por
conta da duração).
O último aspecto pertinente é a influência que o tempo escolar exerce sobre o
tempo social. Quando a escola passa a se utilizar de um calendário específico, acaba por
criar um tempo próprio da escola, estabelecendo datas para início e término de aulas, férias
escolares, período de matrícula, festas de encerramento etc. Com isso, a sociedade acaba
por ser influenciada por este calendário, tendo por vezes que mudar seus hábitos para
adaptar ao cotidiano de suas crianças, que estão na escola. Segundo Souza, “um novo
sentido de tempo estava se impondo na sociedade urbana, não mais o tempo governado pela
natureza, mas o tempo cronometrado e preciso dos relógios” (p.134). E estes eram os
relógios escolares.
Esta mudança acontece gradativamente e não de um dia para o outro. A sociedade
vai adquirindo aos poucos o calendário escolar tanto que, como afirma a autora, hoje o
calendário escolar já se impôs em nosso vocabulário e até mesmo a indústria turística o usa
como parâmetros para se referir à alta e baixa estação (a alta se refere ao período de férias
escolares e a baixa as aulas), dando-se a entender que os pais destes alunos configuram seu
calendário para, juntos a eles, também entrar em férias. Pode-se dizer que “o tempo escolar
se configurou como mais um tempo social” (p.141), onde a escola é altamente
influenciadora do ritmo e cotidiano social.

ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei. Legislação, política urbana e territórios na cidade de


São Paulo.

Na República Velha os municípios tinham autonomia e eram responsáveis pelas


estradas, manutenção dos espaços públicos, construção e infra-estrutura, ocupação da terra
e trânsito. O voto era restrito: os estrangeiros não podiam votar, e nesta época eles
representavam um número muito elevado, chegando a somar 55% da população no ano de
1893. Com esta medida de restringir o voto, tirava-se o poder de grande parte das classes
populares, já que esta era formada, em sua maioria, pelos imigrantes. Sendo assim, a
população de baixa renda era excluída através desta política de restrição de voto:
imigrantes, analfabetos e mulheres não votavam, ficando fora das decisões políticas do
país.

19
O desenvolvimento das cidades foi altamente influenciado pela Lei de Terras, na
qual a terra passa a ser uma mercadoria, tendo valor de compra. Segundo a autora, “a terra
no Brasil é livre quando o trabalho é escravo. No momento em que se implanta o trabalho
livre, ela passa a ser cativa” (p.23). Ou seja, ter posse passa a ser elemento de riqueza e não
mais ter escravos: ter propriedades de terra é sinônimo de riqueza. Quando os escravos
eram cativos não tinham direito a terra, mesmo esta sendo livre, já que estes eram
propriedade de seus donos; a partir do momento que se tornam livres, a terra passa a ter
valor. Como não tinham dinheiro, eram marginalizados por sua condição de ex-escravo,
continuavam a não ter direito a terra, sendo assim, este era um meio que os grandes
senhores de escravos e proprietários de terras encontraram para mantê-los subordinados.
As terras públicas eram divididas em 03 categorias: uso público de todos
habitantes; propriedade pública (edifícios, pastagens) e para municipalidade (mercados). A
política de terras desta época seguia a seguinte lógica: “as vias públicas não podem ser
impedidas por particulares; pelo contrário, o particular deve ceder terrenos de sua
propriedade, sem retribuição ou indenização, para abertura de novos caminhos e novas
ruas” (p.26).
Toda construção dos imóveis era sujeita a uma medição, a partir de uma
legislação, com a finalidade de não atrapalhar a visibilidade e iluminação das casas
vizinhas. A localização das construções não é o fator que determina se o local é rural ou
urbano, e sim o tipo de construção que era realizado. As casas são rurais, os edifícios são
urbanos. Apenas as construções em pedra configuravam direitos e privilégios. As casas
abrigavam a família, agregados e escravos, e se dividia em 04 regiões: loja ou oficina
(localizada no térreo), alcovas, sala de viver e quintal. A diferença entre a casa dos ricos e
dos pobres era no material de construção e não no modelo arquitetônico. A vida familiar se
dava muito mais fora de casa no que se refere à socialização. Em meados do século XIX a
diferenciação das casas das elites se fazia também pelos objetos de decoração.
O desenho das ruas era caótico, com grande circulação de pessoas, já que ali
também havia um forte comércio. Esta circulação passa a ser cada vez mais rápida, o que
demanda uma nova preocupação com o espaço público, na medida em que se inicia uma
proibição de quaisquer coisas que viessem a atrapalhar o trânsito das ruas, como, por
exemplo, portas das casas que abriam para fora. Surge também uma preocupação em

20
demarcar o que é espaço público e o que é privado. A rua é vista de maneira distinta, de
acordo com o gênero das pessoas que a freqüentam. Para as mulheres era um lugar no qual
poderiam perder sua virtude, desgraçando-se, para os homens era um lugar de liberdade.
Percebe-se novamente uma necessidade de regularizar os espaços da rua,
padronizando as construções, como se pode notar, por exemplo, com a proibição da
construção de cortiços em determinados espaços. Contudo, isto não acontece de fato, pois
“todas essas exigências estavam muito acima da realidade dos cortiços, fruto do aumento da
demanda por moradia e da valorização dos terrenos, que estimulava a superutilização do
lote e das construções através da subdivisão de cômodos no maior número possível de
cubículos”. (p.36)
Podemos notar que a valorização dos terrenos impossibilita que as classes
populares tenham acesso a eles, sendo assim, é mais barato aproveitar todos os espaços
possíveis no mesmo lote, criando estratégias de moradia que seja mais acessível, ainda mais
por conta do crescimento da procura, no final do século XIX, por parte dos operários que
não tinham família e iam morar em pensões conhecidas como “hotel cortiço”.
Dada esta situação de moradia dos operários e classes populares não era difícil
que se propagassem doenças, já que as condições higiênico-sanitárias eram
demasiadamente precárias. Um modo encontrado para tentar conter as epidemias foi criar
exigências arquitetônicas que deveriam ser seguidas nestas casas operárias, tais como de
iluminação e entrada de ar.
As elites culpabilizavam os hábitos e modos de vida das populações urbanas mais
pobres pelas epidemias que se alastravam por toda a cidade. Segundo eles, as doenças,
imoralidade e pobreza eram as causas do caos pelo qual a cidade passava. Em 1918
elabora-se um novo código sanitário, visando atingir os mais pobres, que estavam mais
expostos às questões de insalubridade.
Assim como as construções populares eram submetidas às legislações, as
construções das elites também estavam sujeitas a elas, contudo, o objetivo era o de proteger
os espaços, separando os ricos dos pobres afim de evitar epidemias. Corroborando esta
idéia vem a proibição dos cortiços na região central e construção das vilas operárias “fora
da aglomeração urbana” (p.47). Com toda esta realidade, pode-se dizer que havia fronteiras
sociais invisíveis dentro da cidade: “para dentro, o comércio, as fábricas não incômodas e a

21
moradia da elite; para fora, a habitação popular e tudo que cheira mal, polui e contamina
(matadouro, fábricas químicas, asilos de loucos, hospitais de isolamento etc)” (p.48).
Como pôde ser visto ao longo do texto, a legislação vigente visava o higienismo,
controlando as habitações coletivas, que existiam, embora não fossem vistas com bons
olhos, por isso a legislação definia modelos de moradia e utilização dos espaços públicos.
Tudo o que fugia à legislação era visto como ilegal, informal, e estas eram as áreas onde
residiam os negros e imigrantes, que formavam bairros populares com elevadíssimo
número de estrangeiros. A região do Brás foi uma das primeiras a abrigar os imigrantes. Os
bairros tinham concentrações étnicas muito variadas, com instituições próprias destes
grupos, como cultos religiosos, restaurantes, casas de dança, escolas etc. Os principais
bairros das classes operárias e trabalhadoras eram: Bom Retiro, Brás, Barra Funda, Água
Branca, Lapa, Ipiranga, Cambuci e Bexiga.
Segundo a autora: “a condição de empregado de fábrica regular e assalariado era
minoritária, inclusive em relação ao universo dos imigrantes, o que define a vida cotidiana
dos bairros ‘operários’ de forma bastante distinta do sonho das elites de uma força de
trabalho disciplinado” (p.79).
Como podemos perceber, a realidade da habitação popular era muito diferente
daquela que era esperada pelas elites, com suas concepções higienistas e de controle do
espaço, os quais não eram constituídos somente por famílias nucleares, que faziam sua
morada, mas também por trabalhadores e operários que passavam a maior parte do seu
tempo nas fábricas ou em qualquer outro tipo de serviço. Nos anos de 1930 nota-se uma
mudança no modo como os imigrantes eram vistos, surgindo um forte sentimento de
xenofobia, no qual os imigrantes eram vistos como um obstáculo à nacionalidade. Além
disso, este é um período de grande força do movimento sindical anarquista.
Em relação ao espaço “rua” e a urbanização da cidade, é importante ressaltar que
com a Revolução Industrial a iluminação chega às ruas, dando outra dimensão a este
espaço, que passa a ficar movimentado à noite, havendo uma valorização dos imóveis e
regiões que estão nestas condições. O centro da cidade era valorizado tanto pelas suas obras
de remodelação, como pelos imóveis comerciais e culturais, os quais só a elite tinha acesso.
“O centro passou a concentrar poder político e financeiro, transformando-se na própria
imagem da cidade (...) ir ao centro era ir à cidade” (p.106)

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O centro da cidade passou a ser um local próprio de comércio e serviços, pois as
camadas mais pobres não tinham condições de pagar os altos custos dos imóveis e a elite já
havia se instalado em outras regiões mais valorizadas, como a zona oeste da cidade. Havia
uma legislação que “definia” o modo como as casas deveriam ser construídas nos terrenos,
garantindo, deste modo, que não fossem utilizadas para outros fins que não para morar, ou
abrigar os cortiços, e também garantia a paisagem com árvores e jardins, que eram
altamente valorizados na cultura européia e copiado pelas elites paulistanas.
Na década de 1910 entre as regiões mais valorizadas de São Paulo estavam a
Paulista, Higienópolis e o Triângulo, em contrapartida tinha a região do Brás, que era uma
região de chácaras, com uma ferrovia que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, o que a faz
passar por um processo de urbanização, com a implantação de indústrias e residências e não
tinha uma valorização imobiliária pois era considerada uma região insalubre. Ao redor das
fábricas eram construídas vilas operárias, como uma estratégia de controlar greves e
protestos, pois os trabalhadores poderiam ficar sem emprego e moradia. As pessoas
alugavam cômodos de suas casas, ou casas no fundo de seus quintais, para
complementarem sua renda, formando, deste modo, uma complexa rede entre inquilinos e
proprietários.
Neste período também se pode ver o surgimento da classe média, que era formada
por “pequenos comerciantes, construtores e senhorios de cortiços e vilas, funcionários
públicos (...) proprietários de microindústrias” (p.154-5), os quais também não tinham voz
política e reivindicavam reconhecimento por parte das elites paulistanas.
Em relação à urbanização, a autora faz uma afirmação que é muito relevante para
entendermos a década de 1920 e a constituição da cidade de São Paulo: “a metade dos anos
20 estabeleceria o padrão urbanístico dominante da metrópole paulistana; um padrão
baseado na expansão horizontal, no ônibus e no automóvel como meios de transporte, na
autoconstrução dos assentamentos populares e numa quase total irregularidade perante leis
e códigos que determinavam o uso e a ocupação do solo na cidade” (p.165)
Iniciando a conclusão, a autora retoma alguns aspectos que foram trabalhados ao
longo do livro, como a questão da valorização do mercado em algumas regiões,
dependendo do prestígio das áreas, citando o exemplo da região sudoeste que era a mais
rica e valorizada em contrapartida às regiões mais periféricas e muitas vezes irregulares. Os

23
bairros populares se constroem em casas coletivas, cômodos alugados, distanciando-se da
consolidação dos bairros das elites, que tiveram altos investimentos ao longo de sua
história. A lei de zoneamento consolida estas características, fazendo uma espécie de
muralha no entorno destes bairros, para que as camadas populares não se aproximem,
criando, desta forma, sua “própria cidade”, sem a pobreza e a marginalidade, causando alta
segregação.
O urbanismo nos anos de 1940 foi marcado por projetos viários, como avenidas e
verticalização, com prédios cada vez maiores e apartamentos cada vez menores. Anhaia
Mello, com influências européias e norte americanas, acreditava que era necessário conter a
expansão urbana, horizontal e verticalmente. Seu objetivo era impedir que a “cidade ilegal”
crescesse cada vez mais, por isso em seu projeto há fiscalização e mapeamento das áreas
mais pobres.
A autora afirma que a tolerância com a ilegalidade gera um poder sobre os
moradores, que ficam numa posição de devedor de um favor que o Estado lhe faz, sendo
uma espécie de manipulação de votos e dos trabalhadores, na medida em que o Estado lhes
concedia casas próprias e “prometia” melhores condições de moradia, contudo estas
melhorias não vieram, pois durante muito tempo, muitos lugares continuam sem água
encanada, rede de esgoto, iluminação etc, fazendo com que os moradores começassem a
pressionar o governo e reivindicar que as melhorias realmente se efetivassem.

ANTUNHA, Heládio César Gonçalves. A instrução pública no Estado de São


Paulo: A Reforma de 1920.

Durante o período de 1889 a 1920, São Paulo vive uma fase de grande
crescimento econômico, com a economia cafeeira. A composição da população é em
grande parte imigrantes. O perfil regional do estado no início da República é o seguinte:
“região parcialmente habitada, com uma população que se concentrava praticamente nas
proximidades da capital e fundamentalmente empenhada na agricultura cafeeira (...) As
atividades industriais existentes, em geral, voltadas ao serviço da agricultura, resumiam-se
em umas poucas atividades artesanais e manufatureiras (...)” (p.21-2).

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Os comerciantes de café voltavam-se para as grandes posses, tornando-se
fazendeiros, estes se tornam negociantes e cada vez mais participam das construções de
linhas férreas, mudando o cenário do Estado. A partir de 1888, São Paulo passa a ter um
predomínio econômico e político, com povoação dos territórios antes desabitados, extinção
da escravidão e conseqüente aumento no número de imigrantes e urbanização crescente.
Também é predominante no que concerne aos aspectos culturais, com a criação de
instituições cientificas e culturais e no aspecto educacional, com a implantação de um
sistema estadual de educação pública.
Os ideais dos reformadores eram progressistas, contudo não davam conta das
novas necessidades do Estado. Os maiores problemas apontados que deveriam ser foco das
melhorias eram: necessidade de expandir a rede, para acompanhar o crescimento
populacional; escolarização de outras zonas, já que estas apresentam intensa mobilidade
populacional; integração dos imigrantes; “melhoria do nível da população nacional das
classes mais pobres” (p.25)
O sistema de educação precisava se atualizar constantemente para acompanhar o
ritmo e atender a demanda, contudo, não encontramos, até 1920, preocupações teóricas
além da metodologia e técnica de ensino. Em 1910 se inicia uma busca por uma reforma no
ensino, para atender às necessidades populacionais. A “febre” do café traz povoamento em
áreas até então desconhecidas (oeste paulistano), o que demanda um trabalho de criação de
novas escolas para atender estas regiões.
Esta questão do povoamento também traz mudanças significativas na composição
da população, que cresce muito por conta dos estrangeiros. Segundo o autor, até 1910 havia
mais ou menos um milhão de estrangeiros em São Paulo. Além disso, também há um
acréscimo no número de migrantes nacionais, que vão para estas regiões em busca de um
trabalho e melhores condições de vida.
Percebe-se que há um grande crescimento das cidades, a urbanização se expande
já que os fazendeiros e grandes proprietários vêm para as cidades. Os imigrantes também
ocupam as cidades, em trabalhos urbanos, ajudando no crescimento e desenvolvimento
industrial. Nesta época começam a surgir as pequenas propriedades, com a crise do café e
iniciativas dos colonos que vem para as cidades.

25
Com a primeira Guerra Mundial o comércio exterior fica abalado e diminui a
procura por café, gerando um aumento na exportação agrícola. São Paulo passa a ser
responsável por oferecer a todo país produtos que anteriormente eram importados do
exterior, sendo assim, cria-se novos vínculos comerciais e gera-se um crescimento
industrial.
Apesar de inúmeras mudanças ocorridas, a sociedade de certa forma se mantém
estruturada do mesmo jeito, ou seja, mantêm-se estratificada. As mudanças nesta estrutura
começam a acontecer aos poucos, com o crescimento populacional, a urbanização, que
trazem o surgimento de novas camadas sociais (imigrantes) e o surgimento do proletariado
urbano, que até então não existia. Estes novos estratos sociais acarretam em uma nova
necessidade educacional, cultural e política.
Alguns imigrantes conseguem obter considerável êxito em seu trabalho no campo
e acabam por construir grandes impérios agrícolas. Surge então uma pequena e alta
burguesia, dificultando a delimitação dos poderes políticos, por exemplo, pois esta
burguesia tem características muito distintas da anterior. Além da questão do trabalho, a
ascensão social destes imigrantes também era fruto do sistema de ensino, pois na escola
primária do interior os jovens tinham a possibilidade de fazer um curso rápido, com uma
profissão certa, já definida, e relativamente bem remunerados.
Surge um certo “medo” de dominação dos estrangeiros sobre os nacionais, já que
os imigrantes estavam no país há pouco tempo e já tinham sucesso em sua produção. Os
governantes se preocupavam com o fato de que muitas vezes o imigrante passava da
situação de colono para proprietário de terras, empregando brasileiros em suas fazendas. A
preocupação chega também à população, que achava inadmissível ser “subalterno” dos
imigrantes. Com isso, tem-se o início de uma valorização nacional e até mesmo xenófoba.
Queria-se elevar a condição do caboclo e conter a expansão estrangeira.
Afirmava-se que para que todos fossem verdadeiros brasileiros, ou paulistanos, deveria
haver uma integração nacional, sendo que somente através das vias educacionais é que isso
poderia ser feito, como diz o autor no seguinte trecho: “através da expansão do sistema
público de ensino a fim de atingir a todos os recantos do Estado e a todas as crianças em
idade escolar, e de outra parte do cultivo das virtudes cívicas e dos valores brasileiros, isto
é, de sua língua, de sua história e geografia” (p.40-1).

26
A educação popular tinha como modelo os países Europeus, a Argentina e os
Estados Unidos. O nacionalismo era valorizado e fortificado com ensinamento das virtudes
cívicas, amor à pátria e difusão dos valores nacionais. Os líderes nacionais, os quais grande
parte era engajada na Liga Nacionalista, querem colocar em prática o quanto antes estes
valores.
A organização do ensino era feita da seguinte forma:
Federal: ensino superior e secundário;
Estadual: organização e manutenção da educação pública às camadas populares
(p.45)
Os municípios brasileiros apresentavam dificuldades para estruturar seu ensino. A
iniciativa privada tem maior interesse no ensino secundário, mas por vezes também atendia
o ensino primário. Os republicanos têm papel importante no ensino popular e
responsabilização do Estado com a educação.
A primeira reforma do ensino ocorreu em 1892 e trouxe: “consolidação da
legislação escolar”; “reforma da Escola Normal”; “organização em três níveis: primário,
secundário e superior”; “divisão do ensino primário em dois: preliminar e complementar”
(p.48). Um novo período da organização do ensino acontece em 1897, com a criação da
Inspetoria Geral do Ensino Público. Esta reforma de 1892 tem uma preocupação muito
mais de caráter qualitativo: “educação primária de 08 anos; escola Normal reformada;
cuidado especial com estruturação de escolas modelo” (p.54)
A reforma de 1920 “tentará dar uma nova estrutura ao ensino público paulista e ao
serviço de inspeção” (p.51). Os níveis de ensino existentes até então não estavam
articulados, ou seja, não formavam um sistema educacional. Havia uma dualidade de
sistemas, de acordo com os alunos que o freqüentavam: educação popular: ensino
preliminar, complementar e normal; educação da elite: ginásios e cursos superiores.
Até 1930 a preocupação era quase estritamente ao ensino primário e à educação
popular, pois como se sabe, a educação era vista como um meio de “salvar” a nação, e
somente através de cidadãos conscientes e alfabetizados é que isso poderia ocorrer. A
educação do povo era vista como um meio de fazer funcionar a democracia, pois só o povo
poderia ser responsável por escolher seus governantes.

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Como dito anteriormente, o caráter da reforma de 1892 foi qualitativo, pois não
havia muita preocupação quantitativa, contudo, a demanda por escolas pressionava o
governo, dando início há uma tendência quantitativa, sem preocupações substanciais com a
qualidade, como podemos ver na afirmação do autor: “na impossibilidade de se ter
excelentes escolas em grandes quantidades, criam-se numerosas escolas muitas vezes sem
os cuidados mínimos indispensáveis” (p.55). Por outro lado, também se tem algumas
escolas modelos, em quantidades muito reduzidas, que mantém a qualidade do ensino
elevada. Com isso, têm-se dois tipos de escolas, que atendem a dois objetivos diferentes:
Escolas modelo: padrão que deveria ser seguido. Traz em si ideais e valores da
época. Tem boa organização, professores bem remunerados e bom espaço físico.
Escolas comuns: criadas em larga escala e com qualidade muito inferior às
Escolas Modelo.
Os primeiros republicanos mostraram uma preocupação com o ensino Normal e
formação de professores para a melhoria educacional. A partir de 1911 há uma dualidade
na formação destes professores, dividindo-se a formação para o nível primário e outra para
o secundário. Com a reforma de 1920 há uma re-unificação desta formação.
O cenário educacional era composto pelas escolas isoladas, reunidas, grupos
escolares e escolas provenientes de iniciativas particulares. Segundo o autor, “no campo do
ensino primário, [as escolas particulares] merecem destaque especial, pelo número que
atingiram, pelas matrículas, por sua organização especial, e, sobretudo pelos problemas que
criaram as escolas estrangeiras e especialmente as italianas” (p.91).
A administração pública interferia muito pouco nestas escolas, havia uma pequena
quantia de visitas dos inspetores, que conferiam o programa de ensino dos cursos e no caso
das escolas estrangeiras, verificavam se o ensino era ministrado na língua portuguesa e se
ensinava-se história e geografia do Brasil.
A reforma de 1920 traz mudanças nestas escolas em dois sentidos: tentativa de
nacionalizar as escolas estrangeiras, ensinando coisas do Brasil; “estimulando criação de
escolas primárias por normalistas, (...) pagando-lhes uma subvenção especial” (p.92). É
importante ressaltar que até então não havia nenhum rigor quanto à contratação dos
professores da rede privada.

28
Na primeira república há uma nítida diferenciação entre educação popular e
educação das elites. A política deste período se preocupou com o desenvolvimento da
educação popular, visto a necessidade de acompanhar o ritmo de crescimento da população.
Como se sabe, muitas crianças em idade escolar estavam fora da escola, mostrando a
elevada taxa de analfabetismo neste período. Acredita-se que em determinada fase, o
número de alunos fora da sala de aula era igual ao de alunos matriculados. Além disso, a
freqüência era muito reduzida, também por conta da mobilidade populacional.
O ritmo das matrículas nas escolas estaduais cresce significativamente, contudo,
os investimentos não acompanham este crescimento, dada uma política de contenção de
gastos, como podemos perceber com a estratégia de se desdobrar o funcionamento dos
grupos escolares, por exemplo, fazendo com que se atendesse maior número de crianças,
mas sem a construção de novos prédios.
Boa parte dos alunos do ensino primário estava matriculada nas escolas
particulares, mas o Estado era a rede de ensino que mais se desenvolvia e demonstrava uma
qualidade superior em relação às primeiras. Grande parte das escolas particulares era
subvencionada pelo Estado, e se faziam presentes em maior número na capital. A maioria
destas escolas era de imigrantes italianos.
A administração de Sampaio Dória, idealizador da Reforma de 1920, foi de
grande importância para o desenvolvimento da educação. Com ele se “inaugura uma série
de práticas, instaura uma nova atitude e cria novos serviços educacionais” (p.131). Dória
defendia que a educação era um dever do Estado, mas que poderia ser oferecida pelos
particulares. Para ele, a educação assegurava prosperidade econômica, grandeza militar,
integridade nacional e respeito à liberdade individual (p.152).
As críticas e os problemas apontados pelos educadores e intelectuais do período se
referem ao declínio do ensino público se comparado aos primeiros anos da República,
iniciando-se uma conscientização de que a educação era ainda muito elitista, deixando
muitas crianças de fora das escolas. Oscar Thompson afirma que é preciso uma quantidade
mais significativa de verbas para a instrução pública, para que fossem criadas mais escolas,
com melhores infra-estruturas e que tornasse possível o aumento no número de
profissionais da educação. Ele foi o precursor das análises dos problemas de ensino, em

29
1918, colocando a questão da reforma da instrução pública e a necessidade de se combater
o analfabetismo.
Uma das questões mais importantes do período era a de não deixar que o sistema
educacional público perdesse cada vez mais sua qualidade e abrangência, vendo crescer o
número de analfabetos ou então a solução era encontrar um modo de expandir a instrução
primária, contudo sem elevar os gastos públicos.
Os problemas apontados eram: precária preparação de professores, visto que estes
eram muito despreparados; e não uniformidade na formação destes profissionais, questões
estas que geravam a má qualidade do ensino que ministravam.
As medidas que se adotam para conter o analfabetismo são: redução de dois anos
no ensino primário; obrigatoriedade para as crianças de 09 a 10 anos; desdobramento das
escolas isoladas; isenção das taxas para os pobres; criação de 2000 escolas isoladas;
O objetivo destas medidas era fazer com que houvesse uma “reorganização do
sistema público de ensino a fim de permitir uma distribuição eqüitativa dos benefícios da
educação de todas as crianças paulistas” (p.164)
Como se pode perceber, a grande preocupação era restrita à alfabetização, com
uma educação de qualidade para poucos contrastando com uma educação de nível baixo a
todos. Sampaio Dória coloca em pauta a necessidade de se realizar uma campanha nacional
de alfabetização. Para ele a escola alfabetizante era uma escola de emergência, destinada a
disseminar rapidamente a leitura e a escrita ao maior número de pessoas e nos lugares onde
ainda não fosse possível fornecer-se mais educação. Para o governo, as idéias de Dória
apareciam simplesmente como a “solução para o problema do barateamento do custo do
ensino e como tal deveriam ser levadas às suas últimas conseqüências”. (p.183)
Dória inicia seu governo fazendo um recenseamento escolar, para conhecer a
realidade da instrução primária. Além de saber o número de crianças fora das escolas, se
quer saber onde moram os analfabetos, para que se possam construir escolas nestas áreas.
Com todas as normas colocadas nesta reforma, aumentou-se significativamente a
freqüência dos alunos, introduziram-se novos métodos pedagógicos e encontra-se maior
rigidez com os professores e sua contratação.
A reforma de 1920, em momento algum foi voltada para o ensino particular; entra
nesta questão apenas quando se pensa na nacionalização e nas medidas que foram tomadas

30
para garanti-la. Neste período percebe-se um crescimento de escolas isoladas localizadas no
interior e uma diminuição drástica no número de alunos e classes de curso médio.
Esta reforma teve grande impacto na opinião pública, fazendo com que o interesse
pela educação fosse mais abrangente, em âmbito nacional. Pode-se apontar como seus
objetivos: “desenvolvimento do espírito nacionalista, do civismo e do amor pelas coisas
brasileiras; renovação do ensino, a sua modernização, o combate à rotina e à burocracia
encasteladas no sistema educativo; o melhor aproveitamento dos recursos financeiros,
técnicos e docentes do Estado” (p.219)
O ensino como estava articulado até então não poderia se auto-sustentar, contudo
sua reorganização também não gera recursos para financiá-lo. Uma solução técnica que
fora tomada foi a de não aumentar os gastos e aumentar a escolarização, de maneira a
fechar salas de 3º e 4º ano para alocar recursos para as salas de 1º e 2º ano.
O autor encerra o livro afirmando que: “a Reforma de 1920 não deve ser julgada
pelas inovações introduzidas, nem mesmo pelos seus resultados práticos, concretos, mas,
sobretudo, pela agitação de idéias que provocou, pelos propósitos, atitudes e determinação
dos homens que a conceberam e a conduziram, enfim, pelo impacto que ela causou no
desenvolvimento da história da educação paulista” (p.236)

3- Resultados da Pesquisa

“É preciso que a infância pobre e a juventude operária recebam, a


par da instrucção, a moral cathólica, a única que, formando o caracter,
prepara uma sociedade sã. Trabalhae, pois, pela diffusão das Escolas
Populares, por quanto, além de vossa recompensa que será eterna nos céos,
ainda tereis contribuído para que nossa Pátria receba um augmento de
cidadãos úteis e educados que são, no dizer de Guibert – ‘ aqueles que
trazem a verdade no espírito e a virtude no coração’”.
Relatório de 1927, p.11

Criação das Escolas Populares

A Associação das Escolas Populares é criada em louvor à Santa Infância de


Jesus, no ano de 1910, em São Paulo, por meio da iniciativa de alguns membros da

31
sociedade católica, os quais tinham o intuito de alfabetizar e evangelizar crianças pobres e
operários. Estas escolas jamais foram subvencionadas pelo Estado, e tinham como
conselheiro espiritual o Arcebispo Metropolitano, dom Duarte Leopoldo e Silva.
Para entender o que estas Escolas significaram para a Igreja Católica e para a
educação neste período é importante citar a fala de João Lourenço Rodrigues3, no
Congresso Católico que foi realizado em São Paulo no ano de 1916, que fora convidado
para falar sobre o “sistema escolar católico”, no qual cita as Escolas Populares.
Neste congresso, que segue em anexo na íntegra, ele considera as Escolas
Populares como sendo uma boa referência no que diz respeito ao ensino religioso que busca
“educar christãmente os filhos dos operários, contrabalançar e possivelmente neutralisar a
influencia das escolas sectárias, que buscam esses meios como um terreno de eleição”.
(João L. Rodrigues - Congresso: “Quem é dono da educação é dono do mundo”).
Quando ele participou deste congresso estas Escolas ainda não eram muito
conhecidas e não haviam sido citadas no Anuário de Ensino. Sua apresentação surpreende
por isto e pela defesa realizada em relação a este modelo de educação.
“Fundada há seis annos, a obra é pouco conhecida e nem siquer figura no
Annuário de ensino do Estado de S. Paulo , publicado pela directoria
Geral da Instrucção Publica.
A razão é simples: é que as distinctas professoras que se acham á sua
frente , com uma modéstia que mais lhes realça o mérito, reputam de
pouca valia os serviços que vem prestando á sociedade, pela sua
extraordinária dedicação.
E todavia esses serviços são relevantes, como declarou há mezes o
eloqüente orador sagrado padre JOÃO GUALBERTO, n´uma das suas
notáveis conferencias perante o Circulo Catholico da Capital Federal.
A associação das Escolas Populares começou sem o menor patrimônio.
Não tinha, para saccar, sinão o banco da Providencia Divina, mas para a
fé robusta das suas fundadoras não era preciso mais: cumpria demonstrar
a força da caridade e o poder da esmola, diziam ellas, repetindo as
palavras do exmo. Snr. Bispo do Espírito Santo, que foi até há pouco o
director espiritual da Associação.
E a demonstração não podia ser mais completa. Sem subvenção
permanente, não contanto sinão com os donativos e contribuições
angariadas pela directoria ente as pessoas de suas relações, a Associação
conseguiu fundar, em 6 annos apenas, 14 escolas, das quaes se mantem
13, com uma matricula de 650 alumnos de ambos os sexos.

3
João Lourenço Rodrigues (1869-1954) – formado pela Escola Normal da Capital, ocupou diferentes e
variados cargos no ensino paulista, principalmente durante a primeira república.

32
Dessas 13 escolas, 12 são nocturnas. Estão localizadas em differentes
pontos da capital, de preferência nas proximidades das fábricas e
officinas, em ordem a poderem ser freqüentadas pelos jovens operários , á
sahida do serviço. As aulas duram cerca de 2 horas, de 18.30 em diante; o
período escolar vae de principio de Janeiro até fim de novembro, com
interrupção de um mez, na estação invernosa. O programma de ensino é
reduzido: as Escolas Populares põem o seu principal objectivo na
formação religiosa e moral dos seus alumnos.
Esse escopo é plenamente attingido e, por isso, as Escolas Populares
constituem um contrapasso á acção das escolas libertárias, que disputam
a mesma clientela.
Suas fundadoras são, entre nós, as pioneiras destemidas da causa pela
qual nos batemos. Pela sua iniciativa, pelo ardor de sua fé, pelo arrojo de
seu emprehendimento e ainda mais pela modéstia com que procuram velar
os seus reaes serviços, ellas conquistaram a gloria de nos offerecer um
magnífico paradigma.
Poderemos, diante do seu exemplo, continuar na apathia?
Poderemos perder mais tempo em declamações estéreis, quando ellas
operam em silencio e realizam, pela sua tenacidade, verdadeiros
milagres?
Não creio: noblesse oblige!”
(João L. Rodrigues. Congresso: “Quem é dono da educação é dono do
mundo”)

Percebe-se pelo conteúdo da palestra proferida por João Lourenço, que ao mostrar
um pouco do trabalho das Escolas Populares, busca incentivar o público a lançar luzes
sobre esta iniciativa, que são um instrumento de luta contra o ateísmo e contra os
movimentos operários. Ele conta um pouco da escolha da localização para estas escolas,
que são preferencialmente instaladas em bairros operários, perto de fábricas, para facilitar o
acesso dos operários. Também relata sobre o horário de funcionamento, que se inicia às
18h30min e os conteúdos abordados que estavam situados na esfera da formação religiosa e
moral.
Todas estas questões serão trabalhadas ao longo deste relatório, tendo como
referências principais os Relatórios Anuais das Escolas Populares e o Anuário de Ensino do
Estado de São Paulo de 1918, tentando, deste modo, reconstruir brevemente a história
institucional destas Escolas, pontuando quem eram os sujeitos que estavam envolvidos
nesta iniciativa e como se deu a organização e funcionamento ao longo destes 30 anos de
existência.

33
Como foram organizadas e financiadas

De acordo com o Estatuto da Associação das Escolas Populares, estas escolas


“tem nos fins ministrar, gratuitamente, a educação religiosa, moral e intelectual a cristãos
pobres e operários de ambos os sexos” (Estatuto da Associação das Escolas Populares).
Contudo, lendo os relatórios anuais, percebe-se que esta situação é alterada ao longo do
tempo, pois manter estas escolas gratuitamente se torna insustentável. Como estratégia para
viabilizar a continuidade destas escolas, passam a cobrar uma taxa de matrícula, que varia
de acordo com o período em que estudam: diurno ou noturno.
Ainda segundo o Estatuto, observa-se que estas escolas contavam com um
Conselho Administrativo, composto pela diretora, secretária e tesoureira da Associação e
com um Conselho Fiscal, que deveria ser nomeado pelo Arcebispo Metropolitano,
mostrando assim, a influência do alto clero nestas escolas, já que anualmente deveriam
prestar contas ao Arcebispo.
Para manter o funcionamento destas escolas, a Associação contava com
donativos, festas beneficentes, contribuições mensais dos sócios e dos juros provenientes
dos depósitos em bancos. Como dito anteriormente, em 1918 é instituída uma taxa de
matrícula, que ajudava a manter estas escolas. Em virtude das dificuldades financeiras, em
1929 decide-se aumentar esta taxa, passando a cobrar 6$000 para o curso diurno
(anteriormente pagava-se 2$000) e 4$000 para o noturno (antes 1$000), sendo que o
pagamento era parcelado em duas vezes, a primeira era na matrícula e a segunda no
segundo semestre, contudo, segundo os relatórios, não eram todos os alunos que pagavam
esta taxa.
Os sócios também contribuíam com bens de consumo e artigos religiosos.
Segundo os relatórios anuais, constata-se doação de jornais católicos, revistas, livros,
estampas de Nossa Senhora, carteiras, quadro negro, véus e vestidos para primeira
comunhão. Além disso, encontramos a informação de que as Escolas Populares recebiam
recursos provenientes da Tarde da Criança, uma atividade cultural desenvolvida por
membros da alta sociedade católica que atendiam às crianças das elites paulistanas. É
interessante ressaltar que em todos os relatórios aparecem os nomes daqueles que
contribuíam com grande quantidade às Escolas, os quais acredita-se ser da alta sociedade

34
paulistana, assim como membros das Associações Católicas, como as Filhas de Maria,
damas da caridade, participantes dos Apostolados, entre outros.
Em relação à Tarde da Criança, foram encontradas algumas informações no
acervo da Cúria e que são pertinentes para o entendimento desta iniciativa. Segundo o
Estatuto desta Associação:
“A Tarde da Criança é uma Associação beneficente, fundada em São
Paulo no dia 05 de outubro de 1921, por senhoras da sociedade paulista.
Seus fins principaes são:
1. Proporcionar espectaculos e toda a sorte de divertimentos
adequados às crianças;
2. Beneficiar, com o lucro líquido desses festivaes, as crianças
pobres abrigadas nas casas de caridade, com séde nesta capital;
3. Facilitar às crianças talentosas os meios para desenvolverem
suas aptidões artísticas;
4. Contribuir quanto possível para o desenvolvimento da
intelligencia e aperfeiçoamento do caráter da criança brasileira.
(...) Qualquer pessôa poderá ser sócia desta Associação, contanto que
possua idoneidade moral.”(Estatuto da Tarde da Criança)
Como pode-se perceber no Estatuto desta Associação, eram realizados:
“espetáculos adequados às crianças abastadas, beneficiando ao mesmo
tempo os pequeninos menos favorecidos pela sorte, abrigados nas casas
de caridade com séde nesta capital, (...) em domingos ou dias feriados, as
14:30h, pelo menos uma vez por mez e num dos melhores theatros desta
cidade. As Exmas. Sras. e cavalheiros que se dignarem inscrever-se como
sócios, deverão contribuir com a mensalidade de 10$000, adquirindo
direito a 4 logares”.
Durante 04 anos de existência já haviam sido realizados 64 festivais, em parques e
teatros de São Paulo, promovendo concertos musicais, peças de teatro, orquestra, concurso
de jovens pianistas, concurso de artistas cômicos entre outras atividades. Foram

35
distribuídos 67:674$9004 entre as casas de caridade destinadas às crianças pobres (asilos de
crianças, maternidade, orfanatos, etc) e abandonadas da cidade, e em prêmios conferidos a
artistas e crianças talentosas. Alguns prêmios, como brinquedos, chocolates Lacta e livros,
eram destinados às crianças que acertam as adivinhações (questões sobre a Igreja e
conhecimentos gerais) do espetáculo anterior. Também havia sorteio de outros prêmios,
sendo que, se a criança estivesse ausente, o perderia, sendo então doados para a Associação
beneficiada no dia do espetáculo.
Não se sabe com exatidão o período de duração da Tarde da Criança, os dados
encontrados vão até o ano de 1926. Durante estes anos, as Escolas Populares figuraram na
lista de Associações a receberem os donativos por duas vezes, uma em 1922 e a outra em
1926, como podemos ver inclusive no relatório de 1926, no qual consta a festividade
ocorrida no Jardim da Aclimação, promovida pela Tarde da Criança em auxílio às Escolas
Populares.
Em 1922, o 7º espetáculo promovido pela Tarde da Criança foi em comemoração
ao primeiro centenário da Independência do Brasil e aconteceu no domingo, dia 07 de
setembro de 1922, no CineTheatro República. É interessante ressaltar que estes festivais
eram divulgados pelos jornais em circulação, inclusive por um jornal do Rio de Janeiro,
conforme pode ser verificado no próximo excerto.
Infelizmente não foi encontrada a fonte deste outro jornal, mas ele consta em um
dos álbuns da Tarde da Criança, encontrado no acervo da Cúria. Segundo ele:
“Está definidamente marcado para o 3º domingo de setembro o 7º
espetáculo desta benemérita associação em beneficio das ‘Escolas
Populares’. Esta festa patriótica que promete ser um verdadeiro sucesso,
realiza-se sob os auspícios das melhores famílias paulistas, que se
interessam pela instrução de crianças pobres da nossa capital. (...) haverá
um sorteio de 04 ricos prêmios e que mais de 50 meninos e meninas
tomarão parte activa nesta festa, satisfeitos em poder ser úteis aos seus
irmãozinhos menos favorecidos pela sorte”.

4
Não foi possível estabelecer o que significava este montante em relação as gastos das instituições que
recebiam estes recursos. Isto merece um melhor aprofundamento.

36
Como pode-se perceber nesta nota do jornal, as famílias mais abastadas da capital
eram responsáveis por manter esta associação, que “se preocupava” com as crianças mais
pobres, aos quais eram denominadas “menos favorecidas pela sorte”, contudo estas crianças
não participavam de nenhum destes festivais, que eram destinados apenas às crianças das
elites. Outro dado interessante encontrado no álbum da Tarde da Criança refere-se à
prestação de contas feitas pela associação e a resposta da secretária das Escolas Populares:
“O 7º espectáculo desta benemérita associação, assim como os anteriores,
que têm proporcionado horas de intenso e honesto divertimento à nossa
petizada, rendeu a quantia de 4:390$000. Deduzidas as despezas feitas
com: aluguel do Cine-Republica 1:800$000; prêmios para os sorteios:
31$000; presentes para os artistas 170$000; typografia 101$000;
porcentagem ao cobrador 351$000; e pequenas despezas 44$000 – num
total de 2:497$700 – foi entregue a importância de 1:800$000 a Exma.
Sra. D. Anna Camargo Barros, presidente das Escolas Populares, ficando
em caixa a insignificante quantia de 92$300.
Com relação a esse donativo, recebeu a senhora diretora d´A tarde da
criança o officio seguinte:
‘A diretoria da Associação de ‘Escolas Populares’ vem de receber o
valioso auxilio que lhe foi proporcionado por um brilhante festival
promovido pela generosa e útil associação A Tarde da Criança. É assim
que a criança feliz e abastada transmite o seu óbulo, pelas mãos benéficas
da Exma. Presidente desta Associação, às suas irmãzinhas desherdadas e
aos pobres operários que vão beber a luz do Evangelho e da Instrucção
nas humildes Escolas Populares, nos poucos momentos de repouso após a
ditadura e fatigante labuta. Que Deus abençôe ‘A Tarde da Criança’,
derramando graças abundantes sobre os membros de sua directoria e
todos os seus sócios, são os votos que a nossa gratidão aqui vos manda
expressar’.
Assignado: Georgina Trípoli, 2ª secretária”.

37
Observa-se que, do total arrecadado neste festival, a Tarde da Criança doou às
Escolas Populares aproximadamente 41% deste valor, sendo que apenas 2% ficou para a
Associação. Em agradecimento, a secretária manda uma resposta exaltando a iniciativa da
Tarde da Criança, que beneficia “às irmãzinhas desherdadas e aos pobres operários” que
após uma longa jornada de trabalho freqüentam estas Escolas para aprenderem sobre o
evangelho e instrução básica.
O segundo espetáculo que foi realizado em benefício das Escolas Populares
aconteceu em 1926, comemorando a grande Festa de Páscoa, em 21 de abril, no Jardim
Acclimação, sendo que a data inicialmente prevista era para o dia 03 de abril, mas foi
transferida por conta do mau tempo.
O programa foi o seguinte:
40º Espectaculo
I Parte
Ingressos para divertimento: aeroplanos, balanças americanas, trapézio,
passeio de carrinho, passeio a cavallo.
II Parte
Theatrinho no Parque
III Parte
Gymnastica e demonstrações de escotismo
IV Parte
Caça aos coelhinhos, pombos e patinhos
Jógos de futebol, bóla e petéca.
Balões e fogos de artifício
Distribuição de ovo de paschoa
Surra no Judas
Hymno dos Escoteiros
Hymno nacionnal

Diferentemente de 1922, não foi encontrado nos álbuns nenhum recorte de jornal
ou comentário sobre esta festa ocorrida em 1926, somente a informação da mudança no dia
do festival. Observa-se que toda a programação foi pensada no divertimento das crianças,
com brincadeiras, jogos, brinquedos no parque, mas também nota-se a presença do
escotismo, tanto na apresentação de escoteiros como na execução de seu hino, o que era
muito forte neste período, com a valorização da disciplinarização do corpo e difusão de
ideais patrióticos e nacionalistas.

38
Como dito anteriormente, a difusão dos festivais promovidos pela Tarde da
Criança foi tão grande que se tornou notícia até mesmo em um jornal do Rio de Janeiro, do
qual foi retirada a seguinte afirmação:
“Não sabemos da existência, entre nós, de uma instituição como essa,
onde, a par de divertimentos interessantes e apropriados à infância, taes
como cinematographo, theatro infantil, concertos etc, há, sempre, uma
opportunidade magnífica para se educar o espírito irriquieto da infância.
(Retirado da “Revista da Semana” – jornal carioca – de 1924).
Este jornal carioca valoriza a iniciativa promovida pela Tarde da Criança, pois,
segundo eles, as crianças são educadas por meio destes divertimentos propostos, que são
apropriados à sua faixa etária, oferecendo cultura e lazer para o fortalecimento do espírito
infantil, que tem sua inteligência estimulada pelos programas dos festivais, sendo afastadas
“dos toxicos que lhes são propinados em doses mínimas, porém repetidas, nas telas dos
cinematographos” e de outros lugares de lazer oferecidos pela sociedade, longe dos ideais
que se têm nesta Associação.

O funcionamento das Escolas Populares

Para ilustrar o atendimento ao longo do período em que as escolas funcionaram,


foi elaborada uma sistematização dos dados contidos nos relatórios anuais e montada uma
tabela com a movimentação do número de alunos, sócios, escolas e saldo credor, de 1910
até 1936. Nesta tabela, observa-se que a partir de 1921, intensificando-se no ano de 1922,
há um aumento significativo no número de sócios, alunos, saldo disponível em caixa e
escolas em funcionamento, pois já estão funcionando em período desdobrado. A partir do
ano de 1924 há uma diminuição no número de sócios, que vai se mantendo em queda, o que
faz com que aumente-se a taxa de matrícula, já que se torna mais difícil manter as Escolas
em bom funcionamento. O maior número de alunos detectado foi em 1924, com 2.555,
divididos em 25 escolas.
Outro levantamento realizado foi o dos períodos de funcionamento das escolas,
entre diurno, vespertino e noturno, mapeando quantas escolas estavam abertas por período,
ao passar dos anos. Foram poucos os relatórios que trouxeram estas informações

39
disponíveis, por isso é difícil reconstituir com exatidão o perfil do atendimento, mas
chegou-se aos seguintes resultados:

Período 1910 1922 1924 1926 1927 1929 1936


Diurno 01 13 11 10 09 10 ---------
Vespertino ------ 10 13 10 10 10 ---------
Noturno 09 21 25 16 15 165 08

Com esta tabela percebe-se que o funcionamento maior sempre foi no período
noturno, levantando a hipótese de uma possível preocupação com os operários que
trabalhavam durante todo o dia e somente a noite é que poderiam freqüentar à escola, o que
pode ser constatado com o relatório de 1936 no qual consta o fechamento das escolas
diurnas e a matrícula somente de operárias.
Outra questão importante a ser levantada em relação a este relatório de 1936 está
relacionada a “abertura de externatos independentes nas salas onde funccionavam cursos
nocturnos” (Relatório de 1936). As professoras mantinham os externatos, mas contavam
com a ajuda do espaço físico da Associação, que cedia as salas, desde que o ensino
religioso por elas ministrado estivesse de acordo com o que era ensinado nas Escolas
Populares, seguindo seu programa, e que seriam inspecionados pela diretoria da
Associação.

Como eram seus espaços físicos e sua localização

Além destes levantamentos, foi elaborada uma tabulação da localização das


escolas ao longo do seu período de funcionamento, para melhor visualizar as mudanças de
endereço que ocorreram6. Nestas tabelas constata-se que as escolas mudam muito de
endereço, sendo raras aquelas que se mantém durante todo seu funcionamento no mesmo
prédio. Algumas escolas continuam na mesma rua, só que com uma numeração diferente
dos prédios. Também é muito comum encontrar escolas que ocupam o prédio em um ano e
no ano seguinte outra escola está no mesmo endereço, como por exemplo, a Escola Popular

5
Deste total, 06 são escolas somente noturnas, e o restante funciona desdobrada, ou seja,atende a noite mas
também em outro período.
6
As tabelas seguem em anexo ao final do relatório

40
Coração de Jesus, que esteve localizada no Largo Coração de Jesus, 21 até o ano de 1922.
Em 1925 passa a funcionar na Rua Lopes Chaves, 103, no local onde a Escola Popular
Sant´Anna funcionou até 1924, tendo mudado de endereço em 1925.
Os endereços que tiveram uma maior diversidade de Escolas funcionando, no
mesmo local, mas em anos diferentes, foram:
Rua Consolação, 365:
Escola Popular Santo Antonio (1922)
Escola Popular Immaculada Conceição (1925)
Escola Popular Santa Thereza (1926-27)

Rua Lopes Chaves, 103:


Escola Popular Francisco de Salles (1910-18)
Escola Popular Sant`Anna (1910 –18 /1922)
Escola Popular Coração de Jesus (1925-26)

Rua Bresser, 312


Escola Popular São Geraldo (1924-25/1927)
Escola Popular Francisco de Salles (1926)
São Bernardo (1936)

Rua Barão de Ladário, 91


Escola Popular São Vicente de Paulo (1925)
Escola Popular Immaculada Conceição (1936)
Escola Popular Sant´Anna (1926-27/19297)

Para facilitar a visualização das mudanças é importante, além de acompanhar as


movimentações na tabela, seguir o seguinte quadro:
Nome das Escolas Período de Número de mudanças
funcionamento8
Coração de Jesus 15 anos 4 vezes
João Evangelista 11 anos Mantém
Immaculada Conceição 12 anos 2 vezes
São Sebastião 11 anos 2 vezes
Santa Eugênia 8 anos 1 vez
São Bernardo 14 anos 4 vezes
João Baptista 11 anos 1 vez
Santa Cândida 10 anos 1 vez
São Francisco de Salles 10 anos 5 vezes
Sant ´Anna 12 anos 3 vezes
São José 12 anos 3 vezes

7
Em 1929 esta escola funcionou na mesma rua, contudo em outro número: Rua Barão de Ladário, 79.
8
Referência aos dados que constam nos relatórios. Não levamos em consideração os relatórios que não foram
encontrados, por não poder afirmar com exatidão se este ano a escola estava ou não em funcionamento.

41
Santo Antonio 10 anos 2 vezes
Santa Ignez 10 anos 2 vezes
Santa Theresa 10 anos 4 vezes
Santa Iphigênia 8 anos 1 vez
Sagrada Família 1 ano Mantém
Nossa Senhora do Carmo 7 anos 1 vez
Santa Magdalena de Pazzi 6 anos 3 vezes
Therezinha do Menino Jesus 6 anos 3 vezes
São João da Cruz 5 anos 1 vez
São Luiz Gonzaga 6 anos Mantém
Nossa Senhora do Rosário 4 anos 2 vezes
Sagrado Coração de Maria 1 ano Mantém
São Vicente de Paulo 2 anos 1 vez
Santo Estevam 5 anos 3 vezes
São Geraldo 3anos Mantém

Para a realização deste quadro levou-se em conta somente os dados encontrados


nos relatórios anuais das Escolas9. Observa-se pelas informações apresentadas na tabela que
algumas escolas mantêm-se no mesmo endereço durante todo o período de funcionamento,
sendo que a maioria delas funciona por pouco tempo. O que chama atenção é a Escola
Popular São João Evangelista, que durante os 11 anos manteve-se no mesmo endereço. Os
dados levantados no relatório de 1922, traz informações sobre a localização das escolas e o
valor dos aluguéis pagos, a referida escola era uma das que figurava na lista das que não
pagava aluguel. Assim, mesmo sem poder afirmar, esta pode ser uma explicação para a
continuidade no mesmo endereço.
Baseando-se nos relatórios de 1913, 1917, 1924, 1926 e o estatuto de criação,
pode-se inferir que as mudanças das salas estavam relacionadas aos preços dos aluguéis; a
relação que se tinha com a comunidade local e do clero; as iniciativas dos sócios e grupos
católicos que contribuíam com o aluguel; a demanda por aulas e as condições dos locais
onde as salas funcionavam.
Segundo o estatuto, os sócios poderiam prestar “serviços relevantes à Associação,
como ensinar gratuitamente, ceder salas ou pagar o respectivo aluguel, etc.” (Estatuto de
Criação das Escolas Populares). Pode-se então supor que a mudança das salas estava
relacionada a isso, pois o número de sócios é flutuante, pode ser que algum sócio que
contribuía anteriormente, passa a não contribuir mais, ou o contrário, sendo assim,

9
Optou-se por utilizar apenas as informações que foram encontradas nos relatórios anuais, é importante
ressaltar que 16 relatórios não foram encontrado e não foram feitas estimativas do atendimento neste período.

42
possivelmente as localizações das Escolas estavam sujeitas também à participação dos
sócios, que podiam ceder salas, ou pagar o aluguel em determinado endereço, que podia
não ser o mesmo durante todos os anos de funcionamento das Escolas.
Em se tratando da relação com a comunidade, pode-se dizer que seu
funcionamento estava atrelado a uma demanda local, a um determinado número de alunos
que as freqüentam, assim como a relação que tinha com o clero, especificamente na figura
do Arcebispo Metropolitano, responsável por intervir e dar ordens em algumas situações.
No relatório de 1913, pode-se verificar a influência do “Rvmo. Reitor do Seminário
Archidiocesano, Monsenhor Maximiano Leite, que cedeu sala com necessária iluminação
elétrica” (Relatório Anual de 1913) para reabrir a Escola Popular São João Evangelista10,
que havia sido intimada pela inspeção sanitária por motivos de higiene. Associando a este
auxílio para manter as escolas, pode-se encontrar no relatório de 1926 uma lista das
famílias ou associações católicas que eram mantenedoras das escolas.
No que diz respeito às condições físicas das salas, em diversos relatórios foi
encontrado indicações de fechamento das Escolas pelos seguintes motivos: intimação da
inspeção em virtude das condições de higiene, doença contagiosa, falta de sala conveniente
entre outros motivos, não ligados às condições de higiene, tais como: mal resultado nos
exames finais, falta de alunos matriculados e mudança no período (de diurno para noturno).
Todas estas condições acabavam por influenciar a continuidade ou a ruptura do local no
qual as escolas estavam instaladas.
A questão do fechamento temporário das escolas por conta dos resultados obtidos
nos exames finais pode ser constatado no relatório de 1917. Das 13 escolas em
funcionamento, duas apresentaram rendimento ótimo, seis obtiveram bom, duas regular e
duas sofrível (uma das escolas não realizou o exame, pois foi fechada antes do período),
mostrando o desempenho de seus alunos e professores em cada uma destas escolas. Consta
no relatório que:
“devido ao resultado soffrivel apresentado pela ‘Escola Popular
Sant’Anna’ foi a mesma fechada temporariamente e dispensada a
respectiva professora, D. Maria José Pereira de Souza. A ‘ Escola

10
Importante relembrar que esta escola foi citada anteriormente por sua particularidade em manter-se no
mesmo endereço durante todo o período de funcionamento.

43
Popular São João Baptista’ que teve o mesmo resultado, ficará durante
1918 a cargo de D. Alzira Sampaio, tendo a respectiva professora D.
Alzira Lima se ausentado da Capital”.

Neste trecho percebe-se que havia uma cobrança para que as escolas tivessem um
bom desempenho, e que a professora era punida por não tê-lo conseguido, sendo afastada
de suas funções. Para melhor compreensão desta questão, é preciso levantar os relatórios de
professores e inspetores, os quais não foram encontrados.
Ao final do ano letivo, havia uma festa de encerramento, reunindo os alunos de
todas as escolas, onde havia distribuição de doces e entrega de prêmios aos que se
destacaram em algum âmbito, por exemplo: religião, freqüência às aulas, comportamento e
aplicação. Estas festas ocorreram, em sua maioria, no salão do Liceu Coração de Jesus, que
cedia o espaço às Escolas Populares. Em alguns relatórios observa-se que houve anos, em
que a festa não ocorreu, em virtude da dificuldade financeira pela qual a instituição
passava, assim, no lugar da festa apenas eram distribuídos doces.
No Anuário do Ensino de 1918 foi encontrada uma indicação sobre as festas
escolares, que geralmente estavam ligadas aos institutos privados de ensino, sendo
realizadas em teatros ou parques, como um “motivo para que o publico julgasse do grau de
progresso da vossa instrucção primária e um estímulo às crianças para sua cooperação na
louvável empresa de constituição do patrimônio escolar” (Annuário de Ensino de 1918, p.
114)
Com este excerto pode-se verificar que as festas escolares eram muito comuns,
tinham como uma das finalidades mostrar os resultados obtidos ao longo do ano, uma
espécie de “prestação de contas”, no qual a comunidade entrava em contato com a realidade
escolar. Nas festas eram distribuídos prêmios para os melhores alunos. Esta também era
uma boa oportunidade para que todos que freqüentavam as escolas pudessem participar das
festividades. Talvez, por tudo isto, os alunos sentiam-se parte da Escola e mais motivados a
continuar os estudos.
Como dito, esta iniciativa teve fim no ano de 1941, contudo antes desta data os
relatórios já mostravam indícios sobre a dificuldade financeira da Associação em manter as
Escolas. A primeira crise já é relatada em 1914, talvez porque estas Escolas ainda não

44
estavam bem difundidas e não contavam com muitos sócios. Depois de alguns anos os
relatórios trazem novamente esta situação, mas em 1930 é que se pode perceber com maior
clareza a fragilidade pela qual estas escolas estavam passando. Segundo o relatório de
1930:
“Esta Associação culminou no anno do centenário da nossa emancipação
política, quando teve recursos para manter 51 escolas; desde então
decrescendo paulatinamente, a mercê de causas várias, vem soffrendo
pela falta de constância daquelles muitos que outr´ora lhe emprestavam
apoio, assim ella reflecte agora a imagem de um sol, que tendo attingido
lentamente seu zenith, vae após um cyclo de 20 annos de existência
imergindo num occaso rubro, que apesar de gloriosamente luminoso
trará, dentro em breve, as sombras crepusculares; e após será a noite, e
para sempre.”
Como ficou claro no excerto anterior, a auge da associação se deu em 1922,
período em que havia muitas escolas, pois funcionavam desdobradas, sendo assim,
atendiam elevado número de alunos, e tinham muitos sócios contribuindo para mantê-las.
Ao passar do tempo, o número de sócios começa a decair, diminuindo a contribuição
mensal que recebiam, contudo, o número de alunos continuava aumentando. A
conseqüência a médio e longo prazo desta situação é o fechamento de várias escolas, uma
vez que nem todos os alunos que estavam freqüentando estas escolas podiam pagar, até que
em 1936 o período da manhã é extinto.
Neste mesmo ano, data do último relatório encontrado, observa-se o quanto
diminuiu o atendimento em relação aos anos anteriores. Oito escolas estavam em
funcionamento, atendendo 419 alunos, porém não temos dados de quantos ainda
contribuíam como sócios. Além do término das aulas do período diurno, não havia mais
aulas aos sábados, como era a prática anterior.

Funções das professoras e demais profissionais


As funções de cada um dos profissionais que trabalhavam nestas escolas estão
bem delineadas no Estatuto, no qual consta que a diretora da Associação tinha como dever
visitar todas as escolas uma vez por mês, e ao final do ano apresentar um relatório do

45
movimento da Associação, que era lido em uma Assembléia Geral, a qual ocorria
anualmente, com a finalidade de reunir os Conselhos e sócios para divulgar este relatório
feito pela diretora, além de deixar todos cientes das despesas e donativos arrecadados
durante o ano.
Estes relatórios, de maneira geral, tinham uma mesma estrutura: uma breve
introdução, a relação das Escolas Populares em funcionamento ao longo do ano, o período
de férias, número de matrícula, primeira comunhão, crisma, trabalhos escolares, doações,
exames finais, festa de encerramento, número de sócios e era finalizado com um incentivo
aos sócios, para que continuassem a ajudar a Associação, que às vezes passava por grandes
dificuldades financeiras, por “falta de constancia daquelles muitos que outr´ora lhe
emprestavam apoio” (Relatório Anual de 1929).
As professoras deveriam se apresentar ao Conselho Administrativo, a cada três
meses, para prestar contas dos trabalhos escolares e expor as dificuldades quanto à prática
pedagógica. Infelizmente não foi encontrado nenhum registro destas professoras no
Arquivo, sendo difícil reconstituir o que de fato era ensinado nestas escolas, foram
levantados apenas alguns indícios sobre as práticas das docentes.
Pode-se averiguar no Anuário de Ensino do Estado de São Paulo de 1918 uma
referência às Escolas Populares, mostrando, deste modo, sua importância na educação
deste período. Estes Anuários foram criados em 1908, com edição até 1925, depois
retornam em 1935 e se extinguem em 1936/37 e trazem muitas informações sobre a
situação escolar, especialmente das escolas subvencionadas pelo Estado, que tem um maior
destaque em todos os Anuários. Neste Anuário pesquisado, consta a seguinte informação
sobre as professoras das Escolas:
“Seu pessoal docente é constituído, na quasi totalidade, de professoras
diplomadas na nossa Escola Normal, as quaes, além da instrucção
religiosa, leccionam aos alumnos leitura, linguagem oral e escripta,
calculo, geographia e historia pátria e noções de educação moral e
cívica, de accôrdo com os methodos adoptados em nossos
estabelecimentos estaduaes de ensino”. (Anuário de Ensino do Estado de
São Paulo, p.473)

46
O único dado obtido sobre o perfil destas professoras é que foram formadas pela
Escola Normal. Não foi possível determinar como as solicitações e os critérios de escolha
do pessoal docente que trabalhava nestas escolas eram encaminhados à diretoria de
instrução, ou qualquer outra informação sobre elas.

Caracterização do público atendido


O público atendido por estas escolas varia durante seu período de funcionamento.
A princípio, o objetivo era atender meninos menores de 12 anos e meninas menores de 18.
A partir de 1918, passam a receber alunos maiores de 14, anulando o artigo do Estatuto que
era vigente até então, como podemos ver no Relatório de 1918, no qual consta: “fica
annullado o artigo dos Estatutos em que está determinada a edade para os matriculados,
sendo preferidos de agora em deante, os maiores de 14 annos”. (Relatório de 1918). Com
isso pode-se ver que há uma preferência pelos jovens e adultos.
Fica difícil afirmar com exatidão a quantidade dos alunos que participaram desta
iniciativa, pois alguns relatórios anuais não foram encontrados11. Sabe-se que em 1910,
data de criação destas escolas, a soma dos alunos era de 287. No ano de 1920 foi feito um
relatório do período de funcionamento das escolas, que fazia dez anos de existência.
Segundo este relatório, já havia passado por estas escolas 5000 alunos. Somando essa
quantia ao número de alunos de cada um dos relatórios anuais levantados no arquivo,
chega-se a um total de 17.910 alunos, contudo esse número ainda é pequeno, pois não
foram encontrados doze relatórios, sendo assim, a estimativa do número de alunos
atendidos é muito maior.
Ao analisar os relatórios, observa-se que pouco se fala sobre o perfil de seus
alunos. Apenas em três deles encontram-se dados sobre esse tema. No relatório de 1913
aparece o número de alunos estrangeiros e brasileiros, assim como a idade destes alunos e a
quantidade que ficou retida, dando um panorama sobre o alunado que era atendido. Dos
254 alunos que estavam matriculados nas seis escolas em funcionamento, 54 eram
estrangeiros, mas não se sabe de que país eles são provenientes. Na listagem da idade dos
alunos, chama atenção a divisão entre maiores de 18 anos e menores, sendo que pelo
Estatuto, só atenderiam meninas até 18 anos, provavelmente estas alunas maiores eram as
11
Não foram encontrados os relatórios de 1911, 1912, 1923, 1928, 1929, 1930, 1931, 1932, 1933, 1934, 1935,
1937, 1938, 1939, 1940.

47
operárias, somando 80 alunas. Em relação ao número de retidos, do total já colocado, 76
ficaram retidos.

Escolas Populares: alfabetizar e/ou catequisar?


O relatório de 1914 é praticamente o único que traz indícios sobre os conteúdos
abordados nestas Escolas. Segundo este relatório, nos exames finais os alunos tiveram
provas de: Leitura, catecismo, história sagrada, tabuada, mostraram seus cadernos de
linguagem, caligrafia e contas. No levantamento sobre estes exames, aparece em cada
escola alunos em diferentes etapas do processo de aprendizagem de leitura e escrita, ou
seja, alguns deles estão no que eles denominam primeiro livro, e outros na Cartilha,
contudo não se sabe o que era abordado nestes materiais.
No relatório de 1918 encontra-se mais uma indicação do que era ensinado, pois
afirma que a partir do ano seguinte será abordada nestas Escolas a história do Brasil,
explicando datas nacionais na véspera das mesmas, e geografia do Brasil, particularmente
do estado de São Paulo. Somando-se a estes conteúdos, pode-se perceber, pelo Estatuto e
pelo Hino das Escolas, que havia grande preocupação com os valores morais e cívicos. O
relatório de 1922 coloca que o hino é criado para difundir seus maiores ideais, que eram
Deus e a Pátria, o que fica claro com tamanho apelo na letra da música, que fora escrita
pelo Arcebispo de Cuiabá.
Além das informações contidas nos relatórios anuais das escolas, foram
encontrados alguns dados relevantes no Anuário de 1918. Como já visto no excerto anterior
sobre este Anuário, as professoras, que eram normalistas, ministravam aulas de instrução
religiosa, leitura, linguagem oral e escrita, cálculo, geografia e história pátria e educação
moral e cívica, currículo este mais abrangente do que o que pudemos observar com os
relatórios anuais das Escolas. Também foi encontrado um quadro no qual constam os
horários e disciplinas que eram lecionadas no decorrer da semana:
Horário das Escolas Populares
1º Anno

Horas Duração Seg/Qua/Sex Ter/Qui/Sab


Das 8,00 as 8,05 5 min Chamada e canto Chamada e canto
Das 8,5 as 8,25 20 min Cálculo Cálculo
Das 8,25 as 8,45 20 min Leitura – Classe A Leitura – Classe A
Cópia- Classe B Cópia- Classe B

48
Das 8,45 as 9,05 20 min Leitura – Classe B Leitura – Classe B
Cópia – Classe A Cópia – Classe A
Das 9,05 as 9,15 10 min Repouso Repouso
Das 9,15 as 9,30 15 min Calligraphia Calligraphia
Das 9,30 as 9,50 20 min História do Brasil Geographia do Brasil
Das 9,50 as 10,05 15 min Ensaio canto Linguagem
Das 10,05 as 10,25 20 min Educação moral e cívica Desenho
Das 10,25 as 10,30 05 min Preparo, canto e sahida Preparo, canto e sahida
Fonte: Anuário de Ensino do Estado de São Paulo, 1918.

2º Anno
Horas Duração Seg/Qua/Sex Ter/Qui/Sab
Das 14, 00 as 14,05 5 min Chamada e canto Chamada e canto
Das 14,05 as 14,30 25 min Cálculo Cálculo
Das 14,30 as 14,55 25 min Leitura e analyse Leitura e analyse
Das 14,55 as 15,05 10 min Sciencias Physicas e Hygiene
naturaes
Das 15,05 as 15,10 5 min Repouso Repouso
Das 15,10 as 15,30 20 min Linguagem escripta Linguagem escripta
Das 15,30 as 15,45 15 min Historia do Brasil Geographia do Brasil
Das 15,45 as 16,15 30 min Instrucção cívica Desenho
Das 16,15 as 16,25 10 min Calligraphia Calligraphia
Das 16,25 as 16,30 5 min Preparo, canto e sahida Preparo, canto e sahida
Fonte: Anuário de Ensino do Estado de São Paulo, 1918.

Observa-se no quadro acima, que as aulas eram muito bem divididas ao longo do
horário escolar, apresentando uma divisão bem definida dos tempos para cada tipo de
atividade: em um período de duas horas e meia, foram realizadas dez atividades. Este
quadro de horário está muito próximo do desenvolvido nas escolas primárias oficiais que
funcionam no período. Para as turmas do 1º ano pode-se notar que existem matérias
“introdutórias”, que são as de leitura e cópia, que se alternam entre Classe A e Classe B.
Enquanto uma classe faz atividade de leitura, a outra faz a de cópia, e depois invertem.
Além disso, têm aulas de caligrafia, história e geografia do Brasil, cálculo, desenho, canto e
educação moral e cívica. Uma hipótese que pode ser levantada em relação a esta divisão
entre Classe A e Classe B é que esta pode ter sido uma estratégia encontrada para
operacionalizar duas atividades de maneira alternada, dando conta de ensinar leitura e
escrita para toda a turma.
Em relação às turmas de 2º ano, vemos o ensino da história e geografia do Brasil,
caligrafia, cálculo, higiene, leitura e análise, ciências físicas e naturais, desenho e instrução
cívica, que ocupam a maior parte da aula, ou seja, 30 minutos cada uma. Percebe-se uma

49
preocupação maior com a questão da higiene, que no 1º ano não aparecia, uma menor
duração nas aulas de caligrafia, história e geografia, e um aumento na duração das aulas de
cálculo, instrução cívica e desenho.
Percebe-se também que nesta grade horária não há sequer menção da instrução
religiosa, que, segundo os relatórios e todas as fontes encontradas na Cúria, eram a maior
preocupação das professoras e da Associação quando estas Escolas foram criadas. Em
todos os documentos aparece a questão da formação religiosa como um fundamento de
grande importância a ser ensinado às meninas e meninos operários, contudo nestes quadros
retirados do Anuário de ensino, não vemos esta informação. Em contrapartida, muito do
que era ensinado, baseando-se nesta fonte, não está citado nos relatórios próprios das
Escolas Populares, o que gera certa ambigüidade, pois as informações não estão em
consonância em muitos pontos.
Além de o currículo ser “divergente” nas fontes, as informações sobre o horário
das aulas também é contraditório. Segundo os relatórios, em 1918 as aulas ocorriam no
período diurno e noturno, e não vespertino. A única informação precisa do horário de
funcionamento das Escolas provém do Relatório de 1921, no qual encontramos os seguintes
horários para as turmas: das 8:00h as 11:00h e das 13:00h as 16:00h, ou seja, meia hora a
mais do que é informado pelo Anuário do Estado.

Considerações Finais
O estudo apresentado sobre as Escolas Populares indica que algumas questões
devem ser aprofundadas, pois são de grande relevância para uma melhor compreensão
sobre a importância e o significado desta iniciativa para a educação popular iniciada na
Primeira República, período importante na constituição do sistema educacional público
brasileiro e paulista. Neste sentido, é fundamental continuar levantando informações sobre
as professoras e as práticas por elas empreendidas.
Um dos objetivos desta pesquisa foi o de compreender as motivações que levaram
a Igreja Católica paulista a criar estas escolas em São Paulo e sua relação com as outras
iniciativas educativas existentes no Estado. Segundo os dados obtidos na Cúria e as leituras
realizadas, o primeiro ponto a ser destacado refere-se ao patriotismo presente nestas
escolas. Como já visto anteriormente, as escolas oficiais tinham este forte apelo, pois era

50
visto como um meio de enfraquecer as influências dos imigrantes de ideologia anarquista
ou libertária. O fato de ter sido escrito um Hino das Escolas Populares, para ser decorado e
cantado pelos meninos e meninas que freqüentavam as escolas, pode-se inferir que os
dirigentes acreditavam ser esta uma forma eficaz de se incutir alguns ideais, buscando
assim afastar possíveis influências dos movimentos operários, muito fortes neste período.
Outro ponto importante, ainda inserido neste objetivo, refere-se à relação desta
iniciativa com as outras existentes no período. Como exposto até então, fica claro que as
Escolas Populares tinham um interesse específico, que era o de educar e evangelizar, com
objetivo de ser uma iniciativa diferencial em relação às outras iniciativas existentes, como
as do movimento operário. Em um dos relatórios analisados, foi encontrado uma
“semelhança” com as escolas anarquistas citadas anteriormente. Segundo o relatório, as
escolas recebiam doação de jornais e revistas católicos como “propaganda de boa
imprensa”. Vê-se então que a difusão dos ideais também se fazia pela da imprensa, meio
utilizado inclusive pelos anarquistas para ensinar em suas escolas.
Os jornais e revistas eram uma outra forma de transmitir conteúdo aos alunos de
ambas escolas, mas cada uma com sua especificidade. A imprensa tem grande importância
para a difusão dos ideais católicos, que se faziam presentes nestas Escolas, mas também
para a socialização dos resultados obtidos ao longo do ano letivo. Isto era tão importante
que, caso se tivessem recursos disponíveis, os relatórios anuais deveriam ser reproduzidos e
enviados a todos os sócios, apresentando assim o trabalho realizado, apontando os avanços
e dificuldades enfrentados pelas Escolas Populares.
Em relação à religiosidade presente nestas escolas, é interessante ressaltar que
neste período estudado, percebe-se uma difusão das escolas de cunho protestante, sendo
assim, a igreja católica encontrava na educação popular uma forma de conter o aumento do
número de fiéis que migram para outra religião. No relatório de 1925, observa-se a
preocupação com a questão das escolas de cunho protestante. Este relatório afirma que:
“enquanto se abrem novas escolas de várias seitas e se propagam as escolas particulares
catholicas, fecham-se 5 Escolas Populares, num total de 7 classes, deixando, em média,
210 alunos na ignorância dos deveres religiosos e cívicos.” Sendo assim, percebe-se que há
uma preocupação em propagar a fé católica, mas esta deve também ser voltada às camadas
populares, e não só às elites.

51
Outra questão que se faz relevante é a importância que estas escolas tiveram no
cenário paulistano da instrução popular neste período. Como vimos, as Escolas foram
citadas inclusive no Anuário de Ensino do Estado de São Paulo, sendo assim, estavam
tendo certa visibilidade por parte da diretoria da instrução pública.
No Boletim Eclesiástico de 1926 encontra-se uma informação que corrobora o que
fora dito anteriormente sobre a visibilidade destas Escolas. Segundo este Boletim:
“Enviaram o seu relatório as Escolas Populares. Pena que sejam tão
escassos os recursos de que dispõe. Lutam com difficuldades ingentes.
Entretanto, são verdadeiras heroínas as professoras que a esse labor se
consagram.
Nos Estados Unidos, os fiéis ao entrarem na Igreja aos domingos,
pagam uma taxa de contribuição para as Escolas Populares. Embora
isso seja por ora de todo irrealizável entre nós, sempre é grato lembrar
que essa obra de zelo merece as vistas dos fiéis.
Nesta época de agnosticismo, em que os inimigos da Igreja
comprehendem a necessidade de oppôr às nossas escola outras onde o
erro se ensine, lembremo-nos da necessidade das nossas Escolas
Populares” (p.77)

Estas Escolas figuram como uma obra de grande importância no que se refere ao
ensino da religião católica e à instrução das crianças e operários, visto que os recursos pelos
quais dispunham eram escassos: a dificuldade em manter o funcionamento das escolas era
demasiadamente grande, sendo assim, o empenho das professoras no ensino era
reconhecido e valorizado.
Os conteúdos abordados nestas Escolas eram muito restritos, valorizando o ensino
da doutrina católica e da alfabetização, mas como pôde ser visto ao longo deste relatório,
existem algumas divergências em relação ao currículo apresentado ao Anuário de Ensino e
o currículo presente nos relatórios e na fala de João Lourenço, levantando-se algumas
hipóteses. Acredita-se que nos Anuários de Ensino o currículo segue o padrão das escolas
oficiais públicas, mesmo porque, havia uma preocupação com o currículo que era
ministrado nas escolas, já que havia uma inspeção, em especial nas escolas particulares,

52
para fiscalizar se o ensino na língua portuguesa, história e geografia do Brasil estavam
sendo ministrados como o indicado.
A questão que João Lourenço coloca no congresso é a seguinte:
“Como remediar o mal? Como oppôr barreiras a expansão do paganismo
renascente? Em suma, como encaminhar efficazmente a resolução do
problema da educação christã dos nossos pequenos compatrícios?”
Uma das respostas para estas perguntas é a inclusão da doutrina católica nas
escolas oficiais, mas, para isso, a doutrina deve ser ensinada com uma metodologia
adequada, com professoras católicas que tenham pleno conhecimento acerca da religião e
da catequese que irão ministrar. Quando Rodrigues coloca as Escolas Populares como uma
iniciativa modelar, portanto, para ser reeditada, refere-se especificamente ao ensino da
religião católica, enfatizando sua importância na construção de um sistema educacional
católico.
Outra questão que precisa ser levada em consideração é a relação entre o
movimento operário paulista e a Igreja Católica, buscando aproximações e distanciamentos
para compreender o que motiva a igreja a priorizar o atendimento aos operários, visto que,
além das Escolas, os operários encontram um espaço no Movimento Operário Católico. Em
relação a isso, é importante citar uma fala realizada no Congresso Eucharistico, que
aconteceu entre os dias 03 e 05 de junho de 1915, no Liceu Sagrado Coração de Jesus, a
qual afirma que:
“As fabricas são as causas das grandes ruínas. É para lá sobretudo que
se devem dirigir os esforços dos sacerdotes; porque o operário christão
é a segurança da sociedade, como aquelle que não é christão é o seu
perigo. O primeiro tem resignação, não odeia, não faz greves, não se
revolta, não age contra a sociedade, não empunha o facho incendiário,
não faz periclitar o sossego da nação. Do segundo não sabe o orador o
que dizer ao auditório” (p.307)

Este excerto é de uma tese apresentada no dia 05 de junho, em sessão solene,


presidida pelo Cônego Dr. Benedicto Marinho, do Rio de Janeiro, sob o título: “A
Eucharistia, os operários e a juventude”. Percebe-se que há uma preocupação com os

53
operários no que se refere à seu comportamento diante da sociedade e do trabalho. O bom
operário é aquele que não causa perturbações à ordem social, sendo importante seu
envolvimento com as causas da Igreja, para desta forma demonstrar um comportamento
mais dirigido às suas questões ideológicas. O ensino do catolicismo é importante para a
mudança dos valores e comportamentos dos operários, por isso a Igreja tenta a aproximação
com esta classe, formando o movimento operário católico, que precisa ser levado em conta
também na realidade das Escolas Populares, e, portanto merece um estudo mais
aprofundado.
Infelizmente muitas questões ficaram em aberto, já que algumas fontes não foram
encontradas, ou mesmo muitas delas apresentam divergências quando comparadas, sendo
assim, o que fora exposto até agora foi na tentativa de ser fiel a todos os dados, levando em
consideração suas variáveis.

54
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Reforma de 1920. Estudos e Documentos. Publicações da Faculdade de Educação, 1976.

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São 2ª edição. SP. Studio Nobel: Fapesp, 1999.

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EDUSF, 2003.

55
ANEXOS

56
Estatuto da Associação das “Escolas Populares”

Fundada em 1910.
Autorizada a funcionar por officio da Diretoria Geral da Instrução Pública, em 08 de junho
de 1918.

Capítulo I

Art. 1º Fica constituída nesta cidade de São Paulo a Associação de Escolas Populares,
fundada em louvor de Santa Infância de Jesus.

Art 2º A Associação tem nos fins ministrar, gratuitamente, a educação religiosa, moral e
intelectual a cristãos pobres e operários de ambos os sexos.

1. os alunos se alistarão no “Apostolado da Oração” sendo zeladora a própria


professora.

Art 3º A Associação para a consecução de seu fim, criará e manterá escolas primárias
diurnas e noturnas, denominada – Escolas Populares – cujas aulas funcionarão
separadamente para cada sexo.

Art 4º A Associação tem sua sede e foro na cidade de São Paulo.

Art 5º A Associação terá duração indefinida, podendo ser dissolvida somente por acto da
autoridade eclesiástica, à qual competirá dar destino aos bens existentes.

Art 6º Os membros da Associação não respondem subsidiariamente, nem solidariamente


pelas obrigações assumidas expressa e intencionalmente pela Diretoria.

Capítulo II
Da administração e representação da Associação.
Art 6º: A associação será administrada por um “Conselho Administrativo” composto de
Directora, Secretária e Tesoureira.
Artigo 7º: Compete privativamente ao Arcebispo Metropolitano a nomeação e demissão
dos membros do “Conselho Administrativo” e dos do “Conselho Fiscal”.
Artigo 8º: Os estatutos não serão reformados no tocante a administração da Associação.
Artigo 9º: a Associação será representada activa e passiva, judicial e extra-judicialmente
pela Directora.

Capítulo III

57
Do conselho Administrativo
Artigo 10º À Directora compete:
I- Representar a Associação activa e passiva, judicial e extra-judicialmente.
II- Presidir as reuniões.
III- Rubricar os livros.
IV- Ordenar o pagamento de todas as contas e autorizar as despezas necessárias.
V- Designar os membros da Associação que, em comissão, a representem em
festas, solemnidades, etc.
VI- Visitar uma vez por mez as escolas da Associação, em cujos de visitas lavrará
seu parecer.
VII- Apresentar ao fim de cada anno um relatório de todo o movimento da
Associação.
Este relatório, em havendo recursos pecuniários, será impresso e distribuídos a
todos os Associados, caso contrário, será somente lido em assembléia geral.
Artigo 11º: À Secretaria compete:
I- Lavrar as actas das sessões.
II- Incumbir-se da correspondência da Associação, sempre de accordo com a
directora.
III- Copiar no livro competente toda a correspondência expedida e archivar os
papéis entrados.
IV- Inventariar annualmente todos os bens sociais e organisar um balanço do activo
e passivo, que será annexado ao relatório da Directora.
V- Cumprir o que dispõe o número VI do Artigo 10º.
VI- Levar ao conhecimento da Directora qualquer irregularidade que encontrar no
ensino.
Artigo 12º À Thesouraria compete:
I- Arrecadar e fazer arrecadar todas as contribuições e bens da Associação.
II- Pagar as despezas autorizadas pela Directora.
III- Prestar contas do movimento do fundo social à Directora, sempre que esta o
exigir.

58
IV- Recolher a Bancos ou a Caixas Econômicas, a juízo da Directora, o saldo
liquido mensal.
V- Cumprir o que dispõe o Número VI do Artigo 10º.

Capítulo IV
Do Conselho Fiscal
Artigo 13º O Conselho Fiscal constará de três membros nomeados directamente pelo
Senhor Arcebispo Metropolitano.
Artigo 14º Ao Conselho Fiscal compete:
I- Dar parecer sobre balancetes.
II- Examinar a escripturação.
III- Auxiliar o Conselho Administrativo em tudo quanto disser respeito à
fiscalização das escolas e do ensino, e a zelar pelo interesse da Associação.
IV- Comparecer às reuniões para que for convocado.

Parágrafo Único: O Conselho Administrativo e o Conselho Fiscal deverão de cumprir


accordo trabalhar para o engrandecimento da “Obra”. Em qualquer difficuldade deverão
consultar a Autoridade Metropolitana.

Capítulo V
Dos Associados.
Artigo 15º Os sócios desta Associação classificam-se, para gozarem dos direitos e regalias
determinados neste estatuto, em:
a) Fundadores
b) Contribuintes.
c) Bemfeitores.
d) Beneméritos.
Paragrapho 1º São os sócios fundadores todos Aquelles que, até a approvação deste
estatuto, houverem concorrido para a fundação da Associação.
Paragrapho 2º São sócios bemfeitores todos aquelles que fizerem pequenos donativos em
dinheiro ou em outros bens à Associação.

59
Paragrapho 3º São sócios contribuintes todos aquelles que entrarem para o quadro de
sócios, posteriormente à approvação deste estatuto, e concorrerem mensalmente com uma
quota em dinheiro, nunca inferior a 1$000.
Paragrapho 4º: São sócios beneméritos todos aquelles que fizerem donativos superiores a
200$000 ou prestarem serviços relevantes à Associação, como ensinar gratuitamente, ceder
salas ou pagar o respectivo aluguel, etc.

Capítulo VI
Deveres dos Associados.
Artigo 16º: É dever de todo associado:
a) Pagar pontualmente sua contribuição.
b) Comparecer às reuniões para que foi convocado.
c) Bem desempenhar as funcções dos cargos.
d) Angariar donativos, trabalhar por occasião de benefícios, promover a entrada de
novos sócios, etc.
e) Procurar por todos os meios ao seu alcance diffundir entre as pessoas de suas
relações, a utilidade e necessidade da “Obra”.
f) Comunicar a Directora, com toda urgência, a mudança de sua residência.

Capítulo VII
Do Patrimônio Social.
Artigo 17º O Patrimônio será formado:
a) Dos donativos.
b) Dos productos de conferencias, kermesses, tômbolas e outros benefícios.
c) Do saldo liquido das contribuições mensaes.
d) Dos juros das quantias depositadas em Bancos, Caixas Econômicas, ou
qualquer outra origem.
e) De qualquer bens adquiridos pela Associação.

60
Artigo 18º O patrimônio social poderá ser empregado em apólices do Estado ou da União,
em acções de companhias de estradas de ferro, que offereçam garantias, em letras de
câmaras municipais, etc.
Artigo 19º O saldo liquido em dinheiro será mensalmente depositado em Bancos ou Caixas
econômicas.
Paragrapho Único: Poderá ficar em mãos da Thesourareira um pequena quantia para
attender à qualquer necessidade.

Capítulo VIII
Das Reuniões.
Artigo 20º : Haverá por anno uma Associação Geral que poderá funccionar com qualquer
número de sócios.
Paragrapho 1º: Essa Associação reunir-se-à em dezembro, com prévio aviso do lugar, dia e
hora, aos associados.
Paragrapho 2º: Presentes o Conselho Administrativo, o Conselho Fiscal e os associados, a
Directora lerá o relatório sobre o movimento annual da Associação. A Secretária lerá a acta
da sessão antecedente. Em seguida, a Thesoureira prestará conta das contribuições entradas,
dos donativos recebidos e das despezas feitas.
Paragrapho 3º: De todas as despezas feitas é necessário apresentar recibo, que será
archivado.
Paragrapho 4º De três em três mezes, serão convocados os professores das escolhas, que
deverão apresentar à Directora, digo, apresentar ao Conselho Administrativo uma relação
dos trabalhos escolares e expor as difficuldades que houverem encontrado na pratica das
disciplinas.
Artigo 21º: O Conselho Administrativo poderá ainda convocar assembléias geraes, sempre
que houver assumpto relevante a se tratado, como:
a) Reforma dos estatutos.
b) Déficit.
c) Organização dos benefícios, etc.

S.P 30/03/1917

61
Directora- Anna de Camargo Barros
Secretária- Ernestina Adriden
Thesoureira- Almerinda Rodrigues de Mello.

Gastão Vidigal, bacharel em direito, serventuário vitalício do officio do Registro


Geral e de Hypotecas da Primeira circunscripção da Comarca da Capital do Estado de
São Paulo, República dos Estados Unidos do Brasil, etc.
Certifica, que nesta data a Associação das Escolas Populares, fundada nesta
cidade em louvor da Santa Infância de Jesus, apresenyta neste cartório um exemplar
authentico de seus estatutos, e um outro do Diário Official deste Estado, número 98, de
08/05/1917, que publica ditos estatutos, em extracto; à vista desses documentos, que ficam
archivados, foi feita a inscripção daquella Associação, sob o número 534, à página 167, do
livro de inscripção de pessoas jurídicas do direito privado, da qual ficou nesta cidade; que
tem por fins ministrar gratuitamente a educação religiosa, moral e intellectual a operários
menores de 12 annos, para o sexo masculino e menores de 18 annos para o sexo feminino;
que a Associação será administrada por um “Conselho Administrativo” composto de
Directora, Secretária e Tesoureira, e representada activa e passiva, judicial e extra-
judicialmente pela Directora; que terá duração indefinida, podendo ser dissolvida somente
por acto da autoridade eclesiástica, à qual competirá dar destino aos bens existentes; que
seus estatutos não serão reformados no tocante a administração da Associação, e
finalmente, a Associação será administrada por um “Conselho Administrativo” composto
de Directora, Secretária e Tesoureira.
O referido é verdade, da fé.
São Paulo, 12 de junho de 1917
Eu, Bremo Brasiliense.
_________________________________________________________________________

Hymno das Escolas Populares

Desejava a Associação ter um hymno para suas escolas, no qual se fundissem, num acento
de amor o seu maior ideal – Deus e Pátria.
Foi escrito por Exmo, e Rvmo. Sr. D. Aquino Correa (Arcebispo de Cuyabá)

62
Música de Sr. José Carlos Dias.
Alumnos cantarão o hymno a partir de 1923.

I
Somos flores da Pátria querida,
Que buscamos um raio de sol,
Para abrirmos na aurora da vida,
Como lyrios em pleno arrebol.

II
E’s a luz benfazeja que alegras
Os tugúrios sem pão, nem amor,
Como sol que nas gotas mais negras,
Desabrocha o sorriso da flor.

III
Ao clarão desse raio tão lindo,
Com que espancas a treva fatal
Deus e Pátria se olham sorrindo
Como um só e infinito ideal!

Côro
Vem, ó sol, que iluminas a mente,
Bello sol da instrucção popular!
Vem nos dar essa luz tão potente
Que faz na alma a virtude brotar!

Setembro, 1910- Associação das Escolas Populares


(Número indica ordem de fundação)
Nº Escolas Parochias Localização Professoras alunos
01 Escola Popular Coração de Jesus Santa Largo Coração Josepha Gomes 30
(feminina) Cecília de Jesus, 21
02 Escola Popular João Evangelista Santa Rua São Tharsilla de Souza 31
(feminina) Cecília Caetano, 48 Aranha
03 Escola Popular Immaculada Conceição Santa Alameda dos Maria Emilia 30
(feminina) Cecília Andradas, 75. Goursaud

04 Escola Popular São Sebastião Santa Rua Victorino Maria Augusta 29


(masculina) Ephigênia Carmillo, 65 Silveira Moura
05 Escola Popular Santa Eugênia Sé Travessa da Maria Cândida 30
(masculino) Glória: 23 A Vasconcellos
06 Escola Popular São Bernardo São João Rua Coimbra, Maria dos Anjos 25

63
(masculina) Baptista 90 Franco
07 Escola Popular João Baptista São João Rua Coimbra, Alzira Lima 30
(feminina) Baptista 90
08 Escola Popular Santa Cândida Cambucy Rua Bom Agueda Ferrette 30
(feminina) Pastor, 107 Castello
09 Escola Popular São Francisco de Salles São Rua Lopes Agueda Pinto e 26
* (feminina) Francisco Chaves, 103 Olga Conceição
de Salles
10 Escola Popular Sant ´Anna São Rua Lopes Maria José Pereira 26
(feminina) Geraldo das Chaves, 103 de Souza
Perdizes
Total 287 alumnos
(*) esta escola é diurna, funcciona da 8h às 10h da manhã: as outras são nocturnas, de 6:30
às 8h.

Movimento do Anno de 1913.


1ª Escola Popular “São José” (Fundada em outubro/1910)

Alumnas Matriculadas 26
Alumnas Brasileiras 22
Alumnas Extrangeiras 4
Alumnas Maiores de 14 annos 23
Alumnas Maiores de 18 annos 3
Alumnas Eliminadas 8
Total 18

2ª Escola Popular “Coração de Jesus” (Fundada em junho/1911)

Alumnas Matriculadas 44
Alumnas Brasileiras 32
Alumnas Extrangeiras 12
Alumnas Maiores de 14 annos 44

64
Alumnas Maiores de 18 annos -
Alumnas Eliminadas 15
Total 29

3ª Escola Popular “Immaculada Conceição” (Fundada em agosto/1911)

Alumnas Matriculadas 55
Alumnas Brasileiras 55
Alumnas Extrangeiras 0
Alumnas Menor de 18 annos 55
Alumnas Maiores de 18 annos 0
Alumnas Eliminadas 25
Total 30

4ª Escola Popular “São João Evangelista” (Fundada em setembro/1911)

Alumnas Matriculadas 45
Alumnas Brasileiras 34
Alumnas Extrangeiras 11
Alumnas Menores de 18 annos 20
Alumnas Maiores de 18 annos 25
Alumnas Eliminadas 9
Total 36

5ª Escola Popular “São Sebastião” (Fundada em setembro/1911)

Alumnos Matriculadas 31
Alumnos Brasileiros 31
Alumnos Extrangeiros 0
Alumnos Menores de 12 annos 22

65
Alumnos Maiores de 12 annos 9
Alumnos Eliminados 7
Total 24

6ª Escola Popular “Santa Eugênia” (Fundada em março/1912)

Alumnas Matriculadas 53
Alumnas Brasileiras 26
Alumnas Extrangeiras 27
Alumnas Menores de 18 annos 13
Alumnas Maiores de 18 annos 40
Alumnas Eliminadas 12
Total 41

Relatório Annual da Associação de Escolas Populares 1913


Esta Associação creada com o fim de abrir e manter escolas nocturnas para
operários menores de 12 annos e operárias menores de 18, apresenta neste relatório o seu
movimento durante o decorrer de 1913.
Funcionaram 06 (seis) escolas, com 30 alumnos matriculados, além de vários
assistentes.
Fechada: São João Evangelista mês:abril
Motivo: Intimação da Hygiene  reabre em junho
para reabrir contou com ajuda do Rvmo. Reitor do Seminário Archidiocesano,
Monsenhor Maximiano Leite, que cedeu sala com necessária iluminação elétrica.
Escola São Sebastião reabre em setembro por falta de sala.
Férias de inverno: 20 à 30 de junho
Férias de Verão: 07/12 à 11/01
“Foi impossível haver exames finaes nas diversas escolas, em vista de uma intimação da
Hygiene, obrigando a Associação a fechar 03 (três) escolas, antes do prazo legal”

Primeira Comunhão

66
Número de alumnos: 84
Meninos: 08
Meninas: 76
Acompanhado pelos demais alumnos (100)
Presença do coro das operárias.
 07/12: Festa de encerramento e entrega de prêmio no Salão de Actos de Lyceu do
Sagrado Coração de Jesus.

Recebimento de donativos.
50$000 Senhora Simpliciana Raffin.
100$000Arcebispo.
140 livros e 25 lousas Antônio Morato de Carvalho
153 livros e 100 lousas Palmyra Bastos.
152$500 Jubilei Constantiniano.
200$000 Rumo Arcebispo Doutor Francisco de Paula Rodrigues
100$000 Exm. Senhora Condessa de Lara.
Total: 4:012$300 (contribuições mensaes mais donativos)

Anno 1912 1913


Número de Sócios 69 85

Despezas: 3:730$300
Saldo: 282$000

A Presidente, Anna de
Camargo Barros.
Thesoureira: Almerinda Rodrigues de Mello
Secretária: Ernestina Adriden

Relatório Annual da Associação das Escolas Populares -1914


Férias de 10 dias (mês de junho)
Criadas mais 03 (três) escolas: Escola Popular São Bernardo (masculina)

67
Escola Popular São João Baptista e Escola Popular Santa Cândida (feminina)

Visitadas pela Directoria da Associação diversas vezes. Mais duas vezes pelo Senhor
Chrispim de Oliveira, membro da comissão de “Escolas Catholicas” da Confederação das
Associações Catholicas.

Primeira Comunhão (11/10)


Número de alumnos: 132
Meninos: 97
Meninas: 35
Presença do coro das alumnas operárias.
Fins de novembro  exames finais

18/11 Escola Popular Coração de Jesus

Alumnos Matriculados 28
Alumnos Ouvintes 3
Exame Leitura, Catecismo, História Sagrada, taboada;
estando no 1º livro, 26 alunnas e na Cartilha, 5
Cadernos de linguagem, Calligraphia e
contas.

19/11 Escola Popular São Sebastião

Alumnos Matriculados 30
Alumnos Ouvintes 5
Exame Leitura, Catecismo, Taboada, Contas
Primeiro Livro 22
Cartilha 8
Cadernos Calligraphia, linguagem e desenho

20/11 Escola Popular Immaculada Conceição

68
24
Alumnos Matriculados
Alumnos Ouvintes -
Exame Leitura, Catecismo
Primeiro Livro 11
Cartilha 13
Cadernos Calligraphia

23/11 Escola Santa Eugenia


30
Alumnos Matriculados
Alumnos Ouvintes 30
Exame Leitura, Catecismo
Primeiro Livro 11
Cartilha 13
Cadernos Calligraphia, linguagem e contas

24/11 Escola Popular São Bernardo


30
Alumnos Matriculados
Alumnos Ouvintes 6
Exame Leitura, Catecismo, Taboada, Linguagem
Primeiro Livro 11
Cartilha 13
Cadernos Linguagem

24/11 Escola Popular São João Baptista


30
Alumnos Matriculados
Alumnos Ouvintes 6
Exame Leitura, Catecismo
Primeiro Livro 31
Cartilha 05
Cadernos Linguagem
25/11 Escola Popular Santa Cândida

69
Alumnos Matriculados 30
Alumnos Ouvintes 20
Exame Leitura, Catecismo, Taboada
Primeiro Livro 15
Cartilha 15
Cadernos Calligraphia

26/11 Escola Popular João Evangelista


26
Alumnos Matriculados
Alumnos Ouvintes 14
Exame Leitura, Catecismo
Primeiro Livro 19
Cartilha 7
Cadernos Calligraphia, linguagem e contas

27/11 Escola Popular São José

Alumnos Matriculados 16
Alumnos Ouvintes -
Exame Leitura, Catecismo
Primeiro Livro 16
Cartilha -
Cadernos Linguagem e conta

Doutor Benedicto Paulo Alves de Souza fecha a Escola Popular São José porque tem pouco
alumno e pouca freguesia.
Crise: não houve festa só distribuíram bombom.

Receita Total:
Contribuições Mensaes: 3:561$400
Benefícios: 815$000
Donativos:789$700
Transporte de 1013: 282$000

70
_________
Deduz despezas: 5:287$100
__________
Saldo: 61$000

Doação: Presciliana Duarte de Almeida: 52 livros de leitura “Páginas Infantis”.


Jornaes Catholicos e revistas que são distribuída aos alumnos com propaganda da boa
imprensa.
Sócios: 94
Rumo Vigário Cônego Meirelles: 350$000
Grêmio Dramático “Santa Cecília”: 465$000(espetáculo em favor da Associação)
Despeza 201$000 Saldo 264$000
Mon. Benedicto. Paulo Alves Souza: 500$000
Padre Meirelles: 52$000
A directora
Anna de Camargo Barros

Relatório Annual da Associação das “Escolas Populares” – 1915

8 escolas funcionando, não foram criadas escolas novas.


01 de fevereiro de 1915: início das aulas, que começam mais tarde devido à falta de
recursos.
Junho: férias
486 alumnos, sendo que 199 foram eliminados.

Professoras:
São João Batista: D. Beranisa do Espírito Santo (substituída por Alzira Luna)
Sagrado Coração de Jesus: D. Margarida Bastos
São Sebastião: Herminia Machado
São João Evangelista: Josepha Gomes
Santa Cândida: Agueda Ferretti Castello
São Bernardo: Maria dos Anjos Franco
Santa Eugênia: Maria Cândida Vasconcellos

Visita da directoria;
Reunião entre directoria e professoras para tratar sobre assuntos da Associação (janeiro)

1ª comunhão em 17/10/1915: 15 meninos e 74 meninas

71
Exames finaes: 16, 17, 18, 19, 22, 23 e 24 de novembro. Alumnos demonstraram bastante
aproveitamento.
Trabalhos graphicos offerecidos à D. Duarte Leopoldo e Silva.
Encerramento das aulas dia 30 de novembro.
Festa no Lyceu Sagrado Coração de Jesus no dia 05 de dezembro.
Distribuição de prêmios, 267 prêmios comuns, e prêmios de religião e applicação.

Associação recebeu revistas e jornaes catholicos e 80 estampas de Nossa Senhora


Sócios: 133
Donativos:
50$000 (Filhas de Maria)
20$000 (Dr. Celestino Barroul)
50$000 (Padre D. Gastão Liberal Pinto)
230$000 (doação anônima)
20$000 (D. Nenê Pinto)
100$000 (Mons. Sr. Benedicto P. Alves de Souza)

Transporte de 1914: 61$000


Mêz Entradas Despezas
Janeiro 428$000 233$600
Fevereiro 281$000 439$000
Março 410$500 438$600
Abril 386$900 440$800
Maio 459$000 444$500
Junho 97$000 47$000
Julho 503$000 518$500
Agosto 419$000 444$300
Setembro 453$000 463$100
Outubro 616$500 487$400
Novembro 625$400 729$900
Dezembro 241$600 122$000
Total 4:982$500 4:808$700
Transporte para 1916: 173$800

A presidente,
Anna de Camargo Barros

Relatório mensal das “Escolas Populares” (Mez Julho, 1916)

Escolas Alumnos Alumnos Dias Comparecime Falta dos Falta dos


matriculado eliminados lectivo nto dos alunos alumnos professore
s s s
Sagrado 30 04 19 404 166 01
Coração de

72
Jesus
São João 31 08 12 243 112 07
Evangelista
Immaculada 30 09 19 428 142 01
Conceição
São Sebastião 29 00 15 319 97 00
Santa Eugênia 30 02 20 436 167 00
São Bernardo 25 00 20 380 17 00
São João Batista 30 10 16 479 64 00
Santa Cândida 30 03 20 587 13 __
São Francisco 26 01 20 436 84 00
de Salles
Sant’ Anna 26 00 20 192 428 00
Observações 287 37 __ 3904 1293 __

Relatório Annual da Associação de “Escolas Populares”- 1916

13 escolas – 12 funcionaram regularmente


Criadas 04 escolas : Escola Popular São Francisco de Salles
Escola Popular Sant´Anna
(Criadas em fevereiro sob proteção da Exma. Família do Dr. Adolpho Pinto e D. Elisa
Cavalcanti.)
Escola Popular Santo Antonio
Escola Popular Santa Ignez
(criadas em fins de outubro, sob proteção do Exmo. Antonio Rodrigues Costa e D. Zoraida
Costa)

Escola Popular São José reabre em novembro e Santa Ignez deixa de funcionar por falta de
sala conveniente.

Alumnos matriculados: 558


Alumnos eliminados: 209
Novembro: exames finaes.
13/11: E.P. Sagrado Coração de Jesus. Matriculados: 29 Presentes: 22
14/11: E.P. Immaculada Conceição. Matriculados: 29 Presentes: 20
16/11: E.P. São Sebastião. Matriculados:20 Presentes:18
20/11: E.P. São Francisco Salles. Matriculados: 31 Presentes: 20
20/11: E.P. Sant´Anna. Matriculados: 27 Presentes: 22
21/11:E.P. Santa Cândida. Matriculados: 30 Presentes:30 Ouvintes: 09
22/11: E. P. Santa Eugênia. Matriculados: 30 Presentes: 30 Ouvintes: 10
23/11: E.P. São João Baptista Matriculados: 30 Presentes:17
23/11: E.P. São Bernardo. Matriculados: 31 Presentes:21
27/11: E.P. Santo Antonio. Matriculados:04 Presentes: 04
28/11: E.P. São José. Matriculados: 25 Presentes:20
29/11: E.P. São João Evangelista Matriculados: 26 Presentes: 21 Ouvintes: 01

73
1ª Comunhão realizada dia 15 de outubro:
102 alumnos: 79 meninas e 23 meninos.
Encerramento no Lyceu dia 10 de dezembro.
Prêmios annuaes adquiridos com donativos offerecidos pela Associação da Sagrada
Família.

Sócios: 138

Transporte de 1915: 175$800


Mez Entradas Despezas
Janeiro 519$200 562$700
Fevereiro 551$500 546$200
Março 475$000 522$900
Abril 529$200 524$700
Maio 666$000 536$000
Junho 226$000 162$900
Julho 502$000 603$600
Agosto 644$580 566$400
Setembro 432$000 539$900
Outubro 1:218$200 1:171$700
Novembro 856$900 645$800
Dezembro 163$000 552$600
Total 6:957$300 6:929$400
Saldo para 1917: 27$400

31 de maio de 1917.
A presidente,
Anna de Camargo Barros

Relatório Annual de 1917.

13 escolas funcionaram com as seguintes professoras:

Josepha Gomes: Escola Popular Sagrado Coração de Jesus


Virgilina Campos: Escola Popular São João Evangelista
Maria Emília Goursand: Escola Popular Immaculada Conceição
Maria Augusta da S. Moura: Escola Popular São Sebastião
Maria dos Anjos Franco: Escola Popular São Bernardo
Alzira Lima: Escola Popular São João Baptista
Agueda Ferretti Castello: Escola Popular Santa Candida
Agueda Pinto: *Escola Popular São Francisco de Sales
Maria José Pereira de Souza: Escola Popular Sant´Anna
Beraniza do Espírito Santo: *Escola Popular Santo Antonio
Albertina M. do Carmo Bloem: Escola Popular Santa Ignez
Elvira de Almeira: Escola Popular São José

74
(*) Escolas são regidas gratuitamente pelas professoras.
Professora Albertina Bloem, da Escola Popular Santa Ignez deixa o cargo em julho para
Ângela Scrosoppi Persicano.

Instalada nova escola para operários no Braz: São José (Agosto) com professora Maria da
Cunha Borges de Moraes e fecha a São José (de operárias, da professora Elvira de
Almeida).
Escola Santa Eugenia é fechada por motivo de moléstia contagiosa em pessoa residente no
prédio em que funccionava a escola.

Visita de inspectores a partir de Março (cargo é gratuito)


Total de alumnos: 650, sendo 397 operárias e 253 operários.
Eliminados: 251, sendo 143 do sexo feminino e 108 do masculino.
Férias em junho.

1ª Comunhão: 114 operárias e 88 operários.


Encerramento das aulas: novembro.
Exames finaes: novembro.
Resultado dos Exames Finaes.

05/11: Escola Popular Santa Candida.


Alunos matriculados: 30
Presentes: 27
Ouvintes: 11
Resultado: Bom

06/11: Escola Popular São Bernardo


Alunos matriculados: 27
Presentes: 17
Ouvintes: 0
Resultado: Regular

07/11: Escola Popular São João Baptista


Alunos matriculados: 30
Presentes: 17
Ouvintes:0
Resultado: Soffrivel

09/11: Escola Popular São José


Alunos matriculados: 30
Presentes: 30
Ouvintes: 04
Resultado: Bom

13/11: Escola Popular Santo Antonio


Alunos matriculados: 28

75
Presentes:15
Ouvintes:0
Resultado: Optimo

14/11: São João Evangelista


Alunos matriculados: 30
Presentes: 18
Ouvintes: 0
Resultado: Bom

16/11: Escola Popular Immaculada Conceição


Alunos matriculados: 30
Presentes: 25
Ouvintes: 0
Resultado: Regular

20/11: Escola Popular Coração de Jesus


Alunos matriculados: 25
Presentes:22
Ouvintes:03
Resultado: Bom

21/11: Escola Popular Sant´Anna


Alunos matriculados: 18
Presentes:14
Ouvintes:0
Resultado: Soffrivel

23/11: Escola Popular Santa Ignez


Alunos matriculados: 30
Presentes:22
Ouvintes: 07
Resultado: Optimo

26/11:Escola Popular São Francisco de Sales


Alunos matriculados: 31
Presentes:25
Ouvintes:02
Resultado: Bom

27/11: Escola Popular São Sebastião


Alunos matriculados: 30
Presentes:20
Ouvintes:01
Resultado: Bom

76
“Devido ao resultado soffrivel apresentado pela ‘Escola Popular Sant’Anna’ foi a mesma
fechada temporariamente e dispensada a respectiva professora, D. Maria José Pereira de
Souza. A ‘ Escola Popular São João Baptista’ que teve o mesmo resultado, ficará durante
1918 a cargo de D. Alzira Sampaio, tendo a respectiva professora D. Alzira Lima se
ausentado da Capital”

Encerramento no Salão de Actos do Lyceu do Sagrado Coração de Jesus no dia 09 de


dezembro, com distribuição de prêmios a todos, e especiais aos que se destiguiram durante
o anno.
Em junho a Associação foi registrada gratuitamente no “Registro Geral e de Hypotecas”,
recebendo esta generosidade do official de Registro, Exm. Dr. Gastão Vidigal.

Donativos
Grande número de revistas e jornaes catholicos.
Para a primeira comunhão: 25 véos de filó, 25 corôas de manzouk e 15 vestidos brancos.
Para prêmios de fim de anno, 21 vestidinhos e 36 blusas.
Sócios: 128.

A presidente,
Anna de Camargo Barros
Relatório Annual de 1918.

Exmos. Sócios,

Funcionaram 14 escolas:

Escolas Localização Professoras


Escola Popular Coração de Jesus Largo Coração de Jesus, 21 Josepha Gomes
Escola Popular João Evangelista Rua São Caetano, 48 Virgilina Campos
Escola Popular Immaculada Alameda dos Andradas, 75. Maria Emilia Goursaud
Conceição
Escola Popular Santa Ignez Rua Consolação, 277. Ângela Scrosoppi Persicano
Escola Popular Santo Antonio Rua: Tabatinguera, 57 Beranisa do Espírito Santo
Escola Popular São José Rua: Monsenhor de Andrade, Alfredina Rocha Martins
12 (interina)
Escola Popular São Sebastião Rua: Souza Lima, 29 Maria Augusta da Silveira
Moura
Escola Popular Santa Theresa Largo da Lapa, 16 Aurora Sandoval Navas
Escola Popular Santa Eugênia Travessa da Glória: 23 A Maria Cândida Vasconcellos

77
Escola Popular São Bernardo Rua Coimbra, 90 Maria dos Anjos Franco
Escola Popular João Baptista Rua Coimbra, 90 Alzira Sampaio Cardoso
Escola Popular Santa Cândida Rua Bom Pastor, 107 Agueda Ferrette Castello
Escola Popular São Francisco de Rua Lopes Chaves, 103 Agueda Pinto e Olga
Salles Conceição
Escola Popular Sant ´Anna Rua Lopes Chaves, 103 Delphina da Silveira Moura

Férias de inverno acontecem em junho.


31 de maio: distribuição de balas

1ª Comunhão: 15 de setembro, na matriz da Santa Iphigenia.


170 alumnos, sendo 90 homens e 80 mulheres.

Dia 12 de outubro: visita à Exposição Industrial de São Paulo com suas professoras e
Directoria da Associação.
Epidemia em outubro faz com que não se realizem os exames finaes e não houve
distribuição de prêmios.
Encerramento das aulas em outubro.

725 alumnos matriculados: 452 alumnas e 273 alumnos.


Director da Associação: Exmo. e Rvmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, devido à elevação a
bispo do Espírito Santo, de Mons. Dr. Benedicto Paulo Alves de Souza.

Duas reuniões (05 de maio e 28 de julho), onde foi deliberado o seguinte:


1º) A partir de 1919 cada alumno pagará como taxa de matricula, a quantia de 1$000;
2º) Fica annullado o artigo dos Estatutos em que está determinada a edade para os
matriculados, sendo preferidos de agora em deante, os maiores de 14 annos;
3º) Em cada escola haverá o ensino resumido da história do Brasil, com explicação das
datas nacionaes, na véspera das mesmas;
4º) Haverá também o ensino de Geographia, especialisando o Brasil e particularmente o
Estado de São Paulo;
5º) De 28 de julho em deante não serão feriados os sabbados, sempre que na semana houver
um feriado nacional ou dia santo de guarda;
6º) Cada inspectora fica incumbida de arranjar, no mínimo, 10 sócios contribuintes;

Número de Sócios: 160.

Movimentação do Caixa:
Contribuições 7:892$300
Donativos 693$500
Receita 10:120$500
Despeza 8:428$500
Transporte para 1919: 1:691$600

78
A 2ª Secretária,
Georgina Trípoli

São Paulo, 09 de maio de 1919.

Relatório Annual de 1919

Fecharam: Escola Popular Santo Antonio (em julho) e São Francisco de Salles (novembro),
que era diurna e será reaberta como nocturna.

Abriu: Escola Popular São José (feminina) por conta do fechamento da Escola Popular
Santo Antonio.

Primeira Comunhão acontece em 21 de setembro: 155, sendo que 37 eram operários e 118
operárias;

Movimentação do Caixa:
Saldo de 1918: 1:420$500
Contribuições: 9:373$200
Donativos: 508$900
Saldo: 11:302$600
Despezas: 10:395$800
Transporte para 1920: 906$800

Georgina Trípoli,
2ª Secretária

Relatório Mensal: Fevereiro de 1920

Início das aulas 07 de Janeiro


Encerramento dia 30 de Novembro
Férias Junho

15 escolas em funcionamento
E.P. Santa Cândida – Carolina Branco de Moura
E.P. Immaculada Conceição – Maria Emília Goursand
E.P. Santa Ignez – Ângela S. Persicano
E.P. São José (feminina)
E.P. São José (masculina) Diolinda Vieira
E.P. Sant`Anna – Delphina S. Moura Campos
E.P. Francisco de Salles – Irene de Faria Tavares
E.P. São Bernardo – Maria B. Araújo
E.P. São João Batista – Alzira Sampaio Cardoso

79
E.P. São Sebastião – Maria A . Silveira Moura
E.P. Santa Efigênia – Maria Cândida Vasconcellos
E.P. Coração de Jesus – Julia Kiehl
E.P. São João Evangelista – Virgilina de Campos
E.P. Santa Tereza – Aurora Sandoval Navas
E.P Santo Antonio – Virgínia Conde

671 Alunos
Férias de junho e dezembro distribuição de balas
21 de setembro matriz de Santa Efigênia realizou-se a primeira comunhão 155 118
operárias e 37 operários
A Diretoria da Associação fez 03 visitas durante o ano
Distribuição de prêmios aos alunos os melhores prêmio especiais de religião e freqüência
Doações 30 blusas
10 premios de freqüência
500 artisticos programas/ papelaria
10 kilos de balas
total de sócios contribuintes 177
Relatório Annual de 1920.

Fecha a Escola Popular São José por falta de sala;


Visita mensal das inspectoras;
Distribuição de prêmios a todos e primeiros prêmios aos melhores alumnos;
Criação de gabinete dentário para tratar, gratuitamente, os seus alumnos operários;
Taxa de matrícula: 1$000 por anno
Número de alumnos: 701, sendo 233 do sexo masculino e 468 do feminino. (216 alumnos
não pagaram taxa de matrícula)

Movimentação do Caixa:
Saldo credor de 1919: 906$800
Receita de 1920: 13:701$000
Total: 14:607$800
Despeza durante 1920: 12:101$800
Saldo credor para 1921: 2:506$000

Movimento do Período de 1910 a 1920

Em 1920, comemorando 10 anos de existencia, faz-se um Movimento Geral do Período.


Total de alunos matriculados desde a criação das Escolas: 5000
Primeira Comunhão: 1257: 380 homens e 877 mulheres
Número de escolas: 16

Até 1913:
A Associação das Escolas Populares foi fundada em louvor da Santa Infância de Jesus.
Nome era Associação Escolar Santa Infância.

80
Em 1917:
Para melhor fiscalização das escolas, foram creados os cargos gratuitos de inspectoras;
É nomeada uma segunda secretária;

Em 1918:
Em virtude da nova lei regularizando a Instrucção Pública, foi esta Associação autorizada a
funccionar, por officio da Directoria Geral da Entroso Pública, em data de 08 de junho;

Director: Exmo. e Rvmo. Sr. Dr. Duarte Leopoldo e Silva;


Presidente: Anna Camargo de Barros
1ª Secretária: Ernestina Adrien
2ª Secretária: Georgina Adrien
Thesoureira: Almerinda Rodrigues de Mello

Em 1919:
Foi instaurada taxa de matrícula: 1$000 para todos os alunos;
Foi abolido do estatuto que determinava a idade para os alunos, sendo então preferidos de
então em diante, os maiores de 14 anos;
Também foi ampliado o programa das escolas;

Movimento do Caixa durante o período:


Receita: 73:936$300
Despeza: 71:430$300
Saldo para 1921: 2:506$000

Georgina Adrien Trípoli,


2ª Secretária.

Relatório Annual de 1921

Exmos. Sócios

Porém grande será a vossa surpreza e contentamento, ao saberdes do seu rápido progresso e
do bem que a vossa esmola tem produzido durante o anno.
Considerando o grande número de crianças que necessitam de escolas catholicas, resolveu a
Diretoria desta Associação, sob as bênçãos do seu amado Diretor, o Exmo. e Revmo. Sr. D.
Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo Metropolitano, desdobrar as escolas já criadas
fazendo-as a funcionar em 03 períodos. O noturno já existente e 02 diurnos.

1º: 8 as 11hs para meninos


2º: 13 as 16 hs para meninas

---Subsidio das Escolas Catholicas


---22 escolas

81
16 com 27 períodos
---Escolas Noturnas: 172 operários
1ª comunhão: 40 homens e 132 mulheres =alunos
---Diurno: 96 alunos: 40 meninos e 56 meninas
---Visitadas pela Diretoria e Inspetoras
---Prêmios para os melhores alunos
---Assistência dentária: Sr. Abelardo de Moura
---Distribuição nas escolas: revistas e jornais catholicos
---1209 alunos matriculados: 740 noturno e 469 diurno
---Matricula: crianças 2$000 e operários 1$000
Encerramento das aulas: 30 de novembro
Exames Finaes: novembro
Reuniões: dia 05 de junho e 20 de novembro, entre professoras, inspectoras e Directoria
para tratar de assumptos diversos tendentes ao progresso da Associação e nomeação de uma
3ª secretária (D. Alina Sydow) para auxiliar na escripturação dos períodos diurnos;

Movimento do Caixa:
Saldo credor de 1920 2:506$000
Importância recebida em 1921 26:957$810
Total: 29:463$810
Despezas: 22:505$910
Saldo credor para 1922: 6:957$900

Relatório Annual de 1922

Sr. D. Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo Metropolitano

---51 períodos distribuídos em 24 cursos noturnos e 27 diurnos


---1ª comunhão: 548 alunos: 284 operários (20/08)
264 crianças (27/08)

As primeiras comunhões não se realizaram em setembro conforme previsto no Estatuto por


conta das festas commemorativas do Centenário da Independência.
---Exames finais: 30 de novembro
---Serviço dentário: Abelardo da Silveria Moura saiu por motivo de força maior, deixando
no cargo o Sr. Benedicto Franco de Siqueira
---Número de sócios 366
---Taxa de matrícula
2452 alunos: 1288 crianças (diurno) e 1164 operários (noturno) -> muitos não pagavam a
taxa (1$000 para alumnos do curso nocturno e 2$000 para os diurnos por anno)

Escolas: Períodos de Funcionamento:


Escola Popular Sagrado Coração de 3º;
Jesus
Escola Popular São João Evangelista 1º, 2º e 3º

82
Escola Popular Immaculada Conceição 3º;
Escola Popular Santa Ignez 1º, 2º e 3º;
Escola Popular Santo Antonio 3º;
Escola Popular São José 3º;
Escola Popular São Sebastião 1º e 3º;
Escola Popular Santa Theresa de Jesus 3º;
Escola Popular Santa Eugênia 3º;
Escola Popular São Bernardo 1º e 3º;
Escola Popular João Baptista 1º, 2º e 3º
Escola Popular Santa Cândida 3º;
Escola Popular São Francisco de Salles 3º;
Escola Popular Sant ´Anna 1º, 2º e 3º;
Escola Popular Sagrada Família 1º, 2º e 3º;
Escola Popular Santa Iphigenia 1º, 2º e 3º;
Escola Popular Nossa Senhora do 1º, 2º e 3º;
Carmo
Escola Popular Santa Magdalena de 1º, 2º e 3º;
Pazzi
Escola Popular Therezinha do Menino 1º, 2º e 3º;
Jesus
Escola Popular São João da Cruz 1º, 2º e 3º;
Escola Popular São Luiz Gonzaga 1º, 2º e 3º;
Escola Popular Nossa Senhora do 1º, 2º e 3º;
Rosário
Escola Popular Sagrado Coração de 3º;
Maria
Escola Popular São Vicente de Paulo 3º;
Escola Popular São José (feminina) 3º;

Professoras por período em cada Escola - 1922


Escolas populares Período (noite) Período (manhã) Período (tarde)
1. São José (fem) Anita Alves Cardoso ----------------------- ---------------------
2. Coração de Jesus Julia Kiehl ----------------------- ---------------------
3. Imaculada Conceição M. Emilia Goursand ----------------------- ---------------------
4. João Evangelista Virgilina de Campos Virgilina de Euma Giordano
Campos
5. São Sebastião Ângela Portugal Eponima Jordão Leonor Mariades
6. Santa Eugenia M. Cândida ----------------------- ---------------------
Vasconcelos
7. São Bernardo M. das Chagas Moura M. das Chagas ---------------------
Moura
8. São João Batista Alzira de S. Cardoso Anna M. de Alzira de S.
Andrade Cardoso
9. Santa Cândida M. Luiza Brem ----------------------- ---------------------
10. São Fcº Salles Olga Vieira dos Santos Paula Vieira dos ---------------------

83
Santos
11. Sant Anna Brasília M. Machado Benedicta M. de Maria dos
Oliveira Remédios
12. Santo Antonio Virginia Sciosoppi Joana Biller Santo ---------------------
13. Santa Inês Ângela S. Persiano Christina Delio Ângela S. Persiano
14. São José (masc) M. Ap. Borges de ----------------------- ---------------------
Moraes
15. Santa Tereza Aurora S. Naves ----------------------- ---------------------
16. Santa Efigênia M. Valentini Guiomar A. Julia Kiehl
Unterpertiuger Machado
17. Ns. Senhora do Carmo Thereza Augusta América E. Maria Dolores
Pereira Zanchetta Moreira
18. --------------------------- Helena Zapparolli Helena Zapparolli Antonietta
Zapparolli
19. --------------------------- Anunciação Porto Josephe Gomes Josephe Gomes
20. --------------------------- Antonietta Zapparolli M. Amélia P. Odila Guaryamma
Machado
21. --------------------------- Benedita Cardoso ----------------------- ---------------------
Rebello

Localização Aluguel
1. R. Espírito Santo, 45- A 50$
2. Largo C. de Jesus, 21 Grátis
3. Al. Andradas, 88 40$
4. R. São Caetano, 48 Grátis
5. R. Souza Lima, 29 70$
6. R. Galvão Bueno, 44 50$
7. R. Correa de Andrade, 7 55$
8. R. Com. Belizário, 11 50$
9. R. Bom Pastor, 107 60$
10. R. Theodoro Sampaio, 27 65$
11. R. Lopes Chaves, 103 50$
12. R. Consolação, 365 40$
13. R. Bela Cintra, 133 75$
14. R. América, 29 60$
15. R. 12 de Outubro, 88 50$
16. Trav. Penna, 24 40$
17. R. Guaycurus, 219 70$
18. R. Itapirapis, 4 65$
19. R. Herval, 6 70$
20. R. Tybiriçá, 158 Grátis
21. R. Mooca, 23 Grátis

84
Escolas por organizar

(1) E. P. Sagrada Família


1 período: Professora Albertina Bloen.
Aluguel: 100$000

(2) E. P. São Luiz Gonzaga


3 períodos: Professoras Sras. Cintra
Aluguel: 250$000

(3) E. P. Nossa Senhora do Rosário


3 períodos: Professoras Matarazzo e Crespi
Aluguel: 240$000

(4) E. P. --------------------------
1 período: Conselho Particular Bella Vista
Aluguel: 100$000

Despezas mensaes
Aluguel de Salas 960$000
Período da noite 950$000
Período da manhã 780$000
Período da tarde 600$000
Total: 3:290$000

Festa de encerramento acontece em 26 de dezembro, em homenagem ao Brazil por um


século de liberdade política.

Movimento do Caixa
Saldo Credor de 1921: 6:957$900
Donativos: 14:156$500
Contribuições: 48:273$000
Taxa de matrícula: 2:775$000
Despezas: 52:496$480
Saldo Credor para 1923 19:665$920
São Paulo, fevereiro de 1923.
Georgina Trípoli,
2ª Secretária

Resumo de 1922:
Escolas nocturnas masculinas: 06
Escolas nocturnas femininas: 15
Escolas diurnas masculinas: 13
Escolas diurnas femininas: 10

85
Relatório Annual de 1924

Fala sobre a perturbação social que levou a ausência de alumnos, trazendo prejuízo para a
vitalidade da escola e aproveitamento da aprendizagem. Em virtude disso, a primeira
comunhão realiza-se em 16 e 30 de novembro:
Em 16/11: 285 creanças das escolas;
30/11: 235 operarios alumnos;
Os restantes alumnos, 333, comungaram em seguida.

Exames Finaes:
Encerramento das aulas dia 01 de dezembro nas escolas nocturnas e 30 de novembro nas
diurnas. Inspectoras é que presidem os exames.
Alumnos recebem prêmios e doces. Offerta dos três primeiros prêmios: comportamento,
applicação e freqüência.

Inspecções:
Visita de Inspectores Escolares e médicos do Serviço Sanitário, além da Directoria,
Conselho Fiscal e Inspectoras.
Escolas Nocturnas: 02 visitas da Directoria;
48 das Inspectoras;
13 do Conselho Fiscal.

Escolas Diurnas: 231 visitas das Inspectoras;


160 da Thesoureira.

Reunião:
Realiza-se no dia 10 de fevereiro, onde o Conselho Fiscal discute sobre o andamento e
progresso da Associação.
Sócios: 350.

Total de 49 períodos, distribuídos por 25 escolas. (Fechou a Escola Popular Santa Eugenia
por falta de matrícula)

Escola Popular São João Baptista


Rua: Conselheiro Belisário, 11
1º período: Profª D. Elvira Monteiro
2º período: Profª D. Alzira Sampaio Cardoso
3º período: Profª D.Alzira Sampaio Cardoso

Escola Popular Santa Magdalena de Pazzi


Rua: Cajurú, 103
1º período: Profª D. Clara A de Oliveira
2º período: Profª D. Lucinda Pinto
3º período: Profª D.Escolástica do Amaral

Escola Popular Santa Ignez

86
Rua: Bella Cintra, 133
1º período: Profª D. Dalila Alves Moraes
2º período: Profª D. Ângela Scrosoppi Persicano
3º período: Profª D. Ângela Scrosoppi Persicano

Escola Popular São João Evangelista


Rua: São Caetano, 48
1º período: Profª D. Virgilina de Campos
2º período: Profª D. Virgilina de Campos
3º período: Profª D. Ermelinda Avenia

Escola Popular Nossa Senhora do Carmo


Rua: Guaycurus, 219
1º período: Profª D. Thereza Augusta Pereira
2º período: Profª D. Alda Roulier Pereira
3º período: Profª D. Thereza Augusta Pereira

Escola Popular São João da Cruz


Rua: Vergueiro, 405
1º período: Profª D. Paulina Cipullo
2º período: Profª D. Leonor Campos
3º período: Profª D. Paulina Cipullo

Escola Popular Therezinha do Menino Jesus


Rua: Frederico Alvarenga, 2- C
1º período: Profª D. Lydia Loureiro
2º período: Profª D. Pureza Delphim
3º período: Profª D. Ermelinda Pinheiro

Escola Popular São Luiz Gonzaga


Rua: Ruy Barbosa, 120
1º período: Profª D. Olga G. de Freitas
2º período: Profª D. Olga G. de Freitas
3º período: Profª D.Eusebia Ramos

Escola Popular Nossa Senhora do Rosário


Rua: Augusta, 473
1º período: Profª D. Mariana Galvão
2º período: Profª D. Hilda Galvão
3º período: Profª D. Amélia Rios

Escola Popular Santa Iphigenia


Rua: Anhaia, 31
1º período: Profª D. Ottilia de Oliveira
2º período: Profª D. Maria Amália Correa
3º período: Profª D. Ottilia de Oliveira

87
Escola Popular Sant´Anna
Rua: Lopes Chaves, 103
1º período: Profª D. Brasília M. Machado
2º período: Profª D.Candida Rodrigues
3º período: Profª D. Brasília M. Machado

Escola Popular São Vicente de Paulo


Rua: Luiz Barreto, 60
2º período: Profª D. Christina de Aquino
3º período: Profª D. Belliza Gonçalves de Freitas

Escola Popular São Sebastião


Rua: Souza Lima, 11
2º período: Profª D. Elisa S. Neubern
3º período: Profª D. Olga Lopes de Mendonça

Escola Popular São Bernardo


Rua: Carlos Botelho, 30
3º período: Profª D. Julieta Nascimento

Escola Popular São José


Rua: Pires da Motta, 127.
3º período: Profª D. Isabel F. C. Penteado

Escola Popular Santo Antonio


Rua: Theodoro Sampaio, 107
3º período: Profª D. Magdalena Scavone

Escola Popular Immaculada Conceição


Rua: Consolação, 365
3º período: Profª D. Ernestina Scrosoppi

Escola Popular Coração de Jesus


Alameda Ribeiro da Silva, 111
3º período: Profª D. Ângela Portugal

Escola Popular Santa Thereza


Rua: 12 de outubro, 88
3º período: Profª D. Aurora S. Navas

Escola Popular Santa Candida


Rua: Bom Pastor, 119
3º período: Profª D. Benedicta Moura

Escola Popular Santo Estevam


Rua: 21 de abril, 213

88
3º período: Profª D. Durvalina R. Carvalho
Escola Popular São Francisco de Salles
Rua: Capote Valente, 92- D
3º período: Profª D. Paula Vieira dos Santos

Escola Popular Coração de Maria


Rua: Conselheiro Furtado, 35
3º período: Profª D. Athaia Barletta
Escola Popular São Geraldo
Rua: Bresser, 312
3º período: Profª D. Lucinda Pinto

Escola Popular Sagrada Família


Rua: Itapirapés, 04
3º período: Profª D. Ítala V. Caggiano Wint

Férias:
20 a 30 de junho e 1º de dezembro a 06 de janeiro. Fecharam por força maior de 05 de julho
a 11 de agosto.
Matriculados: 2.555 alumnos
1.336 diurno e 1.219 nocturno

Movimentação do Caixa
Saldo credor de 1923 22:742$300
Donativos 843$600
Contribuições Mensaes 56:739$000
Despezas de 1924 57:896$600
Saldo credor para 1925 22: 428$300
São Paulo, janeiro de 1925
A Segunda Secretária,
Georgina Trípoli.

Relatório Annual de 1925


Exmos. Sócios

Ao labor incessante de uma propaganda tenaz, deveria corresponder maior


expansão de uma obra, que de longos anos vem aclarando o caminho e alargando os
horizontes às criancinhas e aos jovens que, de sol a sol, labutam nas officinas e nas
fábricas.
Entretanto, doloroso é confessar, neste fim de anno, que a incúria de certos
catholicos e muitos, cabe o retrocesso em que se acha a “Associação de Escolas Populares”.
Uns se retiram do quadro de sócios, alegando novos compromissos; outros, deixaram de

89
contribuir, talvez por não compreenderem a importância desta obra. Eis porque, sem o
apoio material de que carecia, embora não lhe faltasse dedicações generosas e mesmo
sacrifícios de almas abnegadas, a Diretoria da Associação foi obrigada a fechar 5 escolas
durante o anno letivo de 1925.
Ajustam-se perfeitamente a esta Associação, nem que faltemos à modéstia, as
palavras que ouvimos em relação a certa obra do apostolado social, e por isso, é-nos
necessário aqui empregá-las: “a Associação de Escolas Populares” é obra que só pessoas
inteligentes podem compreender. Sim, é preciso ser inteligente para compreender que é
mais necessário alimentar a alma do que o corpo; que a diffusão da doutrina cathólica, por
meio da escola popular, é obra não só da religião como de patriotismo; que os frutos desta
obra são do futuro e não do presente; e que nella, o ensino ministrado sendo o do
catecismo, aos catholicos compete auxiliar a manutenção da escola e a diffusão da mesma.
Estas verdades elementares dependem de um pouco de reflexão que muitos não
podem ou não querem fazer, nesta época de “utilitarismo e egoísmo”.
Enquanto se abrem novas escolas de várias seitas e se propagam as escolas
particulares catholicas, fecham-se 5 escolas populares, num total de 7 classes, deixando, em
média, 210 alunos na ignorância dos deveres religiosos e cívicos.
A quem cabe a culpa?
A Diretoria da Associação não tem medido sacrifícios para distender o seu campo
de acepção; as professores e inspetoras, na sua quase totalidade, tem sido verdadeiras
abnegadoras, mas não se alugam salas de preço cada vez mais elevado e não se adquire
material escolar, sem recursos pecuniários. Em conseqüência, cabe a culpa da falta destes
meios, aos catholicos indiferentes.

As escolas que funcionaram em 1925


Nocturnas
1. Escola Popular Coração de Jesus.
Rua: Lopes Chaves.
Profª Dona Brasília M. Machado

2. Escola Popular São Geraldo.


Rua: Bresser, 312
Profª Dona Lucinda Pinto

3. Escola Popular Immaculada Conceição


Rua: Consolação, 365
Profª Dona Ernestina Sorosoppi

4. Escola Popular Santa Tereza de Jesus


Rua: Doze de Outubro, 88
Profª Dona Aurora Naves

5. Escola Popular São José


Rua: Pires da Motta, 127
Profª Dona Helena Penteado Abate

6. Escola Popular Santo Antonio

90
Rua: Theodoro Sampaio, 109
Profª Dona Magdalena C. Sedivone

7. Escola Popular Santo Estevam


Rua: Joly, 31
Profª Dona Julieta Nascimento

8. Escola Popular São Francisco de Salles


Rua: Bom Pastor, 107
Profª Dona Benedita Moura

9. Escola Popular Sant’Anna


Rua: Sinumbu, 35
Profª Dona Raphaela Siqueira

Escolas Desdobradas

1. Escola Popular Nossa Senhora do Carmo


Rua: Guaycurus, 219
1º e 3º Períodos: Profª Dona Thereza A. Pereira
2º Período: Profª (interina) Luisa Prioli

2. Escola Popular Santa Therezinha Mãe de Jesus


Rua: Tabatinguera, 53
1º Período: Profª Dona Yolanda M. Pedrosa
2º e 3º Períodos: Profª Dona Maria da Pureza Delphim

3. Escola Popular Santa Magdalena de Pazzi


Rua: Cajuru, 103
1º Período: Profª Dona Lucia Chamujedu Leite
2º Período: Profª (interina) Dona Yolanda Rego Barros
3º Período: Profª Dona Escolástica do Amaral

4. Escola Popular São João da Cruz


Rua: Vergueiro, 405
1º Período: Profª (interina) Dona Adélia
2º Período: Profª Dona Sebastiana de Almeida
3º Período: Profª Dona Paulina Cepullo

5. Escola Popular São Vicente de Paulo


Rua: Barão de Ladario, 91
1º Período: Profª Dona Clementina Chiavo
2º Período: Profª Dona Maria do Rosário Chiavo
3º Período: Profª Dona Idathy Camargo Azevedo

6. Escola Popular São João Batista

91
Rua: Conselheiro Belisario, 11
1º Período: Profª Dona Ermelinda Sammara
2º e 3º Períodos: Profª Dona Alzira Sampaio Cardoso

7. Escola Popular São João Evangelista


Rua: São Caetano, 48
1º Período: Profª Dona Virgilina de Campos
2º e 3º Períodos: Profª Dona Francisca de Luca

8. Escola Popular Santa Ignes


Rua: Bella Cintra, 133
1º Período: Profª Dona Dalila Alves Moraes
2º e 3º Períodos: Profª Dona Ângela S. Persicano

9. Escola Popular São Luiz Gonzaga


Rua: Ruy Barbosa, 120
1º Período: Profª (interina) Dona Myra de Freitas
2º Período: Profª Dona Joanna Chechin
3º Período: Profª Dona Eusebia Ramos

10. Escola Popular Santa Ephigenia


Rua: Anhaia, 31
1º e 3º Períodos:Profª Dona Otilia de Oliveira
2º Período: Profª Dona Helena Ratto

11. Escola Popular São Sebastião


Rua: Souza Lima, 11
2º Período: Profª Dona Cândida Rodrigues
3º Período: Profª Dona Olga Lopes de Mendonça

12. Escola Popular Nossa Senhora do Rosário


1º Período: Profª Dona Dolores Maria Laprano
2º Período: Profª Dona Anna Cardoso Teixeira

**Fecharam**
Escolas Populares: Sagrada Família (desdobrada), Coração de Maria, São Bernardo,
Santa Eugenia e Santa Cândida (nocturnas)

Férias
O período de férias –inverno. Modificado de acordo com os grupos escolares. 10 a 30 de
junho.
Fim de ano- até 15 de janeiro.
No ultimo dia de aula os alunnos vão receber balas e doces.

Matrícula
Total 2097, dos quais 1351 do sexo feminino e 746 do sexo masculino.

92
1ª Comunhão
Alunnos das escolas noturnas- 11 de outubro. Igreja São Francisco.
146 operarios e 171 alunnos renovaram, sendo essa ocasião recebida a sagrada eucaristia
por 78 moços e 239 moças dos cursos noturnos.
Este numero foi acrescido 29 de novembro, por alunnos que não puderam fazer 1ª
comunhão com os primeiros.

Crisma
27 de setembro.
235 alunnos
105 renovações
340 comunhões
148 meninos e 192 meninas

Trabalhos escolares
Professora Dona Lucinda Pinto, do curso noturno da escola São Geraldo, que para
estimular as suas alunnas e mais attrahi-las à escola, deu aulas de trabalhos manuais todos
os sábados, quando poderia descansar, e assim apresentou uma bella exposição de costura e
crochêt.

Visitas
Cada escola nocturna foi visitada 02 vezes no anno por membros da Directoria, que
encontraram, quase todas, com regular funccionamento

Offertas
O grande amigo da Associação, Professor João Lourenço Rodrigues, ofereceu as escolas,
em maio, 155 livros que foram distribuídos em prêmios no fim do anno escolar.
Associação recebeu dos Exmas Sras Julia Theodorico e Idalia Pereira a oferta de diversas
carteiras e um quadro negro. p. 11

Movimentação do Caixa
Saldo credor de 1924 22:428$300
Donativos 1:280$900
Contribuições Mensaes 49:767$100
Juros 1:696$000
Despezas 53:548$000
Saldo credor para 1926 21:624$300

Exmos. Sócios
(...)
lembrai-vos que a vossa esmola que proporciona a essas almas a escola, onde se exerce o
apostolado do bem verdadeiro que contribuis.
Pedindo a Deus para que se não estanque a vossa generosidade, pela diretoria da associação
e vos deixo com o mais profundo reconhecimento, as palavras de um escriptor: “não se
deve medir o valor das almas por ellas próprias e sim pelo valor de seu resgate. O sangue
de Deus! Só assim o zelo do apostolado não arrefecerá”

93
Giorgina Trípoli,
Segunda secretária
São Paulo, 20 de janeiro de 1926

Relatório Annual de 1926

Instalação da Sede na Rua Florêncio de Abreu nº 30-A em Fevereiro.


Aulas: 16 de janeiro a 30 de novembro.
Férias: 11 a 30 de junho.
Comunhão:19 de novembro: das crianças
Domingo seguinte ao do 19 de novembro: comunhão dos operários.
324 comunhões e 290 renovações
12 de dezembroFesta da creança, instituída pelo Governo Federal. Os programmas, em
conjuncto, foram remetidos à Directoria Geral da Instituição Pública.

Mudança no Conselho Fiscal em 22 de janeiro numa reunião.


Vice-presidente: Julia Kieh
Conselho Fiscal: D. Garibaldina Pinheiro Machado Tolosa e Helena Pinheiro Machado
Tolosa.

Festivaes
1-offerecido pela União Catholica Santo Agostino (06/02)
2-A tarde da Creança, (Abril) no Jardim da Aclimação.
3- Festival da Associação (Maio)

Donativos
Junho recebimento de exemplares: Minha Taboada e grande quantidade de tinta para
alumnos.
Sócios:292

Associações Catholicas que contribuíram com as Escolas Populares


Filhas de Maria Santa Cecília
Filhas de Maria Externato São José
Filhas de Maria Santa Ephigênia
Dama de Caridade da Sé
Apostolado do Carmo
Apostolados de São Gonçalo
Apostolados de Santa Ephigênia
Guarda de Honra Sagrado Coração de Jesus
Convento Santa Thereza
Irmandade do Santíssimo Sacramento da Cathedral.

Escolas- Protectores- Professoras

94
Escola com seus respectivos protectores e professoras:

Protectora: Ordem 3ª de Nossa Senhora do Carmo mantém 04 escolas:

Escola Popular Nossa Senhora do Carmo.


Rua: Guaycurus, 219.
1º Período: professora Thereza Augusta Pereira
2º Período: professora interina: Laura Priolli
3º Período: professora Thereza Augusta Pereira

Escola Popular Therezinha do Menino Jesus


Rua Tabatinguera, 53
1º Período: professora Yolanda M. Pedrosa
2º Período: professora Rosina Déleo
3º Período: Lydia Loureiro

Escola Popular Santa Magdalena de Pazzi


Rua: Conselheiro Belisário, 11
1º Período: professora Antonietta S. P. Ramos
2º Período: professora Alzira Sampaio Cardoso
3º Período: professora Alzira Sampaio Cardoso

Escola Popular São João da Cruz


Rua: Vergueiro, 405
1º Período: professora Sebastiana de Almeida
2º Período: professora Sebastiana de Almeida
3º Período: professora Florentina D. Arruda

Escola Popular Sant´Anna (sob proteção da Exma. Família de Dr. Adolpho Pinto)
Rua: Barão de Ladário, 91
1º Período: professora Elvira Monteiro
2º Período: professora Dolores Salinas
3º Período: professora Idathy Camargo Azevedo

Escola Popular Nossa Senhora do Rosário (sob proteção de Marina Crespi)


Rua: São Caetano, 48.
1º Período: professora Virgilina de Campos
2º Período: professora Virgilina de Campos
3º Período: professora Maria de Lurdes Amaral

Escola Popular Santa Ignez (sob proteção de Zoraida Costa)


Rua: Cajurú, 103.
1º Período: professora Dalila Alves Moraes
2º Período: professora Ângela Scrosoppi Persicano
3º Período: professora Ângela Scrosoppi Persicano
Escola Popular São Luiz Gonzaga (sob proteção da Exma. Família Araújo Cintra)
Rua: Ruy Barbosa, 120

95
1º Período: professora Clorinda Crivellente
2º Período: professora Maria de Lourdes Moraes
3º Período: professora Eusebia Ramos

Escola Popular Santa Iphigenia (sob proteção de Zoraida Costa)


Rua: Anhaia, 31
1º Período: professora Ottilia de Oliveira
2º Período: professora Helena Ratto
3º Período: professora Ottilia de Oliveira

Escola Popular São Bernardo (sob proteção do Exmo. Rvmo. Sr. Arcebispo Metropolitano)
Rua: Souza Lima, 11
1º Período: professora Dinorah Moreira
2º Período: professora Cândida Rodrigues
3º Período: professora Maria Luiza Lobo

Escola Popular Coração de Jesus (sob proteção de Anna Barros Brotero)


Rua: Lopes Chaves, 103
3º Período: professora Brasília Marcondes Machado

Escola Popular São Francisco de Salles (sob proteção de D. Elisa Cavalcanti)


Rua: Bresser, 312.
3º Período: professora Lucinda Pinto

Escola Popular Santa Thereza de Jesus (sob a proteção de Zoraida Costa)


Rua: Consolação, 365
3º Período: professora Ernestina Scrosoppi
Escola Popular São José ( sob proteção de Sr. Bráulio Silva)
Rua: Pires da Motta, 127
3º Período: professora Helena Penteado Abate

Escola Popular Santo Antonio (sob proteção de Antonio Rodrigues Costa)


Rua: Theodoro Sampaio, 109.
3º período: professora Albertina Moraes

Escola Popular Santo Estevam (sob proteção da Exma. Família de Dr. Estevão E. de
Rezende)
Rua: Almirante Barroso, 123.
3º período: Julieta Nascimento

Matriculas: 1464 alumnos


1º período: 409 meninos
2º período: 475 meninas
3º período: 580 operários

Visitas:
Thesoureira: 97 vezes

96
Inspectora: 98 vezes no primeiro período e 96 no segundo.

Movimentação do Caixa
Saldo Credor de 1926 21: 624$300
Donativos 8:773$700
Contribuições mensaes 53:880$700
Juros 1:408$500
Despezas 63:088$400
Saldo credor para 1927 22:598$800

“ Também é verdade que lhe não faltam as bençams e applausos daquelles que
comprehendem o valor, nos tempos actuaes, de uma escola gratuita onde se ensina a amar a
Deus e a Pátria, educando a infância pobre, orientando e instruindo a mocidade operária”
(p.12)

São Paulo, 02 de fevereiro de 1927.


Georgina Trípoli,
2ª Secretária.

Relatório Annual de 1927

Exmos Sócios,

Sede passa para a Rua Libero Badaró, 10.


Reunião em 06 de fevereiro e 20 de outubro para tratar de assumptos tendentes ao
aproveitamento das escolas e instrucções ministradas por D. Duarte.
Total de 303 sócios.
Escolas Populares reabertas em 17 de Janeiro. Encerramento em 30 de novembro, ainda
mesmo que algumas professoras em insignificante memória não correspondessem ao
quanto dellas a Associação esperou, em serviços e dedicação.

Exames finais, entre um programa festivo e a distribuição de prêmios e doces, em todas as


escolas
Festividades:
19 de novembro, Festa Cívica, que institui o pavilhão nacional
Outras festividades: programa que lhes foi traçado beneficia influência que as horas festivas
exercem sobre o espírito dos alunos.
Escolas Populares “ Sant´Anna” e “ Santa Efigênia” comemoram festa de suas padroeiras

As grandes solenidades da 1ª comunhão 25/09:


339 alunos: 108 meninas

97
94 meninos
108 moças
29 moços
302 compareceram para renovar a sua comunhão (ex-alunos) havendo no mesmo dia e hora
641 comunhões.

Maio: Comunhão Paschoal:


273 alunos: 97 dos cursos diurnos
176 adultos do curso noturno

Inspecções

As visitas feitas às “ Escolas Populares” em caráter de inspeção foram realizadas por


médicos da Assistência Escolar, Educadoras Sanitárias e do Centro de Saúde e Inspetor
Escolar Sr. Euzébio Marcondes.
Cumpre fazer aqui a communicação de que, para unificação das inspecções dos cursos
nocturnos, a Diretoria resolveu em Fevereiro, nomear uma Inspetora Geral, e agradecendo
os inestimáveis serviços prestados pelas antigas inspetoras, dispenso-as dos respectivos
cargos, ficando unicamente D. Amélia Rios, em carácter de Inspectora Geral.
Foram realizadas 458 visitas pelas Inspectoras e Thesoureira:
91 no período da manhã
100 no período da tarde
142 no período nocturno
125 da thesoureira

Número de alunos matriculados: 1475


842 diurno e 633 nocturno (331 alfabetizados)

Escolas que funcionaram 1927:

Escola Popular Nossa Senhora do Carmo.


Rua: Guaycurus, 219.
1º Período: professora Thereza Augusta Pereira
2º Período: professora interina: Laura Priolli
3º Período: professora Thereza Augusta Pereira

Escola Popular Therezinha do Menino Jesus


Rua: Bonita, 20
1º Período: professora Maria Amélia Evora
2º Período: professora Adelina Alves da Cruz
3º Período: professora Joaquina L. Rodrigues

Escola Popular Santa Magdalena de Pazzi


Rua: Conselheiro Belisário, 11
1º Período: professora Antonietta S. P. Ramos
2º Período: professora Alzira Sampaio Cardoso
3º Período: professora Alzira Sampaio Cardoso

98
Escola Popular São João da Cruz
Rua: Vergueiro, 405
1º Período: professora Sebastiana de Almeida
2º Período: professora Sebastiana de Almeida

Escola Popular Sant´Anna


Rua: Barão de Ladário, 91
1º Período: professora Joana Paranhos
2º Período: professora Dolores Salinas
3º Período: professora Idathy Camargo Azevedo

Escola Popular Nossa Senhora do Rosário


Rua: Amélia, 12
1º Período: professora Virgilina de Campos
2º Período: professora Virgilina de Campos
3º Período: professora Maria de Lurdes Amaral

Escola Popular Santa Ignez


Rua: Cajurú, 103.
1º Período: professora Dalila Alves Moraes
2º Período: professora Ângela Scrosoppi Persicano
3º Período: professora Ângela Scrosoppi Persicano

Escola Popular São Luiz Gonzaga


Rua: Ruy Barbosa, 120
1º Período: professora Margarida Bastos
2º Período: professora Lycia Querido Hottum
3º Período: professora Eusebia Ramos

Escola Popular Santa Iphigenia


Rua: Anhaia, 31
1º Período: professora Leopoldina de Camargo
2º Período: professora Helena Ratto
3º Período: professora Maria do Patrocínio Gomes

Escola Popular São Bernardo


Rua: Souza Lima, 11
2º Período: professora Cândida Rodrigues
3º Período: professora Theotonilla C. Sette

Escola Popular Coração de Jesus


Rua: Tabatinguera, 53
3º Período: professora Lydia Loureiro

Escola Popular São Geraldo


Rua: Bresser, 312.

99
3º Período: professora Lucinda Pinto

Escola Popular Santa Thereza de Jesus


Rua: Consolação, 365
3º Período: professora Ernestina Scrosoppi

Escola Popular São José


Rua: Pires da Motta, 127
3º Período: professora Helena Penteado Abate

Escola Popular Santo Antonio


Rua Theodoro Sampaio, 109
3º Período: professora Noemia da Silva Pupo

Escola Popular Santo Estevam


Rua: Almirante Barroso, 123
3º Período: professora Julieta Nascimento

Movimento do Caixa
Saldo credor de 1927 22:598$800
Recebido ao longo do anno 64:891$000
Juros 1:405$600
Despezas 63:454$200
Saldo para 1928 25:441$200

“É preciso que a infância pobre e a juventude operária recebam, a par da


instrucção, a moral catholica, a única que, formando o carácter, prepara uma sociedade sã.
Trabalhae, pois, pela diffusão das Escolas Populares, porquanto, além de nossa
recompensa que será eterna nos céos ainda tereis contribuído para que nossa Pátria receba
um augmento de cidadãos úteis e educados que são, no dizer de Guiburt – ‘aqueles que
trazem a verdade no espírito e a virtude no coração’” (p.11)
1928-São Paulo, Março.
A Segunda Secretária,
Georgina Trípoli.

Relatório Annual de 1929


Início das aulas:16 de janeiro
Término: 30 de novembro
Férias: 11 a 30 de junho
dificuldades da época fazem diminuir número de sócios.

Reuniões
As professoras apresentaram nos escritos pequenos relatos dos seus trabalhos no anno
letivo.
621 alfabetizados

100
1240 matrículas
Março: discussão taxa matricula, devido as condições financeiras da Associação não ser
satisfatória.
Diurnos: 6$
Nocturnos: 4$ (Parceladas em 2vezes: na matricula e no Segundo Semestre).
Sócios:224

Sessão feminina: exposição de trabalhos manuais


Concurso de Catecismo acontece em 24/11, na Cúria Metropolitana
15 meninos e 39 meninas escolhidos dentre os melhores alunos de cada classe

1ª comunhão:
196 alunos: 102 meninos e 94 meninas
123 antigos vieram reafirmar os votos

Visitas
As escolas receberam muitas visitas de inspeção, médicos encarregados da Inspeção
Médica Escolar, educadoras sanitárias, inspetor escolar Sr. Euzébio Marcondes e
sacerdotes.

Escolas que funcionaram em 1928

Escolas Nocturnas
I- Escola Popular Santo Estevam
Avenida Celso Garcia, 171-A
Professora Nazaria Elias Trabulsi

II- Escola Popular Santa Thereza de Jesus


Rua Hanemann, 1
Professora Emília Monteiro

III- Escola Popular São Francisco de Sales


Rua Bresser, 349
Professora Esther Pinto

IV- Escola Popular Santo Antonio


Rua Theodoro Sampaio, 153
Professora Ernestina Scrosoppi

V- Escola Popular São José


Rua Luiz Gama, 117
Professora Maria Conceição Borges

VI- Escola Popular Coração de Jesus


Rua Julio de Castilhos, 89
Professora Cecília Pinto

101
Escolas Desdobradas
I- Escola Popular Nossa Senhora do Carmo
Rua: Guaycurus, 271
1º Período: Professora Laura Prioli
2º Período: Professora Laura Prioli
3º Período: Professora Alberica Prioli

II- Escola Popular Santa Therezinha do Menino Jesus


Rua Bonita, 8.
1º Período: Professora Ida Matera
2º Período: Professora Jacyra Theodoro Xavier
3º Período: Professora Benedita Araújo

III- Escola Popular São José da Cruz


Rua Dona Ebenácea, 1-A
1º Período: Professora. Sebastiana de Almeida
2º Período: Professora Sebastiana de Almeida
3º Período: Professora Sebastiana de Almeida

IV- Escola Popular Santa Magdalena de Pazzi


Rua Conselheiro Belizário, 02
1º Período: Professora Alayde Nacaíra Alvarenga
2º Período: Professora Alzira Sampaio Cardoso
3º Período: Professora Alzira Sampaio Cardoso

V- Escola Popular Nossa Senhora do Rosário


Rua Amélia, 12
1º Período: Professora Virginia de Campos
2º Período: Professora Josephina Perna
3º Período: Professora Itala Varella Caggiano Wint

VI- Escola Popular São Luiz Gonzaga


Rua: Ruy Barbosa, 120
1º Período: Professora Nicolina Oriente
2º Período: Professora Delourdes Theodoro Xavier
3º Período: Professora Euzébia Ramos

VII- Escola Popular Santa Ignes


Rua: Bella Cintra, 133
1º Período: Professora Ernestina Scrosoppi
2º Período: Professora Ângela Scrosoppi Persicano
3º Período: Professora Ângela Scrosoppi Persicano

VIII- Escola Popular Santa Iphigenia


Rua: Anhaia, 31
1º Período: Professora Helena Ratto

102
2º Período: Professora Lycia Querido Hotum
3º Período: Professora Maria Patrocionio Gomes

IX- Escola Popular São Bernardo


Rua Souza Lima, 11
1º Período: Professora Julieta Rodrigues
2º Período: Professora Candida Rodrigues
3º Período: Professora Maria Antonia Ferreira

X- Escola Popular Sant´Anna


Rua Barão de Ladario, 79
1º Período: Professora Joanna Paranhos
2º Período: Professora Maria Luduina Machado
3º Período: Professora Guilhermina Martins

Movimentação do Caixa
Credor de 1928 17:273$800
Donativos 1:391$200
Contribuições Mensaes 50:615$700
Subvenção da Câmara Municipal 5:000$000
Juros 700$000
Despezas 64:706$800
Credor para 1930 10:273$800

“Esta Associação culminou no anno do centenário da nossa emancipação política,


quando teve recursos para manter 51 escolas; desde então decrescendo paulatinamente
mercê de causas várias, vem soffrendo pela falta de constancia daquelles muitos que
outr´ora lhe emprestavam apoio, assim ella reflecte agora a imagem de um sol que tendo
attingido lentamente o seu zenith, vae após um cyclo de 20 annos de existência imergindo
num occaso rubro, que apesar de gloriosamente luminoso trará, dentro em breve, as
sombras crepusculares e após será a noite, e para sempre”
Georgina Trípoli
A 2ª Secretária.
São Paulo, abril de 1930.

Relatório Annual – 1936

Exmos. Sócios:

Encerrando o período escolar de 1936, dado o balanço nos trabalhos lectivos, não é sem
intenso jubilo que ora se vos apresenta o Relatório dessa atividade fecunda, que foi o
movimento annual transacto das Escolas Populares.
Se bem que restringido o numero de unidades escolares, pelo desapparecimento dos
períodos diurnos, comtudo apresentou-se à Associação uma nova modalidade de cooperar
para o bem da infância que estuda, com o offerecimento que fez às suas professoras, para
abertura de externatos independentes nas salas onde funccionavam cursos nocturnos.

103
O resultado foi propicio e alegrou intensamente as almas que só anseiam pela implantação
de Christo nos corações.
Os Externatos se abriram, semeados aqui e além; deram flores, deram fructos.
Única imposição feita às professoras que se quizessem utilizar das salas da Associação, o
Ensino Religioso, orientado pelo programma das Escolas Populares e fiscalizado pela sua
Directoria, foi ministrado com efficiencia; e a 1ª. Comunhão festiva das creanças se fez em
cada um, movimentando as almas rumo ao Tabernaculo, onde Jesus acolheu também os
antigos alumnos dessas mestras professoras, para a Comunhão Pascal.
Mencionados aqui estão os nomes das professoras que abrigam seus Externatos a bemfazeja
sombra da Associação: D. D. Virgilina Campos, Theresa Palladino, Maria Rosa Lavieri,
Ignez Paranhos e Benedicta Novaes.

Escolas Noturnas
O movimento destes cursos próprios da Associação foi satisfactorio, dando-se o seu inicio
em 20 de janeiro e encerramento a 30 de Novembro.
Houve o período de férias prescritas em Junho e Dezembro. O horário do seu
funcionamento foi accrescido de mais meia hora, visto a exigüidade do tempo não permitir
o rendimento escolar que era desejar; em conseqüência, foi concedido as professoras uma
pequena gratificação de accordo com as possibilidades da Associação.
Os exames finaes denotaram o feliz resultado desse augmento de horário, dando como
alphabetisados 108 alumnos. Os trabalhos escolares se iniciam as 19horas e se fecham as
21 horas. Aos sábados, para descanço dos operários, não há aulas.

Escolas – Localisação – Professoras

Os cursos noturnos em funcionamento são 8, todos para operarias, com a matrícula geral de
419 alumnas.
Estão assim localisadas:
1 – Escola Popular São Bernardo – Rua Bresser.
2 – Escola Popular Santa Magdalena de Pazzi – Rua Julio de Castilhos
3 – Escola Popular Santa Theresa de Jesus – Rua Canindé
4 – Escola Popular Immaculada Conceição – Rua Barão de Ladário
5 – Escola Popular Santa Iphigenia – Rua Anhaia
6 – Escola Popular São Luiz Gonzaga – Rua Ruy Barbosa
7 – Escola Popular Nossa Senhora do Carmo – Rua Venâncio Ayres
8 – Escola Popular Santa Therezinha do Menino Jesus – Rua Lopes Trovão

“Fechamento” das Escolas Populares - 1941

A Associação das Escolas Populares poderá passar a denominação de “Associação


de Escolas Paroquiaes”.
Cada Paróquia organizará um Conselho de três membros (entre eles um professor
ou professora) cujo fim será interessar-se pela vitalidade da Escola Paroquial, promovendo
os meios de sua estabilidade: angariando sócios que se podem agrupar com a denominação
de “Amigos da escola”, realizando festas beneficientes, rifas, etc.

104
A escola noturna poderá funcionar com a matrícula mínima de 12 a 15 alunos e
nunca ultrapassar de 25 (a freqüência destes cursos é sempre flutuante motivada pelos
serões das fábricas.
Cada aluno pagará mensalmente e adiantadamente a taxa que nunca deverá
exceder de 5$000. (Isto visa a melhor freqüência do operário que, pagando, quer aproveitar
mais a escola; e também o pagamento do imposto escolar que evita o pedido de dispensa
que traz contínuos aborrecimentos e muitas delongas).
O professor, membro do Conselho, visitará a escola ao menos duas vezes ao mês
para verificar do andamento dos trabalhos escolares e estimular alunos e professores.
Haverá na Cúria uma reunião trimestral para os professores das Escolas
Paroquiais que prestarão ao Assistente Eclesiástico as informações relativas ao movimento
escolar e auxiliar-se-ão mutuamente com a troca de idéias na execução dos trabalhos
didáticos. A reunião deverá comparecer ao menos um membro do Conselho Paroquial para
fins semelhantes.
O patrimônio da Associação das Escolas Populares e a renda mensal passarão a
ser administrados por um Conselho Central de três membros filiados a Confederação
Católica (podendo ser as atuais secretaria e tesoureira da Confederação e um membro da
Seção Masculina) que promoverão a arrecadação das contribuições mensais e distribuirão
as escolas mais necessitadas de recursos.
Quando o Conselho Paroquial promover um movimento beneficiente, deste saldo
se deduzirá a contribuição de 1% (um por centro) para que não se extinga o patrimônio da
Associação.
As Associações Paroquiaes também devem contribuir com uma quota mensal, a
critério dos REvmos. Vigários, para a manutenção de suas Escolas Paroquiais.
A Escola Paroquial poderá funcionar em 3 períodos ou 2, o da manhã e da tarde
para as creanças, ou 1 só misto; e o da noite exclusivamente para operários de qualquer
idade e de outros elementos (os domésticos) que labutam durante o dia.
Para a instalação de uma nova escola, poderá ser procurado na Paróquia, um
Estabelecimento de ensino particular, que se proponha a alugar uma de suas salas (somente
para o curso noturno) diminuindo assim as despesas com a compra do mobiliário escolar.
O Regulamento, programa e horário das Escolas Populares devem ser observados
nas Escolas Paroquiaes, visto o bom resultado demonstrado em 30 anos de intenso trabalho
e experiência e amoldados que foram as exigências da época atual.
A Escola Paroquial organizada nestes moldes, vencerá. Há necessidade dela para
o operário, em vista da imposição do Departamento Estadual do Trabalho que exige do
menor o atestado de freqüência a escola, para conceder-lhe licença de ingressas nas oficinas
ou fabricas.
O êxito da Escola Paroquial é questão de perseverança e trabalho consciencioso
(convém lembrar ao Prof. que o operário, que busca as aulas noturnas procura somente sua
alfabetização:por conseqüência o ensino da Religião deve ser dado de acordo com o
Regulamento da Associação, sem ultrapassar o horário que irá prejudicar as demais
matérias do Programa, insensivelmente o aluno se prenderá a escola e apreciará as lições de
Catecismo e História Sagrada, integrando-se aos poucos na prática dos seus deveres como
cristão).
- Meios de recompensa a assiduidade e comportamento dos alunos. –
Prêmios no fim de cada semestre letivo; uma festa realisada em algum salão da
Paróquia; uma excursão gratuita ou com pequena contribuição, a algum arrabalde ou

105
cidades circunvizinhas a Capital (isto para os cursos noturnos, aos domingos ou feriados) se
possível, uma vez em cada inicio de férias escolares.
- Vantagens da Escola Paroquial –
Os Revmos Vigários terão a Escola Paroquial tão de agrado do Sr. Arcebispo e tão
desejada pelo Santo Padre, sem ônus algum para o seu paroquiato, evitando que os
operários freqüentem cursos leigos ou de outros credos, urgidos pela necessidade da
obtenção de seu atestado, transformando-os em paroquianos úteis e agregando-os as
associações existentes na Paróquia: cruzados, marianos, vicentinos, filhas de Maria, etc.
Por ocasião da 1ª. Comunhão ou da Comunhão Pascal os alunos poderão contar
com todo o auxílio moral e espiritual de que carecem, interessando-se cada pároco mais de
perto pela sua Escola.
A sala de aula (que aos sábados está fechada) poderá servir para reuniões, sessões,
ou sala de leitura, etc. ou. organisar aula de datilografia e taquigrafia para moços – ou de
corte costura para moças.
Os Revmos Párocos farão propaganda da Escola Paroquial: nas reuniões das
Associações, no seio das famílias que mantem relações mais cordiais com o vigário, no
púlpito aos domingos, afixando cartazes a entrada da igreja e ainda com pequeninas
notícias no jornalzinho da paróquia. Darão maior estimulo aos alunos e professor, se
mensalmente visitarem a escola, unindo mais estreitamente os laços de amizade cristã que
prendem o pastor ao seu rebanho.
Só assim a Escola Paroquial será um foco de amor de Deus e mais um centro de
piedade na sua paróquia.
NOTA
O pagamento do aluguel da sala e do professor ou professora será feito em dia
previamente marcado, mensalmente e sem protelações, pelo Tesoureiro do Conselho
Paroquial, que exigirá recibo dos pagamentos feitos, afim de presentão ao Conselho Central
da Confederação Católica, para o necessário controle. Esta apresentação poderá ser feita na
ocasião da reunião mensal da Confederação – após a sua realização.
É de todo necessário esta pontualidade nos pagamentos. O ordenado dos
professores deve ser uniforme em todas as Paróquias e possivelmente, o mínimo, será de
150$ mensais. As férias regulamentares também serão remuneradas. A Associação de
Escolas Populares há muitos anos que assim procede, mas as leis do governo federal
somente tornaram obrigatória esta remuneração a partir do ano corrente.
Para qualquer esclarecimento a Diretoria da Associação de Escolas Populares que
precisa deixar seu mandato estará sempre ao dispor da Autoridade Eclesiástica.
São Paulo 13-8-1941.
Almerinda R de Mello – Diretora
Rua Jaguaribe, 760 – tel. 5.2579

Ao Exmo. Senhor D. Duarte Leopoldo Digníssimo Arcebispo Metropolitano de São Paulo


como testemunho de respeito afeito e imensurada gratidão, affeto.
João L. Rodrigues

Exmos Senhores

106
“Quem é dono da educação é dono do mundo”

Este conceito de LEIBNITZ, meus senhores, justifica cabalmente a escolha do assumpto


que vae fornecer matéria aos debates e resoluções ao presente Congresso.
Quem é dono da educação é o dono do mundo.
E si pudesse ainda haver duvidas a este respeito, para dissipal-as bastar-nos-ia observar o
esforço hercúleo, perseverante, tenaz dos nossos adversários para conquistarem o
monopólio da educação infantil, para confiscarem em proveito dos seus ideaes as novas
gerações vêm surgindo e hão de constituir a sociedade de amanhã.
“A escola, diz Monsenhor GOURAUD12, bispo de Vannes, é o principal campo de
batalha onde os catholicos têm de luctar, actualmente.
“Nenhum homem de acção o póde pôr em duvida; ninguém póde desertar desta
arena; o futuro da Egreja, na França, está ali”.
E o que diz o prelado francez em relação ao se paiz, tem inteira applicação ao nosso.
“Tão pouco se agita, diz a União, do Rio13, tão pouco se agita entre nós a questão do
ensino catholico, e todavia nenhuma é mais vital, mais grave, si encararmos o presente, e
mais temerosa si pensarmos no futuro da nossa pátria, quando se houver esgotado a
provisão de christianismo latente, que ainda vae inspirando as acções individuaes, as
relações de família e a vida política e social.
“Dia a dia vae minguado a reserva, diluindo-se o sal conservador, que é o
christianismo, pelo advento de novas camadas de gerações creadas no naturalismo e na
impiedade, entregues aos instinctos, ao egoísmo selvagem e, mesmo quando illustradas,
nem sempre educadas para a vida social.”
Escolhendo assumpto de tanta monta, these de tanto alcance para objecto de estudo
deste certamen, o Congresso Catholico do anno passado não podia ser mais bem inspirado.
Entretanto, pára que os seus intuitos sejam attingidos, para que a sua expectativa
não venha a frustrar-se, uma condição se impõe a cada um de nós: é que não nos deixemos
dominar de pretenções eruditas ou velleidades oratórias; que não nos limitemos a discutir
doutrinas e opiniões alheias, mas que nos empenhemos por ter opinião própria, encarando
os factos, estudando a nossa situação por analyse directa das circumstancias que nos são
peculiares. Desse inquérito ressaltarão as nossas necessidades, e estas inspirarão os nossos
alvitres.
Mas para que o êxito fique, tanto quanto possível, assegurado, cumpre que esses
aviltes sejam convergentes e possam enfeixar-se, coordenando-se, articulando-se de modo a
constituírem um todo orgânico, harmônico, equilibrado.
Tal é o pensamento que resumbra da these que fui chamado a versar: - Systema
Escolar Catholico.
O assumpto é vasto, e longe de mim está a pretensão de esgotal-o, pois isso
importaria em desserviço á causa que aqui nos congrega: L’ART D’ENNUYER EST
CELUI DE TOUT DIRE.
Mesmo a esflorar por alto os pontos capitães da minha these, há muito o que dizer; e
como me faltam aquelles dotes oratórios que minoram o sacrifício de quem ouve, eu
começo por solicitar, meus senhores, toda a provisão disponível de vossa indulgência e
generosidade.

12
Em seu livro PELA ACÇÃO SOCIAL CATHOLICA, vertido para o vernáculo.
13
Em seu editorial de 14 de Julho de 1912.

107
Duas questões geraes, Srs. Congressistas, se impõem á nossa attenção no certamen
que ora se inaugura: - a fundação da escola primaria infantil, vasada em moldes catholicos,
e a intensificação da obra das Escolas Populares, destinadas a jovens operários.
A primeira destas questões é assumpto largamente debatido no seio da
Confederação Catholica.
Objecto de assíduo estudo por parte da Comissão a que está affecta, pode-se dizer
que ella já sahiu do vago de uma mera aspiração, já deixou de ser um esboço impreciso,
para apresentar lineamentos de um plano mais ou menos amadurecido.
Promovendo este Congresso, como promoveu os quatro anteriores, reunindo em
assembléia geral os catholicos da Archidiocese de S. Paulo, a Confederação teve por
principal escopo submeter ao seu referendum o plano elaborado, joeiral-o através de uma
discussão séria, impessoal, desapaixonada, concertar medidas para que este
emprehendimento tenha se desejáveis condições de viabilidade, emfin iniciar a propaganda
indispensável para o êxito final.
A fundação da escola catholica é uma obra de largo alcance, obra imprescindível,
urgente, inadiável. É uma obra, comtudo, que não poderá ser levada a effeito sem grande
dispêndio de esforços, sem sacrifícios reaes da nossa parte; e por isso eu julgo necessário
analysar preliminarmente, embora por alto, as razões que nos levam a propugnar esse
emprehendimento.
A República, como é sabido, invocando o principio elástico da liberdade de
consciência, proclamou a neutralidade da escola popular em matéria de ensino religioso.
Há diversos modos de conceber a neutralidade do ensino publico.
Na França, por ensino neutro se entende o ensino emancipado de qualquer
preoccupação religiosa ou mystica. É o ensino que se confina systematicamente no domínio
das realidades tangíveis, que nega o sobrenatural e corta ao espírito as azas da fé. É o
ensino anti-clerical, aggressivo e, afinal de contas incongruente, porque si em theoria
proclama a Deus como inexistente, na pratica faz delle um objecto de ódio entranhado.
Mui diversa é a concepção do povo norte-americano. A neutralidade ali não
significa indifferença e ainda menos hostilidade para com a religião christã que, sob
modalidades diversas, é a religião dominante no paíz. A prova é que o ensino religioso
existe em todas as escolas officiaes, qualquer que seja o seu grau. O ensino se diz neutro
porque os professores, dirigindo-se a alumnos pertencentes a diversas confissões religiosas,
não podem ater-se aos dogmas deste ou daquelle credo; elles se limitam, por conseguinte, a
ensinar-lhes a moral christã, isto é, a summula dos deveres religiosos que são communs a
todos os cultos derivados do Evangelho, sem excluir o Catholicismo.
A neutralidade franceza leva ao atheismo; a neutralidade americana procura
premunir contra elle as novas gerações.
A nossa concepção de neutralidade escolar queda-se entre estes dois paradigmas;
não combate explicitamente a moral christã, mas veda systematicamente ingresso é
doutrina donde ella promana.
Dois factos retratar-lhe-ão a phisionomia melhor que qualquer dissertação.
O primeiro desses factos occorreu há cerca de 16 annos, portanto, já muito depois
do advento da Republica.
Um dos nossos autores didacticos, tendo escripto um pequeno livro de leitura, para
uso das escolas primarias, julgou acertado, antes de imprimil-o, ouvir o parecer dos
professores mais abalisados da Capital.
Reuni-os para esse fim em sua casa e fez-lhes a leitura do manuscripto.

108
O opúsculo desenvolvia-se em fórma narrativa. Era o relato muito singelo, feito por
uma menina, do seu teor da vida costumeira. Continha scenas da vida domestica e da vida
escolar, a entremearam-se com as noções mais familiares de hygiene, aceio, civilidade etc.
Terminava por uma scena muito conhecida nos lares christãos. Á noite, pouco antes de
recolher-se a narradora ao leito, a mãe fazia-a ajoelhar-se e recitar a Oração Dominical.
Concluída a leitura, o autor ficou é espera do veredictum. O parecer foi favorável,
mas estabeleceu uma condicional: - a suppressão da ultima scena, ou digamos antes, da
Oração Dominical.
Houve dois, valha a verdade, que discordaram.
- Porque essa supressão? – interpellaram.
- Porque o livro se destina ás escolas publicas, e o ensino, ahi, deve ser
estrictamente, rigorosamente neutro.
- Mas onde, neste caso, a violação da neutralidade?
- O capítulo final, redigido como está, parece tendencioso; envolve uma suggestão,
e não faltará quem veja nisso uma fórma de proselytismo religioso.
- Mas o livro fórma uma narrativa, e esta, para ser fiel, não pode omittir uma scena
que, queiram ou não queiram, está nos nossos costumes.
- Sim, e uma das mais encantadoras da vida familiar; mas que querem? – o ensino
publico deve ser neutro.
Tal é o feitio da nossa neutralidade. Para aquelles professores que eram os representantes
mais graduados da pedagogia paulista, o ensino nas escolas não pode ser neutro sem ser
agnóstico. Aquelle que, em sua vida, amou com tanta ternura as creancinhas, deve ser para
ellas um desconhecido. Aquelle que foi o Mestre dos Mestres, não póde transpor os
humbraes da escola official. Seu nome, como o de um scelerado, não deve siquer soar aos
ouvidos da infância.
Eis o molde da nossa neutralidade; é um molde sui generis: não é francez nem
americano. Será, quando muito, chinez.
Este facto occorreu há 16 annos, mas a situação não se modificou sensivelmente,
d’hai para cá.
Para prova, basta ver o que se dá, ainda agora, a propósito dos dias santificados.
Nas repartições publicas, o ponto é facultativo, o que importa dizer que os dias
santos são dias de suéto.
Nas escolas officiaes, não.
O ponto ahi é duro, obrigatório; e como o professor não pode ter, um anno lectivo,
mais de oito faltas justificadas, a conseqüência é que todos têm de marchar para o trabalho,
todos têm de dar aula, mesmo quando a classe esteja reduzida a três ou quatro alumnos.
É uma medida antipathica, porque é uma medida de excepção. Tentam justifical-a,
allegando que os professores têm, por anno, dois mezes de férias regulares, regalia de que
estão privados os demais funccionarios públicos.
A razão, porém, é outra. A razão é, ainda neste caso, o fetichismo da neutralidade.
Não se quer quebrar uma praxe, modificar uma ordem de cousas que data dos
primeiros tempos da Republica. Ella se estabeleceu sob o ascendente do positivismo
victorioso, senhor da situação.
Seu fim era acostumar as novas gerações e considerar o dia santificado como um dia
qualquer, despido do prestigio que lhe infunde o seu caracter religioso.
Obrigando a creança a comparecer á escola, prohibiam-lhe, ipso facto, de
comparecer á Egreja, afastavam-n’a do ambiente destinado a intensificar-lhe a vida

109
espiritual. Não bastava eliminar o nome de Deus dos compêndios e dos hymnos escolares;
não bastava tramar contra o Creador a conspiração do silencio; era preciso pôr em surdina
os sentimentos religiosos da creança, prival-os do alimento próprio, afim de matal-os aos
poucos, por inanição.
Felizmente para nós, os homens de Governo têm tido bom senso bastante para evitar
o radicalismo extremado dos WALDECK ROUSSEAUX, dos COMBES e dos VIVIANI.
Felizmente para nós, os professores paulistas não seguiram o exemplo dos
pedagogos francezes, os quaes, segundo PAULO BARBIER, têm sido, depois dos
políticos, os principaes propagadores da irreligião na patria de CLOVIS e S. Luiz.
Em conclusão, si as nossas escolas publicas, por força da lei, ou melhor dos
preconceitos, são escolas sem Deus, não são praticamente escolas contra Deus.
Mas, si assim é, poderá objectar alguém, temos um modus vivendi ideal; si assim é
podemos cruzar os braços, podemos dormir socegados, não querendo ser mais exigentes
que o próprio Christo quando disse: “Aquelle que não é contra mim é por mim”.
As mães christãs, installando nas almas infantis o amôr do Pae Celeste, inicial-as-ão
no conhecimento das verdades fundamentaes da religião; e essas impressões do berço
deixarão traços indeléveis, desde que o professor, como lhe cumpre, evite tratar de questões
religiosas.
Esta objecção é especiosa.
Fale por mim o notável orador, o venerando sacerdote que foi Monsenhor
FRANCISCO DE PAULA RODRIGUES.
O raciocínio, diz elle, desperta nas creanças mais cedo do que se pensa. É
impossível, portanto, que uma creança, ouvindo no lar domestico seus paes falarem em
Deus e nos deveres para com ELLE, e na escola o professor ensinar os deveres cívicos, sem
allusão a Deus, não tire para si mesma esta conclusão: “Si a religião fosse o que me em
ensinam em casa, meu professor não deixaria de falar n’ella”.
E esta conclusão lógica remata n’uma conclusão pratica: pouco caso, menosprezo
pelas verdades da fé e pelos deveres decorrentes.
Em segundo logar, continua o mesmo orador, essa neutralidade é impossível. Seja o
professor um sceptico e, nas longas horas que passa com os alumnos, há de ter, pelo menos,
um sorriso irônico a sublinhar qualquer questão relativa á religião; e para a penetração
infantil esse sorriso diz tudo14.
Na Norte América, dizia eu há pouco, o ensino religioso não é excluído do
programma das escolas publicas.
Pois bem, lá mesmo nos Estados Unidos, não só os catholicos como os methodistas,
presbyterianos, congregacionalistas e outras seitas reconhecem que o ensino
uniconfessional, isto é, o ensino da moral cristã sem dogmas positivos é insuficiente para
realisar a formação moral de um grande numero de individuos15.
E si assim é, como pretender que o agnosticismo do nosso ensino official seja
inócuo, sem perigos para o futuro religioso do paiz?
Si não é inócuo, dirão, o antídoto está nas nossas mãos: para contrabalançar os seus
effeitos, ahi estão as aulas de catecismo dominical em todas as parochias.

14
Conferencia feita na Cathedral do Rio.
15
Veja-se a instructiva monographia apresentada ao Congresso Catholico da Bahia em 1900 pelo Dr. J.
Ignácio Tosta.

110
Puro engano! Essas aulas constituem-se para as creanças uma sobrecarga: privam-
n’as de um dia que devera ser de distracção e repouso, e por isso geram, não raro, o tédio, a
má vontade.
Na melhor hypothese, como contrapeso são insufficientes. Que pode valer uma hora
rápida de catecismo são insufficientes. Que pode valer uma hora rápida de catecismo contra
seis dias cheios de trabalho escolar, seis dias passados n’uma atmosphera impregnada de
puro naturalismo? Nada ou pouco mais do que nada.
A situação mental que d’hai resulta foi perfeitamente caracterisada por um escriptor
catholico16 no seguinte trecho:
“Religiosamente, nós não ficamos adaptadas ao meio em que vivemos. Tudo
progride, e a fé em nós fica no estado de infância. Há em cada um de nós como que dois
seres: um homem que sabe e uma creança que crê. A creança desejaria converter o homem,
mas o homem zomba da creança”.
Não se diga, pois, que a nossa situação é tranquillisadora. Não se diga que são
infundadas as nossas apprehensões. Não queiramos adormecer sobre o travesseiro macio do
optimismo.
O Divino Mestre disse com effeito: - “Aquelle que não é contra mim é por mim”.
Mas elle disse egualmente em outra circumstancia: “Aquelle que não é por mim é contra
mim”; e no caso vertente é o último texto que tem applicação e não o primeiro.
Ninguém combate mais perfeitamente os interesses de Deus, diz PALAU, que aquelle que
pleiteia pela neutralidade17. A neutralidade de hoje será indifferença amanhã, e esta não
tardará a mudar-se em hostilidade.
Foi pela neutralidade que se começou na França.
Em 1882 JULIO FERRY, para conseguir do Parlamento a lei que tornou leigo o
ensino publico, protestou profundo respeito ao catholicismo, declarando cathegoricamente
que o seu projecto tendia antes da prestigial-o ainda mais, que não punha óbices ao ensino
livre ministrado pelas Congregações autorisadas, que não usurpava o direito das famílias,
que castigaria severamente qualquer professor que atacasse a religião, etc. etc.
O projecto passou, mas depois da lei da laicisação, não tardou muito a que se
promulgasse uma outra prohibindo o ensino a toda e qualquer Congregação religiosa não
autorisada. E como todas as Congregações pedissem essa autorisação, nos termos da lei das
Associações, de WALDECK ROUSSEAU, foi-lhes ella peremptoriamente recusada!
Viu-se então, diz o autor da obra, onde colhi estes dados, viu-se então um facto
único na historia. Vinte mil escolas foram fechadas por Combes, sem que contra ellas
houvesse a menor queixa, unicamente porque os professores eram membros de
Congregações.
Vejamos agora quaes foram os fructos, as conseqüências sociaes dessa série de leis
dictadas pelo espírito sectário. Para não me alongar, limitar-me-ei a um único testemunho,
mas um testemunho que tem todas as garantias de imparcialidade, porque parte de um
escriptor insuspeito de clericalismo – o notável astrônomo CAMILLO FLAMARION.
“Os pretendidos governos republicanos, disse elle algures, entenderam dever
supprimir systematicamente o nome de Deus nos seus manuaes de educação.
“Foi rematada loucura: não há educação sem consciência e não há consciência sem
ideal divino.

16
Sertillanges – Féminisme et Christianisme, p.290.
17
Le Catholique d’action, p.157.

111
“Espalhou-se esta semente materialismo, sobretudo de vinte annos a esta parte, e já
se começa a fazer a colheita: é o reinado dos apaches e dos anarchismos”.
Causas idênticas levam idênticos resultados – eis uma lei inilludivel da historia. Em
todos os tempos e em todos os logares onde a influencia do christianismo é combatida, o
renascimento do paganismo é um facto inevitável.
Pelo que respeita ao nosso paiz, os symptomas desse renascimento já são palpáveis.
“Já entram pelos olhos a dentro, diz notável publicista brasileiro, alguns dos mais
sensíveis resultados da paganisação da sociedade.
“Os attentados contra a honra, a vida e a propriedade alheia, o suicídio que é o
ultimo elo da criminalidade, multiplicam-se cada vez mais: e muitos são praticados por
jovens descritos, tudo em proporções assustadoras e com requintes de perversidades ou de
completa cegueira moral.
“Essa recrudescencia de crimes, e os attentados contra a fecundidade humana, estão
despertando clamorosas representações aos poderes públicos, movidas até por apologistas e
cúmplices da revolução anti-christã.
“Não querem elles ver que as tempestades procedem dos ventos que semearam
quando substitiuiram a disciplina da moral religiosa, a educação christã da sociedade pelos
princípios anarchicos que pregaram, decretaram e estão praticando” 18.
Qual é o remédio para todos os males?
A resposta é obvia: - si o mal resulta da deschristianisação da sociedade, o remédio
só pode vir de sua rechristianisação.
Sim, é preciso voltarmos quanto antes á moral christã ou melhor, á doutrina christã,
que a escola neutra expulsou.
E si tal é a conclusão que resulta quando consideramos as escolas neutras, que são
todas as escolas officiaes, essa conclusão se reforça quando consideramos que, ao lado
dessas escolas, outras existem, cujas tendências são francamente sectárias.
Ella se alastram insidiosamente, sobretudo na Capital e nas cidades mais populosas
do interior.
Apresentam matizes diversos, mas os seus esforços se conjugam todos n’um grande
esforço synergico, n’uma obra comum: combater o catholicismo tradicional, destruir a
Egreja, restaurar o velho paganismo com todos os seus corrollarios.
- Mas essas escolas são em pequeno número, dirão talvez os eternos Panglosso do
optimismo.
- Admittamos que assim seja. Mas haverá cousa mais insidiosa do que os seus
processos de propaganda e alliciamento?
Ellas sabem velar por tal forma os seus desígnios que encontram catholicos para
pleitear, junto dos poderes públicos, a concessão de auxílios e subvenções.
Ellas conhecem a arte de impressionar favoravelmente o publico e as altas
autoridades escolares, promovendo ruidoso préstitos cívicos, destinados a commemorar as
grandes datas da historia da pátria.
E depois, o numero dessas escolas está longe de ser reduzido.
Só a Associação Sete de Setembro mantem 5 grupos escolares e 17 escolas isoladas,
entre diurnas e nocturnas.

18
Dr. FELICIO DOS SANTOS, artigo editorial da União, do Rio.

112
Segundo uma nota publicada no Estado , a freqüência média dessas escolas, no mez
de Março, foi de 2010 alumnos, d’onde se pode conjecturar que a matricula não deve andar
longe de 2200 creanças.
E uma vez que estamos as voltas com algarismos, não será desacertado um
relancear de olhos sobre a estatística escolar do Estado, porque essa vista de conjuncto nos
depara um critério para podermos ajuizar da nossa situação real.
Segundo a synopse publicada no ultimo número do Annuario do Ensino, S. Paulo
possuía no anno passado 2778 estabelecimentos de ensino, dos quais são mantidos:
Pelo estado 1863
Pelas municipalidades 345
Pela União 3
Por particulares 567

Nesta última parcella estão incluídos nos estabelecimentos que ministram o ensino
catholico em número e as diversas escolas de índole sectária, cujo numero orça por
Os participantes representam forças favoráveis á expansão religiosa do paiz; os
outros representam forças contrarias.
Entre os dois exercícios combatentes, que disputam a terra virgem da consciência
infantil, queda-se a massa considerável das escolas neutras, que representam mais de 80%
do effectivo total.
Presas, quaes novo GULLIVER, sob as malhas da famosa neutralidade, não vão
para um lado nem para outro, mas essa obtenção basta para fazer dellas um precioso alliado
das escolas sectárias. Por ellas passam annualmente cerca de 200 mil alumnos, duzentos
mil alumnos cujas crenças se anemiam á falta de instrução apropriada, cedendo o logar ao
indifferentismo religioso mais ou menos completo.
Tal é a nossa situação.
Expôl-a em termos claros é precisar o nosso dever de catholicos.
O diagnostico do mal está feito; cogitemos agora ao tratamento.

2ª. Parte

Como remediar o mal? Como oppor barreiras a expansão do paganismo renascente?


Em suma, como encaminhar efficazmente a resolução do problema da educação christã dos
nossos pequenos compatrícios?
O primeiro alvitre que nos ocorre é a inclusão da Doutrina Christã no programma de ensino
das escolas officiaes.
Mas a cargo de quem ficará o ensino de tal disciplina? – pergunto eu.
Si é para ficar a cargo do professor, não posso deixar de discordar. Seria, como já te disse
em outra ocasião, desconhecer a lição do passado.
Si o ensino official da Doutrina Christã era o que todos sabemos, nos tempos da
escola-régia, quando o catholicismo gosava dos privilégios de religião do Estado, como
pretender que tal ensino seja efficiente agora que nos achamos no regimento de separação?
Si outro´ra, quando obrigatório, elle se reduzia na maioria dos casos á lettra arida do
catecismo, como pretender hoje, quando só se pode ser facultativo, que um professor sem
convicções ou, pelo menos, sem sufficiente formação religiosa, ponha, na execução dessa
parte do programma, aquella uncção, aquelle ardor de proselytismo que é a condição
principal do sucesso?

113
De todas as resoluções em debate, a única, a meu ver, que apresenta relativas
garantias de viabilidade é a que foi preconizada pelo snr. Conselheiro Ruy Barbosa, em sua
monumental conferencia de Bello Horizonte, ao apresentar-se candidato a presidência da
republica.
Esse alvitre, como é sabido, consiste em conceder aos sacerdotes catholicos e aos
ministros dos outros cultos a faculdade de ensinar os respectivos credos nas escolas
publicas, mediante requisição dos paes ou tutores dos menores, nellas matriculadas.
É o regimen adoptado em diversos estados da união americana; é um alvitre que já passou
pelo cadinho da experiência, que fez suas provas no terreno pratico, não tendo por
conseguinte os inconvenientes das construções meramente theoricas.
Mas para que este modos faciendi venha a ser adoptado entre nós, será indispensável
desenvolver larga, intensa propaganda, destinada a dissipar muitos preconceitos correntes,
postos em circulação pelo sectarismo solerte, infatigável.
ora, tudo isso demanda tempo, talvez muito tempo ainda, e é de toda evidencia que nós não
podemos ficar ate lá de braços cruzados, porque nossa inércia terá por effeito aggravar mais
e mais a situação.
No momento actual, o que nos cumpre fazer, o nosso dever immediato de catholicos
consiste , a meu ver, em fundar escolas nossas, mas escolas que não se limitem ao ensino da
moral christã, como as escolas publicas dos estados unidos, pois a moral , separada do
dogma, estiola e torna-se fecunda, como a flor destacada da haste.
Sim, nós precisamos de escolas que ensinem a Doutrina Christã integralmente e
explicitamente, por isso que, segundo o testemunho da historia imparcial, é ella a única que
pode influir efficazmente sobre a grande massa do povo, depurando-lhes os costumes,
fortalecendo-lhe o caracter, dignificando-o.
Prevejo aqui uma objeção: - para alcançar esse objectivo será preciso fundar um
numero considerável de escolas? Quem o contesta? Mas será isso uma razão para que nada
tentemos?
O que importa é que comecemos. Fundemos ainda que seja uma única escola. Não
sejamos d´aquelles que, no dizer de PALAU, tem por divisa tudo ou nada , e não vem que a
impiedade pouco a pouco vae ganhando tudo.
É preciso agir, repito. E foi o que fez no Rio um sacerdote clarividente e abnegado,
o Rvmo. Snr. Cônego ANDRÉ ARCOVERDE, bem conhecido nesta capital. Sem recuar
diante das difficuldades, elle creou o patronato das Creanças Pobres da Freguesia de S. João
Baptista da lagoa e fundou não já uma simples escola isolada, mas um verdadeiro grupo
escolar, funccionando em dois períodos e ministrando instrucções a cerca de 200 creanças.
O prédio é próprio e custou ao patrimônio mais de cem contos.
Este instituto, cujo mobiliário é dos mais modernos, foi organisado pelo distincto e
abalisado professor paulista Snr. ARNALDO BARRETO, mas funcciona presentemente
sob a direcção do próprio fundador, que é auxiliado na administração por uma Inspectora.
Sem querer importunar os seus parochianos, o snr. Cônego ARCOVERDE fundou o grupo
pio X quase que exclusivamente á sua custa. E uma vez fundado, assume a sua direção, sem
embargo dos affazeres que lhe acarreta o múnus parochial.
Que rasgo de benemerência! E ao mesmo tempo que exemplo suggestivo!
Mas desnecessário se torna sahir de S. Paulo para mostrar de que ousadias é capaz a
vontade humana, quando obedece á impulsão de um nobre ideal.

114
Aqui mesmo na capital temos a obra das Escolas Populares , fundada por um grupo
de professoras catholicas , a cuja frente apparece D. ALMERINDA DE MELLO, adjuncta
do grupo escolar Campos Salles.
O fim das Escolas Populares, segundo declaram os estatutos, é ministrar
gratuitamente a educação religiosa , moral e intellectual a menores operários de ambos os
sexos.
Fundada há seis annos, a obra é pouco conhecida e nem siquer figura no Annuário
de ensino do Estado de S. Paulo , publicado pela directoria Geral da Instrucção Publica.
A razão é simples: é que as distinctas professoras que se acham á sua frente, com uma
modéstia que mais lhes realça o mérito, reputam de pouca valia os serviços que vem
prestando á sociedade, pela sua extraordinária dedicação.
E todavia esses serviços são relevantes, como declarou há mezes o eloqüente orador
sagrado padre JOÃO GUALBERTO, n´uma das suas notáveis conferencias perante o
Circulo Catholico da Capital Federal.
A associação das Escolas Populares começou sem o menor patrimônio. Não tinha ,
para saccar, sinão o banco da Providencia Divina, mas para a fé robusta das suas
fundadoras não era preciso mais: cumpria demonstrar a força da caridade e o poder da
esmola,diziam ellas, repetindo as palavras do exmo. Snr. Bispo do espírito santo, que foi
até há pouco o director espiritual da Associação.
E a demonstração não podia ser mais completa. Sem subvenção permanente, não contanto
sinão com os donativos e contribuições angariadas pela directoria ente as pessoas de suas
relações, a Associação conseguiu fundar, em 6 annos apenas, 14 escolas, das quaes se
mantem 13, com uma matricula de 650 alumnos de ambos os sexos.
Dessas 13 escolas, 12 são nocturnas. Estão localizadas em differentes pontos da
capital, de preferência nas proximidades das fábricas e officinas, em ordem a poderem ser
freqüentadas pelos jovens operários , á sahida do serviço. As aulas duram cerca de 2 horas,
de 18.30 em diante; o período escolar vae de principio de Janeiro até fim de novembro, com
interrupção de um mez, na estação invernosa. O programma de ensino é reduzido: as
Escolas Populares põem o seu principal objectivo na formação religiosa e moral dos seus
alumnos.
Esse escopo é plenamente attingido e , por isso, as escolas populares constituem um
contrapasso á acção das escolas libertárias, que disputam a mesma clientela.
Suas fundadoras são, entre nós, as pioneiras destemidas da causa pela qual nos
batemos. Pela sua iniciativa, pelo ardor de sua fé, pelo arrojo de seu emprehendimento e
ainda mais pela modéstia com que procuram velar os seus reaes serviços, ellas
conquistaram a gloria de nos offerecer um magnífico paradigma. Poderemos, diante do seu
exemplo, continuar na apathia? Poderemos perder mais tempo em declamações estéreis,
quando ellas operam em silencio e realizam, pela sua tenacidade, verdadeiros milagres?
Não creio: noblesse oblige!
O ideal seria que fundássemos desde logo um grupo escolar , a exemplo do que fez,
no Rio, o benemérito vigário de S. João Baptista da Lagoa. O grupo é um typo escolar
muito superior á escola isolada. Basta notar que, graças á divisão do trabalho, pode se
conseguir a homogeneidade das classes e a simultaneidade do ensino, o que quer dizer a
maior proficuidade possível para o trabalho de cada professor.
Para a fundação do grupo, entretanto, falta-nos o elemento essencial: não temos
patrimônio.

115
Comecemos, pois, como começou a Associação de que falava ainda agora; comecemos
fundando escolas isoladas.
Cumpre que a primeira dellas esta organisada com tal esmero que ella possa a vir a
constituir um padrão, uma verdadeira escola modelo, vasada nos moldes mais
aperfeiçoados.
Adoptemos da escola primaria do Estado tanto quanto possa ser adoptado sem
quebra dos nossos princípios—o mobiliário, os materiaes didacticos, os methodos, os
programmas, os horários, etc.
O que importa , na nova escola, é o espírito.
E para que o espírito seja o melhor, o mais conveniente, cumpre que confiemos a
sua regência a uma professora que, alem do titulo probatório de sua aptidão profissional,
obtido em um dos institutos normaes do estado, possua uma boa formação religiosa e uma
piedade esclarecida. Sem bons professores, as melhores providencias não offerecem
garantias de sucesso. Quando um professor tem vida interior, diz notável escriptor
catholico19, uma phrase que lhe escape dos lábios e do coração, uma emoção que se lhe
estampe no semblante, um gesto expressivo ou simplesmente o seu modo de persignar-se,
de recitar uma oração, antes ou depois da aula, mesmo que seja uma aula de mathematica,
podem ter sobre os alumnos mais influencia do que um sermão.
Mas antes de ir adiante, importa resolvermos uma questão preliminar e decisiva: -
como assegurar a manutenção da futura escola? Seguindo de perto o exemplo das Escolas
Populares, isto é, appellando para a munificência dos catholicos de boa vontade, para a
liberalidade de quantos tiverem descortino bastante para aquilatar a importância do nosso
emprehendimento. Não devemos, porem, limitar-nos a angariar donativos e contribuições .
nosso esforço deve ser encaminhado de modo que os contribuintes venham a constituir uma
associação permanente, uma espécie de Junta Escolar, tendo por fim a constituição de um
patrimônio, sem o qual nada de sólido poderá ser tentado.
Esta questão, porem, faz parte de uma outra these e por isso me limito a assignalar
aqui a orientação pratica que devemos adoptar. Installada a escola modelo e organisada
segundo as sãs exigências da didactica moderna, teremos um paradigma a offerecer não só
ás escolas que, de futuro, formos creando, como ainda aos próprios estabelecimentos
catholicos que quizerem reformar ou aperfeiçoar os seus methodos de ensino, segundo a
TechNet das nossas melhores escolas officiaes. Será então ocasião de multiplicar a nova
instituição escolar, fundando outras similares. Onde localizar as futuras escolas? Antes de
tudo, nos bairros operários, nas imediações dos estabelecimentos fabris.
Seu papel ahi será análogo ao das Escolas Populares: educar christãmente os filhos
dos operários , contrabalançar e possivelmente neutralisar a influencia das escolas sectárias,
que buscam esses meios como um terreno de eleição.
Outra localisação que se impõe é nos bairros e districtos ruraes, onde á falta de
Egreja e por conseguinte de escolas parochiaes , as creanças correm o risco de crescer sem
a menor instrucção religiosa.
Fora desses casos, a escola catholica será localisada ao lado da escola official todas
as vezes que esta, desenvolvendo, sob qualquer fórma, o proselytismo sectário, deturpar o
principio da neutralidade em detrimento das crenças da população local.
E uma vez que tocamos neste assumpto, cumpre deixarmos uma cousa bem
accentuada: a escola catholica não vem fazer concorrência e muito menos hostilisar a

19
D. Chautard, O.C.S. em seu precioso opúsculo L´âme de tout apostolat

116
escola official, a não ser quando esta seja a primeira a tomar uma attitude inconveniente ou
hostil.
Eis o prospecto resumido do que, a meu ver, podemos fazer no momento actual.
Nosso ideal, comtudo, não se deve cifrar nisto; e por isso não será descabido esboçarmos
desde já o plano da nossa elaboração futura.
A multiplicação das escolas catholicas terá dois corrollarios principaes: o primeiro é
a fundação de um ou mais grupos escolares; o segundo é a creação de um instituto
destinado a fornecer aos candidatos do magistério, nas nossas escolas, a indispensável
formação catechista.

Grupos Escolares – quando as nossas escolas se tiverem multiplicado, quando uma dada
zona urbana houver um sufficiente numero dellas, cada uma com a sua manutenção
assegurada, por uma secção de Confederação dos Paes Catholicos, essas escolas poderão
ser reunidas, e assim surgirá o grupo escolar.
Installado o grupo nestas condições o problema das despezas permanentes,
sobretudo para subvencionar o pessoal docente, estará previamente resolvido; e então só
nos restará enfrentar a despeza da installação do grupo.
Nessa altura , porem, já teremos títulos sufficientes para nos apresentarmos perante
os poderes públicos do estado ou do município, solicitando uma subvenção proporcional ao
numero de alumnos do futuro grupo escolar.
A pretenção nada tem de descabida, dada a cooperação das escolas catholicas na
obra de disseminação do ensino publico.
Será apenas uma aplicação do systema pro - rata, adoptado em alguns paizes do
Velho Mundo, systemas segundo o qual a verba votada para custear as despezas do ensino
publico, é applicada não só na manutenção dos institutos officiaes, como também em
subvenções aos estabelecimentos de ensino privado, desde que satisfaçam a determinados
requisitos estabelecidos pelo estado.

Cursos de catechistas- outra creação imposta pela expansão das escolas catholicas é a de
um instituto destinado a iniciar os candidatos ao magistério no conhecimento dos processos
de methodologia catechista. De par com esse ensino, o instituto ministrará aos futuros
catechistas o conhecimento satisfatório da doutrina catholica, porque, embora perpetrando
em truísmo, é preciso dizer que só sabe ensinar bem quem sabe bem aquillo que ensina. O
que falta, com effeito, a muito dos nosso catechistas não é só a instrucção methodologica; o
que lhes falta, em muitos casos, é o conhecimento da própria doutrina que lhes incumbe
ensinar; e sem tal conhecimento são de pouca valia os processos techinicos.
A fundação da escola primaria infantil, disse eu no começo, é a primeira das
questões que se impõe a nossa attenção no presente congresso.
Outra questão, acrescentei eu, é a intensificação da obra das Escolas Populares.
Essas escolas, como ficou dito, destinam-se aos menores operários, que em regra geral são
filhos dos operários. Ora, a attitude dos operários entre nós, sobretudo os operários
estrangeiros, é da pronunciada hostilidade para com o catholicismo.
Um facto basta para demonstrá-lo: a violação do preceito do descanso dominical.
Quem observa o que se passa em alguns dos nossos prédios em construção, não lhe será
difficil averiguar esta circumstancia: aos domingos, a actividade operaria recresce de
intensidade. Será a necessidade da conquista do pão? É duvidoso porque não raro se
observa que o operário que trabalhou no domingo faz da segunda-feira um dia suéto.

117
A attitude dos operários é um systema evidente da deschristinisação. Muitos dos
operários estrangeiros que demandam das nossas plagas, trazem para aqui o vírus das
doutrinas libertárias, do nihilismo que cavou a ruína do colloso moscovita, do anarchismo
que armou o braço de Caserio Santo, de Ravachol e de tantos outros.
Pois bem, as Escolas Populares que dão prominencia á educação religiosa e moral,
são as escolas de preservação. Ellas tem por missão premunir os jovens operários aqui
nascidos contra os germens pathogenicos de que são vehiculos os seus próprios
progenitores.
Pois bem, essas escolas são preciosos agentes de prophylaxia social, com seis annos
de actividade operosa e fecunda, são quase desconhecidas no nosso meio social.
Essas escolas que, educando christãmente os jovens operários, podem influir
indirectamente sobre o operariado alienígena, modificando –lhe a attitude hostil, não tem
recebido o apoio a que fazem juz, nem siquer dos próprios catholicos, salvo honrosas
excepções.
Essas escolas que, ensinando a ler e escrever, contribuem para a formação de um
operário mais inteligente, mais útil, mais apto ao desempenho de suas funções, não recebem
dos nossos industriaes o menor auxilio, a mais insignificante subvenção.a directoria nem
siquer conseguiu obter d´elles uma leve modificação do horário das fabricas em beneficio
do horário das aulas.
É preciso, pois, que este congresso procure, entre outras deliberações, assentar os
meios de fomentar a expansão dessa obra que, segundo a phrase expressiva do Pe. João
Gualberto, nasceu por inspiração catholica;dessa obra que se tem mantido a despeito de
tantas dificuldades e que não desmedrou apezar da nossa indifferença e apathia; dessa obra
de genuína beneficiencia, pois que sem as escolas populares, cresceriam sem os benefícios
da instrucção centenares de jovens operários que, obrigados a luctar pela vida desde os seus
primeiros annos, acham-se por isso impossibilitados de freqüentar as escolas diurnas do
Estado.
Sim, é preciso que nos empenhemos pela multiplicação dessas escolas, alem da
instrucção elementar, ministram a educação religiosa e moral, e cooperam dessa forma para
a formação de operários chirstãos.
Bastarão, porem, as escolas nocturnas destinadas aos menores operários?
Evidentemente não. Como disse nos Annaes Catholicos o meu illustrado collega professor
JÕAO BORGES, nós não podemos perder de vista os adultos da classe operaria,
analphabetos ou não. Si é certo que existem as escolas nocturnas do Estado, releva ponderar
que ellas tem, como as escolas diurnas, o mesmo fetichismo pela neutralidade e nada fazem
pela formação christã dos adultos que a freqüentam.
Convencido desta lacuna, o Centro Operário do Braz creou na respectiva séde Aulas
Nocturnas, destinadas a pessoas de mais de 18 annos; mas trata-se de uma instituição ainda
incipiente. Cumpre, pois, que, creando as escolas catholicas para as creanças, nos
empenhemos egualmente para os analphabetos e escolas de aperfeiçoamento para os mais
adiantados.
Estas escolas servirão para demonstrar ás classes operarias, que a religião não é
inimiga da sciencia; ellas contribuirão para dissipar as prevenções que no mundo operário
existem contra o catholicismo e que são resultado de uma propaganda tenaz e pouco leal
dos nossos adversários.

118
Escolas Profissionaes : imaginemos que o nosso emprehendimento seja coroado de pleno
sucesso, que, no fim de alguns annos de esforço assíduo, chegamos a possuir um vasto
aparelho escolar constituído de numerosas escolas isoladas, grupos escolares, escolas
nocturnas e escolas de aperfeiçoamento, todas ellas trabalhando com real efficiencia na
formação christã da infância e da juventude.
Ficará por isso assegurado o futuro religioso da nossa pátria?Ainda não. Pregar o
evangelho a um estomago vasio, disse alguém, é trabalhar em pura perda: elle não escutará.
Ora , a Instrucção elementar, mesmo quando acompanhada de uma sã doutrina moral e
religiosa, não basta para assegurar a subsistência. Ensinar a ler e escrever , disse HUXLEY,
é dar prato e talher; depois disso é preciso dar o alimento apropriado.
Ora, tal alimento não pode vir sinão como conquista, como premio do trabalho
honesto, e isso importa dizer que, ensinando o povo a ler, escrever e contar, falta ainda
ensinar-lhe a trabalhar.
Para isso torna-se necessário offerecer –lhe escolas apropriadas destinadas a
ministrar –lhe a educação techinico-profissional, que o colloque em condições de ganhar
honestamente os meios d e subsistência.
Si tivermos, por conseguinte, a ambição de possuir, não um mero conjuncto de escolas, mas
um systema escolar perfeito, harmônico, integrado, jamais poderemos prescindir de escolas
dessa natureza.
A importância das escolas profissionaes no desenvolvimento industrial, exporta para
o estrangeiro a matéria prima, por preços nem sempre remuneradores, para depois importar
os productos manufacturados, cujo custo vem onerado com absurdos impostos aduaneiros.
Esses productos chegam ao consumidor a preços exaggerados; e por isso as condições de
vida, sobretudo nas classes pouco favorecidas da fortuna, nada tem de prosperas.
A existência de escolas profissionais d todas as modalidades, concorrendo para o
desenvolvimento da industria indígena, não poderia deixar de melhorar a situação do povo.
Por outro lado, evitando a emigração do capital, ella viria a fornecer indubitavelmente a
expansão econômica do paiz, contribuindo para o augmento da riqueza nacional, individual
e collectiva.
Mas não é tudo. O ensino profissional, desenvolvendo nos indivíduos a aptidão para
o trabalho, torna-se, só por isso um factor importantíssimo da moralidade social.
Ninguém chega a ter real amor ao trabalho si não aprender a trabalhar desde muito cedo.
E como aprender a trabalhar si para tanto nos faltam escolas apropriadas?
A vagabundagem, com todos os seus corrollarios, não tem, certos casos, outra
explicação.
É freqüente, entre nós, declamar-se contra a empregomania.
Pois bem, a empregomania é rara nos paizes onde prosperam os estabelecimentos
techinicos e profissionaes, onde o povo aprende a trabalhar.
Um facto que me impressionou, por occasião de minha viagem pelos estados unidos, foi a
existência de grande numero de senhoras nas repartições publicas. Não me foi difficil obter
a explicação. Os rapazes , ao sahirem das high-schools , que correspondem aos nossos
gymnasios, acham-se magnificamente treinados pelo trabalho manual e obtem colocação
prompta e bem remunerada nos estabelecimentos industriaes, preferindo abrir caminho a
força de cotovellos, em vez de vegetar n´uma posição burocrática,sem horizontes, sem
estímulos, sem consideração social. e assim se explica a invasão crescente das senhoras
arraiaes do funccionalismo publico.

119
O trabalho profissional tem uma poderosa força educativa: - elle constitue a escola
da iniciativa e da virilidade moral. Elle não só adestra a mão, como educa, fortalece o
cérebro. Nas escolas profissionaes o alumno aprende a executar aquillo que planeja, e
executando a ganhar confiança em si mesmo, e confiando em si a tornar-se uma
personalidade autônoma, um homem, um caracter. Tivéssemos escolas profissionaes e não
seriamos um povo de ideólogos.
Fomentar o desenvolvimento do ensino profissional , disse o notável engenheiro Dr.
THEODORO SAMPAIO, é fazer uma obra genuína de patriotismo.
Por falta de tirocínio conveniente, pouco se desenvolve entre nós a iniciativa individual e
por falta de iniciativa, vamos deixando que as nossas quedas d´agua , as nossas florestas, os
nossos campos e ate nossas emprezas industriaes ou ferro-viárias vão cahindo a pouco e
pouco nas garras do syndicatos estrangeiros, que dentro de pouco serão um estado no
estado.
Para desenvolver o espírito nacionalista, realisamos magníficas conferencias,
organisamos vistosos batalhões patrióticos. Si formos ameaçados por uma invasão armada,
teremos a defender as nossas fronteiras um baluarte de jovens corações, que não trepidarão
em sacrificar a vida pela pátria.
É bello!
Mas há uma invasão mais perigosa, mais indiciosa contra a qual nada fazemos.
É a invasão dos capitaes estrangeiros, que vão açambarcando tudo, a mercê da nossa
improvidencia , porque não queremos comprehender a importância do ensino profissional
como elemento de formação nacionalista, como o comprehenderam em boa hora a
BÉLGICA, a HOLLANDA e a SUISSA, a despeito da exigüidade de seus territórios.
É preciso, pois, é imprescindível que inscrevamos o ensino profissional no nosso
programma, embora a titulo de ideal remoto.
Não dispomos presentemente de recursos que nos permittam a fundação de escolas
deste gênero.
Pois bem: empreguemos a nossa influencia em prol do desenvolvimento da obra
salesiana, cujo fundador soube comprehender , com intuição verdadeiramente genial, as
necessidades da nossa época.
Aprender a ler não basta, si não se aprende a trabalhar. Mas a instrucção , mesmo
acompanhada do trabalho, não educa verdadeiramente sinão quando se conjuga com a
oração. Ora et labora – eis a summa sabedoria.
Assim o comprehendeu D. BOSCO, que fez da officina um prolongamento da
escola e fez do templo um complemento da officina.
E uma vez que toco neste assumpto , não posso deixar de fazer uma referencia pessoal, cujo
intuito envolve um voto de louvor.
Como é sabido, há nesta capital diversas fabricas de tecidos de algodão e de juta,
pertencentes ao Centro Industrial do Brasil. Segundo informes publicados n´um dos nossos
matutinos, trabalham nessas fabricas de três a quatro mil operários, entre homens, mulheres
e menores.
O presidente da companhia é o Dr. JORGE STREET, industrial brasileiro, homem
de cultura e largas vistas, digno emulo do Dr. CARLOS ALBERTO, que em Pernambuco
grangeou justa notoriedade.
Graças aos esforços do Dr. Street, acha-se em adiantado estado de organisação , nas
imediações das fabricas do Belemzinho, uma Villa Operaria que há de constituir um
verdadeiro monumento de coragem, iniciativa e arrojo.

120
Haverá n´ella uma creche , escola maternal, grupos escolares, escolas de
aperfeiçoamento, escolas de ensino profissional, alem de outras instituições reveladoras de
rara capacidade administrativa, como sejam cooperativas, armazéns, assistência medica e
pharmacia.
Mas eis o que é mais significativo: no centro da Villa Operaria, o Dr. Street fez
edificar um templo e obteve da suprema autoridade Archidiocesana a creação de um curato,
para acudir ás necessidades espirituaes da população operaria, havendo casa para a
residência do capellão. É um acontecimento de alta significação, disse eu.
Para um homem descortino largo, como é o Dr. Street, a religião representa um
elemento precioso para alimentar o idealismo nos homens do trabalho. Para elle, como para
D. BOSCO, a officina, a escola e o templo são três instituições solidárias e como taes
inseparáveis.
Eis uma forma de socialismo segundo os moldes christãos. A melhor solução social
, diz um autor contemporâneo, é aquella que procura tornar melhor o homem. Oxalá
comprehendessem todos os industriaes este feliz conceito de EDMUNDO DEMOLINS20:
“um chefe de industria ,um proprietário rural, um summa um patrão qualquer que se
interessa pela sorte dos seus operários, fal-o com muito mais efficacia do que cincoenta
socialistas que pretendem melhorar a sorte de pessoas que escapam á sua acção por todos
os lados, que nem siquer conhecem pessoalmente e com os quaes não tem qualquer relação
natural ou positiva”.
Tratando da instrucção profissional e da educação pelo trabalho, eu não podia deixar
de fazer esta referencia á grandiosa iniciativa do Dr. Jorge Street, cujo exemplo faz jus aos
melhores aplausos deste Congresso.
CONCLUSÕES

A) Com relação á escola catholica:


1ª Promover sem perda de tempo a installação da primeira escola catholica, que terá a
mesma organisação das escolas mantidas pelo Estado e observará o mesmo programma,
com accrescimo da Doutrina Christã;

2ª Constituem sobretudo por occasião da matricula, uma Junta Escolar ou confederação


dos Paes, a qual terá como funcção especial angariar meios para a manutenção da nova
escola;

3ª Promover , por meio dessa Associação, um freqüente intercambio de idéias entre a


escola e as famílias dos alumnos, organisando conferencias publicas sobre assumptos
attinentes á educação e ao ensino;

4ª Obter da directoria da Instrucção Publica a designação de um inspector escolar para


acompanhar de perto o trabalho de organisação da futura escola;

5ª No ensino da doutrina christã seguir a orientação indicada pelo Assistente espiritual


designado pela autoridade metropolitana, applicando ao ensino religioso, sempre que
for possível, os methodos de educação intuitiva;

20
Superiorité des Anglo-Saxons (grifar)

121
6ª Franquear a nova escola ás visitas do pessoal docente dos estabelecimentos
particulares de ensino de orientação catholica;

7ª Denunciar á directoria da instrucção publica as violações da sã neutralidade escolar


nos estabelecimentos de ensino mantidos pelo Estado;

B) Com relação ás Escolas Populares


1ª Apoiar pela palavra e pelo exemplo e fundação de novas escolas dessa modalidade,
promovendo conferencias publicas s, principalmente nos bairros operários;

2ª Tornar conhecida, por meio da imprensa, a funcção das escolas populares no seio das
famílias e da sociedade em geral, procurando chamar para ellas a attenção e a sympatia
dos catholicos;
3ª Solicitar, em favor destes estabelecimentos, o apoio dos Vigários da respectiva
circunmscripção , apoio manifestado, entre outras cousas, pela visita ás aulas;

4ª Empenhar-se para que ellas sejam visitadas com mais freqüência pelos membros
desta Confederação CAtholica, e particularmente as da secção masculina.

5ª Empregar a influencia de que podemos dispor para conseguir dos directores dos
estabelecimentos industriaes a terminação do trabalho nas fabricas até as 17.30 ou 18,
afim de poderem os jovens operários freqüentar as aulas das Escolas Populares.

Há uma resolução que deixei para o fim porque a considero mais importante do que
outra qualquer. É esta: este congresso não se dissolverá sem que tomemos o compromisso
formal e solene de fundar sem mais demora a escola catholica infantil.
Meus senhores—conta-se de um religioso que, sentindo a alma trabalhada pela duvida,
soffrendo freqüentes tentações contra a fé, teve ordem dos seus superiores para pregar um
sermão que implicava na demonstração da verdade catholica.
O religioso obedeceu sem replicar, e na elaboração de seu trabalho, por tal forma se
compenetrou no assumpto que, ao despor a penna, viu dissiparem-se todas as suas duvidas
e sentiu renascer em sua alma o fervor que recompensa a fé. Seu sermão, dizem , foi um
sucesso e operou grande numero de conversões.
Pois bem: ao ser intimado para versar sobre minha these neste congresso, o meu estado
do espírito não era dos mais favoráveis. Eu não podia ter grande confiança na efficacia
destes certamens quando via tantas pessoas respeitáveis, porem em duvida essa efficacia.
Obedeci comtudo e confesso que, a meditação do assumpto fez de mim um convencido,
operou a minha própria conversão. Oxalá que a minha conferencia tenha o mesmo effeito
do sermão que há pouco falava. Oxalá que ella opere conversões e faça de cada um de nós
um paladino ardoroso em prol da educação christã da infância.
Assim o pedem os interesses da religião, que neste caso se identificam com os
interesses da pátria.
Avante, pois, e que nos sirva de divisa a velha legenda: - PRO ARIS ET FOCIS!-

122
Annuário do Ensino do Estado de São Paulo – 1918.

Ano 1909 1910 1911-1912 1913 1914 1915 1916 1917 1918
% de alunos matriculados 28,4 33,3 41,3 43,6 41,9 42,3 41,9 45,0 48,1
% de alunos não matriculados 71,6 66,7 58,7 56,4 51,8 57,7 58,1 55,0 51,6

Horário das Escolas Populares


1º Anno

Horas Duração Seg/Qua/Sex Ter/Qui/Sab


Das 8,00 as 8,05 5 min Chamada e canto Chamada e canto
Das 8,5 as 8,25 20 min Cálculo Cálculo
Das 8,25 as 8,45 20 min Leitura – Classe A Leitura – Classe A
Cópia- Classe B Cópia- Classe B
Das 8,45 as 9,05 20 min Leitura – Classe B Leitura – Classe B
Cópia – Classe A Cópia – Classe A
Das 9,05 as 9,15 10 min Repouso Repouso
Das 9,15 as 9,30 15 min Calligraphia Calligraphia
Das 9,30 as 9,50 20 min História do Brasil Geographia do Brasil
Das 9,50 as 10,05 15 min Ensaio canto Linguagem
Das 10,05 as 10,25 20 min Educação moral e cívica Desenho
Das 10,25 as 10,30 05 min Preparo, canto e sahida Preparo, canto e sahida

2º Anno

Horas Duração Seg/Qua/Sex Ter/Qui/Sab


Das 14, 00 as 14,05 5 min Chamada e canto Chamada e canto
Das 14,05 as 14,30 25 min Cálculo Cálculo
Das 14,30 as 14,55 25 min Leitura e analyse Leitura e analyse
Das 14,55 as 15,05 10 min Sciencias Physicas e naturaes Hygiene
Das 15,05 as 15,10 5 min Repouso Repouso
Das 15,10 as 15,30 20 min Linguagem escripta Linguagem escripta
Das 15,30 as 15,45 15 min Historia do Brasil Geographia do Brasil
Das 15,45 as 16,15 30 min Instrucção cívica Desenho
Das 16,15 as 16,25 10 min Calligraphia Calligraphia
Das 16,25 as 16,30 5 min Preparo, canto e sahida Preparo, canto e sahida

Festas escolares:
02 vezes ao ano, ligadas aos institutos privados de ensino, são realisadas em theatros ou
parques.

“Motivo para que o publico julgasse do grau de progresso da vossa instrucção primária e
um estímulo às crianças para sua cooperação na louvável empresa de constituição do
patrimônio escolar” (Annuário de Ensino de 1918, p. 114)

123
Escolas Nº de alunos
Escola Popular Coração de Jesus 38
Escola Popular João Evangelista 68
Escola Popular Immaculada 60
Conceição
Escola Popular Santa Ignez 49
Escola Popular Santo Antonio 60
Escola Popular São José (fem) 40
Escola Popular São José (mas) 48
Escola Popular São Sebastião 53
Escola Popular Santa Theresa 42
Escola Popular Santa Eugênia 48
Escola Popular São Bernardo 62
Escola Popular João Baptista 66
Escola Popular Santa Cândida 46
Escola Popular São Francisco de 43
Salles
Escola Popular Sant ´Anna 42

“Pondo de parte as escolas subvencionadas, queremos agora nos referir a outras que, não
sendo assistidas pelos favores officiaes, ministram ensino inteiramente gratuito, tornando-
se, por isso, dignos de especial menção. Dentre ellas sobressaem as “Escolas Populares” as
quaes, mantidas por um grupo de professoras normalistas e amparadas exclusivamente pelo
prestígio do Exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, e pelo óbulo caridoso de alguns
contribuintes, têm por fim ministrar gratuitamente a educação intellectual, moral, cívica e
religiosa, a operários menores de 12 annos e operarias menores de 18.
Não dispondo de subvenção alguma, quer municipal, quer estadual, nem mesmo de
pequeninas quotas cobradas a titulo de taxa de matricula, ou de auxilio para a acquizição de
utensílios escolares, conseguiu esta instituição criar e manter, em perfeitas condições de
funcionamento, 15 escolas nocturnas que, installadas em diversos bairros da capital,
ministram o ensino a 765 alumnos de ambos os sexos.
Seu pessoal docente é constituído, na quasi totalidade, de professoras diplomadas na nossa
Escola Normal, as quaes, além da instrucção religiosa, leccionam aos alumnos leitura,
linguagem oral e escripta, calculo, geographia e historia pátria e noções de educação moral
e cívica, de accôrdo com os methodos adoptados em nossos estabelecimentos estaduaes de
ensino.

124
Dirige estas escolas sua própria fundadora, D. Almerinda de Mello, distincta adjuncta de
um de nossos grupos escolares.” (p.473)

Anuário do Ensino do Estado de São Paulo de 1911-1912

Assistência Dentária Escolar:


Criação de clínicas (dispensários) em edifícios escolares, inaugurados em 1912.

“Pois é sabido que, sem bons dentes, não póde haver saúde perfeita, e a criança que tiver
mau aparelho dentário só poderá dar maus resultados em seus estudos” (p.51)

Número de escolas diurnas 1091


Noturnas para menores 11
Escolas e cursos noturnos 94
Escolas modelo e isolada 16
Total 1212

125
Nome das escolas Localização por ano (1910 – 1920)
1910 1913 1914 1915 1916 1917 1918 1919 1920
Coração de Jesus Largo Coração N/consta N/consta N/consta N/consta N/consta Largo Coração de N/consta N/ consta
de Jesus, 21 Endereço Endereço Endereço Endereço Endereço Jesus, 21 endereço endereço
João Evangelista R:São Caetano Fechada N/consta N/consta N/consta N/consta R:São Caetano, 48 N/consta N/ consta
48 21 Endereço Endereço Endereço Endereço endereço endereço
Immaculada Alameda dos N/consta N/consta N/consta N/consta Alameda dos N/consta N/ consta
Conceição Andradas, 75 Endereço Endereço Endereço Endereço Andradas, 75. endereço endereço
São Sebastião R:Victorino Fechada N/consta N/consta N/consta N/consta R: Souza Lima, 29 N/consta N/ consta
Carmillo, 65 Endereço Endereço Endereço Endereço endereço endereço
Santa Eugênia Trav da N/consta N/consta N/consta N/consta Fechada22 Travessa da Glória: N/consta
Glória: 23 A Endereço Endereço Endereço Endereço 23 A endereço
São Bernardo R:Coimbra, 90 N/consta N/consta N/consta N/consta R: Coimbra, 90 N/consta N/ consta
endereço Endereço Endereço Endereço endereço endereço
João Baptista R: Coimbra, N/consta N/consta N/consta N/consta R: Coimbra, 90 N/consta N/ consta
90 Endereço Endereço Endereço Endereço endereço endereço
Santa Cândida R: Bom N/consta N/consta N/consta N/consta R: Bom Pastor, 107 N/consta N/ consta
Pastor, 107 Endereço Endereço Endereço Endereço endereço endereço
São Francisco de Salles R:Lopes N/consta N/consta R: Lopes Chaves, Fechada em N/ consta
Chaves, 103 Endereço Endereço novembro23 endereço
103
Sant ´Anna R:Lopes N/consta N/consta R: Lopes Chaves, N/consta N/ consta
Chaves, 103 Endereço Endereço24 endereço endereço
103
São José *25 N/consta N/consta fechada26 N/consta N/consta R: Monsenhor de Abre como Fechada27 .
Endereço Endereço Endereço Endereço Andrade, 12 feminina
Nome das Escolas 1910 1913 1914 1915 1916 1917 1918 1919 1920
Santo Antonio * * * * N/consta N/consta R: Tabatinguera, 57 Fechada em N/ consta
Endereço Endereço julho endereço

21
Escolas foram fechadas por uma intimação da inspeção em virtude das condições de higiene. As outras escolas não temos dados.
22
Fechada por motivo de doença contagiosa
23
Será reaberta como noturna
24
fechada temporariamente pelos resultados no exame final
25
Todas as escolas com o símbolo (*) não haviam sido criadas naquele ano
26
Fechada por ter poucos alunos, reabre em novembro de 1916.
27
Fechada por falta de sala

126
Santa Ignez * * * * N/consta N/consta R: Consolação, N/consta N/ consta
Endereço28 Endereço 277. endereço endereço
Santa Theresa * * * * * * Largo da Lapa, 16 N/consta N/ consta
endereço endereço
Santa Iphigênia * * * * * * * * N/ consta
endereço
Sagrada Família * * * * * * * * *
Nossa Senhora do * * * * * * * * *
Carmo
Santa Magdalena de * * * * * * * * *
Pazzi
Therezinha do Menino * * * * * * * * *
Jesus
São João da Cruz * * * * * * * * *
São Luiz Gonzaga * * * * * * * * *
Nossa Senhora do * * * * * * * * *
Rosário
Sagrado Coração de * * * * * * * * *
Maria
São Vicente de Paulo * * * * * * * * *
Santo Estevam * * * * * * * * *
São Geraldo * * * * * * * * *

Nome das escolas Localização por ano (1920– 1936)


1920 1922 1924 1925 1926 1927 1929 1936
Coração de Jesus N/ consta Largo C. de Jesus, Al. Ribeiro da Silva, R: Lopes Chaves R: Lopes Chaves, R:Tabatinguera, 53 R: Julio de
endereço 21 111 103 Castilhos, 89
João Evangelista N/ consta R: São Caetano, R: São Caetano, 48 R: São Caetano, 48
endereço 48
Immaculada N/ consta Al. Andradas, 88 R:Consolação, 365 R: Consolação, 365 R: Barão de
Conceição endereço Ladário
São Sebastião N/ consta R: Souza Lima, 29 R: Souza Lima, 11 R: Souza Lima, 11
endereço

28
Fechada por falta de sala conveniente.

127
Santa Eugênia R: Galvão Bueno, Fechada29 Fechada
44
São Bernardo N/ consta R:Correa de Rua: Carlos Fechada R: Souza Lima, 11 R: Souza Lima, 11 R:Souza Lima, 11 R: Bresser
endereço Andrade, 7 Botelho, 30
João Baptista N/ consta R:Conselheiro R:Conselheiro R: Conselheiro
endereço Belizário, 11 Belizário, 11 Belizário, 11
Santa Cândida N/ consta R:Bom Pastor, Rua: Bom Pastor, Fechada
endereço 107 119
São Francisco de N/ consta R:Theodoro R: Capote Valente R: Bom Pastor, 107 R: Bresser, 312. R: Bresser, 349
Salles endereço Sampaio, 27 92- D
Sant ´Anna N/ consta R: Lopes Chaves, R: Lopes Chaves, R: Sinumbu, 35 R: Barão de R: Barão de R:Barão de
endereço 103 103 Ladário, 91 Ladário, 91 Ladário, 79
São José Fechada30 . R. Espírito Santo, R: Pires da Motta, R: Pires da Motta, R: Pires da Motta, R: Pires da Motta, R:Luiz Gama,
45- A 127. 127 127 127 117
Santo Antonio N/ consta R:Consolação, R: Theodoro R: Theodoro R: Theodoro R: Theodoro R: Theodoro
endereço 365 Sampaio, 107 Sampaio, 109 Sampaio, 109 Sampaio, 109 Sampaio, 153
Santa Ignez N/ consta R. Bella Cintra, R:Bella Cintra, 133 R: Bella Cintra, 133 R: Cajurú, 103. R: Cajurú, 103 R: Bella Cintra,
endereço 133 133
Santa Theresa N/ consta R. 12 de Outubro, R: 12 de outubro, R: 12 de Outubro, R: Consolação, 365 R: Consolação, 365 R:Hanemann, 1 R: Canindé
endereço 88 88 88
Santa Iphigênia N/ consta Trav.Penna 24 R: Anhaia, 31 R: Anhaia, 31 R: Anhaia, 31 R: Anhaia, 31 R: Anhaia, 31 R:Anhaia
endereço
Nome das Escolas 1920 1922 1924 1925 1926 1927 1929 1936
Sagrada Família * * Rua: Itapirapés, 04 Fechada
Nossa Senhora do * R: Guaycurus, 219 R: Guaycurus, 219 R: Guaycurus, 219 R: Guaycurus, 219. R:Guaycurus, 219 R:Guaycurus, 271 R:Venâncio
Carmo Ayres
Santa Magdalena de * * R:Cajurú, 103 R: Cajuru, 103 R: Conselheiro R:Conselheiro R:Conselheiro R:Julio de
Pazzi Belisário, 11 Belisário, 11 Belizário, 02 Castilhos
Therezinha do * * R:Frederico R:Tabatinguera, 53 R:Tabatinguera, 53 R: Bonita, 20 R: Bonita, 8. R:Lopes Trovão
Menino Jesus Alvarenga 2C
São João da Cruz * * R: Vergueiro, 405 R: Vergueiro, 405 R: Vergueiro, 405 R: Vergueiro, 405 R: Dona
Ebenácea, 1A
São Luiz Gonzaga * * R: Ruy Barbosa, R: Ruy Barbosa, 120 R: Ruy Barbosa, R: Ruy Barbosa, R: Ruy Barbosa, R: Ruy Barbosa
120 120 120 120
Nossa Senhora do * * R: Augusta, 473 N/consta endereço R: São Caetano, 48. R: Amélia, 12 R: Amélia, 12

29
Fechada por falta de matrícula
30
Fechada por falta de sala

128
Rosário
Sagrado Coração de * * R:Conselheiro Fechada
Maria Furtado, 35
São Vicente de Paulo * * R: Luiz Barreto, 60 R: Barão de
Ladário, 91
Santo Estevam * * Rua: 21 de abril, R: Joly, 31 R: Almirante R: Almirante Av. Celso Garcia,
213 Barroso, 123 Barroso, 123 171-A
São Geraldo * * R:Bresser 312 R: Bresser, 312 R: Bresser, 312

1910 1913 1914 1915 1916 1917 1918 1919


Nº de alunos 287 223 244 486 558 650 725
Nº de sócios 85 94 133 138 128 160
Nº de escolas 10 06 09 08 13* 13 14* 13*
Saldo credor 282$000 61$000 173$800 27$400 1:691$600 906$800

1920 1921 1922 1924 1925 1926 1927 1929 1936


Nº de alunos 671 1209 2452 2555 2097 1464 1475 419
Nº de sócios 177 366 350 292 303 224
Nº de escolas 15 22 21 25 21 16 16 16 8
Saldo credor 2:506$000 6:957$900 19:665$920 22:428$300 22:598$800 10:273$800

Período 1910 1922 1924 1926 1927 1929 1936


Diurno 01 13 11 10 09 10 ---------
Vespertino ------ 10 13 10 10 10 ---------
Noturno 09 21 25 16 15 16* 08
Total 10 44 49 36 34 36 08

129
Tardes da criança

“Associação feminina, fundada em São Paulo, no dia 24/10/1921 tem por fim proporcionar
espetáculos adequados às crianças abastadas, beneficiando ao mesmo tempo os pequeninos
menos favorecidos pela sorte, abrigados nas casas de caridade com séde nesta capital. Os
espetáculos realisam-se em domingos ou dias feriados, as 14:30h, pelo menos uma vez por
mez e num dos melhores theatros desta cidade. As Exmas. Sras. e cavalheiros que se
dignarem inscrever-se como sócios, deverão contribuir com a mensalidade de 10$000,
adquirindo direito a 4 logares”.

1º Programma: 25/12/1921 no Theatro Municipal.

I Parte
• O Sacy-Pererê
• A arvore do Natal
• Surprezas! Os peixotinhos

Intervalo

II Parte
• O sonho de bébé (Orchestra)
• Sorteio da casa de crianças pobres que deverá ser beneficiada no próximo
espetáculo.
• Francisco Braga – Brasil! Marcha Solemne
• Alexandre Levy: Samba
• Hymno Nacional

7º Programma: em beneficio das Escolas Populares

Comemoração do 1º Centenário da Independência do Brasil


Domingo, 07 de setembro de 1922, no Cine–Theatro–República.

I Parte
• Actualidades – Fox – Jornal
• O mundo em revez, por duas santinhas...Fox-Film

II Parte
• Joãosinho o empresário, por um grupo de meninos dirigidos por Synesio Bastos,
que fará o papel de Joãosinho.
• Surprezas pelo Cardosito
• Sorteio, novo concurso!

Intervalo

III Parte
• Glória ao Brasil! Representação Patriótica

131
“Está definidamente marcado para o 3º domingo de setembro o 7º espetáculo desta
benemérita associação em beneficio das ‘Escolas Populares’.
Esta festa patriótica que promete ser um verdadeiro sucesso, realiza-se sob os auspícios das
melhores famílias paulistas, que se interessam pela instrução de crianças pobres da nossa
capital. (...) haverá um sorteio de 04 ricos prêmios e que mais de 50 meninos e meninas
tomarão parte activa nesta festa, satisfeitos em poder ser úteis aos seus irmãozinhos menos
favorecidos pela sorte”

“Realisou-se domingo ultimo, no Cine República, o 7º espetáculo da ‘Tarde da Criança’,


em beneficio das Escolas Populares. O vasto salão do theatro achava-se completamente
cheio, tendo sido calorosamente applaudidos todos quantos tomaram parte no espetáculo”

“O 7º espectáculo desta benemérita associação, assim como os anteriores, que têm


proporcionado horas de intenso e honesto divertimento à nossa petizada, rendeu a quantia
de 4:390$000. deduzidas as despezas feitas com: aluguel do Cine-Republica 1:800$000;
prêmios para os sorteios: 31$000; presentes para os artistas 170$000; typografia 101$000;
porcentagem ao cobrador 351$000; e pequenas despezas 44$000 – num total de 2:497$700
– foi entregue a importância de 1:800$000 a Exma. Sra. D. Anna Camargo Barros,
presidente das Escolas Populares, ficando em caixa a insignificante quantia de 92$300.
Com relação a esse donativo, recebeu a senhora diretora d´A tarde da criança o officio
seguinte:
‘A diretoria da Associação de ‘Escolas Populares’ vem de receber o valioso auxilio que lhe
foi proporcionado por um brilhante festival promovido pela generosa e útil associação A
Tarde da Criança. É assim que a criança feliz e abastada transmite o seu óbulo, pelas mãos
benéficas da Exma. Presidente desta Associação, às suas irmãzinhas desherdadas e aos
pobres operários que vão beber a luz do Evangelho e da Instrucção nas humildes Escolas
Populares, nos poucos momentos de repouso após a ditadura e fatigante labuta. Que Deus
abençôe ‘A Tarde da Criança’, derramando graças abundantes sobre os membros de sua
directoria e todos os seus sócios, são os votos que a nossa gratidão aqui vos manda
expressar’.
Assignado: Georgina Trípoli, 2ª secretária”.

“consiste na realização de vesperaes, com programma severamente escolhido, para entreter


e estimular a intelligencia dos petizes, sem os tóxicos que lhes são propinados em doses
mínimas, porém repetidas, nas telas dos cinematographos”

“Não sabemos da existência, entre nós, de uma instituição como essa, onde, a par de
divertimentos interessantes e apropriados à infância, taes como cinematographo, theatro
infantil, concertos etc, há, sempre, uma opportunidade magnífica para se educar o espírito
irriquieto da infância. Cogita, agora, a sociedade em questão, de instituir prêmios, mediante
concursos, a livros didacticos, o que, só por si, vali por um programma definido em prol da
criança brasileira e sua instrução” (Retirado da “Revista da Semana” – jornal carioca – de
1924)

132
 são distribuídos prêmios – como brinquedos, chocolates Lacta, livros – para as crianças
que acertam as adivinhações (questões sobre a Igreja e conhecimentos gerais) do espetáculo
anterior (teatro, show, instrumentos musicais, baile, valsa, orchestra);
lançadas algumas perguntas, cujas respostas deveriam ser colocadas em uma urna;
sorteio de prêmios: as crianças ausentes perdem o prêmio, que vai para a Associação
beneficiada (asilos de crianças, maternidade, orfanatos, etc.);
festa de natal, carnaval, páscoa. Concurso sobre história da pátria, Concurso jovens
pianistas, Concurso de artistas cômicos; prêmios aos melhores alunos, que apresentam o
boletim com nota e freqüência;
no ano de 1926 deu ingressos grátis para alunos que tiveram nota máxima na escola, para
verem o concurso de jovens violonistas brasileiros;

“A tarde da criança é uma Associação beneficente, fundada em São Paulo no dia 05 de


outubro de 1921, por senhoras da sociedade paulista.
Seus fins principaes são:

1) proporcionar espectaculos e toda a sorte de divertimentos adequados às crianças;


2) Beneficiar, com o lucro líquido desses festivaes, as crianças pobres abrigadas nas casas
de caridade, com séde nesta capital;
3) Facilitar às crianças talentosas os meios para desenvolverem suas aptidões artísticas;
4) Contribuir quanto possível para o desenvolvimento da intelligencia e aperfeiçoamento do
caráter da criança brasileira.

Qualquer pessôa poderá ser sócia desta Associação, contanto que possua idoneidade moral.
Em 4 annos de existência realizou 64 festivaes (espectaculos em parques e theatros de São
Paulo; concertos musicaes; concurso de jovens pianistas e concurso de artistas cômicos)
Foram distribuídos 67:674$900 entre as casas de caridade que socorrem a infância
desvalida desta cidade, e em prêmios conferidos a artistas e crianças talentosas”

Art. 8º: realisará concurso sobre as diversas matérias e assumptos que se refiram à educação
da criança.
Fundadora da associação: Izabel de Azevedo Von Thering

Grande Festa de Páscoa, 03 de abril de 1926, no Jardim Acclimação, em beneficio das


Escolas Populares foi transferido para o dia 21 de abril por conta do mal tempo.

40º Espectaculo
I Parte
• Ingressos para divertimento: aeroplanos, balanças americanas, trapézio, passeio de
carrinho, passeio a cavallo.

II Parte
• Theatrinho no Parque

III Parte
• Gymnastica e demonstrações de escotismo

133
IV Parte
• Caça aos coelhinhos, pombos e patinhos
• Jógos de futebol, bóla e petéca.
• Balões e fogos de artifício
• Distribuição de ovo de paschoa
• Surra no Judas
• Hymno dos Escoteiros
• Hymno nacionnal

“A Tarde da Criança premiará com lindos mimos e ingressos grátis, toda a criança, até 14
annos, que, na bilheteria do theatro, apresentar seu boletim escolar com notas optimas de
comportamento e applicação”

Revista Eclesiástica Brasileira 1940, vol 02. (15/09/1940)

Secretariado Nacional de defesa da fé.


Aponta o crescimento do protestantismo no Brasil, através de: estações de radio, com
programação protestante; cruzada nacional de educação (evitar ensino da religião católica
com a contratação de professoras protestantes); Associação das Senhoras Evangélicas;
Hospital Evangélico (Rio de Janeiro, Sorocaba e Goiás); Revistas protestantes; missão de
pastores batistas em Portugal; Imprensa protestante (jornais); difusão das bíblias
evangélicas; envio de jornais e literatura protestante para as cadeias; Associação Evangélica
de Catequese dos Índios; Fundação do “Mackenzie”; bíblias em braile para o Instituto
Benjamim Constant; “Escola Dominical dos Surdos – Mudos” dirigida por um surdo
Manoel de Souza; Casa de retiros; editora protestante.

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