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Motivar os Adultos para a Aprendizagem
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motiver adultes Motiver les Adultes pour l’Apprentissage
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Motivare gli Adulti all’Apprendimento
adultos
Motivar os Adultos para a Aprendizagem - MAPA
Socrates-Grundtvig
2004-2007
Portugal (coordenação),
França, Dinamarca, Itália, Suiça
Concepção e redacção
Bernadette Morand-Aymon
Biblioteca Nacional - Catalogação na publicação
Ficha Técnica
Introdução 5
A educação não formal: o que é? 11
Valorizar a educação não formal: porquê? 17
Optimizar a educação não formal: como? 25
Animar a educação não formal: por quem? 49
Conclusão: recomendações e perspectivas 57
Sito-bibliografia 65
Anexos
Parceiros europeus 68
A equipa do projecto 70
Parceiros nacionais 71
1. Consultar: MELO, A. (2002). Guia Clubes S@bER+: Princípios e orientações. Lisboa: Agência Nacional
de Educação e Formação de Adultos. Consultar igualmente: GONÇALVES, M.T. (coord.). (2002). Da
orientação à formação de adultos: experiências europeias. Lisboa: Agência Nacional de Educação e
Formação de Adultos.
2. Consultar: BOGARD, G. (1992). Pour une éducation socialisatrice des adultes. Rapport du Conseil
de la coopération culturelle du Conseil de L’Europe, Education des adultes et mutations sociales.
Destinatários do projecto
Adultos com baixos níveis de escolarização e/ou qualificação, pessoas que
raramente beneficiam das ofertas de formação contínua mas que participam,
3. Por «agentes», entende-se as pessoas que gerem e animam as actividades de educação não formal;
os termos mais frequentemente encontrados são «animadores», «monitores», …, mais raramente
«formadores»; os perfis de qualificação são diversos: profissionais, animadores socioculturais, psicólogos,
conselheiros ou orientadores sociais; raros são os formadores de adultos. Ver adiante o capítulo
“Animar a educação não formal: Por quem?”.
Produtos
Ao longo de todo o projecto, o trabalho de terreno, os encontros locais e transna-
cionais permitiram a troca de experiências e práticas, dando origem à publicação de
dois documentos, um de síntese (Olhares Cruzados sobre a Educação Não Formal:
análise de práticas e recomendações) e outro de reflexão e apresentação detalhada
(MAPA: os percursos do projecto):
Olhares Cruzados sobre a Educação Não Formal: análise de práticas e
recomendações
O presente documento, baseado nas actividades analisadas no decurso do
projecto, apresenta uma síntese das características principais da educação
não formal, da sua riqueza, diversidade e adaptação ao público-alvo. Rico
em análises e experiências realizadas ao longo do projecto, contempla re-
comendações susceptíveis de optimizar e de valorizar as significativas po-
tencialidades – ainda muitas vezes desconhecidas – das actividades de
educação não formal aos olhos de políticos, financiadores e outros actores
envolvidos.
Propõe uma definição operacional de educação não formal, fundada na ob-
servação e análise de práticas. Expostas as suas principais características e
as razões da urgência e necessidade em valorizá-las, o documento sugere
orientações para optimizá-las, tanto ao nível das actividades como das com-
petências dos agentes responsáveis por estas actividades. Finalmente,
apresenta uma série de recomendações com vista a garantir as condições
indispensáveis para o seu desenvolvimento e reconhecimento pleno no sis-
tema educativo, tal como definido pela Comunidade Europeia no programa
Educação e formação ao longo da vida.
5. MELO, A. (2002). "L’accès des non publics à la formation", in Faciliter l’accès à la formation continue:
le projet européen S@voir+, FDEP, p. 10.
Sendo generalistas, estas definições não descrevem de forma precisa – ainda que
isso fosse possível – as fronteiras entre as práticas da educação formal e não formal,
nem os numerosos casos que surgem no campo da educação não formal2. Para ten-
tar alcançar um maior rigor, distinguimos duas abordagens distintas:
Formação estruturada mas que não conduz à certificação; muitas formações
de base para adultos incluem "cursos" desta natureza (formação artística,
Ilustração3
SOLIDÁRIOS - Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comu-
nitário – Oliveira do Bairro - Portugal
A Fundação Solidários, confrontada com a desvalorização da cultura local e a fraca
participação das mulheres nas decisões da comunidade, mobiliza a educação - com-
preendida como uma acção colectiva - como motor do desenvolvimento local.
3. Para a descrição detalhada das instituições e actividades analisadas, bem como para a metodologia
aplicada no âmbito do projecto MAPA, consulte o caderno MAPA: os percursos do projecto. As ilustrações
As ilustrações aqui apresentadas pretendem ser o reflexo e a síntese reflexiva do trabalho de inves-
tigação-acção realizado durante dois anos em cada país parceiro, bem como a nível da equipa transna-
cional, e conferem ao presente documento um aspecto de estudo de caso servindo de base para a
formulação de recomendações.
Esta actividade é típica da educação não formal: constrói-se a partir das pessoas, dos
seus saberes, necessidades e contexto próximo; permite a experimentação e o de-
senvolvimento de competências que o sistema formal de ensino não proporciona e
permite diferentes formas e ritmos de aprendizagem. É de sublinhar também o facto
de ser uma resposta a uma procura educativa difusa e cuja expressão é, na maioria
das vezes, desadequada ou pouco perceptível. Implica a interacção de vários interve-
nientes (instituições, docentes, participantes, adultos, crianças, comunidade local…)
e integra uma intenção educativa orientada para a prevenção de riscos sociais e
4. Consultar: A urgência das reformas para cumprir a estratégia de Lisboa. Educação e Formação 2010
(2006) Comissão das Comunidade Europeias. Bruxelas.
http://europa.eu.int/comm/education/policies/2010/doc/keyrec_fr.pdf. Consultar igualmente Recom-
mandation du Parlement Européen et du Conseil. sur les compétences clés pour l’éducation et la for-
mation tout au long de la vie (2005). Commission des Communautés Européennes. Bruxelles.
http://europa.eu.int/comm/education/policies/2010/doc/keyrec_fr.pdf. Consultar igualmente o caderno
MAPA: os percursos do projecto.
5. Há que esclarecer que a educação não formal dirige-se a todos os públicos, sem qualquer distinção,
e não poderia ser considerada como a forma educativa reservada a este tipo de público, uma espécie
de «educação dos pobres» (ver POIZAT, D. (2003). L'éducation non formelle. Paris: L’Harmattan): o
projecto MAPA visa a promoção desta modalidade educativa como sendo especificamente adaptada
a adultos que não tem acesso à educação formal, à formação inicial ou contínua, aos processos de
validação dos conhecimentos adquiridos.
6. Consultar: En éducation des adultes, agir sur l’expression de la demande de formation: une question
d’équité. Avis au Ministre de l’Éducation, du Loisir et du Sport. Conseil supérieur de l’éducation,
Québec, Montréal, avril 2006. http://www.cse.gouv.cq.ca. (versão integral).
7. «Apprendre, c’est produire du sens». MEZIROW, J. (2001). Penser son expérience. Lyon: Chronique
sociale.
8. MlEKUZ, G. (2003). L’éducation non formelle, un territoire éducatif, des modes d’apprentissage
à valoriser pour développer l’éducation et la formation tout au long de la vie. Lille: CUEEP - Université
de Lille, p. 119.
Efeitos a destacar
1. Aprendizagens reais
Tendo em conta o calendário europeu Educação e Formação 2010 e os desafios
educativos e sociais, urge reconhecer e valorizar as actividades de educação não
formal, já que estas dão lugar a processos educativos identificáveis, findos os quais
os participantes
reforçam o sentimento de pertença ao grupo, de interdependência dos mem-
bros do grupo e de pertença social;
manifestam sentimentos de segurança, confiança; as capacidades desen-
volvidas valorizam a imagem de si próprio; o aprendido torna-se adquirido,
constituindo-se como parte da sua identidade;
tomam consciência do que estão a aprender e como aprendem;
identificam a possibilidade de transferir, ou seja, utilizar em contextos
diferentes, o que aprenderam.
Constata-se que o grau de satisfação dos participantes nas actividades de educação
não formal é muito elevado. Mencionam, em particular, a oportunidade de «aprender
mais»2, por um lado, porque as actividades lhes agradam, por outro, porque as
aprendizagens realizadas têm utilidade na sua vida quotidiana, pessoal e social.
As observações efectuadas durante cerca de dois anos nas instituições parceiras
do projecto MAPA permitem afirmar que as actividades de educação não formal
proporcionam aos adultos a realização de aprendizagens, ao nível de atitudes ou
2. As citações dos formandos e agentes são retiradas das entrevistas e da investigação-acção realizadas
no âmbito do projecto MAPA. Para mais informações, consulte o caderno MAPA: os percursos do pro-
jecto.
4. SCHWARTZ, B. (1994). Moderniser sans exclure. Paris: La Découverte. Consulte também Revista
POUR. Construire une pensée collective pour l’action, n°189, mars 2006.
http://www.grep.fr/pour/numeros/pour189.htm
Valorizar a educação não formal não é tanto explicar o que é – uma verdadeira mina
de produção de saberes – mas antes esclarecer a sua filosofia de base, alimentar a
fórmula: “Tornar a razão popular”, de acordo com a «prossecução do grande sonho
democrático, igualitário e educativo de Condorcet, (que) no primeiro ano da
República francesa, concebeu (…) um projecto de educação do povo que não se
limitava à escola e que englobava a arte de instruir-se a si próprio em todas as
idades da vida, numa sociedade onde a informação continuava a formação e fomen-
tava a autoformação permanente, colectiva e individual – como diríamos hoje»6.
9. As práticas nesta matéria diferem de país para país. Por exemplo, em França, a gratuitidade é cor-
rente; nem sempre é este o caso na Suíça. Podemos interrogarmo-nos sobre a pertinência dos cus-
tos de inscrição junto de públicos com tão parcos rendimentos. Para os apoiantes de uma tal prática,
o pagamento, ainda que simbólico, manifesta uma escolha dos participantes e demonstra uma postura
voluntária: este gesto encerra a prova de um compromisso da pessoa, gesto tão mais importante
quando esta depende da assistência pública para suprir as suas próprias necessidades; esta situação
tantas vezes uma bem fraca margem de manobra nas escolhas a efectuar para cobrir as necessi-
dades básicas. Aceder à formação a baixo custo, e sem ter de prestar contas, reforça a auto-
estima e a dignidade da pessoa. De notar ainda que a educação não formal proporciona também
um acesso facilitado à formação: os custos de inscrição, muitas vezes simbólicos, permitem que as
pessoas de baixo rendimento possam aceder à aprendizagem.
10. ”Competências-chave”…, op. cit, p. 2.
Ilustração
Centro de Plyssen – Copenhaga, Dinamarca
O Centro Plyssen é uma instituição municipal que trabalha no âmbito da inserção no
mercado de trabalho das pessoas tributárias de ajuda social. Estas reúnem-se todos
os dias da semana em Plyssen, no mínimo durante seis semanas, para, por um lado,
participar nas actividades propostas e, por outro, procurar, com a ajuda de consul-
tores, um posto de trabalho. O «programa de ocupação» tem como objectivo ajudar
os indivíduos a (re) encontrarem um emprego ou seguirem uma formação susceptível
de facilitar o regresso ao emprego. À semelhança de vários centros deste tipo,
Plyssen concentra os seus esforços na autonomia e empregabilidade dos indivíduos.
Ilustrações
CUEEP de Tourcoing – Lille, França
O Institut de Formation Continue de Université des Sciences et Technologies de Lille
– Centre Économie d’Éducation Permanente - CUEEP intervém a vários níveis de for-
mação. Propõe «dispositivos globais de actualização que permitem uma progressão
contínua cobrindo todos os níveis de formação», tanto no ensino geral como no
ensino profissional.
Refira-se que, por um lado, as listas de espera para os ateliers propostos são, nor-
malmente, impressionantes e, por outro, a taxa de absentismo nestes mesmos ate-
liers é, de forma geral, bastante inferior à dos cursos.
Que outros indicadores mais credíveis haverá para comprovar a motivação para
aprender por parte dos públicos não escolarizados?
Existem, com efeito, diversas formas de articular a educação formal e a educação
não formal. Todas contribuem para um reforço recíproco e são, por conseguinte,
aconselháveis.
Assim, por exemplo, a preparação profissional no atelier (estágio) ilustra uma outra
iniciativa de articulação entre o curso formal e o atelier não formal, favorecendo o
acesso a actividades ou empregos nos quais as competências adquiridas, no âmbito
da actividade da educação não formal, serão valorizadas e desenvolvidas.
Ilustração
Cooperativa Social Cassiopea – Trieste, Itália
Fundada em 2001, em Trieste, a Cassiopea passou a ser uma cooperativa social em
2004. No panorama do teatro italiano submerso em companhias, a Cooperativa pre-
tende promover um teatro da terra, um teatro cujo único objectivo é difundir os
conhecimentos individuais postos ao serviço dos outros.
A Cooperativa oferece cursos profissionais (300 a 400 horas) para actores e figurinistas.
Entre os seus colaboradores, conta com profissionais experimentados ao nível
nacional e europeu. Implica os aprendentes na organização e produção dos espec-
táculos. A formação já deu lugar à produção de dois espectáculos que efectuaram di-
gressões por todo o país.
10. Consultar o caderno MAPA: os percursos do projecto: Formazione (ECAP, Berne, Suisse), actividade:
Teatro
Competência-chave 1: Comunicação na língua materna:
«A comunicação na língua materna é a faculdade de expressar pensamentos, sentimentos e factos
sob a forma tanto oral como escrita (ouvir, falar, ler e escrever) e de ter interacções linguísticas
adequadas em todas as situações da vida social e cultural, na educação e formação, no trabalho na
vida privada e durante os tempos livres.
(…) Uma atitude positiva face à comunicação na língua materna requer um espírito aberto ao diálogo
construtivo e crítico, um gosto pelas qualidades estéticas, uma vontade de as procurar e um interesse
pela comunicação intercultural». “Competências-chave”..., op. cit, p. 16.
Ilustração
Ishøj Sprog- og Integrationscenter (ISI) – Ishøj, Dinamarca
(Centro de Línguas e de Integração)
A missão confiada ao Centro de Línguas e de Integração, de Ishøj, é ensinar aos es-
trangeiros a língua e a cultura dinamarquesas. O ensino é formal, o programa é fixado
por lei: o conteúdo está definido e os exames finais são administrados pelo Estado.
Tendo a cargo a integração dos estrangeiros na sociedade dinamarquesa, o Centro
recorre a actividades de educação não formal, sob a forma de projectos específicos
financiados por fundos privados. O Centro ISI privilegia, assim, a interacção constante
entre estas duas formas de aprendizagem que exercem entre si uma acção recíproca
e muito fecunda.
Estes princípios essenciais das actividades de educação não formal podem ser re-
sumidos deste modo:
«Uma educação de proximidade, situada próxima das práticas, da ex-
periência e das necessidades de cada um, acessível ao maior número de
pessoas, com objectivos e metodologias adaptados à diversidade cultural
dos seus actores;
uma educação polivalente e, simultaneamente geral, cultural e profis-
sional, que reforça as competências sociais e técnicas garantindo a as-
sumpção dos direitos e deveres de cidadão, uma boa inserção social e um
emprego qualificado;
uma educação participativa, inscrita numa gestão da formação impli-
cando formandos e formadores e privilegiando a auto-formação individual
e colectiva»13.
16. Daí a importância das redes e colaborações globais: educação, formação, saúde, social, emprego.
Ilustração
FORMAJUDA – Lisboa, Portugal
FormAjuda é um gabinete de formação e projectos, cuja actividade principal é a for-
mação no âmbito da qualificação inicial, da reconversão, da actualização e do desen-
volvimento de competências. A sua intervenção privilegia empresas, câmaras,
instituições de solidariedade social e organizações não governamentais, no que con-
cerne ao apoio à integração socio-profissional, à reconversão das pessoas sem em-
prego e à formação inicial e contínua de desempregados. Em parceria com estas
instituições, são realizadas muitas e variadas acções de formação destinadas a públi-
cos socialmente desfavorecidos, nomeadamente as que desenvolvem áreas educati-
vas transversais, como, por exemplo, a educação para a saúde, o ambiente, a
sensibilização para os problemas do comércio justo, etc.
17. A dimensão do colectivo, já aqui destacada, é essencial: representa um critério fundamental que,
pelo menos, permite criar a cidadania. Merece, por isso, constar a título de recomendação.
19. Em educação de adultos, agir sobre a expressão da procura…, op. cit., p. 19.
20. Consultar o caderno MAPA: os percursos do projecto.
Ilustração
Kofoeds Skole – Ishøj Copenhaga, Dinamarca
A Escola de Kofoed é uma instituição privada, subsidiada pelos sectores privado e
público, nomeadamente por centros sociais locais que financiam os programas de
ocupação dos beneficiários da ajuda social, na óptica de uma eventual reinserção
profissional. Os «alunos» são pessoas marginalizadas, que muitas vezes acumulam
problemas, como o desemprego (a maioria não trabalha há mais de dez anos).
Contudo, mais do que um simples centro de reinserção, a Kofoeds Skole é uma antiga
instituição de Copenhaga que se caracteriza pela aliança, num único conceito, de es-
cola e de trabalho social. Os adultos são acolhidos com a sua problemática global e sin-
gular, e as actividades propostas visam reforçar o ser (auto-confiança, solidariedade,
dignidade e sentido) e o fazer (saber, saber-fazer).
O exemplo dado pela Kofoeds Skole é notável: descodifica-se, para usar uma lin-
guagem de formador, uma «engenharia educativa» (identificação das competências
a adquirir, organização do dispositivo, reconhecimento e validação das competên-
cias), que é uma das prioridades da União Europeia.
Contudo, os agentes da escola de Kofoed não estão plenamente satisfeitos com o
instrumento que os próprios elaboraram sob a alçada do Instituto de Emprego, por
seu lado, sujeito à pressão dos empregadores. Aos olhos dos agentes é uma ferra-
menta de normalização do diálogo entre uma instituição educativa e a administração,
o que consideram redutor e inadaptado21.
22. Memorando..., op. cit., p. 18. Consultar o modelo de avaliação do programa de formação de
KIRKPATRICK, D. L. (1994). Evaluating training programs. San Francisco: Berret Koehler Publishers.
Para mais informações: http://www.tbs-sct.gc.ca/eval/pubs/eet-efcs/eet-efcs_f.asp
Quem são os agentes de educação não formal? Sobre que tipos de competências se
constroem as actividades de educação não formal?
Psicólogos, conselheiros sociais, educadores de rua, animadores sociais, professores
ou outros profissionais, artesãos ou artistas, e muitos voluntários: raros são os
agentes de educação não formal formados para as especificidades da educação de
adultos. Muitas vezes, peritos em técnicas de animação, de acompanhamento so-
ciopsicológico, têm em comum um largo espectro de competências relacionais e so-
ciais (empatia, escuta, conselho, entusiasmo, …) e um reservatório inesgotável de
boa vontade e perseverança, ao serviço dos mais desfavorecidos e de projectos de
sociedade (economia social e solidária, comércio justo, actividades socialmente re-
conhecidas,…). Experimentados, sabem conceber acções, dispositivos, programas e
políticas com um forte teor de integração – seja na sociedade em geral, na sociedade
de acolhimento ou no mercado de trabalho… - de desenvolvimento local, de pre-
venção de todos os géneros (saúde comunitária, ambiente…). Conhecem o objectivo
a prosseguir. Mas têm dificuldade em enunciar a intenção educativa e resistem, mais
ou menos conscientemente, a nomear as competências a atingir.
Todos os parceiros do projecto destacam a mesma dificuldade: precisar, formular a
intenção educativa é um exercício difícil; mais delicado, ainda, é descrever o processo
de aprendizagem concebido para permitir a aquisição destas competências, por
outras palavras, descodificar o não formal.
É importante instituir, tanto para os agentes como para as instituições, uma cultura
de prática reflexiva sobre as dimensões educativas da actividade. Se a dimensão re-
flexiva sobre as práticas de educação não formal não for acompanhada, pelo menos,
por um enquadramento qualificado, os riscos de disfunção aumentam, os objectivos
podem perder-se e a avaliação das competências fica mais comprometida: o objec-
tivo de valorizar a educação não formal tornar-se-á ilusório.
Quando se fala de educação não formal, fala-se de competências educativas do
agente. Por competências educativas entendemos: as competências pedagógicas
(ou “andragógicas”) relacionadas com a função de animação da formação, as com-
petências de engenharia relacionadas com a função de organização da formação, as
competências de gestão relacionadas com a função da direcção da formação1.
do grau de consciência das aprendizagens realizadas por parte dos par-
ticipantes da actividade.
4. Para as competências e funções do formador de adultos, consultar STROUMZA, J., op. cit, p. 12.
o antes
a análise da actividade: quem são as pessoas que vêm (conhecer o público),
a análise da tarefa em relação aos participantes, quais as dificuldades que
podem advir, como organizar o encadeamento das actividades (programação,
escrita ou não), a escolha das estratégias para que os participantes apren-
dam de uma forma ou de outra, conhecer as potencialidades da actividade,
a escolha dos meios de observação e de avaliação…
o durante
a implementação: como formular as regras, fazer o ponto da situação, como
assegurar o acompanhamento, adaptar o que está previsto à diversidade
dos públicos, ser capaz de medir a progressão dos participantes na intenção
educativa desejada…
e o depois
a avaliação: qual o olhar sobre o que foi feito, qual a racionalização (e não
formalização, nem normalização) a proceder com vista à melhoria, qual a
validação concedida à aquisição de competências…
O processo – tal como foi experimentado pelo parceiro suíço, visando a optimização
da qualidade educativa da actividade – poderá ser o objecto de um módulo espe-
cializado da formação de formadores.
Neste caso, seria conveniente partir da intenção educativa, tal como explicitamente
formulada pela instituição e pelos agentes, clarificar os respectivos objectivos educa-
tivos (gerais e específicos) e as competências em jogo. Em seguida, analisar os
processos mobilizados para a apropriação das competências visadas. Finalmente,
conceber as medidas específicas da avaliação do cumprimento dos objectivos bem
como a implementação de um procedimento de validação das competências adquiri-
das. Tudo isto, como é óbvio, sem pôr em perigo a natureza não formal da actividade
analisada!
É claro que, como em todos os sectores profissionais, as competências dos agentes
precisam de actualizações regulares através de estágios ou formação contínua em
temas específicos, podendo ser reforçadas por actividades de supervisão de colegas
e de coaching individual por profissionais.
Este trabalho, realizado em contexto de formação, animado por profissionais experi-
mentados, permitirá clarificar o perfil de competências próprias do formador que
actua num contexto de educação não formal.
A investigação-acção realizada evidência uma necessidade real nesta matéria.
Reforçar as competências educativas dos agentes deverá contribuir para valorizar e
clarificar a dimensão educativa da actividade e, assim, permitir a sua optimização.
Deste modo, isto deverá permitir a medição, e até a validação da progressão ou da
aquisição das competências adquiridas pelos participantes, no final da actividade. Tal
deverá contribuir para valorizar, sobretudo junto dos financiadores, a educação não
formal.
«O ensino enquanto missão profissional está confrontado com mudanças decisivas
nas próximas décadas: professores e formadores tornam-se guias, mentores e
mediadores. O seu papel – que assume uma importância crucial – consiste em
ajudar e apoiar os aprendentes que, na medida do possível, gerem a sua própria
aprendizagem. A capacidade e a confiança para desenvolver e pôr em prática métodos
Divulgar a experiência
Deve ser dada uma atenção particular à divulgação da dimensão educativa ligada às
actividades de educação não formal junto das pessoas que colaboram com as insti-
tuições envolvidas, nomeadamente membros de comités, conselhos de fundação,
responsáveis políticos e financiadores. Com efeito, estes últimos estão pouco ha-
bituados a contactar com modalidades educativas, usualmente não identificadas en-
quanto tal, como é o caso da educação não formal.
2. En éducation des adultes, agir sur l’expression de la demande de formation... op. cit., p. 52.
3. Consultar: GRAZIER, B. (2003). Tous «sublimes », Vers un nouveau plein-emploi. Paris: Flammarion.
4. Consultar: http://www.benevoles.ca/ressources
Au-delà du discours: politiques et pratiques de formation des adultes (2003). Paris: OCDE.
http://www.SourceOCDE.org
http://213.253.134.29/oecd/pdfs/browseit/9103012E.PDF
Europe looks for progress on non-formal learning (sem data). sítio do CEDEFOP.
http://www.trainingvillage.gr/etv/Projects_networks/nonformal/
BOGARD, G. (1992). Pour une éducation socialisatrice des adultes. Rapport du Conseil
de la coopération culturelle du Conseil de l’Europe. Education des adultes et muta-
tions sociales. Strasbourg: Conseil de l’Europe.
MELO, A. (2002). "L’accès des non publics à la formation", in Faciliter l’accès à la for-
mation continue: le projet européen S@voir+, Actes du colloque de la FDEP. Genève:
Fondation pour le Développement de l’Education Permanente.
MELO, A. (2002). Guia Clubes S@bER+: Princípios e orientações. Lisboa: Agência Na-
cional de Educação e Formação de Adultos.
MLEKUZ, G. (2003). L’éducation non formelle, un territoire éducatif, des modes d’ap-
prentissages à valoriser pour développer l’éducation et la formation tout au long de
la vie (vol.1). Le seul métier durable au XXIème siècle: apprendre (vol.2). Lille:
CUEEP - Université de Lille.
POIZAT, D. (2005). “Quel libéralisme assumer dans la diversification des formes d’é-
ducation?”, in Les formes de l'éducation: variété et variations. Bruxelles: De Boeck.
Parceiros europeus
Coordenador
Ministério da Educação
Direcção-Geral de Formação Vocacional - DGFV
Av. 24 de Julho, n.º 138
1399-026 Lisboa – Portugal
Tel. + 351 21 394 37 00
Fax + 351 21 394 37 99
E-mail: dgfv@dgfv.min-edu.pt
http://www.dgfv.min-edu.pt
Parceiros
Centre Université - Economie d’Education
Permanente - CUEEP
Université des Sciences et Technologies de Lille – USTL
11, rue Auguste Angellier
59046 Lille Cedex France
Tel. + 33 (0) 3 20 58 11 11
Fax + 33 (0) 3 20 58 11 10
E-mail : directeur-cueep@univ-lille1.fr
http://www.cueep.univ-lille1.fr
em colaboração com:
Istituto di formazione professionale, di formazione
permanente e di ricerca - ECAP
Via Industria
6814 Lamone
Tel. + 41 91 604 20 30
E-mail: infoti@ecap.ch
http://www.ecap.ch
Consultora do projecto
. Bernadette Morand-Aymon
Portugal
Caritas Diocesana de Coimbra - Centro Comunitário de Inserção: Cláudia Dias, Au-
gusta Marques
Formajuda - Gabinete de Formação e de Projectos da Ajuda: Maria Glória Castro
Pinto, Cristina Fernandes Cabral
Município de Constância - Clube S@bER+: Júlia Maria Lopes de Amorim, Luís Filipe
Correia Dias, Maria Isabel Cartaxo
Solidários – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário: Vilma
Silva, Oriana Brás, Luísa Pinhal
Consultor do projecto: António Inácio Correia Nogueira
Dinamarca
ISI: Lone Kjaer
Plyssen: Hanne Pedersen
Kofoeds Skole: Ole Larsson, Jeannette Kjarumgaard
Consultora do projecto: Marianne Bertelsen
Itália
Coopérative sociale CASSIOPEA: Barbara Della Polla, Sabina de Tommasi, Rossella
Truccolo, Susanna Steffè
Consultora do projecto: Dolores Grando
França
CUEEP de Tourcoing : Patrick Pécheux, Géraldine Besson, Nathalie Pensart, Marie
Manna
Suíça
Zone Bleue: Bluette Meister, Dany Zoller
Université Ouvrière de Genève: Sophie Frezza
Réalise: Ariane Sigg, Alain Girardin
Camarada: Frédérique Dekkers, Léa Soubeiran, Carole Breukel, Anais Loutan
Opera Prima: Paola Quadri, Tatiana Lurati, Tesmiha Fazlic
Formazione (Bern): Nathalie Benoît