Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Medidas Provisórias
I. INTRODUÇÃO
1
Última atualização: maio/2004.
2
Mestre em direito econômico pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Especialista em direito
fiscal e tributário pela Universidade Cândido Mendes (UCAM/RJ). Juiz federal na Paraíba. Professor do
Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ/PB).
2
Tal caótica situação, de fato, não ocorre. E não ocorre exatamente porque a
Sociedade, de forma coletiva, estabelece abstratamente soluções para os conflitos
mais comuns que se verificam no seio da comunidade. Tais soluções, consolidadas,
assumem a feição de modelos de conduta imponíveis pela Sociedade que,
interessada em sua própria sobrevivência, estabelece formas de imposição de tais
modelos de conduta aos seus integrantes, agindo executiva e coativamente no
sentido de dar efetividade às regras anteriormente traçadas pela própria Sociedade.
Uma vez que a Norma Fundamental é estabelecida pela Sociedade num ato
de soberano poder político (através de uma Assembléia Nacional Constituinte), a qual
constitui os chamados Poderes do Estado que, por tal motivo, são chamados Poderes
Constituídos (em contraposição ao Poder Constituinte), e sendo as demais normas
fruto de tal Poder Constituído, teríamos a inevitável incongruência de que o Poder
Constituído sobrepujasse o Poder Constituinte se fosse permitido ao produto legislado
contrariar e suprimir disposições estabelecidas na citada norma fundante. Sendo
assim, todas as normas jurídicas de hierarquia inferior buscam seu fundamento de
5
Mas o acervo normativo do Estado não se finda apenas nestes dois degraus.
Outras, mais particularizantes, poderão surgir a partir dos mesmos ou de outros
órgãos legiferantes, as quais deverão obediência lógica e haverão de ter
compatibilidade com as normas superiores (em que buscam seu fundamento de
validade) e, em última escala, com a Norma Fundamental. A pirâmide normativa
acima traçada apresenta tal Norma Fundamental (dita Constituição) no ápice, e os
mais singelos atos administrativos de efeitos normativos (ou não) na sua base.
que os atos normativos expedidos por cada uma das Casas do Poder Legislativo
Federal, ou pelo Congresso Nacional, sobre as matérias enumeradas na Constituição
como de sua competência (quer exclusiva, quer privativa), terão a forma de resolução
(caso destinadas à produção de efeitos internos) ou de decreto legislativo (se os
efeitos a serem produzidos forem externos, embora se verifique na Constituição a
previsão de resoluções com efeitos externos).
qualquer ato normativo, mas um ato com força ou poder normativo suficiente para
promover tal revogação. Assim, o decreto não revoga a lei ordinária, nem esta altera o
texto constitucional, por motivos óbvios. Via de regra, a lei ordinária é revogada por
outra lei ordinária, o mesmo ocorrendo com a lei complementar, que é revogada ou
alterada por outra semelhante. Estando todos os diplomas legais do artigo 59 da
Constituição em igualdade de hierarquia e, adotando-se a tese da fungibilidade
limitada ou relativa, temos que a lei ordinária poderá ser revogada por uma lei
delegada ou por medida provisória, e vice-versa, dependendo da matéria, do
preenchimento de requisitos, bem como das condições de fato justificadoras da
medida provisória. Havendo uma limitada fungibilidade entre estes três modelos,
pode-se afirmar que, portanto, em seus exatos limites, um modelo normativo revoga
outro, extirpando-o definitivamente do mundo jurídico, desde que expressamente o
declare, seja com ele incompatível ou regule totalmente a mesma matéria (LICC),
podendo haver sua ab-rogação (toda a lei) ou simples derrogação (parte da lei).
Consideremos que um dado tributo tenha sido instituído por lei ordinária e,
agora, o Poder Legislativo respectivo proceda a sua reformulação completa através
de lei complementar, ab-rogando a antiga lei ordinária instituidora do tributo. Diga-se
logo que tal tributo encontra disposição constitucional que aponta sua instituição
através de simples lei, não fazendo menção a lei complementar. Pergunta-se: poderá
agir assim o Legislativo? Será válida tal lei em todos os seus termos? Produzirá tal lei
complementar todos os seus efeitos e consectários advindos de sua natureza e
forma?
apenas através de lei ordinária se poderão conceder isenções a tal tributo. A adoção
da lei complementar e seus consectários viria, assim, exigir indevidamente uma nova
lei complementar (muito mais difícil de ser aprovada que a lei ordinária) para a
concessão de insenções, o que implica em restrição inconstitucional de direitos
constitucionais, uma vez que o particular tem direito ao procedimento legislativo
constitucionalmente traçado para auferir as vantagens das isenções. Se a
Constituição Federal afirma que um certo tributo poderá ser instituído por lei ordinária,
ela garante a todos o direito de ser isentos de tal tributo através de lei ordinária.
E se o Poder Público, deliberadamente, exigir lei complementar para a outorga de
isenções (que a Carta Federal já havia garantido através de lei ordinária), estar-se-á
diante de uma restrição inconstitucional de direitos por ato dos Poderes Constituídos.
Não se diga que o particular não tem direito a isenção, mas mera expectativa
ou, até mesmo, apenas o interesse. Não se quer significar que o particular tem direito
constitucional assegurado à isenção mesma, mas que tem direito a ver sua eventual
isenção gozar da possibilidade de ser outorgada por um processo legislativo mais
fácil. Não há dúvidas de que a exigência de um procedimento mais dificultoso do que
o constitucionalmente estabelecido para a concessão de isenções configura restrição
a direito, pois afasta ainda mais a possibilidade da isenção tributária ou da extinção do
próprio tributo. A fungibilidade normativa, aqui, esbarra na parede dos Direitos e
Garantias Fundamentais dispersos na Constituição Federal. A adoção do modelo
legislativo mais gravoso para a instituição do tributo terá apenas o condão de colocar
tal regulamentação a cargo de uma lei formalmente complementar, mas será sempre
materialmente ordinária. E sendo a natureza material do dispositivo a real
determinante do modelo normativo a ser usado para sua revogação, concluímos que a
lei ordinária poderá revogar a lei complementar quando esteja esta regulando um
tributo constitucionalmente conferido ao disciplinamento por parte daquela.
Cumpre reiterar, aqui, que é a própria Constituição Federal quem define quais
as espécies normativas existentes no ordenamento jurídico brasileiro, as quais, como
se frisou linhas acima, buscam seu fundamento de validade diretamente no texto
constitucional. Tais espécies normativas são elencadas pelo artigo 59 da Carta
Magna: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas,
medidas provisórias, decretos legislativos e as resoluções. Relembre-se o que
20
dissemos acima quanto à inexistente hierarquia entre as espécies normativas entre si,
bem como quanto à posição destas em face da Constituição.
Municipais. Assim, pode-se afirmar que, quanto a tais normas, existe simetria
entre as esferas estatais, aplicando-se o mencionado princípio da simetria
constitucional para estender, aos Estados-membros e Municípios, norma apenas
aparentemente destinada à União Federal.
expedição de medidas provisórias, ficando afastada tal possibilidade por parte dos
Chefes dos Executivos Estaduais e Municipais.
O artigo 66 assim dispõe, em seu caput: “A Casa na qual tenha sido concluída
a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o
sancionará. E seu parágrafo único dispõe que “se o Presidente da República
considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse
público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da
data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do
Senado Federal os motivos do veto”. Indaga-se: onde está a norma constitucional
federal que atribui aos Governadores de Estado e Prefeitos Municipais o poder para
sanção e veto de leis? Será que a inexistência de norma expressa na Constituição
Federal implica dizer que tal poder foi conferido exclusivamente ao Presidente da
26
República? Obviamente que não, pois, sendo o artigo 66 típica norma de caráter
federal, apenas à esfera da União Federal se dirige e, assim, somente à figura do
Presidente da República poderá se referir. Novamente a Constituição Federal, através
de norma de caráter federal, estabelece disposição cujo fundamento normativo
haverá de ser incluído, obrigatoriamente, nos textos organizacionais estaduais e
municipais (CE’s e LOM’s).
Indo mais adiante, afirmamos que, não havendo a tão bradada exclusividade,
prevalece a natureza federal da norma do artigo 62 da Constituição e, assim, valem
aqui os princípios da autonomia dos entes estatais e da simetria constitucional, donde
se concluir constitucionalmente permitida a inclusão da medida provisória como
espécie normativa facultada aos Governadores dos Estados e aos Prefeitos
Municipais, desde que assim prevejam as respectivas Constituições Estaduais e Leis
Orgânicas Municipais. Cai por terra, assim, o argumento daqueles que defendem a
exclusividade da medida provisória para o Presidente da República.
VII. CONCLUSÃO
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10.ª edição. Malheiros Editores. São Paulo.
1996.
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 3.ª edição. Saraiva. São Paulo. 1999.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 9.ª edição. Saraiva. São
Paulo. 1997.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 1. 14.ª Edição. Saraiva.
1998.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 19.ª edição. Saraiva. São Paulo. 1995.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 8.ª edição. Malheiros Editores.
São Paulo. 1996.
MIRABETTE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 7.ª edição. Atlas. São Paulo. 1997.
MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 6.ª edição. Atlas. São Paulo. 1999.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 10.ª edição.
Malheiros Editores. São Paulo. 1995.