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Processo n. 2003.82.00.002880-0
S E N T E N Ç A1
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Sentença tipo D, cf. Res. CJF n. 535/2006.
ROGÉRIO ROBERTO GONÇALVES DE ABREU
Juiz Federal Substituto
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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DA PARAÍBA
2.ª VARA FEDERAL
RELATÓRIO
Em razão disso, o MPF informou novo endereço de Waldir Tenório Júnior para
citação e requereu a decretação da revelia de Francisco Alves Gondim Neto, nomeando-se-lhe
defensor (fls. 715/716), tendo sido acolhido o pedido, nomeando-se como sua defensora a Dra.
Taciana Meira Barreto.
Defesa prévia de Francisco Alves Gondim Neto (fl. 762), declarando não
concordar com os termos da denúncia, reservando-se o direito de contestar no curso da
instrução.
Defesa prévia de Waldir Tenório Júnior (fls. 771/772), alegando não serem
verdadeiras as acusações formuladas contra si, uma vez que não teria falsificado qualquer
documento público ou privado.
b) Francisco Alves Gondim Neto (fls. 972/974) alegou não ter ficado
demonstrado que participou da falsificação dos documentos utilizados, nem tampouco que
houvesse dolo em sua conduta, pugnando pelo julgamento de improcedência do pedido.
c) Waldir Tenório Júnior alegou (fls. 1015/1021) que em momento algum ficou
provado que haja colaborado para a falsificação, nem que tenha obtido qualquer vantagem
patrimonial, pedindo, ao final, o julgamento de improcedência do pedido.
Brevemente relatados.
DECIDO.
FUNDAMENTAÇÃO
estariam em nome do segundo acusado, de nome Waldir Tenório Júnior, que teria sido
aprovado no vestibular de medicina na UFPB utilizando-se do referido esquema.
Francisco Alves Gondim Neto e Waldir Tenório Júnior foram acusados pelo
Ministério Público Federal da prática de fraude ao vestibular da Universidade Federal da
Paraíba, tendo o “dublê” se submetido à realização dos exames portando documentos
falsificados. A falsificação é atribuída ao próprio Francisco Alves, que teria tido a colaboração
de Waldir Júnior, o qual lhe teria fornecido os dados e documentos para a falsificação.
Nessa ocasião, Waldir Tenório Júnior forneceu material para exame grafotécnico
(fls. 193/195), além de uma fotografia sua (196).
Novamente chamado pela autoridade policial, dessa vez para ser interrogado,
declarou Waldir Tenório Júnior que ratificava o conteúdo do termo de declarações anterior e
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que somente acrescentaria qualquer informação em juízo (fls. 605/606). Também interrogado,
Francisco Alves Gondim Neto se reservou o direito de permanecer calado (fls. 614/615).
Ainda em seu interrogatório judicial, Waldir Tenório Júnior afirmou que foi Paulo
quem lhe disse que o valor do “serviço” seria de R$ 8.500,00 (oito mil e quinhentos reais) e
que, para segurança de ambos, uma conta conjunta seria aberta para depósito do dinheiro, de
modo que apenas por ambos o dinheiro poderia ser sacado. Por fim, afirmou que seu contato
era com Paulo, sendo Francisco Alves apenas a pessoa a quem entregou os documentos.
O modus operandi narrado por Waldir Tenório Júnior foi confirmado pelo
depoimento prestado pela testemunha Elder do Nascimento Rolim, arrolada pelo Ministério
Público. Segundo a testemunha, que afirmou não se recordar de Waldir, mas apenas de
Francisco Alves, este último acusado contratava pessoas dotadas de grande inteligência para
prestarem o exame vestibular em lugar de outras pessoas, de modo que essas pessoas,
munidas de documentos falsificados, se apresentavam no lugar do candidato e logravam
aprovação nos exames. Afirmou também que Francisco Alves ganhava muito dinheiro com as
fraudes, embora o respectivo mentor ganhasse muito mais. Por fim, declarou que agentes de
Polícia Federal apreenderam, no apartamento de Francisco Alves, grande quantidade de
documentos falsificados, inclusive cédulas de identidade e cartões de inscrição de vestibulares.
depoimento (fls. 896), ela afirmou taxativamente “que confirma que seu irmão WALDIR pagou
um determinado valor a FRANCISCO GONDIM para que um dublê realizasse em seu lugar as
provas do vestibular para o curso de medicina da UFPB”.
No caso de Francisco Alves Gondim Neto, não interessa que a falsificação dos
documentos encontrados em seu apartamento e apreendidos pela PF tenha partido de suas
próprias mãos. O crime de falsidade material não é um crime de mão própria. A verdade é que
o acusado participava de um grupo cujas atividades eram devidamente coordenadas, sendo
que a falsificação foi realizada pelo grupo e em prol do objetivo ilícito desse grupo. A questão
de saber se Francisco Alves formou materialmente o documento perde toda a relevância
quando atentamos para o fato de que a falsidade foi realizada no cumprimento de um papel
que interessava ao esquema do grupo, de modo que todos os integrantes devem responder
pelo fato, uma vez que foi plenamente abrangido pelo seu dolo e realizado em atenção ao
plano da equipe.
sua tarefa e cumprindo seu papel para o êxito da empreitada criminosa, todos respondem pelo
fato conforme seu dolo, aplicando-se aqui a teoria do domínio do fato, não havendo que se
falar em desvio subjetivo de conduta.
Sendo assim, como Waldir Tenório Júnior “contratou” o grupo de Francisco Alves
Gondim Neto para lhe obter uma aprovação no vestibular, por meio da realização da prova
através de um dublê, é óbvio que esse dublê não poderia se apresentar para fazer as provas
em nome de Waldir a menos que se apresentasse como o próprio Waldir. O único meio
possível de fazer isso seria através de uma falsificação documental, falsificação esta para que
contribuiu decisivamente o acusado quando forneceu cópias de seus documentos pessoais a
Francisco Alves.
O objeto jurídico protegido pela norma é o patrimônio, de modo que tanto o prejuízo causado
quanto a vantagem objetivada pela conduta devem ser patrimoniais, não se podendo conferir
interpretação extensiva ao dispositivo para proteger objetos jurídicos outros que não o
interesse patrimonial do sujeito lesado.
3. HC DENEGADO.
Apenas para registro, não vejo como se poderia aplicar nesse momento o art.
383 ou 384 do Código de Processo Penal para eventual condenação do acusado Francisco
Alves Gondim Neto pelo crime de quadrilha ou bando (CP, art. 288). Embora venha falando em
“grupo” na fundamentação acima, os dois únicos sujeitos cuja participação foi referenciada
como “estável” no esquema foram Francisco Alves e Paulo (que sequer foi identificado). Daí a
impossibilidade, no presente processo, de cogitar-se de uma ampliação da causa de pedir para
abranger o delito do art. 288 do CP.
DOSIMETRIA DA PENA
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HC 79966 / SP - SÃO PAULO
HABEAS CORPUS
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO
Relator(a) p/ Acórdão: Min. CELSO DE MELLO
Julgamento: 13/06/2000 Órgão Julgador: Segunda Turma
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agente não podem ser valoradas contra ele, especialmente, no último caso, por representar
disposição de um autêntico “direito penal do autor”. O motivo do acusado para a prática do
crime não lhe recomenda aumento na pena. O crime não foi praticado em circunstâncias
especiais que lhe exasperem o desvalor, nem suas conseqüências comprovadas justificam
aumento de pena. Por fim, a vítima não colaborou para a ocorrência do crime.
Publicação
DJ 29-08-2003 PP-00034 EMENT VOL-02121-15 PP-03023
PACTE. : INAIÁ MARIA VILELA DE LIMA
PACTE. : WALTER VILLELA PINTO
IMPTE. : ALFREDO DE ALMEIDA
COATOR : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DISPOSITIVO
Diante do exposto, com fundamento no art. 383 c/c os arts. 387 e seguintes do
CPP, julgo parcialmente procedente a pretensão punitiva estatal para:
b) CONDENAR Francisco Alves Gondim Neto como incurso no art. 297 c/c o
art. 29, e ainda no art. 62, IV, todos do Código Penal, a uma pena privativa de liberdade de 2
(dois) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, para cumprimento em regime inicial aberto.
c) CONDENAR Waldir Tenório Júnior como incurso no art. 297 c/c o art. 29,
ambos do Código Penal, a uma pena privativa de liberdade de 2 (dois) anos de reclusão,
para cumprimento em regime inicial aberto.
Custas ex lege.
João Pessoa,