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JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA AMBIENTAL (*)

Meus amigos, bom dia!

I. Como estou perante auditório respeitabilíssimo,


peço licença para falar em pé.

Saúdo os ilustres colegas integrantes da Mesa de


trabalho e todos aqueles que nos vieram honrar com a
presença, interessados na “questão ambiental”.

Convidado pelo Des. GILBERTO PASSOS DE FREITAS para


discorrer brevemente da jurisprudência em matéria
ambiental, entro a cumprir o que me foi determinado.

Jurisprudência, conforme tradicional


conceituação, “é o direito aplicado com sabedoria” (1).

Para MÁRIO GUIMARÃES, insigne ministro do


Supremo Tribunal Federal, que emprestou o nome ao
Fórum Criminal de São Paulo, “a jurisprudência é, nos
tribunais, a sabedoria dos experientes. É o conselho
precavido dos mais velhos (...). Manter quanto possível a

( *)
Participação no ciclo de palestras sobre Direito Ambiental
promovido pela Escola Paulista da Magistratura (EPM):
30.9.2005.
(1)
DE PLÁCIDO E SILVA, Vocabulário Jurídico, 3a. ed., vol. III, p. 902.
jurisprudência, será obra de boa política judiciária,
porque inspira no povo confiança na Justiça”(2).

Assim, embora os Tribunais Superiores não


obriguem os inferiores salvo quanto ao caso concreto, será
de bom exemplo guardar conformidade àquelas decisões
que, proferidas sob o influxo da reta razão e da eqüidade,
aproveitem às partes sem ofender o zelo da Justiça.

II. Também na esfera do Direito Ambiental se vai


firmando, paulatinamente, jurisprudência acerca dos
variados temas que o compõem.

Releva notar que, nos casos da Lei do Meio


Ambiente (Lei nº 9.605/98), não é só a lógica do Direito que
comunica beleza aos julgados, mas os próprios bens
jurídicos protegidos, como as riquezas minerais, os
recursos hídricos, a fauna, a flora, etc. Quem não se
comove, com efeito, diante das soberbas cataratas da Foz
do Iguaçu, ou do caudaloso Rio Tietê, que mãos criminosas
poluíram?! Quem ainda não se extasiou com o canto ameno
do sabiá, ou com o perfil solene de uma árvore centenária,
que a cegueira da cupidez de sujeitos gananciosos não
trepidará em deitar abaixo?!

MÁRIO GUIMARÃES, em sua reputada obra, refere que,


nos primórdios da civilização, “o rei, sentado à sombra do
carvalho, ouvia os litigantes”(3). Ouvia-os ao pé de
frondoso carvalho!

(2)
O Juiz e a Função Jurisdicional, 1958, p. 327.
(3)
Op. cit., p. 358.
Esta alusão ao velho carvalho tange as fibras
sensíveis do homem responsável e exorta-o a preservar
sempre os primores da Natureza!
Da muita estima em que os caracteres bem formados
tiveram estas dádivas da Criação, há em JOAQUIM NABUCO,
exemplo curioso. Desejando o nosso egrégio patrício
homenagear o colega e amigo MACHADO DE ASSIS, mandou-
lhe, num rasgo de originalidade, um galho do carvalho de
Tasso, com uma carta de autenticação do prefeito de
Roma(4). Reza a tradição que era debaixo dessa árvore que o
poeta italiano TORQUATO TASSO costumava cobrar alento para
as fadigas do espírito e achar conforto para seu ânimo
turbado e inquieto.

Não só os poetas, senão ainda os cultores do


Direito, procuremos amar e respeitar tudo aquilo que
afirme e exalte a vida! Criminalistas que somos,
defendamos também a Natureza!

III. Nisto de acórdãos, afirmou alguém, parodiando LUÍS


GAMA, que “há de toda casta, porque a espécie é vasta”(5).

1º Caso (6):

O órgão do Ministério Público ofereceu


denúncia contra o réu porque, aos 21 de agosto de
1999, na “Estrada do Lajeado”, na cidade de
Registro, na condição de possuidor da “Fazenda del
Rey”, destruiu e inutilizou, com máquinas, uma área

(4)
MACHADO DE ASSIS, Obras Completas, 1959, vol. 31, p. 91.
( 5)
Cf. VICENTE AZEVEDO, Curso de Direito Judiciário Penal,
1958, vol. I, p. 71.
(6)
(TacrimSP; Ap. nº 1.369.597/6 - Registro).
de 0,12 ha de floresta considerada de preservação
permanente.
Reza a denúncia que policiais militares
florestais, em fiscalização ordinária, tomaram para a
propriedade do réu e, ali, entraram no conhecimento
de que, utilizando máquinas, estava a danificar e
destruir floresta de preservação permanente;
pretendeu justificá-lo, esclarecendo que iria
construir um tanque para criação de peixes.

Ementa
— Atenta contra a Natureza e incorre na sanção da
Lei nº 9.605/98 (art. 38), por lesar o Meio
Ambiente, o sujeito que, ao construir tanques
para criação de peixes, destrói e inutiliza, com
máquinas (tratores), parte de floresta
considerada de preservação permanente.

— Contra aquele que, infenso à ética ambiental,


concorre para o desmatamento de floresta
considerada de preservação permanente,
prevalece o rigor da lei, como “ultima ratio”,
em ordem a que “o mundo não seja, num futuro
não-remoto, um deserto fuliginoso e morto”
(José Renato Nalini, Ética Ambiental, 2003, p.
234).

2º Caso(7):
Caiu o réu nas malhas da Justiça Criminal
porque, aos 27 de novembro de 1999, pelas 7 h, no
lago do reservatório da Usina Hidroelétrica de
Água Vermelha, no município de Cardoso, policiais
florestais surpreenderam-no a pescar mediante a
utilização de petrechos proibidos (redes).
(7)
(TacrimSP; Ap. nº 1.302.861/3 - Cardoso).
Instaurada a persecução penal, transcorreu o
processo conforme os preceitos legais; ao cabo, a. r.
sentença de fls. 96/97 afastou os argumentos
expendidos pela Defesa — ignorância da lei,
atipicidade do fato e estado de necessidade,
conforme o art. 37, nº I, da Lei nº 9.605/98 — e
decretou a condenação do réu. Este, inconformado
com o desfecho da lide penal, vem à Superior
Instância, assistido de advogado, à espera de
absolvição.

Ementa
— A alegação do réu de que praticara o fato em
estado de necessidade — art. 37, nº I, da Lei
nº 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente) — , ao
pescar mediante a utilização de petrecho não
permitido (rede), mostra-se atendível, por
inferência lógica imediata, se os autos revelam
que se tratava de sujeito rústico, desempregado
e com prole numerosa por sustentar. Àquele
que nada tem de seu é lícito recorrer às dádivas
da Natureza.

— “A luta pela existência é a lei suprema de toda


a criação animada; manifesta-se em toda a
criatura sob a forma de instinto da
conservação” (Ihering, A Luta pelo Direito,
20a. ed., p. 17; trad. João Vasconcelos).

— Quem haverá, de ânimo tão obdurado e


insensível, que faça rosto àquela sublime
apóstrofe do Evangelho: “Qual de vós
porventura é o homem que, se seu filho pedir
pão, lhe dará uma pedra? Ou porventura, se lhe
pedir um peixe, lhe dará uma serpente?” (Mt 7,
9-10)?
— As sutilezas do direito não constituem o direito
(“apices juris non sunt jura”).

3º Caso(8):
Foi o réu de novo conduzido às barras da Justiça
Criminal porque, no dia 16 de março de 1999, pelas 10h30,
na Rua Celso Augusto, cidade de Iporanga, comarca de
Apiaí, guardou palmitos procedentes de florestas, sem
licença válida para o armazenamento, outorgada pela
autoridade competente.
Instaurada a persecução criminal, transcorreu o
processo na forma da lei.
O órgão do Ministério Público deixou de fazer
proposta de transação penal ao acusado, ou de suspensão
condicional de seu processo, por não satisfazer aos
requisitos legais (art. 76, § 2º, nº III, da Lei nº 9.099/95).
A r. sentença de fls. decretou a condenação do réu,
o qual, inconformado com o desfecho da lide penal,
comparece perante esta augusta Corte de Justiça, em busca
de absolvição ou alívio para seu castigo.
“Circa merita”, não se mostra atendível o clamor
do réu, porque os elementos reunidos no processado lhe
evidenciaram a culpabilidade.
É fora de dúvida, em verdade, que, em
cumprimento de mandado judicial de busca e apreensão,
policiais surpreenderam na Rua Celso Augusto, na cidade
de Iporanga, “uma fabriqueta clandestina de
beneficiamento de palmitos extraídos de floresta da

(8)
(TacrimSP; Ap. nº 1.324.521/1 - Apiaí).
região”, além de 129 potes de vidro do vegetal e diversos
apetrechos para o beneficiamento, pertencentes ao réu.

Ementa
— A lei não concede foral de impunidade àquele
que tem em depósito ou guarda, para fins
comerciais ou industriais, produtos de origem
vegetal (como o palmito), sem licença da
autoridade competente; antes, reprime-lhe
severamente a conduta (art. 46, parág. único,
da Lei nº 9.605/98), por atentar com insigne
desdém e execrável cupidez contra floresta
considerada de preservação permanente e,
portanto, contra o patrimônio comum de seu
País e de toda a Humanidade.

— Pena de curta duração, por crime cometido


sem violência a pessoa, pode o Juiz determinar
que o réu a cumpra sob o regime aberto, ainda
que reincidente. Solução é esta que se
conforma com os princípios da política
criminal, máxime o da reação penal mínima
(art. 36 do Cód. Penal).

4º Caso(9):

A Justiça Pública demandou o réu na esfera


criminal porque, no dia 10 de março de 2001, cerca do
meio-dia, na Cachoeira do Salto Carlos Botelho, no Rio
Aguapeí, em Lucélia, pescou em lugar interditado por
órgão competente e mediante a utilização de aparelho de
pesca não permitido.

(9)
(TacrimSP; Ap. nº 1.378.369/5 - Lucélia).
Reza a denúncia que policiais militares florestais
surpreenderam-no a pescar na Cachoeira do Salto Carlos
Botelho, local proibido à pesca, nos termos do art. 3º, da
Portaria nº 73/2000, do IBAMA-SP.
Consta ainda que, na ocasião, o réu utilizava-se de
tarrafa, aparelho de pesca proibido, nos termos do § 2º do
art. 3º, combinado com o art. 5º, da referida portaria.
Instaurada a “persecutio criminis in judicio”, foi
decretada a revelia do réu, nos termos do art. 366 do
Código de Processo Penal.
Ao cabo, a r. sentença de fls. decretou-lhe a
condenação; malcontente com o desate da causa, vem o réu
a esta colenda Corte de Justiça, protestando inocência, à
espera de absolvição.
Ementa
— Infringe a Lei do Meio Ambiente (art. 34,
“caput”, e parág. único, nº II, da Lei nº
9.605/98) o sujeito que realiza pescaria
mediante a utilização de petrecho não
permitido (tarrafa).
— A alegação do agente de que em seu favor
milita causa de justificação — pescando,
entendia no sustento da família e, pois,
obrigado da necessidade —, não merece
acolhida sem prova plena e cabal do
preenchimento dos requisitos do art. 24 do
Cód. Penal.

5º Caso(10):
O órgão da Acusação Pública meteu o réu em
processo porque, no dia 6 de abril de 1998, pelas 15h45, na
(10)
(TacrimSP; Ap. nº 1.246.499/5 - Santos).
Av. Um, às margens do Rio Itapanhaú (Parque Itapanhaú),
em Bertioga, transportava produto de origem vegetal, sem
licença válida para todo o tempo da viagem, outorgada pela
autoridade competente.

Foi o caso que policial militar florestal, em


patrulhamento ordinário, deparou com o réu e dois outros
indivíduos, que estavam a transportar 16 dúzias de palmitos
“in natura”.

Instaurada a persecução criminal com a lavratura


do termo circunstanciado de fl., foram os autos remetidos
ao Juizado Especial Criminal.

Já processado por outro crime, a Promotoria de


Justiça deixou de propor ao réu a suspensão condicional do
processo, nos termos do art. 89 da Lei 9.099/95.

Após regular tramitação do processo, debaixo do


rito comum, foi o réu condenado pela r. sentença de fls.,
mas, irresignado com o êxito adverso da lide penal,
comparece perante esta augusta Corte de Justiça em busca
de absolvição, ou atenuação de seu castigo.

Ementa
— Salvo a hipótese (que requer prova cabal) do
sujeito que, para prover às suas primeiras
necessidades e da família, extrai pequenas
quantidades de palmitos de florestas
consideradas de preservação permanente,
constitui crime tê-los em depósito ou para
venda, em grande escala, sem licença da
autoridade competente (art. 46, parág. único,
da Lei do Meio Ambiente).
—“O desconhecimento da lei é inescusável” (art.
21 do Cód. Penal).

6º Caso(11):

1. Inconformado com a r. sentença que proferiu o


MM. Juízo de Direito da 5a. Vara Criminal da Comarca de
São José do Rio Preto, condenando D. P. à pena de 6 meses
de detenção e 10 dias-multa, substituída a privativa de
liberdade pelo pagamento de R$ 2.400,00, por infração do
art. 48 da Lei nº 9.615/98 (Lei do Meio Ambiente), dela
interpuseram recurso para este Egrégio Tribunal, com o
escopo de reformá-la, o réu e o ilustre representante do
Ministério Público.

O réu, nas razões de apelação deduzidas por


esforçado e culto patrono, afirma que a prova dos autos não
prestigiou a pretensão punitiva; pelo que, deverá ser
absolvido.

Acrescenta que, a manter-se, porém, o edito


condenatório, será força afastar a sanção referente à
reparação do dano, pois que o art. 48 da Lei nº 9.605/98 o
não menciona.

À derradeira, na hipótese de se lhe fixar o valor da


reparação dos danos, deverá ser o “mínimo”.

O órgão do Ministério Público, esse alega que,


embora correta a r. sentença ao julgar procedente o pedido
e condenar o réu, equivocou-se ao substituir a pena

(11)
(TacrimSP; Ap. nº 1.241.445/1 - São José do Rio Preto).
privativa de liberdade pela multa reparatória, “cuja fixação
está prevista no art. 20 da citada lei”.

Ressalta que a substituição a que aludiu o digno


Magistrado somente poderia ser a de que trata o art. 46 do
Código Penal, e não “pela multa reparatória que tem a
finalidade única e exclusiva de reparar o dano ambiental
causado”.

Pleiteia, por isso, a “substituição da pena privativa


de liberdade por outra pena de multa, somando-se àquela
já prevista no próprio art. 48 da Lei Ambiental, mantendo-
se, por outro lado, a multa reparatória bem fixada” (fls.).

As partes responderam aos recursos (fls.).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme


e incisivo parecer do Dr. Carlos Eduardo de Athayde
Buono, opina pelo provimento do recurso do Ministério
Público, improvido o da Defesa (fls.).

É o relatório.

2. A Justiça Pública ofereceu denúncia contra o réu


porque, no dia 28 de setembro de 1999, na qualidade de
proprietário da Fazenda Santa Helena, situada no
município de Guapiaçu, em São José do Rio Preto, impediu
ou dificultou a regeneração natural de floresta em área de
preservação permanente, gradeando 12.000 m2,
ameaçando, dessa forma, o equilíbrio do meio ambiente.
Encetada a persecução criminal, transcorreu o
processo na forma da lei.

Formulada ao réu proposta de aplicação da norma


prevista no art. 89, caput, da Lei nº 9.099/95, recusou-a o
autor do fato, sob color de que não praticara crime de dano
ao meio ambiente.

A r. sentença de fls. 88/90 julgou procedente a


denúncia e condenou-o como incurso nas sanções do art.
48 da Lei nº 9.605/98, impondo-lhe a pena de 6 meses de
detenção e 10 dias-multa.

Preenchidos os requisitos legais, substituiu-lhe a


pena privativa de liberdade pela pecuniária, que fixou em
R$ 2.400,00.

3. De que o réu violou o art. 48 da Lei do Meio


Ambiente não há duvidar, pois o demonstrou claramente a
prova dos autos.

Com efeito, os laudos periciais, as fotografias que


os ilustram e a confissão mesma do réu evidenciam que
impediu ou dificultou a regeneração natural da floresta em
área de preservação permanente, na propriedade rural
denominada Fazenda Santa Helena, numa extensão
aproximada de 12.000 m2.

É que — e bem o acentuou o douto parecer da


Procuradoria Geral de Justiça — “houve prejuízo à
natureza, à regeneração da vegetação, sendo inegável que
o mero plantio de árvores (de seu interesse), não afasta o
prejuízo havido, especialmente em local às margens de
uma represa” (fl.).
A alegação de que realizara o gradeamento às
margens da represa para dotar o terreno de curvas de nível,
com que o guardasse de erosões, ressente-se, como o
observou a zelosa Promotoria de Justiça, de manifesto vício
lógico: fosse o intuito do réu proteger o meio ambiente de
eventual devastação, “não era necessário o gradeamento
do terreno às margens da represa” (fl.); bem ao revés,
obrando a seu talante, precipitou a degradação ambiental,
pois favoreceu o assoreamento da represa e deu ocasião a
futuras erosões no solo devastado.

4. Por outra parte, a increpação da combativa Defesa


à r. sentença de ter-se desabraçado da postulação do
Ministério Público e, pois, decidido “ultra” ou “extra
petita”, carece de fomento jurídico.

Na real verdade, é preceito venerável o da


congruência ou correlação entre a imputação e a sentença
(“sententia debet esse conformis libello”).

No particular, em causa, todavia, ao contrário do


que sustenta o apelante, o decreto judicial ateve-se ao teor
da denúncia: condenou o réu por infração do dispositivo
legal que mencionou (art. 48 da Lei Federal nº 9.605/98).

A imposição da multa era decorrência forçosa do


preceito do art. 42 do mencionado diploma.

5. Acho razão ao apelo do Ministério Público.

A pena privativa de liberdade deve substituir-se por


pena pecuniária e não por multa reparatória, de finalidade
específica.
Assim, a substituição da pena corporal é
disciplinada pelo art. 44, § 2º, do Código Penal, com as
modificações que lhe introduziu a Lei nº 9.714/98.

Pelo que, tomando em linha de conta as


circunstâncias do caso e as condições pessoais do réu,
“substituo-lhe a pena corporal por pecuniária”,
equivalente a 60 dias-multa, no valor mínimo legal, sem
prejuízo da multa de caráter reparatório dos danos ao meio
ambiente causados por sua atividade ilegal.

Apenas neste pouco ouso modificar a r. sentença


que proferiu o distinto e culto Magistrado Dr. Robledo
Matos Alves de Morais.

6. Pelo exposto, nego provimento ao recurso do réu;


o do Ministério Público provejo-o para os fins que
constarão do acórdão.

Ementa
— Incide nas penas do art. 48 da Lei nº 9.615 (Lei
do Meio Ambiente) o sujeito que realiza
gradeamento em terreno às margens de
represa, pois com seu ato impede ou dificulta a
regeneração natural de florestas e demais
formas de vegetação.

— Ainda que o não tenha pleiteado a denúncia,


pode o Magistrado, ao julgá-la procedente,
impor ao réu infrator do art. 48 da Lei nº 9.615
(Lei do Meio Ambiente), além da pena
restritiva de liberdade, multa reparatória (art.
20).

7º Caso(12):

(12)
(TacrimSP; Ap. nº 1.239.789/1 - Atibaia).
1. O órgão do Ministério Público ofereceu denúncia
contra o réu porque, no dia 9 de janeiro de 1999, pelas 9h50,
na Rodovia Fernão Dias, km 47, em Atibaia, policiais
rodoviários federais surpreenderam-no quando, em seu
veículo GM-S-10, placa CFC-7863/São Paulo, transportava
inadequadamente (uma vez que o fazia de forma que causava
maus-tratos e ferimentos às aves) quatro galos e uma galinha.

Reza ainda a denúncia que o réu transportava


também apetrechos usados em briga de galos.

Instaurada a persecução penal, propôs o Ministério


Público a aplicação imediata de pena restritiva de direitos
(art. 76 da Lei nº 9.099/95), o que o réu e seu defensor
rejeitaram.

Correu o processo em forma legal; ao cabo, a r.


sentença de fls. julgou procedente a denúncia e condenou o
réu, o qual, inconformado, comparece perante este órgão
colegiado, protestando inocência.

2. O clamor do réu não está no caso de ser atendido.


A razão é que os elementos que instruem o processo lhe
definiram, sem falta, a responsabilidade criminal.

Com efeito, ouvido somente na fase policial, o réu


confirmou transportava as aves. Acrescentou, porém, que o
fazia de modo regular.

Pelo que respeita aos objetos encontrados em seu


veículo, alegou tê-los adquirido numa feira.
Negou promovesse rinha (ou briga de galo); apenas
criava aves para venda.

Em que pese às suas declarações (não confirmadas


em Juízo, em face da revelia), a mais prova dos autos
evidenciou que o réu maltratara as aves, transportando-as
amarradas e machucadas.

A testemunha Moacir, policial militar florestal,


esclareceu em Juízo que as aves eram conduzidas num
saco, os pés amarrados.

Informou ainda que foram apreendidos


instrumentos como bico e esporas de alumínio, utilizados
em rinha.

Pelo mesmo teor depôs a testemunha Atamis


Gusmão: durante fiscalização, policiais apreenderam no
veículo de propriedade do réu aves amarradas, algumas
com o bico cortado.

Além de que, trazia petrechos próprios de briga de


galos.

Confirmou-o também a testemunha Antônio.

As testemunhas inquiridas em obséquio da Defesa


emolduraram o caráter do réu e negaram se dedicasse à
prática de briga de galos.

O conjunto probatório, no entanto, prestigiou a


acusação.

Destarte, a condenação do réu era imperiosa e justa.


3. Ante a certeza de ter infligido maus-tratos a aves
— trazia-as amarradas e feridas dentro de um saco —, o réu
violou o art. 32 da Lei nº 9.605/98 (Lei do Meio
Ambiente), que pune todo aquele que “praticar ato de
abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”.

Que praticara crueldade contra os animais está a


demonstrá-lo a circunstância de que, juntamente com aves
feridas e mutiladas (com o bico cortado), transportava o réu
apetrechos próprios de briga de galos.

Incorreu, portanto, na censura da lei.

Vem aqui a ponto a lição de Ravizza, comemorada


por Bento de Faria:

“Protege a lei os animais não só por sentimento de


piedade como ainda para educar o espírito
humano, a fim de evitar que a prática de atos de
crueldade possam trans-formar os homens em
seres insensíveis ao sofrimento alheio, tornando-os
também cruéis para com os semelhantes” (cf. Rev.
Tribs., vol. 295, p. 343).

A condenação do réu, portanto, conformou-se à


prova dos autos e aos melhores de direito.

Primário, a pena foi-lhe fixada no mínimo legal e


deve ser mantida.

Mas, uma vez concorrem os requisitos do art. 44, §


2º, do Código Penal, substituo a pena privativa de
liberdade do réu por restritiva de direitos, consistente na
arrecadação de uma cesta básica de donativos, no valor de
um salário mínimo, a uma entidade pública ou privada com
destinação social.

4. Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso


para substituir a pena privativa de liberdade do réu por
restritiva de direitos, mantida no mais a r. sentença de
Primeira Instância.

Ementa
— Incorre nas penas do art. 32 da Lei nº 9.605/98
(Lei do Meio Ambiente) quem pratica maus-
tratos contra os animais, estando nesse número
os que promovem briga de galos, espetáculo
que, por sua crueza, repugna ao sentimento
ético-social da humanidade.

— “Protege a lei os animais não só por sentimento


de piedade como ainda para educar o espírito
humano, a fim de evitar que a prática de atos
de crueldade possam transformar os homens
em seres insensíveis ao sofrimento alheio,
tornando-os também cruéis para com os
semelhantes (cf. Rev. Tribs., vol. 295, p. 343).

8º Caso(13):

1. Inconformados com a r. sentença que proferiu o


MM. Juízo de Direito da Comarca de Cananéia,
condenando-os à pena de 1 ano de detenção, substituída
por restritiva de direitos (prestação de serviços à
comunidade), por infração do art. 34, caput, da Lei
9.605/98, combinado com o art. 70 do Código Penal,
interpuseram recurso para este Egrégio Tribunal, com o
(13)
(TacrimSP; Ap. nº 1.270.987/6 – Cananéia).
propósito de reformá-la, E. M. e E. M.

Nas razões de recurso, elaboradas com esmero e


talento por seu distinto e culto patrono, alegam que o
conjunto probatório, precário, frágil e aguado, não
induzia certeza acerca da materialidade do fato
criminoso.

Acrescentam que a afirmação de que a Polícia


Florestal apreendera perto de 30 kg de pescados, entre
camarões, peixes e crustáceos, passava por arrojada e
inverossímil, pois careceu de comprovação material.

Afirmam ainda que, ao revés do que constara da


r. sentença, a fotografia de fl. não permitia verificar
“grande quantidade de camarões pescados”.

Os que retiraram o pescado do mar, prosseguem


os apelantes, foram os policiais mesmos que os
detiveram.

Ajuntaram mais que não se conformava ao gênio


da língua o passo da r. sentença, por onde a pesca se
consumava “com o lançamento da rede ao mar”; em
abono de sua argumentação reproduz a douta Defesa a
lição do lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda.

Os recorrentes, ao demais, notaram a r. sentença


de “insensibilidade inaudita à desgraça alheia”, pois não
tomara em linha de conta a dramática situação dos que
habitam as solitárias plagas do Vale do Ribeira, que se
sustentam da pesca exclusivamente, máxime a gente
heróica de Cananéia, que lembra, com pouca diferença,
os que demoram no inóspito Sertão Nordestino.

Por fim, à guisa de libelo contra a forma de


tratamento que, a seu aviso, a Justiça reserva aos pobres,
reproduzem tópicos de artigos jornalísticos assinados por
José Genoíno.

Pleiteiam, por isso, absolvição, como obra de


justiça; se não, tenha a bem a colenda Câmara
reconhecer-lhes a causa de exclusão da tipicidade do art.
15 do Código Penal: arrependimento eficaz.

A douta Promotoria de Justiça repeliu a


pretensão da nobre Defesa e propugnou a manutenção da
r. sentença de Primeiro Grau.

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em


incisivo e lapidar parecer do Dr. Sólon Fernandes
Filho, opina pelo provimento do recurso para que sejam
os réus absolvidos, com fulcro no art.386, nº VI, do
Código de Processo Penal.

É o relatório.

2. A Justiça Pública submeteu os réus a processo


porque, no dia 13 de abril de 2000, pelas 11 h, na Costa
da Ilha Camboriú, em Cananéia, obrando em concurso e
com unidade de propósitos, pescaram vários camarões
em período proibido, consoante dispõe a Portaria nº
21/99, do IBAMA, utilizando-se de petrechos não
permitidos.

Reza a denúncia que policiais militares, em


patrulhamento destinado à repressão da pesca de
camarão, avistaram a embarcação dos réus (Evipesca), e
perceberam que efetuavam o arrasto de camarões.

Os réus, tanto que notaram a presença dos policiais,


cortaram os cabos da rede e tentaram evadir-se. No
momento da fuga, deitaram ao mar grande quantidade de
camarões, que estavam em uma caixa de isopor.

Após perseguição, lograram os milicianos


interceptar a trajetória dos réus e passar à sua
embarcação, na qual realizaram vistoria; encontraram em
seu interior 30 kg de peixes e camarões.

Por essa época (15 de fevereiro a 15 de maio) era


defesa a pesca de camarões, pois se tratava de período de
procriação.

As redes de arrasto são consideradas petrechos


não permitidos, pois caracterizam a pesca predatória, que
causa a morte indiscriminada de peixes infinitos em
número.

Instaurada a persecução criminal, tramitou o


processo na forma da lei; por fim, a r. sentença de fls.,
julgando procedente em parte a pretensão punitiva,
condenou os réus, os quais, inconformados e jurando
inocência, comparecem perante esta augusta Corte de
Justiça, na expectativa de absolvição.

3. Sem deslustre para o insigne Magistrado que a


proferiu, nos quais concorrem assinalados dotes de
espírito, a r. sentença de Primeiro Grau cede o flanco às
oportunas e avisadas ponderações expostas no parecer da
egrégia Procuradoria Geral de Justiça.

Em verdade, análise detida e percuciente dos


autos evidencia que os elementos de prova que encerram
não se afiguram hábeis a comprovar a materialidade do
fato criminoso nem a culpabilidade dos réus.
Assim, correndo em silêncio, por acessórios,
alguns tópicos do veemente recurso dos réus — v.g.:
lídima acepção do verbo pescar e o paralelo geopolítico
entre Cananéia e o Sertão de Canudos — , entro a
examinar de plano a causa, em ordem a perquirir se, no
particular, há prova cabal da existência do delito
atribuído aos réus.

Não há mister desatar a dúvida que atormenta a


nobre Defesa a respeito do vero sentido do vocábulo
pescar. Tratou a questão “ex professo” o grande Rui em
sua famosa Réplica (nº 209).

Também escusa discorrer das contínuas


privações e agruras que, verdadeiras sombras,
acompanham a população caiçara do Vale do Ribeira.

O de que apenas cumpre fazer caso e cabedal é


se, nos autos, ficou demonstrado, positivamente, o corpo
de delito da infração penal carregada aos réus.

4. O conspícuo subscritor do parecer de fl.,


examinando de fito o processado, teve para si que a
grande quantidade de camarões que os réus haviam
pescado (e vinha retratada em fotografia) não excedia a
meia dúzia. E isto mesmo examinada “com uma lupa”.

Tal asserto, que pudera parecer tropo de


linguagem, não sofre contradita, antes nele se confirma
todo aquele que, com imparcialidade, descer ao exame
da causa.

A r. sentença de Primeiro Grau, para dar força e


relevo à argumentação, mencionou terem sido
apreendidos cerca de 30 kg de camarões.
Tal afirmação, no entanto, acha-se às testilhas
com o próprio laudo pericial de fls. 45/48, ilustrado por
fotografia de recipiente em que se individualizam alguns
camarões.

Além de que, e bem o observou o douto parecer,


não foi o referido laudo homologado.
A prova da materialidade do fato criminoso é
precedente lógico da culpabilidade do réu: é força
demonstrar, antes da apuração da responsabilidade penal
do acusado, a existência do crime que lhe imputou a
denúncia.

Nos crimes que deixam vestígio, deve toda a


acusação amparar-se no corpo de delito, que, na
definição clássica de João Mendes Jr., é “o conjunto de
elementos sensíveis do fato criminoso” (Direito
Judiciário Brasileiro, 1918, p. 235).

O ven. aresto do Supremo Tribunal Federal,


que o lúcido parecer reproduz por sua ementa, faz ao
nosso intento:

“É preciso que não se confunda o exame de corpo


de delito com o próprio corpo de delito. Aquele é
um auto em que se descrevem as observações dos
peritos e este é o próprio crime na sua tipicidade.
O corpo de delito comprova-se através da perícia
e o laudo deve registrar a existência e a realidade
do próprio delito” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 45, p.
625).

A r. sentença condenatória, suposto obra de


alentado raciocínio lógico, não guardou conformidade
estrita com o fato de que foram argüidos os réus:
condenou-os por haverem pescado 30 kg de camarões, o
que encontra a evidência dos autos.

5. De todas as máximas que devem guiar o Julgador,


não há mais sagrada nem importante que esta: condenação
exige certeza. Apenas a prova plena e incontroversa da
materialidade do fato criminoso, de sua autoria e da
culpabilidade do agente pode autorizar a edição de decreto de
condenatório.

Se indemonstrado o fato, o próprio juízo de


reprovação carecerá de substrato lógico e a pena será,
menos que retribuição pelo mal feito, pura expressão de
arbítrio.

Donde a lição do eminente Heleno Cláudio


Fragoso:

“A certeza é aqui a conscientia dubitandi secura,


de que falava Vico, e não admite graus. Tem de
fundar-se em dados objetivos indiscutíveis, de
caráter geral, que evidenciam o delito e a
autoria (...), sob pena de conduzir tão somente
à íntima convicção, insuficiente”
(Jurisprudência Criminal, 1973, vol. II, p. 404).

Pela fragilidade extrema da prova, fora temerário


condenar os réus, como clama a combativa Defesa e
persuade a voz da sociedade, por seu representante nesta
Superior Instância.

Assim, à falta de prova — que o gênio de


Pereira e Sousa definia pela “alma do processo” (apud
João Mendes Jr., op. cit., p. 202) — , será força desviar
da cabeça dos réus o golpe da punição.
Em verdade, não seria de bom exemplo ficassem
presos nas malhas da Justiça dois humildes réus-
pescadores, se o barco da Acusação foi o que fez água.
Absolvo-os e mando-os em paz!

5. Pelo exposto, dou provimento ao recurso para


absolver os réus, com fundamento no art. 386, nº VI, do
Código de Processo Penal.

Ementa
— Não pode subsistir a condenação pelo crime do
art. 34, caput, da Lei nº 9.605/98 (Lei do Meio
Ambiente), sem prova do corpo de delito, ou
da existência do fato. À Acusação corre o ônus
de demonstrar, além de dúvida, que o réu
pescou em período no qual era a pesca
proibida.

— De todas as máximas que devem guiar o


Julgador, não há mais sagrada nem importante
que esta: condenação exige certeza. Apenas a
prova plena e incontroversa da materialidade
do fato criminoso, de sua autoria e da
culpabilidade do agente pode autorizar a edição
de decreto condenatório. Se incomprovado o
fato, o próprio juízo de reprovação carecerá de
substrato lógico e a pena será, menos que
retribuição pelo mal feito, pura expressão de
arbítrio. “A prova é a alma do processo”
(Pereira e Sousa, apud João Mendes Jr.,
Direito Judiciário Brasileiro, 1918, p. 202).
9º Caso(14):

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito


da Comarca de Cananéia, condenando-o à pena de 8 meses
de detenção, além de 13 dias-multa, no regime semi-aberto,
por infração do art. 46, caput, da Lei nº 9.605/98 (Lei do
Meio-Ambiente), interpôs recurso para este Egrégio
Tribunal, com o intuito de reformá-la, Carlos Alberto da
Silva.

Alega, nas razões de apelo, que nenhum crime


cometeu, pois os palmitos que a Polícia apreendeu em sua
casa destinavam-se ao consumo próprio e da família.

Destarte, espera que a colenda Câmara lhe atenda


aos protestos de inocência e mande-o em paz.

Apresentou contra-razões a douta Promotoria de


Justiça: repeliu a pretensão da nobre Defesa e propugnou a
manutenção da r. sentença de Primeira Instância.

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em


minucioso e abalizado parecer da Dra. Marisa Germano
Bortolin, opina pelo improvimento do recurso.

É o relatório.

2. O órgão do Ministério Público ofereceu denúncia


contra o réu porque, aos 17 de fevereiro de 2000, adquiriu,
de pessoa desconhecida, para fins comerciais e industriais,
sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada
pela autoridade competente, 5 potes de palmitos
(14)
(TacrimSP; Ap. nº 1.301.121/2 - Cananéia).
industrializados e 1 palmito, “in natura”, extraídos de
palmeiras da espécie juçara (Euterpe edulis Mart.).

Instaurada a persecução criminal, transcorreu o


processo em forma legal. Ao cabo, a r. sentença de fls.
decretou a condenação do réu, o qual, inconformado com o
desfecho adverso da causa, manifestou recurso para esta
augusta Corte de Justiça.

3. Ainda que louvável o empenho de seu douto


patrono, o clamor do réu não se mostra atendível, porque
em desacordo com a prova dos autos.

Deveras, é incontroverso que, em sua residência, a


Polícia apreendeu palmitos, como consta do auto de fl., os
quais o laudo pericial comprovou que foram extraídos de
palmeiras juçaras (Euterpe edulis Mart.), uma espécie
botânica das mais características e comuns da costa
atlântica, “região onde estão incluídas as florestas do Vale
do Ribeira”.

Admitiu o réu a posse daqueles produtos de origem


vegetal. Alegou tê-los adquirido a “um índio para consumo
próprio”.

Com os palmitos, foram também apreendidos


objetos e petrechos relacionados com a industrialização
clandestina de palmitos “in natura”. Do que avulta a
convicção de que o réu mantinha “um pequeno comércio
de venda de palmito”, como o consignou o douto parecer
de fl.

Ora, tratando-se de conduta lesiva ao meio


ambiente — aquisição, para fins comerciais ou industriais,
de “produtos de origem vegetal” (típicos da Mata Atlântica
e da região compreendida na área de proteção ambiental de
Cananéia, Iguape e Peruíbe), “sem exigir a exibição de
licença do vendedor, outorgada pela autoridade
competente” —, era força dar incurso o réu nas sanções do
art. 46 da Lei nº 9.605/98.

Com efeito — e isto mesmo ressaltou a r. sentença


recorrida —, “a ofensa a um tal bem (meio ambiente) se
revela grave, quando o desmatamento irracional vem
transformando o País num verdadeiro deserto”.

Ao condenar o réu, portanto, a r. sentença satisfez à


prova dos autos, aos cânones do Direito e da Justiça e à
vocação da ética ambiental, conforme aquilo do insigne e
douto Magistrado José Renato Nalini:

“Cada qual encontrará a melhor forma de atuar


para que o mundo não seja, num futuro não-
remoto, um deserto, fuliginoso e morto” (Ética
Ambiental, 2000, p. 204; Millennium Editora).

4. A pena do réu, fixada alguma coisa além do


mínimo (por seus maus antecedentes), está correta e não
sofre modificação.

O regime prisional, contudo, oferece o flanco a


pequeno reparo.

Em verdade, suposto reincidente, as infrações penais


cometidas pelo réu não pertencem à ordem das que mais
repugnam à consciência jurídica e ao organismo social.
Ao demais, trata-se de indivíduo de escassa ou
nenhuma periculosidade, que exerce o módico ofício de
pedreiro e tem família constituída, de tal arte que seu
encarceramento atingirá também inocentes.

Pelo que, sua pena o réu irá cumpri-la sob o regime


aberto.

A estipulação, no caso, do regime prisional aberto


não se acha em contradição com o direito positivo nem com
a jurisprudência dos Tribunais.

Com efeito, a nota de reincidência apenas é óbice à


concessão do regime aberto quando a pena do réu é
superior a 4 anos; não há proibição legal de que, se inferior
a 4 anos, lho defira o Magistrado ao réu.

No silêncio da lei, podem suprir-lhe a lacuna os


princípios gerais do Direito e até a Eqüidade.

Isto mesmo têm proclamado nossas Cortes de Justiça:

a) “Não impede a concessão do regime aberto a


reincidência em crime doloso quando resultante
de condenação anterior a pena de multa. Tenho
por irrecusável a ilação de que, se a condenação
anterior a pena de multa não impede a concessão
do sursis (CP, art. 77, I e § 1º), a fortiori não
pode obstaculizar o deferimento do benefício
menor, que é o cumprimento em regime inicial
aberto da pena privativa de liberdade” (Rev.
Tribs., vol. 651, p. 360; rel. Min. Sepúlveda
Pertence);
b) “A reincidência não deve ser entendida como
sinal revelador de maior culpabilidade, atuando
como valor absoluto para a determinação do
regime de cumprimento da pena porque, muitas
vezes, o crime anterior nada significa em termos
de relevância penal, e pode ter representado
apenas um fato episódico na vida do réu (...),
sendo possível a fixação, em tais casos, do
regime aberto para início de cumprimento de
pena” (RJDTACrimSP, vol. 28, p. 218; rel.
Márcio Bártoli).

5. Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso


para deferir ao apelante regime aberto, mantida no mais a r.
sentença de Primeira Instância.

Ementa
— Atenta contra a Natureza e incorre na sanção da
Lei nº 9.605/98 (art. 46), por lesar o Meio
Ambiente, o sujeito que, sem exigir a exibição
de licença do vendedor, expedida pela
autoridade competente, adquire, para fins
comerciais, palmitos extraídos da palmeira
juçara, produto vegetal típico da Mata Atlântica
e da região compreendida na área de proteção
ambiental de Cananéia, Iguape e Peruíbe.

— Contra aquele que, infenso à ética ambiental,


concorre para o desmatamento de floresta
considerada de preservação permanente,
prevalece o rigor da lei, como “ultima ratio”,
em ordem a que “o mundo não seja, num
futuro não-remoto, um deserto fuliginoso e
morto” (José Renato Nalini, Ética Ambiental,
2001, p. 204).

— Não repugna à consciência jurídica nem


quebranta a vontade da lei a decisão que defere
a réu (mesmo reincidente) o regime aberto, se
condenado a pena de curta duração. Casado e
chefe de família, os efeitos de sua prisão
alcançariam também pessoas inocentes (a
mulher e os filhos); donde o prescrever o
direito positivo que, ao aplicar a lei, deve olhar
o Juiz o bem da sociedade (art. 5º da Lei de
Introdução ao Cód. Civil).

10º Caso(15):

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito


da Vara Distrital de Aguaí (Comarca de São João da Boa
Vista), condenando-o à pena de 1 ano e 3 meses de
detenção e 30 dias-multa, substituída a pena privativa de
liberdade por prestação pecuniária no valor de R$ 2.500,00,
por infração dos arts. 55, 48 e 50 da Lei nº 9.605/98 (Lei
do Meio Ambiente), interpôs recurso para este Egrégio
Tribunal, com o intuito de reformá-la, J. S. T.

Nas razões de recurso, apresentadas por seu


distinto e culto patrono, afirma que o acervo probatório,
débil e inseguro, não autorizava edito de condenação.

Acrescenta que nos autos não há prova cabal de sua


culpabilidade.

(15)
(TacrimSP; Ap. nº 1.262.285/1 – São João da Boa Vista).
Reitera a alegação de que nenhum delito praticou.

Pleiteia, por isso, firme no princípio do “in dubio


pro reo”, absolvição; no caso de a colenda Câmara
confirmar o decreto de condenação, espera lhe seja
reduzido o valor da prestação pecuniária.

A douta Promotoria de Justiça apresentou contra-


razões de recurso, nas quais repele a pretensão da nobre
Defesa e encarece a manutenção da r. sentença de Primeiro
Grau.

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em


detido e criterioso parecer da Dra. Ana Margarida M.
Junqueira Beneduce, opina pelo improvimento do
recurso.

É o relatório.

2. Foi o apelante chamado a prestar contas à Justiça


Criminal porque, no dia 28 de setembro de 1998, cerca do
meio-dia e meia, na Fazenda Palmeiras, bairro dos Turcos,
no município de Aguaí, policiais florestais em exercício na
região procediam a vistoria ordinária, quando deram com o
co-réu Rafael Arcanjo Camarine a executar, a mando do
apelante (José dos Santos Teixeira), a extração de recursos
minerais (areia), sem autorização, permissão, concessão ou
licença do órgão ambiental competente.

Reza ainda a denúncia que os réus, sobretudo o


apelante, já haviam sido orientados pela Polícia Florestal
que não procedessem à extração da areia sem autorização
do órgão ambiental.
Isto se dera aos 20 de janeiro de 1998, data em que
o empreendimento foi embargado administrativamente.

Mas, a despeito do embargo, continuaram os réus a


promover a atividade degradadora do meio ambiente.

Consta ainda da peça de intróito da ação penal que,


além de executar extração da areia sem licença do órgão
ambiental, os réus causaram degradação da natureza, “com
a derrubada de várias árvores, além do comprometimento
de outras, uma vez que o sistema radicular encontra-se
exposto. A frente de lavra ocorre em direção à mata ciliar
do Rio Jaguari-Mirim, causando-lhe degradação”.

Com o exercício da atividade mineradora, remata a


peça de acusação, além de provocar a queda de várias
árvores, impediam os réus a regeneração natural da floresta
estacional e de qualquer outra forma de vegetação no sítio
dos fatos. A floresta estacional nativa da região é protegida
pelo Decreto Federal nº 750/93 (art. 1º, parág. único, e
art. 3º), o qual proíbe seu corte, exploração ou supressão.

Instaurada a persecução criminal, transcorreu o


processo conforme os cânones legais; ao cabo, a r. sentença
de fls., acolhendo os artigos do libelo, decretou a
condenação dos réus.

Intimados pessoalmente da r. sentença, manifestou


recurso o apelante, na expectativa de ser absolvido.

3. Ainda que louvável o empenho da Defesa, as


razões de recurso não lograram convelir os rijos
fundamentos da r. sentença de Primeiro Grau, que dirimiu,
à justa luz e com rigor de lógica jurídica, os fatos
imputados ao réu.
Na verdade, assim a existência dos fatos delituosos
como a responsabilidade do réu ficaram comprovadas além
de toda a dúvida.

Suposto negasse, em Juízo, a imputação, a mais


prova dos autos incrimina-o implacavelmente.

Com efeito, o co-réu Rafael Arcanjo, interrogado


na fase do inquérito, declarou que extraía areia no local, à
ordem de seu patrão, o apelante.

As testemunhas inquiridas na instrução


confirmaram-lhe as palavras. Os policiais militares florestais,
deveras, depuseram que, fiscalizando a região, perceberam
que o réu procedia à extração irregular de areia. Acentuaram
tê-lo já advertido que o não fizesse. Informaram, à
derradeira, que, ao chegar ao sítio dos fatos, a draga estava a
funcionar, isto é, tirava areia.

O laudo de dano ambiental consigna que, embora


em atividade, não possuía o empreendimento “nenhuma
documentação referente ao porto de areia”.

Relata que “a frente de lavra ocorre em direção


à mata ciliar do Rio Jaguari-Mirim, causando-lhe
degradação”.

Descreve ainda o laudo pericial que o sítio dos


fatos se caracteriza como “braço de rio” (meandro
abandonado).

Completam e ilustram o trabalho dos peritos


fotografias do local.
4. Salvo o devido respeito ao esforço de seu
combativo patrono, o clamor de inocência do réu ficou
abafado pelo volume e densidade das provas.

Ora, o art. 55 da Lei nº 9.605/98 prescreve pena a


quem extrai minério sem a competente autorização,
permissão ou concessão.

Para mais, com a extração irregular do minério


provocou o réu danos de vulto ao meio ambiente, pela
destruição de parte da floresta nativa e, sobre isso,
dificultou a recuperação ambiental, impedindo a
regeneração da mata destruída.

De que a ação ilícita do réu foi daninha ao


ambiente bem se colige da disposição admonitória da
engenheira agrônoma que subscreveu o laudo pericial: “o
responsável deverá assinar termo de compromisso de
recuperação ambiental junto ao DEPRN (Departamento
Estadual de Proteção de Recursos Naturais)”.

Infringiu, portanto, o réu, em seu espírito e forma,


os preceitos dos arts. 55, 48 e 50 da Lei nº 9.605/98 (Lei do
Meio Ambiente), porque, ao executar lavra e extrair recurso
mineral (areia), sem a competente autorização, destruiu
floresta nativa e dificultou-lhe a regeneração.

5. De todo o ponto ineficaz se antolha a escusa de que


não obrara o réu com culpa lato sensu, pois o contrário
inculca a circunstância de haver procedido à extração de
minério, em frontal desrespeito a embargo oposto pela
administração pública.

Daqui por que, e bem o concluiu a r. sentença


apelada, o “conjunto probatório é forte, robusto e
inequívoco, suficiente para embasar o decreto
condenatório”.

As penas, fixadas em seu grau mínimo, estão


corretas e não sofrem alteração.

O valor da prestação pecuniária responde à imensa


lesão que o réu, com o seu proceder, causou ao meio
ambiente.

Ao reprimir a atividade lesiva ao meio ambiente,


pôs a mira o legislador em preservar a Natureza como bem
inestimável da Humanidade e garantir às futuras gerações a
posse de herança comum: as condições ideais de uma vida
saudável e feliz!

Oportuna e abalizada é a admoestação de José


Renato Nalini, insigne jurista e apóstolo infatigável da
ética ambiental: “Derrubar uma árvore é um crime. Não
apenas previsto pela Lei de crimes ambientais, mas um
crime contra o futuro, uma lesão contra a Humanidade. E
antes de ser crime, é evidente infração ética” (Ética
Ambiental, 2001, p. 81; Millennium Editora).

A substituição da pena corporal por prestação de


serviço à comunidade satisfez à vontade da lei e revelou
magnífico senso judicante do ilustre Magistrado de
Primeira Instância.

Quer-se mantida, em suma, por seus próprios e


jurídicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o distinto
e culto Juiz Dr. Heitor Siqueira Pinheiro.

6. Pelo exposto, nego provimento à apelação.


Ementa
— Incorre nas penas da Lei nº 9.605/98 (Lei do
Meio Ambiente) aquele que, sem a competente
autorização, extrai recurso mineral (areia) e, em
conseqüência, dificulta a regeneração natural
de floresta e outras formas de vegetação,
danificando-as (arts. 55, 48 e 50).

— Ao reprimir a atividade lesiva ao meio


ambiente, pôs a mira o legislador em preservar
a Natureza como bem inestimável da
Humanidade e garantir às futuras gerações a
posse de herança comum: as condições ideais
de uma vida saudável e feliz!

— Oportuna e abalizada é a admoestação de José


Renato Nalini, insigne jurista e apóstolo
infatigável da ética ambiental: “Derrubar uma
árvore é um crime. Não apenas previsto pela
Lei de crimes ambientais, mas um crime contra
o futuro, uma lesão contra a Humanidade. E
antes de ser crime, é evidente infração ética”
(Ética Ambiental, 2001, p. 81; Millennium
Editora).

11º Caso(16):

1. A favor de V. F. M. os ilustres Advogados Dr.


Helvio Cagliari e Dr. André Luís Machado Arantes
impetram ordem de “habeas corpus” a este Egrégio
Tribunal, sob a alegação de que padece constrangimento
ilegal da parte do MM. Juízo de Direito da 1a. Vara da
Comarca de Igarapava.
(16)
(TacrimSP; HC nº 380.996/1 – Igarapava).
Afirmam os impetrantes, na petição de fls. 2/9, que
o paciente foi denunciado como incurso nas sanções do art.
39 da Lei Federal nº 9.605/98 (Lei do Meio Ambiente),
combinado com o art. 29 do Código Penal, por “cortar
árvores em floresta considerada de preservação
permanente, sem permissão de autoridade competente”.
Aduzem mais os impetrantes que o fato imputado
ao paciente não se ajusta ao tipo legal, que apenas se
integra se a floresta de preservação permanente estiver “ao
longo de rios, lagos e cursos de água”.
Acrescentam que a mesma digna Promotora de
Justiça que ofereceu denúncia contra o paciente atribuíra-
lhe, ao instaurar inquérito civil para a apuração de sua
responsabilidade, a prática do delito tipificado no art. 48
da Lei Federal nº 9.605/98.
Destarte, ajuntam os combativos impetrantes,
faltara justa causa para a “persecutio criminis in judicio”.

Requerem, por isso, à colenda Câmara a concessão


de ordem de “habeas corpus” a fim de trancar a ação penal
instaurada contra o paciente.

Alternativamente, pedem a declaração da


“extinção da punibilidade” do paciente, ancião de 78 anos
de idade.

Instruíram o pedido com cópias das peças


principais dos autos da ação penal (fls. 10/126).

O r. despacho de fl. denegou a medida liminar: que


concedê-la implicava “análise cuidadosa do conjunto
probatório carreado aos autos, impossível de ser realizada
na cognição sumária da Vice-Presidência”.
Prestou informações a mui digna autoridade
indicada como coatora.

Confirmou os termos da impetração e esclareceu


que os autos aguardavam a realização do interrogatório do
paciente, designado para o dia 3 de abril próximo.

Sua Excelência acostou ao ofício de informações


novas cópias de peças dos autos.

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em


detido, abalizado e escorreito parecer do Dr. José Manoel
Mendes Castanho, opina pela concessão parcial da ordem
para anular a ação penal desde a denúncia, inclusive,
facultado o oferecimento de outra que atenda aos requisitos
do art. 41 do Código de Processo Penal, com extensão dos
efeitos da decisão aos co-réus.

É o relatório.

2. Pretendem os autos que o paciente e dois co-réus


tenham incorrido na letra do art. 39 da Lei nº 9.605/98, que
pune a ação de quem cortar árvores de reserva florestal.

É que o paciente e os co-réus, utilizando-se de


motosserra, teriam cortado várias árvores existentes em
área típica de preservação permanente, no imóvel rural
denominado Fazenda Caxeta.

Argumentam os impetrantes que o fato imputado


ao paciente não se subsume à sobretida figura penal.

Daqui por que encarecem a retificação da


capitulação legal da denúncia.
3. A questão agitada pelos dignos impetrantes, que
entende com a extinção da punibilidade do paciente pela
prescrição da pretensão punitiva estatal, “data venia”, não
colhe. Nem mesmo a circunstância da redução do prazo
pela metade, por amor da idade do paciente (78 anos), é
poderosa a determinar-lhe o reconhecimento.

A razão é que, antes de transitar em julgado a


sentença final, dispõe o art. 109 do Código Penal que a
prescrição se regula pelo máximo da pena privativa de
liberdade cominada ao crime.

Ora, a pena máxima cominada ao delito do art. 39


da Lei nº 9.605/98 são 3 anos, cujo prazo prescribente o
art. 109, nº IV, do Código Penal fixa em 8 anos.

Portanto, uma vez não ocorreu a prescrição, afasto


o argumento com que a Defesa pretendeu alcançá-la.

4. Conforme doutrina geralmente recebida, a


corrigenda do libelo (“emendatio libelli”) é possível até à
prolação da sentença.

Bem a propósito discorreu o insigne Damásio E.


de Jesus:

“Errônea qualificação legal do crime. Pode ser


corrigida a qualquer tempo antes da prolação da
sentença final. Assim, não tem relevância a
circunstância de o Promotor Público,
descrevendo crime de furto, referir-se ao art. 168
do CP, que define apropriação indébita. O Juiz,
na sentença, pode corrigir o erro (emendatio
libelli). É orientação do STF” (RTJ 79/95)
(Código de Processo Penal Anotado, 13a. ed., p.
250).
A hipótese dos autos, contudo, não cai sob o
império daquele princípio geral.

O motivo bem o expôs o avisado parecer da


Procuradoria Geral de Justiça: “não foi devidamente
apurado se a área na qual ocorreu o corte de árvores é de
preservação permanente”.

A definição de área de preservação permanente


pertence para os arts. 2º e 3º da Lei nº 4.771/65 (Código
Florestal).

Os laudos periciais, juntados por cópia às fls.


destes autos, não no esclareceram.

Impossível, portanto, afirmar, em rigor, que a área


danificada é tida como de preservação permanente.

Tal comprovação incumbia ao órgão do Ministério


Público primeiro que encetasse a persecução criminal
contra o paciente, pois entre a verificação desta
circunstância e a instauração da relação jurídico-processual
lavrava um como nexo ideológico ou liame de causalidade.

A certeza de que o corte de árvores se deu em área


de preservação permanente é pressuposto fático e lógico do
exercício do direito de ação pelo Ministério Público por
infração do art. 39 da Lei do Meio Ambiente.

Pelo muito que tem de apropositado neste lugar,


transcrevo o julgado a que se refere o lúcido parecer da
Procuradoria Geral de Justiça:

“Não basta à admissibilidade da ação penal, como


outrora já se entendeu, a singela imputação de
fato que em tese constitua crime. Não basta ao
recebimento da denúncia ou queixa-crime o
atendimento às formalidades do artigo 41 do CPP,
nem a descrição de comportamento hábil em tese
à caracterização da figura típica. Reclama-se,
mais do que isso, um princípio de correspondência
entre o fato imputado e o comportamento do
agente retratado nos autos da informatio
delicti”(Rev. Tribs., vol. 733, p. 598; rel. Lopes
de Oliveira).

O r. despacho que recebeu a denúncia, por fato de


duvidosa tipicidade (pois se não comprovou “ad satiem”
tivesse transgredido a Lei do Meio Ambiente), importou ao
paciente constrangimento ilegal.

Meteu em processo o réu pela prática de delito, a


despeito da carência de prova do elemento normativo do
tipo, isto é, de que as árvores que abatera pertenciam a
floresta considerada de preservação permanente (art. 39
da Lei nº 9.605/98).

Apenas em tal hipótese terá transgredido a lei e


violado o mandamento que a consciência ecológica aditou
ao decálogo divino, parafraseando-o: “Não desmatarás!”

5. Ensina José Frederico Marques, jurista de alto


coturno, que, incidindo o juízo de admissibilidade do
recebimento da denúncia na viabilidade da instância a ser
instaurada, “cumpre ao Juiz o exame liminar de
pressupostos processuais básicos para a regular
constituição da relação processual” (Elementos de Direito
Processual Penal, 2a. ed., vol. II, p. 162).

Pouco mais abaixo, diz o mesmo autor:


“Prende-se, ainda, à inviabilidade da instância a
falta de elementos que instruam a denúncia para
fundamentar a opinio delicti do órgão da
acusação. A acusação deve estar acompanhada
do inquérito policial ou de elementos que
habilitem o Ministério Público a promover a
ação penal” (art. 39, § 5º, do Cód. Proc. Penal)
(idem, ibidem).

É força, portanto, conceder em parte a ordem


impetrada, para anular a ação penal (proc. nº 364/99; 1a.
Vara de Igarapava), a denúncia inclusive, facultado o
oferecimento de outra, que satisfaça aos requisitos do art.
41 do Código de Processo Penal, estendendo-se os efeitos
desta decisão aos co-réus.

6. Concedo em parte a ordem de “habeas corpus”


para anular a ação penal instaurada contra o paciente, com
extensão dos efeitos do julgado aos co-réus.

Ementa
— Conforme doutrina geralmente recebida, a
corrigenda do libelo (emendatio libelli) é
possível até à prolação da sentença final.

— Por não incorrer na censura de inépcia, a


denúncia oferecida contra réu acusado de
infração do art. 39 da Lei nº 9.605/98 (Lei do
Meio Ambiente) deve basear-se na certeza de
que as árvores cortadas sem permissão da
autoridade competente pertenciam a floresta
considerada de preservação permanente.
Apenas com a satisfação desse requisito –
elemento normativo do tipo – é lícito processar
quem transgrediu a lei e violou o mandamento
que a consciência ecológica aditou ao decálogo
divino, parafraseando-o: Não desmatarás!

— “A acusação deve estar acompanhada do


inquérito policial ou de elementos que
habilitam o Ministério Público a promover a
ação penal (art. 39, § 5º, do Cód. Proc.
Penal)” (José Frederico Marques, Elementos
de Direito Processual Penal, 2a. ed., vol. II, p.
162).

Faça cada um o que lhe compete: que, assim como


as árvores reunidas fazem a floresta, muito contribuirá para a
preservação da natureza e das condições de vida no planeta!

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