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Este documento discute as relações de poder entre masculinidades negras e brancas na sociedade ocidental. A masculinidade branca é vista como hegemônica e define os negros como uma ameaça à sua posição dominante, especialmente em relação às mulheres brancas. Isso levou a perseguições de casais inter-raciais e esforços para "branquear" a população através da imigração européia. A miscigenação foi promovida como forma de diluir as características negras ao longo das gerações.
Este documento discute as relações de poder entre masculinidades negras e brancas na sociedade ocidental. A masculinidade branca é vista como hegemônica e define os negros como uma ameaça à sua posição dominante, especialmente em relação às mulheres brancas. Isso levou a perseguições de casais inter-raciais e esforços para "branquear" a população através da imigração européia. A miscigenação foi promovida como forma de diluir as características negras ao longo das gerações.
Este documento discute as relações de poder entre masculinidades negras e brancas na sociedade ocidental. A masculinidade branca é vista como hegemônica e define os negros como uma ameaça à sua posição dominante, especialmente em relação às mulheres brancas. Isso levou a perseguições de casais inter-raciais e esforços para "branquear" a população através da imigração européia. A miscigenação foi promovida como forma de diluir as características negras ao longo das gerações.
LUTA PELO PRESTIGIO DA MASCULINIDADE EM UMA SOCIEDADE DO OCIDENTE 1 Resumo: O presente trabalho pretende analisar os modos particulares em que expresso de gnero e idade/gerao se entrelaam para conformar as sociabilidades dos grupos que se constituem em trs espaos de divertimento noturno: Arena e Plural, duas boates denominadas GLS, localizadas em Nova Iguau, rea metropolitana do Rio de Janei- ro, e os Bailes da Mary, organizados uma vez por ms no Clube Olmpico, no bairro de Copacabana. Particularmente o escopo estar colocado nos grupos de mulheres que frequentam estes espaos e no cruzamento entre a heterogeneidade etria e de estticas que ali aparecem para tentar enxergar quais masculinidades ali emergem. Palavras-chaves: Gnero Sociabilidade Mas- culinidade Identidade Raa. Abstract: The present article examines the particular ways in which gender expression and age/generation intertwine to shape the sociability of the groups that constitute three spaces of night fun: Plural and Arena, two nightclubs called GLS located in Nova Iguau Delhi, metropolitan area of Rio de Janeiro, and Baile da Mary (Marys Party), organized once a month at the Clube Olmpico in Copacabana. Particularly the scope will be placed in groups of women attending these spaces and the intersection between age heteroge- neity and aesthetic appearing there to try to see which masculinities emerge there. Keywords: Gender Sociability Masculinity Identity Race. 1 Agradeo a pedagoga Cristhiane Albuquerque por sua crtica e sugestes. * Antroplogo, professor do Departamento de Cin- cias Humanas do Instituto do Noroeste Fluminense de Educao Superior da Universidade Federal Flu- minense, Santo Antnio de Pdua/RJ. Pesquisa gnero masculino desde 1998, ten- do publicado livros e vrios artigos o sobre o tema. 36 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 As dcadas de 1960 e 1970 ficaram marcadas pelas lutas de mulheres, gays e negros contra as discriminaes que sofriam, no sentido de questionar o poder masculino, branco e heterossexual. Estes movimentos sociais fizeram com que a categoria gnero se tornasse to importante na anlise social, quanto s categorias classe e etnia. Neste contexto de efervescncia poltica e contestaes sobre poder, identidade e gnero, surgem - s primeiras indagaes acadmicas acerca da masculinidade - as primeiras publicaes que trouxeram novas discusses sobre masculinidade. Essas reflexes mostraram que, nas sociedades urbanas ocidentais, a masculinidade uma experincia coletiva, em que um homem busca reconhecimento atravs de prticas com as quais conquistar visibilidade e status social perante seu grupo. As prticas sociais masculinas podem mudar, de acordo com a socie- dade, ou mesmo dentro de uma mesma sociedade, pois a masculinidade passvel de variao, conforme a regio, classe, origem tnica, religio etc. Essas variveis afirmam o fato de que o gnero masculino, assim como o feminino, no determinao biolgica, mas, como qualquer identidade humana, a masculinidade no essencializada ou universal (Souza, 2009). Estes estudos trouxeram, pelo menos, duas novidades na anlise da cons- truo social da masculinidade. Uma delas que em todas as sociedades estudadas, h uma masculinidade socialmente valorizada e uma exign- cia para que esta seja desempenhada pelos homens. Esta masculinidade desejada que estrutura as relaes de poder, sendo ela o que alguns pesquisadores chamam de masculinidade hegemnica (Connell, 1995; Kimmel, 1998). Nas sociedades ocidentais, em especial as que tiveram a experincia colonial, a masculinidade hegemnica2 branca, heteros- sexual e burguesa. A outra novidade que, embora os homens possuam vantagens sociais por sua condio de gnero, eles no compartilham destas vantagens uniformemente, j que h assimetria baseada na classe, raa /etnia, religio e, obviamente, orientao. Uma maneira de se compreender essa masculinidade ocidental investigar a construo social do seu outro fundamental: a masculinidade negra. 3
Os homens que fazem parte das minorias sexuais e tnicas so os principais grupos marginalizados pela masculinidade hegemnica, 4 na medida em que esto, simbolicamente, mais distantes dos padres criados e mantidos 2 Uma observao importante que essa masculinidade hegemnica no fxa, ela dinmica e deve ser compre- endida no seu contexto, onde ela desempenhada. Para uma discusso sobre a compreenso da masculinidade hegemnica no seu contexto ver Connell, 1995 e Souza, 2010. 3 Outra masculinidade, importante para a compreenso masculinidade no Ocidente, a masculinidade homos- sexual, com toda a problemtica que a categoria homossexualidade tem como categoria analtica. 4 Obviamente, a classe importante, porm os homens brancos heterossexuais pobres podem formar alianas com os grupos hegemnicos mais facilmente. 37 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 pelo grupo dominante, pois a marginalizao sempre relativa ao poder do grupo dominante. Nesse sentido, as relaes raciais tambm po- dem se tornar parte integrante da dinmica entre masculinidades (Connell, 1995: 80). 5
Ao mesmo tempo que, para o ocidente, os homens negros se tornaram motivo de desconfiana e temor, sua sexualidade tornou-se o ponto de referncia das interaes estabelecidas entre homens negros e brancos (Friedman, 2002: 98). Sobre isso, a masculinidade negra passou a re- presentar uma ameaa ao homem branco, passou a ser o profundo medo cultural do negro figurado no temor psquico da sexualidade ocidental (Bhabha, 2003: 71). Assim, o corpo negro africano foi dissecado por anatomistas brancos, sua inteligncia aferida por educadores e a existncia de sua alma discutida por filsofos e telogos brancos (Friedman, 2002), procurando demonstrar que os homens negros eram inferiores e, paradoxalmente, esta inferiori- dade seria, ao mesmo tempo, uma ameaa para o homem branc, ao que o havia de mais valioso nesse contexto social, que a mulher branca. Ela, por possuir o ventre que d braos saudveis nao, no poderia ficar merc dos homens negros, pois as mulheres brancas se contaminariam com impureza africana, alm disso, ela poderia desejar (e pior, gostar) desses homens que no esto mais em um continente misterioso e distante, mas, em consequncia do trfico escravagista, eles agora esto nas lavouras, nas fbricas, nos quintais e, em alguns casos, no interior das casas. Uma das solues para tentar manter os homens negros longe das mulhe- res brancas, nos Estados Unidos, foi a criao da Ku Klux Klan no final da Guerra Civil Americana (1861-1865). Suas viglias noturnas tinham sadas noturnas tinham como principal objetivo caar e eliminar casais inter- -raciais. Quando eram descobertos, invariavelmente, os homens negros eram linchados e/ou enforcados e, no raro, eram castrados (Friedman, 2002). O medo dos homens negros no foi, contudo, uma exclusividade da sociedade norte-americana. No Brasil, tambm havia um grande temor com a aproximao da inevitvel abolio da escravatura; a libertao dos escravos despejaria uma horda de homens semibrbaros na sociedade (Azevedo, 1987: 68) e, com a Proclamao da Repblica, a elite poltica e econmica brasileira via os africanos e seus descendentes como obstculos construo do Brasil como nao moderna. A soluo imaginada por essa elite, influenciada pelas teses cientficas do da- rwinismo social e pela eugenia, foi promover o branqueamento da populao, atravs da imigrao de europeus. Para isso, o Estado Brasileiro incentivou a imigrao europeia, com financiamento das passagens e promessas de terras 5 Race relations may also become an integral part of dynamic between masculinities (Connell, 1995: 80). 38 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 para os que quisessem se estabelecer por aqui. Com esta poltica pblica de 1890 a 1920, entraram aproximadamente 3,99 milhes de imigrantes europeus em cerca de quarenta anos. Para que se tenha uma ideia, para o Brasil, ao longo de trs sculos, foram trazidos para ser escravizados cerca de quatro milhes de africanos (Bento, 2002: 32). Com respeito entrada dos homens brancos no Brasil, a misso desses imigrantes ia para alm da mera substituio da mo de obra de origem africana, mas era fundamentalmente depurar, melhorar a populao brasi- leira, atravs da miscigenao do seu sangue branco. Em poucas palavras: era civilizadora. Por isso, a miscigenao, celebrada pela elite tupiniquim, foi a soluo final para superar o atraso que os africanos causaram ao Brasil com o trfico escravagista. Esta soluo levou o diretor do Museu Nacional, Joo Batista de Lacerda, apresentar o ideal de branqueamento em seu relatrio como sendo a soluo do problema sangue africano no Brasil, no I Congresso Universal de Raas, em Londres, no ano de 1911. Ele afirma com otimismo que (...) no Brasil j se viram flhos de mtis apresentarem, na terceira gerao, todos os caracteres fsicos da raa branca (). Alguns retm uns poucos traos da sua ascen- dncia negra por infuncia do atavismo () mas a infuncia da seleo sexual () tende a neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos mtis todos os traos da raa negra (). Em virtude desse processo de reduo tnica, lgico esperar que no curso de mais um sculo os mtis tenham desaparecido do Brasil. Isso coincidir com a extino paralela da raa negra em nosso meio (Skidmore, 1976: 83). Nos clculo do senhor Joo Batista de Lacerda, todos os negros desapare- ceriam do Brasil pela miscigenao, pois o sangue superior do europeu superaria o sangue inferior dos africanos e seus descendentes at o final do sculo XX. Se o ilustre doutor estivesse vivo talvez no gostasse de saber que no ltimo censo, pela primeira vez no Brasil, os brancos no eram mais a maioria tnica por aqui. Para os intelectuais eugenistas do fim do sculo XIX, a miscigenao apresentada ao mundo como uma soluo para o problema brasileiro e foi idealizada atravs do casamento do homem branco com a mulher negra, excluindo, desta forma, o homem negro, assim, (...) a mistura racial no pas orgulhosamente apresentada para o mundo, esta miscigenao, aceita de forma exaltada, foi construda sob uma excluso ideolgica: a do homem negro. A estratgia atrs da imagem (...) foi precisamente tornar incon- cebvel que o mulato brasileiro teria me branca e pai negro (Carvalho, 1996:4) 6 6 The racial mixture the country proudly presented to the world i.e., the accepted and praised form miscegenation was built under on ideological exclusion: that of black man. The strategy behind the images () was precisely to make it inconceivable that Brazilian mulato would have mother white and black father. Traduo livre. 39 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 Para eles, os homens brancos europeus chegariam ao Brasil com o caminho aberto para as mulheres de terras tupiniquins que, segundo eles, tinham predilees por brancos, por serem superiores. Esta crena muito bem retratada na Literatura do sculo XIX, este foi o motivo para Bertoleza se submeter ao desprezo que seu amante, o portugus Joo Romo, casal descrito na obra prima de Aluizio de Azevedo O cortio, publicado em 1890. Este ideal de branqueamento no foi descrito, apenas, nas pginas dos livros daquela poca. No quadro A Redeno de Cam, pintado por Modesto Brocos, tambm levanta-se essa questo, sendo essa pintura feita cinco anos aps a publicao desse livro de grande sucesso editorial. O nome desta obra faz referncia maldio que No proferiu sobre seu filho Cam, fazendo dele escravo de seus irmos, conforme o captulo 10 do livro de Gnesis, conhecido como A tbua das naes. Algumas interpretaes racistas dizem que esta maldio teria se estendido a todos os africanos e seus descendentes at os dias de hoje, justificando sua escravizao. Na tela de Brocos, vemos uma senhora negra com as mos voltadas para o alto, como que agradecendo a Deus, e ao seu lado, sua filha de pele mais clara, fruto de uma primeira miscigenao. Vemos tambm em seu colo uma criana, cuja cor da pele traria a marca da redeno to sonhada pela elite brasileira: o filho branco da relao miscigenada. Sentado prximo s mulheres e a criana, est um homem branco, com um leve sorriso no rosto, sendo ele responsvel por esta redeno. Este homem branco encar- na a mission civilisatrice promovida pelo imigrante europeu, agente criador da nova raa brasileira, com apoio e financiamento do Estado Brasileiro. A Redeno de Cam 40 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 No mesmo esprito da poca, O cortio fala dos primeiros momentos do processo de urbanizao que transformaria a cidade do Rio de Janeiro, apagando simblica e concretamente o passado colonial e escravagista, e as relaes tensas entre brasileiros e portugueses. Estas relaes so descritas com a linguagem da escola Naturalista, na qual a raa e o meio so vistos como as variveis fundamentais para se compreender a histria humana e explicar suas hierarquias, ou seja, a suposta superioridade dos caucasianos sobre os outros grupos. Nesse livro possvel perceber que a interaes entre os homens negros e brancos no eram das mais amistosas, em especial, quando havia disputa por mulheres, em uma poca em que o nmero de mulheres, de qualquer cor, era menor que a de homens. 7
Com isso, os homens negros se tornaram um obstculo ao projeto de embranquecimento da nao, sonhado pela elite nacional. Eles eram o obstculo que teria que ser removido e, para isso, se construiu um apara- to eficaz que ecoa at hoje em vrios segmentos de nossa sociedade. As representaes de homens negros e brancos fazem com que estes dois grupos se coloquem em posio antagnica pela disputa pelo prestgio da masculinidade. Cabe lembrar que as interaes entre homens, de qualquer grupo tnico so marcadas pela disputa entre homens de origem africana e europeia que tm caractersticas prprias, subjazendo, neste pugilato, todos os mitos criados em torno do pnis do homem africano, a sombra que o homem branco criou e que se voltou sobre ele mesmo, pois existia um profundo medo cultural do negro figurado no temor psquico da sexualidade ocidental (Bhabha, 2003:71). Esta disputa (maquia) pelo poder (phallus) e prestgio conferidos pela masculinidade entre homens negros e brancos o que eu chamo de falomaquia (Souza, 2010). Esta luta, s vezes, tem carter de uma verdadeira titanomaquia, mas na maioria um verdadeiro massacre. O livro O cortio , para mim, paradigmtico na compreenso desta falomaquia, pois ele traz as principais representaes dos homens negros e brancos. Passamos, portanto, anlise do livro. Nele, h um tringulo amoroso formado por Firmo, negro capoeirista, namorado da mulata Rita Baiana e Jernimo, portugus que encarna o ideal do imigrante trabalhador, rival de Firmo. Nos corpos dos personagens esto inscritos os lugares sociais dos descendentes de africanos e brancos europeus. Azevedo antecipa todos os esteretipos da mulata assanhada que, mais tarde, ser cantada em prosa e verso. Rita Baiana descrita com um estilo que antecipa tambm uma escrita freyreana: Ela respirava o asseio das 7 Homens foram maioria da populao brasileira at a dcada de 1930, somente a partir de 1940 as mulheres tornaram-se maioria. Isso porque, devido ao trfco escravagista, os homens eram maioria entre os que chegavam com vida ao Brasil e vinda de imigrantes europeus (Alves, 2012). 41 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano (Azevedo, 2004: 61). Jernimo descrito magnanimamente, encarnando o ideal do homem branco como mquina civilizadora (Moura, 2004) que redimiria a nao. Nas palavras de Alusio Azevedo ele [portador de um] zelo e habilidade o que o ps assim para a frente; duas outras coisas contriburam muito para isso: a fora de touro que o tornava respeitado e temido por todo o pessoal dos trabalhadores, como ainda, e, talvez, principalmente, a grande seriedade do seu carter e a pureza austera dos seus costumes. (Idem, 46). J Firmo, por sua vez, antpoda da altivez do homem branco europeu, sua descrio o assemelha a um garoto, um moleque que almeja ser ho- mem adulto, ele (...) um mulato pachola8, delgado de corpo e gil como um cabrito; capadcio9 de marca, pernstico, s de maadas e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira, teria uns trinta e poucos anos, mas no parecia ter mais de vinte e poucos, parecia menino. Pernas e braos fnos, pescoo estreito, porm forte; no tinha msculos, tinha nervos. A respeito de barba, nada mais que um bigodinho crespo, petulante (Ibidem 66). Jernimo, um dos principais personagens da trama, vive do trabalho duro nas pedreiras, enquanto Firmo vive de expedientes, afilhado de polticos para quem realizava servios, alm de gostar de jogos de azar. A certa al- tura da trama, Firmo e Jernimo entram em confronto direto pelo amor de Rita Baiana. Para eliminar o rival, Jernimo rene alguns amigos e faz uma emboscada para matar Firmo. Aps eliminar fisicamente seu rival, ele abandona sua esposa e vai viver com Rita Baiana. A morte de Firmo se assemelha a de outro personagem negro de Alusio Azevedo: Raimundo, personagem principal do livro O Mulato (1881). Ele, que apesar de ter estudado na Europa, no consegue escapar do destino que a cor da sua pele lhe reservava. Ao se interessar por uma mulher branca que tambm era desejada por outro homem branco, Raimundo assassinado por Luis Dias, seu rival. Um homem negro que fica no cami- nho do homem branco, no caminho da sua mission civilisatrice, precisa ser desencorajado, e se necessrio, eliminado fisicamente. Embora atualmente tenhamos outras representaes que desqualificam a masculinidade negra, essas representaes ainda ecoam at os dias de hoje; entretanto, no somente na literatura que a masculinidade negra 8 Indivduo pedante, cheio de si. Indivduo de elegncia duvidosa, pretensiosamente apurado no trajar. Dicionrio Aurlio sculo XXI, verso 3.0. 9 Impostor, trapaceiro (idem). 42 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 apontada como uma masculinidade falha. Nesse sentido, o socilogo Gilberto Freyre, em seus livros mais conhecidos, Casa Grande & Senzala e Sobrados e Mucambos, que se transformaram em uma espcie de vade mecum da ideologia do embranquecimento do sculo XX, descreve o homens negros, com atributos que os emasculam. Para Freyre, o homem negro seria alegre, fcil, colaborador do branco, passivo, coletivista (Bocayuva, 2001: 123-124). Por outro lado, o homem branco descrito como extrema- mente viril, predicado que no compartilha nem com ndios, nem com negros esta virilidade seria atributo do portugus, repassada ao brasileiro (Idem: 101-103). fcil inferir que, para Gilberto Freyre, o brasileiro, aquele que recebeu os atributos viris, no o homem negro, nem o indgena, mas o branco, nascido no Brasil. Raewyn Connell (1995) nos demonstra que uma das formas de um gru- po de homens se estabelecerem como hegemnica desqualificando as outras, criando e reproduzindo esteretipos que as apontam como referncias negativas de masculinidades, para que os homens pobres, negros e homossexuais, tornem-se contraponto para que o ideal branco, heterossexual e burgus seja colocado como referncia de masculinidade positiva nas sociedades ocidentais. Nesse sentido, a fora do esteretipo est exatamente no fato de se legitimar, pela maior capacidade de persuaso do grupo hegemnico que se impe, transformando sua ideologia em verdade universal. Deste modo, representaes da masculinidade negra como pe- rigosa, so repetidas ad nauseam nos meios de comunicao, em especial, nos noticirios policiais e telenovelas. Vejamos alguns exemplos em duas telenovelas de muito sucesso, veiculadas pela Rede Globo, a emissora com a maior audincia do pas: Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva e Da Cor do Pecado, de Joo Emanuel Carneiro, ambas produzidas e exibidas em 2004. Sobre as duas novelas, mais de cem anos aps seu lanamento, os personagens de O Cortio se fazem presente no imaginrio dos autores dos folhetins eletrnicos que reproduzem estruturas similares dos principais protagonistas desse livro. Em Senhora do Destino 10 h um tringulo amoroso composto por Rita, tam- bm mulata e baiana como a Rita do romance de Alusio Azevedo. Ela descrita como Mulata e bonitona, muito maltratada pela vida e tem dois pro- blemas: o marido, atualmente preso, que exige dela qualquer sacrifcio para tir-lo da priso e o alcoolismo. Essa personagem casada com Cigano, um homem negro descrito como sendo um marginal de pssimo carter, (...) casado com Rita a quem tiraniza, exigindo sustento. Covarde e medroso, ele s cresce diante da famlia, que mantm aterrorizada. Por fim, Constantino, um branco portugus, 10 Todas as informaes sobre estas novelas e seus personagens tm como fonte a pgina da Rede Globo <http:// redeglobo.globo.com/Senhoradodestino/0,23167,3545,00.html> 43 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 O ltimo portugus a imigrar para o Brasil, [que] resolveu permanecer no pas, trabalhar muito e s voltar para Portugal depois que se desse bem. Na trama, Cigano, depois de uma srie de atos que demonstram o quanto era mau pai e marido, cai em uma emboscada feita por uma mulher branca que o mata, deixando o caminho livre para que Constantino se case com Rita, assumindo e valorizando sua famlia. J na novela A Cor do Pecado 11 h, mais uma vez, um tringulo amoroso um pouco mais complexo, quase um quadrado, composto por Preta (negra), jovem mulher maranhense de bom carter, bem humorada e romntica, criada pela me, dona Lita e nunca conheceu o pai; seu namorado Dod (negro) vocalista de uma banda de reggae em So Lus, mulherengo, de carter duvidoso. No decorrer da trama, Dod se transforma em um dos principais viles; Preta desperta interesse em Paco (branco), que descrito como uma pessoa idealista capaz de abrir mo de sua fortuna para viver uma vida honesta. Os dois do incio a um romance e tm um filho, porm, Paco sofre um acidente e dado como morto. Essa viuvez fez com que Felipe, negro, bom moo, advogado e trabalhador, melhor amigo de Paco, aps a suposta morte do amigo se apaixonasse por Preta e iniciasse um romance. Depois de algumas idas e vindas da trama, Paco volta cena se reaproximando de Preta; com o retorno do amigo, Felipe sai da disputa, continuando a antiga amizade, sendo assim, poupado. Entretanto, Dod insiste em ter Preta de volta, desafiando Paco, ficando, assim, entre o homem branco e seu objeto de desejo, o que resulta na sua morte violenta. Embora as tramas variem, os lugares sociais dos personagens e os desfechos das tramas so os mesmos das duas telenovelas, assim, como no livro O Cortio: os homens negros so obstculos ao projeto hegemnico da masculinidade branca que de- vem ser afastados, seja pela submisso, seja pelo extermnio. Se levarmos em considerao que as telenovelas so o principal entretenimento das camadas populares no Brasil, pode-se imaginar a capacidade de inculcar valores e padres dos grupos hegemnicos e, mesmo sabendo que os telespectadores no so passivos diante da TV, a capacidade de atrao e seduo muito grande para ser desprezado. 11 Idem < http://redeglobo.globo.com/Dacordopecado/0,18529,3255,00.html> 44 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 Vejamos estes tringulos de forma mais esquemtica, onde as hierarquias so representadas: Sobre as perspectivas ora apresentadas, podemos afirmar que a falomaquia no se restringe ao mundo ficcional. Isso porque, os mitos criados em torno do homem negro e sua sexualidade assombram alguns homens brancos, estabelecendo, assim, uma relao tensa de contraste com o homem ne- gro (Connell, 1995:75), sendo o principal rival na disputa pelas mulheres brancas e negras. Este posio/situao faz com que os homens negros e brancos estejam em contnua falomaquia. O medo do homem negro em torno da sua sexualidade e os mitos sobre seu pnis so parte, talvez fundamental, das interaes entre homens negros e brancos. A edio da revista Black People, publicada em setembro de 1990, traz uma matria de capa sobre o homem negro no Brasil e os mitos racistas em torno deles; nela, h debates e entrevistas sobre estas representaes, entre eles, o tamanho do pnis e a irresistvel atrao que os homens negros exercem sobre as mulheres brancas, em especial as loiras, e vice-versa. Essas mu- lheres, quando foram ouvidas, diziam que quando se relacionavam com homens brancos, evitavam ou mesmo negavam ter se relacionado com homens negros, pois quando eles sabiam passavam a se comparar com o antigo namorado, transformando o seu corpo em um campo de batalha entre dois homens que, s vezes, nem sequer se conheciam. As interaes entre homens negros e brancos so marcadas pela disputa pelo prestgio da masculinidade, com isso, os portadores da masculinidade hegemnica no Ocidente, os homens brancos, utilizam meios institucionais para oprimir as outras masculinidades, em especial a masculinidade negra. 12
Nas prises norte-americanas os descendentes de africanos constituem cerca de um milho do total de 2,3 milhes de populao carcerria, sendo quase seis vezes mais que os brancos. 13 Tambm no Brasil, os nmeros no 12 Sabemos que, em vrios pases h leis severas contra homens homossexuais, que vo desde privao da liberdade at a morte. Entre os meios institucionais opressivos, incluo tambm as leis que difcultam ou inviabilizam as unies formais, casamentos e/ou adoo de crianas para unies homoafetivas. 13 Fonte: Criminal justice fact sheet. Incarceration Trends in America. Site da NAACP: <http://www.naacp.org/ pages/criminal-justice-fact-sheet> 45 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 so muito animadores, 60% da populao carcerria composta por ne- gros, os brancos so 37%. 14 Os homens negros no vo somente em maior nmero para as penitencirias, como morrem de forma violenta em maior nmero que os homens brancos. Entre os anos de 2002 e 2011 morreram 50.903 jovens brancos e 122.570 jovens negros por Causas Violentas, 15 isto significa uma diferena de quase 150% entre os dois grupos (Waiselfisz, 2013). Quanto a isso, taxas de mortes de jovens negros so iguais as taxas de homens de todas a faixas etrias de pases que esto em guerra civil e demonstrando que, no Brasil, ser do gnero masculino, negro e estar na faixa etria entre 14 e 25 anos fazer parte de um grupo de risco. Os homens negros so motivo de preocupao dos rgos de segurana pblica dentro e fora das penitencirias, em 1998, quando os altos ndi- ces de criminalidade na cidade do Rio de Janeiro colocou em xeque a capacidade das foras de seguranas estaduais para conter a violncia que tanto assustava a populao, os debates veiculados pela mdia levantavam a possibilidade de interveno das Foras Armadas para se combater a criminalidade; assim, inspirada por estes debates, o jornal O Dia publi- cou uma reportagem com o ttulo Entre o cu e o inferno, cuja ilustrao paradigmtica. Na pgina que trazia as opinies de autoridades ligadas Segurana Pblica e pesquisadores, um desenho de uma silhueta mascu- lina dividida em duas metades, a metade esquerda preta e tem na mo um machado de duas faces semelhante ao smbolo do orix Xang, uma das divindades do panteo do Candombl; a outra metade branca tem na mo direita uma cruz, smbolo mximo do cristianismo. Esta ilustrao sintetiza as representaes sociais das masculinidades branca e negra: de um lado, o homem negro, portando um smbolo que para muitos diab- lico, o responsvel pela criminalidade que ameaa a sociedade e que deve ser contida a qualquer custo. Do outro, o homem branco, o portador do smbolo da paz, que vai redimir a sociedade, protegendo-a do perigo de uma criminalidade desenfreada. 14 Fonte: Departamento Penitencirio Nacional Sistema Integrado de Informao Penitenciria (Infopen) do Ministrio da Justica. 15 Causas Violentas so as mortes causadas por acidentes de transporte, homicdios e suicdios (Waiselfsz, 2013: 9). 46 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 A ilustrao da reportagem Entre o cu e o inferno Sobre a desqualificao da masculinidade negra, ela se inicia na juventude, e, s vezes, at mais cedo. Homens jovens negros causam temor em especial quando esto em grupo, eles so os elementos suspeitos alvos preferenciais das blitzen policiais (Ramos, 2004). O governador Sergio Cabral, em uma entrevista, faz essa afirmativa, quando aponta o aborto como poltica de preveno da criminalidade. Desse modo, nas suas palavras: Voc pega o nmero de filhos por me na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Mier e Copacabana, padro sueco. Agora, pega na Rocinha. padro Zmbia, Gabo. Isso uma fbrica de produzir marginal. 16 Os bairros cariocas, que segundo o governador tm padro sueco, no por coincidncia, so bairros de classe mdia e alta, cuja populao majoritariamente branca, 17 enquanto a conhecida favela carioca, que 16 Para ver a integra da entrevista: http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL155710-5601,00-CABRAL+DE FENDE+ABORTO+CONTRA+VIOLENCIA+NO+RIO+DE+JANEIRO.html 17 Instituto Pereira Passos - Bairros Cariocas - Armazm de Dados - Portal Geo Rio. 47 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 tem sua populao composta na sua maioria por negros e nordestinos 18
, sintomaticamente, comparada a pases africanos pobres. Evitar que os moradores da Rocinha tenham filhos, segundo o governador, evitar que nasam bandidos. Os noticirios e os programas policiais so prdigos em apontar os jovens menores de 18 anos como o principal motivo para os altos ndices de criminalidade nas grandes cidades do pas. A prestigiosa revista norte- -americana Newsweek traz na sua capa da edio de abril de 2006 o seguinte ttulo em letras garrafais: Rios ruin: Chaos and violence are destroying Brazils Marvelous City (A runa do Rio: Caos e violncia esto destruindo a Cidade Maravilhosa do Brasil). Para que no haja dvida de quem o agente deste caos e destruio, h uma foto onde vemos um rapaz negro sem camisa correndo descalo com uma pistola na mo. Para a revista, o motivo do caos e runa da cidade no a corrupo, a violncia policial, muito menos a impunidade, mas os meninos e rapazes negros que vivem em bairros perifricos ou em favelas. A capa da revista Newsweek e o agente do caos e violncia do Rio de Janeiro. 18 Idem. 48 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 Sobre a reportagem, h um consenso, compartilhado por jornalistas e autoridades como o governador do estado do Rio de Janeiro e pessoas comuns, que seria a diminuio da menoridade penal para 16 anos, pois, para eles, os jovens pobres so os responsveis pelo aumento da crimina- lidade que assola os grandes centros urbanos. Refletindo essa opinio, o peridico Manchete do Dirio do Vale do dia 13 de outubro de 2011, da cidade de Angra dos Reis, no Sul Fluminense, traz a seguinte reportagem: Menor preso por trfico e, embora a reportagem no descreva a cor dos jovens, nem da vtima, a ilustrao no deixa dvida quanto a cor da vtimas e dos assaltantes. A vtima branca, o assaltante maior branco e o mais perigoso, o que ainda menor, negro. Veja abaixo a ilustrao: Manchete do Dirio do Vale: Menor preso por trfco Na manchete do jornal, existe uma opinio, carregada da ideologia pro- pagada h mais de trs sculos, compartilhada e difundida por veculos de comunicao em vrios pontos do pas. Ainda sobre essa corrente ide- olgica, O Jornal da Cidade, da cidade de Lago da Prata, em Minas Gerais trouxe, no dia 26 de julho de 2013 a seguinte manchete: Menores so presos na zona rural em veculo usado para traficar drogas. Se, na reportagem no h nenhuma descrio da cor dos rapazes presos, a ilustrao esclarece: o menino negro. Mais uma vez, temos o contraste da ordem e o caos nas cores do garoto preso e o policial que efetua a priso. 49 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 Jornal da Cidade: Menores so presos na zona rural em veculo usado para trafcar drogas. Para a manuteno do prestgio conferido pela masculinidade hegemnica ocidental, os homens brancos elaboram estratgias para a manuteno deste lugar de poder. Estas estratgias tm como funo principal a subor- dinao de todos aqueles e aquelas que, segundo seus critrios, se afastam deste ideal: as mulheres; homens homossexuais; negros, indgenas; pessoas com deficincia etc. O entrecruzamento destas variveis afasta mais ainda um sujeito deste ideal: uma mulher homossexual est mais distante, por exemplo, que um homem tambm homossexual, pois mesmo homossexual, a masculinidade de alguma forma possibilita a aproximao do ideal hege- mnico, basta que vejamos a invisibilidade com que a homossexualidade feminina relegada, se comparada masculina, para percebemos o quanto as mulheres esto distantes desse ideal; um homem com deficincia e assim por diante, entretanto, nada afasta mais deste ideal do que a varivel raa. Como vimos, em pases que tiveram a experincia colonial, os africanos e seus descendentes so os antpodas dos padres de masculinidade ideal que se criou no Ocidente. Eles so os principais adversrios na disputa pela manuteno do prestgio conferido pela masculinidade. Eles so vistos como reais ameaas, uma ameaa ao seu lugar de poder. Os vrios 50 ANTROPOLTICA Niteri, n. 34, p. 35-52, 1. sem. 2013 1Prova - JLuizSM - 27/jan/2014 mitos criados pelo Ocidente, os homens africanos e sua sexualidade, em especial sobre o seu pnis, fez destes homens o pesadelo para o ideal he- gemnico: Eles so genitais. (...) Vamos ficar atentos. Tomar cuidado seno eles nos inundaro com pequenos mestios (Fanon, 2008:138). Para se prevenir desta ameaa, cada sociedade criou seus prprios mecanismos que, embora tivessem suas variaes, tinham e mantinham a violncia fsica e simblica como mecanismo para manter os homens negros em posio subordinada. Se antes havia os linchamentos, enforcamentos e castraes para tentar manter os homens negros afastados, tanto das mulheres quanto da dis- puta pelo poder, e algumas destas prticas eram ilegais ou pela menos paralegais, hoje temos mecanismos legais, formais que fazem este papel, embora nunca demais lembrar as outras formas ainda esto vigentes. Basta que vejamos quem so as vtimas dos autos de resistncia para nos lembrarmos de que estas prticas esto a. Alm dos aparatos repressivos para a manuteno do poder, h outros meios mais sutis, pois seria impos- svel a manuteno da hegemonia somente com a violncia direta, como nos ensinou Maquiavel, j no sculo XVI. H que se criar outros meios e compensaes para que os grupos oprimidos no s tenham a sensao de que suas escolhas so livres e que o dominador seja o seu referencial, seu ideal, isto possibilita a pax romana; entretanto, se estes mecanismos falharem, o porrete sempre estar ao alcance das mos para que as coisas voltem para o seu lugar. Assim, foram criadas as vrias representaes sobre a masculinidade negra para que estas coisas fiquem no lugar, que a ordem no seja ameaada. Para que os homens negros sejam o bicho-papo que assuste, no s assuste as crianas, mas que mantenham as mulheres afastadas deles, assim como eles tambm se mantenham afastados da disputa pelo poder, entretanto, assim como as mulheres e os gays, os descendentes de africanos tm ofe- recido resistncia, denunciando a ilegitimidade deste poder que se quer hegemnico e sem contestao. REFERNCIAS ALVES, Jos Eustquio Diniz; CAVENAGHI, Suzana. Tendncias demogrficas, dos domiclios e das familias no Brasil. Artigo publicado no dia 25/08/2012 em Aparte Incluso Social em Debate. Disponvel em <http://www.ie.ufrj.br/aparte/> AZEVEDO, Alosio. O Cortio. Porto Alegre: Coleo L&PM Pocket, 2011. AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: O negro no imaginrio das elites sculo XIX. 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