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LOCAL: Brasília/ DF
NÚMERO DE PÁGINAS: 25
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................. 2
INFÂNCIA .............................................................................................................. 3
CURSO DE DOUTORADO.................................................................................... 5
CONCESSÃO DE LIMINAR................................................................................. 17
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO.......................................................................... 20
ATIVIDADES ATUAIS.......................................................................................... 23
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APRESENTAÇÃO
Hoje é primeiro de abril, estamos aqui com o ministro José Carlos Moreira Alves.
Ministro o senhor poderia dizer o seu nome completo?
Meu nome completo é José Carlos Moreira Alves.
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dizendo que precisava falar comigo. E ai então ele me transmitiu o convite para
Procurador-Geral da República. Eu confesso que nunca tinha sido membro do Ministério
Público. Tinha sido advogado, professor de Direito. Eu a princípio recusei. Disse que não
me senti a vontade para ser Procurador-Geral da República, mas ele insistiu dizendo que
ele tinha confiança em mim neste cargo, e eu depois de pedir vinte e quatro horas para
pensar a respeito, convoquei a família, que dizer, convoquei minha mulher, porque as
crianças eram pequenas, e disse: “_Você gostaria de ir para Brasília?” Ela me perguntou:
“_Para você isso é bom?”. Eu disse: “_Bem, eu posso ou liquidar-me por fracassar ou
chegar até ministro do Supremo Tribunal Federal”. Hoje eu penso, felizmente, a segunda
alternativa é que foi a verdadeira. De modo que com isso nós viemos para Brasília e
estamos aqui, desde 1972, até hoje.
INFÂNCIA
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O senhor me disse que o Direito de alguma certa forma se encaixava com seu
temperamento, né? Porque...
Eu sempre tive um temperamento combativo desde o colégio. Desde os tempos de colégio,
em debates e tal... Sempre tive esse temperamento. Por outro lado, eu sempre gostei de
letras. Eu... no momento em que eu desisti de estudar medicina e me empenhei para fazer
o vestibular de Direito, eu me dediquei, de tal forma, que fui primeiro colocado no
vestibular, inclusive com a maior média em latim, sendo que o segundo colocado era um
professor adjunto de latim do Pedro II. [risos]
CASAMENTO E FAMÍLIA
O senhor disse que o senhor conhece a sua mulher desde o quarto ano primário?
Nós fomos colegas. O meu quarto ano primário foi um fato curioso porque eu tinha vindo
de um colégio próximo de casa no Rio Comprido onde fizeram... passara pouco tempo.
E... tive que fazer, então, um exame de verificação de conhecimento para saber se podia ir
para o quarto ano primário. Fiz o exame, e me colocaram no quarto ano onde havia três
séries de mesas: havia as mesas dos muitos bons, as mesas dos mais ou menos e as mesas
dos maus. Eu fiquei na mesa dos mais ou menos com a que hoje é a minha senhora. [risos]
E aí é que nos conhecemos, porque sentávamos na mesma mesa que era como eu disse,
essa mesa média. De modo que o nosso conhecimento data daí. E depois, ela foi... Naquele
tempo, o Instituto Lafaiete tinha um departamento feminino e um departamento
masculino. Eu fui para o masculino, e ela foi para o feminino. Aí nos afastamos. Mas no
científico, voltamos a nos encontrarmos, porque, novamente, havia, as turmas eram mistas.
E depois fizemos o vestibular de Direito, ambos passamos, cursamos o curso de Direito e
quando acabamos nós nos casamos em 1956.
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CURSO DE DOUTORADO
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ata dizendo que eu tomava posse fora da faculdade, porque a faculdade estava interditada
pelos alunos em greve. Foi um período bastante agitado.
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outro lado, o número de procuradores era absolutamente diminuto. Eu logo que tomei
posse, encontrei um problema que foi o seguinte: o procurador que me antecedera e que,
como eu, havia sido advogado do Banco do Brasil, e que ele... deixará o cargo de
Procurador-Geral para ser ministro do Supremo, hoje ministro aposentado também,
Francisco Xavier de Albuquerque, ele sentindo as dificuldades materiais da Procuradoria e
o número exíguo de procuradores pelo Brasil em que uma boa parte dos procuradores
eram cedida por Ministérios Públicos, já que o... a lotação do quadro estava absolutamente
defasada, uma vez que, se não me falha a memória, sendo sessenta e sete vagas, aliás,
cargos de procurador, e nós não tínhamos mais... não tínhamos, talvez, setenta
procuradores em exercício, aliás, procuradores efetivos, ele tinha iniciado o primeiro
concurso que houve na Procuradoria. A prova foi uma prova... aqueles questionários em
que eu brincava: “São aqueles questionários que a gente coloca a cruzinha para acertar ou
errar a questão que era feita”. E aconteceu que houve um fato curioso. Depois de
corrigidas as provas, verificou-se que como a correção se fizera pelo computador, que
muitos dos candidatos na hora de fazerem a marcação das cruzinhas, não calcaram com
suficiente força num instrumento que era justamente para marcar, a fim de que o
computador pudesse computar o certo e o errado. E com isso, então, se teve então que
anular o resultado da prova escrita que era uma prova eliminatória. E aí o primeiro
problema que eu encontrei foi justamente este: foi o de que tivemos que fazer a correção
manual de todas as provas. E, em seguida, veio então... foram eliminados aqueles que
tinham sido reprovados. Restaram alguns, relativamente poucos, tanto que não deu para
preencher o quadro, e veio então o exame oral. E dessa turma vários, procuradores depois
chegaram ao Supremo Tribunal Federal_ ministro Resek que foi dessa turma_ e ao antigo
Tribunal Federal de Recursos, hoje Superior Tribunal de Justiça. Esse foi o primeiro
problema que eu tive e que eu, aliás, me lembro de uma passagem de até certa forma
curiosa. É que quando os procuradores tomarão posse, tomarão posse perante o ministro
da Justiça no Ministério da Justiça, e eu fiz o discurso e comentei, comentei não, nesse
discurso salientei que eles eram os primeiros procuradores que entravam pela porta da
frente da instituição e não pela porta dos fundos, o que desgostou muitos daqueles que
tinham sido aproveitado anteriormente. Mas se foram aproveitados é porque não havia
outra forma de acesso. Mas, de qualquer forma, foi a introdução do sistema que eu acho
que, ainda que possa apresentar falhas, é, sem dúvidas, o melhor sistema para aferição
daqueles que devem ocupar cargos públicos. O mais democrático porque é aberto a todos.
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RELACIONAMENTO INTERINSTITUCIONAL
É, eu já escutei, mais de uma vez, as pessoas com quem eu tenho conversado dizer
que o senhor seria responsável pela dignidade do Ministério Público. A que o senhor
atribuiria isso?
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Isto a senhora sabe que... Isto eu atribuo a bondade dos amigos [risos], primeiramente.
Porque a minha orientação na Procuradoria sempre foi esta, eu sempre fui legalista. Eu
quando achava que tinha razão eu era a favor, quando achava que não tinha, eu era contra.
E por outro lado, me esforcei bastante para melhorar as condições humanas do Ministério
Público, no sentido, inclusive, de se conseguir preencher as vagas do Ministério Público e
o Ministério Público atuar efetivamente pelos seus procuradores. Por isso mesmo que além
de terminar aquele primeiro concurso, eu realizei um segundo e um terceiro concurso que
fez com que quando eu saísse da Procuradoria, eu tivesse deixado, lá, o quadro que,
naquela época, não era grande, mas, em todo caso, o quadro completamente preenchido.
Por outro lado, na minha atuação junto ao tribunal, eu sempre primei, já que, naquela
época, o Ministério Público também exercia as funções de Advocacia da União, eu sempre
primei pela defesa da União como dever que tinha e, obviamente, pela função como
Ministério Público de fiscal da lei. Por isso mesmo, naquela época, alguns diziam que eu
falava demais, porque eu geralmente eu sustentava as posições do Ministério Público e da
Advocacia da União nas sessões plenárias do Supremo Tribunal Federal de que eu
participava como Procurador-Geral. Isso talvez tenha sido, inclusive, a circunstância que
me levou a uma das grandes surpresas da minha vida. Que foi, justamente, quando o
presidente Médici, ele estava para transferir o cargo de Presidente da República para o
general Geisel, eu já tinha preparado todas as coisas que trouxera para Brasília para voltar
para São Paulo, e aí pedi ao ministro da Justiça, encaminhei ao ministro da Justiça um
pedido de demissão, obviamente. O ministro da Justiça me telefona, no final da tarde,
dizendo: “_O presidente Médici disse que ele não vai assinar, vai deixar para o novo, para
o outro Presidente da República. E eu fiquei preocupadíssimo. Disse ao ministro: “_Mas
como é que eu vou fazer? Quando tomar posse o novo ministro da Justiça, eu vou chegar
para ele e vou dizer: eu ainda sou o Procurador-Geral da República. O senhor há de convir
que é uma situação delicada”. Ele disse: “_Bem, mas o que eu posso fazer? O presidente
não assinou”. Eu também não posso fechar as portas e entregar a chave. E, realmente,
ocorreu um fato curioso, o que, aliás, um parêntese, foram dois fatos curiosos que
ocorreram comigo. Primeiro, quando eu fui apresentado ao presidente Médici, logo pouco
depois dele ter tomado posse. E depois com o presidente Geisel como eu vou salientar.
Com relação ao presidente Médici, ocorreu o seguinte fato: ele era absolutamente fechado
e ele não me conhecia. Por indicação do ministro da Justiça me nomeara. E quando me
viu, eu naquele, tinha recém feito trinta e nove anos, ainda tinha uma aparência de homem
moço, ele olhou para mim, franziu a testa e disse: “_Mas é o senhor o Procurador-Geral da
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República?”. Eu percebi que ele estava me achando muito moço. E... confesso que... Disse
[na verdade, ele quer dizer pensei]: “Bem, agora o que eu vou responder?”. Mas aí é
aquela história. Parece que a mão de Deus baixou. Eu me virei para ele e disse:
“_Presidente, o senhor, pelo menos, de uma coisa pode ter certeza: os trinta e cinco anos
mínimos exigidos pela Constituição foram respeitados”. Foi o primeiro e talvez o único
sorriso que eu tenha visto do presidente Médici com relação a mim. Com referência ao
presidente Geisel, como eu disse, eu tinha pedido demissão, não fora assinado o meu
pedido de demissão, não fora concedido a minha decisão, e eu tive que me apresentar no
dia da posse do ministro Armando Falcão, que tinha sido nomeado ministro da Justiça, e
me apresentei e disse: “_Eu vim aqui cumprimentá-lo pela sua posse, e também te pedir
que encaminhe, o mais rápido possível, se possível amanhã, ao Presidente da República o
meu pedido de exoneração que está em cima da sua mesa, porque eu ainda estou como
Procurador-Geral da República”. Aí para imensa surpresa minha, ele se virou para mim e
disse: “_Eu preciso muito conversar com o senhor. O senhor pode ir amanhã cedo ao meu
gabinete?”. Eu disse: “_Pois não”. Cheguei em casa e comentei com minha mulher. Eu
disse: “_Bem, eu não sei o que está havendo, porque disse que precisa muito conversar
comigo. Para eu amanhã cedo ir ao gabinete dele”. E fui. Lá chegando, ele foi muito
correto comigo. Virou-se para mim e disse: “_Eu queria dizer ao senhor, de início, que o
senhor não era meu candidato a Procurador-Geral da República. Eu tinha um candidato,
levei ao presidente Geisel, disse a ele quem era, ele virou-se pra mim e disse: mas eu tenho
também um candidato e o meu candidato prefere ao do senhor. O senhor convide o atual
procurador para continuar no cargo”. E aí ele me perguntou: “_O senhor aceita?”. Eu
disse: “_Bem, depois do que o senhor me disse... eu nunca na minha vida vi pessoalmente
o presidente Geisel, ele nunca na vida dele me viu pessoalmente e tem uma atitude dessas
para comigo, eu, evidentemente, seria o último dos homens se dissesse ao senhor que não
aceitaria. E com isso, continuei como Procurador-Geral da República no outro governo,
onde todo o ministério, todo o primeiro escalão tinha saído, exceto o ministro Reis Veloso,
que era um homem ligado ao general Médici. De modo que foi uma das grandes surpresas
da minha vida.
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PERÍODOS DIFÍCEIS
Na nossa conversa anterior, o senhor tinha colocado para mim que esses dois
períodos, esses dois governos teriam sido períodos difíceis. Por quê?
Foram períodos difíceis porque foram períodos revolucionários em que ao lado da
Constituição havia, ao lado que dizer, integrando a constituição e afastando a aplicação
dela havia os atos institucionais. E, por outro lado, a Procuradoria tendo um contingente de
pessoal pequeno, de modo que não havendo uma disponibilidade maior de pessoal, e...e
também as questões que surgiram na época que foram várias, de modo que tudo isso fez
com que fosse um período realmente difícil, em período delicado. Principalmente pela
circunstância de que em virtude da emenda constitucional de 1965 que introduziu em
nosso Direito Constitucional a representação de inconstitucionalidade, que nada mais era
do que uma ação direta de inconstitucionalidade contra a lei em tese, se deu ao
Procurador-Geral da República, se deu a ele a única legitimidade para propor essa ação.
De modo que a ele cabia verificar se realmente aquela provocação que se lhe fazia,
entidades... ,enfim, pessoas que lhe faziam, ou mesmo por verificação dele próprio, se
deveria ou não entrar com a representação de inconstitucionalidade. E nesse momento,
evidentemente, era um momento delicado, porque muitas vezes havia problemas...
Problemas de natureza política, problemas aos quais eu que nunca na minha vida tive
tendência política, portanto que a senhora nunca ouviu falar de mim como homem
dedicado à política ou com inclinações políticas, eu sempre procurei pautar-me no sentido
de que se me convencesse que era inconstitucional, eu representaria, mas a senhora sabe
que isso também desgosta muita gente, quando se representa, ou quando não se representa.
E já tinha havido até anteriormente a minha ida para a Procuradoria, tinha havido já
problemas com o procurador anterior, que é hoje o ministro Xavier de Albuquerque, que
deu margem inclusive a aposentadoria requerida pelo ministro Adauto Lúcio Cardoso
quando ele entendeu que hoje o ministro Xavier deveria, naquela época, ter ingressado
com uma representação com relação a qual ele não ingressou. E com isso, então, ele tirou
a toga, deixou em cima da cadeira e em seguida pediu a sua aposentadoria. Então,
evidentemente, isso tudo eram problemas que surgiram. Como houve alguns casos, no
caso de grande repercussão, problemas nas ações penais. Naquela época, eu me lembro de
uma ação penal em que havia como acusado o ministro... o senador que depois ficou
conhecido como senador que foi quem introduziu o divórcio no Brasil pela sua pertinácia,
que foi o senador Nelson Carneiro. Houve um problema penal com relação a ele, uma
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troca de tiros no plenário. Eu me lembro que o advogado de defesa era o advogado Sobral
Pinto, que era um homem altamente combativo. Eu me recordo que devo ter causado a ele
uma surpresa total, porque como Procurador-Geral, eu sempre fui tido como um homem
muito rigoroso em acusações. E, nesse dia, ele depois de encher aquela tribuna de que ele
falava de livros para fazer sustentação, ele jamais pensou na vida dele que o Procurador-
Geral da República, que era eu, pedisse absolvição do réu, tendo em vista que não ficara
provado quem disparara o primeiro tiro. [risos] De modo que isso, inclusive,sempre foi a
minha posição. Eu estava absolutamente convencido...Confesso que não, nunca tive amor
a cargo. Acho que na vida da gente, o nome da gente vale muito mais do que o cargo que a
gente venha a ocupar. De modo que quando estava convencido de que tinha razão, eu
sustentava ardorosamente. Quando não estava, também não fazia a sustentação. De modo
que essa... isso, talvez, seja um dos pontos que me tenham colocado de uma maneira
razoavelmente boa, até sustentar a Procuradoria- Geral da República
O senhor podia contar para a gente o episódio quando o senhor estava sustentando a
extradição de um estrangeiro...
Ah, sim. Essa foi uma passagem altamente curiosa. O ministro Balieiro era um homem
muito curioso sobre um aspecto: ele, geralmente, até por certos acontecimentos de
natureza social, ele, muitas vezes, ia a almoços no Itamarati, enfim, ele chegava no
Supremo e a gente tinha a impressão de que ele fechava os olhos e a gente tinha a
impressão que ele estava dormindo. E eu um dia fazendo a sustentação numa extradição
em que a defesa alegava que o extraditando não tinha sido citado regularmente e pedia,
então, que o Supremo não extraditasse porque a citação era nula e eu sustentava o
contrário, dizendo que , evidentemente, nós não podíamos em matéria de extradição, não
poderíamos examinar unidade processual no país estrangeiro, até porque se pudéssemos
teríamos que requisitar os autos e convocar o advogado, membro do Ministério Público
para fazer um verdadeiro processo no Brasil, e quando estava no auge da sustentação nesse
sentido, ministro Balieiro abriu os olhos e me disse: “_Dr. Procurador-Geral da República,
Vossa Excelência me permite um aparte?”. Confesso a senhora que não caí da cadeira,
porque a cadeira [risos] que eu estava sentado solidamente... Porque nunca tinha ouvido
falar que um ministro do Supremo pedisse um aparte ao Procurador-Geral fazendo uma
sustentação. Eu respondi: “_É claro, Você Excelência tem direito ao aparte”. E ele me
disse: “_Dr. procurador”. Um parêntese. Naquele tempo, era muito famosa a figura de um
escritor soviético, Boris Pasternack, que tinha escrito um livro, Arquipélago de Gulak,
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que tinha fugido da Rússia, tinha saído da Rússia. E...o ministro Balieiro então me fez esta
pergunta: “_Vossa Excelência, se soubesse que o Dr. Boris Pasternack tinha vindo para o
Rio de Janeiro, que aqui no Brasil já estava a bastante tempo e que a Rússia solicitasse a
extradição dele dizendo que ele havia sido citado lá no mês passado. Vossa Excelência
continuaria mantendo sua opinião?”. Eu digo: “_Sem dúvida alguma, porque aqui o
problema é absolutamente técnico”. Disse: “_Ah, foi por isso que o Dr. Boris Pasternack
não veio para o Brasil, porque ele sabia que ia encontrar Vossa Excelência como
Procurador-Geral da República”. [risos]
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que seria o tribunal do novo Estado, e o vice-presidente. Se eles me convencerem de que
eu estou errado, eu não entrarei também, mas se não me convencerem, amanhã eu entrarei,
e isso pode até causar um problema sério aí para a fusão”. O general olhou para mim e
disse: “_O Presidente da República tem absoluta confiança no senhor. O senhor faça
aquilo que entender que deve fazer”. Eu fui, então, para essa reunião com o ministro da
Justiça e com esses membros da Procuradoria Geral da cidade do Rio de janeiro, que era o
Estado da Guanabara, e o presidente e vice-presidente também do Estado da Guanabara. E
lá não encontrei nenhum argumento capaz de me convencer que não havia
inconstitucionalidade nessa desproporção entre dois estados em que deveriam eles fundir-
se, evidentemente, para cada juiz de um Estado por antigüidade, seria promovido um outro
do Estado também por antigüidade. E no dia seguinte, eu entro com a representação de
inconstitucionalidade, e alguns jornais do Rio de Janeiro disseram que eu ia ser demitido.
E, curiosamente, algum tempo mais tarde, pouco tempo mais tarde, eu era indicado para
ministro do Supremo Tribunal Federal pelo próprio presidente Geisel.
CASSAÇÃO DE DEPUTADO
Houve também um outro episódio na sua gestão que foi um episódio importante, um
episódio que apareceu muito na imprensa também, que era com relação a cassação
do deputado Francisco Pinto, né?
O problema não era problema de cassação, o problema era de ação penal. Porque o então
general Pinochet tinha vindo ao Brasil a convite do presidente Geisel em virtude,
justamente, da ascensão dele a presidente. E o deputado baiano, Francisco Pinto, fizera um
discurso na Câmara dos Deputados em que... fizera uma carga muito grande contra o
presidente. Inclusive, não como homem, mas como presidente do Chile. E o presidente
Geisel achou que aquilo configuraria crime. O ministro da Justiça me telefona, me pediu
que eu examinasse a matéria, eu examinei e disse: “_Bem, eu acho que realmente as
ofensas que foram ditas ao general Pinochet, como Presidente da República, são um crime
contra a segurança do Estado, e, portanto, se aplica a lei de segurança nacional”. E ele
perguntou: “_E qual é o tribunal competente?”. Eu digo: “_Eu não tenho dúvidas nenhuma
de que é o Supremo. Até porque há uma antiga jurisprudência do Supremo no sentido de
que o Supremo é que... seria, nesses casos, o tribunal, mesmo com relação a lei de
segurança, seria o tribunal competente, e não a justiça militar, o STM, o Superior Tribunal
Militar”. E... houve até um fato curioso. É que um antigo ministro desse STM que era
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amigo do Presidente da República, esteve com ele e disse: “_Eu acho que o Procurador-
Geral está errado!”. O ministro da Justiça me telefonou preocupadíssimo. Eu digo [disse]:
“_Não. Eu vou representar junto ao Supremo e estou convencido de que ele vai receber a
denúncia, porque eu estou convencido de que, realmente, houve crime. E crime contra a
segurança nacional”. E realmente o Supremo recebeu por onze votos a zero. E aí, então,
começou um processo. Um processo penal que teve grande repercussão na época.
Processo penal esse em que o advogado do deputado era o, então, ex- senador Josafat
Marinho que, aliás, foi de um comportamento exemplar durante o processo, porque,
realmente, não transformou aquilo num espetáculo político, ficou no espetáculo jurídico,
ficou na posição jurídica. No decorrer desse processo, houve... O deputado, ele reproduziu
seu discurso numa estação de rádio de que ele era proprietário em Santana do Livramento,
aliás, em Feira de Santana, perdão; e eu apresentei uma nova denúncia dizendo que ele
estava reincidindo. O tribunal não recebeu como aditamento a primeira denúncia, mas
recebeu como um novo processo penal. O que de certa forma, afinal, até prejudicou o
deputado porque quando houve o julgamento, foi um julgamento longo, demorou várias
horas. Naquele tempo, o procurador fazia a sustentação em uma hora e os advogados
também faziam a defesa em uma hora. Sendo que, no caso, a defesa estava dividida entre o
ex-senador Josafat e, se não me falha a memória, era o senador, hoje ministro Paulo
Brossard. Dividiram o tempo, mas, afinal, o hoje ministro Paulo Brossard, abriu mão do
tempo dele em favor do Josafat Marinho. E o julgamento se prolongou até bem tarde da
noite. Depois o tribunal se reuniu em sessão secreta, também demorou bastante para
decidir, e, afinal, quando veio o resultado, o resultado veio no sentido de que ele era
condenado, mas condenado por crime comum, o que reduzia a pena. Realmente a pena da
lei de segurança era uma pena era muito alta. Pena mínima de dois anos, enquanto que na
legislação comum era de seis meses. O tribunal, então, o condenou a seis meses, mas lhe
negou o sursis, tendo em vista a circunstância de que como ele reproduzira o discurso, isso
indicava que ele seria capaz de reincidir e, conseqüentemente, com isso não lhe deu o
sursis. E mais: o condenou a crime comum. De modo que quando veio a anistia,
posteriormente, ele não foi anistiado pois tinha sido condenado por crime comum. Isso
teve repercussão na justiça eleitoral e ele não pode concorrer às eleições, tendo em vista
que, em virtude dessa condenação... E aí se deu um fato curioso. Ele tinha recorrido da
condenação e, portanto, não tinha transitado em julgado. Tinha recorrido da parte com
relação a pena detentiva de liberdade, mas não pagara... não pagara a pena de multa. Não
satisfizera a pena de multa. E o tribunal eleitoral, em face da legislação da época, com
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isso não pode registrar a candidatura dele para um novo período como deputado. Esse foi
realmente um episódio que teve grande repercussão. Eu me lembro que na imprensa
fizeram uma fotografia curiosa sobre certos aspectos, hilariante para outros e para mim,
constrangedora, porque no plenário do Supremo havia um quadro enorme que tinha sido
pintado por um pintor aqui de Brasília que era uma alegoria desde o descobrimento do
Brasil até Brasília em que havia uma índia, uma figura grande de uma índia com dois
exuberantes seios. E fotografaram eu com o dedo em riste, na sustentação, e com a cabeça
exatamente embaixo do seio da índia. [risos] Posição absolutamente esdrúxula.
Acaba sendo engraçado, né? Depois então o senhor vai para o Supremo Tribunal?
Foi. Como eu disse, em 1975, eu fui indicado, o meu nome foi para o senado. Na época até
se comentava que talvez fosse recusado, porque tinha denunciado vários senadores e com
isso era capaz de haver problemas para o meu nome passar...
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grande amigo meu, e o Brossard virou-se para mim e disse: “_Moreira Alves, eu quero lhe
mostrar uma carta que eu recebi do Balieiro”. Eu sempre achei que o ministro Balieiro não
devia gostar muito de mim, porque ele me achava um promotor público muito severo, e
ele era muito liberal. [risos] De modo que eu disse: “_Bem, ele deve estar achando, vem aí
um juiz severo, não é da minha linha liberal”. Mas me disse, me mostrou, o Paulo
Brossard, uma carta dele em que ele me pedia, a minha inteira revelia, ele nunca me falou
isso, pedia que ele examinasse o nome e tal e votasse pela minha, sim, aprovando a
indicação. E por isso, me foi uma coisa curiosa, que o Brossard na Comissão de
Constituição e Justiça, ele proferiu um voto a descoberto quando, na época, os votos eram
secretos. E aquilo me tocou profundamente, porque o ministro Balieiro, inclusive nessa
carta, fazia alusão ao que ele sofrera quando quase tivera o nome dele recusado para
ministro do Supremo, porque muitos colegas dele de parlamento, achavam que ele era um
político muito exacerbado e seria um mau juiz. E passou realmente com um voto de
diferença ou dois votos. Foi muito apertado. E isso me marcou bastante. E me emocionou
realmente, porque foi uma coisa absolutamente espontânea, a minha inteira revelia, e ele
nunca me disse isso. Eu sei que afinal não foi colocado em votação, e eu passei com trinta
e cinco votos, contra catorze abstenções [risos], de modo que felizmente não tinha voto
contra, mas as abstenções, evidentemente, não eram favoráveis. E aí tomei posse. Isso
foi... O nome foi aprovado em junho, em seguida veio a nomeação e eu tomei posse no dia
20 de junho de 1975. Na última sessão plenária do tribunal no, primeiro semestre de 1975.
CONCESSÃO DE LIMINAR
Durante, nesse momento, 75, né? Seria nesse momento que houve o episódio da sua
atuação para que o tribunal concedesse liminar?
Não, isso foi antes, foi bem antes. Isso, aliás, foi um episódio importante, inclusive pela
minha atuação junto ao tribunal. Porque quando eu cheguei ao tribunal...
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momento, numa dessas questões em que haveria inocuidade da decisão final, ainda que
dando provimento à representação para efeito de declarar inconstitucional a lei, o que é
certo é que eu então resolvi e fiz o pedido de liminar na inicial da representação,
sustentando que se tratava de uma providência em que o tribunal poderia tomar pelo seu
poder jurisdicional, e que era, no caso, absolutamente necessária. Houve uma grande
discussão no tribunal, houve até votos contrários. Um deles do então ministro Bilac Pinto,
mas, afinal, o tribunal, por maioria, entendeu que era cabível e concedeu a liminar. Com
isso, a partir desse momento, o tribunal, concedia ou negava liminar, mas admitia o pedido
e, muitas vezes, a concedia. Até que veio a emenda constitucional número 7 de 1977, e aí
transplantou para o texto constitucional o instituto da liminar na representação de
inconstitucionalidade.
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Constituinte. E eu realmente instalei a Assembléia, numa primeira sessão, que foi assim,
vamos dizer assim, foi uma sessão festiva. E no dia seguinte, eu presidi a sessão em que
houve, em primeiro lugar, uma questão delicada que foi a de saber se os senadores
biônicos da época que não tinham sido eleitos, porque estavam naquele período de... já
tinham cumprido quatro, mas faltavam ainda quatro anos, se eles seriam ou não
constituinte. E aí, então, foi realmente uma questão delicada em que eu decidi no sentido
favorável: admiti recurso para plenário. Muita gente achou que os senadores iam ser
cassados. Mas afinal, por trezentos e noventa e poucos votos contra centos e poucos, o
plenário manteve a minha decisão, e com isso ficou, então, tudo pacificado no sentido de
que todos os parlamentares eram constituintes. E em seguida houve a eleição para
presidência efetiva da assembléia, tendo sido eleito o deputado Ulisses Guimarães.
PROCURADOR-GERAL ELEITORAL
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Mas depois de algum tempo a primeira eleição para governador?
Foi. Para governador, para prefeito, enfim, foram eleições gerais. E foi a primeira eleição
geral, em que começava a vigorar a lei complementar número 5, de 1975. Portanto, não
tinha praticamente sido ainda utilizada, e, conseqüentemente, haviam muitos problemas.
Eu me lembro que foi um período terrível, porque tribunal tinha quinze dias para julgar os
processos eleitorais. Naquela época, eu dei, aproximadamente, trezentos e cinqüenta
pareceres e mais de cem pareceres orais e tive uma satisfação: que a grande maioria dos
pareceres foram acolhidos pelo tribunal. A ponto de um advogado, que está vivo hoje, é
um advogado muito atuante, o Dr. José Guilherme, certa feita fez uma brincadeira com
relação a qual eu brinquei com ele: “_Você está me colocando numa posição delicada”.
Em que um advogado de fora ia levar um memorial para um dos ministros do tribunal e
ele se virou para ele e disse: “_Colega, primeiro passe no Procurador-Geral, porque os
pareceres dele, geralmente, são os projetos de acórdão, porque ele tem sido acolhido na
grande maioria dos casos”. Mas foi uma experiência realmente muito boa, embora um
período terrivelmente de trabalho intensíssimo. Porque, além desse trabalho, ainda tinha a
Procuradoria Geral da República. E, como disse, o único auxílio que se tinha era em
matéria de habeas corpus por um procurador, até porque não se tinha mais gente para isso.
De modo que foram realmente tempos trabalhosos.
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
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consideração dos senhores. Os senhores não me conhecem, nunca me viram, de modo que
vamos fazer o seguinte: “Vamos ver se os senhores convencem seus colegas a voltarem
para que eu dê a aula e se for ruim, eu mesmo saberei isso, de modo que eu mesmo não
voltarei mais aqui. Ou se eu não tiver esse bom senso, os senhores tem o direito pleno de
não mais pôr os pés na minha turma, de modo que os senhores me demitiram da minha
função de professor”. E está foi uma satisfação que eu tive, porque, a partir daí, cheguei a
conclusão de que tinha nascido, talvez, mais para professor do que para qualquer outra
coisa, porque eu dei uma aula que foi a aula mais sofrida da minha vida, mas felizmente
me sai bem. E saí debaixo de uma salva de palmas dos estudantes. E com isso nunca mais
tive problema com turma nenhuma, [risos] porque foi justamente aquela prova de fogo:
“Ou a gente se aniquila, ou a gente é aprovado”. Depois, no Rio de Janeiro ainda, eu
lecionei como professor Catedrático interino, eu era livre docente de Direito Romano.
Naquele tempo era Direito Romano e Direito Civil. Eu lecionei na Faculdade Nacional de
Direito onde me formara na antiga Universidade do Brasil, lecionei na Católica, lecionei
no doutorado da Católica Direito Romano; no bacharelado, Direito Processual Civil,
depois, Direito Civil; lecionei na Faculdade Cândido Mendes, Direito Romano; lecionei na
fundação Getúlio Vargas e instituições de direito público e privado. De modo que quando
eu ganhei o concurso em São Paulo e me transferi para São Paulo, eu já tinha uma larga
experiência de ensino. Eu cheguei a dar seis horas de aula por dia, o que era uma loucura
completa. Além de ser advogado do Banco do Brasil, onde eu tinha que estar presente à
tarde. Dava três aulas de manhã, três aulas à noite e, à tarde, era advogado. Depois,
quando fui para São Paulo, portanto, já tinha essa experiência bastante larga. Lá eu
lecionei quatro anos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, porque
mesmo quando eu assumi... Eu assumi a Procuradoria em 1972... Eu lecionei de 68 até 72,
porque quando estive no ministério, eu estava na ponte aérea. De modo que no início da
semana e no fim, eu estava em São Paulo e podia lecionar na minha turma, nas minhas
turmas. Tanto que um dos atuais ministros do Supremo, que foi meu colega lá, ministro
Celso de Mello, foi meu aluno na primeira turma que eu fui professor na Faculdade de
Direito de São Paulo, no segundo semestre de 1968, quando eu lecionei Direito das
Sucessões. Portanto, em São Paulo, além de ter lecionado na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo, eu lecionei também no Mackenzie Direito Civil. Quando vim
para Brasília como Procurador-Geral, eu parei. Eu fiquei em licença por dois anos, uma
vez que vim aqui pra voltar no final de 73 para começo de 74. E, conseqüentemente, não
ia ter nem requisição da Universidade de Brasília. E mais: eu assumi um cargo altamente
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trabalhoso que era o de Procurador-Geral, num momento difícil, como eu disse, em que
havia uma falta enorme de procuradores e uma falta, inclusive, uma carência de material
também muito grande. Enfim, inúmeros problemas. Por isso eu fiquei licenciado esse
tempo. Quando em 74, quando eu fui reconduzido a Procuradoria, aí a universidade de São
Paulo me pôs a disposição de Brasília. E essa colocação a disposição se foi reiterando ano
a ano e, às vezes, de três em três anos, porque houve períodos em que a Universidade de
Brasília pedia que eu fosse posto a disposição dela. Depois se espaçou por três anos. E aí
eu fiquei de 74 até o ano de 2003, quando me aposentei. De modo que aqui na
Universidade de Brasília, eu tive uma larga atuação, quer no bacharelado, principalmente,
na cadeira de teoria geral do direito privado, quer no mestrado onde lecionei algumas
matérias de direito público. E até matérias mesmo de direito privado, embora num curso
de direito público. Mas foi realmente uma experiência bastante frutífera, porque eu estou
convencido de que professor quando pára não volta mais. E professor que tem vocação
para professor, é professor de bacharelado. É professor junto à rapaziada. Até porque tem
uma vantagem: é que a gente custa mais para envelhecer por dentro, porque aquele, o
convívio com os mais moços como que transfundem mocidade para gente.
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atuação e pela importância que lhe foi dada na Constituição de 1988, o que obviamente
acarreta também encargos muito maiores, o que é certo é que hoje ela é um vasto órgão da
República. Hoje nós temos várias centenas de procuradores. E quando eu me lembro de
que quando eu cheguei aqui, nós tínhamos no Rio Grande do Sul um procurador que era
dado como presente pelos juízes por absoluta impossibilidade de não fazê-lo em cinco
audiências, ao mesmo tempo, como se ele tivesse o dom da obliqüidade [risos] e pudesse,
portanto, ocupar fisicamente cinco espaços diferentes ao mesmo tempo. Mas o que é certo
é que hoje ela é um vasto órgão da República, já tendo realizado inúmeros concursos, e,
sem dúvida alguma, tem uma atuação marcante pela importância que a Constituição lhe
deu, Constituição de 88, e, conseqüentemente, pela importância das atribuições que ela
tem. Agora, como disse, é bem diferente do meu tempo. É bem diferente do meu tempo.
Embora, embora naquele momento houvesse uma circunstância que hoje é um membro
necessário da classe que sai. E naquele tempo... [toca celular] Enquanto que naquele
tempo, o Procurador-Geral da República, por via de regra, era um homem que tinha se
destacado em algum setor... do terreno. [toca celular] Como disse então, naquele tempo
não era um procurador do quadro, e, conseqüentemente, em geral,vinha como Procurador-
Geral da República, alguém que se destacasse de alguma forma em algum setor do campo
jurídico. Por isso mesmo tivemos nomes como o do professor Aroldo Valadão, que era um
nome nacional, e outros nomes nacionais, de modo que isso também acarreta uma
diferença grande. Uma diferença bastante grande, porque o universo da escolha, embora
não seja um universo também bastante grande, porque a classe é bastante grande... O
universo não é tão grande, quanto era o universo anterior, mas isso foi uma posição que a
Constituição adotou e considerou que, tendo em vista as funções do Ministério Público,
deveria ser assim e, conseqüentemente, está muito bem como está hoje.
ATIVIDADES ATUAIS
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procedente uma ação direta de inconstitucionalidade que declarou a inconstitucionalidade
de um dispositivo do antigo estatuto da ordem que dizia que os membros da judicatura, da
magistratura, portanto, eles quando se aposentassem ou se exonerassem do seu cargo de
juiz, eles ficariam impedidos de advogar durante dois anos em todo território nacional. O
ministro relator, era o ministro Néri da Silveira, que julgou constitucional o dispositivo.
Eu pedi vista e dei um longo voto entendendo que era inconstitucional por ser
desproporcional e desrazoado o princípio. Uma vez considerava que seria absolutamente
correto que se estabelecesse esse impedimento junto ao tribunal de que se participara, de
que se tivera participação, mas não com relação ao Brasil inteiro porque dizia: “_Não é
possível que alguém, por exemplo, assuma um cargo de juiz no Amapá, três dias depois se
arrependa, peça demissão, e fique impedido por dois anos de advogar no Arroio Chuí
sobre alegação de que ele tinha grande influência na judicatura do Rio Grande”. E mais, os
deputados e os senadores podem advogar durante a deputância e a senatória. O Presidente
da República no dia seguinte podia. E dei até um exemplo. Naquele tempo, cargos em
comissão, mesmo em sociedade de economia mista, podiam gerar impedimentos. Então fiz
uma verdadeira brincadeira na época. Disse: “_Bem, se um contínuo do Banco do Brasil é
nomeado, é comissionado como porteiro do banco, vai ficar impedido de advogar por dois
anos”. Aí, brinquei: “_Por certo, ele terá mais prestígio do que um ex- Presidente da
República. [risos] De modo que com isso, eu dei um voto no sentido da
inconstitucionalidade , e o tribunal por maioria me seguiu. Por dez a um foi declarado a
inconstitucionalidade. Em razão disso, eu digo: “_Não, agora eu fico, pelo menos dois
anos, eu fico, eticamente, em quarentena com relação a questões de direito público junto
ao Supremo Tribunal Federal. Não tenho dado pareceres, praticamente nenhum, com
relação a direito público. Uma ou outra vez nas questões que não vão diretamente ao
Supremo. Até a pouco tempo, o ministro Aldir Passarinho, que já aposentou já há muito
tempo e advoga, advogando junto ao Supremo Tribunal Federal com relação a um
dispositivo do código civil que estabelecia um quorum bastante elevado para certas
deliberações das assembléias, das associações privadas, eu tinha dado um parecer com
relação a um time de futebol para sustentar que a Constituição com referência as entidades
e associações desportivas tinha dado autonomia a elas para se organizarem. E eu tinha
dado um parecer, então, que essa autonomia, era uma autonomia... dei, dei porque havia
uma questão interna de eleição de presidente nesse clube de futebol, me pediram um
parecer. E eu dei sustentando que essa autonomia só podia ser normativa, porque não tinha
cabimento autonomia financeira e nem administrativa em se tratando de uma entidade de
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direito privado, ao contrário do que ocorreria se fosse uma entidade de direito público. E
que essa autonomia, portanto, deveria ser entendida como uma autonomia normativa e,
conseqüentemente, os estatutos no que dissesse respeito a sua organização. E uma das
formas de organização era justamente essa: relativa a suas assembléias, e a como
funcionara suas assembléias. Ela [entidade privada] podia no seu estatuto, ela podia afastar
o código civil. O código civil só se aplicaria subsidiariamente. O ministro Aldir Passarinho
fez uma alusão numa ação direta de inconstitucionalidade em que se discute esse problema
em geral, não apenas com relação a esse clube e muito menos com relação ao meu parecer
que foi dada como uma questão interna do clube. Ele salientou na tribuna, até alguns que
assistiram disseram que ele quase falou mais a esse respeito do que sobre a questão em
causa, ele salientou justamente isso: que aquele parecer não fora dado para aquela causa.
Aquele parecer fora dado para este clube, e este clube cedera o parecer, já que o parecer
tinha sido dado para ele, cedera para que ele se utilizasse dele na sustentação. Então, por
isso, eu tenho dado alguns pareceres, mas só em matéria de direito privado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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