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Umuarama, domingo, 20 de dezembro de 2009

O Melhor Presente por Ângela Russi

Qual é o melhor

“Foto por Thiago Casoni”

presente de na-
tal?
Estrela cadente,
 Quando eu era criança adorava assistir as propagandas
na época do natal. Todas eram tão lindas. É claro que o
intuito era vender, porém, raramente alguma falava sim-

sentinela
plesmente de preços e ofertas. Havia sempre uma história
feliz e emocionante que me fazia sentir que aquela data
era mágica. Uma delas, em particular, era minha favorita.

fremente!
por Caroline Guimarães Gil  E no céu uma mesma canção de amor e paz que se faz
  Costumava sentar na varanda de casa e observar o céu
na expectativa de deparar-me com uma estrela cadente que
pudesse realizar os meus sonhos enaltecedores. Nesta época
do ano - no natal - fazia muito este tipo de ação. E lá de fora, no
fundo de casa – na escuridão - observava a família reunida. As
mulheres na cozinha, com seus titubeares de talheres e louças,
a repassar receitas e cordialidades, com uma alegria escanda-
losa. Ah! As mulheres parecem homens vestidos de mulheres
quando aglomeradas! O vigor fica tão manifesto, que parecem
aves de rapina que transpassam pelo céu, rasantes. O som dos
aparelhos elétricos de uso caseiro, fazendo com que mal elas
próprias consigam se entender, diante tanto zunzunzum. Mas
mesmo assim, conversam e mudam e demudam de assunto a
cada segundo! Numa liberdade que aviva, numa beleza que
causa inveja de se ver.
  Os homens, todos na sala, com suas cervejas nas mãos,
discorrendo sobre a política, que o governo isso e aquilo, cada
um com sua tese e sua antítese do universo. E a televisão ligada,
passando o capítulo final de alguma novela, que ninguém dá
a mínima atenção. Ora e outra passa uma criança correndo
pela sala com algum brinquedo na mão, ou mesmo chorando
e reclamando que o outro não o deixa brincar. Tem também os
jovens que se encontram na outra sala, falando sobre música
e tocando um violão. As meninas no quarto que divagam sobre
seus amores e contam a última novidade do verão!
  Quer saber?! Também quero tomar parte desta alegria es-
candalosa! Ultimamente deixei de invejar, e passei a participar
deste júbilo extravagante. Outro dia, finalmente vi uma estrela
cadente, e entorpeci de emoção. Era tamanha a formosura do
rastro que aquele luminoso deixava que esqueci de fazer o
pedido! Ah! Tanto tempo esperando por ela, e quando surge,
mal pude soletrar um “a” diante sua presença! Entristeci-me
por um breve momento, porém refleti que havia feito jus a
sua beleza! Compareci em mim ao demonstrar que diante
tanta magnitude da realidade, às vezes o que tanto se espera
é verdadeiramente uma ação sincera. E a minha, foi aquele
deslumbramento. Sem falar nada, juntei meu cobertor e fui
para dentro me entregar, me oferecer àquela algazarra.
Era do antigo Banco Bamerindus. Lembro-me de que uma
mulher caminhava com um bebê nos braços cantando uma
canção mais ou menos assim: “Uma criança por amor vai
renascer. Traz nas mãos uma esperança e sorri, pois é natal.
tão doce como o amanhecer. Quem me dera o ano inteiro
o natal dentro de nós e para toda gente a mesma canção
e a mesma voz. Pois a festa mais bonita é viver, é querer
bem. O presente mais bonito é viver, é querer bem.”
 Ao me lembrar dessa propaganda fui buscá-la no YouTube
e achei. Ao ouvi-la fechei os olhos e me vi novamente criança,
na sala de casa, assistindo TV com minha família. De olhos
fechados parecia real. O sentimento que me envolveu foi
mágico como o próprio natal. Revivi aqueles momentos em
que não tinha preocupação com o futuro e o passado era
tão próximo que não dava para ter saudade. Eu queria bem
a minha família e minha família queria o meu bem. Sentia
amor e segurança. Simples assim. Minha vida era ali, aquele
momento, esperando pelo natal. Senti uma paz muito grande,
a paz de ser criança.  
O natal deveria ser isso, apenas paz. Paz para toda a
gente. Paz que deveria estar dentro de nós o ano inteiro.
Paz que as crianças amadas sentem.
Conforme os anos passam acabamos sendo adultos
em tempo integral. As responsabilidades cotidianas nos
obrigam e sobreviver é preciso. É comum respondermos
quando somos questionados sobre quem somos com a
resposta clássica: sou professor, sou médico, trabalho na
loja tal, etc. E assim, nos apresentamos adultos, pessoas
responsáveis, aquelas que são fortes e sérias, sem direito a
brincadeiras bem ao estilo dos personagens que aparecem
na jornada do Pequeno Príncipe entre seu planeta e a Terra.
Ninguém tem tempo para ser descontraído e impulsivo. E
não sobra tempo para ser nada mais além de adulto. da cidade brilham para todos? Porque sempre entramos no ingrato
  Por amor, uma criança precisa renascer todos os anos dentro amigo secreto? Porque queremos cear e passar a noite do dia 24
da gente: a nossa criança interior. Aquela que faz com que o natal acordados e cercados de pessoas que amamos?
seja uma época boa, tempo de nos perdoar pelas besteiras feitas Penso que é porque natal é o aniversário de uma criança eterna
durante o ano que está chegando ao fim. Alguém já viu criança se que nos proporciona todos os anos celebrar o nosso próprio renasci-
culpando o ano inteiro? Elas superam e vão em frente. mento em seu aniversário. Como renascer? Tornando-se criança como
O natal nos oferece essa oportunidade única todos os anos. É Ele se tornou. Sem orgulho, sem imaturidade, apenas criança.
a chance de nos sentirmos crianças novamente, pois natal é coisa Natal é uma época mágica e os dias que o antecedem operam
de criança. Tudo no natal foi feito por uma criança para as crianças. milagres. O melhor presente de natal é estar em paz consigo mesmo.
Ganhar presente? Coisa de criança. Esperar o Papai Noel? Coisa Paz interior gera paz exterior. Podem pensar que sou otimista de-
de criança.  Esperar comer melhor nessa data? Coisa de criança.  mais, entretanto nessa época até os pessimistas sorriem, mesmo
Vibrar ao ver a cidade iluminada? Coisa de criança. Mergulhar no que discretamente.
espírito de esperança e felicidade do natal? Coisa de criança. Enfim,   Natal é a data em que nos lembramos que vale a pena sorrir e
natal é uma data para criança curtir. consequentemente cantar:
Então, porque o ar parece diferente para todos? Porque as luzes “O melhor presente é viver, é querer bem.”

Há 23 anos atrás,
em Umuarama...
por Tiago Lobão
O dia 22 de dezembro de 1986 ficaria registrado como
“O Dia do Linchamento” na história da Capital da Amizade,
quando a população enfurecida e insana tirou três crimi-
nosos, que haviam estuprado uma moça e assassinado seu
namorado, de dentro de uma cela da Delegacia de Polícia de
Umuarama e, além de os matar espancados, arrastaram os
corpos pelas ruas, através da Avenida Paraná, até a Praça
Miguel Rossafa onde atearam fogo nos cadáveres.
Saiba mais sobre esse fato histórico de nossa cidade à
partir do dia 22 de Dezembro, terça-feira, no www.lobserv-
ando.blogspot.com
Dos Amores Prováveis
Aos domingos ele saia de casa para andar a esmo pela cidade.
A semana era tão barra pesada no seu trabalho que eram raros os
sábados com disposição para caminhadas. Sábado era dia para lavar
a alma nos livros, nos filmes e no Jazz, seus benditos vícios.
Naquele domingo ia caminhando solitário e pensativo, como
sempre, até que se deparou com a mulher da sua vida. Congelou
e tremeu de baixo à cima. Ela estava bem na usa frente, sorrindo
o mais belo sorriso do mundo, com o mais lindo olhar do mundo, e
despertava nele as melhores sensações e intenções do mundo. De
longe, a olhou por alguns minutos e pensou : “Que pena que não posso
falar com ela...seria tão bom...” e continuou sua caminhada.
Durante a semana começou a ver a garota em mais partes da
cidade. No trajeto para o trabalho, ao mercado, nos atalhos e rotas
alternativas que pegava para fugir da rotina... ela estava por ali,
sempre saltando a seus olhos.
Pensava ele: “Será que ela iria gostar de mim? Será que ela
gosta de Quintana, Coltrane...quem sabe Tarantino, um bom vinho...
whisky, sushi... palavras cruzadas?”. Imaginava-se com ela pelas
por Tiago Lobão
noites, nos bate papos da vida, nos eventos da empresa, a conhecia
detalhadamente em sua imaginação. E era tudo sempre bom. “Ah,
se ela gostasse...”.
As semanas se passaram e suas caminhadas dominicais não eram
mais à esmo, elas tinha roteiro e objetivo. Sentia-se inspirado, caminhava
feliz e sorria ainda mais quando a via pelas ruas, mas não podia chegar
até ela. Resumia-se a admira-la e partir. “Que lástima” – pensava.
Mais algum tempo se passou e a situação foi mudando, piorando.
Não encontrava mais aquela moça tão bela, sua paixão, com tanta faci-
lidade. Durante a semana não a via mais no caminho para o trabalho e
nem nos atalhos; aos domingos, à pé, rareavam as vezes em que olhar
mais lindo do mundo lhe acariciava o coração. Até que chegou o dia em
que nunca mais a viu. Para sua completa infelicidade, ela não estava
mais em lugar algum.
Com o coração partido, demorou à perceber, ou não queria
acreditar. Não podia conceber que nunca mais veria a mulher da
sua vida uma outra vez, nunca mais teria a chance de olhar para a
garota do Outdoor.

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