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O presente texto propõe um olhar sobre as relações entre o ser-humano e o mundo, conceito essencial para se pensar a Educação Física contemporânea, sobre o olhar da experiência. Analisando o conceito de experiência em diferentes épocas, pretende-se, principalmente pela revisão do texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, de Larrosa Bondía, compreender o papel da experiência nas relações entre o ser humano e o mundo na contemporaneidade.
Originaltitel
A percepção das relações entre o ser humano e o mundo sobre o olhar da experiência (Efdeportes, 2008)
O presente texto propõe um olhar sobre as relações entre o ser-humano e o mundo, conceito essencial para se pensar a Educação Física contemporânea, sobre o olhar da experiência. Analisando o conceito de experiência em diferentes épocas, pretende-se, principalmente pela revisão do texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, de Larrosa Bondía, compreender o papel da experiência nas relações entre o ser humano e o mundo na contemporaneidade.
O presente texto propõe um olhar sobre as relações entre o ser-humano e o mundo, conceito essencial para se pensar a Educação Física contemporânea, sobre o olhar da experiência. Analisando o conceito de experiência em diferentes épocas, pretende-se, principalmente pela revisão do texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, de Larrosa Bondía, compreender o papel da experiência nas relações entre o ser humano e o mundo na contemporaneidade.
Chrome, o browser do Google. Viagens de Incentivo p/ premiar clientes e funcionrios com viagens inusitadas A percepo das relaes entre o ser humano e o mundo sobre o olhar da experincia
Mestre em Educao Universidade Federal de So Carlos (Brasil) Cae Rodrigues cae_jah@hotmail.com
Resumo O presente texto prope um olhar sobre as relaes entre o ser-humano e o mundo, conceito essencial para se pensar a Educao Fsica contempornea, sobre o olhar da experincia. Analisando o conceito de experincia em diferentes pocas, pretende-se, principalmente pela reviso do texto Notas sobre a experincia e o saber de experincia, de Larrosa Bonda, compreender o papel da experincia nas relaes entre o ser humano e o mundo na contemporaneidade. Unitermos: Experincia. Relao ser-humano e mundo.
Abstract The present text proposes a glance on the relations between mankind and the world, essential concept to think contemporary Physical Education, through the eyes of experience. Analyzing the concept of experience in different contexts, we pretend, especially through the revision of Larrosa Bondas work Notas sobre a experincia e o saber de experincia, to understand the role of experience in the relations between mankind and the world in present days. Keywords: Experience. Relations between mankind and the world.
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Ao 13 - N 127 - Diciembre de 2008 1 / 1 A experincia. Conceito discutido j pelos grandes pensadores gregos, e que, desde ento, passou por diversas interpretaes. Plato dizia que "the higher level of awareness is knowledge, because there reason, rather than sense experience, is involved. Reason, properly used, results in intellectual insights are the abiding universals, the eternal forms or substances that constitute the real world" (Microsoft Encarta, 1993). Mas ser que possvel o surgimento da sabedoria ou da razo sem a experincia perceptiva? Ou ser que exatamente a experincia a ponte entre o desconhecido e o mundo real a qual se refere Plato? Alguns sculos adiante em nossa histria como zon lgon chon (definio de "Homem" por Aristteles, traduzida por Larrosa Bonda (2002, p. 21) como "vivente dotado de palavras"), John Locke afirmou que "nenhum conhecimento humano pode ir alm de sua experincia". Nesse sentido, o homem ento s existe a partir de suas experincias, pelo menos aquele "Homem" definido por Aristteles, uma vez que a palavra pode ser conceituada como um conhecimento humano. E a experincia, ser que pode existir sem o homem? Para Larrosa Bonda (2002, p. 21), "a experincia o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. No o que se passa, no o que acontece, ou o que toca". Desta maneira, a experincia est diretamente relacionada com o homem, alis, s se realiza pelo homem. "A cada dia se passam muitas coisas, porm, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece" (LARROSA BONDA, 2002, p. 21). Merleau-Ponty (1996, p. 165) completa dizendo que "(...) a experincia no descoberta mas inventada, ela nunca dada como o fato, sempre uma interpretao provvel". Mas qual ser a relao entre a experincia e a razo da qual falava Plato? Para Larrosa Bonda (2002, p. 27), "a experincia e o saber que dela deriva so o que nos permite apropriar-nos de nossa prpria vida". A percepo das relaes entre o ser humano e o mundo sobre o olhar d... http://www.efdeportes.com/efd127/o-ser-humano-e-o-mundo-sobre-o-o... 1 de 6 06/12/2008 14:20 Neste sentido, no podemos criar uma dicotomia entre esses conceitos, pois um depende do outro, e s existem a partir do momento que caminham juntos. E as palavras? Qual ser o papel das palavras que, segundo Aristteles, nos diferenciam de outras espcies? Chuang-Tsu (citado por Alves, 1993) se perguntava: "onde encontrarei um homem que se esqueceu das palavras? com ele que eu gostaria de conversar". Mas Chuag-Tsu teria grandes dificuldades de encontrar tal homem, uma vez que as palavras determinam nosso pensamento porque no pensamos com pensamentos, mas com palavras, no pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligncia, mas a partir de nossas palavras. E pensar no somente 'raciocinar' ou 'calcular' ou 'argumentar', como nos tem ensinado algumas vezes, mas sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido, algo que tem a ver com as palavras. E, portanto, tambm tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de ns mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos. E o modo como agimos em relao a tudo isso (Larrosa Bonda, 2002, p. 21). As palavras so ento indissociveis de nosso pensamento. S pensamos a partir das palavras e, nesse sentido, o conceito de Aristteles para o "Homem" adquire um sentido mais amplo: somos "viventes dotados de palavras", ou seja, viventes pensantes, que atribuem sentido ao que , ao que lhe acontece e, desta maneira, se pe, ou melhor, se "ex-pe" diante do mundo (Larrosa Bonda, 2002, p. 25). Agora que j discutimos o conceito de experincia, podemos analisar como esta se d nos dias atuais. Max Weber (citado por Alves, 1993) definiu os tempos modernos afirmando que "o destino dos tempos de hoje marcado pela racionalizao e, principalmente, pelo desencantamento do mundo". A pergunta ento : como fica a experincia nesses tempos de racionalizao e desencantamento? Larrosa Bonda (2002, p. 21) ressalta que "(...) nunca se passaram tantas coisas, mas a experincia cada vez mais rara". Ento surge uma segunda pergunta: quais so os motivos para que isso ocorra? O que faz com que a experincia seja cada vez mais rara na era da comunicao e da globalizao, quando temos tantas fontes de informao (televiso, revistas, jornais, Internet, rdio, etc.) disponveis, de uma forma ou de outra, grande maioria da populao? Larrosa Bonda (2002, p. 21) destaca quatro possveis causas para isso, comeando pela prpria informao: Em primeiro lugar pelo excesso de informao. A informao no experincia...a informao no faz outra coisa que cancelar nossas possibilidades de experincia (...) Em segundo lugar, a experincia cada vez mais rara por excesso de opinio (...) a obsesso pela opinio tambm anula nossas possibilidades de experincia, tambm faz com que nada nos acontea (...) Em terceiro lugar, a experincia cada vez mais rara, por falta de tempo (...) A velocidade com que nos so dados os acontecimentos e a obsesso pela novidade, pelo novo, que caracteriza o mundo moderno, impedem a conexo significativa entre acontecimentos. Impedem tambm a memria, j que cada A percepo das relaes entre o ser humano e o mundo sobre o olhar d... http://www.efdeportes.com/efd127/o-ser-humano-e-o-mundo-sobre-o-o... 2 de 6 06/12/2008 14:20 acontecimento imediatamente substitudo por outro que igualmente nos excita por um momento, mas sem deixar qualquer vestgio (...) Em quarto lugar, a experincia cada vez mais rara por excesso de trabalho. O autor completa esse pensamento concluindo que ns somos sujeitos ultra-informados, transbordantes de opinies e superestimulados, mas tambm sujeitos cheios de vontade e hiperativos. E por isso, porque sempre estamos querendo o que no , porque estamos sempre em atividade, porque estamos sempre mobilizados, no podemos parar. E, por no podermos parar, nada nos acontece (2002, p. 21). As escolas tradicionais trabalham com um modelo de ensino-aprendizagem no qual o conhecimento dado como a aquisio de informao, e como usamos esta informao dali em diante. Pois assim consideramos o conhecimento pelo caminhar de nossas vidas, um acumular de informaes. Mas, "(...) 'h' prvio, no lugar, no solo do mundo sensvel e do mundo lavrado tais como so em nossa vida, para nosso corpo, no esse corpo possvel do qual lcito sustentar que uma mquina de informaes, mas sim esse corpo atual que digo meu." (MERLEAU-PONTY, 1969, p. 28). Larrosa Bonda (2002, p. 22) destaca que "no deixa de ser curiosa a troca, a intercambialidade entre os termos 'informao', 'conhecimento' e 'aprendizagem'. Como se o conhecimento se desse sob a forma de informao, e como se aprender no fosse outra coisa que no adquirir e processar informao". Lemos livros e assistimos muitas aulas. Depois reproduzimos o que foi aprendido em conversas e escritas, sempre manifestando nossa prpria opinio. "Desde pequenos at a universidade, ao largo de toda nossa travessia pelos aparatos educacionais, estamos submetidos a um dispositivo que funciona da seguinte maneira: primeiro preciso informar-se e, depois, h de opinar, h que dar uma opinio obviamente prpria, crtica e pessoal sobre o que quer que seja" (Larrosa Bonda, 2002, p. 23). Desta maneira, somos viventes dotados de conhecimento. Mas o conceito de experincia, como j vimos anteriormente, muito mais amplo do que isso. "No saber da experincia no se trata da verdade do que so as coisas, mas do sentido ou do sem-sentido do que nos acontece. E esse saber da experincia tem algumas caractersticas essenciais que o opem, ponto por ponto, ao que entendemos como conhecimento" (Larrosa Bonda, 2002, p. 27). A experincia, ao contrrio da informao, no igual para duas pessoas diferentes. Alis, pela perspectiva da experincia, nem mesmo a informao igual para duas pessoas, uma vez que a mesma informao ter significados diferentes para ambas, significados que dependem de toda a construo social do indivduo. Neste sentido, Larrosa Bonda (2002, p. 27) destaca que se a experincia no o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, no fazem a mesma experincia. O acontecimento comum, mas a experincia para cada qual sua, singular e de alguma maneira impossvel de ser repetida. No est, como o conhecimento cientfico, A percepo das relaes entre o ser humano e o mundo sobre o olhar d... http://www.efdeportes.com/efd127/o-ser-humano-e-o-mundo-sobre-o-o... 3 de 6 06/12/2008 14:20 fora de ns, mas somente tem sentido no modo como configura uma personalidade, um carter, uma sensibilidade ou, em definitivo, uma forma humana singular de estar no mundo. H quem passeie por um bosque e se maravilhe com o perfume das flores, com o frescor do vento, com a pureza da gua; por outro lado, "h quem passe pelo bosque e s veja lenha para a fogueira" (TOLSTI, citado por Alves, 1993). Em certa viagem Serra da Canastra, na qual fui acompanhado por amigos e famlia, passei bastante tempo ao lado de meu pai, figura que admiro muito e que influencia, por meio de palavras e atitudes, meu prprio viver. Formado em Ecologia, ele gosta muito de observar os variados tipos de vegetaes de cada local por qual passa, e eu aprendi a fazer o mesmo. Nessa viagem em particular, ele me mostrou uma rvore em especial, uma Copaba, demonstrando demasiado apego sua beleza. Eu nunca havia observado tal rvore, e to pouco sabia seu nome. A Copaba no existia para mim. Desde ento, por diversos caminhos por qual passei, surgiram muitas Copabas. Alis, lindas Copabas, que surgiram de uma experincia pessoal em uma viagem que foi um acontecimento especial para mim, para meus amigos e para minha famlia, e que destacou diferentes experincias em cada um de ns. A experincia tambm se manifesta como elemento indispensvel para a cincia moderna. Mas como ser que a cincia define a experincia? A cincia moderna objetiva, e a experincia, pelo menos como definida no presente trabalho, subjetiva. Alis, a experincia no s subjetiva como singular, produz diferena, heterogeneidade e pluralidade (...) irrepetvel (...) tem sempre uma dimenso de incerteza que no pode ser reduzida (...) alm disso, posto que no se pode antecipar o resultado, a experincia no o caminho at um objetivo previsto, at uma meta que se conhece de antemo, mas uma abertura para o desconhecido, para o que no se pode antecipar nem 'pr-ver' nem 'pr-dizer (LARROSA BONDA, 2002, p. 28) Enquanto que a cincia moderna, por meio da experimentao, "genrica (...) produz acordo, consenso ou homogeneidade (...) repetve (...) preditvel e previsvel" (LARROSA BONDA, 2002, p. 28). Desta maneira, para a cincia moderna, "a experincia j no o que nos acontece e o modo como lhe atribumos ou no um sentido, mas o modo como o mundo nos mostra nossa cara legvel, a srie de regularidades a partir das quais podemos conhecer a verdade do que so as coisas e domin-las" (LARROSA BONDA, 2002, p. 28). Nunca os meios de transporte e de comunicaes nos possibilitaram tamanha diversidade de experincia. Mas, por outro lado, nunca fomos to bombardeados de informaes, nem to cobrados pelas nossas opinies. Nunca fomos to cobrados como indivduos sociais, e nem como sujeitos coletivos. Vivemos no s na era da comunicao e da globalizao, mas tambm vivemos o periodismo, a fabricao da informao e a fabricao da opinio. E quando a informao e a A percepo das relaes entre o ser humano e o mundo sobre o olhar d... http://www.efdeportes.com/efd127/o-ser-humano-e-o-mundo-sobre-o-o... 4 de 6 06/12/2008 14:20 opinio se sacralizam, quando ocupam todo o espao do acontecer, ento o sujeito individual no outra coisa que o suporte informado da opinio individual, e o sujeito coletivo, esse que teria de fazer a histria segundo os velhos marxistas, no outra coisa que o suporte informado da opinio pblica. Quer dizer, um sujeito fabricado e manipulado pelos aparatos da informao e da opinio, um sujeito incapaz de experincia (LARROSA BONDA, 2002, p. 22). O ser humano j h algum tempo se perdeu entre os conceitos de "viver" e "sobreviver". No temos mais tempo para viver, para fazer o que nos toca, o que realmente nos tem valor. Mas, pelo trabalho, ganhamos nosso po, e podemos assim sobreviver. O grande problema que a experincia precisa do viver. A experincia, a possibilidade de que algo nos acontea ou nos toque, requer um gesto de interrupo, um gesto que quase impossvel nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar, parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinio, suspender o juzo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ao, cultivar a ateno e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentido, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter pacincia e dar-se tempo e espao (LARROSA BONDA, 2002, p. 24). Thomas Edison (citado pro Alves, 1993) observou que "para a maioria das pessoas, a experincia como as luzes de popa de um barco, que s iluminam o caminho que ficou para trs". Pois viver iluminar o presente, e deixar que as experincias do presente te iluminem tambm. Referncias bibliogrficas ALVES, Jefferson L. Sabedoria, So Paulo: Gaia, 1993. LARROSA BONDA, Jorge. Notas sobre a experincia e o saber de experincia. 2002. MERLEAU-PONTY, Maurice. O Olho e o Esprito. Rio de Janeiro: Grifo Edies, 1969. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepo. So Paulo: Martins Fontes, 1996. PLATO. Plato. In: Microsoft Encarta. Microsoft Corporation, 1993. Outros artigos em Portugus
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