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1) O documento discute a arquitetura neoclássica de Boullée e Ledoux no contexto do Iluminismo e da Enciclopédia.
2) Boullée e Ledoux se opunham ao estilismo rococó e defendiam uma arquitetura baseada em tipos arquetípicos e racionalidade intrínseca às formas.
3) Sua arquitetura se alinhava com os ideais iluministas de razão, ciência e rejeição da autoridade, buscando definir a racionalidade específica e autônoma da
Originalbeschreibung:
ARGAN, Giulio Carlo. História da Arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
1) O documento discute a arquitetura neoclássica de Boullée e Ledoux no contexto do Iluminismo e da Enciclopédia.
2) Boullée e Ledoux se opunham ao estilismo rococó e defendiam uma arquitetura baseada em tipos arquetípicos e racionalidade intrínseca às formas.
3) Sua arquitetura se alinhava com os ideais iluministas de razão, ciência e rejeição da autoridade, buscando definir a racionalidade específica e autônoma da
1) O documento discute a arquitetura neoclássica de Boullée e Ledoux no contexto do Iluminismo e da Enciclopédia.
2) Boullée e Ledoux se opunham ao estilismo rococó e defendiam uma arquitetura baseada em tipos arquetípicos e racionalidade intrínseca às formas.
3) Sua arquitetura se alinhava com os ideais iluministas de razão, ciência e rejeição da autoridade, buscando definir a racionalidade específica e autônoma da
nhad~d~,que~?e Hayez, s~ndo est? aexperincia cultural de que a Italia, ja pohtIca,::ente _um,da,mais precisava para inserir-se em uma cultura europia. Nao epossvel analisar aqui a situao da cultura napolitana no decorrer do Risorgimento* nacional edepois problema e~tremamente complexo edebatido, que por certo sere~ fe~eapenas aarte. Quero lembrar porm que, nos ltimos cemanos Napoles teve ao ,menos ~rsa~tistas que estariam entre os maiore~ ~a~uropa, s.eNap~les ainda tivesse tido uma cultura europia: Pa- hZZI,Morelli, Gemito. 1975 *Processo da histria da Itlia que levou unificao da pennsula. (N.T.) 12 ARQUITETURA E "ENCICWPDIA" ComLedoux - escreviaKaufmann em1933- temincio uma "nova continuidade" que chega at Le Corbusier. Hoje, sabemos que prossegue ao menos at Louis Kahn econstitui umdos termos alternativos no debate atual sobre a arquitetura, o termo segundo o qual aforma arquitetnica autnoma eintrinsecamente signifi- cante, no sentido deque'no significa eno comunica nada que lhe preexista, nemaconfigurao do espao, nemaordem da socieda- de, nemacoerncia da suatcnica. O outro termo implica, ao con- trrio, aidia da total resoluo edissoluo da forma edaprpria objetividade da arquitetura na estruturao iluminada do espao, na continuidade sem fim das operaes contextuais de projetar e construir, que teoricamente pode estender-se atodo o espao. O de- bate tambm envolve esupera o problema da relao entre arquite- tura eurbanismo, apresentando osextremos deuma arquitetura ab- soluta ede um urbanismo universal. No primeiro caso, de fato, o urbanismo reintroduzido soboconceito dearquitetura, como quan- do seimaginam eprojetam edifcios-cidades, isolados emimensos espaos vazios; no segundo, do qual pode ser exemplo o estrutura- lismo ilimitado de um Wachsmann ou de um Buckminster Fuller, no saarquitetura seresolve na continuidade deumcontexto que exclui qualquer possibilidade dedeterminao formal-objetiva, co- mo o prprio contexto sereduz aquadriculao eestruturao in- definida do espao. BoulleeLedoux so osgrandes fundadores daarquitetura neo- clssica, no como imitao estilstica do antigo, mas como refor- ma radical dafigura, dafuno, daprofisso do arquiteto. Odeba- te atual, que tambm concerne necessariamente justificao his- trica da arquitetura moderna, implica o problema do reconheci- 198 ARTE E CIDADE n: ento OU no de sua descendncia da revoluo efetuada por Boul- lee e~Ledoux, nas ~Iti!llas dcadas do sculo XVIII, na concepo da genese e da essencia das formas arquitetnicas. Kaufmann ob- serva: apesar de numerosas invenes de Ledoux "constiturem ex- perincias, ousadas que atestam sua inquieta vontade de renovao", grande numero de seus projetos "no difere muito das estruturas comuns desenhadas por numerosos contemporneos seus";' No se trata d~analogias estilsticas, nem de "gosto da poca", porque tanto a a~qu~t~t~ra de Led~ux, como a de Boulle, programaticamente antiestilstica, no sentido de que repele qualquer exterioridade etem em ~ista a "ess~ncia" das formas. J ustamente por essa razo est emygorosa anttese com o Rococ e com seu "estilismo"aplicvel de Igual modo arquitetura, pintura, escultura, ao artesanato a.o.v~sturio. "Essncia" da forma sua estilstica indeclinvel, su~ tipicidade nua, sua dependncia evidente de arqutipos. Portanto a reforma neo~lssica n,o s predominantemente tipolgica, co~ mo se caractenza tambem pela firme oposio do conceito de tipo ao conceito de estilo. Boulle e Ledoux tinham notrias relaes com o crculo cul- t~r~l da Encicl0l!di~, ? que confirma ser a arte neoclssica origi- nana da cultura ilurninista. A Enciclopdia, esclarece Venturi no era uma utopi~,.mas "um projeto, um dos tantos esquemas s' apa- rentemente praticos em que comeam a assumir forma programti- ca al~umas das reformas j consideradas necessrias, mas que ain- da nao alcan~ram a mat~r~dade"2. Ela queria demonstrar que to- dos os co~hecI.mentos eatividades humanas so, sim, fundamental- mente r~cIOnaIs, mas cada um deles o de uma maneira particular. Se se quiser, como sequeria, fundar uma cultura absolutamente lei- ga, n.o se pode admitir que a razo humana dependa de uma or- dem Imposta por Deus a toda a criao. O humano no humano po~ser racional ~realizar, assim, um desgnio providencial, mas racional porque e h~mano, sendo a racionalidade a disciplina que o h~mem deu mtencIO~alme!1te sua ao e seu pensamento e que reahza de tantas maneiras diversas nos diversos processos do pen- samento ~da ao. E o triunfo do esprito de pesquisa newtoniano s?bre o ~Isten:atIs?10 cartesiano. Por isso, o "projetismo" dos en- ciclopedistas implica uma pesquisa sobre a cultura que os leva a in- terpelar noapenas ~ientistas e filsofos, mas tambm mdicos, ju- nstas, artesaos, agncultores, convidando cada um deles a definir com clareza o carter e os modos especficos das suas atividades. I. E. Kaufrnann, L 'architettura dell'illuminismo, Turim, 1966, p. 197. 2. F. Ventun, Le origini dell'Enciclopedian, Turim, 1964, p. 14. ARQUITETURA E "ENCICLOPDIA" 199 Queria-se, alm disso, como diz d' Alembert, "casar cada arte me- cnica com a cincia capaz de emprestar suas luzes a essa arte, co- mo a relojoaria com a astronomia, o fabrico de culos com a ti- ca" . 3 Oque no apenas um primeiro e significativo indcio. da ne- cessidade, que se far sentir cada vez mais com o desenvolvimento da indstria, de fazer as tcnicas dependerem das cincias, m~s o sinal de que se alcanou a conscincia de que em uma cultura livre eleiga o mtodo crtico deve ocupar o lugar da autoridade do siste- ma. Por sua vez, Diderot no hesita em declarar a maior estima que tem pelas artes mecnicas do que pelas artes liberais e, portanto, pela prtica do que pela teoria, a qual, em todo caso, no pode ser preceito apriori, mas apenas anlise crtica do fato: "Cabe ~prti- ca apresentar as dificuldades e propor os fenmenos; cabe a teona explicar os fenmenos e eliminar as dificuldades."4 Partindo dessas idias, Boulle e Ledoux opem-se igualmente ao estilismo rococ difuso e "libertino" e ao rigorismo de Lodoli, que fazendo a forma depender da funo, impunha arquitetura a regra geral da causalidade lgica. Quando Boulle define a arqui- tetura como "arte", no pretende de forma alguma contrap-Ia cincia da construo, nem reconduzi-la ao mbito tradicional das "artes do desenho", aliarido-a pintura e escultura, mas definir a racionalidade especfica e autnoma da arquitetura com relao a todas as outras disciplinas. A peculiaridade da arquitetura no pode ser a imaginao formal, porque, nesse caso, no se distinguiria da pintura ou da poesia; eno pode ser a lgica ea tcnica da co_nstr~- o, que se encontram igualmente em outros artefatos que nao sao arquitetura. Tpico da arquitetura o projeto das formas tendo em vista a execuo, ou seja, a operao deprojetar. Por isso, a maior parte da obra de Boulle ede Ledoux consiste em projetos, que no so fantasias nem utopias, ainda que estudados sem nenhuma espe- rana epossibilidades de realiz-los, Tambm nisso os dois arquite- tos esto de acordo com Diderot: "Se o objeto executado, o con- junto ea disposio tcnica das normas segundo as quais exe~uta- do se dizem arte; se o objeto deve ser apenas observado sob diver- sos pontos de vista, o conjunto e a disposio tcnica das normas das observaes a ele relativas dizem-se cincia,"? Portanto, cer- tamente possvel construir uma cincia da arte e sobre a arte, visto que o objeto artstico produzido pode sempre ser observado de ma- 3. J .B. d' Alembert, Histoire des membres de l'Acadrnie franaise, Paris, 1787, VI, p. 335. . . 4. D. Diderot, "L 'Arte", emLa fitosofia dell'Encyclopedie, Ban, 1966, pp. 161-162. 5. D. Diderot, op. cit., lococit. 200 ARTE E CIDADE neira cientfica; mas no possvel construir uma cincia que dirija oucondicione aoperao artstica. Tambm por essecaminho chega- seao projeto, como operao prpria da arquitetura. Resta expli- car como projetar pode ser uma atividade primria eautnoma, no condicionada, dotada deuma racionalidade prpria eintrnseca que s no limite extremo do horizonte, ou seja, no mbito da naturali- dade humana, sejustifica como componente da racionalidade do homem. Evidentemente, aarquitetura no pode ser arepresentao do espao, porque representao pressupe uma realidade dada edela depende; por issoBoulleeLedoux so contrrios arquitetura bar- roca. Todavia, possvel considerar anatureza demodo emprico, ou seja, no como revelao divina comum aser interpretada e, nos limites das possibilidades humanas, imitada, mas como ambiente da vida individual esocial. A nova relao psicolgica eprtica, de simpatia eantipatia, entre ohomem eanatureza reflete-se nas duas poticas iluministas do "pitoresco" edo "sublime": Boulle eLe- doux agememseumbito, embora Boulle seja mais orientado pa- ra o "sublime" e Ledoux para o "pitoresco". O "pitoresco" considera, sobretudo, asingularidade eavarie- dade dos fenmenos: scomaanlise decada fenmeno consegue- sedescobrir sua correlao. Do conjunto de fenmenos semelhan- tes deduz-se o fenmeno-tipo, que rene os caracteres da singulari- dade eda generalidade. Os paisagistas do "pitoresco" prosseguem na pesquisa de verdadeiras tipologias: Cozens define com clareza aforma tpica das vrias rvores (o carvalho, o pinheiro, o salguei- ro, etc.); Constable estuda os diversos tipos de nuvens (cirros, c- mulos, estratos) eTurner os diversos tipos de rochas ede estratifi- caes geolgicas. A finalidade no certamente implantar recei- turios que permitam pintar de determinada maneira rvores, nu- vens, rochas; mas, como apintura temuma "forma" prpria eex- clusiva, a mancha de cor, a noo adquirida, permite reconhecer a"essncia" sob aimagem. Evidentemente, na natureza jamais en- contraremos uma rvore que seja idntica ao seu tipo, mas isso de- pende das circunstncias ocasionais que lheimpediram ser oque de- veria ter sido. Por outro lado, o tipo dessa rvore no tambm a figura que teria assumido setivesse crescido emestado selvagem numespao deserto: para determinar seutipo, concorreu aprpria coexistncia c?m outras rvores, que, ao mesmo tempo, a formou edeformou. E claro que anatureza passa aser considerada ima- gemesemelhana da sociedade, emque cada qual s pode realizar- se, s pode realizar seu prprio tipo, na medida emque isso no ARQUITETURA E "ENCICLOPDIA" 201 seoponha ao igual direito dos outros. O verdadeiro tipo da faia ou do choupo no seencontra nanatureza livre, mas no jardim e, para ser preciso, no jardim inglesa, cujo carter dealegoria social bem claro - ajardinagem, enfim, nada mais do que aarte decolocar cada planta emcondies derealizar seuprprio tipo ou arqutipo. No setrata, todavia, deuma idia a priori. O tipo deduzido (co- mo o deduz Buffon, o naturalista da Enciclopdia) da pesquisa e da distino dos caracteres comuns, que asingularidade dos indiv- duos pode esconder econfundir, mas no apagar. Quatremere, es- clarecendo para aEnciclopdia o conceito detipologia arquitetni- ca, sustenta que nada vemdo nada eemtudo " necessrio uman- tecedente"; o tipo a constante que setransmite atravs das mu- danas histricas, "uma espciedencleo ao redor do qual seaglo- meraram ecoordenaram emseguida os desenvolvimentos eas va- riaes de formas, de que era suscetvel o objeto?". A potica do "sublime" contrape ao homem uma natureza poderosa e diversa, emque nada variedade e harmonia, tudo antagonismo, choque eexploso deforas contrrias, tragdia. Pa- ra Boulle, o edifcio no relativo ao espao emque se situa; a forma da razo, ou do pensamento, emuma natureza irracional einforme. O pensamento que secondensa esemanifesta na forma umpensamento social epoltico, porque essaaordem do huma- no; aforma regular egeomtrica, por isso mesmo "falante", por- que aimagem dos corpos irregulares, dos quais anatureza est re- pleta, "muda eestril". Portanto, a forma arquitetnica no se insere no espao mediante umsistema deplanos-sees que o orga- nizameconstroem; coloca-se no espao natural como umelemento antittico, como um objeto dotado de significao prpria. Essa substncia conceitual est encerrada na volumetria geomtrica do objeto arquitetnico como umlquido que assume aforma do reci- piente. No plano datcnica deprojeto, BoulleeLedoux so ospri- meiros aconceber aforma demaneira volumtrica, emlugar deem planos coordenados. nada mais queessecontedo ideal que Boul- le chama de Poesia da arquitetura. "Pensei que, para introduzir nesta obra [oPalcio da J ustia] aPoesia da arquitetura, convinha dispor, sob o palcio, aentrada das prises. Pareceu-me que, apre- sentando o imponente edifcio construdo sobre o antro tenebroso do crime, eu podia no apenas pr emevidncia a nobreza da ar- quitetura pelas oposies resultantes, mas tambm apresentar, de maneira metafrica, o quadro imponente do Vcio oprimido pelo 6. A. Quatremere de Quincy, Dizionario storico di Architettura (verbete Ti- po), Mntua, 1844. 202 ARTE E CIDADE peso da J ustia. "7 Portanto, a unidade fixa da forma arquitetni- ca re;;ulta da "oposio" de conceitos contrrios, como na tragdia que e, naturalmente, o gnero literrio em que se exprime o "subli- me~'. No caso do Palcio Nacional, "depois de meditar sobre os m~IOsmais adequados para manifestar a Poesia da arquitetura, pen- sei q,uenada sena mais perturbador ecaracterstico do que dar for- ma as paredes deste palcio com as tbuas das leis constitucio- nai~".8.A arquitetura deve, sim, falar, mas de maneira epigrfica e_nao dlsc~~slva; e conquanto cada edifcio decerto preencha fun- oe~especlfI~as, esta~esto includas nos conceitos gerais da ordem social, da leI, da sociedade, do Estado e no constituem a causa mas o contedo ou o significado intrnseco da forma. ' . Qu~ndo, e~ 1773, Ledoux foi encarregado de estudar uma or- garnzaao funcional das instalaes e dos servios das salinas de Chaux, no Fran~o C~ndado, fo.i m~ito alm da encomenda eproje- tou uma verdadeira cidade, a pnrneira cidade industrial. Concebeu-a de acordo com um esquema que certamente dependia das teorias c?~temporneas da jardinagem. Na origem, h um interesse ideo- lgico; Ledoux foi ~o~ certeza o primeiro a pensar que uma fbri- ca podia ter UI~a dignidade arq~itetnica igual do templo ou do pala CIOreal. Nao imaginava a cidade como um conjunto de basti- dores e d~~enas de fundo formando uma imagem espacial unitria e cenografIca,. ~as como .um agregado de tipos de edifcios singu- larmente qualificados, cuja coexistncia era justificada apenas pelo fato de cada um deles ser levado ao mesmo grau mximo de tipici- dade. A tipologia tambm uma simbologia: o Palcio da Concr- dia ser "simples como as leis que nele sero promulgadas" a Ca- sa.d~ Unio. exprimir as "virtudes morais da agricultura, do co- ~er.cIO, da lIteratura"; o "Panaretheon" construdo em formas cbicas, porque "o cubo o smbolo da imutabilidade?v. No Tem- plo da Memria, as quatro torres angulares so, ao mesmo tempo, colun?s cocleadas romanas e minaretes: o enxerto de diversas sim- bologl~~ na me~ma forma demonstra que, alm da figuratividade metafonca do smbolo, o que se procura a identidade substancial entre forma e idia. . Encarregado, ~~ 1783, de projetar para Paris nada mais do que um posto alfandegano com certo nmero de cabines, Ledoux pro- cedeu de acordo com uma metodologia precisa: comeou por estu- 7. E. Boulle, Architettura, saggio sull'arte, Veneza-Pdua, 1967, p. 102. 8. Idem, p. 103. 9. c..~.Ledoux, ~'architecture considre sous le rapport de l'art, des moeurs et de Ia tgislation, Paris, 1804. ARQUITETURA E "ENCICLOPDIA" 203 dar a forma tpica do novo objeto de construo - a cabine -, passando depois srie de variantes que pode sofrer. Embora setra- tasse de um empreendimento de carter prtico, ou seja, de forne- cer um instrumento para o sistema de arrecadao fiscal, pesqui- sou, definiu e enfim sintetizou todo um conjunto de significados: a relao entre cidade ezona rural, entre Estado ecidado, a auto- ridade da lei, a fora da justia. No posto alfandegrio, alm da modesta funo prtica, viu uma porta de cidade, um elemento de fortificao, uma guarita, um observatrio, um quartel, uma mo- radia. Determinou o significado simblico e lxico de cada compo- nente formal, hoje diramos seu contedo semntico - a ordem dos fatores no altera o produto. Permaneceu firme o significado glo- bal, o que Quatremere chama de "princpio elementar", a "razo original da coisa", o tipo; mas a figura arquitetnica resultante de tantas conotaes diversas muda por fora de uma virtualidade de variao implcita no tipo. A srie das solues formais ilustra ede- monstra, como melhor no se poderia, a distino to claramente feita por Quatremere entre tipo e modelo: o modelo um objeto cuja forma pode ser textualmente imitada, o tipo um esquema con- ceitual que pode manifestar-se em muitas configuraes diversas. No primeiro caso, tem-se uma imitao mecnica, quase uma c- pia; no segundo, uma "imitao moral" . E esta pode ser "por ana- logia, por relaes intelectuais, por aplicao de princpios, por apro- priao de estilos, de combinao, de razes, de sistemas";'? Se, entre os exemplos histricos possveis, escolhemos o antigo, por- que a cultura clssica a das "razes originais"; e se o mundo gre- go o mundo dos mitos naturais, o mundo romano o que funda grandes conceitos civis de lei, de justia, de Estado. O princpio ti- polgico que a arquitetura neoclssica, com seus claros temas ideo- lgicos, contrape ao princpio estilstico levado ao extremo pelo Rococ reflete, em suma, o mesmo tipo de imitao "moral" que, nos mesmos anos, permite a David fixar, no Juramento dos Hor- cios, o exemplo primeiro e mais elevado de uma pintura superior a qualquer "simulao", absolutamente laica e "civil". 10. A. Quatremere de Quincy, op. cit., loc. cit.