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Entrevista António Câmara


A universidade deve
a criação de novas in
essa primeira fase do ensino é de
Vítor Belanciano
simples infecção. E muitas vezes é
a O ensino e as empresas fascinam- de tal forma desagradável que acaba
no, mas a sua grande paixão é por criar anticorpos para o resto da
o ténis. Chegou a abandonar os vida.
Em Virginia Tech havia
estudos para se dedicar a uma É necessário existir uma segunda concertos todos os dias
carreira profissional, mas uma fase, a imersão.
lesão grave, aos 21 anos, levou-o a Exactamente. Essa imersão é ao almoço. Era divertido.
prosseguir Engenharia. Contudo, a composta por duas componentes: Depois há o desporto,
satisfação do ténis não se perdeu. Foi a prática dos fundamentos e
apenas canalizada para outras áreas. a exploração desses alicerces, o cinema, a música. É
Afinal, diz António Câmara, director o chamado estado da arte.
executivo da YDreams (projecto Imaginemos que estamos a estudar
fundamental estudar
empresarial de raiz universitária o golpe de esquerda no ténis. É num local que tem um
que se dedica a aplicações de necessário estudar as esquerdas
computação de proximidade e dos principais jogadores do ambiente fantástico
actua no mercado global), nada se mundo. Temos que estar imersos
faz sem diversão e prazer. Como a para perceber do que estamos a
universidade. falar e quais as variantes a que
Catedrático da Faculdade podemos aceder quando passamos
de Ciências e Tecnologia da à pratica. No ensino das melhores compreender, mais do que ter
Universidade Nova de Lisboa, universidades não só há infecção e boas notas. Muitas vezes, ao longo
prémio Pessoa 2006, escreve em imersão, como há o passo a seguir da vida, dei por mim a pensar se
O Futuro Inventa-se (editado pela que é a investigação. aquilo que fazia passava nos seus
Objectiva) que a universidade Como é que se pode aperfeiçoar, padrões de qualidade. Foi também
portuguesa tem de mudar então, a esquerda? importante porque convidada
profundamente o seu ensino. Temos que investigar para perceber cientistas famosos a nível mundial
O livro, agora lançado, reflecte como melhorá-la. Essa melhoria para ocasiões sociais e isso permitiu-
também abordagens alternativas pode ser conseguida através do me o contacto com essas pessoas
à investigação, gestão e próprio jogo, mas também com cedo. Vivíamos num país fechado. O
empreendedorismo universitário. tecnologia ou conhecimentos físicos. mundo chegava-me através do meu
Nele, António Câmara proclama O desenvolvimento das empresas avô.
que a nova missão da universidade associadas ao ténis resulta da paixão Ele dizia, há sessenta anos, que a
é a criação de novas indústrias, ao do jogo, do investimento científico paisagem económica de Portugal
mesmo tempo que defende que os e da aplicação na criação de novos poderia mudar com a economia
professores não se devem limitar à produtos. As nossas universidades do conhecimento. É uma teoria
investigação. Devem procurar ter um já conseguem ir além da infecção com actualidade, mas que exige
impacto significativo no mundo real, mas ainda estão no primeiro estágio. massa crítica e acesso ao poder de
através da criação de empresas. As melhores, lá fora, passam por pessoas criativas.
Nas suas aulas recorre muitas todos os estágios – imersão, infecção, Sim. Ainda não existe massa crítica
vezes ao ténis para explicitar investigação e difusão para o mundo. em muitas áreas. Os avanços
posições sobre ensino na No livro parte da descrição do científicos são conseguidos através
universidade. Na apresentação universo familiar, referindo-se ao da interdisciplinaridade e, aqui,
do seu mais recente livro voltou a seu avô paterno, investigador e existem áreas de valor diverso.
fazê-lo. professor universitário, de quem Por outro lado, os portugueses
Sim, nessa aula levei uma raqueta herdou o nome. Que importância nunca se viram como pioneiros.
e ensinei o golpe de esquerda teve ele na sua vida? Seguem. Não são seguidos. Os
– primeiro olha-se para a bola, Foi meu tutor de várias formas. líderes das suas áreas estão nas
prepara-se a raquete e os pés Criou-me um plano de melhores universidades, onde há
têm de estar a 45 graus. leituras, dos autores ensino e informação, por osmose. “Os portugueses nunca se viram como pioneiros.
A ideia era mostrar clássicos às revistas. Quando estava no MIT (Instituto Seguem. Não são seguidos”, diz António Câmara
que na universidade Passeávamos muito de Tecnologia de Massachusetts)
aprendemos a e abordávamos não precisava de ler revistas. Todas a fazer algo de importante. Aqui, critérios eram mais apertados.
teoria e depois os mais diversos as semanas havia seminários com podemos ter uma ideia fantástica, Na transição entre investigação
fazemos um teste. assuntos. os principais cientistas do mundo. mas temos que passar por todas as e mercado também existem
Perguntam-nos: Ganhei Aqui tenho que ler para me manter fases para chegarmos a alguém que diferenças muito grandes,
qual é o ângulo maturidade actualizado. nos oiça. Em Portugal fiz trabalhos nomeadamente uma falta de
a que os pés científica graças Não temos também um sistema de maior qualidade do que aqueles posicionamento orientado para o
devem estar? a ele. Quando de referenciação. Quando se está que desenvolvi no MIT, mas quando mercado global.
Respondemos 45 fui para o liceu numa universidade de topo, o submetia um artigo para uma Claro. Nas universidades onde se
graus e ficamos muito estava aberto orientador comunica aos pares, aos conferência e colocava MIT era cultiva a excelência o ecossistema
felizes. Aparentemente à ciência e ao organizadores das conferências e aceite de imediato. Quando punha tem dezenas de anos. Têm tudo
aprendemos a lição. Mas pensamento. Queria aos media que naquele grupo se está Universidade Nova, Caparica, os o que é necessário, não só na
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No livro O Futuro Inventa-se, o director executivo da YDreams reflecte sobre o papel da nova
universidade na formação de cidadãos empreendedores. E diz que há muito por fazer

ter como missão


ndústrias
FOTOS: NUNO FERREIRA SANTOS
que andava a trabalhar, respondia: nova missão: a criação de novas
“Realidade virtual.” “Eh! Pá! Tu és indústrias.
louco, para que é que isso serve?”, Claro. Logo a seguir à II Guerra
diziam-me. A perseverança é Mundial, o MIT enunciou como
fundamental. um dos objectivos a criação
Há também nas universidades de novas indústrias. Nenhuma
portuguesas dificuldade em universidade portuguesa tem nos
comunicar para o exterior e pouca seus estatutos que uma das suas
sensibilidade para o papel que missões é criar novas indústrias. É
um ambiente criativo circundante ensinar, investigar, prestar serviço
pode ter. à comunidade, mas não tem este
Tudo começa na arquitectura do papel de liderança em relação à
campus. Em Portugal há campus criação da nova economia. E devia.
interessantes como o de Aveiro, mas Na Universidade Nova de Lisboa
prevalece a arquitectura horrível. bater-me-ei para que isso aconteça.
São espaços de betão onde o Se existir esse objectivo, a mudança
conceito de praça não existe, com é possível.
poucas esplanadas e instalações Olhando para a sua experiência de
desportivas. Não existe ambiente. quase dez anos na YDreams, existe
Basta ver os edifícios das associações algo que não teria feito da mesma
de estudantes. Nas melhores, são forma?
lugares atractivos. Aqui são uma Sim. Cometemos muitos erros. O
sala na parte cinzenta de um edifício mais importante foi o medo de
qualquer. E depois as universidades nos instalarmos no Silicon Valley,
não estão preparadas para receber competindo ao mais alto nível,
visitas, um elemento fundamental desde cedo. Pensámos que tínhamos
no recrutamento de estudantes, que aprender, explorando mercados
patrocinadores ou investigadores. mais fáceis. Fizemos mal. Tínhamos
Qual pode ser o papel das poupado anos e agora estávamos
actividades extracurriculares no num estádio diferente. Andámos
despontar desse ambiente lúdico pelo mundo inteiro, China, Índia,
e criativo? Brasil, Europa e EUA, mas não
É importantíssimo. Em Virginia naquela região crítica. O conceito
Tech havia concertos todos os dias dos empreendedores é ir logo para
ao almoço. Era divertido. Depois o mais difícil. Queimam muitas
há o desporto, o cinema, a música. etapas, embora também se possam
Em muitas universidades há salas queimar... [risos].
com pianos para os alunos tocarem. O universo empresarial é mais
A experiência numa universidade duro que o do ensino?
dessas é atractiva. Aqui a memória Incomparavelmente mais difícil. A
que tenho da universidade é chegar universidade deve ser um espaço em
lá, ter aulas e vir-me embora. Acho que as pessoas fazem investigações
que esse é um dos investimentos movidas pela curiosidade. É
fundamentais das universidades um espaço de liberdade, mas é
portuguesas para os próximos anos. necessário existir noção da dureza
É fundamental estudar num local do mundo exterior. No MIT os
que tem um ambiente circundante professores são obrigados uma
fantástico. vez por semana a trabalhar para
Defende a criação de empresas o exterior. Aqui faz falta essa
iniciadas por professores e experiência.
estudantes universitários. Há nove Já viveu em muitos países. Vê-se a
anos, quando fundou a YDreams, sair de Portugal outra vez?
investigação científica como coloca no mercado. Aqui é preciso paciência, é preciso energia. Há deve ter sentido resistências. Não. A qualidade de vida é
na transição para o mercado paciência, que os portugueses têm, imensos obstáculos – burocráticos, Sim. Lembro-me de estar num fantástica. As oportunidades [que o
– os advogados que conhecem mas por contingência... [risos]. falta de dinheiro, o negativismo seminário e de me perguntarem para país tem] de ser um laboratório são
as patentes, os jornalistas, os Mas não lidam bem com a circundante. Quando vim para aqui que é que queria ganhar dinheiro. excelentes. O talento existe aqui.
investidores, os clientes ou os frustração. Se a terceira ou quarta fui viver para o Meco, rodeado dos Hoje as gestões das universidades Vejo-me sempre a criar algo novo e,
parceiros. Esse ecossistema está porta não se abre, ficam muitas alemães que estavam a montar a mudaram e sinto apoio total. mesmo não havendo muito dinheiro,
preparado para que quando alguém vezes pelo caminho. Autoeuropa. Eram incrivelmente Há menos resistências, mas a existe abertura para projectos
tem uma ideia, não tenha que fazer É possível, mas em geral têm positivos. Aqueles anos de Alemanha ligação entre as universidades e experimentais. Aqui tenho um fio
tudo. Isso é impensável para um paciência. Se trouxermos um do Meco foram os mais produtivos o mundo empresarial está longe narrativo. Jogo no mesmo campo
americano, que tem uma ideia e americano para aqui, não dura da minha vida. Quando chegava à do desejável. Defende inclusive de ténis há 37 anos, com as mesmas
cria uma equipa de gestão que a duas semanas. Para além da universidade e me perguntavam no que a universidade deve ter uma pessoas. E isso é muito importante.

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