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O DESPERTAR DE UMA NOVA ERA ...

[ EMBRIÕES ]

03-12-2007

+ Marcelo Gleiser

O despertar de uma nova era

Marcelo Gleiser,
é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover
(EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

Parece que o debate sobre embriões já é desnecessário

D ia 21 de novembro, jornais do mundo inteiro anunciaram uma


descoberta absolutamente fantástica: cientistas conseguiram criar
células-tronco a partir de células da pele. Alguns chegaram até a
comparar o evento ao vôo dos irmãos Wright com seu "primeiro"
avião. Ou seja, uma nova tecnologia capaz de transformar o mundo.
(As aspas são um lembrete de que a pessoa que fez essa asserção
é, obviamente, norte-americana. Pois nós, brasileiros, sabemos que
essa glória pertence ao nosso Santos Dumont.)

Vale lembrar que a importância das células-tronco vem da sua


capacidade de se transformar nas células de todos os tecidos do
corpo humano; musculares, nervosas, ósseas etc. Com isso, elas
podem ser usadas para gerar tecidos novos, saudáveis, em
pessoas afligidas por vários males, da doença de Parkinson e
outras enfermidades degenerativas do sistema nervoso à diabetes.
As células-tronco são uma espécie de pan-célula, uma célula que é
potencialmente todas as células. Basta que seja dirigida nessa ou
naquela direção, como trens em trilhos.

É justamente desse poder de transformação das células-tronco que


nasce a controvérsia que tem marcado a pesquisa nessa área da
biologia. Não é à toa que as células-tronco são encontradas em
embriões; afinal, nesse estágio primitivo da vida é necessário
justamente ir do mais geral ao mais especializado, que é o que as
células-tronco são capazes de fazer. A questão que é levantada em
debates que vão do ético e religioso ao político vem do fato que a
extração dessas células de embriões acaba por destruí-los.
Posições mais conservadoras afirmam que isso é equivalente a
assassinar um ser humano, um crime. O governo norte-americano
bloqueou fundos de pesquisa que envolvam a destruição de
embriões.

No Brasil, o uso de embriões está sendo questionado pelo


Ministério Público Federal no Superior Tribunal de Justiça. Toda
uma revolução na medicina tem que esperar pela nossa lenta
evolução moral. E a controvérsia continuou mesmo após cientistas
afirmarem que extrairiam células-tronco apenas daqueles embriões
que seriam destruídos de qualquer forma nas clínicas de
fertilização.

Agora, parece que esse debate torna-se desnecessário. Ao


conseguir transformar células da pele em células-tronco ou, ao
menos, em células que tem o mesmo potencial de transformarem-
se em células de vários tecidos do corpo humano, a questão
"criminal" imediatamente desaparece. Se as técnicas vingarem -e
tudo indica que vingarão- qualquer pessoa poderá ter o seu kit de
células-tronco, para ser usado em caso de necessidade, sem
preocupações éticas. A técnica utilizada demonstra a incrível
sofisticação da pesquisa em genética: vírus foram usados para
reativar quatro genes adormecidos numa célula da pele,
essencialmente reprogramando a sua função. Meio parecido com o
que é feito com programas de computador quando são editados.

Existem, claro, muitos desafios técnicos pela frente: alguns dos


genes sofrem mutações cancerígenas, outros causam tumores; a
margem de sucesso ainda é relativamente pequena. Mas a
pesquisa científica é assim mesmo, sempre obscura no início.

A descoberta alivia o peso político que pontua a questão do uso


medicinal das células-tronco. Mas, a meu ver, o debate ético
permanecerá. Toda nova tecnologia tem seu lado luminoso e seu
lado sombrio. Será fácil manipular não só os genes mas o medo
que as pessoas têm do novo. Infelizmente, a história nos mostra
que toda grande revolução do conhecimento encontra forte
resistência daqueles que preferem viver no passado.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0212200702.htm
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Livros recomendados::mg

“O fim da Terra e do Céu”, O apocalipse na Ciência e na


Religião, Marcelo Gleiser, 336 páginas, Editora Companhia das
Letras, Rio de Janeiro, 2002. www.companhiadasletrinhas.com.br/

“Leite: Alimento ou Veneno?” do pesquisador e cientista Robert


Cohen, Editora Ground, São Paulo, 2005.

"Atividade Física e Envelhecimento Saudável", Dr. Wilson Jacob


Filho, professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do
Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), Editora Atheneu.

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