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QUANTAS TERRAS?

25-11-2007

+ Marcelo Gleiser

Quantas Terras?

Antes de mais nada, a presença de água parece ser


fundamental

MARCELO GLEISER,
é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover
(EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo" r

Quando pensamos em vida extraterrestre, imaginamos logo seres


que, bem ou mal, se parecem conosco: cabeça, olhos, boca, nariz,
braços ou tentáculos, enfim, formas humanóides, popularizadas nos
filmes de ficção científica.

Esse antropomorfismo dos ETs pressupõe que, nos planetas deles,


existam também condições semelhantes às da Terra. O que, então,
julgamos ser essencial para o desenvolvimento da vida? Antes de
mais nada, a presença de água líquida parece ser fundamental.
Sem ela, fica difícil conceber como é possível que as reações
químicas que caracterizam a vida, o metabolismo que transforma
alimentos em energia e intenção em ação, possam ocorrer.

Reações em meios sólidos ou cristalinos são mais lentas e


limitadas. Fora isso, a água é um solvente universal, extremamente
eficiente. Nenhum outro conhecido se compara a ela. Mais uma
coisa: a água tem a maravilhosa propriedade de ser menos densa
em estado sólido do que no líquido. Isto é, gelo bóia. Caso não
fosse assim, a cada vez que chegasse o inverno, a superfície
congelada dos oceanos afundaria. Em alguns anos, os oceanos
estariam congelados por inteiro e a temperatura do planeta seria
muito baixa. Ademais, com os oceanos congelados, fica difícil
vislumbrar a vida ou mesmo sua origem. Portanto, sem água
líquida, mesmo que pouca, mesmo que muito fria ou muito quente,
a vida não parece ser possível.
A pergunta óbvia é se existem outros planetas parecidos com a
Terra, ao menos com um pouco de água. Começando com o nosso
Sistema Solar, vemos que a coisa não é fácil. De todos os planetas
e luas (mais de 60 delas!), apenas a Terra e Europa, uma lua de
Júpiter, têm água líquida em abundância. Marte tem um pouco, já
teve mais há bilhões de anos, mas agora é essencialmente um
deserto gelado.

Europa muito possivelmente tem um oceano de água salgada sob


uma crosta de gelo de dois quilômetros de espessura. Existem
missões planejadas que irão até lá com brocas robóticas para
extrair amostras dessa água.

Os outros planetas ou são muito quentes ou simplesmente não têm


água -seja ela líquida, sólida ou gasosa. Não em quantidades
apreciáveis. E no resto da galáxia? O número de estrelas na Via
Láctea é cerca de 100 bilhões. Na última década, a astronomia
respondeu a uma questão que havia séculos intrigava as pessoas:
será que existem outros planetas girando em torno de outras
estrelas, feito a Terra e seus companheiros que giram em torno do
Sol? Hoje sabemos que a resposta é um estrondoso "sim!" Não só
existem "exoplanetas", como parece que a maioria absoluta das
estrelas tem planetas em órbita a sua volta.

Não podemos dar uma resposta exata, mas estimar que, no


mínimo, estrelas em geral têm de um a cinco planetas a sua volta,
fora incontáveis luas. Mesmo essa estimativa sendo pessimista, um
planeta por estrela, nos dá em torno de 100 bilhões de planetas na
nossa galáxia.

E, desses planetas, quantos são como a Terra? Difícil dizer. Mas, no


ano que vem, a missão Kepler, da Nasa, vai tentar estimar a fração
de planetas do tipo terrestre: com órbitas que permitam a existência
de água líquida e com massa semelhante à da Terra. Mas vamos
ser pessimistas e dizer que apenas 1 em 1 bilhão de planetas é
parecido com a Terra. Só na nossa galáxia seriam umas cem
Terras. Considerando que existem outras 100 bilhões de galáxias
pelo Universo afora, cada uma com suas 100 bilhões de estrelas
(em média), são 10 trilhões de Terras no Universo. Seria muito
estranho que a vida tivesse surgido só aqui. Nesse meio tempo,
porém, nos resta apenas aguardar.
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth
College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo"
r

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2511200702.htm

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