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O documento analisa um soneto de Camões sobre mudança. Apresenta a estrutura do soneto e sua métrica, e analisa o tema da mudança apresentado, desde mudanças naturais e previsíveis até mudanças inesperadas e imprevisíveis. Explica como os Descobrimentos trouxeram muitas mudanças à sociedade portuguesa da época e como isso pode ter influenciado Camões.
O documento analisa um soneto de Camões sobre mudança. Apresenta a estrutura do soneto e sua métrica, e analisa o tema da mudança apresentado, desde mudanças naturais e previsíveis até mudanças inesperadas e imprevisíveis. Explica como os Descobrimentos trouxeram muitas mudanças à sociedade portuguesa da época e como isso pode ter influenciado Camões.
O documento analisa um soneto de Camões sobre mudança. Apresenta a estrutura do soneto e sua métrica, e analisa o tema da mudança apresentado, desde mudanças naturais e previsíveis até mudanças inesperadas e imprevisíveis. Explica como os Descobrimentos trouxeram muitas mudanças à sociedade portuguesa da época e como isso pode ter influenciado Camões.
Trata-se de um soneto (de tipo italiano), poema de catorze versos divididos em duas quadras e dois tercetos. O seu esquema rimtico o seguinte: abba;abba;cdc;cdc. A rima portanto interpolada (entre o primeiro e o quarto verso e entre o quinto e o oitavo), emparelhada (entre o segundo e o terceiro verso e entre o sexto e o stimo) e cruzada (entre os versos que compem os tercetos). Trata-se de uma rima consoante, visto que, entre as palavras que rimam, existe uma correspondncia total de sons a partir da ltima vogal tnica (ex. confana/mudana), e predomina a rima pobre, visto que as palavras que rimam pertencem mesma classe gramatical (ex. vontades/novidades-nomes comuns). Procedendo escanso dos versos, verifcamos que possuem dez slabas mtricas (decasslabos), uma mtrica que tpica dos sonetos (ex. Mu / dam / -se os / tem / pos, / mu / dam / -se as / von / ta / des). Analisando o sentido global do soneto, chega-se concluso que versa o tema da mudana e apresenta dois momentos antitticos: o das mudanas lgicas, certas e lineares, apresentado nas trs primeiras estrofes; o da mudana inesperada, anormal (fora da norma), que escapa s expectativas criadas, apresentado no ltimo terceto. Na primeira quadra, apresentada a tese de que tudo muda: os tempos, as vontades, o ser, a confana. Para acentuar esta vertente semntica, o poeta repete paralelisticamente o verbo mudar, repete a consoante nasal m e biparte os dois primeiros versos, marcando rigorosamente o ritmo binrio. O terceiro e quarto versos amplifcam o campo das mudanas, prolongando-o no espao e no tempo (Todo o mundo composto de mudana, / Tomando sempre novas qualidades.). Na segunda quadra, utilizado um verbo de extrema importncia: vemos. Trata-se de um conhecimento experimental, fruto da observao directa do que se passa no mundo. A primeira pessoa do plural pretende alargar o sujeito potico: no apenas um indivduo que testemunha das mudanas, h uma pluralidade de testemunhas. O advrbio de modo continuamente, colocado no incio do verso, no deixa margens para dvidas: as mudanas so contnuas e comprovadas pela observao das referidas testemunhas. Insiste-se, em seguida, no sentido de mudana um sentido negativo (do mal fcam as mgoas na lembrana, / e do bem (se algum houve), as saudades. O stimo e oitavo versos demonstram que o mal permanece e intensifca-se, enquanto o bem desaparece, alis a orao condicional pe em dvida a existncia de algum bem. A mudana faz-se portanto para um estado mais negativo. Segue-se, no primeiro terceto, a exemplifcao do que se passa no mundo objectivo a natureza e no mundo subjectivo o sujeito potico. A vertente positiva est associada mudana que ocorre na natureza: ao Inverno (que cobre a terra de neve) sucede a Primavera (estao em que a terra se cobre de verde manto). A expressividade do nono e do dcimo versos, realizada pelas perfrases e pelo pleonasmo (neve fria), salienta a mudana positiva na natureza em contraste com a negatividade da mudana que ocorre no sujeito potico (E em mim converte em choro o doce canto). A oposio apresentada na segunda quadra (mal /bem) reforada por uma anttese (converte em choro o doce canto).
O ltimo terceto, que fecha com chave de ouro, inicia-se pela
conjuno copulativa e, que aqui apresenta um sentido adversativo. A concluso no a esperada, tudo levava a crer que a concluso fosse a sntese daquilo que foi afrmado (ex.: tudo muda, no h remdio para evitar essa situao), mas o sujeito potico apercebe-se de uma outra mudana muito mais espantosa: a da prpria mudana (E, afora este mudar-se cada dia, / outra mudana faz de mor espanto: / que no se muda j como soa.). Assim sendo, chega ideia da imprevisibilidade. Todas as mudanas anunciadas at ao primeiro terceto, inclusive, so previsveis, porque so normais; aquela que referida no segundo terceto imprevisvel, de tal maneira que o sujeito potico se encontra completamente desarmado e impotente, deixando adivinhar um certo pessimismo, uma certa tristeza... O tema da mudana foi um dos tpicos predilectos dos autores clssicos e uma das razes justifcativas para a frequncia desse tema, ter sido talvez a mudana operada pelos Descobrimentos. Alteraram-se os costumes, o oportunismo instalou-se e os valores tradicionais foram postos em causa, o enriquecimento fcil era o objectivo de grande parte da sociedade. Cames ter sido marginalizado numa sociedade consumista que desprezava as Letras. Alem disso, no foi feliz na vida amorosa, os sucessivos desenganos levaram-no a concluir que era perseguido pelo Destino, que lhe mudava sempre os caminhos.