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ISSN 1647-3574

ano ii · revista nº09 · nov/dez 2009


350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros
Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

REVISTA Nº09 · NOVEMBRO / DEZEMBRO 2009


JUSTIÇA À LUPA
Direitos Humanos, Corrupção e a Nova Constituição
são os temas do momento para a advocacia nacional.
Em entrevista exclusiva, Inglês Pinto, Bastonário
da Ordem dos Advogados, revela o que está
a mudar num sector em evolução

stop à fuga poder às províncias o preço justo


As fragilidades do sistema tributário. Dividir para ‘reinar’. A descentralização Respeito pelo valor real dos bens
Contra a evasão, o Governo prepara-se marca a agenda política. Do Estado e serviços. A ideia é antiga – criar uma
para aplicar novas políticas de combate central para um poder local democrático, cadeia comercial assente em princípios
à fraude fiscal conheça as grandes metas do país éticos. Veja o que pode fazer
ONDE QUER QUE ESTEJA, ESTAMOS CONSIGO.

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Delegação Angola’in
Rua Rainha Ginga, Porta 7
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in loco

revista bimestral nº09 - nov/dez 2009 EQUILIBRAR A ‘BALANÇA’ SOCIAL


http://angolain.blogspot.com · http://twitter.com/angolain

Direcção Executiva A sociedade está em destaque nesta edição. de é o direito a um comércio justo, que deve
Daniel Mota Gomes · João Braga Tavares
A Angola’in examina o elemento mais impor- basear-se na transparência. A Angola’in apre-
Direcção Editorial
Manuela Bártolo - mbartolo@comunicare.pt tante e a razão da existência de um país, ana- senta-lhe as garantias de uma transacção
Redacção lisando as suas múltiplas valências. A justiça assente no respeito do valor real dos bens e
Patrícia Alves Tavares - ptavares@comunicare.pt
Mónica Mendes - mmendes@comunicare.pt social merece particular atenção, num perí- serviços, medidos pela quantidade e qualida-
Colaborador Especial odo em que o Bastonário da Ordem dos Ad- de. Levamos até si os desafios que se impõem
João Paulo Jardim - jpjardim@comunicare.pt
Design Gráfico vogados, recentemente eleito, assume o seu ao sector, num momento em que se viven-
Bruno Tavares · Patrícia Ferreira segundo mandato. Inglês Pinto abordou, em ciam situações de especulação e a corrupção
design@comunicare.pt
Fotografia entrevista exclusiva, questões fulcrais como a ainda persiste. Aliás, o seu fomento é uma
Ana Rita Rodrigues · Shutterstock · Fotolia luta pelos direitos humanos e a urgência (ou das apostas governamentais para assegurar o
Serviços Administrativos e Agenda
Maria Sá - agenda@comunicare.pt não) na aprovação da nova Constituição. efectivo combate à evasão fiscal.
Revisão
Marta Gomes
Por outro lado, revelou algumas das ideias para Aproveitando o lançamento do primeiro mo-
Direcção de Marketing a gestão da Ordem dos Advogados para o trié- delo de Habitação de Custo Controlado, mos-
Pedro Posser Brandão
Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369 nio 2009/ 2011, tecendo críticas à ausência de tramos tudo o que precisa saber sobre o
E-mail - pbrandao@comunicare.pt
condições para o exercício pleno da profissão e sistema, que pode ser uma mais-valia para
Publicidade
Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369
lançando alertas, no que respeita à corrupção, a execução de um milhão de casas até 2012,
E-mail - publicidade@comunicare.pt formação, exercício da advocacia e da magis- garantindo que todos têm uma casa de qua-
João Tavares - jtavares@comunicare.pt
Daniel Gomes - dgomes@comunicare.pt tratura e ao estado da Justiça em Angola. lidade e acessível a todas as carteiras. A ha-
ASSINATURAS - assinaturas@comunicare.pt bitação de baixo preço tem uma componente
Envie o seu pedido para: Este mês, destacamos as fragilidades do sis- social interessante, pois incentiva a interac-
Rua Rainha Ginga, Porta 7
Mutamba - Luanda - Angola tema fiscal e tributário, nomeadamente os ção entre as comunidades.
perigos da evasão fiscal, um dos problemas
Departamento Financeiro
Sílvia Coelho que preocupam não só Inglês Pinto, mas to- A fechar, não esquecemos um dos temas mais
Departamento Jurídico das as entidades governamentais. Apesar das debatidos por toda a sociedade: a importân-
Nicolau Vieira
Impressão reformas, a fraude e fuga ao fisco causam ain- cia da governação local. Problemática ques-
Multitema da grande consternação, exigindo uma maior tionada por quase todas as figuras públicas,
Distribuição
Africana Distribuidora Expresso fiscalização, especialmente nas alfândegas, a Angola’in faz uma reflexão acerca da ne-
Luanda - Angola onde a situação é mais comum e carece de in- cessidade de descentralizar a capital Luanda,
Tiragem
10.000 exemplares tervenção urgente. sobrecarregada de habitantes e serviços e da
— urgência de promover o poder local e autárqui-
ISSN 1647-3574
DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09 Justiça não diz respeito unicamente à análise co, determinantes no comando dos destinos

Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos,
da conduta dos povos. O termo é mais abran- dos munícipes.
fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para gente. Proveniente do latim iustitia, é sinóni-
quaisquer fins, inclusive comerciais
mo de igualdade entre todos os cidadãos. Ora,
ASSINE ANGOLA´IN um dos princípios da equidade numa socieda- A Direcção

Contacto Angola - assinaturas@comunicare.pt


1 ANO 17,55 EUROS (10% DESCONTO)
2 ANOS 31,20 EUROS (20% DESCONTO)

|3
Esta revista utiliza papel produzido e impresso por
empresa certificada segundo a norma ISO 9001:2000 IN LOCO · ANGOLA’IN
(Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade)
40
SOCIEDADE

comércio justo
É um dos direitos fundamentais da
população, que deve ter acesso aos produtos
de subsistência básica, sem ter que pagar
preços extrapolados por bens essenciais.
O comércio justo baseia-se na transparência,
pelo que convidamo-lo a compreender o
funcionamento da máquina económica.
A especulação cresce de forma preocupante,
levando o Governo a tomar medidas.
Descubra as bases do respeito pelo valor real
dos bens e serviços, medidos pela quantidade
e qualidade

26 76
ECONOMIA & NEGÓCIOS DESPORTO
evasão fiscal reis das pistas
Esta edição tem como tema central a Justiça. Nesse A soberania africana no atletismo é evidente. Uns
âmbito, um dos problemas indissociáveis da socieda- apontam os factores genéticos como a razão do ta-
de diz respeito à justiça social, em que a evasão fiscal lento dos negros para as corridas. Outros destacam
é uma problemática que prevalece. Assim, as fragili- as condicionantes naturais e sociológicas para a su-
dades do sistema fiscal e tributário passam pelo ‘ra- premacia em relação aos brancos, que ficam aquém
dar’ da Angola’in, que deixa o alerta para os perigos da destreza e capacidade física dos atletas, oriundos
da ausência de fiscalização, nomeadamente nas alfân- de África. Conheça os casos de sucesso e os ícones
degas, cuja intervenção é urgente da modalidade

ANGOLA IN PRESENTE
03 IN LOCO 12 INSIDE 22 IN FOCO

10 EDITORIAL 18 MUNDO 46 GRANDE ENTREVISTA

6 | ANGOLA’IN · SUMÁRIO
ECONOMIA & NEGÓCIOS
24 quénia - futura plataforma
financeira regional
O FMI prevê um abrandamento do crescimento do país, de-
vido às condicionantes mundiais e à crise política. Porém, o
Quénia parece passar incólume a estas previsões e prome-
te ser a próxima plataforma financeira regional. As expec-
tativas estão voltadas para a Bolsa de Valores de Nairobi,
que é o maior mercado bolsista da África Central e Oriental.
Descubra o porquê destas aspirações e conheça os motivos
desta confiança inabalável

SOCIEDADE
44 diplomacia não governamental
Responsáveis pelo apoio de retaguarda das sociedades, as
ONG’s são essenciais no auxílio à sociedade. Em colaboração
68
INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO
com o Governo ou com entidades privadas, estas associa-
ções conseguem fazer muito com parcos recursos. Descu- médicos do bairro
bra as áreas de actuação e iniciativas destas entidades Para muitos, uma ida à farmácia local é o que
mais se aproxima de uma visita ao médico. A
TURISMO Angola’in traça o perfil do sector farmacêutico
58 tanzânia e suazilândia nacional, revelando as acções em curso e os
Nesta edição, sugerimos um passeio por terras africanas. projectos que permitem revolucionar o sector,
Encante-se com as paisagens deslumbrantes da Tanzânia, esperando-se que assim seja possível reduzir
onde subsistem mais de cem tribos com culturas e dialec- as importações. O arranque de uma fábrica de
tos próprios. As praias são o principal atractivo. Se preferir, produção interna e a aposta na investigação são
opte por um país único, conhecido pela sua singularidade: a as novidades que lhe apresentamos
Suazilândia. É o local ideal para quem procura os melhores
safaris do mundo e savanas extraordinárias

ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO VINHOS & COMPANHIA

64 especial - habitação de baixo custo 120 gourmet


‘quando menos é mais’ Wilson Aguiar junta-se à equipa Angola’in e traz muitas no-
Numa altura em que se aborda a meta governamental de vidades, prometendo receitas deliciosas, sempre com o to-
criar um milhão de casas em apenas quatro anos, as ha- que dos sabores africanos. O reconhecido chef brinda-o com
bitações de preços reduzidos são uma hipótese viável. A a sua experiência e qualidade.
primeira foi apresentada recentemente na Constrói. Des- Inauguramos ainda uma nova rubrica, a pensar no seu
cubra as vantagens do novo modelo de construção, em que bem-estar. Não perca os melhores locais para jantar ou
a simplificação do processo significa ganhos consideráveis passar um momento agradável

DESPORTO CULTURA & LAZER


80 sangue novo em campo 126 versejar estórias de um povo
São jovens, saudáveis, talentosos e...vencedores. Os atletas A poesia acompanha os primórdios da humanidade. No
nacionais com menos de 20 anos compõem um grupo de caso angolano, os poemas fazem parte da cultura na-
talentos promissores, distribuídos por diversas áreas. Este cional e relatam o desenvolvimento da sociedade, espe-
mês evidenciamos os benefícios da prática do desporto e cialmente os momentos mais importantes, que fizeram
revelamos algumas das modalidades mais medalhadas, em história. Conheça os ‘pais’ da poesia enquanto literatura,
júniores e juvenis. Fique a conhecer os atletas mais galardo- os grandes nomes do século XX e as gerações do novo
ados, que prometem dar muitos títulos ao país milénio

52 FOTO REPORTAGEM 94 ESTILOS 130 PERSONALIDADES

84 LUXOS 110 LIVING

SUMÁRIO · ANGOLA’IN |7
editorial

moda do low cost


Primeiro foram os aviões, depois os hotéis e agora são que basta pensarmos. Há também outra tendência
vários os segmentos de mercado que oferecem pro- que passa pela dissimulação de uma marca noutra.
dutos ou serviços a baixo custo. O conceito chegou e Temos como exemplo mais conhecido a Mercedes e
parece que está para durar porque, pelos vistos, fun- a Smart ou então a Samsung que lançou no merca-
ciona: dá lucro às empresas que o exploram e agradam do uma nova marca low cost, a Samtronic. Mais uma
(todos) os utilizadores. Admito que me tenho deixado vez no sector das viagens, algumas companhias co-
seduzir por este fenómeno que nos últimos anos tem mo a Air Europa renderam-se e tornaram-se low cost.
tido uma expansão galopante. A tendência de produ- Outras criaram as suas próprias, como a Iberia com a
tos low cost, que se instalou nos mercados mundiais Click Air (nome sugestivo, que revela a inegável im-
baseia-se na oferta de menos serviços, mas não ne- portância da internet no desenrolar deste processo.)


cessariamente piores serviços a um preço muito infe-
rior ao do mercado. Estes preços fazem com que mais Para entender melhor este fenómeno temos de recuar
mbartolo@comunicare.pt
e mais pessoas comprem esses produtos e serviços e até aos anos 80/90 em que o chique passou a não ser
assim se construa uma economia de escala que sus- necessariamente o caro. Bom exemplo é a Swatch que
tenta esses preços muito baixos. Paradoxalmente, é a meu ver teve um grande papel, era um produto ab-
neste formato low cost, quando bem gerido e com solutamente na moda e ao mesmo tempo oferecia os
uma dimensão de mercado suficiente, que as empre- relógios mais baratos do mercado. Isto veio transfor-
sas que trabalham os mercados de massas estão a mar todos os cânones do consumismo que existiam
ganhar dinheiro. Suportado pelo internet e por uma até à altura. A ameaça passa para o mercado tradicio-
geração de jovens cada vez mais atenta e exigente, nal, pois por exemplo no IKEA as pessoas sujeitam-se
as empresas têm reduzido ao mínimo os preços. Um a ser ao mesmo tempo clientes, embaladores, em-
bom exemplo disso é a companhia EASY do multimi- pregados, armazenistas e transportadores. Aí está o
lionário grego Stelios Haji-Ioannou, que hoje em dia (único?) perigo destes fenómenos low cost: as taxas
oferece soluções económicas em áreas tão diferentes subentendidas ao primeiro olhar e reguladoras.

A ver-
que vão desde as telecomunicações, ao cinema e ao dade é que facilitou a vida de todos e tornou possível
aluguer de automóveis. para os clientes (e todos sabem quem são os clien-
tes-alvo destes grupos) jovens permitirem-se a luxos
nunca antes imaginados. Uma viagem? Um fim de se-
Ao low cost juntou-se mais
mana fora? Deixou de ser exclusivo para as elites…
tarde o no cost, que se
baseia na comercialização O no cost será um novo standard de mercado, que veio
a preços nulos. para ficar e marcará as próximas gerações de forma
decisiva. Enquanto este modelo conquista os merca-
dos, um outro, mais ousado, ganha forma: preços ne-
gativos. Ninguém se deve admirar se em breve algum
Importa agora explicar o que quer dizer este termo tão canal de televisão pagar aos consumidores para verem
ouvido em todo o lado. O que é low cost? Para explicar os seus conteúdos ou um site a pagar a cada unique
posso dizer que longe vão os tempos em que se paga- IP adicional – ou ainda algum grupo de música pagar
va pela qualidade. Baixo custo não significa falta de uns cêntimos por cada download, sabendo que algum
qualidade, significa reduzir ao mínimo os preços e as- sponsor de bebidas, portáteis ou leitores de mp3 lhe
sim cativar o maior número possível de clientes. Lem- paga em posicionamento tanto mais, quanto maior
brem-se que a internet não tem fronteiras. Postos de for a sua largura de banda de ouvintes.
atendimento em cada cidade tornam-se inúteis quan-
do se pode ter um site em casa de cada interessado, Os preços negativos surgirão em mercados onde o
24 horas disponível por dia e na sua língua-mãe. Mas o grátis se tornar standard, como forma de diferencia-
sector mais transformado com esta nova vaga foi sem ção. Neste posicionamento, como no modelo low cost,
dúvida o das viagens e consequentemente o da hote- é necessário saber comunicar de forma muito cautelo-
laria. Temos também low cost nos sectores das comu- sa e eficaz, de forma a manter a credibilidade e atrair
nicações, moda, restauração, supermercados e outros os clientes-alvo e não demais.

10 | ANGOLA’IN · EDITORIAL
EDITORIAL · ANGOLA’IN | 11
INSIDE | patrícia alves tavares

TAAG quer mais voos para a China


A companhia aérea angolana pretende incrementar a sua oferta de viagens para a Chi-
na. O objectivo consiste em aumentar a frequência de dois para três voos semanais, para
fazer face à procura actual. A informação foi avançada por António Inácio, representante
da companhia em Beijing, que revelou que a TAAG tem registado uma maior afluência de
angolanos, o que torna insuficiente o número actual de deslocações. Questionado acerca
dos motivos da procura crescente, o responsável apontou o nivelamento das tarifas (em
relação ao mercado) e a melhoria dos serviços como causas prováveis. “O tráfego tem ten-
dências de aumentar em função dos contratos que foram assinados entre os governos de
Angola e da China, e o despertar dos comerciantes e empresários angolanos que estrei-
tam parcerias com outros deste país asiático”, constatou. A entrada da TAAG no referido
país asiático, em Dezembro de 2008, permitiu a cobertura dos mercados da Coreia, Japão,
Hong Kong e Macau.
CTT expande-se para
Angola e Moçambique
Os correios de Portugal vão investir um milhão
de euros em Angola e outro milhão em Mo-
çambique, com o intuito de dar seguimento à
política de expansão da empresa. “Os CTT ele-
geram os países da África lusófona para a sua
internacionalização, além de Espanha”, anun-
ciou recentemente Estanislau Costa, presi-
dente da instituição. A entrada no mercado
nacional está a ser preparada “há um ano e
deverá estar concluída antes de 2009”, estan-
do agendado o lançamento de operações ex-
presso de encomendas. Os CTT vão participar
em parceria com os correios locais, sendo de- Governo liberaliza sector
tentores de uma posição de 50 por cento. da refinação de petróleo
O Conselho de Ministros angolano aprovou de oito mil milhões de dólares. Para o Zaire,
a liberalização do sector da refinação de pe- na região do Soyo, está prevista uma tercei-
tróleo, abrindo as portas a um mercado que ra refinaria, embora sem calendário para a
Volume de negócios actualmente é exclusivo da petrolífera So- sua construção. A actual refinaria de Luanda
do Brasil atinge nangol, que gere a única refinaria do país, a tem capacidade para refinar 35 mil barris de
900 milhões de dólares norte de Luanda. O Conselho de Ministros, petróleo por dia, muito abaixo das necessi-
O Brasil investiu em Angola um total de 900
segundo um comunicado divulgado pela im- dades do mercado, levando a que o país im-
milhões de dólares americanos. Os dados são
prensa estatal angolana, definiu ainda a libe- porte cerca de 90 por cento dos combustíveis
relativos ao período de Janeiro a Junho de 2009
ralização, também no sector dos petróleos, refinados que consome. Cada uma das duas
e, de acordo com o embaixador brasileiro,
do armazenamento, transporte e distribui- unidades que estão previstas para Benguela
Afonso Cardoso, a actual recessão económi-
ção, áreas igualmente controladas pela So- e Zaire deverá ter capacidade para cerca de
ca mundial não afectou o relacionamento co-
nangol, embora na distribuição a operadora 200 mil barris/dia. Angola é actualmente o
mercial entre os dois países, que mantiveram
angolana tenha como sócia a portuguesa maior produtor de petróleo africano a sul do
os mesmos níveis de importações e exporta-
Galp, na Sonangalp. Esta decisão surge quan- Sahara, com potencial de produção de dois
ções. O diplomata confirmou que o petróleo
do o Estado angolano se prepara para arran- milhões de barris/dia, embora as quotas im-
continua a ser o produto dominante nas tro-
car, em 2012, com uma segunda refinaria no postas pela Organização dos Países Exporta-
cas comerciais, defendendo, no entanto, que
país, situada na província de Benguela, Lobi- dores de Petróleo (OPEP) levem a que esta
o saldo deste relacionamento é positivo e es-
to, com um investimento estimado em cerca produção se confine a cerca de 1,7 milhões.
tável, assistindo-se a um aumento do número
de angolanos a investir no Brasil e vice-versa.
“Tem havido uma forte reciprocidade a nível
comercial, pelo que julgamos haver uma boa
relação”, garantiu Afonso Cardoso, avançando
que quer do ponto de vista político, quer social
e económico, os dois países estudam a cria-
ção de mais planos comuns e a integração dos
seus cidadãos.

12 | ANGOLA’IN · INSIDE
Banco de Investimento tem “luz verde”
O Banco Nacional de Angola (BNA) autorizou a criação de um banco de investimento, que foi
proposto pela Sonangol e pela Caixa Geral de Depósitos. A parceria CGD/Sonangol foi estabe-
lecida em Março deste ano. A nova estrutura terá como finalidade estreitar as relações entre
os dois países. O banco central angolano foi autorizado no mês de Agosto, permitindo assim a
antecipação do arranque da operação destinada a apoiar projectos de investimento em Ango-
la. Recorde-se que a data prevista para a abertura do espaço estava agendada para o final de
2009. Em declarações ao jornal português Diário Económico, Francisco Bandeira, vice-presiden-
te da CGD e futuro «chairman» da instituição angolana, afirmou que está confiante de que «ain-
da durante o último trimestre” o grupo terá “condições para olhar para as primeiras operações».
A parceria CGD/Sonangol visa potenciar a cooperação entre Portugal e Angola, através do apoio
e financiando dos projectos de maior dimensão na economia angolana, especialmente no que
respeita à área das grandes infra-estruturas.

Banco Caixa Totta expande rede


Programa
O banco Caixa Totta foi recentemente criado banco seguro e sólido”, para incentivar o in-
de Comércio Rural
em Angola, mas já anunciou que vai investir vestimento português. Francisco Bandeira
José Eduardo dos Santos criou a Comis-
mais de 100 milhões de dólares (cerca de 67,7 quer que os empresários “sintam neste banco
são Multi-sectorial para a implemen-
milhões de euros) na expansão da rede de uma continuidade da Caixa Geral de Depósi-
tação do Programa do Comércio Rural,
balcões para todas as províncias angolanas. tos (CGD)”. “Queremos crescer em todo o país,
que é coordenado pela ministra do Co-
Criado a partir do banco Totta Angola, o Caixa queremos estar nos principais investimentos
mércio, Idalina Valente. A comissão
Totta é participado pela Caixa Geral de Depó- das empresas portuguesas em Angola, que-
responsável pelo projecto está ao cargo
sitos, pelo Santander e por dois empresários remos estar também nos importantes in-
de Pedro Canga, ministro da Agricultu-
angolanos anónimos. Francisco Bandeira, vi- vestimentos que se anunciam para Angola”,
ra e é composta pelos ministros da In-
ce-presidente do grupo CGD, confirmou, em definiu, manifestando o interesse em fazer
dústria, das Finanças, dos Transportes
entrevista à agência de notícias portuguesa da instituição “essencialmente um banco
e da Família e Promoção da Mulher. O
Lusa, que a pouca expressão do Totta Angola, de empresas”, daí “partir para um banco de
grupo terá como missão articular a re-
quer em quota de mercado quer em número particulares, mas reforçando a componente
lação dos diversos parceiros públicos e
de balcões, vai sofrer uma profunda alteração de banco de empresas”. Pela frente, o Caixa
privados intervenientes no comércio ru-
no próximo ano. “O banco Totta Angola tem Totta tem ainda um trabalho de redimensio-
ral. Por outro lado, a comissão deverá
pouca expressão quer em quota de merca- namento, de refrescamento da imagem, da
definir os requisitos para a selecção dos
do quer em número de balcões, mas o banco dignificação dos balcões, desde logo da sede,
operadores e das instituições bancárias
Caixa Totta Angola vai querer mais expressão onde está em negociações para adquirir no-
ou financiadoras, bem como implemen-
e mais unidades pelo país”, esclareceu, defi- vas instalações. “Dentro de um ano e meio
tar as politicas definidas pelo Ministério
nindo como objectivo prioritário o desenvol- estaremos em todas as capitais de província,
do Comércio para a comercialização ru-
vimento de acções que permitam ao Caixa em seis meses duplicaremos o número actual
ral e para o abastecimento às comuni-
Totta assumir-se como um “continuador do de balcões e no próximo ano atingiremos 35
dades rurais.
crescimento em segurança do Totta” e “um unidades de negócio no país”, finalizou.

INSIDE · ANGOLA’IN | 13
14 | ANGOLA’IN · INSIDE
INSIDE · ANGOLA’IN | 15
INSIDE

Sonangol deseja entrar na EDP


A Sonangol confirmou o seu interesse em adquirir uma participação minoritária no
capital da EDP - Energias de Portugal. A empresa encontra-se à espera de uma opor-
tunidade, tendo Manuel Vicente, presidente do conselho de administração, manifes-
tado a vontade de entrar no capital da entidade portuguesa. “Se houver oportunidade
lá estaremos”, admitiu, lembrando que qualquer um “gostaria de estar numa empresa
saudável”. O responsável pela Sonangol afirmou que desejam uma participação ao ní-
vel dos dois por cento. A intenção foi divulgada à margem da apresentação do Banco
Privado Atlântico Europa, em Lisboa. O BPA, que detém uma participação da Sonan-
gol e do Millenium BCP, instalou a sua sede na capital portuguesa, que se encontra a
funcionar desde Agosto. Quanto às oportunidades de cooperação em Angola, Manuel
Vicente justificou que “estão a ser identificadas”, salvaguardando que o interesse co-
mum surge no sentido da fase de produção até à distribuição de electricidade.

Total investe
quatro milhões
A companhia petrolífera Total vai aplicar qua-
tro mil milhões de dólares norte-americanos
em vários projectos nacionais. A empresa e
respectivos parceiros pretendem participar
no desenvolvimento sustentável da nação. As
afirmações são do director-geral de pesquisa
e produção, Yves-Louis Darricare, que confir-
mou que os valores a investir serão aplicados
em áreas de pesquisa e produção, nos domí-
nios operados pela entidade na região. Du-
rante a cerimónia de apresentação do novo
director-geral da Total Angola, Philippe Cha-
lon, Yves-Louis Darricare explicou que “ em
relação ao investimento do ano 2008 houve
um aumento de quase quatro por cento, daí
o actual (investimento) de quatro mil milhões
de dólares norte-americanos”. A Total lançou
a nível mundial um programa de redução de
custos que vai permitir manter os seus projec-
tos de investimento em curso, particularmen-
te em Angola. Quanto ao facto do preço do
BESA promove amostra petróleo continuar em baixo, o representante
O Banco Espírito Santo Angola vai participar na Cimeira Mundial do Planeta Terra, com a mostra-se confiante e reitera que “é preciso
exposição BESA Banco do Planeta. O certame, que decorre este mês em Lisboa (Portugal), investir para o futuro”. “Se não investirmos
exibe os projectos de cinco fotógrafos africanos, cujos trabalhos foram recolhidos durante agora não vamos ter capacidade para aten-
uma viagem por várias províncias angolanas. Esta é uma iniciativa do BESA e contou com der a procura depois”, sustentou. O director-
a colaboração do World Press Photo, a prestigiada agência internacional de fotografia. Os geral contou que o potencial de produção da
fotógrafos são naturais de Angola, Zimbabué, Gana, Tanzânia e Quénia e efectuaram um Total em Angola neste momento é superior a
workshop para aprofundar conhecimentos acerca do projecto e dos temas que cada profis- 500 mil barris/dia, significando que a compa-
sional retratou (águas; terra e saúde; recursos energéticos; megacities; solos). Os melhores nhia opera pouco mais que em um quarto da
trabalhos retratam um local específico de Angola. O evento tem como finalidade abordar produção petrolífera angolano. O novo direc-
temas relacionados com a protecção do planeta terra e conta com a presença do secretário- tor-geral da Total Angola, Philippe Chalon pre-
geral da ONU, Ban Ki-moon, do rei Gustavo da Suécia e de vários chefes de Estado e de Go- tende prosseguir na mesma linha de actuação
verno. O BESA recebeu a distinção Banco do Planeta, atribuída pelo Comité Internacional dos eixos programados pela companhia, que
de Desenvolvimento do Planeta Terra e participa no certame nessa qualidade. A escolha da consistem na produção petrolífera, na angola-
instituição deveu-se ao seu empenho e apoio na divulgação de mensagens sobre protecção nização e no desenvolvimento sustentável.
do ambiente e sustentabilidade.

16 | ANGOLA’IN · INSIDE
MUNDO | patrícia alves tavares

banca
Reino Unido pede limites
aos prémios dos banqueiros
A Inglaterra junta-se aos dois principais países da UE, Ale-
manha e França, no apelo conjunto para que sejam adop-
tadas “regras obrigatórias” para controlar os sistemas de
atribuição de generosos prémios aos banqueiros. A medida
surgiu mediante a crise financeira que eclodiu no ano passa-
do e atingiu todas as economias, em que a gestão da banca
é apontada pelos especialistas como causa. O primeiro-mi-
nistro britânico, Gordon Brown, a chancelar alemã, Ângela
Merkel e o presidente da França, Nicholas Sarkozy elabo-
raram uma carta conjunta, onde defendem a adopção de
sistemas de contenção dos bónus, de forma a evitar com-
portamentos de risco na banca internacional. Os responsá-
veis querem que esta medida seja analisada na cimeira do
rd congo G20, que decorrerá em Pittsburgh, nos EUA. O objectivo
Angola e Kinshasa suspendem expulsões consiste em ligar a dimensão dos prémios às remunerações
A República Democrática do Congo ção contra o repatriamento de con- fixas e ao desempenho dos bancos a longo prazo. Aliás, a
e Angola chegaram a acordo quanto goleses, que Angola tem efectuado França e o Reino Unido já criaram novos regulamentos, que
à recente vaga de expulsões de cida- nos últimos anos, em virtude de se não especificam regras acerca dos limites e critérios de atri-
dãos entre os dois países. De acordo encontrarem em situação ilegal (cer- buição de prémios aos gestores de topo.
com o diário congolês “Le Potentiel”, ca de 100 mil), nomeadamente a tra-
o entendimento foi firmado após um balhar nas zonas diamantíferas. Dias
encontro entre uma delegação ango- antes da celebração do acordo entre
lana, chefiada pelo vice-ministro das as duas nações (cujo conteúdo ainda
Relações Exteriores, George Chicoty não foi divulgado), Kabila suspendeu
e o presidente da República Demo- a expulsão de cidadãos angolanos
crática do Congo, Joseph Kabila. Re- em resposta a uma mensagem en-
corde-se que recentemente mais de viada pelo Presidente da República,
20 mil angolanos foram expulsos da José Eduardo dos Santos.
região Congo-Kinshasa, em retalia-

petróleo
Receitas de petróleo “nacionalizadas”
O novo modelo de exploração de petróleo e gás natural no Brasil inclui um mo-
delo de partilha de produção existente na Noruega, Venezuela e Rússia. O sis-
tema tem como finalidade controlar as gigantescas reservas, situadas a sete
mil metros de profundidade na bacia de Santos e sob a chamada camada de fortuna
pré-sal. Actualmente a funcionar em regime de concessões, o Estado brasilei- Bill Gates lidera ranking
ro torna-se proprietário de todo o crude e quer ficar com 80 por cento da re- O fundador da Microsoft encabeça a lista dos magnatas
ceita da exploração do mesmo. Assim, a Petrobras passa a operar em todos os generosos. O ranking foi elaborado pela revista Forbes de
blocos, no mínimo com 30 por cento do capital, existindo a possibilidade de ter filantropos que doaram mais de mil milhões de dólares ao
parceiros privados, que serão remunerados em petróleo. Por outro lado, caberá longo da sua vida. A conhecida publicação encontrou apenas
à nova empresa pública, a Petro-Sal, administrar os contratos. Com as recei- 14 “super generosos” em todo o mundo. Dos 793 poderosos
tas, provenientes do crude, o país vai lançar o Fundo Social do Pré-Sal, que se que possuem um património superior a mil milhões de dóla-
destina ao combate da pobreza e financiamento de projectos na área da saú- res, apenas 11 integram a nova categoria da famosa revista,
de, educação, ciência e tecnologia, meio ambiente e cultura, modelo comum que classifica ainda estes milionários como “possivelmente
em países como a Noruega. o subgrupo de ricos mais exclusivo do mundo”.

18 | ANGOLA’IN · MUNDO
ambiente
Glaciares perdem espessura em dois anos
Um estudo do Centro Mundial de Monitoriza- 11,3 metros de água equivalente. Em Espanha, Mundo”. O responsável garante que a situação
ção de Glaciares revelou que no ano hidrológi- “se em 1820 o glaciar de Maladeta ocupava 152 implica “uma grande perda da riqueza bioló-
co de 2005/ 2006 os glaciares perderam uma hectares, hoje são 54, ou seja, perdeu 35 por gica dos Pirinéus”, pelo que poderá ter graves
espessura de 1,3 metros de água equivalente cento da sua superfície”, informou Cuellar, da repercussões no abastecimento de água a zo-
e 0,7 metros no ano 2006/ 2007. No primei- associação Globalizate, no jornal espanhol “El nas densamente povoadas.
ro período, os especialistas estudaram cem
glaciares e 80 no ano seguinte. “Estes dados
mostram que se mantém a tendência global
do degelo acelerado nas últimas décadas”,
anunciam os autores da pesquisa. Desde a dé-
cada de 80, os glaciares perderam em média

ambiente
Fosfatos derramados
ao largo de Madagáscar
Um cargueiro de bandeira turca naufragou em
frente à costa de Madagáscar, derramando 39
mil toneladas de fosfatos, que ameaçam pro-
vocar uma catástrofe ecológica, que deverá
afectar a zona protegida. O barco, com 186 me-
tros de comprimento, perdeu toda a carga. O
naufrágio deu-se a três quilómetros da costa,
em frente ao Cabo Faux, a sul da ilha. De acordo
com os dados divulgados pela imprensa turca, brasil
os 23 tripulantes foram resgatados pelas au- Rio de Janeiro, palco dos Olímpicos de 2016
toridades. O Comité Olímpico Internacional (COI) anunciou em Copenhaga que a organização dos Jo-
gos Olímpicos de 2016 ficará a cargo da cidade brasileira Rio de Janeiro, situação que até
há poucos meses parecia improvável. O discurso de Lula da Silva, presidente da República
do Brasil e o seu poder económico foram decisivos na escolha do país sul-americano para
o maior evento multi-desportivo mundial. A cidade concorreu à organização das compe-
tições de 2004 e 2012, mas acabou por ser excluída da corrida. Agora, com as previsões do
Banco Mundial a preverem que o Brasil se torne na quinta maior economia do planeta, em
2016, os membros do COI deram o tão esperado voto de confiança. “Para os outros países
candidatos, será mais uma decisão. Para nós, será a oportunidade de construir um novo
Brasil”, argumentou Lula da Silva, recordando que entre as dez maiores economias mun-
afeganistão diais, o seu país era o único que ainda não tinha acolhido o certame. Em tom de desafio, o
ONU admite fraudes presidente esclareceu que “os que pensam que o Brasil não tem condições de receber os
Jogos vão surpreender-se”.
nas eleições
Kai Eide, representante especial da ONU no
Afeganistão, explicou que as presidenciais do
Afeganistão, que decorreram a 20 de Agos-
to, foram alvo de “fraudes consideráveis”.
Os resultados das eleições ainda não são co-
nhecidos, mas os primeiros dados apontam
Karzai como vencedor, com 55 por cento dos
votos. As acusações de fraude partiram de
observadores afegãos e internacionais, que
argumentam que os actos ilícitos foram co-
metidos a favor do actual presidente Karzai,
que procura novo mandato. Eide, em confe-
rencia de imprensa, admitiu que “é verdade
que num determinado número de mesas de
voto no Sul e Sudeste houve fraudes consi-
deráveis”. Os resultados definitivos serão
anunciados brevemente.

MUNDO · ANGOLA’IN | 19
MUNDO

medicina
Encontrados três genes da Alzheimer
Dois grupos de cientistas do Reino Unido e da França conseguiram dar um “grande passo em
frente” na investigação da doença de Alzheimer. A identificação dos três novos genes pode-
rá, no futuro, reduzir até 20 por cento as taxas de incidência da doença. Após a publicação da
investigação na revista científica “Nature Genetics”, a professora da Universidade de Cardiff
(Gales), Julie Williams, que esteve à frente da equipa do Reino Unido, referiu que se trata “do
maior avanço conseguido na investigação do Alzheimer nos últimos 15 anos”. Os investigado-
res garantem que, neutralizando a actividade dos genes em causa, será possível evitar num
país como o Reino Unido (população estimada de 61 milhões) cem mil novos casos por ano da
variante mais comum do Alzheimer, que afecta sobretudo os mais idosos. Recorde-se que ain-
da não existe um tratamento eficaz para esta doença neurodegenerativa, que se manifesta
através de alterações cognitivas e comportamentais, devido à morte de neurónios e à atrofia
do cérebro. Ainda segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 0,379 por cento da popula-
ção mundial sofria da doença em 2005, número que subirá para 0,441 em 2015. Esta descober-
ta é a primeira a ser divulgada desde 1993. Dois dos genes (CLU e PICALM) foram descobertos
pela equipa britânica, enquanto o terceiro (denominado por receptor complementar 1 ou CR1)
foi identificado pelo grupo francês. Possuir determinadas versões destes genes aumenta entre
10 e 15 por cento a probabilidade de sofrer de Alzheimer.

parceria
Aproximação
à África do Sul
O presidente da Agência para o Investimen-
to e Comércio de Portugal (AICEP – Portugal
Global), Basílio Horta, explicou que a presen-
ça económica portuguesa em África deve ter
clima uma visão regional, na qual a África do Sul te-
Japão quer reduzir CO2 rá necessariamente de estar presente. O res-
A nação asiática pretende cortar em 25 por ponsável participou recentemente na Feira
cento as emissões de gás com efeito de estu- Internacional de Maputo e manteve encontros
fa, a partir dos níveis de 1990. A medida será privados com agentes económicos públicos e
aplicada até 2020 e foi definida pelo primeiro- privados em Joanesburgo e Pretoria, com o in-
ministro eleito Yukio Hatoyama, que preten- tuito de abrir novas oportunidades de negó-
de implantar o ambicioso propósito com uma segurança cio para a economia portuguesa na mais forte
condição: as principais economias mundiais Pijamas em papel economia africana. Basílio Horta, em declara-
devem participar no esforço de redução dos nas prisões francesas ções à agência Lusa, mostrou-se optimista e
níveis de poluição. “Como objectivo a médio- O mais recente método optado pelos esta- perspectiva a consolidação dos laços econó-
prazo, pretendemos até 2020 reduzir 25 por belecimentos prisionais franceses visa evi- micos entre Portugal e África do Sul, desta-
cento a partir dos níveis de 1990, com base nos tar enforcamentos e consiste na adopção de cando os sectores das energias tradicionais e
padrões exigidos cientificamente para deter pijamas em papel. Por outro lado, está pre- renováveis, das componentes automóveis, da
o aquecimento global”, anunciou Hatoyama, visto o acompanhamento de prisioneiros em agro-indústria e moldes enquanto áreas mais
numa conferência em Tóquio sobre alterações “stress” psicológico. As medidas constam do vulneráveis para a penetração a curto-prazo
climáticas. O seu antecessor, Taro Aso, tinha plano do governo francófono para diminuir as das empresas portuguesas. “Os empresários
estabelecido a meta em oito por cento. O Ja- taxas de suicídio nas prisões, que é uma das portugueses têm de partilhar esta convic-
pão é o quinto maior emissor de gases com mais altas da Europa. O anúncio, proferido ção de que, através da África do Sul, podem
efeito de estufa e tem sofrido pressões para pela ministra da Justiça, Michèle Alliot-Ma- ir mais longe, e, quando vemos a África do Sul
combater as alterações climáticas, após estas rie, foi entretanto criticado por uma associa- ter uma relação com Angola agora em fase de
terem subido 2,3 por cento, colocando o país ção de defesa dos reclusos. A distribuição de dinamização, é óbvio que as empresas portu-
16 pontos acima dos patamares estabelecidos “kits” de protecção e de colchões anti-fogo guesas não se podem alhear dessa aproxima-
pelo protocolo de Quioto. Entretanto, a indús- são outras das novidades. A ministra sal- ção”, enunciou o presidente da AICEP. A última
tria japonesa já começou a levantar objecções vaguardou que o apoio psicológico a presos visita ao país africano, segundo Basílio Horta,
a esta medida, proposta por Hatoyama, que com tendências suicidas será efectuado por marca uma “nova era” no relacionamento eco-
tomou posse a 16 de Setembro. voluntários (também prisioneiros). nómico de Portugal com a África do Sul.

20 | ANGOLA’IN · MUNDO
MUNDO · ANGOLA’IN | 21
IN FOCO | manuela bártolo

TRADIÇÃO
DEMOCRÁTICA
“No Gana, por exemplo, o petróleo traz grandes oportunidades e o povo do Gana tem sido muito responsável na sua preparação para as
novas receitas. Mas como muitos ganenses bem sabem, o petróleo não pode simplesmente transformar-se no novo cacau. Da Coreia
do Sul a Singapura, a história mostra que os países se desenvolvem quando investem no seu povo e na sua infra-estrutura; quando
promovem múltiplas indústrias de exportação e desenvolvem uma mão-de-obra especializada e quando criam espaço para pequenas e
médias empresas criadoras de emprego. À medida que os africanos tentam realizar este potencial, a América estenderá a mão de uma
forma mais responsável. Reduzindo os custos que acabam nas mãos de consultores e administradores, queremos colocar mais recursos
nas mãos daqueles que precisam deles, formando-os simultaneamente para serem mais auto-suficientes”
Barack Obama

Quando o país decidiu perigos de retrocesso, dos problemas sociais O papel que continua a
aplicar à economia a próprios de uma economia que teve de se sub-
desempenhar tem feito
meter à receita amarga do FMI, vive hoje um
receita neoliberal, pura e gradualmente do país um
período marcado pelo optimismo. O típico or-
dura, teve como resultados gulho dos Ashanti, cuja cultura é “a alma da centro comercial da África
o controlo da inflação, o identidade” nacional do Gana, serve indirecta- Ocidental
crescimento económico, o mente para explicar porque é que, no contexto
investimento estrangeiro e africano, é um exemplo. Desde que em 1992, Papel primordial na região
a confiança da comunidade o ex-presidente Jerry Rawlings, subiu ao po- O Gana pode não ser um agente económico tão
der pela costumeira via do golpe de Estado e grande quanto o seu vizinho, mas tem uma
internacional
optou por se legitimar através da via eleitoral dinâmica eficaz superior ao seu peso nos fó-
Barack Obama escolheu o Gana como des- que este acto teve o dom de empurrar o país runs regionais. O país tem desempenhado um
tino da sua primeira viagem, na presidência para a democracia. Cerca de uma década de- papel de liderança na África Ocidental, muito
dos Estados Unidos, à África, por uma razão pois este responsável tornou a ter uma nova embora não seja um grande agente económi-
nobre: é um dos poucos países subsaarianos importância no seu desenvolvimento, quando co. Os ganenses orgulham-se de ser pacíficos
com alguma tradição democrática. Duran- decidiu aplicar à economia a receita neoliberal, e isso tem-se reflectido no facto do país ter
te o seu discurso, em Accra, capital do país, pura e dura, preconizada pelo FMI e pelo Ban- escapado a todos os traumas de guerras civis
Obama destacou: “para construir um futuro co Mundial. Resultado: controlo da inflação, que afectaram os seus vizinhos. O segredo do
próspero, o continente precisa de se lançar crescimento económico, investimento estran- seu progresso tem-se baseado na estabilida-
contra a corrupção e a tirania e assim livrar- geiro, confiança da comunidade internacional. de e crescimento económico no interior de um
se da pobreza e das doenças”. Esta tem sido No entanto, o preço foi o habitual, e revelou- sistema democrático sustentável. O país tem
a luta de um povo que, ao contrário de ou- se particularmente pesado a nível ambiental conseguido desenvolver no continente africa-
tros, sempre se bateu pela democracia, ten- – desertificação, desflorestação, preocupante no e na sub-região um papel central no sector
do sido o primeiro país da África Ocidental a escassez de água potável, mas também se re- do investimento comercial precisamente por
proclamar a independência, depois de ter ul- flectiu no aumento do desemprego, na dimi- causa destes factores de elevada importân-
trapassado uma longa fase de indefinição, nuição do poder de compra, no crescimento do cia para a comunidade internacional. Em to-
instabilidade e golpes militares. Apesar dos analfabetismo e da mortalidade infantil. da a sua história, o Gana tem sido um porto

22 | ANGOLA’IN · IN FOCO
de abrigo seguro para a maior parte dos seus Tema Port, fora de Acra,
vizinhos. Durante as guerras civis da Nigéria, tornou-se na base de
foi em Aburi, uma pequena cidade fora de Ac-
trânsito para os Estados
cra, que as facções antagónicas encontraram a
paz. O país concedeu refúgio a togoleses, cos-
interiores, como o
ta-marfinenses, serra-leonenses e liberianos Burquina Faso, o Mali e o
em fuga durante as guerras civis nos seus pa- Níger, isto porque o país
íses. Episódios históricos que lhe proporciona- abriu as suas portas à
ram um efeito de alavanca sobre os restantes circulação de mercadorias
países nos negócios do agrupamento regio-
e de serviços
nal – a Comunidade Económica dos Estados
da África Ocidental (ECOWAS). O seu exem-
plo sucede-se em outras áreas, pois tem de-
monstrado ter capacidade para fazer avançar do 10.º FED destina-se especialmente às or- Diáspora
a sua sociedade, como o demonstra no aprovi- ganizações básicas e rurais. Restam 2 milhões de euros do orçamento
sionamento de água sem interrupção na maior total à migração, à diáspora e à segurança.
parte das cidades do país, podendo dizer-se o Transportes Está igualmente prevista assistência téc-
mesmo da electricidade. Factores que fazem Do FED actualmente em vigor foram reserva- nica para melhorar a capacidade das agên-
com que este se torne um destino privilegia- dos 76 milhões de euros para os transportes. cias de polícia e de migração na aplicação
do para o estabelecimento de empresas e que Este sector é visto como essencial para a re- da legislação. Cinco por cento da população
estiveram na génese da implantação do Ban- dução da pobreza. A UE tem apoiado a elabo- do Gana faz parte da diáspora, calculando-
co Central, organismo do ECOWAS no país. O ração de um Plano Nacional de Integração dos se que, só em África, reside um milhão de
Instituto Monetário da África Ocidental está Transportes que abrange portos, instalações ganeses (citado em Twum Baah 2005) e
também sedeado no Gana, o que veio revelar portuárias, caminhos-de-ferro e estradas. Com 189.461 inscritos na base de dados da mi-
que este desempenha um papel primordial na a nova tónica na integração regional, o 10.° gração da Organização de Cooperação e De-
agenda da Comunidade. FED toma em consideração a beneficiação e a senvolvimento Económicos, não incluindo a
construção de estradas nacionais, de modo a Alemanha. Outros estudos apontam para a
Governação exemplar fazer do Gana um centro de transportes regio- existência de 600.000 ganeses só no Reino
Uma concentração persistente no apoio or- nal. Está orçamentada a reabilitação de estra- Unido e na UE. A diáspora é igualmente uma
çamental e à governação, assim como o es- das nacionais no Oeste do país, mas uma nova fonte de divisas substancial, tanto através
tabelecimento do Gana como terminal de construção só será efectuada após uma avalia- das remessas para o Gana, como do turismo.
transportes ocupam um lugar proeminen- ção social e ambiental. Se os benefícios forem Muitos ganeses são altamente qualificados
te no pacote de despesas de 367 milhões de considerados insuficientes, as atenções po- e trabalham no sector da saúde no estran-
euros em seis anos do 10º Fundo Europeu de dem ser desviadas para outras estradas nacio- geiro. A construção é o seu principal sector
Desenvolvimento estabelecido entre a União nais, como a continuação do corredor Leste. de crescimento e é parcialmente financiado
Europeia e o Governo do Gana (2008-2013). pelas remessas. A lei foi recentemente al-
Um montante de 175 milhões de euros desti- A diáspora é uma fonte de terada para permitir a dupla nacionalidade
na-se ao apoio orçamental geral. A UE é um aos ganeses e alargar o voto aos que vivem
divisas substancial, tanto no estrangeiro. Em 2006, também foi cria-
dos vários doadores que estão a canalizar os
fundos de desenvolvimento directamente pa-
através das remessas para do um Ministério do Turismo e das Relações
ra o orçamento do Estado a fim de ajudar, por o Gana, como do turismo da Diáspora. Há também mais dois milhões
exemplo, a realizar reformas económicas e a de euros para um mecanismo de cooperação
desenvolver o sector privado. Os 95 milhões Comércio técnica. Além do pacote conhecido como o
de euros atribuídos à governação têm como Dos 21 milhões de euros remanescentes, es- pacote ‘A’, estão orçamentados mais 6,6 mi-
objectivo fomentar a descentralização. Os pera-se a afectação de 9 milhões de incentivo lhões de euros para os dois primeiros anos
fundos para esta área consistem, em parte, ao comércio, tendo o Gana assinado um acor- do 10.° FED no pacote ‘B’, que cobre neces-
num apoio ao orçamento e, noutra, numa aju- do de parceria com a UE. Espera-se que os sidades imprevistas, como assistência de
da a projectos. De acordo com os funcionários fundos ajudem o país a ser mais competitivo emergência, iniciativas de redução da dívida
da Comissão Europeia, estes fundos desti- em matéria de exportações não tradicionais internacionalmente aceite e apoio para miti-
nam-se a projectos como vias de penetração e e possam igualmente ser canalizados pa- gar os efeitos secundários da instabilidade
instalações de água e de saneamento. O FED ra melhorar a documentação aduaneira. São nas receitas da exportação. Como membro
é aplicado principalmente no domínio da edu- afectados 8 milhões de euros da quantia re- da Organização Regional da África Ociden-
cação, da saúde e da água. As verbas reser- manescente à gestão dos recursos naturais, tal, a ECOWAS, o Gana também beneficiará
vadas à governação são para ser utilizadas no incluindo o reforço dos organismos básicos de do 10.° programa indicativo regional da UE
reforço da sociedade civil (8 milhões de euros) regulação envolvidos na gestão dos recursos para a região da África Ocidental e é elegí-
e instituições de governação não executivas naturais, e também ao apoio da Aplicação da vel para posterior financiamento, tanto ao
(4 milhões de euros), para que ambas possam Legislação, Governação e Comércio no Sector abrigo das facilidades de Energia e Água da
encetar o diálogo com o governo local e agir Florestal (FLEGT) da UE para limitar a explo- UE como da parceria UE-África no campo das
como “guardiãs”. O financiamento no âmbito ração florestal ilegal. 
 infra-estruturas.

IN FOCO · ANGOLA’IN | 23
ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

Quénia
futura
plataforma
financeira
Edward Njoroge - Chairman da NSE

Quando o Governo queniano pôs à venda na Bolsa de Valores de rão essenciais para mobilizar fundos de longo
prazo e fundos de infra-estruturas.” Instou ao
Nairobi (NSE) 25% da sua participação financeira na empresa financiamento de projectos de infra-estrutu-
Safaricom, o seu principal operador de telecomunicações, o registo ras através de obrigações a longo prazo, pa-
de investidores multiplicou seis a oito vezes o número de inscrições. ra mobilizar recursos financeiros públicos. As
obrigações constituem uma forma rápida de
Para o presidente do país, Mwai Kibaki, a agitação “mostra a grande instituições como governos e empresas mo-
dimensão dos recursos locais disponíveis para investimentos bilizarem capitais através da Bolsa de Valores
rentáveis a longo prazo” para iniciativas como construção de estradas
ou sistemas de abastecimento de água. O in-
vestidor, também conhecido por mutuante,
Criada em 1954, a Bolsa obtém lucros através dos juros associados à
de Valores de Nairobi é o obrigação.
maior mercado bolsista
Obrigações do Tesouro
da África Central e O Professor Chege Waruingi, presidente do
Oriental e o quinto maior Conselho de Administração da Autoridade do
do continente africano Mercado de Capitais do Quénia, explicou, na
altura da venda da Safaricom, que os princi-
Tendo atraído 860 mil accionistas, a venda pais projectos de infra-estruturas para 2008-
das acções, que teve início em 9 de Junho de país parece estar a passar incólume sobre es- 2012, que fazem parte da estratégia “Visão
2008, após o lançamento da Oferta Pública ses acontecimentos e aspira a tornar-se uma 2030” do governo para transformar o Qué-
Inicial (OPI) em Março, adicionou 200 mil mi- plataforma financeira regional. nia num país de rendimento médio, deverão
lhões de xelins quenianos à Bolsa de Valores custar 500 mil milhões de xelins quenianos.
e aumentou a capitalização da empresa para Bolsa de Valores Frisou ainda a necessidade de eliminar os
mais de um bilião de xelins quenianos. Actu- Criada em 1954, a Bolsa de Valores de Nairobi obstáculos jurídicos e administrativos ao fi-
almente, cerca de um milhão, ou um em cada é o maior mercado bolsista da África Central e nanciamento por parte de investidores locais
18 quenianos, detém uma acção na NSE, in- Oriental e o quinto maior do continente afri- e estrangeiros.
cluindo em antigas empresas públicas como cano. Neste momento, possui um sistema de As inovações actualmente em desenvolvi-
Kengen, Kenya Airways, Mumias Sugar Corpo- transacções totalmente automatizado e uma mento para “consolidar” a Bolsa de Valores
ration, Kenya Commercial Bank e Kenya Rein- gama crescente de produtos. Desde 2007, o de Nairobi incluem um sistema de mercado de
surance Corporation Ltd. O Fundo Monetário estabelecimento de uma rede local permitiu a balcão organizado para os títulos não transac-
Internacional (FMI) previu um abrandamento todos os corretores, bancos de investimento e cionados em sessões de bolsa e a introdução
no crescimento do país, com 2,5% em 2008 operadores económicos participarem no mer- de um sistema primário de transacção em que
contra 7% em 2007, após a crise política e a cado de capitais a partir dos seus próprios ga- o governo selecciona operadores económicos
redução da oferta de crédito a nível mundial binetes. Numa intervenção na NSE, em Junho, para promoverem o investimento em obriga-
que se receava viesse afectar negativamente na venda da Safaricom, o presidente Mwai ções do Tesouro. O Professor Chege Waruingi
a indústria do turismo do Quénia. Todavia, o Kibaki afirmou: “Os mercados de capitais se- informou igualmente que não seriam tole-

24 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


rados “corretores irregulares”. O desenvolvi- de acesso único aos diferentes valores lista- 2009)”. Os reguladores e as bolsas chegaram a
mento do projecto de sistema marítimo da dos nas várias bolsas de África e beneficiar de um acordo sobre as acções a empreender para
África Oriental que pretende instalar um cabo um sistema comercial seguro, rápido e sólido concretizar esta visão:
de fibra óptica subaquático reduzirá os custos que lhes permita exercer a sua actividade co- › Uma plataforma comercial comum a partir de
de comunicação no Quénia e países vizinhos mercial e minimizar os riscos. Querem igual- Dezembro de 2008: ponto de acesso único; 

e contribuirá para a negociação mais eficien- mente ter acesso a uma informação precisa › Pontos de acesso para emissores e investi-
te de acções na NSE, promovendo a imagem e atempada que lhes permita tomar decisões dores; 

do país enquanto destino de investimento re- de investimento bem informados. As bolsas › Legislação do Mercado de Capitais da Comu-
gional. Estão já a ser adoptadas medidas para que forneçam uma proposta desteipo aos in- nidade da África Oriental apresentada a partir
criar uma bolsa de valores da África Oriental vestidores continuarão a atrair o investimen- de Dezembro de 2008; 

(East African Stock Exchange Limited) com o to em carteiras de título. A Bolsa de Valores › Reguladores de cada Estado sujeitos a um
Uganda, a Tanzânia e o Ruanda, entre outros. de Nairobi é membro da Associação de Bolsas quadro regulamentar comum;
O Professor Chege Waruingi acrescentou ain- de Valores da África Oriental, cujos membros › Desmutualização de cada bolsa de valores a
da serem necessárias iniciativas que tornem são a Bolsa de Valores do Uganda, a Bolsa de partir de Dezembro de 2008;
– Fusão das três
os quenianos mais versados em operações fi- Valores de Dar-es-Salaam e o membro mais bolsas de valores a partir de Junho de 2009.
nanceiras. Propôs a realização de um troféu recente – o Conselho Consultivo do Mercado A bolsa já está em discussões avançadas com
universitário anual sobre mercados de capi- de Capitais – Capital Markets Advisory Coun- a Bolsa de Valores do Uganda sobre uma pers-
tais, a fim de “aumentar o interesse dos jo- cil (CMAC) do Ruanda, que aderiu em 26 de pectiva de fusão após a desmutualização das
vens quenianos nas oportunidades de aplicar Abril de 2008. O CMAC funciona como um or- duas bolsas e tem tido discussões com a Bol-
poupanças em produtos financeiros”. ganismo regulador, orienta e regula o merca- sa de Valores de Dar-es-Salaam. No intuito de
do tendo o objectivo final separar estas duas criar uma bolsa de valores única para a Áfri-
Perspectivas económicas funções no futuro. 
A visão dos mercados de ca Oriental, com bases comerciais no Quénia,
O crescimento económico do país irá dimi- capitais da África Oriental é “um mercado de Uganda, Ruanda e Tanzânia, lançou-se recen-
nuir, em 2009, para 4% em relação aos 7,7% capitais totalmente integrado com uma bolsa temente uma ronda de discussões com a Bol-
de 2008. Isto verifica-se também numa con- de valores regional (a partir de Dezembro de sa de Valores do Ruanda.
juntura de abrandamento económico global,
causada pelos preços voláteis e elevados do
petróleo. Especialistas afirmam que se os
estrangulamentos mais notórios a um cres-
cimento económico mais rápido no Quénia e
na região (infra-estrutura arruinada: estradas,
portos, caminhos-de-ferro, telecomunicações
e imperativos energéticos) fossem determi-
nados, o crescimento económico para toda a
Comunidade da África Oriental (Burundi, Qué-
nia, Ruanda, Tanzânia e Uganda) seria refor-
çado para 10-15% por ano.

Redefinição do investimento local a


prazo
A NSE assumiu um aspecto mais regional
quando o Ministro das Finanças propos que,
para investir no mercado de capitais, os mem-
bros da Comunidade da África Oriental (Bu-
rundi, Quénia, Ruanda, Tanzânia e Uganda)
deviam beneficiar do mesmo tratamento que sabia que
os investidores locais. Os membros da Comu-
nidade da África Oriental podem, desde 2008, O ÊXITO DA SAFARICOM
adquirir uma quota de 40% da Oferta Públi- Criada em 1997, a empresa Safaricom é o principal operador de telemó-
ca Inicial (IPO), que é reservada aos investido- veis do Quénia e uma das empresas mais lucrativas da África Oriental.
res locais. Além disso, os africanos da região
Antiga filial a 100% da Telkom Kenya, após a OPI, os seus accionistas
pagam uma taxa de retenção de 5% sobre os
dividendos, ao passo que os investidores es- públicos detêm agora uma participação de 25%, a Vodafone 40% e o Go-
trangeiros pagam 10% de taxas de retenção. verno queniano 35%. A Safaricom possui actualmente 80% da quota de
Os investidores pagam todos uma taxa de mercado de comunicações móveis do Quénia, com 10,2 milhões de subs-
15% de retenção na fonte sobre os juros.
critores e mais de 100.000 pontos de distribuição. Com 36,6%, a rentabi-
Bolsa de Valores da África Oriental lidade dos capitais próprios da Safaricom foi uma das mais elevadas em

Os investidores desejam dispor de um ponto comparação com outros operadores de telecomunicações de África

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 25


ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

Nova reforma fiscal

stop
à fuga
“É importante que as pessoas entendam que quando se faz uma reforma não é
para agravar impostos, nem muitas vezes será para obter mais receitas, embora as
receitas sejam, efectivamente, a principal questão a perseguir”
Francisco Brandão, presidente do Comité Nacional para a Reforma Fiscal

Angola tem, como aliás todos os países, a Desafios que exigem ajustes fiscais (reformas de um sector que data de há mais de meio
necessidade de gerar saldos positivos não só tributárias e administrativas) e a procura de século é urgente por estar “desactualizado e
através da exportação do petróleo, mas sobre- alternativas de financiamento que não os ex- díspar”, tornando-se, por isso, necessário fa-
tudo da criação de novas fontes de angariação ternos, exercendo pressões sobre uma gestão zer uma “grande reforma fiscal, principalmen-
de impostos directos e indirectos. Os mesmos eficiente das receitas provenientes do sector te na área não petrolífera”. Para o efeito, “é
podem ser obtidos pela circulação de mer- extrativo, associadas à necessidade de ma- preciso criar novos códigos, isto é um código
cadoria, sobre propriedade, sobre produção nutenção de reservas em moeda forte. O país geral tributário, que permita actualizar uma
industrial, sobre o território, produtos impor- não pode permanecer dependente de uma só legislação que, por vezes, tem 60 ou 70 anos”.
tados ou sobre os industrializados. O objectivo receita (petróleo), embora haja já receitas pro- O Governo está a criar um sistema fiscal mo-
é, no entanto, sempre o mesmo - aumentar e venientes das exportações. Importa aumentar derno, capaz de dar resposta aos objectivos da
diversificar as fontes de rendimento do Gover- o número de contribuintes e não aumentar a política tributária e aos desafios do desenvol-
no (Tesouro Nacional), podendo estes se es- carga tributária sobre os poucos que existem, vimento socioeconómico através de políticas
tender sobre a produção/exportação de barris até porque, segundo os especialistas, quanto de atracção do investimento, de promoção
de petróleo ou a entrada de produtos estran- maior for a carga maior será a fuga. do emprego e de integração regional. Até ao
geiros de forma amplificada. Considerando momento foi dado um passo importante - a
os impostos sobre a produção e exportação Assente na reestruturação aprovação, em Conselho de Ministros, das Li-
de petróleo já existentes “fiéis serventes” de três pilares - nhas Gerais da Reforma Fiscal. Um documen-
das despesas do Estado e o principal apoio to base que propõe acções a curto prazo, tais
na continuidade da expansão das actividades
legislativo, administrativo como a revisão e actualização do Código Ge-
em curso, a redução na angariação destes po- e recursos humanos - a ral Tributário (CGT), a adopção de um Código
de tornar-se um entrave no desenvolvimento reforma fiscal promete ter de Processo Tributário, a racionalização e con-
da economia, dada a necessária demanda ao um impacto forte na vida solidação legislativa do imposto industrial e a
processo de diversificação e independência do dos cidadãos simplificação do imposto de selo. A revisão do
sector do petróleo na pauta exportadora. Cer- imposto sobre o rendimento do trabalho, do
tos estamos, por isso, da urgência da aplicação Reformar é preciso regime de consignação de receitas fiscais que
do plano para a diversificação e do programa Modernizar o sistema fiscal é uma das gran- devem ser atribuídas ao poder local, a prosse-
de substituição das importações que faz parte des prioridades do Ministro da Finanças, Seve- cução e implementação de políticas de alarga-
do Programa de Desenvolvimento Industrial. rim de Morais, para este mandato. A reforma mento da base tributária a nível aduaneiro e a

26 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


adopção de taxas modelares que promovam problema de difícil administração, razão pela em 2003 através do amplo “pacote legislati-
a reactivação da produção nacional são outras qual é impossível regermo-nos apenas pela vo”, que incluiu a aprovação da Lei de Bases
das medidas previstas pelo Governo. Mudan- experiência de outros países, até porque a re- do Investimento Privado, da Lei do Fomento
ças difíceis, mas extremamente necessárias, alidade económica de cada Estado e a maneira do Empresariado Privado e da Lei dos Incen-
com soluções que incidem sobretudo na re- como está desenvolvido diferem. Nesse senti- tivos Fiscais e Aduaneiros ao Investimento
forma da administração, na correcção das de- do, é importante ter em consideração o que se Privado. Entre as medidas referidas nos di-
sigualdades, na melhoria da despesa pública pretende fazer com a própria economia do pa- plomas legais é de salientar a consagração de
e no estímulo ao sector produtivo. O país vi- ís. Angola precisa, antes de mais, de melhorar um regime ambicioso de incentivos fiscais e
ve diariamente problemas com a tributação as receitas das empresas e dos trabalhado- aduaneiros ao investimento privado. Um pro-
fiscal, havendo pessoas e empresas que pa- res, de forma também a evitar o crescimento gresso travado, por vezes, pela própria com-
gam excessivamente impostos e outras que desajustado das receitas alfandegárias. Criar plexidade do sistema fiscal do país, de tipo
ficam à margem desta obrigação. Uma in- impostos não é por isso um poder da respon- ainda parcelar. No que respeita à tributação
justiça que está intrinsecamente associada sabilidade do Governo, mas sim uma prerro- dos rendimentos das empresas, Angola as-
a uma outra questão relacionada com os di- gativa e um poder exclusivo do Parlamento. senta na existência de um imposto de carác-
versos problemas ocasionados pela carga dos ter geral – o Imposto Industrial – que surge
impostos. Todos os cidadãos têm o dever de É de salientar, nos últimos complementado por impostos e regimes par-
cumprir e pagar os impostos ao Estado, so- anos, a consagração de celares, dirigidos à tributação de actividades
bretudo aqueles que manifestam sinais exte- específicas, como os impostos sobre a activi-
riores de riqueza, como casas, automóveis ou
um regime ambicioso dade petrolífera. O Imposto Industrial tributa
outros bens visíveis. É do conhecimento geral de incentivos fiscais os lucros imputáveis ao exercício de qualquer
que o imposto é um pagamento decorrente de e aduaneiros ao actividade comercial ou industrial por residen-
uma lei e é através da colecta do mesmo que investimento privado tes ou não residentes. A tributação dos ren-
o Estado consegue prover Justiça, Segurança,
Ordem Pública, Educação e Saúde à sua popu- Incentivos fiscais captam investimento
lação, além de exercer todas as outras funções São hoje reconhecidas as potencialidades de
que lhe competem. É uma espécie de preço da Angola enquanto destino de investimento
sociedade moderna, referem muitos juristas. privado. A estabilidade política e a criação de
Ora, se este não é devidamente angariado e um ambiente institucional apelativo, sobretu-
gerido quem sofre as consequências finais é do para o investimento externo, tem vindo a
sempre a sociedade civil, que fica assim impe- contribuir para um forte apelo sobre os em-
dida de ter melhores tribunais, melhor polícia, presários. Um assédio que se reflecte a nível
melhor exército e por aí adiante. Sabe-se que fiscal com a criação de mais condições apela-
a aplicação da reforma fiscal é geralmente um tivas ao investimento, para além das criadas

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 27


ECONOMIA & NEGÓCIOS

dimentos das pessoas singulares encontra-se incidentes sobre a importação e exportação de a balança de pagamentos, mecanismo que re-
repartida por três impostos: o Imposto sobre mercadorias e o referido Imposto do Selo, que flecte o que o país vende e compra do exterior.
os Rendimentos do Trabalho, que incide sobre tributa vários actos, contratos e operações de Nesse âmbito, foi assinado um acordo especial
as remunerações recebidas pelos trabalhado- natureza distinta. Apesar das dificuldades de financiamento com o Governo para minimi-
res por conta de outrem e sobre os rendimen- que subsistem, cada vez mais se reconhece zar os efeitos da crise na balança de pagamen-
tos resultantes do exercício de actividades por internacionalmente que investir em Angola é tos. O acordo especial deverá entrar em vigor a
conta própria, obtidos por serviços prestados hoje muito mais fácil. E mesmo conhecendo partir de Janeiro de 2010. Nos últimos meses,
em Angola, quer o seu titular seja ou não resi- a concorrência de empresas provenientes de o Estado adoptou restrições de moeda estran-
dente, o Imposto Industrial e o Imposto sobre grandes potências mundiais (como a China), geira no mercado financeiro para estabilizar as
a Aplicação de Capitais. Quanto à tributação a crescente presença de investidores revela o reservas líquidas internacionais, que passaram
do património imobiliário, assenta na coexis- desenvolvimento do país. de 19,5 mil milhões de dólares, em meados do
tência de impostos distintos: o Imposto Pre- ano passado, para 12,4 mil milhões de dólares,
dial Urbano, que tributa o património numa Política fiscal elogiada em função, principalmente, da queda do preço
perspectiva estática e incide sobre o valor lo- O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem do petróleo, principal fonte de recursos.
cativo anual, efectivo ou potencial dos prédios vindo a enaltecer as medidas de política fiscal Durante seis anos, Angola teve uma taxa de
urbanos – a Sisa -, devida pelas transmissões e monetárias adoptadas pelo Governo para es- câmbio regular. O Banco Nacional teve de in-
onerosas de propriedade imobiliária, rústica tabilizar as reservas líquidas internacionais do jectar, nos bancos comerciais, quantidades de
ou urbana, e o Imposto sobre as Sucessões e país face à crise financeira internacional. O re- dólares suficientes para que a procura do dólar
Doações que incide sobre todas as transmis- conhecimento, expresso num relatório da ins- não fosse exponencial.
sões a título gratuito de propriedade imobili- tituição, diagnosticou a situação económica Ao mesmo tempo que agradeceu a coopera-
ária ou mobiliária. As transmissões sujeitas a e financeira do país, com principal incidência ção das autoridades angolanas pela sua aber-
Sisa estão igualmente sujeitas a Imposto de sobre os efeitos da crise economia e financei- tura ao longo das discussões, os especialistas
Selo. O Imposto sobre o Consumo, monofási- ra internacional, e concluiu que as “medidas do FMI afirmaram que se o Governo angolano
co e cumulativo, recai sobre a produção e im- de política fiscal e monetária tomadas foram não tivesse tomado medidas de restrição da
portação de mercadorias, o consumo de água acertadas”. O diagnóstico do FMI permite sa- moeda externa em tempo útil, as reservas lí-
e energia, os serviços de telecomunicações, ber que, apesar dos esforços das autoridades quidas internacionais do país teriam sido “gra-
os serviços de hotelaria e outras actividades para minimizar os efeitos da crise, o país es- vemente afectadas”, com reflexos negativos
conexas ou similares. É de salientar, ainda, o tá numa situação que precisa de ajuda espe- para um país em reconstrução e desenvolvi-
Imposto sobre as Transacções Internacionais, cial do fundo, principalmente para estabilizar mento.

sabia que
A nova reforma irá rever duas das
mais importantes lacunas de toda a
política fiscal nacional: a dupla tribu-
tação e a excessiva burocracia de todo
o sistema que, segundo os especialis-
tas, é a principal causa da incorrecta
racionalização de recursos. Segundo
Manuel Alves da Rocha, professor as-
sociado da Universidade Católica, “a
burocracia em excesso é uma forma
de intervenção perversa do Estado na
economia. Influencia a estrutura dos
custos empresariais, desvia recur-
sos de finalidades mais apropriadas,
promove a corrupção, diminui a pro-
dutividade e desvia a actividade das
instituições públicas das suas verda-
deiras finalidades, centradas na pres-
tação de serviços de qualidade e na
regulação de serviços de qualidade e
dos processos de mercado”

28 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 29
ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

PODER LOCAL

dividir
para ‘reinar’

Descentralizar é um verbo que entrou para a promoção de uma cultura de cidadania uma desburocratização eficiente e fiável dos
definitivamente na agenda política angolana. participativa que permita a construção de processos. A descentralização não pode ser
Actualmente, não existe no país um poder um poder local democrático forte. De acordo sinónimo de desresponsabilização, até porque a
local que traduza a verdadeira dimensão da com a base legal proposta, é evidente que o sua principal missão é gerar bem-estar e coesão
sociedade civil. Na futura Constituição está poder central delegado não será eliminado, social entre as populações ao nível local. Deve
consagrado o princípio da descentralização, sendo no entanto reformulado no sentido de haver, por isso, um compromisso do Estado
que “inclui políticas de promoção da contemplar os governos provinciais. Os seus com as reais capacidade de auto-financiamento
boa governança e de desconcentração agentes serão responsabilizados, havendo das autarquias, sempre com a consciência
da administração pública a níveis mais maior transparência nos procedimentos, que recai sobre si a responsabilidade quer na
próximos da população”. Nesse sentido, “a deixando estes de serem apenas receptáculos atribuição de recursos, quer na distribuição dos
criação de condições para a constituição de e canalizadores dos recursos do Estado aos mesmos segundo princípios claros de equidade,
autarquias” surge como uma das áreas de diferentes níveis territoriais para passarem justiça e transparência.
intervenção prioritária para a consolidação a deter maior autonomia e autoridade. A
do Estado de Direito. Uma efectivação que transferência de recursos do poder central Um poder local forte deve
carece de todo o empenho do Estado na para o poder provincial carece, contudo, ser gerador de coesão
procura de respostas a temas tão sensíveis de uma gestão exigente segundo critérios
e urgentes quanto a definição do futuro objectivos como seja a população, os índices
social, desenvolvimento
da administração e poder local autárquico de desenvolvimento ou a performance na económico, preservação
ao nível das suas competências, funções, criação de receitas próprias. Outra das questões da pluralidade cultural
dotações, poderes e articulação entre estes a ser discutida é a disponibilização de meios e de boas experiências
e o poder central. Importa criar estratégias por parte do poder central para que haja democráticas

30 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


Não obstante Angola ter nascido
sob o princípio da centralização Torna-se por isso, cada vez mais, inviável os comportamentos de agentes (nacionais
do poder, a verdade é que, que um Estado territorialmente tão vasto, e internacionais) que na sociedade local
num território tão vasto, de de complexas e múltiplas realidades sociais promovem a integração económica efectiva
geografia humana e natural tão e culturais, possa por si só assegurar a dos mais carenciados, da coesão social,
longo prazo a gestão do país. A aposta do diálogo intercultural e inter-étnico, da
diversificadas – nunca como hoje
no poder local, como consagra o novo igualdade de oportunidades e da participação
o Poder Central conheceu um projecto constitucional, tem-se revelado democrática nas decisões colectivas. Por outro
contacto tão extenso e estreito um imperativo de ordem prática a bem do lado, este deve, em simultâneo, actuar como
com o nível local, facto para o sucesso da própria relação que, em contexto agente exemplar do sancionamento legal e
qual sem dúvida contribuíram o democrático, será admissível que exista da reprovação ética dos comportamentos
entre a sociedade civil e o Estado. Um dos que visem preservar feudos de acesso
fim da guerra civil, a conquista
principais desafios já identificados tem desde restrito a recursos materiais, e imateriais,
da paz e a construção gradual da como sejam o conhecimento, a informação
logo como palavra-chave ‘educar’ – educar
ordem democrática. (Tvedten 2003) para a cidadania participativa, para a cultura e o poder. Desde sempre, o poder local
de exigência democrática. Educar para um assenta na ideia de legitimação popular, no
objectivo que, como se vê, é de longo prazo e entanto para se assegurar o cumprimento
de profundas implicações estruturais. Implica desse significado, é importante ter-se
um compromisso que, perante as vicissitudes uma população alfabetizada, esclarecida,
das conjunturas políticas, se revele estável e informada, logo, educada para a cidadania,
contínuo entre a estrutura de poder político e pois só assim estará em condições de ser
a sociedade civil - em particular daqueles que continuamente vigilante e exigente quanto
nela se encontram desde já mais habilitados ao respeito pela ordem democrática e pelos
para fazer uso da sua cidadania e que por princípios de circulação do poder. O sucesso
isso têm responsabilidades acrescidas na do futuro poder local radica não em si mesmo,
emancipação efectiva dos menos favorecidos. mas na educação – do Estado e da sociedade
Dos vários actores, destacam-se as elites e o civil, para uma cultura de partilha democrática
seu papel ao nível local na promoção de uma do poder político e de aproximação do
cultura de partilha e de discussão democrática mesmo ao cidadão. A descentralização
do poder. Promover essa cultura significa sobretudo no contexto de um poder central
aderir a essa cultura, isto é, a uma lógica de com capacidade de gerar riqueza pela
partilha de conhecimento, de informação e exploração de importantes recursos naturais,
de recursos, logo de poder. Num Estado de não pode funcionar como um pretexto de
Direito, é importante que este não só crie, desresponsabilização do Estado na geração de
mas também saiba reconhecer e incentivar bem-estar da sua população ao nível local.

sabia que...
Descentralizar traduz a existência de
um poder local democraticamente
legitimado pelo povo, autónomo
e detentor de identidade, funções,
responsabilidades e objectivos
próprios, o que não impede que
seja simultaneamente um poder
em perfeita articulação com o
Estado central e em sintonia com as
grandes metas de toda a sociedade

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 31


ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo e patrícia alves tavares

investir nas províncias


O mercado nacional esteve em análise num seminário, promovido pela culados, pelo que o responsável garantiu que
Associação Industrial Portuguesa – Confederação Empresarial (AIP – CE), a política de incentivos do Governo para a di-
BES e AICEP Portugal. A edição 2009 do “Portugal Exportador” decorreu versificação dos projectos começa a obter os
resultados esperados. O dirigente revelou que
em Lisboa e contou com a presença de Aguinaldo Jaime, presidente da
áreas como a indústria transformadora (36
Agência de Investimento Privado de Angola (ANIP) por cento do número de projectos), a constru-
ção (22 por cento) e a agricultura (27 por cento)
“atraem muito do investimento privado em
“Os investidores começam a acreditar em An- de capital, 40 por cento corresponde a progra- Angola”. Quanto ao tema central da palestra
gola como um todo e como uma alternativa mas financiados pelos portugueses, isto é, o - a descentralização de Luanda -, o presiden-
segura para os seus investimentos”, conside- equivalente a 179 projectos com uma intenção te da ANIP referiu que, entre os 443 projectos
rou o responsável da ANIP, enquanto discursa- de investimento de cerca de 209,45 milhões aprovados, uma boa parte se destina a outras
va acerca do tema “Angola não é só Luanda: o de dólares. províncias, como Malange (com 26 projectos
mercado das províncias angolanas”. A questão contra os 14 da capital), Benguela, Cabinda e
foi igualmente abordada pelo Presidente da A ANIP recebeu 443 Lubango, entre outras. Os valores reflectem
Associação Industrial de Angola, José Severi- a dinâmica do crescimento e desenvolvimen-
no, e pelo Embaixador de Angola em Portugal,
propostas, o que equivale to de Angola, susceptível de gerar empregos
Marcos Barrica. Recorde-se que até Setembro a um valor global superior direccionados para fora da capital. Aguinaldo
deste ano, o investimento privado em territó- a 1,377 mil milhões Jaime alertou os presentes sobre a vigência de
rio nacional foi superior ao de igual período de de dólares (Janeiro a um quadro legal, que os investidores “devem
2008. No total, foram aprovadas pela Agên- Setembro de 2009) respeitar”. “Não há razões para a informalida-
cia de Investimento Privado 443 propostas, o de”, esclareceu, em alusão às actividades eco-
que equivale a um valor global superior a 1,377 Aguinaldo Jaime congratulou-se com os dados nómicas informais. Quanto ao investimento
mil milhões de dólares (Janeiro a Setembro apresentados, uma vez que as estatísticas privado, o presidente da ANIP refutou as acu-
de 2009), enquanto em igual período do ano correspondem apenas às iniciativas regista- sações de “optimismo exagerado”, justifican-
transacto, o investimento rondou pouco mais das pela ANIP. Os investimentos em sectores do-se com a afluência das propostas, que têm
de mil milhões de dólares. Da referida injecção como o petróleo e financeiro não foram cal- crescido “vertiginosamente”.

32 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


Dos 443 projectos Sectores como
aprovados, boa parte a Indústria
destina-se a outras Transformadora
províncias, como Malange (36% do número
(com 26 projectos contra os de projectos), a
14 da capital), Benguela, Construção (22%)
Cabinda e Lubango, entre e a Agricultura
outras (27%) atraem a
maior parte do
Dirigentes defendem investimento
descentralização privado no país
A 4ª edição do “Portugal Exportador” deu es-
pecial atenção ao mercado angolano, uma vez
que os organizadores do certame consideram
que as províncias podem constituir uma opor-
tunidade de internacionalização para as em-
presas portuguesas, que se debatem com a
crise económica, podendo assim apostar em Marcos Barrica, Embaixador de Angola em Portugal
sectores da agro-indústria, dos serviços, da
construção e das indústrias tecnológica, quí-
mica e metalomecânica. Aliás, o presidente da
AIP, Jorge Rocha de Matos, defende que Ango-
la deve ser encarada “num quadro global, com
possibilidades de parcerias locais nas provín-
cias e não apenas na capital”. A ocasião foi o
mote para o responsável adiantar que a AIP
– CE pretende organizar, já no próximo ano,
múltiplas missões empresariais às províncias
de Luanda, Benguela, Huambo, Huíla e Cabin-
da. Marcos Barrica, Embaixador de Angola em
Portugal, alertou os empresários para a im-
portância de apostar nas províncias do inte-
rior, pois para além de representar um desejo
da sociedade angolana na necessidade de di-
versificação da sua economia, é também uma
estratégia ganhadora, uma vez que o Governo
criou uma política de incentivos, sobretudo fis-
cais, de apoio que favorece o investimento em
Aguinaldo Jaime, presidente da ANIP
sectores que não o petrolífero. Importa alar-
gar a outras áreas, mas tal “só será possível tante compreender o activo humano do país
se houver agentes privados fortes em parce- como um complemento e nunca com a ideia de
rias com os organismos estatais”, referiu. “Há substituição”. Durante o seminário, autorida-
um país aberto para os receber, até porque há des e especialistas angolanos e portugueses
reciprocidade no interesse de ambos os paí- abordaram ainda outras questões que devem
ses”, concluiu. Por seu turno, Álvaro Sobrinho, ser consideradas na abordagem do mercado
presidente do banco BES, esclareceu que, sen- nacional e nas oportunidades que existem fo-
do a internacionalização um tema actual, não ra de Luanda. O evento contou com a presen-
é possível fazê-lo sem instituições financeiras ça dos responsáveis de algumas das empresas
fortes. Destacando o crescimento do banco que actuam no país, como o CASBI Group, o
no país, salientou a evolução positiva do PIB Banco Espírito Santo Angola, a seguradora de
desde 2002, que tem permitido assistir-se a crédito COSEC e o escritório de advogados PL-
uma “experiência gratificante do desenvolvi- MJ, que debateram os aspectos a considerar
mento bancário, com valorização para a so- na abordagem ao mercado nacional. O público,
fisticação do sector”. “Para que haja sucesso constituído maioritariamente por empresários
é importante estabelecer parcerias e relações com negócios (ou que pretendem iniciar) em
com empresas locais, consolidando conheci- Angola, ficou a conhecer os instrumentos de
mentos comuns. O BES vive a economia real apoio à internacionalização e as novas solu-
e aconselha: para que haja progresso é impor- ções para iniciar o referido processo. Álvaro Sobrinho, presidente do banco BES

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 33


ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS | manuela bártolo

na mente
do consumidor

Uma série de novas tecnologias Viagem ao interior do cérebro as pessoas, em geral, falam uma coisa e fa-
está a ajudar as grandes empre- Desde os anos 80 que o mais conhecido gu- zem outra, enquanto que com o eye-tracking
ru desta corrente, o consultor Paco Underhill, é forte a possibilidade de existir um veredic-
sas a identificar desejos e prefe- colecciona cerca de 20 mil horas de vídeos em to inequívoco. A mudança de comportamen-
rências dos clientes sem que eles que grava o comportamento dos clientes no to representa a busca de resposta para uma
precisem dizer uma única palavra interior dos supermercados. Mais recente- questão que vale centenas de biliões de dó-
mente, investigadores de grandes indústrias lares gastos em marketing, a cada ano, por
O empresário Henry Ford, conhecido entre ou-
foram além e começaram, em incursões etno- empresas em todo o mundo. Para decifrar o
tras coisas por desprezar pesquisas de mer-
gráficas, a frequentar a casa dos clientes para que se passa dentro da mente dos consumi-
cado, afirmou há mais de um século que, se
ver o quê, porque e como eles consomem os dores e acertar o destino desses biliões, vale
tivesse perguntado aos consumidores o que
mais diversos produtos. Agora, a pesquisa de o rastreamento da íris através de câmaras de
queriam antes de criar o pioneiro Ford T, o
mercado ultrapassa outra fronteira, a de en- vídeo capazes de acompanhar clientes numa
resultado teria sido um cavalo mais rápido e
trar, em alguns casos literalmente, na cabe- loja e estabelecer padrões de comportamento,
não um automóvel. Talvez essa seja a primei-
ça dos novos consumidores. Foi o que fez a até ao novíssimo neuromarketing, que se de-
ra constatação sobre a discrepância entre o
americana Kimberly-Clark com a embalagem nomina pela aplicação da neurociência ao ma-
que os clientes dizem e o que eles realmente
de um novo modelo de fralda. Antes de che- rketing. Por meio de eléctrodos que captam
querem ou precisam. Nos últimos tempos, por
gar ao mercado, o pacote passou pelo crivo variações na actividade cerebral, acredita-se
desconfiar de que as pesquisas tradicionais
de 300 mulheres. Os investigadores não per- que hoje seja possível medir a reacção das
não eram suficientes para saber o que de fac-
deram tempo com perguntas. Enquanto elas pessoas a marcas ou produtos. É, por isso, es-
to os consumidores queriam, muitas empre-
observavam o produto no laboratório da em- tranho perceber quanto tempo demorou para
sas passaram a observá-los em vez de apenas
presa, no Estado americano de Wisconsin, um a ciência e o marketing se unirem. De acordo
lhes fazerem perguntas.
equipamento chamado eye-tracking rastrea- com o consultor de marcas dinamarquês Mar-
va o caminho da íris de cada uma delas. A em- tin Lindstrom, especialista em neuromarke-
Enquanto os clientes balagem escolhida atraiu mais olhares para a ting, no seu livro “A Lógica do Consumo”, “a
observam o produto, um informação de que o produto era feito de al- ciência existe desde que começamos a ques-
equipamento chamado godão orgânico e vitamina E, dado observado tionar-nos sobre o nosso comportamento.
eye-tracking rastreia o por 69% das entrevistadas. Esta nova forma E o marketing, uma invenção do século XX,
de chegar aos clientes, tem reduzido drastica- faz perguntas do mesmo tipo há mais de 100
caminho da íris de cada
mente as pesquisas com questionários, isto anos”. Algumas das tecnologias hoje aplica-
um deles porque segundo vários especialistas da área das ao marketing já estavam disponíveis há

34 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


algum tempo, mas ficaram por décadas restri-
tas ao campo científico. Os estudos que base- O valor de uma marca pode ser uma coisa inconstante. É impossível medir com precisão e
aram a análise do eye-tracking, por exemplo, esta pode ser afectada por inúmeros factores voláteis, mas no final do dia, se um consumi-
remontam aos anos 60. O psicólogo russo dor está disposto a pagar mais por uma marca em detrimento de outra, em seguida torna-
Alfred Yarbus publicou, em 1967, o primeiro se um valor essencial de um indicador global do valor da empresa. Em nenhum lugar isto
trabalho científico em inglês que relaciona o é mais importante do que na indústria automóvel, em que a percepção de um consumidor
movimento dos olhos à atenção. A teoria saiu de uma marca pode muitas vezes ser o factor decisivo quando se trata de comprar um carro
do mundo académico para ter uma aplicação novo. Um dos melhores indicadores de como é valiosa cada marca em comparação com os
comercial massiva apenas neste século. Pa- seus rivais é o Best Global Brands, levantamento anual realizado pela empresa de consul-
ra empresas como a Kimberly-Clark, o uso do toria Interbrand e BusinessWeek. No valor de marcas de automóveis, como é habitual, a
rastreamento da íris só se tornou sistemático Toyota domina a lista global. A concorrente mais directa é a Mercedes-Benz com um valor
com a criação da sua loja virtual, inaugurada de $ 25.6 bilhões, seguida pela BMW.
há quase dois anos. Algo semelhante acon-
teceu com a Procter&Gamble, que inaugurou DEZ PRINCIPAIS MARCAS AUTOMÓVEL EM ORDEM E VALOR:
um moderno laboratório para pesquisas, ape- 1 ) Toyota - $ 34 b
lidado de The Cave (ou “A caverna”), em Julho 2 ) Mercedes-Benz - $ 25.6 b
de 2006, na sua sede, em Cincinatti. Nos dois 3 ) BMW - $ 23.3 b
casos, trata-se de um espaço com ecrãs capa- 4 ) Honda - $ 19.1 b
zes de reproduzir virtualmente o ambiente de 5 ) Ford - $ 7.9 b
uma loja. Os consumidores sob investigação 6 ) Volkswagen - $ 7 b
podem simular que empurram um carrinho de 7 ) Audi - $ 5.4 b
compras entre as prateleiras de um supermer- 8 ) Hyundai - $ 4.8 b
cado. Enquanto passeiam, o eye-tracking faz 9 ) Porsche - $ 4.6 b
o resto do trabalho - detecta o que mais cha- 10 ) Lexus - $ 3.6 b
ma a atenção das pessoas, seja numa emba- Fonte: Motor Authority
lagem, seja numa peça publicitária.

Segundo especialistas, as
pessoas, em geral, falam
uma coisa e fazem outra.
Com o eye-tracking é forte
a possibilidade de existir
um veredicto inequívoco
Neuromarketing
Nada representa de maneira mais literal, po-
rém, a intenção de entrar na mente do consu-
midor do que o neuromarketing. Nos últimos 2008. Ora como é de imaginar, tanta tecnolo- DADOS CORPORATIVOS
cinco anos proliferaram consultorias especia- gia não custa barato. Estima-se que a avalia- › Origem: Alemanha
lizadas em pesquisas de mercado por meio ção de um produto ou uma campanha através › Fundação: 1871
do monitoramento das ondas cerebrais. Boa da monitorização da actividade cerebral pos- › Fundador: Karl Benz, Gottlieb Daimler
parte delas usa equipamentos semelhantes a sa custar até 10 mil dólares para um grupo de e Wilhelm Maybach
capacetes e dezenas de sensores conectados 20 pessoas -- em média, dez vezes mais do › Sede mundial: Stuttgart, Alemanha
à cabeça, num eletroencefalograma, que me- que uma pesquisa tradicional. Uma reporta- › Proprietário da marca: Daimler AG
de o fluxo dos impulsos eléctricos. É comum gem publicada pelo jornal The New York Times › Capital aberto: Sim
que algumas dessas empresas especializadas mostra que o uso da neurociência associado a › Chairman: Dieter Zetsche
combinem ao mesmo tempo a avaliação do outras técnicas tem ajudado as marcas a defi- › Facturação: €99.39 biliões (2008)
batimento cardíaco, temperatura corporal e nir a cor da embalagem e a ressaltar informa- › Lucro: €3.97 biliões (2008)
dilatação da pupila para ajudar a avaliação du- ções que interessam aos clientes. Nem todas › Valor de mercado: €40.1 biliões
rante a pesquisa. De acordo com A.K. Prade- as novas tecnologias são tão, digamos, inva- (Setembro/2009)
ep, fundador da NeuroFocus à revista EXAME sivas. É o caso das câmaras de vídeo. Trata- › Valor da marca: US$ 23.867 biliões (2009)
brasileira, este processo permite interpretar se de uma espécie de versão 2.0 do princípio › Produção: 1 milhão unidades/ano
reacções em três aspectos: o envolvimento criado pelo consultor Underhill. A diferença é › Presença global: 180 países
emocional, o nível de atenção e a retenção na que, em vez de simplesmente colocar alguém › Ícones: A estrela de três pontas
memória”. A NeuroFocus é uma das maiores para assistir às cenas detectadas no momen- de seu logotipo
consultorias de neuromarketing do mundo, to da compra, programas de computador › Slogan: The Future of the Automobile.
comprada pelo grupo Nielsen, em Fevereiro de processam automaticamente informações e

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 35


ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS

maras capazes de contar automaticamente


o movimento dos clientesnas suas 27 unida-
des (até então a empresa usava um método
menos preciso, sem o recurso às câmaras.)
“Estamos a estudar como usar a informação
para medir a eficiência de promoções e de
mudanças de montra nas lojas”, afirma Fábio
Mendes, gerente de retalho da Adidas. Esta
rostos da marca onda das novas tecnologias mostra que o re-
Para contar a gloriosa história da Mercedes-Benz é preciso primeiro entender quem foram os lacionamento que as empresas mantêm com
homens responsáveis pela sua criação. os consumidores hoje é muito mais sofisti-
KARL BENZ - Nascido em 1844, é considerado o criador do primeiro veículo movido a com- cado que nos tempos de Henry Ford. Mais de
bustão interna na cidade de Mannhein, na Alemanha, em 1886, onde mantinha uma pequena um século depois, o antigo empresário ame-
oficina. O veículo era um triciclo com tracção nas rodas traseiras, monocilíndrico e com 984cc. ricano parece continuar certo num ponto: é
Desenvolvia uma velocidade máxima de 16km/h. O veículo incorporava à época muitas solu- preciso ir além das pesquisas de mercado
ções ainda utilizadas nos veículos modernos, como refrigeração à água, ignição eléctrica e dife- tradicionais para entender o que se passa na
rencial. O primeiro automóvel de quatro rodas de Benz, o Victoria de 1892, foi também a base cabeça do consumidor.
para a criação do primeiro autocarro construídos em 1895. O primeiro automóvel com produ-
ção em série foi o Benz Velo. Em 1898, foram usados pneus de borracha no Benz Confortable e Mercedes, uma marca de sonho
em 1899 no primeiro carro de corrida. A Benz & Cia., não só se tornou a primeira linha de mon- Os seus automóveis são o sonho de consu-
tagem, como também a maior do mundo no início do século XX. Em 1903, surge o Benz Parsifal mo da maioria dos mortais. Um Mercedes
inspirado nos conceitos de design dos automóveis Mercedes de Daimler. é destinado a quem tem paixão por carros
GOTTLIEB DAIMLER - Nascido em 1834, formou-se engenheiro aos 25 anos na Escola Politéc- e por todos os valores que a marca agrega,
nica de Stuttgart. Associou-se ao Sr. Wilhelm Maybach (grande projectista, criador dos clássi- como forte personalidade, imagem mundial,
cos e legendários automóveis Maybach) e produziram juntos, em 1885, a primeira motocicleta requinte, qualidade, tecnologia e vanguarda.
do mundo. Em 1886, alguns meses após o triciclo de Benz, construíram a primeira carruagem Pioneira no lançamento de tendências tec-
movida a um motor refrigerado a ar. Em 1890, fundou a Daimler Motoren-Gesellschaft (conhe- nológicas, oferece onze série de automóveis,
cida como DMG). Em 1893, por motivos de rivalidades entre os sócios Daimler e Maybach sa- compreendendo 109 versões de modelos que
em da empresa. De volta, em 1895, produziram o Phoenix em 1897, o primeiro automóvel com englobam praticamente todos os segmen-
motor frontal. Dois anos depois veio o primeiro motor 4 cilindros de 28hp. tos. A abrangência da gama de produtos é
O pioneirismo destes homens fez com que coleccionassem outras conquistas como a constru- uma das principais razões pela qual vende
ção do primeiro camião com motor a gasolina e a diesel do mundo. anualmente cerca de 1 milhão de automóveis.
A marca tem hoje cerca de 6.4 milhões de
produzem estatísticas. É possível, por exem- suas principais descobertas aconteceu num clientes, proprietários de aproximadamente
plo, identificar corredores mais e menos fre- lojista americano. Com o auxílio dos softwa- 9.5 milhões de automóveis. Além de produzir
quentados apenas num clique de computador. res da consultoria, o comerciante percebeu carros, fabrica também motores para aviões e
O sistema também consegue calcular quanto que 15% dos consumidores que entravam na camiões. Actualmente, cria também protóti-
tempo em média os consumidores ficam em loja ficavam parados em frente às pratelei- pos de motores para a equipa de Fórmula 1 da
frente a cada uma das prateleiras antes de ras de sumo até 90 segundos e saíam sem McLaren.
escolher um produto. Já existem softwares levar nada. A solução para melhorar as ven-
tão sofisticados que conseguem até mesmo das, segundo Pryia, apareceu após a análise ‘Flechas de prata’
identificar se quem está ali é um homem ou detalhada do porquê da demora em frente O mito começou na década de 30, quando a
uma mulher. A indiana Pryia Baboo, vice-pre- à prateleira. “A empresa decidiu diminuir as Mercedes-Benz e Auto-Union (actual AUDI)
sidente da consultoria Videomining, que diz opções de sabor e marca porque notou que criaram carros imbatíveis que disputavam en-
ter mais de 1 000 câmaras espalhadas por lo- aquela multiplicação deixava o cliente con- tre si o domínio das pistas. Com carroçaria de
jas dos Estados Unidos a serviço de clientes fuso”, explica. Recentemente, a fabricante alumínio sem pintura, entraram para a histó-
como Hershey’s e Nestlé, conta que uma das de produtos desportivos Adidas instalou câ- ria como as ‘Flechas de Prata’. O primeiro deste

36 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 37
ECONOMIA & NEGÓCIOS IN(TO) BUSINESS

sabia que...
O mundialmente famoso símbolo da Mercedes teve um início profético. Representando a tri- mitos, chamado W125, tinha chassis de liga de
plicidade das actividades da Daimler, fabricante de motores para uso em terra, mar e ar, a estre- aço com cromo, níquel e molibdênio e carroçaria
la de três pontas foi adoptada como logótipo em 1909, após a morte de Gottlieb Daimler, apesar de alumínio, que pesava menos graças ao tru-
que descoberto, em 1934, no modelo W25. Até
de ter aparecido pela primeira vez no ano de 1901 num automóvel da marca. Foi inspirada
àquele ano os Mercedes de corrida eram pinta-
numa figura que ele tinha desenhado num postal, que endereçou à sua esposa com o seguinte
dos de branco, a cor da Alemanha para as com-
comentário: ‘um dia essa estrela brilhará sobre a minha obra’. Ao longo dos anos, o símbolo petições. Como o carro estava com peso acima
passou por várias alterações. Em 1923, foi acrescentado o círculo. E três anos depois, com a do permitido pelo regulamento, os engenhei-
fusão das empresas Daimler e Benz, foi incluída a coroa de louros, pertencente ao logótipo da ros não tiveram dúvida - rasparam toda a tinta,
Benz. A forma definitiva foi adoptada em 1933 e desde então mantém-se inalterada. As peças deixando os carros com o alumínio da carroçaria
(principalmente chaves, motores, suspensões, etc.) produzidas pela marca são únicas e difíceis reluzindo. As “flechas de prata” ganharam sete
de serem ilegalmente copiadas das onze provas disputadas, com a primeira vi-
tória em Tripoli, na Itália. Depois, veio a II Guer-
w125 ra Mundial e as Flechas de Prata só voltaram
a correr em 1954, graças ao esforço da Merce-
des-Benz, que retornou às pistas com o modelo
W196. Construídos com a mais alta tecnologia
da época, os W196 deixaram todos os outros
carros obsoletos. A marca não economizou di-
nheiro na construção dos seus novos modelos.
Havia duas carroçarias, uma tradicional e outra
usada somente em circuitos de alta velocidade,
que cobria as rodas. Os modelos W196 domi-
naram as temporadas de 1954 e 1955 dirigidos
pelos pilotos Juan Manuel Fangio, Stirling Moss
e Karl Kling. Com oito cilindros, 2982 cm3 de ci-
lindrada, potência até 310 cv e uma velocidade
máxima acima dos 300 Km/h, este “Flecha de
Prata” conquistou em 1955 os primeiros luga-
res nas mais consagradas provas automobilís-
w196 ticas: Mille Miglia, Targa Florio, Tourist Trophy,
Eifelrennen, bem como no Grande Prémio da
Suécia. Teriam feito ainda mais, mas a Merce-
des-Benz resolveu abandonar as competições
depois do acidente nas 24 Horas de Le Mans de
1955, em que morreram o piloto Pierre Levegh
e 81 espectadores.

o segredo
Para vender carros que chegam a custar 3 mi-
lhões de dólares, a empresa submete os seus
vendedores a um rígido programa de ven-
das. Todos recebem orientações básicas sobre
mecânica, comportamento do consumidor,
etiqueta e cultura geral. São três fases de ins-
trução, com intervalo de seis meses entre
elas. As aulas são ministradas por professores
formados na matriz

38 | ANGOLA’IN · ECONOMIA & NEGÓCIOS


O museu nética da marca, para que os visitantes pos- de veículos altamente eficientes que continu-
A marca que inventou o automóvel também sam descer por nove andares. Pela primeira am a realizar as suas actividades pelo mundo.
reinventou o museu do automóvel. Em Abril rota, há sete “Salas Lendárias” que contam a Nestas salas o visitante pode ver exposições
de 2006, foi inaugurado em Stuttgart, na Ale- história da marca em ordem cronológica. A se- como o “Papamóvel” usado pelo Papa João
manha, o Novo Museu Mercedes-Benz. Cons- gunda rota agrupa veículos em cinco “Salas de Paulo II. Veículos com uma história própria,
truído em tempo recorde (apenas dois anos e Colecção” que apresentam o variado portefó- que, em alguns casos, ajudaram a escrever a
meio), o novo museu possui um design arro- lio da marca através do tempo. Uma novidade história. A exposição “A Fascinação da Tecno-
jado e é o único no mundo que apresenta 120 é que o museu também documenta os mais logia”, com acesso individual, ocupa uma posi-
anos da história da indústria automóvel, des- de 100 anos de história de veículos comerciais ção especial. Exibida num contexto altamente
de o seu princípio. São 160 veículos e mais de da empresa. Os visitantes podem trocar de ro- sofisticado, proporciona uma visão do traba-
1.500 outros produtos expostos ao visitante ta a qualquer momento. Ambas terminam na lho dos engenheiros de desenvolvimento da
em duas passagens conectadas, que ocupam curva “Flechas de Prata - Corridas e Recordes”, marca e, portanto, do futuro do automóvel. O
16.500 metros quadrados distribuídos por no- onde estão expostas as lendárias Mercedes. museu também disponibiliza um restaurante,
ve andares. Além de apresentar a história da Nesta área, também são exibidos trechos de um café e várias lojas. Uma ligação directa ao
marca, o museu também oferece um olhar re- filmes de corridas históricas. Pertences de fa- Centro Mercedes possibilita ainda uma transi-
velador sobre o futuro. A dualidade passado mosos pilotos de corrida, dois simuladores e ção da lendária marca desde os modelos clás-
e futuro também está presente na arquitec- um workshop de corrida oferecem aos visitan- sicos, até à actual linha de produtos.
tura do edifício. O interior foi modelado com tes uma oportunidade de entrarem no fasci-
a estrutura da espiral do DNA, que carrega os nante mundo das competições. A exposição
genes humanos, para ilustrar a filosofia ori- “A Fascinação da Tecnologia” oferece a opor-
ginal da Mercedes-Benz, ou seja a invenção
contínua de coisas completamente novas pa-
tunidade de espreitar o dia-a-dia de trabalho
dos engenheiros e proporciona uma visão do Curiosidade ultoria britânica
Inter-
Segundo a cons s-Benz
ra manter a mobilidade, desde a invenção do futuro do automóvel. As “Salas de Colecção” a marca Mercede
brand, somente , ocu-
automóvel, até à visão, orientada para o fu- mostram a variedade de veículos de acordo US$ 23.867 biliões
está avaliada em cas
turo, sobre a condução livre de acidentes. Em com tópicos. Estes tópicos vão desde o trans- no ranking das mar
pelo menos duas horas de passeio pelo mu- porte por táxi e automóveis, até ao transporte pando a 12ª posição
undo
seu, os visitantes podem acompanhar os 120 de mercadorias e distribuição, passando pe- mais valiosas do m
anos da história do automóvel como uma jor- la “Galeria de Ajudantes” no combate ao in-
nada pelo tempo. Um elevador leva-os até ao cêndio, serviços de emergência e operações
andar mais alto, de onde saem duas rotas em municipais, até veículos VIP’s e, finalmente
espiral, metaforicamente representando a ge- a “Galeria de Heróis” - um número incontável

ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN | 39


SOCIEDADE | manuela bártolo

O PREÇO JUSTO

Ao comprar produtos estes agricultores têm restrições de acesso a com a decadência das economias socialistas.
de comércio justo, o crédito, o que os torna frágeis frente à varia- Actualmente, o esquema de comercialização
ção dos preços. São pequenas propriedades e, fair trade é visto como uma evolução natu-
consumidor tem a garantia
portanto, não há como se defender com uma ral do sistema capitalista, que, na esteira do
de que está a fomentar produção em larga escala. A escassez de re- desenvolvimento sustentável, pauta as suas
uma cadeia comercial cursos financeiros, por outro lado, impede a relações pela ética, assimilando lucro e res-
alicerceada em princípios aquisição de novas tecnologias. O acesso à in- ponsabilidade social. O comércio justo é, por
éticos formação destes grupos é baixo, dificultando isso, definido como “uma parceria de comércio
o desenvolvimento da organização de coope- baseada no diálogo, transparência e respeito,
Certamente já ouviu alguém dizer que “o preço rativas que, na maioria das vezes, só ocorre que procura um maior grau de igualdade no
justo é aquele que o cliente se dispõe a pagar”. mediante a assessoria de agentes externos, comércio internacional. Contribui para o de-
Uma frase habitual em situações comerciais, como as ONG’s, por exemplo. Os pequenos senvolvimento sustentável oferecendo me-
tida como um instrumento de venda, que su- produtores são presa fácil para as grandes em- lhores condições comerciais e protegendo os
gere que os produtos devem ser comerciali- presas, que compram os seus produtos a pre- direitos de produtores e trabalhadores margi-
zados pelo preço mais alto possível, no limite ços “injustos”, muitas vezes pagando menos nalizados, especialmente no hemisfério Sul”.
da disponibilidade e interesse dos seus con- do que o próprio custo de produzi-los. O resul- Na prática, o fair trade funciona da mesma
sumidores. tado desta equação é o aumento da pobreza, maneira que o comércio “normal”, uma rela-
miséria, violência e a degradação ambiental. ção de compra e venda como outra qualquer.
Quando há margem para negociar com os Ora é neste contexto que se insere o Comércio A diferença é que as partes se comprometem
clientes até poderá fazer sentido. Não é, no Justo (Fair Trade), podendo ser encarado co- a seguir determinados princípios, garantindo
entanto, o que ocorre no âmbito do comércio mo uma ferramenta contra os malefícios de que os produtores não sejam “espremidos”
internacional, marcado pela oferta de produ- um sistema comercial injusto e socialmente em negociações comerciais.
tos superior à procura e pela alta volatilidade excludente. Ao comprar produtos de comér-
de preços. Num mercado como o actual, do- cio justo, o consumidor tem a garantia de que O avanço do comércio
minado por grandes corporações, quais são está a fomentar um cadeia comercial alicer-
ceada em princípios éticos. Este é tido como
justo parece depender
as hipóteses de sucesso de pequenas comu-
nidades produtoras da zona rural da América uma forma de comercialização alternativa ao fortemente de uma
Latina, África ou Ásia? Algo próximo a zero, modelo proposto pelo capitalismo, que pres- maior consciencialização
obviamente. supõe exclusivamente a maximização de lu- dos consumidores para
cros, a despeito de outros valores e critérios. os custos sociais e
Como não têm volume no sistema de capital, Tal interpretação, no entanto, perdeu sentido ambientais da produção

40 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
um por todos e todos por um
O comércio justo é um movimento que guarda semelhanças com diversas outras
iniciativas de desenvolvimento sustentável, pois mantém laços com o consumo
CONHEÇA OS PRINCÍPIOS
consciente, introduzindo a responsabilidade sócio-ambiental no acto da compra. Um
QUE REGEM O MOVIMENTO
produto de comércio justo é certamente um alvo para consumidores conscientes
DE COMÉRCIO JUSTO:

Poder ao consumidor seus processos de certificação, porém sem 1. Criação de oportunidades para os pro-
O consumidor exerce um papel fundamental verificação externa. Embora sejam organiza- dutores economicamente desfavorecidos
no comércio justo, pois é ele que garante a ções sérias e comprometidas com os objecti- O comércio justo é uma estratégia de
demanda destes produtos. Ao optar pelo fair vos do comércio justo, com rígidos controlos combate à pobreza e desenvolvimento
trade, o consumidor tem a certeza de que co- de certificação, nem todas os mercados reco- sustentável. O seu objectivo é o de criar
munidades socialmente excluídas não estão a nhecem isto como uma garantia efectiva. Há, oportunidades para os produtores economi-
ser injustiçadas nas transacções comerciais. ainda, organizações que se valem do seu his- camente desfavorecidos ou marginalizados
tórico de conduta e na credibilidade das suas pelo sistema de comércio convencional
Mas como ter certeza que os pequenos produ- marcas para garantir o comércio justo. Um dos
tores estão a ser efectivamente beneficiados ícones desta prática é a cadeia de lojas ingle- 2. Transparência e Responsabilidade
pelas garantias do comércio justo? A respos- sa The Body Shop, que ao contrário de outras O fair trade envolve uma gestão transpa-
ta a esta pergunta revela um dos grandes di- organizações, não comercializa alimentos, e rente das relações comerciais para tratar de
ferenciais do sistema. Para que o fair trade sim produtos manufacturados (cosméticos, forma justa e respeitosamente com os par-
realmente funcione, é necessário o envolvi- perfumes, etc...). É possível também comprar ceiros comerciais.
mento de todos os actores da cadeia de co- produtos fair trade na Europa, com a garantia
mercialização - desde o pequeno produtor, até das “boas prácticas”, nos mais de 2.000 world 3. Construção de Capacidades
ao consumidor final, passando pelos importa- shops espalhados pelo velho mundo. Este é um meio para o desenvolvimento
dores e exportadores, distribuidores e comer- dos produtores e da sua independência.
ciantes. As organizações de comércio justo Hora da mudança
garantem as “boas práticas” de diversas for- Adoptar critérios meramente financeiros na es- 4. Pagamento de um preço justo
mas distintas. Por exemplo, adoptam o pro- colha de produtos, simplesmente ignorando o Um preço justo, no contexto regional ou lo-
cesso de certificação em cadeia, com auditoria caminho percorrido entre os campos e as pra- cal é aquele que tenha sido acordado atra-
realizada por organismo externo. É preciso teleiras dos supermercados, nem sempre é a vés do diálogo e da participação. Além de
que produtores, distribuidores e comercian- melhor alternativa, pois é vergonhoso tapar os cobrir os custos de produção, também per-
tes sejam fiscalizados para que um produto olhos a eventuais abusos comerciais ou a práti- mite uma produção socialmente justa e
chegue até às prateleiras dos supermercados cas nocivas ao meio ambiente. ambientalmente racional. Ele oferece um
com o selo oferecido pela organização. E para Se é possível comprar café com a garantia de salário justo para os produtores e leva em
comercializar os produtos certificados, as or- que quem o plantou e colheu foi remunerado conta o princípio da igualdade de remune-
ganizações estabelecem o preço mínimo que dignamente, porquê escolher outro produto que ração por trabalho igual entre mulheres e
o distribuidor tem de pagar aos produtores, não oferece as mesmas garantias? É uma quali- homens.
independentemente das oscilações do mer- dade a mais no produto, tão importante quanto
cado internacional. Esta imposição de pre- o preço ou a higiene. Não é à tôa que o comércio 5. Equidade de género
ços deriva de estudos económicos realizados justo é um movimento que cresce ano após ano, Comércio Justo significa que o trabalho das
por técnicos da própria instituição e varia de em níveis superiores ao Produto Interno Bruto mulheres é devidamente valorizado e re-
região para região. Outra exigência é o paga- (PIB) e que alcança dezenas de países em todo compensado. Estas são sempre pagas pela
mento de um “prémio social” aos produtores, o mundo. Embora os produtos de comércio jus- sua contribuição para o processo de produ-
ou seja, um valor adicional pago por unidade to ainda não sejam tão conhecidos, já é possível ção e estão habilitadas no seio das suas or-
de produto comercializado, que é destinado a encontrá-los e consumi-los. E para quem pro- ganizações.
projectos sociais nas suas comunidades. Vá- duz, há cada vez mais uma enorme procura de
rios organismos têm vindo a desenvolver os consumo no âmbito do comércio internacional. 6. Condições de trabalho
O fair trade proporciona um ambiente de
trabalho seguro e saudável para os produto-
res. A participação dos filhos (se for o caso)
não afecta negativamente o seu bem-estar,
segurança e requisitos educacionais, estan-
do em conformidade com a Convenção das
Nações Unidas para os Direitos da Criança,
bem como a legislação e normas no contex-
to local.

7. O ambiente
O Comércio Justo incentiva activamente
melhores práticas ambientais e a aplicação
de métodos de produção responsável.

SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 41
SOCIEDADE

Onde está o comércio justo? é a rede mundial direccionada para o desen-


O sector produtivo do comércio justo, ou seja volvimentodo fair trade e conta com mais de
onde os produtos são cultivados ou produzidos, 220 organizações em 59 países. Cerca de 65%
localiza-se no Hemisfério Sul da terra, particu- dos membros estão localizados na Ásia, África
larmente no continente africano, sul da Ásia e e América Latina, e os demais estão espalha-
em regiões pobres da América do Sul. O mer- dos na América do Norte e Europa. Embora em Sabia que... taxas médias
mundial cresceu a
cado consumidor de produtos oriundos deste crescimento, o futuro das práticas de comércio O comércio justo . O fair trade cer-
comércio, por sua vez, encontra-se do outro la- justo dependerá não apenas da adesão das pe- ua is de 20 % en tre 1997 e 2007
an uma factura-
ável, em 2006, por
do do globo, no hemisfério Norte. Alemanha, quenas empresas interessadas no tema, mas tificado foi respons , um crescimento
Holanda, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá também do envolvimento de corporações so- su pe rio r a 1,6 biliões de euros
çã o tima-se que
são os principais compradores. Tal eixo de co- cialmente responsáveis, que estejam dispostas 42 % em relaç ão ao ano anterior. Es
de tenham sido
mercialização, do Sul para o Norte, obedece a a conectar tais práticas às suas cadeias produ- m ilh õe s de pe quenos produtores
1,5 de na África,
razões históricas. Na década de 1960, época do tivas, do compromisso dos governos democrá- ne fic iad os co m as garantias fair tra
be
a
aparecimento do fair trade, o mundo era dividi- ticos com políticas de desenvolvimento local Ásia e América Latin
do entre os países ricos do hemisfério Norte e os sustentável e da participação de organizações
pobres do Sul. O avanço do capitalismo globali- da sociedade civil e consumidores interessados
zado, no entanto, fez esta configuração perder em promover formas mais equilibradas e soli-
nitidez, com o surgimento de bolsas de pobre- dárias de produção e consumo. 
za no Norte e a proliferação de elites abastadas
em países do Sul. O comércio justo foi natural-
mente criando novas rotas de comercialização,
que atendessem com mais eficiência à nova
geografia da pobreza mundial. O Brasil é um
dos destaques, por ter se tornado, em 2007, o
primeiro país que é simultaneamente produtor
e consumidor de produtos de comércio justo. O
fair trade sempre foi mais intenso na área dos
produtos alimentares (café, cacau, mel, chá,
frutas etc). Porém, há perspectivas de amplia-
ção deste sistema para o sector dos serviços.
Um exemplo seria o “turismo responsável ou
solidário”, baseado em sinergias entre o comér-
cio justo de produtos artesanais ou alimenta-
res, solicitados pelos turistas, e um turismo
que seja exercido sem agressões ao meio am-
biente e em benefício das populações locais. Da
mesma forma, o comércio justo mantém vín-
culos com estratégias de desenvolvimento ba-
seadas em APLs - Arranjos Produtivos Locais
(formas de partilhar conhecimentos e tecnolo-
gias entre empresas da mesma cadeia produti-
va ou entre empresas que actuam no mesmo
mercado, que podem fortalecer as próprias em-
presas e promover o desenvolvimento econó-
mico local). Tanto o comércio justo, quanto os
APL’s supõem a existência de relações de cola- Sugestão de leitura
boração e confiança entre os agentes económi-
Como podem os países menos desenvolvidos ser ajudados a se desenvolverem a
cos, bem como a aceitação do pressuposto de
si mesmos num contexto de comércio livre e mais justo? No provocador e con-
que o equilíbrio da sociedade deve estabelecer
parâmetros para a procura de lucro. Até ao mo- troverso livro ‘Comércio Justo para Todos’ de Joseph E. Stiglitz, Prémio Nobel
mento, as marcas registradas internacionais de da  Economia, e de Andrew  Charlton, pode descobrir mais sobre um dos prin-
comércio justo baseiam-se num controlo verti- cipais desafios  enfrentados pelos actuais líderes mundiais. Os mesmos pro-
cal da cadeia de produção e comercialização põem um novo e radical modelo de gestão para as relações comerciais entre os
dos produtos. A atribuição de marcas registra-
países mais ricos e os mais pobres. Com uma escrita acessível e repleto de da-
das por produto aplica-se a mercadorias cujas
dos empíricos e análises rigorosas, este livro é essencial para as pessoas interessa-
cadeias produtivas e comerciais podem ser ob-
jecto de acompanhamento e controlo.  A IFAT das no comércio mundial e no tema do desenvolvimento
(International Federation of Alternative Trade)

42 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 43
SOCIEDADE | patrícia alves tavares

ong’s
Diplomacia não
governamental
Actuam em todos os pilares da sociedade e são, de certo modo, tudo desenvolvido por Alessandra Fayet, que
os parceiros mais rentáveis do Estado. As Organizações Não entrevistou os principais intervenientes nas
ONG’s, como João Castro, da FONGA (Fórum
Governamentais (ONG’s) trabalham com escassos recursos das Organizações Não Governamentais de
financeiros e contam quase em exclusivo com o apoio de voluntários Angola); Peter Matz, da Unicef e João Kiala,
e empresas, que abnegadamente contribuem para a valorização da da Cruz Vermelha (CV). A investigação refere
sua componente social, através da cedência de bens ou doações que a CV Angolana, a Caritas Angola e a ADRA
monetárias. Nesta edição, a Angola’in traça o perfil das associações, (associação local ligada à agricultura) são as
cujos rostos a maioria desconhece, mas que detêm um papel entidades que reúnem mais voluntários (ul-
trapassam a centena). A maioria são técnicos
fundamental junto das comunidades profissionais que colaboram nas campanhas
de conhecimento, de segurança alimentar e
São elementos decisivos e estratégicos no não governamental é um dos agentes na pre- na construção de infra-estruturas comunitá-
processo de implementação da paz. O país venção e resolução de conflitos, sendo res- rias. Segue-se o pessoal médico, os jovens, os
não seria certamente o mesmo sem a pre- ponsável pelo acesso das populações à água chefes das comunidades e os professores.
sença das ONG’s. O facto de estarem imple- e saneamento, pela angariação de financia-
mentadas no seio das comunidades é uma mento para o desenvolvimento, pela sensibi- “A maioria das ONG’s
mais-valia, pois conhecem de perto a realida- lização para questões como a desigualdade/
de e têm a possibilidade de analisar os pro- exclusão social e as mudanças climáticas. A
trabalha sem capacidade
blemas caso a caso. As ONG’s desenvolvem Angola’in faz o balanço do trabalho desen- financeira,
um dos trabalhos mais louváveis. Apoiam volvido nos últimos anos, revelando alguns pelo que grande parte
áreas estruturais como a educação, saúde, projectos e apresentando os seus principais dos seus colaboradores
ambiente, alimentação, reconstrução e apoio ‘actores’. são voluntários a tempo
social. Recentemente as associações huma- inteiro”
nitárias tiveram um papel importante no au- Força do voluntariado
xílio aos refugiados da RD Congo, através da Em Angola, a maioria das ONG’s labora sem
Privados ‘solidários’
doação de medicamentos. Assumem-se co- capacidade financeira, pelo que grande par-
As empresas, cada vez mais preocupadas
mo o principal parceiro do Estado e da Orga- te dos seus colaboradores são voluntários a
com a componente social do seu negócio, são
nização Mundial de Saúde (OMS) no combate tempo inteiro. Uns são oriundos de outros pa-
importantes financiadoras das associações. O
ao flagelo da SIDA. Sem o seu contributo, o íses, outros são cidadãos locais, que desejam
referido estudo indica que existem múltiplos
nível de crescimento nacional e o grau de de- ajudar no desenvolvimento do próprio país,
doadores internacionais a investir no país, em
senvolvimento humano e social registariam auxiliando os grupos e as áreas mais margi-
que se destacam as companhias petrolíferas
valores bastante preocupantes. A diplomacia nalizadas. A Angola’in teve acesso a um es-
e de cooperação bilateral. A Chevron/ Texaco

44 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE
apoia a formação e programas na província “A “Jango Juvenil” quer investir este ano cerca de 65
de Cabinda. As companhias petrolíferas Es- mil USD num projecto de formação socioprofissional,
so, Total e BP possuem alguns projectos para
que deverá abranger 1.076 jovens da província da Huíla”
a Responsabilidade Social Colectiva. A União
Europeia é um dos principais elementos dina-
mizadores. Em Setembro, os seus represen-
tantes anunciaram que vão disponibilizar 4.5
milhões de euros, para projectos de impactos senvolvimento, de emergência e ambientais) tre outros. No Lubango, a “Jango Juvenil” quer
sociais e económicos a favor das comunida- e acompanham as negociações regionais e investir este ano cerca de 65 mil USD num
des. Na primeira fase, o plano abrange ONG’s internacionais intergovernamentais, fomen- projecto de formação socioprofissional, que
nas províncias da Huíla, Benguela, Huambo, tando o diálogo e pressionando os governos deverá abranger 1.076 jovens da província da
Bié, Kuando Kubango, Kwanza Norte e Kwan- e instituições relevantes. Huíla. A acção enquadra-se no Programa de
za Sul e abarca iniciativas na saúde, sanea- Serviços Internacionais e é financiada pela
mento básico e agricultura, entre outros. A Agente Social organização americana USAID, destinando-
UE, que na Huíla patrocina mais de quatro or- Estas organizações constituem um dos prin- se a formar jovens em especialidades como
ganizações, afiança que vai continuar a ajudar cipais agentes do apoio social e humanitário, culinária, electricidade, informática e secre-
o Governo na construção de infra-estruturas elaborando projectos vitais para o desenvol- tariado. A organização realiza ainda acções
escolares, postos médicos e nos programas vimento das comunidades mais recônditas e de formação sanitária sobre prevenção de
agro-pecuários e económicos. Já a Agência carentes, promovendo acções de formação/ doenças de transmissão sexual e VIH/ SIDA,
Espanhola de Cooperação Internacional para alfabetização, criando lares, creches, etc. As em colaboração com a Direcção Provincial de
o Desenvolvimento divulgou que possui uma internacionais investem largamente no sec- Saúde. São inúmeras as ONG’s locais, nacio-
carteira avaliada em 72 milhões de euros a ser tor, pois têm maior facilidade em adquirir nais e internacionais que se dedicam à ela-
aplicada em projectos sociais. O director, Jo- apoios para esta causa junto dos países de boração de estratégias, projectos e acções de
sep Puig confirmou que estão em execução origem. É o caso da ONG americana “Fundo combate à doença. As ONG’s detêm um inte-
programas sociais em sete províncias, num de Cristãos para as Crianças”, que desde 2008 ressante contributo no apoio aos deficientes,
total de 77 intervenções em áreas de serviços alfabetizou mais de mil jovens entre os 15 e nomeadamente na formação e integração dos
sociais básicos, como educação, saúde e sa- os 18 anos, moradores em dez aldeias da co- visados na vida profissional, tendo, em cola-
neamento. muna do Monte Belo (Bocoio, Benguela). O boração com a Associação Nacional de Defi-
programa conta com o auxílio da OMA, JM- cientes Angolanos, beneficiado quase 50 mil
“As plataformas nacionais PLA, administração e autoridades locais, en- pessoas, através do projecto “Vem Comigo”.

de ONG’s acompanham Parceiros internacionais


as negociações regionais As ONG’s estão presentes na maioria das
e internacionais províncias desde o período da guerra. Durante
intergovernamentais, os 35 anos de conflito, a população não dis-
fomentando o diálogo e punha de um bom apoio governamental. A
pressionando os governos principal ajuda chegava da solidariedade da
sociedade civil. Assim, nos anos 90, surgiram
e instituições relevantes” as primeiras associações locais, que inicia-
ram projectos com escassos recursos. Actual-
Humanitários mente, muitas contam com a colaboração de
A Inspecção Nacional dos Voluntários das Na- agências da ONU e das ONG’s internacionais,
ções Unidas revela que existem quase 300 existindo a nível nacional uma representação
ONG’s locais registadas e mais de 120 detêm de quase todas as entidades da agência eu-
projectos em implementação. A Comissão de ropeia, responsáveis por amparar a sociedade
Organizações Não Governamentais em An- civil e governamental nos mais diversos cam-
gola tem como missão a coordenação das pos, desde os direitos humanos, até projectos
actividades e desenvolve o trabalho de ad- de desenvolvimento. As mais activas, segun-
vocacia com o Governo. A Rede Humanitária do o que a Angola’in apurou são a Unicef, a
Angolana é a responsável pelo intercâmbio FAO (Organização da Agricultura e Alimenta-
de informações entre organizações, que ac- ção) e a ACNUR (Alto Comissariado das Na-
tuam a todos os níveis, desde os assuntos ções Unidas para os Refugiados).
relacionados com a cidadania, justiça e paz,
redução da pobreza e habitação ao apoio a
crianças e jovens, às acções humanitárias,
ao programa de desminagem, ao desenvolvi-
mento sustentável e ao combate e prevenção
da SIDA. As plataformas nacionais de ONG’s
agregam a maioria das associações (de de-

SOCIEDADE · ANGOLA’IN | 45
46 | ANGOLA’IN ·
· ANGOLA’IN | 47
GRANDE ENTREVISTA | patrícia alves tavares

INGLÊS PINTO

“ADVOCACIA
PREVENTIVA
E CIDADÔ

Recentemente reeleito Bastonário da Ordem dos Advogados, Inglês Pinto possui um longo
currículo na área do Direito, tendo desempenhado funções em alguns ministérios. Defensor
incansável dos Direitos Humanos, o alto representante dos profissionais de Justiça falou à
Angola’in, numa entrevista que toca questões fundamentais como a situação da advocacia e
os desafios que se colocam à consolidação do Estado de Direito Democrático.

ordem dos advogados direitos fundamentais dos cidadãos e a sua ristas e cursos de refrescamento na área dos
Quais são os principais desafios protecção jurisdicional assumem-se como ou- processos, bem como reactivar a produção da
que se colocam à organização? tro dos grandes desideratos. Uma advocacia revista da Ordem dos Advogados e consolidar
A OAA é uma instituição recente (13 anos), cidadã é difícil, mas jamais impossível. o processo de informatização da legislação
com bastantes limitações no plano material “Lexangola” e da jurisprudência. Por outro la-
(falta de instalações próprias e condignas) e Quais as linhas de acção para o do, desejamos dar maior atenção às questões
financeiro, facto que tem condicionado a re- triénio 2009/ 2011? de ética e deontologia, no plano pedagógico
alização dos seus objectivos. Não obstante, a Pretendemos continuar o processo de conso- e disciplinar. Cooperar com outras institui-
OAA tem-se afirmado como uma organização lidação da Instituição, o que implica a criação ções da Administração da Justiça para que ha-
sócio-profissional de referência em Angola, de condições técnico-materiais; a construção ja uma Justiça que corresponda às legítimas
o que é difícil num país de múltiplos condi- da sede Nacional, de sedes para os Conselhos expectativas dos cidadãos, que passa pela
cionalismos. A consolidação da instituição, Provinciais de Luanda, Benguela e Cabinda, igualdade de oportunidades e a não exclusão
a continuidade do incremento das acções de para os Conselhos Interprovinciais e núcleos de qualquer natureza é uma das nossas me-
formação e o zelo pelo lado ético e deontoló- com instalações próprias nas restantes sedes tas, tal como a promoção de acções que visem
gico, no exercício da advocacia, são os grandes de províncias. Queremos desenvolver acções o apoio aos jovens advogados no plano social
desafios da Ordem, no plano interno. No que de aprendizagem no Centro de Estudos e For- e de meios para motivação de juristas para o
toca ao lado “externo”, a sua função social, a mação, incluindo um curso de inglês jurídico, exercício da profissão, em especial em provín-
defesa do Estado de direito democrático e dos contabilidade, auditoria e fiscalidade para ju- cias onde não se faz sentir esta tão importan-

48 | ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA


te actividade. “Promover” a aprovação da Lei “Pretendemos continuar
das Sociedades de Advogados, do seguro pro-
fissional e da segurança social dos advogados
o processo de consolidação
faz parte da nossa linha de actuação, que in- da Instituição, o que implica
clui o aperfeiçoamento dos mecanismos de a criação de condições
combate à procuradoria ilícita e a promoção
da educação jurídica básica da comunidade,
técnico-materiais”
enquanto contributos para uma advocacia
preventiva.

Qual a importância da OAA para a


sociedade e para o sector da Justiça? ponsabilidades políticas acrescidas ao cidadão institucionalizada, ainda é uma quimera. No
Entendo que a OAA tem a obrigação de as- que deve cooperar em seu próprio benefício, entanto, são notórios os esforços de supe-
sumir-se como um órgão auxiliar da admi- fazer muito mais. Não podemos ver a justiça ração deste quadro, que já foi dantesco. A
nistração da justiça e, caso os seus membros de forma isolada. questão da justiça tradicional, do direito con-
exerçam o seu ministério com maior profis- suetudinário deve ser objecto de profunda re-
sionalismo, olhando para além dos seus in- Verifica-se uma maior celeridade na flexão, estudo e investigação. O acesso a um
teresses financeiros legítimos, para a função execução dos processos? advogado está também aquém do aceitável,
social desta profissão, estarão a contribuir É a questão da histórica e universal lentidão não obstante a existência do Instituto da As-
para uma verdadeira justiça, podendo mes- da justiça. Angola não é excepção, por razões sistência Judiciária.
mo estar na vanguarda da luta por uma so- objectivas e subjectivas. E o lado subjectivo
ciedade mais justa. preocupa-me e de que maneira! Vai-se fa- Quais os principais desafios que se
zendo algo, mas temos que fazer muito mais colocam ao actual sistema de jus-
Como avalia o desempenho da ins- para reverter este quadro constrangedor. É di- tiça?
tituição ao longo dos últimos anos? fícil avaliar o tempo médio que leva cada um São de diversa ordem, desde a criação de con-
Tem sido positivo. Não fizemos mais e melhor dos processos, atendendo a sua natureza. Ca- dições técnico–materiais ao recrutamento de
por condicionalismos objectivos. Existe von- sos céleres existem, reduzidos. Em situações pessoal em quantidade e qualidade, não es-
tade e determinação de um núcleo “duro” da quase anedóticas, um processo cautelar pode quecendo a questão da ética e a promoção
direcção e de outros associados, quer da ve- levar mais de dois anos. Felizmente as coi- do mérito, impedindo por todos os meios a
lha guarda, quer das jovens gerações de ad- sas vão melhorando. Há que louvar o leque de mediocridade. Há que defender uma maior
vogados. magistrados que, não obstante as limitações, responsabilização, reforçar a efectiva inde-
vão dando o seu melhor. Como é sabido, a fal- pendência judicial, criar Tribunais de 2ª ins-
ta de celeridade processual leva ao descrédi- tância – “Relação” e acelerar o processo da
Estado da Justiça to em relação à justiça, à insegurança jurídica reforma legal, criando uma ordem jurídica
Dirige a Ordem dos Advogados des- e à frustração das legítimas expectativas dos desburocratizada. Deve-se promover os meios
de 2006. Qual o balanço do desen- cidadãos. Mudanças qualitativas globais le- alternativos de resolução de litígios, passando
volvimento do sector? vam tempo e dependem da determinação dos por uma mediação semi-profissionalizada. A
Podemos constatar melhorias a nível de al- homens. Temos que estar conscientes de que melhoria dos serviços de investigação criminal
gumas estruturas e da formação. Mas, muito esta acção colectiva é a melhor forma de pro- e dos serviços policiais no seu todo, a maior
mais temos que fazer. É preciso que o poder tegermos os nossos interesses imediatos ou divulgação da legislação vigente e uma efec-
político dê mais atenção ao sector no seu to- mediatos, desde que estes tenham um míni- tiva reforma do Estado são alguns desses de-
do, que tenha uma nova atitude perante a jus- mo de legitimidade. safios. No plano exógeno, o fim da cultura da
tiça, enquanto base para a paz social. “impunidade natural” por parte de alguns sec-
Qual o nível de acesso da população tores, a efectivação do sagro princípio consti-
Na sua opinião, esta área, vital pa- à Justiça? tucional da igualdade perante a lei, o respeito
ra uma sociedade justa, funciona de O acesso ao direito e à justiça em Angola ain- pelas decisões judiciais e pelas prerrogativas
forma eficaz e eficiente? da está muito aquém das metas que podere- dos advogados e a prevenção das tentativas
Não como quase todos pretendemos. Cabe a mos considerar razoáveis. Há muitas franjas de influências externas de determinados po-
todos sem excepção, desde os que têm res- sociais e regiões para quem a justiça formal, deres sobre a Justiça são o caminho a seguir.

GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 49


GRANDE ENTREVISTA

“Há que criar Tribunais de 2ª instância gados de corpo e alma” não são mais de 20%
dos inscritos na OAA.
– “Relação” e acelerar o processo da
reforma legal, criando uma ordem Os actuais cursos superiores são
jurídica desburocratizada” suficientes?
No que se refere à licenciatura em direito ain-
da não são suficientes. É de aplaudir a mais
recente criação de universidades públicas e o
surgimento de outras privadas, algumas de
boa qualidade, quer a nível de infra-estrutu-
ras, quer a nível do corpo docente. Contudo, no
cômputo geral, há que primar pela qualidade.
Ética e Deontologia
O Código Deontológico adapta-se às morosidade ou tratamento indevido das peti- O nível de formação adapta-se às
necessidades do actual sistema ju- ções dos cidadãos, ao extravio de documentos exigências da profissão?
dicial? e à excessiva burocracia. A estes condiciona- Não obstante a OAA e o INEJ ministrarem cur-
Estou certo de que este instrumento se adap- lismos há que acrescentar os casos de des- sos essencialmente práticos num período de
ta perfeitamente. A questão é que o seu cum- respeito pelas prerrogativas dos advogados 6 a 12 meses, creio que devemos ser mais exi-
primento depende da vontade, de princípios e abusos de poder. No entanto, temos alguns gentes ao nível das várias faculdades. Há que
morais e éticos fora do quadro profissional. bons profissionais, sérios e determinados. reformular as metodologias de ensino, rever
Isto acontece em todas as profissões. Há que as disciplinas e promover cursos de prós-gra-
criar mecanismos para a sua efectiva aplica- O actual número de profissionais é duação, em especial nas áreas económico-fi-
ção. De que servem os códigos se o sujeito não suficiente? nanceiras, bem como um maior investimento
está a fim de pautar a sua conduta nos ter- Não. Há províncias que, em termos práticos, na capacitação do corpo docente e na organi-
mos neles previstos, já que outros interesses não têm advogados. São pelos menos meia zação técnico-administrativa das instituições.
se levantam? dúzia delas, com centenas de milhares de ci- Quanto ao ensino privado, é preciso compati-
dadãos a necessitarem destes serviços. Mais bilizar a legitimidade em se obter rentabilida-
Os advogados cumprem o código de 90% dos advogados estão concentrados de económico-finaceira e a sua função social,
profissional? em Luanda. Benguela, Cabinda, Huambo e a formação de qualidade em benefício do de-
De uma maneira geral, apesar das dificulda- Huíla têm 10 a 20 advogados, outras detêm senvolvimento harmonioso, para responder
des objectivas e do individualismo exacerbado dois ou três. Um quadro desolador. É eviden- aos desafios da competitividade inerente à
que se vai promovendo, a maioria dos colegas te que existem regiões e áreas mais motiva- dita globalização.
vão pautando a sua conduta profissional e so- doras para os advogados. Estamos a falar da
cial de forma exemplar, cumprindo a lei e os capital, do eixo Benguela - Lobito, da Huíla,
princípios éticos e deontológicos da profissão. Cabinda e Huambo. Falamos das actividades Infra-estruturas
petrolíferas, do imobiliário, da banca, dos se- Quando se fala em infra-estruturas,
Há um combate efectivo à corrupção guros, das energias e das minas, sendo o cri- há que abordar a questão dos tribu-
entre a classe? me, a família e outras áreas do cível pouco nais e do seu funcionamento...
Na medida do possível, no plano pedagógico e apetecíveis. A advocacia de negócios prevale- Apesar do reconhecido esforço do Governo na
mesmo disciplinar. Num país em que a corrup- ce, o que é legítimo, mas como proteger áreas construção de novos edifícios para instalar
ção faz morada a quase todos os níveis, com menos “rentáveis”, contudo, indispensáveis? tribunais e seus equipamentos, como é o ca-
menor ou maior grau, é uma missão difícil, Temos o mecanismo da Assistência, que deve so do tribunal provincial de Cabinda, Namibe,
mas não impossível. Não só como dirigentes ser aperfeiçoado, em especial no que se refere Lobito, Ana Joaquina em Luanda e do futuro
da OAA, mas como cidadãos, assiste-nos o à remuneração dos seus advogados. palácio da Justiça, ainda estamos num estado
dever de desencadear este combate. lastimável na maioria das províncias. Há que
Há cada vez mais jovens motivados investir muito mais.
para a advocacia?
Formação Verifica-se um aumento de jovens interessa- Quais os edifícios que carecem de
Existem as condições necessárias dos em seguir esta carreira. Mas o número es- intervenção urgente e qual a inter-
para exercer a profissão? tá muito aquém das necessidades. A maioria venção da OAA?
Ainda não são as melhores. Muito temos que opta pela magistratura. Uma questão de “se- Quase todos. À Ordem apenas compete su-
fazer, no plano da formação, do profissiona- gurança”, já que a advocacia, nos termos em gerir, “pressionar” para que haja condições de
lismo, da dedicação e da vocação. As condi- que está consagrada em Angola, envolve al- trabalho dignas para todos, pois contribui pa-
ções de trabalho não são as melhores, devido guns “riscos”. Atrair novos membros tem sido ra o melhor desempenho profissional dos ad-
à inexistência de salas de advogados na maio- a luta da OAA. A maioria não o faz em regime vogados, em benefício dos seus constituintes
ria dos tribunais, às dificuldades de acesso à integral, com todos os inconvenientes ineren- e da sociedade em geral. Está ainda prevista a
informação em muitas instituições públicas, à tes da “advocacia de fim de tarde”. Os “advo- criação de tribunais municipais.

50 | ANGOLA’IN · GRANDE ENTREVISTA


E em relação aos meios técnicos?
Há carência de meios básicos de trabalho pa-
ra o pessoal dos cartórios e de informatização
dos serviços dos tribunais em geral, processo
que está a dar os primeiros passos.

Como está a decorrer esse processo de


informatização do sistema judicial?
Creio que estamos no bom caminho e a OAA
tem colaborado com o Ministério da Justiça
neste processo. A breve trecho teremos alcan-
çado os objectivos preconizados.

pontos quentes i
Parcerias
Qual o nível de relacionamento com “O acesso ao direito e à justiça em Angola ainda está muito aquém das metas que po-
o Ministério da Justiça? deremos considerar razoáveis. No entanto, já são notórios os esforços de mudança”
Até à data tem sido satisfatório. Iremos envi-
dar esforços para a consolidação e desenvol- “Num país em que a corrupção faz morada a quase todos os níveis, o seu combate é
vimento desta cooperação em benefício da uma missão difícil, mas não impossível”
justiça em geral.
“Há províncias que, em termos práticos, não têm advogados. Mais de 90% dos advo-
Quais as principais áreas de coope- gados estão concentrados na capital”
ração com esta entidade?
Fundamentalmente referem-se à assistência “A maioria dos jovens opta pela magistratura. A advocacia enquanto profissão liberal
judiciária e informatização da legislação, à re- por excelência envolve alguns “riscos”. Atrair novos membros tem sido a luta da OAA”
forma legislativa do sector e à promoção dos
meios alternativos de resolução de litígios.
Um dos projectos em comum é o da criação de Existem leis que necessitam de ser este processo. É apenas a minha opinião que,
condições físicas e a instalação de centros de adaptadas ao panorama actual? felizmente, ainda a posso ter e divulgar, uma
assistência judiciária (caso da cidade do Dun- Sim. No entanto, resta saber que panorama. conquista que luto, diariamente, pela sua
do, na província da Lunda Norte). Há que regulamentar de imediato a legislação preservação.
base do exercício de direitos fundamentais,
A Ordem tem parcerias com entida- em especial os de natureza política e cívica, Quais as entidades envolvidas na
des estrangeiras? como a lei de imprensa, das associações, sem- sua concepção?
Há alguns anos, com base no financiamento pre na perspectiva do efectivo exercício dos di- Este envolvimento foi alargado, por decisão
da União Europeia desenvolvemos um pro- reitos fundamentais dos cidadãos. legal, a toda sociedade, com destaque para as
jecto, tendo como finalidade a protecção dos organizações da sociedade civil e cidadãos, o
direitos humanos. A OAA trabalhou de forma que é positivo, numa perspectiva democráti-
activa e com resultados bastante positivos Constituição ca. É de louvar.
com o Escritório das Nações Unidas em Ango- Concorda com a necessidade de se
la para os Direitos Humanos. criar uma Constituição antes das Quais as principais matérias a in-
eleições presidenciais? cluir no documento?
É conveniente, mas não determinante. Em primeiro plano, os direitos fundamentais
Legislação dos cidadãos, com inspiração na Declaração
Quais as áreas que carecem de in- É urgente a sua aprovação? Universal dos Direitos Humanos e Tratados
tervenção urgente, em termos de re- Em meu entender, a urgência ou não depen- Internacionais subsequentes e os mecanis-
gulação legislativa? de das agendas e vontades dos políticos. O mos que contribuem para a sua efectiva pro-
A legislação de base terá que ser actualizada, a mais importante é a efectivação das leis. tecção e realização. A separação efectiva dos
exemplo do processo em curso relativo aos no- Mesmo com a actual constituição, desde que poderes e os princípios do artigo 159º da Lei
vos códigos do processo penal e laboral. A legis- haja determinação geral de cumpri-la, com Constitucional vigente também são essen-
lação relativa ao notariado e conservatórias, bem base no estrito cumprimento da lei e no res- ciais. Um texto constitucional mais claro, com
como a do código comercial datado de 1888, não peito pelos direitos fundamentais dos cida- um desenho da organização política adequa-
obstante a oportuna aprovação da lei das socie- dãos, digo que ela pode vigorar por muitos da aos princípios de um Estado democrático
dades comerciais são essenciais. A questão da anos, sem que se ponha em causa a estabi- que, em princípio, todos nós defendemos, é
lei sobre a prisão preventiva, as buscas e apreen- lidade política e as bases para o desenvolvi- uma boa base para alcançarmos os mais no-
sões deverão, em meu entender, ter um melhor mento e bem-estar social. O que deixei dito bres propósitos políticos, sociais, económicos
tratamento em sede do processo penal. não afasta a importância que tenho dado a e culturais.

GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 51


GRANDE ENTREVISTA

pontos quentes ii

“Não obstante o reconhecido esforço do Governo na construção de


novos edifícios para instalar tribunais e seus equipamentos, ainda
estamos num estado lastimável. Há que investir muito mais”

“Há falta de meios básicos de trabalho para o pessoal dos


cartórios e a informatização dos serviços dos tribunais em geral”

“Há que regulamentar de imediato a legislação base do exercício de


direitos fundamentais, em especial os de natureza política e cívica”

“Com a actual constituição, desde que haja determinação geral de


cumpri-la, ela pode vigorar por muitos anos, sem que se ponha em
causa a estabilidade política e as bases para o desenvolvimento”

“A economia de Angola é já uma das maiores economias africanas.


Muito tem que ser feito para que os indicadores económicos
reflictam o desenvolvimento harmonioso e não mero crescimento”

“É evidente que o quadro [respeito pelos Direitos


Humanos] vai melhorando. Mas ainda estamos muito
aquém daquilo que poderá ser tido como normal”

Progresso
Como encara o processo de recons- Foi vice-presidente e coordenador indirectamente ligada à estratégia política
trução nacional e o desenvolvimen- da Comissão dos Direitos Humanos da dita oposição, e isto tem o seu preço. Isto
to económico? e Acesso à Justiça. Que tipo de tra- vai passar. Leva tempo, mas há que ser op-
Há que ser realista e honesto. Os progressos balho foi desenvolvido? timista e lutar.
são visíveis, fundamentalmente no plano das Realizamos um conjunto de acções no âmbi-
infra-estruturas básicas, em termos quanti- to da promoção dos Direitos Humanos, com Como avalia o panorama da segu-
tativos. Podemos afirmar que a economia de destaque para a monitorização de unidades rança?
Angola é já uma das maiores economias afri- penitenciárias, a avaliação do grau de respeito Não avalio as questões de segurança e da
canas. Mas, muito tem que ser feito no plano pelos direitos dos detidos e a intervenção em criminalidade fora do contexto social. Com o
da justiça social, para que seja uma sociedade casos pontuais em processos judiciais. A mo- actual quadro, os índices poderiam ser mais
em que os indicadores económicos reflictam tivação dos advogados para este tipo de ad- elevados. Mas, isto não afasta a ocorrência
o desenvolvimento harmonioso e não mero vocacia é que é difícil. Neste mandato iremos de alguns crimes hediondos. Há que avaliar
crescimento. Esta posição não afasta o re- dar continuidade, mas numa perspectiva mais as causas da criminalidade e prevenir, sem
conhecimento dos grupos empreendedores, jurisdicional. prejuízo das acções de investigação e jul-
criadores de postos de trabalho e de riqueza gamento, nos termos da lei, defendendo os
honesta. O respeito pelos Direitos Humanos princípios da presunção da inocência e da
é uma realidade? defesa condigna. A OAA e os seus associa-
Esteve ligado ao Ministério da É evidente que o quadro vai melhorando. dos não estão indiferentes a esta situação
Energia e Petróleos e da Energia e Ainda estamos muito aquém daquilo que e têm feito o melhor. Sem pôr em causa a
das Águas. O país depende dema- poderá ser tido como normal, mormente no independência da profissão e da instituição,
siado do petróleo? que se refere aos direitos económicos e so- vão cooperando com outros órgãos da ad-
É um facto reconhecido por todos. Os poderes ciais. Existe em Angola um aspecto subjec- ministração da justiça, instituições públicas
públicos estão a fazer esforços para reverter es- tivo que condiciona a militância séria neste e da sociedade civil, em especial no que se
te quadro, em nada favorável a um desenvolvi- domínio – o de intencionalmente ou involun- refere à educação jurídica da sociedade e ao
mento sustentável. A aposta em outras fontes tariamente, alguns extractos sociais consi- desencadeamento das acções preventivas.
de energia é uma opção inquestionável. derarem estas acções como algo directa ou Estamos no bom caminho.

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GRANDE ENTREVISTA · ANGOLA’IN | 53
FOTO REPORTAGEM | ana rita rodrigues

MÃE NATURA
Envolta por montanhas no horizonte longínquo,
passeio-me por cenários de planícies douradas
e deixo-me seduzir por gazelas e manadas de oryx
desfilando ao longe na paisagem. Assim é o Parque
Nacional do Iona e Foz do Rio Cunene. Natural.
Nas profundezas do Parque, as tribos Muimbas
surpreendem-me pela sua genuinidade.
Cobertas de barro e peles de animais contemplam o
horizonte e fazem-me repensar a essência humana...

Em Angola e para Angola, o maior abraço do mundo


desde a Welwitschia... a maior do mundo!

texto + fotografias - Ana Rita Rodrigues

54 | ANGOLA’IN · FOTO REPORTAGEM


FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 55
FOTO REPORTAGEM

56 | ANGOLA’IN · FOTO REPORTAGEM


FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 57
FOTO REPORTAGEM

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FOTO REPORTAGEM · ANGOLA’IN | 59
TURISMO | patrícia alves tavares

viagemtro
Tanzânia

ao cenra
da ter seus visitantes pela
sua
A Tanzânia atrai os la evolução
anos, marcados pe
riqueza. Os últimos os
ci ed ad e e de to do s os sectores económic
da so aposta
m o sucesso da forte
e financeiros, revela os,
ri sm o. Co m po st o por mais de cem trib
no tu têm a
quenos grupos, que
o país conta com pe u, os
óp ri a cu ltu ra . Os árabes, a tribo Bant
sua pr liaridade
conferem uma pecu
europeus e asiáticos ,o
al a es ta na çã o, on de o inglês, o swahili
especi
ivem diariamente
alemão e o árabe conv

Lar de alguns dos mais antigos antepassados Tanganhica e Zanzibar, em 1964, após a inde- “Casa da Paz”
do Homem, com fósseis dos primeiros seres pendência do primeiro (em 1961). O seu pas- Dar es Salaam, que em árabe significa “Casa
humanos encontrados nas proximidades da sado histórico é uma das principais marcas da Paz”, é a cidade mais importante da Tanzâ-
Garganta de Olduvai, o norte da Tanzânia é culturais, que revelam influências das dife- nia, a mais vibrante de África e a verdadeira ca-
frequentemente apelidado de “berço da hu- rentes nações que por aqui passaram. O chefe pital do país (actualmente Dodoma é a oficial).
manidade”. Este facto constitui apenas uma de estado do país é o presidente Jakaya Ki- Esta localidade alberga uma mistura eclética
das muitas razões para descobrir este pa- kwete (desde 2005), enquanto Amani Abeid da arquitectura germânica, asiática, britânica
ís, limitado a norte pelo Uganda e Quénia, a Karume comanda os destinos de Zanzibar e swahili, reflectindo as influências do passado
leste pelo Oceano Índico, a sul por Moçambi- (desde o mesmo ano). A capital é Dodoma, colonial e da história recente. Próximo do Equa-
que, Malawi e Zâmbia e a oeste pela Repúbli- onde se concentram parte das instituições. dor e do quente Oceano Índico, este centro ur-
ca Democrática do Congo, Burundi e Ruanda. Dar es Salaam, antiga capital, alberga ainda bano é a área mais importante da Tanzânia,
Antiga colónia alemã (1880 – 1919) e britânica os edifícios públicos, embaixadas e o maior albergando os principais núcleos económicos e
(1919 – 1961), a Tanzânia resulta da fusão do aeroporto internacional do país. governamentais. A sua importância enquanto
pólo de negócios e ponto turístico obrigatório
PERFIL fez florescer o número de restaurantes inter-
nacionais, que se instalaram na cidade nos úl-
País: República Unida da Tanzânia (desde 1964) | Área: 945.087 km2 timos anos e captam o interesse dos viajantes
População: 40.213.162 hab. (em 2008) | Fronteira: Uganda, Quénia, pela diversidade gastronómica e pelos moder-
Moçambique, Malawi, Zâmbia, República Democrática do Congo, Burundi e nos hotéis de cinco estrelas, muito procura-
Ruanda | Capital: Dodoma | Cidade mais populosa: Dar es Salaam dos pelos turistas que desejam umas férias de
Moeda: Shilling tanzaniano e dólar norte-americano | Idiomas: Inglês e luxo. As praias a norte de Dar es Salaam são
Swahili | Vacinas: Febre-amarela e profilaxia da malária | Documentos: outro motivo sedutor. Muitos turistas não dis-
Passaporte, visto válido por seis meses, carta de condução internacional, pensam uma passagem pela Península e pela
boletim de vacinas e seguro de viagem Ilha de Kigamboni, em que a praia mais próxi-
ma da capital é Oyster Bay.

60 | ANGOLA’IN · TURISMO
Zanzibar
A ilha acolhe uma das cidades mais turísticas
da Tanzânia, Stone Town ou “Cidade de Pedra”.
Aqui concentra-se grande parte do país, onde
impera o turismo de praia, o sol e a aventu-
ra. Terra natal do famoso cantor e compositor
Freddie Mercury, a parte antiga da região, que
alberga a capital, está classificada como Patri-
mónio Mundial. As zonas costeiras guardam
parte da história nacional, alternando entre
passado e futuro. Zanzibar é o contraste da
Tanzânia verde, das savanas e dos safaris. A
região é o destino perfeito para quem procu-
ra férias repletas de luxo, tranquilidade, sol e
conforto. As praias isoladas são sem dúvida as
mais atraentes de África. Os hotéis garantem
uma estadia despreocupada, onde pode prati-
car windsurf, kitesurf e mergulho nos corais,
numa experiência inesquecível. As paradisía-
cas praias de Zanzibar, decoradas pelos reci-
fes de corais (ricos em diversidade marinha),
razões para visitar a tanzânia
são recortadas pelas vilas de pescadores, que
Praias selvagens e não urbanizadas, águas quentes e tropicais, turismo de
mantêm o seu tradicional estilo de vida. Não
natureza e safaris, ambiente e cenários exóticos são excelentes motivos para
existe grande variedade de animais selvagens
incluir este país na lista de viagens a concretizar. Os hotéis das cidades, as pou-
na ilha e as áreas florestais são habitadas por
sadas, casas e villas proporcionam o conforto aos turistas ávidos de aventura e/
pequenos antílopes e macacos. As palmeiras
ou descanso. Apenas o clima pode constituir uma desvantagem, pois é árido e
são abundantes e óptimas para uma pausa
pode por vezes tornar-se insuportável
à sombra. Além do mais, são extremamente
úteis para a população, que retira delas uma
infinidade de produtos. requisitados, pois os visitantes não dispen- está limitado aos veículos de tracção às qua-
sam a oportunidade de conhecer ao vivo as tro rodas. É proibido sair das viaturas, fazer pi-
Oportunidades turísticas paisagens e espécies, que habitualmente en- queniques, deitar lixo e alimentar os animais.
A Tanzânia oferece-lhe a possibilidade de contram apenas na televisão, nos programas Na savana, passeiam-se manadas de zebras,
desfrutar umas férias recheadas de sol, bom de vida selvagem. gnus, gazelas e búfalos, que coabitam com os
tempo e inseridas nos maiores tesouros na- leões, que controlam a zona das águas. Hie-
turais do país. As formas de entretenimento Último paraíso animal nas e abutres pairam sob a cratera, conside-
são diversas. Pode alugar um barco e percor- Ngorongoro é o local ideal para observar num rada reserva de caça para os leopardos, chetas
rer a distância entre Dar es Salaam e a ilha de único dia um microcosmos da África Orien- e chacais. É esta sobreposição territorial entre
Zanzibar ou fazer o percurso pela costa ou pe- tal. Localizado a norte, junto à fronteira com os animais que mais surpreende os turistas. O
los lagos do interior, como é o caso do Lago o Quénia (a cerca de três horas da cidade de Ngorongoro é o refúgio do rinoceronte preto,
Tanganica ou Lago Victoria. As grandes cida- Arusha), é muitas vezes apelidado de “a cra- uma das espécies africanas mais ameaçadas
des de Dodoma, Dar es Salaam ou Arusha e a tera da Arca de Noé”. Este local é refúgio para de extinção. A melhor época para se deslocar
capital de Zanzibar (Stone Town) são pontos presas e predadores, que vivem num perfei- a esta zona é a estação seca (Maio a Novem-
de excelência para uma tarde de compras. A to equilíbrio e que se mantêm a salvo da in- bro), período em que o clima é mais ameno,
estas características juntam-se os inúmeros tervenção humana. A velha caldeira tem dois com temperaturas a oscilar entre os 14/ 18ºC
cantos arqueológicos, em que o vale do Rift milhões e meio de anos e possui uma área de (mínimas) e 30/ 34ºC (máximas). Contudo,
alberga parte da história e cultura nacional, 326 quilómetros quadrados e cerca de 20 de há a necessidade de se preparar convenien-
não esquecendo a Garganta Olduvai e a zona diâmetro. Aí, está reunido um ecossistema temente para este tipo de safaris. Sacos de
de Laetoli. Nestas regiões de beleza natural, o ímpar, que recebe as migrações sazonais e viagem maleáveis, roupas desportivas e de
turista tem a possibilidade de praticar despor- favorece a reprodução das mais diversas es- cores claras, botas de “trekkink” ou “randon-
tos ao ar livre, como caminhadas, mountain pécies. A melhor imagem que descreve este née” e chapéu são indispensáveis, bem como
bike, escalar o ponto mais alto de África - o Ki- achado natural é o lago do Ngorongoro, po- óculos de sol, cantil, canivete suíço, bolsa de
limanjaro, ou passear pela Serengeti National voado por centenas de milhares de flamingos primeiros socorros, repelente para insectos,
Park. Os apreciadores de praias paradisíacas rosa, que encobrem a presença de aves como protector solar e binóculos. Se desejar registar
encontram no Oceano Índico uma infinidade a íbis e os gansos do Egipto, a marabous, as o momento pode levar máquina fotográfica
de possibilidades, em que o mergulho é a ac- garças e as cegonhas europeias. O acesso à e câmara de vídeo, embora não possa captar
tividade mais procurada. Os safaris são muito cratera segue as regras do parque natural e imagem em todas as zonas.

TURISMO · ANGOLA’IN | 61
TURISMO

Flora única
A maioria dos espaços naturais da Tanzânia
oscila entre as savanas e as florestas no sul,
centro e oeste. Na fronteira com o Uganda e
Quénia, ergue-se uma das florestas mais co-
nhecidas e que circunda o Lago Victoria. A
savana arbustiva do norte, a zona de Seren-
geti, a área arborizada do sul e os arbustos do
centro do país são muito procurados, pela sua
beleza e imponência. Nas áreas que fazem A origem da humanidade
fronteira com o Quénia e nos picos das zonas Nas terras em Olduvai Gorge são visíveis as
montanhosas, os visitantes deparam-se com marcas da passagem dos primeiros seres hu- Sabia que... jaro atrai mais de 25
mil
vegetação abundante, pastagens e florestas, manos. Aí foi encontrada a mais antiga pega- A subida do Kiliman metros
ssui mais de 5.900
derivados de um clima mais húmido. Quanto da humana. Os restos encontrados indicam pessoas por ano. Po tos
aladas. Os mais ap
à fauna, o Parque Nacional Serengeti, em Se- que por esta região africana passaram ante- de caminhadas ou esc un tai n bik e,
tar pe lo mo
rengeti, alberga a maior parte da diversidade passados, como o homem Australopitecos, fisicamente podem op
riência única
animal da região, onde encontrará girafas, le- com mais de três milhões de anos e que mui- que oferece uma expe
ões, leopardos, aves de rapina, elefantes, ri- tos consideram tratar-se do primeiro Homem
nocerontes, muitas espécies de macacos, no planeta. A Tanzânia surge ainda associada
zebras e uma grande variedade de espécies ao movimento mercantil, tendo sido ponto
selvagens. Este espaço protegido é partilhado de passagem para os comerciantes, que na-
pelo Quénia, que tem uma pequena parte do vegavam no Oceano Índico e desembarcavam
país vizinho. As principais áreas protegidas da nestas terras para comprar marfim e vender guia de dar es salaam
Tanzânia são o Parque Nacional de Serenge- especiarias.
O QUE FAZER E VISITAR:
ti, o Parque Nacional de Tarangire e o Parque
› Museu Nacional da Tanzânia: onde
Nacional Ruaha. Por outro lado, os visitantes Crescimento galopante encontrará os fósseis encontrados em
têm ao seu dispor as reservas naturais Ngoro- O desenvolvimento económico da Tanzânia é Olduvai Gorge
goro, Selous ou a Reserva Natural ou Nacional uma marca de confiança. Nos últimos cinco
› Mercado de Arte Mwenge: descubra os
de Katavi. O Parque Nacional de Kilimanjaro anos, o país conseguiu uma média de cresci- trabalhos e desenhos dos artistas locais
destaca-se pela sua altitude, que alcança qua- mento anual acima dos sete por cento, graças
› Mercado Kariakoo, pelas suas cores,
se os seis mil metros. Ao passar pela Tanzânia a uma profunda reforma política e económica, produtos exóticos e têxteis, confeccio-
não pode perder outras áreas naturais, deten- que tem vindo a ser aplicada. Devido ao com- nados localmente
toras de beleza única, como são o caso do La- promisso governamental e à reforma macroe-
› Entre as ruas Índia e Indira Gandhi
go Vitória, do Lago Tanganica e de algumas conómica, a nação encontra-se no caminho do Street encontra os melhores restauran-
zonas partilhadas com outros países. desenvolvimento sustentável. tes da África Oriental, nomeadamente
nas ruas Jamhuri, Zanaki, Kisutu e
Mkunguni
› Jardins botânicos
› Ruínas Kaole, em Bagamoyo, a uma hora
de viagem, a norte de Dar es Salaam

animação nocturna co
nstant e
Os dois grandes desti
nos turísticos, Dar es
Zanzibar são os princ Salaam e a Ilha
ipais centros da vid
duas cidades têm est a nocturna. As
ruturas hoteleiras,
cas, onde poderá pa que têm discote-
ssar uma noite agrad
boa música e muita ável, ao som de
festa

62 | ANGOLA’IN · TURISMO
TURISMO | patrícia alves tavares

suficiente na produção de alimentos. Expor-


tam cana-de-açúcar e albergam importantes
reservas de carvão. A sociedade é patriarcal e
formada por clãs.

Cidade tranquila
A capital Mbabane é a maior cidade da Sua-
zilândia, com perto de 50.000 habitantes. A
localidade é o cenário perfeito para descansar,
devido ao sossego preponderante. A Galeria
Indingilizi vende artesanato tradicional, tendo
aí a possibilidade de apreciar alguns excelen-
tes trabalhos de artistas nacionais contempo-
râneos. As principais atracções localizam-se
no vale adjacente de Ezulwini. Lobamba é o
abrigo do Palácio do Estado Embo e um dos
pontos turísticos. É a capital real e legislati-
va do país. Nesta cidade, descobrirá o Museu
Nacional, com interessantes exposições e
boa parte da cultura Swazi. Ali encontra uma
vila tradicional beehive. Nas proximidades do
museu, estão localizados o Parlamento e o
Memorial ao Rei Sobhuza II. Nas redondezas,
está erguida a Vila Cultural Swazi, composta
pelas cabanas beehive e onde pode assistir às
apresentações culturais.

Os melhores safaris
No vale de Ezulwini (paraíso, na língua suazi),

r ação
Suazilândia
situa-se a velha casa da família Reilly, o ponto

no co
de partida para conhecer parte da Suazilândia,
especialmente as três reservas da vida selva-
gem. A Mkhaya Game Reserve é uma das mais

da savana
procuradas. Os seis mil hectares são compos-
tos essencialmente pela savana e pela planura
sulcada por rios secos. A fauna é composta por
múltiplos exemplares do rinoceronte branco,
várias espécies de antílopes, impalas, girafas,
palancas e elefantes. Os safaris são realizados
em jipe aberto, organizados pela administração
do parque e que permitem aos turistas olhar de
perto para crocodilos, pequenos mamíferos e
aves de rapina. Os safaris e alojamentos neces-
A Suazilândia distingue-se de todos os destinos pela sua sitam de reserva antecipada. Existem ainda os
singularidade. É um dos países mais pequenos de África e safaris a pé, pensados para os adeptos das ca-
a sua tranquilidade ilustra qualquer cartão-de-visita pelos minhadas e que são organizados pelo amanhe-
locais relaxantes que proporciona. É a última monarquia cer ou anoitecer, para uma melhor apreciação
absolutista africana e simultaneamente um dos rostos das espécies junto das fontes de água. Além
mais amáveis do continente das visitas às reservas e à aldeia de Manten-
ga, os aficionados de aventuras na montanha,
encontram na reserva natural de Malolotja, no
Pequeno e montanhoso, é o palco de férias por Moçambique e África do Sul, o país não Highveld, cerca de 200 quilómetros de trilhos
com que qualquer aventureiro, apreciador de tem saída para o mar, mas em contrapartida com diversos graus de dificuldade, repletos de
um safari inesquecível, sonha. Situada em oferece uma panóplia de planaltos cobertos florestas de altitude, espécies botânicas raras
pleno pulmão da África Austral, a Suazilân- por savanas e pastagens. As suas capitais são e fauna diversificada (águias, zebras, impalas e
dia é uma das poucas monarquias remanes- Mbabane (administrativa) e Lobamba (legis- gnus). Aí desfrute das Malolotja Falls, as casca-
centes no continente. Os motivos para visitar lativa) e a economia assenta na agropecuária, tas mais altas do país, com quase uma centena
esta região são mais que muitos. Limitado embora o reino da Suazilândia não seja auto- de metros de altura.

64 | ANGOLA’IN · TURISMO
À LUPA
Capital: Mbabane
ti
Idioma: inglês e siswa
Área: 17.364 km2
5 (2002)
População: 1.123.60
uia Parlamentarista
Governo: Monarq
Ecoturismo de excelência Nacionalidade: Suazi
A diversidade paisagística é a imagem de Moeda: Lilangeni
marca do território suazi. Cada parque possui
características e ecossistemas únicos, embora
existam muitos habitats comuns para certas
espécies. A ocidente, os visitantes encontram
o Highveld, uma região marcadamente mon-
tanhosa, onde coabitam o verde das densas
matas e os cursos de água e algumas casca-
tas. O Middleweld abrange os vales com maior
densidade populacional (é o caso do vale de
Ezulwini), uma vez que a área é menos aci-
dentada. Na metade leste, o turista não pode
deixar de passar pelo Lowveld, devido à sua
paisagem que contrasta com o resto de ter-
ritório e onde surgem os cenários da savana
africana. Aliás, nestes dois últimos ecossiste-
mas encontram-se as três reservas mais im-
portantes da vida selvagem do país: Mlilwane
Game Sanctuary, Mkhaya Game Reserve e
NÃO ESQUECER
A moeda nacional é o Lijangeni (plural Emalangeni), que possui
Hlane Royal National Park (associados ao pro-
paridade com o Rand sul-africano. Os pagamentos podem ser
jecto Big Game Parks, que engloba os três par-
efectuados com ambas as moedas, existindo a possibilidade de levantar
ques nacionais e duas reservas naturais). Mli-
dinheiro em caixas automáticas
lwane apresenta-se como a mais antiga área
protegida da Suazilândia. Poderá descobrir
este território a pé ou a cavalo, visto que a sua
fauna é composta principalmente por várias Rural, que comercializa peças de excelente guia do viajante
espécies de antílopes (incluindo alguns rarís- qualidade, confeccionadas pelas artesãs da A Suazilândia partilha fronteiras com
simos, como o frágil antílope azul), impalas, região. Os trabalhos em cestaria merecem a África do Sul e Moçambique. Portan-
zebras, búfalos, girafas e pássaros de todas as igualmente destaque, devido à sua capacida- to, a melhor forma de chegar ao país
espécies. O único aviso vai para as áreas junto de inventiva, perfeição e mistura de técnicas. é através de Moçambique. Após o de-
aos lagos, em que os caminhantes não devem O mercado de Manzini deve fazer parte da sembarque, a fronteira fica a cerca de
ultrapassar os limites de aproximação, pois aí agenda de quinta-feira de qualquer turista. Ali uma hora de Maputo, pelo que as boas
condições da estrada e a simplificação
encontram-se os habitats dos crocodilos e dos encontram peças de artesanato, provenientes
das formalidades na fronteira, permi-
hipopótamos. do reino da Suazilândia, das regiões da África
tem ao turista chegar ao centro da Su-
Austral, bem como dos vizinhos Moçambique azilândia em cerca de duas horas. Caso
Passeios alternativos e África do Sul. A viagem vale pela descober- pretenda viajar entre Junho e Setem-
Para os viajantes que não abdicam de uma ta das vendedoras das terras de Maputo, que bro, deverá estar preparado para en-
ida às lojas e gostam de comprar objectos que falam português e adoram partilhar histórias frentar a estação seca, em que as bai-
simbolizem as regiões por onde passam, o de vida com os visitantes. Em termos gastro- xas temperaturas podem descer abaixo
vale de Ezulwini é o destino mais apreciado. nómicos, distinguem-se as variedades de pra- dos 10 graus. Entre Novembro e Maio,
A localidade oferece atractivos diversos, dos tos, preparados com base em carnes com mi- os termómetros sobem (no Lowveld ul-
quais se destacam as velas decorativas das lho e curries. Um dos produtos mais populares trapassam os 40 graus) e os aguaceiros
Swazi Candles (com motivos faunísticos afri- é o bunny chow (fogaça de pão com carne), as tropicais são frequentes. Os cidadãos
da União Europeia não necessitam de
canos), os batuques da Baobab Batik (dispõe espigas assadas e os camarões. Nos principais
visto para a Suazilândia. Porém, para
de explicações sobre as técnicas de fabrico ar- hotéis e restaurantes, estão disponíveis refei-
chegar a Moçambique este é exigido
tesanal) e o artesanato da cooperativa Gone ções mais ocidentais. aos turistas europeus

TURISMO · ANGOLA’IN | 65
ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO | patrícia alves tavares

Quando
ESPECIAL - HABITAÇÃO DE BAIXO CUSTO

menos
é mais

Habitação de custo controlado significa estandardização. A redução de reciclagem acima da média, uma vez que o
do número de operações exigidas no processo simboliza menos des- investimento incentiva os moradores a cuidar
do seu espaço. Responsável pela descida dos
perdícios e reconstruções. A simplificação do método, sem descurar custos de construção, a tecnologia SEB (Sta-
a qualidade resulta em diminuição de custos. É isto que torna este bilized Earth Brick) recorre ao aproveitamento
método de construção tão atractivo para os Governos que desejam dos materiais retirados do solo e é bastan-
resolver o problema da habitação. A Angola’in apresenta-lhe os bene- te usada internacionalmente, sobretudo pe-
fícios do novo sistema e a forma como o sucesso da implementação la empresa Low Cost Housing International.
do primeiro projecto pode constituir uma mais-valia para a execução Os tijolos de terra estabilizada são duráveis,
mais resistentes perante catástrofes natu-
da meta governamental de criar um milhão de casas até 2012 rais (não necessita de nenhum produto para
solidificar) e muito procurados por países que
precisam de fabricar anualmente milhões de
casas a baixo custo, já que é possível produzir
O modelo apresentado pela Opway-Angola preços das casas, devido aos elevados custos a matéria-prima no local onde decorre a obra.
não é novidade. Enraizado em quase todas das terras, e para criação de espaços de quali- O sistema SEB é barato, torna o edifício mais
as partes do globo, é aplicado com frequência dade, com recurso a materiais nacionais (cus- eficiente energeticamente e está disponível
em certos países africanos, que têm a possi- to da obra diminui e preço final da habitação em larga quantidade, permitindo que uma
bilidade de desenvolver habitação (para ven- desce). Nesta edição, a Angola’in mostra-lhe pessoa não especializada (com a ajuda de um
da ou arrendamento) de qualidade e a baixo ao pormenor tudo o que precisa saber sobre a único técnico) consiga erguer a sua casa. A
custo para o construtor e consumidor final. chamada habitação de baixo preço. tecnologia, frequente nos EUA, foi sugerida
A Angola’in descobriu que o método é usual por dois especialistas portugueses, que con-
na Europa e EUA, sendo aplicado em econo- Inovador sideram Angola o país indicado para a criação
mias como a Índia, Filipinas ou Paquistão. No A habitação de custo controlado tem uma das chamadas ‘casas de terra’, tema aborda-
caso angolano, a criação de habitação de bai- componente social interessante, já que incen- do pela Angola’in numa das suas edições. O
xo custo pode ser a solução para duas ques- tiva à interacção entre os habitantes de cada solo nacional é vasto e fértil, pelo que muitos
tões que preocupam o Executivo: a criação em comunidade, que são convidados a participar técnicos acreditam que este sistema pode ser
tempo útil de um milhão de casas em quatro no processo. A qualidade dos espaços é sal- aplicado na construção civil nacional, baixan-
anos e a especulação imobiliária. A doação de vaguardada e tem vindo a ganhar força. Em do os custos de edificação e a importação de
terrenos estatais para este fim é um incenti- Inglaterra, em termos energéticos, estas ca- cimento e materiais de construção, um dos
vo para os construtores - que inflacionam os sas são as mais eficientes do país, com níveis principais handicaps do sector.

66 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


“Os tijolos de terra ções de taxas e impostos, aconselhamento, Orçada em 43 mil meticais, tem uma durabili-
apoio público e técnico e vários serviços) e das dade estimada de 50 anos.
estabilizada são agências de voluntariado e de financiamento.
duráveis e muito Até à data foram abrangidas mais de 400 co- O estratega
procurados por países munidades, que beneficiaram directamente A primeira iniciativa do género foi apresenta-
mais de 18 mil pessoas. da recentemente. A sua implementação pode
que precisam de significar o início de uma nova modalidade de
fabricar anualmente “O maior banco construção e a revolução do mercado habita-
milhões de casas a da África do Sul
cional nacional. A massificação deste plano é
útil para travar o alastramento dos musseques
baixo custo” comprometeu-se a que promovem a exclusão social. O projecto

Realidade mundial disponibilizar 100.000 foi apresentado na 7ª edição da feira Constrói-


Angola 2009. Desenvolvido pela luso-angola-
O conceito constitui parte da responsabili- casas de baixo custo na Opway-Angola, depois de implementado,
dade social dos governantes, desde a déca- até 2010” permitirá erguer uma casa em apenas um dia.
da de 80. As mudanças sociais obrigaram a As futuras habitações, segundo adiantou o ad-
repensar os métodos de construção e surgi- Adesão africana ministrador da empresa Vital Segurado, cus-
ram as casas adaptadas às carências econó- África não foge à tendência. O crescimento tor- tam entre os 40 e 100 mil dólares (consoante
micas dos habitantes. Organizações públicas na urgente dispor de mecanismos de combate o tipo de material escolhido pelo cliente) e se-
e privadas desenvolveram as primeiras co- à pobreza e exclusão social, em que o repentino rão detentoras de tipologia T2, T3 e T4, confe-
operativas e, mais tarde, as casas de cus- crescimento das cidades está a gerar assime- rindo a possibilidade de cumprir os objectivos
to controlado, que permitiam, através da trias sociais abismais. O maior banco da África governamentais, com um custo que rondará
doação de terrenos (mediante acordos go- do Sul, o ABSA comprometeu-se a disponibili- os 50 mil dólares por unidade, “respondendo
vernamentais), a edificação de habitações zar 100.000 casas de baixo custo até 2010. Em a padrões de qualidade elevados com baixos
estandardizadas e a custo menor. O modelo, colaboração com o Ministério da Habitação e custos”. As habitações propostas são de fácil
que permite a integração dos diversos estra- com os organismos locais e provinciais, a en- montagem, lembrando a dinâmica lego, o que
tos da sociedade, é muito usual na Europa. tidade contribuiu com R2,6 biliões, com o ob- possibilita a sua “rápida execução” e não exige
Na Dinamarca, os principais beneficiários são jectivo de desenvolver no mínimo um projecto a importação de materiais. “Cada equipa terá
os idosos e incapacitados. Na Finlândia, são para cada província, dando continuidade a um capacidade para deixar uma casa acabada no
abrangidos os pensionistas e estudantes, memorando de entendimento com o governo espaço de um dia”, anunciou Vital Segurado,
enquanto na Grécia e Suécia são os idosos. sul-africano, que se traduziu num investimen- sustentando que a celeridade do processo es-
Em todas as situações, impera o regime de to de R42 biliões para incremento das habita- tá relacionada com a aplicação de tecnologias
rendas comparticipado pelo Estado. ções de custo controlado. Em Moçambique, a simples, mas “mantendo padrões de confor-
fase piloto do projecto está em fase de teste e to e qualidade internacionais”. A execução do
Sucesso no Malawi decorre no povoado de Chidevele, na província plano aguarda a decisão dos promotores, ou
Exemplo da melhoria da qualidade de vida de Maputo, local onde foi erguida uma casa T2. seja, das autoridades estatais.
das populações, sobretudo as rurais, a “Habi-
tat for Humanity” trabalha em parceria com
as comunidades locais e com o Governo. Ca- “As casas da
da área carenciada elege um comité, que têm Opway-Angola
uma palavra a dizer desde o planeamento à
implementação do plano. A construção conta serão detentoras
com o trabalho de voluntários da comunida- de tipologia T2,
de. O sucesso está na participação dos bene- T3 e T4, com um
ficiários no processo de edificação, que vêem
diminuído o preço a pagar pela casa. A média custo que rondará
de construção é de dez residências por mês. os 50 mil dólares
Contudo, à medida que o trabalho se vai de- por unidade,
senvolvendo ao nível da comunidade, o nú-
mero de beneficiários cresce, contribuindo “respondendo
para isso o intercâmbio de conhecimentos e a padrões de
as parcerias locais - todos colaboram em de- qualidade
terminada fase do plano. A quantia que cada
família paga pela sua habitação é canalizada elevados com
para a criação de mais casas dentro da co- baixos custos”
munidade e é a base da sustentabilidade. A
“Habitat for Humanity” conta com o apoio
de organizações internacionais, dos governos
(oferecem infra-estruturas, terrenos, isen-

ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN | 67


ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO BREVES | patrícia alves tavares

materiais indústria
Governo combate Novas empresas de
especulação exploração da madeira
Higino Carneiro, ministro das Obras Públicas, A crescente procura de madeira no mercado
garante que o Governo está empenhado em nacional levou António Rui da Silva, director
desencorajar a especulação dos preços dos técnico da Panga Panga, a anunciar a criação
materiais de construção, com o intuito de faci- de mais empresas de exploração e serração.
litar a aquisição de habitações de baixa renda. A reconstrução nacional tem fomentado o
O responsável revelou que existem equipas recurso a estes produtos, cuja fraca produ-
específicas que estão a trabalhar na fiscali- ção tem obrigado os empreiteiros a procurar
zação e regularização da actividade e respec- a importação. A empresa, gerida pela Socie-
tivos preços, para que os cidadãos consigam dade de Gestão Empresarial, não consegue território
adquirir os produtos a preços acessíveis. O fazer face ao elevado número de pedidos, pe- Ordenamento
ministério planeia inserir o Programa de Re- lo que sugere a entrada de novas entidades recomendado
estruturação do Sistema de Logística e Distri- no ramo. O responsável propõe a elaboração O governo da província de Huambo deve de-
buição dos Produtos Essenciais à População de novas parcerias entre empresários nacio- senvolver uma estratégia de ordenamento do
(Presild) no plano de comercialização dos ma- nais e estrangeiros para fomentar a produção território, preservando o antigo e inovando os
teriais de construção civil, prevendo-se que interna. “Isto vai permitir à indústria trans- usos e costumes da população local. A reco-
com esta iniciativa as famílias terão a possi- formadora reorganizar-se e revitalizar a sua mendação foi divulgada durante a primeira
bilidade de erguer as suas casas em regime de produção, tornando o material mais barato conferência provincial sobre urbanismo e habi-
auto-construção dirigida. para o consumidor”, sustentou. tação. A região tem a seu cargo a urbanização
de 49.200 lotes de terreno para a construção
de habitações durante o quadriénio 2009/
2012. Os participantes acreditam que é urgen-
te a adopção de políticas de ordenamento do
território, que deverão passar pelos planos di-
rectores municipais, urbanísticos e de lotea-
mento, bem como projectos que envolvam a
requalificação e realojamento das áreas afec-
tadas. Durante a conferência foi proposta a
aplicação dos princípios do governo provincial,
de modo a que os futuros empreendimentos
reservem uma cota mínima de 35% de super-
fícies para áreas verdes e de lazer.
construção civil
investimento
Inertes nacionais registados
O Ministério da Geologia e Minas pretende proceder ao registo da origem dos Fábrica de tintas no Centro
inertes nacionais, de modo a reduzir o preço do produto na área da construção O Ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro, anunciou a
civil. A acção está incluída no Programa Nacional de Inventariação dos Recursos construção de uma fábrica de tintas e vernizes, localizada no
Minerais e possibilitará a actualização dos dados relativos ao mercado nacional pólo industrial da Caála (Huambo). A empreitada arranca em
de construção e produção de matérias-primas de origem mineral. A execução 2010, ano em que a província do Kwanza Sul vê nascer uma
do projecto contribuirá para a localização das áreas de exploração, bem como a unidade fabril de revestimentos (mosaicos). Os novos centros
avaliação dos referidos recursos, que se destinam à construção civil e indústria de produção vão, de acordo com o ministro, estimular a imple-
transformadora, assegurando desta forma o objectivo governamental de recons- mentação do programa habitacional e promover a criação de
truir as infra-estruturas nacionais. O projecto compreende a indicação de áreas novos postos de trabalho. A unidade de Caála terá capacidade
de reservas para extracção de inertes nos planos directores de ordenamento do para produzir 50 mil tijolos por dia e será a primeira de 40 fá-
território a nível da província, município e comuna, de modo a evitar conflitos. bricas, que futuramente vão ser edificadas no pólo industrial.

68 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO | patrícia
manuelaalves
bártolo
tavares

FARMÁCIAS

MÉDICOS
DO BAIRRO
“O objectivo fundamental é o de servir os des-
tinatários de saúde”, esclareceu José Pascoal,
director da Angomédica, em declarações ao ‘O
País’. O sector farmacêutico prepara-se para um
novo desafio, após o período de solidificação e
de controlo da qualidade dos estabelecimentos.
A meta consiste em travar a circulação de medi-
camentos adulterados e diminuir o número de
importações, através da produção interna. Ana-
lisando a capacidade dos meios técnicos e huma-
nos, o dirigente insiste para que o país “tenha
disponíveis os medicamentos que os angolanos
precisam, não aqueles que às vezes nos chegam
por razões meramente mercantilistas”

É uma das áreas mais estratégicas do sector comendações da OMS”. Em entrevista ao ‘O Conselho de Ministros, desde 2005 e permi-
da saúde. A indústria farmacêutica renas- País’, o responsável alegou que se está a “de- tirá reestruturar a actividade. A Companhia
ce num período em que é crucial controlar a senvolver uma lógica empresarial que assen- das Farmácias, uma das principais redes a
qualidade dos medicamentos. Perante estes ta num elevado nível de profissionalização”, operar na província de Benguela, é encara-
desafios, José Pascoal, médico e director ge- pelo que dispõe de “quadros profissionais da por muitos como exemplo de boa gestão
ral da Angomédica, está empenhado em re- treinados” e identificaram “um parceiro tec- e sucesso. Com duas farmácias abertas ao
erguer o gigante farmacêutico, que deverá nológico e científico externo que vai proceder público, trabalha ainda na vertente de im-
abastecer o mercado nacional com os fárma- à validação dos processos de fabrico e certifi- portação de material médico e hospitalar.
cos considerados essenciais. A empresa está cação do controlo e da garantia da qualidade”. Fornecedora de serviços públicos e privados
a desenvolver um laboratório de controlo de O objectivo “essencial” da entidade consiste em Angola, a entidade venceu o concurso
qualidade, que possa travar a entrada de me- em “satisfazer as necessidades básicas em público de abastecimento de medicamen-
dicamentos suspeitos e testar fármacos, cujo medicamentos essenciais para a saúde dos tos essenciais para o primeiro quadrimestre.
desconhecimento fazem os utentes duvidar angolanos”. O médico assegura que possui A empresa, além da importação e comercia-
dos seus efeitos. O desafio está na criação de uma estrutura capaz de produzir em quan- lização de medicamentos, dedica-se ao seu
uma fábrica de produção interna. tidade suficiente para atender as necessida- fabrico, produzindo pomadas, xaropes e so-
des internas, detendo na área da produção luções externas, possuindo para o efeito um
Renascer do gigante médicos, farmacêuticos, químicos e técnicos laboratório farmacotécnico. Por outro lado, o
A Angomédica tem um papel decisivo no de- de laboratório. correcto funcionamento dos espaços tem si-
senvolvimento da indústria farmacêutica, do assegurado pelas sucessivas inspecções.
que depende excessivamente das importa- Espaços adequados As equipas são multi-sectoriais, compostas
ções de medicamentos e necessita urgen- Luanda possui 31 farmácias oficiais. De acor- por representantes da Saúde, Finanças e Em-
temente de incrementar a produção interna, do com os registos, até Março do último ano prego. No caso de Luanda, a verificação dos
de forma a evitar a contrafacção de fárma- existiam 560 espaços com autorização pa- espaços é regular. A organização e aprovisio-
cos. A empresa, segundo José Pascoal, “foi ra laborar durante um ano. Em todo o país namento dos medicamentos são os pontos
totalmente reestruturada de acordo com os encontravam-se habilitados e autorizados a mais visados, pelo que os inspectores estão
conceitos tecnológicos pelas boas práticas exercer a profissão 114 farmacêuticos. O no- atentos à organização dos produtos, rotula-
de produção e tendo em consideração as re- vo pacote legislativo está em avaliação pelo ção invisível e desordem nos armazéns.

70 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


O parceiro
Em Maio, assistiu-se à formalização de diver-
sos acordos entre a empresa portuguesa In-
farmed e uma plataforma de colaboração com
organismos do Ministério da Saúde e com a
Direcção Nacional de Inspecção e Investiga-
ção das Actividades Económicas (DNIIAE). O
compromisso foi firmado em 2008 e incluiu
a formação integrada de quadros humanos
e das autoridades angolanas. A parceria, em
matéria de medicamentos, envolve o apoio
regulamentar e científico, disponibilizado pe- de stocks. A Política Nacional Farmacêuti-
lo Infarmed (enquanto entidade responsá- ca permitirá complementar o vazio legal que
vel); o apoio académico, da responsabilidade existe em relação a esta matéria. A Direcção
das Faculdades de Farmácia e Medicina e o Nacional de Medicamentos e Equipamentos
apoio operacional a cabo da Indústria Farma- terá como funções regular a actividade, gerir
cêutica. a aplicação das disposições administrativas,
técnicas e normativas do sector e autorizar
A Central de Compras a comercialização dos fármacos após avalia-
ção e consentimento do ministério. Apesar de
e Aprovisionamento ainda não estar aprovado oficialmente, o do- centro de investigação
em saúde
de Medicamentos visa cumento foi aprovado em 2001. Em fase de
garantir o acesso das projecto, encontram-se ainda a Lista Nacio- O Projecto CISA promete
nal de Medicamentos Essenciais e o Formulá- revolucionar as entidades
populações a produtos rio Nacional de Medicamentos. farmacêuticas internacionais.
seguros e ao preço O novo centro destina-se
mais baixo possível Ainda este ano, a fábrica a relançar a discussão em
da Angomédica deverá torno das chamadas “doenças
Medicamentos fiáveis arrancar com a produção negligenciadas”, como a úlcera
Recorde-se que a entrada de medicamentos de soros, pomadas e
no país, seja para o sector público ou priva- de Buruli, doença de Chagas,
do, é regulada pela Inspecção Geral de Saú-
supositórios. Para 2010, cólera, dengue, dracunculíase,
de em coordenação com a Direcção Geral das está agendado o início trepanomatose, entre outras.
Alfândegas e de uma empresa privada que da produção de outros Estas afectam mais de um
inspecciona todos os produtos que entram medicamentos bilião de pessoas em todo
no território nacional pelos portos e aeropor-
tos. A colaboração do Infarmed com o DNIIAE o mundo, segundo a OMS.
tem sido benéfica no âmbito da disponibili- Para os países em situação
zação de resultados científicos fiáveis e cre- precária, estas doenças
díveis, permitindo uma actuação mais célere são o principal entrave ao
no terreno e junto dos tribunais. Foi o caso desenvolvimento. A pensar
da “Operação Manvip 2008”, em que o auxílio
na situação nasceu o CISA,
do Infarmed permitiu apreender cerca de três
toneladas de medicamentos contrafeitos. Já que deverá estar a funcionar
o Governo está a elaborar um plano nacional em pleno em 2010. O projecto
para a actividade farmacêutica, que inclui a tem como finalidade captar a
fiscalização regular. Uma das medidas foi atenção e os investimentos das
a criação de uma Central de Compras e comunidades internacionais
Aprovisionamento de Medicamentos,
para a escassez de tratamento
que visa garantir o acesso das popula-
ções a produtos seguros e ao pre- destas doenças. Baseia-se
ço mais baixo possível. A entidade em três pilares: investigação
tem autonomia financeira e admi- científica, formação de
nistrativa, sendo tutelada pelo Mi- recursos humanos e melhor
nistério da Saúde, esperando-se que prestação de serviços de saúde
possa garantir aquisições transparen-
tes e uma gestão eficaz, evitando a ruptura

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 71


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

Novo impulso SABIA QUEo..d.os Profissionais boratório de referência PCR, com a finalidade
Um dos projectos mais importantes do In- A Associaçã a única
de fazer testes em tempo real. A medida, que
de Angola é
farmed é a criação de um laboratório de nível de Farmácia o Estado, coloca o país ao nível dos europeus e america-
nhecida pel
1 para servir Angola e os países centro-afri- entidade reco ri a nos, foi divulgada após a reunião da Comissão
o é obrigató
canos. Foi igualmente celebrado um acordo cuja inscriçã ti co s, Interministerial para a Prevenção da doença.
farmacêu
com a Inspecção Geral de Saúde, que visa a para todos os os b ásicos “O envio de amostras para o exterior chegou
ios e técnic
formação de futuros inspectores e aquisição técnicos méd a . A ao fim, porque o nosso laboratório já tem so-
a Assofarm
de conhecimentos sobre os procedimentos de registados n ainda luções para passar a confirmar no país”, con-
rmacêuticos
licenciamento das actividades. Vasco Maria, Ordem dos Fa ti n d o uma firmou o responsável, em finais de Setembro.
ação, exis
presidente do Infarmed, aproveitou a visita está em form O ministro revelou que o espaço está dota-
aladora
à unidade fabril da Angomédica e incenti- comissão inst do dos equipamentos técnicos necessários e
vou a direcção a avançar com a exploração que se procedeu à formação de técnicos nesta
dos meios existentes, uma vez que “as ins- matéria. A montagem do laboratório esteve
talações são amplas” e “têm os equipamen- ao cargo de um técnico da África do Sul (país
tos adequados”. “Penso que deve ser urgente onde se efectuaram as primeiras análises an-
a reactivação desta única fábrica de medica- golanas) e o ministério conta ainda com a co-
mentos de Angola, para a produção de drogas laboração de empresas de telecomunicações,
de primeira linha, no quadro das necessida- que estão a informar os utentes sobre os cui-
des da população”, frisou o responsável. Por dados a ter, através de SMS.
seu turno, Susana Pedro Maria, directora ad-
junta da Angomédica, mostrou-se disponível
para “colaborar com o Infarmed, sobretudo
na área laboratorial, uma vez que o nosso
objectivo é fornecer medicamentos de qua-
lidade e seguros”. Para tal, as entidades de
saúde contam com as equipas fiscalizadoras,
que têm intensificado a actividade junto das
farmácias. Ainda este ano, a fábrica da An-
gomédica deverá arrancar com a produção de
soros, pomadas e supositórios. Para 2010, es-
tá agendado o início da produção de outros
medicamentos.

Laboratórios testam origens


Uma das principais actividades laboratoriais
das entidades nacionais consiste na avaliação
dos medicamentos que entram no território
nacional, que permitem análises mais pro-
fundas aos fármacos. É o caso do já referido
acordo entre o Infarmed e a DNIIAE, que pre-
vê uma estreita colaboração e apoio na criação
do futuro laboratório de controlo de qualidade
PANDEMIA ENCARADA COM CAUTELA
A gripe H1N1, que começou no México e rapidamente se alastrou a
e serviço de registo de medicamentos, bem
praticamente todos os países, está a gerar uma onda de preocupações.
como dos centros fármaco-vigilância e de in-
A OMS acredita que o pior ainda está para chegar. O panorama
formação farmacêutica. José Pascoal, da An-
angolano é por enquanto favorável. Existe até ao momento o registo
gomédica, esclareceu que o laboratório presta
de 13 infectados, em Luanda, Bengo e Benguela. A evolução dos
serviços de apoio e análise da matéria-prima e
pacientes é positiva e ainda não há registo de óbitos. O Ministério da
está ao dispor de todos. O espaço conta com
Saúde já anunciou que o país irá receber 1,8 milhões de vacinas. A
assistência técnica do “Laboratório Bial”, de
directora Nacional de Saúde Pública, Adelaide Carvalho, revelou que
Portugal, possuindo materiais de extrema fi-
foram desenvolvidos desdobráveis com “informações sobre a existência
delidade capazes “de detectar impurezas co-
da doença, assim como das medidas simples para evitar o contágio,
mo a dioxina”. No caso da Gripe A (ver caixa),
como lavar as mãos com água e sabão”, que estão ao dispor de todos
enquanto as principais farmacêuticas interna-
os angolanos. O vírus é transmitido pelo ar, de pessoa para pessoa,
cionais unem esforços no desenvolvimento de
através de gotículas de saliva, e ainda por contacto das mãos com
uma vacina eficaz, Angola prepara-se igual-
objectos e/ ou superfícies contaminadas. O período de incubação é de
mente para lidar com uma eventual pande-
sete dias e os principais sintomas são febre, tosse, dores nos músculos,
mia. O ministro da Saúde, José Van-Dúnem,
falta de ar e, nalguns casos, vómitos e diarreia.
anunciou recentemente que foi criado o la-

72 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 73
INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO | patrícia alves tavares

AGRICULTURA SOB
INVESTIGAÇÃO
As metas estabelecidas pelas Nações Unidas durante a Cimeira ce-ministro da Agricultura, Zacarias Sambeny,
de 2000, relativamente ao respeito dos objectivos de desenvolvi- a organização da área de investigação agrária
permitirá a médio e longo prazo gerar, adaptar
mento do milénio, exigem um combate eficaz e efectivo à fome e
e transferir tecnologias que propiciem a segu-
à pobreza. O sector agrário é determinante e, nesse sentido, os rança dos alimentos e consequente nutrição
centros de investigação são fulcrais para cumprir as exigências e saúde das famílias. Durante a Conferência
internacionais e garantir a auto-suficiência alimentar dos ango- Nacional sobre o sector, que este ano abordou
lanos, bem como o acesso equitativo a alimentos seguros e de qua- o tema da investigação agrária, o responsá-
lidade. A recuperação e criação de 16 espaços são as apostas. vel manifestou o seu optimismo em relação à
aposta nos centros de investigação, que per-
mitirão adaptar e transferir as novas tecnolo-
O Ministério da Agricultura, no âmbito de deste ano mais de 20 por cento, contribuindo gias para a optimização da produção, no que
uma profunda reorganização e modernização decisivamente para este ritmo os investimen- concerne à cultura de alimentos e criação de
do sector, está, desde o início do ano, a rees- tos na reconstrução de perímetros irrigados e animais. Por outro lado, de acordo com os res-
truturar os centros de investigação e política nos centros de investigação. “A meta que pre- ponsáveis governamentais, o investimento em
agrária. O Governo pretende implementar es- vemos é de dois dígitos, portanto acima dos locais de estudo, que deverão estar a funcionar
tratégias que definam modelos para a sua in- 20 por cento”, frisou, em declarações aos jor- em pleno em 2012, vai tornar viável a utilização
vestigação e para a formação de 30 técnicos nalistas. A modernização das infra-estrutu- sustentável dos recursos naturais, sendo pos-
por ano. As medidas, incluídas no Plano Na- ras de apoio tem, de facto, contribuído para o sível coordenar, promover e estimular acções
cional, visam o relançamento do sector e a re- aumento do rendimento das culturas e para a de investigação agrária, por parte das organi-
vitalização de uma área determinante para o melhoria da qualidade das sementes. A inclu- zações públicas e privadas, bem como da so-
desenvolvimento económico nacional. Assim, são destas medidas no Orçamento Geral do ciedade civil, que vão contar com a colaboração
está prevista a reconversão e reestrutura- Estado e no Plano Nacional do Governo tem de organizações internacionais congéneres, no
ção de 16 centros de investigação agrária (até como finalidade garantir a segurança alimen- âmbito da troca de experiências. O programa
2012), que serão dotados de equipamentos tar, questão que passa pela aposta nos secto- de fomento da investigação agrária inclui a
eficazes e a reabilitação de quatro estações res agrícola, da pesca e da indústria. instalação de 16 centros nacionais, que vão ser
no Huambo, Waku Kungo, Malange e Uíge. espalhados por diversos pontos do país. Para
Melhor qualidade alcançar as metas estratégicas, o ministério
Sustentabilidade A modernização do sector agrícola é o meio tem em curso um conjunto prioritário de Pro-
O investimento na agricultura será deter- mais eficaz para alcançar uma produção inter- gramas Nacionais de Investigação, com vis-
minante para o crescimento desta área da na suficiente para satisfazer as necessidades ta a adquirir a auto-suficiência em alimentos
economia. Ana Lourenço, Ministra do Plane- e, até, para exportar. É o caminho mais viável e matérias-primas e a criação de excedentes
amento, anunciou no final do último ano que para alcançar a tão desejada qualidade e se- para os mercados internacionais, permitindo
o sector agrícola deverá crescer até ao final gurança dos produtos alimentares. Para o vi- o desenvolvimento sustentável da agricultura.

74 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


“O programa de fomento Portugal é parceiro golana, que poderá entrar no mercado da
da investigação agrária Empenhado em manter um relacionamen- União Europeia, composto por 450 milhões
inclui a instalação de 16 to de cooperação com Angola nos mais di- de consumidores.
versos níveis, o Governo português mostrou
centros nacionais, que
total abertura para formar técnicos nacionais Campanha 2009/ 2010
vão ser espalhados por nos institutos de investigação de Portugal. A As associações e cooperativas de campone-
diversos pontos do país, garantia foi dada pelo ministro português da ses vão receber 1,7 milhões de dólares em
até 2012” Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, crédito, cujo financiamento está a cargo do
Jaime Silva que, durante a última visita ao pa- Banco de Desenvolvimento Angolano (BDA).
Experiência brasileira ís, afirmou haver disponibilidade para enviar O apoio, inserido na preparação da campanha
Detentoras de larga experiência na investi- investigadores para Angola. Os investimen- agrícola 2009/ 2010, destina-se à compra
gação agrária, em Maio, a Empresa Brasilei- tos portugueses neste sector são escassos. de fertilizantes, tractores e outros produtos
ra de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a “Há apenas duas empresas na área do leite, agrícolas. O ministro da Agricultura, Afon-
Universidade Federal de Viçosa (UFV) mani- em parceria com os angolanos e outra na área so Pedro Canga espera que, com a entre-
festaram a sua disponibilidade para cooperar das aves, em função daquilo que é a poten- ga dos novos meios, os agricultores possam
com o Ministério da Agricultura angolano e cialidade de produção em Angola”, explicou, “enriquecer e elevar os níveis de produção e
assumem-se como parceiros na reestrutura- adiantando que pretende importar a partir de melhorar a qualidade da dieta alimentar na
ção do Instituto de Investigação Agronómica Angola açúcar, café e outras matérias-primas. região”. “Acreditamos que as acções serão
de Angola (IIA), fornecendo conhecimentos O responsável lembra ainda que a possibilida- executadas para podermos, no fim da cam-
e recursos humanos. O IIA conta com um in- de de exportação para Portugal constitui uma panha, termos os níveis de produção aumen-
vestimento governamental de 32 milhões excelente oportunidade para a economia an- tados”, manifestou.
de dólares americanos e está a seguir o sis-
tema Embrapa, que este ano deverá colocar
em funcionamento quatro dos 16 centros de
pesquisa. A quantia vai financiar as áreas da
bic financia agricultura
cooperação internacional, que incluem a for-
O Banco Internacional de Crédito está a financiar pequenos e grandes projectos agrários. O
mação de técnicos nacionais, a contratação de
presidente do Conselho de Administração, Fernando Teles, acredita que o investimento neste
consultoria e a assistência técnica. Os primei-
ros centros de investigação a iniciar activida- sector é útil para a diversificação da economia. Reconhecendo que a produção nacional deve
des estarão localizados no Huambo (Estação ser fomentada, uma vez que se importa desnecessariamente muitos produtos alimentares,
Experimental Agrícola de Chianga, apostando o dirigente explica que “é importante apoiar a população no geral que tem um rendimento
no milho e feijão), em Malange (Estação Ex- mais baixo, através de uma aplicação denominada Crédito de Campanha, permitindo assim
perimental de Malange estuda a mandioca, às pessoas semearem e posteriormente pagarem aos bancos em função das suas colheitas”
batata doce e amendoim), na Huíla (Estação
Zootécnica do Lay, destinada a caprinos e ovi-
nos) e no Kwanza (gado de leite). Para a mate-
rialização do programa serão necessários 500
investigadores, contra os actuais cem. “Este
ano já contratamos 20 pessoas, que deverão
actuar nos centros de pesquisa a serem ins-
talados”, esclareceu o vice-ministro Sambeny.
Assim, a segunda etapa deste projecto visa a
supressão do deficit de mão-de-obra para es-
tas áreas de pesquisa, através da qualificação
dos trabalhadores, graças à colaboração da
UFV, que vai dispor de pós-graduações para
os pesquisadores. O programa de cooperação
visa igualmente acções de formação de curta
duração para os técnicos angolanos nas uni-
dades da Embrapa.

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 75


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO BREVES | patrícia alves tavares

fibra óptica
Cabo interliga rede terrestre
“Adones” é a denominação do sistema de cabo submarino de fibra óptica, que interliga
a rede nacional terrestre de telecomunicações, de Cabinda ao Cunene, orçado em 80 mi-
lhões de dólares. O mecanismo está finalizado, faltando apenas a sua exploração comer-
cial. Actualmente, está em curso o estudo da inserção do trajecto do cabo de fibra óptica
nas cartas marítimas, para que as companhias de navegação conheçam o local exacto por
telecomunicações
onde passa o cabo, para se evitar a sua destruição.
Ministério projecta
tecnologia concurso rede privativa
O ministro das Telecomunicações e Tecnolo-
Coordenar a investiga- Fábrica de vidro gias de Informação, José Carvalho da Rocha,
ção científica no Kikolo acredita que o desenvolvimento de uma rede
Um novo mecanismo que facilita o intercâmbio A FVK (Fábrica de Vidros do Kikolo) foi re- privativa de tecnologias de informação per-
entre as instituições de investigação científica centemente inaugurada pelo ministro da In- mite interligar a administração central e lo-
foi apresentado recentemente pelo Ministério dústria, Joaquim David. A nova indústria tem cal, agregando uma panóplia de serviços. A
da Ciência e Tecnologia. O objectivo consiste como objectivo de colmatar as necessidades ideia foi proferida durante um workshop, em
em reforçar o processo de educação e formação de materiais, pois o ‘boom’ na construção civil Benguela, onde o governante anunciou que a
profissional, dotando-o de capacidade científi- originou uma forte procura destes produtos. província poderá ficar interligada administra-
ca e tecnológica. Por outro lado, o novo sistema A fábrica recorre a tecnologia inovadora e o in- tivamente ainda este ano. Outra das vanta-
contribui para o desenvolvimento de um méto- vestimento em Know How tem como finalida- gens do projecto, segundo Carvalho da Rocha,
do de pesquisa e inovação integrada, dinâmica de garantir a qualidade, inovação, flexibilidade está no combate à info-exclusão, uma vez
e de elevada qualidade, facilitando a dissemi- e controlo de risco. Aliás, estes são os princí- que a novidade contribuirá para o desenvolvi-
nação e comunicação do conhecimento científi- pios que regem o funcionamento da empre- mento da sociedade de informação. Por outro
co e tecnológico. “Neste âmbito, para dar maior sa, que garante conseguir dar uma resposta lado, o ministro assegurou que, até ao final
valor à actividade científica, vai desenvolver-se eficaz aos clientes mais exigentes. O espaço de 2009, a rede de vigilância sísmica e mete-
a capacidade inovadora, traçando sinergias e está especializado na produção de vidro tem- orológica será reforçada em todo o território,
elaborando um plano de coordenação para po- perado, duplo, laminado e apresenta como va- com uma estação meteorológica automática
der aproveitar o processo de reconstrução na- lências os serviços de corte, furos, polimento em cada capital provincial. Ainda na vertente
cional”, explicou fonte do ministério. de arestas, entalhes, moldes, entre outros. A das tecnologias, o Governo deverá aumentar
aposta nestes serviços é uma mais-valia, pelo o número de linhas telefónicas (fixa e móvel),
que a fábrica conseguiu captar clientes profis- investindo na qualidade das comunicações.
sionais e particulares.

cooperação
UNESCO e Mincit reforçam parceria
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura vai apoiar o Ministério da Ciência e
Tecnologia, uma vez que se trata de uma área importante para atingir os objectivos do milénio. A garan-
tia foi dada pelo director regional da Unesco, Alaphia Wright. Os dois responsáveis abordaram a possi-
bilidade de trabalharem em conjunto na área “O Homem e a biosfera”. “A Unesco tem uma experiência
mundial muito vasta, o que o torna num colaborador importante para o país, porque essa experiência vai
ajudar no progresso das ciências e tecnologia”, destacou Alaphia Wright. Já a ministra angolana Cândida
Teixeira revelou que “na área de ciência e tecnologia está previsto para final de Novembro a calendariza-
ção do plano de trabalhos de 2010/2011, daí que vamos cooperar para desenvolvermos projectos nesta
área, onde a Unesco tem muita experiência”, disse.

76 | ANGOLA’IN · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO


INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · ANGOLA’IN | 77
DESPORTO | patrícia alves tavares

A modalidade de atletismo não diz respeito apenas à


resistência. Ela integra essa capacidade com a habilidade
física, sendo por esse motivo considerada o desporto-base
para testar todas as características básicas do Homem

ÁFRICA

Reis das pistas


Os Jogos Olímpicos de Pequim elucidam os lano), João Costa (tiro com pistola; angolano), mais plausíveis para justificar este fenómeno.
mais cépticos e revelam a destreza física dos Marco Fortes (lançamento de peso; ascendên- Por razões genéticas, os africanos orientais
africanos e afro-caribenhos. A lista de países cia cabo-verdiana), Naíde Gomes (salto em possuem, predominantemente, fibras mus-
medalhados em 2008 retrata a superioridade comprimento; são-tomense), Sandra Tavares culares lentas, mais adequadas para correr
dos atletas de raça negra: a Jamaica conquistou (salto com vara; ascendência cabo-verdiana) e longos percursos e os afro-caribenhos apre-
11 medalhas (seis de ouro), seguem-se o Qué- Nelson Évora (ouro no triplo salto; ascendência sentam uma maior incidência de fibras rápi-
nia, com 14 troféus (cinco de ouro), a Etiópia cabo-verdiana e marfinense). das, o que lhes permite serem bons velocistas.
(sete medalhas), o Zimbabué (quatro meda- No caso da África Ocidental, o menor desen-
lhas), os Camarões e a Tunísia (uma medalha Supremacia negra volvimento do atletismo é associado ao factor
de ouro cada), a Nigéria (quatro medalhas), a A questão que muitos colocam consiste nas emigratório, que levou as populações a fugir
África do Sul e o Sudão (uma medalha de prata razões por detrás da preponderância dos ne- da guerra e da pobreza rumo a outros conti-
cada), entre outros. Há que recordar ainda os gros em relação aos brancos, em modalida- nentes, onde as crianças acabam por desen-
atletas negros que participaram nas equipas des como o atletismo. Os casos do Quénia e volver os seus talentos. A polémica é antiga
das nações onde nasceram. Muitos america- da Etiópia sustentam que o ambiente é deter- e muitos não excluem a intervenção conjun-
nos representam as cores dos EUA, mas são minante para o sucesso. Estes países ofere- ta das componentes “ambiente” e “biologia”.
descendentes de africanos e possuem o talen- cem as condições ideais para a formação dos Aliás, esta possibilidade foi admitida pelo re-
to da sua raça. O mesmo acontece na Europa. atletas das corridas de fundo, isto é, as zonas cordista mundial da maratona, o etíope Haile
Veja-se o caso de Portugal, que apresentava rurais de elevada altitude, com temperaturas Gebrselassie, que durante os Jogos de 2008
entre os 77 atletas da comitiva olímpica, nove moderadas todo o ano e sem grandes estradas respondeu de forma taxativa aos jornalistas:
nascidos em África ou com ascendência afri- por perto incentivam as crianças a desenvolver “Os africanos têm um dom. Somos muito do-
cana: Afonso Domingos (vela; moçambicano), as suas capacidades desportivas, já que adqui- tados para correr. Especialmente no Quénia e
Edivaldo Monteiro (400 m barreiras; bissau- rem o hábito de correr os muitos quilómetros na Etiópia (pelo menos no que às corridas de
guineense), Francis Obikwelu (100 m e 200 m; que separam as aldeias das escolas. Porém, longa distância diz respeito). A área onde vi-
nigeriano), Hélder Ornelas (maratona; ango- muitos defendem a biologia como explicações vemos, a comida, a temperatura, a altitude...

78 | ANGOLA’IN · DESPORTO
tudo. Além disso, quando vamos para uma
corrida nos grandes eventos não há indivíduos,
o que interessa é o trabalho de equipa. E, se se
tem tudo, porque não fazer algo com isso?”

África globaliza atletismo


Lamine Diack, presidente da Federação Inter-
nacional de Atletismo (IAAF), acredita que o
continente africano, que albergará o Mundial
de Futebol de 2010, se assumirá como a plata-
forma de lançamento, para tornar o atletismo
num desporto verdadeiramente global. Numa
entrevista concedida à ‘Reuters’, o dirigente
afirmou que África seria o local ideal para aco-
lher o campeonato mundial bienal. “Queremos
distribuir eventos de um dia através do mun-
do, um programa de encontros de um dia em
África, na América, na Oceânia e na Ásia. Que-
ro dar aos atletas europeus a possibilidade de
ir e competir em estádios abertos em África,
no início da temporada”, manifestou. Os ad-
ministradores das modalidades temem que a joão ntyamba, o símbolo
principal modalidade dos Jogos Olímpicos seja Detentor de um currículo invejável, o atleta João Ntyamba é o ícone do atletismo nacional,
demasiado eurocêntrica. Diack considera o ca-
assumindo actualmente a vice-presidência da federação. O novo cargo é o concretizar de
so do futebol como um exemplo positivo e o
um sonho para o atleta, que deseja trabalhar para o crescimento da modalidade. O corredor
marcar de uma nova era no desporto, em ge-
participou em seis olimpíadas, bem como em cinco edições do IAAF World Championships
ral. “Vinte anos atrás ninguém diria que África
teria um Mundial de Futebol”, comentou, mos- Athletics, sendo sempre o melhor angolano classificado. Recentemente participou nas 10
trando convicção de que no futuro o mesmo km Tribuna FM, no Brasil, competição da qual se tornou tricampeão e alcançou sempre
vai acontecer em modalidades como o atle- os primeiros lugares. Nascido numa tribo no interior de Angola (Nganguelas), João
tismo. O presidente da IAAF admite que para Ntyamba iniciou-se no desporto em Luanda, onde jogava futebol. Com 14 anos foi para
impulsionar a exposição mundial do atletismo, Portugal à procura de um lugar no Benfica, mas o dom do atletismo falou mais alto e o
há que simplificar e encurtar as competições, ícone da modalidade enveredou por esta carreira, que lhe valeu alguns títulos. Em 2001,
de modo a que se tornem mais atractivas para venceu duas competições importantes: Medellin Half Maraton e Rio Half Maraton
as transmissões televisivas.

Legado de Owens último Campeonato do Mundo de Atletismo, a ser edificados para albergar a competição de
Há 73 anos, Jesse Owens fez história no Es- no qual os atletas americanos competiram futebol, serão dotados de pistas para a prática
tádio Olímpico de Berlim. Em 1936, nos Jogos com as iniciais JO bordadas no equipamento, da modalidade, que enfrenta como principais
Olímpicos, o norte-americano tornou-se no enquanto descendentes de Owens entrega- entraves para o crescimento as escassas ver-
primeiro atleta de raça negra a conquistar qua- ram as medalhas no salto em comprimento. bas e infra-estruturas obsoletas e desadequa-
tro medalhas de ouro (100 metros, 200 me- das. É o caso da província da Huíla, em que a
tros, 4X100 metros e comprimento) perante CAN relança modalidade construção do novo estádio e a reabilitação de
a incredulidade de Adolf Hitler, desafiando a Os dirigentes angolanos encaram o CAN como três espaços, no âmbito do CAN, suscitou a sa-
propaganda da superioridade ariana. A sua fi- uma mais-valia para a divulgação do atletismo, tisfação do presidente da Associação Provin-
gura e o seu legado foram homenageados no uma vez que a maioria dos estádios, que estão cial de Atletismo, Pedro Ndala. O responsável

ernestina paulino, a revelação


Atleta do 1º de Agosto, Ernestina Paulino é uma das corredoras mais temidas, na categoria de femininos. Ela detém o actual recorde
nacional, ao ter terminado os 10 mil metros de pista em 35 minutos e 58 segundos, nas provas organizadas pela Federação Angolana
de Atletismo (FAA), que decorreram em Agosto, no Estádio dos Coqueiros. A atleta federada conseguiu ultrapassar a anterior marca
de 37 minutos e 21 segundos, conquistada em 2001 por Alda Maurice (Interclube), no Namibe. O secretário-geral da FAA, Mota
Gomes considerou o feito como uma viragem na modalidade e o início de uma era de resultados positivos. Ernestina Paulino, de 24
anos, já se tinha evidenciado na sétima prova pedestre, organizada pelo clube que representa, ao classificar-se na primeira posição,
com 34 minutos e três segundos. A jovem ocupa o 35º lugar no ranking da Federação Internacional de Atletismo (IAAF World)

DESPORTO · ANGOLA’IN | 79
DESPORTO | patrícia alves tavares

afirmou publicamente que as obras vão per- hierarquização das modalidades permiti-
mitir o relançamento da modalidade na região. rá criar indicadores dos desportos que mere-
O estádio principal e as estruturas da Senhora cem especial atenção e protecção, que sejam
do Monte, Benfica e Ferroviário serão dotados considerados capazes de atingir mais rapida-
de pistas com piso de tartam. “A província já mente medalhas e que devido ao seu historial
tem mostrado um bom trabalho, mesmo a la- provam que podem competir com “bastante
borar nas condições actuais. Agora com as no- dignidade”, apresentando potenciais de cres-
vas condições que estes estádios vão oferecer, cimento dentro de um espaço temporal. De
sem dúvida, no próximo ano, vamos ter atletas acordo com o líder olímpico, Gustavo da Con-
com performances melhoradas, para o bem do ceição, além do futebol, do andebol e do bas-
atletismo nacional”, enunciou, revelando que quetebol, existe um conjunto de modalidades
com as novas infra-estruturas os atletas vão individuais que podem atingir altas perfor-
abandonar as pistas de cinza, o que se traduzi- mances. Assim, citou como exemplo o atle-
rá numa melhoria das suas performances des- tismo que nesta fase não é prioridade pelos
portivas. resultados desportivos, mas pela sua essên-
cia. “O atletismo é a base de todas as outras
Intervenção prioritária modalidades, porque todos correm e saltam
Encontra-se no ranking das modalidades que e o atletismo só leva isso a níveis técnicos e
necessitam de intervenção prioritária. O ande- de performance de excelência”, frisou. O Di-
bol encabeça a lista, divulgada pelo Ministério rector Nacional de Desportos, Raimundo Ri-
da Juventude e Desportos, que define aque- cardo, elogiou recentemente, em declarações
les que merecem maior atenção no âmbito da à Angop, o trabalho que tem sido desenvol-
olimpíada 2008/ 2012. O atletismo surge em vido pelo presidente da Federação Angolana
quarto lugar, num estudo que tem como fina- de Atletismo, Carlos Rosa, especialmente no
na boca do mundo
lidade orientar as modalidades para a adopção que concerne à procura de apoio dos governos
Ele é jamaicano e saltou para o da estratégia de desenvolvimento desportivo, provinciais para a massificação da modalida-
estrelato ao bater todos os recordes com vista a participar nos Jogos Olímpicos de de. Reconheceu ainda que os dirigentes deste
no Mundial de Atletismo de Berlim. 2012. O ministério tenta ordenar os despor- desporto possuem “um rico programa” de tra-
Ela tornou-se campeã nos 800 metros tos, de acordo com a exiguidade de recursos balho para o desenvolvimento, pelo que care-
e a necessidade de serem rentabilizados. A cem ainda de muitos apoios financeiros.
do último campeonato do mundo. Os
dois atletas são exemplos do talento
dos negros para o atletismo. Usain
Bolt é considerado pelos analistas
como o maior velocista de todos os
tempos. Actual campeão olímpico
e mundial, tem 23 anos e é detentor
dos recordes mundiais nos 100 e
200 metros rasos, sendo que no
primeiro estabeleceu os últimos três
recordes, conseguindo a proeza da
superar-se a cada competição que
passa. Caster Semenya, sul-africana,
medalha de ouro nos femininos,
surpreendeu todos ao bater todos
evolução do atletismo
O atletismo designa todas as actividades desportivas, realizadas individualmente
os máximos (da competição e
ou entre equipas, que incluem corridas, marcha atlética, lançamentos e saltos.
individuais). A conquista esteve
A modalidade assume-se como o evento chave dos Jogos Olímpicos desde a era
envolta na polémica. Os exames
antiga. Em 776 a. C., Corobeus, de Atenas, tornou-se no primeiro e mais antigo
podem revelar que a jovem de 18
herói do atletismo, ao ganhar a prova de velocidade nos 192 metros de pista
anos é pseudo-hermafrodita, pelo
improvisada. Após um interregno de 1400 anos, os Jogos Olímpicos regressaram a
que se colocam importantes questões Atenas (Grécia), repartidos em 26 provas masculinas e 23 femininas. O atletismo
quanto à participação da atleta em é até hoje uma das principais modalidades e das mais disputadas. A pista oficial
próximas competições femininas tem um formato oval e é dividida em oito raias de 400 metros de extensão

80 | ANGOLA’IN · DESPORTO
DESPORTO · ANGOLA’IN | 81
DESPORTO ||patrícia
patríciaalves
alvestavares
tavares

Sangue
novo
em campo
A OMS destaca a
relevância do desporto
pelo seu contributo para
a saúde física, mental e
social, para a capacidade
funcional e bem-estar de
indivíduos e comunidades

Os africanos assumiram, ao longo dos últimos Vencer fora de casa


anos, o domínio de várias modalidades. O de- São presença assídua das competições des-
senvolvimento económico e social tem contri- portivas da CPLP. Este ano, o desempenho BENEFÍCIOS ribui
idade física cont
buído para a criação de infra-estruturas e para dos atletas nacionais nos Jogos da Lusofonia, A prática de activ
elhoria
inante para a m
a formação de profissionais capazes de prepa- que decorreram em Portugal, revelaram que o de forma determ
S, o des-
rar novos talentos. Angola não escapa à mas- trabalho desenvolvido junto da massificação ordo com a OM
da saúde. De ac atura,
sificação do desporto e as camadas jovens são do desporto e da criação de condições para a co de morte prem
exemplo do bom e árduo trabalho, que tem formação e crescimento das camadas jovens porto reduz o ris desen-
ença cardíaca, de
sido desenvolvido por todas as entidades. Os é bem sucedido. O certame tem como funda- de morte por do
rtensão
diabetes e hipe
atletas nacionais com menos de 20 anos têm mento a sensibilização para a prática desporti- volvimento de ção da
uindo para a redu
dado provas de que são capazes de elevar o va das crianças e jovens. Angola arrecadou 14 arterial, contrib a no
dade. É uma ajud
desporto angolano para os rankings mundiais. medalhas (quatro de ouro), distribuídas pelas depressão e ansie to dos
As acções governamentais, por outro lado, têm modalidades de basquetebol, judo, atletismo, , no fortalecimen
controle do peso omo-
tido um peso fundamental. Em colaboração futebol, futsal e taekwondo, alcançando a ter- e articulações, pr
ossos, músculos
com as associações e federações desportivas, ceira classificação na tabela de países. r psicológico
têm contribuído para a formação de campeões vendo o bem-esta
nos juniores e juvenis, fazendo augurar um fu- Talento confirmado
turo recheado de medalhas. A promoção do Prova das potencialidades dos mais novos é
desporto, enquanto actividade profissional e o andebol, nomeadamente no que concerne
federada, conduziu a Assembleia Nacional a à formação feminina. A selecção nacional da
votar recentemente a favor de uma resolução modalidade em cadetes femininos sagrou-se­
que aprovou a adesão de Angola à Convenção campeã em Setembro, ao conquistar a primeira cana, revelando que este desporto tem capa-
Internacional da Unesco contra a Dopagem no edição do Campeonato Africano da categoria. cidade para liderar as provas internacionais. O
Desporto, possibilitando a reunião das condi- Com este resultado, as juniores apuraram-se basquetebol merece destaque, pois os angola-
ções necessárias para combater este proble- directamente para o Campeonato do Mundo nos são soberanos desde muito pequenos. Aos
ma, que atinge o território nacional. de 2010, a disputar-se na República Domini- recentes deca-campeões africanos juntam-se

82 | ANGOLA’IN · DESPORTO
crianças recebem formação no inter
As crianças do projecto polidesportivo “Dom Bosco Inter
Campus” vão beneficiar de acções de formação no Inter de
Milão (Itália) e de um lote de material do clube. A iniciativa
insere-se no programa “Inter Campus África” e capacitará
monitores, treinadores e professores para trabalhar com
crianças necessitadas. O plano foi apresentado pelo responsável
italiano Massimo Seregni, durante a apresentação da equipa
infantil angolana, que representará o país na primeira edição
da Copa do Mundo Inter Campus em Futebol, em Itália

os jovens das formações, que vão somando al- Viana. Actualmente, conduz uma motorizada
guns títulos. Com o apuramento para o mun- de 65 centímetros cúbicos e relata que o seu
dial da modalidade (2010) garantido, os sub-18 objectivo passa por tornar-se campeão.
sagraram-se no último ano vice-campeões
africanos. Já em 2009, a participação nos Jogos Os equipamentos
da Lusofonia terminou com uma medalha de Um dos objectivos do Ministério da Juven-
ouro para a equipa. O futebol é uma autênti- tude e dos Desportos consiste na criação de
ca máquina de prodígios, cuja qualidade des- estruturas adequadas ao ensino dos mais no-
perta o interesse dos clubes internacionais. A vos, desde espaços adaptados à formação de
selecção sub-20 sagrou-se pela primeira vez quadros desportivos. O Governo destaca que
campeã da Taça das Nações Africanas, em as seis novas universidades públicas que ar-
2001. O bom desempenho é constante e, ape- rancam este ano terão um curso superior de
sar dos poucos títulos, estiveram presentes no educação física e desporto. Por outro lado, o
Mundial de 2006 e venceram recentemente o programa Despertar prevê abranger 180 mil jo-
torneio internacional de futebol, organizado vens em todo o país, por um período de qua-
pela Fundação Eduardo dos Santos. O mesmo tro anos, tendo como missão o combate da
ocorre em modalidades como o xadrez que, delinquência através do fomento do desporto. (Pouco) amigo do coração
embora ainda esteja a afirmar-se no desporto, Até 2012 serão erguidos mil campos de fute- Os dados não são totalmente fiáveis. Porém,
regista uma forte procura e tem apostado na bol. Para massificar modalidades como o bas- Mário Fernandes, presidente da Associação
formação de escalões, o que já lhe valeu uma quetebol, o andebol, o atletismo, a ginástica dos Amigos do Coração (AACOR), afirmou,
medalha de bronze no Campeonato Africano e o xadrez, o ministério está a formar seis mil em declarações a ‘O País’, que o problema da
de Juniores de Xadrez, de 2007. agentes desportivos. O CAN também constitui hipertensão afecta faixas etárias mais jovens
um bom agente da promoção do desporto en- que a população europeia, pelo facto de se
Novas modas tre os mais pequenos. Os novos estádios estão encontrar associado a factores relacionados
À semelhança das artes marciais, a capoeira dotados das infra-estruturas necessárias para com a raça negra (estilo alimentar e aos as-
tem atraído os mais novos, cuja adesão tem servir os escalões de formação de várias áreas pectos socioeconómicos). Isto é ainda mais
superado as expectativas. A cidade de Ben- desportivas. preocupante quando se fala de atletas. Os
guela é um desses casos, situação que levou casos de morte súbita em campo são uma re-
o membro graduado da Associação Brasileira Desporto nas escolas alidade. O recente caso de Cabinda suscitou
de Apoio e Desenvolvimento da Arte Capoei- O desporto escolar é uma das apostas do mi- a necessidade da medicina desportiva e da
ra, Joaquim Tchivela, a elogiar o reconhecimen- nistro Gonçalves Muandumba. Inserido no cardiologia agirem de forma a reduzir estas
to dos benefícios da modalidade por parte dos plano de massificação da actividade, o respon- situações. Mas, Mário Fernandes conside-
jovens. O representante garantiu que as exibi- sável anunciou que foi acordado com o Minis- ra que “nunca será possível atingir o zero”.
ções, o empenho e o interesse dos jovens con- tério da Educação que a partir deste ano todos “Temos sempre a ideia de um desportista é
tribuíram para a massificação da capoeira, que “os estabelecimentos novos de ensino, públi- o mais saudável da sociedade, mas também
contabiliza mais de 200 (quatro graduados) cos ou privados, têm de ter uma componen- temos que entender que ele faz eventual-
praticantes apenas naquela cidade. O moto- te desportiva”. “Só neste ano lectivo, entraram mente uma das coisas mais arriscadas da
cross, por outro lado, é a modalidade mais im- em funcionamento 35 institutos politécnicos sociedade”, lembrou referindo-se às provas
provável para formar camadas jovens. Porém, novos. Cada um tem um campo de futebol, de extremo esforço a que são submetidos. O
Vítor Moreira contraria a tendência. Com ape- um polidesportivo e um ginásio para os alunos médico evoca que por vezes os dirigentes se
nas nove anos, o pequeno atleta, que pratica praticarem desporto”, contou o ministro, em esquecem “do essencial que é ter um médico
desde os quatro anos, é o orgulho do núcleo de entrevista ao jornal ‘A Bola’. que se responsabilize pela saúde dos atletas”

DESPORTO · ANGOLA’IN | 83
DESPORTO BREVES | patrícia alves tavares

motocross
Pista de Saurimo
recebe aprovação
Os responsáveis e motoqueiros do núcleo de
amigos do motocross de Viana consideram que
a pista da cidade de Saurimo reúne todas as
condições para receber provas internacionais.
Os pilotos Pitoca e Bruno Moreira e o respon-
natação
sável Carlos Moreira argumentam que a pista
apresenta as dimensões e o perímetro neces- Modalidade carece de infra-estruturas
sários para acolher os melhores atletas africa- A falta de equipamentos adequados para a prática da natação constitui um dos principais en-
nos. Por seu lado, o empresário José Faria apela traves ao desenvolvimento da modalidade a nível nacional. A análise do actual estado desta
ao apoio da classe empresarial da província da prática desportiva foi proferida pelo presidente da Federação Angolana de Natação (FAN), An-
Lunda Sul, no sentido de dinamizarem a moda- tónio Monteiro, que revelou que apesar da piscina de Alvalade se encontrar funcional, os agen-
lidade na localidade. O investidor conta com a tes preferem os espaços do Clube Náutico e do 1º de Agosto, devido à maior acessibilidade dos
colaboração de ex-motoqueiros de Saurimo e preços. O responsável alega que esta situação dificulta a tarefa de massificação da modalidade
adeptos, que em conjunto estudam a compra de e respectivo aumento do número de equipas e atletas. O dirigente defende que o Governo deve
motorizadas de baixa cilindrada nos países vizi- aproveitar a organização das provas continentais (africanos de andebol, basquetebol e futebol)
nhos e pretendem reabilitar o perímetro circun- para construir piscinas nos mesmos recintos de jogo ou nas imediações, canalizando esses in-
dante à pista, que engloba uma zona florestal e vestimentos para um aumento das modalidades. Entre 1989 e 1995, período em que a piscina
uma antiga piscina. As iniciativas prendem-se de Alvalade esteve encerrada para obras, o país perdeu 10 mil alunos de natação e assistiu ao
com o objectivo de divulgar a modalidade. encerramento de 150 escolas, levando a uma descida de mil federados para os actuais 232.

basquetebol
Próximos da NBA
Vitorino Cunha, ex-técnico da selecção na-
cional sénior masculina de basquetebol,
está optimista em relação à presença efec-
tiva de jogadores angolanos na prestigia-
da liga norte-americana NBA. A previsão
é de que tal seja viável nos próximos cinco
a dez anos, bastando que um base nacio-
nal tenha 1,85/ 1,90 metros e possua qua-
lidades de excelente defensor e passador,
com lançamentos acima dos 55 por cento.
boxe
Estes são os requisitos exigidos para que
Federação prepara Olímpicos seja aprovado nos testes de aptidão para
A Federação Angolana de Boxe encontra-se a trabalhar no programa de preparação para os Jogos representar um clube da liga NBA. Já o ex-
Olímpicos de Londres (Inglaterra), em 2012. O objectivo da antecipação do evento mundial con- tremo nacional terá de ser excelente de-
siste em conferir maior rodagem competitiva aos pugilistas nacionais. Conforme as declarações fensor, contra-atacante e passador, bem
do vice-presidente, Azevedo Neto, os atletas encontram-se a treinar nos clubes desde o início do como medir mais de 2,02 metros. Assim,
ano e estão previstas convocatórias às selecções nacionais, para que, além da formação base, se- para possibilitar o ingresso dos talentos
ja possível aprimorar as técnicas, tácticas e estratégias. A vertente psicológica e as capacidades nacionais na competição mais requisitada
competitivas também estão a ser trabalhadas. A participação no “zonal da modalidade” já rendeu do mundo, há que “começar já a trabalhar
“duas medalhas de ouro e três de bronze”. “Tivemos cinco participações e agora estamos a prepa- nessa senda”, defendeu o técnico. A selec-
rar o campeonato africano e os jogos africanos de Maputo (Moçambique) ”, explicou. Por seu lado, ção nacional venceu recentemente a última
o antigo técnico das selecções nacionais Franklin Gomes defendeu a aplicação de um regime de edição do Afrobasket, somando dez títulos
treinos especial, que vise os dez melhores atletas, preparando-os para a alta competição. continentais.

84 | ANGOLA’IN · DESPORTO
DESPORTO · ANGOLA’IN | 85
LUXOS | patrícia alves tavares

FERRARI O sucessor do F430 marca o início de um novo capítulo na tradição dos carros despor-
tivos de elevadas ‘performances’, construídos em Maranello. O motor V8 de 4.499cc

458 ITALIA atinge as 9.000 rpm e debita uma potência máxima de 570 cv. A tecnologia é a mais
recente, desde a transmissão de dupla embraiagem com sete velocidades à suspen-
são revista, destacando-se ainda os poderosos travões Brembo.

86 | ANGOLA’IN · LUXOS
MAYBACH É um dos carros mais caros do mundo. Com 700 cv, supera facilmente os 350 km/h
e é uma peça única, pois resulta da fusão de linhas retro e futuristas. Está equipado

EXELERO com tudo, como sistemas de navegação por satélite, airbags para todos os lados,
comandos eléctricos individuais para cada banco, ABS, ESP, entre outros.

LUXOS · ANGOLA’IN | 87
LUXOS

CADILLAC
PROVOQ
O mais recente protótipo Cadillac surge na sequência da
nova moda dos SUV, com formas coupé. O Provoq utiliza
a tecnologia E-Flex, que recorre ao hidrogénio e permite
que este circule aproximadamente 32 quilómetros apenas
com energia eléctrica e mais 450 km com gás natural. A
velocidade máxima é de 160 km/h. O uso de combustíveis
alternativos e tecnologias de luxo vai de encontro à satis-
fação dos clientes de automóveis de luxo.

88 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS | patrícia alves tavares

BENELLI
TNT 899 S
Exclusivas, as TNT da Benelli são muito desportivas e o novo
modelo funciona de forma mais suave e regular, apresentan-
do, em relação ao modelo 1130, apenas alguns retoques no
farol, uma nova instrumentação e modificações nos freios e
suspensões. Veloz, a 899 tem em consideração a protecção
do condutor, passando uma sensação de estabilidade.

ARAI
CHASER JUNGLE
O seu design baseia-se numa linha confortável,
disponível em cinco tamanhos. O interior é lavável
e possui um sistema que reduz o ruído do vento.

ALPINESTARS
DUAL GLOVE
Produto da criação de Clarino, as luvas da Alpines-
tars existem em vários tamanhos e possuem um
fecho anatómico de pulso.

TRIGGER 1PC SUIT


A ergonomia deste fato confere-lhe excelente fle-
xibilidade, apresentando um colarinho adaptável
ao utilizador. A boa qualidade da pele torna-o re-
sistente à abrasão.

90 | ANGOLA’IN · LUXOS
LUXOS · ANGOLA’IN | 91
LUXOS | patrícia alves tavares

DELL
Adamo XPS
Ultra-fino, o notebook de 13 polegadas
da Dell tem um processador 1.4 GHz
Core 2 Duo, 4GB de memoria RAM e um
disco de 128GB. A bateria dura 2 horas
(podendo estender-se para 5 com uma
bateria suplementar).

JABRA STONE
Este auricular Bluetooth de gama alta possui um
estojo, que também serve de carregador e autonomia
para 8 horas em conversação e 12 dias em repouso.

SONY
VAIO P
Tem o tamanho de uma carta comercial e cabe num

SONY
bolso. O portátil da Sony tem ligação 3G embutida,
teclado de dimensões idênticas a um portátil normal,
ecrã de 8” e pesa cerca de 640 gramas.
ERICSSON
XPERIA X2
O sucessor do caro X1 possui mais funcionalidades. A
câmara de 8.1 megapixels tem autofoco e filma em
VGA a 30 fps (MP4 em alta qualidade). Apresenta
ainda uma tela OLED WVGA de 3,5”, 512 MB de
memória RAM e Windows Mobile 6.5.

LG
CHOCOLATE
O LG Chocolate BL40 tem um ecrã
óptimo para filmes (21:9 em alta
definição de 4 polegadas). Dispõe ainda
de interface Flash 3D UI, multitouch,
AGPS, Wi-Fi, câmara de 5MP e um vidro
com superfície resistente a arranhões.

92 | ANGOLA’IN · LUXOS
BOWERS&WILKINS
Zeppelin ipod dock
O principal fabricante mundial de caixas acústicas lançou uma dock-
station de formato oval, desenhada especificamente para combinar
com o design do iPod. O aparelho possui uma caixa acústica
amplificada, pelo que pode ser usado como um sistema estéreo.

Canondale ON
É o novo estilo de urban bike. A mecânica da
bicicleta parece-se com uma bike de estrada.
A pensar nos ciclistas das grandes cidades,
surge a novidade: o modelo é desdobrável.

SAMSUNG
LUXIA LED 8000
APPLE TV Os ecrãs LED possuem uma imagem melhor, são muito
A novidade da Apple permite-lhe mais finos e consomem menos energia. Além dos 2,5 cm
sincronizar sem fios o iTunes com de espessura, os aparelhos da série 8000 têm Auto Motion
o televisor, podendo ainda adquirir Plus, que actualiza o ecrã 240 vezes por segundo, eliminan-
música no iTunes Store e enviá-la do virtualmente os “saltos” das cenas de acção. Possuem
para o computador, iPod e iPhone. ainda acesso à Internet com ou sem fios.
Veja também as suas fotografias,
vídeos e podcasts em alta definição
no televisor da Apple.

SAMSUNG
BLUE RAY BD-P4600
O novo Blu-Ray da Samsung oferece-lhe imagens incrivelmente de-
talhadas, com cores brilhantes em alta definição, a uma resolução
de 1080 p. O leitor possui ainda Anynet, a tecnologia que permite
controlar todos os aparelhos da marca com um único comando.

LUXOS · ANGOLA’IN | 93
LUXOS | patrícia alves tavares

ZENITH
ACADEMY
TOURBILLON
BLACK TIE
Resistente à água (até 30 m), este relógio de
platina é composto por diamantes e por um
visor em cristal de safira. Este luxuoso produ-
to é de edição limitada e disponibiliza-lhe três
cores, conforme o seu gosto: preto, branco e
pérola. O bracelete é em pele genuína e apre-
senta as tradicionais funcionalidades, que o
acompanham no dia-a-dia.

Rolex
Daytona
A Rolex acaba de lançar uma linha exclusiva
de cronógrafos. Este modelo de elevada
qualidade e resistente à água apela ao lado
mais elegante de cada comprador, devido à
mistura exclusiva dos clássicos preto e branco.
É definitivamente uma opção para acrescentar
à lista de desejos.

Breitling Raymond Weil


Avenger Skyland Blacksteel Nabuco cuore caldo
Edição limitada a 2000 extraordinárias peças, o visor A edição é limitada a 500 peças, em que cada uma
deste relógio é composto por cristal de safira, resistente está numerada de 001/500 a 500/500 (na traseira
a arranhões. Este cronógrafo, à prova de água até 300 do relógio). É resistente à água (200m) e constitui
m, possui uma série de funcionalidades, a pensar nos uma oportunidade única para apreciadores de
apreciadores exigentes. relojoaria. O design e acabamento imaculado vão de
encontro à qualidade da marca.

94 | ANGOLA’IN · LUXOS
ESTILOS | lisete pote

DOLCE&GABBANA
A Markas é uma loja que fica situada na rua
Engrácia Fragoso, número 8, Luanda. É a re-
presentante de várias marcas que no decorrer
das nossas edições serão apresentadas, sen-
do a  Dolce & Gabbana a primeira de muitas,
por ser uma marca de renome internacional
que se adequa aos homens da nossa socieda-
de. Nesta colecção, destaque para o cinza e o
azul nos tons azul noite e azul-marinho, bem
como o branco e os tecidos jeans.

Lisete Pote - lpote@comunicare.pt


Modelo - Hadjalmar El Vaim

Fato cinza escuro


com gravata em seda natural,
camisa em cambraia branca
e sapatos pretos

Anel

Fato numa versão mais confortável e desportiva.


Sugestão: opte por ténis em vez dos sapatos!

96 | ANGOLA’IN · ESTILOS
Ténis/botas em preto

Pulseira em pele

Relógio em pele

Camisa de algodão denim,


calções de algodão xadrez
em tons de cinza e verde seco
com uns ténis super confortáveis.
A grande aposta da marca e
que se apropriam ao clima quente de Angola

Corrente para o pulso

ESTILOS · ANGOLA’IN | 97
ESTILOS

Cinto em pele castanho

Ténis azuis

Bermudas que nos permitem fazer


combinação com uma camisa em
cambraia com a mesma estampa,
criando um visual descontraído,
mas num estilo mais elegante

Cinto azul marinho


Relógio prateado Relógio em pele castanho com riscas em azul escuro e laranja

Ténis brancos

98 | ANGOLA’IN · ESTILOS
A camisa em cambraia estampada
permite-nos também criar um look que pode ser usado em ocasiões mais formais,
como uma saída para uma festa ou para a noite, combinando-se com jeans

Anel

T-shirt azul escura com


bermudas em algodão sarja
estampada e ténis brancos

Pulseira com detalhes em pele castanha

ESTILOS · ANGOLA’IN | 99
ESTILOS | patrícia alves tavares

d&g
Le Beteleur
o novo perfume da d&g mistura
notas de citrinos, rosmaninho
e jasmim, apresentando aromas
amadeirados, envolvidos em
noz-moscada, manjericão,
sândalo e vetiver.

paco rabanne
1 Million
é a novidade da paco rabanne. amadeirado
ardente, o perfume apresenta notas de
hortelã-pimenta, lavanda, cedro, almíscar,
café e patchouli.

narciso rodriguez
Narciso Rodriguez for him
bvlgari a mais recente fragrância de narciso rodriguez
BLV combina notas de couro e bergamota com
é uma óptima opção para jasmim, almíscar e sândalo. o toque amadeirado
homens confiantes e seguros refrescante é perfeito para o uso formal.
de si. as suas notas de flores
de tabaco possuem um toque
de tabaco, cedro, gengibre,
cardamomo, almíscar e sândalo.

banana republic
Cordovan
ideal para uso diário
e homens dinamicos,
a nova fragrância
possui notas de figo,
bergamota, noz-
moscada, lavanda, lírio
e vetiver. prada
Ambar men
é a escolha certa para homens independentes.
o contraste olfactivo do couro e do sabão de
barbear é típico de um fougére. apresenta notas
de bergamota, mandarina, fava tonka, neroli,
madeira de sândalo e camurça.

100 | ANGOLA’IN · ESTILOS


LUXOS · ANGOLA’IN | 101
LIVING | joão paulo jardim

Luz e Cor
Podemos considerar diversos factores como merece uma boa dose de atenção e pesquisa
elementos-chave na realização de um projecto da personalidade de quem irá usufruir do es-
de interiores, mas nenhuns são transversais a paço a ser trabalhado.
todos os tipos de projecto como estes dois fac- Quanto mais monocromático for um ambien-
tores interdependentes: a Luz e a Cor. São dois te, menos estímulos provocará, tornando-se
pontos básicos, (mesmo óbvios) no desenvol- em breve um espaço monótono, desinteres-
vimento de qualquer trabalho e talvez por isso sante e cansativo. Por isso uma boa paleta de
algumas vezes sejam menosprezados na sua cor, mais complexa, tornará qualquer espaço
importância e peso real no resultado final de mais vivo e atractivo. Mas isto que é teorica-
um bom projecto. mente simples e óbvio, para surtir efeito na
Na prática não é possível pensarmos num sem prática exige um grande conhecimento e do-
o outro. Em boa verdade, um deriva do outro. mínio da Cor. Um tom errado, numa proporção
Ou não seja a Cor mais do que um efeito resul- errada, pode comprometer todo o equilíbrio do
tante da absorção e refacção da Luz. Falamos ambiente a criar.
do ponto de vista físico da questão, mas existe O outro factor que aqui abordamos, a Luz, é
outra vertente de igual importância: a influên- quanto a mim, o elemento mais importante
cia psicológica da cor. em qualquer projecto. Um bom projecto po-
A psicologia da cor não é uma ciência exacta, de ser completamente arruinado por uma ilu-
mas a quantidade de estudos que são conti- minação desadequada, tal como um projecto
nuadamente feitos nesta área permite-nos já mediano fica indubitavelmente valorizado por
uma base de informação sustentável que na uma iluminação cuidada e eficaz. São os jo-
maioria das vezes sublinha o que o senso co- gos de luz e sombra que nos permitem uma
mum e o conhecimento popular sempre nos boa leitura das cores, determinam a percepção
disseram. do espaço e condicionam a sua vivência. Mais
Se o azul, que é a cor geralmente mais apre- uma vez um bom domínio técnico da Luz é o
ciada, nos transmite calma e harmonia, o cas- segredo para um resultado positivo.
tanho, por seu lado, sendo a cor que reúne a Esta é uma área extremamente complexa, e po-
menor preferência das pessoas em geral, torna deríamos alongar-nos mais do que este espaço
um ambiente antiquado. Mas, um azul pode nos permite. Pretendemos aqui apenas chamar
ser frio e distante e um castanho ser acolhe- a importância para o tema e sensibilizar o lei-
dor. Tudo depende da tonalidade, da forma co- tor a analisar esta questão ao avaliar eventuais
mo a cor está inserida no ambiente e da cultura projectos que se lhe possam deparar.
e personalidade de quem a vê. Para o olhar de-
satento tudo isto parece arbitrário, no entanto João Paulo Jardim - jpjardim@comunicare.pt
um bom profissional sabe que este é um fac-
tor crucial para o sucesso de um projecto e que

102 | ANGOLA’IN · LIVING


DAUM
Uma nova visão da arte africana. A Daum explora a
estética das mais diversas civilizações como fonte de
inspiração para as suas fantásticas colecções e esco-
lheu o seu 130º aniversário para celebrar África, este
fervilhante e excitante continente que ainda hoje sur-
preende e fascina o mundo da arte. Sendo esta talvez
a mais conceituada e reputada marca de cristais deco-
rativos do mundo, é uma honra ver a cultura africana
retratada e reinterpretada por grandes artistas con-
temporâneos em peças de grande nobreza e beleza

qxR

LIVING · ANGOLA’IN | 103


LIVING

104 | ANGOLA’IN · LIVING


MOROSO
Desde o início dos anos 50 que esta marca com sede
em Itália nos oferece o que há no mundo de melhor
e mais inovador em cadeiras e sofás, sempre dese-
nhados por grandes nomes do design internacional
e fabricados com igual mestria. Sempre à frente das
principais tendências, apresenta-nos uma vasta ga-
ma de produtos adequados aos mais diversos pro-
jectos e ambientes, sejam eles destinados a espaços
interiores ou exteriores. Arrojados quer nas formas,
quer nos materiais, os produtos da Moroso são sem-
pre uma garantia de qualidade ao mais alto nível
QX

LIVING · ANGOLA’IN | 105


LIVING

P. Senra
Radicado em Ontário, Canadá, este jovem
emergente é já uma promessa no mundo das
artes plásticas. Formado em Ciências Políti-
cas e actualmente a complementar os seus
estudos com um mestrado em Política Inter-
nacional, nada faria prever que com apenas
25 anos e uma carreira profissional ligada ao
governo, se entregasse com tamanha paixão
e empenho ao seu lado artístico. Envolvido por
diferentes técnicas de expressão plástica que
consegue acoplar em envolventes trabalhos
de técnicas mistas, cria sempre obras de gran-
de intensidade e expressividade, sendo o seu
sucesso internacional imediato reflexo disso
XR

106 | ANGOLA’IN · LIVING


VINHOS & CA. À CONVERSA COM… António Lopes Alves | manuela bártolo

Exemplo de Sucesso
Com um longo historial no país, a Atlanfina (sub holding do Grupo Atlântica) é uma das maiores empresas em Angola
especialista na representação e distribuição de bebidas, designadamente vinhos e espirituosas de qualidade, entre outros
produtos alimentares e gourmet. O seu desenvolvimento está patente no crescimento contínuo do volume de negócios, tendo
triplicado os mesmos de 2005 para 2007. Actualmente, possui uma forte logística sedeada no centro de Luanda, responsável
pela gestão e distribuição de mais de cinco milhões de garrafas/ano, o que lhe permite assumir uma posição de liderança
destacada no sector. A grande aposta para 2010 é continuar a somar valor acrescentado aos seus produtos, sem esquecer o
apoio ao desenvolvimento dos recursos endógenos, nomeadamente ao nível da formação profissional especializada. Outras
das garantias é a promessa de expansão para outras províncias, alargando o número de postos de trabalho locais, actualmente
na casa dos 50. Uma acção assente na deslocalização de mais agentes para as principais cidades, continuando o processo
de cobertura de todo o território nacional. O leque de representadas resulta sempre de uma rigorosa selecção, marcada por
um conjunto de marcas de vinhos e espirituosas de excepcional qualidade, valor e prestígio de dimensão internacional. Em
entrevista à Angola’in, António Lopes Alves, administrador da Atlanfina, revela-nos o segredo do sucesso e brinda-nos, com
um exclusivo, sobre o lançamento de três novos produtos.

Como surgiu a oportunidade melhor o mercado, uma aprendizagem muito tro, passou a existir um maior poder de com-
de operar em Angola? própria que nos tem permitido transmitir no- pra, disseminado por pessoas que viajam
Cresci aqui, logo tenho a pretensão de conhe- vas mensagens ao cliente final. Percebemos a habitualmente e com isso adquirem melhor
cer bem o mercado, assim como o comporta- nobreza do vinho e deixamos de ser uma em- conhecimento sobre o sector. Nota-se uma
mento do consumidor e os seus padrões de presa que vendia indiscriminadamente vários forte internacionalização. Há uma crescente
consumo. Há dez anos, o país revelava ter to- produtos para apostar num critério unificador apetência pelo vinho, fruto até de uma certa
do o potencial para aquilo que é hoje a Atlan- assente nesta bebida de excelência. Fomos ligação a Portugal, pelo que procuramos es-
fina. O mercado evoluiu muito nos últimos gradualmente afastando-nos dos produtos de merar essa aproximação promovendo não só
anos, passou-se do comércio de vinho a granel cotação massiva e consumo indiscriminado. os vinhos portugueses, mas também os de
para vinho de grande qualidade. Sem falsas outros países, apesar de sentirmos uma voca-
modéstias penso que o nosso processo de de- Quais as razões que aponta ção dirigida do consumo para este país. Nos
senvolvimento acompanhou esse crescimen- para esse progresso? últimos anos, têm aparecido mercados emer-
to. Mudamos quando passamos a conhecer Por um lado, o mercado amadureceu, por ou- gentes também com força de investimento.

108 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


Qual o papel da Atlanfina
neste crescimento?
Primeiro, quero salientar que não somos um
mero importador. Vamos muito para além do
desempenho desse papel. Temos a importa-
ção na base, como se sabe bastante difícil,
sobretudo dentro de Luanda, mas aposta-
mos também onde a meu ver há mais valor
acrescentado, ou seja, na representação, que
passa muitas vezes pela formação, promoção
e prestação de serviços de qualidade e acom-
panhamento ao cliente. Dedicamos um gran-
de esforço a essa área e é através dela que
procuramos fazer a diferença. Numa primei-
ra fase, apostamos na oferta de produtos de
qualidade e em explicar o que distingue o vi- recer produtos com maior valor acrescentado. Haverá um reforço
nho de outras bebidas. Hoje em dia, há já vá- Uma aposta meramente estratégica porque do vosso portefólio?
rias empresas a fazer o mesmo, pelo que o preferimos ter um menor volume de activida- Os vinhos representam 70% dos nossos pro-
nosso grande objectivo é avançar para todo o de ou transacções, mas com um crescimento dutos e dentro destes 80% são portugueses
território nacional, sendo sempre inovadores. sustentado, do que trabalhar meramente a e 20% provenientes do resto do Mundo. A re-
Progredimos de uma fase de diversificação as- quantidade e para isso precisamos de parcei- presentar Portugal temos as quatro principais
sente na oferta de produtos indiscriminados, ros fortes. No lado comercial, gostamos de regiões, patrocinadas por algumas das melho-
para uma de selecção criteriosa representada quantificar a nossa evolução quer seja em ter- res casas. No Douro, a Real Companhia Velha e
por um portefólio extremamente selecciona- mos de liquidez, rentabilidade ou crescimento. a Quinta do Portal, no Dão, a Borges, na Estre-
do, em que temos duas a três casas vitiviní- Temos esse barómetro permanente, que nos madura, a Companhia das Quintas e no Alen-
colas de qualidade que se complementam por ajudar a gerir a evolução e a estratégia. Depois, tejo, o Esporão. Claramente assumimos ser a
região e é essa linha que queremos continuar procuramos assumir uma certa dimensão e li- bandeira dos vinhos portugueses e não temos
a seguir. Por duas razões: primeiro pela exce- derança ao envolvermo-nos nas relações afec- nenhum complexo. Mas não podemos ser dog-
lência de que é representativa e segundo por- tivas. Queremos, cada vez mais, apadrinhar máticos porque alicerçamos a nossa estraté-
que são bons parceiros. O lado comercial do projectos sociais e partilhar os nossos resulta- gia através do estudo que fazemos do próprio
negócio é importante, mas para mim não é o dos com a comunidade. Procuramos valorizar mercado, ou seja, procuramos não partir com
essencial. O mais relevante continua a ser a as pessoas e repartir a riqueza que ajudam a ideias pré-concebidas e perceber o que o mer-
ética e a paixão associada a um forte espíri- criar. A parte da formação é, por isso, uma área cado nos revela pelos números e pelos inquéri-
to de parceria. Somos contactados por muitas que temos intensificado mais para que as pes- tos que fazemos. Temos, por isso, sentido que
empresas e dou-lhes normalmente a seguinte soas beneficiem. Queremos que, no âmbito da há também um nicho que aprecia vinhos de
resposta: não estamos à procura de fornece- nossa actividade, haja externalidades sociais e outras origens e achamos que é salutar com-
dores, mas de parceiros. culturais e aceitamos parceiros para trabalhar parar. O vinho está relacionado com essa diver-
connosco essas acções. sidade, complexidade e confronto de castas,
A subsistência no mercado
depende disso?
O mercado angolano pelas suas particularida- Queremos apadrinhar
des, por algumas dificuldades próprias da sua projectos sociais e
evolução e pela distância não se compadece
partilhar os resultados
com uma colecção de fornecedores. Impor-
ta criar novas acções. O facto de sermos uma
com a comunidade;
empresa luso-angolana permite identificar- valorizar as pessoas e
nos com o território, proporcionando um sen- repartir a riqueza que
timento de comunhão que queremos que seja ajudam a criar
perceptível do lado do consumidor. As pesso-
as têm percebido que nós procuramos ter uma
simbiose muito grande com o cliente, o mer-
cado e os valores nacionais. Fomos ganhando
consciência da nossa responsabilidade social
e cultural, procurando sempre que possível
promover os valores angolanos. O ser huma-
no tem outros ideais de afirmação, de valori-
zação e de realização e o lado material não é
de certeza mais preponderante do que lado
humano e afectivo. Procuramos, por isso, ofe-

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 109


VINHOS & CA. À CONVERSA COM… António Lopes Alves

EXCLUSIVO
As iniciativas da Atlanfina enquadram-se sempre numa aposta grande na inovação,
paixão pelo vinho, formação e tributo a Angola. A empresa tem criado ou apoiado
algumas marcas a preencher algumas lacunas no mercado. No passado, apoiou um
rótulo do Esporão da autoria do pintor António Ole e agora, para além do lançamen-
to em parceria com a Quinta da Aveleda de um rótulo especial para Angola do Casal
Garcia, tem três novos projectos. São eles:

FLAMINGO: um tributo ao Sul de Angola, que preserva ainda esta ave em extinção e
que é característica do Lobito. Um vinho verde distinto, jovem e referescante, prepara-
do em associação com a Real Companhia Velha e a Casa de Vilacetinho, uma empresa
vitivinícola de excelência da região dos vinhos verdes em Portugal;

VIP: um projecto realizado em parceria com o Luís Duarte, um reputado enólogo lu-
so-angolano nascido no Lobito e duas vezes eleito pela revista dos vinhos o melhor
enólogo do ano em Portugal. Trata-se de um vinho tinto regional alentejano, sendo
uma edição exclusiva para Angola. Distinto e requintado é adequado à gastronomia
mediterrânica e tropical. Como diz o rótulo é um vinho seleccionado para partilhar os
momentos especiais da vida com as pessoas mais importantes…aquelas de quem mais
gostamos. Haverá também o VIP Reserva que, garante Luis Duarte, será um verdadei-
ro “Néctar dos Deuses”;

FASHION: Um Sparkling (espumante) concebido em associação com a famosa casa


sul africana Leopards Leap. Excepcionalmente doce, jovem e “glamouroso”, simboliza
o espírito festivo angolano. É especialmente destinado para celebrar as vitórias dos
“Palancas” no CAN e os grandes eventos de moda angolana

de sabores e proveniências, sendo também Prevê índices de crescimento bito e Cabinda. O centro nevrálgico continua
uma questão cultural. Além disso, os produtos elevados para o próximo ano? a ser Luanda, onde está instalada toda a lo-
são diferentes, há nesse sentido que ter em O consumo per capita sempre foi elevado. gística e área administrativa. Não vamos ter
conta questões comportamentais e de consu- Actualmente, foi aumentando por força do uma atitude estática, vamos procurar levar o
mo. Assim, temos uma casa representante do crescimento demográfico e económico. Há know-how que temos em Luanda realmente
Chile, França, Itália e África do Sul, mantendo também mais expatriados em Angola, o que aos locais, promovendo eventos e acções. Por
uma oferta harmoniosa, com uma perspectiva pode induzir a uma maior diversificação, fa- exemplo, implementamos um roteiro dentro
mais alargada do mundo dos vinhos. zendo com que se sinta um alargamento do da restauração e hotelaria em que, para além
consumo e aparecimento de novos hábitos. de fornecermos os produtos e acessórios im-
O maior mercado da Atlanfina Embora esse crescimento tenha sido mais vi- portantes, oferecemos formação. Esta tem
continua a ser Angola? sível nos dois anos anteriores. Penso que este sido um estandarte da Atlanfina porque real-
Ao nível da exportação e no sector dos vinhos ano houve alguma contenção a vários níveis, mente acreditamos na valorização dos recur-
Angola é sem dúvida um país importante. As que se prendeu, a meu ver, com o abranda- sos e na criação de raízes.
exportações estão quase exclusivamente vo- mento do crescimento. Penso que ainda ha-
cacionadas para cá, embora já tenha tido expe- verá espaço dentro do sector dos vinhos para Confirma a intenção de avançar com
riências crescentes para outros países. Agora algum desenvolvimento, sobretudo nas pro- o projecto de produção vitivinícola
iremos passar para uma nova fase, depois de víncias, e no próximo ano, por força da realiza- em território nacional?
consolidarmos o mercado angolano, avança- ção do CAN, julgo que irá também aumentar, A Atlanfina rege-se por três diapasões: pri-
mos para outros destinos. Estamos a estudar uma vez que este vai ser um grande evento, meiro, a ética, segundo, a qualidade e ex-
mais dois ou três países para 2010. Um pela tendo um efeito acelerador. Contudo, acredito celência no produto/serviço e terceiro, a
proximidade também a Angola, a Namíbia, que a tendência será para a estabilização. valorização do potencial endógeno. Nesse
seguindo-se Cabo Verde. Acredito que neste sentido, tenho a ambição de poder produzir
momento serão os mercados onde podemos Para onde contam expandir? um vinho em pequena escala no Namibe, que
crescer de forma sustentada, uma vez que se Procuramos seleccionar as províncias mais tem marcadamente características típicas do
encontram ‘maduros’ do ponto de vista do tu- importantes e representativas. Temos neste clima mediterrânico. Assim, poderia conjugar
rismo e, embora mais pequenos e com menos momento parceiros e delegações muito fortes esses três valores, criando ao mesmo tempo
potencial, estão devidamente desenvolvidos. no Namibe, Lubango, Benguela, Huambo, Lo- um vinho emblemático da região.

110 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


LUXOS · ANGOLA’IN | 111
VINHOS & CA. | patrícia alves tavares

HERDADE DO ESPORÃO
Quatro Castas
Límpido, de cor viva e concentrada, este vinho revela toda a elegância
e perfume da Touriga Nacional. Ideal para acompanhar desde pratos de
bacalhau até uma perna de borrego assada, este néctar apresenta uma
mistura de sabores muito equilibrada, revelando toda a sua textura
aveludada, sustentada por taninos firmes, conferindo um final longo e
persistente. Deve consumir-se entre os 16 e 18ºC.

LEOPARD’S LEAP
LOOKOUT RED
Este néctar possui um aroma a frutos
vermelhos, com um toque de notas de
baunilha. No paladar, sobressaem os
sabores das bagas e do chocolate, com um
final a revelar o paladar do café.

HERDADE DO ESPORÃO
Duas Castas
Singular, complexo e elegante, este néctar apresenta notas de
minerais, amêndoas, pimenta e chocolate, inseridas num fundo
elegante de frutos vermelhos e vegetais frescos. Caracterizado
pela enorme frescura, é recomendado para carnes assadas e
pratos de caça, servindo-se à temperatura de 18ºC.

112 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


QUINTA DE PANCAS
2005
Na boca tem um toque suave, volumoso e encorpado, evidenciando-se as frutas
e especiarias. Este néctar vermelho cereja possui um final longo e agradável
e um aroma finamente fumado, com notas de frutos vermelhos, menta e
especiarias. É ideal para pratos de carne e massas, sendo servido a 18ºC.

QUINTA DE PANCAS
2007
Recomendado para pratos de peixe, mariscos e vegetais,
este vinho, de cor amarelo citrino deve ser conservado a uma
temperatura constante de 15ºC. Elegante, com notas de
melão, citrinos e sugestões florais, este Quinta de Pancas
apresenta-se na boca com um bom volume, persistência
aromática e boa frescura. Serve-se a 10ºC.

EVEL
Branco
Dourado, complexo e detentor de grande
intensidade aromática, este vinho possui aromas
florais e de frutos brancos, apresentando sabores
a pêssego e melão. É óptimo para acompanhar
pratos de peixe e carnes brancas.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 113


VINHOS & CA.

FUNDADOR
Porto Tawny
Este néctar possui reflexos aloirados e um
aroma muito fino. O travo harmonioso e
refinado resulta da lotação de vinhos com
múltiplas idades e características, que
foram envelhecidos em cascos de carvalho.

GATÃO ROSÉ
Table Wine
Límpido e de cor rosada, este vinho apresenta um
aroma jovem e frutado, revelando na boca toda a sua
delicadeza, maciez e frescura. Acompanha pratos de
carne magra grelhada, massas, pizzas e entradas.

GATÃO
Óptimo para pratos de peixe, marisco e aperitivos ligeiros. De
aroma jovem e frutado, este produto de cor citrina é macio e
delicado, apresentando-se como um vinho meio-seco, que deve
ser consumido ainda jovem.

114 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


BUTLERS
Marula Cream
É um licor proveniente de uma fruta africana, a
Marula, que confere um gosto particular e único
a esta bebida. Um néctar que se distingue pela sua
cor e textura cremosa, tornando-se por isso uma
bebida espirituosa de eleição.

BUTLERS
Blue Curacao
O método de fabrico é simples, as
cascas de laranja são embebidas em
água destilada, ficando mergulhadas
durante algum tempo, o que lhe
confere uma cor inconfundível, sendo
por isso muito usado em cocktails.

BUTLERS
Triple Sec
Licor com sabor a laranja com um processo de fabrico
exclusivo, em que as cascas deste citrino são mergulhadas
em água destilada. Trata-se de uma bebida utilizada na
confecção do cocktail Cosmopolitan. Sem dúvida, uma boa
escolha para oferecer em festas.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 115


VINHOS & CA. | patrícia alves tavares

2ª EDIÇÃO DO CONCURSO DE ESCANÇÕES

Diário de uma jornada


em terras lusas
A Real Companhia Velha, em parceria com a Atlanfina, organizou mais uma edição do Concurso de Escanções.
O certame é “uma aposta ganha” e a adesão “excedeu as expectativas”, garante Manuel da Silva Reis,
director da empresa portuguesa. Os candidatos a escanções frequentaram ao longo de uma semana um
curso intensivo com um enólogo e os mais talentosos ganharam uma viagem a Portugal. Estes ano, os três
eleitos tiveram a oportunidade de, durante cinco dias, conhecer as emblemáticas quintas do Douro e Alentejo
e compreender in loco todo o método de produção do vinho, desde a vindima ao engarrafamento do néctar
de Baco. A Angola’in acompanhou os vencedores na descoberta dos tesouros de Portugal e revela-lhe, em
exclusivo, os projectos daqueles que podem vir a constituir a primeira sociedade de escanções angolanos

116 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


Dia 1
na Invicta Cidade do Porto, Em entrevista à Angola’in, Manuel da Silva perfil
pátria do emblemático Reis descreveu o consumidor angolano como
Vinho do Porto sendo “exigente” e “muito rigoroso”, salien- Adriano Carvalho
Orgulho e curiosidade são os adjectivos que tando que não entende “como num país tão
quente só bebem tintos, pois deviam beber Idade: 34 anos
melhor descrevem o sentimento que se vivia
entre os jovens escanções, vencedores da 2ª muito mais brancos”, lembrando que “Portugal Profissão: Sub-chefe de sala no Hotel Trópico
edição do concurso promovido pela Atlanfina, produz vinhos maravilhosos” e que “existe um
Percurso profissional: “Estou no Hotel
com o apoio da Real Companhia Velha, Quinta mercado perfeitamente virgem”, que deve ser
Trópico há seis anos. Nesta área estou há nove
do Portal e Herdade do Esporão. Aliás, foi nas explorado. “Quando eles descobrirem o vinho
anos. Trabalhei primeiro numa esplanada do
caves da primeira que arrancou a jornada dos branco para os aperitivos, para as tapas, para
grupo e depois fui para o hotel.”
visitantes, que estiveram em Portugal com a as entradas, com aquele calor, aquele clima,
finalidade de conhecer o processo de fabrico será um exponencial boom de vendas”, profe- Projectos: “Quero ajudar os outros trabalha-
dos vinhos que habitualmente aconselham riu. Quanto ao futuro, a Real Companhia Ve- dores para termos profissionalismo nesta área,
aos clientes. A empresa portuense é a prin- lha, que exporta para Angola essencialmente de forma a que as pessoas quando vão a qual-
cipal produtora de Vinho do Porto e detento- as marcas Porca de Murça e Evel e cujo merca- quer área ou zona turística se sintam à vontade,
ra das melhores quintas da região do famoso do representa cinco por cento das receitas da acolhidos do mesmo modo como em qualquer
néctar: Quinta das Carvalhas, Quinta de Cidrô, entidade, está “a desafiar a Atlanfina” para parte do mundo, porque hotelaria não é só em
Quinta dos Acipestres, Quinta do Casal da um novo projecto. “Encontramo-nos na fase Portugal ou em Angola. Funciona da mesma
Granja, Quinta do Síbio e Quinta do Corval. de ver locais e terrenos e fizemos um primeiro maneira na China e em todo o lado.”
contacto com a nossa equipa de enologia e de
Interessados e ávidos de conhecimento, Adria- agronomia, para começarmos a fazer um vinho
no Carvalho, Marlene Santos e Bruno Guise, os lá, um vinho local, porque entendemos que há Marlene Santos
escanções premiados, mostraram uma enor- uma componente de formação”, anunciou,
Idade: 28 anos
me vontade de complementar os conheci- confidenciando que, neste momento, se en-
mentos adquiridos, tentando assimilar toda a contram “na fase de procura de um local para Localidade: Kwanza Sul
informação, colocando dúvidas e revelando um podermos fazer uma produção de vinho local a Profissão: Assistente de Marketing
grande desejo de aprendizagem. Esta foi uma ser comercializada pela Atlanfina, com tecno-
logia da Real Companhia Velha”, finalizou. Percurso profissional: “Comecei em
das qualidades evidenciadas pelo director da
2005, fui convidada para participar numa fei-
Real Companhia Velha, Manuel da Silva Reis.
Detentora de 250 anos de história e de acti- ra da Atlanfina na FILDA e fiquei na empresa.
“Uma das coisas que noto neles é o interesse,
vidade ininterrupta ao serviço do Vinho do Ao longo destes anos fui aperfeiçoando e fui-
a vontade e o querer saber e aprender”, mani-
Porto, a Real Companhia Velha está ligada me interessando mais e surgiu a paixão de
festou. O responsável explica que a organiza-
directamente à evolução do famoso produ- falar dos vinhos ao consumidor final.”
ção deste evento se deve ao facto de Angola
ser “considerada um mercado indispensável e to portuense, tendo desempenhado um pa- Projectos: “Apostar na formação para di-
fundamental para a empresa”. “Fizemos uma pel relevante na sua produção e comércio. Os vulgar os nossos vinhos e dá-los a conhecer
análise aprofundada, conjuntamente com o escanções vencedores da edição 2009 apro- às pessoas. “
nosso parceiro da Atlanfina, e chegámos à veitaram a visita às caves da empresa para
conclusão de que haveria umas marcas que conhecerem de perto o processo de fabrico do
pelo seu passado já teriam alguma influência vinho mais famoso de Portugal, que por ser
em Angola e resolvemos apostar. A aposta foi generoso e encorpado e pelo carácter inimitá-
ganha porque conforme podemos ver nos úl- vel faz do Vinho do Porto uma das bebidas de
timos quatro anos nós temos vindo a duplicar mais classe do mundo, muito apreciada pelos
anualmente as vendas”, sustentou. ingleses e americanos.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 117


VINHOS & CA.

Dias 2 e 3 desta casa portuguesa, que se dedica à produ- é necessário “tentar convencer os donos dos
mais a Norte, ção de vinhos DOC Douro e Vinhos do Porto de restaurantes de que a caipirinha é mais forte e
no Douro profundo categorias especiais e Moscatel. que o caipiroyal dá para consumir mais”, adian-
Após a visita às caves do Porto, o grupo de es- ta, admitindo que na restauração “o que tem
canções rumou à Região Demarcada do Dou- Foi no final do dia, já na Casa das Pipas, uma uni- mais saída são os vinhos de mesa”.
ro, para dois dias de aventura e de descoberta dade de agro-turismo, explorada pela empresa
das vinhas e do processo da recolha das uvas. do Douro, que Marlene Santos confidenciou à Quanto à Quinta do Portal, a empresa dedi-
A visita à Quinta do Portal coincidiu com um Angola’in que o prémio de escanção “é o reco- ca-se à produção de uma panóplia de vinhos,
workshop, promovido por várias empresas e nhecer do trabalho de quatro anos” e que deseja em que os do Porto e de Moscatel se desta-
destinado a jornalistas da especialidade. As- “fazer a formação de enologia e seguir o curso” cam pela fusão entre tradição e modernidade,
sim, os mais recentes peritos em vinhos pu- para poder aconselhar “o consumidor final”. dando origem a um produto fortificado, muito
deram aperfeiçoar a sua formação-base, apreciado tanto pelos consumidores maduros
adquirindo novas competências e conheci- A Assistente de Marketing da Atlanfina é co- como pelos mais jovens. Já os vinhos do Dou-
mentos acerca dos vinhos portugueses, que ordenadora das promotoras e embaixadora da ro (tintos e brancos) e Espumantes são frutos
são simultaneamente os mais vendidos e pro- caipiroyal. O balanço da mais recente apos- de castas autóctones, que devido às cuidadas
curados no mercado angolano. Além dos en- ta da empresa, em parceria com a Real Com- macerações e fermentações e posterior estágio
sinamentos teóricos e práticos, os escanções panhia Velha, é positivo. “As pessoas gostam em barricas de carvalho dão origem a produtos
depararam-se na Quinta do Portal com o con- muito do caipiroyal”, garante. Porém, como o de elevada qualidade, que inclusive arrecada-
ceito “Boutique Winery”, a imagem de marca produto está no mercado há apenas um ano, ram algumas distinções internacionais.

ORGANIZAÇÃO FAZ BALANÇO DO CERTAME que este é o primeiro passo de um caminho muito longo a percorrer no
Manuel da Silva Reis, director da Real Companhia Ve- sentido da profissionalização e da especialização dos profissionais. Hoje
lha, em entrevista à Angola’in em dia, há uma demanda muito grande de hotelaria e de restaurantes no
Qual o balanço da 2ª edição do concurso de escanções? mercado angolano, que é emergente. Começa a haver muita procura e
O balanço é extremamente positivo porque o ano passado foi um período começam a existir hotéis, pelo que tem que começar a haver uma oferta
de teste. A acção foi muito boa e este ano a adesão excedeu as expectativas. compatível.
Foi um sucesso. Angola hoje em dia tem um grande mercado de consumi- Quais foram os critérios de selecção para o curso?
dores de vinhos portugueses, que cada vez mais vão interessar-se não só São chefes de vinhos e gerentes de restaurantes, que foram submetidos a
pela quantidade mas pela qualidade. As pessoas querem saber o porquê da um concurso de escanções, dado por um enólogo da nossa praça e estes
qualidade, da diferença das regiões e cabe aos profissionais, aos escanções jovens foram os vencedores deste concurso. Houve critérios, uma avalia-
prestar essas informações. Ora nós como empresas que pretendem não só ção e estes foram os que ganharam, os que no fundo mostraram mais ha-
vender qualidade, mas quantidade para o mercado angolano, interessa- bilitações para este concurso e o prémio era uma viagem a Portugal, aos
nos que hajam profissionais que saibam informar os consumidores das representantes da Atlanfina, que promoveu o concurso.
potencialidades e das diferenças das regiões portuguesas. Os escanções já têm um bom nível de aprendizagem?
É uma aposta ganha? Não diria que estão ao nível dos sommeliers de um restaurante de Paris ou
É uma aposta ganha e será para continuar. Nós desafiamos os participantes de um hotel de 3/ 4 estrelas. Mas estão num nível muito capaz e muito ra-
para que seja criada uma associação de escanções. Porque achamos que só zoável. Tem havido uma evolução muito positiva. Uma das coisas que noto
com uma alta profissionalização é que se poderá chegar aos níveis que nós neles é o interesse, a vontade e o querer saber e aprender, o que é funda-
pretendemos para o mercado angolano. São níveis muito ambiciosos. mental. São extremamente curiosos, extremamente interessados em tudo
Qual o grau de adesão? aquilo que nós falamos e justamente esse querer e essa vontade irá permitir
Tivemos bastantes candidatos, incluindo um director de hotel. Pensamos chegar a um nível muito aceitável, a caminho do bom e do muito bom

118 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


Dias 4 e 5 vulgar aquilo que aprendi e até estou a pensar
abrir uma associação de escanções em Ango-
perfil
rumo a Sul, à idílica
paisagem alentejana la”, reiterou. Já Adriano Carvalho, sub-chefe de
sala no Hotel Trópico, encara o galardão como Bruno Guise
A marca Esporão SA agrega desde o início uma forma de “chegar mais além”. O escanção Idade: 34 anos
deste ano os projectos da Herdade do Espo- teve direito a uma estadia mais prolongada Localidade: Luanda
rão (Alentejo) e a Quinta de Murças (Douro). em Portugal, uma vez que a empresa onde tra-
Profissão: Venda de eventos no restauran-
Foi precisamente em terras alentejanas que balha patrocinou “um estágio num hotel pelo
te Che
os vencedores do concurso de escanções pas- período de dez dias”. Contudo, é em Angola
saram os últimos dias da breve passagem por que o hoteleiro pretende “crescer”, pois existe Percurso profissional: “Comecei no
Portugal. A data escolhida para a visita à Her- uma tendência para que “a área de escanção ramo hoteleiro com 16 anos. Em Luanda, tra-
dade do Esporão não podia ser mais oportuna. seja importante, porque se estão a vender vi- balhei em dois restaurantes. Depois fui bar-
Em época de vindimas, os escanções tiveram nhos bons e existe o cliente que não sabe que man em duas ou três discotecas e mais tarde
a possibilidade única de conhecer os métodos tipo de vinho quer beber”, havendo a “neces- vim para Portugal, onde trabalhei em alguns
mais tradicionais de vinificação e participaram sidade de aconselhar”. Bruno Guise salienta sítios - restaurantes, estágios em hotéis - e pas-
na tarefa de pisar as uvas no lagar. Durante a que na “hora da escolha, o cliente pede muito sado dois anos voltei para Angola. Entretanto,
estadia, os visitantes contactaram de perto a opinião”, sendo que a preferência varia entre fui para a África do Sul, onde fiquei seis meses.
com a realidade de um outro produto: o azeite. “os produtos do Douro e do Alentejo, especial- Um amigo convidou-me para trabalhar numa
A empresa dedica-se à confecção das duas es- mente tintos”. pastelaria e pouco depois fui para um restau-
pecialidades e tem como principal meta assu- rante italiano, o Mimos. Quando regressei da
mir-se como referência nos dois domínios. Quanto ao futuro dos vinhos em Angola, todos África do Sul, fui convidado para o Che, em
são unânimes: a tendência é para o mercado 1999. Nos dois primeiros meses trabalhei
Em pleno coração do Alentejo, em Reguengos continuar a crescer. Por outro lado, ganha con- como chefe de turno. Como evoluí muito rá-
de Monsaraz, a herdade produz o famoso vi- tornos a possibilidade de, a curto prazo, nas- pido, pois já tinha experiência, fui para sub-
nho Esporão, considerado um dos melhores cer no país a primeira associação de escanções. chefe de sala, onde trabalhei com um chefe
de Portugal, e os vinhos Monte Velho, entre “Já existem quatro. Vamos trocar informações, português, que me ensinou parte das coisas
outros. Da reserva desta empresa, chegam debater e pensar no que fazer futuramente”, que eu hoje sei. Em 2000, ele foi embora e o
nomes conhecidos como o Alandra, Vinha da atalha Bruno Guise, o mentor do projecto. A meu superior apostou em mim e fiquei a che-
Defesa e os produtos das Monocastas, como o ideia é igualmente partilhada pela Real Com- fe de sala, cargo que no ano seguinte conciliei
Aragonês 2005 ou o Touriga Nacional 2006. panhia Velha. Em entrevista à Angola’in, Ma- com o de chefe de banquetes. Isto durante
nuel da Silva Reis anunciou que a empresa nove anos. Neste momento, não estou ligado
Entusiasmado com a beleza da região, Bruno desafiou “os participantes para que seja criada directamente à venda a clientes de restauran-
Guise explicou à Angola’in, durante uma pau- uma associação de escanções”. Isto porque a te, mas às vendas de eventos, de serviços, aju-
sa nas actividades, que a opção pelo curso sur- entidade acredita que “só com uma alta profis- do a escolher as ementas e os vinhos.”
giu naturalmente, pois “como a hotelaria tem sionalização é que se poderá chegar aos níveis
Projectos: “Um dos meus principais ob-
a ver com comida e vinhos”, acabou por surgir que nós pretendemos para o mercado angola-
jectivos é aprofundar conhecimentos e,
“o interesse pelos vinhos”. “Fui pesquisando e no”. Adriano Carvalho sugere ainda a criação de
posteriormente, transmitir o meu saber aos
querendo saber mais. Neste momento, estou mais escolas hoteleiras, pois há uma enorme
hoteleiros e aos mais novos para dar conti-
ligado às vendas de eventos. Vendo os servi- carência de técnicos especializados. O escan-
nuidade naquilo que estamos a fazer. Ando
ços, ajudo a escolher as ementas e os vinhos. ção defende a aposta na formação em territó-
há oito anos a formar-me em hotelaria. Ago-
Os clientes estão mais exigentes, fazem per- rio nacional, uma vez que não é possível levar
ra com estes conhecimentos em vinhos,
guntas, querem saber qual é a região e, por is- todos os alunos para Portugal.
claro que vou dar continuidade à formação
so, percebi que precisava de investir mais nesta
nesta área.”
formação”, revelou. A trabalhar actualmente De regresso a Luanda, garantem que o cami-
no restaurante Che, o escanção acredita que nho para o sucesso está na aposta local e na
a distinção “vai melhorar a carreira” e afirma criação de condições dentro do país, para que
ter sido “muito gratificante a participação no se verifique a tão necessária profissionalização
concurso”. “Acredito que com este prémio vou dos trabalhadores deste ramo. O empreende-
tentar passar a informação aos hoteleiros, di- dorismo está nas mãos dos novos escanções.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 119


VINHOS & CA. | manuela bártolo

Fila de cima - Adebayo Vunge, Romão Ferreira, Aníbal Coutinho (enólogo deu o primeiro módulo de formação), Joaquim Laureano (Professor Universitário), Jaime Fidalgo, André Sibi, José Kaliengue,
Fila de baixo - Natacha Roberto, Jacqueline Saluvo, António Silva, Paula Sequeira (back- agência de comunicação da ViniPortugal em Angola), Ninelmo Ribeiro, Elizandra Royer (back), Sónia Fernandes (Viniportugal)

viniportugal desenvolve
formação para jornalistas
A ViniPortugal mação detalhada do ciclo vitivinícola. O facto cluiu ainda a componente sensorial, em que os
escolheu a tradicional do período das vindimas se caracterizar co- alunos foram convidados a fazer uma análise
época das vindimas mo um acontecimento único, contribuiu para dos seus sentidos, bem como a participar nu-
o enriquecimento da vertente formativa do ma prova de vinhos, orientada pelas suas ca-
em Portugal para evento. A adesão excedeu as expectativas e o racterísticas e regiões. Aníbal Coutinho e Mário
promover um workshop certame contou com a presença de profissio- Louro foram os formadores que iniciaram os
vínico, especificamente nais representantes de algumas rádios, tele- jornalistas nacionais no mundo da vinicultura
destinado a profissionais visões e jornais nacionais. portuguesa.
da comunicação social
angolanos, que se A recepção aos jornalistas contou com uma Após a teoria e a introdução aos conceitos es-
visita ao Palácio e Adega da Bacalhôa e, pelo senciais da actividade, os participantes do
mostraram interessados final do dia, ao centro de vinificação de José workshop, organizado pela ViniPortugal, se-
em alargar os seus Maria da Fonseca, uma casa familiar com dois guiram viagem, passando pelas regiões vitivi-
conhecimentos acerca da séculos de história, considerada a mais antiga nícolas do Dão, da Bairrada, do Tejo, de Lisboa
matéria. produtora de vinho de mesa e de Moscatel de e do Alentejo. As actividades repartiram-se en-
Setúbal. Os dias seguintes foram os mais in- tre visitas a quintas, adegas e produtores, em
tensos e produtivos, integralmente dedicados que não faltaram palestras sobre a temática,
O evento contou com uma enorme afluência, à aprendizagem. provas dos vinhos típicos de cada herdade e
nomeadamente por parte dos jornalistas da participação nas respectivas actividades, de-
especialidade, que se deslocaram a Portugal À chegada a Lisboa, a comitiva frequentou senvolvidas no âmbito das vindimas. No térmi-
para participar no certame e, desta forma, um curso de iniciação à prova de vinhos, sub- no do workshop, os jornalistas mostraram-se
investir na sua formação vínica. dividido em duas partes. A formação intensi- satisfeitos, salientando o interesse e vontade
va incidiu inicialmente sobre os tipos de vinhos em aprofundar conhecimentos acerca de um
A Associação Interprofissional para a Promo- portugueses, a sua importância e o estudo dos nicho de mercado que tem sofrido um expo-
ção dos Vinhos Portugueses escolheu várias três perfis do produto e respectivas regiões vi- nencial crescimento nos últimos anos. De fac-
regiões portuguesas emblemáticas da produ- tícolas. O dia encerrou com uma degustação de to, a inclusão de artigos da especialidade nas
ção vinícola. O curso intensivo, que decorreu sete variedades do néctar de Baco. Aliás, esta publicações é uma mais-valia, uma vez que o
entre 24 de Setembro e 4 de Outubro, abran- tarefa foi o mote para o arranque da segunda consumidor de vinhos revela-se cada vez mais
geu a visita a vários produtores e respectivas parte da formação, em que os visitantes ti- exigente e empenhado em adquirir informação
adegas, em que cada participante dispôs de veram a possibilidade de, após uma visita às sobre este sector.
um acompanhamento mais próximo e infor- vinhas, elaborar o seu próprio vinho. O curso in-

120 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


VINHOS & CA. GOURMET | patrícia alves tavares

aragawa
Requinte europeu
no coração do Japão

É simplesmente o restaurante mais caro do 227 gramas custa 800 dólares. Pode sempre
mundo. A distinção foi atribuída pela não me- optar pelo invulgar bife ‘Wagyu au saqué’, que
nos importante revista americana Forbes, que recebe uma massagem dos cozinheiros antes
anualmente publica a lista dos dez espaços de ser servido. No entanto, quem conhece con-
mais dispendiosos. sidera que vale a pena gastar isso e muito mais
para ter a oportunidade de provar a carne mais
O japonês Aragawa lidera o ranking pelo se- saborosa do planeta. Afinal, o seu custo ape-
gundo ano consecutivo. Um dos motivos apon- nas reflecte o preço dos ingredientes dispen- informações úteis
tados para os preços exorbitantes está na diosos, usados na sua confecção. Morada: ankyu-Koutsukosha Bldg.,
especialidade da casa, o bife Wagyu ou Kobe-
fl. B1|3-3-9 Shinbashi Minato-ku
beef, uma das carnes de vaca mais caras do pla- Inaugurada em 1967, a pequena churrascaria
neta, que no caso concreto, é oriunda de uma japonesa, à semelhança de muitos estabeleci- Telefone: (81-3) -3591-8765
quinta local, propriedade do restaurante. A len- mentos do país, não dispõe de website e muito Género: Steakhouse
dária especialidade, conhecida pelo tratamen- menos de uma decoração moderna. O tradicio- Especialidade: Bife Kobe
to peculiar e requintado dos bovinos, é servida nal estilo requintado e clássico da sala, decora- Preço médio: 40000 JPY
simplesmente com pimenta e mostarda, pelo da a vermelho e dourado, é uma mais-valia e
Reserva: aconselhável
que espere uma experiência única. A carne Ko- faz deste restaurante, localizado no centro de
be será definitivamente a melhor que alguma Tóquio (num prédio bastante simples), um dos Horário: Seg. a Dom., das 12h
vez provará. espaços mais procurados, onde não é fácil con- às 15h e das 17h às 22h (hora local)
seguir uma reserva e há uma selecção criteriosa Dresscode: Formal
Situado em Tóquio, no Japão, o restaurante dos clientes. O ambiente tipicamente japonês,
Pagamento: Dinheiro,
Aragawa cobra pelo prato mais barato 370 dó- com um toque europeu (onde não existe músi-
cartões de crédito/ débito
lares, pelo que o cliente deve estar preparado ca ambiente), e as melhores carnes que algum
para gastar, no mínimo, mil dólares num sim- dia experimentou fazem do Aragawa ponto de Outras indicações:
ples e único jantar. Uma fatia de steak kobe de passagem obrigatório. fotografias proibidas

VINHOSLUXOS
& CA. · ANGOLA’IN | 121
VINHOS & CA. GOURMET

cais de quatro
Paraíso
junto ao mar
Requintado, glamoroso e detentor de uma A funcionar desde 2003, o Cais de Quatro con- informações úteis
ementa eclética e diversa. O Cais de Quatro quista de imediato quem o visita pela primei- Morada: Rua Mortala Mohamed/
é provavelmente um dos restaurantes com a ra vez. A decoração minimalista, num espaço
Casa do Desportista Ilha de Luanda
melhor vista para a Baía de Luanda. A sua be- clean, em tons brancos e azuis, perfeitamen-
leza é reconhecida por todos os visitantes, que te ajustados ao cenário marítimo envolvente, Email: caisdequatro@hotmail.com
ficam encantados com a paisagem, especial- torna o seu jantar num momento de deleite e Reservas: convém
mente à noite, em que a iluminação da baía dá degustação únicos. “Tratando-se de um res- reservar todos os dias
um toque de charme ao espaço. taurante aberto à beira-mar, pode-se fumar Contacto para reservas: 924570620
onde quiser”, contando com cerca de 120 co-
Horário: todos os dias das 11h/ 02h
Á semelhança da maioria dos restaurantes de laboradores para o servir e ajudar na escolha
renome internacional, a ementa é variada, po- dos menus. (excepto segunda-feira, das 18h/ 02h)
dendo usufruir das tradicionais especialidades Cartões: VISA
à base de peixe ou carne, bem como de uma O local define-se como cosmopolita, em que Indicações: Possui parque de
bela ‘pasta’ ou ‘sushi’. Assim, o Cais de Quatro a última novidade é o Sushi, um produto que
estacionamento e tem designação
procura dar resposta às diferentes exigências Luís Cartaxo descobriu nas suas viagens pelo
de espaço para fumadores
dos seus clientes que, segundo Luís Cartaxo, estrangeiro, onde visitou os espaços mais co-
sócio do espaço, são essencialmente da “classe nhecidos e as culturas mais peculiares.
alta”. Em declarações à Angola’in, o responsá-
vel garante que não detêm uma especialidade Se ficou com vontade de conhecer um dos
em particular, mas o “top” das escolhas recai restaurantes mais emblemáticos de Luanda
na “pescada da nossa costa, no lombinho aos não se esqueça de fazer reserva. Habitual-
três queijos, na espetada baía azul, na pica- mente, o espaço está lotado, pelo que deve
nha e nas nossas sobremesas top Crostatta de marcar a sua mesa, independentemente do
maca e a bomba calórica petit gateaux”. dia da semana.

122 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


el bulli
O melhor
dos melhores informações úteis
Morada: Cala Montjoi, Ap.
30, 17480 Roses, Girona
Email: bulli@elbulli.com
Eleito pelo quarto ano consecutivo como o me- fluentes da arte gastronómica. Conseguir me-
lhor restaurante do mundo, pela revista “Res- sa no El Bulli não é nada fácil (existem apenas Site: www.elbulli.com
taurant”, o espanhol El Bulli volta a ter nota 30). As reservas são efectuadas com meses de Reservas: dez dias de antecedência
máxima. A propriedade do aclamado chef antecedência, pois o milhão de clientes inte- Contacto para reservas:
espanhol Férran Adrià, localizada em Roses ressados neste restaurante supera largamente
+34 972 15 04 57 (depois das 15 horas)
(Girona), evidencia-se pela criatividade da gas- as oito mil vagas. A casa encerra no meio do
tronomia. Recomendado para os apreciadores ano, para que o seu fundador possa dedicar-se Horários: das 13h às 14.30h
da máxima qualidade e de paladar exigente, à pesquisa e desenvolvimento de novos sabo- e das 17.30h às 21.30h
neste restaurante encontra pratos apresen- res e texturas. (deverá consultar o site para saber
tados de forma minimalista, cujas receitas
em que dias o espaço funciona)
recorrem a ingredientes revolucionários e inu- O número um do mundo pauta-se pela exclu-
sitados. Afinal, o chef é célebre pelas pesquisas sividade. Está aberto ao público apenas du- Encerra: de Janeiro a Maio
no âmbito da gastronomia molecular, sendo re- rante sete meses e em várias ocasiões apenas Atenção: os horários de
conhecido internacionalmente como “alquimis- organiza jantares ou almoços. Assim, antes de funcionamento mudam
ta da cozinha”. fazer a reserva, deverá consultar no site a dis-
todos os anos!
ponibilidade para a data pretendida.
O requintado espaço do Norte de Espanha rece- Particularidades: refeições recorrem
beu em 1997 a terceira estrela, concedida pelo Situado a 177 km de Barcelona e erguido numa à técnica da encapsulação –
prestigiado guia Michelin e a partir dessa altura encosta com vista privilegiada para o Mar Me- comida em pequenas cápsulas.
nunca mais a perdeu. A fama atrai clientes de diterrâneo, o El Bulli está inserido numa ampla
Preços: o menu de degustação
todo o mundo, que não parecem incomodados casa, cujas paredes brancas e estrutura de-
em despender avultadas quantias para usufruir talhada em madeira revelam uma decoração custa 190 euros (280 USD).
de um jantar de luxo num dos locais mais in- simples, tipicamente mediterrânea. A carta de vinhos é eclética

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 123


VINHOS & CA. | wilson aguiar

Sabores
angolanos
temperados

“la vie o”
Boa tarde meus amigos! bem rija para que a moamba fique boa.
Ao longo das próximas edições vou apre- A receita deste mês recorre ainda a um

en rosat
sentar-lhes algumas das especialidades ingrediente com longa história: a Jingu-
nacionais, deixando sugestões sobre o ba. Este é o nome que os antigos (e ain-
modo de confecção das mesmas. Espero da muitos) atribuem ao amendoim, que
levar até si os melhores sabores de Áfri- é oriundo do norte do país. Por isso, a mi-
ca e os aromas de Angola. Para o arran- nha sugestão é uma mistura de sabores,
que da minha rubrica, escolhi um prato, uma vez que o prato e óleo de palma são
que faz recordar os cheiros da terra mo- típicos do outro ponto de Angola, o sul.
lhada, óptimo para ser apreciado ao final Jindungo era a designação do piri-piri,
do dia, com o pôr-do-sol como pano de também muito apreciado pelos africa-
fundo. Assim, a minha sugestão vai para nos, que adoram refeições com sabores
uma moamba de galinha rija de jinguba. apurados e exóticos. Pode acompanhar
Ela surge de uma fusão de sabores de di- com um bom vinho ou com a nossa cer-
versos pontos do país. Do sul do territó- veja cuca. Espero que aprecie este prato,
rio surge o óleo de palma, que é muito que é de muito fácil confecção. Os ingre-
consumido nessa zona. Como não existe dientes indicados são para quatro pes-
mar dentro das várias periferias de An- soas, pelo que pode acrescentar mais
gola, muitas culturas consomem quase galinhas, consoante o número de pesso-
em exclusivo carnes. A galinha deve ser as para a refeição.
Bom Apetite!

124 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.


Wilsron
Aguia re:
suge

moambia
de gal nha
rija dea
jingub
S:
INGREDIENTE
ha rija
1,5 kg de galin
Sal qb
qb
Óleo de palma
em já pronta
Moamba de dend
1 cebola
3 tomates
milho
1 kg de fuba de ompanhar
quiabos para ac
10 unidades de

CONFECÇÃO: ha rija, deve


pr ep ar ar a m oamba de galin
Para linha com sal de
im ei ro te mperar bem a ga
em pr estufar,
e se gu id a le va -se ao lume para
cozinha. D ois de estufar 15
po uc o de ól eo de palma. Dep
com um mate, deixando
os , ad ic io na -s e a cebola e o to
minut o, deverá moer
a
ga r m ui to bem. Entretant
re fu diluir em
ss ar pe lo m oi nho mais fino e
jinguba, pa so. Depois da
en te , pa ra fa cilitar o proces
água qu e rectificar os
ha es ta r be m refogada, há qu
galin ar
, deixando apur
ro s e ad ic ionar a jinguba
te m pe ra que a
O te m po se rá o necessário pa
mais tempo .
.
ue muito pegada
moamba não fiq

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN | 125


CULTURA & LAZER | patrícia alves tavares

Versejar
estórias
de um povo
A poesia é muito mais que um género literário. Ela transporta
sentimentos e sentidos ocultos e recorre ao dom da palavra
para traduzir os acontecimentos que rodeiam o poeta e o
ambiente social, de onde recebe diversos estímulos

A literatura angolana tem um percurso idênti- da Cruz e Agostinho Neto, emergem no perí- perfil
co às manifestações literárias, que compõem odo pós-guerra, veiculando a sua “mensagem UANHENGA XITU
a cultura de cada país, seja em África, na Eu- com um conteúdo social” e fazendo parte de Agostinho André Mendes de Carvalho,
ropa ou noutro continente. A poesia nacional um movimento político-cultural, denomina-
de pseudónimo Uanhenga Xitu,
acompanha a evolução nacional e transmite do “Vamos descobrir Angola” (1948). Com o
nas subtilezas de cada poema a cultura, so- arranque do movimento pela libertação na- nasceu em 1924, em Ícolo e Bengo.
ciedade e história contemporânea de Ango- cional, em 1961, o panorama literário também Enfermeiro de profissão, a actividade
la. Foram muitos os autores que procuraram sofre mudanças, voltando-se para a distribui- politica valeu-lhe a prisão. Mais
através das palavras dar sentido aos momen- ção de panfletos, que assinalam o período cul- tarde, estudou Ciências Politicas, foi
tos que marcaram o percurso nacional até à tural e politico que se vivia. A dimensão ética e
Governador de Luanda, Ministro da
actualidade. As suas origens remontam a me- a causa nacionalista sobrepõe-se aos impera-
ados do século XIX, período assinalado pe- tivos estético-literários da época. São inúme- Saúde, Embaixador na Alemanha
la tradição intervencionista e panfletária de ros os escritores e poetas, que são presos, por e deputado à Assembleia Nacional,
uma imprensa, improvisada por nativos. É em se envolverem na luta pela liberdade. Agosti- cargo que ainda ocupa. Uanhenga Xitu
1910 que autores como Silvério Ferreira, Pai- nho Neto, António Cardoso e Luandino Vieira
descobriu o talento da escrita durante
xão Franco ou Assis Júnior proclamam “as rei- são alguns desses exemplos.
a prisão, onde criou os emblemáticos
vindicações das massas populares da época” e
se assumem como “intérpretes duma consci- Independência valoriza raízes personagens da literatura nacional,
ência cultural em vias de renovação”, lançando O nascimento da República Popular de Angola como Kahitu e Mestre Tamoda. Publicou
“as bases de uma nova personalidade ango- assinala um novo momento literário, em que “Meu Discurso”; “Mestre Tamoda”; ”Os
lana”. Coube a estes homens de letras dar os a poesia celebra a certeza da liberdade e bus-
Sobreviventes da Máquina Colonial
primeiros passos no mundo literário e cumpri- ca a recuperação da nacionalidade, assistindo-
rem uma das principais funções da poesia: a se ao aparecimento de um projecto poético de Depõem”; “O Ministro”, entre outros
critica social. resgate da língua literária, aproveitando as
suas virtudes intrínsecas e universais. A par- contemporâneos regressam às origens e evo-
Primeiro “versador” tir da década de 80, regista-se o afastamen- cam o tempo distante, anterior à opressão e
O poema “Negra!”, de Cordeiro da Matta, re- to do discurso emblemático do exaltar da luta às decepções.
tirado do seu livro Delírios (1889), foi publi- de libertação e com o surgimento das Briga-
cado na revista Ensaios Literários, em 1902 e das Jovens de Literatura, nomeadamente nos Os poetas de hoje
marcou a poesia angolana, uma vez que este principais centros urbanos, desenvolvem-se Cármen Secco, professora, referiu recente-
assumiu-se como o primeiro negro a cantar a novos estilos poéticos, liberdades linguísticas mente num encontro sobre o tema que “a
mulher africana (como “a deusa formosura”), e aborda-se essencialmente a temática dos transgressão, errância, desafio, eroticidade,
numa obra marcada pela intenção nacionalis- estados de alma, que reflectem a desilusão metalinguagem e desconstrução são alguns
ta. Entretanto, grandes nomes ligados à po- em relação à ausência de soluções para resol- dos vectores da produção poética angolana
esia nacional, como António Jacinto, Viriato ver os problemas mais urgentes. Estes poetas das últimas décadas. A nova poiesis é tecida

126 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER


perfil
ÓSCAR RIBAS, O ÍCONE
“Autor de uma vasta e profunda
obra, porque mergulha bem fundo
nas raízes da nossa terra, não há
dela, entretanto, o conhecimento
que merece e que o seu valor exige.
A obra de Óscar Ribas é funda e
potencialmente criadora, pelo que
pode e deve ser origem de novas
por perplexidades e incertezas. Uma hetero- condições de lançar todos os anos entre dois e outras obras, novos estudos e
geneidade de tendências reflecte a dispersão a três livros. Mas é preciso que hajam apoios”, novos caminhos de conhecimento
dessa poesia que oscila entre a revitalização anunciou. Já o gerente da Livraria Lello, José
humano”, afirmou recentemente
de formas orais da tradição e a ruptura e/ ou Magalhães assume que as obras de romance,
recriação em relação a alguns dos procedimen- poesia, conto e ficção, de escritores nacionais a ministra da Cultura. Escritor,
tos literários adoptados por gerações anterio- têm muita procura, sobretudo no que concer- jornalista e ensaísta, a prestigiada
res”. A Ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, ne a autores como “Pepetela”, Manuel Rui figura angolana nasceu em 1909,
tem apostado no incremento da literatura, Monteiro e “Uanhenga Xitu”. 

em Luanda e faleceu em 2004, em
numa altura em que paralelamente o Ministé-
rio da Educação tem incidido na alfabetização Resgatar a cultura nacional Cascais (Portugal). Reconhecido
da população e na criação de estabelecimen- Abreu Paxe defende que é necessário recupe- no meio literário nacional e
tos de ensino para as crianças. A ministra tem rar os elementos positivos da cultura nacional, internacional, Óscar Ribas foi
defendido a divulgação do legado literário an- de modo a orientar as práticas artísticas e cul-
membro da União de Escritores
golano, nomeadamente nas escolas. Por outro turais. O escritor destaca que a nova geração
lado, sugere um investimento mais intenso de criadores tem como missão aproveitar os Angolanos e foi agraciado com
na produção literária e na formação, de modo elementos da tradição oral e incorporá-los nos diversas distinções, ressalvando-
a incentivar o gosto pela leitura. A responsá- seus trabalhos, de forma estética, asseguran- se o Prémio Nacional de Cultura e
vel acredita que este fomento é fundamental do o enriquecimento cultural e social do país.
Artes, em 2000. A sua bibliografia
para desenvolver pessoas mais cultas e co- “Para este fim, as obras de Óscar Ribas repre-
nhecedoras da realidade do país. “Podemos sentam um exemplo a seguir, já que nas refle- contempla as obras, entretanto
fazer isso aumentando o número de escolas, xões que tenho estado a fazer à volta desta esgotadas no mercado, “Missosso”,
de livros, edições, multiplicando-se em edito- figura notei como pode o elemento recolha da “Flores e Espinhos”, “Cultuando
ras por Luanda e todo o país. Penso que esta- tradição oral funcionar para os novos suportes
as musas” (poesia), entre outros
mos nesse caminho e vamos conseguir chegar artísticos”, salientou.
lá”, proferiu. O responsável da Brigada Jovem
de Literatura de Angola, no Huambo, Alber-
to Praia confirma, por sua vez, que a falta de perfil
apoios para a edição de livros tem desincenti- ABREU PAXE
vado a maioria dos autores, que acabam por Nasceu em 1969 no vale do Loge, no Bembe e licenciou-se no Instituto Superior da
enveredar por outras actividades. O dirigente Educação (ISCED), em Luanda, especializando-se em Língua Portuguesa. O poeta é
acredita que a poesia e a prosa têm vindo a docente de Literatura na instituição onde se formou e é membro da União de Escritores
perder espaço no panorama artístico. “Os nos-
Angolanos. Em 2003, venceu o Prémio Literário António Jacinto, com a obra “A chave
sos escritores, embora não tenham obras no
mercado, demonstram qualidade suficiente no repouso da porta”. É autor dos poemas “De Certo Modo os Destroços Palavras”,
para despontarem nestas lides. Estamos em “Muma Ulunga da Brevíssima Existência” e “O Material o Andor da Paredes”

CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN | 127


CULTURA & LAZER | patrícia alves tavares

Encarnação
da Luta
Não creio em mim
Não existo
Não quero eu não quero ser
Quero destruí-me
Atirar de pontes elevadas
E deixar-me despedaçar
Sobre as pedras duras das calçadas
Pulverizar o meu ser Veia revolucionária gal), fundou o movimento associativo, que
Nascido a 17 de Setembro de 1922, em Íco- se dedicava a divulgar internacionalmente
Desaparecer
lo e Bengo, Agostinho Neto formou-se em a situação das colónias. A sua dedicação às
Não deixar sequer traço de passagem Medicina, na Universidade de Lisboa (Por- causas nacionais valeu-lhe o Prémio Lenin
Pelo mundo tugal). No entanto, o jovem médico cedo se da Paz, atribuído em 1975.
Quero que o não-eu interessou pela política, assumindo-se co-
mo opositor do domínio colonial português, Qualidades de artista
Se aposse de mim
tendo sido detido várias vezes na capital A vida académica, política e literária an-
Mais do que um simples suicídio portuguesa e em Cabo Verde. Antes de se daram sempre de mãos dadas na vida do
Quero que esta minha morte formar, foi obrigado a fugir para Marrocos, médico, que nunca esqueceu a sua vocação
Seja uma verdadeira novidade histórica período em que se aliou ao movimento de poética e procurou conciliar as duas áreas.
libertação, sendo eleito, em 1962, presiden- Enquanto estudante, colaborou em várias
Um desaparecimento total
te do Movimento Popular para a Libertação revistas, jornais e publicações culturais.
Até mesmo no tempo de Angola (MPLA). Nessa qualidade, pro- Findo o curso, exerceu medicina em Luan-
E se processe a História clamou a 11 de Novembro de 1975, a inde- da, onde abriu um consultório. Contudo,
E o mundo continue pendência do país e tornou-se no primeiro não abandonou a sua paixão pela literatura,
presidente de Angola, mandato que viria tendo inclusive publicado diversos livros. Os
Como se eu nunca tivesse existido
a terminar com o seu falecimento, a 10 de mais conhecidos são a sua primeira obra,
Como se nenhuma obra tivesse produzido Setembro de 1979, em Moscovo (Rússia). intitulada “Naúsea” (1952), seguindo-se li-
Como se nada tivesse influenciado na vida Agostinho Neto fez parte da geração de es- vros como “Quatro Poemas de Agostinho
Se em vez de valor negativo tudantes africanos, que viriam a desempe- Neto” (1957), “Com os Olhos Secos” (1963) e
nhar um papel decisivo na independência “Sagrada Esperança” (1974). O seu talento
Eu fosse zero
dos respectivos países, que no início do sé- foi reconhecido através dos galardões Pré-
In “Negação” culo XX estava sob o domínio português e mio Lótus (1970) e o Prémio Nacional de Li-
cuja ânsia pela libertação popular fez eclo- teratura (1975). Actualmente, a Fundação
dir a Guerra do Ultramar. Preso pela PIDE e Dr. Agostinho Neto tem como finalidade
Político, médico e poeta, António Agos-
deportado para o Tarrafal, o médico viu a servir o interesse público, divulgando a vida
tinho Neto foi o primeiro presidente da
sua residência ser fixada em Portugal, aca- e obra da figura, através de actividades no
República de Angola e uma das prin-
bando por conseguir fugir para o exílio, on- âmbito da educação, tecnologia e cultura,
cipais personalidades nacionais, reco-
de deu início ao movimento do MPLA. Até apostando na inovação científica e tecno-
nhecida por todos enquanto herói e
assumir a presidência do seu país, após o lógica e no fomento do desenvolvimento
lutador incansável pela independência
fim da guerra e proclamação da indepen- humano de Angola. Para assinalar o aniver-
do seu país. No ano em que se comemo-
dência, Agostinho Neto esteve sempre li- sário da sua morte, a instituição pretende
ram 30 anos passados da sua morte,
gado a esta batalha, envolvendo-se em reeditar alguns dos seus livros. Por outro la-
são inúmeras as entidades que orga-
várias causas académicas e políticas, mes- do, estão em curso os projectos de inclusão
nizam eventos para assinalar a vida e
mo quando se encontrava em Lisboa, onde, da sua vida e obra no plano curricular das
obra desta figura multifacetada.
em colaboração com outros jovens angola- escolas, bem como a candidatura do seu le-
nos e africanos (que estudavam em Portu- gado a Património da Humanidade.

128 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER


CULTURA & LAZER BREVES | patrícia alves tavares

música
Feira pode chegar à zona
periurbana
Jomo Fortunato, coordenador da feira da mú-
sica e literatura, espera alargar o certame, que
decorreu em Luanda, às áreas periurbanas, de
modo a permitir o acesso das comunidades aos
produtos culturais. Este é o principal desafio
que se impõe à organização, que este ano con-
tou com uma média diária de mil visitantes.
“A editora Arte Viva vai repensar a forma de
reeditar esta feira na perspectiva de que pos-
sa acontecer nas zonas onde o livro não che-
ga”, anunciou. O coordenador admitiu que na
edição de 2009 surgiram múltiplas ideias, das
quais destacou a criação de um Plano Nacional
de Leitura, que compreenda a colaboração de
todos os sectores associados aos livros, de for-
ma a intervir no combate ao insucesso escolar
direitos de autor
e à falta de hábitos de leitura. O certame inclui
a actuação de bandas de bairro menos conhe- Jurista defende acesso a bens culturais
cidas e que encontraram uma oportunidade Aguinaldo Cristóvão, director do gabinete jurídico do Ministério da Cultura, acredita que é funda-
para exporem os seus trabalhos, através da mental desenvolver políticas concretas, que incentivem o maior acesso dos cidadãos aos produtos
realização de palestras e da exibição de filmes culturais. Para o responsável, este é o método a seguir para reduzir o número de violações dos di-
reitos de autor. O Estado tem a responsabilidade de criar mecanismos que assegurem que todos
os cidadãos tenham oportunidade de aceder um determinado número de obras culturais e científi-
literatura
cas. Aguinaldo Cristóvão defende que, ao definir estas regras, toda a população terá oportunidade
Obra de Agostinho de desenvolver a sua intelectualidade, independentemente das suas possibilidades financeiras. O
Neto reeditada jurista considera que “o criador tem o direito de gozar dos produtos resultantes da reprodução, da
O Ministério da Cultura reeditou em Se- execução ou da representação das suas próprias criações”. A cópia ilícita das obras contribui para
tembro quatro das principais obras pro- desincentivar o processo criativo dos artistas, causando perdas económicas para todos os envolvi-
duzidas pelo poeta Agostinho Neto. A dos, que vivem desta actividade, conduzindo à baixa produção artística
iniciativa surgiu no âmbito das comemo-
rações da morte do ilustre representan- artes
te para dar a conhecer às novas gerações
o portfolio do poeta, médico e político. O
Alunos elogiam
público pode encontrar nas lojas as obras seminários
“Renúncia Impossível” e “Sobre a Liber- Os estudantes da Direcção Nacional de Formação
tação Nacional” e as compilações dos dis- Artística (DINFA) consideram que os seminários
cursos do primeiro presidente de Angola, sobre artes cénicas são muito importantes para o
“Náusea” e “Ainda o meu sonho”. O mi- desenvolvimento das artes no país, cujo mercado
nistério assume a sua estratégia de di- ainda é bastante fraco. Os futuros especialistas
vulgar, preservar e valorizar os escritos consideram que estes eventos facilitam a aprendi-
do autor e dar continuidade a uma inicia- zagem de novas matérias, bem como a aquisição
tiva que arrancou a 15 de Setembro, com de experiências, relacionadas com a dança, teatro
a realização do Colóquio Internacional so- e música. Os seminários contribuem para a concep-
bre Agostinho Neto ção de novas ideias, pelo que os alunos apelam para
que se organizem mais eventos do género

cultura
Visitas ao Museu de História Natural crescem
A média de 60 visitantes por dia levou Cadete Neto, guia do Museu Nacional de História Natural,
a considerar que os números correspondem às expectativas, revelando que a maioria do público é
composta por jovens. “As figuras que de certa forma chamam mais atenção dos visitantes, prin-
cipalmente se for pela primeira vez, são a Palanca Negra Gigante e o Mandatím, conhecido como
peixe mulher”, explicou, confirmando que o espaço recebe muitos estudantes, visitas de institui-
ções e de turistas, que procuram conhecer melhor a cultura nacional através do acervo do museu.
O organismo, instalado em Luanda, foi inaugurado em 1938

CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN | 129


PERSONALIDADES | patrícia alves tavares

De ‘pontas’
voltadas para
o sucesso
Pioneira da dança contemporânea africana, Ana Clara Guerra Marques
é uma das referências do panorama artístico angolano. Bailarina e
coreógrafa, possui uma vasta obra ao nível do estudo da arte nacional,
da crítica social, do ensino e da dança profissional.

Ana Marques personifica o próprio bailado, as-


sumindo-se como a maior representante da as ambições da companhia
dança nacional, em que fez tudo na expressão A maior referência da dança está a reactivar a Companhia de Dança
artística, sendo reconhecida dentro e fora dos Contemporânea de Angola, que fundou em 1991. O espaço estava “adormecido”
palcos angolanos. Actualmente, e apesar dos e a bailarina decidiu procurar pessoas interessadas em colaborar neste
obstáculos que tem enfrentado, persiste na projecto. “O grupo que estou a trabalhar resulta de rapazes que vieram de
batalha em prol da elevação e defesa da dan- diversos lados. Não tinham formação em dança clássica, mas uma enorme
ça, enquanto linguagem artística. Por outro vontade de aprender”, afirmou recentemente. O processo evolutivo foi
lado, entre a preenchida agenda, consegue es- extraordinário e a companhia está pronta para voltar novamente às ruas.
ticar o tempo para dar palestras, conferências Nove espectáculos estão já agendados e terão lugar no Nacional Cine Teatro
e workshops. O seu papel de professora incen-
tiva-a a defender a importância e necessidade
do ensino institucional do bailado em Angola.
positores. Actuou em espectáculos como “A lares das danças angolanas.
Propósito de Lueji”, “Imagem & Movimento”,
Defensora da crítica “Mea Culpa” e “Uma Frase Qualquer”. O seuMulher de causas
social, a bailarina percurso ficou marcado pela introdução deDefensora da crítica social, a bailarina encara
encara a dança como novas ideias e conceitos na execução da dan-
a dança como poderoso instrumento de in-
ça, criando originais formas de espectáculo,
tervenção. Em obras como “Mea Culpa” ou
poderoso instrumento de
em que figuram obras como “Corpusnágua”, “Neste País...”, a professora assume a sua ir-
intervenção “Solidão”, “Um Morto & os Vivos” e “Cincoreverência e comenta o sistema político. Em
Estátuas para Masongi”, para as quais tra-
busca da diversificação das linguagens da
Sacrifício e dedicação balhou em conjunto com reconhecidos escri-
dança, tem-se dedicado a estudar e pesqui-
Nasceu em 1962 e aos oito anos dava os pri- tores, pintores e escultores nacionais, como
sar sobre as coreografias tradicionais e po-
meiros passos na aprendizagem do ballet Pepetela e Gumbe. No entanto, nunca des- pulares, utilizando os elementos recolhidos
clássico na Academia de Dança de Luanda. curou as características tradicionais e popu-
para desenvolver uma linguagem própria e
Completou o curso de professores contemporânea. Ana Clara Guerra
de dança em 1978 e a partir des-
se momento assume a direcção da
Sabia que... Marques é mestre em Performance
Artística – Dança e membro indivi-
escola, conciliando o cargo com a Ana Clara Guerra Marques também escreve. A coreógra- dual do CID (Centro Internacional da
docência. Em 1990, frequentou a fa lançou três livros: “A Alquimia da Dança” (1999), “A Dança) da UNESCO. É a única inves-
Escola Superior de Dança, em Lis- Companhia de Dança Contemporânea de Angola” (2003) tigadora a trabalhar sobre as danças
boa (Portugal) e, de 1992 a 1999, e “Para uma História da Dança em Angola” (2008). Porém, de máscaras do povo Cokwe de An-
foi directora da Companhia de Dan- a veia da escrita não a motiva a lançar-se como escritora. gola e recebeu em 2006 o “Diploma
ça Contemporânea, a primeira do “Gosto de escrever, sinto-me bem a produzir textos, nomea- de Honra do Ministério da Cultura” e
género, em Luanda. Em 1995, foi damente para o meu blog. Existem alguns que acham que es- o “Prémio Nacional de Artes” na ca-
galardoada com o prémio “Identi- crevo bem, o que me faz ficar satisfeita”, expôs recentemente tegoria Dança.
dades” da União de Artistas e Com- durante uma entrevista. Contudo, esclarece que não se “ima-
gina a escrever um livro de ficção”, pois as obras que criou
estão relacionadas com “os trabalhos” que desenvolveu “du-
rante a formação”
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ano ii · revista nº09 · nov/dez 2009


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REVISTA Nº09 · NOVEMBRO / DEZEMBRO 2009


JUSTIÇA À LUPA
Direitos Humanos, Corrupção e a Nova Constituição
são os temas do momento para a advocacia nacional.
Em entrevista exclusiva, Inglês Pinto, Bastonário
da Ordem dos Advogados, revela o que está
a mudar num sector em evolução

stop à fuga poder às províncias o preço justo


As fragilidades do sistema tributário. Dividir para ‘reinar’. A descentralização Respeito pelo valor real dos bens
Contra a evasão, o Governo prepara-se marca a agenda política. Do Estado e serviços. A ideia é antiga – criar uma
para aplicar novas políticas de combate central para um poder local democrático, cadeia comercial assente em princípios
à fraude fiscal conheça as grandes metas do país éticos. Veja o que pode fazer

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