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DIÁLOGOS
AGROECOLÓGICOS
Conhecimento Científico e Tradicional na Conservação da
Agrobiodiversidade no Rio Cuieiras (Amazônia Central)
Convênio 076/2006,
Projeto etnobotânico e manejo florestal no entorno de Anavilhanas
Manaus, 2009
IPE - Instituto de Pesquisas Ecologicas
Copyright © 2009
Todos os direitos reservados.
Organizadores
Thiago Mota Cardoso
Mariana Gama Semeghini
Ilustrações
Ana Luiza Melgaco
Isbn: 978-85-86838-02-6
1. Conservação da natureza – Amazônia. 2. Etnobotânica. 3.
Agroecologia. 4. Povos tradicionais. 5. Agrobiodiversidade.
I. Cardoso, Thiago Mota II. Semeghini, Mariana Gama. III.
Melgaco, Ana Luiza.
CDD 19. ed. 581.61098111
www.attema.com.br
Sumário
Apresentação.................................................................................. 04
Agradecimentos............................................................................. 06
Introdução: Um convite ao tema.......................................... 07
O Rio Cuieiras: Os habitantes e seu ambiente........................18
Mariana Gama Semeghini
Thiago Mota Cardoso
A Roça.......................................................................................40
Thiago Mota Cardoso
Os quintais agroflorestais........................................................ 55
Caroline de Oliveira
Bruno Scarazatti
Plantas cultivadas..................................................................... 71
Thiago Mota Cardoso
A floresta: Usos e Significados................................................ 83
Marilena Altenfelder de Arruda Campos
Leonardo Pereira Kurihara
Educação agroecológica e socioambiental........................... 97
Mariana Gama Semeghini
Oficina agroflorestal.............................................................. 108
Marcio Menezes
Jailton Cavalcanti
Mariana Gama Semeghini
Leonardo Pereira Kurihara
Thiago Mota Cardoso
Meliponicultura: Uma ferramenta
de educação socioambiental................................................ 125
Leonardo Pereira Kurihara
Apresentação
O rio Cuieiras é habitado por populações tradicionais e indí-
genas que vivem do extrativismo, da caça, da pesca, da agricultura,
do turismo e artesanato. A área insere-se em um mosaico de uni-
dades de conservação, no baixo rio Negro, de extrema importância
para conservação da biodiversidade. Porém , pouco valor foi dado
por gestores das áreas protegidas e cientistas à população humana
que habita a região e manejam os ecossistemas. Valor no sentido
humano, cultural e também no sentido de considera-los como pro-
tagonistas e sujeitos que possam ter interesses na conservação da
biodiversidade.
No início de 2005, encaminhamos o projeto “Etnobotânica
e Manejo Agroflorestal no Entorno da Estação Ecológica de
Anavilhanas (ETNO)” ao Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA),
projeto aprovado e que teve inicio em dezembro do mesmo ano
(Convênio 076/2005). O projeto teve como objetivos: i) Obter e gerir
informações sobre o conhecimento etnobotânico das comunidades
ribeirinhas, visando a aplicá-las ao manejo sustentável da paisagem;
ii) Desenvolver alternativa agroflorestal, considerando as dimensões
sociais, ecológicas e econômicas das comunidades envolvidas; iii)
Incentivar o envolvimento e organização social, desenvolvendo as
bases sociais para o manejo da paisagem; iv) Viabilizar o acesso da
informação, capacitação e educação ambiental de forma participati-
va e com perspectiva de gênero.
O projeto está em sua fase final, o que não significa térmi-
no, mas sim o fim de uma etapa para novos caminhos se abrirem.
Durante sua execução, o projeto ETNO desdobrou-se dois caminhos
de atuação: um através da assessoria aos grupos de mulheres agri-
cultoras e artesãs de São Sebastião e Nova Canaã (Coana) e outro
na assessoria e apoio a praticas agricolas e artisticas da comunidade
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Organizadores
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Diálogos Agroecológicos
Agradecimentos
Aos moradores do rio Cuieiras, por nos receberem com ta-
manho carinho em suas casas, fazendo-nos compreender que é no
diálogo olho-a-olho, na relação sincera e no saber-fazer cotidiano
que bons caminhos são trilhados. Importante para os que trilham na
esperança da sustentabilidade.
Às organizações parceiras, um agradecimento sincero, por
possibilitarem estas vivências e acreditarem nas potencialidades
dos projetos locais. Em especial, ao nosso financiador o Fundo
Nacional do Meio Ambiente (Fnma) e a Simone Gallego da gerência
de projetos, por nos acompanhar nesta jornada. Às comunidades de
São Sebastião, Três Unidos, Nova Canaã/Coana, Nova Esperança,
Boa Esperança e Barreirinhas. Ao Grupo de Pesquisas em Abelhas,
ao Laboratório de Etnoepidemiologia e Etnoecologia Indígena do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), ao Arboreto/
UFAC e aos pesquisadores do Pacta. À Gislene Carvalho do Grupo de
Pesquisas de Abelhas (GPA/Inpa).
A todos os queridos membros do IPÊ. Ao Rafael Illenseer, Oscar
Sarcinelli, Sarita de Moura, Marco Antonio, Nailza Pereira, Christina
Tofoli, Jefferson Barros, Sherre Nelson, Eduardo Badialli, Hercules
Quelu e Francisco (Chiquinho), membros do IPÊ no Rio Negro.
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
que vem sendo implantado, de forma não tão pacífica, mas geran-
do resistências. O desenvolvimento técnico-científico aprofundou e
alargou tal avanço monocultural para além das fronteiras.
Segundo Shiva (2003), os fatores que levam à perda de diver-
sidade e dos saberes tradicionais estariam ligados ao modo como
a ciência ocidental é disseminada: ela desconsidera todo conheci-
mento tradicional local. De todo modo, a ciência é disseminada de
uma forma que não leva em conta os conhecimentos tradicionais e
atua como se eles não tivessem nenhum valor epistêmico. Tornando
os saberes locais invisíveis, as ciências invadem como se fossem o
único conhecimento disponível. Para a autora, os conceitos das ci-
ências são frequentemente tomados de uma civilização que não se
relaciona com a natureza de um modo sustentável, desta forma, a
sociedade ocidental com sua ciência reducionista trabalha a serviço
das indústrias,
[...] produz monoculturas insustentáveis na natureza e na
sociedade. Não há lugar para o pequeno, para o insigni-
ficante. Diversidade orgânica é substituída por atomismo
fragmentado e uniformidade. A diversidade então [...] deve
ser manejada de fora, pois ela não pode mais se auto-regular
e autogovernar. Aquilo que não couber na uniformidade deve
ser declarado inapto (Shiva, 2003).
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
O Rio Cuieiras:
Os habitantes
e seu ambiente
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Onde fica?
O rio Cuieiras é um afluente do rio Negro pela margem esquer-
da, corre em seu médio curso, numa direção geral norte-sul. Sua
foz dista cerca de 50 quilômetros de Manaus (Figura 1 e 2). As co-
munidades ribeirinhas situam-se na zona rural deste município, no
estado do Amazonas. O rio Cuieiras se situa no Corredor Ecológico
da Amazônia Central, na Zona Núcleo da Reserva da Biosfera e no
Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro, sendo uma área de
grande relevância para conservação da biodiversidade.
Breve histórico
A história de ocupação de toda a região do rio Negro não di-
fere, em termos gerais, da que ocorreu em toda a Amazônia, que
foi baseada na exploração dos recursos naturais e violência física e
cultural contra as populações nativas (Tabela 1). Os colonizadores
e atuais promotores do “desenvolvimento” ignoraram os processos
ecológicos característicos de seus ecossistemas, bem como os mes-
mos se inserem e se integram ao conhecimento, modo de vida e
territorialidade das populações locais.
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Diálogos Agroecológicos
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Séc XVIII
- Drogas do sertão
- Esvaziamento do BRN
- Descimentos e escravização
- Etnocídio e genocídio Indígena
- Missões
Séc IXX
- Cabanagem
- Exploracão de madeira, vegetais e -Esvaziamento do BRN
fauna -Resistência de indígenas e caboclos
-Barco a vapor
- Inicio ciclo da borracha
-Re-ocupação do BRN
- Entrada de Nordestinos
-Crescimento de Manaus
- Mao-de-obra indígena
Séc XX
1910-20 - Crise da borracha
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Diálogos Agroecológicos
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Figura 4 – Número de famílias das comunidades do rio Cuieiras. Fonte: IPÊ, 2007
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
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Educação e saúde
Todas as comunidades possuem uma escola e um posto de saúde,
em parte construídos pelos órgãos municipais responsáveis Secretaria
Municipal de Educação (SEMED) e Secretaria Municipal de Saúde
(SEMSA) e em parte estabelecidos em locais improvisados. Na maioria
das comunidades há também um chapéu de palha, onde acontecem
reuniões comunitárias, uma igreja e ainda um pequeno comércio.
A partir de agosto de 2007, foi implantado o ensino funda-
mental (5ª. a 8ª. série) “itinerante” por módulos concentrados das
disciplinas escolares, nas escolas das comunidades Nova Canaã
e São Sebastião devido ao número de alunos. Antes, atendiam
somente o ensino básico (1ª. a 4ª. série), contando com somente um(a)
professor(a) em cada; sendo, portanto, classes multisseriadas. As esco-
las das comunidades de Boa Esperança, Nova Esperança e Três Unidos
continuaram com o ensino básico e, em Barreirinhas, não há escola.
Atendendo a reivindicações que vinham desde 2000, a educa-
ção indígena e diferenciada foi implementada em junho de 2007, atra-
vés do Núcleo de Educação Indígena da SEMED. A maioria dos pro-
fessores é falante da língua geral (Ñheengatu), porém, com exceção de
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Diálogos Agroecológicos
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julho, sendo junho o mês que o rio Negro alcança sua cota máxi-
ma. O período seco vai do fim de setembro até o início de janeiro.
O mês com a menor cota foi novembro. O clima dominante é tropi-
cal-chuvoso com temperatura em torno de 26°C.
Os aspectos topográficos estão diretamente associados com
tipos específicos de vegetação, de solo e de manejo humano. A termi-
nologia utilizada no rio Cuieiras inclui palavras como baixo (área alaga-
da), barranco (área intermediária) e terra alta ou terra firme (platô) (Figura
9). No sentido da terra alta para as posições mais baixas do relevo, há
uma diferenciação na morfologia do solo, com aumento gradual na
quantidade de areia e, consequente, modificação da vegetação.
A percepção da variação dos tipos de solo e das unidades de
paisagem no gradiente altitudinal pode ser colocada vis-à-vis ou até com
mais detalhe do que a utilizada na literatura científica sobre a região
norte de Manaus. Assim como em quase toda a calha do rio Negro, a
construção da infraestrutura doméstica e a realização da agricultura no
rio Cuieiras ocorrem na terra alta ou terra firme, isso em virtude da variação
das inundações e impossibilidade de se praticar atividades agrícolas nos
solos extremamente empobrecidos das áreas mais baixas.
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Diálogos Agroecológicos
Tipos de vegetação
No baixo, distinguem-se as seguintes unidades de paisagem: a
campina, a restinga, a praia, o igapó e o chavascal. A campina corresponde
aos campos de gramíneas com pequenos e troncudos arbustos de
até dois metros e que são alagados periodicamente. Os solos são
arenosos e afundam. As principais espécies indicadoras da paisagem
são a macacarecuia, rabo de lontra e capins. Dá-se o nome de caranazal e
arumazal as subunidades paisagísticas da campina, respectivamente
em referência à presença dominante da palmeira caranã e ao arumã.
Tirirical e arrozrana são concernentes à campina com predominância
de capins.
O igapó é também chamado localmente de várzea. É a vegeta-
ção que alaga durante a época das cheias dos rios. Algumas espécies
são indicadoras locais desta vegetação, como o macucu, japiranga e
breieiro. O solo é um barro meio enlameado, como dizem os mroadores
A vegetação chamada de queimado refere-se ao igapó que passou por
incêndios antropogênicos devido à folhagem e raízes secas presen-
tes no solo, no tempo em que se fazia carvão na região.
Nas restingas, a vegetação é mais alta do que a campina, com
cerca de dez a vinte metros e o solo é arenoso e mais compacto.
A restinga pode ser subdividida em restinga alta e restinga baixa, esta
alaga em qualquer enchente e a vegetação é mais aberta; enquan-
to na alta a vegetação é mais fechada. O chavascal corresponde aos
charcos, às áreas permanentemente alagadas. São paisagens situ-
adas nas margens dos igarapés, em áreas próximas às cabeceiras.
A vegetação é mais baixa e aberta do que na mata alta, predomi-
nando como espécies indicadoras o tarumã, samambaias, palha bran-
ca, bussú, buriti e patauá. Estas quatro últimas espécies dão nome às
subunidades de paisagem, como o palhau, bussuzal, buritizal e pataua-
zal. O solo arenoso enlameado do chavascal é alagado intermitente-
mente e possui pequenos córregos.
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Tipos de solo
No rio Cuieiras, encontram-se solos dos tipos barro, areia e
terra. Os solos barrentos, ou barro, são facilmente reconhecidos nas
regiões de terra firme, pela sua consistência mais dura e granulação
mais fina, sendo denominados, a depender da coloração, como barro
vermelho, barro amarelo, barro branco e tabatinga, sendo este último um
tipo de barro branco mais endurecido. Os solos arenosos, localmente
denominados de areia, são reconhecidos pela sua textura granulosa.
As terras são reconhecidas pela sua origem da natureza ou relaciona-
das com sítios arqueológicos. São denominadas respectivamente de
terra preta e terra preta legítima.
Os solos também são percebidos enquanto uma mistura en-
tre um tipo e outro. O solo areiusco é percebido pela textura mais
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
A Roça 9
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Diálogos Agroecológicos
Fazendo a roça
A roça é manejada em um ciclo que imitaria em estrutura as fa-
ses de sucessão ecológica da floresta. Podemos observar as seguin-
tes fases do sistema agrícola: seleção da área de cultivo, derrubada
e queima da vegetação, cultivo, colheita e abandono. A última fase
é considerada, hoje, como uma fase de manejo de capoeira ou agro-
floresta. As duas primeiras fases são de trabalho masculino, enquan-
to que a fase de cultivo e colheita, bem como o processamento dos
produtos obtidos, é de cuidado feminino ou de ambos. As crianças
geralmente ajudam as mulheres nesta fase.
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Banana, melancia,
Mandioca, caju, abacaxi, gerimum, cana, cubiu,
Areiusco
tucumã, pupunha, pimenta feijão de praia, laranja,
limão
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Diálogos Agroecológicos
Derruba e queima
Após escolha da área, o agricultor inicia a fase da broca ou roça-
gem e derruba da área, realizando este trabalho sozinho ou através de
ajuris10. A roçagem é realizada com terçados e tem como meta cortar
todas as ervas, cipós, arbustos e paus mais finos. A derrubada ocor-
re logo em seguida. Como forma de economizar tempo e energia, os
agricultores fazem um corte bastante profundo em árvores de me-
nor porte e, logo depois, derrubam com machados ou moto-serras
as árvores maiores, e passam a derrubar a vegetação circundante,
geralmente no sentido centro à periferia do roçado. A broca ou
roçagem, quando feita numa vegetação secundária, é realizada co-
mumente no início do verão, entre os meses de julho e agosto, e
é deixada para secar antes da queima por 15 a 30 dias, enquanto
que uma vegetação de mata alta exige três meses para secar, sendo
derrubada entre maio e junho.
O último processo, essencialmente masculino, é a queima.
É considerada uma boa queima quando o fogo queima bem toda
a vegetação e é feita na época certa. Uma má queima, geralmen-
te, é feita no início das chuvas, o fogo então não consegue se es-
palhar pela vegetação úmida e o agricultor não poderá obter bons
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
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Diálogos Agroecológicos
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
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Diálogos Agroecológicos
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Manejo da capoeira
Após os ciclos de cultivo na roça, o espaço é “abandonado”
para que o solo recupere a fertilidade tornando-se capoeira. Porém,
como se observa no rio Cuieiras e em outras regiões da Amazônia, as
capoeiras não são consideradas apenas uma fase de descanso, mas
sim como uma fase do sistema agroflorestal indígena que proporcio-
na diversos usos e a manutenção de sementes.
Os principais recursos utilizados da capoeira são os frutos de
palmeiras, medicinais e madeira para lenha e venda. Algumas es-
pécies são tiradas para abastecer as casas de forno e as caeiras de
carvão, outras podem ser vendidas para atravessadores da região ou
trocadas por itens alimentares e utensílios domésticos. Muitas agri-
cultoras conseguem obter manivas de mandioca, parte da cana e banana
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Diálogos Agroecológicos
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Astrocaryum
Tucumã • • •
aculeatum
Cubiu Solanum sessiliflorum 4 •
Graviola Annona muricata • •
Batata
Ipomoea batatas 3 •
Doce
Abacate Persea americana • •
Theobroma
Cupuaçu • •
grandiflorum
Gerimum Curcubita pepo •
Feijão de
Phaseolus vulgaris •
praia
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Diálogos Agroecológicos
Anacardium
Caju • •
occidentale
Pourouma
Cucura • •
cecropiaefolia
Goiaba de
Bellucia grossularoides •
anta
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Açaí-do-
Euterpe precatoria • •
mato
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Diálogos Agroecológicos
Mandioca Brava
Maniva tracajá grande Maniva açaí Maniva olho roxo
Maniva aladim Maniva uiwa branca Maniva surubim
Maniva seis meses
Maniva nara Maniva oro
creme
Maniva seis meses Maniva paca Maniva catatau
Maniva capivara Maniva nara amarela Maniva tartaruga
Maniva roxinha Maniva supiá Maniva maturacá
Maniva jurará Maniva índia Maniva arrozinho
Maniva piriquito Maniva tracajá pequeno Maniva pixuna
Maniva amarelão Maniva olhuda Maniva nanica-pixuna
Maniva pretinha Maniva uia-pixuna Maniva língua-de-pinto
Maniva uiwa amarela Maniva maimaroca Maniva branca
Maniva macielzinho Maniva jacundá Maniva baixinha
Maniva preta Maniva arroz Manivas sem nome
Maniva nanicão Maniva mata porco Manivas de semente
Maniva arauari Maniva antinha
Maniva caroço Maniva índio
Mandioca Mansa
Macaxeira preta Macaxeira branca Macaxeira manteiga
Macaxeira roxa Macaxeira vermelha
Fonte: Cardoso, 2008
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Os quintais
agroflorestais
Caroline de Oliveira
Bruno Scarazatti
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Diálogos Agroecológicos
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Diversidade cultivada
Foram levantadas informações etnobotânicas em nove quin-
tais agroflorestais, contabilizando um total de 43 famílias e 82 espé-
cies. O número de espécies registradas em cada quintal variou entre
11 a 50 representantes. A família com maior número de espécies
foi a Arecaceae (palmeiras), com 12 espécies registradas, seguida
das Rutaceae e Myrtaceae, ambas com 5 representantes. Na sequên-
cia, as Solanaceae e Euphorbiacea aparecem com 4 representantes
cada. O restante das outras famílias foi representado apenas por
uma ou duas espécies.
Do total de famílias registradas, 73% foram classificadas
como alimento (Figura1). Nas Solanaceae, por exemplo, a maio-
ria das espécies são herbáceas condimentares (pimentas). Das
Euphorbiacea, foram registradas a macaxeira (Manihot esculenta) e
mandioca (Manihot esculentum) para alimentação, pinhão-branco
(Jatropha curcas) para uso medicinal e seringueira (Hevea sp) como
espécie arbórea nativa de ocorrência natural (não plantada), clas-
sificada como outros usos.
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Diálogos Agroecológicos
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Ananas
Abacaxi comosus (L.)
Merril.
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Diálogos Agroecológicos
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Persea
Abacate americana
Mill.
Pouteria
caimito (Ruiz
Abiu
& Pav.) Roem
& Schult.
Curcubita
Abóbora
pepo L.
Euterpe
Açaí-da- precatoria var.
Mata precatoria
Martius
Açaí-do- Euterpe
pará oleracea Mart.
Malpighia
Acerola
glabra
Carapa
Andiroba guianensis
Aubl
Psidium
Araçá guineensis
Swartz
Eugenia
Araçá-Boi stipitata Mc
Vaugh
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Annona
Araticum
montana
Rapanea
Azeitona- ferruginea
do-mato (Ruiz & Pav.)
Mez
Orbignya
Babaçu phalerata
Martius
Oenocarpus
Bacaba bacaba
Martius
Oenocarpus
Bacaba
distichus
de Leque
Matius
Oenocarpus
Bacabinha mapora
Martius
Musa X
Banana
paradisiaca
Banana- Musa x
maçã sapientum
Ipomoea
Batata
batatas (L.)
Doce
Lam
Rollinea
Biribá mucosa
(Jacq.) Bail
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Diálogos Agroecológicos
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Mauritia
Buriti flexuosa
Linneus filius
Theobroma
Cacau
cacao L.
Saccharum
Cana
officinarum
Dioscorea
Cará
spp.
Bertholletia
Castanha-
excelsa H
do-Brasil
& B.
Eryngium
Chicória
foetidum L.
Solanum
Cubiu
topiro
Crescentia
Cuieira
cujete L.
Dipteryx
Cumaru odorata
(Aubl.) Willd
Theobroma
grandiflorum
Cupuaçu
(Willd. Ex.
Spreng.) L.
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Imbaúba Cecropia spp.
Phaseolus
Feijão
vulgaris L.
Artorpus
Fruta-Pão altilis (sol.ex
park.) Fosb
Psidium
Goiaba
guajava L.
Annona
Graviola
muricata L.
Maximiliana
maripa
Inajá
(Aublet)
Drude
Ingá Inga sp
Dioscorea
Inhame
spp.
Artocarpus
Jaca heterophyllus
Lam.
Eugenia
Jambo
jambos L.
Genipa
Jenipapo
americana L.
Curcubita
Jerimum
spp.
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Diálogos Agroecológicos
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Citrus sinensis
Laranja
Osbeck
Citrus limonia
Limão
Osbeck
Citrus
Limão-
aurantifolia
galego
Swingle, var.
Manulkara
Maçaran- huberi
duba (Huber)
Standl.
Manihot
Macaxeira esculenta
Crantz.
Cacaria
Mamão
papaya L.
Manihot
Mandioca
esculentum
Mangífera
Manga
indica L.
Mangífera
Manguita
indica L.
Maracujá Passiflora sp
Cassi leiandra
Marimari
Benth.
Cucumis
Maxixe
anguria L.
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Milho Zea mays
Eperua
Muira- schombur-
piranga gkiana
Benth.
Oenocarpus
bataua var
Pataua
bataua
Martius
Pepino-do- Ambelania
mato acida Aubl.
Capsicum
Pimenta
spp.
Pimenta- Capsicum
de-cheiro sativum
Caryocar
Piquiá Villosum
(Aubl.) Pers.
Eugenia
Pitanga
uniflora L.
Bactris
Pupunha gasipaes
kunth
Seringueira Hevea sp
Citrus nobilis
Tangerina Lour, var.
deliciosa
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Diálogos Agroecológicos
Épocas de Frutificação
Nome Espécie
Comum
Mar
Ago
Nov
Mai
Dez
Abr
Out
Fev
Set
Jan
Jun
Jul
Solanum
Tomate
lycoper-sicum.
Astrocaryum
Tucumã aculeatum G.
F. W. Meyer
Astrocaryum
Tucumã-i acaule
Martius
Bixa orellana
Urucum
L.
Duckesia
verrucosa
Uxi
(Ducke)
Cuatr.
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
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Plantas
cultivadas 15
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Diálogos Agroecológicos
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variedades, bem como para o manejo dos espaços agrícolas. Este sis-
tema vem sendo construído individual e coletivamente de acordo com
as experiências, aprendizados e interações culturais desenvolvidas ao
longo das diversas histórias de vidas encontradas na área.
O critério mais utilizado para a classificação e descrição das
plantas cultivadas no rio Cuieiras integra a dimensão da inversão do
trabalho humano sobre os vegetais e paisagem expresso na forma de
como são cultivados, se plantados, semeados ou de forma espontâ-
nea e na proximidade com o espaço doméstico. Quanto maior a de-
pendência da propagação/manutenção em relação ao ser humano,
mais a planta é vista com proximidade ao meio doméstico. O grau
de interação vai do espaço doméstico ao florestal. Assim, os agricul-
tores distinguem as plantas cultivadas em três grupos: mato ou mato
bruto, planta do mato e plantas.
A categoria mato ou mato bruto envolve alguns vegetais que
podem ser reproduzidos e manejados, porém que não dependem
diretamente da mão humana para sua propagação e manutenção
ao longo do tempo. Podendo, por isso, serem incorporados à roça
espontaneamente, disseminados por aves, mamíferos ou insetos,
transplantados da floresta ou protegidos durante a derrubada e
queima da vegetação. Dentro desta categoria, encontramos os paus,
mato, frutinhas do mato e cipó.
As plantas do mato referem-se aos vegetais que podem ser reti-
rados da floresta ou da capoeira e serem cultivados, entretanto não
estão totalmente sob controle humano. São, por sua vez, ordenadas
em famílias como as palmeiras e as fruteiras da mata. As palmeiras pos-
suem grande importância no dia-a-dia das pessoas, sendo utilizadas,
na alimentação, para fabricação de artesanatos e construção. As pal-
meiras da mata são transplantadas de unidades de paisagem como os
chavascais, no caso do buritizeiro, da floresta, como o açaí-do-mato e a
bacabeira, são mudados nos quintais e, depois, transplantados para o
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
O alimento na mesa
A importância da mandioca para as famílias do rio Cuieiras
está expressa na diversidade cultivada e nas formas de classificação
desta espécie. Além disso, como nas demais áreas do rio Negro, o
cultivo e processamento da mandioca brava é realizada de forma
altamente engenhosa, tendo uma diversidade de produtos e subpro-
dutos alimentares que fazem parte do cotidiano das famílias.
O processamento da mandioca envolve a utilização de arte-
fatos confeccionados de forma artesanal, como os paneiros, cumatás,
balaios e tipitis elaborados com tala de arumã (Ischonosiphon spp.), aturás
com cipó-titica (Heteropsis flexuosa) e abanos feitos com folha do tu-
cum (Astrocaryum tucuma). Em algumas fases do trabalho, é utilizado
um ralador movido a motor (caititu) e artefatos de madeira. O forno
de metal é suportado em estrutura de pau-a-pique.
A mandioca, após ser retirada do solo, é carregada em um atu-
rá, que são cestos cargueiros levados às costas. Uma parte é levada
ao rio ou a um tanque (caixa d’água) e deixada a amolecer, outra
parte é levada à casa de forno para ser descascada. Para se produzir
a farinha, primeiramente, descasca-se a mandioca brava. Ralam-se
estas no caititu, que é um ralador com um cilindro de metal, que
gira através de um motor movido a gasolina ou por tração manual.
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Diálogos Agroecológicos
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A floresta:
Usos e Significados
O mosaico de paisagens
Quando pensamos na floresta, imaginamos logo uma mata,
mas, na verdade, além da mata, a floresta é formada por um conjun-
to de diversas paisagens que são identificadas e diferenciadas pelos
moradores do rio Cuieiras e são elas:
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Diálogos Agroecológicos
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Diálogos Agroecológicos
Usos da floresta
Recursos Vegetais18
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Diálogos Agroecológicos
Protium
Breu Resina Mata
heptaphyllum
Fruto/
Piquiá Caryocar villosum Mata
Semente
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Peltogyne venosa
Pau -roxinho Tronco Mata
spp
Eschweilera
Matá Matá Tronco Mata
apiculata
Minquartia
Acariquara Tronco Mata
guianensis
Os animais
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Diálogos Agroecológicos
Quem é o curupira?
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Diálogos Agroecológicos
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O comportamento vagaroso
Preguiça pode causar lentidão em quem Qualquer pessoa.
a come.
Tamanduá
O macho pode ser o curupira Qualquer pessoa
bandeira
Anta, macacos,
Faz mal para o bebê. “Vinga” na Gravidez, pós-
queixada, paca.
criança parto.
Infecção, malária,
Paca Carne “reimosa”.
doenças
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Diálogos Agroecológicos
A floresta humanizada
No plano classificatório, as unidades de paisagens do rio
Cuieiras podem ser organizadas em três esferas, basicamen-
te: o espaço habitado pela família, que compreende a casa e
sua extensão, as roças, quintais, capoeiras, casa de forno e o
espaço habitado coletivamente, como as comunidades; os es-
paços florestais, que são como a mata alta, campinas, cha-
vascal etc., os espaços aquáticos, como o rio, igarapés, lagos
e sua parte mais profunda. Assim como na classificação dos
animais e das plantas cultivadas, observa-se um gradiente de
acordo com o grau e socialização destes espaços. Todos es-
tes devem ser compreendidos como sociais na medida em que
elementos da práxis humana, sejam simbólicos, políticos, de
gênero, históricos e condutas, estejam em operação.
Os habitantes do rio Cuieiras veem a residência e seus prolon-
gamentos como o espaço de socialização por excelência. Na roça,
é cultivada uma alta diversidade de plantas, muitas destas retiradas
da floresta. A roça é o palco de interações entre as mulheres com
a mandioca e a figura mítica da mãe-da-roça. É o espaço da recipro-
cidade, em oposição ao espaço da predação, que é a floresta. Esta
última é vista como um lugar bruto, tomado de perigos e acessado
com temor. Nestas paisagens, vivem, além de animais e plantas,
outros seres, figuras ao mesmo tempo animais-espírito-gente,
como os encantes, visagens e a curupira. Esta, por sua vez, é con-
siderada como mãe-das-caças. As profundezas das águas também
são percebidas como os espaços onde vivem, além dos peixes e
outros animais, os encantados e organismos vorazes, como a co-
bra-grande e peixes medonhos.
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Diálogos Agroecológicos
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Educação
agroecológica e
socioambiental
20 Emperaire (2002).
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Diálogos Agroecológicos
Proposta conceitual
Nas últimas décadas, diversas iniciativas vêm sendo criadas e
desenvolvidas com o intuito de construírem-se formas alternativas
de desenvolvimento, que valorizem e incorporem as especificidades
regionais, que incluam os agroecossistemas e a cultura, pautadas em
relações sociais justas, conservação ambiental e na participação da
sociedade civil e das comunidades locais.
Muitas destas iniciativas estão relacionadas a produtos da
sociobiodiversidade, que são gerados a partir da biodiversidade e
vinculados ao conhecimento tradicional e base cultural das comuni-
dades locais. Esse novo momento indica condições oportunas para
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Diálogos Agroecológicos
Metodologia de trabalho
A linha de ação adotada pelo IPÊ com os diversos grupos sociais
(comunidades, mulheres, agricultores, artesãos), no baixo rio Negro,
busca fortalecer suas organizações produtivas e desenvolver produtos
da agrobiodiversidade, aliados à identidade territorial, conservação
ambiental, segurança alimentar e melhoria da qualidade de vida das
famílias, voltados à comercialização com base na economia solidária.
A metodologia utilizada para alcançar estes objetivos é parti-
cipativa e construtiva, prevalecendo o diálogo entre o conhecimento
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Artesãos
A venda de artesanato constitui a principal fonte de renda nas
comunidades indígenas Três Unidos e Nova Esperança. Estas comu-
nidades trabalham com artesanato desde 2003 e o grupo de artesãos
é composto por homens, mulheres e jovens. O artesanato é simples,
constituindo-se basicamente de colares, brincos, pulseiras com se-
mentes e alguns produtos com fibras. Algumas mulheres detinham o
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Diálogos Agroecológicos
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Grupos de mulheres
Desde o início da atuação do IPÊ nas comunidades, verificou-
se a necessidade de se estimular a organização social, e este fator foi
apontado como demanda pelas mesmas.
Em duas comunidades, São Sebastião e Nova Canaã, houve gru-
pos de mulheres, chamados de “clube de mães”, que foram ativos e
possuíram espaços próprios dentro da comunidade com o intuito de
trocar conhecimentos e experiências; produzir alimentos, artesanato e
costura, para suas famílias, eventos na comunidade e comercialização;
fortalecer amizades. No entanto, estes grupos desmobilizaram-se e di-
luíram-se, principalmente pelo desinteresse em trabalhar em conjunto.
A atuação do IPÊ na região focou-se inicialmente em estimular
e incentivar a reativação destes grupos, a partir de uma demanda
apresentada pelas mulheres.
Em um primeiro momento, estas reuniões buscaram identi-
ficar demandas e aspirações, definir o objetivo do grupo, por que
e qual a vantagem em se organizar desta forma, como seria esta
organização e relacionar produtos que poderiam ser confeccionados
pelo grupo. Nesta questão, foram avaliadas: a disponibilidade dos
materiais, afinidade e conhecimento das mulheres vinculados às téc-
nicas de produção, demanda deste produto no mercado local, onde
se destaca o potencial para o turismo.
Os produtos indicados foram relacionados à culinária regional
(pratos típicos, doces, geleias, bombons), artesanato (com sementes
e fibras), costura e bordados em panos/camisetas. Foi apontado que
alguns destes itens necessitariam de capacitação externa, porém,
muitas mulheres têm conhecimento.
Na comunidade Nova Canaã, as mulheres optaram por traba-
lhar com crochê nas bordas de panos de cozinha, pois era um dos
itens produzidos no período em que o clube era ativo. Embora não se
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Diálogos Agroecológicos
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Oficina
Agroflorestal
Marcio Menezes
Jailton Cavalcanti
Mariana Gama Semeghini
Leonardo Pereira Kurihara
Thiago Mota Cardoso
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Tema Citado
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Tema Citado
Artesanato
Plantas medicinais
Energia alternativa
Igreja, religião, espiritualidade
Supermercado
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Diálogos Agroecológicos
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árvore, a qual deveria ser encontrada depois que as vendas fossem re-
tiradas. O objetivo foi despertar uma nova visão para a árvore, senti-la
através do tato e do olfato, reconhecer suas partes e suas formas.
Iniciamos a manhã do segundo dia com a apresentação do
tema “Estudando a paisagem”. Essa atividade permite aos partici-
pantes visualizar a evolução da paisagem no tempo e compreender
a dinâmica da floresta e de um roçado. Compreender e gerar reflexão
sobre as consequências da ação humana no ambiente, seja de forma
sustentável ou não. Identificar e compreender os conceitos ecológi-
cos fundamentais que a floresta nos mostra e que podem ser apli-
cados nos sistemas de produção para que sejam mais sustentáveis,
mais produtivos e que conservem os recursos naturais (Figura 16).
Os componentes do ecossistema florestal foram sendo fixa-
dos no flanelógrafo na medida em que os participantes foram falan-
do, estimulados pela pergunta: “Como é o ambiente aqui, quando
se chega em uma área ainda desocupada?”. No painel de feltro, foi
montada a floresta, com seus diferentes tipos de árvores e plantas,
animais, insetos, igarapés, peixes... Debatemos sobre o ciclo da água
e o representamos com setas azuis. Com setas amarelas, represen-
tamos o ciclo de nutrientes e discutimos como ele acontece e que
organismos e fenômenos estão envolvidos no processo.
Representando no flanelógrafo a chegada do agricultor, conversa-
mos sobre manejo dos recursos naturais. Fomos construindo juntos e
fixando as figuras no flanelógrafo: o machado, a foice, a moto-serra, o
fogo, os agrotóxicos... as árvores, os bichos e as setas dos ciclos da água
e de nutrientes foram sendo retiradas. Com isso discutimos porque a ter-
ra, após desmatar para agricultura, só produz bem por dois ou três anos.
Discutimos também sobre a regeneração natural e como ela pode ser
nossa aliada na construção de sistemas de produção mais sustentáveis.
Apresentamos o vídeo intitulado SAF - “Sabendo Aprender com
a Floresta”. O vídeo é uma dramatização que conta a história de um
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Diálogos Agroecológicos
seringueiro que vai dar um passeio pela mata com seu filho e lhe mos-
tra como a floresta funciona e como se pode aplicar seus ensinamen-
tos na agricultura, as lições que a natureza nos dá a partir dos quatro
princípios fundamentais da floresta: a biodiversidade, a conservação
do solo e da água, a ciclagem de nutrientes e a sucessão natural.
Alguns depoimentos dos participantes:
“O vídeo foi maravilhoso a dúvida que tinha esclareci ao ver
o vídeo. A floresta é muito importante para nós, temos que
saber valorizar, pois a floresta apresenta uma riqueza que eu
não conhecia”.
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
Assuntos Tópicos
• Tipos de espécies
• Número de espécies
Vegetação
• Número de indivíduos por espécie
• Estratificação (altura das espécies)
• Espessura
Serapilheira
• Cobertura do solo
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Diálogos Agroecológicos
A1 A2 A3 A4
Capoeira Capoeira
Capoeira
Roçado de 1,5 de mais de
de 6 anos
anos 20 anos
média,
Plantas e Baixa,
Vegetação: mais alta, aberta
ervas fechada
aberta
No. Espécies Reduzido Aumenta Aumenta Aumenta
Altura
2m 4m 12m 30m
média:
Presença de
insetos:
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A1 A2 A3 A4
Capoeira Capoeira
Capoeira
Roçado de 1,5 de mais de
de 6 anos
anos 20 anos
Tiririca, resto
de cultura, Folhas,
folhas secas galhos... + matéria
Serapilheira:
Cobertura Solo 100% orgânica
do solo: 90% coberto
solo exposto
Microclima quente quente frescor frescor
Lumino-
40% 30% pouca pouca
sidade
Solo: primeira
camada
Textura:
arenoso
Porosidade:
Textura:
mais
areno-
Cor: cinza Textura: Textura:
arginosa
Estrutura: Areno- Areno-
Escuro e
pouco argilosa argilosa
clara
estruturado Escuro e Escuro e
Solo Estrutura:
Segunda clara clara
agregado
camada: Estrutura: Estrutura:
Mais
Cor: agregado agregado
úmido sob
amarelada
matéria
Textura:
orgânica
argilo-arenoso
Porosidade:
pouca
Estrutura:
mais agregado
Raízes Grande
Em várias Em várias
Raízes concentradas presença de
camadas camadas
na superfície raízes finas
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Diálogos Agroecológicos
Solo:
Compactado menos compactado (com mais vida)
Mais seco mais úmido
Mais quente mais fresco
Vegetação:
menos espécies mais espécies
Serapilheira:
menos matéria orgânica mais matéria orgânica
Raízes:
menos raízes entremeadas mais raízes entremeadas
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Diálogos Agroecológicos
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Proteção da terra
Em seguida, iniciamos outra “prática de estimulação de-
dutiva” denominada “FT - proteção da terra”. A ideia que gira
em torno dessa atividade procura despertar nos alunos, através
de estimulação dedutiva, o que ocorre em diferentes ambientes
quando as gotas da chuva entram em contato com a terra. Assim,
foram preparados três canteiros, de forma participativa, onde todos
colocaram seu esforço (capina, busca de matéria orgânica e água,
delimitação da área, revolvimento do solo), com espaçamento de
1 x 1m2 a fim de começar a prática. Os canteiros seguiam com as
seguintes características: o primeiro era um solo desnudo e limpo
como se estivesse “varrido”. O segundo preenchemos toda a área
com matéria orgânica numa altura de aproximadamente 15cm e,
por fim, ateamos fogo e, no final, tínhamos o solo coberto somente
com cinza. Na última parcela, um solo coberto com muita matéria
orgânica. Em seguida, começamos com as perguntas de estímulo,
como: “O que vocês acham que vai acontecer em cada uma dessas
situações se chover, ou seja, se jogarmos água em cada uma delas?”
Todos pareciam já ter conhecimento sobre o que aconteceria, em-
bora algumas pessoas comentaram que, com a atividade, ficou mais
visível entender o que acontecia quando a chuva batia diretamente
no solo descoberto. No canteiro “queimado”, logo que jogamos o
primeiro regador de água, a cinza migrou para o lado mais baixo, no
canteiro desnudo, a água também teve o mesmo caminho. O último,
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Diálogos Agroecológicos
Planejando agroflorestas
Pela tarde, iniciamos sanando as dúvidas suscitadas pelas
atividades da manhã. Fez-se mais um esclarecimento sobre suces-
são natural. Em seguida, foi elaborada uma relação de espécies que
complementaram a lista das espécies citadas no exercício anterior
e, então, foi desvendada a FT - Tabela das árvores, onde informa-
ções sobre as espécies foram organizadas.
Decidimos estudar mais sobre o comportamento das espécies
agroflorestais. Construímos uma grande tabela, na qual foram listadas
as espécies e algumas de suas principais características, tais como am-
biente preferencial, altura quando adulta, tempo de vida aproximado,
largura da copa e usos da espécie. Começamos pelo estudo das espé-
cies de ciclo mais curto, como milho, arroz, feijão, abóbora, mandioca;
em seguida, as semiperenes, como banana, cana e abacaxi; e, por fim,
com as árvores frutíferas e madeireiras. Assim ficou claro para o grupo
que, em uma agrofloresta, as espécies de diferentes ciclos de vida e que
ocupam diferentes estratos são plantadas juntas, em alta densidade; e,
com o passar do tempo, as de ciclo mais curto vão produzindo, morren-
do e saindo do sistema, criando condições para que outras de desen-
volvimento mais lento, de ciclo longo, possam vir a ocupar o espaço
antes ocupado pelas de ciclo mais curto, como foi observado no estudo
das capoeiras e nas gravuras agroflorestais nos dias anteriores.
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Diálogos Agroecológicos
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Meliponicultura:
Uma ferramenta de
educação socioambiental
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As abelhas sociais
As abelhas sociais são organismos importantes para as comu-
nidades vegetais, elas são agentes polinizadores de diferentes es-
pécies, contribuindo para o equilíbrio não só de muitas populações
de plantas, como também de animais que vivem em ecossistemas
naturais. Dentre estes agentes polinizadores, destacam-se espécies
de abelhas da subfamília Meliponinae, também, conhecidas como
abelhas sem ferrão, por ser um grupo que apresenta o ferrão atrofia-
do. Atualmente, são conhecidas 391 espécies dessas abelhas, dis-
tribuídas em aproximadamente 54 gêneros (Camargo e Pedro, 2007)
. Essas abelhas se encontram distribuídas nas regiões tropicais e
subtropicais, cerca de 70% das espécies conhecidas ocorrem nas
Américas (CARVALHO et al., 2003; ROBIK, 1989).
As abelhas sem ferrão possuem tamanhos, formas, coloração
e hábitos os mais diversos. Dependendo de cada espécie, os ninhos
contêm de 500 a 8.000 indivíduos (Nogueira Neto, 1997). Esses ninhos
são encontrados, na grande maioria, em ocos de árvores, mas também
são achados em cupinzeiros, cavidades na terra, buracos de formigas
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Considerações Finais
As famílias indígenas do rio Cuieiras vieram migradas nos últi-
mos sessenta anos da região do médio e alto rio Negro. Deslocaram-
se para Manaus em busca de melhores condições de vida diante das
incertezas e violências do sistema extrativista, da falta de assistência
médica e em busca de educação para os filhos e de acesso a bens de
consumo. A realidade do sistema social-econômico-político tratou
de marginalizar estas famílias no meio urbano, pressionando-as a
ocuparem áreas florestais no entorno de Manaus, onde articularam
formas tradicionais de produção num novo contexto.
Os moradores do rio Cuieiras, ao ocuparem os espaços, ati-
varam as formas tradicionais de construção da paisagem e da diver-
sidade agrícola, mantendo, até certo ponto, a resiliência cultural e
ecológica frente às mudanças.
As múltiplas estratégias de diversificação produtiva constituem-
se como uma importante forma de acessar a natureza. Envolvem a
associação e integração espaço temporal de atividades como a caça,
a pesca, as práticas agrícolas, as atividades extrativistas, entre ou-
tras, e cada uma dessas atividades produtivas é realizada de diversas
formas baseadas nos saberes, práticas e visões de mundo. Com isso,
suas atividades apresentam-se complexas, pois constituem formas
múltiplas de relacionamento com os recursos, assim, diminuindo o
impacto sobre um único recurso. Dessa maneira, o múltiplo uso é
uma forma de manejo que gera diversas alternativas apresentando
três características que indicam sua sustentabilidade, que são a ma-
nutenção de um alto nível de diversidade, alta resiliência e capacida-
de de se manter por um longo período de tempo.
A mandioca é paradigmática no contexto agrícola do rio Negro, e
no rio Cuieiras, não podia ser diferente, sendo considerada como “espé-
cies cultural chave” pela sua importância alimentar e simbólica, sendo
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Diálogos Agroecológicos
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Bibliografia Consultada
Aguiar, M.V.A. El aporte del conocimento local para el desarrolo rural:
um estúdio de caso sobre el uso de la biodiversidad en dos co-
munidades campesinas tradicionales del Estado de Mato Grosso,
Brasil. 2007. Tese (Doutorado em Agroecologia) - Universidad de
Córdoba. Córdoba, 2007.
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nomic Botany, 53:188-202, 1999a.
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Rio Cuieiras, Amazônia Central
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LOK, R.; MENDEZ E. El uso del ordenamento local del espacio para
uma classificassión de huertos na Nicaragua. In: LOK, R. (ed.). Huer-
tos Tradicionales de América Central: características, benefícios e
importancia, desde um enfoque multidisciplinario. Turrialba. Costa
Rica: CATIE/AGUILA/IDR/ETC, Andes, 1998.
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Diálogos Agroecológicos
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f
nma
FundoNaci
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oAmbi
ent
e
Mi
Mei
ni
st
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