No final do século XVI e início do século XVII caracteriza-se, na Europa, pela
ocorrência de conflitos de natureza política, econômica, social e, principalmente, religiosa. A divisão da Igreja, conseqüência da Reforma colocou em campos opostos protestantes e católicos, salientando suas divergências éticas, morais e sociais. Essa cisão marcou a cultura européia, levando a Igreja católica a se organizar em um movimento denominado Contra-Reforma, na qual propunha uma volta ao medievalismo e à irrestrita fé na autoridade da Igreja e do rei; esse movimento ficou centralizado principalmente em Portugal e Espanha. Nesse momento, duas forças se confrontam: o teocentrismo medieval e o antropocentrismo renascentista. O homem da época procura atingir uma síntese de valores, ou seja, conciliar razão e fé; espiritualismo e materialismo; carne e alma. Ao novo estilo, que expressa o estado das coisas, dá-se o nome de Barroco, termo de origem controvertida. Os historiadores diziam que o termo significava uma pérola de formato irregular. O estilo Barroco mostra-se carregado de recursos que visam a impressionar o leitor. O Barroco surgiu na Espanha e se expandiu por toda Europa. Em Portugal, ele inicia-se em 1580, com a morte de Camões r termina com a fundação da Arcádia Lusitana.
A ESTÉTICA BARROCA
O Barroco opõe-se à estética clássica: superfície X profundidade; forma fechada
X forma aberta; multiplicidade X unidade. O homem barroco foge das coisas e dos sentimentos contraditórios que envolvem a natureza humana, realçando os valores cristãos. Podem-se encontrar dois tipos de estética barroca: a gongórica e a conceptista. A estética gongórica preocupa-se com a descrição das coisas, é freqüente o uso de figuras de linguagem como a antítese, a metomínia, o paradoxo, o assíndeto, a metáfora, o simbolismo, a sinestesia, a hipérbole e a catacrese, além do uso de neologismo. Preocupa-se com a linguagem bem trabalhada. A estética conceptista, no entanto, está preocupada em conhecer a essência das coisas, ao invés de descrevê-las. Utiliza-se mais da razão do que da emoção. Há o uso de antíteses e paradoxos, tornando o raciocínio mais ambíguo em busca da satisfação da inteligência. A linguagem barroca é exagerada de imagens e figuras de linguagem, ou seja, preocupa-se com a aparência e expõe assuntos que envolvem a religião problemática da época.
BARROCO NO BRASIL
O Barroco se encontrou primeiro em Pernambuco e na Bahia, sedes de grande
riqueza da época: a cana-de-açúcar. Foi nesse período que surgiu não só o primeiro, mas um dos mais talentosos poetas brasileiros: Gregório de Matos Guerra. Não se deve esquecer também, de Padre Vieira, que não só escreveu grande parte de sua obra no Brasil, tratando de nossa realidade. PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS
Os principais autores barrocos que podemos citar são:
Padre Manuel Bernardes (1644-1710): Nascido em Lisboa (Portugal). Produziu obras de cunho místico e moralista com uma linguagem simples e espontânea. Principal obra: Nova Floresta. Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622): Nascido em Leiria (Portugal). Poeta bucólico e de influência camoniana. Principais obras: Éclogas e Pastor Peregrino. Sóror Violante do Céu (1601-1693): Nascido em Lisboa (Portugal). Produziu poemas marcados pelo sentido passional pelas imagens sutis e pela veemência. Depois de entrar para o convento, impregna suas poesias de cunho religioso. Principal obra: Rimas Várias. Francisco Manuel de Melo (1608-1667): Nascido em Lisboa (Portugal). Era voltado para a poesia lírica, a historiografia, o teatro e a prosa filosófica e moralizante. Principal obra: Carta de Guia aos Casados. Frei Luís de Sousa (1555-1632): Historiador rigoroso. Principais obras: História de São Domingos e Anais de D. João III. Sóror Mariana Alcoforado (1640-1723): Freira nascida em Beja (França). Escreveu Cartas Portuguesas em 1669, atribuídas a um amor proibido, uma paixão violenta, incontrolada e não correspondida por um militar, o capitão Chamilly. Padre Antônio Vieira (1608-1697): Nasceu em Lisboa. Ainda menino veio para o Brasil estudar no Colégio de Jesuítas. Dividido entre os dois mundos –europeu e brasileiro- e de estilo predominantemente conceptista, o autor estabelece analogias e comparações da época e passagens bíblicas. É considerado o maior orador sacro da história portuguesa. Principais obras: Sermão da Sexagésima e Sermão de Santo Antônio ou Sermão aos Peixes. Gregório de Matos Guerra (1633-1695): Nasceu na Bahia. Começou a produzir suas sátiras, e assim foi expulso de Lisboa, já que tinha para Portugal onde diplomou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Escreveu poesia lírica, satírica e religiosa. Principais obras: À mesma D. Ângela (lírica); A Jesus Cristo Nosso Senhor (religioso); e a poesia em que o eu-lírico revela sua visão da Bahia (satírica). Algumas obras barrocas
À mesma D. Ângela Gregório de Matos Guerra
Anjo no nome, Angélica na cara.
Isso é ser flor, e Anjo juntamente, Ser Angélica flor, e Anjo florente, em quem, senão em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus, o não idolatrara? Se como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo, que tão bela, e tão galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
A Conceição Imaculada de Maria Santíssima
Gregório de Matos Guerra
Como na cova tenebrosa, e escura,
A quem abriu o Original pecado, Se o próprio Deus a mão vos tinha dado; Podeis vós cair, ó virgem pura? Nem Deus, que o bem das almas só procura, De todo vendo o mundo arruinado, Permitiria a desgraça haver entrado, Donde havia sair nossa ventura. Nasce a rosa de espinhos coroada Mas se é pelos espinhos assistida, Não é pelos espinhos magoada. Bela Rosa, ó virgem esclarecida! Se entre a culpa se vê, fostes criada, Pela culpa não fostes ofendida.