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São Gonçalo, RJ
2009
2
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CEH/D
CDU 325(73)
3
Banca Examinadora:
____________________________________________________
Prof. MsC. Eduardo Karol (Orientador)
____________________________________________________
Prof. Dr. Andrelino Campos (Orientador)
____________________________________________________
Prof. Dr. Helion Póvoa Neto
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ
____________________________________________________
Prof. Dr. Renato Emerson Nascimento dos Santos
Faculdade de Formação de Professores da UERJ
São Gonçalo, RJ
2009
4
DEDICATÓRIA
1
A família Shankool foi responsável por me proporcionar emprego, casa e uma nova família enquanto
permaneci nos EUA, entre 2003 e 2006.
5
Argelino clandestino
Nigeriano clandestino
Boliviano clandestino
Mano Negra ilegal
SUMÁRIO
Resumo............................................................................................................ 07
Abstract.......................................................................................................... 08
Introdução ...................................................................................................... 09
1 A MIGRAÇÃO E O LUGAR........................................................................ 11
1.1 Movimentos migratórios: concepções clássicas e novas visões ........... 11
1.2 O território e o lugar: categorias que impulsionam outra discussão... 14
1.3 A identidade e a modernidade................................................................ 16
1.4 O lugar do migrante............................................................................... 18
2 LÁ VISTO DAQUI ........................................................................................ 21
2.1 A construção do ideário de ida: como se vê o mundo de lá ................ 21
2.2 As redes antes da partida ...................................................................... 22
2.3 As esperanças que se encontram lá ..................................................... 24
2.4 O lugar de lá e melhor que o lugar d’aqui .......................................... 26
3 LÁ VISTO DE LÁ.......................................................................................... 28
3.1 Chegando lá: moradia, emprego e rede social imediata ..................... 28
3.2 Novos relacionamentos: brasileiros, hispânicos e americanos .......... 30
3.3 O sonho brasileiro no Arizona ............................................................. 33
3.4 Lá como um novo lugar ....................................................................... 34
Considerações Finais ..................................................................................... 37
Referências Bibliográficas ............................................................................ 41
Anexo .............................................................................................................. 43
8
RESUMO
ABSTRACT
The studies in migration movements that follow strictly the classic authors leave apart
much more interesting realities than the greatness of the phenomenon could give to the
researcher. Intending to develop a new concept to the problem, we want to comprehend the
movement through the Geographical concept of Place, and with it, the Place of the Migrant.
As the movement establishes a beginning and an end, we’ll analyze the Origin Place of the
Migrant, where the wandering to migrate is, and the Destiny Place of the Migrant, where the
dream of a better place is located. In this present paper, we organized in the first chapter the
discussion of theory of what is this Place for the Migrant and the sight of a new way to
discuss migration. On the next chapter, we develop the idea of the construction of the Origin
Place that takes the Migrant to look forward a new reality, differently from that lived by the
Migrant, in a space that could represent the dreams of a better life. On the last chapter, we
reread on what can be found and what is found in this another Place. In this paper, we’ll be
trying to perceive of these movements through the exemplification of resident and/or ex-
resident Brazilians within the State of Arizona, USA. The research was taken through
electronic mail (attached) and based in a large range of authors from different areas of the
Social Sciences, mainly from Geography.
INTRODUÇÃO
incorretamente as pesquisas populacionais nos EUA. Independente dos números, o foco deste
presente trabalho é a discussão teórica acerca do tema, em principal nas terminologias
utilizadas.
Sendo assim, divide-se esta monografia em três capítulos principais. O primeiro tem
como objetivo a discussão geográfica das categorias a serem utilizadas. A opção do uso do
termo Lugar em detrimento do termo Território tem seu motivo, que é a busca da
compreensão de um movimento humanista realizado por indivíduos e não por “invasores”,
como a imprensa sensacionalista americana geralmente retrata a questão migratória. Ressalta-
se que a utilização da expressão “novo Lugar” presente em quase todo este trabalho tem
significado literal, sem objetivar outras discussões. Concordante com essa temática,
trabalhar-se-á com a terminologia “migrante” em prol da observação do sujeito que migra,
em prol dos tradicionais termos “emigrante” e “imigrante”. Tal escolha será justificada
adiante.
A observação de tais fenômenos será compreendida pela espacialização de migrantes
brasileiros no estado do Arizona, sudoeste americano. Este recorte espacial segue o princípio
que o autor deste trabalho conviveu naquele lugar entre os anos de 2003 e 2006, mantendo
ainda hoje certa rede de contatos pelos quais a pesquisa empírica aqui se inicia, mas não se
esgota. A Internet funciona como um modo de ativar essa rede nesse momento de pesquisa, e
através de emails, foram coletados alguns depoimentos com propósito de ilustrar algumas
proposições levantadas.
Seguindo esta lógica, o relacionamento da Origem e do Destino do migrante, fica
entendido não somente como uma rede social de transposição de territórios, mas numa
perspectiva de Lugar. Como este Lugar de Origem pode ser o motor do movimento, ao criar
no migrante a esperança de um novo Lugar, um Lá onde as expectativas de melhoria de vida
se concretizariam.
E por terminar, o terceiro capítulo trata da chegada do migrante neste novo Lugar e
como a desconstrução de ilusões se abate sobre este. Desde a adaptação à nova realidade até a
discriminação, o Lugar de Destino torna-se um Lugar diferente daquele esperado e, por
conseqüência, necessita ser tratado, trabalhado, refeito e com a reconstrução do ideário, fazer
renascer as esperanças de uma melhoria de vida.
Este presente trabalho é uma busca da compreensão da verdade pela verdade, sem
apelos. A descoberta de um novo espaço permite o vislumbre de um novo mundo, do mundo
que queremos.
12
2
JOHNSTON, R. J.; GREGORY, D.; SMITH, D. M. (org.) The Dictionary of Human Geography. Cambridge,
Massachussets, EUA: Blackwell Publishers, 3rd ed., 1994. Verbete: Migration.
13
PÓVOA NETO3 ao utilizar-se das definições aplicadas pela ONU para o movimento
destaca, além dos fatores acima citados, quesitos diretamente relacionados ao fenômeno,
caracterizando não como uma decisão do indivíduo, mas uma estruturação social: um
paradigma que pode ser conscrito socialmente.
Nas estruturas do pensamento do movimento migratório, um dos primeiros autores a
organizar os fatores do mesmo foi E. G. Ravenstein, no final do século XIX. O autor
formulou aquilo que denominou “leis da migração”, nas quais, subseqüentemente, muitos
trabalhos foram baseados4. As leis de Ravenstein estabeleciam que a maioria dos migrantes
só vão a distâncias curtas, passo a passo; migrantes que se deslocam por longas distâncias dão
preferências a grandes centros comerciais ou industriais, e que, cada corrente migratória
produz uma contracorrente compensatória; habitantes urbanos são menos propensos a
migração do que aqueles do meio rural; mulheres seriam mais propensas a migração dentro
do território de seu país, enquanto homens o fazem mais freqüentemente para fora de seu
país; muitos migrantes são adultos e famílias muito dificilmente migram para fora do seu
país; as grandes cidades crescem, mais por conta de movimentos migratórios, do que pelo seu
crescimento natural. Afirma Ravenstein, ainda: a migração cresce em volume tanto quanto o
desenvolvimento da indústria, do comércio e dos transportes, e o movimento é maior em
áreas rurais do que em centros de indústria e comércio, e, o que se destaca como mais
considerável nessas leis, é que a maior parte dos movimentos migratórios é gerada por
situações econômicas interessantes.
Compreendida a temporalidade de Ravenstein, percebemos uma visão um tanto
economicista do movimento migratório, onde as interpretações clássicas do movimento se
baseiam em critérios econômicos e nas motivações atreladas a estes critérios. Leis gerais
seriam formadas para explicar fenômenos gerais dos movimentos migratórios sem
especificidade. Tais generalizações provocaram acertos em massa para tratamentos em geral
de situações migrantes, que de certo, obtiveram relacionamentos diferenciados – relativos ao
tempo e ao espaço que ocuparam/migraram – onde os resultados foram variados para grupos
nacionais distintos em um mesmo país.
Acreditou-se, por algum período, em um tipo ideal de imigrante, em volta aceitável,
oras tolerável, até ao repugnante. Tais pensamentos e tratamentos caracterizaram as formas
3
POVOA NETO, Helion. Migrações internas e mobilidade do trabalho no Brasil atual: novos desafios para análise. In:
HEIDERMANN, Heinz Dieter; SILVA, Sidney Antonio da (org.) Simpósio Internacional Migração: nação, lugar e
dinâmicas territoriais (São Paulo, 1999). São Paulo: Ass. Ed. Humanitas, 2007, p. 45-56.
4
JOHNSTON; GREGORY; SMITH, op. cit., nota 1.
14
8
SAYAD, Abdelmalek. A Imigração: ou Os Paradoxos da Alteridade. São Paulo: EDUSP, 1998.
9
Salvo algum autor utilizado destaque as terminologias “emigrante” ou “imigrante”.
16
A categoria geográfica de Lugar, quase nunca é utilizada nos estudos migratórios pelo
simples fato dos autores preferirem trabalhar a dimensão Estado-Nação e seu comportamento.
De fato, este tipo de visão parece condescendente com as visões clássicas dos estudos
migratórios de Raveinstein e Thornthwaite, onde o território passaria a ser a terminologia
mais apropriada. Ver o Lugar do Migrante implica compreender o migrante, seu entorno e
suas visões sobre a nova espacialidade que vive.
Ainda assim, pode-se destacar que Godelier teria levantado uma questão sobre o uso
do território que se acredita ser plausível na explicação de razões pelas quais se migra:
acesso, controle e uso são fatores que não se podem negligenciar no tocante a apropriação do
território, e ainda os poderes visíveis e invisíveis que permitem tais acessos, controles e usos.
Tais momentos fazem parte do quotidiano das condições de reprodução da vida, tanto quanto
dos recursos usados/despendidos (Godelier apud HAESBAERT, 2006)10.
O Território passa a ter novas características que são parte do que é extraído deste
pelos seus agentes. É indispensável pensar o Território como signo e seus códigos culturais11.
Essa visão antropológica remete ao Território a característica da territorialização humana
atrelada a semantização do espaço territorial, como sua significação e a idealização daqueles
que nele habitam e nele tem seus atos dinâmicos de vida. No entanto, é no Lugar, onde
ocorrem as transformações sociais dinâmicas mais diretas do indivíduo.
12
A leitura do trabalho de SANTOS permite vários pontos de análise. O Lugar
adquire, então, importância no caráter da compreensão do Espaço Geográfico, além dos
limites do Território, ao permitir uma visão das dinâmicas neste inseridas, des-re-construídas.
10
O objetivo de demonstrar esta observação de Godelier é permitir que se faça uma real observância no que compete o que é
o Território. Autores diversos – como os que Haesbaert (2006) utiliza-se na busca da compreensão do que seria o Território –
levantam variadas possibilidades sobre o que seria mister a este termo. Como levantado por Godelier, poder, acesso e uso são
primordiais. Neste trabalho, estes elementos tem importância, e concepções clássicas sobre a migração compreendem a falta
do poder, do acesso e do uso pleno do Território “estrangeiro” em relação ao Migrante como parte da problemática. Outros
conceitos sobre o termo Território existem, mas pela limitação imposta não foram completamente esgotados.
11
“A semantização do território pode explicar-se parcialmente a partir do meio, mas a investigação do meio físico nunca
nos permitirá concluir que deve dar-se um tipo determinado de semantização” (HAESBAERT, Rogério. O Mito da
Desterritorialização: Do “Fim dos Territórios” à Multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2ª ed., 2006).
12
“A configuração territorial não é o espaço, já que sua realidade vem de sua materialidade, enquanto o espaço reúne a
materialidade e a vida que a anima. [...] O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único no
qual a história se dá. [...] [E] é o lugar que atribui às técnicas o princípio de realidade histórica, relativizando seu uso,
integrando-as num conjunto de vida, retirando-as de sua abstração empírica e lhes atribuindo efetividade histórica”.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: EDUSP, 2002. p. 58, 62-63.
17
A capacidade de influenciar lugares não-contíguos, gerando uma alienação dos processos que
ocorrem no Lugar (p.80), também poderia ser vista como uma percepção da rede migratória
que SAYAD levanta em seus estudos.
Quanto aos eventos, lembra SANTOS que “não há evento sem ator” (p.146), e que
“os lugares são, eles próprios expressão atual de experiências e eventos passados e de
esperanças no futuro” (p.156). Citando o autor, é o Lugar “a sede da resistência, às vezes
involuntária, da sociedade civil” (p. 259)13.
Por último, o autor ainda clareia a visão na qual a cidade (e quanto maior esta for),
atrai pela exclusão dos indivíduos, ou seja, aqueles que teriam algo a esconder (no caso
migrante, sua condição jurídico-legal ou social-identitária), encontram nos labirintos de
concreto, oportunidades de estarem e não estarem presentes, de fazerem parte daquela
identidade a ser construída, mas ao mesmo tempo, estarem distantes da formalidade, onde
“os fracos podem subsistir”14.
13
“Por enquanto, o Lugar – não importa sua dimensão – é, espontaneamente, a sede da resistência, às vezes involuntária,
da sociedade civil, mas é possível pensar em elevar esse movimento a desígnios mais amplos e escalas mais altas. Para
isso é indispensável insistir na necessidade de um conhecimento sistemático da realidade, mediante o tratamento analítico
do território, interrogando-o a propósito de sua própria constituição no momento histórico atual” SANTOS,Ibid. p.259.
14
SANTOS, Ibid., p.322.
15
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 7ª ed., 2003.
18
pudesse citá-lo como um projeto europeu dos séculos XVIII e XIX, onde “a identidade,
então, costura (ou, para usar uma metáfora médica, ‘sutura’) o sujeito à estrutura [social]”
(p. 12).
De fato, para o sujeito pós-moderno, este projeto é só uma fantasia. Ainda que
sistemas de significação e representação cultural se multipliquem, ampliam-se também as
multiplicidades de identidades possíveis – as quais o migrante poderia se identificar ainda
que temporariamente (p. 13).
Enquanto o trabalho da Sociologia nos séculos XVIII e XIX caracterizava o sujeito
sociológico intrinsecamente envolvido na sociedade, como membro pertencente ao contexto
social – como se fosse impossível imaginar este mesmo sujeito fora da sociedade – o
indivíduo pós-moderno encontra-se em oposição a este pensamento. A realidade do sujeito
pós-moderno cria uma identidade isolacionista, exilada ou alienada, “colocado contra o
pano-de-fundo da multidão ou da metrópole anônima e impessoal” (p. 32)16.
BAUMAN17 vislumbra que a identidade na era pós-moderna, torna-se fluida. Dentre o
observado, pode-se entender que “os fluidos são assim chamados porque não conseguem
manter a forma por muito tempo e, a menos que sejam derramados num recipiente apertado,
continuam mudando de forma sob a influência até mesmo das menores forças. Num ambiente
fluido, não há como saber se o que nos espera é uma enchente ou uma seca – é melhor estar
preparado para as duas possibilidades” (p. 57).
Compreende o autor que a necessidade por uma busca identitária vem do “desejo de
segurança”: ainda que seja um sentimento ambíguo, vazio e cheio de promessas e
premonições vagas, este pensamento permite aos migrantes uma possibilidade de ancoração
em um espaço sociológico pouco definido, um “entre aqui e ali”, ou como o autor chama, um
“nem-um-nem-outro”. BAUMAN também lembra que uma posição fixa traz a sensação de
aprisionamento e isolacionismo, sentimentos combatidos pelo modernismo/pós-modernismo
(p. 35).
Se então, a identidade pós-moderna é tão necessária aos indivíduos e, ao mesmo
tempo, tão insipiente na construção de uma saciedade, por uma única fonte, apreende-se a
infeliz constatação que a pós-modernidade estabelece-se nos indivíduos através de grandes
variáveis, de momentos de identificação, alternados com momentos de busca por essa
16
“As identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas e transformadas no interior da
representação. [...] As culturas nacionais são uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificação que, numa
era pré-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo à religião e à região, foram
transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura nacional. As diferenças regionais e étnicas foram
gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de ‘teto político’ do Estado-Nação,
que se tornou, assim, uma fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas” HALL, 2003, p. 48-49.
17
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
19
Os autores citados aqui descrevem uma outra forma de ver o espaço geográfico, em
busca de uma percepção dual de uma problemática referente aos estudos migratórios. De um
lado, a percepção economicista dos estudiosos clássicos acarretaria em uma aproximação
teórica de um mundo sem fronteiras, de adequação de matérias e de trabalhadores, em uma
profunda crença na ordem perfeita, ou como diria SANTOS21, um “Mundo tal como nos
18
“[...] Outra categoria que está encontrando o mesmo destino são os refugiados – os sem-Estado, os sans-papiers –, os
desterritorializados num mundo de soberania territorialmente assentada. Ao mesmo tempo em que compartilham a
situação da subclasse, eles, acima de todas as privações, têm negado o direito à presença física dentro de um território
sob lei soberana, exceto nos [...] campos para refugiados ou pessoas em busca de asilo a fim de distingui-los do espaço
em que os outros, as pessoas ‘normais’, ‘perfeitas’, vivem e se movimentam” BAUMAN, Ibid, p. 46.
19
“[...] Segundo Said, é, em grande medida, devido aos impérios que as culturas se envolvem umas com as outras, gerando
as culturas híbridas, heterogêneas, das nações modernas. Esse dado é particularmente pertinente em se tratando dos
estudos sobre multiculturalismo, já que esse é, sem dúvida, o paradigma com o qual teremos de lidar aqui: o
entrecruzamento de histórias nacionais, a partir da conquista, da migração e das diásporas dos povos sobre o planeta,
gera ‘formas outras de contar’” TORRES, Sonia. Nosotros in USA: literatura, etnografia e geografias de resistência. Jorge
Zahar Ed., Rio de Janeiro: 2001, p. 11, grifo da autora.
20
Refere-se a obra Culture and Imperialism, 1994.
21
SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: Do Pensamento Único À Consciência Universal. Rio de Janeiro:
Record, 13ª ed., 2006.
20
fazem crer”. Por outro lado, a crítica às visões clássicas, permite questionar tal perfeição e
uma cortina de mentiras cai, quando se analisa a verdade dos migrantes, sua re-organização e
estruturação, e quando se coloca em seu Lugar, revendo todas as suas estruturas sociais. A
este momento, descobrimos o “Mundo como ele é”.
Tais momentos, descritos pelos teóricos clássicos, pertencem a uma lógica espacial
interessante e da qual não se deve fazer uma crítica infundada. O problema de tais teorias é
que estas persistem até hoje, em campos diversos (como a citada Economia), em busca da
compreensão de eventos sociais, através somente de fórmulas, com soluções matemáticas
para circunstâncias abstratas. TOBLER (1994) levantou tais questões, como sendo práticas de
Estados-Nacionais (a criação de agências governamentais específicas para o tratamento do
sujeito-migrante; políticas públicas, cotas, “loterias” e todo um arcabouço estatal e algumas
vezes interministerial/intersecretarial), em prol da defesa de seus territórios (algumas obras
citam a defesa militar, outros alfandegária, etc.). Tais argumentos ganharam mais força após
os incidentes de 11 de Setembro de 2001 nos EUA quando, por conta de uma política de
segurança, voltou-se a aplicar antigos pensamentos em novos problemas.
Todavia, existe uma percepção de que o mundo é livre, que as fronteiras não existem.
Essa fábula do mundo globalizado, vendido e retransmitido a todos os cidadãos do mundo,
alude uma inverdade onde somente o capital tem tido essa possibilidade: ainda se sonha com
um mundo onde haja a livre circulação de pessoas e onde indivíduos possam estar em busca
de melhores oportunidades de vida onde queiram. Por essa razão, muitos ainda abandonam
seus Lugares de Origem em busca de novos espaços, de novas identificações.
Ao encontrarem-se nestes novos Lugares, os migrantes se deparam com a realidade de
políticas de exclusão, com formas sociais segregadoras e estratégias de repulsão. Neste
momento, os migrantes buscam, através de seus pares, formas de reestruturação social e
construção de um novo arcabouço, uma rede de solidariedade capaz de auxiliar na
manutenção naquele novo Lugar. Mesmo que se esteja tratando de nacionais, de indivíduos
excluídos da grande massa social, ainda aqui se encontram formas hierárquicas de controle,
dominação, exclusão: aprende-se a perversidade da globalização.
Edward Said, comentando sobre a obra de Samuel Huntington 22 no The Nation em
200123, levantava, que a concepção de um mundo em choque, ainda mais um choque
“civilizatório”, é uma visão um tanto superficial da realidade do mundo para uma obra que se
permitia considerar como representativa de toda a política global séria, nos anos seguintes.
22
HUNTINGTON, Samuel. O Choque das Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Objetiva,
1997.
23
Cf. http://www.thenation.com/doc/20011022/said, acessado em 27 de Outubro de 2005.
21
24
BROWNE, Anthony. Do We Need Mass Immigration?: The economic, demographic, environmental, social and
developmental arguments against large-scale net immigration to Britain. Londres: Civitas: Institute for the Study of Civil
Society, 2002.
25
AUSTER, Lawrence. The Path to National Suicide: An Essay on Immigration and Multiculturalism. Charles Town, WV,
EUA: Old Line Press, 1990.
26
DINNERSTEIN, Leonard; REIMERS, David M. Ethinic Americans: A History of Immigration. Nova York: Columbia
University Press, 4th ed., 1999.
22
Contando com estudos já realizados33, percebe-se uma ênfase maior a redes sociais
familiares, onde, por comunicação através de familiares diretos (de primeira grau, como
filhos/as, pais, irmãos/ãs; de segundo grau, como tios/as, primos/as, sobrinhos/as) ou
membros de círculos sociais no Lugar de Origem (como amigos, vizinhos, conhecidos de
uma forma geral), são estabelecidos os fatores motivacionais para ida ao Lugar de Destino.
De fato, redes assim são visíveis em Lugares de Destino que possuem historicidade mais
antiga e número considerável de indivíduos para que esses contatos se concretizem. A estes
Lugares de Destino, com essas especificidades, chama-se comumente de “colônias de
32
Acreditando-se que por “qualidade de vida” o indivíduo também busque segurança física, melhores redes de educação,
lazer, cultura e outros aspectos que não são somente mensuráveis economicamente.
33
Cf. REIS, Rosana Rocha; SALES, Teresa (org.) Cenas do Brasil Migrante. São Paulo: Boitempo, 1999.
24
imigrantes”. Este termo não será utilizado neste trabalho, por não adequar-se a realidade dos
migrantes brasileiros no estado do Arizona, EUA.
Ainda assim, redes sociais familiares, que incluem membros diretos e membros de
círculos sociais próximos, têm pouca ou nenhuma influência fora de aglomerados de
migrantes. Um fator determinante da migração brasileira nos EUA é sua formação histórica34,
onde se observa três grandes aglomerados (nos estados de Massachussets, Flórida e
Califórnia), mas o fato de mais de 40% dos migrantes brasileiros no exterior estarem
concentrados naquele país35 permite questionar até que ponto tais redes sociais familiares são
responsáveis pela migração.
Este estudo tenta concentrar-se em um único estado, o do Arizona, onde as redes
familiares ainda são pífias, se comparados com outros estados americanos. Com uma
população estimada entre quatro e cinco mil brasileiros ali residentes 36, o Arizona possui
como atrativo, a concentração de resorts de luxo sem a necessária mão-de-obra qualificada,
para determinadas funções.
“Agências de intercâmbio” (verdadeiras agências de emprego) instaladas em diversas
cidades do Brasil, permitiram uma maior visibilidade daquele espaço como atrativo de uma
migração de brasileiros qualificados ou semi-qualificados em busca de um tipo de sonho
americano.
O baixo custo de vida, uma boa qualidade de vida, a ampla utilização da língua
espanhola (mais de 25% dos lares no estado, bem como vários serviços públicos, utilizam
alguma outra língua que não o inglês37, em 2000) em associação com uma população
americana mais tolerante a migração (mais de 30% do estado é de origem hispana/latina e
mais de 12% são nascidos fora dos EUA38, em 2006), e ainda, a quase ausência do frio e da
neve no inverno, atraem alguns brasileiros. Ainda é insignificante a quantidade de brasileiros
que seguem para o Arizona, se comparados aos que ficam pela Flórida, Califórnia ou
Massachussets. Ainda assim pode-se considerar uma tendência.
Vale lembrar, que tais “agências de intercâmbio” oferecem oportunidades que a
migração por meio ilegal não permitiria, ou seja, garantia de emprego, moradia e documentos
(visto consular prévio e contrato formal de trabalho, locação de residência, Social Security
34
Cf. REIS & SALLES, Ibid.
35
FUSCO, Wilson. Migração e Redes Sociais: a distribuição de brasileiros em outros países e suas estratégias de entrada e
permanência. In: MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES – Subsecretaria-Geral das Comunidades Brasileiras no
Exterior. Brasileiros no Mundo: I Conferência sobre as Comunidades Brasileiras no Exterior. Rio de Janeiro: FUNAG,
2008, p.159-180.
36
Estimativa do autor.
37
Cf. http://quickfacts.census.gov/qfd/states/04000.html, acessado em 30/12/2008 Cf. ref. anterior
38
Cf. ref. anterior
25
enquanto, comparado com a Califórnia, essa diferença é de quase US$ 100.000,0039). Não é
uma volta as concepções tradicionais da migração, mas uma constatação simples. O custo de
vida nos EUA difere, e muito, do mesmo custo no Brasil. A realidade de fatos e dinâmicas
cotidianas diferenciadas antes mesmo da chegada no Arizona, faz com que grande parte dos
migrantes busque algum tipo de contato com pessoas que vivam naquele Lugar – não
necessariamente brasileiros. O sítio de relacionamentos “ORKUT40” é um exemplo. Em uma
pequena pesquisa, foram encontrados nove grupos de relacionamento com palavras que
envolvam “brasileiros no exterior” e “Arizona” (ou “Phoenix”41).
De forma simplificada, o custo de vida no Arizona pode ser mais barato do que aquele
na Califórnia. As “agências de intercâmbio” geralmente apresentam o Arizona como sendo
um lugar mais calmo que a Califórnia e mais seguro. As fotos geralmente apresentadas em
encontros e reuniões, mostram uma Phoenix “verde”42, onde os resorts, que os contratados
irão trabalhar, são cheios de jardins, árvores, lembrando uma quase paisagem tropical. Tais
elementos, justificados geralmente pelos contratantes americanos presentes às agências, nos
“períodos de contratação”, permitem florear ainda mais esta fantasia.
Os brasileiros aqui contratados adquirem esperanças sob várias formas. A imagem que
se vende: o salário pretendido (já saem do Brasil sabendo o quanto irão ganhar em carta
assinada pelo contratante), a certeza de moradia (o contrato é pré-acordado entre a empresa
contratante e o trabalhador contratado)43, entre outras “maravilhas”; são postas diante de um
indivíduo sedento por mudança, por experiência, por vivência no exterior44. Adiciona-se o
elemento profissional (aperfeiçoamento da língua inglesa, “imprescindível” no mercado de
trabalho no Brasil), a experiência de vida no exterior e os elementos familiares (já que grande
parte desses trabalhadores é jovem, entre 18 e 35 anos45, e alguns ainda mantêm-se
convivendo com os genitores aonde a ida aos EUA lhes dará “independência”).
39
Cf. ref. 30
40
www.orkut.com.br
41
Seriam estes grupos: “I live in Arizona”, “Phoenix, AZ” – estas, apesar de não serem diretamente ligadas aos brasileiros,
tinham tópicos em português, por brasileiros residentes ali; “Tô com saudades do Brasil”; “Noite Latina na Axis/Radius” –
que é uma discoteca muito famosa em Scottsdale; “Brasileiros no Exterior”; duas comunidades com o nome de “Brasileiros
no Arizona”, e outras duas com o nome “Brasileiros nos EUA”, acessados em 29/12/2008.
42
Phoenix, capital do Arizona, tem muitos campos de golf (185) em comparação com a maioria das cidades dos EUA. Cf.
http://www.phoenixgolfsource.com, acessado em 29/12/08.
43
Estas afirmativas não são contrárias ao que já foi afirmado, já que as categorias mencionadas são indispensáveis na
reprodução básica da vida no exterior, e se comparados aos padrões dos migrantes antes da partida, ficam de certa forma
aquém a alguns indivíduos mais possuídos aqui no Brasil.
44
PASTORE (1964) trata desse “ânimo” em migrar no livro aqui já citado.
45
São as idades limites para o visto do tipo HB (“Home-Business”), que é o visto de trabalho. Variam-se entre H1B e H2B,
de acordo com o pedido do empregador. Ao todo, são quase 100 tipos diferentes de visto possíveis emitidos pelos órgãos
consulares dos EUA.
27
Todo esse esforço de des-re-construção dos Lugares, nos ideais dos jovens migrantes,
permite uma configuração típica dentro do pensamento miltoniano, de um “como nos fazem
crer”. Na elaboração deste trabalho, percebe-se que mais e mais indivíduos são levados a crer
que o Lá é melhor do que o Aqui; e o Lugar de Destino passa a ser a única opção, ainda que o
Lugar de Origem pudesse satisfazê-los de forma direta e indireta. A troca ou mudança para
um novo Lugar de Destino, como vontade e possibilidade de alteração dos padrões de vida,
trazem experiências, ora frustrantes, ora solidárias. Como SAYAD (1998) e PASTORE
(1969) levantaram, ainda que quantitativamente as frustrações tenham sido maiores,
qualitativamente a satisfação dos que obtiveram sucesso – ou em um termo bem
“americanizado”, os vencedores – terão força diante do sonho de fazer uma outra América.
Uma América desconhecida, mas que não pode ser tão diferente quanto a América dos sonhos
hollywoodianos, tampouco é um lugar como Aqui. Por ser Lá, não importando como Lá seja,
a ida é sempre melhor que a permanência.
Com o objetivo de tornar este trabalho mais condescendente com o empirismo dos
migrantes, buscou-se restabelecer uma rede social que o autor havia participado quando viveu
na região metropolitana de Phoenix, Arizona, entre os anos 2003 e 2006. Foi elaborado um
email padrão (Anexo I) que buscava reestabelecer esse contato, buscando um ponto de
confiança onde relatos pudessem refletir o máximo da realidade dos indivíduos-migrantes.
Do total enviado de 155 emails, incluindo a postagem do citado email em dez comunidades
supracitadas (na nota 41) da “rede social” ORKUT, obteve-se três respostas.
Relatos tratam de um sonho, que poderia ter sido adiado, mas não esquecido. Um
relato especificamente trata de uma persistência, reconhecendo que a permanência no local de
Origem já não traria a satisfação necessária ao futuro migrante. No relato, G. 46 levanta que,
ainda que tivesse emprego “bom”, persistiria o desejo de migrar como forma de encontrar um
novo espaço de realização de sonhos. A concretização teria sido atrasada um pouco, por conta
de um relacionamento amoroso que, tão logo demonstrou-se instável, reacendeu o desejo e
reforçou a decisão de migrar.
T. também conta que o seu sonho teve início na infância, quando teve a chance de
fazer uma viagem à Disney World (Orlando, Florida) e outros destinos. A partir daquele
46
Utiliza-se somente a inicial dos nomes dos migrantes na pesquisa.
28
momento, segundo sua narração, “[..] fiquei fascinada pelo país e pela língua. Assim que
voltei ao Brasil, quis logo começar a aprender inglês, e aos 14 só lia em inglês, mesmo sem
entender metade dos livros! Sempre quis vir para cá passar mais tempo, mas minha família
não permitia [...]”. Em contradição com os jovens migrantes de visto HB, T. teve sua ida
auxiliada por familiares (uma tia que fazia pós-doutorado), ainda assim sem definição de
estadia prolongada. Percebe-se na história contada pela migrante, uma intenção de mudar
ainda muito cedo e uma persistência nesse desejo.
E assim, caminha-se para a percepção de um movimento que carrega em si a essência
dos indivíduos que nele participam: as experiências e frustrações são postas de lado, na busca
de um novo espaço de realizações, algo mais do que as “expectativas temporais socialmente
determinadas” de MERTON47. A percepção do movimento, como uma estrutura social,
temporal e espacial, é o que faz a humanização de uma lógica desumana, falsa, que pretende
iludir indivíduos, em prol de um mundo que se vê, uma globalização como nos fazem crer.
47
MERTON apud SALES, Teresa. Identidade Étnica entre Imigrantes Brasileiros na Região de Boston, EUA. In: REIS,
Rosana Rocha; SALES, Teresa (org.) Cenas do Brasil Migrante. São Paulo: Boitempo, 1999, p. 17-44.
29
Capítulo 3: LÁ VISTO DE LÁ
48
ZHOU, Min. Immigrants in the US Economy. In: MASSEY, Douglas S.; TAYLOR, J. Edward (org.) Internacional
Migration: Prospects and Policies in a Global Market. Oxford University Press, Londres, 2004.
30
49
Cf. www.dailymail.co.uk/news/article-1085759/Economic-benefits-mass-immigration-close-zero--Lords-told.html,
acessado em 14 de Novembro de 2008.
50
Cf. ZOLBERG, Aristide R. Bounded States in a Global Market: The Uses of International Labor Migrations. In:
BORDIEU, Pierre; COLEMAN, James S. (org.) Social Theory for a Changing Society. Westview Press, Nova York,
1991.
51
Cf. KOCHHAR, Rakesh. Sharp Decline in Income for Non-Citizen Immigrant Households, 2006-07. Washington, D. C.:
Pew Hispanic Center, 2008. Disponível no endereço www.pewhispanic.org.
31
52
Numa pequena busca no portal local do Yahoo! Phoenix foram encontradas 15 empresas – restaurantes, clínicas de
dermatologia e academias de lutas. Cf. http://local.yahoo.com/results?p=brazilian&fr=&sortby=&csz=Phoenix%
2C+AZ&flnstr=&flsstr =&ppg_nm=1&pg_nm=2&xargs=&start =10, acessado em 29/12/2008.
32
vantagem aqueles que mesmo não dominando a língua espanhola, se aventuram com as redes
de relacionamento hispânicas.
A maioria não-branca no estado do Arizona é de etnia hispânica, detendo uma
possibilidade muito maior de obter informações acerca de moradia de baixo custo, alimentos
e localização de toda uma rede de serviços que não é disponibilizada aos migrantes quando
chegam. Grande parte dos serviços prestados no estado do Arizona pode ser obtida em
espanhol, se não, com algum tipo de tradutor disponível (algum funcionário que fale ambas
as línguas ou até mesmo um migrante que se dispõe a ajudar). A rede de contatos hispânica é
mais solidária que a brasileira no Arizona, mais por conta da historicidade daquele grupo
social do que realmente um fator de “repulsa” que alguns brasileiros dizem haver entre
nacionais.
O domínio da língua inglesa permite uma dinâmica social mais ampliada,
possibilitando o diálogo entre o migrante e o contratador, ainda que sobre o migrante estejam
todos os demais agentes repressores. O que precisa ficar claro é que alguns contratos de
trabalho assinados, ainda no Brasil, podem ser categorizados como perversos, escravizando o
migrante e impossibilitando o retorno antes de seu prazo final. Negociações feitas nos EUA
poderiam levar a uma demissão com extradição ou a uma revisão das propostas de trabalho
do migrante com redefinição de tarefas, mas, geralmente acontece o primeiro caso. Tais
experiências foram simplificadamente citadas, com base em relatos coletados.
A fluência do inglês permite ao migrante, ainda, conhecer como funcionam aspectos
culturais da sociedade americana e a aproximar seu novo Lugar ao sonho americano, ainda
que distante, do sonho pretendido na partida. A capacidade de relacionamento com
americanos anglófonos admite, por exemplo, compreender os códigos de relacionamento e os
signos culturais, as leis e regulamentos, o espaço e a história do Lugar de Destino. Essa
compreensão mostra-se como vital para a construção de um novo Lugar, entre o Aqui e o Lá.
Por questões de afinidade, brasileiros com domínio da língua local, jamais se isolarão
dos demais brasileiros. É estimulado um calendário com comemorações típicas do Brasil,
como o Brazilian Day, em Nova York (todos os anos, na semana da Independência do Brasil),
shows artísticos e diversos eventos esportivos. A presença de artistas brasileiros é rara no
Arizona, mas não é difícil ver “caravanas” ou organização de encontros em algum estado
vizinho onde haja algum tipo de evento cultural brasileiro (geralmente, à
Califórnia).Brasileiros que falam inglês, geralmente estendem suas atividades culturais entre
os americanos, independente de suas origens étnicas.
33
Ainda que o visto HB não permita a matrícula em uma instituição de ensino, cursos
livres não são considerados uma forma de atrelamento a estas instituições. Bibliotecas
públicas não são somente pontos de utilização de internet de forma gratuita, mas são também
espaços de apreensão do novo, através de livros, revistas, jornais e ainda através de palestras
e debates.
Espaços públicos se tornam fontes quase inesgotáveis de compreensão do Lugar de
Destino, e ainda que o migrante desconheça a historicidade do Lugar ao chegar, permite-se
apreendê-la de forma quase impulsiva. Buscar compreender esse Lugar pode ser uma tarefa
longa, mas prazerosa, quando o migrante decide por viver o Lugar de Destino.
E com a compreensão do Lugar, acompanha-se a compreensão dos códigos e das leis.
O que a maior parte, se não a totalidade, dos migrantes desconhecem é que os vistos HB são
prorrogáveis, extensíveis a outros empregadores que preencham os pré-requisitos necessários
estabelecidos pela USCIS.
Dos vários advogados especializados em Direito Imigratório existentes no estado (120
estão cadastrados no sítio do Bureau of Attorneys Association ou BAR53 - equivalente a
Ordem dos Advogados do Brasil), alguns ainda trabalham pro labore, dependendo do caso.
Vale lembrar que a legislação americana obriga que a primeira entrevista com um advogado
de imigração seja gratuita até que o migrante aceite e o advogado concorde com o
caso/cliente. Como exemplo cita-se o Condado de Maricopa, onde duas instituições oferecem
serviços legais para casos de migração, de forma gratuita54.
Acordos de moradia podem ser feitos com maior facilidade e a custos menores, pelos
migrantes que dominam a língua local, já que americanos têm certo receio em dividir
moradia com não-falantes do inglês. No sudeste do Condado de Maricopa, assim como na
cidade de Flagstaff, localizam-se as duas maiores universidades do estado (Arizona State
University – ASU e a Northern Arizona University – NAU,), onde uma população estudantil,
no entorno dessas instituições, contribui para preços de moradia ligeiramente mais baixos
(considerando a divisão das despesas dos moradores do imóvel). Ainda na região
metropolitana de Phoenix, outras instituições de nível superior, assim como as Faculdades
Comunitárias do Condado de Maricopa, criam outras pequenas zonas de menor custo de
moradia.
53
Cf. www.azbar.org, acessado em 29/12/08.
54
São elas o Serviço Social Católico e o “Friendly House” (Casa Amiga). Fonte: www.azbar.org, acessado em 29/12/08.
34
brasileira e, com isso, os membros familiares que se encontram distantes desta realidade
encontrarem dificuldade em compreender e aceitar essa diferença.
Geralmente a aquisição de bens é a “moeda de troca”, quando se compara os relatos
entre brasileiros nos EUA e seus familiares no Brasil, estabelecendo-se uma certa
quantificação da qualidade de vida Aqui e Lá. A facilidade de aquisição de produtos eletro-
eletrônicos nos EUA e de gêneros alimentícios no Brasil, seguem como temas comuns entre
as conversas através da Internet ou do telefone. O modo preferido de comunicação entre
Brasil e EUA é através dos meios eletrônicos.
De fato, foi quase unânime a observação de que as mazelas do dia-a-dia no Arizona
não são reportadas. Algumas destas o são somente para pessoas de maior consideração e
apego na família (como pai ou mãe), mas definitivamente são esquecidas quando se trata de
membros mais antigos da família (como avós).
Mas ainda assim, fatores que permitem uma reestruturação do migrante – as redes
sociais, as falhas legais, a adequação no novo Lugar – fazem do Arizona uma esperança
espacializada. A história futura dirá se este Lugar poderá se tornar uma nova base de recepção
de brasileiros nos EUA, o qual poderá contar com estruturas sociais mais fundamentadas, se
assim for.
indicaria uma política migratória a ser adotada pelos EUA no governo Obama, poderíamos
desafiar as expectativas de grupos pró-imigrantes em um futuro otimista por essência61.
Napolitano já esteve entre a adoção de políticas pró-imigrantes e contrárias aos mesmos e a
indicação desta governadora para um cargo de renome pode mudar o foco da atuação da
problemática pela esfera da União62. Basta lembrar que no próprio estado do Arizona, com o
apoio da governadora, o Xerife Arpaio começou sua política de repressão migratória beirando
preceitos racistas63. Observa-se cada vez mais o aumento no número de deportações64, o que
caminha para a conclusão que a sociedade americana é cada vez mais excludente e
xenófoba65.
A questão da melhoria da qualidade de vida desses migrantes encontra uma nova
variante, na consideração de que policiais locais podem checar status migratório e manter sob
custódia por até 48 horas até a chegada de algum agente federal. Ainda que se considere que
o status dos migrantes em sua maioria fosse legal, tal embaraço, acompanhado da
insegurança daqueles que não o são, podem levar a um stress social e provocar uma repulsa
por este Lugar. Não há como negar tal fator.
Na contramão, pensando no momento da saída do Brasil, pensa-se em várias
possibilidades, vários “a fazer” em uma terra relacionada com a esperança e a vontade de
melhorar de qualidade de vida. De fato, uma mudança espacial como esta, nesta dimensão,
necessita de um propulsor considerável que faça mover uma massa de indivíduos a uma
distância considerável. Percebe-se também que a estrutura financeira do migrante antes de
partir é importante, mas não determinante em alguns casos.
As capacidades de adaptação e de fixação são imprescindíveis ao migrante brasileiro
no Arizona, em conformidade com a adaptação do seu sonho até então vivido em esperança
no Brasil, para o sonho confrontado com a realidade, vivida no Arizona. A essas capacidades,
permite-se uma compreensão de como o migrante sobrevive neste novo espaço e caminha
para a compreensão de uma dinâmica além do indivíduo – deste com o espaço e com outros
indivíduos. Chega-se a um novo Lugar, o Lugar de Destino.
Este Lugar só existe por uma combinação de fatores, mas destacam-se a capacidade
de vivência deste espaço com uma dinâmica do espaço vivido, onde as relações sociais se dão
61
Cf. http://www.nytimes.com/2008/12/08/opinion/08mon2.html?ref=opinion, acessado em 27/12/2008.
62
Cf. http://www.tucsoncitizen.com/altss/printstory/frontpage/103288, acessado em 23/11/2008.
63
HERNÁNDES, David Manuel. Pursuant to Deportation: Latinos and Immigrant Detention. In: LATINO STUDIES
2008. Los Angeles: Palgrave Macmillan, 2008, p. 35-63. Disponível em http://www.palgrave-journals.com/lst.
64
Cf. http://www.boston.com/news/local/breaking_news/2008/11/immigration_off_1.html, acessado em 07/11/ 2008.
65
Cf. http://www.newsweek.com/id/176420/output/print, acessado em 27/12/2008.
37
e ocorre a construção de uma historicidade nova, de uma sociedade híbrida, de uma cultura
associativa.
E esperanças existem. São pequenos atos cotidianos que mudam uma realidade como
a encontrada66, não somente por brasileiros, mas por migrantes latino-americanos em geral,
em quase toda parte nos EUA. Brasileiros no Arizona, mexicanos no Texas, cubanos na
Flórida, marroquinos na Espanha, argelinos na França, bolivianos no Brasil. A realidade é
excludente, mas o migrante se faz presente, incomodando uma ordem social alienada. O
migrante faz, na sociedade na qual se insere, pensar e refletir sobre o seu papel, sua origem e
seu futuro.
Sendo o ato de migrar motivado pela melhoria da qualidade de vida e tendo o
migrante o poder de observar o óbvio de forma nova, é pela visão do migrante67 que uma
sociedade pode buscar compreender-se e lutar contra as verdadeiras desigualdades, toda e
qualquer uma. Uma visão economicista reduziria esta capacidade e seria um desperdício de
oportunidade na construção de um mundo que gostaríamos que fosse.
Em busca de uma satisfação, o migrante cede e busca, aceita e luta, combate e é
combatido diariamente. E da construção das migalhas que lhe são cedidas, é refeita a
sociedade, não a brasileira, não a americana, mas uma nova, entre o Aqui e o Lá. Dentro
desse espírito de necessidade e solidariedade, o migrante trabalha para uma nova proposta de
sociedade, ainda que a desconheça, caminha-se para uma outra globalização, daquela que se
espera, daquela que se constrói pelos indivíduos em busca de uma solidariedade contra as
mazelas do capital excludente. O Lugar de Lá é o Lugar da Esperança.
66
Algumas experiências, inclusive no Arizona, buscam a compreensão do fenômeno migratório de forma mais humanista.
Conferem-se premiações a tais iniciativas, como visto em http://www.azcentral.com/community/tempe/articles/2008/
12/11/20081211ar-immigration1213.html, acessado em 27/12/2008.
67
PEIXOTO, Nelson Brissac. O Olhar Estrangeiro. In: NOVAES, Adauto; et al. O Olhar. São Paulo: Cia. das Letras,
1988.
38
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, caminhou-se com a visão de que o movimento migratório não pode
ser compreendido somente por seus números ou por suas estatísticas. Muito se esconde por
trás dos indivíduos que compõem esses números e por conta disso, busca-se a compreensão
do espaço vivido por essas pessoas.
A pesquisa em movimentos migratórios apresenta várias dificuldades, inclusive as
estatísticas. Brasileiros, assim como outros migrantes, tendem a não serem claramente
classificados em censos e sob um discurso de melhoria da qualidade de vida dos migrantes,
institutos de pesquisa ou até mesmo, a academia, se incumbem de apresentar uma
classificação desumanizada para tais indivíduos.
A não aceitação dos termos geralmente utilizados nessas pesquisas, trouxe a tona a
impersonalidade e a frieza de uma lógica que permeia o meio científico, ao desumanizar o
humano e dar clareza a uma tônica capitalista excludente, justificando vários discursos,
clichês, propostas, leis e principalmente atos.
Uma das propostas deste trabalho é desmistificar qualquer idéia que possa considerar
o indivíduo migrante a ser levado a mover-se simplesmente pelo fator econômico. Acredita-
se na existência de algo mais do que isso. É necessário que haja algo além disso.
Dentro dessa lógica, o trabalho de busca por uma terminologia que englobe tais
momentos, além da percepção capitalista clássica, leva ao encontro do termo “Lugar” na
Geografia, onde o espaço se encontra, autenticamente, como um ponto de vivência e
realização do ser humano. Caminha-se para a compreensão de cada ser é um componente da
humanidade. Muito mais do que só um espaço, o Lugar é a realização de um ato humano
onde o ser acredita neste espaço e faz uma reflexão de si, sob sua identificação.
Se então o Lugar é o ente de estudo, torna-se necessário conceber que para o migrante
haja dois lugares: o de partida, de identidade primária ou o Aqui; e o de seguimento, de
adequação, de destino ou o de Lá. Ambos estão ligados, seja através de uma rede
propriamente dita, onde o encontro se dá eventualmente através de indivíduos e/ou de
informações, seja também, por dentro do próprio indivíduo, já que d’Aqui se levam coisas
para Lá.
39
Ainda houve situações em que se rotulavam tipos ideais (migrantes desejados ou rejeitados),
onde a política decidia quem viria, mas a sociedade ainda não estava preparada para tal.
Uma rápida análise do que passam os brasileiros no estado americano do Arizona,
onde a proximidade com a fronteira mexicana faz com que a sociedade tenha uma tolerância
bem diferente daquela encontrada em outros estados, permite uma percepção do que foi aqui
levantado.
Se um migrante tem a capacidade de transformar seu meio social, em uma terra onde
poucos são os que compartilham sua condição de origem/destino, pode também visualizar
como as transformações sociais respeitariam sua tentativa de concretização do plano original
sonhado, na saída do Lugar de Origem. Muitas são as expectativas, desde a efetivação de uma
vitória singular até a projeção de uma imagem de renome que viesse a ilustrar meios de
comunicação de massa, que os fatos mostram o contrário. Haja vista a capacidade de
adaptação do ser humano, um novo Lugar seria necessário, não pelo simples fato de
sobrevivência, mas pelo objetivo de concretização de sonhos, de esperanças, de vontades. A
satisfação em migrar encontraria um meio termo, entre o que se espera e o que se obtêm e a
esse meio termo o migrante teria bases para alçar uma nova esperança no Lugar de Destino.
Chegar nesse novo Lugar traz uma nova visão de mundo, onde mais atores sociais
contribuem para a construção do ser social migrante. Uma concepção de mundo que se
amplia e permite a absorção pelo migrante de dinâmicas sociais diferentes, se não
contrastantes, daquelas trazidas da Origem. A capacidade de adaptação do migrante se
consolida na resposta a dois questionamentos: Até que ponto o migrante permite-se atrelar ao
novo sistema social? E até que ponto este novo sistema social estaria sendo buscado pelo
migrante?
Se o estudo dos movimentos migratórios tem contribuído para um movimento “sem
indivíduos” – ao invés de um estudo de indivíduos inseridos no movimento migratório –, a
nova perspectiva, partindo do Lugar, traria uma verdade à tona: as contribuições dos
migrantes são maiores e mais produtivas, no que se refere a imagem do Lugar de Destino,
quando se faz daquele uma espacialidade da esperança. Uma possibilidade de transformar
todo o entendimento do porquê migrar, estaria na funcionalidade da construção do novo
Lugar, onde este traria em si, os elementos da esperança para aqueles que conectados a rede
migratória, encher-se-iam de novos sonhos, novas esperanças.
Se essa esperança na chegada não for palpável, a certeza de uma nova forma de
organizar a vida, de reorganizar-se, pode trazer ao migrante uma outra esperança, até então
não encontrada no Lugar de Origem, a vida refeita segundo os princípios da igualdade e da
41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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América de Frederick Jackson Turner. Niterói, RJ: EdUFF, 2004.
MATA, Milton da. Urbanização e migrações internas [1973]. In: MOURA, Hélio A. de
(org.) Migração interna: textos selecionados. Fortaleza: BNB, 1980, p. 807-844.
43
PEIXOTO, Nelson Brissac. O Olhar Estrangeiro. In: NOVAES, Adauto; et al. O Olhar.
São Paulo: Cia. das Letras, 1988.
REIS, Rosana Rocha; SALES, Teresa (org.) Cenas do Brasil Migrante. São Paulo:
Boitempo, 1999.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo:
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______. Por Uma Outra Globalização: Do Pensamento Único À Consciência Universal. Rio
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SINGER, Paul. Migrações Internas: considerações teóricas sobre o seu estudo [1976]. In:
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WEBBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Ed. Martin Claret, São
Paulo: 2002a.
___________ Ciência e Política:Duas Vocações. Ed. Martin Claret, São Paulo: 2002b.
ZHOU, Min. Immigrants in the US Economy. In: MASSEY, Douglas S.; TAYLOR, J.
Edward (org.) Internacional Migration: Prospects and Policies in a Global Market.
Oxford University Press, Londres, 2004.
ANEXO
Oi (nome)!
Eu estou finalmente terminando minha graduação em Geografia na UERJ, e preciso terminar minha
monografia... e estava precisando DA SUA AJUDA! Minha monografia é sobre a vida dos brasileiros nos EUA,
e eu gostaria de contar com a sua ajuda... preciso do seu depoimento! Pode ajudar? Quer ajudar? Então me
manda um email (lucianodalcol@yahoo.com.br) me contando a sua vida nos EUA! Dois pontos são cruciais
para mim:
1) Como foi a sua ida? Não quero saber se você foi legal ou ilegalmente – o importante pra mim é
saber como foi a DECISÃO de ir. Você decidiu sozinho/a? Como você foi (através de amigos, parentes, agência
de trabalho)? Quanto tempo demorou, do momento de decisão ao momento de partida? Como foram os
primeiros dias na América?; e
2) Como foi que você se organizou aí? Tem amigos? Fez amigos? Onde morou na primeira vez? Como
foi o primeiro emprego? Passou dificuldades? (Se quiser e puder, me conte?) Se considera americanizado? Se
sente bem, tranqüilo, seguro (não só no sentido contrário a violência, mas também no sentido de conforto)
morando nos EUA?.
Outras coisas também são interessantes como: Sente saudades? Planeja voltar para o Brasil? Quando?
Conhece outros brasileiros? Se relaciona com eles? Prefere se relacionar com algum grupo específico?
Freqüenta Igreja? Qual?
Ao invés de me responder uma a uma das perguntas, me escreva um texto. Não precisa responder todas
elas. Prefiro um depoimento. Se quiser me mandar um email com algumas histórias, e se depois lembrar de
outras, pode mandar. Aliás pode ficar mandando sempre, porque esse também vai ser meu tema de Mestrado :)
Não é nada demais, até porque não quero fazer questionários, não tenho necessidade de ter número x
ou y de entrevistados... O que quero é uma "amostra qualitativa" onde eu busco relatos de brasileiros nos EUA.
Minha pesquisa é sobre como os brasileiros se rearrumam. Em Boston, tem uma comunidade grande.
Em Phoenix, quase nenhum. Então preciso que você me dê o seu depoimento em 2 momentos: antes de ir, e
assim que chegou (os dois primeiros anos).
68
“I live in Arizona”, “Phoenix, AZ”; “Tô com saudades do Brasil”; “Noite Latina na Axis/Radius”; “Brasileiros no
Exterior”; duas comunidades com o nome de “Brasileiros no Arizona”, e outras duas com o nome “Brasileiros nos EUA”.
45
Sei que só esses dois momentos dão muito pano pra manga, mas o objetivo não é escrever TODOS os
acontecimentos, somente aqueles que você considera mais importante.
Então, preciso de um parágrafo de como foi a sua ida: quando surgiu a idéia, se você já conhecia
alguém nos EUA antes de ir, como foi a preparação, a decisão (foi individual ou decidida em família/amigos?),
como foi a forma encontrada de ida.
Um outro, preciso que você me diga como foi a decisão de ficar: como foram os primeiros dias, meses
nos EUA, como você se relacionou com outras pessoas, como você se sentia morando nos EUA, quais foram as
facilidades e dificuldades encontradas.
Espero que este seja realmente o seu email.
Beijao!
Merry Christmas and Happy New Year! :)
Luciano